Revista Toca de Assis - Outubro 2017

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PUBLICAÇÃO DA FRATERNIDADE DE ALIANÇA TOCA DE ASSIS | OUTUBRO DE 2017

Eucaristia: Sacramento da missão


REVISTA

OUTUBRO DE 2017

Índice Toca para a Igreja

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Artigo especial

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Mãe da Igreja

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Toca em Ação

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Formação

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O mundo tem saudades de Francisco

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Coração da Toca

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Benfeitoria

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Publicada por

Fraternidade de Aliança Toca de Assis CNPJ. 02019254/0001-87 Escritório São José

Rua Amador Bueno, 45, Vila Industrial Campinas/SP. CEP: 13035-030 comunicacaocentral@tocadeassis.org.br (19) 3886 -7 086 SAV- Serviço de Animação Vocacional

Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento vocacional@fpss.org.br Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento sav.nacional@filhasdapobreza.com.br Revista Toca de Assis

Publicação mensal interna da Fraternidadede Aliança Toca de Assis Presidente

Ir. Emanuel do Sacramento de Amor, fpss. Departamento de Comunicação

Ir. Judá, Leonardo de Souza e Adora Comunicação. Editora Chefe

Ir. Judá, fpss Projeto gráfico e Diagramação

Adora Comunicação Católica contato@adoracomunicacao.com (43) 3064-1633 / (43) 9 9630-3031 Revisão Textual

Camila Freitas Impressão e tiragem

Prezado amigo leitor, Paz e Bem! No mês de outubro, o Padre José Ruy Corrêa Júnior, da Diocese de Nova Friburgo/RJ, irá nos contar, no “toca para igreja”, como foi o primeiro contato com a Toca, que ocorreu mesmo antes de ele se tornar sacerdote. E revelará o quanto esse carisma foi importante em sua vida e em sua vocação. Na coluna “mãe da igreja”, não poderíamos deixar de falar dos 300 anos de Nossa Senhora Aparecida. Ela é uma grande dádiva de Deus e sua Mãe em nosso meio, a verdadeira Mãe dos Pobres. A Promoção da Paz será o tema de nossa “formação”. Em um tempo no qual está prevalecendo, segundo o Papa Francisco, a “globalização da indiferença”, há um grito mundial para que sejamos promotores da paz e do bem. O “coração da toca” trará o testemunho da Ir. Perpétua Maria do Menino Deus, da Casa Sacramento de Amor. Depois de ter sido chamada para cuidar dos pobres em situação de rua, hoje a irmã se dedica ao Pobre dos pobres, Jesus o Santíssimo Sacramento. Nosso “artigo especial” discorrerá sobre a Missão. Ele tratará do chamado de todos os batizados, o qual tem como sustento a Eucaristia.

5.000 exemplares

No “toca em ação”, louvaremos Deus pelos 10 anos de nossa missão na cidade de Macaé, no Rio de Janeiro.

Colaboradores nesta edição

O artigo “saudades de francisco” nos mostrará que ser “menor” não é somente um traço da pobreza e da humildade, mas também equivale a dar a Deus o que é de Deus e ao próximo a dignidade que merece.

Ir. Emanuel; Ir. Sara; Ir. Judá; Ir. Verônica; Sidney Paco; Carol Blazi; Leonardo de Souza; Fernando Nunes; Daniel Ávila; Murilo Messias; Jusiana Keska; Junior Morimoto; Pe. José Ruy Correia Junior; Ir. Perpétua; Pe. Fidelis; Ir. Maria Tereza; Fernando H. Moreira; Vanesca Dantas Cleide Resende; Machado da Silva; Alex Alexandrino da Silva. Capa

Irmão Rafael, FPSS. Fotografia Religiosa por Adora Comunicação Católica.

**Comunicado** Nas revistas de Junho e Julho o preço da assinatura da revista Toca de Assis estava com o valor de 12 de R$120, o valor atualizado é de R$80 mensais. Na assinatura anual o valor era de R$920 e passou para R$960. A assinatura pode ser feita pelo Cartão de Crédito parcelado em 3 vezes. Boleto e depósito bancário a vista ou no carnê e débito automático em até 12 vezes. Maiores informações na arte de benfeitoria localizada na página 18. Uma boa leitura a todos! Departamento de Comunicação


O altar nos faz um só coração Padre José Ruy em Adoração ao Santíssimo Sacramento

"Ao levar para as Filhas da Pobreza o Cristo Jesus na Santa Missa, encontro meu descanso"

