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WARHOL TV WARHOL TV WARHOL TV
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ÍNDICE
página seguinte: ANDY WARHOL’S TV ON SATURDAY NIGHT LIVE, 03/10/1981
TDK VIDEOTAPE ADVERTISEMENT, 1983
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PREFÁCIO PREFACE MARIA ARLETE GONÇALVES
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ANDY WARHOL “NO AR” ANDY WARHOL “ON AIR” JUDITH BENHAMOU-HUET
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A HISTÓRIA DE WARHOL TV. CRONOLOGIA DA HISTÓRIA DE AMOR DE ANDY WARHOL COM A TELEVISÃO THE WARHOL TV STORY. A CHRONOLOGY OF ANDY WARHOL’S ARTISTIC LOVE STORY WITH TELEVISION JUDITH BENHAMOU-HUET
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REEL-TO-REAL VIDEO: ANDY WARHOL E A TELEVISÃO REEL-TO-REAL VIDEO: ANDY WARHOL AND TV VINCENT FREMONT
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ENTREVISTA COM DON MUNROE INTERVIEW WITH DON MUNROE ENTREVISTAS DE JUDITH BENHAMOU-HUET INTERVIEWS BY JUDITH BENHAMOU-HUET 69 72 77 80 85 91 97 99 110 113 115 120 134
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PIERRE BERGÉ BRIGID BERLIN BOB COLACELLO DOUGLAS CRAMER SUE ETKIN VINCENT FREMONT JOHN GIORNO JANE HOLZER MARC JACOBS TAMA JANOWITZ BENJAMIN LIU GERARD MALANGA JONAS MEKAS
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GLENN O’BRIEN YOKO ONO YVES PIAGET ROGER PRIGENT JOHN RICHARDSON HÉLÉNE ROCHAS CLARA SAINT KENNY SCHARF TONY SHAFRAZI JAY SHRIVER JEFF KOONS CHRISTIAN MARCLAY FRANCESCO VEZZOLI
A TELEVISÃO POR ANDY WARHOL TV BY ANDY WARHOL SOBRE TELEVISÃO ABOUT TV TODOS OS PROGRAMAS DE TELEVISÃO DE A NDY WARHOL ALL THE WARHOL TELEVISION PROGRAMMES EXPOSIÇÃO NO OI FUTURO ???? JUDITH BENHAMOU-HUET OBRAS EM EXPOSIÇÃO WORKS IN THE EXHIBITION CRÉDITOS CREDITS
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“De regresso do psiquiatra, parei na Macy’s e, 8
num impulso súbito, comprei o meu primeiro televisor, um RCA de 19 polegadas, preto e branco. Trouxe-o para o apartamento, onde vivo sozinho, debaixo do El na rua 75 Este, e me esqueci logo completamente do psiquiatra. Deixava a televisão ligada o tempo todo, sobretudo quando havia pessoas falando comigo sobre os seus problemas, e me apercebi de que a televisão desviava a minha atenção o suficiente para que os problemas que as pessoas estavam me contando já não me afetassem. Era como uma coisa mágica.” The Philosophy of Andy Warhol (From A to B and Back Again), Harcourt Brace Jovanovich, Nova Iorque, 1975 (1.a edição).
The Philosophy of Andy Warhol (From A to B and Back Again), Harcourt Brace Jovanovich, New York, 1975 (first edition).
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“On the way back from the psychiatrist’s I stopped in Macy’s and out of the blue I bought my first television set, an RCA 19-inch black and white. I brought it home to the apartment where I was living alone, under the El on East 75th Street, and right away I forgot all about the psychiatrist. I kept the TV on all the time, especially while people were telling me their problems, and the television I found to be just diverting enough so the problems people told me didn’t really affect me any more. It was like some kind of magic.”
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DON MONROE ANDY WARHOL´S T.V., 1981
Don Munroe realizou todos os programas de televisão de Andy Warhol. Morreu em 2002. Excertos de uma entrevista publicada em Unseen Warhol, de John O’Connor e Benjamin Liu, Rizzoli, Nova Iorque.
