PUBLICAÇÃO DA FRATERNIDADE DE ALIANÇA TOCA DE ASSIS | JULHO DE 2017
Eucaristia: Sangue de Cristo
REVISTA
JULHO DE 2017
Índice Toca para a Igreja
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Artigo especial
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Mãe da Igreja
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De olho na rua
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Formação
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O mundo tem saudades de Francisco
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Coração da Toca
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Benfeitoria
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Publicada por
Fraternidade de Aliança Toca de Assis CNPJ. 02019254/0001-87 Escritório São José
Rua Amador Bueno, 45, Vila Industrial Campinas/SP. CEP: 13035-030 comunicacaocentral@tocadeassis.org.br (19) 3886 -7 086 SAV- Serviço de Animação Vocacional
Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento vocacional@fpss.org.br Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento sav.nacional@filhasdapobreza.com.br Revista Toca de Assis
Publicação mensal interna da Fraternidadede Aliança Toca de Assis Presidente
Ir. Emanuel do Sacramento de Amor, fpss. Departamento de Comunicação
Ir. Judá, Leonardo de Souza e Adora Comunicação.
Prezado amigo leitor, paz e bem. Prezado amigo leitor, Paz e Bem!
Editora Chefe
No mês de julho, em nosso “artigo especial”, adentraremos no mistério eucarístico do Sangue de Cristo. Trataremos dessa entrega que visa nos salvar.
Projeto gráfico e Diagramação
A Igreja acredita que é possível a existência de uma Civilização do Amor. É sobre ela que discorreremos na “formação” deste mês.
Ir. Judá, fpss
A coluna “mãe da igreja” vem reforçando a Consagração à Jesus por meio das mãos da Virgem Maria. Precisamos deixar tudo a sua disposição; dores e alegrias, tudo deve ser dirigido ao coração de Maria para que Ela, por sua vez, coloque aos pés de Jesus. Adora Comunicação Católica contato@adoracomunicacao.com (43) 3064-1633 / (43) 9 9630-3031
O artigo “saudades de francisco” nos mostrará a Oração. Esta é um diálogo íntimo e amoroso com Deus, que sempre nos leva à doação total a sua vontade.
Revisão Textual
Leonardo é um seminarista em Dourados/MS. Ele conheceu a Toca de Assis ainda criança e vai nos relatar sua trajetória no artigo “toca para igreja”.
Camila Freitas Impressão e tiragem
5.000 exemplares Colaboradores nesta edição
Ir. Emanuel; Ir. Sara; Ir. Judá; Ir. Verônica; Sidney Paco; Carol Blazi; Leonardo de Souza; Fernando Nunes; Daniel Ávila; Murilo Messias; Jusiana Keska; Junior Morimoto; Leonardo Guimarães; Pe. Daniel; Ir. Maria de Deus; Dom Bernardo; Ir. Cordeiro. Capa
Capela da Casa de Noviciado dos Filhos da Pobreza em Pirassununga-SP por Tayne Zerbeto.
O “coração da toca” nos apresentará o caminho vocacional traçado pelos Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento. Suas etapas formativas têm sempre em vista que o próprio Deus Sacramentado é o formador principal. Na coluna “de olho na rua”, narraremos, por meio da voz de Irmã Maria de Deus do Imaculado Coração, um relato emocionante de um morador em situação de rua. O texto nos chamará atenção para o sensacionalismo que fazemos sobre as pessoas que vivem nessa circunstância, o qual não auxilia nem proporciona mudanças concretas. Uma boa leitura a todos! Departamento de Comunicação
A Toca de Assis em minha vocação Toca de Assis - Dourados/MS por Adora Comunicação.
O Evangelho vivido concretamente nos leva a responder com maior fidelidade ao chamado de Deus. Compreendi ainda mais o carisma do padre diocesano e o da Toca de Assis, os quais centram as ações no evangelho. Descobri um novo mundo, em que Deus habitava não só minhas preferências, mas cada coração e cada modo de ser. Aquilo que ouvia tanto das religiosas consagradas fez sentido: devemos amar Jesus, que está presente nos irmãozinhos mais necessitados. Foi uma transformação de amor.
