Descla n.º1- Suplemento Distrito de Viseu

Desporto | Cultur a | L azer

Viseu

Nยบ1 | Abril | Suplemento Distrito

coloque aqui o seu anĂşncio

Abril P.04 | História de Viseu P.06 | Mara Pedro P.08 | Montebelo

Aguieira

P.10 | Gastronomia típica P.11 | Kartódromo da Vila

Nova de Paiva

P.12 | Entrevista aos

autores de “Talamh”

P.14 | Praia Artificial de

Mangualde

P.16 | Museu do Caramulo P.19 | Golfe Montebelo P.21 | Aldeia da Pena P.23 | Perfil - Paulo Ribeiro P.24 | Monumentos

a visitar

O poder por detrás d A cada esquina parece haver uma igreja, um convento, um mosteiro. Viseu conta com mais de mil igrejas, número que, ainda assim, não chega para vencer o ranking dos distritos com mais igrejas, liderado por Braga. Por isso, a pergunta: que influência teve o poder religioso na formação deste distrito?

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Q

uem por aqui passa encontra duas das mais antigas dioceses de Portugal: Viseu e Lamego. “As duas tiveram grande influência sobre o poder político e este sempre procurou o apoio da Igreja para as suas ações”, conta o historiador João Inês Vaz. Não admira. Quem mandava sabia bem a devoção do povo e a importância de estar de bem com o poder religioso.

Este, por sua vez, mostrava toda a sua influência, e não apenas aos domingos, nas missas, ou mesmo em cerimónias religiosas, como casamentos, batizados ou funerais.

A Igreja tinha também grandes propriedades. “Os dois maiores terratenentes que existiam na região eram o poder religioso e o poder político.

Neste distrito, o poder sempre se dividiu entre estas duas partes”, lembra o também arqueólogo.

“Houve mesmo momentos de tensão entre os dois poderes”, recorda João Inês Vaz. Um deles foi quando São Teotónio, prior da Sé de Viseu, repreendeu D. Teresa, mãe de

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de Viseu D. Afonso Henriques, por causa da vida que esta levava. A igreja sabia bem o poder que tinha e até onde podia chegar. A influência sobre o poder político era apenas uma entre muitas frentes de batalha.

Um poder que se mantém?

No meio deste poder, destacava-se a Sé de Viseu, detentora de tal autoridade que chegou a conceder foral a povoações como Canas de Senhorim, terra que nunca foi concelho a não ser nesse tempo. Depois havia os conventos, detentores de grandes propriedades. A ordem religiosa mais importante por aqui foi a de Cister. De tal forma que dos 36 mosteiros cistercienses existentes em Portugal, seis estão em Viseu.

Mas os mosteiros são apenas parte do grande património religioso hoje espalhado por Viseu, onde igrejas e capelas dominam a vista. “Cada paróquia tem a igreja matriz e depois cada aldeia tem a sua capela”, conta o bispo de Viseu, Ilídio Lean-

influência que ela continua a exercer sobre as pessoas. Ou seja, uma forma de “domínio” sobre as pessoas passa pelo poder religioso”, entende João Inês Vaz. É a certeza, por parte dos políticos, de que não vale a pena fazer frente. Se não podes vencê-los…

texto e fotografia por Lino Lopes Ramos

Cava de Viriato – dúvidas e mistérios É única na Península Ibérica e muita coisa se tem dito sobre ela. Nem sempre se acerta. No século XVII, altura em que Portugal estava sob domínio espanhol, era preciso um herói. É então que “começa a ligar-se o maior monumento de Viseu ao maior general”, conta João Inês Vaz. Na vontade de encontrar um herói, os portugueses esqueciam a contradição: “ao dizerem que era um acampamento romano, mas ligarem-no a Viriato, estavam a considerá-lo como uma construção dos próprios inimigos de Viriato, que ele tinha combatido”, explica o historiador. Contradições à parte, há pouco tempo começou a ver-se a cava como um acampamento árabe. A ideia faz sentido, até porque os árabes passaram por aqui e o maior general de então, Almançor, esteve parado em Viseu à espera de ajuda para atacar Santiago de Compostela. “Que melhor sítio senão a cava para albergar as tropas?”, questiona João Inês Vaz. Além do mais, no Iraque existe um acampamento exatamente igual. Poderia acabar aqui a história da Cava, mas não. A vista aérea mostra que lá dentro há um retângulo perfeito, de onde saem dois caminhos, o que parece mostrar que o tal acampamento romano existiu mesmo. Depois vieram os árabes que o destruíram e construíram o seu. “Seja romano ou árabe, é o único que temos em Portugal e na Península Ibérica, por isso deveria ser valorizado em condições, merecia um maior marketing”, sustenta ainda o antigo governador civil de Viseu.

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Distrito de Viseu

dro. A diocese tem 209 paróquias. É só fazer as contas…

O passado já lá vai e é fácil perceber a importância que teve o poder religioso em “Terras de Viriato”, como alguns lhe chamam (ver caixa). E hoje, mantém-se essa influência? “A religião é um elemento importante na vida e cultura deste povo. Vemo-lo em romarias e na ligação que as pessoas têm à Igreja em momentos fundamentais da sua vida. 95% das pessoas são batizadas. Muita gente casa-se pela Igreja.

Em momentos de sofrimento, as pessoas olham para a Igreja como uma resposta”, defende Ilídio Leandro.

O poder político sente essa força religiosa. “Todas as câmaras do distrito procuram manter uma boa relação com a Igreja, pois sabem a

Mara Pedro

“Sou uma Amaliana, com muito gosto”

T

ruz, truz… A porta abre-se e é Mara Pedro que dá as boas vindas, levando a viajar até ao seu mundo: o seu quarto.

Troféus, um piano, flores e quadros emolduram o espaço. Gosta de cantar, tocar piano, ler, estudar (de vez em quando), praticar natação e ioga que afirma ser “um passatempo divertido”. Benfiquista, a jovem é uma adepta que gosta de assistir aos jogos e já foi convidada para cantar no Estádio da Luz, onde usou um vestido de fadista com uma águia pintada.

“Diário de Um Anjo da Guarda” é o livro que está pousado sobre a cama e que está atualmente a ler. “É estranho, mas gosto”, assegura a artista, que diz gostar de livros espirituais, mas também de livros cómicos, como os do Charlie Chaplin, exemplifica.

Entre os muitos troféus dispostos na prateleira do seu quarto, Mara destaca dois: um que era uma música inédita e era o prémio absoluto, de melhor interpretação, melhor letra e melhor música e outro em Alverca.

