Semper Fidelis #15 - 38 anos, 38 Testemunhos!

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editorial

A evocação do 38º aniversário da Tor cida Verde fica assinalado pela publicação da Revista “38 anos, 38 testemunhos” que resulta da participação heterogénea de trinta e oito homens e mulheres que des ta forma se associaram a esta data.Estes testemunhos foram recolhidos ao longo do último ano, num período especialmente complicado.

Pela situação da pandemia, pelo infame Cartão do Adepto que originou a ausência da Torcida Verde dos estádios, também pelo nosso regresso em julho 2022 para o anacrónico e segregativo sector gueto das ZCEAP; mas também pelo retorno do clima de balcanização, após a euforia do 23º título do futebol em 2021.

Em nome destes trinta e oito anos de luta pelo SCP1906, não podemos deixar de sublinhar o contraste entre a euforia vivida no dia 11 maio 2021, do 23º título e os “outros” momentos. Os menos bons!

E, na verdade esta época tem sido de masiado reveladora da montanha-russa de emoções que parece ter capturado muitos adeptos leoninos que passam da euforia à deserção em função... dos resultados do futebol!

Desse resultadismo militante,“nasceram debaixo das pedras”, incontáveis “adeptos” no tal dia 11 maio 2021.

Nesse dia tudo ficou para trás. Os almoços ou jantares de família, os in adiáveis afazeres profissionais, familiares ou escolares, as idas à manicure, ao cabe leireiro, ao médico, as indisposições tão usuais quando a bola não entra ou quando se deparam incómodas deslocações à chu va e ao frio.

Um contraste que não queremos branquear ou minimizar, especialmente porque ao longo destes frenéticos 38 anos, a Tor cida Verde manteve como valor primordi al o apoio incondicional ao SCP1906.

Independentemente dos protagonistas de ocasião, independentemente dos di rigentes, treinadores ou atletas, indepen dentemente dos resultados, das condições climatéricas, independentemente dos horários dos jogos, dos preços dos bilhetes e dos transportes.

E também demasiadas vezes, independentemente da vida familiar e profissional.

Não nos lamentamos, porque ninguém nos obrigou a seguir este rumo.

Os trinta e oito testemunhos agora pub licados são um poderoso elixir para po dermos continuar a honrar, uma luta idealizada em abril de 1983 e formalizada em 11 novembro 1984!

A luta continua...

na vanguarda de um ideal, SCP 1906!

A publicação “38 anos, 38 testemunhos” começa por evocar o nosso Dário Pestana, que nos deixou de forma tão inesperada quão dramática. Nestes primeiros textos, damos espaço aos militantes verdes e branco que participaram directamente nas acções da Torcida Verde com os testemunhos da Sofia, do Carlos Silva e do Pedro Dionísio. Lugar também ao histórico Protocolo com o pelouro do Desporto da C.M.L, o qual tornou possível o desenvolvimento de relevantes atividades no campo Sócio/Desportivo.
vive
Dário

Dário Vive!

Em 2007, o Dário “Nani” foi convidado por um amigo a integrar a claque Torcida Verde. O que o motivou a integrar esta claque foram, entre outros, os valores do seu clube de eleição, Sporting Clube de Portugal que se vieram a tornar centrais na forma como conduziu o seu percurso e a sua vida.

Desde início e de imediato, sentiu que a sua participação poderia ser de grande apoio e interajuda, promovendo encontros com os demais memabros de forma a conjuntamente delineassem para cada jogo todas as ações e ferramentas que motivassem a equipa, quer nos jogos nacionais e internacionais, a ganhar o fôlego necessário para a vitória.

Foram anos de muita dedicação que resultaram numa cooperação ativa entre todos os membros da claque e todos os profissionais ligados ao clube, formando assim uma família harmoniosa e garantindo um vínculo estável e duradouro de participação que se veio a refletir em todos os jogos em que esteve presente.

Viveu efusivamente todos os momentos de preparação dos jogos, idealizando ferramentas e materiais (faixas e bandeiras) para visualmente garantir a grandiosidade de uma claque de inestimável valor acabando por influenciar a camada jovem que mais tarde vieram também a integrar a claque.

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Desde criança que o Nani demonstrou ser uma pessoa especial, dentro da simplicidade e a partir da sua natureza movida pela extrema bondade, teve sempre presente em si a missão especial de levar, em conjunto com os membros, a claque a atingir grandes objetivos que se vieram a repercutir em momentos de grande valor, atendendo ao amor pelo clube que ultrapassou a fronteira humana.

Foi com grande efusividade que o Nani viveu todos estes momentos, festejando todas as vitórias do seu clube e sofrendo, por outro lado, nas vezes em que infortuitamente o seu clube não alcançou o resultado pretendido.

Mesmo assim, e sobretudo nos momentos de maior sofrimento, não perdeu a resiliência de impulsionar o rugido interior promovendo encontros com os seus colegas para participarem ativamente nos cânticos motivando também os membros mais jovens a colaborarem com as ideias novas, criando assim um legado igualmente emocional.

O Nani, mantinha uma boa relação de amizade com todos os elementos de todas as claques, não fazendo distinção, porque o objetivo fundamental era a união, harmonia, dedicação e amor que se veio a eternizar no seu coração.

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solidariedade um valor UltrAS

Pertencer à Torcida Verde, é muito mais que fazer parte de uma claque de futebol, pois ao longo da sua história tem desenvolvido um conjunto de ações no campo da intervenção social. É esta a vertente da Torcida que, desde sempre, me motivou para a participação e a intervenção junto desta família.

Ao caminhar ao lado da Torcida, ao longo destes anos, percebi que é possível superar a ideia (negativa e infundada) daquele con ceito redutor de uma “claque da bola”, como se os adeptos de um clube como o Sporting fossem indivíduos despersonalizados.

O tempo viria a confirmar como a envol vente sócio económica do cidadão que fre quenta um estádio, tem impacto direto na ação dos grupos de adeptos como entidades participantes no fenómeno desportivo.

Como alguém disse, os adeptos ao entrar em no estádio, não anulam a sua identidade, os seus problemas.

Os fenómenos que têm estigmatizado as claques perante a opinião pública, reduzin do-as a “bandos de malfeitores, culpados dos maiores males no futebol”, confirmam o potencial contraditório das claques.

As diversas ações realizadas pela Torcida ao longo dos anos, são uma forma de tomar posição em relação a temas complicados/ difíceis que atingem as claques e, ao mesmo tempo, combater os estigmas / preconceitos.

Ainda nos tempos do velhinho Estádio José Alvalade, lembro-me das ações desportivas com os miúdos do colégio Casa Pia de Lis boa e depois com os jovens timorenses que residiam na zona de Lisboa, na sua maioria refugiados políticos.

Não cheguei a viver, os episódios que decorreram do acordo com o “Projeto Vida Mais”, no início dos anos 90, no qual participaram milhares de jovens estudantes do distrito de Lisboa.

Em meados da primeira década do novo século, vivi as iniciativas implementadas pela Torcida, no campo da solidariedade.

Primeiro, com a Casa do Gaiato, no Tojal, em Loures, onde jogavam as camadas jovens do hóquei Patins.

Ainda que o objetivo primeiro, fosse tentar o regresso da modalidade ao clube, através do reconhecimento dos dirigentes do SCP, passado pouco tempo as presenças da Tor cida no Tojal eram constantes, assim como se tornaram frequentes as idas dos miúdos

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institucionalizados na Casa do Tojal nos jogos em Alvalade a convite da Torcida Verde.

No Natal de 2009(salvo erro) a participação num Natal realizado na Casa do Tojal terá sido o ponto alto.

Guardo especial recordação da reação dos miúdos do Tojal quando a Torcida Verde lhes ofereceu uma mesa de Ping Pong.

Pouco depois, surgiu a intervenção com a Casa do Ardina, em Lisboa. Nas idas aos jog os era visível a felicidade destes jovens.

A proximidade da Torcida, com a Fundação Aragão Pinto que proporciona aos utentes da Casa do Ardina, de Lisboa, a prática desporti va regular, aprofundou o relacionamento com os miúdos do Ardina.

No verão de 2011, a Torcida ofereceu à Casa do Ardina, um número considerável de livros, na casa das centenas e um equipamento para reprografia e um equipamento de ténis de mesa.

Nesta altura, por iniciativa da Torcida Verde, foi também a estreia da Associação de Solidariedade Social do Alto Cova da Moura (da qual faço parte) em Alvalade, que foi marca da por um episódio surreal. Os miúdos que tinham acabado de entrar na sede da Torcida, foram surpreendidos pela invasão de um cor po policial.

Para cúmulo da coincidência, esse foi o dia escolhido pelas forças de segurança para fazerem uma revista nas sedes das claques leoninas.

Foi Inesquecível a reação de um dos jovens da ASSACM: “A primeira vez que saio do Bairro para ir num estádio de futebol, encontro uma cena com que vivo na minha zona quase dia a dia. Até aqui tenho de levar com eles”. O que seria um escape, da sua vivência complexa no seu bairro, o convívio com outros jovens e outro meio, parecia desabar com a repetição de uma cena quotidiana que não imaginavam poder acontecer num jogo de futebol.

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Felizmente, para os jovens, a intervenção policial foi célere, pelo que lhes possibili tou irem ao estádio pela primeira vez. Uma estreia inesquecível por razões nada edifi cantes.

Ainda assim, e independentemente do episódio sucedido, esta ida ao estádio foi um excelente momento de socialização e con vívio. Seria o primeiro de muitos, pois ainda hoje estes jovens recordam com felicidade todas as idas aos jogos com a Torcida Verde.

Em julho de 2011, no âmbito das comemo rações do 38ºaniversário da Independência de Cabo-Verde, a Torcida participou numa atividade intercultural desenvolvida pela Associação de Solidariedade Social do Alto

Cova da Moura através do Claii (Centro Local de Apoio à Integração de Imigrantes) Buraca – Amadora, em parceria com os Mediadores Interculturais da Amadora. A atividade con sistiu num Torneio de Futsal intitulado “Taça Liberdadi”, que se realizou no polidesportivo do Parque Urbano Dr. Armando Romão na Reboleira. Foram parceiros também nesta iniciativa, a AJPAS, o Sporting Clube da Re boleira e Damaia, as Juntas de Freguesia da Reboleira e da Buraca, e a Frente Anti-racista.

Teve um grande impacto social, visando re forçar a identidade e cultura dos imigrantes, promovendo a interação com a sociedade de acolhimento, e fomentando assim uma integração mais efetiva dos imigrantes ao nível local.

A Torcida para além de ter elaborado a lona representativa do evento, teve a iniciativa de juntar outros jovens com quem já vinha a desenvolver algumas atividades como é o caso dos jovens da Casa do Ardina, bem como, convidar para apadrinhar o evento o memorável Oceano.

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Estando também presente na festa de comemoração do 38ºaniversário da Inde pendência de Cabo-Verde no Bairro cova da Moura, onde foram entregues os troféus.

Foi mais um momento marcante, onde a Torcida deu o seu contributo para a igualdade de oportunidades, o diálogo e a convivência intercultural.

Em 2014, a Torcida Verde aceita o convite para colaborar com as crianças/jovens da Cova da Moura, do Projeto Escolhas NUKRE III - E5G, na Liga Escolhas, elabora uma lona alusiva ao evento e acompanha as crianças no Estádio de Alvalade no jogo da final.

O contributo da Torcida foi essencial, como todos sabemos, a atividade desportiva é mui to importante na preparação para a cidadania, e proporcionar momentos de partilha como este, de forma saudável e civilizada, com um verdadeiro espírito de equipa, proporcionou a estas crianças/jovens aprendizagens fun damentais para o seu crescimento enquanto pessoas.

Para a celebração do seu 38° aniversário, a Torcida Verde, tinha prevista a implemen tação de uma nova iniciativa com crianças, inseridas em diversas organizações (Casa do Ardina, Voz do Operário, Academia do John son, Associação de Solidariedade Social do Alto Cova da Moura...) Ação essa, que visava a visita de cerca de 150 crianças ao museu do SCP, ao EJA e ao PJR.

Por razões alheias ao raio de ação da Tor cida, essa iniciativa não se concretizou, para

grande desilusão das crianças, pais e monitores convidados. Contudo, a ideia continuará presente como um objetivo a cumprir.

Pertencer à Torcida Verde é poder contribuir para uma boa socialização entre pessoas, pois todas as atividades/ações que a partir dela são desenvolvidas têm um caráter de coesão social e de consolidação de cidada nia.

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memórias que perduram

Carlos Filipe Baptista da Silva ,” Kadhafi” na Tor Ver

Aderi à Torcida Verde ainda nos anos 80, na euforia da chegada de Jorge Gonçalves à presidência do Sporting.

Os meus primeiros jogos com a Torcida Verde foram na incrível caravana de inúmeros autocarros nas deslocações a Elvas e a Salgueiros.

Na altura o futebol do Sporting lutava para estar presente na Taça Uefa, após uma terrível época.

O clube vivia numa enorme convulsão que levaria Jorge Gonçalves à presidência.

Pouco depois estive presente na vitória do hóquei patins na Luz que nos deu o título máximo e, mais tarde na deslocação a Anadia

para a final da Taça de Portugal da modali dade com o Porto.

Foram tempos loucos, dos quais destaco as viagens a Amesterdão e a Bilbau e à no Algarve, aldeia das Açoteias para assistirmos à conquista da Taça Campeões Europeus de Corta-mato.

Tempos dos “avacalhamentos”, das moches nos estádios, autocarros e pavilhões, onde comecei por ser o Cafi (Carlos Filipe) e depois “Kadhafi”, o que, confesso, me tirava do sério. Esse era o ícone dos terroristas na altu ra (anos 80) e quanto mais me passava, mais me chamavam Kadhafi.

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Nessa época, recordo ainda a final da TCE de hóquei patins com o Réus de Espanha que infelizmente não conseguimos conquis tar. Desse jogo, lembro a Nave de Alvalade, esgotadíssima o que teria consequências negativas para o cinco liderado pelo enorme António Livramento. A transpiração dos adep tos que transbordavam a Nave de Alvalade, provocou a humidificação do piso, levando a repetidas interrupções do jogo. Este facto prejudicou o cinco do Sporting, com impacto direto no desfecho da eliminatória.

Em julho de 1988, vivi um dos episódios mais marcantes, enquanto membro da Torci da Verde. Refiro-me ao incrível concerto dos Xutos no Pavilhão do Restelo.

Lembro-me que nos mobilizamos como se de um jogo se tratasse.

Éramos loucos pelos Xutos e na minha

memória vivem as mega moches que se repetiram durante praticamente todo o con certo.

Esta ligação aos Xutos, existia ainda antes de ter chegado à Torcida, onde me deparei pela primeira vez com o símbolo do X nas grades do Estádio Alvalade.

Depois percebi que, a malta do Bairro de Al valade estava ligada ao insipiente movimento Punk Rock, depois hard-core Core. Nessa onda estavam muitos adeptos verde e bran cos, como o João Ribas que já não encontrei na Sul do velhinho Alvalade.

Lembro-me, ainda da ligação do Paulin ho, “o roupeiro “, à Torcida e do orgulho que sentíamos por ter conseguido estar a tra balhar no SCP.

Vivia nos dormitórios do Estádio, numa oc -

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asião levou-nos ao seu espaço, inteiramente decorado com imagens dos seus ídolos do SCP, essa foi uma imagem que retive na minha memória.

Destes tempos, finais anos 80, tenho pre sente um desafio que os dirigentes do Sport ing nos colocaram.

A construção de uma biblioteca, seria a primeira biblioteca de Clubes!

A esse desafio, respondemos de forma vol untariosa.

Durante diversos sábados de manhã, esperava-nos a tarefa de transportar pilhas de documentos e compilações desde os subter râneos da Bancada Nova até à Sala Joaquim Agostinho, situada no piso superior.

Foi uma ação de enorme responsabilidade, cumprida sem a presença de qualquer di rigente ou funcionário do Sporting, facto que para nós foi uma demonstração de grande reconhecimento e confiança.

Infelizmente, todo este esforço seria in glório, com a saída de Jorge Gonçalves do Clube. Na Torcida Verde, Jorge Goncalves era tido em alta consideração.

Pela onda de entusiasmo que gerou, mas em boa verdade porque pela primeira vez, a Torcida Verde tinha apoios.

Autocarros e acesso a bilhetes a preço de sócio.

Dos autocarros, me lembro da banhada que levámos na deslocação a Espinho, o fun cionário do clube, esqueceu-se de alugar o autocarro e ficámos agarrados.

Ainda assim, ainda arrancaram dois carros rumo a Espinho, numa altura em que não ex istia a A1 e os jogos começavam às 15h, foi uma maluquice de viagem e chegámos em cima da hora. Quando chegámos a Espinho vimo-nos gregos para arranjar bilhetes.

Essa época de Jorge Goncalves no Sporting, ficará na minha memória também por um outro episódio.

Surgiu a hipótese de irmos a um torneio de futebol juvenil em San Sebastian com a disponibilização de transporte gratuito (auto carro) pelo clube.

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Se não me engano era um torneio de Pás coa (ou no Carnaval?) e a Torcida, recusou ir nesse Torneio porque eram públicas as difi culdades financeiras que o SCP atravessava.

Jamais vou esquecer essa atitude, até porque havíamos ido a San Sebastian (elimi natória com Real Sociedade) no início dessa época, para a Taça Uefa, sem qualquer apoio do Clube.

Nessa época, também me recordo com emoção de ter estado presente no derradeiro jogo de Vítor Damas. Foi num jogo em Viseu.

A saída de Jorge Gonçalves e a entrada de Sousa Cintra, teve o primeiro grande momen to com a odisseia da viagem a Nápoles, de autocarro.

Dessa viagem, recordo-me das peripécias da preparação da viagem que levou a Torci da a assumir perante a malta, o cambalacho da transportadora inicialmente contratada e posteriormente “desaparecida “.

Foi uma viagem colossal pelos kms percor ridos. Inesquecível.

Pena a eliminação na marcação das penali dades, num jogo ainda assinalado pela aposta de Ivkovic com Diego Armando Maradona.

Mais tarde, nos tempos de Sousa Cintra a pintura das bancadas do Estádio José de Al valade foi uma ação em que participei.

Foram quase três meses de um trabalho duro, uma vez que tivemos de raspar as bancadas de cimento, de maneira a poste

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riormente podermos proceder à pintura das mesmas.

No final o trabalho iria encher-nos de satis fação. Um pequeno artigo no jornal do Sporting seria a recompensa que nos bastou.

No rescaldo desta obra com que presentea mos sócios e adeptos do SCP, tivemos a sat isfação da contratação pelo clube do único adepto que estivera connosco nas pinturas e que não pertencia à Torcida Verde.

Um pintor profissional, então no desempre go que o diretor do Estádio requisitou para uns biscates.

Biscate atrás de biscate, acabou por ficar no Sporting.

Por nós ficaria conhecido como “o Pintor”.

Ainda hoje não sei o seu verdadeiro nome.

Sempre que nos encontrávamos em Al valade, o “pintor” fazia uma festa.

Esses eram tempos esses em que a gratidão e amizade importavam.

Lembro-me também das vezes em que nos safava, metendo malta pela porta 10A. Pelo que sei, continuaria no Clube durante muitos anos.

Na Torcida, dizíamos muitas vezes “Podem os não ganhar campeonatos , podemos não ser muito famosos, mas nestas merdas nin guém nos bate”.

Depois da vitória do Paulinho (o“roupeiro”) agora era o “pintor”.

Eram as nossas (invisíveis) vitórias. Em

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1991/ 92, o massacre no cemitério de Santa Cruz, em Dili, Timor causou consternação em Portugal.

Lembro-me da faixa feita no dia do jogo, a tempo de podermos colocá-la no gradea mento do Estádio Alvalade, tal era a revolta que sentíamos pelo assassinato de dezenas de jovens de timor. Foi a primeira ação solidária com os Timorenses.

Sei que 5 ou 6 anos depois, a Torcida acol heu jovens timorenses e chegou a ter uma faixa no estádio (Timor Livre) nessa altura, infelizmente, não estava presente.

A conquista do Mun dial de Juniores na Luz, perante cerca de 120000 adeptos foi outro episódio que retenho.

Com a Torcida, estive nos jogos disputados na Luz. Eram outros tempos, e fomos com faixas para a Luz. E nem um pequeno incidente com adeptos

mais aziados, nos impediu de regressar à Luz com nossa faixa.

Outra iniciativa da Torcida para o Sporting, foi a participação no transporte de centenas de troféus para o primeiro museu do Clube, talvez em 1994.

Pelo meio, participei activamente na acção “Contigo vais Longe”, um projecto que existia nas Juntas de Freguesia de Lisboa , que le varia ao protocolo com o “Projecto Vida Mais” (assinado pelo presidente Cintra e o Governador Civil Lisboa), iniciativa idealizada e im plementada pela Torcida Verde.

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Foram três épocas de grandes actividades desportivas nas escolas e no Estádio Alvalade. Milhares de jovens, de todo o distrito de Lisboa, participaram nesse projecto, en tão uma completa novidade.

Os bilhetes tinham um preço simbólico (100 escudos) o que permitia o afluxo dos jovens no estádio. Esses eram os tempos em que, a malta entrava pela porta 10A, uma vez que não tínhamos acesso aos bilhetes. Nos jogos fora, as entradas muitas vezes eram obtidas graças à intervenção do...presidente Sousa Cintra que se envolvia em acessas discussões com os porteiros dos Estádios forasteiros.

Pontualmente, o clube oferecia os au tocarros que, prontamente retirava, caso ocorresse qualquer desacato, envolvendo qualquer uma das diversas claques existentes na altura.

Lembro-me na altura que pedíamos ao clube que estabelecesse um “regulamento de claques”. O que nunca viria a acontecer.

As presenças nas finais do futebol juvenil na Figueira da Foz, em autocarros fretados pelo Clube aos adeptos do Sporting, nas quais participei por algumas vezes, eram o fecho de cada época, antes das férias.

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Isto era viver o clube na sua plenitude! A proximidade da Torcida Verde com as modali dades sempre foi uma realidade bem viva.

Recordo com emoção apadrinhamento, da Torcida Verde, nos anos 80, de uma modali dade então mal-afamada e completamente ignorada (era tida como uma modalidade de Bairro)

Refiro-me ao futebol de salão. Depois, o futebol cinco e, finalmente o Futsal.

Nas modalidades viviam os de forma tão intensa o clube como o futebol.

Basta recordar os títulos europeus do Hóquei, os de Voleibol com a nave de Al valade a abarrotar.

Em 1991/92, salvo erro participei numa jor nada inacreditável. Na altura, o voleibol era

de longe a modalidade, que mais alegrias nos dava. Num sábado fomos até Matosinhos para um importante jogo com o Leixões, no qual fomos derrotados por claros 0-3 , num pavilhão incrível. Um ambiente fervoroso levou o conjunto local a uma vitória incon testável. O regresso a Lisboa foi pela madru gada de domingo.

Às 7 h da manhã, rumámos de novo ao Por to para a derradeira jornada nas Antas. Escusado será dizer que a maior parte da malta que foi a Matosinhos, fez uma directa , para o Porto.

Inesquecível para mim e penso que para todos, a meia-final da Taça Uefa com o In ter Milão em Alvalade. Nesse jogo, a Torcida, apresentou duas enormes bandeiras.

Uma no superior sul, que ocupava o nos

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so sector que tinha sido estreada na elimi natória anterior com o Bologna. Outra, ocupa va por inteiro a Superior Norte. Uma loucura, quando penso no trabalhão que nos deu.

Para aquela bandeira ficar pronta, tivemos de passar a noite anterior ao jogo ao relen to pela noite dentro, num descampado que, desconheço a localização, ainda nos dias de hoje. Eram tempos de pura adrenalina e aventura. O dia desse jogo, esse tem histórias incríveis.

Por essa altura, vivia- se na Torcida Verde, a descob erta do mundo Ultra através duma revista italiana incrível (Supertifo).

Uma realidade impensável para nós se descobria em cada revista que na Torcida Verde, lia avidamente. Era “outro mundo” diziamos nós.

Paulatinamente, tentava-se replicar muitas coisas que nos fascinavam na revista Super tifo.

Uma deslocação à Luz, salvo erro em ande bol ou voleibol (não tenho a certeza) redundou no meu primeiro confronto com a infame realidade da violência irracional.

O caso aconteceu, no final desse jogo nas escadarias do pavilhão da Luz (Borges Coutinho?) com o disparo de armas de fogo, quando nos preparávamos para sair.

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Uma cena descabida. Ainda hoje não enten do. É certo que fomos em grande número. A única faixa presente era a da Torcida. No Pa vilhão não encontrámos qualquer claque dos locais. Foi uma cena que me fez pensar.

Naqueles tempos confesso que estava pes suido pelo meu antilampionismo. Mas era um sentimento metafórico. Mais no campo estético, apesar dos nossos eternos e únicos rivais serem invariavelmente beneficiados

Eram o clube do regime, do Sistema Contu do, não nos passava pela cabeça andar aos tiros com ninguém.

A esse propósito me lembro numa acção no Jamor, onde estiveram presentes o Figo e o Abel Xavier. Era o programa televisivo “Ma traquilhos humanos”. Nesse dia, reeditava- se o derby eterno.Estivemos presentes. Do outro lado, outra claque rival. Para além das habitu-

ais bocas e picardias, imperou o respeito, val or que então prevalecia. Foi também por essa altura que participámos num programa de rádio, na semana de um derby em Alvalade.

Foi na rádio nova antena, e estiveram pre sentes Vitor Damas e Eusébio. Na plateia, es távamos nós e outra claque rival.

De novo, o respeito superou as picardias, as bocas, as ironias, próprias das rivalidades. Em 1993, percebi que as coisas haviam mu dado. E muito.

Pela primeira vez, um batalhão de polici ais, equipados como se estivéssemos numa guerra nos acompanhava para a ida à Luz.

O ambiente era pesado. Os jornais, rádios e televisões especulavam, difamavam os el ementos das claques. Todos como um todo, Racistas, nazistas, bandidos, drogados.

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É certo que existiam símbolos extremistas, que nada tinham que ver com o clube e o fu tebol.

Posso assegurar que na Torcida, esses sím bolos nunca foram usados. Em casa, no bair ro e na escola sentia como as claques eram mal vistas. A Torcida, tentava o impossível.

Ser alternativa num movimento dominado pelo clima de guerra. Guerras dirigentes, nos jornais, nos estádios e pavilhões. Ser alter nativo na denúncia de um tema, na altura “invisível “...o sistema.

A propósito do tal Sistema, foi memorável a coreografia “Futebol em Portugal é um Baca nal” que causou escândalo.

Penso mesmo que, fomos apertados pelos dirigentes do clube na altura.

Já não vivi o episódio do very-light, mas nem por momento deixei de pensar em todos os amigos presentes no Jamor naquele ter rível dia.

Na Torcida, as modali dades eram muito impor tantes.

Lembro-me da intervenção numa AG do SCP, pedindo para não se extin guir o hóquei patins.

A extinção das modali dades desportivas no SCP, confesso que me desani mou.