C
hamo-me Leonardo, sou seminarista do terceiro ano de Teologia da Diocese de Dourados/MS. Desde criança sei da existência da Toca de Assis e dos institutos de vida consagrada. Isso porque minha paróquia enviou uns cinco jovens para a vida de doação e amor. Mas só me aproximei das irmãs quando entrei no seminário, em 2011. Conhecia a Toca de Assis por seu amor aos pobres em situação de rua e a Jesus Sacramentado. Isso me cativou e me fez criar grande devoção a São Francisco e São Pio de Pietrelcina, belos exemplos de doação aos mais pobres e zelo eucarístico. Tal zelo foi ao encontro de minha vocação: o amor pela Santa Missa e por Jesus Sacramentado. Quando coroinha, nutria muito carinho pela Missa, chegando a au-
xiliar o padre em todos os dias da semana. Mas esse sentimento ainda era exterior e carecia de algo. Em julho de 2011, fui convidado para conhecer a espiritualidade do Movimento dos Focolares. Participei de um encontro para seminaristas,
"Descobri um novo mundo, em que Deus habitavanão só minhas preferências, mas cada coração ecada modo de ser" tudo muito simples, mas de grande valor. Senti ali a presença de Jesus, de um jeito que nunca havia experimentado; descobri que o evangelho podia ser praticado no dia a dia e que Deus nos ama imensamente. Não conseguia me conter de tanta alegria, aquilo que me faltava foi dado para mim.
Passei a visitar o templo de adoração que temos em Dourados, sem deixar de entrar na casa de acolhida, para externar meu afeto por Nosso Senhor e também pelos que ali estão. Sou muito feliz por ter conhecido essas pessoas, que dão a vida em favor dos mais necessitados. Por conta delas, fiz a melhor escolha e tenho certeza de que esta não será em vão. Rezo sempre para que esta experiência do amor de Deus chegue ao coração de muitos jovens para que eles possam também doar suas vidas a um ideal que não passa com o tempo e para que todos os cristãos entendam a motivação de São Francisco: o Evangelho vivido radicalmente. Muito obrigado Toca de Assis!
Leonardo Guimarães seminarista diocese de dourados - mS
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Um caminho seguro Vitral do Imaculado Coração ode Maria
Quem não deu tudo não deu nada!
T
oda e qualquer proximidade com a Santíssima Virgem Maria tem por fim último amar e servir Deus; as almas consagradas devem ser solícitas no serviço. A natureza dessa devoção deve nos unir mais intimamente a Jesus Cristo; a mais perfeita de todas as devoções é aquela que nos submete a Ele. De todas as criaturas, Maria Santíssima é a mais conforme a Ele. Portanto, toda e qualquer devoção que não seja a Ela não atingirá tamanha plenitude. Com isso, a devoção que mais nos assemelha a Jesus é a devoção a sua Santa Mãe. Quanto mais uma alma pertence a Maria, mais pertence a Jesus Cristo. É por isso que a perfeita consagração se dá por meio d’Ela. É nisso que consiste tal devoção. Além do mais, essa total consagração reforça nossas promessas batismais de maneira mais eloquente. É preciso confiar a Ela tudo o que temos e somos, tudo o que fomos e ainda mais o que seremos. Em uma palavra, devemos dar tudo o que temos na ordem da natureza
e da graça. E, sem esperar recompensas por toda a eternidade, devemos ter gratidão por pertencer a Jesus, por Ela e n’Ela. A partir desse ato de consagração, damos tudo o que temos a Jesus por meio de Maria. Isso porque Ela é a administradora de tudo o que temos e somos. Mesmo que venhamos a seguir o caminho da vida consagrada, o ato de consagração por meio dos votos Evangélicos não suprime ou apaga essa devoção.
Maria se dá a quem é seu escravo por amor. Neles, oferecemos os bens de fortuna pelo voto de pobreza, os bens do corpo pelo voto de castidade, a vontade pelo voto de obediência e, às vezes, a liberdade física pelo voto de clausura. Não temos mais o direito e a liberdade de dispor dos valores das boas obras; também renunciamos, tanto quanto possível, do que o cristão tem de mais precioso e mais querido: seus méritos e suas satisfações.