“Estava a ficar difícil porque já era muito tarde e eu estava mesmo sem paciência, mas acabei por ganhar”, conta. Quase todos os troféus foram ganhos em concursos realizados em Lisboa e no Algarve.

Mara Pedro canta fado desde os quatro anos. “Desde cedo me apaixonei pela melodia do fado, era muito sentida e a partir daí também quis transmitir esse sentimento para as outras pessoas e comecei a cantar”, sublinha a artista.

A jovem relembra a primeira vez que cantou em público, o avô frequentava uma clínica e às vezes pediam-lhe para cantar aos pacientes.

Quando organizaram um congresso convidaram-na para ir cantar. “Estava muito nervosa, era pequenina”,

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Com apenas 13 anos, a jovem dá espetáculos de fado em Portugal e no estrangeiro

lembra. A mãe da jovem, Graça Pedro, recorda um facto engraçado que ocorreu neste mesmo congresso e que tem gravado. “Estavam cerca de 400 pessoas e ao olhar para o público a Mara disse-me – ‘ó mãe, estou um bocadinho nervosa’, mas o microfone estava ligado e as pessoas começaram-se a rir. Então ela achou que estava tudo bem e lá começou”.

A artista já participou em vários concursos Aos 13 anos e já famosa, Mara conta que depois de participar no programa da TVI “Uma canção para ti” já toda a gente lhe queria pedir autógrafos. “Tive concertos, fui mais conhecida, e principalmente estava a fazer aquilo que eu gostava

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Quando o público começa a chorar...

Graça Pedro, mãe de Mara, confessa que o que mais a impressiona é quando vê que ela está a cantar e olha para o público e alguém está a chorar. Aconteceu este verão, um primo de França com 18 anos que a Mara não conhecia, pediu-lhe para ela cantar, ela cantou e ele começou a chorar.

Quase todos os fins de semana Mara tem concertos agendados pelo país. Para além de Portugal, a jovem já foi convidada para cantar em França e na Suiça. Mara Pedro está agora a preparar um álbum com 12 músicas inéditas. texto por Ana Margarida Gomes fotografia por Jeniffer Lopes

e estava a ser feliz”, relembra. Mas a música não é tudo, aliás, Mara considera os estudos uma prioridade e já pensa no futuro. Gostaria de tirar um curso de análises clínicas ou ser fisioterapeuta da respiração, apesar de ainda estar com algumas dúvidas típicas da idade.

Para além da TVI, a jovem já cantou em programas da SIC e da RTP e costuma dar concertos. “Para mim todos os lugares onde canto são especiais porque trago de lá sempre boas recordações”, afirma a artista.

Amália, Mariza, Ana Moura, Raquel Tavares, Joana Amendoeira.

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Distrito de Viseu

Estas são as fadistas preferidas de Mara Pedro, apesar de preferir uma em particular… “Sou uma Amaliana, com muito gosto, também gosto de outras fadistas, mas a minha referência sempre foi a Amália” diz a jovem com orgulho.

A avó de Mara Pedro é a responsável pelo guarda-roupa bastante diversificado da jovem, apesar de alguns dos vestidos terem sido feitos por modistas. Brancos, pretos, azuis, amarelos, vermelhos, existem saias, corpetes e vestidos de todas as cores no guarda-roupa da jovem. Alguns deles pintados à mão pela mãe.

“Acho que usar sempre a mesma roupa não me inspira”, diz Mara.

O paraíso das seleções

À

medida que o barco avança, vai-se formando ondulação.

Os desportistas estão perto, podem ver-se a treinar. Em grupos de quatro os atletas de remo, individualmente os de canoagem. Está sol, o esforço é muito e os desportistas transpiram. Fazem entre 20 a 24 quilómetros de cada vez que treinam. É a primeira vez que uma equipa de remo vem treinar no Montebelo Aguieira Lake Resort e Spa. John Faũlkner, treinador da equipa de remo holandesa, conta que vão es-

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tagiar durante duas semanas para se qualificarem para os Jogos Olímpicos.

Por aqui já passaram mais de 20 seleções de vários países e desportos, conta Francisco Loureiro, diretor do complexo turístico Montebel o Aguieira Lake Resort e Spa. “Os atletas mais medalhados do mundo já passaram por aqui. Tivemos há pouco tempo uma atleta que tem 31 medalhas de ouro”, avançou com orgulho.

Passeios de barco, motas de água, gaivotas, caiaques; todos estes barcos estão disponíveis para quem quiser praticar desportos aquáticos.

“Criámos uma parceria com um dos maiores construtores de caiaques do mundo, que é a Nelo”, esclarece Francisco Loureiro, acrescentando que é essa parceira que “fornece os barcos a motor e os equipamentos”.

Com águas calmas e um “magnífico espelho de água”, cada vez mais atletas vêm estagiar para o Montebelo Aguieira. “Têm conhecimento [do espaço] através do nosso par-

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Distrito de Viseu O Montebelo Aguieira Lake Resort e Spa abriu em 2009 e recebe anualmente várias equipas de modalidades desportivas ceiro, que é de facto o veículo de comunicação, mas naturalmente que quando eles têm competições e falam nos estágios que efetuam aqui isto é uma bola de neve. Se vem para cá a seleção russa com não sei quantos atletas medalhados, os outros também querem vir”, revela o dire-

tor.

O complexo turístico está a expandir o espaço e a planear passeios de avionete com (ou sem) acrobacias. No verão, é possível vir praticar desportos mesmo sem se estar alojado no hotel.

Breve Campeonato Mundial de Pesca

Desportiva no Montebelo Aguieira O Campeonato do Mundo de Pesca Desportiva vai decorrer em maio, no Montebelo Aguieira. É a primeira vez que este campeonato vai decorrer em Portugal.

Vão estar no evento 150 concorrentes de vários países. texto por Ana Margarida Gomes fotografia por Tiago Canoso

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Gastronomia típica de Viseu

O

rancho à moda de Viseu é o prato mais emblemático da região. Reza a história que a origem desta iguaria data das guerras entre liberais e absolutistas. No quartel de Viseu, que teria de defender a linha do Buçaco, o comandante incumbiu o quarteleiro de moralizar as tropas, preparando comida. Este juntou, então, numa panela de grande dimensão, grão de bico, batatas, hortaliças, massa, carne de porco, vitela e galinha. A mistura, de ingredientes “fortes”, resultou de tal forma que a comitiva venceu a batalha. Diz-se, até, que, durante a luta, o ribombar dos canhões era sobreposto por outros “ribombares”.

