Il Trovatore - Theatro Municipal de São Paulo de 2014

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IL TROVATORE Ópera em quatro atos Música de Giuseppe Verdi Libreto de Salvatore Cammarano


Giuseppe Verdi Il Trovatore

Março 2014

Terças (11 / 18), Quintas (13 / 20) e Sábados (08 / 15 / 22) às 20h Domingos (09 / 16) às 18h

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Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo Coro Lírico Municipal de São Paulo

Regência

John Neschling

08 09 11 13 15 16 18 20

Gabriel Rhein-Schirato

22

Direção Cênica

Andrea De Rosa

Cenografia

Sergio Tramonti

Figurinos Desenho de Luz Regente do Coro

Conde de Luna

Leonora

Azucena

Manrico

Ferrando

Alessandro Ciammarughi Pasquale Mari Bruno Greco Facio

Alberto Gazale

08 11 13 15 18 20

Rodolfo Giugliani

09 16 22

Susanna Branchini

08 13 16 20

Hui He

09 11 15 18 22

Marianne Cornetti

08 11 13 15 18 20

Denise de Freitas

09 16 22

Stuart Neill

08 11 13 15 18 20 22

Sergio Escobar

09 16

Enrico Giuseppe Iori

08 11 15 18 20

Felipe Bou

09 13 16 22

Ines

Ana Lucia Benedetti

Ruiz

Eduardo Trindade

Velho cigano

Leonardo Pace

Mensageiro

Walter Fawcett

Programa sujeito a alterações.


Sinopse

parte I

No átrio do palácio da Aljafería, em Saragoça, no início do

O Duelo

século XV, em período de guerra civil pelo trono, Ferrando, o chefe da guarda do Conde de Luna, narra a seus subordinados a história da família do nobre. Muitos anos atrás, sob a acusação de ter colocado mau olhado no irmão do Conde, uma cigana foi levada à fogueira. Para se vingar, sua filha colocou fogo em uma criança, que se acredita ser o outro filho do Conde. Enquanto isso, nos jardins do palácio, à noite, Leonora espera pela vinda de seu amado, o trovador Manrico. Chega o Conde, apaixonado pela moça que, na penumbra, toma-o por Manrico. Este entra em cena, e a confusão se desfaz. Rivais no amor, trovador e nobre também se encontram em campos opostos na luta pelo poder, e se batem em duelo.

parte II

Em um acampamento, na Biscaia, Azucena, a filha da cigana,

A Cigana

narra a Manrico o suplício de sua mãe, dizendo que, para vingá-la, raptou o irmão do atual Conde de Luna, porém, transtornada, equivocou-se e acabou por lançar às chamas seu próprio filho. O trovador fica perturbado: se Azucena, que ele trata como mãe, queimou seu rebento, de quem então ele é filho? A cigana se diz sua progenitora, atribuindo as palavras recém-ditas à perturbação causada pela lembrança dolorosa. Manrico narra então seu embate com o rival: teve-o à sua mercê, porém, no momento decisivo, uma voz do céu impediu-o de desferir o golpe fatal. Eles são interrompidos por um mensageiro, informando que, na crença de que o amado morreu no duelo com o Conde, Leonora pretende ingressar na vida monástica. Luna se precipita na direção do convento, com o intuito de raptá-la, mas é impedido pela chegada de Manrico e seus homens.

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Intervalo 30'

parte III

As tropas do Conde de Luna cercam o castelo em que Man-

O Filho da Cigana

rico e Leonora estão refugiados. Azucena, que estava rondando o acampamento, é capturada, e Ferrando reconhece nela a filha da cigana. Uma pira é erigida, para queimá-la. Dentro do castelo, preparam-se as bodas do trovador. Ao saber, contudo, da captura de Azucena, Manrico reúne suas tropas para resgatá-la.

parte IV

Leonora chega ao palácio da Aljafería para salvar o amado

O Suplício

das mãos do Conde. Promete entregar-se a Luna caso Manrico seja liberado, e é levada à cela em que estão o trovador e Azucena. Nesse meio-tempo, ingere veneno, para não ter que cumprir sua parte do acordo. Leonora diz a Manrico que ele está livre, porém ela deve ficar. Desconfiado da barganha, o trovador faz uma cena de ciúmes, interrompida pelo desfalecimento de Leonora, que agoniza em seus braços. Luna, que tudo ouvia em segredo, ordena a execução do rival. Azucena, que até então dormia, tenta deter o suplício do trovador, mas é tarde. Diante do fato consumado, revela ao Conde que ele acaba de executar seu próprio irmão. Azucena festeja sua vingança, enquanto Luna lamenta por estar vivo.


Edição original da Casa Ricordi para a redução de piano de Il Trovatore.

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Estreia mundial

Primeira apresentação no

19 de janeiro de 1853 no

Theatro Municipal de São Paulo

Teatro Apollo de Roma

26 de outubro de 1923

Regente Emilio Angelini

Regente Vincenzo Bellezza

Rosina Penco (Leonora), Emilia Goggi

Claudia Muzio (Leonora), Luisa Bertana

(Azucena), Carlo Baucardé (Manrico),

(Azucena), John Sullivan (Manrico), Carlo

Giovanni Guicciardi (Conde), Arcangelo

Galetti (Conde), Michele Fiore (Ferrando),

Balderi (Ferrando), Francesca Quadri

Maria Lilluni (Ines), Nello Palai (Ruiz)

(Ines), Giuseppe Bazzoli (Ruiz) Mais recente apresentação no Primeira apresentação no Brasil

Theatro Municipal de São Paulo

Setembro de 1854 no Teatro Lírico

Outubro de 2001

Fluminense, no Rio de Janeiro

Orquestra Sinfônica Municipal e Coral Lírico

Arsène, Casaloni, Gentile,

Regentes György Györiványi Ráth e

Arnaud, Bouché

Mário Zaccaro Diretor Cênico Oscar Figueroa

Primeira apresentação em São Paulo

Vladimir Bogachov / Richard Bauer (Manrico),

30 de dezembro de 1874 no Teatro

Cynthia Makris / Ana Paula Brunkow

Provisório

(Leonora), Giancarlo Pasquetto / Sebastião

Regente Gabriel Giraudi

Teixeira (Conde), Graciela Alperyn / Mara

Emilia Pezzoli (Leonora), Marietta Polonio

Alvarenga (Azucena), Dimitri Kavrakos / Sávio

(Azucena), Giuseppe Limberti (Manrico),

Sperandio (Ferrando), Sergio Weintraub (Ruiz),

León Barcena (Conde), Jorge Mirandola

Edinéia de Oliveira (Ines), Dimas do Carmo

(Ferrando), Canepa (Ines), François (Ruiz)

(Mensageiro), Gustavo Schlecht (Cigano)


Il Trovatore Irineu Franco Perpetuo

“No coração da África ou nas Índias, você sempre vai ouvir Il Trovatore”, afirmou Verdi, não sem orgulho, a seu amigo escritor, o Conde Opprandino Arrivabene, por carta, em 1862. 150 anos depois, a frase continua atual. As árias de Verdi para os protagonistas da ópera constituem pedras de toque de seus respectivos registros vocais, enquanto “Vedi! Le fosche notturne spoglie”, coro de ciganos que abre o segundo ato, é daquelas melodias conhecidas mesmo por quem não tem familiaridade com o mundo da ópera. Ao lado de Rigoletto e La Traviata, Il Trovatore constitui a trinca de títulos com que Verdi mudou o paradigma da ópera italiana de seu tempo, consolidando de vez a reputação de maior compositor de seu país no século XIX. Irineu Franco Perpetuo é jornalista,

Se o amor do público, dos cantores e dos regentes

colaborador do jornal Folha

vem mantendo Il Trovatore consistentemente no repertó-

de S. Paulo, da Revista Concerto

rio desde sua estreia, no Teatro Apollo, em Roma, em 19

e correspondente no Brasil da

de janeiro de 1853, a crítica jamais escondeu suas reservas

revista Ópera Actual (Barcelona).

com relação à partitura.

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O musicólogo Abramo Basevi (1818-1885), contemporâneo do compositor, em seu pioneiro Studio sulle opere di Giuseppe Verdi (1859), já destaca as “inverossimilhanças” e “absurdos” da ópera, queixando-se de que, embora pertença ao que ele identifica como “segunda fase” do compositor, ela ainda carregue os “exageros” de sua produção inicial. Wagneriano de carteirinha, o literato irlandês George Bernard Shaw (1856-1950) chamava Il Trovatore de ópera única, “mesmo entre as obras de seu compositor, em seu país. Tem poder trágico, melancolia pungente, vigor impetuoso e um páthos fresco e intenso, que jamais perde a dignidade. É veloz na ação, e perfeitamente homogênea em atmosfera e sentimento”. Faz, contudo, uma ressalva: “é completamente desprovida de interesse intelectual; apela aos sentidos o tempo todo. Se deixasse você pensar, ela desmoronaria no absurdo, como o jardim de Klingsor”. As ressalvas costumam se dever a um suposto “recuo” formal de Verdi, com relação às “ousadias” de Rigoletto e, principalmente, à própria escolha do tema. Eufórico com o êxito da partitura que trazia aquela que talvez seja até hoje sua mais célebre ária (La donna è mobile), no Teatro La Fenice, em Veneza, em 1851, Verdi imediatamente entrava em negociações com Bolonha para uma nova ópera. E, enquanto ainda estava na cidade dos canais, escreveu ao poeta napolitano Salvatore Cammarano (1801-1852) – seu libretista em Alzira (1845), La Battaglia di Legnano (1849) e Luisa Miller (1849) – propondo como tema a peça El Trovador, do dramaturgo espanhol Antonio García Gutiérrez (1813-1884).

Andaluz de Chiclana de la Frontera, Gutiérrez foi tradutor de francês, libretista de zarzuelas e dramaturgo prolífico. Depois de abandonar a faculdade de medicina, serviu no exército, morou em Cuba e no México, atuou com representante de seu país em Londres e Gênova, e dirigiu o Museu Arque-

Vingança e amor


ológico Nacional. Contudo, embora seu Simon Boccanegra também tenha sido posteriormente adaptado para ópera por Verdi, nenhuma de suas peças repetiu o sucesso de El Trovador, cuja estreia, em 1836, foi um marco na História do teatro espanhol: pela primeira vez, naquele país, o público pedia para o autor de uma peça ir à cena receber aplausos. Em crítica publicada à época, Mariano José de Larra louva a habilidade de Gutiérrez em conduzir as duas tramas paralelas da intriga: uma de amor, e outra de vingança. “Essas duas ações dramáticas, não menos interessantes, não menos terríveis uma do que a outra, se encontram, apesar de sua duplicidade, tão perfeitamente entrelaçadas, tão dependentes entre si, que seria difícil separá-las sem prejuízo recíproco”, afirma o resenhista. O “drama cavalheiresco em cinco jornadas, em prosa e verso” está ambientado em Aragão, no século XV. Boa parte da ação se desenrola em torno do Palacio de la Aljafería, em Saragoça, cuja torre quadrangular (erigida por volta do século IX) recebeu, graças ao drama de Gutiérrez, o apelido de “torre do Trovador”. O pano de fundo é a guerra sucessória em torno do reino de Aragão, depois da morte do rei Martín I, El Humano (ou El Viejo), em 1410. D. Nuño de Artal, conde de Luna, e partidário de Fernando de Antequera, disputa o amor de D. Leonora de Sesé com D. Manrique, que está do lado de Jaime II, conde de Urgel. Dividida em partes denominadas “O Duelo”, “O Convento”, “A Cigana”, “A Revelação” e “O Suplício”, a trama sangrenta e mirabolante é intensificada pela presença de Azucena, velha cigana obcecada pela ideia de vingar a mãe, queimada como bruxa pelo pai do conde de Luna. O gosto mudou bastante nos últimos 170 anos, e hoje parece necessário explicar não os motivos para o drama de Gutiérrez ferir as suscetibilidades dos séculos XX e XXI, mas sim as razões para seu êxito na primeira metade do século XIX. Ele deve ser entendido dentro da revolução teatral feita

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pelos autores românticos que, influenciados pelas peças de Shakespeare, romperam com as unidades aristotélicas que governavam os palcos no Classicismo. Um dos principais dramaturgos dessa revolução era justamente o francês Victor Hugo (1802-1885), cuja peça O Rei se Diverte foi transformada por Verdi em Rigoletto. Logo depois do sucesso desta ópera, parecia lógico, então, que o compositor italiano buscasse um autor claramente influenciado por Hugo, e seguidor dos mesmos preceitos estéticos.

Não se sabe até hoje como Verdi chegou à peça, já que não foi descoberta nenhuma tradução italiana do texto. O mais provável é que tenha sido trazida de Madri por algum cantor, amigo do compositor, e depois vertida, para uso doméstico, por sua companheira, Giuseppina Strepponi. Sabe-se que, em 1850, absorto na composição de Rigoletto, Verdi pediu com urgência a seu editor, Giulio Ricordi, um dicionário de espanhol. O fato é que, em correspondência com Cammarano, Verdi afirmou considerar El Trovador “muito belo, cheio de imaginação e situações fortes. Gostaria que houvesse dois papéis femininos: o principal é a cigana, uma mulher de caráter muito especial”. A empolgação do compositor não parece ter tido contrapartida em seu libretista, cuja demora em responder sobre o projeto da ópera levou Verdi a escrever a um amigo em comum, o napolitano Cesare de Sanctis: “estou realmente furioso com Cammarano. Ele não tem consideração alguma pelo tempo que, para mim, é extremamente precioso. Ele não escreveu uma palavra sobre o Trovador; gostou ou não?”. As tratativas com Bolonha acabaram não dando em nada, e a resposta de Cammarano, quando chegou, estava cheia de objeções. Diferentemente do que acontecia com o libretista de Rigoletto, Francesco Maria Piave (com o qual trabalhou em dez óperas, e não tinha escrúpulos em tratar com

Situações fortes


Manuscrito do drama El Trovador, de Antonio García Gutiérrez.

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rudeza ou autoritarismo), Verdi respeitava o poeta napolitano, que escrevera o libreto da Lucia di Lammermoor, de Donizetti, e ao qual confiara seu mais caro projeto: a jamais realizada adaptação operística do Rei Lear, de Shakespeare. Assim, o tom da réplica foi cuidadoso: “você não me diz uma palavra a respeito de ter gostado ou não do drama. Eu o sugeri a você porque me parecia oferecer belos efeitos teatrais e, acima de tudo, algo de original e fora do comum. Se você não compartilhava da minha opinião, por que não propôs outro tema?” Outro tema não surgiu, e o libretista elaborou, então, uma sinopse – que Verdi rejeitou, preferindo fazer a sua própria. Cammarano finalmente concordou com as linhas gerais verdianas, e se lançou ao trabalho – lentamente, devido a problemas de saúde que se agravariam de modo irreversível. Em julho de 1852, Verdi se dirigiu a De Sanctis: “não tenho palavras para escrever quão profunda é a minha dor. Li sobre sua morte não numa carta de amigo, mas num estúpido jornal teatral. Você o amava tanto quanto eu e compreenderá os sentimentos para os quais não encontro expressão. Pobre Cammarano. Que perda”. O poeta deixava seis filhos; o compositor pagou à viúva 600 ducados (em vez dos 500 combinados), e pediu a De Sanctis a indicação de um literato para finalizar o libreto. A tarefa ficou a cargo de Leone Emmanuele Bardare.

Triunfo esplêndido

A primeira apresentação, em Roma, foi um sucesso absoluto: a cena final teve que ser inteiramente bisada, como informou, no dia seguinte, a Gazzetta Musicale, classificando a ópera de “celestial”: “o compositor mereceu este triunfo esplêndido, pois aqui ele escreveu música num estilo novo, imbuída de características castelhanas. O público ouviu cada número em silêncio religioso, prorrompendo em aplausos a cada intervalo, no final do terceiro ato, e com todo o quarto ato des-


pertando um tal entusiasmo que sua repetição foi exigida”. À condessa Clarina Maffei, o compositor escreveria: “dizem que essa ópera é muito triste e que há nela mortes demais. Mas, afinal, tudo na vida é morte! O que mais existe?” Tamanho êxito levou a Opéra de Paris a encomendar uma nova versão da partitura ao compositor. Estreada em janeiro de 1857, Le Trouvère mantinha os contornos gerais da ópera ouvida na Itália, trazendo, contudo, algumas alterações sensíveis (além do idioma). A mais notável é a inclusão, no terceiro ato, logo depois do coro dos soldados, de um balé (item obrigatório na capital francesa) das ciganas; também chama a atenção o prolongamento da última cena da ópera, com a reprise do Miserere. Se essas alterações, feitas pelo próprio compositor, não “pegaram”, uma outra modificação, realizada por um intérprete, parece hoje inseparável da partitura. Trata-se da inserção de um dó agudo em “Di quella pira”, ao fim do terceiro ato. Há controvérsias quanto ao autor da façanha: para alguns, foi Carlo Baucardé (ou Boucardé), o Manrico da estreia, em uma performance posterior da ópera, em Florença, em 1855, enquanto outros preferem colocar o agudo na conta de Enrico Tamberlick (ou Tamberlik), tenor que correu o mundo (Brasil inclusive) cantando o que na época era uma novidade: o dó de peito. Reza a lenda que, ao ouvir um dos dós de Tamberlick, Rossini teria pedido para ele deixar a nota na chapelaria do teatro, recolhendo-a na saída. Verdi teria sido mais complacente: “longe de mim negar ao público o que ele quer. Inclua o dó agudo, se quiser, desde que seja bom”. A nota ficou tão arraigada na tradição que tenores com dificuldade em alcançá-la preferem transpor a cena inteira meio tom abaixo, e cantar um si (que passa ao ouvinte, especialmente o leigo, uma impressão similar), do que o sol originalmente escrito por Verdi. Intérpretes que tentam retomar a partitura original (como o maestro Riccardo Muti, no Scala de Milão, em 2000,

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com o tenor Salvatore Licitra) normalmente enfrentam a incompreensão – quando não a ira – do público.

Retrocesso?

Durante o processo criativo de Il Trovatore, Verdi escreveu a Cammarano: “se na ópera não houvesse cavatinas, duetos, trios, coros, finais etc., e a obra inteira consistisse, digamos, em um único número, eu acharia tudo mais certo e adequado”. Apesar das palavras que parecem ecoar um ideal wagneriano de continuidade musical, a ópera vai no sentido oposto, mantendo uma rígida estrutura de números musicais que parece a alguns comentadores um “retrocesso” com relação às ousadias de Rigoletto. Para o Dicionário Grove, contudo, “o êxito da ópera reside precisamente nessa restrição do discurso formal, com a energia emocional do drama sendo constantemente canalizada através de unidades formais controladas do modo mais estrito. O sucesso de Trovatore deve nos lembrar de que é perigoso ver o desenvolvimento verdiano em uma linha excessivamente simples, nem ligá-lo, de forma impensada, a uma ‘emancipação’ gradual das restrições formais: apesar de sua celebração das formas tradicionais, a ópera é tudo, menos um retrocesso a realizações anteriores”.


Um Libreto Trovadoresco José Luiz Águedo-Silva

Em seu Vocabulário ortográfico de 1839, Francesco Antolini assim descreve a função de libretista: “Título de desprezo de quem faz libretos de óperas teatrais, sendo indigno do de ‘poeta’”. Havia acabado o tempo em que Apostolo Zeno (1669-1750) e Pietro Metastasio (1698-1782) dominavam a cena lírica e tinham suas obras musicadas por diversos compositores, mesmo após suas mortes. A figura do compositor se sobrepunha definitivamente, e cada vez mais, à do libretista, taxado como mero “fornecedor de versos a serem musicados”. Um olhar mais atento, porém, mostra que, com Salvatore Cammarano (1801-1852) a situação era outra. Aclamado como um dos melhores de sua época – sua fama só se equiparava à de Felice Romani (1788-1865), conhecido sobretudo pela parceria com Vincenzo Bellini –, o libretista napolitano tiJosé Luiz Águedo-Silva é literato,

nha uma formação literária bastante sólida. Sabia muito bem

músico, mestre em teoria e história

o francês e conseguia, através dessa língua, ler obras ingle-

literária e autor da dissertação Il

sas e alemãs que chegavam traduzidas a Nápoles. Lamen-

Trovatore e o Libreto Belcantista.

tava não conhecer bem o latim e o grego, embora tivesse

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acesso às obras clássicas também pelas traduções. Todo esse saber influenciaria tanto a escolha dos temas para seus libretos como sua relação com os diversos gêneros, sendo capaz de adaptar peças e romances para a forma-libreto. Uma vez que o tema fosse escolhido, Cammarano partia para a sinopse do enredo. Na verdade, eram duas: uma resumida, com os pontos principais que seriam desenvolvidos, e outra detalhada (chegando a ter cinco ou seis páginas) com toda a estrutura delineada, inclusive os diálogos e o desenvolvimento das cenas, já divididas em numeri chiusi (os “números fechados”, típicos da ópera romântica italiana). Aliado ao conhecimento literário e teatral, essa organização textual de Cammarano era essencial para que o libretista pudesse criar uma obra que satisfizesse tanto a ele, quanto ao compositor com o qual trabalhava. E mais: a reputação de Cammarano estava também na qualidade de seus versos, cheios de uma “musicalidade textual” que iria se refletir na própria composição. Após o sucesso de Rigoletto (1851), Verdi percebeu que estava implantando uma verdadeira revolução na ópera italiana, e que tinha o público a seu lado. Viu na peça El trovador (1836), de Antonio García Gutiérrez, uma ótima oportunidade para continuar essa revolução. Quando se colocam lado a lado peça e libreto, a primeira diferença notável é a redução do número de personagens. Embora Il Trovatore tenha sido a primeira obra de Verdi criada antes da escolha de cantores, orquestra e teatro para a estreia, a experiência de Cammarano levou-o a suprimir Don Guillén de Sesé, irmão de Leonor, e Don Lope de Urrea, um seguidor do Conde de Luna, bem como Guzmán e Jimeno, que acabaram fundidos em Ferrando, personagem que já constava do original.

