Revista Toca de Assis JANEIRO de 2015

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Publicação da Fraternidade de Aliança Toca de Assis - Janeiro de 2015

Deus chama a cada um por seu nome


Revista

ÍNDICE Artigo Especial

Toca para a Igreja 3

Mãe da Igreja JANEIRO 2015 Publicada por Fraternidade de Aliança Toca de Assis CNPJ: 02019254/0001-87

Toca em Ação 14

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Formação

Escritório São José Rua Amador Bueno, 45, Vila Industrial Campinas/SP. CEP: 13035-030 comunicacaocentral@tocadeassis.org.br Fone: (19) 3886-7086 SAV- Serviço de Animação Vocacional

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De Olho na Rua 6 Diário de um Peregrino

Coração da Toca

Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento

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vocacional@fpss.org.br

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Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento

sav.nacional@filhasdapobreza.com.br Revista Toca de Assis Publicação mensal interna da Fraternidade de Aliança Toca de Assis

Presidente: Ir. Maria dos Anjos do Mistério da Cruz,fpss. Departamento Comunicação Ir. Belém, Ir. Nínive, Leonardo de Souza e Anima Studio. Editor chefe: Ir. Belém,fpss Projeto gráfico: Anima Studio Diagramação: Anima Studio Revisão Ortográfica: Lucimara Castro Impressão e tiragem: 10.000 exemplares Colaboradores nesta edição: Ir. Belém; Ir. Romero; Ir. Nínive; Ir. Maria dos Anjos; Ir. Francisco da Pobreza; Ir. Francisco de Assis; Fernando Nunes; Eduardo Vanzella; Fábio Oliveira; Évelyn Renata; Oscar Nascimento; Leonardo de Souza; Daniel Avila; Christian Queiroz.

Capa Missão Eucarística Fazenda da Esperança - Guaratinguetá, por Anima Studio

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Prezado amigo Leitor, Paz e bem!

EDITORIAL

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o mês de Janeiro, no artigo “TOCA PARA IGREJA”, o Pe. Xavier (Comunidade Canção Nova) vai nos lembrar o valor do testemunho de vida franciscana, acolher o pobre e viver uma vida de apostolado sem a necessidade proferir palavras. Na coluna “MÃE DA IGREJA” veremos quão importância Nossa Senhora de Fátima tem na Casa Mãe, preparando o ambiente com a presença de uma família devota que hoje presta o testemunho da alegria de ser católico. A “FORMAÇÃO” sobre a Mãe de Deus nos mostra que Maria é mãe na humanidade e divindade de Cristo, sendo modelo para nós apostolado. No “CORAÇÃO DA TOCA” nos apresenta os leigos, pessoas que tem a sua vida normal e que ao mesmo tempo mostra que é possível servir a Deus encontrado no pobre. É a Toca presente onde não há consagrados. O nosso “ARTIGO ESPECIAL” vai nos falar da importância e valor sagrado que tem o nome. É por ele que somos chamados a viver dignamente a partir do compromisso que fazemos nos votos evangélicos. No “TOCA EM AÇÃO” vamos relembrar a alegria que foi conviver com os acolhidos da Fazenda da Esperança. Irmãos e Irmãs testemunhando com a vida e mostrando que é possível mudar, Deus é capaz. Na coluna “DE OLHO NA RUA” veremos a verdade como é a vida daqueles que sofrem pelos seus vícios. Pessoas desamparadas se juntam na cracolândia do Rio de Janeiro para encontrar consolo nas drogas. O “DIÁRIO DO PEREGRINO” nos mostrará como a providência de Deus nos leva onde é preciso estar.

Departamento de Comunicação


TOCA PARA A IGREJA

Anima Studio

Acolher e Salvar

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Carisma da Toca de Assis vai muito além de uma obra caritativa. Presenciei por muitas vezes e dou testemunho de pessoas que, acolhidas por essa família, provaram imensamente do amor de Deus, foram atingidas e beneficiadas. Sempre que conversamos entre nós clérigos, partilhamos dessa graça de poder estar próximo da família Toca de Assis e beber desse carisma que busca acolher de forma integral o homem. Não somente tocar suas feridas, mas tocar o mais íntimo do ser, em sua totalidade. A sua presença simples, o tecido pobre dos seus hábitos, nos envolve nesse mistério do acolhimento. No tempo de Francisco, os freis caminhavam pelas ruas, sem dizer nenhuma palavra, e isto era uma grande forma de apostolado. Assim, também nos tempos de hoje, só pelo fato de termos essa presença marcante em nosso meio, acolhemos o mistério de Deus e respiramos a radicalidade de Francisco.

