PUBLICAÇÃO DA FRATERNIDADE DE ALIANÇA TOCA DE ASSIS | DEZEMBRO DE 2017
A Encarnação do Verbo
DEZEMBRO DE 2017
Índice 3
Artigo especial
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Toca em Ação
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Formação
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O mundo tem saudades de Francisco
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Coração da Toca
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Publicidade
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Toca para a Igreja
Mãe da Igreja
Publicada por
Fraternidade Toca de Assis CNPJ. 02019254/0001-87 Escritório São José
Rua Amador Bueno, 45, Vila Industrial Campinas/SP. CEP: 13035-030 comunicacaocentral@tocadeassis.org.br (19) 3886 -7 086
Cristo, o Senhor da História “O Senhor da majestade” se tornou nosso irmão (2 Cel 198). Ilustração por Adora Comunicação Católia
REVISTA
SAV- Serviço de Animação Vocacional
Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento vocacional@fpss.org.br Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento sav.nacional@filhasdapobreza.com.br Revista Toca de Assis
Publicação mensal interna da Fraternidadede Aliança Toca de Assis
Prezado amigo leitor, Paz e Bem!
Presidente
Ir. Emanuel do Sacramento de Amor, fpss. Departamento de Comunicação
Ir. Judá, Leonardo de Souza e Adora Comunicação. Editora Chefe
Ir. Judá, fpss Projeto gráfico e Diagramação
Adora Comunicação Católica contato@adoracomunicacao.com (43) 3064-1633 / (43) 9 9630-3031 Revisão Textual
Camila Freitas Impressão e tiragem
5.000 exemplares Colaboradores nesta edição
Ir. Emanuel; Ir. Sara; Ir. Judá; Ir. Verônica; Sidney Paco; Carol Blazi; Leonardo de Souza; Fernando Nunes; Daniel Ávila; Murilo Messias; Jusiana Keska; Junior Morimoto; Pe. Daniel Rochetti; Filhos da Pobreza e Leigos; Pe. Fidelis Stockl; Obra Lúmen. Capa
Ilustração por Adora Comunicação Católica.
No mês de dezembro, nosso “artigo especial” trata da estreita relação entre a encarnação do Verbo e a Eucaristia, na qual Deus eterno se dá em alimento. A “Civilização do Amor” é o tema de nossa “formação”. Todos os cristãos são chamados a participar desse projeto da Doutrina Social da Igreja por meio de sua real vivência do Evangelho de Cristo. Na coluna “mãe da igreja”, chegamos ao final dos artigos direcionados à Consagração Total a Jesus Cristo por meio da Virgem Maria. Tendo em vista a Solenidade da Imaculada Conceição, desejamos que todos possam se consagrar nesse belíssimo método. O artigo “saudades de francisco” tem como tema a Paz. Nestes tempos natalinos, esta é uma palavra corriqueira em nosso vocabulário. O que é a verdadeira Paz? De onde ela vem? Francisco de Assis não só a viveu, mas também foi seu portador, seguindo as pegadas do Divino Mestre, o Príncipe da Paz. O “coração da toca” nos mostra uma experiência vivida por nossa Missão em Fortaleza/CE: o “Natal dos Pobres”. Com esse evento, procuramos levar a experiência do Natal e do nascimento do Menino Jesus aos moradores em situação de rua. “Com Deus, tem jeito” é o nome do artigo “toca em ação” desta edição e também de um evento voltado para os moradores em situação de rua. Este começou na Fazenda Esperança de Guaratinguetá/SP, em 2016, e, com a graça de Deus e o esforço de várias comunidades, tem levado o Evangelho da Salvação a muitos irmãos necessitados.
Uma boa leitura a todos! Departamento de Comunicação
Q
ueridos irmãos e irmãs em Cristo, a cada novo dia somos convidados a pensar em nossas vidas e nas coisas que nos circundam, mas nem sempre nos damos conta do dom sobrenatural da presença de Cristo no meio de nós. Isso porque são muitas as coisas que nos dispersam do essencial. É, portanto, com alegria que anunciamos esta verdade, para nós, cristãos, tão cara: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Esse acontecimento se dá na história quando, em Belém, uma Virgem dá a Luz a um menino divino. Esse fato ultrapassa a própria história quando esse menino, compartilhando de nosso mundo, torna-se o Senhor da História. S. Francisco, na Segunda Carta a todos os fiéis, relata: “Esta Palavra do Pai foi tão digna, tão santa e tão gloriosa, o altíssimo Pai a enviou do céu por meio de seu santo anjo Gabriel ao
útero da santa e gloriosa Virgem Maria, de cujo útero recebeu a verdadeira carne da nossa humanidade e fragilidade. Ele sendo rico (2Cor 8,9) acima de todas as coisas, quis neste mundo, com a beatíssima Virgem, sua Mãe, escolher a pobreza. (2Ctfi). Assim: ‘o Senhor da majestade’ se tornou nosso irmão (2 Cel 198)”.
