CLIC E ENTÃO CONHEÇA O GABINETE REAL.

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TITO, psicólogo email fhoo@uol.com.br


“A verdade é um cachorro que se mete na casinha e

precisa ser chibateado para sair.” da pela teatral Rei Lear WILLIAM SHAKESPEARE

Antes de entrar nas questões palacianas me ocorre refletir sobre quem escreve, o qual deveria ser considerado como quem presta serviços públicos de forma voluntária. Sim, pois de uma forma ou de outra está prestando uma colaboração para reflexões, análises, ampliação de percepções, entre outras consequências. É claro que tal referência está vinculada a escritas temáticas, com argumentos sólidos, expondo novas alternativas sobre o pensar e agir humano, por exemplo. Não entram nestas colocações aquelas escritas chulas que mal se consegue traduzir em algo proativo, como ao escrever “tamu junto manada”, “é nóis irmão”, “viva galera”, “engole seco tchurma”, e outras expressões mais que são meros rótulos de limitações do cotidiano. Aqui “nóis mano” estamos tentando expandir pensamentos, mesmo que de forma rudimentar, mas buscando o distanciamento das paredes das cavernas da mediocridade. Então esta, com tantas outras crônicas, de milhares de autores, devem ser consideradas como prestação de serviços públicos voluntários, principalmente quando ousa revelar faces dos poderes constituídos, do comportamento humano, de rituais que nos rodeiam e assim por diante. Ian Mcewan disse: “Uma história era uma forma de telepatia.


Por meio de símbolos traçados com tinta numa página, ela conseguia transmitir pensamentos e sentimentos da sua mente para a mente de seu leitor. Era um processo mágico, tão corriqueiro que ninguém parava para pensar e se admirar. Ler uma frase e entendê-la era a mesma coisa; era como dobrar o dedo, não havia intermediação. Não havia um hiato durante o qual os símbolos eram decifrados. A gente via a palavra castelo e pronto, lá estava ele.” Com estas considerações do premiado escritor inglês Ian McEwan vamos adentrar ao reinado foco deste nosso momento. O Gabinete do Povo O prefeito de minha cidade divulgou uma proposta inovadora, inédita, sensacional, iluminada, do mais alto índice intelectual e digna de entrar nos Livros dos Recordes. Nas redes sociais disse em bom tom que nos próximos dias a população poderá agendar para atendimentos em seu gabinete, isto é o Gabinete do Povo, como o mesmo afirmou. Muito legal. Agora então o povo poderá ser atendido diretamente pelo executivo agendando um atendimento no Gabinete do Povo. Viva! Alguma coisa de errado nisto? É claro que suponho que o prefeito queira atender o povo de forma direta e assim dar maior agilidade à sua gestão. Isto não é errado não.


O erro, ou melhor, os erros estão em ‘coisinhas’ submersas na proposta conforme passo a discorrer e assim contribuir para reflexões de todos os prefeitos leitores e dos cidadãos conscientes. Os excluídos da relação anterior creio que eu não tenha a habilidade para fazê-los compreender a exposição a seguir. O paradigma do Rei No sistema de reinados ou dos imperiais os súditos eram submetidos a tratamentos inferiores, isto revelado por posturas simples como cumprimentar a autoridade até com a inclinação gestual da submissão. A serventia não recebia a visita do rei a não ser quando o impostor precisava da mão de obra dos súditos, mesmo assim eram os subalternos que vinham ‘caçar’ os serviçais. Tal como ocorre sutilmente nas eleições e somente nesta época é que os políticos vão até em córregos fedidos para buscar o apoio (mão de obra eleitoral) que se encontra na periferia. Logo após a posse dos reizinhos o povo é esquecido e jamais visitado durante os próximos três anos e meio. Depois recomeçam as visitas repetindo as outrora visitas da corriola imperial. Então a proposta Gabinete do Povo é de certa forma um engodo, que tentarei revelar para os menos atentos. “Com a roupa encharcada e a alma Repleta de chão Todo artista tem de ir aonde o povo está Se for assim, assim será”


Esta canção oração de Milton Nascimento deveria estar inscrita na Constituição Federal para ser cobrada de todos os agentes públicos, eleitos e/ou indicados. Em sã consciência quem acha que o senhor fulano de tal, morador da periferia, ganhando algo próximo do salário mínimo irá agendar com a secretária do prefeito para um dia ser atendido e então falar de sua dificuldade em obter remédio? Ou como será que a ‘senhorinha’, uma suposta servidora municipal poderá reagir ao saber desta proposta, se nem mesmo na campanha eleitoral conseguiu ser atendida nos três convites para que o então candidato visitasse sua comunidade lotada de esgoto a céu aberto, lixo por todo canto e a fome estampada nas caras das crianças? Se eu agendar uma ‘audiência’ com o prefeito para solicitar a publicação na íntegra de todos os cargos de confiança, como também de todos os servidores relacionados com os vereadores, será que serei atendido prontamente em meu pedido? Será que poderei filmar o atendimento? Será que também poderei também requerer os números dos processos judiciais sobre aqueles sete veículos do Museu e quem são os servidores arrolados no mesmo procedimento? E se não tomou nenhuma iniciativa de processar os irresponsáveis pela péssima conservação do patrimônio público posso entender que o então prefeito está prevaricando, e isto é crime? Ou sou ignorante nestes aspectos? E mais. Ou iria ser atendido quanto às informações detalhadas e claras sobre as demais 18.000 peças do museu, incluindo-se as que meu pai doou com muito prazer a aquela instituição.