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eu primeiro contato com os Filhos e Filhas da pobreza do Santíssimo Sacramento, como o da maioria das pessoas, foi pela televisão. Quando os vi, logo pensei: “São Francisco e Santa Clara voltaram para nos visitar”. Essa constatação decorreu da aparência externa, confesso. De fato, nessa época, eu nem pensava em ser padre. Mas, nesse tempo, aprendi, com a Toca de Assis, a amar Jesus Eucarístico e Jesus no irmão de rua. Lembro como, no Grupo de Oração, discutíamos o que poderíamos fazer pelo Cristo pobre nos pobres. Depois que entrei no Seminário, pude conversar pela primeira vez com duas religiosas da Toca de Assis. Algumas palavras não saem de minha memória. Uma das irmãs me disse: “Tranquei uma faculdade de medicina para entrar na Toca. Disseram que eu deveria terminá-la

para ajudar melhor os pobres, mas respondi que Deus me chamava a cuidar deles agora, como mãe e como irmã, e isso nenhuma faculdade nem ninguém poderia fazer em meu lugar”. Ali percebi também, junto com aquelas duas irmãs, em

Há algo neste Instituto que toca as fibras profundas de minha vocação um encontro diocesano na cidade de Conceição de Macabu, a beleza e a seriedade de minha própria vocação. Precisava ser sacerdote, porque ninguém poderia sê-lo por mim. Como sacerdote, sou Reitor do Seminário Diocesano e Assessor da Pastoral Vocacional há quase cinco anos. Mantenho contato frequente com as irmãs. E o que vejo? Uma verdadeira intenção de amar Deus,

o pobre sendo cuidado, o amoroso zelo pela própria vocação e Jesus continuamente adorado altar. Pergunto-me o que me aproxima tanto da Toca em todos esses momentos? Não fui chamado por Deus para este abençoado Instituto, mas há algo nele que toca as fibras profundas de minha vocação, pois pertence à vocação de toda a Igreja. Assim como as outras famílias religiosas, esses consagrados “encarnam”, por assim dizer, um aspecto preciso da vida de Nosso Senhor, e, n’Ele, todos nós nos encontramos. Fico imensamente agradecido a Deus por conhecer esta bonita parte da família de Cristo e cada dia entender melhor que “o altar de Deus nos faz um só coração”.

pe. José Ruy Corrêa Júnior novo friburgo/RJ

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Foi em 1717 que uma imagem simples e quebrada transformou a fé de um povo até receber o título de Padroeira do Brasil. Hoje, agradecemos as graças recebidas e comemoramos os 300 anos desta belíssima devoção! Viva Nossa Senhora Aparecida! Comunicação católica comprometida com a igreja e de qualidade! Profissionalize a sua comunicação! Mande um e-mail para: contato@adoracomunicacao.com Atendimento pelo WhatsApp: 43 99630–3031

Ligue em nosso escritório: 43 3064–1633 Faça-nos uma visita: R.Professor Samuel Moura, 553 - Sala 02 Vila Judith - Londrina/PR Próximo ao supermercado Cidade Canção


Virgem Mãe Aparecida Imagem Jubilar dos 300 anos - fonte: a12.com

Há 300 anos guardando e abençoando nosso povo. No ano de 1894, chegou a Aparecida um grupo de padres e irmãos da Congregação dos Missionários Redentoristas, para trabalhar no atendimento aos romeiros que acorriam aos pés da Virgem Maria para rezar com a Senhora ‘Aparecida’ das águas.

Em meados de 1717, o Conde de Assumar, D. Pedro de Almeida e Portugal, Governador da Província de São Paulo e Minas Gerais, iria passar pela Vila de Guaratinguetá, a caminho de Vila Rica, hoje cidade de Ouro Preto (MG). Convocados pela Câmara de Guaratinguetá, os pescadores Domingos Garcia, Filipe Pedroso e João Alves saíram à procura de peixes no Rio Paraíba. Desceram o rio e nada conseguiram. Depois de muitas tentativas sem sucesso, chegaram ao Porto Itaguaçu, onde lançaram as redes e apanharam uma imagem sem a cabeça, logo após, lançaram as redes outra vez e apanharam a cabeça, em seguida lançaram novamente

as redes e desta vez abundantes peixes encheram a rede. A imagem ficou com Filipe, durante anos, até que presenteou seu f ilho, o qual usando de amor à Virgem fez um oratório simples, onde passou a se reunir com os familiares e vizinhos, para receber todos os sábados as graças do Senhor por Maria. A fama dos poderes extraordinários de Nossa Senhora foi se espalhando pelas regiões do Brasil. Por volta de 1734, o Vigário de Guaratinguetá construiu uma Capela no alto do Morro dos Coqueiros, aberta à visitação pública em 26 de julho de 1745. Mas o número de fiéis aumentava e, em 1834, foi iniciada a construção de uma igreja maior (atual Basílica Velha).

