Clic em "JUDAS", "BABACA" & HIATO.

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UM HIATO DOENTIO Ao confrontar dois momentos políticos me nossa cidade veio à tona um cenário que também poderia se chamar “O VÁCUO DA INCOMPETÊNCIA”. Inicialmente cabem algumas considerações sobre os dois fatos aqui registrados. A apresentação pública do “JUDAS” pelo microempresário Juliano Pires aqui não será tratada quanto ao seu conteúdo ou mais especificamente as suas falas, mas sim os seus aspectos motivacionais, fontes estas que devem ser clareadas para todos nós. O outro fato é um registro nas redes sociais no qual o rótulo “BABACA” teria sido a resposta do prefeito para alguma crítica a um cidadão. Alguém poderá classificar a postagem “BABACA” com sendo fake news, isto é de origem falsa. Se realmente a comprovação de se fake news for real cabe imediatamente ao prefeito uma execução judicial, entretanto ao contrário disto se for real o conteúdo do registro creio que cabe alguma ação oficial em nome do decoro que deve rondar os passos políticos. Entendo neste momento que os fatos “JUDAS” e “BABACA” não devem ser tratados como simples postagens de opositores que não querem deixar o prefeito trabalhar, ou que são financiados por outras forças políticas, ou até por acharem os bajuladores que os atores „querem aparecer‟, já que não teriam sido convidados para alguma reportagem no Fantástico.


Tem alguns até letrados que acham que é pouco tempo para algum questionamento ou crítica, com argumentos de que „pegou a casa fora de ordem‟, sendo razoável aguardar ao menos um ano para eventuais críticas. Particularmente considero estas justificativas típicas de defensores inalienáveis que se permitem usar exclusiva e tão somente dos aplausos, da bajulação e alguns até das orações, mas esquecendo ou deletando preceitos bíblicos tal como aquele citado em Provérbios 31:12-13 que diz: “Escolhe a lã e o linho e com prazer trabalha com as mãos”. Algo muito mais significativo revela estes e outros fatos similares do que o exercício dos opositores. Por citar a oposição creio que de vez para sempre seria bom que todos os cidadãos entendessem que ter segmentos de opositores na vida pública deveria ser alvo de agradecimento dos gestores da situação. Por qual razão agradecer aos opositores? Pela justa coerência em aprender e apreender inúmeras lições em busca do aperfeiçoamento de seu trabalho. É transportar o preceito da “lã e linho” para a prática gerencial de uma prefeitura e trabalhar para não atrapalhar. Quanto o cidadão trouxe a público o “JUDAS” ele o fez com contundência, com coragem, com uma energia e objetividade que não é comum na maioria dos cidadãos. É preciso ter a cor e o agir para uma exposição que não tratou do personalismo ou do individualismo. Juliano em suas falas projetou diversos conteúdos e os principais tratavam de necessidades do coletivo. Alguns poderão contestar parte das falas, mas o que se destaca aqui é o exercício de um cidadão, que se apropria de uma figura com forte simbolismo, o “JUDAS”, trazendo para um cenário teatral aberto suas frustrações enquanto vítima do sistema gerencial. O simbolismo do “JUDAS”


O “JUDAS” foi retratado como representando um político que declaradamente não cumpre com suas promessas. E envolve outros políticos, enquanto um deles não aparece na listagem dos cartazes, trata-se do vice-prefeito GILBERTO PIASSA, que após a postagem foi incluído também no rol do simbolismo do boneco. Um gestor público com alta capacidade de compreensão e qualificação para o exercício da comunicação interpessoal iria tratar o fato com a mesma dedicação proposta no versículo da “lã e linho”, isto é como um trabalho a desatar os nós de suas relações para com o público. A postagem do “JUDAS” tomou visibilidade exponencial, recebeu centenas de comentários de apoio e até gerou uma matéria de repercussão na plataforma internacional MEDIUM com mais de 1.500 visualizações, inclusive alcançando alguns países. Trata-se da crônica “As razões e o Judas Amparense”. Entretanto não consegui registrar em momento algum, talvez por deficiência minha, alguma retratação ou manifestação do prefeito, isto é lidando com o fato opositor de maneira digna e não com um silêncio que mais lembra comportamentos de fragilidade e culpabilidade. A omissão é o câncer na política. Para cada tumor da omissão pessoas ficam sem alimentos, doentes sem recursos, alunos sem qualidade de ensino, trabalhadores sem empregos, empresas indo no caminho da falência. O cidadão comum em geral não estabelece relação de continuidade entre um empresário com dificuldades, uma empresa às portas da falência e sua própria vida pessoal. A loja de celulares fechou. Vamos para uma hipótese, embora não muito distante de nosso cotidiano. Imaginemos a loja da cidade fechando suas portas e então não teríamos mais como adquirir itens, acessórios e assistência técnica como de costume.


Sem esta possibilidade surgem então algumas dificuldades, entre elas teríamos que ir para outra cidade ou para a capital. Também poderão surgir as vendas pelas redes sociais, mas sabemos que este acesso é restrito ainda para grande parte da população. Porém é provável que nos venham a oferecer produtos no sistema de vendas „porta-a-porta‟ sob o risco de estarmos alimentando as ondas do contrabando. Só por esta breve projeção já poderia visualizar o que fazer para conseguir nesta quarta-feira o conserto para meu aparelho de uso restrito, mas com certa dependência do mesmo. Ao invés de ir até o centro da cidade, diante da suposta falência, neste momento teria que programar a ida para alguma metrópole e já com indicações de confiabilidade, pois se não tiver a „tal satisfação garantida‟ o retorno se torna desgastante e complicado naturalmente. Aqui só um exemplo, que pode ser ampliado para todas as outras empresas comerciais, os prestadores de serviços, as indústrias, os autônomos e similares. Todos estão sob a mesma prepotência do sistema políticosocial. E o cidadão comum também faz parte desta hipótese que é próxima de muitas realidades. “vamos combater quaisquer indícios de arrogância, prepotência dentro de nós”! (Mateus 6, 14-15) Se então temos um cenário no qual aparece o “JUDAS” como projeção simbólica do caos e crise, surge além deste horizonte a incompetência gerencial pública para lidar com esta peça teatral real. Se omite, não se comunica diretamente, não é convincente nas tomadas de decisões, opta por cenas circenses, transparece agir sem planejamento e principalmente se aplicar posturas


