IL TROVATORE Ópera em quatro atos Música de Giuseppe Verdi Libreto de Salvatore Cammarano
Giuseppe Verdi Il Trovatore
Março 2014
Terças (11 / 18), Quintas (13 / 20) e Sábados (08 / 15 / 22) às 20h Domingos (09 / 16) às 18h
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Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo Coro Lírico Municipal de São Paulo
Regência
John Neschling
08 09 11 13 15 16 18 20
Gabriel Rhein-Schirato
22
Direção Cênica
Andrea De Rosa
Cenografia
Sergio Tramonti
Figurinos Desenho de Luz Regente do Coro
Conde de Luna
Leonora
Azucena
Manrico
Ferrando
Alessandro Ciammarughi Pasquale Mari Bruno Greco Facio
Alberto Gazale
08 11 13 15 18 20
Rodolfo Giugliani
09 16 22
Susanna Branchini
08 13 16 20
Hui He
09 11 15 18 22
Marianne Cornetti
08 11 13 15 18 20
Denise de Freitas
09 16 22
Stuart Neill
08 11 13 15 18 20 22
Sergio Escobar
09 16
Enrico Giuseppe Iori
08 11 15 18 20
Felipe Bou
09 13 16 22
Ines
Ana Lucia Benedetti
Ruiz
Eduardo Trindade
Velho cigano
Leonardo Pace
Mensageiro
Walter Fawcett
Programa sujeito a alterações.
Sinopse
parte I
No átrio do palácio da Aljafería, em Saragoça, no início do
O Duelo
século XV, em período de guerra civil pelo trono, Ferrando, o chefe da guarda do Conde de Luna, narra a seus subordinados a história da família do nobre. Muitos anos atrás, sob a acusação de ter colocado mau olhado no irmão do Conde, uma cigana foi levada à fogueira. Para se vingar, sua filha colocou fogo em uma criança, que se acredita ser o outro filho do Conde. Enquanto isso, nos jardins do palácio, à noite, Leonora espera pela vinda de seu amado, o trovador Manrico. Chega o Conde, apaixonado pela moça que, na penumbra, toma-o por Manrico. Este entra em cena, e a confusão se desfaz. Rivais no amor, trovador e nobre também se encontram em campos opostos na luta pelo poder, e se batem em duelo.
parte II
Em um acampamento, na Biscaia, Azucena, a filha da cigana,
A Cigana
narra a Manrico o suplício de sua mãe, dizendo que, para vingá-la, raptou o irmão do atual Conde de Luna, porém, transtornada, equivocou-se e acabou por lançar às chamas seu próprio filho. O trovador fica perturbado: se Azucena, que ele trata como mãe, queimou seu rebento, de quem então ele é filho? A cigana se diz sua progenitora, atribuindo as palavras recém-ditas à perturbação causada pela lembrança dolorosa. Manrico narra então seu embate com o rival: teve-o à sua mercê, porém, no momento decisivo, uma voz do céu impediu-o de desferir o golpe fatal. Eles são interrompidos por um mensageiro, informando que, na crença de que o amado morreu no duelo com o Conde, Leonora pretende ingressar na vida monástica. Luna se precipita na direção do convento, com o intuito de raptá-la, mas é impedido pela chegada de Manrico e seus homens.
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Intervalo 30'
parte III
As tropas do Conde de Luna cercam o castelo em que Man-
O Filho da Cigana
rico e Leonora estão refugiados. Azucena, que estava rondando o acampamento, é capturada, e Ferrando reconhece nela a filha da cigana. Uma pira é erigida, para queimá-la. Dentro do castelo, preparam-se as bodas do trovador. Ao saber, contudo, da captura de Azucena, Manrico reúne suas tropas para resgatá-la.
parte IV
Leonora chega ao palácio da Aljafería para salvar o amado
O Suplício
das mãos do Conde. Promete entregar-se a Luna caso Manrico seja liberado, e é levada à cela em que estão o trovador e Azucena. Nesse meio-tempo, ingere veneno, para não ter que cumprir sua parte do acordo. Leonora diz a Manrico que ele está livre, porém ela deve ficar. Desconfiado da barganha, o trovador faz uma cena de ciúmes, interrompida pelo desfalecimento de Leonora, que agoniza em seus braços. Luna, que tudo ouvia em segredo, ordena a execução do rival. Azucena, que até então dormia, tenta deter o suplício do trovador, mas é tarde. Diante do fato consumado, revela ao Conde que ele acaba de executar seu próprio irmão. Azucena festeja sua vingança, enquanto Luna lamenta por estar vivo.
Edição original da Casa Ricordi para a redução de piano de Il Trovatore.
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Estreia mundial
Primeira apresentação no
19 de janeiro de 1853 no
Theatro Municipal de São Paulo
Teatro Apollo de Roma
26 de outubro de 1923
Regente Emilio Angelini
Regente Vincenzo Bellezza
Rosina Penco (Leonora), Emilia Goggi
Claudia Muzio (Leonora), Luisa Bertana
(Azucena), Carlo Baucardé (Manrico),
(Azucena), John Sullivan (Manrico), Carlo
Giovanni Guicciardi (Conde), Arcangelo
Galetti (Conde), Michele Fiore (Ferrando),
Balderi (Ferrando), Francesca Quadri
Maria Lilluni (Ines), Nello Palai (Ruiz)
(Ines), Giuseppe Bazzoli (Ruiz) Mais recente apresentação no Primeira apresentação no Brasil
Theatro Municipal de São Paulo
Setembro de 1854 no Teatro Lírico
Outubro de 2001
Fluminense, no Rio de Janeiro
Orquestra Sinfônica Municipal e Coral Lírico
Arsène, Casaloni, Gentile,
Regentes György Györiványi Ráth e
Arnaud, Bouché
Mário Zaccaro Diretor Cênico Oscar Figueroa
Primeira apresentação em São Paulo
Vladimir Bogachov / Richard Bauer (Manrico),
30 de dezembro de 1874 no Teatro
Cynthia Makris / Ana Paula Brunkow
Provisório
(Leonora), Giancarlo Pasquetto / Sebastião
Regente Gabriel Giraudi
Teixeira (Conde), Graciela Alperyn / Mara
Emilia Pezzoli (Leonora), Marietta Polonio
Alvarenga (Azucena), Dimitri Kavrakos / Sávio
(Azucena), Giuseppe Limberti (Manrico),
Sperandio (Ferrando), Sergio Weintraub (Ruiz),
León Barcena (Conde), Jorge Mirandola
Edinéia de Oliveira (Ines), Dimas do Carmo
(Ferrando), Canepa (Ines), François (Ruiz)
(Mensageiro), Gustavo Schlecht (Cigano)
Il Trovatore Irineu Franco Perpetuo
“No coração da África ou nas Índias, você sempre vai ouvir Il Trovatore”, afirmou Verdi, não sem orgulho, a seu amigo escritor, o Conde Opprandino Arrivabene, por carta, em 1862. 150 anos depois, a frase continua atual. As árias de Verdi para os protagonistas da ópera constituem pedras de toque de seus respectivos registros vocais, enquanto “Vedi! Le fosche notturne spoglie”, coro de ciganos que abre o segundo ato, é daquelas melodias conhecidas mesmo por quem não tem familiaridade com o mundo da ópera. Ao lado de Rigoletto e La Traviata, Il Trovatore constitui a trinca de títulos com que Verdi mudou o paradigma da ópera italiana de seu tempo, consolidando de vez a reputação de maior compositor de seu país no século XIX. Irineu Franco Perpetuo é jornalista,
Se o amor do público, dos cantores e dos regentes
colaborador do jornal Folha
vem mantendo Il Trovatore consistentemente no repertó-
de S. Paulo, da Revista Concerto
rio desde sua estreia, no Teatro Apollo, em Roma, em 19
e correspondente no Brasil da
de janeiro de 1853, a crítica jamais escondeu suas reservas
revista Ópera Actual (Barcelona).
com relação à partitura.
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O musicólogo Abramo Basevi (1818-1885), contemporâneo do compositor, em seu pioneiro Studio sulle opere di Giuseppe Verdi (1859), já destaca as “inverossimilhanças” e “absurdos” da ópera, queixando-se de que, embora pertença ao que ele identifica como “segunda fase” do compositor, ela ainda carregue os “exageros” de sua produção inicial. Wagneriano de carteirinha, o literato irlandês George Bernard Shaw (1856-1950) chamava Il Trovatore de ópera única, “mesmo entre as obras de seu compositor, em seu país. Tem poder trágico, melancolia pungente, vigor impetuoso e um páthos fresco e intenso, que jamais perde a dignidade. É veloz na ação, e perfeitamente homogênea em atmosfera e sentimento”. Faz, contudo, uma ressalva: “é completamente desprovida de interesse intelectual; apela aos sentidos o tempo todo. Se deixasse você pensar, ela desmoronaria no absurdo, como o jardim de Klingsor”. As ressalvas costumam se dever a um suposto “recuo” formal de Verdi, com relação às “ousadias” de Rigoletto e, principalmente, à própria escolha do tema. Eufórico com o êxito da partitura que trazia aquela que talvez seja até hoje sua mais célebre ária (La donna è mobile), no Teatro La Fenice, em Veneza, em 1851, Verdi imediatamente entrava em negociações com Bolonha para uma nova ópera. E, enquanto ainda estava na cidade dos canais, escreveu ao poeta napolitano Salvatore Cammarano (1801-1852) – seu libretista em Alzira (1845), La Battaglia di Legnano (1849) e Luisa Miller (1849) – propondo como tema a peça El Trovador, do dramaturgo espanhol Antonio García Gutiérrez (1813-1884).
Andaluz de Chiclana de la Frontera, Gutiérrez foi tradutor de francês, libretista de zarzuelas e dramaturgo prolífico. Depois de abandonar a faculdade de medicina, serviu no exército, morou em Cuba e no México, atuou com representante de seu país em Londres e Gênova, e dirigiu o Museu Arque-
Vingança e amor
ológico Nacional. Contudo, embora seu Simon Boccanegra também tenha sido posteriormente adaptado para ópera por Verdi, nenhuma de suas peças repetiu o sucesso de El Trovador, cuja estreia, em 1836, foi um marco na História do teatro espanhol: pela primeira vez, naquele país, o público pedia para o autor de uma peça ir à cena receber aplausos. Em crítica publicada à época, Mariano José de Larra louva a habilidade de Gutiérrez em conduzir as duas tramas paralelas da intriga: uma de amor, e outra de vingança. “Essas duas ações dramáticas, não menos interessantes, não menos terríveis uma do que a outra, se encontram, apesar de sua duplicidade, tão perfeitamente entrelaçadas, tão dependentes entre si, que seria difícil separá-las sem prejuízo recíproco”, afirma o resenhista. O “drama cavalheiresco em cinco jornadas, em prosa e verso” está ambientado em Aragão, no século XV. Boa parte da ação se desenrola em torno do Palacio de la Aljafería, em Saragoça, cuja torre quadrangular (erigida por volta do século IX) recebeu, graças ao drama de Gutiérrez, o apelido de “torre do Trovador”. O pano de fundo é a guerra sucessória em torno do reino de Aragão, depois da morte do rei Martín I, El Humano (ou El Viejo), em 1410. D. Nuño de Artal, conde de Luna, e partidário de Fernando de Antequera, disputa o amor de D. Leonora de Sesé com D. Manrique, que está do lado de Jaime II, conde de Urgel. Dividida em partes denominadas “O Duelo”, “O Convento”, “A Cigana”, “A Revelação” e “O Suplício”, a trama sangrenta e mirabolante é intensificada pela presença de Azucena, velha cigana obcecada pela ideia de vingar a mãe, queimada como bruxa pelo pai do conde de Luna. O gosto mudou bastante nos últimos 170 anos, e hoje parece necessário explicar não os motivos para o drama de Gutiérrez ferir as suscetibilidades dos séculos XX e XXI, mas sim as razões para seu êxito na primeira metade do século XIX. Ele deve ser entendido dentro da revolução teatral feita
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pelos autores românticos que, influenciados pelas peças de Shakespeare, romperam com as unidades aristotélicas que governavam os palcos no Classicismo. Um dos principais dramaturgos dessa revolução era justamente o francês Victor Hugo (1802-1885), cuja peça O Rei se Diverte foi transformada por Verdi em Rigoletto. Logo depois do sucesso desta ópera, parecia lógico, então, que o compositor italiano buscasse um autor claramente influenciado por Hugo, e seguidor dos mesmos preceitos estéticos.
Não se sabe até hoje como Verdi chegou à peça, já que não foi descoberta nenhuma tradução italiana do texto. O mais provável é que tenha sido trazida de Madri por algum cantor, amigo do compositor, e depois vertida, para uso doméstico, por sua companheira, Giuseppina Strepponi. Sabe-se que, em 1850, absorto na composição de Rigoletto, Verdi pediu com urgência a seu editor, Giulio Ricordi, um dicionário de espanhol. O fato é que, em correspondência com Cammarano, Verdi afirmou considerar El Trovador “muito belo, cheio de imaginação e situações fortes. Gostaria que houvesse dois papéis femininos: o principal é a cigana, uma mulher de caráter muito especial”. A empolgação do compositor não parece ter tido contrapartida em seu libretista, cuja demora em responder sobre o projeto da ópera levou Verdi a escrever a um amigo em comum, o napolitano Cesare de Sanctis: “estou realmente furioso com Cammarano. Ele não tem consideração alguma pelo tempo que, para mim, é extremamente precioso. Ele não escreveu uma palavra sobre o Trovador; gostou ou não?”. As tratativas com Bolonha acabaram não dando em nada, e a resposta de Cammarano, quando chegou, estava cheia de objeções. Diferentemente do que acontecia com o libretista de Rigoletto, Francesco Maria Piave (com o qual trabalhou em dez óperas, e não tinha escrúpulos em tratar com
Situações fortes
Manuscrito do drama El Trovador, de Antonio García Gutiérrez.
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rudeza ou autoritarismo), Verdi respeitava o poeta napolitano, que escrevera o libreto da Lucia di Lammermoor, de Donizetti, e ao qual confiara seu mais caro projeto: a jamais realizada adaptação operística do Rei Lear, de Shakespeare. Assim, o tom da réplica foi cuidadoso: “você não me diz uma palavra a respeito de ter gostado ou não do drama. Eu o sugeri a você porque me parecia oferecer belos efeitos teatrais e, acima de tudo, algo de original e fora do comum. Se você não compartilhava da minha opinião, por que não propôs outro tema?” Outro tema não surgiu, e o libretista elaborou, então, uma sinopse – que Verdi rejeitou, preferindo fazer a sua própria. Cammarano finalmente concordou com as linhas gerais verdianas, e se lançou ao trabalho – lentamente, devido a problemas de saúde que se agravariam de modo irreversível. Em julho de 1852, Verdi se dirigiu a De Sanctis: “não tenho palavras para escrever quão profunda é a minha dor. Li sobre sua morte não numa carta de amigo, mas num estúpido jornal teatral. Você o amava tanto quanto eu e compreenderá os sentimentos para os quais não encontro expressão. Pobre Cammarano. Que perda”. O poeta deixava seis filhos; o compositor pagou à viúva 600 ducados (em vez dos 500 combinados), e pediu a De Sanctis a indicação de um literato para finalizar o libreto. A tarefa ficou a cargo de Leone Emmanuele Bardare.
Triunfo esplêndido
A primeira apresentação, em Roma, foi um sucesso absoluto: a cena final teve que ser inteiramente bisada, como informou, no dia seguinte, a Gazzetta Musicale, classificando a ópera de “celestial”: “o compositor mereceu este triunfo esplêndido, pois aqui ele escreveu música num estilo novo, imbuída de características castelhanas. O público ouviu cada número em silêncio religioso, prorrompendo em aplausos a cada intervalo, no final do terceiro ato, e com todo o quarto ato des-
pertando um tal entusiasmo que sua repetição foi exigida”. À condessa Clarina Maffei, o compositor escreveria: “dizem que essa ópera é muito triste e que há nela mortes demais. Mas, afinal, tudo na vida é morte! O que mais existe?” Tamanho êxito levou a Opéra de Paris a encomendar uma nova versão da partitura ao compositor. Estreada em janeiro de 1857, Le Trouvère mantinha os contornos gerais da ópera ouvida na Itália, trazendo, contudo, algumas alterações sensíveis (além do idioma). A mais notável é a inclusão, no terceiro ato, logo depois do coro dos soldados, de um balé (item obrigatório na capital francesa) das ciganas; também chama a atenção o prolongamento da última cena da ópera, com a reprise do Miserere. Se essas alterações, feitas pelo próprio compositor, não “pegaram”, uma outra modificação, realizada por um intérprete, parece hoje inseparável da partitura. Trata-se da inserção de um dó agudo em “Di quella pira”, ao fim do terceiro ato. Há controvérsias quanto ao autor da façanha: para alguns, foi Carlo Baucardé (ou Boucardé), o Manrico da estreia, em uma performance posterior da ópera, em Florença, em 1855, enquanto outros preferem colocar o agudo na conta de Enrico Tamberlick (ou Tamberlik), tenor que correu o mundo (Brasil inclusive) cantando o que na época era uma novidade: o dó de peito. Reza a lenda que, ao ouvir um dos dós de Tamberlick, Rossini teria pedido para ele deixar a nota na chapelaria do teatro, recolhendo-a na saída. Verdi teria sido mais complacente: “longe de mim negar ao público o que ele quer. Inclua o dó agudo, se quiser, desde que seja bom”. A nota ficou tão arraigada na tradição que tenores com dificuldade em alcançá-la preferem transpor a cena inteira meio tom abaixo, e cantar um si (que passa ao ouvinte, especialmente o leigo, uma impressão similar), do que o sol originalmente escrito por Verdi. Intérpretes que tentam retomar a partitura original (como o maestro Riccardo Muti, no Scala de Milão, em 2000,
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com o tenor Salvatore Licitra) normalmente enfrentam a incompreensão – quando não a ira – do público.
Retrocesso?
Durante o processo criativo de Il Trovatore, Verdi escreveu a Cammarano: “se na ópera não houvesse cavatinas, duetos, trios, coros, finais etc., e a obra inteira consistisse, digamos, em um único número, eu acharia tudo mais certo e adequado”. Apesar das palavras que parecem ecoar um ideal wagneriano de continuidade musical, a ópera vai no sentido oposto, mantendo uma rígida estrutura de números musicais que parece a alguns comentadores um “retrocesso” com relação às ousadias de Rigoletto. Para o Dicionário Grove, contudo, “o êxito da ópera reside precisamente nessa restrição do discurso formal, com a energia emocional do drama sendo constantemente canalizada através de unidades formais controladas do modo mais estrito. O sucesso de Trovatore deve nos lembrar de que é perigoso ver o desenvolvimento verdiano em uma linha excessivamente simples, nem ligá-lo, de forma impensada, a uma ‘emancipação’ gradual das restrições formais: apesar de sua celebração das formas tradicionais, a ópera é tudo, menos um retrocesso a realizações anteriores”.
Um Libreto Trovadoresco José Luiz Águedo-Silva
Em seu Vocabulário ortográfico de 1839, Francesco Antolini assim descreve a função de libretista: “Título de desprezo de quem faz libretos de óperas teatrais, sendo indigno do de ‘poeta’”. Havia acabado o tempo em que Apostolo Zeno (1669-1750) e Pietro Metastasio (1698-1782) dominavam a cena lírica e tinham suas obras musicadas por diversos compositores, mesmo após suas mortes. A figura do compositor se sobrepunha definitivamente, e cada vez mais, à do libretista, taxado como mero “fornecedor de versos a serem musicados”. Um olhar mais atento, porém, mostra que, com Salvatore Cammarano (1801-1852) a situação era outra. Aclamado como um dos melhores de sua época – sua fama só se equiparava à de Felice Romani (1788-1865), conhecido sobretudo pela parceria com Vincenzo Bellini –, o libretista napolitano tiJosé Luiz Águedo-Silva é literato,
nha uma formação literária bastante sólida. Sabia muito bem
músico, mestre em teoria e história
o francês e conseguia, através dessa língua, ler obras ingle-
literária e autor da dissertação Il
sas e alemãs que chegavam traduzidas a Nápoles. Lamen-
Trovatore e o Libreto Belcantista.
tava não conhecer bem o latim e o grego, embora tivesse
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acesso às obras clássicas também pelas traduções. Todo esse saber influenciaria tanto a escolha dos temas para seus libretos como sua relação com os diversos gêneros, sendo capaz de adaptar peças e romances para a forma-libreto. Uma vez que o tema fosse escolhido, Cammarano partia para a sinopse do enredo. Na verdade, eram duas: uma resumida, com os pontos principais que seriam desenvolvidos, e outra detalhada (chegando a ter cinco ou seis páginas) com toda a estrutura delineada, inclusive os diálogos e o desenvolvimento das cenas, já divididas em numeri chiusi (os “números fechados”, típicos da ópera romântica italiana). Aliado ao conhecimento literário e teatral, essa organização textual de Cammarano era essencial para que o libretista pudesse criar uma obra que satisfizesse tanto a ele, quanto ao compositor com o qual trabalhava. E mais: a reputação de Cammarano estava também na qualidade de seus versos, cheios de uma “musicalidade textual” que iria se refletir na própria composição. Após o sucesso de Rigoletto (1851), Verdi percebeu que estava implantando uma verdadeira revolução na ópera italiana, e que tinha o público a seu lado. Viu na peça El trovador (1836), de Antonio García Gutiérrez, uma ótima oportunidade para continuar essa revolução. Quando se colocam lado a lado peça e libreto, a primeira diferença notável é a redução do número de personagens. Embora Il Trovatore tenha sido a primeira obra de Verdi criada antes da escolha de cantores, orquestra e teatro para a estreia, a experiência de Cammarano levou-o a suprimir Don Guillén de Sesé, irmão de Leonor, e Don Lope de Urrea, um seguidor do Conde de Luna, bem como Guzmán e Jimeno, que acabaram fundidos em Ferrando, personagem que já constava do original.
