Foto: arquivo pessoal / Waldizia
no Pré-Carnaval
História passada a vista Foliões relembram Pré-carnavais de Fortaleza. // PÁG. 10
Jornal Laboratório da Faculdade Cearense | Curso de Jornalismo | Fortaleza, agosto | dezembro de 2012
Mobilidade Urbana e Segurança Pública preocupam a população de Fortaleza durante o pré-carnaval
Foto: Edson Cândido
POLÍTICA
Pré-carnaval ainda é sinônimo de incerteza Atraso no edital é o principal impasse para a realização da festa PÁG. 3
SAÚDE
Nutrição e bem-estar A nutricionista Débora Fonseca dá dicas para aproveitar a folia com energia PÁG. 5 O congestionamento do trânsito causa transtornos à população que precisa passar próximo aos locais de pré-carnaval PÁG. 6 e 7 Foto: Arquivo O POVO
ECONOMIA
Com que roupa eu vou? Foto: Imaculada Mendonça
Folia movimenta economia durante os fins de semana
CULTURA
Evento é rentável para blocos de rua e para vendedores itinerantes PÁG. 4 Bloco Matracas de Iracema sai pelas ruas de Fortaleza esbanjando beleza e fantasia PÁG. 9
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Focas no Pré-Carnaval Jornal Laboratório
EDITORIAL O tema proposto nesta edição do Focas é o Pré-Carnaval de Fortaleza. Desde a votação para a definição do assunto principal até as escolhas das pautas, geraram-se vários debates em sala pelo tema ter se mostrado mais complexo do que aparentava. Nesta edição, buscamos ir além do que é mostrado pela mídia no Pré-Carnaval, fazendo um giro em diversas áreas, mostrando o dinamismo e os variados eventos proporcionados. Apresentamos a você, leitor, os destaques que fornecerão as mais variadas informações. As editorias vão expor os diversos ângulos e facetas que a festa vem proporcionando durante muitos anos. Neste Focas, queremos mostrar que o Pré-Carnaval da capital resgata a cultura popular e faz uma formulação identitária do fortalezense. Os eventos espalhados pela cidade se dividem entre blocos de bonecos, de bandas que tocam marchinhas, de samba, tradicionais e temáticos. Fortaleza recebe o mesmo evento, mas de uma maneira que atrai todos os públicos. Sem dúvida, o Pré-Carnaval é uma das festas mais aguardadas pelos fortalezenses, que veem nele, uma válvula de escape para fugir da rotina conturbada. Uma festa como essa merece total visibilidade, não somente por parte da população, mas principalmente, pelo poder público. Em tempos de mudança de gestão, muitas interrogações estão em cena e o Pré-Carnaval é uma delas. Caso tal evento não continue, perdem os blocos, perde o público, perdem a cidade e sua cultura. Contudo, fica o registro do Focas no Pré-Carnaval. Divirtam-se com a leitura!
OMBUDSMAN É interessante observar como a ‘’bebida’’ chamada Carnaval possui sabores específicos em cada região brasileira. Na maioria das cidades nordestinas, por exemplo, veste um ar popular, ‘’embriagando’’ centenas de pessoas. E não satisfeitos com aquele curto (?) período de folia, alguém criou o pré-carnaval. Portanto, o tema do Focas não poderia ser mais pertinente. Percebe-se a preocupação dos redatores em envolver o maior número de assuntos possíveis com o cuidado de ouvir personagens variados, dando um movimento ao texto. Como jornal Laboratório, o Foca vem dando uma contribuição inestimável na preparação do estudante para o mercado de trabalho, na medida em que exercem o processo de apuração e utilizam as técnicas tão necessariamente repetidas em sala de aula. E, como jornal laboratório, é natural que alguns escorrego, nada grave, sejam percebidos. Ainda teimo na questão da repetição de títulos, às vezes, na mesma página. É necessário um olhar acurado na hora de titular. Por exemplo, na página 3, o subtítulo (“Falta apenas 15 dias...) ficou mais evidência que o título (“A festa pode...”). O mesmo acontece na página 4 (matéria sobre os ambulantes). No Editorial, os alunos propõem “ir além do que é mostrado pela mídia no Pré-Carnaval” e, alguma vezes, estas afirmações criam expectativas que podem frustrar o leitor.
Senti falta das ‘’facetas” propostas pelo Editorial. Quais facetas? Os assuntos abordados foram importantes e pertinentes, mas não tão distantes da mídia tradicional. Nada, no entanto, que tire o mérito do trabalho dos estudantes. Agora, o que mais senti falta foi a presença maior do folião dos bairros nas páginas dessa edição do Focas. Da folia que se desconcentra da linda Praia de Iracema e vai para as ruas mais distantes com a mesma alegria e o mesmo despojamento. Estas manifestações mais bairristas ainda existem? Em quais locais? Acabaram? Por quê? Houve uma elitização da folia? Confundiu-me um pouco os neurônios a matéria da página 9 (“Com que roupa...”), quando há uma ênfase maior ao bloco Matracas de Iracema e não ao folião, embora ele esteja no texto. No decorrer das linhas, os redatores tiveram a preocupação de ‘’cuidar’’ de seus textos. Percebe-se que as matérias foram tratadas gramaticalmente com respeito. Houve um comprometimento com o leitor. E isso é muito importante no jornalismo. No mais, é só parabenizar os alunos pelo esforço em cumprir uma tarefa tão prazerosa para quem realmente abraçou a profissão.
Mara Cristina Redatora da coluna Target, cronista da revista Move e professora de jornalismo da FaC
Quer falar conosco?! Escreva-nos jornalfocas@gmail.com
EXPEDIENTE O dia que o Rei Momo cobriu o pôr-do-sol Alexandre Paiva
Focas no Pré-Carnaval é uma publicação da disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso, da Faculdade Cearense - Turma 2012.2 noite. Os textos assinados refletem o trabalho jornalísticos dos estudantes da disciplina. Conselho editorial Carolina Barbosa // Ligia Xavier // Eduardo Siqueira // Rochelle Nogueira // Ramon Cidade Projeto gráfico André Luís Cavalcanti Diagramação Thiago Cordeiro Bezerra - @thijoey Ombudsman Profa. Mara Cristina Castro Orientação e revisão da edição Profa. Klycia Fontenele Coordenador do Curso de Jornalismo Prof. Edmundo Benigno Gestor Acadêmico Prof. Marco Antonio Diretor Geral Prof. José Luiz Torres Mota Tiragem: 500 exemplares Faculdade Cearense - Campus I: Av. João Pessoa, 3884 Damas. Fortaleza - Ceará. Fone: (85) 3201.7000. www.faculdadescearenses.edu.br
Se soubesse que o trânsito estaria com aquele aspecto de caos, outro percurso teria feito. Mas se assim o fizesse, não encontraria a moral desta história, mais adiante. Na tarde daquele sábado de janeiro, alheio às programações e esquemas da cidade, achei que era dia perfeito para reencontrar a brisa à beira-mar e sentar para assistir ao cair do sol. No meu desaviso, percebi que acontecia ali o pré-carnaval: já era tarde para voltar atrás. Nem a fila de carros, que crescia logo após o meu, permitiria tal mudança de ideia. Não, não cairei no lugar comum de ser o mal-humorado-intolerante-alheio-à-manifestação-das-massas-populares, esse papel deixo para outros chatos de plantão, não, realmente só me veio uma ruga da incompreensão ao tentar entender a forma como se organiza - ou não - aquela folia ali dita democrática e popular, que esquece que uma outra grande porção de povo é colocada de escanteio em virtude da alegria dos blocos e do prazer dos foliões. Privacidade, sossego e trânsito pessoal, direito a silêncio e paz, quanta bobagem, não é gente? O que importa o outro quando se quer ser feliz com os amigos ao som de uma marchinha bacana de carnaval? Cinco horas depois, voltava para casa sem o pôr do sol e sem a brisa; dispensado pelo Rei Momo.
Edson Cândido
“A estrela d’alva no céu desponta, e a lua anda tonta com tamanho esplendor...”
Durante a década de noventa, na pacata cidade de Orós – CE, acontecia sempre duas semanas antes do Carnaval, o badaladíssimo baile na casa da Dona Delvair. Era um momento ímpar para todos os moradores da pequena cidade. Na radiola ABC tocavam as velhas e eternas marchinhas. Uma das foliãs era minha mãe, muito empolgada e festeira, era uma das organizadoras do evento. Seu nome era Socorro, mas ela gostava de ser chamada Maria do Socorro. Maria do Socorro tinha o hábito de me caracterizar de Batman. Eu me achava ridículo, patético, mas ela adorava e se divertia como a foliã mor que animava a casa. A trilha sonora do pré-carnaval tinha as velhas marchinhas de grandes compositores, como Chiquinha Gonzaga, Braguinha, Jararaca dentre outros. Lembro-me como se fosse hoje do sorriso e do entusiasmo de minha mãe, cantarolando ao som da bendita radiola ABC. Mas, eis que um dia a música na radiola parou. Foi um silêncio sepulcral que marcou aquela festa de 1993. A minha Maria do Socorro não mais cantou “A estrela d’alva no céu disponta...”. E na casa da Dona Delvair ficaram apenas as lembranças das marchinhas. De resto apenas o Batman com sua pálida capa ridícula e patética.
Pré-carnaval: diversão ou indústria das marcas? Wescley Gomes A música é o samba. O batuque dos tambores é o abre-alas para que o bloco possa passar. Ao longe o som da marchinha é ouvida e cantada: “Ei você aí, me dá um dinheiro aí”. Mas, o que tudo indica é que não são apenas os foliões que cantam esse refrão. Ouvem-se também as empresas que patrocinam esses eventos, fantasiadas com suas marcas imbuídas com o desejo de fazer do pré-carnaval, um espaço para divulgação de seus produtos, visando fervorosamente ao lucro, sem ressaltar o faturamento que elas recebem pelo simples fato de estarem presentes nesses espaços. Mas, quando é que o pré-carnaval passa de folia a um evento enriquecedor de uma marca? A partir do momento em que as cadeias econômicas que movimentam a cidade passam a circular diversas mercadorias, elevam e beneficiam apenas a marca empresarial na sociedade. Contudo, o que de fato buscamos é uma pluralidade que beneficie dos ambulantes, que disputam os espaços com os foliões, até as indústrias hoteleiras e alimentícias, sem que apenas uma logomarca se torne o combustível principal do evento. Essa mudança depende de nós como coautores dessa festa. Não permitir a mutação de um evento popular em uma indústria cultural, pois enquanto nos preocuparmos em apenas vestir a camisa personalizada do nosso bloco e sair pulando atrás dos paredões cantando os “enfincas”, as grandes empresas vão cantando sua marchinha preferida: “mamãe eu quero mamar, dá a chupeta, dá chupeta pro bebê não chorar”.