El trovador está dividida em cinco ‘jornadas’, reduzidas a quatro “partes” na ópera. O primeiro programa de Cammarano,

As jornadas do Trovador


que consta de uma carta de 1º de abril de 1851, faz um grande resumo da peça, já propondo basicamente a divisão dos números e um esboço dos versos: trata-se de um misto de narrativa onisciente, falas das personagens e “pré-versos” da ópera. E, como Verdi desejava, o coro inicial foi cortado e substituído por um racconto: Ferrando conta a um grupo de soldados os acontecimentos que se passaram 20 anos antes – desde o início da ópera há mostras de que o velho Conde de Luna sabia que seu filho continuava vivo. A cavatina de Leonora, um dos momentos de maior expressão lírica (textual e musical) foi uma das divergências entre compositor e libretista. Apesar do impasse, Verdi acabou cedendo e aceitou enfim a cena, que se assemelha muito à cavatina de Lucia (lembremos que o libreto de Lucia di Lammermoor também é de Cammarano), com a figura da “aia palpiteira” e certa retomada à antiga tradição da aria di sortita, quando a personagem entrava, cantava e saía de cena. Como em diversas obras do Romantismo, Il Trovatore possui um caráter escuro, noturno, sombrio. A noite dá o tom a muitas das situações no desenrolar da trama, como a confusão transformada em terceto, cheio de ódio e temor, que finaliza a Parte I, e é ela que acompanha as personagens até o fim – três dos quatro protagonistas chegam à “noite da vida”, cada qual com sua sina, seu destino, sua morte.

Inverossimilhanças

Após o famoso coro que inicia a Parte II, entra em cena Azucena, que para Verdi era a figura principal da ópera. Além de ser um dos maiores desafios vocais para mezzo-soprano, trata-se de uma das personagens mais bem escritas da história da ópera italiana, tamanha é sua profundidade num período em que o psicologismo ainda não estava em voga. A cavatina de Azucena conta novamente a história narrada por Ferrando, mas de outro ponto de vista: o da filha da cigana condenada à fogueira. Em cada verso ela relembra os horro-

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res de ter presenciado a execução da própria mãe, que, expirando, pediu vingança à filha – a última frase da mãe ressoa sempre na mente de Azucena, ecoando em diversos momentos na música. Depois, continua sua narrativa, na qual menciona um acontecimento importante: atordoada pelo choro do bebê raptado, num momento de torpor e delírio, jogou o próprio filho no fogo. Este é um dos pontos-chave do enredo, e também proporcionou discussões entre compositor e libretista – até hoje é um dos trechos mais criticados pelos detratores da ópera, pois o consideram muito inverossímil, colocando a culpa em Cammarano. Entretanto, ao ler a correspondência recolhida na publicação intitulada Carteggio Verdi-Cammarano (18431852), percebe-se que Cammarano tinha plena consciência da trama, fazendo uma longa explanação sobre a cigana, que só poderia contar tais fatos se estivesse minimamente demente, alternando momentos de lucidez e de loucura – afinal, segundo suas próprias palavras, “Quando Azucena não raciocina, raciocina melhor o drama”. Outro ápice da ópera acontece com a cabaleta “Di quella pira”, que encerra a Parte III e figura como top five no repertório tenoril. Por vários anos acreditou-se que esse inflamado número fora o último escrito por Cammarano; posteriormente descobriu-se que à época de sua morte, o libreto estava completo, e que Verdi só contratou Leone Emmanuele Bardare para fazer pequenos ajustes em trechos que não o satisfizeram – como “Il balen del suo sorriso”, “Stride la vampa”, “D’amor sull’ali rosee” e o finale, no qual o jovem poeta aproveitou os versos rascunhados pelo compositor. Há críticos que citam esse trecho como uma das razões da pretensa inverossimilhança: dizem que o sistema de numeri chiusi quebra toda a dramaticidade da obra, além de não condizer em nada com o que está sendo dito – Manrico fala que correrá para salvar a mãe, mas continua parado, cantando. Entretanto, pela tradição, na cabaleta, assim como na


ária, a ação se suspende, devendo o tempo ser encarado de forma diferente: a explicação mais plausível para “Di quella pira” é que se trata de um tempo totalmente psicológico, em que Manrico descreve o que sente e planeja os próximos passos. A volta ao tempo “real” se dá somente na coda, quando ele se dirige a seus companheiros aos brados de “Às armas!” – e canta o Dó “de peito” que não está na partitura.

Censura e sucesso

O início da última parte mostra uma ala do Palácio de Aliaferia, numa escuridão imensa. Leonora está sozinha, refletindo sobre tudo o que aconteceu: canta sua segunda ária, que mostra outro grande momento lírico da ópera e prenuncia o fim da personagem, disposta a se sacrificar pelo amado. Depois dela, ouve-se o “Miserere”, um tempo di mezzo alongado que constitui um trecho bastante peculiar, quase um concertato. Nele, Cammarano e Verdi ampliaram a cena original, já escrita por García Gutiérrez, colocando um coro interno de religiosos pedindo a proteção aos que vão morrer, com Leonora absolutamente angustiada e Manrico despedindo-se dela em estrofes trovadorescas. Apesar do compositor ter se utilizado da mesma estrutura em óperas anteriores, o efeito alcançado no Trovatore é absolutamente perfeito. Momentos depois, o Conde entra e Leonora propõe um acordo: se Manrico for libertado, ela própria se entregará ao Conde. Ele acaba por ceder e se distancia para pedir que libertem o Trovador; enquanto isso, Leonora toma o veneno que estava em seu anel, pois prefere morrer a ser de outro. Este ponto foi sugerido por Cammarano, pois no original Leonora se envenena antes do diálogo com o Conde. Verdi questionou a mudança, e o libretista foi muito pontual: “Parece mais verossímil envenenar-se uma vez que tenha conquistado De Luna, e para não cair em seu poder depois da fuga.” Devido à censura, palavras relacionadas à religião ou à política tiveram de ser modificadas, e o público que assistiu

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às primeiras récitas ouviu versos diferentes dos que conhecemos hoje. Com o tempo, essas mudanças foram deixadas de lado e o texto original prevaleceu. Salvatore Cammarano não viveu para ver sua obra triunfar nos palcos desde a première. Apesar das críticas que sofreu durante mais de cem anos, Il Trovatore passou a ser vista com outros olhos pelos estudiosos, que perceberam qualidades antes ignoradas. O napolitano sabia de todo o seu potencial, e escreveu, resumindo o que fizera ao transformar El trovador em Il Trovatore: “Recapitulando (é necessário deixar de lado por um momento a modéstia) acredito que meu programa se esquiva das areias movediças da Censura, serve aos propósitos do Melodrama, tira alguns defeitos do original – conservando a força e a bizarrice das personalidades, a potência das situações e toda a fisionomia do Drama. E na verdade jamais escrevi seguindo tão de perto os passos do original.”.


Giuseppe Verdi

Salvatore Cammarano

Antonio García

(1813-1901)

(1801-1852)

Gutiérrez (1813-1884)

O compositor italiano

Libretista de Il Trovatore.

Escritor da peça El Trovador,

teve o bicentenário

Trabalhou com Giuseppe

que estreou no Teatro del

de seu nascimento

Verdi nas óperas Alzira, A

Príncipe, em Madri, em 1836.

comemorado em 2013.

Batalha de Legnano e Luisa

Giuseppe Verdi também

Miller. Foi também o libretista

adaptou a peça Simon

de Lucia de Lammermoor, de

Boccanegra de García

Gaetano Donizetti (1797-1848).

Gutiérrez.


Torre do Trovador

Giuseppina Strepponi

Construção quadrangular

(1815-1897)

erguida no século IX, faz parte

Soprano que

do Palácio de la Aljafería, em

interpretou o papel

Saragoça. Ganhou seu nome

de Abigail na estreia

atual em homenagem ao drama

de Nabucco. Amante

de García Gutiérrez.

e segunda esposa de Giuseppe Verdi.


A Tragédia da Vingança Herdada Antonio Quinet

A história de Il Trovatore, tão inverossímil quanto simbólica, está à altura dos mitos que inspiraram os poetas da Antiga Grécia. A temática trágica está em cena na questão do herói sobre sua origem – “Sou filho de quem?” –, no filicídio (como ato falho) de uma mãe desesperada, na luta fratricida pelos mesmos objetos de desejo: a mulher e a pólis e, principalmente, a herança de um funesto destino determinado por uma falha ética de um antepassado, que é transmitida de geração em geração. O mito é uma forma ficcional de falar sobre a verdade que é recusada e sobre o real dos desejos inconscientes – a Antonio Quinet é psicanalista,

tragédia coloca o mito em cena conferindo-lhe uma drama-

psiquiatra, dramaturgo e doutor

turgia centrada no herói. A ópera, herdeira dessa forma ar-

em filosofia pela Universidade

tística, radicaliza o espírito dionisíaco da música e dá a voz

de Paris VIII. É autor de diversos

cantada, antes restrita ao coro, a todos os personagens. Il

livros como Os outros em Lacan

bello canto. Beleza extraída do pathos trágico: padecimento

e de peças teatrais como Hilda

e paixão. E a música acrescenta uma narrativa sem palavras,

& Freud, encenada no Freud Museum de Londres.

que toca direto no não-dito dos afetos inconfessáveis e na caverna dos sentimentos inomináveis.

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Manrico é um herói trágico que carrega um mandamento que desconhece: vingar a mãe. Mas quem é sua mãe? Il Trovatore é uma tragédia do destino, como as gregas, em que está em jogo a ambiguidade do herói: ele age por conta própria, mas é um joguete dessa herança maldita que está o tempo todo presente como uma Outra cena – expressão que Freud primeiro empregou para se referir ao Inconsciente. Essa cena onipresente é descrita na famosa área Stridi la vampa: Crepitam as chamas! Chega a vítima vestida de negro, seminua e descalça. Sinistra resplandece sobre os rostos horríveis a tétrica chama que se alça ao céu!. E já ardendo na fogueira grita a mulher acusada de bruxaria: “Vingue-me”. Essa cena é cantada em verso e gozo sob diferentes óticas. E a tragédia não para aí, pois a filha (Azucena) ao ver a mãe queimando, rapta o filho do Conde assassino e o atira na fogueira. Ao completar o gesto ela se dá conta de que atirou o próprio filho e poupou o filho de seu inimigo mortal. Essa dupla cena é a pré-história – sabidas por uns, ignoradas por outros e recusada pelo herói – que rege e paira sobre toda a ação da ópera. Manrico, criado no lugar do filho assassinado por engano, carrega seu destino sem saber e... sem querer saber. Ele insiste em ignorar quem são seus pais deixando-se iludir pelo desmentido da mãe adotiva, Azucena, mesmo depois de ela ter confessado (no segundo ato) seu crime – que só não o matou por erro, tendo jogado o próprio filho na fogueira. O desejo assassino da mãe está aí caracterizado, pela negação. Diferente de Jocasta, que manda conscientemente matar seu filho de três dias de idade, Azucena troca um bebê pelo outro e cria como seu o filho do algoz de sua mãe. Portanto, como Édipo, Manrico é vítima de tentativa de filicídio. O conflito da personagem Azucena é o embate entre ela – como filha que não consegue cumprir o mandamento materno de assassinato – e ela mesma – como mãe filicida que cria o filho do inimigo.


A ópera começa e termina com a briga fratricida pelo amor de uma mulher (ou seria em relação ao amor e ódio da mãe?). Azucena é o pivô de toda a história, mas a ópera não se chama La Strega (figura mítica da mãe má) e sim Il Trovatore – aquele que é definido pela voz. O espectro da bruxa, mãe de Azucena e avó adotiva de Manrico, continua vagando. É uma morta que ainda não morreu, que como Hamlet pai continua vivendo clamando vingança. A primeira cena, como na peça de Shakespeare, é a evocação do espectro que de tão vivo faz suas aparições e crimes hediondos. Espectro tenebroso que aterroriza a todos. Eis a herança maldita de toda a população pelo erro do monarca. E, como se vê em seguida, também dos filhos que devem carregar os crimes dos pais e seus mandamentos terríveis e insensatos.

O fogo da vingança

As chamas do desejo e da morte inflamam todos os personagens – o fogo é a representação do pathos trágico. Para além da história narrada no libreto, o tema do fogo (e seus derivados como a chama, a pira, o inferno) percorre toda a obra e é o mote da história. É um fogo do qual o comando vocal emana: “Vingue-me!!” Fogo da vingança que arde e ecoa de geração em geração por duas linhagens que se reúnem: a de Manrico, que deve vingar a avó (adotiva) queimada na fogueira pelo Conde de Luna pai, e a do Conde de Luna filho que deve vingar o irmão Garcia (supostamente) jogado na fogueira por Azucena, mãe de seu rival. Como Garcia e Manrico são a mesma pessoa, esta tragédia de erros encontra em sua morte o acerto de contas. O clamor da vendeta é um comando (do superego) que Azucena não cumpriu, pois matou o próprio filho em vez do filho do assassino de sua mãe. Ele se materializa no espectro da bruxa assombrando a todos. Eis o imperativo que é transmitido a Manrico, que não hesita a ficar sempre ao lado

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da mãe, em detrimento da mulher amada, no terceiro ato. O fogo adquire várias formas de amor e de ódio, incendiando de paixão os dois irmãos, Leonora e também Azucena. O fogo consumirá a todos arrastando-os do mal ao pior. O pathos trágico se anuncia e se cumpre. No final da ópera, Azucena, depois de desvelar ao Conde que ele acabara de matar o próprio irmão, diz “Você está vingada, mãe”. Os temas do amor e da vingança não só se entrelaçam como são correntes de lava da mesma pira: a mãe. O assassinato de um filho, a culpa, a devoção ao filho criado como seu, o ciúmes da futura nora, tudo isso desvela os sentimentos ambíguos que uma mãe pode ter por seus filhos. O personagem complexo de Azucena reúne todos eles. Daí sua força dramática para além de qualquer discussão de verossimilhança. A ousadia de Il Trovatore vai além: mostra que a verdadeira mãe é aquela que adota o filho, tendo-o parido ou não. E que a herança simbólica de pais para filhos não é transmitida pela genética e sim pelo desejo. Esta obra nos ensina algo que Freud descobriu com seus pacientes. Como na tragédia grega, a desgraça (até) familiar começou com a falta trágica (hamartia) do Conde de Luna pai que, movido por sua desmedida (hybris) manda matar uma mulher supostamente bruxa. A desgraça é herdada pelas gerações seguintes. O inconsciente é formado por essa herança simbólica e pelas faltas dos antepassados, cuja culpa o sujeito carrega. E também por mandamentos que levam a agir, mesmo sem a consciência deles, tais como “Salvar a honra do pai”, “Vingar a mãe”, que é o caso dos dois irmãos. Eis o que esta ópera coloca em cena como o inconsciente a céu aberto. Os personagens são agidos pelo desejo do Outro – o inconsciente. “Mi vendica! – essa frase deixou um eco eterno neste coração”, diz Azucena a seu “filho”, para em seguida transmitir a ele a mesma ordem. Encontramos aí, portanto, os elementos de tragédia grega que, se é pouco verossímil, bate no coração, povoa o mundo dos sonhos e arde na paixão.


Em Manrico, o trovador, o comando vocal do superego se transforma em obra de arte: sua voz tem o dom de provocar o êxtase. Nesta ópera de Verdi vemos as duas vertentes da voz: a voz que, como uma alucinação, comanda, coage, constrange e obceca, e a voz que encanta, maravilha e extasia.

O gozo da música

Leonora se apaixona pela voz do trovador, pois ao ouvi-la diz que “Ao coração e ao olhar em êxtase a terra virou um céu” (Ato 1). É o êxtase provocado pela pulsão vocal. Gozo confesso na estrofe anterior dessa ária que em si é uma clara referência ao gozo feminino. Gioia provai che agli angeli solo è provar concesso" ("Tive um gozo que só aos anjos é permitido") é a pura expressão do que Lacan chamou de o Outro gozo, para além do gozo fálico sexual - gozo feminino por excelência, mas que podemos referir ao gozo estético. Ela goza só de ouvir a voz do Trovador. Não esqueçamos que é ele definido pela voz e não pelo nome próprio e é quem dá o nome à obra. A pulsão vocal a penetrou e seu coração ardeu. “As chamas incandescentes da paixão consomem meu ser”, canta Leonora. Esse gozo se expressa na voz da cantora numa linha melódica ascendente com cromatismos e vibratos até alcançar notas muito altas com coloraturas no ponto culminante, que alcança dramática e drasticamente o arrebatamento extático e em seguida o relaxamento. Essa ária remete à famosa ária Sempre libera, de homenagem ao gozo sem amarras da Traviata, ópera composta no mesmo ano. Azucena também é livre, como cigana “tem o céu como teto e o mundo como pátria” (Ato 3). Em ambas as árias, o canto é a expressão de um gozo sem limites, cujo protótipo é o gozo do êxtase, sonorizado no canto lírico desde as óperas barrocas. Verdi, com sua música e seus trovadores, nos transporta, como Leonora, para cima da terra – lá onde os espectadores-ouvintes são os extasiados.

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O Miserere final corresponde ao preceito da ética trágica enunciado por Sileno, pai de Dioniso (deus do teatro) “Antes não ter nascido” retomado pelo coro de Édipo em Colona. A vida é mordida pela pulsão de morte com seu lamento triste, porém sublime, que provoca em nós a catarse que possibilita transformar o terror em prazer estético, lembrando-nos que somos todos seres-para-a-morte, que temos na vida a chama de Eros.


Quatro Perguntas para o Diretor Cênico Andrea De Rosa

Quais os principais

Para fazer um paralelo com o cinema, há grandes obras-pri-

desafios para a realização

mas que foram adaptadas de romances "absurdos" e vice-

cênica de Il Trovatore, com

-versa, assim como filmes medíocres que são feitos a partir

seu argumento repleto de

de grandes obras-primas da literatura.

inverossimilhanças?

Verdi, como os grandes diretores de cinema, faz a diferença! Você compreende imediatamente quando para de ler o libreto e assiste à ópera, o espetáculo no palco. Todas as incongruências se tornam secundárias porque Verdi desenvolve uma dramaturgia musical independente, na qual coloca um holofote sobre as relações entre os personagens, e nesse ambiente o espectador se torna imerso, imediata e profundamente. Nesse ponto, as inconsistências do libreto passam a um segundo plano; não existem mais. A primeira coisa a fazer, então, para a encenação da ópera, é ouvir bem a música de Verdi. Na minha encenação insisto bastante em alguns pontos fixos do espaço cênico, que estarão presentes do início ao fim do espetáculo para ajudar na compreensão da trama.

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No centro do palco haverá sempre um buraco aberto, como uma pira sempre acesa, lugar em que foi queimado o filho de Azucena, e o mesmo ponto em que, no fim, morre Manrico. Acho Azucena um personagem extraordinário, por levantar

Como você desenvolveu

uma série de questões. Como pode uma mãe matar o próprio

o personagem de Azucena?

filho por engano? Eu entendo que a única resposta viável é admitir que isso poderia acontecer conosco, que qualquer um poderia perder o controle de si mesmo em razão de uma obsessão (nesse caso, a obsessão por vingar a mãe). Não se deve jamais pensar nela como uma louca. Verdi foi muito claro neste ponto, como se nos convidasse a descobrir a sua "humanidade", escondida atrás de sua aparente insanidade. Se tentarmos pensar que o que ela fez poderia acontecer com qualquer um de nós, se nos aproximarmos dela dessa forma, acredito que Azucena ainda pode falar ao público de hoje, pois nela encontramos os medos que nos acompanham sempre. E se nos esforçarmos para ver a nossa fraqueza em sua fragilidade, então acredito que uma profunda compaixão a acompanha: parece-me que a música de Verdi nos conduz nessa direção. Sim eu deixei a ambientação da ópera em seu contexto his-

Como você vê as mudanças

tórico original.

temporais na ópera, em

Acho muito interessante quando tais mudanças ajudam

comparação à época do

o público a se identificar com a história contada. Entretanto,

argumento original? Seu

em muitos casos, um ambiente contemporâneo parece-me

Trovatore permanece em

encobrir a falta de boas ideias, se reduzindo a um desejo su-

Biscaia/Aragão do século XV?

perficial e genérico de modernidade, que por si só não basta. Esta produção é realizada em conjunto com Sergio Tramonti

O que público de São Paulo

na cenografia, Alessandro Ciammarughi no figurino e Pas-

pode esperar cenicamente

quale Mari na luz. Eles são verdadeiros artistas, cada um em

deste Trovatore?

sua área, e juntos estamos trabalhando em uma montagem na qual os valores do "teatro" e da dramaturgia musical florescem, com total força e nitidez.



Croqui de Sergio Tramonti para o cenรกrio do terceiro ato.


Giuseppe Verdi e Il Trovatore

1813

Nascimento de Giuseppe Verdi no dia 10 de outubro, na cidade de Roncole, próximo a Parma, na Itália.

1835

Salvatore Cammarano (1801-1852), libretista de Il Trovatore, escreve a ópera Lucia de Lammermoor para Gaetano Donizetti (1797-1848).

1836

Estreia no Teatro del Príncipe, em Madri, a peça El Trovador, do dramaturgo espanhol Antonio García Gutiérrez (1813-1884). O jovem escritor ganhava a vida traduzindo as obras de Alexandre Dumas pai (1802-1870) para o espanhol e passava por dificuldades financeiras quando foi surpreendido pelo sucesso de sua peça. Giuseppe Verdi também transformou em ópera a peça Simon Boccanegra, de García Gutiérrez, em 1857.

1842

Após a morte dos filhos, seguida da morte da primeira esposa, e do fracasso de público da ópera Un Giorno di Regno, Verdi entra em reclusão e resolve abandonar a carreira lírica. Com a insistência de Bartolomeo Merelli, empresário do Teatro alla Scala e amigo do compositor, ele decide voltar a escrever. Sua próxima ópera, Nabucco, é um estrondoso sucesso. O coro Va, Pensiero, cantado pelos escravos hebreus, se torna um símbolo da ocupação austríaca da Itália, fazendo de Verdi um símbolo do Risorgimento.

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1847

Verdi começa um romance com Giuseppina Strepponi (1815-1897), soprano que interpretou o papel de Abigail na estreia de Nabucco, com quem viverá pelo resto da vida. Giuseppina provavelmente traduziu a peça El Trovador, de García Gutiérrez, para o italiano.

1849

Salvatore Cammarano e Verdi trabalham juntos em Luisa Miller, ópera que estreia no Teatro San Carlo, em Nápoles.