solto na história e passará a ser um norte na história de nossas vidas. Sendo assim, que se dobre diante dele todo o joelho e que, nesta noite de luz, noite feliz, dobremos nosso coração, curvemos nossa razão, tantas vezes vazia de transcendência, e contemplemos a esperança que nos é dada pelo amor.
É encantador perceber que o Criador do Céu e da Terra, o Senhor da História, fez-se semelhante a nós. Participando de nossa natureza humana, ele nos enriquece com sua pobreza. Sua presença em nosso meio cura, restaura, conforta, protege e salva.
A família Toca de Assis deseja a todos um Santo e Feliz Natal! Que, neste ano que se encerra, possamos contemplar a Luz da Providência Divina, a qual não nos abandona e nos guarda sempre de todo o mal, e, assim, confiar nela também neste próximo ano que se inicia. Suplicamos a todos graças abundantes diante do Senhor Deus Sacramentado!
A salvação alcançada por Cristo está intimamente ligada a esse mistério que o trouxe até nós na Encarnação. Por isso somos interpelados a encarná-lo em nossa história e a seguir seus passos. Desse modo, o Natal deixará de ser mais um dia
Fraternidade Toca de Assis
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A Imaculada Conceição Nossa Senhora das Graças
“Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3, 15). privilégio de Deus Todo Poderoso e em virtude dos méritos de Jesus Cristo, salvador do gênero humano, a bem-aventurada Virgem Maria foi preservada de toda a mancha do pecado original no primeiro instante de sua conceição, foi revelada por Deus e deve, por conseguinte, ser crida firmemente e constantemente por todos os fiéis” (Tm, p. 305).
Nesse seio Imaculado seremos gerados como Escravos por amor!
É
chegado o grande dia daqueles que se prepararam conosco para a consagração total a Nossa Senhora. Hoje, muitos tomarão de maneira mais profunda à graça de pertencer a descendência dessa Mulher e de consolar o coração de Deus.
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Em 8 de dezembro de 1854, o Papa Pio IX declarou como dogma de fé a doutrina que ensina que a Mãe de Deus foi concebida sem mancha por um especial privilégio divino. Na Bula “Ineffabilis Deus”, o Papa diz: “Nós declaramos, decretamos e definimos que a doutrina segundo a qual, por uma graça e um especial
No seio virginal de Virgem Maria, segundo S. Luiz, Deus preparou o “paraíso do novo Adão” (TVD , n. 18). E é nesse seio Imaculado que seremos gerados como Escravos por amor! Salve Maria!
fernando nunes
adora comunicação católica
Imaculada Conceição
Concluímos exatamente no dia 8 de dezembro, nesta data sublime, nossos artigos sobre o maravilhoso método de São Luís Maria. Que Deus abençoe a todos que farão, neste dia ou neste mês, seu ato de consagração!
Hoje é também uma data de grande alegria para nossa Igreja. É dia da Imaculada Conceição, o dia em que a Igreja proclama o dogma de que a Virgem Maria foi concebida sem pecado.
É de notar que, em 1476, a festa da Imaculada foi incluída no Calendário Romano. Outro fato significativo foi a publicação, em 1570, de um novo Ofício, feita pelo Papa Pio V. Nesse documento, esse evento foi formalizado. Por fim, em 1708, o Papa Clemente XI estendeu a festa a toda a Cristandade e a tornou obrigatória.
Por uma Civilização do Amor
A solidariedade é “um dos princípios basilares da concepção cristã da organização social e política. Tal princípio é iluminado pelo primado da caridade, ‘sinal distintivo dos discípulos de Cristo’ ( Jo 13,35). O comportamento da pessoa é plenamente humano quando nasce do amor, manifesta o amor e é ordenado ao amor” (580).
