SALVADOR QUARTA-FEIRA 28/5/2014
THALITA LIMA
Ilhados em Itaparica e com a Baía de Todos os Santos como quintal, artistas residentes da 3ª Bienal da Bahia se reuniram por 60 dias, entre março e maio deste ano, com o objetivo de realizar pesquisas e pensar ações para o evento. Eles vieram de toda parte do mundo: Líbano (Oriente Médio), Congo (África), Porto Rico (Caribe) e estados brasileiros como São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará. Uma pluralidade de formações culturais e de linguagens artísticas que se revezaram de acordo com o tempo de pesquisa de cada um. Para contar sobre essa imersão, os últimos residentes se reuniram no Casarão do MAM no dia 10 de maio, num bate-papo mediado por Marcelo Rezende, diretor do museu. Omar Salomão, carioca com incursões na literatura, artes visuais, teatro, televisão e música, ficou o máximo de tempo na residência. Na mesa, ele relatou como a sensação de estar “à deriva” contribuiu para a reflexão. “Em algum momento, você se deixa infectar pelo clima da Ilha”. Além do lugar aprazível pela natureza, os artistas ressaltam o contato com a comunidade como fator importante. Para Rodrigo Matheus, paulista e mestre em escultura pelo Royal College of Art (Londres, Reino Unido), o processo foi “quase como redescobrir o Brasil”, devido também ao que a ilha guarda de história. “A experiência é quase como ver o Brasil dentro de uma perspectiva que não é a do Sudeste. E isso demanda estar aqui. Para viver na Bahia, você tem que abandonar um certo senso crítico”, diz Rodrigo. Em sua visão, isso se justifica pelas relações humanas muito genuínas.
VISUAIS Reunidos no Casarão do MAM, representantes de diversos países participaram de um bate-papo para trocar impressões e discutir a Bahia sob a perspectiva do Nordeste
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Artistas residentes fazem debate sobre experiência e tema da Bienal
Joá Souza/ Ag. A TARDE
Artistas residentes, curadores e outros colaboradores no encontro realizado no Casarão do MAM para debater o tema É Tudo Nordeste? Joá Souza/ Ag. A TARDE
“Quero escrever todo esse pensamento de candomblé e apagar no mar”
Nordeste X Sul
OMAR SALOMÃO, artista
pergunta: “Qual a diferença entre Sul e Nordeste?”, questionamento que dialoga com o tema central da bienal, É Tudo Nordeste?. Para Alejandra Muñoz, arquiteta e curadora-adjunta, estamos começando a tomar maior consciência dessas narrativas que estão sendo construídas sobre Sul e Nordeste. “E a quem
cabe o papel de narrador?”, questiona Augusto Albuquerque, gerente do Instituto Sacatar, fundação que os hospedou na Ilha. Para ele, essa indagação “É tudo Nordeste?” traz uma reflexão para os baianos, que precisam saber até que ponto e em que ponto a Bahia é Nordeste. “A cultura dita da Bahia difere
Em sua pesquisa, Omar Salomão começou a pensar no candomblé e na relação entre memória e apagamento dos arquivos. “O candomblé é uma religião que não tem um livro. Cada pessoa é um livro. Elas traziam em si a vivência”. Como um dos resultados dessa pesquisa, ele conta que fará um livro sobre toda a experiência da residência e depois levará a obra para ser apagada no mar. “Quero escrever todo esse pensamento de candomblé e apagar isso no mar. Vou botar na água e vão ficar só pequenas marcas”. Marcelo Rezende diz que a residência pretendia colocar os artistas em situações muito particulares para refletir a Bahia e o Nordeste. “A partir dessas pesquisas, eles começaram a imaginar como responder a esse universo que começou a ser apresentado a eles”. Essas experiências foram traduzidas em obras, conversas, rodas de samba, oficinas para aprender a comer bem, entre outras ações. Além do que foi materializado, porém, Rezende diz que o que se pode esperar da Bienal é um lugar de encontro e, sobretudo, de pensar a arte. Exatamente como se viu nesse bate-papo.
Popperfoto London / Divulgação
LIVROS
PIETR, O LETÃO / GEORGES SIMENON
Companhia das Letras relança coleção de Georges Simenon desde primeiro romance “Entenda, e não julgue”. Foi com esse lema que o Inspetor Maigret, um belga de sobretudo e cachimbo inseparáveis, se tornou um dos mais populares personagens da ficção ocidental. Agora, suas primeiras missões, relatadas em 1931, chegam às livrarias em novas edições, via Companhia das Letras. Jules Maigret é a criação mais célebre de Georges Simenon (1903-1989, natural de Liège, Bélgica), um escritor cuja qualificação “prolífico” é a mais comumente associada ao seu nome. Não é para menos: o homem escreveu mais de 400 livros. 100 deles protagonizados pelo citado inspetor. A editora paulista Companhia das Letras acaba de lançar as três primeiras aventuras do bom Jules: Pietr, o Letão; O Cavalariço da Providence e O Enforcado de Saint-Pholien, todos de 1931. É uma jogada duvidosa. A editora gaúcha L&PM já estava lan-
muito de cidades como Juazeiro, Vitória da Conquista”, ressalta Albuquerque. O artista visual cearense Ícaro Lira comenta que se incomoda com o que se fala sobre a Bahia. “A minha visão da Bahia sempre foi a de extensão do território. Percebo uma Bahia sempre virada para o Sul e Sudeste e não para Pernambuco, Nordeste, etc”, afirma. Fernando Oliva, curador-adjunto da Bienal, que cuida especialmente da exposição Reencenação, relembra a importância de pensar na Bienal de 1968, que teve obras censuradas pelo Regime Militar. “A 2ª Bienal da Bahia é sempre uma nota de rodapé. Sendo que é talvez um dos maiores casos de censura”, afirmou.