Respeito à individualidade Ramon Cidade Pré-carnaval início de um movimento que separa as pessoas entre os que gostam e os que não gostam. Há os que reclamam e os que não se incomodam. Há os que apoiam e os que odeiam. Esta separação cria várias definições para a festa. A dificuldade de acesso a algumas ruas e o barulho produzido pelas manifestações é o lado mais desagradável para aqueles que moram nestes locais. De toda forma, para as pessoas que não gostam da festa não há como reclamar. O protesto se dá com a mudança do local, evitando certas ruas ou viajando neste período. É necessária maior consciência daqueles que se entregam as comemorações, e o respeito deve sempre prevalecer entre as partes. Não gostar do pré-carnaval não é um crime e sim outra forma de encarar este momento. O mais adequado seria criar locais específicos de comemoração, respeitando o espaço público e as pessoas que lá vivem. A criação de leis para organizar as comemorações inibiria atos de vandalismo e condutas inadequadas. O respeito à individualidade é um dos princípios mais importantes de uma sociedade, mas parece que o poder público não se interessa em criar este tipo de política.
Focas no Pré-Carnaval Jornal Laboratório
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POLÍTICA
A festa pode acabar? FALTA APENAS 15 DIAS PARA O FIM DO ANO E O EDITAL PARA O PRÉ-CARNAVAL DE FORTALEZA AINDA NÃO FOI LANÇADO. UM IMPASSE ENTRE A GESTÃO ATUAL DA PREFEITURA DE FORTALEZA E A QUE IRÁ ASSUMIR NO ANO QUE VEM PODE SER O MOTIVO PARA QUE OS FESTEJOS NÃO ACONTEÇAM Foto: Baqueta
Falta de recurso pode apagar o brilho dos blocos
Daniele de Andrade Victor Almeida Wescley Gomes
N
OPINIÃO
A FOLIA COM OS DIAS CONTADOS
Foto: Baqueta
o dia 18 de outubro de 2012, o então candidato a prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PSB), assinou um termo de compromisso para viabilizar e realizar o pré-carnaval de 2013 por meio da política de editais. Três dias depois era o seu adversário na disputa, Elmano de Freitas (PT), quem assinava o mesmo termo. Eram tempos de acirramento eleitoral, às vésperas do segundo turno, e esse foi só um dentre vários outros termos de compromisso assinados pelos candidatos. Um ano antes, no final de outubro de 2011, a Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor) divulgava o resultado do edital para o Pré-Car-
naval 2012. Na ocasião, foram contemplados 60 blocos, cada um com R$ 6 mil, totalizando um investimento de R$ 360 mil. Esse suporte possibilitou a realização do evento em praticamente todas as regiões da cidade, um marco do avanço na política de editais que surgiu em 2007 – ano em que 45 blocos foram apreciados com um total de R$ 247,5 mil. Nos três anos seguintes, 50 blocos foram premiados anualmente com um investimento de R$ 300 mil. O cronograma era sempre o mesmo em todos esses anos: divulgação dos editais em meados de agosto, com o resultado na metade do mês de outubro. A diferença é que, neste ano, o edital para o pré-carnaval de 2013 ainda não foi lançado, situação que pode prejudicar o crescimento e a consolidação do pré-carnaval como manifestação cultural do povo de Fortaleza.
“Um retrocesso depois do crescimento” Segundo o diretor e um dos fundadores do Bloco Jeguerê, Roberto Miranda, os editais ainda não foram lançados devido à “troca de prefeito”. Ele informou ainda que sem a verba disponibilizada pelo edital ficará difícil realizar a festa. “Nos outros anos foram quatro sábados de festa. Em 2013, só poderemos bancar dois sábados e estes dependerão de patrocínios ou da ajuda dos componentes, como quando o bloco começou. Um retrocesso depois do crescimento”, desabafa. O Bloco Jeguerê foi fundado há 11 anos, no bairro de Messejana, a partir da reunião de amigos que decidiram brincar carnaval pelas ruas do bairro. Segundo Miranda, no começo foi bem difícil devido à falta de apoio. “O Jegue, símbolo do bloco, só desfilava porque os próprios organizadores bancavam a festa com o que podiam. Devido à escassez de recursos, a festa era pequena, restrita praticamente aos moradores de uma mesma rua. Com o adven-
to dos editais, o bloco cresceu e se organizou”, conta. Os blocos precisam da verba do edital para pagamento de banda, estrutura de palco e som, seguranças e banheiros. Como todos os selecionados desfilam em locais públicos e não cobram qualquer taxa dos brincantes, o não repasse dos valores inviabiliza a maioria deles. Dos 60 blocos que saíram no ano passado, poucos vão sobreviver e os que resistirem desfilará de forma precária. De acordo com a Secretária de Cultura de Fortaleza, Fátima Mesquita, o pontapé inicial para a realização da festa já foi dado pela atual gestão, a reafirmação do compromisso fica agora por conta do próximo gestor. A secretária afirma ainda que não tem competência legal para definir a programação de 2013. “O que iremos deixar são os editais elaborados, o comitê gestor instalado e os procedimentos para as autorizações já iniciados.”, explica.
Victor Almeida
O pré-carnaval passou a ser incluído na política cultural da Prefeitura de Fortaleza a partir de 2007, com o lançamento do edital de apoio aos blocos. O crescimento do evento no decorrer dos anos e sua descentralização, para os mais diversos bairros da cidade, só mostra que a iniciativa foi acertada. Entretanto, vieram os equívocos (ou omissões!). Dada à magnitude da festa e a importância dos editais para que ela se realize não se entende porque não foram criadas formas de institucionalizar o evento, definindo em lei a obrigação do lançamento dos editais anualmente. Alguns falam do Fundo Municipal de Cultura, que a menos de 15 dias do
fim da gestão Luizianne Lins não foi votado. A atual gestão que chega ao fim (e teve boas iniciativas na área da cultura!) é justamente a primeira a se beneficiar das conveniências políticas para não lançar o edital para 2013. Se em 2010 e 2011, e em anos anteriores, o assunto “pré-carnaval” era tratado entre agosto e outubro, não há explicação para que esse edital ainda não tenha sido lançado. Eleições? Tudo bem! Mesmo assim ainda teriam novembro e dezembro para o lançamento. E “cadê”? Pensando dessa forma, podemos detectar até certa contradição no depoimento da Fátima Mesquita (Secretária de Cultura) à reportagem, afirmando que está preparando tudo para, na próxima gestão, realizar o PréCarnaval 2013. Ela só não falou que a festa já começa em janeiro e que a próxima gestão sequer ainda definiu quem irá substituí-la.
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Focas no Pré-Carnaval Jornal Laboratório
ECONOMIA
Blocos de rua investem em atrações para o público Foto: arquivo O POVO
OS FOLIÕES CONTAM COM UMA VARIEDADE DE EVENTOS, CURSOS E RESSALTAM A NECESSIDADE DE MAIOR INVESTIMENTO PARA O APOIO DA FESTA
Bloco Unidos da Cachorra no Pré-Carnaval de Fortaleza em 2012
Vanessa Lima
O
s eventos realizados pelos blocos de rua vão além do período do pré-carnaval e se estendem durante o ano. São exemplos o arraiá do bloco Que Folia é Essa?, o São João da Cachorra, do bloco Unidos da Cachorra e a tradicional festa do Saci, festa à fantasia que reúne a participação de DJ, bateria e prêmios concedidos às melhores vestimentas do dia. O Bloco do Baqueta desenvolve a Festa Azul e Lilás em sua sede, que ocorre no mês de novembro. Ele apresenta o grupo de ritmistas femininas Baqueta Cor de Rosa e a Bateria do Bloco do Baqueta. Além do valor gasto nas festas, os brincantes pagam a matrícula, as camisetas e a mensalidade para se integrar nas oficinas de instrumentos
típicos carnavalescos. O publicitário Tayro Mendonça participa do Baqueta Clube de Ritmistas desde março de 2009. Tayro destaca que não teve dificuldades financeiras relativas ao bloco e que sempre aproveita as apresentações regulares nas ruas do Centro e Dragão do Mar. “Pretendo continuar participando do pré-carnaval, é uma grande oportunidade de se divertir e fazer muitos amigos.”, finaliza. Concursos são realizados para atrair o folião, o bloco Unidos da Cachorra instituiu a escolha do samba enredo. O vencedor recebe o prêmio de mil reais e a gravação do samba em estúdio. Cada concorrente deve pagar uma taxa de vinte reais por samba enredo inscrito. A proposta é eleger a letra e a música para o pré-carnaval. O conteúdo precisa respeitar a cultura do povo e qualquer interessado pode participar, sendo associado ou não ao grupo. Para que a festa esteja completa é necessário
que participantes se sintam seguros nos lugares ocupados. A assistente jurídica Karine Abreu toca no Baqueta há um ano. Karine considera que o dinheiro destinado pela prefeitura é simbólico diante da necessidade maior de estrutura. “A segurança não é totalmente garantida, existe muita concentração de violência nesse período. No précarnaval passado tive de sair mais cedo do que o previsto por conta das brigas que ocorrem nos locais, o que gera insegurança.”, observa. De acordo com a Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor) todos os anos são divulgados os editais de apoio ao pré-carnaval da cidade. A Seculfor certifica que o investimento aumentou, sendo inicialmente R$ 247,5 mil em 2007, ano em que o primeiro edital foi lançado. Para o ano de 2012 foram selecionados 60 blocos e cada um recebeu o valor de R$ 6 mil, um investimento total de R$ 360 mil, a fim de promover o acesso aos recursos públicos durante a festa.