O horizonte concreto da Doutrina Social da Igreja é a edificação do Reino de Deus 1
Assim, “o amor deve estar presente e penetrar todas as relações sociais [...]. Este amor pode ser chamado ‘caridade social’ ou ‘caridade política’ e deve ser estendido a todo o gênero humano” (581). Ora, para que a sociedade se torne mais humana, o amor deve ser “a norma constante e suprema do agir” (582). Com a caridade, “respeita[-se] o outro e os seus direitos. Exige[-se] a prática da justiça, e só ela [a caridade] nos torna capazes de praticá-la. Inspira-nos uma vida de autodoação (Lc 17,33)” (583).
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ros Biondini canta o sonho de uma Civilização do Amor. Esse sonho é um projeto de Amor da Doutrina Social da Igreja. O compositor diz: “É hora de despertar [...] / Construir [...] a civilização do amor / Apresentar Jesus ao mundo [...] / Dizer que Ele é puro amor / E tudo pode renovar [...] / Então no rosto sofrido / Felicidade haverá, haverá / Comunhão de todos no mesmo espírito e a paz acontecerá!” Nesses versos, todos são conclamados a emanar o Amor Encarnado e a edificar o Reino de Deus. Neste ano, conhecemos a Doutrina Social da Igreja. Ela propõe que caminhemos “para uma civilização 6
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do amor”. Indica que a Igreja deve ajudar o homem a voltar a ter, com fé em Cristo, a esperança de construir a “Civilização do amor” (575-583 ). A Igreja reconhece que “revelam-se árduas as tentativas de responder à exigência de projetar o futuro no novo contexto das relações internacionais” (575). Por isso busca “ajudar cada ser humano a descobrir em Deus o significado último da sua existência” (576). “A fé em Deus e em Jesus Cristo ilumina os princípios morais que são o único e insubstituível alicerce [...] que pode gerar e salvaguardar a prosperidade dos Estados” (577). Não se pode aceitar a existência de “uma
fórmula mágica para os grandes desafios do nosso tempo; não será uma fórmula a salvar-nos, mas uma Pessoa, e a certeza que Ela nos infunde: ‘Eu estarei convosco!’” (577). “A Igreja ensina ao ser humano que Deus lhe oferece a real possibilidade de superar o mal e de alcançar o bem. [...] A promessa divina garante que o mundo não permanece fechado em si mesmo, mas está aberto ao Reino de Deus” (578). Com isso, a esperança cristã infunde “conf iança na possibilidade de construir um mundo melhor [...]. Os cristãos [...] são exortados a comportar-se de modo que a força do Evangelho resplandeça na vida quotidiana, familiar e social” (579).
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Referências Parágrafos do Compêndio da Doutrina Social da Igreja. Legenda das fotos 1- Mãos unidas por Jacob Ammentorp Lund 2- Pastoral de Rua, Rio de Janeiro/RJ por Adora Comunicação Católica
Citando aquela música, nosso coração precisa se encharcar do Amor de Deus, que faz brotar vida onde há tanta secura: “Primeiro devemos tratar/ O deserto do nosso coração / Buscar a nossa conversão [...] / Pessoas novas pelas ruas / Mudadas pelo Espírito / Cidade sem conflito / E tudo em nome de Jesus”. Quando nos convertermos ao Amor, este será a regra de nossas relações. E “Andaremos sem nos cansar / [...] Os caminhos do Senhor / Ele mesmo nos mostrará / E cada lar será um templo / [...] Cada palavra uma oração / E cada canto um louvor”.
Pe. daniel rochetti VIGÁRIO PAROQUIAL na Paróquia Nossa Senhora de Fátima Pendotiba, Niterói/rj
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Natal da Toca Uma experiência de encontro pessoal com Jesus por meio dos pobres. “O amor não é amado” (São Francisco de Assis)
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omos movidos pelos ensinamentos de nosso Pai Seráfico. Ele nos aponta, tantas vezes, como o Amor é desprezado e esquecido por nós no Santíssimo Sacramento. Nosso carisma nos ensina a vivência do Evangelho mediante a reparação pela Igreja e o Amor aos pobres em situação de rua.
