ESTÁTUA DO ÍNDIO Praça Pádua Salles, AMPARO SP Tito, psicólogo 09/jan/2021
Quando o índio sai para a caça ele segue acompanhado pela credibilidade do sucesso. Preparou o veneno, a ponta da flecha, revisa o arco, analisa os ventos, compara a temperatura do sol, visualiza o perfil da caça, traça uma logística em torno da floresta, enfim faz aquilo que em uma tese de doutorado chama-se planejamento. Ele não fica nas redes sociais falando bobagens ou discursos chulos. Nem se sente o „douto‟ em termos de caçadas, tanto assim que aprende com os mais experientes e com a caça também. Então o índio ao atirar sua flecha mira no alvo, um pouco mais acima, estimando a curvatura do lançamento x a pressão dos ventos, mesmo que seja imperceptível para alguns de nós. Isto em alguma tese de mestrado pode se chamar “sucesso e credibilidade informal no desempenho existencial indígena segundo a visão do atirador, pois para a caça atingida foi o fracasso mortal”.
Assim também se aplicaria em outras tribos, principalmente nas classes dos políticos em geral. Claro que para as nossas aldeias contemporâneas a coisa está mais para caça fracassada que para o sucesso indígena. A 10CREDIBILIDADE se está em todos os cantos. Um vereador relata na sessão da câmara que o eleitor reclamou de ganhar somente um salário mínimo e o político ganhar cinco mil para não fazer nada na sessão. Outro destaca que a CPI do ano passado não deu em nada ou ele não sabe o que foi constado no relatório. Ressalte que este declarante era vereador naquela gestão. Nas redes sociais um eleitor comentando a mesma sessão questionava que a câmara não servia para nada e que tem vereador que ganha para ficar calado. Outro destacou duas participações como positivas e o restante condenou como „fajutos sem sal e sem pimenta‟. Estas são somente algumas das expressões captadas aleatoriamente sobre a descrença nos políticos. Fatos também alimentam. Fatos envolvendo a política também servem como combustível para a construção deste quadro negativo. Alguns dos mais recentes têm tal concepção. O prefeito em seu 1º Ato „invade‟ a propriedade particular do hospital e „arranca‟ a cancela de cobrança do estacionamento. Seu ato vira desacato às leis. Ele naquele momento revelou não ter aprendido direito lições de Direito. Seus fãs adoraram tal ato, pois teria como foco a entrada grátis para acesso à Santa Casa Anna Cintra. Mas agora ele corre até risco de processo
devido a uma „flechada‟ sem planejamento e sem logística tal como fazem os indígenas. Esta ação espetacular não resolveu o problema, mas arrumou outro maior: a credibilidade começou a ser desconstruída devido as cenas circenses. Se tínhamos a cobrança do estacionamento, agora temos a cobrança, a falta de disponibilidade de recursos financeiros do hospital segundo sua diretoria e um conflito institucional sem a devida clareza da racionalidade dos cenários. Como podem dois especialistas? Neste ato contra a cancela do hospital surgem questionamentos que passam despercebidos pelos leigos. Como pode um especialista em Direito agir com tamanha falta de plano de ação sustentado legalmente? Vai com suas próprias mãos e tira uma cancela de empresa particular que presta serviços a um hospital. Isto lembra uma postura ditatorial. E o prefeito assim agindo com o respaldo de outro advogado, então secretário de saúde que aplaude a ilegalidade institucional com sorrisos, sem atentar para as consequências judiciais. Este mesmo secretário que horas antes fez um ‘belíssimo’ discurso com uma retórica cheia de ‘licensas’, de ‘excelências’, de ‘autoridades’, contando a história da moeda de cincoenta centavos, uma oração e tudo feito sem planejamento, ‘vindo do fundo do coração’, conforme o próprio declarou. Se o discurso convenceu a maioria não temos como medir tal impacto, mas afirmamos que ao apoiar o
prefeito na ação burlesca e aplaudi-lo jogou ás traças todas as suas palavras e até a moeda de cincoenta centavos perdeu o significado proposto. A retórica e a hipocrisia formaram uma dupla em poucas horas. Como contraprova de um discurso convincente sugiro ao novo secretário de saúde assistir o de nosso conhecido, o prefeito eleito de Mossoró-RN, Allyson Bezerra, incluindo-se as suas ações iniciais na gestão municipal. Se ao assistir tal discurso achar que foi perda de tempo, lamento, mas terá sido também minha a perda de tempo ao lhe sugerir tal proposta. Este apontamento é para refletir na somatória da construção da falta de credibilidade que vai em frente, num crescente, tal como um vírus invisível. Cobrança e falta de criatividade. A cobrança do estacionamento me parece algo totalmente contraproducente, pois gera problemas para a população. Não deveria ter cobrança direta da população, mas sim poderia ter uma parceria com empresas para o uso do espaço com fins promocionais. Mas a falta de criatividade ou de uma visão proativa das gestões envolvidas fica patente, gera conflitos e alimenta a 10credibilidade. Os Sete veículos do Museu. Nem bem passam sete dias da administração e vêm os sete carros. Sete veículos, peças raras da história amparense foram descobertos em um galpão, em péssimas condições ambientais, sem o devido atendimento das normas de conservação do patrimônio histórico de qualquer aldeia civilizada ou indígena. Tudo exposto com clara depredação. Este fato denuncia claramente a gestão anterior com a