1852

Falece Salvatore Cammarano, deixando o libreto de Il Trovatore para ser terminado por Leone Emanuele Bardare (1820-1874). Deixou também inacabado um projeto de uma ópera baseada em Rei Lear, de Shakespeare.

1853

Em 19 de janeiro estreia no Teatro Apollo, em Roma, a ópera Il Trovatore, com enorme sucesso.

1874

Pela sua dedicação à pátria, Verdi é nomeado senador pelo rei Vittorio Emanuele.

1893

Estreia Falstaff, última ópera de Verdi.

1901

Morte de Giuseppe Verdi, no dia 27 de janeiro, em sua suíte do Grand Hotel de Milão. Seu amigo, o regente Arturo Toscanini, organiza um coro de mais de 800 pessoas que entoa Va, Pensiero, em homenagem ao compositor.


Gravações de Referência

CDs

Regente Zubin Mehta Manrico Plácido Domingo Azucena Fiorenza Cossotto Leonora Leontyne Price Conte di Luna Sherrill Milnes Ferrando Bonaldo Giaiotti New Philharmonia Orchestra RCA Victor

Regente Richard Bonynge Manrico Luciano Pavarotti Azucena Marilyn Horne Leonora Joan Sutherland Conte di Luna Ingvar Wixell Ferrando Nicolai Ghiaurovi New Philharmonia Orchestra RCA Victor

Regente Renato Cellini Manrico Jussi Bjorling Azucena Fedora Barbieri Leonora Zinka Milanov Conte di Luna Leonard Warren Ferrando Nicola Moscona RCA Victor Orchestra Naxos

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DVDs Regente Carlo Rizzi Diretor Cênico Elijah Moshinsky Manrico José Cura Azucena Yvonne Naef Leonora Verónica Villarroel Conte di Luna Dmitri Hvorostovsky Ferrando Tomas Tomasson Royal Opera House Covent Garden Opus Arte

BLU-RAY Regente Marco Armiliatoi Diretor Cênico David McVicar Manrico Marcelo Álvarez Azucena Dolora Zajick Leonora Sondra Radvanovsky Conte di Luna Dmitri Hvorostovsky Ferrando Stefan Kocán The Metropolitan Opera Orchestra Deutsche Grammophon


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Croquis de Alessandro Ciammarughi para os figurinos da 贸pera Il Trovatore.


LIBRETO Il Trovatore A ação ocorre em Biscaia e em Zaragoza, Aragão [Espanha], no início do século XV. Conde De Luna Nobre, apaixonado por Leonora Barítono Manrico Militar, prometido de Leonora Tenor Leonora Apaixonada por Manrico Soprano Azucena Cigana, suposta mãe de Manrico Mezzo-Soprano Ferrando Chefe da Guarda do Conde de Luna Baixo Ruiz Lugar-tenente de Manrico Tenor Ines Confidente de Leonora Soprano

Ato I - O Duelo Primeira Cena Atto I - Il Duello Scena Prima

Ferrando

Criados Familiari

Ferrando

Criados Familiari

[Átrio no palácio de Aljafería.

[Atrio nel palazzo dell'Aliaferia.

De um lado, porta que leva aos

Da un lato, porta che mette agli

apartamentos do Conde de Luna.

appartamenti del Conte di Luna

Ferrando e muitos criados do Conde

Ferrando e molti Familiari del Conte

situam-se próximos à porta; alguns

giacciono presso la porta; alcuni

soldados passeiam ao fundo.]

Uomini d'arme passeggiano in fondo

[Aos criados quase pegando no sono]

[Ai Familiari vicini ad assopirsi]

Alerta! Alerta!

All'erta, all'erta!

O Conde nos mandou

Il Conte n'è d'uopo

esperar vigiando

attender vigilando;

e ele, de vez em quando,

ed egli talor,

junto à varanda de sua querida,

presso i veroni della sua cara,

passa noites inteiras.

intere passa le notti.

As serpentes ferozes do ciúme

Gelosia le fiere serpi

atacam seu peito!

gli avventa in petto!

O trovador, que nos jardins

Nel trovator, che dai giardini

passeia com noturno canto,

move notturno il canto,

ele, com razão, teme como rival.

d'un rivale a dritto ei teme.

Para afastar o sono

Dalle gravi palpebre

das pesadas pálpebras,

il sonno a discacciar,

conta-nos a verdadeira história de

la vera storia ci narra di Garzia,

Garzia, irmão de nosso Conde.

germano al nostro Conte.

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Ferrando

Soldados Armigeri

Criados Familiari

Ferrando

Coro

Ferrando

Coro

Contarei: fiquem ao meu redor.

La dirò: venite intorno a me.

[Os criados obedecem]

[I Familiari eseguiscono]

Nós também…

Noi pure...

Escutem, escutem.

Udite, udite.

[Todos se aproximam de Ferrando]

[Tutti accerchiano Ferrando]

Pai feliz de dois filhos

Di due figli vivea padre beato

era o bom Conde de Luna:

il buon Conte di Luna:

uma fiel ama do segundo filho

fida nutrice del secondo nato

dormia junto ao seu berço.

dormia presso la cuna.

Ao romper da aurora

Sul romper dell'aurora

de uma bela manhã,

un bel mattino

ela abre os olhos

ella dischiude i rai;

e quem encontra ao lado

e chi trova d'accanto

daquele menino?

a quel bambino?

Quem? Conte-nos! Quem seria?

Chi?... Favella... Chi mai?

Abjeta cigana, obscura velha!

Abbietta zingara, fosca vegliarda!

Carregava os símbolos

Cingeva i simboli

de uma feiticeira!

di una maliarda!

E sobre o menino, com a cara fechada,

E sul fanciullo, con viso arcigno,

fixava o olho turvo, sanguinário!

l'occhio affiggeva torvo, sanguigno!

A ama é tomada pelo horror…

D'orror compresa è la nutrice...

Lança um grito agudo pelo ar,

Acuto un grido all'aura scioglie;

e antes que os lábios se fechem,

ed ecco, in meno

os servos correm até o local,

che il labbro il dice,

e entre ameaças,

i servi accorrono in quelle soglie;

gritos e empurrões,

e fra minacce,

expulsam a malvada

urli e percosse

que ali ousou entrar.

la rea discacciano ch'entrarvi osò.

Aqueles peitos sentiram

Giusto quei petti

um justo desprezo

sdegno commosse;

que a velha insana provocou.

l'insana vecchia lo provocò.

Afirmou que queria fazer

Asserì che tirar del fanciullino

o horóscopo do garoto... Mentirosa!

l'oroscopo volea... Bugiarda!

Uma lenta febre destruía

Lenta febbre del meschino


Coro

Alguns Alcuni

Ferrando

a saúde do pobre menino!

la salute struggea!

Pálido,

Coverto di pallor,

lânguido, abatido,

languido, affranto

ele tremia à noite.

ei tremava la sera.

E o dia atravessava

Il dì traeva

em lamentáveis prantos.

in lamentevol pianto...

Estava enfeitiçado!

Ammaliato egli era!

[O coro se horroriza]

[Il coro inorridisce]

A feiticeira perseguida

La fattucchiera perseguitata

foi presa

fu presa,

e condenada à fogueira;

e al rogo fu condannata;

mas restava sua maldita

ma rimaneva la maledetta

filha, planejadora de perversa

figlia, ministra di ria

vingança.

vendetta!

Essa ímpia cumpriu

Compi quest'empia

seu nefando intuito.

nefando eccesso!...

Desapareceu o menino

Sparve il fanciullo

e encontraram-se

e si rinvenne

brasas mal apagadas no

mal spenta brace nel

mesmo lugar

sito istesso

onde um dia

ov'arsa un giorno

foi queimada a bruxa!

la strega venne!

E de um menino… ai...

E d'un bambino... ahimè!

uma ossada meio queimada,

L'ossame bruciato a mezzo,

ainda fumegante!

fumante ancor!

Oh, malvada! Oh, mulher infame!

Ah scellerata!... oh donna infame!

Juntos me tomam o ódio e o horror!

Del par m'investe odio ed orror!

E o pai?

E il padre?

Breves e tristes dias viveu:

Brevi e tristi giorni visse:

contudo, um pressentimento

pure ignoto del cor

profundo

presentimento

lhe dizia que morto

gli diceva che spento

não estava seu filho,

non era il figlio;

e, próximo à morte,

ed, a morir vicino,

desejou que o nosso senhor

bramò che il signor nostro

lhe jurasse

a lui giurasse

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Soldados Armigeri

Ferrando

Criados Familiari

Ferrando

Soldados Armigeri

Ferrando

Coro

Alguns Alcuni

Outros Altri

Ferrando

não cessar as buscas…

di non cessar le indagini...

Ah! Foi em vão!…

Ah! Fur vane!...

E daquela não se teve

E di colei non s'ebbe

mais notícias?

contezza mai?

Nunca mais…

Nulla contezza...

Oh, quem me dera

Oh, dato mi fosse

um dia reencontrá-la!…

rintracciarla un dì!...

Mas conseguiria reconhecê-la?

Ma ravvisarla potresti?

Calculando

Calcolando

os anos passados…

gli anni trascorsi...

Conseguiria.

Lo potrei.

Já era tempo de enviá-la

Sarebbe tempo presso la madre

ao inferno, junto de sua mãe.

all'inferno spedirla.

Ao inferno?

All'inferno?

Há a crença que vaga

È credenza che dimori

ainda pelo mundo a alma perdida

ancor nel mondo l'anima perduta

da ímpia bruxa,

dell'empia strega,

e quando o céu está negro

e quando il cielo è nero

ela se mostra de várias formas.

in varie forme altrui si mostri.

[Com terror]

[Con terrore]

É verdade!

E vero!

Sobre os cumes dos telhados

Su l'orlo dei tetti

alguns a viram!

alcun l'ha veduta!

Como poupa ou bruxa

In upupa o strige

às vezes aparece!

talora si muta!

Como corvo outras vezes,

In corvo tal'altra;

e mais ainda como coruja!

più spesso in civetta!

Ao amanhecer, foge como uma flecha.

Sull'alba fuggente al par di saetta.

Morreu de medo um servo do conde,

Morì di paura un servo del conte,

que com a cigana

che avea della zingara


Todos Tutti

deu de cara!

percossa la fronte!

[Todos se enchem de supersticioso

[Tutti si pingono di superstizioso

terror]

terrore]

Apareceu para ele parecido

Apparve a costui d'un gufo

com um mocho

in sembianza

na alta quietude

Nell'alta quiete

de um quarto silencioso!...

di tacita stanza!...

Com o olho luminoso

Con l'occhio lucente

olhava, entristecendo

guardava il cielo

o céu com um grito funesto!

attristando d'un urlo feral!

E então soava pontualmente

Allor mezzanotte appunto

a meia-noite...

suonava...

[Um sino soa, de repente, meia-noite]

[Una campana suona a distesa mezzanotte]

Ah, maldita seja

Ah! sia maledetta

a bruxa infernal!

la strega infernal!

[Com súbito sobressalto, ouvem-se

[Con subito soprassalto, odonsi alcuni

alguns toques de tambor. Os

tocchi di tamburo. Gli uomini d'arme

homens de armas correm ao fundo

accorrono in fondo; i Familiari corrono

e os criados correm para a porta.]

verso la porta]

Segunda Cena

[Jardins do palácio. À direita, uma

[Giardini del palazzo. Sulla destra

Scena Seconda

escadaria de mármore que conduz

marmorea scalinata che mette agli

Ines

Leonora

Ines

Leonora

aos apartamentos. É alta noite,

appartamenti. La notte è inoltrata;

densas nuvens cobrem a lua.]

dense nubi coprono la luna.]

O que mais a detém?

Che più t'arresti?...

Já está tarde, venha.

L'ora è tarda: vieni.

A rainha chamou por você,

Di te la regal donna chiese,

você ouviu.

l'udisti.

Mais uma noite

Un'altra notte ancora

sem vê-lo…

senza vederlo...

Perigosa chama, a que você nutre…

Perigliosa fiamma tu nutri!...

Oh! Como e onde a primeira fagulha

Oh come, dove la primiera favilla

em você acendeu?

in te s'apprese?

Nos torneios. Ele apareceu

Ne' tornei. V'apparve

com roupas e elmo escuros,

bruno le vesti ed il cimier,

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o escudo

Ines

Leonora

Ines

lo scudo

escuro e com o brasão desembainhado,

bruno e di stemma ignudo,

guerreiro desconhecido,

sconosciuto guerrier,

que obteve as honras dos combates...

che dell'agone gli onori ottenne...

Sobre os cabelos do vencedor

Al vincitor sul crine

eu coloquei a coroa.

il serto io posi...

Enquanto isso ardia a guerra civil…

Civil guerra intanto arse...

Não mais o vi!

Nol vidi più!

Como um sonho dourado

Come d'aurato sogno

foi a imagem fugitiva!

fuggente imago!

E então voltou a longa estação…

Ed era volta lunga stagion...

mas depois…

Ma poi...

O que aconteceu?

Che avvenne?

Escuta.

Ascolta.

Calava a noite plácida

Tacea la notte placida

e bela em um céu sereno;

e bella in ciel sereno

a lua mostrava seu rosto prateado

la luna il viso argenteo

alegre e cheio...

mostrava lieto e pieno...

Quando soaram pelo ar,

Quando suonar per l'aere,

até então tão silente,

infino allor sì muto,

ouviram-se doces e suaves

dolci s'udiro e flebili

os acordes de um alaúde

gli accordi d'un liuto,

e versos melancólicos

e versi melanconici

um trovador cantou..

un trovator cantò.

Versos de prece e humildes

Versi di prece ed umile

como de um homem que reza para Deus,

qual d'uom che prega Iddio,

e nela se repetia

in quella ripeteasi

um nome... o meu!

un nome... il nome mio!...

Corri até a varanda atenciosa…

Corsi al veron sollecita...

Era ele! Era ele mesmo!...

Egli era! Egli era desso!...

Provei um prazer que somente

Gioia provai che agli angeli

aos anjos é permitido provar!…

solo è provar concesso!...

Ao coração e ao olhar em êxtase

Al core, al guardo estatico

a terra virou um céu.

la terra un ciel sembrò.

Pelo que você contou,

Quanto narrasti di turbamento

minha alma enche-se de perturbação.

m'ha piena l'alma!...

Temo…

Io temo...


Leonora

Ines

Leonora

Ines

Leonora

Ines

Conde Conte

Em vão!

Invano!

Duvido, mas um triste pressentimento

Dubbio, ma triste presentimento

este homem misterioso em mim

in me risveglia quest'uomo

desperta!

arcano!

Tente esquecê-lo…

Tenta obliarlo...

O que está dizendo?... Oh, chega!

Che dici!... oh basti!...

Ceda ao conselho da amizade…

Cedi al consiglio dell'amistà...

Ceda…

Cedi...

Esquecê-lo! Ah,

Obliarlo! Ah,

você disse algo

tu parlasti detto,

que a alma não sabe entender.

che intendere l'alma non sa.

De tal amor que não se pode

Di tale amor che dirsi

explicar com palavras,

mal può dalla parola,

do amor que só eu entendo,

d'amor che intendo io sola,

o coração se enebriou.

il cor s'inebriò!

O meu destino não se pode cumprir

Il mio destino compiersi

a não ser ao seu lado…

non può che a lui dappresso...

Se eu não viver por ele,

S'io non vivrò per esso,

por ele morrerei!

per esso io morirò!

Que nunca tenha de se arrepender

Non debba mai pentirsi

quem um dia tanto amou!

Chi tanto un giorno amò!

[Sobem aos apartamentos. O

[Ascendono agli appartamenti. Il

Conde de Luna entra no jardim]

conte di Luna entra nel giardino]

Cala a noite.

Tace la notte!

Certamente imersa no sono

Immersa nel sonno, è certo,

está real senhora;

la regal signora;

mas sua dama vela…

ma veglia la sua dama...

Oh, Leonora,

Oh! Leonora,

acordada você está,

tu desta sei;

me diz, dessa varanda,

mel dice, da quel verone,

um trêmulo raio

tremolante un raggio

da lâmpada noturna…

della notturna lampa...

Ah! A amorosa chama

Ah! L’amorosa fiamma

queima todas as minhas fibras!...

m'arde ogni fibra!...

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 46


Voz de Manrico La Voce di Manrico

Conde Conte

Leonora

Conde Conte

Leonora

Manrico

Que eu a veja e depois

Ch'io ti vegga è d'uopo,

que você me escute...

che tu m'intenda...

Estou indo… Para nós,

Vengo... A noi supremo

tal momento é supremo…

è tal momento...

[Cego de amor, ele se dirige

[Cieco d'amore avviasi verso

à escadaria. Ouvem-se os acordes

la gradinata. Odonsi gli accordi

de um alaúde: ele se detém]

d'un liuto: egli s'arresta]

O trovador!Tremo!

Il Trovator! Io fremo!

Deserto sobre a terra,

Deserto sulla terra,

com o malvado destino em guerra,

col rio destino in guerra

só um coração é a esperança

e sola spese un cor

do trovador!

al trovator!

Mas se ele esse coração possuir,

Ma s'ei quel cor possiede,

belo por sua casta fidelidade,

bello di casta fede,

é maior que todos os reis

e d'ogni re maggior

o trovador.

il trovator!

Oh, que palavras! Oh, ciúmes!

Oh detti! Oh gelosia!

Não me engano…

Non m'inganno...

Ela está descendo!

Ella scende!

[Se envolve em sua capa]

[S'avvolge nel suo mantello]

[Correndo até o Conde]

[Correndo verso il Conte]

Alma minha!

Anima mia!

[Para si]

[Fra sè]

O que fazer?

Che far?

Mais do que de costume

Più dell'usato

você demorou hoje,

è tarda l'ora;

contei os instantes

io ne contai gl'istanti

com as batidas do coração!...

co' palpiti del core!

Por fim o piedoso amor te guia

Alfin ti guida pietoso amor

para estes braços…

tra queste braccia...

Infiel!

Infida!...

[A lua se mostra entre as nuvens e

[La luna mostrasi dai nugoli, e lascia

deixa entrever uma pessoa com o

scorgere una persona, di cui la

rosto oculto pela aba do chapéu]

visiera nasconde il volto]


Leonora

Essa voz!...

Qual voce!...

Ah, pelas trevas

Ah, dalle tenebre

enganada eu fui!

tratta in errore io fui!

[Reconhecendo ambos e jogando-se

[Riconoscendo entrambi, e gettandosi

aos pés de Manrico, agitadíssima]

ai piedi di Manrico, agitatissima]

A você acreditei me dirigir,

A te credei rivolgere

e não a ele...

l'accento e non a lui...

A você, por quem minha alma

A te, che l'alma mia

pede apenas, apenas deseja…

sol chiede, sol desia...

Amo você, eu juro, eu amo você

Io t'amo, il giuro, io t'amo

com imenso e eterno amor.

d'immenso, eterno amor!

E como se atreve?

Ed osi?

[Levantando Leonora]

[Sollevando Leonora]

Ah, mais não desejo!

Ah, più non bramo!

Ardo em cólera.

Avvampo di furor!

Se não for vil, descubra-se!

Se un vil non sei discovriti.

Ai de mim!

Ohimè!

Diga-me seu nome…

Palesa il nome...

Leonora

Ai, tenha piedade!

Deh, per pietà!...

Manrico

[Levantando a viseira do elmo]

[Sollevando la visiera dell'elmo]

Reconheça-me: sou Manrico.

Ravvisami, Manrico io son.

Você? Como?

Tu!... Come!

Insano temerário!

Insano temerario!

Conde Conte

Manrico

Conde Conte

Leonora

Conde Conte

Conde Conte

Manrico

Seguidor de Urgel,

d'Urgel seguace,

à morte proscrito,

a morte proscritto,

atreve-se a voltar

ardisci volgerti

até estas reais portas?

a queste regie porte?

O que você espera?

Che tardi?...

Vá, chame a guarda,

Or via, le guardie appella,

e o seu rival à espada

ed il rivale

do carrasco entregue.

al ferro del carnefice consegna.

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 48


Conde Conte

O seu fatal instante

Il tuo fatale istante

por demais próximo está,

assai più prossimo è,

insensato. Venha...

dissennato! Vieni...

Conde!

Conte!

De minha fúria vítima,

Al mio sdegno vittima

é preciso que eu sacrifique você...

è d'uopo ch'io ti sveni...

Oh, céus, pare...

Oh ciel! t'arresta...

Siga-me…

Seguimi...

Manrico

Vamos...

Andiam...

Leonora

O que farei?

Che mai farò?

Um só grito meu poderá perdê-lo...

Un sol mio grido perdere lo puote...

Ouça-me…

M'odi...

Não!

No!

De um amor ciumento e desprezado

Di geloso amor sprezzato

arde em mim um terrível fogo.

Arde in me tremendo il foco!

O seu sangue, oh, desgraçado,

Il tuo sangue, o sciagurato,

será pouco para extingui-lo.

Ad estinguerlo fia poco!

[A Leonora]

[A Leonora]

Leonora

Conde Conte

Leonora

Conde Conte

Conde Conte

Leonora

Você se atreveu, oh, louca,

Dirgli, o folle, “Io t'amo”

a lhe dizer “eu amo você”!...

ardisti!

Ele não pode mais viver…

Ei più vivere non può...

Você proferiu palavras

Un accento proferisti

que o condenaram à morte!

che a morir lo condannò!

Que ao menos por um instante

Un istante almen dia loco

ceda sua indignação à razão…

il tuo sdegno alla ragione...

Eu só, de tanto fogo,

Io, sol io, di tanto foco

infelizmente, sou a causa!

son, pur troppo, la cagione!

Que caia, ah, que caia o seu furor

Piombi, ah! piombi il tuo furore

sobre a malvada que o ultrajou.

sulla rea che t'oltraggiò...

Crave a espada neste coração,

Vibra il ferro in questo core,

que não quer amar você, nem pode.

che te amar non vuol, né può.


Manrico

Ato II - A Cigana Primeira Cena Atto II - La Zingara Scena Prima

Ciganos Zingari

Desse soberbo vã é a ira!

Del superbo vana è l'ira!

Ele cairá, por mim ferido.

Ei cadrà da me trafitto.

O mortal, que em você amor inspira,

Il mortal che amor t'ispira,

o amor tornou invencível.

dall'amor fu reso invitto.

