Publicação da Fraternidade de Aliança Toca de Assis - Março de 2015
Paixao do Senhor
Revista
ÍNDICE Toca de Assis Equador
Artigo Especial 3
Mãe da Igreja MARÇO 2015 Publicada por Fraternidade de Aliança Toca de Assis CNPJ: 02019254/0001-87
Toca em Ação 14
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Formação
Escritório São José Rua Amador Bueno, 45, Vila Industrial Campinas/SP. CEP: 13035-030 comunicacaocentral@tocadeassis.org.br Fone: (19) 3886-7086 SAV- Serviço de Animação Vocacional
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De Olho na Rua 6 Diário de um Peregrino
Coração da Toca
Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento
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vocacional@fpss.org.br
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Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento
sav.nacional@filhasdapobreza.com.br Revista Toca de Assis Publicação mensal interna da Fraternidade de Aliança Toca de Assis
Presidente: Ir. Maria dos Anjos do Mistério da Cruz,fpss. Departamento Comunicação Ir. Belém, Ir. Nínive, Leonardo de Souza e Anima Studio. Editor chefe: Ir. Belém,fpss Projeto gráfico: Anima Studio Diagramação: Anima Studio Revisão Ortográfica: Lucimara Castro Impressão e tiragem: 10.000 exemplares Colaboradores nesta edição: Ir. Belém; Ir. Romero; Ir. Nínive; Ir. Maria dos Anjos; Ir. Leone; Ir.Agraziato; Ir. Sara Maria; Ir. Eli; Fernando Nunes; Norma Barros de Lima; Edinéia Tocchio Viggiani; Janaina Piedade; Sidney Paco Vilarim; Évelyn Renata; Oscar Nascimento; Leonardo de Souza, Raquel M. Deliberador.
Capa Altar Lateral da Capela dos Filhos da Pobreza em Quito - Equador, por Janaina Piedade.
www.tocadeassis.org.br
Prezado amigo Leitor, Paz e bem!
EDITORIAL
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o mês de Março na coluna “MÃE DA IGREJA” continuaremos na escola do Anjo da Paz, juntamente com os pastorinhos a percorrer o caminho do Sacrifício e Reparação. A “FORMAÇÃO”, vamos refletir brevemente como os mistérios da vida de Cristo estão inevitavelmente ligados à sua obra redentora e, para tal, vamos nos ater nessa formação ao aspecto sacrifical de sua vida. No “CORAÇÃO DA TOCA”, nos aprofundaremos na Via-Sacra e como tem sido alimento sólido na nossa caminhada carismática e vocacional. O nosso “ARTIGO ESPECIAL”, a Campanha da Fraternidade 2015 traz o sugestivo lema “Eu vim para servir” (cf. Mc 10,45), e aqui encontramos nossa identidade e missão como Toca de Assis, ou seja, amar e servir os pobres, indo ao encontro deles nas ruas, encruzilhadas, viadutos e cracolândias, levando o amor de Deus em nome da Igreja Católica. No artigo “TOCA EM AÇÃO” , conheceremos um belo testemunho de Norma Barros de Lima, leiga de nossa fraternidade na missão do Rio de Janeiro. Na coluna “DE OLHO NA RUA” conheceremos um projeto que vem em auxílio a população de rua da Cidade de Campinas/SP. O “DIÁRIO DO PEREGRINO” veremos que é possível peregrinar dentro de nossa própria cidade, vivendo uma linda experiência com Jesus nos Sacrários. Departamento de Comunicação
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Toca de Assis no Equador No próximo mês nossa revista será escrita pelos membros de nossa missão em Quito, no Equador. Através deles poderemos vivenciar um pouco de nosso Carisma, na metade do mundo.