O Natal da Toca não deve ser vivido como uma mera ação social ou um evento que movimenta diversos grupos e comunidades pastorais. Ele deve ser uma vivência do evangelho. Por meio desse carisma, é possível responder ao chamado de São Francisco a sentir o amor onde Ele não é amado. Assim, as “hóstias ensanguentadas”, que passam despercebidas nas ruas e nas vielas das grandes capitais, podem ser reparadas. Motivados pelo chamado de reparar Jesus que sofre nos pobres e de aliviar as dores de nossos irmãos de Fortaleza, iniciamos o Natal da Toca. Realizamos, em dezembro de 2008, um grande sonho: celebrar o Natal na rua com os irmãos em uma pastoral diurna. Contamos com a parceria do Centro Pastoral Comunitário, que nos cedeu seu espaço para banhos, pastoral (corte de cabelos, barba e unhas) e entrega de roupas. Depois, fizemos uma grande ceia na praça do Colégio Militar; como a família que somos, ao redor da mesa, celebramos esse momento e oportunizamos uma 8
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experiência de amor com Jesus em momentos de louvor, cenáculo, orações e partilhas de coração. No decorrer dos anos, nosso desejo foi otimizar o cuidado com nossos irmãos para garantir um melhor acolhimento, já que todo nosso esforço é para que eles possam vivenciar esse amor e cuidado de Deus com eles por meio do carisma. Mudamos o local em que o Natal era feito, pois a praça, apesar de nos levar aonde eles estavam inseridos, não favorecia a qualidade do evento e do acolhimento, o que é o mais importante. Em 2009, portanto, o Natal foi no Centro Pastoral Comunitário Maria Mãe da Igreja, cedido pela Arquidiocese, que foi muito receptiva. Nossa estrutura disponibiliza: café da manhã; entrega de kits; sala Legendas 1 e 2 - Fotos enviadas por Toca de Assis Fortaleza
de filme; sala de jogos; evangelização; espaço kids; banhos; corte de unha, barba e cabelo; serviço odontológico; documentação; ceia de Natal; lanche; animação e louvor com música ao vivo; Santa Missa; terço; peças de teatro; dança; e enfermaria para pequenos procedimentos. Toda a programação é direcionada para que nossos irmãos tenham um dia especial e acesso à espiritualidade e ao lazer.
"Somos chamados a descobrir Cristo nos pobres [...]" Alimentar o corpo é preciso, porém as sementes de esperança precisam ser regadas; e a oportunidade de uma vida nova provém, muitas vezes, de uma simples escuta,
do proporcionar uma troca de olhares ou do chamar um irmão pelo nome. Isso é dar-lhes a dignidade de homens e mulheres e relembrá-los que são filhos prediletos de Deus. “Somos chamados a descobrir Cristo nos pobres [...] a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a escolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles” (Papa Francisco, Evangelli Gaudium, 198). Neste ano, Papa Francisco nos adverte sobre a importância de uma Igreja pobre para os pobres, porque Cristo, sendo pobre, desejou fazer morada nesses corações. É preciso ser pequeno para contemplar o Cristo que vem a nosso encontro. Jesus deseja olhar para nós através do pobre, deseja sorrir, abraçar, chorar... Estar com os pobres é se deixar ser amado pela presença de Jesus.
filhos da pobreza e leigos da toca Missão Fortaleza/ce Casa São Pio
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Santíssimo Sacramento por Adora Comunicação Católica
A Encarnação e a SS. Eucaristia “Na Eucaristia, a lógica da Encarnação chega a sua conseqüência extrema” (São João Paulo II).
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Celebração Eucarísta por Adora Comunicacação
xiste uma estreita ligação entre o mistério da Encarnação e o da Eucaristia indicada no quarto Evangelho. São João, no prólogo, resume o primeiro mistério: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” ( Jo 1,14). E, no discurso eucarístico, Jesus diz: “O pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo” ( Jo 6, 51). O termo “carne” é semítico e se refere não só ao corpo, mas também à pessoa toda. Quando Jesus, o Verbo encarnado, disse que entregaria sua carne para a vida do mundo, ele queria expressar o dom que ele desejava fazer de si mesmo.
