ShadowW#1

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ueen of hadows DIANNE SYLVAN


Papyrus Traduções de Livros Tradução: Joana Revisão: Fran Formatação: Leo

“Qui sait beaucoup ne craint rien.” “Do muito saber vem o nada a temer”


Conheça Miranda Grey - música e magia estão em seu sangue. Esmagado pela sua estranha habilidade de manipular as emoções das pessoas através da sua música, Miranda Grey chama a atenção do Mestre vampiro David Salomão. Acreditando que pode ajudar a trazê-la sob seu controle mágico, David descobre que os poderes de Miranda podem afetar o mundo dos vampiros também...


Parte

Sementes de Rom達

I


Capítulo

O

1

CARA PRÓXIMO A ELA NA FILA DA SAÍDA PARECIA TIPO como um vampiro. Miranda não olhou para as pessoas. Ela manteve seus olhos afastados, mesmo durante a negociação do caos das ruas na cidade de Austin. Ela escorregou para dentro do espaço vazio entre os corpos e passou despercebida, um bagunçado rabo de cavalo sacudindo dentro e fora de foco, um pálido, rosto com formato de coração desenhado com anos de insônia. Se alguém comentou sobre a sua presença, foi provavelmente para dizer sobre o seu cabelo; não confinado, seus cachos vermelhos escuros espalhavam atropeladamente sobre os seus ombros, um tom precioso que captava fogo nas raras ocasiões em que o raio de sol o tocava. Se eles pensavam algo sobre ela de qualquer modo, era provavelmente que o seu cabelo fosse falso. Eles certamente não iriam se lembrar dos olhos dela, pois ninguém jamais os viu. Ela era muito cuidadosa sobre eles. Uma mulher caminhando na Sixth Street carregando uma sacola de violão era dificilmente novidade em Austin, que tinha em algum momento se proclamado a “Capital da Música ao Vivo do Mundo”. Músicos aqui eram como atores em Los Angeles, abundantes e a maioria trabalhando em restaurantes.


Uma mulher em pé na fila do mini mercado com uma sacola de violão era um pouco mais interessante, principalmente porque ela deveria estar esbarrando nas pessoas, mas Miranda conhecia cada polegada de espaço ao seu redor, podia sentir cada pessoa em todos os lados, e ela sabia para não chegar tão perto. Não olhe para cima, não toque. Eles irão se arrepender. Você irá se

arrepender. Ela trocou seu peso de um pé ao outro, trocando a cesta de plástico vermelha em sua mão, olhando para baixo, como sempre, para as suas aquisições. Remédio para alergia, homus1, pão sírio, um pequeno pedaço de Cheddar cuidadosamente selecionado de uma pilha, laranjas, seis caixas de Shiner2. Ela podia ter sido qualquer uma em Austin. Havia apenas um punhado de pessoas na loja, o que era por isso que ela estava ali depois da meia-noite. A multidão no clube tinha sido densa e inquieta pelo calor, e ela queria nada mais do que arrancar para casa com seu violão saltando nas suas costas e obter o silêncio seguro do seu apertado apartamento fora de Lamar, esterilizando a noite fora do seu corpo no chuveiro, engolindo a dupla de Benadryl3 com uma Shiner, e cair em um curto mais bem vindo coma. Mas a sua geladeira estava vazia. Ela vinha comendo menos e menos, bebendo mais e mais. Suas mãos sacudiam com fome no pescoço das suas doze cordas e quase perdendo todos os outros acordes. Não que isso importava. Ela podia bater dois bastões juntos, e ainda o som iria vir. Ela torceu uma mão livre da cesta de mão e impacientemente levantou um cacho perdido de volta atrás da orelha. Ela não estava pensando sobre isso. Não agora. Se isso começasse, isso não iria parar, e ela nunca chegaria em casa. Havia apenas mais uma pessoa na frente dela na fila, e então estava a duas quadras aqui até o ponto de ônibus, dez minutos para o complexo do apartamento. Ela poderia fazer isso. Se aproximando do caixa, ela arrancou um par de barras de Snickers da exposição e as jogou na cesta. “Eu prefiro Milky Way 4 , pra mim,” veio de uma baixa voz assustadoramente perto do seu ombro esquerdo.

1

(homus- pasta de origem árabe feita com grão de bico) ( Shiner- é uma marca de cerveja americana.) 3 (Benadryl- remédio para alergia, anti-histamínico) 4 (Milky Way –barra de chocolate recheada com caramelo) 2


Miranda segurou de volta um grito e se virou, por uma vez levantando a sua cabeça e olhando. Um homem jovem tinha de alguma maneira vindo exatamente atrás dela e estava em pé apenas alguns metros de distância, a observando com uma curiosidade imparcial. Ele era estranhamente pálido em um brilho de luz fluorescente e vestia um longo casaco preto que o cobria do pescoço aos tornozelos. No Texas, em Agosto. Ela o encarou, coração batendo em seu peito com o choque de ter sido espreitada. Ninguém tinha entrado ou saído na sua presença sem que ela estivesse sentido. Ela podia sentir um pombo piscar a cinqüenta passos. Ela baseava-se nesse conhecimento mesmo enquanto ela o odiasse. Ele parecia não afetado pela reação dela e simplesmente ficou a observando; foi quando ela percebeu o quanto insanamente os olhos azuis dele eram. Eles eram escuros, quase da cor de blueberries, uma impossível tonalidade que ela jamais tinha visto antes. Eles tinham que ser lentes de contato –ninguém tinha olhos dessa cor. Se ela não tivesse ficado tão sacudida, ela deveria ter sorrido para ela mesma; ela estava pensando a mesma coisa sobre os olhos dele que a maioria das pessoas pensava sobre o seu cabelo. “Você está bem?” ele perguntou. Havia algo musical e convincente em sua voz, quase calmante, e isso continha uma desculpa por tê-la assustado. Ela queria soluçar, Não, Eu estou muito fodidamente melhor do que bem, mas tudo que saiu da sua boca foi um gemido meio estrangulado. Ela tomou um passo atrás involuntariamente, e a alça da sacola do violão começou a escorregar do seu ombro. Ela apalpou atrás disso, mas ou era pegar o instrumento ou segurar a cesta –sem competição, realmente. Ela começou a deixar as alças soltarem-e uma pálida mão, de dedos-longos falou mais alto e tomou a cesta dela suavemente, segurando-a na frente dela em uma distância cuidadosa enquanto ela se recompunha. Era uma forte mão, nitidamente cuidada, e ela não podia evitar além de comparar ela com a sua própria, constantemente trêmula com unhas mordidas até o sabugo. Sua mão direita tinha unhas descentes então ela podia tocar, mas ela mordiscou a esquerda por anos. Tremendo, ela tomou a cesta de volta e murmurou seus agradecimentos, retornando seus olhos para o chão onde eles pertenciam. O caixa estava dando a ela um olhar penetrante, e ela percebeu que ela era a próxima. Ela tropeçou para frente e içou a cesta na correia transportadora,


voltando a deslizar pelo caminho estreito sem bater o violão nos lados, simultaneamente cavando a sua carteira para fora da sua bolsa azul bordada que ela comprou em uma feira de rua voltando quando....voltando quando. Essa não era a maneira que as coisas deveriam acontecer. Ninguém era suposto notá-la. A loira parecendo entediada tocando no seu alimento não iria jamais se lembrar que ela esteve ali. A única pessoa que alguma vez prestou atenção nela eram aquelas que pagavam cinqüenta dólares de couvert artístico e ficavam adiante e atrás da sua linha de visão cada Quartas e Sextas à noite no Mel. Eles a viam, e eles escutavam. Estranhos na rua não faziam isso. Ela olhou de volta atrás dela, quase certa de que ele teria ido, mas ele ainda estava pacientemente esperando, sem mais a observar. Ela se atreveu a tomar um segundo para avaliá-lo, apenas para garantir se ele viesse atrás dela na rua. Mais alto que ela, o que não significava muito para uma mulher de um metro e sessenta e dois. Magro. Pálido. Cabelo preto que era brilhante na luz como uma pena de corvo. Sem tatuagens ou piercings visíveis. Casaco abotoado todo o seu caminho até o pescoço, quase eclesiástico. Ela podia ver botas de couro negras. Ele estava segurando um item: um litro de Ben & Jerry’s Cherry Garcia5. Algo sobre isso a atingiu como excepcionalmente estranho. Ela entregou ao caixa o seu cartão de débito e esperou, sabendo quando o tomar de volta sem olhar para cima. Duas sacolas plásticas, e ela quase disparou da loja. Ela estava transpirando balas enquanto ela subiu no ônibus, e não da sua breve corrida para pegá-lo antes que ele fosse embora. Não perca o bom senso, garota. Foco. Você está quase em casa. Ela trouxe a sua mente forçosamente para o presente, para longe da loja, e concentrada. Música. Em sua cabeça ela ensaiava sua última música de abertura, e seus dedos apertavam sua coxa levemente, imitando os acordes. Ela não estava satisfeita com a ligação. The minor fall, the major lift . . . the baffled king composing Hallelujah . . . Seus próprios pensamentos e os de Leonard Cohen 6 se misturaram juntos enquanto o ônibus saltava por toda a parte na estrada. Hallelujah….cinco minutos a mais.... hallelujah.....três mais quadras....

hallelujah... Ela recolheu as suas sacolas e seu violão e desembarcou, ignorando buzinas e gritos de insultos enquanto ela atravessava a rua contra a luz do seu prédio, chaves já na sua mão. 5 6

(Ben & Jerry’s Cherry Garcia – marca de sorvete) (Leonard Cohen- cantor, compositor, poeta, escritor canadense)


Casa era um-quarto no primeiro-andar na esquina com a piscina. Casa era pequena mas confortável, a mobília empurrada reunida pedaço por pedaço com uma gentil folga, um eclético tipo de mistura que tendia por conforto sobre unidade de estilo. Casa tinha um fantástico sistema de som que valia mais do que toda a mobília combinada. Casa não tinha plantas ou animais, nada que exigisse a sua afeição ou atenção. Ela deixou o seu violão escorregar para o chão, ao longo com a sua bolsa, e empurrou as sacolas da mercearia dentro da geladeira sem desempacotar. A única coisa que ela removeu foi a cerveja. Miranda se arremessou no sofá, o desejo de lavar o rançoso cheiro de cigarro e suor para fora do seu corpo tomou o segundo lugar ao desejo de ficar embriagada tão rápido quanto possível. O seu apartamento, construído e bloqueado para o mundo através dos anos de oração surda e desesperada, era o único lugar que ela podia pensar em silêncio, o único lugar que nada podia tocála. Por quanto mais tempo? Seus olhos, tão usados para furar o chão, levantaram para a parede, seguindo a rachadura na pintura que tinha estado ali tanto tempo quanto ela. Era confortante, aquela rachadura, sempre ali, capaz de provocar o seu olhar para cima, para relembrá-la que havia um mundo acima da sua cintura. Não que houvesse muito do outro abaixo da sua cintura. Até mesmo o seu uma vez fiel vibrador, um poderoso Hitachi que ela chamava Shaky7, estava empoeirando embaixo da cama, enquanto a vida do dia a dia encolhia e o pensamento de sempre se preocupar com orgasmos parecia ridiculamente distante. Frio. Ela estava com frio novamente. Ela alcançou lateralmente por uma colcha que estava sempre no sofá e empurrou ao seu redor. Pessoas que não comiam tinham frio. Ela deveria comer. O seu último namorado tinha sido Mike. Cinco anos atrás. Eles se conheceram na companhia de seguros onde ela era recepcionista enquanto ela fazia a sua tentativa desanimada na faculdade. A universidade a tinha engolido, sua turma de calouros maior do que a sua cidade natal, e ela tinha se perdido, um prenúncio talvez da sua vida agora. Mike tinha ajudado ela se mudar para esse apartamento e muito, e eles fizeram sexo na sala de estar antes dela comprar o sofá. Seis meses depois ele a pediu em casamento. Ela disse não. E 7

(Shaky –significa precário.)


não foi até aquele momento que ela percebeu que ela não o amava, e realmente nunca tinha. Namorados eram como Novatos-Quinze; você deveria obtê-los na faculdade. Ela ganharia os quinze, também, mas aqueles quilos estavam muito longe. Ela parecia um pouco esquelética agora, até mais do que o seu cara misterioso na merceariaEla estremeceu. Olhos azuis e uma pena de corvo. Ele não era esquelético, entretanto. Realmente muito bem construído, apenasEla bebeu o resto da cerveja sem prová-la e imediatamente abriu outra. Pelo tempo em que ela caiu de sono no sofá, ainda completamente vestida com seus sapatos, ela tinha quatro, e sua mente estava abençoadamente entorpecendo. Ela era famosa, e ela era insana. Sua voz disparava além da platéia, mantendo-os tontos e extasiados, entregando suas esperanças e medos amarrados em acordes e ritmos. Eles a chamavam de anjo, sua voz um presente. Ela era famosa, e ela era uma mentira. Eles não tinham idéia de onde o seu talento vinha –críticos e jornalistas e especialistas da indústria postularam que ela tinha uma família musical, que ela tinha começado em um coral gospel, que ela tinha aprendido sozinha a cantar. Eles eram todos estúpidos e cegos. O seu extraordinário talento, como eles chamavam, dependia deles...e isso a estava matando. Miranda esteve tocando violão por apenas seis anos, mas ela tinha conduzido isso como se ele estivesse nascido com uma em suas mãos, e isso vinha tão naturalmente como respirar. Ela aprendeu sozinha fora dos livros em uma atividade para fazer algo, qualquer coisa útil com sua vida. Um amigo de um amigo foi ferrado por seus colegas de quarto, deixando esperando um apartamento de três quartos e uma locação, então ele vendeu todos os seus pertences. Ela comprou um par de auto-falantes, e ele adicionou o violão de graça apenas para que ele não tivesse mais que olhar para isso. Em menos de um mês ela não quis olhar para isso também. Era um pedaço de merda adequado para amadores. Ela desistiu disso no Craigslist8 e gastou um salário inteiro na Strait Music9 para algo real. Quando ela disse ao vendedor quanto tempo ela esteve tocando, ele piscou para ela como se ela estivesse 8 9

(Craiglist – é um caderno de classificados, onde se compra e vende tudo) (Strait Music – loja de instrumentos musicais em Austin-Texas)


falando Persa. Ela pegou uma Martin10 de cinco mil dólares e mostrou a ele que ela era muito, muito séria. Então, enquanto ele estava tocando a compra dela (consideravelmente menos caro), por curiosidade ela se sentou ao piano. “Você tem certeza que nunca tocou antes?” o vendedor continuou perguntando. Oh, ela não tinha sido uma conhecedora de arte instantânea, mas ela fez o seu caminho pela partitura exposta vagarosamente, com apenas alguns poucos erros. As anotações misteriosas na página faziam sentido para ela de uma maneira que nada mais tinha feito. Na segunda vez entretanto ela tocou perfeitamente. Agora ela tinha um teclado digital bastante sofisticado; o seu apartamento era muito pequeno para um piano. Ela se sentou uma noite com o YouTube e se embebedou de apresentações de vídeos, olhando as mãos nas teclas, e depois disso foi fácil. Tudo isso deveria tê-la assustado, mas logo ela tinha muito mais preocupações urgentes. Uma noite, de volta quando ela ainda estava com Mike e tinha uma vida social, ela estava sentada do lado de fora da Austin Java11 praticando tocar e cantar na mesma hora. Ela estava triste –ela passou muito tempo triste, mas ela não conseguia se lembrar agora o que essa particular tristeza a tinha assombrado aquela noite –e ela cantou calmamente, não querendo perturbar os outros fregueses. O lugar estava lotado com estudantes debruçados sobre seus livros didáticos. Em um ponto ela parou e olhou para cima. Cada pessoa estava chorando. Um pouco assustador mas fascinante, ela repetiu a situação em outra noite, em outro lugar, com uma música diferente, com o mesmo efeito. Qualquer que fosse a emoção que ela quisesse intimar, tudo o que ela tinha que fazer era colocar na música, e todos ao seu redor sentiam. Ela podia levar uma música animada e usar isso para fazer as pessoas chorarem, ou ter todos dançando uma jiga12 através da porcaria mais emocional que ela pudesse pensar. Não levou muito tempo para descobrir que existia mais nisso do que só isso. Se ela se concentrasse, estendesse em direção as pessoas ao seu redor, ela podia sentir sugestões do que eles estavam sentindo. Ela podia tomá-las, e 10

(Martin – melhor marca de violão do mercado) (Austin Java – rede de cafeteria) 12 (jiga- antiga dança popular, muito animada) 11


amplificá-las, ou mudá-las. Uma vez que ela soubesse o que eles estavam sentindo, era muito mais fácil influenciá-los. No início isso era fantástico. Ela tocava nas ruas por gorjetas, e seu copo transbordou com notas de dólares. Então um cara que era dono de um bar na cidade, Mel, ofereceu a ela um show pago nas Quartas. A multidão tinha sido minúscula no começo, mas depois que todos saíram altos como pipas com a felicidade que ela bombeou neles, eles voltaram, e eles trouxeram amigos. Logo ela estava vendo o seu nome na Austin Chronicle13, e Mel recomendou que ela tivesse um empresário. E se ela tivesse suas dúvidas, se ela se perguntasse o quanto ético deveria ser em manipular as emoções das pessoas tão deliberadamente com esse pequeno engraçado talento dela, ela rapidamente se esqueceu dessas dúvidas com o ofuscamento das luzes do palco e da adoração da multidão. Lentamente, enquanto os meses passavam, ela notou que o seu controle estava escorregando. Mais e mais as emoções pareciam voar através da sua cabeça quer ela quisesse isso ou não. Ela continuava captando os sentimentos das pessoas ao acaso, e algumas vezes elas eram tão horríveis que a deixavam aos prantos –desesperada, com medo, com ódio, violência, raiva, todos arrancando através dela quando ela menos esperava. Ela começou a saber coisas sobre as pessoas que ela não queria saber, e ela não podia parar isso. Era pior quando ela olhava as pessoas nos olhos. Pessoas seguravam todos os seus segredos em seus olhos. Elas podiam sorrir e gargalhar como se elas não dessem a mínima para o mundo, mas uma olhada em seus olhos e ela sabia....ela sabia. Ela podia sentir suas culpas, suas saudades, suas perdas –se emoções estavam mais claras do que a linguagem se você soubesse como escutar. O peso das suas memórias afetivas abatiam nela própria. Ela sabia que o padre na esquina tinha fodido com o sobrinho dele. Ela sabia que o mendigo no ônibus era um veterano do Vietnam que salvou dez homens e teve a sua perna explodida para o seu desgosto. Ela sabia que a gata moça louca a três portas abaixo ainda falava com a foto do seu marido morto como se ele estivesse ali. Ela sabia que o integrante da gangue passando por ela na rua tinha pesadelos sobre sua infância de cão. Todos esses segredos estavam na sua cabeça. Emoções, e memórias ligadas a emoções, preenchiam todo o espaço dentro dela. Se ela tocasse alguém, ela

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(Austin Chronicle- é um jornal dedicado à música e aos músicos)


aprenderia mais do que se eles tivessem palmas suadas. Ela aprendeu as mais profundas escuridões dentro deles, e isso a fez gritar e se esconder. A única hora que ela podia controlar isso era quando ela tocava. Então ela podia moderar o vôo de emoções e trabalhar com elas. Por outro lado era apenas ela e a insidiosa loucura que estava a comendo viva. O único privilégio, ela imaginou, era que ficando completamente insano pagava bem. Ela tinha suas duas noites da semana no Mel, e uma Segunda a noite em um café local, e entre eles os shows a compensavam o suficiente para viver, especialmente desde que ela estava dificilmente comendo e não tinha vida social. Ela seria capaz de fechar o círculo sem fim de depósitos de trabalhos administrativos em salas sem janelas –sem mais meia-calça, sem mais cheiro de café queimado e papeis cortados. Havia um tempo quando a perspectiva de viver no mundo das nove às cinco a tinha excitado. O problema com sentir as emoções de todos era que não havia mais nenhum espaço para ela própria. Enquanto a habilidade tinha ficado mais forte, ela se tornou menos e menos de uma presença na sua própria mente, incapaz de separar-se completamente das outras pessoas sem deixar ela mesmo inconsciente. Ela se sentia como um reservatório estreito de doces mais nada, funcionando completamente com as rachaduras e pronto para estilhaçar a qualquer segundo. Em noites como hoje, quando a lua estava pesada e cheia e toda a Austin parecia pronta para entrar em colapso embaixo do peso dos cem graus do ar de verão, enquanto ela estava nos bastidores esperando pela sua deixa, ela sabia que a hora estava vindo mais perto e mais perto. Ela dobrou os seus braços ao redor do seu corpo apertado. Frio. Sempre frio. Suas roupas de palco, pretas e apertadas e feitas com brilho óbvio e lycra, estavam começando a afrouxar – se ela não começasse a comer ela iria parecer como um saco de galhos. Ela sempre teve orgulho do seu corpo; ela não era uma supermodelo por várias razões, mas tinha um vulto curvilíneo que preenchia um decote em V perfeitamente e os quadris que balançavam quando ela andava. Homens nunca foram um problema, de volta quando eles importavam. Mesmo quando ela foi um pouco gordinha na faculdade ela estava viva e popular, conhecida por sua sagacidade afiada e maravilhosos seios. Agora ela estava começando a parecer como se ela perambulasse no elenco da Lista de Schindler14. 14

(Lista de Shindler- um filme de Steven Spielberg baseado no holocausto)


Mel a apresentou, e embora ela não pudesse ver a multidão ela podia sentilos. Amontoado com a capacidade, o bar segurava algo como oitenta pessoas, e essa era a maior multidão que ela podia segurar de uma vez. Algo mais que isso e as emoções eram simplesmente demais, e ela caía gritando no chão com seus punhos encravados inutilmente em seus ouvidos. Ela era uma talentosa musicista mas não muito de uma artista. Ela não fazia brincadeiras com a platéia, não se exibia ou tentava parecer sexy. Ela realmente não precisava. Quando ela andava no palco, as pessoas a encaravam –ela podia sentir seus olhos na sua pele como um brilho de suor –mas assim que ela começasse a primeira música, ela os captava, e qualquer dúvidas que eles tivessem eram dissolvidas em partículas de poeira. Ela odiava o quanto fácil isso era. Ela odiava que ela deixasse isso acontecer. Ela apenas queria ir para casa. Mas não havia nada mais, não mais. Ela não podia voltar a um emprego normal, não assim. Não havia nenhum lugar que ela pudesse ir se ela não pagasse o aluguel, exceto voltar para a casa do pai ou talvez para a sua irmã em Dallas, e a loucura parecia um pequeno preço a se pagar para evitar ambos os lugares. Qualquer esperança de uma vida real com amigos e aspirações além de fazer isso através de um outro show desapareceu há muito tempo da sua visão do mundo. Havia apenas essa multidão, essa música, essa sala completa de cólera opressiva e emoções opressivas. Ela tinha que ser cuidadosa ou ela estaria deprimindo tanto a apresentação que eles não voltariam. Ela deliberadamente trocou de humor para a próxima música, escolhendo uma resguarda de uma antiga chorosa Sheryl Crow15 que sua voz podia atenuar e levantar; logo, a multidão estava remexendo, e em um momento eles estariam dançando, sorrindo. Felizes. Era um pequeno conforto saber que ao menos essa noite os seus problemas iriam ser esquecidos e eles iriam para casa dos seus familiares e viveriam em um ótimo humor, prontos para tomar o mundo. Ela não queria machucar ninguém. Ela nunca quis. Difícil se concentrar hoje à noite. Ela manteve o tom leve e delicado, alimentando a energia da multidão para atiçar isso sem fazer isso queimar muito quente; ela cometeu esse erro uma vez e a felicidade transbordou para a agitação

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( Sheryl Crow- cantora e compositora americana)


e então para a raiva. Brigas de bar não eram boas para os negócios, Mel disse com uma carranca depois que a polícia partiu. Ela deveria se lembrar disso. Depois da metade do jogo, ela conseguiu obter bastante controle de volta que ela podia selecionar energias individuais na multidão, e ela não sabia se estava agradecida ou mortificada – ela reconheceu ao menos uma. Porra, porra, porra. Kat estava ali. Miranda tinha se esquecido sobre ela. Ela mudou seu foco, se puxando de volta de Kat para evitar manipular com suas emoções, e deslizou isso ao redor da sala, lendo qualquer outra pessoa, pegando uma idéia de como a noite estava indo. Até agora, tudo bem. Eles estavam otimistas porque ela os fez desse jeito... ...exceto por um. Ela tentou se aperfeiçoar nessa presença individual, mas não podia; cada vez que ela chegava mais perto parecia como se a sua atenção escorregasse em um remendo de gelo e deslizasse para fora dele –ou dela –ou algo mais. Fazendo uma careta, ela manteve tocando, tentando ignorar isso, mas sua mente continuava voltando para aquele ponto, uma cicatriz que ela não podia parar de esburacar. Tudo que ela podia dizer com certeza era que o quer que fosse isso, eles eram...escuros. Não depressivos, não furiosos, mas escuros, com um assustador potencial para violência. E sejam quem fossem eles, eles estavam olhando direto para ela. Ela não olhou. Ela estava com medo de olhar. Ela arrastou sua atenção para longe e finalizou a apresentação. Na hora que ela veio para fora do palco para outra aclamação de pé, a presença tinha ido, e ela sentiu como se ela pudesse soltar um fôlego que ela não estava segurando. Ela deixou o palco com o seu violão em suas mãos e claudicou para baixo na escada com suas botas plataformas, se direcionando para o espaço minúsculo atrás do palco que servia como um camarim. Kat estava ali, esperando por ela. “Hey,” ela disse, sorrindo. “Isso foi incrível.” “Hey.” Era um esforço falar, mas ela fez o seu melhor. Kat não a tinha visto em semanas e era a coisa mais perto de um amigo que Miranda ainda tinha depois de gradualmente se cortar do seu uma vez-amplo circulo social. Elas continuavam se falando via e-mail – e-mail era seguro. Era muito difícil sentir as emoções por e-mail...mas não impossíveis.


Kat se inclinou para trás contra a mesa onde Miranda fez sua maquiagem, parecendo muitos centímetros uma Austinite 16 em seus jeans desbotados, sandálias, e estampa indiana presa no seu top frente única. Ela preenchia a imagem de uma musicista muito melhor do que Miranda fazia; ela tinha tatuagens em seus braços, um brinco no seu nariz, e faixas roxas em seus dreadlocks loiros. Kat fazia yoga e comia coisas como bardana17 e grama de trigo. Ela era também umas das pessoas mais bem-ajustadas que Miranda alguma vez conheceu. Como elas ficaram amigas era um completo mistério para ela. “Você parece um lixo, entretanto,” Kat estava dizendo enquanto Miranda deitava o seu violão na sacola e estalava fechando-a, então virou a sua atenção para as suas roupas. Ela puxou a cortina de lado a lado da entrada do “camarim” e se inclinou para abrir suas botas. “Eu pareço?” Miranda perguntou distraidamente. A faixa de borracha de pressão estava começando a apertar em volta da sua cabeça. Ela tinha exagerado isso está noite. “Quando foi a última vez que você comeu? Nós deveríamos fazer um lanchinho ou algo assim. Panquecas?” As mãos de Miranda tremeram. Um restaurante cheio de gente...Deus, não havia como. “Eu não posso,” ela disse. “Eu tenho que estar em algum lugar.” “Vamos, Mira, eu não tenho visto você nunca. O que está acontecendo com você? Você nunca mais saiu, exceto pra cá. Você parece como um paciente com câncer. Você está esquelética.” Kat dobrou seus braços. “São as drogas?” Essa era a Kat, sempre ao ponto. Miranda perdeu o seu humor brusco e seus olhos afiados. Abaixo do seu exterior hippie Kat era resistente como pregos, gastando seus dias trabalhando com crianças do East Side, orientando e aconselhando e tentando mantê-las fora das gangues. “Não, Kat, não são as drogas,” ela respondeu, descascando a lycra do seu corpo e substituindo ela por jeans. Deus, se apenas fossem as drogas! “Eu estou bem. Realmente.” “Nós todos sentimos a sua falta, você sabe.” “Eu sei. Eu sinto falta de vocês, também.” Miranda reprimiu as lágrimas que ameaçaram com as palavras. Ela nunca se deixou pensar sobre onde mais ela podia estar agora mesmo, a vida que ela 16 17

(Austinite- uma mulher que nasceu em Austin-Texas) (bardana- planta originária da Europa e Ásia que pode ser utilizada na culinária)


poderia estar tendo. Ela estava com vinte e sete e sentia como se ela estivesse com noventa. Ela podia estar alinhando a sua carreira e procurando pelo Sr. Certo. Kat estava com a sua idade –elas se conheceram em uma aula de psicologia –e tinha tudo o que Miranda desejava que ela pudesse, exceto pelo Sr. Certo, mas apenas porque Kat favorecia o Sr.Certo Desse Minuto. Por apenas um segundo Miranda pensou em contar a ela. Tudo. Kat tinha recursos, e ela era difícil de chocar. Ela poderia ser capaz de ajudar. “Vamos, Mira...fale comigo. Eu posso ajudar.” Miranda arrancou, encolhendo de volta a mão da sua simpática amiga. Kat tinha vindo com esse pensamento, eu Miranda tinha empurrado isso para ela? O pensamento de fazer com Kat o que ela fazia na apresentação a fez sentir doente. Ela empurrou uma T-shirt sobre sua cabeça e puxou o cabelo para trás em um rabo de cavalo. “Eu estou bem, Kat. Eu estou. Eu vou te mandar um e-mail – nós vamos almoçar na semana que vem ou algo. Eu apenas....eu tenho que ir agora.” Com isso ela agarrou seu violão e sua bolsa e quase correu para fora da porta dos fundos, sem olhar para o rosto perturbado da sua amiga, porém sabendo o que ela estava pensando. O desejo de Kat em ajudar era sincero, acima e além de qualquer influência musical, mas o que ela realmente faria? Mesmo se Kat acreditasse nela, quem mais iria? Quem no mundo iria entender o que estava acontecendo sem pensar que ela fosse maluca?

Você é maluca. Eles não estão errados. Eles iriam entregá-la. Eles iriam trancá-la distante apenas como a sua mãe, e cutucá-la e drogá-la até que ela estivesse babando massivamente com músculos e cérebros atrofiados. Não. Nunca. Ela morreria primeiro.

Provavelmente. A preocupação de Kat ficou com ela, massageando ao redor das bordas da sua mente, enquanto ela corria ao longo das quatro quadras do clube ao ponto de ônibus. Era quase uma da manhã, e para uma Sexta a noite a cidade de Austin estava anormalmente quieta; ela não percebeu o porque até ela ouvir um estrondo de trovão que sacudiu ela mesma o bastante para olhar para cima para as ondulantes nuvens escuras que tinham apagado a lua. “Fantástico,” ela murmurou, e aumentou o passo. Suas chaves e algumas moedas perdidas tintilavam na sua bolsa e sua sacola de violão colidia no seu bumbum enquanto ela trotava ao longo da calçada. Algumas pessoas se


moveram para fora do seu caminho, evitando uma colisão com o instrumento por centímetros. As primeiras poucas gordas gotas de chuva deixaram círculos escuros na ainda-quente calçada, e ela as sentiu no seu cabelo. A pressão na atmosfera ecoou a pressão construindo em sua mente. Ela tinha que correr, tinha que chegar em casa antes que cada coração em Austin sangrasse no dela e ela se perderia em suas dores e pequenas queixas. Se apenas as emoções positivas fossem tão fortes quanto as negativas. Elas eram, do seu jeito, mas elas eram tão silenciosas que as coisas más as afogavam. Algumas vezes ela sentia amor, algumas vezes ela sentia alegria, mas elas eram afundadas pelo medo e raiva circulantes de todo o mundo ao redor delas. As poucas sobras de beleza que ela escavava do monte de esterco tinham sido suficientes para mantê-la indo – o potencial nas pessoas para o bem era o que ela extraía quando ela tocava – mas enquanto a hora passava, aquelas pequenas, doces vozes eram perdidas, e o pranto do mundo era tudo o que ela conhecia. Esse era o começo. Outro dia no paraíso. Isso não era uma música? Ela começou a sussurrar, tentando desesperadamente sem concentrar em algo, qualquer coisa a mais: Hallelujah....Leonard Cohen a entendia essa noite. Seus próprios pensamentos já tinham começado a submergir sob as emoções do resto da cidade. Alguém

estava batendo em uma criança hoje a noite...alguém queria um bife para o jantar e teve bolo de carne...alguém estava fingindo...alguém tinha “Angel of the Morning”18 preso na sua cabeça....alguém odiava a sua mãe...alguém estava indo pagar...alguém gostava de ficar amarrada...alguém esqueceu de programar o DVR para gravar Ghost Whisperer19...alguém-alguém a estava seguindo. Escuridão. Ela podia sentir a escuridão. A mesma no clube? Provavelmente. Uma mulher sã correria, mas ela estava tão cansada...tão cansada. Suas pernas de repente sentiam-se como chumbo. Era como se ela pudesse ver a si mesma à distância, e ver o que estava indo acontecer, e não havia nada que ela pudesse fazer além de sair do caminho do seu destino.

Hallelujah....hallelujah... Havia quatro deles. Um seguindo ela do clube, os outros emergiram do beco. Suas mentes eram como oleosas cobras negras, deslizando em direção a ela com o brilho opaco de raiva e desejos reprimidos. Um deles gostava do seu 18 19

(Angel of the morning – música de Juice Newton) (Ghost Whisperer- série de tv Americana veiculada no canal Sony)


cabelo, o outro estava pensando sobre os seus seios. O terceiro imaginou se ela tinha dinheiro na bolsa. A mão que se prendeu no seu ombro era grossa e carnuda, e a puxou para trás para fora dos seus pés. Ela gritou, mas o som foi abafado enquanto a segunda mão bateu sobre a sua boca, e ela foi arrastada de volta contra uma suada T-shirt com uma batida de coração batendo embaixo. Nenhum deles falou até eles a arrastarem para fora da rua, para dentro do beco. Ela observava a escuridão do beco se aproximar dela e ouviu o som da sacola do seu violão raspando contra o chão. Um dos homens já tinha a sua bolsa e estava vasculhando isso enquanto o outro que a arrastava a arremessou no chão. Ela não estava com medo. Medo era para os que desconheciam. Ela sabia exatamente o que estava acontecendo.

Hallelujah....hallelujah... Os desconcertou que ela não lutou, mas eles bateram nela do mesmo jeito, um afiado chute em seu estômago fez com que seu corpo involuntariamente se curvasse para proteger seu próprio abdômen. Outro chute no seu rim, e ela chorou alto pela dor. Um dos homens caiu em seus joelhos e a bateu no rosto, assobiando para ela para manter silêncio ou ela estava morta. Ela viu o piscar de uma faca, sentiu a lâmina segurar em sua garganta. Não grite, não se mexa.

Faça o que a gente disser e você ficará viva. Ela sabia melhor. Eles a empurraram sobre suas costas, e ela olhou para cima para as nuvens de tempestade que ela mal podia ver entre os prédios. Era uma chuva forte, mas nem ela ou seus atacantes notaram a chuva. A noite estava quente e úmida, mas ela sentiu frio quando suas roupas foram rasgadas de lado –frio, sempre frio.

Essa é a maneira que o mundo termina...não com um estrondo mas com um gemido. Zíperes, Gargalhadas. Mãos afastando suas pernas. Lágrimas preencheram seus olhos e transbordaram, mas ela estava ainda, apenas olhando em branco com olhos mortos para cima passando pelo ombro do primeiro homem que se forçou para dentro do corpo dela. A dor estava uma centena de milhas distante, assim eram suas vozes. Tudo que ela podia sentir era frio, e tudo que ela ouviu foi música, filas intermináveis de melodia enchendo a sua cabeça até que o mundo ficou escuro no passado.


Primeiro foi o cheiro.Lixo, escape de motor. O doentio cheiro de mofo de sexo e um tom de sangue. Então vieram as sensações, uma por uma: primeiro dor em suas mãos, então nas costelas, então afiada e quente entre suas pernas. Seu rosto sentia-se enorme, sua língua inchada na sua boca. Sons. Homens falando. As vozes eram familiares e mandaram uma faca de medo através da sua barriga. Alguém cutucou as suas costas com o pé, mas ela não se moveu, não denunciou sua consciência. Ela sabia que se eles vissem que ela estava acordada, eles iriam matá-la. Porque eles já não tinham, ela não sabia. Ela ouviu um grunhido e sentiu algo quente e molhado bater no lado do seu rosto. Oh. Isso era porque. Outro zíper, esse sendo levantado, e uma risada alta. Ele tinha acabado. Isso não estava acabado. Ela estava ainda viva e eles não estavam partindo.

Oh Deus. Oh Deus. O entorpecimento que a tinha ultrapassado antes, não mais a protegia do horror do que estava acontecendo –medo rastejava sobre todo o seu corpo e ela lutou com o pânico que precisava fugir. Ela não faria isso em dois passos, assumindo que ela pudesse sequer ficar sob seus pés. A dor a disse completamente bem que ela deveria ser capaz de rastejar, mas era isso. Movimentação, e alguém a apreendeu pelos seus cabelos e a puxou para cima, expondo a sua garganta. Ela não podia parar o grito da erupção. “Bem, olhe isso,” o homem com a faca contra a sua jugular disse, o seu fétido fôlego contra o rosto dela. “A linda coisinha está acordada.” Ele acariciou a lâmina ao logo da sua linha da mandíbula. “Você sabe, baby, você tem apenas a mais doce bucetinha que eu alguma vez fodi. Não tem, rapazes?” Grunhidos e acordos de todos os lados. Ela queria desesperadamente lutar, trazer o seu joelho para a virilha dele, fazer algo; mas era muito tarde. Ela estava muito machucada, muito fraca. A hora de lutar tinha passado. Ela deixou isso passar. Ela tinha desistido da sua vida ao invés de tentar sobreviver, e isso era o fim.

O fim. Por favor, deixe que isso seja o fim. Deixe eles apenas me matar...ao menos então isso se silenciará...por favor. Ele estava gargalhando, e retirou a faca. Ela podia sentir os seus quadris contra os dela, e para o seu nojo, ele tinha uma ereção novamente. “Talvez nós não terminamos ainda,” ele disse. “Eu acho que eu tenho uma sobra em mim.”


“Gordon, vamos fazer com ela e dar o fora daqui,” outro de um dos homens disse ansiosamente. “Alguém pode aparecer.” “Continue assistindo,” Gordon estalou. Sua mão livre tateou os seus seios embaixo da sua camisa despedaçada, então caíram para baixo para desfazer as suas calças. Ele não estava coordenado o suficiente para a operação, entretanto, e teve que perder o seu aperto em volta do pescoço dela para forçar suas costas no chão. Por apenas um segundo, ele abaixou a faca. Algum instinto que ela nunca tinha sentido antes surgiu através do seu corpo golpeado. Raiva, quente-vermelha e presa, a ferveram do interior e seguraram a oportunidade que o acaso havia concedido. Um som que ela nunca soube que poderia fazer rasgou da sua garganta –meio grito, meio rosnado. Ela se arremessou para trás para o homem e o bateu para fora de equilíbrio, então torceu seu corpo em direção a ele, arranhando o seu rosto. Ela sentiu algo mole embaixo do seu polegar e empurrou as suas unhas nisso, provocando um grito de Gordon enquanto ele a combatia. Ela caiu de lado, estendendo a mão para agarrar a faca tolamente pela lâmina; isso cortou a sua palma, mas ela ganhou liberdade, rolando para cima com seus joelhos em tempo de ver Gordon gritar novamente, suas mãos cobrindo seus olhos, sangue jorrando de trás dos seus dedos. Ela tinha a bola dos olhos dele sobre suas unhas. O outro homem, em pânico, começou a ir em direção a ela, mas a visão dela coberta de sangue, meio nua, empunhando a faca para eles enquanto o seu líder esfregava o seu olho perfurado, deu a eles uma pausa. “Mate a fodida piranha!” Gordon gritou “Matem ela!” Outras armas apareceram. Mais facas, mas nenhuma arma de fogo. Bandidos de pequeno-tempo costumam dominar seus poderes sobre mulheres vulneráveis. Eles achavam uma perfeita vítima no ser – pequeno, frágil, sozinha e fraca. Ela não tinha sequer lutado. Eles tinham estuprado mulheres como um time por anos, deixando corpos aqui e ali em Contêineres e latas de lixo. Ninguém tinha jamais os reportado a polícia –porque eles escolhiam mulheres que ninguém sentiria falta, que pudessem ser usadas, mortas e jogadas fora. Como ela. Ela podia sentir o que eles estavam sentindo –Medo. Raiva. Ódio. Mas a maioria medo. Eles não sabiam o que fazer, mas não havia maneira que ela pudesse lutar com todos eles, mesmo se ela não estivesse ferida e encurralada. Eles riam matá-la.


Quando eles vieram em direção a ela, todos eles atacaram de uma vez, ela andou para trás, e todo o seu ser gritou, “NÃO!” A força de suas emoções voaram para fora, batendo neles todos como marretas e como se um deles fosse derrubado para trás por isso, facas deslizando pelo concreto. Ela atacou de novo e de novo, batendo neles com a sua agonia da maneira que eles tinham feito com seus punhos, os violando com a sua violação. Eles estavam gritando, contorcendo-se. Ela não parou. Ela se levantou sobre eles na agora-derramada chuva, sangue escorrendo pelas suas coxas, suas mãos em punhos nos seus lados, e aterrando suas emoções dentro deles como apagando um cigarro no braço de alguém. Ela fez eles sentirem o medo e a dor de cada mulher que eles estupraram e mataram, imaginando os seus últimos pensamentos. As mulheres tinham mães, filhas, namorados esperando em casa que não poderiam jamais vê-las novamente. Elas tinham esperanças e medos e possibilidades que Miranda nunca tinha tido. Ela olhou para baixo para ele, e ele se encolheu diante dos seus olhos, olhos que ninguém tinha visto em meses. Ele tinha uma esposa, filhos. Por favor. Ele a oferecia qualquer coisa que ela quisesse se ela apenas o deixasse ir. Ela encarou, sentindo nada. “Não.” Ela não sabe como ela sabia, mas ela sabia o que fazer. A mente estava amarrada com o corpo, e ela imaginou atingindo dentro e rompendo as cordas como se ela estivesse rompendo o seu pescoço. Ele parou de implorar. Agora os outros começaram. Mesmo Gordon, que deitava em uma piscina de seu próprio sangue, não muito longe da sua piscina onde ele meteu o seu grosso, brusco pênis dentro do corpo dela uma vez atrás da outra, então assistiu e se masturbou enquanto os outros faziam o mesmo, implorando por misericórdia. Tinham as outras mulheres implorado? Sim, a maioria delas tinha. Elas não tinham lutado, mas elas tinham apelado para o coração que eram um pouco mais do que pedaços de madeira podre. Mulheres sempre iam para as emoções. Homens iam para punhos. Era como o mundo funcionava. Arrebentar. Arrebentar. Olhos vítreos fixaram na parede. Membros lutando para descansar. Aqueles corações de madeira que não sentiam nada, mas desprezavam aqueles que eles destruíram estremecerem em silêncio. Ela se virou para Gordon. Ela não ouviu suas palavras, estava imóvel pelo seu suplício, mesmo quando ele se arrastou aos pés dela e soluçou. Quantos outros estiveram ali?


Quantos por Gordon? Ao menos uma dúzia pelos anos; ela podia sentir isso. Uma dúzia de vozes de mulheres chorando alto para ela como se elas estivessem em pé ao seu lado. O coro da morte, sua própria voz se juntou a elas, uma vez um canto angelical mas agora um grito.

Arrebentar. Lentamente, ela se virou de volta ao redor, seus olhos caindo na única coisa que fazia qualquer sentido: seu violão. Eles o tinham deixado sem ser molestado no chão, próximo do conteúdo espalhado de sua bolsa. Telefone celular, descartado; carteira, esvaziada; garota, fodida. Ocorreu em alguma parte dela se perguntar que horas eram, quanto tempo ela ficou nesse beco esperando morrer. Ainda estava molhado, mas a chuva tinha passado. Ela estava ensopada, e o frio estava gradualmente penetrando na sua mente, seu corpo tremia tão violentamente que ela não podia ficar em seus pés. Ela caiu forte sobre seus joelhos, sentindo a dor distraidamente. Isso desvaneceu no estrondo das outras lesões. Todo o seu corpo estava em chamas, mesmo a sua pele. Seus olhos se abaixaram, como sempre, dessa vez para suas mãos. Elas estavam com sangue e imundas, suas unhas mordidas incrustadas com os restos dos olhos de Gordon e sujeira da sua fraca luta no chão. Mãos tão pequenas. Mike sempre tinha dito que ela tinha mãos adoráveis. Ele amava segurá-las, as palmas dela desapareciam na sua ampla mão. Uma vez, as suas mãos poderiam ter feito tudo. Ela se formou em psicologia por um tempo, antropologia, mesmo considerada como escola médica. Ela queria fazer a diferença. Ela podia um dia ter sido uma conselheira atribuída a uma jovem como ela. Ela estava soluçando silenciosamente, mas ela ouviu os passos e congelou. Alguém estava vindo em direção ao beco. Alguém familiar. Ela reconheceu isso imediatamente: a escuridão de mais cedo hoje a noite, uma hora que sentia como se fosse há centenas de anos atrás. Ela sabia que ele era a mesma pessoa e se perguntava como ela tinha enganado isso com o homem que agora deitava morto ao seu redor. Eles não eram nada parecidos. Medo apertou nela novamente, mas ela não podia levantar. Ela não podia se mover. Se ele tinha vindo por sua vida, ele poderia tê-la. Isso não mais importava. Uma sombra caiu sobre ela. De repente algo abraçou a sua mente, e a cacofonia de emoções e vozes que tinham se movido através dela a noite inteira cessaram, o silêncio interior era


tão completo que doía. Ela deveria ter gritado, mas sua garganta estava repleta de cacos de gelo. Ela não sabia o que fazer com o silêncio. Ela não mais entendia isso. O silêncio foi seguido por algo mais que ela não tinha sentido em meses: calor. Ela tentou recuar da mão que se fechava em forma de concha no seu queixo, mas ela não tinha força restante. Ela se lembrava –dedos finos, punhos pretos pegando uma cesta dela. Aqueles mesmos dedos gentilmente viraram a sua cabeça desse jeito e assim, olhando para ela, enquanto ela sentia aquela quente energia deslizando através dela catalogando as suas feridas, avaliando o seu desintegrado estado mental. O toque era o mais íntimo que ela teve em anos, pondo de lado o que os homens tinham feito com ela, mas isso era tão diferente, ela não poderia ter medo. Finalmente, um terceiro pulso de energia a tocou, e isso sentiu como se o seu corpo todo tivesse sido massageado e lubrificado. Dor desvaneceu, e ela entrou em colapso, flácida, para dentro de uma dobra de preto que a segurou. Ela mal podia ver, mas uma luz fraca vermelha captou seus olhos, e ela encarou para dentro disso, desejando que ela pudesse afogar o brilho dentro dela...ela ergueu uma mão e tocou a luz, sentindo algo frio e duro, como pedra. Ela ouviu ele falar, mas não com ela. “Estrela-três.” Depois de uma pausa, ele continuou. “Faith, eu preciso do seu time nessas coordenadas imediatamente.” Fracamente ela ouviu a voz de uma mulher responder, “Como você desejar, Mestre.” Então, a sua voz estava direcionada para a orelha dela: “Descanse, pequena. Você está segura agora.” Sono levantou-se sobre ela em doces ondas negras, e ela cedeu a isso com gratidão. A última coisa que ela viu foi um par de olhos azuis meia-noite.


Capítulo

A

2

SENTENÇA ERA MORTE, E ELE SABIA DISSO, MAS ELE ainda fugiu. Ás três da manhã em uma semana tempestuosa estava assustadoramente quieto, mesmo em East Austin. A batida de seus passos martelando na calçada era respondida por um estrondo distante de um trovão e o fraco piscar de um muito distante raio. Tinha chovido todo o sábado, e lá fora e na maioria da noite, transformado um quente dia de Agosto em uma sauna que levava mesmo os mais robustos forasteiros da Sixth Street para o lado de dentro. O East Side era o lado pobre da cidade, o lado minoritário, e não havia ninguém ao redor às quatro, além de putas, traficantes e vampiros infiéis fugindo da justiça. Wallace correu ao longo da Stassney, leste, passando por casas em vários estados de ruína. Ele odiava essa vizinhança e as pessoas nela. Famílias trabalhadoras viviam aqui, a maioria imigrantes mexicanos e filhos de imigrantes, mulheres gordas que vinham pela manhã rebanhando suas crianças e maridos de ressaca fora da porta para discutir em espanhol. Ele passou uma loja de esquina com uma branca-pintura rebocada do lado de fora que ostentava galinha ao carvão, e realmente o cheiro gorduroso de frango assado enchia suas narinas enquanto ele mergulhou para fora da estrada e para cima passando a vitrine.


A última vez que ele se alimentou era de uma bonitinha pequena menina de colégio na cidade na segunda sessão de verão da ACC20. Ele relembrou da maneira que ela deslizou para o chão, suas ferozes lutas cessando, enquanto as últimas poucas gotas do seu sangue viajavam para baixo na garganta dele. Ele deixou o seu corpo com o rosto para cima no meio da rua, sabendo quem iria achá-lo e o quanto furioso eles estariam. Era tipo um equivalente a atirar no dedo do governador. Finalmente ele não iria mais fugir. Dor apunhalada pelos ambos os lados e suas pernas começaram a desistir dele. Ele tropeçou em uma cerca de arame e se agarrou a isso, se segurando para cima enquanto ele ofegava. Nada disso estaria acontecendo se Auren fosse ainda o Prime. Quando Auren governou a noite sobre os Estados Unidos do Sul, não havia regras –ele podia matar quando ele sentisse prazer, quem ele sentisse prazer, como ele sentisse prazer. Auren tinha sido o melhor Rei do Prime: vicioso, apaixonado sobre as caçadas, com flagrante desprezo pela vida humana. Era perfeito, na mente de Wallace. Todos pensavam que Auren fosse invencível. Não tanto. Quinze anos atrás, uma lâmina tinha deslizado, e depois disso tudo ficou errado. Agora matar humanos era uma ofensa capital. Wallace não fazia uso de tal porcaria, e ele não estava sozinho. Havia outros que ressentiam a nova ordem, e o tempo estava rapidamente se aproximando quando o velho seria novo novamente. Ele planejou estar na cabeça do bando, reclamando o seu lugar no mundo, mas de alguma forma ele foi descoberto e seguido. Ele escutou atentamente por um momento, esperando pelos passos mas sabendo que não havia nenhum. O secreto círculo de guerreiros do Prime, a Elite, eram silenciosos caçadores com nenhum desejo salvador de dispensar a versão particular do Prime de justiça. Meio-bêbado com medo, ele olhou ao redor. Era um lugar tão bom quanto qualquer outro para morrer. Eles estariam aqui a qualquer minuto, e o seu sangue iria borrifar por todo o concreto. “Boa noite, Wallace,” veio a doentia voz familiar. Ele levantou sua cabeça, se arrastando em seus pés, e sorriu. Ele estava cercado. Metade da Corte tinha saído para o executar. Isso era tipo lisonjeiro, mas então, se você irritasse o Prime você tendia a ser lisonjeiro pela grandeza de sua própria morte. 20

(ACC- Austin Community College)


Uma mulher andou para frente: pequena, Asiática, com aquele olhar-frágil construído que era quase convincente até suas mãos se fecharem em volta da sua garganta. Ela fixou os seus olhos com formato amendoados nele, imparcial. “Noite, Faith,” ele respondeu roucamente. “Aprecio encontrar você aqui.” “Você terminou de fugir?” ela perguntou. Ela, como todo o resto da Elite, viajavam armados, mas a lâmina de aço brilhante em seu quadril ficou na bainha no momento. Se ela quisesse que ele morresse rapidamente, ela poderia ter atirado nele com um arco. Se ela quisesse ele morto já, ela poderia ter andado adiante e partido seu cabeça dos seus ombros com sua espada. Era o padrão da execução. Ela não fez nada dessas coisas. Ele ficou em pé e esperou. Pela hora Wallace percebeu o que ela estava esperando, a multidão já estava partindo, e qualquer pensamento de suborno ou clemência desvaneceu. Ele estava bem e verdadeiramente fodido. “Mestre,” Wallace disse esgotado. “Feliz que você conseguiu.” Um homem de preto emergiu da escuridão como se isso estivesse nascido com ele, e a Elite deu um passo atrás para uma distância respeitável. O nono Prime dos Estados Unidos do Sul era talvez a mais terrível criatura do mundo para se ter em pé na sua frente no momento da sua morte. Ele considerava Wallace através daqueles impossíveis olhos azuis, sua expressão fria e calculista. Ele estava como sempre vestido impecavelmente, de preto da cabeça aos pés, exceto pela pesada prata e o amuleto de rubi que pendurava no seu pescoço. Na escuridão a pedra brilhava ameaçadoramente: o Signet, o crachá do escritório do Prime. Poucos viram essa pedra em vida para testemunhar que sim, isso realmente radiava luz. Os mitos sobre os Signets, e seus portadores, vinham de centenas de anos atrás. A coisa mais assustadora disso tudo era a densa áurea de poder que agitava ao redor do Prime como uma tempestade de nuvens sobre a sua cabeça. Um vampiro com essa força poderia ocultar isso completamente quando ele quisesse, e Wallace sabia que a exposição era para o seu benefício....e isso tinha o efeito desejado. O coração de Wallace batia para o esgotamento, e ele agarrou o fio da cerca, desesperadamente procurando por um espaço, qualquer espaço. “James Theodore Wallace,”O Prime disse, sua voz baixa, apenas alta o suficiente para proceder, embora a energia física que ressaltava nas palavras


podia provavelmente ser sentida na Panhandle21. “Você está sob a ordem de execução pelo assassinato de Patrícia Kranek.” “Vamos, Mestre,” Wallace começou, tentando pensar em algo que pudesse prolongar o inevitável. “Isso foi um acidente. Você sabe como isso é –você costumava matar eles, e então quase de repente você não é mais permitido, e isso é difícil de saber quando parar. Humanos são tão frágeis.” “A lei estava estabelecida ha quinze anos atrás, Wallace,” veio a resposta. “Você sabe disso tão bem quanto qualquer vampiro nesse território. Caçar aqui você vai, se alimentar de quem você quiser você vai – mas uma vida tomada, quer deles ou nossa, exige uma vida em retorno.” “Uma fodida humana! Uma vaca! Eles não são nada para nós!” “Suficiente.” Essa única palavra mandou um medo de esfriar os ossos na coluna de Wallace, e ele se pressionou forte na cerca como se ele pudesse escorregar através disso para o outro lado. O Prime olhou por cima da sua segunda no comando e assentiu uma vez. Um perverso sorriso espalhou sobre as características de Faith, e ela extraiu sua espada e fez um gesto para os outros. Decapitação, depois...mas não até os outros terem terminado com ele...assumindo que havia deixado algo para decapitar. A multidão fervilhou passando o seu líder, o coletivo rosnado cortando os fracos protestos de Wallace. Como se eles descendessem dele, ele captou um vislumbre do Prime, que estava em pé com seus olhos fechados, sisudo, como se em dor. *** O Texas Hill Country era o último lugar que qualquer um iria sequer pensar em procurar por vampiros, e isso era presumidamente porque era o ideal. O Haven ficava aninhado em um vale coberto de carvalhos como um pássaro nas mãos de um santo, sua madeira escura e edifício de tijolos subindo três andares dos jardins circundantes, estábulos, e outras construções de fora que eram mantidas perfeitamente cuidadas por uma frota de humanos durante o dia. Eles vinham e iam sem entrar na casa, sem se importar para quem eles trabalhavam enquanto eles fossem maravilhosamente pagos. Em dois séculos

21

(Panhandle- cidade na Flórida)


desde que Haven foi construído, talvez uma dúzia de humanos tenham colocado os pés no lado de dentro; em seu mandato inteiro,não havia nenhum. Até muito recentemente. O carro deslizou em volta na rota circular, vindo a parar antes da entrada principal. Um dos da Elite pulou para fora do assento da frente e voltou para abrir a porta para ele. Enquanto ele emergia, o segundo carro, carregando Faith e sua unidade de patrulha, puxou atrás dele. Um momento mais tarde ela caiu em um passo ao lado dele para as pesadas portas de carvalho, que navegavam abertas com a sua aproximação. Os seus dois guarda-costas pessoais tomaram os tradicionais sete passos para trás enquanto eles entravam no prédio. “Relatório,” ele disse para Faith enquanto eles cruzavam pelo Grande Hall para as duas grandes escadas e seguiam para o segundo andar e sua privativa ala no Haven. “A cidade está um túmulo,” ela respondeu. “A palavra tem escapado sobre o Wallace, e o Distrito das Sombras inteiro se fechou para o medo de que haveria mais execuções. Eu tive o corpo movido para um campo onde será completamente exposto ao sol pela manhã.” “Bom.” “Eu larguei os relatórios das patrulhas semanais no seu servidor assim como as fichas de dados dos novos recrutas da Elite. Você vai também achar uma versão atualizada de um mapa mostrando as localizações dos ataques em volta do território nas últimas noventa noites.” “Incluindo o mais recente?” “Sim, Mestre.” “Bom.” Ele pensou nas imagens que a unidade de patrulha transmitiu de volta do corpo de Patrícia Kranek, seus olhos abertos e encarando a noite como se ela estivesse simplesmente observando as estrelas. Vendo a cabeça de Wallace tombando no chão não tinha sido perto o suficiente do satisfatório, especialmente sabendo que havia mais de onde ele veio, e que sem mais evidências para levar à fonte dos ataques provavelmente haveria mais mortes. A agitação na cidade não poderia ser permitida a transformar-se em uma guerra aberta integral. Isso seria inaceitável. “Mestre...sobre sua...convidada?” Ele não tinha falado até eles terem entrado na Ala Leste. A mulher estacionou curvada na entrada da ala, e ele acenou de volta para ela; cada membro da guarda da Elite que eles passaram fizeram o mesmo, e também a


solitária servente fazendo as rondas nos quartos vazios com seu espanador. Ela tinha uma aparência de olhos-largos de uma recente contratada e estava fracamente impressionada com a visão dele; ele sabia que ela diria aos seus amigos nos aposentos dos funcionários que ela tinha visto ele, em carne e osso, como isso fosse. As portas do final do corredor se abriram para a suíte. Que, também, tinha seus próprios guardas. Eles curvaram-se, e aquele da direita, Samuel, segurou a porta aberta para ele e Faith entrarem. Uma vez dentro, ele parou para remover seu casaco e pendurá-lo na porta. Era o seu segundo favorito. O seu favorito estava ensopado com muito sangue e sujeira e a única coisa a se fazer foi arremessá-lo na lareira. Sem problema. Roupas eram facilmente repostas. Uma mulher, por outro lado... Ele tomou a sua usual cadeira e acenou para Faith tomar a outra. “Agora,” ele disse, “continue.” Ela tinha manuseado se segurar no seu profissionalismo, mas agora que eles estavam sozinhos, ela sacudiu sua cabeça e largou o seu comportamento apressado. “Com todo o respeito, Mestre, você está completamente fora da sua sanidade.” “Me diga algo que eu não sei.” Ele se inclinou para trás, mãos dobradas. “Como você pode trazê-la pra cá? Ela precisa de um hospital, um médico de verdade. Ela deve ter sangramento interno e ossos quebrados.” “Duas costelas,” ele respondeu. “Sem sangramento. Ela acordou durante o período que você deu banho nela?” “Não.” Ele assentiu. Isso foi o seu próprio feito; ele manteve a mulher essencialmente em coma até que ela estivesse limpa e segura, relutante em arriscar que ela acordasse nua nas mãos de um estranho. Ele tinha instruído Faith para tomar conta dela, e ela tinha sido tão relutante, mas sem reclamar. A única coisa que ele tinha ajudado foi com o cabelo da mulher; Faith queria cortá-lo, como se isso fosse um emaranhado e endurecido de sangue e Deus soubesse o que mais, mas algo nele tinha se rebelado ao pensamento, e ele tinha trabalhado durante uma hora com uma combinação de metade de um frasco de condicionador, cautelosamente separando as longas ondas e esfregando elas para limpar. Alguns fios foram arrancados durante o ataque, mas ele salvou o resto. Ele suspeitou que a baixa opinião de Faith sobre a sua sanidade tinha formado disso.


“Venha,” ele disse, se levantando. Faith o seguiu atravessando a sala principal da suíte, para a porta contígua, o qual deitava em uma pequena cama onde a sua convidada estava atualmente dormindo. O quarto normalmente estava vazio. O seu antecessor, Auren, tinha mantido uma amante ali, como ele nunca tomou uma Rainha. Era o lugar ideal na casa para uma mulher machucada. Ele podia manter um olho nela e saber se ela estava segura. O Haven era a casa de mais de centenas de vampiros em qualquer hora do dia, e embora eles fossem todos os seus empregados e, portanto, cuidadosamente rastreados e monitorados, ele não estava para deixar a vida dela sob suas responsabilidades. Ele abriu a porta, achando exatamente o que ele esperava: escuridão. Ela tinha dormido por um dia inteiro e toda aquela noite mesmo depois que ele elevou a compulsão que a mantinha tão submersa que ela não estava sequer sonhando. Ela estava dormindo naturalmente agora. Ele estava sobre a cama. Ela parecia tão pequena com seu cabelo espalhado sobre o travesseiro. O seu rosto estava ferido, seu lábio superior cortado, mas ele imaginou que quando ela não estivesse emaciada e espancada, ou aterrorizada e desesperada como quando ele a viu pela primeira vez, ela era bonita. “Eu ainda acho que é uma má idéia.” Faith assobiou –ela era acostumada a dar o seu conselho que parecia entrar por um ouvido e sair pelo outro, embora ele sempre ouvisse. Eles conheciam um ao outro há muito tempo, ele e Faith. Ela tinha vindo aqui com ele da Califórnia quando ele tomou o Signet. Apenas ela, de toda a Elite, era íntima o suficiente dele para falar suas opiniões livremente, e fazia isso praticamente todo o dia. Ele estava agradecido por isso –era fácil para ele na sua posição acreditar que ele fosse invulnerável, irrepreensível, e isso era o que fazia com que eles fossem assassinados. Esse foi em fato o que fez o seu antecessor ser morto quinze anos atrás. “Porque você está colocando um escudo nela?” ela perguntou, fazendo careta. “Isso é o porque.” Ele largou a barreira de energia que ele esteve mantendo ao redor da mente da mulher, e ele sabia que Faith poderia sentir as conseqüências –a mulher gemeu alto, batendo suas mãos em seus ouvidos, tentando bloquear as emoções de todos no Haven...umas centenas de criaturas que as histórias eram a forragem para qualquer pesadelo. Ele restaurou o escudo.


“Merda,” Faith disse. “Uma empata?” Ele assentiu. “Uma empata de um lado materno forte, e uma telepata menor, para iniciantes. Ela recolhe pensamentos e memórias anexadas aos sentimentos. Isso está atado ao seu talento musical –ela manipula a emoção da multidão tão facilmente quanto você empurra uma espada. Logo que a música para, ela perde o controle.” “E ela usou isso para matar aqueles...homens.” “Sim.” “Eu ainda acho-” Ele manteve o limite alto da sua voz, mas apenas por pouco. “Faith, o que você acha que iria acontecer com ela se os médicos humanos colocassem suas mãos nela? Assumindo que ela sobrevivesse, ela estaria precisando de treinamento muito além do que os médicos se importassem. Ela certamente não precisa de mais homens a espetando e oficiais de polícia arrastando os detalhes para fora dela. Você sabe muito bem o que acontece com mulheres como ela.” Faith desviou o olhar. Ela sabia o que acontecia. “Golpe baixo, Mestre.” “Mas no alvo.” “Você sempre está no alvo.” Sua segunda no comando cruzou os seus braços, olhando para baixo para o mundo de problemas na cama diante deles. “Como você a achou?” “Por acaso,” ele respondeu, sorrindo um pouco com a memória. “Nós estávamos na fila da mercearia juntos.” “Encontro bonitinho,” Faith disse, sorrindo de volta para ele a despeito da situação. “Não tão bonitinho. Ela estava aterrorizada comigo, mas isso é normal. Eu vi imediatamente que ela era abençoada e rapidamente deteriorante. Ela não sabia que enquanto ela estava recebendo, ela estava também projetando. Eu vi flashes de suas memórias, incluindo o bar onde ela toca, e voltei lá noite passada...curiosidade mórbida, eu imagino. Eu planejei segui-la depois disso...” “Mas eu liguei para você,” Faith disse, realização amanhecendo no seu rosto, ao longo com culpa. “Nós precisávamos de você na cena do crime. Deus –se eu não tivesse feito isso-” “Isso é dificilmente sua culpa.” “Eu sei, mas...” Faith sacudiu sua cabeça. “Então você procurou por ela depois que nós terminamos na cena, e achou...eles.” “Sim.”


Outro sorriso, esse severo. “Quanta sorte pra ela, eu acho, que o mais poderoso vampiro do Hemisfério Ocidental tem um vício por sorvete. Um pote de Ben e Jerry salvou a vida dela.” Ele se sentou no braço da cadeira ao lado da cama. “Ela se salvou primeiro, Faith. Ela provavelmente teria morrido se eu não a estivesse encontrado, sim, mas ela foi aquela que parou aqueles bastardos. Eu estanquei o sangramento e a trouxe para cá para se curar. Ela talvez não me agradeça por isso.” Ao longo sobre a cômoda, ele viu que o time de Faith tinha entregado o violão da humana assim como os recolhidos pertences da sua bolsa. Por algum milagre, o instrumento estava intacto. “Obrigado, Faith,” ele disse. “Você pode desligar o relógio agora se não há mais pendências.” Ela não parecia feliz em partir, mas ela se curvou. “Como você desejar, Mestre. Você caçou essa noite enquanto esteve fora, ou eu devo mandar uma garrafa?” Ele pensou na mulher que ele se alimentou antes de se unir na caçada por Wallace. Ele tinha selecionado inconscientemente uma ruiva na massa fervilhante da juventude e música do centro da cidade. Ela, contudo, tinha olhos azuis. Ele sabia de um segundo vislumbre que a mulher na cama tinha claros olhos verdes na cor da luz do sol sob as folhas. Fazia mais do que três séculos que ele não tinha visto a luz do sol, mas era o tipo de coisa que a sua espécie nunca se esquecia. Faith partiu, fechando a porta silenciosamente atrás dela, deixando-o sozinho com uma jovem mulher quebrada que, ele recordou, como gostando de barras de Snickers. Era tudo que ele sabia sobre ela. Ela era extraordinariamente abençoada, completamente destreinada, e tinha uma voz cantada como o escuro mel comum toque de canela. Ela tinha olhos que nunca deixavam o chão. Ela bebia Shiner Bock. Ele não teve a chance de aprender o seu nome –era algo Grey, ele lembrou da visão do bar, mas ele tinha assumido, talvez tolamente, que ele iria falar com ela mais tarde e descobrir o resto. Não havia nada a fazer além disso. Ele não queria que ela acordasse sozinha em uma casa estranha com nenhuma idéia do que estava acontecendo ou quem tinha reivindicado ela das ruas de Austin. Ele se sentou e puxou o telefone do seu bolso para ouvir os relatórios de Faith...


Bem, talvez depois de um jogo de Tetris22. *** Tudo era diferente quando ela acordou. Ela estava quente, e confortável. Havia cheiros, mas sem sangue ou lixo; ela cheirava uma fogueira de madeira, amaciante...de amêndoas, fracamente, em alguma forma de sabonete para o corpo ou shampoo. O ar na sua pele estava limpo e também ela estava. O tecido macio a cobria, apenas o peso certo, e isso era quente...tão quente. Quente e silencioso. Ela tinha que estar mais alerta, o silêncio em sua mente deveria tê-la feito entrar em pânico. Seus pensamentos pareciam finos e filamentosos em sua cabeça, e não preenchiam o espaço. Sentia-se como estar sozinha no palco em uma sala de concerto destinada a milhares de assentos. Ela tentou se mover, mas a dor cursou através do seu corpo, um latejar maçante com uma dúzia de epicentros. Seus músculos estavam tão fracos que eles não podiam responder aos seus comandos, embora com o esforço ela pode mover sua cabeça e abrir seus olhos. Ela meio que esperava acordar no céu da tempestade-borrada de volta ao beco, sangrando à morte na sujeira, mas sua visão gradualmente se focou no que estava acima dela –um teto. Ela piscou, tentando fazer sentido nisso. Sonhando...oh, Deus, ela deveria estar sonhando. A coisa toda era um sonho. Mesmo o seu sujo apartamento tinha sido tudo uma invenção da sua imaginação; o quarto ali tinha ventilador de teto, e esse aqui não tinha. Ela estava em algum outro lugar, algum outro lugar seguro e distante do pesadelo...onde? Sua mente mal tinha tempo de registrar o imenso alívio disso tudo antes da realidade começar a instalar de volta ao seu redor, pesada como uma blindagem. O seu corpo doía. O lado esquerdo do seu torso mandava dor através dela cada vez que ela inalava. Seu rosto estava inchado, a mão que tinha sido cortada com a faca do Gordon pulsava com o seu batimento cardíaco. Alívio deu caminho ao poço escancarado de desolação.

22

(Tetris é um joguinho de celular)


Havia um som na sua direita, e ela virou sua cabeça –muito rápido, verificou-se, enquanto outra dor insuportável tomava o seu pescoço e ombros. O quarto nadou em sua visão por um momento antes dele se endireitar. Ela olhou, tudo mais momentaneamente esquecido. Ele estava sentado ao lado da sua cama em uma poltrona que parecia pelúcia, o seu corpo esbelto inconscientemente majestoso como um gato, reclinado como se a cadeira –não, o mundo –tivesse sido criado para o seu próprio uso particular. Como antes, ele se vestia todo de preto, perfeitamente costurado a mão para mostrar uma quase inumana graça. O cabelo de corvo caído em seus olhos que quase pareceu brilhar na tremulação em carrossel da lareira no final distante do quarto. Ele podia ter sido um modelo da runway23 – ou, melhor ainda, um dos maravilhosos gays praticantes de yoga que ela conheceu durante a sua breve apunhalada no desenvolvimento espiritual alguns meses antes de tudo virar um inferno. Tudo sobre ele era tão perfeito que ele realmente deveria ter algo cozinhando pela sua imaginação. Na mercearia ela tinha pensado nele, vagamente, como era bonito, mas ela estava tão focada em ir embora que a extensão da beleza dele tinha obviamente falido de ser registrada. As únicas anomalias eram os acessórios: em volta de um pulso, uma inexpressiva faixa plana de metal prata que lembrava ela daqueles braceletes que eram populares de volta no início dos anos noventa. Em volta do seu pescoço, uma pesada corrente de prata finalizando um fraco amuleto parecendo Gótico fixo com o que era senão o maior rubi que ela tinha visto ou a bugiganga mais falsa de rubi que ela já tinha visto. A pedra sozinha pegava a luz do fogo e brilhava, muito, tão fortemente que ela pensou por um momento que tinha uma lampadazinha dentro. Ele estava olhando para baixo para a tela do iPhone. De alguma forma era muito estranho para ela como se o sorvete tivesse sido há centenas de anos atrás. Ela olhou, e olhou –foi o mais longo tempo que ela tinha sido capaz de simplesmente olhar para alguém em meses. Por um momento ele a deixou encarar. Ela sabia que ele sentiu os seus olhos nele. Algo sobre ele manter provocando a volta da mente dela com o conhecimento que ela não queria. Finalmente ele levantou o seu olhar para ela. 23

(runway-revista de moda)


Sentiu como se o alicerce tivesse abandonado o seu coração enquanto ela olhava dentro dos seus olhos, vendo..e sentindo...tanto mais do que ela deveria, mas ainda muito distante do que ela tinha das pessoas da rua. Esse ...homem...tinha barreiras em volta dos seus pensamentos, e paredes de aço em volta do seu coração, e tinha desenhado um círculo de poder em volta dela que agora mantinha a sua mente silenciosa com suas próprias mãos. “Eu conheço você,” ela sussurrou. Sua voz soou como se estivesse arrastada sobre vidros quebrados. “Onde eu estou?” A voz dele era a mesma como ela se lembrava: baixa e musical, com uma cadência estrangeira mas sem sotaque obvio. “Nós chamamos isso de Haven,” ele respondeu, falando gentilmente, mantendo a paz do quarto intacta. “Era você na mercearia, e no...no beco. Quem é você?” Ele se sentou para trás, deslizando o celular dentro do bolso e dobrando suas mãos, considerando a pergunta. “Existem várias formas que eu posso te responder isso. Quanto de verdade você quer agora mesmo?” Ela começou a estalar que ela queria tudo, mas outra olhada em seu rosto a fez pensar melhor nisso. Esse homem a tinha encontrado cercada por corpos de homens que ela tinha matado, e não apenas ele não tinha chamado a polícia, ele a trouxe para algum lugar seguro e estava agora colocando um escudo em sua mente. Havia muito mais acontecendo aqui do que uma chance de encontro no beco. Ela fechou seus olhos com força. “Apenas me dê o que você acha que eu posso suportar.” “Muito bem. Meu nome é David Solomon. Isso, o Haven, é minha casa. Você foi trazida aqui porque você estava ferida, e por causa da notável forma como você derrubou aqueles homens com o seu poder, você inadvertidamente cruzou a borda entre os nossos mundos.” “Seu mundo?” “De um lado dessa extremidade, a polícia e as agências do governo aplicam as suas leis. Do outro lado, a lei é minha. Na medida em que eu me preocupo você estava na mão da justiça noite passada. A escala está balanceada.” “E você é o que, polícia sobrenatural?” Ele sorriu, e embora fosse um muito atraente sorriso, isso mandou um frio através dos seus ossos. “Eu acho que eu posso ajudar você,” ele disse depois de um momento. “Eu vi o que você era e a estrada que você estava tomando.”