Uma pessoa voluntariamente consagrada e sacrificada a Jesus por meio de Maria já não pode dispor do valor de qualquer de suas boas ações, tudo o que pensa, sofre e vive pertence à Maria. E Ela pode entregar todos seus gestos e seus sentimentos à vontade de seu Filho, sem que, todavia, essa dependência interfira, de algum modo, no estado de vida que a pessoa possa assumir no futuro. Por fim, essa consagração, quando realizada de maneira perfeita, une-nos a Jesus mediante Maria. Além disso, tem como fim último nos conectar mais perfeitamente a nosso Redentor e Deus. Reforço aos leitores deste texto que leiam o artigo IV do Tratado da Verdadeira Devoção. Com ele, terão uma visão mais ampla e completa da Obra de São Luís Maria Grignion de Monfort. Isso porque aqui a resumimos de maneira breve.
fernando nunes
adora comunicação católica
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Sobre a Comunidade Internacional A missão eclesial com vista à unidade entre os povos
O
sonho de uma convivência pacífica entre os povos sempre alimentou a esperança das pessoas, dos grupos, das nações. Realmente, esse sonho não é algo exterior ao homem, senão algo que lhe é intrínseco, que foi “plantado” em seu coração desde sua criação: “O Livro do Gênesis mostra que o ser humano não foi criado isolado, mas no seio de um contexto do qual fazem parte integral o espaço vital que lhe assegura a liberdade (o jardim), a disponibilidade de alimentos (as árvores do jardim), o trabalho (o mandato para cultivar) e sobretudo a comunidade (o dom de um colaborador semelhante a ele) (cf. Gn 6
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2,8-24)” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 428). Na busca da realização desse ideal, a Igreja – consciente do desafio que o pecado trouxe, ou seja, da divisão entre o Criador e a criatura e entre as criaturas – entende ser possível construir uma Civilização do Amor, tal qual o reino de Deus. Nessa civilização, haveria a unidade entre os povos e a pacífica relação entre as nações. Para isso, considera-se a importância de uma Comunidade Internacional. O tema de uma Comunidade Internacional foi explicitado na segunda parte da Gaudium et Spes,
que apresenta a compreensão da Igreja sobre a formação de um organismo que se coloque para além dos interesses particulares de cada nação e se preocupe com o efetivo bem comum da humanidade. Tal organização deveria se ancorar em um ordenamento jurídico que regulamentasse as relações entre as nações, em um contexto de direito internacional, tendo em vista o desenvolvimento e a convivência pacífica entre os povos. Para o pensamento social da Igreja, a comunidade internacional é juridicamente fundada sobre a soberania de cada Estado membro, sem vínculos de subordinação que lhe
neguem ou limitem a independência. Deve se embasar na centralidade da pessoa humana e na aptidão natural das pessoas, dos povos e das nações, a fim de que esses três grupos possam estreitar relações entre si, sendo estas fundadas na verdade, na justiça, na solidariedade e na liberdade: “A centralidade da pessoa humana e da aptidão natural das pessoas e dos povos a estreitar relações entre si são elementos fundamentais para construir uma verdadeira Comunidade internacional, cuja organização deve tender ao efetivo bem comum universal. A convivência entre as nações funda-se nos mesmos valores que devem orientar aquele entre os seres humanos: a verdade, a justiça, a solidariedade e a liberdade” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 433). Para essa convivência se realizar, o Direito se coloca como instrumento de garantia da ordem internacional, já que “a Comunidade Internacional é uma comunidade jurídica fundada sobre a soberania de cada Estado membro, sem vínculos de subordinação que lhes neguem ou limitem a sua independência. Conceber deste modo a comunidade internacional não significa de maneira alguma relativizar e esvaecer as diferentes e peculiares características de um povo, mas favorecer-lhes a expressão. A valorização das diferentes identidades ajuda a superar as várias formas de divisão que tendem a separar os povos e a torná-los portadores de um egoísmo com efeitos desestabilizadores” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 434). Referências CDSI: Compêndio da Doutrina Social da Igreja. Foto Jovens amigos da Toca de Assis em Londrina-PR por Adora Comunicação Católica