Reparação e Sacrifício Imagem da Internet
Primeira Aparição
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s Pais de Jacinta e Francisco entregaram-lhe a guarda do rebanho e estes começaram a acompanhar Lúcia. Dá-se início à saga dos pastorinhos. Certa manhã, na primavera de 1916, quando se abrigavam de uma chuva fina na Loca do Cabeço, pequena gruta situada numa propriedade do padrinho de Lúcia, o Anjo lhes apareceu claramente pela primeira vez. À medida que ele se aproximava, os meninos iam distinguindo sua fisionomia: Era a de um jovem de 14 ou 15 anos, mais branco que a neve, que no sol tornava-se transparente como cristal e de grande beleza. Ao chegar junto dos pastorinhos disse: - Não temais, sou o Anjo da Paz. Orai comigo. Ajoelhou-se e se curvou até tocar o chão com a fronte. Os três meninos fizeram o mesmo e repetiram as palavras que lhe ouviam pronunciar: - Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam. Após ter recitado essa oração três vezes, o Anjo levantou-se e disse-lhes que rezassem sempre, porque Nosso Senhor e Nossa Senhora estavam atentos às suas orações. E desapareceu.
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MAE DA IGREJA Segunda Aparição No final de Julho do mesmo ano, quando os pastorinhos brincavam junto ao poço no quintal da casa de Lúcia, o Anjo surpreendeu-os novamente, e disse-lhes: - O que fazeis? - perguntou. - Rezai, rezai muito! Os Corações de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e de súplica pela conversão dos pecadores. Como havemos de nos sacrificar? perguntou Lúcia. - De tudo o que puderdes, oferecei a Deus sacrifício em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e súplica pela conversão dos pecadores. Atraí, assim, sobre a vossa Pátria a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo aceitai e suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos enviar. Dizendo isto, desapareceu.
Terceira Aparição Por volta de outubro de 1916, novamente na Loca do Cabeço, deu-se a última aparição do Anjo. Depois de terem tomado a merenda, as crianças se puseram a rezar, com o rosto em terra, repetindo a oração que dele haviam aprendido. De repente, perceberam uma luz desconhecida a brilhar sobre eles. Ergueram-se e viram o Anjo, que trazia na mão esquerda um cálice, so-
bre o qual, com a direita, segurava uma Hóstia. Desta caíam algumas gotas de Sangue dentro do cálice. Deixando a Hóstia e o cálice suspensos no ar, o Anjo se colocou junto às crianças, curvou-se também e lhes ensinou outra oração ainda mais bela:
aparições e ofereceram incessantemente sacrifícios pelos pecadores. E assim foi que suas almas inocentes foram preparadas, para meses depois encontrarem Nossa Senhora.
- Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, presente em todos os Sacrários da Terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores. Levantando-se, o Anjo tomou na mão a Hóstia e a deu a Lúcia. Francisco e Jacinta se perguntavam se receberiam também a Hóstia, pois ainda não tinham feito a Primeira Comunhão. O Anjo avançou até eles e deu-lhes a beber do cálice, dizendo: - Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos! Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus. Depois, ajoelhou-se e repetiu a mesma oração três vezes: "Santíssima Trindade...", etc. E desapareceu. Os pastorinhos continuaram a repetir essa oração, quando se deram conta, já era noite, e voltaram para suas casas. Nunca mais viram o Anjo, mas ficaram profundamente marcados pelas
Toca de Assis na Escola do Anjo da Paz Em nossas casas fraternas, todos os dias rezamos a oração do Anjo de Portugal e por meio de nosso carisma, vivemos intensamente a reparação eucarística, buscando em todos os gestos render atos de amor e adoração a Nosso Senhor. O Coração de nossas casas é a Capela, onde habita nosso tesouro, acercados dessa graça, de morar com o Santíssimo Sacramento, buscamos com ardor deixar que esse mistério nos penetre no mais íntimo de nosso ser.
Referência: Livro “Jacinta e Francisco, Prediletos de Maria” - Monsenhor João Clá, EP.
