Avivamento Total Caio Fábio Revisão e formatação:
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PALAVRAS EXPLICATIVAS Este livro é o resultado das palestras que fiz no 9º Congresso VINDE Para Pastores e Líderes em Serra Negra, São Paulo, em setembro de 1992. Os traços do estilo falado podem ser claramente percebidos na forma do texto que foi mantido. Fiz isto de propósito. Gosto que as pessoas se sintam lá, no ambiente onde a coisa aconteceu, com sua graça, humor, calor e dor.
Quando decidimos que nosso Congresso VINDE de 1992 seria sobre Avivamento, estávamos tentando ser responsivos e pertinentes em relação à temática que, ao tempo, nos parecia ser a mais palpitante de todas. Era, é, e será sempre um dos temas mais importantes na vida de fé. Hoje, quando este livro está sendo publicado, continuamos extremamente empolgados com o crescimento da Igreja Evangélica no país e com os sinais de vitalidade que ela mostra ter. No entanto, nos afligimos também com os traços de anomalias e falta de profundidade que vem marcando esse crescimento. Nosso temor é que o Avivamento nunca seja realmente aquilo que ele poderia ser em nosso meio. Minha intenção neste livro é dizer que há um Avivamento acontecendo. Todavia, esse Avivamento ainda não é o Avivamento. E a razão é simples: não tem havido o lugar do Trono no Avivamento brasileiro. Se o Trono vier ao nosso meio, o Avivamento poderá ainda se transformar num dos maiores acontecimentos da história da Igreja no mundo, em todas as gerações. Eu quero viver para ver isto acontecer. E você? Leia o livro com isto em mente. Rev. Caio Fábio
Capítulo 01
O AVIVAMENTO À BRASILEIRA Imediatamente eu me achei em espírito, e eis armado no céu um Trono, e no Trono alguém sentado; e esse que se achava assentado é semelhante ao aspecto à pedra de jaspe e de sardônio; ao redor do Trono há um arco-íris semelhante no aspecto à esmeralda. Ao redor do Trono há também vinte e quatro Tronos e assentados neles vinte e quatro anciãos vestidos de branco, em cujas cabeças estão coroas de ouro. Do Trono saem relâmpagos, vozes e trovões, e diante do Trono ardem sete tochas de fogo, que são os sete espíritos de Deus. Há diante do Trono um como que mar de vidro, semelhante ao cristal e também no meio do Trono, e à volta do Trono, quatro seres viventes cheios de olhos por diante e por detrás. O primeiro ser vivente é semelhante a leão, o segundo semelhante ao novilho, o terceiro tem o rosto como de homem, e o quarto ser vivente é semelhante à águia quando está voando. E os quatro seres viventes, tendo cada um deles respectivamente seis asas, estão cheios de olhos, ao redor e por dentro; não têm descanso nem de dia nem de noite, proclamando: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, aquele que era, que é e que há de vir.
Quando esses seres viventes derem glória, honra e ações de graça ao que se encontra sentado no Trono, ao que vive pelos séculos dos séculos, os vinte e quatro anciãos prostrar-se-ão diante daquele que se encontra sentado no Trono, adorarão ao que vive pelos séculos dos séculos, e depositarão as suas coroas diante do Trono, proclamando: Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as cousas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas. Quero iniciar este livro sobre Avivamento Total pensando no tema em relação ao Trono que está estabelecido sobre todo o universo. Particularmente, resolvi falar do Avivamento a partir do Apocalipse por duas razões: a primeira se deve ao atual momento do mundo, que é extremamente apocalíptico.
Isso porque vemos em volta da globalização da política, catástrofes naturais. A devastação ecológica está na ordem do dia, a miséria nos assusta, a idolatria econômica toma proporções fortes como nunca, a violência se reveste de aspectos novos e ganha formas as mais distintas,
quase inimagináveis. Além disso, sente-se no ar uma desesperança muito grande à semelhança daquilo que o Apocalipse 9 chama de "um ardente desejo de morrer", simplesmente porque há forças estranhas e escuras agindo no mundo espiritual com ferocidade inconcebível. Nesse mesmo contexto apocalíptico há ainda a poluição do meio ambiente e manifestações religiosas cada vez mais demoníacas grassando em todo o planeta. Ora, estes são, sem dúvida, sinais eminentemente apocalípticos presentes entre nós. A segunda razão pela qual resolvi falar em Avivamento Total, a partir do contexto de Apocalipse, é porque nele está a parte da revelação que mais nos aproxima da revelação do Trono de Deus. Não há qualquer projeto de Avivamento possível que não comece com a visão impactante do Trono de Deus, porque é do Trono que procedem todas as coisas que procedem de Deus.
O Trono é o centro do universo, por isso ele tem que ser também o centro de nossas vidas. Para se ter uma idéia, a palavra "Trono" aparece 230 vezes em toda a Bíblia e, 45 apenas no livro de Apocalipse. No texto transcrito no início desta parte do livro, no capítulo 4, a palavra é repetida 12 vezes, sendo, portanto, mais freqüente aqui do que em qualquer outra porção do mesmo. Poderíamos dizer que na visão do Apocalipse, tudo na vida acontece em volta do Trono, e fora dele não há nada que possa acontecer e ser ainda conhecido, clamado ou entendido como algo que vem da parte de Deus.
No Apocalipse, João diz que "diante do Trono ardem sete tochas que são os sete espíritos de Deus" (4:1); diz-se, também que "há um arco-íris semelhante no aspecto à esmeralda" (4:3); adiante, lemos que "há 24 Tronos" (4:4) e que também pode ser encontrado ali um "altar de ouro cheio de incenso, que são as orações dos Santos" (8:3). Afirma, que, é "do Trono que procedem relâmpagos, vozes e trovões " (4:5), e "o rio da água da vida, brilhante como cristal" (22:1). João constata ainda que lá há "um como mar de vidro, transparente como cristal" (4:6). É ainda do Trono que procedem as grandes decisões que abalam e que fazem a história humana se desenrolar: o livro que se acha na mão direita daquele que está assentado no Trono é o livro da história humana. Por isso, os juízos sobre os poderes malignos deste mundo são derramados a partir do Trono, e é dele, e somente dele, que procedem os
vaticínios inescapáveis que caem sobre os homens e sobre a terra (16:17;19:5). Os habitantes da terra recebem o juízo que vem do Trono, e tentam fugir daquele que nele se acha sentado, mas não conseguem. O Trono reina sobre tudo. O Trono reina sobre todos (6:16). É também diante do Trono que de todas as nações da terra, os remidos do Cordeiro de Deus virão se ajuntar para louvar o único Soberano, após perseverarem através das tribulações da história (7: 9-15).
Vemos também que são os anjos de aparência quase indescritível (7:11), estranhos seres viventes (4:6), vinte e quatro anciãos (4:10), e multidões incontáveis de redimidos do Cordeiro (5:11-13), os que têm o privilégio de ficar à volta do Trono.
É diante de um grande Trono Branco que a humanidade inteira será julgada: os grandes e os pequenos, os ricos e os escravos, os fracos e os poderosos, todos os homens que vivem e viverão na terra (20:11). Por fim, o Apocalipse mostra Quem é Aquele que está no meio do Trono: é o Cordeiro de Deus, o mesmo que foi morto, mas vive pelos séculos dos séculos (7:17). Aleluia!
Ora, se todas as ações de Deus na história procedem do Trono, nós precisamos hoje, e não somente hoje, mas durante toda nossa vida, pensar com toda a seriedade em Avivamento como sendo algo que nasce do Trono. Sem o Trono não há Avivamento genuíno! A grande pergunta é: o que deflagra o Avivamento? A resposta tem que estar ligada à Teologia do Trono, nascida de uma real visão do Trono de Deus. É por isso que eu quero começar falando um pouco sobre a Teologia do Avivamento, a partir de uma séria percepção do significado do Trono de Deus. Isto porque todos os grandes momentos de quebrantamento e certeza apaixonada, devoção profunda e compromisso com a santidade que já aconteceram na história da fé, em qualquer momento ou em qualquer período, foram sempre porque o povo de Deus vislumbrou o Trono e temeu e tremeu diante dele.
Vejamos o que acontece a Isaque que quando vê seu pai erguer a faca para imolá-lo. Ele compreende a grandeza da soberania de Deus sobre Abraão com tamanha profundidade que o livro de Gênesis, daquele ponto em diante, se refere o Deus de Abraão como temor de Isaque (Gn.
31:42). Nós precisamos carregar na mente esse impacto do Deus que é o temor da nossa vida.
Pense em Jacó, que vê uma escada subindo aos céus e diz: "Deus estava neste lugar, meu Deus, eu não sabia!. O que o envolveu senão temor e tremor diante da visão do Trono? No êxodo, a glória de Deus manifesta no deserto também revela o Trono de Deus. E, sempre que a glória do Trono era vista, as maravilhas aconteciam.
Diz-se que o Trono de Deus resplandecia no horizonte parando as sedições; abria a terra para que engolisse os rebeldes e curvava os não curváveis diante de Deus. Afirma-se ainda que a visão do Trono alegrou o coração daqueles que viram o pavimento da glória do Senhor, e comiam, bebiam e celebravam em sua presença. E a santa angústia de Gideão, de onde ela procede se não da visão de que há um Deus no Trono? Por isso Gideão exclamou: "Ai de mim, vou morrer, pois vi o anjo do Senhor face a face" (Jz. 6:22).
Falemos agora do temor e tremor à arca da aliança. O que era aquilo, senão que um profundo temor do Trono de Deus? O que aconteceu ao sacerdote Eli? Sabendo que a arca do Senhor havia sido levada, sente o coração parar, cai da cadeira para trás, quebra o pescoço e morre (I Sm.
4:18). Pensem também em Uzá que toca na arca, apenas na intenção de não deixar que ela caia do carro que a transporta, e ao simples toque, cai fulminado, morto (II Sm. 6:6,7). Pensem também naqueles que ousaram olhar para dentro da arca em "Bete-Semes" e foram atingidos pela praga de Deus (I Sm. 6:19). O que significa tudo isso, senão que aquele que se assenta no Trono é Santo, e tem que ser buscado e servido em santidade?! Imagine o que acontece nos dias de Salomão, quando ele acaba de dedicar o Templo que construíra ao Senhor, leva a Arca da Aliança para dentro do santuário, e diz a Bíblia que a glória de Deus enche o lugar. A fumaça da Glória de Deus encheu o templo de tal maneira que e os sacerdotes não podiam entrar porque o Trono de Deus estava lá.
Ou então, imagine o Trono na vivência de Elias. O que acontece no Monte Carmelo, senão que o fogo de Deus cai do Trono? (I Reis 18:20-40) O que acontece em Horebe, quando Elias cobre a face e não consegue nem olhar para fora, diante do cicio da passagem de Deus... O que era aquilo senão a presença poderosa de um Deus soberano que estava sentado no Trono, diante do qual todo o ser vivente tem que cobrir o rosto?! (I Reis 19) Ou pense no Trono na vivência de Isaías. O profeta descreve o ocorrido como segue: No ano da morte do Rei Uzias eu vi o Senhor assentado num alto e sublime Trono. Sobre Ele havia serafins, que proclamavam uns aos outros incessantemente: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos exércitos. Ora, diante de tal quadro Isaías diz que exclamou em pavor: "Ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio dum povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Santo" (Is. 6: 1-7).
Pense no Trono na vivência de Daniel. No capítulo 7, no verso 15, lemos que ele vê o Ancião de Dias assentado no Trono. Sobre isso Daniel diz: O meu espírito ficou alarmado.
No capítulo 8, no verso 27, ante a visão da glória divina ele comenta: "enfraqueci e estive enfermo alguns dias e espantavame com a visão".
No capítulo 10, verso 16, ele descreve seu contato do primeiro grau com as coisas e seres do Trono, com a mesma força usada por ele nas descrições anteriores: "Por causa da visão me sobrevieram dores".
E mais: "Como pode o servo falar com o Santo? Estou sem forças".
O Trono tem também um papel importantíssimo na percepção espiritual do profeta Ezequiel. No capítulo 1, do verso 26 ao 28, o profeta conta que vê o Trono, e essa visão o deixa estatelado e ele cai por terra.
Ninguém olha para o Trono de Deus, e brinca com Deus daí para frente. O Trono desmonta toda a estrutura da vida humana.
Pense no Trono como linguagem de reverência, para evitar a menção irresponsável do nome de Deus, conforme Mateus 5:35. Imagine a linguagem do Trono que permeia todas as páginas do Novo Testamento. E ainda, pense no Trono de Deus como sendo a realidade em torno da qual os grandes movimentos de tremor, de temor, de Avivamento, de reverência, de quebrantamento e de entrega a Deus, aconteceram na história. Todos os Avivamentos aconteceram em razão da percepção de que há um Deus Santo e Soberano que está sentado no Trono. Foi assim nos dias de Whitefield e de Wesley.
Havia um Deus Santo na percepção deles; foi assim também nos dias de Finney; foi assim nos dias de Jonathan Edwards. Tem sido assim em qualquer outro lugar ou ocasião. Avivamentos acontecem quando as pessoas ficam perplexas diante daquele que está sentado no Trono.
Saber isto não basta! Porque no Brasil, nós corremos o risco de dar um jeitinho até em Avivamento. Corremos o risco da criação de um "Avivamento à brasileira", ou seja, um Avivamento sem Trono, mas que a gente dá um jeito de ser "abençoadinho". Quero dizer que há sinais e evidências de Avivamento no Brasil, todavia, me preocupo com o fato de que há ainda muitos outros sinais de "Avivamentos à brasileira".
Avivamentos sem Trono Basta comparar as visões carismáticas dos nossos Avivamentos com as visões carismáticas de Daniel, Ezequiel e Isaías. Encontro irmãozinhos por aí que dizem: "Olha, hoje pela manhã tive uma visão do Trono de Deus e o Senhor me falou alguma coisa... O que foi mesmo? Já não estou me lembrando o que o Senhor falou". Daniel dizia algo bastante diferente: "eu fiquei doente, eu vi o Trono e me desmontei todinho."
E mais: "fui cuidar dos negócios do Rei, mas fiquei dias apavorado com a visão".
"Avivamento à brasileira" é aquele Avivamento que tem muito legalismo, porém não conhece a Santidade. Nele se pode fazer o que não se deveria poder fazer; e não se pode fazer o que se deveria poder. Este é o "Avivamento à brasileira": é cheio de emoção, entretanto, sem nenhuma conseqüência profunda de mudança de vida na existência daquele que se arrepia nos cultos.
Eu gosto de um arrepio, quem não gosta? Ninguém é de ferro, não é verdade? Aleluia! Oh, glória!
Só que a gente pergunta depois: "e o que aconteceu?" Então, dizem que o culto foi uma bênção, que houve cada arrepio... Digo: "Olha, se você tirar a camisa ali na esquina, no ventinho da tarde, também arrepia". Outros me dizem: "O culto foi uma bênção! Havia gente caindo para todo lado. Cada sopro!" A minha pergunta, no entanto, é: "Escute, esse que Caiu no Espírito aprendeu a Andar no Espírito daí em diante? Ele aprendeu a se tornar um ser humano melhor? Ou ele caiu no culto e, em casa, caiu de tapa na mulher? Dependendo das respostas a estas perguntas eu considero a experiência válida ou não. Cair por cair não é comigo.
Só vale a pena cair se pode levantar diferente!
"Avivamento à brasileira" é aquele que gosta de manipular o poder de Deus, mas que não aceita se submeter à Palavra do Deus de poder. O perigo é o de cair desmaiado no Espírito, mas não cair consciente diante do Trono de Deus. Isto porque poder espiritual pode até derrubar você, mas só a Palavra ensina você a viver com verdadeira lucidez espiritual.
"Avivamento à brasileira" é aquele que vibra com milagres extraordinários, mas que não vibra com a mesma alegria com relação à prática da justiça e da verdade. Quer ver uma coisa? Acontece comigo todos os dias, quando começo a pregar, e a dizer coisas que Deus faz. Digo: "Deus cura". O povo explode de alegria; "Ele liberta os endemoninhados", o povo pula até o teto; " Ele faz maravilhas na vida dos drogados e tira as prostitutas da prostituição", as pessoas quase babam de alegria. Então, eu digo assim: "Ele julga com justiça os iníquos da terra, e derruba de seus Tronos os governadores corruptos", o povo engole em seco e não diz nada, nem
um amenzinho. Ora, "Ele bota o dedo na cara dos presidentes iníquos e os depõe". Ninguém grita aleluia nessa hora. Por que? A Bíblia porventura não diz a mesma coisa? O Deus que cura não é também o Deus da Justiça e da Verdade? "Avivamento à brasileira" é aquele que celebra os números extraordinários dos que entram pela porta da frente da Igreja, mas que não vê a tragédia dos que estão saindo pela porta dos fundos (a porta dos fundos é mais larga do que a da frente).
Li, há algum tempo, aterrado, assustado, apavorado mesmo, uma estatística que mostra uma pesquisa feita em duas instituições: uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro que revela o fato de que os evangélicos são a parcela da sociedade brasileira que mais contribui com a delinqüência juvenil. 42% das crianças que estão em alguns centros da FEBEM são filhos de membros de igrejas evangélicas. E por que é assim? A razão é simples: nós estamos mais preocupados com a possibilidade de que as pessoas venham a se dizer evangélicas, do que com o fato delas viverem ou não de acordo com o evangelho. "Avivamento à brasileira" é aquele que se contenta em ver pessoas aprendendo a pular para Jesus em nosso cultos, mas que não tem nenhum compromisso de ensinar às pessoas a viver para Jesus no dia-a-dia. Daí haver muito mais festa e pulação no nosso meio, hoje, do que ministração séria da Palavra de Deus. Eu gosto de dar meus pulinhos, gosto muito de música alegre e de cultos arrebatantes. Entretanto, não se pode transformar tais coisas em mera estratégia para fazer a Igreja crescer, descuidando-se daquilo que é essencial: a pregação do arrependimento, da Cruz, da remissão dos pecados, da fidelidade a Deus e do compromisso com o estudo da sua Palavra.
"Avivamento à brasileira" é aquele que põe uma Bíblia nas mãos de cada crente, mas que não lhe infunde o conhecimento da Palavra de Deus no coração. E atenção: quanto mais transformarmos a Palavra de Deus apenas em um Livro, menos nós a teremos no coração. O Livro a gente carrega em algum lugar fora do corpo, a Palavra a gente só carrega no coração.
"Avivamento à brasileira" é aquele que fala da derrubada dos ídolos pagãos da sociedade, mas que é inoperante quanto às curvas do ego autoglorificado dos líderes da Igreja ao Senhor dos Senhores.
"Avivamento à brasileira" é aquele que coa os mosquitos das mais legítimas alergias humanas, e engole os camelos das mais nojentas disputas de poder, manipulação das consciências e da falta de padrões mínimos de ética cotidiana. "Avivamento à brasileira" é aquele que ensina que qualquer negócio é válido, desde que o resultado seja a pregação do evangelho.
