Revista
ÍNDICE Artigo Especial
Toca para a Igreja 3
Mãe da Igreja NOVEMBRO 2014 Publicada por Fraternidade de Aliança Toca de Assis CNPJ: 02019254/0001-87
Toca em Ação 14
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Formação
Escritório São José Rua Amador Bueno, 45, Vila Industrial Campinas/SP. CEP: 13035-030 comunicacaocentral@tocadeassis.org.br Fone: (19) 3886-7086 SAV- Serviço de Animação Vocacional
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De Olho na Rua 6 Diário de um Peregrino
Coração da Toca
Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento
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vocacional@fpss.org.br
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Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento
sav.nacional@filhasdapobreza.com.br Revista Toca de Assis Publicação mensal interna da Fraternidade de Aliança Toca de Assis
Presidente: Ir. Maria dos Anjos do Mistério da Cruz,fpss. Departamento Comunicação Ir. Belém, Ir. Nínive, Leonardo de Souza e Anima Studio. Editor chefe: Ir. Belém,fpss Projeto gráfico: Anima Studio Diagramação: Anima Studio Revisão Ortográfica: Ir. Maria Clara, fpss. Impressão e tiragem: 10.000 exemplares Colaboradores nesta edição: Ir. Belém; Ir. Romero; Ir. Nínive; Pe. Daniel Pereira; Ir. Maria dos Anjos; Ir. Salete da Santíssima Trindade; Ir. Luciana Maria; ir. Maria das Graças; Fernando Nunes; Eduardo Vanzella; Fábio Oliveira; Évelyn Renata; Oscar Nascimento; Leonardo de Souza; Lucas Reis.
Capa
Projeto gráfico do novo CD da Toca de Assis, “Vai e Reconstrói a minha Igreja” por Anima Studio e ilustração de Lucas Reis.
Prezado amigo Leitor, Paz e bem!
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EDITORIAL
o mês de novembro, no artigo “TOCA PARA IGREJA”, o Pe. Daniel Pereira (Arquidiocese de Fortaleza/CE) lembra-nos de uma homilia do Papa Francisco que nos chama a ir aos pobres como um sacerdote vai para a celebração: com alegria! A “FORMAÇÃO” sobre Cristo Rei busca conscientizar-nos da necessidade de recordar o reinado de Cristo, que é desde sempre e para sempre em nossa vida. No “CORAÇÃO DA TOCA” veremos que o advento de Cristo em nossa vida se dá na nossa morte e que precisamos a todo o momento buscar ser fiel na missão que nos é dada. Na coluna “MÃE DA IGREJA”, as aparições de Fátima nos mostram o sofrimento de Cristo e como vivenciamos este mistério de dor ao cuidar do Corpo e do Sangue do Senhor em nossas Capelas de Adoração. No “DE OLHO NA RUA” vamos meditar sobre a morte de nossos irmãos que vivem em situação rua. Já parou para pensar onde e como são enterrados? Enterrar dignamente os mortos é um ato de misericórdia! No “TOCA EM AÇÃO” vemos que o carisma de adoração ultrapassa as horas diante do Santíssimo Sacramento. É também preparar e zelar dos mistérios que circundam os Sacramentos da Igreja. O “DIÁRIO DO PEREGRINO” mostrará como foi a Missão Eucarística realizada na cidade de Cotia. O nosso “ARTIGO ESPECIAL” fala-nos sobre o nosso audacioso sonho que há anos não acontecia: o novo CD da Toca de Assis!
Departamento de Comunicação www.tocadeassis.org.br
TOCA PARA A IGREJA
Du Vanzella
“Devemos ir a eles como o sacerdote se aproxima altar: com alegria”
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Toca de Assis recebeu do Espírito Santo uma nobre missão na Igreja, carisma admirável, missão que Jesus Cristo assumiu já no início do seu ministério: “O Espírito do senhor está sobre mim, porque ele me consagrou pela unção para evangelizar os pobres...” (Lc 4,18). Hoje também o Magistério da Igreja nos chama a sairmos para a periferia, ao encontro dos pobres. “É às favelas... que é preciso ir para buscar e servir a Cristo. Devemos ir a eles como o sacerdote se aproxima do altar: com alegria” 1
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(Papa Francisco. Homilia do Santo Padre. Catedral
de São Sebastião, Rio de janeiro, 27.07.2014)
Onde encontrar forças para tão árduo trabalho? Na Santíssima Eucaristia. É na Eucaristia que vemos os irmãos encontrando forças para irem à periferia. É o amor que de Jesus recebemos que nos faz amá-Lo nos irmãos. Na verdade isto é um ato de fé: no mundo em que vivemos, onde a maioria das pessoas busca felicidade no ter, no poder e no prazer, onde a beleza exterior é a que atrai, transpor o material e enxergar a beleza de Deus escondida num pobre. Eis a verdadeira riqueza!
