SALVADOR QUINTA-FEIRA 26/6/2014
THALITA LIMA
Eles eram garotos quando começaram a mostrar o rock do Titãs do Iê-Iê no underground paulista. Agora, com mais de 30 anos de estrada, o grupo, integrado por Branco Mello, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Bellotto, lança seu 18º disco, Nheengatu, com sonoridade pesada e letras de contestação. Desigualdade, miséria, escravidão, pedofilia e machismo são alguns temas incômodos tratados entre as 14 composições, que se propõem a fazer uma crônica da sociedade e resgata a criticidade da banda mais forte em álbuns como Cabeça Dinossauro (1986) e Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas (1987). “A gente sempre preservou isso dentro da banda porque a gente sabe que é uma marca nossa, uma coisa importante. Mas dessa maneira como voltamos a fazer nesse disco, com foco em um repertório inteiro, fazia tempo que nós não fazíamos”, afirmou o titã Sérgio Britto. Logo na primeira faixa, Fardado traz trechos inspirados nas recentes manifestações de junho no País e lembra a mensagem do hit Polícia: “Por que você não abaixa essa arma/ O meu direito é seu dever/ Por que você não usa essa farda/ Pra servir e pra proteger”. As contestações são cantadas – e gritadas – em um uníssono típico da identidade do Titãs, que se mistura com características da fase atual da banda. “Tudo começou com essa ideia de voltar a tocar os instrumentos por conta própria”, diz Britto. ” Virou uma vontade nossa focar na economia, vocais mais gritados, estética mais sintética tanto nas letras quanto nas músicas. Não deixa de ser um renascimento da banda. São os mesmos caras, mas estamos com funções diferentes”.
Nheengatu
Para combinar as mensagens das canções com o conjunto da obra, os titãs foram longe nas
MÚSICA Considerada uma das melhores bandas de rock brasileiro, Titãs lança disco que resgata a sonoridade pesada, com vocais gritados em uníssono e letras ácidas
Em nova fase, veteranos do Titãs lançam seu 18º disco, Nheengatu Marco s Hermes / Divulgação
Rock de volta
Branco Mello, Sérgio Britto, Tony Bellotto e Paulo Miklos são os integrantes da atual fase da banda Titãs, de um rock mais pesado
“Não deixa de ser um renascimento da banda. São os mesmos caras, mas funções diferentes” SÉRGIO BRITTO, titã
O álbum traz canções que misturam punk, pop rock e alguns ritmos da música brasileira
Repertório
Com seus mais de 90 anos, o sambista ainda guarda a malandragem,agingaeoritmonos pés e continua compondo, cantando e reverenciando a Bahia em suas canções. A participação no show vai priorizar seus grandes sucessos, como Cada Macaco no Seu Galho e Vá Morar com o Diabo, sem deixar de fora alguma composição do seu novo CD, Mundão de Ouro. Já Mariella vai mostrar para o público seu mais recente show, Ella, que também dá nome ao seu segundo álbum, previsto para ser lançado em setembro. Reunindo sambas autorais e canções garimpadas, ela propõe uma baianidade plural inserida na nova MPB, com referências da música afrobrasi-
referências. Batizaram o álbum com o nome de uma língua derivada do tupi-guarani e adotada pelos jesuítas na época do Brasil colônia como uma linguagem única de comunicação. O oposto se apresenta na capa do CD: uma imagem da Torre de Babel, do pintor Pieter Bruegel, que se refere ao conto bíblico em que todos falavam lín-
guas diferentes e ninguém se entendia. Britto explica: “Eu comecei a pensar numa imagem que revelasse um pouco essa ideia do disco. Essa história do caos e do desentendimento da Torre de Babel traduzia bem o momento em que a gente vive. É como se a gente tivesse querendo promover o entendimento, a gente
TITÃS
NHEENGATU / TITÃS/ SOM LIVRE / 14 FAIXAS/ R$ 24,90 / WWW.SOMLIVRE.COM/ WWW.TITAS.NET
Juh Almeida / Divulgação
Mariella Santiago canta com Riachão no Circuito Música Bahia Quando fala-se em homenagem ao samba, é possível imaginar uma diversidade imensa de sonoridades. Isso porque é um ritmo que foi se misturando a vários outros e hoje caracteriza a mistura do povo brasileiro: samba regional, samba-reggae, samba-rock, samba-funk. Levando esses subgêneros na bagagem, Mariella Santiago sobe ao palco da Caixa Cultural hoje, às 20h, no primeiro dia de uma curta temporada que vai até domingo, promovida pelo Circuito Música Bahia. O projeto reúne cantoras que vêm se destacando na cena musical baiana, em encontros com grandes artistas da música brasileira, provocando experimentações sonoras. O convidado de hoje é o mestre Riachão. “Riachão é uma enciclopédia da música baiana e brasileira. Ele leva a gente pra um passeio através de várias épocas e, ao mesmo tempo, também se mantém atual. Tem a capacidade de fazer essa ponte entre o antigo e o contemporâneo”, considera a cantora.