El trovador está dividida em cinco ‘jornadas’, reduzidas a quatro “partes” na ópera. O primeiro programa de Cammarano,
As jornadas do Trovador
que consta de uma carta de 1º de abril de 1851, faz um grande resumo da peça, já propondo basicamente a divisão dos números e um esboço dos versos: trata-se de um misto de narrativa onisciente, falas das personagens e “pré-versos” da ópera. E, como Verdi desejava, o coro inicial foi cortado e substituído por um racconto: Ferrando conta a um grupo de soldados os acontecimentos que se passaram 20 anos antes – desde o início da ópera há mostras de que o velho Conde de Luna sabia que seu filho continuava vivo. A cavatina de Leonora, um dos momentos de maior expressão lírica (textual e musical) foi uma das divergências entre compositor e libretista. Apesar do impasse, Verdi acabou cedendo e aceitou enfim a cena, que se assemelha muito à cavatina de Lucia (lembremos que o libreto de Lucia di Lammermoor também é de Cammarano), com a figura da “aia palpiteira” e certa retomada à antiga tradição da aria di sortita, quando a personagem entrava, cantava e saía de cena. Como em diversas obras do Romantismo, Il Trovatore possui um caráter escuro, noturno, sombrio. A noite dá o tom a muitas das situações no desenrolar da trama, como a confusão transformada em terceto, cheio de ódio e temor, que finaliza a Parte I, e é ela que acompanha as personagens até o fim – três dos quatro protagonistas chegam à “noite da vida”, cada qual com sua sina, seu destino, sua morte.
Inverossimilhanças
Após o famoso coro que inicia a Parte II, entra em cena Azucena, que para Verdi era a figura principal da ópera. Além de ser um dos maiores desafios vocais para mezzo-soprano, trata-se de uma das personagens mais bem escritas da história da ópera italiana, tamanha é sua profundidade num período em que o psicologismo ainda não estava em voga. A cavatina de Azucena conta novamente a história narrada por Ferrando, mas de outro ponto de vista: o da filha da cigana condenada à fogueira. Em cada verso ela relembra os horro-
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res de ter presenciado a execução da própria mãe, que, expirando, pediu vingança à filha – a última frase da mãe ressoa sempre na mente de Azucena, ecoando em diversos momentos na música. Depois, continua sua narrativa, na qual menciona um acontecimento importante: atordoada pelo choro do bebê raptado, num momento de torpor e delírio, jogou o próprio filho no fogo. Este é um dos pontos-chave do enredo, e também proporcionou discussões entre compositor e libretista – até hoje é um dos trechos mais criticados pelos detratores da ópera, pois o consideram muito inverossímil, colocando a culpa em Cammarano. Entretanto, ao ler a correspondência recolhida na publicação intitulada Carteggio Verdi-Cammarano (18431852), percebe-se que Cammarano tinha plena consciência da trama, fazendo uma longa explanação sobre a cigana, que só poderia contar tais fatos se estivesse minimamente demente, alternando momentos de lucidez e de loucura – afinal, segundo suas próprias palavras, “Quando Azucena não raciocina, raciocina melhor o drama”. Outro ápice da ópera acontece com a cabaleta “Di quella pira”, que encerra a Parte III e figura como top five no repertório tenoril. Por vários anos acreditou-se que esse inflamado número fora o último escrito por Cammarano; posteriormente descobriu-se que à época de sua morte, o libreto estava completo, e que Verdi só contratou Leone Emmanuele Bardare para fazer pequenos ajustes em trechos que não o satisfizeram – como “Il balen del suo sorriso”, “Stride la vampa”, “D’amor sull’ali rosee” e o finale, no qual o jovem poeta aproveitou os versos rascunhados pelo compositor. Há críticos que citam esse trecho como uma das razões da pretensa inverossimilhança: dizem que o sistema de numeri chiusi quebra toda a dramaticidade da obra, além de não condizer em nada com o que está sendo dito – Manrico fala que correrá para salvar a mãe, mas continua parado, cantando. Entretanto, pela tradição, na cabaleta, assim como na
ária, a ação se suspende, devendo o tempo ser encarado de forma diferente: a explicação mais plausível para “Di quella pira” é que se trata de um tempo totalmente psicológico, em que Manrico descreve o que sente e planeja os próximos passos. A volta ao tempo “real” se dá somente na coda, quando ele se dirige a seus companheiros aos brados de “Às armas!” – e canta o Dó “de peito” que não está na partitura.
Censura e sucesso
O início da última parte mostra uma ala do Palácio de Aliaferia, numa escuridão imensa. Leonora está sozinha, refletindo sobre tudo o que aconteceu: canta sua segunda ária, que mostra outro grande momento lírico da ópera e prenuncia o fim da personagem, disposta a se sacrificar pelo amado. Depois dela, ouve-se o “Miserere”, um tempo di mezzo alongado que constitui um trecho bastante peculiar, quase um concertato. Nele, Cammarano e Verdi ampliaram a cena original, já escrita por García Gutiérrez, colocando um coro interno de religiosos pedindo a proteção aos que vão morrer, com Leonora absolutamente angustiada e Manrico despedindo-se dela em estrofes trovadorescas. Apesar do compositor ter se utilizado da mesma estrutura em óperas anteriores, o efeito alcançado no Trovatore é absolutamente perfeito. Momentos depois, o Conde entra e Leonora propõe um acordo: se Manrico for libertado, ela própria se entregará ao Conde. Ele acaba por ceder e se distancia para pedir que libertem o Trovador; enquanto isso, Leonora toma o veneno que estava em seu anel, pois prefere morrer a ser de outro. Este ponto foi sugerido por Cammarano, pois no original Leonora se envenena antes do diálogo com o Conde. Verdi questionou a mudança, e o libretista foi muito pontual: “Parece mais verossímil envenenar-se uma vez que tenha conquistado De Luna, e para não cair em seu poder depois da fuga.” Devido à censura, palavras relacionadas à religião ou à política tiveram de ser modificadas, e o público que assistiu
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às primeiras récitas ouviu versos diferentes dos que conhecemos hoje. Com o tempo, essas mudanças foram deixadas de lado e o texto original prevaleceu. Salvatore Cammarano não viveu para ver sua obra triunfar nos palcos desde a première. Apesar das críticas que sofreu durante mais de cem anos, Il Trovatore passou a ser vista com outros olhos pelos estudiosos, que perceberam qualidades antes ignoradas. O napolitano sabia de todo o seu potencial, e escreveu, resumindo o que fizera ao transformar El trovador em Il Trovatore: “Recapitulando (é necessário deixar de lado por um momento a modéstia) acredito que meu programa se esquiva das areias movediças da Censura, serve aos propósitos do Melodrama, tira alguns defeitos do original – conservando a força e a bizarrice das personalidades, a potência das situações e toda a fisionomia do Drama. E na verdade jamais escrevi seguindo tão de perto os passos do original.”.
Giuseppe Verdi
Salvatore Cammarano
Antonio García
(1813-1901)
(1801-1852)
Gutiérrez (1813-1884)
O compositor italiano
Libretista de Il Trovatore.
Escritor da peça El Trovador,
teve o bicentenário
Trabalhou com Giuseppe
que estreou no Teatro del
de seu nascimento
Verdi nas óperas Alzira, A
Príncipe, em Madri, em 1836.
comemorado em 2013.
Batalha de Legnano e Luisa
Giuseppe Verdi também
Miller. Foi também o libretista
adaptou a peça Simon
de Lucia de Lammermoor, de
Boccanegra de García
Gaetano Donizetti (1797-1848).
Gutiérrez.
Torre do Trovador
Giuseppina Strepponi
Construção quadrangular
(1815-1897)
erguida no século IX, faz parte
Soprano que
do Palácio de la Aljafería, em
interpretou o papel
Saragoça. Ganhou seu nome
de Abigail na estreia
atual em homenagem ao drama
de Nabucco. Amante
de García Gutiérrez.
e segunda esposa de Giuseppe Verdi.
A Tragédia da Vingança Herdada Antonio Quinet
A história de Il Trovatore, tão inverossímil quanto simbólica, está à altura dos mitos que inspiraram os poetas da Antiga Grécia. A temática trágica está em cena na questão do herói sobre sua origem – “Sou filho de quem?” –, no filicídio (como ato falho) de uma mãe desesperada, na luta fratricida pelos mesmos objetos de desejo: a mulher e a pólis e, principalmente, a herança de um funesto destino determinado por uma falha ética de um antepassado, que é transmitida de geração em geração. O mito é uma forma ficcional de falar sobre a verdade que é recusada e sobre o real dos desejos inconscientes – a Antonio Quinet é psicanalista,
tragédia coloca o mito em cena conferindo-lhe uma drama-
psiquiatra, dramaturgo e doutor
turgia centrada no herói. A ópera, herdeira dessa forma ar-
em filosofia pela Universidade
tística, radicaliza o espírito dionisíaco da música e dá a voz
de Paris VIII. É autor de diversos
cantada, antes restrita ao coro, a todos os personagens. Il
livros como Os outros em Lacan
bello canto. Beleza extraída do pathos trágico: padecimento
e de peças teatrais como Hilda
e paixão. E a música acrescenta uma narrativa sem palavras,
& Freud, encenada no Freud Museum de Londres.
que toca direto no não-dito dos afetos inconfessáveis e na caverna dos sentimentos inomináveis.
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Manrico é um herói trágico que carrega um mandamento que desconhece: vingar a mãe. Mas quem é sua mãe? Il Trovatore é uma tragédia do destino, como as gregas, em que está em jogo a ambiguidade do herói: ele age por conta própria, mas é um joguete dessa herança maldita que está o tempo todo presente como uma Outra cena – expressão que Freud primeiro empregou para se referir ao Inconsciente. Essa cena onipresente é descrita na famosa área Stridi la vampa: Crepitam as chamas! Chega a vítima vestida de negro, seminua e descalça. Sinistra resplandece sobre os rostos horríveis a tétrica chama que se alça ao céu!. E já ardendo na fogueira grita a mulher acusada de bruxaria: “Vingue-me”. Essa cena é cantada em verso e gozo sob diferentes óticas. E a tragédia não para aí, pois a filha (Azucena) ao ver a mãe queimando, rapta o filho do Conde assassino e o atira na fogueira. Ao completar o gesto ela se dá conta de que atirou o próprio filho e poupou o filho de seu inimigo mortal. Essa dupla cena é a pré-história – sabidas por uns, ignoradas por outros e recusada pelo herói – que rege e paira sobre toda a ação da ópera. Manrico, criado no lugar do filho assassinado por engano, carrega seu destino sem saber e... sem querer saber. Ele insiste em ignorar quem são seus pais deixando-se iludir pelo desmentido da mãe adotiva, Azucena, mesmo depois de ela ter confessado (no segundo ato) seu crime – que só não o matou por erro, tendo jogado o próprio filho na fogueira. O desejo assassino da mãe está aí caracterizado, pela negação. Diferente de Jocasta, que manda conscientemente matar seu filho de três dias de idade, Azucena troca um bebê pelo outro e cria como seu o filho do algoz de sua mãe. Portanto, como Édipo, Manrico é vítima de tentativa de filicídio. O conflito da personagem Azucena é o embate entre ela – como filha que não consegue cumprir o mandamento materno de assassinato – e ela mesma – como mãe filicida que cria o filho do inimigo.
A ópera começa e termina com a briga fratricida pelo amor de uma mulher (ou seria em relação ao amor e ódio da mãe?). Azucena é o pivô de toda a história, mas a ópera não se chama La Strega (figura mítica da mãe má) e sim Il Trovatore – aquele que é definido pela voz. O espectro da bruxa, mãe de Azucena e avó adotiva de Manrico, continua vagando. É uma morta que ainda não morreu, que como Hamlet pai continua vivendo clamando vingança. A primeira cena, como na peça de Shakespeare, é a evocação do espectro que de tão vivo faz suas aparições e crimes hediondos. Espectro tenebroso que aterroriza a todos. Eis a herança maldita de toda a população pelo erro do monarca. E, como se vê em seguida, também dos filhos que devem carregar os crimes dos pais e seus mandamentos terríveis e insensatos.
O fogo da vingança
As chamas do desejo e da morte inflamam todos os personagens – o fogo é a representação do pathos trágico. Para além da história narrada no libreto, o tema do fogo (e seus derivados como a chama, a pira, o inferno) percorre toda a obra e é o mote da história. É um fogo do qual o comando vocal emana: “Vingue-me!!” Fogo da vingança que arde e ecoa de geração em geração por duas linhagens que se reúnem: a de Manrico, que deve vingar a avó (adotiva) queimada na fogueira pelo Conde de Luna pai, e a do Conde de Luna filho que deve vingar o irmão Garcia (supostamente) jogado na fogueira por Azucena, mãe de seu rival. Como Garcia e Manrico são a mesma pessoa, esta tragédia de erros encontra em sua morte o acerto de contas. O clamor da vendeta é um comando (do superego) que Azucena não cumpriu, pois matou o próprio filho em vez do filho do assassino de sua mãe. Ele se materializa no espectro da bruxa assombrando a todos. Eis o imperativo que é transmitido a Manrico, que não hesita a ficar sempre ao lado
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da mãe, em detrimento da mulher amada, no terceiro ato. O fogo adquire várias formas de amor e de ódio, incendiando de paixão os dois irmãos, Leonora e também Azucena. O fogo consumirá a todos arrastando-os do mal ao pior. O pathos trágico se anuncia e se cumpre. No final da ópera, Azucena, depois de desvelar ao Conde que ele acabara de matar o próprio irmão, diz “Você está vingada, mãe”. Os temas do amor e da vingança não só se entrelaçam como são correntes de lava da mesma pira: a mãe. O assassinato de um filho, a culpa, a devoção ao filho criado como seu, o ciúmes da futura nora, tudo isso desvela os sentimentos ambíguos que uma mãe pode ter por seus filhos. O personagem complexo de Azucena reúne todos eles. Daí sua força dramática para além de qualquer discussão de verossimilhança. A ousadia de Il Trovatore vai além: mostra que a verdadeira mãe é aquela que adota o filho, tendo-o parido ou não. E que a herança simbólica de pais para filhos não é transmitida pela genética e sim pelo desejo. Esta obra nos ensina algo que Freud descobriu com seus pacientes. Como na tragédia grega, a desgraça (até) familiar começou com a falta trágica (hamartia) do Conde de Luna pai que, movido por sua desmedida (hybris) manda matar uma mulher supostamente bruxa. A desgraça é herdada pelas gerações seguintes. O inconsciente é formado por essa herança simbólica e pelas faltas dos antepassados, cuja culpa o sujeito carrega. E também por mandamentos que levam a agir, mesmo sem a consciência deles, tais como “Salvar a honra do pai”, “Vingar a mãe”, que é o caso dos dois irmãos. Eis o que esta ópera coloca em cena como o inconsciente a céu aberto. Os personagens são agidos pelo desejo do Outro – o inconsciente. “Mi vendica! – essa frase deixou um eco eterno neste coração”, diz Azucena a seu “filho”, para em seguida transmitir a ele a mesma ordem. Encontramos aí, portanto, os elementos de tragédia grega que, se é pouco verossímil, bate no coração, povoa o mundo dos sonhos e arde na paixão.
Em Manrico, o trovador, o comando vocal do superego se transforma em obra de arte: sua voz tem o dom de provocar o êxtase. Nesta ópera de Verdi vemos as duas vertentes da voz: a voz que, como uma alucinação, comanda, coage, constrange e obceca, e a voz que encanta, maravilha e extasia.
O gozo da música
Leonora se apaixona pela voz do trovador, pois ao ouvi-la diz que “Ao coração e ao olhar em êxtase a terra virou um céu” (Ato 1). É o êxtase provocado pela pulsão vocal. Gozo confesso na estrofe anterior dessa ária que em si é uma clara referência ao gozo feminino. Gioia provai che agli angeli solo è provar concesso" ("Tive um gozo que só aos anjos é permitido") é a pura expressão do que Lacan chamou de o Outro gozo, para além do gozo fálico sexual - gozo feminino por excelência, mas que podemos referir ao gozo estético. Ela goza só de ouvir a voz do Trovador. Não esqueçamos que é ele definido pela voz e não pelo nome próprio e é quem dá o nome à obra. A pulsão vocal a penetrou e seu coração ardeu. “As chamas incandescentes da paixão consomem meu ser”, canta Leonora. Esse gozo se expressa na voz da cantora numa linha melódica ascendente com cromatismos e vibratos até alcançar notas muito altas com coloraturas no ponto culminante, que alcança dramática e drasticamente o arrebatamento extático e em seguida o relaxamento. Essa ária remete à famosa ária Sempre libera, de homenagem ao gozo sem amarras da Traviata, ópera composta no mesmo ano. Azucena também é livre, como cigana “tem o céu como teto e o mundo como pátria” (Ato 3). Em ambas as árias, o canto é a expressão de um gozo sem limites, cujo protótipo é o gozo do êxtase, sonorizado no canto lírico desde as óperas barrocas. Verdi, com sua música e seus trovadores, nos transporta, como Leonora, para cima da terra – lá onde os espectadores-ouvintes são os extasiados.
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O Miserere final corresponde ao preceito da ética trágica enunciado por Sileno, pai de Dioniso (deus do teatro) “Antes não ter nascido” retomado pelo coro de Édipo em Colona. A vida é mordida pela pulsão de morte com seu lamento triste, porém sublime, que provoca em nós a catarse que possibilita transformar o terror em prazer estético, lembrando-nos que somos todos seres-para-a-morte, que temos na vida a chama de Eros.
Quatro Perguntas para o Diretor Cênico Andrea De Rosa
Quais os principais
Para fazer um paralelo com o cinema, há grandes obras-pri-
desafios para a realização
mas que foram adaptadas de romances "absurdos" e vice-
cênica de Il Trovatore, com
-versa, assim como filmes medíocres que são feitos a partir
seu argumento repleto de
de grandes obras-primas da literatura.
inverossimilhanças?
Verdi, como os grandes diretores de cinema, faz a diferença! Você compreende imediatamente quando para de ler o libreto e assiste à ópera, o espetáculo no palco. Todas as incongruências se tornam secundárias porque Verdi desenvolve uma dramaturgia musical independente, na qual coloca um holofote sobre as relações entre os personagens, e nesse ambiente o espectador se torna imerso, imediata e profundamente. Nesse ponto, as inconsistências do libreto passam a um segundo plano; não existem mais. A primeira coisa a fazer, então, para a encenação da ópera, é ouvir bem a música de Verdi. Na minha encenação insisto bastante em alguns pontos fixos do espaço cênico, que estarão presentes do início ao fim do espetáculo para ajudar na compreensão da trama.
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No centro do palco haverá sempre um buraco aberto, como uma pira sempre acesa, lugar em que foi queimado o filho de Azucena, e o mesmo ponto em que, no fim, morre Manrico. Acho Azucena um personagem extraordinário, por levantar
Como você desenvolveu
uma série de questões. Como pode uma mãe matar o próprio
o personagem de Azucena?
filho por engano? Eu entendo que a única resposta viável é admitir que isso poderia acontecer conosco, que qualquer um poderia perder o controle de si mesmo em razão de uma obsessão (nesse caso, a obsessão por vingar a mãe). Não se deve jamais pensar nela como uma louca. Verdi foi muito claro neste ponto, como se nos convidasse a descobrir a sua "humanidade", escondida atrás de sua aparente insanidade. Se tentarmos pensar que o que ela fez poderia acontecer com qualquer um de nós, se nos aproximarmos dela dessa forma, acredito que Azucena ainda pode falar ao público de hoje, pois nela encontramos os medos que nos acompanham sempre. E se nos esforçarmos para ver a nossa fraqueza em sua fragilidade, então acredito que uma profunda compaixão a acompanha: parece-me que a música de Verdi nos conduz nessa direção. Sim eu deixei a ambientação da ópera em seu contexto his-
Como você vê as mudanças
tórico original.
temporais na ópera, em
Acho muito interessante quando tais mudanças ajudam
comparação à época do
o público a se identificar com a história contada. Entretanto,
argumento original? Seu
em muitos casos, um ambiente contemporâneo parece-me
Trovatore permanece em
encobrir a falta de boas ideias, se reduzindo a um desejo su-
Biscaia/Aragão do século XV?
perficial e genérico de modernidade, que por si só não basta. Esta produção é realizada em conjunto com Sergio Tramonti
O que público de São Paulo
na cenografia, Alessandro Ciammarughi no figurino e Pas-
pode esperar cenicamente
quale Mari na luz. Eles são verdadeiros artistas, cada um em
deste Trovatore?
sua área, e juntos estamos trabalhando em uma montagem na qual os valores do "teatro" e da dramaturgia musical florescem, com total força e nitidez.
Croqui de Sergio Tramonti para o cenรกrio do terceiro ato.
Giuseppe Verdi e Il Trovatore
1813
Nascimento de Giuseppe Verdi no dia 10 de outubro, na cidade de Roncole, próximo a Parma, na Itália.
1835
Salvatore Cammarano (1801-1852), libretista de Il Trovatore, escreve a ópera Lucia de Lammermoor para Gaetano Donizetti (1797-1848).
1836
Estreia no Teatro del Príncipe, em Madri, a peça El Trovador, do dramaturgo espanhol Antonio García Gutiérrez (1813-1884). O jovem escritor ganhava a vida traduzindo as obras de Alexandre Dumas pai (1802-1870) para o espanhol e passava por dificuldades financeiras quando foi surpreendido pelo sucesso de sua peça. Giuseppe Verdi também transformou em ópera a peça Simon Boccanegra, de García Gutiérrez, em 1857.
1842
Após a morte dos filhos, seguida da morte da primeira esposa, e do fracasso de público da ópera Un Giorno di Regno, Verdi entra em reclusão e resolve abandonar a carreira lírica. Com a insistência de Bartolomeo Merelli, empresário do Teatro alla Scala e amigo do compositor, ele decide voltar a escrever. Sua próxima ópera, Nabucco, é um estrondoso sucesso. O coro Va, Pensiero, cantado pelos escravos hebreus, se torna um símbolo da ocupação austríaca da Itália, fazendo de Verdi um símbolo do Risorgimento.
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1847
Verdi começa um romance com Giuseppina Strepponi (1815-1897), soprano que interpretou o papel de Abigail na estreia de Nabucco, com quem viverá pelo resto da vida. Giuseppina provavelmente traduziu a peça El Trovador, de García Gutiérrez, para o italiano.