Eucaristia Reflitamos sobre o mistério celebrado e vivido e sobre a relevância do preceito dominical
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TOCA DE ASSIS | DEZEMBRO DE 2016
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Pintura do Santíssimo Sacramento e os Santos, por Autor Desconhecido
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Então, o Filho de Deus quis fazer-se não somente homem, mas Eucaristia para, sob a forma do pão e do vinho consagrados, continuar a “habitar entre nós” e fazer-se nosso alimento. São João Paulo II explica: “Sob os sinais sensíveis do pão e do vinho, Jesus torna-se presente num lugar e num tempo determinado, consentindo a cada ser humano[...] estabelecer um contato pessoal com Ele. Na Eucaristia, a lógica da Encarnação chega a sua conseqüência extrema. Nela encontra sua coroação aquele caminho para o homem, que impeliu Jesus a despojar-se dos privilégios da divindade, para tomar a condição de servo (cf. Fl 2, 67) e colocar-se ao lado de cada um de nós como nosso irmão; 12
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para se tornar enf im Alimento e Bebida da nossa alma em seu caminho espiritual”.1
O caminho para a Eucaristia passa por Maria. Por isso Cristo quis nascer em Beth-lehen, na “casa do pão”, e ser colocado numa manjedoura, que serve para alimentar (Lc 2, 4-7). Passaram-se dois mil anos desde seu nascimento em Belém, mas Ele continua nascendo, uma realidade que poderíamos chamar de seu “nascimento eucarístico”. Onde quer que seja celebrada a Eucaristia,
Jesus nasce de novo, fazendo-se presente sobre o altar para ser adorado e acolhido: “O Menino, colocado por Maria na manjedoura, é o Homem-Deus que veremos pregado na Cruz. O mesmo Redentor está presente no sacramento da Eucaristia. Na manjedoura de Belém deixou-se adorar[...] por Maria, por José e pelos pastores; na Hóstia consagrada adoramo-lO sacramentalmente presente em corpo, sangue, alma e divindade, e oferece-se a nós como alimento de vida eterna. A santa Missa torna-se então o verdadeiro encontro de amor com Aquele que se entregou completamente por nós”.2
Em um antigo hino eucarístico, cantamos: “Ave verum Corpus natum de Maria virgine!” (Salve, verdadeiro Corpo nascido da Virgem Maria!). Deus Pai, escolhendo Maria como Mãe de Seu Filho, uniu-a de maneira especial à Eucaristia. No Sacrifício do altar, sob as espécies do pão e do vinho, Cristo dá-nos como alimento o Corpo e o Sangue, que, por obra do Espírito Santo, Lhe deu Sua mãe, Maria. Assim, existe um vínculo muito estreito entre a Eucaristia e a Virgem Maria, o qual a piedade medieval encerrou na expressão “caro Christi, caro Mariae”: a carne de Cristo na Eucaristia é, sacramentalmente, a carne tomada de Maria. São João Paulo II afirma: “Quando Maria aceitou tornar-se a Mãe de Deus, quando disse ‘Faça-se em mim segundo a Tua palavra’ (Lc 1, 38), o Verbo fez-se carne, a eterna e divina Palavra de Deus fez-se homem em seu seio. E a história da humanidade foi totalmente transformada. O mundo jamais seria o mesmo. Deus estava agora vivendo em carne humana. Jesus tornara-se nosso irmão, um homem semelhante a nós em tudo, exceto no pecado. O mistério da Encarnação, o mistério de Deus feito homem, ajuda-nos a compreender o mistério da Eucaristia. Por isso, o que teve início na cidade de Nazaré, graças à generosidade da Bem-aventurada Virgem, não terminou com a Morte e Ressurreição de Cristo. Não, Cristo continua a estar no mundo por meio da Igreja”. 3
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Por meio da Igreja, o mistério da Encarnação está vivo em nossos dias: Cristo continua presente. A Igreja é o sacramento de Cristo no mundo, o sinal e o instrumento de sua presença salvadora. No coração da Igreja, está a Eucaristia, o sacramento do Corpo e Sangue de Cristo, pelo qual continua e se expande o mistério da Encarnação:
Agradeçamos à Maria, a humilde serva do Senhor, que, ao acolher o Verbo em seu seio, tornou possível a Eucaristia. E pedimos ao Verbo feito carne que continue a habitar em nossos corações e seja, para nós, presença e companhia. Cheios de admiração diante do mistério da Eucaristia, queremos exclamar com São João Paulo II:
“Há dois mil anos que a Igreja é o berço onde Maria depõe Jesus e O confia à adoração e contemplação de todos os povos... Nos sinais do Pão e do Vinho consagrados, Cristo ressuscitado e glorioso, luz das nações (cf. Lc 2, 32), revela a continuidade da sua Encarnação. Ele permanece verdadeiramente vivo no nosso meio, para alimentar os crentes com o seu Corpo e Sangue”.