Pe. Xavier

Comunidade Canção Nova

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Anima Studio

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MAE DA IGREJA

A primeira entre os Humildes e os Pobres do Senhor

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eus sabe de nossa pequenez em compreender sua mensagem e por isso, com docilidade nos prepara para a acolhermos. No tempo do profeta Elias, por meio da pequena nuvem1, nos prefigurou a Virgem Maria e sua Chuva de Graça: Jesus Cristo. Antes de enviar seu Filho ao mundo, João Batista foi seu precursor2 , aplainando e preparando o seu caminho. Esse mês queremos testemunhar o carinho de Deus em nossa história que com muito zelo foi preparada. O terreno que seria tocado pela fecundidade Eucarística foi regado com muita oração e com o Amor da Virgem Maria.

Eduardo Vanzella

“A casa da minha avó em Campinas, na rua Alferes Raimundo,116, tornou-se uma das edificações da Toca de Assis. Não poderia ser diferente, pois, foi uma casa de pessoas completamente voltadas para a Igreja Católica, para Nosso Senhor Jesus Cristo, São José e Nossa Senhora de Fátima. Em visita à casa, sem que ninguém soubesse da relação da minha família com Nossa Senhora de Fátima, eis que vimos, em meio à sala de estar dela, uma imagem sob o mesmo título, linda e iluminada. Ela tantas vezes reverenciada, solicitada e homenageada com terços diários por meus antepassados, naquele mesmo local, onde se encontra hoje uma verdadeira dádiva”3.

Quando recebemos esse testemunho ficamos imensamente felizes em saber que a Virgem de Fátima já habitava aquela casa e que, com certeza, ali já nos esperava. Aquela família piedosa já era nossa precursora. O Concílio nos ensina que Maria “é a primeira entre os humildes e os pobres do Senhor, que confiantemente esperam e recebem dele a salvação” 4. A Virgem Maria foi a primeira pobre a habitar nossa Casa Mãe. Por meio de súplicas e orações, preparou a casa que se tornaria nossa Assis, lugar em que Jesus é constantemente reparado e seus pobres amados. Sim, ela nos quis ali! Somos felizes Virgem Mãe, porque nos quisestes. O Anjo de Portugal, o precursor das Aparições de Fátima Em Fátima, antes que Nossa Senhora aparecesse aos pastorinhos, o Anjo de Portugal preparou seus corações para aquele grande momento. Nos próximos meses conheceremos um pouco mais sobre esse importantíssimo fato. Para finalizar, pense um pouco nas pessoas que passaram por sua vida. Algum precursor, antepassado, amigo, preparou o caminho para você? Já louvou e agradeceu a Deus por ele? Que o Senhor nos abençoe!

Reis,18-44. Marcos 1, 7-8. Testemunho enviado por Regina Machado 4 Const.dogm.sobre a Igreja Lumen Gentium, 55. 1 2 3

Fernando Nunes

Fraternidade de Aliança Toca de Assis

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Imagem da Internet

Theotókos: Mãe de Deus

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a nossa formação mensal queremos meditar sobre o mistério MARIA, Mãe de DEUS, para poder rezar melhor o que repetimos tantas vezes: Santa MARIA, Mãe de DEUS, rogai por nós. Maria, Mãe de Deus, é um dos quatro dogmas marianos e foi proclamado solenemente no ano 431 pelo Concílio de Éfeso. O dogma da virgindade perpétua de Maria foi proclamado em vários Concílios, especialmente no de Cápua em 391, mas recebeu sua formulação definitiva no Concílio de Latrão em 1555: "Virgem antes, no e depois do parto". Outro dogma é o da imaculada conceição, proclamado por Pio IX em 1854, e o último foi da assunção ao Céu em corpo e alma, por Pio XII, em 1950. 6

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Notem como o dogma da maternidade divina foi proclamado relativamente cedo aos outros que são o desenvolvimento e a consequência dele. Mas, porque tão cedo houve a necessidade de defender essa verdade de fé? Os dogmas são normas para nossa fé, pois confirmam uma verdade da Revelação que não pode ser contestada. As afirmações dogmáticas não se tornaram verdadeiras porque a Igreja determinou que fosse. É a reflexão sobre a fé que aos poucos esclarece as verdades reveladas pelo próprio Deus. Quando a afirmação é de grande importância a Igreja guarda com a proclamaçzão de um dogma.