Refiro-me a peças de artesanato com cipó, de autoria paterna, uma raridade hoje em dia por aqui. Aqui nem iria entrar na questão do sumiço de armas do museu que alguns falam nas calçadas do patrimônio municipal. Será que em uma audiência no Gabinete do Povo vários cidadãos poderão ser atendidos ao mesmo tempo, em uma audiência pública, como no caso de comunidades sem água e até agora sem qualquer iniciativa ou resposta condizente? E nos casos de denúncias como a do ex-prefeito Jacob, feita em entrevista na UNIFIA, durante a qual acusou o atual secretário municipal de Saúde, Fernando Cazotto. Afirmou o ex-prefeito que Fernando Cazotto, como responsável pela Beneficência Portuguesa estaria sendo conivente com o desvio de finalidades (missão) do Grêmio ao dar prioridade para o atendimento particular, embora receba subvenção do SUS. Deu a entender que o hospital dava prioridade ao convênio com uma entidade privada, sendo assim desvio ilegal e ato criminoso. Ou estou errado ao abordar esta questão? Esta denúncia foi objeto de alguma iniciativa do atual prefeito para com o seu ‘excelente’ secretário municipal de saúde, o mesmo que aplaudiu o ato ilegal da cancela hospitalar? Como será que agiria o prefeito durante um encontro do Gabinete do Povo, cenário este protegido, se algum cidadão formulasse estas e outras questões ‘apimentadas’? O Gabinete do Reizinho Se imaginarmos na prática esta proposta não é digna de mérito e muito menos de dignidade democrática.


Para melhor comparação creio oferecer ao executivo do ‘reinado amparense’ a sugestão de seguir, acompanhar, avaliar e estudar ‘o jeito’ de ser de um prefeito que está muito distante de nós. Não se trata do ex-prefeito de Colatina, que é um belo exemplo do agir político. Anote o nome de Allyson, prefeito eleito de Mossoró. Onde fica Mossoró, bem aí já é pedir demais, né? Mas Vossa Senhoria Real e se tivesse a real transparência em suas pretenções, o que até agora não me convenceu, já teria vindo a público tal como o prefeito mossoroense Allyson Leandro Bezerra Silva, isto é com simplicidade, proatividade, interatividade, credibilidade e com transparência. Entre vocês dois correm dois rios bem diferentes. Posso tecer tal afirmação, pois mesmo antes das eleições acompanho com atenção as trilhas daqui e de outras cidades. Alias uma das canções de Allyson é bem similar a que o então candidato Carlos Alberto usou para divulgar pesquisas préeleitorais. Não sei se houve plágio e de quem, mas algo estranho ocorreu. Muita coincidência no ritmo nordestino e até em algumas falas da canção; entretanto depois da posse o padrão gerencial de ambos é como as faces opostas de uma mesma moeda. Uma tem valor, a outra face só figuração. Assim que passar esta maldosa epidemia eu estimo ter a chance de estar com o Prefeito Allyson em Mossoró e claro não me esquecerei de perguntar sobre a canção pré-eleitoral com o resultado de pesquisas.


Você vem ao meu Gabinete? Tal como ir ao rei, esta proposta revela a dificuldade do gestor público em colocar na sua prática procedimentos muito mais eficazes e nada centralizadores, como pode ser revelado. Com as redes sociais em pleno funcionamento, aqui e logo em Marte, os prefeitos que estimam reinar com a plena democracia e TRANSPARÊNCIA deveriam abrir janelas na internet para que todo cidadão pudesse expor, exigir, sugerir, solicitar e apresentar suas opiniões ou propostas. Mas no Gabinete Real a coisa não fica pública, a não ser que o executivo de disponha também de transmissão em tempo real de todas as audiências e assim praticar a total e irrestrita TRANSPARÊNCIA. Por que não? A Câmara municipal faz transmissão de sessões, embora desejasse que até de que também assim agisse quanto ás reuniões e/ou audiências públicas. Então poderíamos ter páginas nas redes sociais dos secretários municipais, nas quais os cidadãos poderiam fazer suas colocações sem qualquer intermediário. Só como exemplo, com o Secretário da Saúde, Fernando Cazotto eu teria a oportunidade de saber todos os detalhes suspeitos da “ALA PSIQUIÁTRICA” do Grêmio. Questão esta que desde 2015 é item apontado nas Conferências Municipais de Saúde, envolvendo recursos em torno de um milhão de reais, sem os devidos esclarecimentos de seu funcionamento e extinção. Neste caso uma matéria publicada em 2017, no Jornal A Tribuna não recebeu nenhuma resposta ou esclarecimento,