Fernando Nunes
Fraternidade de Aliança Toca de Assis
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Paixão do Senhor
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Altar Lateral da Capela dos Filhos da Pobresa do Santíssimo Sacramento em Quito - Equador
á pouco tempo celebramos na liturgia o mistério do natal e já estamos perto do tempo litúrgico da Paixão do Senhor. Portanto, pretendo refletir brevemente com o leitor como os mistérios da vida de Cristo estão inevitavelmente ligados à sua obra redentora e, para tal, vou me ater nessa formação ao aspecto sacrifical de sua vida. Mas perguntemo-nos como definir um sacrifício, como explicar o termo? Santo Agostinho, citado no catecismo, nos explica assim: “Verdadeiro sacrifício é todo o ato realizado para se unir a Deus em santa comunhão e poder ser
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feliz” (Cat. 2099). Outra definição, mais completa e incisiva para o sacrifício eucarístico, encontramos com o Pe. Nathanael Thanner, ORC: “O sacrifício é um ato de amor a Deus, pelo qual o ser humano se entrega a si mesmo, em adoração a Deus, realizando um dom substancial, para entrar em comunhão consumada com Ele” (Revista Sapíentía Crucís n.4, pg. 52). Essa parece ser uma definição complexa, vamos por partes para assimilar melhor.
FORMACAO O sacrifício é um ato de amor a Deus. Por essa razão, para o Verbo oferecer por nós um sacrifício expiatório deveria despojar da sua condição divina (cf. Fl 2,6ss), era necessário a encarnação, pois ela é o início do sacrifício que culminará na cruz. Além de ser ato de amor, o sacrifício é ato de adoração, ou seja, um ato de “amor adorador”, porque não poderia ser verdadeiro amor a Deus sem lhe render a devida homenagem: “adorar a Deus é reconhecê-lo como Deus” (Cat. 2096) O sacrifício “realiza um dom substancial”. Esse dom substancial significa que “para haver um verdadeiro sacrifício é necessário que aquilo que é entregue (oferecido) seja uma substância, um ser substancial, não apenas uma ação; deve ser um ser, não somente um agir; e tratando-se de um ser vivo, precisa ser a vida, no sentido primário desta palavra, isto é, a própria substância do ser vivo, não apenas uma atividade vital” (Sap. Cr. 4, p. 57). Entretanto, o sacrifício será perfeito se for uma oferta direta, ou seja, da própria pessoa se oferecendo e não oferecendo outrem. Essa entrega substancial da pessoa a transforma pela comunhão que realiza com Deus. Por isso, o sacrifício tem como finalidade entrar em comunhão com Deus (cf. Cat. 613).
Depois dessa definição fica entendido que o sacrifício é ato de amor do homem a Deus e não de Deus ao homem, é movimento, por assim dizer: de baixo para cima, por essa razão “o Verbo que estava voltado para Deus e era Deus” ( Jo 1,1) teve de descer para fazer esse movimento de oferenda. Deve-se prestar atenção que o sacrifício de Cristo é oferecido “por nós homens e para a nossa salvação”, não para nós, mas oferecido para o Pai. Por essa razão, a oração eucarística é rezada pelo sacerdote in persona Christi (na pessoa de Cristo cabeça) em primeira pessoa e toda dirigida ao Pai. Na voz do sacerdote é Cristo mesmo que reza, o sacrifício tem esse movimento ascensional, de Cristo para o Pai também na liturgia eucarística, pois “a Eucaristia é sacrifício em sentido próprio em virtude da sua íntima relação com o sacrifício do Gólgota” (cf, EE 13). A liturgia Eucarística se inicia com o ofertório e a oração Eucarística começa com o convite do sacerdote para os fiéis elevarem os corações para o Senhor. Nela se dá o momento “central e culminante de toda a celebração”. “O sentido desta oração é que toda a assembleia dos fiéis se una a Cristo na proclamação das maravilhas de Deus e na oblação do sacrifício” (IGMR 78).
Fontes e siglas: Catecismo (Cat.); Instrução Geral sobre o Missal Romano (IGMR); São João Paulo II: Encíclica Ecclesia de Eucharistia, 2003 (EE); Revista Filosófica teológica Sapíentía Crucís n.4, 2003 (Sap. Cr.).
