Falstaff - Theatro Municipal de São Paulo de 2014

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GIUSEPPE FALSTAFF VERDI



FALSTAFF Ópera em três atos Música de Giuseppe Verdi Libreto de Arrigo Boito


Giuseppe Verdi Falstaff Nova montagem do Theatro Municipal de São Paulo William Shakespeare 450 anos de nascimento Abril 2014

12 sábado 20h 13 domingo 18h 15 terça 20h 17 quinta 20h 19 sábado 20h 20 domingo 18h 22 terça 20h 24 quinta 20h

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Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo Coro Lírico Municipal de São Paulo Direção Musical e Regência

John Neschling

Direção Cênica, Cenografia e

Davide Livermore

Desenho de Luz Cenografia Figurinos

Giò Forma Gianluca Falaschi

Regente do Coro

Bruno Greco Facio

Falstaff

Ambrogio Maestri

12 15 17 19 22 24

Nelson Martinez

13 20

Rodrigo Esteves

12 17 2o 24

Luca Salsi

13 15 19 22

Marco Frusoni

12 15 19 22 24

Blagoj Nacoski

13 17 20

Ford

Fenton

Dr. Caius

Saverio Fiore

Bardolfo

Stefano Consolini

Pistola

Diógenes Randes

12 15 19 22

Saulo Javan

13 17 20 24

Virginia Tola

12 15 19 22 24

Adriane Queiroz

13 17 20

Rosana Lamosa

12 15 19 22 24

Lina Mendes

13 17 20

Elisabetta Fiorillo

12 15 19 22

Romina Boscolo

13 17 20 24

Denise de Freitas

12 15 19 22

Luciana Bueno

13 17 20 24

Alice Ford

Nannetta

Mrs. Quickly

Mrs. Meg Page

Programa sujeito a alterações.


Sinopse

ato I

Na Taberna da Jarreteira, o Dr. Caius se retira indignado, depois de acusar Bardolfo e Pistola, os dois criados de Falstaff, de embebedá-lo para roubá-lo. Sem dinheiro para pagar a conta da taberna, Falstaff pede aos servos que levem suas cartas de amor às mulheres de Ford e Page. Ambos se recusam, alegando que a tarefa está abaixo de suas honras, e são enxotados pelo patrão com uma vassoura. Na casa de Ford, Alice e Meg Page comparam as cartas idênticas que receberam de Falstaff, do qual decidem se vingar, com a participação de sua amiga Quickly. Enquanto isso, Bardolfo e Pistola contam os planos de seu empregador a Ford, que também planeja desforra. Separadamente, homens e mulheres tramam contra Falstaff, ao mesmo tempo que Fenton e Nannetta (filha de Ford) aproveitam para levar adiante seu namoro clandestino: o pai prefere que a moça se case com o Dr. Caius.

Intervalo 25'

ato II

Ainda na taberna, Falstaff recebe os fingidos pedidos de perdão de Bardolfo e Pistola, que conduzem à sua presença Quickly. Ela anuncia ao nobre que Alice poderá recebê-lo naquela tarde, das duas às três horas. Depois da partida de Quickly, é a vez de Falstaff falar com Ford, que se apresenta como o Senhor Fontana, apaixonado por Alice Ford. Ele propõe a Falstaff que a seduza, para facilitar que a dama posteriormente seja sua, algo com que o fidalgo concorda prontamente, comunicando que já tem encontro marcado com ela – o que deixa Ford/Fontana enfurecido.

Sinopse baseada no libreto original de Arrigo Boito.

Falstaff é recebido por Alice na casa de Ford, e seus galanteios são interrompidos por Meg e Quickly, que anunciam a

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aproximação do marido enciumado. O sedutor é inicialmente escondido atrás de um biombo, sendo introduzido em um cesto de roupas sujas quando Ford e seus asseclas procuram por ele. Ouve-se um beijo atrás do biombo: Ford tem a expectativa de desmascarar Falstaff e a esposa, mas descobre que os enamorados furtivos são Nannetta e Fenton. Alice ordena que o conteúdo do cesto de roupas seja lançado no rio Tâmisa, e contempla, com o marido, Falstaff a se debater nas águas.

Intervalo 20''

ato III

Depois de se lamuriar de suas vicissitudes, Falstaff recebe, na Taberna da Jarreteira, a visita de Quickly, marcando um novo encontro com Alice – dessa vez, em um carvalho, na floresta de Windsor. Reza a lenda que um caçador teria se enforcado na árvore, tornando-a assombrada por duendes e feiticeiras. Dessa vez, a conspiração contra o nobre envolve todos os personagens. Paralelamente, Ford trama o casamento da filha com o Dr. Caius, enquanto as mulheres tentam arranjar para que Nannetta se case com Fenton. Falstaff entra, disfarçado, com uma galhada de veado na cabeça, e chega a se encontrar com Alice, que logo o deixa sozinho. O nobre é atormentado por Nannetta, fantasiada de fada, que evoca seu séquito e começa a atormentar o fidalgo. Finalmente, os presentes se revelam e denunciam as culpas de Falstaff, que assume a derrota. Ford toma a filha pela mão e anuncia seu noivado com o Dr. Caius, aceitando fazer o mesmo com um casalzinho incógnito que lhe é apresentado por Alice. Descobre, para seu espanto, que Bardolfo estava disfarçado de Nannetta, e que o outro casal era formado pela filha e Fenton. Curva-se ao destino e abençoa os apaixonados, enquanto Falstaff puxa a fuga final, em que todos cantam a moral da história: “Tudo no mundo é burla”.



Estreia mundial

Primeira apresentação no Theatro

9 de fevereiro de 1893 no

Municipal de São Paulo

Teatro alla Scala de Milão

03 de outubro de 1916

Regente Edoardo Mascheroni

Regente Giuseppe Baroni

Victor Maurel (Sir John Falstaff), Emma

Giacomo Rimini (Sir John Falstaff), Rosa

Zilli (Alice Ford), Antonio Pini-Corsi (Ford),

Raisa (Alice Ford), Armand Crabbé (Ford),

Edoardo Garbin (Fenton), Giovanni Paroli

Tito Schipa (Fenton), Angelo Algos (Doutor

(Doutor Caius), Paolo Pelagelli-Rossetti

Caius), Sinay Maury (Bardolfo), Gaudio

(Bardolfo), Vittorio Arimondi (Pistola),

Mansueto (Pistola), Ninon Vallin-Pardo

Adelina Stehle (Nannetta), Virginia Guerrini

(Nannetta), Adelina Roessinger (Meg Page),

(Meg Page), Giuseppina Pasqua (Quickly)

Giuseppina Bertazzoli (Quickly)

Primeira apresentação no Brasil

Mais recente apresentação no

24 de agosto de 1893 no Teatro São José

Theatro Municipal de São Paulo

Regente Cleofonte Campanini

Abril de 2008

Antonio Scotti (Sir John Falstaff), Eva

Orquestra Sinfônica e Coro Lírico

Tetrazzini (Alice Ford), Achille Moro (Ford),

Municipal de São Paulo

Giuseppe Cremonini (Fenton), Roberto

Regente Rodolfo Fischer

Ramini (Doutor Caius), Carlo Vanni

Diretor Cênico José Possi Neto

(Bardolfo), Leopoldo Cromberg (Pistola),

Licio Bruno/Douglas Hahn (Sir John

Cesira Ferrani (Nannetta), Ida Rappini (Meg

Falstaff), Laura de Souza (Alice Ford),

Page), Maria Judice Costa (Quickly)

Leonardo Estévez (Ford), Marcos Paulo (Fenton), Paulo Queiróz (Doutor Caius), Sérgio Weintraub (Bardolfo), Pepes do Valle (Pistola), Flávia Fernandes (Nannetta), Edinéia de Oliveira (Meg Page), Regina Elena Mesquita (Quickly)


Falstaff de Giuseppe Verdi Irineu Franco Perpetuo

”Prefiro Shakespeare a todos os outros autores dramáticos, sem exceção dos gregos”, Verdi escreveu certa vez a Antonio Somma, que seria seu libretista em Un Ballo in Maschera. Naquela época (1853, o emblemático ano de estreia de Il Trovatore e La Traviata), o compositor se sentia algo em débito com o Bardo: o Macbeth, de 1847, embora bem-sucedido, chegou a receber críticas de que o compositor não entendera Shakespeare, e sofreria profundas revisões em 1865, enquanto Rei Lear (para o qual Somma chegou a ser convidado a escrever o libreto) ficaria como um projeto acalentado e jamais concretizado. O dramaturgo britânico seria, contudo, o principal foco Irineu Franco Perpetuo é jornalista e tradutor, colaborador do jornal Folha de S. Paulo, da Revista Concerto e correspondente no Brasil da revista Ópera Actual (Barcelona).

do período tardio de Verdi. Embora parecesse firmemente decidido a “pendurar as chuteiras” em 1871, depois de Aida, o compositor se sentiu estimulado a voltar a compor óperas depois de seu editor, Giulio Ricordi, convencê-lo a conhecer, em 1879, o vêneto Arrigo Boito (1842-1918). Representante do movimento artístico conhecido como

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Scapigliatura (do italiano scapigliato, cuja tradução literal seria “descabelado”), que planejava renovar a cultura italiana da segunda metade do século XIX por meio da absorção de influências estrangeiras, como a poesia de Baudelaire e a música de Wagner, Boito era também um compositor, cuja ópera Mefistofele é ainda hoje ocasionalmente apresentada. Seus principais talentos, contudo, eram de libretista. Como assinala William Weaver em Verdi and his Italian Librettists, “diferentemente da maioria dos outros libretistas de Verdi, Boito era um intelectual e, pelos padrões culturais italianos da época, um cosmopolita. Viajara (sua mãe era uma condessa polonesa) e conhecia línguas”. Com Verdi, ele compartilhava o amor por Shakespeare – que conhecia não no original inglês, mas graças à tradução francesa de François-Victor Hugo (filho do autor de Os Miseráveis). E acabou convencendo o compositor a trocar a aposentadoria pela adaptação de uma obra-prima shakespeariana. O resultado foi Otello, estreado com sucesso no alla Scala de Milão, em 1887. Intenso e sofisticado, Otello tinha tudo para ser o fecho de ouro de uma carreira gloriosa. Porém, em seguida, Boito apresentou ao compositor um projeto com vários ingredientes para seduzi-lo. Tratava-se de uma nova adaptação de Shakespeare. E, dessa vez, uma chance de acertar as contas com a comédia. Pois, embora houvesse episódios cômicos no Rigoletto e La Forza del Destino (cujo frade Melitone pode ser visto como uma espécie de ancestral verdiano de Falstaff), o compositor não escrevia uma comédia desde sua segunda ópera, Un Giorno di Regno (Um Dia de Reinado), de 1840 – seu único fracasso. Assim, depois dos habituais queixumes sobre a idade excessiva e o impacto sobre sua saúde física e mental que a composição de uma nova ópera poderia ter, Verdi se lançou ao trabalho. No final de 1890, aos 77 anos de idade, ele es-


creveu ao crítico Giulio Monaldi: “Quis escrever uma ópera cômica por 40 anos, e conheço As Alegres Comadres há 50; […] contudo, os habituais 'poréns' que estão em todo lugar sempre me impediram de satisfazer tal desejo. Agora Boito resolveu todos os 'poréns', e escreveu para mim uma comédia lírica que não tem nada a ver com nenhuma outra. Estou me divertindo ao escrever a música; sem nenhum tipo de plano, e nem sei se vou concluí-la”. O trabalho avançou, com Verdi envolvido, com o perfeccionismo de sempre, não apenas em todos os detalhes da composição, mas também da apresentação de sua nova obra. Depois de diversos ajustes, a estreia aconteceu no alla Scala de Milão, em 9 de fevereiro de 1893. Em 10 de outubro do mesmo ano, Verdi completaria seu 80º aniversário. Embora sua popularidade tenha ficado um pouquinho atrás com relação a blockbusters verdianos como La Traviata ou Aida, Falstaff foi saudada desde o início como uma obra-prima, a derradeira e suprema realização de um mestre da arte lírica.

A sabedoria cega por amor

Um dos mais célebres personagens shakespearianos, Sir John Falstaff aparece em nada menos do que três criações do Bardo: A História de Henrique IV, A Segunda Parte de Henrique IV e As Alegres Comadres de Windsor. E, embora não entre em cena, é mencionado ainda em A Vida de Henrique V. Fanfarrão, inescrupuloso e covarde, Falstaff surge nas peças históricas de Shakespeare como a “má companhia” que aparentemente está desencaminhando Hal, o príncipe herdeiro da Inglaterra – o qual, depois de ascender ao trono como Henrique V, repudia seu antigo companheiro de farras, em um gesto que simboliza sua mudança de temperamento e caráter. As Alegres Comadres de Windsor teria sido encenada para comemorar a condecoração, em 1597, de George Ca-

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rey, patrono da companhia de teatro de Shakespeare, com a Ordem da Jarreteira (Order of the Garter), a mais antiga ordem de cavalaria da Inglaterra – basta lembrar que um pedaço da peça (e da ópera) se passa na Taberna da Jarreteira (Garter Inn). Uma teoria mais divertida vem do século XVIII: As Alegres Comadres de Windsor teriam sido encomenda da Rainha Elizabeth I, desejosa de ver Falstaff enamorado. Trata-se da única comédia elisabetana de Shakespeare ambientada em Londres, com maior proporção de prosa com relação a verso do que em qualquer outra peça do autor, linguagem coloquial e alusões a fatos conhecidos do público de seu tempo. O argumento central, girando em torno das tentativas frustradas do protagonista em seduzir duas mulheres casadas, e o ciúme de um dos maridos, vem da tradição italiana, brotando possivelmente de Il Pecorone (O Bronco), coletânea de 50 novelas de Giovanni Fiorentino, escrita no século XIV, e publicada em 1558, que serviu como base também para O Mercador de Veneza. Shakespeare urde uma trama de nada menos que onze intrigas e contra-intrigas, muitas das quais simultâneas. E o personagem-título sofre uma significativa modificação com relação ao mentor das esbórnias de Henrique V. Embora haja a crença de que o dramaturgo possa ter se inspirado em um colega de pena contemporâneo, o escritor Robert Greene, de comportamento dissoluto, para criar o personagem, costuma-se ver como sua fonte principal uma figura histórica: John Oldcastle, líder do movimento político e religioso Lollard, que pedia reformas na Igreja. Amigo de Henrique V, foi perseguido por heresia, e executado em 1417. Shakespeare teria inicialmente batizado seu anti-heroi de John Oldcastle, porém, devido a queixas de um descendente dele, Lord Cobham, teria sido forçado a mudar o nome para Falstaff – dessa vez, em “homenagem” a outra personalidade histórica, Sir John Fastolf, líder militar da Guerra dos Cem Anos cuja reputação permanece manchada até hoje pelas


Croqui de

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acusações de covardia na derrota inglesa diante dos franceses comandados por Joana D'Arc na Batalha de Patay (1429). Em Shakespeare's Festive Comedy, Cesar Lombard Barber aponta para as características físicas essenciais de Falstaff: seu “microcosmo é guiado por um nariz vermelho 'que, como um farol, avisa todo o resto de seu pequeno reino, homens, às armas' (citação da segunda parte de Henrique IV)”. Já a barriga é a sua “insígnia de ofício”. Na opinião do estudioso, tais características associariam-no a Baco e ao “personagem de pantomima da Terça-Feira Gorda (Shrove Tuesday)”. Como consequência direta desse raciocínio, talvez não seja completamente descabido, no Brasil, ver Falstaff como uma espécie de Rei Momo. Em Shakespeare's Comedies, Bertrand Evans, por seu turno, enfatiza a metamorfose de um personagem que se, em Henrique IV, fora “abençoado acima de tudo com uma visão verdadeira de si mesmo”, aqui aparece em todo seu ridículo por ser sempre, literalmente, o último a saber de todas as intrigas da peça. Evans atribui tal mudança à legendária exigência da Rainha: “um pedido para mostrar Falstaff apaixonado era um pedido para vê-lo feito de bobo por outros”. Assim, “um homem maravilhosamente circunspecto, de grande sabedoria, que é exibido em momento de profundo desconhecimento, no fim só pode parecer bobo”. E Falstaff, “da estirpe de Rosalinda e Próspero” (ambos distinguidos pela astúcia: a primeira, em Como Gostais e, o segundo, em A Tempestade), vê-se condenado a “desempenhar o papel de Bottom” (personagem transformado em asno nos Sonhos de Uma Noite de Verão).

Como seria de se esperar, Verdi não foi o primeiro compo-

Um sorriso sábio

sitor a se encantar com o potencial operístico do persona-

para o mundo

gem shakespeariano. Rival (porém não assassino) de Mozart, Antonio Salieri (1750-1825) estreou seu Falstaff, ossia Le Tre


Burle (Falstaff, ou As Três Piadas) em Viena, em 1799, enquanto o irlandês Michael William Balfe teve seu Falstaff, em italiano, apresentado com êxito em Londres, em 1838. Hoje em dia, tais criações estão completamente fora do repertório, não constituindo mais do que curiosidades. A única outra adaptação da peça de Shakespeare que frequenta ocasionalmente os palcos de ópera é Die lustigen Weiber von Windsor, estreada em Berlim, em 1849, pelo alemão Otto Nicolai (1810-1849). Entre críticos e musicólogos, a partitura de Verdi, que começa com uma alusão à forma sonata na primeira cena do primeiro ato, e conclui com uma grande fuga na cena final, tem sido louvada como uma das maiores realizações do compositor. Inserindo a ópera na grande tradição cômica italiana de Cimarosa e Rossini, os estudiosos vêem nela, como talvez em nenhuma outra criação verdiana, a forte presença de autores da tradição austro-germânica. Assim, Charles Villiers Stanford, depois de ouvir a estreia da ópera, declarou Beethoven como sua influência principal: “o estudo de perto dos quartetos e sonatas para piano fez-se evidente em toda a parte; o compositor da 'Waldstein' é o ancestral dessa grande criação”. Em Kobbé – o Livro Completo da Ópera, o Conde de Harewood escreve que “há na escrita dos ensembles uma cintilação, uma rapidez de movimento, uma vivacidade expressiva e uma economia de meios que não se via desde Mozart”. E Julian Budden, em seu ambicioso estudo sobre as óperas de Verdi, destaca que “não apenas a orquestra de Falstaff é idêntica à de Meistersinger [a ópera cômica de Wagner], com um piccolo além de duas flautas e um terceiro trompete; como os primeiros atos de ambas as óperas terminam com um ensemble desenhado em linhas bastante similares”. Teríamos aqui então Verdi como um compositor que soube assimilar e digerir as influências estrangeiras, sem que

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sua linguagem perdesse o caráter individual ou “nacional”. Por isso, de uma perspectiva histórica, Massimo Mila afirma que, em Falstaff, Verdi “afinou e modernizou sua linguagem musical, permitindo-lhe levar a bom termo e por sua conta essa grande manobra histórica que foi o resgate da música italiana de seu estancamento no provincialismo e sua inserção na circulação da cultura europeia”. “Talvez o nível mais imediato de diferença entre Falstaff e todas as óperas anteriores de Verdi seja a tendência da música a responder ao elemento verbal do drama com um detalhamento sem precedentes. Em boa parte da partitura, especialmente nos grandes duetos e monólogos, o ouvinte é bombardeado com uma diversidade assombrosa de ritmos, texturas orquestrais, motivos melódicos e recursos harmônicos”, descreve Roger Parker, em seu artigo sobre Falstaff para The New Grove Book of Operas. Parker crê que essa “literalidade exagerada” poderia truncar uma ópera trágica, mas serve às maravilhas em uma cômica, para “preencher o espaço musical com uma variedade infinita de cores”. Com a imaginação criativa do compositor estimulada por novos aspectos que apenas um meio como a comédia poderia oferecer, a ópera, nas palavras do autor, “nos deixa com uma imagem musical que é o reflexo exato das famosas fotografias de Verdi nos últimos anos: um velho de cartola, com olhos que viveram uma vida de lutas, lançando um sorriso sábio na direção do mundo”.


Falstaff de William Shakespeare Barbara Heliodora

Falstaff, ou mais precisamente Sir John Falstaff, é uma das mais famosas criações de William Shakespeare. Harold Bloom, por exemplo, considera que ele e Hamlet são os principais personagens de toda a obra do poeta, o que sem dúvida é um pouco exagerado. Mas a história de Falstaff é em si tão interessante quanto a sua figura. Era parte da tradição o fato de o príncipe Hal, futuro Henrique V, ter tido uma juventude bastante desregrada, e se ter transformado quase que miraculosamente no momento em que herdou a coroa, para se tornar o mais perfeito rei-cavaleiro. A esse respeito há toda uma coleção de documentos, onde são encontrados os vários episódios que se tornaram parte do retrato geral que dele tinham os ingleses durante o reinado de Elizabeth I. Foi nos historiadores (então chamados cronistas) como Edward Hall (1497–1547) e Raphael Holinshed (1529–1580) Barbara Heliodora é tradutora,

que Shakespeare encontrou a base histórica para suas pe-

diretora e foi crítica teatral dos

ças Henrique IV, 1 e 2, onde nasce o personagem Falstaff. A

jornais O Globo e Jornal do Brasil.

não ser pela informação geral de suas pândegas juvenis, é

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no precário texto de uma peça chamada The Famous Victories of Henry V que Shakespeare encontra três companheiros identificados do jovem príncipe, sendo o mais importante chamado Sir John Oldcastle, mas que não era nem gordo e nem velho, e menos ainda espirituoso. Tanto o príncipe quanto o seu amigo são muito mais comprometidos com o crime, e Sir John estimula o príncipe em sua contínua ânsia pela coroa, que o faz não só desejar a morte do pai constantemente, como até mesmo chegar a só recuar no último momento, quando já está com a faca apontada para a garganta do rei, quando este está doente. O texto das Famous Victories parece ser o produto da memória de vários atores, que armaram essa única versão hoje conhecida para apresentar a peça, muito popular, pelo interior da Inglaterra, durante o longo período (1592-94) em que os teatros londrinos ficaram fechados por causa da epidemia de peste bubônica. Mas apesar dos defeitos, o texto contém, superficialmente, todo o enredo das duas peças de Shakespeare sobre Henrique IV. Nas mãos de Shakespeare o que aparece é uma versão indizivelmente aprimorada de uma mistura do vaidoso e covarde Miles Gloriosus − O Soldado Fanfarrão, de Titus Maccius Plautus (230 a.C. - 180 a.C.) − da comédia romana (e suas várias versões na commedia dell'arte), com os antigos personagens alegóricos do teatro medieval como o Vício e o Boas Companhias, típicos desencaminhadores de jovens. A essa mistura Shakespeare juntou o que conhecia das tavernas e do submundo londrino, seus hábitos e seu vocabulário, assim como tudo aquilo que sobre esse tipo de vida cantavam as mais populares baladas. Falstaff, que com sua costumeira falta de modéstia diz de si mesmo "eu sou não só espirituoso eu mesmo, mas a razão para que o espírito apareça em outros homens", e sem dúvida boa parte de sua capacidade para encantar vem de sua alegria, assim como de sua ocasional capacidade de rir de si mesmo e de ter consciência de seus erros e sua corrup-


ção. E seu sucesso foi imediato e absoluto; dentro de pouco tempo já houve, na corte, quem apelidasse o inimigo de Falstaff, e que o apelido pegasse, para desespero da vítima. Uma das eternas questões que marcam os estudos shakespeareanos é a de Shakespeare ter planejado desde o primeiro momento escrever duas peças sobre Henrique IV e o príncipe Hal, ou se só o sucesso da primeira o tenha levado a criar a segunda. Só falamos aqui desse problema porque, provavelmente, no final da segunda parte, Shakespeare teria de apresentar a cena em que o príncipe repudia o antigo companheiro de farras. Nela Falstaff aparece sob uma luz bem mais condenável e corrupta do que na primeira. Quando as duas peças sobre o rei Henrique IV foram escritas, o personagem se chamava Sir John Oldcastle, e foi talvez pelo fato de o gordo cavaleiro ter comportamento ainda mais vergonhoso nessa segunda parte que só depois de ela ter sido apresentada é que Henry Brooke, Lord Cobham, descendente de um histórico e heróico Sir John Oldcastle, reclamou contra o uso do nome para personagem tão desmoralizado. As devidas pressões foram usadas e Shakespeare mudou o nome de seu divertido mau-caráter para Sir John Falstaff, alusão ao nome do cavaleiro John Fastolf, de carreira brilhante e meritória, até a batalha de Patay, na França, da qual fugiu, ou pelo menos retirou sua tropa ao ver a situação totalmente perdida. Esse já tinha aparecido na obra de Shakespeare, na primeira parte de Henrique VI, onde é visto perdendo a Ordem da Jarreteira, como aconteceu na vida real, muito embora mais tarde ele tenha sido perdoado e tido o nome novamente honrado. Falstaff, seja qual for o nome pelo qual é tratado, virtualmente adquiriu vida própria, tamanha a sua popularidade. Nas duas peças que lhe deram fama, 1 e 2 Henrique IV, o soldado fanfarrão, sejam quais forem seus pecados ou crimes, tem em seu brilho e humor a justificativa para que o príncipe seja seu amigo e o proteja em seus freqüentes conflitos com

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a lei. E o sucesso, quando as peças foram apresentadas na corte, foi tamanho que vive até hoje a tradição de que foi a própria Rainha Elizabeth quem disse que gostaria de o ver apaixonado. Reza também a tradição que em duas semanas Shakespeare escreveu a comédia, que deveria ser apresentada na corte por ocasião de uma solenidade de concessão da Ordem da Jarreteira. Fora de seu universo de mau guerreiro e bom aproveitador, a verdade é que o Falstaff de As Alegres Comadres de Windsor pode ter seus encantos, mas não se iguala ao das duas peças originais, pois fica mais tolo e menos esperto. O que nos leva, então, à sua terceira encarnação, que é como o Falstaff de Arrigo Boito/Giuseppe Verdi. O libreto enxuga a ação, corta o segundo fracasso do gordo herói junto à esperta Sra. Ford, corta um dos pretendentes à mão de Anne (agora Nannetta), para fazer a trama caber nas dimensões e no tom de uma ópera alegre e tão espirituosa quanto o Falstaff original se gabava de levar os outros a serem. Verdi é manifestamente admirador de Shakespeare e, portanto, é bem possível e até provável que tenha partido dele a ideia de incluir, na trama de sua adaptação de As Comadres, uma das mais famosas falas de Falstaff em Henrique IV, sua fascinante dissertação sobre a inutilidade da honra, que o gordo e covarde cavaleiro vê como atributo geralmente restrito aos mortos, assim, nada desejável para um apaixonado apreciador da vida como ele. É claro que a fala adquire uma dimensão muito maior quando é dita no campo de batalha, aquele mesmo em que o gordo cavaleiro vai se fazer de morto e, passado o perigo, levantar-se e dar um golpe no Henry Hotspur que o príncipe matou, e se apresentar como sendo ele o responsável pela morte. Mas como os planos de Falstaff para conquistar as alegres, bem casadas e fieis comadres de Windsor, o desprezo pela honra não fica deslocado. Única obra de Shakespeare que se passa em um ambiente de classe média, As Alegres Comadres de Windsor

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mostra, mais do que qualquer outra, o quanto o poeta era um inglês de seu tempo, nascido ele mesmo em universo bem semelhante àquele que optou por apresentar na única obra que escreveu de encomenda para a corte, o que muito depõe a respeito de seu bom senso, de seu amor ao mundo humano que o cercava. Sir John pode ter a ilusão de poder fazer conquistas fáceis graças à sua superioridade social, para ser derrotado pelo juízo, o bom senso e também o senso de humor daqueles que se mostram perfeitamente capazes não só de enfrentá-lo mas até mesmo de se divertir à custa dele. Por sorte, a personalidade daquela figura que tanto sucesso alcançara nas peças históricas, tinha todas as fragilidades que, em Falstaff, libreto e música tão bem aproveitam. No Falstaff de Verdi o personagem de Shakespeare realmente tomou nova vida, sem dúvida também por estar amparado por música da mais alta qualidade; na ópera ele tem o brilho, o humor, que o tornaram tão famoso, muito embora seja fundamental lembrar que, por mais que ele deva à dupla Boito/Verdi, ainda assim é graças à criatividade de Shakespeare que ele existe, pois sua personalidade original é que seduziu Verdi, a ponto de se igualar a Macbeth ou Otelo como fonte de inspiração.


O Don Giovanni Trapalhão Luis Pellegrini

Quando Falstaff estreou no Teatro Scala de Milão, em 9 de fevereiro de 1893, foi acolhido com enorme sucesso e entusiasmo por um público que não podia acreditar no que acabara de ver e ouvir. A ópera era um milagre de frescor, de talento e sabedoria musical. Os críticos, que compareceram em massa, admiraram sobretudo a capacidade de recuperar o espírito da ópera buffa italiana, por um músico à beira dos oitenta anos e que tinha escrito, quase como um passatempo, uma das máximas obras primas de todos os tempos. O sucesso foi tamanho que, na plateia, ao final da representação, aconteceram verdadeiras situações de histeria popular: o compositor foi chamado ao palco 30 vezes e, à saída do teatro, a multidão desatou os cavalos da sua carruagem e a puxou até o Grand Hotel de Milão, sua residência. DeLuis Pellegrini é jornalista,

pois de 54 anos de presença contínua nos teatros de ópera

escritor, tradutor e diretor de

do mundo todo ele não poderia ter fechado o seu percurso

redação da revista Planeta.

artístico de um modo melhor e mais estrepitoso.

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Verdi tinha setenta e seis anos quando aceitou o convite do velho amigo compositor e libretista Arrigo Boito para compor uma ópera cômica desbragada, baseada em As Alegres Comadres de Windsor, de William Shakespeare. As hesitações e reticências foram muitas, quase totais. Mas Boito não desistiu e desencadeou uma verdadeira campanha de sedução até conseguir vencer a resistência do maestro que, até então, acreditava ter encerrado a carreira com o grande sucesso de sua ópera anterior, Otello, estreada no alla Scala em 5 de fevereiro de 1887. Uma carta de Boito, enviada a Verdi em 9 de julho de 1889, foi definitiva para convence-lo: “Só existe um modo de encerrar a carreira melhor que com Otelo: é fechá-la vitoriosamente com Falstaff. Depois de ter feito rebombar todos os gritos e lamentos do coração humano, sair de cena com uma imensa gargalhada hilária. A Terra vai estremecer!” No dia seguinte Verdi respondeu de forma breve e decidida: “Caro Boito, Amém; que assim seja!... Não pensarei mais nos obstáculos, na idade, nas doenças!” Obstáculos, idade avançada, doenças: seriam preocupações sinceras ou caprichos de artista? Nas imagens daquela época que restaram ele parece um velho vigoroso, de olhar vivo e penetrante, a coluna dorsal bem ereta e a expressão orgulhosa, cheia de vitalidade. O trabalho demolidor do tempo, no entanto, não poupara Verdi. O mundo a seu redor estava desabando; um a um, os velhos amigos partiam, levados pela idade ou pela doença. Em carta a um amigo, ele escreve: “E assim, um após o outro, todos estão partindo. De todos que conheci em Milão na minha juventude não sobrou quase ninguém. Dois ou três, no máximo”. Sua rotina de vida, nesses anos, reduzira-se a longas permanências para curas medicinais nas Termas de Montecatini, em companhia das veteranas sopranos Giuseppina Strepponi, sua esposa, e Teresa Stoltz, velha amiga. Durante o inverno ia a Gênova, hospedando-se no Palácio do


Príncipe, pertencente à família Doria Pamphili; no verão, permanecia em sua propriedade rural em Sant’Ágata. O que, realmente, o teria levado a renunciar à sua pacata e confortável rotina de músico aposentado para se dedicar de corpo e alma à composição de uma nova ópera, dificílima, genial, inovadora, repleta de uma juventude e vigor difíceis de serem encontrados até mesmo em autores muito jovens? A resposta está contida na própria obra, na metáfora que ela representa, na simbologia dos seus personagens e de tudo aquilo que eles fazem. Falstaff não é apenas um legado artístico de Giuseppe Verdi: é, sobretudo, o seu testamento anímico. A obra onde ele declara e deixa explícita a sua visão de mundo, tudo aquilo que ele percebeu e concluiu ao longo da sua larga e profícua existência. Falstaff é uma imensa e terrível tragédia que surge nas vestes de comédia buffa. Quem é Falstaff? Em cena, o personagem aparece como um fanfarrão de meia idade, gordo, desengonçado, aproveitador, mitômano, ególatra, de moralidade duvidosa, não exatamente maldoso ou cruel, mas capaz de provocar algum sofrimento nos outros. É um desses tipos primários, de ego inchado, com uma visão falsa a respeito de si mesmo, com pouca consciência de limites; sobretudo, como é destituído de visão do outro, tenta continuamente seduzir os outros – sobretudo as mulheres – para provar que existe e tem algum valor. Falstaff se parece com alguém que conhecemos, alguém com quem, hoje como sempre, cruzamos ao caminhar pelas ruas, ou sentado na mesa ao lado em nossos escritórios. Ele é o protótipo do homem comum, deseducado, frágil, solitário e perdido na voragem do seu próprio narcisismo barato. Um menino crescido que, apesar do peso dos anos e da gordura que o reveste, apesar do crânio seboso e quase pelado, permanece um menino em sua psique. Alguém que, muito mais que relho e chibata, precisaria de compreensão, ajuda e amparo.