Conversando com um Deputado Federal em Brasília ele me dizia o seguinte: "Olha, eu tive uma surpresa, Pastor. Fui almoçar com um figurão em Brasília, e o senhor não sabe quem chegou lá, num helicóptero: o Presidente da República (aquele do Impeachment). Em conversa com o Presidente, ele me propôs: "Olha, se você fizer um lobby para mim aí, o que você precisar é seu." "Eu sou crente, e preciso muito de umas rádios pra pregar o evangelho no país inteiro." respondi." O que você precisar é seu," ofereceu o Presidente.
"Eu vou votar a favor dele pra poder arranjar umas rádios para pregar o evangelho. O que o irmão acha?" perguntou o deputado. "Já vi essa oferta antes." eu lhe disse. "Onde?" perguntou curioso.
Lembrei-lhe que no deserto da Judéia, um grande monarca disse: "tudo isto te darei se prostrado me adorares".
"Avivamento à brasileira" é aquele que dá a palavra a autoridades corruptas, mas que nega honra e voz aos santos e simples, mesmo que raros, que ainda existem em nosso meio. "Avivamento à brasileira" é aquele que vem para roubar (o dinheiro do pobre), matar (a alegria das almas mediante o legalismo) e destruir (as emoções humanas mediante à culpa), ao invés de ser para que tenham vida em abundância.
"Avivamento à brasileira" é aquele no qual se grita muito, mas não se chora nada; se canta muito, mas se louva pouco; se ajoelha com muita facilidade, mas se submete a Deus com extrema dificuldade; se prega com
muita freqüência contra o pecado, embora o pratique com muita tranqüilidade e cinismo.
"Avivamento à brasileira" é aquele que ensina os cristãos a celebrar a sua abençoada prosperidade material com voracidade, ironia e impiedade em relação à miséria do resto da sociedade, sem compaixão alguma por ela.
Há tempos, eu estava tentando motivar alguns líderes evangélicos a contribuir financeiramente com uma tragédia que havia acontecido em algum lugar. A secretária da AEVB (Associação Evangélica Brasileira) telefonava para essas pessoas em meu nome, quando ouviu de alguém o seguinte: "Olha, diga ao Rev. Caio que eu vou mandar um dinheiro para contribuir, só em consideração a ele. Se não fosse ele que estivesse pedindo, eu não dava. Sabe por quê? Porque miserável, sem Deus, tem que morrer miserável! Não dou dinheiro para pobre sem Deus." Para ele o bem não é para ser feito a todo homem, conforme a Palavra de Deus. Que tragédia!
"Avivamento à brasileira" é aquele que é praticado por líderes evangélicos que proíbem os cristãos, em nome da fé, de fazer escolhas politicamente lúcidas na história, circunscrevendo toda a importância da Batalha Humana às regiões invisíveis, enquanto eles mesmos, muitas vezes, fazem CABALAS POLÍTICAS aéticas, a fim de se favorecerem pessoalmente da alienação do povo nas instâncias mais concretas da história. "Avivamento à brasileira" é o que está fazendo a Igreja no Brasil crescer muito, mas sem mudar nada no país. Esse é o Avivamento que tem que se converter em verdadeiro Avivamento, caso contrário, ele será a nossa maior catástrofe em, no máximo, 20 anos.
Preste atenção: se o "Avivamento à brasileira" prevalecer, possivelmente, teremos um país de maioria evangélica, mas cujas expressões de vida serão absolutamente parecidas com as dos períodos da história da cristandade na Europa, onde se tinha um rei cristão, uma corte cristã, um oficialato cristão, um povo cristão, ao mesmo tempo que tinham as mais perversas formas de exploração do próximo, as mais estranhas aberrações religiosas e as mais desavergonhadas associações entre a Igreja e o poder. E ainda, onde se tentava colocar Deus a serviço dos interesses megalômanos dos exploradores da fé. Onde a fé que salvava do
paganismo circundante era um inferno que tornava a vida desses "salvos" uma desgraça de existência enferma e sem dignidade.
Concluindo, devo dizer que neste livro vamos estar falando sobre o verdadeiro Avivamento, o único que pode nos salvar desta igreja evangélica que pula muito, mas ora pouco; que tem Bíblias, mas não conhece a Palavra; que faz Batalha Espiritual nas regiões celestiais, mas que não discerne os espíritos nas feiúras de suas relações humanas; que cresce muito, mas que perde muitos dos que "ganha"; que arrecada muito dinheiro, mas não sabe como usá-lo para a glória de Deus. Sim, somente o verdadeiro Avivamento pode nos salvar da destruição pelo "Avivamento à brasileira".
Capítulo 02 A TEOLOGIA DO TRONO E AS TEOLOGIAS DO AVIVAMENTO No capítulo anterior, iniciei falando sobre o Trono como estando no centro do universo, mas precisando estar no centro de nossas vidas. Além disso, mostramos que todos os grandes momentos de Avivamento na história da fé aconteceram porque pessoas chegaram próximas ao Trono, e tiveram uma visão dele. Depois, mostrei o perigo dos nossos dias aqui no Brasil: o de inventarmos um Avivamento, que chamei de à "brasileira", que é um Avivamento sem Trono, sem temor e sem tremor. Vimos, além disso, que sem temor e sem tremor que decorrem da genuína percepção do Caráter e da Santidade de Deus, conforme expressos no simbolismo do Trono, não há na alegria da Igreja nada além de uma euforia inconseqüente e estéril, ou seja, só há genuína alegria espiritual diante do Trono. A pergunta deste capítulo é: o que se tem que fazer para ser objeto de um genuíno Avivamento? A minha resposta é dupla: a primeira é um absoluto "EU NÃO SEI".
Simplesmente porque Jesus disse: "O vento sopra onde quer. Ouves a sua voz, não sabes de onde vem, não sabes para onde vai". Então, se você busca uma receita de Avivamento, pelo menos do meu ponto de vista, você vai ficar frustrado, porque não a tenho.
Não sei, numa perspectiva absoluta. Mas sei quais são os elementos que sempre estão presentes quando a gente vê movimentos de genuíno Avivamento acontecerem, e é sobre esses elementos freqüentes nos momentos mais verdadeiros de Encontro com Deus que quero falar neste capítulo. São aquelas realidades definidas, por nós, no Apocalipse, como Símbolos do Trono. São descrições da realeza de Deus. Portanto, para se entender as Teologias do Avivamento, é necessário discernir antes a Teologia do Trono. Quais são, portanto, as Teologias do Trono que podem nos ajudar a ter Teologias de Avivamento sadias?
Ora, vale lembrar que ainda estamos falando do capítulo 4 do Apocalipse. Nele, aparecem algumas Teologias do Trono que brotam dos simbolismos que definem, que marcam, que caracterizam o Trono de Deus. Observe: em Apocalipse 4, temos os melhores e mais vívidos símbolos do Trono de Deus, e são eles que nos fornecem as melhores referências para aquilo que podemos chamar de "Teologia do Avivamento". Que símbolos são esses e que Teologias nascem, brotam, e se desencadeiam a partir da compreensão desses símbolos? O Mistério de Deus O primeiro símbolo é aquele que mostra ALGUÉM assentado no Trono.
Temos aqui a "Teologia do Mistério de Deus". A afirmação de que há ALGUÉM assentado no Trono do universo traz consigo a declaração do mistério de Deus. Assim, diz-se que o Trono de Deus é o lugar da mais absoluta indefinibilidade. O Trono de Deus é o lugar da mais profunda perplexidade teológica. O Trono de Deus é indefinível, e Deus mais indefinível ainda. O Apocalipse não nos apresenta uma Teologia. Faz TEO-LOGIA da vontade e das ações de Deus na história, mas não faz TEO-LOGIA de TEO, ou seja, de Deus. Portanto, chamando Deus de Alguém, o Apocalipse está dizendo que Deus está além da possibilidade de ser TEO-LOGIZADO, de ser explicado. Ele é o mistério absoluto. Ele é Aquele diante de Quem as palavras desaparecem.
Ele é Aquele diante de Quem toda linguagem é pequena. Ele é Aquele que está além de qualquer especulação, elucubração ou definição. João diz: "imediatamente me achei em Espírito e eis armado no céu um Trono e no Trono Alguém sentado, e Esse, que se acha sentado, é Semelhante, no aspecto, à pedra de Jaspe e de Sardônio" (4:2,3).
Temos aqui, três palavras que afirmam essa inexplicabilidade de Deus, que afirmam o mistério radical e absoluto do ser de Deus.
A primeira palavra é Alguém. João nem ousa dar nome a esse poder dos poderes. Diz, simplesmente, que Ele é Alguém. Deus é Alguém no Trono. Porque é Alguém e não Algo, sabe-se que é Pessoa. Ou seja: Ele não é algo, não é alguma coisa impessoal. A TEOLOGIA DA NOVA ERA nos apresenta a um Deus-Algo. Já a teologia bíblica do livro do Apocalipse nos apresenta um Deus-Alguém, que é Pessoa Santa, e é a causa pessoal da existência de todas as outras pessoalidades. É porque Ele é, que eu sou. É porque Ele é e se conhece, que eu sou e sei-de-mim. Ele é Alguém. É Pessoa e Causa Pessoal de todos os seres que também se conhecem como "EUs", resultado de possuírem auto-compreensão.
Preste atenção: qualquer tentativa de ir além disso pode ter caráter idolátrico. Cuidado com as teologias dos hábitos de Deus. Cuidado com essas teologias que dão a você agendas, o diário, o calendário das atividades divinas para a semana que vem, observe bem! É interessante que a pessoa que a Bíblia diz ter sido o grande amigo de Deus, foi também a pessoa que levou o maior susto divino da história: Abraão. Amigo, mas que susto! "Abraão, vai a Moriá e mata teu filho, oferecendo-o como sacrifício a mim". Ser amigo de Deus não significa saber a agenda dele. Ser amigo de Deus é confiar nele, andar com ele, seguindo-o, mesmo sem saber para onde ele está indo (Hb. 11:8b). A segunda palavra que define essa inexplicabilidade de Deus, esse mistério de Deus, é o pronome demostrativo ESSE. João diz: "Há Alguém sentado no Trono. ESSE que está sentado no Trono é semelhante a. . . . ", e descreve como ele é. Veja; de um lado é Alguém, e quando João se refere ao Alguém ele diz ESSE. Temos aqui a menção mais reverente possível ao Ser, e ao Status de Deus. Ele é ESSE. Totalmente independente. Totalmente Ele.
Totalmente Outro. Totalmente além da possibilidade de ser administrado e domesticado. Ele é ESSE.
A terceira palavra que João usa é Semelhante. Há Alguém no Trono, e ESSE "é Semelhante, no aspecto, à pedra de Jaspe e de Sardônio".
Aqui há o temor de associar Deus à criatura. Aqui há o temor de fazer uma Teologia que circunscreva, que diminua Deus aos limites, à semelhança do próprio ser humano. É quando João nos faz uma advertência implícita acerca da necessidade de conservarmos no coração o temor de associar Deus à criatura. Tal temor deve ser tão grande que João nem ousa falar de Deus, a não ser por comparações. Há alguém lá. Ele é Esse totalmente Outro. O Seu aspecto é semelhante ao aspecto da pedra de jaspe ou de sardônio.
Assim aprendemos, no mínimo, três coisas sobre Avivamento, a partir da Teologia do Mistério de Deus. Primeiro: Avivamentos são sempre momentos de total perplexidade diante da Pessoa de Deus. Não há Avivamento sem perplexidade. Não há Avivamento, a menos que a alma olhe para Ele, cessando as explicações, temendo diante dEle, se curvando diante do mistério dEle e ficando embasbacada diante de tamanha Realeza e Santidade. Segundo: Avivamentos não são as ocasiões nas quais Deus é definido. Preste atenção nisso: os Avivamentos nunca são momentos de grande produção teológica acerca do Ser de Deus. As definições de Deus, quase sempre acontecem depois que os Avivamentos já passaram, já acabaram. A perplexidade que a Presença de Deus gera não deixa muito espaço para a racionalidade sistemática que a produção teológica demanda.
Terceiro: como já disse, Avivamentos não geram grandes produções teológicas. Avivamentos geram, por seu turno, a mais lúcida e reverente ignorância teológica. Isso porque, muitas vezes, as teologias são meros exercícios de autópsia do cadáver de Deus. A mais lúcida ignorância teológica é aquela que diz: "Não tenho nenhuma pretensão de saber como Ele é, mas eu sei Quem Ele é". O Apocalipse não diz como Deus é, apenas diz Quem Ele é.
Quem é Deus? A resposta que o Apocalipse repete, enfadonhamente, é: "Ele é digno" (5:5-8). Os Seres viventes O louvam porque Ele é digno. Os Vinte e Quatro Anciãos O louvam porque Ele é digno. João diz que os trilhões de seres do universo se curvam diante dEle proclamando que Ele é digno (5:12-13). Ele é digno. E sua dignidade O torna objeto das mais radicais entregas. Só se entrega a Ele com radicalidade quem está absolutamente convencido de Sua radical dignidade. "Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste sim, por causa da tua vontade, vieram a existir e foram criadas. " (4:11).
Não há necessidade de muita Teologia sobre Deus, porque a percepção da Santidade e do caráter de Deus é sempre uma percepção auto-explicativa. Ou seja, quando você percebe que Ele é Santo, que o caráter dEle é justo, você não precisa muito de Teologia, porque essa percepção pode até não saber se verbalizar, mas ela é auto-explicativa, e se transforma em verdade no íntimo daquele que provou uma relação de fé com Esse Alguém que está assentado no Trono do universo, o Qual é também o mesmo a Quem Jesus nos ensinou a chamar de Pai. Essa percepção auto-explicativa faz você temer e tremer, e andar em santidade. Essa é a razão porque, às vezes, vejo teólogos que sabem muito sobre Deus usando o nome de Deus para rechear anedotas picantes e sujas. Em contraste, vejo velhinhas que sabem muito pouco sobre Deus, com coque na cabeça preso por grampos, que se ajoelham às quatro e meia da manhã, e não sabem nada da teologia da soberania de Deus, e que se ouvirem falar de Calvino vão pensar que é um tipo diferente de pepino ou vegetal, ou coisas do gênero, mas que temem e tremem diante do Senhor, e não abrem a boca para infamar o Santo nome. Pessoas assim sabem pouco sobre Deus, todavia conhecem Deus em profundidade, ainda que nem sempre sejam capazes de explicar o que sabem.
Os Pactos da Redenção O segundo símbolo do Trono que pode nos ajudar a discernir AQUILO QUE APAVORADAMENTE estou chamando de as Teologias do Avivamento, é o Arco-íris, que aparece no verso 3 do capítulo 4 de
Apocalipse. Esse arco-íris, eu o chamo aqui de "a marca dos pactos da redenção", isto porque o Trono de Deus é, sobretudo, Trono de salvação. É por isso que se diz que, "ao redor do Trono há um como arco-íris, semelhante no aspecto à esmeralda". Para mim não é uma casualidade que esse arco-íris esteja ao redor do Trono. É fácil compreender porque ele está ali, afinal, a salvação sempre foi o mais importante negócio de Deus, desde que o universo caiu do seu estado original. Por isso, todas as ações de Deus sempre foram ações de salvação. Não há nada no Trono de Deus que não seja perpassado, circundado, pervadido, envolto em ações salvadoras. Veja: a figura do arco-íris traz toda a história da redenção ao cenário do Trono. Dessa forma, aprende-se que Deus é um Deus pactuado com a salvação. O arco-íris oferece Noé e o dilúvio como referência do pacto da salvação. Não só o pacto da salvação da alma é trazido à luz por ele, mas o pacto integral da salvação. Isto porque no dilúvio há uma manifestação dupla de redenção. Primeiro existe a redenção da criação, porque animais são preservados e a história continua.
Com isto, afirma-se que Deus não é um redentor só "redentorista", preocupado apenas com a alma. Deus também é um redentor criacionista e ele não está só interessado em almas que vão para o céu, mas está interessado em toda a criação: bichos elefante, lesma, avestruz, coelho, vaca. Deus esta interessado em tudo que criou: planta capim-gordura, flamboyant, etc. . . Enfim, toda a criação é criação de Deus. É por esta razão que o apóstolo Paulo diz: "a criação geme e aguarda o dia da redenção" (Rm. 8:12-16).
O arco-íris fala desse pacto de Deus com a redenção da criação, mas também fala de um segundo pacto de Deus. Isto porque em Noé e não no dilúvio, não temos apenas a redenção da criação, mas também a redenção do homem enquanto ser moral consciente de si. O Novo Testamento associa a salvação de Noé, não apenas à preservação da criação, mas também à aliança espiritual de Deus com a salvação da alma humana. É por isso que nos Evangelhos, Noé é símbolo do povo que vai ser preservado do juízo final, conforme Mateus 24:37-41, tanto quanto Pedro vê o dilúvio como figura do batismo cristão e da salvação em Cristo (I Pedro 3: 19-22).
Algumas coisas precisam ser afirmadas com bastante clareza em relação à Teologia do Trono e aos Avivamentos.
A primeira: Avivamentos genuínos têm de implicar grandes manifestações de salvação espiritual.
Não consigo entender Avivamentos que apenas enchem os nossos templos, nos fazem plantar bananeira e chorar de cabeça para baixo, mudar a vestimenta para uma roupa mais austera, "encaretar" o penteado, abandonar a maquiagem como sendo coisa maligna, enquanto o mundo continua perdido do lado de fora; os vizinhos perdidos do lado de fora, às vezes os filhos perdidos do lado de fora, e nós ficamos tão santos, tão santos, que não erguemos a voz para testificar de Deus para mais ninguém.
Conheço pessoas que estão nesse Avivamento há anos. Eu era adolescente, maconheiro, safado e eles já estavam lá, nesse Avivamento. Portinhas fechadas, quartinhos escuros, aquele Avivamento rolando solto lá dentro, enquanto aqui fora o mundo está perdido. Converti-me e comecei a viajar por aí a falar de Jesus para todo lado, trazer gente para Cristo aos borbotões, enquanto aquelas pessoas continuavam lá no seu "Avivamento" particular.
Avivamento genuíno tem que afirmar o pacto da redenção, e gente avivada é gente cuja vida tem que implicar anúncio da salvação, têm que ser testemunha da salvação. A segunda: Avivamentos sem salvação podem ser alegres, podem ser saltitantes, podem ser triunfantes, podem ser estimulantes, podem ser esperneantes, mas são apenas festivais de fé sem implicações no céu ou na terra. Avivamentos que operam milagres, criam expulsam demônios e demonstram o poder coisas pratico, mas que não implicam salvação dos Avivamentos, de acordo com o Trono de Deus. São chamo "à LA SAMARIA".
atmosferas alegres, nas quais eu creio e perdidos não são Avivamentos que eu
Lembra-se do que aconteceu em Samaria? (Atos 8). Antes de Pedro e João chegarem lá, o fogo estava caindo sobre todo mundo. Filipe passou e foi um festival de cura divina, um negócio maravilhoso, todo mundo feliz, liberto de forças espirituais hostis. Mas ninguém tinha sido selado, marcado e salvo pelo Espírito Santo. Uma coisa é expulsar demônios, outra é encher do Espírito.