Vitela de Lafões

A vitela de Lafões é uma especialidade que provém da região que lhe dá o nome e que compreende os concelhos de Oliveira de Frades, Vouzela e São Pedro do Sul e algumas freguesias dos concelhos de Sever do Vouga, Viseu e Castro Daire. A vitela de Lafões é obtida a partir de bovinos das raças Arouquesa e Mirandesa. Os animais são alimentados

Viriatos

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Cabrito assado

à base de leite materno e, mais tarde, de pastos verdes de época, farinhas de milho e de centeio, estando interdito o uso de rações. A vitela de Lafões é muito apreciada, nomeadamente quando assada em forno de lenha.

O cabrito é outra das carnes de grande consumo no distrito de Viseu.

Assado, também em forno de lenha, é geralmente servido com batata. Já no grupo do peixe, é o bacalhau que prevalece em Viseu, cozinhado à lagareiro. De grande adesão no distrito tem-se também o polvo, cozinhado da mesma forma. As migas, muito apreciadas na região, são servidas geralmente como acompanhamento.

O vinho do Dão é o produto eleito para acompanhar a gastronomia típica viseense.

No que diz respeito à doçaria típica, não poderia deixar de referir-se

Polvo com migas

dois cartões de visita da região: o pastel de Vouzela e a cavaca de Resende. Quem se desloca a um destes concelhos não deixa de provar ou de levar consigo as famosas iguarias.

A rotundinha de Viseu foi pensada por José Carlos, proprietário da Confeitaria Amaral, conhecida por bater recordes do Guiness. O pasteleiro inspirou-se na quantidade considerável de rotundas existentes na cidade para criar este pastel, que tem um formato circular. A rotundinha é feita de massa folhada, recheada com doce de ovos e amêndoa laminada. Os viriatos são outra das especialidades da Confeitaria Amaral, confecionados segunda uma receita única e mantida secreta. A castanha de ovos e o pastel de feijão, doces típicos da região, podem também ali ser encontrados. texto por Jeniffer Lopes fotografia por Tiago Canoso

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Kartódromo de Vila Nova de Paiva recebe turistas de vários países

A

inda é cedo e já se sente o cheiro a gasolina. Pneus de várias cores delimitam a pista. O asfalto denuncia travagens a fundo. Com capacetes e luvas, os pilotos esperam o sinal de partida.

A pista está molhada, aumenta o barulho dos motores, os condutores estão prontos para testar a pista.

Arrancam. Depois de 15 minutos de testes, agrupam-se na linha de partida. Baixa a bandeira e inicia-se a corrida. Reta, curva, contracurva, ultrapassagem, o chiar dos pneus ouve-se à distância. Alguns piões e até despistes. Assim começa o dia no Kartódromo de Vila Nova de Paiva, no distrito de Viseu.

Meia-hora depois, os karts estão de volta às boxes: calam-se os motores. O grupo dispersa. Alguns ficam à conversa, outros vão até ao bar. Troféus, medalhas, fotografias e miniaturas de carros dão vida ao espaço. Uma enorme vitrine permite ver toda a pista. Atrás do balcão está Helena Ferreira, uma das

proprietárias do Kartódromo. Mas não é só do bar que trata, também está ali para sossegar as mães das crianças que andam de kart. “As mães têm medo que os miúdos se estampem”, conta.

Criado em 2005, o espaço está aberto a todo o tipo de público.

“Quisemos criar este kartódromo essencialmente para os amantes e praticantes de karting, não apenas de Viseu como também de outros lados”, revela Daniel Ferreira, irmão de Helena e também ele proprietário do local.

O projeto tem correspondido às expetativas, vêm não só pessoas de Portugal como também de fora do país. É o caso de um grupo de turistas portugueses e espanhóis que não só veio para a corrida de karts como trouxe os seus próprios veículos:Porches, para uma corrida.

O kartódromo disponibiliza uma frota de karts de aluguer, que podem ser usados por qualquer pessoa com mais de nove anos. “Para quem

quiser levar isto a sério, temos os karts de competição”, acrescenta o proprietário, revelando ainda que têm uma equipa no campeonato nacional.

Anualmente, o kartódromo acolhe vários eventos. “Há grupos de amigos ou mesmo de empresas que têm as suas provas e vêm cá realizá-las”, afirma Daniel Ferreira.

Há algum tempo o espaço recebeu um moto show freestyle com carros e motos. Este ano propõe-se encontrar o piloto mais rápido de cada mês.

“As pessoas inscrevem-se, fazem uma série cronometrada e no fim do mês os cinco mais rápidos ganham prémios. Temos também agendadas provas de resistência, mais pequenas, para o público em geral”, explica Daniel. texto por Ana Margarida Gomes e Lino Lopes Ramos fotografia por Tiago Canoso

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Distrito de Viseu

Uma corrida de Karts... E Porches

Autores de “Talamh”

Z.P.Almeida (esq.) e A.J.Preto (dir.)

“Para ser escritor basta gostarmos daquilo que escrevemos”, A.J.Preto

S

ão jovens escritores que sonham com uma carreira na área. O primeiro passo já foi e o segundo está a ser dado. Os pés, esses, estão bem assentes no chão. A. J. Preto tem 18 anos, Z. P. Almeida 17. Acabam de lançar “Talamh”, livro que fala de culturas antigas e mitológicas. Há dois anos atrás começou a escrita. Agora é uma correria, de apresentação em apresentação, com aulas à mistura.

Pelo meio, arranjaram tempo para uma entrevista à DESCLA. Muitas vezes fala-se do pouco interesse dos jovens pela leitura e pela escrita. O que é certo é que vocês acabam de escrever um livro. Sentem que são uma exceção à regra?

Z. P. Almeida – Não me sinto uma exceção, até porque os meus amigos mais próximos têm todos hábitos de leitura que considero equivalentes aos meus. No entanto, a nível geral, acho que somos um bocado exceções.

A. J. Preto – Essa generalização de que todos os jovens têm maus hábitos de leitura e escrita está um pouco mal feita. Provavelmente, o que se passa é que as pessoas de

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outra faixa etária estão a enquadrar a nossa faixa etária segundo a deles.

Acontece que certos estilos literários que nós lemos não são tão aprazíveis para eles.

Como nasce este interesse pela escrita?