No entanto, para que esse Direito possa reger as relações entre culturas tão diferentes e edificar essa Comunidade Internacional, é mister reconhecer uma Lei Moral Universal, comum a todos os homens. Esta deve ir além de qualquer aspecto particularista ou bairrista. “É necessário que a lei moral universal, inscrita no coração do homem seja considerada efetiva e inderrogável como viva expressão da consciência que a humanidade tem em comum, uma ‘gramática’ capaz de orientar o diálogo sobre o futuro do mundo” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 436). Para realizar e consolidar uma ordem internacional que garanta eficazmente a convivência pacífica entre os povos, a mesma Lei Moral deve regular as relações entre os Estados. A Encíclica Centesimus annus destaca que o direito, o respeito universal e a confiança recíproca são condições necessárias para a estabilidade da vida internacional. As nações devem acatar as regras comuns confiadas à negociação e os princípios universais, como: a igualdade em dignidade de todos os povos; a unidade do gênero humano; a obrigação de cooperar para o bem comum; e, sobretudo, a recusa da guerra para superar as controvérsias, evitando-se a lei do mais forte. Tais normas devem constar nos compromissos subscritos. Diante da trágica experiência da Segunda Guerra Mundial, o Magistério da Igreja apontou alguns fatores indispensáveis para edificar uma renovada ordem internacional: a liberdade e a integridade territo-
rial de cada nação, a tutela sobre os direitos das minorias, uma divisão equitativa dos recursos da terra, a rejeição à guerra e a atuação na política do desarmamento, a observância dos pactos concordados e a cessação da perseguição religiosa. Enfim, a Igreja, como promotora da comunidade humana, acredita que é preciso implementar esforços e gestos concretos de ajuda na defesa e na proteção dos direitos dos povos e das nações por meio de uma rede de relações, com a finalidade de atingir objetivos comuns e uma efetiva cooperação de todos. Somente dessa forma poderá se realizar a esperança da mensagem cristã: “A mensagem cristã foi decisiva para fazer a humanidade compreender que os povos tendem a unirem-se não apenas em razão das formas de organização, de vicissitudes políticas, de projetos econômicos ou em nome de uma internacionalismo abstrato e ideológico, mas porque livremente se orientam em direção a cooperação, cônscios ‘de serem membros vivos de uma comunidade mundial’, que se deve propor sempre mais e sempre melhor como figura concreta da unidade querida pelo Criador: ‘A unidade universal do convívio humano é um fato perene. É que o convívio humano tem por membros seres humanos que são todos iguais por dignidade natural. Por conseguinte, é também perene a exigência natural de realização, em grau suficiente, do bem comum universal, isto é, do bem comum de toda a família humana’” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 432).
P.e daniel rocchetti vigário paroquial na paróquia nossa senhora de fátima nitério-rj
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O carisma é meu nome. O Santíssimo Sacramento é Nosso Grande Formador, mas a rua e os pobres também nos formam.
A
Fraternidade Toca de Assis contempla em si, como parte integrante de sua fundação, os Irmãos e as Irmãs consagrados. Eles entendem seu chamado e sua vocação a partir de uma sólida formação, que aprofunda seu sentido de identidade, sua experiência mística e apostólica, sua pertença ao que Deus, no Santíssimo Sacramento, sonhou para nós. Neste artigo, iremos conhecer um pouco mais do caminho formativo do Instituto masculino dos Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento. A equipe é composta por seis irmãos consagrados, os quais são responsáveis por transmitir a vocação e o espírito do carisma aos formandos, aos consagrados de Votos Simples e, de modo especial, aos que já professaram seus Votos Perpétuos neste carisma. São estes: Ir. Batista, Ir. Samaritano e Ir. Francisco (Formadores dos Aspirantes); Ir. Pedro e Ir. Belém (Formadores dos Postulantes); Ir. Cordeiro (Formador dos Noviços). Juntos, trabalham na Formação Geral dos consagrados para que estes internalizem o valor do carisma e de nossa espiritualidade eucarística, que é adoração e amor aos pobres. Cada uma dessas etapas tende a levar o Filho da Pobreza a possuir em si os sentimentos de Cristo. No ponto mais profundo de seu chamado, o Formando vai se moldando 8
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nesse afeto. Assim, o Formando e o Consagrado, que está em formação contínua, são levados a descobrir o sentimento do carisma em si, o qual envolve os sentimentos de Cristo em sua Pobreza, o Sacrifício e a Reparação, revelados todos em seu Carisma.