Pe. Daniel Pereira Aquidiocese de Fortaleza
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Fátima escola de esperança
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Anima Studio
ontinuaremos neste mês a nos aprofundar nas visões reveladas por Nossa Senhora em sua última aparição em Fátima. No mês passado, pudemos mergulhar na visão que remetia aos mistérios gozosos do rosário, e em especial nos aprofundamos na pessoa de São José. Prosseguimos então com o relato de Lúcia. Durante o milagre, eles, tomados em êxtase, contemplavam três visões celestiais, como nos relata Lúcia: “E, abrindo as mãos, fê-las refletir no sol e enquanto se elevava, continuava o reflexo da sua própria luz a projetar-se no Sol. E enquanto seguia o mesmo caminho de regresso das aparições anteriores, continuava a projetar este reflexo de luz no Sol”. Eis que então se deram três aparições. Na primeira, junto ao Sol apareceu São José com o Menino nos braços e Nossa Senhora do Rosário. A Virgem vestia uma túnica branca e o manto azul, São José também estava de branco e o menino Jesus de vermelho. Traçando no ar uma Cruz, São José abençoou o povo e o Menino Jesus fez o mesmo. Pouco depois, desvanecia a aparição anterior e aparecia Nosso Senhor, transido de sofrimentos, como a caminho do Calvário, e Nossa Senhora das Dores, sem a espada no peito. O Divino redentor também abençoou o povo. Em seguida, apareceu gloriosa, Nossa Senhora do Carmo, coroada Rainha do Céu e da Terra com o Menino Jesus no colo. Fátima, Dor e Esperança. Esta segunda visão remete aos mistérios da dor. Deus é todo amor, mas estes mistérios são marcados por seu extremo amor. Os mistérios da dor levam o crente a reviver a morte de Jesus, pondo-se aos pés da Cruz, junto de Maria, para com ela penetrar no abismo do amor de Deus pelo homem e sentir toda a sua força regeneradora. 1 Os Mistérios da dor são uma grande escola, que devemos transcender para nossa vivencia diária. Sua narrativa inicia-se no Getsêmani, onde Nosso Senhor se coloca em lugar de todas as nossas tentações, mesmo em meio à angústia, ele diz sim! “Não se faça a minha vontade, mas a Tua” (Lc 22,42).
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MAE DA IGREJA
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Quantas vezes somos tentados em nosso dia a dia? Devemos nesta hora fazer memória de Nosso Deus no Getsêmani e, a Luz da Palavra, lutar para que o nosso sim esteja conformado com o sim do Senhor. A Flagelação do Senhor. Quantos daqueles flagelos nós tivemos participação? Quanto o Sangue de Jesus foi derramado por nossos pecados? O que fazemos para reparar e consolar nosso Deus? A Coroação de Espinhos. A coroa sempre foi símbolo de superioridade, nobreza e desejo. É colocada no nosso membro mais alto, a cabeça. Quantas vezes não desejamos a coroa, quantas vezes não utilizamos nossa inteligência para ser coroado? Nosso Senhor rumo ao Calvário. Esta é a grande via de amor, onde Jesus, ferido, se esforça para caminhar rumo ao auge do seu amor, e faz esta caminhada em silêncio e submissão ao Pai. Em nossa vida, muitas vezes quando passamos por dificuldades, queremos de qualquer forma escapar das dores, dos tormentos, e em nenhum momento sequer, nos recordamos do caminho de Jesus. É necessário sempre unir misticamente nossa vida à vida de Jesus, para que de nossa caminhada fluam forças para chegarmos também à nossa cruz pessoal. A Crucificação e Morte de Nosso Senhor. Ele se rebaixa por amor a nós, a cruz é auge do amor, se outrora nossos pais no Éden, comeram do fruto do pecado2, na bendita árvore da cruz, fomos redimidos pelo bendito fruto nascido da Virgem. Os mistérios da dor não são mistérios de acusação, mas nos ensinam a fazer memória e a partir das dores de Nosso Senhor, regar as nossas dores de esperança, amor e luz. Assim nos diz Santo Agostinho: “O não reconhecimento da culpa, a ilusão de inocência não me justifica nem me salva, porque o entorpecimento da consciência, a incapacidade de reconhecer em mim o mal enquanto tal é culpa minha. Se Deus não existe, talvez me deva refugiar em tais mentiras, porque não há quem me possa perdoar, ninguém que seja a medida verdadeira. Pelo contrário, o encontro com Deus desperta a minha consciência para que não me forneça uma autojustificação, cesse de ser um reflexo de mim mesmo e dos contemporâneos que me condicionam, mas torne-se de escuta do mesmo Bem. Para que a oração desenvolva essa força purificadora, deve, por um lado, ser muito pessoal, um confronto do meu eu com Deus, com o Deus vivo.” 1
Mistérios da Dor, Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae
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(Gn 3,1-5).