Referências 1- CANÇÃO NOVA. Nossa Senhora da Conceição Aparecida: Padroeira do Brasil. In:______. Santo do dia. Cachoeira Paulista, 2013. Disponível em: <https://santo.cancaonova.com/santo/nossa-senhora-da-conceicao-aparecida-padroeira-do-brasil/>. Acesso em: 21 ago. 2017.

O Papa Pio X em 1904 deu ordem para coroar a imagem de modo solene. No dia 29 de abril de 1908, a igreja recebeu o título de Basílica Menor. Grande acontecimento, e até central para a nossa devoção à Virgem, foi quando em 1929 o Papa Pio XI declarou Nossa Senhora Aparecida Padroeira do Brasil,com estes objetivos: o bem espiritual do povo e o aumento cada vez maior de devotos à Imaculada Mãe de Deus” 1. Em 12 de Outubro de 2017, comemoramos os 300 anos de Nossa Mãe. A família Toca de Assis, com grande júbilo, celebra essa data. Queremos depositar aos pés d’Ela nossa vida, a de todos os nossos irmãos em situação de rua e a dos leigos, dos amigos, dos simpatizantes e de todos aqueles que fazem parte desta família. Gratidão, querida mãezinha! No próximo mês, continuamos o estudo sobre o tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem.

fernando nunes

adora comunicação católica

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A promoção da Paz “Senhor fazei de mim instrumento de tua paz!” 1

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Igreja preocupa-se com a paz no mundo. A paz é um bem de todos e se origina em Deus. Além de ser um dom de Deus, é um atributo próprio d’Ele ( Jz 6, 24). É fruto da justiça da lei Divina (GS 78) e da caridade fundada sobre a correta concepção da pessoa humana (CDS 494). Deus ordenou a Moisés que assim abençoasse seu povo: “o Senhor volva o seu rosto para ti e te dê a paz!” (Nm 6, 26). Os Anjos que anunciaram a chegada do Salvador desejavam “paz na terra aos homens” (Lc 2, 114). Jesus enviou seus discípulos 6

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em missão e pediu para saudarem as casas com a paz (Mt 10, 11). Depois de ressuscitar, exclamou aos apóstolos: “A paz esteja convosco!” ( Jo 20, 19). Em cada ação litúrgica e, especialmente, na Eucaristia, “a Igreja luta pela paz com a oração”1 (DSI 519). O Papa Francisco (2017) recomenda oração pela paz diante destes pontos: “terrorismo; criminalidade; ataques armados imprevisíveis; abusos sofridos pelos migrantes e as vítimas de tráfico humano”, a tudo isso o Papa chamou de “guerra mundial aos pedaços”. A violência mediante a guerra é “a falência de todo

autêntico humanismo” (DSI 497), e fazer violência por religião “é uma profanação do nome de Deus”. Há 50 anos, Papa Paulo VI instituiu o Dia Mundial da Paz para intensificar a oração pela paz e o compromisso com esta. As mensagens pontifícias por essa ocasião “constituem uma rica fonte de atualização e de desenvolvimento da doutrina social” (DSI 520). No primeiro ano de pontificado do Papa Francisco, a mensagem com o tema “fraternidade, fundamento e caminho para a paz” reflete a raiz de toda a fraternidade contida na Paternidade de Deus.


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A Fraternidade é essencial para o homem, o ser relacional, que, ao ser indiferente com Deus, concretiza a “pobreza relacional”, a qual o Papa chama de “‘globalização da indiferença’ que lentamente nos faz ‘habitar’ ao sofrimento alheio, fechando-nos em nós mesmos”2. A Fraternidade é o “cimento” para construir a paz em toda a sociedade - na família, no trabalho, na política, na economia, na comunidade internacional. “Homens e mulheres são chamados a colaborar na educação para a fraternidade universal que aliás, em última análise, consiste na educação para a paz na complementaridade das diferentes sensibilidades e das funções próprias de cada um”.3

exemplo de paz para o mundo e para as religiões, sinal disso são os encontros em Assis do Santo Padre com os líderes religiosos. Recordemos alguns fatos da Vida de São Francisco: encontro com o Sultão no Egito, que ficou comovido com as palavras do Santo e o ouviu de