A dimensão sacrifical da missa se encontra com a dimensão de banquete, mas sendo sempre a sacrifical primacial, pois não pode haver a comunhão (“banquete”) sem o sacrifício. Essa é mesmo a lógica da liturgia Eucarística, na sua primeira parte (ofertório, oração eucarística e consagração) não se percebe nada da dimensão de banquete, porque é sacrifício, porém o sacrifício de Cristo é para nossa comunhão com Deus realizado no banquete. É por causa do sacrifício de Jesus oferecido ao Pai que podemos chegar ao momento da comunhão na missa. Foi Deus que nos amou primeiro: “não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele quem nos amou e enviounos o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados” (1 Jo 4, 10). Tendo assim nos amado, deu-nos capacidade de amá-Lo também com o sacrifício, conclui São João: “Quanto a nós, amemos, porque Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4,19). Entretanto, é pelo “único sacrifício perfeito” que o Pai aceita o nosso sacrifício. “Ao entregar à Igreja o seu sacrifício, Cristo quis também assumir o sacrifício espiritual da Igreja, chamada, por sua vez, a oferecer a si própria, juntamente com o sacrifício de Cristo” (EE 13). “Unindo-nos ao seu sacrifício, podemos fazer da nossa vida um sacrifício a Deus” (cf. Cat. 2100).
Irmã Sara Maria
Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento
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CORACAO DA TOCA
A VIA-SACRA NAS CASAS DA TOCA Anima Studio
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ma das devoções mais caras aos nossos corações é a Paixão do Senhor.
Visto que a nossa redenção veio pela Vitória da Cruz, toda semana nos reunimos para, à luz do desenrolar do ano litúrgico e, como dizem as Constituições dos Filhos da Pobreza “no contexto da liturgia”, adorar o Senhor em reparação e ação de graças por Sua entrega pela salvação da humanidade. Desde o início de nossa história uma das formas concretas de meditarmos os mistérios pascais foi a já multicentenária prática dos piedosos exercícios da Via-Sacra. Sempre o fizemos, quer em adoração diante do Santíssimo, nas tardes de sexta-feira, quer em sua forma usual, percorrendo um trajeto definido pelos tradicionais quadros que retratam os passos de Jesus e sua Mãe Santíssima. Por esse foco nos unirmos à dor da humanidade, em especial dos pobres sofredores de rua, nos quais se pode facilmente contemplar, como em um espelho, o servo sofredor de quem fala o profeta Isaías. A meditação da Paixão por meio da Via-Sacra, desde que foi instituída pelos franciscanos, custódios dos lugares santos de Jerusalém e introduzida no coliseu em 1750 pelo capu-
chinho S. Leonardo de Porto Maurício, sempre teve grande popularidade em toda a Igreja. É difícil encontrar uma igreja ou capela que não tenha em suas paredes os quatorze ou quinze quadros com as cruzes que ajudam na meditação dos passos do Senhor segundo o Evangelho e a Tradição da Igreja. Também para nós, Toca de Assis, meditar a Via-Sacra tem sido alimento sólido na nossa caminhada carismática e vocacional. Durante esse tempo favorável da Quaresma e Semana Santa queremos repetir esse gesto para nós tão caro e enriquecedor, organizando em nossas casas de missão esse frutuoso exercício de piedade. Para isso, convidamos a todos que nos acompanham em nossa missão a unirem-se a nós (quem mora próximo a alguma casa da Toca, procure se informar e vir rezar conosco). É importante, também, que na paróquia ou comunidade, cada cristão se organize para participar dos atos de piedade que ajudam na preparação para a grande festa da Páscoa da Ressurreição de Senhor. Que o Cristo que sofreu, morreu na Cruz e ressuscitou para nossa Salvação dê a todos uma profunda experiência de seu amor e que essa experiência transborde em atos de amor ao próximo.