Em especial do Voleibol, vencedor crónico da modalidade em Portugal e com uma equipe que preparada para conquistar a europa.

Memorável um derby com os lamps que começou no sábado e deve ter terminado no domingo, tal a intensidade desse emocion ante jogo.

Essa foi uma modalidade que aprendera a gostar e que tantas vitórias nos ofereceram em tempos de jejum do futebol.

Em janeiro de 1996, a exigência do pagamento de uma quota anual extraordinária (21.600 escudos) obrigou-me a deixar de ser associado do meu clube de infância.

Era incomportável essa obrigação financeira, uma vez que estava na faculdade com elevadas propinas.

Reencontrei a Torcida Verde, talvez em 2001 ou 2002, como professor nas imediações do saudoso Estádio José de Alvalade.

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A Camara Municipal de Lisboa, oferecia bilhetes para um jogo do Sporting em Al valade, integrada na “Semana da Juventude”.

Quando tomei conhecimento que tal iniciativa fora sugerida pela Torcida, que tinha um protocolo com a CML (pelouro do Desporto) e pertencia ao Conselho Mu nicipal de Juventude de Lisboa e que os 5000 ingressos eram pagos pela edilidade ao Sporting, fiquei orgulhoso e recuei aos meus tempos de “Torcedor” e da Acão com as escolas do projeto “Vida Mais”.

“Sempre com atividades, o espírito contin ua” - Pensei para os meus botões.

Fiquei desiludido, quando percebi, as difi culdades que sentiram nesse jogo.

Os bilhetes eram para a Superior Norte e a Torcida estava na Superior Sul.

Queria ter levado os miúdos para a Tor Ver e reviver os meus tempos de torcedor.

Apesar de ter sido através da Tor Ver que a acção foi em frente, percebi que não chegaram a ter acesso aos bilhetes.

Fiquei a pensar naquela cena, que imagino desanimadora.

Não encontrei qualquer queixume, nem desânimo da parte da Torcida.

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Confesso que a minha actividade profis sional e as minhas responsabilidades famil iares nunca me permitiram regressar aos “velhos tempos “, continuando a Torcer por fora.

A crise que Portugal viveu, com a inter venção da “Troika” obrigou-me a experimen tar a condição de emigrante.

Foi a pandemia que me reaproximou da Torcida, e, confesso, a excelente época de 2020/21 com todas as conquistas.

Pode parecer vergonhoso, mas foi a euforia da previsível conquista do título de futebol e o meu confinamento forçado que me reaproxi maram. “És um exemplo que o Sporting foi fu tebolizado...deste à costa, agora que te cheira a título?! foi a (merecida) reprimenda que recebi. “Se tu és assim, imagina os miúdos...”

Entendi, o alcance da mensagem que vejo como revolta, inconformismo, e talvez reve lador de um sentimento de impotência

Na época do 7° lugar, tivemos jogos com

6000 adeptos, agora com o futebol campeão vão sair “adeptos” por debaixo das pedras.” Foi uma mensagem que recebi e que na altu ra tive dificuldade em digerir.

Pelas redes de comunicação disponíveis ou pelas novas aplicações, a comunicação tor nou- se mais fácil.

Comecei por reviver todos aquelas iniciativas, os jogos, as alegrias, as ilusões e também as desilusões, o que foi retemperador.

À distância de muitos milhares de km, apraz-me constatar que o espírito da Torcida, vive. A sociedade mudou, o Sporting também.

Ainda que à distância de milhares de kms , é evidente que agora se percebe , como tantas iniciativas da Torcida ,estiveram à frente do tempo em que foram objecto de intervenção.

A coragem de abordar temas proibidos como a violência, o tráfico de droga, o racis mo, ainda nos anos 80 e princípio dos 90, no meu tempo era uma forma de afirmação.

Depois, assisti de cadeirão, à denúncia dos

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horários jogos, preço bilhetes, agentes fute bolistas e dos fundos de investimento, per ante o deixa andar, típico da nação lusa.

Outro feito assinalável foi o contributo inestimável no retorno do hóquei patins, depois de muitas épocas nas divisões secundárias, mas também das outras modalidades, in sistindo em manter o tema do ecletismo na agenda dos adeptos .

Soube depois que essas acções, incomoda vam dirigentes e notáveis.

A construção do Pavilhão João Rocha tem na Torcida Verde o seu principal motor com suas frases nos estádios e pavilhões, ao longo de anos.

Desconhecia a edição de um CD com a receita inte gralmente a reverter para o futuro PJR. (3000 CDs)

Mais recente mente, a sua corajosa posição durante a pandemia, no que diz re speito à reabertura dos Estádios, em sintonia com grande parte dos adeptos europeus (reabertura para todos ou para nenhum)

A princípio, não entendi essa posição. Mais tarde, percebi que essa era a postura dos adeptos organizados (Ultras) na europa. Durante a pandemia, acompanhei de forma

virtual a incrível iniciativa “Football Belongs To The People “. Imagino a trabalheira.

Conseguir “dar a volta” a Centenas de gru pos, fusos horários diferentes , com a barreira linguística pelo meio , levando- os a fazerem uma faixa com o mesmo slogan!!!! Uma coisa do outro mundo. Sem dúvida.

Quando tomei conhecimento da iniciativa, recordei os tempos em que devorávamos a revista italiana “Supertifo” , de como admirá vamos os grupos italianos , em especial.

Passados tantos anos, ver tantos dess es grupos a participar numa iniciativa daquelas é incrível.

Nos últimos dias, já depois de ter escrito este meu depoimento, sugeria a mais recente batalha da Torcida Verde contra o “Cartão do Adepto” e nova vitória com a revogação. O que me levou a refazer este texto.

Desde a entrada em vigor do CA, a Torcida Verde tomou uma posição dificílima, resistindo a não entrar nos estádios e pavilhões como forma de luta. Impensável, para muitos (quase todos).

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Com o futebol do SCP campeão, a disputar a liga dos campeões. Com os adeptos em eu foria depois de tantos anos sem o sabor da conquista de um campeonato.

Escolheram, como sempre, o caminho mais difícil. A revogação do cartão foi conseguida.

Em todas estas conquistas “invisíveis”, a Torcida Verde nunca se meteu em bicos dos pés. Em muitas dessas conquistas, aparecem depois, os do costume.

Sempre a aparecerem de acordo com a oportunidade do momento.

Apetece-me dizer:

das batalhas, apareçem os heróis!”

Nada de novo. É assim o ser humano! Contudo, outra batalha se perspetiva, com a

mais que provável venda da SAD. Admiráveis os alertas da Torcida, neste tema.

Desde há muito tempo. Uma batalha, talvez impossível , tal a campanha em marcha. Uma batalha para a qual os verdadeiros Sportinguistas vão ser convocados. Queiram ou não.

Capitulem ou enfrentem esse enorme de safio! Uma batalha ao nível duma outra. A criação da Superliga Europeia.

Essa nova prova, também objecto da inter venção da Torcida Verde , será outra grande ameaça real ao SCP , mas também aos outros clubes nacionais e de países na periferia do futebol europeu.

Para concluir este longo reviver o passado vou citar o nobel da literatura José Saramago e que, perdoem a imodéstia , cito aos meus alunos.

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“Depois

“O heroico num ser humano é não pertencer a um rebanho “

Uma frase que ilustra o espírito que acredi to, continua presente na Torcida Verde.

Parabéns pelos 38 anos!

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Carlos Filipe Baptista da Silva Kadhafi” na Tor Ver

DE TIMOR

por Mateus Ximenes

É com emoção que recordo o meu exilio em Portugal e a ligação aos irmãos da Torcida Verde que nos acolheram de forma fraterna.

Se a memória não me traí, tudo começou no verão de 1996. No início, as idas aos jogos de futebol no estádio do Sporting foram uma novidade para muitos de nós. A presença da bandeira de Timor Lorosae nos estádios era muito importante para todos nós.

A disputa de jogos de futebol com os irmãos da Tocida Verde, aproximou a nossa comunidade. Em 1997 , foi celebrado um protocolo de amizade com a Torcida Verde e a FAR.

A presença de Mário Alkatiri, futuro presidente da Republica Timor Leste, apadrinhou as organizações juvenis que também assinaram o protocolo. A RENETIL e a OGETIL que desta forma iriam participar em diversas iniciativas com jovens da Torcida Verde e de outras organizações juvenis.A primeira iniciativa decorreu no Colégio Casa Pia, com a disputa de um torneio de futebol com irmãos dos PALOPS, do Colégio Casa Pia e da Torcida Verde.

Os irmãos da Torcida Verde, proporcionaram uma comovente surpresa quando, com o apoio de outros amigos (pelouro desporto da C.M.L) enviaram um equipamento de futebol completo

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para a prisão Indonésia de CIPINANG, onde estavam detidos membros da resistência como Xanana Gusmão e outros companheiros. O envio dos equipamentos de futebol com as cores da bandeira de Timor Lorosae, para CIPINANG teve um enorme impacto que não esquecemos. As actividades desportivas realizadas em Lisboa (Pavilhão Carlos Lopes e Parque Municipal S. J.Brito) com torneios de futebol foi muito importante para a nossa comunidade na zona de Lisboa.

O massacre de quase 1500 timorenses em Setembro de 1999 fez despertar muita gente por todo o mundo, possibilitando a atribuição dos prémios nobel a Ramos Horta e ao bispo Ximenes Belo. A presença em Lisboa de José Ramos Horta, possibilitou a realização da iniciativa “Um dia desportivo por Timor Leste” (que se realizou ao longo de um dia no pavilhão Carlos Lopes) Nesse dia cerca de 200 jovens timorenses e da Torcida Verde realizaram diversas actividades desportivas e colóquios. Continuaram a ser realizadas várias iniciativas , como a Corrida por Timor, em Lisboa que contou com a presenca de muitos milhares de desportistas.

Depois de conquistada a independência de Timor Leste, muitos de nós partimos para Timor e para outros destinos.

Em Timor trabalhamos na reconstrução da nossa nação. Agricultores, deputados, funcionários, embaixadores, professores, levámos Portugal connosco e os irmãos da Torcida Verde que connosco viveram durante uma década que nunca iremos esquecer.

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Com o Desporto da C.M.L

muito mais do que um protocolo!

Em março de 1997, o pelouro do desporto da C.M.L celebrou um protocolo com a Torcida Verde.

Naquele momento, Portugal vivia ainda o traumático incidente, que em maio de 1996 provocou a trágica morte do adepto Sportin guista Rui Mendes.

Para a generalidade dos entendidos, os grupos de adeptos denominadas Claques, eram compostos por gente problemática, vi olenta, causadora de desacatos instalara-se também, a ideia de que, nesses grupos se fa zia apologia ao ódio, ao racismo e á violência.

A Torcida Verde procurou o pelouro do desporto da C.M.L, disponibilizando-se para desenvolver iniciativas no campo sócio desportivo.Como referência, foi apresentado ao pelouro do desporto da C.M.L, o modelo dos Fan Projects na Alemanha no qual os diversos grupos de fãs interagiam com diver sas instituições e organizações de forma multidisciplinar.

Desta forma, era também o objectivo do protocolo, combater o ex cessivo “afunilamento” dos grupos de adeptos, apenas nas acções de apoio aos clubes nos estádios.

Assim sendo, fenómenos como a violência, o racismo e o ódio poderiam ser mitigados, com o desenvolvimento de outras activi dades.

Esta era uma nova abordagem desafiante, longe do discurso redondo da retórica e que apostava em actividades capazes de pro mover a interacção sócio desportiva.

Conhecendo as várias iniciativas que. a Tor cida Verde desenvolverá no campo da inter venção cívica; o pelouro do desporto da CML, entendeu a celebração de um protocolo com um grupo de adeptos com preocupações de cidadania, como um desafio que até ao momento nenhuma instituição pública havia ousado abraçar.

A Torcida Verde, desde o primeiro contacto com o pelouro do desporto da CML, sublinhou reiteradamente não se identificar com o conceito de “claque”.

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Manifestavam ainda, grande inconform ismo perante fenómenos emergentes que consideravam desvirtuar o conceito original desses grupos de apoio.

Apresentavam como exemplos, a violência, o racismo, mas também o facto de os clubes sofreram um processo de transformação que desvaloriza a participação dos adeptos na vida associativa e também o inacesso á prática desportiva.

Desta forma, assistimos à secundarização do estatuto de utilidade pública que os clubes desvalorizam em favor da promoção do futebol profissional como único menu disponível para os adeptos no final do século XX.

Manifestavam ainda, uma grande disponib ilidade para desenvolverem acções “fora da Caixa”, como o documento que endereçaram ao pelouro do desporto da CML reflecte:

“A Torcida Verde não se revê no conceito de claque, por considerarmos demasiado redutor, reduzindo a acção de um grupo de adeptos a uma mera função de apoio nos estádios e pavilhões.”

Desde sempre, entendemos que a acção da Torcida Verde abrange um campo muito mais vasto.

Como são exemplos, a pintura das bancadas do Estádio José Alvalade, a edificação do museu do SCP assim como o desenvolvi mento de iniciativas com juntas de freguesia da cidade de Lisboa, no desenvolvimento do “Projeto Vida Mais”; o combate de fenómenos

que têm tido um crescente protagonismo nos estádios de Portugal como a violência ou o tráfico drogas.

A Torcida Verde é a nossa forma de participar na vida do nosso clube, mas também uma forma de intervenção de cidadania, in teragindo com o mundo associativo. Infeliz mente, com a crescente comercialização que flagela o desporto e os clubes, o papel dos adeptos parece perder espaço participativo, desperdiçando-se dessa forma o vasto po tencial desses cidadãos.

Neste contexto, a celebração de um pro tocolo com a C.M.L poderá potenciar o vasto potencial dos adeptos da Torcida Verde para acções, fora do estrito âmbito do es trito “apoio organizado” ao SCP, nomeada mente no desenvolvimento em acções sócio desportivas com outras organizações.

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Dessa forma, poderemos aprofundar o rel acionamento entre os membros da Torcida Verde num ambiente necessariamente difer ente do calor dos estádios.

Estes foram alguns trechos do extenso texto/dossier que o pelouro do desporto da C.M.L, recebeu da Torcida Verde.

A Torcida Verde e o pelouro do Desporto da C.M.L, enquanto signatários do protocolo, te riam de desmentir todas as vozes que conde navam ao insucesso tão arrojada iniciativa.

Foi elaborado um plano de actividades anual no qual estavam incluídas diversas iniciativas de âmbito desportivo, sendo limi narmente afastados quaisquer apoios finan ceiros ou subsídios de qualquer espécie.

A publicação da revista “Curva Stromp”, da autoria da Torcida Verde seria produzida nas oficinas da C.M.L.

A participação nos Jogos de Lisboa, onde participavam dezenas de milhares de jov ens do Concelho de Lisboa, iria possibilitar a prática desportiva aos elementos da Torcida Verde.

Posteriormente, a Torcida Verde teria a pos sibilidade de apresentar um plano de ativi dades próprio, dando-lhe maior autonomia.

Isto, porque o facto da principal acção da Torcida Verde passar pela presença nos jog os das várias modalidades do SCP, condicion ava a participação nos torneios desportivos, inseridos nos “Jogos de Lisboa”.

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No pavilhão Carlos Lopes foram realizados diversos torneios de futebol, ténis de mesa e voleibol.

Para além destas atividades regulares, a Torcida Verde participou em iniciativas como “Lisboa Cidade desportiva”, “Semana da Ju ventude”, “Correr com o racismo”, “Festa das Colectividades”, “ Corrida da Liberdade”.

As participações em colóquios temáticos, organizados pela C.M.L, foram outras iniciati vas disponibilizadas aos membros da Torcida Verde.

Por outro lado, a Torcida Verde desenvolvia uma interessante relação solidária com a comunidade Timorense, a qual participava activamente nas suas actividades.

Considerando, a forte ligação da Torcida Verde à comunidade Timorense residente, foi alargada a participação de equipes de Timo renses nos torneios desportivos no plano anual de actividades anual da Torcida Verde, previsto no protocolo.

O envio de equipamentos desportivos, pelo pelouro do desporto da C.M.L, para a prisão Indonésia de Cipinang, onde estavam deti dos comandantes da resistência Timorense foi uma relevante iniciativa que mereceu um amplo impacto que ultrapassou fronteiras.

A presença em Portugal do prémio nobel da Paz, Ramos Horta e de Mário Alkatiri no dia da iniciativa “Um dia por Timor” foi um dos pontos mais importantes deste projecto de integração da comunidade Timorense.

Nesse dia, no Pavilhão Carlos Lopes, largas centenas de Timorenses e elementos da Tor cida Verde participaram num dia pleno de diversas actividades.

Desde a prática de modalidades desporti vas, futebol, andebol, voleibol, basquetebol, ténis de mesa; foram também apresentadas outras actividades culturais relacionadas com o folclore e a música maubere, a real ização de colóquios e a apresentação de documentários.

O aumento do número de participantes no plano anual de actividades protocolado, exi giu que os torneios de futebol tivessem lugar no parque Municipal S.J.Brito.

Uma outra iniciativa com grande relevância foi a organização da iniciativa “Correr por Ti mor” que contou com dezenas de milhares de cidadãos nas ruas, clamando pela autonomia de Timor leste.

A iniciativa envolveu os Municípios limítro fes do distrito de Lisboa, assim como a Tor cida Verde na dinamização da comunidade Timorense residente.

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A participação da Torcida Verde na consti tuição da Associação luso Timorense Laline, foi outra acção que permitiu a cedência de uma sede em Alcântara, para os jovens Timo renses.

Depois da conquista da independência de Timor, continuou a solidariedade com o povo de Timor.

O envio de diversos equipamentos desportivos para Timor-Leste, tiveram como objecti vo o desenvolvimento da prática desportiva entre a população local.

Foram enviados, via maritima, euipamentos de Ténis de Mesa, tabelas de Basquetebol, Balizas de Futebol, milhares de camisolas, calções, sapatilhas, meias, apitos, etc.

No campo socio desportivo, foi determi nante a intervenção da Torcida Verde na celebração do acordo entre a C.M.L e o SCP para aquisição pela C.M.L de 5000 bilhetes a preço económico para oferta aos jovens da cidade de Lisboa poderem assistir a um jogo de Fu tebol no Estádio José Alvalade. Esta iniciativa foi inserida na “Semana da Juventude” dos anos de 2000, 2001 e 2002.

Mais relevante, o despreendimento da Tor cida Verde em relação ao acesso a estes bilhetes que estavam restritos a uma outra bancada, pelo que não puderam ter acesso aos mesmos.

No seguimento do conjunto de iniciativas participadas e implementadas, a Torcida Verde, foi escolhida para participar no Con-

selho Municipal de Juventude, órgão de as sessoria do Município.

A celebração deste protocolo, possibilitou a realização de inéditas iniciativas no campo do Associativismo que dinamizaram diversas colectividades, ONGs e instituições públicas.

A dinamização dos adeptos da Torcida Verde para outras actividades, fora dos estádios de futebol e fora do âmbito das cores clubistas, permitiu-lhes conhecer outras dinâmicas, através da prática desportiva e da partici pação em iniciativas de natureza diversa.

Também possibilitou a outras organizações, clubes e associações, conhecerem um outro lado dos grupos de adeptos.

Dessa forma, puderam combater-se as ideias preconcebidas sobre os grupos de adeptos.

As diversas iniciativas desenvolvidas no âmbito do protocolo demonstraram de forma inequívoca, o potencial dos grupos organ izados de adeptos, no campo associativo, oferecendo aos seus membros actividades capazes de combater os nefastos fenómenos provocadas que a exacerbação do clubismo.

A Torcida Verde demonstrou de forma ex traordinária que é possível um outro caminho para a actividade dos adeptos organizados, retirando-lhes a carga belicista.

O protocolo celebrado entre o pelouro do desporto da CML e a Torcida Verde, foi um contributo muito relevante para a afirmação da cidadania plena, através da prática

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desportiva. Uma iniciativa que envolveu centenas de cidadãos, não apenas do município de Lisboa ou da área metro politana de Lisboa. De Lisboa a Dili, essas iniciativas continuam vivas entre as centenas de participantes. Que

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ter a motivação para desenvolver o associativismo, o ativismo, a solidariedade, através da prática desportiva.
possam também

Torcida Verde - Venha conhecer os seus valores!

por Pedro Dionisio

Sou sócio do Sporting Clube de Portugal, desde 1970, mas apenas comecei a conhecer a Torcida Verde em 2007.

Penso que muitos dos que poderão ler este texto também ainda não a conhecem, pelo que vos convido a ler esta página, podendo, depois aprofundarem a informação através dos links que vos deixo. Sugiro explorarem o site da Torcida, a partir desses links.

Em 1970, com 14 anos, tive uma hepatite que, na altura, era curada com repouso e falta às aulas; sabendo do meu grande interesse pelo Sporting, o meu pai lançou-me o desafio de passar a ser sócio do Sporting se não tivesse notas negativas.

Estava, então, no antigo 5º ano do Liceu Camões, em Lisboa, começando a ir às aulas do 1º período, a 15 de Novembro, numa época em que mais de 70% dos alunos tinha pelo menos 1 negativa fiz um enorme esforço e tornei-me sócio do Sporting, fazendo jus ao lema leonino “Esforço, Dedicação, Devoção e Glória”.

Nessa época, o ambiente dos jogos era um bocado “sensaborão”, tendo o Sporting sido pioneiro na animação das bancadas, com um grupo de Carnaval de estudantes brasileiros chamados “os Vapores do Rego”.

Mais tarde aparecem as claques - em 1976, a Juventude Leonina, que começou com miú dos das escolas secundárias e do meu lugar

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da bancada, fui vendo aparecer outros gru pos como a Torcida Verde e o Diretivo XXI, já na passagem para o novo Estádio.

Apesar de terem faixas com mensagens distintas, eu não era, à época, capaz de perceber bem as diferenças entre as “claques” até que, em 2007, dado o meu interesse pelo Despor to, já que dirijo a Pós-Graduação em Gestão e Marketing Desportivo no ISCTE Executive Education, decidi fazer um projeto de investigação, que veio a ter publicações em revistas internacionais, sobre comportamentos de grupo no futebol e surf e “mergulhei” na re alidade dos grupos organizados de adeptos.

Torcida – um grupo com valores sociais

Encontrei na Torcida Verde um grupo pre ocupado com valores, como o Projeto Vida Mais, que juntou 5.000 jovens, de zonas problemáticas com apoio do Governo Civil de Lisboa, procurando dar-lhes uma perspetiva de prática desportiva em vez de caminhos marginais de toxicodependência.

https://www.torcidaverde.pt/historia/ep isodios/438-protocolo-com-o-projecto-vida-mais

ou o projeto de integração de jovens Timo renses, em Portugal, nos anos 90 uma causa que me tocou especialmente, dado o meu envolvimento na organização do Cordão Humano por Timor, em 1999.

https://www.torcidaverde.pt/historia/epi sodios/751-solidariedade-com-timor-leste

Torcida uma voz sempre presente na defesa das modalidades e do Pavilhão.

O denominado “projeto Roquette” fez surgir um Sporting sem pavilhão para jogos das modalidades e com um claro desinvestimen to, à exceção do futsal.

A direção do clube queixava-se do “sistema do futebol e da falta de verdade desportiva” –muitas vezes com razão, mas ao mesmo tempo colocava quase todos “os ovos no mesmo cesto”.

A consequência foi óbvia: o Sporting e os seus adeptos tinham falta de vitórias longe estavam os tempos do Presidente João Rocha, com as grandes vitórias no atletismo, com nomes como Carlos Lopes, Fernando Mame de e os Castros, no ciclismo, com Agostinho, ou o hóquei, com o “cinco maravilha”, para além das vitórias do andebol, basquetebol ou voleibol a nível nacional.

Nessa altura a Torcida Verde foi o único grupo de adeptos a, apresentar recorren temente nos jogos de futebol faixas com a mensagem “Queremos o Pavilhão” (ver foto) e até a deixar de ir a jogos de futebol, para apoiar o hóquei na 3ª divisão.

https://www.torcidaverde.pt/mentalidade/ posicoesoficiais/128-porqueumpavilhao

Aquando da campanha de angariação de fundos para a construção do pavilhão, a Torci da Verde custeou um CD, cujas receitas foram para esse fim; tive oportunidade de colaborar nesta iniciativa, mobilizando 22 voluntários

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para venda dos CDs que permitiram angariar cerca de 7.000 euros que foram entregues ao Clube. Torcida uma voz para que os sócios continuem a deter o Clube

Num momento em que alguns começam a voltar a falar na necessidade de venda da maioria do capital das SADs a investidores, a Torcida mantém a sua posição de defesa in transigente de o Clube (incluindo o futebol) estar na mão dos sócios.

Não estou sempre de acordo com as posições da Torcida Verde, relativamente ao “futebol negócio”, mas reconheço a sua fron talidade e coerência. Sobre este tema, levan to uma pergunta: Fala-se em investidores interessados no negócio do futebol, mas se até agora o normal é os clubes terem prejuízos, então o que é que atrai esses investidores?

Penso que a experiência de algumas déca das em Portugal e no estrangeiro devem ajudar-nos a dar resposta: em países mediáticos, como Inglaterra ou França, um Abramovich no Chelsea ou um Nasser Khelaïfi, do PSG, conseguiram uma notoriedade e um “chapéu de chuva” para as suas atividades, mas para muitos que podem sonhar com a chegada do Euromilhões de um Abramovich no Sporting, relembro que, mesmo em Inglaterra, dezenas de milionários de todo o mundo são donos dos clubes ingleses, a maior parte deles em clubes de 2ª e 3ª divisão. A título de exemplo, o Nottingham Forest, que foi campeão inglês e ganhou 2 Taças de Campeões, em 1978/79 e 1979/80, fui comprado por uma família mil ionária do Kuwait, em 2012, mas continua na 2ª divisão inglesa.

Portugal não é país mediático, nem a sua Liga atrai grandes atenções e, por isso, tem atraído uma 2ª linha de putativos “investi dores”, alguns dos quais têm vindo à procura de poderem fazer alguns “negócios” de compra e venda de jogadores. Depois de um pequeno investimento inicial, estão à espera de retirar resultados e, passados alguns anos, a consequência tem sido empobrecimento de plantéis e situações degradantes de incum primento, com a quase extinção de Clubes,

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como Farense, Beira-Mar ou o mais recente Desportivo das Aves, no ano a seguir a gan har a Taça de Portugal para já não falar do divórcio completo entre Os Belenenses e a B SAD.

O maior património do Sporting são os seus sócios e adeptos. Vamos vender a gestão desse património a alguém que não os repre senta (um D.Sebastião que se diz chegar com “um camião de dólares”, vindo dos países árabes, China, Estados Unidos ou Angola), colocando em outros, que não controlamos de todo, o futuro da nossa paixão clubística?

Não seria isso uma loucura de amor, por uma sereia encantada?

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TORCIDA VERDE 1984 - SEMPER FIDELIS Pedro Dionísio sócio nº2.421, Profes sor catedrático de Marketing do ISCTE

A “minha” Torcida Verde

Quando escrevo a “minha” Torcida Verde, não é que alguma vez tenha engrossado as fileiras de tão especial coletivo que desde Novembro de 1984 honra os Ideais Leoninos e engradece as cores Verde e Branca. Não!