“A proposta do caminho formativo dos Filhos da Pobreza é esta: o carisma é o meu eu; é o nome pelo qual Deus me chamou a vida, sonhando comigo como alguém igual a Ele. É o sentido pleno da minha história e a condição para me sentir eu mesmo e
ser feliz. É o que torna definitivamente positiva a minha identidade, muito mais do que minhas várias qualidades e habilidades poderiam conseguir realizar. Esta é a verdadeira função do carisma no coração do batizado”. Um caminho educativo (e-ducere) claro faz com que os Filhos da Pobreza, conhecendo sua própria vocação, cheguem a uma total liberdade de experienciar e aprofundar a Vida Consagrada na Igreja mediante a missão de estar no meio dos pobres mais pobres, reconhe-
cendo, por intermédio deles, o que é Jesus em suas vidas e sofrimentos. Essa opção está implícita na fé cristológica, visto que os discípulos são chamados a contemplar, nos rostos sofredores dos irmãos, o rosto de Cristo, que nos invoca a servi-Lo, “porque em Cristo o grande se fez pequeno, o forte se fez fraco, o rico se fez pobre...” . Pela adoração ao Santíssimo Sacramento, a mente e o coração do Filho da Pobreza encontram no espírito Institucional uma fonte autêntica para viver sua essência on-
Referências 1 - Ratio FPSS 2 - Documento de Aparecida, oriundo da conferência episcopal da América latina e do Caribe. Legenda da foto 1 - Filhos da Pobreza durante o retiro quaresmal em Londrina-PR por Adora Comunicação Católica. 2 - Santíssimo Sacramento - Cotia/SP por Sidney Paco.
tológica. Os valores religiosos passam a ser um princípio integrador da vida, o qual reúne todo seu ser e funciona como uma espécie de filtro, que interpreta, direciona e sintetiza toda sua existência. O carisma é, portanto, um dom a ser vivido a partir da internalização. É dado a alguém para que não falte à Igreja nenhum dom da graça (1Cor 1,7). Jesus Sacramentado, nosso Deus Amado!!!
ir. cordeiro
filhos da pobreza do santíssimo sacramento
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Eucaristia: Sangue de Cristo Um Comentário “Neopatrístico”
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urante o primeiro milênio da história da Igreja, o modo mais comum de bispos e abades “fazerem teologia” era tecer comentários sobre os textos bíblicos e litúrgicos. Essa era uma maneira maravilhosa de manter unidas a inspiração bíblica, a reflexão intelectual e um estilo de vida cristão enraizado na celebração dos sacramentos. Tendo sido eu mesmo, como monge, formado nessa tradição e sendo grato por isso, gostaria de apresentar este artigo sobre o sangue de Cristo na forma de um comentário sobre a narrativa da instituição da Eucaristia tal como a encontramos na segunda Oração Eucarística. 10
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Jesus Crucificado. Casa de Nociciado dos Filhos da Pobreza em Pirassununga/SP por Tayne Zerbeto.
Eucaristia Reflitamos sobre o mistÊrio celebrado e vivido e sobre a relevância do preceito dominical
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“Ao fim da ceia, ele tomou o cálice em suas mãos, deu graças novamente”: É bonito ver que a Eucaristia era uma “Eucaristia” para o próprio Jesus, era um motivo de louvor e de ação de graças para Ele. Ele se regozijava com o fato de haver sido escolhido pelo Pai para reconciliar todo o mundo com Deus por meio de seu sangue. Jesus eleva o cálice da ação de graças. A instituição da Eucaristia é seu “Magnificat”. “E deu aos seus discípulos, dizendo, ‘Tomai, todos e bebei’”: A nova aliança que Jesus está prestes a instituir não é apenas ato seu. Uma aliança, quando genuína, é sempre bilateral. Ao tomar e beber o cálice que Jesus lhes oferece, os discípulos se tornam participantes ativos nessa aliança. Tomando e bebendo, eles entram na aliança e se comprometem a viver segundo ela. “Este é o cálice do meu sangue”: Jesus está literalmente segurando sua vida entre suas mãos, porque, segundo o Antigo Testamento, “o sangue é a vida”. Por isso era (e é) 12
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proibido para judeus beber o sangue de animais abatidos, o que torna o ato de Jesus ainda mais revolucionário. O que é central aqui é que Jesus, obedecendo ao Pai e agindo com livre consentimento, está prestes a dispor de sua vida. Em João, Jesus afirma: “Ninguém tira minha vida de mim. Eu tenho o poder de entregá-la e o poder de retomá-la”. “O sangue da nova e eterna aliança”: O “uso” ao qual Jesus dedicará seu sangue é o estabelecimento de uma relação permanente de amor e de fidelidade entre o Deus vivo e todos aqueles que virem a crer nele por meio de Jesus. Tal relação não termina com a morte, porque Deus é imortal e aqueles que creem no Senhor Jesus jamais morrerão. Ela é “nova e eterna”, porque, como veremos, remove – destrói – de uma vez por todas aquilo que alienou Deus e os seres humanos uns dos outros, aquilo que fez a humanidade cair, vez após vez, na infidelidade. Nenhuma outra aliança do Antigo Testamento jamais havia conseguido fazer isso.