Z. P. Almeida – Na escola primária a minha professora pediu para escrevermos um diário nas férias de verão. Assim fiz durante três anos.

Também tinha boas bases de leitura, herdei isso do meu pai. Além disso, sempre fui uma pessoa que teve necessidade de criar muitas coisas dentro da imaginação e entretanto apeteceu-me expô-las.

A. J. Preto – O que me leva a continuar a escrever e a gostar do que faço é a escrita nascer a cada momento, é eu conseguir viver a cada momento e ter interesse em cada momento. É quase um interesse infantil, mas acho que é isso que nos motiva, aquela necessidade de inventar que o Zé Pedro mencionou e a própria imaginação são características que muita gente consideraria infantis. Não sei se são infantis ou não, sei que as tenho e que são as que considero necessárias para continuar a escrever.

Os dois já escreveram alguma coisa quando eram mais novos. É mais fácil escrever sozinho ou a dois?

Z. P. Almeida – Sem dúvida que a dois, porque sozinhos não conseguiríamos publicar nada. O facto de termos iniciado esta parceria contribuiu em grande medida para o sucesso do livro. Só conseguimos criar alguma coisa depois de escrevermos acompanhados.

Sendo jovens, como conseguem arranjar tempo para a escrita?

A. J. Preto – Se calhar é um pouco como perguntar-nos como conseguimos arranjar tempo para ver televisão ou jogar no computador.

No fundo, a escrita é um hobbie para nós e escrevemos porque gostamos, o que não implica que não tenhamos rigor.

São os dois leitores assíduos?

Sim! (em uníssono, com entusiasmo) O que mais gostam de ler?

A. J. Preto – Não olho para estilos literários, tal como na música não olho para estilos artísticos. Olho sim para a obra… pelo que vejo, pela beleza da obra, pelo que ela cria em mim, pela informação que me transmite.

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Já pensaram nisso?

A. J. Preto - Acho que essa adaptação se imagina pela imagem que estamos a escrever. E acho que a adaptação ao cinema nunca seria exatamente fiel, mas esforçámo-nos em certo sentido de forma a que fosse adaptável.

Z. P. Almeida – Quando visualizo aquilo que escrevo, visualizo através de imagens e por isso acho que seria perfeitamente possível transformar a obra num filme.

Este livro fala de culturas antigas e mitológicas. De onde vem este interesse?

A. J. Preto - Deriva um pouco dos nossos hábitos de leitura, da nossa educação e talvez do que partilhamos em termos de imaginação, porque gostamos muito de derivar para outras épocas e tentar perceber o que se passava.

Neste livro constroem um mundo paralelo, conhecido por “TírNa-Nóg”. Já outros escritores construíram mundos paralelos.

Inspiraram-se em alguém? Como é que construíram este mundo?

A. J. Preto – Talvez o mais importante tenha sido o ideal de utopia que procurámos espelhar no mundo. Isto é, procurámos mostrar o que seria em primeira observação o ideal de utopia. E ao longo do livro tentamos usar esse mundo para criticar o ideal de utopia.

A ideia é escrever quatro livros. Já estão a trabalhar no segundo. O que podem revelar-nos?

A. J. Preto - Temo-nos esforçado por melhorar o nível de escrita,

tendo em conta que para além de escritores em maturação, somos também crianças em maturação, devido à nossa tenra idade. Por isso, estamos a tentar manter o nível de informação e aumentar o nível de interesse das personagens, tendo em conta a linha de ideias que tínhamos inicialmente previsto para o livro.

Se pudessem, o que diriam aos jovens da vossa idade que pouco se interessam pelos livros e pela leitura em geral?

A. J. Preto – Diria que o facto de não se interessarem pela leitura pode levar a que se interessem por outras coisas e as pessoas devem agarrarse àquilo pelo qual se interessam.

Estar a forçar um interesse não é ter interesse.

Z. P. Almeida – Nem é saudável.

A. J. Preto – Exatamente. É claro que há interesses que são mais ou menos úteis ou que são considerados mais ou menos úteis, o que é diferente.

Por exemplo, as pessoas que andam a vaguear… claro que isso não é um interesse, mas estou confiante de que podem encontrar um interesse e é isso que aconselho aos jovens e continuo sempre a aconselhar a mim próprio, que é seguir os meus interesses, de forma a tentar ajudar a sociedade.

Z. P. Almeida – Há interesses que podem ser cultivados. Uma pessoa que não goste de ler ou que até ao momento não tenha gostado de ler, não quer dizer que a seguir não goste de ler. Pode simplesmente não ter acertado nos livros. texto por Lino Lopes Ramos fotografia por Tiago Canoso

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Distrito de Viseu

Z. P. Almeida – Leio todos os géneros literários sem problema.

Há certas obras de cada género que me agradam e outras que não, não depende do género, mas sim da obra.

Mas há algum escritor em particular que mais vos interesse?

A. J. Preto – Há escritores que prezamos em comum. Por exemplo, Filipe Faria, escritor português na categoria high fantasy, ou Christopher Paolini. Tendemos a gostar mais do Filipe Faria, por ser português.

E algum dos dois gostaria de ser escritor?

Z. P. Almeida – Gostaria muito, mas é um sonho praticamente inatingível.

Viver apenas da escrita seria o ideal para mim. É o que mais me vejo a fazer no futuro, mas é claro que nunca vou viver só disso. Só se for num futuro muito distante.

A. J. Preto – É diferente viver da escrita de ser escritor. Para ser escritor acho que basta gostarmos daquilo que escrevemos. E nisso, já me considero um escritor. Um escritor pode ser muito famoso, mas pode haver pessoas que não gostam da sua obra. Ainda assim, ele não deixa de ser escritor. O importante é que o escritor goste da sua obra.

Os três protagonistas do livro são jovens, tal como vocês. São pura imaginação vossa ou inspiraramse em alguém?

A. J. Preto – Esforçámo-nos para que todas as personagens saíssem da nossa mente. E por isso, mesmo sendo fictícias, elas vão refletir características de nós, do que nos rodeia, provavelmente amigos. Por vezes, até tentámos ironizar essa visão que temos de nós próprios, usando as personagens para mostrar o que gostaríamos de ser, mas também para criticarmos e evoluirmos.

Ao longo da leitura do livro fiquei com a ideia de que a obra poderia, eventualmente, ser adaptada ao cinema. Escreveram com esse objetivo?

Z. P. Almeida - Seria muito bom, mas é complicado.

E como imaginam essa adaptação?