Nascia em mim um amor esponsal por Jesus, um amor de pertença

Em outubro, celebramos nosso pai espiritual, São Francisco, ele é

boa vontade (1Cel 57) 4; pacificação, por meio da oração e da bênção de Deus, em Arezzo, que estava em guerra interna; e fraternidade com os “irmãos ladrões” que esmolavam aos freis - para converter tais irmãos, São Francisco pediu para os freis

Referências 1 - Mensagem do dia Mundial da Paz de 2017, n.2. 2 - Mensagem do dia Mundial da Paz de 2014, n. 1. 3- Papa Francisco, discurso no dia 7 de junho de 2017. 4- Biografia de São Francisco exposta no primeiro livro de Tomás de Celano.

Legenda da foto 1- Escultura de São Francisco de Assis, Toca de Assis - Equador por Adora Comunicação Católica. 2- Jovens e Religiosos dos Institutos Filhos e Filhas da Pobreza - Cotia-SP por Adora Comunicação Católica.

lhes servirem o melhor alimento enquanto os evangelizavam (LP 90). A paz deve ser uma constante conquista! Para ser edificada, iniciemos em nós próprios um constante domínio das paixões, porque “a vontade humana é frágil e ferida pelo pecado”. Depois, salvaguardemos o bem dos outros e comuniquemos a eles as “riquezas do próprio espírito e talento”. Os pacíficos serão chamados “filhos de Deus” (Mt 5, 9). Enquanto outras bem-aventuranças prometem bens espirituais, a paz coloca o homem em relação mais pessoal com Deus. Os que a promovem são filhos de Deus, por isso, irmãos entre seus semelhantes. Sejamos missionários, levando a paz de Deus por meio de nossa fraternidade com todos os filhos do Pai Celeste.

ir. sara maria filha da pobreza do santíssimo sacramento anápolis/go

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Chamastes-me Senhor: aqui estou! “O desejo, de ver-te adorado, tanto invade o meu coração que eu quisera estar noite dia aos teus pés, em humilde oração”

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resci em uma família que não frequentava a igreja, mas tinha os valores cristãos. Meu pai reunia os filhos para ler a Sagrada Escritura. Acredito que a semente entrou por aí, lembro-me de esperar por esse momento. Recebi os sacramentos, mas vivi muito tempo longe de Deus e da Igreja. Apenas na juventude, em 1995, pela insistência de um amigo, passei a frequentar um grupo de jovens. Neste, durante anos, vivi experiências muito bonitas, mas me faltava algo, meu coração ansiava por algo que eu não sabia explicar. Havia uma inquietação que apenas se pacificava quando estava diante do Santíssimo Sacramento; quanto mais me sentia inquieta, mais ia para perto de Jesus. Um dia, um amigo me convidou para conhecer um convento em minha cidade. Quando a irmã nos atendeu, senti algo estranho dentro de mim, uma mistura de medo e alegria. Ela nos levou à capela, e lá recebi o chamado, a palavra que veio a meu coração foi: “Chegaste onde desejo que fiques”. Jesus me chamava, era algo muito forte. A partir daí fazia tudo pensando nisso. Primeiro, fiz acompanhamento nessa congregação. Ainda em tempo de discernimento, conheci a Toca por meio da Canção Nova, e fiquei muito tocada com o amor com que cuidavam dos pobres, fiquei

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encantada com a alegria que os irmãos e as irmãs expressavam por serem de Deus! Busquei conhecer o carisma e cada vez mais me sentia atraída a ele. No grupo de jovens, começamos a fazer pastoral de rua semanalmente e, enquanto esperava o retiro vocacional, fui à prefeitura de minha cidade, com dois amigos, pedir um lugar para abrigarmos os pobres, pois voltar para casa e os deixar nas ruas era muito difícil! Conseguimos esse local e começamos a cuidar dos pobres, morávamos, no abrigo, com eles. Rezávamos e adorávamos o Santíssimo em uma igreja próxima. A adoração e o amor aos pobres alimentavam, em meu coração, o desejo da entrega total a Deus. Na adoração, sempre dizia para Jesus: “Que nada me separe de seu amor!”.

