Revista Toca de Assis - Agosto 2017

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PUBLICAÇÃO DA FRATERNIDADE DE ALIANÇA TOCA DE ASSIS | AGOSTO DE 2017

Eucaristia: fonte de vocação


AGOSTO DE 2017

Índice 3

Artigo especial

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De olho na rua

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Formação

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O mundo tem saudades de Francisco

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Coração da Toca

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Benfeitoria

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Toca para a Igreja

Mãe da Igreja

Publicada por

Fraternidade de Aliança Toca de Assis CNPJ. 02019254/0001-87 Escritório São José

Rua Amador Bueno, 45, Vila Industrial Campinas/SP. CEP: 13035-030 comunicacaocentral@tocadeassis.org.br (19) 3886 -7 086

Dom Bruno Gamberini O Pastor que amou suas ovelhas e se entregou por elas. “Nomen domini benedictum”: “Bendito o nome do Senhor”. Dom Bruno Gamberini

REVISTA

SAV- Serviço de Animação Vocacional

Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento vocacional@fpss.org.br Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento sav.nacional@filhasdapobreza.com.br Revista Toca de Assis

Publicação mensal interna da Fraternidadede Aliança Toca de Assis

Prezado amigo leitor, paz e bem.

Presidente

Agosto é o mês vocacional. Tendo isso em vista, nosso “artigo especial” nos lembrará de que a Eucaristia é o centro de toda a vocação, seja esta matrimonial, religiosa ou sacerdotal.

Departamento de Comunicação

A Ecologia tem um grande destaque na Doutrina Social da Igreja (DSI). Dentre os ensinamentos desta, está uma reflexão profunda sobre o dom de intervir na natureza sem dela abusar, dado por Deus ao homem. Esse será o tema da “formação” deste mês.

Ir. Emanuel do Sacramento de Amor, fpss. Ir. Judá, Leonardo de Souza e Adora Comunicação. Editora Chefe

A coluna “mãe da igreja” nos conduzirá a uma perfeita união a Nossa Senhora. Tal união sempre será muito melhor e mais rápida se formos moldados pelo coração de Virgem Maria.

Projeto gráfico e Diagramação

O artigo “saudades de francisco” nos mostrará que o homem e a mulher não são concorrentes, pelo contrário se complementam. Isso é visível quando nos referimos a Santa Clara e São Francisco: cada um teve seu modo de viver, mas ambos seguiram o mesmo chamado de Deus na Igreja.

Ir. Judá, fpss

Adora Comunicação Católica contato@adoracomunicacao.com (43) 3064-1633 / (43) 9 9630-3031 Revisão Textual

Camila Freitas Impressão e tiragem

5.000 exemplares Colaboradores nesta edição

Ir. Emanuel; Ir. Sara; Ir. Judá; Ir. Verônica; Sidney Paco; Carol Blazi; Leonardo de Souza; Fernando Nunes; Daniel Ávila; Murilo Messias; Jusiana Keska; Junior Morimoto; Ir.Cordeiro ; Pe. Fidelis Stockl; Ir.Rosa Santa Maria; Joeber do Santos Barroso; Capa

Fotografia Registrada por alunos do Curso de Fotografia Religiosa da Adora Comunicação Católica. Modelo: Daniel Ávila. Direção Fotográfica: Ágata Suzane F. Soares, Amanda Mendonça, Karina Martins C. Lourenço e Rosangela Santos. Fotografia: Luana dos Santos Melo.

No “toca para igreja”, recordar-nos-emos de Dom Bruno Gamberini, cujo falecimento completa o sétimo ano. Além de ser um guarda da Arquidiocese de Campinas, Dom Bruno era um pai amoroso para a Toca de Assis. O “coração da toca” apresentará o testemunho da Irmã Rosa de Santa Maria, da casa de clausura. Com simplicidade, Deus a chamou para cuidar do Pobre dos pobres: Jesus Sacramentado!