1849
Salvatore Cammarano e Verdi trabalham juntos em Luisa Miller, ópera que estreia no Teatro San Carlo, em Nápoles.
1852
Falece Salvatore Cammarano, deixando o libreto de Il Trovatore para ser terminado por Leone Emanuele Bardare (1820-1874). Deixou também inacabado um projeto de uma ópera baseada em Rei Lear, de Shakespeare.
1853
Em 19 de janeiro estreia no Teatro Apollo, em Roma, a ópera Il Trovatore, com enorme sucesso.
1874
Pela sua dedicação à pátria, Verdi é nomeado senador pelo rei Vittorio Emanuele.
1893
Estreia Falstaff, última ópera de Verdi.
1901
Morte de Giuseppe Verdi, no dia 27 de janeiro, em sua suíte do Grand Hotel de Milão. Seu amigo, o regente Arturo Toscanini, organiza um coro de mais de 800 pessoas que entoa Va, Pensiero, em homenagem ao compositor.
Gravações de Referência
CDs
Regente Zubin Mehta Manrico Plácido Domingo Azucena Fiorenza Cossotto Leonora Leontyne Price Conte di Luna Sherrill Milnes Ferrando Bonaldo Giaiotti New Philharmonia Orchestra RCA Victor
Regente Richard Bonynge Manrico Luciano Pavarotti Azucena Marilyn Horne Leonora Joan Sutherland Conte di Luna Ingvar Wixell Ferrando Nicolai Ghiaurovi New Philharmonia Orchestra RCA Victor
Regente Renato Cellini Manrico Jussi Bjorling Azucena Fedora Barbieri Leonora Zinka Milanov Conte di Luna Leonard Warren Ferrando Nicola Moscona RCA Victor Orchestra Naxos
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DVDs Regente Carlo Rizzi Diretor Cênico Elijah Moshinsky Manrico José Cura Azucena Yvonne Naef Leonora Verónica Villarroel Conte di Luna Dmitri Hvorostovsky Ferrando Tomas Tomasson Royal Opera House Covent Garden Opus Arte
BLU-RAY Regente Marco Armiliatoi Diretor Cênico David McVicar Manrico Marcelo Álvarez Azucena Dolora Zajick Leonora Sondra Radvanovsky Conte di Luna Dmitri Hvorostovsky Ferrando Stefan Kocán The Metropolitan Opera Orchestra Deutsche Grammophon
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Croquis de Alessandro Ciammarughi para os figurinos da 贸pera Il Trovatore.
LIBRETO Il Trovatore A ação ocorre em Biscaia e em Zaragoza, Aragão [Espanha], no início do século XV. Conde De Luna Nobre, apaixonado por Leonora Barítono Manrico Militar, prometido de Leonora Tenor Leonora Apaixonada por Manrico Soprano Azucena Cigana, suposta mãe de Manrico Mezzo-Soprano Ferrando Chefe da Guarda do Conde de Luna Baixo Ruiz Lugar-tenente de Manrico Tenor Ines Confidente de Leonora Soprano
Ato I - O Duelo Primeira Cena Atto I - Il Duello Scena Prima
Ferrando
Criados Familiari
Ferrando
Criados Familiari
[Átrio no palácio de Aljafería.
[Atrio nel palazzo dell'Aliaferia.
De um lado, porta que leva aos
Da un lato, porta che mette agli
apartamentos do Conde de Luna.
appartamenti del Conte di Luna
Ferrando e muitos criados do Conde
Ferrando e molti Familiari del Conte
situam-se próximos à porta; alguns
giacciono presso la porta; alcuni
soldados passeiam ao fundo.]
Uomini d'arme passeggiano in fondo
[Aos criados quase pegando no sono]
[Ai Familiari vicini ad assopirsi]
Alerta! Alerta!
All'erta, all'erta!
O Conde nos mandou
Il Conte n'è d'uopo
esperar vigiando
attender vigilando;
e ele, de vez em quando,
ed egli talor,
junto à varanda de sua querida,
presso i veroni della sua cara,
passa noites inteiras.
intere passa le notti.
As serpentes ferozes do ciúme
Gelosia le fiere serpi
atacam seu peito!
gli avventa in petto!
O trovador, que nos jardins
Nel trovator, che dai giardini
passeia com noturno canto,
move notturno il canto,
ele, com razão, teme como rival.
d'un rivale a dritto ei teme.
Para afastar o sono
Dalle gravi palpebre
das pesadas pálpebras,
il sonno a discacciar,
conta-nos a verdadeira história de
la vera storia ci narra di Garzia,
Garzia, irmão de nosso Conde.
germano al nostro Conte.
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Ferrando
Soldados Armigeri
Criados Familiari
Ferrando
Coro
Ferrando
Coro
Contarei: fiquem ao meu redor.
La dirò: venite intorno a me.
[Os criados obedecem]
[I Familiari eseguiscono]
Nós também…
Noi pure...
Escutem, escutem.
Udite, udite.
[Todos se aproximam de Ferrando]
[Tutti accerchiano Ferrando]
Pai feliz de dois filhos
Di due figli vivea padre beato
era o bom Conde de Luna:
il buon Conte di Luna:
uma fiel ama do segundo filho
fida nutrice del secondo nato
dormia junto ao seu berço.
dormia presso la cuna.
Ao romper da aurora
Sul romper dell'aurora
de uma bela manhã,
un bel mattino
ela abre os olhos
ella dischiude i rai;
e quem encontra ao lado
e chi trova d'accanto
daquele menino?
a quel bambino?
Quem? Conte-nos! Quem seria?
Chi?... Favella... Chi mai?
Abjeta cigana, obscura velha!
Abbietta zingara, fosca vegliarda!
Carregava os símbolos
Cingeva i simboli
de uma feiticeira!
di una maliarda!
E sobre o menino, com a cara fechada,
E sul fanciullo, con viso arcigno,
fixava o olho turvo, sanguinário!
l'occhio affiggeva torvo, sanguigno!
A ama é tomada pelo horror…
D'orror compresa è la nutrice...
Lança um grito agudo pelo ar,
Acuto un grido all'aura scioglie;
e antes que os lábios se fechem,
ed ecco, in meno
os servos correm até o local,
che il labbro il dice,
e entre ameaças,
i servi accorrono in quelle soglie;
gritos e empurrões,
e fra minacce,
expulsam a malvada
urli e percosse
que ali ousou entrar.
la rea discacciano ch'entrarvi osò.
Aqueles peitos sentiram
Giusto quei petti
um justo desprezo
sdegno commosse;
que a velha insana provocou.
l'insana vecchia lo provocò.
Afirmou que queria fazer
Asserì che tirar del fanciullino
o horóscopo do garoto... Mentirosa!
l'oroscopo volea... Bugiarda!
Uma lenta febre destruía
Lenta febbre del meschino
Coro
Alguns Alcuni
Ferrando
a saúde do pobre menino!
la salute struggea!
Pálido,
Coverto di pallor,
lânguido, abatido,
languido, affranto
ele tremia à noite.
ei tremava la sera.
E o dia atravessava
Il dì traeva
em lamentáveis prantos.
in lamentevol pianto...
Estava enfeitiçado!
Ammaliato egli era!
[O coro se horroriza]
[Il coro inorridisce]
A feiticeira perseguida
La fattucchiera perseguitata
foi presa
fu presa,
e condenada à fogueira;
e al rogo fu condannata;
mas restava sua maldita
ma rimaneva la maledetta
filha, planejadora de perversa
figlia, ministra di ria
vingança.
vendetta!
Essa ímpia cumpriu
Compi quest'empia
seu nefando intuito.
nefando eccesso!...
Desapareceu o menino
Sparve il fanciullo
e encontraram-se
e si rinvenne
brasas mal apagadas no
mal spenta brace nel
mesmo lugar
sito istesso
onde um dia
ov'arsa un giorno
foi queimada a bruxa!
la strega venne!
E de um menino… ai...
E d'un bambino... ahimè!
uma ossada meio queimada,
L'ossame bruciato a mezzo,
ainda fumegante!
fumante ancor!
Oh, malvada! Oh, mulher infame!
Ah scellerata!... oh donna infame!
Juntos me tomam o ódio e o horror!
Del par m'investe odio ed orror!
E o pai?
E il padre?
Breves e tristes dias viveu:
Brevi e tristi giorni visse:
contudo, um pressentimento
pure ignoto del cor
profundo
presentimento
lhe dizia que morto
gli diceva che spento
não estava seu filho,
non era il figlio;
e, próximo à morte,
ed, a morir vicino,
desejou que o nosso senhor
bramò che il signor nostro
lhe jurasse
a lui giurasse
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Soldados Armigeri
Ferrando
Criados Familiari
Ferrando
Soldados Armigeri
Ferrando
Coro
Alguns Alcuni
Outros Altri
Ferrando
não cessar as buscas…
di non cessar le indagini...
Ah! Foi em vão!…
Ah! Fur vane!...
E daquela não se teve
E di colei non s'ebbe
mais notícias?
contezza mai?
Nunca mais…
Nulla contezza...
Oh, quem me dera
Oh, dato mi fosse
um dia reencontrá-la!…
rintracciarla un dì!...
Mas conseguiria reconhecê-la?
Ma ravvisarla potresti?
Calculando
Calcolando
os anos passados…
gli anni trascorsi...
Conseguiria.
Lo potrei.
Já era tempo de enviá-la
Sarebbe tempo presso la madre
ao inferno, junto de sua mãe.
all'inferno spedirla.
Ao inferno?
All'inferno?
Há a crença que vaga
È credenza che dimori
ainda pelo mundo a alma perdida
ancor nel mondo l'anima perduta
da ímpia bruxa,
dell'empia strega,
e quando o céu está negro
e quando il cielo è nero
ela se mostra de várias formas.
in varie forme altrui si mostri.
[Com terror]
[Con terrore]
É verdade!
E vero!
Sobre os cumes dos telhados
Su l'orlo dei tetti
alguns a viram!
alcun l'ha veduta!
Como poupa ou bruxa
In upupa o strige
às vezes aparece!
talora si muta!
Como corvo outras vezes,
In corvo tal'altra;
e mais ainda como coruja!
più spesso in civetta!
Ao amanhecer, foge como uma flecha.
Sull'alba fuggente al par di saetta.
Morreu de medo um servo do conde,
Morì di paura un servo del conte,
que com a cigana
che avea della zingara
Todos Tutti
deu de cara!
percossa la fronte!
[Todos se enchem de supersticioso
[Tutti si pingono di superstizioso
terror]
terrore]
Apareceu para ele parecido
Apparve a costui d'un gufo
com um mocho
in sembianza
na alta quietude
Nell'alta quiete
de um quarto silencioso!...
di tacita stanza!...
Com o olho luminoso
Con l'occhio lucente
olhava, entristecendo
guardava il cielo
o céu com um grito funesto!
attristando d'un urlo feral!
E então soava pontualmente
Allor mezzanotte appunto
a meia-noite...
suonava...
[Um sino soa, de repente, meia-noite]
[Una campana suona a distesa mezzanotte]
Ah, maldita seja
Ah! sia maledetta
a bruxa infernal!
la strega infernal!
[Com súbito sobressalto, ouvem-se
[Con subito soprassalto, odonsi alcuni
alguns toques de tambor. Os
tocchi di tamburo. Gli uomini d'arme
homens de armas correm ao fundo
accorrono in fondo; i Familiari corrono
e os criados correm para a porta.]
verso la porta]
Segunda Cena
[Jardins do palácio. À direita, uma
[Giardini del palazzo. Sulla destra
Scena Seconda
escadaria de mármore que conduz
marmorea scalinata che mette agli
Ines
Leonora
Ines
Leonora
aos apartamentos. É alta noite,
appartamenti. La notte è inoltrata;
densas nuvens cobrem a lua.]
dense nubi coprono la luna.]
O que mais a detém?
Che più t'arresti?...
Já está tarde, venha.
L'ora è tarda: vieni.
A rainha chamou por você,
Di te la regal donna chiese,
você ouviu.
l'udisti.
Mais uma noite
Un'altra notte ancora
sem vê-lo…
senza vederlo...
Perigosa chama, a que você nutre…
Perigliosa fiamma tu nutri!...
Oh! Como e onde a primeira fagulha
Oh come, dove la primiera favilla
em você acendeu?
in te s'apprese?
Nos torneios. Ele apareceu
Ne' tornei. V'apparve
com roupas e elmo escuros,
bruno le vesti ed il cimier,
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o escudo
Ines
Leonora
Ines
lo scudo
escuro e com o brasão desembainhado,
bruno e di stemma ignudo,
guerreiro desconhecido,
sconosciuto guerrier,
que obteve as honras dos combates...
che dell'agone gli onori ottenne...
Sobre os cabelos do vencedor
Al vincitor sul crine
eu coloquei a coroa.
il serto io posi...
Enquanto isso ardia a guerra civil…
Civil guerra intanto arse...
Não mais o vi!
Nol vidi più!
Como um sonho dourado
Come d'aurato sogno
foi a imagem fugitiva!
fuggente imago!
E então voltou a longa estação…
Ed era volta lunga stagion...
mas depois…
Ma poi...
O que aconteceu?
Che avvenne?
Escuta.
Ascolta.
Calava a noite plácida
Tacea la notte placida
e bela em um céu sereno;
e bella in ciel sereno
a lua mostrava seu rosto prateado
la luna il viso argenteo
alegre e cheio...
mostrava lieto e pieno...
Quando soaram pelo ar,
Quando suonar per l'aere,
até então tão silente,
infino allor sì muto,
ouviram-se doces e suaves
dolci s'udiro e flebili
os acordes de um alaúde
gli accordi d'un liuto,
e versos melancólicos
e versi melanconici
um trovador cantou..
un trovator cantò.
Versos de prece e humildes
Versi di prece ed umile
como de um homem que reza para Deus,
qual d'uom che prega Iddio,
e nela se repetia
in quella ripeteasi
um nome... o meu!
un nome... il nome mio!...
Corri até a varanda atenciosa…
Corsi al veron sollecita...
Era ele! Era ele mesmo!...
Egli era! Egli era desso!...
Provei um prazer que somente
Gioia provai che agli angeli
aos anjos é permitido provar!…
solo è provar concesso!...
Ao coração e ao olhar em êxtase
Al core, al guardo estatico
a terra virou um céu.
la terra un ciel sembrò.
Pelo que você contou,
Quanto narrasti di turbamento
minha alma enche-se de perturbação.
m'ha piena l'alma!...
Temo…
Io temo...
Leonora
Ines
Leonora
Ines
Leonora
Ines
Conde Conte
Em vão!
Invano!
Duvido, mas um triste pressentimento
Dubbio, ma triste presentimento
este homem misterioso em mim
in me risveglia quest'uomo
desperta!
arcano!
Tente esquecê-lo…
Tenta obliarlo...
O que está dizendo?... Oh, chega!
Che dici!... oh basti!...
Ceda ao conselho da amizade…
Cedi al consiglio dell'amistà...
Ceda…
Cedi...
Esquecê-lo! Ah,
Obliarlo! Ah,
você disse algo
tu parlasti detto,
que a alma não sabe entender.
che intendere l'alma non sa.
De tal amor que não se pode
Di tale amor che dirsi
explicar com palavras,
mal può dalla parola,
do amor que só eu entendo,
d'amor che intendo io sola,
o coração se enebriou.
il cor s'inebriò!
O meu destino não se pode cumprir
Il mio destino compiersi
a não ser ao seu lado…
non può che a lui dappresso...
Se eu não viver por ele,
S'io non vivrò per esso,
por ele morrerei!
per esso io morirò!
Que nunca tenha de se arrepender
Non debba mai pentirsi
quem um dia tanto amou!
Chi tanto un giorno amò!
[Sobem aos apartamentos. O
[Ascendono agli appartamenti. Il
Conde de Luna entra no jardim]
conte di Luna entra nel giardino]
Cala a noite.
Tace la notte!
Certamente imersa no sono
Immersa nel sonno, è certo,
está real senhora;
la regal signora;
mas sua dama vela…
ma veglia la sua dama...
Oh, Leonora,
Oh! Leonora,
acordada você está,
tu desta sei;
me diz, dessa varanda,
mel dice, da quel verone,
um trêmulo raio
tremolante un raggio
da lâmpada noturna…
della notturna lampa...
Ah! A amorosa chama
Ah! L’amorosa fiamma
queima todas as minhas fibras!...
m'arde ogni fibra!...
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 46
Voz de Manrico La Voce di Manrico
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Manrico
Que eu a veja e depois
Ch'io ti vegga è d'uopo,
que você me escute...
che tu m'intenda...
Estou indo… Para nós,
Vengo... A noi supremo
tal momento é supremo…
è tal momento...
[Cego de amor, ele se dirige
[Cieco d'amore avviasi verso
à escadaria. Ouvem-se os acordes
la gradinata. Odonsi gli accordi
de um alaúde: ele se detém]
d'un liuto: egli s'arresta]
O trovador!Tremo!
Il Trovator! Io fremo!
Deserto sobre a terra,
Deserto sulla terra,
com o malvado destino em guerra,
col rio destino in guerra
só um coração é a esperança
e sola spese un cor
do trovador!
al trovator!
Mas se ele esse coração possuir,
Ma s'ei quel cor possiede,
belo por sua casta fidelidade,
bello di casta fede,
é maior que todos os reis
e d'ogni re maggior
o trovador.
il trovator!
Oh, que palavras! Oh, ciúmes!
Oh detti! Oh gelosia!
Não me engano…
Non m'inganno...
Ela está descendo!
Ella scende!
[Se envolve em sua capa]
[S'avvolge nel suo mantello]
[Correndo até o Conde]
[Correndo verso il Conte]
Alma minha!
Anima mia!
[Para si]
[Fra sè]
O que fazer?
Che far?
Mais do que de costume
Più dell'usato
você demorou hoje,
è tarda l'ora;
contei os instantes
io ne contai gl'istanti
com as batidas do coração!...
co' palpiti del core!
Por fim o piedoso amor te guia
Alfin ti guida pietoso amor
para estes braços…
tra queste braccia...
Infiel!
Infida!...
[A lua se mostra entre as nuvens e
[La luna mostrasi dai nugoli, e lascia
deixa entrever uma pessoa com o
scorgere una persona, di cui la
rosto oculto pela aba do chapéu]
visiera nasconde il volto]
Leonora
Essa voz!...
Qual voce!...
Ah, pelas trevas
Ah, dalle tenebre
enganada eu fui!
tratta in errore io fui!
[Reconhecendo ambos e jogando-se
[Riconoscendo entrambi, e gettandosi
aos pés de Manrico, agitadíssima]
ai piedi di Manrico, agitatissima]
A você acreditei me dirigir,
A te credei rivolgere
e não a ele...
l'accento e non a lui...
A você, por quem minha alma
A te, che l'alma mia
pede apenas, apenas deseja…
sol chiede, sol desia...
Amo você, eu juro, eu amo você
Io t'amo, il giuro, io t'amo
com imenso e eterno amor.
d'immenso, eterno amor!
E como se atreve?
Ed osi?
[Levantando Leonora]
[Sollevando Leonora]
Ah, mais não desejo!
Ah, più non bramo!
Ardo em cólera.
Avvampo di furor!
Se não for vil, descubra-se!
Se un vil non sei discovriti.
Ai de mim!
Ohimè!
Diga-me seu nome…
Palesa il nome...
Leonora
Ai, tenha piedade!
Deh, per pietà!...
Manrico
[Levantando a viseira do elmo]
[Sollevando la visiera dell'elmo]
Reconheça-me: sou Manrico.
Ravvisami, Manrico io son.
Você? Como?
Tu!... Come!
Insano temerário!
Insano temerario!
Conde Conte
Manrico
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Conde Conte
Manrico
Seguidor de Urgel,
d'Urgel seguace,
à morte proscrito,
a morte proscritto,
atreve-se a voltar
ardisci volgerti
até estas reais portas?
a queste regie porte?
O que você espera?
Che tardi?...
Vá, chame a guarda,
Or via, le guardie appella,
e o seu rival à espada
ed il rivale
do carrasco entregue.
al ferro del carnefice consegna.
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 48
Conde Conte
O seu fatal instante
Il tuo fatale istante
por demais próximo está,
assai più prossimo è,
insensato. Venha...
dissennato! Vieni...
Conde!
Conte!
De minha fúria vítima,
Al mio sdegno vittima
é preciso que eu sacrifique você...
è d'uopo ch'io ti sveni...
Oh, céus, pare...
Oh ciel! t'arresta...
Siga-me…
Seguimi...
Manrico
Vamos...
Andiam...
Leonora
O que farei?
Che mai farò?
Um só grito meu poderá perdê-lo...
Un sol mio grido perdere lo puote...
Ouça-me…
M'odi...
Não!
No!
De um amor ciumento e desprezado
Di geloso amor sprezzato
arde em mim um terrível fogo.
Arde in me tremendo il foco!
O seu sangue, oh, desgraçado,
Il tuo sangue, o sciagurato,
será pouco para extingui-lo.
Ad estinguerlo fia poco!
[A Leonora]
[A Leonora]
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Conde Conte
Leonora
Você se atreveu, oh, louca,
Dirgli, o folle, “Io t'amo”
a lhe dizer “eu amo você”!...
ardisti!
Ele não pode mais viver…
Ei più vivere non può...
Você proferiu palavras
Un accento proferisti
que o condenaram à morte!
che a morir lo condannò!
Que ao menos por um instante
Un istante almen dia loco
ceda sua indignação à razão…
il tuo sdegno alla ragione...
Eu só, de tanto fogo,
Io, sol io, di tanto foco
infelizmente, sou a causa!
son, pur troppo, la cagione!
Que caia, ah, que caia o seu furor
Piombi, ah! piombi il tuo furore
sobre a malvada que o ultrajou.
sulla rea che t'oltraggiò...
Crave a espada neste coração,
Vibra il ferro in questo core,
que não quer amar você, nem pode.
che te amar non vuol, né può.
Manrico
Ato II - A Cigana Primeira Cena Atto II - La Zingara Scena Prima
Ciganos Zingari
Desse soberbo vã é a ira!
Del superbo vana è l'ira!
Ele cairá, por mim ferido.
Ei cadrà da me trafitto.
O mortal, que em você amor inspira,
Il mortal che amor t'ispira,
o amor tornou invencível.
dall'amor fu reso invitto.