No abrigo, fiquei até 6 de janeiro de 2001, quando entrei para o Instituto. Vivenciei o carisma com os pobres durante seis anos, com muita alegria. Em 2003, ouvi falar da Casa Sacramento de Amor e do modo como os sacerdotes viviam essa entrega total a Jesus. A forma como viviam as irmãs dava nome aos desejos mais íntimos de meu coração, mas foi um discernimento difícil, pois não compreendia como fui chamada ao carisma por meio dos pobres e como estava sendo impelida a estar só com o Senhor! Aos poucos, fui descobrindo em Jesus a Face mais Pobre entre todos os pobres! Em 2007, experienciei, na Sacramento, que a vida contemplativa não era um lugar com paredes, mas um local dentro de mim, e mais do

Legendas 1-Ir. Perpétua Maria do Menino Jesus na Casa Sacramento Amor, Palmas/TO 2-Ir. Perpétua Maria do Menino Jesus na Canção Nova - Cachoeira Paulista/SP

que um espaço, uma Pessoa! Entendi, então, o que diz Santo Agostinho: “Fizeste-nos para Ti e nosso coração permanecerá inquieto enquanto não repousar em Ti!”. Jesus era mais do que íntimo de mim, estava em mim, dentro de mim! Na vocação contemplativa, encontrei o sentido mais profundo do Amor! Há nove anos vivo minha vida na Sacramento de Amor, entrego-me a Jesus, levando para diante d’Ele os clamores e os louvores da humanidade, dos pobres e da Igreja! Aqui oferto meu sim em cada dia e desejo dizê-lo até o último dia de minha vida. Em cada sim ofertado, lembro-me de meu chamado e respondo sempre com a graça de Deus: “Tu me chamastes Senhor! Aqui Estou!”.

Ir. Perpétua Maria do Menino Deus

Casa Sacramento de Amor, Palmas/TO

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TOCA DE ASSIS | NOVEMBRO DE 2016

1- Irmão Rafael,FPSS. Fotografia Religiosa por Adora Comunicação Católica.


Eucaristia: Sacramento da missão “A celebração do Sacrifício Eucarístico é o ato missionário mais eficaz” (São João Paulo II)

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Celebração Eucarísta por Adora Comunicacação

o quarto domingo de outubro, a Igreja celebra o Dia Mundial das Missões. Por isso o mês todo tem um cunho missionário. A Igreja nos lembra que todos os batizados são chamados a ser missionários. Em geral, a Crisma, por celebrar a maturidade cristã, é considerada o sacramento da missão. Um cristão maduro não pode se contentar com o benefício da graça da filiação divina, mas deve querer partilhar o dom que recebeu.

Eucaristia Reflitamos sobre o mistério celebrado e vivido e sobre a relevância do preceito dominical

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De onde vem esse ardor, o desejo de ser missionário? “O amor de Cristo nos impele” (2 Cor 5,14), diz São Paulo, o maior missionário entre os apóstolos. Sem dúvida, o amor de Cristo, presente e vivo na Eucaristia, é a fonte de todo o dinamismo missionário. É de Jesus Eucarístico que os missionários recebem sua energia espiritual e a coragem de fé para seu serviço à Igreja e à humanidade, bem como a fortaleza para levá-lo até o fim. Eucaristia: fonte e força da missão “Assim como o Pai me enviou, eu vos envio!” ( Jo 20, 21). A missão dos Apóstolos é continuar a missão de Cristo. A tarefa do missionário é: fazer a obra de Deus com a força de Deus como Jesus fez. Por isso, ao dar o mandato missionário, Jesus prometeu a seus discípulos: “Eis que estou convosco todos os dias até o f im do mundo” (Mt 28, 20). Na Eucaristia, ele se fez nosso companheiro de caminhada e nossa força para a missão. Unidos a Cristo, o 12

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qual recebemos na Eucaristia, somos capazes de anunciá-lo e fazer o que Ele fez. Pois a Eucaristia é a fonte da missão e sua força.

Quem encontra Cristo na Eucaristia, não pode deixar de proclamar seu amor. O Sacrifício Eucarístico: o ato missionário mais eficaz “Todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que venha” (I Cor 11, 26). Com tais palavras, São Paulo recorda aos cristãos de Corinto que a “Ceia do Senhor” não é apenas um encontro de convívio, mas também – e acima de tudo – o sacrifício redentor de Cristo e, por isso, o maior evento missionário que existe, pois contém o princípio da salvação para todos e é sua perpétua fonte. “A celebração do Sacrif ício Eucarístico é o ato missionário mais

eficaz que a ComunidadeEclesial pode realizar na história do mundo” 1, diz São João Paulo II. Quando pensamos bem na Santa Missa, entendemos mais profundamente nossa vocação missionária, pois o Sacrifício eucarístico é oferecido pela salvação de todos os homens. Por consequência, a participação interior e consciente na Santa Missa aumentará nosso desejo de que toda a família humana entre na luz da fé. Seremos inspirados a levar o Evangelho de Jesus Cristo a todos aqueles que ainda não O conhecem. Nada poderá demonstrar melhor nosso amor por Jesus eucarístico do que o trabalho de evangelização, especialmente entre os pobres e os mais necessitados. A ação missionária: continuação da Santa Missa A Santa Missa termina com as palavras significativas “Ite, missa est!”. Infelizmente, a versão portuguesa (“Vamos em paz e o Senhor nos acompanhe!”) não é fiel ao sentido original.