[Ao Conde]

[Al Conte]

A sua sorte já foi decidida...

La tua sorte è già compita...

Agora chegou a sua hora!

L'ora ormai per te suonò!

O seu coração e a sua vida

Il suo core e la tua vita

o destino me reservou!

il destino a me serbò!

[Os dois rivais afastam-se com as

[I due rivali si allontanano con le

espadas desembainhadas; Leonora

spade sguainate; Leonora cade,

cai, inconsciente]

priva di sensi]

[Um casebre destruído ao sopé

[Un diruto abituro sulle falde di un

de um monte de Biscaia. Ao fundo,

monte della Biscaglia. Nel fondo,

quase toda aberta, arde uma grande

quasi tutto aperto, arde un gran

fogueira. Azucena senta-se próxima

fuoco. I primi albori. Azucena siede

ao fogo. Manrico está deitado

presso il fuoco. Manrico le sta

ao seu lado, sobre um colchão, e

disteso accanto sopra una coltrice

envolvido em sua capa, com o elmo

ed avviluppato nel suo mantello;

aos pés e a espada entre as mãos,

ha l'elmo ai piedi e fra le mani la

sobre a qual fixa o olhar imóvel.

spada, su cui figge immobilmente

Um bando de ciganos está disperso

lo sguardo. Una banda di Zingari è

em volta]

sparsa all'intorno]

Vejam!

Vedi!

As escuras vestes noturnas

Le fosche notturne spoglie

desnudam a imensa abóbada

de' cieli sveste

dos céus;

l'immensa volta;

parece uma viúva

sembra una vedova

que por fim retira

che alfin si toglie

os escuros panos

i bruni panni

onde estava envolta.

ond'era involta.

Mãos à obra! Mãos à obra!

All'opra! all'opra!

Vamos, martelem.

Dagli, martella.

[Golpeiam com seus instrumentos

[Danno di piglio ai loro ferri del

de profissão, os golpes sobre as

mestiere; al misurato tempestare

bigornas medidos, ora os homens,

dei martelli cadenti sulle incudini, or

ora as mulheres, e ao fim, todos

uomini, or donne, e tutti in un tempo

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 50


Homens Uomini

Todos Tutti

Azucena

juntos entoam a seguinte cantilena:]

infine intonano la cantilena seguente:]

Quem embeleza

Chi del gitano

os dias do cigano?

i giorni abbella?

A ciganinha!

La zingarella!

[Para as mulheres]

[Alle donne]

Escutem-me um pouco; vigor

Versami un tratto; lena

e coragem

e coraggio

para o corpo e a alma vêm ao beber.

il corpo e l'anima traggon dal bere.

[As mulheres servem a eles em copos]

[Le donne mescono ad essi in coppe]

Oh, olha, olha!

Oh guarda, guarda!

Um raio de sol brilha mais vívido

Del sole un raggio brilla più vivido

no meu/seu copo!

nel mio/tuo bicchiere!

Mãos à obra, mãos à obra…

All'opra, all'opra...

Vamos, martelem…

Dagli, martella...

Quem embeleza os dias do cigano?

Chi del gitano i giorni abbella?

A ciganinha!

La zingarella!

Crepitam as chamas!

Stride la vampa!

A multidão indômita corre até aquele

La folla indomita corre a quel

fogo com aparência feliz,

fuoco lieta in sembianza;

gritos de alegria ecoam em torno:

urli di gioia intorno echeggiano:

Rodeada por capangas

Cinta di sgherri

uma mulher avança!

donna s'avanza!

Sinistra resplandece

Sinistra splende

sobre os rostos horríveis

sui volti orribili

a tétrica chama

la tetra fiamma

que se alça ao céu!

che s'alza al ciel!

Crepitam as chamas!

Stride la vampa!

Chega a vítima

Giunge la vittima

vestida de negro,

nero vestita,

seminua e descalça!

discinta e scalza!

Grito feroz de morte se eleva.

Grido feroce di morte levasi;

O eco o repete

l'eco il ripete

de barranco em barranco.

di balza in balza!

Sinistra resplandece

Sinistra splende

sobre os rostos horríveis

sui volti orribili

a tétrica chama

la tetra fiamma

que se alça ao céu!

che s'alza al ciel!


Ciganos Zingaro

Azucena

Manrico

Velho Cigano Vecchio Zingaro

Homens Uomini

Mulheres Donne

Ciganos Zingari

Manrico

Azucena

Triste é a sua canção!

Mesta è la tua canzon!

Igualmente triste é a história funesta

Del pari mesta che la storia funesta

de onde vem seu argumento!

da cui tragge argomento!

[Vira a cabeça para Manrico e

[Rivolge il capo dalla parte di Manrico

murmura bem baixo:]

e mormora sommessamente:]

Vingue-me… Vingue-me!

Mi vendica... Mi vendica!

[Para si]

[Fra sè]

A misteriosa palavra sempre!

L'arcana parola ognor!

Companheiros, avança o dia,

Compagni, avanza il giorno

vamos ganhar nosso pão, vamos!...

a procacciarci un pan, su, su!...

Desçamos até as aldeias próximas.

scendiamo per le propinque ville.

Vamos.

Andiamo.

[Colocam cuidadosamente no saco

[Ripongono sollecitamente nel

as suas ferramentas]

sacco i loro arnesi]

Vamos.

Andiamo.

[Todos descem desordenadamente

[Tutti scendono alla rinfusa giù per

pela encosta e, de vez em quando,

la china; tratto tratto e sempre a

sempre à distância, ouve-se seu canto]

distanza odesi il loro canto]

Quem embeleza

Chi del gitano

os dias do cigano?

i giorni abbella?

A ciganinha!

La zingarella!

Agora estamos sós, conte

Soli or siamo; deh, narra

essa história funesta, por favor.

questa storia funesta.

E você a ignora,

E tu la ignori,

você também!… Mas, jovenzinho,

Tu pur!... Ma, giovinetto,

o estímulo ambicioso levava longe

i passi tuoi

os seus passos!…

d'ambizion lo sprone lungi traea!...

O fim amargo de sua avó

Dell'ava il fine acerbo

é esta história…

e quest'istoria...

Um soberbo Conde a acusou

La incolpò superbo

de feitiçaria,

conte di malefizio,

da qual teria padecido um menino,

onde asseria colto un bambin

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 52


filho dele…

Manrico

Azucena

suo figlio...

Ela foi queimada onde arde

Essa bruciata venne ov'arde

aquele fogo!

quel foco!

[Afastando-se com um calafrio

[Rifuggendo con raccapriccio

das chamas]

dalla fiamma]

Ah, desgraçada!

Ahi! Sciagurata!

Ela foi conduzida amarrada

Condotta ell'era in ceppi al suo

ao seu destino tremendo!

destin tremendo!

Com o filho nos braços,

Col figlio sulle braccia,

eu a seguia chorando.

io la seguia piangendo.

Até ela tentei abrir caminho,

Infino ad essa un varco tentai,

mas tudo em vão…

ma invano aprirmi...

E em vão tentou a mísera

Invan tentò la misera

parar e me benzer!

fermarsi e benedirmi!

Pois, entre blasfêmias obscenas,

Ché, fra bestemmie oscene,

empurrando-a com as espadas,

pungendola coi ferri,

para a fogueira a mandavam

al rogo la cacciavano

os capangas desgraçados!

gli scellerati sgherri!

E então, com palavras truncadas:

Allor, con tronco accento:

Vingue-me! exclamou.

Mi vendica! esclamò.

E essa frase deixou um eco eterno

Quel detto un'eco eterna

neste coração.

in questo cor lasciò.

Manrico

Você a vingou?

La vendicasti?

Azucena

Cheguei a raptar o filho do Conde:

Il figlio giunsi a rapir del Conte:

trouxe-o aqui comigo…

Lo trascinai qui meco...

As chamas ardiam, já prontas.

Le fiamme ardean già pronte.

Manrico

Azucena

As chamas!... Oh, céus!...

Le fiamme!... oh ciel!...

Você, talvez?...

Tu forse?...

Ele se desmanchava em prantos…

Ei distruggeasi in pianto...

Eu sentia meu coração despedaçado,

Io mi sentiva il core dilaniato,

partido!…

infranto!...

Quando ao meu espírito doente,

Quand'ecco agli egri spirti,

como num sonho, apareceu

come in un sogno, apparve

a visão funesta

la vision ferale


Manrico

Azucena

de espectros espantosos!

di spaventose larve!

Os capangas e o suplício!...

Gli sgherri ed il supplizio!...

A mãe com morte no rosto…

La madre smorta in volto...

Descalça, seminua!… o grito,

Scalza, discinta!... il grido,

o conhecido grito escuto…

il noto grido ascolto...

Vingue-me!

Mi vendica!...

A mão trêmula estendo, seguro

La mano convulsa tendo... stringo

a vítima… trago-a ao fogo,

la vittima... nel foco la traggo,

empurro-a…

la sospingo...

Cessa o delírio fatal…

Cessa il fatal delirio...

A horrível cena desaparece...

L'orrida scena fugge...

Apenas as chamas queimam,

La fiamma sol divampa,

e sua presa destroem!

e la sua preda strugge!

Então, giro meu olhar

Pur volgo intorno il guardo

e diante de mim vejo

e innanzi a me vegg'io

o filho do ímpio Conde...

dell'empio Conte il figlio...

Ah! Como?

Ah! come?

O meu filho,

Il figlio mio,

meu filho eu havia queimado!

Mio figlio avea bruciato!

Manrico

O que está dizendo? Que horror!

Che dici! quale orror!

Azucena

Sobre minha cabeça

Sul capo mio le chiome

sinto ainda os cabelos eriçarem!

sento rizzarsi ancor!

[Azucena cai, Manrico emudece

[Azucena ricade, Manrico

tomado pelo horror e pela

ammutolisce colpito d'orrore

surpresa.]

e di sorpresa.]

Manrico

Eu não sou seu filho?

Non son tuo figlio?

E quem sou eu, quem então?

E chi son io, chi dunque?

Azucena

Você é meu filho!

Tu sei mio figlio!

Manrico

Mas você disse…

Eppur dicesti...

Azucena

Ah!... Talvez...

Ah!... Forse...

O que você quer? Quando penso

Che vuoi! Quando al pensier

nesse horrível caso,

s'affaccia il truce caso,

o espírito entrevado põe

lo spirto intenebrato pone

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 54


palavras tolas em meus lábios…

stolte parole sul mio labbro...

Mãe, uma terna mãe,

Madre, tenera madre

não fui sempre para você?

non m'avesti ognora?

Manrico

Eu poderia negá-lo?

Potrei negarlo?

Azucena

Você não deve a mim se ainda vive?

A me, se vivi ancora, nol dei?

Manrico

Azucena

Manrico

À noite,

Notturna,

até os campos de batalha de Velilla,

nei pugnati campi di Velilla,

onde diziam que você estava morto,

ove spento fama ti disse,

não fui para sepultá-lo?

a darti sepoltura non mossi?

Não descobri que lhe escapava

La fuggente aura vital

a aura vital,

non iscovrì,

e não a deteve no seu seio

nel seno non t'arrestò

o meu materno afeto?

materno affetto?...

E quantos cuidados não empreguei

E quante cure non spesi

para sarar tantas feridas?

a risanar le tante ferite! ...

As que eu tinha do dia fatal…

Che portai nel dì fatale...

Todas aqui, no peito!…

Ma tutte qui, nel petto!...

Eu só, entre milhares que fugiam,

Io sol, fra mille già sbandati,

ainda voltava o rosto

al nemico volgendo

para o inimigo!…

ancor la faccia!...

O malvado Luna caiu sobre mim

Il rio De Luna su me piombò

com seu esquadrão, eu caí,

col suo drappello; io caddi,

mas caí como um forte!

però da forte io caddi!

Isso foi graças aos dias

Ecco mercede ai giorni,

que o infame no singular duelo

che l'infame nel singolar certame

teve salvos por você!...

ebbe salvi da te!...

Que estranha piedade por ele

Qual t'acciecava

o cegou?

strana pietà per esso?

Oh, mãe!…

Oh madre!...

Eu não saberia dizer a mim mesmo!

Non saprei dirlo a me stesso!

Dominando mal o meu áspero

Mal reggendo all'aspro

assalto,

assalto,

ele já tinha tocado o chão:

ei già tocco il suolo avea:

Brilhava no alto

Balenava il colpo in alto

o golpe que devia atravessá-lo…

che trafiggerlo dovea...


Azucena

Manrico

Azucena

Manrico

Mensageiro Messo

Manrico

Quando senti uma força estranha,

Quando arresta un moto arcano,

ao descer esta mão…

nel discender, questa mano...

Um frio intenso fez, de repente,

Le mie fibre acuto gelo

estremecerem minhas fibras!

fa repente abbrividir!

Enquanto um grito veio do céu,

Mentre un grido vien dal cielo,

que me disse:

che mi dice:

Não o fira!

Non ferir!

Mas na alma do ingrato

Ma nell'alma dell'ingrato

não houve uma palavra dos céus!

non parlò del cielo un detto!

Oh, se ainda o destino o fizer

Oh! se ancor ti spinge il fato

lutar com este maldito,

a pugnar col maledetto,

cumpra, oh, filho,

compi, o figlio,

como se fosse de um Deus,

qual d'un Dio,

cumpra então a minha ordem!

compi allora il cenno mio!

Até o fim este punhal crave,

Sino all'elsa questa lama

afunde no coração do ímpio.

vibra, immergi all'empio in cor.

Sim, eu lhe juro,

Sì, lo giuro,

este punhal descerá

questa lama scenderà

sobre o coração do ímpio.

dell'empio in cor.

[Ouve-se um longo som

[Odesi un prolungato suono

de trompas]

di corno]

Ruiz me envia o mensageiro!

L'usato messo Ruiz invia!

Talvez…

Forse...

Vingue-me!

Mi vendica!

[Fica concentrada]

[Resta concentrata]

[Ao mensageiro]

[Al Messo]

Aproxime-se.

Inoltra il piè.

Diga-me, seguiu-se ação guerreira?

Guerresco evento, dimmi, seguìa?

Que responda a mensagem

Risponda il foglio

que lhe entrego.

che reco a te.

“Castellor está em nossas mãos,

"In nostra possa è Castellor;

você deve, por ordem do príncipe,

ne dei tu, per cenno del prence,

vigiar suas defesas.

vigilar le difese.

E, o quanto puder,

Ove ti è dato,

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 56


Azucena

Manrico

deve se apressar para vir…

affrettati a venir...

Ao cair da noite,

Giunta la sera,

levada ao engano

tratta in inganno

pela anúncio da sua morte,

di tua morte al grido,

no convento vizinho

nel vicin Chiostro della croce

o véu cobrirá Leonora.”

il velo cingerà Leonora".

[Com dolorosa exclamação]

[Con dolorosa esclamazione]

Oh, justo céu!

Oh giusto cielo!

[Para si]

[Fra sè]

O que foi?

Che fia!

[Ao mensageiro]

[Al Messo]

Desça veloz pelos penhascos,

Veloce scendi la balza,

e para mim traga um cavalo…

e d'un cavallo a me provvedi...

Corro…

Corro...

Azucena

Manrico!

Manrico!

Manrico

O tempo é curto…

Il tempo incalza...

Voe, espere-me ao pé do desfilareiro.

Vola, m'aspetta del colle a' piedi.

[O mensageiro parte depressa]

[Il Messo parte frettolosamente]

Azucena

O que está esperando? O que quer?

E speri, e vuoi?...

Manrico

[Para si]

[Fra sè]

Perdê-la?... Oh, angústia!...

Perderla?... Oh ambascia!...

Perder esse anjo?...

Perder quell'angelo?...

[Para si]

[Fra sè]

Está fora de si.

È fuor di sé!

Mensageiro Messo

Azucena

Manrico

[Coloca o elmo e veste a capa]

[Postosi l'elmo ed il mantello]

Adeus…

Addio...

Azucena

Não... Pare... Ouça...

No... ferma... odi...

Manrico

Deixe-me…

Mi lascia...


Azucena

Manrico

Pare... Sou eu que falo com você.

Ferma... Son io che parlo a te!

Você vai se arriscar ainda doente

Perigliarti ancor languente

pelo caminho selvagem e ermo!

per cammin selvaggio ed ermo!

As feridas você quer, demente,

Le ferite vuoi, demente,

reabrir no peito enfermo?

riaprir del petto infermo?

Não, não posso consenti-lo…

No, soffrirlo non poss'io...

O seu sangue é sangue meu!…

Il tuo sangue è sangue mio!...

Cada lágrima que verter

Ogni stilla che ne versi

é espremida do meu coração!

tu la spremi dal mio cor!

Um momento pode me furtar

Un momento può involarmi

o meu bem, a minha esperança!…

il mio ben, la mia speranza!...

Não, poder o bastante para me deter

No, che basti ad arrestarmi

não existe no céu e na terra…

terra e ciel non han possanza...

Ah!... libere, oh, mãe,

Ah!... mi sgombra, o madre,

os meus passos…

i passi...

Ai de você, se eu ficasse aqui!…

Guai per te s'io qui restassi! ...

Você veria a seus pés

Tu vedresti ai piedi tuoi

morto de dor o filho!

spento il figlio dal dolor!

[Afasta-se, apesar dos esforços de Azucena]

[S'allontana, indarno trattenuto da Azucena]

Segunda Cena

[Átrio interno de um convento na

[Atrio interno di un luogo di ritiro in

Scena Seconda

vizinhança de Castellor. Árvores ao fundo.

vicinanza di Castellor. Alberi nel fondo.

Conde Conte

Ferrando

Conde Conte

É noite. O Conde, Ferrando e alguns

È notte. Il Conte, Ferrando ed alcuni

homens avançam cautelosamente,

Seguaci inoltrandosi cautamente

envolvidos em suas capas]

avviluppati nei loro mantelli]

Tudo está deserto,

Tutto è deserto,

não soa ainda pelo ar

né per l'aura ancora

o cântico de costume…

suona l'usato carme...

Cheguei a tempo!

In tempo io giungo!

Audaz empresa, oh, senhor,

Ardita opra, o Signore,

você empreende.

imprendi.

Audaz, como furioso amor

Ardita, e qual furente amore

e irritado orgulho, a mim pediram.

ed irritato orgoglio chiesero a me.

Morto o rival, parecia derrubado

Spento il rival, caduto

cada obstáculo existente

ogni ostacol sembrava

aos meus desejos,

a' miei desiri;

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 58


Ferrando

Conde Conte

Ferrando

Conde Conte

Ferrando Homens Seguaci

mas um novo e mais poderoso

novello e più possente

ela apresenta...

ella ne appresta...

O altar!

L'altare!

Ah, não, Leonora não será de outro!

Ah no, non fia d'altri Leonora!...

Leonora é minha!

Leonora è mia!

O brilho do seu sorriso

Il balen del suo sorriso

é maior do que o raio de uma estrela!

d'una stella vince il raggio!

O fulgor de seu belo rosto

Il fulgor del suo bel viso

causa em mim uma coragem nova!…

novo infonde in me coraggio!...

Ah, o amor, o amor em que ardo

Ah! l'amor, l'amore ond'ardo

falará a meu favor!

le favelli in mio favor!

Disperse o sol de um olhar seu

Sperda il sole d'un suo sguardo

a tempestade do meu coração.

la tempesta del mio cor.

[Ouve-se o toque dos sinos sagrados]

[Odesi il rintocco de' sacri bronzi]

Esse som!... Oh, céus!

Quel suono!... oh ciel...

A sineta anuncia

La squilla

que o rito se aproxima!

vicino il rito annunzia!

Ah! Antes que ela chegue

Ah! Pria che giunga

ao altar… a raptarei!…

all'altar... si rapisca!...

Ah, atenção!

Ah bada!

Cale-se!…

Taci!...

Não ouço… Vão…

Non odo... andate...

na sombra daquelas faias

di quei faggi

escondam-se…

all'ombra Celatevi...

[Ferrando e os homens afastam-se]

[Ferrando e seguaci si allontanano]

Ah! Daqui a pouco será minha...

Ah! Fra poco mia diverrà...

Um fogo me toma todo!

Tutto m'investe un foco!

[Ansioso, com cuidado observa o

[Ansioso, guardingo osserva dalla

local de onde deve chegar Leonora,

parte ove deve giungere Leonora,

enquanto Ferrando e os homens

mentre Ferrando e i Seguaci dicono

dizem em voz baixa:]

sottovoce:]

Força!... Vamos... escondamo-nos

Ardire!... Andiam... celiamoci

entre as sombras... no mistério!

fra l'ombre... nel mister!

Força!... Vamos... silêncio!

Ardire!... Andiam!... silenzio!

Que se cumpra a sua vontade.

Si compia il suo voler.


Conde Conte

Coro de Religiosas Coro di Religiose

Leonora

Ines

Leonora

Para mim, hora fatal,

Per me, ora fatale,

apresse os seus momentos.

i tuoi momenti affretta:

A alegria que me espera

La gioia che m'aspetta

não é uma alegria mortal!...

gioia mortal non è!...

Em vão um Deus rival

Invano un Dio rivale

se opõe ao meu amor:

s'oppone all'amor mio:

Não pode nem mesmo um Deus,

Non può nemmeno un Dio,

mulher, tirar você de mim!

donna, rapirti a me!

[Afasta-se aos poucos e esconde-se

[S'allontana a poco a poco e si

com o Coro entre as árvores]

nasconde col Coro fra gli alberi]

Ah!… se o erro obstruir seus olhos,

Ah!... se l'error t'ingombra,

oh, filha de Eva,

o figlia d'Eva, i rai,

prestes a morrer, você verá

presso a morir, vedrai

que uma sombra, um sonho foi;

che un'ombra, un sogno fu;

mais que sonho, uma sombra

anzi del sogno un'ombra

é a esperança aqui embaixo!

la speme di quaggiù!

Venha e que a esconda o véu

Vieni e t'asconda il velo

de todo olhar humano!

ad ogni sguardo umano!

Aura ou pensamento mundano

Aura o pensier mondano

aqui não pode viver.

qui vivo più non è.

Volte-se para o céu, e o céu

Al ciel ti volgi e il cielo

se abrirá para você.

si schiuderà per te.

[Entra Leonora com Ines,

[Entra Leonora con Ines

seguidas por mulheres]

e seguito muliebre]

Por que está chorando?

Perchè piangete?