Bloco Camaleões da Vila estreou no Pré-Carnaval 2012.
AMBULANTES
Folia é momento de ganhar dinheiro extra A PREFEITURA DE FORTALEZA RECEBE TODOS OS ANOS INSCRIÇÕES DE QUEM DESEJA TRABALHAR NO PRÉ-CARNAVAL. OS INTERESSADOS PODEM SE INSCREVER COMO ITINERANTES OU VENDEDORES QUE DESEJAM MONTAR BARRACAS Carolina Barbosa
A
venda de lanches e bebidas é o único meio de renda para Rosimeire Tavares que trabalha em eventos há 19 anos junto ao esposo e filho. “O desemprego está muito grande. A gente vive do jeito que pode.”, contou a vendedora. No evento, que geralmente acontece nos meses de janeiro e fevereiro, a vendedora consegue aumentar o lucro da família. “No Pré-Carnaval é muito bom. Tirando as despesas, a gente tira até dois salários mínimos.”, explica. O estudante Júnior Moura (22) trabalhou como ambulante não regularizado durante dois dias do Pré-Carnaval 2012 de Fortaleza, na Praia de Iracema. “Só fiquei sabendo depois que vendi tudo, os ambulantes que estavam lá me avisaram”, relembra. O que para Júnior e muitos outros é normal, para a Prefeitura de Fortaleza é irregular, pois ela realiza todos os anos, através
das Secretarias Executivas Regionais (SERs), a inscrição para os ambulantes que vão comercializar alimentos e bebidas no Pré-Carnaval da cidade. De acordo com a Assessoria de Comunicação da SER II, este ano foram ofertadas 50 vagas para barracas que foram definidas por sorteio. “Teve épocas que a gente precisava dormir na porta para conseguir uma ficha para fazer a inscrição. Agora, para as barracas, eles fazem um sorteio. Isso fez foi piorar, porque quem não é sorteado não pode trabalhar.”, reclama a vendedora. Os sorteados pagaram uma taxa de inscrição que, este ano, foi de uma cesta básica por sábado. As vagas para os itinerantes (que vendem em isopores) foram definidas por ordem de chegada e a taxa de inscrição foi um quilo de leite em pó por sábado. No total, foram arrecadados, no Pré-Carnaval e no Réveillon 2012, 560 cestas básicas e 1.603 quilos de leite em pó. Os alimentos foram doados a quatro
entidades beneficentes. Além da realização do sorteio, Rosimeire também queixou-se da mudança de localização das barracas. “Nesse último [pré-carnaval] eu não fui sorteada, ia ficar sem trabalhar. Teve uma família que inscreveu seis pessoas para o sorteio. As seis foram sorteadas. Eu trabalhei porque uma pessoa me deu uma vaga dela, porque ela viu que eu ia ficar sem trabalhar. Sem falar que esse ano, eles colocaram a gente na areia. Muita comida se estragou porque as pessoas não iam até lá.”, reclama. A Assessoria de Comunicação da SER II justificou o sorteio como uma questão de justiça, para que não haja favorecimento de nenhum ambulante em detrimento do outro. Em relação à localização, a assessora afirma que as barracas foram alocadas próximas à areia do Aterro da Praia de Iracema para favorecer a passagem dos pedestres, dos brincantes e para que as barracas ficassem próximas ao local de passagem dos blocos.
Os vendedores não cadastrados correm o risco de terem seus produtos apreendidos pela fiscalização no dia do evento. Rosimeire está sempre atenta às datas e locais de inscrições. “Eu sempre faço tudo direitinho. Eu tenho medo de não fazer e eles pegarem minhas coisas. Aí eu não vou ter o que vender. Sempre me cadastro.”, explica. Em relação à fiscalização, os vendedores contam a mesma versão. Júnior afirma que havia uma fiscalização no local. “Eu vi, mas não sei se eles me viram. Eu fiquei vendendo, não me constrangi.”, e Rosimeire confirma: “Tem muita fiscalização. Mas é para uns sim e para outros não.”. De acordo com a Assessoria a fiscalização é feita por fiscais, agentes de fiscalização e coordenadores de equipes das Secretarias Executivas Regionais, nos bairros que são da sua competência. Serviço: SER II - Rua Profº Juraci de Oliveira, 01 Edson Queiroz
Focas no Pré-Carnaval Jornal Laboratório
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BEM ESTAR
Nutricionista dá dicas sobre alimentação durante o pré-carnaval A SELEÇÃO DAS REFEIÇÕES NAS FESTAS DE PRÉ-CARNAVAL PODE TRAZER EFEITOS NEGATIVOS À SAÚDE. ALIMENTAR-SE DE MANEIRA ADEQUADA ANTES, DURANTE E DEPOIS DA FOLIA É ESSENCIAL PARA MANTER A ENERGIA DO CORPO
S
anduiches, espetinhos com farofa, batatinha frita e bolos são vendidos na rua em períodos de pré-carnaval. São eles os principais causadores de aumento de peso e doenças. De acordo com a nutricionista, com especialização em Nutrição Estética e Emagrecimento, Débora Fonseca, nessa ocasião a maioria das pessoas se descuida da saúde. Para ela, essa mudança impensada na alimentação pode levar à fadiga, disfunção do fígado e rins, carências nutricionais e desidratação. A nutricionista fala ainda sobre a importância da alimentação durante o pré-carnaval. Segundo ela, “o ideal é uma alimentação balanceada, consumindo frutas, verduras e alimentos energéticos como pão, arroz, batata, macarrão entre outros. Outro ponto de extrema importância é a hidratação. Beba bastante água, o sol e o calor do verão podem te desidratar rapidamente.”, ensina. Débora recomenda a todas as pessoas que pretendem curtir o bom e animado carnaval de rua a ficar atenta à alimentação. Para não faltar energia enquanto se divertem, os foliões não devem sair de casa sem se alimentar antes. É importante evitar alimentos gordurosos como churrascos, feijoadas e frituras. Para quem gos-
Foto: arquivo pessoal
Márcia Delmiro
ta de cerveja e outras bebidas com álcool, não é recomendado beber em jejum, é aconselhável alternar com o consumo de água. Isso vai ajudar a manter a hidratação e o bem estar geral. A nutricionista adverte que os cuidados devem estar ligados à higiene e acondicionamento do alimento a ser consumido. É importante perceber se o local apresenta limpeza. Outro fator importante é saber se o alimento é do dia. “Alimentos sem a qualidade higiênico-sanitária adequada podem levar a problemas intestinais e acabar com sua festa. Observe atentamente quem manipula os alimentos, suas condutas e o local em que ele trabalha.”, explica a nutricionista. De acordo com Aline Costa, Técnica da Célula de Vigilância Sanitária e Ambiental de Fortaleza, em 2013 podem ocorrer mudanças por conta da nova gestão, mas no ano de 2012 as fiscalizações aconteceram. Para que um comerciante pudesse vender alimentos durante o pré-carnaval, ele deveria se cadastrar nos órgãos de meio ambiente e controle urbano da regional em que pretendia realizar o comércio de alimentos. Após essa inscrição, ele passaria por um curso sobre noções de higiene e manipulação de alimentos, oferecido pela Célula de Vigilância Sanitária e Ambiental de Fortaleza (em algumas Regionais devido à grande demanda de ambulantes é realizado um sorteio). O curso fornecia um certificado de partici-
Bloco Vila Folia
pação, que é um documento que condiciona o recebimento da autorização, pelo Meio Ambiente e Controle Urbano. Os nomes e a localizações dos blocos do pré-carnaval são repassados para a Vigilância Sanitária pela Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor). Durante a realização do pré-carnaval 2012, foram disponibilizados por sábado um total de 60 profissionais entre fiscais e técnicos de apoio. A equipe foi dividida de acordo com o número de ambu-
lantes cadastrados. Quando encontrada alguma anormalidade, é realizada a apreensão dos produtos irregulares. Caso seja necessária a retirada do ambulante, o fato é comunicado a Equipe de Meio Ambiente e Controle Urbano que é responsável pela autuação e retirada do ambulante. A fiscalização nesses eventos já acontece há bastante tempo, porém, Aline não sabe informar quando começou.
ENTREVISTA
“De artista e de louco, todos nós temos um pouco” Foto: arquivo pessoal
Érica Oliveira
F
oi com essa marchinha que o bloco de pré-carnaval e carnaval “Doido é tu” foi campeão do carnaval de rua de Fortaleza em 2012. O Bloco vem contribuindo para redução do preconceito que separa os classificados como “normais” daqueles considerados “Doidos”, e na construção de um novo olhar sobre a saúde mental. Eliza Gunther é Gestora Cultural, idealizadora do projeto e coordenadora do bloco. Para ela, a iniciativa levanta algumas questões na sociedade: Quem é louco? Saúde Mental Onde Está a Sua? Como lidamos com as nossas diferenças? Focas - Como surgiu a ideia do projeto? Eliza Gunther - A ideia do Bloco de Carnaval “Doido é Tu”, surgiu dentro do Projeto Arte Saúde. Projeto que insere atividades de criação e expressão artísticas junto aos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial). Sentindo a força mobilizadora do carnaval, em 2007 propus aos artistas do Projeto Arte Saúde a criação do Bloco “Doido é Tu”.