Escrevo “minha”, pois a matriz Eclética que está na génese da Torcida Verde, é algo que me diz muito e sendo esse o ADN do Sporting CP (o Ecletismo e o Olimpismo), obviamente, o meu coração só poderia tombar para esta opção na bancada (seja no estádio, seja no pavilhão, seja em qualquer outro género de recinto).

Com um sentido de Responsabilidade So cial muito forte, são conhecidos ao longo de quase quatro décadas, várias situações de apoio, ajuda, colaboração, com Instituições ligadas aos mais necessitados, seja com oferta de produtos e bens de primeira necessidade, seja com voluntariado a vários níveis.

A Torcida Verde foi fundamental no embe lezar e melhorar do exterior do antigo Estádio José Alvalade, quando no início da década de 90, participou nas pinturas do mesmo, levan do com esse trabalho de total dedicação e participação ativa na vida do Clube, ao pou par (à época) de vários milhares de escudos em pagamento de tal serviço a terceiros.

Para ajudar ao sucesso das famosas organ izações de concertos no antigo recinto do Clube, com a chegada dos grandes Artistas e Grupos ao nosso País (89/90/91 e anos seguintes, foram anos de descoberta por parte das estrelas mundiais da Música, de um país que sabia acolher e organizar, além de ter um público extremamente entusiasta), foram parceiros das entidades que levaram a cabo tais organizações, pois tudo era uma novidade a esse nível cá no burgo e eram largas dezenas de milhares de entusiastas que acudiam em massa ao evento e era preciso ter uma equipa pronta a responder a solic itações de vária ordem.

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Nas instalações do Estádio, entre o final dos anos 80 e meados dos anos 90, dois espaços de Excelência foram edificados… a Biblio teca e o Museu, em ambos e para ambos, a Torcida Verde contribuiu com apoios e ajudas de vários tipos. Não esqueceu Timor, quando a Causa Maubere esteve na ordem do dia, até ao Referendo de 1999.

Nunca deixou que temas como o Racismo não fossem falados e camuflados.

Em 1999 um grupo de Sportinguistas pegou na recuperação do Hóquei em Patins para o seio do Clube, tendo que começar na 3ªdi visão... ao longo daqueles anos até se chegar ao patamar maior, nos pavilhões mais modestos, nos recintos mais adversos, a Tor cida Verde foi sempre uma força presente e a conferir total apoio aos nossos atletas.

Por tudo isto e muito mais, são vários os motivos que me levaram desde sempre a ol har para a Torcida Verde como uma Entidade com Princípios muito especiais e a ter em linha de conta.

Mesmo com tanta riqueza de ações, existe um momento desportivo que para mim me marcou em Fevereiro de 1989, um grupo de elementos da Torcida Verde deslocou-se às Açoteias, afim de apoiar a equipa mas culina de Atletismo, na disputa da Taça dos Campeões Europeus de Corta Mato.

Quem assistiu à transmissão via RTP, perce beu facilmente que o sexteto Leonino foi levado em ombros até ao resgate do troféu que nos havia escapado nas duas edições

anteriores. Bandeiras, gritos, cânticos, ca checóis, incentivos vários, foram visíveis e audíveis durante os minutos da prova e até os comentadores da Televisão Pública deram nota muito positiva daquilo a que se estava a assistir.

Mais recentemente, em 2014, a Torcida Verde lançou um CD com músicas cantadas na bancada, com as receitas da venda da rodela mágica a reverterem para a Missão Pavilhão, acção que visava o apoio à edificação do Palácio das Modalidades.

Núcleos do Sporting CP, uma Causa que muito me diz. Não esqueceram a Torcida Verde em 2003, foi Mafra a atribuir o Galardão “Juba de Leão”. Já este ano, foi a Carapinhei ra (Montemor o Velho) a distinguir a Torcida Verde com o Galardão “Espiga”... outros mais se seguirão, certamente.

À Torcida Verde, digo “muito obrigado” por estes maravilhosos 38 anos de existência, sempre na defesa dos superiores interesses do Enorme Sporting Clube de Portugal.

Henrique Salgado Sócio SCP Nº 12.028

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O conjunto de textos seguintes são da autoria de Sportinguistas que sempre souberam interpretar a militância como um valor intrínseco da identidade Leonina. A emérita sócia do SCP nº 6, Maria de Lurdes Borges de Castro, uma Sportinguista que nos ofereceu lições do carácter intergeracional do SCP. Neste bloco de textos, conta com uma assinalável presença feminina com os contributos de Margarida Caldeira da Silva, com quem a Torcida Verde teve o privilégio de cooperar, aquando da sua passagem pelo SCP.

Também Olinda Ivars, nos ofereceu um texto com a indelével marca de uma mulher Sportinguista que exerceu cargos directivos na presidência de João Rocha, assim como no extinto Conselho Leonino. Para além de tudo isso, Olinda Ivars representou o SCP em diversas modalidades... e continua a representar o atletismo do Clube, sendo a atleta no activo.

Bernardes Diniz e Henrique Salgado, são dois Sportinguistas do “Sporting Profundo”.

Adeptos mobilizadores da nação verde e branca! São como nós, adeptos do Sporting Clube do Povo!

Tributo aos que (nunca) nos deixaram!

Maria de Lurdes Borges de Castro (emérita sócia do SCP, nº6) que nos deixou, mas cuja acção permanece bem viva entre nós.

A publicação do texto que Maria de Lurdes Borges de Castro no Jornal do Sporting no ano de 2006, é o tributo da Torcida Verde a uma relevante adepta militante do SCP que durante muitos anos interagiu connosco de forma activa.

A reedição deste texto tem para a Torcida Verde o simbolismo intergeracional que Ma ria de Lurdes Borges de Castro, interpretava de forma singular.

A publicação deste texto, também pretende alargar a evocação de outros rele vantes militantes verdes e brancos que iri am “exigir” deixar-nos o seu testemunho na publicação “38anos, 38testemunhos”.

Entretanto, partiram, mas continuam presentes na acção da Torcida Verde.

São os casos de Amílcar Cantarinha, eter no seccionista do Ciclismo e do andebol, muito determinante na acção da Torcida Vede nos anos 80, incentivando-nos no apoio ao andebol e às demais modalidades.

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Aguiar de Matos, o pai do renascimen to do hóquei patins (ainda que de forma semiclandestina) no final da década de 90 e “responsável” pela odisseia que levaria a Torcida Verde a apoiar a modalidade na travessia do deserto das divisões inferi ores.

Maria José Valério, a voz íntegra do ideal leonino. Uma amiga genuína da Torcida Verde.

Miguel Galvão Teles, antigo presidente da mesa da AG, figura ímpar de grande dimensão humana, de quem a Torcida Verde guarda as melhores recordações.

João Morais, o mítico autor do golo de An tuérpia da vitória da Taça das Taças o qual seria resgatado (após uma infame ausência que duraria décadas) regressando ao “seu Sporting”, por ocasião da “VI edição dos Prémios da Torcida Verde”, recebendo o nosso simbólico tributo.

Precisamente na mesma cerimónia onde foram homenageados Maria de Lurdes Borges de Castro e Aguiar de Matos.

A inesquecível emoção do regresso ao “Hall VIP” do Estádio José Alvalade em 2006, do autor do “cantinho do Morais” foi um episódio que perdurará na memória daqueles que tiveram o privilégio de vivenciar o sentimento de inusitada e tocante gratidão, de um dos maiores símbolos da história do SCP.

Carlos Gomes, o intrépido Guardião, com o qual desenvolvemos uma relação muito próxima, ao longo da sua última década de vida.

O Professor Branquinho, incansável di namizador do departamento de cultura e recreio, até a João Galrão, passando por Cunha Bispo ou pela D. Leonor do jornal do Sporting.

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Que o testemunho de Maria de Lurdes Borg es de Castro, possa simbolizar, de alguma forma, o nosso tributo a todos esses constru tores do ideal do grande Sporting Clube de Portugal, com os quais a Torcida Verde teve o privilégio de socializar.

O nosso apreço a esses homens e mul heres sportinguistas que conseguiram olhar a Torcida Verde para além dos estigmas e dos preconceitos maniqueístas que reduzem os grupos organizados de adeptos, na melhor das possibilidades, a uma função meramente decorativa.

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“o meu sporting”

“Esta é uma frase que se ouve, frequente mente, na boca dos Sportinguistas.

É quase como dizer: O meu irmão, o meu pai, o meu filho. E, na verdade, há um espírito de família que une todos os Sportinguistas, uma fraternidade única, por sermos todos de um “pai”, que se pode orgulhar do que nenhum pai biológico pode: ter milhões de filhos!

Aqui ao nosso lado, ou nos antípodas, en contramos esses “irmãos “que, tal como nós, vibram com as vitórias do nosso clube sof rem, amargurados com as derrotas.

Mas há uma coisa que nenhum Sportinguista perde, seja na hora da vitória, seja na hora da derrota, o seu profundo amor pelo Sport

ing, a esperança (que é verde como nós), a certeza de que as crises, por maiores que sejam, acabam por passar, mas que o “meu”, o “teu”, o “nosso” Sporting permanecerá enquanto em nós viver este amor-paixão, capaz de acabar com todas as tempestades, capaz de levar sempre a bom porto a nau Sporting.

O “meu” Sporting! Quantas vezes o tem ou vido da minha boca, quantas vezes o tenho ouvido da boca dos meus amigos e dos meus consócios!

Pois é esse “meu “Sporting que nos irmana, que cria entre nós uma cumplicidade úni ca, um sentido de posse, que não é egoísta, porque partilhado por todos.

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Como é bonito ter uma família assim!

Há pouco tempo, tive a inesperada surpresa de ser homenageada com outros consócios pela Torcida Verde.

Como foi agradável ver o entusiasmo daqueles jovens, que souberam fazer uma linda festa e que tiveram um excelente bom gosto na escolha do troféu para os home nageados!

Faço agora parte da Comissão de Honra da Torcida Verde, o que me faz rejuvenescer e continuar a ter esperança no futuro do “meu” Sporting.

Ter participado numa festa com tanto fer vor Sportinguista, num momento difícil do “nosso” Sporting é uma grande afirmação de dedicação e devoção.

Estes são verdadeiros Sportinguistas, que não se empolgam apenas nas vitórias.

Bem hajam, Torcida Verde!

O “meu” Sporting” é também o “vosso” Sporting! “

Maria de Lurdes Borges de Castro, sócia número 6 do Sporting Clube de Portugal!

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Mais que isso, apesar de jovens, parece-me que lutam para preservar e divulgar a história do “nosso “Sporting!

odisseia do museu de leiria

Ilustres Sportinguistas, o Sporting Clube de Portugal nasceu com o intuito de se tornar um grande Clube! Tão grande como os maiores da Europa!

Hoje...é um dos maiores do Mundo!

Desde os meus doze anos cimentei uma total devoção ao ideal leonino colecionando com dedicação todo o tipo de adereços, objetos, imagens e através da feitura de álbuns construídos através de recortes de jornais com o registo visual e escrito dos inúmeros êxitos e conquistas do nosso amado Clube.

Tudo isso foi tomando dimensões extraordinárias que gradualmente foram evoluindo e transformaram todo esse espólio naquilo que é hoje o Museu Sporting em Leiria e permitiram que o Sporting Clube de Portugal seja o único clube no Mundo detentor de dois Museus oficiais!

O Museu do Sporting em Leiria é como que o meu santuário e posso mesmo dizer que tenho aqui a minha vida toda! Foi preciso muito esforço, travar muitas lutas e passar por muito sofrimento, mas com resiliência consegui que este espaço tivesse a sempre dignidade que o Sporting Clube de Portugal merece.

O Sporting para mim é tudo!

E o Sporting é para ser vivido com paixão!

Com intensidade! Com fervor leonino! Com garra! Com raça! Com alma!

Não só com palavras, mas acima de tudo com ação! Com total esforço, dedicação e devoção e sem pedir nada em troca! Todos os Sportinguistas devem sentir isso e ter uma paixão infinita ao Sporting CP! E é com essa paixão que temos de viver o dia-a-dia!

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Devemos ter consciência da grandeza do nosso Clube e da sua dimensão mundial e pensar Sporting Clube de Portugal no seu todo pois somos provavelmente o Clube mais titulado e eclético do Mundo!

O ecletismo do clube tem uma extrema importância pois acrescenta imenso prestígio com a conquista de inúmeros títulos importantes, para lá do desporto “rei” que ainda é o futebol.

O Sporting nunca está em crise pois todos os anos é Campeão. Se não é numa modalidade, é noutra. E inclusivamente Campeão a nível europeu, como sucedeu recentemente com o Futsal e o Hóquei que repetiram os feitos

tal como anteriormente Atletismo, Judo e Goalball e outras conquistas importantes também do Andebol.

O que há é uma tremenda falta de cultura desportiva e só se conhece o futebol. Muitos sócios e adeptos não sabem que o Sporting Clube de Portugal, que conquistou agora o 41º título em sete modalidades diferentes, está entre os três clubes com mais títulos europeus juntamente com o FC Barcelona e o CSKA de Moscovo.

O Sporting CP é claramente um dos clubes na Europa com atletas com mais títulos

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“O Museu do Sporting em Leiria é como que o meu santuário e posso mesmo dizer que tenho”

europeus, mundiais e olímpicos. Todos os Sportinguistas deviam saber isso e uma das nossas missões principais aqui neste espaço passa justamente por dar a conhecer não só aos Sportinguistas em particular, mas ao público em geral, todos os feitos e factos que sustentam a nossa riquíssima História e também os valores que sempre nos regeram como clube que defende a verdade desportiva e o mérito.

Ao contrário do que muita gente pensa, um museu não é um espaço morto. Precisa é que quem faz as visitas guiadas, dentro das limitações que se possam ter, saiba incutir às pessoas o que é a verdadeira História, neste caso a do Sporting CP. O Clube nasceu a 1 de julho de 1906, tem uma história riquíssima e é sem dúvida a maior potência desportiva nacional. Os factos são elucidativos, falam por si.

Mais do que as palavras, são os documentos que espelham a grandeza do Sporting CP.

Gosto de receber bem as pessoas, com alma, com chama e com o fascínio de Ser Sportinguista.

Sportinguista desde que me conheço, a minha paixão ao verde e branco estendeu-se à restante família. Mulher, filhos e netos todos são sócios.

Sintam orgulho por pertencerem a um dos melhores e maiores Clubes do Mundo.

Tem uma História centenária riquíssima repleta de êxitos a nível Nacional e Internacional. Além disso também somos um Clube com valores éticos e princípios morais que preza a verdade desportiva e o mérito de cada conquista conseguida com Esforço, Dedicação e Devoção no sentido de alcançar a Glória.

Ser do Sporting é uma graciosa virtude, uma enorme honra e um autêntico privilégio!

Termino este meu testemunho, endereçando os merecidos parabéns à Torcida Verde !

Viva o Sporting, Sempre!

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38 anos de Torcida Verde

A Torcida Verde festeja agora, 38 anos de apoio incondicional ao Sporting Clube de Portugal.

Quem, como eu, acompanha há muito tempo a vida do Clube, tem de forçosamente reconhecer a importância do apoio da Torcida Verde não só ao futebol mas a todas as modalidades do nosso querido Sporting.

Quando trabalhei no Sporting, tive o privilégio de lidar mais de perto com a Torcida Verde que sempre se mostrou um parceiro de fácil diálogo e colaboração.

Várias ações desenvolvidas pela SCS não teriam sido possíveis sem a participação da Torcida. Estes trabalhos em prol do Clube

nem sempre foram reconhecidos ou pagos.

Nem por isso a Torcida Verde deixou de dizer presente sempre que necessário.

Foi a primeira claque a ser legalizada e reconhecida pela Direção da altura e sempre pugnou com rigor e transparência pela defesa dos nossos ideais.

As coreografias que ao longo destes 38 anos foi apresentando configuraram e configuram uma defesa intransigente do ecletismo e dos atletas que representam o Sporting.

Podemos dizer sem errar que a Torcida Verde é um digno representante e a última força de defesa dos verdadeiros ideais leoninos.

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Não podemos esquecer a ação social da Torcida, nomeadamente no Projeto Vida Mais , ao permitir a muitos jovens o contacto privilegiado à prática desportiva no Sporting.

A denúncia do sistema e do futebol negócio tem sido ao longo dos anos uma bandeira sempre levantada pela Torcida.

Como sócia antiga dirigente e principalmente como sportinguista só tenho de agradecer à Torcida e a todos os seus elementos pela sua luta sem descanso dos nossos valores e ideais.

Bem hajam e contém sempre comigo.

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TORCIDA VERDE 1984 - SEMPER FIDELIS Saudações Leoninas Margarida Caldeira da Silva Sócia

OLINDA ARAÚJO IVARS

Segundo um historiador especialista na simbologia das cores, a cor define-se antes de mais como facto social.

É a sociedade que faz a cor, que lhe dá as suas definições e o seu sentido, que constrói os seus códigos e os seus valores, que organiza as suas práticas e determina as suas implicações.

Assim, qualquer história das cores tem, aci ma de tudo, de ser uma história social. Vem isto a propósito do verde, a simbólica cor do nosso clube. Nos anos de 1900, no coração das cidades, o culto do verde vegetal e do verde higiénico propagou-se ao verde med ical.

Nas sociedades contemporâneas o desporto cultiva também as virtudes da cor verde,

sendo várias as modalidades em que a mesma se afirma, quer nos espaços da sua práti ca, quer nos equipamentos das equipas.

Estudos de opinião mostram que na Europa Ocidental, incluindo Portugal, desde o fim do século XIX o verde vem em segundo lugar, logo a seguir ao azul, como a cor preferida dos seus habitantes.

Hoje como ontem, na Europa, o verde é a cor preferida de uma em cada cinco pessoas.

Compreende-se, pois, que os pais fun dadores do Sporting Clube de Portugal, seguindo a tendência à época, tenham optado pelo verde como a cor do emblema leonino. A história da cor verde é adotada pela sociedade porque representa a saúde, a liberdade e a esperança.

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O verde é saudável, tónico e vigoroso. No ano da fundação da Torcida Verde, o sim bolismo do verde tinha já uma consideração notável e era, mais que tudo, a cor do nosso clube.

Nada mais natural pois, do que incor porá-la na denominação desta Associação de Adeptos. Curioso é que nenhuma outra a captou para si.

Conhecendo, como conheço a Torcida Verde desde os primórdios sua existência, tenho a certeza de que a sua escolha se baseou na identificação dos jovens fun dadores com o verde tal como este se define: também eles se sentiam livres, naturais, prontos para lutar contra todos os artifícios, todos os entraves, todos os autoritarismos.

Sobretudo, albergavam em si múltiplas espe ranças, tanto para eles como para o clube.

E, reiterando o meu profundo conhecimen to da Torcida Verde, posso testemunhar que, ainda hoje, os seus fundadores e aqueles que lhes sucederam continuam a pensar e a agir na mesma linha de pensamento e de acção.

Parabéns à Torcida Verde pelo 38º aniversário e continuem na vossa senda sem tergiversações para honra e glória do nosso Sporting Clube de Portugal!

Antiga e actual atleta do clube, ex-membro da Assembleia-Geral, do Conselho Leonino e Vice-Presidente da direcção João Rocha Olinda Araújo Ivars - Sócia nº 355-0

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António Dias da Cunha e Aurélio Pereira, participam na publicação “38 anos, 38 testemunhos” em modo de entrevista. Dois Sportinguistas com obra feita no Grande Sporting! Duas entrevistas que “falam por si”!

Dias da Cunha, o presidente coragem

A Torcida Verde está a comemorar o 38º aniversário da sua fundação.

Na decorrência desta comemoração, esta mos a ouvir figuras do Sporting Clube de Por tugal que, ao longo dos anos, se distinguiram no seio do clube em qualquer das vertentes em que o mesmo se projeta.

Entre elas, o Presidente António Dias da Cunha foi, sem dúvida, o Presidente do Con selho Diretivo que mais nos tocou porquanto esteve, inelutavelmente, ligado a momentos marcantes da nossa Torcida Verde.

Esta é a entrevista que teve a gentileza de nos disponibilizar e que muito agradecemos

pela deferência que a mesma representa.

TORCIDA VERDE - Presidente está estreita mente ligado à Torcida Verde na exata medida em que foi subscritor, enquanto Presidente do Conselho Diretivo, do Protocolo celebrado com esta Associação. Recordando este even to, qual foi a importância que, na sua opinião, este documento teve na relação do clube com os adeptos sportinguistas congregados, em especial, na Torcida Verde?

DIAS DA CUNHA - Passados todos estes anos posso dizer que conseguimos trans formar o que era uma relação de confronto numa relação de normal colaboração com os diferentes GOAS (Grupos de Adeptos Or

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ganizados) que eram recebidos de tempos a tempos, altura em que expunham os seus problemas, mas também tinham espaço para exprimir o que sentiam em relação ao rumo do Sporting Clube de Portugal. Discutia-se abertamente. Era uma relação pacifica entre todos.

TORCIDA VERDE - Como dirigente que, na nossa perspetiva, encarnou um dirigismo exemplar, como vê, em geral, a forma em que deve ancorar o relacionamento entre os clubes e as Associações de Adeptos?

DIAS DA CUNHA - Esse relacionamento deve ser pautado por regras claras com o objetivo de alcançar uma relação aberta, regu lar, participada e responsável.

TORCIDA VERDE - Atenta a sua resposta, como considera ter sido a atuação da Torcida Verde, não só no decurso do seu mandato, mas também posteriormente?

DIAS DA CUNHA - Da relação com a Torcida Verde, preservo uma boa memória que con servo. Posso acrescentar que partilhámos momentos de confiança e respeito mútuos.

TORCIDA VERDE - Em relação ao nosso Grande Sporting Clube de Portugal, o que perspetiva para o presente e o futuro?

DIAS DA CUNHA - No que diz respeito ao nosso querido Sporting Clube de Portugal, a época passada, fomos vitoriosos no futebol, mas também nas modalidades.

Deposito absoluta confiança no rumo que

o presidente Varandas protagoniza, nomeada mente na aposta imprescindível na formação. Acredito que a aposta na formação, não ap enas no futebol, mas também nas restantes modalidades será o caminho correto.

Penso que a aposta na formação, mas também a não alienação da maioria da SAD (Sociedade Anónima Desportiva) será o maior desafio.

Tenha a convicção de que a SAD e o Clube vão continuar a pertencer aos seus Sócios.

Isso será imprescindível para que o Clube continue a honrar a sua história.

TORCIDA VERDE - Para terminar, pretende deixar uma mensagem especial nos 38 anos da Torcida?

DIAS DA CUNHA - Quero expressar o desejo de que continuem com a vossa conduta cívi ca e interventiva, que experienciei, enquanto presidente do Sporting Clube de Portugal.

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Aurélio pereira

Aurélio Pereira, disponibilizou-se a conced er-nos uma entrevista para esta nossa pub licação, associando-se desta forma à evocação do 38º aniversário da Torcida Verde!

Uma entrevista, possível graças à total dis ponibilidade do mister Aurélio Pereira, uma referência para todos os adeptos do SCP e do futebol como um desporto popular.

Fica o testemunho de um Homem do fute bol que não se furtou a abordar temas per tinentes, certamente incómodos para a gen eralidade dos intervenientes no complexo mundo do futebol moderno.

Uma entrevista que por coincidência, ocor reu na passagem do XXº aniversário da Aca demia de Alcochete.

TORCIDA VERDE - Como começou a ligação de Aurélio Pereira ao Sporting CP?

AURÉLIO PEREIRA - Tudo começou num mês de agosto, quando fui a Alvalade com dois meus amigos para os treinos de captação do Sporting. Tínhamos 14 anos e recordo-me que era o único a poder treinar.

Os meus amigos eram demasiado baixos, e por isso não puderam mostrar o seu talento. Acabei por treinar e ficar nos principiantes e eles, mais talentosos que eu, nem se puder am equipar. Esse foi um episódio que nunca esqueci.

Nos anos em que estive no futebol juve nil do SCP, todos os miúdos que se apre sentaram para as captações tiveram uma oportunidade. Baixos, altos, gordos, magros, brancos ou morenos.

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Depois de completar o meu percurso nos diversos escalões do futebol juvenil, a minha aventura como futebolista do Sporting termi nou quando foi o momento de passar para os seniores.

Foi então que descobriu o futebol popular. Quer falar-nos dessa experiência? “Anos mais tarde joguei no Operário, um clube popular de Lisboa do bairro de Alfama. Era um ambiente familiar, onde se vivia a paixão pelo futebol. Em termos desportivos foram bons tempos, com várias subidas de divisão.

TORCIDA VERDE - Depois iniciou a sua carrei ra como treinador, num outro clube popular. Correto?

AURÉLIO PEREIRA - Sim, no Futebol Benfica. A equipe de juvenis foi a minha primeira ex periência. Mais tarde fiquei com os juniores.

Foi nessa altura que despontou em mim, o bichinho da captação. Fazia verdadeiros périplos pelos jogos que eram disputados nas zonas limítrofes, tentando descobrir novos jogadores para o clube, Damaia, Pon tinha, Amadora foram as localidades em que iniciei o meu “tirocínio”. Pouco depois fiquei com os juniores.

TORCIDA VERDE - No início dos anos 70 re gressou a Alvalade. Como foi esse regresso a casa ?

AURÉLIO PEREIRA - Corria a época 1970/71 quando o Hilário (futebolista do SCP com mais jogos disputados) que tinha duas equi pas de juvenis, me convidou para treinar os

juvenis B, com a anuência de Mário Lino. No ano seguinte assumi duas equipes de infan tis e as outras duas de iniciados, que tinha de conciliar com a minha vida profissional e familiar.”

AURÉLIO PEREIRA - Em 1974, inovaram com uma iniciativa incrível. Quer partilhar connos co esses momentos?

AURÉLIO PEREIRA - Na época de 74/75, na qual o Sporting conquistou o campeonato, a Taça de Portugal e chegou à meia final da Taça das Taças, no futebol juvenil imple mentámos uma iniciativa inovadora.

Lançamos um desafio aos futebolistas profissionais que passava por treinarem eq uipas de miúdos na véspera dos seus jogos em Alvalade. Organizámos um torneio interno que se realizou no pelado contíguo ao Es tádio Alvalade.

Imaginem o significado para os miúdos ser em treinados pelo Vítor Damas, pelo Yazalde, Marinho, Wagner, Carlos Pereira e por outros dos seus ídolos.

TORCIDA VERDE - Este episódio relatado por Aurélio Pereira, convoca a nossa imaginação para tempos em que se vivia o conceito “Clube Família”. Um episódio que atualmente, seria considerado uma utopia.

No imaginário da nação verde e branca persistem os torneios pioneiros, organizados pelo Sporting. Qual foi a sua importância?

AURÉLIO PEREIRA - Outra inovação que tra-

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balhámos, ainda nos anos 70, foi a realização dos Torneios “Onda Verde” e “Sporting 1000” que tinham um âmbito distrital, uma vez que abarcavam vários campos do distrito de Lis boa. De Alverca ao Montijo, Montijo, Loures, Alhandra, etc.