Quando a Praia chega ao interior

N

uvens brancas salpicam o azul do céu, no horizonte.

O vento sopra, sem parar, alisando a areia fina. Há vestígios de pegadas, habitualmente deixadas por quem caminha, descalço, sobre o areal. A descrição pode parecer a de uma praia do litoral português, mas, na verdade, é à praia artificial de Mangualde que diz respeito.

Não fosse a inexistência de água na estrutura que a acolhe no verão e a ausência do cheiro a maresia, quase que se poderia gerar uma dúvida quanto à autenticidade do local.

“Proporcionamos uma experiência de praia e isso é único, não só em Portugal, mas também na Europa”, afirma Rui Braga, administrador da empresa de organização de eventos Live it Well, que criou o projeto LiveBeach.

O registo do conceito permite dizer que a praia artificial de Mangualde é

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única na Europa e, por conseguinte, a primeira a ter sido criada e também a de maiores dimensões. “Dentro da vedação estão 22.500 metros quadrados de área. De areal temos nove mil e muitos metros quadrados, o que equivale a 6.900 toneladas de areia”, esclarece o administrador.

Rui Braga acredita que um projeto

deste tipo não faria sentido em regiões do litoral, onde já existem praias. A escolha do distrito de Viseu e, em particular, de Mangualde para acolher o LiveBeach foi feita com base em alguns dados.

“Constatámos que o distrito de Viseu é a zona do interior com mais população residente. Há 420 mil pessoas residentes. E tem uma particularidade no verão que nos agradou imenso: esta zona chega ao milhão de pessoas com a chegada de emigrantes”, explica.

Uma experiência de praia

Rui Braga (administrador da Live it Well)

Quem decidir, a partir da abertura a 01 de junho, passar um dia ou parte dele na praia artificial de Mangualde vai poder viver uma experiência que se quer o mais próxima possível da realidade. Um frequentador do

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local pode levar um farnel, abrir o guarda-sol, estender a toalha, fazer castelos na areia, ir nadar na água salgada e até observar o horizonte, numa fotografia de grande dimensão do céu do Havai. A bola de Berlim é vendida como em outras praias, há gelados e até feiras, que, este ano, serão temáticas.

A água, apesar de salgada, mantém-se calma, ainda sem as ondas que se formam nas praias. Rui Braga admite que esta ideia já devia ter sido posta em prática. Contudo, depois da abertura do espaço, a 15 de junho de 2011, surgiu outro problema, que se está a ponderar resolver a tempo do próximo verão. “Está a ganhar mais corpo e sentido, em vez de colocarmos ondas, fazermos uma piscina para crianças”, explica. A grande afluência que se registou ao espaço no ano passado, numa média de 2.300 a 2.400 pessoas nos dias

de maior calor, acabou por tornar a piscina pequena. “As crianças estavam muito na zona frontal da piscina”, afirma Rui Braga, acrescentando que acabava por ali se formar uma barreira.

Noites animadas no recinto Para as noites do próximo verão, estão já a ser programadas diversas iniciativas. “Já confirmámos o Quim Barreiros, para o dia 03 de agosto”, informou Rui Braga. Fernando Alvim, Mastiksoul e Diego Miranda vão também dar espetáculo no recinto. “E temos Lucenzo para cabeça de cartaz no dia 11 de agosto”, anuncia o administrador.

Estão ainda a ser planeadas uma noite de “stand-up comedy” e outra de teatro de revista. O LiveBeach vai ainda receber a final da Miss Fashion Portugal 2012.

A praia artificial de Mangualde recebeu 327 mil pessoas apenas no ano de abertura. O conceito fez eco por todo o mundo e estão já a ser negociadas praias artificias em Espanha, na Bulgária e no Brasil.

“Portugal está habituado a importar eventos”, afirma Rui Braga. Com o LiveBeach, o que se pretende é exportar o que é nacional. texto por Jeniffer Lopes fotografia por Ana Margarida Gomes

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Distrito de Viseu

Praia artificial de Mangualde é única na Europa e já atraiu 327 mil visitantes

O Homem quer, o Homem sonha, a obra nasce...

O Museu do Caramulo é a atração de uma terra especial, com pessoas e obras de valor. Por detrás delas, há histórias para contar

P

ablo Picasso tinha o seu feitio. Abel de Lacerda era um apaixonado por arte. João de Lacerda não resistia aos automóveis.

Costumava fazer corridas no sul de França. Um dia foi até casa do pintor, aconselhado pelo irmão. Queria ver se Picasso oferecia algum quadro para o futuro museu do Caramulo. Não correu bem. Picasso tratou-o mal e soltou-lhe os cães. Então Abel

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decidiu seguir a via diplomática.

Escreveu ao pintor, apresentou-se e lá conseguiu uma oferta de grande valor. “Natureza morta” de Pablo Picasso está hoje no Museu do Caramulo e é uma das muitas obras cujas histórias dariam um bom livro. Há histórias para todos os gostos, tal como peças. O museu foi sendo enriquecido ao longo dos anos. Tudo graças à vontade de dois irmãos e à generosidade de quem tem e oferece e de quem pode oferecer.

“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”. Era Fernando Pessoa que o dizia. Nesta história, quem quis foi sobretudo o homem. Também sonhou. Em grande, para variar. Um museu. A estância senatorial estava em declínio. Durante muito tempo fez do Caramulo uma referência europeia no tratamento da tuberculose.

Vinham pessoas de todo o país e de fora dele. Aos poucos começaram a chegar as notícias. Boas para os doentes, não tão boas para a estância. A cura para a tuberculose avançava. O Caramulo começava a ficar fora do mapa. É então que surge a

ideia: transformar a vila num pólo de atração turística. Porque não um museu? O plano fazia sentido: quase todos os sanatórios funcionavam como verdadeiros hotéis. Só dois tinham parte clínica. Nos outros 20, os doentes ficavam por longos períodos, em descanso, aproveitando o ar puro da serra. O projeto demorou a avançar. Na verdade, só há 16 anos é que se concretizou, com a inauguração do Hotel do Caramulo.

Mas voltemos atrás, ao museu.

ABRIL 2012

Distrito de Viseu Abel de Lacerda sonhava com um.

Importante, na medida do possível.

Só que o dinheiro não era muito.

A ajuda chegou de empresas e de muitos particulares. As ofertas eram bem-vindas. Picasso, Salvador Dali, Vieira da Silva, entre tantos outros.