Qual é seu significado verdadeiro? Ite (Ide) resume o mandato missionário do Senhor (Mt 28, 19), missa est se refere ao sacrifício de Cristo que foi consumado ( Jo 19,30) e, assim, “enviado” (=missa) ao Pai. Portanto, o significado das palavras finais da Missa é: Ide evangelizar na força do sacrifício consumado. De fato, a missão da Igreja brota do sacrifício de Cristo e é sua continuação. São João Paulo II comenta: “No final de cada Santa Missa, quando o celebrante se despede da assembléia com as palavras ‘Ite, missa est’, todos devem sentir-se enviados como ‘missionários da Eucaristia’, para difundir em cada ambiente o grande dom recebido. Com efeito, quem encontra Cristo na Eucaristia, não pode deixar de proclamar com a vida o amor misericordioso do Redentor. [...] Como poderia a Igreja realizar a sua vocação sem cultivar uma relação constante com a Eucaristia, sem se nutrir deste alimento que santifica, sem se fundamentar sobre esta base indispensável para sua ação missionária? Para evangelizar o mundo, são necessários ‘peritos’ na celebração, adoração e contemplação da Eucaristia”2. Evangelizar a partir da Eucaristia Sendo a Eucaristia a fonte e o vértice da missão da Igreja, a evangelização se realiza com mais eficácia se tiver como centro a celebração digna e a adoração fervorosa da Eucaristia. Trata-se de evangelizar a partir da Eucaristia. Ela deve ser o centro de toda a atividade missionária para irradiar sua força Referências

1- JOÃO PAULO II. Alocução na audiência geral de 21 de junho de 2000. L’Osservatore Romano, Vaticano, 24 jun. 2000. Edição portuguesa. 2- JOÃO PAULO II. Mensagem para o dia mundial das missões de 2004 (29 de abril de 2004),3; L’Osservatore Romano, Vaticano, 1 maio 2004. Edição portuguesa. 3- JOÃO PAULO II. Homilia no dia 15 de maio de 1988. L’Osservatore Romano, Vaticano, 22 maio 1988. Edição portuguesa.

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sobrenatural para todos os focos de evangelização, catequese e ações caritativas. São João Paulo II nos encoraja a ser como Maria e, unidos a ela, a tornar-nos missionários na força da Eucaristia: “‘Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda criatura’ (Mc 16, 15). [...] Na Eucaristia perpetua-se a morte e ressurreição do Senhor. Nela se faz presente a força do Espírito Santo que nos impele a ser testemunhas de Cristo para anunciar sua mensagem salvífica a todas as nações. A Eucaristia [...] é sacramento

da missão, do envio. Dela brota a missão [...] de todo o Povo de Deus. Ide, pois, alimentados e sustentados pela Eucaristia! Ide com Maria, a Mãe de Jesus! Permanecei com Ela em oração assídua (cf. At 1, 14)! Ela é a Mãe da Igreja nascente e, depois da Ascensão do Filho, o seu papel maternal continua na Igreja para nos amparar com seu amor. Ide e que não vos faltem coragem nem paciência, que não vos faltem humanidade e constância. Que não vos falte a caridade!”.3

Legenda das fotos

1- Celebração Eucarística por Adora Comunicação Católica. 2 - Retiro de Leigos por Fraternidade Toca de Assis.

Pe. Fidelis Stockl

Ordem dos Cônegos Regulares da Santa Cruz

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Macaé: 10 anos de missão Filhas da Pobreza em Macaé

"Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível” (São Francisco de Assis)

Irmã Maria Tereza

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este mês de outubro, com grande alegria, venho escrever-lhes sobre nossa casa na cidade de Macaé, região litorânea do estado do Rio de Janeiro. Situada no território da diocese de Nova Friburgo, a casa acolhe mulheres que se encontravam em situação de rua, todas provenientes do referido estado. Estamos em festa, pois, neste ano, 2017, completamos 10 anos de missão. Esta se iniciou com o acolhimento masculino, feito sob a responsabilidade de nossos irmãos, Filhos da Pobreza. Após um ano, 14

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assumimos o cuidado da missão, que passou a se voltar para o acolhimento feminino. E, em 2010, houve a mudança da identidade para Casa Fraterna Nossa Senhora Mãe dos Pobres.

recadação financeira a um momento para proporcionar às pessoas um encontro com nossa espiritualidade e nosso carisma, daí surgiu a chamada Noite Franciscana, que já está em seu quarto ano.