Ah!… Porque você para sempre

Ah!... Dunque tu per sempre

nos deixará!

ne lasci!

Oh, doces amigas,

O dolci amiche,

um sorriso, uma esperança,

un riso, una speranza,

uma flor para mim a terra não tem!

un fior la terra non ha per me!

Desejo voltar-me àquele que

Degg'io volgermi a Quei che

é o único sustento

degli afflitti è solo

dos aflitos e depois

sostegno e dopo

dos dias penitentes

i penitenti giorni

poderei, entre os eleitos,

può fra gli eletti

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 60


com meu bem perdido

Conde Conte

Mulheres Donne

Leonora

Conde Conte

Mulheres Donne

Leonora

Conde Conte

Leonora

Conde Conte

al mio perduto bene

um dia me reunir!…

ricongiungermi un dì!...

Sequem os olhos

Tergete i rai

e me guiem ao altar!

e guidatemi all'ara!:

Não, jamais!

No, giammai!...

O Conde!

Il Conte!

Justos céus!

Giusto ciel!

Para você não há

Per te non avvi

outro altar que não o de Himeneu.

che l'ara d'imeneo.

Quanta audácia!…

Cotanto ardia!...

Insano!… E veio até aqui?

Insano!... E qui venisti?...

Para fazê-la minha.

A farti mia.

[E, assim dizendo, dirige-se a

[E sì dicendo scagliasi verso Leonora,

Leonora para dela se apoderar, mas

onde impadronirsi di lei, ma fra esso

entre ele e a presa aparece, tal qual

e la preda trovasi, qual fantasma

um fantasma de sob a terra, Manrico.

sorto di sotterra, Manrico. Un grido

Irrompe um grito geral]

universale irrompe]

É ele... Posso acreditar?

E deggio... e posso crederlo?

Vejo você ao meu lado!

Ti veggo a me d'accanto!

Isto é um sonho, um êxtase,

È questo un sogno, un'estasi,

um encanto sobre-humano!

un sovrumano incanto!

Não resiste a tão repentino

Non regge a tanto giubilo

júbilo o coração suspenso!

rapito, il cor sospeso!

É você que desce do céu,

Sei tu dal ciel disceso,

ou estou no céu com você?

o in ciel son io cor te?

Então os mortos deixam

Dunque gli estinti lasciano

o reino eterno da morte,

di morte il regno eterno;

para meu prejuízo o inferno

a danno mio rinunzia

renuncia suas presas!

le prede sue l'inferno!

Mas se nunca romperam

Ma se non mai si fransero


Manrico

Mulheres Donne

Ferrando Homens Seguaci

Ruiz

Manrico

Ruiz

Manrico

Conde Conte

Leonora

Manrico

os fios dos seus dias,

de' giorni tuoi gli stami,

se você vive e deseja viver,

se vivi e viver brami,

fuja dela, de mim.

fuggi da lei, da me.

Não me recebeu o céu,

Né m'ebbe il ciel,

nem o horrível

né l'orrido

caminho da passagem infernal…

varco infernal sentiero...

Capangas infames desferem

Infami sgherri vibrano

golpes mortais, é verdade!

mortali colpi, è vero!

Mas um poder irresistível

Potenza irresistibile

têm as ondas dos rios…

hanno de' fiumi l'onde!

E os ímpios um Deus confunde!

Ma gli empi un Dio confonde!

Esse Deus me socorreu.

Quel Dio soccorse a me.

[Para Leonora]

[A Leonora]

O céu em que confiou

Il cielo in cui fidasti

teve piedade de você.

pietade avea di te.

[Para o Conde]

[Al Conte]

Você enfrenta o destino:

Tu col destin contrasti:

ele é seu defensor.

Suo difensore egli è.

[Ruiz seguido de um grande

[Ruiz seguito da una lunga tratta

número de homens armados]

di Armati, e detti]

Viva Urgel!

Urgel viva!

Meus bravos guerreiros!

Miei prodi guerrieri!

Venham...

Vieni...

[Para Leonora]

[A Leonora]

Mulher, me siga!

Donna, mi segui.

Você acredita mesmo?

E tu speri?

Ah!

Ah!

[Para o Conde]

[Al Conte]

Pare...

T'arresta...

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 62


Conde Conte

Ruiz Soldados Armati

Ferrando Homens Seguaci

Conde Conte

Leonora

Conde Conte

Ruiz Soldados Armati

Ferrando Homens Seguaci

Ato III - O Filho da Cigana Primeira Cena Atto III - Il Figlio Della Zingara Scena Prima

Soldados Armati

[Desembainhando a espada]

[Sguainando la spada]

Quer de mim roubá-la! Não!

Involarmi costei! No!

[Cercando o Conde]

[Accerchiando il Conte]

Está delirando!

Vaneggi!

O que está tentando, Senhor?

Che tenti, Signor?

[O Conde é desarmado pelos

[Il Conte è disarmato da quei

homens de Ruiz]

di Ruiz]

Perdi toda a luz da razão!

Di ragione ogni lume perdei!

[Para si]

[Fra sè]

Que terror…

M'atterrisce...

Meu coração está tomado de fúria!

Ho le furie nel cor!

[Para Manrico]

[A Manrico]

Venha:

Vien:

a sorte sorri para você.

la sorte sorride per te.

[Para o Conde]

[Al Conte]

Renda-se,

Cedi;

render-se agora não é covardia.

or ceder viltade non è.

[Manrico leva consigo Leonora:

[Manrico tragge seco Leonora,

o Conde é rechaçado; as mulheres

il Conte è respinto; le donne

se refugiam no convento]

rifuggono al cenobio]

[Acampamento. À direita, a tenda do

[Accampamento. A destra il

Conde de Luna, sobre a qual tremula

padiglione del Conte di Luna, su

a bandeira em sinal de supremo

cui sventola la bandiera in segno di

comando; ao longe eleva-se Castellor.

supremo comando; da lungi torreggia

Escoltas de homens armados por toda

Castellor. Scolte di uomini d'arme

parte; alguns jogam, outros pulem

dappertutto; alcuni giuocano, altri

suas armas, outros passeiam, então

puliscono le armi, altri passeggiano,

surge Ferrando da tenda do Conde]

poi Ferrando dal padiglione del Conte]

Agora com os dados,

Or co' dadi,

mas daqui a pouco

ma fra poco

jogaremos outro jogo.

giuocherem ben altro gioco.


Outros Altri

Alguns Alcuni

Outros Altri

Todos Tutti

Ferrando

Todos Tutti

Conde Conte

Este aço, de sangue agora limpo,

Quest'acciar, dal sangue or terso,

ficará de sangue em breve coberto.

Fia di sangue in breve asperso!

[Ouvem-se instrumentos militares]

[Odonsi strumenti guerrieri]

O socorro pedido!

Il soccorso dimandato!

Têm o aspecto do valor!

Han l'aspetto del valor!

[Um grande pelotão de soldados,

[Un grosso drappello di balestieri,

completamente armados, atravessa

in completa armatura, travesa

o campo]

il campo]

Que não mais se atrase

Più l'assalto ritardato

agora o assalto a Castellor.

or non fia di Castellor.

Sim, bravos amigos;

Sì, prodi amici;

no novo dia pensa

al dì novello è mente

o capitão em atacar

del capitan la rocca

a torre por toda parte.

investir d'ogni parte.

Por lá, gordo butim

Colà pingue bottino

certamente encontraremos,

certezza è rinvenir

mais do que esperança.

più che speranza.

Venceremos, é nosso.

Si vinca; è nostro.

Você nos convida para a dança!

Tu c'inviti a danza!

Soe, ecoe

Squilli, echeggi

a trombeta guerreira,

la tromba guerriera,

chame as armas,

chiami all'armi,

para a luta,

alla pugna,

para o assalto,

all'assalto;

esteja amanhã a nossa bandeira

fia domani la nostra bandiera

plantada no alto daqueles muros.

di quei merli piantata sull'alto.

Não, jamais nos sorriu a vitória com

No, giammai non sorrise vittoria

esperanças mais alegres que agora!...

di più liete speranze finor!...

Ali nos esperam o lucro e a glória,

Ivi l'util ci aspetta e la gloria,

ali são grandes o espólio e a honra.

ivi opimi la preda e l'onor.

[O conde sai da tenda e lança um

[Il conte uscito dalla tenda volge uno

olhar ameaçador a Castellor]

sguardo bieco a Castellor]

Nos braços do meu rival!

In braccio al mio rival!

Este pensamento,

Questo pensiero

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 64


Ferrando

como perseguidor

come persecutor

demônio, me segue aonde eu for!...

demone ovunque m'insegue!...

Nos braços do meu rival!…

In braccio al mio rival!...

Mas corro,

Ma corro,

assim que surge a aurora,

surta appena l'aurora,

corro para separá-los… Oh,

io corro e separarvi... Oh

Leonora!

Leonora!

[Ouve-se tumulto]

[Odesi tumulto]

O que foi?

Che fu?

Perto do acampamento

Dappresso il campo

vagava uma cigana:

s'aggirava una zingara:

surpreendida por nossos

sorpresa da' nostri esploratori,

exploradores,

si volse in fuga; essi,

pôs-se em fuga; temendo-os

a ragion temendo.

com razão.

Una spia nella trista,

Para espiar a infeliz,

l'inseguir...

seguiram-na…

Conde Conte

Ferrando

Conde Conte

Ferrando

Conde Conte

Exploradores Esploratori

Azucena

Conde Conte

Foi capturada?

Fu raggiunta?

Foi presa.

È presa.

Você a viu?

Vista l'hai tu?

Não; o condutor da escolta

No; della scorta

me relatou o evento.

il condottier m'apprese l'evento.

Eis que chega.

Eccola.

[O tumulto está mais próximo. Eles,

[Tumulto più vicino. Detti, Azucena,

Azucena com as mãos atadas é

con le mani avvinte, trascinata

levada pelos exploradores, uma

dagli esploratori, un codazzo d'altri

comitiva de outros soldados]

soldati]

Adiante, oh, bruxa, adiante...

Innanzi, o strega, innanzi...

Socorro! Soltem-me... Oh, furibundos!

Aita!... Mi lasciate... O furibondi

Que mal eu fiz?

Che mal fec'io?

Que se aproxime.

S'appressi.


[Azucena é levada perante o Conde]

Azucena

Conde Conte

Azucena

Conde Conte

Azucena

Conde Conte

Azucena

Conde Conte

Ferrando

Azucena

[Azucena è tratta innanzi al Conte]

Responda-me

A me rispondi

e trema se mentir!

e trema dal mentir!

Pergunte!

Chiedi!

Aonde vai?

Ove vai?

Não sei.

Nol so.

O quê?

Che?

É costume de uma cigana

D'una zingara è costume

mover sem planos

muover senza disegno

seu passo vagabundo,

il passo vagabondo,

e o seu teto é o céu,

ed è suo tetto il ciel,

sua pátria é o mundo.

sua patria il mondo.

E de onde você vem?

E vieni?

De Biscaia, onde até agora

Da Biscaglia, ove finora

as estéreis montanhas

le sterili montagne

tive como refúgio.

ebbi a ricetto!

De Biscaia!

Da Biscaglia!

[Para si]

[Fra sè]

O que ouvi?... Oh, que suspeito!

Che intesi!... O qual sospetto!

Vivia dias pobres,

Giorni poveri vivea,

mas contente com meu estado,

pur contenta del mio stato;

como única esperança um filho tinha…

sola speme un figlio avea...

Ele me deixou!…

Mi lasciò!...

Me esqueceu, o ingrato.

m'oblia, l'ingrato!

Eu, abandonada, sigo errando,

Io deserta, vado errando

por esse filho buscando,

di quel figlio ricercando,

por esse filho que ao meu coração

di quel figlio che al mio core

penas horríveis custou!…

pene orribili costò!...

E pelo qual sinto um amor

Qual per esso provo amore

que nenhuma mãe na terra sentiu!

madre in terra non provò!

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 66


Ferrando

Conde Conte

Azucena

Conde Conte

[Para si]

[Fra sè]

O seu rosto!

Il Suo volto!

Diga, você passou muito tempo

Di', traesti lunga etade

entre aqueles montes?

tra quei monti?

Muito, sim.

Lunga, sì.

Se lembraria de um menino,

Rammenteresti un fanciul,

filho de um conde,

prole di conti,

roubado do seu castelo,

involato al suo castello,

há três lustros,

son tre lustri,

e levado de lá?

e tratto quivi?

E você, me diga… quem é?…

E tu, parla... sei?...

Irmão do raptado.

Fratello del rapito.

Azucena

Ah!

Ah!

Ferrando

[Notando o terror indisfarçado

[Notando il mal nascosto terrore

de Azucena]

di Azucena]

Sim!

Sì!

Alguma vez ouviu dele falar?

Ne udivi mai novella?

Eu?… Não… Permita

Io?... No... Concedi

que de meu filho

Che del figlio

as pegadas eu descubra.

l'orme io scopra.

Ferrando

Quieta, iníqua…

Resta, iniqua...

Azucena

Ai de mim!…

Ohimè!...

Ferrando

[Ao conde]

[Ai conde]

Azucena

Conde Conte

Conde Conte

Azucena

Conde Conte

Você vê quem é a infame,

Tu vedi chi l'infame,

que a horrível obra cometeu...

orribil opra commettea...

Termine.

Finisci.


Ferrando

É ela.

È dessa.

Azucena

Cale-se.

Taci

Ferrando

É ela que o menino queimou!

È dessa che il bambino Arse!

Conde Conte

Ah, pérfida!

Ah! perfida!

Coro

Ela mesma!

Ella stessa!

Ele mente…

Ei mentisce...

Do seu destino agora não fugirá.

Al tuo destino or non fuggi.

Ai!…

Deh!...

Esses nós, apertem mais.

Quei nodi più stringete.

[Os soldados obedecem]

[I soldati eseguiscono]

Oh, Deus!... Oh, Deus!

Oh! Dio!... Oh Dio!...

Pode gritar.

Urla pure.

Azucena

Conde Conte

Azucena

Conde Conte

Azucena

Coro

Azucena

Conde Conte

Ferrando

Conde Conte

Azucena

E você não me ouve,

E tu non m'odi,

oh, Manrico, oh, filho meu?

o Manrico, o figlio mio?...

Não socorre a sua mãe infeliz?

Non soccorri all'infelice madre tua?

Seria verdade?

Sarebbe ver?

A genitora de Manrico?

Di Manrico genitrice?

Pois trema!…

Trema!...

Oh, sorte!…

Oh sorte!...

Em meu poder!

In mio poter!

Ai, moderem, oh, bárbaros,

Deh, rallentate, o barbari,

minhas duras torturas...

le acerbe mie ritorte...

Este cruel suplício

Questo crudel supplizio

é prolongada morte...

è prolungata morte...

De iníquo genitor

D'iniquo genitore

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 68


ímpio e pior filho você é, trema!

Conde Conte

Ferrando Coro

empio figliuol peggiore, trema...

Há um Deus para os míseros,

V'è Dio pei miseri,

e esse Deus o punirá!

e Dio ti punirà!

É sua prole, oh, torpe cigana,

Tua prole, o turpe zingara,

ele, aquele traidor?…

colui, quel traditore?...

Poderei com o seu suplício

Potrò col tuo supplizio

feri-lo no meio do coração!

ferirlo in mezzo al core!

Tal alegria me inunda o peito,

Gioia m'inonda il petto,

e palavras não a podem expressar!

cui non esprime il detto!...

Comigo as cinzas fraternas

Meco il fraterno cenere

plena vingança terão!

piena vendetta avrà!

Infame pira você verá,

Infame pira sorgere,

ah, sim, surgir dentro em pouco...

ah, sì, vedrai tra poco...

E não somente o fogo terreno

Né solo tuo supplizio

será o seu suplício!…

sarà terreno foco!...

As chamas do inferno

Le vampe dell'inferno

serão para você fogo eterno;

a te fina rogo eterno;

lá, penar e arder

ivi penare ed ardere

a sua alma deverá!

l'anima tua dovrà!

[Ao sinal do conde, os soldados

[Al cenno del Conte i soldati traggon

levam Azucena. O conde entra em

seco Azucena. Egli entra nella sua

sua tenda, seguido por Ferrando]

tenda, seguito da Ferrando]

Segunda Cena

[Sala adjacente à capela de Castellor,

[Sala adiacente alla Cappella in

Scena Seconda

com varanda no fundo]

Castellor, con il verone nel fondo]

O que foi o fragor de armas

Quale d'armi fragor

Ferrando

Manrico

Leonora

Manrico

ouvido há pouco?

poc'anzi intesi?

Alto é o perigo!

Alto è il periglio!

Em vão seria dissimulá-lo!

Vano dissimularlo fora!

Ao romper da nova aurora

Alla novella aurora

atacados seremos...

assaliti saremo!...

Ai de mim!... O que está dizendo?

Ahimè!... che dici!...

Mas sobre nossos inimigos

Ma de' nostri nemici

obteremos a vitória…

avrem vittoria...

Iguais a eles somos em audácia,

Pari abbiam al loro ardir,


espada e coragem!

Leonora

Manrico

brando e coraggio!...

[Para Ruiz]

[A Ruiz]

Vá, as obras bélicas,

Tu va'; le belliche opre,

em minha breve ausência,

nell'assenza mia breve,

a você designo.

a te commetto.

Que nada falte!…

Che nulla manchi!...

[Ruiz parte]

[Ruiz parte]

Com que tétrica luz

Di qual tetra luce

resplandece nosso casamento!

il nostro imen risplende!

O funesto presságio,

Il presagio funesto,

ai, deixa passar, oh, querida!…

deh, sperdi, o cara!...

Leonora

E consigo?

E il posso?

Manrico

Amor... sublime amor,

Amor... sublime amore,

Leonora Manrico

nesse instante

in tale istante

falará ao seu coração.

ti favelli al core.

Ah, sim, meu bem, sendo

Ah! sì, ben mio, coll'essere

eu seu, e você minha consorte,

io tuo, tu mia consorte,

terei a alma mais intrépida,

avrò più l'alma intrepida,

o braço terei mais forte;

il braccio avrò più forte;

porém, se na página

ma pur se nella pagina

do meu destino estiver escrito

de' miei destini è scritto

que eu fique entre as vítimas,

ch'io resti fra le vittime

pela espada hostil trespassado,

dal ferro ostil trafitto,

entre aqueles últimos suspiros

fra quegli estremi aneliti

até você irá meu pensamento

a te il pensier verrà

e para mim a morte parecerá

e solo in ciel precederti

que apenas a precedi no céu!

la morte a me parrà!

[Ouve-se o som do órgão da

[Odesi il suono dell'organo

capela vizinha]

della vicina cappella]

A onda dos sons místicos

L'onda de' suoni mistici

pura desce até o coração!

pura discende al cor!

Venha, para nós o templo abre

Vieni; ci schiude il tempio

as alegrias de um casto amor.

gioie di casto amor.

[Ruiz aparece apressado]

[Ruiz sopraggiunge frettoloso]

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 70


Ruiz

Manrico

Ruiz

Manrico

Ruiz

Manrico?

Manrico?

O quê?

Che?

A cigana,

La zingara,

venha, olha por entre os cepos.

vieni, tra ceppi mira...

Oh, Deus!

Oh Dio!

Pelas mãos dos bárbaros

Per man de' barbari

acesa já está a pira...

accesa è già la pira...

[Aproximando-se da varanda]

[Accostandosi al verone]

Oh, céus! Minhas pernas cambaleam...

Oh ciel! mie membra oscillano...

Nuvens me cobrem os olhos!

Nube mi copre il ciglio!

Leonora

Você está tremendo!

Tu fremi!

Manrico

E deveria!... Você sabe. Eu sou…

E il deggio!... Sappilo. Io son...

Leonora

Quem?

Chi mai?

Manrico

Seu filho!

Suo figlio!...

Manrico

Ah! Covardes!... O terrível espetáculo

Ah! vili!... Il rio spettacolo

quase me rouba o ar…

Quasi il respir m'invola...

Reúna os nossos, depressa…

Raduna i nostri, affrettati...

Ruiz... vá...

Ruiz... va...

volte… voe…

torna... vola...

[Ruiz sai]

[Ruiz parte]

Daquela pira o horrendo fogo

Di quella pira l'orrendo foco

todas as minhas fibras queima...

tutte le fibre m'arse. avvampò!...

Ímpios, apaguem-na, ou eu,

Empi, spegnetela, o ch'io

dentro em pouco

fra poco

com seu sangue a apagarei...

col sangue vostro la spegnerò...

Já era filho antes de amar você,

Era già figlio prima d'amarti,

não pode me conter o seu martírio.

non può frenarmi il tuo martir.

Mãe infeliz, corro para salvá-la,

Madre infelice, corro a salvarti,

ou ao menos corro para morrer

o teco almeno corro

com você.

a morir!


Leonora

Ruiz Soldados Armati

Ato IV – O Suplício Primeira Cena Atto IV – Il Supplizio Scena Prima

Ruiz

Leonora

Não resisto a golpes tão funestos...

Non reggo a colpi tanto funesti...

Oh, muito melhor seria morrer!

Oh, quanto meglio saria morir!

[Ruiz volta com soldados]

[Ruiz torna con Armati]

Às armas! Às armas!

All'armi, all'armi!

Cá estamos prestes a lutar com você,

Eccone presti a pugnar teco,

a morrer com você!

teco a morir.

[Manrico sai apressado seguido de

[Manrico parte frettoloso seguito da

Ruiz e dos soldados]

Ruiz e dagli Armati]

Uma ala do palácio da Aljafería.

[Un'ala del palazzo dell'Aliaferia.

No canto, uma torre com janelas

All'angolo una torre con finestre

protegidas com barras de ferro.

assicurate da spranghe di ferro.

Noite escuríssima. Avançam

Notte oscurissima. Si avanzano

duas pessoas sob mantos:

due persone ammantellate:

são Ruiz e Leonora]

sono Ruiz e Leonora]

Chegamos,

Siam giunti;

eis a torre,

ecco la torre,

onde gemem os prisioneiros do

ove di Stato gemono i

Estado...

prigionieri...

ah, o infeliz aqui foi trazido.

ah, l'infelice ivi fu tratto!

Vá, deixe-me,

Vanne, lasciami,

não tenha temor por mim...

né timor di me ti prenda...

Talvez eu possa salvá-lo.