“Que será derramado por vós e por todos”: Jesus oferecerá sua vida por mim, por nós. Para São Paulo, essa era a mais impressionante de todas as realidades, aquela que suscitou nele sua fidelidade absoluta ao Senhor: “Vivo na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”. O próprio Jesus, no Evangelho de João, descreve a entrega de sua vida como a suprema prova de amor, o maior amor que uma pessoa é capaz de demonstrar. “Para remissão dos pecados”: Foi o pecado que estabeleceu um abismo entre Deus e seus filhos e suas filhas, abismo este que nada foi capaz de genuína e duradouramente superar. No Antigo Testamento, Deus tentou deixar o mundo limpo do pecado mediante o dilúvio universal e a salvação de um homem justo e de sua família, mas, logo após o dilúvio, esta deu início a uma nova história de pecado e de desobediência à vontade de Deus. Ele tentou mais uma vez livrar o mundo do pecado escolhendo um povo, ao qual ensinaria a caminhar em suas
sendas; este se tornaria uma luz para as nações. Porém, no mesmíssimo dia em que lhe foi entregue a lei que revelava o caminho, o povo eleito caiu na apostasia. Os profetas sonhavam com uma “nova aliança gravada nos corações dos homens”, mas estes últimos acharam um jeito de apagar a lei inscrita, como se estivessem removendo uma tatuagem que se arrependeram de fazer. O pecado parecia mais forte do que as tentativas de Deus de eliminá-lo – mas não foi mais forte do que a tentativa final. O sangue derramado de Cristo não somente perdoa o pecado; põe um fim ao pecado. A primeira e mais importante palavra de João Batista no Evangelho de João é: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. “Tira” o pecado “assumindo-o sobre si”; tira-o eternamente absorvendo todas suas consequências através da morte na Cruz. Muitas pessoas consideram o derramamento do sangue de Cristo um “pagamento” e se perguntam: “pagamento a quem?”. Eu, particularmente, não tenho resposta à pergunta “a quem?”. Mas me regozijo com as respostas às questões “por quem?” e “para quem?”. Por quem foi pago o preço dessa redenção? Por Deus: por toda a Santíssima Trindade, cada uma das pessoas divinas agindo a sua maneira na crucifixão. Para quem? Para nós. Esse é um pensamento que nunca deveríamos deixar sair de nossas mentes. “Fazei isto em memória de mim”:
Nada precisa ser acrescentado a essa aliança. Ela é absolutamente completa. Mas seu poder transformativo deveria continuamente reverberar em nossas vidas, renovando-nos dia a dia pela celebração sacramental, que é a “re-presentação” do sacrifício salvífico do derramamento de sangue de Cristo. São Paulo nos diz que cada vez que “bebemos deste cálice” proclamamos a morte do Senhor. Essa “proclamação” é muito mais do que uma comunicação humana. Ela é carregada de poder. Proclamar a morte de Cristo dia após dia na Eucaristia é, pela graça de Deus, torná-la perpetuamente efetiva em nossas vidas. É ser ungido com seu sangue. Essa contínua lembrança do ato de Cristo deve caracterizar nossa existência católica tanto dentro
quanto fora do período da celebração litúrgica. Quarenta e cinco anos atrás, quando eu era coordenador de um grupo da renovação carismática (um fato pouco conhecido em minha biografia), meu coordenador auxiliar dizia a cada reunião: “Nós também temos que aprender a deixar nossos corpos serem partidos; nós também temos que aprender a deixar nosso sangue ser derramado”. Ele estava falando de um serviço cristão irrestrito ao próximo e ao mundo. Isso é realmente o “fazei isto em memória de mim”, que continua após o fim da Missa. E conseguimos fazê-lo porque o sangue de Cristo está dentro de nós. Tendo bebido do cálice, o sangue precioso jorra em nós para a vida eterna – para nossa própria vida e para as vidas de todos aqueles com quem vivemos.