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O que ele recebe, no entanto, está bem longe disso. Na trama da ópera, após cometer alguns desmandos típicos de pequeno delinquente, ele comete um erro fatal: tenta seduzir, ao mesmo tempo, duas mulheres espertalhonas. Sem saber que elas são amigas íntimas, manda para ambas a mesma carta de amor, sem mudar uma vírgula sequer. Apesar de serem casadas, as duas comadres recebem com entusiasmo aquela carta recheada de galanteios. Mas esse entusiasmo vira animosidade quando percebem que o Don Giovanni trapalhão mandou para ambas a mesma missiva. E decidem nele aplicar uma punição exemplar. Graças a seus estratagemas, desenvolvidos na trama da ópera, o sedutor vai parar dentro de uma arca cheia de roupa suja que é atirada, afinal, num esgoto que conduz a sujeira ao rio Tâmisa. Ele quase perde a vida nessa aventura. A punição seria mais que suficiente, mas assim não pensam as comadres vingadoras. Tomadas pelo prazer da vingança, decidem prosseguir na “lição” a Falstaff. Convencem a população inteira da aldeia a participar de uma encenação capaz de levar qualquer um ao manicômio. Trabalhando astutamente sobre a vaidade pueril do sedutor, marcam com ele um encontro amoroso no meio da noite escura, nas proximidades do cemitério. E quando Falstaff está lá, sozinho, à espera da amada, os aldeões começam a surgir a seu redor, fantasiados de bruxas, fantasmas, fadas e duendes, vampiros, mortos-vivos e demônios. O que era no início a fruição jocosa de um simples prazer de vingança, transforma-se num irrefreável delírio de crueldade coletiva. Aterrorizado e escondido no fundo de uma cova, Falstaff é agora apenas o bode expiatório de toda uma comunidade empenhada na catarse de seus próprios maus sentimentos. É Giuseppe Verdi que, ainda uma vez, escancara para nós a sua opinião sobre o mundo e o homem. Ninguém escapa ao delírio da crueldade, nem sequer o casal de jovens enamorados, Fenton e Nannetta, que durante a maior parte


da trama se mantém mais ou menos puros e alheios ao que está acontecendo. Mas após cantar uma das mais belas árias de amor de toda a história da ópera como gênero músico/ teatral (Dal labbro il canto estasiato vola), Fenton reúne-se à sua Nannetta e ambos, respectivamente fantasiados de fantasma e de fada, reúnem-se à turba para aterrorizar Falstaff nas imediações do cemitério. Para Verdi, todos, no fundo, em maior ou menor medida, são Falstaffs, sem exceção, irmanados na incapacidade de controlar os próprios sentimentos e pulsões. Nisso sua escolha difere daquela de William Shakespeare. Para o grande dramaturgo inglês, Sir John Falstaff não é de modo algum uma figura apenas cômica; não é somente um cavaleiro decadente da declinante Idade Média que, reduzido agora à figura patética de um anacronismo vivo, tenta conduzir uma existência de parasita à custa dos burgueses ingleses enriquecidos. O Falstaff shakespeariano é um filósofo dono de uma sabedoria trágica e consciente das incongruências da vida, da honra e das noções éticas convencionais. Um filósofo que, ao final, com ironia superior, percebe existir na loucura uma prerrogativa universal: “Tudo no mundo é burla, o homem nasceu enganador, no seu cérebro há mais safadeza que razão”. Foi sobretudo na condição da ambivalência do trágico e do cômico, dos limites flutuantes entre essas duas formas de gênero dramático que Verdi, nos seus anos de alta maturidade, se aproximou ainda mais de Shakespeare. Como para o bardo inglês, o caminho que Giuseppe Verdi teve de percorrer para adquirir tais conhecimentos foi muito duro e difícil, da mesma forma que foi duro e difícil o desenvolvimento do seu caminho criativo como artista. E, como todo artista de primeira grandeza, Verdi percebeu que a própria experiência da vida é o modo mais eficaz para se colher em profundidade a realidade humana com toda a sua trama de paixões. A sua extensa obra é, integral-

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mente, expressão de uma visão trágica do mundo, com todos os seus ápices luminosos e os seus abismos escuros. A glória e o horror sempre juntos, de braços dados. A excepcionalidade de Falstaff talvez resida na constante serenidade que paira sobre toda essa ópera, por mais inquietantes que sejam as situações descritas ao longo da trama. Mas trata-se de uma serenidade de oitava superior, nunca caracterizada por um otimismo rasteiro e despreocupado. Longe disso, uma serenidade que aparece como avesso do trágico, com o qual se liga indissoluvelmente, como o yin se liga ao yang, e vice versa, no taoísmo da China. Em Falstaff, Verdi exibe uma sorridente superioridade, um desejo quase explícito de explicar a vida como uma comédia e o sorriso como o último recurso do homem sábio.




Quatro perguntas para o diretor cênico Davide Livermore

Quais foram as suas

Não necessariamente, mas apesar de ser originalmente

escolhas nesta montagem?

ambientada no século 15, há margem para deslocar a ação

O libreto de Falstaff

para outro ponto no tempo. Um diretor cênico sensível e

permite especialmente

aberto a entender a partitura encontrará o Verdi leitor de

alguma flexibilidade ao

Shakespeare, apaixonado pela obra do Bardo. Neste caso,

diretor cênico?

o diretor deve agir como um tradutor da obra verdiana/ shakespeareana.

O que o público deve

Tentei me aproximar ao máximo do palco elisabetano. Creio

esperar dessa montagem

que, caso interferisse na leitura que Verdi faz de Shakespe-

inédita de Falstaff?

are com um excesso de subjetividade, com minhas interpretações, com muitos elementos cênicos, isso penalizaria a música. Já tinha essa preocupação quando montei Otello e considero necessário dar um espaço vazio à criação verdiana/shakespeareana para que ela aflore. Partindo dessa ideia, quis fazer um teatro dentro do Theatro.

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Você pode olhar alguns elementos do cenário/figurino e pen-

Quais as razões para

sar “esta é uma montagem punk de Falstaff”. Não é. É uma

deslocar a ação do

montagem inglesa de Falstaff. Há uma série de elementos de

século 15 para o século

diversos aspectos da cultura inglesa, que é riquíssima: old en-

20 e fazer uma série de

glish, punks, engravatados da City londrina. A cultura inglesa

referências à cultura pop

é incrível em uma série de aspectos, tem algumas linhas divi-

e underground? Qual foi

sórias borradas, tem humor. Ela é anarco-monarquista. Qual

o efeito almejado?

monarca celebraria seu 50° aniversário de reinado como a Elizabeth II fez, com o guitarrista do Queen, Brian May, tocando o Hino Inglês, em pé sobre o Palácio de Buckingham? Ou que participaria do show de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres como ela fez, com aquela montagem com o James Bond, na qual a Rainha chega ao estádio de paraquedas? Shakespeare conseguiu ver isso. Verdi também. Sim! Se posso dizer que tenho orgulho de ser conterrâneo

Então, esses elementos

de alguém, esse é Verdi. Assim como o Bardo, ele era um

estão já na obra de

homem aberto, com uma visão muito à frente de seu tempo,

Shakespeare e Verdi?

um sujeito totalmente internacional, que vivia independente das amarras impostas pela tradição, pelo espírito gregário. Infelizmente, sinto que hoje na Itália há algo que sufoca a criação artística, sempre numa tentativa de enquadrar as coisas dentro de critérios pré-definidos. Mais de 100 anos após sua morte, Verdi é uma luz que desfaz as trevas.


Giuseppe Verdi

Arrigo Boito

William Shakespeare

(1813-1901)

(1842-1918)

(1564-1616)


Teatro alla Scala de Mil茫o,

Edoardo Mascheroni,

local da estreia da

o regente da estreia

贸pera Falstaff

(1852-1941)


Cartaz da apresentação

Johann Heinrich Füssli

em Trieste com o

(1741-1825): Falstaff in

elenco original

the laundry bascket (1792)


Adolf Schrรถdter (1805-1875): Falstaff und sein Page (1841)


Shakespeare, Verdi e Falstaff

1564

Batismo de William Shakespeare no dia 26 de abril, na cidade de Stratford-upon-Avon, Inglaterra. A data de nascimento do bardo é desconhecida.

1597

Primeira aparição da personagem Falstaff na obra de William Shakespeare, na peça Henrique IV, parte 1. A personagem aparece também na segunda parte de Henrique IV, composta em 1599.

1602

Publicação de As Alegres Comadres de Windsor, peça de William Shakespeare que serviu de base para criação de Falstaff pelo libretista Arrigo Boito.

1813

Nascimento de Giuseppe Verdi no dia 10 de outubro, na cidade de Roncole, próximo a Parma, na Itália.

1842

Após a morte dos filhos, seguida da morte da primeira esposa, e do fracasso de público da ópera Un Giorno di Regno, Verdi entra em reclusão e resolve abandonar a carreira lírica. Com a insistência de Bartolomeo Merelli, empresário do Teatro alla Scala e amigo do compositor, ele decide voltar a escrever. Sua próxima ópera Nabucco, é um estrondoso sucesso. O coro Va, Pensiero, cantado pelos escravos hebreus, se torna um símbolo da ocupação austríaca da Itália, fazendo de Verdi um símbolo do Risorgimento.

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1842

Nascimento de Arrigo Boito no dia 24 de fevereiro, na cidade de Pádua, na Itália.

1881

Primeira colaboração entre Boito e Verdi: o libretista revisa Simon Boccanegra e a nova versão tem grande êxito.

1887

Estreia Otello, com libreto de Arrigo Boito, baseado na peça homônima de Shakespeare.

1893

Estreia Falstaff, última ópera de Verdi, com libreto de Arrigo Boito, baseado nas peças Henrique IV, parte 1 e 2, e As Alegres Comadres de Windsor de Shakespeare.

1901

Morre de Giuseppe Verdi, no dia 27 de janeiro, em sua suíte do Grand Hotel de Milão. Seu amigo, o regente Arturo Toscanini, organiza um coro com mais de 800 pessoas que entoa Va, Pensiero, em homenagem ao compositor.


Gravações de Referência

CDs

Regente Claudio Abbado

Meg Page Stella Doufexis

Falstaff Bryn Terfel

Dr. Caius Enrico Facini

Ford Thomas Hampson

Bardolfo Anthony Mee

Alice Ford Adrianne Pieczonka

Pistola Anatoly Kotcherga

Fenton Danill Shtoda Nannetta Dorothea Röschmann

Filarmônica de Berlim

Quickly Larissa Diadkova

Deutsche Grammophon

Regente Leonard Bernstein

Meg Page Hilde Rössl-Majdan

Falstaff Dietrich Fischer-Dieskau

Dr. Caius Gerhard Stolze

Ford Rolando Panerai

Bardolfo Murray Dickie

Alice Ford Ilva Ligabue

Pistola Erich Kunz

Fenton Juan Oncina Nannetta Graziella Sciutti

Filarmônica de Viena

Quickly Regina Resnik

CBS/Sony

Regente Herbert von Karajan

Meg Page Nan Merriman

Falstaff Tito Gobbi

Dr. Caius Tomaso Spataro

Ford Rolando Panerai

Bardolfo Renato Ercolani

Alice Ford Elisabeth Schwarzkopf

Pistola Nicola Zaccaria

Fenton Luigi Alva Nannetta Anna Moffo

Philharmonia Orchestra

Quickly Fedora Barbieri

EMI

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DVDs

Regente Carlo Maria Giulini

Meg Page Brenda Boozer

Diretor Cênico Ronald Eyre

Dr. Caius John Dobson

Falstaff Renato Bruson

Bardolfo Francis Egerton

Ford Leo Nucci

Pistola William Wilderman

Alice Ford Katia Ricciarelli Fenton Dalmacio González

Orchestra and Chorus of the Royal

Nannetta Barbara Hendricks

Opera House Covent Garden

Quickly Lucia Valentini-Terrani

Warner Classics

Regente Daniele Gatti

Meg Page Judith Schmid

Diretor Cênico Sven-Eric Bechtolf

Dr. Caius Peter Straka

Falstaff Ambrogio Maestri

Bardolfo Martin Zysset

Ford Massimo Cavalletti

Pistola Davide Fersini

BLU-RAY

Alice Ford Barbara Frittoli Fenton Javier Camarena

Orchester der Oper Zürich & Chor

Nannetta Eva Liebau

der Oper Zürich

Quickly Yvonne Naef

C Major


LIBRETO Falstaff A ação original ocorre em Windsor, Inglaterra, no reinado de Henrique IV, no início do século 15.

Ato I Primeira Cena Atto I Scena Prima

Dr. Cajus

Falstaff

Dr. Cajus

Bardolfo

Dr. Cajus

Falstaff

Dr. Cajus

Interior da taverna da

L'interno dell'Osteria della

Jarreteira. Uma mesa, uma grande

Giarrettiera. Una tavola, un gran

poltrona, um banco. Sobre a mesa,

seggiolone, una panca. Sulla tavola i

os restos de uma grande refeição,

resti di un gran desinare, parecchie

muitas garrafas e um copo. Tinteiro,

bottiglie e un bicchiere. Calamaio,

penas, papel, uma vela acesa. Uma

penne, carta, una candela accesa.

vassoura apoiada na parede. Saída

Una scopa appoggiata al muro.

ao fundo, porta à esquerda.

Uscio nel fondo, porta a sinistra.

(entrando ameaçador)

(entrando minaccioso)

Falstaff!

Falstaff!

(sem atentar para as vociferações

(senza abbadare alle vociferazioni

do Dr. Caius, chama o taverneiro

del Dr. Cajus, chiama l'Oste che si

que se aproxima)

avvicina)

Olá!

Olà!

(mais alto do que antes)

(più forte di prima)

Sir John Falstaff!

Sir John Falstaff!

(para o Dr. Caius)

(al Dr. Cajus)

Oh! O que te deu?

Oh! che vi piglia?

(sempre vociferando e

(sempre vociando e

aproximando-se de Falstaff, que não

avvicinandosi a Falstaff, che non gli

lhe dá atenção)

dà retta)

Você bateu nos meus servos!…

Hai battuto i miei servi!...

(ao taverneiro, que sai para atender

(all'Oste, che esce per eseguire

o pedido)

l'ordine)

Taverneiro!

Oste!

outra garrafa de xerez!

un'altra bottiglia di Xeres.

(como acima)

(come sopra)

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Falstaff

Dr. Cajus

Falstaff

Dr. Cajus

Falstaff

Dr. Cajus

Falstaff

Dr. Cajus

Você destroçou minha jumenta baia,

Hai fiaccata la mia giumenta baia,

arrombou minha casa...

sforzata la mia casa.

(com fleuma)

(con flemma)

Mas não a sua empregada.

Ma non la tua massaia

Quanta graça!

Troppa grazia!

Uma velha remelenta.

Una vecchia cisposa.

Grão-Mestre, mesmo se fosse vinte

Ampio Messere, se foste venti

vezes

volte

John Falstaff Cavaleiro,

John Falstaff Cavaliere

eu o forçaria a responder-me.

vi sforzerò a rispondermi

Eis a minha resposta:

Ecco la mia risposta:

fiz aquilo que você disse.

ho fatto ciò che hai detto.

E então?

E poi?

E o fiz de propósito.

L'ho fatto apposta.

(gritando)

(gridando)

Apelarei ao Conselho Real.

M'appellerò al Consiglio Real.

Vá com Deus. Fique calado

Vatti con Dio. Sta zitto

ou zombarão de você;

o avrai le beffe;

esse é o meu conselho.

quest'è il consiglio mio.

(retomando a fúria contra Bardolfo)

(ripigliando la sfuriata contro Bardolfo)

Não terminei!

Non é finita!

Vá para o diabo!

Al diavolo!

Dr. Cajus

Bardolfo!

Bardolfo!

Bardolfo

Senhor Doutor.

Ser Dottore.

Dr. Cajus

(sempre com tom ameaçador)

(sempre con tono minaccioso)

Você, ontem, me fez beber.

Tu, ier, m'hai fatto bere.

(Dá o pulso para o Dr. Caius tomar)

(Si fa tastare il polso dal Dr. Cajus)

Falstaff

Bardolfo


Infelizmente! E que dor!...

Pur troppo! e che dolore!...

Estou mal. Dê-me um prognóstico seu.

Sto mal. D'un tuo pronostico m'assisti.

Meu intestino está arruinado.

Ho l'intestino Guasto.

Malditos os taverneiros

Malanno agli osti

que põem cal no vinho!

che dan la calce al vino!

(metendo o indicador sobre o próprio

(mettendo l'indice sul proprio naso

nariz, enorme e avermelhado)

enorme e rubicondo)

Está vendo este meteoro?

Vedi questa meteora?

Dr. Cajus

Estou vendo.

La vedo.

Bardolfo

Ele fica vermelho assim toda noite.

Essa si corca rossa così ogni notte.

Dr. Cajus

Bardolfo

Dr. Cajus

Falstaff

Pistola

Falstaff

(descontrolando-se)

(scoppiando)

Prognóstico de forca!

Pronostico di forca!

Você me fez beber, malandro, com ele...

M'hai fatto ber, furfante, con lui...

(apontando para Pistola)

(indicando Pistola)

...narrando bobagens;

...narrando frasche;

depois, quando fiquei bem bêbado,

poi, quando fui ben ciùschero,

você me esvaziou os bolsos.

m'hai vuotato le tasche.

(com decoro)

(con decoro)

Eu não.

Non io.

Quem foi?

Chi fu?

(chamando)

(chiamando)

Pistola!

Pistola!

(avançando)

(avanzandosi)

Patrão.

Padrone.

(sempre sentado na poltrona

(sempre seduto sul seggiolone

e com fleuma)

e con flemma)

Você esvaziou os bolsos desse

Hai tu vuotate le tasche a quel

Senhor?

Messere?

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Dr. Cajus

Pistola

Dr. Cajus

Pistola

Dr. Cajus

Pistola

Dr. Cajus

Pistola

Dr. Cajus

Pistola

Dr. Cajus

(enfurecendo-se com Pistola)

(scattando contro Pistola)

Claro que foi ele. Vejam.

Certo fu lui. Guardate.

Como se prende à negação

Come s'atteggia al niego

esse focinho de mentiroso!

quel ceffo da bugiardo!

(esvaziando um bolso

(vuotando una tasca del

do gibão)

farsetto)

Aqui havia dois xelins

Qui c'eran due scellini

do reino de Eduardo

del regno d'Edoardo

e seis meias-coroas.

E sei mezze-corone.

Não ficou nem sinal.

Non ne riman più segno.

(para Falstaff, brandindo

(a Falstaff, dignitosamente

dignamente a vassoura)

brandendo la scopa)

Patrão, peço que me bata

Padron, chiedo di battermi

com esta arma de madeira.

con quest'arma di legno.

(para o Dr. Caius com força)

(al Dr. Cajus con forza)

Desminto você!

Vi smentisco!

Caipira! Está falando com um

Bifolco! tu parli a un

cavalheiro!

gentiluomo!

Tolo!

Gonzo!

Pedinte!

Pezzente!

Besta!

Bestia!

Cachorro!

Can!

Vil!

Vil!

Espantalho!

Spauracchio!

Gnomo!

Gnomo!

Broto de mandrágora!

Germoglio di mandragora!


Pistola

Quem?

Chi?

Você!

Tu.

Repita!

Ripeti!

Sim.

Si.

Pistola

Moleques!!!

Saette!!!

Falstaff

(a um sinal de Falstaff, Pistola

(al cenno di Falstaff, Pistola

contém-se)

si frena)

Opa! Pistola!

Ehi là! Pistola!

Não vá se descarregar aqui!

Non scaricarti qui!

Dr. Cajus

Pistola

Dr. Cajus

Dr. Cajus

Bardolfo

Falstaff

(chamando Bardolfo, que se

(chiamando Bardolfo che

aproxima)

s'avvicina)

Bardolfo!

Bardolfo!

Quem esvaziou os bolsos daquele

Chi ha vuotato le tasche a quel

Senhor?

Messere?

(repentino)

(subito)

Foi um dos dois!

Fu l'un dei due.

(com serenidade, apontando para o

(con serenità, indicando il

Dr. Caius)

Dr. Cajus)

Ele bebeu, e depois de muito beber

Costui beve, poi pel gran bere

perdeu seus cinco sentidos,

Perde i suoi cinque sensi,

e então nos contou uma fábula

poi ti narra una favola

com que sonhou enquanto

Ch'egli ha sognato mentre

dormia sob a mesa.

dormì sotto la tavola.

(para o Dr. Caius)

(al Dr. Cajus)

Está ouvindo?

L'odi?

Se compreender, terá certeza da

Se ti capaciti, del ver tu sei

verdade.

sicuro.

Os fatos estão negados.

I fatti son negati.

Vá em paz.

Vattene in pace.

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Dr. Cajus

Bardolfo

Pistola

Falstaff

Juro que se voltar a me embebedar

Giuro che se mai mi ubbriaco

na taverna,

ancora all'osteria

será entre gente honesta,

Sarà fra gente onesta,

sóbria, civilizada e piedosa.

sobria, civile e pia.

(Sai pela porta da esquerda)

(Esce dalla porta di sinistra)

(acompanhando comicamente

(accompagnando buffonescamente

até a saída do Dr. Caius,

fino all'uscio il Dr. Cajus e

salmodiando)

salmodiando)

Amém!

Amen.

Pare com a antífona. Gritam em

Cessi l'antifona. Le urlate in

contratempo.

contrattempo.

A arte está nesta máxima:

L'arte sta in questa massima:

"Roubar com garbo e na hora certa".

Bardolfo

"Rubar con garbo e a tempo".

Vocês são artistas rudes.

Siete dei rozzi artisti.

Pistola

A…!

A...!

Falstaff

(põe-se a examinar a conta que

(si mette ad esaminare il conto che

o taverneiro trouxe junto à

l'Oste avrà portato insieme alla

garrafa de xerez)

bottiglia di Xeres)

Seis frangos: seis xelins;

Sei polli: sei scellini,

trinta jarras de xerez: duas liras;

trenta giarre di Xeres: due lire;

três perus...

tre tacchini...

(para Bardolfo, jogando-lhe a bolsa)

(a Bardolfo gettandogli la borsa)

Procure na minha bolsa.

Fruga nella mia borsa.

Dois faisões, uma anchova...

Due fagiani, un'acciuga.

(extrai da bolsa as moedas

(estrae dalla borsa le monete

e as conta sobre a mesa)

e le conta sul tavolo)

Um mark, um mark, um penny.

Un mark, un mark, un penny.

Falstaff

Procure.

Fruga.

Bardolfo

Procurei.

Ho frugato.

Bardolfo


Falstaff

Bardolfo

Falstaff

Pistola

Bardolfo

Procure!

Fruga!

(jogando a bolsa sobre a mesa)

(gettando la borsa sul tavolo)

Aqui não tem mais nenhum troco.

Qui non c'è più uno spicciolo.

(levantando-se)

(alzandosi)

Você é a minha perdição!

Sei la mia distruzione!

Gasto a cada sete dias dez

Spendo ogni sette giorni dieci

guinéus!

ghinee!

Beberrão!

Beone!

Sei que se vamos, à noite,

So che se andiam, la notte,

de taverna em taverna,

di taverna in taverna,

esse seu nariz ardente

Quel tuo naso ardentissimo

me serve de lanterna!

mi serve da lanterna!

Mas essa economia de óleo,

Ma quel risparmio d'olio

você a consome em vinho.

tu lo consumi in vino.

(com fleuma)

(con flemma)

Há trinta anos que rego

Son trent'anni che abbevero

esse fungo púrpura!

quel fungo porporino!

Você custa demais.

Costi troppo.

(para Pistola)

(a Pistola)

E você também.

E tu pure.

Taverneiro! Outra garrafa.

Oste! un'altra bottiglia.

Vocês destroem minhas carnes!

Mi struggete le carni!

Se Falstaff emagrecer,

Se Falstaff s'assottiglia

não seria mais ele, ninguém o amaria;

Non è più lui, nessuno più l'ama;

neste abdome

in quest'addome

há milhares de línguas que

C'è un migliaio di lingue che

anunciam

annunciano

o meu nome!

il mio nome!

(aclamando)

(acclamando)

Imenso Falstaff!

Falstaff immenso!

(como acima)

(come sopra)

Falstaff enorme!

Enorme Falstaff!

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Falstaff

(olhando-se e tocando seu abdome)

(guardandosi e toccandosi l'addome)

Este é o meu reino. Eu o engrandecerei.

Questo è il mio regno. Lo ingrandirò

Pistola

Imenso Falstaff!

Falstaff immenso!

Bardolfo

Falstaff enorme!

Enorme Falstaff!

Mas é hora de aguçar o engenho.

Ma é tempo d'assottigliar l'ingegno.

Agucemos!

Assottigliam.

Falstaff

Bardolfo Pistola

Falstaff

Conheceram um tal, daqui da aldeia,

V'è noto un tal, qui del paese

cujo nome é Ford?

che ha nome Ford?

Bardolfo

Sim.

Si.

Pistola

Sim.

Si.

Falstaff

Aquele homem é um grande

Quell'uomo é un gran

burguês...

borghese...

Mais liberal do que um Creso.

Più liberal d'un Creso.

É um Lord!

È un Lord!

Falstaff

Sua mulher é bela.

Sua moglie é bella.

Pistola

E cuida do cofre.

E tien lo scrigno.

Falstaff

É ela! Oh, amor! Olhar de estrela!

È quella! O amor! Sguardo di stella!

Pescoço de cisne! E o lábio?

Collo di cigno! e il labbro?

Pistola

Bardolfo

Uma flor! Uma flor que ri.

Un fior. Un fior che ride.

Alice é seu nome,

Alice é il nome,

e um dia, ao me ver passar

e un giorno come passa mi vide

por suas paragens, riu.

Ne'suoi paraggi, rise.

Me ardeu a inspiração apaixonada

M'ardea l'estro amatorio

no coração. A Deusa lançava

Nel cor. La Dea vibrava

raios de espelho ustório...

raggi di specchio ustorio.

(apavonando-se)

(pavoneggiandosi)


sobre mim, sobre o valente flanco,

Su me, su me, sul fianco baldo,

sobre o tórax grande,

sul gran torace,

sobre o pé masculino,

Sul maschio pie',

sobre o robusto torso, escarpado,

sul fusto saldo, erto,

capaz;

capace;

e o seu desejo nela refulgia, tanto,

E il suo desir in lei fulgea sì

ao estar perto de mim,

al mio congiunto

que parecia dizer: "Eu sou do Sir John Falstaff".

Bardolfo

Che parea dir: "Io son di Sir John Falstaff".

Ponto.

Punto.

(continuando a fala de Bardolfo)

(continuando la parola di Bardolfo)

Parágrafo. Uma outra...

e a capo. Un'altra;

Bardolfo Pistola

Uma outra?

Un'altra?

Falstaff

...uma outra,

... un'altra,

e esta tem como nome Margarida.

e questa ha nome Margherita.

Pistola

Chamam-na de Meg.

La chiaman Meg.

Falstaff

E ela também está atraída por meu

È anch'essa dei miei pregi

prestígio.

invaghita.

E ela também tem as chaves do

E anch'essa tien le chiavi dello

cofre.

scrigno.

Essas serão as minhas Giocondas

Costoro saran le mie Gioconde

e a minha Costa Dourada!

e le mie Coste d'oro!

Olhem: sou ainda

Guardate. Io sono ancora

Falstaff

um agradável verão

una piacente estate

de San Martino.

Di San Martino.

Para vocês, duas cartas ardentes.

A voi, due lettere infuocate.

(Dá a Bardolfo uma das duas cartas

(Dà a Bardolfo una delle due lettere

que ficaram sobre a mesa)

che sono rimaste sul tavolo)

Você leva isto para Meg;

Tu porta questa a Meg;

tentemos a sua virtude.

tentiam la sua virtù.

(Bardolfo pega a carta)

(Bardolfo prende la lettera)

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 48


Pistola

Falstaff

Bardolfo

Falstaff

Bardolfo

Falstaff

Já estou vendo que seu nariz arde

Già vedo che il tuo naso arde

de ciúmes.

di zelo.

(a Pistola, oferecendo a outra carta)

(a Pistola, porgendogli l'altra lettera)

E você leva esta para Alice.

E tu porta questa ad Alice.

(recusando com dignidade)

(ricusando con dignità)

Levo uma espada no flanco.

Porto una spada al fianco.

Não sou um alcoviteiro.

Non sono un Messer Pandarus.

Me recuso.

Ricuso.

(com calma desdenhosa)

(con calma sprezzante)

Saltimbanco.

Saltimbanco.

(avançando e jogando a carta

(avanzandosi e gettando la lettera

sobre a mesa)

sul tavolo)

Sir John, nesta intriga

Sir John, in quest'intrigo

não posso lhe ser condescendente.

non posso accondiscendervi.

Me impede...

Lo vieta...

(interrompendo-o)

(interrompendolo)

Quem?

Chi?

A honra.

L'Onore

(vendo o pajem Robin que

(vedendo il paggio Robin che

entra pelo fundo)

entra dal fondo)

Ei! Pajem!

Ehi! paggio!

(prontamente para Bardolfo e Pistola)

(poi subito a Bardolfo e Pistola)

Podem ir para a forca. Mas não

Andate a impendervi. Ma non più

comigo.

a me.

(para o pajem que sairá correndo

(al paggio che uscirà correndo

com as cartas)

con le lettere)

Duas cartas, tome, para duas

Due lettere, prendi, per due

senhoras.

signore.


Entregue logo, corra, rápido, vá!

Consegna tosto, corri, lesto, va!

(virado para Pistola e Bardolfo)

(rivolto a Pistola e Bardolfo)

A honra! Ladrões!

L'Onore! Ladri!

Vocês estão ligados à sua honra,

Voi state ligi all'onor vostro,

vocês!

voi!

Cloacas de ignomínia,

Cloache d'ignominia,

quando, nem sempre, nós

quando, non sempre, noi

podemos estar ligados à nossa.

Possiam star ligi al nostro.

Eu mesmo, sim, eu, eu,

Io stesso, sì, io, io,

devo às vezes colocar de lado

Devo talor da un lato

o temor a Deus

porre il timor di Dio

e, por necessidade, desviar a honra,

E, per necessità, sviar l'onore,

usar

usare

estratagemas e equívocos,

Stratagemmi ed equivoci,

manobrar, bordejar.

Destreggiar, bordeggiare.

E vocês, com seus trapos,

E voi, coi vostri cenci

com o olhar torto

e coll'occhiata torta

de leopardo e gargalhadas fétidas,

Da gattopardo e i fetidi sghignazzi

têm como escolta

avete a scorta

a sua honra! Que honra?

Il vostro Onor! Che onore?!

Que honra? Que honra! Conversa

che onor? che onor! che

fiada!

ciancia!

Que gozação!

Che baia!

A honra pode encher sua pança?

Può l'onore riempirvi la pancia?

Não. A honra pode reparar suas

No. Può l'onor rimettervi uno

canelas?

stinco?

Não pode.

Non può.

E um pé? Não. E um dedo?

Nè un piede? No. Nè un dito?

E um cabelo? Não.

Nè un capello? No.

A honra não é cirurgião.

L'onor non é chirurgo.

O que é então? Uma palavra.

Che é dunque? Una parola.

O que há nesta palavra?

Che c'è in questa parola?

Há ar, que voa.

C'è dell'aria che vola.

Bela construção!

Bel costrutto!

A honra, pode senti-la quem está

L'onore lo può sentire chi é

morto?

morto?

Não. Vive somente com os vivos?...

No. Vive sol coi vivi?...

Tampouco: pois de qualquer maneira

Neppure: perchè a torto

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 50


incham-no as lisonjas,

Lo gonfian le lusinghe,

corrompe-o o orgulho,

lo corrompe l'orgoglio,

contaminam-no as calúnias;

L'ammorban le calunnie;

e isto para mim não quero!

e per me non ne voglio!

Mas, para voltar a vocês, tratantes,

Ma, per tornare a voi, furfanti,

esperei demais.

ho atteso troppo.

E os expulso.

E vi discaccio.