**Comunicado** Nas revistas de Junho e Julho o preço da assinatura da revista Toca de Assis estava com o valor de 3 de R$120, o valor atualizado é de R$80 mensais. Na assinatura anual o valor era de R$920 e passou para R$960. A assinatura pode ser feita pelo Cartão de Crédito parcelado em 3 vezes. Boleto e depósito bancário a vista ou no carnê e débito automático em até 12 vezes. Maiores informações na arte de benfeitoria localizada na página 18. Uma boa leitura a todos! Departamento de Comunicação

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este mês, completa-se o sétimo ano de falecimento de Dom Bruno Gamberini, nomeado pelo Papa João Paulo II sexto Bispo e quarto Arcebispo da Arquidiocese de Campinas em 2 de Agosto de 2004. Em sua primeira carta à Arquidiocese, disse: “permaneci estes dias em oração confiante, de fato aterroriza-me o que sou para vós, consola-me o que sou convosco: para vós sou Bispo, convosco sou Cristão”. Com essas palavras, Dom Bruno iniciou seu pastoreio, em sua nova missão, amando todos, sempre com um belo sorriso, como se visse em cada um o Cristo escondido. Aos poucos, passou a se unir à Fraternidade Toca de Assis, dar orientações, conduzir encontros, celebrar a Santa Missa, sempre com o contentamento de quem queria ver o Deus escondido. Muito próximo a seu povo, ao celebrar, dizia que nunca deveríamos perder a “esperança” e a alegria de cuidar dos pobres e adorar Jesus. Em seus

anos finais, dedicou-se a nossa Fraternidade; tinha um carinho especial pelos pobres, que até hoje têm boas lembranças dos encontros com ele ou simplesmente de um sorriso de quem queria estar perto.

“Nunca devemos perder a "esperança" e a alegria de cuidar dos pobres e adorar Jesus” Dom Brundo Em nossa Fraternidade, deixou como testemunho seu amor à Igreja, sua fidelidade a pequenas coisas e, de modo exemplar, sua paixão por Jesus na pessoa dos pobres. Em seu período de pastoreio, aprovou nossas Constituições, em ad experimentum, nas quais decretou que “todos os membros se esforçassem no estudo e vivência da [da exortação]” . Sua fala nos incentivou à continuidade autêntica do Carisma. Ano passado, acolhemos “Chicão”, um irmão em situação de rua que

já havia estado em nossas casas e retornou para tratar de sua saúde, mas, alguns dias depois, veio a óbito. Ele chegou muito debilitado, tinha dores e quase não se alimentava. Quando nos falávamos no café da manhã, ele dizia: “Que saudades de Dom Bruno, lembro-me de quando, às terças-feiras, eu ia almoçar com ele em sua casa”. Marcou a vida desse nosso irmão, a lembrança de um Pastor que cuidava de suas ovelhas. A Fraternidade Toca de Assis é grata a Deus por tudo que Dom Bruno foi para ela e para a Igreja. O abraço dele acolheu todos como filhos nos braços do Pai. Obrigado Dom Bruno. Até o céu... Biografia de Dom Bruno: http:// santanadecampinas.org.br/biografia-de-dom-bruno-gamberini.html

ir. cordeiro filhos da pobreza do santíssimo sacramento pirassununga-sp

1- Constituições Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento, 2010. AGOSTO DE 2017 | TOCA DE ASSIS

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Jesus, Divino Amigo “Jesus [...] deu-Se-nos sem reserva, corpo e alma, virtudes, graças e méritos: [...] Ele ganhou-me todo, dando-Se todo a mim” (São Bernardo). Nossa Senhora da Natividade

idade madura? Sua Sabedoria Infinita – que tinha o desejo de glorificar a Deus, Seu Pai, e de nos salvar – não encontrou caminho mais perfeito e rápido do que vir por meio da Santíssima Virgem. Ele deu mais glória a Seu Pai nos anos de submissão e dependência de Maria do que se passasse 30 anos a fazer prodígios. Tendo esse exemplo tão lúcido e claro, seremos ainda insensatos para julgar possível outro caminho para pertencer a Deus?

No dia 22 deste mês completamos mais um ano de história! Nós viemos para servir à igreja que sempre nos acolheu, e somos imensamente felizes e gratos pelos frutos deste trabalho. Estamos apenas no começo, queremos ajudar ainda mais a igreja católica a evoluir em comunicação.

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Não existe na terra ofício mais elevado do que o serviço de Deus, o menor de todos os servos de Deus é mais rico, mais poderoso e nobre que todos os reis e imperadores do mundo, se estes não servem à Deus” (TVD , 135). Maria é a Serva do Senhor (Lc 1,38), foi a partir do “sim” de servidão Dela que o Pai, mediante o Espírito Santo, deu-nos Jesus; e, por meio Dela, Jesus Se deu inteiramente, sem reservas, para nós. Jesus, sendo Deus, encarnou-se no seio da Santíssima Virgem e lhe foi submisso, desde sua infância até seus 30 anos. Não poderia ter ele vindo diretamente ao homem em