Salvarlo io potrò forse.

[Ruiz afasta-se]

[Ruiz si allontana]

Temor por mim?… segura

Timor di me?... sicura,

e rápida é a minha defesa.

presta è la mia difesa.

[Seus olhos fixam-se em uma gema

[I suoi occhi figgonsi ad una gemma

que adorna sua mão direita]

che le fregia la mano destra.]

Nesta escura noite envolvida

In quest'oscura notte ravvolta,

próxima de você estou,

presso a te son io,

e você não sabe…

e tu nol sai...

Gemente ar que em volta sopra,

Gemente aura che intorno spiri,

ai, tenha piedade e leva-lhe

deh, pietosa gli arreca

os meus suspiros…

i miei sospiri...

Sobre as asas rosas do amor

D'amor sull'ali rosee

vá, suspiro dolente:

vanne, sospir dolente:

Do mísero prisioneiro

Del prigioniero misero

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 72


conforta a enferma mente…

Vozes Internas Voci Interne

Leonora

Manrico

Leonora

Vozes Internas Voci Interne

Leonora

conforta l'egra mente...

Como uma aura de esperança

Com'aura di speranza

paira sobre aquela cela:

aleggia in quella stanza:

Desperte em suas memórias

Lo desta alle memorie,

os sonhos do amor!

ai sogni dell'amor!

Mas, ai, não lhe diga, sem querer,

Ma deh! non dirgli, improvvido,

as penas do meu coração!

le pene del mio cor!

[Soa o sino dos mortos]

[Suona la campana dei morti]

Misericórdia de uma alma já próxima

Miserere d'un'alma già vicina

à partida de que não há retorno.

alla partenza che non ha ritorno!

Misericórdia dela, bondade divina,

Miserere di lei, bontà divina,

para que não seja presa

preda non sia

da infernal morada!

dell'infernal soggiorno!

Esse som,

Quel suon,

essas preces solenes,

quelle preci solenni,

funestas, encheram este ar

funeste, empiron quest'aere

de lúgubre terror!…

di cupo terror!...

Contenho a angústia,

Contende l'ambascia,

que toda me toma,

che tutta m'investe,

do lábio a respiração,

al labbro il respiro,

do coração as palpitações!

i palpiti al cor!

[Da torre]

[Dalla torre]

Ah, que a morte sempre

Ah, che la morte ognora

tarda a vir...

è tarda nel venir

para quem deseja morrer!…

a chi desia morir!...

Adeus, Leonora!

Addio, Leonora!

Oh, céus!... faltam-me forças!

Oh ciel!... sento mancarmi!

Misericórdia de uma alma já próxima

Miserere d'un'alma già vicina

à partida de que não há retorno.

alla partenza che non ha ritorno!

Misericórdia dela, bondade divina,

Miserere di lei, bontà divina

para que não seja presa

preda non sia

da infernal morada!

dell'infernal soggiorno!

Sobre a horrível torre, ah!

Sull'orrida torre, ah!

Parece que a morte com asas

Par che la morte con ali di


tenebrosas

Manrico

Leonora

Conde Conte

tenebre

pairando vai!

librando si va!

Ai! Talvez abertas lhe sejam estas

Ahi! forse dischiuse gli fian queste

portas somente quando cadáver

porte sol quando cadaver

já frio for!

già freddo sarà!

[Da torre]

[Dalla torre]

Pago com meu sangue

Sconto col sangue mio

o amor que senti por você!...

l'amor che posi in te!...

Não se esqueça de mim!

Non ti scordar di me!

Leonora, adeus!

Leonora, addio!

De você, de você me esquecer!!…

Di te, di te scordarmi!!...

Verá que amor algum na terra

Tu vedrai che amore in terra

jamais foi mais forte do que o meu;

mai del mio non fu più forte;

venceu o destino em áspera guerra,

vinse il fato in aspra guerra,

vencerá a própria morte.

vincerà la stessa morte.

Ou com o preço da minha vida

O col prezzo di mia vita

a sua vida salvarei,

la tua vita io salverò,

ou com você para sempre unida

o con te per sempre unita

à tumba descerei.

nella tomba io scenderò.

[Abre-se uma porta; saem o

[S'apre una porta; n'escono il

conde e alguns homens. Leonora

Conte ed alcuni Seguaci. Leonora

fica à parte]

è disparte]

Estão ouvindo? Ao alvorecer,

Udite? Come albeggi,

o machado ao filho

la scure al figlio

e a fogueira à mãe.

ed alla madre il rogo.

[Os homens entram na torre]

[I Seguaci entrano nella torre]

Abuso talvez do pleno poder

Abuso io forse del poter che pieno

a mim transmitido pelo príncipe!

In me trasmise il prence!

A isso você me trouxe,

A tal mi traggi,

mulher para mim funesta!…

Donna per me funesta!...

Onde ela estará agora?

Ov'ella è mai?

Retomada Castellor,

Ripreso Castellor,

dela notícias

di lei contezza

não tive, e foram em vão

non ebbi, e furo indarne

tantas buscas, tantas!

tante ricerche e tante!

Ah! Onde você está, cruel?

Ah! dove sei, crudele?

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 74


Leonora

Conde Conte

Leonora

Conde Conte

Leonora

Conde Conte

Leonora

Conde Conte

Leonora

Conde Conte

Leonora

Conde Conte

[Avançando]

[Avanzandosi]

Diante de você.

A te dinante.

Que voz!... Como?... Você, Leonora?

Qual voce!... come!... tu, donna?

Está vendo.

Il vedi.

Para que veio?

A che venisti?

Ele está próximo de sua hora extrema,

Egli è già presso all'ora estrema;

e você ainda pergunta?

e tu lo chiedi?

Você ousaria?…

Osar potresti?...

Ah, sim, por ele piedade peço…

Ah sì, per esso pietà domando...

O quê? Está delirando!

Che! tu deliri!

Eu, pelo rival sentir piedade?

Io del rival sentir pietà?

Que o clemente Deus a você inspire...

Clemente Nume a te l'ispiri...

É só vingança o meu Deus... Vá!

È sol vendetta mio Nume... Va.

[Joga-se a seus pés]

[Si getta a' suoi piedi]

Veja, de amargas lágrimas

Mira, di acerbe lagrime

espalho aos seus pés um rio:

spargo al tuo piede un rio:

Não basta o pranto? Mate-me,

Non basta il pianto? svenami,

beba o meu sangue…

ti bevi il sangue mio...

Pise sobre meu cadáver,

Calpesta io mio cadavere,

mas salve o Trovador!

ma salva il Trovator!

Ah! Para o indigno queria

Ah! dell'indegno rendere

causar sorte ainda pior:

vorrei peggior la sorte:

entre mil atrozes espasmos

fra mille atroci spasimi

centuplicar sua morte;

centuplicar sua morte;

Quanto mais você o ama, mais terrível

più l'ami, e più terribile

arde o meu furor!

divampa il mio furor!

[Quer partir, Leonora agarra-se

[Vuol partire, Leonora si avviticchia

a ele]

ad esso]


Leonora

Conde Conte

Leonora

Conde Conte

Leonora

Conde Conte

Leonora

Conde Conte

Leonora

Conde Conte

Leonora

Conde Conte

Leonora

Conde Conte

Leonora

Conde…

Conte...

Não chega?

Né cessi?

Graça!…

Grazia!...

Valor você não tem

Prezzo non avvi alcuno

para obtê-la... Afaste-se…

ad ottenerla... scostati...

Há um... somente um...

Uno ve n'ha... sol uno!...

e eu o ofereço a você.

Ed io te l'offro.

Explique-se: qual é o preço? Diga!

Spiegati, Qual prezzo, di'.

Eu mesma!

Me stessa!

Céus!... o que está dizendo?...

Ciel!... tu dicesti?...

E saberei cumprir minha promessa.

E compiere saprò la mia promessa.

Isto é um sonho meu?

È sogno il mio?

Abra-me um caminho entre essas

Dischiudimi la via fra quelle

muralhas...

mura...

Que ele me ouça… Que a vítima

Ch'ei m'oda... Che la vittima

fuja, e sou sua.

fugga, e son tua.

Jure.

Lo giura.

Juro por Deus, que toda

Lo giuro a Dio che l'anima

minha alma vê!

tutta mi vede!

Ei, vocês!

Olà!

[Surge um carcereiro; enquanto o

[Si presenta un custode; mentre il

Conde fala-lhe ao ouvido, Leonora

Conte gli parla all'orecchio, Leonora

suga o veneno que está em seu anel]

sugge il veleno chiuso nell'anello]

Você me terá,

M'avrai,

mas fria, exânime despojo

ma fredda esanime spoglia

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 76


Conde Conte

Leonora

Conde Conte

[Para Leonora]

[A Leonora]

Ele viverá.

Colui vivrà.

Viverá!... Retira o júbilo

Vivrà!... Contende il giubilo

de mim as palavras, Senhor...

i detti a me, Signore...

Mas com batidas frequentes

Ma coi frequenti palpiti

graças lhe rende o coração!

merce' ti rende il core!

Agora o meu fim, impávida,

Ora il mio fine impavida,

cheia de alegria espero…

piena di gioia attendo...

Poderei lhe dizer morrendo:

Potrò dirgli morendo:

Salvo você foi por mim!

Salvo tu sei per me!

O que fala consigo mesma?…

Fra te che parli?... Volgimi,

Dirija a mim,

volgimi il detto ancora,

dirija a mim a palavra de novo,

o mi parrà delirio

ou me parecerá delírio

quanto ascoltai finora...

o que escutei até agora…

Tu mia!...

Você, minha!...

Tu mia!... ripetilo.

Você, minha!... repita.

Il dubbio cor serena...

O coração desconfiado serena…

Ah!... ch'io lo credo appena

Ah!… que só acredito nisso

udendolo da te!

ouvindo de você!

Leonora

Conde Conte

Leonora

Segunda Cena

Vamos...

Andiam...

Você jurou... pense bem!

Giurasti... pensaci!

E sagrado é meu juramento!

È sacra la mia fe'!

[Entram na torre]

[Entrano nella torre]

[Cárcere obscuro. De um lado

[Orrido carcere. In un canto

há uma janela com grades. Porta

finestra con inferriata. Porta nel

ao fundo. Um pálido lampião

fondo. Smorto fanale pendente

dependurado no teto. Azucena está

dalla volta. Azucena giacente sopra

deitada sobre uma espécie de colcha

una specie di rozza coltre, Manrico

rústica, Manrico senta-se ao seu lado]

seduto a lei dappresso]

Manrico

Mãe... não está dormindo?

Madre... non dormi?

Azucena

Chamei-o várias vezes,

L'invocai più volte,

Scena Seconda


Manrico

mas o sono foge destes olhos…

ma fugge il sonno a queste luci...

Rezo.

Prego...

O ar frio é incômodo

L'aura fredda è molesta

ao seu corpo, talvez?

alle tue membra forse?

Não; desta tumba de vivos

No; da questa tomba di vivi

somente fugir quisera,

sol fuggir vorrei,

porque sinto a respiração me sufocar!

perché sento il respiro soffocarmi!

Manrico

Fugir!

Fuggir!

Azucena

Não se entristeça: massacrar-me

Non attristarti: Far di me strazio

os cruéis não conseguirão.

non potranno i crudi!

Manrico

Ah! Como assim?

Ah! come?

Azucena

Está vendo? Suas escuras digitais

Vedi?... Le sue fosche impronte

já estamparam na minha testa

m'ha già stampato in fronte

o dedo da morte!

il dito della morte!

Ai!

Ahi!

Azucena

Manrico

Azucena

Encontrarão um cadáver

Troveranno un cadavere

mudo, gélido... mais um esqueleto!

muto, gelido!... anzi uno scheletro!

Manrico

Chega!

Cessa!

Azucena

Não está ouvindo?... Gente se

Non odi?... Gente appressa...

aproximando...

I carnefici son...

São os carrascos...

Vogliono al rogo trarmi!...

querem até a fogueira me levar...

Difendi la tua madre!

Defenda sua mãe!

Manrico

Azucena

Seja quem for, fique tranquila,

Alcuno, ti rassicura,

aqui não vem…

qui non volge...

A fogueira!

Il rogo!

Palavra horrenda!

Parola orrenda!

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 78


Manrico

Oh, mãe!... Oh, mãe!

Oh madre!... Oh madre!

Azucena

Um dia, uma turba feroz

Un giorno, turba feroce

Manrico

Azucena

Manrico

Azucena

Manrico

levou sua avó para a fogueira...

l'ava tua condusse al rogo...

Veja as terríveis chamas!

Mira la terribil vampa!

Elas já a tocam!

Ella n'è tocca già!

O cabelo já em chamas aos céus

Già l'arso crine al ciel

manda faíscas!...

manda faville!...

Observa as pupilas

Osserva le pupille

já fora de suas órbitas!...

fuor dell'orbita lor!...

ai… quem me poupa

ahi... chi mi toglie

de um espetáculo tão atroz?

a spettacol sì atroce?

[Caindo nos braços de Manrico]

[Cadendo le braccia di Manrico]

Se ainda me ama,

Se m'ami ancor,

se a voz de um filho tem poder

se voce di figlio ha possa

sobre o seio de uma mãe,

d'una madre in seno,

os terrores da alma

ai terrori dell'alma

tenta esquecer no sono,

oblio cerca nel sonno,

no repouso e na calma.

e posa e calma.

Sim, o cansaço me oprime,

Sì, la stanchezza m'opprime,

oh, filho...

o figlio...

Para me aquietar fecho os olhos

Alla quiete io chindo il ciglio

mas se da fogueira arder você vir

ma se dal rogo arder si veda

a horrível chama, desperte-me.

l’orrida fiamma, destami allor.

Repousa, oh, mãe. Deus conceda

Riposa, o madre: Iddio conceda

imagens menos tristes

men tristi immagini

ao seu sono.

al tuo sopor.

[Entre dormindo e acordada]

[Tra il sonno e la veglia]

Aos nossos montes... voltaremos...

Ai nostri monti... ritorneremo...

A antiga paz... lá gozaremos...

L'antica pace... ivi godremo...

Você cantará... com o seu alaúde.

Tu canterai... sul tuo liuto...

Um sono plácido... eu dormirei.

In sonno placido... io dormirò!

Repousa, oh, mãe;

Riposa, o madre:

eu, devoto e mudo,

io prono e muto

a mente aos céus dirigirei.

la mente al cielo rivolgerò.


Manrico

Leonora

Manrico

[Abre-se a porta, entra Leonora: os

[Si apre la porta, entra Leonora:

acima mencionados, o Conde com

gli anzidetti, il Conte con

soldados]

Armati]

Céus!…

Ciel!..

Não me engana essa pouca luz?…

Non m'inganna quel fioco lume?...

Sou eu, Manrico.

Son io, Manrico...

Oh, minha Leonora!

Oh, mia Leonora!

Ah, me concede, Deus piedoso,

Ah, mi concedi, pietoso Nume,

alegria assim grande, antes que

gioia sì grande, anzi ch'io mora?

eu morra?

Leonora

Você não morrerá. Venho salvá-lo...

Tu non morrai. Vengo a salvarti...

Manrico

Como? Salvar-me?,

Come!... a salvarmi?,

diga a verdade!

fia vero!

Leonora

Adeus...

Addio...

Deixa de demora…

Tronca ogni indugio...

apresse-se... parta...

t'affretta...parti...

[Mostrando-lhe a porta]

[Accennandogli la porta]

Manrico

E você não vem?

E tu non vieni?

Leonora

Devo ficar!…

Restar degg'io!...

Manrico

Ficar!…

Restar!...

Leonora

Ai! Fuja…

Deh! fuggi!...

Manrico

Não.

No.

Leonora

Ai de você, se demorar!

Guai se tardi!

Manrico

Não!

No...

Leonora

A sua vida!…

La tua vita!...

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 80


Manrico

Leonora

Eu a desprezo…

Io la disprezzo...

Apenas olhe, oh, mulher,

Pur figgi, o donna,

nos meus olhos!…

in me gli sguardi!...

De quem a obteve?

Da chi l'avesti?...

E a que preço?

Ed a qual prezzo?...

Não quer falar?

Parlar non vuoi?...

Instante tremendo!

Balen tremendo!...

Do meu rival!

Dal mio rivale!...

Entendo… entendo!…

Intendo... intendo!...

A esse infame vendeu seu amor…

Ha quest'infame l'amor venduto...

Vendeu um coração jurado a mim!

Venduto un core che mi giurò!

Oh, como a ira te cega!

Oh, come l'ira ti rende cieco!

Oh, quão injusto

Oh, quanto ingiusto,

e cruel você é comigo!

crudel sei meco!

Ceda… fuja, ou está perdido!

T'arrendi... fuggi, o sei perduto!

Nem mesmo o céu pode te salvar!

Nemmeno il cielo salvar ti può!

[Dormindo]

[Dormendo]

Aos nossos montes... voltaremos...

Ai nostri monti... ritorneremo...

A antiga paz... lá gozaremos...

L'antica pace... ivi godremo...

Você cantará... com o seu alaúde.

Tu canterai... sul tuo liuto...

Um sono plácido... eu dormirei.

In sonno placido... io dormirò...

Manrico

Afaste-se…

Ti scosta...

Leonora

Não me rechace...

Non respingermi...

Está vendo?... Doente, oprimida,

Vedi?... Languente, oppressa,

faltam-me forças…

lo manco...

Vá… eu a abomino...

Va'... ti abbomino...

Maldita seja!

Ti maledico...

Ah, pare!

Ah, cessa!

Não é de amaldiçoar esta hora, mas

Non d'imprecar, di volgere per me

sim de pedir por mim numa prece

la prece a Dio è questa l'ora!

Azucena

Manrico

Leonora

a Deus.

Manrico

Um breve arrepio

Un brivido corse

no meu peito!

nel petto mio!


Leonora

[Cai de bruços]

[Cade bocconi]

Manrico!

Manrico!

Manrico

Leonora, conte-me… Fale!

Donna, svelami... Narra.

Leonora

Tenho a morte no seio…

Ho la morte in seno...

Manrico

A morte!…

La morte!...

Leonora

Ah, foi mais rápida

Ah, fu più rapida

a força do veneno

la forza del veleno

do que eu pensava!…

ch'io non pensava!...

Manrico

Oh, céus!

Oh fulmine!

Leonora

Sinta! Minha mão está gelada…

Senti! la mano è gelo...

Manrico

Leonora

[Toca-se no peito]

[Toccandosi ilpetto]

Mas aqui...

Ma qui...

aqui um fogo horrível arde...

Qui foco orribile arde...

O que você fez?... oh, céus!

Che festi!... o cielo!

Mais que viver sendo de outro...

Prima che d'altri vivere...

eu quis morrer sua!…

Io volli tua morir!...

Insano!… e eu ousei

Insano!... ed io quest'angelo

maldizer este anjo!

osava maledir!

Leonora

Não mais resisto!

Più non resisto!

Manrico

Ai, mísera…

Ahi misera!...

[Entra o Conde, detendo-se na

[Entra il Conte, arrestandosi sulla

soleira]

soglia]

Leonora

Chegou o instante… vou morrer…

Ecco l'istante... Io moro...

Manrico

Agora a sua graça...

Or la tua grazia...

Pai do céu... imploro...

Padre del cielo... imploro...

Insano!… e eu ousei

Insano! ... ed io quest'angelo

Manrico

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 82


Leonora

Conde Conte

Manrico

maldizer este anjo!

osava maledir!

Mais que viver sendo de outro...

Prima... che... d'altri vivere...

eu quis morrer sua!…

Io volli... tua morir!

[Expira]

[Spira]

Ah! Você quis me enganar,

Ah! Volle me deludere,

e por ele morrer!

e per costui morir!

[Apontando Manrico aos soldados]

[Additando agli armati Manrico]

Que seja levado ao patíbulo!

Sia tratto al ceppo!

[Partindo entre os soldados]

[Partendo tra gli armati]

Mãe... oh, mãe, adeus!

Madre... oh madre, addio!

[Despertando]

[Destandosi]

Manrico!... Onde está meu filho?

Manrico!... Ov'è mio figlio?

Conde Conte

Corre para a morte!…

A morte corre!...

Azucena

Ah, pare!... Ouça-me!

Ah ferma!... M'odi...

Azucena

Conde Conte

Azucena

Conde Conte

Azucena

Conde Conte

Azucena

Conde Conte

FIM FINE

[Arrastando Azucena até a janela]

[Trascinando Azucena verso la finestra]

Está vendo?…

Vedi?...

Céus!

Cielo!

Já morreu!

È spento!

Ele era seu irmão!

Egli era tuo fratello!

Ele! Que horror!

Ei! Quale orror!

Você está vingada, oh, mãe.

Sei vendicata, o madre!

[Horrorizado]

[Inorridito]

E eu ainda vivo!

E vivo ancor!


John Neschling

Ana Lucia Benedetti

Marianne Cornetti

Pasquale Mari

Bruno Greco Facio

Alessandro Ciammarughi

Sergio Tramonti

Enrico Giuseppe Iori

Andrea De Rosa


Alberto Gazale

Felipe Bou

Hui He

Susanna Branchini

Denise de Freitas

Stuart Neill

Eduardo Trindade

Rodolfo Giugliani

Sergio Escobar

Gabriel Rhein-Schirato


Orquestra

A formação da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo

Sinfônica

remonta a 1921, dez anos após a inauguração do Theatro Mu-

Municipal

nicipal, por meio da Sociedade de Concertos Sinfônicos de

de São Paulo

São Paulo. Em mais de 90 anos de história, a Orquestra tocou sob a regência de maestros como Mstislav Rostropovich, Ernest Bour, Maurice Leroux, Dietfried Bernett, Kurt Masur, além de Camargo Guarnieri, Armando Belardi, Edoardo de Guarnieri, Eleazar de Carvalho, Isaac Karabtchevsky, Sergio Magnani, além de vários compositores regendo suas obras, como Villa-Lobos, Francisco Mignone e Penderecki. Solistas de renome se apresentaram com o grupo, como Magda Tagliaferro, Guiomar Novaes, Yara Bernette, Salvatore Accardo, Rugiero Ricci, dentre muitos outros. Desde o início de 2013 a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo tem como diretor artístico o maestro John Neschling.