Hoje em dia, temos que tomar cuidado para que não estejamos apenas tendo Avivamentos à "la Samaria. "
A terceira: Avivamentos que não levam em consideração o amor preservador e redentor de Deus com a sua criação, não são nada mais que celebrações capengas de uma salvação pequena e mediocrizada.
Para mim,o modelo de tal projeto de salvação continua a ser aquele revelado no Avivamento de Jerusalém, no Pentecostes, que levou em consideração as duas coisas: gente salva, batizada no Espírito Santo e selada para salvação e, ao mesmo tempo, gente que olhava para a criação, para o próximo e para a sociedade. Porque a primeira coisa que se vê, quando se observa a criação com olhar lúcido, é o próximo. A primeira visão de alguém que enxerga a criação é a existência do outro; o meu próximo. Quem não consegue enxergar o próximo, não tem razão nem poder para preservar mais nada na criação.
Em Jerusalém, quando o Espírito se derrama, os discípulos vêem a glória de Deus, recebem línguas de fogo, tomam uma bebedeira santa e espiritual, mas a embriaguez é suficientemente lúcida para que, mesmo não se recuperando daquele "SANTO PORRE", eles tenham suficiente consciência de que era preciso vender propriedades, ajudar ao próximo, repartir a comida, e fazer bem um ao outro. Talvez o Avivamento WESLEYANO tenha sido, dentre os mais próximos de nós na história, um dos movimentos mais completos no sentido de integrar salvação e ação social. Ou seja, no movimento de Wesley havia preocupação com a salvação do indivíduo, a qual se fazia seguir de séria valorização da realidade social (a parte mais agredida da criação na Inglaterra daqueles dias). Em outras palavras: o mundo do espírito andou de mãos dadas com o mundo concreto nos dias daquele despertamento espiritual.
O Juízo Divino O terceiro símbolo do Trono que pode nos ajudar a discernir uma Teologia dos Avivamentos sérios são os relâmpagos, as vozes e os trovões (4:5).
Diz-se que do Trono procedem relâmpagos, vozes e trovões. Isto nos ensina uma coisa: genuínas teologias do Trono, que fazem as pessoas temerem e tremerem diante de Deus, têm de levar em consideração o juízo divino.
Pregação de Avivamento que não passa pelo juízo divino é apenas um "massagear evangélico" no ego, às vezes, adoecido, dos que nos assistem.
Precisamos tomar cuidado para não transformar a Igreja numa casa de "massagem espiritual", onde há prazer, alegria e entusiasmo, mas não arrependimento, cruz, contrição, tremor e temor. Se nos nossos Avivamentos não houver o lugar do "choque" diante das forças que procedem do Trono, então ainda não temos Avivamento, temos apenas alisamento. O Apóstolo João ficou tão impressionado com essa parte da visão que é questão de repetir que do Trono saem relâmpagos, vozes e trovões. Ele repetiu essa frase, pelo menos em duas outras ocasiões. No entanto, a mais enfática é aquela que aparece no capítulo 8, no versículo 5. Veja comigo: ele disse que o anjo tomou o incensário, o encheu de fogo do altar, e o atirou à terra. E o que houve? Houve trovões, vozes, relâmpagos e terremotos. Agora preste atenção: tal descrição é uma das mais importantes na visualização daquilo que poderíamos chamar de uma séria teologia da oração. É interessante observar que os trovões, relâmpagos, vozes e terremotos, aparecem em relação ao altar, no mesmo contexto onde se fala que as orações dos santos foram misturadas com o incenso do altar, no incensário de ouro.
Ao anjo foi dado muito incenso para oferecer oração de todos os santos (graças a Deus que é a oração de todos os santos batista, presbiteriano, pentecostal, Universal, etc. . . . Não se quer saber de onde esse santo é, mas apenas se é santo). Da mão do anjo, subiu à presença de Deus o fumo de incenso, com as orações dos santos. E diz o Apocalipse que, então, esse incensário de orações é jogado para a terra. O anjo como que diz: "Toma, terra. É a tua vez". Então. . . Buum! Trovões, relâmpagos e terremotos explodem em toda a terra.
Dessa forma é que aqui se aprende que os grandes conspiradores de Deus não são as celebridades, nem os políticos de grande influência, nem os aparatos militares sofisticados, nem os que decidem nas grandes capitais do mundo. Os que conspiram com Deus, derrubam impérios, acabam com muralhas, e viram a Terra ao contrário, são os que oram no anonimato de suas casas, com a porta cerrada sobre si, e que vivem em santidade. Quem tem o verdadeiro poder da revolução nas mãos são os santos e as santas anônimas. Eles são os grandes guerrilheiros da guerrilha de Deus na história.
Eu viajo muito por aí afora, e, nas minhas andanças, encontro umas velhinhas com carinhas bem enrrugadinhas, que mais parecem um jenipapo que um rosto. Caras passadas e murchas pelo tempo; você já as viu? São rostinhos totalmente engelhadinhos. Parecem maracujás velhos. Ora, muitas vezes, essas tais velhinhas com carinhas de jenipapo olham para mim e dizem: Oh, Pastor! faz dez anos que eu acordo todo o dia às 4 horas da manhã, ponho o meu joelho no chão e oro por você. Minha irmã, deve ser só por isso que eu estou em pé, eu lhes respondo. Minha convicção é que, quando aquele dia chegar, eu vou estar sentado lá no fim do auditório celestial e essas velhinhas de cara engelhada vão estar próximas do Trono. Sim, elas estarão mais próximas do lugar do poder do que a maioria dos grandes figurões da história cristã que se visibiliza. As pessoas mais responsáveis pelos grandes atos de juízo e intervenção de Deus na história são tais seres sem voz, sem nome, sem vez, sem importância alguma aos olhos dos homens. É na oração que sobe para diante do Trono, que a grande estratégia revolucionária se encontra. Política tem a sua importância; falar no ouvido dos que têm influência é importante; aconselhar aos que decidem é importante; manifestar-se profeticamente na sociedade é importante. Não estou negando a importância de nenhuma dessas coisas, mas o que eu estou dizendo é: pelo amor de Deus, nunca inverta as prioridades. Se os relâmpagos, as vozes, os trovões, os terremotos sacodem a terra é porque anônimos conspiram com o Todo Poderoso em oração.
Nos últimos cinco anos, de vez em quando, alguém me faz uma oferta política. Das mais malucas que se possa imaginar. São tão doidas que eu nem ouso falar e tenho vergonha até de pensar nelas. Mas, de vez em quando, chega um e diz: "Você tinha que ser deputado federal". Aí, o outro diz: "É senador". E acrescenta: "Olha, no
meu Estado a gente junta tudo o que é igreja e você é eleito na brincadeira".
E há outros que propõem até mesmo instâncias mais altas na hierarquia do poder político. Quando isto acontece, eu sempre digo a esses irmãos o seguinte: "Olhe, no que depender de mim, eu vou viver para ver esse dia nunca chegar. Com a graça de Deus".
Não estou dizendo que quem se envolve com a política partidária está fazendo qualquer coisa errada; de modo nenhum. Só estou falando de mim, não de você. Pode ser que Deus o chame para isso. Quanto a mim, acho que o que estou fazendo é o que conspira mais na história, porque afeta não somente a história, mas também a própria história da eternidade: a trans-história. Um dia, na eternidade, você vai ver quem conspirou mais, se o Dr. Ulisses Guimarães ou a D. Raimunda, de Caxias, que acordava pelas madrugadas a fim de orar pela Igreja, pelo Brasil, e pelo mundo. Quando tais ofertas políticas se tornam mais insistentes, sempre digo em tom de brincadeira: "Olhe, para eu mudar de idéia, o anjo Gabriel em pessoa tem que vir me trazer este recado.
E eu ainda lhe diria: Gabriel, meu amigo de lutas pela redenção, posso ver a sua carteira de habilitação celestial, sua carteira de identidade angelical e posso mandar reconhecer a firma no "terceiro céu"? Porque se não for um negócio absolutamente autenticado no Trono, não há nada, nem tentação, nem convite de forma alguma, que me tire do que estou fazendo. Sabe por que? Eu sei que estou tramando com esses anônimos que "fabricam" no silêncio de seus quartos, algo mais poderoso do que a Bomba Atômica.
Eles "fabricam" a Bomba "O" a Bomba da Oração, e esta é o simples resultado da "mistura" da oração dos santos com a fumaça do incenso que sobe à presença de Deus; até o Trono. Diante disto, aprendemos algumas coisas imprescindíveis à Teologia dos Avivamentos. Primeiro: Avivamentos são períodos nos quais a convicção do JUÍZO de Deus se torna mais densa do que nunca no coração dos homens.
É o momento do exame radical, onde a voz de Deus retumba, o temor de Deus ecoa, a consciência da realidade de Deus aflora, e a justiça divina nos é revelada.
Segundo: Avivamentos são períodos nos quais as orações acumuladas diante de Deus, durante anos, são lançadas com uma força avassaladora sobre a terra. Quero dizer-lhe uma coisa: às vezes o Avivamento que uma geração experimenta, é o acúmulo das orações que uma geração que já morreu levantou diante de Deus.
Em um Congresso da VINDE, vendo o Pastor Enéas Tognini, lembrei-me de que ele foi um dos primeiros homens neste país, junto com o Rev. Antônio Elias e alguns outros, a falar da obra Santa do Espírito, que ninguém apaga. Hoje, vemos um alastrar de Deus por aí afora, e me pergunto: será que as vozes que começamos a ouvir, os tremores que começamos a sentir, os relâmpagos que começam a aparecer no horizonte não são as respostas de orações acumuladas, antigas, que hoje Deus joga para terra? A impressão que eu tenho é que são. Terceiro: Avivamentos são períodos históricos que resultam da grande convicção de que as vozes do Trono estão se fazendo ouvir na história.
E, aqui, se aprende mais o seguinte: Avivamento tem que ter voz de Deus. às vezes há Avivamentos no nosso meio, que só têm voz de homem. . . É uma gritaria tão terrível que não se ouve nem Deus falar: todo mundo grita e Deus não fala. . . O interessante é que os grandes Avivamentos da Bíblia quase sempre acontecem em profundo silêncio. A voz de Deus é tão mais poderosa, quanto mais baixo ele fala. É por isto que Elias não ouviu a voz de Deus, nem no vento que fendia a rocha, nem no fogo, e nem no terremoto, mas no cicio suave. Primeiro a terra treme, e as rochas são despedaçadas; depois as almas humanas se aquietam. . . e aí, Deus fala.
O Fogo do Espírito O Trono de Deus nos apresenta um outro símbolo a partir do qual a gente pode entender, discernir uma outra marca da Teologia do Avivamento: é o símbolo do fogo.
Diz o verso 5: ". . . e diante do Trono, ardem sete tochas de fogo, que são os sete Espíritos de Deus". Aqui nós estamos falando da Teologia do
Espírito Santo, porque o Trono de Deus é morada do fogo ardente do Espírito.
O Apocalipse usa duas figuras para falar do Espírito Santo: a primeira, são as sete tochas; a segunda, os sete olhos de Deus, que aparecem no capítulo 5, no verso 6. Ambas são relacionadas ao número sete a fim de caracterizar a plenitude absoluta daquelas atributos do Espírito. Pense nas sete tochas. . . São o fogo da Santidade do Espírito. O Salmo 97:3 diz: "diante dele vai um fogo que consome os inimigos em redor". Veja também Daniel, no capítulo 7, verso 9 diz: "o Seu Trono era chama de fogo, cujas rodas eram fogo ardente". Com respeito aos sete olhos, fala-se de um atributo divino que a Língua Portuguesa nem consegue descrever numa só palavra, por isso, vou inventar uma palavra, a fim de melhor definir o que os sete olhos pretendem expressar: Trata-se da "inescondabilidade" da pessoa humana ante o Trono de Deus. Ou seja: não dá para esconder nada diante dEle. Os Sete Olhos nos garantem que não é possível varrer o pecado para debaixo do tapete.
Esta é, portanto, a "inescondabilidade" da criatura perante os olhos do Espírito. Em outras palavras, eu e você estamos sempre na presença de Deus. É possível que você esteja lá, freqüentemente, e não usufrua da presença porque está em pecado, mas na presença dEle você está.
O capítulo 5 nos diz que os Sete Olhos estão por toda a terra. Não adianta tirar férias do outro lado do Pacífico, sair com uma garotinha tailandesa, pensando que você está seguro porque os seus presbíteros não vão saber, sua mulher não vai saber e ninguém vai saber. O Espírito viu. Sete olhos. Ora, tudo isto me faz lembrar Ezequiel 8: 1 a 8, que é um dos textos mais bonitos do Velho Testamento, e menos conhecidos.
Ezequiel diz mais ou menos assim: um dia, eu estava lá no exílio, e os anciãos de Judá estavam sentados na minha frente; de repente, o Espírito caiu sobre mim, e me tirou pelos cachos da minha cabeça, e me levou da Mesopotâmia a Jerusalém, e quando entrei em Jerusalém, o Espírito me levou ao templo; quando entrei no templo, vi a Imagem dos Ciúmes. Aí, o Espírito me disse: filho do homem, eles constroem isso para me afastar do meu templo. Mas, continuei a entrar mais fundo no Templo. Fui à recâmara dos sacerdotes, e o Espírito disse: vês aquela parede? Eu
disse: vejo, Senhor. E o Espírito me disse: cava a parede. Então, fui e comecei a cavar, e quando cavei um buraquinho, o resto veio abaixo: demoliu tudo. Havia uma porta escondida na parede e eu a abri, e vi os setenta anciãos de Israel sentados, e nas paredes imagens de ídolos, de abominações, e de todas as coisas que ofendem a Deus. Os anciãos andavam pela sala no meio das abominações com seus incensários fazendo "fumacinha santa", fazendo de conta que estava tudo bem, mas eis que o Senhor me disse: filho do homem, vê o que os anciãos de Israel fazem às ocultas, nas trevas.
A impressão que tenho, é que se começarmos a cavar as paredes dos gabinetes pastorais, as casas dos líderes, a contabilidade das igrejas e missões, os negócios de muitos pastores etc. . . , vamos ver muita coisa que anciãos da Igreja Evangélica não querem que vejamos. Muito mais do que cavar na parede dos outros eu não tenho direito de fazer isto, a menos que Deus me tire pelos cachos da cabeça, que me leve ao tal lugar tenho é que cavar na parede da minha casa, do meu quarto, e pedir a Deus a graça de vencer o meu cinismo, minha hipocrisia, meu mundo de "faz-de-contaespiritual", meus desempenhos, meu teatralismo e minhas fachadas. E a razão é simples: os Sete Olhos estão vendo tudo! Desta forma, aprendemos mais algumas tremendas lições sobre a Teologia dos Avivamentos com os símbolos do Trono de Deus.
Primeira: Avivamentos genuínos são marcados pelo profundo derramar do fogo purificador do Espírito Santo.
Quando isto acontece, pecados são queimados, vaidade são queimadas, mentiras são queimadas, arrogâncias são queimadas, politicagens são queimadas, a manipulação indevida do dinheiro de Deus é queimada, o adultério é queimado, e a mentira é queimada. Segunda: Avivamentos genuínos não são apenas movimentos de euforia espiritual.
Note que eu disse que não são apenas movimentos de euforia espiritual, mas um total derramar da alma perante a Santidade desse Deus que cava na parede e mostra as abominações.
Terceira: Avivamentos não são necessariamente períodos de grande fartura carismática.
Eu disse necessariamente. Isto porque, muitas vezes, há muita fartura carismática nos Avivamentos. No entanto, nem sempre é assim. Quando eles vêm com muitos dons milagrosos é ótimo, mas o fato de que não está havendo manifestações milagrosas, não significa que não está havendo o mais genuíno Avivamento. Avivamentos não são, necessariamente, períodos de fartura carismática, do tipo dons, poderes etc, mas, são sempre marcados por profunda mudança de caráter, de atitude, e de comportamento por parte daqueles que se perceberam vistos pelos Sete Olhos ou que foram queimados pelas Sete Tochas do Espírito.
Ao contrário do que muita gente pensa, Mateus 7:21-22, diz que, às vezes, é possível haver fartura carismática sem Avivamento. É sim! Jesus diz que é possível haver abundância carismática, sem que haja pessoas autenticamente mudadas em seu caráter, não fazendo assim a vontade do Pai que está no céu (Mt. 7:21-22). Quarta: Avivamento é pentecostes sem pentecostalismo.
Não pode haver confusão entre Pentecostalismo e Avivamento por uma simples razão: todo Avivamento genuíno é, por assim dizer, pentecostal. No entanto, nem todo pentecostalismo é avivado ou resultado de um Avivamento genuíno. O genuíno movimento pentecostal é sempre obra do Espírito. Já o pentecostal-ismo é quase sempre resultado da manipulação humana.
A questão, é: o que chamo de Pentecoste genuíno? É uma garotinha de quatro ou cinco anos de idade que nunca ouviu ninguém falando em línguas está participando de uma reunião de oração numa igreja onde ninguém ensina sobre línguas, quando as mulheres da Igreja começam a orar, a clamar, e a pedir uma visitação de Deus. Então essa garotinha começa a chorar como um adulto; as lágrimas vão rolando pelo rosto, ela levanta as mãozinhas para o ar, na direção da mãe, e começa a falar em outras línguas: Isto para mim é Pentecoste do mais legítimo. O pentecostal-ismo é outra coisa; o pentecostal-ismo faz diferente. Nele, o dom de línguas funciona quando o líder diz: "Vem cá, irmãozinho, chegou o dia de você falar em línguas. Diz aqui comigo: glória, glória, glória. . . enrola a língua. . . " Aí, o irmãozinho fica lá tentando imitar a língua que ele ouviu a irmã mais consagrada da igreja falar. E ele fica insistindo: glória, gloria. . . De repente o "idioma" estático daquela igreja começa a ser repetido.
É emocionante, mas ainda está longe de ter sido genuíno, como o da garotinha que falou em línguas sem nenhuma "classe" de ensino carismático intensivo. Isto é pentecostal-ismo. Depende de você. Depende do homem. Depende da carne, não do Espírito. Pentecoste é sempre coisa do Espírito. Já pentecostal-ismo é, quase sempre, obra do homem. Eu creio em pentecostes! Eu busco pentecostes! Mas tenho pavor de pentecostal-ismo. Ora, à luz de tudo isto, ousaria dizer que acho que os Reformados precisam de Pentecostes e que os Pentecostais precisam de Avivamento.
A Verdade de Deus Em último lugar, devemos afirmar que uma das coisas mais importantes sobre Avivamento, é a verdade de Deus que nele se manifesta. É acerca disto que o Apocalipse faz referência quando menciona o quinto símbolo do Trono, que é o mar de vidro. Desta forma, afirma-se uma outra Teologia dos Avivamentos, que é a Verdade de Deus. O Trono de Deus é o lugar firmado na transparência e na verdade. Isto porque há diante do Trono um como que mar de vidro, semelhante ao cristal, diz o verso 6. Que coisa linda! No meu livro "A Bíblia e o Impeachment", a primeira frase é a seguinte: "O Apocalipse diz que sob o Trono de Deus, há um como que mar de vidro, transparente como o cristal. Lamentavelmente não se pode dizer o mesmo sobre o Trono do Brasil, pois sob este parece haver um mar de lama". Talvez o mesmo possa ser dito dos Tronos de algumas igrejas. Tem muito Trono nas igrejas e muita gente assentada neles. Mas, qual é a base?