Ela fechou seus olhos por um minuto, lutando com lágrimas, seus dedos apertando os lençóis brancos imaculados que a encapsulavam. Ela procurou dentro da sua mente pelo frio conforto de vozes e emoções, de algo....mas havia um branco total, um que ela não podia derrubar. “Está quieto,” ela sussurrou. “Está tão quieto. O que você fez comigo?” Ele deu de ombros fluidamente. “Eu coloquei um escudo em você. É uma barreira de energia que separa você das emoções dos outros. Se você tivesse sido corretamente treinada com seus dons, você poderia fazer o mesmo.” Ela não respondeu, mas fechou os olhos novamente, ouvindo. Suas mãos agarraram os lençóis tão forte que os seus nódulos ficaram brancos. “Qual é o seu nome?” ele perguntou. Ela não olhou para ele. “Miranda Grey.” “Um prazer te conhecer, Miranda Grey. Você está com fome?” Ela sacudiu sua cabeça. Ela vomitaria qualquer coisa que ela tentasse comer agora mesmo. Um momento mais tarde ela perguntou, “O que você vai fazer comigo? Você vai me fuder, também?” Suas sobrancelhas subiram em incredibilidade educada, e ele disse, “Certamente que não.” Agora ela deu de ombros. “Eu não acho que eu sou muito boa para nada mais.” As unhas dele se enfiaram no braço da cadeira enquanto ele disse afiadamente, “Não diga isso.” “Porque não? Você sequer me conhece. Porque você se importa?” Ele não respondeu, e ela desviou o olhar, em direção as janelas fechadas. Toda a luz do quarto vinha da lareira –em Agosto, no Texas, era tão fora do lugar quanto o casaco que ele esteve usando. Quem no inferno eram essas pessoas? Para mascarar o seu medo repentino, ela gaguejou. “O que é essa coisa ao redor do seu pescoço?” Seus dedos subiram para a pedra quase inconscientemente, e pareceu como se a luz queimasse subitamente com o toque. “O Signet,” ele respondeu. Ela esperou pela explicação, mas nenhuma estava se aproximando, então ela disse sem jeito, “Parece pesado.” Um sorriso atravessou o seu rosto que era ao mesmo tempo torto e profundo, profundamente cansado. “Ele é.” Uma respiração mais tarde o expressão dele tinha voltado ao neutro; ele sorriu novamente, e se levantou. “Há guardas do lado de fora da porta.


Ninguém vai se aproximar de você sem permissão. Eu arranjei comida para ser trazida a você pelos serventes. Se você precisar de algo, sinta-se livre para pedir a eles, e isso será providenciado. Eu devo pedir a você para não ficar bisbilhotando sozinha nesses corredores –eu não posso garantir a sua segurança do lado de fora da Ala Leste. Quando você estiver se sentindo melhor, você vai ter um tour.” “Espere...eu sou algum tipo de refém? E se eu não quiser ficar aqui?” Ele virou de volta para ela, uma mão na porta, e encontrou seus olhos. “Onde você iria?” Novamente, ela desviou o olhar, olhando para o fogo. “Nenhum lugar.” “Descanse, então, Senhorita Grey.” “Mas onde você está indo?” Ela estava de repente com medo, embora seja dele indo ou ficando, ela não podia dizer. “É o nascer do sol,” ele respondeu. “Eu vou para a cama.” Com essa, ele partiu, e ela encarou sem expressão para o fogo com o silêncio ecoando em sua mente até que o sono a puxou de volta para a sua teia e o esquecimento girando ao seu redor. ***

Gritos. Mãos tateando. Gargalhadas. Miranda lutou contra o suor, ávidas mãos que a agarravam, suas feridas rasgando e sangrando novamente, dor desesperada substituindo. Ela podia provar o sangue em sua boca e sentir isso escorrendo para baixo em suas pernas...ela estava tão fraca...mas ela não iria tomar a vida. Não dessa vez. Ela gritou novamente e redobrou seus esforços, mas isso não foi útil, eles a tinham...eles estavam arrastando ela para o lago para arremessar o seu corpo nele...ela sentiu o repugnante solavanco de voar pelo ar, e a água congelada era como milhares de facas em seus pulmões. Ela tentou gritar uma terceira vez mas não tomou um fôlego. O mundo estava desvanecendo para o preto. Nos fundos ela podia ouvir tiros, amontoados de barulhos, gritos. Música clássica. O caos de uma centena de músicas tocando no recesso do seu cérebro. Então ela ouviu um som de um metal deslizando contra algo, como uma espada sendo desenhada. Um açoitar, um baque, e sua visão preencheu com uma pulsante luz vermelha. Um ruído ao redor que a cortou abruptamente.


Ela acordou em uma piscina de luar sobre a sua cama e o gosto de sangue prolongando em sua língua. O fogo tinha morrido em cinzas, mas o quarto estava ainda perfeitamente confortável. Tomou a ela um segundo para se lembrar que era alto verão e ela realmente deveria estar morrendo de calor. Estranho – ela não tinha percebido que o quarto tinha uma janela. Virando sua cabeça para uma melhor olhada ela viu que havia algum tipo de persianas de metal do lado de fora, apenas agora inclinadas abertas então ela podia ver a lua. Para a esquerda da janela, na parede próxima da soleira, havia um fundo preto que ela assumiu que operaria as persianas. Alguém havia alguém entrado para abri-las enquanto ela estava dormindo? Mais perguntas ao longo dessas linhas começaram a ocorrer a ela. Ela estava limpa –quem a tinha banhado? Alguém a tinha enfaixado e a vestido, o que significava que alguém tinha tocado seu corpo nu, inconsciente. As maneiras que suas palmas estavam enfaixadas sugeriam que alguém sabia o que estava fazendo. Ela deveria ficar zangada com isso, ou agradecida que eles tomaram conta dela? Tinha sido David Solomon? O pensamento a fez tremer. Ele tinha clamado que não tinha intenção de atacá-la, mas porque ela deveria acreditar nele? Que tipo de louco fodido tomava uma mulher estranha que ele apenas tinha visto matar quatro pessoas?

Deus. Oh Deus. Miranda se sentou lentamente e dolorosamente colocou sua cabeça nas mãos. Aquela noite veio para ela em flashes de medo e náusea, apenas como em seu sonho, mas agora isso era pontuado com imagens de homens aos seus pés, implorando por suas vidas. A escala estava balanceada, David disse a ela. Ela acreditava nisso? Não. Ela não podia pensar sobre isso agora mesmo. Havia muito, e isso era muito duro, e ela estava muito frágil –não levaria muito para mandá-la sob a beirada aos prantos, com escudo ou sem escudo. Ao invés disso, ela se focou em seu corpo, e em movê-lo. Ela deslizou cuidadosamente sobre a beira da cama e largou primeiro um pé, então o outro, para o lado. O seu pé não tocou o chão; era uma alta cama, tamanho queen, e ela nunca tinha sido uma mulher alta. Ela estava com medo de que as suas pernas não a suportariam, mas testando com um pé ela descobriria se ela


poderia se levantar, mais ou menos, enquanto ela se segurava na cabeceira da cama. Primeiro, ela cambaleou até o ponto fora da janela, perguntando onde na Terra ela estava. Ela esperava ver prédios e ruas ocupadas, mas a visão apresentada a ela era uma com colinas, árvores intermináveis, e, próximo a ela, uma expansão de jardins contidos dentro de uma alta cerca de ferro. Do lado de fora da cerca ela podia comprovar formas prateadas de veados pastando ao longo da linha das árvores. Havia várias pequenas estruturas também, todas construídas no mesmo estilo de onde ela estava. Ela descobriu, esticando o seu pescoço para a esquerda e para a direita, que ela estava no segundo andar em uma mansão honesta-de-Deus, em algum lugar no Hill Country. Seus joelhos sentiam-se fracos com a realização que o que quer que esse lugar fosse, era definitivamente um território de ninguém-pode-ouvir-vocêgritar. Não havia qualquer ônibus correndo fora na distância. Se ela quisesse sair sem uma carona, ela teria que caminhar no calor do Texas. Sem sapatos. Ela olhou para baixo para ela mesma, percebendo o seu vestuário pela primeira vez. Eles a vestiram em uma T-shirt branca e calças pretas de algodão que eram muito longas para as suas pernas. O seu cabelo estava solto e seu pé estava descalço, sua unha do pé framboesa lascada e brilhosa brotando para fora das calças. Eles tinham jogado fora as suas roupas? Ela esperava que sim, embora ela gostasse da ‘batida’ do seu velho tênis, e ela esteve usando a sua preferida calcinha azul com estrelas por toda ela... Flashes. Mãos. Dor. “Você tem a mais doce bucetinha que eu alguma vez

fudi...” Ela balançou para trás e teve que fazer uma meia volta e agarrar a cabeceira da cama para evita desmaiar. Ela queria voltar para dormir....ela queria uma bebida....ela queria morrer. Nada fazia isso parar, para filtrar as memórias dela e a deixar em paz. Sacudindo sua cabeça forte contra os seus pensamentos, ela voltou a sua atenção de volta ao seu entorno e começou com uma lenta exploração pelo quarto. Era quase o tamanho do seu apartamento de um quarto e tinha um sentimento indefinido de um lugar que era limpo mas nunca usado. Os móveis eram caros mas não exagerados, bastante tradicionais no estilo mas não enfeitado. Cama, cadeira, sofá correspondente, lareira, cômoda de gavetas. Seu violão e bolsa foram deixados sobre o último.


Por força do hábito mais do que interessada ela abriu a sacola e checou para ver se o seu violão tinha sobrevivido. Ele tinha, sem muito além do que uma corda quebrada. Pequeno privilégio. Ela vasculhou pela sua bolsa e tirou o seu celular, o qual gentilmente ligou mesmo embora a tela estivesse rachada. Sem ligações perdidas, sem mensagens. Ela bufou baixinho. Quem mais iria sentir a sua falta? Se ela tivesse morrido naquele beco, levaria dias para que alguém notasse a sua ausência. Mel no clube provavelmente seria o primeiro, depois de ela perder a sua próxima apresentação. Os tiras iriam provavelmente identificar o seu corpo pela sua carteira de motorista e uma antiga ID estudantil, então ligariam para o seu pai, com quem ela não falava há anos. Eventualmente sua irmã, Marianne, ouviria. Iria alguém ligar para Kat? Iria Kat se culpar por não ficar com ela apesar dos seus protestos aquela noite?

Isso não importa...você está viva. De algum tipo. Nada pareceu estar sumido –eles até mesmo acharam o seu brilho labial. Era um lilás perolado. Tinha sido realmente um longo tempo desde que ela se importou sobre ter lábios brilhantes? Ela não estava certa exatamente quem eles eram, exceto que David disse nós quando falou sobre o Haven, então ficava a razão de outras pessoas morarem aqui, também. Ele era obviamente alguém importante, mas isso não fazia sentido para ela, e lá no fundo ela tinha o sentimento de que era melhor não saber. Uma porta: um pequeno armário, vazio. Outra porta: um pequeno mas bem empregado banheiro. Ela franziu o cenho. Não havia qualquer espelho sobre a pia. Alguém tinha, contudo estocado a pequena sala com novos artigos de higiene pessoal e toalhas, mesmo incluindo o pacote de faixas elásticas para o seu cabelo. Ela puxou um para fora e estendeu a mão com braços duros, doloridos para organizar a massa crespa em uma apressada trança. Ela retornou para a cômoda e olhou dentro das gavetas: havia mais peças de roupas idênticas a que ela vestia, mais algumas meias e roupas de baixo novinhas em folha e da marca e do tamanho que os seus antigos eram, mas todos em branco. Miranda ponderou em tomar um banho, mas primeiro ela tinha que terminar o seu inventário: havia mais duas portas. Aquela em que David tinha desaparecido, ela imaginou que fosse dar a um corredor, então ela começou com a outra...mas para a sua confusão, ela abriu a


porta para se achar olhando para um salão de mármore forrado com mais outras portas. A porta imediatamente à esquerda estava flanqueada com um homem e uma mulher em uniformes pretos, cada um deles usando uma espada na bainha até os joelhos, e cada um com aquelas faixas de prata nos seus pulsos esquerdos. A mulher a viu e sorriu, então verdadeiramente se curvou. “Boa noite, Senhorita. Meu nome é Helen e esse é Samuel. Eu devo pedir o seu jantar?” “Umm...não..” ela gaguejou. “Apenas olhando nas redondezas, desculpe.” “Se você precisar de algo, apenas peça a um de nós,” o guarda disse. “Nós fomos instruídos a ter cuidado com você.” “Por...por quem?” Os dois trocaram um olhar. “Pelo Prime, claro,” ela respondeu. “Oh. Okay. Obrigada.” Miranda fechou a porta. Ela não tinha absoluta idéia do que a mulher – Helen –estava falando. Quem no inferno era o Prime? Quem eram essas pessoas? E se essa porta ia para o corredor, onde a outra porta iria? Ela hesitou com sua mão na maçaneta, então abriu uns poucos centímetros, quase temendo o que ela fosse encontrar. Mais esquisitice. Atrás da porta estava simplesmente outro quarto, esse um enorme; a cama sozinha diminuía a dela, e era cercada por pesadas cortinas. O final distante do quarto estava uma sala de estar com um sofá e duas cadeiras encarando uma lareira duas vezes o tamanho daquela em seu quarto. Estantes enfileiravam as paredes, carregadas com volumes e objetos sortidos de uma variedade de países e períodos de tempo. Ela se sentiu bastante como alguém escavando relíquias do Titanic, mas aventurando-se em um quarto mesmo assim, cuidadosamente sem tocar em nada. Os livros não eram empoeirados, então talvez eles fossem rotineiramente lidos ou havia um inferno de uma arrumadeira por ali. Os suspeitos de costumes estavam presentes: Shakespeare, Milton, Thoreau, Keats; filosofia, história, mesmo física e engenharia; mas havia também ao menos duas dúzias de manuais de software abrangendo a vida inteira da tecnologia do computador, mantido em uma meticulosa ordem cronológica, o mais recente sendo um volume dedicado a algo chamado PHP. Várias armas penduradas nas paredes, todas lâminas, incluindo aquela que parecia algo como uma espada samurai e uma dupla de longas facas cruzadas uma na outra.


Ninja Programador de computador? Ela completou o circuito ao redor do quarto, terminando em uma grande mesa com um arranjo preciso de produtos eletrônicos. Phone dock24, MacBook, um conjunto de alto-falantes Bose designados para usar com um iPhone. Mouse sem fio. Dois HD externos. Havia também poucos materiais padrões de escritório, incluindo uma caneta elegante de prata que deitava em uma ranhura cortada na superfície da mesa. A caneta estava gravada, e ela se arriscou a pegar nisso para ler a inscrição: PRIME DAVID L. SOLOMON, PHD. Doutor Ninja programador de computador? “O que no inferno você está fazendo aqui?” A cabeça de Miranda parou e ela deu a volta, ou ao menos ela tentou, embora o seu corpo não obedecesse completamente e ela quase acabou caindo no chão. A voz tinha vindo da porta da frente do seu quarto, e ela se virou para ver o falante em pé com braços cruzados, olhando para ela. Era uma mulher de descendência Asiática com longos cabelos pretos em dezenas de finas tranças, seus olhos castanhos olhando como punhais para Miranda. Ela, também, vestia o uniforme preto dos guardas no corredor, mas com a adição de uma série de pequenos pinos de prata no colarinho, e várias armas extras –também lâminas. Miranda começou a gaguejar outra desculpa, mas a mulher a cortou. “Eu deveria estar fora na cidade caçando os rebeldes, mas ao invés disso eu fui mandada para checar o novo animalzinho do Prime.” Miranda sentiu uma desculpa morrer em sua língua com um piscar de irritação. “Eu não tinha levantado a minha pata sobre o móvel ainda.” Era a sua imaginação, ou a mulher tinha quase sorrido? “Você não deveria estar aqui.” “Eu sei,” Miranda disse, corando. “Eu estava olhando nas redondezas do meu quarto e achei a porta. Ela não estava trancada. Eu não percebi de quem ela era.” Ela colocou a caneta para baixo onde ela a tinha achado e atravessou o quarto, seguindo a guarda de volta para a sua própria câmera, envergonhada de ter sido pega bisbilhotando. Enquanto ela passava notou de perto, que a mulher era verdadeiramente uma cabeça menor do que ela, mas centena de vezes mais imponente, armada ou não armada.

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(Phone dock – é um adaptador que transforma o iPhone em um telefone tradicional)


Miranda voltou para o seu quarto antes que suas pernas ficassem muito fracas para permanecer em pé, e ela desmoronou em um amável assento com um silencioso gemido. Ela conduziu esquecer a dor em seus músculos e costelas por um tempo, mas agora isso estava queimando novamente, e ela se inclinou para trás para tirar a pressão de cima do seu peito, trêmula e exausta. Quando ela olhou para cima, a mulher estava a encarando como se a estivesse visto pela primeira vez. Havia algo como reconhecimento em seu rosto, e ela alcançou o seu bolso, obtendo um frasco de receita médica. “Esses são pra você,” ela disse. “Vicodin.” Miranda olhou o frasco, que tinha o seu nome em negrito em todo o rótulo, emitido por um médico que ela não reconhecia e manipulado em uma CVS25 no lado oeste de Austin. “Eu também instrui Samuel a te trazer comida,” ela continuou. “Eu sei que você provavelmente não sente fome, mas você tem que comer se você quer se curar.” Miranda não se incomodou em protestar. Ela sabia que ela não era o tipo de mulher para se argumentar. “Também, eu estou dando a você isso.” A guarda expôs uma das pulseiras que ela e os outros usavam, e a entregou a Miranda. “Isso é um dispositivo de comunicação ativado por voz. Se você achar que está precisando de ajuda, diga o número do código da pessoa que você quer falar, e isso vai conectá-la se você tem autorização de segurança suficiente.” “Como eu sei os códigos?” “Samuel é código noventa. Helen, código vinte e três.” “E você?” Ela levantou uma sobrancelha. “Estrela-três.” “Porque uma estrela?” “O Prime é a Estrela-um, e eu sou a sua segunda no comando.” “Então porque não você é Estrela-dois?” “Tradicionalmente o Prime é a primeira da cadeia, seguido pela sua Rainha, então seu segundo. Nosso Prime não tem Rainha, então Estrela-dois está vago.” “O que exatamente é um Prime?” Ela tinha o olhar de alguém tentando achar as palavras para explicar cálculos a um hamster. “O Mundo das Sombras é dividido folgadamente em 25

(CVS- nome de rede de farmácias)


vinte e sete territórios,” ela começou. “Cada território é controlado por um Prime, e idealizado por um emparelhado Prime e Rainha, que cria a lei que é executada pelos seus guerreiros –nós. Todos morando dentro desse território é requerido a seguir as leis do Prime sob pena de morte.” “Okay, dê marcha ré. Mundo das Sombras?” A mulher pareceu surpreendida. “O que?” “Eu não entendi. Eu nunca ouvi nada disso, e o seu cara Prime estava falando sobre o seu mundo como se fosse um universo inteiro separado. Vocês são todos malucos? Você realmente acha que existe algum tipo especial de lei apenas para você? Quem é ele? Quem é você? E o que porra está acontecendo nesse lugar?” Ela caiu para trás para as almofadas, drenada pelo estouro de perguntas, e encarou as guardiãs, que piscaram para ela em surpresa. Miranda esperou para ela dizer algo, sua cabeça começando a latejar – normalmente os pensamentos e sentimentos dos guardas iriam dizê-la tudo que ela quisesse saber. Esse negócio de ter que perguntar parecia estranho após meses de conhecer muito sobre qualquer um que ela encontrasse. Ela podia até mesmo olhar a mulher nos olhos, se ela quisesse, sem ser confrontada com sua inteira história de vida, o que para uma mulher usando uma espada era provavelmente uma coisa boa. “E uma última coisa,” Miranda disse antes que ela pudesse evitar, “se vocês caras são guarda-costas, porque vocês não têm armas? O que de bom uma espada vai fazer por você no século vinte e um?” Agora a mulher definitivamente sorriu. “Balas são inúteis contra nossos inimigos,” ela disse a Miranda, “mas decapitação funciona muito bem com todos.” “Então, o que, vocês são os Highlanders?” Ela tomou um longo fôlego e se sentou no final oposto do sofá. “Eu acho que talvez essa explicação vai levar um tempo.” Miranda fechou seus olhos por um momento. “Eu imaginava.” Ela gesticulou fracamente para a mulher, que estava com uma postura absolutamente perfeita, pronta para em um momento de advertência entrar em ação...qualquer que fosse o tipo de ação aqui em Mundo Bizarro. “Porque nós não começamos com seu nome.” “Tudo bem. Meu nome é Faith.” “Prazer em te conhecer, Faith. Miranda. Agora, me diga quem são vocês.”


Ela tentou não deixar a declaração sair como um comando, mas as sobrancelhas de Faith curvaram de qualquer maneira. “É complicado. Você deve não acreditar.” “Então mantenha isso simples, por agora. Dez palavras ou menos.” “Eu darei isso pra você em três.” “Vá em frente.” Faith sorriu, e todo o universo, já perigosamente perto de uma fiação descontroladamente fora do seu eixo, fundamentou para um impasse, enquanto ela respondeu, “Nós somos vampiros.”


Capítulo

3

O

SEU NOME ERA MARIA, E ELA NÃO FALAVA INGLÊS,MAS o corpete e a mini-saia de couro diziam tudo o que qualquer um nesse clube realmente queria saber. Ele a levou da pista de dança para cima nas escadas para o terraço, onde os guardas estavam guardando o espaço, mantendo o resto da multidão fora. Ela seguiu corajosamente, sua mente cheia de sexo e tequila. Ela era jovem e doce e surpreendentemente inocente, aqui com suas amigas mais velhas para uma noite selvagem na cidade antes de começar outra semana limpando quartos de hotéis. Ele a imaginou em seu uniforme de arrumadeira dançando nos corredores, um aspirador como seu parceiro, espiando nas malas das pessoas. O pensamento o fez sorrir. Ele também tinha uma outra imagem dela: tão bêbada que seus olhos rolavam em sua cabeça, sendo pressionada e fudida por um grupo de mauricinhos que ele tinha visto se movendo para cima dela. Talvez ela fosse se lembrar, talvez isso apenas fosse uma névoa de álcool e Rohypnol26, mas pela manhã ela iria acordar de uma ressaca e com um vago sentimento que alguém tinha sido cruel com ela, e nunca iria ocorrer a pobre garota imigrante para envolver a polícia por ter sido tratada como uma puta na sarjeta. Ele tinha visto isso milhares de vezes. Eles vinham para o Texas para algo melhor, e talvez eles achassem isso –mas o leite da indelicadeza humana era tão amargo quanto era no México.

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(Rohypnol – droga utilizada para o golpe Boa Noite Cinderela, ou a droga do estupro)


Maria tinha dezenove, e seu espanhol era rápido como um raio. Ela falou com suas amigas ainda fora da pista de dança, e do cara que prendeu sua língua em sua orelha uma hora atrás, e dos méritos do Patrón over Cuervo27. Ela estava nervosa. Um lindo homem de preto tinha deslizado por trás dela na pista de dança, as mãos dele envolveram ao redor dos seus quadris e afogaram suas costas contra ele, e a vontade dela foi completamente afrouxada. Suas amigas tinham acotovelado uma as outras, e ele soube o que elas estavam pensando:

rico homem branco. A mente humana era espantosamente fácil de ser manipulada. Elas eram quase sempre abertas a sugestões gentis, e poucas sabiam como se bloquear. Era essa manipulação, ironicamente, que habilitava a sua espécie a se alimentar sem ferir ninguém...quando eles se incomodavam em fazer isso. Ele atraiu Maria para o canto e pressionou contra ela, sentindo suas pequenas mãos e longas pontas dos dedos se fecharem na parte superior dos seus braços. Ela não tinha qualquer intenção em dizer não, mas ainda, ele se voltou de um modo que se ela quisesse ela poderia ainda ir embora, mesmo enquanto ele tomava um firme aperto na mente dela e inclinava a sua cabeça para trás. O cheiro da sua pele –perfume, sim, mas embaixo desse sabonete e suor e a inebriante essência da feminilidade e mortalidade –trouxe a fome dele para fora com toda força. Seus dentes arranharam levemente sobre o seu pescoço, e ele abaixou sua cabeça e golpeou. O corpo dela enrijeceu, mas o seu aperto sobre ela era muito forte para permitir que ela entrasse em pânico. Ela gemeu e afundou os seus quadris dentro dos dele. Ele conduziu poder através dela, aumentando a sua excitação até que ela gemeu novamente; desejo e prazer reforçando o sangue, e aromatizando isso com uma meia-voz de sexo e chocolate, espesso e quente. Ela também tinha o fraco gosto de incenso –uma boa garota católica. Ele bebeu até que ele sentiu o comichão de sua mandíbula desaparecer, e até o batimento cardíaco dela cair de ritmo com ele. Alem desse ponto, tomar mais poderia machucá-la. Isso era tudo o que ele precisava, e iria afetá-la quase tanto quanto uma doação de sangue no centro de coleta. Ele ergueu a sua boca da sua pele e lambeu os dois minúsculos buracos. Eles teriam desaparecido no meio da manhã.

27

(Patron over Cuervo – marca de tequila)


Maria cedeu contra a parede, e ele a segurou por um momento, cuidadosamente plantando sugestões em sua mente: Ela tinha conhecido um homem, eles tinham dançado e tomaram alguns drinks, e então ela foi para casa. Ela podia preencher os detalhes com a sua própria imaginação. Ela estava para entrar no taxi que estaria esperando do lado de fora e retornaria para o seu apartamento, comeria algo, e então dormiria. Ele a observou andar de volta para baixo nas escadas em seus saltos agulha, pergunt28ando pela milésima vez porque as mulheres desse século não tinham descartado tal machismo patriarcal. Uma vez que ele a viu andar para fora do clube, onde estavam os seus guardas que iriam conduzir ela até o Taxi Amarelo e pagar o motorista, ele pegou as escadas e partiu. A noite estava quente e úmida da chuva recente, mas para a sua espécie isso era apenas morna o suficiente. A única razão real que ele vestia seu casaco nessa época do ano era para ocultar suas armas da abundante multidão mortal da Sixth Street. Ele ergueu o seu pulso e disse para dentro do com, “Estrela-três.” Um barulho repicado disse a ele que ele estava conectado. “Sim, Mestre?” “Relatório.” “Como você solicitou, eu vim checar sua convidada. Eu estou aqui agora.” Ele piscou. “Ainda?”

“Sim. Nós estamos...tendo uma conversa sobre...coisas.” Oh. Essa conversa. “Como ela está levando isso?” “Não está claro nesse ponto. Eu vou mantê-lo informado.” “Estrela-um, fora.” Ele sorriu fracamente com o pensamento de como Miranda tinha reagido ao descobrir exatamente no que ela tinha tropeçado. Ele estava quase chamando o carro para levá-lo de volta ao Haven, quando um segundo retoque, de maior freqüência, emitiu do com. “Sim?” ele perguntou. “Mestre...Elite Vinte e sete aqui reportando da Ronda Três. Nós temos

uma situação e requer sua intervenção.” A sua voz estava tensa, com uma ponta de choque. O seu coração afundou. Havia apenas uma razão para a ronda requerer sua presença em uma senão noite pacífica: outro ataque. “Alpha Sete?”

“Sim, Mestre.” 28

(com – comunicador)


“Localização?”

“A entrada 360 Barton Creek Greenbelt.” “Eu estou a caminho.” Durante as horas do dia o Greenbelt era disperso com corredores e humanos andando com cães. A faixa de árvores e arbustos enrolando ao redor da água, abaixo da rodovia e ao longo da beira da cidade, e embora isso fosse um bom lugar para a corrida ou para uma caminhada natural, isso era também, infelizmente, um bom lugar para despejar um corpo. O carro arrancou para cima para dentro do estacionamento, e pela hora que ele saiu, os dois líderes da ronda de plantão já estavam ao seu lado, dando a ele o resumo do ataque. “Esse é o mesmo MO29 como o resto?” ele perguntou. “Não, Mestre. Parece que os rebeldes aumentaram a sua aposta...e eles quiseram entregar uma aguçada mensagem.” “Eu imagino que é tolice perguntar para quem essa mensagem era,” ele meditou, seguindo eles para baixo para a entrada do caminho que levava para o próprio Greenbelt. “Como isso foi descoberto?” “Denúncia anônima ao DPA30. Eles reconheceram os sinais e passaram a ligação para nós.” Ele cheirou o corpo antes de vê-lo. Assim que eles viraram a esquina, o fedor de sangue velho e carne em decomposição bateu nele como uma onda nauseante. Ao contrário dos mitos da população, vampiros não ficam famintos apenas por cheirar sangue –era a energia da vida contida dentro disso que eles nutriam. Ver sangue ensopado ao redor de um corpo não era mais apetitoso a eles do que um amontoado de frutas podres eram para os humanos. O resto da ronda estava agrupado ao redor da cena, e como um, eles se levantaram e se curvaram para ele quando ele apareceu. Ele assentiu, e eles retornaram ao seu trabalho, coletando partes. Havia muitas partes. Ele ficou em pé com os seus braços cruzados e ponderou sobre o que estava na frente dele, raiva formando um forte nó em seu peito. A Elite tinha desdobrado uma lona plástica no chão e estavam alinhando os restos desmembrados da vítima. Cada parte estava envolvida meticulosamente em papel branco e selada com fita adesiva. Um da Elite deslizou cuidadosamente através da fita e desembrulhou cada pedaço para dar uma melhor olhada. 29 30

(MO- moddus operanti) (DPA- departamento de polícia de Austin)


O nó de raiva pegou fogo enquanto ele percebeu o que ele estava vendo. O humano tinha sido metodicamente massacrado. Não havia roupas, sem objetos pessoais, apenas partes cortadas ao nível das articulações com o que parecia ser um cutelo. O final branco dos ossos estava visível onde as pernas tinham sido cortadas no joelho. Carne tinha sido tosquiada da pélvis e embrulhada separadamente dos ossos. A caixa torácica tinha sido fatiada em segmentos prontos para o churrasco. Apesar do óbvio cuidado tomado para embrulhar as partes do corpo, os decompositores já tinham chegado a vários, e também tinham os insetos. Moscas zumbiam em todos os lugares, e ao menos três dos pacotes foram arrastados da localização central debaixo de uma árvore e rasgaram. Sangue tinha encharcado pelos cantos dos pacotes. Um da Elite se virou do pacote que ele estava abrindo, parecendo pálido e enjoado. Ao olhar questionador do Prime, ele gesticulou para o pacote e disse, “Órgãos, incluindo a língua.” “Quanto tempo isso esteve aqui fora?” ele exigiu. Elite 27 se uniu a ele. “Nós estamos pensando desde essa manhã, mas isso parece como se estivesse sido refrigerado antes de ser despejado. Eu liguei para o time forense do DPA para aparecer e requerer o corpo –eles não podem nos dar mais detalhes. Mas isso era definitivamente um vampiro –existem marcas de presas na jugular. Eu estou supondo que essa foi a causa da morte e o pobre bastardo talhou no pós-morte.” “Você tem certeza que isso é um homem?” “Sim, Mestre. As genitais dele estavam dentro do seu próprio pacote. Há também isso...” O Prime foi com ele do outro lado da árvore. Elite 27 apontou para a base do tronco, onde o crânio havia sido deixado desembrulhado. Ele se ajoelhou próximo a isso, se perguntando por que essa vida havia sido roubada e se ele havia morrido com dor –os traços da morte do humano já tinham desvanecido, o que significava que ele tinha morrido há vários dias. Ele era loiro, Caucasiano, cerca de 30 anos de idade, aparência saudável –exceto claro por ter sido desmembrado debaixo de uma árvore. “Olhe essa orelha,” o Elite sugeriu. A orelha esquerda do humano tinha sido perfurada e pendurada com uma etiqueta de metal, apenas essas usadas por pecuaristas, mas ao invés de um número, ela foi gravada com um símbolo.


Cada Prime tinha um Selo oficial. A etiqueta na orelha do humano erguia o Selo de Auren, o Prime antes dele. Aparentemente o velho garoto ainda tinha amigos. Ele se endireitou, reprimindo duramente a raiva fervendo em sua espinha e o impulso instintivo de derramamento de sangue. “Agora nós sabemos com quem estamos lidando,” ele disse “eu quero rastrear todos os conectados com a Corte de Auren que sobreviveram à guerra. Aliados, Elites, serventes, todos. Qualquer um que você encontrar traga para interrogatório. Qualquer um que resistir, corte a cabeça dele fora.” “Sim, Mestre eu estou nisso.” O guerreiro pareceu um pouco surpreso com a sua veemência, mas se virou para ligar para o Haven e ter um dos funcionários do suporte administrativo começando a pesquisa. Ele caminhou de volta subindo o trajeto, sentindo cada ano da sua idade e mais, raiva gradualmente dando espaço a frustração e então ao cansaço. Nos últimos três meses houve sete assassinatos por vampiros que não estavam fazendo nenhum esforço para esconder seus crimes. Até agora em seu mandato houve ataques ocasionais, mas nada nessa escala. Tinha levado uma década e meia para os seguidores de Auren se organizarem. Harlan, o motorista, se curvou. “Mestre. De volta ao Haven?” “Sim.” Harlan abriu a porta, seus olhos na van branca no estacionamento com o logo do médico legista da cidade estampado na lateral. “Essas pessoas devem ser loucos latindo para declarar guerra ao Signet,” ele notou. O Prime sorriu severamente. “Os bastardos não tem nenhuma idéia com quem eles estão lidando.” “Obviamente não, Mestre. Ou talvez eles apenas acreditem que todas as lendas sobre você sejam apenas isso, lendas.” Ele se firmou no assento. “Eles irão aprender melhor, Auren aprendeu.” Enquanto Harlan se afastou da cena, conduzindo o carro no trânsito, o Prime sentou meditando, seus dedos ao redor do Signet que ele arrancou do cadáver sem cabeça de Auren quinze anos atrás. Sem importar quantos aliados ele tinha, sem importar quanto poder e dinheiro e influência, havia sempre aqueles esperando nas sombras para os seus retornos de glória. Tentativas de assassinatos normalmente começaram antes das cinzas do velho Prime serem até dispersas. O velho regime e o novo batalharam por controle, por vezes durante anos. A sua Elite tinha tomado o implacável controle do território dentro de dois meses.


Auren tinha sido carismático e forte e segurava um completo desdém pela vida humana. Aqueles que seguiam Auren eram a escória do Mundo das Sombras: assassinos, estupradores e bandidos. Se eles tinham um novo líder, eles iriam ser difíceis de derrubarem. Eles estariam atrás do seu sangue, e breve, se eles não fossem tratados, iriam fazer um jogo para o Signet. Ele sorriu na escuridão.

Deixem eles tentarem. *** Miranda ouviu Faith falar, a salpicando com perguntas mas na maior parte apenas...a encarando. O seu cérebro estava teimosamente se recusando a processar qualquer coisa que a guarda estava dizendo. Pensamentos em loop: Essas pessoas são insanas.

Eu tenho que dar o fora daqui. Isso não é possível. Essas pessoas são insanas. Espere, o que sobre o alho? Faith estava em assunto-de-verdade: Alho: mito. Caixões: mito. Crucifixos: mito. Cerca de trinta minutos dentro da discussão Miranda teve que pedir por um copo de água e um Vicodin. O dano do seu corpo estava drenando o pouco que ela tinha resolvido fugir. Assumindo que ela faria isso pela porta e assumindo que ela podia achar o seu caminho para fora desse lugar, fadiga e dor a mandariam ao chão antes que ela tomasse quinze metros. Então ela deixou o analgésico dopar os seus sentidos e deixou Faith falar, como se qualquer coisa disso fosse acreditável. Vampiros. Ela estava em uma casa cheia de vampiros. Eles tinham a sua própria sociedade, seu próprio governo, e seu presidente dormia no quarto ao lado. Miranda segurou uma almofada no seu colo, a coisa mais próxima de um escudo que ela podia achar entre ela e a outra pessoa maluca no final do sofá. “Persianas de metal,” Miranda murmurou, olhando sobre a janela. “Elas bloqueiam o sol.” “As janelas estão também revestidas com filme que bloqueia raios UV. As persianas são uma salvaguarda e para o conforto –nós temos problemas para dormir ao menos que o quarto esteja preto piche.” Ela colocou suas mãos sobre seu rosto. “Isso é apenas...” “Eu sei. Isso é muito para absorver.”


“Espere...se vocês bebem sangue, porque o cara Prime estava comprando sorvete?” Faith sorriu. “Nós podemos ingerir comida humana em pequenas quantidades uma vez que nós construímos uma tolerância. Isso nos ajuda a passar por humanos. Naturalmente nós temos uma hora mais fácil com líquidos. Alguns de nós tem coisas que nós ainda amamos –uma gula por doces é mais comum.” “Mas isso não faz nenhum bem nutricional, certo?” Uma voz masculina falou da porta da frente. “Não ao menos que o Ben e Jerry comece a fazer Plasma de Mocha Chip.” Miranda olhou para ver que o Prime havia chegado, silenciosamente abrindo a porta entre os quartos. Ele parecia preencher todo o quarto com a sua presença, como antes, mas essa noite ele parecia um pouco desgastado em torno do limite, como se ele tivesse visto algo horrível. Os seus olhos azuis caíram nela, e ele sorriu. “Como você está se sentindo essa noite, Senhorita Grey?” “Eu não acho que seja uma pergunta justa, Mestre,” Faith respondeu por ela. “Eu estou fodida de Vicondin,” Miranda disse a ele, mantendo a histeria fora da sua voz por centímetros. “Caso contrário, haveria um buraco com forma de garota naquela porta.” Ele se inclinou lateralmente contra a moldura da porta, ainda sorrindo. “Eu entendo.” “Tudo bem, que se dane isso. Me mostre seus dentes.” As sobrancelhas dele subiram. “Me desculpe?” “Se vocês são realmente vampiros, vocês devem ter presas, certo? Mostre pra mim.” Ele assentiu e veio para o sofá. Faith saltou, curvou-se, e se moveu para o lado assim houve espaço para ele sentar. Miranda começou a dizer algo sobre isso, pensando que era injusto ela ter que levantar apenas porque ele estava no quarto, mas então ela se lembrou de quem ela estava falando. O Prime abriu sua boca, chegando às mãos nela, e correu uma ponta de dedo por cima de um dos caninos. Miranda observou com o seu coração rasgando o seu caminho até a sua garganta enquanto o dente se esticava preguiçosamente para baixo meio centímetro, estendendo como uma garra de gato, perigosamente afiada. Em poucos segundos mais tarde isso se retirou, e ela


viu que mesmo retraído isso era visivelmente mais pontiagudo do que deveria ter sido. Miranda olhou para Faith, que estava sorrindo um pouco perversamente. A guarda fez o mesmo que o Prime tinha feito, mostrando seu dente. “Puta merda. Puta merda.” “Não tenha medo,” David disse suavemente. “Você está segura aqui, talvez mais segura do que você jamais esteve em sua vida.” “Mas...mas vocês comem pessoas.” Ele riu com a frase. “É uma maneira de falar. Mas nos temos leis contra matar nossas presas.” “Presas...Oh Deus.” Ela encolheu tanto para o canto do sofá quanto ela podia, causando em suas costelas uma apunhalada afiada, e arquejou com a dor. Lágrimas reuniram-se em seus olhos. “Eu não acho que eu posso absorver isso.” “Você gostaria que a gente deixasse você sozinha?” ele perguntou. “Por favor,” ela sussurrou. Soluços estavam construindo em seu peito. Distante ela ouviu o Prime dizer a Faith que precisava falar com ela particularmente. Miranda se curvou ao redor da almofada. Enterrando o seu rosto nisso, e ouviu enquanto a porta abria e fechava. Quando ela olhou para cima, David ainda estava lá, mas em pé, na metade do caminho entre o sofá e a porta. “Se você precisar de algo, eu estarei por perto,” ele disse. “Apenas bata na porta, ou chame no seu com.” Ela assentiu, incapaz de falar. Ele não parecia como se ele quisesse partir, mas ele foi, fechando a porta atrás dele. Miranda abaixou sua cabeça de volta na almofada e esperou pelas lágrimas virem, mas elas não vieram. Ao invés disso ela se sentiu amortecida por dentro, muito sobrecarregada de qualquer emoção que tomasse procedência. Ouvir Faith tinha mantido os demônios na baía por um momento, apenas como isso a tinha distraído das dores, mas não por muito tempo –muito tinha acontecido, se estendendo por todo o caminho de volta para aquele dia no café quando ela fez estranhos chorarem. Sua vida tinha se tornado um furtivo inferno de ter bolas de fogo em cinzas, e não havia restado nada. Ela não tinha nada para se voltar, e nenhuma razão para se importar. Eles deveriam tê-la matado. Talvez ela pudesse persuadir os vampiros a drená-la até secar. Se ela deixasse a ala e corresse ao redor da casa, ela acharia alguém disposta a matá-la?


Poucos minutos depois um tintilar de metal a assustou, e ela olhou para cima na hora de ver as persianas fechando na janela. Mistério resolvido: Eles devem ter um programador com um botão como substituto. Ela se sentou e encarou a lareira apagada, frio gradualmente infiltrou de volta em seus ossos embora a temperatura do quarto não estivesse mudado. Ela deveria ter cochilado, porque quando ela abriu os olhos novamente suas pernas estavam dormentes e suas costelas em sua palma doíam insuportavelmente. A pílula tinha se desgastado. Ela tateou a mesa lateral pelo frasco e conseguiu bater isso no chão com sua mão enfaixada. Quando ela tentava alcançar isso, suas costas ficaram presas, e ela deslizou primeiro com o seu rosto para fora do sofá para o tapete. Doía tanto se mover, ela começou a chorar. Finalmente a represa pareceu quebrar e ela chorou em seu braço, soluços torturando seu corpo como uma criança, os roucos sons rasgando da sua garganta ecoando no quarto vazio. Á centenas de milhas distante ela ouviu passos, e uma sombra se moveu sobre ela, uma presença brilhosa se ajoelhando ao seu lado. Calor a envolveu na forma de um cobertor felpudo, e uma luz de energia tocou nas costas da sua mente, buscando entrada. Ela não sabia como recusar e era muito fraco tentar. A “mão” a tocou, e o calor reconfortante inundou o seu corpo até os seus músculos ficarem flácidos. Ela se sentiu levantando, sentiu sendo carregada. Cama, lençóis, conforto; ele a colocou em travesseiros de pena e fino linho, e ela teve tempo de notar que a cama cheirava diferente antes do sonho reivindicar por ela. *** Os pesadelos vieram mais densos e rápidos todo esse dia. Ela lutou contra dezenas de assaltantes, viu uma água escura subindo em direção ao seu rosto. Ela sentiu gosto de sangue. Eles gargalharam para ela enquanto eles empurravam seus quadris no dela, morderam seus seios, usaram seus cabelos como guia. Monstros com presas se uniram a eles, rasgando buracos em sua garganta. Seu corpo todo coçava enquanto o sangue escorria para baixo por sua pele, e quando ela tentou fugir ela escorregou e caiu na água negra. Mãos agarraram suas pernas e a puxaram para baixo, baixo para dentro da escuridão... Mas uma vez novamente, houve um piscar de luz vermelha, e tudo parou. Ela deveria estar acostumada a nada fazer sentido até agora, mas quando ela abriu os olhos dessa vez, o mundo tinha mudado novamente.


Outra cama, não a sua própria e não aquela no seu apartamento. Essa era muito maior, cercada por cortinas que estavam parcialmente abertas no pé da cama para revelar uma magnífica lareira acesa com calor e luzes douradas. Os lençóis sobre ela tinham que ter mil fios. No lado mais distante do quarto ela podia ouvir um rápido barulho de clicks. Datilografando? Ela sentiu relaxada e reconheceu os borrados efeitos colaterais do Vicodin. Ela tinha tomado outra pílula em algum ponto. Quando? Miranda ergueu os lençóis das suas pernas e deu um salto em direção ao pé da cama, onde ela podia ver o resto do quarto. Instantaneamente ela reconheceu seu entorno –mesmo antes dela ver a figura sentada na mesa. Ele falou sem se virar ao redor. “Esther trouxe para você algo de comer.” Ela viu uma bandeja na mesa de café, e seu estômago cambaleou dolorosamente com fome. Ela poderia ter pedido por ajuda, mas ela cerrou os seus dentes e se forçou para fora da cama e para os seus pés, mordendo de volta um choro. Ela sentiu todo o machucado do seu interior mesmo embora com as drogas. Levou vários minutos para alcançar o sofá, mas ela fez, e caiu sobre ele do jeito que ela tinha feito naquele no seu quarto antes. Ofegando e soprando a partir do esforço, ela se reorganizou e conduziu a tirar a tampa da bandeja. Cheiros tentadores subiram em seu nariz. Havia sopa, pão e uma taça de morangos picados. “Essa é vegetariana,” o Prime disse, seus olhos ainda na tela do laptop. “Como você sabia-” Um sorriso em sua voz. “Você não cheira como uma onívora.” Por uma vida ela não podia decidir se isso era interessante ou profundamente horripilante, então ela se focou na comida. Ela mal tinha comido em dois dias, e isso foi tudo o que ela pode fazer para não inalar. “Alguém aqui cozinha?” “Isso foi uma entrega. Há uma cozinha no primeiro piso mas eu acho que ela nunca foi usada.” “Que horas são?” ela perguntou em torno de um bocado de pão. “Quatro e meia da tarde.” “Não era para supostamente você estar dormindo?” “Eu tive alguns trabalhos para terminar.” Ela tentou dar uma olhada na tela, mas tudo que ela pode ver foi uma janela cheia de seqüências de caracteres misteriosos. Ele pareceu estar editando


isso, e ele parava periodicamente para consultar um bloco de notas cobertos de precisas caligrafias. Ela pensou na caneta que ela tinha visto antes e resistiu com a urgência de perguntar que tipo de graduação ele tinha, e de onde ele tinha se graduado. Melhor não admitir que ela tinha bisbilhotado em seu quarto. Era uma rota mais segura, “Como um vampiro termina como um nerd de computação?” Ele parou de trabalhar e girou a cadeira para encará-la. “Quando eu primeiramente me envolvi com os Signets, a maioria dos Primes estavam ainda dependendo da tecnologia de rádio desatualizada para a comunicação intraElite. Nosso sistema de segurança era obsoleto, e não havia rede entre os Signets para compartilhar informação. Nós tendemos a ser....lentos em evolução. Eu decidi que a fim de sobreviver como uma sociedade nós tínhamos que nos adaptar.” “Porque não contratar alguém para fazer todas essas coisas tecnológicas, então? Claramente que dinheiro não é um problema nessas redondezas.” “Eu não confio em ninguém mais. E apenas leva um escorregar de senha para trazer uma rede abaixo. Eu sou a única pessoa com total acesso.” “Onde você consegue essas coisinhas?” ela perguntou, segurando o seu braço, onde ela fechou a pulseira anteriormente. “Eu desenvolvi a primeira versão cinco anos atrás. Essa é a terceira. O projeto original era mais como um relógio de pulso com um teclado. Eu reverti a engenharia da tecnologia touch-screen do iPhone e combinei isso com o software de reconhecimento de voz. A fabricação é subcontratada a uma empresa privada via o Departamento de Defesa, o qual estava muito feliz em fazer os coms em troca de acesso limitado para os meus projetos.” “Umm...você foi a faculdade para esse tipo de coisa?” Ele inclinou sua cabeça em direção a parede, onde ela viu pela primeira vez uma moldura de diploma: um doutorado em engenharia...do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. “MIT31? Você está falando sério?” Seu espanto o divertiu. “Claro. Minha defesa de tese foi em tecnologia e reconhecimento de voz e suas aplicações na segurança e defesa. Que foi há vinte anos atrás, embora –a pesquisa seja Paleontológica agora.” Vinte anos atrás, ela tinha sete anos de idade. Ele não parecia nenhum pouco mais velho do que ela era. “Quando você nasceu?” 31

(MIT- Instituto em Tecnologia de Massachusetts)


O seu sorriso desapareceu. “1643. Eu nasci e me criei no norte da Inglaterra.” Depois de tudo que ela tinha pensado e ouvido nas últimas quarenta e oito horas, descobrir que ele tinha 350 anos mal a incomodou. Ela apenas assentiu, e comentou, “Você não soa como Britânico. Ou Judeu. Solomon não é Hebreu?” Ele assentiu. “Quando você vive por mais do que uma vida humana, vale a pena reinventar você mesmo de tempos em tempos. Quando eu deixei a Inglaterra pra trás, eu também deixei pra trás o meu nome de nascença.” “E qual é ele?” Dessa vez o sorriso enfraqueceu e segurou um pouco de uma advertência, e ela percebeu que não era do seu assunto perguntar, e que se ele ficasse intimidado ele não diria a ela de qualquer forma. “Desculpe,” ela murmurou, tentando pensar em algo menos pessoal para perguntar. “Para onde você foi depois disso?” “Valência, por um tempo. Depois Lyons, Roma, e Edimburgo. Em 1920 eu me mudei para os Estados Unidos para a Califórnia até 1989. Eu terminei meus estudos de pós-graduação e então me mudei pra cá.” O seu estômago estava ficando cheio, e combinado com os narcóticos a estavam fazendo ficar sonolenta. Ela recolocou a tampa na bandeja e se sentou para trás, apreciando o quanto confortável o sofá era –não tão confortável quanto a cama dele, mas ainda, era suave o suficiente para não machucar, e sentia como reclinada sobre uma nuvem. Ela colocou suas mãos sobre sua barriga e perguntou um pouco sonolenta, “O que você fazia na Califórnia?” “Eu era o segundo Prime no comando.” “Porque você não ficou lá e se tornou o Prime, então?” Ela ouviu ele levantar, e um momento mais tarde um cobertor leve foi colocado sobre ela, possivelmente o mesmo que ele a tinha envolvido antes. Sua voz estava tão calmante quanto o sofá estava confortável, embora o que ele disse fosse duramente reconfortante. “O Prime da Califórnia é um amigo meu,” ele disse a ela, a movendo como uma boneca de pano, dobrando seus joelhos e colocando um travesseiro entre eles para facilitar a tensão em suas costas e pélvis. “E daí?” “A única maneira de um Prime perder o seu Signet é se ele morrer.” Os olhos dela abriram. “Isso significa que você matou o antigo Prime aqui?”


Ele assentiu. Não havia triunfo em seu rosto, realmente, apenas resignação. “Você e eu não somos tão diferentes. Nós dois tratamos a morte em nome da justiça.” Ela fez um som que era quase uma gargalhada. “Justiça não tinha nada a ver com isso. Eu apenas queria viver.” “Mentirosa,” ele repreendeu gentilmente. “Eles iriam me trancafiar,” ela murmurou enquanto ela começou a divagar novamente. “Eles iriam me colocar em uma casa de malucos...eu não sou apenas maluca agora, eu sou uma assassina.” Os olhos dela já estavam fechados, mas ela o ouviu dizer, “Como eu disse...nós somos dois de uma espécie.”


Capítulo

C

4

HUVA, CHUVA, VÁ EMBORA...NÃO, NÃO VÁ...

As tempestades de verão retornaram para Austin no dia seguinte, e Miranda dormiu com estrondo de trovões e tamborilar de chuvas nas persianas de metal. Ela gastou a maioria dos dias seguintes dormindo, de fato, algumas vezes chorando o seu caminho para fora dos pesadelos e algumas vezes vagando em memórias saudosas de uma época quando o mundo fazia sentido. Ela sonhou com a faculdade, em deitar na cama com Mike em uma manhã de Domingo partilhando seções de Austin American Statesman 32 . Ela sonhou com os primeiros dias com seu violão e a corrida de aplausos. A vida reduziu a esses simples fatores: Ela dormia, ela acordava, ela comia, ela tomava banho, ela dormia novamente. Algumas vezes ela via Faith, e ela falava com os dois guardas que observavam a sua porta e traziam comida a ela, mas na maior parte ela estava sozinha, e agradecida por isso. Salva debaixo de uma pilha de roupas de cama, ela poderia esquecer onde ela estava e o que tinha acontecido...por um tempo, de hora em hora. Ela não viu David. Ela não sabia que tipo de negócios ocupava o mais forte vampiro do Texas, mas isso o mantinha longe do anoitecer até o amanhecer. Faith insinuou que algo estava acontecendo na cidade, mas não especificou, e Miranda não perguntou. 32

(Austin American Statesman – jornal de Austin)


Em algum ponto Faith perguntou por uma lista de coisas que ela queria do seu apartamento, e mais tarde produziu roupas adicionais e o laptop de Miranda. Miranda levou um momento para mandar um email para Kat e Mel e deixou que eles soubessem que ela estava fora da cidade indefinidamente. Ela não entrou novamente para ver se houve qualquer resposta. No quarto dia, em uma noite, ela acordou cerca de meia hora antes do pôr do sol de um sono que foi quase agradável e saiu da cama para achar que partes dela não estavam tão doloridas quanto elas tinham estado. A chuva parecia ter apaziguado por agora. Ela teria ido à janela para olhar, mas as persianas impediram isso; essas pessoas eram sérias sobre sua escuridão. Ela supôs que se a sua pele fosse incendiar em trinta segundos de exposição ao sol, ela seria um pouco paranóica, também.

A qualquer minuto agora eu vou acordar no hospital psiquiátrico. Qualquer minuto agora. Ela fez o seu caminho ao banheiro e tomou banho, levando as coisas lentamente. Se ela movesse muito rápido, ela se machucaria, ou ao menos ficaria enjoada. Estar focada em cada minúsculo passo de lavar e secar a mantinha longe de pensar. Doía pensar. Tudo era tão grande e vazio em sua cabeça que ela continuava mantendo-se sentada imóvel, ouvindo as vozes que não estavam ali. O vazio ecoava dentro dela até que ela começasse a cantarolar para afogá-lo. Cabelo molhado caia em volta dos seus ombros, ela pegou seu violão e se sentou de volta na cama. Ela não queria tocar, mas o que mais estava ali para ela fazer? Seus próprios pensamentos não eram poderosos o suficiente para preencher o espaço, o qual trouxe para a mente não uma paz de meditação, mas o ferido silêncio depois de uma bomba nuclear, apenas antes das sirenes começarem. Ela tentou. Ela levantou seus dedos para as cordas e tentou chamar uma música, qualquer música, mas nada veio. Por um longo período ela se sentou abraçando o instrumento ao seu corpo, cabeça curvada, agarrando o pescoço do violão. Ela não chorou; ela já tinha chorado o suficiente. Ela se sentia seca e arenosa por dentro, como lixa, esfregada em carne viva. Ela não tinha ouvido qualquer barulho, mas ela o sentiu se aproximando. De alguma forma através do escudo e do silêncio, ela estava consciente dele se movendo em direção a ela enquanto ele se movia pelo quarto.


Uma mão tocou seu queixo, e levantou; ela olhou para cima para dentro dos olhos do Prime. “Venha,” ele disse. “Onde?” “Comigo,” ele respondeu. “Você precisa sair desse quarto por um tempo.” Ela estava inclinada a discordar, mas pensou melhor, e colocou para o lado seu violão, se levantando cuidadosamente. Ela agarrou seu desbotado casaco azul da cadeira e envolveu isso ao seu redor, deslizando-se para os batidos par de tênis que ela tinha trazido de casa. “Okay.” Ele segurou aberta a porta para ela e a permitiu definir o ritmo pelo corredor. Os dois guardas se curvaram enquanto eles passaram –que aconteceu novamente quando eles deixaram o corredor, e novamente quando eles viraram à esquerda. Miranda notou suas deferências distraidamente. Ela estava muito ocupada aproveitando a grandeza que a cercava. Era mais como um museu que uma casa. Estátuas, quadros, e antiguidades enfileiravam o corredor, e o piso era mármore polido. Ela sentiu como se estivesse pisando dentro de um universo paralelo de pessoas ricas com muito mais tempo em suas mãos. Quanto mais distante eles iam do quarto no final do corredor, mais ornamentada as coisas ficavam, presumivelmente para impressionar os convidados. O quarto do Prime, e o seu próprio, eram sossegados em comparação. Ela não chamaria o lugar de brega sob nenhum ponto, mas ele parecia ter sido concebido a partir do zero para uma finalidade: a exibição da riqueza. David contou a ela um pouco sobre a história do prédio enquanto ele a levava juntamente. Primes, ele disse, herdavam a fortuna e a propriedade dos seus antecessores, então a maioria disso era datada antes de sua posse. Houve oito Primes nesse Haven antes dele, cada um deixando sua marca antes de perder sua vida. A estrutura primária de quatro alas abrigava o Prime, a Elite, e os serventes, tão bem quanto qualquer dignitário visitante. Os outros prédios eram para armazenamento e treinamento dos guerreiros. “Essa inteira ala é sua,” ela disse incrédula. “O que você faz com todas essas salas?” Ele indicou várias portas enquanto eles caminhavam. “Sala de conferência. Biblioteca. Minha sala de trabalho. Sala de música. Essa escada está bloqueada e leva até a sala dos serventes.” “Música? Você toca?”


Ele sorriu. “Não, mas a Rainha do sétimo Prime tocava. Eu vou mandar afinar o piano pra você.” “Então porque você não tem uma Rainha?” O seu sorriso desapareceu. “Alguns de nós não tem. Isso não depende de mim.” “Isso não deveria depender?” Ele inclinou a sua cabeça para a direita, e ela tomou o corredor do lado direito. “Se tornar um Prime não é meramente uma questão de força e idade. Os Signets escolhem seus portadores, e aquelas compatíveis com os portadores. Nenhum de nós entende como. O sistema tem funcionado por mais de centenas de anos, e suas origens se perderam...mas o Signet nunca mente. Ele sabe, de alguma forma, com quem nós estamos destinados a governar, mesmo se nós nunca estivéssemos conhecido.” “Espere um minuto...você está me dizendo que um colar diz a você quem é a sua alma gêmea? E você apenas...acredita nisso?” O sorriso retornou, e ele disse, “Como fizeram séculos dos meus antepassados. Você pode ver, talvez, porque eu tive uma hora difícil em persuadir os outros para adotar a nova tecnologia. Nós somos dependentes de um sistema que se baseia na mágica tão antiga quanto na história. O tipo de pessoa que está disposta a manter isso não é o tipo que quer um iPod.” “Então onde você se encaixa?” Ele virou outra esquina, e o corredor se abriu em uma enorme sala; diante dela estava um parapeito de uma galeria, com uma grande escadaria sinuosa terminando em cada uma das extremidades de um salão de baile. Tudo estava imaculado, a madeira brilhando. Miranda sentiu como se ela estivesse tropeçado para o Baile da Embaixada do set de My Fair Lady33. Ela de repente desejou que ela estivesse usando algo mais impressionante que um velho casaco e um maltrapilho par de azuis Chucks34. Eles pegaram a escada do lado direito, mas ao invés de levá-la a porta principal, ele angulou à direita novamente, para uma pequena porta que conduzia para o lado de fora. A chuva tinha passado, ao menos por agora, deixando tudo limpo e fresco. A noite estava morna, e ela estava imediatamente deslumbrando-se pelo céu estrelado que espreitava entre as nuvens de bordas prateadas; o trajeto do jardim que eles caminhavam era revestido com tochas elétricas, mas elas 33 34

(My Fair Lady – filme Americano de 1964 de comédia musical) (Chucks- All Star Converse)


estavam esmaecidas para permitir a visão superior do brilho. Ela olhou para cima, e mais para cima, para os espaços entre as estrelas, sentindo o mundo rodopiar para longe dela, de repente minúscula na vastidão desse mundo que ela tinha vindo, e tudo que pudesse se estender além. “Calma ai,” ela ouviu ele dizer, pegando o seu braço. Ela sacudiu a sua cabeça para esclarecê-la. “Deus.” Ela não estava acostumada a olhar para cima. Isso fez o seu pescoço doer. Ela tinha seus olhos no chão por tanto tempo que ela tinha esquecido que havia estrelas. Ajudava que aqui, no interior, o céu parecia durar para sempre sem as luzes da cidade ou poluição que obscurecia esse rosto sardento com diamantes. Eles fizeram um lento circuito do jardim, parando muitas vezes para deixála descansar. Ela notou que as plantas eram de sua maioria de fluorescência noturna, e que as árvores estavam plantadas estrategicamente para dar as adequadas camas de sombras do implacável sol do Texas. O caminho fluía organicamente ao longo da ascensão e queda do terreno, contornando a borda da densa mata que cercava o Haven. Uma vez ou duas vezes ela ouviu cascos batendo longe do caminho enquanto cervos manchavam por eles e corriam pelas suas vidas. “Vocês sempre comem animais?” ela perguntou, rompendo o silêncio. “Nós podemos. A energia da vida em um sangue animal não é tão nutritiva quanto uma de um humano, mas dependendo do animal, isso pode ser adequado. Vários de nós vivemos desse jeito, acreditando que de alguma forma isso é eticamente superior.” “Você não acredita nisso?” “Não. Se eu me alimento de um humano, eu posso dar a ele ou ela energia em retorno –nós desprendemos uma aura particular quando nós bebemos que impede nossa presa de tentar escapar, e isso é...intensamente prazeroso. Isso não funciona com animais. Não há nada que eu possa dar a um cervo em troca pelo que eu tomar. Mais, a quantidade que eu preciso por noite iria matar uma criatura pequena, mas mal enfraquecer um humano.” “Isso significa que todos aqui nas redondezas estão querendo me ferir?” “Eles podem, mas eles pensarão melhor.” David deixou ela se sentar em um banco de pedra para pegar um fôlego –falando e andando eram um pouco demais no momento. “Eu não vou negar que existem aqueles que não gostam de você estar aqui, Miranda. Vários do meu pessoal acham que humanos são úteis apenas para comida, e a idéia de você vivendo entre nós os ofende. Mas


enquanto você ficar na Ala Leste, e não for para nenhum lugar sozinha, você estará segura.” “Eu não sei quanto tempo eu posso viver assim.” “Confie em mim...eu não quero você aqui nenhum tempo a mais do que você tem que estar.” Ele deveria ter visto a dor em seu rosto antes que ela sequer percebesse que ela sentiu isso, porque ele adicionou rapidamente, “Para sua segurança, e sanidade. Esse não é o local para mortais.” Ela sorriu fracamente com a palavra sanidade. Era provavelmente anos muito tarde para salvar isso. “Tolice.” Ele contradisse ao seu pensamento, oferecendo uma mão para ajudá-la a se levantar. “Você é perfeitamente sã.” Ela bufou. “Desculpe, mas ouvir isso de você não é exatamente confortante.” Miranda olhou para a mão dele por um segundo, então alcançou e a pegou. Ela esperava que a pele dele fosse fria, mas ela não era. Era definitivamente mais fria do que uma humana mas não cadavérica da maneira que as lendas diziam. Ela relembrou Faith mencionando que vampiros podiam controlar sua temperatura corporal e que eles odiavam ser frios. Miranda imaginou que isso relembraria que eles eram muito de seres mortos. Eles estavam mortos? O Prime respirou; ela tinha ouvido o seu coração bater, e os dedos fechados ao redor dos dela estavam cheios de vida. “Nós morremos,” ele disse a ela, arrastando-a graciosamente de volta ao trajeto, “mas para a transformação, não para a queda. Morrer é como atingir um reiniciar. Isso permite que nosso código genético seja reescrito. Existe alguma pesquisa sobre como exatamente o processo funciona –eu vou mostrar a você se você quiser. Mas nós estamos tão vivos quanto vocês estão, apenas...diferentes.” Ela puxou a sua mão para longe e envolveu seus braços ao redor do seu estômago, segurando o seu casaco apertado contra um súbito frio que varria por ela. “Isso não dói?” ela perguntou. “Mais do que qualquer coisa que você possa imaginar.” Ela segurou outra gargalhada sem humor dessa vez. “Isso vale a pena?” Ele sorriu, e uma luz estrelar brilhou para fora de seus dentes. “Definitivamente.” ***


Miranda disse pouco até eles retornarem a ala do Prime, onde ele teve que deixá-la aos cuidados dos seus guardas. Então ela deu a ele um silencioso “Boa noite” e retornou ao seu quarto, ainda abraçando a si mesma nas mangas enormes e esfarrapadas de um suéter azul. Ele estava satisfeito por agora; a sua cor estava melhor, e ela estava ficando mais forte pouco a pouco, o suficiente para que o passeio tivesse cansado mas não a exaurido. Ainda, tinha sido apenas uma semana desde que o mundo dela tinha arrasado ao chão. Ela dificilmente podia estar esperando para pular e abraçar a vida, grata por uma segunda chance. Ele sabia muito bem o quanto amargas as segundas chances da vida poderiam ser. Faith o encontrou no final do corredor, curvando-se. “Mestre.” Ele tomou um longo fôlego e deixou isso sair vagarosamente. “Ele está aqui?” “Sim. Nós temos ele isolado para interrogatório na sala B. Devemos?” Dessa vez, a caminhada que ele tomou era para um propósito muito diferente. Com cada passo ele se sentia desprendendo da mulher humana comparativamente uma fácil companhia e retornando para o que ele conhecia melhor. Ele não tinha sido exagerado. Esse não era um lugar para mortais. Eles seguiram para o lado de fora, dessa vez tomando um diferente caminho do que ele tinha tomado com Miranda, em direção a uma das dependências menores. Essa noite ele deveria estar avaliando os novos recrutas, espiando em suas sessões de treinamento, mas ao invés disso Faith trouxe a palavra que ele estava exigindo por ser algo um pouco mais urgente. Enquanto eles andavam, ele alcançou e dedilhou o Signet, um hábito que ele notou que quase todos os Primes tinham, quando eles estavam afundados em pensamentos. Ele se sentiu estranhamente preocupado, e não remotamente em um humor para a tarefa à frente, porém uma vez há algum tempo a idéia o teria animado. Uma vez, ele teria ansiado por interrogar um suspeito a noite toda. Quando ele tinha sido o segundo no comando na Califórnia, ele tinha ganhado a reputação que o seguiu aqui, e desde que ele tomou o Signet ele manteve isso suavizado, mas ainda, havia vezes... Ele não se permitiu a terminar o pensamento. Não havia lugar para dúvidas aqui.