Coro Lírico

O Coro Lírico foi criado em 1939 por iniciativa do prefeito

Municipal

Prestes Maia, sob a coordenação do Maestro Armando Be-

de São Paulo

lardi, então diretor artístico do Theatro Municipal. As 16 óperas que marcaram sua temporada de estreia foram preparadas pelo maestro Fidélio Finzi. Em 1947, Sisto Mechetti assume a função de maestro titular. Em 1947, Sisto Mechetti assumiu o posto de maestro titular e, a partir da oficialização do grupo, em 1951, esteve sob a regência dos maestros Tullio Serafin, Olivero De Fabritis, Eleazar de Carvalho, Armando Belardi, Francisco Mignone, Heitor Villa-Lobos, Roberto Schnorremberg, Marcello Mechetti e Fábio Mechetti. Entre 1994 e 2013, o Coro Lírico esteve sob o comando de Mário Zaccaro, período no qual recebeu os prêmios de Melhor Conjunto Coral, pela APCA, em 1996, e o prêmio Carlos Gomes, na categoria ópera, em 1997. Desde dezembro de 2013 está sob a direção de Bruno Greco Facio.

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 86


Diretor Artístico do Theatro Municipal de São Paulo, John

John Neschling

Neschling voltou ao Brasil após alguns anos em que se de-

Regente

dicou à carreira na Europa, e depois de ter durante 12 anos reestruturado a Osesp, transformando-a num ícone da música sinfônica na América Latina. Durante a longa carreira de regente lírico, Neschling dirigiu musical e artisticamente os Teatros de São Carlos (Lisboa), St. Gallen (Suíça), Bordeaux (França), Massimo de Palermo (Itália), foi residente da Ópera de Viena (Áustria) e se apresentou em muitas das maiores casas de ópera da Europa e dos EUA, em mais de 70 produções diferentes. Dirigiu ainda, nos anos de 1990, os teatros municipais do Rio de Janeiro e de São Paulo. Como regente sinfônico, tem uma longa experiência frente a grandes orquestras dos continentes americano, europeu e asiático. Suas gravações têm sido frequentemente premiadas e o registro de Neschling para a Sinfonia N.1 de Beethoven foi escolhido pela revista inglesa Gramophone como um dos melhores da história. No momento, se prepara para gravar o terceiro volume das obras de Respighi pela gravadora sueca BIS, frente à Filarmônica Real de Liege (Bélgica). Neschling nasceu no Rio de Janeiro em 1947 e sua formação foi brasileira e europeia. Seus principais mestres foram Heitor Alimonda, Esther Scliar e Georg Wassermann no Brasil, Hans Swarowsky em Viena e Leonard Bernstein nos EUA. É membro da Academia Brasileira de Música.

Maestro assistente da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais

Gabriel Rhein-Schirato

desde 2011, Gabriel Rhein-Schirato fez seu bacharelado

Regente

no Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo sob orientação de Gilberto Tinetti, Aylton Escobar e Marco Antônio da Silva Ramos. Prosseguiu por quatro anos os estudos de especia-


lização e pós-graduação nas cidades de Stuttgart e Bremen (Alemanha), sob orientação de Patrick o’Byrne. Em dezembro de 2007 foi aceito na Accademia Superiore Città della Musica e del Teatro (Pescara, Itália) para o Corso di Alto Perfezionamento Musicale. Estudou técnica e repertório vocal com Benito e Isabel Maresca. À frente da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, tem apresentado diversas obras do repertório sinfônico, operístico e, eventualmente, popular. Em 2012 e 2013 regeu a ópera Madama Butterfly no Jardim Japonês de Belo Horizonte. Em novembro de 2013 regeu Un Ballo in Maschera no Grande Teatro do Palácio das Artes. Tem realizado também a preparação da OSMG para outros regentes em importantes obras, além de concertos didáticos. De 2009 a 2011 foi maestro-preparador no Coral do Amazonas, no Festival Amazonas de Ópera. Regeu a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo em uma das récitas comemorativas dos 45 anos de fundação do Balé da Cidade em setembro de 2013 no Theatro Municipal de São Paulo.

Andrea De Rosa

Formado em filosofia, Andrea De Rosa começou a trabalhar

Diretor Cênico

como diretor de curta-metragens, incluindo Notes for a Phenomenology of the Vision, que estreou no Festival Internacional de Cinema Jovem de Turim. Em 2004, atuou como diretor cênico pela primeira vez, em Idomeneo, e desde então divide suas atividades entre teatro e ópera. Na área lírica trabalhou com diversos títulos do século XX, como Curlew River de Benjamin Britten, e Satyricon de Bruno Maderna; para o Teatro São Carlos em Lisboa, De Rosa dirigiu um tríptico composto pelas obras Sancta Susanna, de Paul Hindemith, Erwartung, de Arnold Schönberg e Il Dissoluto Assolto (O Dissoluto Absolvido), baseada no livro de José Saramago. Em dezembro de 2006, dirigiu Don Pasquale, condu-

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zida por Riccardo Muti, com quem trabalhou novamente em 2008 na ópera Il Matrimonio Inaspettato, de Giovanni Paisiello, para o Festival Whitsun em Salzburgo. De 2008 a 2011 Andrea De Rosa foi diretor do Teatro Stabile de Nápoles, onde encenou A Tempestade e uma peça sobre o filósofo Martin Heidegger. Em junho de 2011 dirigu Manfred de Schumann, baseado no poema de Lord Byron, para o Teatro de Repertório e o Teatro Regio de Turim, sob a regência de Gianandrea Noseda. Para o Teatro Stabile de Turim encenou a peça Macbeth, de Shakespeare, reapresentada nos anos seguintes nos maiores teatros italianos.

Pintor, cenógrafo e figurinista, Sergio Tramonti nasceu em

Sergio Tramonti

Piangipane (Ravena, Itália). Em 1968 estreou como ator em

Cenografia

Woyzeck de Büchner, para o qual também assinou a cenografia, figurinos e máscaras. Sua primeira experiência com um espetáculo lírico foi em 1977, com Joana d’Arc, de Honegger e Claudel, com regência de Franco Enriquez e direção de Vladimir Delman. Trabalhou com Calo Cecchi em diversos espetáculos, entre eles La Traviata (Verdi) no Teatro Comunale de Treviso, com direção de Tiziano Severini (1983). Em 1999 começa sua importante associação artística com Mario Martone. Juntos, realizam Così fan Tutte, Don Giovanni e As Bodas de Fígaro de Mozart no Teatro San Carlo de Palermo (2006); Un Ballo in Maschera de Verdi no Covent Garden de Londres (2005); Falstaff de Verdi no Théâtre des Champs-Élysées de Paris (2008 e 2010) e o díptico Cavalleria Rusticana / Pagliacci (2011) no Teatro alla Scala. Com Andrea De Rosa, trabalhou na produção de Maria Stuarda de Donizetti (2010, Palermo) e Manfred de Schumman (2010, Turim).


Alessandro Ciammarughi

Nascido em Roma, estudou figurinos para óperas, peças e

Figurinos

cinema, especializando-se com Pierluigi Samaritani. Estreou muito jovem no Festival Dei Due Mondi em Spoleto (Itália), sob o comando de Giancarlo Menotti. Colaborou com diversos cenógrafos, figurinistas e com diretores como Monicelli, Ronconi, Cobelli, Fassini, nos teatros mais importantes da Itália e do mundo, como alla Scala, San Carlo em Nápoles, La Fenice, Deutsche Oper em Berlim, Novo Teatro Nacional em Tóquio, Teatro Colón, Teatro de la Maestranza em Sevilha e a Opéra Royal de Wallonie em Liège. Trabalhou com produções de dança clássica, como Romeu e Julieta, Eugenio Onegin, Bajadere e a contemporânea Montanha Encantada, com coreografia de Massimo Moricone, no teatro Maggio Musicale Fiorentino. Trabalhou por muitos anos com o diretor Stefano Vizioli, com destaque para as produções de Tancredi, Trittico, Un Balo in Maschera, Rigoletto e Il Trovatore. Em 2003 iniciou sua colaboração com Andrea De Rosa, para teatro e ópera; juntos eles criaram O Dissoluto Absolvido (ópera baseada no texto de José Saramago) e Sancta Susanna para o teatro São Carlos de Lisboa; L’Elisir d’Amore, para a Den Jyske Opera; Macbeth no teatro Ponchielli; A Tempestade para o Teatro San Ferdinando de Nápoles e Norma para a ópera de Roma.

Pasquale Mari Desenho de Luz

Designer de luz e diretor de fotografia, pesquisou e trabalhou por mais de trinta anos com cinema e teatro. Junto com Mario Martone assinou o desenho de luz da trilogia Mozart-Da Ponte, apresentada ao longo do ano de 2006 no teatro San Carlo de Nápoles. Para Così fan Tutte, em especial, cuidou da fotografia na versão televisiva de 2000 produzida pela RAI, com direção musical de Claudio Abbado. Em 2011 estreou no alla Scala de Milão com o díptico Cavalleria Rusticana/I Pagliacci, sob a batuta de Daniel Harding; seguido de Luisa Miller (2012) com Andrea Noseda.

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Trabalha com Andrea De Rosa desde a estreia deste como diretor em Idomeneo (Trento, 2004), passando por Don Pasquale, com regência de Riccardo Muti (Piacenza e Ravena, 2006); Manfred, de Schumman, conduzida por Andrea Noseda (2010, Turim); e Maria Stuarda (Donizetti) no teatro San Carlo de Nápoles. Foi o responsável pela fotografia do filme Il Regista di Martimoni (Cannes, 2006), de Marco Bellochio, pelo qual venceu o Globo de Ouro de melhor fotografia na Itália.

Paulistano, graduado em composição e regência pelas

Bruno Greco Facio

Faculdades de Artes Alcântara Machado, estudou sob a

Regente do Coro

orientação dos mestres Abel Rocha, Isabel Maresca e Naomi Munakata. No ano de 2011 assumiu a regência do Collegium Musicum de São Paulo, tradicional coro da capital, dando continuidade ao trabalho musical do maestro Abel Rocha. Por 11 anos dirigiu o Madrigal Souza Lima, trabalho responsável pela formação musical de jovens cantores e regentes. Durante 2010 foi preparador do coro da Cia. Brasileira de Ópera, projeto pioneiro do maestro John Neschling que percorreu mais de 20 cidades brasileiras com a ópera O Barbeiro de Sevilha, de Gioachino Rossini. A convite do maestro Neschling, tornou-se regente titular do Coral Paulistano em fevereiro de 2013; em dezembro do mesmo ano assumiu a direção do Coro Lírico do Theatro Municipal de São Paulo.

Um dos maiores artistas de sua geração, o barítono Alberto

Alberto Gazale

Gazale interpretou mais de setenta papéis principais nos te-

Barítono

atros mais prestigiosos do mundo. Seu vasto repertório varia de Monteverdi até Dalla Piccola, com atenção particular para os títulos do final do século XIX.


Formado no Conservatório de Verona, especializou-se no repertório verdiano com o professor Carlo Bergonzi. Sua estreia lírica aconteceu em 1998, com Un Ballo in Maschera na Arena de Verona. Desde então, sua carreira o tem levado a teatros como o alla Scala, onde apresentou Macbeth, Rigoletto, Il Trovatore, Madama Butterfly e Otello; o Staatsoper de Viena, onde apresentou-se em Nabucco, La Traviata e Tosca; além de teatros como o Carnegie Hall de Nova York, o Teatro Real em Madrid, o Teatro Regio de Parma e a Arena de Verona. Trabalhou com os regentes Riccardo Chailly, James Conlon, Zubin Mehta, Riccardo Muti, Daniel Oren e Carlo Rizzi. Entre seus papéis recentes destacam-se Iago (Otello), apresentado em Milão, Como e Cremona; e Conde de Luna apresentado em Estocolmo em 2013.

Rodolfo Giugliani

Não faltam elogios ao sólido trabalho do barítono Rodolfo

Barítono

Giugliani. Pela atuação em La Traviata (Verdi), Rodolfo recebeu excelente crítica da revista Ópera Internacional de Paris e, desde então, destacou-se nos principais teatros do Brasil e do exterior, nos papéis de Scarpia (Tosca), Tonio (I Pagliacci), Alfio (Cavalleria Rusticana), Sharpless (Madama Butterfly), Gianni Schicchi (Gianni Schicchi), Gérard (Andrea Chénier), Rigoletto (Rigoletto), Cristovão Colombo (Oratório Colombo), Enrico (Lucia di Lammermoor) e Nabuccodonosor (Nabucco). Participou do centenário do Theatro Municipal de São Paulo como Rigoletto (Verdi), e encenou La Traviata (Verdi) com direção de Daniele Abbado. Apresentou-se no Palau de La Musica Catalana (Espanha) e no Teatro Municipal de Santiago do Chile (Attila). Ganhador do 1º lugar nos concursos de Canto Aldo Baldin, Concurso Internacional de Canto Bidu Sayão, Concurso Internacional de Canto Maria Callas e o Concurso Internacional de Canto Jaume Aragall, na Espanha.

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Susanna Branchini, nascida em Roma de um pai italiano e

Susanna Branchini

uma mãe caribenha, formou-se pelo Conservatório Musical

Soprano

F. Morlacchi em Perúgia, tendo participado de diversas competições internacionais: foi finalista na competição de Toulouse e na As.Li.Co., e vencedora da Mattia Battistini. Sua estreia lírica foi no papel de Micaela (Carmen) em Roma (2002), seguida de Liù (Turandot) e Mimì (La Bohème). Sua rápida evolução vocal permitiu que Susanna se aproximasse de um repertório mais incisivo, de Aida, Il Trovatore e Don Carlo até os papéis de soprano drammatico d’agilità, como Odabella (Atilla) e Lady Macbeth, com o qual abriu a temporada 2012/13 do Teatro Filarmônico de Verona. Confortável tanto na profundidade psicológica do lirismo de Puccini (de Tosca, Madama Butterfly e Tabarro), quanto no repertório do verismo (Pagliacci e Cavalleria Rusticana), Susanna Branchini apresentou-se em numerosos teatros de prestígio, incluindo o Teatro dell’Opera em Roma, a Arena de Verona, Teatro San Carlo em Nápoles e o Teatro Regio em Parma. Trabalhou com os regentes Riccardo Muti e Daniel Oren; e com os diretores Pier Francesco Maestrini, Ivan Stefanutti e Franco Zeffirelli.

Em 2003 a soprano chinesa Hui He explodiu na cena musical

Hui He

internacional com sua performance do papel título de Ma-

Soprano

dama Butterfly, de Puccini, na ópera de Bordeaux. Tornou-se uma das mais aclamadas intérpretes dos papéis título de Aida e Tosca. Seu vasto repertório inclui Amelia (Un Ballo in Maschera), Lenora (Il Trovatore), Manon (Manon Lescaut), Liu (Turandot), entre outros papéis. Cantou nos principais teatros do mundo, como o Metropolitan Opera, o Staatsoper de Viena, Teatro alla Scala, Deutsche Oper de Berlim, o Staatsoper da Bavária e o Gran Teatre del Liceu, tornando-se uma favorita da Arena de Verona. Em suas apresentações recentes, estreou no papel de


La Gioconda em Salerno, sob direção de Daniel Oren, e foi Aida em Beijing. Interpretou Madama Butterfly em Copenhagen, Barcelona e Munique. Em 2014 repetiu seu papel de Madama Butterfly para a Metropolitan Opera de Nova York.

Marianne Cornetti Mezzo-Soprano

Marianne Cornetti é internacionalmente reconhecida como uma das principais mezzo-sopranos verdianas. Atuou nos papéis de Amneris (Aida), Azucena (Il Trovatore) e Eboli (Don Carlos) em teatros como o alla Scala, Royal Opera Covent Garden, Metropolitan Opera, Staatsoper de Viena, Bayerische Staatsoper, Teatro dell’Opera de Roma, Deutsche Oper de Berlim, Theatro Royal de la Monnaie em Bruxelas, Teatro Comunale em Florença, a Arena de Verona, Gran Teatro del Liceo em Barcelona, Teatro San Carlo em Nápoles e muitos outros. Na temporada de 2012/2013 Marianne Cornetti atuou como Preziosilla, em La Forza del Destino, no Gran Teatro del Liceu, em Barcelona. Na Ópera de Roma estreou como La Gioconda, papel que repetiu para a Deutsche Oper de Berlim. Cornetti também interpretou Amneris e Abigaille (Nabucco) em Tóquio e Azucena para o Teatro Nacional da China, em Beijing.

Denise de Freitas

Em 2013, brilhou como Azucena (Il Trovatore) no Festival do

Mezzo-Soprano

Teatro da Paz, e como Fricka em Die Walküre, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Em 2012 cantou Waltraute em O Crepúsculo dos Deuses, no Theatro Municipal de São Paulo. Recebeu o Prêmio Carlos Gomes de melhor cantora em 2004, 2009 e 2012. Apresentou-se na ópera Yerma em Berlim, Paris e Lisboa. Seu repertório inclui Dalila, Compositor (Ariadne), Mère Marie (Diálogo das Carmelitas), Cherubino, Nicklausse (Les Contes d'Hoffmann), Siebel (Fausto), O Raposo (Raposinha Esperta), além de Suzuki, Laura, Adalgisa,

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Charlotte. Apresentou-se sob a regência dos maestros Isaac Karabtchevsky, Luiz Fernando Malheiro, John Neschling, Silvio Viegas, Fabio Mechetti, Jamil Maluf, Marcelo de Jesus, Rafael Frühbeck de Burgos, J. Pons, K. Martin, C. Villaret e R. Armstrong. E atuou sob a direção de Jorge Takla, Aidan Lang, Carla Camurati, Lívia Sabag e André Heller. Estudou com L. Prioli e se aperfeiçoou com C. Green, P. McCaffrey e com S. Sass.

Nascido e formado na América, Stuart Neill é hoje um dos

Stuart Neill

tenores líricos mais apreciados de sua geração.

Tenor

Começou sua carreira no repertório belcantista apresentando-se nos principais teatros do mundo, entre os quais o Metropolitan de Nova York e o Staatsoper de Viena, onde interpretou Arturo (I Puritani). No Teatro alla Scala apresentou-se como Edgardo (Lucia de Lammermoor); na Opera de Paris e no Festival de Salzburgo como Der Sänger (Der Rosenkavalier). A partir daí, seu estilo vocal desenvolveu-se na direção de um repertório plenamente lírico: foi Manrico no Teatro La Fenice de Veneza, na Deutsche Oper de Berlim e na Royal Opera de Estocolmo; Radamés (Aida) no alla Scala, na Ópera de Tel Aviv, na Arena de Verona e no Theatro Municipal de São Paulo; e Canio (I Pagliacci) no Festival de Atenas e na Ópera de Roma. Uma de suas principais interpretações é o Réquiem de Verdi, que já cantou mais de duzentas vezes, incluindo três gravações em disco, a última das quais com a London Symphony Orchestra, sob a regência de Sir Colin Davis. Trabalhou com os maestros James Levine, John Neschling, Zubin Mehta, Carlo Maria Giulini e Gustavo Dudamel.

Sergio Escobar estudou canto no Conservatório Arturo So-

Sergio Escobar

ria e na Escuela Superior de Canto em Madri. Participou de

Tenor

master classes com Viorica Cortez, Jaime Aragall, Francisco Ortiz, Noelia Buñuel, Montserrat Caballé e Teresa Berganza.


Em 2012, venceu três concursos internacionais: ganhou o primeiro prêmio na Competição Internacional de Canto Ciudad de Logroño, o segundo lugar na Competição Monserrat Caballé e o segundo lugar na Competição Internacional em Bilbao. Em outubro de 2013 interpretou Corrado, em Il Corsaro, sob regência do maestro Gianluigi Gelmetti, no Teatro Verdi de Trieste; Ismaele, em Nabucco, no Teatro Regio de Parma, conduzido pelo maestro Renato Palumbo; Pollione (Norma) e Nabucco no Teatro Comunale de Bolonha, com o maestro Michele Mariotti. Destacou-se ainda pela atuação no papel-título de Don Carlo, no Teatro Luciano Pavarotti em Módena.

Enrico Giuseppe Iori

Enrico Giuseppe Iori estudou no Conservatório de Parma, onde

Baixo

teve aulas com Lucetta Bizzi, Carlo Bergonzi e Calro Meliciani. Renomado baixo verdiano, teve sua estreia em 1996. Desde então apresentou-se em importantes teatros e casas de concerto, como o alla Scala, Teatro La Fenice em Veneza, a Arena de Verona, o Teatro Regio de Parma, o Teatro Regio de Turim, o Festival de ópera de Macerata, o Teatro São Carlos em Lisboa e o Teatro Bolshoj em Moscou. Enrico Giuseppe Iori trabalhou com maestros importantes como Bruno Bartoletti, Bruno Campanella, Lorin Maazel, Zubin Mehta, Riccardo Muti, Daniel Oren, Georges Prêtre, Renato Palumbo, Heffrey Tate e diretores como Daniele Abbado, Liliana Cavani, Denis Krief, Pamberto Puggelli, Emilio Sagi e Franco Zeffirelli. Em seu repertório estão os papéis de Raimondo (Lucia de Lammermoor), Colline (La Bohème), Walter (Luisa Miller), Don Basílio (O Barbeiro de Sevilha), Faraó (Aida), Sparafucile (Rigoletto), Fiesco (Simon Boccanegra), Zaccaria (Nabbuco) e Attila (Attila). Participou da gravação de Aida, por Zeffirelli, em Busseto,

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cidade natal de Verdi; e da produção do dvd de Macbeth no Teatro Regio de Parma.

Formado em Direito em 1990, o baixo hispano-brasileiro Fe-

Felipe Bou

lipe Bou estreou na Espanha com a ópera Marina, em Bilbao

Baixo

(1994), e internacionalmente com Les Pêcheurs de Perles em Toulouse (1998). Em 2000 atuou na produção comemorativa do centenário de Tosca em Roma, com Pavarotti, Domingo e Zeffirelli. Desde então vem cantando papéis como Raimondo (Lucia de Lammermoor) e Ramfis (Aida), em Düsseldorf; Frère Laurent (Roméo et Juliette), em Tóquio; Rodolfo (La Sonnambula), em Leipzig; Don Pasquale em Madri; Sparafucile (Rigoletto) em Parma e turnê ao México, Pequim e Mascate; Ferrando no Festival Verdi de Parma; Colline (La Bohème) em Florença e São Paulo; Creonte (Medea) em Palermo; Basilio (Il Barbiere di Siviglia) para a Staatsoper de Viena; Baldassare (La Favorite) em Santiago; Marke (Tristan und Isolde), Fasolt (O Ouro do Reno) e Filippo II (Don Carlo) em Oviedo. Sua discografia inclui Turandot e Gianni Schicchi (Naxos), Merlin (Decca) e em DVD D.Q. e Don Giovanni (Liceu de Barcelona), La Bohème (Teatro Real de Madrí), La Vida Breve (Palau de les Arts de Valência) e Rigoletto (ABAO).

