GOLPE A VISTA: TIMÃO X POLÍTICOS Há algumas horas fui objeto de um convite inusitado. O sujeito citando meu nome, todo solícito, amigável disse que gostaria de contar comigo nesta quarta, junto com mais 30 pessoas, para assistir o jogo do Corinthians versus Fluminense.
Logo eu que torço para ambos clubes. Tem mais ainda. Ele, todo falante, sempre me chamando pelo apelido “Tito” disse que chegaríamos ao estádio ás 20 horas e logo depois da entrada teríamos a oportunidade de visitar algumas dependências, com fotos e vídeos e até talvez a chance de alguma selfie com jogadores. Tem mais ainda nesta oferta encantadora. Além do roteiro iria ter o sorteio de 5 camisas do Timão, e eu até brinquei perguntando se também teria camisa do Flu, mas o sujeito negou tal sugestão. Que pena. Então o golpe seguia em frente, pois além das camisas dois torcedores da turma, sob sorteio, teriam a chance de uma foto no final do jogo com alguns atletas e, principalmente, dar entrevistas para a TV Timão e assim ficar marcado para sempre na história do timão.
Ufa. Quanta premiação, né! Na apresentação do convite o tal de ‘Jairinho’, que também havia dito que me viu jogar e eu ri de tal depoimento dizendo que eu era um perna de pau, mas ele confirmou que ia me ver aos domingos no Floresta. Ah! Ah! Todo o script muito bem armado. Quando disse que eu teria somente que fazer a reserva da entrada e depois, durante a semana pagaria o transporte, me oferecendo assim diversas alternativas para a compra. Poderia usar pagamento via Pix, ou cartão de crédito e em último caso depósito direto em conta corrente.
Logo a seguir falou da questão da vacina, da posse de máscaras, comprovante como vacinado com a 2ª dose, documentos pessoais. Chamou a atenção para ter somente mais três vagas restantes e insistia em contar com minha participação nesta excursão futebolística.
Oh! Jairinho! Claro que diante de proposta tão encantadora mordi minha língua para não dizer sim, isto é que eu iria fazer o depósito proposto de R$ 145,oo para a entrada e camarote do Timão. Então resolvi assumir o papel de investigador de um caso policial perguntado sobre o tal ‘Jairinho’ que nunca havia me lembrado de quem se tratava. Perguntei sobre como conseguiu meu fone, sobre saber que eu era corinthiano, sobre ter sido jogador, etc, etc. Ele saia pela tangente, sempre parecendo rir e insistindo em contar comigo na operação Timão X Flu em um belo camarote. Oh! Quando fui mais persistente em obter suas informações, fone, endereço, o que fazia, etc. ele simplesmente desligou e assim perdeu mais uma vítima. Já basta ser corintiano sofredor e ainda cair no conto do vigário? Esperteza? Inteligente? Não! Nenhuma das alternativas é cabível neste caso, pois se trata simplesmente de um ‘golpe literário’, pois o fato apresentado não ocorreu.
O relato é irreal, fantasioso, sem qualquer respaldo de verdade já que trata de uma bela montagem a partir de algumas versões de golpes que caçam vítimas inocentes. Algumas destas vítimas que acabam depositando quantias significativas, como no golpe sofrido por um conhecido, próximo de casa, que há meses depositou em torno de R$ 3.500,oo na conta de um ‘sobrinho’, que alegou estar com seu carro quebrado em uma estrada próxima a cidade. Depois do depósito o ‘tio’ ficou sabendo que o sobrinho jamais havia ligado e solicitado tal quantia. Gooooooool do bandido contra a conta da vítima inocente. Esta reflexão tem também relação com outros ‘caçadores’ de inocentes vítimas para golpes que não envolvem grana diretamente, mas sim que seus votos irão se transformar em uma gorda conta bancária, se eleito. Candidatos e cabos eleitorais, alguns já em plena campanha, usam de estratégias golpistas e falaciosas para conquistar o crédito de suas vítimas.
Encanta a mente. O encantamento conta com as ferramentas da internet para atingir um público mais amplo que o de uma ligação telefônica. Alguns artigos curtos funcionam como chamariz. Congratulações então são como doces nas mãos das crianças. Até condolências são artifícios para superar a distância e a massa populacional. Como grande parcela dos eleitores são frágeis inocentes como alvos dos ‘ataques simpáticos’, então os vendedores de
ilusão usam ao máximo a criatividade para engambelar sua caça. Engambelar tem relação etimológica no Latim com “ingannare”, enganar, debochar, lograr ou zombar de alguém. Que parece ser a frequência nas relações entre os agentes públicos do nível politiqueiro com a massa de eleitores. Para engambelar com eficácia os golpistas costumam não se revelarem por completo em questões como religião, esportes, polêmicas diversas, pois evitam polarizações, já que se posicionar em um polo pode ‘ferir’ sentimentos de quem está em outra posição. É o tal garoto propaganda que divulga promoções maravilhosas, mas não fala dos custos ocultos nas ofertas dos Fridays de muitas lojas. Alguns até usam padrões de palhaços ou cuidadores para atingirem os sentimentos mais puros do eleitor. Depois de eleitos somem da praça para cuidarem de suas contas. A criatividade dos politiqueiros é um caso que merece estudo para quem sabe um dia a população ter acesso a uma espécie de manual em como depurar e investigar uma candidatura evitando assim golpes milionários. É interessante notar, por exemplo, que candidatos e mesmo até os atuais políticos não são receptivos a questões como: Fundo Eleitoral, Redução de Vagas para candidatos, Redução dos Honorários para os eleitos, Redução de Cargos de Confiança, Redução de Secretarias, Autarquias, Estatais e Ministérios; e assim por diante. Não somente se calam diante de tais temas, como muito menos agem para trazê-los em uma discussão oficial.
A omissão e o silêncio são instrumentos também usados para o marketing eleitoral, reforçando que muitos ‘cabos eleitorais’ de candidatos a deputado federal ou estadual já estão em plena ação para a caça de simpatizantes, mesmo sem falar em eleição ou em votos.
Jairinho é ficção. Lembre-se do ‘Jairinho’ que ia ver jogos onde eu estava em campo no passado. Então cuidados com aqueles que preferem bajulações, puxa-saquismo, elogios sem nexo e os melados pela hipocrisia. Se quiser pagar caro confie em tudo que se apresenta para você. Se quiser agir com alta competência como cidadão filtre tudo, pesquise, pondere prós e contra, evite sair com seu bloco na rua quando não é carnaval. Quanto ao Timão x Fluminense não sei se irei assistir, pois torcendo para ambos é como ter um sofrimento dobrado. Amparo, 13 out 2021 Tito, psicólogo