Uma vez que nos damos totalmente a Jesus, por meio de Maria, estamos nos permitindo ser gerados no ventre materno Daquela que gerou e formou o próprio Cristo e crescer sob os cuidados e a formação Dela. Ela se dá totalmente a nós, ornamenta-nos com Seu amor, oferecendo-nos a Jesus de maneira mais perfeita. Assim como Maria, um escravo de amor busca a maior Glória de Deus, unindo-se a Ele em todos os seus atos. Não está com Deus só em seus momentos de intimidade e oração, mas é Dele o todo tempo. Seu coração pulsa e respira o perfume de Maria, que é o amor de Deus. Desse modo, ela nos concede as maiores graças e favores do Céu, a saber, as Cruzes. Mas são os filhos de Maria que levam suas cruzes com maior facilidade, mérito e glória. Quem quer viver a Santa Escravidão não deve temer seguir o mesmo ca-

minho de Jesus. Por que seríamos melhores que Ele e não receberíamos nossas cruzes? Abramo-nos para um novo caminho. O trajeto proposto é mais curto para a união com Deus. Um ano de submissão e dependência a Maria vale muito mais do que vários anos tentando caminhar segundo a própria vontade. Para seguir a indicação do Tradado da Verdadeira Devoção, é necessária liberdade interior e abandono. Entendo que o percurso mais seguro, rápido e perfeito é dado por meio da Santíssima Virgem. Uma vez trilhado, é Ela quem assume o controle sobre seus escravos, formando-nos em sua escola. Não nos serão poupadas provações nem mesmo perseguições. Mas tais obstáculos serão mais doces e suaves, pois Ela estará no pé de nossas cruzes intercedendo por nós. Neste artigo, de maneira muito resumida, conhecemos os valores aplicados no Quinto capítulo do Tratado da Verdadeira Devoção. Reforço aos leitores que busquem adquirir e ler essa obra, pois é muito mais rico ouvir o que o santo autor, Luiz Maria, diz.

fernando nunes

adora comunicação católica

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Salvaguardar o Ambiente: a ecologia “O dinheiro deve servir, e não governar!” (Evangelii Gaudium, 58) 2

dever, comum e universal, de respeitar esse bem, já que ele é destinado a todos.

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Doutrina Social da Igreja (DSI) é um corpo de ensinamentos e indicações para o fiel católico posicionar-se no mundo, em busca de um humanismo integral e solidário, da edificação de uma humanidade coerente com os valores do Evangelho. Isso beneficia a própria pessoa e suas relações consigo mesmo, com os outros, com Deus e até mesmo com o Meio Ambiente. Depois de um percurso programático de construção das bases da Doutrina Social, toca-se neste tema importante: a salvaguarda do Meio Ambiente. No atual Compêndio da DSI, dividido em três partes, apresentam-se suas bases e seus princípios: 6

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1. O Desígnio de Amor de Deus a toda a humanidade; 2. A Missão da Igreja; 3. O valor e centralidade da pessoa humana; e 4. Os princípios que a regem. Depois se indica o modo como os atores agem e as áreas de atuação – a. A Família como célula vital da sociedade; b. o Trabalho Humano; c. A Vida Econômica; d. A Comunidade Política e Internacional; e. O Meio Ambiente; e f. A Promoção da Paz. Como se vê, o Meio Ambiente e sua preservação são focos de atenção e cuidado para o fiel católico. O capítulo X do documento é dedicado às questões ambientais e intitula-se “Salvaguardar o ambiente”. Nele a Igreja faz uma reflexão

profunda e afirma que, se o homem intervém na natureza sem abusar e sem danificá-la, não o faz para a modificar, mas para a ajudar a se desenvolver segundo sua essência, a da criação, a de Deus. Realmente é o próprio Deus quem oferece ao homem a honra de cooperar com todas as forças da inteligência em Sua obra da criação (CDSI , 460). Por meio de sua perspectiva e de seu ensinamento social, usando sua influência no cenário mundial, a Igreja começou a instigar as sociedades a uma reflexão ambiental. O bem natural passou a ser defendido como um bem coletivo, cuja tutela se configura um desafio para toda a humanidade. Trata-se de um