qualificação de crime contra o patrimônio históricocultural. Certamente muitos são os envolvidos na ação e nas omissões, tanto assim que os agentes públicos responsáveis deveriam ser penalizados também por prevaricação. Prefeito, vices, secretários de cultura, do turismo, do patrimônio público e até servidores públicos podem ser arrolados em processos pelos danos históricos. Até vereadores de gestões passadas poderão responder pela omissão ou prevaricação diante da „ponta o iceberg‟. Não se trata de somente sete veículos, mas sim de centenas de peças que simplesmente sumiram do acesso público sem a devida divulgação de suas existências. Então do achado das peças do museu vem o novo argumento para aumentar a descrença popular quanto ás ações dos políticos. Será que o prefeito eleito vai também á caça dos instrumentos da banda? Que tal perguntar a um ex-secretário? Que tal abrir uma sindicância interna para levantar suspeitos de conivência e/ou prevaricação? Note que estes relatos são os mais próximos de nossa realidade provocando resultados indesejáveis como o alto índice de abstenção nas últimas eleições. Até a credibilidade no prefeito eleito é questionável, pois 41 mil eleitores não declinaram seu apoio à sua candidatura.
Para seus fãs basta dizer que teve algo em torno de 15 mil votos e isto basta. É de fácil compreensão que a constituição do conceito de credibilidade é algo que se soma com diversas vertentes. Discursos por si só não bastam, seja a nível nacional, estadual e/ou municipal.
A grande massa parece estar predisposta à descrença, pois se confronta com alguns casos pontuais em nosso meio que justificam tal síndrome: - vereador com perfil violento é cassado; - ex-prefeito é taxado de mentiroso por deputado; - ex-prefeito tem promessas não cumpridas; - ex-vereador derrotado recebe cargo no SAAE; - vice-prefeito na oposição é agraciado com cargo de confiança; - instrumentos da banda somem e daí? - candidata a vereadora eleita, abandona o cargo para aceitar cargo de secretária; - empresário faz doações vultosas na campanha do prefeito e recebe cargo de confiança; - cargos diretivos não são divulgados pelo prefeito; - servidores da Guarda Municipal escolhem seu comandante, porém para os outros cargos o prefeito negou o mesmo processo, que poderia ser aplicado na saúde, na educação, nos RH, na assistência social, etc. - prefeito eleito promete transparência, mas até agora peca na aplicação deste conceito.
Aqui somente alguns dos fatos que fazem com que o eleitor diga ao vereador que não acredita em político, pois ganha somente um salário mínimo e o vereador ganha cinco mil para não fazer nada. O que não é real, mas é a crença popular.
Como reverter este quadro negativo? Que tal começar pelo jeito simples de fazer política como o executado já nestes dias pelo vereador eleito de Niterói-RJ, o Professor Túlio, que criou o gabinete de rua? Ou acompanhar o prefeito eleito Allyson Bezerra, mesmo á distância em Mossoró? É o que estou fazendo com cidadão comum. Que tal praticar com plenitude a tal TRANSPARÊNCIA tão cortejada nos tempos eleitorais? Há sete dias pedi ao um candidato da coligação eleita o plano de governo na Educação, Saúde, Cultura e Turismo que são algumas áreas de minha sintonia. Estou aguardando, acho que vem pelo correios. Enquanto a maioria dos políticos prestarem a atenção à bajulação, aos elogios sem fundamentação, aos tratamentos de ‘excelências’ travestidos de hipocrisia; em outro canto a 10DESCRIDIBLIDADE estará ganhando na caça desta selva civilizada.
Se não sabem ainda como caçar a credibilidade pode ser que seja melhor então um estágio em alguma aldeia indígena. Outra possibilidade é aprender e apreender com Ailton Krenak, líder indígena, ambientalista, filósofo, poeta e escritor brasileiro. Ailton Krenak tem credibilidade nacional e internacional. Mas cabe sim aceitar questionamentos debatendo-os com maturidade, sem silêncios covardes, sem rotulações toscas como: „é comunista‟, „é petralha‟, „é esquerdista‟, „direitista‟, „é liberal‟, „é frustrado‟, „é uma m.‟, etc.
Krenak