Transparente como o cristal ou opaca como a lama? Dá para ver através ou trata-se de algo fechado à sete chaves?
O Trono de Deus tem diante de si um como o mar de vidro, semelhante ao cristal. Neste ponto, o Apocalipse ecoa o salmo 89, verso 14, que diz: "justiça e direito são o fundamento do teu Trono, graça e verdade te precedem". Aqui, mais uma vez, aprende-se na Teologia dos símbolos do Trono quais são os elementos essenciais para que haja o verdadeiro Avivamento.
Deus está no Trono, e este seu Trono tem seu fundamento na transparência (no mar de vidro que é transparente como cristal). É por esta razão que o encontro de Deus com o ser humano gera, pelo menos, uma coisa: ou o ser humano faz da transparência e da sinceridade o fundamento de sua vida, a partir desse encontro ou então, ele se afasta da Santa presença do Trono de Deus, mergulhando na hipocrisia para sempre. Desta forma, deve-se questionar profundamente to- dos os Avivamentos que não impliquem pelo menos três coisas:
Primeiro, uma profunda sensibilização da consciência para com a verdade. Avivamentos são movimentos onde a verdade prevalece. Verdade que a gente fala, verdade nos negócios, verdade nos nossos arranjos, verdade nos relacionamentos, verdade nas nossas conversas, verdade na nossa vida. Não há lugar para as mentiras santas nos verdadeiros Avivamentos. Segundo, uma atitude de total transparência no exercício do poder.
A base do Trono é transparente, logo o poder têm que estar fundamentado nas bases da transparência. A contabilidade da igreja têm que estar aberta. Se está fechada não é do Trono, porque esta a gente olha e vê através. Está aberta. É auditável.
Algumas pessoas me dizem: "nunca digo quanto ganho porque não quero que ninguém saiba". Eu digo: "eu quero que todo mundo saiba quanto é que eu ganho. Se quiserem saber é só perguntar que eu digo: eu ganho tanto. Não sou o P. C. Farias; não tem fantasma depositando na minha conta. Na minha vida o que há é um Deus de graça me abençoando. É só. Eu tento viver com transparência diante dele". A base do Trono tem que ser transparente, assim se as igrejas querem Avivamentos legítimos, precisam acabar com as politicagens do poder. A maioria das pessoas que têm poder, faz politicagem, mas se você anda no Poder, não é preciso. Se o Trono de Deus está fundamentado na transparência, o Trono humano pode ser também erigido em transparência. E, se é transparente, não há espaço para o abuso do poder. O abuso do poder quase sempre se dá por pessoas naquelas instituições onde há zonas invioláveis, impenetráveis, e onde quem domina assenta seu poder sobre os espessos fundamentos da mais inescrutável escuridão.
Terceiro, têm que haver uma profunda crise de ser diante da Palavra de Deus. O maior de todos os Avivamentos da história é aquele de Atos 2.
O Avivamento não é só do lugar de língua de fogo, da alegria íntima, da embriaguez espiritual e da celebração do Jesus ressuscitado. Aquele é também lugar de morte de mentirosos (Atos 5). Ananias e Safira nos lembram que Avivamento é um negócio muito sério. Paulo diz que quando a gente não entende isto, o Avivamento se transforma em experiência de crise: "Eis a razão porque há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem" (I Co, 11:30).
O ato de se aproximar da mesa do Sacrifício e do Trono do Cordeiro pode ser bênção ou maldição.
CONCLUINDO este capítulo, devo dizer que se queremos um genuíno Avivamento temos que buscar viver estas cinco Teologias do Trono estabelecidas no nosso meio: 1. Adorar com santa perplexidade o mistério de Deus;
2. Crer, viver, e proclamar os pactos de Deus com a criação e com a redenção; 3. Conspirar em oração com Deus, pedindo que suas bombas de juízo e sua voz poderosa façam tremer a terra; 4. Manter a vida queimando no Espírito; desnuda diante do Espírito;
5. Buscar fazer da verdade e da transparência o fundamento das nossas vidas.
Creio que sempre que isto acontece o poder do Trono de Deus é exercido em nossas vidas, e o resultado é que a presença de Deus abala céus e terra, combate os arrogantes, prevalece sobre os deuses, pulveriza as pretensões do orgulho humano, desmascara a falsidade, curva os incurváveis diante de Deus, salva homens e mulheres para viverem em santidade, e para transformação da sociedade em volta deles, para a glória do Senhor. Que venha este Avivamento sobre nós, em nome de Jesus.
Capítulo 03 OS QUE VIVEM DIANTE DO TRONO DO UNIVERSO Vimos que o Trono está no centro do universo. Vimos também que não é possível pensar em qualquer coisa da parte de Deus que não proceda de Seu Trono. Observamos ainda que qualquer coisa que venhamos chamar de Avivamento terá que ser algo que brote e que nasça do Trono. E mais: vimos que há um perigo muito grande entre nós de criarmos aquilo que chamamos aqui, de "Avivamento à brasileira", que é um Avivamento sem Trono, sem perplexidade, sem temor e tremor.
No capítulo anterior perguntamos: como é que os Avivamentos vêm? Demos duas respostas: uma absoluta, onde eu disse "não sei", baseado no fato de que "o vento sopra aonde quer, ouves a Sua voz, não sabes de onde vem nem para onde vai" ; e uma outra relativa fundada, entretanto, no alicerce histórico dos grandes movimentos de Avivamento no mundo, nos quais se percebe alguns "sinais" internos do Avivamento, que são os mesmos que caracterizam marcas simbólicas do Trono, a saber: o Mistério de Deus, o Pacto da Redenção, o Juízo Divino, o Fogo do Espírito e a Verdade de Deus. Agora, vou discorrer um pouco sobre os que vivem em volta do Trono, sobre esses que vivem na Presença de Deus. Já vimos os Símbolos que são as demarcações do caráter intrínseco do Trono de Deus. No entanto, a pergunta é: quem são os que moram diante do Trono?
Esta é uma pergunta antiga, que ecoa desde os dias do salmista. Quem subirá ao Teu santuário? Quem é que vai poder viver no Teu santo Templo? (Sl, 24:3-6) As respostas dos salmos a estas questões são fortíssimas.
O Apocalipse também trata da questão de quem tem "passe" para se aproximar do Trono. Discernir quem são esses seres com acesso ao lugar mais Santo do Universo, pode nos ajudar a viver na busca de encarnar as mesmas marcas do caráter que eles manifestam. Tal preocupação é super razoável porque, na minha maneira de ver, há muito que aprender com eles. A razão é simples: se aprendermos como vivem os seres que habitam
ao redor do Trono, conforme nos diz o Apocalipse, também aprenderemos a viver na presença de Deus.
Aprenderemos que tipo de projeto de vida cria espaço para a manifestação profunda da realidade de Deus no nosso meio.
Vimos que quando a manifestação do Trono se dá no nosso meio, a esse movimento, decorrente desta ação de Deus, chamamos Avivamento.
A questão, entretanto, é: o que os seres do Trono têm a ver conosco? Afinal eles estão no Lugar-dos-Lugares, onde tudo que é verdadeiro, justo e puro reina de maneira absoluta. Eu e você, entretanto, vivemos no Brasil, lá, junto ao Trono o poder é exercido por Alguém que é justo; aqui, entre nós, a justiça anda mais difícil de ser encontrada que um diamante no lixo; lá, a base do Trono é transparente, aqui, ela está enlameada; lá, os que proclamam santidade vivem em santidade, aqui, nem sempre o mesmo acontece; lá, o arco- íris é símbolo do Pacto da Redenção, aqui entre nós, virou símbolo da Nova Era Satânica. É por tudo isto que vale perguntar: o que os seres do Trono têm a ver conosco? Os seres do Trono podem ser vistos por nós como modelo para os seres da Terra. A razão é simples: homens e anjos se misturam e se confundem profundamente na Bíblia, especialmente no livro de Gênesis. às vezes Abraão, não sabia se o visitante peregrino que chegava à sua casa era um anjo. Visitante gosta de churrasco, anjo também. Aí Abraão ficava na dúvida. . . Pelo sim e pelo não, ele sempre dizia: "fica para comer". Oferecia comida ao "estranho" que comia com prazer. Os anjos do livro de Gênesis parecem muito com homens. Ora se parecem com peregrinos do caminho (Gn, 18), ora com um assaltante noturno (Gn, 32:22-32). A semelhança é tão humana que um dia quando Josué vê um guerreiro forte entrando, puxa da espada e pergunta: "Quem és tu, és dos nossos ou dos nossos adversários? (Js, 5:13). E o anjo diz: "Eu sou príncipe do exército do Senhor e acabo de chegar" (Js, 5:14). O escritor de Hebreus diz: "Não negligencies a hospitalidade, porque alguns, praticando-a, sem o saber, hospedaram anjos" (Hb, 13:2). O livro do Apocalipse diz, no capítulo 21, verso 17, "que a cidade (a nova Jerusalém) tem medida de homem, isto é, de anjo. Do ponto de vista da Bíblia, os anjos servem de referência para o projeto da vida humana muito mais do que a gente imagina. É por isso também que Jesus ensina a dizer: "Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu" (Mt, 6:10).
Conhecendo os Seres do Trono O Apocalipse nos apresenta três tipos de seres vivendo constantemente na presença do Trono de Deus, a saber: os anjos, os seres viventes e os vinte e quatro anciãos. Cada um deles é marcado por características inigualáveis. Cada um deles mostra aspectos da vivência da presença de Deus, que precisam ser urgentemente aprendidos por nós, hoje. Portanto, aprender com anjos não deveria ser coisa incomum para nós. Como já vimos, as comparações entre anjos e homens são mais do que comuns na Bíblia, especialmente no Apocalipse. Isto porque, no Apocalipse, os anjos e os homens se misturam e se confundem, sendo que, nos três primeiros capítulos é quase impossível discernir uma categoria da outra. Do capítulo 4 em diante, o anjo vai ficando cada vez mais anjo, do ponto de vista celestial da definição. Mas nos capítulos 1, 2 e 3, anjo pode ser qualquer outra coisa, especialmente gente. Tanto é assim, que a tradição cristã sempre identificou o "anjo" dos capítulos iniciais do Apocalipse com o líder-humano da igreja local. A frase ao anjo da Igreja em Apocalipse 1,2,3, nos fala de, pelo menos, três dimensões.
A primeira: O anjo espiritual que assiste à Igreja. Ora, esta é uma doutrina esquecida por nós hoje em dia, especialmente no Ocidente. Nós, cristãos do Ocidente, fomos ficando muito "des-anjados". Nossa Teologia não leva os anjos a sério. Mas a Igreja no Oriente, tanto quanto na Igreja Primitiva e na Teologia Bíblica, abre um espaço enorme para os anjos. A Bíblia, especialmente nos Salmos e em Daniel, nos mostra quão importante é o cuidado e o ministério angelical. Em Zacarias vemos a mesma coisa, porque ele parece ter sido um profeta que tomava café com anjo, jantava com anjo, e era acompanhado por anjos no seu dia-a-dia. Acho que ninguém nunca teve uma agenda tão "anjada" quanto Zacarias. Hoje em dia, no entanto, nós perdemos essa visão do anjo espiritual que assiste à Igreja. Os Salmos falam dos anjos das nações e em Daniel se fala de principados e potestades de reinos. No Novo Testamento, em Mateus 18:10, Jesus diz uma frase que os teólogos "pulam" por ser mística demais para o gosto da maioria deles. Jesus diz: "Cuidado, não façais a nenhum desses pequeninos tropeçar, porque em verdade vos digo: os seus anjos
vêem o rosto do meu Pai que está nos céus todo o dia. "
Eu não sei o que isto significa, todavia, é mais fácil não complicar as coisas e, simplesmente admitir que o texto diz o que diz, por mais difícil que seja a aceitação de tal verdade. Ou seja: que os anjos dos pequeninos estão lá, na presença do Pai. E a implicação é chocante: cada "pequenino" tem seu anjo. Em Atos 12 temos o texto no qual Pedro é tirado da prisão por um anjo do Senhor. A cena é interessantíssima: tão logo Pedro é solto pelo anjo vai direto à casa dos irmãos. Bate na porta. A criada abre. Volta correndo, e diz: "Pedro taí fora". O pessoal diz: "Que é isso menina, tá doida?" O irônico é que estavam todos orando pedindo a Deus que libertasse Pedro. E Deus o liberta, mas os irmãos dizem: "tá doida", e ela insiste: "Não, é Pedro mesmo. " E eles dizem: "Talvez seja o seu anjo". Ora, os teólogos reformados dizem que a afirmação de que poderia ser o anjo de Pedro era uma superstição remanescente do judaísmo místico. Explicação interessante. Todavia, não explica o fato de que Lucas, escritor de Atos, não parece estar perturbado com tal possibilidade.
Em Marcos 5 nos é dito que Jesus expulsa uma legião de demônios que havia se empacotado no peito de um homem de Gadara. No confronto de Jesus com os demônios escapole uma verdade demonológica (não teo-lógica). Os anjos-demônios deram, sem querer, uma dica extraordinária de como eles operam na história. Marcos diz que eles afirmaram: "Não nos mandes para fora do país". Eles abriram guarda espiritual e mostraram os seus desejos mais escusos. A revelação é estonteante: eles haviam se especializado em GADARENIZAÇÃO espiritual. Eles se tornaram "experts" em cultura GERASENA. Em outras palavras: "Não manda para fora daqui, porque fizemos antropologia durante anos, anos e anos. Estudamos a cultura, sabemos como desgraçar a vida desse pessoal, então, não nos manda para fora não, deixa a gente ficar aqui".
O interessante é que quando você fala de demônios, também está falando de anjos caídos. Anjos e demônios são seres da mesma dimensão, da mesma natureza. Ora, isto mostra a relação profunda desses espíritos, sejam anjos ou demônios, com lugares, com sociedades, com culturas e com agrupamentos humanos.
Concluímos, à luz de toda esse acervo bíblico, que quando o Apocalipse fala do anjo da Igreja, ele pode também estar falando de um anjo espiritual que assiste àquela igreja local.
A segunda: o anjo como homem. Pode ser também que o Apocalipse 1,2,3, esteja falando do anjo-humano, que visibiliza o cuidado espiritual pela igreja local. Pode ser que a alusão seja ao indivíduo que resolvemos chamar de O PASTOR. É por esta razão que se fala que o anjo da Igreja é alguém que pode se converter. E o Pastor realmente pode e, muitas vezes, precisa voltar ao primeiro amor, lembrar de onde caiu. Isto porque só homens são capazes dessas atitudes, não anjos. A tradição cristã parece ser unânime quanto ao fato de que anjo, quando cai, não levanta mais, entra no time do adversário.
A terceira possibilidade: o anjo como psiquismo coletivo. Este aspecto pode ser percebido pelo fato de o Apocalipse se referir ao anjo como sendo aquele que, se convertendo, faz a Igreja inteira mudar de atitude imediatamente. Entretanto, todos nós sabemos que por mais importante que a mudança de atitude de um líder venha ser para sua comunidade, não há nessa mudança de atitude nenhum poder mágico que converta toda a comunidade de uma vez. O Apocalipse está também falando do anjo como sendo o adensamento do psiquismo da comunidade. Trata-se de uma espécie de cultura espiritual que precisa, muitas vezes, ser convertida. E quando isso acontece, a Igreja toda muda e muda de uma vez. Penso que a própria palavra anjo se ajusta perfeitamente a esse fenômeno aqui explicado e descrito. Afinal, anjo é mensageiro, é intermediário, é portador, é veículo, e mídia, ao mesmo tempo. E cultura também é mídia, à medida que é veículo, que é mensageiro, que é anjo. Digo isto apenas para provar que no Apocalipse, bem como no resto da Bíblia, onde homens e anjos se confundem, os anjos podem ser vistos como modelos para os homens. Se é assim, vale repetir que vida de anjo deve inspirar vida de homem, sem que se caia no culto aos anjos, que era um problema da igreja de Colossos (Cl, 2:18). Portanto, depois desta introdução, minha questão é saber como os seres que vivem em volta do Trono podem nos ajudar a entender como viver na Presença de Deus.
Anjos: Os Operários da Obra de Deus Vida de anjo não é fácil. Anjo não é executivo que viaja de primeira classe. Ao ler a Bíblia vemos que a atividade dos anjos é um negócio muito arriscado. Eles estão sempre na zona minada de perigo pode ser numa briga celestial do arcanjo Miguel contra o príncipe da Pérsia (Dn. 10:13) ou ainda o mesmo Miguel com os seus anjos pelejando a Grande Batalha Cósmica (Ap, 12:7-12). O trabalho de anjo é terrível no Apocalipse, onde os anjos são descritos como seres ocupadíssimos. Anjo trabalha mais do que ninguém. Eles são os Operários da Vontade de Deus. Observe como a principal característica dos anjos é o serviço braçal do mundo espiritual. anjos.
Em Apocalipse vemos dez características básicas do trabalho dos
Primeiro, eles são mensageiros à Igreja e às nações (Ap, 1:1; 14: 6). Em ambos os textos os anjos aparecem como arautos, como proclamadores. Sendo que em relação às nações, o Apocalipse diz que eles têm um evangelho eterno para pregar. Pedro, no entanto, diz que a pregação da salvação não foi dada a anjos, mas a homem. Ora, quando a gente põe as duas verdades juntas, sem medo da contradição, a síntese que brota daí é muito interessante, ou seja: os anjos não são pregadores da salvação, mas têm seu papel essencial na evangelização do mundo.
Segundo, eles são testemunhas de testemunhos. No capítulo 3: 5 Jesus diz que vai dar testemunho dos cristãos na presença dos anjos do seu Pai. Assim é que os anjos são as grandes testemunhas dos mais sérios testemunhos espirituais que são pronunciados na história humana.
Terceiro, eles são os questionadores da verdade. No Apocalipse são os anjos que fazem as perguntas mais cruciais, mais subversivas, mais revolucionárias (Ap, 5:2). "Quem é digno?" é a grande questão. Os anjos nos mandam procurar dignidade na Terra, embaixo da Terra, em cima da Terra, em qualquer lugar! No entanto, não esqueça que era em cima da Terra, que nos dias do apóstolo João, vivia alguém que se julgava digno da história humana, mas
que é denunciado pelo anjo como não sendo digno de abrir o livro da história do Planeta Terra. Esse grande indigno era César. A pergunta do anjo era, portanto, profundamente subversiva.
Em quarto lugar, eles são os que seguram as forças que destroem a Terra. No capítulo 7, verso 1, lemos que eles seguram os 4 ventos para que estes não destruam a terra. Em quinto lugar, eles são os seladores de homens. No capítulo 7, verso 3, afirma-se que é ministério dos anjos marcar as frontes dos eleitos de Deus.