A preservação do Meio Ambiente é uma responsabilidade que deve ainda amadurecer, com base, principalmente, na globalidade da crise ecológica e na consequente necessidade de enfrentá-la de forma plena. Enquanto todos os seres dependem uns dos outros na ordem universal estabelecida pelo Criador, “é preciso ter em conta a natureza de cada ser e as ligações mútuas entre todos, num sistema ordenado, qual é exatamente o cosmos” (CDSI, 466). A relação que o homem tem com Deus determina sua relação com seus semelhantes e com seu ambiente, eis o porquê de a cultura cristã sempre reconhecer, nas criaturas que circundam o homem, outros tantos dons de Deus que devem ser cultivados e conservados, como uma forma de gratidão ao Criador. Em particular, as espiritualidades beneditina e franciscana têm testemunhado essa espécie de unidade do Referências 1 Compêndio da Doutrina Social da Igreja. Legendas 1- Margaridas por Adora Comunicação Católica 2- Cartazes da Campanha da Fraternidade CNBB

homem com o ambiente da criação, alimentando, naquele, uma atitude de respeito e cuidado com toda a realidade do mundo circunstante. As Campanhas da Fraternidade da CNBB de 1979 (“Preserve o que é de todos”), 2004 (“Fraternidade e água”), 2007 (“Fraternidade e Amazônia”) e 2011 (“Fraternidade e a vida no pla-

A preservação do Meio Ambiente é uma responsabilidade que deve ainda amadurecer

neta”), e as várias “Romarias da Terra e das Águas”, promovidas pela Comissão Pastoral da Terra, alertam a sociedade sobre a defesa do Meio Ambiente e ressaltam a profunda conexão entre ecologia ambiental e ecologia humana. A preocupação com as questões ambientais também está presente

no Magistério; e ele tem gerado vários documentos acerca dessa temática. O mais importante deles, recentemente escrito por Papa Francisco, é a Encíclica Laudato sì sobre o cuidado da Casa Comum. O Magistério Eclesial, nesse documento e em outros, enfatiza a responsabilidade humana de preservar um ambiente íntegro e saudável a todos. A humanidade, se conseguir conjugar as novas capacidades científicas com uma forte dimensão ética, será certamente capaz de promover o ambiente como casa e como recurso, em favor de todos os homens, e de eliminar os fatores de poluição, de assegurar condições de higiene e saúde adequadas tanto para pequenos grupos como para vastos aglomerados humanos. Enfim, a tecnologia que polui pode também despoluir. A produção que acumula pode distribuir de modo equitativo, com a condição de que prevaleça a ética do respeito pela vida, pela dignidade do homem e pelos direitos das gerações humanas presentes e das vindouras.

P.e Daniel paróco da paróquia nossa senhora de fátima largo da batalha, niterói-rj

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Totus Tuus Maria

dia 1 de novembro desse ano, abandonei-me à Providência e saí ao encontro do Esposo.

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Em sua Misericórdia infinita, fui acolhida e experimentei a alegria de estar nas mãos de Deus. Na Toca, encontrei meu lugar na Igreja, junto com os pobres de Deus. Vivenciava uma realização imensa, queria ser como São Francisco e viver pelos pobres, sendo pobre com eles. Depois de um ano na Missão, passei a experimentar algo novo; ouvi as irmãs falarem que havia uma casa denominada Sacramento de Amor. Uma expressão que usavam me marcou: “Jesus Sacramentado é o mais pobre dos pobres”, pois foi abandonado, ultrajado, esquecido em tantos sacrários. Dentro de mim, ouvia Jesus me chamar para estar com Ele, alimentar-me Dele e configurar-me em sua pobreza eucarística.

“O mistério de Jesus Cristo, a sua morte e a sua ressurreição refulgem onde o amor da Palavra e a sua indestrutível força de vida se tornam experiência viva” (Joseph Ratzinger)

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ou Ir. Rosa de Santa Maria. Nasci em Moreira Sales/PR. Moro na Missão de Anápolis/ GO, na Casa contemplativa Sacramento de Amor. Vivi em um sítio com meus pais até os 18 anos. Aos 10, tive uma forte experiência com Deus. Em um sábado, sozinha em casa, peguei a Sagrada Escritura e li a narração da Paixão do Senhor. Fui tocada profundamente; experimentei um amor muito forte de Deus; era como se Jesus houvesse se entregado somente por mim. E fui impulsionada a entregar-me de modo completo a Ele. Senti-me tão amada que meu desejo era retribuir; não sabia como fazer isso, mas tinha convicção de que era isso que eu queria. Onde eu morava não havia religiosas, eu nem sabia que estas existiam. Mas, certa vez, encontrei um pequeno catecismo nas coisas de minha mãe. No fim, havia um resumo da vida de Irmã Maria Faustina Kovalska e uma foto – foi a primeira freira que vi. Compreendi que podia cumprir meu propósito consagrando-me na vida religiosa. Nesse livro, também constavam as revelações que Jesus fizera à Irmã. Estas palavras ficaram gravadas em meu coração: “todas as vezes que ouvires o bater do relógio, às três horas da tarde, deves mergulhar toda na minha misericórdia... Nessa hora conseguirás tudo para ti e para os outros”.1