Todos aceitaram o pedido. A eles juntaram-se pessoas de outras áreas, que quiseram dar o seu contributo.

A obra nasceu em 1959. Abel não chegou a vê-la. Morreu dois anos antes, poucos dias depois de ter chegado de França com os quadros de Picasso e Salvador Dali. Do acidente de carro sobreviveu João, para contar a história e acabar a obra.

Mas, como quase todos os grandes homens, não ficou por aí.

Receava que se pensasse que era um presente de Hitler. O Benz ficou 17 anos parado. Em 1955 foi posto à venda e João de Lacerda comprou-o.

Amante das quatro rodas, estreou-se cedo a colecionar carros. A começar por um Ford T, encontrado às portas da sucata. Guardava-os no piso térreo do museu.

Certo dia, o então Presidente da República Américo Tomás desafiou-

-o a expor as viaturas. Começou a aventura: construir um museu de automóveis. O sonho concretizou-se. Em 1970 o Caramulo passava a contar com um espaço próprio para apresentar ao público alguns dos melhores carros até hoje construídos.

Falta falar da coleção de brinquedos. Já lá vamos, porque entretanto o museu esteve para fechar. “Em 2001

O carro que Salazar não quis Os dois Mercedes-Benz chegaram da Alemanha em 1938, encomendados pelo Estado Novo. Um deles era para Salazar. O problema é que ninguém se lembrou de consultar o então Presidente do Conselho de Ministros. Salazar não quis o carro.

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o meu avô vem ter com a família e diz-nos: “Vou deixar de fazer isto e vocês agora amanhem-se: ou fecham portas ou se alguém tiver interesse em manter o museu aberto que venha cá pôr o dinheiro’”, conta Tiago Gouveia, hoje diretor do museu.

João de Lacerda sabia a doença que tinha e sabia que era tempo de tomar decisões. A família “achou piada ao desafio”, confessa o neto. E conseguiu encontrar um mecenas, neste caso um banco. Foi esse apoio que permitiu ao museu concorrer a fundos comunitários, numa altura em que registava perdas anuais de 15 a 20 mil euros.

Com esse dinheiro fizeram obras, iniciaram um ciclo de exposições temporárias e começaram a organizar em Lisboa uma feira de automóveis clássicos, mais conhecida por “Motorclássico”. Junta 180 expositores nacionais e internacionais e tem sido uma fonte de receita para o museu. Ainda assim, não chega para equilibrar financeiramente uma instituição que tem perdido apoios.

“Não vemos aqui um tostão de fundos comunitários desde 2003”, garante o diretor que, confessa, nestes tempos, dirigir o museu é “um desafio muito grande”.

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Um centro de arte moderna?

Esta é a parte negativa da história, a falta de dinheiro. Vamos à positiva.

O museu continua a funcionar. Com poucos recursos fazem-se grandes coisas. Oito pessoas dão o seu melhor. O museu foi considerado pelo Daily Telegraph como um dos seis melhores pequenos museus portugueses e recebe cerca de 30 mil visitas por ano. Neste esforço tem sido importante o papel da família Lacerda. Os irmãos e primos de Tiago trabalham de graça para o museu.

“Sozinho não conseguia fazer isto acontecer”, confessa o diretor.

Tiago Gouveia está à frente do museu desde 2004, o mesmo ano em que foi inaugurada a coleção de brinquedos e miniaturas. Pisca-se o olho a novos públicos. Uma sala pequena com mais de duas mil peças. Automóveis, comboios, barcos, aviões, bonecos. Todos encaixados em vitrines que outros deixaram ao abandono. Umas vieram do museu Grão Vasco, que as tinha deitado para o lixo, outras estavam sem dono no Instituto Português de Museologia.

E assim se fez a terceira coleção do museu.

Esta é a história de um museu,

de uma família, de uma terra e de um sonho que se concretizou. Poderia chamar-se Museu Lacerda, mas não. Joga para a frente o nome Caramulo, tal como Jerónimo, Abel e João de Lacerda tentaram fazer. E como outros, a começar por Tiago, tentam hoje fazer. O diretor gostava de ver nascer um centro de arte moderna, mesmo atrás do museu. Mais uma obra em grande. Mas quando o homem sonha… texto por Lino Lopes Ramos fotografia por Jeniffer Lopes e Museu do Caramulo

ABRIL 2012

Distrito de Viseu

fotografia por Tiago Canoso

O golfe na vida dos viseenses O Golfe Montebelo situa-se em Farminhão, a 15 minutos do centro de Viseu, numa zona montanhosa.

C

om cerca de 200 hectares, o campo homenageia as serras que o rodeiam, tendo batizado os buracos do um ao nove de Caramulo, do dez ao 18 de Estrela e do 19 ao 27 de Buçaco.

Os praticantes do desporto consideram-no uma escapatória ao dia a dia. “O golfe é uma atividade desportiva que tem uma componente social muito grande, e é isso que a torna muito atrativa, não se joga contra ninguém, joga-se contra o campo”, conta Paulo Gaspar, praticante há um ano.

Pedro Porto Aguiar, jogador há 15 anos e juiz árbitro da modalidade, descreve a sensação de jogar golfe como “essencial, um escape para conseguir alguma tranquilidade para o resto dos dias de trabalho”.

Já José Artur, antigo corredor de ralis, conta que veio até cá a primeira vez ”por brincadeira” e ficou viciado. “Isto é um vício. É um jogo dos mais viciantes e mais competitivos que as pessoas podem imaginar”, sublinhou.

Idalina Moreira, uma das poucas senho-

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ras a praticar Golfe no Montebelo, descreve que o golfe lhe transmite “uma sensação de paz e de tranquilidade. Quando estou aqui esqueço tudo”.

Bruno Melo descreve o Golfe Montebelo como um “campo muito estratégico, de montanha, um campo que está montado na natureza”. O diretor explica que quem consegue jogar bem neste campo normalmente joga bem em qualquer outro.

O famoso buraco 16 Bruno Melo, diretor do Golfe Montebelo, conta que um dos buracos do campo, o 16, faz parte de uma coleção de selos dos CTT, pois foi premiado como um dos 18 mais bonitos do país. “É o buraco mais difícil. E depois a zona junto ao green, os lagos, uma pequena cascata, uma ponte antiga, é uma zona nobre. Toda a envolvência fez com que o buraco fosse premiado”, acrescenta.