Em sexto lugar, eles são os arautos do juízo de Deus. São eles que tocam as trombetas, conforme o capítulo 8, verso 2. Eles gritam as Vozes (14: 1-13). Eles derramam os Flagelos (16:1- 21).
Em sétimo lugar, eles são os que liberam forças espirituais aprisionadas. No capítulo 9, verso 14, vemos que eles liberarão 200 milhões de seres para um conflito tremendo na terra. Em oitavo lugar, eles são os declaradores dos mistérios de Deus. Eles é que têm os oráculos frequentemente descritos por João. No capítulo 10: 1 a 14, vemos que João é proibido de escrever o oráculo que recebe do próprio anjo.
Em nono lugar, eles são os guerreiros das Batalhas de Deus (Ap, 12: 7). Neste episódio, conforme já vimos, Miguel e seus anjos pelejam contra o grande Adversário da Vida no Universo. E em décimo lugar, eles são os porteiros da Cidade Santa. Em cada porta da Cidade Santa há um anjo (21:12).
Ora, tudo isto serve para nos mostrar que anjo é um braçal celestial, é um operário do Reino de Deus. É minha convicção que o ministério dos anjos é modelo indispensável para aqueles que querem viver na presença do Trono, em harmonia com ele.
Podemos resumir o trabalho dos anjos nos seguintes verbos: ir, testemunhar, questionar, segurar, selar, proclamar, liberar, declarar, guerrear e guardar.
As Características dos Operários do Reino Pois bem, se assim é, será que não deveríamos pensar em estabelecer a nossa agenda de atividades no Reino a partir da agenda dos anjos? Será que o "Faça-se a tua vontade assim na terra como no céu", não passa por aí também? Logo, temos aqui uma agenda de trabalho muito clara para praticar a fim de sermos como os seres que servem ao Trono. A primeira: ir ao mundo e às nações. Isto tem a ver com missões.
A segunda: testemunhar a salvação. Isto tem a ver com evangelização do planeta.
A terceira: questionar a realidade histórica. Isto tem a ver com a apologética, com a confrontação dos mitos da civilização humana. A quarta: segurar poderes espirituais. Isto tem a ver com as intercessões dos santos. A quinta: selar os escolhidos. Isto tem a ver com o batismo e confirmação na fé.
A sexta: proclamar o juízo. Isto tem a ver com profetismo, com a denúncia da iniqüidade na sociedade humana.
A sétima: liberar poderes espirituais. Tal fato tem a ver com oração que desencadeia processos espirituais, conforme inúmeros exemplos bíblicos.
A oitava: declarar os mistérios de Deus. Ora, isto tem a ver com o ensino da Palavra de Deus. A nona: guerrear as batalhas de Deus. Este aspecto tem a ver com confrontação com os adversários visíveis e invisíveis do Reino de Deus.
A décima: guardar as portas da cidade de Deus. Este serviço tem a ver com o cuidado e o pastoreio da Igreja de Deus. Os que guardam o rebanho são os "porteiros" da casa de Deus. Deve-se esperar dos homens, nada menos do que se espera dos anjos. Aqueles que querem viver diante do Trono, têm de aprender a ser Operários de Deus como os anjos. Isso nos faz questionar todos aqueles projetos de experiência da presença de Deus que não desembocam em
ação espiritual de serviço prático a Deus no mundo. Para viver diante do Trono, tem-se que ser estivador da vontade de Deus, operário braçal do Reino, braçal da empresa da salvação. Isto nos leva a dizer que Avivamento que não desemboca em missões, evangelização, apologética, intercessão, batismo, profetismo, oração, ensino, confrontação dos adversários e pastoreio do povo de Deus, não é Avivamento, é mero exercício de entretenimento espiritual. Se você quer ser um desses que vivem diante do Trono, arregace as mangas, porque aqui há uma convocação de anjos no sentido de que você seja operário, estivador e braçal do reino de Deus.
Os Seres Viventes: Os Sacerdotes do Trono O segundo grupo de seres que nos ensinam a viver na presença do Trono são esses que o capítulo 4 do Apocalipse chama de os seres viventes. Os anjos, eu os chamei de operários da vontade de Deus, a esses seres viventes, vou chamá-los de Sacerdotes do Trono. Celebrar, viver e experimentar Deus no mundo não representa apenas trabalho e serviço, mas também sacerdócio, ministração com contemplação, e estar diante do Trono. Está relacionado com a aproximação de Deus em total exposição da alma na presença do Senhor. João diz:
"... e à volta do Trono há quatro seres viventes, cheios de olhos por diante e por detrás. O primeiro é semelhante a leão, o segundo é semelhante ao novilho, o terceiro tem o rosto como o de homem e o quarto ser vivente é semelhante à águia quando está voando e os quatro seres viventes, tendo cada um deles, respectivamente seis, estão cheios de olhos ao redor e por dentro. Não têm descanso nem de dia, nem de noite, proclamando: SANTO, SANTO, SANTO é o Senhor Deus, o Todo-poderoso, Aquele que era, que é e que há de vir" (Ap, 4: 6b-8).
Aleluia!
Esses seres viventes aparecem pela primeira vez na Bíblia, no livro do Profeta Isaías, no capítulo 6:1-6. Isaías conta que viu esses seres sobrevoando o Trono da Sublimidade Universal. Eles também aparecem no livro de Ezequiel. Em Ezequiel, eles aparecem doze vezes com características um pouco diferentes daquelas reveladas no Livro do Apocalipse. Entretanto, a natureza básica dos seres é a mesma.
À semelhança de sua manifestação em Isaías, no Apocalipse esses seres viventes são criaturas sacerdotais, cujas existências se explicam e se plenificam no culto a Deus, diante do Trono. Em outras palavras: a razão de ser deles é Deus, o culto e o Trono.
Temos aqui uma porta que se abre tremendamente para discernirmos a nossa relação com o Avivamento. Isto porque, sem essa atitude sacerdotal, sem essa obsessão existencial de fazer de Deus e do Seu Trono a razão de nossa vida, e sem essa fixação num projeto de existência que se alimenta da adoração, ninguém vive na presença do Trono. Sem tal sacerdotização da vida, você apenas dá umas passadinhas pelo Trono, tem seus arrepiozinhos gostosos de vez em quando, mas a experiência do Trono é, neste caso, algo pobremente comparável a um "tour" à Disneylandia. Gostou mas ficou frustrado por não saber quando poderá voltar lá.
As Características dos Seres Viventes As características desses seres viventes são três. Vejamos quais são a fim de que aprendamos com esses seres misteriosos, como viver para celebrar Deus na vida.
Olhos Abertos
A primeira característica: eles são marcados por uma espiritualidade de olho aberto. Ora, isto é lindo! Os seres estão cheios de olhos, por diante, por de trás, ao redor e para dentro. Uma das marcas mais fortes desses seres viventes é a sua quantidade de olhos. Eles são um olho ambulante. Ora, isto no mínimo nos deixa perceber que o culto a Deus não é exercido através de uma fé cega. A fé desses seres sacerdotais não é cega. E, com isto, aprendemos que para ser gente de fé, para ser avivado, para viver na presença de Deus, você pode ser tudo, menos burro; você precisa ser tudo,
menos alienado. Ao contrário, quanto mais lúcido, quanto mais no Espírito, mais vivo e mais consciente. Que coisa bonita é a vida desses seres santos na presença de Deus!
Não são como monges medievais, fechados na clausura num mosteiro. Ao contrário, eles têm olho para todo lado. Eles não nos ensinam a ter uma visão só, de uma teologia só. Não! Eles nos ensinam que para viver na presença de Deus, os olhos têm que estar muito abertos. No nosso meio há muita gente que vive sua espiritualidade a partir de uma visão apenas. Uns só vêem através do olho da Teologia da Prosperidade; outros só vêem através do olho da Batalha Espiritual; há os que só enxergam com o olho do Trabalho Social; alguns percebem a vida apenas com o olho da Sociologia; outros há que apenas a vêem com categorias calvinistas, e ainda há aqueles com percepções apenas evangelísticas. Enfim, são visões de um olho só. Veja, no entanto, quais são as implicações da tal espiritualidade de olho aberto. Primeiro, é essa espiritualidade que vê para diante. Vê o imediato, vê a realidade em volta e vê o futuro. Em segundo lugar, é uma espiritualidade que vê para trás. Vê o passado; tem memória, olha o que deixou para trás, avalia o que deixou para trás e também vê os inimigos que vêm por trás querendo apunhalar. É ainda, também, uma espiritualidade que vê ao redor. Vê a vida, lê o jornal, enxerga a sociedade, o próximo e encara desafios.
E, por último, é uma espiritualidade que vê para dentro. Vê as tentações que estão se acumulando no coração; vê as "esquisitices" da alma que estão ali, crescendo; vê as curvas escuras e ambíguas de si mesmo; vê as motivações pseudo-piedosas, mas que nada mais são do que apenas justificativas para nossa ambição de poder; vê o caráter torto, deformado ou se deformando dentro de nós; vê a alma nua. Então, veja que a primeira marca desses seres sacerdotais é que eles têm uma espiritualidade de olho muito aberto.
O Leão, o Cordeiro, o Homem e a Águia
Em segundo lugar, os seres do Trono nos ensinam um projeto de espiritualidade baseado em força, sacrifício, inteligência e objetividade. Fizemos esta descoberta através dos Pais da Igreja, no segundo e terceiro séculos, que nos interpretaram este texto, falando das quatro faces desses seres viventes, a saber: leão, novilho, homem e águia.
Olho para estas quatro faces, e vejo um desafio à vivência de uma espiritualidade baseada em força, sacrifício, inteligência e objetividade, que são coisas raramente conciliáveis no nosso meio evangélico hoje em dia. Geralmente quem tem força no nosso meio é um halterofilista burro, não é? Quem tem inteligência não move uma cadeira; manda. O sujeito do sacrifício geralmente é um molóide que é sacrificado, e nem sabe que está sendo, e, se soubesse, não teria força para não ser. O ser objetivo é capaz, eficiente e realizador, mas na maioria das vezes, não se dispõe a sacrifícios. Temos aqui a fusão de um projeto de integralidade de vida, onde você é convidado a ter a força do leão vivendo com santa agressividade, mas sem estupidez. Você é convidado a se oferecer em sacrifício vivo ao Cordeiro, mas em plenitude de consciência e voluntariedade. Afinal, foi o Cordeiro que disse:" a minha vida, ninguém tira de mim, pelo contrário, eu, voluntariamente a dou." O sacrifício cristão não é o sacrifício do molóide, antes é o sacrifício do corajoso, do que fez a opção, do que diz: "eu vou dar a outra face porque eu quero dar". Você também é convidado a viver com a inteligência do homem que oferece a Deus espiritualidade lúcida, inteligente, sábia, e articulada. E por último, você também é convidado a praticar a objetividade do vôo da águia, que mira a presa e corre atrás dela. É uma espiritualidade que tem rumo, que não fica por aí tateando. Onde é que você está? Você sabe para onde está indo? Sua espiritualidade tem rumo? Estes seres viventes têm rumo, têm alvo, têm projeto, têm direção, têm santa obstinação, têm tenacidade, estão indo a algum lugar, e para onde eles estão indo, é para glória de Deus.
Santo, Santo, Santo... é o Senhor
Em terceiro lugar, esses seres viventes nos ensinam um projeto de espiritualidade incansavelmente comprometido com a santidade, o poder de Deus, e a esperança da volta de Jesus.
Veja só o compromisso deles com a santidade. Eles estão proclamando, incansavelmente, de dia e de noite: SANTO, SANTO, SANTO é o Senhor Deus.
Isso me faz lembrar que hoje em dia, uma das mensagens menos pregadas na Igreja Evangélica no Brasil é a mensagem sobre a santidade de Deus. Prega-se muito pouco sobre santidade em nosso meio. Prega-se muito sobre legalismo, mas santidade é outra coisa totalmente diferente. Prega-se muito sobre a prosperidade dos santos, mas não sobre a vida de santidade. Prega-se ultimamente sobre queda santa, não é? Há uns pastores que estão até indo assistir uns cultos de queda por aí.
E um deles me confessou: "Olha, eu fui lá, e quase caí, mas me agarrei numa pilastra e fiquei firme até o fim". Hoje em dia, prega-se muito sobre o sopro santo e poderoso cai todo mundo! Mas não se prega sobre uma vida de quebrantamento e santidade diante de Deus. Prega-se muito sobre a palavra da fé, a confissão positiva, a palavra Rhema etc... Mas, se prega cada vez menos sobre o Deus santo e a vida de santidade à qual Ele nos convida a viver. No entanto, esses santos seres sacerdotais do capítulo 4 de Apocalipse estavam apenas preocupados em declarar de dia e de noite: SANTO, SANTO, SANTO é o Senhor, nosso Deus.
Quando nos esquecemos do compromisso com a santidade, podemos colocar no lugar a Teologia do poder, da prosperidade, da queda, do sopro, da pulação, da alegria, seja lá o que for mas só vamos estar descendo ladeira abaixo. Sabe por que? Porque só há povo de Deus se esse povo for propriedade exclusiva de Deus, zeloso de boas obras e santo. O povo que é sacerdócio real, é também nação santa.
Hoje em dia ouço muito acerca do sacerdócio real, de ser filho do Rei, mas quase não ouço nada sobre viver como uma nação santa. Poucos dos que estão determinando as bênçãos de filho do Rei também estão preocupados em proclamar uma vida santa, em todas as áreas de sua vida humana; do individual ao coletivo; do existencial ao profissional.
Não estou falando aqui de santidade legalista, não é nisso que eu creio. Eu gosto de ver a minha mulher bonitinha, arrumadinha, e cheirosinha. Aprecio um bom perfume. Se puder sentar num sofá gostoso, não sento numa pedra podem ter certeza disto! Se puder andar num carro bom, não ando de carroça.
Não estou falando de sacrificialidade monástica, não estou falando de legalismo evangélico. Estou falando de integridade, de vigiar o coração, proclamar a santidade de Deus e pedir misericórdia para andar atrás dessa proclamação de santidade com obsessão.
E quando se fala de santidade, Jesus é o padrão. A santidade de Jesus é diferente da santidade dos evangélicos. Jesus não teria lugar em muita Igreja Evangélica. Ele não seria aceito como membro. Sua santidade livre assustaria a muitos evangélicos. Diante dele o pecador não tem medo, se aproxima; a pecadora não se assusta, beija o pé; o rico não fica apavorado, chega e faz pergunta; as mulheres ricas o seguem sem medo de serem surrupiadas (Lucas 8:1-3). Jesus é o padrão de santidade. Nele a santidade é atraente, apaixonante, cativante, bonita, santamente livre, livremente santa.
Ora, os seres viventes não têm compromisso apenas com a santidade. Eles têm também compromisso com o poder de Deus. Eles dizem: "SANTO,SANTO, SANTO é o Senhor, nosso Deus, O Todo-poderoso". Ora, isto deveria acabar com o deísmo em nosso meio. Nós somos uma Igreja extremamente deísta, especialmente o lado reformado da Igreja Evangélica. Os reformados crêem em Deus, na Sua Soberania e que Ele é Todo-poderoso, mas são deístas à medida que não acreditam que esse Deus intervém mesmo. Ora, Ele não é apenas Todo-poderoso. Ele exerce o Seu poder todos os dias na história. E aqui, estamos falando do poder que converte, que dobra os indobráveis, que destrona os poderosos, que vence os demônios, que cura enfermos, e que é maior que todas as outras formas de poder. Os seres viventes também manifestam um compromisso incansável com a esperança da volta de Cristo. Eles dizem que Ele "é Aquele que era, que é e que há de vir". Maranata! Oh vem, Senhor Jesus!
Eu não sou um velho na Igreja Evangélica. Entrei para valer no nosso meio em 1973. Entretanto, nesses 20 anos, eu tenho vivido essa Igreja intensamente. Neste período, já vi as ondas mais variadas acontecerem em relação à volta de Jesus. Eu me converti no iminentismo da volta de Cristo. O livro da moda era "Agonias do Planeta Terra", do Hall Lindsey. Hall fez um monte de previsões, e elas falharam.
Vários outros livros do mesmo gênero, com previsões, foram feitos... caíram por terra. Houve um intervalo de uns dez anos sem expectativas da volta de Jesus. Aí, os cientistas falaram no alinhamento dos planetas, e então começaram os livros de novo: "No alinhamento dos planetas, Jesus vai voltar, vai ter pedra de três toneladas caindo em todos os lugares, será um inferno", diziam.
No dia do alinhamento dos planetas, eu estava no escritório de um líder evangélico bastante conhecido neste país, e conversamos a manhã inteira. Quando íamos saindo para o almoço, ele me disse: "Por falar nisso, Caio, não é hoje o dia do alinhamento dos planetas?" Era um dia lindo, de sol, maravilhoso. As praias do Rio de Janeiro estavam maravilhosas. Eu falei: "É. É hoje o dia". Ele reagiu com sarcasmo: "Eu tenho que dar um telefonema pro fulano, meu amigo que escreveu um livro sobre alinhamento dos planetas, descrevendo todas as catástrofes do dia de hoje, sugerindo a ele que escreva um segundo livro intitulado: Desculpem Qualquer Coisa". Em relação à volta de Jesus, estamos sempre assim: ou esperando pelo amanhã, escrevendo profecias para amanhã ou esquecidos dele. Temos uma vocação terrível para apocalípticismos malucos ou então para sermos seres absolutamente alienados do fato de que, um dia, os céus vão se rasgar e o Senhor vai aparecer em glória, e todo olho o verá. No início de 1992, me deram um folheto escrito por um coreano que marcava a volta de Jesus para outubro daquele ano. Antes daquele outubro eu disse a muitos: "Só porque esse sujeito marcou a volta de Jesus para outubro, Jesus não vai voltar em outubro. Só por isso!"
Afinal, foi Ele mesmo quem disse: "Com respeito àquele dia, àquela hora, o Filho não sabe, os anjos não sabem, porque isto é coisa exclusiva do Pai". Antes de Jesus subir aos céus os Apóstolos perguntaram: "Senhor, será este o tempo que Tu vais restaurar o reino de Israel?" Ele respondeu: "Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou para a Sua exclusiva autoridade, mas recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia, e Samaria e até os confins da terra". Em outras palavras: "Ao invés de vocês ficarem especulando sobre a data da minha vinda, vão pregar o evangelho ao mundo, cheios do Espírito Santo. Mas nunca percam a expectativa da minha vinda, como ladrão, de noite". Ele só é como o ladrão da noite porque chega e ninguém
está esperando. Ora, esta é uma das contradições do evangelho: é esperar o que ninguém está esperando. A Palavra de Deus diz: "conserve no peito a expectação da esperança".
Meu sonho é ainda ver a Igreja Evangélica madura o suficiente para não ficar apavorada com o "livrinho do coreano". Outubro veio, Jesus não voltou, e o coreano entrou para a galeria dos idiotas escatológicos.