Eliza Gunther em desfile do bloco Doido é Tu
Focas - Quantas pessoas são atendidas pelo projeto? Eliza Gunther - Consideramos atendidos todos os brincantes do Bloco “Doido é Tu” 600 pessoas, entre pacientes e profissionais. Embora alguns tenham uma maior participação. Por exemplo, as oficinas de música, adereço, confecção de fantasia, chegam a envolver no conjunto das ações um número até maior de pessoas. Jun-
tando muitos dos usuários que participam dos eventos de pré-carnaval ou das oficinas nos CAPS ou na Fundação Educacional Silvestre Gomes, que não vão para a Avenida chegamos a envolver aproximadamente 1000 pessoas. Focas - Quando o bloco deixou de ser ideia e foi às ruas? Eliza Gunther - No ano de 2007, o bloco saiu nas ruas das proximidades do CAPS, durante o pré e o carnaval. Já em 2008 o Bloco saiu na Avenida Domingos Olympio dentro da programação do carnaval de Rua de Fortaleza, como bloco Alternativo. Em 2010, ganhou o edital de pré-carnaval da Prefeitura e até os dias de hoje o bloco vem se estruturando cada vez mais. Focas - Quem compõe o bloco? Eliza Gunther - O Bloco é composto por em média 600 foliões, dos quais mais ou menos 70% são pessoas com transtorno mental. Os outros 30% que integram o bloco são profissionais da área de saúde: médicos, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, terapeutas ocupacionais e simpatizantes do Bloco. Focas - Como é o pré-carnaval do “Doido é tu”? Eliza Gunther - O bloco sai nas ruas do bairro Rodolfo Teófilo e proximidades, com uma banda de metais, percussão e cinco musicos. São quatro sábados de pré-carnaval e pura folia. A cada sábado é chamado três CAPS para compor
o bloco. Assim fazemos aquela festa com a comunidade. Focas - Como o projeto ajuda no tratamento dos pacientes? Eliza Gunther - Acredito que na medida em que o Bloco envolve os pacientes em um trabalho coletivo, lúdico e criativo contribuindo para que o indivíduo se sinta: aceito socialmente, parte de um grupo, pertencendo a uma determinada organização. Colabora desse modo no processo de fortalecimento de identidade, aumento da autoestima, conquista de autoconfiança e confiança no grupo, ampliação da autonomia. Portanto, oportuniza situações geradoras de saúde mental. Focas - Que objetivos foram alcançados? Eliza Gunther - Compreendemos o Bloco como um direito da pessoa portadora de transtorno mental, aos espaços de criação, expressão e manifestação de alegria. Um espaço de inclusão pela paz, pela criatividade, onde não tem espaço para o preconceito e de uma forma poética se lançam algumas questões: Quem é louco? Saúde Mental Onde Está a Sua? Como lidamos com as nossas diferenças? Enfim, eu acredito que o Bloco é gerador de saúde na medida em que ele abre oportunidades de construção de novas sociabilidades, aceitação das diferenças e valorização dos talentos individuais sem querer enquadrá-los em uma estética padrão.
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Focas no Pré-Carnaval Jornal Laboratório
CIDADES
Últimos ajustes para a folia COM A REALIZAÇÃO DE MAIS UM PRÉ-CARNAVAL, MOBILIDADE, SEGURANÇA E TRANSPORTE PÚBLICO SÃO COLOCADOS EM DEBATE Foto: Edson Cândido
População de Fortaleza reclama do trânsito nos locais onde acontecem pré-carnaval
Edmundo Clarindo Mariana Menezes Thiago Conrado
R
uas interditadas, desvios de tráfego, linhas de ônibus alteradas e esquema de segurança reforçado. Essas são algumas mudanças que a festa que antecede ao carnaval traz para a cidade de Fortaleza. O pré-carnaval da capital do Ceará é realizado durante os meses de janeiro e fevereiro. Mais de cem blocos carnavalescos enchem a cidade de alegria e alto-astral. Milhares de foliões vão às ruas para festejar e dançar ao som das marchinhas tradicionais e músicas agitadas, junto com familiares e amigos. Mas, nem tudo é festa. A realização de um evento desse porte requer um conjunto de ações. A prefeitura Municipal de Fortaleza é a principal responsável por todo o processo de elaboração da folia. O planejamento e a organização do pré-carnaval começam a serem feitos com meses de antecedência. Mobilidade urbana, segurança e transporte público são as principais preocupações dos órgãos públicos e dos fortalezenses.
Mobilidade Urbana Existe uma grande parcela de alencarinos que não participam do pré-carnaval, mas aca-
Empurra nas vias próximas ao pré-carnaval
bam com o cotidiano alterado pelas modificações feitas, como: ruas interditadas e desvios. A grande pergunta é como a prefeitura vai atender os foliões, sem prejudicar as pessoas que não frequentam a festa. Para Bruno Salmito, morador da Rua Deputado Moreira da Rocha, o que mais incomoda no período pré-carnavalesco são os transtornos causados pelo trânsito. “Além do congestionamento, sou obrigado a passar algumas informações para os agentes de trânsito. Antes eles perguntavam o nome da rua que eu morava, agora querem saber também o nome do prédio, até o apartamento”, conta. Ele informou não haver, com frequência, engarrafamentos na rua em que mora, “quando está engarrafado já sabemos que tem algum evento nos arredores”, ressalta. Disraelli Brasil, gerente de operações da Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania (AMC), explica que o órgão fiscaliza apenas os pré-carnavais que são apoiados pela Prefeitura e Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secutfor), cerca de cinquenta no total. “Em toda a cidade são mais de cem blocos, e a AMC não possui agentes suficientes para cobrir toda a demanda”, afirma Disraelli. Disse ainda que a responsabilidade de consultar a população sobre a realização do pré-carnaval é da organização dos blocos carnavalescos. Depois da aprovação dos moradores, os blocos solicitam junto às regionais um efetivo da Autar-
quia para realizar a operação de fiscalização do trânsito durante a folia. Com relação ao tráfego no local, o gerente conta que o órgão faz um levantamento junto a Etufor para saber quais os itinerários que serão interditados. Então, é feito um estudo pela AMC para saber se o bloqueio das ruas para a realização da festa não acarretará em transtornos no tráfego. A afirmativa de Disraelli é contestada por Silvana de Deus, comerciante, que mora na Praia de Iracema, onde ocorre uma das maiores concentrações de foliões. Quando perguntada se foi consultada para a realização do evento, a comerciante afirma: “Não houve nenhuma consulta aos moradores”. Ela disse ainda que a folia não causa nenhum transtorno para a sua família. Mas, Silvana conta que algumas ruas, como a Tenente Benévolo, João Cordeiro e AV. Historiador Raimundo Girão, ficam tomadas por veículos e foliões. Paulo Cézar Ribeiro, motorista, mora na Rua Padre Justino. Conta que a rua é interditada, provocando transtornos a ele por causa dos engarrafamentos que são mais frequentes, “até demais”, ressalta. Além disso, “os guardas de trânsito pedem para que todos mostrem comprovantes de endereço para ter certeza de que a pessoa mora no local”, afirma. O rapaz informa que frequenta e gosta bastante da folia. “O pré-carnaval é muito importante, pois é uma boa oportunidade aos ambulantes que precisam vender, mas por outro lado a festa tem seu
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Foto: Edson Cândido
lado negativo, por causa dos roubos e brigas que acontecem com bem mais frequência.”, revela Paulo Cézar. A AMC informa que a operação do précarnaval conta com o apoio de 120 agentes de trânsito que fiscalizam e realizam bloqueios em algumas vias para garantir o acesso seguro aos blocos. Há uma concentração maior de agentes da Autarquia nos três locais onde o pré-carnaval possui um maior fluxo de pessoas. São eles: Praia de Iracema, Benfica e Centro. Nos dias em que acontece a folia, os bloqueios vão até às 23hs ou até que a maior parte do público já tenha sido dispersada. A folia não se limita à Praia de Iracema. Outros locais, como o Centro da cidade, também recebem uma grande quantidade de fortalezenses. Edineide Melo, operadora de micro, costuma ir de carro para o pré-carnaval do Centro. Ela conta que não encontra nenhuma dificuldade de ir e voltar do evento. Mas, diz que é fundamental chegar cedo. Contudo, de acordo com Edineide, quem chegar tarde não encontrará problema para estacionar, pois existem inúmeras vagas para os carros, além de estacionamentos pagos. Nos outros bairros, a AMC, juntamente com as Secretarias Executivas Regionais, autoriza também o bloqueio de vias para a concentração de aproximadamente 50 blocos de pré-carnaval. A orientação é de que os bloqueios sejam feitos apenas na concentração e chegada dos blocos.
Transporte público Algumas pessoas necessitam do transporte público para se locomover até o local dessas festas. Muitas não sabem da existência de linhas especiais para o pré- carnaval e por sentirem insegurança acabam ficando em casa. Durante a realização do Pré-Carnaval na Praia de Iracema, a Etufor, informa que reforça a frota de ônibus nos sábados de janeiro e fevereiro. Além dos 1.208 coletivos que já estão em circulação, mais dez carros extras intensificam os trajetos de ida e volta da festa, fazendo as ligações diretas dos terminais da Parangaba e Antônio Bezerra ao local do evento. Esses ônibus ficam à disposição da população a partir das 15 horas. São monitorados por uma equipe de dez agentes operacionais do órgão, que estão distribuídos em carros e motos circulando pela Praia de Iracema. Nos dias de folia, a operação também é controlada por meio das centrais de monitoramento instaladas nos terminais de integração. As rotas dos ônibus sofrem alteração e farão desvios, conforme indicado pela AMC. As alterações são feitas somente para o précarnaval da praia de Iracema, tendo em vista a grande quantidade de pessoas que o frequentam. Segundo a Etufor, os ônibus disponibilizados para os outros locais já são suficientes.
População de Fortaleza depende do transporte público para ir aos pré-carnavais espalhados pela cidade
Foto: Edson Cândido
CRÔNICA
MEU PRIMEIRO PRÉ-CARNAVAL Luana Clemente
População reclama do pouco policiamento onde acontecem os pré-carnavais
Segurança Muitas pessoas deixam de ir para a folia com medo de assaltos e furtos. Manoel Cruz, estudante, relata que existe pouco policiamento no pré-carnaval do Benfica. “Já fui assaltado duas vezes no pré-carnaval do Benfica”, conta o jovem. O estudante também frequenta o pré-carnaval da Praia de Iracema, e já presenciou vários arrastões por lá. Para o comerciante Walter Rodrigues, morador do Centro, existe policiamento no pré-carnaval do Centro, mas, os policiais se concentram apenas na Praça do Ferreira, deixando as adjacências vulneráveis a assaltos.