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TOCA DE ASSIS | AGOSTO DE 2017

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O único modo de fazer o que pretendia era pedir para Jesus e confiar-me a Ele. No outro dia, às três horas da tarde, ajoelhei-me diante de uma estampa do Sagrado Coração e disse para Jesus o que queria. Tinha certeza de que Ele não me negaria. De vez em quando, comentava com minha mãe que eu queria ser religiosa, mas ela não compreendia. Cresci, estudei, e, quando concluí o segundo grau, meus pais mudaram-se para Campinas. Chegando lá, afastei-me um pouco da Igreja, mas o chamado de Deus dentro de mim sempre foi muito forte. Certa vez, passando em frente à Basílica Nossa Senhora do Carmo, entrei paLegenda da foto 1- Irmã Rosa de Santa Maria por Filhas da Pobreza 2- Adoração por Adora Comunicação Católica

ra rezar. Diante do Santíssimo, perguntei o que Ele queria de mim; quando saí, deparei-me com alguns jovens vestidos de marrom conversando com moradores de rua; fiquei tão tocada, senti uma alegria muito grande e tive uma certeza: é aqui que o Senhor me quer!

"Jesus Sacramentado é o mais pobre dos pobres" Busquei saber quem eram. Fiz um acompanhamento vocacional por um ano. Em julho de 2002, fiz o retiro vocacional, fui acolhida, mas não pude entrar por conta da incompreensão de meus pais. No

Em 2003, entrei na Sacramento de Amor, em Vinhedo. E, agora, escondida em Deus quero permanecer; no Imaculado Coração de Maria, viver; abandonada na Misericórdia de Deus, exercer minha missão na Igreja de interceder. Termino com uma fala de Papa Francisco feita no Centenário de Fátima: “A vida só pode sobreviver graças à generosidade de outra vida”. Creio profundamente na comunhão dos Santos. Somos sustentados pela oração de uns pelos outros. Essa é a maior obra de caridade que, como filhos da Igreja, podemos oferecer. Com gratidão, digo: Totus Tuus Maria.

ir. rosa de santa maria

filhas da pobreza do santíssimo sacramento anápolis-go

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Fotografia Registrada por Alunos Curso de Fotografia Religiosa da Adora Comunicação Católica Modelo: Herick Alencar Direção Fotográfica: Jennifer Nascimento e Roze Vasconcelos Fotografia: Everson Santos.

Eucaristia: fonte das vocações Na Eucaristia, todo fiel descobre sua vocação e recebe a força de realizá-la para edificar a Igreja.

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gosto é o mês das vocações. Neste mês, rezamos de modo particular ao Senhor para enviar operários para sua messe (cf. Mt 9, 39). Ao mesmo tempo, agradecemos pelo dom de tantas e tão diversificadas vocações que Ele concede a Sua Igreja. Cada vocação – seja esta sacerdotal, religiosa ou matrimonial – é um dom para a edificação da Igreja. Todas elas surgem no seio da Igreja. Mas qual é sua fonte? A fonte de toda a vida e missão da Igreja é, sem dúvida, a Eucaristia. São João Paulo II afirma que esta é também a fonte de todas as vocações: 10

TOCA DE ASSIS | NOVEMBRO DE 2016

Eucaristia Reflitamos sobre o mistério celebrado e vivido e sobre a relevância do preceito dominical

DEZEMBRO DE 2016 | TOCA DE ASSIS

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irmãos e às irmãs. A Eucaristia, por sua vez, é a fonte desse dom total de si, porque nos impele a viver pelos outros, a nos doar generosamente para nossos irmãos e irmãs, a nos tornar, com Cristo e como Cristo, “pão da vida” para eles. A vocação matrimonial Sem dúvida, a primeira e fundamental das vocações específicas é o chamado para o matrimônio. Pelo sacramento do matrimônio, Jesus eleva o amor humano ao nível de seu amor divino-humano e o faz participar dele. São João Paulo II exorta os esposos: 1