[Ao Conde]
[Al Conte]
A sua sorte já foi decidida...
La tua sorte è già compita...
Agora chegou a sua hora!
L'ora ormai per te suonò!
O seu coração e a sua vida
Il suo core e la tua vita
o destino me reservou!
il destino a me serbò!
[Os dois rivais afastam-se com as
[I due rivali si allontanano con le
espadas desembainhadas; Leonora
spade sguainate; Leonora cade,
cai, inconsciente]
priva di sensi]
[Um casebre destruído ao sopé
[Un diruto abituro sulle falde di un
de um monte de Biscaia. Ao fundo,
monte della Biscaglia. Nel fondo,
quase toda aberta, arde uma grande
quasi tutto aperto, arde un gran
fogueira. Azucena senta-se próxima
fuoco. I primi albori. Azucena siede
ao fogo. Manrico está deitado
presso il fuoco. Manrico le sta
ao seu lado, sobre um colchão, e
disteso accanto sopra una coltrice
envolvido em sua capa, com o elmo
ed avviluppato nel suo mantello;
aos pés e a espada entre as mãos,
ha l'elmo ai piedi e fra le mani la
sobre a qual fixa o olhar imóvel.
spada, su cui figge immobilmente
Um bando de ciganos está disperso
lo sguardo. Una banda di Zingari è
em volta]
sparsa all'intorno]
Vejam!
Vedi!
As escuras vestes noturnas
Le fosche notturne spoglie
desnudam a imensa abóbada
de' cieli sveste
dos céus;
l'immensa volta;
parece uma viúva
sembra una vedova
que por fim retira
che alfin si toglie
os escuros panos
i bruni panni
onde estava envolta.
ond'era involta.
Mãos à obra! Mãos à obra!
All'opra! all'opra!
Vamos, martelem.
Dagli, martella.
[Golpeiam com seus instrumentos
[Danno di piglio ai loro ferri del
de profissão, os golpes sobre as
mestiere; al misurato tempestare
bigornas medidos, ora os homens,
dei martelli cadenti sulle incudini, or
ora as mulheres, e ao fim, todos
uomini, or donne, e tutti in un tempo
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 50
Homens Uomini
Todos Tutti
Azucena
juntos entoam a seguinte cantilena:]
infine intonano la cantilena seguente:]
Quem embeleza
Chi del gitano
os dias do cigano?
i giorni abbella?
A ciganinha!
La zingarella!
[Para as mulheres]
[Alle donne]
Escutem-me um pouco; vigor
Versami un tratto; lena
e coragem
e coraggio
para o corpo e a alma vêm ao beber.
il corpo e l'anima traggon dal bere.
[As mulheres servem a eles em copos]
[Le donne mescono ad essi in coppe]
Oh, olha, olha!
Oh guarda, guarda!
Um raio de sol brilha mais vívido
Del sole un raggio brilla più vivido
no meu/seu copo!
nel mio/tuo bicchiere!
Mãos à obra, mãos à obra…
All'opra, all'opra...
Vamos, martelem…
Dagli, martella...
Quem embeleza os dias do cigano?
Chi del gitano i giorni abbella?
A ciganinha!
La zingarella!
Crepitam as chamas!
Stride la vampa!
A multidão indômita corre até aquele
La folla indomita corre a quel
fogo com aparência feliz,
fuoco lieta in sembianza;
gritos de alegria ecoam em torno:
urli di gioia intorno echeggiano:
Rodeada por capangas
Cinta di sgherri
uma mulher avança!
donna s'avanza!
Sinistra resplandece
Sinistra splende
sobre os rostos horríveis
sui volti orribili
a tétrica chama
la tetra fiamma
que se alça ao céu!
che s'alza al ciel!
Crepitam as chamas!
Stride la vampa!
Chega a vítima
Giunge la vittima
vestida de negro,
nero vestita,
seminua e descalça!
discinta e scalza!
Grito feroz de morte se eleva.
Grido feroce di morte levasi;
O eco o repete
l'eco il ripete
de barranco em barranco.
di balza in balza!
Sinistra resplandece
Sinistra splende
sobre os rostos horríveis
sui volti orribili
a tétrica chama
la tetra fiamma
que se alça ao céu!
che s'alza al ciel!
Ciganos Zingaro
Azucena
Manrico
Velho Cigano Vecchio Zingaro
Homens Uomini
Mulheres Donne
Ciganos Zingari
Manrico
Azucena
Triste é a sua canção!
Mesta è la tua canzon!
Igualmente triste é a história funesta
Del pari mesta che la storia funesta
de onde vem seu argumento!
da cui tragge argomento!
[Vira a cabeça para Manrico e
[Rivolge il capo dalla parte di Manrico
murmura bem baixo:]
e mormora sommessamente:]
Vingue-me… Vingue-me!
Mi vendica... Mi vendica!
[Para si]
[Fra sè]
A misteriosa palavra sempre!
L'arcana parola ognor!
Companheiros, avança o dia,
Compagni, avanza il giorno
vamos ganhar nosso pão, vamos!...
a procacciarci un pan, su, su!...
Desçamos até as aldeias próximas.
scendiamo per le propinque ville.
Vamos.
Andiamo.
[Colocam cuidadosamente no saco
[Ripongono sollecitamente nel
as suas ferramentas]
sacco i loro arnesi]
Vamos.
Andiamo.
[Todos descem desordenadamente
[Tutti scendono alla rinfusa giù per
pela encosta e, de vez em quando,
la china; tratto tratto e sempre a
sempre à distância, ouve-se seu canto]
distanza odesi il loro canto]
Quem embeleza
Chi del gitano
os dias do cigano?
i giorni abbella?
A ciganinha!
La zingarella!
Agora estamos sós, conte
Soli or siamo; deh, narra
essa história funesta, por favor.
questa storia funesta.
E você a ignora,
E tu la ignori,
você também!… Mas, jovenzinho,
Tu pur!... Ma, giovinetto,
o estímulo ambicioso levava longe
i passi tuoi
os seus passos!…
d'ambizion lo sprone lungi traea!...
O fim amargo de sua avó
Dell'ava il fine acerbo
é esta história…
e quest'istoria...
Um soberbo Conde a acusou
La incolpò superbo
de feitiçaria,
conte di malefizio,
da qual teria padecido um menino,
onde asseria colto un bambin
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 52
filho dele…
Manrico
Azucena
suo figlio...
Ela foi queimada onde arde
Essa bruciata venne ov'arde
aquele fogo!
quel foco!
[Afastando-se com um calafrio
[Rifuggendo con raccapriccio
das chamas]
dalla fiamma]
Ah, desgraçada!
Ahi! Sciagurata!
Ela foi conduzida amarrada
Condotta ell'era in ceppi al suo
ao seu destino tremendo!
destin tremendo!
Com o filho nos braços,
Col figlio sulle braccia,
eu a seguia chorando.
io la seguia piangendo.
Até ela tentei abrir caminho,
Infino ad essa un varco tentai,
mas tudo em vão…
ma invano aprirmi...
E em vão tentou a mísera
Invan tentò la misera
parar e me benzer!
fermarsi e benedirmi!
Pois, entre blasfêmias obscenas,
Ché, fra bestemmie oscene,
empurrando-a com as espadas,
pungendola coi ferri,
para a fogueira a mandavam
al rogo la cacciavano
os capangas desgraçados!
gli scellerati sgherri!
E então, com palavras truncadas:
Allor, con tronco accento:
Vingue-me! exclamou.
Mi vendica! esclamò.
E essa frase deixou um eco eterno
Quel detto un'eco eterna
neste coração.
in questo cor lasciò.
Manrico
Você a vingou?
La vendicasti?
Azucena
Cheguei a raptar o filho do Conde:
Il figlio giunsi a rapir del Conte:
trouxe-o aqui comigo…
Lo trascinai qui meco...
As chamas ardiam, já prontas.
Le fiamme ardean già pronte.
Manrico
Azucena
As chamas!... Oh, céus!...
Le fiamme!... oh ciel!...
Você, talvez?...
Tu forse?...
Ele se desmanchava em prantos…
Ei distruggeasi in pianto...
Eu sentia meu coração despedaçado,
Io mi sentiva il core dilaniato,
partido!…
infranto!...
Quando ao meu espírito doente,
Quand'ecco agli egri spirti,
como num sonho, apareceu
come in un sogno, apparve
a visão funesta
la vision ferale
Manrico
Azucena
de espectros espantosos!
di spaventose larve!
Os capangas e o suplício!...
Gli sgherri ed il supplizio!...
A mãe com morte no rosto…
La madre smorta in volto...
Descalça, seminua!… o grito,
Scalza, discinta!... il grido,
o conhecido grito escuto…
il noto grido ascolto...
Vingue-me!
Mi vendica!...
A mão trêmula estendo, seguro
La mano convulsa tendo... stringo
a vítima… trago-a ao fogo,
la vittima... nel foco la traggo,
empurro-a…
la sospingo...
Cessa o delírio fatal…
Cessa il fatal delirio...
A horrível cena desaparece...
L'orrida scena fugge...
Apenas as chamas queimam,
La fiamma sol divampa,
e sua presa destroem!
e la sua preda strugge!
Então, giro meu olhar
Pur volgo intorno il guardo
e diante de mim vejo
e innanzi a me vegg'io
o filho do ímpio Conde...
dell'empio Conte il figlio...
Ah! Como?
Ah! come?
O meu filho,
Il figlio mio,
meu filho eu havia queimado!
Mio figlio avea bruciato!
Manrico
O que está dizendo? Que horror!
Che dici! quale orror!
Azucena
Sobre minha cabeça
Sul capo mio le chiome
sinto ainda os cabelos eriçarem!
sento rizzarsi ancor!
[Azucena cai, Manrico emudece
[Azucena ricade, Manrico
tomado pelo horror e pela
ammutolisce colpito d'orrore
surpresa.]
e di sorpresa.]
Manrico
Eu não sou seu filho?
Non son tuo figlio?
E quem sou eu, quem então?
E chi son io, chi dunque?
Azucena
Você é meu filho!
Tu sei mio figlio!
Manrico
Mas você disse…
Eppur dicesti...
Azucena
Ah!... Talvez...
Ah!... Forse...
O que você quer? Quando penso
Che vuoi! Quando al pensier
nesse horrível caso,
s'affaccia il truce caso,
o espírito entrevado põe
lo spirto intenebrato pone
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 54
palavras tolas em meus lábios…
stolte parole sul mio labbro...
Mãe, uma terna mãe,
Madre, tenera madre
não fui sempre para você?
non m'avesti ognora?
Manrico
Eu poderia negá-lo?
Potrei negarlo?
Azucena
Você não deve a mim se ainda vive?
A me, se vivi ancora, nol dei?
Manrico
Azucena
Manrico
À noite,
Notturna,
até os campos de batalha de Velilla,
nei pugnati campi di Velilla,
onde diziam que você estava morto,
ove spento fama ti disse,
não fui para sepultá-lo?
a darti sepoltura non mossi?
Não descobri que lhe escapava
La fuggente aura vital
a aura vital,
non iscovrì,
e não a deteve no seu seio
nel seno non t'arrestò
o meu materno afeto?
materno affetto?...
E quantos cuidados não empreguei
E quante cure non spesi
para sarar tantas feridas?
a risanar le tante ferite! ...
As que eu tinha do dia fatal…
Che portai nel dì fatale...
Todas aqui, no peito!…
Ma tutte qui, nel petto!...
Eu só, entre milhares que fugiam,
Io sol, fra mille già sbandati,
ainda voltava o rosto
al nemico volgendo
para o inimigo!…
ancor la faccia!...
O malvado Luna caiu sobre mim
Il rio De Luna su me piombò
com seu esquadrão, eu caí,
col suo drappello; io caddi,
mas caí como um forte!
però da forte io caddi!
Isso foi graças aos dias
Ecco mercede ai giorni,
que o infame no singular duelo
che l'infame nel singolar certame
teve salvos por você!...
ebbe salvi da te!...
Que estranha piedade por ele
Qual t'acciecava
o cegou?
strana pietà per esso?
Oh, mãe!…
Oh madre!...
Eu não saberia dizer a mim mesmo!
Non saprei dirlo a me stesso!
Dominando mal o meu áspero
Mal reggendo all'aspro
assalto,
assalto,
ele já tinha tocado o chão:
ei già tocco il suolo avea:
Brilhava no alto
Balenava il colpo in alto
o golpe que devia atravessá-lo…
che trafiggerlo dovea...
Azucena
Manrico
Azucena
Manrico
Mensageiro Messo
Manrico
Quando senti uma força estranha,
Quando arresta un moto arcano,
ao descer esta mão…
nel discender, questa mano...
Um frio intenso fez, de repente,
Le mie fibre acuto gelo
estremecerem minhas fibras!
fa repente abbrividir!
Enquanto um grito veio do céu,
Mentre un grido vien dal cielo,
que me disse:
che mi dice:
Não o fira!
Non ferir!
Mas na alma do ingrato
Ma nell'alma dell'ingrato
não houve uma palavra dos céus!
non parlò del cielo un detto!
Oh, se ainda o destino o fizer
Oh! se ancor ti spinge il fato
lutar com este maldito,
a pugnar col maledetto,
cumpra, oh, filho,
compi, o figlio,
como se fosse de um Deus,
qual d'un Dio,
cumpra então a minha ordem!
compi allora il cenno mio!
Até o fim este punhal crave,
Sino all'elsa questa lama
afunde no coração do ímpio.
vibra, immergi all'empio in cor.
Sim, eu lhe juro,
Sì, lo giuro,
este punhal descerá
questa lama scenderà
sobre o coração do ímpio.
dell'empio in cor.
[Ouve-se um longo som
[Odesi un prolungato suono
de trompas]
di corno]
Ruiz me envia o mensageiro!
L'usato messo Ruiz invia!
Talvez…
Forse...
Vingue-me!
Mi vendica!
[Fica concentrada]
[Resta concentrata]
[Ao mensageiro]
[Al Messo]
Aproxime-se.
Inoltra il piè.
Diga-me, seguiu-se ação guerreira?
Guerresco evento, dimmi, seguìa?
Que responda a mensagem
Risponda il foglio
que lhe entrego.
che reco a te.
“Castellor está em nossas mãos,
"In nostra possa è Castellor;
você deve, por ordem do príncipe,
ne dei tu, per cenno del prence,
vigiar suas defesas.
vigilar le difese.
E, o quanto puder,
Ove ti è dato,
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 56
Azucena
Manrico
deve se apressar para vir…
affrettati a venir...
Ao cair da noite,
Giunta la sera,
levada ao engano
tratta in inganno
pela anúncio da sua morte,
di tua morte al grido,
no convento vizinho
nel vicin Chiostro della croce
o véu cobrirá Leonora.”
il velo cingerà Leonora".
[Com dolorosa exclamação]
[Con dolorosa esclamazione]
Oh, justo céu!
Oh giusto cielo!
[Para si]
[Fra sè]
O que foi?
Che fia!
[Ao mensageiro]
[Al Messo]
Desça veloz pelos penhascos,
Veloce scendi la balza,
e para mim traga um cavalo…
e d'un cavallo a me provvedi...
Corro…
Corro...
Azucena
Manrico!
Manrico!
Manrico
O tempo é curto…
Il tempo incalza...
Voe, espere-me ao pé do desfilareiro.
Vola, m'aspetta del colle a' piedi.
[O mensageiro parte depressa]
[Il Messo parte frettolosamente]
Azucena
O que está esperando? O que quer?
E speri, e vuoi?...
Manrico
[Para si]
[Fra sè]
Perdê-la?... Oh, angústia!...
Perderla?... Oh ambascia!...
Perder esse anjo?...
Perder quell'angelo?...
[Para si]
[Fra sè]
Está fora de si.
È fuor di sé!
Mensageiro Messo
Azucena
Manrico
[Coloca o elmo e veste a capa]
[Postosi l'elmo ed il mantello]
Adeus…
Addio...
Azucena
Não... Pare... Ouça...
No... ferma... odi...
Manrico
Deixe-me…
Mi lascia...
Azucena
Manrico
Pare... Sou eu que falo com você.
Ferma... Son io che parlo a te!
Você vai se arriscar ainda doente
Perigliarti ancor languente
pelo caminho selvagem e ermo!
per cammin selvaggio ed ermo!
As feridas você quer, demente,
Le ferite vuoi, demente,
reabrir no peito enfermo?
riaprir del petto infermo?
Não, não posso consenti-lo…
No, soffrirlo non poss'io...
O seu sangue é sangue meu!…
Il tuo sangue è sangue mio!...
Cada lágrima que verter
Ogni stilla che ne versi
é espremida do meu coração!
tu la spremi dal mio cor!
Um momento pode me furtar
Un momento può involarmi
o meu bem, a minha esperança!…
il mio ben, la mia speranza!...
Não, poder o bastante para me deter
No, che basti ad arrestarmi
não existe no céu e na terra…
terra e ciel non han possanza...
Ah!... libere, oh, mãe,
Ah!... mi sgombra, o madre,
os meus passos…
i passi...
Ai de você, se eu ficasse aqui!…
Guai per te s'io qui restassi! ...
Você veria a seus pés
Tu vedresti ai piedi tuoi
morto de dor o filho!
spento il figlio dal dolor!
[Afasta-se, apesar dos esforços de Azucena]
[S'allontana, indarno trattenuto da Azucena]
Segunda Cena
[Átrio interno de um convento na
[Atrio interno di un luogo di ritiro in
Scena Seconda
vizinhança de Castellor. Árvores ao fundo.
vicinanza di Castellor. Alberi nel fondo.
Conde Conte
Ferrando
Conde Conte
É noite. O Conde, Ferrando e alguns
È notte. Il Conte, Ferrando ed alcuni
homens avançam cautelosamente,
Seguaci inoltrandosi cautamente
envolvidos em suas capas]
avviluppati nei loro mantelli]
Tudo está deserto,
Tutto è deserto,
não soa ainda pelo ar
né per l'aura ancora
o cântico de costume…
suona l'usato carme...
Cheguei a tempo!
In tempo io giungo!
Audaz empresa, oh, senhor,
Ardita opra, o Signore,
você empreende.
imprendi.
Audaz, como furioso amor
Ardita, e qual furente amore
e irritado orgulho, a mim pediram.
ed irritato orgoglio chiesero a me.
Morto o rival, parecia derrubado
Spento il rival, caduto
cada obstáculo existente
ogni ostacol sembrava
aos meus desejos,
a' miei desiri;
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 58
Ferrando
Conde Conte
Ferrando
Conde Conte
Ferrando Homens Seguaci
mas um novo e mais poderoso
novello e più possente
ela apresenta...
ella ne appresta...
O altar!
L'altare!
Ah, não, Leonora não será de outro!
Ah no, non fia d'altri Leonora!...
Leonora é minha!
Leonora è mia!
O brilho do seu sorriso
Il balen del suo sorriso
é maior do que o raio de uma estrela!
d'una stella vince il raggio!
O fulgor de seu belo rosto
Il fulgor del suo bel viso
causa em mim uma coragem nova!…
novo infonde in me coraggio!...
Ah, o amor, o amor em que ardo
Ah! l'amor, l'amore ond'ardo
falará a meu favor!
le favelli in mio favor!
Disperse o sol de um olhar seu
Sperda il sole d'un suo sguardo
a tempestade do meu coração.
la tempesta del mio cor.
[Ouve-se o toque dos sinos sagrados]
[Odesi il rintocco de' sacri bronzi]
Esse som!... Oh, céus!
Quel suono!... oh ciel...
A sineta anuncia
La squilla
que o rito se aproxima!
vicino il rito annunzia!
Ah! Antes que ela chegue
Ah! Pria che giunga
ao altar… a raptarei!…
all'altar... si rapisca!...
Ah, atenção!
Ah bada!
Cale-se!…
Taci!...
Não ouço… Vão…
Non odo... andate...
na sombra daquelas faias
di quei faggi
escondam-se…
all'ombra Celatevi...
[Ferrando e os homens afastam-se]
[Ferrando e seguaci si allontanano]
Ah! Daqui a pouco será minha...
Ah! Fra poco mia diverrà...
Um fogo me toma todo!
Tutto m'investe un foco!
[Ansioso, com cuidado observa o
[Ansioso, guardingo osserva dalla
local de onde deve chegar Leonora,
parte ove deve giungere Leonora,
enquanto Ferrando e os homens
mentre Ferrando e i Seguaci dicono
dizem em voz baixa:]
sottovoce:]
Força!... Vamos... escondamo-nos
Ardire!... Andiam... celiamoci
entre as sombras... no mistério!
fra l'ombre... nel mister!
Força!... Vamos... silêncio!
Ardire!... Andiam!... silenzio!
Que se cumpra a sua vontade.
Si compia il suo voler.
Conde Conte
Coro de Religiosas Coro di Religiose
Leonora
Ines
Leonora
Para mim, hora fatal,
Per me, ora fatale,
apresse os seus momentos.
i tuoi momenti affretta:
A alegria que me espera
La gioia che m'aspetta
não é uma alegria mortal!...
gioia mortal non è!...
Em vão um Deus rival
Invano un Dio rivale
se opõe ao meu amor:
s'oppone all'amor mio:
Não pode nem mesmo um Deus,
Non può nemmeno un Dio,
mulher, tirar você de mim!
donna, rapirti a me!
[Afasta-se aos poucos e esconde-se
[S'allontana a poco a poco e si
com o Coro entre as árvores]
nasconde col Coro fra gli alberi]
Ah!… se o erro obstruir seus olhos,
Ah!... se l'error t'ingombra,
oh, filha de Eva,
o figlia d'Eva, i rai,
prestes a morrer, você verá
presso a morir, vedrai
que uma sombra, um sonho foi;
che un'ombra, un sogno fu;
mais que sonho, uma sombra
anzi del sogno un'ombra
é a esperança aqui embaixo!
la speme di quaggiù!
Venha e que a esconda o véu
Vieni e t'asconda il velo
de todo olhar humano!
ad ogni sguardo umano!
Aura ou pensamento mundano
Aura o pensier mondano
aqui não pode viver.
qui vivo più non è.
Volte-se para o céu, e o céu
Al ciel ti volgi e il cielo
se abrirá para você.
si schiuderà per te.