“Como é maravilhoso este mistério de Deus que habita no meio de nós! O mistério da Encarnação, o mistério da Eucaristia! O mistério de Cristo no meio de nós faz que glorif iquemos o nome de Deus. Queremos unir-nos à alegria de Maria no seu hino de louvor: ‘A minha alma glorifica ao Senhor, e meu espírito exulta de alegria em Deus, meu salvador’ (Lc 1, 46-47)”.
Referências 1- João Paulo II, Angelus (19 de julho de 1981), 2: L’Oss. Rom. (ed. port.: 26 de julho de 1981), 30. 2- João Paulo II, Mensagem (6 de agosto de 2004), 3: L’Oss. Rom. (ed. port.: 4 de setembro de 2004), 36 3- João Paulo II, Angelus (17 de agosto de 1985), 1: L’Oss. Rom. (ed. port.: 25 de agosto de 1985), 34. 4- João Paulo II, Bula Incarnationis mysterium, 11.
Pe. Fidelis Stockl
ordem dos cônegos regulares da santa cruz
Foto 1 e 2 - Santa Missa, Paróquia Santo Antônio da Barra Funda - São Paulo/SP por Adora Comunicação Católica. DEZEMBRO DE 2017 | TOCA DE ASSIS
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Experiência de oração, caridade e unidade Pessoa em situação de rua, por Adora Comunicação Católica.
Pessoa em situação de rua, por Adora Comunicação Católica
Com Deus, tem jeito
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m 2016, em reunião entre líderes da Canção Nova, da Fazenda da Esperança e da Obra Lumen de Evangelização, Deus suscitou a missão de realizar um evento voltado para a população em situação de rua da região de São Paulo. Em unidade com mais de 60 comunidades, movimentos e carismas da Igreja Católica que trabalham com essa população em mais de 31 cidades do Brasil, organizamos o evento “Com Deus, tem Jeito” na Fazenda da Esperança de Pedrinhas, em Guaratinguetá/SP, no dia 15 de outubro de 2016. Esse evento foi uma experiência de unidade com o coração do Santo Padre para encerrar o ano da Misericórdia exatamente como ele o fez: com os moradores das ruas. Todo o evento foi realizado com a participação voluntária de pessoas, entidades, empresas e órgãos governamentais e também foi transmitido, ao vivo, pela TV Canção Nova. Na ocasião, reunimos, para um momento de evangelização, cerca
de 600 irmãos em situação de rua ou em tratamento em comunidade terapêuticas e mais de 400 voluntários. Após o evento, mais de 100 irmãos sentiram-se tocados pela mensagem do Evangelho e decidiram deixar as ruas e buscar apoio nas casas de recuperação. Acreditamos que esse evento, além de beneficiar os irmãos acolhidos, fortaleceu a unidade entre os carismas, chegando, inclusive, ao conhecimento do Santo Padre, que enviou uma mensagem de encorajamento para aqueles que estavam participando do “Com Deus, tem Jeito” e afirmou estar em unidade com o evento e em oração por este. Tendo em vista as graças derramadas e a unidade gerada entre os carismas com o evento em Guaratinguetá, realizamos a 2ª edição do “Com Deus tem Jeito” no dia 1º de julho de 2017, em Fortaleza/CE. A edição nordestina, que aconteceu no Condomínio Espiritual Uirapuru (CEU), no dia 1º de julho de 2017, contou com 246 carismas, comunidades, movimentos e instituições que trabalham com a população de
rua. Reunimos mais de 700 irmãos de rua e mais de 1200 voluntários para um dia de festa e evangelização. No evento, 325 irmãos decidiram deixar as ruas, buscando uma nova vida nas casas de recuperação. Todos os que optaram por uma nova vida foram encaminhados no mesmo dia. O evento, mais uma vez, promoveu grande unidade entre os envolvidos, suscitando, inclusive, a ampliação dos trabalhos com população de rua já existentes no Ceará e a criação de tantas outras iniciativas. Diante de tantos frutos, sentimos que esse movimento não pode parar e que outros lugares e outras pessoas precisam ser contagiados pela convicção de que “Com Deus, Tem Jeito”. Já agendamos o dia 14 de abril de 2018 para que um evento, com o mesmo objetivo, aconteça na Fazenda da Esperança de Casca/ RS. Nessa vindoura edição, pretendemos mobilizar comunidades, movimentos e carismas da região, com o objetivo de reunirmos o maior número possível de irmãos em situação de rua para um dia de evangelização, oração e aconselhamento. E, a exemplo do que aconteceu em São Paulo e em Fortaleza, procuramos despertar nesses irmãos o desejo de mudança de vida para que eles saiam das ruas e busquem apoio clínico e espiritual.
