Adriana Sgarbossa
Ilustraçþes de
Anelise do Carmo
__________________________________________________________________ __ Sgarbossa, Adriana. S523c A confusão de “risadinha” [recurso eletrônico] / Adriana Sgarbosa ; aquarelas de Cláudio Del Prá Netto. – dados eletrônicos. -[Florianópolis : s.n.], 2015. ISBN: 978-85-920265-0-9 1. Literatura infanto-juvenil. I. Del Prá Netto, Cláudio. II. Título. CDD: 028.5 CDU: 087.5 ___________________________________________________________________
Adriana Sgarbossa
Ilustraçþes de
Anelise do Carmo
APRESENTAÇÃO Era uma vez uma menina de olhos escuros, pele escura, cabelos escuros, que não tinha medo do escuro e só vestia roupa escura porque tinha medo de clarear
Era uma vez uma menina de olhos escuros, pele escura, cabelos escuros, que nรฃo tinha medo do escuro e sรณ vestia roupa escura porque tinha medo de clarear
Esta menina não brincava na rua porque a rua era clara. Ela também não comia ovos porque o ovo além da gema tem a clara e ela tinha medo de se branquear com o branco da clara.
Ela tambĂŠm nĂŁo gostava de olhar o sol porque o sol brilhava demais e ela tinha medo de que seus olhos amarelassem e deixassem de ser escuros como a noite. Por isso sĂł brincava com a luz apagada.
Seus amigos eram os mais estranhos que uma criança poderia imaginar... Do tal do bicho papão ela não tinha medo não. Do jacaré que devorava criancinhas, esse elatinha como o maior herói nas histórias que ela conhecia. O tal do lobo mau que perseguiaa chapeuzinho vermelho, os sete cabritinhos e os três porquinhos, esse ela convidava para participar de todas as suas brincadeiras criadas em seu quarto com a luz apagada.
E assim era essa menina... Corajosa que ela só. Tudo que dava medo às outras crianças ela nem se importava. Do que as outras se borravam de medo ela se rolava de tantas gargalhadas.
Porém um dia... Do quarto escuro ela teve que sair... Seus amigos vilões não quiseram com ela ir. Então precisou ir só. Com ela foi somente a coragem do escuro e o medo da claridade. Agora ela se borrava de medo do que antes ela nem imaginava.
Desesperada, pensava na perda da cor dos seus olhos, pele e cabelos. Com certeza nĂŁo gostaria da nova menina que ela se tornaria se o sol a clareasse. NĂŁo! Ficar clara nem pensar. Ela se gostava do jeito que era: olhos escuros, pele escura, cabelo escuro e roupa escura.
Então paralisou! Do lugar de onde estava de lá não passou. O medo assombrava seus pensamentos. Justo ela que nunca teve medo do que dava medo para todas as outras crianças. - isso é esquisito e intrigante! - pensava a menina. Pensava e pensava em como ela podia perder o medo daquele medo que ela nunca teve.
Mas espere aí! Se ela estava sentindo medo do medo que ela nunca sentiu, então as coisas começavam a clarear em seus pensamentos. Porque simplesmente esse medo era um medo inexistente. Sim, claro! Como ela podia sentir medo de um medo que ela nunca sentiu? E ela não parava mais de pensar... Se a clareza dos seus pensamentos em relação ao medo que ela nunca sentiu, trazia coragem e alegria em seu coração, isso podia significar então que o claro também era bom. O claro e todos os seus derivados - tanto o de sentido como o literário. - que interessante! - concluia ela.
Então a menina decifrou: se o claro e seus derivados são "bons", então ela não precisava sentir medo do "claro"! Para que ter medo de algo que era bom? E mais, se agora ela não precisava mais ter medo do claro e ela nunca sentiu medo do escuro, então ela podia se sentir uma menina corajosa, isso mesmo. Corajosa! Como muitas crianças que conhecemos por aí.
E foi exatamente neste momento, que a menina que sentia medo de viver algo diferente porque não queria perder o que para ela era permanente - deixou de sentir medo e passou a viver contente. Do seu quarto corajosamente ela saiu. Saiu sem medo do que causavatanto medo. Daquele tal medo inexistente. Agora ela brincava na claridade da rua, da escola, do parque , do circo e do sitio. Comia ovos preparados de várias formas; ovos mexidos, ovos cozidos e até os fritos, que ela não se incomodava, porque agora ela sabia que não ia clarear, podia comer a clara e a gema sem se importar. Olhava deslumbrada para o brilho do sol e pensava em como ele eraautosuficiente
Já não sentia mais aquele medo de deixar de ser o que ela realmente era. Já não tinha mais medo de clarear e passou a ser conhecida como "uma menina de olhos escuros, pele escura, cabelos escuros, que vestia roupas escuras, mas que brincava com todos aqueles que a ela se juntavam sem medo ou preconceito»
Era a menina que um dia teve medo de clarear.
FIM