Os mistérios da dor nos desafiam a esta luta contra o nosso eu. Enxertado pela esperança do Deus que se deu por mim, devo eu traçar esta luta contra meus pecados e as tendências em que a sociedade contemporânea tenta impor. Cristo Sofredor no próximo A esperança não é uma virtude egoísta, nos leva a uma dimensão do amor solidário de Deus. Assim, todos nós que partilhamos destes mistérios, somos impulsionados a enxergar na carne do próximo o próprio Cristo. Na Toca de Assis, todas as quintas e sextas-feiras vivenciamos as Vigílias Eucarísticas, onde junto com Nosso Senhor, Verdade e Amor Encarnado, revivemos sua caminhada. Alimentados pelo Verbo Encarnado, buscamos sua carne sofredora nos pobres. Ali vemos misticamente nas chagas da sociedade, as chagas de Jesus. Sabemos que não somos capazes de acabar com o sofrimento das ruas, mas podemos aliviar sua dor e a sua paixão. Na carne do pobre sofredor, buscamos a Jesus, não porque somos melhores, mas porque Deus nos confiou esta missão, de ser alívio, de ser consolo. Sabemos que nossa pobreza se une à deles, e o Evangelho nos assegura: “Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles.” (Mateus 18,20)
Fernando Nunes
Fraternidade de Aliança Toca de Assis
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cristo, rei do universo
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solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, é celebrada no último domingo do ano litúrgico, ou seja, no lugar do 34º domingo do tempo comum, que seráesteano no dia 23 de novembro, pois o encerramento do ano litúrgico difere do calendário civil. No decorrer da liturgia anualcelebramos os mistérios da vida de Cristo, a solenidade de Cristo Rei é como o coroamento de todos eles. Jesus Cristo Rei está no eixo de um há outro ano, porque Ele é “o centro do gênero humano, a alegria de todos os corações e a plenitude das suas aspirações” (GS 45).Afirmou o Papa Leão XIII: “Seu império não abrange tão só as nações católicas ou os cristãos batizados, que juridicamente pertencem à Igreja, ainda quando dela separados por opiniões errôneas ou pelo cisma: estende-se igualmente e sem exceções aos homens todos, mesmo alheios à fé cristã, de modo que o império de Cristo Jesus abarca, em todo rigor da verdade, o gênero humano inteiro” (Enc. AnnumSacrum). Foi Pio XI, em 1925, com a Encíclica “Quas Primas” que introduziu a referida solenidade. O Papa focou em reparar e contestar os excessos do laicismo que pretendia“substituir à religião de Cristo um simples sentimento de religiosidade natural” (QP, 22). O mundo passava por grandes transformações ideológicas e progresso tecnológico e frenéticamente enfraquecia na fé, por isso levou Pio XI a declarar “que esta aluvião de males sobre o universo provém de terem a maior parte dos homens removido, assim da vida particular com da vida pública, Jesus Cristo e sua lei sacrossanta” (QP, 1).