“Nesse caminho.” Faith escancarou a porta externa do prédio de blocos de concreto e recuou para permitir que ele entrasse primeiro. “Nós pegamos ele no ato, sangue ainda nas suas mãos. A garota ainda estava respirando, mas ela morreu na rota para Brackenridge35.” “Bom,” ele disse, ignorando a sobrancelha dela erguida. Com a vítima morta, o suspeito estava sob pena de morte; ele não tinha que se preocupar por causar de danos permanentes. Outro guarda da Elite estava do lado de fora da porta de metal da sala de interrogatório. Ele se curvou e deslizou o ferrolho de volta. O Prime ficou na entrada da porta por um momento, possibilitando que a sua presença preenchesse a sala, sabendo que o suspeito poderia sentir. Ele alcançou para fora com o seu poder e varreu a câmara, seus sentidos calculados: macho, por volta de cem anos de idade, e se cagando de medo. Apenas como ele os matava. Ele caminhou para dentro da sala e elevou-se sobre o suspeito, que se encolheu enquanto a sombra do Prime caía sobre ele e tentou se deslocar ainda mais perto da parede. As algemas ao redor dos seus pulsos e tornozelos não o deixariam ir muito longe. David gesticulou para Faith ficar para trás. Ele olhou para baixo para o suspeito. “Nome?” O vampiro gaguejou algo ininteligível em Espanhol. “Me desculpe, você pode repetir isso?” Dessa vez, em Inglês, “Eu não vou dizer nada a você. Você vai me matar de qualquer forma.” O Prime ergueu sua mão, e o suspeito foi imediatamente sacudido para cima e jogado de costas contra a parede. As algemas se posicionaram para fora, permitindo ele se mover, mas ele estava imobilizado pelo poder do Prime, choramingando enquanto ele tentava lutar. “Você está absolutamente certo,” David disse a ele, andando mais perto. O suspeito encolheu visivelmente. “Você quebrou uma lei primordial desse território, e você vai morrer. Há, portanto, duas perguntas remanescentes. Uma, você quer morrer pela mão do meu Segundo, ou pela minha? E dois...” Ele chegou no homem, buscando os capilares de seus dedos e pés, e aplicou pressão, apertando quase gentilmente. Os olhos do homem ficaram mais largos 35

(University Medical Center Brackenridge- Hospital Universitário)


e ele tentou novamente lutar, mas não podia; e quando os minúsculos vasos começaram a estourar, ele fez terríveis barulhos de animais e o suor encharcado de medo eclodiu do seu rosto. Isso não era doloroso, realmente, embora pudesse ser quando os capilares estourados se tornavam machucados –mas o vampiro podia sentir isso acontecendo, e sabia que ele não podia pará-lo. “Quanto tempo você quer que isso leve?” David concluiu, fazendo isso novamente. Dessa vez ele viu um vaso de sangue explodir no olho esquerdo do homem. Mal gastando qualquer esforço, ele ergueu sua mão novamente, e o suspeito gritou roucamente quando os dedos da sua mão direita começaram a quebrar, uma falange de cada vez. Faith disse da entrada da porta, “Obviamente não um treinado guerreiro.” “Não,” ele respondeu, assistindo o homem se contorcer. Mindinho; metacarpo. Eles quebravam tão facilmente, como estalando galhos. David relembrou como era fazer a mesma coisa com suas mãos descobertas; era muito menos bagunçado. “Se ele tivesse algum tipo de história com a Elite, ele teria sido ensinado a suportar a dor. Esse ataque era tão meticuloso quanto aquele no Greenbelt?” “Não dessa vez. Era como uma seqüência de cortes com o Selo de Auren cravado no braço da garota com uma lâmina.” “Hmm.” David se moveu mais perto do homem novamente, abruptamente o soltando do tornilho36. “Eu imagino que se ele é íntimo com o Selo, ele deve ter um nele em algum lugar.” O homem estava arquejando, seus olhos rolando selvagem em sua cabeça. “Não –não-” “Cale a boca.” Com uma onda de sua mão, o Prime forçou a boca do homem se fechar. “Fale quando eu pedir a você para fazer ou não fale nada.” Ele alcançou e desabotoou a camisa do suspeito, jogando isso para o lado sem a menor cerimônia, franzindo a testa em aversão ao estado imundo do que era a roupa de baixo. “Seu chefe não está pagando você bem o suficiente,” ele notou. “Você cheira como um traseiro de um roedor morto.” Certo o suficiente, apenas sobre o músculo peitoral esquerdo do prisioneiro estava uma fraca-velha tatuagem: o Selo de Auren em preto e vermelho. “Então,” David disse, “me deixe passar isso mais uma vez, só assim nós estaremos na mesma página. Você está trabalhando para um homem morto, ou 36

(tornilho - Antigo castigo militar que consistia em atravessar duas espingardas, uma sobre o pescoço e outra nas curvas das pernas, apertando-as com correias, de sorte que faziam dobrar o corpo com dificuldade e com dor.)


ao menos para seus amigos. Você cometeu ao menos um assassinato, o qual você foi pego, então sua vida está confiscada. Agora você pode senão me contar para quem você está trabalhando, e morrer rápido por decapitação, ou você pode continuar fingindo que você não sabe de nada, e morrer lentamente por decapitação. Lentamente, e gritando.” Para pontuar suas palavras, ele atingiu o homem e quebrou uma das suas costelas, de forma limpa, em dois. Previsivelmente, o homem gritou, então pendeu balançando contra a parede, suspenso por invisíveis laços, cabeça curvada. David deu a ele um momento. Finalmente o homem ofegou, “Eu sou Rico.” David sorriu e respondeu em Espanhol para o benefício do prisioneiro. “Isso não foi tão forte, agora, não foi? Um prazer te conhecer, Rico. David Solomon, nono Prime dos Estados Unidos do Sul.” Na próxima respiração Rico rosnou, “Vai se fuder.” O Prime assobiou, “Linguajar, Rico,” e quebrou outra costela. “Vai se fuder!” Dessa vez com um grito. “Meu mestre nunca teria feito isso com a sua própria espécie! Você é um fudido traidor e você vai ser derrubado!” “Você realmente acredita nisso?” ele perguntou. “Como você acha que Auren pegou o Signet em primeiro lugar, Rico? Mandando cestas de frutas? Ele cortou e queimou seu caminho através de toda a Corte e estuprou e torturou a Rainha ele mesmo antes de matá-la. A sua Elite, seus serventes...todos, mortos dentro de uma semana da morte de Pair. Auren não era Deus, nem herói. Ele era apenas como o resto de nós: um assassino, impiedoso e implacável. Agora me diga pra quem você trabalha, e eu posso me contradizer e mostrar a você misericórdia.” Agora Rico começou a gargalhar, a desesperada gargalhada louca de alguém com mais nada a perder, que estava em dor suficiente para não se importar. Então ele recuou e cuspiu no Prime. David rolou os olhos e andou para fora do caminho, embora o movimento tenha sido um borrão para qualquer outra pessoa na sala. “Esse era o meu segundo casaco favorito,” ele disse a Rico calmamente. “Isso é o porquê de eu realmente não querer sangrar você –isso, e eu odeio fazer os serventes limpá-lo. Muito mal, realmente. Mortes sujas são muito mais satisfatórias. Eu suponho que eu terei que resolver por isso.” Com isso, o Prime fez um lento, gesto torcido, e os ossos de Rico começaram a quebrar com maçantes sons de estalos. Ele jogou o homem no


chão e o deixou se contorcer, os gritos levantando, transformando em apavorados, gritos de pânico de um animal morrendo. Rico estava ainda vivo quando o seu crânio cedeu, mas então ele não podia gritar por mais tempo. Quando cada osso foi quebrado, o corpo do vampiro deitava todo amassado, David fez sinal para que Faith fosse adiante, e ela decepou a cabeça de Rico com um limpo balanço. David olhou para Faith, que assentiu. Os olhos dela estavam duros e furiosos. O guarda do lado de fora pareceu como se ele estivesse para vomitar. Essa era a diferença entre um soldado e o segundo no comando. “Largue ele perto de onde o ataque aconteceu,” o Prime disse ao guarda enquanto ele esticava o seu casaco. “Eu quero que seus amigos vejam as conseqüências de suas ações.” “Sim, Mestre,” o guarda conduziu, deixando ele passar. Uma vez fora no ar livre novamente, David pausou, bebendo da noite. Aqui fora os cheiros eram de chuvas eminentes e da noite de magnólias e jasmim, não de cigarros velhos e terror desprezível. Tudo tinha sido tão fácil, uma vez. De volta antes de chegar aqui, ele tinha condenado punições e torturado igual ao seu Prime no comando sem um segundo pensamento. Ele tinha servido cerca de dois Primes na Califórnia, e o primeiro, Arracicci, tinha sido tão implacável quanto Auren. Como vários Primes ele tinha se importado apenas com os vampiros e não tinha escrúpulos sobre seu pessoal matar humanos. David tinha gasto seus anos com a Elite de Arrabicci perseguindo caçadores de vampiros, tão bem quanto as gangues rivais atrás do Signet. Então tinha vindo Deven, o Segundo de Arrabicci, que relutantemente assumiu o comando após uma flecha assassina mandar todo o Mundo das Sombras da Califórnia para dentro de uma sangrenta guerra civil por meses. Deven não instituiu uma lei que não matava, mas ele severamente apertou as restrições da alimentação com humanos, e sua terrível reputação como um guerreiro o ajudou a dominar os estados do oeste com controle absoluto. As gangues temiam Demon como eles temiam Deus, e também houve uma pequena necessidade de torturar ou executar qualquer um. “Você está bem?”ele ouviu Faith perguntar, e deu uma meia volta para vêla parecendo interessada.


“Bonito.” Ele estalou antes que ele pudesse impedir-se. Faith, entretanto, estava acostumada com seus humores e não se levantou com o tom. Ela simplesmente esperou. “Algo sobre esmagar o crânio de um homem com o meu cérebro sempre me agrava,” ele murmurou, começando a andar novamente. Faith assumiu o seu lugar usual na mão direita dele. “E o que nós aprendemos? Nada.” “Não inteiramente nada,” ela respondeu. “Nós sabemos que existe algum tipo de organização atrás disso tudo. Nós sabemos que eles são ao menos fanáticos o suficiente para ter um Selo de um Prime morto tatuado em seus corpos. Fanáticos normalmente não são os mais espertos dos criminosos; eles são obrigados a escorregar.” “Sim, e quantos humanos irão morrer antes de nós os pararmos?” Se ele fosse uma criatura mais emocional ele teria chutado algo; irritação estava formigando através da sua mente como espinhos de um cacto particularmente desagradável. “Essa raiva é por causa dos rebeldes, ou isso é culpa por matar aquele otário ali atrás?” Ele parou e atirou a ela um olhar irritado. “Pare de ser tão malditamente perspicaz.” Ela deu de ombros. “Isso é o porquê de você me pagar. Na ausência de uma Rainha, é meu trabalho perguntar tão quanto o apoio. Eu aprendi tudo que eu sei observando você na Califórnia.” Com isso, ela acertou em cheio na cabeça: na ausência de uma Rainha. Primes eram poderosos, sim, e tinham várias habilidades misteriosas que a maioria dos vampiros não tinha. Ele era mais rápido, mais forte, e tinha sentidos aguçados, entre outras coisas. Ele tinha nascido telecinético, um raro dom mesmo entre os vampiros que era extremamente útil quando se tratava, digamos,de interrogatório; sua telepatia era honesta enquanto ele tinha algum tipo de relação com sujeito. Uma Rainha, contudo, teria habilidades diferentes; elas eram voltadas para o coração, e liam as pessoas tão facilmente quanto as palavras. Uma Rainha poderia ter aberto o mente de Rico e levantado a verdade para fora dele sem machucá-lo nada, e então Rico poderia ser executado sem dor, ao invés de babar e dar espasmos com seus gritos ainda ecoando nos ouvidos de David. Ele não tinha um problema com matar, em teoria. Ele tem sido um assassino por 340 anos. Acabando com a sua própria espécie, entretanto, tem


sido mais difícil e mais difícil desde que ele chegou aqui. Isso começou a parecer como infanticídio, sem importar o quanto ricamente merecido. “Você sabe,” Faith disse, o trazendo de volta ao momento, “Deven uma vez me disse há anos atrás que Primes não deveriam ficar sozinhos. Seus poderes se tornarão debilitantes se não forem compartilhados.” “É fácil pra ele dizer,” David respondeu com um sacudir da sua cabeça. “Ele só governou sozinho por seis meses antes de Jonathan aparecer.” “Sorte dele.” David começou a responder, mas ele sentiu olhos nele, e ergueu o seu olhar para cima dos jardins para o edifício principal do Haven. Ali, na janela do segundo andar adjacente a sua suíte, Miranda estava olhando a noite, ou um pouco, para baixo para ele; a luz da lareira do seu quarto captava os fios soltos do seu cabelo como uma jóia vermelha, e na sua branca T-shirt com sua pele pálida ela parecia quase espectral, talvez até angelical. Quando ela o viu, ela sorriu um pouco, então desviou o olhar como se envergonhada. Mesmo a essa distância ele podia ver o fraco toque de rosa das suas bochechas. Ele deveria ter lido mais sobre isso, exceto que enquanto ele estava colocando escudo nela ele podia captar seus pensamentos externos, e ele soube que ela não tinha a intenção de encarar. Um movimento abaixo da sua janela tinha capturado a sua atenção enquanto ela olhava para a floresta. Um segundo mais tarde ela olhou para baixo novamente, provavelmente sentindo os seus olhos nela dessa vez, e ele inclinou a sua cabeça em direção a ela em saudação. Ela deu um pequeno aceno e desapareceu. Faith estava segurando de volta um sorriso. “Então, como está a nossa convidada?” “Eu planejo começar a ensiná-la a criar um escudo amanhã,” ele disse, embora ele não tinha planejado qualquer coisa até agora. “Ela já está forte o suficiente?” “Não tenho como dizer até que ela tente.” Ela manteve o seu tom profissional, embora ele pudesse dizer que ela estava tentando não gargalhar enquanto ela dizia, “Você está necessitando de uma Rainha mesmo...ou talvez você desenvolveu um gosto por mulheres malucas de cabelo vermelho?” “Não seja desagradável,” ele respondeu suavemente.


“Eu estou apenas brincando,” Faith disse, se tornando séria. “Além disso, após o que ela passou, eu duvido que ela estaria interessada nesse tipo de coisa em qualquer momento tão cedo, mesmo com alguém como você espreitando nas redondezas.” Ele sorriu com o elogio, tal como foi. “A melhor coisa que nós podemos fazer por ela é fazer a ela bem o suficiente para voltar a sua vida.” Uma gota caiu em seu braço; a chuva estava voltando. Ele podia sentir que ela se fixaria pelo resto da noite, após esse breve intervalo de aguaceiro. Enquanto ele começou a retornar ao Haven, ele olhou para cima para a janela de Miranda novamente; estava vazia. Sim, ela precisava partir o mais rápido possível...por causa dele assim como dela própria. ***

Todos morrem sozinhos, certo? Ela arrastou-se lateralmente, incapaz de sentir as suas pernas, dor latejando pela parte superior do seu corpo com uma dúzia de feridas de punção. Um dos dardos do arco rompeu enquanto ela tentava se mover e enfiou mais profundo em suas entranhas, e ela gemeu, então tossiu, provando sangue. Sangue gotejava do seu rosto para a calçada, e se duas mãos enquanto ela tentava desesperadamente ficar consciente. Suas mãos escorregaram e ela caiu, queixo atingindo o chão. Atrás dela ela podia ouvir os outros morrendo. Mickey, Jones, Parvati...ela tinha visto Mickey cair primeiro e tentar latir um aviso para os outros, mas era muito tarde –eles estavam cercados e flechas choviam para baixo do telhado na rua. Jones tinha gritado. Ela nunca tinha ouvido ele gritar antes. Ela o conhecia há muito tempo, dormiu com ele fora e de volta quando eles ambos eram recrutas novos ainda em admiração com seus próprios trabalhos, invencíveis com a juventude. O Dumpster estava apenas há dez pés37 de distância. Se ela conseguisse ir atrás disso, eles poderiam não vê-la, e ela poderia ser capaz de ligar para casa. Ela sabia que ela estava morrendo, mas ela tinha que avisar ao Haven. Dez pés...nove pés... Estava tão frio...tanto sangue... Oito pés... 37

(um pé = 0,30 metros)


Eles estavam vindo. Passos. Ela ouviu Parvati lamentando a morte com um grito enquanto a última flecha era disparada em seu peito à queima roupa. O click do arco, o grito, o pesado som de um corpo atingindo o chão...sete pés... “Onde está o outro? Era suposto para serem quatro!” Emboscada. Sua unidade de patrulha inteira dizimada em cinco minutos. Como eles puderam ser tão estúpidos? A ligação tinha soado legítima. O intercomunicador era infalível. Todos sabiam disso. Havia apenas uma maneira de uma chamada de socorro falso pudesse ser colocada no com, e ela tinha que avisar o Haven. Cinco pés. Eles estavam procurando por ela, mas na direção errada. Ela poderia ter tempo. Ela ergueu-se sobre si nos últimos centímetros, desmoronando atrás do Dumpster e colocando o seu agora-inútil braço direito próximo a sua cabeça. Sua voz estava rouca e ela podia ouvir o barulho da morte em seu caminho para cima através da sua garganta...não muito tempo... “Estrela-três,” ele tossiu no com. “Elite quatorze...Código Um canal de emergência...” “Por aqui! Eu ouvi algo!” “Aqui é Faith.” “Aqui é Elite quatorze em nome da Patrulha Dois do Oeste de Austin...nossa unidade foi emboscada. Nós recebemos...uma falsa ligação com essas coordenadas para apoio...armas disparadas de cima...toda a Elite caiu...o inter-comunicador está comprometido. Eu repito...a rede do com está...comprometida...” Ela ouviu Faith xingar, então disse, distante, “Agüente firme, Elite

quarenta. Eu estou mandando resgate.” “Não precisa,” ela sussurrou enquanto ela ouvia passos atrás dela. “Apenas diga ao Prime...” Faith continuou falando, dizendo a ela para se segurar, que o socorro estava vindo, mas ela mal ouviu. Alguém a ergueu pelo braço e arrastou-a para trás longe do abrigo do Dumpster, a voz da Segunda desvanecendo a um minúsculo murmurar, subitamente silenciou.


Capítulo

M

5

IRANDA ENTROU EM ÊXTASE SOBRE A BIBLIOTECA. Era maior do que o seu quarto, as paredes forradas com prateleiras do piso ao teto, e ainda tinha escadas. Isso a relembrava fortemente da biblioteca da universidade, onde ela passava horas folheando livros, inalando o cheiro de mofo do papel velho, quebrando a cabeça sobre edições indecifráveis como Les Miserables no original em Francês. Tinha passado muito tempo desde que ela simplesmente sentou e leu um livro. Ler a relaxava muito, e relaxar, sem a barreira de álcool entre ela e o mundo, soletrava problema. Seus dedos traçaram os espinhos dos clássicos, romances contemporâneos, e não ficção em pelo menos oito línguas diferentes. Ela achou que o quarto do Prime tivesse muitos livros, mas aqui tinha ao menos dez vezes mais desse muito. Fornecendo o que ele disse a ela sobre o Haven, ela se perguntava quantos desses ele tinha trazido com ele, e quantos tem estado aqui tanto tempo quanto o prédio foi construído. Miranda puxou uma cópia amarelada da comédia de Shakespeare da prateleira e procurou por um acento na janela, grata por apenas desperdiçar seu tempo em algo que tinha um final feliz. Ela manuseou as folhas cuidadosamente, com medo de que pudesse desmoronar, e leu em voz alta para si mesma, sua voz calma ecoando na sala silenciosa, pontuada com o som de páginas virando. “Eu te peço agora me diga, por que da minha parte ruim caiu tu primeiro amor comigo?”


“Para eles, todos juntos, que manteve assim uma política estadual do mal que não vai admitir qualquer parte boa para misturar com eles. Mas, para que de minhas peças boas você fez o primeiro sofrer amor por mim?” A voz veio da porta, e embora ela não estivesse esperando por isso, por alguma razão ela não parou. “Amor sofrido! Um bom epitélio. Eu sofro o amor de fato, pois eu amo-te contra a minha vontade.” Miranda olhou para cima e sorriu, continuando, “A despeito do seu coração, eu acho. Ai de mim, pobre coração! Se você amaldiçoou isso por minha causa, eu amaldiçôo isso para você, pois eu nunca vou amar aquilo que meu amigo odeia.” David sorriu de volta. “Tu e eu somos muito sábios para cortejar pacificamente.” Ela fechou o livro e o colocou na almofada correndo sua mão na frente da capa. “Esse sempre foi o meu favorito de suas peças,” ela disse. “Melodrama, cheio de mal entendidos, mas com um final de coração e flores. Eu costumava fingir que eu era Beatrice e interpretava todas as suas falas na frente do espelho.” O sorriso ampliou-se um fio. “Não Hero38?” Miranda riu e sacudiu sua cabeça. “Sem chance. Hero era superficial e não muito brilhante. Ela e Claudio teriam uma vida sem graça, com crianças sem graça e um cachorro sem graça. Beatrice e Benedick, agora isso era um casal que eu poderia ansiar. Eles teriam aventuras juntos.” Ela notou que ele estava vestido mais casualmente do que ela o tinha visto antes, e não tinha o casaco. Ele vestia jeans modernos, desbotados para serem desse jeito, e uma camisa de manga longa azul escura que destacava a cor dos seus olhos. O Signet estava brilhando entre suas clavículas totalmente fora do lugar com o resto do seu vestuário. “Como você está se sentido essa noite?” ele perguntou. Ela pensou sobre isso. Ela estava rígida, e dolorida, e não tinha dormido bem, mas ela não sentia a borda do pânico assustador que ela tinha todas as noites até o momento. Ela podia lidar com estar cansada e com dor. Era pra isso que as drogas foram feitas. “Okay.” “Bom. Eu gostaria de começar o seu treinamento essa noite.” “Treinamento?” 38

(Hero – é a personagem feminina da comédia de Shakespeare Muito Barulho por Nada ou Much Ado About Nothing.)


“Sim. Você tem que aprender a controlar os seus dons.” “E você vai me ensinar.” “Eu vou.” A idéia de se emporcalhar com os seus “dons”, o que era dificilmente a palavra para eles, a fez profundamente desconfortável, mas ele estava certo. Ela tinha que fazer algo. Ela não poderia ser a servente do seu poder para sempre. Isso iria matá-la por dentro em um ano, ao menos que algo mudasse. Aprender como usar isso não era tão assustador quanto o pensamento de terminar na ala do Hospital County D...definhando com o coro dos condenados como sua única companhia. Ela tinha estado nesse lugar uma vez, visto os olhares vagos dos casos incuráveis, e mesmo assim, muito tempo antes das vozes começarem a penetrar sua mente, ela podia sentir a desolação que tinha encharcado aquelas sujas paredes brancas. “Miranda?” Ela estremeceu e olhou para cima para ele. “Desculpe. Okay, vamos fazer isso.” Ele franziu o cenho, preocupado, mas não perguntou a questão óbvia. “Por aqui, por favor.” Ele o seguiu de volta a suíte, para dentro do quarto dele, onde ele sentou em um dos dois braços da cadeira que ladeavam o sofá e fez um gesto para ela tomar aquele oposto. Ela puxou suas pernas para cima e as cruzou, encolhendo com a dor que isso causou em suas costas. “A primeira coisa que eu vou te ensinar é como se estabelecer,” ele disse, flexionando suas mãos com seus cotovelos nos braços da cadeira. “É uma técnica tão antiga quanto a energia psíquica que isso emana. Uma vez que você se estabelecer você será capaz de trabalhar de uma estabilidade, uma fundação segura –pense em eletricidade, e que se isso não fosse propriamente fundamentado isso correria selvagem e poderia causar destruição. Seu talento é do mesmo jeito.” “Mas o que eu deveria fazer em uma emergência, se eu não tiver tempo de fazer a coisa do ‘estabelecer’?” “Idealmente você vai se tornar tão íntima com isso que você vai poder fazer isso instantaneamente, sem importar em qual situação. Isso leva prática, mas com tempo você será capaz de manter um estado de desapego racional onde você pode agir ao invés de reagir.” “Eu presumo que você está estabelecido agora mesmo.”


Ele assentiu, parecendo fracamente divertido. “Eu sempre estou estabelecido. Mantendo minha energia fluindo em um mesmo circuito que é a chave do meu equilíbrio emocional.” “Equilíbrio emocional. Significa que você nunca fica zangado e você sempre está perfeitamente calmo.” “Sim.” Ele levantou uma sobrancelha. “Você tem certeza que você não está apenas entediado?” O Prime piscou para ela, depois gargalhou. Ela nunca realmente o ouviu rir antes, e de alguma forma o som a fez sentir melhor de uma maneira que ela não podia definir totalmente. “Muito bem,” David disse, moderando. “Vamos começar. Feche seus olhos, e leve sua atenção a sua respiração...” Uma hora mais tarde, Miranda estava completamente exausta, sua cabeça tão pesada que ela mal podia pensar, e ela tinha a urgência em socar o seu professor na sua perfeita e esculpida mandíbula. “Pare,” ela ofegou, colocando suas mãos em suas têmporas. “Eu não posso.” Ele olhou para ela imparcialmente. Embora ele tivesse fazendo os mesmos exercícios enquanto ela estava, demonstrando técnicas ainda mais difíceis, ele estava tão sereno como antes. Ela, por outro lado, deveria parecer como o espelho do parque de diversões dele, seu rosto vermelho e suado seu cabelo vermelho caindo liso em seu rosto. Ela estava despencada em sua cadeira enquanto ele sentava tão reto e régio como sempre. Ela estava tão zangada com ela mesma enquanto ela estava com ele. O que ele estava mostrando a ela não era complicado, e ela deveria ser capaz de fazêlo. Ela podia tocar dois instrumentos musicais, maldição! Tudo que ela tinha que fazer era se estabelecer, então compor a energia através do seu corpo e tentar movê-la para dentro da barreira em volta da sua mente. Ele mostrou a ela como programar isso com a sua respiração, inalando para compor a energia e exalando para movê-la, não forçá-la, mas permiti-la fluir para que então ela pudesse se acostumar como isso e sentir. Suficientemente fácil, em teoria. Isso era muito como o que ela fazia no palco. O problema era que aqui ela não tinha o seu violão para se esconder atrás. Ao invés disso, era apenas uma repetição fatigante, o mesmo exato exercício uma vez atrás da outra e mais outra até parecer que seu crânio estivesse rachando no meio.


“De novo,” ele disse. Ela queria gritar, mas ela tentou fazer o que ele disse. E falhou. O escudo rudimentar que ela tentou erguer desabou ao redor dela como um peixe morto. “De novo.” “Pare de dizer isso! Você parece como um fudido Teletubby! Me deixe descansar por um minuto.” A pior parte era que ele sabia o quanto ela estava cansada, mas ela não tinha idéia do que estava acontecendo atrás da sua máscara de indiferença. Ele não se importava que ela estivesse com dor? “Nós não podemos nos mover daqui até que você faça isso direito,” ele disse a ela a questão com naturalidade. “Ótimo, mas isso tem que ser essa noite? Eu estou cansada. Minha cabeça dói. Minhas costas estão me matando.” Ela lutou contra as lágrimas de raiva que saltaram dos seus olhos. “Eu não mereço isso. Não depois de tudo.” “A vida não liga para o que você merece,” ele respondeu com todo o calor de um iceberg. “Você não merecia ser estuprada, mas aconteceu. As pessoas que morrem lá fora nas ruas toda noite geralmente não merecem esses destinos. Vitelos não merecem os deles. Você quer gastar o resto da sua vida com uma vítima, ou você quer ser forte?” “Eu não sei,” ela grunhiu. “Agora mesmo tudo que eu quero é que minha cabeça pare de doer. Apenas me deixe descansar.” “Não até que você faça isso direito. Agora pare de lamentar e faça isso de novo.” Raiva, venenosa e quente, fervendo ao longo da sua coluna. O sentimento era familiar, e delicioso, e isso inundava o seu corpo com renovada energia, mas ela não podia pensar –tudo que ela podia fazer era sentir, e ela convocou todas as suas escassas forças e golpeou para fora no bastardo de coração frio que a estava fazendo fazer isso. Ela arremessou poder nele quase como um relâmpago, e ela pode se ouvir rosnar. Assim que o relâmpago deixou o seu corpo ela percebeu o que ela estava fazendo e tentou puxar isso de volta. Dor cauterizou em suas “mãos” mentais e ela exclamou –muito tarde. Ela tentou adverti-lo... ...mas o fato é que ela não teve que. Quando a energia o alcançou, isso bateu no seu escudo, e ela pode quase ver a maneira que elas flexionaram e se viraram ao redor dele para absorver o impacto e fundamentar isso para fora sem nada de sua raiva o tocando. Ela observou, fascinada, enquanto a energia do escudo se compensava pelo impacto e ondulava para trás como uma


indestrutível bolha de sabão, então retornava ao normal, sem o Prime parecer estar reagindo conscientemente. Isso tudo aconteceu em segundos. Eles se encararam. O coração dela estava martelando em seu peito e ela não conseguia recuperar o seu fôlego. “Estabeleça.” Ele instruiu calmamente. Ela estava chorando, mas ela ignorou as lágrimas e fez o que ele disse. Estabelecer era fácil comparado com o resto. Quando ela fez, ela enxugou seus olhos, a última da sua dor se foi, e colocou sua cabeça de volta em suas mãos. “Você fez isso de propósito, não fez?” “É importante que você entenda o que é um suporte.” “Me desculpe. Eu podia ter matado você.” Havia um sorriso na sua voz. “Não, você não poderia. Um ataque psíquico pode matar humanos e incapacitar completamente um vampiro comum, mas nunca eu. Os escudos que você viu são parte do que nós, como vampiros, somos. O meu é mais forte do que a maioria porque eu aprendi em uma idade muito nova a controlar minhas habilidades.” “Novo? Quanto novo?” “Eu comecei a manifestar o talento quando eu era criança. Não...era aceitável naquela época e lugar. Na maior parte da minha vida mortal eu nunca revelei a qualquer um o que eu podia fazer.” “O que você pode fazer? Eu quero dizer, além...disso.” Seus olhos moveram do rosto dela para a mesa de café, e ela encarou, de boca aberta, enquanto toda a mesa estremecia, se erguendo para fora do chão por vários centímetros, depois caindo de volta para baixo. Ele não fez muito além de piscar um olho com o gasto de energia. “Puta merda. Eu entendo que nem todos os vampiros possam fazer isso.” Ele deu de ombros fluidamente. “Alguns Primes podem. Nós temos poderes que não são encontrados entre os vampiros inferiores. Ainda, o meu é considerado raro.” Ela olhou para a mesa, quase esperando para isso se mover novamente. “Então o que aconteceu, quando você era humano?” Ele encontrou o seu olhar, e por apenas um segundo, a máscara pareceu escorregar, e ela viu dor embaixo disso –anos e anos de dor que nenhuma quantidade de poder ou prestígio tinha facilitado. Então a expressão dele limpou e ela quase acreditou que ela tivesse imaginado isso, até que ele disse calmamente, “Um estranho veio para a cidade.” Ela tentou por uma piada ruim. “Um pistoleiro?”


Ele retornou o seu fraco sorriso com outro que foi igualmente fino. “Um caçador de bruxas.” Antes que ela pudesse perguntar, a porta do quarto voou aberta, e Faith apareceu, seu rosto pálido e sério. “Mestre, você é necessário imediatamente,” ela disse com um peculiar apanhar na sua voz. “Há uma...situação.” Ele segurou os olhos de Faith por um segundo, então se ergueu suavemente da sua cadeira. “Vá para cama,” ele dirigiu a Miranda enquanto ele colocava o seu casaco. “Amanhã à noite você vai treinar novamente.” Eles partiram sem outra palavra, deixando Miranda sozinha no quarto do Prime se perguntando o que estava acontecendo. David tinha, claro, mantido aquele precioso “equilíbrio emocional,” mas ela tinha esse sentimento de que embaixo disso ele estava chateado, e que o que quer que tenha acontecido estava apenas fazendo as coisas ficarem piores. Ela descobriu que estava loucamente curiosa sobre os trabalhos na Corte, como um antropologista estudando os Pigmeus para a National Geographic. Ela podia muito bem estar escondida nos arbustos com uma câmera de vídeo. Uma voz eclodiu da faixa em volta do seu pulso, e ela gritou.

“Todo o pessoal está avisado que a rede de com estará desligada para manutenção até aviso prévio.” Houve um click, e ela sentiu...algo mudar. O sinal do com deve ter sido cortado; ela não tinha percebido que ela poderia realmente sentir isso até agora. Ela começou a se levantar e ir para a cama, como o Prime tinha ordenado, mas quando ela tentou se levantar, suas pernas não a suportaram. Era estranho como o seu corpo estava desgastado com uma hora trabalhando nada além que sua mente. O quarto rodou a sua volta, e ela andou alguns centímetros lateralmente até que suas panturrilhas atingiram a borda do sofá. Assim seria. Ela se deixou cair para cima dele, tateando pelo cobertor que ela sabia estar ainda ali, e embora ela não tivesse a força para ficar acordada, deslizando para dentro do sonho ela podia sentir uma corrente de emoções profundamente problemáticas que rastejavam para dentro da escuridão dos seus sonhos. *** “...nossa unidade foi emboscada. Nós recebemos...uma falsa ligação com essas coordenadas para apoio...armas disparadas de cima...toda a Elite caiu...o inter-comunicador está comprometido. Eu repito...a rede do com está...comprometida...”


Faith trabalhou para David Solomon tempo o suficiente para saber quando ele estava puto. Ela retocou a mensagem de Elite 14 no tenso silêncio da sala de conferência, onde todos os outros líderes de patrulha estavam reunidos menos aqueles que estavam fora no dever agora e o time que ela mandou para recuperar os corpos. Ela observou enquanto o rosto do Prime foi de calma para o aço, e o azul dos seus olhos foram para gelo nas extremidades. Um pratear da cor do olho era um sinal certo de que o vampiro estava para derramar sangue. A aura de poder em volta dele expandiu e escureceu até isso parecer como tempestade esperando para explodir. Os outros tomaram um passo involuntário para trás. Ela não. Fugir do medo apenas fazia isso perseguir você. O Prime tomou um profundo fôlego, retirando sua aura para o seu nível normal. Ela sempre admirou o seu controle, mas ela também sabia que isso não era infalível...e nem, aparentemente era o que ele estava tentando construir. “Relatório,” ele disse. Ela assentiu rapidamente. “O time de resgate chegou a encontrar quatro corpos, e todos foram completamente atingidos por dardos de madeira de um arco. Parece que eles foram disparados do prédio do outro lado da rua. Não há evidência imediata de quem os matou, mas nós estamos correndo para checar os dardos para ver se nós podemos descobrir o fabricante e partir daí.” “Muito bem.” David olhou para cada líder de patrulha por sua vez. “Eu estarei fazendo uma atualização mais tarde essa noite mas não até nós descobrirmos onde o vazamento está e nós o mataremos apropriadamente. Eu quero todos vocês em estado de alerta no minuto que vocês colocarem os pés na cidade agora. Obviamente a situação está aumentando. Vocês serão avisados dos novos desenvolvimentos quando eles vierem. Dispensados.” Um coro de “Sim, Mestre,” e todos menos Faith partiram. Ela se inclinou para frente e colocou suas mãos na mesa. “Não houve nada que a gente pudesse fazer. Na hora que Malia ligou, era muito tarde. O time mais próximo que nós tínhamos estava a dez minutos de distância.” Ele parecia como se ele quisesse quebrar coisas, mas não havia nada na sala de conferência que pudesse ao menos que ele quisesse arremessar móveis, e ela sabia que ele não era dado a esse tipo de exibição dramática. O boato era que ele era incapaz de se emocionar, e embora ela conhecesse melhor, ela podia ver de onde essa história tinha começado. “Venha,” ele disse, se levantando.


Ela o seguiu para baixo nas escadas para a sala do servidor, o nervo central da rede de comunicação que ele criou a partir do zero. Essa rede era o seu bebê, e a idéia de que alguém tinha invadido isso provavelmente o fez mais zangado do que a perda de quatro da Elite. Cada Signet no mundo sabia que a rede Sul era o ápice da tecnologia de comunicação. Se a palavra saiu então isso deveria ter sido hackeado... “Sente.” Ela deslizou em uma cadeira ao lado dele enquanto ele tirava o seu laptop e conectava com o servidor principal. Ela desejava que ela estivesse lembrado o quanto frio era aqui embaixo –ele mantinha um suéter pendurado sobre a sua cadeira, e ela realmente deveria recolher-se a uma distância para o armário. Cada transmissão única mandada pelos coms, por email, e pelas suas linhas de telefones era encaminhada através dessa sala, gravada e documentada até a palavra. Todos que trabalhavam para o Haven sabiam que não havia tal coisa como comunicação privada exceto entre Faith e o Prime. Ela sorriu para si mesma. Você não pode parar o sinal. “Como no inferno poderia alguém nos hackear?” ela perguntou, descrente. “Com tantas camadas de autenticação que nós temos, e com o reconhecimento de voz construído dentro do sistema, que tipo de gênio maluco poderia nocautear o gênio maluco que é você?” “Esse é o problema,” ele murmurou, seus olhos na tela. “Quanto mais complicado um sistema é, o mais provável é que um completo débil mental pode derrubá-lo. A mais simples via é normalmente aquela que é negligenciada. Aqui...os registros da patrulha de Malia. Tudo é rotina...” Ele suspirou enquanto ele leu, e ela se moveu mais perto para ver o que estava acontecendo. Tudo era tão normal que doía. A unidade de patrulha falando e contando piada uns com os outros enquanto eles faziam a sua usual varredura pelo lado oeste de Austin. Era a parte mais rica da cidade, então havia raramente algo para se fazer. Isso foi o porquê dela requisitar os mais novos, menos experiente da unidade da Elite. Isso foi provavelmente o porque dos atacantes terem escolhido eles, também. Malia era uma brilhante, alegre mulher, e enquanto ela não era a melhor guerreira, o que ela perdia em habilidade de luta ela compensava em uma habilidade de liderança. Todos gostavam dela. Ela iria subir através dos postos eventualmente uma vez que ela amadurecesse um pouco. Isso nunca iria acontecer agora. Ela e Mickey e Jones e Parvati foram todos embora, todos apagados da noite em poucos minutos de vingança e sangue.


“Nós temos que pará-los,” Faith disse, surpreendendo a si mesma com as emoções nas suas palavras. David olhou para cima para ela. “Nós vamos.” Havia uma intensidade ardente em seus olhos, e ela acreditou nele. Sua palavra era a lei. “Aqui...exatamente aqui é onde veio a chamada de socorro, às 22:34. Não há mensagem verbal, apenas coordenadas enviadas via o protocolo de emergência. Bem, isso não irá acontecer novamente. A partir de agora todas as ligações de emergência vão requerer reconhecimento de voz –eu não quero saber se isso vai diminuir o tempo de resposta.” Ele estava mais falando para ele mesmo, o que era sempre divertido para ela ouvir, e enquanto ele falava os seus dedos estavam voando sobre o teclado. Ao menos quatro janelas estavam abertas na tela, e outras duas ou três no segundo monitor na esquerda, e ele estava trabalhando em todos eles de uma vez, tabulando entre eles com a rapidez do relâmpago. Um era a conexão da rede, outro o sistema de código de emergência, outro algum tipo de logaritmo que ele estava atualmente trabalhando em sua cabeça enquanto ele fazia tudo mais. E as pessoas pensavam que telecinésia era a coisa mais assustadora que ele podia fazer. Outra janela apareceu. “Eu estou rastreando a chamada de socorro,” ele disse para o benefício de Faith. “Localização, freqüência, duração...tudo está normal. A codificação...filha da puta.” Ele sentou para trás forte. “O que?” “Você viu isso?” ele apontou para a tela. “A embaralhada linha com todos os rabiscos? Você vai ter que traduzir para as Pessoas Normais.” “Esse é o sinal do portador do falso chamado de socorro. Está tudo dentro da rede. Senhas, reconhecimento de voz, tudo passou pela segurança quando eles estavam conectados, porque a rede não foi hackeada do lado de fora.” “Isso veio de um de nós,” Faith disse, chocada. “Um dos da Elite mandou a ligação.” “Eu desenvolvi isso para ser quase impossível de se invadir do lado de fora, mas aparentemente há uma falha no nosso método de seleção de pessoal. De alguma forma uma toupeira deslizou pela verificação dos antecedentes, as aplicações, as avaliações...ou, eles mudaram de aliança depois que eles aderiram.”


“Como a gente encontra eles?” “Se esse fosse um sistema normal, nós não poderíamos. Ele ou ela é um programador habilidoso o suficiente que quando eu tentei rastrear o sinal para a sua localização de origem, ele redirecionou-se e ficou preso em um loop. Mas esse sistema tem algumas falhas na segurança que o nosso espião não contava.” “Como o que?” “Isso,” David respondeu, destravando um dos armários na sua esquerda e removendo uma pequena caixa de metal. Essa, também, estava trancada, mas com um sistema de reconhecimento de impressão digital, o qual ele abriu, revelando o que parecia como um comum drive USB. Ele plugou o drive no seu laptop e aproximou mais da janela da tela. Um novo programa começou a rodar. Faith tentou interpretar o que ela estava vendo, olhos estreitos. “O que no inferno é isso?” Ele sorriu severamente. “Você alguma vez já olhou a parte inferior do seu com?” “Não...é em branco, apenas como a frente, certo?” “Há um sensor construído dentro disso que rastreia a energia da assinatura pessoal do portador. É uma combinação de aura psíquica, temperatura corpórea, e uma minúscula amostra de DNA da célula da pele que esfrega sobre a faixa. Esse banco de dados detém as gravações de todos que alguma vez já trabalharam para mim e cruza referências deles com os dados dos seus coms. Isso é o porquê dos coms serem emitidos para uma única pessoa e destruídos após a morte. Eles mandam uma nova informação de DNA cada vez que a pessoa se conecta por dever –não um exame completo mas marcadores suficientes para comparar isso com o tecido do portador.” Ele fez alguns clicks e o computador rodou uma pesquisa comparando as leituras de DNA da noite com os bancos de dados de todos que alguma vez usaram um com. “A pessoa que fez o chamado de emergência podia ter o conhecimento do sistema de reconhecimento de voz e a senha do banco de dados, mas essa falha de segurança é completamente desconhecida para todos fora dessa sala. Em um momento nós teremos a identificação de quem quer que esteja usando o com de onde o chamado de emergência veio.” Faith ficou de boca aberta com ele. “Como no inferno você faz isso?” Ele olhou para ela como se ela perguntasse a questão mais estúpida na história. “Eu sou brilhante.”


Ela sabia que ela não estaria tendo qualquer coisa mais de uma resposta. Ela mentalmente adicionou bioquímica e genética na lista de coisas que ele aprendeu no MIT. Um bip, e a pesquisa concluiu, muito mais rápido do que Faith poderia esperar. Um nome estourou. “Não,” Faith disse. “Isso deve estar errado.” “É uma perfeita combinação.” Os olhos de David estavam ficando pálidos novamente. “Tenha o time pronto em cinco minutos. Eu vou encontrar você ali.” *** Miranda acordou para sentir uma fria raiva acoplada com pavor na boca do seu estômago. Ela olhou ao redor, tentando descobrir o que estava acontecendo que parecia tão errado, mas percebeu que isso não estava vindo dela –o pavor estava, mas isso era em reação a ira, o qual emanava de alguém mais, alguém que ela não esperava ver tão zangado. Ela se levantou, satisfeita que seu corpo sentia um pouco menos fraco depois da sua soneca, e a fez o seu caminho para a porta, cuidadosamente virando a maçaneta para espiar. Tudo parecia normal. “Você precisa de alguma coisa, Senhorita Grey?” Helen perguntou. Ela e Samuel estavam em seus postos usuais, continuando observando. “Não...eu acho que não, obrigada.” Enquanto ela começou a fechar a porta novamente, Miranda congelou. Um grupo de quatro da Elite andava ao redor da esquina para dentro do corredor, um propósito mortal em seus passos. Faith estava liderando eles, e o rosto da Segunda estava fixo com uma gravidade que fez o estômago de Miranda balançar. Algo estava muito, muito errado. Na sua esquerda, Helen ficou tensa. Poucos segundos mais tarde, o Prime entrou no corredor, e novamente o interior de Miranda revirou de medo. Esse Prime não era o mesmo homem que tinha caminhado com ela no jardim. Ele não era sequer o mesmo homem que tinha sentado do lado oposto dela e a perfurou em um trabalho de energia uma hora atrás. Esse era o mais poderoso vampiro dos Estados Unidos do Sul. Ver ele cercado por outros fazia isso mais óbvio, mas ela nunca poderia confundi-lo com qualquer outro em uma multidão com a sua aura aparecendo


na mente dela como prata polida, atingida pelo preto e vermelho sangue. Os olhos dele estavam estranhos –eles pareciam pálidos, acinzentados, como se eles tivessem ido do profundo azul para a prata. Quando ele estava na metade do caminho do corredor, ela percebeu o que era exatamente que tinha acontecido. Essa era a criatura com sangue na mente dele. “Elite Vinte e três,” Faith disse, vindo a ficar na frente da porta, “se demita.” Miranda queria retornar para o quarto e se esconder até isso acabar, mas ela não podia se mexer. Helen, por outro lado, podia. A guarda se arremessou para trás, para dentro do vão da porta, batendo a porta e Miranda ambas de volta para o quarto. Miranda estava tão aturdida que ela não podia reagir até Helen ter seu braço em volta da garganta de Miranda e a puxar para cima, a usando como um escudo humano. “Fiquem pra trás!” Helen exclamou. O resto da Elite, incluindo Samuel, que estava para pular em Helen, parou, se voltando para seu líder. Em uma situação diferente Miranda teria pensado que olhar para o rosto de David era divertido. “Deixe-a ir,” ele disse muito, muito calmamente. Havia uma luz em seus olhos, uma luz assassina, e a pedra do seu Signet estava brilhando visivelmente mais brilhante. “Não faça isso pior para você mesma do que já está.” “Porque não?” Helen assobiou. Sua voz soou estranha, e Miranda percebeu que suas presas estavam para fora. Medo gelado dominou o corpo inteiro de Miranda.

Não novamente. Não novamente. Oh Deus por favor... “Você vai me torturar e me matar, certo? Eu poderia muito bem tirar essa pequenina marionete de carne enquanto eu estou viva.” Uma voz gutural masculina ecoou na cabeça de Miranda. “...a linda

coisinha está acordada...” Ela podia ouvir um zíper desligar para baixo, sentir as mãos suadas em seus seios. O quente, quarto iluminado pela lareira e a caótica cena se derreteram para longe, e ela estava de volta no beco novamente, suas costas nuas raspando no frio concreto.

Não novamente. Ela não podia respirar. Helen estava a asfixiando. Isso não importava.


Miranda penetrou nela mesma pela raiva que tinha dado a ela o poder de matar os homens no beco, seus rostos e vozes tocando uma vez atrás da outra em sua mente, amplificado pelos seus próprios gritos, até que as vozes afogaram tudo, e tudo que ela podia segurar era o sentimento. O golpe. David tinha escudos levantados entre ele e a ira de uma mulher violada; Helen não tinha tal coisa. O poder que o Prime tinha defletido tão facilmente rugiu para os guardas antes que ela pudesse sequer tentar proteger a si mesma. Helen fez um asfixiante, som borbulhante, e seu braço caiu preguiçoso. Ela ergueu ambas as mãos para roçar a sua testa como se ela estivesse tentando arrancar algo e choramingou um terror infantil com seus olhos enormes e rolando. Helen fechou suas mãos no seu cabelo, apertando os seus olhos fechados, o choramingar construindo para gritos até que David deu passos para frente, apreendendo-a, e quebrando o seu pescoço com um audível rachar. Miranda se derrubou para frente, tossindo, tragando ar em ótimas tragadas, sua visão nadando. Ela pousou suas mãos e joelhos e deixou sua testa tocar no chão frio, ainda tentando tomar seu fôlego enquanto atrás dela ela ouviu a Elite entrando no quarto e cercando o corpo de Helen. “Vamos mover,” Faith disse. “Ela estará consciente de novo em uma hora. Levem-na para a sala de interrogatório.” Miranda olhou para cima. Como ela poderia não estar morta? “Ela é um vampiro,” David disse da entrada da porta. “Nós somos difíceis de matar.” A Elite que agarrou os braços de Helen e a arrastou para fora do quarto lançou a Miranda um estranho, meio-temeroso olhar no seu caminho. “Eu a deixarei contida e pronta pra você,” Faith disse ao Prime. “Eu estarei lá em um momento.” Miranda estava tremendo no chão, apenas mal consciente que David se ajoelhou ao seu lado. “Você não tinha que fazer isso,” ele disse. “Eu poderia tê-la parado.” Ela sacudiu sua cabeça lastimosamente. “Tudo de novo...eu pude sentir, isso era como...como aquela noite, e ...eu não pude evitar. Eu a queria matar. Eu tentei matá-la.” Ela pensou que já tivesse terminado de chorar, mas agora ela perguntava se ela alguma vez poderia. Ela rompeu em soluços roucos, suas mãos fechadas em punho no chão.


A mão dele tocou o seu ombro levemente, pedindo permissão, mas ela não se importava com o que ele fazia. Ela não lutou enquanto, mais uma vez, ele a levantou do chão e a carregou de volta para o sofá; mas dessa vez, ao invés de simplesmente deitá-la ali, ele se sentou, ainda a segurando, e a deixou chorar. Ela nunca tinha esperado ser grata por isso, mas ela apertou seus dedos na camisa dele e chorou no seu ombro completamente inconscientemente. O peito dele se movia embaixo da sua mão enquanto ele suspirava. “Isso foi minha culpa,” ele disse. “Era muito cedo pra começar o seu exercício essa noite –você precisava de mais tempo para as memórias saírem da superfície. Cansada como você parece vai deixar que elas tomem o controle.” Ela tomou um longo fôlego e, por algum milagre, se reconstituiu o suficiente para tentar se estabelecer. Isso não era uma tentativa extremamente bem sucedida, energética e inteligente, mas ela se sentiu mais calma e perguntou, “O que você vai fazer com ela?” “Ela é uma traidora, Miranda. Por causa dela, quatro dos meus da Elite foram assassinados essa noite. Ela também tem trabalhado com aqueles que matam humanos por toda a cidade e quer nos conduzir a uma guerra.” “O que você vai fazer com ela?” Outro suspiro, esse cheio de pesar. “Ela será interrogada quanto ao seu envolvimento com os rebeldes. Pode ser que ela foi coagida para ajudá-los, ou talvez não. Mesmo assim, suas ações ganharam uma sentença de morte.” “Você vai...Faith disse...o que exatamente “interrogar” significa?” Ele encontrou seus olhos. “Não pergunte o que você não quer que responda.” Ela se sentou para trás, de repente percebendo que ela estava no colo dele, e se moveu para longe dele, enjôo aglomerando em seu estômago onde o medo esteve antes. Ele não era humano. Nenhuma dessas pessoas era. Eles bebiam sangue, eles eram imortais, e...ele estava indo torturar Helen. Ela conhecia Helen. E ele também. Para se tronar um guarda nessa ala ela deveria estar com a Elite por muito tempo, e ele estava apenas para se caminhar para lá e...e então matá-la. A maneira que Miranda tentou matá-la. A maneira que Miranda tinha matado aqueles homens. “Eu acho que eu vou vomitar,” ela grunhiu. Ele não disse nada enquanto ela tropeçava para fora do sofá, mas quando ela alcançou a porta ele disse, “Para a sua esquerda,” evitando que ela vomitasse no seu armário.


Ela caiu em seus joelhos dolorosamente na frente da privada, vomitando, mas nada veio. Ela fechou a tampa e inclinou a sua cabeça no assento, com medo de levantar apenas agora. Se alguma vez houve uma época em que a vida teve sentido, essa época foi a sua fuga. Ela tinha tropeçado dentro de um buraco de coelho, e não havia volta. “Se eu pedisse, você me mataria?” ela sussurrou para o banheiro vazio. “Como seria meu gosto? Como uma garotinha triste? Ou eu sou mercadoria estragada agora?” Não houve resposta. Ela se forçou em seus pés e sobre a pia, onde ela lavou seu rosto com água congelada, desejando que ela pudesse se ver e esperando que ela nunca mais pudesse. Quando ela retornou do banheiro, ele tinha ido. A porta do quarto dela estava permanentemente aberta, e ela podia cheirar comida. Seu estômago roncou mesmo embora ele estivesse em um tumulto apenas alguns minutos antes. Dormente, muito cansada para se importar com algo mais, ela foi para o seu quarto comer. *** “Maldição.” O Prime abandonou a sala de interrogatório na noite minguando, deixando o cadáver de uma vez confiável aliada em uma piscina de seu próprio sangue. “Eu não sei o que aconteceu, Mestre,” a Elite que esteve guardando o cárcere disse, súplica em sua voz. “Ninguém entrou ou saiu dessa sala antes de você chegar.” David rodopiou ao redor dele e o pegou pela garganta, levantando ligeiramente. “Se você estiver mentindo pra mim,” ele assobiou, “Eu vou cortar para fora os seus pulmões e alimentar você com eles.” “Eu juro...eu juro, Mestre. Me pergunte o que você precisar.” Ele largou o guarda, que parecia como se estivesse ao ponto de se urinar, e afastou-se do prédio. Ele estava na metade do outro lado do jardim na hora que Faith o pegou. “Nós pesquisamos ela enquanto ela estava inconsciente. Eu não sei de onde a estaca poderia ter vindo, muito menos como ela conduziu enfiar isso em seu próprio coração.” Ele parou, tomando um fôlego, chocado pela sua própria falta de controle. “Traga o carro. Eu vou para a cidade para caçar.”


“Está ficando tarde-” “Apenas faça isso.” Faith assentiu uma vez e recuou para ligar para Harlan enquanto David estava meditando ao lado da garagem. Helen tinha deliberadamente rasgado a manga do seu uniforme para exibir o Selo de Auren em seu ombro antes que ela de alguma maneira a apunhalasse, sozinha, em uma sala trancada com um guarda. Quanto tempo ela esteve trabalhando para o inimigo? Quase todos os ataques tinham ocorrido em algum lugar em que uma unidade de patrulha tinha convenientemente estado ausente. Ela tinha que estar mandando o cronograma direto para o seu mestre. Mas porque eles escolheram aumentar a aposta e começar a matar a Elite agora? Qualquer que fosse o seu jogo, estava funcionando. Eles estavam achando e explorando os buracos na segurança, e aprendendo onde ele era fraco. Ele seria impossível de matar totalmente, mas se eles continuassem espiando e cutucando, eles riam achar um lugar e deslizar para dentro, como ele tinha feito com Auren. Se eles não fossem eliminados, isso era apenas uma questão de tempo. Ele tinha visto essa estratégia antes. Ele parou no meio do caminho e estreitou seus olhos. Visto isso antes. “Estrela-três,” ele disse para o seu com. Faith apareceu no seu cotovelo. “Sim, Mestre?” Ele se virou para ela. “Enquanto eu estou na cidade, eu quero que você vá aos arquivos e puxe todos os arquivos do sindicato Blackthorn.” Suas sobrancelhas ergueram. “Você não acha...” “Isso está começando a parecer muito familiar,” ele respondeu. “As dissimulações, a lenta subida na contagem de corpos, começando com humanos...o Blackthorn assumiu a responsabilidade pelo assassinato de Arrabicci, e eu estou muito consciente que eles me odeiam.” “Mas Prime Deven teve todos eles executados,” Faith insistiu. “O culto inteiro foi dizimado. Não houve qualquer Blackthorn remanescente.” “Talvez não. Mas mesmo alguns sobrevivem às guerras, ou alguém está tomando a página da sua cartilha. Independentemente, eu quero ver os arquivos.” “Sim, Mestre. Você tem certeza que você não quer que eu te acompanhe na cidade, as coisas estando como elas estão? Ele sacudiu sua cabeça. “Mesmo assumindo que eles possam me matar, eles não vão tentar ainda. Eles vão trabalhar corroendo a minha autoridade então é quando eles me tirarão –teoricamente –não haverá uma enorme resistência.”


Ela não gostava disso, mas ele não se importava. Ele já tinha se alimentado uma vez essa noite, mas a energia que ele gastou tentando ensinar Miranda o deixou faminto novamente. Ele não podia pensar claramente com suas veias doendo e queimando em sua garganta, e um bocejo em seu estômago. Ele se firmou dentro do carro, direcionando Harlan a um dos seus usuais terrenos de caça. Apenas antes que eles se distanciassem do meio-fio, ele sinalizou para Harlan esperar e abaixou a janela, acenando para Faith. “Cheque a Senhorita Grey quando você terminar com os arquivos.” E se houve um conhecimento no pequeno sorriso no rosto da sua Segunda enquanto ele fechava a janela, ele escolheu ignorá-lo, por agora. *** O mito era que os vampiros não podiam pegar ou carregar doenças. Isso estava perto da verdade, mas não totalmente. Suas vidas dependiam da rapidez, irônico considerando que suas vidas e idades físicas nunca se moviam. Eles podiam regenerar a pele, tecidos, até mesmo ossos dentro de poucas horas, algumas vezes minutos, dependendo da ferida e da força individual. Era essa rápida cura que os evitava morrer ao menos que seus corpos fossem completamente destruídos pelo fogo ou sol. Separar a cabeça significava que não havia tempo para a cura e sem jeito de focar poder suficiente para se recuperar antes que a morte cobrasse o seu pedágio. Madeira era o outro problema; algo na estrutura celular da madeira atrasava o processo de cura quase para o índice dos humanos. O coração era o mais popular alvo porque isso causava quase morte instantânea, mas qualquer artéria principal perfurada com madeira seria fatal se a estaca não fosse removida e o sangramento não fosse parado rápido o suficiente. Pelo mesmo motivo, doenças transmissíveis eram mortas pelas suas células brancas tão rapidamente quanto eles podiam se curar de uma ferida a bala, mas se a doença fosse avançada no humano que a transmitisse, isso poderia demorar mais do que algumas horas. Doenças faziam o sangue ter gosto ruim. Esse era a outra maneira deles as evitarem. Cada sangue humano segurava camada sobre camada de gosto e cheiro, transmitindo um perfil completo da saúde do humano, ambiente de vida, e hábitos. Vários desses mesmos sabores podiam ser tão bem perfumados que então o predador poderia evitar a presa contaminada.


Ele podia dizer a dez metros se alguém tivesse um resfriado, alergias, ou uma dieta incomum; vegetarianos tinham gosto mais limpo, mas algumas vezes um hambúrguer gorduroso era exatamente o que ele queria. Ele podia cheirar drogas, cigarros, álcool. Ele podia provar a descendência tão facilmente quanto ele podia provar o câncer. Eles todos tinham suas preferências, mas não havia motivo para ser indiscriminado. Drogas e álcool trabalhavam do jeito que as doenças trabalhavam. Ele tinha se alimentado de muitos hippies nos anos sessenta apenas para ficar doidão. Tudo que os humanos faziam com seus corpos eles afetavam a energia de como eles estavam alimentando a espécie dele. Sexo, também, tinha sua própria extensão de gostos. Vampiros bebiam desejo, prazer, e dor no sangue, muitas vezes com o mesmo abandono. Ele não perguntou o seu nome. Ela não perguntou o dele. A multidão do clube estava diluindo na hora que ele chegou à cidade, mas havia sempre lugares para achar uma presa adequada. A população mortal de Austin não tinha idéia do quanto esses bares e clubes de dança da Sixth Street eram possuídos por vampiros que configuravam uma caça ideal de sua real clientela. Os seguranças deixavam entrar só os saudáveis e limpos. Eles providenciavam bebidas baratas e mantinham longe a escória. Ignorando o fato de que entrar em tal estabelecimento era como terminar com buracos no seu próprio pescoço, eles eram lugares seguros para humanos se divertirem...com um escondido couvert artístico. Ela estava no meio dos seus vinte anos, menor que ele, com pequenas mãos e inteligentes olhos verdes. Ela estava para ir embora depois de uma dura noite festeira. Seu namorado tinha a chutado naquele mesmo dia e ela tinha saído para esbanjar com seus amigos, esperando transar com alguém que a fizesse esquecer. Ele era bem íntimo com o clube. Ele o possuía. Ele tinha a sua própria cabine e seu próprio quarto nos fundos que ele usava ao menos uma vez por semana enquanto ele vivia em Austin. Eram três horas antes do amanhecer quando ele a escoltou para dentro do quarto, e duas horas antes do amanhecer quando ele a escoltou para fora. Ela tinha uma pele tão suave, pálida e doce como sorvete de creme. Suas unhas enfiaram em seus ombros enquanto ele abria as suas pernas com uma mão experiente, a provocando. Enquanto ele acariciava o seu corpo, seu poder acariciava a mente dela, e ela chorou alto, seus músculos se apertando ao redor dos dedos dele.


Ela já estava suando na hora que ele arrancou a T-shirt do seu torso, expondo a superfície plana da sua barriga e o inchar de seus seios em sua boca. Muito lisa, quase...ele teria preferido que ela fosse mais macia, com mais curvas nos quadris, talvez lábios mais cheios...mas ela tinha gosto de verão, como uma mulher que nunca tinha visto a morte ou deliberadamente causado qualquer dor, e ele bebeu dessa inocência, então bebeu do seu sangue. Seus dentes acharam a superfície de sua garganta, e para distraí-la da dor, ele abriu suas pernas novamente e entrou nela, a combinação de prazer disso foi quase muito para ambos suportarem. Ela envolveu suas pernas ao redor da cintura dele e ergueu seus quadris para se encontrar com ele, e graças a Deus, ele não se incomodou com os gemidos teatrais que a maioria das mulheres humanas faziam. Teria que ser muito mais tolo para que ele não reconhecesse um orgasmo fingido. A coisa real, entretanto, era quase tão boa quanto sangue. A energia da vida era a sua verdadeira nutrição, e a forma mais comum para a sua espécie era o sangue, mas havia outras formas que, embora deficiente em poder de permanência, eram muito mais agradáveis. Ele levantou seus lábios da sua garganta e lambeu delicadamente a ferida para acelerar a sua cura, seus sentidos bobinando com satisfação. Tudo mais simplesmente derreteu embora. Ele estava tão agradecido que ele a trouxe duas vezes antes dele terminar, então novamente antes de soltá-la. Mulheres, ele sempre sentiu, tornavam-se uma parte inexperiente sexualmente falando. Isso era tão fácil para os homens, mas para as mulheres dava trabalho, e elas se uniam com muitos gêneros safados. A última coisa que ele podia, era fazer isso valer a pena para elas por um tempo. Ela estava respirando forte, o último minúsculo tremor ainda correndo através do seu corpo, seus olhos fechados apertados. Sequer sentindo a necessidade de falar...mas enquanto ele se estabelecia em cima dela, suportando a si mesmo com seus braços, ele olhou para baixo e percebeu pela primeira vez que ela tinha cabelos vermelhos.


Capítulo

“E

6

U QUERO SAIR PARA CAMINHAR, POR FAVOR.” O novo guarda da porta, um cara com dreadlocks39 chamado Terrence, ainda parecia um pouco desnorteado com a sua súbita promoção, sem mencionar com a perplexidade em como lidar com a sua mudança. Ele nunca sabia se sorria para ela ou se reverenciava ou o que. Ela achou isso estranhamente cativante. Samuel sorriu para ela. Ele nunca tinha sido rude, mas depois da prisão de Helen, sua atitude em direção a Miranda tinha ficado muito mais calorosa. Ela não estava inteiramente certa do porque, mas como várias outras coisas aqui, ela apenas não perguntava. “Terrence aqui pode acompanhar você,” Samuel disse. Miranda suspirou, mas ela sabia que não havia jeito sobre isso. Havia ordens superiores para não deixá-la se aventurar sozinha. Toda a teimosia do mundo de sua parte não iria persuadi-los a desobedecerem ao seu Prime. “Okay. Eu estarei pronta em cinco minutos.” Ela voltou para o quarto e colocou os seus sapatos e o casaco, então puxou o seu cabelo para trás em duas rápidas, ligeiramente fofas tranças. Quando ela abriu a porta novamente, Terrence se curvou, então a deixou liderar o caminho para fora da ala do Prime. As coisas tinham mudado em uma semana desde a morte de Helen. Miranda tinha acordado de seus pesadelos com algo novo vibrando ao redor do 39

(dreadlocks- tranças usadas por rastafáris)


seu coração. Ela não sabia como chamar isso, mas isso a tirou da cama e a conduziu a praticar ‘se estabelecer’ mesmo embora David tivesse decidido não a pressionar por um tempo. Ele disse a ela para praticar sempre que ela se sentisse bem para fazer, e o deixasse saber quando ela estivesse pronta para aprender mais. Essa súbita bondade depois do jeito que ele fez isso da primeira vez a fez admirá-lo, embora ela não estivesse certa do que exatamente admirar. Depois que ele desapareceu. Ela mal o viu por dias. O que quer que estivesse acontecendo tinha aparentemente ficado muito, muito pior, e a Corte simplesmente não tinha mais tempo para ela. Havia uma tensão no Haven que ela praticamente provava mesmo através do escudo de David. Isso não durou muito tempo para que ela começasse a explorar. Um guarda a seguia em todos os lugares, mas eles mantinham a sua distância enquanto ela não tentasse se colocar em problema ou passear em algum lugar proibido. Nenhum da Elite tinha uma pista do que fazer com ela, a maltratada pequena mulher com seu poder assustador. Aqueles que tinham visto o que ela fez com Helen tinham comentado a história, e agora ela tinha uma reputação. Miranda não podia decidir se ter uma reputação aqui era bom ou mal, mas enquanto os dias passavam, ela decidiu que ela gostava disso. Ela se sentia mais segura sabendo que ela os fazia ficar nervosos. No início, a submissão deles com ela da maneira que eles faziam com o Prime a incomodou, mas depois de alguns dias isso se tornou natural para ela. Então continuava inclinando a sua cabeça para eles em reconhecimento da reverência...o qual era exatamente o que David fazia. “Porque eles estão me tratando assim?” Miranda perguntou a Faith uma noite enquanto elas faziam um passeio através dos jardins. Faith vinha vê-la várias vezes, checando o seu bem-estar e então, para a surpresa de Miranda, envolvendo-a em conversas, tentando aprender mais sobre o que fazia o novo carrapato de cães do Prime. Faith sabia exatamente o que ela quis dizer e olhou para o guarda que estava seguindo elas na sua caminhada. “Promete não enlouquecer sobre o que eu disser a você?” “Eu prometo.” Elas tomaram o longo trajeto que fazia uma volta ao redor do perímetro do jardim e foram em direção aos estábulos, uma área que Miranda ainda não tinha se aventurado. Era outra noite quente, mas não tão empoladamente, e sinais apontavam em direção a um outono mais cedo esse ano. O final do verão


era aparentemente bastante celebrado entre sua espécie – noites mais longas e um declínio da taxa de crime faziam a vida mais fácil no Mundo das Sombras. Faith caminhou ao lado dela, seus olhos no esplêndido tumulto de cores que as cercavam –todas as sombras do verde, todas as profundidades das sombras, o volátil branco das flores de fluorescência noturna que soltavam seus inebriantes cheiros no vento quente enquanto elas passavam. “Há um rumor,” Faith continuou. “Depois que a notícia se espalhou de suas habilidades, as pessoas começaram a falar. Você não deve fazer nada com isso, Senhorita Grey-” “Miranda, por favor. Senhorita Grey soa como se eu fosse a professora substituta de matemática.” Um sorriso. “Tudo bem, Miranda, você não deve dar a esses rumores nenhum crédito a mais do que exatamente eles são, é uma fofoca inútil de uma casa cheia de vampiros onde você está vivendo agora na suíte da amante fora do quarto do Prime.” “A amante de que agora?” “Seu quarto. O último Prime que viveu aqui não tinha Rainha, mas ele mantinha uma série de amantes naquele quarto em todo o seu mandato. A última, relataram que tinha mostrado sinais de que ela talvez se tornasse mais do que uma amante.” “Eu estou dormindo na Suíte da Mansão da Puta Meretriz?” “Você pode ver, então, porque os rumores podem voar. Adicione isso suas habilidades, e...a teoria mais popular agora é que você está sendo preparada para tomar o Signet da Rainha.” Miranda caiu pesadamente no banco, espantada. “Mas eu sou humana!” “Os rumores dizem que isso é apenas uma questão de tempo.” Essa noite Miranda seguiu aqueles pensamentos quase contra a sua vontade como se ela seguisse o trajeto que ela e Faith tinham pegado ao longo das extremidades externas do jardim. Ridículo. Essa era o tipo de especulação erma que cercava a realeza Britânica ou a última celebutante40 alento de Hollywood. Certamente as pessoas aqui tinham coisas mais importantes para se preocupar além do que ela estava fazendo aqui. Fofoca era normalmente uma distração estúpida para um mundo demasiado sério. Evidentemente as mesmas forças estavam trabalhando aqui. Se isso era tão estúpido, então, porque ela estava tão zangada sobre isso? 40

(celebutante –conjunto das palavras celebridade e debutantes. Se refere as meninas de famílias ricas de Hollywood que recebem uma grande quantidade de holofotes da mídia. Um exemplo de Celebutante é a Paris Hilton.)


Miranda sacudiu sua cabeça e tomou o trajeto em direção ao Haven, determinada a praticar seu escudo essa noite. Eles continuariam falando enquanto ela ainda estivesse aqui. Ela podia lidar com os olhares e as reverências, mas ela sempre odiou ser o alvo de ussurro. David teria ouvido os rumores? O que ele pensava sobre eles? Provavelmente nada. Ele deveria estar acostumado com o falatório; que era parte de como os Primes construíam seus impérios, usando suas reputações para apoiar seus poderes. Ela já tinha visto muito disso. Faith tinha dito a ela algumas de umas histórias que cercavam ele –ele podia desaparecer dentro do ar rarefeito, se mover mais rápido que a escuridão, e provavelmente lançar fogo e transformar as pessoas em roedores. Ministrando o que Miranda o tinha visto fazer até agora, era provavelmente fácil incentivar certas lendas além das paredes do Haven. Ela pegou as escadas de volta ao segundo andar, pretendendo não notar o Elite atrás dela, e deu aos guardas um aceno de agradecimento antes de bater e trancar sua porta. Miranda levou um minuto para trabalhar um pouco mais na gosma antifrizz no seu cabelo; a umidade tinha sido alta em Austin esse ano, e ela podia apenas imaginar como selvagem ela parecia...não que ela pudesse ter certeza. Ela estava ansiosa para ter um espelho novamente. Um espelho, e uma vida seria legal, também. Estranho como ela estava começando a pensar que talvez, apenas talvez, ela pudesse encontrar o último algum dia. O tempo antes do Haven já tinha começado a se tornar um borrão de dor e medo –esse lugar era tão distante do mundo caminhando diariamente que ela nem se sentia mais como ela. Aquela noite horrível no beco tinha quebrado o seu coração em milhares de pedaços, mas isso tinha rompido a vida dela nitidamente em “antes” e “depois.” Tinha passado tanto tempo desde que ela teve a sua mente, passado tanto tempo que ela sentiu qualquer minúscula vacilação de esperança para o futuro...tudo que ela tinha que fazer era ficar forte o suficiente para colocar um escudo em si mesma, e ela poderia retornar a Austin, e... O que exatamente? Voltar a se apresentar? Isso seria seguro? Ela poderia tocar sem depender das emoções dos outros para se abastecer? Se não, o que ela iria fazer, arrumar um emprego como uma pessoa normal? Ela permaneceu por um momento com seu cérebro rebobinando. Normal. Ela não tinha sequer mais idéia do que isso significava. Sim, havia esperança...e


aquela esperança trazia consigo um novo tipo de medo que ela simplesmente não estava equipada para encarar agora mesmo. Como o destino sabia que ela precisava de distração, ela notou que havia uma luz vindo debaixo da porta de David. Isso era incomum essa hora da noite. Ele quase nunca estava ali até próximo ao amanhecer. Curiosamente, ela aventurou-se sobre a porta e a abriu com um estrondo para espiar. Ela esperava encontrá-lo em sua mesa trabalhando com algum tipo de feitiçaria tecnológica, mas quando ele não estava, a princípio ela achou que ele apenas foi embora e deixou a luz ligada. Então ela captou a visão da cabeça negra no final do sofá –ele estava deitado. Miranda abriu a porta um pouco mais e penetrou além do limiar apenas para ter certeza que ele estava bem; não era coisa dele estar aqui essa hora da noite, deixado sozinho para relaxar de qualquer forma qualquer hora do dia. Algo deveria estar errado. Centímetros mais perto, ela teve uma melhor visão. Ele estava, de fato, esticado no sofá, com roupas casuais como ele usou na noite que ele a mostrou como se estabelecer; a mesa de café estava alastrada com papéis em pilhas arrumadas, e havia uma pasta de arquivo aberta sobre o seu estômago, uma mão segurando isso para baixo. Ela sorriu quando ela viu a caixa vazia de sorvete no canto da mesa: Ben & Jerry Chuncky Monkey. Ele estava dormindo. Ela realmente nunca o tinha visto dormir antes. Isso parecia fazê-lo ficar mais jovem, menos sério, quase...bonitinho. Ela se perguntou se ele alguma vez foi feliz, se ele alguma vez sorriu...se ele alguma vez foi jovem. Ela relembrou sua avó dizendo uma vez que ela era uma criança triste, nasceu velha. Ela tinha a impressão que David tinha nascido dessa maneira, também. Ela começou a recuar para o seu quarto, mas ele se deslocou ligeiramente, uma mão flexionando na almofada do sofá. Seus lábios se moveram, quase um tremor, palavras mal audíveis. *Lizzie...” *Lizzie é o apelido para Elizabeth) Miranda segurou sua respiração e ouviu, seu coração em sua garganta enquanto ela se inclinava mais perto, esforçando-se para ouvir. “Lizzie, leve Thomas...rápido...” Naquele momento dor piscou através da cabeça de Miranda, e ela deu passos para trás involuntariamente, fechando suas mãos sobre suas orelhas da


maneira que ela uma vez tentou bloquear as vozes. Dessa vez, embora, não era uma voz invadindo seus pensamentos, era uma imagem: um pequeno menino com cabelos castanhos abaixo do seu colarinho, correndo com seus braços estendidos rindo. Ele vestia algum tipo de traje com aparência de peregrino que estava manchada em torno da bainha, e ele estava descalço, sua pele castanha como a cor de noz no sol. O menino corria ao longo de algum tipo de caminho lamacento e era arrastado para os braços de uma mulher que esperava por ele; ela vestia um vestido com uma cor obscura com gola alta e seu cabelo estava puxado para trás em um rígido coque, mas o seu sorriso era quente, e abaixo das roupas opacas ela era nova e bonita, com olhos castanhos brilhantes. A cena começou a desvanecer, e Miranda cheirou algo, ou um pouco, relembrando como o cheiro de algo: fumaça, e o irritante cheiro de...algo queimando. Ela ouviu a dissonância de gritos e choros, e terror a dominou; ela se virou e correu, pegando um caminho de volta de onde ela tinha vindo, mas não havia nenhum lugar para ir, nada além de fogo... “Miranda?” Ela se agitou para fora do homem que tentava apreender seus braços –eles iriam matar Thomas, ela tinha que o esconder antes que – Alguém a sacudiu gentilmente, e ela engasgou, sua visão clareando enquanto subitamente ela apareceu. Ela estava de costas contra a parede do quarto, e David estava em pé na frente dela, suas mãos levemente descansando em seus ombros. Ele estava pálido, mesmo para ele, e parecia mais preocupado do que ela alguma vez o tinha visto. Seus olhos estavam um azul até mesmo mais profundo que o usual, esfumaçados. “Desculpe,” ela gaguejou. “A luz estava acesa e eu não..não tinha a intenção de te acordar.” Ele sacudiu a cabeça e guiou suas costas para o sofá. “O que aconteceu?” Ela não tinha idéia por onde começar. Enquanto ela foi amaldiçoada por vozes, elas tinham sido só isso, ou emoções; ela nunca viu coisas antes, especialmente não eventos aleatórios que podiam ter sido história, ou apenas lixo cerebral. “Espere,” ela murmurou. “Você estava sonhando agora?” Ele desviou o olhar. “Porque?” “Eu vi um menininho, e uma mulher. Depois houve fogo.” David olhou para ela bruscamente. “O que?”