Legenda da foto 1. Santa Missa - Casa Fraterna Bendita Árvore da Cruz por Sidney Paco. 2. Senhor dos Passos - Toca de Assis - Quito/ Equador por Adora Comunicação Católica.
dom bernardo mosteiro trapista Campo tenente - pr
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Morador em Situação de Rua por Adora Comunicação Católica
“À imagem de Deus, Ele o criou”
Moradora em Situação de Rua por Adora Comunicação Católica.
“Em nenhum caso a pessoa humana deve ser instrumentalizada para fins alheios ao seu próprio progresso” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja 133). tos. Ao ler a revista Toca de Assis, ele pediu para contribuir e ser “uma voz da rua”, gostaria de dizer como se sente em relação ao “sistema” que vivencia e como muitas pessoas e instituições se promovem às custas da miséria humana. Segundo seu relato, envolveu-se com tráfico de drogas ainda muito jovem, quando estava na universidade, foi preso, cumpriu pena. Mas, desde que conquistou sua liberdade, ainda continua aprisionado pela discriminação e pela falta de oportunidades, principalmente de emprego. “Não acredito em um sistema que não acredita em mim”, diz ele.
N
Acompanhado pela rede socioassistencial do município, recebe o Bolsa Família, que, segundo ele, é uma forma de mantê-lo onde está – na rua. Os vínculos familiares ainda fragilizados, o desemprego e a situação de rua o deixam mais vulnerável ao uso de álcool e ao delito.
Caríssimos leitores, compartilho com vocês o depoimento de um irmão, entre muitos, que vive nas ruas de Campinas/SP e sente na pele esse tipo de violação de seus direi-
Em seu depoimento, falou que muitas pessoas se aproximam dos que estão nas ruas oferecendo comida e outras coisas. Elas fotografam seus gestos para fazer postagens nas redes sociais ou publicações nos meios de comunicação; autopromovem-se em cima da miséria de quem vive em uma conjuntura de vulnerabilidade, principalmente com o intuito de receber recursos financeiros.
o mundo globalizado em que vivemos, somos “bombardeados” por tantas informações e imagens que nem temos tempo de elaborá-las e fazer uma leitura crítica delas. O uso dos meios de comunicação social tem se tornado cada vez mais sensacionalista – abusa muitas vezes das pessoas e denigre a imagem destas, colocando-as em situações constrangedoras.
Os casos mais tristes, segundo ele, envolvem aqueles que dizem “Jesus te ama” e usam a imagem dos moradores de rua para mostrar que estão fazendo o bem e publicam fotos de suas atividades. No entanto, não realizam uma ação efetiva, e estes permanecem na mesma situação. Desse modo, é destruída, para eles, a perspectiva de uma vida digna, a crença na gratuidade do amor. Diante desse desabafo, fiz um exame de consciência sobre a forma como muitas vezes usamos a imagem de nossos irmãos sem a percepção de que podemos feri-los. Com isso, acabamos maculando a “imagem” de filhos de Deus, reforçando a circunstância de violação em que vivem. Que O Senhor nos dê a graça de sermos e estarmos mais atentos para enxergar e ouvir os apelos dos irmãos de rua e a sabedoria destes para, juntamente com eles, descobrirmos o melhor caminho a ser trilhado, sem ferir sua dignidade. Que a Bem-Aventurada e sempre Virgem Maria interceda por todos nós, seus filhos, e nos ensine a amar e a respeitar a “imagem e semelhança” de Deus em cada irmão. Amém!
Ir. maria de Deus
filhas da pobreza do santíssimo sacramento
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São Francisco e a Oração “Ninguém me ensinava o que deveria fazer, mas o próprio Altíssimo me revelou que deveria viver segundo a forma do Santo Evangelho” (Test, 14).