Em Maria tudo é relativo a Cristo e dependente Dele (Cf. MC 25), por isso, também o dogma da maternidade divina foi compreendido à luz do mistério cristológico. Diante das heresias sobre a pessoa de Jesus Cristo, o dogma da maternidade divina foi consequência para defender a união hipostática (das duas naturezas na única pessoa do Verbo). Já havia passado o Concílio de Nicéia, muito importante para a história da Igreja e a questão cristológica. Ário, sacerdote Alexandrino, negava a divindade como a humanidade de Cristo. Para ele, Jesus não era Deus, e sim a criatura mais perfeita do Pai, e também não era homem porque não tinha alma humana; o Verbo fazia as


FORMACAO vezes de alma. Contra a heresia defendida por ele, o Concílio de Nicéia afirmou que Jesus foi gerado e não criado, e que é consubstancial ao Pai, ou seja, é Deus como o Pai. No entanto, nem tudo ficou claro e surgiu mais um herege: Nestório, bispo de Constantinopla. Ele quis explicar que em Jesus havia duas pessoas (humana e divina) que se uniam tão bem que formava uma terceira pessoa: a pessoa de união. Para Nestório haveria em Jesus pelo menos três pessoas. Consequentemente, afirmava que Maria é mãe apenas da pessoa humana de Jesus, “Christotókos”, ou seja, mãe de Cristo, e não Mãe de Deus: “Theotókos”. Nestório estava errado em achar que cada natureza deveria necessariamente constituir uma pessoa. Dentro desse contexto confuso de heresia veio mais um Concílio defender a fé, o Concílio de Éfeso, em 431, que proclamou Maria Mãe de Deus para por um fim nessa questão cristológica. Maria é Mãe de Deus porque Jesus é Deus, porque a humanidade santíssima de Jesus está unida à pessoa do Verbo, Jesus é pessoa divina em duas naturezas. Maria não pode gerar Deus, segundo a divindade, porque é criatura. Mas concebendo Jesus, ela é mãe de Deus, porque Jesus é Deus. Maria não é mais que Cristo. O mistério de Maria se revela no seu Filho (cf. RM 4), porque “na realidade, o

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mistério do homem [e mulher] só se esclarece verdadeiramente no mistério do Verbo Encarnado” (GS 22). É verdade que aqui se trata de um grande mistério! Como uma criatura pode ser mãe de Deus? Somente pelo milagre da Encarnação do Verbo! O título Theotókos se refere apenas ao Verbo Encarnado e não a toda Trindade. No seio da Trindade o Pai gera o Filho eternamente, e está nesse exato momento gerando-o. Essa geração divina passa a acontecer na plenitude dos tempos (cf. Gl 4,4), além da Trindade, também no seio virginal de Maria Santíssima, mas é claro de maneira muito diversa. Entretanto, Maria é a criatura que mais participa na paternidade divina, só ela como o Pai pode dizer ao Filho: “Tu és meu Filho, eu hoje te gerei” (Sl 2, 7). Santo Tomás disse que “por ser a Mãe de Deus, têm até certo ponto infinita dignidade, provinda do bem infinito que é Deus” 1. Santo Irineu dizia que quem não entende o nascimento de Deus de Maria, também não entende a Eucaristia. De fato, é grande a conexão desses mistérios! É claro para todos que a Eucaristia2 é a realização da nova e eterna aliança no sangue de Cristo pelo seu corpo oferecido em sacrifício por nós. Ora, essa aliança se inicia com a mulher na Anunciação em Nazaré, “uma novidade absoluta do Evangelho”. No Antigo Testamento, Deus fez aliança