empáticas, mesmo diante de supostas oposições, questionamentos, críticas e até sugestões. Se já temos um clima dramático quanto à saúde, o então gestor público revela falas inconsistentes e de clara descrença popular a ponto de gerar todo um palco para o surgimento do “JUDAS” de Juliano. Aqui ainda não estamos entrando nos méritos do conteúdo das falas e muito menos das medidas polêmicas de autoria do prefeito, ou de plágio governamental, isto é copia simplesmente as regras estaduais sem qualquer criatividade. Criatividade nesta crise? Sim, justamente na crise é que se revela a criatividade como forma de gerar soluções. Uma delas já deveria ter sido alvo de sérios estudos e publicidade pública: o Fundo do Comércio de Amparo. Uma proposta ainda sem detalhamentos, mas que revela em princípio um aparato para a sustentabilidade do comércio e similares. Se o comércio é obrigado a fechar portas, que se abram janelas eficazes para a sua sustentabilidade, que em tese tem a ver com empregos x desempregados, com compras x consumidores, com vendas x impostos, com menos tensões, sendo que até a saúde mental é assim alimentada coletivamente. Há que se ter uma visão holística dos cenários que certamente não se consegue fazendo „lives‟ com discursos fracos e nada convincentes. Há que haver a humildade de se admitir o erro, sem que se precise se desnudar publicamente, mas sim deixar a arrogância e a surdez no lixo ao apreciar sugestões dos envolvidos e dos também comprometidos com toda a rede socioeconômica. Tenho como prova do atestado desta arrogância os agentes públicos como: o prefeito, seu secretário de saúde e também o líder do governo na Câmara Municipal, pois todos destes atores em momento algum deram respostas ou feedbacks sobre propostas que registrei tanto no legislativo como nas redes sociais.


É arrogância oficializada de responsabilidade de quem é pago com nossos recursos para gerenciar com lucidez uma comunidade. Um dos temas tratava da falta de um programa de educação comportamental como preventivo contra a Covid. Não existiu ainda em nosso meio nada consistente, amplo, de impacto emocional, com princípios da psicologia motivacional e incluindo-se medidores de eficácia. Nada disto. Somente esporádicas aparições de carro de som com falas de locução sem credibilidade. Chega a ser inacreditável que ainda assim atuem estes gestores com modelos de comunicação dos antigos tempos da carroça de pamonha: “Pamonha, pamonha, pamonha de Piracicaba!” É incrível esta arrogância tendo a disposição da internet, uma rádio municipal, um bando de artistas da mais alta qualidade, outro bando de estudantes ávidos para desafios e prêmios, muitos cidadãos que poderiam ser voluntários, dezenas de entidades assistenciais e milhares de servidores; todos que poderiam ser encantados por ações proativas, criativas, interativas, enfim tornando a cidade de Amparo-SP um exemplo para o mundo com um programa de uma ação global na prevenção comportamental contra a contaminação pandêmica. Mas temos gestores curtos, surdos e arrogantes. E assim surgem mais ingredientes para atiçar este caos quando o prefeito rotula um cidadão de “BABACA”, sendo tal tratamento indigno de um gestor municipal, de um profissional do Direito, de um representante da classe política e até mesmo como cidadão; pois tal tratamento é tosco, deselegante, intolerável e medíocre. Se tal resposta foi realmente dirigida ao participante das redes sociais, creio que cabe ao menos uma retratação pública, para não servir de modelo para outros toscos e intolerantes com pensamentos e manifestações divergentes.


Até o momento que tomei conhecimento da postagem não tive registro de qualquer manifestação de desculpas pelo suposto ato torpe. Se um cidadão ao se manifestar é rotulado de “BABACA”, esta colocação pode passar a ser referencial para outros menos evoluídos e então a rede crescente de agressão vai se instalando e virando cenário doentio. Cabe retornar à consideração de que políticos evoluídos e com o mais nobre perfil do exercício da cidadania deveriam valorizar todas as manifestações oposicionistas, dando a elas tratamento digno da democracia. Agir democraticamente não é aceitar só e exclusivamente os aplausos, os bajuladores, a submissão dos mais frágeis e a omissão popular. Isto é receita da hipocrisia e demagogia. Agir na democracia é acatar a presença da oposição, pois ao contrário disto é um sistema ditatorial. Ditaduras não acatam diversidade, oposição e muito menos crítica. Ditaduras usam de rotulações similares ao “BABACA”, sem entrar no debate pleno e elevado. Corta-se o suposto „mal‟ com falas duras e sem discussão. Temos então, só início de reflexões, estes dois momentos nada saudáveis para a busca de soluções, num dia o “JUDAS” e no outro o “BABACA”, enquanto a intolerância, a arrogância, a hipocrisia e posturas personalistas revelam visões limitadas. "Política é a capacidade humana de criar laços comuns em nome da boa convivência entre todos." Marcia Tiburi (aniversariante do dia)

Amparo-SP 06/abr/2021 Tito, psicólogo


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