Irmão Agraziato
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Sidney Paco Vilarim
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Marรงo 2015 - Toca de Assis
ARTIGO ESPECIAL
"EU VIM PARA SERVIR" Jesus, erguendo-se da Ceia, jarro e bacia tomou. Lavou os pés dos discípulos, esse exemplo nos deixou! (Cf. Jo 13)
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tualmente, nossa Fraternidade Toca de Assis tem se organizado para alcançar a dignidade de nossos queridos moradores em situação de rua de maneira que possam ser restabelecidos em sua totalidade. Fomos percebendo com o passar dos anos que algumas ações na vida dos mais sofredores, diante da complexidade, só poderiam de fato, ser executadas com auxílio de pessoas devidamente preparadas. Assim como acontece na área da saúde, na qual solicitamos bons médicos para nossos Março 2015 - Toca de Assis
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O Objetivo da CF 2015 “Fraternidade: Igreja e Sociedade”, nessa Quaresma, tem o desejo de aprofundar, à luz do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a nossa Igreja Católica e a sociedade como um todo, propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, como serviço ao povo brasileiro, para a edificação do Reino de Deus. Por isso, afirmamos fortemente em nossas missões esse diálogo entre nossas Igrejas locais com cada município, especialmente no que se refere às políticas públicas, visto que o povo que está em situação de rua tem seus direitos, e que nosso apelo evangélico pode abrir portas para sanar muitos de seus sofrimentos. Entretanto, a Campanha da Fraternidade traz também o sugestivo lema “Eu vim para servir” (cf. Mc 10,45), e aqui encontramos nossa identidade e missão como Toca de Assis, ou seja, amar e servir os pobres, indo ao encontro deles nas ruas, encruzilhadas, viadutos e cracolândias, levando o amor de Deus em nome da Igreja Católica. E mesmo muitas vezes incompreendidos pelo sistema, sabemos
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irmãos de em situação de rua, no social, também devemos maduramente articular uma selecionada equipe técnica, para que competentemente os nossos queridos irmãos das calçadas possam ter o devido suporte. Vale lembrar que, muitas vezes, os municípios oferecem adequadamente esse serviço e raramente somos conhecedores da causa.
distinguir a nossa posição: aliviar o sofrimento do abandonado de rua. E isso se dará no serviço humilde em benefício dos desfavorecidos, seja no alimento em um determinado momento de penúria, um cobertor em um tempo de inverno, até mesmo um sentar-se na calçada para ouvir seu coração fragilizado pela vulnerabilidade e desproteção. Isso se dá em nossa Pastoral de Rua, e realmente devemos ser como pastores das ovelhas desgarradas. Essa é nossa missão! Na verdade, todos os que na Igreja atuam profeticamente, à luz da opção preferencial pelos pobres em trabalhos pastorais, devem se abrir para esse desenvolvimento integral da pessoa em situação de rua, para cooperar na construção de uma sociedade justa e solidária. E isso só será possível por meio desse diálogo. Em várias de nossas missões, essa conversa e parceria entre os servi-
ços prestados pela Rede sócio-assistencial dos municípios e as nossas Pastorais já se realizam e se complementam eficazmente. Eles contam conosco e nós contamos com eles. Podemos observar esse “duplo serviço” nos gestos de nosso querido Papa Francisco que está literalmente em meio aos pobres, beijando os doentes, tocando o povo com as mãos, realizando efetivamente sua “Pastoral” e ao mesmo tempo semeando a paz, como por exemplo, sua intervenção na aproximação entre EUA e Cuba, no fim do ano passado. Que possamos aprender a fazer “Pastoral” como nosso Pastor Papa Francisco e ousadamente abaixar-se para lavar os pés dos pobres. Ao mesmo tempo, compreender e lutar por soluções diante dos desafios da situação atual entre Igreja e sociedade.
ARTIGO ESPECIAL
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Oração oficial da CF 2015 Tema: “Fraternidade: Igreja e Sociedade” Lema: “Eu vim para servir” (cf. Mc 10,45) Ó Pai, Alegria e esperança de vosso ovo, vós conduzis a Igreja, servidora da vida, nos caminhos da história. A exemplo de Jesus Cristo e ouvindo sua palavra que chama à conversão, seja vossa igreja testemunha viva de fraternidade e de liberdade, de justiça e de paz. Enviai o vosso Espírito da verdade para que a sociedade se abra à aurora de um mundo justo e solidário, sinal do Reino que há de vir. Por
Cristo
Senhor
nosso.
Amém!