(Pega a vassoura com as mãos e

(Prende in mano la scopa e

persegue Bardolfo e Pistola, que

insegue Bardolfo e Pistola che

evitam os golpes correndo daqui

scansano i colpi correndo qua

para lá)

e là)

Olá! Rápido! Rápido!

Olà! Lesti! Lesti!

A galope! A galope!

Al galoppo! A galoppo!

O cabestro cai muito bem em vocês!

Il capestro assai bene vi sta.

Ladrões! Saiam! Saiam daqui!

Ladri! Via! Via di qua!

Saiam daqui! Saiam daqui!

Via di qua! Via di qua!

(Bardolfo foge pela porta da

(Bardolfo fugge dalla porta a sinistra.

esquerda. Pistola pela porta do

Pistola dalla porta del fondo, non

fundo, não sem levar alguns golpes

senza essersi buscato qualche colpo

de vassoura, e Falstaff o persegue)

di granata, e Falstaff lo insegue)

Segunda Cena

(Jardim. À esquerda, a casa de

(Giardino. A sinistra la casa di

Scena Seconda

Ford. Grupos de árvores no centro

Ford. Gruppi d'alberi nel centro

da cena. Alice, Nannetta, Meg, Mrs.

della scena. Alice, Nannetta, Meg,

Quickly e depois Mr. Ford, Fenton,

Mrs. Quickly, poi Mr. Ford, Fenton,

Dr. Caius, Bardolfo, Pistola. Meg e

Dr. Cajus, Bardolfo, Pistola. Meg e

Mrs. Quickly à direita. Caminham

Mrs. Quickly da destra. S'avviano

Meg

Alice

rumo à casa de Ford e encontram-se

verso la casa di Ford e sulla soglia si

com Alice e Nannetta, que estão de

imbattono in Alice e Nannetta che

saída, à soleira)

stanno per uscire)

(saudando)

(salutando)

Alice!

Alice.

(como acima)

(come sopra)

Meg!

Meg


Meg

Alice

Quickly

Alice

Meg

Quickly

Nannetta

(saudando)

(salutando)

Nannetta!

Nannetta.

(para Meg)

(a Meg)

Estava mesmo saindo. Para rir com

Escivo appunto. Per ridere con

você.

te.

(para Mrs. Quickly)

(a Mrs. Quickly)

Bom dia, comadre.

Buon dì, comare.

Deus lhe dê alegria.

Dio vi doni allegria.

(acariciando a bochecha de

(accarezzando la guancia di

Nannetta)

Nannetta)

Botão de rosa!

Botton di rosa!

(ainda para Meg)

(ancora a Meg)

Chegou num bom momento.

Giungi in buon punto.

Aconteceu-me um fato

M'accade un fatto da

inacreditável.

trasecolare.

A mim também.

Anche a me.

(aproximando-se com

(avvicinadosi con

curiosidade)

curiosità)

O quê?

Che?

(aproximando-se)

(avvicinandosi)

O que foi?

Che cosa?

(para Meg)

(a Meg)

Conte seu caso.

Narra il tuo caso.

Conte o seu.

Narra il tuo.

Conte, conte!

Narra! Narra!

Alice

Prometa não fazer fofoca.

Promessa di non ciarlar.

Meg

Imagine!

Ti pare?

Alice

Meg

Nannetta Quickly

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 52


Quickly

Alice

Ora essa! Imagine!

Oibò! Vi pare?

Então: se eu me enfeitasse para

Dunque: se m'acconciassi a entrar

entrar nos

ne' rei

reais propósitos do diabo, seria

Propositi del diavolo, sarei

promovida

Promossa

ao grau de Cavaleira!

al grado si Cavalleressa!

Meg

Eu também.

Anch'io

Alice

Está brincando.

Motteggi.

Meg

(procura no bolso, tira uma carta)

(cerca in tasca, estrae una lettera)

Alice

Nannetta Quickly

Alice

Meg

Chega de palavras,

Non più parole,

estamos desperdiçando a luz do sol.

Ché qui sciupiamo la luce del sole.

Tenho uma carta.

Ho una lettera.

(procura no bolso)

(cerca in tasca)

Eu também.

Anch'io.

Oh!

Oh!

(dá a carta a Meg)

(dà la lettera a Meg)

Leia.

Leggi.

(dá a sua a Alice)

(scambia quella di Alice)

Leia.

Leggi.

(lendo a carta de Alice)

(leggendo la lettera di Alice)

“Fúlgida Alice! amor lhe ofereço...” Mas como?

Alice

Meg

"Fulgida Alice! amor t'offro..." ...Ma come?

O que está dizendo?

Che cosa dice?

Salvo o nome,

Salvo che il nome

a frase é igual.

La frase é uguale.

(lendo a carta de Meg)

(ripete la lettera di Meg)

"Fúlgida Meg, amor lhe ofereço..."

"Fulgida Meg, amor t'offro..."

"...amor desejo."

"...amor bramo."


Alice

Aqui “Meg”, lá “Alice”.

Qua "Meg", là "Alice"

Meg

É tal e qual,

È tal e quale,

Alice

Meg

"Não pergunte por quê, mas me diga:..."

"Non domandar perchè, ma dimmi..."

"...amo você."

"...t'amo"

Mas nunca lhe dei razão.

Pur non gli offersi cagion.

O nosso caso é mesmo estranho.

Il nostro caso é pur strano.

(todas em grupo ao redor das

(tutte in un gruppo addosso alle

cartas, confrontando-as e

lettere, confrontandole e

manejando-as com curiosidade)

maneggiandole con curiosità)

Vamos olhar com calma.

Guardiam con flemma.

Meg

Os mesmos versos.

Gli stessi versi.

Alice

A mesma tinta.

Lo stesso inchiostro.

Quickly

A mesma mão.

La stessa mano.

O mesmo brasão.

Lo stesso stemma.

(lendo juntas, cada uma sua

(leggendo insieme ciascuna sulla

Quickly

Nannetta

Alice Meg

própria carta) "Você é a alegre comadre,

Alice

Nannetta

Quickly

Alice

propria lettera) "Sei la gaia comare,

o compadre alegre sou eu,

il compar gaio "son io,

e aqui entre nós dois formamos um

e fra noi due facciamo il

par."

paio."

É.

Già.

Ele, ela, você.

Lui, lei, te.

Um par de três.

Un paio in tre.

“Formamos um par em um amor risonho” “de uma bela mulher e um homem..."

"Facciamo il paio in un amor ridente" "di donna bella e d'uom..."

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 54


Todas Tutte

Alice

Todas Tutte

Alice

"... vistoso..."

"...appariscente..."

"Mas o seu rosto sobre mim

"Ma il viso tuo su me

resplandecerá

risplenderà

como uma estrela sobre a imensidão."

Come una stella sull'immensità."

(rindo)

(ridendo)

Ha, ha, ha, ha, ha, ha, ha, ha!

Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!

"Responda ao seu escudeiro,

"Rispondi al tuo scudiere,

John Falstaff Cavaleiro."

John Falstaff Cavaliere."

Quickly

Monstro!

Mostro!

Meg Nannetta Alice

Monstro!

Monstruo!

Devemos enganá-lo.

Dobbiam gabbarlo.

E fazer um estardalhaço.

E farne chiasso.

E expô-lo ao ridículo.

E metterlo in burletta.

Oh, oh! Que divertido!

Oh! Oh! che spasso!

Que alegria!

Che allegria!

Meg

Que vingança!

Che vendetta!

Alice

Aquele odre, aquela tina!

Quell'otre, quel tino!

Alice

Nannetta

Alice

Nannetta

Quickly

Aquele Rei das panças,

Quel Re delle pance,

e que ainda tem a conversa fiada

Ci ha ancora le ciance

de um belo galanteador.

Del bel vagheggino.

E o óleo pinga

E l'olio gli sgocciola

da sua gordura sebosa

Dall'adipe unticcio

e ele ainda recita

E ancor ei ne snocciola

versos e jogos de palavras!

La strofa e il bisticcio!

Deixemos que ele desembuche

Lasciam ch'ei le pronte

suas frases feitas;

Sue ciarle ne spifferi;

fará como os pífaros

Farà come i pifferi

que descem da montanha.

Che sceser dal monte.


Meg

Nannetta

Quickly

Vocês verão que, se eu enganar

Vedrai che, se abbindolo

aquele compadre gordo,

Quel grosso compar,

mais rápido do que um moinho

Più lesto d'un guindolo

o farei girar.

Lo faccio girar.

Aquele homem é um canhão!

Quell'uomo é un cannone!

Se dispara, a nós é que lança!

Se scoppia, ci spaccia.

Aquele lá, se abraçá-la,

Colui, se l'abbraccia,

derrota a sua Juno.

Ti schiaccia Giunone.

Mas certamente se derrete

Ma certo si spappola.

aquele monstro a um aceno seu,

Quel mostro a tuo cenno

e corre para a armadilha

E corre alla trappola

e perde o juízo.

E perde il suo senno.

O poder de um frágil

Potenza di un fragile

sorriso de mulher!

Sorriso di donna!

A ciência de um ágil

Scienza d'un agile

movimento de saia!

Movenza di gonna!

Se ele morder a isca,

Se il vischio lo impegola

o ouviremos estrilar,

Lo udremo strillar,

e então o seu desejo

E allor la sua fregola

veremos se dissipar.

Vedremo svampar.

Se você planeja uma burla,

Se ordisci una burla,

também quero fazer parte.

Vo' anch'io la mia parte.

Convém conduzi-la

Conviene condurla

com juízo e com arte.

Con senno, con arte.

Da emboscada em que vai cair

L'agguato ov'ei sdrucciola

convém que ele não suspeite;

Convien ch'ei non scerna;

Já confunde um vagalume

Già prese una lucciola

com uma lanterna.

Per una lanterna.

Que o jogo funcionará,

Che il gioco riesca

disso não duvido;

Perciò non dubito;

para pegá-lo rápido,

Per coglierlo subito.

precisa oferecer a isca.

Bisogna offrir l'esca

E se o bom papo

E se i scilinguagnoli

soubermos utilizar,

Sapremo adoprar,

veremos então como um regato

Vedremo a rigagnoli

aquele gordo suar.

Quell'orco sudar.

Uma grande onda na tempestade

Un flutto in tempesta

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 56


lançou sobre a arena

Dr. Cajus

Bardolfo

Gittò sulla rena

de Windsor

Di Windsor codesta

uma voraz baleia.

Vorace balena.

Mas aqui não há mais espaço

Ma qui non ha spazio

para tornar-se mais gordo;

Da farsi più pingue;

tamanho é já o estrago

Ne fecer già strazio

feito por suas três línguas.

Le vostre tre lingue.

Três línguas mais alegres

Tre lingue più allegre

do que um trinado de castanholas,

D'un trillo di nacchere,

que são mais faladeiras

Che spargon più chiacchiere

do que seis papagaios.

Di sei cingallegre.

Que sempre seja alegre

Tal sempre s'esilari

aquele belo tagarelar.

Quel bel cinguettar.

Assim é que soam as felizes

Così soglion l'ilari

comadres a conversar.

Comari ciarlar.

(Afastam-se. Mr. Ford, Dr. Caius,

(S'allontanano. Mr. Ford, Dr. Cajus,

Fenton, Bardolfo e Pistola entram,

Fenton, Bardolfo, Pistola entrano,

falando com voz baixa e

parlando a bassa voce e

resmungando)

brontolando)

(para Ford)

(a Ford)

É um patife, um velhaco, um ladrão,

È un ribaldo, un furbo, un ladro,

um tratante, um turco, um vândalo;

Un furfante, un turco, un vandalo;

outro dia causou um estrago

L'alto dì mandò a soqquadro

em minha casa e foi um escândalo.

La mia casa e fu uno scandalo.

Se hoje um processo lhe

Se un processo oggi

entabulamos,

gl'intavolo

vingaremo-nos dos seus roubos,

Sconterà le sue rapine,

mas fim mais digno ele terá

Ma la sua più degna fine

se nas mãos do diabo terminar.

Sia d'andare in man del diavolo.

E os dois que estão ali no canto

E quei due che avete accanto

são gente com a mesma atitude,

Genti son di sua tribù,

não têm feitio de santo

Non son due stinchi di santo

nem são flores de virtude.

Né son fiori di virtù.

(para Ford)

(a Ford)

Falstaff, sim, repito, juro,

Falstaff, sì ripeto, giuro,

por minha boca o céu os ilumina,

Per mia bocca il ciel v'illumina,

contra vocês John Falstaff rumina

Contro voi John Falstaff rumina


Pistola

Fenton

Ford

um projeto um tanto impuro.

Un progetto alquanto impuro.

Sou homem de armas e aquele

Son uom d'arme e quell'

infame

infame

quer apenas envenená-los.

Più non vo' che v'impozzangheri;

Não queria, não, deixar a compostura

Non vorrei, no, escir dai gangheri

e a honra por um reino!

Dell'onor per un reame!

Senhor Ford, o homem avisado

Messer Ford, l'uomo avvisato

está a salvo só pela metade.

Non é salvo che a metà.

É seu dever tramar a emboscada

Tocca a voi d'ordir l'agguato

de que o emboscado desviará.

Che l'agguato stornerà.

(para Ford)

(a Ford)

Sir John Falstaff para vocês prepara,

Sir John Falstaff già v'appresta,

Senhor Ford, um grande perigo.

Messer Ford, un gran pericolo.

Sobre sua cabeça já se dependura

Già vi pende sulla testa

um ameaçador artigo.

Qualche cosa a perpendicolo.

Senhor Ford, eu já fui escudeiro

Messer Ford, fui già un armigero

daquele homem de grossa cútis,

Di quell'uom dall'ampia cute;

agora me arrependo e me corrijo

Or mi pento e mi morigero

por razões de saúde.

Per ragioni di salute.

A ameaça é por vocês agora conhecida,

La minaccia or v'è scoperta,

agora conhecem o enganador.

Or v'è noto il ciurmador.

Fique alerta, alerta, alerta!

State all'erta, all'erta, all'erta!

É a sua honra, meu senhor!

Qui di tratta dell'onor.

(para Ford)

(a Ford)

Se quiserem, não hesito

Se volete, io non mi perito

de levá-lo à razão,

Di ridurlo alla ragione

por bem ou por mal então,

Colle brusche o colle buone,

e pagar de acordo com seu mérito.

E pagarlo al par del merito.

Me traz coragem e causa cócegas,

Mi dà il cuore e mi solletica,

e será um duelo alegre,

E sarà una giostra gaia,

arrebentar aquela barrigona

Di sfondar quella ventraia

hiperbólica-apoplética.

iperbolico-apoplettica.

Com conselhos ou com a espada,

Col consiglio o colla spada

se encontrá-lo cara a cara,

Se lo trovo al tu per tu,

ou ele segue seu caminho,

O lui va per la sua strada

ou a Belzebu eu o envio.

O lo assegno a Belzebù.

Um zumbido de vespas e de ávidos

Un ronzio di vespe e d'avidi

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 58


zangões um sussurro,

Pistola

Dr. Cajus

Ford

Bardolfo

Pistola

Bardolfo

Pistola

Bardolfo

Calabron brontolamento,

um retumbar de nuvens carregadas

Un rombar di nembi gravidi

de tempestade é o que escuto.

D'uragani é quel ch'io sento.

O cérebro um ébrio alucina,

Il cerebro un ebro allucina

um medo profundo chama;

Turbamento di paura

isto ao meu redor como uma buzina

Ciò che intorno a me si buccina,

é um sussurro de grande trama.

È un sussurro di congiura.

Falam quatro e um escuta;

Parlan quattro e uno ascolta;

qual dos quatro devo escutar?

Qual dei quattro ascolterò?

Se falasse um de cada vez,

Se parlaste uno alla volta

talvez assim eu viesse a concordar.

Forse allor v'intenderò

(para Pistola)

(a Pistola)

Repita.

Ripeti.

(para Ford)

(a Ford)

Em duas palavras: o enorme Falstaff

In due parole: L'enorme Falstaff

quer

vuole

entrar sob seu teto,

Entrar nel vostro tetto,

mordiscar sua consorte,

Beccarvi la consorte,

arrombar a caixa forte

Sfondar la cassaforte

e destruir o seu leito.

e sconquassarvi il letto.

Cáspite!

Caspita!

Que problema!

Quanto guai!

(para Ford)

(a Ford)

Já lhe escreveu um bilhete...

Già le scrisse un biglietto...

(interrompendo-o)

(interrompendolo)

Mas recusei aquela mensagem

Ma quel messaggio abbietto

abjeta.

ricusai.

Recusei.

Ricusai.

Tenham cuidado!

Badate a voi!

Cuidado!

Badate!


Pistola

Bardolfo Pistola

Bardolfo

Ford

Bardolfo

Ford

Dr. Cajus

Ford

Fenton

Nannetta

Ford

Alice

Dr. Cajus

Falstaff fica de olho em todas,

Falstaff le occhieggia tutte,

sejam bonitas ou feias,

Che siano belle o brutte,

solteiras ou casadas.

Pulzelle o maritate.

Todas! Todas! Todas! Todas!

Tutte! Tutte! Tutte! Tutte!

A coroa que adorna

La corona che adorna

a cabeleira eriçada de Atteon

D'Atteòn l'irte chiome

sobre vocês já desponta.

Su voi già spunta.

O que está dizendo?

Come sarebbe a dir?

Os chifres.

Le corna.

Palavra feia!

Brutta parola!

Tem desejos vorazes o Cavaleiro.

Ha voglie voraci il Cavaliere.

Vigiarei a mulher.

Sorveglierò la moglie.

Vigiarei o senhor.

Sorveglierò il messere.

(retornam pela esquerda as quatro

(rientrano da sinistra le quattro

mulheres)

donne)

Quero salvar meus bens

Salvar vo' i beni miei

dos apetites de outro.

Dagli appetiti altrui.

(vendo Nannetta)

(vedendo Nannetta)

É ela.

È lei

(vendo Fenton)

(vedendo Fenton)

É ele.

È lui

(vendo Alice)

(vedendo Alice)

É ela.

È lei

(vendo Ford)

(vedendo Ford)

É ele.

È lui

(vendo Alice)

(vedendo Alice)

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 60


Meg

É ela.

È lei

(vendo Ford)

(vedendo Ford)

É ele.

È lui

(vendo Ford)

(vedendo Ford)

Se ele soubesse!

S'egli sapesse!

Olhem!

Guai!

Alice

Esquivemo-nos dos seus passos.

Schiviamo i passi suoi.

Meg

Ford é ciumento?

Ford é geloso?

Alice

Muito.

Assai.

Silêncio.

Zitto

Tenhamos cuidado.

Badiamo a noi.

(Alice, Meg e Quickly saem

(Alice, Meg e Quickly escono

pela esquerda. Nannetta fica.

da sinistra. Resta Nannetta.

Ford, Dr. Caius, Bardolfo e Pistola

Ford, Dr. Cajus, Bardolfo e Pistola

saem pela direita. Fenton fica)

escono da destra. Resta Fenton)

Alice

Nannetta

Quickly

Alice

Fenton

Nannetta

Fenton

Nannetta

Fenton

Nannetta Fenton

(com voz baixa)

(a bassa voce)

Psiu, psiu, Nannetta.

Pst, pst, Nannetta.

(colocando o indicador nos lábios)

(mettemdo l'indice al labbro)

Ssshhh.

Sss.

Venha cá.

Vien qua

(olhando ao redor com cautela)

(guardando attorno con cautela)

Calado. O que você quer?

Taci. Che vuoi?

Dois beijos.

Due baci.

Depressa.

In fretta


Nannetta

Fenton

Nannetta

Fenton

(Beijam-se rapidamente)

(Si bacciano rapidamente).

Lábios de fogo!

Labbra di foco!

Lábios de flor!

Labbra di fiore!...

Que sabem o jogo vago do amor.

Che il vago gioco sanno d'amore.

Que dizem fofocas,

Che spargon ciarle,

que mostram pérolas,

Che mostran perle,

belas ao se ver,

Belle a vederle,

doces ao se beijar!

Dolci a baciarle!

(tenta abraçá-la)

(tenta di abbracciarla)

Lábios graciosos!

Labbra leggiadre!

(defendendo-se e olhando

(difendendosi e guardandosi

ao redor)

attorno)

Mãos malandrinhas!

Man malandrine!

Olhar assassino!

Ciglia assassine!

Pupilas ladras!

Pupille ladre!

Amo você!

T'amo!

(tenta beijá-la de novo)

(fa per baciarla ancora).

Nannetta

Imprudente, não.

Imprudente, no.

Fenton

Sim... dois beijos

Sì... due baci.

Nannetta

Fenton

Nannetta

Fenton

Nannetta

(solta-se)

(si svincola)

Basta.

Basta.

Gosto tanto de você!

Mi piaci tanto!

Vem vindo gente.

Vien gente.

(se afastam um do outro, enquanto

(si allontanano l'uno dall'altro, mentre

retornam as mulheres)

ritornano le donne)

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 62


Fenton

(cantando ao se afastar) "Boca beijada não perde a

Nannetta

(cantando allontanandosi) "Bocca baciata non perde

ventura"

ventura"

(continuando a canção de

(continuando il canto di

Fenton e aproximando-se das

Fenton, avvicinandosi alle

outras mulheres)

altre donne)

"Pelo contrário, se renova, como faz

"Anzi rinnova come fa

a lua"

la luna"

(Fenton se esconde atrás das

(Fenton si nasconde dietro gli

árvores ao fundo)

alberi del fondo).

Alice

Falstaff zombou de mim.

Falstaff m'ha canzonata.

Meg

Merece um grande castigo.

Merita un gran castigo.

Alice

Nannetta

Alice Quickly

Alice

Quickly

Nannetta

Alice

Nannettta

Alice

E se lhe escrevesse uma

Se gli scrivessi un

mensagem?…

rigo?...

É melhor uma embaixada.

Val meglio un'ambasciata.

Sim.

Si.

(para Quickly)

(a Quickly)

Até aquele bandido

Da quel brigante

você irá. Seduza-o com a oferta

Tu andrai. Lo adeschi all'offa

de um galante encontro comigo.

D'un ritrovo galante con me.

Essa é boa!

Questa é gaglioffa!

Excelente embuste!

Che bella burla!

Primeiro, para atraí-lo até nós,

Prima, per attirarlo a noi,

o iludimos…

Lo lusinghiamo...

E depois?

E poi?

...e depois daremos a ele o que merece.

... e poi gliele cantiamo in rima.


Não merece um olhar.

Non merita riguardo.

Alice

É um boi.

È un bove.

Meg

E um homem sem fé.

È un uom senza fede.

Alice

É um monte de toucinho.

È un monte di lardo.

Meg

Não merece clemência.

Non merta clemenza.

Alice

É um glutão que desperdiça

È un ghiotton che scialacqua

tudo o que tem com seu cozinheiro.

Tutto il suo aver nel cuoco.

Vamos mergulhá-lo na água.

Lo tufferem nell'acqua.

Vamos assá-lo no fogo.

Lo arrostiremo al fuoco.

Que felicidade!

Che gioia!

Que alegria!

Che allegria!

Que felicidade!

Che gioia!

(para Quickly)

(a Quickly)

Procure fazer bem a sua parte.

Procaccia di far bene la tua parte.

Quem está vindo?

Chi viene?

Tem alguém ali espiando.

La c'è qualcun che spia.

Quickly

Nannetta

Alice

Nannetta

Alice

Meg Quickly Alice Nannetta

Meg

Quickly

Meg

(Saem rapidamente pela direita

(Escono rapidamente da destra

Alice, Meg e Quickly. Nannetta fica,

Alice, Meg, Quickly. Nannetta resta,

Fenton se aproxima dela)

Fenton le torna accanto)

Fenton

Volto ao ataque.

Torno all'assalto.

Nannetta

Volto à luta. Fira!

Torno alla gara. Ferisci!

Para!

Para!

Fenton

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 64


(Lança-se para beijá-la; Nannetta

Nannetta

Fenton

Nannetta

Fenton

Nannetta

Fenton

Nannetta

Fenton

Nannetta

(Si slancia per baciarla. Nannetta

protege o rosto com uma mão,

si ripara il viso con una mano

que Fenton beija sem parar, mas

che Fenton bacia e ribacia; ma

Nannetta a eleva o mais alto

Nannetta la sollea più alta che

que pode e Fenton tenta em vão

può Fenton ritenta invano di

alcançá-la com os lábios)

raggiungerla con le labbra)

A mira é para o alto.

La mira é in alto.

O amor é um ágil torneio,

L'amor é un agile Torneo,

sua corte

sua corte

quer que o mais frágil

Vuol che il più fragile

vença o mais forte.

Vinca il più forte.

Me armo e olho para você.

M'armo, e ti guardo.

Ficarei de tocaia.

T'aspetto al varco.

O lábio é o arco.

Il labbro é l'arco.

E o beijo é o dardo.

E il bacio é il dardo

Cuidado! A flecha

Bada! la freccia

fatal já dispara

Fatal già scocca

da minha boca

Dalla mia bocca

rumo à sua trança.

Sulla tua treccia.

(Beija a trança dela)

(Le bacia la treccia)

(envolvendo o seu pescoço

(annodandogli il collo

com a trança)

colla treccia)

Eis que está preso.

Eccoti avvinto.

Imploro pela vida!

Chiedo la vita!

Eu estou ferida,

Io son ferita,

mas você está vencido.

Ma tu sei vinto.

Piedade! Façamos

Pietà! Facciamo

as pazes e depois...

La pace e poi...

E depois?

E poi?


Fenton

Nannetta

Fenton

Nannetta

Fenton

Nannetta

Se quiser, recomeçamos.

Se vuoi, ricominciamo.

Belo é aquele jogo

Bello é quel gioco

que dura pouco. Basta.

Che dura poco. Basta.

Meu amor!

Amor mio!

Vem vindo gente. Adeus!

Vien gente. Addio!

(foge pela direita)

(fugge da destra)

"Boca beijada não perde a ventura"

(de dentro, respondendo) "Pelo contrário, se renova, como faz a lua"

Bardolfo

Ford

Pistola

Ford

Bardolfo

Pistola

Ford

"Bocca baciata non perde ventura".

(di dentro rispondendo) "Anzi rinnova come fa la luna"

(Regressam do fundo Ford, Dr. Caius,

(Rientrano dal fondo Ford, Dr. Cajus,

Bardolfo e Pistola)

Bardolfo, Pistola)

(para Ford)

(a Ford)

Você ouvirá o quanto ele ostenta

Udrai quanta egli sfoggia

uma alterada grandiloquência.

Magniloquenza altera.

Você disse que ele está alojado.

Diceste ch'egli alloggia.

Onde?

Dove?

Na Jarreteira.

Alla Giarrettiera.

Para ele você me anunciará,

A lui mi annuncerete,

mas com um nome falso;

Ma con un falso nome;

depois você verá como

Poscia vedrete come

o pego com minha rede.

Lo piglio nella rete.

Mas… nem uma palavra.

Ma... non una parola.

Em fofocas não me envolvo.

In ciarle non m'ingolfo.

Eu me chamo Bardolfo.

Io mi chiamo Bardolfo.

Eu me chamo Pistola.

Io mi chiamo Pistola.

Estamos de acordo.

Siam d'accordo.

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 66


Bardolfo

Pistola

Ford

Bardolfo Pistola

Ford

Dr. Cajus

Pistola

Ford

O arcano guardaremos.

L'arcano custodirem.

Sou surdo e mudo.

Son sordo e muto.

Estamos de acordo todos.

Siam d'accordo tutti.

Sim.

Sì.

Aqui, a mão.

Qua la mano.

(Aproximam-se ao fundo Alice,

(Si avanzano nel fondo Alice,

Nannetta, Meg e Quickly)

Nannetta, Meg, Quickly)

(para Ford)

(a Ford)

Do seu bárbaro diagnóstico

Del tuo barbaro diagnostico

talvez o mal seja menos bárbaro.

Forse il male é assai men barbaro.

Convém a você tentar a prova

Ti convien tentar la prova

molestíssima da verdade.

Molestissima del ver.

Assim se dá com o desagradável

Così avvien col sapor

sabor

ostico

do gengibre e do ruibarbo:

Del ginepro e del rabarbaro;

a amaríssima bebida

Il benessere rinnova

o bem-estar renova.

L'amarissimo bicchier.

(para Ford)

(a Ford)

Vocês devem encher o seu cálice,

Voi dovete empirgli il calice,

sem parar, interrogando-o,

Tratto tratto, interrogandolo,

para tentar conseguir

per tentar se vi riesca

encontrar o “x” da questão.

Di trovar del nodo il bandolo.

Como até a água inclina-se o

Come all'acqua inclina il

salgueiro,

salice,

ao vinho inclina-se esse Cavaleiro.

così al vin quel Cavalier.

Descobrirão a sua treta,

Scoverete la sua tresca,

revelarão seu pensamento.

scoprirete il suo pensier.

(para Pistola)

(a Pistola)

Você verá se funciona bem

Tu vedrai se bene adopera

a minha arte com aquele infame.

L'arte mia con quell'infame.

E terá valido a pena

E sarà prezzo dell'opera

se eu descobrir as suas tramas.

S'io discopro le sue trame.


Se de mim eu desviar o ridículo,

Bardolfo

Fenton

Alice

Meg

Nannetta

Se da me storno il ridicolo

nosso suor não terá sido em vão.

Non avrem sudato invan.

Se eu me salvar do perigo,

S'io mi salvo dal pericolo,

a serpente morde o charlatão.

L'angue morde il cerretan.

(para Ford)

(a Ford)

Senhor Ford, um infortúnio

Messer Ford, un infortunio

marital o ameaça,

Marital in voi si incorpora;

se não for astuto e cauto

Se non siete astuto e cauto

aquele Sir John o trairá.

Quel sir John vi tradirà.

Aquela lua cheia gorducha

Quel paffuto plenilunio

que a cor do vinho torna púrpura

Che il color del vino imporpora

encontrará um pasto abundante

Troverebbe un pasto lauto

na sua ingenuidade.

Nella vostra ingenuità.

(para si)

(fra sè)

Aqui resmunga um bando de

Qua borbotta un crocchio

homens,

d'uomini,

há no ar um encantamento.

C'è nell'aria una malia.

Ali gorjeia uma multidão de mulheres,

Là cinguetta un stuol di femine,

sopra um vento agitador.

Spira un vento agitator.

Mas aquela que no coração me chama,

Ma colei che in cor mi nomini,

doce amor, quer ser minha!

Dolce amor, vuol esser mia!

Nós seremos como duas estrelas

Noi sarem come due gemine

gêmeas unidas em um ardor.

Stelle unite in un ardor.

(para Meg)

(a Meg)

Vocês verão que, se eu enganar

Vedrai che, se abbindolo

aquele compadre gordo,

Quel grosso compar.

mais rápido do que um moinho

Più lesto d'un guindolo

o farei girar

Lo faccio girar

(para Alice)

(ad Alice)

Se ele morder a isca,

Se il vischio lo impegola

o ouviremos estrilar,

Lo udremo strillar,

e então o seu desejo

E allor la sua fregola

veremos se dissipar.

Vedremo svampar.

(para Alice)

(ad Alice)

E se o bom papo

E se i scilinguagnoli

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 68


Quickly

Alice

Nannetta

soubermos utilizar,

Sapremo adoprar,

veremos então como um regato

Vedremo a rigagnoli

aquele gordo suar.

Quell'orco sudar

Que sempre seja alegre

Tal sempre s'esilari

aquele belo tagarelar.

Quel bel cinguettar;

Assim é que soam as felizes

Così soglion l'ilari

comadres a conversar.

Comari ciarlar.

(Ford, Dr. Caius, Fenton, Bardolfo

(Ford, Dr. Cajus, Fenton, Bardolfo,

e Pistola saem)

Pistola escono)

Nada de vagar mais por aqui…

Qui più non si vagoli...

(para Quickly)

(a Quickly)

Corra para o seu trabalho.

Tu corri all'ufficio tuo.

Quero que ele mie de amor

Vo' ch'egli miagoli

como um gatinho.

D'amor come un micio.

(para Quickly)

(a Quickly)

Concorda.

È intesa.

Sim.

Sì.

Assim será.

È detta.

Alice

Amanhã.

Domani.

Quickly

Sim. Sim.

Sì. Sì.

Bom dia, Meg.

Buon dì, Meg.

Nannetta, bom dia.

Nannetta, buon dì.

Adeus.

Addio.

Bom dia.

Buon dì.

Alice

Quickly

Nannetta

Alice

Quickly

Nannetta

Meg Nannetta


Alice

Verão que aquela pança

Vedrai che quell'epa

terrível e metida se incha.

Terribile e tronfia si gonfia.

Alice Meg

Se incha.

Si gonfia.

Alice Meg

Se incha e depois racha.

Si gonfia e poi crepa.

Quickly Nannetta

Alice

"Mas o meu rosto sobre ele resplandecerá...

"Ma il viso mio su lui risplenderà..."