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Consciente da necessidade de fazer recordar o reinado de Cristo, que é desde sempre e para sempre, Pio XI não se contentou em apenas escrever uma encíclica para esse fim, quis introduzir na liturgia essa solenidade. Observando que os documentos do magistério são apreciados por um número restrito de “espíritos mais cultos”, ao passo que as festas atingem e instruem a universalidade dos fiéis. Os primeiros falam uma vez só, as segundas falam sem intermitência de ano para ano” (QP 19). O antigo adágio latino: “Lex orandi,
Lex credendi” – a lei da oração é a lei da fé – nos esclarece as razões pelas quais o Papa ter introduzido a solenidade de Cristo Rei, afinal “a Igreja crê conforme reza” (cat. 1124). A realeza de Cristo inicia com a Encarnação, na anunciação o Anjo Gabriel proclama que “seu reinado não terá fim” (Lc 1,33). Quando nos referimos a Jesus Cristo temos a clarividência de que sua existência terrena começa com o grande evento salvífico da Encarnação. Embora, enquanto Ele sempre existiu, enquanto
FORMACAO homem passou a existir ao se unir a nossa humanidade. A Encarnação é o mistério central da criação, pois o Verbo é: “o primogênito de toda criatura, porque nele foram criadas todas as coisas [...] Ele é antes de tudo e tudo nele subsiste. Ele é a Cabeça da Igreja, que é o seu Corpo” (Cl 1, 15-18). Jesus Cristo introduziu sua vida pública anunciandoo Reino: “Completou-se o tempo e o reino de Deus está próximo” (Mc 1, 15), isso equivale a dizer: “Deus está próximo!”, pois “o Reino manifestase principalmente na própria pessoa de Cristo, Filho de Deus e Filho do Homem” (LG 5).Esse Reino “já está misteriosamente presente na terra; porém, quando o Senhor vier será consumado” (GS 39). Cristo constituiu a Igreja como o “germe e o início deste Reino” (LG 5). O Vaticano II afirma:“A Igreja, reino de Cristo já presente em mistério, cresce de forma visível no mundo, pelo poder de Deus” e o Concílio continua explicandocomo cresce esse Reino de Deus na terra: “Sempre que no altar é celebrado o sacrifício da cruz, em que foi imolado Cristo, nossa Páscoa (1 Cor 5,7), realiza a obra da nossa redenção” (LG 3). Em síntese, é a Encarnação o coroamento da obra da Criação e início do seu reinado que não terá fim. Esse Reino continua expandindo pelo ministério da Igreja, especialmente quando celebra a Eucaristia – mistério central da nossa fé – no qual atualiza a obra da salvação. Pelo sangue de Cristo, a criação, marcada pelo pecado, foi restaurada n’Ele, assim podemos exprimir que houve uma “nova criação”. Mas, a consumação desse Reino se dará
“quando o Filho do Homem vier em sua glória para o último julgamento (Mt 25, 31). São Cirilo de Alexandria- Padre da Igreja – escreveu que Cristo “possui o domínio de todas as criaturas, não pelo ter arrebatado com violência, senão em virtude de sua essência e natureza”. Entretanto, além de ser rei por direito de natureza divina o é também a título de Redentor (cf. QP 10).Pertencem ao Papa emérito Bento XVI as palavras: "É precisamente oferecendo-se a si mesmo no sacrifício de expiação que Jesus se torna o Rei universal, como Ele mesmo declarará ao aparecer aos Apóstolos depois da ressurreição: “FoiMe dado todo Zo poder no céu e na terra” (Mt 28, 18). Mas em que consiste o “poder”de Jesus Cristo Rei? Não é o dos reis e dos grandes deste mundo; é o poder divino de dar a vida eterna, de libertar do mal, de derrotar o domínio da morte. É o poder do Amor [...]” (Bento XVI, Angelus de 22-11-2009). Pio XI na Encíclica Quas Primas prescreveu que a cada ano na solenidade de Cristo Rei seja renovado o ato de consagração do gênero humano ao coração de Jesus (cf. QP 28). O diretório de liturgia recorda que convém fazer o ato de consagração do gênero humano a Jesus Cristo Reinas paróquias, Igrejas ou oratórios renovando diante do Santíssimo Sacramento exposto, o ato de consagração do gênero humano a Jesus Cristo Rei.