Em relação à segurança dos pré-carnavais em Fortaleza, o tenente coronel Fernando Rocha Albano, Assessor de Comunicação e Porta-Voz da Polícia Militar do Estado do Ceará (PMCE), informa que o efetivo de soldados deslocados para os pré-carnavais variam de acordo com cada evento, ou seja, a quantidade de participantes é que vai determinar o número de policiais militares. De acordo com Albano, a Praia de Iracema recebeu mais de 80 policiais militares no pré-carnaval de 2012. “É feito uma análise estratégica para esse atendimento, levando em consideração o público participante e o número de ocorrências. Mas, em cada evento, a PM se faz presente,
no mínimo, com rondas ostensivas”, explica o Tenente Coronel. O esquema de segurança das festas não conta somente com a Polícia Militar. A Guarda Municipal e Defesa Civil de Fortaleza dispõe um efetivo composto por 719 guardas municipais, que trabalham durante todos os fins de semana da festa. Os agentes agem nos seguintes pontos: Praia de Iracema, Benfica, Vila Pery, Vila Manoel Sátiro, Centro e Rodolfo Teófilo. Além disso, seis viaturas e 10 motos dão apoio à operação. A concentração maior de guardas municipais é nos locais de maior movimentação de pessoas: Praia de Iracema, Benfica e Centro.
Certo dia, decidi conhecer o précarnaval de Fortaleza. Desconhecia essa festa, embora muito comentada por amigos e familiares. Logo que cheguei, os blocos já desfilavam pelas ruas interditadas em torno do Dragão do Mar. Dançávamos muito, apesar de confusos, pois os sons dos cordões se misturavam ao som dos “paredões”. Pude notar mistura de raças e cores e pessoas com um só intuito: diversão. Em toda parte havia foliões disputando espaço, uma multidão lotava a grande pista de dança: a rua. Por conta disso, foi difícil encontrar as barraquinhas de comida, muito complicado andar em meio à lotação. E sempre preocupada, atenção redobrada para evitar furtos em meio ao pipocado de alegria. Diversão é muito bom, com segurança melhor ainda. Por volta das 3h da madrugada, quando voltava da folia comentava com meus amigos a desorganização do evento. Senti falta da segurança ao final da festa. O policiamento já havia se retirado e ainda restavam muitos foliões nas ruas. Mas a minha maior preocupação era a volta para casa. Afinal, as linhas especiais de ônibus não beneficiam a todos os foliões. Terminais do Antônio Bezerra e da Parangaba é que foram beneficiados, e eu precisava ir para o do Papicu.
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Focas no Pré-Carnaval Jornal Laboratório
LIXO
Da Folia ao Lixo: população reclama da sujeira deixada nas ruas após o pré-carnaval APÓS O PRÉ-CARNAVAL DE FORTALEZA, AS RUAS ONDE ACONTECE A FESTA FICAM REPLETAS DE LIXO, CAUSANDO INCÔMODO AOS MORADORES DA REGIÃO. A COLETA MUITAS VEZES NÃO ACONTECE NESSE PERÍODO, OBRIGANDO-OS A FAZER A LIMPEZA DOS LOCAIS DE FESTA
L
atinhas de refrigerante e cerveja vazias, copos descartáveis sujos, ”bitucas” de cigarro, embalagens de bombons amassadas, garrafas de plástico e de vidro, dentre outros resíduos espalhados pelo chão. Esse é o cenário que se observa nas ruas onde acontece o pré-carnaval fortalezense no final de cada dia de festa. Muitos bairros da capital passam por esses problemas nessa época do ano. A situação se agrava nos bairros de periferia, pois muitos não têm lixeiras e a coleta de lixo é feita apenas em dias úteis. No bairro Bela Vista não há coleta de lixo no dia seguinte ao da festa. A moradora Salete Lima, dona de casa, gosta da animação, mas se sente incomodada pela quantidade de resíduos que sujam a sua rua, principalmente em frente à sua casa. “Elas [empresa responsável pela coleta] vêm nos dias que sempre vêm durante o ano todo, no caso segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira, enquanto que a festa no bairro é realizada aos sábados”, ressalta Salete. Segundo Paulo Eduardo Marques, diretor do Bloco Faz Gostoso (BFG) do Bairro Bela Vista, não são disponibilizadas lixeiras para o bairro durante o pré-carnaval. “A prefeitura não manda nenhuma lixeira antes da folia e nem garis depois da festa, para realizarem a limpeza nos locais por onde o bloco passou e ficou concentrado. Fica tudo ao nosso cargo”, conta o diretor. No bairro Ellery a situação é semelhante. A coleta extra, ou seja, uma operação de limpeza
Foto: Edson Cândido
Mariana Menezes
dos locais onde houvessem festas de pré-carnavais, também não acontece. De acordo com Camila Silva, estudante e moradora do bairro que costuma frequentar o pré-carnaval, há muitos resíduos pelas ruas durante e após a folia. “Já me deparei várias vezes com pessoas escorregando ou tropeçando no lixo”, comenta Camila. Segundo o presidente da associação dos moradores do bairro Ellery e organizador do bloco “Sai na Marra”, Wescley Sacramento, há um trabalho de conscientização com os ambulantes para que contribuam com a limpeza do local. “Pedimos aos ambulantes que optem por vender cerveja em latinhas do que em garrafas de vidro. Além disso, distribuímos sacolas plásticas para que todos eles andem com uma em seus carrinhos”. Mesmo com essa ação, as ruas acabam sujas no final da festa. “Apesar da conscientização que fazemos, não adianta muito, pois as pessoas continuam jogando o lixo nas ruas. Outro problema é a coleta que, quando tem, é na segunda-feira. Isso incomoda bastante”, reforça Wescley. Segundo a Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização (Emlurb), é realizada uma operação especial nos bairros onde há concentração de blocos pré-carnavalescos. “Os resíduos são recolhidos pelas equipes no dia seguinte ao evento, a partir das 7h”, explica Cleneide Nunes- assessora de comunicação da Emlurb. Em relação à limpeza nos bairros, durante o período de folia, “a coleta regular é feita diariamente e obedece a uma programação. Nas áreas de pré-carnaval, as equipes fazem a varrição pós-festa e o carro passa a recolher os resíduos. Em média são 600 garis envolvidos nessa operação.”, explica.
Sujeira deixada pelos brincantes na Orla da Av. Beira Mar
POLUIÇÃO SONORA
Pré-carnaval perde espaço para os paredões de som AS MARCHINHAS TÃO ESPERADAS NESSE EVENTO QUE PRECEDE A GRANDE FESTA DO CARNAVAL, ESTÁ A CADA ANO PERDENDO A SUA ESSÊNCIA E DANDO LUGAR AOS PAREDÕES DE SOM Priscila Castro
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pré-carnaval de Fortaleza reúne há mais de trinta anos, através do ritmo empolgante e de um misto de amizade e paixão pelos batuques, foliões que já adotaram o evento em seus calendários. Mas, por trás de tanta animação, um problema vem atingindo uma parcela de moradores que vivem nas redondezas onde é realizada a brincadeira: a poluição sonora. Desde a década de 1940, a poluição sonora é caso de preocupação entre a toda a população mundial. Nosso aparelho auditivo não dorme e nem tira férias, está sempre alerta para qualquer ruído. Oitenta e cinco decibéis (dB), ou o barulho do seu liquidificador, é o nível de
pressão sonora que seu ouvido pode suportar, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Porém, 45 dB, equivalente às conversas no interior do cinema (antes de iniciar o filme), já é o bastante para causar danos à saúde humana. O pré-carnaval de Fortaleza traz entre seus brincantes, o grande vilão dos decibéis: os paredões de som. Esse tipo de poluição difere das outras por não deixar resíduos, além de serem perceptíveis somente por um único sentido, a audição. A festa que se trata de um grande prazer para uns, torna-se um caos para outros. Segundo Aurélio Brito, fiscal do Controle Urbano e Meio Ambiente em Fortaleza, Ser V, está sendo realizado uma parceria da prefeitura com a Companhia da Polícia Militar Ambiental (CPMA) para dispor de agentes nos dias do evento.”. Essa medida irá coibir as ações que vão de encontro à Lei Municipal 0198/2009,
instaurada pelo vereador, Guilherme Sampaio (PT), a Lei do Paredão de Som.”, afirma. Depois de uma audiência com ambientalistas, técnicos em som, empresários do setor automotivo, órgão de fiscalização e controle do meio ambiente, viu-se a necessidade de acabar com esses abusos que a sociedade vinha sofrendo. Houve subsídios para construir este projeto de forma simples e eficaz. Mas a grande queixa vem dos moradores dos bairros onde os blocos se concentram. Na Avenida Ministro Albuquerque, Av. C, como é conhecida, no Bairro Conjunto Ceará, acontece o encontro dos blocos carnavalesco todos os anos. E, ano após ano, a reclamação é a mesma. “Não consigo dormir, tem dias que saio da cidade quando começam os preparativos do pré-carnaval. A polícia aparece, mas quando vai embora, o barulho permanece o mesmo.”, relata Marcelo Freire sobre o barulho perto de
sua casa. Para Brito, a fiscalização ocorre, mas a população deve ligar sempre que o barulho for incômodo. No Centro da Cidade, as queixas são as mesmas. É comum vermos carros com suas estruturas montadas com enormes caixas de som, formando filas nas calçadas, fazendo o sentido da festa ficar cada vez mais distante da diversão proposta na festa. “Hoje, vemos as meninas subindo nas caixas e dançando como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. Escuto tudo, menos as marchinhas carnavalesca.”, comenta Edílson Alves, morador do bairro. Para 2013, as medidas adotadas para inibir as ações dos paredões são as mesmas desse ano. Porém, é preciso mais que policiais. A conscientização e o respeito pelo espaço do próximo são fundamentais para que haja uma brincadeira saudável para quem está dentro e quem está de fora.