Esta iniciativa permitiu alargar a base de recrutamento e, mais tarde, reforçar a equipe sénior.

O presidente João Rocha percebeu o po tencial da formação e posso afirmar que era um nosso grande motivador. Nesses torneios populares, abertos a miúdos entre os 10 e os 12 anos, começou uma nova era no futebol juvenil do SCP.

TORCIDA VERDE - Entretanto, a projeção in ternacional do Futebol Juvenil do Sporting CP foi-se afirmando com inúmeros convites. Como foram esses tempos?

AURÉLIO PEREIRA - A participação do Fute bol Juvenil nos torneios internacionais, ainda nos anos 70, eram uma forma de dar maior experiência aos nossos jovens.

A nível desportivo, porque se tratavam de jogos de maior competitividade , mas também ao nível do seu desenvolvimento pessoal, uma vez que naqueles tempos, os contactos com outras realidades eram muito complicados.

Recordo-me de uma viagem a Brest de au tocarro, na qual chegámos a Lisboa depois da meia noite, após uma viagem de 37 horas.

No outro dia ás 8 horas da manhã, estáva mos de novo de partida para Nantes, com um outro escalão. Seguiram-se mais 37 horas de maratona.

Esses eram tempos em que os organiza dores dos torneios não pagavam viagens de avião, pelo que a solução mais económica eram os alugueres de autocarros.

Os convites para a participação em torneios internacionais, tornaram-se um hábito, fruto das exibições realizadas.

O aluguer de autocarros eram recorrentes e, neste particular, lembro-me da relação especial que desenvolvemos com os dois motoris tas irmãos que nos transportavam naquelas odisseias. Tornou-se num relacionamento muito especial, de tal forma que, carinhosa mente os dois irmãos motoristas, ganharam a alcunha de “irmãos metralhas”.

Essas viagens tornaram-se muito rele vantes para a dinâmica e a mística do futebol juvenil.

Ultrapassavam largamente, a componente desportiva, até pelas circunstâncias que en volviam as viagens e a competição. Querem um exemplo?

Nesses torneios, a organização disponibilizava alimentação que desagradava aos miúdos. Conscientes dessa realidade, con tactámos as comunidades emigrantes, de safiando-as a receber os miúdos em suas casas.

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Dessa forma, conseguimos ultrapassar a questão da alimentação sem melindrar a or ganização dos torneios e sem onerar o Sport ing em despesas alimentares.

Posso mesmo afirmar que com o passar dos anos, se foram estabelecendo fortes relações emocionais entre a comunidade emigrante e as equipas jovens do Sporting.

Recordo-me especialmente das despedidas emocionadas das famílias de acolhimento dos nossos miúdos e também de namoros com filhas dos emigrantes que transforma vam as despedidas em lágrimas.

Num desses torneios, defrontámos o Bayern Munique, uma equipe composta por jovens de grande envergadura. No aquecimento, tor nara-se visível a disparidade física na com pleição física entre os nossos jovens - onde jogavam entre outros Rosário e o Mário Jorgee os corpulentos alemães.

Lembro-me de lhes ter dito: Não olhem para eles. No final serão eles que ficarão a olhar para vocês.

Vencemos o Bayern por 4-0, deixando os alemães incrédulos, assim como as restantes equipas. Foram esses torneios que prestigi aram o futebol juvenil e contríbuiram para a afirmação dos nossos jovens.”

TORCIDA VERDE - Terá sido nessa altura que o futebol juvenil se foi afirmando como viveiro dos seniores?

AURÉLIO PEREIRA - Ainda nos anos 70, o Fu tebol Juvenil do SCP, tornou-se no principal viveiro do plantel sénior.

Cerdeira, Barão, Matos, Delgado, Ademar, Libânio, Rui Palhares, Justino, Crispim, Mota, Freire, Alberto.

Depois nos anos 80, nova fornada com Mário Jorge, Carlos Xavier, Germano, Sérgio

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Louro, Venâncio, Litos, Rui Correia, Ferrinho, Eugénio , entre tantos outros. Era uma aposta ditada, também pelas dificuldades financei ras do clube, em clara desvantagem com os principais rivais. Uma aposta assumida pelos dirigentes do clube.

A nossa estratégia passou, então por recru tar mais cedo, por isso a aposta no recruta mento, inspirava os miúdos com o sonho de chegarem à equipe principal.

TORCIDA VERDE - Em 1987/88 fez a última época como treinador...

AURÉLIO PEREIRA - Essa época foi muito sui generis, ao longo da qual treinei a equipa de juvenis com uma particularidade. Ao longo de toda essa época repartia o campo pelado, em frente à Porta 10A com a equipa de iniciados, então treinada por Carlos Pereira.

As limitações impostas pela falta de cam pos, levou-nos a treinar em meio campo du rante toda a temporada, o que não nos impe diu de conquistarmos os títulos nacionais de juvenis e iniciados.

A minha atividade profissional impediu-me de continuar a treinar, o clube propôs-me acompanhar os jogadores emprestados.

TORCIDA VERDE - Foi então que nasceu o departamento de Recrutamento e Formação?

AURÉLIO PEREIRA - Foi assim que surgiu o departamento de recrutamento e formação. Cheguei a ver jogos de norte a sul do país, muitos deles com início às 9h da manhã.

Com o contributo de ex-futebolistas foi criada uma rede que começou em Lisboa e Setúbal. O impacto que essa iniciativa teve,

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levou-nos a pensar alargar a prospeção ao resto do país.

O facto de trabalhar numa gráfica, levou-me a criar uma carta circular que foi enviada a milhares de sócios do clube, convidando-os a fazer parte da rede de prospeção.

Foi um trabalho inesquecível, pela sua dimensão e pelo empenhamento de tra balhadores do Sporting, com particular destaque para o Manuel Faria da secretaria.

Depois, no terreno tivemos o contributo de muitos adeptos do clube, especialmente daqueles com profissões específicas, como os bombeiros e os policiais por exemplo, que tinham uma enorme proximidade com a co munidade local.

TORCIDA VERDE - Na época 1988/89, viu-se forçado a abandonar o futebol Juvenil. O que aconteceu?

AURÉLIO PEREIRA - Na época 1988/89 , fui dispensado do futebol juvenil e só poste riormente percebi que o presidente Jorge Gonçalves fora ultrapassado pelo emergente protagonismo de novas personagens do clube. O centro de dia, dentro do Estádio José Alvalade foi desativado, sinal do esvaziamen to do projeto do futebol de formação.

TORCIDA VERDE - A grandeza de espírito de Aurélio Pereira, inibiu quaisquer azedumes em relação aos protagonistas que motivaram a sua dispensa e o esvaziamento do futebol de formação.

Na verdade este episódio, esquecido nas brumas do tempo, deveria ser um alerta para todos os adeptos do SCP.

Na época 1988/89, surgiram mediáticas contratações, as “unhas do Leão”- que troux eram para o futebol leonino agentes e em presários como J. Figuer e Bonetti, envolvidos nas transferências de futebolistas como Es kilson, Ricardo Rocha, Douglas, Silas, Rodolfo Rodriguez e o técnico Pedro Rocha.

Foi o inusitado protagonismo desses agen tes que provocaram a saída de Aurélio Perei ra e o consequente enfraquecimento do fute bol juvenil. Deveria ter sido um alerta para a nação verde e branca...

Com a ida de Sousa Cintra para a presidên cia, surgiu o convite para regressar. Como foi o regresso?

AURÉLIO PEREIRA - Aceitei, com o compro misso do Centro de Dia ser reativado no Es tádio José Alvalade, de maneira a possibilitar o realojamento dos miúdos que estavam a residir em pensões em Lisboa. Para além disso, considerava fundamental, a criação de equipas B do futebol de formação, o que aca bou por ser uma realidade.

TORCIDA VERDE - Quer relembrar a iniciati va “O dia do Campeão? No rescaldo do título mundial que a seleção nacional de sub-20 conquistou em 1992, lembramo-nos de ter participado numa iniciativa organizada pelo departamento de Futebol, realizada no Es tádio José Alvalade, um sinal da forte apos ta do SCP na formação. A direção da altura, presidida por Sousa Cintra, agradada com

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os títulos conquistados pelo futebol juvenil, resolveu fazer “O dia do Campeão”- iniciativa também participada pela Torcida Verde.

AURÉLIO PEREIRA - Essa foi uma festa de campeões que teve lugar no EJA, com a re alização de um torneio interno entre as várias equipas de futebol de Formação do SCP.

A recente conquista nesse ano, do campe onato do mundo de juniores pela seleção nacional, numa equipa onde estavam Figo, Pau lo Torres, Peixe, João Oliveira Pinto, foi outro fator que incentivou os dirigentes a fazer uma aposta séria na formação.

Tínhamos uma boa equipe de trabalho, na qual não posso esquecer, o vice-presidente, José Manuel Roseiro, sempre muito sensível e disponível para todas as questões do futebol juvenil.

A linha estratégica do Sporting passava pelos jogadores jovens. As contratações de outros jovens para reforços da equipe sénior, como Nelson, Capucho, Filipe e Costinha rev elaram essa forte aposta.

TORCIDA VERDE - Como sabemos, o futebol juvenil viu-se confrontado com o aumento de custos e pela crescente pressão dos rivais e a entrada de novos agentes e especuladores. Como enfrentaram esses novos tempos?

AURÉLIO PEREIRA - A verdade é que os nos sos rivais diretos aumentaram o investimento no futebol juvenil, tendo como prioridade as vitórias nos diferentes escalões de formação. Desta realidade, resultou um aumento nos

custos do futebol juvenil, colocando-nos no vos desafios.

As referidas limitações financeiras exigi ram-nos soluções mais criativas, uma vez que com a crescente inflação no futebol de formação, tornava-se mais complicado alar gar a base de recrutamento a todos os es calões que teriam custos incomportáveis.

Recusamos entrar em leilões por miúdos. Desta realidade, tomámos uma opção es tratégica que passa por centrar a base de recrutamento em escalões mais baixos, merecendo-nos especial foco os miúdos dos 11 anos. Atualmente, a realidade diz-nos que a partir desse escalão, torna-se muito difícil o recrutamento de acordo com os nossos obje tivos e perante a inflação que atinge o futebol juvenil.

TORCIDA VERDE - Podemos considerar que nasceu no SCP um novo conceito . Um novo paradigma?

AURÉLIO PEREIRA - A aposta na construção de um novo conceito de futebolista, apa rece como contraponto à doentia obsessão das vitórias que considero importante de smistificar: o espírito de vitória está sempre presente nos jovens da formação leonina, contudo não deve anular a formação humana e desportiva dos miúdos, o que a acontecer poderá revelar-se contraproducente para o seu desenvolvimento, como atleta e cidadão.

Nunca podemos esquecer que se tratam de miúdos em idade escolar e ainda à procura da sua identidade. Neste sentido, costumo

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fazer a pergunta: Formação vencedora ou formação de vencedores? Ainda que o ótimo fosse conjugar ambas, a resposta está cor porizada em dois futebolistas que passaram pelo futebol juvenil do Sporting: O Figo e o Ronaldo, poucos títulos conquistados na formação mas foram “Bolas de Ouro”.

TORCIDA VERDE - Antes da construção da Academia em Alcochete, as condições eram muito diferentes. Quer falar-nos essa reali dade ?

AURÉLIO PEREIRA - Até à construção da Academia, funcionava no Estádio José Al valade, o Centro de dia, onde ficavam alojados, os miúdos de várias proveniências e origens sociais, étnicas, culturais.

Por outro lado, as condições de treino eram muito diferentes das proporcionadas pela construção da Academia em 2002.

Essa é uma realidade, desconhecida de uma larga franja de adeptos, as limitações com que nos confrontámos eram um constante desafio à nossa imaginação e também um estímulo à superação.

Essas dificuldades passaram a ser parte da nossa realidade que tivemos de enfren tar.

O relacionamento de maior proximidade com os miúdos e suas famílias construiu o conceito centrado no jovem atleta e no mod elo “Clube Família”, pelo que costumávamos dizer que os nossos rivais tinham os campos e nós, os jogadores.

TORCIDA VERDE - Esse modelo centrado no jovem atleta exigia uma relação de grande proximidade com os miúdos originando certamente episódios memoráveis...

AURÉLIO PEREIRA - Naturalmente era uma realidade, onde nos eram convocadas capaci dades muitas vezes desconhecidas.

Era muito desafiante, o relacionamento com tantos miúdos. Com o tempo, a componente desportiva funde-se com a componente hu mana.

A quadra natalícia era uma época muito complicada, sobretudo para os miúdos que viviam longe das famílias.

Por diversas ocasiões, os miúdos do Cen tro de Dia, passavam a quadra natalícia em minha casa e do meu irmão Carlos Pereira.

A alegria dos miúdos a desembrulhar as prendas, era a contrapartida que nos bastava. Depois no campo desportivo, esses miúdos davam 200% em cada jogo.”

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As dificuldades materiais nunca foram impeditivas da descoberta de novos talentos...

As crônicas limitações no que dizia respeito às instalações desportivas nunca inviabi lizaram a formação para o futebol principal.

Temos dois bons exemplos nos “Bolas de Ouros”, Luís Figo e Cristiano Ronaldo: foram ambos formados nos nossos pelados.

Quantas vezes treinaram e jogaram em lamaçais! Posso dizer que o jogador é o elo mais forte na cadeia de formação futebolísti ca, sem ele não existe futuro.

Os recursos humanos sempre foram o fator decisivo no futebol, sem o qual a excelência das condições materiais pouco valem.

No futebol de formação, essa realidade ganha uma maior validade, uma vez que se convocam competências específicas no campo do recrutamento, das relações hu manas com todas as condicionantes do con texto sócio-económico dos miúdos e a envol vente familiar, o que exige uma permanente proximidade e acompanhamento.

Acredito que, quem não conhecer o ser hu mano que vive no miúdo, não consegue po tenciar o atleta.

TORCIDA VERDE - Ainda nos anos 90, a con strução do parque de estacionamento na viz inhança do EJA agravaram as dificuldades no treino e planeamento?

AURÉLIO PEREIRA - Esses foram tempos complicados, em que recorremos à imagi nação, a companheira inseparável do espírito de sacrifício.

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Sem campos onde treinar, recorremos aos pelados do Sporting da Torre e ao Campo dos Sacrifício, na Musgueira.

Cada sessão de treinos era uma aventura. No corrupio do constante vai e vem dos transportes do EJA para esses campos em prestados, por vezes fazíamos de motoris tas; de outra forma não tínhamos maneira de levar os miúdos para os treinos. Os jogos das competições oficiais eram realizados em Óbidos.

TORCIDA VERDE - Em 2018, concedeu uma grande entrevista a um jornal diário despor tivo, no qual lançou um pertinente alerta... “Hoje em dia existem miúdos de 7 anos com empresário!” Uma entrevista memorável...

AURÉLIO PEREIRA - Essa entrevista foi um alerta que considerei oportuno, aliás mais do que um alerta senti que se tratava de um dever de cidadania de alguém que ao longo de 50 anos viveu a realidade no terreno. Nos úl timos anos a situação atingiu uma dimensão tal, que o meu silêncio me poderia tornar, de certa forma cúmplice com a escala desta problemática.

Desde a mais tenra idade, existem miúdos que são pressionados a assinar contratos com representantes, advogados ou agentes que depois de seduzirem os pais, confrontam os clubes em busca de obterem uma ascendente em relação ao futuro do jovem.

Trata-se de um verdadeiro cerco, uma teia urdida por muitos interesses que funcionam em rede.

Esses agentes, apropriam-se dos miúdos, manipulam os familiares. Imaginem o que é receber uma carta. “A partir desta data o ... miúdo ... é representado pelo dr... agente, advogado XPTO...” pelo que qualquer assunto relativo à sua carreira desportiva, deverá ser tratado pelo referido representante legal.

Existem casos de agentes que oferecem carros a miúdos, muito antes de poderem conduzir, ou aos seus familiares... esta é uma completa preversão do modelo do futebol de formação em favor do negócio.

TORCIDA VERDE - Que ameaças enfrenta a deteção de jovens talentos ?

AURÉLIO PEREIRA - A deteção de talentos, tornou-se num negócio que não respeita o crescimento dos miúdos, querem um exem plo? Ainda recentemente o Arsenal, contratou um miúdo com 4 anos de idade! Torna-se numa evidência que, em demasiadas oc asiões, os pais vêm nos miúdos a forma de resolução de gritantes problemas sociais e por vezes, até de subsistência.

São situações muito complexas. E também neste contexto, o futebol de formação do Sporting tem tido a felicidade de contar com o contributo de Sportinguistas anónimos, como aliados para competir no complicado mundo do futebol atual.

Esses Sportinguistas anónimos, por diver sas ocasiões têm sido uma preciosa ajuda, revelando-se aliados importantes, resolven do situações complicadas no campo social e familiar de muitos dos nossos jovens.

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TORCIDA VERDE - Pode-nos explicar a apos ta no recrutamento de miúdos tão jovens e a relação com os agentes?

AURÉLIO PEREIRA No Sporting temos como modelo, a aposta nos miúdos até aos 11 anos de idade, também para nos anteciparmos às redes de representantes e agentes; por out ro lado, a aposta nestas idades permite-nos aprofundar a proximidade com as famílias, esvaziando os assédios e as pressões de que já falei.

No Sporting costumo dar dois exemplos, o Miguel Veloso, com o qual foi possível de senvolver uma excelente relação com a sua mãe, sempre muito presente, e também com o C.Ronaldo, oriundo da Ilha da Madeira, ain da muito miúdo.

Por isso o facto de termos na mãe do Cris tiano a nossa grande aliada, muito atenta ao desenvolvimento do filho foi determinante, como ele próprio reconhece.

Numa ocasião, na véspera de uma deslo cação à Madeira, o departamento de Fute bol Juvenil castigou Cristiano, punição que mereceu o incondicional apoio de sua mãe,

consciente de que se tratava de uma medida importante para o crescimento do filho.

Dito isto, posso afirmar que a minha relação com os empresários nunca foi uma prioridade, o foco sempre esteve na relação com o contexto familiar dos miúdos.

Sempre que estive em reuniões com im portantes decisões para tomar, confrontado tantas vezes com situações complexas e assolado por dúvidas, colocava-me a mim mes mo sempre com a mesma pergunta ”O que é melhor para o Sporting?” e a resposta surgia facilmente.

TORCIDA VERDE - Na época 2016/17, a Torcida Verde apresentou uma coreografia de denún cia do tráfico de crianças no futebol moderno. Como interpreta esse fenômeno?

AURÉLIO PEREIRA - Infelizmente, essa é uma realidade cada vez mais presente no futebol atual. Existem redes que fornecem documen tos para que esses miúdos possam ingressar nas academias de clubes europeus.

Em países como a Bélgica, a Holanda ou a França é um flagelo disseminado, mas mais

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lamentáveis são os casos de miúdos que acabam literalmente abandonados, ou em alternativa são recrutados por redes ligadas aos tráficos e á prostituição, como uma in vestigação da Interpol denunciou.

TORCIDA VERDE - Atualmente, assistimos a um crescente mediatismo dos jovens atletas. Como analisa essa realidade cada vez mais presente no futebol de formação?

AURÉLIO PEREIRA - Esta é uma outra situ ação que decorre do modelo do futebol atual. O mediatismo dado a miúdos com 14 ou 15 anos é um tema muito complexo. Podemos dizer que jovens com essas idades não estão preparados para essa exposição mediática que até pode conduzi-los à perigosa ver tigem da fama.

Na realidade são miúdos em fase de afir mação, ainda à sua descoberta, com erros próprios da adolescência que poderão ser exponenciados com a excessiva exposição.

Existe uma grande pressão sobre clubes e miúdos, agravada pela permanente ação dos agentes e representantes.

Considero que a essência do futebol de for mação é um desporto, não um negócio.

A formação de um jovem futebolista compreende diversas etapas, nunca podemos esquecer que estamos a trabalhar com miú dos em idades críticas para o seu desenvolvi mento humano.

Nesse sentido, o modelo de formação que defendo nunca será um “produto embalado” pronto para ser enviado para qualquer “mer cado”.

Aqueles que pensam no futebol juvenil como uma indústria que se resume a fornecer jogadores/ativos, têm uma visão distorcida do modelo que sempre motivou todos os que trabalharam neste conceito de formação.

Ao contrário, este é um trabalho aturado, multidisciplinar, complexo; como qualquer trabalho que envolve seres humanos com todas as suas singularidades.

Falo dos miúdos e dos técnicos. Temos de ter a consciência de que nem todos conseg uem conquistar o sonho de serem profissio nais.

De todos esses, apenas um número residual poderão, eventualmente ser futebolistas profissionais, a grande maioria fica pelo caminho, o que pode causar efeitos descon certantes no seu futuro, caso não estejam preparados para superar as expectativas defraudadas, que muitas vezes são também as expectativas dos familiares e dos agen tes representantes. Dito isto, nunca poderei considerar a formação de jovens futebolistas como um negócio.

TORCIDA VERDE - A vitória em 2016 do Campeonato da Europa de Futebol foi um título impensável durante décadas, numa eq uipa onde alinhavam 11 jogadores formados no “seu futebol Juvenil”.

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A essa equipe foi dada a designação de “Aurélios” como justo tributo ao seu inegável contributo.

AURÉLIO PEREIRA - Considero que o Sporting foi um aliado fortíssimo na conquista desse título europeu, com 11 futebolistas que passaram pela nossa formação.

Como adepto do futebol, apaixonado pela formação e Sportinguista sinto uma alegria especial, um sentimento de recompensa.

TORCIDA VERDE - Considera, então que a aposta na formação como um investimento estrutural?

AURÉLIO PEREIRA - Com o título que o Sport ing conquistou em 2021, penso que ficou evidente como é importante apostar na for mação, por isso essa aposta terá de ter um cariz estratégico, Estrutural. Independentemente dos títulos que se conquistem.

TORCIDA VERDE - O Balanço Passados estes 50 anos de trabalho ímpar em prol de uma vocação que foi desenvolvendo, qual a men sagem que quer deixar?

AURÉLIO PEREIRA - Estou consciente de que hoje seria impossível trabalhar numa gráfica nos arredores de Lisboa, em simultâneo, che fiar o departamento de futebol juvenil. Porém posso afirmar que aprendi muito mais do que ensinei ao longo destes 50 anos no futebol juvenil do Sporting Clube de Portugal.

Considero ainda, que tive a sorte de colher os ensinamentos de homens como Juca e Travassos, sem esquecer Osvaldo Silva, Ce sar Nascimento, Bernabé ou Rui Palhares, homens que para além dos ensinamentos técnicos tinham uma enorme dimensão humana, caraterística que considero indis pensável.

Nestes anos, fica uma certeza: Aprendi muito maisdoqueensinei!

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CAPITÃES DA NOSSA

IDENTIDADE!

Nesta publicação da Torcida Verde, era-nos imperioso procurar os testemunhos dos “nossos” capitães.

os capitães do futebol Sportinguista até à constituição da Sporting SAD.

Manuel Fernandes, Vítor Damas (através da Rita Damas), Carlos Xavier e Marco Aurélio, foram

Manuel Fernandes

Muitos parabéns à Torcida Verde pelos 38 anos de existência. Quando nasceu essa claque ainda jogava eu no nosso Sporting. Jamais esquecerei o vosso 1º ano uma vez que conquistei o troféu de melhor marcador com 30 golos.

O vosso apoio foi muito importante para essa conquista. Nesta altura que temos um Sporting ganhador é muito importante o vosso apoio para continuarmos na senda dos êxitos.

Gostamos de ganhar dentro das leis, ao contrário de outros em que afirmam que vale tudo para ganhar. Sporting foi, é e será sempre grande, por isso mantenham essa força e esse amor pelo nosso SPORTING.

Abraço do ex-capitao do nosso Sporting.

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Carlos Xavier

Muitos parabéns Torcida Verde pelo 38° aniversário. Sempre fiéis ao clube e da maneira exemplar de apoiar o clube em todas as modalidades e em especial o futebol.

A Torcida verde distingue-se pelo carácter da educação, nobreza e amizade relativamente a jogadores que fizeram história no clube. Eu sou testemunha desse início da Torcida, porque tinha iniciado o meu trajeto leonino 5 anos antes de nascer esta nova claque.

Quero desde já agradecer o apoio que sempre senti, principalmente nos maus momentos onde muitas vezes nos virão as costas e vocês deram sempre a mão.

Que continuem a apoiar sempre com essa paixão que vos caracteriza esta grande instituição SPORTING.

Bem hajam e até sempre TORCIDA VERDE

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MARCO AURÉLIO

A disponibilidade do antigo capitão do fu tebol do Sporting Clube de Portugal, Marco Aurélio para participar na edição da revista digital comemorativa dos 38 anos da Torcida Verde, exigia-nos a realização de uma entre vista com um atleta com o qual partilhámos episódios memoráveis.

Depois dos contributos dos grandes capitães do futebol leonino, desde 1984, ano da fundação da Torcida Verde; Manuel Fer nandes, Vítor Damas (testemunho de Rita Da mas) e de Carlos Xavier, tornava-se imperiosa a entrevista a Marco Aurélio, talvez o último dos grandes capitães do futebol do SCP, que capitaneou o futebol verde e branco na com plexa fase de transição da constituição da SAD.

A estadia em Portugal do inesquecível def esa central que deixou uma marca indelével no imaginário da nação Sportinguista, possi bilitou a realização da entrevista de há muito idealizada.

Em 1997/98, vivemos episódios reveladores do caráter do capitão Marco Aurélio.

Nesses tempos, a Torcida Verde, onde mili tavam diversos timorenses, estava envolvida numa campanha solidária pela autodetermi nação de Timor-Leste.

Apesar do envolvimento do presidente da República, de inúmeras ONG´s a nível inter

nacional e das várias determinações da ONU, que apelavam à autodeterminação de Timor-Leste, a verdade é que em Portugal, esse era um tema tabu, incômodo, fora da agenda mediática.

Conscientes desta realidade, abordámos o capitão Marco Aurélio para fazermos umas fotos com umas t-shirts alusivas à causa timorense, com o objetivo de difundir essa causa.

Capitão Marco Aurélio, como recordas esse episódio?

MARCO AURÉLIO - Antes de tudo quero diz er que é um prazer rever-vos, trocar ideias depois do nosso último encontro no Restelo em 2015/16 (dia da final de um torneio de préépoca com o eterno rival).

Ao relembrar esse episódio, quero apenas sublinhar que o mais importante é que o ser

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humano precisa se sensibi lizar com a dor dos outros.

Jesus disse: (Vinde a mim, todos que estão cansados e sobrecarregados e eu vos al iviarei)...

Nos meus tempos de fute bolista nunca deixei de ser um ser pensante, atento à realidade “fora dos relvados”.

A participação na causa de Timor Livre aconteceu com naturalidade.

TORCIDA VERDE - Ainda por essa altura, como capitão terias uma intervenção directa numa outra acção que realizámos num jogo da I Liga no Estádio José Alvalade.