“Eles eram como...colonos, eu acho. Eu não conheço história muito bem. Mas eles dois pareciam tão felizes. Então era como seu eu fosse ela, e eu estava com medo de que eles...alguém estivesse indo ferir o menininho.” A expressão de desconfiança em seu rosto despareceu em reconhecimento, e então algo como tristeza, e ele desviou o olhar dela novamente. “Sim. Alguém estava.” “O que eu vi?” Ele se sentou para trás, olhos no chão, e cruzou seus braços quase nervosamente. “Você viu minha esposa.” “E o menino...” “Nosso filho.” “Você...você sonha com eles com freqüência?” “Não,” ele respondeu, ainda não olhando para ela. “Não com freqüência.” Milhares de perguntas rodopiavam em sua cabeça, mas ela sabia que ela estava sendo indiscreta e era razoavelmente certo que isso não era um assunto que ele se sentia confortável em falar. O que quer que fosse que conduziu uma pessoa a se tornar um vampiro, isso não poderia ser agradável. Ela não podia imaginar o que iria a persuadir a desistir da sua humanidade desse jeito...o pensamento a fez sentir enjoada. Ela não podia nem sequer olhar para uma agulha quando ela teve a chance. “Oh, vamos,” ele disse, captando o pensamento com a genuína diversão em sua voz. “Isso não é mais nojento do que as coisas que vocês humanos comem.” “Não eu,” ela retornou com um sorriso. “Vegetariana, se lembra?” Agora ele estava definitivamente sorrindo. “Queijo é a lactação coagulada de um mamífero ruminante. Não é nem feito por leite humano, o qual poderia fazer muito mais sentido. Ovos são essencialmente o período menstrual da galinha. Mel é na sua maioria cuspe de abelha. Devo eu continuar?” Ela agarrou um travesseiro solto e arremessou isso nele. “Oh, grosso!” A tensão do momento estava efetivamente ruída, graças a Deus. Ela pensou melhor antes de revisitar o tema. Havia algumas coisas...não, muitas coisas...que ela não precisava saber. “Como você está essa noite?” ele perguntou. “Faz alguns dias.” “Não horrível.” Ela puxou suas pernas para cima sob seu queixo; já não doía mais quando fazia isso, e algumas contusões visíveis estavam desaparecendo. Suas costelas e costas ainda doíam se ela permanecesse em uma posição por muito tempo, e um dos seus pulsos palpitavam se ela tentasse tocar violão por mais de uma hora –não que ela tivesse, realmente. Ela pegava um


instrumento aqui e ali quando ela estava entediada, mas nada mais. “Eu acho que eu devo estar pronta para começar as lições de novo.” Uma sobrancelha curvou. “Você está certa?” “Eu acho que sim. Eu tenho me estabelecido muito bem, e eu tenho trabalhado em mover a energia por toda a parte.” “Muito bem, então. Amanhã a noite.” Ela olhou o conjunto de arquivos na mesa de café. “Você precisa de alguma ajuda com o que quer que seja isso?” “Não.” Ele se inclinou para frente e começou a compilar os papéis em uma única pilha. “Eu estava apenas olhando os velhos relatórios da patrulha e anotações de campo do meu tempo na Califórnia. Isso não estava me fazendo chegar a nenhum lugar.” “Então você ainda não sabe quem está por trás disso tudo.” Ele levantou uma sobrancelha curiosa. “Quanto você sabe exatamente?” Ela deu de ombros, e respondeu, “Eu sei o que você disse, e o que Faith insinuou. E eu tenho essas...sensações...algumas vezes, não exatamente vozes mas impressões que me dizem coisas. Eu acho que é uma ligação de sangue do escudo que você tem ao meu redor.” David pareceu confuso, franziu o cenho. “Isso não seria possível. Escudos como o meu não vazam.” Miranda o sentiu alcançando através do escudo, e isso a surpreendeu, mas não a assustou; ela se deteve ainda a deixar que ele fizesse o que quer que fosse que ele estava fazendo. Para os olhos da sua mente isso era como se ele corresse uma mão ao longo do lado de fora do escudo que ele estava sustentando ao redor dela, e então ao longo da barreira entre ela e ele mesmo, checando por falhas. Ela invejava a maneira que ele fazia isso parecer tão fácil, mas então, se ela estivesse fazendo isso por 350 anos ela deveria fazer isso bem, também. Ele sacudiu a sua cabeça, falando quase para ele mesmo. “Sem vazamentos...e a barreira entre nós é mais fina do que deveria ser entre eu e uma pessoa externa, mas imóvel, não deveria haver qualquer passagem.” “Você pega as coisas de mim?” ela perguntou. “Ocasionalmente, mas isso era esperado uma vez que eu sou aquele que mantém o seu escudo. Algumas vezes você pensa alto,” ele adicionou com um sorriso. “Você é facilmente tão forte como um projetor quanto você é como um receptor, o qual é como você pode tanto sentir as emoções quanto manipulá-las. Nós vamos trabalhar em afiar suas habilidades de projeção tão logo quanto você consiga manter-se separada do resto do mundo.”


Ele terminou sua inspeção e retirou-se para o outro lado da barreira. “Eu deveria ter perguntado primeiro,” ele disse com desgosto. “Você não precisa de ninguém espreitando na sua aura nesse momento.” Miranda deu de ombros novamente. “Isso não me incomoda. Qualquer outro deveria, mas eu acho que me acostumei com você.” Ela sabia que isso era estranho. Dois dias atrás ela tinha saído para uma caminhada no jardim e tropeçou sobre uma pedra, e Terrence tinha aparecido ao lado dela para agarrar seu braço e a levantar; ela se arrancou de suas mãos e quase o enfeitiçou, se acalmando de um leve ataque de pânico. A mão dele era tão grande, seu aperto tão firme. Ela se desculpou pela histeria, e ele se desculpou da intromissão. Ela não queria ninguém a tocando. Ela sempre foi uma fanática defensora do seu espaço pessoal, mas agora o mínimo que qualquer um –especialmente qualquer um masculino –ficasse dentro de três metros, seu coração começava a acelerar. David era diferente. A única coisa que ela poderia entender era que ter a mente dele delimitando tão perto a dela, dia e noite fez os seus instintos aceitarem ele como não ameaçador. Talvez isso fosse porque cada vez que ele a tocava psiquicamente, ela tinha a sensação psíquica dele pedindo permissão para ela, nunca supondo. Talvez isso fosse porque nada sobre ele a lembrava de...daqueles outros. De todos no Haven, ela era a última com menos medo dele. Ela estava muito consciente do quanto irônico isso era, considerando que ele era muito longe o bastardo mais assustador que ela alguma vez já conheceu. “Bem, eu fico agradecido que você está acostumada comigo,” ele disse, e então pareceu se arrepender de ter dito; ela não estava procurando por algum tipo de subtexto na declaração mas...havia alguma? Era a sua imaginação, ou ele parecia realmente um pouco envergonhado? As duas semanas que ela esteve no Haven ela tentou decidir-se sobre David Solomon. Tinha vezes que ela desejava desesperadamente odiá-lo por tentar salvá-la, e quase no mesmo minuto ela queria a aprovação dele; outras vezes ele a aterrorizava. Ainda outras, ela se achava perguntando-se se, em outro tempo e lugar, se ele fosse humano, talvez...mas uma parte de sua mente ainda estava tentando decidir em uma opção, até agora. O sempre tão fraco tom acanhado na sua voz virou o júri. Sim..eu gosto de você...presas e tudo. Se alguém me

perguntasse o que você era, eu iria dizer, “Meu amigo.” “Você quer me dizer sobre o que está acontecendo?” ela perguntou então. “Talvez eu possa ajudar.”


Ele levantou, e por um segundo ela pensou que ele estava indo chutá-la para fora do quarto, mas ao invés disso ele caminhou dando a volta no canto da mesa e abrindo um armário. A luz da lâmpada iluminou as bordas de uma fila de garrafas e outra de copos. Ele encheu um copo, então virou para ela com olhar questionador. “Você tem margaritas?” “Não,” ele respondeu, “mas eu posso providenciar alguma se você quiser.” Ela negou com a cabeça rapidamente. Isso era exatamente o tipo de coisa que alguém que estava acostumado a ter serventes iria fazer. “Não, tudo bem. E uma coca?” “Com ou sem rum?” “Com. Muitos.” Havia um pequeno refrigerador abaixo do bar, e ele retirou uma soda. Enquanto a porta estava fechando ela captou um vislumbre de uma bolsa de plástico cheia com um rótulo branco. Seu estômago revirou. Ele viu ela olhando. “Suprimento de emergência,” ele explicou enquanto ele derramava o seu drink. “É bom apenas cerca de quatro dias depois que ele é doado antes que a energia da vida seja coada para fora, mas ainda é mais forte do que um sangue animal. Nós temos um contrato com o centro de sangue e tecidos por uma quantidade limitada por mês. Isso salvou mais do que algumas vidas aqui.” “Eles sabem para que vocês usam eles?” Ela tentou soar indiferente, mas o pensamento ainda penetrou: Deus, ele bebe isso. Isso estava ali porque ele bebia isso. Ele provavelmente gostava do gosto, do cheiro. “Claro,” ele disse, retornando ao sofá e a oferecendo o seu drink. Ela manteve-se de atirar isso para fora por mera força de vontade, e tomou um gole, deixando o álcool queimar a sua língua e a efervescência das bolhas alegremente junto com ele. “Meu pessoal é conhecido no governo dos Estados Unidos em vários níveis. Isso é um fenômeno relativamente recente, mas manter boas relações diplomáticas nos ajuda a todos coexistirem. Meu antecessor não era tão mente aberta, então quando eu tomei o Signet eu tive que fazer muito controle de danos.” Ela tomou outro gole do seu drink, esse um maior. Ela ainda não podia agitar a imagem mental...de David, se inclinando sobre o pescoço de alguém...usando aqueles dentes para perfurar a carne de um humano, e sugar dele, seu lábio inferior manchado de vermelho. Os olhos dele ficavam prateados quando ele estava zangado; eles ficavam desse jeito quando ele se alimentava?


Então havia o humano. A mordida deveria doer, mas ele disse que vampiros usavam seu poder psíquico para manter sua presa calma, e que isso era...o que ele disse? Intensamente prazeroso. Era por isso que muitas pessoas achavam que eles eram românticos? Ele a estava observando novamente, e ela se sentiu corar. Ela sabia que ele podia ouvir alguns dos seus pensamentos. “Está tudo bem,” ele disse a ela, olhando para o seu drink, então erguendo os seus olhos para ela. “Eu não culpo você por sentir repulsa. Qualquer pessoa sã sentiria. Mas nós fazemos o que nós precisamos para sobreviver. No coração, nós queremos a mesma coisa que a sua espécie quer.” “Sério? O que você quer?” Ele abaixou o seu copo, claramente surpreso pela pergunta, mas pensou sobre isso um momento antes dele dizer, “Eu quero paz no meu território. Eu quero que quem esteja por trás disso provoque justiça para que ninguém mais morra.” Ele disse a ela, então, o que estava acontecendo, ou ao menos uma versão resumida disso: os ataques na cidade, crescendo mais freqüentemente e mais violentos; a traição de Helen e os buracos na segurança que foram expostos, o qual ele estava agora confiante que eles foram preenchidos; e, em menos detalhes, a guerra nas ruas na Califórnia e o culto vampírico conhecido como Blackthorn. “Eles começaram como uma família única, por volta da época que eu estava deixando a Grã-Bretanha. Imagine vampiros Puritanos, se você puder – fanáticos religiosos que defendem a austeridade como estilo de vida, se alimentando daqueles que eles consideram pecadores. Eles foram todos extintos por mais de um século, então reapareceram na Califórnia e assassinaram o Prime de lá, esperando colocar seu líder com o Signet. Não precisa dizer, que a pedra não acordou para ele. O território caiu em um caos. Eu ajudei o Segundo do Prime falecido a acabar com a guerra, e o Signet escolheu ele. Uma das suas primeiras ordens foi exterminar os Blackthorn. Qualquer membro do sindicato que nós achamos, nós matamos. Se algum sobreviveu, eles fugiram da Califórnia e não retornaram.” “E você acha que eles estão aqui,” ela concluiu. “Eu não sei. Certamente a metodologia é a mesma. Eles gradualmente minaram a autoridade de Arrabicci, exterminando a sua Elite até que nós estávamos espalhados tão escassos que a Rainha foi deixada sem guarda apenas tempo o suficiente para levar uma flechada em seu coração.” Ele novamente


tinha aquele olhar assustado em seu rosto, então adicionou, “Eu vi isso, mas eu não pude pará-lo. Tudo aconteceu tão rápido.” “Eles atingiram o Prime depois disso?” David sacudiu sua cabeça. “Eles não precisaram. Um Par –é isso, um Prime e sua Rainha –é atado por sangue e alma. O que mata um mata ambos. A Rainha foi abatida, e em menos do que um minuto Arrabicci apenas...caiu, morto, sem um arranhão nele. O vínculo entre eles permite que eles compartilhem seus poderes, mas isso faz também com que eles compartilhem seus destinos.” “Isso parece horrível,” Miranda observou, chupando a bebida alcoólica do cubo de gelo. Ela tinha se tornado um peso leve nas últimas semanas, e ele tinha uma mão liberal com o rum. Ela estava se sentindo um pouco desfocada nas extremidades. Ele sorriu. “Isso parece, não parece? Do que eu ouvi, é maravilhoso.” “Seu amigo, o da Califórnia, ele tem uma Rainha?” “Um cônjuge.” “Qual é a diferença?” O sorriso tornou-se seco. “A diferença é, se você chamar Jonathan de Rainha, ele quebra o seu pescoço.” “Eles fazem Primes gays?” “Apenas um, enquanto nós soubemos. Como eu disse antes, vampiros são lentos em evoluir.” “Eu apostaria que os Blackthorn amariam isso.” “Essa é a parte do porque eles escolheram Arrabicci em primeiro lugar. Deven era o seu mais fiel aliado, e provavelmente o solteiro mais talentoso e amável vampiro guerreiro jamais visto. Os Blackthorn exigiam que ele executasse Deven ou ele seria morto. Eu acho que suas exatas palavras foram, ‘Vão se fuder, e eu verei vocês no inferno.’” Miranda assentiu, entendendo. “E vocês são amigos, então eles odiavam você, também.” “Por isso e por uma dúzia de outras razões, não a menos importante o qual é que eu ajudei a varrer seu clã inteiro. Se houve qualquer remanescente, eles estarão lá fora por vingança tão quanto pela suas cruzadas.” Ela se inclinou lateralmente na almofada do sofá, bocejando enormemente. Era uma coisa boa que ela não tinha tomado qualquer analgésico até agora essa noite. Isso demorava tão pouco para se desgastar. Ela relembrou de um breve tempo de volta a faculdade quando ela podia beber mais do que um


compromisso da irmandade, mas como tudo mais na sua vida, isso tinha se tornado uma sombra, um fantasma indistinto do Antes. “Você sente falta da sua esposa?” ela perguntou sonolenta. Levou vários segundos antes que ele respondesse. “Isso foi há muito tempo atrás.” “Você a amava?” “Sim. Muito.” “Como ela morreu?” Ele terminou seu drink, mas não colocou o copo para baixo. “Ela foi condenada por bruxaria e queimada viva na praça da aldeia.” Os olhos dela lançaram abertos. “Oh meu Deus.” David acenou. “Meu filho foi mandado para outra cidade, do outro lado da Grã-Bretanha, adotado por parentes. Ele morreu de cólera na idade de trinta e dois.” “Mas...onde você estava?” “Eu estava na prisão,” ele respondeu. “Eu fui sentenciado à morte como Elizabeth tinha sido, mas alguém interveio. Depois, eu achei que era melhor deixar Thomas com a sua vida, acreditando que eu estava morto, ao invés de forçá-lo a encarar o que eu tinha me tornado.” “Me desculpe.” Ela quase derrubou o seu copo, ele estendeu a mão e resgatou isso dela, movendo muito mais rápido que sua mente embriagada registrou. Um segundo o copo estava na mão dela, no seguinte ele estava seguro na mesa de café. Ele deveria ter feito isso com sua mente. “Talvez você devesse tirar um cochilo,” David disse a ela, divertido. “Eu me sinto como se passasse todo o meu tempo dormindo no seu sofá.” “Você precisa de seu descanso. Você tem passado por muito.” “Yeah.” Ela puxou seu joelho de volta para o seu queixo, tateando pelo cobertor arremessado e colocando ele ao seu redor desordenadamente. “Especialmente se você for trabalhar comigo amanhã como você fez da última vez.” “Eu vou tentar ser gentil.” “Isso é o que eles todos dizem.” Ela divagou, sorrindo, consciente que os olhos dele ainda estavam nela enquanto ela mesma caiu no sono. ***


Era uma linda, clara manhã de Abril quando Lizzie morreu. A fumaça tinha sido vista por quilômetros. Foi á última manhã que ele alguma vez viu, e ele teve apenas um vislumbre disso através das barras da sua cela. Ele estava com sorte; ele não tinha visto o seu lindo jovem rosto obscurecido pela coluna de fumaça, ou sua rosada pele escurecendo. Ele não teve que assisti-la gritar...mas ele a ouviu. Ele ouviu todos os gritos dos três condenados enquanto as chamas lambiam seus descalços, pés quebrados. Ele ouviu a multidão aplaudindo, ouviu o zumbido da voz do reverendo. Um por um, os gritos se tornavam menos e menos humanos...então eles desapareceram. David aprendeu, anos mais tarde, que com todas as probabilidades as vítimas morriam da inalação da fumaça, então eles felizmente estavam alheios ao fedor de sua própria pele virando churrasco. Talvez seus pés formassem bolhas, a pele carbonizasse e rachasse, mas o ar venenoso teria deixado eles faminto por oxigênio, e a agonia talvez não tivesse sido tão excruciante quanto ele imaginava. Ou talvez dessa vez a fumaça não tivesse sido suficiente – o vento talvez estivesse no lado errado, a madeira tão seca que as chamas correram para cima na pira. Talvez Elizabeth morreu amaldiçoando o nome dele, ou implorando a Deus pela liberação. Seus últimos pensamentos tinham sido para ele? Ou seu menino, já zeloso da distância na noite, fora de influência nefasta de seus pais demônios? Ele relembrava de Lizzie como ele a conheceu, sorrindo, olhos brilhando, cabelo se soltando do seu coque. Ela tinha sido um espírito tão livre que ela se casou mais tarde do que as suas irmãs. Os homens da aldeia achavam que ela era difícil. Furiosa, eles diziam. Ela morreu, então, da maneira que ela viveu. Richard Cooke, que tinha pego a última troca de turno como carcereiro antes que David estivesse para seguir os passos de Elizabeth para a pira, sussurrou para ele através das barras que embora os outros dois condenados tinham soluçado e implorado por suas vidas, ela tinha cuspido no reverendo com desdém e mantido a sua cabeça alta enquanto eles a amarravam para a fogueira. Aquela era a sua Lizzie. Enforcamento era um destino mais comum para as bruxas naquela época, mas o Caçador de Bruxa que veio na sua aldeia – que foi pago por convicção – tinha favorecido ao mais bárbaro método que iria relembrar as testemunhas do inferno que aguardavam eles no inferno que deveriam se afastar do caminho da retidão.


Austin no século vinte e um era tão muito mais monstruosa e infinitamente mais amável em comparação. David ficou no vento da noite quente, olhando para baixo à sua cidade do telhado de um dos prédios mais altos, observando o movimento do tráfego ao longo das ruas abaixo. Daqui, havia uma ilusão de ordem; coisas moviam em linhas retas, de acordo com os sinais. Buzinas soavam, e o vento carregava para ele fragmentos de música dos bares e clubes que se enfileiravam na Sixth Street, todos eles cheios em sua capacidade em um Sábado à noite de um fim de verão. Mais amável, sim...e ainda o mesmo ódio ignorante que tinha acabado com a vida de Lizzie tinha obstinado seus passos todo o caminho para o século vinte e um. Até mesmo a bondade humana tinha aprendido lamentavelmente um pouco nos últimos séculos, ou ele estava singularmente amaldiçoado. Em algum lugar ali fora estava á gangue que ele destinava-se a achar e eliminar. Eles estavam, ele tinha certeza, planejando seus próximos ataques enquanto ele estava ali. Por meses os Blackthorn da Califórnia tinham sido fantasmas. Eles apareceram, mataram, e foram dissolvidos antes que eles pudessem ser identificados. A Elite tinha sido incapaz de rastreá-los até que a sorte finalmente caiu em seu caminho: Um dos membros largou uma caixa de fósforos na cena do crime. Aquela caixa de fósforos levou a um bar vampiro, o qual levou David a exercer suas habilidades interrogatórias, o qual levou ao resto do sindicato. Sangue fluiu nas ruas de Sacramento até que a noite estivesse silenciosa novamente. Havia nove humanos mortos e quatro vampiros no máximo dessa vez...cinco, se ele contasse com Helen. A única coisa boa vindo disso era que agora a rede de com estava tão segura que até Deus precisaria de uma senha para se conectar. Novamente ele pensou no rosto de Lizzie. Ele pensava nela com freqüência, mas raramente tão profundamente. Tinham se passado três séculos, e ele tinha amado depois disso. Centenas de pessoas tinham entrado e saído da sua cama, e embora ele raramente desse seu coração, isso tinha acontecido. Ele conheceu Lizzie por menos de uma década no total. Porque ela tinha retornado a assombrar os seus sonhos agora? Mais importante...como Miranda a tinha visto? Ele tinha colocado escudo em outros antes, e isso nunca tinha acontecido. A única explicação que ele podia pensar era que Miranda era três vezes mais poderosa do que qualquer um que ele tinha treinado antes. Psicologicamente ela


já era tão forte quanto metade da sua Elite. Era também possível que ela tivesse algum poder na maior parte inexplorada como uma mediana, apenas como se isso fosse possível ela poderia ver e ouvir partes dele que nenhum outro que ele alguma vez treinou poderia...possivelmente, e extremamente irritante. Seu celular tocou. Ele o alcançou distraidamente, dando passos para trás fora do vento. “Sim?” “Deixe-me adivinhar,” veio uma familiar, profunda voz com um alegre sotaque Britânico. “Você está em pé no topo de um prédio com um longo casaco preto, meditando.” David sorriu na escuridão. “Não é tudo, meu Senhor,” ele respondeu. “Como sempre acontece eu estou em um bar de topless com meu rosto entre as coxas de uma morena.” “Mentiroso,” era uma resposta gargalhada. “Sua voz não está abafada.” “Para que eu mereço essa honra?” David perguntou. Jonathan Burke, Cônjuge do Prime dos Estados Unidos do Ocidente, tinha gasto mais de sua vida imortal como um guarda-costas para a realeza, e no seu tempo livre houve rumores que ele mordia as árvores ao meio com seus dentes. Um alto, largo loiro cujo nariz foi quebrado algumas vezes, ele parecia muito mais como um linebacker41 do que como um vampiro. Ele era uns bons vinte e cinco centímetros mais alto que o Prime, seu pólo oposto em mais jeitos do que um; Deven era calmo e sério e tinha enganado várias pessoas em pensar que ele era frágil. David imaginou Jonathan sentado com seus pés escorados em sua mesa no Haven fora de Sacramento, bebendo uma cerveja com sua mão livre. “Eu mandei os arquivos que você me pediu por email,” Jonathan disse. “Eu não sei o quanto de ajuda eles podem ser. Sua Intel é provavelmente vastamente superior a nossa.” “Obrigado. Eu quero dar uma olhada neles independentemente para ver se há algo que eu perdi.” “Você está procurando por uma caixa de fósforos,” Jonathan supôs. “Eu espero que você ache alguma. Eu odeio ter que pensar que qualquer uma dessas baratas escorregou por seus dedos, mas é possível.” “Não foi por isso que você ligou,” David assinalou.

41

(linebacker – é uma posição do futebol americano, são os jogadores da defesa)


“Não, não realmente.” O Cônjuge parecia estar procurando pelas palavras, o qual era um pouco incomum para ele, mas David esperou até que ele disse, “Eu vi algo.” Merda. Cônjuges eram quase todos dotados de premonição, e o dom de Jonathan era muito forte. Ele previu a morte de Arrabicci, mas ele estava do outro lado do mundo quando isso aconteceu e nem sequer sabia o que estava vendo. Ele previu David tomando o Signet – de fato, aquela visão foi o que convenceu David de que a espera tinha terminado e era hora de derrubar Auren. “O que você viu?” “Era vago,” foi á resposta, alterada, “mas pareceu urgente. Eu nem sequer sei se isso vai fazer qualquer sentido pra você. Eu não ia ligar, mas Dev disse que eu pensasse melhor, e você sabe que ele sempre acerta.” “Continue.” “Havia uma mulher,” disse o Cônjuge. “Eu não pude vê-la muito claramente, mas eu pude ouvir música.” A mão de David cerrou o telefone tão apertado que ele estava assustado que isso não quebrou. “E?” “Água negra. Fria. Pareceu como afogamento – bem, eu acho que foi. Eu nunca realmente afoguei, mas ainda, se eu pudesse...enfim, eu também vi um Sinal de Signet, não um que eu conheço. Eu acho que isso pode ser de Auren, o qual faz sentido te dar a situação. A pedra desenhada no centro era vermelha como a sua. Isso estava coberta com tinta em algo, e isso estava queimando.” O Prime assentiu para ninguém. “Que mais?” “A mulher...ela estava triste. Ela me fez pensar em mel e chuva.” “O que aconteceu com ela?” “Ela morreu, David. Isso era muito certo. Eu vi seu sangue em suas mãos. Meu conselho é, se você conhece essa mulher, tire ela de perto de você tão rápido quanto você puder.” David estava vagamente consciente que ele tinha parado de respirar. “Isso é tudo?” ele gerenciou. “Não. Existe uma outra coisa.” Jonathan entregou o resto apressadamente, como se ele estivesse tentando exorcizar o conhecimento de sua mente dizendo as palavras alto. “No final, eu vi você, virando as páginas de um antigo livro. Entre duas páginas você encontrou um desenho de uma mulher, tão velho que isso estava desmoronando. Eu não a reconheci, mas ela parecia...errado. Então você virou a página novamente, e ali estava um recado que alguém tinha escrito pra você, ainda dobrado.”


“Você viu que livro era?” “Não. Ele talvez nem seja um livro de verdade – você sabe como essas coisas são. Algumas vezes elas são literais, algumas vezes elas são metafóricas, algumas vezes elas são lixo. Eu desejaria saber mais.” “Obrigado,” David disse, “Eu acho.” “Não me agradeça,” Jonathan disse a ele, e ele pode ouvir o peso de muito conhecimento na voz do Cônjuge. “Nunca me agradeça por ver coisas, Senhor Prime. Eu não quis isso, eu nunca tive.” “Eu sei.” David sorriu para o telefone apesar da maneira que o seu coração estava pesado ao redor do seu peito. “Mas apenas pense no que você estaria perdendo se você não o tivesse.” “Sempre há isso.” A voz de Jonathan animou-se um pouco. “Falando no qual, eu devo ir. Minha presença foi humildemente solicitada no quarto.” David rolou seus olhos, rindo. “Humildemente solicitada, o meu rabo. Dê ao Prime as minhas estimas antes de você dar a ele as suas.” “Como você desejar, meu Senhor. Boa caçada.” “Boa caçada.” *** As palavras de Jonathan retocavam uma vez atrás da outra pela mente de David enquanto ele deixou a torre do banco e dirigiu Harlan para retorná-lo ao Haven. Ele resmungou evasivamente quando Harlan perguntou se ele teve uma boa caçada; ele estava muito preocupado para conversar. Toda a viagem de volta, enquanto o estourar da noite desaparecia nos deslocamentos das colinas centrais do Texas, ele pensou sobre isso, incapaz de banir o conhecimento que surgiu a partir de seus próprios ossos tanto quanto isso tinha vindo do dom do Cônjuge. Ele estava indo ter Miranda morta. Quanto mais tempo ela ficasse no Haven, mais perigo ela estava correndo. De um jeito ou de outro ela tinha que aprender como colocar um escudo, e rápido. Ele já teve a vida de inocentes o suficiente queimando em sua alma; ele não iria ter a dela, também. O problema com as visões era que elas nasciam por um único instante de tempo. Logo que elas fossem vistas, o universo começava a mudar ao redor delas. Elas mostravam que era o mais provável que o curso dos eventos ficasse inalterado, mas elas não eram imutáveis. Jonathan tinha dito a ele, e por causa disso, ele iria fazer uma escolha ou outra, desviando para o mais perto ou o mais longe da visão em si. Agora mesmo, as cartas estavam marcadas contra a


vida de Miranda. Ele tinha que fazer tudo ao seu poder para mudar essas probabilidades. Isso significava levá-la de volta a Austin. Isso também significava parar a guerra antes que isso se intensificasse. Claro, Miranda voltando para a cidade deveria ser o que a mataria; não havia maneira de saber. Então ele iria ter certeza que ela estivesse salva em seu mundo mortal até que ele estivesse confiante que ela não precisasse de um tutor. Isso seria simples o suficiente. Seria melhor se ela deixasse o seu território inteiramente. Ele podia arrumar isso, e isso não era como se ela tivesse uma vida inteira aqui para perder. Os Blackthorn não se rebaixariam para perseguir um mero humano, assumindo que eles sequer soubessem que ela existisse. Esse pensamento fez algo estranho com ele, contudo. A idéia de Miranda deixando Austin desencadeou uma dor surda, e um tipo de desespero selvagem arranhando a sua garganta, como se ele estivesse segurando um choro de dor. Ele fechou seus olhos e bateu a sua testa levemente contra a janela do carro, sentindo-se como um tolo. Na hora que ele estava de volta ao Haven e tomou os relatórios usuais da patrulha e atualizações de Faith, era quase perto do amanhecer, e ele tinha uma terrível dor de cabeça. Cada vez que ele usava uma mecha de energia facilmente, isso retornava momentos mais tarde; se ele deixasse isso sozinho isso iria embora em uma hora, mas enquanto isso ele tinha que lidar com isso, o que o deixou vociferando com Faith e agindo geralmente como ‘uma megera’ com todos os outros. “Mestre?” Faith disse no final da reunião de patrulha. “Permissão para falar francamente?” “Desde quando você me pede por permissão?” ele zombou, a testa plantada firmemente em suas mãos. Ela ignorou a afirmação e disse, “Mestre, vá para a porra da cama antes que eu tenha que matar você.” Por uma vez, ele fez o que ela disse sem protestar e tentou não aparentar para todos que ele ficou com receio dele ter assustado os serventes. Ele parou com as mãos na porta da sua suíte, subitamente temendo com a perspectiva de encontrar Miranda ainda dormindo no sofá. Ele pensou voltar para aquela dor que ele sentiu no carro, e teve apenas a metade de uma mente para se deitar em um dos outros quartos da ala, mas isso cheirava fortemente


como uma covardia para ele, e ele estava disposto a ter apenas cerca de qualquer vício exceto esse. Para a sua surpresa, ela não estava no quarto. Ela deve ter acordado e retornado para a sua própria cama. Aliviado, ele tirou seu casaco e encheu para si um novo drink. Ele precisava de um banho; estava quente na cidade, e embora os vampiros não suassem facilmente, ele ainda sentia revestido pela umidade do ar. Um som o alcançou, e ele se levantou com uma garrafa de Bourbon ainda em suas mãos, ouvindo. Estava vindo do quarto adjacente: música. Hipnotizado, ele colocou a garrafa abaixo e seguiu para a porta, o qual estava entreaberta por uns centímetros ou algo assim. Luz estava passando através dela. Ele se inclinou para a esquerda para ver dentro sem mover a porta.

“Estranho e forte como chove agora...” Ela sentava na beira da cama, a luz da lareira delineando sua silueta e captando o seu cabelo como tinha feito isso na janela uma vez anteriormente. Seu violão, um acústico preto que ele relembrou da noite que ele a trouxe aqui, brilhou, e seus dedos dançavam lentamente sobre as cordas enquanto seus pés descalços batiam de leve na lateral da cama já que suas pernas não eram longas o suficiente para alcançar o chão. Seus cachos estavam caindo em seus olhos, mas isso não importava; ela estava tocando com eles fechados, concentração em seu rosto com forma de coração. As contusões tinham desaparecido, embora havia ainda um corte sarando em sua testa. O que era verdadeiramente notável era sua expressão: Enquanto ela cantava, a escura doçura da sua voz agasalhava como uma mão de um amante ao redor da letra, ela estava sorrindo, completamente em paz de um jeito que ele não tinha pensado que ela fosse capaz. Ele queria tão malditamente voltar, mas ele não podia. Sem sequer tentar ela o tinha pego em seu feitiço.

Oh Deus. Não, não, não. Ela não estava usando a energia conscientemente, e uma verificada acanhada no escudo mostrou que ele estava tão forte quanto antes, mas ela não precisava de poder para isso. Empoleirada na cama, vestida com uma surrada Tshirt do Festival de Austin Celtic, ela era, ele subitamente percebeu, a coisa mais linda que ele jamais tinha visto.

“Mas eu ainda vivo embaixo desse manto...”


Tomou muito esforço do que ele pode sequer pensar ser possível, mas ele desviou seus olhos e fechou a porta, lutando com a urgência de trancá-la. Então ele prosseguiu para o armário de bebidas alcoólicas e bebeu até dormir.


Capítulo

P

7

ARA: MIRANDA GREY (MGREY82@FREEMAIL.NET) De: Kat (katmandoo@freemail.net) Título: MIA?

Oi garota, Eu sei que você disse que estava fora da cidade mas quando você voltar nós podemos por favor almoçar? Eu realmente acho que nós devemos conversar. Eu estou preocupada com você, Mira-Mira. Você não tem lidar com essa coisa sozinha. Apenas me deixe saber que você está bem, okay? Eu sinto muito a sua falta, docinho. Abraços, Kat

Para: Kat (katmandoo@freemail.net) De: Miranda Grey (mgrey82@freemail.net) Título: Re: MIA? Eu estou bem. Eu estou com um amigo no interior. Eu prometo que eu te ligo assim que eu voltar para Austin. Por favor não se preocupe comigo (mesmo embora eu sabia que você vai fazer do mesmo jeito). Sinto sua falta também. ~M


Ela clicou no MANDAR e observou, surpreendida, como a mensagem voava da sua caixa de correio na internet digital centenas de vezes mais rápida do que quando ela mandou da última vez em que ela trabalhou no seu laptop. “Você é muito útil para se ter por perto,” Miranda comentou. Do outro lado da mesa, David olhou para cima do computador que ele estava consertando e ofereceu um sorriso. Ela tinha mencionado, de passagem, que o seu computador era um dinossauro; ela o comprou usado na liquidação da Craigslist42, e pensou que ela o amava, ele era lento e pesado e quase completo com pints43 com arquivos de música. David ofereceu dar uma olhada nele antes deles começarem a sua sessão de treinamento dessa noite, e aproximadamente em trinta minutos ele o fez ronronar como uma máquina novinha. Enquanto ela o testava, ele quebrou aberto o processador de algum servidor ou outro e o derramou em tripas por toda a mesa, indo depois com um conjunto de minúsculas chaves de fendas para substituir algum tipo de...chip? Ela não podia sequer ser capaz de nomear o pequeno, retangular pedaço de hardware Como sempre ele sentiu os seus olhos e disse, sem olhar para cima, “É um conselho de segurança ajudar a manter os predadores fora da rede.” “Alguém mais invadiu?” “Não, e eles não irão.” Ele estava sendo um pouco sucinto com ela essa noite, embora ela sentisse que isso não era nada que ela tivesse feito...apesar de que ele tivesse dado a ela alguns olhares estranhos quando ele achava que ela não prestava atenção...olhares especulativos, quase cautelosos, e que no rosto de qualquer outra pessoa talvez tivesse sido interpretado como medo. Ela cantarolava suavemente enquanto ela limpava a sua caixa de email até que ela olhou para cima para vê-lo parecendo ofendido. “Você se importa?” ele respondeu. “Desculpe,” ela murmurou. Ela quase começou a fazer isso de novo só para deixá-lo puto, mas decidiu que provavelmente não fosse uma boa idéia. O que tinha restado do seu bom humor evaporou quando ela viu o email recebido. Para: Miranda Grey (mgrey82@freemail.net) De: Marianne Grey-Weston (marianne. weston@comtex.dallas.com) 42

(Craigslist- classificados de Austin) .(pints - é uma unidade de medida pré-métrica de capacidade do chamado sistema inglês ou imperial. Foi usado antigamente na Europa. E nos Estados Unidos 1 pint (1 US liquid pt.) equivale a 473,176473 mL) 43


Título: Aniversário do Papai Miranda, Se você está planejando aparecer no aniversário de sessenta anos do Papai mês que vem, por favor me deixe saber então eu posso mandar uma contagem exata para o fornecedor. Eu espero que você esteja bem. Sinceramente, Marianne Grey-Weston Ela encarou o monitor por um longo tempo, mordendo o seu lábio, antes dela fechar o computador e empurrá-lo para longe dela. “O que está errado?” David perguntou, finalmente olhando para cima do seu trabalho. “Oh...nada. Apenas minha irmã.” Com a expressão surpresa dele ela adicionou, “Irmã mais velha. Ela ainda vive em Dallas onde nós nos mudamos antes de nossa mãe morrer. Nós não nos falamos muito.” “Porque não?” Ela correu seus dedos em volta do logo da Apple no centro do laptop, tentando ignorar o pesado sentimento que sempre formava em seu estômago quando ela ouvia sobre Marianne. “Nós nunca fomos muito próximas.” Ela sabia que ele podia ouvir a mentira em sua voz, mas ele não comentou. Um momento mais tarde ela disse, quase de má vontade, “Houve essa coisa, quando nós éramos jovens... nossa mãe, ela.. ficou maluca, tipo assim.” “Maluca,” ele repetiu, a frieza do tom que ele tinha usado toda a noite aquecendo apenas um pouco. “Maluca como você ficou maluca?” “Eu não sei, Talvez. Isso aconteceu quando nós éramos crianças. Ninguém jamais me contou o que estava realmente errado com ela. Ela estava sempre tão normal –ela embrulhava merendas, ela ia as peças de teatro da escola, tudo isso. Marianne estava envolvida em tudo. Ela era a boa filha.” Miranda deixou seus olhos deslizarem ao redor enquanto ela falava, encarando os servidores, os monitores, tudo além dele. “Então um dia Mamãe meio que...parou. Ela saiu do espaço e não reconhecia nenhum de nós. Eles fizeram todos os testes médicos que eles puderam pensar e não acharam nada. Papai a colocou no Hospital municipal, e ela morreu ali quando eu tinha quatorze.” “Sinto muito,” ele disse. “Isso deve ter sido difícil pra você, tão jovem.”


“A pior parte foi Marianne e Papai. Eles ambos quiseram fingir que nada tinha acontecido e agiam como se ela estivesse morta mesmo quando ela não estava. Eles me envergonhavam. Eu acho que ela causou algum tipo de cena em público uma vez. Eles estavam ambos mais preocupados com o que as pessoas pensariam do que com o que aconteceu com Mamãe. Eu fui visitá-la uma vez, mas eu não pude voltar lá. Era...era o inferno. Era o inferno e ela estava presa ali para sempre.” Miranda engoliu suas lágrimas, forçando sua voz a ficar constante. “Marianne e eu tivemos muitas brigas sobre isso. Papai se recusou a falar sobre tudo. Ele ainda não fala. Então eu me mudei para Austin assim que eu me formei na escola. Eu apenas os via uma vez ao ano ou assim, e era sempre extremamente infeliz. Quando eu a vejo, tudo que ela quer saber é se eu me casei e quanto dinheiro eu juntei, mesmo que por anos é sempre a mesma pergunta. Ela apenas tem uma senhora vantagem sobre mim pelo fato dela ser uma rica pediatra com um marido advogado.” “Então porque você não fala pra ela tudo isso?” Ela sorriu impotente. “Eu não tenho idéia. Eles são como...eles são como Hero e Claudio44. Os Filhos mais agradáveis da cidade agradável.” “Eles não respondem,” David disse razoavelmente, encaixando a caixa de volta no computador, então fechando as ferramentas em suas próprias caixas. “Nós não podemos escolher como nascemos, Miranda, e muito raramente como nós morremos; mas nós podemos escolher como nós viveremos. A vida é muito curta para se gastar em pavor e culpa.” Ela inclinou sua cabeça para um lado e deu a ele um olhar. “Você percebe que você perde qualquer tipo de credibilidade no departamento clichê de ‘vida é muito curta’. “Admito,” ele respondeu, se levantando. “Mas ainda assim eu estou certo. Nós devemos?” Miranda suspirou. “Agora que nós somos aqueles que compartilhamos nossas estórias de vida, eu imagino que nós devemos ter a parte divertida da noite.” Ela deslizou o seu laptop de volta para a sua sacola e o pendurou em seu ombro, seguindo ele para fora da sua sala de trabalho e para baixo no corredor. 44

(Hero e Claudio – são um casal de namorados personagens de uma comédia de Shakespeare chamada Muito Barulho por nada. Eles estão prestes a se casar em uma semana. Para passar o tempo antes de seu dia do casamento, eles conspiram com Don Pedro, o príncipe de Aragão, para enganar seus amigos, Beatriz e Benedito, para confessar seu amor um pelo outro.)


Ela esperava que ele a levasse de volta para a suíte, mas ele dirigiu-se na direção oposta, parando em frente a uma porta trancada que era quase escondida em um corredor. Como a maioria das portas no Haven, ela tinha uma trava eletrônica. Ela tinha observado os Elite segurando seus coms para cima nas travas para abrilas; aparentemente as travas eram programadas para checar a identificação de segurança antes de admitir alguém. David fez o mesmo, e a luz vermelha na trava mudou para verde. O que quer que seja que ela estivesse esperando da sala, o que ela encontrou não foi. Bisbilhotando para dentro ela viu nada além de duas poltronas, apenas como aquelas próximas a lareira no quarto dele, mas não havia lareira aqui; de fato ao lado das cadeiras não havia nenhum móvel, e o piso estava sem tapetes. Não havia janelas e apenas a única porta, sem decoração de qualquer tipo. Quando ela cruzou o limiar da porta, seus joelhos quase dobraram. Era como se andasse através de uma parede de água; por um segundo ela não podia respirar enquanto o poder a engolia, empurrando para ela os limites inexistentes como uma coisa viva tentando conhecer o formato dela. Ela começou a lutar contra isso, mas algo arrastou ela adiante –a mão de David. No outro lado do limiar da porta, o ar sentia-se normal, se um pouco mais limpo. Olhando para trás da porta da entrada quase parecia haver um véu de...não luz, mas difusão, novamente como água. “É um escudo,” ela percebeu. “Eu nunca tinha visto algo tão poderoso.” Ele assentiu e gesticulou para ela tomar à poltrona. “Essa é uma sala protegida dedicada para treinamentos psíquicos. Existem várias no Haven, mas essa pertence apenas a mim. Primes tem usado essa por séculos, então as paredes estão impregnadas com energia que mantém fora influências indesejadas e mantém dentro o que quer que nós façamos aqui. Dessa forma se você perder o controle, ninguém do lado de fora dessa sala será machucado, e ninguém pode atacar você enquanto você está vulnerável.” “Porque nós estamos trabalhando aqui dessa vez ao invés de dentro da sua suíte?” “Na última vez era tudo trabalho de estabelecer. Dessa vez, eu vou abaixar o seu escudo, e você vai reconstruí-lo. Se nós tentarmos isso na suíte, você teria cada mente do Haven correndo através da sua.”


“Uma centena de vampiros em minha cabeça,” Miranda disse, sentindo frio. “Péssima idéia.” “Precisamente.” Eles se estabeleceram em suas poltronas. David olhou para sua esquerda, e as luzes esmaeceram um pouco, imitando o suave ambiente de luz de velas. Não havia velas –sem chamas vivas, sem lâmpadas que pudessem ser atingidas, nada para quebrar ou explodir. Ela se perguntou se ele aprendeu a trabalhar sua telcnesia em uma sala como essa. Ela ainda não tinha decidido o que era mais esquisito dele ser um vampiro ou dele poder mover as coisas com sua mente. Atualmente a coisa mais estranha era que agora ela tinha relativamente uma escala por estranheza, e ser apenas um vampiro não estava automaticamente no limite máximo dessa escala. “Vamos começar,” ele disse. “Estabeleça.” Ela fez isso, primeiro suavizando sua respiração, então conectando a sua energia na terra embaixo dela, seguindo o movimento de inalação e exalação com a sua conscientização. O mundo desacelerou, e a agitação que ela estava começando a sentir sobre enfrentar outra lição continuou crescendo, não desesperadamente, mas não mais se segurando como centro das atenções. “Muito bem,” David disse a ela, aprovação calorosa em sua voz. Ela sorriu a despeito dela mesma. “Eu tenho praticado.” “Tudo bem. Agora, mantenha sua respiração constante, e tente não apertar sua energia. Aja como se você ainda estivesse totalmente com escudo e se lembre, nesse espaço você está segura.” Ela assentiu e fez o seu melhor para ficar calma. Ela estava íntima o suficiente com a energia agora que ela podia essencialmente ver o que ele estava fazendo: Ele partiu a barreira ao redor da mente dela com uma cortina e a recuou, a deixando completamente sem escudo pela primeira vez desde que ela veio para cá. Pânico elevou sobre ela. Não havia vozes, sem pilhas de emoções do lado de fora, mas sentia como...exposta. Ela tentou manter-se estabelecida, mas ela era um roedor no meio de um campo cheio com gaviões circulando sobre a sua cabeça; a vastidão do céu e a necessidade de se esconder eram esmagadoras. “Ponha de volta,” ela gemeu, fechando suas mãos sobre suas orelhas. “Eu não posso. Eu não posso.” “Respire, Miranda. Dentro e fora. Volte para a sua respiração. Não há nada aqui que vai te prejudicar. Eu não vou permitir isso. Você sabe disso.”


“Não, não...por favor...é muito. Ponha de volta!” Uma nota de histeria entrou em sua voz. Por duas semanas ela tinha o conforto do poder dele permanecendo entre ela e a maldade, mas agora era apenas o seu poder, e ela sabia que ele não era forte o suficiente. Ela nunca seria forte o suficiente. Apenas como sua mãe... “Você pode fazer isso. Me escute, Miranda. Você pode.” “Eu não posso...não posso...” A sala protegida não era suficiente. Qualquer segundo agora as paredes iriam cair e as vozes iriam derramar para dentro dela, e esse seria o fim disso – ela ficaria maluca, ela morreria, e nunca teria aquele precioso silêncio novamente – O coração acelerando, tragando por respirar como se ela estivesse afogando, ela se agitou na cadeira, pânico tão espesso e escuro em volta dela que ela não podia mais ouvir nada, ou ver, e nada permaneceu além do grito. *** Ela voltou à consciência lentamente, mal porém consciente de que ela estava mais uma vez com escudo e sem mais frio. Por um momento ela manteve seus olhos fechados, ouvindo. Havia um tamborilar de batimento contra seu ouvido, e tudo mais estava muito calmo...ela se agarrou zelosamente nas preliminares de paz por tanto tempo quanto isso durasse antes que a conscientização rastejasse de volta. Ela piscou e tentou fazer sentido nas coisas ao seu redor. Ela ainda estava na sala de treinamento, mas tudo parecia muito alto de repente, e a poltrona estava dura embaixo do seu bumbum. Chão. Não poltrona. Miranda moveu sua mão sobre o tecido liso, apertando ligeiramente, sentindo o músculo embaixo. Havia um braço ao redor dela. Ela estava inclinada no ombro de alguém. Ela recuou e olhou em seus esfumaçados olhos azuis. “Me desculpe,” ela disse roucamente. Uma mão dele estava na poltrona, brincando com alguns fios. “Você tem que fazer isso,” ele disse a ela suavemente. “você não pode ficar aqui pra sempre.” “Você tem certeza?” ela brincou cansada. Algo passou através dos olhos dele, e ele suspirou. “Eu tenho certeza.” A mão moveu para baixo para o braço dela, então levantou e roçou em uma


mecha perdida de cabelo dos seus olhos. “Ninguém pode salvar você exceto você mesma, Miranda.” “Você me salvou uma vez.” Ele sorriu brevemente. “Não, eu não salvei. Eu apenas trouxe você para dentro de fora da chuva.” “Mas e se...e se eu aprender como fazer isso, e ficar melhor, e voltar para Austin, e...” “Não há maneira de saber o futuro exceto em andar por ele. Mas eu prometo a você, que eu não vou deixar você ir até ter certeza de que você estará segura.” Ela deitou sua cabeça de volta no seu ombro e fechou seus olhos. “Não me deixe ir ainda.” *** Miranda sentou em sua cama com seu violão, seus dedos distraidamente arrancando algumas notas, seu coração, como a sua mãe disse tempos atrás, tão sem valor como um aluguel de um prédio em chamas. Ela olhou para o espaço sem pensar, pela melhor parte, por uma hora antes da batida na porta a fazer olhar para cima. “Entre,” ela disse indiferente. Olhos em formato de amêndoa e cabelo preto brilhante anunciaram a chegada de Faith, assim fizeram a luz brilhando de sua arma. A Segunda a olhou de cima a baixo e disse, “Ele não estava brincando. Você parece como o inferno.” Miranda deu de ombros. “Apenas perdendo a minha vontade de viver, obrigada.” “Eu entendo isso como se a lição terminou de forma péssima.” Ela descansou seu queixo no seu violão. “Você pode dizer isso.” “Tente novamente amanhã,” Faith disse. “Esse tipo de coisa leva prática – ninguém consegue fazer isso certo toda a noite.” “Eu acho que eu estou sem esperanças.” “Você está se você disser que está. Se eu fosse você, eu diria algo mais.” Miranda queria arremessar seu violão no chão em um ataque de fúria, mas o instrumento não merecia esse tipo de tratamento. Não havia nada no quarto que ela estivesse disposta a quebrar, e também –os serventes iriam apenas terminar limpando detrás dela, e ela não gostava disso. “Todos nas redondezas estão cheios de bons conselhos,” Miranda murmurou irritadamente. “É como uma casa repleta de Mestres Yodas.”


“Eu não estou aqui pra te dar um conselho. Eu estava pensando mais sobre as linhas de uma distração.” Uma pitada de maldade apareceu nos olhos de Faith. “Quer ver algo legal?” “Apenas se envolver ficar cegamente bêbada.” “Vamos,” Faith pediu, tomando o violão dela e o colocando na sacola, então a puxando em seus pés. “Agarre o seu suéter e vamos andando ou eu estarei atrasada.” Miranda conhecia um argumento perdido quando ela se deparava com um. Ela não perdeu sua energia remanescente protestando. Para uma mulher tão pequena, Faith cobria um lote de terra muito rapidamente. Miranda teve que praticar corrida para se manter com ela enquanto elas deixaram a ala do Prime do Haven, depois deixando o prédio. Miranda estava familiar com a maioria dos trajetos dos jardins agora, mas Faith a levou adiante em um diferente, liderando para frente de um dos prédios mais largos. “Agora, você tem que ficar onde eu colocar você, e ficar fora de vista. Entendeu?” “Mas para onde nós vamos?” Faith abriu uma fechadura ao lado da porta com seu com e conduziu Miranda para dentro. “Por aqui.” Ao princípio estava muito escuro para ver, mas ela podia definitivamente ouvir; havia os sons de uma multidão, talvez dezenas de pessoas, acima e diante dela, correndo de um lado para o outro e conversando entre si. Lascas de luz penetravam na escuridão, e Miranda montou os quebra-cabeças de que ela estava embaixo de algum tipo de arquibancada. Ela escolheu não pensar na possibilidade de aranhas. Faith puxou o seu braço e a manobrou para o canto onde o maior número de luz estava caindo. “Fique aqui, e você pode olhar sem ser notada. Você pode ver?” Miranda olhou para fora na lacuna das ranhuras para a enorme sala delimitada em todos os lados por arquibancadas como aquela que ela estava embaixo escondida. Isso se parecia muito como um ginásio, até as figuras geométricas pintadas no seu piso –havia um círculo central e vários círculos marcados para fora além dele. “Vampiros jogam basquete?”


“Não, não. Esses são anéis de disputa. Esse é o lugar onde a Elite tem treinamento de combate em grupo. Se você olhar para a sua direita, você verá o último grupo de cadetes.” Ela olhou. Sete pessoas estavam mais ou menos em uma fila, alguns parecendo muitos nervosos. Eles estavam todos vestidos identicamente em uma versão mais simples do uniforme da Faith, cinza morto ao invés de preto. Nenhum deles usava um com. Havia quatro mulheres e três homens em uma variação de idades físicas e etnias, mas a única coisa que eles tinham em comum era que eles tinham corpos perfeitos. “Fique aqui até eu vir buscar você,” Faith instruiu. Então ela se foi antes mesmo que Miranda pudesse perguntar o que no inferno estava acontecendo. No final distante da sala, duas portas duplas oscilaram abertas, e Faith marchou para dentro, ladeada por vários mais da Elite. A sala caiu em silêncio. Miranda escaneou a multidão. Estavam todos eles aqui? Quantos Elite eram eles, de qualquer forma? Se houvessem muitos que trabalhavam para o Prime, quantos malditos vampiros viviam em Austin, e como no mundo todos eles se alimentavam? “Bem vindos,” Faith dirigiu-se ao conjunto. Sua voz se transportando facilmente em toda a vasta extensão da sala. “Honrados Elite, vocês foram chamados aqui essa noite para testemunhar a seleção final dos três novos irmãos de armas. Cada um de vocês esteve aqui esperando esse momento, e cada um de vocês venceu. Essa noite nós aplaudimos o triunfo da nova guarda.” A multidão aplaudiu. A Segunda voltou sua atenção aos sete recrutas. “Vinte de vocês começaram essa disputa meses atrás. Agora vocês são sete. Em uma hora vocês serão três, e vocês irão se unir aos melhores dos melhores no Mundo das Sombras. Vocês serão empossados com um completo guerreiro Elite, comprometendo suas vidas e sua lealdade para o Prime e esse território.” “Para ser parte da Corte deve ser elevado entre os tipos de vampiro. Aliados do Signet tem sempre que ser os mais fortes, mais furiosos, e mais astutos. Para ser um Elite deve ser além do elevado –nós somos as centenas de espadas do Prime. Aqueles de vocês que serão vitoriosos essa noite irão tomar o seu lugar em uma Elite que é invejada no mundo.” Miranda observava Faith, fascinada por como ela segurava completamente os outros em seu gingado. Nenhum se atrevia a olhar para longe dela, e eles não pareciam como se quisessem olhar; se eles fossem o melhor, Faith era a melhor


dos melhores, e a ver entre eles, Miranda finalmente enxergou isso. As armas não faziam o Segundo –o Segundo fazia as armas. Ela invejava Faith. Ela invejava todos eles, seus propósitos comuns e força. Quando seu discurso foi concluído, a Elite aplaudiu novamente, dessa vez com gritos, e Miranda pode ouvir a sinceridade em seus gritos. Esses não eram um exército irracional de soldados apenas obedecendo ordens. Eles acreditavam em algo. Eles estavam dispostos a morrer para defender seu líder e sua casa. A multidão ficou silenciosa novamente quando a disputa começou. Primeiro, os recrutas eram colocados um contra o outro; havia algum tipo de sistema de classificação de trabalho, como nas Olimpíadas, mas Miranda não tinha idéia o que ia depois disso. Assim que os recrutas lutaram, Faith e os vários outros Elite os observaram, fazendo anotações. Imediatamente Miranda pode ver dois guerreiros proeminentes entre eles. O primeiro era um homem negro de aparência de meia idade, o segundo uma loira morango muito magra que aparentava como se ela tivesse cerca de dezesseis. Eles tinham radicalmente estilos de lutas diferentes, mas ambos eram um borrão de movimentos com e sem lâminas. Depois de cerca de cinqüenta minutos Faith pediu a suspensão da disputa, o qual Miranda percebeu que tinha sido na sua maioria muito quente; agora Faith ordenou um dos recrutas dentro do círculo principal, e um da Elite foi contra ele. Miranda nunca tinha sido atlética. Ela aprendeu dança de salão na faculdade em uma brincadeira com o namorado, mas isso era tudo. Ela assistia a luta hipnotizada, as figuras graciosas com um balé –bem, um balé com espadas. O tinido de metal com metal era afiado e rítmico, os vampiros se moviam mais rápido do que qualquer filme de artes marciais que ela tinha visto. O seu coração estava na sua garganta, constringido com um estranho pesar. As coisas poderiam ser tão diferentes agora se ela soubesse fazer qualquer dessas coisas naquela noite do beco. Ela se imaginou como a loira morango no anel, se virando ao redor para chutar um homem no estômago, batendo a lâmina para fora da mão dele. Ela imaginou como seria ser tão forte que nenhum homem nunca tentaria machucá-la novamente. A multidão fez oohed e ahhed como se eles estivessem assistindo um jogo de futebol. Adrenalina estava espessa no ar. A recruta de aparência jovem mandou o seu oponente ao chão sangrando. Uma torcida se levantou.


Faith acenou para ela, e a garota parou, se curvou, e retornou para a fila onde os outros estavam. Isso continuou até que cada um dos recrutas tinha lutado com um da Elite. Então Faith gastou um momento conferindo com os guerreiros vestidos de preto, alguns dos quais pareciam um pouco mais desgastados, alguns dos quais haviam vencidos suas partidas –e anunciaram dois cortes da lista. Miranda não viu onde os dois recrutas eliminados foram; eles estavam ali em um minuto e desapareceram no próximo. Esperançosamente eles foram apenas escoltados para fora do local e nada mais sinistro. Miranda estava agradecida de ver que ambos dos seus escolhidos estavam ainda concorrendo. Ela se perguntou se alguns da Elite tinham feito apostas; o que era muito como American Idol de Chutar o Traseiro, para eles não terem apostas. O melhor estava por vir. A seguir, os cinco melhores recrutas tinham que encarar Faith. Todos de uma vez. Cada um deles pegou uma posição ao redor da extremidade do anel de disputa central, com Faith no centro. Agora a multidão não podia ficar quieta. O minuto que a luta começou, eles estavam gritando, alguns entoando o nome de Faith, outros gritando e berrando. Muitos deles estavam em seus pés. No início os recrutas não pareciam saber o que fazer. Ninguém queria começar, Miranda supôs, e não tinha ocorrido a eles atacarem ela todos juntos. Eles estavam muito preocupados sobre suas próprias habilidades e seus futuros para considerar cooperação. O homem que Miranda esteve apostando finalmente perdeu a sua paciência e se moveu. Isso foi um erro. Faith pisou de lado, deixando o impulso de homem carregá-lo passando por ela, e caiu no chão, a perna dela esguichando para fora. O homem tropeçou sobre ela, sua graça inumana subitamente se tornando um humano muito sem jeito, mas ele se corrigiu e se virou a tempo de evitar pisar fora da linha. Ele se reestruturou e atacou novamente, dessa vez consideravelmente com mais perspicácia. Enquanto isso Miranda viu um deles parecendo pálido e apavorado; seus nervos iriam fazê-lo cuidadoso, também. Ele afundou sua faca e se lançou para Faith enquanto as costas dela estavam para ele.


Miranda quase deu um grito de aviso a Segunda, mas isso não foi necessário. Faith sabia exatamente o que o garoto estava fazendo, e ela desviou um gingar do homem mais velho e se girou ao redor, aço cintilando em direção ao garoto em um seguimento. Sangue. O recruta cambaleou para a esquerda, largando sua faca enquanto sua mão voava para o seu lado. Carmesim encharcava seu uniforme cinza. Ele tentou pegar sua lâmina de volta, mas ela deslizou para fora das suas mãos ensangüentadas, e antes que ele pudesse tentar de novo Faith virou e chutou forte ele no ombro,enviando a se estender, metade dentro e metade fora do anel. A multidão vaiou o recruta. Miranda queria vaiar, também. Ele tinha feito uma coisa covarde tentando apunhalar a Segunda pelas costas. Covardemente e incrivelmente estúpido. Um Elite agarrou o recruta pelo braço e o arrastou completamente para fora do anel, e essa foi a última vez que Miranda o viu. Faith não perdeu uma batida. O outro homem veio a ela enquanto ela se virou para encará-lo, mas os punhos dele encontraram apenas ar. Ainda, ele não tinha perdido nenhuma força ou velocidade, e ele se recuperou elegantemente do seu primeiro tatear. Depois de outro minuto Faith falou com ele, e ele congelou onde ele estava, então se curvou e deu passos para trás para a extremidade do anel. Faith não tinha sequer rompido um suor. Havia saído quatro por agora, o que significava que apenas estava um para ser eliminado. Faith pegou a garota loira a seguir, e como Mirando esperava, ela fez bem; Faith a desarmou duas vezes, mas nunca a derrubou para fora dos seus pés, e Miranda pensou ter visto aprovação no rosto de Faith. Os outros dois eram um homem e uma mulher, de forma Hispânica e o último o negro, e era claro que depois que Faith guerrilhou com o homem que ele não estava perto das habilidades dos outros. Ele era bom, sem dúvidas sobre isso, mas havia alguma falta de graça elementar nos seus movimentos que o resto tinha com espadas. Ela não o mandou embora quando ela terminou com ele, mas Miranda sabia que ao menos a última mulher era terrível, ele iria em um minuto. Com sorte a última mulher, que era uma alta e uma incrivelmente maravilhosa deusa morena que cada homem na sala estava encarando, não desapontou. Para o choque de todos reunidos, a recruta realmente conseguiu desarmar Faith.


“Mano a mano,” Faith retrucou. A recruta assentiu e largou sua própria arma. Agora o talento verdadeiro se mostrou; Faith era perversa com armas, mas suas habilidades de artes marciais diretas eram inacreditáveis. Ela parecia ter quatro braços, todos eles girando de uma vez, nunca ficando imóveis tempo suficiente para a mulher acertar um soco. Era quase como se Faith pudesse ver os movimentos da mulher antes que eles fossem feitos, e simplesmente não estava ali. Era algum tipo de dom psíquico do vampirismo, vendo o suficiente do futuro para saber como lutar? Finalmente, Faith levantou seu braço, e o barulho na sala desapareceu novamente. Ela não estava nem ofegante nem curvada, ao contrário dos recrutas, que todos pareciam como se eles fossem cair. “Honrada Elite,” Faith anunciou. “Nós escolhemos nossos três novos irmãos. Irá cada um de vocês dar um passo adiante, por favor.” Ela leu cada nome, e uma rodada de aplausos entusiasmados seguiu o recruta para o centro do círculo de disputa. A loira morango, o negro mais velho, e o homem Hispânico todos tomaram seus lugares atrás de Faith, que elogiou as suas habilidades e perseveranças, então os apresentaram pelos nomes para o resto da Elite. Os aplausos foram trovejantes. Miranda franziu o cenho. Porque eles tinham escolhido o último cara? A mulher era uma guerreira superior –mesmo Miranda reconheceu isso. A mulher pareceu chocada, mas ela não se envergonhou; um dos da Elite pegou o seu braço e a conduziu de volta para longe dos outros. Ao contrário dos primeiros cortados, ela não foi levada para fora da sala. Talvez houvesse algum tipo de prêmio de consolação ou papel suplente para ela. Então as portas duplas navegaram abertas novamente, e o silencio varreu sobre cada mente na sala, todas as conversações foram cortadas ao meio, enquanto a multidão, como uma, virou para encarar a porta. O coração de Miranda saltou. David Solomon entrou no ginásio, seguido pela sua própria guarda pessoal com uma distância respeitável. Ele vestia seu longo casaco, o Signet para fora onde Deus e todos pudessem ver, a luz que brilhava dela mais brilhante do que o usual. Cada centímetro dele radiava o porte real de alguém que nasceu para a coroa. Ele caminhou para dentro da sala, cruzando o piso, para o anel de disputa onde Faith estava com os três novos que-seriam-Elite. Enquanto ele passava


cada seção das arquibancadas, todos se levantaram, até que cada vampiro na sala estivesse sob seu pé na presença do Prime. Quando ele parou, seu olhar varreu a multidão, e como um, eles se curvaram. Ele deu a eles um aceno de retorno, e eles estavam livres para se sentarem. Então ele encarou os três, seus olhos frios fixos em cada um deles por sua vez. Eles estavam claramente aterrorizados por ele, mas para seus créditos eles não tentaram evitar o aço do seu olhar. Ele moveu lentamente em direção a eles, caminhando da loira morango, passando o homem mais velho, para o último homem escolhido. Os olhos de Miranda nem tiveram tempo de registrar o movimento. Sem uma palavra, David se virou, estendendo a sua mão dentro do seu casaco, e com um cintilar de aço, se girou ao redor e decepou a cabeça do homem com um ondular da espada. Um arquejar saiu, e Miranda pulou para trás com um choro e quase perdeu a sua posição. Mesmo sobre o barulho ela ouviu o som da cabeça atingindo o chão, seguido do corpo. Ele empurrou de volta o arfar então ela pode ver novamente, apenas em tempo de Faith agarrar a manga da camisa do homem e puxá-la para trás, revelando a tatuagem que causou outro suspiro geral. David nunca falou. Ele simplesmente deixou os outros verem, permitindo que a tatuagem falasse por ela mesma, e permaneceu por um tempo enquanto dois Elite arrastavam o cadáver embora pelos seus pés, deixando um rastro de sangue para trás. Miranda não viu o que aconteceu com a cabeça. O Prime gesticulou, e a outra recruta foi cutucada para o lugar onde o homem estava. Sua face estava pálida, mas ela engoliu forte e tomou seu lugar, permanecendo esticada. Quando a atenção de David retornou a ela, ela segurou o seu olhar e se curvou. Ele sorriu para ela, aprovando, e inclinou sua cabeça em direção a Faith. A Segunda estava completamente imperturbável pela execução. “Ajoelhar,” ela comandou, e os três obedeceram. “Jurem agora, diante dessas testemunhas e diante do seu Prime. Repitam, e levem essas palavras ao coração: Eu faço a decisão de compromisso do meu sangue e da minha vida ao Signet.” Eles repetiram, e ela continuou. “Eu juro fidelidade eterna ao Prime e seu território e a todos os seus aliados. Eu vou defender a sua lei e eu dou minha vida pela dele se o momento chegar. Esse juramento me liga até meu último


suspiro, quer no campo de batalha ao lado do Signet, ou pela rápida execução em caso da minha deslealdade.” Todos os três juraram com completa convicção. Faith foi para o Prime, que a entregou uma caixa do seu casaco contendo três tiras planas de metal. Um por um Faith prendeu um com em volta do pulso de cada novo Elite. Os três deles estavam praticamente radiantes por eles. Finalmente, David se dirigiu a eles. “Bem vindos,” ele disse, sua voz soava fora das vigas com autoridade absoluta. “Agora vocês podem tomar o seu lugar entre os seus irmãos e irmãs de armas como um Elite completo.” Os aplausos foram ensurdecedores. Os três novos Elite se abraçaram e apertaram a mão de Faith, então se limitaram às arquibancadas para um lugar vazio, onde eles olharam ao redor em um torpor, sorrindo de orelha a orelha. David permitiu que os aplausos continuassem por um momento antes de dar passos para o centro da sala. A Elite voltou a prestar muita atenção mais uma vez. “Meus guerreiros,” ele disse, “esses tempos estão escuros e perigosos, e aqueles de vocês novos no meu serviço tem que vir para nós em um momento de desafio. Nós encaramos um inimigo determinado a destruir a duramente conquistada paz do nosso mundo e retornar a uma antiga, bárbara maneira de vida para nossa espécie. Nós já perdemos amigos para essa ameaça, e eu não posso prometer que nós não vamos perder mais; mas eu dou a vocês a minha palavra, enquanto eu estiver aqui diante de vocês, que eu não vou descansar até o último desses covardes ser derrubado. Assim como vocês juraram lutar para mim, eu vou lutar por vocês.” Com isso, ele curvou para eles. Outro urro de aplausos subiu, esse estrondoso, e toda a Elite de pé, torcendo pelo seu líder, que bebia a fidelidade deles a partir de um epicentro, sorrindo ligeiramente, antes de dizer, “Dispensados.” Uma multidão de passos descendeu as arquibancadas sobre a cabeça de Miranda, o som ensurdecedor quando comparado com falatório entre a Elite partindo. Ela não podia mais ver o Prime graças a todos preenchendo a sala, mas ela captou vislumbres de Faith falando com os três novos recrutas, atribuindo-os algum lugar com outro Elite como seus superiores. Todos estavam cuidadosamente caminhando em volta da piscina de sangue onde o corpo do homem executado caiu.