Obra lumen de evangelização Fortaleza/ CE
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São Francisco, o homem da Paz “E em cada casa em que entrarem, digam primeiro: Paz a esta casa” (Rnb 14,2)
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este mês, comemoramos o nascimento de Jesus. O mistério da encarnação é um dos pilares da espiritualidade franciscana. É preciso viver com intensidade a espera do Salvador. O profeta Isaías (9,6) diz: "porque um menino nos nasceu [...]; a soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama: ‘Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz’". Jesus nasceu em uma época de muitos conflitos na Judéia. Mas jamais recorreu à violência para “viver” sua mensagem de Paz, na qual a pessoa humana está acima de quaisquer valores, ideais, regras, crenças, rituais. Jesus não briga, mas sim mostra ao mundo que é o “Príncipe da Paz”. Como um homem tão simples como ele pode causar tantos desconsertos nos mais doutos? São Francisco, que só tinha o desejo de seguir as pegadas de Jesus, também viveu em uma época muito violenta, época das Cruzadas, dos conflitos entre as cidades e as comunas. Ele foi um grande intermediador da Paz. Durante uma cruzada, ele foi, de modo independente, a Marrocos ter com o sultão do Saladino Malekal-Kamil. Raoul Manseli, em seu livro São Francisco, relata: “Que ele (São Francisco), tenha estado e falado com ele (sultão) é fora de dúvida, até porque [...] é possível encontrar um eco preciso desta presença do santo na biografia de um teólogo e jurista egíp-
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cio, Fakhr ad-din al Fârisî, [...] famoso [...] como ‘diretor espiritual de al-Kamil’”. São Francisco nunca participou de cruzadas nem se expressou publicamente sobre elas; esse episódio com o sultão é o mais expressivo. Ele não converteu este, mas foi devolvido ao acampamento dos cruzados sem nenhum dano. O santo inspirou uma grande admiração no sultão; até hoje, no Oriente Médio, todos os lugares santos são guardados e administrados pelos franciscanos. André Vouches, em seu livro Francisco de Assis entre Memória e História, afirma: “quem deseja fazer a paz com alguém deve começar por encontrar a paz interior que submete a carne ao espírito, de
modo a restaurar em si próprio a ordem divina perturbada pelo pecado. Só depois será possível encontrar a paz deste mundo”. A Paz começa em nós mesmos, assim nos mostrou São Francisco, que intermediou os conflitos internos de sua própria Ordem, a ponto de deixar o governo desta para Frei Elias e se tornar um simples irmão. Como vivemos a paz a partir de nós mesmos? Sabemos intermediar os conflitos do dia a dia? Somos portadores da Paz, nossa presença traz a Paz? A Paz não está na ausência de conflitos, mas sim na forma como lidamos com eles. Muitas vezes, em nome do bem, em nome de Deus, queremos impor nossos ideais aos outros. Quando a
Legenda da foto 1- São Francisco de Assis, por Adora Comunicação Católica. 2- Imagem de Cavaleiro Regresso - Assis - Itália.
Paz não vem de nosso interior, queremos nos impor aos outros, e isso não traz a verdadeira Paz. Muitas vezes, temos que recuar, ter paciência, é o famoso perder para ganhar, porque nada pode comprar a Paz interior. Vivemos em uma época de grande violência. Vemos nos noticiários: a tristeza dos refugiados, os atentados terroristas, as guerras travadas em nome de um ideal imposto aos outros. Mas muitas vezes agimos dessa mesma maneira. Deus não nos impõe nada, Ele nos dá o livre arbítrio. Sejamos verdadeiros anunciadores da Paz. Jesus nos diz: “Bem-aventurados os pacíf icos, porque serão chamados filhos de Deus!”. Com isso, verdadeiramente, podemos dizer: “Paz e Bem!”.
IR. VERÔNICA
filhA da pobreza do santíssimo sacramento
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