ANO NOVO & ANO VELHO: AROMÁTICOS

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O ANO NOVO E O ANO VELHO Os dois vinham por calçadas diferentes na transversal. O Ano Novo chegou ao semáforo e teve que aguardar a abertura do sinal. O Ano Velho chegou logo alguns segundos após. Eles se entreolharam e veio um cumprimento de Bom dia. O semáforo demorou mais alguns segundos e o tempo passando sem que eles notassem. Até que o caminho de ambos ficou liberado e por coincidência do destino seguiram na mesma direção. Daí começou um bate papo inusitado.


Um perguntou ao outro para onde estava indo. O Ano Novo disse que iria para a estação 1º de janeiro, já Ano Velho respondeu que seu ponto era no terminal 31 de dezembro e então foram conversando, pois as duas estações eram bem coladinhas uma a outra. Em determinado momento o Ano Novo pediu licença para perguntar como havia sido o desempenho do Ano Velho. Este deu um belo sorriso e emendou: - Sem problemas, posso te contar, mas tens que ter paciência para ouvir, pois hoje em dia ‘escutar’ é verbo raro. Espero que tenhas tempo para ouvir tudo. O Ano Novo declarou que tinha um bom tempo disponível e que a curiosidade era seu ponto fraco. Assim o Ano Velho começou a relatar as impressões de sua longa caminhada. Falou do período antes e durante a pandemia. Citou suas conclusões sobre as atitudes dos políticos no país. Sobre as eleições e então deu mostras de detalhes cuidadosos. Sobre a educação revelou profundas preocupações ao afirmar sobre as muitas perdas por parte de alunos carentes na periferia das cidades. Também destacou a falta de um plano nacional de enfrentamento na educação com desastrosas ações ao nível federal principalmente. Enquanto ia relatando como um interprete da história o Ano Novo ficava atento como quem aberto para colher todas informações, sem qualquer postura defensiva. Ano Velho também falou de cenas de racismo no mundo e no país, com a mesma indignação lembrou os maus tratos no meio ambiente. Assim a caminhada dos dois ia seguindo até que Ano Novo perguntou sobre notícias positivas, pois só havia escutado coisas desagradáveis. Ano Velho disse que iria entrar neste cenário após citar alguns outros pontos nada gratificantes, mas então mudou de rumo a conversa.


Falou ele sobre diversas ações comunitárias para alimentar os mais carentes, as pesquisas para a descoberta de vacinas contra o vírus, a criação de uma rede de informações para a prevenção contra a pandemia, e o desdobramento gigantesco dos professores que tiveram que se ‘multiplicar’ para dar conta do ensino à distância. Mal teve tempo para dar uma respirada e entre um “hã..hã” do Ano Novo citou também como exemplo de cidadania a classe dos profissionais da saúde na frente de combate do atendimento aos doentes. O mesmo destaque fez para com os policiais com atuações arriscadas quanto á saúde como na segurança individual. O discurso ia num crescente e as estações de ambos se aproximando, foi então que o Ano Novo perguntou qual o principal destaque negativo que ele vivenciou. Ano Velho não respondeu. Parou de andar, com uma fisionomia reflexiva disse ao Ano Novo: - Vamos sentar naquele banco e te conto o que concluí. Ano Novo aceitou e lá foram para um banco de madeira na lateral da calçada, enquanto dezenas de pessoas iam e vinham, passando por eles. Então a conversa continuou com algumas explicações de Ano Velho. Disse ele que poderia citar a pandemia, mas que era algo ‘fora de controle’, mas que considerava o pior ingrediente desta situação toda estava circunscrita nas posturas dos políticos. Ano Novo perguntou quais eram estes atores. Ano Velho disse que desde o nível federal, estadual chegando ao município. Todos revelavam posturas nada dignas de credibilidade. Muitos falavam de transparência, mas agiam com demagogia. Outros vendiam imagens de bonzinhos, mas tinham sido omissos em outros momentos importantes para as pessoas menos favorecidas.