Houve um barulho soando, e Miranda se encolheu de volta para dentro das sombras enquanto a porta atrás das arquibancadas abriu apenas ampla o suficiente para admitir uma única figura. “Eu pensei ter sentido você aqui embaixo,” David sorriu, um sorriso em sua voz. Ela mal podia vê-lo na escuridão. “Você está chateado que eu estou aqui?” “Não. Eu suspeitei que Faith fosse trazer você. O que você achou?” Miranda olhou de volta através da abertura novamente enquanto os últimos trinta e assim eles faziam os seus caminhos em direção a saída. Faith e os novos recrutas tinha ido, e um par de serventes uniformizados estava enxugando o sangue remanescente. Eles não pareciam enjoados e até mesmo infelizes com as suas tarefas. Era inteiramente possível que isso fosse uma coisa de rotina para eles. “Isso foi surpreendente,” ela disse. “Eu quero dizer, você os vê caminhando nas redondezas nos corredores com espadas e você sabe que eles são bons, mas...Faith especialmente. Ela é fantástica. E os outros...eles realmente amam você. Não é apenas um emprego pra eles.” Ela olhou de volta sob seu ombro para ele. “E sobre o homem, aquele que você matou?” “Noite passada nós pegamos uma suspeita em custódia que está trabalhando para os rebeldes. Ela me disse, depois de uma gentil persuasão, que eles tinham outro agente treinando para trabalhar o seu caminho para dentro da Elite a fim de tomar o lugar da Helen como seu informante primário. Eu olhei de volta os registros de treinamento e decidi pelo candidato mais provável. A suspeita em custódia confirmou minha suspeita. Eu queria tornar cristalino como traidores serão tratados.” “A suspeita está morta?” “Não. Nós ainda estamos mantendo-a. Eu prometi a ela uma morte fácil se sua informação se transformasse em algo preciso.” Ela cruzou seus braços e se inclinou contra o lado da parede das arquibancadas. “Isso nunca incomodou você, matar pessoas?” Ele soou um pouquinho machucado com o que ela perguntou. “Claro que sim, Miranda. Eu não sou feito de pedra.” Ela não disse se ela duvidava disso, mas ela pensou isso extra alto. Ele veio a ficar ao lado dela, olhando para fora da abertura ele mesmo e para a agora-vazia sala de treinamento. “Quando Auren era o Prime, humanos por todo o Sul morriam toda noite para satisfazer a luxúria de sangue da sua Corte. Isso era mantido fora da mídia porque eles temiam a ira de Auren, mas


eventualmente nosso mundo seria exposto e o território inteiro seria fervilhado com caçadores de vampiros. Essas pessoas querem que as leis de não matar se levantem então eles podem tomar suas vidas novamente –centenas de vidas inocentes. Se eu tiver que quebrar os ossos de todos os últimos rebeldes para prevenir isso, eu vou, e embora eu possa odiar fazer isso, e não vou perder um minuto com remorso.” Os olhos dele estavam duros, brilhando na penumbra como pedaços de obsidiana*, e ele acrescentou duramente, “Eu não espero que você entenda o que eu encaro toda noite. Eu sou responsável por todo vampiro sob minha influência e cada humano que eles se alimentam. Isso significa fazer escolhas difíceis. Julgue todo que você gostaria –você faria o mesmo no meu lugar.” *(Obsidiana é um tipo de vidro vulcânico, formado quando o magma solidifica rapidamente) “O que você queria que eu dissesse?” ela exigiu. “Você está certo, eu não entendo. Eu nunca vou entender. Eu sou apenas uma humana, se lembra?” Ele olhou para ela sem palavras por um momento antes de dizer calmamente, “Você nunca será apenas alguma coisa, Miranda Grey.” Atrás dele a porta abriu novamente e Faith disse com estudada indiferença, “Tudo está bem aqui, Mestre? Eu estava para levar Miranda de volta a suíte antes de eu ir para a conferência de chamada dos líderes de patrulha.” Olhos ainda fixos em Miranda, David disse a Faith, “Tudo está bem. Eu vou encontrar você na sala de conferência.” Com isso, ele se virou para longe de Miranda e caminhou passando a Segunda para fora, para dentro da noite. Faith assistiu ele partir, então deu a Miranda um olhar impressionado. “Bom trabalho,” ela disse. “Não são muitas pessoas que conseguem ficar sob sua pele dessa maneira.” Miranda tentou, e falhou, chegar a uma réplica inteligente. Tudo que ela podia convocar foi um suspiro. “Vamos. Eu estou com fome.” “Vocês dois são tão bonitinhos,” Faith comentou enquanto eles caminhavam. “Essa não é exatamente a palavra que eu usaria.” Faith caminhou com suas mãos entrelaçadas atrás das suas costas, ostensivamente olhando para cima na noite de céu nublado. Mais chuva estava a caminho. “Você sabe,” ela disse, “Quando eu conheci o Prime, ele era um tenente na Elite de Arrabicci, e uma pessoa muito diferente. Ele era arrogante,


mesmo cruel algumas vezes. Guerra era um jogo pra ele, e as conseqüências eram para os humanos.” Miranda cerrou o cenho. “O que mudou?” “Eu realmente não sei. Ele nunca é aquele que compartilha os detalhes do seu passado –para a maioria dos vampiros não fala sobre esse tipo de coisa. Nós todos temos um entendimento tático de que todo mundo tem uma história dolorosa.” Ela segurou aberta a porta do Haven para Miranda. “Tudo que eu sei com certeza é que o Signet o mudou. Eu não acho que nenhum deles percebeu que fardo essa coisa é até que eles o têm em torno dos seus pescoços. Eles tomam o poder, a responsabilidade, e a fama, e não há saída além da morte.” Faith deu a ela um olhar de esguelha e concluiu, “Se você me perguntasse, ele precisa de uma Rainha.” Miranda rosnou. “Não você, também! Eu achei que você disse que tudo isso era apenas rumor.” “Isso é. Mas é ainda uma idéia legal. É quase um conto de fadas, ou algum tipo de mito arquetípico45. Você é Perséfone46 arrancada da primavera e levada para viver no submundo, onde você come as sementes de Romã e se torna a Rainha.” Miranda rodou por ela. “Você tem que estar brincando. Todos nas redondezas convenientemente esqueceram o que aconteceu comigo duas semanas atrás? Você realmente acha que agora é uma boa hora para encontros? E que, eu deveria desistir de ser humana por um homem? Quando eu não acho que eu vou sequer querer que um me toque novamente? Existe tanta insanidade 45

(arquétipo, na psicologia analítica, significa a forma imaterial à qual os fenômenos psíquicos tendem a se moldar, é uma teoria de Platão) 46 (Na mitologia grega, Perséfone ou Koré corresponde à deusa romana Proserpina ou Cora. Era filha de Zeus e da deusa Deméter, da agricultura, tendo nascido antes do casamento de seu pai com Hera. Quando os sinais de sua grande beleza e feminilidade começaram a brilhar, em sua adolescência, chamou a atenção do deus Hades que a pediu em casamento. Zeus, sem sequer consultar Deméter, cedeu ao pedido de seu irmão. Hades, impaciente, emergiu da terra e raptou-a enquanto ela colhia flores com as ninfas na primavera. Hades levou-a para seus domínios (o mundo subterrâneo), desposando-a e fazendo dela sua rainha. Sua mãe, ficando inconsolável, acabou por se descuidar de suas tarefas: as terras tornaram-se estéreis e houve escassez de alimentos. Ninguém queria lhe contar o que havia aconteccido com sua filha, mas Deméter depois de muito procurar finalmente descobriu através de Hécate e Helios que a jovem deusa havia sido levada para o mundo dos mortos, e junto com Hermes, foi buscá-la no reino de Hades (ou segundo outras fontes, Zeus ordenou que Hades devolvesse a sua filha). Sabendo disso Hades deu à Perséfone uma Romã, que era o fruto do casamento. Como a deusa tinha comido os grãos, não podia mais deixar o seu marido. Assim, estabeleceu-se um acordo, ela passaria metade do ano junto a seus pais, quando seria Koré, a eterna adolescente, e o restante com Hades, quando se tornaria a sombria Perséfone. )


sobre isso que eu nem sei sequer por onde começar, esquecendo o fato de que ninguém em sua mente sã iria jamais, jamais querer viver como vocês. Deus, Faith, por favor apenas deixe isso pra lá.” Faith não pareceu surpresa com sua explosão ou ao menos um pouco acanhada. Ela deu de ombros. “Eu não disse que você deveria pular para os ossos dele exatamente nesse segundo, ou em um mês ou um ano. Eu estou apenas dizendo...” Ela acenou para os guardas da porta da suíte, e de novo, segurou a porta para Miranda enquanto ela disse, “Não se negue a possibilidade de felicidade um dia porque você está quebrada agora. Ao menos considere as sementes de Romã. Quem sabe? Além disso...eu ouvi dizer que Hades é espetacular na cama.” Faith estava gargalhando quando Miranda bateu a porta na cara dela.


Capítulo

O

8

REBELDE, APARENTEMENTE, NUNCA TINHA VISTO O Prime antes. Ele lutou com o aperto do Elite que o segurava ajoelhado no concreto seco, seus olhos enormes e brancos, choramingando sob o olhar do homem vestido de negro que permanecia o assistindo impacientemente e esperando para ele se calar. David estava acabando com a sua paciência. O espião infiltrado nos recrutas foi liquidado e o informante executado, mas até agora nenhum dos capturados tinha fornecido qualquer informação útil que conduzia ao resto do sindicato. Os ataques tinham cessado, se voltando para os humanos novamente, mas a agressividade deles estava aumentando. A última vítima tinha sido esfolada, sua pele esticada como a de uma vaca no curtidor e marcada com o Selo de Auren. David podia apenas ter esperanças de que ela estivesse morta quando sua carne foi descascada dos seus ossos. O próximo passo era fazer interrogações nas ruas de Austin, e então ele voltaria para o Distrito das Sombras aonde os bares e negócios apenas iriam para vampiros, passar por tudo isso de novo, dessa vez fora em público onde os outros poderiam observar de seus cantos escondidos e carregar as notícias para seus amigos. “Você terminou?” ele perguntou. O rebelde estava escancarado nele e sua boca estava trabalhando sem som, fazendo ele parecer bastante como um peixe em terra seca.


“Vamos fazer isso rápido,” David continuou. “Eu tenho coisas melhores para fazer do que ficar aqui fora nesse tempo esquecido por Deus e torturar você. Agora, me diga para quem você está trabalhando e onde eu posso encontrá-los.” Sem resposta. Ele não tinha realmente esperado por uma. Ele estava começando a pensar que a razão de nenhum dos capturados der dito nada a ele era que eles honestamente não sabiam. Ele estava certo que Helen era elevada no mastro totêmico, mas o resto...todas essas tatuagens tinham sido razoavelmente recentes. Eles não podiam ter subido muito alto na organização ainda. Eles eram dispensáveis, e então eles sabiam pouco do plano real ou da liderança. As chances eram que esse tolo não tinha idéia cujo departamento ele ocupava. Ele decidiu fazer uma aproximação diferente e deu um sinal para os guardas afrouxarem seus apertos no vampiro. O rebelde quase caiu no chão com um grunhido, se segurando ele mesmo com sua mão. David ajoelhou na frente dele, se inclinando para captar os seus olhos. “Vamos apenas conversar, então. Qual é o seu nome, rapaz?” Confusão pela repentina mudança de tom, o garoto – e ele era garoto, ele não podia ter mais do que dez anos imortais – murmurou, “Rollins.” “Quanto tempo você tem sido um vampiro, Rollins?” O garoto não encontrou os seus olhos, mas disse, “Três anos.” “Então eu presumo que você nunca me viu antes.” “Não, Mestre.” Havia ambos medo e desprezo na última palavra. “O que os seus novos amigos te disseram sobre mim?” David perguntou. Rollins olhou da esquerda para a direita para os guardas que ainda estavam o bloqueando de escapar e julgou que as probabilidades não estavam ao seu favor. “Eles disseram que você era o inimigo. Que você queria nos dizer quando se alimentar e o que nós podemos comer. Que muito em breve nós todos estaremos vivendo nos campos fora do Haven ficando em fila por sangue.” “Eu vejo. Você sabe quem está por trás disso, Rollins? De onde essas histórias vieram?” “Nós estamos lutando pela nossa liberdade. O Mundo das Sombras está se levantando contra a tirania. Você acha que eu vou te contar qualquer coisa? Isso vale mais a pena do que a minha vida.” David assentiu. “A justiça é satisfatória, não é? Alguns tendo uma causa para acreditar é o que faz tudo isso valer a pena. Mas então você tem que se perguntar: Quando se trata da coisa certa , você está realmente disposto a


entregar a sua vida por uma crença, especialmente uma dada por pessoas que você nunca viu?” Rollins olhou para cima para ele, perplexo. “Me deixe dar a você o que você quer, agora, Rollins. Soltem-no.” As guardas claramente pensaram que o seu Prime tinha perdido a sua cabeça mas fizeram o que ele tinha pedido, afastando do garoto e o deixando se levantar. David se endireitou. “Aqui está a sua chance,” o Prime disse a Rollins, estendendo as suas mãos. “Seja um Herói. Me mate, se você puder. Todos mais, fiquem pra trás.” Os olhos do garoto se estreitaram, compreensivelmente. “Isso é um truque.” “Sem truque.” David empurrou para trás o seu casaco e extraiu sua espada, entregando-a com o cabo primeiro à Elite mais próxima. Ela segurou isso como se fosse a Excalibur. “Mano-a-mano, combate até a morte. Me mostre o quanto fortemente você acredita. Me mate e tome o Signet de volta para o seu mestre. Eu tenho certeza que a recompensa será ótima.” Rollins continuou encarando ele, atordoado, tentando recuperar a sua inteligência e coragem; ele tinha que saber o quanto ridícula era a idéia, mas ao mesmo tempo, se ele realmente comprasse o que esses “lutadores da liberdade” estivessem vendendo, ele não poderia passar a chance. Havia algum tipo de ordem permanente para matar o Prime à primeira vista. O minuto se estendeu interminavelmente com um Rollins ofegante, seus olhos largos, suas mãos fechadas em punhos em seus lados. David simplesmente esperou, deixando o poder da sua aura expandir e mostrar ao menino exatamente o que ele estava encarando: o conjunto completo da escuridão e morte que se inclinava apenas com o desejo do Prime. A Elite assistia em estado de alerta. Eles estavam prontos para agredir o menino no segundo em que ele girasse, se parecesse como se ele pudesse realmente prejudicar o seu líder, se isso fosse realmente necessário. Mesmo se ele tentasse atacar, precisaria de um vampiro muito melhor do que Rollins para derrotar um Prime em nada como uma luta justa. Finalmente, Rollins abaixou seus olhos. Medo o engasgando e ele sacudiu sua cabeça em silêncio. David sorriu, dessa vez sem qualquer traço de compaixão. Rollins ficou até mesmo mais pálido com a maldade da expressão. “Ajoelhe-se para o seu Prime, menino.” Ele estalou.


Instantaneamente, Rollins caiu de joelhos. “Agora me diga o que você sabe.” Rollins respirou tremendo e gaguejando, “Eles...eles não nos contam muito. Apenas o que é a próxima missão. Há uma mulher responsável pelo meu grupo. Eu não sei o seu nome mas eu ouvi um dos outros a chamar de Black...Black alguma coisa. Nós nos encontrávamos em um armazém no Leste da DécimaNona. Isso costumava ser algum tipo de comunidade hippie no centro da cidade ou algo. Há tinta por todo o lugar e isso fede como uma panela. Por favor não me mate...por favor. Eu disse a você o que eu sei. Por favor.” “Obrigado, Rollins. Isso vai servir.” David se virou para a Elite, que deu a ele de volta a sua espada; o guarda deu a ele um olhar questionador, e ele assentiu silenciosamente de volta, depois se virou e foi embora, deslizando a lâmina curva de volta para dentro da bainha no interior do seu casaco. Atrás dele, ele ouviu um fraco tumulto e uma choradeira, então o balanço de aço e o baque de algo pesado atingindo a rua. “Estrela-três,” ele disse dentro do seu com.

“Mestre?” “Faith, eu preciso de uma pesquisa de busca de qualquer Blackthorn feminina de posição dentro do sindicato, quer elas estejam presumidamente mortas ou vivas. Cruze as referências com a lista de adeptos conhecidos de Auren e veja se há alguma comunalidade. Também mande uma unidade de reconhecimento no antigo armazém coletivo de Austin na Décima-Nona. Os rebeldes podem estar usando isso como um ponto de encontro de seus executores de nível inferior. Faça uma varredura de busca para as assinaturas de calor enquanto você estiver lá dentro para ver se alguém está morando lá.”

“Assim como você deseja, Mestre. Eu vou mandar os resultados da varredura em quinze minutos.” “Obrigado. Estrela-dois, fora.” Ele caminhou subindo a rua para um dos menos puídos bares no Distrito das Sombras, e enquanto ele passava ele ouviu movimentos nas calçadas, barulhos de passos recuando enquanto ele se aproximava. Sim, os deixem correrem. Deixem-nos rastejarem de volta para as suas pedras. Ele iria tomar um drink. O barmen no Anodyne o conhecia, claro, mas ao contrário de muitos outros ele não fez muito além de levantar uma pestana com a chegada do Prime. Havia poucos lugares onde David nunca se dignou a pôr os pés, mas esse aqui era freqüentado não apenas por ele, mas pela maioria da Elite fora de serviço.


Os empresários que entendiam do panorama sabiam que a execução de um bar de vampiros em uma cidade controlada por um Signet era uma boa idéia; se eles fossem para o lado bom do Prime eles nunca teriam que se preocupar sobre violência ou intimidação de gangues batalhando pelo distrito. Seus fregueses podiam beber em paz. Era uma das razões porque as cidades do Haven tendiam a ter muita concentração de vampiros, e o Signet focado na maior parte dos seus recursos para elas; ele tinha que se preocupar sobre os crimes de vampiros muito mais em Austin do que, digamos, em Little Rock. A única outra cidade em seu território que ele estava sempre compelido a visitar mais de uma vez no ano em pessoa era New Orleans. Vampiros mais vodu tendiam a ser combinações traiçoeiras. Dentro, o bar satisfazia três de suas coisas favoritas: escuridão, privacidade, e bebidas alcoólicas. A maior parte da sala era fechada com estantes, apenas os quais uma pequena parte estava preenchida em uma noite como essa. O bar em si estava vazio exceto por um homem sozinho que viu o Prime aproximar e imediatamente decidiu tomar o seu drink de uma vez. David tomou uma das banquetas enquanto o barmen se aproximou. “Noite, Mestre.” Ele disse, o seu sotaque uma familiar combinação de Hispânico e Texano. “O que eu posso te dar?” “Boa noite, Miguel. Eu quero um Black Mary.” “Prateleira mais alta?” “Vodka, por favor.” Miguel mediu a vodka em um misturador, então retirou uma garrafa opaca de um refrigerador marcada O NEGATIVO e preencheu o copo com o resto até a boca. Ele olhou para David e perguntou, “Você quer Tabasco ou Cholula?” “Cholula.” Ele deslizou o drink para David, que tomou um gole experimental e disse, “Perfeito.” Ele sorriu para si mesmo, pensando em como Miranda iria reagir se ela visse –ou melhor ainda, cheirasse –o que estava no copo. Ele podia imaginar a expressão que ela faria. Seu sorriso desapareceu. Aquela reação comum era a prova de como tudo isso era impossível. Ele podia pensar sobre ela sempre que ele quisesse...e ele tinha sido incapaz de parar nos últimos dias...mas no final, ela era humana. Mesmo assim que por algum milagre ela estivesse sequer interessada em sexo novamente, e mesmo se esse interesse fosse voltado a ele, o fato era, isso estava


condenado desde o início. Ela iria envelhecer e morrer. Ele não. Ele era um predador. Ela não era. Ele podia dizer a si mesmo tudo que ele queria, mas aparentemente não fazia diferença ao seu corpo. Ele tinha se pego olhando pra ela, seus olhos seguindo a doce linha do seu pescoço e ombro, relembrando a visão dos seus dedos no violão e perguntando como seria se ele tivesse esses dedos fantasmas sobre a sua pele. Cada vez que ela falava, a curva do seu doce lábio inferior ocupava os seus pensamentos por horas. Ele tinha que lutar com ele mesmo toda a noite para não procurar pela sua companhia, e ele tentou se contentar com o tempo de antes de depois das suas sessões de treinamento quando eles algumas vezes apenas conversavam por um tempo. Ele não tinha conhecido ninguém desde Lizzie que podia fazê-lo rir tão facilmente. Miranda era muito mais inteligente do que ela se dava crédito por isso. Havia vezes quando ela oferecia uma compreensão de algo pesando na mente dele que fazia tudo claro como cristal. Ela o fazia gargalhar, ela fazia ele pensar, e ela fazia ele querer desesperadamente despedaçar as roupas do seu corpo e provar da doce carne das suas coxas...e sua boca...e do cobre-canela do seu sangue. Isso estava lentamente o deixando maluco. “Dura noite, Mestre?” Agradecido pela distração, ele olhou para cima para Miguel. “Você pode dizer isso.” “Eu ouvi que há uma guerra chegando. Péssimo pros negócios.” “Isso depende de quem ganhar,” David respondeu ironicamente. “Eu não suponho que você ouviu algo sobre esses bastardos.” Miguel deu de ombros. “A espécie deles não vem aqui. Eles não mexem comigo, eu não mexo com eles. Eles sabem que o seu pessoal são meus melhores fregueses.” “Eu imagino o quanto.” Ele tinha que voltar logo. Miranda estava esperando por ele para outra sessão. Depois de quase outra semana ela ainda não tinha progredido perto o suficiente para a paz na mente dele, entretanto ela tinha finalmente parado de ter ataques de pânico cada vez que ele tentava tirar o escudo. Ele se perguntava se talvez, subconscientemente, ele estava tentando sabotar seus esforços ajustando as barras muito altas, tentando mantê-la com ele mais tempo; mas certamente seu subconsciente não era tão estúpido? Quanto mais tempo ela ficasse no Haven,em mais perigo ela estaria. Brevemente o inimigo saberia dela,


e ela iria provar outra vulnerabilidade. Redes de intercomunicação podiam ser restauradas, mas a vida de Miranda era um risco que ele não estava disposto a correr. “Outro?” “Não, obrigado, Miguel.” O barmen ergueu uma sobrancelha e disse casualmente, pegando o seu copo vazio, “Porque eu tenho a sensação como se você tivesse algo mais importante na sua mente do que uma guerra?” “O que é mais importante do que uma guerra?” Miguel gargalhou. “Para tudo o que você está lutando, Mestre. Mas acima de tudo: mulheres.” “Mulheres.” “Malditamente correto. Você tem um problema com mulheres?” “Mulheres são sempre um problema.” “Eu concordo com você. Mas se você tem uma mulher, o que você está fazendo aqui?” “Eu não tenho uma mulher,” David disse ao barmen, lançou uma nota de vinte dobrada no bar e se levantou, “mas eu tenho receio de que ela me tem.” *** “Merda! Eu perdi.” Miranda caiu de volta contra as almofadas, suspirando por fôlego, suor escorrendo para seus olhos. Ela esticou a mão para uma garrafa de água ao lado da sua cadeira e resistiu a urgência de derrubar isso na sua cabeça ao invés de bebê-la. “Esse foi melhor,” David disse. “Agora me diga porque isso não funcionou.” “As costas. Eu coloquei muito na frente e isso ficou desbalanceado. Novamente. Porra.” Ela xingou muitas vezes mais quando eles estavam na sala de treinamento. Ela especialmente não se importava se ofendesse as sensibilidades delicadas de David. Ele ainda tinha que reclamar. Apesar da sua falha naquela primeira noite –e ela continuou falhando – David não afrouxou com ela. De fato ele parecia mais determinado do que nunca que ela dominasse os seus poderes, e embora os seus métodos não fossem tão incessantes perto de como eles tinham sido no primeiro momento, ele ainda treinava com ela toda noite, às vezes por uma hora e algumas vezes por duas, até que ela estivesse tão exausta que ela queria chorar, e normalmente chorava.


Mas ela estava ficando melhor. Ela podia colocar a sua energia dentro do escudo, embora mantê-lo era provavelmente o maior desafio. Colocar escudo exigia 360 graus de sensibilização, e ela não tinha idéia de como ela conseguiria conduzir isso e fazer algo mais na mesma hora. David tinha prometido a ela que uma vez que ela pegasse a manha disso, isso se tornaria sua segunda pele. Ela tentou forte acreditar nele. Depois de outros quarenta minutos de esforço de fritar o cérebro, ele pediu um descanso, e ela cedeu em sua cadeira com sua garrafa de água em seu colo e seu cabelo caindo para fora do seu rabo de cavalo. “Beba,” ele a relembrou. “Se lembre da dor de cabeça que você teve da última vez.” Ela estremeceu interiormente. Uma enxaqueca por esforço psíquico excessivo mais desidratação tinha adicionado a uma manhã verdadeiramente miserável que dois Vicodin mal tinham relaxado. Graças ao resto do seu corpo estar na sua maioria curado exceto pelo corte na sua mão, o qual ainda a incomodava depois dela tocar guitarra por tanto tempo. Ela esperava que isso curasse na hora em que ela deixasse aqui; se ela decidisse voltar a se apresentar, ela seria capaz de lidar com mais do que duas músicas. Era ainda um muito grande se nesse ponto, mas ela tinha decidido não governar tudo lá fora agora mesmo. O futuro era muito grande e aterrorizante para contemplar, então ela se focou em aqui e agora, e nas tarefas individuais de aprendizagem como colocar escudo e tentar não bater no seu professor. Ela terminou sua água e a tampou, olhando para suas mãos. Elas não pareciam tão inúteis como elas foram antes. Para a sua surpresa, David perguntou a ela, “No que você está pensando?” Ela ergueu seus olhos. “Você acha que eu alguma vez terei uma vida real?” “Defina real.” “Você sabe...um emprego, uma família, uma casa, coisas como essas.” Ele atou seus dedos juntos. “Isso é o que você quer?” “Eu não sei. Eu costumava pensar que a idéia de normal era horrível, mas talvez isso fosse apenas porque eu nunca pensei que eu poderia tê-la. Se eu posso realmente fazer isso, e voltar para o mundo e poder viver com outra pessoa...eu não sei.” “Bem...eu não quero desapontar ou assustar você, mas tem sido minha experiência que pessoas poderosas são raramente deixadas sozinhas.” Havia algo estranho nos olhos dele enquanto ele disse, “Você é uma chama brilhante,


Miranda. Chamas atraem outras para o seu calor e luz. Você pode se esconder sempre que você quiser, mas mesmo um homem cego pode ver você.” “Eu sempre desejei que eu pudesse apenas desaparecer.” Ela pegou um fio solto do braço da sua cadeira por um minuto antes de perguntar. “Você alguma vez já desejou que você pudesse ser humano novamente? Viver uma vida normal?” “Não,” ele respondeu. “Eu aceitei o que eu sou há muito tempo atrás. Essa vida é aonde eu pertenço. Mas houve vezes quando eu desejei por...coisas que eu não podia nunca ter. Isso não fez nada além de ferir o sonho do impossível.” “Como você sabe que é impossível? As coisas não podem sempre mudar?” “Algumas podem. Algumas não podem. Com tudo que os humanos são limitados na duração da vida, vocês têm mais chances do que nós temos...e vocês não tem que viver com aquelas escolhas, ou seus erros, quase tanto tempo. Você pode correr um risco e cair de cara, mas se eu ferir alguém, ou perder alguém, eu tenho que viver com isso para sempre.” Ela podia ouvir aquela perda em sua voz, e isso fez o seu peito doer; nessas raras ocasiões quando ele mostrava uma autêntica emoção, sempre a afetava. Era uma conseqüência de estar tão perto da energia dele, ela estava certa. “Você está pensando sobre Lizzie?” Ele encontrou o seu olhar. “Não.” Ela quebrou o contato primeiro, sentindo um pouco desarmada e sem saber porque. “Eu acho que provavelmente você está certo. Eu realmente não me vejo nos subúrbios com um marido e duas vírgulas três filhos. Eu acho que eu provavelmente sou muito danificada para isso.” “Eu não acho que danificada é a palavra,” David disse. “Então qual é?” Ele estava sorrindo para ela; ela podia dizer mesmo sem olhar. “Extraordinária.” Maldição, seu rosto ficou quente, e ela sorriu para ele, seu coração se apertando um pouco com a afeição dessa única palavra. “Obrigada.” Eles seguraram os olhares um do outro até David abruptamente desviar, dizendo, “Nós deveríamos nos encaminhar de volta. Eu espero uma atualização de Faith e essa sala ferra com a recepção do com.” Como sempre eles caminharam de volta para o corredor da Ala Leste juntos, mas Miranda pausou depois de alguns minutos e disse, “David você disse que há um piano por aqui?” Ele gesticulou para uma das portas e a destravou para ela.


Miranda deu uma olhada dentro da sala de música e quase desmaiou. Toda a sua exaustão desapareceu dentro desse ar. Isso era até mais maravilhoso do que a biblioteca tinha sido. Um piano de tamanho grande ocupava o centro, e cadeiras e bancos estavam arranjados ao redor para pequenos espetáculos, mas estantes e estantes de partituras, ambos veiculados e soltos em pastas, resmas de papel pessoais para escrever composições. Tudo era meticulosamente organizado e mantido escrupulosamente limpo, mesmo embora ela soubesse que ninguém usava essa sala em anos e apenas o servente tinham estado dentro. A acústica da sala era tão perfeita que ela não podia esperar para trazer o seu violão aqui. Seus dedos coçaram positivamente para o piano. “Eu poderia gastar toda a noite aqui,” ela esticou o pescoço para ver o teto esculpido. Isso a lembrava os salões onde ótimos compositores mostravam as suas mais recentes obras de gênios para seletos clientes de artes. “Me deixe ver o seu com,” David disse. Ela levantou o seu pulso, e ele o pegou em uma mão, o súbito contato dos seus dedos na sua pele fez algo estranho ao seu estômago. Com a mão livre dele, ele pegou algo fora do seu casaco. “Quantos bolsos você tem nessa coisa?” ela perguntou. “Porque você acha que eu uso isso?” Ele anexou o pequeno dispositivo do seu com, então ligou um pequeno cabo nele ao seu iPhone. “Me dê vinte segundos.” Ela estava acostumada com ele fazendo coisas aleatórias de nerd por agora e apenas ficar em pé enquanto ele usava um celular para realizar algum tipo de tecnomancia no seu com. A mente dele a fascinava continuamente; ela nunca sabia, quando ele estava encarando a lareira, se ele estava pensando sobre os relatórios de patrulha, uma conferência programada que ligava o Signet aos postos avançados nas outras cidades, em como aumentar a eficiência dos painéis solares que providenciavam a eletricidade do Haven, os 400 dígitos de PI, ou o novo sabor do Häagen Dazs. “Ali.” Ele desconectou e arrumou tanto o telefone quanto o dispositivo. “Agora você tem total acesso as portas desta ala ao invés de apenas a nossa e a biblioteca. Dessa forma você pode vir aqui sempre que você quiser.” Ela praticamente sorriu para ele. “Obrigada!” Antes que ela pudesse se impedir, ela arremessou os seus braços ao redor dele em um abraço. Depois de alguns segundos de hesitação, ele retribuiu o abraço, segurandoa por tanto tempo quanto ela o permitiu, a soltando assim que ela se moveu.


Novamente...ela se sentiu nervosa quando ele a tocou, apesar de não haver intenção em direção a nada mais sinistro; isso foi apenas um abraço. Tocar tinha sido um assunto carregado para ela por muito tempo, e agora isso era muito pior. Ela não sabia como ser tocada sem entrar em pânico, mas de alguma forma, David ficava embaixo do seu radar. Ela decidiu, então, fazer algo que ela nunca tinha esperado fazer. “Você tem alguns minutos?” ela perguntou. “Eu poderia tocar algo pra você.” David estava para dar algum tipo de desculpa, mas com essas últimas palavras, seu protesto morreu em seus lábios. “Eu...eu ficaria honrado.” Ela se sentou no piano, expondo as teclas e correndo os seus dedos sobre elas reverentemente, pressionando um pouco e descobrindo que David era bom em suas palavras: O instrumento estava perfeitamente afinado. “Bom,” ela murmurou. “Isso é o que eu penso que é?” “É um piano.” “Não apenas um piano,” ela disse sorrindo. “É um Bösendorfer Grand Imperial, modelo dois-noventa. Ela tem noventa e sete teclas, e não oitenta e oito aqui à esquerda, você vê as teclas pretas? Elas são notas sub-graves que estendem o seu alcance. Olhe para ela...ela é linda. E ela provavelmente vale um quarto de um milhão de dólares ao menos.” Suas sobrancelhas subiram. “Eu não tinha idéia...que ela...fosse tão valiosa.” “Quem a Rainha fosse, ela conhecia seus instrumentos. Um dos meus artistas favoritos tocava em um desses. Eles têm a mais sombria e mais complexa voz do que os outros principais fabricantes. Eu ouvi em algum lugar que esses são construídos fora das matas da mesma floresta que os violinos Stradivarius. Eu sempre quis ver um pessoalmente, mas eu não queria me torturar.” Ele estava sorrindo com o seu entusiasmo,mas ao contrário de todos os namorados que ela teve, ele não parecia estar fora de sintonia quando ela começou a tagarelar sobre música. Mike, por exemplo, tinha apenas ido vê-la tocar um par de vezes, e ele fazia o aceno-e-sorriso mas nunca prestou muita atenção. “Algum pedido?” ela perguntou. “Qualquer coisa que você goste.” Uma das cadeiras, na frente à esquerda da sala, parecia ter sido colocada especificamente para o Prime; ela era muito mais confortável comparando com as outras. David se sentou nela e se inclinou para trás, elegante como sempre.


Miranda se perguntava como a sétima Rainha se parecia, e com que freqüência ela vinha nesse ponto com o seu Prime e os outros membros da Corte ouvindo as suas apresentações. Talvez ela tenha tocado para ele sozinha algumas vezes, salvando um pedaço romântico do seu amor. Talvez ela pudesse sentir os olhos dele nela, arrebatado pela sua beleza e talento, enquanto ela tocava. Clássico e Barroco pareciam ser mais apropriado para essa sala, mas Miranda não se importava muito com tradições; o que o piano precisava era atenção e energia. Era um crime para tal excelente instrumento ter sido deixado sem amor por tanto tempo. Miranda estendeu a mão e puxou o elástico do seu rabo de cavalo. Por alguma razão ela nunca ficou confortável tocando com o seu cabelo pra cima. Ela colocou suas mãos na teclas e começou a tocar, sentindo algo que ela não tinha sentido há muito tempo. Havia um transe elementar na música para ela, mesmo antes dela começar a usar isso para sucção e emoção rotacional do público. Voltando quando tocar era algo que ela fazia porque ela amava, não um último baluarte de som entre ela e a sanidade, ela tinha deixado isso tomá-la profundamente, para um lugar além do mundo onde o movimento das suas mãos e o som do instrumento fundiam com alguma parte do seu coração que amplificavam até mesmo o mais raso estalo em algo digno de um coral de apoio. Ela se inclinou para dentro da música, e isso era como se o piano estivesse vivo e exaltado para ser tocado novamente; ele respondia a pressão dos seus dedos quase antes dela alcançar as notas. Um momento mais tarde, ela levantou a sua voz para a sala de ar calmo. *** Faith ouviu a música enquanto ela entrava no corredor em direção a suíte do Prime, e embora ela estivesse em uma urgente incumbência, ela se encontrou se afundando no limiar da porta de uma sala que, tão quanto ela sabia, não tinha sido aberta em vinte anos ou mais exceto pelos serventes que a mantinham limpa. Vários outros Elite estavam pairando na porta, se mantendo pra trás para que eles não pudessem ser vistos; Samuel e Torrense estavam ali assim como o guarda da Ala Leste, Saylor. Eles todos pareceram culpados quando eles viram a Segunda, mas ela estava muito curiosa para reprimir qualquer um deles por deixarem seus postos, e além disso, o seus trabalhos eram a guarda do Prime e da sua convidada, e claramente eles atavam fazendo apenas isso.


Faith inclinou a sua cabeça ao redor do limiar da porta para ver o que estava acontecendo. Primeiro, ela viu Miranda, a fonte da cantoria inacreditável. Ela parecia quase diminuta pelo instrumento que ela tocava, o qual deveria ser duas vezes mais longo do que a altura dela. Ainda, parecia como se a aura da humana tinha se expandido para incluir o piano como se eles fossem uma criatura que emergiu em propósito comum. A voz de Miranda era também mais doce e mais sombria do que ela poderia imaginar ao ouvi-la falar, e ela estava tão envolvida com a música que ela tocava com olhos muito apertados, balançando para frente e para trás enquanto seus dedos atingiam as teclas mais fortes e mais suaves. Quando ela terminou a canção que ela estava tocando ela entrou no que Faith assumiu ser uma improvisação sobre o tema, uma complicada linha de melodia e harmonia que parecia mover em lentas espirais em volta do piano. Faith nunca tinha ouvido algo assim.

Os anos passam, eu ainda estarei esperando por alguém mais que me entenda... Faith olhou para as cadeiras e viu o Prime, e ela não pode evitar: ela sorriu. Ela o conhecia há muito tempo e ela jamais tinha visto essa expressão no seu rosto antes. Era além do cativado, algum lugar em uma terra selvagem entre capturado e dissolvido, sublinhado com uma saudade que era tão doloroso para Faith assistir quanto era satisfatório finalmente ver que ele estava se perdendo. Ela poderia ter dito a ele que ele estava condenado no minuto que ele trouxe Miranda para o Haven. Não, agora que ela pensou sobre isso, ela sabia que ele estava condenado quando ela viu como ele reagiu a idéia de cortar o cabelo de Miranda. Ele tinha gasto uma hora trabalhando nele, mecha por mecha, com a atenção focada que ele trazia na depuração do código de rede, e com uma singular devoção de um monge rezando um Rosário. Ele nunca tinha feito tal coisa por alguém antes. Porém ele ainda estava lutando contra isso. Faith queria sacudi-lo algumas vezes. Com sorte, uma coisa que os vampiros tinham era tempo para esperar. Faith saiu da porta de entrada e se inclinou de costas contra a parede. Ela precisava falar com David, mas alguns minutos não iriam ser o fim do mundo. Deixem-nos terem esses momentos enquanto eles podem. Faith sabia com a segurança de duzentos anos que o pior ainda estava por vir.


Capítulo

N

9

A QUARTA-FEIRA À NOITE SEGUINTE, FAITH PERGUNTOU ironicamente, “Você me quer pra fazer o que, novamente?” David gesticulou para Miranda, que estava em pé no meio da sala de treinamento. A mobília empurrada para o perímetro, onde ele sentava agora em sua usual cadeira. “Eu quero que você a esmurre.” “Isso não é realmente o meu gênero, Mestre. Se você quiser, eu poderia perguntar para Lindsay quando ela voltar da patrulha-” “Psiquicamente a esmurre, idiota,” o Prime disse. Miranda falou alto um pouco nervosamente. “Eu posso segurar o meu escudo em mim muito bem agora-” “–mas ela tem que ser capaz de fazer isso sobre coação,” David disse. “O que significa, sobre ataque,” Miranda terminou. “Nós precisamos de alguém que eu não estou acostumada a trabalhar para empurrar os meus limites e ver se eu posso empurrar de volta.” Faith ainda parecia duvidosa, mas ela não era do tipo que contradizia uma ordem. Ela foi para onde o Prime indicou, um espaço de poucos centímetros na frente de Miranda. “Tudo bem,” David disse. “Vá em frente.” Ele trocou sua visão para uma vista lateral que o permitia “ver” a energia; a visão era diferente para todos com poderes psíquicos, mas para ele ela era registrada como ondas de calor, algumas vezes em cor, algumas vezes meramente temperatura e textura. A energia de Faith era fria, aquosa; e Miranda tinha o brilho do fogo do outono.


Miranda se estabeleceu perfeitamente, e ele observou com um olhar crítico enquanto ela lentamente erguia a barreira que ele a tinha mostrado como criar. Ela tinha finalmente pego o truque de manter isso completamente em volta dela e não apenas na frente, e nessa semana eles tinham trabalhado nela a manter isso para cima por períodos mais longos e mais longos. Logo ela iria colocar o seu escudo automaticamente e não ter que constantemente se lembrar de manter a energia fluindo, mas ela precisava da experiência com a pressão de outras mentes, e ele não estava para deixá-la trabalhar do lado de fora da sala de treinamento até que ele estivesse certo que ela poderia ao menos defender-se contra Faith. “Okay,” ela disse. “Eu estou pronta.” David dirigiu Faith a começar simplesmente visando a sua telepatia para Miranda e vendo se a humana poderia bloqueá-la para fora. O dom primário de Miranda era a empatia, o qual tratava com emoções enquanto a telepatia tratava com palavras; as duas senão difíceis de distinguir uma da outra, e muitas vezes ter um dom significava ter ambos na mesma medida. Emoções eram de longe mais difíceis de filtrar, mas o escudo era feito para fazer ambos. Ele observou, tentando não falar, enquanto Faith cerrou o cenho com um pensamento e o mandou fortemente em direção a Miranda. A primeira vez, o seu escudo dobrou-se, a frente cedendo sob a pressão mas nem sequer desaparecendo; Miranda transportou ele de volta para cima novamente, respirando forte, suas unhas cravando em suas palmas. Ao sinal de David, Faith tentou novamente. Dessa vez, ela o segurou, embora o esforço mostrado com o suor escorrendo no rosto de Miranda. Após várias tentativas a mais sua T-shirt estava ensopada, agarrando em seus seios. David fez o melhor para não olhar. Agora não era realmente hora para agir como um adolescente com tesão. Ele pediu Faith para parar e levou um momento para apontar onde Miranda estava escoando energia. “Na sua esquerda,” ele disse. “Você precisa desviar da frente para os lados.” “Mas então como eu vou desviar do golpe?” “Equilibre,” ele respondeu. “Se lembra de como o meu escudo ondulou na noite que você me atacou?” “Você o atacou?” Faith perguntou, incrédula. Miranda deu de ombros. “Isso não funcionou.”


“Exatamente,” ele disse. “Se o escudo todo está igualmente forte, as costas e os lados podem tirar a pressão da frente. Então a esfera inteira suporta a si mesma, absorvendo o impacto e estabelecendo isso para fora ao invés de estilhaçar. É o porque de nós visualizarmos isso como uma curva ao invés de ângulo; curvas seguem o desenho da natureza, e a natureza sabe como se inclinar sem quebrar. Agora tente de novo, mas dessa vez, Faith, use emoção ao invés de pensamento.” “Eu não sou exatamente uma empata. Você vai ter que explicar isso mais uma vez.” “Pense em algo realmente triste,” Miranda disse a ela. “Tão triste que você quer se curvar em uma bola e chorar. Então arremesse isso pra mim como se você estivesse tentando me forçar a sentir isso, também.” Faith estava perdida, mas depois de um momento ela pensou em algo e deu uma tentativa a isso, sem sucesso. “Eu tenho que pensar em algo que me deixe triste, ou algo que deixe ela triste?” “Suas emoções, sua experiência. Ela tem que agüentar firme onde ela para e você começa.” Faith franziu o cenho, e então algo pareceu ocorrer a ela. Ela olhou para David, e ele podia dizer exatamente o que ela estava pensando, e também que terrível idéia ela achou que isso fosse. Ele concordou, mas embora seu coração praticamente gritou em protesto, ele deu a sua Segunda um quase imperceptível aceno. Ela engoliu e se virou de volta para Miranda. “Okay,” ela disse. “Aqui vai.” David respirou fundo e segurou firme nos braços da cadeira. Ele viu Faith alcançando para si mesma e cavando a memória de um passado distante; essa não era uma que ele alguma vez tivesse ouvido ela falar em detalhes, mas ele ainda sabia que essa existia, e ele sabia exatamente o que essa iria fazer. Faith recolheu a energia dessa memória por um minuto, se armando, antes de soltá-la, deixando o desespero daquele momento em sua vida atingir Miranda em plena força. Os ecos atingiram David segundos depois: choros por misericórdia, gargalhadas, o som de roupas rasgando, o terror de saber que sua vida estava nas mãos daqueles que achavam que ela era menos que sujeira. Uma jovem garota nas ruas de Edo, se apressando para casa sozinha a noite, era nada mais do que carne fresca...e depois, seu corpo machucado por dentro e por fora, ela


suportou a vergonha de seu pai sabendo que ele não poderia dar ela a nenhum homem que queria uma noiva virgem. A vergonha tinha virado raiva, e ela não tinha nenhum lugar para ir além das ruas. Havia muitos bordéis especializados em meninas embonecadas como gueixas. Tudo isso atingiu David em um batimento de coração, e um batimento de coração mais tarde, Miranda estava soluçando. Assim que ela caiu em seus joelhos, ele estava sob seus pés, mas Faith agarrou os seus braços e o segurou de volta. “Não,” Miranda chorou uma vez atrás da outra. “Não, não, não...” Ele quase empurrou Faith para o lado, mas a Segunda se recusou a se mover. Miranda se dobrou sobre a força da dor compartilhada, e os olhos de Faith estavam cheios de lágrimas, mas ainda, Faith não o deixou ir para ela. As mãos de Miranda no chão curvaram-se lentamente em punhos. “Não,” ela murmurou. “Não.” David assistia, com o coração na garganta, como ela respirava dentro...e fora...e empurrava. O escudo desmoronado em volta dela começou a expandir. Cada vez que ela exalava, ela alimentava mais e mais a energia para dentro dele, até que as memórias de Faith e a dor que trouxeram com elas começaram a perder os seus domínios sobre ela. O seu corpo todo tremeu com a tensão, mas o escudo segurou. Ele segurou. Miranda levantou sua mão. Havia fogo nos seus olhos. Com um último fôlego, uma investida de emoção explodiu do nada, e isso sentiu como se o ar da sala estivesse sido lavado, como se uma tempestade tivesse varrido e um raio tivesse atingido. Faith quebrou o silêncio. Ela gritou e socou o ar, mergulhando para o lado de Miranda e a abraçando com um tipo de afeto passivo que ele nunca tinha visto ela disparar em direção a ninguém. “Eu vou...fodidamente...matar vocês,” Miranda ofegou. “Os dois.” “Você conseguiu!” Faith exclamou. “Eu sabia que você poderia!” “Eu consegui,” Miranda disse a ela mesma, olhando para baixo para suas mãos no ladrilho. “Eu realmente consegui.” “Você ainda está fazendo isso,” Faith apontou para fora. “Você ainda está com escudo.” A gargalhada de Miranda era brilhante de alegria, e isso o rasgou por dentro ao mesmo tempo em que isso trouxe um afloramento de alegria para o


seu coração. Ela olhou para cima para ele expectante, seus olhos verdes brilhando, iluminados. Sem falar, ele cruzou o chão e se ajoelhou em frente a ela, abrindo seus braços; ela se arremessou para dentro deles, ainda gargalhando. Ele a segurou tão apertado quanto ele se atreveu e beijou o topo da sua cabeça, inalando a essência da sua humanidade, shampoo, e o inconfundível sussurro de calor e tempero que ele sabia que era dela e somente dela. “O que eu disse a você?” ele disse no seu cabelo. “Extraordinária.” Quando ele olhou para cima para Faith, ela estava dando a ele aquele pequeno sorriso malicioso que ele vinha a conhecer, e ele afastou uma mão da cintura de Miranda para dar a sua Segunda o dedo. “Eu acho que nós devemos comemorar,” Faith disse. “Abrir um bom Scotch e vamos nos acabar.” “Eu tenho uma idéia melhor,” David respondeu. *** Começou com margaritas mas desenvolveu rapidamente para doses de tequila. “Então quantos anos tem você?” Miranda perguntou, arrancando um pedaço de limão da sua boca e o lançando em uma tigela na mesa de café. “Dezenove,” Faith respondeu instintivamente em volta da sua taça de margarita. “Já solteirona em um velho decrépito.” “Bom, você consegue se imaginar se casando aos dezenove?” Miranda perguntou. “Quando eu tinha dezenove, eu nem sequer sabia como lavar a minha própria roupa.” Ela adicionou, para o benefício de David. “Você sabe, lavanderia? Lavar a sua própria roupa? Há pessoas que fazem isso.” Ele rolou seus olhos. “Eu sei como lavar a roupa. Eu assisti minha esposa fazer isso dezenas de vezes.” Miranda bufou e derramou para si mesma outra dose. O quarto estava girando bastante rapidamente ao redor dela, e ela pretendia que isso continuasse o maior tempo possível. “Como você se transformou em um vampiro?” ela perguntou a Faith. “Eu quero dizer, como isso funciona?” “Bem, há sangue envolvido.” “Não brinca, Sherlock.” Faith ondulou suas mãos vagamente, e se havia algo remanescente na sua taça, isso provavelmente esparramou sobre a beirada. “Não é como nos filmes. É um processo. A coisa principal é você ter que morrer com sangue de vampiro em suas veias. Certo, Mestre?”


“Certo.” David não parecia estar tão bêbado quanto ela e Faith estavam. Ele estava notavelmente descontraído para ele mas conseguiu ficar sóbrio o suficiente para misturar bebidas sem obter as proporções horrivelmente erradas. “Você troca de sangue,” Faith continuou. “Algumas vezes nós fazemos isso por razões sexuais. Isso, ah...o que eu estou tentando dizer?” “Transfere em você muito fortemente,” David concluiu para ela. “E isso cria uma conexão psíquica. Mas em poucos dias, se você apenas deixar pra lá, isso desaparece e tudo volta ao normal. Existem duas maneiras de ter isso cravado. Ou o seu mestre bebe de você até a morte na primeira vez, então alimenta você com seu próprio sangue, e você morre e acorda mudado em cerca de um dia; ou você troca uma vez, então você começa a beber sangue humano pra te fortalecer, então morre de algum outro modo para completar a transformação.” “O segundo jeito soa como se fosse uma merda47.” David fez uma cara com o trocadilho, intencional embora isso fosse. “Isso leva mais tempo e dói um pouco mais. O melhor jeito é o primeiro. Você dorme na maior parte dele. Que é normalmente como é feito –cerca de três quartos das vezes que os humanos morrem permanentemente é do segundo método.” “Yeah? Como você fez isso?” Faith disse, “Primeiro.” David disse, “Segundo.” “Mas você sobreviveu,” Miranda notou desnecessariamente. David assentiu. “Apenas porque eu queria vingança. Eu me forcei a atravessar a mudança para matar o homem que sentenciou Lizzie à morte. Eles foram meu primeiro sangue –eles tinham gosto de vinho sacramental mofado.” Ela podia vê-lo começando o bando; ela se recusava deixar ele se deslizar para dentro da melancolia essa noite. “Como vocês dois se conheceram?” ela perguntou, apontando do Prime para a Faith e voltando. Faith riu. “Eu beijava o traseiro dele nos testes da Elite. Eu teria finalizado o tenente de Arrabicci se o velho bastardo não fosse um porco tão machista.” “Ele não era um porco machista,” David insistiu. “Ele era um porco racista. Você é sortuda que ele não atirou em você durante a Segunda Guerra Mundial.” “Ele não iria fazer, com Deven se garantindo pra mim. Se Dev tivesse dito a ele que pombos fudiam macacos, ele teria procurado no lado de fora por aves peludas.” 47

(a frase original está it sucks – que significa uma merda, mas significa também sugar, de sugar o sangue.)


“Esse cara Deven soa como uma interessante peça de trabalho,” Miranda observou, baixando a sua dose de tequila e enchendo outro calço de limão em sua boca. “Definitavemente,” afirmou o Prime. “Você vai encontrá-lo algum dia. O seu Cônjuge, também. Eles são o tipo de pessoas que você quer ter ao seu lado.” Subitamente, a mente de Miranda se trouxe de volta para a clareza suficiente de perceber que com toda a probabilidade ela nunca iria encontrar Deven. Ela podia colocar escudo agora. Ela não estava perfeita, mas em uma questão de dias ela seria capaz de deixar o Haven e voltar para Austin. Voltar para Austin...voltar para o mundo. O seu tempo no Haven estava quase terminado. “Você está bem?” Faith perguntou. “Você parece como se estivesse em choque.” Miranda piscou de volta o queimar dos seus olhos e disse, “Não, eu estou bem. Eu acho que tive uma de muitas, é tudo. Tudo está bem.” Mesmo enquanto ela disse as palavras, e sorriu cordialmente de volta para eles, algo dentro dela estava chorando. *** Algumas noites mais tarde, sob um céu que estava pesado e ameaçador com mais chuva, Miranda caminhava lá fora nos jardins, sozinha. Terrence tinha se acostumado com os caminhos que ela tomava, então ele mantinha uma grande distância e mantinha um olho nela o mais longe do que ele tinha na primeira semana que ele ficou no seu dever de guarda. Ela estava agradecida pela consideração. Ser seguida, mesmo por alguém que queria a sua segurança, a fazia inquieta, especialmente agora que não havia escudo externo ao redor dela que advertiria o Prime se ela estivesse em problema. Ele tinha derrubado isso na noite passada, apenas como um experimento, e ela tinha deixado a sala de treinamento completamente sob seu próprio poder pela primeira vez. Até agora as coisas estavam indo bem, embora ela não tivesse tratado com mais do que duas pessoas até o momento. Ela estava ansiosa com a idéia de ir para o lado de fora, mas ela ainda tinha o seu com, e se algo desse errado, Terrence estaria ao seu lado em segundos. Setembro estava fazendo o seu melhor para se unir ao verão tão quanto ele pudesse. Os dias estavam ardentes –de acordo com os relatórios do tempo –e as noites estavam úmidas e espessas. Todos estavam ansiosos com a aproximação da frente fria que resultava em tempestades para dar algum alívio ao calor. Era o primeiro momento tumultuado do outono, e Miranda, como todos que viviam


no Texas por anos, sabia que ele seria outro mês antes das coisas genuinamente ficarem congeladas. Ela estava no Haven por um mês agora, embora parecessem anos. O seu quarto tinha vindo a ostentar a marca da sua personalidade e hábitos, e ela era uma familiar visão aos Elite enquanto ela tomava o corredor para os jardins, biblioteca, e sala de música. Ela sentiu uma pontada de perda com o pensamento de deixar o Bösendorfer48. Ela tinha tocado nele por apenas uma semana, mas era como se ele fosse uma parte dela...como tantas coisas ali. De alguma forma o Haven tinha penetrado seu tijolo por tijolo, e a estranheza de Stephen King da vida aqui tinha se tornado normal. Austin, com suas centenas de humanos e agenda do dia-a-dia, parecia alienígena em comparação. Faith tinha intimado mais de uma vez que ela deveria ficar. Mesmo David tinha insinuado, sem realmente querer dizer, que ele não queria deixá-la partir, mas ele também tinha dito com muita ênfase que ela estava em risco ali, e que a melhor coisa para a sua segurança era retornar para o anonimato da cidade. Miranda não tinha total certeza se ela acreditava nisso. Certamente o lugar mais seguro para ela, se vampiros a queriam matá-la, era com o Prime? Mas ele foi inflexível, tanto que ela tinha se perguntado se ali havia algo que ele não estava dizendo a ela. Como se convocado pelos seus pensamentos, David emergiu do Haven, parando na frente do caminho para olhar pra ela. Ela acenou. Ele cruzou o jardim para ela, pisando habilmente entre as plantas e em volta da fonte, e se uniu a ela com um sorriso de saudação. “Eu estou indo para a cidade essa noite, mas eu queria ver como você está,” ele disse. “Não mal. Como isso parece?” Ele a escaneou rapidamente. Ela sentiu o leve toque da sua energia novamente, e quando isso se foi, ela sentiu a sua falta terrivelmente. Ela estava acostumada com o abraço do seu poder, seu cobertor seguro, e viver sem isso era muito mais difícil do que ela imaginava. “Bom,” ele respondeu. “Você precisa apoiar o seu lado direito um pouco, mas o fluxo global está muito consciente.” Miranda levou um momento para sentir ao redor de onde ele indicou e respirou mais energia para dentro do escudo; ela nunca teria acreditado nisso, 48

(Bösendorfer –marca do piano)


mas ele estava certo quando ele disse que isso iria facilmente. Ele esteve tão orgulhoso dela. Ela estava tão orgulhosa de si mesma. “Alguma novidade?” ela perguntou. Ele fez um movimento indefinido com sua cabeça. “Nada concreto. Nós temos o armazém sob vigilância por dias com nenhum resultado. Eles mudavam o seu ponto de reunião para as redondezas, nunca o mesmo lugar mais do que duas vezes.” “E sobre a mulher Blackthorn misteriosa?” “Ela não se encaixa nas descrições de nenhuma mulher do clã, e não havia muitas. Os Blackthorn não deixavam seus membros fêmeas ascenderem muito alto no ranque. Há dois desaparecidos depois da guerra da Califórnia, mas sem mais evidências nós não podemos ter certeza se esse um é ela, ou se ela é absolutamente.” “Mas os ataques pararam –você acha que eles estão planejando alguma coisa?” “Eles devem estar. Eu intensifiquei as patrulhas por todo o território, não apenas em Austin, mas em todo o lugar que houve um assassinato relatado.” Ela viu a frustração aparente em seu rosto, e disse, “Você odeia que eles tenham o próximo passo.” “Sim. Até alguma coisa parar, eles estão no controle, e eu acho isso um pouco aflitivo.” “E sobre a rede de sensores por toda a cidade que você estava falando?” Ele fez um barulho impaciente. “Isso vai levar meses. Eu ainda estou trabalhando nas falhas de fora do sistema protótipo, e depois disso ele tem que ser fabricado, depois instalado, calibrado, testado...sem mencionar que eu tenho que convencer Washington a me emprestar outro satélite. Ainda, esse é o único plano viável que nós temos. Uma vez que isto estiver funcionando eu serei capaz de rastrear cada vampiro na cidade até um raio de uma quadra com apenas um atraso de dois segundos.” “Eu imagino que você pode sempre pegar um e colocar um colar GPS nele antes de soltá-lo de volta para dentro da selva.” Ele riu, mas pareceu pensativo. “É uma idéia.” O com dele soou, e uma voz disse, “Mestre, o carro está pronto pra você.” “Cinco minutos, Harlan,” ele respondeu. David voltou o seu olhar para Miranda, e ela podia dizer que havia algo que ele precisava dizer mas ele não queria. Mesmo com o seu escudo –e dele – ela sentiu um breve segundo de confusão misturada com apreensão, mesmo um


pouco de constrangimento; mas claro, isso foi tudo apaziguado e colocado de lado antes que ela pudesse dizer algo. “Eu estarei de volta na hora da sua lição mais tarde,” foi tudo que ele disse. “Tente descansar um pouco.” “Boa caçada,” ela disse. Para a sua surpresa, antes dele partir, ele alcançou a sua mão e a levantou aos seus lábios; de novo, ela estava certa de que ele estava para dizer alguma coisa, mas tudo que ele fez foi soltar a sua mão e dar um passo atrás, “Esteja segura.” Então ele foi embora. Ela ficou olhando para ele, sua mão detida em seu coração, a pele formigando mesmo depois dele ter partido. Um baixo estrondo de trovão a trouxe de volta, e ela começou a andar novamente, dessa vez quase furiosamente. Do nada, seus pensamentos foram para o que Faith tinha dito naquela noite, sobre ela se tornar Rainha um dia, e uma raiva impotente irritou em seu estômago da maneira que a tempestade próxima fez no céu. Maldita Faith por balançar tal idéia impossível na frente dela. Isso não fez nada além de alimentar o pequeno medo mesquinho de volta na mente de Miranda que sem importar com o que ela fizesse, ela nunca iria se encaixar entre outras pessoas, e que aqui, o Haven, poderia ser a sua casa.

Claro. Eu vou sair e começar a beber sangue agora mesmo. Então eu vou voltar com presas e uma deficiência de melanina e dominar o mundo. E também, David iria se apaixonar perdidamente por mim que o Signet iria me escolher como sua Rainha e nós iríamos viver felizes para sempre em êxtase como chupadores de sangue entre os unicórnios brilhantes. Ela desejava ter algo para arremessar. Ela empurrou suas mãos para dentro dos bolsos do seu casaco, mergulhando a sua cabeça contra o aumento do vento. Olhando de volta sob seus ombros para o Haven, ela sentiu mais raiva e sacudiu sua cabeça violentamente, tentando colocar o máximo de distância entre ela mesma e o prédio quanto possível. Ela caminhou passando os estábulos, onde uma baia estava vazia –os cavalos estavam do lado de dentro como criaturas sensíveis. Havia dois negros brilhantes ali, ela sabia, um garanhão e uma égua, e embora ela tivesse medo de cavalos, ela tinha estado satisfeita em como David se importava com eles. Eles o seguiam pelas redondezas como gigantes filhotes quando ele saia a passeio ou cuidava deles, se empinado para os lados e atirando as suas crinas ao vê-lo,


cheirando o seu casaco por cubos de açúcar. Animais em geral eram desconfiados com vampiros, mas ele tinha criado eles desde que eles eram potros. O garanhão chamava-se Osiris, a fêmea Isis. O Senhor da Morte e a Rainha do Paraíso. Ela bufou. Maldito David, também, por uma boa parte. Impulsivamente ela desviou-se do caminho de paralelepípedos para uma trilha estreita que serpenteava o caminho para dentro da floresta. Ela esteve aqui fora uma vez com Faith, que a tinha mostrado onde o riacho corria ao lado do terreno do Haven; a Segunda movia-se com confiança na escuridão, agarrando a sua mão mais de uma vez quando ela estava para escorregar em uma árvore. Elas tinham visto um deslizar tímido e prata no meio do mato, e uma coruja branca subindo silenciosamente pelas suas cabeças. O som da água seria um calmante para os nervos de Miranda, e se ela pegasse chuva, bem, ela não iria derreter. “Senhorita Grey.” A voz de Terrence emitiu do seu pulso. “Por favor não

deixe o caminho sozinha. As florestas não são seguras pra você à noite e está para chover.” Ela suspirou. “Siga mais perto se você quiser. Eu não vou longe, eu prometo.” Eles tinham alguns pequenos confrontos de vontade, e ela sempre vencia. Na maioria das vezes ela lamentava colocar seus desejos contra as suas ordens, e ela terminava se desculpando, mas essa noite ela não se importava. Nada iria acontecer com ela aqui; esse era o Haven, e ela estava... Ela parou. Um som estranho conseguiu se superar através da sua irritação em sua mente consciente. O som era uma falta de som. Não havia barulho –sem pássaros, sem veado, nada. Estava quieto, na floresta, na noite.

Oh, porra. Miranda sua imbecil. Lentamente, ela tomou um passo de volta, e outro. Engolindo o medo atávico que arranhou para cima ao longo da sua espinha, ela se virou em seu calcanhar e caminhou de volta em direção ao jardim, consternada de quanto longe do caminho ela tinha desviado em sua birra mental. Estava tão escuro...o que ela estava pensando, vir aqui para fora sem uma lanterna? As nuvens tinham obstruído a lua, e ela mal podia ver através das árvores, mas havia luz suficiente para que ela soubesse que não estava muito distante.

Não corra. Ande. Apenas continue andando. Você irá alcançar Terrence em um minuto e dar uma boa gargalhada. Não corra.


Ela estava lutando contra o instinto de milhares de anos de lutar-ou-fugir que clamava em seus ouvidos para ela escapulir. Ela podia sentir isto observando ela...algo nas árvores...algo faminto... ...apenas da mesma maneira que alguém a tinha seguido naquela noite... Pânico tomou conta dela, e ela correu. Galhos estalavam e folhas farfalhavam atrás dela, e ela tropeçou em um nó grosso de arbustos e teve que lutar a sua maneira para atravessar, sentindo espinhos rasparem seus braços e puxarem os fios do seu suéter. Ela se libertou e correu rápido, mas de alguma forma ela deu a volta e o que ela pensou que fosse o jardim era atualmente a abertura das árvores em volta do riacho. O chão desapareceu embaixo dos seus pés, e ela tropeçou, uma afiada dor atingindo o seu tornozelo. Com um choro, ela caiu para a ribanceira, alcançando por algo que a parasse de cair, raízes rasgando suas roupas até que com uma última nauseante guinada ela escorregou da ribanceira para dentro da água borbulhante. Por um milagre, ela não perdeu a consciência quando sua cabeça golpeou a pedra calcária exposta na parte inferior, e por outro milagre, a água não era profunda. Ela lutou a sua maneira para se levantar e se encontrou submersa apenas pelos seus quadris. Miranda sentiu gosto de sangue; ela mordeu seu lábio durante a queda. Um galho estalou acima dela. “Terrence?” ela chamou. “Eu estou aqui embaixo.” Não houve resposta, então ela tentou ficar em seus pés. Seu tornozelo cedeu e a mandou de volta ao chão, dor percorrendo através da sua perna. Quebrada? Ela não achava que sim, mas ela estava malditamente torcida e não iria sustentar o seu peso. Ela esperou a cabeça de Terrence aparecer sobre a ribanceira, e quando isso não aconteceu, ela tentou o seu com. “Elite Vinte-nove.” Isso soou, dizendo a ela que o com estava conectado ao Terrence, mas ele não respondeu. Ela repetiu o código, adicionando, “Terrence, aqui é Miranda. Eu estou no riacho e não posso sair sem ajuda.” Algo se moveu nas árvores, e medo eriçou o seu couro cabeludo. Seus batimentos cardíacos aceleraram. Seu com soou, e uma suave, voz fantasma disse, “Terrence não pode

atender o telefone nesse momento...mas eu posso ver você, Miranda.” Ela olhou ao redor freneticamente. “Fique longe de mim!” ela gritou na dentro da noite.


“Você tem o gosto tão melado quanto você parece, garotinha?” Isto estava se aproximando. Ela se apoiou contra a ribanceira, procurando ao redor por uma arma, seus dedos se fechando em volta de um naco de pedra interposto na lama. Enquanto o trovão sacudia pelas árvores, ela trabalhou para libertar a pedra, sabendo que isso era uma inadequada defesa contra o que estava vindo –mas isso era algo. Desesperada, ela disse para o com, “Estrelaum!”

“Ele não vai encontrar você, baby. Eu já a tenho. Eu vou prender você no chão e fuder o seu lindo corpo, então drenar você até você murchar.” Porque, oh porque David tinha derrubado o escudo? Se isso estivesse ainda erguido, ele poderia encontrá-la em qualquer lugar. Ele já estaria chegando. Talvez, apenas ele estivesse monitorando a sua freqüência, e soubesse que algo estivesse errado. “Ele quer provar de você, também,” a voz continuou, fria e insensível.

“Isso é tudo o que você é para nós...tudo o que você sempre foi.” Ela não podia lutar com um vampiro. Ela não podia fugir. Ela deixou a velha raiva erguer através dela como quando ela estava presa com Helen. Ela tinha estado aqui antes. Comparado com o que já tinha acontecido com ela, morte não era nada. “Venha, então!” ela desafiou a escuridão, gritando para ser ouvida sobre o vento, agitando a sua pedra. “Venha e me pegue, seu bastardo!”

“Pobre menininha perdida, pensa que ela é tão forte. Ela não tem idéia do que realmente está lá fora na escuridão...feche seus olhos, linda bebezinha, tudo isso estará terminado em breve.” Apenas então uma voz eclodiu na rede. “Suponha novamente.” Raio rachou no céu, e Miranda viu um vislumbre em segundos na ribanceira, viu eles saltarem para baixo para ela – Sua mente não tinha idéia de como interpretar o que aconteceu a seguir. O ar em frente a ela parecia brilhar, então aglutinou, cada partícula de poeira da escuridão inflamando e fundindo. Uma sombra formou ao longo das sombras, e solidificou. O Prime apareceu, ficando entre ela e o seu atacante. Não poderia mudar o curso a tempo para evitá-lo. David rosnou, outro piscar de raio captando o prata em seus olhos e o brilho branco dos seus dentes, e agarrou o atacante e o arremessou para o lado do riacho, onde ele atingiu com o rachar ensurdecedor de ossos quebrados.


Miranda recuou, caindo no riacho novamente, seus joelhos atingindo forte a margem o suficiente para sangrar. O atacante estava esforçando-se para fora da água, mas David já estava nele; ele caiu sobre a figura como um impressionante falcão, e ela ouviu o choro agonizante do seu atacante. Alguns minutos depois, e ela viu sangue na boca de David. Eles se encararam na escuridão. Miranda deixou a pedra cair da sua mão. Se virando, David se inclinou, erguendo uma mão cheia de água e lavou o sangue do seu rosto, então exigiu dela, “O que no inferno você está fazendo aqui fora?” Sua raiva queimou novamente. “Eu estou bem, obrigada. Sangrando, mas isso é sempre ótimo.” A voz de Faith interrompeu. “Umm...Mestre?” “O que?” ele estalou. “Onde está você? Eu me virei e você tinha ido.” “No Haven,” ele respondeu. “Volte pra cá imediatamente. Houve outra violação na segurança e há dois Elite caídos.”

“Sim, Mestre.” Miranda estava consciente, então, com o fato de que ela estava ensopada, e que seu corpo todo doía como se ele estivesse sido espancado. Ela caiu contra a ribanceira, sem se importar com a lama. “Onde está Terrence?” ela perguntou. “Morto,” foi a resposta tenra. Ele tirou seu casaco e o envolveu ao redor dela, não que isso fez melhor; mas ao menos isso mantinha a chuva fora do seu rosto. “Como você me encontrou?” ela perguntou. “O sinal de Terrence parou, enviando um alarme. Assim que eu o ouvi eu comecei a escutar toda a rede. Eu interceptei a transmissão do traidor –ele sabia muito sobre nós, mas não tanto quanto ele achava, ou ele nunca teria falado com você pelo com.” Ele escaneou a ribanceira, depois olhou para ela. “Venha aqui. Eu irei carregar você pra fora.” Ela não estava feliz com esse tom, mas não havia tempo para argumentar; ela estava começando a tremer de frio, e ela estava sangrando em vários lugares que precisariam de atenção. Ela andou até o seu braço esticado, e ele a ergueu e a segurou em seu peito, seu outro braço se estendendo sobre as suas cabeças para agarrar uma raiz que pendia sobre o riacho. Mesmo com a situação que eles estavam, ela se maravilhou em como casualmente ele era forte. Ela não era uma grande ou forte mulher, mas ele a


levantou com uma mão e escalou para fora do riacho sem aparentar exercer qualquer esforço. Uma vez que eles estavam em terra novamente, ele a desceu para testar o seu tornozelo, mas não havia maneira que ela fosse capaz de atravessar a floresta sem cair e fazer isso piorar. Suspirando, ele a pegou novamente, dessa vez com ambos os braços, e a carregou direto para fora das árvores em direção ao jardim, onde a violência total da tempestade os atingiu de uma vez em que eles estavam fora do abrigo da floresta. Nenhum deles fez uma menção em falar até que eles chegassem no Haven. Uma vez dentro, vários guardas apareceram, ao longo com um quadro de serventes, para oferecer a sua ajuda. “Retire o corpo de Terrence da floresta,” David ordenou. “Traga o corpo do traidor também, então recolha qualquer evidência da cena que você puder antes desse tempo apagar tudo. Tenha cuidado. Prepare Terrence para o funeral padrão da Elite amanhã a noite, com honras. Esther, o jantar da Senhorita Grey está no quarto dela? Bom. Conduza a ela um banho quente e acenda o fogo, assim como para mim. Assim que Faith chegar aqui, a mande diretamente para a minha suíte.” Miranda estava se balançando para frente e para trás em seu pé instável, incerta se ela estava para desmaiar ou apenas vomitar. Os barulhos e rebuliços aconteciam ao ser redor, não para ela, vagamente ela notou-se sendo carregada novamente como um saco de batatas velhas, suportada pelo longo corredor e dentro do conforto e segurança do seu quarto. Mas o quanto seguro era isso, agora? Eles tinham vindo para ela no Haven, quando era previsto para ela estar sob guarda. Alguém estava seguro? Ela sabia a resposta para isso, e isso estava despedaçando o seu coração. Ele a sentou na sua cama, removendo o seu casaco e o lançando cuidadosamente no chão, onde ele chiou quando a espada escondida dentro atingiu o piso de mármore. Ela o deixou examiná-la, suas mãos duras e clínicas, considerando suas feridas superficiais e sua sorte de estar viva. Esther, a servente chefe da Ala Leste, entrou e fez o caminho mais curto para o banheiro, onde Miranda a ouviu abrindo as torneiras e colocando as toalhas para fora. A pequena mulher normalmente alegre emergiu com o pente de Miranda. “Eu acho que a Senhorita Grey deve querer tirar esses nós primeiro,” ela disse timidamente. “E talvez eu traga curativos para seus joelhos?”


“Obrigada, Esther,” Miranda disse antes que David pudesse falar por ela. Ele nunca era gentil com os seus serventes, e com o humor que ele estava iria provavelmente resultar em sentimentos feridos. “Eu acho que curativos são uma boa idéia. Não é nada sério, mas nunca dói ter certeza.” Esther assentiu e deu a Miranda um sorriso materno e um tapinha na bochecha. “Nós não queremos que nossa reinita se machuque,” ela disse, e partiu em sua missão. Miranda olhou para cima para David. “Reinita?” Ele não encontrou seus olhos. “Pequena Rainha.” “É isso...é isso o que todos pensam?” “Eu não dou a mínima pro que todos pensam.” “Então o que você acha?” Ele ficou encarando a lareira, o qual estava obsequiosamente tão excitada que lançou seu calor ao redor do quarto. Ele não parecia sentir o frio que tinha que estar dentro dos seus ossos agora; eles estavam ambos ensopados, e a sua fina camisa de linho estava colada no seu torso, presa ao músculo que ela sabia que estava ali, delineando o seu corpo. Ela não tinha percebido apenas o quanto bem trabalhado ele era. Através da camisa molhada, ela mal podia decifrar as bordas do que parecia como... “É uma tatuagem?” Ele suspirou novamente, e sem responder, desabotoou sua camisa e largou no topo do seu abandonado casaco. Ele se virou de volta em direção ao fogo, permitindo a ela uma completa visão de suas costas e ombros. Todas as suas costas eram cobertas por uma forma estilizada de uma ave de rapina: um falcão preto e vermelho. As suas asas estendiam-se em seus ombros, a cauda atingindo todo o caminho até a sua cintura. “É linda,” ela respirou. Uma das suas mãos não conseguiu evitar além de se estender, querendo apenas uma chance de tocar as linhas da tinta, para ver se elas eram lisas, ou levantadas como Braille. Se isso estivesse em Braille, ela poderia lê-las, e aprender todos os mistérios? Ou a história iria acabar muito em breve? “Você precisa de alguma ajuda no banho?” ele perguntou. Ela sacudiu sua cabeça. “Eu posso administrar.” “Bom. Eu vou me trocar.” Ele agarrou sua camisa e casaco de fora do chão e seguiu para o seu quarto, as curvas da tatuagem deslocando enquanto ele se movia.