Não se sabe quando Ele vem, mas sabemos com certeza, que Ele vem. Assim como Ele foi, e Ele é, Ele há de vir. Isto é certo, e é só conservar isto na mente, com equilíbrio, sem adventismo. Entretanto, devemos também lutar contra aquela atitude que não leva em consideração essa doutrina repetidíssima no evangelho e nas cartas apostólicas: o Senhor vai voltar. João diz uma das coisas mais misteriosas e fortes sobre a relação entre a esperança da volta de Jesus e uma vida de santidade, que é: "e a si mesmo se purifica todo aquele que nele tem esta esperança" (I Jo 3:3). Sempre que a Igreja perde a expectação da esperança e se esquece que o Senhor que foi vai voltar, aparece no seu meio a força devastadora da frouxidão. A desesperança e a falta de temor e tremor em relação a essa vinda do Senhor geram sempre espaço para a imoralidade e a vida impura.
Os 24 Anciãos: As Autoridades Submissas ao Trono Chegamos agora à terceira categoria de seres que vivem na presença do Trono: os vinte e quatro anciãos. Os anjos, eu os chamei de operários da vontade de Deus; os seres viventes dissemos que são os sacerdotes do Trono; os vinte e quatro anciãos são as autoridades submissas ao Trono do Poder Universal. "Há também vinte e quatro Tronos e assentados neles, vinte e quatro anciãos vestidos de branco, em cujas cabeças estão coroas de ouro".
Esses vinte e quatro anciãos simbolizam as doze tribos de Israel e os doze apóstolos de Jesus. No entanto, eles também sintetizam a idéia da autoridade humana exercida em nome de Deus na história e no mundo espiritual. E o que eles nos ensinam, a respeito de como viver diante do
Trono, é assustadoramente simples, porém vital. Preste atenção você que é pastor, você que é líder da Igreja, você que é empresário, você que é político, você que exerce algum tipo de autoridade, de poder sobre os outros. Preste muita atenção no que a Palavra de Deus diz aqui neste texto: esses vinte e quatro anciãos simbolizam a autoridade humana no mundo espiritual. O que eles nos ensinam?
O Poder e o Compromisso com a Justiça
Em primeiro lugar, eles nos ensinam que poder tem que ser sempre exercido com justiça e santidade. Caso contrário, o poder é absolutamente corruptor. E aqui não há exceção.
Seja o poder do presidente da República, seja o poder do presidente da denominação, seja o poder do pastor da Igreja, do presidente da Missão, do empresário: poder é poder, seja ele exercido em nome de Deus, do Estado, do dinheiro ou do diabo. Poder é sempre poder e é perigosíssimo, por isso, ninguém deve brincar com ele.
Sem justiça, o exercício do poder é sempre auto destrutivo, razão porque os vinte e quatro anciãos estão vestidos de branco. No livro de Apocalipse, capítulo 19, verso 8, vemos que essa vestidura de linho branco são os atos de justiça dos santos... Nada corrompe mais a santidade e a justiça do que o poder. Os mais trágicos exemplos de injustiça e impureza na vida vêm daqueles que receberam muito poder.
Quanto mais poder, mais próximos das tentações. Você tem muito poder, aí um dia, você olha para as moças que trabalham na sua empresa e diz: "Puxa, eu pago o salário dessas meninas, tudo que eu mando fazer elas fazem", e aí a cabeça começa a ir nessa seqüência "lógica". O próximo passo é pensar: "eu sou dono desse pessoal". Não raro ouço uma quantidade enorme de secretárias crentes dizendo que estão sendo encurraladas pelo patrão ou elas vem chorando dizendo: "eu não agüentei e cedi". No entanto, não é só secretária de empresário que sofre assim. Há também muitas secretárias de pastor sofrendo o mesmo assédio ou se vendo cobiçadas por um ancião que pensa que porque ele paga salário dela, ele é dono dela.
Poder é um negócio seriíssimo. Você começa a sentir que o possui, que as coisas são suas e que existem em função de você. Às vezes, ele vem com o dinheiro que começa a comprar tudo. Daí a pouco, você está comprando a consciência dos outros. Você se torna a medida de todas as coisas. Tanto faz se o poder é exercido no Palácio do Planalto ou no gabinete da maior denominação do mundo, ele tem o mesmo cheiro, a mesma força de corrupção, a mesma tentação, a mesma força destrutiva. Os vinte e quatro anciãos nos ensinam que poder tem que ser exercido com justiça e santidade.
O Poder e a Necessidade de Rendê-lo a Deus
Os vinte e quatro anciãos que são autoridades submissas ao Trono nos ensinam que poder espiritual tem que ser rendido a Deus como parte integrante da vida. Poder tem que ser rendido a Deus todo dia.
O Apocalipse diz que os vinte e quatro anciãos só tomaram essa atitude porque foram provocados pelos quatro seres viventes. A atitude deles não é uma ação, é uma reação. Isto porque os quatro seres viventes disseram: SANTO, SANTO, SANTO, é o Senhor, nosso Deus, O que era, o que é e O que há de vir. Na seqüência, João diz: "quando os quatro seres viventes derem glória ao que vive pelos séculos dos séculos, os vinte e quatro anciãos prostrar-se-ão".
Ora, aqui há um princípio muito importante: ninguém cede o poder espontaneamente. Você tem que estar sempre sendo "provocado", chacoalhado por outros, a fim de lembrar que o poder não é seu. Se você tem poder, tem que haver alguém no seu ouvido, dizendo sempre: SANTO, SANTO, SANTO, é o Senhor, o Todo Poderoso, o que era, o que é e o que há de vir.
O grande problema é que, às vezes, quanto mais poder nós temos, menos amigos temos, menos conversas francas nos permitimos; menos seres viventes nos lembram quem é o Santo, o Poderoso e, Quem é Aquele que há de vir!
As únicas esperanças para o exercício legítimo do poder espiritual ou de qualquer outra natureza repousam nas palavras: prostrar, adorar, depositar.
Se temos algum tipo de poder, só vamos sobreviver ao exercício dele e sem ser corrompidos por ele se formos capazes de transformar em ato e vida estas palavras; prostrar, adorar e depositar. Veja o que é dito sobre esses vinte e quatro anciãos:
Primeiro, eles se prostram diante do Trono. Um ser com autoridade, seja ela de que natureza for, só consegue sobreviver ao poder se for paradoxalmente capaz de se prostrar diante do Trono. Só fica em pé exercendo o poder até o fim da vida quem ficar prostrado diante do Trono a vida inteira. Isto é mais do que se ajoelhar; trata-se de um demonstrar periódico e constante da nossa atitude de rendição a Deus. Trata-se de um desmontar, de um desconjuntar freqüente diante de Deus (o que nem sempre deve acontecer diante do povo, porque diante do povo a gente corre a tentação de transformar o nosso demonstrar de entrega num desempenho teatral de humildade espiritual). Eu vejo muita gente se mostrando diante do povo, mas talvez suas esposas jamais os tenham visto desconjuntados diante de Deus, na solidão do quarto. Também se diz que a única maneira de sobreviver ao uso do poder é mediante à adoração do eterno. Os vinte e quatro anciãos adoraram aquele que vive pelos séculos dos séculos.
Ora, aqui há uma maravilhosa comparação entre poderes humanos e o poder divino, porque o poder de Deus dura pelos séculos dos séculos. O dos vinte e quatro anciãos é limitado. Um dia você se aposenta, acaba, e outro toma o seu lugar. É terrível quando chega a hora de você passar o poder para outro. Só conseguimos entender essa idéia de limitação do nosso poder quando temos a contemplação diária de que o único poder que dura para sempre é o poder dAquele que está assentado no Trono pelos séculos dos séculos. Só a adoração que assume sua finitude diante de Deus pode nos salvar de sermos devorados pela volúpia e pela força sedutora de permanecer no poder. Nunca esqueça a finitude do poder; ele sempre
passa. Como disse Salomão, que foi um indivíduo poderosíssimo, a fama é como um ungüento precioso. Eu gosto muito de um ungüento precioso. O pessoal que trabalha comigo sabe como eu gosto de andar com um bom perfume. De vez em quando, eu encontro alguém que me diz: "ô, pastor, você está tão cheiroso!" Eu gosto de sentir cheiro bom. Salomão, diz: "a fama é como um ungüento precioso". Sabe por que?
Eu saio de casa, pego um perfume gostoso, uma loção, e vou trabalhar todo cheiroso... aí, eu entro no escritório, e os irmãos que trabalham comigo dizem: "Puxa, pastor! Você está cheiroso". Mas isso só dura até dez e meia da manhã. No fim da tarde, o máximo que se pode dizer é: "Você não está cheirando mal". O cheirar bem tem um limite. A fama é assim. Maravilhosa, encantadora, deslumbrante e tudo mais, mas passa como o ungüento precioso: não dura para sempre, e assim é o poder limitado e finito. Passa logo, como um vapor. Entenda isso para que você não queira se perpetuar em alguma coisa onde nenhum homem é perpétuo. Só há um que é perpétuo: é Aquele que reina pelos séculos dos séculos.
Por último, esses seres nos ensinam a depositar a nossa coroa como oferta diante do Trono. Esta é a única maneira de imitar aquele que, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação ser igual a Deus, antes, a si mesmo se esvaziou. Os que exercem algum tipo de poder só sobrevivem a ele se constantemente depositarem suas coroas diante do Trono. Qual é a sua coroa, meu leitor? O seu pastorado? A sua igreja grande? A sua empresa? O seu dinheiro? A sua reputação? O seu nome? O seu sucesso? Se você é um pastor e sua coroa é a sua igreja, a sua situação poderá ficar muito difícil quando você não for mais desejado ali. Você está se agarrando para não sair de lá? Deu todos os nós possíveis a fim de se amarrar à posição?
Quem sabe, depois disso, você até diz: "Daqui não saio, daqui ninguém me tira". Talvez você esteja mais agarrado à sua posição que o ex-presidente Collor estava ao Planalto.
Qual é a sua coroa? A sua empresa, os seus negócios, cargo político na denominação? Qual é a sua coroa?
Quero convidá-lo a depositar a sua coroa diante do Trono. E penso que aqui é onde reside uma das principais razões porque as instituições raramente recebem Avivamento. Você já ouviu falar de um Avivamento que varreu uma instituição? As instituições existem para agarrar a coroa até o fim.
E,quanto mais possuído você estiver pelo espírito de uma instituição ou preso ao poder institucional que ela empresta aos seus representantes, mais você vai segurar a coroa presa à sua cabeça. É ridículo quando isto acontece. Desta forma, muitas vezes, uma pessoa que ninguém mais quer naquela posição agarra-se à sua coroa sem perceber que ela mesma está morrendo, tanto quanto está matando a coisa à qual ela se agarra. Muitas vezes a pessoa já morreu e não sabe. No entanto, prefere ficar defunto coroado, a depositar a coroa. Os que têm poder e não querem rendê-lo nem a Deus e nem aos outros, são aqueles que matam o Avivamento. Avivamentos são mortos quando as pessoas impedem o fluxo do Espírito, não submetendo suas coroas ao Trono.
Preste atenção: Jesus foi morto por anciãos que não quiseram depositar as suas coroas. Foram eles que disseram: "Lá vem Ele, e o mundo após Ele. Se deixarmos, Ele tomará o nosso lugar". Dessa forma, eles preferem matá-Lo a ter que entregar suas coroas. Concluindo este capítulo digo que se aprendermos com esses seres do Trono saberemos viver diante de Deus. E as lições que eles nos dão são simples: a do serviço braçal, apaixonado como o dos anjos; da adoração lúcida, como a dos seres viventes, e da submissão consciente do poder e das coroas da nossa vida ao único Soberano entre os reis da Terra, como os vinte e quatro anciãos. Se vivermos assim, viveremos diante do Trono, e aí não precisaremos de Avivamentos. Sabe por que? Porque nós seremos seres viventes, em nome do Senhor.
Capítulo 04
O AVIVAMENTO COMUNITÁRIO "Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva, adornada para o seu esposo. E ouvi uma grande voz do céu que dizia: eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus. E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas. E o que estava assentado sobre o Trono disse: eis que faço novas todas as coisas. E disse-me: escreve; porque estas palavras são verdadeiras e fiéis. E disseme mais: Está cumprido: Eu sou o Alfa e o "mega, o princípio e o fim. A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da água da fonte da vida. Quem vencer herdará todas as coisas; e Eu serei seu Deus e ele será meu filho". (Ap. 21:1-7; 22:1-5).
Já vimos que qualquer coisa que acontece na vida, da parte de Deus, acontece a partir do Trono. Não há nada que seja de Deus que não proceda do seu Trono. Vimos que Avivamento tem de ser entendido a partir do Trono, e que qualquer Avivamento que não coloque o Trono de Deus no centro é Avivamento perigoso. Vimos que, no Brasil, corremos o risco de experimentar esse "Avivamento à brasileira", que seria um Avivamento sem Trono, sem submissão, sem quebrantamento, sem perplexidade, sem entrega radical, sem rendição absoluta.
Vimos também aquilo que chamamos de Teologia dos Avivamentos, e eu disse duas coisas: a primeira é que nenhum de nós pode dizer quando haverá Avivamento, porque "o vento sopra onde quer, ouves a sua voz, não sabes de onde vem, não sabes para onde vai". A segunda é que, se você e eu não sabemos quando haverá Avivamento, você e eu, todavia, podemos saber que sem que certas coisas marquem as nossas vidas, não haverá mesmo qualquer Avivamento. Assim é que para que tenhamos esperança de que um derramar do Rio da Vida que brota do Trono de Deus venha sobre nós, é preciso que aprendamos quais são as teologias que estão intimamente ligadas à idéia dos símbolos do Trono, a
saber: o Mistério Radical de Deus; o Pacto Redentor de Deus com a sua criação; o Fogo do Espírito de Deus; os Juízos de Deus em resposta ao incenso das orações do povo de Deus, e a Verdade de Deus, manifesta na transparência e na cristalinidade que existem na base de qualquer coisa que seja de Deus.
Vimos ainda quais são as condições para se viver na presença do Trono.
Vimos que além de saber quais são as teologias do Trono, precisamos aprender a viver e a ser gente do Trono. Neste ponto, nós falamos de três categorias de existências que acontecem na Presença de Deus: os anjos que são operários do Reino; os estivadores de Deus, os braçais da história; e os seres viventes, que são os seres sacerdotais, que nos ensinam uma espiritualidade de olho aberto, a ser incansáveis na nossa missão de proclamar a santidade de Deus, o poder de Deus, a vitória de Deus na história; e os vinte e quatro anciãos, que nos desafiam a experimentar poder sem nos corrompermos pelo poder, mediante a adoração a Deus e ao depositar das nossas coroas diante do Trono, realizando assim a total rendição de nosso poder ao Trono. Neste capítulo, eu quero ir numa outra direção, mas de maneira absolutamente conectada com tudo que temos visto até aqui ou seja, neste capítulo eu quero ver com você quais são os resultados comunitários de se viver ao redor do Trono. Até aqui, Avivamento está sendo para nós algo extremamente individualista, uma percepção pessoal do Trono e uma vivência pessoal na presença de Deus. A questão agora é saber se realmente o rio de vida que está se derramando sobre nós traz consigo implicações de vivência coletiva e qual é a desembocadura comunitária dessa experiência do Trono? O que acontece com essa sociedade redimida, justificada, lavada no sangue de Jesus que o Apocalipse chama de "A Noiva do Cordeiro" quando o Avivamento chega? Como é que essa gente do Trono vive em sociedade? Neste ponto eu quero dizer uma coisa: a Nova Jerusalém, à semelhança de quase tudo o mais no Apocalipse, é também modelo, é também referencial, é também balizamento e parâmetro para minha e para sua experiência comunitária, enquanto seres redimidos que querem viver em volta do Trono. Até aqui tudo foi extremamente fácil, porque experimentar Deus na minha solidão é muito mais fácil do que experimentar junto com meus irmãos, porque são cabeças diferentes,
compreensões distintas, culturas diversas e pré-compreensões já bastante estabelecidas. Por isto é que vale perguntar: como é que nós, como povo de Deus, experimentamos a vivência do Trono em comunidade?
Pensando na Nova Jerusalém, pensa-se numa sociedade que é construída em volta do Trono, cujo projeto jamais será absolutamente cumprido e encarnado em plenitude por nenhum de nós aqui na terra. Portanto, não há aqui nenhuma perspectiva romântica quanto a afirmar ser possível que tragamos, nós mesmos, a Noiva do Cordeiro em sua perfeição para o nosso meio, pelo menos, não enquanto eu sou como sou ou enquanto você é como é. No entanto, não é por causa disso que a Nova Jerusalém, a cidade construída em volta do Trono, vai deixar de ser o referencial para a minha e para sua vida comunitária em volta do Trono de Deus.
Agora veja bem: toda idéia acerca da sociedade perfeita é erguida em torno do Trono de Deus. Não há a menor chance de se construir uma sociedade que seja justa, a menos que se construa em volta do Trono. E quando falo em sociedade, estou, sobretudo, pensando na Igreja, porque ela é um ente sociologicamente definível como tal. Assim como podemos imitar os anjos, os seres viventes e os vinte e quatro anciãos, quero lhe estimular a imitar a vida comunitária da Nova Jerusalém. Se você diz:
"Venha o Teu Reino, seja feita a Tua vontade", você também pode dizer: "venha a tua cidade, venha a tua comunidade, venha o teu projeto de vida fraternal. Que ele nos tome e nos possua agora e já".
Como já dissemos, ainda que a absolutização dessas coisas todas fique para o futuro, aqui e agora eu tenho referências suficientes para saber o que Deus espera de mim e de você, como Igreja e como Comunidade que vive em volta do Seu Trono.
A Noiva já está aqui, conquanto ainda não esteja aqui (o Apocalipse bate também nessa tecla do já e ainda não) ou seja, há certas coisas que já estão aqui, de maneira relativa, mas que ainda não chegaram em sua plenitude. É fácil perceber isto olhando o capítulo 22, no verso 17, onde João diz que a Noiva já está aqui ao mesmo tempo que ele mesmo diz que a Noiva ainda não está. Como assim? Ela já está aqui em sua forma
imperfeita e relativa. Chegará o dia, entretanto, em que ela virá em sua plenitude. É por isso que o capítulo 21, no verso 2, diz: "Vi a cidade Santa, a Nova Jerusalém, descendo da parte de Deus, ataviada como Noiva para seu esposo."
De um lado essa realidade já está aqui; de outro lado, ela ainda virá em plenitude absoluta. Ora, porque ela já está aqui, eu não tenho que esperá-la chegar em plenitude para começar a me comprometer com os referenciais de sua natureza intrínseca, o que pode começar hoje. Se a noiva já está, eu não tenho que construir uma igreja que se pareça com um gueto, mas tenho que pensar numa igreja que se pareça com a Nova Jerusalém. Pode não ter a plenitude da Nova Jerusalém, mas vai ser mais do que os guetos psicologicamente escuros que a gente constrói tantas vezes.
A Ordem para Construir a Sociedade Perfeita Vem do Trono Para ver como essa sociedade é erguida em torno do Trono, basta ver no capítulo 21, no verso 5, onde se diz que a ordem para se construir tal comunidade vem do Trono ou seja: é idéia de Deus, é intenção Divina, e é paixão dEle. Aquele que está sentado no Trono disse: "eis que Eu faço novas todas as coisas".