Com a graça de Deus e o apoio das comunidades paroquiais, dos benfeitores, dos voluntários e dos amigos que nos auxiliam de diversas formas, experimentamos o resgate de histórias, a reconstrução da identidade e da autonomia e, sobretudo, a liberdade de ser e de se expressar portando em si a alegria de viver. Durante esses anos, realizamos vários eventos para o auxílio com os gastos de manutenção e projetos. Foram jantares, vendas de pães, artesanato, tapioca recheada e realização de festas juninas. Mas, em 2014, percebemos que ainda faltava um evento que pudesse unir a ar-

Todo o mês de outubro, celebrando nosso querido patrono São Francisco, reunimo-nos para realizar a Santa Missa. Em seguida, confraternizamo-nos com barraquinhas de comidas típicas e música ao vivo. Além disso, sempre fazemos um teatro e provemos uma palavra que destaque os ensinamentos desse grande santo. Expressamos aqui nosso agradecimento a todos que contribuem com essa obra e acreditam nela. Com o testemunho de vocês, renovamos a esperança de que corações generosos salvarão o mundo.


Placa de entrada da Toca de Assis, por Adora Comunicação Católica

te quereria São Francisco de Assis! Ali, vive-se a comunhão fraterna, testemunha-se o amor de Cristo. Que Deus possa sempre guiar os passos dessas meninas – permitam-nos assim nos referirmos às Irmãs da Toca – e que essa Obra siga sempre além, num misto de adoração a Deus e amor aos mais desamparados. E que nós possamos estar junto com elas!

Cleide Resende Machado da Silva e Alex Alexandrino da Silva

Fernando H. Moreira e Vanesca Dantas

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á mais ou menos quatro anos, levando o Padre Gleison, às terças-feiras, para celebrar a Santa Missa na Toca de Assis, tivemos nosso primeiro contato com essa casa, com essa maravilhosa obra, com essas meninas e também com as senhorinhas das quais elas, com tanto amor, alegria e entusiasmo, tão bem cuidam! E lá se foram quatro anos! De lá para cá, o entusiasmo delas na radical vivência do Evangelho só foi nos contagiando, levando-nos a, por vezes, sentirmo-nos pequenininhos diante de mulheres que, em sua humildade e simplicidade, agigantam-se em sua fé e em seu cotidiano de trabalho e oração... E não mais largamos a Toca! A Vanesca, recém-chegada à Igreja, depois de uma longa caminha-

da nos trilhos do Kardecismo, também não teve como escapar dessa teia de amor que exsurge do trabalho da Toca de Assis. Hoje nos orgulhamos de fazer parte da linda família que é a Toca de Assis em Macaé. Que nos chamem de toqueiros ou do que quer que seja, temos orgulho de o ser! E só temos a agradecer muito às Irmãs da Toca por tudo o que têm feito por nós, mesmo que não saibam o quanto. A simples oportunidade de ali estar, de poder frequentar a casa, já é um privilégio. Dizemos, então: obrigado! É inegável: ali vive-se o Evangelho! E nós podemos ver isso nos pequenos detalhes: no carinho e na paciência que as Irmãs têm com as acolhidas, na forma como tratam seu próximo, no modo como vivem em comunidade, na impressionante igualdade e respeito entre todas, independentemente do papel que possam ter na Casa. Enfim, há um clima de alegria na pobreza, sem qualquer mínimo resquício de avareza ou cobiça – tal como certamen-

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azer uma experiência de Deus consiste em se abrir à ação do Espírito Santo que “sopra onde quer”. Quando tal tentame se concretiza em sua vida, o resultado é a graça abundante de um Deus que ama ao extremo. Há mais ou menos 15 anos, fizemos esse grande experimento, ao ouvir o convite de uma jovem para conhecer a realidade da Toca de Assis. Desde então, temos sentido em nosso seio familiar os cuidados desse Deus amoroso e compassivo, que derrama seu Espírito velado nos cuidados das Irmãs da missão de Macaé. Com elas, temos a oportunidade de viver a máxima de São Francisco de Assis: “Pois é dando que se recebe”. Convivendo com a alegria da entrega diária desses Filhos e Filhas da Pobreza é que passamos a entender o quanto age esse Espírito auferindo graças quando o despojamento é sincero e total. Gratidão, eterna gratidão, aos Filhos e Filhas da Pobreza.