se dirigindo aos homens: Noé, Abraão, Moisés. “No início da Nova Aliança, que deve ser eterna e irrevogável, está a mulher: a Virgem de Nazaré” (MD 11). Com o “sim” de Maria Deus dá início à Nova Aliança, com sua maternidade divina. Precisamente porque esta Aliança deve realizar-se “na carne e no sangue” é que o seu início se dá na genetriz. O “Filho do Altíssimo”, somente graças a ela e ao seu “fiat” virginal e materno, pode dizer ao Pai: “Formaste-me um corpo. Eis-me aqui para fazer, ó Deus, a tua vontade” (cf. Hb 10, 5.7) (MD19), concluído a aliança, dita por Ele mais tarde: “Isto é o meu corpo”. Com isso, Maria não é modelo somente para as mulheres, é também para o clero: “A Virgem, durante a vida, foi modelo do amor materno de que devem estar animados todos aqueles que colaboram na missão apostólica da Igreja para a regeneração dos homens” (LG 65). São Paulo também comparou a maternidade com seu apostolado: “Filhinhos meus por quem sofro novamente as dores do parto” (Gl 4,19). Assim, “a Igreja é conjuntamente “mariana” e “apostólico-petrina” (MD 27).

S. Th I, q. 25, a. 6, ad. 4. STO. IRINEU, contra as heresias V,2,3.

Lista das abreviações: GS: Constituição pastoral do Vaticano II: Gaudium et Spes LG: Constituição dogmática do Vaticano II sobre a Igreja: Lumen Gentium MC: Exortação Apostólica de Paulo VI: Marialis cultus MD: Carta Apostólica de João Paulo II, Mulieris Dignitatem RM: Encíclica de João Paulo II: Redemptoris Mater

Irmã Sara Maria

Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento

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LEIGOS: Quem são eles?

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Arquivo Filhos da Pobreza

ara a nossa Santa Igreja Católica, o documento Lumen Gentium deixa claro: “Sob o nome de leigos entendem-se todos os cristãos, exceto os membros das Sagradas Ordens ou do estado religioso reconhecido na Igreja, isto é, leigos são os fiéis que, incorporados a Cristo pelo batismo, constituídos em Povo de Deus e a seu modo feitos participantes da função sacerdotal, profética e régia de Cristo, exercem, em seu âmbito, a missão de todo o povo cristão na Igreja e no mundo.”1 Esse documento foi fruto do Concílio vaticano II, que inseriu, de uma maneira nova e ousada, os leigos em sua missão. Também nós, da Fraternidade Toca de Assis, não poderíamos tratar diferente os nossos leigos, pessoas que têm um chamado maior para se engajar no carisma e na espiritualidade dos Filhos e Filhas da Pobreza. A Toca de Assis, ao dar seus passos iniciais, contou fundamentalmente com um grupo de leigos, surgindo somente após alguns anos as primeiras vocações religiosas. Hoje existem lugares onde não se têm a presença de religiosos ou religiosas, mas que, por sua vez, contam com os leigos para sustentar a missão da Toca de Assis. Isso é belíssimo! De fato, os leigos têm um papel fundamental em nosso apostolado, conforme está escrito em nossas constituições: “A Fraternidade continua colaborando no apostolado dos dois Institutos de Vida Consagrada. Seus membros participam do espírito desses Institutos, tendem à perfeição cristã e levam vida apostólica sob a alta direção dos Institutos.”2

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Os leigos da Toca de Assis são homens e mulheres que nos auxiliam nos diversos tipos de apostolado de nossas missões, pessoas que estão mais próximas no cotidiano das casas onde acontecem as missões, ou ainda, pessoas que vivem o carisma e a espiritualidade onde não há a presença de casas da Toca. Em suma, os leigos são aqueles que querem fazer parte dessa grande família Toca de Assis. Damos graças a Deus Sacramentado por enviar operários para a “messe dos pobres”, fiéis que sentem o desejo de se comprometerem com os menos favorecidos e adorarem o Verbo de Deus no véu do Sacramento.

Para o ano de 2015, estamos planejando o retiro nacional para leigos e amigos da Fraternidade Toca de Assis, que acontecerá no mês de Setembro, para todas as pessoas que desejarem fazer esta experiência com nosso Carisma e espiritualidade. Com as bênçãos de Deus, serão dias de muita adoração e amor aos pobres. O nosso muito obrigado a todos os leigos e leigas que, junto conosco, desejam que se levante em meio a esse mundo o Corpo do Deus Vivo, além de revelar para todos que dos pobres é o Reino dos Céus. Você já pensou em ser um leigo comprometido com a Toca de Assis?