“A Eucaristia constitui o momento culminante no qual Jesus, no seu Corpo doado e no seu Sangue derramado pela nossa salvação, desvela o mistério da sua identidade e indica o sentido da vocação de toda pessoa de fé. De fato, todo o significado da vida humana reside naquele Corpo e naquele Sangue, porque deles nos vieram a vida e a salvação. De qualquer modo, deve identificar-se com eles a existência mesma da pessoa, que se realiza na medida em que, por sua vez, sabe fazer-se dom para os outros”.1 Eucaristia: escola de Amor A Eucaristia é o dom que Jesus faz de si mesmo: “Isto é o meu Corpo que é dado por vós... Isto é o meu Sangue que é derramado por vós!” (cf. Lc 22,19-20). Na Eucaristia, nutrimo-nos do Corpo de Cristo doado e de seu Sangue derramado e, assim, recebemos a força de nós mesmos para nos transformar em dom. Esta é nossa vocação fundamental, este é o sentido de nossa vida: ser dom para Deus e para os outros. A Eucaristia, recebida com amor e adorada com fervor, torna12

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-se, então, escola de amor que nos capacita a realizar o mandamento de Cristo: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” ( Jo 15, 12). São João Paulo II explica: “Jesus fala-nos na linguagem maravilhosa do dom de si e do amor até ao sacrif ício da própria vida. É um tema fácil? Não, vocês bem o sabem! O esquecimento de si não é fácil; ele distrai do amor possessivo e narcisista para abrir o homem à alegria do amor que se entrega. Esta escola eucarística de liberdade e de caridade ensina a ultrapassar as emoções superficiais, para se arraigar naquilo que é verdadeiro e bom; liberta do egoísmo pessoal, dispondo para a abertura aos outros; e ensina a passar de um amor afetivo a um amor efetivo, porque amar não é apenas um sentimento, mas um ato de vontade, que consiste em preferir de maneira constante o bem do próximo ao bem pessoal: ‘Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos’” ( Jo 15, 13).2 Amar significa, de fato, fazer-se dom, sem reservas, a Deus e aos

“Retornai à Eucaristia, para redescobrirdes, neste mistério de amor, a fonte e o modelo do amor conjugal e familiar e o valor da vida. Na luz da Eucaristia e com a força deste sacramento, vocês podem realizar o projeto evangélico da família: uma família que faz sua a ‘lógica do dom’, da fidelidade conjugal, da solidariedade e da sobriedade e, sobretudo, que permanece aberta à vida. [...] Seja o mistério da divina caridade a sustentar o bem incalculável do amor, a santificá-lo, a dispô-lo ao reconhecimento da vocação conjugal, dom de Deus e mistério que empenha a existência humana. A Eucaristia sustém o sacramento conjugal, gera-o e alimenta-o, assumindo no amor divino a riqueza do amor humano. Amai-vos ‘como também Cristo amou a Igreja e por ela se entregou’ (Ef 5,25): este é o programa e o dom do Senhor”.3 A vocação sacerdotal O sacerdócio nasceu juntamente com a Eucaristia na Quinta-feira Santa. Ele existe a partir da e para a Eucaristia. A vocação sacerdotal está totalmente voltada para Jesus

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Eucarístico. Para o sacerdote, sua missão mais importante é certamente a celebração do sacrifício eucarístico: “Fazei isto em minha memória!” (Lc 22,19).

nhece o sacramento do dom de Cristo e, por isso, sente que não tem outra coisa a fazer senão oferecer-se a si mesmo em troca.

O padre deve ser, como Jesus, sacerdote e vítima, aquele que oferece o sacrifício e, ao mesmo tempo, aquele que se oferece, juntamente com Jesus, como dom para os outros. Por isso, para ele, as palavras da consagração “este é meu Corpo, este é o cálice do meu Sangue” devem ser uma “fórmula de vida”. O padre não deve apenas celebrar a Eucaristia, mas também vivê-la. Todo o cumprimento de tarefas cotidianas do serviço do sacerdote é como uma extensão da Eucaristia: por meio da caridade pastoral, o sacerdote é chamado a imitar a doação eucarística de Cristo. Na Eucaristia, ele reco-

Uma coerente resposta ao dom da Eucaristia é o pleno e generoso dom de si.

Referências 1-João Paulo II, Mensagem para o 36° dia mundial das vocações (14 de Maio de 2000), 2. 2- João Paulo II, Mensagem (22 de fevereiro de 2004), 5; ORP (6 de março de 2004), 12. 3- João Paulo II, Homilia 3 de Maio de 1992, ORP (17 de Maio de 1992), p. 12, 7. 4- João Paulo II, Mensagem às Pessoas Consagradas na Jasna Góra (Polônia), 04 de junho de 1997. ORP n. 24 (14 de junho de 1994) p. 14.