Todas

“... como uma estrela

"Come una stella

Tutte

sobre a imensidão!"

sull'immensità"

Ah! Ah! Ah!…

Ah! Ah! Ah!...

(Afastam-se rindo)

(s'allontanano ridendo)

Fim do Primeiro Ato

Fine del Primo Atto.

Ato II Primeira Cena Atto II Parte Prima

Bardolfo Pistola

Falstaff

Bardolfo Pistola

Bardolfo

(Interior da taverna da Jarreteira,

(L'interno dell'Osteria della

como no primeiro ato. Falstaff

Giarrettiera, come nell'atto primo.

sempre acomodado na sua grande

Falstaff sempre adagiato nel suo

poltrona, no mesmo lugar, bebendo

gran seggiolone al suo solito posto

seu xerez. Bardolfo e Pistola mais

bevendo il suo Xeres. Bardolfo e

ao fundo, próximos da porta da

Pistola verso il fondo accanto alla

esquerda. E Mrs. Quickly)

porta di sinistra. Poi Mrs. Quickly)

(cantando juntos e batendo

(cantando insieme e battendosi il

no peito, em ato de arrependimento)

petto in atto di pentimento)

Estamos arrependidos e contritos.

Siam pentiti e contriti.

(mal voltando-se para

(volgendosi appena verso

Bardolfo e Pistola)

Bardolfo e Pistola)

O homem retorna ao vício,

L'uomo ritorna al vizio,

a gata ao toucinho...

La gatta al lardo...

E nós, voltamos ao seu serviço.

E noi, torniamo al tuo servizio.

(para Falstaff)

(a Falstaff)

Patrão, tem aí uma mulher

Padron, là c'è una donna

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 70


Falstaff

que à sua presença

che alla vostra presenza

pede para ser admitida.

Chiede d'essere ammessa.

Que entre.

S'inoltri.

(Bardolfo sai pela esquerda e regressa

(Bardolfo esce da sinistra e ritorna

logo, acompanhando Mrs. Quickly)

subito accompagnando Mrs Quickly)

(inclinando-se profundamente para

(inchinandosi profondamente verso

Falstaff, que permanece sentado)

Falstaff il quale é ancora seduto)

Reverência!

Reverenza!

Falstaff

Bom dia, boa mulher.

Buon giorno, buona donna.

Quickly

Se Sua Graça permite,

Se Vostra Grazia vuole,

(aproximando-se com grande respeito

(avvicinandosi con gran rispetto

e cautela)

e cautela)

Quickly

Falstaff

Quickly

se Sua Graça permite,

Se Vostra Gracia vuole,

eu queria, secretamente,

Vorrei, segretamente,

dizer-lhe quatro palavras.

dirle quattro parole.

Concedo-lhe a audiência.

T'accordo udienza.

(para Bardolfo e Pistola, parados

(a Bardolfo e Pistola, rimasti nel

ao fundo, espiando)

fondo a spiare)

Saiam.

Escite.

(saem pela esquerda, fazendo

(escono da sinistra facendo

gestos de escárnio)

sberleffi)

(inclinando-se novamente e

(facendo un altro inchino ed

aproximando-se mais do que antes)

avvicinandosi più di prima)

Reverência! A dama…

Reverenza! Madonna

(com voz baixa)

(a bassa voce)

Alice Ford...

Alice Ford...


Falstaff

Quickly

Falstaff

Quickly

(levantando-se e encostando-se

(alzandosi ed accostandosi a

em Quickly solícito)

Quickly premuroso)

O que tem?

Ebben?

Ai de mim! Pobre mulher!

Ahimè! Povera donna!

Você é um grande sedutor!

Siete un gran seduttore!

(rápido)

(subito)

Sou. Continue.

Lo so. Continua.

Alice

Alice

está muito agitada

Sta in gran agitazione

com o amor por você; manda dizer

d'amor per voi; vi dice

que recebeu sua carta,

Ch'ebbe la vostra lettera,

que lhe agradece e que

che vi ringrazia e che

seu marido sai sempre

Suo marito esce sempre

das duas às três.

dalle due alle tre.

Falstaff

Das duas às três.

Dalle due alle tre.

Quickly

Sua graça a essa hora

Vostra Grazia a quell'ora

Falstaff

Quickly

poderá livremente subir aonde mora

Potrà liberamente salir ove dimora

a bela Alice!

La bella Alice!

Pobre mulher!

Povera donna!

Suas angústias

le angosce sue

são cruéis! Tem um marido

Son crudeli! ha un marito

ciumento!

geloso!

(remoendo as palavras de Quickly)

(rimuginando le parole di Quickly)

Das duas às três.

Dalle due alle tre.

(para Quickly)

(a Quickly)

Diga a ela que impaciente espero

Le dirai che impaziente aspetto

essa hora. Ao meu dever não

Quell'ora. Al mio dovere non

faltarei.

mancherò.

Muito bem. Mas há outra

Ben detto. Ma c'è un'altra

embaixada

ambasciata

para Sua Graça.

per Vostra Grazia.

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 72


Falstaff

Fale.

Parla.

Quickly

A bela Meg,

La bella Meg ,

Falstaff

Quickly

Falstaff

Quickly

Falstaff

Quickly

Falstaff

um anjo que apaixona quem a olha,

un angelo che innamora a guardarla,

também ela o saúda

Anch'essa vi saluta

muito amorosamente;

molto amorosamente;

diz que seu marido

Dice che suo marito

raramente está ausente.

é assai di rado assente.

Pobre mulher!

Povera donna!

Um lírio de candura e de fé!

un giglio di candore e di fe'!

Você enfeitiçou todas.

Voi le stregate tutte.

Bruxaria não há,

Stregoneria non c'è,

mas sim um certo encanto pessoal

Ma un certo qual mio fascino

de minha parte... Diga: uma

personal!... Dimmi: l'altra

sabe da outra?

Sa di quest'altra?

Jamais! A mulher nasce astuta.

Oibò! La donna nasce scaltra.

Não tema.

Non temete.

(procurando na sua bolsa)

(cercando nella sua borsa)

Agora quero remunerá-la...

Or ti vo' remunerar...

Quem semeia graças, colhe amor.

Chi semina grazie, raccoglie amore.

(extraindo uma moeda e

(estraendo una moneta e

dando-a a Quickly)

porgendola a Quickly)

Pegue, Mercúrio-fêmea.

Prendi, Mercurio-femina.

(dispensando-a com um gesto)

(congedandola col gesto)

Saúde as suas damas.

Saluta le tue dame.

Me inclino.

M'inchino

(Sai)

(Esce)

(sozinho)

(solo)

Alice é minha!

Alice é mia!

Vá, velho John, vá, vá por seu caminho.

Va, vecchio John, va, va per la tua via.


Bardolfo

Falstaff

Bardolfo

Falstaff

Ford

Esta sua velha carne

Questa tua vecchia carne

ainda traz

ancora spreme

para você alguma doçura.

Qualche dolcezza a te.

Todas as mulheres amotinadas juntas

Tutte le donne ammutinate insieme

perdem-se por mim!

Si dannano per me!

Corpo bom de Sir John,

Buon corpo di Sir John,

que eu nutro e sacio,

Ch'io nutro e sazio,

vá, eu agradeço.

Va, ti ringrazio.

(entrando pela esquerda)

(entrando da sinistra)

Patrão, tem aí um certo

Padron, di là c'è un certo

Senhor Mestre Fontana

Messer Mastro Fontana

que anseia por conhecê-lo;

Che anela di conoscervi;

oferece um garrafão de vinho

offre una damigiana

de Chipre para o café da manhã

Di Cipro per l'asciolvere

de Sua Senhoria.

di Vostra Signoria.

Seu nome é Fontana?

Il suo nome é Fontana?

Sim.

Sì.

Bem-vinda seja

Bene accolta sia

a fonte que derrama

La fontana che spande

um licor assim!

Un simile liquore!

Entre.

Entri.

(Bardolfo sai)

(Bardolfo esce)

Vá, velho John, pelo seu caminho.

Va, vecchio John, per la tua via.

(Ford disfarçado entra pela

(Ford travestito entra da sinistra,

esquerda, precedido por Bardolfo,

preceduto da Bardolfo che si ferma

que para à porta e se inclina à sua

all'uscio e s'inchina al suo passaggio

passagem, e é seguido por Pistola,

e seguito da Pistola, il quale tiene

o qual tem um garrafão de vindo

una damigiana che depone sul

que coloca sobre a mesa. Pistola e

tavolo. Pistola e Bardolfo restano

Bardolfo ficam ao fundo. Ford tem

sul fondo. Ford tiene un sacchetto

na mão um saquinho)

in mano)

(aproximando-se depois de inclinar-se

(avanzandosi dopo un grande

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 74


Falstaff

Ford

Falstaff

Ford

Falstaff

Ford

Bardolfo

Pistola

profundamente para a Falstaff)

inchino a Falstaff)

Senhor, que o céu o proteja!

Signore, v'assista il cielo!

(retribuindo a saudação)

(ricambiando il saluto)

Que o proteja também, senhor.

Assista voi pur, signore.

(sempre muito cortês)

(sempre complimentoso)

Eu sou,

Io sono,

na verdade, muito indiscreto,

Davver, molto indiscreto,

e peço-lhe perdão,

e vi chiedo perdono,

se, sem cerimônias,

Se, senza cerimonie,

aqui venho desprovido

qui vengo e sprovveduto

de mais longos preâmbulos.

Di più lunghi preamboli.

Você é bem-vindo.

Voi siete il benvenuto.

Em mim, você vê um homem

In me vedete un uomo

que tem uma grande abundância

ch'ha un'abbondanza grande

das riquezas da vida;

Degli agi della vita;

um homem que gasta e reparte

un uom che spende e spande

como melhor lhe apraz

Come più gli talenta

em sua extravagância.

pur di passar mattana.

Me chamo Fontana!

Io mi chiamo Fontana!

(indo apertar sua mão

(andando a stringergli la mano

com grande cordialidade)

con grande cordialità)

Caro senhor Fontana!

Caro signor Fontana!

Eu gostaria de

Voglio fare con voi

conhecê-lo muito mais.

Più ampia conoscenza.

Caro Sir John,

Caro Sir John,

desejo falar confidencialmente

desidero parlarvi in

com você.

confidenza.

(sussura para Pistola no fundo,

(sottovoce a Pistola nel fondo,

espiando)

spiando)

Atento!

Attento!

(sussurra para Bardolfo)

(sottovoce a Bardolfo)

Silêncio!

Zitto!


Bardolfo

Olhe! Aposto que ele vai direto

Guarda! Scommetto! Egli va dritto

para a armadilha.

Nel trabocchetto.

Ford o ludibria...

Ford se lo intrappola...

Bardolfo

Silêncio!

Zitto!

Pistola

Silêncio!

Zitto!

Pistola

Falstaff

Ford

Falstaff

Ford

Falstaff

Ford

(para Bardolfo e Pistola)

(a Bardolfo e Pistola)

O que fazem aí?

Che fate là?

(para Ford, que ficou sozinho)

(a Ford, col quale é rimasto solo)

Estou ouvindo.

V'ascolto.

Sir John, me inspira coragem

Sir John, m'infonde ardire

um bem conhecido provérbio popular:

Un ben noto proverbio popolar:

costuma-se dizer

si suol dire

que o ouro abre qualquer porta,

Che l'oro apre ogni porta,

que o ouro é um talismã,

che l'oro é un talismano,

que o ouro vence tudo.

che l'oro vince tutto.

O ouro é um bom capitão

L'oro é un buon capitano

que marcha adiante.

Che marcia avanti.

(avançando rumo à mesa)

(avviandosi verso il tavolo)

Muito bem. Tenho um saco de

Ebbene. Ho un sacco si

moedas

monete

aqui, que me pesa demais.

Qua, che mi pesa assai.

Sir John, se você quiser

Sir John, se voi volete

me ajudar a carregá-lo...

Aiutarmi a portarlo...

(pega o saquinho e o coloca

(prende il sacchetto e lo depone

sobre a mesa)

sul tavolo)

Com grande prazer...

Con gran piacer...

não sei, na verdade,

non so, davver,

qual é o meu mérito, Senhor...

per qual mio merito, Messer.

Eu os direi para você.

Ve lo dirò.

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 76


Há em Windsor uma dama,

Falstaff

Ford

Falstaff

muito bela e graciosa;

bella e leggiadra molto.

chama-se Alice,

Si chiama Alice;

é mulher de um certo Ford.

é moglie di un certo Ford.

Estou escutando.

V'ascolto.

Eu a amo e ela não me ama:

Io l'amo e lei non m'ama;

lhe escrevo, não responde;

le scrivo, non risponde;

a olho, não me olha;

La guardo, non mi guarda;

a procuro e se esconde.

la cerco e si nasconde.

Por ela desperdicei tesouros,

Per lei sprecai tesori,

esbanjei presentes sobre presentes,

gittai doni su doni,

idealizei, tramando,

Escogitai, tramando,

o sonho das ocasiões.

il vol delle occasioni.

Ai de mim! Tudo foi em vão!

Ahimè! tutto fu vano!

Fiquei sobre a escada,

Rimasi sulle scale,

negligenciado, com a boca seca,

Negletto, a bocca asciutta,

cantando um madrigal.

cantando un madrigale.

(cantarolando em tom de brincadeira)

(canterellando scherzosamente)

"O amor, o amor que nunca nos dá trégua, até que a vida..."

Ford Falstaff

“... ele destrói. É como a sombra...

Ford

Falstaff

Ford

C'è a Windsor, una dama,

"L'amor, l'amor che non ci dà mai tregue" "finchè la vita...

..."strugge. È come l'ombra...

...há quem fuja...

" c'è chi fugge..."

...persiga…”

"...insegue,,,"

“E quem o persegue...

"E chi l'insegue..."

... foge.

"...fugge"

O amor, o amor!”

L'amor, l'amor!

E este madrigal

E questo madrigale

aprendi a preço de ouro.

l'ho appreso a prezzo d'or.

Este é o destino fatal

Quest'è il destin fatale

do mísero amante.

del misero amator.

O amor, o amor,

L'amor, l'amor


Falstaff

Ford

Falstaff

Ford

Falstaff

Ford

Falstaff

Ford

que não nos dá nunca espaço para

Che non ci dà mai luogo a

ilusões?

lusinghe?

E ela nunca lhe deu espaço para

Essa non vi die' mai luogo a

ilusões?

lusinghe?

Não.

No.

Mas, enfim, por que se abre

Ma infin, perchè v'aprite

comigo?

a me?

Eu lhe direi:

Ve lo dirò:

você é um cavalheiro

Voi siete un gentiluomo

pródigo, arguto, fecundo,

prode, arguto, fecondo,

você é um homem de guerra,

Voi siete un uom di guerra,

você é um homem do mundo…

voi siete un uom di mondo...

(com humildade)

(con gento d'umiltà)

Oh!

Oh!...

Não o estou adulando,

Non vi adulo,

e isso é um saco de moedas:

e quello é un sacco di monete

Gaste-as! Gaste-as!

Spendetele! Spendetele!

Sim, gaste e espalhe

sì, spendete e spandete

todo o meu patrimônio!

Tutto il mio patrimonio!

Seja rico e feliz!

Siate ricco e felice!

Mas, em troca,

Ma, in contraccambio,

quero que você conquiste Alice!

chiedo che conquistiate Alice!

Estranha imposição!

Strana ingiunzion!

Me explico: aquela cruel beldade

Mi spiego: quella crudel beltà

sempre viveu

Sempre é vissuta

em grande voto de castidade.

in grande fede di castità.

A sua virtude inoportuna

La sua virtù importuna

me deslumbrava os olhos:

m'abbarbagliava gli occhi:

A bela inexpugnável dizia:

La bella inespugnabile dicea:

“Ai de você, se me tocar!”

"Guai se mi tocchi"

Mas se você a expugnar,

Ma se voi l'espugnate,

depois eu também posso ter

poi, posso anch'io

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 78


esperança:

Falstaff

Ford

Falstaff

Ford

Falstaff

Ford

Falstaff

sperar:

da falha nasce outra falha e então...

Da fallo nasce fallo e allor...

O que lhe parece?

Che ve ne par?

Antes de tudo, sem lisonjas,

Prima di tutto, senza complimenti,

Senhor,

Messere,

aceito o saco.

accetto il sacco.

E depois, palavra de cavaleiro,

E poi, fede il cavaliere,

eis aqui a minha mão!

Qua la mano!

Farei que seus desejos se saciem.

farò le vostre brame sazie.

(apertando forte a mão de Ford)

(stringendo forte la mano a Ford)

Você, a mulher de Ford possuirá.

Voi, la moglie di Ford possederete.

Obrigado!

Grazie!!

Eu já estou muito adiantado;

Io san già molto innanzi;

(não há razão para que me cale

(non c'è ragion ch'io taccia

com você) dentro de meia hora

Con voi) fra una mezz'ora

estará em meus braços.

sarà nelle mie braccia.

Quem?

Chi?...

Alice. Ela me mandou há pouco uma…

Alice. Essa mandò dianzi una...

confidente

confidente

para me dizer que o cafona

Per dirmi che quel tanghero

do seu marido está ausente

di suo marito é assente

das duas às três.

Dalle due alle tre.

Das duas às três.

Dalle due alle tre.

Você o conhece?

Lo conoscete?

O diabo

Il diavolo

que o carregue para o inferno,

Se lo porti all'inferno

com Menelau, seu avô!

con Menelao suo avolo!

Você verá! Claro que vou corneá-lo!

Vedrai! Te lo cornifico netto!

Se me perturbar,

se mi frastorna

lhe desço um monte

Gli sparo una girandola

de pancadas sobre os cornos!

di botte sulle corna!


Esse Senhor Ford é um bobo!

Ford

Quel Messer Ford é un bue!

Um bobo! Vou enganá-lo,

Un bue! Te lo corbello,

você vai ver! Mas está tarde.

Vedrai! Ma é tardi.

Espere-me aqui.

Aspettami qua.

Vou me arrumar.

Vado a farmi bello.

(Pega o saco de moedas e sai

(Piglia il sacco di monete ed esce

pelo fundo)

dal fondo)

(sozinho)

(solo)

É um sonho ou é realidade?… Dois

È sogno o realtà?... Due

ramos enormes

rami enormi

crescem sobre minha cabeça.

Crescon sulla mia testa.

É um sonho? Senhor Ford!

È un sogno? Mastro Ford!

Senhor Ford! Está dormindo?

Mastro Ford! Dormi?

Acorde! Rápido! Desperte!

Svegliati! Su! Ti desta!

Sua mulher está cometendo um erro

Tua moglie sgarra

e colocando em maus lençóis

e mette in mal assetto

a sua honra, a casa e o seu leito!

L'onor tuo, la casa ed il tuo letto!

A hora está marcada, tramado está

L'ora é fissata, tramato

o engano;

l'inganno;

você será enganado e trapaceado!…

Sei gabbato e truffato!...

E depois dirão

E poi diranno

que um marido ciumento é um

Che un marito geloso é un

insensato!

insensato!

Já, por trás de mim, nome de

Già dietro a me nomi d'infame

infame cunho

conio

assoviam ao passar,

Fischian passando;

murmura o escárnio.

mormora lo scherno.

Oh, matrimônio, inferno!

O matrimonio, inferno!

Mulher: Demônio!

Donna: Demonio!

Em sua mulher confiam os bobos!

Nella lor moglie abbian fede i

Confiaria

babbei!

minha cerveja a um alemão,

Affiderei

toda a minha mesa de jantar

La mia birra a un Tedesco,

a um holandês comilão,

Tutto il mio desco

minha garrafa de aguardente

A un Olandese lurco,

a um turco,

La mia bottiglia d'acquavite

mas não minha mulher a si mesma.

a un Turco,

Oh, sorte obscena!

Non mia moglie a se stessa.

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 80


Falstaff

Ford

Aquela palavra feia

O laida sorte!

volta ao meu coração:

Quella brutta parola in cor mi torna:

Ah, os chifres! Os chifres!

Le corna! Bue! Capron! le fusa torte!

Mas não escapará de mim! Não!

Ah! le corna! le corna!

Sujo, réu,

Ma non mi sfuggirai! no! sozzo, reo,

epicúrio danado!

Dannato epicureo!

Primeiro os uno

Prima li accoppio

e depois o pego. Perco a cabeça!

E poi lo colgo. Io scoppio!

Vingarei a afronta!

Vendicherò l'affronto!

Fincado para sempre esteja

Laudata sempre sia

o ciúme no fundo do meu coração.

Nel fondo del mio cor la gelosia.

(regressando pela porta do fundo.

(rientrando dalla porta del fondo.

Tem um novo gibão, chapéu e

Ha un farsetto nuovo, cappello e

bastão)

bastone)

Eis-me aqui. Estou pronto.

Eccomi qua. Son pronto.

Me acompanha um momento?

M'accompagnate un tratto?

Eu o deixo no caminho.

Vi metto sulla via.

(Saem: quando chegam à

(Si avviano: giunti presso

porta fazem gestos de

alla soglia fanno dei gesti

gentileza para ceder a

complimentosi per cedere la

precedência da passagem)

presedenza del passo)

Falstaff

Primeiro você.

Prima voi.

Ford

Primeiro você.

Prima voi.

Não, estou na minha casa.

No, sono in casa mia.

(retirando-se um pouco)

(ritirandosi un poco)

Passe.

Passate.

Falstaff

Ford

Falstaff

(retirando-se)

(ritirandosi)

Por favor...

Prego...

Está tarde. A hora marcada se

È tardi. L'appuntamento

aproxima.

preme.


Ford

Falstaff

Ford

Falstaff

Ford

Ford Falstaff

Não faça gentilezas...

Non fate complimenti...

Passe!

Passate!

Por favor!

Prego!

Passe!

Passate!

Por favor!

Prego!

Muito bem, passemos juntos.

Ebben; passiamo insieme.

(Toma o braço de Ford sob o

(Prende il braccio di Ford sotto il

seu e saem de braços dados)

suo ed escono a braccetto)

Segunda Cena

(Uma sala na casa de Ford. Janela

(Una sala nella casa di Ford. Ampia

Parte Seconda

ampla ao fundo. Porta à direita, porta

finestra nel fondo. Porta a destra,

Alice

Quickly

Alice

à esquerda e outra porta na direção

porta a sinistra e un'altra porta

do canto direito do fundo, que dá

verso l'angolo di destra nel fondo

para a escada. Outra escada no canto

che esce sulla scala. Un'altra scala

do fundo, à esquerda. Do grande

nell' angolo del fondo a sinistra.

janelão escancarado vê-se o jardim.

Dal gran finestrone spalancato si

Um biombo fechado está apoiado

vede il giardino. Un paravento

na parede esquerda, ao lado de uma

chiuso sta appoggiato alla parete

chaminé larga. Armário encostado

sinistra, accanto ad un vasto camino.

na parede da direita. Ao longo das

Armadio addossato alla parete

paredes, uma poltrona e algumas

di destra. Lungo le pareti, un

cátedras. Sobre a poltrona, um

seggiolone e qualche scranna. Sul

alaúde. Sobre a mesa, flores. Alice,

seggiolone, un liuto. Sul tavolo, dei

Meg, e depois Quickly, estão rindo

fiori. Alice, Meg, poi Quickly dalla

na porta à direita. Depois, Nannetta)

porta a destra ridendo. Poi Nannetta)

Apresentaremos um "bill",

Presenteremo un "bill",

para imposto,

per una tassa

ao Parlamento, sobre gente gorda.

Al parlamento, sulla gente grassa.

(entrando)

(entrando)

Comadres!

Comari!

E então?

Ebben?

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 82


Meg

Quickly

Alice

Quickly

Alice Meg

Quickly

Alice

Meg Alice

Quickly

Alice

O que acontece?

Che c'è?

Será derrotado!

Sarà sconfitto!

Brava!

Brava!

Dentro em pouco lhe faremos a festa!

Fra poco gli farem la festa!

Muito bem!

Bene!

Caiu de cabeça no laço.

Piombò nel laccio a capofitto.

Conte-me tudo, depressa.

Narrami tutto, lesta.

Depressa.

Lesta.

Junto ao albergue

Giunta all'Albergo

da Jarreteira

della Giarrettiera

peço para ser admitida

Chiedo d'essere ammessa

na presença

alla presenza

do Cavaleiro, secreta mensageira.

Del Cavalier, segreta messaggera.

Sir John se digna

Sir John si degna

a conceder-me audiência,

d'accordarmi udienza,

me acolhe estúpido,

M'accoglie tronfio

em pose malandra:

in furfantesca posa:

"Bom dia, boa mulher."

"Buon giorno, buona donna"

"Reverência."

"Reverenza"

Ante ele me inclino

A lui m'inchino

muito obsequiosamente

molto ossequiosamente,

e depois passo às notícias apetitosas.

poi passo alle notizie ghiotte.

Enfim, em resumo,

Infin, per farla spiccia,

acreditou que ambas estejam

Vi crede entrambe

enamoradas

innamorate cotte.

de sua beleza.

Delle bellezze sue.

(para Alice)

(ad Alice)

E logo vocês o verão aos seus pés.

E lo vedrete presto ai vostri pie'.

Quando?

Quando?


Quickly

Hoje, aqui, das duas às três.

Oggi, qui, dalle due alle tre.

Meg

Das duas às três.

Dalle due alle tre.

Alice

(olhando para o relógio)

(guardando l'oriolo)

Já são duas!

Son già le due.

(correndo para a porta aos

(accorrendo subito all'uscio del

fundos e chamando)

fondo e chiamando)

Olá! Ned! Will!

Olà! Ned Will!

(para Quickly)

(a Quickly)

Eu já preparei tudo.

Già tutto ho preparato.

(voltando a gritar da porta para

(Torna a gridare dall'uscio verso

fora)

l'esterno)

Tragam aqui o cesto de roupa.

Portate qui la cesta del bucato.

Será uma feliz tarefa!

Sarà un affare gaio!

Nannetta, e você, não ri?

Nannetta, e tu non ridi?

O que você tem?

Che cos'hai?

(aproximando-se de Nannetta e

(avvicinandosi a Nannetta ed

acariciando-a)

accarezzandola)

Está chorando? O que você tem?

Tu piangi? Che cos'hai?

Diga para sua mãe.

Dillo a tua madre.

(soluçando)

(singhiozzando)

Meu pai...

Mio padre...

Quickly

Alice

Nannetta

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 84


Alice

O que foi?

Ebben?

Nannetta

Meu pai...

Mio padre...

(soluçando, às lágrimas)

(scoppiando in lacrime)

Quer que eu me case com o Dr. Caius!!

Vuole ch'io mi mariti al Dr.Cajus!!

Com aquele pedante?

A quel pedante?!

Nossa!

Oibò!

Meg

Com aquele tonto!

A quel gonzo!

Alice

Com aquele burro!

A quel grullo!

Com aquele bisavô!

A quel bisavolo!

Alice Meg Quickly

Não! Não!

No! No!

Nannetta

Não! Não!

No! No!

Antes ser sepultada viva...

Piuttosto lapidata viva..

Por uma metralha de talos de couve!

Da una mitraglia di torsi di cavolo.

Muito bem dito!

Ben detto!

Meg

Brava!

Brava!

Alice

Não tema.

Non temer.

(saltando de alegria)

(saltando di gioia)

Viva!

Evviva!

Com o doutor Caius não me casarei!

Col Dottor Cajus non mi sposerò!

Alice

Quickly

Nannetta

Alice

Quickly

Nannetta


Alice

Nanneta

Alice

Nannetta

Alice

Nannnetta

Alice

(Entram neste momento dois criados

(Intanto entrano due servi portando

carregando um cesto cheio de roupa)

una cesta piena di biancheria)

(aos criados)

(ai servi)

Ponham ali.

Mettete là.

Depois, quando eu os chamar,

Poi, quando avrò chiamato,

esvaziem o cesto no fosso.

Vuoterete la cesta nel fossato.

Bum!

Bum!

(para Nannetta)

(a Nannetta)

Cale-se.

Taci.

(depois, aos criados que saem)

(poi ai servi che escono)

Andem.

Andate.

Que bombardeio!

Che bombardamento!

Preparemos a cena.

Prepariamo la scena

(corre para buscar uma cadeira e a

(corre a pigliare una sedia e la

coloca perto da mesa)

mette presso al tavolo)

Aqui, uma cadeira.

Qua una sedia.

(corre para pegar o alaúde e o

(corre a pigliare il liuto e lo

coloca sobre a mesa)

mette sulla tavola)

Aqui, o meu alaúde.

Qua il mio liuto.

Abramos o biombo.

Apriamo il paravento.

(Nannetta e Meg correm para pegar o

(Nannetta e Meg corrono a prendere

biombo, abrem-no depois de teremo

il paravento, lo aprono dopo

colocado entre o cesto e a chaminé)

averlocollocato fra la cesta e il camino)

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 86


Meg

Quickly

Alice

Nannetta

Bravíssimas! Assim. Mais aberto

Bravissime! Così. Più aperto

ainda.

ancora

Daqui a pouco começa a comédia.

Fra poco s'incomincia la commedia.

Alegres comadres de Windsor!

Gaie comari di Windsor!

Chegou a hora!

é l'ora!

A hora da sonora risada!

L'ora di alzar la risata sonora!

A grande risada que estoura,

L'alta risata che scoppia,

que brinca,

che scherza,

que fulgura, armada

Che sfolgora, armata

de dardos e de chibata!

Di dardi e di sferza!

Alegres comadres, festiva brigada!

Gaie comari, festosa brigata!

Sobre o rosto feliz

Sul lieto viso

apareça o sorriso,

Spunti il sorriso,

Resplandeça do riso o agudo fulgor!

Splenda del riso- l'acuto fulgor!

Faísca incendiária

Favilla incendiaria

de alegria no ar,

Di gioia nell'aria,

de alegria no coração.

Di gioia nel cor.

(para Meg)

(a Meg)

A nós! Você fará a parte

A noi! Tu la parte

que te espera.

Farai che ti spetta.

(para Alice)

(ad Alice)

Você corre o seu risco

Tu corri il tuo rischio

com o compadre gordo.

Col grosso compar.

Eu fico de vigia.

Io sto alla vedetta.

(para Quickly)

(a Quickly)

Se você se enganar, assovio.

Se sbagli ti fischio.

Eu fico à espreita,

Io resto in disparte

à porta, para espiar.

Sull'uscio a spiar.


Alice

Quickly

Alice

Quickly

Nannetta

Quickly

Alice

Nannetta

Meg Quickly

Falstaff

E mostraremos aos homens que a

E mostreremo all'uomo che

alegria

l'allegria

de mulheres honestas toda

D'oneste donne ogni onestà

honestidade comporta.

comporta.

Entre as fêmeas, a mais perversa

Fra le femmine quella é la più ria

é a santa do pau oco.

Che fa la gattamorta.

(que está ao lado da janela)

(che sarà andata alla finestra)

Aqui está! É ele!

Eccolo! È lui!

Onde?

Dov'è?

Um pouco distante.

Poco discosto.

Rápido.

Presto.

Vai começar a subir.

A salir s'avvia.

(primeiro para Nannetta,

(prima a Nannetta,

depois para Meg)

poi a Meg)

Você, por aqui. Você, por lá.

Tu di qua. Tu di là!

A postos!

Al posto!

A postos!

Al posto!

(sobe correndo)

(esce correndo)

A postos!

Al posto!

(Alice se senta junto à

(Alice si sarà seduta accanto al

mesa, pega o alaúde e toca

tavolo, avrà preso il liuto toccando

alguns acordes)

qualche accordo)

(entra com vivacidade e, ao vê-la

(entra con vivacità: vedendola

tocar, põe-se a cantarolar)

suonare, si mette a canterellare)

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 88


"Por fim a encontro,”

"Alfin t'ho colto,"

“Radiante flor,

"Raggiante fior,"

“Colhi você!"

"T'ho colto!"

(Segura Alice pelo corpete. Alice

(prende Alice pel busto. Alice avrà

para de tocar e se levanta)

cessato di suonaree si sarà alzata)

E agora poderei morrer feliz.

Ed or potrò morir felice.

Terei vivido muito

Avrò vissuto molto

depois desta hora de amor feliz.

Dopo quest'ora di beato amor.

Oh, suave Sir John!

O soave Sir John!

Minha bela Alice!

Mia bella Alice!

Não sei me fazer de melindroso,

Non so far lo svenevole,

nem lisonjear, nem usar frases floridas,

Nè lusingar, nè usar frase fiorita,

mas direi logo meu culpado

Ma dirò tosto un mio pensier

pensamento.

colpevole.

Alice

Que é?

Cioè?

Falstaff

É este:

Cioè:

gostaria que o Senhor Ford

Vorrei che Mastro Ford

passasse para uma vida

Passasse a miglior

melhor...

vita...

Por quê?

Perchè?

Por quê? Quer saber?

Perchè? Lo chiedi?