Miranda ficou sob seus pés cuidadosamente e mancou para dentro do banheiro, arrancando as suas roupas encharcadas do caminho, resmungando para si mesma o tempo todo. Quem diabos ele pensava que era, tratando ela como se ela estivesse feito alguma coisa errada, quando ela quase foi assassinada? Ela se abaixou dolorosamente para dentro da fumegante banheira, agradecendo a qualquer divindade que poderia estar escutando por Esther, que sabia exatamente que temperatura ela gostava. Na hora que a água quente começou a suavizar ambos seu machucado no tornozelo e seu orgulho ferido. Ela lavou os arranhões em seus joelhos e cotovelos e então se deitou por um momento, fechando seus olhos e tentando ficar estabelecida. Mas a realidade da sua situação fez se estabelecer ficar difícil. Terrence estava morto porque alguém quis chegar a ela, o qual significava que esses rebeldes não apenas sabiam que ela existia mas a consideravam uma ameaça, ou ao menos uma que valesse a pena matar. Ela estava em perigo e ao menos que ela passasse todo o momento com o Prime, eles provavelmente iriam tentar de novo, e de novo. Pior de tudo, o seu atacante tinha sido um da Elite. Qualquer um deles poderia ser Blackthorn, e isso significava que os Blackthorn poderiam encontrar o Haven. Ele era previsto para estar escondido, todos os sinais monitorados indo e vindo. Não havia rádios desautorizadas, computadores, ou outras formas de comunicação –o sistema de segurança poderia detectá-los. Os novos recrutas da Elite eram trazidos de Austin inconscientes então eles não podiam rastrear a rota de volta, e aprender a localização apenas uma vez que eles estivessem iniciados e, supostamente, fossem de confiança. Então pouco foi deixado para o acaso...mas esse pouco estava para custar a sua vida. Ela olhou para cima para as paredes do banheiro no meio da teimosa lavagem de um bocado de sujeira dos seus braços e pernas. Ela tomou muitos banhos longos aqui, e ela amava os azulejos cortados com seus mosaicos acentuados. Ela tinha se acostumado com não ter um espelho –havia espelhos no mundo real. Ela teria que se olhar novamente...e ela veria o sol. A perspectiva devia tê-la agradado. Ela se levantou da banheira, puxando a rolha com o seu pé bom, e a esvaziando, enxugando o seu cabelo com uma toalha e deixando-o secar solto sobre os seus ombros. Ela agarrou sua velha calça de yoga e uma T-shirt do


Book People 49 que lia MANTENHA AUSTIN ESTRANHA, e levou um momento para esfregar alguma pomada antibiótica que Esther tinha trazido nos seus joelhos e cotovelos e um arranhão desagradável no seu antebraço. Apenas um joelho precisava de um curativo e se sentia bastante machucado pela laceração. Ela provavelmente iria estar toda preta e roxa amanhã. Ela encarou o conjunto de bens na cômoda de gavetas, então mãos anestesiadas pegaram sua mochila de uma gaveta e começaram a enchê-la. Ela não tinha muito. Um par de revistas onde ela anotou idéias para canções; seu telefone, seu iPod, e seu computador, o qual tudo coube dentro da bolsa do laptop; diversos artigos de higiene pessoal; roupas. Seu violão já estava confortável em sua sacola. Havia alguns livros que precisavam voltar para a biblioteca e uma pasta de partituras que ela tinha pego da sala de música para estudar. Ela os empilhou com cuidado. Suas mãos se fecharam ao redor dos volumes das comédias de Shakespeare, e ela ergueu o livro e o pressionou contra o seu peito. Depois de um momento ela o abaixou e puxou uma caneta para fora de sua bolsa, abrindo uma das suas revistas; ela respirou fundo para se equilibrar e escreveu algumas linhas, então rasgou a página para fora da revista e a dobrou. Enquanto ela estava enfiando o bilhete dentro do livro, ela ouviu a porta da suíte abrir. “Faith se voluntariou para conduzir você de volta a cidade,” David disse. “Eu arrumei um quarto de hotel por um tempo enquanto o seu novo apartamento está sendo preparado.” “O que está de errado com o meu antigo apartamento?” ela perguntou sem olhar para cima. “Não é seguro pra você voltar ali. Não se preocupe –todas as suas coisas serão empacotadas e transferidas pra você nesses próximos dias.” Ela queria protestar, mas ela não tinha energia. Que diferença fazia pra onde ela iria, de qualquer forma? “Eu estou com medo,” ela sussurrou. Ele veio a ela e colocou seus braços ao seu redor, e ela enterrou seu rosto em seu pescoço, tentando respirar no consolo que a envolvia em suas asas protetoras. “Você vai estar bem,” ele disse. “Eu sei disso.” “Alguma vez nós nos veremos novamente?”

49

(Book People – é uma livraria em Austin.)


Ele não respondeu no início, e quando ele fez sua voz estava cheia de dor. “Seria melhor se nós não fizéssemos.” “Que se dane o que é melhor,” ela disse. “Me prometa que eu verei você novamente.” Ela olhou para dentro dos seus olhos, querendo que ele entendesse, e ele disse suavemente, “Eu prometo.” Miranda assentiu, satisfeita, e estendeu a mão para baixo, desatando a pulseira do seu com e o colocando na mão dele. “Eu imagino que não preciso disso agora.” “Você tem o meu telefone e e-mail, se você precisar de algo. E isso é pra você...” Ele pescou algo do seu bolso: um cartão Visa. “Eu não preciso de dinheiro,” ela tentou dizer, mas ele a interrompeu. “Leve isso. Eu sou a razão da sua vida estar sendo arrancada pela raiz novamente. Eu não posso mantê-la segura aqui. Me deixe fazer o que eu posso por você, Miranda. Por favor.” Ela abaixou seus olhos, aceitando. “Você já fez tanto por mim,” ela disse suavemente. “Obrigada.” “Foi meu prazer.” Ela gargalhou um pouco. “Mentiroso.” Ele sorriu fracamente em retorno. Uma das suas mãos subiu, as pontas dos dedos roçando na linha da sua mandíbula, e por uma vez ela realmente se deixou sentir a dor que surgiu com o toque. Houve uma batida, e Faith disse, “Mestre, nós estamos prontos para partir.” “Peça pro Samuel levar as coisas da Senhorita Grey para o carro,” David disse a Segunda. “Ela estará lá em um momento.” “Eu estarei esperando do lado de fora,” Faith respondeu. Miranda pegou sua bolsa e seu violão; Samuel arrebatou tudo mais, a deixando reunir a força para andar para fora do pequeno quarto e não voltar. David estava ainda em pé ao lado da cômoda, sua mão descansando no livro, quando ela disse, “Adeus, Senhor Prime.” Ela mal ouviu sua resposta. “Adeus.” Miranda fechou a porta atrás dela e seguiu Faith pelo corredor, dando aos serventes e Elite que ela passava um pequeno aceno e o que ela esperava ser um valente sorriso. Nenhum deles deveria estar em conspiração com o inimigo, mas apenas o Prime e a Segunda sabiam onde ela estava indo; tudo que os outros iriam saber era que ela tinha ido.


A chuva tinha diminuído o suficiente para que ela não corresse como uma louca para o carro de Faith. Ela tinha que sorrir –a Segunda dirigia um esportivo Honda vermelho híbrido com placas da Califórnia. Samuel estava arrumando a última de suas sacolas cheias no porta-malas. Miranda enfiou seu violão e sua bolsa no banco traseiro, então abriu a porta de passageiro; Faith já estava no banco do motorista com o motor funcionando. Miranda se virou para trás para olhar o Haven pela última vez, meio que esperando ver a silueta do David na janela do quarto, mas o quarto estava escuro. Ela começou a entrar no carro, mas então as portas do Haven se abriram. O Prime emergiu, empurrando ao passar pelos guardas da porta com expressões surpresas, e desceu correndo os degraus de pedra para a garagem. Miranda suspirou enquanto David vinha a ela, atraindo ela a ele, o batimento cardíaco dele trovejante contra o seu peito; suas mãos envolveram ao redor da sua cintura e da sua nuca, e antes que qualquer um deles pudesse convocar uma negação, ele cobriu a sua boca na dela. Ela mal teve tempo de retribuir o beijo antes dele se separar, a soltando e recuando, sua mão persistindo ao lado do seu rosto por apenas um segundo antes dele se virar e ir embora. Miranda não chamou por ele. Ela se afundou no assento do carro, lágrimas escorrendo no seu rosto. Samuel fechou a porta para ela. Faith a ofereceu um sorriso encorajador e partiu do Haven, tomando a longa estrada de volta para Austin na chuva.


Parte

O Rio Styx

2


Capítulo

10

O

UTUBRO ERA UM INFERNO. Por uma semana Miranda permaneceu enclausurada em seu quarto no Driskill50, sentada na escuridão com a TV a cabo e o serviço de quarto. Ela sequer desceu para o mundial-renomado Driskill Café para jantar, apesar do fato de que tudo estava pago. Ela gaguejou o seu pedido pelo telefone e esperou com seus olhos afastados o serviço de quarto ir e vir. No minuto que o garçom ou a arrumadeira ou alguém mais entrava no quarto, ela se enrolava em uma cadeira no canto focava muito forte em seu escudo e que inevitavelmente ela conseguia uma violenta dor de cabeça assim que eles se fossem. Ela quebrou o seu ultimo frasco de Vicodin em meias pílulas e as administrou apenas quando a dor era insuportável. Ela estava aterrorizada de perder as suas proteções; não havia ninguém para protegê-la agora. Não havia ninguém para ajudá-la. Ninguém para se preocupar com o seu bem-estar. Ninguém veio visitá-la. Ela estava sozinha. Ela tentou se manter acompanhada pelo seu violão, porém mais uma vez, a música a tinha deixado. Então ela assistia filmes, ela cuidava de suas contusões, ela dormia, e ela esperava por notícias. Finalmente, seis dias em sua estada no hotel, um mensageiro veio ao seu quarto e a deixou saber que o seu apartamento estava pronto e um carro estaria ali pela manhã para levá-la a sua nova casa. Ela se sentou a noite toda, suas malas já arrumadas e na porta, e quando amanheceu ela disparou para baixo 50

( Driskill – Hotel de padrão cinco estrelas em Austin, famoso por ser um marco histórico da cidade)


para a recepção sem parar, evitando o elevador apenas no caso dela ficar presa nele e ter que falar com alguém. Enquanto ela corria para o lado de fora para o carro, a luz do sol a cegou e ela largou sua bolsa. Um homem de meia-idade passando por ela na rua parou para ajudá-la. Ela murmurou seus agradecimentos. “Você está bem, querida?” ele perguntou, colocando uma mão paternal em seu ombro. O toque a fez gritar e a saltar para trás. Mãos na escuridão...gargalhadas... Ela mergulhou para dentro do carro e tremeu como uma folha durante todo o caminho até o complexo de apartamentos. Era em um lugar de classe-alta no Sul de Austin, logo depois da rota de ônibus até Lamar que iria levá-la a todos os seus antigos redutos; ela parou no escritório tempo o suficiente para pegar as chaves e assinar um contrato de locação, então se deixou levar, mal conhecendo o amigável motorista que carregou suas malas para ela. Uma vez dentro ela fechou e trancou a porta, e ali ela ficou por mais de um mês. No início ela disse a si mesma que ela estava ocupada arrumando a mudança. Todos os seus pertences da antiga casa tinham sido encaixotados e transportados para ela, etiquetados em limpas letras negras de qual cômodo o seu conteúdo se originou; eles tinham colocado os seus móveis em uma harmonia lógica, mas ela não gostou disso e gastou várias horas movendo as coisas ao redor até isso parecesse certo. O apartamento era maravilhoso e muito longe da sua faixa de preço. Ele tinha dois quartos, um banheiro enorme, e um piso plano aberto que corria da cozinha até a sala de estar. A sala de estar ostentava meia dúzia de janelas e um pátio. Mofo coroava os muros, e as portas estavam estufadas. O tapete era felpudo, as paredes em uma cor creme que combinavam com tudo, os aparelhos top-de-linha em aço inoxidável. Ela odiava isso. Havia muita luz. Ela não podia mais dormir com a luz entrando no quarto, então ela teve que pendurar umas cortinas que ficavam sobre as duas pequenas janelas ali, deixando a sala de estar exposta exceto pelas persianas de madeira, o qual ela mantinha fechada todo o tempo. Ela nunca podia manter a temperatura correta –ela estava acostumada ao ar frio e chamas quentes equilibrando-se. O seu novo apartamento não tinha uma lareira.


Ela ainda sentia falta do seu escuro, barato um-quarto de antes. Ela sentia falta da rachadura na parede. Ela se intercalava de uma caixa a outra, tentando se lembrar onde ela tinha adquirido tantas coisas que ela possuía e para que elas serviam. A cozinha especialmente a confundia. Ela alguma vez realmente usou uma torradeira? Porque ela tinha tantos copos de vinhos e tão poucos pratos? Quem quer que tenha mudado as suas coisas tinha atenciosamente estocado ambos refrigerados e guardados na copa com o mesmo tipo de comida que ela comia no Haven. Tudo era novinho em folha. Isso deveria tê-la deixado satisfeita, mas apenas a fez ficar triste. Havia muito barulho na cidade. Todo o dia e a noite havia carros, sirenes, pessoas andando do lado de fora falando e gargalhando. Pessoas batendo portas, e aparentemente seus vizinhos de cima eram jogadores de boliche. Cada vez que havia um som súbito ela quase pulava para fora da sua pele. Por três semanas ela estava constantemente assustada...seus pesadelos retornaram com vingança, então enquanto chovia torrencialmente do lado de fora, ela chorava torrencialmente em sua cama. Uma noite no final da terceira semana de Outubro, ela decidiu tentar caminhar para a loja da esquina por uma Coca. Ela esteve vivendo de entregas de comida Chinesa e pizza por mais de uma semana, esticando as suas compras o máximo que ela podia a ponto de comer bolachas cream-creackers com manteiga no jantar, mas ela não podia suportar a idéia de um supermercado ainda. Melhor começar devagar. Ela podia andar duas quadras ao Posto da Shell e pegar um refrigerante e talvez algumas batatas chips. Ela empurrou o seu nariz para fora da sua porta da frente pela primeira vez desde que ela se mudou. Foi inútil tentar mudar os seus hábitos noturnos, então foi logo depois do sol se pôr e o ar estava rapidamente esfriando. Em algum lugar no tempo em que ela perdeu se escondendo embaixo da sua cama, o outono tinha começado. Miranda segurou seus escudos, então fez isso novamente depois de fechar a porta atrás dela. Cada vez que alguém caminhava passando por ela, ela os fortalecia ainda mais, mas não muito quando um pingo de energia externa a alcançava.

Você sabe o que você está fazendo, se lembra? Você pode fazer isso. Apenas continue andando. Não entre em pânico. Inspire, expire. Você sabe como fazer isso.


Se alguém reparou na sua aparência desleixada, eles guardaram isso na mente. Ela não tinha escovado o seu cabelo desde quando acordou, e embora ela não fosse tão deploravelmente magra como ela tinha sido antes, havia enormes círculos escuros embaixo dos seus olhos. Ela não tinha dormido ao longo do dia desde quando ela voltou para Austin. Ela não precisava se preocupar. Aqui fora, em uma área metropolitana de 1.6 milhões de pessoas vivendo as suas vidas e envolvidas com seus próprios problemas mortais, ela era ninguém novamente, invisível. Era tão estranho ser capaz de ver o seu reflexo. Ela se encarou por longos minutos no hotel, e novamente em seu novo banheiro, tentando compreender todas as suas características. Era assim que ela era? Os seus olhos eram verdes? Ela tinha uma cicatriz em sua testa bem embaixo da linha do cabelo daquela noite. Ela não tinha idéia até que ela viu isso no espelho. Ela conseguiu chegar na loja e comprar uma embalagem de doze Cocas e uma braçada de “junk food.” Ela deu o seu Visa para o atendente e assinou o recibo sem falar, embora ela estivesse muito certa de que ele estava tentando paquerá-la. Ela não sabia como reagir a isso. Na caminhada de volta ela levou um momento para reparar no tempo; houve uma parada na chuva, e o ar estava limpo e fresco, e algumas poucas estrelas espiavam no azul escuro do céu. Que dia era? Sexta? Não, Quinta-feira. Uma vez em casa, ela esperava ter que lutar contra um ataque de pânico, mas ela se sentia notavelmente calma tirando as batatas e doces para fora da sacola e arrumando os refrigerantes da geladeira. “Bem agora,” ela disse a si mesma. “Isso não está mal.” Ela estourou a tampa da Coca e levou um saco de Doritos para o sofá para assistir a reprise de

Buffy a Caçadora de Vampiros. A noite seguinte ela levou o lixo para fora. Quando ela voltou, ela ligou o seu computador e checou seus e-mail. Mais uma vez, Kat tinha escrito tentando encontrá-la; depois de pensar sobre isso em um minuto, Miranda escreveu de volta. Para: Kat (katmandoo@freemail.net) De: Miranda Grey (mgrey82@freemail. net) Título: Re:Re:Re: MIA? Oi Kat,


Eu estou de volta a cidade. Eu me mudei para um novo lugar. Quer aparecer para uma pizza amanhã? Me avise. ~M Cinco minutos depois ela tinha respondido. Era de apenas duas palavras: INFERNO SIM! “Reabilitação,” Kat disse em volta de um bocado de queijo. “Eu tinha a impressão que isso tinha que ser algo assim.” Miranda tirou uma azeitona preta do seu pedaço e a jogou na tampa da caixa; Kat imediatamente a recolheu a enfiou no seu próprio. “Yeah.” “Você estava parecendo como um drogado a ultima vez que eu te vi. Graças a Deus que você ganhou algum peso –você vai ficar uma gostosona de novo se você se manter assim, entretanto uma dieta de Doritos e Pizza Hut podem não ser o jeito certo pra isso.” Miranda deu uma outra mordida e disse, “Eu sei. Eu apenas fiquei em uma espécie de fechamento desde que eu cheguei. Eu estou indo na mercearia para alguma comida de verdade em um dia ou dois. É difícil se ajustar no mundo real depois...de tudo isso.” “Mas você está se sentindo melhor, certo?” “Sim,” ela disse apressadamente, tentando acreditar em si mesma. “Muito melhor. Eu vou ficar bem, Kat, eu realmente vou. Apenas...as coisas ficaram ruins. Realmente ruins. Então isso vai levar algum tempo.” Kat assentiu, aconchegando uma dread solta atrás da sua orelha com a sua sem-pizza-carregada na mão. “Eu vi muito isso com as minhas crianças no programa. Algumas vezes elas tinham que atingir o fundo totalmente antes delas perceberem que há uma maneira de voltar”. Ela estendeu a mão e apertou o braço de Miranda, parecendo preocupada quando Miranda estremeceu. “Apenas me prometa que se eu puder ajudar, você ira pedir, Okay?” “Okay.” Ela queria dizer a Kat a verdade. Ela queria dizer tudo. E mais que tudo ela queria conversar com Faith, e ela queria ver o David. Ela queria voltar para o seu aconchegante pequeno quarto e assistir as estações mudando da janela do segundo andar com vista para as montanhas. A sua janela aqui tinha a vista panorâmica para o estacionamento. “Então você disse no seu último e-mail que você estava com amigos,” Kat mencionou. “Isso quer dizer que você conheceu alguém na clínica?” Ela agitou suas sobrancelhas sugestivamente. “Alguém especial?”


Miranda arremessou um travesseiro nela, e Kat gargalhou. “Oh, vamos,”a loira disse. “Várias pessoas transam em reabilitações. O que mais tem lá pra se fazer se você não fuma? Além do mais,” Kat adicionou, “você está corando. Isso deve significar algo.” Miranda sacudiu sua cabeça. “Não, isso não...eu quero dizer...havia algo...bem, talvez. Mas não era como isso. Nos éramos apenas amigos, ou...bem, mais do que isso, mas...eu não sei.” Ela tomou um gole da sua cerveja, tentando encontrar as palavras, mas como na terra ela poderia explicar algo sobre isso sem dizer muito? “Vamos apenas dizer que eu conheci alguém, e ele me ajudou a melhorar. Mas nada estava acontecendo.” “Porque não?” Ela sorriu pesarosamente, arrancando a ponta do rótulo da sua garrafa de Corona51. “Nós somos de dois mundos muito diferentes.” O sorriso de Kat se tornou malicioso, e por um momento ela pareceu um pouco como a Faith. “Se você não está envolvida com isso, então, eu conheço alguém que você deveria encontrar. Ele é um professor de música –cabelo escuro, olhos azuis, traseiro saindo-fumaça.” “Não, obrigada. Eu não acho que eu estou pronta para esse tipo de coisa nesse momento. É muito cedo.” “Porque? Você se tratou para sair das drogas, não da pornografia.” Miranda estremeceu interiormente com o pensamento de qualquer homem, com traseiro saindo fumaça ou não, a tocando, tentando colocar suas mãos em sua calcinha. Ela pensou em estar nua com alguém, espalhando suas pernas, tendo alguém invadindo o seu corpo, dedos se enfiando nela, o som de um zíper...subitamente um frio, ela tateou por um cobertor jogado que não estava ali. “O que está errado?” Kat estava perguntando. “Mira...esse olhar em você agora mesmo...existe algo que você não está me contando sobre isso tudo?”

Deus, alguma vez... Ela odiava mentir, mesmo quando não havia outro jeito. “Antes de eu ir me tratar, algo...a noite que você veio me ver tocar, eu estava caminhando para casa, e...” A boca de Kat caiu aberta, e seus olhos encheram com lágrimas enquanto as peças se uniam. “Oh, porra, docinho...porra, eu sinto muito...”

51

(Corona –marca de cerveja)


Ela se empurrou para fora do chão e colocou seus braços em volta de Miranda, que não se retraiu com o abraço, mas não pode retribuir completamente.” “Está tudo bem,” Miranda a reassegurou. Ela podia sentir a culpa radiando de todo o corpo de Kat. “Não foi a sua culpa. Não culpe ninguém mais além das pessoas que o fizeram, okay? Eu estou bem.” “Mas porque você não me ligou? Porque você apenas desapareceu assim? Eu podia ter feito algo –nós podíamos ter ido a polícia. Você ainda deve ir a polícia. Não é muito tarde.” “Sim, é sim. Por favor, Kat...apenas não vamos mais falar sobre isso.” “Mas-” “Por favor.” Miranda silenciosamente desejou que ela não pressionasse; ela até mesmo arriscou inclinando em Kat um pouquinho com a sua energia, apenas para mudar o assunto. Quanto menos a Kat soubesse, melhor; havia sempre um risco de que até mesmo aqui Miranda não estivesse segura, e ela não iria arriscar Kat, também. Ela apertou Kat em volta do meio, finalmente retornando o seu abraço, dizendo, “Está tudo bem. Está...está tudo terminado agora.” *** Não havia ruivas suficientes em Austin para fazê-lo esquecê-la. Não havia ruivas suficientes em Houston, também, ou New Orleans, ou Oklahoma City. Não havia suficiente em toda a Geórgia. No inicio de Outubro ele essencialmente saiu em excursão, visitando as principais cidades do seu território, saudando os novos Elite, aperfeiçoando sistemas variados, e fazendo a sua presença ser notada. A maioria dos Primes não se incomodava com esse tipo de envolvimento com participação ativa, mas ele tinha aprendido com os melhores e também com os piores. Fingindo que havia apenas uma cidade no Sul que permitia que as gangues construíssem a força em outros lugares, e Auren mal tinha se mantido com o ataque violento mesmo no seu auge. Era o mesmo em todo o lugar: Chegar, reunir, consultar; caçar, fuder, partir. Não havia prazer em nada disso. Por outro lado, estar em casa não era melhor. Ele tinha fechado e trancado a porta da suíte da amante e não tinha colocado o pé dentro dela desde então; ele tinha feito o mesmo com a sala de música. Ele entrou o mais tarde possível para desligar a luz que Miranda tinha


deixado acessa, e sua presença ainda estava palpável, sua essência estremecendo no ar fortemente o suficiente para conduzi-lo para o fundo de uma garrafa de Jack52. Na noite seguinte ele foi a cidade e se rasgou dentro da primeira cabeçade-cabelo-castanho-avermelhado que ele pode encontrar, bebendo dela tão profundamente que ele quase a matou. Ele quis ligar. Ele não quis ligar.

Esqueça-a. Esqueça dela e siga em frente. Esquecer era uma coisa que vampiros simplesmente não podiam fazer. Eles tinham extraordinárias memórias que faziam as suas vidas extensas parecerem intermináveis; ele imaginava que isso era um ato de punição por enganar a morte. Depois que homem que atacou Miranda –Elite 70, que esteve trabalhando pra ele por três anos e tinha um impecável registro de serviço –foi eliminado, seu sangue-drenado e o cadáver jogado no Distrito das Sombras para esperar pelo sol, os ataques em Austin chegaram a um fim abrupto. David não acreditava na tênue paz. Talvez sendo frustrados nas suas tentativas com os humanos os fizeram desconfiar, ou talvez eles estejam planejando algo ainda maior. De qualquer forma, ele se concentrou na rede de sensores por toda a cidade que ele estava criando e dobrando a atividade das patrulhas até segunda ordem. Ele não estava para ficar desleixado como Arrabicci e Auren ficaram. Não houve absolutamente nenhuma evidência de deslealdade nos aposentos de Elite 70. Ele dividia o seu quarto com Elite 25, quem estava tão chocado quanto o resto deles estava. David tinha rastreado os movimentos de 70 retrocedendo seis meses sobre a rede de com e não encontrou nada desagradável. Elite 70 não tinha sequer separado de sua unidade, nunca tinha perambulado sozinho para se encontrarcom qualquer pessoa. O sinal do seu com nunca oscilou. Houve uma busca minuciosa e interrogatórios durante todo o Haven, mas David ainda não tinha idéia se 70 se mantinha em contato com seu mestre, muito menos o que ele tinha revelado sobre as operações no Haven. Elite 70 era de um baixo escalão comparado com Helen e não tinha acesso a muita informação inteligente, mas ele poderia ter estado ali como suas mãos extras. Ao menos eles encontraram outro traidor em seu meio para questionar, era muito tarde para descobrir porque 70 estava no Haven. 52

(Jack- Jack Daniels –marca de whisky)


David odiava estar jogando. Era exatamente o que essas pessoas estavam fazendo: o fazendo suspeitar de seus aliados, se fazendo de isca, o fazendo expor o seu ventre para as suas finas lanças envenenadas. Ele parou o seu trabalho tempo o suficiente para fazer a sua jornada ao redor do território, mas assim que ele voltou para Austin, ele se afundou na rede de sensores novamente. Mais do que uma vez Faith teve que lembrá-lo a se alimentar e dormir. Como um plano, a criação da rede era factível. Como uma distração, era lamentavelmente inadequada. Todo lugar, cada canto do Haven o lembrava dela. Mesmo na cidade, deitado entre as coxas de uma outra mulher humana sem nome esperando para que ela terminasse vindo enquanto seu sangue zumbia através das veias dele, ele pensava em Miranda –seus lábios, a única vez que ele provou deles...seu cabelo, os ferimentos em volta dos seus dedos...sua gargalhada brilhante, tão rara, que trouxe vida para o que agora se sentia como um túmulo ao invés de uma casa. Uma noite ele cometeu o erro de se sentar no sofá e se inclinar para trás no travesseiro, soltando uma onda com a sua essência. Ele tinha enterrado o seu rosto nisso por meia hora, então o arremessado na lareira. Nesse ritmo ele deveria comprar um estoque de Jack Daniels. Ele ficava em seu escritório algumas noites mais tarde, instalando cuidadosamente a fiação de um sensor no seu alojamento a prova de intempéries, quando o seu telefone tocou. A sua primeira inclinação foi ignorálo, mas ele olhou para ver quem era e decidiu que era melhor ele não fazer. “Sim?” A voz não era Britânica,e não era animada como a de Jonathan; ela tinha, de fato, o fraco cantar com alegria de um sotaque Irlandês e era gentil, embora grave. Mas ele podia sentir o mesmo poder e energia ecoando disso mesmo a milhares de quilômetros de distância. “David, eu te disse recentemente que você é um idiota?” Ele abaixou a sua chave de fenda e se sentou para trás. “Legal ouvir de você, também, Mestre. Como vão as coisas no Estado Dourado53?” “Eu tenho duas palestras preparadas pra você: uma com os perigos de ignorar o seu destino e outra na gulodice, especificamente relacionada em beber o seu peso em Jim Beam54 toda noite.” “Eu não estou bebendo.” 53 54

(Estado Dourado –Califórnia) (Jim Bean –é uma marca de whisky)


Ele podia praticamente ouvir Deven rolar os olhos. “Eu estou intimamente familiarizado com seus vícios, David.” “É Jack, não Jim.” “Ótimo. Qual palestra você quer primeiro? Eu tenho uma chamada de conferência com a Europa Ocidental e com o Norte da África em cinqüenta minutos, então eu gostaria de passar essa mensagem adiante.” David esfregou a sua testa, onde uma dor de cabeça estava formando –ele tinha muitas delas ultimamente. “Deven, o seu próprio Cônjuge me disse para mandá-la embora ou ela seria morta. O que mais eu deveria fazer?” “Jonathan reage a essas coisas emocionalmente. Eu tenho certeza que se ele percebesse que você estava apaixonado por ela, ele iria pensar diferente. Além disso, você sabe tão bem quanto eu que o futuro é maleável. Você tentou deixála tocar o segundo Signet?” “Porque eu faria isso? Ela é humana!” “Retornando ao ponto inicial dessa conversa sobre você como um idiota.” “Você acha que eu deveria ter trazido ela para o outro lado,” David disse. “Depois de tudo que ela passou, e sabendo da vida que ela iria encarar, eu não acredito que você e todo seu pessoal estão falando isso.” “O que eu estou dizendo,”Deven disse a ele firmemente, “é que eu sei como você ama, como nós amamos. Isso apenas não vai embora. Quanto mais você luta com isso, mais miséria você impõe a vocês dois. Acredite em mim, meu querido. E se a visão se tornar realidade, e ela morrer? Cada momento que você não passou ao seu lado vai caçar você para sempre. Nós todos sabemos quanto tempo para sempre realmente é.” David inclinou a sua cabeça na sua mão livre. “E sobre a segunda palestra?” Ele podia ouvir Deven rolando os olhos sob o telefone. “Se você vai se tornar um bêbado, ao menos deixe-se cair por um bom whisky, Jack Daniels? Honestamente. Eu não te ensinei nada? “Algo mais?” “Sim, mas uma coisa, ou melhor, um adendo ao primeiro. Considerando isso uma recomendação diplomática oficial do seu mais velho aliado.” “Fale logo,” “Pare de fuder nas redondezas e vá vê-la.” Quando David desligou, ele ouviu alguém limpar a sua garganta na entrada da porta e viu Faith esperando para falar com ele, a própria imagem da cortesia profissional.


Ele sacudiu a sua cabeça em irritação. “Obrigado, Faith. Agora eu tenho dois deles pra enfrentar. Melhor ainda, eles estão me dando conselhos contraditórios quando eu não quis nenhum deles.” Faith deu de ombros. “Eu achei que você deveria ouvi-lo.” Ele olhou para ela. “Você acha que isso é fácil pra mim? Você não acha que eu quero mais do que tudo ir vê-la?” “Então porque você não vai?” “Isso faria tudo muito mais difícil a longo prazo por se arrastar isso ao invés de ter uma ruptura limpa. Ela tem a chance de viver a sua vida agora e ser feliz. Eu não vou aparecer e continuar a relembrando do que aconteceu aqui.” “Mas e se...e isso é só um pensamento, obviamente...e se ela se sente da mesma maneira por você?” Ele abaixou os seus olhos e voltou para os fios e minúsculos parafusos. “Então eu tenho pena por ela.” Faith fez um barulho irritado e permaneceu ali por um minuto, mas ele a ignorou. Finalmente, ela disse. “Os relatórios da noite estão no seu servidor. Eu estou de folga.” “Ótimo.” Sozinho novamente, David tentou continuar trabalhando, mas ele partiu o mesmo fio três vezes antes dele desistir. Ele pegou o seu telefone e vasculhou a lista de contatos: vinte e seis Primes, várias Rainhas, um Cônjuge, a Casa Branca, os governadores de todos os oito estados do território, o Governo Britânico, e Departamento de Defesa...e o telefone móvel de uma mulher humana, Miranda Grey. Ele olhou para a inscrição por um longo tempo. Tudo que ele tinha que fazer era apertar o botão e ele ouviria a sua voz. Xingando embaixo da sua respiração, ele empurrou o telefone para dentro do seu bolso e se impulsionou para trás da mesa, apanhando o seu casaco das costas da cadeira e se encaminhando para a suíte para encontrar um bom whisky. “Eu estou pronto pela manhã, Samuel,” ele disse ao guarda da porta. “Providencie para que eu não seja perturbado.” “Assim como você desejar, Mestre.” Ele fechou a porta e pendurou o seu casaco em seu gancho usual, removendo sua lâmina para pendurar ao lado da porta e correndo sua mão ao longo da bainha com um suspiro. Ele teve várias armas ao logo dos anos, mas essa –um presente do Casal da Califórnia no ano que ele tomou o Signet do Sul


–era a sua favorita. Ela era mais curta do que aquela usada pelos Elite, com uma ligeira curva, requintadamente forjada e polida como um diamante. A borda nenhuma vez tinha ficado cega, e era perfeitamente equilibrada. Ao longo dos anos ela tinha partido dezenas de cabeças traiçoeiras dos ombros. Ele não sabia tanto assim sobre metalurgia, mas ele era consciente que ela custava uma pequena fortuna. Ele olhou para a lareira, onde outra espada, muito mais antiga, pendurada, ainda brilhava mesmo na sua aposentadoria. Ela tinha cerca da mesma idade porém mais pesada, feita por um grau inferior de aço negro nos seus dias de tenente da Califórnia. A última coisa para que ele a tinha usado foi matar o Prime Auren. Ele se lembrava daquela noite bem, um mero piscar de um olho passou por sua espécie. Ele tinha pego o Prime de surpresa, mas não havia garantia de vitória. Auren era um guerreiro assassino. A luta tinha acontecido por quase uma hora, mas David o observou por meses, aprendeu suas fraquezas na batalha. A multidão que tinha se recolhido para vê-lo tomar o Signet do corpo, tinham olhado em espanto e boquiabertos. Ninguém esperava que Auren morresse. Seu reinado era previsto para durar por séculos. David caminhou para encher para si um drink, desenterrando a nova garrafa de Jack que ele tinha pedido para Esther trazer –para o inferno com o que Deven pensasse. Enquanto ele drenava o primeiro copo e começava a trabalhar para um segundo, ele cruzou o quarto para uma cômoda de madeira retrocedida no canto e a destravou. Vestígios do seu passado estavam guardados no seu interior: o anel de noivado de Lizzie, roubado da sua recém-cavada tumba; uma mão cheia de cartas; um cachecol de seda que ainda cheirava suavemente a jasmim; alguns itens valiosos das suas viagens que ele não podia se desfazer mas não queria olhar todo dia; a primeira placa de circuito desajeitada que ele construiu. Ele alcançou a bandeja superior e removeu uma caixa trancada de metal negro; dentro dela havia outra caixa, cerca de centímetros quadrados, entalhado a mão em ébano com o Selo do Prime do Sul trabalhado nele. Cada Prime tinha o seu próprio Selo, mas havia uma variação nesse, uma marca da sua identidade tão quanto do seu território. Cuidadosamente, ele abriu a caixa de madeira, revelando uma grande pedra vermelha firmada na prata e pendurada em uma pesada corrente. Era quase


idêntica aquela que ele usava, embora apenas uma tonalidade menor; e onde a sua pedra brilhava fracamente ao toque do seu poder, essa era escura, a força mística dentro dela adormecida como ela ficou por vários anos. Ele colocou a caixa externa de volta na cômoda e trancou as portas, levando o Signet com ele ao sofá, onde ele sentou-se nas almofadas, encarando a pedra vermelho-sangue adormecida. Ninguém vivo sabia ao certo de onde os Signets vieram ou quem os fez. Ele tinha perguntado, no começo, mas encontrou apenas silêncio em sua resposta. De alguma forma ao longo dos séculos esse conhecimento foi perdido, e enquanto ele pudesse dizer ninguém se importava tanto assim com o que era verdade. Apenas David parecia entender que qualquer força poderosa o suficiente para criar o Signet tinha que ser mais forte que um Prime, e que isso significava que eles não estavam no topo da cadeia alimentar da maneira que eles mesmos acreditavam estar. Em algum lugar, em algum tempo na história, houve um grande poder que trabalhou ao lado da espécie vampira. Isso talvez nem mais existisse. Ele tinha visto o Signet escolher o seu portador ao menos duas vezes antes do seu próprio. Ele pensou de volta na última noite na guerra de Sacramento, quando eles tinham tomado a base de operações onde os Blackthorn estavam se escondendo, recuperando o Signet roubado de Arrabicci e retornando-o ao Haven onde ele pertencia. Ele tinha entregado o Signet ao Deven para mantê-lo seguro, e a pedra dentro tinha brilhado a vida, a luz piscando como um alarme até que ela estivesse em volta do seu pescoço. Ele ainda podia se lembrar do olhar assustado no rosto de Deven quando ele percebeu que ele tinha sido escolhido, e ele relembrou do enorme surgimento de poder que tinha varrido sobre todo o prédio, se envolvendo ao redor do novo Prime. Apenas alguns meses depois disso, um encontro casual em um bar tinha conduzido o Prime ao seu Cônjuge. Assim que o Signet reconheceu Jonathan ele começou a pulsar novamente, e mais tarde eles encontraram o segundo fazendo o mesmo guardado em sua caixa no Haven. Os dois vampiros se conheciam por dez minutos, mas quando o Signet piscou, eles dois sorriram como a lua saindo detrás das nuvens. Eles podiam sentir a conexão entre eles instantaneamente, e ela era, assim como o Signet, uma combinação perfeita. David tinha passado seus anos remanescentes na Califórnia contente pelo seu amigo e ainda insanamente, envenenadamente com ciúmes. Partir foi um alívio.


Ele tocou a pedra adormecida com um dedo, e uma apática cintilação de luz apareceu em reconhecimento. Ela o conhecia, claro. As pedras não eram exatamente sensíveis, mas elas definitivamente tinham uma vontade. Ele podia sentir a sua como um murmúrio silencioso de energia de volta na sua mente, nunca invasiva, mas sempre com ele. Novamente, ele se perguntava quem poderia ter criado tal coisa. Apenas um vampiro podia acordar o Signet, mas era possível, contudo improvável, que esse contato com alguém que poderia potencialmente portá-lo deveria fazer...algo. E se ele tivesse mostrado isso a Miranda, então o que? E se ele desse um salto de fé e a transformasse, e o Signet não respondesse? Era para ela viver na suíte da amante por todo o tempo na condição de que ele nunca encontraria a sua verdadeira Rainha? Ele sabia que ela nunca ficaria contente com isso, e ele não iria questioná-la sobre ela se tornar um vampiro ao menos que ele soubesse com certeza que era ela. Quais eram as chances pra isso? Havia milhares de vampiros no último senso, e desses todos apenas um poderia possivelmente ser a sua companheira, assumindo que ela nem sequer nascesse ainda. Assumindo a circunstância de que alguma vez levasse um ao outro, isso levaria milhares de anos a partir de agora. Ele bateu a caixa deslizando fechada e a colocou na mesa de café. Isso era estúpido. Ele estava se torturando, e pra que? Deixem os outros continuarem com o destino que todos eles gostariam. Destino era apenas uma maneira de negar a responsabilidade pelas suas próprias ações. Pessoas viviam e morriam pelas suas escolhas, independentemente do que uma pedra cega tinha a dizer sobre isso. Não havia tempo para se lamentar em sua própria-culpa, não com o tanto para rolar. Pessoas podiam morrer na cidade enquanto ele sentava aqui se deprimindo sobre coisas que nunca seriam. Ela não estava voltando. Ela tinha a sua vida para viver, e ele tinha a dele. Já era o suficiente. Ele tinha trabalho a fazer. *** Não havia jeito para isso. O seu teclado simplesmente não era um Bösendorfer. Comparado coma grande antiga dama no Haven, o seu instrumento digital soava pequeno e metálico. Ele podia ter ligado ele no maior amplificador que ele


ainda soaria como um brinquedo de xilofone depois que ela teve a chance de tocar o Grandioso Imperial. Ela gastou horas no banco em frente ao grandioso, alimentando sua tristeza e sentindo saudades das teclas assim como usando a música para acalmar as frustrações de um imortal guerreiro/diplomata. O piano era tão suntuoso quanto o Prime, tão rico quanto o próprio Haven, e ela tinha adorado cada centímetro dele. Ela tentou remexer com as configurações do seu Yamaha55 para se aproximar do som, mas o máximo que ela pode fazer era soar um som como se ela estivesse tocando no fundo de um poço. Ela acariciou o teclado e disse, “Não se sinta mal. Ela era como umas férias, Você é a coisa real, baby.” A coisa real, como a vida real, era uma pálida imitação do que ela tinha perdido. Os dias se arrastavam, e ela se arrastava ao longo com eles. Ela atravessou as emoções e tentou valentemente sentir mais do que passar interesse em sua antiga vida. Ela saia com Kat; ela finalmente foi a mercearia; ela foi a lavanderia e checou seus e-mail. Ela até mesmo entrou em contato com Mel sobre voltar aos palcos. Ela esperava que ele estivesse zangado sobre o seu desaparecimento, mas ela nunca assinou um contrato, e músicos não eram conhecidos por suas confiabilidades nessa cidade. De fato, ele tinha criado rumor suficiente enquanto ela estava ainda se apresentando que quando ela desapareceu, ela se tornou a conversa da cidade. Rumores voaram, a maioria envolvendo vício por drogas e colapso nervoso. Mel estava mais do que feliz de tê-la de volta, dado agora que muitas pessoas tinham perguntado a ele sobre ela enquanto ela esteve fora. A sua primeira apresentação era na Sexta. Ele tinha até se convencido que isso era uma boa idéia. Até agora seus escudos tinham se mantido de pé. Ela tinha trabalhado em refinar a sua técnica enquanto ela estava em casa, descobrindo afinar a barreira para fora e pegar uma única emoção superficial de uma pessoa sem intrometerse. Embora, ela ainda não tinha estado ao redor de uma grande multidão. Ela até mesmo ia comprar comida depois da meia-noite quando a loja estava praticamente vazia, apenas como se ela sempre tivesse feito antes.

55

(Yamaha –marca do teclado elétrico)


Miranda numerou as páginas da sua coleção de partituras, tentando decidir por um set list 56 . Ela atualmente estava trabalhando em algumas musicas originais, mas nenhuma delas estavam perto de ficarem prontas. Ela se deparou com a sua desbotada antiga cópia de Tori Amos “Silêncio por Todos Esses Anos” e encontrou uma protuberância crescente em sua garganta. Era a primeira música que ela tinha tocado no Bösendorfer, a primeira música que ela tocou para David. Ela empurrou a música de volta na sua pasta e a lançou no chão, não aquela. Não agora. Uma batida na sua porta da frente a fez voltar com tanta força que ela quase caiu no chão. Desconfiada, ela se aproximou do olho-mágico pelo lado, o seu coração batendo. Por apenas um rachar de segundo ela estendeu uma esperança de que talvez... Quando ela viu quem era, ela sorriu amplamente e se arremessou abrindo a porta. Faith, pega fora de guarda pelo abraço que Miranda a embrulhou, rangeu com a surpresa, depois gargalhou. “É bom ver você, também.” “Entre!” Era um pouco estranho ver Faith fora do seu uniforme. Ela tinha vindo para a cidade com uma jaqueta de couro sobre jeans escuros e um suéter de corvinho, suas inúmeras tranças prendidas para trás em seu rosto. Em suas botas de salto-alto ela parecia sofisticada e exótica, não mortal, mas Miranda apostaria que ela tinha ao menos uma faca com ela em algum lugar. Faith olhou em volta do apartamento com interesse. “Nada mal,” ela comentou, tirando a sua jaqueta. Miranda a conduziu ao sofá e ofereceu a ela uma cerveja, o qual ela aceitou. “Eu estou me acostumando com isso. Eu tinha cortinas aqui, entretanto. Eu desejaria saber onde eu consigo persianas de metal.” Faith riu. Ela examinou Miranda por um momento antes de dizer, “Você está parecendo muito melhor.” “Eu imagino.” “Como você está?”

56

(set list –é uma lista das músicas que o cantor irá tocar na apresentação)


Ela segurou o olhar de Miranda por um segundo, e Miranda soube o que ela estava realmente perguntando. “Eu estou bem. Eu nunca pensei que fosse dizer isso, mas eu sinto falta do Haven.” A Segunda sorriu novamente. “Ele ficou em seu sangue, em sua vida. Eu vivi por conta própria, e eu não posso imaginar fazendo isso novamente.” Elas bateram papo por um momento sobre o apartamento de Miranda e o que ela estava fazendo pelos últimos dois meses, então passaram para a fofoca do Haven; Faith a contou que ali houve apenas três ataques pelos rebeldes desde que ela partiu, mas que todos esperavam que o inferno se soltasse a qualquer segundo. “A rede de sensores está funcionando?” Miranda perguntou. “Não, mas está chegando lá. Os testes iniciais foram bem. Provavelmente vai levar outro mês para tomar vida, entretanto.” Ela sabia que cada dia que passasse, cada humano que morresse iria atormentar David, e ele faria tudo que ele pudesse para conseguir que a rede funcionasse mesmo se isso significasse que ele desistiria de luxúrias como dormir. “Tenha certeza de que ele descanse um pouco,” ela disse. Houve uma pausa, Faith levantando a sua cerveja para a luz da lâmpada, então limpando a sua garganta. “Eu posso te perguntar algo?’ “Claro.” A Segunda lambeu seus lábios um pouco desconfortável. “Você o ama?” Miranda agarrou o braço do sofá. “Eu não sei.” Faith levantou uma excêntrica sobrancelha. “O que você quer dizer, com você não sabe? Eu vi aquele beijo, e eu vi a maneira como vocês dois se olhavam. Todos sabiam, exceto vocês dois.” Frustrada, Miranda se encontrou piscando de volta lágrimas de raiva – maldito seja, ela jurou que ela não iria chorar dessa vez –e se levantou, andando para a janela. “Que tipo de pessoa eu poderia ser se eu amasse alguém que mata pessoas?” “Você matou pessoas.” Miranda sorriu amargamente. “Exatamente.” “Pessoas amam soldados e policiais. O presidente tem uma esposa, e ele dá ordens que fazem as pessoas serem mortas, tudo sem sujar as suas mãos. Eu imagino que é mais civilizado se isso está fora de vista, fora da mente.” Ela suspirou. “Eu não tenho idéia. Isso não faz nenhuma diferença agora, de qualquer forma.”


“Isso faz toda a diferença do mundo. Você poderia voltar.” “Não, eu não posso. Eu estou presa aqui no mundo humano pelo resto da minha vida, mesmo embora eu saiba que há mais lá fora. O que eu faço com isso, Faith?” “A forma como as coisas estão agora não é como elas devem ficar.” Ela encarou Faith. “E sobre você? Se eu perguntasse a você...você me transformaria?” Os olhos de Faith ficaram maiores. “Transformar você em vampiro?” “Não, me transformar em um sapo. Você poderia fazer isso?” Faith terminou sua cerveja em um longo gole. “Eu talvez seja capaz, fisicamente, mas eu não iria.” Miranda deveria ter sabido que ela falaria isso, mesmo assim, o seu coração se afundou. “Porque não?” Ela gargalhou. “Porque meu chefe iria me matar.” Miranda se virou para longe novamente, murmurando, “Esqueça que eu perguntei. Isso foi estúpido.” “Sim, isso foi, mas não pela razão que você acha. Olhe, Miranda...ninguém gostaria de ver você voltando pra casa tão quanto eu gostaria, mas nesse momento você não está pensando claramente. Se lembre do que você disse? Que você não desistiria da sua humanidade por um homem? Porque aqui está a coisa –apenas uma razão, até o amor, não é o suficiente. Tampouco é ser solitária ou deprimida por causa da sua vida. Você tem que saber com cada fibra do seu ser que é o que você quer.” Miranda não podia olhar para ela; havia lágrimas por todo o seu rosto novamente. “Eu não sei se eu posso fazer isso.” Faith se levantou e veio para ficar perto dela na janela. “O que eles dizem sobre aprender a rastejar antes de poder andar?” Limpando seus olhos, ele assentiu. “Me desculpe. Eu estou apenas assustada e confusa, e eu imagino que eu estou procurando por uma maneira de sair da realidade.” Ela olhou para Faith e tentou sorrir. “Eu estou feliz que você veio.” “E eu também. Há algo que você precise? Algo que eu possa ajudar?” ela alterou, sabendo muito bem, enquanto Miranda sabia, que o que ela precisava, ela não podia ter. Miranda respirou fundo. “Atualmente há algo. Você acha...que poderia me ensinar a lutar?”


Ela quase ficou satisfeita. Ela conseguiu surpreender Faith mais de uma vez essa noite, uma coisa incomum. A Segunda cruzou seus braços e considerou a pergunta. “Eu não acho que eu tenha tempo,” Faith respondeu relutantemente. “Eu estou atolada a maior parte da semana, e sobreaviso quando eu não estou atolada –mas eu posso apresentar você a alguém que pode. Uma especialista, você pode dizer.” “Bom. Eu gostaria disso.” “Porque o súbito interesse?” “Eu tenho que aprender a tomar conta de mim mesma,” Miranda disse a ela, ouvindo o vazio na sua própria voz. “Ninguém mais vai fazer isso pra mim. Eu mal deixei a casa nesses dois meses. Eu não posso viver mais assim. Talvez se eu souber que eu possa me defender eu não irei ficar tão assustada o tempo todo.” Faith estava olhando para ela sutilmente, mas assentiu. “Eu acho que você está certa. Eu vou te dar o cartão dela.” “Obrigada.” Miranda retornou ao sofá e se sentou, se forçando a perguntar a pergunta que esteve em sua mente desde quando Faith bateu na sua porta. “Então...como ele está?” “Um bastardo miserável,” ela respondeu, “o qual eu tenho certeza que você sabe.” “Isso é patético, não é? Eu sôo como uma garota adolescente com olhos esbugalhados. Eu nem sequer sei o que eu sinto por ele, e...Deus, isso está me deixando doente. Na semana que vem você sabe eu vou começar a escrever poesia e usar muito delineador.” Uma gargalhada. “Isso não é tão mal. De vocês dois, você definitivamente está lidando melhor com isso.” Os olhos de Miranda caíram para a pasta de músicas que ela tinha arremessado no chão mais cedo. “Apenas tome conta dele pra mim, você vai? Você é a única que nós podemos confiar.” Faith sorriu estranhamente com a palavra nós. “Não se preocupe,” ela disse. “Você tem a minha palavra.”


Capítulo

11

A

LISTA DE AFAZERES DE MIRANDA PARA A SEMANA incluía terminar o seu set list, limpar o banheiro, arrumar o quarto e assassinar Faith. Miranda ficou na frente da porta sem número, apagado, ao lado do armazém em construção que tinham tufos de ervas daninhas crescendo ao logo da sua fundação, conferindo e re-conferindo o cartão que Faith a tinha dado para ter certeza que esse era o endereço certo. Infelizmente ele era. Faith a tinha mandado para a parte mais assustadora da cidade de ônibus, depois do anoitecer para isso, com a segurança de que iria valer a viagem.

Assim que eu aprender como chutar um traseiro, o seu traseiro será o primeiro da lista. Cagando para a sua coragem vacilante, Miranda bateu na porta e esperou. Um minuto mais tarde, apenas quando ela estava para desistir e correr de volta para o ponto de ônibus tão rápido quanto os seus pés a pudessem carregar, uma voz exigiu, “Senha?” Miranda respirou fundo. “Dingos57 comeram o meu bebê.” (Ela ouviu os sons de várias travas pesadas retrocedendo, e a porta balançou para dentro para revelar a “especialista” de Faith. Miranda piscou.

57

Dingos -é uma sub-espécie de lobo, assim como o cão doméstico, originária da Ásia e que se encontra atualmente em estado selvagem na Austrália e sudeste asiático)


Para todas as aparências ela estava olhando para uma garota adolescente com um rosto de boneca revestido abundantemente com delineador e rímel. O lábio superior da garota pintado de marrom era perfurado três vezes com espetos de prata, e também eram sua sobrancelha e nariz. Ela vestia um excesso de couro negro, incluindo enormes botas cobertas com fivelas. Ela era até mesmo mais baixa que Miranda, e parecia como se uma rajada de vento fosse a carregar. Ela olhou Miranda de cima a baixo com olhar cético, claramente impressionado, e sacudiu o seu cabelo curto negro com corte de navalha. Sua voz era um soprano gelado com uma dura borda. “É melhor você ficar grata que eu devo dinheiro a Faith. Venha.” Miranda a seguiu para dentro do prédio, descendo um longo escuro corredor que abriu em uma enorme, na maior parte sem mobília, sala. As paredes eram revestidas com um espantoso número de armas, e na parede mais distante estava um painel de aparência complicada de interruptores e mostradores. Era um tipo de sala que Miranda esperava ver forrada com espelho, mas claro não havia nenhum, apenas espadas, adagas, coisas assustadoras com formato de estrelas, e castiças nas paredes. “Um...você é a Sophie?” Miranda se aventurou. “Essa sou eu.” “Quantos anos você tem?” Sophie rolou seus largos olhos castanhos. “Cento e quarenta e oito,” ela respondeu. “Eu voltei á vida quando as mulheres não podiam votar, não é incrível?” “Quantos anos tem...eu quero dizer...quantos anos você tem, com respeito ao corpo?” Outro rolar de olhos. “Eu ressurgi com quinze. Agora cale a boca e me deixe dar uma olhada em você.” A boca de Miranda, metade embora formando outra pergunta, estalou fechada e ela permaneceu desajeitadamente no meio da sala enquanto Sophie fazia um lento círculo em volta dela com seus braços cruzados. Não tinha sido óbvio no início, mas observando o vampiro se mover, Miranda podia ver que o seu pequeno corpo era enganoso, apenas como o de Faith era; Sophie tinha músculos verdadeiros em sua compacta estrutura e movia-se com a mesma estranha graça que a Elite, uma combinação de poesia e precisão . Ela lhe trouxe à mente um Lince serpenteando pela floresta, cauda remexendo preguiçosamente lado a lado.


“Então eu devo ensinar um humano como lutar como um vampiro,” Sophie disse. “Eu estou perdendo tempo?” “Eu não...” “Fique em pé esticada!” Sophie latiu. “Apenas os humanos tem a postura ruim.” “Mas eu sou humana,” Miranda apontou acidamente, se eriçando com o tom superior de alguém que parecia muito jovem para dirigir...mas ficando em pé reta no entanto. “Não enquanto você estiver aqui. Se você quer lutar com vampiros, você tem que ser mais do que humana.” “Eu realmente não planejo lutar com vampiros. Eu quero apenas me proteger.” Sophie bufou com bastante indelicadeza. “De quem você acha que você está se protegendo, garota? Você se envolve com o Signets, eles pintam um alvo em sua cabeça. Qualquer um que quer ferir o Prime irá atrás do seu pessoal primeiro. Odiar pequenos mortais em becos escuros é o menor dos seus problemas agora.” Miranda sentiu a familiar onda de energia que significava que Sophie estava olhando para ela com mais do que apenas seus olhos físicos. “Seus escudos são bons,” a vampira notou, “mas não bons o suficiente. Eu imagino que você foi ensinada por, o que, um telecinético?” “Como você sabe disso?” “Algumas pessoas acham que escudo é um escudo. Não é. Quem quer que tenha treinado você não achou que você fosse usar o seu dom em combate. Todos os dons tem seus próprios aromas e precisam da sua própria sintoniafina. Eu posso dizer que o seu professor era fodidamente forte, provavelmente um cara; se eu tiver que ser específica eu diria que foi Solomon. Eu posso ver pela estrutura que ele fez você usar que ele lutou bastante, mas a maneira que as camadas estão dispostas torna mais fácil alcançar objetos, não pessoas. Então ele chutou as coisas.” “Eu sou uma empata,” Miranda disse defensivamente. “Como eu vou usar isso em combate?” “Como você matou aqueles bastardos que a estupraram? Não foi com as suas mãos, foi? Empatia pode até mesmo ser mais mortal do que telecinesia se é forte o suficiente. Você pode romper a linha da vida com isso, claro, mas você pode também causar dor como nenhum outro na terra. As pessoas podem ser ensinadas a resistir a tortura física, mas tortura emocional é uma criatura


bastante diferente. Usando isso não substitui uma boa habilidade de luta, mas isso pode transformar você uma durona muito melhor.” “E você pode me ensinar isso?” “Porra, yeah. Você está em uma estrutura corporal muito triste, mas me dê seis meses e eu terei você destruindo um Elite inferior pelo menos. Me dê um ano e você será capaz de dar a Faith uma corrida pelo seu dinheiro. Você tem uma constituição como eu e ela, o que é bom. Nós dependemos da velocidade e agilidade, não força bruta. Humanos acham que lutar é apenas bater em um pedaço de carne até que ele pare de se mexer. Humanos são lentos e estúpidos. Enquanto você estiver aqui, esqueça que você é humano. Isso apenas vai entrar no seu jeito.” Sem saber o que mais dizer, Miranda assentiu. “Tudo bem. Vamos ver o quanto isso será uma droga.” “Eu posso fazer uma pergunta antes?” Sophie inclinou o seu queixo para baixo e olhou para cima para Miranda com pouca impaciência oculta. “O que?” “É uma boa idéia pra você ter todos esses metais no seu rosto se agente está em uma luta?” Sophie realmente sorriu, as pontas afiadas dos seus caninos cintilando. “Ninguém me atinge, baby. Agora vamos começar.” *** A mulher no espelho parecia calma, capaz. O seu cabelo solto em cachos selvagens e brilhantes na pouca luz dos bastidores com a adição de produtos da linha Bed Head58. Ela encontrou o verde de seus próprios olhos firmes, e se não houvesse uma mancha roxa embaixo à esquerda, ela poderia ter parecido confiante. Ela distraidamente estendeu a mão e correu seus dedos ao longo da cicatriz acima da linha do cabelo. O clube estava cheio em sua capacidade. Ela podia ouvir a multidão como se fosse um animal com cem-braços esperando pelo seu jantar, e embora ela tivesse as suas barreiras levantadas sempre, ela podia sentir a antecipação deles em todo o trajeto pelo bastidor. Ela xingou para si mesma e tentou novamente cobrir o seu olho roxo com maquiagem. Ela estava com sorte que não machucou uma das mãos ontem – certamente o resto do seu corpo sentia-se rígido e dolorido em conseqüência de três horas sendo socada por uma minúscula barracuda mágica. Se ela fosse 58

(Bed Head –linha americana de produtos para o cabelo)


esperta, ela teria agendado os seus encontros para depois da sua apresentação, não antes. Agora ela estava temente não por apenas tocar na frente das pessoas novamente depois de tanto tempo, mas ter que ficar em pé por cerca de uma hora sem largar o seu violão. Agora a sua lista de afazeres estava reduzida para limpar o banheiro e assassinar Faith,mas “assassinar Faith” tinham várias estrelas douradas de imediato em sua cabeça. Assumindo que essa noite fosse bem, iria ser um inverno agitado. Sophie queria vê-la duas vezes na semana, e tinha dado a ela um regime de exercícios assim como várias recomendações mordazes sobre sua dieta, como se, “Se você aparecer aqui cheirando a pizza da próxima vez, eu vou chutar o seu estômago.” Amaldiçoados vampiros. “Cinco minutos, Grey,” Mel chamou do lado de fora do seu recanto acortinado. Miranda decidiu que não havia mais nada que ela pudesse fazer pelo seu olho. Ela se levantou e se esticou, se estabelecendo rapidamente antes que os seus nervos obtivessem o melhor dela, e pegou seu violão da sua sacola. “Okay,” ela disse para o espelho. “Vamos fazer isso.” O seu reflexo assentiu enquanto ela assentiu. Ela disse a si mesma que havia uma determinação e força em seus olhos. Ela esperou nos bastidores para Mel a anunciar, agarrando o braço do seu violão apertadamente. Na última vez que ela esteve nesse palco não tinha acabado bem. Ela tentou extrair isso da sua mente, mas ela se lembrou que um dos homens que a atacou tinha estado na platéia naquela noite. E David também. Enquanto ela caminhava para o palco para um urro de aplausos, ela deslizou pela sala com seus sentidos, apenas por uma chance de que ela pudesse sentir uma familiar presença escura dentre a massa abundante de humanidade, mas não havia ninguém. Estava tudo bem. Ele tinha prometido que eles iriam se ver novamente, e ela sabia que ele não era o tipo que fazia promessas levianamente. Ele tinha o seu trabalho, e ela tinha o dela. Sorrindo para a platéia, ela inclinou o seu violão e atingiu um acorde. ***


Semanas mais tarde os aplausos e a adoração ainda estavam soando em seus ouvidos quando ela deixou o clube às dez horas, a sacola sobre seu ombro e o violão colidindo no seu bumbum, e se dirigiu para o ponto de ônibus. Ela estava também sorrindo –não, um termo mais exato seria radiante. Ela estava ainda tão excitada com a energia da multidão que ela mal podia manter seus pés na calçada. Sim, sim. Agora ela se lembrava porque ela tinha começado a se apresentar em primeiro lugar. Aquelas primeiras semanas a tempos atrás quando ela aprendeu o que ela podia fazer mas não tinha deixado isso a consumir ainda, tinham sido algumas das mais felizes da sua vida. Ela tinha deixado o palco toda noite sentindo-se como uma deusa, ou melhor ainda, uma artista. Ela pegou as impurezas das emoções humanas e as transformou em um ouro de harmonia. Miranda gargalhou para si mesma. Ela estava começando a soar tão pretensiosa quanto um artista. Não foi até quando ela encontrou um assento e o ônibus deu um solavanco adiante com o freio que ocorreu que ela deveria estar assustada. Ela deveria estar olhando para o chão e lutando para tirar as vozes da sua cabeça. Ela deveria estar contando as quadras do clube até em casa e os repetindo como um mantra. Aqui estava, final de Dezembro; o tempo finalmente se tornou frio, e outra geada estava prevista para Segunda à noite. Ela esteve voltando para a cidade desde início de Outubro, e de volta aos palcos desde a Ação de Graças59. Os primeiros shows foram difíceis...ela teve problemas em equilibrar o fluxo emocional da platéia sem afrouxar os seus escudos, e o esforço a custou dois dias de enxaqueca acompanhado de ressacas. Entretanto, ela se recusou a desistir, e depois de uma semana, o seu treinamento começou a dar resultados. Agora ela se encontrava realmente excitada antes de um show, e trabalhando com um verdadeiro entusiasmo no seu material original. Ela estava pensando em estrear a primeira música na próxima apresentação. Poucos dias atrás uma mulher veio a ela depois da apresentação e perguntou sobre a representar: O seu cartão ainda estava na carteira de Miranda, a realidade do pedaço de cartolina quase muito bom para ser verdade; 59

(Ação de Graças – conhecido em inglês como Thanksgiving Day, é um feriado celebrado nos Estados Unidos e no Canadá, observado como um dia de gratidão, geralmente a Deus, pelos bons acontecimentos ocorridos durante o ano. Neste dia, pessoas dão as graças com festas e orações)


ela tinha pesquisado a mulher no Google e descoberto que ela era legítima, e estava fortemente considerando aceitar a sua oferta. Denise MacNeil tinha dito que ela podia colocar Miranda em ao menos mais três estabelecimentos, se ela pudesse fazer uma gravação demo 60 ,provavelmente a preparando para um contrato de gravação. Se as coisas continuassem, ela poderia terminar em um estúdio pela primavera. O pensamento a fez radiar ainda mais. Ela olhou em volta para as outras pessoas no ônibus com ela, deixando os seus escudos expandirem apenas o suficiente para que ela pudesse avaliar se qualquer um deles fosse uma ameaça, mas ao menos que a idosa no andador estivesse escondendo uma arma, não havia nada para se preocupar. Recuperando a sua própria mente, e o seu resultado, era tudo o que ela precisava para começar a viver a sua própria vida. Ela olhava as pessoas nos olhos –algumas vezes ela não queria, mas ela se forçava, para ter certeza que ela não estivesse escorregando novamente. Na grande parte do tempo as pessoas sorriam. Algumas desviavam o olhar. Essas eram aquelas que ela mantinha o olho. Elas estavam escondendo algo. Ela estava agradecida em ter o resto da noite livre. Ela fez questão de nunca programar as sessões com Sophie na noite após um show; ela gostava de ter algum tempo de inatividade. Mais, sempre que ela tentou se exercitar depois que ela se apresentava, ela estava inevitavelmente cansada e distraída e Sophie terminava batendo a porcaria para fora dela. Em outras noites, ela foi finalmente capaz de contê-la...por alguns minutos, de qualquer forma. Ela estava muito longe de ser uma guerreira, mas ela estava fazendo progressos. Miranda também queria uma noite de folga porque havia algo que ela precisava fazer. Ela deixou o ônibus a carregar passando o seu ponto, saindo de Lamar; passando a gigantesca loja Whole Foods61, passando o Book People62, passando o campus da Universidade do Texas...todo o caminho até a Rua Trinta-Oito, com uma dúzia de pontos entre elas. Puxando a corda para parar, ela se oscilou sob seus pés e colidiu o seu caminho passando as poucas pessoas ainda no ônibus. Então pisou para fora no ar glacial da noite, colocou o seu casaco mais apertado ao seu redor, e ficou na 60

(demo - é uma gravação musical demonstrativa amadora, feita em estúdio ou não, sem vínculo com gravadoras, para estudos musicais, ou primeiras propostas do que futuramente pode vir a ser um álbum de música.) 61 (Whole Foods –uma grande mercearia de produtos orgânicos e naturais em Austin) 62 (Book People –uma das livraria mais conhecidas de Austin)


frente do Hospital Psiquiátrico Travis County por um longo minuto, apenas pensando. A secretaria da entrada estava aberta vinte e quatro horas. Ela escolheu o seu trajeto ao longo da comprida cerca para furacões que cercava os prédios industriais cinza, sem nenhuma pressa para entrar, mas eventualmente ela encarou a porta de vidro da recepção principal e teve que fazer uma decisão. Quando as portas fecharam atrás dela, ela parou e se estabeleceu para dominar as primeiras agitações de ansiedade em seu estômago, e ela forçou duas vezes mais energia que o habitual para dentro dos seus escudos assim que os sussurros começaram na sua cabeça. Ela podia senti-los friccionando contra a sua mente –dedos leves de presença fantasma, alguns rastejando com maldade, e outros apenas...vazios. Pessoas ocas, espantalhos de pessoas, cheias de nada além de gritos...como os médicos e as enfermeiras podiam suportar isso, ela não podia sondar. Talvez eles estivessem entorpecidos. Tantos humanos eram. Pela centésima vez ela considerou desistir dessa pequena missão e tentou canais apropriados...mas isso iria envolver preencher intermináveis papeladas, e pior ainda, lidar com o seu pai. Ela gostava muito mais de infligir a lei. O lugar todo foi entregue pelo governo por volta de 1970, na predominante cor verde do hospital. Tudo estava sujo apesar da tentativa patética de animar o lugar com pôsteres encorajadores e anúncios em papel neon. Dificilmente havia mais pacientes ali; a facilidade do condado tinha dado lugar a um mais moderno, mas politicamente experiente prédio mais distante do centro da cidade que parecia mais como uma escola do que um campo de concentração. Este lugar estava programado para fechar no próximo verão. Uma jovem mulher parecendo entediada sentava jogando paciência no computador da mesa da recepção, mas Miranda caminhou passando por ela para o mapa do edifício. Pareceu por um segundo como se a recepcionista pudesse tê-la notado, mas Miranda pausou, infundindo a energia do seu escudo com o que Sophie chamava de defletor, a sutil sugestão mental para olhar em outra direção, e a mulher voltou para o seu jogo com um bocejo. Era um dos pequenos truques de bloqueio que Miranda estava aperfeiçoando e aparentemente era uma das formas primárias pelas quais os vampiros se moviam pela cidade sem serem notados pela humanidade quando combinados com suas incríveis velocidade e graça. A velocidade e a graça de Miranda eram questionáveis, mas uma coisa que ela tinha era poder.


Ela examinou o mapa até que ela encontrou o que ela estava procurando, guardou sua sacola do violão atrás do vaso apático de uma árvore figueira, e caminhou descendo o corredor, suas botas marcando propositalmente o chão de linóleo. Ela ainda estava em suas roupas de palco porque elas a faziam sentir durona e intocável: ela emprestou a aparência de Sophie e gostou bastante disso, ao menos por algumas poucas horas a noite. Calças negras, botas negras, espartilho negro com rebites e fivelas, pesadas jóias de prata, e muita maquiagem que ela retocou depois de suar isso pra fora no palco...tudo que ela não tinha eram os percings. Ela até mesmo investiu em um longo casaco negro para rodopiar por toda a parte. Claro, depois de um show inteiro naquele traje, ela não podia esperar para tirar o espartilho e vestir as suas calças de moleton, mas enquanto isso, era legal saber que ela parecia um pouco assustadora. O esboço do hospital era milagrosamente preciso. A maioria dos prédios públicos que ela tinha estado pareciam ter sidos desenhados por macacos. Ela encontrou 48-D sem muitos problemas. Um segurança estava fazendo rondas no corredor. Ele estava mais alerta do que a recepcionista e não seria tão facilmente enganado pelos seus truques. Ela teria que ser mais direta. Ela caminhou direto em direção a ele, e ele pareceu totalmente espantado que um civil aleatório que estava vagando pelos corredores do manicômio a esta hora. “Desculpe, senhora, essa área é fora dos limites-” Ela sorriu o seu sorriso mais atraente, o qual não era terrivelmente atraente, e o olhou nos olhos. Ela tinha aprendido como abrir os seus escudos apenas um pouquinho, suficiente para deixar a pessoa selecionada entrar, e como afiná-los e mudar as suas estruturas para que ela pudesse ver algumas emoções e ler outras. Tudo era energia, tudo objeto da sua concentração e vontade. Ela alcançou o guarda, um homem careca com cerca de quarenta e cinco o qual o desejo mais insistente, além de livrar-se da ruiva problemática na frente dele, era ter um cigarro. Brincadeira de criança. Miranda colocou um delicado apoio desse desejo com um tufo do seu poder e o puxou levemente, dizendo em voz baixa, “Está tudo bem, senhor. Você está em intervalo. Você precisa ir pra fora e conseguir um cigarro.” Ele franziu o cenho. Ele não era uma mente terrivelmente forte, mas ele não queria perder o seu emprego. Ela não queria causar a ele nenhum problema, realmente –ela era aquela fazendo o errado, não ele. Então, ela revisou seu


plano, e disse, “Vá terminar a sua ronda. Eu terei terminado quando você voltar. Você não vai pensar em mim novamente, e ninguém alguma vez soube que eu estava aqui.” Terminar a sua ronda –isso ele podia fazer. Ele caminhou para fora sem olhar de volta para ela, seus passos lentos e premeditados como antes, a ponta da ansiedade que surgiu quando ele a viu minando o tédio habitual do seu turno. Miranda assentiu, satisfeita. Agora ela tinha que correr. Estava, claro, trancado; o departamento de registros médicos estava aberto apenas das oito às cinco nos dias de semana, e havia uma sala de arquivos seguros para os casos antigos, uma lixeira para os registros de todo o condado. Era como se ninguém estivesse ali em um mês ou mais. Muitos estavam sendo digitalizados nesses dias, e arquivos antigos como esses eram os gigantescos dinossauros que continuavam sendo empurrados de um prédio ao outro. Ninguém se importava muito sobre pacientes que tinha morrido há tanto tempo. Quando o prédio fosse esvaziado em poucos meses, era como se todas essas histórias fossem destruídas, seus estatutos de limitações em suas utilidades há muito tempo passados. Ela sorriu para si mesma. Os históricos pessoais médicos eram mantidos trancados a sete chaves, mas em um sentido muito literal –não havia cartão chave, sem bloco eletrônico, sem combinação. Talvez o Haven pudesse emprestar algumas das suas tecnologias para o Departamento de Serviços de Saúde do Estado ao invés de apenas ao Departamento de Defesa. Miranda cavou na sua bolsa pelo objeto que Sophie a tinha emprestado para essa pequena missão: um lock pick63. Arrombamento não tinha estado na sua agenda de treinamento, mas Sophie tinha oferecido mostrar a ela como. A opinião de Sophie era de que uma mulher deveria ser capaz de sair de qualquer situação que ela se encontrasse, de um péssimo encontro a uma sentença de prisão. Miranda quis esmurrar a presunção para fora do perfeito rostinho de Sophie por cerca de três semanas, mas uma vez que seu corpo parou de reclamar sobre o exercício e começou a responder a todas aquelas horas de ginástica, ela percebeu que ela estava começando a gostar, ou ao menos apreciar,e a sua professora...em um esmurrar-a-presunção-para-fora-do-seu-rosto também.