[...] ao pensar agora nesse primeiro encontro, acredito que foi aí que vi pela primeira vez o verdadeiro Andy Warhol, um tipo tímido, um solitário, alguém que nunca instigou a polêmica à sua volta. A polêmica simplesmente acontecia à volta do Andy. Ele era um ímã de acontecimentos – alguém que atraía os casos mais extremos da sociedade. Andy guardava para si as suas opiniões sobre as políticas do seu tempo. Fazia seus próprios protestos em seus trabalhos, deixando a sua arte e os outros falarem por ele. Foi o verdadeiro fingidor: permaneceu toda a vida no centro das coisas, ficando quieto e deixando que tudo acontecesse à sua volta. Quando se envolveu com o vídeo no estúdio do Warhol? Estava dirigindo um estúdio de vídeo para o Bloomingdale’s em meados dos anos de 1970. Fazíamos muita moda e, naquela época, o Bloomingdale’s era a coisa mais atual e mais na moda que estava acontecendo. Consegue imaginar um estabelecimento comercial fazendo festas com o prestígio de uma discoteca privada? Bem, eles faziam. Também empregaram algumas pessoas muito talentosas, muito criativas. Tinham a Candy Pratts fazendo vitrines extravagantes, que agora é diretora de moda da Vogue. Tinham a Carrie Donovan na publicidade, e o fotógrafo Helmut Newton que fez um catálogo de lingerie muito sexy. Sabiam como atrair muita atenção. Na época, estávamos gravando um programa do Bloomingdale’s para a televisão a cabo, anuncian-
do uma grande promoção da loja. O meu amigo Marc Balet tinha me apresentado ao Vincent Fremont, que tinha gravado muitos vídeos na Factory. O Vincent estava desenvolvendo um programa de televisão para o Andy e me trouxe como realizador. Eu e o Marc colaborámos nos primeiros programas, chamados Andy Warhol’s Fashion — uma série de 10 programas sobre o mundo da moda em Nova Iorque. Andy concordou em ter uma participação especial no programa do Bloomingdale’s e gravamos as introduções do programa de moda do Andy no estúdio de vídeo deles. O nosso primeiro programa se chamava Models and Photographers, e o Marc veio com a ideia da participação de três modelos e três fotógrafos — um que estivesse começando, um que provavelmente nunca chegaria ao topo, mas que fosse influente, e um mestre já maduro. As modelos eram Phoebe Cates, Amina Warsuma e Lena Kansbod que, naquela época, era uma das modelos mais importantes. O rosto dela estava em todo o lado, mas ela tem um sotaque muito marcado, por isso nunca fez bem a transição para a representação. Era muito sueca. Tínhamos frases suas muito, muito boas. Tínhamos de todos. As modelos começavam a falar e iam por aí a fora — isto foi antes da era dos “domesticadores”. Pegamos naquilo que estavam dizendo e juntamos com o resto todo. Por exemplo, tínhamos a Phoebe Cates dizendo: “Oh, fazer uma viagem é bem divertido. Simplesmente adoro, adoro, adoro. Fui agora ao Marrocos com o Bruce Weber e foi mesmo bom. As
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de humor fora do comum. Em um programa, uma estrela do rock, famosa, não apareceu e o Andy disse: “Ofereçam-lhe cocaína — estará aqui dentro de dois segundos.”
Don Munroe directed all of Andy warhol’s televison programs. He died in 2002. Excerpts from an interview published in John O’Connor and Benjamin Liu, Unseen Warhol, Rizzoli, New York, 1996.
Havia qualidades especiais no Warhol que a maior parte das pessoas não conseguia ver? O que as pessoas não sabem é que Andy realmente ajudou muitas pessoas a começar. Pode-se fazer uma lista enorme das pessoas que ele ajudou, desde o Keith Haring ao Jean-Michel Basquiat, ou designers de moda como o Stephen Sprouse. E, depois, ao trazer um grupo de pessoas talentosas como a Fran Lebowitz e o Marc Balet. Ele era o patriarca de uma família muito grande. O que o Andy fazia diariamente, penso eu, é muito interessante — a maneira como ele ajudava as pessoas e as trazia para si. Ele era uma influência muito positiva. Acho que, quando as pessoas pensam em Andy Warhol, têm uma opinião negativa dele. E ele era muito mais do que isso. Era profético quando dizia: “Todas as pessoas serão famosas durante quinze minutos”. Somos hoje uma nação de tribos. Agora há o gay isto e o grupo de lobby aquilo. Os artistas juntam-se. Todos se unem debaixo das suas pequenas bandeiras. E acho que o Andy viu aquilo que estava acontecendo. Todo o seu “estábulo” de superestrelas era sobre isso — uma nação tribal.