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ada santo teve uma experiência com a oração e a definiu de certo modo. Apresentaremos a relação entre São Francisco e a oração e o sentido desta para ele a partir da própria vivência de São Francisco. Para ele, a oração é a convergência entre Deus e o ser humano. Não é só a busca por Deus. É Deus indo a nosso encontro. São Francisco nos ensina a sermos pessoas que olham para Deus, que O escutam. É sempre Ele quem toma a iniciativa. Muitas vezes, nossas orações se tornam falhas, porque não damos tempo para Deus falar. Deixemos que Ele nos conduza, pois a oração deve ser, para nós, um diálogo transformador, como foi para São Francisco. Na edição anterior, relatamos como São Francisco saiu da prisão doente. Em sua recuperação, ele buscou os lugares solitários – as montanhas, os bosques, as grutas. Sem perceber, foi chamado por Deus. Na solidão e nos momentos difíceis, ficamos mais sensíveis à atração de Deus. Isso decorre de estarmos mais fragilizados, menos armados. Nessas situações, precisamos crer que existe algo maior do que nós para termos esperança de que as dificuldades passarão. É nesse preciso instante que Deus entra, faz com que nos aproximemos e nos toca; é belíssimo esse
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TOCA DE ASSIS | JULHO DE 2017
movimento. A este, cada um deve dar sua resposta. São Francisco “esforçava-se para que ninguém soubesse o que fazia lá dentro, para que o segredo fosse causa de maior bem, e buscava só a Deus em seu santo propósito. Orava com devoção para que Deus eterno e verdadeiro dirigisse seu caminho e o ensinasse a cumprir sua vontade. Sustentava em sua alma uma luta violenta e não conseguia parar enquanto não realizasse o que tinha resolvido em seu coração” (1Cel 8-10). Em sua profunda solidão com Deus, São Francisco permitiu a transformação de sua vida. Deixouse ser conhecido e amado por Deus. Só amamos quem conhecemos, só cremos quando amamos e só reconhecemos quando amamos – assim como João só acreditou quando foi ao túmulo e só reconheceu Jesus quando este apareceu aos discípulos após a Ressurreição. A conversão não vem com um estalar de dedos, é um caminho a ser percorrido. A oração é muito importante nesse trajeto. Por meio dela, entramos em profundo diálogo com Deus, colocamos nosso coração, nossa intimidade, nossas fragilidades nas mãos d’Ele. Com a oração, aprendemos a nos colocar em nosso lugar. Tornamo-nos aqueles que precisam ser amados, porque somos pequenos e frágeis. Isso é uma grande descoberta, vivenciada intensamente por São Francisco. O que somos está dentro de nós. É em nossa interioridade, na verLegenda de foto 1 e 2 - Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento por Adora Comunicação Católica.
dade de nosso ser, que vive a real oração; nela, achamos nosso caminho com Deus. Muitas vezes não temos tempo nem lugar para orar. Precisamos, em meio a nossas atividades do dia a dia, dar esse instante para Deus em nossos corações. São Francisco exortava os frades a fazerem de seu coração seu eremitério interior para estar com Deus, “pois, mesmo que estejais caminhando, vossa conversação seja tão conveniente como se estivésseis no eremitério ou na cela, porque onde quer que estejamos ou caminhemos, temos a nossa cela conosco” (LP 80,12). Os biógrafos mostram Francisco rezando na solidão como quem conversa, canta, toca violino ou dança. A oração que vem de dentro nunca é formal. São Francisco nos deixou poucos escritos. Ele não era douto, mal sabia
escrever latim. Mas o pouco que deixou é constituído por suas orações: as que fez em suas experiências com Deus, como a Oração diante do Crucifixo, na Adoração de Jesus na Cruz; a Exortação ao Louvor a Deus; a Saudação às Virtudes; a Saudação à Mãe de Deus; a prece “Ouvi Pobrezinhas”; o Ofício da Paixão; e o “Cântico das Criaturas”, uma de suas orações mais famosas e sua última. A Oração da Paz, atribuída a São Francisco, não foi composta por ele, mas sim por uma pessoa anônima que imprimiu no verso uma figura do santo. Conhecemos bem essa oração, que descreve a vida e o modo de ser dele e ficou conhecida como a Oração de São Francisco. Impulsionados por São Francisco, tenhamos uma vida de oração e um diálogo íntimo e amoroso com Deus e aprendamos a fazer a vontade d’Ele.
IR. VERÔNICA
filhAs da pobreza do santíssimo sacramento
JULHO DE 2017 | TOCA DE ASSIS
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