63

(lock pick –ferramentas profissionais de chaveiro para a abertura de uma fechadura sem o uso de chaves)


Algumas cutucadas e puxadas fizeram a porta abrir em poucos segundos. Ela era uma rápida aprendiza. Assim como ela tinha esperado, os arquivos de casos estavam estocados alfabeticamente e identificados pelas primeiras três letras do último nome do paciente, depois os três primeiros dígitos do número do seguro social64 dele ou dela, depois o ano de admissão. Não demorou muito para encontrar aquele que ela precisava. Ela deixou tudo como ela tinha encontrado, enfiou a pasta dentro da sua sacola, e trancou a porta atrás dela, caminhando de volta passando pela recepcionista, que nunca nenhuma vez olhou para cima, mesmo quando Miranda pausou para reaver o seu violão. Empolgada com o sucesso e a emoção de um marginal adolescente deixando a sua primeira marca de grafite, Miranda entrou no ônibus para Lamar e abraçou a sua sacola apertadamente a ela todo o percurso pra casa. Ele checou o seu relógio enquanto ela voltava para o seu complexo de apartamentos: meia-noite, e com certeza, Faith estava esperando por ela na frente da sua porta. A Segunda piscou a ela um sorriso de reconhecimento, e então seus olhos se alargaram. “Whoa,” ela disse. “Isso que é um traje.” Miranda olhou para baixo para si mesma. “Roupas de palco,” ela explicou. “Eu estava nervosa sobre isso e descobri que se eu parecesse como um serial killer as pessoas não iriam mexer comigo.” Faith gargalhou. “Realmente você se parece como um vampiro.” “Isso é um elogio?” “Absolutamente.” “Obrigada, então.” Miranda pescou suas chaves, deixou ambas entrarem, colocou seu violão em seu canto usual, pendurou o seu casaco na porta. Faith fez o mesmo usando o segundo gancho. O apartamento estava abençoadamente morno. “Me dê um minuto pra me trocar,” Miranda disse. “Tem cerveja na geladeira.” Alguns minutos mais tarde, vestida com algo mais confortável embora não exatamente impressionante, Miranda se sentou perto de Faith no sofá com uma pasta em uma mão e uma garrafa de água na outra. 64

(número do seguro social –é um número de nove dígitos que o trabalhador recebe ao iniciar no mercado de trabalho legalizado, nos EUA. O empregador e o empregado pagam os impostos do seguro social, e esse dinheiro arrecadado, serve de aposentadoria para os que atingiram a idade ou que de alguma forma conquistaram esse direito).


“Como foi? Algum problema?” Faith perguntou. “Não.” Miranda sacudiu sua cabeça. “Foi quase tão fácil. Aquela coisa de invisibilidade que Sophie tem me ensinado é incrível. Eu me senti como um agente secreto. E uma criminosa, o qual eu sou. É engraçado –eu nunca alguma vez ultrapassei o limite de velocidade até eu encontrar todos vocês. Agora eu arrombei um prédio público facilmente e furtei registros privados para adicionar à minha natureza de homicídio voluntário.” “Você deveria contar a sua irmã sobre isso da próxima vez que ela te mandar e-mail.” Miranda quase inalou a sua água gargalhando. Ela cortou o adesivo que mantinha o arquivo fechado e o abriu cautelosamente, embora o papel não fosse tão velho o suficientemente para se despedaçar. A primeira coisa que ela viu foi o rosto de sua mãe. “Oh, Deus,” ela sussurrou, pegando a foto do clipe de papel que a prendia e a levantando para que Faith pudesse ver. “Ela se parece apenas como eu me lembrava.” “Ela se parece como você,” Faith notou. “Até mesmo os grandes olhos tristes.” Miranda olhou para a sua mãe, seus dedos tocando a foto de rosto como se houvesse pele de verdade. Ela tinha sido linda, uma vez. Seu cabelo vermelho estava cortado curto em volta do seu rosto para facilitar os cachos, mas era a mesma cor estranha do de Miranda. Seus olhos eram os mesmos verdes folhasde-carvalho, e embora ela estivesse sorrindo na fotografia, havia, como Faith disse, tristeza atrás dos seus olhos. A próxima foto era a sua foto de admissão no hospital, perturbadora como um retrato de identificação. Não havia sorriso nessa. Toda a luz tinha saído de seu rosto, e o último bocado de vida havia queimado para fora de seus olhos. Ela encarava em branco em direção à esquerda da câmera, parecendo distraída e distante, sua pele flácida, pesados círculos escuros embaixo dos seus olhos. Miranda se lembrou dela mesma na primeira vez que ela se olhou no espelho depois de voltar para Austin. Os olhos de Miranda doíam com lágrimas enquanto ela folheava pelas primeiras poucas páginas do formulário, todos preenchidos na primeira noite em que seu pai levou sua mãe ao hospital. “Marilyn Suzanne Grey,” Faith leu sobre o seu braço. “Diagnóstico preliminar...esquizofrenia paranóica...delírios...sem resposta à medicação...”


Pouco do que ela leu era jargão médio e psiquiátrico, mas uma imagem começou a formar: Cerca de seis meses antes dela ser mandada para longe, Marilyn Grey começou a ouvir vozes. Ela afirmava que ela podia ler mentes, e embora o seu conhecimento parecesse estranhamente preciso, o seu comportamento se tornava mais e mais bizarro. Ela disse que as vozes estavam ficando mais altas, afogando os seus próprios pensamentos. Uma noite ela acompanhava o seu marido a uma festa de Natal do escritório, e depois de um drink ela começou a gritar –ela afirmou que o presidente da corporação tinha molestado o seu filho, e fez diversas outras acusações contra o pessoal. Seu marido, pai de Miranda, foi demitido do seu emprego, e humilhado. “Ela era como eu,” Miranda disse suavemente. “Ela tinha um dom e não podia se bloquear, e ninguém sequer a ensinou como. Poderia ter sido eu...quase foi. Levei mais tempo porque eu tinha a música para ajudar a controlar, mas...poderia ter sido eu.” Ela imaginou a sua mãe trancafiada em um apertado quarto, encarando paro o espaço vazio enquanto as mentes de todas as pessoas malucas do hospital clamavam dentro da dela. Tão certo quanto o corpo de Miranda foi estuprado, tinha sido a mente de sua mãe, constantemente, até que ela apenas desistiu e parou de comer. O hospital, tão prestativo, a colocou em um tubo de alimentação, mas Marilyn conseguiu de alguma forma colocar as mãos em um frasco de pílulas para dormir e deu um fim nos esforços. Seus restos mortais foram respeitosamente reclamados por seu marido. Ele a enterrou aqui em Austin e então se mudou para Dallas com suas duas filhas. “Aí diz onde ela está enterrada?” Faith perguntou. Miranda assentiu, engolindo, e apontando para o endereço. “Eu vou ali amanhã,” ela disse, fungando. “Eu vou antes da minha sessão com a Sophie. Eu vou levar flores. Não...eu vou levar alecrim.” “Porque alecrim?” “Mamãe costumava ler Shakespeare pra mim. A sua personagem favorita era Ophelia, e há uma linha em Hamlet onde Ophelia diz que alecrim é para lembrança. Pobre Mamãe...Deus. Eu desejaria...eu desejaria que ela ainda estivesse viva. Eu desejaria que eu pudesse tê-la ajudado, ou até mesmo segurado a sua mão e dito a ela que eu sabia como ela se sentia.” Ela fechou o arquivo mas manteve para fora a foto da sua mãe sorrindo. Ela tinha certeza que ela tinha um quadro no seu armário em que a foto iria caber. Era a única foto de família que ela tinha, ou quis.”


“Eu acho que ela estaria orgulhosa de você,” Faith disse. “Você poderia ter terminado como ela, mas você não. Agora você está vivendo por conta própria e ficando muito bem. Inferno, em alguns anos você pode estar em turnê e vendendo milhões de CDs. Ou você pode ser...” Miranda interrompeu afiadamente, “Eu posso ser um monte de coisas.” Faith fez um eu-sei-melhor rosto mas não a contradisse. “Então isso significa que você passou na tarefa da Sophie. Ela deve estar satisfeita.” “Apenas Deus sabe o que ela vai me mandar fazer na próxima. Ela disse que ela iria me iniciar com armas essa semana. Imagina –eu, com uma arma! Eu disse a ela que eu vou cortar a rótula de alguém fora.” “Eu duvido disso. Ela disse que você está indo bem.” “Você fala com ela sobre mim?” Faith sorriu ironicamente com a sua expressão. “Eu apenas mandei um email pra ela ontem para checar o seu progresso. Ela disse, e eu cito, ‘Ela não é uma droga.’ Vindo dela isso é um alto tipo de elogio.” Miranda foi ao ultraje com a idéia dos dois vampiros discutindo a sua performance com o morno brilho do orgulho –Faith não estava brincando sobre a propensão crítica de Sophie, mas isso significava que quando ela dava um elogio, era um verdadeiro, e uma coisa rara. “Você não tem...você não tem contado a David o que eu estou fazendo, não é? Ele apenas ficaria preocupado.” “Não. Nós não falamos nada sobre você. De fato nós não falamos muito, periodicamente, esses dias. Ele tem estado infernal em terminar a rede e ter isso instalado. Ele é um homem possessivo, e ele parece absolutamente um inferno, mas você sabe como ele é quando ele tem um freio entre os seus dentes sobre algo.” Faith viu o seu olhar e adicionou, “Ele tem se alimentado, e dormido. Eu obrigo a ele. Mas é sobre isso. Houve mais dois ataques no mês passado, e ele se sente como se fosse uma corrida contra o tempo.” “Eu deveria estar ali,” Miranda murmurou. “Eu poderia ajudar. Eu posso ajudar os rastreando com as coisas que a Sophie está me ensinando.” Os olhos de Faith se estreitaram. “Não tenha quaisquer idéias vigilantes em sua cabeça, senhorita. O Prime mandou você pra longe do Haven para impedir você de se envolver com isso. Ele teria o meu traseiro em uma travessa –e o de Lindsay –se você se meter em problemas.” “Lindsay?” A Segunda limpou sua garganta. “A Elite que está absolutamente não mantendo guarda sobre seu apartamento a uma distância discreta.”


Miranda rolou os olhos. “Oh, como se eu não soubesse sobre ela. Ela me segue em todos os lugares. Você acha que eu não sei quando um vampiro está me perseguindo agora? Eu me obriguei a parar de acenar pra ela. Eu odiaria que ela se sentisse como se não estivesse fazendo o seu trabalho.” O sorriso de Faith retornou. “Ela não vai saber isso de mim.” “Tanto faz. Mas você sabe, você ainda não me contou como você conheceu Sophie. Vocês se conheceram na Califórnia?” Ela começou a responder, mas subitamente o seu com bipou. Faith franziu o cenho e disse, “Aqui é Faith.”

“Segunda, sua presença é requerida em um distúrbio no Westgate e Porter.” “Código da situação?”

“Alpha Sete.” “Merda,” Faith disse. “O Prime já foi chamado?”

“Não ainda.” “Eu vou fazer isso. Eu vou encontrar você em vinte.”

“Elite Vinte fora.” O estômago de Miranda revirou. Alpha Sete era o código para um corpo encontrado: humano, suspeito de ser assassinado por vampiro. Os rebeldes tinham golpeado novamente. Faith prendeu os olhos de Miranda enquanto ela disse em seu com, “Estrela-Um.” O seu coração fez uma pirueta em seu peito com a baixa, voz familiar. “Eu

estou à caminho, Faith.” A Segunda se levantou rapidamente e agarrou o seu casaco. “Eu tenho que ir,” ela disse desculpando-se. “Eu sei. Eu entendo. Apenas me conte o que aconteceu, okay? Me mande um e-mail.” “Eu vou. Fique salva, Miranda. E se lembre do que eu disse –não faça nada estúpido. Aquelas matas são escuras e perigosas.” Miranda ficou na entrada da porta observando Faith literalmente romper em uma corrida enquanto ela atingia a calçada; em questão de segundos a sua forma pareceu obscurecer e desaparecer. Ela bateu e trancou a porta, e embora o pensamento de outro assassinato estivesse em primeiro plano na sua mente, parte dela tinha que admitir que a fez sentir-se melhor ter ouvido a voz de David novamente, mesmo apenas cinco palavras para outra pessoa. ***


A mulher tinha morrido tentando salvar o seu menino. Eles deveriam ter matado ele primeiro e a feito assistir, e enquanto ela gritou e implorou para que eles a levassem ao invés dele, e lutou como um desesperado animal para se romper livre dos seus apertos, eles sugaram o pequeno menino seco e desenharam o Selo de Auren com uma faca em seu pálido, estreito peito, depois se viraram para ela. Uma frente fria tinha atingido naquela semana, e o menino estava vestindo uma jaqueta do San Antonio Spurs65 sobre a sua gola rolê cinza. Uma toca de tricô com o logo dos Spurs ainda estava em sua pequena cabeça morena. Ao menos, baseada na pequena quantidade de sangue que corria da talha, a criança já tinha morrido quando isso foi desenhado. Tão pequeno quanto ele era isso não iria levar muito tempo, e era improvável que a criança tenha sentido muita dor. David ficou em pé na frente dos corpos silenciosamente enquanto a Elite pesquisava a cena. Ele manteve a rédea curta de seu escudo de ferro sobre suas emoções, mas ninguém se atreveu a se aproximar dele. Faith se ajoelhou ao lado dos dois –colocados deliberadamente com os braços da mulher em volta do seu dez-anos-de-idade e a camisa e jaqueta dele rasgadas abertas –e cavou na bolsa da mulher pela ID. “Kimberly Mason,” ela disse calmamente. “E Charlie.” Ela removeu uma pequena foto e a segurou para cima, mostrando Kimberly, Charlie, e outra mulher sorrindo para a câmera em um piquenique a beira do lago, provavelmente no alto verão. “Essa é Susan Davis, sua parceira.” A ligação entre as vítimas tinha surgido depois que ele colocou um time para pesquisar as suas identidades: a maioria deles era gay ou lésbica; um era transgênero66; uma mulher trabalhava Planned Parenthood67. O resto deles eram Judeus. Era um clássico Blackthorn, purgando o mundo de pecados percebidos através de um flagrante desrespeito ao Sexto Mandamento. Ele se perguntou se Susan Davis estava ainda esperando por sua esposa e seu filho voltarem para casa essa noite. Ela ainda estava preocupada? A hora da morte tinha sido a apenas três horas mais cedo. Havia canhotos de tickets de filmes nas vítimas, e o último filme da Pixar estava passando no Westgate 65

(San Antonio Spurs –time da basquete da NBA de San Antonio-Texas) (transgênero - grupo de pessoas que não se enquadra na forma como as definições de "homem" e "mulher" são concebidas socialmente e inclui transexuais, hermafroditas, andrógenos, travestis e transformistas.) 67 (Planned Parenthood é uma organização que foi fundada em 1939 como o controle de natalidade Federation of America. A organização trabalha para fornecer assistência para as mulheres grávidas, para prevenir gravidezes indesejadas -fazendo abortos.) 66


Cinema –eles eram esperados em casa ainda, ou eles estavam à caminho de apanhar o jantar? “A policia está a caminho,” Faith adicionou. “Eles vão lidar com os parentes mais próximos.” Ele podia apenas imaginar isso. Isso era o Texas. A polícia iria procurar por alguém mais além de Susan Davis para chamar, e era possível que ela fosse terminar ouvindo de um parente alienado que o seu mundo tinha acabado de terminar. Crianças tinham gosto de juventude e doce e cheias de vida. Elas eram tão inocentes e ainda tão cheias de possibilidades. Suas mentes e corações eram ainda incansáveis por décadas de trituração da realidade. Mas elas eram perigosas –viciantes –e tendiam a derrubar a lei muito mais rápido que os adultos. A condução das espécies era proteger seus jovens. O pequeno menino tinha olhos azuis apenas como a sua mãe. De repente o Prime se sentiu muito, muito velho, e muito cansado. Em trinta e seis horas haveria uma rede de sensores cobrindo toda a área metropolitana de Austin que lia as assinaturas de calor de toda coisa viva que passava através dela. Era acionado especificamente para seguir baixas temperaturas corporais de vampiros e podia rastrear seus movimentos, criando um quase-real horário de grade na cidade preciso para uma única quadra. Os últimos mil sensores estavam sendo instalados essa noite, e depois de um dia e meio de calibragem e testes finais, a coisa toda iria tomar vida... ...muito tarde para salvar Kimberly e Charlie Mason. Os Elite todos congelaram quando ele se moveu. Ele pisou adiante e foi para aquele, ajoelhado próximo a Faith, então esticou a mão e fechou os olhos do menino, depois da mulher. David olhou para cima para os outros, e quando ele falou foi calmamente, firmemente, e com um efeito mortal. “A partir de hoje à noite,” ele disse, “nós estamos em guerra.”


Capítulo

12

S

COTT ESTAVA SOLTEIRO POR DOIS DIAS, E HAVIA UMA camisinha enterrada em um buraco no seu bolso. Inquieto,ele caçou nos bares a noite toda, procurando por alguém, qualquer uma, para levar para casa que o não fizesse lembrar de Kenny. Sem cabelos loiros, sem olhos azuis, não as magras jogadoras de futebol. A coisa perfeita seria um enorme cabelo com roupas de motociclista em couro, mas essas eram raras na região de Austin. Ele nunca foi bom em cenas de bar. Ele e Kenny tinham se conhecido na biblioteca, puta que pariu, ambos procurando pelo mesmo Proust68. Aconteceu que eles estavam na mesma aula de UT69. O fingimento de serem “colegas de estudo” tinha durado cerca de uma hora antes deles estarem transando como loucos coelhos. Scott tinha acabado de sair desde que ele se mudou da faculdade pra cá. Kenny era um sênior e tinha um dom em mestrado Tântrico para dar na cabeça. Scott deixou o Torch Song meio-bêbado e irritado, os destroços do seu terceiro –quarto? –martini o deixando um pouco verde em torno das brânquias. “Foda-se isso,” ele murmurou, cavando em seus bolsos da jaqueta pelos cigarros. Ele começou novamente cerca de uma hora depois que ele foi pra casa da aula mais cedo e encontrou Kenny no chuveiro com aquele ossudo cretino do

68

(Valentin Louis Georges Eugène Marcel Proust foi um escritor francês, que teve como principal obra Em Busca do Tempo Perdido) 69 (UT- Universidade do Texas)


time de lacrosse70. Pelo menos agora não haveria ninguém piranhando sobre o gosto de cigarro em seu hálito. Estava frio, uma noite desagradável, prometendo granizo. Ele estava começando a realmente odiar o Texas; era insuportavelmente quente no verão e sujo e molhado no inverno. Primavera e outono cada um duraram cerca de quatro maravilhosos dias. Ele gastou as últimas tardes frescas do ano em um lago com Kenny e os amigos dele. Eles tinham mergulhado os ossos e transado apaixonadamente, cheirando a manteiga de cacau e sexo. Ele tragou o cigarro com raiva e seguiu descendo a Four Street, mergulhando a sua cabeça contra o vento úmido. O que todos estavam fazendo na rua com um tempo como esse? Inferno, o que ele estava fazendo fora? Mesmo se ele conseguisse transar, estava tão frio que ele provavelmente teria o seu pau preso na língua de alguém. O seu carro estava em um estacionamento a poucas quadras de distância, e embora no fundo de sua mente ele soubesse que não deveria estar dirigindo, ele não se importava muito –as ruas estavam virtualmente vazias. Ele rodeou a esquina do Spaghetti Warehouse, e começou, a ofegar. “Merda! Me desculpe, eu não vi você.” A jovem mulher em pé na frente dele inclinou a sua cabeça para o lado, seu cabelo castanho caindo fluidamente em cima dos seus muito-brilhantes olhos. “Não tem problema.” Ele pisou para o lado para deixá-la passar, se sentindo um pouco inquieto sob o seu olhar fixo, e ela continuou a encará-lo enquanto ele começou a andar novamente. Havia outra razão para se mudar da faculdade: Austin era cheia de malucos. Pior ainda, eles tinham orgulho disso. Ele ouviu um barulho de passos atrás dele e se virou, a cabeça estalando ao redor forte o suficiente para fazê-lo enjoar. A garota estava em pé a trinta centímetros de distância dele. “Há...você precisa de ajuda?” ele se aventurou. Ela estava realmente começando a assustá-lo –ela parecia como se ela estivesse drogada, ou como se ela não dormisse em um ano. Ela era incrivelmente pálida, com olhos encapuzados que pareciam super-conscientes, e seu corpo mal parecia se mover enquanto ela olhava pra ele.

70

(Lacrosse é um esporte de equipe de origem de nativos americanos jogado com uma pequena e sólida borracha e uma bola de cabo longo/bastão, chamado de crosse ou taco de lacrosse , jogado principalmente na costa leste dos Estados Unidos e Canadá.)


“Realmente,” ela disse. “Eu estou com fome. Que tal nós darmos uma mordida?” Ele forçou o sorriso. “Mastro errado, docinho. E a pior cantada de todos os tempos, a propósito. Com licença.” A mão dela disparou e agarrou o braço da sua jaqueta, e ele tentou se desvencilhar, mas o seu agarre era como ferro. À esquerda e à direita ele ouviu mais barulhos de passos, e antes que ele soubesse o que estava acontecendo ele estava cercado.

Oh Deus,eu serei surrado. Eu deveria ter chamado um taxi. Onde está o meu celular? Eu deveria gritar? Oh Deus. Eles meio que arrastaram, meio que carregaram ele para fora da rua em direção a uma érea sombria próximo a um prédio que estava desativado pra construção. Ele tentou lutar –ele estava em boa forma física, ele deveria ao menos ser capaz de arremessar a garota para longe –mas eles eram insanamente fortes, e havia três deles. A escuridão além do prédio bocejando para ele, e algum instinto disse a ele que se eles o levassem ali, ele nunca voltaria. Uma mão se fechou sob a sua boca no momento em que ele ia gritar por socorro. O único pensamento coerente que ele conseguia invocar foi a Ave Maria. Ele não tinha dito isso em ao menos cinco anos. Aquelas contas de Rosário se foram há muito tempo.

Por favor, Jesus, por favor, eles podem levar a minha carteira, apenas por favor não me deixe morrer... Ele estremeceu novamente enquanto as sombras o cercavam, e choramingou desesperadamente. “Cala a boca, bichinha,” um deles assobiou. “Se você for bom, nós vamos fazer isso rápido.” O outro gargalhou. “Certo.” Eles o empurraram para o chão, um agarrando o seu rosto e puxando o seu queixo para trás para expor a sua garganta. “Eu sou a primeira dessa vez,” a garota disse com um perverso sorriso. Para o seu horror, enquanto ele observava, os seus dentes começaram a crescerem mais longos, se curvando para baixo sob a sua língua. O medo bruto o fez se contorcer tão forte quanto ele pode, o qual apenas fez com que eles gargalhassem. Seus rostos fantasmagóricos brancos sorriram para baixo para ele como bebês demônios. Então, subitamente, tudo...parou.


As três cabeças que pairavam sobre ele estalaram para cima, narinas escancaradas como se captando um cheiro estranho. As unhas da garota enfiaram no braço dele até que ele pode se sentir sangrando, mas a dor veio para ele à distância –o seu coração quase tinha parado em seu peito, e o tempo tinha desacelerado a um rastejar. Algo puxou um dos homens para cima para fora de Scott e o rebocou para trás, arremessando-o para o poste de luz laranja brilhante que caía sobre os pinos de boliche. Os outros dois deram um salto, rosnando como animais, mas no segundo seguinte houve o som de metal cantando no ar, e com spray de sangue jorrando, a cabeça do segundo homem voou para fora. Scott gritou e rolou por suas costas para longe do sangue, e embora isso por pouco tenha o atingido, ele sentiu gotas atingirem o seu rosto. Ele tropeçou em direção a parede oposta e se enrolou em uma bola, a bile subindo pela sua garganta. Ele ouviu o estrangulado choro da garota, e ele olhou para cima a tempo de vê-la ser decapitada também. Havia cinco pessoas com ele no beco agora, todos vestidos identicamente em uniformes pretos de algum tipo. Todos eles tinham espadas. Espadas. Ele tinha ouvido que trauma podia fazer as pessoas insanas. Uma das figuras se separou do restante, limpando a lâmina suja de sangue da sua espada na camisa de um dos mortos. Ele estava vestido diferentemente dos outros, em um longo casaco negro, e seus olhos tinham um estranho azul profundo soando com prata em volta da íris. Ele se conduzia como se ele fosse o líder deles, e naturalmente, enquanto ele escaneava a parede acima dos corpos, sua voz tinha a limpa autoridade de um amadurecido oficial militar. “Pinte aqui,” ele disse. “Deixe-os abaixo disso. Elite Nove, veja o garoto.” Scott se encontrou sendo ajudado sob seus pés por um homem forte, de pele escura cujo aperto era surpreendentemente gentil. O homem o colocou sob seus pés como se ele pesasse nada e o olhou de cima a baixo, e embora seus olhos fossem tão alienígenas e frios quanto os daquela garota, ele não fez absolutamente qualquer movimento que ameaçasse Scott. “Ele não está ferido, Mestre,” o homem falou para trás sob o seu ombro. “Dessa vez nós derrotamos eles.” O homem sombrio, aquele com o casaco, virou sua cabeça ligeiramente em reconhecimento. “Bom. Dê a ele a tarifa do taxi e o mande pra casa.”


“Espere um minuto,” Scott murmurou. Sua língua estava espessa e sem resposta na sua boca. “Que porra está acontecendo? Quem são essas pessoas? Eu quero dizer, obrigado a você por me salvar, não me leve a mal, mas...” O homem sombrio olhou para ele por um momento,e Scott sentiu outro sussurro de medo. Ele se aproximou de Scott em um quase ondular, a maneira que Scott tinha visto encantadores de cavalos se aproximarem de potros ariscos na TV, e veio a ficar perto...muito perto. Scott se encontrou encarando, sua respiração presa, e o estranho colar que o homem usava, um pesado pendente feito de prata. A pedra captava alguma luz que Scott não podia ver e parecia brilhar. “Qual o seu nome?” o homem perguntou, a voz apenas alta o suficiente para ser conduzida. Era o tipo de voz que viajava diretamente dos ouvidos de Scott para o seu pênis, e mesmo através do medo ele sentiu seu jeans se apertar. “Scott Summers,” ele respondeu. “Como o do X-Men.” “Bem, Scott, aqui está o que você vai fazer,” o homem disse, se inclinando até mesmo mais perto então tudo o que Scott podia ver eram a intermináveis piscinas dos seus olhos. Sua voz se tornou hipnótica, rítmica. “Você vá pra casa e jogue fora esse casaco no lixo, e pela manhã será como se isso nunca estivesse acontecido.” “Mas...” “Repita o que eu acabei de dizer, Scott.” “Eu vou...Eu vou para casa, jogar o meu casaco no lixo, e pela manhã será como se isso nunca estivesse acontecido.” “Muito bem. Eu sinto muito que você tenha visto isso. Isso não é da sua conta.” “Isso não é da minha conta.” O homem sorriu. Um sorriso deslumbrantemente lindo. “Há algo que você precise além de um taxi, Scott Summers?” Scott sorriu de volta, seu mundo cheio dos olhos azuis. “O número do seu telefone?” Uma risada entre os dentes, baixa e sedutora. “Tentador. Mas é melhor você não sair de casa sozinho à noite.” Ele se afastou. O alto homem que havia ajudado Scott em seus pés o guiou para fora do beco, para onde um Taxi Amarelo já estava esperando. “Wow,” Scott murmurou, virando a sua cabeça para observar a recuada forma do homem no longo casaco preto. O seu guia gargalhou. “Eu acho que o ditado ‘É muito carro pra você.’


Scott deu de ombros, se permitindo ser empacotado para dentro do taxi, e já estava dormindo antes do carro se afastar do meio-fio. *** A rede de sensores estava anos a frente dessa vez, tecnologicamente falando, mas não era a coisa mais encantadora no mundo. Ele tinha essencialmente pavimentado tudo junto a partir de recursos existentes no Haven, não querendo perder tempo fazendo nada bonito enquanto as vidas estavam por um fio. O Prime sentou-se em sua cadeira na sala de trabalho, olhando para os últimos diagnósticos em seu laptop. As coisas ficaram um pouco turbulentas desde que elas ganharam vida –a rede funcionava, sim, mas durante períodos de alta atividade na cidade, como hora do rush ou Sábado a noite no centro da cidade, setores tinham um desagradável hábito de sobrecarregar devido aos muitos dados e colidir toda a rede. O poder do processamento para suportar essa muita informação simplesmente não existia. Então ele teria que construir um. A parte difícil era colocar a coisa inteira coordenada, um processo similar em tentar cronometrar todos os faróis de trânsito da cidade. Cada um dos milhares sensores eram atados em um eixo, e esses eixos roteavam de volta ao Haven. Afinal, ele seria capaz de ligar todo o seu território dessa forma via satélite, mas por agora ele tinha que se contentar com a área Metropolitana de Austin. A coisa que o animava, contudo, era que isso estava funcionando. A Guerra tinha vindo para a cidade na forma de um símbolo pintado com sangue de vampiro sob os corpos de três rebeldes: o Selo do Prime David Solomon. A mensagem era clara, e ela foi ouvida. Ele não tinha imaginado que eles iriam gentilmente para dentro da escuridão, e eles não foram. Os ataques triplicaram em freqüência. A diferença era que desde aquela primeira noite não houve fatalidades humanas. Os rebeldes não tinham idéia do que os atingiu. Eles tinham suas vítimas escolhidas e isoladas, mas antes que eles colocassem um arranhão no humano, eles eram cercados por Elite, todos sob a ordem de não mostrar misericórdia. Eles eram executados sem perguntas e sem julgamento. O devido processo legal era para os mortais. Esse era o Mundo das Sombras. Ele tinha treinado os dois dos funcionários administrativos para monitorar a rede, e eles trocavam de turnos, mas independentemente ele tinha relatórios enviados ao seu fone cada dez minutos. A rede tomava leituras a cada três


minutos e imediatamente reportava a cada vampiro se movendo na cidade. Qualquer grupo de mais de dois nas ruas tinha uma unidade de patrulha em sua vigília em noventa segundos. Qualquer vampiro se aproximando de um humano fora do campo de caça conhecido era detido e interrogado. Os rebeldes raramente trabalhavam sozinhos, mas ele queria isso absolutamente claro: Os vampiros de Austin estavam sendo observados. Seus olhos estavam em todos os lugares e seu alcance era interminável. Era apenas uma questão de tempo antes deles aumentarem desesperadamente e até mesmo tentarem algo estúpido ou escorregassem. Tirar a cabeça dos seus capangas não era suficiente para David. Ele queria os próprios Blackthorn. Ele queria os seus sangues espirrados, e ele queria suas próprias mãos para derramar isso. “Você se alimentou?” Ele assentiu ausentemente. “Sim.” “Você está mentindo?” “Não.” Por alguma razão Faith tinha tomado o seu cargo para agir como a sua baba. Ele não se importava na maior parte do tempo, mas ele não tinha sido terrivelmente paciente com ela, ou qualquer um, desde o outono. “O que você comeu?” Ele parou o que ele estava fazendo para olhar para cima. O seu pescoço doeu por estar inclinado em direção ao monitor por tanto tempo; ele sabia que ela estava para dizer a ele para dar um intervalo, e por uma vez ele estava inclinado a aceitar. “Eu tive Esther me trazendo uma bolsa. Pergunte você mesma a ela.” Ele percebeu que ela estava segurando o que parecia como um jornal; quando ele levantou uma sobrancelha por isso, ela mordeu seu lábio um segundo antes de dizer, “Eu acho que você gostaria de ver isso. É a Chronicle dessa semana.” “O jornal de entretenimento? Desde quando eu ligo pra isso?” “Desde agora,” Faith respondeu, abrindo o dobrado periódico e o lançando sobre a mesa na frente dele. Ele se sentou para trás. “Miranda.” A fracamente gravura preta-e-branca a mostrava sentada na borda do palco, seu violão em seu colo. Ela estava sorrindo e olhando diretamente para a câmera.


Ele olhou para isso silenciosamente por um tempo, e depois disse, “Ela parece feliz.” Faith deu de ombros. “Ela está consideravelmente fazendo um nome por si mesma. Há uma entrevista.” Ele arrancou seus olhos para longe do rosto de Miranda e os plantou firmemente de volta no computador. “Eu vou ler isso mais tarde. Eu tenho mais trabalho a fazer.” Ele praticamente podia ouvir a cabeça de Faith sacudir, mas ela o deixou sozinho gentilmente o suficiente. Ele tentou voltar a sua calibração, mas ele podia ver a figura em sua visão periférica, o adorável rosto pálido de Miranda fixo nele, olhos cuja cor ainda estava queimando em sua memória observando-o em tonalidades de cinza. David começou a fechar o papel, mas ele não pode evitar além de ver o título embaixo da imagem: Estrelas em Ascensão de Austin Desistindo, ele se virou para longe do monitor e pegou o papel. Havia perfis de três quentes novos astros: Gerry Ford, uma banda chamada 3 Tequila Floor, e Miranda Grey. Alguns dos fatos no perfil de Miranda fez David sorrir, e outros fez o seu coração querer quebrar em lascas dentro de seu peito. Local de nascimento: Rio Verde, Texas, “embora Austin sempre será a minha casa.” Instrumento favorito: “Meu primeiro amor é meu Martin 12-cordas, mas não muito tempo atrás eu toquei em um Bösendorfer Imperial Grand, e eu acho que talvez tenha encontrado o amor da minha vida.” Gênero: Eclético, ou mais ou menos. “Bem, eu xingo muito e eu não canto sobre o quanto a minha vida é uma droga sem um homem. Eu acho que a música deveria ser sobre criar algo bonito mesmo com todo o mal da humanidade. Qualquer gênero que seja isso, eu estou nele.” Planos para gravar: “Eu estou com esperanças de ir ao estúdio esse verão, o qual será uma nova experiência. Eu acho que eu sempre serei mais como uma artista do ao vivo, entretanto. A energia da apresentação é a melhor inspiração que eu alguma vez poderia encontrar.” Favorito restaurante em Austin ou local de bebedeira: “Me leve pro Texican Café para a margarita frozen e as tortilhas vegetarianas deles que eu serei sua.”


Resposta aos rumores de que ela estaria namorando o baterista do 3 Tequila. “Sem ofender os caras com os quais eu sai nos últimos meses, mas...inferno não. Eu estou fora do mercado por um tempo agora. Eu estou esperando por alguém extraordinário para me acompanhar, e até lá, eu não vou me contentar com menos.” David não percebeu o quanto malditamente suas mãos estavam tremendo até que o último parágrafo fosse impossível de ler. Ele empurrou sua cadeira para trás da mesa e deixou a sala dos servidores, levando o Chronicle com ele de volta a sua suíte. Ele ainda estava olhando para a sua foto e mal assentiu a Samuel quando ele passou. Em sua mesa, ele pegou um par de tesouras e cortou a foto e a entrevista do papel, então jogou o resto na caixa de reciclagem. Ele atravessou o quarto para a cômoda trancada. Dentro, em adição ao Signet da Rainha e tudo mais que ele guardava, estava um exemplar encadernado de couro das comédias de Shakespeare; ele o abriu e aninhou o recorte dentro, onde repousava junto com vários outros artigos como este, a maioria dos longos-parágrafos anunciando os seus shows. Esse era o primeiro a ter uma foto dela. Ele cuidadosamente fechou o livro e começou a guardá-lo, mas um dos artigos escorregou e flutuou para o chão como uma folhagem caída. Ele colocou o livro na sua prateleira e se inclinou para recuperar o papel. Ele franziu o cenho. Não era um artigo de jornal. Parecia como uma página de uma revista arrancada e apressadamente dobrada. O seu nome estava escrito nela em uma corrida mas precisa escrita. David fechou a cômoda e levou o bilhete para a sua poltrona na lareira. Esther tinha bondosamente adicionado toras extras à chama para combater a gelada noite de Janeiro, e ela arremessou algumas folhas de alecrim dentro dela pra dar um aroma. Ocorreu a ele que o Natal tinha passado há várias semanas atrás. Ele esteve enterrado em seu trabalho, mas ele vagamente se relembrou que a maioria da Elite teve a noite de folga por alguma coisa. Ele não queria abrir o bilhete, mas ele sabia que ele não tinha escolha. Seus dedos já estavam desdobrando o papel. A essência que subiu do bilhete poderia tê-lo nocauteado se ele estivesse em pé. Milhares de lâminas de saudades o apunhalaram.

Querido David Eu vou te fazer me prometer que eu verei você novamente, mas eu não vou dizer o porque. Eu talvez sequer admitirei a mim mesma por um tempo. Mas se


alguma vez for seguro...venha pra mim. Se isso levar cinqüenta anos, eu não ligo. Venha pra mim. Talvez até lá eu esteja preparada pra te dizer o que eu estou muito assustada para dizer essa noite. Obrigada por tudo. Eu vou sentir a sua falta. Eu sei que a sua vida é muito longa mas por favor não se esqueça de mim. ~Miranda Ele ergueu o papel aos seus lábios, fechando seus olhos, apenas inalando os fiapos desvanecidos de sua presença por um momento. “Breve,” ele disse ao quarto vazio. “Eu verei você em breve.” *** Os punhos de Miranda atingiram o saco de areia, cada soco enviava uma nuvem de giz e possivelmente poeira, no ar. Ela mergulhou para trás e chutou, fazendo o saco tremer e, do outro lado disso, Sophie ajustando a sua postura para segurá-lo. “Mais forte!” a vampira ordenou. “Mova seus pés!” Alguns minutos mais tarde Sophie a parou, e Miranda estava ofegante, suor escorrendo pelo seu rosto e pescoço em riachos. A sua regata estava ensopada, e ela estava queimando apesar do fato de estar um grau do lado de fora e não muito aquecido dentro do estúdio. “Tudo bem,” Sophie disse, caminhando em direção ao painel eletrônico e invertendo vários interruptores. Algumas luzes esmaeceram e outras se iluminaram até que toda a sala estivesse inundada pela luz da lua simulada. Então Sophie arrancou um par de espadas cruzadas da parede e entregou uma a Miranda, primeiro com o cabo. Miranda automaticamente caiu em uma firme postura, e ela percebeu a aprovação de Sophie. Ela sabia que Sophie estava se segurando com ela –ela tinha que –mas parecia que ultimamente ela estava gradualmente aumentando a força do seu ataque, tanto que Miranda voltava pra casa depois de cada sessão machucada e dolorida e xingando como ela fez em suas primeiras semanas. Ela não perguntou porque Sophie estava a instigando tão duro. Ela não perguntava coisas a Sophie; ela perguntava quando Sophie dizia e descobria suas próprias respostas um passo de cada vez. Era um método enlouquecedor, mas um efetivo, algo do tipo anti-Socrates71.

71

(Sócrates o filósofo Grego, que estimulava as pessoas a se concentrarem na amizade e em um sentido de comunidade, pois acreditava que esse era o melhor modo de se crescer como uma população)


“Hora para o poder inspirador dos acordes,” Sophie observou. “Você quer que eu cante “Eye of The Tiger72?” “Você é muito nova para se lembrar dos anos oitenta,” Miranda retornou, ouvindo um bufar. “Porra, garota, eu mal me lembro dos meus oitenta,” Sophie atingiu de volta. “Eu atravessei os cogumelos mágicos como o Super Mário73.” Com isso ela mergulhou, a espada voando; Miranda fez o seu melhor para se defender, refazendo-se de um segundo lapso de atenção por girar fora do caminho. Ela levantou sua lâmina enquanto ela virou, encontrando o balanço de Sophie com um alto tinido de metal com metal. A espada estava íntima na sua mão, de acordo com Sophie, estava equilibrada exatamente com o seu tamanho. Ela não sabia muito sobre armas, mas ela sabia que essa não era tão de perto perigosa quanto a metade dos objetos pendurados nas paredes; era um passo a frente da madeira que ela tinha começado, embora, com a qual Sophie disse que realmente a fazia mais nervosa do que o aço, com toda aquela coisa de estaca-através-do-coração. No entanto, madeira era mais seguro para um humano do que algo com uma borda. A lâmina que ela estava usando agora era relativamente tediosa. O final era uma conclusão precipitada, claro. Sophie bateu a espada para fora da sua mão, virando-a ao redor, e dando um pontapé para fora dos seus pés; um segundo mais tarde Miranda sentiu a pressão usual da bota da vampira em seu pescoço. Permanecer sob o pescoço de algum adversário caído era aparentemente simbólico entre as suas espécies, uma demonstração de dominância; a Elite não usava isso porque, psicologicamente falando, eles eram todos amigos. Miranda nunca tinha visto nenhum deles lutar com um inimigo verdadeiro. Cortar fora as suas cabeças não contava exatamente. “Eu me rendo,” Miranda ofegou. Sophie deu um passo atrás, erguendo o seu pé e deixando o seu combate para os seus pés. A expressão da mulher diminuta era tão calculada quanto sempre. “Não foi horrível,” ela pronunciou. “Você ficou sob seus pés por mais quatro segundos dessa vez. Continue assim e você talvez realmente me atinja em cerca de cem anos.” “Obrigada pela porrada, Senhor Miyagi74.” 72

(Eye of The Tiger –música imortalizada pela cena do filme Rock Balboa, onde Sylvester Stallone corre pelas ruas da Filadélfia, subindo as escadarias do Museu.) 73 (Super Mário –personagem de vídeo game)


Ela deixou Miranda ter um intervalo pela primeira vez,e Miranda engoliu metade de uma garrafa de água e se afundou em uma cadeira dobrável no perímetro da sala. Sophie, com nenhum fio de cabelo para fora do lugar, enxugou as lâminas de ambas as espadas e as pendurou de volta em seus lugares. “Se você é tão grande guerreira, porque você não trabalha pro Prime?” Miranda perguntou. “Você tem uma memória malditamente ruim. Se lembra quando eu disse sobre se envolver com Signets? Você trabalha pro Prime, você segue as suas ordens e termina levando uma estaca no seu peito antes do seu tempo. Além disso, se eu me juntasse eu teria que fazer o meu caminho através dos ranques e porque, bancar a segunda vadia para alguém mais quando eu posso estar fazendo as minhas próprias coisas? Eu não sou realmente o que você chamaria de uma jogadora de equipe.” “Bom ponto de vista.” Miranda puxou o elástico do seu cabelo e o alisou para colocá-lo novamente. “Sorte a sua que eles não tem um projeto, com uma guerra rolando e tudo.” “Guerra é pra pessoas que acreditam em algo. Eu acredito em beber sangue, lutar, e fuder, nessa ordem. Eu sobrevivi a Auren e eu vou sobreviver a Solomon, também.” Miranda sentiu a urgência de fazer algo como se benzer. Obviamente Sophie viu o cintilar de raiva em seu rosto, porque ela gargalhou alegremente. “Oh, desculpe, eu esqueci, Sua Alteza.” Sophie se curvou teatralmente, então esquivou-se da garrafa de água vazia jogada para a sua cabeça. Quando ela se endireitou, ela olhou para Miranda nos olhos, subitamente séria. “Você não está fazendo isso apenas por ele, você está?” “Não,” Miranda disse sem ter que pensar. “Olhe, eu não tenho qualquer controle sobre essa guerra. Ela pode durar mais tempo do que eu viver. Eu não vou deitar em uma espreguiçadeira esperando pelo meu príncipe encantado vir me resgatar da minha torre. E se ele fosse o tipo de cara que me pedisse pra fazer isso, bem, ele poderia ir se fuder em todo o caso.” Agora Sophie deu a ela um raro, genuíno sorriso. “Atta, garota. Agora se levante –nós temos que fazer algo sobre o seu trabalho de pés.” Sentindo como se ela passasse em algum tipo de teste, Miranda sorriu de volta e fez como ela tinha pedido. 74

(Senhor Miyage –personagem do filme Karatê Kid. É o mestre que ensina a arte do karatê ao Sam.)


*** Kat esteve fora da cidade por mais de um mês, então o olhar no seu rosto quando ela viu Miranda não era inteiramente surpreendente. “Nossa Senhora de uma tortilha,” a loira disse. “Você está maravilhosa!” Miranda gargalhou e deu um passo ao lado dela. “Bem vinda de volta. Como estava Beaumount?” “Infernal, claro. Eu odeio Houston. Mesmo no meio de Janeiro o lugar parecia como um pântano, eu fui encarada desde o minuto que eu saí do avião. Dreads e tatuagens não são as normas ali, você sabia?” “Não brinca.” “Seriamente, você parece ótima –você está se exercitando?” “Yeah. Muito. Eu tenho um personal trainer.” “Maldita seja, garota. Eu disse que você deveria tomar aulas de defesa pessoal, não se transformar em Linda Hamilton do Exterminador do Futuro 2.” Miranda fez uma cara. “Eu não me pareço nada assim. Faz um mês, Kat. Eu não mudei tanto assim.” Enquanto ela dizia as palavras, entretanto, Miranda se perguntou se isso era verdade. Ela tinha ganho de volta todo o peso que ela tinha perdido quando ela começou a se afundar em seu dom, mas ao menos algo disso era músculo – ela estava malhando quase todo dia e todo o seu tempo livre era dedicado a música. Ela comia como um cavalo, mas para evitar a ira de Sophie, ela evitava a maioria das porcarias que ela encheu a sua boca no primeiro mês em que ela voltou para Austin. Ela estava se sentindo muito bem. Era possível que Kat estivesse reagindo a sua aura mais do que a sua aparência física. Isso, ela sabia, estava muito diferente do que há poucos meses atrás. Elas caminharam subindo a calçada em direção ao Kerbey Lane Café, uma das suas velhas assombrações da faculdade e um popular restaurante de noite toda de toda a cidade. Miranda tinha comido o seu peso em centenas de pratos de ovos mexidos e panquecas de massa verde nas cabines de Kerbey e tragado cerca de milhões de xícaras de café durante as provas finais. Kat tinha estado com ela em muitas dessas xícaras. “Okay,” Kat disse, a puxando para uma parada antes que ela pudesse alcançar o prédio. “Um..por favor não fique brava.” Horror. “Deus, Kat, o que você fez?” “Bem, se lembra daquele cara que eu estava te dizendo, Drew? O professor?” “Me diga que você não fez.”


Kat fez uma careta. “Nós estávamos trabalhando juntos em começar um centro em Beaumont, e eu disse a ele o quanto ótima você é, e ele realmente quis conhecer você, então eu meio que o convidei.” Miranda a socou levemente no braço – bem, ela achou que isso foi levemente, mas Kat disse “Ow!” e estremeceu. “Kat, eu não acredito em você! Você sabe porque eu não quero namorar com ninguém nesse momento!” “Então não namore,” Kat insistiu. “Apenas seja amiga. Ninguém vai forçar você a saltar na cama com um cara. Eu apenas acho que você precisa sair mais pra coisas que não sejam tocar violão ou levantar pesos. Eu apenas...eu me preocupo com você, docinho. Você fica toda obcecada pelas coisas e você...fica esquisita e desaparece.” O carinho na voz de Kat afrouxou a agravação de Miranda de um jeito, e ela se abrandou o suficiente para dizer, “Okay, okay. Eu não vou correr gritando. Eu vou me encontrar com o cara. Mas eu não estou em um encontro com ele. E se ele terminar tendo uma tatuagem da suástica como o cara que você tentou me empurrar dois anos atrás-” “Eu não tinha idéia! Eu achei apenas que ele era prematuramente careca!” “–eu vou matar você,” ela terminou. “Vamos.” Miranda se enrijeceu quando ela viu a figura esperando por elas do lado de fora do café. Ela rolou os olhos interiormente –qualquer um com cérebro teria entrado, onde não estivesse cinqüenta graus mais frio. “Hey!” Kat estava dizendo. “O que você está fazendo aqui fora? Você deveria ter entrado!” O cara se virou, e Miranda congelou. Por apenas uma respiração, ela pensou que ela estivesse olhando para David. Ele tinha cabelos negros, e era esguio, e vestia uma jaqueta preta, mas assim que ele se moveu, a similaridade terminou. Não havia graça sobrenatural, sem nobreza; apenas a levemente inábil postura de um homem que estava nervoso por se encontrar com uma mulher. Suas características eram mais angulares, também, e seus olhos, embora azuis, eram pálidos e tinham um tom de cinza. O coração de Miranda ainda martelava. Ela estava pronta para acreditar na impressão de uma fração de segundo...ela quis acreditar. “Oi,” ele disse, oferecendo a mão. “Eu sou Drew. Você deve ser Miranda.” Miranda apertou a sua mão firmemente. “Culpada e acusada.” Ela decidiu-se ser amigável, e ao longo do jantar e da sobremesa, ela decidiu aprová-lo, ao menos condicionalmente. Ele era bem educado e bem articulado, pensativo, e definitivamente bonito; ele conhecia música e era


entusiasmado sobre isso, avidamente escutando ela falar sobre se apresentar. Ele até mesmo tinha um decente senso de humor. Kat mantinha a conversa leve, evitando qualquer coisa potencialmente perigosa como toda a história de Miranda, sua família, ou onde ela esteve no último verão. Não era muito difícil; desde a entrevista do Chronicle, ela tinha sido reconhecida em público uma ou duas vezes, e qualquer um remotamente interessado no cenário de Austin ao menos ouviu o seu nome por agora. Drew pagou o jantar e insistiu em caminhar com Miranda em casa quando Kat implorou –a pilha velha do carro de Kat estava na oficina novamente e ela teve que correr para pegar um ônibus ou ela estaria encalhada no Sul de Lamar. Drew pedalava uma bicicleta para todos os lugares, mas com o tempo medonho de inverno tardio ele tinha pego um ônibus. Ela adicionou isso a lista de aprovação: sem carros beberrões de gasolina, mas ele era um motorista licenciado, o qual era sempre conveniente. “Olhe, Me desculpe por Kat estar tentando me jogar em cima de você,” Drew disse, caminhando ao lado dela. “Tudo bem,” Miranda respondeu. “Ela apenas quer que eu seja feliz, e ela realmente se apaixonou por você. Ela banca a fazedora-de-casais tanto tempo quanto eu a conheço. Ela ama ver as pessoas se apaixonarem.” “Bem, ai é que está. Eu acabei de sair de uma relação de longo prazo com April, minha última namorada, e eu não estou...eu quero dizer, eu acho que você é linda, e você parece uma pessoa realmente fascinante, mas eu não sei se eu quero ir por ali ainda, você sabe? E Kat disse que você teve algumas coisas há tempo atrás e você não está muito afim de caras, então eu pensei que assim poderia ser mais seguro pra gente se conhecer, ser amigos. Então algum dia talvez mais, sem pressão.” Miranda olhou para ele, maravilhada. “Você tem certeza que você é hétero?” “Cem por cento de certeza.” Ela assentiu. “Okay, Drew, eu vou te contar isso, então. O que Kat está falando...isso não foi a muito tempo atrás. Eu me machuquei, e isso deixou cicatrizes.” “Literalmente ou figurativamente?” “Ambos.” Ela pausou em sua caminhada e ergueu o seu cabelo da sua testa, mostrando a ele a linha branca. “Você está tremendo,” Drew disse. “Aqui, pegue meu cachecol.”


Ela começou a protestar, mas ele pareceu genuinamente preocupado com um motivo oculto, então ela pegou a peça oferecida. Era tricotado a mão e quente, e até mesmo em uma das suas cores favoritas, vermelho escuro. “Obrigada. Isso é bonito –onde você conseguiu?” “Minha avó fez pra mim. Ela mora na Flórida e ela sempre se preocupa comigo em pegar um resfriado.” Miranda sorriu. “Ela deve ser legal.” Drew sorriu. “Yeah, é legal. Eu sinto muito a falta dela.” Eles alcançaram o complexo de Miranda, o qual era convenientemente perto do Kerbey, e ela disse, ao invés de convidá-lo pra entrar, “Então...no espírito de sermos amigos, que tal você vir no meu show amanhã à noite? Eu vou pedir para acompanhá-los você e Kat na porta.” Drew sorriu e assentiu, subitamente desajeitado com a excitação. “Isso seria ótimo. No Mel, certo? Oito horas? Eu verei você então.” Miranda entrou em seu apartamento, suspirando de dentro do seu agasalho, pendurando o cachecol de Drew no gancho embaixo do seu casaco. Ela tinha que devolver a ele amanhã. Era melhor não levá-lo, mesmo sutilmente. Amigos era legal...amigos era, de fato, muito bom. Tinham-se passado anos desde que ela teve alguém para conversar sobre música, e mais longe que isso desde que um amigo tinha sido um homem. Ela precisava reaprender a se relacionar com o sexo oposto mesmo em um evento puramente social ao invés de discutir com ela mesma a possibilidade de se acovardar. Drew era doce, encantador, e tocantemente humano. Totalmente inofensivo ao seu sentido interior, e fácil em seus olhos. Ele era também seguro. Ela nunca chegaria tão perto dele, nunca teria medo de suas mãos tateando, porque ela nunca permitiria que ele chegasse perto assim dela. Ela não teria que se preocupar sobre ele a machucando, enquanto ela fosse honesta e franca. Ela não o seduziria com um falso paraíso de promessas e maçãs. Se ele quisesse admirar as árvores*, tudo bem. *(alusão a árvore do paraíso, de Adão e Eva) Ela também sabia apenas por dimensioná-lo essa noite que se a situação ficasse crítica ela poderia matá-lo com as mãos desprotegidas. Era um pensamento perturbadoramente reconfortante. Sim, Drew era seguro. Drew era seguro porque ele era humano, e porque ela já tinha decidido que nenhum homem jamais iria tocá-la novamente. As portas do seu corpo e do seu coração já estavam fechadas e trancadas, e ela daria a chave para apenas um homem, talvez algum dia...talvez algum tipo de


reivindicação do seu afeto. Se ela envelhecesse e morresse sozinha, seria em plena posse do seu coração. E se ela alguma vez desse isso, ela iria dar eternamente, e sem arrependimentos.


Capítulo

13

F

AITH CORREU AO LONGO DA RUA, TECENDO DENTRO E fora da multidão que mal a notou exceto pelo vento da sua vigília. O seu casaco e cabelos voavam atrás dela, e seus pés batiam na calçada com o ritmo de um rufar de tambores. “Suspeito está se aproximando da Lavaca Street,” o monitor da rede disse no pulso dela. “Eu estou chegando!” Faith gritou de volta, correndo ainda mais forte. Menos de uma quadra adiante ela podia ver a magra figura pulando de um lado ao outro, habilmente evitando os humanos como Faith fazia. “Onde está o meu apoio do oeste?” “Perto da Eighth Street,” veio á resposta sem fôlego. “Você vai alcançá-la

primeiro.” Faith rodeou a esquina com seus braços e pernas bombeando, adrenalina e ira alimentando a sua perseguição, seus sentidos em esgotamento. A quente, sombria unidade de um predador a percorria até que o universo fosse reduzido a ela e sua presa. Metade de uma quadra. Se aproximando. Fora de seu desespero ou estupidez, a suspeita desviou-se de repente para fora à direita, para fora do tráfego. Buzinas soaram ao redor, mas era apenas após o anoitecer em uma Quinta feira e o tráfego estava tão pesado que eles não estavam se movendo muito rápido para se importarem. Uma esquelética garota de cabelos negros correndo entre os carros era irritante mas não especificamente notável.


“Amaldiçoado seja, Mestre, onde está você?” Faith exigiu em seu com. “Agora seria um ótimo momento para aquela coisa de tele-transporte que você faz!” Antes que a sentença sequer saísse de sua boca, um dos SUVs de Lavaca75 gritou para uma parada enquanto algo pesado aterrissava em seu telhado. O Prime se endireitou, seus olhos cintilando cinza sob as luzes dos postes,e pulou para baixo do carro direto no trajeto da suspeita. Ela assobiou e se arremessou para a esquerda, saltando para fora da porta de um Jaguar e rolando por baixo dele. “Eu quero olhos em todas as esquinas!” Faith estalou. “Vinte e Oito, Doze, Nove, fora do ventilador!” David caminhou entre os carros, ágil e decidido, e os humanos em seus veículos senão encararam abertamente para ele ou então desviaram seus rostos em um instinto de medo por uma criatura designada perfeitamente para matálos. Ele pausou, respirando a umidade de ar frio de uma noite da recémprimavera. Sua boca aberta levemente, revelando a curva marfim dos seus dentes, e a mulher dirigindo a SUV em frente a ele estremeceu e cobriu o rosto da sua criança. A luz do Signet cintilou, e ele empurrou para fora com uma mão, parecendo se mover apenas com o ar. O Jaguar deslizou para o lado com um guinchar de borracha no pavimento A suspeita, subitamente perdendo o seu esconderijo embaixo do seu pneu, mergulhou para outro, ficando os seus pés para cima por debaixo dela para fugir. Ela deu cerca de três passos. David ergueu uma mão e deu um puxão, e a vampira caiu em seus joelhos com um grito, arrastada para trás em direção a ele, seus dedos prendendo desesperadamente no sujo concreto até que suas unhas quebrassem e sagrassem. “Por favor!” ela estava gritando para os humanos. “Ele vai me matar! Por favor! Chamem a polícia!” David sorriu. “Nós somos a polícia,” ele disse, alto o suficiente que todos conseguissem ouvir – e praticamente todos tinham estalado as suas janelas pelo menos alguns centímetros por agora. David se virou lentamente em um círculo, e Faith sentiu agarrando cada última mente da cena e a revirando forte. Rostos ao redor dele se inclinaram facilmente a sua vontade, e suas palavras

75

(Lavaca – cidade de Arkansas)


implantaram-se nas fracas mentes mortais. “Nós estamos apreendendo uma fugitiva. Não há nada mais para vocês verem aqui.” Então ele puxou a vampira pelo seu colarinho e a rebocou junto com ele para fora da rua, deixando a Elite para reparar o fluxo do tráfico. *** Ele arremessou a garota na parede e esperou para que ela parasse de choramingar. Em volta dele, o resto da unidade de patrulha tinha se reunido, e Faith estava esperando, também. Eles estavam dentro de uma vazia vitrine com janelas cobertas por tábuas; não haveria interferência dos cowboys locais. “Ariana Blackthorn,” David disse, olhando para baixo para ela. Ele gesticulou e a Elite providenciou algemas. Considerando o número da donzelaindefesa que ela estava interpretando, ela lutou como um tigre até que ela estivesse seguramente algemada. Finalmente, ela pareceu entender que ela não iria a nenhum lugar e lentamente se forçou a se levantar rígida e encará-lo de cabeça erguida. Repulsa e ódio estava por todo o seu rosto bonito. Ela cuspiu nele, mas ele esteve esperando por isso e se moveu para fora do caminho. Eles sempre gostavam de cuspir, por alguma razão. A seguir vieram os insultos: demônio, mau, acusações de bestialidade pelo seu conhecido apetite por humanos, e assim por diante. Os Blackthorn tinham criado ele como o perfeito Anticristo. Eles o tinham criado para escravizar e matar toda a espécie vampira. Ele tinha que admitir que isso era lisonjeiro. Faith se juntou a ele, ofegante e suada, e murmurou, “Você podia apenas ter se tele-transportado e a pegado antes de nós todos corrermos para um coma por persegui-la?” “Eu disse a você,” ele disse suavemente, olhos ainda na garota. “Eu não me tele-transporto. É uma troca de nível-quântico que envolve em perda e vínculo entre todas as minhas moléculas, e isso requer muita energia que é aconselhável apenas em emergências.” “Como hoje à noite?” “Não. Essa noite eu pulei para baixo de um prédio e em cima de um carro. Nós podemos nos focar, por favor?” Ele retornou a sua atenção a Ariana Blackthorn, que o via com extrema repugnância. “Eu vou matar você!” ela gritou, se lançando para frente para o


final das correntes, então caindo de costas contra a parede. “Eu vou matar todos vocês! E aquela pequena puta Mc Lanche Feliz76 de vocês na cidade!” David sentiu o seu sangue correr gelado, mas ele reprimiu a reação que ele sabia que ela queria ver. “Continue vociferando,” ele disse. “Nós temos a noite toda.” Ele segurou a sua mão para fora á esquerda, e um dos tenentes lhe entregou um maço de papéis. “Ariana Blackthorn,” ele leu. “A mais nova das mulheres do Blackthorn, considerada inadequada para um casamento arranjado até e eis que, um Prime não pareado chegou ao poder aqui no Sul. O seu pai fez um acordo para vender você a Auren, se não como uma Rainha então ao menos como uma prostituta, em troca da caça em seu território e porto seguro se a guerra na Califórnia acabasse mal, o qual claro, acabou. Então o seu amado patriarca enviou você para a cama de um assassino psicopata, e você não foi ouvida ali novamente.” Ariana se esticou contra suas corrente de novo. “Eu amei meu Prime,” ela cuspiu, “ e ele me amou. Nós éramos um Par, mesmo se o seu estúpido Signet não entendia. Tudo que eu tinha que fazer era me fortalecer. Meu pai não gostava das suas mulheres fortes. Então eu esperei. E eu cresci.” “E quando eu matei o seu verdadeiro amor, você correu e se escondeu,” David terminou para ela insensivelmente. “Por quinze anos você afundou ao redor do submundo como uma barata ao invés de enfrentar o assassino do seu Prime. Então você foi contatada por James Wallace, formalmente da Elite de Auren, e ele a ajudou a construir o seu sindicato e então, muito convenientemente, ele encontrou o seu fim.” “Eu quis justiça,” ela disse. “Eu quis assistir você sofrer assim como você fez o meu Lord sofrer. Eu quis ver qualquer coisa que você se importava sangrar e morrer e então sangrar você eu mesma.” “Eu aprecio a honestidade.” Davis respondeu. “Agora talvez você vá me fazer mais um pequeno favor, Ariana. Meus Elites tem a localização do seu quartel-general, e enquanto nós falamos eles se infiltram nele e dominam seus guardas. Nós vamos ter a posse em dez minutos. Agora, ao menos que você me dê uma razão convincente para que eu não mate cada alma restante que eu encontrar lá dentro, o prédio inteiro vai queimar. Se você me certificar que sabe onde estão todas as suas dissidentes facções, eu posso prometer a você que não matarei certos indivíduos, talvez familiares, quem possa ser querido por você.” 76

(aqui ela usou o termo Happy Meal, que é o nome do lanche infantil do Mc Donald’s, conhecido como Mc Lanche Feliz)


Ariana gargalhou, um alto, estranho som que não era nada sã. “Mate todos eles, eu não ligo,” ela respondeu. “E tenha certeza de que você pegou a minha irmã, também. Ela é uma traidora da raça apenas como você é, Mestre, e desde que eu jurei ao meu pai eu não poderia matá-la, você pode fazer isso por mim. Você me deve muito depois de você ter matado o meu amor.” “Aqui está o que eu devo a você, Ariana.” David deu um passo atrás e extraiu a sua espada. Dois da Elite seguraram firme os braços dela e a forçaram aos seus joelhos enquanto ele disse, “Eu me desculpo pelo seu coração partido, ou ao menos pelas suas ambições frustradas. Ariana Blackthorn, você está declarada sob ordem de execução pela conspiração de assassinar trinta e dois humanos dentro do meu território assim como sete dos meus Elite.” “Eu tenho um último pedido?” Ariana perguntou com falsa doçura. Ele ergueu seu queixo. Sua voz saiu como um assobio de felino. “Eu quero olhar no seu rosto quando eles arrastarem a sua preciosa pequena princesa morta do lago. Eu quero que você se machuque como eu me machuquei quando eu segurei o corpo sem vida de Auren em meus braços. Eu quero ver o seu mundo vir abaixo.” Ele olhou dentro dos seus olhos por um momento, então disse insipidamente, “Pedido negado.” Então ele decapitou a sua cabeça. Uma hora depois Harlan conduziu o carro a um subúrbio rico de Austin Ocidental, descendo uma longa rua alinhada com as casas dos afortunados. Nenhuma delas se aproximava a grandeza do Haven, claro, mas então, elas não eram construídas para abrigar centenas de vampiros. Havia um grande crescimento em muitos canteiros de flores na parte da frente que provavelmente morreriam na última queda de temperatura que normalmente atingia antes da Páscoa. Por agora, embora, a exultante respiração da primavera estava no ar, mesmo enquanto as noites ainda eram geladas. Eles pararam no final da rua em frente a uma casa de aparência comum de dois andares onde Faith e metade da Elite já estavam esperando por ele. Qualquer família humana teria morado ali, mas o gramado não parecia como se fosse roçado recentemente, e as cortinas das janelas da frente estavam lisas – elas teriam que estar pregadas por cima com tábuas atrás delas para bloquear o sol enquanto ainda parecessem na maior parte normal pela rua. Considerando os seus ódios por humanos, os Blackthorn estavam vivendo bem perto deles, mas isso era uma boa estratégia para se manter fora do radar.


Ou, isso tinha sido, até a rede de sensores estar erguida e funcionando tempo o suficiente para que os seus olhos analíticos discernirem um padrão entre os movimentos dos vampiros que moravam ali. Eles cobriram bem as suas trilhas, mas não bem o suficiente. “A propriedade está assegurada,” Faith disse enquanto ele saiu do carro. Sua voz estava estranhamente tensa. “Nós encontramos vinte e seis lá dentro juntamente com...Bem, veja por você mesmo.” Ele pode cheirar isso antes dele entrar na casa. Os rebeldes tinham feito as suas matanças na cidade, mas eles fizeram muito para a sua alimentação aqui. Nem dois dias antes, quase como um adendo, ele tinha corrido com uma busca de pessoas desaparecidas na área de Austin e confirmou suas suspeitas sobre como uma gangue tão indiscreta como essa podia se manter alimentada. Eles apenas deixaram corpos em locais óbvios para ele encontrar – onde estava o resto? Agora ele sabia. Havia covas rasas no quintal. Dentro da casa havia gaiolas. Toda a gangue foi levada ao quintal e aguardaram a execução, e tudo o que foi deixado do lado de dentro era o lixo acumulado de garrafas de cerveja e três corpos, cada um coberto com marcas de mordidas e deixado para apodrecer nos armários. Pela sua conta, deveriam ter dez mais enterrados do lado de fora nos fundos. Três eram crianças. Mantida até mesmo com o mínimo de comida e água, uma dúzia de humanos poderia manter uma gangue alimentada por semanas enquanto eles dessem alguns dias para se recuperarem entre as alimentações. Normalmente eles ficavam fracos e seus corpos eram descartados, mas nesse meio de tempo todos os rebeldes tinham a fazer era arrancar os semteto das ruas e eles teriam um fornecimento ilimitado de sangue humano que ninguém iria perder. “O que aquela piranha prometeu aos seus seguidores?” Faith perguntou, andando com ele de quarto em quarto para pesquisar o dano na casa. “Liberdade,” David respondeu. “Você pode me dizer? Eles eram livres para viver na sujeira entre os mortos. Eu tenho certeza que ela prometeu que depois da revolução todos eles seriam contados como elevados em sua própria Elite e teriam licença para se alimentar em toda a garganta que eles pudessem alcançar.”


“Nós encontramos a irmã. Ela está viva, mas...não está bem. Eles a tinham em uma das gaiolas –ela está marcada, também. Eu acho que Ariana estava se alimentando dela exclusivamente.” “Sangue ainda é mais grosso que água,” ele disse. “Me mostre.” Ela o conduziu aos fundos da casa para aquele quarto que parecia mostrar sinais de apenas um único habitante. O resto do prédio estava abarrotado de energia de um quartel, e camas haviam sido criadas em cada superfície lisa disponível, mas ainda, eles teriam que dormir em turnos. Dentro do quarto, vários Elites faziam guarda em uma mulher loira vestida em trapos, seu pescoço e ombros cobertos de feridas de punção em vários estágios de cura. Ela estava descalça e imunda, esquelética, suas clavículas destacando-se afiadamente. “Aqui,” um dos guardas estava dizendo, estendendo a ela uma bolsa de sangue hospitalar. A garota pegou isso e começou a sugar avidamente em um tubo, choramingando com fome. David foi até ela e se ajoelhou, colocando a sua mão na bolsa. “Lentamente,” ele disse. “Pequenos goles. Você vai ficar enjoada.” Ela olhou para cima para ele, tremendo, e ele foi atingido pelo azul de seus olhos. Ela viu o Signet e olhou mas não se afastou; ela estava simplesmente muito fraca para reagir. “Você conseguiu algo dos outros sobre ela?” ele perguntou a Faith. “Não. Eles estavam sob ordens de não falar sobre ela. De fato, nós não conseguimos arrancar uma maldita coisa de nenhum deles sobre o que aconteceu aqui – ela os treinou bem, Mestre. Todos eles eram tão insanos quanto ela era.” Ele voltou a sua atenção para a garota. “Qual é o seu nome?” Ela pausou em sua bebida tempo o suficiente para sussurrar, “Bethany.” “Bem, Bethany Blackthorn, meu nome é David. Nós vamos tomar conta de você.” Ela assentiu, ainda tremendo, ainda sugando no tubo. A bolsa já estava metade vazia. Ele se levantou. Faith pegou o seu braço e o afastou, dizendo, “Mestre...você não está pensando em levar ela de volta pro Haven conosco, você está?” “É exatamente o que eu estou pensando, Faith. Aonde mais ela iria?”