Uma acção que perdurará na história da Torcida Verde, e também no SCP.

O capitão Marco Aurélio liderou os fute bolistas que envergavam camisolas alusivas ao “Correr com o Racismo” no período de aquecimento.

Uma iniciativa na qual estávamos envolv idos e que levaram mais de 6000 lisboetas a uma corrida que já contava com várias edições.

Uma iniciativa que teve também a anuên cia do dirigente do futebol do Clube José Couceiro, possibilitando que os futebolistas envergassem as camisolas na entrada para o

período de aquecimento.

Lembras-te desta iniciativa?

MARCO AURÉLIO - Sim, vagamente. O racis mo está muito presente na nossa sociedade

Quando olhas para as grandes empresas e para os próprios clubes, percebes que a discriminação é algo que acontece há muitos anos.

O nosso papel é não deixarmos que o as sunto vire um tabu, e sim, falarmos para que a sociedade posso melhorar, sabendo que somos todos iguais.

TORCIDA VERDE - Como enquadras o papel dos jogadores de futebol, utilizando a sua no toriedade para a intervenção social?

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MARCO AURÉLIO - Podemos analisar o papel dos futebolistas de uma forma mais ampla. Quando tomei posição por temas como Timor ou o racismo, eu não era um miúdo.

Não tinha 20 anos. Quando ganhas maturi dade tens de tomar posição.

Hoje os futebolistas estão muito condicio nados. Existem os compromissos comerciais, as agências de comunicação, os seus representantes e agentes.

Hoje os futebolistas estão muito afastados da realidade social. Vivem num outro mundo.

Pode ser que estejam sendo induzidos a não actuar. Atenção que falo de uma forma transversal.

Quero apenas reafirmar que somos seres pensantes, fazemos parte da sociedade. Não nos podemos, nem devemos esconder na “ não opinião”.

Como futebolistas de fácil acesso aos me dia, temos capacidade de influenciar os mais novos e mesmo os mais velhos, ainda que possamos ser incómodos.

Podemos ensinar, intervir, mudar opiniões mesmo dos decisores políticos.

Por outro lado, o futebolista é um ser hu mano como os demais. Com problemas, opiniões...dores de barriga.

Nos meus tempos de futebolista, pensava sempre no mundo que iria encontrar passa dos 20 anos.

Nesse sentido sempre tive consciência de que o que fazemos no presente pode deter minar que mundo iremos encontrar no futuro.

O jogador de futebol não deve fechar-se numa bolha, como se o mundo exterior não existisse.

Mais tarde, quando deixar de ser futebolista, o cidadão terá, forçosamente de se confrontar

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com esse mundo exterior á tal bolha, onde “viveu” enquanto profissional de futebol.

TORCIDA VERDE - Atualmente, ganha cres cente importância junto da comunidade dos futebolistas, a polémica realização do mun dial de 2020 a realizar no Catar.

Desde a atribuição do mundial que origi nou o maior escândalo de corrupção do fu tebol mundial, com a intervenção do FBI e o afastamento de Blatter e Platini da FIFA e da UEFA.

Mas o que mais indigna a comunidade fu tebolística e ONGs como a Amnistia Internac ional, foram as condições desumanas dos trabalhadores que construíram as infraestru turas do mundial 2020 que provocaram mais de 6500 mortos.

MARCO AURÉLIO - Eu, não tenho estas infor mações em mãos, mas, não tenho problema em dizer, que as coisas devem ser apuradas

e punidos os responsáveis, pelas mortes (Se é este o número) ou pela corrupção, que mata muito mais que a guerra.

TORCIDA VERDE - Em Portugal, a função dos Clubes como agentes de utilidade pública tem perdido expressão, tornando-se num mero estatuto formal.

Nesse sentido, os clubes demitem-se dessa responsabilidade social, assumindo-se cada vez mais como um “negócio”, com os fute bolistas um “activo” sempre no mercado. Aos adeptos parece “reservada” a estrita função de “meros consumidores”.

Um fenómeno, de dimensão mais geral, que de resto acompanha a queda do associativ ismo.

A participação da cidadania parece sub stituída pelo fenómeno do mundo virtual

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MARCO AURÉLIO - É uma pena, obviamente. O papel social do clube não é esse, é agre gador.

Não é um papel de elitizar, discriminar socialmente.

O facto de os miúdos sofrerem o enorme apelo dos jogos computadores e a sedução pelas redes sociais é, em si, uma ameaça às funções básicas do desporto e do futebol como fenómeno agregativo.

O futebol supera a sua dimensão mera mente desportiva.

É muito mais ampla pelas componentes da interação, da comunicação, da socialização, da integração, da inclusão, da descoberta do diferente e das diferenças.

O futebol como desporto tem essa força.

Essa é a força motriz do desporto como ex periência muito rica em termos humanos.

A sociedade moderna deveria acarinhar estes valores formadores do caráter humano.

O apelo do consumismo está cada vez mais presente e com ele a vertigem do culto do imediato.

Com ele, vem a superficialidade e a sub versão dos valores humanos.

TORCIDA VERDE - Em Portugal, actualmente, os miúdos para poderem praticar futebol, têm de pagar. Para além da mensalidade, suportam equipamentos, taxas, alimentação. Desta forma, está comprometida a impor

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tante função social dos clubes, potenciando a prática desportiva para agregar os miúdos, independentemente da sua condição social.

Como está a situação no Brasil?

MARCO AURÉLIO - Infelizmente no Brasil pas sasse o mesmo, o futebol está cada vez mais elitista, quem não tem dinheiro para pagar o equipamento e os custos em geral não pode jogar à bola, os pobres cada dia mais longe do seu sonho.

TORCIDA VERDE - O futebol moderno apresenta episódios impensáveis nos tempos que o Marco Aurélio, prestigiava o futebol.

Recentemente, o agente de Haaland anun ciou que exigia uma comissão de 55 milhões euros para concretizar uma futura transferência.

MARCO AURÉLIO - O quê, 55 milhões para o agente?

Agora imaginem só, o que o clube que irá adquirir os direitos desportivos, pensa em lucrar.

Por certo, imaginam em ir buscar muito mais acima disso.

Onde vamos parar? Creio que precisa se criar mecanismos para coisas como estás não aconteçam, é imoral.

TORCIDA VERDE - O Newcastle foi recente mente adquirido por um bilionário saudita, envolvido no assassinato de um jornalista.

Fala-se que irá adquirir outros clubes, entre os quais o Inter Milão.

Muitos adeptos do Newcastle ficaram eufóricos. Os midia anunciaram que cerca de 10000 adeptos festejaram a chegada desse novo proprietário.

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MARCO AURÉLIO - A questão também passa pelo papel dos midia.

Nesse e noutros casos, os midia se focam nos 10000 adeptos que festejaram a compra do Newcastle, quando esse clube deverá ter muitos mais que não foram celebrar. Os midia criam, formatam a opinião publica.

Nesse caso, esse mediatismo deve ter criado, ou pelo menos aumentou a “onda de euforia.” O que foi muito conveniente para essa operação de mercado. Para o novo pro prietário que dessa forma se viu “legitimado”.

A luta pelas notícias, pelas audiências é implacável. Como consequência, temos a “normalização” do que poderia e deveria ser questionável.

Esta brutal mediatização, tem a capacidade de influenciar de forma irracional a opinião publica.

TORCIDA VERDE - O processo de falência do União da Madeira foi um dos episódios mais reveladores do que se está transformando o futebol moderno.

Um episódio que diz muito a Marco Aurélio, que envergou as cores azuis e amarelas do popular clube madeirense durante várias épocas.

MARCO AURÉLIO - O que aconteceu com o União da Madeira, um centenário clube histórico é revoltante. Sinto que fomos enter rados juntos, apesar da história nunca poder ser enterrada! Sentimo-nos traídos.

Famílias inteiras perderam seu sustento. Os adeptos perderam o seu clube. Foi toda uma região que perdeu.Pergunto, onde es tão os responsáveis? Ninguém parece inter essado.

Porque ninguém quer mexer com os inter esses instalados que gravitam no mundo do futebol.

Porque mexer com esses interesses seria como mexer num ninho de vespas. Seria mexer com o sistema, com gente que nem imaginamos

TORCIDA VERDE - Na Alemanha, há uns anos o Borussia Dortmund, esteve á beira da falência.

O Bayern Munique, seu maior rival foi em seu auxílio, evitando-se a insolvência do B. Dortmund.

Um episódio tido por impensável por cá...

MARCO AURÉLIO - Cá? Estão pouco se lix ando se o União da Madeira faliu.

Mas estão iludidos, não foi o União da Ma deira que faliu, foi um pedaço do futebol que faliu.

Foram as grandes tardes de futebol, os momentos de agregação dos adeptos.

Essa vertente sócia cultural que dá uma dimensão única ao futebol. Pode também acontecer com outros clubes.

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TORCIDA VERDE - De facto, o dramático caso do União da Madeira, foi precedido por mui tos outos.

O Estrela Amadora, Boavista, Salgueiros, Alverca, Tirsense, Felgueiras, U.Leiria, Beira Mar, Olhanense, V. Setúbal, D. Aves, Atlético, CF. Belenenses etc.

De todos esses, o caso do CF. Belenenses será o mais eloquente.

MARCO AURÉLIO - Acredito que o modelo das SADs deveria ser aquele que mais re sponsabiliza os dirigentes. Quando o clube tem a maioria, o clube decide.

O problema será no que, depois, se pode transformar.

A ideia das SADs parece-me boa, mas o problema está nos que adulteram os objetivos iniciais.

Em relação ao caso da B.Sad não tenho conhecimento aprofundado do que aconte ceu.

TORCIDA VERDE - A B.Sad não tem adeptos,

mas formalmente tem as cartas na mão, porque tem o dinheiro e o CF. Belenenses não tinha a maioria da SAD.

Foram atrás do dinheiro e depois foram devorados. A velha história da criatura que engoliu o criador A instituição foi prejudicada por aqueles que se apoderaram, desprezan do a história e o respeito pelos adeptos.

Nestes casos, parece uma evidência que a função social do clube com o estatuto de utilidade publica dos clubes é coisa do pas sado...

MARCO AURÉLIO - O negócio engoliu a utilidade publica.

Há muito tempo, os interesses que estão em redor do futebol dos clubes destroem a função social dos clubes que não podem ser apenas futebol.

O futebol do povo está sendo substituído pelo negócio dos interesses.

E, voltando à incómoda questão da re sponsabilização, tenho a ideia de que a

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classe dirigente não está preparada, para a função, poucos se preparam para ser um di rigente.

Na atualidade estou por fora da realidade em Portugal, pelo que a minha opinião se sit ua no computo geral. Tem muita gente que não é do futebol.

O futebol oferece muita notoriedade, muito status e visibilidade social.

A minha experiência, me diz que deveria ha ver responsabilização dos dirigentes.

TORCIDA VERDE - Nesse sentido, como enquadras a participação de antigos atletas na gestão estratégica dos clubes /SADs?

MARCO AURÉLIO - É uma presença pífia no futebol atual, um pouco por que os ex-jog adores não se prepararam adequadamente, por outro lado penso que a muitos que querem nos afastar dos clubes, mesmo que preparados.

TORCIDA VERDE - Enquanto se afirmam os interesses dos negócios que capturaram o futebol, os adeptos parecem cada vez mais embrulhados nas suas rivalidades clubistas. A motivação dos adeptos parece focar-se apenas na conquista das vitórias perante os rivais que se transformam em inimigos. Os ódios emergem como a “solução”.

MARCO AURÉLIO - O ódio é mais “apelativo”, mais “sedutor” que o amor. É sempre mais fácil, mais cómodo acusar os outros que ol har para dentro de nós.

Se você pensar no mundo daqui a 20 anos e na sua responsabilidade nisso, no que fez ou não fez. Na sua acção ou inacção.

A tal história que tu permitiste que fosse construída. A questão passa por actuares de forma activa ou te conformares. Seres actuante ou espectador passivo.

Nesse sentido somos todos mais ou menos responsáveis. Mais ou menos cúmplices.

TORCIDA VERDE - Concluíste a tua brilhante carreira em Itália.

A tua vasta experiência como futebolista, permite-te falar sobre a função dos Grupos Ultras?

MARCO AURÉLIO - Em Itália vive-se uma

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realidade muito diferente.. Nesse sentido um grupo como a Torcida Verde que se envolve, que se compromete. Que dá a cara, que não se esconde.

TORCIDA VERDE - Para concluir, uma men sagem para os adeptos do SCP?

MARCO AURÉLIO - Aos meus adeptos, digo que estaremos sempre juntos apoiando este clube Gigante, independente dos resultados, por que o amor supera tudo.

Deus nos abençoe!

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Rita Damas Oliveira

A Torcida Verde estará sempre na minha memória e terá todo o reconhecimento da família de Vítor Damas por terem a sensibilidade de interpretar a atitude e a dignidade do meu Pai.

Após a sua retirada do mundo do futebol como jogador, o meu Pai deu uma entrevista em que disse “Prefiro morrer teso e desgraçadinho do que estender a passadeira aos serviçais do mundo do futebol”.

Apenas para quem conhece bem a dignidade, coragem e honestidade de meu Pai, percebeu bem o que o meu Pai quis dizer com esta frase e a quem se dirigia. Eu arriscaria a dizer que todos perceberam!

Após a partida física de meu Pai (sim porque a sua mentalidade continua e continuará bem presente na mente de todos os verdadeiros sportinguistas), fui convidada para um jantar de homenagem ao meu pai na Batalha, em 2003, onde referi a todos esta mesma frase e onde refiro também que os “os ídolos são os que o povo/adeptos adoram e o resto é conversa”.

Nesse mesmo ano, fui agradavelmente surpreendida pela faixa da Torcida Verde, com esta frase de meu Pai e com comentário final: “A nossa mentalidade é o espelho da tua dignidade.”

Bem Haja Torcida Verde pelo vossa dignidade e atitude de Leões.

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SPORTING 1906

Os textos que se seguem, são da autoria de alguns dos mais destacados representantes do ecletismo do SCP 1906. Domingos Castro, como o seu “Mano Dionisio”, um insigne representante do atletismo do leonino e nacional. Um atleta olímpico, detentor de records com o qual vivemos diversos episódios singulares.

No texto da sua autoria, revelou um dos mais significativos para ele e também para a Torcida Verde.

Júlio Rendeiro, um dos melhores hoquistas mundiais de sempre, com o pleno dos títulos conquistados, pelo SCP e pela seleção nacional é um dos símbolos da identidade leonina com a qual, a Torcida Verde vivenciou marcantes episódios, nomeadamente quando Júlio Rendeiro assumiu a condição de dirigente do Sporting Clube de Portugal.

Continuando no hóquei patins, o testemunho de Gilberto Borges é também uma nossa homenagem ao inesquecível Aguiar de Matos que, contraventos e marés, resgatou a modalidade da extinção consumada em junho de 1995.

Carloz Vaz, o “anónimo” Sportinguista que ergueu com Melo Bandeira, uma modalidade que se começou por chamar “Futebol de salão” para se transformar numa grande bandeira do ecletismo do SCP, nos tempos em que o modelo vigente no “grupo Sporting” visava a “futebolização” em detrimento das modalidades que pareciam ter os dias contados.

O testemunho de Carlos Vaz faz uma viagem às raízes do Futsal, que agora transformou o Sporting e Portugal numa potência mundial!

ecletismo uma questão de identidade!

Domingos Castro

Olá, sou o Domingos Castro, ex-atleta olímpico do Sporting Clube de Portugal.

Hoje é uma satisfação e um orgulho estar a falar da Torcida Verde.

Recordo com especial emoção uma corrida da Taça dos Campeões Europeus de atletis mo em 1989, na aldeia das Açoteias.

Para mim foi uma coisa inédita e fantástica porque tivemos um apoio incondicional do princípio ao fim de uns adeptos que se de slocaram de propósito de Lisboa para o Al garve em que todos nós ficámos admirados, porque naqueles tempos a mobilização de tantos adeptos com todo aquele entusiasmo, só mesmo no futebol. Quando estávamos a aquecer e nos deparamos com tantos adep tos da Torcida Verde a puxar por nós, senti mos uma alegria muito grande.

ATLETA OLÍMPICO

Foi uma jornada que jamais poderei es quecer até porque fui o vencedor individual do Sporting Clube de Portugal, que conquis tou novo título europeu de corta mato. Por isso quero dar um forte abraço a todos. O meu muito obrigado pelo vosso fantástico apoio que, ainda hoje, sinto que dão ao nos so clube.

Faço um apoio para que continuem a oferecer o vosso apoio às modalidades, ao futebol da mesma forma com que nos habituaram, ao longo destes 38 anos!

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Júlio rendeiro

ATLETA DE HÓQUEI E DIRIGENTE

HISTÓRIA CURTA DO FUNDO DO BAÚ DA MEMÓRIA

Era uma vez um jovem que padecia de forte atraso motor e cognitivo; a sua fala mal se entendia, o seu caminhar exibia toda a sua enfermidade. Esse jovem vivia numa institu ição de apoio social, situada algures na zona da Igreja de São João de Brito, em Lisboa.

Segundo responsáveis desta instituição uma única coisa fazia esse jovem sair do seu mundo de ausência: O SPORTING.

O jovem revelava um interesse surpreen dente e único quando se tratava de qualquer notícia ou acontecimento ligado ao nosso clube.

Esta situação chegou ao meu conhecimen to, nos idos de 1986, era então Presidente da Direção o Dr. Amado de Freitas e eu próprio Vice-Presidente com o pelouro das então chamadas modalidades amadoras, através do relato do saudoso Coronel Cunha Bispo, que exercia funções de Diretor do Estádio de Alvalade.

Contou-me, este grande sportinguista que tinha sido abordado por elementos da nos sa claque Torcida Verde, intermediando a ligação com a referida instituição de apoio social, a qual pretendia avaliar a possibili dade de intervenção do nosso clube para ex plorar a possibilidade de a sensibilidade que o jovem revelava ao tema Sporting, poder ser usada em termos terapêuticos.

Impressionados com os contornos da situação decidimos acolher esse jovem na nossa família, colocando-o como roupeiro do hóquei em patins, tendo posteriormente transitado para o futebol.

E assim se iniciou um percurso durante o qual, o jovem da nossa história, se trans formou num homem, hoje com 52 anos, socialmente integrado, apto a trabalhar e a dar um contributo útil para a nossa vida coletiva.

O resto, é uma história bem conhecida de todos. É a história do Paulo Gama. É a história do nosso Paulinho!!!

Um bom exemplo do que o amor ao Sporting é capaz.

Júlio Rendeiro Sócio nº2992

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gILBERTO BORGES SECCIONISTA DO HÓQUEI EM PATINS

Congratulo-me com os vossos 38 anos de existência, quase 1/3 da vida do nosso Clube.

Recordo a vossa Fundação em 1984, ano em que o Sporting venceu a sua 1º Taça CERS, conquistou a Taça dos Campeões Europeus de Corta Mato e a mais épica Medalha de ouro olímpica em Los Angeles, por Carlos Lopes.

Conheci a Torcida Verde como uma asso ciação sempre dedicada às modalidades de pavilhão. O renascimento do hóquei em pat ins na 3ºdivisão em 1998, pela mão do Engº António Aguiar de Matos teve o vosso apoio incessante, após a extinção da Modalidade em 1995.

Nessa época, o Sporting CP conquistou em 1999 o título de Campeão nacional da 3ºdivisão, em Sacavém, casa improvisada, e o vosso apoio foi importante.

O hóquei em patins acaba por ser extinto em seniores dada a fragilidade do projeto, entretanto já não liderado pelo EngºAguiar de Matos e surge outro organismo autónomo que agarra o hóquei em patins pela formação de base, de casa às costas, até se localizar na Casa do Gaiato, em Loures, com uma parceria com esta Instituição.

É aqui que a Torcida Verde intervém de novo no apoio ao hóquei em patins, tendo inclusivamente cedido material desportivo e têxtil para as crianças do Gaiato e ajudado o organismo autónomo na reformulação das instalações (Balneários, pinturas, colocação de bancada de topo).

O hóquei em patins acabou por ser oficial izado em junho de 2014 como modalidade ofi cial e a formação de base tinha chegado da 3ª divisão à 1ª divisão de forma antecipada ao projetado. Com a mudança das instalações do Concelho de Loures (Gaiato, Pavilhão Paz

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e Amizade e Pavilhão de S.João da Talha) para o Concelho de Mafra, o hóquei em patins es tabeleceu-se no Livramento.

Guardo boas recordações do regresso da Torcida Verde ao jogo contra o O.C.Barcelos em novembro 2014 e a sua presença assídua noutros eventos como o Derby em 2015 e ain da a 1ªmão da Taça Continental em novem bro de 2016, data histórica, pois esgotámos o Livramento e vencemos o F.C.Barcelona por 2-0, impondo-lhes a 1ªderrota após largos meses invicto.

Importante ainda a presença da Torcida Invicta em todos os jogos realizados a Norte do Pais bem como uma presença importante em Igualada em abril de 2015 quando da con

quista da Taça CERRS, 31 anos depois.

Com a construção do PJR e inauguração em junho de 2017, a vossa presença foi impor tante em feitos como o Campeonato Nacional 2017/18, a Liga Europeia e Taça Continental em 2019.

A pandemia afastou todo o público, mas já esta época, 21/22, cremos poder continuar a merecer o vosso apoio. Junto algumas fotos de momentos relacionados com a vossa presença e apoio.

Feliz Aniversário e contem muitos anos mais no apoio ao nosso Sporting!

Gilberto Dias Borges

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FIDELIS
VERDE
- SEMPER

As raízes do FutsaL

por Carlos Vaz

O Futsal anteriormente denominado Futebol de salão ou Futebol de Cinco nasceu no Sporting Clube de Portugal fruto do empenho de cinco associados do Clube que viram a proposta de integração da modalidade no ecletismo do nosso Clube aprovada em 13/03/1985.

Sendo uma modalidade jovem mo nosso País havia que trabalhar em duas frentes, ou seja, representar o nosso Clube o melhor possível apesar da limitação de meios, e por outro lado, colaborar em iniciativas de promoção e divulgação da modalidade de modo a promover o aumento do número de praticantes a nível nacional.

Este projeto passou a fazer parte da nossa

vida diária, pois só assim seria possível corresponder a nossa ambição e ao prestígio e responsabilidade de representar o nosso Clube.

O crescente interesse de praticantes e público atraiu vários Clubes de expressão nacional como o S. L.Benfica, o C. F. Belenenses e o S. C. Braga.

O nosso entusiasmo era acompanhado de bons resultados desportivos e com a conquista de várias competições oficiais da F.P.F.

Hoje o Futsal é, em Portugal, a modalidade de Pavilhão com mais praticantes federados e que atrai mais interesse do público, quer

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nos pavilhões quer acompanhando as transmissões televisivas que os vários canais vão fazendo com bons shares de audiência.

Ao longo dos 26 anos de carreira de dirigente do nosso clube tive o prazer de conviver com muitos atletas desde os escalões de formação até aos seniores. Neste foi também com bastantes atletas de outos Países a quem

sempre tentei ajudar na integração no nosso País de modo a permitir a sua melhor prestação desportiva possível no nosso Clube.

Esta minha intensa atividade era feita no mais puro espírito de voluntariado e sem qualquer remuneração. Ao logo de todos estes anos tive a honra de colaborar com várias equipas Diretivas e vários presidentes do nosso Clube.

A minha carreira de dirigente desportivo terminou em 2010 dada a cada vez maior dificuldade em conciliar a vida pessoal com a crescente profissionalização do Futsal no nosso País.

Muitos parabéns Torcida Verde , pelo vosso trabalho. Hoje sou apenas o sócio nº4394 do nosso Clube de que muito me orgulho.

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A identidade da Torcida Verde, nunca esteve desassociada da realidade socio cultural, antes foi construída por episódios que perduram.

O campo musical foi uma área, naturalmente impactante se considerarmos a sua relevância junta das camadas mais jovens.

Fernando Girão, autor do CD “Sonho de Leão”, através do qual a Torcida Verde deu um dos seus inúmeros contributos para a construção do Pavilhão João Rocha, produziu um texto revelador da ligação com a Torcida Verde.

A evocação do eterno João Ribas, veio do Eduardo, antigo militante da fundação da Torcida Verde e vocalista dos “Dalai Lama”.

Kalú dos “Xutos & Pontapés” também nos concedeu uma entrevista, sempre com o grande Zé Pedro, bem presente.

Miguel Ãngelo, participou com um texto de exaltação Sportinguista que bem comprovámos nas iniciativas que compartilhámos na gravação do CD do centenário do SCP “Fogo de Leão”.

Em 2006 participou na 6ª edição dos prémios da Torcida Verde, nos quais interpretou alguns dos seus hinos, levando ao rubro os mais de 300 adeptos presentes no Hall VIP do Estádio José Alvalade.

FERNANDO GIRÃO MÚSICO

Parabéns pelo 38º aniversário da Torcida Verde, Adeus Cartão de Adepto e Viva o Futebol limpo e sem corrupção!!

Saudações a todos os Sportinguistas, aos que trazem o Clube gravado no seu ADN, e aos que mesmo de uma forma menos intensa, mas sentida, são sportinguistas.

Eu sou um amante do nosso Clube e emblema, por várias razões, mas a principal, foi ter jogado na nossa formação, e ter tido a grande honra de ter sido treinado, por um dos grandes senhores da bola em Portugal e no mundo, o meu querido e para sempre lembrado, mister (naquele tempo, professor), José Travassos. Depois de ter conhecido esse genial senhor “violino”, com quem tive tantas conversas inesquecíveis, e em consequência das mesmas, ter crescido como homem, como jogador e até como Treinador. Ter vestido aquela camisola, foi (e será sempre) uma inesquecível honra.

Escrevo estas palavras neste seu 38º

aniversário por partilhar o mesmo ideal da Torcida Verde.

Conheci o presidente da Tor-Ver, Luís Repolho, e vários membros da direção, quando da feitura de um projecto do S.O.S Racismo e outras organizações, que dirigi musicalmente como autor e productor, contra a exclusão dos Imigrantes em Portugal.

Um pouco mais à frente no tempo, os Sportinguistas militantes, lutavam pela construção do Pavilhão e a Torcida Verde teve ações de muito impacto. Foi-me perguntado pelos directores da Torcida, se eu estaria na disposição de escrever 2 hinos em homenagem ao Sporting e de musicar ou harmonizar alguns dos seus cantos de “guerra”, coisa que aceitei imediatamente (viva o Sporting), e a partir desse compromisso de honra, a minha ligação à Torcida tornou-se forte e concordante com os seus objectivos, até porque os mesmos, são justos e só desejam o melhor para o Clube, e para o futebol em geral.

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Para que se entendam os propósitos globais da Torcida Verde, aqui deixo uns exemplos:

Por maior que seja o amor pelo nosso clube, e por mais que se façam “coreografias” e faixas colocadas no espaço dentro do Estádio, destinado às Torcidas Organizadas (e neste caso concreto refiro-me ao espaço da Tor-Ver), as intenções dos seus militantes, vão muitíssimo mais além do futebol…

A Torcida Verde, luta por ideais sociais, que desejam o fim das injustiças dos poderosos contra os mais fracos, as suas preocupações vão, desde a corrupção que corre impune, até aos cobardes ataques dos latifundiários, governantes, e homens poderosos que na sua ganancia desenfreada, não se importam com o futuro e ficam cegos (estupidamente) por um poder momentâneo, que terá consequências funestas no futuro para os que sejam do seu próprio sangue!!