revelando uma falta de educação e desrespeito do responsável pela presidência da BPA para com o autor da publicação. O silêncio é atestado de conivência ou de falta de competência para a sabedoria. Como autor da referida matéria apresentei a mesma formalmente uma conferência municipal da saúde, porém foi ‘engavetada’. Por esta e outras passagens é que se permite desconfiar nas ações dos gestores públicos. Será que em alguma janela virtual o prefeito e secretários iriam nos convencer das verdades e assim nos tirar de suspeitas? Toda esta exposição traz à tona a falta de credibilidade para qualquer ação centralizadora como a do Gabinete do Povo. O Gabinete do Povo não é para qualquer um, pois grande parte da população nem pretende se envolver nos cenários políticos. Também poucos serão aqueles com disposição de tempo e coragem para a proposição de questões cruciais, como a redução do número de secretarias, dos cargos de confiança, do agendamento de audiências públicas nos bairros, da eliminação do fisiologismo politiqueiro comprovado pela contratação recente de um bando de chupins. O Gabinete do Povo, escolhido por Deus. Somente alguns é que terão acesso, pois vejamos a exclusão é inerente ao se centralizar o atendimento. A população do Parque Turístico terá facilidades para deixar seus afazeres, sem renda e ainda gastar com condução (se tiver ônibus) para requerer atendimento da carência de água.


Então lá vem Milton Nascimento, que tem nome inscrito em placa no centro da cidade: “Todo artista tem de ir aonde o povo está Se for assim, assim será” Por que o Superintendente do SAAE não faz audiências públicas em toda a periferia, ao invés de lavar seu carro na autarquia? Ou será que foi uma denuncia vazia? Até o momento o prefeito não apresentou nenhuma sindicância a respeito do ‘Lava SAAE’. Seus aliados se silenciaram. Será que é necessário ter mestrado ou doutorado para agir com simplicidade e agilidade na gestão pública? Por qual razão todos os secretários não fizeram ainda um diagnóstico objetivo, detalhado e amplo da realidade urbana e rural? Já fizeram, podem publicar para conhecimento amplo? Qual a razão da centralização ao propor o Gabinete do Povo, ao invés de audiências públicas sobre saúde, educação, água, esgoto, lixo, drogas, tributos, cargos de confiança, remuneração dos servidores, indicações políticas e outras temáticas? Visão antiquada e demagógica Só posso concluir que este estilo de gerenciamento público é projeção de visões antiquadas e retrógradas. A arrogância do poder é elemento incentivador do distanciamento social. Emitir opiniões e falar para o cidadão de forma unilateral com gravações e lives é o supra sumo da idiotice para quem pretende conquistar a credibilidade plena. Os aplausos são de poucos, uma minoria ainda encantada som a dissonância do poder, sem perceber que paga muito caro


para os agentes públicos, alguns que adoram viajar para Brasília e até tirar selfies em pleno voo, enquanto os sem teto e os sem terra consomem ao lado do esgoto a céu aberto. Por qual razão não se faz? 1. Abertura de recebimento de manifestações populares através das escolas municipais e unidades de saúde, ambientes nos quais qualquer cidadão poderia formalizar seus pedidos, solicitações e/ou questionamentos. 2. Audiências públicas programadas com a presença do prefeito, vice, secretários para coleta e explicações diversas. Isto ocorrendo em toda a periferia e nas áreas rurais também. Aliás, já deveriam ter realizado tal tarefa se realmente evidenciassem um perfil pós-moderno focado no interesse coletivo. Mas às vezes me parece que o prefeito dá atenção aos contatos com aniversariantes e depois entrega como presente cargos de confiança. 3. Uso da rádio FM Cultura para transmissões ao vivo de audiências públicas ao invés de abrir espaço para programinhas com fórmulas envelhecidas, entrevistas dirigidas e nada de relevante, embora seja uma ‘rádio educativa’. 4. Criação de um sistema ‘0800’ através do qual qualquer cidadão poderá indicar necessidades coletivas ou denúncias. Tal medida iria anular o também jeito repulsivo e asqueroso, de se pedir a um vereador algo que não lhe compete, entretanto o mesmo leva ao prefeito para que então delegue ao secretário e este deixa nas mãos do diretor, que determina ao servidor as providências a serem tomadas.


Que ano nos estamos? Tem tecnologia comandando veículos em Marte e ainda estamos no século 19 da politicagem mesquinha, da qual os atores não se envergonham? 5. Ouvidoria municipal centralizadora? Não pode ser formatada para promover a acessibilidade com total transparência a favor da população? E a divulgação da mesma? Quem tem medo de tal medida?

“em nosso século todos se dividiram em unidades, cada um se isola em sua toca, cada um se afasta do outro, esconde-se, esconde o que possui e termina ele mesmo por afastar-se das pessoas e afastá-las de si mesmo.” Dostoievski Fontes consultadas https://pixabay.com/pt/illustrations/cavaleiro-ouro-dourado-metal-1598216/


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