Você seria minha "Lady"

Saresti la mia Lady

e Falstaff seu "Lord".

E Falstaff il tuo Lord!

Pobre "Lady" na verdade!

Povera Lady inver!

Digna de um rei.

Degna d'un Re.

Alice

Falstaff

Alice

Falstaff

Alice

Falstaff


Imagino você enfeitada com meu brasão,

T'immagino fregiata del mio stemma,

mostrar entre gema e gema

Mostrar fra gemma e gemma

a pompa de seu seio.

La pompa del tuo sen.

Na íris ardente e móvel dos olhos

Nell'iri ardente e mobile dei rai

do diamante,

Dell'adamante,

com o pequeno pé no nobre

Col picciol pie' nel nobile

cerco de um guardainfantes,

Cerchio d'un guardinfante

você resplandecerá!

Risplenderai!

Mais fúlgida que um grande arco-íris.

Più fulgida d'un ampio arcobaleno.

Cada linda joia me faz mal e

Ogni più bel gioiel mi nuoce e

desprezo

spregio

o falso ídolo de ouro.

Il finto idolo d'or.

Me basta um véu unido em cruz,

Mi basta un vel legato in croce,

um enfeite na cintura

un fregio al cinto

e na cabeça uma flor.

e in testa un fior.

(coloca uma flor nos cabelos)

(si mette un fiore nei capelli)

(tentando abraçá-la)

(per abbracciarla)

Sereia!

Sirena!

(dando um passo para trás)

(facendo un passo indietro)

Adulador!

Adulator!

A sós estamos

Soli noi siamo

e não tememos armadilhas.

E non temiamo agguato.

E então?

Ebben?

Amo você!

Io t'amo!

Alice

Você está em pecado!

Voi siete nel peccato!

Falstaff

(aproximando-se dela)

(avvicinandola)

Alice

Falstaff

Alice

Falstaff

Alice

Falstaff

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 90


Alice

Falstaff

Alice

Falstaff

Alice

Falstaff

Alice

Falstaff

Alice

Falstaff

Sempre o amor a ocasião aproveita.

Sempre l'amor l'occasione azzecca.

Sir John!

Sir John!

Quem segue sua vocação não peca.

Chi segue vocazion non pecca.

Amo você! E não é minha culpa...

T'amo! e non é mia colpa...

(interrompendo-o)

(interrompendolo)

Se você tem tão vulnerável polpa...

Se tanta avete vulnerabil polpa...

Quando era pajem

Quand'ero paggio

do Duque de Norflok, eu era sutil,

Del Duca di Norfolk ero sottile,

era uma miragem

Ero un miraggio

vaga, leve, gentil, gentil.

Vago, leggero, gentile, gentile.

Aquele era o tempo

Quello era il tempo

do meu verde abril,

Del mio verde Aprile,

aquele era o tempo

Quello era il tempo

do meu ledo maio,

Del mio lieto Maggio,

eu era tão magro, flexível e ágil,

Tant'ero smilzo, flessibile e snello

que poderia atravessar um anel.

Che avrei guizzato attraverso un anello.

Está zombando de mim.

Voi mi celiate.

Temo os seus enganos.

Io temo i vostri inganni.

Temo que você ame...

Temo che amiate...

Quem?

Chi?

Meg.

Meg.

Ela? Antipatizo com sua cara.

Colei? M'è in uggia la sua faccia.

Não me traia, John.

Non traditemi, John...

Me parece que há mil anos

Mi par mill'anni

espero tê-la entre meus braços.

D'avervi fra le braccia.


(perseguindo-a e tentando abraçá-la)

(rincorrendola e tentando di abbracciarla)

Amo você...

T'amo...

(defendendo-se)

(difendendosi)

Por caridade…

Per carità...

(a toma pela cintura)

(la prende attraverso il busto)

Venha!

Vieni!

(da ante-sala, gritando)

(dall'antisala gridando)

Senhora Alice!

Signora Alice!

(solta Alice e fica perturbado)

(abbandona Alice e rimane turbato)

Quem está aí?

Chi va là?

(entrando e fingindo agitação)

(entrando e fingendo agitazione)

Senhora Alice!

Signora Alice!

O que foi?

Chi c'è?

Minha senhora!

Mia signora!

Aí está a Senhora Meg e quer falar

C'è Mistress Meg e vuol

com você,

parlarvi,

bufa… berra, cria confusão…

Sbuffa... strepita, s'abbaruffa...

Falstaff

Que hora ruim!

Alla malora!

Quickly

Ela quer entrar e custei a impedir.

E vuol passare e la trattengo a stento.

Falstaff

Onde me escondo?

Dove m'ascondo?

Atrás do biombo.

Dietro il paravento.

(Falstaff se refugia atrás do biombo.

(Falstaff si rimpiatta dietro il paravento.

Alice

Falstaff

Quickly

Falstaff

Quickly

Alice

Quickly

Alice

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 92


Quando Falstaff se esconde, Quickly

Quando Falstaff é nascosto, Quickly

faz sinal para Meg de que ele está

fa cenno a Meg che sta dietro l'uscio

atrás da saída da direita. Meg entra

di destra: Meg entra fingendo

fingindo estar agitadíssima. Quickly

d'essere agitatissima. Quickly torna

volta a sair)

ad escire)

Alice! Que espanto!

Alice! che spavento!

Que rumor! Que discórdia!

Che chiasso! Che discordia!

Não perca um momento!

Non perdere un momento.

Fuja!...

Fuggi!...

Alice

Misericórdia! O que acontece?

Misericordia! che avvenne?

Meg

O seu consorte

Il tuo consorte

vem gritando "acudam homens!"

Vien gridando "accorr'uomo!"

Ele diz...

Dice...

(rápido, com a voz baixa)

(presto a bassa voce)

Fale mais alto.

Parla più forte

Meg

Alice

Meg

... que quer esganar um homem!

... che vuol scannare un uomo!

Alice

Não ria.

Non ridere.

Meg

Ele corria

Ei correva

invadido de tremendo furor!

Invaso da tremendo

Maldizendo a todas

Furor! Maledicendo

as filhas de Eva!

Tutte le figlie d'Eva!

Alice

Misericórdia!

Misericordia!

Meg

Diz que um seu amante você

Dice che un tuo ganzo hai

escondeu,

nascosto;

e quer a qualquer custo

Lo vuole ad ogni costo

descobrir…

Scoprir...


Quickly

Alice

Quickly

Ford

Falstaff

Ford

(retornando assustadíssima e

(ritornando spaventatissima e

gritando mais do que antes)

gridando più di prima)

Senhora Alice!

Signora Alice!

Está vindo o Senhor Ford! Salve-se!

Vien Mastro Ford! Salvatevi!

Parece uma tempestade!

È come una tempesta!

Berra, estrondeia, fulmina,

Strepita, tuona, fulmina,

esmurra a própria cabeça,

Si dà dei pugni in testa,

explode em ameaças e grita...

Scoppia in minacce ed urla...

(para Quickly em voz baixa

(a Quickly a bassa voce

e um pouco alarmada)

e un poco allarmata)

Fala sério ou está brincando?

Dassenno oppur da burla?

(de novo em voz alta)

(ancora ad alta voce)

Falo sério. Ele está pulando

Dassenno. Egli scavalca

a cerca do jardim...

Le siepi del giardino...

E o segue um grande tropel

Lo segue una gran calca

de gente... já está perto...

Di gente... é già vicino...

Enquanto falo com você, ele

Mentr'io vi parlo ei valca

atravessa a entrada...

L'ingresso...

(de dentro gritando)

(di dentro urlando)

Malandrinho!

Malandrino!!!

O diabo cavalga

Il diavolo cavalca

sobre o arco de um violino!

Sull'arco di un violino!!

(do fundo, gritando voltado a

(dal fondo gridando volto a

quem o segue)

chi lo segue)

Fechem a porta!

Chiudete le porte!

Barrem as escadas!

Sbarrate le scale!

Sigam-me na caça!

Seguitemi a caccia!

Descubramos o porco-do-mato!

Scoviamo il cignale!

(entram correndo Dr. Caius e Fenton)

(entrano correndo il Dr. Cajus e Fenton)

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 94


Corram atrás das pegadas, do cheiro.

Correte sull'orme, sull'usta.

(para Fenton)

(a Fenton)

Você procure nos corredores.

Tu fruga negli anditi.

(irrompem)

(irrompono)

À caça!

A caccia!

(para Bardolfo e Pistola, indicando

(a Bardolfo e Pistola, indicando

o quarto à direita)

la camera a destra)

Impeçam a fuga!

Sventate la fuga!

Procurem lá dentro!

Cercate là dentro!

(Bardolfo e Pistola precipitam-se no

(Bardolfo e Pistola si precipitano

quarto com os bastões levantados)

nella camera coi bastoni levati)

(enfrentando Ford)

(affrontando Ford)

Perdeu o juízo?

Sei tu dissennato?

O que está fazendo?

Che fai?

(vê o cesto)

(vede il cesto)

O que tem dentro daquele cesto?

Chi c'è dentro quel cesto?

Alice

A roupa suja.

Il bucato.

Ford

Me lave! Mulher culpada!

Mi lavi!! rea moglie!

(entregando um maço de chaves ao

(consegnando un mazzo di chiavi al

Dr. Caius)

Dr. Cajus)

Você, pegue as chaves,

Tu, piglia le chiavi,

reviste os cofres, vá.

Rovista le casse, va.

(voltando-se de novo para Alice)

(rivolgendosi ancora ad Alice)

Bardolfo Pistola

Ford

Alice

Ford


Alice Meg Quickly

Ford

Alice

Quickly

Alice

Que bom que você me lava!

Ben tu mi lavi!

(dando um chute na cesta)

(dà un calcio alla cesta)

Para o diabo com esses trapos!

Al diavolo i cenci!

(gritando para o fundo)

(gridando verso il fondo)

Tranquem a saída do parque!

Sprangatemi l'uscio del parco!

(extrai furiosamente a roupa da cesta,

(estrae furiosamente la biancheria dalla

tateando e procurando dentro, e

cesta, frugando e cercando dentro, e

espalhando os panos sobre o chão)

disseminando i panni sul pavimento)

Camisas... saias… Agora vou achar

Camice... gonnelle...- Or ti s

você,

guscio,

patife! Trapos!

Briccon! - Strofinacci!

Fora! Fora! Toucas podres!

Via! Via! Cuffie

Eu vou achar! Lençóis…

rotte! - Ti sguscio. - Lenzuola...

gorros de dormir… Não está!…

berretti da notte... - Non c'è...

Que furacão!

Che uragano!!

(correndo e gritando, pela porta

(correndo e gridando, dalla porta

à esquerda)

a sinistra)

Procuremos debaixo da cama.

Cerchiam sotto il letto.

No forno, no poço, no banheiro,

Nel forno, nel pozzo, nel bagno,

sob o teto, na cantina…

sul tetto, in cantina...

Está frenético!

È farnetico!

Ganhemos tempo.

Cogliam tempo.

Encontraremos um modo

Troviamo modo

para ele sair.

com'egli esca.

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 96


Meg

No cesto.

Nel panier.

Alice

Não, lá dentro

No, là dentro

ele não entra, é gordo demais.

non c'entra, é troppo grosso.

(corre para a cesta)

(corre alla cesta)

Vejamos; sim, entro, entro.

Vediam; sì, c'entro, c'entro.

Corro para chamar os servos.

Corro a chiamare i servi.

(sai)

(esce)

(para Falstaff, fingindo surpresa)

(a Falstaff, fingendo sorpresa)

Sir John! Você aqui? Você?

Sir John! Voi qui? Voi?

(entrando na cesta)

(entrando nella cesta)

Amo você!

T'amo

Amo você somente… me salve! me

Amo te sola... salvami!

salve!

salvami!

(para Falstaff, catando os panos)

(a Falstaff, raccattando i panni)

Esbelto!

Svelto!

Rápido!

Lesto!

(enfiando-se com grande esforço

(accovacciandosi con grande sforzo

na cesta)

nella cesta)

Ai!… Ai!… Consegui… Me cubram…

Ahi!...Ahi!...Ci sto...Copritemi...

(para Meg)

(a Meg)

Depressa! Enchamos o cesto.

Presto! colmiamo il cesto.

(As duas, muito apressadas, enfiam

(Fra tutte due in gran fretta ricacciano

a roupa suja no cesto. Nannetta e

la biancheria nel cesto. Nannetta e

Fenton entram pela esquerda)

Fenton entrano da sinistra)

Falstaff

Alice

Meg

Falstaff

Quickly

Meg

Falstaff

Quickly


Nannetta

Fenton

Nannetta

Fenton

Nannetta

Fenton

Nannetta

Fenton

Nannetta

Fenton

Nannetta

Fenton

(em voz baixa, com cautela, para

(sottovoce, con cautela a

Fenton)

Fenton)

Venha aqui.

Vien qua.

Que barulho!

Che chiasso!

(escondendo-se atrás do biombo:

(avviandosi al paravento: Fenton

Fenton a segue)

la segue)

Quanto cacarejo!

Quanti schiamazzi!

Siga meus passos.

Segui il mio passo.

Casa de loucos!

Casa di pazzi!

Aqui todos deliram

Qui ognun delira

com erros vários.

Con vario error.

Estão loucos de ira...

Son pazzi d'ira...

E nós de amor.

E noi d'amor.

(Toma-o pela mão, o conduz

(Lo prende per mano, lo conduce

para trás do biombo e se

dietro il paravento e vi si

escondem)

nascondono)

Siga-me. Devagar.

Seguimi. Adagio.

Ninguém me descobriu.

Nessun m'ha scorto.

Chegamos ao abrigo.

Tocchiamo il porto.

Estamos cômodos.

Siamo a nostr'agio.

Fique calado e atento.

Sta zitto e attento.

(abraçando-a)

(abbracciandola)

Venha para o meu peito!

Vien sul mio petto!

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 98


Nannetta

Nannetta Fenton

Dr. Cajus

Ford

Dr. Cajus

Ford

Pistola

Ford

Bardolfo

Ford

Dr. Cajus

Ford

O biombo...

... seja bendito!

Il paravento...

...sia benedetto!

(gritando de dentro)

(urlando di dentro)

Ao ladrão!

Al ladro!

(como acima)

(come sopra)

Ao libertino!

Al pagliardo!

(entra, atravessando a sala correndo)

(entra, attraversando di corsa la sala)

Esquartejem-no!

Squartatelo!

Ao ladrão!

Al ladro!

(encontrando Bardolfo e Pistola)

(incontrando Bardolfo e Pistola)

Ele está?

C'è?

Não.

No.

(para Bardolfo)

(a Bardolfo)

Ele está?

C'è?

Não está, não.

Non c'è, no.

Arruínem a casa.

Vada a soqquadro la casa.

(Bardolfo e Pistola saem pela

(Bardolfo e Pistola escono da

esquerda)

sinistra)

(depois de ter olhado a chaminé)

(dopo aver guardato nel camino)

Não encontro ninguém.

Non trovo nessuno.

Pois juro

Eppur giuro


Dr. Cajus

Ford

Dr. Cajus

Ford

Bardolfo Pistola

Ford

Dr. Cajus

que o homem está aqui dentro.

Che l'uomo é qua dentro.

Estou seguro,

Ne sono sicuro!

seguro, seguro!

Sicuro! Sicuro!

Sir John! Ficarei feliz

Sir John! Sarò gaio

no dia em que o vir ter o que

Quel dì ch'io ti veda dar calci a

merece!

rovaio!

(lançando-se contra o armário e

(slanciandosi contro l'armadio e

fazendo esforços para abri-lo)

facendo sforzi per aprirlo)

Venha para fora, malandro! Renda-se!

Vien fuora, furfante! T'arrendi!

Ou bombardeio os muros!

O bombardo le mura!

(tenta abrir o armário com as chaves)

(tenta d'aprire l'armadio con le chiavi)

Renda-se!

T'arrendi!

Venha para fora! Covarde! Libertino!

Vien fuora! Codardo! Sugliardo!

(da porta direita, correndo)

(dalla porta di destra, di corsa)

Ninguém!

Nessuno!

Procurem-no ainda!

Cercatelo ancora!

Renda-se! Sem-vergonha!

T'arrendi! Scafandro!

(Consegue finalmente abrir o

(Riesce finalmente ad aprire

armário)

l'armadio)

Não está!

Non c'è!

(abrindo, por sua vez, o banco)

(aprendo a sua volta la cassapanca)

Venha para fora!

Vieni fuori!

Não está!

Non c'è!

(gira pela sala sempre procurando

(gira per la sala sempre cercando

e tateando)

e frugando)

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 100


Glutão! Beberrão! Tenha cuidado!

Pappalardo! Beòn! Bada a te!

(como um possuído abrindo a

(come un ossesso aprendo il

gaveta da mesa)

cassetto del tavolino)

Cachorro! Falsário!

Scagnardo! Falsardo!

Cachorro! Falsário! Patife!

Scagnardo! Falsardo! Briccon!!

(Nannetta e Fenton dão-se um

(Nannetta, Fenton si danno un

beijo sonoro)

bacio sonore)

(em voz baixa, olhando o biombo)

(sottovoce, guardando il paravento)

Está!

C'è.

Está!

C'è

(aproximando-se bem devagar e

(avviandosi pian piano e cautamente

com cautela do biombo)

al paravento)

Se eu agarro você!

Se t'agguanto!

Dr. Cajus

Se pego você!

Se ti piglio!

Ford

Se aferro você!

Se t'acciuffo!

Dr. Cajus

Se apanho você!

Se t'acceffo!

Ford

Arrebento você!

Ti sconquasso!

Arrasto você como um cão!

T'arronciglio come un can!

Quebro a sua cara!

Ti rompo il ceffo!

Cuidado!

Guai a te!

Reze ao seu santo!

Prega il tuo santo!

Ford

Dr. Cajus Ford

Ford

Dr. Cajus

Ford

Dr. Cajus

Ford

Dr. Cajus

Ford


(do lado do cesto, para Meg)

(accanto alla cesta, a Meg)

Vamos fingir

Facciamo le viste

que cuidamos dos panos;

D'attendere ai panni;

para que ele não nos engane

Pur ch'ei non c'inganni

com movimentos imprevistos.

Con mosse impreviste.

Até agora não se deu conta

Finor non s'accorse

de nada, ele pode

Di nulla; egli può

surpreender-nos talvez,

Sorprenderci forse,

mas não nos confundir.

Confonderci no.

(do lado do cesto, para Quickly)

(accanto alla cesta, a Quickly)

Façamos obstáculo

Facciamogli siepe

entre tanta desordem.

Fra tanto scompiglio.

No jogo, o perigo

Ne' giuochi il periglio

é um grão de pimenta.

È un grano di pepe.

O risco é um deleite

Il rischio é un diletto

que acrescenta o ardor,

Che accresce l'ardor.

Que estimula no peito

Che stimola in petto

o espírito e o coração.

Gli spirti e il cor.

Se pego você!

Se te piglio!

Se aferro você!

Se t'acciuffo!

Ford

Se agarro você!

Se t'agguanto!

Dr. Cajus

Se aferro você!

Se t'acciuffo!

Ford

Se agarro você!

Se t'agguanto!

(voltando pela esquerda)

(rientrando da sinistra)

Não se encontra.

Non si trova.

(voltando com alguns vizinhos)

(rientrando con alcuni del vicinato)

Não se pega.

Non si coglie.

Quickly

Meg

Dr. Cajus

Bardolfo

Pistola

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 102


Ford

Bardolfo

Dr Cajus Ford Pistola

Falstaff

Quickly

Falstaff

Meg

Quickly

Ford

Bardolfo

Ford

(para Bardolfo, Pistola e seus

(a Bardolfo, Pistola e loro

companheiros)

compagni)

Pss… Aqui, todos!

Pss... Qua tutti.

(à meia voz, com mistério,

(sottovoce con mistero,

indicando o biombo)

indicando il paravento)

Eu o encontrei.

L'ho trovato.

Ali está Falstaff com minha mulher.

Là c'è Falstaff con mia moglie.

Sujo cão vituperado!

Sozzo can vituperato!

Silêncio!

Zitto!

(aparecendo com o rosto)

(sbucando colla faccia)

Me afogo!

Affogo!

(enfiando-o de volta para baixo)

(ricacciandolo giù)

Fique aí dentro, fique aí dentro...

Sta sotto, sta sotto...

Me afogo!

Affogo!

Agora ele aparece.

Or questi s'insorge

Se o outro avistar você, está morto!

Se l'altro ti scorge sei morto!

Fique aí dentro! Fique aí dentro!

Sta sotto! Sta sotto!

Gritará depois.

Urlerai dopo.

Ouviu-se ali o som de um beijo.

Là s'è udito il suon d'un bacio.

Devemos pegar o rato

Noi dobbiamo pigliare il topo

enquanto rodeia o queijo.

Mentre sta rodendo il cacio.

Pensemos...

Ragioniam....


Fenton

Nannetta

Ford

Os outros Gli Altri

Dr. Cajus

Ford

(para Nannetta)

(a Nannetta)

Bela! Risonha!

Bella! Ridente!

Oh! Como se rende

Oh! come pieghi

aos meus pedidos

Verso i miei prieghi

femininamente!

Donnescamente!

Ao ver você

Come ti vidi

me enamorei,

M'innamorai,

e você sorri,

E tu sorridi

porque sabe disso.

Perchè lo sai.

(para Fenton)

(a Fenton)

Enquanto estes velhos

Mentre qui vecchi

lutam a justa,

Corron la giostra,

nós, escondidos,

Noi si sottecchi

cuidamos de nós.

Corriam la nostra.

O amor não ouve

L'amor non ode

trovão, nem temporal,

Tuon nè bufere,

voa às esferas

Vola alle sfere

felizes e goza.

Beate e gode.

... golpe não dou

...colpo non vibro

sem um plano de batalha.

Senza un piano di battaglia.

Bravo!

Bravo.

Um homem desse calibre

Un uom di quel calibro

com um assovio se desbarata!

Con un soffio ci sbaraglia.

A minha tática mestra

La mia tattica maestra

seus movimentos registra.

Le sue mosse pria registra

(para Pistola e dois companheiros)

(a Pistola e a due compagni)

Vocês ficarão à direita.

Voi sarete l'ala destra.

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 104


(para Bardolfo e Dr. Caius)

(a Bardolfo e al Dr. Cajus)

Nós ficaremos à esquerda.

Noi sarem l'ala sinistra

(aos outros companheiros)

(agli altri compagni)

E estes com pés valentes

E costor con pie' gagliardo

romperão o baluarte.

Sfonderanno il baluardo.

Bravo, bravo, general!

Bravo, bravo, Generale.

Dr. Cajus

Esperamos um sinal seu.

Aspettiamo un tuo segnale.

Nannetta

O espírito

Lo spiritello

do amor volteia.

D'amor, volteggia.

Um belo sonho de Himeneu

Già un sogno bello

já alveja.

D'Imene albeggia.

(respondendo sob as roupas)

(rispondendo sotto la biancheria)

Estou cozido!

Son cotto!

Fique embaixo!

Sta sotto!

Falstaff

Que calor!

Che caldo!

Quickly

Fique embaixo!

Sta sotto!

Falstaff

Me derreto!

Mi squaglio!

O canalha gostaria de um leque!

Il ribaldo vorrebbe un ventaglio.

(suplicante, com o nariz para fora)

(supplicante, col naso fuori)

Um breve respiro,

Un breve spiraglio

não peço nada mais.

Non chiedo di più.

Todos os outros Tutti gli altri

Fenton

Falstaff

Meg

Meg

Falstaff


Quickly

Meg Quickly

Nannetta

Fenton

Ford

Bardolfo

Dr. Cajus

Pistola

Coloco uma mordaça em você, se falar.

Ti metto il bavaglio se parli.

(empurrando-o para baixo das roupas)

(ricacciandolo sotto la biancheria)

Pra baixo!

Giù!

Tudo delira,

Tutto delira

suspira e ri.

Sospiro e riso.

Sorri o rosto

Sorride il viso

e o coração suspira

E il cor sospira.

doces reclames de amor.

Dolci richiami d'amor.

Entre aqueles olhos

Fra quelle ciglia

vejo dois faróis

Vedo due fari

maravilhosamente

A meraviglia

serenos e claros.

Sereni e chiari.

(para o Dr. Caius, encostando a

(al Dr. Cajus, accostando

orelha no biombo)

l'orecchio al paravento)

Escute, encoste um pouco a orelha!

Senti, accosta un po' l'orecchio!

Que patéticos lamentos!

Che patetici lamenti!!

Sobre esse ninho de rouxinóis

Su quel nido d'usignuoli

estalará dentro em pouco o estrondo.

Scoppierà fra poco il tuon.

(para Pistola)

(a Pistola)

É a voz da mulher

È la voce della donna

que responde ao cavaleiro.

Che risponde al cavalier.

(para Ford, encostando a

(a Ford, accostando

orelha no biombo)

l'orecchio al paravento)

Escuto, escuto,

Sento,sento,

escuto, entendo e vejo claro

Sento, intendo e vedo chiaro

das mulheres os enganos.

Delle femmine gl'inganni;

(para Bardolfo)

(a Bardolfo)

Mas dentro em pouco uma dura lição

Ma fra poco il lieto gioco

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 106


Vizinhos Gente del vicinato

Meg

Quickly

Falstaff

Alice

Falstaff

Meg Quickly

Falstaff

Meg Quickly

perturbará o ledo jogo.

Turberà dura lezion.

Ele canta, mas dentro em pouco

Egli canta, ma fra poco

mudará a sua canção.

Muterà la sua canzon.

Se ele cair, não mais escapará,

S'egli cade più non scappa,

ninguém o poderá salvar.

Nessuno più lo può salvar.

Encare o seu diabo,

Nel tuo diavolo t'incappa;

que você caia por terra!

Che tu possa stramazzar!

(para Quickly)

(a Quickly)

Falemos baixo,

Parliam sottovoce

vigiando o senhor

Guardando il Messer

que reclama e cozinha

Che brontola e cuoce

em nosso cesto.

Nel nostro panier.

(para Meg)

(a Meg)

Ele se fartou

Costui s'é infardato

de tanta vileza,

Di tanta viltà.

que dar-lhe uma lavada

Che darlo al bucato

é ter dele piedade.

È averne pietà.

(aparecendo e bufando)

(sbucando e sbuffando)

Uff.. Maldita cesta!

Ouff... Cesto molesto!

(que voltou e aproximou-se do cesto)

(che é rientrata e avvicinata alla cesta)

Silêncio!

Silenzio!

Protesto!

Protesto!

Que besta empacada!

Che bestia restia!

(gritando)

(gridando)

Levem-me embora!

Portatemi via!

Está louco furibundo!

È matto furibondo!


Falstaff

Socorro!

Aiuto!

Fenton

Diga se me ama!

Dimmi sem'ami!

Sim, amo você!

Sì, t'amo!

Amo você!

T'amo!

(aos outros)

(agli altri)

Silêncio! Vamos! Este é o momento!

Zitto! A noi! Quest'è il momento.

Silêncio! Atentos! Atentos a mim.

Zitto! Attenti! Attenti a me.

Dê o sinal.

Dà il segnal.

Um... dois... três.

Uno... Due... Tre...

(derrubando o biombo)

(rovesciando il paravento)

Não é ele!!!

Non é lui!!!

Que assombro!

Sbalordimento!

É o fim do mundo!

È il finimondo!

Ah!

Ah!

(para Nannetta, com fúria)

(a Nannetta, con furia)

De novo novas revoltas!

Ancor nuove rivolte!

(para Fenton)

(a Fenton)

Vá cuidar da sua vida!

Tu va pe' fatti tuoi!

Eu já disse mil vezes:

L'ho detto mille volte:

ela não é para você.

Costei non fa per voi.

Nannetta

Fenton

Ford

Dr. Cajus

Ford

Dr Cajus

Todos Tutti

Alice Meg Quickly

Nannetta Fenton

Ford

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 108


Bardolfo Pistola

Ford

Bardolfo Pistola

Ford

Dr Cajus Pistola Bardolfo

(Nannetta amedrontada foge e

(Nannetta sbigottita fugge e Fenton

Fenton sai furibundo)

esce furibondo)

(correndo até o fundo)

(correndo verso il fondo)

Está ali! Pare!

È là! Ferma!

Onde?

Dove?

Ali! Ali! Nas escadas.

Là! Là! Sulle scale.

Esquartejem-no!

Squartatelo!

À caça!

A caccia!

Que caça infernal!

Che caccia infernale!

(Todos os homens saem correndo

(Tutti gli uomini salgono a corsa

pela escada ao fundo)

la scala del fondo)

Ned! Will! Tom! Isaac!

Ned! Will! Tom! Isaac!

Vamos! Rápido! Rápido!

Su! Presto! Presto!

(Nannetta regressa com quatro

(Nannetta rientra con quattro servi

servos e um pequeno pajem)

e un paggetto)

Esvaziem esse cesto

Rovesciate quel cesto

pela janela na água do fosso…

Dalla finestra nell'acqua del fosso..

Lá! Perto dos juncos

Là! Presso alle giuncaie

diante do monte de lavadeiras.

Davanti al crocchio delle lavandaie.

Sim, sim, sim, sim!

Sì, sì, sì, sì!

(para os servos, que se esforçam

(ai servi, che s'affaticano a

Companheiros Compagni

Quickly

Alice

Nannetta Meg Quickly


Nannetta

Alice

Quickly

Alice Meg

Nannetta

Nannetta Meg

para levantar o cesto)

sollevare la cesta)

Aí dentro tem um figurão gordo.

C'è dentro un pezzo grosso.

(para o pajem)

(al paggetto)

Você, chame meu marido;

Tu chiama mio marito;

(para Meg)

(a Meg)

Narraremos para ele o nosso

Gli narreremo il nostro

caso louco.

caso pazzo.

Somente ao ver o Cavaleiro no chão

Solo al vedere il Cavalier

molhado

nel guazzo

ele estará curado de todo ciúme

D'ogni gelosa ubbia sarà

maníaco.

guarito.

(para os criados)

(ai servi)

Pesa!

Pesa!

(aos servos)

(ai servi)

Coragem!

Coraggio!

O fundo fez "crack"!

Il fondo ha fatto crac!

Vamos!

Su!

(o cesto é levado ao alto)

(La cesta é portata in alto)

Triunfo!

Trionfo!

Triunfo! Ah! Ah!

Trionfo! Ah! Ah!

(O cesto, Falstaff e a roupa suja

(La cesta, Falstaff e la biancheria

caem pela janela)

capitombolano giù dalla finestra)

Quickly

Alice

Nannetta Meg Quickly

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 110


Alice

Que tombo!

Che tonfo!

Nannetta Meg

Que tombo!

Che tonfo!

Patatrac!

Patatrac!

(grande grito e risadas de todos;

(gran grido e risata di tutti:

imensa risada de Alice, Nannetta,

immensa risata di Alice, Nannetta,

Meg e Quickly. Ford e os outros

Meg e Quickly. Ford e gli altri

homens regressam: Alice, vendo

uomini rientrano: Alice vedendo

Ford, o toma por um braço e o

Ford la piglia per un braccio e lo

conduz rapidamente até a janela)

conduce rapidamente alla finestra)

Fim do Segundo Ato

Fine del Secondo Atto

Ato III

(Uma praça. À direita, o exterior

(Un piazzale. A destra l'esterno

Primeira Parte

da taverna da Jarreteira com um

dell'Osteria della Giarrettiera

letreiro e o mote: " Honny soit qui

coll'insegna e il motto: "Honny

mal y pense". Um banco ao lado

soit qui mal y pense". Una panca

do portão. É a hora do por do sol.

di fianco al portone. E' l'ora

Falstaff, depois o taverneiro)

del tramonto. Falstaff, poi l'Oste)

(sentado)

(seduto)

Ei! Taverneiro!

Ehi! Taverniere!

Mundo ladrão. Mundo canalha.

Mondo ladro. Mondo rubaldo.

Mundo culpado!

Reo mondo!

(Entra o taverneiro)

(entra l'Oste)

Taverneiro, um copo de vinho quente.

Taverniere: un bicchier di vin caldo.

(O taverneiro recebe a ordem e sai)

(L'Oste riceve l'ordine e rientra)

Eu, então, vivi tantos anos,

Io, dunque, avrò vissuto tanti anni,

audaz e destro cavaleiro,

audace e destro Cavaliere,

Todas Tutte

Atto III Parte Prima

Falstaff


para ser levado numa cesta

per essere portato in un canestro

e jogado no canal com os trapinhos,

E gittato al canale co' pannilini biechi,

como se faz com os gatos

Come si fa coi gatti

e os cachorrinhos cegos.

e i catellini ciechi.

E se não flutuasse por mim

Che se non galleggiava per me

esta enorme pança,

Quest'epa tronfia,

na certa me afogaria. Feia morte.

Certo affogavo. Brutta morte.

A água me incha.

L'acqua mi gonfia.