Apesar de ainda ser um desporto com custos elevados, Bruno Melo

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explica que tentam ao máximo que o golfe seja acessível a todos. O golfe é uma atividade desportiva que se pode começar a praticar a partir dos cinco, seis anos, dependendo das capacidades da própria criança.

“Disponibilizamos para as escolas em Viseu o nosso espaço para a iniciação. Nós fazíamos questão que o golfe fizesse parte da modalidade da educação física na escola, que fosse uma valente”, frisa. Neste momento já há duas escolas com protocolo.

Para este ano o Golfe Montebelo já tem 46 torneios marcados. Um dos maiores torneios de empresas a nível nacional, o BPI Golf Cup, que tem também uma fase internacional, tem uma das etapas em Viseu, no Golfe Montebelo. Vários outros torneios são realizados neste campo de golfe, incluindo alguns de beneficência.

O diretor do Golfe Montebelo conta que desde que o campo abriu o torneio de Natal tem como fim lucrativo a associação de solidariedade social de Farminhão. Para além disso, há pessoas que às vezes trazem brinquedos, roupas e fazem

donativos para a instituição.

Pertencente ao Grupo Visabeira, o Golfe Montebelo recebe alguns alunos que tiveram aulas de iniciação no golfe do Complexo Príncipe Perfeito. Desde há três anos que este complexo tomou a iniciativa de ter aulas gratuitas, às terças e quintas, para quem quiser iniciar a prática da modalidade. O espaço tem um Green, “que é a zona onde está a bandeira para poderem treinar o jogo curto e tem o campo de prática, que chamamos o driving range que tem uma distância de 220 metros de comprimento”, afirma o diretor.

As subscrições anuais no Golfe Montebelo custam 1.160 euros e pode praticar-se 363 dias por ano, com encerramento no Natal e ano novo. Para sócios do clube de viseu, seniores e /ou casais há descontos.

texto por Ana Margarida Gomes fotografia por Tiago Canoso

ABRIL 2012

A

aldeia da Pena, aninhada num vale profundo da Serra de São Macário, concelho de São Pedro do Sul, encontra-se coberta pela sombra. Na única estrada, sinuosa, que permite aceder ao local, a vegetação alastra. Entra-se na aldeia e não se vê ninguém. Nada de surpreendente: são apenas oito os habitantes da Pena.

As casas que dão forma à aldeia são feitas de xisto, o que lhe confere um tom escuro, reforçado pela ausência de claridade. Duas placas

Distrito de Viseu

Uma aldeia perdida entre os montes

São apenas oito os habitantes da aldeia da Pena e nenhum está disposto a abandoná-la rivalizam na sinalização de estabelecimentos comerciais de artesanato e mel. A concorrência que parece existir numa aldeia em que o número de habitantes é tão reduzido, aguça a curiosidade, impelindo a que se siga até à loja de António Almeida.

Um artesão apaixonado A expressão sorridente e os traços ternos do artesão indiciam uma personalidade calma e afável.

“O meu artesanato não vai para lado nenhum. É um produto endógeno que eu tenho de proteger e só vender aqui. Quem o quer tem de vir à aldeia da Pena”, afirma.

Na pequena loja, miniaturas de objetos típicos da Pena preenchem as prateleiras. Charruas, teares, canastros e carros de bois constituem apenas uma parte da coleção. “São feitos tal e qual como os que estão na aldeia”, diz, com orgulho. Mas é com as casas de xisto que o artesão se mostra mais vaidoso. “Há um segredo para colocar as pedras”, confidencia.

Comprar uma das casas é levar um pedacinho da Pena, visto que muito do xisto utilizado provém da própria aldeia. O artesão produz ainda mel e fabrica velas com a cera utilizada pelas suas próprias abelhas.

Augusta, esposa de António Almeida, também contribui para o negó-

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Uma serpente aterrorizava os habitantes de uma aldeia, que a alimentavam para não ser atacados. Finda a comida, viram-se obrigados a dar-lhe uma das mais belas donzelas da aldeia. Todos diziam: “Ai que pena”. O namorado acabou por matar a serpente, para salvar a sua amada, e o nome da aldeia ficou Pena. Assim reza a lenda...

cio, com gorros, meias e panos de linho, tecido pela própria. “Eu é que fui buscá-lo à freguesia. Andávamos na mesma escola”, conta Augusta, referindo-se ao marido. Partiram juntos para Lisboa, depois de casar, e regressaram à aldeia da Pena muitos anos depois. Renovaram a casa e transformaram o curral que então existia na atual oficina. “Faço artesanato desde pequenino. Nasci no meio de carpinteiros e de pedreiros. Tive sempre tendência para fazer pecinhas de artesanato”, conta António Almeida.

Apesar de não ter nascido na Pena, recorda-se de como era no passado.

“Era uma aldeia com muita gente.

Nos anos 60 tinha 60 pessoas. Eram casas às vezes com sete filhos”, conta o artesão. A maioria foi trabalhar para as grandes cidades ou para o es-

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trangeiro. “Essa rapaziada, quando se reformar, regressa aqui à aldeia”, diz António Almeida. O habitante defende que povoações como a da Pena nunca desaparecem. “As aldeias vão ser outra vez repovoadas.

Podem não o ser é por pessoas naturais de lá”, explica, sublinhando que os turistas são o futuro.

Uma família da Pena Uma segunda placa aponta na direção de um estabelecimento pitoresco. Ana e Alfredo Brito instalaram-se na Pena há 13 anos, com o sonho de construir um restaurante.

Concretizaram este e mais outro: o de constituir família. São hoje pais de duas meninas, uma de onze e outra de quatro anos. “Já não nascia cá uma criança há 40 anos”, diz Ana

Brito.

Mudaram-se de Lisboa para a aldeia da Pena porque os avós de Ana Brito não podiam permanecer sozinhos. “Ou vínhamos para cá nós ou iam eles”, explica.

No restaurante, são também vendidas miniaturas de casas de xisto, mel, velas, vinho, licores e trabalhos em linho. O negócio não é fácil nas estações mais frias. “Junta-se no verão para se ter no inverno. Vive-se da horta e dos animais”, explica Ana Brito. É nas férias, no Natal e na Páscoa que os proprietários das casas regressam à aldeia e que a população se junta, para conviver. No Inverno, os habitantes permanecem em casa, sem vontade de enfrentar o frio que se faz sentir na rua. texto por Jeniffer Lopes fotografia por Tiago Canoso

ABRIL 2012

De bailarino a coreógrafo de referência

O

s primeiros passos foram dados como bailarino, mas é como coreógrafo de referência que Paulo Ribeiro trilha, a partir de Viseu, um percurso que já lhe trouxe alguns ‘galardões’.