A vocação religiosa Existe também uma estreita relação entre o mistério eucarístico e a vocação para a vida consagrada. A Eucaristia é, de modo particular, a fonte e a inspiração da vocação religiosa, que é uma oblação total de si, estritamente associada ao sacrifício eucarístico. São João Paulo II enfatiza: “A Eucaristia é sacrif ício e dom. Como tal, exige uma resposta digna do dom e do sacrif ício... Uma Legendas 1- Santíssimo Sacramento por Adora Comunicação Católica 2- Religiosa de Vida Contemplativa das Filhas da Pobreza por Adora Comunicação Católica 3- Família Visitando a Toca de Assis por Adora Comunicação Católica 4- Religioso de Vida Contemplativa dos Filhos da Pobreza por Adora Comunicação Católica

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coerente resposta a este extraordinário dom é o pleno e generoso dom de si, que encontra a própria expressão no cumprimento fiel dos conselhos evangélicos, isto é, em tender ao amor perfeito de Deus e do próximo”.4 Oração Senhor Jesus Cristo, Vós nos revelais nossa vocação por meio da Eucaristia, que é Vosso Corpo doado e Vosso Sangue derramado. Sabemos que nós somos chamados a “ser dom” para Deus e para os outros. Fazei-nos reconhecer de que forma podemos realizar esse “ser dom” em nossa vida. Infundi em nossos corações e, especialmente, nos corações dos jovens Vosso amor para que, segundo o modelo de Maria, possamos responder a Vosso Dom com o dom de nós mesmos. Amém.

Pe. Fidelis Stockl

Ordem dos Cônegos Regulares da Santa Cruz

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Morador em Situação de Rua – Rio de Janeiro/RJ por Adora Comunicação Católica

Entre o papelão e o cobertor

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odo ser humano nasce de um pai e de uma mãe biológica. Para saber se a família é estruturada, devemos pensar em certos fatores. Estes são afetivos, relacionais, socioeconômicos, culturais, biológicos. É uma gama de situações que mantêm uma família estruturada, citemos as principais: • Cultural-social: educação e boas maneiras são bem-vindas em qualquer lugar. Admiram-se pessoas que se destacam neste ponto. • Relacional: respeito, admiração e solidariedade são colunas de arrimo em uma família e são essenciais para a sociedade. • Econômica: esta depende dos itens anteriores e vice-versa! É vista no homem que possui renda, honra seus compromissos e usa a inteligência para se manter estável financeiramente. Mas a falta deste recurso faz as pessoas virem para a rua. Brigas entre parentes são determinantes. Conflitos às vezes não se resolvem apenas com conversa. Isso pode levar uma pessoa a sair do ambiente familiar. Os vícios em drogas lícitas e ilícitas também são características decisivas. A paciência das pessoas é variada e limitada (em termos psicológicos e relacionais). Não falarei do psicológico. Isso, segundo os especialistas, só Freud explica... Mas posso dizer que mente sã e corpo são conquistam muitas coisas.

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Jeová Jireh (O Senhor Proverá) Como o indivíduo toma seu lugar na rua? A primeira coisa que o ser humano procura em sua existência é se relacionar, fazer amizades, tendo em vista certas condições e o caráter do sujeito. Se ele é honesto e íntegro, vai se unir a semelhantes. Com estes, busca lugares para satisfazer suas necessidades mais urgentes: comer, dormir e fazer a higiene pessoal. Outros se deixam influenciar por más companhias. Resolvem as urgências por meios ilícitos. É pior quando são viciados, tornam-se vítimas do próprio vício. A justiça é implacável, não perdoa, e as consequências são trágicas! Às vezes, os moradores de rua frequentam os dois lados, com um pé aqui e outro lá. As pessoas, quando necessitam, procuram a filantropia ou o orgão público de assistência social. Usufruem de tudo que lhes é oferecido e até reclamam, sem fundamento nenhum. Tudo tem limites. Desconsideram o orgão que as ajuda e o ofendem verbal e fisicamente, vandalizam o lugar que as serve. Esquecem a virtude e a solidariedade daqueles que as auxiliam. Ingratidão! Gostaria de citar uma passagem bíblica muito sábia para os virtuosos que ajudam socialmente a população de rua. São palavras de Jesus: “Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as

pombas” (Mt., 10:16). A elaboração é um fator importante. Todo projeto, para dar certo, precisa ser pensado e organizado nos mínimos detalhes, deve ter começo, meio e fim, e sempre contar com os contratempos e as adversidades. Necessita mostrar tudo o que tem e incentivar as pessoas a buscar sua independência e liberdade, porque ninguém nasce escravo de nada, somos livres. Temos o filho e o papai do céu para nos ajudar segundo Sua vontade, basta ouvirmos Sua voz. É essencial toda a ajuda filantrópica e assistencial que há para a população de rua. Sem ela, fica difícil caminhar para uma situação melhor e sair de tal condição. Há pessoas em adversidade em todos os sentidos. Mas é o caráter nobre que vai ajudá-las a sair dessa situação! A meu ver, essa circunstância se agrava terrivelmente a cada dia. Espero que não fique pior, como em outros países. Fico pensando o porquê de não copiar o modelo econômico e financeiro de países estáveis? Neles, as pessoas estão felizes e se orgulham de ser cidadãos! Sem mais, despeço-me.