Arquivo Filhos da Pobreza

CORACAO DA TOCA

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LEGENDA Foto 1, 2, 4 Leigos do Rio de Janeiro, em nossa Casa Bom Samaritano em Benfica Foto 3, 5, 6, 7, 8 RETIRO ”Reinflama o carisma, que há em ti”.

Saiba onde nos encontrar: Acesse

www.tocadeassis.org.br

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Lumen Gentium 31. Art. 237. Constituições Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento.

Ir. Vaticano Maria

Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento

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Anima Studio

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ARTIGO ESPECIAL

Deus chama a cada um por seu nome

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az parte da História da Vida Consagrada das Congregações antigas da Igreja a troca dos nomes de forma simbólica, exprimindo assim a missão a ser realizada pela pessoa que se consagra a Deus, por meio dos Votos evangélicos. Tal prática foi redescoberta pelos novos Institutos, que retomaram esse costume de trocar a forma como eram conhecidos, por um nome que manifeste alguma inspiração dentro do mistério de Cristo.

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Em nossos Institutos, os Filhos e as Filhas da Pobreza, tiveram, desde o início, esse movimento fortemente marcado como uma opção radical de mudança de vida, haja vista, que, toda vez que pronunciam seu onomástico, “obrigatoriamente”, lembra-se do voto que assumiu em viver sua íntima missão. O onomástico de nosso pai Seráfico, São Francisco, como não podia ser diferente, é representado de várias formas dentro do Instituto masculino, visto que há um Irmão Francisco de Assis, um Francisco da Pobreza e um Francisco da Cruz, assim como sua irmã, Santa Clara, é representada pelas irmãs do Instituto feminino, consagradas que carregam esse mistério, como Irmã Clara Maria e Irmã Maria Clara. As primeiras inspirações para os nomes advêm sempre da vida dos santos, que também são intercessores, como, por exemplo, Irmão Efrem, Irmão Xavier, Irmão Bernardo. Entretanto, há lugares e expressões ou até virtudes cristãs, que também podem manifestar radicalmente o evangelho, como o nome escatológico do Irmão Alegria da Eterna Jerusalém, o primeiro consagrado que de fato alcançou essa alegria, e também o primeiro irmão a falecer no Instituto. Também poderíamos lembrar o nome do Irmão Vaticano Maria, chamado a amar profundamente a Igreja e o 12

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Os apóstolos também são frequentemente fonte de inspiração para os religiosos, como Irmão Petrus ou Irmão Mateus e até mesmo entre as irmãs, como é o caso da Irmã Andreas, que faz alusão ao apostolo André.

vida religiosa. Quando nos consagramos em um Instituto não deixamos de ser batizados, mas somos conduzidos em um caminho mais radical da vivência do nosso batismo. O novo nome também não nos tira o nome de batizado, contudo, nos leva a viver de forma mais aprofundada o fato de se ter um nome.

Vale ressaltar que mesmo assumindo essa prática onomástica, em momento algum apagamos nosso nome de Batismo que foi conferido em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt. 28, 19). Entretanto, como um hábito religioso que expressa o espírito da Igreja, o nome trocado em alguns Institutos é também um sinal, uma expressão mais radical do Evangelho, o que é próprio da natureza da

O encontro com Deus torna-nos uma nova criatura (II Corintios 5, 17). Isso aconteceu com vários personagens bíblicos, tendo essa mudança de vida simbolizada pela mudança de seu nome, pois a mudança do nome garante e dá responsabilidade de ser uma pessoa diferente. Assim, foi o caso de Abrão, que se tornou Abraão (Gn 17,5), de Jacó que passou ser chamado de Israel (Gn 35, 10), de Simão

Papa, ou o “ser tudo para todos”, do onomástico da Irmã Israel.

Imagem da Internet

É impossível, por exemplo, falar desse assunto sem mencionar os Carmelos, que listam várias novas Teresas e Terezinhas, para elucidar missão tão profunda dessas santas dentro de suas famílias religiosas. Em alguns Institutos, costumam acrescentar apenas um “Maria” após o primeiro nome, invocando a proteção materna de Nossa Senhora, ou então, outros chegam a mudar somente o sobrenome com uma frase ou expressão espiritual.


