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SALVADOR SÁBADO 4/5/2013
Autora reflete sobre como é ser sobrevivente do holocausto Thalita Lima
Muitos são os documentos sobre os sobreviventes da Segunda Guerra Mundial e, possivelmente, todos os resgates já foram feitos para remontar esse episódio. Mesmo assim, a escritora brasileira e crítica literária Noemi Jaffe acreditou que o diário de sua mãe, Liwia Jaffe (Lili), também merecia um espaço. Lili é uma sérvia judia que sobreviveu a 11 meses no campo de Auschwitz, foi salva pela Cruz Vermelha e levada para a Suécia. Casou-se, veio para o Brasil, teve três filhas (Noemi é a caçula) e atualmente, aos 86, mora em São Paulo. O diário, que hoje faz parte do acervo do Museu do Holocausto, em Israel, foi escrito quando Lili tinha 19 anos e já estava na Súecia, logo depois do resgate. Mas seu discurso em tempo presente
faz parecer que foi relatado no calor da hora. Empregando sempre a terceira pessoa, Noemi refere-se a si mesma como “a filha” e a Lili como “a mãe”. Assim, explica que a mãe escreveu o diário para que os filhos pudessem ler e conhecer sua história. No livro O que os Cegos Estão Sonhando?, com a colaboração da sua filha Leda Cartum (neta de Lili), a autora vai além dos fatos. Além da tradução do diário, a maior parte da obra é ocupada pelas análises cheias de divagações que procuram compreender o comportamento da mãe, relacionando-o com o passado vivido. O pano de fundo do romance é responder ao questionamento: como é ser depois? Diferente de muitos relatos sobre a guerra, neste não há uma dramatização datragédia.Avisãodemundoda mãe, tão explorada na narrativa, revela uma mulher que não gosta de dramas nem exageros, que
Greg Salibian / Divulgação
O QUE OS CEGOS ESTÃO SONHANDO? / NOEMI JAFFE
34 / 240 p. / R$ 42 / editora34.com.br
A autora do livro Noemi Jaffe (foto) conta a história da mãe
não se abala explicitamente com dores e perdas, acredita fielmente no destino e, nas situações difíceis, sustenta o conselho de que sempre é possível aguentar.
“A gente consegue tudo. É só querer. Tudo é da cabeça”, repetia a mãe para a filha. O esquecimento, o destino, a fome, a família, o amor, a pedra, a dignidade e tantos outros temas dão nome aos capítulos explorados por Noemi. Doutora em literatura brasileira, ela discorre sobre esses assuntos recorrendo à etimologia das palavras que os definem e seus múltiplos significados, tentando encontrar justificativas para suas inquietações sobre o jeito da mãe. Muitas vezes transfere essas reflexões para o leitor. Mais do que ir a Auschwitz com a filha, em 2009, sua viagem passeia por lembranças e pela fantasia de sentir o que sua mãe viveu num passado que ainda reflete na história dos filhos. Como ressaltado no livro, esses sobreviventes da guerra não vão mais existir daqui a, no máximo, 20 anos. Todos os relatos, como este, estarão a salvo, mas somente como lembranças físicas.
Triste Cidade da Bahia Marco Aurélio Martins / Ag. A TARDE
Raul Moreira Jornalista e cineasta raullbm@hotmail.com
É válido se pensar que a derrocada da Cidade da Bahia, como era conhecida Salvador nos bons tempos, pode ser medida pela reação dos estrangeiros que a visitam. Sim, porque, ao contrário do que foi apregoado em boa parte do século passado pelos gringos, que a designavam, inclusive, de “Shangri-la dos trópicos”, a capital da Bahia tornou-se uma das mais desestruturadas e degradadas cidades do mundo, “um monstro”, como afirmou em tom alarmado uma antropóloga inglesa que para cá retornou depois de um hiato de 45 anos. E o sentimento da antropóloga inglesa, como o de tantos estrangeiros que aqui aportam e se assustam diante do caótico e transfigurado cenário, se refere não apenas ao gigantismo doentio da metrópole, que roubou o charme da província, mas, também, à percepção de que outro tesouro esvaiu-se diante do sacrilégio do “progresso”: o povo, essa instituição que muitos diziam ser a alma da Cidade da Bahia, escafedeu-se, perdeu o encanto, transformando-se no simulacro de si mesmo.
Construção romantizada
Certo que esse tipo de observação pode vir impregnado de traços de caráter colonialista, uma forma de enxergar os de-
trânsito, a feiura das gigantescas periferias e dos palácios verticais, a sujeira, a superficialidade e má educação da gente, independentemente da classe, da raça, do credo, a falta de substância de uma metrópole apática e que, obviamente, choca quem foi seduzido pela força de seu imaginário.