As direções dos clubes de futebol actuais (salvo raríssimas excepções), só pensam no bem estar de meia dúzia de parceiros que partilham dos mesmos desprezíveis ideais. Por trás do seu empenho, em fazer os seus clubes cada vez mais poderosos, dizendo (mentirosamente) nas suas campanhas, estarem a fazer tudo pelos seus clubes, e como consequência, darem orgulho e motivos de alegria aos simpatizantes e adeptos dos mesmos, no fundo o que desejam é poder para os seus dirigentes, para os seus cabecilhas, que pouco ou nada se importam com os seus adeptos, sejam de Torcidas organizadas ou não.

O acima descrito, é uma parte significativa da Torcida Verde e felizmente de cada vez mais Torcidas Organizadas em todo o mundo

Não poderia deixar passar esta efeméride sem deixar de manifestar o meu inteiro desacordo com o Cartão do adepto, pois se isso fosse para diante, seria uma ultrajante forma de discriminação aos que amam o futebol, e na minha opinião (e na de muitos), teriam que ser “inventados” outros cartões, como o cartão do cinéfilo, o cartão do amante da boa comida, o cartão do publico para os espetáculos ao vivo, o cartão dos bebedores de vinho, e um longo rol de cartões para isso ou para aquilo…

Nunca acreditei que o cartão do adepto, viesse a beneficiar ninguém, pois se a

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intenção era trazer paz e harmonia ao futebol, isso não significa que as Torcidas Organizadas, sejam elas quais forem e dos clubes que forem, sejam melhores ou piores.

O que deve haver sim, é melhor vigilância para actos praticados por vândalos, sejam de alguma Torcida ou não, actos praticados por falsos adeptos, que nem sequer pertencem a nenhuma Torcida Organizada, e se aproveitam do futebol, para extravasar as suas raivas e frustrações pessoais.

Acho até, que o cartão do adepto, em vez de ser algo positivo, muito pelo contrário era mais uma manifestação de domínio dos que mandam impunemente em tudo e todos, de xenofobismo e até de racismo disfarçado, tudo à mistura.

Este futebol dos tempos que correm, é um futebol mercenário e sem a mínima compaixão por ninguém, como é possível que agentes, ou pseudo-agentes futebolísticos (sejam ou não sejam), tragam crianças de 14 ou 15 anos para serem testados aqui, em vários clubes, e quando rejeitados, pelos mesmos clubes, os ditos “agentes” (e muitas vezes com a conivência das direções dos próprios clubes) deixam-nos sem casa, sem dinheiro para comer, e sem uma passagem para regressarem aos seus países de origem, ao ponto de muitos se agarrarem ao que lhes apareça pela frente, para poderem sobreviver, e em alguns casos até, se prostituem ou são sugados pelo mercado do trafico humano ou transplante de órgãos.

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Esse é o futebol sujo dos que nada veem além do seu lucro pessoal, destruindo vidas e famílias inteiras pelo seu caminho de predadores da pior espécie. Isso não é futebol, nem tem nada que ver com o nosso amado desporto, isso são actos criminosos, praticados por seres imundos e maléficos em todos os sentidos, e que deveriam ser punidos severamente pelas suas infames atrocidades.

Viva o futebol pelo futebol, pela sua beleza, pela sua arte, e pelos grandes artistas que tantas alegrias nos dão, que levam os (verdadeiros) adeptos a sonhar, e viva também toda a massa humana, que vai aos estádios para ver a bola rolar, sem demagogias, sem falsas medidas, sem rodeios de nenhuma espécie.

Parabéns Torcida Verde, parabéns minha Torcida.

Viva para sempre o nosso emblema, o nosso Sporting Clube de Portugal!!

Fernando Girão - Musico, compositor, poeta, produtor e treinador profissional de Futebol. Membro de honra da Torcida Verde.

Lisboa, 10 de Novembro de 2021.

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eduardo

Vocalista dalai lume tributo ao ribas “censurados

Estávamos na década de 80 do século passado, onde as gerações mais jovens (nascidos no final dos ‘60s e no início dos ‘70s) tinham a liberdade para se juntarem e manifestar livremente as suas opiniões e preferências, fossem elas músicas, políticas e clubísticas.

Liberdade essa que foi usurpada à geração dos nossos progenitores por um regime ditatorial que durou praticamente 5 décadas. É daí que surge o meu Sportinguismo, tal como o de tantos outros que tal como eu sentíamos necessidade de gritar bem alto o que nos ia na alma.

Tive a felicidade de crescer viver a minha infância e adolescência no bairro de Alvalade. Foi aí que conheci Grandes Sportinguistas que, como eu, tinham a vontade de tornar o Sporting num universo maior do que aquilo

que já era então (a maior potência desportiva nacional e uma das maiores da Europa).

Nessa altura conheci e tornei-me amigo do Mário Henriques (colega da escola primária), o Paulo Barros (companheiro de muitas e grandes aventuras), o António Silva, o Fernando Videira, o Luís Carlos e tantos outros que acompanhei desde o início da Torcida Verde e com os quais fiz amizade para vida.

A sede era em Alvalade, mesmo ao lado de onde todos nós morávamos e nos dias de jogo lá íamos nós pela Av. do Brasil abaixo e pelo Campo Grande carregados de tubos e bandeiras até ao estádio para apoiar incondicionalmente o nosso clube do coração.

Nesses tempos também tive a felicidade

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e o privilégio de criar laços de amizade com vizinhos do bairro ligados à música, ao teatro e às artes, entre os quais o meu querido e saudoso João Ribas, um enorme sportinguista.

Acompanhei todo o seu percurso musical e partilhei com ele experiências inesquecíveis entre as quais muitos jogos do nosso Sporting.

Sempre convergimos na opinião de que houve muita gente a dar muito de si pelo clube sem querer nada em troca e também outras facções que ao longo de décadas apenas usaram o clube para sua autopromoção e para se servirem dele.

Nunca nos conformamos. Nunca nos iludimos.

Nunca nos vergamos. Os valores que o Sporting nos incutiu desde pequenos são o antípodas daquilo em que o clube, e o negócio do futebol em geral, se tornaram nas últimas duas décadas.

Os Censurados tocaram no Estádio de Alvalade, no dia 30 de Junho de 1994 (no

Festival Filhos da Madrugada em honra de Zeca Afonso) e o Ribas estava radiante por poder fazer aquilo de que mais gostava no estádio do nosso clube.

A Torcida Verde prestou-lhe uma merecida homenagem aquando da data do seu aniversário em 2019.

“Seremos Censurados, nesta vida, de nascer até morrer”, mas... Um Leão nunca morre!

Tal como ele dizia numa das suas músicas

“Não vales nada se não lutares, não vales nada se não lutares para ganhar!”

Um grande Bem-haja à Torcida Verde pelos seus 37 anos de resistência e resiliência contra poderes institucionais e jogos de bastidores.

Sporting Sempre! Censurados até morrer!

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KalÚ

xutos & pontpés

A Torcida Verde nasceu nos turbulentos anos 80, volvida uma década depois do 25 de Abril. Nessa década emergiram diversas tendências que influenciaram a heterogênea comunidade jovem, numa sociedade que ainda despertava de 48 anos de obscurantismo.

Nas origens da Torcida Verde, um dos princi pais núcleos fundadores estava no Bairro de Alvalade, onde emergia a incipiente tendên cia “Punk Rock”, onde militava por exemplo, o João Ribas.

TORCIDA VERDE - Viveste esses anos do apa recimento do “Punk Rock” e depois do Hard Core - Queres falar desses tempos, dos valores, motivações, inspirações, ideais, sonhos no contexto social da época?

KALÚ - Sem dúvida que a década de 80 foi muito importante para desenvolvimento e reconhecimento do movimento “Punk Rock”

em Portugal. Estávamos em plena ressaca do 25 de Abril onde só se ouvia os Cantores de Abril, música essa replete de denúncias so ciais, mas que não chegava aos mais novos.

No mítico concerto de 13 de janeiro de 1980, o nosso 1ºconcerto, o Pedro Aires de Magal hães, baixista da banda mais representativa do movimento Punk em Portugal, os “Faíscas”, passou-nos o testemunho para darmos con tinuidade ao trabalho até então desenvolvido.

Esse concerto e esse gesto acho que teve para nós uma importância fulcral no que se ria o nosso trabalho daí para a frente. Sem dúvida que o Zé e o Tim, juntamente com o Zé Leonel no início, foram os que mais sentiram este apelo e focaram sempre o seu trabalho literário na denúncia das desigualdades so ciais, laborais e racistas assim como as desi lusões que íamos vivendo nesses pós 25 de Abril.

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Eu, sempre ligado mais à parte musical, procurava ritmos realmente fortes que aju dassem a que o público se ligasse a nós nas nossas denúncias musicais, fossem eles mais frenéticos ou mais moderados.

A vivência com o pessoal de Alvalade, para mim o berço do punk Rock nacional, fez com que nós (eu, menino do Restelo) aprendês semos muito sobre o movimento Punk e as suas ideologias. Claro que queríamos ser conhecidos e famosos, mas nunca foi o 1º pensamento, mas, sim o de falar das coisas que diziam respeito a todos nós dessa ger ação. “Sex, Drugs and Rock’nRoll”.

TORCIDA VERDE - O nosso primeiro contacto com o Zé Pedro, aconteceu num jogo dis putado no antigo Estádio José Alvalade.

O SCP jogava com a Académica de Coim bra, talvez em 1985/86. Nesse jogo a Superior Sul do EJA estava encerrada e tivemos de emigrar para a Superior Norte, onde desco brimos o Zé Pedro com um grupo de amigos. Foi então que entre o grupo onde estava o Zé Pedro, estavam amigos dos nossos mil itantes do núcleo do Bairro de Alvalade. Pouco tempo depois, o Zé Pedro foi “engoli do” pela malta. As habit uais perguntas sobre a sua “verdadeira filiação clubística”, o Zé Pedro desarmou-nos com o seu sorriso do tamanho do mundo e acabou no meio da malta a trocar mortal has e outras cenas.

Como amigo do Zé Pedro, esta sua perma nente disponibilidade para quebrar barreiras, diz muito sobre a sua personalidade anti ve deta?

KALÚ - Sem dúvida, o Zé, apesar de ser o verdadeiro “Rock’n roll star” (só conheci out ro igual, João Ribas) nunca de furtou, antes pelo contrário, de estar junto do público e partilhar com eles as suas ideias de luta.

Com o seu sorriso contagiante ia dizendo o que lhe ia na alma sempre a planear qualquer coisa para o futuro, fosse na sua música fos se no apoio às bandas mais novas fosse em ações de intervenção. Um verdadeiro líder!

TORCIDA VERDE - O inesquecível episódio com o Zé Pedro no EJA, levanta uma (falsa) questão que por vezes nos colocam “Como podem ter afinidade com uma banda onde não existem adeptos do SCP?

”A verdade é que os Xutos tiveram um im pacto direto na geração que nos anos 80, for mou a Torcida Verde. Tens noção do impacto transversal das vossas músicas (letras), abrangendo, por exemplo, várias gerações e cores clubísticas?

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KALÚ - Bem, hoje sei que isso acontece, mas nunca tive muito essa noção, mas claro que fico muito feliz por isso acontecer.

Sempre estivemos muito interessados em fazer boas músicas, canções, etc, mas nunca pensamos que chegassem a ter a importân cia que têm. O Tim e o Zé Pedro (no início o Zé Leonel) foram realmente fantásticos a escrever letras que com as músicas feitas por todos perduraram até aos dias de hoje, é realmente brutal! “as moscas mudam, mas a merda é a mesma”.

TORCIDA VERDE - Para teres uma ideia do fenômeno “Xutos“, nos primeiros anos da Torcida Verde, fizemos um estandarte com o emblemático “X” que começámos por colo car perto da nossa faixa. No mítico concerto do Restelo em 1988, mobilizámo-nos como se de um jogo do SCP se tratasse.

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A partir de uma certa altura, fomos “possuí dos pelas moches”, contagiando toda malta que estava na vizinhança do palco onde at uavam os Xutos & Pontapés.

Ficaria conhecido como o concerto da “Mo chada” algo inteiramente novo para muitos de nós! Certamente lembras-te deste mítico concerto?

KALÚ - Se me lembro! Foi sem dúvida um dos concertos mais marcantes da nossa car reira.

Pavilhão do Restelo completamente es gotado, o público ao rubro, um grande alinhamento e nós a tocar bem e estavam reunidas as condições ideais para fazer um grande espetáculo, alias foi tão bom que deu origem ao famoso triplo álbum “Ao Vivo”, que acabou por ser platina. BRUTAL!!

Não me lembro das pessoas, das tarjas ou das bandeiras, mas lembro-me de ser a 1ª vez que senti aquele arrepio ao ouvir todos a cantar em coro as nossas letras como fossem hinos.

Sem cores, sem clubes, sem credos so mente todos a cantar juntos. LINDO!! Sem dúvida um dos concertos mais marcantes para mim, ainda por cima a jogar em casa.

TORCIDA VERDE - Ao longo dos anos 90, sentimos a primeira mudança geracional com o paradigma do consumismo e a ideologia do “sucesso” como um dogma. Eram os tempos que proclamavam “o fim da história”.

De novo, a intervenção dos Xutos revelou-se pelo inconformismo com temas que afirmar am a vossa identidade.

Consideras que a vossa ligação com a real idade vivenciada no quotidiano por pessoas comuns é o vosso maior património?

KALÚ - Eu acho que o nosso maior patrimó nio continua a ser as nossas músicas, mas não deixa de ser verdade que nunca nos afastamos das realidades da nossa socie

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dade que nos manteve sempre muito ligados ao cidadão comum.

Não interessa em que patamar estás na tua vida, o dever de continuar a denunciar e dar voz, através das nossas músicas, às pessoas que não se conseguem fazer ouvir continua a ser um dos princípios base da nossa ex istência e continuaremos a fazê-lo enquanto pudermos.

TORCIDA VERDE - Na década de 90, uma grande parte dos grupos de adeptos organ izados Portugueses foram capturados por uma nova ordem que adotava a cruz céltica, símbolo relacionado a movimentos xenófo bos e racistas.

perante o assalto dos grupos do ódio. Mas também de clara demarcação, perante a dis seminação da cruz céltica que dessa forma estava “normalizada”, cumprindo o objetivo dos seus ideólogos.

Em 2001, por ocasião dos prémios da Tor cida Verde que o Kalú e o Zé Pedro foram galardoados, nunca esqueceremos as suas palavras quando lhe falámos que a ex posição do símbolo dos xutos era também uma afirmação de resistência e intervenção. “Resistência à ignorância e à estupidez.

KALÚ - Fico muito contente. Esse foi um episódio revelador da personalidade de Zé Pedro.

Na Torcida Verde, para além de nunca termos adotado essa infame simbologia, a adoção do símbolo dos Xutos naquele difícil contexto, foi também um sinal de resistência,

Fico extremamente feliz por terem adotado o nosso símbolo num momento tão difícil da vossa claque pois ele é isso tudo tal como o Zé disse, nessa cerimónia no Padrão dos De scobrimentos.

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O nosso símbolo é um sinal de resistên cia e nunca o deixará de ser. O Zé sempre foi um grande defensor dos direitos do homem.

Sempre lutou contra o racismo e a xen ofobia duma maneira muito ativa. Não é aceitável que ainda agora, em pleno sécu lo XXI, continuemos a assistir a episódios racistas e xenófobos na nossa sociedade.

É preciso continuar a lutar contra esse que continuam a cometer essas atroci dades. Acho que o Zé se cá estivesse seria o 1º na linha da frente nessa luta.

TORCIDA VERDE - A intervenção dos Xu tos na luta pela autodeterminação de timor leste foi uma bandeira que erguer am, quando este tema era quase um tabu, para depois se tornar numa causa nacion al com impacto global. Na Torcida Verde, sentimos a força da vossa intervenção junto do “nosso” Núcleo “Timor Livre “com posto por largas dezenas de timorenses. Como recordas esses tempos?

KALÚ - Mais uma vez foi um movimento que abraçamos com orgulho com o Zé a encabeçar a luta. O Zé, para quem não sabe, é filho de militar que fez uma comissão em Timor. Nessa estadia em Ti mor nasceu o irmão do Zé Pedro, o Nuno. Talvez estes fatores tenham determinado a vontade de nós, Xutos, estarmos na linha da frente dessa luta e participar na causa por “Timor Livre”.

TORCIDA VERDE - Em 2003 idealizámos a primeira intervenção sobre o tema dos direitos dos adeptos com a implementação de uma pe

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tição a apresentar na AR sobre o tema dos di reitos dos adeptos, onde se pedia a regulação do estado sobre a regulação do preço bil hetes, horários jogos, interesses televisivos, para além dos agentes futebolistas. Jamais esqueceremos que os Xutos se associaram a essa iniciativa em prol do futebol como fenómeno popular, reclamando aos clubes o cumprimento do seu “estatuto de utilidade publica” e suas responsabilidades sociais, ao mesmo tempo que o futebol se transformou num negócio que movimenta milhões, com a maior parte dos clubes falidos.

Os “Xutos” também em alguns dos temas intervieram no tema do futebol, especialmente na manipulação dos adeptos. Como adepto do futebol popular queres deixar as tuas considerações?

KALÚ - É pena que tenhamos chegado aqui. Como adepto sinto-me cada vez mais longe desta modalidade desportiva, o futebol. Fico

com pena pois sou adepto fervoroso do fute bol, mas sinto que os sócios e adeptos dos clubes cada vez mais são afastados das de cisões dos clubes devido aos negócios mil ionários que se fazem todos os dias dentro de cada clube.

O futebol de hoje nada tem de popular. Pena...

TORCIDA VERDE - A nível internacional, cresce nos adeptos a consciência em relação à defesa do carácterpopular do futebol popu lar, em consequência do assalto do cartel de interesses que capturou o futebol moderno.

Actualmente, um crescente movimento in ternacional de adeptos e ONGs, denunciou a realização do mundial do Catar 2022.

A selecção da Noruega ponderou boicotar a competição. Os futebolistas de selecções como a Alemanha e a Holanda, por exemplo tomaram posição sobre o tema.

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Não apenas pelo escândalo que envolveu a UEFA e a FIFA, com a demissão coerciva de

Blatter e Platini em resultado dos subornos recebidos pela atribuição da organização dessa competição, mas sobretudo pelo re gime de trabalho escravo dos trabalhadores emigrantes que construíram as infraestru turas do mundial 2022, do que resultaram mais de 6500 mortos.

Esta realidade está completamente fora da agenda mediática dos adeptos e agentes do futebol português. Não será esta uma forma de cumplicidade dos adeptos e demais inter venientes, perante um atentado aos mais elementares direitos humanos? Este é um tema que em 2022 estará na ordem do dia. Existem dezenas de organizações internacionais, se leções e outras entidades envolvidas).

KALÚ - Este Mundial nunca devia ter sido autorizado por todas as razões e mais al gumas. As questões e direitos humanos sobrepõem-se a todas as outras questões. Como é possível fazer um mundial num país onde são violados, todos os dias, os direitos humanos? A voz do capital fala mais alto!! E mais não digo

Obrigado, abraço! Kalú

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O galhardete está no nosso “museu” guardado com os restantes troféus com que fomos galardoados!

MIGUEL ÂNGELO DELFINS

Se há coisas que não nos lembramos do seu porquê, ser do Sporting, no meu caso é uma delas. Não me lembro de ter escolhido ser do Sporting, a minha memória só alcança uma idade e uma consciência onde o Sporting Clube de Portugal já era o meu clube.

Não serão estas as coisas mais A Aquelas que não se planeiam ou escolhem? Não tive nenhum familiar a “impingir-me o seu clube, nenhum colega da escola que me influenciasse.

Era do Sporting, sabia-o e pronto! A ligação a um clube deve ser assim, pronta e dedicada e também com algo de irracional e intuitivo...

Lembro-me de com 6 ou 7 anos trazer do estrangeiro um novo jogo chamado Subbuteo e a equipa do Celtic, que, embora de calções brancos, fazia de meu Sporting nos campeonatos com os vizinhos.

Lembro-me de pouco mais tarde ter ido ver o Sporting-Celtic a Alvalade, na minha primeira ida ao Estádio. Lembro-me de ser fã do Yazalde, Damas e Manuel Fernandes, entre outros e de mais tarde de ter conhecido alguns deles numa viagem a Macau juntamente com As Velhas Glórias.

Lembro-me de muitas coisas (por exemplo, de ter sido visto por um olheiro do Sporting

nos jogos de praia do Tamariz e de ter sido contactado para testes e de o facto de viver no Monte Estoril não ter ajudado à sua concretização devido aos horários dos treinos em Lisboa, durante a semana de aulas...) mas nunca adivinhei que um dia iria estar mesmo perto do coração do clube, quer seja nas recém inauguradas instalações de Alcochete, quer seja no meio de uma claque a ver um jogo e a perder lá as chaves de casa, quer seja a estrear, com os Delfins, os concertos no relvado do novo estádio (concerto do Centenário, 2006), quer seja ainda a ter sido convidado para compor o Hino do Centenário (“Leão de Fogo”) e depois gravá-lo em estúdio com a presença de jogadores, figuras públicas e as claques em sintonia (onde também estava, claro está, a Torcida Verde).

Foi em Alvalade que os Delfins tiveram o seu primeiro grande banho de multidão, ao fazerem a primeira parte de Tina Turner, em 1991 (65 mil pessoas). Foi também lá que actuaram no maior Festival de Música Portuguesa dos

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anos 90, o Portugal ao Vivo (1993) e depois nos Filhos da Madrugada (1994). Mas a maior memória de todas foi mesmo o concerto na Praça Sony (Parque das Nações) a altas horas, depois do autocarro dos Campeões 2001/2002 ter chegado ao recinto, causado a maior euforia! Hinos cantados a dezenas de milhares de vozes, jogadores no moshem palco - inclusive o mister Bölöni! - numa noite que afinal ainda celebrava a continuação do fim de um grande “jejum” que tinha acabado em 1999/2000...

Depois de tempos muito negros – seguidos por outros igualmente negros, os da Pandemia – o Sporting de hoje é o Sporting do meu contentamento: gente nova, unida, treinador jovem e desempoeirado, com uma atitude ímpar no futebol português. E todos sincronizados, a conseguirem resultados já não alcançados há muito. Apontam o futuro, dando o exemplo. Para trás ficará o futebol da ausência do fair play, da corrupção activa e passiva, de tempos em que muitos conviviam com poderes obscuros que afinal são vistos à plena luz do dia... Se há ainda muito por fazer?

Claro que há, há questões que são

geracionais. Daí nada mais eficaz que esta juventude moderna e inteligente que o Sporting resolveu impor ao futebol português, na sua nova etapa pós-populista - que acabou também por afectar a casa dos Viscondes e que continua a fazer escola nalguns dos maiores clubes do nosso país...

Neste regresso aos Estádios há que dar continuidade a esta maneira de ser. As claques são fundamentais para que o espetáculo seja pleno... Não me imagino a dar um concerto sem o público e o seu feedback!

Só assim, indivisíveis enquanto adeptos, é que poderemos dar suporte para que as empreitadas sejam vencidas, jogo a jogo, no relvado. Só assim poderemos olhar para trás e reconhecermo-nos na História de um clube, assumindo erros sem os repetirmos e apontando novos caminhos.

O nosso presente, uno, honesto e dedicado, trará certamente o futuro que todos desejamos para o Sporting e as futuras alegrias que o clube nos poderá dar, no nosso dia-a-dia, enquanto adeptos e cidadãos. Miguel Angelo

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“Diversi nei colori, uniti nei valori. Ultras da sempre, aggregazione fonte di ispirazione“

A socialização com amigos fora de Portugal é uma componente fundamental na acção da Torcida Verde.

participação, sempre activíssima.

A publicação “38 anos, 38 textos” tem na participação de diversos amigos da Torcida Verde, a expressão da dimensão internacion alista do grupo.

A começar pelo amigo Matteo Pavonello, italiano de Como, tifoso da Torcida Verde deu um grande contributo para a tradução dos textos dos seus compatriotas transalpinos, para além do seu testemunho.

Matteo Pavonello que conhecemos como um apaixonado adepto do nosso Sporting e que encontrou na Torcida Verde uma forma de

O contributo na iniciativa “Football Belongs to the People“ é um significativo exemplo da sua participação.

Do Pepe, Ultra do Avellino, ao longo da última década, temos um companheiro de grandes aventuras. De Lisboa a Florença, passando pelo Algarve, Estoril, Roma ou pelo Cabo da Roca não quis deixar de dar o seu testemunho emocionado de um Ultras que vive em Roma. A participação de Peppe e do seu “Nu cleo Roma” nas iniciativas da Torcida Verde está também patente na iniciativa “Football Belongs to the People”

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O emocionante texto de Pepe tem uma di mensão que nos transporta para a auten ticidade da verdadeira identidade Ultras, sempre presente ao longo de um testemunho marcante.

Na Torcida Verde, a FdL, sempre representou um dos símbolos da cultura Ultras.

Na mesma linha, está a participação de Carlo, um outro Ultras do Avellino, residente na cidade Parteneo, o qual conhecemos em momentos diferentes de Pepe e seus com panheiros Ultras residentes em Roma.

Por mero acaso, as circunstâncias nunca permitiram que ambos se encontrassem nas diversas ocasiões em que convivemos, tanto em Portugal como na Itália.

Carlo foi um dos dinamizadores da iniciativa “Football Belongs to the People” e o seu texto remete-nos para a sua vasta experiência de Curva.

Desde 2006, os contactos com militantes da FdL têm sido permanentes, algo que podem os considerar como muito inspirador. De Nicola Nucci, director da mítica revista “Supertifo” publicação tão marcante nos 38 anos da Torcida Verde, recebemos outro im portante contributo.

Esta publicação foi também engradecida com os textos oficiais de dois Grupos Ultras Ital ianos.

A Fossa dei Leoni, Bologna, com a qual te mos contactos desde há longos anos.

De Sandro, “Toro” para os Ultras, militante activista, da mítica Fossa dei Leoni do Forti tudo Bologna, clube de Basquetebol que nos deixou um texto cheio de identidade Ultras.

A Fossa dei Leoni, para além de ser um dos principais Grupos Ultras Europeus, a nível de acção no apoio à Fortitudo, tem um património de que poucos Grupos de adeptos se po dem orgulhar.

De Evano, militante da Ex-Fossa dei Leoni do AC.Milan, mítico grupo ultra do panorama Ultra italiano, entretanto dissolvido em 2005, recebemos um eloquente texto.

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Foi por acção da FdL, que foi possível resgatar a Fortitudo do limbo da falência.

Uma Luta que acompanhámos de forma muito estreita, a milhares de Kms.

Do Brasil, país irmão a Torcida Verde rece beu importantes testemunhos.