Mundo culpado. Não existe mais

Mondo reo. Non c'è più

virtude.

virtù.

Tudo declina.

Tutto declina.

Vá, velho John, vá,

Va, vecchio John, va,

vá por sua via, caminhe

va per la tua via; cammina

até que você morra.

Finchè tu muoia.

Então desaparecerá a verdadeira

Allor scomparirà la vera

virilidade do mundo.

Virilità del mondo.

Que jornada negra!

Che giornataccia nera!

Ajude-me o céu! Engordo demais.

M'aiuti il ciel! Impinguo troppo.

Estou com cabelos brancos.

Ho dei peli grigi.

(regressa o taverneiro levando

(ritorna l'Oste portando su

numa bandeja um grande copo

d'un vassoio un gran bicchiere

de vinho quente)

di vino caldo)

Derramemos um pouco de vinho

Versiamo un po' di vino

sobre a água do Tâmisa.

nell'acqua del Tamigi!

(Bebe sorvendo e saboreando.

(Beve sorseggiando de assaporando.

Desabotoa o colete, deita-se, bebe

sbottona il panciotto, si sdraia,

aos sorvos, reanimando-se aos

ribeve a sorsate, rianimandosi

poucos)

poco a poco)

Que bom! Beber vinho doce

Buono. Ber del vino dolce

e abrir os botões ao sol,

e sbottonarsi al sole,

que coisa doce!

Dolce cosa!

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 112


O bom vinho dispersa a

Il buon vino sperde le

tétrica loucura

tetre fole

do desconforto, acende

Dello sconforto, accende

o olho e o pensamento, do lábio

l'occhio e il pensier, dal labbro

sobe ao cérebro e ali

Sale al cervel e quivi

desperta o pequeno operário

risveglia il picciol fabbro

dos trinados; um negro grilo

Dei trilli; un negro grillo

que vibra dentro do homem ébrio.

che vibra entro l'uom brillo

Trina cada fibra no coração,

Trilla ogni fibra in cor,

o alegre éter ao trinado

l'allegro etere al trillo

desliza e o alegre globo

Guizza e il giocondo globo

desequilibra uma demência

squilibra una demenza

trinadora!

Trillante!

E o trinado invade o mundo!…

E il trillo invade il mondo!...

(inclinando-se e interrompendo

(inchinandosi e interrompendo

Falstaff)

Falstaff)

Reverência! A bela Alice...

Reverenza. La bella Alice...

(levantando-se e enfurecendo-se)

(alzandosi e scattando)

Para o diabo você e sua bela Alice!

Al diavolo te con Alice bella!

Estou com o saco cheio!

Ne ho piene le bisacce!

Estou com o bucho cheio!

Ne ho piene le budella!

Quickly

Você está errado…

Voi siete errato...

Falstaff

Uma ova! Sinto ainda as corneadas

Un canchero! Sento ancor le cornate

daquele bode ciumento!

Di quell'irco geloso!

Ainda estou com os ossos quebrados

Ho ancor l'ossa arrembate

por ter ficado curvo,

D'esser rimasto curvo,

como uma boa lâmina

come una buona lama

de Bilbao, no espaço

Di Bilbào, nello spazio

de uma merendeira!

D'un panierin di dama!

Com aquele tufo! E aquele calor!

Con quel tufo! E quel caldo!

Um homem com a minha têmpera,

Un uom della mia tempra,

Quickly

Falstaff


que numa monotonia

Che in uno stillicidio

contínua se destempera!

continuo si distempra!

Depois, quando estava bem cozido,

Poi, quando fui ben cotto,

brasil, incandescente,

rovente, incandescente,

me enfiaram na água. Canalhas!

M'han tuffato nell'acqua. Canaglie!!!

(Alice, Meg, Nannetta, Ford, Caius

(Alice, Meg, Nannetta, Ford, Cajus,

e Fenton aparecem de trás de uma

Fenton sbucano dietro una casa, or

casa, espiando, sem serem vistos

l'uno or l'altro spiando, non visti da

por Falstaff)

Falstaff)

Ela é inocente.

Essa é innocente.

É um erro.

Prendete abbaglio.

Falstaff

Vá embora!

Vattene!

Quickly

A culpa é daqueles garotos

La colpa é di quei fanti

desgraçados!

Malaugurati!

Alice chora,

Alice piange,

grita, invoca os santos.

urla, invoca i santi.

Pobre mulher! Ela ama você. Leia.

Povera donna! V'ama. Leggete.

(Tira do bolso uma carta. Falstaff a

(Estrae di tasca una lettera. Falstaff la

pega e começa a ler)

prende e si mette a leggere)

(no fundo, à meia-voz, aos outros,

(nel fondo sottovoce agli altri,

espiando)

spiando)

Ele lê.

Legge.

(à meia-voz)

(sottovoce)

Ele lê.

Legge.

Vejam como ele recai.

Vedrai che ci ricasca.

O homem não se corrige.

L'uom non si corregge.

Quickly

Alice

Ford

Nannetta

Alice

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 114


Meg

Dr. Cajus

Ford

Falstaff

(para Alice)

(ad Alice)

Esconda-se.

Nasconditi.

Relê.

Rilegge.

Relê. Engole a isca.

Rilegge. L'esca inghiotte.

(relendo em voz alta)

(rileggendo ad alta voce)

"Esperarei por você no parque Real, à meia-noite.” “Você virá disfarçado de Caçador Negro”

Quickly

Falstaff

Quickly

Ford

Quickly

"T'aspetterò nel parco Real, a mezzanotte" "Tu verrai travestito da Cacciatore nero"

“No carvalho de Herne."

"Alla quercia di Herne"

O amor ama o mistério.

Amor ama il mistero

Para revê-lo, Alice,

Per rivedervi Alice,

vale-se de uma lenda popular.

si val d'una leggenda Popolar.

Aquele carvalho

Quella quercia

é um lugar de tragédia.

é un luogo da tregenda.

O Caçador Negro foi suspenso

Il Cacciatore nero s'è impeso

em um ramo seu.

ad un suo ramo.

Existe quem creia em sua aparição…

V'ha chi crede vederlo ricomparir...

(Dá o braço a Quickly e

(Prende per un braccio Quickly e

apressa-se para entrar com ela

s'avvia per entrare con essa

na taverna)

all'osteria)

Entremos.

Entriamo.

Lá se discute melhor.

Là si discorre meglio

Conte-me seus caprichos.

Narrami la tua frasca.

Quando o toque da meia-noite…

Quando il rintocco della mezzanotte...

Cai sobre nós.

Ci casca.

... escuro se espalha

...cupo si sparge


no silencioso horror,

nel silente orror,

surgem os espíritos vagabundos

sorgon gli spirti vagabondi

aos bandos...

a frotte...

(avançando com todos os

(avanzandosi con tutto il crocchio,

outros, cômica e misteriosamente

comicamente e misteriosamente

retomando a história de Mrs. Quickly)

ripigliando il racconto di Mrs Quickly)

Quando o toque da meia-noite

Quando il rintocco della mezzanotte

escuro se espalha no silencioso horror,

Cupo si sparge nel silente orror,

surgem os espíritos vagabundos

Sorgon gli spirti vagabondi

aos bandos

a frotte

e vem ao parque o Negro Caçador.

E vien nel parco il nero Cacciator.

Ele caminha lento, lento, lento,

Egli cammina lento, lento, lento,

na grande letargia da sepultura.

Nel gran letargo della sepoltura.

Avança lívido...

S'avanza livido...

Oh! Que susto!

Oh! Che spavento!

Meg

Já sinto o calafrio do medo!

Già sento il brivido della paura!

Alice

(com voz natural)

(con voce naturale)

Fábulas que aos meninos

Fandonie che ai bamboli

contam as avós

Raccontan le nonne

com longos preâmbulos,

Con lunghi preamboli,

para fazê-los dormir.

Per farli dormir.

Vingança de mulheres

Vendetta di donne

não deve falhar.

Non deve fallir.

Avança lívido e o passo converge

S'avanza livido e il passo converge

para o tronco de onde exalou

Al tronco ove esalò

a alma perversa.

l'anima prava.

Surgem as Fadas.

Sbucan le Fate.

Sobre a fronte ele ergue

Sulla fronte egli erge

dois chifres longos, longos, longos…

Due corna lunghe, lunghe, lunghe...

Alice

Nannetta

Alice Meg Nannetta

Alice

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 116


Brava!

Brava.

Esses chifres serão a minha alegria!

Quelle corna saranno la mia gioia!

(para Ford)

(a Ford)

Cuidado! Pois você ainda merece

Bada! tu pur mi meriti

algum tipo de castigo!

Qualche castigatoia!

Ford

Perdoe. Reconheço meus erros.

Perdona. Riconosco i miei demeriti.

Alice

Mas cuidado se ainda o toma

Ma guai se ancor ti coglie

essa mania feroz

Quella mania feroce

de procurar dentro da casca de uma

Di cercar dentro il guscio d'una

noz

noce

o amante de sua mulher.

L'amante di tua moglie.

Mas o tempo ratifica

Ma il tempo stringe

e quer a fantasia veloz.

e vuol fantasia lesta.

Apressemo-nos.

Affrettiam.

Concertemos a mascarada.

Concertiam la mascherata.

Nannetta!

Nannetta!

Eis-me aqui!

Eccola qua!

(para Nannetta)

(a Nannetta)

Você será a Fada Rainha das Fadas,

Sarai la Fata Regina delle Fate,

com branca veste

in bianca veste

fechada em cândido véu, cercada

Chiusa in candido vel, cinta

de rosas.

di rose.

E cantarei palavras harmoniosas.

E canterò parole armoniose.

(para Meg)

(a Meg)

Você será a verde Ninfa selvagem,

Tu la verde sarai Ninfa silvana,

Ford

Alice

Meg

Fenton

Alice

Nannetta

Alice

Nannetta

Alice


Nannetta

Alice

Meg Nannetta Fenton

Alice

e a comadre Quickly uma bruxa.

E la comare Quickly una befana.

(Cai a noite, a cena escurece)

(Scende la sera, la scena si oscura)

Que maravilha!

A meraviglia!

Terei comigo meninos

Avrò con me dei putti

que fingirão ser duendes

Che fingeran folletti,

e espiritozinhos,

E spiritelli,

e diabinhos,

E diavoletti,

e morcegos,

E pipistrelli,

e borboletas.

E farfarelli.

Sobre Falstaff camuflado com

Su Falstaff camuffato in manto e

manto e chifres

corni

nos atiraremos todos…

Ci scaglieremo tutti...

Todos! Todos!

Tutti! Tutti!

... e o atormentaremos

...e lo tempesteremo

até que confesse

Finch'abbia confessata

a sua perversidade.

La sua perversità.

Depois nos desmascaremos

Poi ci smaschereremo

e, antes que o céu se ilumine,

E, pria che il ciel raggiorni,

a alegre brigada

La giuliva brigata

retornará.

Se ne ritornerà.

Meg

Vem a noite. Voltemos para casa.

Vien sera. Rincasiam.

Alice

O encontro é

L'appuntamento é

no carvalho de Herne.

alla quercia di Herne.

Entendido.

È inteso.

Ah, maravilha!

A meraviglia!

Oh! Que susto alegre!

Oh! che allegro spavento!

Fenton

Nannetta

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 118


Alice Nannetta Fenton

Adeus.

Addio.

Meg

Adeus.

Addio.

(Alice, Nannetta e Fenton saem

(Alice, Nannetta, Fenton escono

pela esquerda: neste momento,

da sinistra: in questo momento

Mrs. Quickly sai da taverna

Mrs Quickly esce dall'osteria

e, vendo Ford e o Dr. Caius

e vedendo Ford e il Dr. Cajus

conversando, põe-se a escutar

che parlano, sta ad origliare

da soleira).

sulla soglia).

(para Meg)

(a Meg)

Prepare as lanternas.

Provvedi le lanterne.

(para Caius)

(a Cajus)

Não duvide, você se casará com

Non dubitar, tu sposerai

minha filha.

mia figlia.

Lembra-se bem do seu disfarce?

Rammenti bene il suo travestimento?

Cercada de rosas, o véu branco e

Cinta di rose, il vel bianco e

a veste.

la vesta.

(de dentro, à esquerda, gritando)

(di dentro a sinistra gridando)

Não se esqueça das máscaras.

Non ti scordar le maschere.

(de dentro, à direita, gritando)

(di dentro a destra gridando)

Não, claro.

No, certo.

Nem você das pererecas!

Nè tu le raganelle!

(continuando o discurso com

(continuando il discorso col

o Dr. Caius)

Dr. Cajus)

Já dispus da minha rede.

Io già disposi La rete mia.

Ao findar a festa,

Sul finir della festa

vocês virão até mim com o rosto

Verrete a me col volto

coberto,

ricoperto

Alice

Ford

Dr. Cajus

Alice

Meg

Ford


ela com um véu, você com um traje

Essa dal vel, tu da un mantel

de frade,

fratesco

e eu os abençoarei como dois esposos.

E vi benedirò come due sposi.

Estamos de acordo.

Siam d'accordo.

(sai)

(esce)

Que cara de pau!

Stai fresco!

(Sai rapidamente pela direita

(Esce rapidamente da destra

gritando)

gridando)

Nannetta! Ei! Nannetta! Ei!

Nannetta! Ohè! Nannetta! Ohè!

(de dentro, à esquerda, afastando-se)

(di dentro a sinistra, allontanandosi)

O que foi? O que foi?

Che c'è? Che c'è?

Prepare a canção da Fada.

Prepara la canzone della Fata.

Está preparada.

È preparata.

(de dentro, à esquerda)

(di dentro a sinistra)

Você, não tarde.

Tu, non tardar.

(como acima, mais distante)

(come sopra, più lontana)

Quem chegar primeiro, espera.

Chi prima arriva, aspetta.

Segunda Parte

(O parque de Windsor. No centro,

(Il parco di Windsor. Nel centro, la

Parte Seconda

o grande carvalho de Herne. Ao

grande quercia di Herne. Nel fondo,

fundo, o início de um fosso. Folhagem

l'origine di un fosso. Frone foltissime.

espessíssima. Arbustos em flor. É noite.

Arbusti in fiore. E'notte. Si odono gli

Ouvem-se os chamados distantes

appelli lontani dei guardiaboschi. Il

dos guardas florestais. O parque aos

parco a poco a poco si rischiarirà coi

poucos ficará claro com os raios da lua)

raggi della luna)

Dr. Cajus

Quickly

Nannetta

Quickly

Nannetta

Alice

Quickly

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 120


Fenton

Nannetta

Fenton

Alice

Fenton

(sozinho)

(solo)

Do lábio o canto extasiado voa

Dal labbro il canto estasiato vola

pelos silêncios noturnos e vai longe

Pe' silenzi notturni e va lontano

e ao fim encontra um outro lábio

E alfin ritrova un altro labbro

humano

umano

que lhe responde com sua palavra.

Che gli risponde colla sua parola.

Então a noite, que não está mais só,

Allor la notte che non é più sola

vibra de alegria em um acorde arcano,

Vibra di gioia in un accordo arcano

como outra voz, à sua fonte regressa.

Come altra voce al suo fonte rivola.

Ali retoma o som, mas sua cura

Quivi ripiglia suon, ma la sua cura

tende sempre a unir quem o desuna.

Tende sempre ad unir chi lo disuna.

Assim beijei a desejada boca!

Così baciai la disiata bocca!

Boca beijada não perde ventura.

Bocca baciata non perde ventura.

(de dentro, distante e aproximando-se)

(di dentro, lontana e avvicinandosi)

Antes se renova, como faz a lua.

Anzi rinnova come fa la luna.

Mas o canto morre

Ma il canto muor

no beijo que o toca.

nel bacio che lo tocca.

(Nannetta, vestida de Rainha das

(Nannetta vestita da Regina delle

Fadas. Alice, sem máscara, levando

Fate. Alice, non mascherata

sobre o braço uma capa e na

portando sul braccio una cappa e in

mão uma máscara. Quickly, com

mano una maschera. Mrs Quickly in

uma grande touca e manto cinza

gran cuffia e manto grigio da befana,

de bruxa, um bastão e uma feia

un bastone e un brutto ceffo di

carranca na mão. Depois, Meg

achera in mano. Poi Meg vestita con

vestida com véus e mascarada)

dei veli e mascherata)

(para Fenton)

(a Fenton)

Não, senhor! Você veste esta capa.

Nossignore! Tu indossa questa cappa.

(ajudado por Alice e Nannetta a

(aiutato da Alice e Nannetta ad

colocar a capa)

indossare la cappa)

O que quer dizer isso?

Che vuol dir ciò?


Nannetta

Alice

Nannetta

Alice

Fenton

Alice

Quickly

Meg

Alice

(ajustando o capuz)

(aggiustandogli il cappuccio)

Relaxe.

Lasciati fare.

(oferecendo a máscara para Fenton)

(porgendo la maschera a Fenton)

Coloque.

Allaccia.

(olhando para Fenton)

(rimirando Fenton)

É um passarinho que escapou da

È un fraticel sgusciato dalla

armadilha.

Trappa.

(ajudando Fenton a prender a

(aiutando Fenton ad allacciare la

máscara)

maschera)

A traição com que Ford nos ameaça

Il tradimento che Ford ne minaccia

se voltará como desprezo para ele

Tornar deve in suo scorno

e como ajuda para nós.

e in nostro aiuto.

Expliquem-se.

Spiegatevi

Obedeça rápido e mudo.

Ubbidisci presto e muto.

A ocasião, como vem, escapa.

L'occasione come viene scappa.

(para Mrs. Quickly)

(a Mrs Quickly)

Quem se vestirá de falsa esposa?

Chi vestirai da finta sposa?

Um alegre ladrão narigudo

Un gaio Ladron nasuto

que aborrece o doutor Caius.

che aborre il Dr. Cajus.

Escondi os duendes ao lado do

Ho nascosto i folletti lungo il

fosso.

fosso.

Estamos prontas.

Siam pronte.

Silêncio. Está vindo o figurão.

Zitto. Viene il pezzo grosso.

Fora!...

Via!..

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 122


Meg Quickly Nannetta Alice

Falstaff

Alice

Fora, fora, fora, fora!

Via! Via! Via! Via!

(Todos fogem com Fenton pela

(Tutte fuggono con Fenton da

esquerda. Falstaff, com dois chifres

sinistra. Falstaff con due corna di

de cervo na cabeça e enrolado num

cervo in testa e avviluppato in un

amplo manto. Depois Alice. Depois

ampio mantello. Poi Alice. Poi Meg.

Meg. Enquanto Falstaff entra em

Mentre Falstaff entra in scena, suona

cena, soa a meia-noite)

la mezzanotte)

Um, dois, três, quatro,

Una, due, tre, quattro,

cinco, seis, sete golpes,

cinque, sei, sette botte,

oito, nove, dez, onze,

Otto, nove, dieci, undici,

doze. Meia-noite.

dodici. Mezzanotte.

Este é o carvalho. Deuses,

Questa é la quercia. Numi,

me protejam! Júpiter!

proteggetemi! Giove!

Você, por amor a Europa

Tu per amor d'Europa

se transformou em touro;

ti trasformasti in bove;

carregou chifres.

Portasti corna.

Os deuses nos ensinam a modéstia.

I numi c'insegnan la modestia.

O amor metamorfoseia

L'amore metamorfosa

um homem em uma besta.

un uom in una bestia.

(escutando)

(ascoltando)

Ouço um suave passo!

Odo un soave passo!

(Alice aparece ao fundo)

(Alice comparisce nel fondo)

Alice! O amor a chama!

Alice! Amor ti chiama!

(aproximando-se de Alice)

(avvicinadosi ad Alice)

Venha! O amor me inflama!

Vieni! l'amor m'infiamma!

Sir John!

Sir John!


Falstaff

Alice

Falstaff

Alice

Falstaff

Alice

Falstaff

Alice

Falstaff

Meg

Você é a minha dama!

Sei la mia dama!

Sir John!

Sir John!

(agarrando-a)

(afferrandola)

Você é a minha dama!

Sei la mia dama!

Oh, faiscante amor!

O sfavillante amor!

(apertando-a contra si com paixão)

(attirandola a sè con ardore)

Venha! Já tremo e fervo!

Vieni! Già fremo e fervo!

(sempre evitando o abraço)

(sempre evitando l'abbraccio)

Sir John!

Sir John!

Sou seu servo!

Sono il tuo servo!

Sou seu cervo, embezerrado.

Sono il tuo cervo, imbizzarrito.

E agora chovam trufas,

Ed or piovan tartufi,

rábanos e funchos!

rafani e finocchi!!

E que sejam meu pasto!

E sian la mia pastura!

E que o amor transborde! Estamos sós...

E amor trabocchi! Siam soli...

Não. Aqui na densa selva

No. Qua nella selva densa

me segue Meg.

Mi segue Meg.

É dupla a aventura!

È doppia l'avventura!

Venha ela também!

Venga anche lei!

Esquartejem-me

Squartatemi

como uma corça à mesa!

Come un camoscio a mensa!

Destrocem-me!

Sbranatemi!!

O Cupido ao fim me recompensa!

Cupido alfin mi ricompensa.

Eu amo você! Amo você!

Io t'amo! t'amo!

(de dentro)

(di dentro)

Socorro!

Aiuto!

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 124


Alice

Meg

Alice

Falstaff

Alice

Falstaff

Nannetta

Fadas Le Fate

Falstaff

(fingindo pânico)

(fingendo spavento)

Um grito! Ai de mim!

Un grido! Ahimè!

Lá vem o pandemônio!

Vien la tregenda!

(Foge)

(Fugge)

Ai de mim! Fujamos!

Ahimè! Fuggiamo!

(assustado)

(spaventato)

Onde?

Dove?

(fugindo)

(fuggendo)

Que o céu perdoe o meu pecado!

Il cielo perdoni al mio peccato!

(escondendo-se perto do tronco

(appiattendosi accanto al tronco

do carvalho)

della quercia)

O diabo não quer que eu seja danado.

Il diavol non vuol ch'io sia dannato.

(de dentro)

(di dentro)

Ninfas! Elfos! Sílfides! Sereias!

Ninfe! Elfi! Silfi! Sirene!

O astro dos encantamentos

L'astro degli incantesimi

no céu surgiu.

in cielo é sorto.

(Aparece no fondo, entre as

(Comparisce nel fondo fra le

folhagens)

fronde)

Surjam! Sombras serenas!

Sorgete! Ombre serene!

Ninfas! Sílfides! Sereias!

Ninfe! Elfi! Silfi! Sirene!

(jogando-se de cara contra

(gettandosi colla faccia contro

a terra, totalmente estirado)

terra, lungo disteso)

São as Fadas.

Sono le Fate.


Quem as olha está morto.

Chi le guarda é morto.

(Nannetta, vestida de Rainha das

(Nannetta vestita da Regina delle

Fadas. Alice: algumas mocinhas

Fate. Alice: alcune Ragazzette vestite

vestidas de Fadas brancas e de

da Fate bianche e da Fate azzurre.

Fadas azuis. Falstaff sempre estirado

Falstaff sempre disteso contro terra,

contra a terra, imóvel)

immobile)

Avancemos.

Inoltriam.

(descobrindo Falstaff)

(scorgendo Falstaff)

Ele está lá.

Egli é là.

Estirado no chão.

Steso al suol.

O terror o confunde.

Lo confonde il terror

(todas avançam com precaução)

(tutte si inoltrano con precauzione)

Se esconde.

Si nasconde

Alice

Não vamos rir!

Non ridiam!

As Fadas Le Fate

Não vamos rir!

Non ridiam!

Todas aqui, atrás de mim.

Tutte qui, dietro a me.

Comecemos.

Cominciam.

É sua vez.

Tocca a te.

(As pequenas Fadas se dispoem

(Le piccole Fate si dispongono in

em círculo em torno de sua Rainha)

cerchio intorno alla loro Regina)

Sobre o fio de um sopro de vento

Sul fil d'un soffio etesio

escorram, ágeis espectros;

Scorrete, agili larve;

Alice

Nannetta

Alice

Nannetta

As Fadas Le Fate

Nannetta

As Fadas Le Fate

Rainha das Fadas La Regina delle Fate

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 126


As Fadas Le Fate

Rainha das Fadas La Regina delle Fate

As Fadas Le Fate

Rainha das Fadas

entre os ramos um brilho césio

Fra i rami un baglior cesio

da aurora lunar aparece.

D'alba lunare apparve.

Dancem! E que o passo brando

Danzate! e il passo blando

meça um brando som.

Misuri un blando suon.

As mágicas acoplando

Le magiche accoppiando

bailados à canção.

Carole alla canzon.

A selva dorme e dispersa

La selva dorme e sperde

incenso e sombra; e parece,

Incenso ed ombra; e par

no ar denso, um verde

Nell'aer denso un verde

refúgio no fundo do mar.

Asilo in fondo al mar.

Erremos sob a lua

Erriam sotto la luna

escolhendo flores das flores,

Scegliendo fior da fiore,

cada corola no coração

Ogni corolla in core

porta a sua fortuna.

Porta la sua fortuna.

Com os lírios e as violetas

Coi gigli e le viole

escrevamos nomes arcanos,

Scriviam de' nomi arcani,

das mãos das fadas

Dalle fatate mani

germinam palavras,

Germoglino parole,

palavras iluminadas

Parole illuminate

com pura prata e ouro,

Di puro argento e d'or,

poemas e encantamentos.

Carni e malie. Le Fate

As fadas escrevem com flores.

Hanno per cifre i fior.

(enquanto vão colhendo flores)

(mentre vanno cogliendo fiori)

Movamo-nos uma a uma

Moviam ad una ad una

sob a aurora lunar,

Sotto il lunare albor,

até o carvalho escuro

Verso la quercia bruna

do Negro Caçador…

Del nero Cacciator....

As fadas escrevem com flores.

Le fate hanno per cifre i fior.

La Regina delle Fate

As Fadas Le Fate

... até o carvalho escuro

...verso la quercia bruna


do Negro Caçador.

del Nero Cacciator.

(Todas as fadas com a rainha,

(Tutte le Fate colla Regina mentre

enquanto cantam se aproximam

cantano si avviano lentamente

lentamente em direção ao carvalho.

verso la quercia. Dal fondo a sinistra

No fundo, à esquerda, aparecem:

sbucano: Alice mascherata, Meg

Alice mascarada, Meg de Ninfa

da Ninfa verde colla maschera, Mrs

verde com máscara, Mrs. Quickly de

Quickly da befana, mascherata.

bruxa, mascarada. São precedidas

Sonon precedute da Bardolfo, vestito

por Bardolfo, vestido com uma capa

con una cappa rossa, senza maschera,

vermelha, sem máscara, com o capuz

col cappuccio abbassato sul volto

abaixado sobre o rosto, e por Pistola,

e da Pistola, da satiro. Seguono:

de sátiro. Seguem: Dr. Caius, de capa

Dr. Cajus, in cappa grigia, senza

cinza, sem máscara, Fenton, de capa

maschera, Fenton, in cappa nera,

negra, com máscara, Ford, sem capa

colla maschera, Ford, senza cappa

nem máscara. Alguns burgueses

nè maschera. Parecchi borghesi

em costumes fantásticos fecham

in costumi fantastici chiudono il

o cortejo e vão formar um grupo à

corteggio e vanno a formare gruppo

direita. No fundo, outros mascarados

a destra. Nel fondo altri mascherati

carregam lanternas de várias formas)

portano lanterne di varie fogge)

(tropeçando no corpo de Falstaff)

(intoppando nel corpo di Falstaff)

Alto lá!

Alto là!

Pistola

Quem vai lá?

Chi va là?

Falstaff

Piedade!

Pietà!

Quickly

(tocando Falstaff com o bastão)

(toccando Falstaff col bastone)

É um homem!

C'è un uomo!

Nannetta Alice Meg

É um homem!

C'è un uom!

Coro

É um homem!

C'è un uom!

Bardolfo

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 128


Ford

Cornudo como um boi!

Cornuto come un bue!

Redondo como uma maçã!

Rotondo come un pomo!

Grande como uma nau!

Grosso come una nave!

(tocando Falstaff com o pé)

(toccando Falstaff col piede)

Levante-se, vamos!

Alzati, olà!

(levantando a cabeça)

(alzando la testa)

Tragam-me uma grua!

Portatemi una grue!

Não consigo.

Non posso.

É pesado demais!

È troppo grave.

Quickly

Está podre!

È corrotto!

Coro

Está podre!

È corrotto!

Alice Nanneta Meg

É impuro!

È impuro!

Coro

É impuro!

È corrotto!

(com os grandes gestos de um bruxo)

(con dei gran gesti da stregone)

Que se faça o esconjuro!

Si faccia lo scongiuro!

(o Dr. Caius gira como quem procura

(il Dr. Cajuss'aggira come chi cerca

alguém. Fenton e Quickly escondem

qualcuno. Fenton e Quickly nascondono

Nannetta com seus corpos)

Nannetta colle loro persone)

(à parte, para Nannetta)

(in disparte a Nannetta)

Evita o seu perigo.

Evita il tuo periglio.

O doutor Caius já a procura.

Già il Dottor Cajus ti cerca.

Encontremos um esconderijo.

Troviamo un nascondiglio.

Pistola

Bardolfo

Bardolfo Pistola

Falstaff

Ford

Bardolfo

Alice

Nanneta


Quickly

Bardolfo

Falstaff

Duendes Folletti Diabos Diavoli

Alice Meg Quickly

Falstaff

(Se afasta com Fenton no fundo da

(Si avvia con Fenton nel fondo della

cena, protegida por Alice e Quickly)

scena, protetta da Alice e Quickly)

Depois vocês voltam rápido, ao

Poi tornerete lesti al

meu chamado.

mio richiamo.

Espíritos! Duendes!

Spiritelli! Folletti!

Borboletas! Vampiros! Ágeis insetos

Farfarelli! Vampiri! Agili insetti

do pântano infernal!

Del palude infernale!

Piquem-no!

Punzecchiatelo!

Urtiquem-no!

Orticheggiatelo!

Martirizem-no

Martirizzatelo

com focinhos pontudos!

Coi grifi aguzzi!

(Correndo velozes vêm alguns

(Accorrono velocissimi alcuni

rapazes vestidos da duendes, e

ragazzi vestiti da folletti, e si

jogam-se sobre Falstaff. Outros

scagliano su Falstaff. Altri

duendes, espíritos, diabos aparecem

folletti, spiritelli, diavoli sbucano

de vários lugares)

da varie parti)

(para Bardolfo)

(a Bardolfo)

Ai de mim! Você fede

Ahimè! tu puzzi

como uma doninha!

Come una puzzola.

(empurrando-o e fazendo-o

(spingendolo e facendolo

rolar)

ruzzolare)

Rola, rola, rola, rola!

Ruzzola, ruzzola, ruzzola, ruzzola!

Belisque, belisque,

Pizzica, pizzica,

belisque, palite,

Pizzica, stuzzica,

futuque, futuque,

Spizzica, spizzica

punja, lambisque,

Pungi, spilluzzica,

até ele latir!

Finch'egli abbai!

Ai! Ai! Ai! Ai!

Ahi! Ahi! Ahi! Ahi!

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 130


Duendes Folletti Diabos Diavoli

Alice Meg Quickly

Falstaff

Duendes Folletti Diabos Diavoli

Diabos Diavoli

Falstaff

Mulheres Donne

Agitemos chocalhos,

Scrolliam crepitacoli,

matracas e castanholas!

Scarandole e nacchere!

Que de esguichos e de barro

Di schizzi e di zacchere

esse odre se manche!

Quell'otre si macoli.

Metamo-lhe os pés,

Meniam scorribandole,

dancemos uma dança,

Danziamo la tresca,

dancemos a farândola

Treschiam le faràndole

sobre a ampla barriga.

Sull'ampia ventresca.

Mosquitos e moscardos,

Zanzare ed assilli,

voem sobre a pista

Volate alla lizza

com dardos e alfinetes!

Coi dardi e gli spilli!

Que ele arrebente de ira!

Ch'ei crepi di stizza!

Belisque, belisque,

Pizzica, pizzica,

belisque, palite,

Pizzica, stuzzica,

futuque, futuque,

Spizzica, spizzica,

punja, lambisque,

Pungi, spilluzzica

até ele latir!

Finch'egli abbai!

Ai! Ai! Ai! Ai!

Ahi! Ahi! Ahi! Ahi!

Batam nele, instiguem-no

Cozzalo, aizzalo

dos pés ao cocoruto!

Dai pie' al cocuzzolo!

Esganem, espremam!

Strozzalo, strizzalo!

Retirem dele o desejo!

Gli svampi l'uzzolo!

Belisque, belisque, a unha lhe enfie!

Pizzica, pizzica, l'unghia rintuzzola!

Rola, rola, rola, rola!

Ruzzola, ruzzola, ruzzola, ruzzola!