Antes de se afirmar como coreógrafo, Paulo Ribeiro construiu uma vasta carreira enquanto intérprete. O então bailarino passou por algumas companhias francesas e foi cofundador da Companhia Stridanse, com a qual, em 1984, obteve o prémio de Humor. Um ano depois, foi a vez de arrecadar o segundo prémio de Dança Contemporânea. Dois prémios arrebatados no Concurso Volinine (Paris), que foram apenas os primeiros de muitos que viria a obter individualmente ou com a sua companhia.

Quatro anos depois de se ter estreado no domínio da criação coreográfica, Paulo Ribeiro deixa a ‘cidade luz’ para regressar a Portugal, onde começa por colaborar com a Companhia de Dança de Lisboa e ainda com o Ballet Gulbenkian, para o qual criou diversas obras até ao ano da sua extinção. É a partir de 1991 que a sua carreira de coreógrafo se expande no plano

internacional, com a criação de obras para companhias de renome, nomeadamente Nederlands Dans Theater; Grand Théâtre de Genève; Centre Chorégraphique de Nevers e mais, recentemente, para o Ballet de Lorraine.

Em acumulação com o trabalho na sua companhia de autor - a Companhia Paulo Ribeiro - que fundou em 1995 e para a qual já criou 15 obras originais, Paulo Ribeiro foi comissário do ciclo Dancem em 1996, 1997, 2003, 2009 e 2011, no Teatro Nacional S. João.

Ao Teatro Viriato (Viseu) chegou em 1998, para desempenhar uma primeira aventura no cargo de diretor geral e de programação, onde se manteve até 2003. Só dois anos depois regressou ao cargo que continua a ocupar atualmente.

Os dois anos em que se afastou de Viseu serviram para ser comissário para a Dança em Coimbra 2003 e ainda para dirigir o Ballet Gulbenkian (2003 a 2005).

Os últimos dois anos trouxeram grande reconhecimento a Paulo Ribeiro, que em 2010 recebeu o prémio da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) para a melhor coreografia, com “Paisagens – onde

Um coreógrafo de referência...

William Forsythe porque se tem renovado constantemente. É um coreógrafo que tem uma linguagem que não parou no tempo, que passou por várias formas de abordar o corpo, por coreografias que vão desde o abstrato ao mais emocional ou teatral, sempre com características muito próprias. Hoje em dia tem um trabalho que continua a ser um farol da contemporaneidade.

Uma cidade portuguesa e uma estrangeira para viver...

Gostava de viver em Viseu, apesar de, às vezes, faltar um bocadinho de mar. Das cidades estrangeiras escolho o Rio de Janeiro, onde já não vou desde 1986, mas tenho memórias fantásticas desta cidade que é fascinante.

Clube pelo qual torce...

Eu não torço por clubes, apenas pela seleção nacional.

Um prato favorito...

Um bom sushi sashimi enche-me as medidas.

Um livro que recomenda...

Apesar de ser um livro antigo, mas pelos tempos que correm e porque acho que o indivíduo tem que ter a sua palavra a dizer, recomendo Um homem de Oriana Fallaci.

Um filme favorito...

Gosto muito de Pedro, o Louco, de Godard.

Hobby...

Quando não estou a fazer outras coisas gosto de ler e pensar.

Uma viagem marcante...

A que fiz entre o Rio de Janeiro e Recife, à boleia, quando tinha 19 anos e que durou

Distrito de Viseu

Paulo Ribeiro PERFIL

o negro é cor”.

Recentemente criou “Desafinado para o Grupo Dançar com a Diferença” e “Du Don de Soi” para a Companhia Nacional de Bailado, que estão entre as obras mais destacadas pela imprensa em 2011, na área da Dança. texto por Maria Cristina Marques fotografia por José Alfredo

dois meses.Conheci pessoas incríveis.

Um politico de eleição...

Nélson Mandela Se fosse político por um dia... É pouco tempo. Se em quatro anos não se faz nada, quanto mais num só dia. Só se poderia fazer alguma coisa num dia se fosse um tirano.

Um sonho por concretizar...

Era ótimo se Portugal se aproximasse da Noruega, porque isso garantiria aos portugueses uma qualidade de vida fantástica!

Com o clima que temos, com a organização e riqueza norueguesa poderíamos tornarnos num país onde as pessoas pudessem viver de forma mais desafogada, e, onde o Ministério da Cultura pudesse ter um orçamento de dois por cento do PIB nacional.

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Monumentos a Visitar

Fora da cidade

Castelo de Penedono

Sé de Viseu e Sé de Lamego

Não se sabe ao certo quando foi construído este castelo medieval.

Apesar de pequeno, a localização estratégica tornava-o fulcral. Abandonado, alguns pensaram em demoli-lo, mas um grupo de cidadãos, denominado “Homens Bons”, impediu tal destino.

São das mais antigas do país e a história cruza-se com o nascimento de Portugal. Permanecem como símbolos de um poder religioso que de vez em quando fazia frente aos políticos de então.

Sé de Viseu

Museu Grão Vasco

Termas de São Pedro do Sul A história escreve-se ao longo de dois mil anos. Por ali passou o primeiro rei e a ultima rainha de Portugal.

Literalmente colado à Sé, o museu, em granito, conta com uma importante coleção de Vasco Fernandes (Grão Vasco).

Termas de S. Pedro do Sul

Ponte romana de Vouzela Prende o olhar pela sua imponência.

Já por ali passou o comboio, hoje serve para quem quiser dar um passeio a pé ou de bicicleta, aproveitando para contemplar a pequena vila.

Cava de Viriato O nome engana o turista desprevenido. Não foi de Viriato, mas sim de romanos e árabes. Acampamento militar, terá acolhido cerca de dez mil soldados.

Castelo de Lamego

Cava de Viriato

Igreja do Carmo O tom dourado do interior, forjado a ouro, une-se ao azul dos azulejos do século XVIII, estilo rococó, altura em que a igreja foi construída.

O caminho custa a subir e evoca as dificuldades por que Fernando Magno passou para vencer os Mouros e ficar com o castelo.

Mosteiro de Salzedas O mosteiro cisterciense é quase tão velho como Portugal e pode agora ser redescoberto, depois de ter voltado a abrir portas no ano passado.

Igreja do Carmo

texto por Lino Lopes Ramos fotografia por Tiago Canoso

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