Ano Velho disse que a pior pandemia era a da classe dos políticos corruptos que matam sem que saibamos de suas vítimas. Deu como exemplo aqueles oportunistas que dizem trabalhar para um candidato durante quatro anos, entretanto escondido durante este tempo todo só tratando de seus interesses. Falou de um monte de chupins que só querem cargos e poder, às custas da população menos esclarecida e sob a proteção de quem quer ‘segurança’ do poder para se abastecer. Ano Velho lamentou também que ao invés de armar a população com livros e leitura, as armas de fogo tiveram mais apoio e projeção. Citou as promessas que são aduladoras da boa fé do eleitor a ponto de um candidato ser eleito e ‘jogar no lixo’ todos seus votos ao aceitar a troca por um cargo no executivo. Mal acaba a apuração dos votos e o eleito então muda numa troca-troca com um cargo de confiança. Um caso como este falou que era típica corrupção eleitoral, que tem gente que ainda aplaude por não ter a devida visão de como as negociatas ocorrem antes da votação. Mas Ano Velho pediu mais um tempo para também citar a falta de cuidado para com a saúde emocional das pessoas. Se algo foi feito ficou restrito á saúde do corpo tendo os profissionais sequelas de depressão, ansiedade, estresse, insônia e similares. Enquanto o relato ia em frente parou um ônibus bem naquele ponto e alguns usuários desciam. Ano Novo xereta como sempre foi logo perguntando de que se tratava aquilo. A resposta foi de que se tratava do ônibus da Memória que tinha uma parada ali e seguia em frente no sentido da estação do Futuro. Ano Novo ficou encantando com tal cena e pediu mais explicações sobre os usuários que iam descendo do ônibus. Ano Velho foi descrevendo:


- Este de boné é a ‘memória curta’ que tem sérias limitações e não consegue então estabelecer correlações entre fatos e notícias por muito tempo. Este sujeito é de fácil manipulação pelos políticos em geral. - Aquela vestida com várias cores é a ‘memória do ego’, então egoísta como essência, só se interessando pelas coisas que possam lhe trazer algum benefício ou prazer. - Veja aquele mais apressado é o chamado ‘memória materialista’. O consumo é sua lei e o resto não interessa. Que ações de solidariedade, que nada! É do estilo de quem dá carteiradas do tipo: “Você sabe com quem está falando?” - Olhe aquele ali já é do padrão ‘deixa a vida me levar’, todo leve e solto ouvindo seu celular e sorridente. Até demonstrou gentileza ao deixar uma senhora idosa passar em sua frente. Ele é um sujeito com a tal de ‘memória rasa’ que descarta tudo ou quase tudo que passa pela mente. Nem deu tempo para outra observação e o ônibus deu em retirada rumo ao próximo ponto. O silêncio se apresentou para os dois enquanto uma mulher passou por eles com um perfume muito gostoso que contaminou o ambiente. Então Ano Novo falou: - Que perfume delicioso, você sentiu? Ano Velho deu novo sorriso e explicou para seu companheiro que se tratava do “aroma da esperança” que gerava sensações gratificantes por onde passava. Era, disse ainda, como que distribuindo mensagens positivas a cada passo. Ano Novo achou aquilo poético e lascou outra questão. - Então agora me diga qual é a receita para deixar o mundo da mesma forma que com o “aroma da esperança”? Ano Velho disse não haver receita, mas sim receitas e que todas dependiam de alguns atributos. E passou a discorrer como fosse uma aula para a construção de um futuro aromático. Disse ele que no grupo “Desbravando Direito” havia visto uma mensagem neste sentido que falava de ‘alma


nova’. Também na plataforma “O poder da mente positiva” poderia se encontrar momentos de reflexões e mentalização proativa que eram importantes para um novo jeito de viver e conviver. Convidou também o Ano Novo para dar algumas olhadinhas nos “Campos de Margaridas” que ofereciam lições adicionais e não deixou de lado nem o Projeto “Uma Mensagem Pra Você” ao sugerir que lutasse para que em cada ponto de ônibus tivesse no futuro também painéis de mensagens para as pessoas colherem. Ano Novo ficou extasiado com tantas colocações que mesmo sem anotar nada, registrou todas em detalhes na sua memória, pois assim que chegasse na estação 1º de Janeiro teria então a oportunidade de dar aquela ‘virada’ no desenvolvimento interior. Ao encerrar sua fala Ano Velho pediu para que lembrasse sempre de alguns conceitos a serem praticados: simplicidade, interatividade, reflexão, criatividade e flexibilidade. Ano Novo sorridente, satisfeito agradeceu com muito carinho ao seu interlocutor e ambos se levantaram para seguirem seus rumos. Assim feito Ano Velho chega na 31 de dezembro e acena sua despedida para seu acompanhante. Ano Novo retribuiu os acenos com sorrisos e deu os passos iniciais na estação 1º de janeiro. Lá fora um relógio marcava 00:00:01 hs. As pessoas soltavam fogos coloridos, distribuíam abraços, mensagens de bem estar, sorrisos aos montes e então uma voz silenciosa dizia: - Feliz Ano Novo para todos! De quem era esta voz silenciosa? Só poderei também contar quando também chegar na estação 1º de janeiro, para não quebrar o encanto aromático que está no ar. Tito, psicólogo email fhoo@uol.com.br


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