Arquivo Filhos da Pobreza

ARTIGO ESPECIAL

que Jesus chamou Pedro (Mc 3, 16), e Saulo que significa ‘o grande’ e passou a ser chamado de Paulo, ‘o Pequeno’, sendo modelo do Senhor por deixar suas vaidades e obstinação (At 13, 9). "Tive esta visão: eis que o Cordeiro estava de pé sobre o Monte Sião com os cento e quarenta e quatro mil que traziam escrito sobre a fronte o nome dele e o nome de seu Pai" (Ap 14,1). É bom lembrarmos que a Igreja pede que os fiéis batizem seus filhos com um nome cristão ou de um Santo, assim eles possuem intercessores seguros no céu, como reforça o Catecismo: "No Batismo, o cristão recebe seu nome na Igreja.” (§2165). Sendo assim, os pais e os sacerdotes cuidarão para que seja dado às crianças um

nome cristão. A vida de um santo oferece um modelo de caridade e uma intercessão garantida. E continua o Catecismo: Deus chama a cada um por seu nome. O nome de todo homem é sagrado. O nome é o ícone da pessoa. Exige respeito, em sinal da dignidade de quem o leva. O nome recebido é um nome eterno. No Reino, o caráter misterioso e único de cada pessoa marcada com o nome de Deus resplandecerá em plena luz. (§2158-2159) "Ao vencedor darei uma pedrinha branca na qual está escrito um nome novo, que ninguém conhece, exceto aquele que o recebe" (Ap 2,17).

Ao Santo do Nosso Nome Glorioso (a) São N., cujo nome Deus me deu a graça de possuir e cuja proteção me confiou ao inscrever-me pelo santo batismo, no número dos seus filhos adotivos, alcançai-me com vossa intercessão a mercê de viver sempre em conformidade com o espírito do cristianismo. Ajudai-me, santíssimo protetor da minha alma, a recuperar a graça batismal, que perdi por causa do pecado, e fazei com a vossa prece, que Deus me conceda a graça de vos imitar. Protegei-me e defendei-me ao longo do caminho desta perigosa vida e assisti-me à hora da minha morte. Amém

Irmão Belém da Virgem de Israel Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento

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Missão Eucarística na Fazenda da Esperança “O que ficou mais forte pra mim dessa semana foi a presença de Jesus em nosso meio, toda noite. O dia inteiro vocês adorando e nos chamando a adorar a Deus” Leonardo, 18 anos – recuperando da Fazenda da Esperança em Guaratinguetá.

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Arquivo Filhos da Pobreza

ssa declaração de um dos jovens que passa pela recuperação da dependência química na Fazenda da Esperança em Guaratinguetá sem dúvida alguma é um resumo do que foi a Missão Eucarística que aconteceu por lá nos dias 16 a 23 de novembro. Cerca de 40 religiosos, irmãos e irmãs da Toca de Assis, estiveram em missão, distribuídos pelas três Fazendas da Esperança localizadas em Guaratinguetá. “É como se acontecessem três missões simultaneamente, levando em conta a particularidade de cada Fazenda”, revela o Irmão Boaventura que coordenou a Missão no Centro Masculino. Desde 2010, quando os Filhos e Filhas da Pobreza tiveram seus respectivos capítulos na Fazenda das Pedrinhas, estabeleceram um forte vínculo entre as duas comunidades, Toca de Assis e Fazenda da Esperança, brotando o desejo de fazer uma missão em comum. Foi aí que nasceu a ideia de uma Missão Eucarística entre os jovens da fazenda. “A grande marca dessa missão, além dos momentos de espiritualidade, foi o fato de estarmos no meio dos jovens em recuperação, dormindo nas casas, trabalhando com eles, experimentando seu dia-a-dia” acrescentou o Irmão Xavier. Foram momentos inesquecíveis para todos que puderam participar da missão. Todos os dias adoração ao Santíssimo Sacramento, nas Fazendas, além de pregações, meditações e acompanhamentos individuais. Os Irmão e Irmãs tiveram a graça de estarem com Frei Hans Stapel e Nelson, fundadores da Fazenda da Esperança para um momento de comunhão. “Foi um grande sinal de Deus a unidade desses dois carismas. Pude estar amando mais Jesus Sacramentado”, diz Max, 28 anos, que está há três meses em recuperação na Fazenda da Esperança. A missão foi encerrada no dia 23 de novembro, com o pré-lançamento do novo CD da Toca de Assis “Vai e reconstrói a minha Igreja”, contando com a presença dos jovens das três Fazendas, missionários e os leigos da Toca de Assis.

