ONDE VIVEM AS LENDAS… lá ou aqui? Na polinésia é chamado ‘mana’: um bonito jarro pode ter „mana‟, mas isso não é simplesmente a soma do equilíbrio e artesanato que contribuíram para a sua confecção. Se o artesão conscientemente faz um trabalho especial, então ele pode ter um ‘mana’ todo seu. Se fizer isso ele poderá ser mais forte e capaz do que os outros, mas „mana‟ não é força ou inteligência e nem mesmo agilidade, não há diferença entre o ‘mana’ do jarro ou do seu fabricante ou ainda o do seu dono. Ele simplesmente faz com que cada um seja excelente em alguma forma, Isso é essência da natureza. Da mesma forma que a eletricidade é poderosa, mas não tem vontade ou propósito própria. Os índios iroqueses chamam a isso de „orenda’ e os algonguins „manitu’. Ambos o vêm como alguma coisa na natureza que desperta um sentimento de admiração o produz um entusiasmo momentâneo.
Os sioux e ogalas dão-lhes o nome de ‘wakan’. Tudo aquilo que se torna dotado de espírito e faz coisas especiais é ‘wakan’. (Trecho de “Onde vivem as lendas”, cap. “As árvores dão frutos”, de Lyall Watson). Deste texto podemos estabelecer como um leito para navegar sobre as nossas manifestações cotidianas, agora intermediadas por mídias rápidas e de extrema voracidade. Se, como um artesão for lidar com a peça original para transformá-la em uma criação única e exclusiva é possível para o artista sentir a ocorrência do citado ‘mana’ ou ‘manitu’ diante de obra acabada. Como sentimento e/ou percepção é algo subjetivo e não dá para se medir com réguas ou balanças os valores de tais constatações. Sente-se e pronto! O mesmo creio ocorrer diante de algum movimento humano que poderemos classificar com manifestações virtuais ou vivencias (reais), sejam elas individuais ou coletivas. Não vamos confundi-las com as simples postagens de colagens repetitivas, sem originalidade do autor da ação, sendo este mero repetidor de ações de autores até desconhecidos. Aqui tratamos de manifestações nas quais os autores constroem partes ou a totalidade da „obra invocada‟ pelas mentes envolvidas diretamente no processo artesanal. Na prática cotidiana podemos estabelecer um paralelo com a criação de um texto ou logotipo ou imagem que nestes casos tenta transmitir algo original; e não simplesmente reproduzir o já criado (processo típico de plágios e cópias). O sentimento da presença do ‘mana’ ou ‘manitu’ que é invisível pode ser constatado nas expressões de prazer e satisfação de um grupo ao construir uma manifestação a favor de um tema coletivo, agir na execução dos passos para o reconhecimento ou registro da manifestação em plena ação e o impacto ou resultados das ações decorrentes da manifestação original. Estou declarando explicitamente que toda e qualquer manifestação nos moldes registrados na net e nos planos vivenciais do cotidiano humano, são carregadas de energia emocional que sustentam os passos, os contatos, a rede de „flertes‟ e do encantamento para o alvo final. Tais como índios, embora supostamente armados com outras ferramentas que não sejam mais as flechas e os arcos, agora temos
outros suportes para ações em grupos e tais manifestações somente terão resultados satisfatórios se foram respeitados os princípios apregoados pelos nossos ancestrais, tais como: algo mais que vai além do equilíbrio; fazer algo original e também exercer a excelência em cada passo para a construção objeto do grupo. Mas outros itens merecer inclusão entre eles: a prática da admiração e do reconhecimento como elementos essenciais na construção, mas principalmente cabe uma ressalva que trata de um conselho tribal. Após a conclusão de sua obra de arte uma nova construção há que ser colocada como desafio para todos integrantes do grupo, pois o encantamento não está na obra de arte, mas nas ações de cada artista envolvido. Assim, para se obter ‘wakan’ ou ‘mana’ ou ‘manitu’ há que praticar a criatividade, a sensibilidade extra-sensorial e a virtude da humildade em desafiar, de forma proativa, costumes e rotinas. O sucesso ou o fracasso de nossas manifestações estão circunscritos à liquidez desta sociedade midiática, excludente, consumista, egocêntrica e massificadora que faz um homem virar mero „papagaio‟ eletrônico a serviço de quem nem está aparente ou visível, mas tem o poder de escravidão moderna nas canetas das licitações, outorgas, decretos, editais, leis, julgamentos e demais atos legais e/ou imorais. Manifestar-se com expressões como „tapa na oreia‟ ou „nóis tá com o prefeitu no churrascu‟ é atestado de uma inteligência a ser ainda considerada como vítima de processos de mandatários que assim alimentam seus valores em contas que não são compartilhadas. Ao longo do tempo tenho notado que os registros de fracassos das manifestações públicas coletivas são significativamente muito maior que os resultados de seus sucessos, estes são raros e geralmente caindo no esquecimento e da liquidez do nosso cotidiano. Assim o apelo dramático de Cabral, sobre os R$ 900,oo de salário mensal no SAAE, está condenado a cair no esquecimento coletivo dentro de 48 horas, a não ser que torne-se mote de luta de um grupo em busca da construção de projeto de lei para melhoria salarial de servidores municipais. Isto envolve vereadores, secretários municipais, servidores públicos e lideranças políticas. Todos são responsáveis pelas ações e/ou omissões. A manifestação contra a construção da Represa já está condenada a se tornar somente história, creio!
Tal fracasso tem suas razões, tem suas omissões, tem também um doentio conformismo que compromete a credibilidade de lideranças políticas, mas agora não me cabe ocupar tempo e espaço para tal diagnóstico. Esta reflexão serve também para a construção de manifestações da TAXA DO LIXO, ora em andamento e o projeto dos CARGOS DE CONFIANÇA. Então nos parece que não vivenciamos uma Democracia, mas sim uma „DemonioCracia‟, perversa que „escraviza‟ os menos favorecidos e „rejeita‟ opiniões, críticas, questionamentos contrários ás lideranças. Tito, psicólogo Autor do projeto “Uma Mensagem Pra Você”, com registro no Ministério da Cultura e indicado pelo Ministério das Relações Exteriores como único representante brasileiro na UNESCO PRIZE 2018, Paris, FRANÇA contra a intolerância e a violência.