“Será uma oportunidade de retomarmos os ensinamentos do Concílio Vaticano II. Ensinamentos que nos levam a ser uma Igreja atuante, participativa, consoladora, misericordiosa, samaritana. Sabemos que todas as pessoas que formam a sociedade são filhos e filhas de Deus. Por isso, os cristãos trabalham para que as estruturas, as normas, a organização da sociedade estejam a serviço de todos”, Dom Leonardo Ulrich Steiner
Irmão Belém da Virgem de Israel Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento
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As Sombras não existem mais!
Irmão Eli, Norma e Magnólia
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orma Barros de Lima é do Rio de Janeiro e está há três anos como leiga da Toca de Assis. Conta-nos um pouco de sua experiência com Deus, na sua busca em comungar o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo e do seu retorno à Igreja, no qual a Fraternidade teve um grande papel para os acontecimentos de sua vida. “Estava deixando a doutrina Kardecista, senti vontade de comungar e fui perguntar na Igreja de Realengo. Quando estava conversando com uma senhora, veio um rapaz
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pedindo ajuda e ela falou que existia uma casa no Benfica que fazia um trabalho fantástico e o nome era Toca de Assis. Aquilo me chamou atenção porque estava saindo da doutrina Kardecista que fazia um trabalho com pessoas necessitadas, mas era uma coisa incompleta. Sentia que faltava muita coisa; estava me incomodando muito e pedia a Deus que aparecesse uma oportunidade para que eu trabalhasse com moradores de rua, usuários de drogas, até pela história do meu filho.
TOCA EM ACAO Trabalho com habilitação e estava tirando fotos, quando um dia chegou um irmão (consagrado), e o meu supervisor, com quem já havia comentado sobre a Toca de Assis, pediu que o atendesse.
tava, estava toda suja e precisava trocar a roupa dela ali na Central do Brasil. Quando fiz, vi que era aquilo que queria fazer e me identifiquei com a Toca naquele momento, com todo aquele carinho com os moradores de rua.
Ele veio fazer a habilitação e começamos a conversar. O irmão foi falando coisas com as quais fui me identificando e passei o meu telefone. Ele disse que uma pessoa chamada Magnólia iria me ligar. Fiquei entusiasmada e esperando esse telefonema.
Foi nascendo aquele desejo de fazer a primeira comunhão que não tinha feito, de passar a frequentar a Igreja. Dentro da Toca eu via irmãos e leigos recebendo Jesus Eucarístico e aquilo foi mexendo tanto comigo que me deu vontade de conhecer. Um dia o Dionísio olhou, me abraçou e falou: “Um dia você vai experimentar!” Aquilo mexeu muito comigo.
Demorou um pouco até a Magnólia ligar. Era onze horas da noite, estava muito triste, me sentindo vazia, quando o celular tocou e a pessoa se identificou como algúem que fazia o trabalho com a Toca de Assis. Era a Magnólia. Ficamos conversando por 45 minutos. Falamos da Toca, falei um pouco dos meus problemas. Ela me convidou e levei mais de um mês para visitar a casa. Sempre tinha uma desculpa para não ir à Toca de Assis. Em um final de semana falei pra mim mesma que iria de qualquer jeito. Quando cheguei à Toca e a Magnólia abriu a porta, foi logo dizendo: “É a Norma, né?” Deste momento fui recebida muito bem e fui conhecendo o trabalho da Toca. Na minha primeira pastoral de rua havia uma senhora que não se levan-
Resolvi procurar uma paróquia para fazer a catequese e comecei a participar das pastorais, porém, me identifiquei mais com o trabalho na Toca. Não queria fazer na minha paróquia porque fui kardecista 25 anos e tinha vergonha que meus amigos vissem, mas me lembrava da passagem que dizia que quem tivesse vergonha de Jesus não seria digno Dele (LC 9,26). Fui à minha paróquia, no qual o pessoal conhecia o trabalho da Toca, e me incentivavam bastante. O momento da Crisma e da Primeira Comunhão foi muito tocante pra mim. A emoção foi muito grande, pois era o que faltava na minha vida. Foi uma paixão que cresceu dentro de mim. Não tem como explicar!