precisa se entender para que as coisas saiam do lugar. É esse o conceito do disco”. Assim, Nheengatu tem elementos da música brasileira no meio do rock, que trabalhos anteriores como o Cabeça Dinossauro (álbum que mais se aproxima do recém-lançado) não apresentava. Mistura o punk e o pop rock ao samba, como na introdução de Flores pra Ela e até com o baião, em Baião de Dois, cuja letra, de Milkos, inicia com “o mundo é um moinho” (Cartola) e “a vida é um buraco” (Pixinguinha). Os críticos roqueiros mais da velha guarda apostam no disco como uma salvação do rock, quase condenado à morte pela ausência de álbuns com letras mais ácidas, sem pudor. Saudosismo ou não, Britto acredita que as bandas que têm aparecido no mainstream (para o grande público) pecam por se repetirem e pelo receio de arriscar. “A gente subestima muito o público, acha que as pessoas não vão entender, não vão gostar, e por isso já não faz”. Com turnê prevista para iniciar em agosto, no Rio de Janeiro, o titã diz que ainda não está certo sobre o impacto do disco, mas espera que seja um recado para os novos de que é possível – e necessário – fazer rock fugindo do previsível.
PROJETO
LARA PERL
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CURTAS Mariella faz show hoje, na Caixa Cultural
Morre a escritora Ana María Matute
leira, bossa nova e jazz. Entre as canções selecionadas para o repertório estão Danado na Cor, de sua autoria, o samba funk Barato Total, de Gilberto Gil, Sem Compromisso, de Geraldo Pereira, Personagem, de Arto Lindsay, e Foguete Particular, de Batatinha.
Performance no palco
Para a intérprete, Ella é resultado de um trabalho em grupo nos palcos. “É um disco de estúdio, mas que nasceu da experiência da banda nos shows. Acabaram ficando as composições que comunicam mais com o público”, disse. Tendo tido experiências com intervenções de arte contemporânea, Mariella vê a atuação no palco como uma performance. “É um momento em que tudo pode acontecer”, conclui. CIRCUITO MÚSICA BAHIA COM MARIELLA SANTIAGO / CAIXA CULTURAL – RUA CARLOS GOMES, CENTRO / 1KG DE ALIMENTO / DE HOJE A SÁB, ÀS 20H, E DOM, ÀS 19H
Mila Cordeiro / Ag. A TARDE
“A primeira performance do artista popular é um momento que ele pisa no palco”
A romancista Ana María Matute, um dos principais expoentes da literatura do pós-guerra na Espanha, morreu aos 88 anos em Barcelona. Conhecida por obras como Los Soldados Lloran de Noche e Olvidado Rey Gudú, Matute ganhou inúmeros prêmios ao longo de sua carreira, entre os quais se destaca o Miguel de Cervantes, considerado o Nobel das letras hispânicas, em 2010. "Sou feliz, enormemente feliz”, declarou na época Matute, que já apresentava um estado de saúde frágil. Nascida no dia 26 de julho de 1925 em Barcelona, a
Matute foi a terceira mulher a ingressar na Academia Espanhola da Língua
Cinema de luto com morte de Eli Wallach
Forró do Tio Barnabé faz festa nesta sexta
Eli Wallach, um adepto da atuação metódica, que interpretou o bandido Tuco no filme O Bom, o Mau e o Feio, morreu anteontem aos 98 anos, de acordo com o The New York Times. Wallach atuou no cinema quando estava acima dos 90 anos, como no filme O Escritor Fantasma, de Roman Polanski, e na sequência dos filmes Wall Street, de Oliver Stone. Filho de poloneses judeus, alguns de seus melhores trabalhos foram em filmes de faroeste. Ele e a mulher moravam em Nova York e tiveram três filhos.
O forró do Tio Barnabé toma conta do Municipal Lounge Bar amanhã. Inspirada em grandes nomes do gênero, como Alceu Valença e Luiz Gonzaga, a banda traz no repertório músicas, como Preciso te Ver, Roubaram meu coração e Amor na Lua. Liderado por Neto Bitencourt, o grupo lançou a composição A Patricinha Abalou, que foi carro-chefe das apresentações durante a temporada junina. O esquenta para a noite começa às 18h, horário em que o Municipal abre para o famoso happy hour de chopp e roskas.
escritora pertencia a uma geração de espanhóis cuja infância foi marcada pela Guerra Civil Espanhola (1936-1939)
MARIELLA SANTIAGO, cantora
Mostra audiovisual inscreve ate amanhã
Em quatro dias de show, Mariella vai mostrar seu novo trabalho, Ella, com canções autorais e garimpadas
Riachão vai participar da apresentação
A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), em parceria com o Ministério da Cultura e a Universidade Federal Fluminense, encerra amanhã as inscrições de produções audiovisuais para a 9ª Mostra Cinema e Direitos Humanos no Hemisfério Sul. Pela primeira vez desde a sua cria-
ção, serão aceitas produções oriundas do continente africano. As inscrições, para os interessados, devem ser realizadas pelo site www.mostracdh.uff.br. A 9ª Mostra Cinema e Direitos Humanos no Hemisfério Sul irá ocorrer de 3 de novembro a 14 de dezembro de 2014.