Abreviações: QP: Encíclica de Pio XI Quas Primas GS: Constituição Pastora GaudiumetSpes do Vaticano II LG: Constituição Dogmática Lumen Gentium do Vaticano II
Oração de consagração Docíssimo Jesus, Redentor do gênero humano, lance sobre nós, que humildemente estamos prostrados diante do vosso altar, os vossos olhares. Nós somos e queremos ser vossos; a fim de podermos viver mais intimamente unidos a vós, cada um de nós se consagra, espontaneamente, neste dia, ao vosso sacratíssimo Coração. Muitos há que nunca vos conheceram; muitos, desprezando os vossos mandamentos, vos renegaram. Benigníssimo Jesus tende piedade de uns e de outros e tragam-os todos ao vosso sagrado Coração. Senhor, sede rei não somente dos fiéis, que nunca de vós se afastaram, mas também dos filhos pródigos, que vos abandonaram; fazei que estes retornem, quanto antes à casa paterna, para não perecerem de miséria e de fome. Sede rei dos que vivem iludidos no erro, ou separados de vós pela discórdia; trazei-os ao porto da verdade e à unidade da fé, a fim de que, em breve, haja um só rebanho e um só pastor. Senhor conserve incólume a vossa Igreja, e dai-lhe uma liberdade segura e sem peias; concedei ordem e paz a todos os povos; fazei que, de um pólo a outro do mundo, ressoe uma só voz: louvado seja o coração divino, que nos trouxe a salvação; honra e glória a ele, por todos os séculos. Amém. Concede-se indulgência parcial ao fiel que recitar piedosamente este ato, e plenária quando se recitar publicamente na solenidade de Jesus Cristo Rei (EnchiridionIndulgentiarum, Concessiones, 2 - correponde à 27ª da 3ª ed. do Manual).
Irmã Salete da Santíssima Trindade Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento
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ser fiel até o fim!
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s consagrados e consagradas da Igreja são como vasos de argila que carregam dentro de si um tesouro maravilhoso: suas vocações. E, a vocação dos religiosos tem um caráter absolutamente escatológico, ou seja, anuncia os novos Céus e a nova Terra, apontam o Céu enquanto ainda vivem em meio a esse mundo. Sabemos que Jesus virá um dia em sua glória, e que quando vier com seus anjos irá estabelecer o seu Reino definitivamente e todos os vivos e mortos serão julgados pelo poder e glória do nosso Deus. E, por isso toda Igreja implora: “Vem, Senhor Jesus!”. Queremos apressar a vinda de Jesus, que não tarde mais. Entretanto, para todos nós que morrermos, antes da volta de Jesus, teremos a experiência de passar por um
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Advento pessoal. Sim, Ele pode voltar hoje só para mim ou para você e nosso tempo será abreviado. Muitas pessoas temem a morte do corpo, mas deveriam temer muito mais a morte da alma, que terá consequências enormes, visto que após a morte, haverá uma eternidade, que pode não ser nos Céus. Mesmo sendo o consagrado um prenuncio do Céu, também eles são surpreendidos por esse Advento pessoal, e a qualquer momento podem deixar de viver nessa terra e, se tiveram uma vida santa, poderão gozar do encontro eterno com o Esposo da Igreja. Em nossa Fraternidade tivemos alguns irmãos e irmãs que já viveram o seu advento, e queremos nesse mês de novembro, em que fazemos memória de nossos finados, fazer uma homenagem aos consagrados e consagradas que nos precedem no Céu.
CORACAO DA TOCA
Arquivo Filhos da Pobreza
Quem não se lembra do Irmão Alegria da Eterna Jerusalém? Um dos primeiros irmãos da Fraternidade, que assinalou o início do Instituto com sua marca inconfundível que acabou sendo o próprio onomástico: Alegria! Com seu jeito despojado de ser, era um irmão muito querido e afetuoso, singular presença entre os primeiros “toqueiros”. Durante sua caminhada na vida religiosa, estudou filosofia em vista do sacerdócio, o que era muito desafiador, exatamente por que vivia com muita intensidade o carisma. Se fossemos assinalar algumas marcas deste nosso Irmão, teríamos muitas lembranças, especialmente da forma como ele adorava o Senhor na capela, tinha uma postura intacta, os olhos surpreendentemente fixos em Jesus, mantendo-se de joelhos por horas seguidas, enquanto o Santíssimo estivesse exposto. Mesmo tendo sérios problemas de saúde. Muitos até hoje se lembram do bipe do marca-passo que tinha no coração e que ressoava perante o silêncio da adoração. Nos últimos anos de vida, viajava bastante pelas casas da Toca, principalmente nos noviciados, para levar o anúncio do carisma e seu testemunho de vida que era profundo e contagiante.
dizia constantemente é: “Quero ser de Deus!”. Sobre a Igreja, ele afirmava: “Ser fiel até o fim, amando-a com minha vida!”. E, com a graça de Deus conseguiu, morreu de marrom, sendo até hoje para nós um grande exemplo de Filho da Pobreza.