Vencedora do 1º lugar no 9º Concurso de Canto Maria Callas

Ana Lucia Benedetti

(2009), do prêmio Melhor Voz Feminina no IV Concurso Es-

Mezzo-Soprano

tímulo para Cantores Líricos Carlos Gomes (2011), do 3º lugar no Concurso Internacional de Canto Bidu Sayão em 2011 e finalista do VI Concurso de Interpretação da Canção de Câmara Brasileira (2004), Ana Lucia Benedetti estreou como Ulrica em Un Ballo in Maschera no Palácio das Artes de Belo Horizonte (2013) e como Lola em Cavalleria Rusticana no Theatro São Pedro (2009). Atuou no grupo Ópera


Estúdio da EMESP e nas produções do Núcleo Universitário de Ópera da UNESP. Cantou na Série TUCCA de Concertos – Sinfonia n.9 de Beethoven (Sala São Paulo), na Homenagem a Maria Callas (Theatro São Pedro), Oratório de Natal de Camille Saint-Säens (Sala São Paulo), entre outros eventos. Estudou piano no Conservatório Ars et Scientia e é bacharel em Canto pela Faculdade Mozarteum, na classe de F. de Campos Neto. Estudou também com H. Gaidzakian, Marcos Thadeu e Regina Elena Mesquita. Atualmente é orientada por Isabel Maresca.

Eduardo Trindade

O tenor Eduardo Trindade é Bacharel em Canto pela Univer-

Tenor

sidade Estadual Paulista (UNESP), sob orientação de Martha Herr. Cursou a Escola Municipal de Música de São Paulo, com a professora Dra. Elenís Guimarães: Estudou também com o renomado tenor Benito Maresca, com Ricardo Ballestero, na Universidade São Paulo (USP), e com Juvenal de Moura. Participou das montagens de La Traviata (2012) e Rigoletto (2011) de Giuseppe Verdi no Theatro Municipal de São Paulo, sob a regência do maestro Abel Rocha. Atuou em O Feiticeiro, de Gilbert & Sullivan, e El Hijo Fingido de Joaquim Rodrigo, no Theatro São Pedro, ambos com o Núcleo Universitário de Ópera. Atuou como solista do Coro de Câmara da Unesp no oratório Lobgesang Op. 52 de Félix Mendelssohn e no Oratório de Natal de Camille Saint-Saëns, regência dos maestros Lutero Rodrigues e Fábio Miguel, respectivamente. Atualmente integra o Coro Lírico do Theatro Municipal de São Paulo.

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Theatro Municipal de São Paulo Temporada Lírica 2014 Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo

Abril

Falstaff Giuseppe Verdi ter (15 / 22), qui (17 / 24) e sáb (12 / 19) às 20h dom (13 / 20) às 18h Theatro Municipal de São Paulo Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo Coro Lírico Municipal de São Paulo Regência John Neschling Direção Cênica e Cenografia Davide Livermore Falstaff Ambrogio Maestri / Nelson Martinez Ford Simone Piazzola / Rodrigo Esteves Alice Ford Virginia Tola / Adriane Queiroz Nannetta Rosana Lamosa / Lina Mendes Fenton Marco Frusoni

Maio e Junho

Carmen Georges Bizet Mai qui (29) às 20h, sáb (31) às 20h Jun ter (03 / 10), qua (11) qui (05 / 11) e sáb (07) às 20h, dom (01 / 08) às 18h Theatro Municipal de São Paulo Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo Coro Lírico Municipal de São Paulo Regência Ramón Tebar Direção Cênica Filippo Tonon Cenografia Juan Guillermo Nova Carmen Rinat Shaham / Luisa Francesconi Don José Thiago Arancam / Fernando Portari Escamillo Rodrigo Esteves / David Marcondes Micaela Lana Kos / Andrea Aguilar Frasquita Marta Torbidoni Mercedes Malena Dayen Dancairo Francis Dudziak Remendado Rodolphe Briand Morales Norbert Steidl / Vinícius Atique Zuñiga Massimiliano Catellani

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Setembro

Regência Ira Levin Direção Cênica (Cavalleria Rusticana) Pier

Salomé Richard Strauss ter (09 / 16), qui (11 / 18) e sáb (06 / 20) às 20h dom (14) às 18h Theatro Municipal de São Paulo Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo

Francesco Maestrini Direção Cênica (I Pagliacci) Francesco Micheli Cenografia Juan Guillermo Nova Santuzza Tuija Knihtlä / Elena Lo Forte

Regência John Neschling

Turiddu Fernando Portari / Marcello Vannucci

Direção Cênica Livia Sabag

Alfio Angelo Veccia / Francesco Landolfi

Cenografia Nicolás Boni

Lola Luciana Bueno

Figurinos Veridiana Piovezan

Mamma Lucia Lídia Schäffer

Desenho de Luz Wagner Pinto Coreografia Ana Paula Mastrodi Salomé Nadja Michael / Alexandrina Pendatchanska Herodes Peter Bronder / Jürgen Sacher

Canio Walter Fraccaro / Richard Bauer Nedda Inva Mula / Marina Considera Tonio Angelo Veccia / Francesco Landolfi

Herodias Iris Vermillion / Alejandra Malvino

Beppe Daniele Zanfardino / Saverio Fiore

Jochanaan Steven Mark Doss / Michael Kupfer

Silvio Davide Luciano / Norbert Steidl

Narraboth Stanislas De Barbeyrac / István Horváth 1º Judeu Paulo Chamié–Queiroz

Novembro / Dezembro

2º Judeu Miguel Geraldi 3º Judeu Eduardo Trindade 4º Judeu Rubens Medina 5º Judeu Sérgio Righini

Tosca Giacomo Puccini Nov sáb (29) às 20h | dom (30) às 18h

1º Nazareno Carlos Eduardo Marcos

Dez ter (02 / 09), qui (04 / 11) e sáb (06 / 13) às 20h

2º Nazareno Sérgio Weintraub

dom (07 ) às 18h

1º Soldado Marcos Carvalho

Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo

2º Soldado Paulo Menegon

Coro Lírico Municipal de São Paulo

Capadócio Jonas Mendes Pajem de Herodias Elaine Martorano Escravo Elisabeth Ratzersdorf

Outubro

Regência Oleg Caetani Direção Cênica Marco Gandini Floria Tosca Amanda Echalaz / Ausrine Stundyte Mario Cavaradossi / Marcelo Alvarez / Stuart Neill Scarpia Roberto Frontali / Nelson Martinez

Cavalleria Rusticana / I Pagliacci

Cesare Angelotti Massimiliano Catellani

Pietro Mascagni / Ruggero Leoncavallo

Sacristão Saulo Javan

ter (21 / 28), qua (29), qui (23) e sáb (18 / 25) às 20h

Spoletta Luca Casalin

dom (19 / 26) às 18h Theatro Municipal de São Paulo Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo Coro Lírico Municipal de São Paulo

Programa sujeito a alterações.


IL TROVATORE

Julia de Francesco

Visagista

Helena Oliveira

Julia Saragoza

Simone Batata

Antonio Fernandes

Assistente de

Coordenação de Pintura

Assistente de Visagismo

Edméia Evaristo

Direção Musical

de Arte e Esculturas

Tiça Camargo

Josefa Gomes

Gabriel Rhein-Schirato

Karen Luizi

Maquiadores

Eunice Moreira

Pianistas Correpetidores

Rubia de Campos

Alina Peixoto

Dirlene Emilio

Anderson Brenner

Assistentes

Bia Bombom

Silvia de Castro

Paulo Almeida

Julia Lopes

Bruno Cezar

Dilma Tiburiça

Rafael Andrade

Michael Almeida

Caroline Gonzaga

Armamentos

Agda Camila

Diogo Souza

Boca de Cena

Atores

Alicio Silva

Elisani Souza

Adereços

Alexandra Ucanda

Jacqueline Nascimento

Giulia Piantino

Edu Paiva

Alle Paixão

Marcelo Thomé

Gleice Diana

Bordado

Arlette Ferreira

Aílton Santos

Inais Tereza

Gilberto Marques

Catharina Guedes

Coordenação de

Isabel Vieira

dos Santos

Claudia Macksoud

Cenotécnica

Kika Queiroz

Serigrafia

Diego Bargas

Jonas Soares

Lua Gimenez

Danilo Pera Pereira

Edison Vigil

Cenotécnicos

Mara Feres

Felipe Barros

Beto Gomes

Marcela Costa

Sinopse e gravações

Gabriel Castillo

Pedro Lino

Marina Peev

de referência

Giballin Gilberto

João Pereira

Samara Cardoso

Irineu Franco Perpetuo

João Delle Piagge

Gilberto Ferreira

Sheila Campos

Leonardo Negretti

Guilherme Nascimento

Tamyris Alves

Nanny Gonçalves

Marcio Feitosa

Renato Caetano

Marcelo Feitosa

Tradução do Libreto e Legendas

Modelistas

Tatiana Godoi

Erlany Pereira dos Santos

Nilda Dantas

Victor Gomes

Coordenação de

Judite de Lima

Vivian Barabani

Serralheria

Leci de Andrade

Wanderley Salgado

Amadeu Fernandes

Tandara Hoffman

Washington Lins

Genilson de Alencar

Alfaiates

Serralheiros

Domingos de Lello Miguel Arrua

Produção de Cenografia

Marcelo de Carvalho

Jorge e Denis Produções

Givaldo Gomes

Cenográficas

Reginaldo Nascimento

Costureiras

Coordenação de

Francisco Alves

Fátima Coutinho

Execução Cenográfica

Aílton Barreto

Cristina França

Jorge Ferreira Silva

Evanildo Ferreira

Claudinea Cavalcante Lima

Denis Nascimento

Fernando da Silva

Lucia Medeiros

Assistentes de Execução

Secretaria Administrativa

Ivete Dias

Cenográfica e Produção

Isabela Nascimento

Laurita Machado

Hugo Casarini

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Orquestra Sinfônica

Violas

Clarinetes

Gerente da Orquestra

Municipal de São Paulo

Alexandre De León*

Otinilo Pacheco*

Paschoal Roma

Silvio Catto*

Luís Afonso Montanha*

Assistente

Diretor Artístico

Abrahão Saraiva

Diogo Maia Santos

Yara de Melo

John Neschling

Tânia de Araújo Campos

Domingos Elias

Inspetor

Primeiros-violinos

Adriana Schincariol

Marta Vidigal

Carlos Nunes

Pablo De León (spalla)

Eduardo Cordeiro

Fagotes

Montadores

Martin Tuksa (spalla)

Eric Schafer Licciardi

Fábio Cury*

Alexandre Greganyck

Maria Fernanda Krug

Roberta Marcinkowski

Marcelo Toni

Paulo Broda

Fabian Figueiredo

Tiago Vieira**

Marcos Fokin

Adriano Mello

Pedro Visockas**

Osvanilson Castro

* Chefe de naipe

Fábio Brucoli

Everton de Souza**

Trompas

** Músico convidado

Fábio Chamma

Violoncelos

André Ficarelli*

Fernando Travassos

Mauro Brucoli*

Luiz Garcia*

Francisco Ayres Krug

Raïff Dantas Barreto*

Rogério Martinez

Liliana Chiriac

Cristina Manescu

Vagner Rebouças

Heitor Fujinami

Joel de Souza

Douglas Costa**

John Spindler

Maria Eduarda

Flavio Vilela Faria**

José Fernandes Neto

Canabarro

Trompetes

Mizael da Silva Júnior

Sandro Francischetti

Fernando Guimarães*

Paulo Calligopoulos

Teresa Catto

Marcos Motta*

Rafael Bion Loro

Alberto Kanji**

Breno Fleury

Sílvio Balaz

Ana Chamorro**

Eduardo Madeira

Segundos-violinos

Contrabaixos

Trombones

Andréa Campos*

Rubens De Donno*

Roney Stella*

Laércio Diniz*

Sérgio de Oliveira*

Emerson Teixeira**

Nadilson Gama

Miguel Dombrowski

Hugo Ksenhuk

Otávio Nicolai

Ricardo Busatto

Luiz Cruz

Alex Ximenes

Sanderson Cortez Paz

Marim Meira

André Luccas

Walter Müller

Tuba

Angelo Monte

André Teruo**

Gian Marco de Aquino*

Edgar Montes Leite

Flautas

Harpa

Evelyn Carmo

Cássia Carrascoza*

Angélica Vianna*

Oxana Dragos

Marcelo Barboza*

Piano

Ricardo Bem-Haja

Cristina Poles

Cecília Moita*

Sara Szilagyi

Oboés

Percussão

Ugo Kageyama

Alexandre Ficarelli*

Marcelo Camargo*

Kleberson Buso**

Rodrigo Nagamori*

Magno Bissoli

Juan Rossi**

Javier Balbinder

Reinaldo Calegari

Karen Crippa**

Marcos Mincov

Sérgio Coutinho


Coro Lírico do Theatro Municipal

Maria Luisa Figueiredo

Davi Marcondes

Prefeitura do Município

Mônica Martins

Diógenes Gomes

de São Paulo

Contraltos

Eduardo Paniza

Prefeito

Regente Titular

Celeste do Carmo

Jang Ho Joo

Fernando Haddad

Bruno Greco Facio

Claudia Arcos

Luis Orefice

Secretário Municipal

Regente Assistente

Clarice Rodrigues

Marcio Martins

de Cultura

Sérgio Wernec

Elaine Martorano

Miguel Csuzlinovics

Juca Ferreira

Pianistas

Lidia Schäffer

Roberto Fabel

Marcos Aragoni

Magda Painno

Sandro Bodilon

Fundação Theatro

Marizilda Hein Ribeiro

Mara Dalva de Alvarenga

Baixos

Municipal de São Paulo

Sopranos

Margarete Loureiro

Claudio Guimarães

Direção Geral

Adriana Magalhães

Maria José da Silveira

Fernando Gazoni

José Luiz Herencia

Berenice Barreira

Vera Ritter

Jessé Vieira

Diretora de Gestão

Claudia Neves

Tenores

José Nissan

Ana Flávia C. Souza Leite

Elaine Moraes

Alex Flores de Souza

Josué Silva

Elayne Caser

Antonio Carlos Britto

Leonardo Amadeo Pace

Instituto Brasileiro

Elisabeth Ratzersdorf

Dimas do Carmo

Marcos Carvalho

de Gestão Cultural

Graziela Sanchez

Eduardo Pinho

Orlando Marcos

Presidente do Conselho

Huang Shu Chen

Eduardo de Góes

Rafael Thomas

Cláudio Jorge Willer

Ivete Montoro

Eduardo Trindade

Sérgio Righini

Diretor Executivo

Jacy Guarany

Fernando de Castro

Assistente

William Nacked

Juliana Starling

Gilmar Ayres

Cristina Cavalcante

Diretora Técnica

Marcia Costa

Joaquim Rollemberg

Inspetora

Isabela Galvez

Angélica Feital

José Silveira

Eugenia Sansone

Diretor Financeiro

Maria Antonieta Soares

Luciano Goés

Montador

Neil Amereno

Milena Tarasiuk

Luiz Antonio Doné

Alfredo Barreto de Souza

Monique Corado

Marcello Vannucci

Marivone Pereira Caetano

Márcio Lucas Valle

Diretora de Produção

Marta Mauler

Miguel Geraldi

Cristiane Santos

Nadja Sousa

Paulo Chamié Queiroz

Direitos Autorais

Rita de Cassia Polistchuk

Renato Tenreiro

Olivieri Advogados

Rosana Barakat

Rúben de Oliveira

Associados

Sandra Félix

Rubens Medina

Diretor Artístico John Neschling

Mezzo-Sopranos

Sérgio Sagica

Diretoria Geral

Elisa Nemeth

Valter Felipe

Assessora

Eloísa Baldin Petriaggi

Valter Estefano Mesquita

Maria Carolina G. de Freitas

Erika Mendes Belmonte

Barítonos

Secretárias

Heloísa Junqueira

Alessandro Gismano

Ana Paula Sgobi Monteiro

Keila de Moraes

Ary Lima Jr.

Marcia de Medeiros Silva

Juliana Valadares

Daniel Lee

Monica Propato

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Cerimonial

Fernanda Câmara

Antonio Carlos da Silva

Luciano Paes

Egberto Cunha

Arquivo Artístico

Antonio Oliveira Almeida

Fernando Azambuja

Sofia Amaral Ramos

Coordenadora

Alexandre Nunes Pinheiro

Ubiratan Nunes

Maria Rosa T. Sabatelli

Maria Elisa Peretti

Aristide da Costa Neto

Camareiras

Bilheteria

Pasqualini

Cláudio Nunes Pinheiro

Alzira Campiolo

Nelson Franco de Oliveira

Assistente

Cristiano Teixeira dos

Lindinalva M. Celestino

Ana Raquel Alonso

Santos

Maria Auxiliadora

Diretoria Artística

Arquivistas

Edival Dias

Maria Gabriel Martins

Assessoria de

Ariel Oliveira

Ermelindo Terribele

Marlene Collé

Direção Artística

Guilherme Prioli

Sobrinho

Nina de Mello

Stefania Gamba

Karen Feldman

Julio de Oliveira

Regiane Bierrenbach

Luís Gustavo Petri

Leandro José Silva

Lourival Fonseca

Tonia Grecco

Clarisse De Conti

Leandro Ligocki

Conceição

Secretária

Copista

Marcelo Luiz Frosino

Central de Produção

Eni Tenório dos Santos

Ana Cláudia Oliveira

Paulo Miguel Filho

"Chico Giacchieri"

Rodrigo Nascimento

Coordenação de Costura

Programação Artística

Ação Educativa

Thiago Panfieti

Emília Reily

João Malatian

Aureli Alves de Alcântara

Assistentes

Acervo de Figurinos

Diretor Técnico

Cristina Gonçalves Nunes

Elisabeth de Pieri

Marcela de Lucca M.

Ivone Ducci

Dutra

Assistente de

Centro de Documentação

Contrarregras

Assistente

Coordenação de

Juan Guillermo Nova

Direção Técnica

Chefe de seção

Alessander de Oliveira

Ivani Rodrigues Umberto

Giuseppe Cangemi

Mauricio Stocco

Rodrigues

Acervo de Cenário

Diretor de Palco Cênico

Equipe

Bruno Farias

e Aderecista

Ronaldo Zero

Lumena A. de Macedo Day

Carlos Bessa

Aloísio Sales

Assistente de Direção de Palco Cênico

Diretoria de Produção

Eneas Leite

Expediente

Marcelo Luiz Frosino

José Carlos Souza

Sabrina Mirabelli

Produtoras Executivas

Piter Silva

José Lourenço

Assistente de Direção

Anna Patrícia Araújo

Sandra Satomi Yamamoto

Paulo Henrique Souza

Cênica Residente

Rosa Casalli

Chefe de Som

Diretoria de Gestão

Julianna Santos

Produtores

Sérgio Luis Ferreira

Diretora de Formação

Segunda Assistente

Aelson Lima

Operadores de Som

Lais Gabriele Weber

de Direção Cênica

Pedro Guida

Guilherme Ramos

Assessora

Ana Vanessa

Assistente de Produção

Daniel Botelho

Juliana do Amaral Torres

Assistente de Direção

Arthur Costa

Kelly Cristina da Silva

Secretária

Chefe de Iluminação

Oziene Osano dos Santos

Palco

Valéria Lovato

Cênica e Casting Sérgio Spina Figurinista Residente

Chefe da Cenotécnica

Iluminadores

Núcleo Jurídico

Veridiana Piovezan

Aníbal Marques (Pelé)

Alexandre de Souza

Assessora

Produção de Figurinos

Técnicos de Palco

Igor Augusto F. de Oliveira

Carolina Paes Simão


Assistente Jurídico

Antonio Teixera Lima

Comunicação

João Paulo Alves Souza

Cleide da Silva

Editor e Coordenador

Eva Ribeiro

de Comunicação

Assistência Administrativa

Israel Pereira de Sá

Marcos Fecchio

Alexandro Robson

Luiz Antonio de Mattos

Assistente de

Bertoncini

Maria Apª da Conceição Lima

Mídias Eletrônicas

Pedro Bento Nascimento

Desirée Furoni

Seção de Pessoal

Therezinha Pereira da Silva

Assessora de Imprensa

Cleide Chapadense da Mota

Almoxarifado

Amanda Sena

José Luiz P. Nocito

Nelsa Alves Feitosa da Silva

Design Gráfico

Solange F. França Reis

Bens Patrimoniais

Kiko Farkas/ Máquina

Tarcísio Bueno Costa

José Pires Vargas

Estúdio Designer Assistente

Parcerias

Informática

Ana Lobo

Suzel Maria P. Godinho

Ricardo Martins da Silva

André Kavakama

Renato Duarte

Atendimento

Contabilidade

Estagiários

Michele Alves

Alberto Carmona

Victor Hugo A. Lemos

Impressão

Cristiane Maria Silva

Yudji A. Otta

Imprensa Oficial do

Diego Silva

Arquitetura

Estado de São Paulo

Luciana Cadastra

Lilian Jaha

Marcio Aurélio Oliveira

Estagiários

Cameirão

Marina Castilho

Meire Lauri

Vitória R. R. Dos Santos Seção Técnica

Compras e Contratos

de Manutenção

George Augusto Rodrigues

Edisangelo Rodrigues

Jessica Elias Secco

da Rocha

Marina Aparecida Augusto

Eli de Oliveira

Corpos Estáveis

Narciso Martins Leme

Paula Melissa Nhan

Estagiário

Juçara A. de Oliveira

Vinícius Leal

Vera Lucia Manso Infraestrutura Marly da Silva dos Santos

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 106



co-realização

Organização Social de Cultura do Município de São Paulo

apoio cultural



MUNICIPAL. O PALCO DE Sテグ PAULO


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