Joeder dos santos barroso (morador de rua, por enquanto!)

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Francisco e Clara , retirada da internet

“Sua Luz Ilumina suavemente” (4, CtIn)

Francisco e Clara, ilustração por Adora Comunicação Católica.

Irmão Sol e Irmã Lua

ser mais detalhista; já o homem é mais racional, instintivo e efetivo, age por impulso. O corpo do homem é mais compacto, musculoso e forte; enquanto o da mulher é menor, curvilíneo e suave. Essas diferenças são importantes, pois se complementam, um não é mais ou menos do que o outro; tais qualidades, se vividas em equilíbrio, dão ao ser humano uma personalidade estável. “Anima e Animus, na Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung, são aspectos inconscientes de um indivíduo, opostos à persona, ou aspecto consciente da Personalidade. O inconsciente do homem encontra expressão como uma personalidade interior feminina: a Anima; No inconsciente da mulher, esse aspecto é expresso como uma personalidade interna masculina: o Animus” (Wikipédia).2 Segundo Rosangela Côrrea, anima é “alma” e, “inconscientemente, é o lado feminino da personalidade do homem”. Para a autora, animus é “espírito” e, “inconscientemente, é o lado masculino da personalidade da mulher”.

A

o falarmos de São Francisco como Irmão Sol e Santa Clara como Irmã Lua, aludimos ao feminino e ao masculino. Vejamos estes exemplos: Masculino/Feminino, Irmão/ Irmã, Sol/Lua, Luz intensa/ Luz suave, Ilumina o dia/ Ilumina a noite, Maior/ Menor, Mercador (burguês)/ Dama (nobre). 16

TOCA DE ASSIS | AGOSTO DE 2017

“Um é a luz, outro é escuro. Muitas vezes através dos séculos, o masculino foi equiparado ao Sol, enquanto o feminino era unido à Lua. O masculino era o Céu claro e o feminino era a Terra, principalmente o interior escuro da Terra, de onde brota a vida. Que maravilhosa é a luz da Lua, símbolo do feminino: ela é luz, porque

ilumina, mas também é escuro porque nos protege carinhosamente. É uma luz que acaricia, mas não é débil, move até as marés” (Frei José Carlos Pedroso).1 Há uma série de oposições entre o feminino e o masculino. A mulher é mais sentimental, afetiva, intuitiva e paciente, programa-se, além de

“A lei da polaridade é uma das maiores fontes de dinâmica de nossa vida. Quando há duas forças em oposição polar, corre uma energia entre elas. Insistimos que, quando falamos em feminino, não nos referimos só as mulheres, mas também à ânima que age dentro do homem. Da mesma maneira, que, quando falamos em masculino, não pensamos só nos homens, mas no ânimus que atua dentro das mu-

lheres. Um não existe sem o outro. Um é meta, outro é passo”. (Frei José Carlos Pedroso).3

rienciar, até porque, na Idade Média, a vida religiosa feminina só era permitida na clausura.

São Francisco e Santa Clara, mesmo sem conhecer a psicologia, sabiam viver a essência de suas personalidades. Em uma profunda amizade, em Deus se completavam. Viveram uma Espiritualidade e um carisma comum de maneira muito diferente. São Francisco era a forma masculina de vivê-los; já Santa Clara era o modo feminino de os expe-

São Francisco também se influenciou por mulheres, como sua mãe, Virgem Maria e Santa Clara. Muitas vezes, quando nos deparamos com homens mais sensíveis, carinhosos, afetivos, sempre ficamos admiradas; a anima dentro deles é uma expressão maior. São Francisco, por essa influência, era um homem sensível, poeta.

Referência 1- As citações de Frei José Carlos Pedroso são provenientes de sua obra O Cristo de Clara. 2- Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Anima_e_Animus>. 3- Disponível em: <https://psicoterapiajunguiana.com/conceitos/anima-animus/>.

IR. VERÔNICA

filhAs da pobreza do santíssimo sacramento

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