Um pregador da Palavra de tirar lágrimas. Anunciava com muita veracidade o Evangelho, especialmente no tocante ao carisma da Toca. Uma frase que o Irmão Alegria
Faleceu no dia 20 de junho de 2006 e foi sepultado no dia 22 de junho, após saudoso velório na Igreja do Sagrado Coração de Jesus em Paulínia /SP.
Outros Irmãos que nos precedem: Instituto Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento
Instituto Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento
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Denes (noviço) Irmão André Irmão Graciano Irmão Junípero
Irmã Bernadette Irmã Lázara Maria
Departamento de Comunicação Fraternidade Toca de Assis
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ARTIGO ESPECIAL
vai e reconstrói a minha igreja, o novo cd da toca de assis
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ovidos pelo Espírito Santo, motivados pela força do carisma eucarístico que os sustenta e impele a cantar louvores, os Filhos e Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento uniram-se para desenvolver um projeto audacioso e belíssimo, que já deu mais do que certo: o novo CD da Toca de Assis! Em um tempo difícil para os músicos, onde a pirataria e os downloads atrapalham e até impedem a comercialização física de CD’s muitas bandas e cantores têm sido desmotivados a gravar e divulgar seus dons por meio da música religiosa. Ousadamente, à luz do Espírito, decidimos acreditar no carinho daqueles que apreciam nosso carisma e musicalidade, oferecendo à Santa Igreja mais esse trabalho de louvor e adoração. Ao longo de seus vinte anos de fundação, nossa Fraternidade já lançou quatro CD’s. Cada projeto conteve composições e interpretações de vários irmãos e irmãs, mantendo assim pela música, a nossa identidade. Porém, nossos CD’s foram assinados pelas gravadoras e desta maneira perdemos os direitos sobre nossos trabalhos. Pela primeira vez então estamos lançando um Álbum independente, com “selo próprio”, visto que assim, também os direitos autorais e de fonogramas serão todos da Toca de Assis.
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Ir. Maria Francisca, Ir. Rúbia e Ir. Maria Juliana durante a gravação do CD.
Desta forma o CD alcança a dupla finalidade de nosso carisma, ou seja, oferece músicas de amor e adoração a Jesus Sacramentado, com cânticos de reparação e exaltação ao Augustíssimo Sacramento do Altar e acaba recebendo, através do lucro das vendas, benefícios para os pobres sofredores de rua, visto que todo retorno financeiro de nossos trabalhos é destinado à Obra Social da Toca de Assis.
Irmãos e Irmãs da Toca de Assis com Lucas Kado (produtor musical), Alex Olliveira (couch vocal e participação especial) e Juninho Godoy (mixagem e co-produção).
Ir. Isáias, gravando a música “ Certeza do Último Lugar”.
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Algumas composições selecionadas para compor o repertório já existiam bem antes de pensar na gravação do CD e outras nasceram durante a montagem do projeto. Além dos cantos eucarísticos, o Álbum oferece canções que levem à reflexão acerca da presença de Jesus nos pobres, músicas vocacionais, esponsais, inclusive uma mariana belíssima interpretada pela Ziza Fernandes, em uma das participações especiais. Os dias em que os irmãos e as irmãs estiveram reunidos para os ensaios e gravações foram os mais intensos, ali percebemos que seria necessário muita oração e unção, pois seria o momento das vozes serem o canal de Deus para tantas pessoas que precisam ouvir falar do Santíssimo Sacramento. Os
ARTIGO ESPECIAL
Juninho Godoy e Ir. Emanuel durante a gravação da música “ Luta Desigual”.
técnicos, a produção e as pessoas que passavam pelo estúdio ficaram impressionados com a beleza das vozes, não pela profissionalidade, mas pela profundidade. E, qual o segredo? São adoradores do Santíssimo Sacramento: esse fato muda tudo na hora de cantar! Também contamos com o auxílio do Alex Olliveira, treinador vocal que ajudou na técnica e aquecimento vocal durante os movimentos de ensaio prévios à gravação e no próprio estúdio.
Gravação da música “ Nossa História”.
Finalmente chegou o momento do lançamento do CD da Toca de Assis, intitulado “Vai e Reconstrói a minha Igreja”, assinado pelo produtor Lucas Kado. Agradecemos a todos que acreditaram nesse sonho, aos Filhos e Filhas da Pobreza que abrilhantaram de uma forma ou de outra esses trabalhos e todos que contribuíram. Contando com o apoio de todas as pessoas que curtem nossas Redes Sociais nos lançamos nessa empreitada de amor a Jesus presente no altar e no pobre, para maior honra e glória de Nosso Grande Deus e Senhor!