Ações e obras
Lisette Lagnado, que nasceu e viveu quase 14 anos no Congo e já trabalhou como editora de revistas de arte e como curadora, provoca a mesa com uma
CHICO CASTRO JR.
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çando, com boa regularidade, parte do vasto catálogo de Simenon na coleção Pocket. Anunciada em dezembro de 2012, essa coleção da Companhia, que tem contrato com a Penguin, editora europeia do belga, gerou reação da L&PM, que tinha direitos sobre o autor até 2016. “A casa gaúcha diz que é ‘passível de sério questionamento’ a decisão dos agentes de passar a obra à Companhia por esta ser associada à Penguin”, noticiou a blogueira da Folha de S. Paulo, Raquel Cozer. A editora gaúcha teria acrescentado: “Tentaremos todas esferas judiciais para garantir nossos direitos’”.
Romance-gênese
O tempo passou e eis que chegam às livrarias os romances-gênese de Maigret e do próprio Simenon como romancista, já que só a partir de Pietr, o Letão, ele deixou de assinar seus livros com pseudônimos. Estresses entre casas editoriais à parte
– melhor para os leitores. A despeito de qualquer tipo de preconceito que a academia ainda possa ter contra a literatura policial, a verdade é que Simenon, além de produzir à razão de mais ou menos um livro por semana, era admirado por um panteão de insuspeitos ícones da intelectualidade ocidental, como André Gide, Charles Chaplin, Henry Miller, William Faulkner e Federico Fellini – para ficar nos mais famosos. A razão da admiração de tão ilustres fãs, além dos milhões de leitores anônimos espalhados pelo mundo, são várias. Mas há uma que se sobressai. Até o surgimento de Simenon, os romances policiais se concentravam muito no que, em inglês, é chamado de “whodunnit?”, corruptela de “who done it?”, ou seja: quem matou? Simenon mudou o jogo ao imbuir Jules Maigret por um interesse maior no “por que?”. Para ele, detetive meio psicólogo, é preciso antes, entender.
Companhia das Letras/ 168 p./ R$ 24/ E-book: R$ 17/ companhiadasletras.com.br
O autor tem 400 livros publicados e fãs como Chaplin e Faulkner
Até Simenon, os livros policiais só queriam saber “quem matou?”. Para ele, o por que é mais importante
CURTAS Julio Cesar encerra projeto amanhã
Affonsinho chega a Salvador com turnê
Durante todas as quintas-feiras deste mês, o cantor Julio Cesar se apresentou no Largo Pedro Arcanjo, Pelourinho, com o projeto Forró na Praça, que reuniu nomes como Adelmário Coelho, Del Feliz, Genário, Quininho de Valente, Cicinho de Assis e Antônio José. Na edição de encerramento, que acontece amanhã, às 20 horas, os convidados da vez são o grupo Flor Serena e Marquinhos Café, que se reúnem com o anfitrião, que vem se destacando no universo do forró pela voz forte e estilo marcante.
Comemorando 20 anos de carreira solo, o cantor, compositor, guitarrista, produtor e ator Affonsinho chega com a turnê Zague Zeia a Salvador em único show amanhã, às 20 horas, no Teatro do Irdeb (Alto do Sobradinho, Federação). No repertório, músicas dos onze álbuns lançados pelo artista, com destaque para o que batiza a turnê e dois discos que chegaram às lojas no ano passado, Trópico de Peixes e Depois de Agora. Ingressos a R$ 20 e R$ 10, com vendas no local no dia do show, a partir das 19 horas.
Prêmio Estampa Brasil inscreve até dia 31 A segunda edição do Prêmio Estampa Brasil inscreve até o dia 31. O concurso de estampas tem dois tipo de premiação, profissional e estudante, e está dividido em três categorias (Natureza de Verão, Cardápio de Verão e Verão e Movimento). Nas duas premiações existem primeiro, segundo e terceiro colocados e cada um ganhará um troféu, certificado e prêmio em dinheiro de acordo com sua posição. Os 12 selecionados em cada categoria farão parte do livro Alma Brasileira 2014 e poderão participar da Coleção de Verão Renner, que promove o
concurso com apoio do Ministério da Cultura. inscrições e informações pelo site www.premioestampabrasil.com.br.
O concurso de estampas de verão da Renner vai premiar estudantes e profissionais em três categorias
Palestra sobre festas de casamento Para fechar com chave de ouro o mês das noivas e iniciar o mês do amor, junho, a Sonhar Cerimonial & Eventos traz à capital baiana Fernanda Floret, criadora do blog Vestida de Noiva. Fernanda irápalestrarnaNoitedosSonhos, coquetelcomcaradecasamento,
a ser realizado quinta-feira, no Cerimonial Rainha Leonor (Pupileira), em Nazaré, a partir das 19h30. Com o tema Como Deixar o Casamento com a Cara dos Noivos?, Floret falará para cerca de 200 pessoas, que poderão tirar dúvidas após a palestra.