Do André dos Dragões da Real, do São Paulo com quem desenvolvemos um excelente relacionamento fraternal.

Após anos e anos de Luta, recuperaram o clube e há 4 épocas regressaram à I divisão, apurando-se para as competições europeias!

A Fossa Dei Leoni é sem dúvida o exemplo vivo do que significa lutar pela identidade Ultras.

A presença da FdL no 35º aniversário da Tor cida Verde é algo que nunca esqueceremos!

A iniciativa “Football Belongs To The People” teve dois poderosos aliados, também no Brasil, sem os quais seria impossível a par ticipação das Torcidas Brasileiras.

De Leco, um Torcedor do São Paulo, dos Dragões da Real, residente nos USA, partic ipou igualmente com um texto.

Da mesma forma não esquecemos a presença dos Tipsy Group, Ultras Catanzaro no 35º aniversário, que também participou na iniciativa “Football Belongs to the People”, que nos honrou com um texto para esta publicação.

Também Alex Minduim, da ANATORG, Asso ciação Nacional das Torcidas Organizadas, do Brasil, um activista na defesa dos direitos dos adeptos.

De Bremen, veio o contributo de Kael, o qual conhecemos em 1992!

Para o Pasqualle, Lucca para todos os “fratel li” gialorossi enviamos nossas calorosas sau dações a Ultras, os quais, tal como a Fossa dei Leoni do Fortitudo Bologna, estiveram na vanguarda da defesa de suas cores, dando um contributo decisivo para a recuperação da Catanzaro!

Foi por ocasião de uma final da Taça das Taças entre o Werder Bremen e o Mónaco disputada em Lisboa.

A afinidade das cores verde e brancas, aproximou-nos...até aos dias de hoje!

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Uma visita ao mítico Estádio Alvalade e á sede da Torcida Verde, em maio de 1992 iniciou uma amizade, ainda que à distân cia” jamais esmoreçeu, com visitas do Kael a Lisboa para nos acompanhar nos jogos do “nosso Sporting”.

A participação de Kael na iniciativa “Foot ball Belongs to the People” foi funda mental para mobilizar os Grupos Ultras Alemães.

Uma iniciativa que teve a participação de 154 Grupos Ultras e Torcidas dos quatro continentes!

estes textos de adeptos amigos, revela o espírito Internacionalista, valor desde sempre presente na acção da Torcida Verde!

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Matteo Pavonello

É difícil descrever em palavras o que signifi ca para mim pertencer a uma família maravil hosa como a da Torcida Verde 1984, especialmente quando há milhares de quilómetros entre nós - a distância que separa Lisboa da minha pequena vila na província de Como, Itália.

É uma ligação que nasceu há vários anos quando estive em Lisboa para passar uns dias de férias, e encontrei-me no meio dos rapazes da Torcida. Tudo era tão natural, parecia que nos conhecíamos por toda a vida, mesmo que nossas vidas só tivessem se encontrado por alguns minutos.

Desde aquela tarde de primavera, a união com a Torcida foi crescendo cada vez mais, apesar de ter vivido alguns anos por motivos de trabalho na Escandinávia, ainda mais longe.

Mentalidade, valores e sonhos são maiores do que qualquer distância.Fazer parte da Torcida Verde é uma fonte de grande orgulho para mim, principalmente quando viajo pelo

mundo e converso com pes soas das mais variadas etnias ou classes sociais.

Obviamente, a principal questão que me colocam é “mas porque que um italiano torce pelo Sporting? Mas por que sobretudo a Torcida Verde?“ Aqui, não há resposta para tantas perguntas. É como o amor, não pode ser coman dado. E essa é uma linda história de amor à distância, feita de saudade, ideais e gente.

No final da minha carreira universitária, em 2018, nas páginas da minha tese de douto rado relatei a minha ligação com a Torcida, citando-a como fonte de inspiração funda mental no meu dia a dia.

Durante cada ano, entre compromissos e trabalho, encontro sempre tempo para vir a Lisboa e poder estar com os meus irmãos da Torcida Verde.

É uma necessidade profunda e romântica. É aquela linda emoção de poder realmente se sentir em casa.

Parabéns Torcida Verde, que ainda venham anos de luta e paixão a serem lutados lado a lado! Matteo Pavonello

È difficile descrivere a parole quello che sig nifichi per me appartenere ad una famiglia meravigliosa come quella della Torcida Verde 1984, specialmente quando a dividerci sono migliaia di km, la distanza che separa Lisbona dal mio piccolo paese in provincia di Como, in Italia.

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È un legame nato ormai diversi anni fa quan do mi trovavo a Lisbona per passare qualche giorno di vacanza, e mi sono trovato nel mez zo dei ragazzi della Torcida. Tutto è stato così naturale, sembrava di conoscersi da una vita anche se le nostre esistenze si fossero incon trate solamente da qualche minuto.

Da quel pomeriggio di primavera, il legame con la Torcida è cresciuto sempre di più, non ostante per motivi di lavoro abbia vissuto poi alcuni anni in Scandinavia. Mentalità, valori e sogni sono più grandi di qualsiasi distanza. Essere parte della Torcida Verde è per me mo tivo di orgoglio e vanto, specialmente quando mi capita di viaggiare nel mondo e parlare con persone della più svariata etnia o estrazi one sociale.

Ovviamente, la domanda principale che mi viene chiesta è “ma perché un italiano tifa Sporting? Ma perché proprio la Torcida Verde?” Ecco, a tante domande non esiste una risposta. È come l’amore, non si coman da. E questa è una bellissima storia d’amore a distanza, fatta di saudade, di ideali e di per sone.Al termine della mia carriera universitar ia, nel 2018, tra le pagine della mia tesi di Lau rea ho riportato il mio legame con la Torcida, citandolo come motivo di ispirazione fonda mentale nella quotidianità della mia vita.

Durante ogni anno, tra impegni e lavoro, ri taglio sempre il tempo per venire a Lisbona e poter passare del tempo con i miei fratelli della Torcida Verde. È un bisogno profondo, romantico. È quella bellissima emozione di potersi sentire veramente a casa.

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Pepe Avellino

Estava em Lisboa quando o meu coração se rebelou pela última vez. Quando o coração disse NÃO ao novo símbolo, disse NÃO ao sistema podre, disse não ao compromisso. Esse compromisso lutou e foi anunciado em slogans, em canções, lidas e relidas em adesivos e artigos de fanzine. Para nós, esse compromisso teve a imagem desse novo logotipo, desse logotipo moderno com uma espécie de imitação de um novo lobo diferente que substituiu o nosso Lobo original, o nosso símbolo histórico pelo qual sempre demos tudo. Passamos de “U.S.AVELLINO 1912” para como “AVELLINO 1912” apenas uma letra mudou, tantos disseram. Mas para alguns, algo havia quebrado. Até porque enquanto a nova realidade se inscrevia para o campeonato brilhante e sem dívidas, a nossa equipa não tinha falido, continuava

mal viva e com esperança de começar por baixo. Ele irá falhar um ano depois.Eu estava em um quarto de hotel no Almirante Reis; os smartphones ainda não existiam e a internet estava apenas engatinhando. Consegui me conectar do ponto de internet do hotel para descobrir com espanto a imagem do novo lobo. Nessa noite fui recolhido por amigos da Torcida Verde, com um carro cheio de entusiasmo para uma noite de bebedeira no Bairro Alto. Eu não falava português e eles não falavam italiano: nos entendíamos bem! Nunca imaginei que a partir daquele momento nunca mais voltaria a pôr os pés no Estádio do Partenio. Jamais poderia imaginar que daquele momento em diante serão justamente as oportunidades de encontrar amizades sólidas que cresceram ao longo dos anos para representar a continuação de um sentimento, de um ideal, de um estilo de vida que ainda arde dentro de cada um de nós, mesmo que agora fantasmas, embora já

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tenha morrido há 13 anos.

Saber que o Torcida completa 38 anos no dia 11 de novembro de 2022 é um orgulho e por isso queremos celebrá-lo também da Itália. É valor, é uma história de militância com raízes fortes, de agregação, de sociabilidade, de amizade, de paixão forte, de visão inteligente, de oposição firme a um sistema futebolístico podre e escravo agora de negócios e compromissos, de lógicas de apenas lucro e dinheiro fácil.A Torcida pensa! A Torcida expressa uma ideia que também nos representa, a Torcida quer divertir-se com o seu Sporting e estar ao seu lado: não para ajudar mas para participar. E no sistema moderno de um futebol do show business tudo isso pode incomodar, pode representar um obstáculo para quem se interessa pelo futebol apenas em políticas de negócios fortes e alta rotatividade. Conheço outra bola de futebol, aquela que é jogada aos domingos no estádio Partenio com o papai, nos abraçando com força na baliza do Avellino e agitando a bandeira verde e branca quando criança. Sim, verde e branco: eram as cores das bandeiras que me arrebentaram completamente quando criança e que esperei a semana toda para voltar ao estádio. E é por isso que o não ao compromisso era muito difícil, mas lúcido. Porque tínhamos na cabeça a responsabilidade e o pensamento livre de transmitir estes valores às novas gerações, aos mais jovens. Não podíamos contar uma mentira aos nossos filhos, não queríamos contar uma mentira. Não podíamos olhá-los nos olhos sabendo que havíamos engolido - nós primeiro - o sabor amargo do compromisso. Jamais saberemos realmente o que foi certo fazer e o que não

fazer, certamente sabemos que nossas lutas podem ter diferentes formas, mas o mesmo espírito de valores eternos que nos unem. Nunca desista de Torcida, siga o índio que você carrega em seus símbolos.Desejamos a Torcida Verde uma vida longa, feita de lutas e momentos de agregação, de um préjogo para viverem juntos, de longas viagens a reboque, de momentos que atearam fogo no peito, e de orgulho e história a transmitir para os jovens. Memórias, momentos passados juntos e muitos abraços como os que vivemos em Florença em 2009, os do Algarve onde todos entrámos em campo e festejámos um futebol sla com os amigos do Shamrock Rovers e do Hammarby, e muitas oportunidades de jogos nos prendem. lado a lado por dentro e por fora.

Torcida Verde 38 anos de história para comemorar - Além da Razão - U.S. Avellino 1912

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Ero proprio a Lisbona quando il cuore si ribellò per l’ultima volta . Quando il cuore disse No al nuovo simbolo , disse No al Sis tema marcio, disse no al compromesso. Quel compromesso combattutto e sbandierato in slogan ,in canzoni, letto e riletto su adesivi e su articoli delle fanzine. Per noi quel compro messo aveva l’immagine di quel nuovo logo, quel logo moderno con una specie di imitazi one di un nuovo lupo differente che andava a sostituire il nostro Lupo originale, il nostro simbolo storico per il quale abbiamo dato sempre tutto. Si passava da us Avellino 1912 …..ad as Avellino 1912 cambiava solo una let tera dicevano in tanti . Ma per alcuni qualcosa si era rotto . Anche perché mentre la nuova realtà si iscriveva al campionato brillante e senza più debiti , la nostra squadra non era fallita , era ancora malandatamente in vita e con la speranza di ripartire dal basso . Fallirà un anno dopo. Ero in una camera di hotel ad Almirante

Reis ; non esistevano ancora gli smartphone ed internet era solo agli inizi . Io ero riuscito a collegarmi dall’internet point del hotel per scoprire con stupore l’immagine del nuovo lupo . Proprio quella sera mi passarono a prendere gli amici della Torcida Verde, con un’ auto piena di entusiasmo per una notte di bevute al Bairro Alto. Non parlavo portoghese e loro non parlavano italiano : ci capivamo bene ! Non avrei mai potuto immaginare che da quel momento non avrei mai più messo piede allo Stadio Partenio. Non avrei mai potuto immaginare che da quel momento saranno proprio le occasioni di incontro con le amicizie solide e cresciute negli anni a rap presentare il proseguio di un sentimento, di un ideale, di uno stile di vita che brucia an cora dentro ognuno di noi , anche se ormai fantasmi , anche se ormai morti 13 anni fa.

Sapere che l ‘ 11 novembre 2021 la Torcida compie 38 anni di vita è un orgoglio ed è per questo che teniamo a celebrarla anche

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dall’Italia . E’ valore , è una storia di militanza con radici forti , di aggregazione , di socialità , di amicizia , di forte passione, di intelligente visione , di ferma opposizione ad un sistema calcio marcio e schiavo ormai di business e compromessi, di logiche di solo profitto e soldi facili.

La Torcida pensa ! La Torcida esprime un’idea che rappresenta anche noi , la Tor cida vuole divertirsi col suo Sporting e star gli affianco : non assistere ma Partecipare . E nel sistema moderno di un calcio show business tutto questo può dar fastidio, può rappresentare un ostacolo a chi del calcio ha interesse solo a forti politiche di business e alti fatturati . Io conosco un altro calcio , quello fatto delle domeniche allo stadio Partenio con papà ,ad abbracciarci forte al gol dell’ Avellino e a sbandierare la bandiera biancov erde da bambino . Si biancoverde : erano i colori delle bandiere che mi avevano comple tamente sballato da bambino e che aspettavo tutta la settimana per ritornare allo stadio. Ed è per questo che il no al compromesso è sta to durissimo ma lucido. Perché avevamo nella testa la responsabilità e il pensiero libero di trasmettere questi valori alle nuove generazi oni , ai più giovani . Ai nostri figli non potevamo dire una bugia , non volevamo dire una bugia. Non potevamo guardarli negli occhi sapendo di aver ingoiato - per prima noi - il sapore amaro del compromesso . Non sap remo mai davvero cosa era giusto fare e cosa no , sappiamo certamente che le nostre lotte possono avere forme differenti ma lo stesso spirito di eterni valori che ci uniscono . Non mollare mai Torcida , segui l’indiano che porti nei tuoi simboli.

Alla Torcida Verde auguriamo lunga vita ,

fatta di lotte e di momenti di aggregazione , di prepartita da passare insieme , di lunghi viaggi al seguito , di momenti che infuocano il petto , e di orgoglio e storia da tramandare ai giovani . Ci legano ricordi , momenti trascorsi insieme e tanti abbracci come quelli in trasferta a Firenze nel 2009 , quelli in Al garve dove in campo siamo scesi tutti noi ed abbiamo celebrato un calcio alla sla con gli amici di Shamrock Rovers e Hammarby , e tante occasioni di partite vissute fianco a fianco dentro e fuori .

Torcida Verde 38 anni di storia da celebra re – Oltre la Ragione – U.S. Avellino 1912

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Carlo Avellino

Fui convidado para es crever para o 38º aniversário da Torcida Verde... um grande feito para um dos maiores grupos ultras da Europa em termos de história, militân cia, mentalidade, comprom isso social e consistência.

Até há poucos anos só os podia admirar na televisão ou na web, depois tive a sorte de os conhecer ao vivo durante um jogo Sporting vs União de Leiria. Fui acolhido como se sempre tivesse sido um deles, e desde esse momento, passaram cerca de 10 anos durante os quais o respeito, a estima e a amizade foram reforçados e houve outras ocasiões de encontro e colaboração (Football Belongs to the People).

Para mim foi a primeira vez que fui confron tado com uma base de grupos de adeptos europeus tão importante, e ser acolhido com tanto calor e descobrir que eles sabiam tanto sobre Avellino e os Ultras de Avellino impres sionou-me profundamente.

Nos amigos da Torcida vejo novamente os ideais e valores que me fascinaram e me fizer am abordar o mundo do Ultras há tantos anos (obviamente a paixão pela equipa favorita vai acima de tudo), esses mesmos valores e ideais que, na minha opinião, se perderam durante algum tempo em Itália. O movimento Ultras italiano foi certamente um dos melhores dos anos 70 e 80, com alguns excelentes picos nos anos 90, mas depois, à medida que começar

am a aceitar os clubes e a ter demasiadas relações próximas com os jogadores, o verda deiro espírito do Ultras perdeu-se, pelo menos em Itália.

Começaram a ceder em tudo, bilhetes nom inais, cartões de adepto, lugares numerados (felizmente não em todos os campos), per missão para colocar bandeiras no estádio, ho mologação para fazer bandeiras de qualquer forma (perdendo o entusiasmo de as desen har e pintar todas juntas), até hoje em que o protesto contra as restrições à entrada nos estádios foi de curta duração, quase todos os grupos de ultras, voltaram a ocupar os sec tores apesar da “NON CONTA QUANTI CONTA COME” do Verão de 2021.

Muitos adeptos, italianos, são agora S.P.A, lucram com bilhetes, bandeiras, etc. provav elmente estas são as razões que (juntamente com a primeira falência da minha histórica U.S. AVELLINO 1912) há cerca de 10 anos me fizeram deixar este mundo. Desejo que os

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amigos da Torcida, Luís, Nuno, Telmo, Hanques, André e todos os outros nunca percam o entu siasmo, consistência e mentalidade que sem pre vos distinguiu!

Lunga Vita agli Ultras, Lunga Vita alla Torcida!

Sono stato inviato a scrivere per i 38 anni della Torcida Verde...un grande traguardo per uno dei maggiori gruppi Europei per storia, militanza, mentalità, impegno nel sociale e coerenza.

Fino a qualche anno fa potevo ammirarli solo in Tv o sul web, poi ho avuto la fortuna di incontrarli dal vivo durante uno Sporting Lisbona Uniao Leiria. Sono stato accolto come fossi stato da sempre uno di loro, e da quel momento sono passati circa 10 anni durante i quali il rispetto, la stima e l’amicizia si è fortificata e ci sono state altre occasioni di incontro e collaborazione (come ad esempio Footbal belongs to people).

Per me è stata la prima volta in cui mi sono confrontato con una tifoseria di livello europeo cosi importante ed essere accolto con cosi tanto calore e scoprire che conoscevano tantissimo sull’Avellino e sugli Ultras dell’Avellino mi ha colpito profondamente positivamente.

Negli amici della Torcida io rivedo gli ideali e i valori che mi hanno affascinato e fatto avvicinare tanti anni fa al mondo Ultras (ovviamente la passione per la propria squadra del cuore va su tutto), quegli stessi valori e ideali che da qualche tempo, secondo me, in Italia si sono persi. Il movimento Ultras Italiano era sicuramente uno dei migliori negli

anni 70/80 con punte eccellenti negli anni 90, ma poi, nel momento in cui si è iniziato a scendere a patti con le società ad avere un pò troppi rapporti ravvicinati con i calciatori si è perso il vero spirito Ultras, almeno in Italia.

Si è iniziato a cedere un pò su tutto, biglietto nominale, tessera del Tifoso, posti a sedere numerati (non i tutti i campi fortunatamente), autorizzazione nel mettere striscioni allo stadio, omologazione nel fare bandiere tutte uguali (perdendo l’entusiasmo di disegnarle e dipingerle tutti insieme), fino ai giorni nostri dove la protesta contro le restrizioni nell’entrare negli stadi è durata poco, quasi tutti i gruppi ultras sono tornati ad occupare le curve nonostante il “NON CONTA QUANTI CONTA COME” di questa estate. Molte tifoserie, Italiane, ormai, sono delle S.P.A, lucrano su biglietti, sciarpe e tc etc.. probabilmente sono questi i motivi che (insieme al primo fallimento della mia storica U.S. AVELLINO 1912) circa 10 anni fa mi hanno fatto abbandonare questo mondo. Auguro agli amici della Torcida, a LUiz, Nuno, Telmo, Hanques, Andrè e tutti gli altri di non perdere mai l’entusiasmo la coerenza e la mentalità che li ha da sempre contraddistinti.... Lunga Vita agli Ultras Lunga Vita alla Torcida

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LUNGA VITA ALLA TORCIDA VERDE!

por “toro” fossa dei leoni fortitudo

Falar sobre ultras hoje em dia torna-se cada vez mais difícil. Isso se deve à imagem estereotipada que a sociedade em que vivemos, por meio da imprensa e das redes sociais, vem apresentando ao longo dos anos às pessoas, aos usuários, às pessoas: violentas, criminosas, extremistas, marginalizadas. Em uma sociedade onde você tem que “jogar” de acordo com as regras, porém, sempre achei a palavra “rebeldes” aquela que sempre melhor identificou e ainda identifica, os ultras.

A demonização de quem, ao longo dos anos, transformou as curvas das instalações desportivas, de lugares puramente físicos em lugares sociais, a um palco de conflitos e agregação, reside precisamente nisto: o medo de uma contracultura com forte conotação antagónica. Os ultras vivem de acordo com suas próprias regras e códigos não escritos.

Retrabalham à sua maneira as contradições, incertezas, conflitos e, portanto, também a violência da época em que vivem. Eles são

a cara feia e suja desta sociedade: devem, portanto, ser administrados, controlados, regulamentados e não, em alguns casos, eliminados.

Então aqui estão polícia, multas, advertências e leis especiais, cartões de adepto. Todas as medidas ad hoc apenas para os ultras. Mas isso nunca foi suficiente para quebrar a animosidade dos ultras.

No entanto, certamente exasperou as conotações mais conflitantes. É então na realidade dos fatos que, onde as massas estão presentes, os interesses econômicos são acionados em situações de interesse coletivo.

Você pode movimentar dinheiro. É também com esse tipo de problema que os ultras tiveram que começar a enfrentar desde o final dos anos 90: o “negócio” que se criou no mundo do desporto: Pay-tv, merchandising, patrocinadores técnicos, ingressos elevados.

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Os lucros econômicos que essas novas situações começaram a trazer para os bolsos dos clubes esportivos criaram uma reviravolta total do evento esportivo, uma mudança de rumo em relação ao que originalmente começou.

O futebol, mas não só, tem se tornado cada vez menos um fenômeno social, mas cada vez mais um show, para ser consumido mesmo de forma independente, sozinho ou em pequenos grupos, não só em frente a uma TV, mas, agora também em um PC, um tablet ou smartphone!

Socialidade e agregação, pilares da identidade inicial dos torcedores, foram sendo abalados gradativamente em seus alicerces.

O processo de identificação, de reconhecerse numa equipa, na sua história, nas suas camisolas, até nas suas cores sociais, tornouse quase impossível.

O torcedor se torna cada vez mais cliente de uma plataforma esportiva apresentada embalada e pré-embalada em homenagem ao Deus do dinheiro.

As curvas correm o sério risco de se tornarem cada vez mais locais passivos de concentração, cada vez mais controlados, mas úteis pelo seu calor e cor para tornar cativante o produto que pretende vender.

Nesse ponto, os ultras se veem cada vez mais esmagados dentro desse show business em busca de um papel a desempenhar.

Fazer parte de tudo isso, mudar de acordo com as situações, mas correr o risco de

perder a identidade original? Lutar contra o sistema de dentro, ou de fora, mantendo viva a integridade de alguém, mas com o risco de se tornar essa minoria e, portanto, facilmente controlável e cada vez mais gerenciável?

Devem ser encontradas formas de resistência. Crie pequenas minorias de dor no traseiro com um projeto em mente que, por meio de contra-informação, pode ampliar os horizontes do pensamento.

Dentro destas formas de resistência cada vez mais isoladas mas coerentes está certamente a Torcida Verde de Lisboa.

A luta contra este tipo de sistema é um exemplo para quem não quer desistir do pior, não quer aceitar o fim de um mundo que, embora cheio de contradições e anomalias, continua a ser um dos últimos e verdadeiros. formas de vida agregativa “contra”, contra a homologação da pessoa, onde a luta para continuar a viver (por) algo em que se acredita ainda é uma meta, uma necessidade de primordial importância.

E portanto, lunga vita alla Torcida Verde! La lotta continua! Sandro75

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Parlare di ultras di questi tempi diventa sempre più difficile. Questo per l’immagine stereotipata che la società in cui viviamo, per mezzo della stampa e dei social-media ha presentato nel corso degli anni alla gente, agli utenti, al popolo: violenti, malviventi, estremisti, emarginati. In una società in cui devi “giocare” secondo le regole, ho sempre però trovato la parola “ribelli” quella che meglio ha sempre identificato e identifica tutt’ ora, gli ultras.

La demonizzazione verso chi ha trasformato negli anni le curve degli impianti sportivi, da luoghi prettamente fisici a luoghi sociali, a palcoscenico di conflitti e aggregazione, sta proprio in questo: la paura di una controcultura dalla forte connotazione antagonista. Gli ultras vivono di regole e codici propri e non scritti. Rielaborano a modo loro le contraddizioni, le incertezze, la conflittualità e quindi anche la violenza dell’epoca in cui vivono.

Sono la faccia brutta e sporca di questa società: vanno quindi gestiti, controllati , regolamentatie non, in alcuni casi, eliminati.

E allora ecco polizia, multe, diffide e leggi speciali, tessere del tifoso. Tutti provvedimenti

ad hoc solo per gli ultras. Ma questo non è mai bastato a spezzare l’animosità degli ultras. Ne ha però esasperato le connotazioni più conflittuali sicuramente.

È poi nella realtà dei fatti che dove sono presenti le masse, nelle situazioni di interesse collettivo si innescano interessi economici. Si possono muovere soldi.

È anche con questo tipo di problema che gli ultras hanno dovuto iniziare a confrontarsi dalla fine degli anni novanta: Il “businness” che si è creato intorno al mondo dello sport. Le tv a pagamento, il merchandising, gli sponsor tecnici, il caro biglietti.

I profitti economici che queste nuove situazioni hanno iniziato portato nelle tasche delle società sportive, hanno creato uno stravolgimento totale dell’evento sportivo, un cambio di direzione rispetto a ciò da cui si era originariamente partiti.

Il calcio, ma non solo, è diventato sempre meno un fenomeno sociale, ma sempre più uno spettacolo, da consumare anche in modo autonomo, da soli o in gruppo ristretti, non solo

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VERDE 1984 - SEMPER FIDELIS

più davanti a una tv ma,ora anche su un pc, un tablet o uno smartphone!

La socialità e l’aggregazione, pilastri portanti della identità di partenza delle tifoserie sono state progressivamente scosse nelle loro fondamenta.

Il processo di identificazione, il riconoscersi in una squadra, nella sua storia, nelle sue maglie, perfino nei suoi colori sociali è diventato quasi impossibile. Il tifoso sta diventando sempre più il cliente di una piattaforma sportiva che viene presentata impacchettate e preconfezionata in omaggio al Dio denaro.

Le curve corrono il serio rischio di diventare sempre più luoghi di concentramento passivi, sempre più controllate, ma utili per il loro calore e colore a rendere accattivante il prodotto che si vuole vendere.

A questo punto gli ultrà si trovano sempre più schiacciati all’interno di questo showbusinness alla ricerca del ruolo da recitare.

Essere parte di tutto questo, mutando in base alle situazioni ma rischiando di perdere la propria identità di partenza?

Combattere il sistema dall’interno, o dall’esterno, mantenendo viva la propria

integrità ma con il rischio di diventare x questo minoranza e quindi facilmente controllabile e sempre più gestibile? Bisogna trovare forme di resistenza viene da dire. Creare piccole minoranze di rompicoglioni con un progetto in testa che tramite la controinformazione possano allargare gli orizzonti di pensiero. All’interno di queste forme di resistenza sempre più isolate ma coerenti si colloca sicuramente la Torcida Verde di Lisbona.