E entre as coisas que faz, Ele constrói essa nova sociedade; a Igreja é projeto do Trono mais do que qualquer outra coisa; a Igreja é parte do desejo de Deus; a Igreja não tem o poder de fazer o novo, mas ela é semente de Deus para plantar o novo. Quem faz novas todas as coisas não é a Igreja, é Ele; mas é preciso que a Igreja se atreva a viver o novo que Deus cria. O grande problema das nossas teologias centradas no homem seja a teologia da libertação, seja a teologia liberal, seja a teologia da prosperidade (que também é centrada no homem e em seu poder de fé) é que elas atribuem ao homem um papel mais do que preponderante no projeto da realização do novo na terra. Todavia, tais teologias sempre esbarram neste fato inescapável, inquestionável, nessa realidade
inegociável: você e eu não fazemos o novo. Deus faz o novo, e se Ele não fizer, você e eu não o faremos, a não ser as velharias e as quinquilharias da nossa própria natureza corrompida e caída.
A Fonte de Vida dessa Sociedade é o Trono
A Igreja, portanto, estará tanto mais viva, quanto mais próxima do Trono e do Cordeiro.
Contrariamente, vale dizer que ela estará tanto mais morta quanto mais longe do Trono e do Cordeiro ela estiver. A fonte de vida da Igreja vem do beber e do alimentar-se do Rio da Vida, da sabedoria de Deus e da Graça de Jesus. Isto porque a cena do Apocalipse nos deixa ver o Trono e o Cordeiro. Deduzimos que a fonte da vida da Igreja de Deus flui desse Trono, onde poder e graça se misturam. Afinal, estamos diante do Trono e do Cordeiro.
Atente bem para o que quero lhe dizer: nenhum projeto de vida, de igreja ou de comunidade, vai a lugar nenhum, se essa igreja não for marcada por uma profunda submissão ao Trono e uma profunda rendição à Graça do Cordeiro. Nosso problema é que dificilmente colocamos o Trono e o Cordeiro juntos no mesmo Cenário Espiritual; ou temos um Cordeiro sem Trono ou um Trono sem Cordeiro; ou temos um soberano esmagador ou um Salvador bonachão; ou temos uma Santidade opressiva ou Graça que justifica, mas não transforma. O Apocalipse diz que para que haja vida, tem que haver compreensão do Trono, da soberania e do Cordeiro. Tem que haver o Deus Soberano e o Cristo Crucificado. Tem que haver a realeza esmagadora de Deus e tem que haver essa Graça acolhedora do Cordeiro. Só construímos uma igreja que tem vida e que se alimenta do Trono, quando essa vida é equilibrada nessas duas perspectivas.
O Lugar do Trono Está Nessa Sociedade
O Apocalipse também afirma que essa sociedade é o lugar-sede do Trono de Deus, e aqui há algo interessantíssimo. Veja o que diz o capítulo 22: 3, onde lemos: "nele estará o Trono de Deus e do Cordeiro. " O Trono não está em qualquer outro lugar por aí. A Palavra de Deus diz que o Trono está nessa sociedade fraternal e utópica.
O apóstolo Paulo diz algo congênere em Efésios, no capítulo 1, nos versos 22 e 23. Ali também encontramos a idéia de que o Trono de Deus está na Noiva, na Igreja. "E pôs todas as coisas debaixo de seus pés e para ser O Cabeça sobre todas as coisas, o deu à Igreja a qual é o seu Corpo. A Plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas". Só vivemos miseravelmente pobres espiritualmente, porque queremos viver na mendicância. Afinal, Paulo diz que a "plenitude daquele que enche tudo" está na Igreja, à nossa disposição. Quando leio isto, choco-me ao comparar esta afirmação com a realidade das coisas que percebemos em volta de nós. Porque, do ponto de vista de Paulo e de João, essa sociedade, que ainda não é, mas já está no nosso meio, tem que ser o lugar-sede do Trono. Ou seja: o Poder e a Plenitude de Deus tem de habitar na Igreja. Entretanto, se o Trono de Deus não está na Igreja, onde está? A Igreja pode até estar localizada onde o trono de Satanás se encontra. Mas se o Trono de Deus estiver nela não haverá nenhum problema quanto a isso (Ap, 2:13). O problema não é quando a Igreja está onde habita o trono de Satanás, mas quando o trono de Satanás está na Igreja. E muitas vezes está! O apóstolo João, escrevendo à igreja de Pérgamo diz:
"Eu sei que vocês estão onde está o trono de Satanás." A Igreja pode estar no coração do trono de Satanás, mas o Trono de Deus está no coração da igreja, o trono de Satanás vai ruir. Qualquer idéia de Avivamento genuíno tem que levar em consideração o projeto de sociedade de redimidos que o Apocalipse nos apresenta. E mais: viveremos tanto mais intensamente a realidade comunitária do Avivamento, quanto mais próximos do padrão da sociedade eterna glorificada nós estivermos como Igreja.
Descrevendo a Igreja que Existe em volta do Trono Quando falamos de Avivamento Total, nos referimos a algo mais que renovação espiritual individual. A Renovação Espiritual é algo individual, mas quando se transforma em algo comunitário, tratando-se da Igreja, transforma-se em Avivamento Social. Esse Avivamento, que é
resultado das renovações individuais, quando se torna um projeto social da Igreja desemboca num Despertamento Nacional. Portanto, falamos de três palavras diferentes: os seres humanos são renovados, as Igrejas são avivadas, e os países são despertados. Meu objetivo ao escrever este livro é ver você renovado, a fim de que a Igreja possa ser avivada, e, um dia, o Brasil possa ser despertado diante do Trono do Todo Poderoso. Como deve ser a Igreja que existe em volta do Trono?
No livro de Apocalipse, capítulo 21, são feitas duas afirmações acerca dessa comunidade que existe como sede e em volta do Trono. Vejamos agora quais são elas:
Ela Testemunha ao Mundo
A Igreja precisa ser a comunidade que testemunha ao mundo. Até aqui eu não disse nada novo, todo mundo sabe.
Nós já vimos que não há qualquer Avivamento legítimo que não transforme a Igreja num impacto sobre o mundo. Avivamento que nos faz só ficar celebrando com os outros, entre quatro paredes, nos lambendo gostosa e deliciosamente, nos fartando das guloseimas espirituais de Deus e que não nos devolve ao mundo para testemunhar, não é Avivamento: é festival! Avivamento genuíno tem que transformar a Igre-ja numa comunidade que testemunha ao mundo. Por isto, digo-lhe que se você se julga avivado, mas não testemunha sua fé ao mundo, esse "Avivamento" é ilegítimo. Agora veja o que o Apocalipse chama de elementos indispensáveis para que o testemunho da Igreja ao mundo seja um testemunho eficaz.
Em primeiro lugar, o Apocalipse diz que esta comunidade tem que estar posta sobre lugares altos. O verso 10 do capítulo 21 diz que para ver a Nova Jerusalém João teve que ser arrebatado em espírito para uma montanha altíssima. Qual o nível da Igreja? Está nos lugares altos ou nas regiões abissais do espírito? Lugar alto não significa posição elevada, e sim, significa padrões altos. A Noiva do Cordeiro está posta em lugar tão alto, que João teve que ser arrebatado a fim de chegar lá. Entretanto, em alguns dos nossos projetos de Igreja a gente não tem que subir, a gente tem que pular de cabeça para chegar lá. Um buraco.
O Apocalipse diz que a Igreja só testemunha ao mundo porque ela está posta em lugares altos.
Em segundo, ela refulge a glória de Deus externamente. Veja o verso 11 do capítulo 21: "tendo a glória de Deus; e o seu brilho era semelhante a uma pedra preciosíssima, como se fosse jaspe cristalino;"
Fico me perguntando: o que significa esse refulgir da glória de Deus?
E a minha mente vai logo para o capítulo 58 de Isaías, versos 6, 7 e 8, que nos dizem o seguinte: "Acaso não é este o jejum que escolhi? que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo? e que deixes ir livres os oprimidos, e despedaces todo jugo? Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desamparados? que vendo o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne? Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará. e a tua justiça irá adiante de ti; e a glória do Senhor será a tua retaguarda."
Em outras palavras: essa igreja-sociedade-alternativa que é avivada, que é cheia da vida do Trono só refulge a Glória de Deus externamente quando ela é essa comunidade que liberta oprimidos, cativos, que facilita a vida dos outros, que desenlaça os novelos da vida do próximo, que tira os grilhões da vida do oprimido, que tira o dedo da cara do culpado, que abriga o sem-teto, que veste o nu, que cuida do carente, que ama o ser humano com amor de Deus. Então, a Palavra de Deus diz: "se fizeres isto, tua luz vai ser vista, se tu fizeres isto, a Glória de Deus vai ser o cenário às tuas costas, quem olhar para verá a Glória de Deus no pano de fundo. " E mais: o livro de Apocalipse diz que a Igreja que testemunha ao mundo só testemunha eficazmente quando não apenas refulge a Glória de Deus externamente, mas vive a beleza de Deus internamente.
Veja o que diz o verso 19 do capítulo 21: "Os fundamentos do muro da cidade estavam adornados de toda espécie de pedras preciosas. O primeiro fundamento era de jaspe; o segundo, de safira; o terceiro, de calcedônia; o quarto, de esmeralda;"
Pode imaginar algo mais ridículo? O que se põe na fundação da casa? Ladrilho? Compra as melhores louças e põe na fundação? Não! Você nem quer saber o que vai ser posto na fundação. Afinal, ninguém vai ver mesmo. Vai ficar enterrada, não é mesmo? Basta concreto puro e pronto. Beleza, só por fora. Só se for vista pelos olhos humanos. No entanto, o Deus da Igreja não quer que ela seja apenas um SHOW CASE. Ele não quer que a performance dela seja teatral apenas para fora, para consumo. Ele não quer que a Igreja exista apenas para atender as demandas do "mercado espiritual" da sociedade. Ele não quer que a plataforma seja montada para impressionar evangelisticamente o planeta. O Deus da Igreja diz que só faz sentido refulgir para fora, quando até aquelas coisas que estão enterradas na nossa vida são bonitas, quando os fundamentos são adornados com toda espécie de pedras preciosas.
No entanto, geralmente fazemos o contrário. A gente "vende" a Igreja, "marketeiramente" falando, para fins evangelísticos, como sendo o melhor lugar da Terra, mas quando o sujeito se converte, a gente chama no canto e diz: "Olha, foi só de mentirinha. Tá cheio de podre aqui dentro. E a lei da sobrevivência aqui é: não olhe para ninguém, olhe só para Jesus". Não!
Será que estou mentindo? Estou exagerando? É brincadeira minha?
Você sabe que é verdade. Todos nós sabemos que muitas vezes essa é a estratégia, ainda que "inconsciente". O Apocalipse diz que isso tem que acabar! A sociedade de Deus que é a Igreja de Deus não refulge só para fora e não tem holofote artificial, para impressionar o mundo; ela é bonita dentro, lá no fundo; ela pode abrir o porão; ela pode se deixar cavar; ela pode se permitir ser operada a fim de que sejam vistas as suas entranhas; ela tem beleza na alma.
Para que tal aconteça o que precisa haver no nosso meio é uma inversão radical de valores. Nós precisamos deixar de ser um povo
preocupado com o SHOWCASE, com espetáculo, com circo. Temos que olhar primeiro para as estruturas e para os fundamentos do que estamos construindo. Caso contrário, vamos continuar enganando pessoas enquanto pregamos o evangelho.
Eu não gostaria de ter que dizer para alguém: "Vem pra Jesus, você vai ser amado na Igreja", para depois que ele abre o coração e vem, eu ter que dizer: "Esqueça o que falei antes, não é nada disso, mas fica firme". Ou ter de driblá-lo para ele não ir à reunião do Concílio Máximo da Igreja ou à Convenção da Denominação ou Federação da Denominação Pentecostal. Porque, muitas vezes, se ele for lá enquanto não for ainda firme na fé, ele vai se escandalizar e abandonar a Igreja. Eu não queria ter que enganar ninguém. Tinha que ser tudo bonito: do púlpito que refulge para fora as Escrituras até à reunião íntima dos líderes da Igreja.
Em quarto lugar, essa Igreja só testemunha ao mundo com eficácia porque testemunha a luz de Deus às nações. Veja, no primeiro caso, ela tem um referencial alto. O ar é rarefeito lá em cima, por isto os ratos não sobrevivem nos seus porões: ratos não conseguem viver nas montanhas mais altas; eles são animais das baixadas. No segundo caso, a Igreja tem glória para fora: ela é bonita de ser vista. No terceiro caso, ela nos é apresentada como tendo beleza interna. Seus porões não estão cheios de lixo. Só quando as coisas são assim é que ela pode ser uma luz para as nações: "as nações andarão mediante a sua luz e os reis da terra trazem a ela a Sua Glória" (Ap, 21:24). Ela vai às nações, prega às nações, leva luz às nações, glorifica as nações, arranca o obscurantismo das nações, tira o paganismo das nações, evolui as nações, dá plenitude às nações, estabelece referenciais de justiça para as nações, e proclama a centralidade do Trono de Deus para nações. Além disso, ela também relativiza os déspotas das nações. Ela relativiza a tirania das nações. Ela relativiza as paixões e as ideologias das nações. Ela pulveriza os absolutos das nações, e faz os deuses das nações se vergarem ao único Deus vivo e verdadeiro. A questão é: quando e por que as coisas são assim?
Ora, as coisas acontecem dessa forma quando a Igreja assume seu papel aqui descrito. As coisas são assim, porque ela é a comunidade dos altos padrões, porque ela é bonita de ser vista, e porque ela não tem medo de ser vasculhada. Ela tem poder para falar de luz às nações, porque tem luz em si mesma.
E aqui há uma outra verdade que gostaria de frisar muito bem, e gostaria que isso chegasse ao ouvido de todos os pastores, de todos os políticos evangélicos, e de todos aqueles que estão fazendo barganha da Igreja com os poderes políticos estabelecidos, seja por dinheiro, por influência ou por mero prazer de estar próximo a tais poderes. O Apocalipse afirma que não é a Igreja que vai aos reis das nações. Os reis das nações é que vêm até ela. O caminho é de lá para cá, não é daqui para lá (Ap, 21:24). Os reis das nações vêm até ela. Ela não está a serviço de reis. Ela está a serviço do Rei. Por isto, os reizinhos deste mundo vêm todos até ela.
Ela Realiza as Utopias da Sociedade
Em segundo lugar, o Apocalipse diz que a Igreja comunidade é a que anda próxima das utopias.
Thomas Morris, Santo Agostinho, Platão, Karl Marx, foram homens que creram em utopias. A Bíblia, no entanto, diz que a comunidade que devia chegar mais próxima da utopia, tinha de ser a Igreja de Deus. Vai chegar o dia em que aquilo que Karl Marx sonhou para o mundo, que era bonito demais, irrealizável pela corrupção da natureza humana acontecerá em tamanha plenitude, que o sonho de Marx será bobo e pálido se comparado ao que Deus fará. Vai chegar o dia em que a sociedade ressurreta e glorificada vai ser a grande sociedade do planeta. Agora preste atenção: enquanto isso não acontece, devemos ser a comunidade que mais se aproxima dos projetos de utopia. O mundo perdeu o sonho. Os Beatles disseram "O sonho acabou... "
Não acabou exatamente ali, mas está acabando sempre! A monarquia não é mais o sonho de ninguém. A república não é mais um sonho. A democracia perdeu seu encanto. O capitalismo não é mais o sonho nem dos capitalistas que fumam charuto. O comunismo passou a ser um pesadelo. O socialismo está pulando igual a saci na Europa para ver se se equilibra. A pergunta é: e a Igreja? A Igreja é sonho de alguém?
Veja bem o que vou dizer: você diz que não acredita no comunismo porque o comunismo não deu certo em lugar nenhum. Não é isto mesmo que você diz?
No entanto, os marxistas olham para a Igreja e dizem: "Eu vou me dar a Jesus Cristo? A Igreja não deu certo em lugar nenhum. " Veja bem: com a mesma medida com que julgo sou julgado.
Assim como você diz que não acredita nesses projetos de sociedade porque eles não levaram a lugar nenhum, o mundo olha para dentro da Igreja e diz:
"Eu também não acredito. Esses caras já tiveram 2000 anos de chance e não fizeram coisa nenhuma. Eles não vivem melhor que os que vivem aqui fora. Os líderes deles não são mais honestos do que os que estão aqui fora. Eu prefiro até confiar em palavra de bicheiro do que na de muitos deles. Por que é que eu vou crer que eles têm a proposta?" Sei que é duro o que estou dizendo, mas infelizmente sei que, muitas vezes, é verdade. Deus quer que, de alguma forma, construamos alguma coisa que tenha, pelo menos, uma centelha do brilho da Noiva, da Nova Jerusalém que um dia virá em plenitude, mas que já está aqui no meio de nós.
O plano de Deus é que a Igreja seja uma espécie de sociedade alternativa entre as nações, isso hoje! O Apocalipse fala da Nova Jerusalém enquanto continua a falar das nações. Ou seja: as nações da terra andarão mediante a Sua luz (21:24-26). Veja então que haverá duas coisas diferentes: a Nova Jerusalém (que é a sociedade ressurreta glorificada) e as nações do mundo. Ora, isso é o que acontece hoje: somos parte da Igreja de Deus no mundo, enquanto o mundo continua a existir. Todavia, no futuro, diz o Apocalipse que, de alguma forma (e não me pergunte como) as duas categorias estarão também presentes, em total harmonia. As nações continuarão vindo a essa Cidade Santa. O princípio que afirma que há uma cidade santa e que há nações em volta dela é o princípio que deve prevalecer hoje, porque deveríamos ser uma sociedade melhor do que a sociedade que nos circunda. Hoje, nós, Igreja de Deus, já deveríamos ser um pouco melhor do que o Brasil. A Igreja tem que ser melhor do que o Brasil. Se a Igreja for igualzinha ao
Brasil ela não é mais o sal da terra, é a terra da terra e, portanto, será enterrada pela história. As nações têm que olhar para a Igreja como algo maior, mais elevado, mais digno, mais humano, mais nobre, mais honrado. Sei que a gente põe a culpa de tudo o que está acontecendo por aí no diabo. O diabo tem muita culpa no cartório da história. Mas veja, se o diabo sumisse de cena, fosse preso e amarrado, muita coisa suja e feia continuaria acontecendo, porque a maior parte da culpa é mesmo nossa.
Às vezes fico até com "pena" do diabo, e falo sério. Estamos quase transformando o diabo num ser vicário, expiatório, que vai levando a culpa de todo mundo. Ele tem as dele. E já são muitas. Entrementes, assuma as suas enquanto eu assumo as minhas. Resumindo: o plano de Deus é que a Igreja seja maior e mais elevada do que as nações em volta.
Aprendendo a Realizar Utopias Para que isto aconteça, o que o povo de Deus tem que fazer?