[Entra Leonora com Ines,
[Entra Leonora con Ines
seguidas por mulheres]
e seguito muliebre]
Por que está chorando?
Perchè piangete?
Ah!… Porque você para sempre
Ah!... Dunque tu per sempre
nos deixará!
ne lasci!
Oh, doces amigas,
O dolci amiche,
um sorriso, uma esperança,
un riso, una speranza,
uma flor para mim a terra não tem!
un fior la terra non ha per me!
Desejo voltar-me àquele que
Degg'io volgermi a Quei che
é o único sustento
degli afflitti è solo
dos aflitos e depois
sostegno e dopo
dos dias penitentes
i penitenti giorni
poderei, entre os eleitos,
può fra gli eletti
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 60
com meu bem perdido
Conde Conte
Mulheres Donne
Leonora
Conde Conte
Mulheres Donne
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
al mio perduto bene
um dia me reunir!…
ricongiungermi un dì!...
Sequem os olhos
Tergete i rai
e me guiem ao altar!
e guidatemi all'ara!:
Não, jamais!
No, giammai!...
O Conde!
Il Conte!
Justos céus!
Giusto ciel!
Para você não há
Per te non avvi
outro altar que não o de Himeneu.
che l'ara d'imeneo.
Quanta audácia!…
Cotanto ardia!...
Insano!… E veio até aqui?
Insano!... E qui venisti?...
Para fazê-la minha.
A farti mia.
[E, assim dizendo, dirige-se a
[E sì dicendo scagliasi verso Leonora,
Leonora para dela se apoderar, mas
onde impadronirsi di lei, ma fra esso
entre ele e a presa aparece, tal qual
e la preda trovasi, qual fantasma
um fantasma de sob a terra, Manrico.
sorto di sotterra, Manrico. Un grido
Irrompe um grito geral]
universale irrompe]
É ele... Posso acreditar?
E deggio... e posso crederlo?
Vejo você ao meu lado!
Ti veggo a me d'accanto!
Isto é um sonho, um êxtase,
È questo un sogno, un'estasi,
um encanto sobre-humano!
un sovrumano incanto!
Não resiste a tão repentino
Non regge a tanto giubilo
júbilo o coração suspenso!
rapito, il cor sospeso!
É você que desce do céu,
Sei tu dal ciel disceso,
ou estou no céu com você?
o in ciel son io cor te?
Então os mortos deixam
Dunque gli estinti lasciano
o reino eterno da morte,
di morte il regno eterno;
para meu prejuízo o inferno
a danno mio rinunzia
renuncia suas presas!
le prede sue l'inferno!
Mas se nunca romperam
Ma se non mai si fransero
Manrico
Mulheres Donne
Ferrando Homens Seguaci
Ruiz
Manrico
Ruiz
Manrico
Conde Conte
Leonora
Manrico
os fios dos seus dias,
de' giorni tuoi gli stami,
se você vive e deseja viver,
se vivi e viver brami,
fuja dela, de mim.
fuggi da lei, da me.
Não me recebeu o céu,
Né m'ebbe il ciel,
nem o horrível
né l'orrido
caminho da passagem infernal…
varco infernal sentiero...
Capangas infames desferem
Infami sgherri vibrano
golpes mortais, é verdade!
mortali colpi, è vero!
Mas um poder irresistível
Potenza irresistibile
têm as ondas dos rios…
hanno de' fiumi l'onde!
E os ímpios um Deus confunde!
Ma gli empi un Dio confonde!
Esse Deus me socorreu.
Quel Dio soccorse a me.
[Para Leonora]
[A Leonora]
O céu em que confiou
Il cielo in cui fidasti
teve piedade de você.
pietade avea di te.
[Para o Conde]
[Al Conte]
Você enfrenta o destino:
Tu col destin contrasti:
ele é seu defensor.
Suo difensore egli è.
[Ruiz seguido de um grande
[Ruiz seguito da una lunga tratta
número de homens armados]
di Armati, e detti]
Viva Urgel!
Urgel viva!
Meus bravos guerreiros!
Miei prodi guerrieri!
Venham...
Vieni...
[Para Leonora]
[A Leonora]
Mulher, me siga!
Donna, mi segui.
Você acredita mesmo?
E tu speri?
Ah!
Ah!
[Para o Conde]
[Al Conte]
Pare...
T'arresta...
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 62
Conde Conte
Ruiz Soldados Armati
Ferrando Homens Seguaci
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Ruiz Soldados Armati
Ferrando Homens Seguaci
Ato III - O Filho da Cigana Primeira Cena Atto III - Il Figlio Della Zingara Scena Prima
Soldados Armati
[Desembainhando a espada]
[Sguainando la spada]
Quer de mim roubá-la! Não!
Involarmi costei! No!
[Cercando o Conde]
[Accerchiando il Conte]
Está delirando!
Vaneggi!
O que está tentando, Senhor?
Che tenti, Signor?
[O Conde é desarmado pelos
[Il Conte è disarmato da quei
homens de Ruiz]
di Ruiz]
Perdi toda a luz da razão!
Di ragione ogni lume perdei!
[Para si]
[Fra sè]
Que terror…
M'atterrisce...
Meu coração está tomado de fúria!
Ho le furie nel cor!
[Para Manrico]
[A Manrico]
Venha:
Vien:
a sorte sorri para você.
la sorte sorride per te.
[Para o Conde]
[Al Conte]
Renda-se,
Cedi;
render-se agora não é covardia.
or ceder viltade non è.
[Manrico leva consigo Leonora:
[Manrico tragge seco Leonora,
o Conde é rechaçado; as mulheres
il Conte è respinto; le donne
se refugiam no convento]
rifuggono al cenobio]
[Acampamento. À direita, a tenda do
[Accampamento. A destra il
Conde de Luna, sobre a qual tremula
padiglione del Conte di Luna, su
a bandeira em sinal de supremo
cui sventola la bandiera in segno di
comando; ao longe eleva-se Castellor.
supremo comando; da lungi torreggia
Escoltas de homens armados por toda
Castellor. Scolte di uomini d'arme
parte; alguns jogam, outros pulem
dappertutto; alcuni giuocano, altri
suas armas, outros passeiam, então
puliscono le armi, altri passeggiano,
surge Ferrando da tenda do Conde]
poi Ferrando dal padiglione del Conte]
Agora com os dados,
Or co' dadi,
mas daqui a pouco
ma fra poco
jogaremos outro jogo.
giuocherem ben altro gioco.
Outros Altri
Alguns Alcuni
Outros Altri
Todos Tutti
Ferrando
Todos Tutti
Conde Conte
Este aço, de sangue agora limpo,
Quest'acciar, dal sangue or terso,
ficará de sangue em breve coberto.
Fia di sangue in breve asperso!
[Ouvem-se instrumentos militares]
[Odonsi strumenti guerrieri]
O socorro pedido!
Il soccorso dimandato!
Têm o aspecto do valor!
Han l'aspetto del valor!
[Um grande pelotão de soldados,
[Un grosso drappello di balestieri,
completamente armados, atravessa
in completa armatura, travesa
o campo]
il campo]
Que não mais se atrase
Più l'assalto ritardato
agora o assalto a Castellor.
or non fia di Castellor.
Sim, bravos amigos;
Sì, prodi amici;
no novo dia pensa
al dì novello è mente
o capitão em atacar
del capitan la rocca
a torre por toda parte.
investir d'ogni parte.
Por lá, gordo butim
Colà pingue bottino
certamente encontraremos,
certezza è rinvenir
mais do que esperança.
più che speranza.
Venceremos, é nosso.
Si vinca; è nostro.
Você nos convida para a dança!
Tu c'inviti a danza!
Soe, ecoe
Squilli, echeggi
a trombeta guerreira,
la tromba guerriera,
chame as armas,
chiami all'armi,
para a luta,
alla pugna,
para o assalto,
all'assalto;
esteja amanhã a nossa bandeira
fia domani la nostra bandiera
plantada no alto daqueles muros.
di quei merli piantata sull'alto.
Não, jamais nos sorriu a vitória com
No, giammai non sorrise vittoria
esperanças mais alegres que agora!...
di più liete speranze finor!...
Ali nos esperam o lucro e a glória,
Ivi l'util ci aspetta e la gloria,
ali são grandes o espólio e a honra.
ivi opimi la preda e l'onor.
[O conde sai da tenda e lança um
[Il conte uscito dalla tenda volge uno
olhar ameaçador a Castellor]
sguardo bieco a Castellor]
Nos braços do meu rival!
In braccio al mio rival!
Este pensamento,
Questo pensiero
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 64
Ferrando
como perseguidor
come persecutor
demônio, me segue aonde eu for!...
demone ovunque m'insegue!...
Nos braços do meu rival!…
In braccio al mio rival!...
Mas corro,
Ma corro,
assim que surge a aurora,
surta appena l'aurora,
corro para separá-los… Oh,
io corro e separarvi... Oh
Leonora!
Leonora!
[Ouve-se tumulto]
[Odesi tumulto]
O que foi?
Che fu?
Perto do acampamento
Dappresso il campo
vagava uma cigana:
s'aggirava una zingara:
surpreendida por nossos
sorpresa da' nostri esploratori,
exploradores,
si volse in fuga; essi,
pôs-se em fuga; temendo-os
a ragion temendo.
com razão.
Una spia nella trista,
Para espiar a infeliz,
l'inseguir...
seguiram-na…
Conde Conte
Ferrando
Conde Conte
Ferrando
Conde Conte
Exploradores Esploratori
Azucena
Conde Conte
Foi capturada?
Fu raggiunta?
Foi presa.
È presa.
Você a viu?
Vista l'hai tu?
Não; o condutor da escolta
No; della scorta
me relatou o evento.
il condottier m'apprese l'evento.
Eis que chega.
Eccola.
[O tumulto está mais próximo. Eles,
[Tumulto più vicino. Detti, Azucena,
Azucena com as mãos atadas é
con le mani avvinte, trascinata
levada pelos exploradores, uma
dagli esploratori, un codazzo d'altri
comitiva de outros soldados]
soldati]
Adiante, oh, bruxa, adiante...
Innanzi, o strega, innanzi...
Socorro! Soltem-me... Oh, furibundos!
Aita!... Mi lasciate... O furibondi
Que mal eu fiz?
Che mal fec'io?
Que se aproxime.
S'appressi.
[Azucena é levada perante o Conde]
Azucena
Conde Conte
Azucena
Conde Conte
Azucena
Conde Conte
Azucena
Conde Conte
Ferrando
Azucena
[Azucena è tratta innanzi al Conte]
Responda-me
A me rispondi
e trema se mentir!
e trema dal mentir!
Pergunte!
Chiedi!
Aonde vai?
Ove vai?
Não sei.
Nol so.
O quê?
Che?
É costume de uma cigana
D'una zingara è costume
mover sem planos
muover senza disegno
seu passo vagabundo,
il passo vagabondo,
e o seu teto é o céu,
ed è suo tetto il ciel,
sua pátria é o mundo.
sua patria il mondo.
E de onde você vem?
E vieni?
De Biscaia, onde até agora
Da Biscaglia, ove finora
as estéreis montanhas
le sterili montagne
tive como refúgio.
ebbi a ricetto!
De Biscaia!
Da Biscaglia!
[Para si]
[Fra sè]
O que ouvi?... Oh, que suspeito!
Che intesi!... O qual sospetto!
Vivia dias pobres,
Giorni poveri vivea,
mas contente com meu estado,
pur contenta del mio stato;
como única esperança um filho tinha…
sola speme un figlio avea...
Ele me deixou!…
Mi lasciò!...
Me esqueceu, o ingrato.
m'oblia, l'ingrato!
Eu, abandonada, sigo errando,
Io deserta, vado errando
por esse filho buscando,
di quel figlio ricercando,
por esse filho que ao meu coração
di quel figlio che al mio core
penas horríveis custou!…
pene orribili costò!...
E pelo qual sinto um amor
Qual per esso provo amore
que nenhuma mãe na terra sentiu!
madre in terra non provò!
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 66
Ferrando
Conde Conte
Azucena
Conde Conte
[Para si]
[Fra sè]
O seu rosto!
Il Suo volto!
Diga, você passou muito tempo
Di', traesti lunga etade
entre aqueles montes?
tra quei monti?
Muito, sim.
Lunga, sì.
Se lembraria de um menino,
Rammenteresti un fanciul,
filho de um conde,
prole di conti,
roubado do seu castelo,
involato al suo castello,
há três lustros,
son tre lustri,
e levado de lá?
e tratto quivi?
E você, me diga… quem é?…
E tu, parla... sei?...
Irmão do raptado.
Fratello del rapito.
Azucena
Ah!
Ah!
Ferrando
[Notando o terror indisfarçado
[Notando il mal nascosto terrore
de Azucena]
di Azucena]
Sim!
Sì!
Alguma vez ouviu dele falar?
Ne udivi mai novella?
Eu?… Não… Permita
Io?... No... Concedi
que de meu filho
Che del figlio
as pegadas eu descubra.
l'orme io scopra.
Ferrando
Quieta, iníqua…
Resta, iniqua...
Azucena
Ai de mim!…
Ohimè!...
Ferrando
[Ao conde]
[Ai conde]
Azucena
Conde Conte
Conde Conte
Azucena
Conde Conte
Você vê quem é a infame,
Tu vedi chi l'infame,
que a horrível obra cometeu...
orribil opra commettea...
Termine.
Finisci.
Ferrando
É ela.
È dessa.
Azucena
Cale-se.
Taci
Ferrando
É ela que o menino queimou!
È dessa che il bambino Arse!
Conde Conte
Ah, pérfida!
Ah! perfida!
Coro
Ela mesma!
Ella stessa!
Ele mente…
Ei mentisce...
Do seu destino agora não fugirá.
Al tuo destino or non fuggi.
Ai!…
Deh!...
Esses nós, apertem mais.
Quei nodi più stringete.
[Os soldados obedecem]
[I soldati eseguiscono]
Oh, Deus!... Oh, Deus!
Oh! Dio!... Oh Dio!...
Pode gritar.
Urla pure.
Azucena
Conde Conte
Azucena
Conde Conte
Azucena
Coro
Azucena
Conde Conte
Ferrando
Conde Conte
Azucena
E você não me ouve,
E tu non m'odi,
oh, Manrico, oh, filho meu?
o Manrico, o figlio mio?...
Não socorre a sua mãe infeliz?
Non soccorri all'infelice madre tua?
Seria verdade?
Sarebbe ver?
A genitora de Manrico?
Di Manrico genitrice?
Pois trema!…
Trema!...
Oh, sorte!…
Oh sorte!...
Em meu poder!
In mio poter!
Ai, moderem, oh, bárbaros,
Deh, rallentate, o barbari,
minhas duras torturas...
le acerbe mie ritorte...
Este cruel suplício
Questo crudel supplizio
é prolongada morte...
è prolungata morte...
De iníquo genitor
D'iniquo genitore
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 68
ímpio e pior filho você é, trema!
Conde Conte
Ferrando Coro
empio figliuol peggiore, trema...
Há um Deus para os míseros,
V'è Dio pei miseri,
e esse Deus o punirá!
e Dio ti punirà!
É sua prole, oh, torpe cigana,
Tua prole, o turpe zingara,
ele, aquele traidor?…
colui, quel traditore?...
Poderei com o seu suplício
Potrò col tuo supplizio
feri-lo no meio do coração!
ferirlo in mezzo al core!
Tal alegria me inunda o peito,
Gioia m'inonda il petto,
e palavras não a podem expressar!
cui non esprime il detto!...
Comigo as cinzas fraternas
Meco il fraterno cenere
plena vingança terão!
piena vendetta avrà!
Infame pira você verá,
Infame pira sorgere,
ah, sim, surgir dentro em pouco...
ah, sì, vedrai tra poco...
E não somente o fogo terreno
Né solo tuo supplizio
será o seu suplício!…
sarà terreno foco!...
As chamas do inferno
Le vampe dell'inferno
serão para você fogo eterno;
a te fina rogo eterno;
lá, penar e arder
ivi penare ed ardere
a sua alma deverá!
l'anima tua dovrà!
[Ao sinal do conde, os soldados
[Al cenno del Conte i soldati traggon
levam Azucena. O conde entra em
seco Azucena. Egli entra nella sua
sua tenda, seguido por Ferrando]
tenda, seguito da Ferrando]
Segunda Cena
[Sala adjacente à capela de Castellor,
[Sala adiacente alla Cappella in
Scena Seconda
com varanda no fundo]
Castellor, con il verone nel fondo]
O que foi o fragor de armas
Quale d'armi fragor
Ferrando
Manrico
Leonora
Manrico
ouvido há pouco?
poc'anzi intesi?
Alto é o perigo!
Alto è il periglio!
Em vão seria dissimulá-lo!
Vano dissimularlo fora!
Ao romper da nova aurora
Alla novella aurora
atacados seremos...
assaliti saremo!...
Ai de mim!... O que está dizendo?
Ahimè!... che dici!...
Mas sobre nossos inimigos
Ma de' nostri nemici
obteremos a vitória…
avrem vittoria...
Iguais a eles somos em audácia,
Pari abbiam al loro ardir,
espada e coragem!
Leonora
Manrico
brando e coraggio!...
[Para Ruiz]
[A Ruiz]
Vá, as obras bélicas,
Tu va'; le belliche opre,
em minha breve ausência,
nell'assenza mia breve,
a você designo.
a te commetto.
Que nada falte!…
Che nulla manchi!...
[Ruiz parte]
[Ruiz parte]
Com que tétrica luz
Di qual tetra luce
resplandece nosso casamento!
il nostro imen risplende!
O funesto presságio,
Il presagio funesto,
ai, deixa passar, oh, querida!…
deh, sperdi, o cara!...
Leonora
E consigo?
E il posso?
Manrico
Amor... sublime amor,
Amor... sublime amore,
Leonora Manrico
nesse instante
in tale istante
falará ao seu coração.
ti favelli al core.
Ah, sim, meu bem, sendo
Ah! sì, ben mio, coll'essere
eu seu, e você minha consorte,
io tuo, tu mia consorte,
terei a alma mais intrépida,
avrò più l'alma intrepida,
o braço terei mais forte;
il braccio avrò più forte;
porém, se na página
ma pur se nella pagina
do meu destino estiver escrito
de' miei destini è scritto
que eu fique entre as vítimas,
ch'io resti fra le vittime
pela espada hostil trespassado,
dal ferro ostil trafitto,
entre aqueles últimos suspiros
fra quegli estremi aneliti
até você irá meu pensamento
a te il pensier verrà
e para mim a morte parecerá
e solo in ciel precederti
que apenas a precedi no céu!
la morte a me parrà!
[Ouve-se o som do órgão da
[Odesi il suono dell'organo
capela vizinha]
della vicina cappella]
A onda dos sons místicos
L'onda de' suoni mistici
pura desce até o coração!
pura discende al cor!
Venha, para nós o templo abre
Vieni; ci schiude il tempio
as alegrias de um casto amor.
gioie di casto amor.
[Ruiz aparece apressado]
[Ruiz sopraggiunge frettoloso]
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 70
Ruiz
Manrico
Ruiz
Manrico
Ruiz
Manrico?
Manrico?
O quê?
Che?
A cigana,
La zingara,
venha, olha por entre os cepos.
vieni, tra ceppi mira...
Oh, Deus!
Oh Dio!
Pelas mãos dos bárbaros
Per man de' barbari
acesa já está a pira...
accesa è già la pira...
[Aproximando-se da varanda]
[Accostandosi al verone]
Oh, céus! Minhas pernas cambaleam...
Oh ciel! mie membra oscillano...
Nuvens me cobrem os olhos!
Nube mi copre il ciglio!
Leonora
Você está tremendo!
Tu fremi!
Manrico
E deveria!... Você sabe. Eu sou…
E il deggio!... Sappilo. Io son...
Leonora
Quem?
Chi mai?
Manrico
Seu filho!
Suo figlio!...
Manrico
Ah! Covardes!... O terrível espetáculo
Ah! vili!... Il rio spettacolo
quase me rouba o ar…
Quasi il respir m'invola...
Reúna os nossos, depressa…
Raduna i nostri, affrettati...
Ruiz... vá...
Ruiz... va...
volte… voe…
torna... vola...
[Ruiz sai]
[Ruiz parte]
Daquela pira o horrendo fogo
Di quella pira l'orrendo foco
todas as minhas fibras queima...
tutte le fibre m'arse. avvampò!...
Ímpios, apaguem-na, ou eu,
Empi, spegnetela, o ch'io
dentro em pouco
fra poco
com seu sangue a apagarei...
col sangue vostro la spegnerò...
Já era filho antes de amar você,
Era già figlio prima d'amarti,
não pode me conter o seu martírio.
non può frenarmi il tuo martir.
Mãe infeliz, corro para salvá-la,
Madre infelice, corro a salvarti,
ou ao menos corro para morrer
o teco almeno corro
com você.
a morir!
Leonora
Ruiz Soldados Armati
Ato IV – O Suplício Primeira Cena Atto IV – Il Supplizio Scena Prima
Ruiz
Leonora
Não resisto a golpes tão funestos...
Non reggo a colpi tanto funesti...
Oh, muito melhor seria morrer!
Oh, quanto meglio saria morir!
[Ruiz volta com soldados]
[Ruiz torna con Armati]
Às armas! Às armas!
All'armi, all'armi!
Cá estamos prestes a lutar com você,
Eccone presti a pugnar teco,
a morrer com você!
teco a morir.
[Manrico sai apressado seguido de
[Manrico parte frettoloso seguito da
Ruiz e dos soldados]
Ruiz e dagli Armati]
Uma ala do palácio da Aljafería.
[Un'ala del palazzo dell'Aliaferia.
No canto, uma torre com janelas
All'angolo una torre con finestre
protegidas com barras de ferro.
assicurate da spranghe di ferro.
Noite escuríssima. Avançam
Notte oscurissima. Si avanzano
duas pessoas sob mantos:
due persone ammantellate:
são Ruiz e Leonora]
sono Ruiz e Leonora]
Chegamos,
Siam giunti;
eis a torre,
ecco la torre,
onde gemem os prisioneiros do
ove di Stato gemono i
Estado...
prigionieri...
ah, o infeliz aqui foi trazido.
ah, l'infelice ivi fu tratto!