La loro lotta contro questo tipo di sistema è da esempio a chi non si vuole arrendere al peggio, chi non vuole accettare la a fine di un mondo che pur ricco di contraddizioni e anomalie, resta una delle ultime e vere forme di vita aggregative “contro”, contro l’omologazione della persona, dove la lotta per continuare a vivere (per)qualcosa in cui si crede sia ancora un obiettivo, una necessità di primaria importanza.

E quindi lunga vita alla Torcida Verde! La lotta continua. Sandro75

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fossa dei leoni 1970

Cosa spinge 11 persone a partire da Bologna in macchina alle 3 del mattino in un’uggiosa gior nata di novembre (9/11/20219), arrivare all’aer oporto di Orio (BG), prendere un volo direzione Lisbona (in portoghese Lisboa), trascorrere la giornata e la nottata li, riprendere l’aereo la mattina dopo, guidare fino a Cremona, as sistere alla partita della Fortitudo e ritornare a Bologna distrutti la sera?

La prima parola che potrebbe venire in mente è FOLLIA, ma andando un po’più a fondo si capisce che la vera motivazione è l’IDEALE ULTRAS e l’amicizia nei confronti del gruppo Ultras Torcida Verde di Lisbona che festeggia i 35 anni di storia.

La scelta di partire da Orio e non da Bologna è legata alla partita di campionato prevista per domenica a Cremona raggiungibile in circa

un’ora di macchina dall’aeroporto bergamasco e pertanto il gruppo di 11 leoni opta per una partenza alle 3 di mattino da Bologna.

Arrivati a Lisbona intorno alle 11 di mattina ci mettiamo alla ricerca di un posto dove mangi are e bere in attesa di incontrare i ragazzi della Torcida e lo troviamo in un piccolo ristorante locale che offre buon pesce e birra a volontà. In attesa di quanto ci aspetterà nel pomeriggio e nella serata è un ottimo inizio che comincia a ripagare la levataccia mattutina.

Nel pomeriggio ci dirigiamo nella sede dei rag azzi dove abbiamo appuntamento non lontano dallo Estádio José Alvalade sede dello Sporting Clube de Portugal (più comunemente conos ciuto come Sporting Lisbona fuori dai confini portoghesi).

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Qui veniamo accolti dai ragazzi con abbracci e strette di mano come se fossimo amici da sempre senza limitazioni legate alla differente lingua e ci rendiamo conto che alla fine quan do ci sono stessi ideali e valori non conta la lingua o la distanza tra le persone.

Ci rendiamo conto che lo striscione esposto dalla Torcida Verde in occasione dei 50 anni del movimento ultras italiano nel dicembre 2018 “Diversi nei colori, uniti nei valori. Ultras da sempre, aggregazione fonte di ispirazione” rappresenta quanto di più vero ci sia nel nostro mondo. Ogni gruppo ha al proprio interno val ori e riferimenti diversi ma la mentalità ultras non cambia a qualsiasi latitudine.

L’entrata nella sede del gruppo mi riporta in dietro nel tempo e vedere i graffiti sui muri rappresentativi della Torcida, il banchetto del materiale, le birre a 50 centesimi, i cori e gli abbracci mi fanno pensare agli anni 80 e 90 e a un mondo ultras che fatico sempre di più a riconoscere adesso. Oggi molti dei valori fon

danti che stavano alla base dell’essere ultras sono sentiti in maniera diversa come rifelsso di quanto avviene nella società moderna. E’ sempre emozionante vedere che quel mon do di una volta è ancora vissuto da alcuni gruppi ormai diventati sempre di meno.

Dai ricordi al presente: dalla sede ci spostiamo al campo di pallamano per assistere alla par tita.

Lo Sporting non è solo calcio, ma è una so cietà polisportiva attiva in numerosi sport e i ragazzi seguono attivamente tutte le squadre della polisportiva. La partita scorre via tra cori e tifo a cui partecipiamo attivamente dando ovviamente il nostro contributo.

Finita la partita andiamo con la Metro nel luo go dove è prevista la cena a base di specialità portoghesi, vino e birra.

Per festeggiare i 35 anni non ci siamo solo noi di Fossa, ma dalla Svezia sono arrivati gli Ultras dell’Hammarby, dall’Irlanda gli Ultras

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Shamock Rovers FC, dall’Italia gli Ultras di Avel lino e Catanzaro, dall’Inghilterra i tifosi di Ports mouth e dal Brasile i Real Dragons di San Paolo (dovevano esserci anche tifosi dall’Ecuador di Emelec, trattenuti in Germania e non arrivati in Portogallo).

Alla fine della cena partecipiamo al dibattito sul movimento ultras insieme agli altri rappresent anti delle tifoserie presenti e ognuno racconta il rapporto con i ragazzi della Torcida negli anni tra amicizie e gemellaggi veri e propri.

L’atmosfera ultras si respira anche nel piazzale fuori dove abbracciati con le torce accese e le sciarpe tese ci lasciamo andare con cori e can ti noi che siamo baluardi di un mondo che ci appartiene e che non vogliamo scompaia.

Noi vogliamo ancora vivere le emozioni legate alla partita e non semplicemente guardarle. Il mondo ultras mette insieme persone tra loro

diverse, ti permette di dividere un panino o una birra con chi non conosci perché in quel momento si è un tutt’uno ed è una cosa bellis sima che nessuno al di fuori difficilmente potrà comprendere a fondo.

La serata è finita e tornati in hotel dobbiamo riposare perché il giorno dopo tornati in Italia ci aspetta la nostra Fortitudo impegnata sul campo di Cremona e dobbiamo farci trovare pronti al nostro posto come sempre su quei gradoni che ci appartengono e ci rendono felici. La partita ci vede sconfitti sul campo ma dopo questa giornata portoghese siamo comunque orgogliosi e vincenti, rappresent anti di un mondo ultras dal 1970 ad oggi forse cambiati ma sempre e per sempre fedeli a noi stessi.

dei LEONI 1970 di Bologna

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TORCIDA VERDE 1984 - SEMPER FIDELIS
FOSSA

É sempre excitante ver que o mundo do passado ainda é vivido por alguns grupos que são agora cada vez menos numerosos.

Da memória até ao presente: da sede passamos para o campo de andebol para assistir ao jogo.

O Sporting Clube de Portugal não é apenas futebol, é um clube polidesportivo ativo em muitos desportos e estes rapazes seguem ativamente todas as equipas do clube polidesportivo.

O jogo decorreu com cânticos e aplausos em que participámos ativamente, dando obviamente a nossa contribuição.

No final do jogo, deslocamo-nos de Metro para o local onde íamos jantar as várias especialidades portuguesas acompanhadas com vinho e cerveja.

Para celebrar o 35º aniversário não só nós da Fossa estivemos presentes, mas também Ultras de Hammarby da Suécia, Ultras de Shamock Rovers F.C. da Irlanda, Ultras de Avellino e Catanzaro de Itália, fãs de Portsmouth de

Inglaterra e Dragões da Real de São Paulo do Brasil, (também deveriam existir adeptos do Equador Emelec, que ficaram retidos na Alemanha e não chegaram a Portugal).

No final do jantar, participamos no debate sobre o movimento Ultra juntamente com os outros representantes presentes e todos falam da sua relação com a Torcida Verde ao longo dos anos, entre amizades e geminações reais.

A atmosfera Ultra também foi sentida no exterior do local, onde, abraçados com tochas e cachecóis estendidos, nos deixamos ir com cânticos, nós que somos os baluartes de um mundo que nos pertence e que não queremos desaparecer.

Ainda queremos experimentar as emoções ligadas ao jogo e não apenas vê-las.

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O mundo dos Ultras reúne pessoas que são diferentes umas das outras, onde nos permite partilhar uma sanduíche ou uma cerveja com alguém que não conhecemos porque nesse momento somos todos um e é uma coisa linda que ninguém, de fora deste mundo, será capaz de compreender plenamente.

A noite termina e regressamos ao hotel, tínhamos de descansar porque no dia seguinte, de regresso a Itália, esperávamos o nosso Fortitudo empenhado no campo do Cremona e tínhamos de estar prontos no nosso lugar, como sempre, nos degraus que nos pertencem e que nos fazem felizes.

No jogo fomos derrotados no campo, mas depois deste dia em Portugal, ainda nos mantemos orgulhosos e vencedores, representantes de um mundo Ultra de 1970 até hoje, talvez mudado, mas sempre e para sempre fiéis a nós mesmos.

dei LEONI 1970 di Bologna

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FIDELIS
VERDE
SEMPER
FOSSA

TIPSY GROUP

38 ANNI TORCIDA VERDE Tutto ha un inizio, soprattutto nelle amicizie, quelle vere, quelle a cui è difficile dare un aggettivo adatto. Perché si sa, l’amicizia soprattutto, è una cosa seria. Un’amicizia composta da diversi ingredienti, il più importante? Il rispetto! Ma mi basta pensare da dove è cominciato tutto. Un’amicizia nata sui social, parlando di sport, di calcio, di competizioni, di movimento. È bastato un semplice abbraccio una volta giunti all’aeroporto Humberto Delgado per far scattare quell’aggettivo che ancora non riusciamo a trovare. Può sembrare strano anche perché la distanza non è di quelle proibitive, ma veniamo da due diversi paesi con diverse mentalità ma condite da un unico amore: la passione per la squadra del cuore e l’amore per la propria città. Lisbona non è proprio dietro l’angolo, e quando all’invito del 35° anno da parte di uno dei più importanti

gruppi del panorama ultras Portoghese ed Europeo, ci ha riempito di gioia. Autostrada direzione Roma, aeroporto quello di Ciampino, destinazione Lisbona, felicità? Che ve lo dico a fare, come il sorriso di un bambino il giorno di Natale. Non è stata una semplice festa, è stata la festa. Abbiamo avuto la possibilità di confrontarci con altre mentalità, con altri gruppi importanti del panorama ultras europeo: Hammarby, Shamrock Rovers, Portsmouth .... e CATANZARO! Tutta la Curva Ovest! Abbiamo imparato, sin dal primo momento che ci siamo stretti la mano, che lo Sporting non è solo calcio, che non è soltanto una semplice società sportiva ma rappresenta in modo globale tutto ciò che è sport e famiglia, che la definizione di sport non si ferma alla sola espressione calcio, ma che lo sport è anche futsal, handball, basket, pallavolo in sostanza: S C P, tradotto?

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VERDE 1984 - SEMPER FIDELIS

Sporting Clube de Portugal. E’ proprio vero che l’amicizia è una cosa molto difficile da spiegare, non è qualcosa che si impara a scuola, a volte basta un minuto per descriverla ma che ci vuole poco per farla rimanere indelebile per tutta la vita, e per questo un GRAZIE immenso va alla famiglia della TORCIDA VERDE 1984... siete sempre nei nostri cuori, presto torneremo ad abbracciarci!!!Vi auguriamo un buon compleanno per questo 38°anno, Lunga vita alla Torcida 1984 Sempre juntos Irmãos!!!

TIPSY GROUP 1989 abbraccia la TORCIDA VERDE 1989

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TORCIDA VERDE 1984 - SEMPER FIDELIS

Ivano FOSSA DEI

LEONI 1968 milan

Da tanti anni conosco la Torcida, così come il movimento Ultras portoghese e gli altri principali gruppi, in particolare quelli delle squadre di Lisbona e Porto: nel periodo pre-multimediale, era una pratica comune lo scambio di foto per corrispondenza o sfogliare le varie riviste per informarsi su ciò che accadeva all’estero; poi sono arrivate le trasferte al Das Antas (92-93 e 96-97), al Da Luz (1994-95) e al vecchio Alvalade (2001-02), tutte in occasione di partite di Coppa del Milan.

Il primo contatto con esponenti della Torcida Verde fu però una decina d’anni fa, nella periferia milanese, in occasione di un incontro sulle tematiche del mondo Ultras nel nuovo millennio.

Durante quel dibattito fu significativo l’intervento degli “adeptos da Torcida” in merito alla complicata situazione sportiva e politica del football portoghese, ancora attuale: corruzione, business incontrollato, pay-tv, influenza dei procuratori, prezzo dei biglietti, operazioni di marketing discutibili e soprattutto i molteplici tentativi di repressione e di ostacolo alle forme di aggregazione dei tifosi, in particolare per quanto riguarda i gruppi Ultras.

Problemi che purtroppo stanno investendo, in forme e tempi di poco differenti, tutte le federazioni calcistiche europee e che coinvolgono, di conseguenza, tutte le libere associazioni di tifo: dal Club di “semplici” tifosi fino ai gruppi Ultras organizzati.

Tante sono state le proteste e i boicottaggi effettuati nel continente: in alcuni casi hanno prodotto un ridimensionamento delle norme restrittive (per esempio i cosiddetti “safe standings” in Germania e Scozia, prezzi ribassati per i settori popolari sempre in Germania), nella maggior parte dei casi non solo le dimostrazioni dei tifosi non sono state ascoltate ma addirittura si sono inasprite (la“flagranza differita” e il “DASPO preventivo” in Italia, biglietti nominali e costosissimi per poter accedere in stadi-teatri di nuova costruzione, etc. fino alla introduzione anche in Portogallo del “cartão do adepto”).

Tutte tematiche, queste, per le quali il gruppo di cui ho fatto parte fino al 2005 è stato coinvolto ed ha lottato e cercato di contrastare mediante ogni forma di contestazione negli stadi di tutta

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Italia e per le quali la Torcida da anni cerca di sensibilizzare il resto dei tifosi portoghesi. Dal giorno di quel dibattito milanese è stato quindi naturale un confronto personale con gli Ultras della Torcida, sempre ben disposti a raccontare e sostenere orgogliosi i loro ideali e ad ascoltare le esperienze altrui, dal quale è poi nata un’amicizia, altrettanto personale, con alcuni dei loro esponenti di Lisbona e della sezione Invicta di Porto.

Ho anche avuto la possibilità di guardare da vicino l’operato dei membri della Torcida e constatare di quanto siano fondamentali e di vitale importanza ideali come l’aggregazione, l’amicizia, l’informazione e la passione che dedicano costantemente e con coerenza a tutte le innumerevoli attività della Polisportiva Sporting; particolarità che mi ha colpito particolarmente, quella dell’ “eclettismo”, che richiede un impegno senza paragoni in Italia e in Europa.

Un augurio quindi per il raggiungimento di questo traguardo da parte di un vostro caro amico e sostenitore.

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FIDELIS
VERDE 1984 - SEMPER

Há muitos anos que conheço a Torcida, bem como o movimento Ultras português e os outros principais grupos, especialmente os das equipas de Lisboa e do Porto: no período pré-multimédia, era um prática comum trocar fotos por correio ou navegar nas várias revistas para perguntar sobre o que aconteceu no exterior; depois vieram as viagens ao das Antas (92-93 e 96-97) ao Da Luz (1994-95) e ao velho Alvalade (2001-02) todos por ocasião dos jogos do AC.Milan na Taça do Campeao.

O primeiro contato com representantes da Torcida Verde, porém, foi há cerca de dez anos, na periferia de Milao, por ocasião de um encontro sobre as questões do mundo Ultras no novo milênio.

Nesse debate, a intervenção dos “adeptos da Torcida” a respeito da complicada situação desportiva e política do futebol português, ainda atual: corrupção, negócios não controlados, PayTV, influência de promotores, preços de ingressos, operações marketing questionável e, sobretudo, as

múltiplas tentativas de repressão e obstáculo às formas de agregação dos adeptos, em particular no que se refere aos grupos Ultras.

Problemas que infelizmente todas as federações estão afetando, em formas e tempos ligeiramente diferentes Clubes de futebol europeus e, consequentemente, envolvendo todas as associações de adeptos gratuitos: do Clube de fãs “simples” a grupos Ultras organizados.

Muitos protestos e boicotes foram realizados no continente: em alguns casos, eles produziram um redução de regulamentos restritivos (por exemplo, as chamadas “safe standings” na Alemanha e Escócia, preços mais baixos para setores populares sempre na Alemanha), na maioria dos casos não só as manifestações dos fãs não foram ouvidas mas eles até ficaram amargurados (o “flagranza differita” e “DASPO preventivo” na Itália, bilhetes nominais e muito caros para poder ter acesso em estádiosteatros recém-construídos, etc ... até à introdução

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em Portugal do “Cartão do adepto”).

Todos esses são temas pelos quais o grupo do qual fiz parte até 2005 esteve envolvido e lutou e tentou lutar através de todas as formas de protesto nos estádios de toda a Itália e para o qual Torcida há anos tenta sensibilizar os restantes adeptos portugueses.

Desde o dia daquele debate milanês, um confronto pessoal com os Ultras da Torcida foi, portanto, natural, sempre disposta a contar com orgulho e apoiar seus ideais e ouvi-los experiências de outros, das quais nasceu uma amizade igualmente pessoal com alguns dos seus expoentes de Lisboa e da secção Invicta do Porto.

Eu também tive a oportunidade de olhar de perto o trabalho dos membros da Torcida e ver quão fundamentais e vitalmente importantes são ideais como agregação, amizade, a informação e

a paixão que constantemente e consistentemente dedicam a todos os incontáveis atividades do Sporting CP; particularidade que me impressionou particularmente, a de “Ecletismo”, que exige um empenho sem paralelo na Itália e na Europa.

Um desejo, portanto, pelo cumprimento deste objetivo por parte de um querido amigo e apoiante.

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NICOLA NUCCI

Supertifo

Existem tantas maneiras de ser Ultras. Um mov imento que tem valores e princípios comuns, mas que nem todos conseguiram espelhar, valorizar e conservar ao longo dos anos.

A Torcida Verde, nestes quase 40 anos de vida é um dos grupos no panorama europeu que tem rep resentado o melhor da identidade ultras.

Fidelidade, paixão, sentimento de pertença, es pirito critica na hora de contestar, sempre com va lores fortes e enraizados.

O Sporting sempre, e incondicionalmente.

A Torcida Verde é mais que essa fidelidade vis ceral, porque no entanto tem sido capaz de interp retar o movimento ultras, com suas batalhas contra o futebol moderno para salvar os valores mais autênticos do tifo.

Um mundo ultras que mudou de pele nos anos 2000, a Torcida Verde está entre os exemplos da mais alta coerência com a sua própria historia e o seu código genético.

No europeu 2004, tive a honra e a sorte de sentir a sua hospitalidade, e perceber como dedicaram sua vida ao seu clube, a seus ideais ultras e que alcançaram um importante lugar.

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TORCIDA VERDE 1984 - SEMPER FIDELIS

Leco São

Paulo

À Torcida Verde, meus parabéns... Toda sorte e prosperidade a essa torcida grandiosa.

Grandiosa em suas conquistas, em seus valores e princípios.

Que sempre admirei por sua postura dentro e fora da arquibancada. Onde em sua trajetória, foi pro tagonista em muitos episódios de protestos e man ifestações populares, em prol do movimento das Torcidas e seus direitos em todo o Mundo. Eu, Leco, diretor da ANATORG, (Associação Nacional das Torcidas Organizadas) no Brasil, e diretor na Torci da Dragões da Real do São Paulo Futebol Clube, participei em varias ações mas principalmente no protesto mundial protagonizado pela Torcida Verde, “Football Belongs to the People“.

Pude contribuir com o manifesto a convite da Torcida Verde, convidando e mobilizando torcidas organizadas no Brasil e América do Sul.

Então por meio deste texto, quero registrar minha admiração e amizade por essa torcida sensacional que é o Sporting Clube de Portugal tem a sorte de ter ao seu lado.

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André

Uma pequena e merecida homenagem da Dragões da Real aos irmãos da Torcida Verde.

Quem olha essa amizade sem se aprofundar dos dois lados podem de primeira simplesmente estranhar, afinal são as cores rivais dos dois clubes e torcidas em seus respetivos países.

Mas ao se aprofundar na amizade verdadeira verás que existem mais semelhanças do que diferenças .

Duas torcidas que nasceram em 1984 e usam o ano de fundação para muitas referências , dois clubes que jogaram na inauguração do Morumbi aqui em São Paulo abrindo a porta de onde hoje chamamos de casa.

E a principal de todas que é sem dúvida alguma a cumplicidade, amizade, semelhança entre seus adeptos/ torcedores.

Com tudo isso aqui passamos para parabenizar os 38 anos dessa torcida que mesmo de longe está sempre perto de nossos corações.

Vocês tem no Brasil amigos, irmãos que sempre poderão contar.

Felicidades sempre.

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Dragões da Real, São Paulo
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ANATORG

Brazil

Torcida Verde, mas também podemos cha ma-la de torcida do povo do clube, dizemos isso por conhecer e reconhecer a luta dessa grande Torcida pelo fortalecimento da cultura torcedora quer seja na Europa quer seja no continente latino americano, a Torcida Verde é exemplo de amor ao futebol e a arquiban cada, exemplo que é seguido inclusive pelos adversários, pois reconhecem o quanto é im portante as ações dessa grande Torcida.

A ANATORG - Associação Nacional das Torcidas Organizadas do Brasil teve o privilégio de ser convidada por essa grande Torcida pra dialog ar sobre ações mundiais que pudesse trazer reflexão aos torcedores acerca do processo de elitização no futebol mundial, esse diálogo foi essencial pra que desencadeasse várias outras ações no que diz respeito ao combate do futebol moderno, ao racismo, a homofobia e ao crescimento do fascismo no mundo.

Só podemos agradecer e aplaudir de pé o quanto a Torcida Verde é importante não só para o seu próprio time, não só pra nação por

tuguesa, mas também pra toda humanidade pois suas lutas são verdadeiras e humanas através do futebol.

Alex Minduín - Ex-Presidente da Anatorg (As sociação Nacional das Torcidas Organizadas do Brasil)

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TORCIDA VERDE 1984 - SEMPER FIDELIS
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Kai Mohr

Warum ich Sporting mag?

1992 kamen wir mit Werder Bremen um in Lissabon den Europapokal zu gewinnen.Dort trafen wir Torcida Verde! Wir wurden herzlich aufgenommen und Louis zeigte uns das alte Alvalade.

Seitdem hat Sporting den Weg in mein Herz gefunden. Ich habe immer die Ergebnisse verfolgt, mich aus der Ferne über die Meisterschaften 2000 und 2002 gefreut und mitgelitten im Finale 2005.

24 Jahre nach unserem Finale würde der Drang immer größer und ich wollte endlich Sporting hautnah erleben. Ich fing an mit Sporting Portugal zu bereisen und kennen zu lernen. Auch eine schwere Erkrankung die im San Francesco Xavier Hospital endete (ich wollte Belenenses vs Sporting im schönen alten Restelo sehen) hielt mich nicht davon

ab wieder zu kommen. 2018 wollte ich unbedingt das große Derby sehen und den Traum wahr werden lassen den Marsch mit den Sportinguistas vom Alvalade zum da Luz mitmachen. Aber wie an Karten kommen?

Mein Freund Jacinto aus der Facebook Gruppe Sportinguistas Almanha“ gab mir den Tip doch mal bei Torcida Verde zu fragen. Und sofort wurde ich völlig unkompliziert von Torcida Verde eingeladen und konnte mit Ihnen zusammen den Marsch machen.

Die Freunde war groß als sich Louis auf den alten Fotos von 1992 wiedererkannte. Ich wurde sofort eingebunden und durfte mich an einer Choreo gegen die Macht des Geldes im Fußball beteiligen.

Auf einer Zaunfahne von Torcida steht:“No customer“. Genau das trifft es! Wir Fans sind Teil des Vereins und keine Kunden! In Zeiten

148 TORCIDA VERDE 1984 - SEMPER FIDELIS
Werder Bremen - Wanderers Ultra

wo eine Fußball Weltmeisterschaft in Katar stattfindet, immer mehr ”Reformen“ der UEFA den kleinen Vereinen Schaden und Fußball immer mehr zum TV Ereignis verkommt sind die Stunden mit Torcida Verde das einzige was meinen Glauben an den Fußball am Leben erhält.

Football Belongs to the People Eine großartige aber leider auch dringend notwendige Initiative von Torcida Verde! Sporting ein Club der reichen?

Niemals!! Wenn ich mit Torcida Verde in der Kurve stehe sehe ich all das Herzblut, die Hingabe und das soziale Engagement! Hier sind alle gleich!

Dazu die wunderbare Tradition und Geschichte!Darum liebe ich Sporting.

Kai Mohr, Bremen Deutschland

Porque gosto do Sporting?

Em 1992 viajei para Lisboa para a final da Taça das Taças do Werder Bremen com o Mónaco, que vencemos!

Nessa ocasião conhecemos a Torcida Verde, também verde e brancos como nós.

Devo sublinhar que fomos recebidos calorosamente, com a inesquecível visita ao Estádio José Alvalade. Depois fomos descobrindo outras afinidades para além das cores em comum.

Desde essa jornada, o Sporting tem estado no meu coração.

Sempre acompanhei os resultados, desfrutei das vitórias de 2000 e 2002, e de longe sofri a derrota na final da Taça UEFA de 2005.

Passados 24 anos, após a inesquecível jornada de Lisboa com o Mónaco e a Torcida Verde, senti-me impelido a viver o Sporting ao vivo.

Comecei por viajar e conhecer Portugal, acompanhando o Sporting!

Mesmo uma doença complicada que me levou ao hospital São Francisco Xavier, e me impediu de assistir ao derby no Restelo, não foi suficiente para inviabilizar o meu regresso a Portugal.

Em 2018, eu queria ver o grande derby com o eterno rival, e realizar o meu sonho de participar numa deslocação até á Luz.

Mas como arranjar bilhetes? O meu amigo Jacinto do grupo Facebook “Sportinguistas

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da Alemanha ”deu-me a dica para contactar a Torcida Verde.

Dessa forma consegui participar na deslocação sem quaisquer complicações.

Os amigos da Torcida Verde foram óptimos, e particularmente marcante foi quando alguns deles se reconheceram nas antigas fotos desse incrível ano de 1992!

Fui imediatamente envolvido, e no jogo seguinte estava no novo estádio José Alvalade participando numa coregrafia contra o futebol negócio.

Recordo especialmente a faixa da Torcida Verde “Not Costumers”.

É exactamente essa a mensagem correcta!

Nós, adeptos fazemos parte do Clube. Não somos consumidores!

Numa altura em que se realiza um campeonato do mundo no Qatar, quando cada vez mais “reformas “da UEFA atingem

os pequenos clubes e quando cada vez mais, o futebol se transforma num espectáculo televisivo, as horas passadas na Torcida Verde são a única coisa que mantém viva a minha fé no futebol.

“O futebol pertence ao Povo!”.

Uma grande iniciativa da Torcida Verde na qual o grupo ao qual pertenço participou, Wanderes Bremen (tal como dezenas de outros na Alemanha).

Essa é uma mensagem que se torna cada vez mais urgente e necessária.

“Sporting a club of the rich? Never!”

Quando estou na Curva com a Torcida Verde, vejo toda a paixão, dedicação e compromisso social! Aqui todos são iguais!

Uma luta também pela maravilhosa tradição e história do Sporting!

É por tudo isto que adoro o Sporting!

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151 TORCIDA VERDE 1984 -
FIDELIS
SEMPER

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