Jesus não está morto, Ele está dentro do meu coração agora! No momento que estava envolvida na doutrina kardecista havia muitas sombras dentro da minha casa: meu filho era envolvido com drogas a ponto de ficar em situação de rua e minha casa virou uma bagunça. Por meio do meu contato com a Toca de Assis, aprendi pedir a Nossa Senhora para tomar conta de meu filho, e as sombras se afastaram. Já tive que colocar meu filho para fora de casa. Ele pedia para voltar e eu não aceitava e Nossa Senhora o encaminhou a uma casa de assistência. Depois de várias tentativas fez o tratamento e ele está há três anos livre das drogas. Hoje tem seu trabalho, paga as suas contas, tem uma namorada. Minha casa voltou a ter paz! Parece que ela clareou! A sombra já não existe mais. Quando chego aqui na Toca a tristeza vai embora, a alegria toma conta, pois é muito bom estar junto dos irmãos. A minha vida mudou muito, eu renasci! O grande prazer que sinto em estar junto com os meninos em situação de rua é como se eu visse neles o meu filho. O que fizeram pelo meu filho, tento fazer de alguma forma pelos filhos dos outros. Que Deus me ajude cada vez mais.”
Departamento de Comunicação Fraternidade de Aliança Toca de Assis
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DESTELADO DA RUA "Não e possível abordar o escândalo da pobreza promovendo estratégias de contenção que unicamente tranquilizem e convertam os pobres em seres domesticados e inofensivos" (Discurso do papa Francisco no encontro com os movimentos populares).
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uando temos conhecimento de pessoas que passaram pela situação de rua e hoje alcançaram o seu lugar na sociedade e até mesmo conseguiram certo status social ou trabalham ao lado de pessoas famosas, paramos e pensamos no valor da oportunidade. Existem pessoas que preferem conceber tal fator como sorte ou uma benção especial de Deus. Todavia, o que pouco se tem compreendido é a respeito do potencial real que estas pessoas que estão na rua possuem. O mais impressionante é poder acompanhar iniciativas a partir das próprias pessoas que vivem a situação de rua e revelam a capacidade de reinventar as suas vidas e construir mecanismo de reação frente a tantas realidades de exclusão. É gratificante contemplar projetos que fomentam estas iniciativas e as torna um canal eficaz de protagonismo pessoal e coletivo destas pessoas, ao invés de ficar a mercê de uma oportunidade e outra que a sociedade lhe dê ou a esperar a própria sorte chegar. As bênçãos de Deus são imprescindíveis para que tudo se encaminhe, mas e preciso, também, acreditar no potencial que Ele nos dá e não nos contentar meramente com os sucessos esporádicos.
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DE OLHO NA RUA Tenho tido a oportunidade de acompanhar uma iniciativa pioneira em se tratando de protagonismo da população de rua em ocupar espaços de direito. O mais admirável é que se trata de um projeto que envolve a comunicação social. Há pouco mais de um ano, surgiu dentro do fórum da população de rua, da cidade de Campinas/SP, a iniciativa de se organizar uma comissão de visibilidade, que teria como propósito desenvolver junto com a população de rua, meios para proporcionar a visibilidade das realidades que vivem esses irmãos perante a sociedade que os considera invisíveis. Outro objetivo seria enfatizar as problemáticas de tal população, proporcionando em meio às possibilidades, espaços de maior participação desta nas decisões, no que se refere à perspectiva de exercitar a sua cidadania. Em um primeiro momento, cogitou-se elaborar um boletim que pudesse abranger as realidades da rua, algo que já acontece em cidades como São Paulo/SP, Salvador/BA, Porto Alegre/RS. Então, surgiu o convite de uma rádio que atua dentro de um centro terapêutico de psiquiatria em Campinas/SP, que já desenvolve uma atividade com a ênfase de dar visibilidade a essas pessoas ( Hospital Cândido Ferreira, Rádio Maluco Beleza),de criarmos um programa da população de rua a partir da população de rua. A proposta foi apresentada à comissão de visibilidade e se deu o encaminhamento para a construção do projeto.