Vá, deixe-me,
Vanne, lasciami,
não tenha temor por mim...
né timor di me ti prenda...
Talvez eu possa salvá-lo.
Salvarlo io potrò forse.
[Ruiz afasta-se]
[Ruiz si allontana]
Temor por mim?… segura
Timor di me?... sicura,
e rápida é a minha defesa.
presta è la mia difesa.
[Seus olhos fixam-se em uma gema
[I suoi occhi figgonsi ad una gemma
que adorna sua mão direita]
che le fregia la mano destra.]
Nesta escura noite envolvida
In quest'oscura notte ravvolta,
próxima de você estou,
presso a te son io,
e você não sabe…
e tu nol sai...
Gemente ar que em volta sopra,
Gemente aura che intorno spiri,
ai, tenha piedade e leva-lhe
deh, pietosa gli arreca
os meus suspiros…
i miei sospiri...
Sobre as asas rosas do amor
D'amor sull'ali rosee
vá, suspiro dolente:
vanne, sospir dolente:
Do mísero prisioneiro
Del prigioniero misero
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 72
conforta a enferma mente…
Vozes Internas Voci Interne
Leonora
Manrico
Leonora
Vozes Internas Voci Interne
Leonora
conforta l'egra mente...
Como uma aura de esperança
Com'aura di speranza
paira sobre aquela cela:
aleggia in quella stanza:
Desperte em suas memórias
Lo desta alle memorie,
os sonhos do amor!
ai sogni dell'amor!
Mas, ai, não lhe diga, sem querer,
Ma deh! non dirgli, improvvido,
as penas do meu coração!
le pene del mio cor!
[Soa o sino dos mortos]
[Suona la campana dei morti]
Misericórdia de uma alma já próxima
Miserere d'un'alma già vicina
à partida de que não há retorno.
alla partenza che non ha ritorno!
Misericórdia dela, bondade divina,
Miserere di lei, bontà divina,
para que não seja presa
preda non sia
da infernal morada!
dell'infernal soggiorno!
Esse som,
Quel suon,
essas preces solenes,
quelle preci solenni,
funestas, encheram este ar
funeste, empiron quest'aere
de lúgubre terror!…
di cupo terror!...
Contenho a angústia,
Contende l'ambascia,
que toda me toma,
che tutta m'investe,
do lábio a respiração,
al labbro il respiro,
do coração as palpitações!
i palpiti al cor!
[Da torre]
[Dalla torre]
Ah, que a morte sempre
Ah, che la morte ognora
tarda a vir...
è tarda nel venir
para quem deseja morrer!…
a chi desia morir!...
Adeus, Leonora!
Addio, Leonora!
Oh, céus!... faltam-me forças!
Oh ciel!... sento mancarmi!
Misericórdia de uma alma já próxima
Miserere d'un'alma già vicina
à partida de que não há retorno.
alla partenza che non ha ritorno!
Misericórdia dela, bondade divina,
Miserere di lei, bontà divina
para que não seja presa
preda non sia
da infernal morada!
dell'infernal soggiorno!
Sobre a horrível torre, ah!
Sull'orrida torre, ah!
Parece que a morte com asas
Par che la morte con ali di
tenebrosas
Manrico
Leonora
Conde Conte
tenebre
pairando vai!
librando si va!
Ai! Talvez abertas lhe sejam estas
Ahi! forse dischiuse gli fian queste
portas somente quando cadáver
porte sol quando cadaver
já frio for!
già freddo sarà!
[Da torre]
[Dalla torre]
Pago com meu sangue
Sconto col sangue mio
o amor que senti por você!...
l'amor che posi in te!...
Não se esqueça de mim!
Non ti scordar di me!
Leonora, adeus!
Leonora, addio!
De você, de você me esquecer!!…
Di te, di te scordarmi!!...
Verá que amor algum na terra
Tu vedrai che amore in terra
jamais foi mais forte do que o meu;
mai del mio non fu più forte;
venceu o destino em áspera guerra,
vinse il fato in aspra guerra,
vencerá a própria morte.
vincerà la stessa morte.
Ou com o preço da minha vida
O col prezzo di mia vita
a sua vida salvarei,
la tua vita io salverò,
ou com você para sempre unida
o con te per sempre unita
à tumba descerei.
nella tomba io scenderò.
[Abre-se uma porta; saem o
[S'apre una porta; n'escono il
conde e alguns homens. Leonora
Conte ed alcuni Seguaci. Leonora
fica à parte]
è disparte]
Estão ouvindo? Ao alvorecer,
Udite? Come albeggi,
o machado ao filho
la scure al figlio
e a fogueira à mãe.
ed alla madre il rogo.
[Os homens entram na torre]
[I Seguaci entrano nella torre]
Abuso talvez do pleno poder
Abuso io forse del poter che pieno
a mim transmitido pelo príncipe!
In me trasmise il prence!
A isso você me trouxe,
A tal mi traggi,
mulher para mim funesta!…
Donna per me funesta!...
Onde ela estará agora?
Ov'ella è mai?
Retomada Castellor,
Ripreso Castellor,
dela notícias
di lei contezza
não tive, e foram em vão
non ebbi, e furo indarne
tantas buscas, tantas!
tante ricerche e tante!
Ah! Onde você está, cruel?
Ah! dove sei, crudele?
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 74
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
[Avançando]
[Avanzandosi]
Diante de você.
A te dinante.
Que voz!... Como?... Você, Leonora?
Qual voce!... come!... tu, donna?
Está vendo.
Il vedi.
Para que veio?
A che venisti?
Ele está próximo de sua hora extrema,
Egli è già presso all'ora estrema;
e você ainda pergunta?
e tu lo chiedi?
Você ousaria?…
Osar potresti?...
Ah, sim, por ele piedade peço…
Ah sì, per esso pietà domando...
O quê? Está delirando!
Che! tu deliri!
Eu, pelo rival sentir piedade?
Io del rival sentir pietà?
Que o clemente Deus a você inspire...
Clemente Nume a te l'ispiri...
É só vingança o meu Deus... Vá!
È sol vendetta mio Nume... Va.
[Joga-se a seus pés]
[Si getta a' suoi piedi]
Veja, de amargas lágrimas
Mira, di acerbe lagrime
espalho aos seus pés um rio:
spargo al tuo piede un rio:
Não basta o pranto? Mate-me,
Non basta il pianto? svenami,
beba o meu sangue…
ti bevi il sangue mio...
Pise sobre meu cadáver,
Calpesta io mio cadavere,
mas salve o Trovador!
ma salva il Trovator!
Ah! Para o indigno queria
Ah! dell'indegno rendere
causar sorte ainda pior:
vorrei peggior la sorte:
entre mil atrozes espasmos
fra mille atroci spasimi
centuplicar sua morte;
centuplicar sua morte;
Quanto mais você o ama, mais terrível
più l'ami, e più terribile
arde o meu furor!
divampa il mio furor!
[Quer partir, Leonora agarra-se
[Vuol partire, Leonora si avviticchia
a ele]
ad esso]
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
Leonora
Conde…
Conte...
Não chega?
Né cessi?
Graça!…
Grazia!...
Valor você não tem
Prezzo non avvi alcuno
para obtê-la... Afaste-se…
ad ottenerla... scostati...
Há um... somente um...
Uno ve n'ha... sol uno!...
e eu o ofereço a você.
Ed io te l'offro.
Explique-se: qual é o preço? Diga!
Spiegati, Qual prezzo, di'.
Eu mesma!
Me stessa!
Céus!... o que está dizendo?...
Ciel!... tu dicesti?...
E saberei cumprir minha promessa.
E compiere saprò la mia promessa.
Isto é um sonho meu?
È sogno il mio?
Abra-me um caminho entre essas
Dischiudimi la via fra quelle
muralhas...
mura...
Que ele me ouça… Que a vítima
Ch'ei m'oda... Che la vittima
fuja, e sou sua.
fugga, e son tua.
Jure.
Lo giura.
Juro por Deus, que toda
Lo giuro a Dio che l'anima
minha alma vê!
tutta mi vede!
Ei, vocês!
Olà!
[Surge um carcereiro; enquanto o
[Si presenta un custode; mentre il
Conde fala-lhe ao ouvido, Leonora
Conte gli parla all'orecchio, Leonora
suga o veneno que está em seu anel]
sugge il veleno chiuso nell'anello]
Você me terá,
M'avrai,
mas fria, exânime despojo
ma fredda esanime spoglia
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 76
Conde Conte
Leonora
Conde Conte
[Para Leonora]
[A Leonora]
Ele viverá.
Colui vivrà.
Viverá!... Retira o júbilo
Vivrà!... Contende il giubilo
de mim as palavras, Senhor...
i detti a me, Signore...
Mas com batidas frequentes
Ma coi frequenti palpiti
graças lhe rende o coração!
merce' ti rende il core!
Agora o meu fim, impávida,
Ora il mio fine impavida,
cheia de alegria espero…
piena di gioia attendo...
Poderei lhe dizer morrendo:
Potrò dirgli morendo:
Salvo você foi por mim!
Salvo tu sei per me!
O que fala consigo mesma?…
Fra te che parli?... Volgimi,
Dirija a mim,
volgimi il detto ancora,
dirija a mim a palavra de novo,
o mi parrà delirio
ou me parecerá delírio
quanto ascoltai finora...
o que escutei até agora…
Tu mia!...
Você, minha!...
Tu mia!... ripetilo.
Você, minha!... repita.
Il dubbio cor serena...
O coração desconfiado serena…
Ah!... ch'io lo credo appena
Ah!… que só acredito nisso
udendolo da te!
ouvindo de você!
Leonora
Conde Conte
Leonora
Segunda Cena
Vamos...
Andiam...
Você jurou... pense bem!
Giurasti... pensaci!
E sagrado é meu juramento!
È sacra la mia fe'!
[Entram na torre]
[Entrano nella torre]
[Cárcere obscuro. De um lado
[Orrido carcere. In un canto
há uma janela com grades. Porta
finestra con inferriata. Porta nel
ao fundo. Um pálido lampião
fondo. Smorto fanale pendente
dependurado no teto. Azucena está
dalla volta. Azucena giacente sopra
deitada sobre uma espécie de colcha
una specie di rozza coltre, Manrico
rústica, Manrico senta-se ao seu lado]
seduto a lei dappresso]
Manrico
Mãe... não está dormindo?
Madre... non dormi?
Azucena
Chamei-o várias vezes,
L'invocai più volte,
Scena Seconda
Manrico
mas o sono foge destes olhos…
ma fugge il sonno a queste luci...
Rezo.
Prego...
O ar frio é incômodo
L'aura fredda è molesta
ao seu corpo, talvez?
alle tue membra forse?
Não; desta tumba de vivos
No; da questa tomba di vivi
somente fugir quisera,
sol fuggir vorrei,
porque sinto a respiração me sufocar!
perché sento il respiro soffocarmi!
Manrico
Fugir!
Fuggir!
Azucena
Não se entristeça: massacrar-me
Non attristarti: Far di me strazio
os cruéis não conseguirão.
non potranno i crudi!
Manrico
Ah! Como assim?
Ah! come?
Azucena
Está vendo? Suas escuras digitais
Vedi?... Le sue fosche impronte
já estamparam na minha testa
m'ha già stampato in fronte
o dedo da morte!
il dito della morte!
Ai!
Ahi!
Azucena
Manrico
Azucena
Encontrarão um cadáver
Troveranno un cadavere
mudo, gélido... mais um esqueleto!
muto, gelido!... anzi uno scheletro!
Manrico
Chega!
Cessa!
Azucena
Não está ouvindo?... Gente se
Non odi?... Gente appressa...
aproximando...
I carnefici son...
São os carrascos...
Vogliono al rogo trarmi!...
querem até a fogueira me levar...
Difendi la tua madre!
Defenda sua mãe!
Manrico
Azucena
Seja quem for, fique tranquila,
Alcuno, ti rassicura,
aqui não vem…
qui non volge...
A fogueira!
Il rogo!
Palavra horrenda!
Parola orrenda!
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 78
Manrico
Oh, mãe!... Oh, mãe!
Oh madre!... Oh madre!
Azucena
Um dia, uma turba feroz
Un giorno, turba feroce
Manrico
Azucena
Manrico
Azucena
Manrico
levou sua avó para a fogueira...
l'ava tua condusse al rogo...
Veja as terríveis chamas!
Mira la terribil vampa!
Elas já a tocam!
Ella n'è tocca già!
O cabelo já em chamas aos céus
Già l'arso crine al ciel
manda faíscas!...
manda faville!...
Observa as pupilas
Osserva le pupille
já fora de suas órbitas!...
fuor dell'orbita lor!...
ai… quem me poupa
ahi... chi mi toglie
de um espetáculo tão atroz?
a spettacol sì atroce?
[Caindo nos braços de Manrico]
[Cadendo le braccia di Manrico]
Se ainda me ama,
Se m'ami ancor,
se a voz de um filho tem poder
se voce di figlio ha possa
sobre o seio de uma mãe,
d'una madre in seno,
os terrores da alma
ai terrori dell'alma
tenta esquecer no sono,
oblio cerca nel sonno,
no repouso e na calma.
e posa e calma.
Sim, o cansaço me oprime,
Sì, la stanchezza m'opprime,
oh, filho...
o figlio...
Para me aquietar fecho os olhos
Alla quiete io chindo il ciglio
mas se da fogueira arder você vir
ma se dal rogo arder si veda
a horrível chama, desperte-me.
l’orrida fiamma, destami allor.
Repousa, oh, mãe. Deus conceda
Riposa, o madre: Iddio conceda
imagens menos tristes
men tristi immagini
ao seu sono.
al tuo sopor.
[Entre dormindo e acordada]
[Tra il sonno e la veglia]
Aos nossos montes... voltaremos...
Ai nostri monti... ritorneremo...
A antiga paz... lá gozaremos...
L'antica pace... ivi godremo...
Você cantará... com o seu alaúde.
Tu canterai... sul tuo liuto...
Um sono plácido... eu dormirei.
In sonno placido... io dormirò!
Repousa, oh, mãe;
Riposa, o madre:
eu, devoto e mudo,
io prono e muto
a mente aos céus dirigirei.
la mente al cielo rivolgerò.
Manrico
Leonora
Manrico
[Abre-se a porta, entra Leonora: os
[Si apre la porta, entra Leonora:
acima mencionados, o Conde com
gli anzidetti, il Conte con
soldados]
Armati]
Céus!…
Ciel!..
Não me engana essa pouca luz?…
Non m'inganna quel fioco lume?...
Sou eu, Manrico.
Son io, Manrico...
Oh, minha Leonora!
Oh, mia Leonora!
Ah, me concede, Deus piedoso,
Ah, mi concedi, pietoso Nume,
alegria assim grande, antes que
gioia sì grande, anzi ch'io mora?
eu morra?
Leonora
Você não morrerá. Venho salvá-lo...
Tu non morrai. Vengo a salvarti...
Manrico
Como? Salvar-me?,
Come!... a salvarmi?,
diga a verdade!
fia vero!
Leonora
Adeus...
Addio...
Deixa de demora…
Tronca ogni indugio...
apresse-se... parta...
t'affretta...parti...
[Mostrando-lhe a porta]
[Accennandogli la porta]
Manrico
E você não vem?
E tu non vieni?
Leonora
Devo ficar!…
Restar degg'io!...
Manrico
Ficar!…
Restar!...
Leonora
Ai! Fuja…
Deh! fuggi!...
Manrico
Não.
No.
Leonora
Ai de você, se demorar!
Guai se tardi!
Manrico
Não!
No...
Leonora
A sua vida!…
La tua vita!...
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 80
Manrico
Leonora
Eu a desprezo…
Io la disprezzo...
Apenas olhe, oh, mulher,
Pur figgi, o donna,
nos meus olhos!…
in me gli sguardi!...
De quem a obteve?
Da chi l'avesti?...
E a que preço?
Ed a qual prezzo?...
Não quer falar?
Parlar non vuoi?...
Instante tremendo!
Balen tremendo!...
Do meu rival!
Dal mio rivale!...
Entendo… entendo!…
Intendo... intendo!...
A esse infame vendeu seu amor…
Ha quest'infame l'amor venduto...
Vendeu um coração jurado a mim!
Venduto un core che mi giurò!
Oh, como a ira te cega!
Oh, come l'ira ti rende cieco!
Oh, quão injusto
Oh, quanto ingiusto,
e cruel você é comigo!
crudel sei meco!
Ceda… fuja, ou está perdido!
T'arrendi... fuggi, o sei perduto!
Nem mesmo o céu pode te salvar!
Nemmeno il cielo salvar ti può!
[Dormindo]
[Dormendo]
Aos nossos montes... voltaremos...
Ai nostri monti... ritorneremo...
A antiga paz... lá gozaremos...
L'antica pace... ivi godremo...
Você cantará... com o seu alaúde.
Tu canterai... sul tuo liuto...
Um sono plácido... eu dormirei.
In sonno placido... io dormirò...
Manrico
Afaste-se…
Ti scosta...
Leonora
Não me rechace...
Non respingermi...
Está vendo?... Doente, oprimida,
Vedi?... Languente, oppressa,
faltam-me forças…
lo manco...
Vá… eu a abomino...
Va'... ti abbomino...
Maldita seja!
Ti maledico...
Ah, pare!
Ah, cessa!
Não é de amaldiçoar esta hora, mas
Non d'imprecar, di volgere per me
sim de pedir por mim numa prece
la prece a Dio è questa l'ora!
Azucena
Manrico
Leonora
a Deus.
Manrico
Um breve arrepio
Un brivido corse
no meu peito!
nel petto mio!
Leonora
[Cai de bruços]
[Cade bocconi]
Manrico!
Manrico!
Manrico
Leonora, conte-me… Fale!
Donna, svelami... Narra.
Leonora
Tenho a morte no seio…
Ho la morte in seno...
Manrico
A morte!…
La morte!...
Leonora
Ah, foi mais rápida
Ah, fu più rapida
a força do veneno
la forza del veleno
do que eu pensava!…
ch'io non pensava!...
Manrico
Oh, céus!
Oh fulmine!
Leonora
Sinta! Minha mão está gelada…
Senti! la mano è gelo...
Manrico
Leonora
[Toca-se no peito]
[Toccandosi ilpetto]
Mas aqui...
Ma qui...
aqui um fogo horrível arde...
Qui foco orribile arde...
O que você fez?... oh, céus!
Che festi!... o cielo!
Mais que viver sendo de outro...
Prima che d'altri vivere...
eu quis morrer sua!…
Io volli tua morir!...
Insano!… e eu ousei
Insano!... ed io quest'angelo
maldizer este anjo!
osava maledir!
Leonora
Não mais resisto!
Più non resisto!
Manrico
Ai, mísera…
Ahi misera!...
[Entra o Conde, detendo-se na
[Entra il Conte, arrestandosi sulla
soleira]
soglia]
Leonora
Chegou o instante… vou morrer…
Ecco l'istante... Io moro...
Manrico
Agora a sua graça...
Or la tua grazia...
Pai do céu... imploro...
Padre del cielo... imploro...
Insano!… e eu ousei
Insano! ... ed io quest'angelo
Manrico
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 82
Leonora
Conde Conte
Manrico
maldizer este anjo!
osava maledir!
Mais que viver sendo de outro...
Prima... che... d'altri vivere...
eu quis morrer sua!…
Io volli... tua morir!
[Expira]
[Spira]
Ah! Você quis me enganar,
Ah! Volle me deludere,
e por ele morrer!
e per costui morir!
[Apontando Manrico aos soldados]
[Additando agli armati Manrico]
Que seja levado ao patíbulo!
Sia tratto al ceppo!
[Partindo entre os soldados]
[Partendo tra gli armati]
Mãe... oh, mãe, adeus!
Madre... oh madre, addio!
[Despertando]
[Destandosi]
Manrico!... Onde está meu filho?
Manrico!... Ov'è mio figlio?
Conde Conte
Corre para a morte!…
A morte corre!...
Azucena
Ah, pare!... Ouça-me!
Ah ferma!... M'odi...
Azucena
Conde Conte
Azucena
Conde Conte
Azucena
Conde Conte
Azucena
Conde Conte
FIM FINE
[Arrastando Azucena até a janela]
[Trascinando Azucena verso la finestra]
Está vendo?…
Vedi?...
Céus!
Cielo!
Já morreu!
È spento!
Ele era seu irmão!
Egli era tuo fratello!
Ele! Que horror!
Ei! Quale orror!
Você está vingada, oh, mãe.
Sei vendicata, o madre!
[Horrorizado]
[Inorridito]
E eu ainda vivo!
E vivo ancor!
John Neschling
Ana Lucia Benedetti
Marianne Cornetti
Pasquale Mari
Bruno Greco Facio
Alessandro Ciammarughi
Sergio Tramonti
Enrico Giuseppe Iori
Andrea De Rosa
Alberto Gazale
Felipe Bou
Hui He
Susanna Branchini
Denise de Freitas
Stuart Neill
Eduardo Trindade
Rodolfo Giugliani
Sergio Escobar
Gabriel Rhein-Schirato
Orquestra
A formação da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo
Sinfônica
remonta a 1921, dez anos após a inauguração do Theatro Mu-
Municipal
nicipal, por meio da Sociedade de Concertos Sinfônicos de
de São Paulo
São Paulo. Em mais de 90 anos de história, a Orquestra tocou sob a regência de maestros como Mstislav Rostropovich, Ernest Bour, Maurice Leroux, Dietfried Bernett, Kurt Masur, além de Camargo Guarnieri, Armando Belardi, Edoardo de Guarnieri, Eleazar de Carvalho, Isaac Karabtchevsky, Sergio Magnani, além de vários compositores regendo suas obras, como Villa-Lobos, Francisco Mignone e Penderecki. Solistas de renome se apresentaram com o grupo, como Magda Tagliaferro, Guiomar Novaes, Yara Bernette, Salvatore Accardo, Rugiero Ricci, dentre muitos outros. Desde o início de 2013 a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo tem como diretor artístico o maestro John Neschling.