O livro do Apocalipse nos afirma que a fim de se tornar este referencial, a Igreja tem que encarnar sete marcas fundamentais.
Apostólica
Em primeiro lugar, a Igreja só é essa comunidade que realiza utopias se estiver fundada no alicerce dos apóstolos. Veja o verso 14 do capítulo 21: "a muralha da cidade tinha doze fundamentos e sobre esses os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro".
Quais são os fundamentos da sua Igreja? Olhamos em volta e vemos muitos fundamentos. Algumas igrejas estão fundadas no poder do dinheiro; algumas estão fundadas no poder político e na barganha; algumas no poder da intriga; algumas sobre tradição e legalismo. Qual é o fundamento da Igreja? A Palavra de Deus diz que essa igreja-sociedade, que deve ser melhor do que as nações, só será melhor se ela estiver fundada no alicerce dos apóstolos.
A única salvação para a Igreja é ser Igreja APOSTÓLICA. Isto significa voltar-se para a Palavra e só para a Palavra. A Igreja que não se funda na Palavra afunda em qualquer outra coisa. Quais são esses fundamentos apostólicos?
Há uma quantidade enorme, mas quero apenas relembrar cinco.
1. O amor a Deus e ao próximo: Amarás ao teu Deus de todo o teu coração de toda a tua alma, de toda a tua força e de todo o teu entendimento e amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Paulo diz em I Coríntios 13, algo que, resumido, ficaria assim : "o que passar disto, é comentário". Operar milagres, sem isto é brincadeira; ter fé que remove montanhas, sem isto, é inoperância; falar línguas, sem isto, é baboseira; profetizar sem isto, é escárnio; fazer ação social, sem isso, é arrogância humanista. A Palavra de Deus diz que o primeiro dogma da vida é o Amor. 2. A centralidade da Cruz: Não há uma hierarquia aqui. (a cruz vem em segundo lugar apenas porque tenho de dar as cinco marcas apostólicas em alguma ordem), entretanto, sem cruz não há mensagem apostólica. 3. A primazia da Palavra sobre qualquer outra fonte, seja ela secular ou espiritual. Sem a Palavra como referência das referências não há pregação apostólica.
4. A proclamação da vitória sobre a morte na Ressurreição. A Igreja Apostólica é, sobretudo, testemunha da Ressurreição.
5. A vida na comunidade dos irmãos: Isto tem a ver com comunhão, fraternidade, respeito mútuo, amor, convívio, celebração, louvor, amizade, companheirismo e solidariedade. Estas são as cinco marcas principais que o livro de Atos dos Apóstolos chama de doutrina apostólica.
Aberta a Todos
Em segundo lugar, a Igreja só realiza utopias se estiver aberta a todos. Por isto, quando a Igreja começa a ser muito seletiva ela não é Igreja é clube. Ela é qualquer outra coisa: entidade filantrópica; sociedade dos iguais, a patota da classe média; o sindicato dos sedentos por justiça etc... Mas não é Igreja.
Os versos 12 e 13 de Apocalipse 21 dizem: a cidade "tinha grande alta muralha, doze portas, junto às portas doze anjos, sobre elas nomes escritos que são os nomes das doze tribos de Israel". O verso 13 prossegue dizendo que a cidade tinha portas para a zona norte, para zona sul, para a zona leste e para a zona oeste. Para que área a sua Igreja tem porta? Ela está aberta para todos ou somente para alguns? A Cidade Santa estará aberta para todos os lados. Venha de onde vier, tem porta para entrar. Se vem da Baixada Fluminense, tem porta aberta; se vem de Nova Iguaçu, de Caxias, tem porta aberta. Se vem do Morumbi, tem porta aberta; se vem da Freguesia do ó, tem porta aberta; se vem de Canutama, (onde eu quase nasci), que não está nem no mapa do interior do Amazonas, encontra a porta aberta. A Igreja de Deus tem que ter porta aberta para todos.
Uma das coisas mais difíceis é entrar na Igreja, até do ponto de vista físico. Sua Igreja está de porta aberta?
Há um monte de gente por aí com dor de cotovelo da Igreja Universal do Reino de Deus. Sabe por que eles estão crescendo tanto? A porta está aberta! E mais: a porta está na calçada! Você olha a arquitetura dos Templos da Igreja Universal do Reino de Deus e percebe que ela é uma igreja-porta-aberta. Não tem uma porta. A fachada é uma grande porta. É um galpão com uma grande porta que parece gritar: "Entre! Vem que tem". Com todas as críticas que você possa fazer à Igreja Universal, aprenda, pelo amor de Deus, que a Igreja tem que ter porta aberta. E não é porta aberta apenas fisicamente. Começa na porta fisicamente aberta, mas é a porta da nossa cabeça. Há muita gente que chega e encontra a cabeça da gente com porta fechada. Se não gostamos do cabelo da pessoa, fechamos a porta! Se tiver barba nem se fala! Estou falando das besteiras, dos mosquitos, no entanto, há camaleões enormes! A Igreja que realiza utopias tem porta aberta para todos os lados!
Edificada em Justiça e Verdade
Em terceiro lugar, a igreja que realiza utopias é edificada a partir dos parâmetros de justiça e de verdade.
Ela não está edificada sobre o jeitinho, sobre a manha política, sobre os arranjos ou as composições. Nela não prevalece a lei do "quem dá mais
é mais honrado". Nela o poderoso, o rico e o influente não têm que ter a melhor posição, o primeiro banco ou virar presbítero. Sua base não é essa. Ela está fundada sobre a justiça e a verdade.
Veja só como o verso 16 diz que a cidade de Deus está edificada com base na "arquitetura" da justiça e da verdade. O que diz o capítulo 21:16? "A cidade é quadrangular". Significa que todos os lados são iguais. Nela não há uma banda largona: aquela dos presbíteros de classe média alta em contraste com aquela bandinha, da irmãzinha do grupo de oração de terça-feira à tarde. Não! O Apocalipse chega a ser enervantemente aborrecido quando diz: "a cidade é quadrangular". No comprimento, na largura, na altura, de todo lado, é tudo igual, não tem pedaço maior do que o outro. Nela há fatias para todo mundo e as fatias são iguais. Por que você acha que a cidade é assim, tão igual, tão "quadrada"? Será porque Deus não é criativo o suficiente para fazer alguma coisa mais agradável de se ver? Claro que não.
A cidade de Deus é quadrangular porque Deus quer mostrar que a sociedade que virá à Terra, quando o Senhor Jesus voltar, será justa, igual. E em assim dizendo, Ele espera que nós que dizemos "venha o teu reino; seja feita a tua vontade assim na terra como no céu", também possamos dizer: "venha a tua cidade"; e enquanto ela não vem em plenitude, trabalhar para que os traços básicos dessa "utopia" sejam vistos, pelo menos parcialmente, na Igreja de Jesus na Terra. A Palavra de Deus não afirma apenas que a cidade eterna será edificada, levando-se em consideração a forma da justiça: quadrangular. Ela também nos garante que a cidade será edificada nos parâmetros da verdade: "a estrutura na muralha é de Jaspe, também a cidade é de ouro puro, semelhante a vidro límpido" (21:18). Ora, a descrição feita aqui é de um tipo de ouro do qual eu nunca ouvi falar. Trata-se de um ouro transparente. Você já imaginou como é esse ouro? Veja o verso 21 do capítulo 21: "A praça da cidade é de ouro puro como vidro transparente". Sem dúvida tal mineral não existe no planeta Terra, ainda. Agora, imagine a cena: você está lá, no fundamento da praça: na base da cidade é ouro, mas você olha para baixo e vê através do ouro
transparente existente no pavimento. Na minha opinião, essa imagem do pavimento de ouro transparente nos fala da transparência da verdade que precisa pavimentar o chão de tudo aquilo que erigimos para Deus na Terra.
Vida sim! Religião não!
O que se deve afirmar, categoricamente, agora é que a sociedade que realiza utopias é a sociedade da vida, mas não é a sociedade da religião.
Interessante! A Nova Jerusalém não tem nada a ver com religião. Todavia, caso você tenha dúvida a este respeito, leia o seguinte:"Nela não vi santuário" (21:22). Graças a Deus não fui eu quem escreveu tal versículo. O que o Apocalipse diz é que a cidade de Deus não tem nada a ver com religião. E mais ainda: Ela é só cidade de Deus quando não é religiosa; para ser cheia de vida ela não pode ser religiosa, porque onde quer que a gente ponha a religião as coisas se enfeiam. Normalmente, a religião funciona apenas como o museu de uma fé que já se foi. A cidade cortada pelo Rio da Vida não conhece Templos. Aleluia!
Ora, aprendemos com tudo isto que a verdadeira Igreja deve estar mais preocupada com vidas do que com templos. Ela não deve estar preocupada em construir santuários, mas sim em ser o santuário: "nela não vi templo porque o seu santuário é o Senhor".
Templos suntuosíssimos não são essenciais. Acho interessante que a Igreja Primitiva só construiu o seu primeiro templo no Século IV. Até então, ela funcionava em lugares como a casa de Asincrito, de Flegonte, de Pátrobas etc... Quando o imperador "assumiu os negócios" da Igreja, na era do primeiro surto de teologia da prosperidade da história cristã, é que ele financiou todos os primeiros templos. A Igreja ganhou templos, mas saiu do santuário espiritual. Note: eu não tenho nada contra templos. Eu gosto de templos bonitos. Só estou dizendo o seguinte: tome cuidado para que você não vire um construtor de templos, enquanto vive longe do Santuário
Espiritual. O que fica para a história, e o que conta para a eternidade não é o tamanho do templo que você construiu, mas a profundidade da vida que você viveu!
Aberta à Humanidade
Este aspecto é muito importante, ainda que pareça repetitivo. Veja: a igreja-sociedade que realiza utopias, não é só aberta para todos, ela é aberta para a humanidade!
Já é uma vantagem maravilhosa quando a Igreja está aberta para o pessoal da Zona Norte, da Zona Sul etc... Quando isto acontece já é sinal de Avivamento. Quando se abre para as Zonas Leste e Oeste está para ser arrebatada (especialmente se pensamos nas áreas Leste e Oeste do Rio e São Paulo). No entanto, quando ela se abre para a humanidade como um todo, então é porque ela virou Corpo de Cristo, Sacramento de Deus, Encarnação do Amor Divino que se mostra a maus e bons, justos e injustos. Veja o verso 25: "as suas portas nunca, jamais se fecharão". E observe ainda o verso 24: "as nações virão a ela".
E, por último, leia o verso 26: "e lhe trarão a glória e a honra das nações". A Nova Jerusalém não é apenas aberta para os inscritos no Livro da Vida do Cordeiro (aqui há uma diferença entre os inscritos no livro do Cordeiro e as nações que trazem sua gloria à cidade, mas não me pergunte como isto acontece, porque aqui estamos pisando num terreno santo demais para eu me atrever a fazer comentários). Ora, o fato de que a Nova Jerusalém está aberta para o mundo nos ensina o princípio de que a Igreja deve ser também uma sociedade aberta ao resto da humanidade. Ou seja: ela tem que ser a igreja de portas abertas para sempre e para todos.
Eu sei que na Bíblia há uma diferença muito grande entre estar aberto aos irmãos, e estar aberto à sociedade secular. Vale dizer isto porque há pessoas que não fazem o bem nem aos domésticos da fé, e conheço outros que só fazem o bem aos domésticos da fé. E, por último: conheço outros que fazem bem aos domésticos da fé e ao mundo inteiro. Em minha percepção, o Apocalipse nos ensina que a Igreja deve estar aberta sobretudo aos domésticos da fé, mas também às nações, à sociedade secular, ao mundo-humanidade.
Aberta a Todos, Não a Tudo
O Apocalipse prossegue dizendo que a Igreja tem de estar aberta a todos, todavia ela não pode estar aberta a tudo. Que isto fique bem claro, porque aqui está claro:
Nós não podemos nos tornar John Waynes evangélicos, de arma na mão, patrulhando, xerifando a humanidade por aí afora, pedindo carteira de inscrição no livro da vida.
Não é esse o caso. Mas o que me parece, é que às vezes nós estamos mais abertos para tudo do que para todos. às vezes estamos abertos para tudo: toda sorte de safadeza, contaminação, abominação, mentira, politicagem e sujeira. Mas, não estamos abertos para todos. Muitas vezes nos fechamos aos irmãos apenas porque eles não batizam como batizamos ou porque não falam em línguas como falamos ou porque falam enquanto não falamos ou porque receberam obturação de ouro, mas nós preferimos ir ao dentista e gastar um dinheirão. A Igreja "pintada" no livro do Apocalipse está aberta a todos, mas não está aberta a tudo. Ela está aberta para gente, mas está totalmente fechada ao pecado: prostituição, adultério, mentiras, abominação, infidelidade, corrupção, roubo, sonegação como projeto de vida, idolatria, feitiçaria, deslealdade, politicagem, armações, manipulação indevida de dinheiro, e coisas semelhantes a estas. Nela encontramos gente que foi marcada e lavada pelo sangue do Cordeiro. Não se quer saber quem são, nem de onde vêm. Todos os arrependidos são bem-vindos.
Vida e Cura
E por último, essa Igreja que realiza utopias é também o lugar da vida e das curas humana. É comunidade de cura, não de adoecimento.
Outro dia fiquei morto de vergonha conversando com a cantora Baby Consuelo *. Ela me falou: "Puxa! Mas que maravilha encontrar um Obviamente, isto aconteceu antes da conversão da cantora. (Nota da revisora). *
pastor como você. A gente está falando de tanta coisa e tudo que você fala de Jesus eu gosto tanto de ouvir, que coisa, que barato! Eu conheci uma garota que era uma maravilha, se converteu, piorou, ficou horrível... " "Mas o que foi que houve, Baby?" Indaguei.
"Ela era amiga da minha filha. Uma menina exuberante, bonita, alegre. Se converteu. Agora não estende mais a mão para nós porque somos pecadores. Não fala mais com a gente porque somos uma abominação ambulante. Ela ficou pálida. Está com uma cara de Mortícia!" Aí então ela me perguntou: "Que negócio é esse que acontece com a igreja de vocês que o pessoal que se converte piora?"
Eu tive de sair com aquela saída clássica: "Eu não respondo por eles. Eu melhorei depois que me converti. Eu era uma porcaria. Hoje sou um pouquinho melhor. " De fato, é inconcebível que alguém entre para a Igreja e piore.
Às vezes ouço falar de gente que era inteligente e que entrou para a igreja e emburreceu; ou de alguém que era bonita, entrou para a igreja e empalideceu; de alguém alegre que entrou para a igreja e encaramujou; de alguém que era ousado e entrou para a igreja e se encolheu; de alguém que lia muito e que entrou para a igreja e não lê mais nada ou de gente que pensava com profundidade e que entrou para a igreja e agora, no máximo, sente coisas, mas não pensa mais. Tudo isso tem a ver com um estado de adoecimento humano resultante de se ter religião, mas não Vida. Agora, compare tudo isto com o Apocalipse: "Então me mostrou o rio da água da vida" (22:1). Essa sociedade do Apocalipse tem vida. "No meio da praça de uma e outra margem no rio está a árvore da vida, que produz fruto o ano inteiro" (22:2). Qualquer um que entrar vai comer. E mais: as folhas da árvore são para que? Não são para o chazinho das seis da tarde nem para o pessoal morrer bem melhorado nem para salvar a alma e desgraçar a vida dele na terra até chegar no céu. Não! "As folhas da árvore são para a cura dos povos" (22:2b). Neste ponto, quero fazer uma confissão: às vezes, fico morto de vergonha quando digo à minha mulher que uma certa pessoa que não conhece o que nós conhecemos, que não é cristã, é mais bonita como pessoa humana que a maioria dos pastores, líderes e cristãos que eu conheço. Eu fico morto de vergonha. Tem alguma coisa errada em muitos
de nós. Talvez haja veneno em lugar da água da vida, nas fontes onde nós a bebemos; talvez haja alguma folha amarga, ao invés de folha de cura nas árvores das quais nos alimentamos. Há alguma coisa matando muitos de nós que temos que arrancar do nosso meio, em nome de Jesus, o quanto antes.
Isto porque estamos neste mundo para trazer cura aos povos. Por isso, aqueles que nos encontram têm que ter o que beber e o que comer o ano inteiro, e essa comida tem que produzir cura, não doença.
Sabe o que acho? Penso que as coisas são assim porque temos tido muita Bíblia, mas pouca Palavra. Está faltando a Palavra que cura no nosso meio. Por isso nós pregamos muito, mas não vemos os povos serem curados (nem parcialmente). O que está faltando desesperadamente é essa experiência com a genuinidade da vida e do poder que cura. E ambas as coisas são filhas gêmeas do Espírito e da Palavra. Agora, permitam-me dizer uma coisa especialmente aos pastores e líderes que estão terminando a leitura deste livro: você leu este livro e ficou arrepiado. Sua mente está grávida de novas idéias. Você disse: "Meu Deus, que negócio lindo. Isto é pólvora pura. É isto mesmo".
Todavia, você vai voltar para a sua igreja e encontrar um presbitério, não um anjo. A cidade de Deus tem anjo. A sua igreja tem presbitério. Cada "pedaço" de presbitério, de diácono, de diretor de departamento etc... Ou então, há a irmãzinha e o irmãozinho que profetizam contra você sempre que podem. Portanto, quando você chegar de volta à sua igreja não encontrará Alguém no Trono. Provavelmente você encontrará o presbítero ou o diácono rico sentado no Trono. E aí então não há "ser vivente" que agüente, irmão. O "anjo" começa a trabalhar e perde a motivação. Os "vinte e quatro anciãos" dizem: " Eu vou fazer o jogo político da denominação". Cuidado com a frustração na tentativa de por este livro em prática!
Você e eu não devemos levantar e sair por aí cheios de romantismos apocalípticos relacionados ao Avivamento que esperamos. Nós vamos encontrar uma Igreja real, de "carne e osso", feita de gente super altruísta, tanto quanto de gente profundamente mesquinha. Portanto, praticar este livro poderá ser uma frustração terrível. Por isso, quero estimular você a agarrar tudo isto com prudência. Não faça disto o seu plano de governo para os próximos quatro anos. Deixe o livro
entrar em você. Deixe-o entrar nas suas entranhas e mexer nos seus intestinos, habitar o porão da sua memória, virar convicção irremovível, se tornar princípio, se converter em vida. Depois disso, trabalhe exaustiva, paciente, e perseverantemente na direção desse projeto.
Transforme isto em vida, em compromisso, em paixão, em resolução, em projeto, em sonho e em obstinação. Aí, pode ser que aqui e ali, possamos ver luzes vindas de lugares altos e, pode ser que Deus nos dê a graça de que sejam tantas as "jerusalenzinhas" começando a ter fundamentos bonitos para dentro, glória para fora, o Trono no centro e vida brotando de suas praças, que o fulgor desse ajuntamento das muitas Jerusaléns acenda o fogo da glória de Deus neste país, um dia, para a Glória de Jesus. Essa é a minha oração por mim, por você, pelos seus filhos e pela Igreja de Deus no Brasil. Em nome de Jesus. Amém!
* * *