[…] thinking about that first encounter now, I believe that’s when I first saw the real Andy Warhol, a shy guy, a loner not a joiner, someone who never instigated controversy around him. It just happened to Andy. He was an event magnet — one who attracted society’s more extreme cases. However Andy felt about the politics of the times, he kept it private. He made his own protests in his work, letting his art and others speak for him. He was the original poser: he remained the centre of things all this life by keeping quiet and letting it happen around him. When did you get involved in video at the Warhol Studio? I was directing a video studio for Bloomingdale’s department store in the mid-1970’s. We were doing a lot of fashion, and at the time Bloomingdale’s was the hippest and trendiest thing going. Can you imagine a department store throwing these parties with the cachet of an exclusive club? Well, they were doing it. They also employed quite a few very talented, very creative people. They had Candy Pratts doings outrageous windows — now she’s a fashion director at Vogue. They had Carrie Donovan in advertising, and fashion photographer Helmut Newton did a very sexy lingerie catalogue. They knew how to get a lot of attention. We were shooting a Bloomingdale’s cable TV show about a big store promotion at the time. My friend Marc Balet had introduced me to Vincent Fremont, who had been shooting a lot of videos around the Factory. Vincent was developing a TV show for Andy, and brought me in as the director. Marc and I collaborated on the first shows, which were called Andy’s Warhol’s Fashion — a series of ten shows about the New York fashion world.
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Andy then agreed to do a cameo in the Bloomingdale’s show and we shot Andy’s fashion show intros in the Bloomingdale’s video studio. Our first show was entitled Models and Photographers, and Marc came up with the idea to featuring three models and three photographers — one just starting out, one who probably never really make it but would be influential, and one seasoned master. The models were Phoebe Cates, Amina Warsuma and Lena Kansbod, who at that time was one of the biggest models around. Her face was ever where, but she has a really thick accent, so she never really made the transition into acting. She was very Swedish.
magazine than on the idea of fashion. Where did you film the show? We did the first three shows in the Bloomingdale’s video studio, and then Andy purchased a lot of video equipment. Broadcast-style equipment, so we could run around. That changed the show because we weren’t stuck in the studio anymore. We did a lot more location shoots, went to clubs, started covering the new clubs opening downtown and shooting the art community as well. At that time, there were a lot of really small clubs. They came at the end of the Studio 54 era. Clubs like the Mud Club and the ones that would open just for the weekend and then you’d never hear about them again.
We got great, great quotes out of her. We got everybody. The models would just begin speaking and go on and on — this was before the era of the prohandler. We took that they were saying and juxtaposed it against everything else. For instance, we had Phoebe Cates saying, “Oh, going on a trip is so much fun. I just love it, love it, love it. I just went to Morocco with Bruce Weber and it was just so great. The girls were so great and everything. We had such a great time.” And then Lena said, “Well, going on a trip is a problem because you never know who you’re going to have to sleep with and you never know if you’re going end up with an ice cold shower and some bitch who just nags and nags and nags.” She got into it on a diva level. And then I asked, “Does that happen a lot?” And you heard Lena say, “It doesn’t happen anymore.” It was one of the alltime greatest lines. Amina also had some great lines. We used Amina to point out the reality of it. She was just no-holds-barred. If she saw another model, she just wanted to take a gun and kill. Kill, kill, kill! When the show aired, it produced such a scandal. Johnny Casablancas called up Andy and said, “How could you do that? My God! She’s ruined, she’s ruined. The show’s ruined. Oh my God.”
When did you first start doing shows for the Madison Squar e Garden Network? There was a guy who was a sports-star agent whom Andy knew well, and he got us involved with Madison Square Garden. We did shows for them that were more formatted and interview-based. We had a deadline-heavy schedule, so it was less experimental. But we still did some great shows for them. The Diana Vreeland show with the interview by Henry Geldzahler was one of those shows.