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CULTURA
Com que roupa eu vou pro samba que você me convidou NO CLIMA DA MÚSICA DE NOEL ROSA, O BLOCO MATRACAS DE IRACEMA, FEMININO E FANTASIADO, INICIA SEUS DESFILES NO PRÉ-CARNAVAL POR INCENTIVO DA COMUNIDADE. JÁ NA PRAÇA DO FERREIRA, CRIANÇAS SE FANTASIAM E ENTRAM NA FOLIA Foto: Imaculada Mendonça
Matracas espalham alegria pelas ruas de Fortaleza
Rochelle Nogueira
N
o período do pré-carnaval, poucos são os blocos que trazem uma maneira irreverente de se caracterizarem. Em alguns, o estilo é se fantasiar, usar máscaras, perucas, luvas e adereços. Tudo em nome do resgate tradicional de antigos carnavais. Os anos se passaram e a cultura do pré-carnaval foi se adequando às novas realidades e transformações sociais. O bloco Matracas de Iracema, fundado em 16 de fevereiro de 2003, pelas integrantes Imaculada Mendonça, Adriana Sales, Eliane Rodrigues e Jacinta Carvalho, traz um jeitinho peculiar de desfilar pelas ruas da praia de Iracema. Cáfita, máscara, peruca, luvas e adereços coloridos fazem parte da composição das personagens brincantes. Imaculada Mendonça, organizadora do
Bloco, diz que costumava brincar carnaval com alguns amigos fora de Fortaleza e que por três anos seguidos, foram para Olinda. “No ano seguinte, 2003, não viajei e aí propus ao grupo de amigos fazer um bloco. Falei com a Adriana que iria me espelhar no bloco de Olinda chamado Caras de Bonecas.”, relembra Imaculada. A ideia inicial era fazer um bloco essencialmente feminino, fantasiado, para sair no carnaval. Mas os desfiles durante o pré-carnaval começaram por incentivo da comunidade. A produção das fantasias deu início com as costureiras Leda Sales e Irinéa Furtado. Foram elas que fizeram as primeiras fantasias (cáfitas). Hoje, apenas Irinéa continua na confecção. As máscaras são produzidas e customizadas por Margarida Mendonça, mãe de Imaculada. Ao longo dos anos, foram compondo o visual com outros adereços como o leque e a luva, dando um toque de lirismo. A assistente social, Maria Andrade Leite,
(65), participa desde a época em que o bloco “Matracas de Iracema” foi fundado. Maria Andrade, que frequenta vários blocos na cidade, diz que esse tem um gostinho todo especial. “É hora de se transportar aos antigos bailes de carnavais. Coloco a fantasia, máscara, peruca, tudo que tenho direito.”, revela, com velho ar saudosista. Ela ajuda no custeio de fantasias para novas brincantes que não têm condições de financiar sua própria vestimenta. Segundo a foliã, a Prefeitura Municipal de Fortaleza não colabora nesse tipo de gasto. Na Praça do Ferreira, no Centro da cidade, há o bloco “Concentra mais não Sai.”. Lá, não é difícil encontrar famílias que levam seus filhos com as fantasias dos super-heróis prediletos. Juliana Cardoso, (28), Terapeuta Ocupacional, sempre arranja um tempinho para levar o filho João Victor, que hoje aos 7 anos, já é um veterano na folia. “João Victor desde pequenino participa do pré, faço questão de trazê-lo fantasiado.”,
conta Juliana. Para ela, “é importante que a festa não se resuma às praças e logradouros, mas que haja um resgate da cultura carnavalesca nas escolas fazendo com que a raiz da festa seja plantada na infância.”. Numa festa popular onde as pessoas saem para extravasar, pular, dançar, nada melhor que incorporar-se ao real sentido da festa: muita luz, cor e brilho. Há quem ouse no estilo. Thareja Luise Barroso de Abreu, (27), proprietária da agência Globinho Turismo, brinca pré-carnaval há 10 anos em diversos blocos e faz questão de carregar nos acessórios, perucas, óculos. “Tudo muito alto astral.”, conta. A alegria da festa é uma união de vários aspectos. Folião, marchinhas, samba, fantasias, estandarte, bonecões. O que vale mesmo é a alegria e o espírito de quem vai para a festa. Colocar ou não a fantasia, pintar o rosto, colocar peruca, vestir a blusa do bloco predileto, o importante é curtir a vida.
ENTREVISTA
VAMOS FAZER BONECO! Eduardo Siqueira
A
denildo Adriano Cavalcante, 49, é um exímio ‘fazedor’ de bonecos. Começou no ramo das artes logo aos 18 anos, mas a mágica da bonecada só veio mais tarde, por volta de seus 30, quando começou a criá-los. “Com arame, grude e jornal, nós vamos mudar o mundo.”. Foi com essa frase que Adenildo abandonou a Academia e começou a dedicar-se às artes, desde música, teatro, até a confecção de bonecos gigantes. O mais popular bonequeiro de Fortaleza, quiçá do Ceará, AD Cavalcante - como é conhecido no meio -, trabalha para suprir os mais diversos blocos de Pré-Carnaval da cidade, como o bloco Sanatório Geral e o Matracas de Iracema. Mais que isso, o trabalho de AD também extrapola as águas de fevereiro e invade propagandas políticas, lojas e outras empresas que veem nos bonecos uma forma de atrair o público, dar uma identidade à sua marca, atiçar a
fantasia, o lúdico dentro das pessoas. FOCAS: Quando nasceu a vontade de fazer bonecos? Adenildo: Trabalho com arte em uma forma geral desde os 18 anos. Já com bonecos especificamente, há mais ou menos 15 anos. Faço bonecos para carnaval, políticos, mascotes e outros. Para o pré-carnaval, faço para vários locais. Aqui em Fortaleza, trabalho com o Amici´s, para o Dilson Pinheiro, o bloco das Matracas, do Baquetas. Esses blocos alugam ou compram, e muitos bonecos meus desfilam nos blocos da Praia de Iracema. FOCAS: Quais temas são utilizados especificamente? Adenildo: Geralmente são columbinas, pierrôs... os bonecos carnavalescos, a ideia geralmente é dar destaque na avenida. Fazemos bonecos de até três metros e meio e também varia de acordo com o manipulador. Já fizemos
um boneco de até 6 metros e meio para tirar uma onda (risos). FOCAS: Como funciona a logística de produção dos bonecos? Adenildo: Fazemos por encomenda. Agora nessa época de política a gente conseguiu fazer um boneco, no aperreio grande, em um dia. Comumente demora umas 4 horas para esculpir; a roupa vai para a costureira; depois faz um tratamento. Aproximadamente leva uns 10 dias, mas numa necessidade a gente consegue fazer rápido. FOCAS: Quanto custa um de seus bonecos? Adenildo: O preço varia de acordo com o tamanho. Em média custa entre R$ 1.000,00 e R$ 1.500,00. FOCAS: O que os bonecos representam para a cultura popular? Adenildo: O boneco é uma expressão lúdica,
de arte, porque, referente à política, como não pode mais fazer ‘showmício’, ficou muito restrita ao trabalho corpo a corpo e o boneco acabou atraindo a atenção das pessoas. Se você tem um boneco representando a pessoa, você recebe um carinho muito especial pelo boneco. As pessoas costumam tirar foto com o boneco, beijar, essa coisa lúdica, você vê a projeção. Quando você joga um boneco, você mexe com algo que está dentro das pessoas. Antigamente, as pessoas brincavam com sabugo de milho e hoje temos esses bonecos. É muito gratificante! FOCAS: Você daria validade aos bonecos? Adenildo: Tudo é possível! O que vejo ultimamente, no meu caso, eu praticamente não divulgo, mas percebo que em Fortaleza cresceu muito a história dos bonecos no Pré-carnaval. É praticamente uma exigência, é um diferencial. Agora dizer se vai acabar ou não, não sei. O mundo é tão louco! Nos últimos anos tem melhorado essa cultura e a cada ano é uma cidade diferente, mas só precisavam de mais pessoas fazendo bonecos para que a coisa ampliasse. O lúdico sempre vai ter um espaço, só depende muito da gente... nossa natureza é lúdica!
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Focas no Pré-Carnaval Jornal Laboratório
HISTÓRIA
Como era bom aquele tempo! OS PRIMEIROS PRÉ-CARNAVAIS REGISTRADOS E LEMBRADOS NUM BATE PAPO INFORMAL ENTRE ANTIGOS FOLIÕES Adriano Bento Alexandre Paiva Gabrielly Matias Helthon Costta
F
oi na década de 1970, que, por meio da insistência de grupos de amigos em festejar com antecedência o carnaval na cidade, começaram os primeiros pré-carnavais de Fortaleza. A cultura local ganhou com as folias, ao “despertar nos moradores e nos turistas um interesse maior em conhecer o trabalho social que está por trás das alegorias. O que faz desta festa um ponto de encontro
Buscando no baú de memórias, quais as primeiras lembranças que vocês têm do Pré- Carnaval? Quando começou esta paixão? Vladiza - Meu primeiro contato com festividades relacionadas ao pré-carnaval foi ouvindo falar dos blocos do “Sujo” e dos “Papa-Angu”, estes eram grupos que saíam pelas ruas, três ou quatro dias antes do carnaval, fazendo barulhos, sem qualquer tipo de aparelhagem de som, somente com suas bocas, emitindo sons para chamar a atenção da população. Este é para mim o início do pré-carnaval. Netinho - Eu sou de pré-carnaval desde criança. Eu morava na Praia de Iracema e acompanhava meus pais, eles iam pra folia e eu também ia. Nossa, eu adorava! Minha mãe botava fantasia para eu acompanhar. Eu lembro que tinha um bloco, que eu achava bem engraçado. O nome era o “Bloco da Merda”, que tinha lá na Dona Mocinha, na Praia de Iracema. Eu lembro que meu pai falava muito, conversando com minha mãe, contando historicamente mesmo, que tinha o bloco da “Turma Bamba”, os “Garotos do Frevo”. Tinha um também que era das bruxinhas, mas não me recordo o nome do bloco, que era bem bacana. Fátima – Na minha família, nós participamos desde os anos 1980, acho que logo no começo dos primeiros pré-carnavais. Lá em casa, somos cinco irmãos e todos gostam de uma folia. Então juntavam as esposas, namorados, amigas, sobrinhos, amigos dos sobrinhos. Uma turma enorme e ali mesmo, a gente fazia o carnaval. Quando saía, era tudo junto. Depois foi se separando: a família, meus irmãos, diminuíram as companhias... Dilson - O pré-carnaval foi uma ideia do Jânio (Soares), com o bloco “Periquito da Madame”. O intuito era atrair as pessoas que não saíam de Fortaleza na época do carnaval. Era um modo de despertar nas pessoas o desejo de permanecer na cidade e se divertir. Como os fundadores brincavam carnaval em outras cidades, criaram assim, há 32 anos, os blocos que saiam aos sábados antecedentes ao dia oficial de carnaval. Os blocos eram “Bandão de Iracema” que eu criei com uns amigos da família Debê, o Moacir, Mário, Aninha, Padilha, que durou apenas um ano. Depois veio
que ficará para sempre na memória de todos”, destaca o professor universitário Henrique Pereira. Amizade, paixão, alegria e tradição de família são alguns motivos que levavam e levam os cearenses a participar e celebrar este evento que já se tornou oficial no calendário de festas da cidade. Para partilhar deste momento de reviver a história do pré-carnaval em Fortaleza, estes quatro foliões, o comunicador Dilson Pinheiro, a funcionária pública Wladiza Mesquita, a supervisora de OPEC Fátima Batista e o ator e maquiador Netinho Nogueira, contam suas lembranças, nem sempre precisas, mas, inquestionavelmente inesquecíveis, desta festa popular.
