A FOME INVISÍVEL Cego é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria. Surdo é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Mario Quintana
Autoria Tito, psicólogo email fhoo@uol.com.br AMPARO-SP
A FOME É INCOLOR. PINTÁ-LA É BOÇALIDADE. Entre vinhos e camarões existe o tempero da fome. Invisível, pois mora do outro lado da laje. Incrível como que alguns biólogos e políticos não se deem conta de que pessoas passam fome. Um gestor descente teria como primeiro ato o combate declarado contra a fome, pois veículos não comem pão e nem tomam café. É de uma boçalidade imensurável deixar para o dia ou mês seguintes propostas para o enfrentamento da fome. A fome não está nas ruas, mas nas favelas, nos puxadinhos, na periferia, nos cômodos sem móveis, nas lajes improvisadas; mas não está nos gabinetes de vereadores, secretários municipais, vice-prefeito e muito menos junto ao prefeito. A fome não faz parte dos discursos do presidente da câmara, afinal ele não passa fome. Os famintos nem sabem de câmara municipal, secretarias, prefeitura, gabinetes, fundo social, etc e tal. Os famintos sabem da fome que assola corpo e estado mental. Até a psicologia deve prestar a atenção à fome, pois esta corrói funções mentais, em geral levando as pessoas à depressão, perda do entusiasmo, tristeza, desânimo e desencanto. Desencanto total, que vai além do desencanto aos políticos envelhecidos pela apatia e carência de projetos pontuais, objetivos, de alcance coletivo e nobre. Tapar buracos de ruas é importante, mas tapar os buracos do estomago é crucial para que o cidadão caminhe pelas ruas com autonomia. Parabenizar a mulher no dia internacional é legal, mas é hipócrita fazê-lo enquanto mulheres grandes e pequenas passam fome no Planalto da Serra. Mudar o nome da Guarda Municipal pareceu ser prioridade de um vereador, mas ele, entre outros não
perceberam a fome no Alto do Jardim Brasil ou no Santa Maria. É interessante o modo de agir político. Primeiro mata a sua própria ‘fome’ com indicações de cargos de afiliados e dos novos ‘chupins’. Contrata até filha de amigo distante para cargo importante de forma descarada. Mas não consegue cumprir promessa de campanha para o enfrentamento da fome. Cadê o cheque de R$ 200 reais prometidos durante as eleições? Cadê as famílias agraciadas com R$ 200 reais, promessa da campanha? Já estamos no terceiro mês e a fome atacando pessoas; cadê os R$ 200 reais? Eu também tenho fome. Tenho fome, não de comida, mas da decência na gestão pública em todos os seus cargos. Fome de coerência, da transparência que até agora esta tal de ‘transformação’ só transformou a ‘chupinzada’ faminta em gordos salários. A Sonia tem fome. A Maria não tem como pagar a água. Dirce não tem luz. João não tem pão. Luís não tem nem móveis. Paulo não tem emprego. O Zezinho não tem internet para estudar. A professora ganhou mais trabalho e ganha menos que vereador. O prefeito se cala, pois seus discursos são evasivos, fúteis e sem credibilidade. O prefeito não tem fome!
(continua no capítulo 3, se estiver com fome)
Não é a pornografia que é obscena, é a fome que é obscena.
José Saramago