Ir. Nínive e Ir. Belém responsáveis pelo setor de comunicação da Toca de Assis, e pela direção geral da gravação do novo CD.
Irmão Belém, fpss
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“A Catedral de Campinas é uma Igreja linda e acolhedora, onde o povo vem descansar nos braços da Imaculada Conceição.”
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or insipiração do Padre Rafael Capelato, vigário paroquial, fomos convidados pelo Cônego Álvaro Ambiel, Paróquia Imaculada Conceição, Catedral de Campinas, em nome do Senhor Arcebispo Metropolitano D. Airton José dos Santos, a iniciarmos no dia 27 de julho de 2013, um trabalho como sacristãs desta Igreja. Eram nesta época as Irmãs Maria Eugênia, Irmã Maria Emilia e Irmã Abigail. Hoje, continuam este trabalho, as Irmãs Maria das Graças, Irmã Ana Cássia e Irmã Noemi. Nosso trabalho como sacristã é preparar e zelar pelos mistérios que circundam os Sacramentos da Igreja, como a celebração da Eucaristia, preparando todo o presbitério como o altar, a credência com os vasos sagrados, as alfaias, o ambão da palavra de Deus e as vestes Litúrgicas dos Sacerdotes. As Santas Missas são celebradas de segunda a sábado em três horários e no domingo em cinco horários diferentes. Preparamos também os batizados, 14
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que é o “sacramento da iniciação e fundamento de toda a vida cristã, a porta que abre o acesso dos demais Sacramentos. “(cf: CIC 1213) Nesse um ano de experiência vimos uma Igreja viva e atuante que se revela nos pequeninos e podemos experimentar a fé e a piedade do povo campineiro. Tivemos também a graça de contemplar a beleza sacra da Igreja e sua riqueza artística. Como dizia nosso saudoso amigo Dom Bruno Gamberini: “A Catedral de Campinas é uma Igreja linda e acolhedora, onde o povo vem descansar nos braços da Imaculada Conceição”. Como filhas desta Igreja local, consagradas a Deus, podemos testemunhar nesta missão que Cristo vive na Eucaristia e nos atrai com laços de humanidade. Imaculada Conceição, rogai por nós!
Leonardo de Souza
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TOCA EM ACAO
Padroeira Imaculada Conceição refere-se a um dogma através do qual a Igreja declarou que a concepção da Virgem Maria foi sem a mancha (mácula em latim) do pecado original. Desde o primeiro instante de sua existência, a Virgem Maria foi preservada do pecado pela graça de Deus. Ela sempre foi cheia da graça divina. O dogma declara também que a vida da Virgem Maria transcorreu completamente livre de pecado. Desde os tempos da Igreja primitiva, os fiéis sempre acreditaram que Maria, a Mãe de Jesus, nasceu sem o pecado original. Tanto no Oriente como no Ocidente, há grande devoção à Maria enquanto mãe de Jesus e Virgem sem Pecados. No começo do cristianismo o dogma da Imaculada Conceição já era tida como uma verdade de fé para os fiéis.
Irmã Maria das Graças
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DE OLHO NA RUA
A saudade dos que nos deixam...
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uando chegamos ao mês de novembro, logo nos vem à recordação,todos aqueles que um dia passaram por nossas vidas. É o mês da saudade, da ausência de pessoas que não podemos mais encontrar aqui nesse mundo em que vivemos. A partida nos traz o sofrimento de não termos mais a presença de quem tanto queremos bem. Mesmo crentes na certeza da ressurreição, ainda assim somos, por natureza mortal, induzidos pelos sofrimentos que nascem da perda. Como não recordar a vida de tantos homens e mulheres que conhecemos e convivemos nas ruas e em nossas casas, de tão especial e marcante presença em nossa história, e que, como que roubaram parte de nós em uma partida sempre repentina. Passaram como verdadeiros trecheiros desta vida, que chegam, se estabelecem, nos conquistam e partem, como se fossem destinados por um curto prazo de tempo a realizar em nossos corações suas últimas tarefas nessa vida terrena. Tantos que encontramos nas ruas em condições de extrema precariedade na saúde e que ao entrarem em nossas casas por um impressionante curto espaço de tempo se recuperam, mas de uma hora para outra partem. Vem-nos a intuição de que Deus permitiu que passassem por nossas casas para adormecerem com dignidade. Sem falar os que assim partiram ainda em situação de rua. Por limitações psicológicas ou pelo vício, acabaram por encerrar os seus dias em extrema condição de abandono. Não há frustração maior do que, tendo conhecido alguém em semelhante realidade e desejando encontrá-lo nas ruas, por ter estabelecido um vínculo, ser surpreendido com a notícia de que veio a óbito durante a madrugada anterior.A sensação de ter deixado a desejar no auxílio enquanto estava vivo, de sentir que poderia ter realizado algo para que não viesse a falecer em tal situação, faz nascer uma crise, que não pode deixar-nos desanimar, mas sim lutar para que a vida, mesmo nas ruas, se estabeleça.