Que ele arrebente, que arrebente,

Ch'ei crepi, ch'ei crepi

que arrebente de ira!

Ch'ei crepi di stizza!

Rola! Rola!…

Ruzzola! Ruzzola!...

Ai! Ai! Ai! Ai!

Ahi! Ahi! Ahi! Ahi!

Belisque, belisque…

Pizzica, pizzica...


Dr. Cajus Ford

Indolente!

Cialtron!

Bardolfo Pistola

Vagabundo! Glutão!

Poltron! Ghiotton!

Homens Uomini

Pançudo! Beberrão! Patife!

Pancion! Beòn! Briccon!

De joelhos!

In ginocchion!

(Levantam-no os quatro e

(Lo alzano in quattro e lo obbligano

obrigam-no a se ajoelhar)

a star ginocchioni)

Ford

Pança inflada!

Pancia ritronfia!

Alice

Bochecha inchada!

Guancia rigonfia!

Bardolfo

Destroça-camas!

Sconquassa letti!

Quickly

Rompe-corpetes!

Spacca-farsetti!

Esvazia-barris!

Vuota-barili!

Afunda-assentos!

Sfonda-sedili!

Desanca-jumentos!

Sfianca-giumenti!

Queixo triplo!

Triplice mento!

Diga que se arrepende!

Di' che ti penti!

(Bardolfo pega o bastão Quickly

(Bardolfo prende il bastone di Quickly

e dá uma bastonada em Falstaff)

e dà una bastonata a Falstaff)

Ai! Ai! Me arrependo!

Ahi! Ahi! mi pento!

Homem fraudulento!

Uom frodolento!

Pistola

Meg

Dr. Cajus

Ford

Bardolfo Pistola Alice Meg Quickly

Falstaff

Homens Uomini

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 132


Alice Meg Quickly

Falstaff

Homens Uomini

Alice Meg Quickly

Falstaff

Homens Uomini

Falstaff

Bardolfo

Falstaff

As Mulheres Le Donne

Homens Uomini

Falstaff

Diabos Diavoli

As Mulheres Le Donne

Falstaff

As Mulheres Le Donne

Falstaff

Diga que se arrepende!

Di' che ti penti!

Ai! Ai! Me arrependo!

Ahi! Ahi! mi pento!

Homem turbulento!

Uom turbolento!

Diga que se arrepende!

Di' che ti penti!

Ai! Ai! Me arrependo!

Ahi! Ahi! mi pento!

Cabrão! Aproveitador! Fanfarrão!

Capron! Scroccon! Spaccon!

Perdão!

Perdon!

(com a cara muito próxima à

(colla faccia vicinissima alla faccia

de Falstaff)

di Falstaff)

Reforma a sua vida!

Riforma la tua vita!

Você fede a aguardente!

Tu puti d'acquavita.

Senhor, torne-o casto!

Domine fallo casto!

Pança inchada!

Pancia ritronfia!

Mas salve-lhe o abdômen.

Ma salvagli l'addomine.

Belisque, belisque, belisque!

Pizzica, pizzica, pizzica!

Senhor, torne-o casto!

Domine fallo guasto!

Mas salve-lhe o abdômen.

Ma salvagli l'addomine.

Castigue-o, Senhor!

Fallo punito Domine!

Mas salve-lhe o abdômen.

Ma salvagli l'addomine.


Homens Uomini

Falstaff

Homens Uomini

Falstaff

Homens Uomini

Falstaff

Bardolfo

Falstaff

Bardolfo

Falstaff

Homens Uomini

Falstaff

Dr. Cajus Ford

Pança inchada!

Pancia ritronfia!

Globo de impureza! Responda!

Globo d'impurità! Rispondi.

Por mim, está bem.

Ben mi sta.

Monte de obesidade! Responda!

Monte d'obesità! Rispondi.

Por mim, está bem.

Ben mi sta.

Odre de malvasia! Responda!

Otre di malvasia! rispondi.

Assim seja.

Così sia.

Rei dos pançudos!

Re dei panciuti!

Fora, você fede.

Va via, tu puti.

Rei dos cornudos!

Re dei cornuti!

Fora, você fede.

Va via, tu puti.

Patifaria!

Furfanteria!

Ai! Assim seja.

Ahi! Così sia.

Galhofaria!

Gagliofferia!

Ai! Assim seja.

Ahi! Così sia.

Patifaria! Galhofaria!

Furfanteria! Gagliofferia!

E agora que o diabo o leve embora!

Ed or che il diavol ti porti via!!

Bardolfo Pistola

Falstaff

Dr. Cajus Ford Bardolfo Pistola

Bardolfo

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 134


(Na fúria do grito cai

(Nella foga del dire gli casca

o seu capuz)

il cappuccio)

(levantando-se)

(rialzandosi)

Nitro! Alcatrão! Enxofre!

Nitro! Catrame! Solfo!!

Reconheço Bardolfo!

Riconosco Bardolfo!

(violentamente contra Bardolfo)

(violentissimamente contro Bardolfo)

Nariz vermelho!

Naso vermiglio!

Nariz peludo!

Naso bargiglio!

Pontuda sovela!

Puntuta lesina!

Chama de resina! Salamandra!

Vampa di resina! Salamandra!

Fogo fátuo! Velha alabarda!

Ignis fatuus! Vecchia alabarda!

Vareta de alfaiate!

Stecca di sartore!

Agulha do inferno!

Schidion d'inferno!

Arenque seco!

Aringa secca!

Vampiro! Basilisco!

Vampiro! Basilisco!

Bandido! Ladrão!

Manigoldo! Ladrone!

Eu disse. E se minto,

Ho detto. E se smentisco

quero que me caia o cinturão!

Voglio che mi si spacchi il cinturone!!

Bravo!

Bravo!

Falstaff

Um pouco de pausa. Estou cansado.

Un poco di pausa. Sono stanco.

Quickly

(para Bardolfo, em voz baixa)

(a Bardolfo, gli dice a bassa voce)

Venha. Vou cobrir você com o véu

Vieni, Ti coprirò col velo

branco.

bianco.

(Enquanto o Dr. Caius recomeça

(Mentre il Dr. Cajus ricomincia a

a procurar e sai procurando, do

cercare e cercando esce, dalla

lado oposto, Quickly e Bardolfo

parte opposta, Quickly e Bardolfo

desaparecem atrás das árvores

scompaiono dietro gli alberi

ao fundo)

del fondo)

Falstaff

Todos Tutti


(irônico para Falstaff)

(ironico a Falstaff)

E agora, enquanto passa a sua inquietação,

Ed or, mentre vi passa la scalmana,

Sir John, diga:

Sir John, dite:

o cornudo quem é?

il cornuto Chi é?

(desmascarando-se)

(smascherandosi)

Quem é?

Chi é?

Acaso ficou mudo?

Vi siete fatto muto?

(depois de um instante de

(dopo un primo istante di

abalo andando ao

sbalordimento andando

encontro de Ford)

incontro a Ford)

Ah! Caro senhor Fontana!

Caro signor Fontana!

(interpondo-se)

(interponendosi)

Você errou a saudação,

Sbagliate nel saluto,

este é Ford, meu marido.

Questo é Ford, mio marito.

(retornando)

(ritornando)

Cavaleiro...

Cavaliero...

Falstaff

Reverência...

Reverenza...

Quickly

Você acreditou em duas mulheres tão

Voi credeste due donne

tolas,

così grulle,

tão bobas,

Così citrulle,

a ponto de entregar alma e corpo ao

Da darsi anima e corpo

Diabo,

all'Avversiero,

por um homem velho, sujo

Per un uom vecchio, sudicio

e obeso…

ed obeso...

... com essa cabeça calva...

...con quella testa calva...

... e com esse peso!

...e con quel peso!

Ford

Alice Meg

Alice

Falstaff

Alice

Quickly

Meg Quickly

Alice Meg Quickly

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 136


Ford

Falam claro.

Parlano chiaro.

Começo a me dar conta

Incomincio ad accorgermi

de ter sido um asno.

D'esser stato un somaro.

Alice

Um cervo.

Un cervo.

Ford

Um boi.

Un bue.

(rindo)

(ridendo)

Ah! Ah!

Ah! Ah!

É um monstro raro!

È un mostro raro!

Um cervo! Um boi!

Un cervo! Un bue!

Ah! Ah!

Ah! Ah!

(que retomou a sua calma)

(che avrà riacquistato la sua calma)

Todo tipo de gente ordinária

Ogni sorta di gente dozzinale

zomba de mim e se vangloria disso;

Mi beffa e se ne gloria;

mas, sem mim, esses com tanta presunção

Pur, senza me, costor con tanta boria

não teriam uma migalha de sal.

Non avrebbero un briciolo di sale.

Sou eu quem os faz espertos.

Son io che vi fa scaltri.

A minha argúcia cria a argúcia dos

L'arguzia mia crea l'arguzia

outros.

degli altri.

Que bravo!

Ma bravo!

Pelos deuses!

Per gli Dei!

Se eu não estivesse rindo, o

Se non ridessi ti sconquasserei!

despedaçaria!

Ma basta. Ed ora vo' che

Mas basta. E agora me escutem.

m'ascoltiate.

Coroaremos a bela mascarada

Coronerem la mascherata bella

com as bodas da

Congli sponsali della

Rainha das Fadas.

Regina delle Fate.

(O doutor Caius e Bardolfo, vestido

(Il Dr. Cajus e Bardolfo, vestito da

Falstaff

Todos Tutti

Falstaff

Todos Tutti

Ford


Todos Tutti

Ford

Alice

Ford

de Rainha das Fadas e com o rosto

Regina delle Fate col viso coperto

coberto por um véu, avançam

da un velo, s'avamzano lentamente

lentamente de mãos dadas. O Dr.

tenendosi per mano. Il Dr. Cajus ha

Caius põe a sua máscara sobre o rosto)

la maschera sul volto)

O par de noivos já se aproxima.

Già s'avanza la coppia degli sposi.

Atentos!

Attenti!

Atentos!

Attenti!

Ei-la, em branca veste,

Eccola, in bianca vesta

com o véu e a coroa de flores na cabeça

Col velo e il serto delle rose in testa

e o seu noivo, com quem a casarei.

E il fidanzato suo ch'io le disposi.

Rodeiem-na, oh, Ninfas!

Circondatela, o Ninfe.

(O doutor Caius e Bardolfo colocam-se

(Il Dr. Cajuse Bardolfo si collocano

no meio: as Fadas os rodeiam)

nel mezzo: le Fate li circondano)

(apresentando Nannetta com um

(presentando Nannetta chi ha un

grande véu celeste que a cobre toda.

gran velo celeste che la copre tutta.

Fenton está de máscara e capa)

Fenton ha la maschera e la cappa)

Outro casal

Un'altra coppia

de amantes desejosos

D'amanti desiosi

quer ser admitido

Chiede d'essere ammessa

nas felizes bodas!

agli augurosi connubi!

Que seja. Faremos uma festa dupla.

E sia. Farem la festa doppia.

Aproximem as luzes.

Avvicinate i lumi.

(Os duendes guiados por Alice se

(I folletti guidati da Alice si

aproximam com suas lanternas)

avvicinano colle loro lanterne)

O céu os une.

Il ciel v'accoppia.

Tiram as máscaras e os véus.

Giù le maschere e i veli.

Apoteose!

Apoteosi!

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 138


(rapidamente Fenton e o Dr. Caius

(rapidamente Fenton e il Dr. Cajus

tiram a máscara; Nannetta e

si tolgono la maschera; Nannetta e

Bardolfo o véu)

Bardolfo il velo)

(rindo, menos Ford e o Dr. Caius)

(ridendo tranne Ford e il Dr. Cajus)

Ah! Ah! Ah! Ah!

Ah! Ah! Ah! Ah!

(reconhecendo Bardolfo,

(riconoscendo Bardolfo,

imobilizado pela surpresa)

immobilizzato dalla sorpresa)

Que susto!

Spavento!

(surpreso)

(sorpreso)

Traição!

Tradimento!

(rindo)

(ridendo)

Apoteose!

Apoteosi!

(olhando para o outro casal)

(guardando l'altra coppia)

Fenton com a minha filha!

Fenton con mia figlia!!

Casei-me com Bardolfo!

Ho sposato Bardolfo!!

Ah! Ah!

Ah! Ah!

Terror!

Spavento!

Vitória!

Vittoria!

(menos Caius e Ford)

(tranne Dr. Cajus e Ford)

Viva! Viva!

Evviva! Evviva!

Ford

Oh! Maravilha!

Oh! Meraviglia!

Alice

(aproximando-se de Ford)

(avvicinandosi a Ford)

O homem sempre cai nas redes urdidas

L'uom cade spesso nelle reti ordite

Todos Tutti

Dr. Cajus

Ford

Os outros Gli altri

Ford

Dr. Cajus

Todos Tutti

Dr. Cajus

As mulheres Le donne

Todos Tutti


por suas malícias.

Dalle malizie sue.

(irônico para Ford)

(ironico a Ford)

Caro bom Senhor Ford,

Caro buon Messer Ford,

e agora, diga: o descornado quem é?

ed ora, dite: Lo scornato chi è?

(aponta para o Dr. Caius)

(accenna al Dr. Cajus)

Ele.

Lui.

(aponta para Ford)

(accenna a Ford)

Você.

Tu.

Ford

Não.

No.

Dr. Cajus

Sim.

Sì.

Bardolfo

(aponta para Ford e para o Dr. Caius)

(accenna a Ford e al Dr. Cajus)

Vocês.

Voi.

(aponta também para Ford e

(accenna pure a Ford e

o Dr. Caius)

al Dr. Cajus)

Eles.

Lor.

(juntando-se a Ford)

(mettendosi con Ford)

Nós.

Noi.

Todos os dois.

Tutti e due.

(juntando Falstaff com Ford e Caius).

(mettendo Falstaff con Ford e Cajus)

Não. Todos os três.

No. Tutti e tre.

(para Ford, apontando para

(a Ford, mostrando Nannetta

Nannetta e Fenton)

e Fenton)

Volte-se e veja essas formosas ânsias.

Volgiti e mira quelle ansie leggiadre.

Falstaff

Ford

Dr. Cajus

Fenton

Dr. Cajus

Falstaff

Alice

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 140


Nannetta

Ford

Todos Tutti

Falstaff

Ford

Todos Tutti

Falstaff

Todos Tutti

(para Ford, segurando sua mão)

(a Ford, giungendo le mani)

Perdoe-os, pai.

Perdonateci, padre.

Quem não pode se esquivar

Chi schivare non può

de sua própria moléstia,

la propria noia

que a aceite de bom grado.

L'accetti di buon grado.

Façamos o casamento

Facciamo il parentado

e que o céu lhes dê alegria.

E che il ciel vi dia gioia.

(menos o Dr. Caius)

(tranne il Dr. Cajus)

Viva!

Evviva!

Um coro e terminemos a cena.

Un coro e terminiam la scena

E depois, com Sir Falstaff,

Poi con Sir Falstaff,

todos, saímos de cena.

tutti, andiamo a cena.

Viva!

Evviva!

Tudo no mundo é burla.

Tutto nel mondo é burla.

O homem nasceu burlão...

L'uom é nato burlone...

Tudo no mundo é burla.

Tutto nel mondo é burla.

O homem nasceu burlão,

L'uom é nato burlone,

a fé no seu coração vacila,

La fede in cor gli ciurla,

vacila também a sua razão.

Gli ciurla la ragione.

Todos enganados! Riem

Tutti gabbati! Irride

uns dos outros todos os mortais.

L'un l'altro ogni mortal.

Mas ri melhor quem ri

Ma ride ben chi ride

por último.

La risata final.

(cai a cortina)

(cala la tela)

FIM

FINE


Ambrogio Maestri

John Neschling

Davide Livermore

Virginia Tola

Bruno Greco Facio

Saulo Javan

Denise de Freitas

Luca Salsi

Nelson Martinez

Romina Boscolo


Rosana Lamosa

Stefano Consolini

Adriane Queiroz

Gianluca Falaschi

Lina Mendes

Marco Frusoni

Di贸genes Randes

Blagoj Nacoski

Elisabetta Fiorillo

Rodrigo Esteves

Luciana Bueno

Saverio Fiore


Orquestra

A formação da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo

Sinfônica

remonta a 1921, dez anos após a inauguração do Theatro Mu-

Municipal

nicipal, por meio da Sociedade de Concertos Sinfônicos de

de São Paulo

São Paulo. Em mais de 90 anos de história, a Orquestra tocou sob a regência de maestros como Mstislav Rostropovich, Ernest Bour, Maurice Leroux, Dietfried Bernett, Kurt Masur, Camargo Guarnieri, Armando Belardi, Edoardo de Guarnieri, Eleazar de Carvalho, Isaac Karabtchevsky, Sergio Magnani, além de vários compositores regendo suas obras, como Villa-Lobos, Francisco Mignone e Penderecki. Solistas de renome se apresentaram com o grupo, como Magda Tagliaferro, Guiomar Novaes, Yara Bernette, Salvatore Accardo, Rugiero Ricci, dentre muitos outros. Desde o início de 2013, a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo tem como diretor artístico o maestro John Neschling.

Coro Lírico

O Coro Lírico foi criado em 1939 por iniciativa do prefeito

Municipal

Prestes Maia, sob a coordenação do Maestro Armando Be-

de São Paulo

lardi, então diretor artístico do Theatro Municipal. As 16 óperas que marcaram sua temporada de estreia foram preparadas pelo maestro Fidélio Finzi. Em 1947, Sisto Mechetti assumiu o posto de maestro titular e, a partir da oficialização do grupo, em 1951, esteve sob a regência dos maestros Tullio Serafin, Olivero De Fabritis, Eleazar de Carvalho, Armando Belardi, Francisco Mignone, Heitor Villa-Lobos, Roberto Schnorremberg, Marcello Mechetti e Fábio Mechetti. Entre 1994 e 2013, o Coro Lírico esteve sob o comando de Mário Zaccaro, período no qual recebeu os prêmios de Melhor Conjunto Coral, pela APCA, em 1996, e o prêmio Carlos Gomes, na categoria ópera, em 1997. Desde dezembro de 2013, o grupo é dirigido por Bruno Greco Facio.

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 144


Diretor Artístico do Theatro Municipal de São Paulo, John

John Neschling

Neschling voltou ao Brasil após alguns anos em que se de-

Regente

dicou à carreira na Europa, e depois de ter durante 12 anos reestruturado a Osesp, transformando-a num ícone da música sinfônica na América Latina. Durante a longa carreira de regente lírico, Neschling dirigiu musical e artisticamente os Teatros de São Carlos (Lisboa), St. Gallen (Suíça), Bordeaux (França), Massimo de Palermo (Itália), foi residente da Ópera de Viena (Áustria) e se apresentou em muitas das maiores casas de ópera da Europa e dos EUA, em mais de 70 produções diferentes. Dirigiu ainda, nos anos de 1990, os teatros municipais do Rio de Janeiro e de São Paulo. Como regente sinfônico, tem uma longa experiência frente a grandes orquestras dos continentes americano, europeu e asiático. Suas gravações têm sido frequentemente premiadas e o registro de Neschling para a Sinfonia N.1 de Beethoven foi escolhido pela revista inglesa Gramophone como um dos melhores da história. No momento, se prepara para gravar o terceiro volume das obras de Respighi pela gravadora sueca BIS, frente à Filarmônica Real de Liege, Bélgica. Neschling nasceu no Rio de Janeiro em 1947 e sua formação foi brasileira e europeia. Seus principais mestres foram Heitor Alimonda, Esther Scliar e Georg Wassermann no Brasil, Hans Swarowsky em Viena e Leonard Bernstein nos EUA. É membro da Academia Brasileira de Música.

Davide Livermore estudou canto lírico e atuou como tenor por

Davide Livermore

dez anos, até 1998, quando direcionou suas energias criativas

Direção Cênica, Cenografia

para a direção cênica. Durante sua carreira, dirigiu importan-

e Desenho de Luz

tes produções de ópera em vários teatros da Itália, como o Teatro del Maggio Musicale de Florença, Teatro Regio de Turim,


Teatro San Carlo de Nápoles, Teatro Carlo Felice de Gênova, Teatro La Fenice de Veneza, e em outros países, como Opera Company da Filadélfia e a Opéra de Montpellier. Atua como diretor artístico do Cineteatro Baretti, em Turim, e leciona educação musical e canto na Escola do Teatro Stabile da mesma cidade. Em fevereiro de 2013, foi nomeado diretor artístico do Centro de Perfeccionamiento Plácido Domingo do Palau de les Arts de Valência, Espanha. Nas últimas temporadas, Davide Livermore dirigiu La Bohème na Opera Company da Filadélfia e no Palau de les Artes de Valência, na qual também realizou uma nova montagem do Otello de Giuseppe Verdi, e As Bodas de Fígaro, de Mozart, no Teatro Colón de Buenos Aires e no Teatro Carlo Felice de Gênova, dentre outras óperas. Neste ano, ele dirigiu esta montagem inédita de Falstaff no Theatro Municipal de São Paulo, e dirigirá Carmen, de Bizet, no Teatro Carlo Felice de Gênova, e Narciso, de Scarlatti, no Innsbrucker Festwochen der Alten Musik.

Gianluca Falaschi

Nascido em Roma, trabalhou com alguns dos mais presti-

Figurinos

giados diretores da cena teatral, como Arturo Cirillo, Cristina Pezzoli, Antonio Latella, Davide Livermore, Pierpaolo Sepe, Alessandro Gassman, Giuseppe Marini, Walter Le Moli. Sua entrada no mundo da ópera ocorreu a partir da parceria artística com Cirillo: Falaschi assinou o figurino da montagem de Alidoro, de Leonardo Leo, no Teatro Valli de Reggio Emilia e de Napoli milionaria!, de Nino Rota, no Festival de Martina Franca. Colaborou no Trítico de Puccini no Teatro Comunale de Módena, espetáculo sob a direção de Cristina Pezzoli, para quem também desenhou o figurino de Mãe Coragem, de Bertolt Brecht. Com Davide Livermore, colaborou com o figurino na bem-sucedida encenação de Don Giovanni de Mozart no Teatro Carlo Felice de Gênova. A parceria entre os dois foi repetida na montagem da peça Peter Pan de James Barrie no

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 146


Teatro Due de Parma; das óperas A Filha do Regimento, de Donizetti, no Teatro Verdi di Trieste e L’Italia del destino, de Luca Mosca, no Teatro del Maggio Musicale de Florença. É professor de Figurinismo na Accademia d’Arte Drammatica Silvio D’Amico. Recebeu o Prêmio Abbiati de 2013 pelo figurino de Ciro in Babilonia, de Rossini, produzido para o Rossini Opera Festival, com direção de Davide Livermore.

Paulistano, graduado em composição e regência pelas Fa-

Bruno Greco Facio

culdades de Artes Alcântara Machado, estudou sob a orien-

Regente do Coro

tação dos mestres Abel Rocha, Isabel Maresca e Naomi Munakata. No ano de 2011 assumiu a regência do Collegium Musicum de São Paulo, tradicional coro da capital, dando continuidade ao trabalho musical do maestro Abel Rocha. Por 11 anos dirigiu o Madrigal Souza Lima, trabalho responsável pela formação musical de jovens cantores e regentes. Durante 2010 foi preparador do coro da Cia. Brasileira de Ópera, projeto pioneiro do maestro John Neschling que percorreu mais de 20 cidades brasileiras com a ópera O Barbeiro de Sevilha, de Gioachino Rossini. A convite do maestro Neschling, tornou-se regente titular do Coral Paulistano em fevereiro de 2013; em dezembro do mesmo ano assumiu a direção do Coro Lírico do Theatro Municipal de São Paulo.

Natural de Pavia, norte de Itália, Ambrogio Maestri teve sua

Ambrogio Maestri

carreira alavancada após brilhar como Falstaff em apresenta-

Barítono

ção regida por Riccardo Muti e com direção artística de Giorgio Strehler, que fazia parte das festividades do centenário da morte de Verdi. Desde então, é muito requisitado pelos mais importantes teatros de ópera do mundo todo. Sua relação com Muti o levou a interpretar, no Teatro alla Scala de Milão, alguns papeis verdianos bastante emblemáticos: Iago


em Otello, Renato em Um Baile de Máscara, Don Carlo di Vargas em A Força do Destino e Giorgio Germont em La Traviata. Convidado de famosas companhias de ópera do mundo todo, como a Metropolitan Opera, Ópera de Paris, Covent Garden e Staatsoper de Vienna, Maestri continua seu percurso verdiano, atuando em montagens de Il Trovatore, Aida, Simon Boccanegra, Rigoletto e Nabucco. Aclamado tanto pelo público como pela crítica, Maestri é um dos barítonos mais reverenciados do cenário internacional. Nos últimos quatro anos, Maestri se dedicou a papeis de óperas de Puccini e do Verismo, participando de montagens de Tosca, Pagliacci e Cavalleria Rusticana em teatros de Viena, Munique, Zurique, Salzburgo e Tóquio. Durante sua carreira, foi dirigido por grandes regentes e diretores cênicos como Zubin Mehta, Daniele Gatti, Daniel Oren, Franco Zeffirelli, Robert Carsen, Graham Vick, Peter Stein e Bob Wilson, dentre outros.

Nelson Martinez

Nascido em Cuba, Nelson começou a carreira operística aos

Barítono

19 anos, tendo, desde o início, êxito em teatros de todo o mundo, interpretando uma grande variedade óperas italianas e francesas, bem como zarzuelas espanholas e cubanas. Nelson tem uma voz de barítono verdiano altamente dramática, combinando um legato elegante com musicalidade inteligente, além de uma presença de palco dominante. Em 2001, Nelson se mudou para os EUA, onde continua sua carreira operística, atuando com companhias de ópera de várias cidades americanas, como Saint Louis, Knoxville, Miami, Nova Jersey, Baltimore, dentre outras, e de vários países, como Espanha, França, China, Rússia, Coréia e México. No universo verdiano, Nelson Martinez interpretou o papel principal em Rigoletto, na Ópera Nacional da Grécia, em Atenas, e a personagem título em Nabucco, na Florida Grand Opera de Miami.

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Aclamado pela beleza de sua voz e rica expressão de suas

Rodrigo Esteves

interpretações, tem intensa carreira internacional brilhando

Barítono

nos palcos de Madri, Bilbao, Valencia, Tóquio, Monte Carlo, Mallorca, Pamplona, Sicilia, Cagliari, Buenos Aires, Spoleto, Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus, Belo Horizonte, Belém, entre outros. Venceu por duas vezes o Prêmio Carlos Gomes como melhor cantor e gravou na Espanha pela EMI e RTVE e, no Brasil, pela Algol e Biscoito Fino. Representou papeis principais em óperas como Don Carlo, Nabucco, Macbeth, Fastaff, Um Baile de Máscaras, Il Trovatore, La Traviata, de Verdi; Fausto, Romeu e Julieta, de Charles Gounod; I Pagliacci, de Leoncavallo; La Bohème e Tosca, de Puccini; O Cavaleiro da Rosa, de Richard Strauss; Canções das Crianças Mortas, A Canção da Terra, de Gustav Mahler.

Nascido em San Secondo Parmense, na Itália, Luca Salsi es-

Luca Salsi

treou no Teatro Comunale de Bolonha em A Escada de Seda

Barítono

de Rossini, em 1997. Desde então, estabeleceu uma carreira internacional apresentando-se em importantes teatros do mundo, como o Metropolitan de Nova York, Teatro alla Scala de Milão, Teatro Colón de Buenos Aires, Washington Opera, Los Angeles Opera, Staatsoper de Berlim, Teatro Regio de Parma, Teatro Lirico de Cagliari, Teatro Carlo Felice de Gênova e Teatro San Carlo de Nápoles. Trabalhou com importantes regentes, como Mark Elder, Gabriele Ferro, Daniele Gatti, Plácido Domingo, Gustavo Dudamel, Riccardo Muti, Renato Palumbo, Donato Renzetti, Emanuel Villaume e Alberto Zedda; e prestigiados diretores de cena, incluindo Daniele Abbado, Robert Carsen, Hugo De Ana, Giuseppe Patroni Griffi, Antony Minghella, Lamberto Puggelli, Maurizio Scaparro e Franco Zeffirelli. Nos últimos anos, interpretou Don Carlo em A Força do Destino, seguido de outros importantes papeis verdianos: Macbeth e Nabucco, ambos sob a regência de Riccardo


Muti, o papel principal em Rigoletto, Ford em Falstaff, Conte di Luna em Il Trovatore e Ernani em Don Carlo. Além disso, atuou como Marcello em La Bohème, Sharpless em Madama Butterfly, de Puccini, Fígaro em O Barbeiro de Sevilha, de Rossini, e Valentin no Fausto de Charles Gounod.

Virginia Tola

Natural de Santa Fé, Argentina, Virginia tem em seu reper-

Soprano

tório diversas obras sinfônicas e operísticas e se apresentou em importantes teatros, como o Palau de les Arts Reina Sofia de Valência, Ópera de Monte Carlo, Nederlandse Opera de Amsterdã, Teatro Colón de Buenos Aires, Ópera de Lausanne e Den Norske Opera de Oslo. Apresentou-se diversas vezes com Plácido Domingo pela Ásia, Europa e América do Norte. Interpretou a Condessa de Almaviva em As Bodas de Fígaro e Fiordiligi em Così fan Tutte, de Mozart, Violetta em La Traviata e Desdemona em Otello, de Verdi, Mimì em La Bohème, de Puccini, Micaela em Carmen, de Bizet, Rosina em O Barbeiro de Sevilha, de Rossini, Valencienne em A Viúva Alegre, de Franz Lehár, Margarita em Mefistófeles, de Arrigo Boito, e Nedda em I Pagliacci, de Leoncavallo. Destacam-se em sua discografia as gravações de Don Rodrigo e de Milena, obras do compositor argentino Alberto Ginastera.

Adriane Queiroz

A paraense Adriane Queiroz desenvolve sua carreira na Eu-

Soprano

ropa, principalmente na Alemanha, onde integra o ensemble de solista da Staatsoper de Berlim. Formada em canto pelo Conservatório Carlos Gomes, foi selecionada pela concorrida Academia de Música de Viena, onde se diplomou em ópera e atuou sob a direção de maestros como Barenboim, Nagano, Rene Jacobs, dentre outros. Cantou também com a Filarmônica de Berlim a Oitava Sinfonia de Mahler, com Pierre Bou-

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 150


lez, gravada pela Deutsche Grammophon. Em seu repertório operístico encontramos títulos como As Bodas de Fígaro, A Flauta Mágica, Così fan Tutte, Don Giovanni, Turandot e Carmen. Cantou Rosalinde, na opereta O Morcego, na Semperoper de Dresden. Paralelamente, realiza um trabalho de divulgação da música brasileira. Em 2011, gravou um álbum com Canções de Camargo Guarnieri. Ano passado, estreou a opereta O Estudante Mendigo, de Karl Millöcker, no festival de Mörbisch, Áustria, que também foi gravada e lançada pelo selo Oehms.

Reconhecida como uma das mais importantes sopranos bra-

Rosana Lamosa

sileiras, Rosana Lamosa é convidada frequentemente a atuar

Soprano

em palcos do Brasil e do mundo, tendo se apresentado em importantes teatros como o Carnegie Hall de Nova York e o Concert Hall de Seul. Interpretou Mélisande em Pelléas et Mélisande, de Debussy, Mimì em La Bohème, de Puccini, Violetta em La Traviata e Gilda em Rigoletto, de Verdi, Susanna em As Bodas de Fígaro, de Mozart, Marie em A Filha do Regimento, de Donizetti, e o papel princial em Manon, de Massenet. Além disso, se apresentou como Cecy em O Guarani, de Carlos Gomes, no Teatro São Carlos de Lisboa, no papel principal em Armide, de Gluck, no Buxton Festival, na Inglaterra e como Gilda em Rigoletto na Michigan Opera House. Recebeu o Prêmio APCA de melhor cantora em 1996 e o Prêmio Carlos Gomes em 1999 e 2002. Em 2009 recebeu a Ordem do Ipiranga do Governo de São Paulo, por serviços prestados à arte e à cultura. Gravou as Canções de Amor de Claudio Santoro, a ópera Jupyra de Francisco Braga com a Osesp, as Bachianas Brasileiras N. 5 de Villa–Lobos com a Nashville Symphony Orchestra, Canções de Gilberto Mendes e Missa de N. Sra. da Conceição de José Mauricio Nunes Garcia com a OSB.