filhas da Pobreza e leigos da toca missão macaé

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São Francisco, Irmão Menor “E quem é o maior entre eles faça-se como o menor” (RnB 5,12) Pintura de São Francisco, por Tommaso da Celano

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ideia de minoridade atrela-se à guerra entre Assis e Perugia, na qual São Francisco foi preso. Esta foi uma luta entre classes sociais. Os nobres se denominavam “maiores”, apesar de boa parte deles, a qual incluía a família de Santa Clara, ter sido exilada. Os outros cidadãos eram designados “menores”. O adjetivo menor ia muito além da distinção social, que não era central para os frades. Ao se considerar menor, São Francisco se foca no próprio Cristo, que se fez pobre e pequeno no presépio, na cruz e na Eucaristia; a minoridade, para o Santo, faz-se no dia a dia: “Irmãos caríssimos, o Filho de Deus era muito mais nobre e se fez pobre por nós neste mundo. Por seu amor, nós escolhemos o caminho da pobreza; não nos devemos envergonhar de pedir esmolas” (2 Cel 74- 2,3). Esses irmãos não tinham nome. A primeira titulação, “Penitentes de Assis”, oficializada por volta de 1215, não agradava São Francisco, porque não refletia a identidade deles. Os bens materiais e os obstáculos influenciam o ir e vir. Mas devemos compreender a diferença de confiar nos bens ou nos irmãos. A estrutura financeira não garante o cuidado e o afeto para um doente. O que dá segurança é a mão que se estende a seu lado; e esses freis davam alegria, mesmo que nada tivessem. 16

TOCA DE ASSIS | OUTUBRO DE 2017


Flores Franciscanas por Josep Benlliure

Por que tais irmãos eram felizes? Porque viam a alegria nas coisas simples e partilhavam seu interior, sua vida, o contento que brota do real convívio. Quanto mais árduos forem os desafios, mais precisamos da oração e das ações listadas. Honrar-se é tratar o outro com respeito e dignidade. A melhor maneira de curar as feridas é ter instantes fraternos. O apoio recíproco para levar a causa é muito importante; aqueles que estiverem se desgarrando devem ser “trazidos”. Minoridade, quantas vezes São Francisco usou essa palavra? Nunca utilizava só o adjetivo menor, São Francisco era muito objetivo. Qual a conotação principal dela? É a solidariedade. O Santo não fala apenas da dimensão ascética desses termos. A solidariedade é o compromisso permanente com o outro; é o amor e a solidez; e inclui a com-

paixão e a misericórdia, um dar e receber que não ocorre na mesma proporção e natureza.

A pobreza franciscana, não é negar os bens nem os desprezar, é restituir. Minoridade = Humildade e Pobreza. Um dos grandes traços da pobreza franciscana e da minoridade, ou seja, da não apropriação, é a restituição: “bem-aventurado o servo que devolve todos os bens ao Senhor, porque quem guarda alguma coisa para si esconde em si o dinheiro do Senhor seu Deus (Mt 25,18) e o que julgava ter, vai ser tirado dele” (Admoestações 18, 2). Nas Admoestações, São Francisco exorta o ato de restituir: a pessoa, sua dignidade e seu direito de ser

Referência 1- VAUCHEZ, ANDRÉ. "Francisco de Assis, entre história e memória"

acolhida como é, o que está muito além da restituição material. “Bemaventurado o homem que suporta o próximo segundo a sua fragilidade naquilo em que gostaria de ser suportado por ele, se o seu caso fosse parecido” (Admoestações 18,1). O ser menor, a pobreza franciscana, não é negar os bens nem os desprezar, é restituir. Deus é o grande esmoler, Ele dá tudo, e nós temos a honra de ser os pobres que recebem e partilham. Que São Francisco nos ensine, neste mundo onde todos querem ser maiores, a sermos aqueles que sabem seu lugar diante de Deus. Saibamos dar e partilhar o que recebemos d’Ele, restituindo para aqueles que nada têm muito mais do que comida e bebida. Partilhemos nós mesmos! É isso o que fez São Francisco ser menor.

IR. VERÔNICA

filhA da pobreza do santíssimo sacramento

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