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TOCA EM ACAO

Irmão Fracisco de Assis

Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento

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Visitando as Cracolândias da “Cidade Maravilhosa”

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“Proximidade e compaixão: assim o Senhor visita o seu povo. E quando nós queremos anunciar o Evangelho, levar adiante a palavra de Jesus, o caminho é esse” (Homilia do Papa Francisco do dia 22/09/2014).

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uando nos deparamos com realidades chocantes, tendemos a ter reações bruscas. Em especial, quando se trata da condição humana, desponta dentro de nós duas formas de reação diante da situação: ou buscamos nos afastar o quanto antes daquela realidade, tratando-a com certa indiferença , como se não fosse problema nosso, ou nos sensibilizamos e buscamos de algum modo fazer alguma coisa. Nos últimos tempos, a realidade das ruas tem mudado muito. O que antes era majoritariamente presente, como, por exemplo, o uso do álcool, perdeu espaço para uma calamidade ainda maior: a disseminação do crack entre a população de rua. Ainda que pesquisas apontem que a região de maior incidência de usuários seja a região nordeste, as Cracolândias do Rio de Janeiro e São Paulo con16

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tinuam a assustar, inclusive por ser alvo de reportagens midiáticas, com o intuito de extirpar a qualquer custo essa realidade, sem levar em conta a especificidade dessa população. O crack encontrou na realidade da rua um público vulnerável, que acabou se tornando alvo fácil à sua ação. O mesmo tem acontecido com as populações dos lugares mais pobres, onde o uso tem sido mais disseminado. Isso nos leva a compreender que a problemática do Crack não é uma realidade isolada, mas que existe uma série de outros fatores que impulsionam a propagação do uso, em especial, a realidade social em que se encontra a maior parte dos dependentes. Com base nesses pressupostos, cremos ser pouco provável uma mudança efetiva dessa realidade, sem que antes, de fato, haja uma mudança no quadro social que estamos assistindo.

Durante uma visita ao Rio de Janeiro tive a oportunidade de realizar algumas pastorais nas Cracolândias a “cidade maravilhosa”. Mesmo não sendo a primeira visita a uma realidade como essa, uma vez que morei bem próximo às de São Paulo, ir ao encontro das pessoas que vivem assim é sempre chocante. O aspecto em que se encontra aquela multidão de pessoas entorpecidas pelo uso frenético da droga nos faz sentir no coração o quanto é forte essa prisão em que vivem. A necessidade de manter o uso da substância resulta em uma fissura desmedida, fazendo com que permaneçam dias, semanas, meses, em uma condição deplorável. Muitas vezes são equiparados à condição de zumbis dos filmes de terror, andando de um lado para o outro sobre o efeito da droga. Assistir com os próprios olhos essa situação gera em nós um sentimento de impotência perante a necessidade desses nossos irmãos. Cheguei a me questionar o quanto inútil poderia ser a nossa simples visita. No entanto, bem lá no fundo de nosso coração vem a certeza de que se fazer presente ali, com todos eles ,estar próximo para o que precisarem ,por meio de um cumprimento a um e outro, um abraço de conforto, sem manifestar nenhuma reprovação e simplesmente acolhendo cada um que nessa situação se encontra, pode ser a porta de entrada que Deus espera para abraçar esses irmãos que tanto sofrem com o vício. Em meio aos olhares de desespero, cansaço e tristeza, uma só palavra ou atenção oportuna pode reacender em seus corações a força de poder lutar contra essa condição.