Vladiza Mesquita, 58 anos. Trabalha na Produção Cultural da Secultfor.
Netinho Nogueira, 30 anos. Ator, Maquiador e Cabeleireiro.
o “Que Merda é Essa”, “Peru do Barão”, que resolveram continuar e que existem até hoje.
Magra” como chamam, que é lá na Marechal Deodoro.
E como era sua participação nesses blocos? Que blocos vocês seguiram?
Netinho - Eu frequentava muito o Bloco da Merda, que era ali no largo da dona Moçinha e tinha também a “Bandalheira” que era um bloco que se concentrava e saía também de lá e descia em charanga. Naquela muvuca de gente, aquela alegria toda, não se via confusão, não se via nada. Isso era o que? Final dos anos 80 para o começo dos anos 90, eu era criança ainda, né? E aí quando chegava lá na praia, tinha já um trio elétrico esperando o bloco chegar, aquela animação toda! Aí juntava todos os blocos ali mesmo. E teve outro bloco que se deu devido ao Bloco da Merda que se chama Bloco do Cheiro, que o pessoal até brincava: “a merda passa e o cheiro acompanha”(risos) e ficou até hoje isso.
Dilson - Em 1994, criei o bloco “Quem é de Bem Fica”, que saiu pela primeira vez em janeiro de 1995, e foi um grande sucesso durante uns cinco anos. Em 1998, foi criado também o bloco “Num Espaia si não Ienche”, que tinha até autorização da Prefeitura para sair nas ruas com as marchinhas. O “Quem é de Bem Fica” saía no pré- carnaval e o “Num Espaia si não Ienche” saía no carnaval mesmo. Mas, durante bom tempo, por desmotivação e por falta de apoio aos pré-carnavais, eu acabei deixando o carnaval de Fortaleza. Vladiza – Eu participei como fundadora de blocos por intermédio do meu amigo Dilson Pinheiro. Ele me fez um convite para juntos criarmos um bloco no Benfica, eu aceitei, pois sempre gostei de pré-carnaval. Nasce ai o “Quem é de Bem Fica”. O bloco começou com 50 pessoas. Tinha como filosofia a integração dos moradores do Benfica, de estudantes residentes no bairro e também as crianças. O bloco durou cerca de cinco anos, enfrentou muitas dificuldades, como outros blocos também enfrentaram, principalmente financeira. O “Quem é de Bem Fica” chegou a ter a ter cinco mil participantes. Não conseguíamos mais ter o controle de tantas pessoas, o que acarretou na divisão, separação da diretoria e no fim do bloco. Mas ele deixou frutos, nasceram outros blocos, no qual destaco como um dos mais importantes, o “Pulo do Araxá”, pois ele ficou encarregado de receber os órfãos do “Quem é de Bem Fica”. Fátima - Antes eu ia à Praça do Ferreira que tinha a banda “Concentra mais não sai”, que você esquentava, mas não saía dali (risos). Acho, que foi o princípio de tudo, depois foi aparecendo nos outros bairros. Eu me lembro bem que havia na Mocinha. De lá, descia para praia, não sei nem lhe dizer exatamente que ano era. Tinha também o “Periquito da Madame”, que era na praia (de Iracema). Fui muito, também, ali no Benfica, no “Quem é de Bem Fica”, mas logo depois terminou, era um lugar excelente! Mas o povo também não ajudava, fazia xixi nas ruas e os moradores reclamavam. Hoje, tem o (bloco) “Cachorra
O que mudou ao longo do tempo? Vocês continuam como foliões? Fátima - Ah, meu filho, mudou muito! Antigamente era mais família, hoje em dia, é mais um negócio assim de muita mistura, né? A gente fica com medo de ir. Porque no início era mais tranquilo, era mais gostoso, depois começou a misturar todo mundo e daí, já viu, né? Netinho – Elitizou. Vamos combinar que elitizou, né? As características não mudaram muito não, mas você sente uma evolução, não foi uma mudança brusca, mas sinto que a coisa acontece mais organizada. Tem pessoas responsáveis por aquilo. A coisa se organizou. É um “oba oba”, mas tem hora para acabar, para começar, se você quiser dar uma dica ou uma reclamação, tem a quem você se reportar. Antes era aquela farra toda, no meio da rua e era maravilhoso porque, naquela época, (a violência) se for comparar a violência que temos hoje, não existia. A gente andava na rua, brincava à vontade, eu via as pessoas brincando, felizes, tomando suas bebidas. Hoje não, você já vai mais com medo. Isso eu acho que é uma mudança. Fátima - O que eu sinto falta é disso, antigamente não tinha esse negócio de ser só moçada. E onde tem só gente nova, as pessoas mais de idade não vão. Aí, a idade vai chegando e você vai ficando assim, sem graça de estar no meio de um bocado de “me-
Fátima Batista, 59 anos. Supervisora de OPEC na TV Jangadeiro.
Dilson Pinheiro, 56 anos. Fun. Público, Produtor Cultural, Empresário de Eventos, Músico, Compositor e Apresentador do Programa Ceará Caboclo, da TV Ceará.
nino novo” e fica chamando de tia pra cá, tia para lá, você fica é encabulada (risos). Eu pelo menos me sinto assim. Eu vou ainda, mas escolho um lugar pra eu ir, não é todo lugar que eu vou. A gente fica é sem graça, estar assim um peixe fora d’agua. Ano passado eu fui uma vez, mas não é mais a mesma empolgação como antes. Que legado o Pré-Carnaval foi deixando ao longo de sua história? Netinho - Hoje tem uma programação, existem as leis de incentivo, mas antigamente não. Era mais assim, a galera se juntava mesmo de “ah, vamo se juntar, vamo pegar os instrumentos e vamo fazer”. Tem gente ainda criando para poder acontecer e tem ainda muita coisa acontecendo nos bairros. Hoje, tem o Mata Galinha, que é no Dias Macedo, tem Pré-Carnaval na Praça da Messejana e outros. Se você sair pelos bairros nos meses de janeiro e fevereiro, os pré-carnavais estão acontecendo. Isso é reflexo de que tem dado certo. Vladiza - O que marca, a meu ver, a história do pré-carnaval é a paixão que as pessoas envolvidas têm por este evento cultural, tudo é feito por amor. Gosto muito de carnaval e até já participei dele também, mas acho que o pré (carnaval) é muito melhor. Gosto do povão mesmo, pois creio que no carnaval tudo gira em torno da competição, já no pré é algo mais livre, mais comunidade e eu me sinto bem. A minha vontade é de pegar um carro e acompanhar todos os blocos de pré-carnaval. Este é o amor que tenho por este tesouro cultural. Dilson – O pré-carnaval serve justamente para fortalecer a folia. Não existe aquela bagunça de mela-mela e o respeito é algo prioritário nessa festa. É uma festa linda que não pode acabar e precisa ser mais valorizada. Minha digital está no carnaval e fico feliz por ser reconhecido por isso. Ao lado de amigos que contribuíram, como Jânio, Junior da Cuíca, Zé Maria, Eli Mendonça e muitos que deixaram a sua marca e os que continuam fazendo história nos pré-carnavais. Fortaleza nessa época fica mais colorida e mais bonita. O valor cultural do pré-carnaval é mostrar nossa cara, nossa sadia molecagem, uma festa mais democrática. Uma ópera a céu aberto.
Focas no Pré-Carnaval Jornal Laboratório
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SAÚDE
Preparado para o pré-carnaval? FOLIÕES CONTAM COMO SE PREPARAM PARA AS APRESENTAÇÕES DOS BLOCOS Rita Queiroz Tiago Agapito
“Só academia não resolve”
O
pré-carnaval de Fortaleza já faz parte do calendário cultural da cidade e a cada ano parece ganhar mais força. Há uma mobilização muito grande em torno deste evento que cada vez mais mexe com a economia, com a cultura, e até mesmo com atividades esportivas da cidade, já que alguns foliões fazem uma preparação física toda especial para saírem nos blocos. É o caso da estudante, Jamylle Gonçalves (21), que acompanha o Baquetas Clube de Ritmistas nas apresentações do grupo pelas ruas da praia de Iracema e do representante comercial, Paulo Vítor Araújo (25), ritmista do bloco. No período que antecede o pré-carnaval, eles começam a fazer um trabalho diferen-
Ela conta que malha quatro vezes por semana e que seu treino é montado com o objetivo de ganho e fortalecimento muscular. Mas segundo Jamylle, só academia não resolve, já que além de força física, ela precisa ter muita energia e resistência para poder manter o ritmo que o bloco exige durante o percurso em que desfila. Para isso, a estudante também corre três vezes na semana. Jamylle explica que é a corrida que lhe dá o gás para suportar a intensidade dos ensaios e das apresentações do Baquetas. “Acho que se fizesse apenas musculação, não teria a energia necessária para acompanhar o bloco, a malhação é legal pela questão da estética, o corpo fica mais torneado, mas o que me dá gás mesmo é a corrida”, afirma ela. Já Paulo Vítor, além da musculação, pratica corrida de rua e joga futebol. Sem estes aliados, ele não teria o mesmo desempenho. “A mim particularmente, ajudam na questão do ritmo e do fôlego. Em muitas apresentações precisamos tocar e fazer um bom percurso andando. O instrumento que toco é pesado, então além de força e ritmo nos braços, preciso fortalecer os músculos do pescoço e das pernas. Não é tão simples quanto parece.”