Lina Mendes

Nascida em Niterói, ainda pequena Lina foi solista no Thea-

Soprano

tro Municipal do Rio de Janeiro nas óperas Tosca, de Puccini, Rigoletto, de Verdi, e A Flauta Mágica, de Mozart. Interpretou Nedda na ópera I Pagliacci, de Leoncavallo, e foi solista em Maroquinhas Fru-Fru de Ernst Mahle, La Canterina de Haydn, Un Mari à La Porte de Offenbach e em Orfeu e Eurídice de Gluck. No centenário do Theatro Municipal de São Paulo, interpretou Gilda na ópera Rigoletto, sob regência de Abel Rocha. Naquele mesmo ano, viveu Ninette da ópera O Amor das Três Laranjas de Prokofiev, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, sob regência de Isaac karabtchevsky. Em 2010, Lina foi convidada a participar do Schleswig Holstein Musik Festival, passando por diferentes cidades da Alemanha, sob regência de Rolf Beck, Christopher Hogwood, Stefan Parkman, Bobby McFerrin e Christoph Eschenbach. Nos últimos anos, cantou o papel de Nannetta, trechos da ópera Falstaff na sala de música de câmara do Teatro Regio de Parma; interpretou Liberty na ópera Ça Ira, de Roger Waters, no Theatro Municipal de São Paulo; como Blonde, participou da ópera O Rapto do Serralho de Mozart. No Palácio das Artes, em Minas Gerais, interpretou Oscar da ópera Um Baile de Máscara de Verdi.

Marco Frusoni

Marco Frusoni estreou em 2008 no Teatro dell’Opera de

Tenor

Roma em La Camerata Bardi, espetáculo que traça um percurso da ópera de Claudio Monteverdi a Andrea Morricone. No mesmo ano participou da apresentação da Missa de Glória, de Puccini, na Basílica de San Frediano em Lucca, com a Orquestra de Torre del Lago, que fez parte da celebração dos 150 anos do nascimento do compositor. No ano seguinte, no Teatro dell’Opera de Roma, interpretou Gabalo na estreia mundial de Il Re Nudo, de Luca Lombardi. Em Spoleto foi o protagonista de Il Cuoco e La

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Madama de Giuseppe Sigismondi e, em Teramo, Cassio, em Otello de Verdi, com Renato Bruson. Nos últimos anos, atuou no papel de Fenton, no Falstaff, e Alfredo, La Traviata, de Verdi, como Lord Riccardo Percy em Anna Bolena, de Donizetti, Rinuccio em Gianni Schicchi e Rodolfo em La Bohème, ambas de Puccini, como Don Josè na Carmen de Bizet, junto a Alberto Gazale, tendo se apresentado em diversos teatros de Milão, Modena, Pisa, Livorno e Verona.

O macedônio Blagoj Nacoski, após ter estudado em Skopje

Blagoj Nacoski

e Florença, estreou em 2003 no Teatro dell’Opera de Roma,

Tenor

no papel de Arturo, em Lucia di Lammermoor de Donizetti. Desde então, se apresentou nos mais prestigiados teatros do mundo: Teatro del Maggio Musicale de Florença, Teatro Carlo Felice de Gênova, Festival de Salzburgo, Concertgebouw de Amsterdã, Bayerische Staatsoper de Munique, Teatro Regio de Parma, Opernhaus de Zurique, Ópera de Frankfurt, Teatro Verdi de Trieste, Teatro La Fenice de Venezia, Teatro Lirico de Cagliari, Staatsoper de Stuttgart, dentre outras. Atuou no papel de Ferrando em Così fan Tutte, Tamino em A Flauta Mágica, Don Ottavio em Don Giovanni, Belmonte em O Rapto do Serralho, Scipione em Il sogno di Scipione, de Mozart; Ernesto em Don Pasquale, Nemorino em O Elixir do Amor, de Donizetti; Lindoro em L’Italiana in Algeri, Don Narciso em Il Turco in Italia, Almaviva em O Barbeiro de Sevilha, de Rossini; Fenton em Falstaff, de Verdi; Elvino em La Sonnambula, de Bellini; Peter Quint em A Volta do Parafuso, Lysander em Sonho de um Noite de Verão, de Britten. Paralelamente às suas atuações operísticas, Blagoj Nacoski também se dedicou à música sinfônica, tendo se apresentado no Il Quirinale, o palácio presidencial italiano; foi o tenor solista na Sinfonia N.9 de Beethoven, além de ter cantado várias vezes o Messias de Händel e a Missa em Si Menor de J. S. Bach em Roma, Florença e Bolonha.


Denise de Freitas

Em 2013, Denise de Freitas brilhou como Azucena em Il Tro-

Mezzo-Soprano

vatore, de Verdi, no Festival do Teatro da Paz, e como Fricka em As Valquírias, de Richard Wagner, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Em 2012, cantou Waltraute em O Crepúsculo dos Deuses, de Richard Wagner, no Theatro Municipal de São Paulo. Recebeu o Prêmio Carlos Gomes de melhor cantora em 2004, 2009 e 2012. Apresentou-se na ópera Yerma em Berlim, Paris e Lisboa. Seu repertório inclui Dalila, Compositor (Ariadne), Mère Marie (Diálogo das Carmelitas), Cherubino, Nicklausse (Les Contes d'Hoffmann), Siebel (Fausto), O Raposo (Raposinha Esperta), além de Suzuki, Laura, Adalgisa e Charlotte. Apresentou-se sob a regência dos maestros Isaac Karabtchevsky, Luiz Fernando Malheiro, John Neschling, Silvio Viegas, Fabio Mechetti, Jamil Maluf, Marcelo de Jesus, Rafael Frühbeck de Burgos, J. Pons, K. Martin, C. Villaret e R. Armstrong. E atuou sob a direção de Jorge Takla, Aidan Lang, Carla Camurati, Lívia Sabag e André Heller. Estudou com L. Prioli e se aperfeiçoou com C. Green, P. McCaffrey e com S. Sass.

Luciana Bueno

Estreou em O Barbeiro de Sevilha como Rosina, sob direção

Mezzo-Soprano

de Enzo Dara. Desde então tem se apresentado como Carmen (Carmen), Donna Elvira (Don Giovanni), Lola (Cavalleria Rusticana), João (João e Maria), Suzuki (Madama Butterfly), Meg Page (Falstaff), Katisha (O Mikado), Giulietta (Os Contos de Hoffmann), Aksinya (Lady Macbeth de Mtzenski), La Cenerentola (Cenerentola), Romeo (I Capuleti e I Montecchi), Mãe (Poranduba), Teresa (Magdalena), Mãe/ Xícara Chinesa/Libélula (O Menino e os Sortilégios de Ravel), Miss Jessel (The Turn of the Screw) e Mãe, na estreia de O Menino e a Liberdade, de Ronaldo Miranda. Foi Suzuki, em Madama Butterfly, na Royal Opera Canada e solista no Glória de Vivaldi, Messias de Händel, Requiem de Verdi, Missa em Dó Menor de Mozart, Missa em Dó Maior e Nona Sinfonia de Beethoven e

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Lobgesang de Mendelssohn. Estudou com Pier Miranda Ferraro (Itália) e Leilah Farah, e atualmente desenvolve repertório com Ricardo Ballestero.

A carreira de Elisabetta Fiorillo tem início com a conquista

Elisabetta Fiorillo

do primeiro prêmio no Concurso Mattia Battistini di Rieti, em

Mezzo-Soprano

1983, destacada por sua qualidade de mezzo-soprano dramática, típicamente verdiana. É no universo deste compositor que ela se desenvolve, tendo se apresentado nos mais importantes teatros italianos, como o La Fenice de Veneza, o San Carlo de Nápoles, o Regio de Turim, o Comunale de Florença; aplaudida por sua interpretação de Eboli em Don Carlos, Amneris em Aida, Preziosilla em A Força do Destino, Ulrica em Um Baile de Máscaras e, sobretudo, de Azucena em Il Trovatore, essa última interpretada também em Viena e Mônaco com regência de Zubin Mehta e na Opernhaus de Zurique com Riccardo Chailly. Elisabetta é presença frequente em teatros europeus, como a Deutsche Oper de Berlim, a Staatsoper de Hamburgo, a Bayerische Staatsoper de Munique e o Liceu de Barcelona. Destacam-se em sua discografia o Requiem de Guiseppe Verdi, lançado pela Deutsche Grammophon, La Gioconda, de Ponchielli, pela EMI, e L’Arlesiana de Francesco Cilea, pela Bongiovanni.

Depois de ter estudado em Turim, Veneza e Siena, Romina

Romina Boscolo

Boscolo foi para a Salzburgo e, sob a orientação de Christa

Mezzo-Soprano

Ludwig, foi apresentada ao universo mahleriano; sua estreia cantando o ciclo Kindertotenlieder foi recebida com muito entusiasmo. Aos 20 anos, estreou no palco dramático como Ramiro em La Finta Giardiniera de Mozart, no Teatro Gustavo Modena de Gênova. Anos depois, interpretou pela primeira vez uma personagem protagonista, como Isabella em A Ita-


liana em Argel, no Teatro Carignano de Turim. Em 2005, recebeu o primeiro reconhecimento internacional com o Prêmio Jovem Promessa do Concurso Renata Tebaldi em San Marino. Nos anos seguintes alcançou sucessos em concertos, como no Réquiem de Dvorák, Édipo Rei de Stravinsky, Stabat Mater de Pergolesi e algumas estreias operísticas como Adalgisa em Norma, Maddalena em Rigoletto, Ottavia em L'incoronazione di Poppea de Claudio Monteverdi. Dentre os trabalhos recentes e futuros, destacam-se Il Trítico pucciniano em Colônia, Falstaff em Sassari e Jesi, Gianni Schicchi de Puccini em Parma e o Messias de Händel em Bari.

Saverio Fiore

Saverio fez sua estreia em 1998 na ópera Il fortunato inganno

Tenor

de Gaetano Donizetti, no Festival della Valle D’Itria; desde então, participou de montagens de La bohème, Madama Butterfly, Don Pasquale, La traviata, Don Carlo e Werther. Em 2009, estreou no Festival de Salzburgo com Riccardo Muti. Foi muito aclamado em Lucia di Lammermoor no Teatro del Maggio Musicale de Florença e no Parsifal em Valência, ambas montagens com regência de Lorin Maazel. Cantou em importantes teatros da Itália, como o Teatro Filarmonico in Verona, o Teatro La Fenice de Veneza, Teatro dell’Opera de Roma, e com grandes maestros como Seiji Ozawa, Renato Palumbo e Zubin Mehta. No último ano, se apresentou em Florença e em Roma e para este ano está escalado a participar de montagens de Nabucco em Salzburgo, Aida, Rigoletto, Gala Verdi em Verona, I Pagliacci em Cagliari, Nabucco e Simon Boccanegra em turnê pelo Japão com o Teatro dell’Opera de Roma.

Diógenes Ranges

Nascido em São Paulo, Diógenes Randes recebeu seu pri-

Baixo

meiro pepel no Theater Freiburg aos 24 anos e, naquele te-

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atro, interpretou por três anos importantes papeis como Sarastro, na Flauta Mágica, Banco em Macbeth, Sparafucile em Rigoletto, Guglielmo em Così fan Tutte e Timur em Turandot. Anos mais tarde, Diógenes fez parte da Staatsoper de Hamburgo, onde atuou em importantes óperas de Mozart, Wagner, Verdi, Puccini e Palestrina. Recentemente, Diógenes Randes foi ouvido interpretando Gurnemanz em Parsifal, em Manaus, Padre Guardiano em A Força do Destino, em Barcelona, Daland em O Holandês Voador, em Tóquio, como Pistola em Falstaff e como Colline em La Bohème em Toulouse, Hans Foltz em Os Mestres Cantores de Nuremberg e Fafner em O Ouro do Reno, em Bayreuth. Atuou sob a regência de grandes maestros como Claudio Abbado, Riccardo Chailly, Daniele Gatti, Maurizio Benini e Christian Thielemann.

Reconhecido pela crítica como um dos grandes artistas de

Saulo Javan

ópera do Brasil, tem se apresentado nas principais casas de

Baixo

concerto do país, como a Sala São Paulo, o Theatro Municipal de São Paulo, Theatro São Pedro, Teatro Tobias Barreto, Teatro Santa Isabel, entre outros. Gravou a Sinfonia Ameríndia, de Heitor Villa-Lobos, com a Osesp, interpretou Padre José em Magdalena, de Villa-Lobos, Bonzo em O Rouxinol, de Stravinsky, Ramphis em Aida, de Verdi, Dulcamara em O Elixir do Amor e Don Pasquale, ambas de Donizetti e Simone em Gianni Schicchi, de Puccini. Integrou o elenco da Cia. Brasileira de Ópera e cantou o papel de Bozo na estreia da ópera Dulcinéia e Trancoso, de Eli-Eri Moura. Outras performances incluem Salieri, em Mozart & Salieri, de Rimsky-Korsakov, O Homem dos Crocodilos, de Arrigo Barnabé, O Franco Atirador, de Weber, Don Giovanni e As Bodas de Fígaro, de Mozart, Alcina, de Händel, Escamillo em Carmen, de Bizet, e Treemonisha, de Scott Joplin. Em 2002, venceu o Concurso de Canto Villa-Lobos, em Araçatuba.


Stefano Consolini

Formado pelo Teatro Comunale de Bolonha, sob orientação

Tenor

do Maestro Paride Venturi, Stefano Consolini iniciou prontamente uma carreira brilhante. Foi residente de alguns teatros e festivais internacionais, como o Teatro Indipendente de Santa Fé, na Argentina, Sava Center, de Belgrado, Teatro Nazionale da Tunísia, Festival de Santander, apesar de ter concentrado sua carreira principalmente na Itália, onde cantou em importantes teatros: Teatro alla Scala, Teatro Massimo de Palermo, Teatro Donizetti de Bérgamo, Teatro dell’Opera de Roma, Teatro Carlo Felice de Gênova, Teatro La Fenice de Veneza, Teatro Comunale de Bolonha, Teatro Verdi de Trieste, Teatro Regio de Turim e Teatro San Carlo de Nápoles. Seu repertório é vasto, incluindo La Traviata, Um Baile de Máscara, Il Trovatore, Rigoletto, Nabucco e Falstaff, de Verdi; Tosca, Turandot, Manon Lescaut, La Bohème e Madama Butterfly, de Puccini; A Falsa Simples e Le Nozze di Figaro, de Mozart; Lucia di Lammermoor, de Donizetti; A Viúva Alegre, de Franz Lehár; Orfeu no Inferno, de Jacques Offenbach, dentre outros.

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Theatro Municipal de São Paulo Temporada Lírica 2014

Maio e Junho

Carmen Georges Bizet Mai qui (29) às 20h, sáb (31) às 20h Jun ter (03 / 10), qua (11) qui (05 / 11) e sáb (07) às 20h, dom (01 / 08) às 18h Theatro Municipal de São Paulo Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo Coro Lírico Municipal de São Paulo Regência Ramón Tebar Direção Cênica Filippo Tonon Cenografia Juan Guillermo Nova Carmen Rinat Shaham / Luisa Francesconi Don José Thiago Arancam / Fernando Portari Escamillo Rodrigo Esteves / David Marcondes Micaela Lana Kos / Andrea Aguilar Frasquita Marta Torbidoni Mercedes Malena Dayen Dancairo Francis Dudziak Remendado Rodolphe Briand Morales Norbert Steidl / Vinícius Atique Zuñiga Massimiliano Catellani

Setembro

Salomé Richard Strauss ter (09 / 16), qui (11 / 18) e sáb (06 / 20) às 20h dom (14) às 18h Theatro Municipal de São Paulo Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo Regência John Neschling Direção Cênica Livia Sabag Cenografia Nicolás Boni Figurinos Veridiana Piovezan Desenho de Luz Wagner Pinto Coreografia Ana Paula Mastrodi Salomé Nadja Michael / Alexandrina Pendatchanska Herodes Peter Bronder / Jürgen Sacher Herodias Iris Vermillion / Alejandra Malvino Jochanaan Steven Mark Doss / Michael Kupfer

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Narraboth Stanislas De Barbeyrac / István Horváth

Novembro / Dezembro

1º Judeu Paulo Chamié–Queiroz 2º Judeu Rubens Medina 3º Judeu Eduardo Trindade 4º Judeu Miguel Geraldi 5º Judeu Sérgio Righini 1º Nazareno Carlos Eduardo Marcos

Tosca Giacomo Puccini Nov sáb (29) às 20h | dom (30) às 18h Dez ter (02 / 09), qui (04 / 11) e sáb (06 / 13) às 20h dom (07 ) às 18h

2º Nazareno Sérgio Weintraub

Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo

1º Soldado Marcos Carvalho

Coro Lírico Municipal de São Paulo

2º Soldado Paulo Menegon

Regência Oleg Caetani

Capadócio Jonas Mendes

Direção Cênica Marco Gandini

Pajem de Herodias Elaine Martorano Escravo Elisabeth Ratzersdorf

Outubro

Floria Tosca Amanda Echalaz / Ausrine Stundyte Mario Cavaradossi Marcelo Alvarez / Stuart Neill Scarpia Roberto Frontali / Nelson Martinez Cesare Angelotti Massimiliano Catellani

Cavalleria Rusticana / I Pagliacci

Sacristão Saulo Javan

Pietro Mascagni / Ruggero Leoncavallo

Spoletta Luca Casalin

ter (21 / 28), qua (29), qui (23) e sáb (18 / 25) às 20h dom (19 / 26) às 18h Theatro Municipal de São Paulo Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo Coro Lírico Municipal de São Paulo Regência Ira Levin Direção Cênica (Cavalleria Rusticana) Pier Francesco Maestrini Direção Cênica (I Pagliacci) Francesco Micheli Cenografia Juan Guillermo Nova Santuzza Tuija Knihtlä / Elena Lo Forte Turiddu Giancarlo Monsalve / Marcello Vannucci Alfio Angelo Veccia / Francesco Landolfi Lola Luciana Bueno Mamma Lucia Lídia Schäffer Canio Walter Fraccaro / Richard Bauer Nedda Inva Mula / Marina Considera Tonio Angelo Veccia / Francesco Landolfi Beppe Daniele Zanfardino / Saverio Fiore Silvio Davide Luciano / Norbert Steidl

Programação sujeita a alterações.


FALSTAFF

Juliana Neves

Isabel Vieira

Sinopse e gravações

Diego Rocha de Carvalho

Lua Gimenez

de referência

Regente Assistente

Aderecistas

Mara Feres

Irineu Franco Perpetuo

Michelangelo Mazza

Allan Torquatto

Marcela Costa

André Vizotto

Marina Peev

Tradução do Libreto

Pianistas Correpetidores

Assistentes

Samara Cardoso

e Legendas

Anderson Brenner

de Aderecista

Sheila Campos

Hugo Casarini

Paulo Almeida

Alicio Silva

Tamyris Alves

Rafael Andrade

Karen Luizi

Croquis dos figurinos

Michael Costa Almeida

Modelistas

Nery Mordoch

Nilda Dantas

Alex Bingó

Rúbia de Campos

Judite de Lima

Alexandra Ucanda

Cenotécnicos

Elizangela Dally

André Madrini

João Ferreira de Oliveira

Tandara Hoffman

Andréia Ferriello

Pedro Lino de Oliveira

Alfaiates

Felipe Barros

Produtor de Cenografia

Betto Rigor

Gabriel Castilho

Marcos Terra

Miguel Arrua

Atores

Giballin Gilberto

Serralheiros

Helena Cukier

José Gomes dos Santos

Costureiras

Henrique Rizzo

David de Souza Oliveira

Antonio Fernandes

Leila Bass

Diogo Junior V. de Jesus

Claudineia Cavalcante

Nubia Cabral

Samuel de S. Nascimento

Cristina França

Renan Sant'Anna

Secretaria Administrativa

Dilma de Oliveira

Renato Caetano

Any Ribeiro

Dirlene Emilio

Victor Gomes

Assistente de Produção

Ivete Dias

Dhones R. dos Santos

Josefa Maria Gomes

Visagista

Lucia Medeiros

Washington Lins

Cenografia

Simone Batata

Laurita Machado

Giò Forma

Assistente de Visagismo

Aderecistas

Assistente de Cenografia

Tiça Camargo

João Carlos Silva

Nathalie Deana

Maquiadores

Beto Casal de Rey

Produção de Cenografia

Alina Peixoto

Edu Paiva

Praxinoscópio Produções

Bia Bombom

Estagiários

Cenográficas

Bruno Cezar

João Paulo Bertini

Coordenação de

Caroline Gonzaga

Ana Oliveira

Execução Cenográfica

Diogo Souza

Rogério Pinto

Renato Theobaldo

Elisani Souza

Nina Nuerenberger

Roberto Rolnik

Giulia Piantino

Renata Candido

Equipe de Projeto

Gleice Diana

Rosana Rocha

Eduardo Orelana

Inais Tereza

Gabriela Menacho

Gianluca Falaschi

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Orquestra Sinfônica

Gerson Nonato**

Flautas

Roney Stella*

Municipal de São Paulo

Kleberson Buso**

Cássia Carrascoza*

Hugo Ksenhuk

Karen Crippa**

Marcelo Barboza*

Luiz Cruz

Diretor Artístico

Violas

Andréa Vilella

Marim Meira

John Neschling

Alexandre De León*

Cristina Poles

Agnelson Gonçalves**

Silvio Catto*

Renan Dias Mendes

Tuba

Primeiros-violinos

Abrahão Saraiva

Michel de Paula**

Gian Marco de Aquino*

Martin Tuksa (spalla)

Tânia de Araújo Campos

Oboés

Harpa

Pablo De León (spalla)

Adriana Schincariol

Alexandre Ficarelli*

Jennifer Campbell*

Maria Fernanda Krug

Bruno de Luna

Rodrigo Nagamori*

Paola Baron*

Fabian Figueiredo

Cindy Folly Farias

Marcos Mincov

Piano

Adriano Mello

Eduardo Cordeiro

Victor Astorga**

Cecília Moita*

Fábio Brucoli

Eric Schafer Licciardi

Clarinetes

Percussão

Fábio Chamma

Jessica Wyatt

Luís Afonso Montanha*

Marcelo Camargo*

Fernando Travassos

Pedro Visockas

Otinilo Pacheco*

César Simão

Francisco Ayres Krug

Roberta Marcinkowski

Diogo Maia Santos

Magno Bissoli

Heitor Fujinami

Tiago Vieira

Domingos Elias

Sérgio Coutinho

John Spindler

Everton de Souza**

Marta Vidigal

Thiago Lamattina

José Fernandes Neto

Violoncelos

Fagotes

Tímpanos

Liliana Chiriac

Mauro Brucoli*

Fábio Cury*

Danilo Valle*

Mizael da Silva Júnior

Raïff Dantas Barreto*

Marcos Fokin*

Márcia Fernandes*

Paulo Calligopoulos

Mariana Amaral

Matthew Taylor*

Violão

Rafael Bion Loro

Alberto Kanji

Marcelo Toni

Vitor Garbelotto**

Sílvio Balaz

Charles Brooks

Osvanilson Castro

Gerente da Orquestra

Victor Bigai

Cristina Manescu

Renato Perez**

Paschoal Roma

Segundos-violinos

Joel de Souza

Trompas

Assistentes

Andréa Campos*

Maria Eduarda Canabarro

André Ficarelli*

Yara de Melo

Laércio Diniz*

Moisés F. dos Santos

Luiz Garcia*

Manuela Cirigliano

Nadilson Gama

Sandro Francischetti

Eric Gomes da Silva

Inspetor

Otávio Nicolai

Teresa Catto

Rogério Martinez

Carlos Nunes

André Luccas

Ana Chamorro**

Vagner Rebouças

Montadores

Dajvan Caetano

Contrabaixos

Flavio Vilela Faria**

Alexandre Greganyck

Edgar Montes Leite

Taís Gomes*

Mario Rocha**

Paulo Broda

Evelyn Carmo

Sanderson Cortez Paz

Trompetes

Helena Piccazio Ornellas

Adriano Costa Chaves

Fernando Guimarães*

* Chefe de naipe

Oxana Dragos

Miguel Dombrowski

Marcos Motta*

** Músico convidado

Ricardo Bem-Haja

Ricardo Busatto

Breno Fleury

Sara Szilagyi

Vinicius Frate

Eduardo Madeira

Ugo Kageyama

Walter Müller

Albert Santos**

Wellington R. Guimarães

André Teruo**

Trombones


Coro Lírico do

Mônica Martins

Diógenes Gomes

Prefeitura do Município

Theatro Municipal

Contraltos

Eduardo Paniza

de São Paulo

Celeste do Carmo

Jang Ho Joo

Prefeito

Regente Titular

Claudia Arcos

Luis Orefice

Fernando Haddad

Bruno Greco Facio

Clarice Rodrigues

Marcio Martins

Secretário Municipal

Regente Assistente

Elaine Martorano

Miguel Csuzlinovics

de Cultura

Sérgio Wernec

Lidia Schäffer

Roberto Fabel

Juca Ferreira

Pianistas

Magda Painno

Sandro Bodilon

Marcos Aragoni

Mara Dalva de Alvarenga

Baixos

Fundação Theatro

Marizilda Hein Ribeiro

Margarete Loureiro

Claudio Guimarães

Municipal de São Paulo

Sopranos

Maria José da Silveira

Fernando Gazoni

Direção Geral

Adriana Magalhães

Vera Ritter

Jessé Vieira

José Luiz Herencia

Berenice Barreira

Tenores

José Nissan

Diretora de Gestão

Claudia Neves

Alex Flores de Souza

Josué Silva

Ana Flávia Cabral S. Leite

Elaine Moraes

Antonio Carlos Britto

Leonardo Amadeo Pace

Elayne Caser

Dimas do Carmo

Marcos Carvalho

Instituto Brasileiro

Elisabeth Ratzersdorf

Eduardo Pinho

Orlando Marcos

de Gestão Cultural

Graziela Sanchez

Eduardo de Góes

Rafael Thomas

Presidente do Conselho

Huang Shu Chen

Eduardo Trindade

Sérgio Righini

Cláudio Jorge Willer

Ivete Montoro

Fernando de Castro

Assistente

Diretor Executivo

Jacy Guarany

Gilmar Ayres

Cristina Cavalcante

William Nacked

Juliana Starling

Joaquim Rollemberg

Inspetora

Diretora Técnica

Marcia Costa

José Silveira

Eugenia Sansone

Isabela Galvez

Angélica Feital

Luciano Goés

Montador

Diretor Financeiro

Maria Antonieta Soares

Luiz Antonio Doné

Alfredo Barreto de Souza

Neil Amereno

Milena Tarasiuk

Marcello Vannucci

Diretor Artístico

Monique Corado

Márcio Lucas Valle

John Neschling

Marivone P. Caetano

Miguel Geraldi

Diretora de Produção

Marta Mauler

Paulo Chamié Queiroz

Cristiane Santos

Nadja Sousa

Renato Tenreiro

Direitos Autorais

Rita de Cassia Polistchuk

Rúben de Oliveira

Olivieri Advogados Associados

Rosana Barakat

Rubens Medina

Sandra Félix

Sérgio Sagica

Mezzo-Sopranos

Valter Felipe

Diretoria Geral

Elisa Nemeth

Valter Estefano Mesquita

Assessora

Erika Mendes Belmonte

Barítonos

Maria Carolina G. de Freitas

Heloísa Junqueira

Alessandro Gismano

Secretárias

Keila de Moraes

Ary Lima Jr.

Ana Paula S. Monteiro

Juliana Valadares

Daniel Lee

Marcia de Medeiros Silva

Maria Luisa Figueiredo

Davi Marcondes

Monica Propato

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 164


Cerimonial

Arquivo Artístico

Antonio Oliveira Almeida

Lindinalva M. Celestino

Egberto Cunha

Coordenadora

Alexandre N. Pinheiro

Maria Auxiliadora

Sofia Amaral Ramos

Maria Elisa P. Pasqualini

Aristide da Costa Neto

Maria Gabriel Martins

Bilheteria

Assistente

Cláudio Nunes Pinheiro

Marlene Collé

Nelson F. de Oliveira

Ana Raquel Alonso

Cristiano T. dos Santos

Nina de Mello

Arquivistas

Edival Dias

Regiane Bierrenbach

Diretoria Artística

Ariel Oliveira

Ermelindo T. Sobrinho

Tonia Grecco

Assessoria de

Guilherme Prioli

Julio de Oliveira

Direção Artística

Karen Feldman

Lourival F. Conceição

Stefania Gamba

Leandro José Silva

Marcelo Luiz Frosino

"Chico Giacchieri"

Luís Gustavo Petri

Leandro Ligocki

Paulo Miguel Filho

Coordenação de Costura

Central de Produção

Clarisse De Conti

Copista

Rodrigo Nascimento

Emília Reily

Secretária

Ana Cláudia Oliveira

Thiago Panfieti

Acervo de Figurinos

Eni Tenório dos Santos Coordenação de

Ação Educativa

Programação Artística

Aureli Alves de Alcântara

João Malatian

Assistentes

Marcela de Lucca M. Dutra

Elisabeth de Pieri

Assistente

Ivone Ducci

Ivani Rodrigues Umberto

Contrarregras

Acervo de Cenário

Diretor Técnico

Centro de Documentação

Alessander de O. Rodrigues

e Aderecista

Juan Guillermo Nova

Chefe de seção

Bruno Farias

Aloísio Sales

Assistente de

Mauricio Stocco

Carlos Bessa

Expediente

Direção Técnica

Equipe

Eneas Leite

José Carlos Souza

Giuseppe Cangemi

Lumena A. de Macedo Day

Marcelo Luiz Frosino

José Lourenço

Piter Silva

Paulo Henrique Souza

Diretor de Palco Cênico Ronaldo Zero

Diretoria de Produção

Sandra Satomi Yamamoto

Assistente de Direção

Produção Executiva

Chefe de Som

de Palco Cênico

Anna Patrícia Araújo

Sérgio Luis Ferreira

Lais Gabriele Weber

Sabrina Mirabelli

Rosa Casalli

Operadores de Som

Carolina Paes Simão

Assistente de Direção

Produtores

Guilherme Ramos

Cristina Gonçalves Nunes

Cênica Residente

Aelson Lima

Daniel Botelho

João Paulo Alves Souza

Julianna Santos

Pedro Guida

Kelly Cristina da Silva

Juçara A. de Oliveira

Segunda Assistente

Miguel Teles

Chefe de Iluminação

Juliana do Amaral Torres

de Direção Cênica

Nathalia Costa

Valéria Lovato

Oziene O. dos Santos

Ana Vanessa

Assistente de Produção

Iluminadores

Paula Melissa Nhan

Assistente de Direção

Arthur Costa

Alexandre de Souza

Vera Lucia Manso

Diretoria de Gestão

Igor Augusto F. de Oliveira

Cênica e Casting Sérgio Spina

Palco

Luciano Paes

Assistência

Figurinista Residente

Chefe da Cenotécnica

Fernando Azambuja

Administrativa

Veridiana Piovezan

Aníbal Marques (Pelé)

Ubiratan Nunes

Alexandro R. Bertoncini

Produção de Figurinos

Técnicos de Palco

Camareiras

Seção de Pessoal

Fernanda Câmara

Antonio Carlos da Silva

Alzira Campiolo

Cleide Chapadense da Mota


José Luiz P. Nocito

Informática

Designer Assistente

Agradecimentos

Solange F. França Reis

Ricardo Martins da Silva

Ana Lobo

Escarlate

Tarcísio Bueno Costa

Renato Duarte

André Kavakama

Hotel Marabá

Estagiários

Atendimento

Parcerias

Victor Hugo A. Lemos

Michele Alves

Suzel Maria P. Godinho

Yudji A. Otta

Impressão Imprensa Oficial do

Contabilidade

Arquitetura

Alberto Carmona

Lilian Jaha

Cristiane Maria Silva

Estagiários

Diego Silva

Marina Castilho

Luciana Cadastra

Vitória R. R. Dos Santos

Estado de São Paulo

Marcio Aurélio O. Cameirão Meire Lauri

Seção Técnica de Manutenção

Compras e Contratos

Edisangelo R. da Rocha

George Augusto

Eli de Oliveira

Rodrigues

Narciso Martins Leme

Jessica Elias Secco

Estagiário

Marina Aparecida Augusto

Vinícius Leal

Infraestrutura

Comunicação

Marly da Silva dos Santos

Editor e Coordenador

Antonio Teixera Lima

Marcos Fecchio

Cleide da Silva

Editor assistente

Eva Ribeiro

Gabriel Navarro Colasso

Israel Pereira de Sá

Mídias Eletrônicas

Luiz Antonio de Mattos

Desirée Furoni

Maria Apª da C. Lima

Assessoras de Imprensa

Pedro Bento Nascimento

Amanda Sena

Therezinha P. da Silva

Daniela Oliveira

Almoxarifado Nelsa A.Feitosa da Silva

Design Gráfico

Bens Patrimoniais

Kiko Farkas/ Máquina

José Pires Vargas

Estúdio

theatro municipal de são paulo_temporada 2014_pg 166



co-realização

Organização Social de Cultura do Município de São Paulo

patrocínio

apoio



MUNICIPAL. O PALCO DE Sテグ PAULO


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