Coro Lírico
O Coro Lírico foi criado em 1939 por iniciativa do prefeito
Municipal
Prestes Maia, sob a coordenação do Maestro Armando Be-
de São Paulo
lardi, então diretor artístico do Theatro Municipal. As 16 óperas que marcaram sua temporada de estreia foram preparadas pelo maestro Fidélio Finzi. Em 1947, Sisto Mechetti assume a função de maestro titular. Em 1947, Sisto Mechetti assumiu o posto de maestro titular e, a partir da oficialização do grupo, em 1951, esteve sob a regência dos maestros Tullio Serafin, Olivero De Fabritis, Eleazar de Carvalho, Armando Belardi, Francisco Mignone, Heitor Villa-Lobos, Roberto Schnorremberg, Marcello Mechetti e Fábio Mechetti. Entre 1994 e 2013, o Coro Lírico esteve sob o comando de Mário Zaccaro, período no qual recebeu os prêmios de Melhor Conjunto Coral, pela APCA, em 1996, e o prêmio Carlos Gomes, na categoria ópera, em 1997. Desde dezembro de 2013 está sob a direção de Bruno Greco Facio.
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 86
Diretor Artístico do Theatro Municipal de São Paulo, John
John Neschling
Neschling voltou ao Brasil após alguns anos em que se de-
Regente
dicou à carreira na Europa, e depois de ter durante 12 anos reestruturado a Osesp, transformando-a num ícone da música sinfônica na América Latina. Durante a longa carreira de regente lírico, Neschling dirigiu musical e artisticamente os Teatros de São Carlos (Lisboa), St. Gallen (Suíça), Bordeaux (França), Massimo de Palermo (Itália), foi residente da Ópera de Viena (Áustria) e se apresentou em muitas das maiores casas de ópera da Europa e dos EUA, em mais de 70 produções diferentes. Dirigiu ainda, nos anos de 1990, os teatros municipais do Rio de Janeiro e de São Paulo. Como regente sinfônico, tem uma longa experiência frente a grandes orquestras dos continentes americano, europeu e asiático. Suas gravações têm sido frequentemente premiadas e o registro de Neschling para a Sinfonia N.1 de Beethoven foi escolhido pela revista inglesa Gramophone como um dos melhores da história. No momento, se prepara para gravar o terceiro volume das obras de Respighi pela gravadora sueca BIS, frente à Filarmônica Real de Liege (Bélgica). Neschling nasceu no Rio de Janeiro em 1947 e sua formação foi brasileira e europeia. Seus principais mestres foram Heitor Alimonda, Esther Scliar e Georg Wassermann no Brasil, Hans Swarowsky em Viena e Leonard Bernstein nos EUA. É membro da Academia Brasileira de Música.
Maestro assistente da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais
Gabriel Rhein-Schirato
desde 2011, Gabriel Rhein-Schirato fez seu bacharelado
Regente
no Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo sob orientação de Gilberto Tinetti, Aylton Escobar e Marco Antônio da Silva Ramos. Prosseguiu por quatro anos os estudos de especia-
lização e pós-graduação nas cidades de Stuttgart e Bremen (Alemanha), sob orientação de Patrick o’Byrne. Em dezembro de 2007 foi aceito na Accademia Superiore Città della Musica e del Teatro (Pescara, Itália) para o Corso di Alto Perfezionamento Musicale. Estudou técnica e repertório vocal com Benito e Isabel Maresca. À frente da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, tem apresentado diversas obras do repertório sinfônico, operístico e, eventualmente, popular. Em 2012 e 2013 regeu a ópera Madama Butterfly no Jardim Japonês de Belo Horizonte. Em novembro de 2013 regeu Un Ballo in Maschera no Grande Teatro do Palácio das Artes. Tem realizado também a preparação da OSMG para outros regentes em importantes obras, além de concertos didáticos. De 2009 a 2011 foi maestro-preparador no Coral do Amazonas, no Festival Amazonas de Ópera. Regeu a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo em uma das récitas comemorativas dos 45 anos de fundação do Balé da Cidade em setembro de 2013 no Theatro Municipal de São Paulo.
Andrea De Rosa
Formado em filosofia, Andrea De Rosa começou a trabalhar
Diretor Cênico
como diretor de curta-metragens, incluindo Notes for a Phenomenology of the Vision, que estreou no Festival Internacional de Cinema Jovem de Turim. Em 2004, atuou como diretor cênico pela primeira vez, em Idomeneo, e desde então divide suas atividades entre teatro e ópera. Na área lírica trabalhou com diversos títulos do século XX, como Curlew River de Benjamin Britten, e Satyricon de Bruno Maderna; para o Teatro São Carlos em Lisboa, De Rosa dirigiu um tríptico composto pelas obras Sancta Susanna, de Paul Hindemith, Erwartung, de Arnold Schönberg e Il Dissoluto Assolto (O Dissoluto Absolvido), baseada no livro de José Saramago. Em dezembro de 2006, dirigiu Don Pasquale, condu-
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 88
zida por Riccardo Muti, com quem trabalhou novamente em 2008 na ópera Il Matrimonio Inaspettato, de Giovanni Paisiello, para o Festival Whitsun em Salzburgo. De 2008 a 2011 Andrea De Rosa foi diretor do Teatro Stabile de Nápoles, onde encenou A Tempestade e uma peça sobre o filósofo Martin Heidegger. Em junho de 2011 dirigu Manfred de Schumann, baseado no poema de Lord Byron, para o Teatro de Repertório e o Teatro Regio de Turim, sob a regência de Gianandrea Noseda. Para o Teatro Stabile de Turim encenou a peça Macbeth, de Shakespeare, reapresentada nos anos seguintes nos maiores teatros italianos.
Pintor, cenógrafo e figurinista, Sergio Tramonti nasceu em
Sergio Tramonti
Piangipane (Ravena, Itália). Em 1968 estreou como ator em
Cenografia
Woyzeck de Büchner, para o qual também assinou a cenografia, figurinos e máscaras. Sua primeira experiência com um espetáculo lírico foi em 1977, com Joana d’Arc, de Honegger e Claudel, com regência de Franco Enriquez e direção de Vladimir Delman. Trabalhou com Calo Cecchi em diversos espetáculos, entre eles La Traviata (Verdi) no Teatro Comunale de Treviso, com direção de Tiziano Severini (1983). Em 1999 começa sua importante associação artística com Mario Martone. Juntos, realizam Così fan Tutte, Don Giovanni e As Bodas de Fígaro de Mozart no Teatro San Carlo de Palermo (2006); Un Ballo in Maschera de Verdi no Covent Garden de Londres (2005); Falstaff de Verdi no Théâtre des Champs-Élysées de Paris (2008 e 2010) e o díptico Cavalleria Rusticana / Pagliacci (2011) no Teatro alla Scala. Com Andrea De Rosa, trabalhou na produção de Maria Stuarda de Donizetti (2010, Palermo) e Manfred de Schumman (2010, Turim).
Alessandro Ciammarughi
Nascido em Roma, estudou figurinos para óperas, peças e
Figurinos
cinema, especializando-se com Pierluigi Samaritani. Estreou muito jovem no Festival Dei Due Mondi em Spoleto (Itália), sob o comando de Giancarlo Menotti. Colaborou com diversos cenógrafos, figurinistas e com diretores como Monicelli, Ronconi, Cobelli, Fassini, nos teatros mais importantes da Itália e do mundo, como alla Scala, San Carlo em Nápoles, La Fenice, Deutsche Oper em Berlim, Novo Teatro Nacional em Tóquio, Teatro Colón, Teatro de la Maestranza em Sevilha e a Opéra Royal de Wallonie em Liège. Trabalhou com produções de dança clássica, como Romeu e Julieta, Eugenio Onegin, Bajadere e a contemporânea Montanha Encantada, com coreografia de Massimo Moricone, no teatro Maggio Musicale Fiorentino. Trabalhou por muitos anos com o diretor Stefano Vizioli, com destaque para as produções de Tancredi, Trittico, Un Balo in Maschera, Rigoletto e Il Trovatore. Em 2003 iniciou sua colaboração com Andrea De Rosa, para teatro e ópera; juntos eles criaram O Dissoluto Absolvido (ópera baseada no texto de José Saramago) e Sancta Susanna para o teatro São Carlos de Lisboa; L’Elisir d’Amore, para a Den Jyske Opera; Macbeth no teatro Ponchielli; A Tempestade para o Teatro San Ferdinando de Nápoles e Norma para a ópera de Roma.
Pasquale Mari Desenho de Luz
Designer de luz e diretor de fotografia, pesquisou e trabalhou por mais de trinta anos com cinema e teatro. Junto com Mario Martone assinou o desenho de luz da trilogia Mozart-Da Ponte, apresentada ao longo do ano de 2006 no teatro San Carlo de Nápoles. Para Così fan Tutte, em especial, cuidou da fotografia na versão televisiva de 2000 produzida pela RAI, com direção musical de Claudio Abbado. Em 2011 estreou no alla Scala de Milão com o díptico Cavalleria Rusticana/I Pagliacci, sob a batuta de Daniel Harding; seguido de Luisa Miller (2012) com Andrea Noseda.
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 90
Trabalha com Andrea De Rosa desde a estreia deste como diretor em Idomeneo (Trento, 2004), passando por Don Pasquale, com regência de Riccardo Muti (Piacenza e Ravena, 2006); Manfred, de Schumman, conduzida por Andrea Noseda (2010, Turim); e Maria Stuarda (Donizetti) no teatro San Carlo de Nápoles. Foi o responsável pela fotografia do filme Il Regista di Martimoni (Cannes, 2006), de Marco Bellochio, pelo qual venceu o Globo de Ouro de melhor fotografia na Itália.
Paulistano, graduado em composição e regência pelas
Bruno Greco Facio
Faculdades de Artes Alcântara Machado, estudou sob a
Regente do Coro
orientação dos mestres Abel Rocha, Isabel Maresca e Naomi Munakata. No ano de 2011 assumiu a regência do Collegium Musicum de São Paulo, tradicional coro da capital, dando continuidade ao trabalho musical do maestro Abel Rocha. Por 11 anos dirigiu o Madrigal Souza Lima, trabalho responsável pela formação musical de jovens cantores e regentes. Durante 2010 foi preparador do coro da Cia. Brasileira de Ópera, projeto pioneiro do maestro John Neschling que percorreu mais de 20 cidades brasileiras com a ópera O Barbeiro de Sevilha, de Gioachino Rossini. A convite do maestro Neschling, tornou-se regente titular do Coral Paulistano em fevereiro de 2013; em dezembro do mesmo ano assumiu a direção do Coro Lírico do Theatro Municipal de São Paulo.
Um dos maiores artistas de sua geração, o barítono Alberto
Alberto Gazale
Gazale interpretou mais de setenta papéis principais nos te-
Barítono
atros mais prestigiosos do mundo. Seu vasto repertório varia de Monteverdi até Dalla Piccola, com atenção particular para os títulos do final do século XIX.
Formado no Conservatório de Verona, especializou-se no repertório verdiano com o professor Carlo Bergonzi. Sua estreia lírica aconteceu em 1998, com Un Ballo in Maschera na Arena de Verona. Desde então, sua carreira o tem levado a teatros como o alla Scala, onde apresentou Macbeth, Rigoletto, Il Trovatore, Madama Butterfly e Otello; o Staatsoper de Viena, onde apresentou-se em Nabucco, La Traviata e Tosca; além de teatros como o Carnegie Hall de Nova York, o Teatro Real em Madrid, o Teatro Regio de Parma e a Arena de Verona. Trabalhou com os regentes Riccardo Chailly, James Conlon, Zubin Mehta, Riccardo Muti, Daniel Oren e Carlo Rizzi. Entre seus papéis recentes destacam-se Iago (Otello), apresentado em Milão, Como e Cremona; e Conde de Luna apresentado em Estocolmo em 2013.
Rodolfo Giugliani
Não faltam elogios ao sólido trabalho do barítono Rodolfo
Barítono
Giugliani. Pela atuação em La Traviata (Verdi), Rodolfo recebeu excelente crítica da revista Ópera Internacional de Paris e, desde então, destacou-se nos principais teatros do Brasil e do exterior, nos papéis de Scarpia (Tosca), Tonio (I Pagliacci), Alfio (Cavalleria Rusticana), Sharpless (Madama Butterfly), Gianni Schicchi (Gianni Schicchi), Gérard (Andrea Chénier), Rigoletto (Rigoletto), Cristovão Colombo (Oratório Colombo), Enrico (Lucia di Lammermoor) e Nabuccodonosor (Nabucco). Participou do centenário do Theatro Municipal de São Paulo como Rigoletto (Verdi), e encenou La Traviata (Verdi) com direção de Daniele Abbado. Apresentou-se no Palau de La Musica Catalana (Espanha) e no Teatro Municipal de Santiago do Chile (Attila). Ganhador do 1º lugar nos concursos de Canto Aldo Baldin, Concurso Internacional de Canto Bidu Sayão, Concurso Internacional de Canto Maria Callas e o Concurso Internacional de Canto Jaume Aragall, na Espanha.
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Susanna Branchini, nascida em Roma de um pai italiano e
Susanna Branchini
uma mãe caribenha, formou-se pelo Conservatório Musical
Soprano
F. Morlacchi em Perúgia, tendo participado de diversas competições internacionais: foi finalista na competição de Toulouse e na As.Li.Co., e vencedora da Mattia Battistini. Sua estreia lírica foi no papel de Micaela (Carmen) em Roma (2002), seguida de Liù (Turandot) e Mimì (La Bohème). Sua rápida evolução vocal permitiu que Susanna se aproximasse de um repertório mais incisivo, de Aida, Il Trovatore e Don Carlo até os papéis de soprano drammatico d’agilità, como Odabella (Atilla) e Lady Macbeth, com o qual abriu a temporada 2012/13 do Teatro Filarmônico de Verona. Confortável tanto na profundidade psicológica do lirismo de Puccini (de Tosca, Madama Butterfly e Tabarro), quanto no repertório do verismo (Pagliacci e Cavalleria Rusticana), Susanna Branchini apresentou-se em numerosos teatros de prestígio, incluindo o Teatro dell’Opera em Roma, a Arena de Verona, Teatro San Carlo em Nápoles e o Teatro Regio em Parma. Trabalhou com os regentes Riccardo Muti e Daniel Oren; e com os diretores Pier Francesco Maestrini, Ivan Stefanutti e Franco Zeffirelli.
Em 2003 a soprano chinesa Hui He explodiu na cena musical
Hui He
internacional com sua performance do papel título de Ma-
Soprano
dama Butterfly, de Puccini, na ópera de Bordeaux. Tornou-se uma das mais aclamadas intérpretes dos papéis título de Aida e Tosca. Seu vasto repertório inclui Amelia (Un Ballo in Maschera), Lenora (Il Trovatore), Manon (Manon Lescaut), Liu (Turandot), entre outros papéis. Cantou nos principais teatros do mundo, como o Metropolitan Opera, o Staatsoper de Viena, Teatro alla Scala, Deutsche Oper de Berlim, o Staatsoper da Bavária e o Gran Teatre del Liceu, tornando-se uma favorita da Arena de Verona. Em suas apresentações recentes, estreou no papel de
La Gioconda em Salerno, sob direção de Daniel Oren, e foi Aida em Beijing. Interpretou Madama Butterfly em Copenhagen, Barcelona e Munique. Em 2014 repetiu seu papel de Madama Butterfly para a Metropolitan Opera de Nova York.
Marianne Cornetti Mezzo-Soprano
Marianne Cornetti é internacionalmente reconhecida como uma das principais mezzo-sopranos verdianas. Atuou nos papéis de Amneris (Aida), Azucena (Il Trovatore) e Eboli (Don Carlos) em teatros como o alla Scala, Royal Opera Covent Garden, Metropolitan Opera, Staatsoper de Viena, Bayerische Staatsoper, Teatro dell’Opera de Roma, Deutsche Oper de Berlim, Theatro Royal de la Monnaie em Bruxelas, Teatro Comunale em Florença, a Arena de Verona, Gran Teatro del Liceo em Barcelona, Teatro San Carlo em Nápoles e muitos outros. Na temporada de 2012/2013 Marianne Cornetti atuou como Preziosilla, em La Forza del Destino, no Gran Teatro del Liceu, em Barcelona. Na Ópera de Roma estreou como La Gioconda, papel que repetiu para a Deutsche Oper de Berlim. Cornetti também interpretou Amneris e Abigaille (Nabucco) em Tóquio e Azucena para o Teatro Nacional da China, em Beijing.
Denise de Freitas
Em 2013, brilhou como Azucena (Il Trovatore) no Festival do
Mezzo-Soprano
Teatro da Paz, e como Fricka em Die Walküre, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Em 2012 cantou Waltraute em O Crepúsculo dos Deuses, no Theatro Municipal de São Paulo. Recebeu o Prêmio Carlos Gomes de melhor cantora em 2004, 2009 e 2012. Apresentou-se na ópera Yerma em Berlim, Paris e Lisboa. Seu repertório inclui Dalila, Compositor (Ariadne), Mère Marie (Diálogo das Carmelitas), Cherubino, Nicklausse (Les Contes d'Hoffmann), Siebel (Fausto), O Raposo (Raposinha Esperta), além de Suzuki, Laura, Adalgisa,
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 94
Charlotte. Apresentou-se sob a regência dos maestros Isaac Karabtchevsky, Luiz Fernando Malheiro, John Neschling, Silvio Viegas, Fabio Mechetti, Jamil Maluf, Marcelo de Jesus, Rafael Frühbeck de Burgos, J. Pons, K. Martin, C. Villaret e R. Armstrong. E atuou sob a direção de Jorge Takla, Aidan Lang, Carla Camurati, Lívia Sabag e André Heller. Estudou com L. Prioli e se aperfeiçoou com C. Green, P. McCaffrey e com S. Sass.
Nascido e formado na América, Stuart Neill é hoje um dos
Stuart Neill
tenores líricos mais apreciados de sua geração.
Tenor
Começou sua carreira no repertório belcantista apresentando-se nos principais teatros do mundo, entre os quais o Metropolitan de Nova York e o Staatsoper de Viena, onde interpretou Arturo (I Puritani). No Teatro alla Scala apresentou-se como Edgardo (Lucia de Lammermoor); na Opera de Paris e no Festival de Salzburgo como Der Sänger (Der Rosenkavalier). A partir daí, seu estilo vocal desenvolveu-se na direção de um repertório plenamente lírico: foi Manrico no Teatro La Fenice de Veneza, na Deutsche Oper de Berlim e na Royal Opera de Estocolmo; Radamés (Aida) no alla Scala, na Ópera de Tel Aviv, na Arena de Verona e no Theatro Municipal de São Paulo; e Canio (I Pagliacci) no Festival de Atenas e na Ópera de Roma. Uma de suas principais interpretações é o Réquiem de Verdi, que já cantou mais de duzentas vezes, incluindo três gravações em disco, a última das quais com a London Symphony Orchestra, sob a regência de Sir Colin Davis. Trabalhou com os maestros James Levine, John Neschling, Zubin Mehta, Carlo Maria Giulini e Gustavo Dudamel.
Sergio Escobar estudou canto no Conservatório Arturo So-
Sergio Escobar
ria e na Escuela Superior de Canto em Madri. Participou de
Tenor
master classes com Viorica Cortez, Jaime Aragall, Francisco Ortiz, Noelia Buñuel, Montserrat Caballé e Teresa Berganza.
Em 2012, venceu três concursos internacionais: ganhou o primeiro prêmio na Competição Internacional de Canto Ciudad de Logroño, o segundo lugar na Competição Monserrat Caballé e o segundo lugar na Competição Internacional em Bilbao. Em outubro de 2013 interpretou Corrado, em Il Corsaro, sob regência do maestro Gianluigi Gelmetti, no Teatro Verdi de Trieste; Ismaele, em Nabucco, no Teatro Regio de Parma, conduzido pelo maestro Renato Palumbo; Pollione (Norma) e Nabucco no Teatro Comunale de Bolonha, com o maestro Michele Mariotti. Destacou-se ainda pela atuação no papel-título de Don Carlo, no Teatro Luciano Pavarotti em Módena.
Enrico Giuseppe Iori
Enrico Giuseppe Iori estudou no Conservatório de Parma, onde
Baixo
teve aulas com Lucetta Bizzi, Carlo Bergonzi e Calro Meliciani. Renomado baixo verdiano, teve sua estreia em 1996. Desde então apresentou-se em importantes teatros e casas de concerto, como o alla Scala, Teatro La Fenice em Veneza, a Arena de Verona, o Teatro Regio de Parma, o Teatro Regio de Turim, o Festival de ópera de Macerata, o Teatro São Carlos em Lisboa e o Teatro Bolshoj em Moscou. Enrico Giuseppe Iori trabalhou com maestros importantes como Bruno Bartoletti, Bruno Campanella, Lorin Maazel, Zubin Mehta, Riccardo Muti, Daniel Oren, Georges Prêtre, Renato Palumbo, Heffrey Tate e diretores como Daniele Abbado, Liliana Cavani, Denis Krief, Pamberto Puggelli, Emilio Sagi e Franco Zeffirelli. Em seu repertório estão os papéis de Raimondo (Lucia de Lammermoor), Colline (La Bohème), Walter (Luisa Miller), Don Basílio (O Barbeiro de Sevilha), Faraó (Aida), Sparafucile (Rigoletto), Fiesco (Simon Boccanegra), Zaccaria (Nabbuco) e Attila (Attila). Participou da gravação de Aida, por Zeffirelli, em Busseto,
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cidade natal de Verdi; e da produção do dvd de Macbeth no Teatro Regio de Parma.
Formado em Direito em 1990, o baixo hispano-brasileiro Fe-
Felipe Bou
lipe Bou estreou na Espanha com a ópera Marina, em Bilbao
Baixo
(1994), e internacionalmente com Les Pêcheurs de Perles em Toulouse (1998). Em 2000 atuou na produção comemorativa do centenário de Tosca em Roma, com Pavarotti, Domingo e Zeffirelli. Desde então vem cantando papéis como Raimondo (Lucia de Lammermoor) e Ramfis (Aida), em Düsseldorf; Frère Laurent (Roméo et Juliette), em Tóquio; Rodolfo (La Sonnambula), em Leipzig; Don Pasquale em Madri; Sparafucile (Rigoletto) em Parma e turnê ao México, Pequim e Mascate; Ferrando no Festival Verdi de Parma; Colline (La Bohème) em Florença e São Paulo; Creonte (Medea) em Palermo; Basilio (Il Barbiere di Siviglia) para a Staatsoper de Viena; Baldassare (La Favorite) em Santiago; Marke (Tristan und Isolde), Fasolt (O Ouro do Reno) e Filippo II (Don Carlo) em Oviedo. Sua discografia inclui Turandot e Gianni Schicchi (Naxos), Merlin (Decca) e em DVD D.Q. e Don Giovanni (Liceu de Barcelona), La Bohème (Teatro Real de Madrí), La Vida Breve (Palau de les Arts de Valência) e Rigoletto (ABAO).