Hoje, o projeto se encontra em pleno desenvolvimento e conta com a participação de pessoas que estão em situação de rua e de alguns técnicos da área social e de militantes do segmento. Várias gravações já foram realizadas abordando questões da rua. O programa é intercalado entre debates e músicas que abordam os temas discutidos e a rádio é on-line. Embora os programas ainda não tenham sido veiculados, a expectativa em poder ouvi-la é grande. Tive a oportunidade de estar em algumas gravações e a experiência de ver a população construir o programa com a sua realidade é sensacional. Particularmente me encanto com ações de protagonismo destas pessoas. “Este espaço é muito importante para que possamos ter voz. Nós, moradores de rua, clamamos por possibilidades que nos possam tirar da realidade da rua. Este espaço é importante para levar ao conhecimento da população de rua que eles têm voz” (Marcos Picon, morador de rua). O nome para o programa, “Destelado da rua”, surgiu com o objetivo de dar visibilidade a um lado da rua que poucos conhecem. “Por vezes, ouve-se menções à inserção da pessoa em situação de rua à sociedade, mas de qual sociedade falamos? Da mesma que produz coti-
dianamente tal segmento? De fato, é desafiador mudar a realidade presente, mas não dá para achar que fechando os olhos ou varrendo o problema para outro lugar, ele vai deixar de existir, pois produzimos tal realidade, dia após dia, em nossas relações, consciente ou inconscientemente. Assegurar melhor condição de vida e o exercício da cidadania à população de rua ou qualquer outro segmento da classe trabalhadora, com acesso ao trabalho, moradia, cultura, educação, lazer e a participação na vida pública, deve ser um compromisso de todos os governantes e sociedade” (Humberto Soares assistente social e parceiro do projeto da rádio Destelado da rua). É muito importante sabermos que a construção de uma ordem social mais justa passa pela conquista de espaços que até então seria inimaginável para as pessoas que vivem à margem de tantos direitos na sociedade. Não nos basta ver uma história e outra de sucesso de pessoas que conseguem novamente a sua dignidade de vida, pois ansiamos, para todas iguais, oportunidades, visando maiores possibilidades de contemplarmos a presença delas em setores importantes da sociedade. “É impossível imaginar um futuro para a sociedade sem a participação protagônica das grandes maiorias, e esse protagonismo excede os procedimentos lógicos da democracia formal” (Discurso do Papa Francisco, no encontro com os movimentos populares).
Irmão Romero
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DIARIO DE UM PEREGRINO
Pequenas Peregrinações
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uando partilho sobre as experiências vividas em uma peregrinação, muitas pessoas manifestam o desejo de viverem uma experiência semelhante. Contudo, seja por causa das obrigações de seu estado, seja por limitações físicas, etc., não a podem realizar.
Lembro-me de quando eu era vocacionado e no nosso retiro saíamos de dois a dois, pelas ruas da Grande Vitória, visitando Jesus nas Igrejas. Inclusive uma delas estava de portas fechadas e ajoelhados, do lado de fora, nós O adoramos. Enfim, o que eu quero dizer é que dentro das nossas cidades nós podemos fazer pequenas peregrinações. Um dos objetivos da Missão Peregrina é “visitar Jesus nos Sacrários onde muitas vezes Ele se encontra abandonado”. Será que nas inúmeras Igrejas de nossas grandes metrópoles não é assim, abandonado, que Ele se encontra? Fernando e eu fizemos esta experiência no centro da Cidade do Rio de Janeiro e encontramos sim, em algumas Igrejas, adoradores que visitavam Jesus Escondido, contudo, não raro, víamos Igrejas vazias. Todavia, em uma delas, atrás do Altar, em uma pequenina passagem estreita, nos deparamos com a piedosa imagem da morte de São José.
Ali ficamos por alguns minutos em oração, meditando e pedindo graças àquele que adorou Jesus ainda no ventre de Nossa Senhora. Foi um grande presente para nós! Nesse mês, comtemplamos São José em seu exemplo de doação ao
Menino Deus e à Virgem. Convido-vos a fazerem uma “Peregrinação Eucarística” por algumas Igrejas de sua cidade e a concluí-la em alguma que seja dedicada ao Glorioso São José. SÃO JOSÉ, VALEI-NOS!
Irmão Leone
Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento
18
Março 2015 - Toca de Assis
“É maior alegria dar que receber.” Atos 20,35