É preciso dar ênfase à realidade de inúmeros irmãos que falecem em condições de indigência, sem nenhum registro de documentação e contato familiar. Quando são enterrados, ainda o são em valas praticamente comum. Em São Paulo, no cemitério de Perus, onde estão sepultados grande parte dos nossos irmãos, foi constatado pela Pastoral de Rua que vários deles já chegam para serem sepultados em condições avançadas de decomposição e, ainda assim, são colocados em valas comuns, com tantos outros. São como que “socados” para que se possa colocar mais pessoas e aproveitar a vala. Aqueles corpos que perdemos por não conseguirmos os documentos necessários para o sepultamento, acabam sendo encaminhados para serem materiais de estudo nas faculdades. Em meados de 2010, fomos convidados por uma conhecida funcionária da USP a participarmos de uma celebração no local onde são estudados os corpos e, grande parte dos que ali estavam, eram de pessoas que morreram em situação de rua. Durante a Campanha da Fraternidade desse ano, que tinha como tema o Tráfico Humano, foram levantadas pela Pastoral de Rua de São Paulo, suspeitas de que exista um tráfico de corpos de pessoas que morrem em condições de indigência. Há suspeitasde que exista até mesmo um código em que se colocam os nomes de “João” e “Maria”, para fazerem a seleção daqueles que serão traficados. Já existe uma investigação em torno de tais suspeitas, em hospitais que assim procedem. Para nós da Toca de Assis, poder sepultar nossos irmãos de rua com dignidade é repetir o ato que José de Arimatéia fez com o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mesmo sem vida, Ele ali se faz presente.
Irmão Romero, fpss
Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento
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DIARIO DE UM PEREGRINO
Missão eucarística em cotia
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Arquivo Filhas da Pobreza
hora de mostrar a capacidade da Igreja para promover e formar discípulos e missionários que correspondam à vocação recebida e comuniquem em toda parte o dom do encontro com Jesus Cristo. Não temos outro tesouro, senão este. Não temos outra prioridade, senão sermos instrumentos do Espírito de Deus na Igreja.” (Introdução- CELAM) No dia 03 de agosto, iniciamos a Missão Eucarística em Cotia, na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, com o intuito de levarmos às famílias e à todos que abordássemos o “kerigma”, ou seja, o anúncio do amor de Deus. Foi uma missão desafiadora e de caráter profético. Entramos em muitos lares que já não professavam mais a fé católica, ou que, em nome da enculturação, passaram a frequentar a seitas e entidades não cristãs, tendo hoje uma fé fragmentada e sem alicerce. Todos os dias visitávamos uma comunidade da paróquia e ao fim da tarde, rezávamos o terço com o povo. Fazíamos também um momento de pregação, adoração ao Santíssimo Sacramento e encerrávamos os nossos trabalhos com a Santa Missa. Tivemos muitos momentos fortes onde experimentamos os apelos de Deus em nossas almas. Nós, como Filhos e Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento, que trazemos impressos em nossos corações esse legado de amor a Jesus escondido no véu do Sacramento, fomos levados até aquelas capelinhas simples, para testemunharmos ali o nosso amor a Jesus Eucarístico e o amor de Jesus àquele povo. Quantas pessoas se afastam da Igreja católica simplesmente por terem sede de quem as toque, compreenda suas dores e as ajude a caminhar sem perderem a fé. Senti muita compaixão daquele povo e saí daquela missão com o desejo de doar-me mais e ser mais acessível àqueles que nos buscam pelo nosso carisma.
Ir. Luciana Maria de Jesus Misericordiso Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento
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Novembro 2014 - Toca de Assis
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