Later, we started expanding the show into a slicker version based more on the ideas behind Interview
Do you connect today’s way of constructing a show like VHI’s Fashion TV with what you guys
And by this time the show was known as? Andy Warhol’s TV. First there was Andy Warhol’s Fashion on Manhattan Cable, then Andy Warhol’s T.V., and then Andy Warhol’s Fifteen Minutes on MTV. Fifteen Minutes has a Brady Bunch opening — we used a quad screen. The idea was to have Andy up in one of the corners, almost like Hollywood Squares. And, as in the Brady Bunch opening, everyone’s sort of looking at each other and smiling and doing crazy things. Whoever was in the show would be in the opening, like Diana Brill, Grace Jones and Paulina. The premise behind the show was to have Andy sitting watching TV and changing channels — channel surfing.
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PIERRE BERGE
“OH, JESUS!” O Andy costumava dizer que o maior artista francês era o Yves Saint Laurent. Ficamos amigos muito próximos no final dos anos de 1960. Passávamos férias juntos em Marraquexe e em Veneza. Eu o admirava pelas suas fobias e pelo seu hábito de colecionar, no sentido mais lato do termo. Ele filmava e fotografava toda a gente — nada lhe escapava. Era tudo importante. Este cinzeiro teria sido importante. A vida no dia-a-dia era importante. Ele era um verdadeiro nova-iorquino. A Factory era um lugar divertido. Havia uma série jovens trabalhando em cantos diferentes da sua Factory na Union Square. Ele ficava nos bastidores. “Oh, Jesus!”, dizia sempre. Se lhe davam sushi em um restaurante ou se lhe falavam que o preço do petróleo tinha subido, respondia simplesmente: “Oh, Jesus!” Não tinha tempo para ideias preconcebidas. SOBRE O TEMA Ele estava muito ligado à vida social e o jet set o impressionava. No entanto, não era enganado por ninguém e nada o perturbava. Não era uma pessoa muito agradável e, quando acabou a sua relação com o Jed Johnson, não se portou muito bem. Contudo, Andy era fascinante de outras maneiras. Ele purgou a arte de todo o jargão obscuro que a rodeava. Não acreditava na inspiração. Trabalhava diretamente a partir do sujeito, isto é, das fotografias que tirava, na sua vida de todos os dias. Como aquela frase sobre o Marcel Proust em um salão: “Não o perturbem! Ele está criando.”
SISTEMA Na verdade, o Andy descobriu uma técnica. Ele tinha aperfeiçoado o seu método criativo e aplicou este sistema a todo o seu trabalho. Não digo de forma pejorativa. Livrou a arte de todo um absurdo que tinha ficado associado a ela. Nesse sentido, era o verdadeiro herdeiro de Marcel Duchamp. Uma vez, disseram a André Gide: “Devíamos nos encontrar outra vez e trocar ideias.” Ao que ele respondeu: “Peço desculpa, mas prefiro guardar as minhas.” Eu sei que os artistas não dão ouvidos a ninguém. Mas ele tinha sempre pessoas à sua volta que vinham de todo o lado. Em Paris, fui eu que encontrei o seu apartamento na rua du Cherche-Midi. Quando ele estava aqui, almoçava no Chez Angelina. Comprou muita Art Decò. Nos anos de 1980, em Paris, fazia jantares todas as noites. Gastou muito dinheiro. Fazia de anfitrião no Crillon…
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Pierre Bergé foi fundador e diretor da casa de alta-costura Yves Saint Laurent. Era amigo de Andy Warhol. Entrevista em Paris.
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EXPOSIÇÃO
Oi Futuro Flamengo – vitral no térreo. Fotógrafo: Paulo Otero Imagem tirada do Comercial para fita de vídeo TDK, 1983
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Oi Futuro Flamengo – térreo. Fotógrafo: Alexandre Andrada Andy Warhol’s Fifteen Minutes, 1987
Andy Warhol video images ©2011 The Andy Warhol Museum, Pittsburgh, PA, a museum of Carnegie Institute. All rights reserved.
Oi Futuro Flamengo – entrada nível 2. Fotógrafo: Paulo Otero Screen Test: Marcel Duchamp, 1966 “Eu gosto do espírito de Warhol. Ele não é pintor ou cineasta. É um filmador.” (Marcel Duchamp) Andy Warhol film image ©2011 The Andy Warhol Museum, Pittsburgh, PA, a museum of Carnegie Institute. All rights reserved.