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DE OLHO NA RUA

Não é nada confortante ver tantas pessoas, jovens, crianças e até mesmo idosos, escravos dessa realidade. As mulheres, grande parte jovens e grávidas, devido à necessidade de manter o uso, vivem da prostituição. As crianças que nascem nesse mundo prematuramente herdam não somente os problemas de saúde decorrentes do uso da mãe, mas também o vício. Próximo às favelas da maré e redondezas, é comum o aglomerado de malocas que improvisam para fazer o uso, bem diante dos olhares da segurança pública. O tráfico, por sua vez, realiza abertamente o seu “trabalho”.

À noite, nas redondezas próximo ao Jacarezinho, uma multidão de pessoas se enfileira ao longo da avenida. Não bastando toda a degradante situação em que estão, ainda ouvem chacotas daqueles que por ali passam e, de forma zombeteira, usam termos humilhantes. No entanto, já que o mal se combate com o bem, como não admirar a rede de solidariedade que vem sendo construída em torno dessa realidade? São pessoas que se mobilizam para levar a esperança àqueles que estão nessa situação. Gratuitamente, realizam ações visando oferecer a oportunidade de recuperação e possibilidades

melhores de vida para elas, pois, ao contrário do que muito se tem visto em relação ao mercado de clínicas de recuperação, que vem despontado por causa do aumento de dependentes, essas pessoas têm em vista os valores evangélicos que verdadeiramente restauram por completo a pessoa humana. Não é um trabalho fácil! Muitas vezes os resultados são magros e lentos. É preciso muita determinação e amor, pois a luta ainda é muito desigual. Que o Senhor fortaleça a todos que se empenham em prol de nossos irmãos.

HOJE, SOMENTE NA CAPITAL PAULISTA EXISTEM TRINTA PONTOS DE CRACOLÂNDIA.

20% dos usuários são MULHERES

40% dos usuários estão em SITUAÇÃO DE RUA

5% dos usuários NÃO PERMANECEM ATÉ O ÚLTIMO MÊS DE TRATAMENTO.

Fonte: Pesquisa nacional sobre o crack no Brasil, realizada pela FIOCRUZ.

Irmão Romero, fpss

Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento

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DIARIO DE UM PEREGRINO

Arquivo Filhos da Pobreza

cIDADE cAMANÁ, NO pERÚ

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pós seis horas de viagem com um caminhoneiro chamado Antônio, chegamos à cidade de Camaná. Já era noite. Este bom amigo nos deixou perto do convento das carmelitas. Arriscamo-nos a falar com elas, mas devido ao horário, não tivemos resposta das irmãs. Então, buscamos uma igreja que avistamos ali perto. Chegamos ao portão e chamamos o padre, que veio acompanhado, caso anunciássemos um possível assalto, mas, enfim, nos acolheu. Passamos a noite em um salão da paróquia e no outro dia o padre nos levou para a missa no Carmelo. As irmãs, ao nos verem, convidaram-nos para tomar café após a santa missa. Ao saberem que éramos os frades que na noite passada buscávamos

lugar para ficar, nos convidaram para que naquele dia permanecêssemos com elas, como reparação pela noite anterior. As irmãs, sabendo por meio de nossa partilha que nosso carisma era de adoração ao santíssimo sacramento e amor aos pobres abandonados de rua, convidou-nos se poderíamos conduzir uma hora de adoração na capela, pois era quinta-feira de adoração. Indaguei-as se na adoração viriam muitas pessoas e elas nos disseram que seria uma hora de adoração só para elas e que poderíamos conduzi-la como desejássemos. Fiquei surpreso com aquele agradável convite! Preparamos o altar e expusemos o Santíssimo Sacramento. Então, com algumas músicas e momentos simples de oração, fomos conduzindo

aquela hora de adoração ao suave perfume do incenso. Surpreendia-me a sensibilidade de Deus pela necessidade que tínhamos de adorá-lo presente no altar, nos providenciando aquele momento junto com suas consagradas. No dia seguinte, após a santa missa e uma partilha com todas as irmãs no locutório, a irmã Eucaristia (superiora) nos deu sua benção e mais uma vez nos pediu perdão. Disse-nos que não nos preocupássemos porque Deus nos levaria bem rápido à próxima cidade. E assim aconteceu! A providência de Deus e o amor da santa Virgem Maria nos conduzem sempre aonde eles mais desejam. Paz e Bem!

Ir. Franciso da Pobreza Fraternidade de Aliança Toca de Assis

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Janeiro 2015 - Toca de Assis


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