Vencedora do 1º lugar no 9º Concurso de Canto Maria Callas
Ana Lucia Benedetti
(2009), do prêmio Melhor Voz Feminina no IV Concurso Es-
Mezzo-Soprano
tímulo para Cantores Líricos Carlos Gomes (2011), do 3º lugar no Concurso Internacional de Canto Bidu Sayão em 2011 e finalista do VI Concurso de Interpretação da Canção de Câmara Brasileira (2004), Ana Lucia Benedetti estreou como Ulrica em Un Ballo in Maschera no Palácio das Artes de Belo Horizonte (2013) e como Lola em Cavalleria Rusticana no Theatro São Pedro (2009). Atuou no grupo Ópera
Estúdio da EMESP e nas produções do Núcleo Universitário de Ópera da UNESP. Cantou na Série TUCCA de Concertos – Sinfonia n.9 de Beethoven (Sala São Paulo), na Homenagem a Maria Callas (Theatro São Pedro), Oratório de Natal de Camille Saint-Säens (Sala São Paulo), entre outros eventos. Estudou piano no Conservatório Ars et Scientia e é bacharel em Canto pela Faculdade Mozarteum, na classe de F. de Campos Neto. Estudou também com H. Gaidzakian, Marcos Thadeu e Regina Elena Mesquita. Atualmente é orientada por Isabel Maresca.
Eduardo Trindade
O tenor Eduardo Trindade é Bacharel em Canto pela Univer-
Tenor
sidade Estadual Paulista (UNESP), sob orientação de Martha Herr. Cursou a Escola Municipal de Música de São Paulo, com a professora Dra. Elenís Guimarães: Estudou também com o renomado tenor Benito Maresca, com Ricardo Ballestero, na Universidade São Paulo (USP), e com Juvenal de Moura. Participou das montagens de La Traviata (2012) e Rigoletto (2011) de Giuseppe Verdi no Theatro Municipal de São Paulo, sob a regência do maestro Abel Rocha. Atuou em O Feiticeiro, de Gilbert & Sullivan, e El Hijo Fingido de Joaquim Rodrigo, no Theatro São Pedro, ambos com o Núcleo Universitário de Ópera. Atuou como solista do Coro de Câmara da Unesp no oratório Lobgesang Op. 52 de Félix Mendelssohn e no Oratório de Natal de Camille Saint-Saëns, regência dos maestros Lutero Rodrigues e Fábio Miguel, respectivamente. Atualmente integra o Coro Lírico do Theatro Municipal de São Paulo.
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Theatro Municipal de São Paulo Temporada Lírica 2014 Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo
Abril
Falstaff Giuseppe Verdi ter (15 / 22), qui (17 / 24) e sáb (12 / 19) às 20h dom (13 / 20) às 18h Theatro Municipal de São Paulo Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo Coro Lírico Municipal de São Paulo Regência John Neschling Direção Cênica e Cenografia Davide Livermore Falstaff Ambrogio Maestri / Nelson Martinez Ford Simone Piazzola / Rodrigo Esteves Alice Ford Virginia Tola / Adriane Queiroz Nannetta Rosana Lamosa / Lina Mendes Fenton Marco Frusoni
Maio e Junho
Carmen Georges Bizet Mai qui (29) às 20h, sáb (31) às 20h Jun ter (03 / 10), qua (11) qui (05 / 11) e sáb (07) às 20h, dom (01 / 08) às 18h Theatro Municipal de São Paulo Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo Coro Lírico Municipal de São Paulo Regência Ramón Tebar Direção Cênica Filippo Tonon Cenografia Juan Guillermo Nova Carmen Rinat Shaham / Luisa Francesconi Don José Thiago Arancam / Fernando Portari Escamillo Rodrigo Esteves / David Marcondes Micaela Lana Kos / Andrea Aguilar Frasquita Marta Torbidoni Mercedes Malena Dayen Dancairo Francis Dudziak Remendado Rodolphe Briand Morales Norbert Steidl / Vinícius Atique Zuñiga Massimiliano Catellani
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Setembro
Regência Ira Levin Direção Cênica (Cavalleria Rusticana) Pier
Salomé Richard Strauss ter (09 / 16), qui (11 / 18) e sáb (06 / 20) às 20h dom (14) às 18h Theatro Municipal de São Paulo Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo
Francesco Maestrini Direção Cênica (I Pagliacci) Francesco Micheli Cenografia Juan Guillermo Nova Santuzza Tuija Knihtlä / Elena Lo Forte
Regência John Neschling
Turiddu Fernando Portari / Marcello Vannucci
Direção Cênica Livia Sabag
Alfio Angelo Veccia / Francesco Landolfi
Cenografia Nicolás Boni
Lola Luciana Bueno
Figurinos Veridiana Piovezan
Mamma Lucia Lídia Schäffer
Desenho de Luz Wagner Pinto Coreografia Ana Paula Mastrodi Salomé Nadja Michael / Alexandrina Pendatchanska Herodes Peter Bronder / Jürgen Sacher
Canio Walter Fraccaro / Richard Bauer Nedda Inva Mula / Marina Considera Tonio Angelo Veccia / Francesco Landolfi
Herodias Iris Vermillion / Alejandra Malvino
Beppe Daniele Zanfardino / Saverio Fiore
Jochanaan Steven Mark Doss / Michael Kupfer
Silvio Davide Luciano / Norbert Steidl
Narraboth Stanislas De Barbeyrac / István Horváth 1º Judeu Paulo Chamié–Queiroz
Novembro / Dezembro
2º Judeu Miguel Geraldi 3º Judeu Eduardo Trindade 4º Judeu Rubens Medina 5º Judeu Sérgio Righini
Tosca Giacomo Puccini Nov sáb (29) às 20h | dom (30) às 18h
1º Nazareno Carlos Eduardo Marcos
Dez ter (02 / 09), qui (04 / 11) e sáb (06 / 13) às 20h
2º Nazareno Sérgio Weintraub
dom (07 ) às 18h
1º Soldado Marcos Carvalho
Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo
2º Soldado Paulo Menegon
Coro Lírico Municipal de São Paulo
Capadócio Jonas Mendes Pajem de Herodias Elaine Martorano Escravo Elisabeth Ratzersdorf
Outubro
Regência Oleg Caetani Direção Cênica Marco Gandini Floria Tosca Amanda Echalaz / Ausrine Stundyte Mario Cavaradossi / Marcelo Alvarez / Stuart Neill Scarpia Roberto Frontali / Nelson Martinez
Cavalleria Rusticana / I Pagliacci
Cesare Angelotti Massimiliano Catellani
Pietro Mascagni / Ruggero Leoncavallo
Sacristão Saulo Javan
ter (21 / 28), qua (29), qui (23) e sáb (18 / 25) às 20h
Spoletta Luca Casalin
dom (19 / 26) às 18h Theatro Municipal de São Paulo Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo Coro Lírico Municipal de São Paulo
Programa sujeito a alterações.
IL TROVATORE
Julia de Francesco
Visagista
Helena Oliveira
Julia Saragoza
Simone Batata
Antonio Fernandes
Assistente de
Coordenação de Pintura
Assistente de Visagismo
Edméia Evaristo
Direção Musical
de Arte e Esculturas
Tiça Camargo
Josefa Gomes
Gabriel Rhein-Schirato
Karen Luizi
Maquiadores
Eunice Moreira
Pianistas Correpetidores
Rubia de Campos
Alina Peixoto
Dirlene Emilio
Anderson Brenner
Assistentes
Bia Bombom
Silvia de Castro
Paulo Almeida
Julia Lopes
Bruno Cezar
Dilma Tiburiça
Rafael Andrade
Michael Almeida
Caroline Gonzaga
Armamentos
Agda Camila
Diogo Souza
Boca de Cena
Atores
Alicio Silva
Elisani Souza
Adereços
Alexandra Ucanda
Jacqueline Nascimento
Giulia Piantino
Edu Paiva
Alle Paixão
Marcelo Thomé
Gleice Diana
Bordado
Arlette Ferreira
Aílton Santos
Inais Tereza
Gilberto Marques
Catharina Guedes
Coordenação de
Isabel Vieira
dos Santos
Claudia Macksoud
Cenotécnica
Kika Queiroz
Serigrafia
Diego Bargas
Jonas Soares
Lua Gimenez
Danilo Pera Pereira
Edison Vigil
Cenotécnicos
Mara Feres
Felipe Barros
Beto Gomes
Marcela Costa
Sinopse e gravações
Gabriel Castillo
Pedro Lino
Marina Peev
de referência
Giballin Gilberto
João Pereira
Samara Cardoso
Irineu Franco Perpetuo
João Delle Piagge
Gilberto Ferreira
Sheila Campos
Leonardo Negretti
Guilherme Nascimento
Tamyris Alves
Nanny Gonçalves
Marcio Feitosa
Renato Caetano
Marcelo Feitosa
Tradução do Libreto e Legendas
Modelistas
Tatiana Godoi
Erlany Pereira dos Santos
Nilda Dantas
Victor Gomes
Coordenação de
Judite de Lima
Vivian Barabani
Serralheria
Leci de Andrade
Wanderley Salgado
Amadeu Fernandes
Tandara Hoffman
Washington Lins
Genilson de Alencar
Alfaiates
Serralheiros
Domingos de Lello Miguel Arrua
Produção de Cenografia
Marcelo de Carvalho
Jorge e Denis Produções
Givaldo Gomes
Cenográficas
Reginaldo Nascimento
Costureiras
Coordenação de
Francisco Alves
Fátima Coutinho
Execução Cenográfica
Aílton Barreto
Cristina França
Jorge Ferreira Silva
Evanildo Ferreira
Claudinea Cavalcante Lima
Denis Nascimento
Fernando da Silva
Lucia Medeiros
Assistentes de Execução
Secretaria Administrativa
Ivete Dias
Cenográfica e Produção
Isabela Nascimento
Laurita Machado
Hugo Casarini
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 102
Orquestra Sinfônica
Violas
Clarinetes
Gerente da Orquestra
Municipal de São Paulo
Alexandre De León*
Otinilo Pacheco*
Paschoal Roma
Silvio Catto*
Luís Afonso Montanha*
Assistente
Diretor Artístico
Abrahão Saraiva
Diogo Maia Santos
Yara de Melo
John Neschling
Tânia de Araújo Campos
Domingos Elias
Inspetor
Primeiros-violinos
Adriana Schincariol
Marta Vidigal
Carlos Nunes
Pablo De León (spalla)
Eduardo Cordeiro
Fagotes
Montadores
Martin Tuksa (spalla)
Eric Schafer Licciardi
Fábio Cury*
Alexandre Greganyck
Maria Fernanda Krug
Roberta Marcinkowski
Marcelo Toni
Paulo Broda
Fabian Figueiredo
Tiago Vieira**
Marcos Fokin
Adriano Mello
Pedro Visockas**
Osvanilson Castro
* Chefe de naipe
Fábio Brucoli
Everton de Souza**
Trompas
** Músico convidado
Fábio Chamma
Violoncelos
André Ficarelli*
Fernando Travassos
Mauro Brucoli*
Luiz Garcia*
Francisco Ayres Krug
Raïff Dantas Barreto*
Rogério Martinez
Liliana Chiriac
Cristina Manescu
Vagner Rebouças
Heitor Fujinami
Joel de Souza
Douglas Costa**
John Spindler
Maria Eduarda
Flavio Vilela Faria**
José Fernandes Neto
Canabarro
Trompetes
Mizael da Silva Júnior
Sandro Francischetti
Fernando Guimarães*
Paulo Calligopoulos
Teresa Catto
Marcos Motta*
Rafael Bion Loro
Alberto Kanji**
Breno Fleury
Sílvio Balaz
Ana Chamorro**
Eduardo Madeira
Segundos-violinos
Contrabaixos
Trombones
Andréa Campos*
Rubens De Donno*
Roney Stella*
Laércio Diniz*
Sérgio de Oliveira*
Emerson Teixeira**
Nadilson Gama
Miguel Dombrowski
Hugo Ksenhuk
Otávio Nicolai
Ricardo Busatto
Luiz Cruz
Alex Ximenes
Sanderson Cortez Paz
Marim Meira
André Luccas
Walter Müller
Tuba
Angelo Monte
André Teruo**
Gian Marco de Aquino*
Edgar Montes Leite
Flautas
Harpa
Evelyn Carmo
Cássia Carrascoza*
Angélica Vianna*
Oxana Dragos
Marcelo Barboza*
Piano
Ricardo Bem-Haja
Cristina Poles
Cecília Moita*
Sara Szilagyi
Oboés
Percussão
Ugo Kageyama
Alexandre Ficarelli*
Marcelo Camargo*
Kleberson Buso**
Rodrigo Nagamori*
Magno Bissoli
Juan Rossi**
Javier Balbinder
Reinaldo Calegari
Karen Crippa**
Marcos Mincov
Sérgio Coutinho
Coro Lírico do Theatro Municipal
Maria Luisa Figueiredo
Davi Marcondes
Prefeitura do Município
Mônica Martins
Diógenes Gomes
de São Paulo
Contraltos
Eduardo Paniza
Prefeito
Regente Titular
Celeste do Carmo
Jang Ho Joo
Fernando Haddad
Bruno Greco Facio
Claudia Arcos
Luis Orefice
Secretário Municipal
Regente Assistente
Clarice Rodrigues
Marcio Martins
de Cultura
Sérgio Wernec
Elaine Martorano
Miguel Csuzlinovics
Juca Ferreira
Pianistas
Lidia Schäffer
Roberto Fabel
Marcos Aragoni
Magda Painno
Sandro Bodilon
Fundação Theatro
Marizilda Hein Ribeiro
Mara Dalva de Alvarenga
Baixos
Municipal de São Paulo
Sopranos
Margarete Loureiro
Claudio Guimarães
Direção Geral
Adriana Magalhães
Maria José da Silveira
Fernando Gazoni
José Luiz Herencia
Berenice Barreira
Vera Ritter
Jessé Vieira
Diretora de Gestão
Claudia Neves
Tenores
José Nissan
Ana Flávia C. Souza Leite
Elaine Moraes
Alex Flores de Souza
Josué Silva
Elayne Caser
Antonio Carlos Britto
Leonardo Amadeo Pace
Instituto Brasileiro
Elisabeth Ratzersdorf
Dimas do Carmo
Marcos Carvalho
de Gestão Cultural
Graziela Sanchez
Eduardo Pinho
Orlando Marcos
Presidente do Conselho
Huang Shu Chen
Eduardo de Góes
Rafael Thomas
Cláudio Jorge Willer
Ivete Montoro
Eduardo Trindade
Sérgio Righini
Diretor Executivo
Jacy Guarany
Fernando de Castro
Assistente
William Nacked
Juliana Starling
Gilmar Ayres
Cristina Cavalcante
Diretora Técnica
Marcia Costa
Joaquim Rollemberg
Inspetora
Isabela Galvez
Angélica Feital
José Silveira
Eugenia Sansone
Diretor Financeiro
Maria Antonieta Soares
Luciano Goés
Montador
Neil Amereno
Milena Tarasiuk
Luiz Antonio Doné
Alfredo Barreto de Souza
Monique Corado
Marcello Vannucci
Marivone Pereira Caetano
Márcio Lucas Valle
Diretora de Produção
Marta Mauler
Miguel Geraldi
Cristiane Santos
Nadja Sousa
Paulo Chamié Queiroz
Direitos Autorais
Rita de Cassia Polistchuk
Renato Tenreiro
Olivieri Advogados
Rosana Barakat
Rúben de Oliveira
Associados
Sandra Félix
Rubens Medina
Diretor Artístico John Neschling
Mezzo-Sopranos
Sérgio Sagica
Diretoria Geral
Elisa Nemeth
Valter Felipe
Assessora
Eloísa Baldin Petriaggi
Valter Estefano Mesquita
Maria Carolina G. de Freitas
Erika Mendes Belmonte
Barítonos
Secretárias
Heloísa Junqueira
Alessandro Gismano
Ana Paula Sgobi Monteiro
Keila de Moraes
Ary Lima Jr.
Marcia de Medeiros Silva
Juliana Valadares
Daniel Lee
Monica Propato
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 104
Cerimonial
Fernanda Câmara
Antonio Carlos da Silva
Luciano Paes
Egberto Cunha
Arquivo Artístico
Antonio Oliveira Almeida
Fernando Azambuja
Sofia Amaral Ramos
Coordenadora
Alexandre Nunes Pinheiro
Ubiratan Nunes
Maria Rosa T. Sabatelli
Maria Elisa Peretti
Aristide da Costa Neto
Camareiras
Bilheteria
Pasqualini
Cláudio Nunes Pinheiro
Alzira Campiolo
Nelson Franco de Oliveira
Assistente
Cristiano Teixeira dos
Lindinalva M. Celestino
Ana Raquel Alonso
Santos
Maria Auxiliadora
Diretoria Artística
Arquivistas
Edival Dias
Maria Gabriel Martins
Assessoria de
Ariel Oliveira
Ermelindo Terribele
Marlene Collé
Direção Artística
Guilherme Prioli
Sobrinho
Nina de Mello
Stefania Gamba
Karen Feldman
Julio de Oliveira
Regiane Bierrenbach
Luís Gustavo Petri
Leandro José Silva
Lourival Fonseca
Tonia Grecco
Clarisse De Conti
Leandro Ligocki
Conceição
Secretária
Copista
Marcelo Luiz Frosino
Central de Produção
Eni Tenório dos Santos
Ana Cláudia Oliveira
Paulo Miguel Filho
"Chico Giacchieri"
Rodrigo Nascimento
Coordenação de Costura
Programação Artística
Ação Educativa
Thiago Panfieti
Emília Reily
João Malatian
Aureli Alves de Alcântara
Assistentes
Acervo de Figurinos
Diretor Técnico
Cristina Gonçalves Nunes
Elisabeth de Pieri
Marcela de Lucca M.
Ivone Ducci
Dutra
Assistente de
Centro de Documentação
Contrarregras
Assistente
Coordenação de
Juan Guillermo Nova
Direção Técnica
Chefe de seção
Alessander de Oliveira
Ivani Rodrigues Umberto
Giuseppe Cangemi
Mauricio Stocco
Rodrigues
Acervo de Cenário
Diretor de Palco Cênico
Equipe
Bruno Farias
e Aderecista
Ronaldo Zero
Lumena A. de Macedo Day
Carlos Bessa
Aloísio Sales
Assistente de Direção de Palco Cênico
Diretoria de Produção
Eneas Leite
Expediente
Marcelo Luiz Frosino
José Carlos Souza
Sabrina Mirabelli
Produtoras Executivas
Piter Silva
José Lourenço
Assistente de Direção
Anna Patrícia Araújo
Sandra Satomi Yamamoto
Paulo Henrique Souza
Cênica Residente
Rosa Casalli
Chefe de Som
Diretoria de Gestão
Julianna Santos
Produtores
Sérgio Luis Ferreira
Diretora de Formação
Segunda Assistente
Aelson Lima
Operadores de Som
Lais Gabriele Weber
de Direção Cênica
Pedro Guida
Guilherme Ramos
Assessora
Ana Vanessa
Assistente de Produção
Daniel Botelho
Juliana do Amaral Torres
Assistente de Direção
Arthur Costa
Kelly Cristina da Silva
Secretária
Chefe de Iluminação
Oziene Osano dos Santos
Palco
Valéria Lovato
Cênica e Casting Sérgio Spina Figurinista Residente
Chefe da Cenotécnica
Iluminadores
Núcleo Jurídico
Veridiana Piovezan
Aníbal Marques (Pelé)
Alexandre de Souza
Assessora
Produção de Figurinos
Técnicos de Palco
Igor Augusto F. de Oliveira
Carolina Paes Simão
Assistente Jurídico
Antonio Teixera Lima
Comunicação
João Paulo Alves Souza
Cleide da Silva
Editor e Coordenador
Eva Ribeiro
de Comunicação
Assistência Administrativa
Israel Pereira de Sá
Marcos Fecchio
Alexandro Robson
Luiz Antonio de Mattos
Assistente de
Bertoncini
Maria Apª da Conceição Lima
Mídias Eletrônicas
Pedro Bento Nascimento
Desirée Furoni
Seção de Pessoal
Therezinha Pereira da Silva
Assessora de Imprensa
Cleide Chapadense da Mota
Almoxarifado
Amanda Sena
José Luiz P. Nocito
Nelsa Alves Feitosa da Silva
Design Gráfico
Solange F. França Reis
Bens Patrimoniais
Kiko Farkas/ Máquina
Tarcísio Bueno Costa
José Pires Vargas
Estúdio Designer Assistente
Parcerias
Informática
Ana Lobo
Suzel Maria P. Godinho
Ricardo Martins da Silva
André Kavakama
Renato Duarte
Atendimento
Contabilidade
Estagiários
Michele Alves
Alberto Carmona
Victor Hugo A. Lemos
Impressão
Cristiane Maria Silva
Yudji A. Otta
Imprensa Oficial do
Diego Silva
Arquitetura
Estado de São Paulo
Luciana Cadastra
Lilian Jaha
Marcio Aurélio Oliveira
Estagiários
Cameirão
Marina Castilho
Meire Lauri
Vitória R. R. Dos Santos Seção Técnica
Compras e Contratos
de Manutenção
George Augusto Rodrigues
Edisangelo Rodrigues
Jessica Elias Secco
da Rocha
Marina Aparecida Augusto
Eli de Oliveira
Corpos Estáveis
Narciso Martins Leme
Paula Melissa Nhan
Estagiário
Juçara A. de Oliveira
Vinícius Leal
Vera Lucia Manso Infraestrutura Marly da Silva dos Santos
theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 106
co-realização
Organização Social de Cultura do Município de São Paulo
apoio cultural
MUNICIPAL. O PALCO DE Sテグ PAULO