De olho na balança A alimentação também recebe atenção especial de Paulo Vítor. Ele destaca que, “na época do pré-carnaval temos que tomar bastante
líquidos e comer comidas leves. Os ensaios são no sol, portanto o desgaste é grande. Não posso consumir alimentos pesados ou de difícil digestão por causa do instrumento que preciso carregar e pelo percurso que precisamos fazer. É preciso ter atenção quanto a isso! ” Além da prática de atividades físicas, Jamylle adota outros hábitos como preparação para o pré-carnaval. A alimentação e o repouso também ganham atenção especial nesse período. Ela conta que passa a consumir alimentos mais saudáveis e a descansar o máximo de tempo possível. “Meu instrutor sempre diz que para um treino dar resultado é preciso conciliar boa alimentação e descanso, até mesmo para poder extravasar e cometer alguns exageros quando o bloco estiver na rua, tipo, uma cervejinha gelada para abastecer o organismo durante o desfile”, diz a estudante.
Contramão Ao contrário de Jamylle e Paulo Vitor, está o também estudante, Ycaro Siqueira (26), que assim como eles, adora o pré-carnaval. Ele acompanha vários blocos da cidade, mas não faz nenhuma preparação especial para o evento, muito pelo contrário, deixa é de praticar atividades esportivas. Ele conta que faz atividade física até com certa regularidade, que malha e treina jiu-jítsu, mas que no período do pré-carnaval abre mão completamente dessas práticas sem a menor culpa. “Eu lá penso em malhar por causa do pré-carnaval, quero mais é curtir os blocos tomando uma cervejinha. Nessa época eu nem me incomodo em ganhar uns quilinhos a mais. Tenho o ano todo para ir à academia e o pré-carnaval dura pouco mais de um mês, então vou é aproveitar”, afirma o estudante.
ENTREVISTA
Graduado em educação física pela Faculdade Metropolitana (Fametro) e sócio proprietário da academia Play Sport, Fabio Felix fala sobre a crescente procura pelas academias no período do pré-carnaval, e dá algumas dicas de como preparar-se da melhor forma.
FOCAS: No período do pré-carnaval, aumenta a procura pelas academias? Fábio Felix - Sim. É geralmente um período onde a procura por um corpo mais em forma ou “sarado” aumenta devido a uma maior exposição do corpo. FOCAS: Quem procura mais é homem ou mulher? Fábio Felix - Pode se dizer que a maioria ainda é o público masculino, porém, o número de mulhe-
res aumenta a cada ano. Na maioria dos casos, as mulheres que procuram as academias, neste período, mantêm os exercícios como parte de sua rotina até mais do que os homens. FOCAS: Já são pessoas que já praticam outros tipos de exercícios físicos? Fábio Felix – Não necessariamente. Algumas pessoas são praticantes de exercícios físicos regulares e, neste período, intensificam suas atividades a fim de obter um melhor resultado. Porém, a maioria são os ditos “modistas” que também devido ao período
procuram a academia para ficar melhor visualmente. FOCAS: Algumas dessas pessoas permanecem na academia depois? Fábio Felix – De cada dez, três mantêm o treinamento iniciado neste período. Entretanto, com a crescente exposição da atividade física e de seus benefícios; esse quadro muda a cada ano. FOCAS: Todos saem satisfeitos com os resultados? Fábio Felix - É uma condição situacional, se o individuo procura a academia pra ficar que nem o personagem do “Capitão América” ou a garota igual as “Panicats”, podem se frustrar. Mas se procu-
ram uma atividade com um resultado de médio a longo prazo e sem se adequar a perfil x ou y pode colher resultados satisfatórios. FOCAS: Qual mensagem você deixa para os foliões? Fábio Felix – A prática do exercício físico não se resume apenas a queimar calorias. Além de contribuir para a manutenção da saúde, agrega também vários benefícios. Mas, para quem quer manter a boa forma, é fundamental manter uma alimentação equilibrada. Por isso, é importante que os foliões não deixem apenas para praticar exercício durante o período do carnaval, e sim, o ano todo.
Fotos: Emerson Vieira
ciado na academia visando o fortalecimento muscular e a melhora do condicionamento físico aguentar o ritmo de ensaios e apresentações.
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Focas no Pré-Carnaval Jornal Laboratório
COMPORTAMENTO
Pré-carnaval: momento para manifestar e determinar comportamento “CALOR DO MOMENTO” OU CRISE DE CONFLITOS COM A IDENTIDADE? A PSICOLOGIA EXPLICA A MUDANÇA DE COMPORTAMENTO REPENTINA EM LUGARES PÚBLICOS E A TÃO FALADA RESSACA MORAL Fotos: Lígia Xavier
Camila Cacau Lígia Xavier
E
ntre as marchinhas, batucadas e tamborins, observa-se a diversidade comportamental das pessoas que vão ao pré-carnaval de Fortaleza em diversos bairros da capital. Com a preparação dos blocos, tanto turistas quanto foliões se animam para a festa. Elementos como os de natureza humana, sistema sensorial, personalidade, autoestima, caráter e sentimentos quando somados são responsáveis por comportamentos que variam de indivíduo para indivíduo em situações diferentes. E por se tratar de um espaço sem regras, no ambiente em que ocorre os desfiles dos blocos, as pessoas tendem no seu conjunto de ações se
comportarem de modo que as convém. Têm aqueles que bebem e os que não bebem. Há pessoas que embora não gostem da “fuzaca” vão mesmo assim, ao mesmo tempo em que uns tendem a ser mais reservados, outros extravasam alegria. A maneira como o outro se porta em algumas situações pode ser vista como reprovável, tornando o indivíduo ridículo. De acordo com a psicóloga Eneida Brasil, os comportamentos podem ser divididos em aceitáveis ou não: brincadeiras ou vandalismo. Segundo ela, ambos nascem da ideia de ser um espaço sem lei, consequentemente algumas pessoas são mais controladas do que outras dando devidas medidas para suas ações. “Poucos sabem lidar com essa diferença, pois exige maturidade, e muitos terminam fazendo o que o grupo escolhe. Há uma
suspensão da individualidade”, observa Eneida. A ressaca moral é aquela em que a pessoa fica com um peso na consciência em saber que fez uma bobagem e se arrepende. Ela está ligada a uma crise de conflitos com a sua identidade. Isso explica o fato de que por trás de cada um tem um ser humano com seus valores morais e familiares que, possivelmente, não são os mesmos quando estão sem álcool ou sem o grupo. O fato de a juventude ser um período de construção dos laços afetivos e dos valores é mais propício aos jovens valorizarem comportamentos como uma possibilidade de experimentação, ousadia e sucesso. “Como ainda são (os jovens) imaturos e têm o sentimento de onipotência bem acentuado, negam a realidade e viajam por caminhos muitas vezes sem volta”, explica a psicóloga. A visão que o estudante Solon Martins tem é crítica em relação as pessoas que bebem além do normal. “Sobre a pessoa beber à vontade não digo nada, mas a pessoa beber e ficar fazendo show, na maioria das vezes acabando com o clima da diversão, acho uma sacanagem. Se a pessoa sabe que não se controla por que bebe? O que eu não gosto da bebida é vexame de bêbado”, fala Solon. Por outro lado, a estudante Eliete Lima quando vai pra festa, vai disposta a se divertir e beber. Houve uma situação em que ela estava passando por problemas sentimentais e resolveu beber para esquecer. O que ela não imaginava era a consequência de seu ato: misturou bebidas como cerveja, vodka e até cachaça. “Lembro que meus amigos me ajudaram bastante, mas me arrependo. Pois acabou não sendo uma festa tão legal porque eles deixaram de se divertir pra ficar cuidando de mim”, relembra Eliete. Hoje, Eliete sabe das consequências da bebida. Para ela, a bebida está aliada à responsabilidade e controle. Para, dessa forma, aproveitar o que há de melhor na festa e principalmente, não deixar que seu comportamento estrague a festa de ninguém. “Vamos se divertir, mas com consciência!”, destaca. Apesar do transtorno, Eliete continua frequentando o pré-carnaval de Fortaleza. “Não me arrependo de ter ido. Depois dessa vergonha que passei, fui outras vezes e não deixarei de ir. Mas com certeza não faço mais como fiz”, finaliza.
Involução do Pré-Carnaval Ramon Cidade
O pré-carnaval atrai pessoas diferentes com múltiplos objetivos. Os perfis de cada um saltam a irrealidade das redes sociais e preenchem espaços urbanos de brincadeira, diversão e arte. Também inundam as ruas de lixo, desordem, desrespeito e irresponsabilidade. Reuniões de blocos carnavalescos e amigos procurando diversão são comuns em dezembro e janeiro. As marchinhas são ouvidas ao abrir a janela de um quarto ou ao caminhar em passos vagarosos pelas ruas, vindos de uma viela ou de uma casa onde mora um folião. Neste momento, os tímidos encontram uma oportunidade para socializar em grupos boêmios. O trabalhador pede pra sair mais cedo. O popular manda e-mails e mensagens informando sobre o local da festa aos amigos. O dançarino separa a roupa que guardou durante quase um ano. O intelectual pesquisa e debate sobre o surgimento do carnaval... E aquele que não gosta tranca as portas e ignora as comemorações. O comportamento no pré-carnaval tem relação com diversos aspectos do folião, convivência familiar, nível social, instrução e caráter. Nesse contexto atos violentos como discriminação racial e crimes sexuais contra mulher ainda são destaque nos festejos que ao final deixam um odor de ureia e cerveja, misturado com lixo e a falta de educação das pessoas. Este assunto deveria ser debatido sobre estes aspectos para que façamos com que o evento evolua, apenas assim teremos harmonia e diversão para todos.
QUADRINHO
Ilustração: Adriano Bento