Razões da tragédia
safortunados dos trópicos como “cordiais”, os “bons selvagens” de outros tempos. Até porque a velha Cidade da Bahia de gente pacata, dos sobrados, dos coqueiros à beira mar, das donzelas do tempo do imperador, é uma construção romantizada que escondeu as mazelas de um mundo classista e de forte ranço escravocrata que ainda hoje ali-
menta o imaginário alheio, pelo menos até que se dê o choque de realidade. E quando as ilusões são totalmente descortinadas, não há como relativizar o que é explícito. Isso porque um olhar frio sobre a Cidade da Bahia revela a sua tragédia, como uma impressão digital: o descaso, o abandono, o degrado, o caos no
Naturalmente que, antes de partir para um destino mais aprazível, os estrangeiros fazem a pergunta capital: mas o que aconteceu para tanto? Como a resposta não se encontra nos manuais, mesmo para inglês ler, aqueles que se derem ao trabalho de buscar um bom interlocutor local podem, quem sabe, conhecer as razões do nascimento da tragédia no espírito de Salvador. Há quem diga que a origem da tragédia remonta aos descompassos das últimas quatro décadas, quando a cidade praticamente triplicou a sua população e se expandiu de forma desorganizada: uma transformação brutal, levando-se em conta que, ao perder para o Rio de Janeiro o posto de capital do Brasil, pouco depois da segunda metade do século 18, Salvador caiu no ostracismo e praticamente estagnou, passando a viver das glórias de um passado representado pelas edificações de sua arquitetura colonial e no eterno colorido de sua gente. E o isolamento de quem foi e deixou de ser constituiu-se em um verdadeiro tesouro. Isso porque foi graças a ele que a capital
VIAGEM À PALESTINA / ADRIANA MABILIA
O DJ – CHOQUE ELETRÔNICO / TONI
Salvador passou a viver de um passado representado pelas edificações de sua arquitetura colonial
A partir dos anos oitenta, veio o desconfiável progresso, disfarçado de surto desenvolvimentista
autopreservou-se, na estética e nos costumes. Em outras palavras: mesmo bufando por se sentir preterida, mal sabia a velha senhora orgulhosa que tal distância da modernidade geraria um caldo substancial e sui generis que mais tarde, durante boa parte do século 20, faria dela uma das mais interessantes cidades do mundo aos olhos alheios. Naturalmente, essa Cidade da Bahia ancestral que parecia suspensa no tempo e de certa forma pacificada nas relações entre dominados e dominadores, tornou-se refúgio de uma grande quantidade de estrangeiros de boa cepa. Paralelamente, ganhou o mundo através das canções de Dorival Caymmi, da literatura de Jorge Amado, pelo surto das artes plásticas, pelo cinema, enfim, cá, as vanguardas encontraram terreno propício para deslanchar e projetá-la além-mar.
Progresso
Depois, de forma fáustica, a partir dos anos oitenta, veio o desconfiável progresso, disfarçado de surto desenvolvimentista, o qual, aos poucos, deu outra conformação a Salvador e ao mesmo tempo roubou-lhe o seu espírito secular, fazendo-a qualquer uma. E, para os que a conheceram como tépida província de ritmo descansado, como a inglesa atônita, ficou, apenas, a lembrança de uma época em que o tempo não escorria pelas mãos. Triste Cidade da Bahia.
ARMÁRIO DE LETRAS FERVOR DAS VANGUARDAS / JORGE
ACREDITE, ESTOU MENTINDO - CONFISSÕES
FLUAM, MINHAS LÁGRIMAS, DISSE O
SCHWARTZ
DE UM MANIPULADOR DAS MÍDIAS / RYAN
POLICIAL / PHILIP K. DICK
BRANDÃO
HOLIDAY
Tendo como enfoque as décadas de 1920 e 1930, autor investiga as principais linhas de força de renovação cultural do período. A partir de ensaios, prefácios e artigos, livro aborda a produção de nomes como Oswald de Andrade, Xul Solar, Lasar Segall etc. Companhia das Letras / R$ 376 p. / R$ 66 / companhiadasletras.com.br
Fato: a mídia é largamente manipulada por estrategistas de comunicação. A novidade é que, neste livro, um desses sujeitos maquiavélicos conta, timtim por tim-tim, como faz gato e sapato da opinião pública. Para ficar “esperto”. Companhia Editora Nacional/ 264 p./ R$ 38/ editoranacional.com.br
Jason, um popular apresentador de TV, acorda um belo dia e descobre que havia se tornado um ilustre desconhecido. Em busca da própria identidade, esbarra em um sufocante estado policial-totalitário. Mais uma delirante e surpreendente trama de Philip K. Dick, mestre da FC distópica. Aleph/ 256 p./ R$ 46/ editoraaleph.com.br
Jornalista faz uma detalhada análise sobre a condição da mulher palestina em terrirório ocupado, em uma das regiões mais conflituosas do Oriente Médio. A autora destaca histórias de algumas mulheres e em que condições têm de viver na região, além de lidar com a pobreza e violência natural do lugar. Civilização Brasileira / 224 p. / R$ 34,90 / record.com.br
Autor de 27 livros, Toni Brandão lança mais uma publicação para o público adolescente. O thriller tem linguagem descontraída e apresenta uma trama curiosa e envolvente. Depois de um acidente de carro, Alice vai para uma balada enigmática, onde as pessoas parecem mortos-vivos. Editora Planeta / 208 p / R$ 29,90/ editoraplaneta.com.br
MAIS VENDIDOS / FICÇÃO
1
O Lado Bom da Vida Matthew Quick
2
A Culpa é das Estrelas John Green
3
Cinquenta Tons de Cinza E. L. James
4
Cinquenta Tons de Liberdade E. L. James
5
Irresistível Sylvia Day
MAIS VENDIDOS / NÃO FICÇÃO
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Sonho Grande Cristiane Correa Casagrande e seus Demônios Walter Casagrande e Gilvan Ribeiro Eu não Consigo Emagrecer Dr. Pierre Dukan Não se Desespere! Mario Sergio Cortella Uma Prova do Céu Dr. Eben Alexander III
FONTE: Folhapress