“Nós não sabemos nada sobre ela. Nós não temos registros dela nos arquivos de casos do Blackthorn. Aquelas pessoas estão lá fora pelo seu sangue e você a quer em nossa casa?” “Olhe pra ela,” ele disse. “Ela está muito fraca para ser uma ameaça, e se há mais deles ali fora se escondendo na cidade, nós vamos precisar da informação dela. Nós a levamos de volta, nós a colocamos sob guarda e descobrimos o que ela realmente é.” “Isso não parece um pouco suspeito pra você? Eles podiam estar brincando com os seus simpatizantes – encare assim, Mestre, você é um pouco coração mole quando se trata de garotas malucas.” “Devidamente anotado, Segunda.” “Espere...você não está pensando em colocar ela no quarto da Miranda, você está?” Ele rodeou Faith. “Não é mais o quarto da Miranda,” ele estalou. “E não, eu não a quero em qualquer lugar perto de mim. Coloque-a em uma das suítes designadas aos visitantes e tenha certeza de que ela não faça muito além de fazer xixi sem que isso seja gravado. Agora se você não se importar, Faith, eu estou indo assistir vinte e seis pessoas morrer.” Ele começou a se afastar, então pensou melhor sobre isso e disse, “Pensando melhor, traga a garota para o lado de fora conosco. Tenha certeza de que ela veja tudo. Se ela é a inimiga da irmã, ela vai apreciar a oportunidade. Se ela não é, ela vai ter um aviso justo sobre o seu próprio futuro.” *** A casa ascendeu em chamas apenas antes da meia-noite, com os corpos dos rebeldes empilhados do lado de dentro. David esperou tempo o suficiente para ter certeza que o Departamento do Corpo de Bombeiros de Austin e a polícia chegassem e eles entendessem toda a coisa lá dentro: impedir a labareda de se espalhar para as casas ao redor, manter os transeuntes longe da cena, mas não fazer qualquer movimento para apagá-la até que tudo do interior fosse reduzido à cinza. Não haveria investigação por incêndio culposo. Ficou claro que a fiação defeituosa foi a responsável. De acordo com o APD77, que tinha sido informado pela situação por Faith, a casa pertencia a uma família de quatro. Dois dos Elites mortos tinham sido encontrados no lado de dentro sendo os seus habitantes originais; os outros dois

77

(APD- Departamento de Polícia de Austin)


provavelmente foram enterrados no quintal junto com o cão da família e nove outros humanos. Ele permaneceu fora no carro meia quadra de distância observando a labareda, o duplo cheiro de gasolina e fumaça brutalmente acentuando as essências de uma noite chuvosa. Os vizinhos estavam para fora em suas calçadas, amontoados em aglomerações perguntando uns aos outros preocupados se os Larsons estavam bem, e se eles estavam em casa quando isso aconteceu, se alguém se feriu. Ele sentiu um momento de incomum ternura por eles. Eles eram ignorantes do horror que vivia em sua parte central todo esse tempo; eles estavam simplesmente indo e vindo, trabalhando e dormindo, brincando com as suas crianças. Uma rua acima havia uma criança morrendo de dor em uma gaiola. Se eles soubessem, eles teriam se unido e teriam a polícia envolvida...e provavelmente conseguido eles mesmo serem mortos. Esse era o tipo de vizinhança onde todos sabiam os negócios de todos e na maior parte todos se importavam. Eles eram tão inocentes. Eles não tinham idéia do que a verdadeira escuridão era. Faith estava se conferindo com a sua unidade próxima. Uma operação como essa requeria uma massiva limpeza, coordenada com as autoridades da cidade, e adicional investigação para encontrar o resto da gangue antes que eles tivessem tempo para se reagrupar. “Tudo está correndo sem problemas,” a Segunda disse, ficando ao seu lado direito. “Nós podemos cuidar de tudo aqui, Mestre, se você quiser voltar.” Ele assentiu. “Houve ali qualquer nova evolução da rede?” “Não ainda. Eu tenho certeza que eles estão ali fora, mas essa noite eles estão fugindo assustados. Nós provavelmente não iremos ouvir um pio deles por uma semana ou mais.” “Me mantenha informado.” Ele direcionou Harlan para levá-lo para caçar, tendo certeza que eles tomariam uma rota através do Distrito das Sombras no caminho. Toda a rua estava silenciosamente morta e vazia, e vários dos bares já tinham cortado seus empregados e fechado suas portas por hoje. A Sixth Street era um contraste marcante. Em uma Quinta feira os clubes eram um negócio vivo – para os estudantes de faculdade o final de semana começava mais cedo. Havia jovens mulheres atrativas e homens enfileirados em


meia quadra do clube de propriedade do Signet o Black Door; ele podia ouvir os graves estrondos mesmo através da suposta janela a prova de som do carro. Ele desembarcou e instruiu Harlan para retornar em quinze minutos, então ignorou a fila, conquistando ambos olhares apreciativos e acusatórios sobre cortar a fila. Ele tomou passos em direção a porta dupla, onde um enorme segurança –humano –pisou na frente dele. Sem falar, ele segurou aberto o colarinho do seu casaco então o homem pode ver o Signet. O segurança praticamente se inclinou para trás para fora do seu caminho, desapertando a corda de veludo para deixá-lo entrar. Ele deu ao homem um aceno enquanto ele passava e recebia um esboço, nervoso curvar em retorno. Uma vez do lado de dentro, ele tomou o lado das escadas acima para a passarela, onde ele poderia sobreviver á multidão e escolher o que ele queria; todos os empregados reconheceram o Signet, e eles se curvaram levemente ou, para o caso de garçonetes com bandejas e drinks, sorriram amplamente ou piscaram então elas não perderiam o seu equilíbrio. Ele especialmente não se importava se os humanos o reconhecessem aqui, mas eles foram cuidadosamente ensinados pelos gerentes para mostrarem a ele o tipo de respeito que eles dariam a seus melhores clientes – o qual ele era. À parte de pagar os seus salários e ter certeza que eles não fossem molestados pela sua clientela de vampiros, ele era um basculante generoso. A música pulsava por todo o seu redor, e lá em baixo na pista de dança corpos surgiam de tempos em tempos, peles jovens cintilando de suor. Ele os enviou aos seus abandonos; tudo o que eles tinham que se preocupar era com camisinhas e designados motoristas, seguido por ressacas e escapadas sexuais para recontar na próxima reunião da fraternidade. Ficando ali os assistindo, ele se sentia mais removido da humanidade do que ele jamais esteve, e conseqüentemente, o seu coração sentia-se como se ele fosse quebrar embaixo da enormidade do que ele era. Havia horas ao passar dos anos quando ele se recusava contra a responsabilidade, desejando que ele pudesse voltar para a Califórnia quando ele era apenas um tenente e seguia ordens ao invés de dá-las. Ser um ápice na cadeia alimentar era adorável, e havia momentos que ele odiava isso. Ele pensou de volta na Califórnia novamente, dessa vez se relembrando do telefonema que ele recebeu de Deven meses atrás apenas quando Miranda o tinha deixado. O Prime entendeu o que David estava sentindo. Ele tinha sentido isso, também. Eles todos sentiram o ônus do Signet, e profundamente todos


sabiam que havia uma maneira de dividir esse ônus, para aliviar o peso do mundo. Ele se inclinou para frente no trilho da passarela, colocando sua cabeça em suas mãos. Ele estava sendo tolo novamente, sonhando com o destino quando havia apenas realidade. Ele não tinha Rainha, sem Cônjuge. Ele estava sozinho. E a única pessoa... O bilhete que ele encontrou escondido no livro de Shakespeare ecoou em sua mente. Venha pra mim. Venha pra mim, ela disse, e ele queria tão malditamente...em teoria era seguro pra ele agora, com a líder do sindicato dos Blackthorn morta e o resto dos seus recrutas dispersos por toda a cidade em caos. Mas Ariana Blackthorn tinha ameaçado Miranda...e eles já tinham tentado matá-la uma vez. A realidade era que isso nunca seria seguro, não enquanto quaisquer dos rebeldes ainda vivessem. E assim que a ameaça fosse colocada de lado, outra iria aparecer. Enquanto Miranda vivesse em seu território...enquanto ela vivesse...por causa dele, ela estaria em perigo. Ele ficou ali muito tempo, encarando para o vazio da multidão, sentindo-se vazio e sozinho, até que a garçonete falou sobre o seu cotovelo. “Eu posso trazer algo pra você, Mestre?” Ele suspirou e escaneou a pista de dança. “Eu gostaria de gin e tônica, e a mulher ruiva no bar bebendo o Martini Grey Goos78e. Eu estarei em minha cabine.” “Imediatamente, Mestre.” Ele se encaminhou em direção aos fundos do clube no segundo andar e se afundou cansadamente no assento de couro; um momento mais tarde um segundo garçom apareceu com seu drink. Ele bebeu distraidamente até que a garçonete voltou, uma jovem mulher cautelosa ao seu lado. “Aqui está, Mestre,” a garçonete disse. Ele a entregou uma nota de vinte. A garota o encarou com olhos estreitos. “Eles disseram que o dono queria me ver?” “Sim,” ele respondeu. “Sente-se, por favor.” Ela levantou uma sobrancelha. “Eu sequer conheço você,” ela apontou. “E francamente você não é o meu tipo.” Ele olhou para ela, sorrindo. Alguns humanos eram abertamente desafiantes para ele; ele gostava disso. Ele também gostava do brilho de sua 78

(Martini Grey Goos –marca de Martini)


aura, e do cintilar dos seus olhos cor de amêndoa. Ela era alta – ela superava ele por uns bons sete centímetros se ele estivesse de pé –e um pouco mais fina do que ele gostava, além da beleza muito globalizada, talvez vinte e quatro ou vinte e cinco anos. Estudante de faculdade, sem dúvida. Ela tinha um sotaque mais da Costa Leste do que Texas Central, em um lugar em torno de Maryland. Ela era também lésbica. Parte dele estava desapontado, mas realmente, ele não estava no humor de jogar esse jogo. Isso fez, no entanto, explicar a sua imunidade ao seu charme. “Está tudo bem,” ele disse. “Eu não estou interessado no seu traseiro, Senhorita...” “Sandy.” “Muito bem, Sandy. Por favor sente-se.” Ele estendeu a mão em direção a ela com sua mente em puxou gentilmente, envolvendo os dedos do seu poder ao redor do seu ser. Ela era uma garota forte, mas ele era muito mais forte, e ela piscou duas vezes, depois sentou-se ao seu lado, confusão em seu rosto. Ele se inclinou em um roçar para soltar o cabelo morango do seu pescoço. Ela estremeceu com o toque dos seus dedos, e não de medo – ele a tinha, quaisquer que fossem as suas preferências, e se ele quisesse também, ele podia provocá-la tão completamente que o esforço que uma dúzia de mulheres fariam a ela não seria tão bom até que ele desse a sua liberação. Ele não estava interessado em subverter os seus desejos. Se ela não quisesse homens, ele não iria forçá-lo a ela. Mas nem ele queria que ela lutasse com ele, nem tivesse medo. Ele se alimentaria apenas o suficiente da energia do seu corpo para relaxá-la e acalmá-la, então inclinou a sua cabeça para o lado e rapidamente perfurou a sua pele. Se ela tivesse lutado, ela poderia causar que seus dentes perfurassem uma artéria. Dessa forma ela estava segura. Segura. O que essa palavra alguma vez significou nesse mundo? Ele bebeu, sua mão em volta da sua garganta como se ele estivesse simplesmente a beijando, e ela gemeu, suas mãos tateando algo para segurar e agarrar seus ombros. Enquanto isso os outros humanos no bar caminhavam passando os dois, nem sequer notando. Ele se retirou, inundações de satisfação advertindo e completando o seu corpo, e a segurou em pé por alguns minutos até que ela começou a recuperar o seu equilíbrio. “Merda,” ela murmurou, flácida para frente. “Eu bebi muito.” “Eu acho que você bebeu,” ele concordou. “Eu posso te chamar um taxi?” “Yeah,” ela disse. “Obrigada.”


Enquanto a garçonete a conduzia para fora do clube, ele terminou o seu drink, segurando o álcool na sua boca para limpar o seu paladar. Ela tinha gosto saudável e forte, inteligente, e tão jovem...um sobre-tom de tabaco, sugerindo que ela fumava ocasionalmente. Não havia mel em seu sangue, sem canela. Sem música. David fechou seus olhos. Isso não era útil. Ele podia beber de cada ruiva do Texas, e até que ele provasse Miranda ele nunca estaria pleno. Até que ele sentisse a sua vida pulsando embaixo dos seus lábios, seu fôlego preso enquanto seu corpo estremecia em volta dele, seu cabelo emaranhado ao redor dos seus dedos, ele estaria sedento, e sedento...e morrendo por querer. Ele deixou o clube e encontrou Harlan esperando em seu ponto usual; as pessoas ainda do lado de fora encararam abertamente enquanto ele passava e entrava no lustroso carro preto, provavelmente se perguntando quem ele era – velho rico? Novo rico? Um produtor musical? Um modelo? “Para onde, Mestre?” Harlan perguntou. David olhou para fora da janela. Ele sabia o que ele queria dizer. Mas seria amanhecer em algumas horas. Ele tinha que se encontrar com os líderes de patrulha e os gerentes da rede e ligar para o departamento do corpo de bombeiros e para o escritório do prefeito. Novamente, aquele peso; novamente, a saudade. “Casa, por favor,” ele respondeu. Então, ele falou com o seu com: “Elite Oitenta e Seis.” A surpresa de Lindsay era evidente; ele nunca falava com ela diretamente, preferia deixar todo o assunto para Faith. “Sim, Mestre?” “A Senhorita Grey está em casa essa noite?” Pelo que ele sabia, Lindsay mantinha um olho em todas as idas e vindas de Miranda, mas reportava de volta somente quando algo despertava a sua preocupação. Ele tinha instruído Faith para manter a guarda fora do caminho e sobre tudo não ficar espreitando nas janelas ou algo assustador; por uma coisa, Miranda saberia, e por outra, ele já sentia culpa o suficiente sobre espiá-la mesmo indiretamente. Ainda, ele tinha dito que ele iria mantê-la segura, e tendo certeza que havia uma Elite dentro dessa raiva segura era a melhor maneira que ele podia pensar.

“Sim, Mestre. Ela chegou em casa à uma da manhã e ainda não partiu.” “Em casa, do show?”

“Não, Mestre – de um encontro, eu acredito. Havia um jovem homem humano com ela.”


Ele estava consciente de que a sua respiração tinha subitamente se tornado rasa e triste. “Esse homem, ele ficou?”

“Não, Mestre. Eles parecem amigáveis mas não particularmente afetivos. Eu tenho imagens do seu rosto no caso de nós precisarmos fazer um rastreamento dele –você gostaria que eu fizesse?” “Não,” ele disse apressadamente. “Mas você sabe o que ela tem agendado para amanhã à noite?”

“Ela normalmente tem uma apresentação no Mel as Sextas, mas essa semana ela foi cancelada, algo com relação ao dono ter que pulverizar contra cupins. Está no papel. Amanhã a noite ela vai sair com uns amigos ao invés disso. Ela mencionou a um deles que ela estaria de volta em casa antes da meianoite.” “Obrigado, Lindsay.”

“Sim. Mestre.” Ele se inclinou de volta no seu assento, tentando forçar ele mesmo a se estabelecer; havia uma razão para perder a sua calma. Miranda estava no direito de ter amantes. Ela estava no direito de fazer qualquer coisa que ela quisesse. Ele não tinha nenhum direito sobre ela, e eles não tinham sequer se falado por quase seis meses. Ele não tinha direito de sentir ciúmes. Ele poderia gargalhar de si mesmo. Ele estava com ciúmes. Envenenadamente, vergonhosamente com ciúmes. Ele queria encontrar esse garoto e estalar o seu pescoço. Era seu direito. Ela deveria estar prosseguindo com a sua própria vida,fazendo todas as coisas que faziam a vida humana tão preciosa: se apaixonar, se encontrar, até mesmo começar uma família. Essas coisas estavam fora do alcance dela antes, mas agora ela estava forte e podia ter qualquer coisa que ela quisesse...qualquer um que ela quisesse. Ela era linda e talentosa, e ele a queria tão malditamente que ele esteve muito perto de dizer a Harlan para dar a volta com o carro. Ele deveria ficar longe dela. Ele deveria tirá-la da sua mente para o bem, ou ao menos pretender que tal coisa era impossível, para o próprio bem dela. Ele sabia disso. Ele também sabia onde ele estaria indo amanhã á noite, e ele sabia que nada, nem guerra ou medo ou percepção equivocada de justiça, estava indo pará-lo. ***


“Você ouviu sobre aquela casa que pegou fogo no Westlake?” Drew perguntou. “Yeah, isso estava nos noticiários,” Kat disse. “Eles disseram que todo o lugar se queimou até o chão – o departamento de incêndio mal manteve isso sob controle. Eles tiveram sorte que toda a vizinhança não se queimou, com todas essas árvores ao redor.” Miranda escutou distraidamente, picando o seu ravióli. As pequenas bonitinhas bolsas de pasta que tinham sido apetitosas no início, mas ela se sentou encarando para elas por tanto tempo que elas ficaram frias e remexidas, virando um pouco cinza na luz do café. “Terra para Miranda,” Kat estava dizendo, tocando nela no braço com um garfo. Ela olhou para cima. “Oh, desculpa.” “Onde você está essa noite?” Drew perguntou com um sorriso interessado. Ele sempre era tão solícito com o seu bem-estar; algumas vezes isso era agradável, e algumas vezes isso a fazia querer atingi-lo com a sua bolsa. “Você está bem?” “Eu estou bem.” Ela reuniu um sorriso. “Apenas meio distraída. Eu costumo estar nos palcos nas Sextas.” Kat soprou a sua capa palha em Miranda. “Me desculpe se nós não somos uma enorme multidão de adoradores gritando o seu nome,” a loira disse. “Se você quiser, Drew vai jogar a sua cueca em cima de você.” As orelhas de Drew ficaram rosa brilhante. “Jesus, Kat.” Miranda gargalhou. “Tudo bem. Eu só estou em um humor estranho. Você alguma vez já sentiu como se algo estivesse para acontecer?” “Claro,” Kat respondeu. “Isso se chama TPM.” “Não, eu quero dizer...deixe pra lá.” “Você quer sobremesa?” Drew perguntou. “Eu estou pagando.” Miranda sacudiu sua cabeça. Ele e Kat trocaram um olhar. Era incomum que Miranda não comesse uma torta – ela apenas sempre comia doces quando eles saiam, ela procurava adiante por eles a semana toda. Mas essa noite ela não estava com fome; ela não podia tirar o sentimento de medo do seu estômago que estava tomando todo o espaço. Mesmo as poucas mordidas da pasta que ela tinha comido estavam se assentando ali como uma pedra. Kat os conduziu de volta ao apartamento de Miranda; o tempo em Março era imprevisível, e a previsão chamava por chuva, mas com uma frente fria vindo, isso acabaria terminando em neve; que nunca poderia ser dita. De uma


forma, ela estava grata que seu show tinha sido adiado. Ela teve um trabalho árduo de ir pra casa com neve e lama antes, e ela quase quebrou sua perna escorregando em remendos de gelo na calçada. O inverno tinha sido tão gelado e molhado esse ano que ela esteve com comichão pela primavera desde Janeiro. “O que está na sua mente?” Drew perguntou do assento da frente. O olhar de Miranda estava fixo na cidade fora da janela, mas ela disse, “Eu não acredito como rapidamente o tempo passa. Parece como se fosse apenas o verão.” “Sim,” Kat disse. “Antes de você perceber isso as pessoas estarão piranhando sobre o calor novamente ao invés do frio. Eu amo o Texas.” Miranda os levou para dentro do apartamento gratamente, sentindo a explosão de calor do lado de dentro com um sorriso. Falando em piranhar, eles reclamavam toda vez que eles apareciam sobre o como ela mantinha a sua casa quente, mas desde que ela voltou para a cidade ela tinha perdido muito da sua tolerância ao frio e tinha o aquecedor funcionando completamente quase todo o tempo. Kat e Drew ambos tiraram seus casacos assim que eles cruzaram o limiar da porta. Apenas quando ela estava para segui-los para dentro, ela sentiu...algo. Ela se virou, espiando na escuridão, olhos estreitos, e varreu a visão com os seus sentidos. Nada estava errado. Kat tinha se dirigido ao banheiro, deixando-a sozinha com Drew. Ele se sentou no sofá, sorrindo um pouco estranho. Miranda considerava importante não gastar muito tempo com ele sem a Kat para interferir apressadamente; ela sabia muito bem como ele se sentia sobre ela e não queria encorajá-lo. Isso não pareceu ajudar. Mas ele era um cara legal e divertido de se ter ao redor quando ele não estava fazendo olhos de luar para ela. “Então, Miranda...” Ela segurou de volta um suspiro. “Você quer uma cerveja ou algo?” “Não, eu...eu tinha a esperança de que nós pudéssemos conversar.” Ela tentou fazer uma piada com o seu tom sério. “Bem, fale rápido – o xixi de Kat tem uma velocidade de bala.” “Eu estou falando sério,” Drew disse, se levantando. “Eu quero dizer, eu sei que nós concordamos em sermos só amigos, mas....Miranda....” Ele estendeu a mão e pegou a sua mão, sem perceber como ela estava dura com o contato. “Eu realmente, realmente gosto de você. Eu acho que nós ficaríamos ótimos juntos. Você poderia apenas, por favor, pensar sobre isso? A noite passada foi


muito divertida, e é legal passar tempo com você. Eu realmente gostaria de fazer isso novamente.” Miranda suspirou alto dessa vez. Ela sabia que a noite passada tinha sido um erro. Kat tinha desistido dos seus planos de cinema no último minuto devido a algum tipo de emergência com suas crianças de risco, mas ela tinha insistido para que Miranda e Drew fossem sem ela. Miranda tinha uma covarde suspeita que Kat, tinha planejado toda a coisa. “Drew, eu te disse. Eu não estou pronta para um relacionamento nesse momento. Você é um cara doce, muito atrativo, mas-” Três coisas aconteceram ao mesmo tempo. Uma, Drew segurou os seus braços e a beijou na boca, provocando que seu corpo todo ficasse rígido. Dois, Kat emergiu do banheiro e disse, “Oh! Desculpe, gente!” e começou a mergulhar para dentro da cozinha. Três, houve uma batida na porta. Miranda se virou do aperto de Drew e quase, apenas quase, se manteve de socar o seu rosto. Ela tropeçou para trás, rasgada entre terror e raiva, e rosnou, “Nunca mais faça isso novamente.” Drew estava corando em carmesim, e ela quase cedeu á óbvia vergonha do seu rosto enquanto ele gaguejava as suas desculpas. Ao invés de responder, ela se afastou dele e, tão agitada ela nem sequer se lembrou de olhar para fora pelo olho mágico, arremessando a porta aberta. Ela congelou. O tempo da Terra abruptamente parou de girar. Ali, na sua porta da frente, parecendo exatamente como ela se lembrava dele com os botões fechados do seu casaco preto, em pé o Prime David Solomon. Antes que ela pudesse falar, ele se inclinou suavemente para a esquerda para olhar sob seu ombro. Seus profundos olhos azuis se apressaram em Drew. Miranda ouviu Drew engolir forte. David olhou de volta para Miranda, e havia um anel prata em volta da sua íris enquanto ele perguntava calmamente, “Você precisa que eu o mate?”


Capítulo

“O

14

H MEU DEUS,” MIRANDA RESPIROU. Então ela se recuperou tempo o suficiente para dizer, “Não, está tudo bem. Ele está bem.” Atrás dela, Kat limpou sua garganta alto. Ela meio se virou, olhando de Kat para Drew e voltando, seu coração e mente indo a centenas de direções de uma vez e suas ameaças internas explodindo da sua pele. “Oh...um...pessoal...aqui, entre.” Suas pernas sentiam-se como gelatinas, mas ela se moveu para fora do caminho e deixou o Prime entrar. Ele pisou atravessando a porta de entrada e todo o ar saiu da sala; Deus, ela esqueceu que ele fazia isso. Sua energia sobrecarregando o apartamento mesmo sobre o tão apertado bloqueio que ele sempre usava. Ela talvez fosse á única que sentiu isso, mas ainda, tudo pela maneira que ele ficou de pé ao brilho sobrenatural dos seus olhos o distinguia dos seus amigos. Os olhos de Kat estavam alargados e especulativos, olhando David de cima a baixo com apreciação óbvia para os seus trajes feitos sob medida, e sem dúvida também pelo seu magnífico corpo. “Oi aí.” Ele tirou o seu olhar de Miranda tempo suficiente para avaliar Kat. Miranda pode ver o cálculo em seu rosto: humana, fêmea, inocente. “Oi.” Ele deu a Drew um olhar desdenhoso e, depois disso, mal atribuiu a ele o aviso que ele daria a um inseto incômodo. Miranda achou isso estranhamente hilário.


“Esse é o David,” ela disse. “Ele é o amigo que eu mencionei de quando eu estava fora no verão passado. David, esses são meus amigos Kat e Drew.” Ele acenou a eles. A mente confusa de Miranda achou um pouco ofensivo que eles não se curvaram. “Então você é o cara da Reabilitação,” Kat estava dizendo, tendo recuperado a sua serenidade. Ela caminhou adiante para apertar a mão de David; por um segundo ele olhou para isso com um objeto alienígena, então pegou a sua mão e a beijou, levando Kat a ficar com as orelhas rosa e a gaguejar um pouquinho. Em outro momento, se as suas palavras não estivessem colidindo tão violentamente, Miranda poderia ter gargalhado com isso, também. Kat nunca ficou mexida por homens atraentes. Sua aparente falta de interesse para o sexo masculino era o que a fazia mais sexy. David olhou para Miranda. “Cara da Reabilitação?” Miranda deu de ombros. Ela sentiu atrás dela algo que se inclinou e foi descansar no sofá. “Você é um conselheiro na clínica ou algo assim?” Kat perguntou. “Mira disse que você a ajudou a voltar a si.” Agora David sorriu, se voltando novamente para Miranda. “Mira,” ele disse. “Eu gostei disso.” Ela assentiu, incapaz de encontrar o seus olhos ainda, embora ela pudesse sentir cada centímetro do seu olhar viajando por cada centímetro dela. “Minha mãe costumava me chamar assim. Branca de Neve era o meu conto de fadas favorito quando eu era pequena – ela dizia ‘Mira, Mira, na parede79...’ você sabe onde isso continua.” “Isso era antes de Skakespeare, eu presumo.” Ela sorriu. “Yeah.” Kat olhou dele para ela e voltou, então para Drew, então de volta para Miranda. Kat não era psíquica, mas ela não era nenhuma idiota também. “Eu acho que nós devemos ir,” ela anunciou. “Drew, docinho, pegue seu casaco. Miranda, talvez nós nos veremos nesse final de semana? Eu vou te mandar um e-mail.” Ela agarrou Drew pelo braço e praticamente o arrastou para a porta, apesar dos seus protestos. Enquanto eles passavam pelo sofá, Kat disse em um alto sussurro, “Eu quero detalhes.” 79

(aqui ela cita um trecho de Branca de Neve, fazendo a alusão com o seu nome. No original é: Mira, Mira on the Wall, Who's the Fairest of Them All? – Mira, Mira na parede quem é a mais bela de todas?)


Miranda se levantou para trancar a porta atrás deles e pausou um minuto com suas mãos na fechadura, tentando controlar a sua respiração. Quando ela se virou, David estava de pé perto do gancho onde o casaco dela estava pendurado, sua mão tocando o cachecol que Drew deixou e que ela se esqueceu de devolver. Houve um momento de tensão silenciosa antes de David dizer, “Ele parece legal.” Ela bufou. “Claro.” Ele largou o cachecol. “O que?” “Legal. Ele parece legal. Você diz isso como se você dissesse ‘legal’ a um smoking azul claro ou a um caso de verrugas genitais.” Ele franziu o cenho. “Você está brava comigo?” Ela colocou as mãos em seus quadris. “Bem, o que você acha? Você não me ligou ou mandou e-mail ou agiu como se eu existisse em seis meses; agora você aparece na porta da minha casa e, o que, quer sair pra beber uma xícara de café?” “Algo assim,” ele respondeu. Ela olhou para ele. Ele olhou para ela. “Ótimo,” ela disse. Suas sobrancelhas subiram. “Sério?” Ela puxou o seu casaco do seu gancho. “Sim, sério. Vamos.” “Eu não...realmente não bebo café,” ele disse, soando um pouco descartado pelo comportamento dela. “Cafeína me deixa nervoso.” “Não é para onde nós estamos indo.” Para o seu crédito, ele não respondeu, mas a deixou guiá-lo junto às suas costas, pra fora da porta e para dentro da noite. *** Talvez ninguém mais na cidade percebesse a inovação de uma musicista psíquica e do mais poderoso vampiro do Texas sentados juntos em uma sorveteria, mas o sentido aterrorizado de Miranda do absurdo tinha muito para tomar essa noite. A sorveteria Amy era a principal rede de sorveterias em Austin, composta por jovens e hippies – versões mais novas de Kat, na maior parte, e meninos adolescentes com cabelos desleixados e tatuagens na manga. Era decorada com vacas de desenhos animados e tubulação sem valor e metal sobre os altofalantes, um estudo de contrastes que era típico na sua justa cidade.


Era a única rede de sorveterias aberta depois da meia-noite, e também a única na cidade que tinha uma rotativa seleção de sabores alcoólicos tão quanto os padrões, misturado com sua escolha de coberturas do chocolate-coberto com balas de gelatina de Ursos à granola. Miranda pegou uma casquinha de waffle cheia de baunilha Mexicana e framboesas frescas que ela tinha pedido, e lambeu as bordas pingando enquanto David pagava. Ela encontrou uma mesa vazia e agarrou uma mão cheia de guardanapos antes de se sentar. Sempre a surpreendia o quanto as pessoas ansiavam por sorvetes quando o tempo estava frio. Amy nunca ficava sem uma multidão, mesmo nos mais sórdidos dias do inverno, e aqui na vanguarda da primavera com uma frente fria para chegar, havia ainda meia dúzia de pessoas ocupando as mesas no meio de uma Sexta à noite. David se sentou do outro lado dela, resplandecendo em seu casaco de couro com o seu Signet brilhando da sua garganta, segurando um copo de bolinhas cheio de sorvete de chocolate mergulhado em uma calda de caramelo e praliné de chocolate quente. Com confeito granulado colorido. “Eu suponho que você não está preocupado com diabete.” Ele a ignorou e tomou uma colherada; a aparência do seu rosto, um êxtase inesperado, a fez esquecer quanto frio estava. “Eu não acredito que você mora aqui há quinze anos e nunca veio ao Amy.” Ela disse. “Deus, nem eu.” Ela sufocou uma risadinha; ela nunca o viu falar com a boca cheia antes. Isso a fez pensar na noite em que ela o viu dormindo – ele provavelmente ficaria mortificado com a idéia de ser adorável, mas havia momentos que ele era quase humano, e ao invés de diminuir o seu fascínio, eles só se intensificavam. Eles comeram sem conversar por um tempo, mas dessa vez o silêncio era sociável, não tenso. Ela pretendia não notar como seus olhos demoraram nela quando ela lambeu uma parte derretida do sorvete do seu cone, e ele não prestou atenção na maneira que ela se manteve encarando a boca dele. Finalmente, ele pareceu não suportar mais isso. “Então esse Drew...” Ela quase inalou o seu sorvete, reconhecendo o tom como um que ela nunca pensou que iria ouvir dele de todas as pessoas. “Você está com ciúmes?” Ele encontrou seus olhos. “Insanamente.”


Agora era a vez dela se ruborizar. Ela de repente achou o seu guardanapo intensamente fascinante. “Não é o que você pensa,” ela disse. “Kat estava tentando nos unir, mas eu não quis isso. Quando você chegou, ele estava apenas tentando...colocar o seu ponto de vista.” Indignação floresceu em seus olhos, e houve uma dura ponta em sua voz. “Você tem certeza que não quer que eu o mate pra você?” “Eu posso tomar conta de mim mesma,” ela respondeu com um pouco de brilho de raiva nela mesma. “Eu não sou a sua donzela em apuros, David.” Ele olhou para baixo para o seu sorvete. “Eu estou consciente disso.” “Me diga porque você está aqui. Depois de todo esse tempo, porque agora?” David de sentou para trás e cruzou suas mãos nessa forma nobre de nívelmolecular que ele tinha, escolhendo suas palavras com cuidado. “Noite passada nós destruímos a base dos rebeldes.” Ela quase deixou o seu sorvete cair. “Aquela casa que pegou fogo. Aquilo foi você?” “Sim. Eu os rastreei por toda a cidade através da rede de sensores, e nós os matamos.” “Deus...você quer dizer que isso acabou?” Ele sacudiu sua cabeça. “Eu não sei se isso vai ter fim, Miranda. Há ainda mais deles lá fora escondidos. Nós encontramos alguns, mas as evidências sugerem que nós temos dois terços do total de membros em ataque. Seus líderes se foram, mas eles ainda estão se reagrupando e começando novamente, dessa vez até mesmo mais agressivos pelo desejo de vingança. Eles devem também ter outras facções fora de Austin esperando para serem chamadas.” “O que você está dizendo é que eu estarei em perigo pelo resto da minha vida?” “Provavelmente.” Ela deu de ombros e mordeu um lado do seu sorvete de cone. “E daí?” Ele olhou para ela com completa descrença. “Você ao menos não está um pouco preocupada com a sua segurança?” Ela olhou ao redor do salão, gesticulando para as outras pessoas comendo seus sorvetes em paz. “Olhe pra eles,” ela disse calmamente. “Eles estão em tanto perigo quanto eu estou, mas eles nem sequer sabem disso. Eles nem sequer sabem o que está sentado ao lado deles. Se preocupe por eles, David. Eu me preocupo. Eu vejo todas essas pessoas vivendo suas vidas, e me pergunto qual deles é o próximo. Mas eu não me preocupo por mim, não mais. Eu estou forte


e eu posso lutar pela minha vida. Eu sei o que está lá fora. E eu vivi com medo – eu passei meses pulando nas sombras e chorando para dormir. Eu não estou fazendo isso novamente. Deixe eles virem me matar –não, deixe eles tentarem. Eu acho que eles vão se surpreender o quanto difícil isso é.” Ele estava ainda encarando, mas agora com admiração, e algo como orgulho. “Talvez você tenha tempo para gastar a sua vida com medo,” ela concluiu. “Eu não.” Ela voltou ao seu sorvete, deixando ele assimilar o que ela disse em um silêncio aturdido por um minuto. “Eu imagino que eu mudei,” ela observou entre as mordidas. Agora ele sorriu. “Não,” ele disse. “Eu sempre soube que você era dessa forma. Agora você sabe, também. E agora você sabe por que eu me recusava a desistir de você.” “Obrigada,” ela respondeu com um sorriso. Outro momento preenchido-por-um-sorvete passou, e então ele notou casualmente, “Você parece como se você estivesse se exercitando.” “Eu estou. Você parece como se não estivesse dormindo.” “Eu não estou.” Ela tomou a sua última mordida do seu sorvete e enxugou a sua boca, então estendeu sua mão e apertou a mão dele levemente. “Eu sinto muito que isso tem sido tão difícil,” ela disse. “Quantos Elite você perdeu ao todo?” “Sete no total. Oito, contando com Helen. E quarenta e cinco humanos. Há sempre...” Ele abaixou a sua colher, empurrando o copo para longe, dizendo, “Houve um menininho. Ele e sua mãe foram mortos juntos. Houve pelo menos três outras crianças também, mas eu nunca vi os seus rostos. Esse...” Ela apertou os seus dedos mais fortemente. “Ele lhe lembrou o seu filho.” “Sim. Não fisicamente, realmente, apenas aquela inocência. Eles perdem isso tão cedo, mesmo sem os monstros na noite vindo rasgar as suas gargantas. Não há razão para isso. Nós não temos que acabar com vidas para sobreviver, deixar sozinhos os pequenos. Apesar do que eu sou, eu nunca entendi destruição pela sua própria causa.” Ela sabia, ouvindo ele falar, que ele não tinha dito a ninguém o que ele estava dizendo a ela. “Mas você os parou,” ela disse. “Ao menos por agora. E se eles sabem o que é melhor pra eles, eles vão deixar a cidade e não olhar pra trás.”


Ele sorriu um uma triste ironia. “Eles nunca sabem o que é melhor pra eles.” Ele brincou com a colher novamente, deixando a maior parte do sorvete derretido, gotejar dela para o copo. “Eu falhei com eles, Miranda. Cinqüenta e três pessoas morreram sob os meus cuidados.” “Poderiam ter sido muito mais,” ela disse a ele, tentando tranqüilizá-lo com ambas as palavras e sua energia. “Nem mesmo um Prime pode estar em todos os lugares de uma vez. Há apenas um de você para cuidar de todos nós. Nem mesmo você pode ser perfeito.” Ele suspirou. Ela tinha ouvido esse suspiro antes. “Eu acho que eu terminei,” ele disse. “Você quer um pouco antes que eu jogue o resto no lixo?” “Claro,” ela disse. Ela começou a alcançar a colher, mas ele ergueu isso primeiro e a segurou com um pequeno monte capturado do seu copo. Ela se inclinou para frente e abriu sua boca, lábios fechando em volta da colher, mas ela mal sentiu o gosto do sorvete; tudo que ela podia sentir eram seus olhos, e algo neles a fez estremecer por dentro, um calor de líquido negro espalhando da sua barriga e todo o trajeto descendo até os seus pés. “Vamos,” ele disse suavemente. Eles caminharam de volta ao seu apartamento perto o suficiente para se tocar, mas não se tocando; Miranda tentou não fazer isso a deixar insana. Era tão bom apenas conversar com ele novamente; ela colocou aquele momento de calor entre eles para fora da sua mente e caiu dentro do ritmo da conversa. Ele perguntou sobre a sua música e ouviu atentamente enquanto ela recontava a incapacitante ansiedade das suas primeiras apresentações e como ela aprendeu a usar o seu dom para melhorar, mas não violar, a experiência da platéia. Ela podia reunir emoções superficiais e as trocar pouco a pouco. Isso levou um pouco de prática. Eles conversaram sobre os novos testes da Elite e sobre a frustração de Faith com os novos recrutas, que não eram nem de perto bons o suficiente para realmente substituir os mortos. Miranda disse a ele que Faith vinha vê-la toda semana ou duas, e ele não pareceu surpreso. Ele contou a ela mais sobre a rede de sensores e a incursão no quartelgeneral dos rebeldes. “Espere...você tem um deles ficando no Haven?” Ele assentiu, e ela teve a sensação de que isso era um assunto que ele já defendeu centenas de vezes, na maioria deles com Faith. “Ela está trancafiada.


Assim que ela ficar bem o suficiente para sobreviver, eu vou descobrir o que ela sabe e então a libertar.” Miranda sorriu com isso. “Você gosta de ter os ‘cães errantes’, não gosta?” Ele parou na luz do sinal de trânsito apenas como um golpe de vento gelado fazia o seu trajeto descendo do céu para a rua, e ela estremeceu um pouco em seu casaco, desejando que ela estivesse vestindo algo mais pesado. David estendeu sua mão e pegou a dela. “Aqui,” ele disse. Ela sentiu um surto de calor viajando do corpo dele para o dela, da maneira que ele tinha feito na noite em que ele a encontrou no beco, mas dessa vez não era apenas energia. Quando o ANDAR80 acendeu e eles atravessaram a rua, ele não largou a sua mão, e ela não afastou. “Não é o mesmo,” ele disse a ela, voltando ao assunto. “Eu não confio nessa mulher. Tudo que nós sabemos sobre ela é que Ariana a odiava. Não é um toque de aprovação. Até agora ela não faz nada além de se alimentar e dormir.” “Por favor, seja cuidadoso,” ela advertiu. “Não se preocupe, Miranda. Não foi toda mulher que eu conheci que me cegou.” “Oh?” “Não,” ele respondeu, olhando para cima para o céu na noite. “Apenas aquelas com olhos verdes, com vozes como mel e chuva.” Ela deixou as palavras correrem por ela, deixando uma alegria quase boba na sua caminhada, mas então franziu o cenho, tentando entender o que ela estava sentindo. Eles estavam realmente se paquerando? A abertura repentina dele á deixou nervosa, embora ele tenha sido aquele que a beijou, e ele apenas tenha pegado sua mão. Ela não sabia como reagir. Por meses ela quis vê-lo, e agora ele estava aqui, á tocando, e ela sabia que se ela o convidasse a entrar, ela poderia ter muito mais que isso. Repentinamente o que tinha sido tão óbvio não fazia mais sentido no seu coração. Eles tinham acabado de alcançar o seu apartamento, e ela estava cavando com dedos trêmulos pelas suas chaves, sentindo o começo de indefesas lágrimas em seus olhos confusos. Ela pensou em como tinha se tornado rígida quando Drew a beijou, e como por meses o pensamento de mãos masculinas em sua pele a fazia correr para o Xanax81. Como na Terra poderia David ser a exceção para esse medo? Apenas porque ele não era humano? 80

(os sinais de trânsito para pedestres nos EUA, são duas luzes; uma ANDAR em verde e a outra NÃO ANDAR em vermelho.) 81 (Xanax –é um anti-depressivo usado no tratamento de ansiedade, síndrome do pânico.)


“Miranda,” ele disse, gentilmente pegando as chaves dela, “Fale comigo.” Ela sacudiu a sua cabeça e se empurrou passando por ele entrando no apartamento, tirando o seu casaco e o visando cegamente no gancho. Ela errou e o casaco se amassou no chão. David o pegou e o pendurou, junto com o seu próprio, e observou ela se sentar no sofá, a sua preocupação palpável na sala. Ele claramente pensou que havia feito algo errado. “Eu não sei o que eu estou fazendo,” ela desabafou. “Tudo bem,” ele concordou, e veio a se sentar ao lado dela, deixando uma distância suficiente entre eles que ela não se sentisse encurralada. “Continue.” Essa era uma das coisas que ela amava sobre ele – ele a ouvia. Ele não tentava empurrar seus próprios sentimentos e experiências nela da maneira que muitas pessoas faziam. Ele não estava simplesmente esperando pela sua vez de falar. “Você encontrou o meu bilhete,” ela disse. “Você deve ter encontrado.” “Eu encontrei.” Ele sorriu. “É por isso que eu estou aqui. Eu prometi a você que eu viria.” “Mas não é seguro. Nunca será seguro. Você não era aquele que não queria me colocar em perigo? O que é isso, então? O que você está tentando fazer comigo?” Ela odiava a súplica na sua voz, mas ela não podia evitar. “Você não entende como isso parece? Vendo você assim, ouvindo a sua voz, tomando sorvete com você como se nós fôssemos um casal normal – isso parece como se fosse á única coisa que estava faltando em todos esses meses. Eu posso viver a minha vida sem você, sim. Mas eu não quero. Você está aqui apenas pra me mostrar o que eu não posso ter?” “Eu não faria isso,” ele insistiu. “Eu nunca machucaria você. Eu apenas...eu tinha que ver você. Faz tanto tempo...e você...Miranda, você esteve assombrando os meus pensamentos toda noite desde que você partiu. Eu não posso sequer abrir a porta do seu quarto sem meu coração quebrar todo de novo. Eu disse a mim mesmo uma vez atrás da outra que era apenas melhor fazer uma ruptura limpa, mas eu não acho que isso seja possível para nós.” Ele pegou as suas duas mãos e prendeu seus olhos, e ela sentiu todas as suas palavras em direção a ela, corpo e alma, a emoção a sacudindo por dentro. “Eu estou aqui porque eu não sei mais o que fazer. Eu não sei o que vai acontecer ou onde ir daqui. Eu sei apenas...”


Ela segurou sua respiração, esperando, seus olhos tão profundamente presos nos dele que ela podia ouvir qualquer pensamento através dos escudos dele e do seu próprio. Ela esperou...ela esperou... Ele respirou fundo. “Eu estou apaixonado por você, Miranda Grey. Eu me apaixonei tão profundamente por você que eu sequer vejo mais as estrelas, mas isso não importa – você é toda a luz que eu preciso.” Ela estava chorando, ela podia sentir, mas ela não tentou impedir. “Cafona,” ela disse com uma fraca gargalhada. Ele sorriu de volta, levantando uma mão e traçando seu lábio inferior com seus dedos. “Você não me deu tempo pra praticar,” ele disse. “Deixe-me tentar de novo: ‘Eu não negaria você; mas, por esse bom dia, eu renuncio a grande persuasão, e em parte de salvar a sua vida, pelo que eu estava dizendo a você que eu estava em extinção.*’” Miranda sentiu um estranho surgir de algo no seu coração, algo que ela quase não reconheceu no início, até que ela percebeu que era uma piada. Sua voz firme mas a emoção clara, ela citou de volta, “ ‘Paz! Eu vou parar a sua boca!82’” As mãos dela deslizaram subindo nos seus antebraços, e ela se inclinou e colocou seus lábios nos dele. Enquanto ele retribuía o beijo ela sentiu suas mãos contra o seu rosto, polegar roçando suas lágrimas para longe. Ela se moveu nos braços dele, seus lábios abriram, boca buscando boca com um desejo meio temeroso. As mãos dele esticaram em sua cintura e a ergueram para cima do seu colo. Miranda se entregou ao seu beijo, se afogando nele e grata por afundar, o gosto dele quase muito para suportar. A pele dele estava fria ao início mas se aqueceu quanto mais ela tocou, e antes dos seus longos dedos estarem procurando pelos botões dele, tentando encontrar seus caminhos e removerem outra barreira que ficava entre eles. Ele ergueu a sua boca da dela e começou a trilhar beijos juntos da sua mandíbula, em direção a sua orelha, a suavidade da sua respiração mandando tremores em todo o caminho de descida em direção aos dedos dos pés dela. As mãos dele se moveram para cima para a bainha do seu suéter, deslizando a extremidade interna do seu jeans até que elas encontrassem a pele nua. “Espere,” ela sussurrou.

82

(trechos da comédia de Shakespeare ‘Muito barulho por nada’ ou no original “Much Ado About Nothing”)


Ele recuou imediatamente, suas pupilas dilatadas imensamente a luz da lâmpada. “Me desculpe,” ele disse um pouco sem fôlego. “Você não está pronta.” “Não é isso.” Ela se afastou e ficou de pé, grata que seus joelhos não fraquejaram. “Estará amanhecendo em poucas horas. As janelas do quarto são bloqueadas. É seguro pra você ali?” Ele olhou para ela, a vulnerabilidade em seus olhos a fazendo doer. “Você está me convidando a ficar?” “Sim.” Ele se levantou graciosamente e se afastou dela, e por um momento ela pensou que tinha pisado além da linha, mas ele apenas falou com o seu com. “Harlan...Eu não estarei voltando ao Haven essa noite. Eu vou ligar pra você no crepúsculo.”

“Sim, Mestre.” Então David ergueu os seus olhos pra os dela novamente, e, sorrindo, ele alcançou a sua mão. Ela a pegou e, acendendo as luzes enquanto ela caminhava, o conduziu ao quarto. Ele a tinha em seus braços antes mesmo deles sequer atravessarem o limiar da porta, e ela se virou em seu abraço, o beijando novamente, dessa vez duro. A língua dele serpenteou dentro da sua boca, e ele teceu uma mão dentro do seu cabelo para segurá-la contra ele enquanto ela trabalhava impacientemente na camisa dele, empurrando-a para fora dos seus ombros com mãos passando desajeitadas com urgência. Algo selvagem apossou-se deles dois, e nenhum deles tinha a intenção de lutar contra isso. As unhas delas enfiaram-se em seus antebraços tão forte que ela mal o ouviu rosnar baixo em sua garganta, e ele manobrou as costas delas em direção a cama, tirando o seu suéter e a T-shirt e sutiã com isso, mal rompendo o beijo. Não foi até quando ela sentiu o ar quente do quarto em suas pernas nuas que ela prendeu seu fôlego e se fez desacelerar. Ela olhou para cima e prendeu seus olhos enquanto ela se abaixava na cama, então ofereceu sua mão novamente e chamou ele junto a ela, estendendo-se rosto a rosto, suas mãos se movendo mais uma vez, mas mais lento, com mais cuidado. Ela testando os fortes músculos do seu torso, primeiro com suas palmas e depois com seus lábios, e ele a deixou definir o ritmo, a assistindo, silenciosamente.


Finalmente, ela abriu e tirou os jeans dele, e o seu coração começou a trovejar em seu peito e garganta enquanto ela deixou os seus olhos percorrerem sobre o comprimento e largura do vampiro na sua cama. As mãos dele tocaram o seu rosto. “Você está com medo?” Ela engoliu, e no início negou com a cabeça, mas depois assentiu. “Eu não quero estar.” Ele se ergueu e a puxou mais perto, o cheiro e calor da sua pele a fazendo ficar um pouco tonta; ela se lembrou dele falando sobre a aura que exalava da sua espécie, e se perguntou se era isso. A boca dele sobre a sua clavícula e descendo para o seu ombro, e ele murmurou em seu ouvido, “Tudo que você tem que dizer é ‘Pare.’” “Eu não quero parar.” Ele sorriu. “Então feche seus olhos, meu amor, e deite de volta.” Ele começou uma lenta, suave exploração pelo seu corpo, beijando a sua garganta e seus lábios novamente enquanto seus dedos curvaram-se em sua calcinha e deslizaram-se para baixo sobre seus quadris; ele se moveu para baixo e beijou a pele exposta, respirando quente na sua barriga. Ela tentou fechar seus olhos como ele tinha dito, mas ela estava muito hipnotizada observando a maneira que ele se movia – quase serpenteando, quase como um gato, nada como um homem humano. Entretanto ela não estava com medo dele; não, ela nunca realmente esteve. Havia uma reverência no toque dele, mas também uma profunda necessidade que ela podia sentir surgindo dele como o brilho da luz do sol. As fortes linhas pretas da sua tatuagem pareciam viver enquanto ele se curvava ao redor dela, uma mão se fechando no seu pescoço para trazer a sua boca para cima para a dele, a outra deslizando entre eles, sobre a curva do seu estômago, e descendo. Ela gemeu dentro da boca dele e arqueou para cima contra sua palma. Deus, fazia tanto tempo... Ela envolveu uma perna ao redor da sua cintura e pressionou completamente contra o corpo dele, amando como eles pareciam se encaixar um no outro, como se o seu quadril tivesse sido feito exatamente para se prender no dele, e seus braços estavam no perfeito comprimento para enroscar-se em volta das suas costas. Seus dedos mergulharam gentilmente dentro dela, e ela choramingou, a sensação quase não profunda o suficiente, não realmente perto o suficiente.


Se revirando, ela saiu debaixo dele e o empurrou de costas. Ela se inclinou para baixo para beijá-lo profundamente, virando os seus quadris para trás, e se baixando em direção a ele com uma lentidão dolorosa, os unindo centímetro por escorregadio centímetro. Agora ele gemeu, e se sentou, a deixando se levantar e cair contra ele com seus braços em volta da sua cintura. Ela agarrou em suas costas e bombeou para cima e para baixo, olhos fechados apertados em concentração...então em um quase-grito de frustração. Sozinho, a condução profunda de prazer dele não era suficiente para ela. Ela precisava de mais. “Eu quero tudo de você,” ela sussurrou roucamente. “Por favor.” Antes que ele pudesse sequer aparecer com as palavras para uma pergunta, ela abaixou sua cabeça e o mordeu forte onde seu pescoço se encontrava com seu ombro. Ele moveu tão rápido que ela não pode reagir – um raivoso rosnado animal rasgou da sua garganta, e ele a inverteu em suas costas, movendo-se dentro dela tão forte que ela chorou alto e deixou sua cabeça cair para trás, expondo sua garganta. Agulhadas de uma dor quente enfiando-se em sua pele e ela sentiu a boca dele apertar no seu pescoço. “Sim,” ela gemeu, puxando ele de volta em um ritmo com o seu corpo, segurando a cabeça dele contra ela com uma mão. Ele entrava e retirava-se em uma lenta ondulação, e ela se entregou completamente, caindo sobre um penhasco depois do outro, seu corpo tremia ao redor dele, uma super-nova83 acendendo em seu coração e rasgando o universo em pedaços. Os tremores secundários rolavam por ela eternamente, mas distante ela estava consciente do movimento, dele se esticando para baixo ao lado da cama por algo. Ela ouviu um click e viu o cintilar de uma lâmina na escuridão. Seus olhos se focaram nas gotas vermelho-brilhantes que reuniam ao longo de um corte raso, pairando sobre a sua boca. Timidamente, ela se esticou para cima e lambeu uma do caminho, ganhando um tremor tão violento quanto o seu próprio. Ela provou novamente, deixando o salgado-doce queimar na sua língua, então ergueu os seus lábios para a sua pele, e sugou. Ela sentiu ele se mover dentro dela novamente, dessa vez mais lentamente que cada minúsculo movimento ecoou através do seu corpo. O coração dele

83

(super-nova - é o nome dado aos corpos celestes surgidos após as explosões de estrelas.)


estava batendo forte contra os seus seios, e ela podia cheirar o seu sangue na respiração dele. Isso só fez ela querer mais. Uma vez após a outra, eles se encontraram, algumas vezes arranhando e mordendo, algumas vezes com deliciosas provocações de antecipação. O tempo perdeu o seu propósito, assim como tudo mais além dos dois. Ela encontrou a faca embaixo do travesseiro e abriu a pele dele novamente, e os dentes dele acharam a aquisição nos dela também, e eles beberam um do outro em mordidelas e goles, saboreando, uma vez após a outra. Quando ao fim ele entrou em colapso em cima dela, suor ensopando os dois e a mistura de cheiros e gostos dos seus corpos pesando no ar, ele deitou sua cabeça no ombro dela, sacudindo, e eles se seguraram um no outro apertadamente enquanto as horas da tarde passavam do lado de fora e o mundo seguia sem nenhuma idéia de que duas estrelas rebeldes tinham colidido e nada nunca, nunca seria o mesmo. ***

Frio, água negra a engolindo, e ela tentou gritar...mãos na escuridão, gargalhadas... Miranda acordou com um sobressalto, lutando contra uma um assaltante invisível que acabou sendo o consolador, sua respiração e coração ambos acelerando. Ela se sentou na escuridão e tentou se acalmar, rasgando-se entre a urgência de fugir e a urgência de atacar. Ela tateou estupidamente para o lado e ficou chocada quando sua palma encontrou algo sólido. A memória retornou. Ela engasgou. David estava dormindo ao lado dela, e os lençóis sobre seus quadris, a fraca aquosa luz do dia entrando através da porta do quarto apenas mal perfilando a linha do seu corpo e a luz do Signet uma fraca vermelha banhando os lugares onde deveriam estar cortes escuros na pele. Eles já haviam se curado. Vampiros eram dorminhocos durante o dia; ele nem sequer se remexeu com os movimentos dela. Ela se sentou ali o observando por um momento enquanto ela se estabelecia – era muito mais fácil do que ela esperava graças a atração gravitacional do esquecimento dele. Embora, ela estivesse muito-acordada e ansiosa...sem mencionar que ela tinha que fazer xixi. Ela saiu da cama e, estremecendo de como doía e como os seus músculos estavam tensos, foi ao banheiro, lavou seu rosto, e tentou colocar algum sentido de volta em seus pensamentos.


Ela se olhou no espelho. Havia três marcas de mordidas em sua garganta, uma na esquerda e duas na direita, e embora os buracos sozinhos estivessem se fechando, havia sangue seco em seu pescoço, e uma pálida sombra roxa de contusões formando em seus seios. Ela sorriu um pouco e tocou cada um, sentindo-se tremer por dentro com a memória. A nebulosidade se recusava a deixar a sua mente mesmo depois dela espirrar água fria em seu rosto e se limpar com uma toalha de rosto – ela se sentia quase doidona,com tremores fracos em todos os seus membros, mas era uma espécie de estranheza agradável. Ela voltou para o quarto para encontrar ele mudado de posição, se virando com o rosto para longe da porta; ela sorriu novamente, relembrando-se da seda da sua pele contra os lábios dela e a maneira que a tatuagem tinha se erguido, apenas um pouco como a maneira que ela esperava que isso seria, como um mapa em alto-relevo de tinta. Ela captou a visão da sua faca no criado-mudo. A lâmina ainda estava aberta de uma terceira...quarta vez?, e vendo isso quase a fez cambalear para trás enquanto a realização do que eles haviam feito atingiu com força.

Eu bebi sangue. O sangue dele. É por isso que eu me sinto tão estranha. Oh meu Deus, eu bebi sangue. E eu gostei. Miranda deslizou em cima da cama e se curvou contra as costas dele, beijando o seu ombro e envolvendo um braço em volta dele para pressionar a sua mão contra o seu calor. Ela correu sua mão sobre seu peito, depois por toda a sua lateral, suspirando feliz. Ele tinha se esfriado em seu sono, mas isso não a incomodava; os cobertores eram quentes, e ela estava exatamente onde ela queria estar, e se ela fosse dar a apropriada atenção, ele estaria quente novamente em segundos. Ela considerou fazer isso também, mas havia muito rolando na sua mente...e tão cansado quanto ele parecia ela não queria acordálo ainda. Ela não estava surpresa com os pesadelos. O que a surpreendeu era que eles não tinham vindo até ela estar adormecida. Não havia flashbacks, sem hesitação real exceto no início – por algumas horas suas memórias tinham sido banidas do passado onde elas pertenciam. Mas agora havia algo novo para se temer. Ela podia sentir isso percorrendo por ela. Era como se cada célula do seu corpo tivesse se aberto para deixá-lo entrar, e algo escuro e faminto estava se esticando dentro dela, acordando


lentamente de anos de sono. Ela sabia das regras – se isso acontecesse novamente, ou se ela encorajasse isso, ela mudaria. Para sempre.

Não está muito tarde. Em alguns dias tudo vai voltar ao normal. Isso não tem que acontecer novamente. O corpo em frente a ela remexeu, músculos flexionando e revirando, e ele se virou para encará-la, bem acordado com tristeza em seus olhos. “Não se preocupe,” ele disse suavemente. “Isso não vai.” Arrependimento rolou por ela, mas ela disse, “Como você...” “Eu posso ouvir você,” ele respondeu. “Abra um pouco os seus escudos.” Ela fez como ele disse, partindo a barreira como uma cortina apenas o suficiente para deixar a energia dele entrar, e instantaneamente sua mente foi inundada com pensamentos e imagens, memórias...e dor. Ele esteve acordado tempo o suficiente para sentir a sua reação ao que havia acontecido. O seu medo tinha frustrado qualquer esperança embrionária que ele teve. “Não,” ela disse. “Não, eu não quis dizer isso. Eu...eu apenas me sinto tão estranha...eu....” Ela não conseguia encontrar as palavras. Era difícil de pensar com a mente dele tão perto da dela, o sangue entre eles tão forte que doía. Tudo o que ela sabia era que ela não queria que ele ficasse triste, e que ela precisava que ele entendesse. Ela fechou seus olhos, não querendo bloqueá-lo para fora mas a sua mente cambaleando até mesmo de uma ligação de poucos segundos. “É um pouco esmagador,” ele afirmou. “Mas tem suas vantagens.” “Oh...como o que?” Ela o sentiu tocá-la; como os dedos dele envolviam ao redor do seu ombro, sua energia pulsou através dela em uma carícia física, centrado na mão dele e se espalhando para os seus dedos dos pés. A mão dele se moveu em volta do seu coração, e dessa vez ele mandou emoção juntamente com o prazer. Parecia como se ele a tivesse tocando em todos os lugares de uma vez, dentro e fora, e a respiração de Miranda ficou presa em seu peito. Ela não podia evitar além de responder em espécie, agarrando a sua mão nas suas e projetando as suas emoções para dentro dele. Ela sentiu ele tremer ligeiramente. “Você é tão forte,” David disse. “Eu não acho que você percebe até mesmo um décimo do que você pode fazer.” Ela sorriu. “Eu estou começando a perceber.” Ela respirou lentamente, finalmente levando o tempo para realmente sentir o que estava diferente, e encontrou que isso não era tão perto de assustador quando ela tinha inicialmente pensado – era escuro, sim, mas isso ainda era ela. O que quer que


tenha mudado dentro dela, ela podia ainda escolher o que fazer com isso. Ela pensou nos vampiros do Haven – sobre aquele nos braços dela naquele momento – e como eles usavam o que eles eram para proteger, não abusar, mesmo embora o poder entre eles fosse cem vezes mais escuro e impregnado em todas as suas vidas. Certamente, se eles podiam fazer isso, ela podia...e, ela percebeu, que ela queria. Algo sobre isso parecia certo pra ela. Ela tinha gasto a sua vida toda se sentindo fora de lugar, fora do passo do mundo, nunca se sentindo completamente viva...mas agora, ela estava começando a acordar para quem ela poderia ser, e quem quer que fosse essa nova Miranda, ela queria mais. “Me desculpe se eu pirei,” ela disse. “Isso é...é muito para assimilar.” “Eu entendo.” Ela podia sentir que ele entendia; ela podia sentir, de fato, que ele estava um pouco assustado com ele mesmo. Ela se inclinou para descansar a sua testa contra a dele, e por um momento eles simplesmente respiraram na presença um do outro, tomando força a partir disso como se a energia deles viesse de uma única fonte e tudo que eles tinham que fazer era compartilhá-la. “Quanto tempo você pode ficar?” ela perguntou. “Apenas até o pôr do sol...eu tenho muito esperando por mim quando eu voltar.” “Então isso nos dá, o que, duas horas?” “Duas horas e meia até ser realmente escuro o suficiente para eu ir.” “Bom,” ela disse, e o beijou. “Me mostre o que mais nós podemos fazer agora.” Ele gargalhou contra os seus lábios e a atacou, idéias florescendo em sua mente com ânsia de um adolescente. Ela gargalhou, também, pegando a sua boca novamente, esquecendo-se dos músculos doloridos, do futuro, e tudo mais, rendendo-se a perfeita doçura do desejo. *** Ele estava, de fato, uma hora atrasado para partir – entre as suas últimas rodadas de fazer amor, no qual realmente se tornaram duas vezes quando eles estavam no chuveiro, e a caçada de roupas espalhadas, e a saudade de não deixar o seu lado, ele deixou Harlan esperando no ponto de encontro até quase oito P.M. Eles estavam na porta da entrada abraçados mais uma vez, nenhum querendo ir embora. “Eu vou ter que fazer você me prometer novamente?” ela perguntou no seu pescoço.


“Não,” ele respondeu. “Eu vou voltar. Talvez em alguns dias, mas...Miranda...” Ele riu, quase entrando em pânico com a certeza que ele sentia. “Eu não poderia ficar longe de você agora nem se eu quisesse.” “Há algo que eu deveria fazer, ou tomar cuidado? Eu devo ficar fora do sol?” “Isso não vai machucar você, mas até o sangue se queimar para fora do seu sistema você provavelmente vai estar extra sensível a luz e talvez mesmo ao som. Seus sentidos ficarão mais intensos em algumas vezes, e outras vezes normais. Apenas se estabeleça, e ao final da próxima semana você ficará bem.” “Não,” ela disse, inclinando a sua cabeça para trás para encontrar os seus olhos. “Eu estarei normal, mas não estarei bem. Eu não estarei bem até eu acordar perto de você toda noite.” Ele a abraçou até mesmo mais apertado. Não havia utilidade em negar isso. Ela teria o que ela quisesse dele, e ele se renderia agradecido a sua vontade. Ele podia lutar com isso eternamente e condená-los ambos a miséria, ou ele poderia ouvir a parte dele que sabia, profundamente, que ele pertencia a ela. Talvez o Signet a aceitaria, talvez não...mas de um jeito ou de outro ele teria Miranda ao seu lado por tanto tempo quanto ela estivesse disposta a ficar com ele. “Eu sei. Apenas...me dê um pouco de tempo. Deixe isso passar, enquanto eu tenho certeza que o Haven é seguro pra você. Então eu vou levar você pra casa.” “Tudo bem.” Ela mordiscou sua orelha levemente, e isso era tudo o que ele podia fazer para não arremessá-la contra a porta e tomá-la novamente – ele não conseguia ter o suficiente dela. Ele tinha gasto um dia inteiro bebendo do seu corpo e ele já estava viciado. Eles se beijaram novamente, profundamente. Quando ele tomou um passo para trás, tentando quebrar o contato tempo o suficiente para ir embora, ele disse, “Nesse meio tempo...dê a sua despedida para a luz do sol.” Ela rangeu. “A luz do sol pode ir pro inferno.” Ela se moveu adiante e beijou a sua testa, depois seus lábios, depois o oco da sua garganta. “Eu verei você logo novamente.” Ele apertou as suas mãos, depois soltou, e se curvou para ela. “Como você desejar, minha Dama.”


Capítulo

F

15

AITH JÁ ESTAVA SORRINDO QUANDO ELA ANDOU PELO corredor para a sala de trabalho, e quando ela entrou, ela teve que se conter de gargalhar alto. O Prime estava na sua cadeira repassando os relatórios da rede, mas mesmo com a sua assombrosa proteção psíquica, as extremidades da sua aura estavam vazando e toda a sala estava saturada com como ele estava se sentindo. Ela teve que dobrar a espessura de seus próprios escudos para se manter de ficar ligada e arrastou Samuel para fora do armário de vassouras. “Mestre? Você queria me ver?” Ele olhou para cima do computador, viu o seu rosto, e franziu o cenho. “Algo na sua mente, Segunda?” Ela desistiu e irrompeu gargalhando. O Prime sacudiu sua cabeça, parecendo provocado, mas apenas na superfície. Ele estava certo de estar tendo problemas em manter a preguiçosa satisfação fora da sua expressão. “Vá em frente,” ele disse, mais bem-humorado do que ela nunca o tinha visto. “Tire isso do seu sistema.” “Desculpe,” ela disse, não realmente arrependida. “Eu acredito que você está se sentindo...refrescado essa noite?” Um olho rolou. “Eu não imagino que você está guardando isso pra si mesma.” “Eu não disse uma palavra a ninguém,” ela insistiu, “mas, Mestre, você nunca ficou fora um dia todo. As pessoas são obrigadas a falar. Você sabe como


é esse lugar – e metade da Elite tem um banco de apostas acontecendo de quanto tempo levaria até vocês dois dormirem juntos, então...” “Você está brincando, certo?” “Em parte. Não é um banco de apostas exatamente mas a Elite Cinquenta e Um me deve vinte pratas.” Ela se sentou, notando que enquanto ele estava trabalhando o seu pé estava apoiado em uma segunda cadeira, algo que ele nunca tinha feito. Ele estava também parecendo um pouco amarrotado ao invés do seu passado-sob-medida. “Eu quero a segurança dobrada no apartamento de Miranda,” ele disse. “Eu não tenho razão para acreditar que eu fui seguido dali, mas eu não vou arriscar.” “Como você desejar.” “Também eu não estou feliz com a performance dos sensores do setor vinte-e-oito-G, então tenha um time montado para sair amanhã a noite e substituir várias das unidades. Vai me levar até lá para pegar os dois últimos construídos. Você tem algo novo pra me reportar?” “Não, Mestre. A cidade esteve quieta desde a incursão.” “E sobre Bethany Blackthorn?” Faith queria argumentar os seus protestos novamente, mas não fez; uma coisa que ela sabia sobre ele era que ele odiava ser incomodado, e que ele sempre ouvia a primeira vez, mesmo se ele não concordasse. Ele podia citar palavra por palavra as conversas que eles tiveram anos atrás. Se repetindo iria apenas aborrecer ambos. “Ela está de pé e se movendo nas redondezas mas não fez qualquer movimento em direção a querer partir. Os guardas disseram que ela é um pouco fantasmagórica, mas não é um problema.” Ele assentiu, seus olhos de volta no monitor. “Eu gostaria de pedir um favor pessoal, se eu puder.” Ela guardou a sua surpresa para si mesma. “Sim, Mestre?” “Eu gostaria que você fosse ver Miranda e ter certeza de que ela esteja bem, talvez várias vezes essa semana. Me deixe saber imediatamente se ela estiver exibindo qualquer sintoma potencialmente perigoso.” “Perigoso? Perigoso como – oh.” Faith assentiu, entendendo. “Vocês trocaram sangue.” “Mais do que nós deveríamos. Eu estou preocupado que ela possa ter uma reação mais forte porque ela é tão extraordinariamente psíquica e porque eu sou, bem, eu.”


“Eu ficaria feliz de checá-la,” Faith concordou. “Eu estava indo de qualquer maneira então assim eu poderia ter os detalhes picantes.” “Você é incorrigível.” “Malditamente certo.” Algumas horas mais tarde quando Faith estava fora de serviço e foi para a cidade para caçar, ela dobrou de volta mais tarde e se apresentou na porta de Miranda, tentando não aparentar tão afetada quanto ela se sentia. Miranda não respondeu na primeira batida, e quando ela abriu a porta, todo o humor de Faith foi drenado dela. “Bom Deus,” Faith disse. “Você está horrível.” Miranda acenou para ela entrar e retornou para o sofá onde ela esteve acampada – ela estava vestida em desbotadas calças de pijama do Mickey Mouse e uma regata preta e tinha várias garrafas de água vazia e uma caixa de pizza na mesa de café em frente a ela. A tampa estava aberta o suficiente para que Faith visse que ela tinha dado uma mordida. “Tudo bem, você tem que comer,” Faith a informou severamente. “Você precisa de proteína e ferro ou você vai se sentir pior no final da noite. Você tem algum polivitamínico por aqui?” “Banheiro,” era a resposta vaga. Faith buscou o frasco e pressionou duas cápsulas na mão de Miranda. Ela as tomou sem protesto. Então Faith foi para a cozinha e cavou através da geladeira até ela aparecer com meio burrito gigante da Freebird. Ele estava carregado com feijões, arroz, e vegetais e não poderia ser tão forte em seu estômago com todo esse queijo. Com sorte ele parecia ter apenas dois dias de fabricação, e um minuto no microondas restaurou algo da sua antiga glória. “Aqui. Coma isso. Pequenas mordidas.” Miranda parecia aliviada, pra variar, de ter alguém para dizer a ela o que fazer. Ela mordiscou as bordas da tortilha e então conduziu algumas pequenas mordidas. “Ele não estava brincando quando ele disse que vocês trocaram muito,” Faith observou, sacudindo a sua cabeça. “Algumas outras mordidas e você estaria em sérios problemas. Ele não deveria ter deixado você aqui assim.” “Eu não acho que ele sabia que era tão ruim,” ela murmurou. “Eu estava bem quando ele partiu. Eu voltei a dormir e quando eu acordei tinha a pior ressaca da minha vida.” “É um inferno de um chupão que você tem ai. Coma.”


A mão de Miranda se moveu para cima para tocar em uma das mordidas no seu pescoço, e um tipo de olhar sonhador passou pelo seu rosto antes dele ser substituído por uma dor aguda que a fez cobrir seus olhos. “Essa não é a pior parte,” ela disse. “Mais cedo quando eu saí da cama...eu me senti tão...deprimida. Como se eu não quisesse sequer mais respirar. Eu ainda me sinto assim, só que não tão mal. Se eu soubesse como chegar no Haven daqui, eu teria andado a pé.” Ela enxugou seus olhos. “Eu fiz algo estúpido – olhe.” Miranda colocou para fora a sua língua, e Faith viu um corte vermelho brilhante. “Como você fez isso?” Ela alcançou seu bolso e retirou uma familiar faca – esculpida em forma de uma ave de rapina com um punho de ébano e com um dobramento na lâmina serrilhada ao longo da sua metade inferior. Miranda sacudiu o punho e a lâmina estalou para fora, brilhante e letal. “Havia sangue nela,” ela explicou. “Eu lambi.” Faith olhou para ela. “Jesus.” “Eu nem sequer percebi o que estava fazendo. Eu vi o sangue, e eu apenas...precisava dele.” “E como você se sentiu depois disso?” “Além do fato de que a minha língua estava sangrando? Maravilhosa, por um minuto. Depois eu surtei e tomei um Xanax.” “Eu não posso dizer que culpo você. Olhe, Miranda, eu sei que você se sente como o inferno agora, mas assim que você comer e descansar você deverá se sentir muito melhor amanhã. Você provavelmente vai se sentir melhor do que você nunca se sentiu em sua vida.” “Virar um vampiro é tão ruim como isso?” “Oh, é muito pior. Mas se for feito direito você não estará consciente na maior parte do tempo. Nesse momento o problema não é muito do quanto e sim cujo sangue você bebeu – por uma coisa, quanto mais forte é o mestre, mais rápida e mais intensa é a mudança. Por outra, vocês dois já têm uma conexão, então isso depende disso, e agora você está passando pela abstinência.” “Deus, que patético,” Miranda murmurou. “Eu estou ansiando. Eu realmente estou ansiando.” “Poderia ser pior. Alguns de nós não têm sorte o suficiente para ser transformado por alguém que nos ama. Imagina se o seu mestre forçou você, então abandonou você, sem sequer dizer a você as regras que você tinha que viver.”


Os olhos de Miranda se alargaram em horror simpático. “Foi o que aconteceu com você?” “Não. Isso aconteceu com David.” “Deus.” Miranda tomou um longo gole de uma garrafa metade-vazia de água no seu cotovelo. “Você amava o seu mestre?” “Não. Eu a paguei. Eu amava o cara e eu mudei por ele...mas assim que eu me transformei, ele deixou de me amar, ao menos não por muito tempo.” Faith suspirou. “Se lembra quando eu disse que amor não era uma boa razão para se tornar um vampiro? Eu falei por experiência própria.” “Sinto muito.” “Isso foi há muito tempo atrás. E no final, eu estava grata. Toda essa miséria me trouxe aqui, para a vida que eu sinto que deveria levar. Eu apenas esperava que isso fosse mais fácil pra você.” Ela deu a Miranda um longo, olhar de busca. “Você tem certeza...” “Sim,” Miranda disse, e além do cansaço em sua voz havia também determinação. “Eu nunca esperei ser fácil. Nada que valha a pena alguma vez é.” Ela deu outra mordida em seu burrito, então colocou o prato para baixo, parecendo um pouco nauseada. “Eu sei que se eu fizer isso, eu estarei onde eu pertenço...e tudo que eu passei terá um significado.” “Bem, você vai ter que fazer alguns arranjos - numa vez que vocês dois decidirem quando exatamente você vai voltar, você vai precisar limpar a sua agenda por umas duas semanas. Você talvez tenha que parar de se apresentar-” “Não,” Miranda a cortou. “A música é a única coisa que me fez superar todos esses anos. Minha carreira está apenas começando. Eu não estou desistindo disso.” Faith sorriu para ela. “Você vai precisar tirar algum tempo de folga, entretanto. Até a transformação estar completa você vai precisar de tempo para se ajustar. Então você talvez queira falar com o seu agente sobre isso agora – invente algum tipo de cirurgia, talvez.” “Boa idéia. Todos trataram da minha fuga uma vez. Eu não quero fazer isso com eles novamente.” Miranda pareceu pensativa, e levemente consternada. “Eu vou ter que descobrir o que dizer a Kat.” “Que cat84?” Miranda gargalhou. “Não um cat. Kat. Ela é uma amiga minha. Eu tenho certeza que Lindsay reportou que eu saio muito com ela.” 84

(cat-gato )


“Oh, certo – a mulher com os dreadlocks. Sim, nós sabemos dela. E sobre o cara.” “Você quer dizer Drew? Eu não tenho certeza se ele estará aparecendo mais aqui. Ele provavelmente não vai querer de qualquer forma. Eu acho que o David o assustou até fazer xixi na calça.” “Eu estou chocada,” Faith disse ironicamente. “O que ele fez?” “Ameaçou matá-lo.” “Claro,” Faith disse. “Como é romântico. Então, me diga mais sobre toda essa coisa – o que aconteceu? Depois de toda a besteira de ‘Eu tenho que ficar longe dela pelo seu próprio bem,’ como vocês dois terminaram lanchando um ao outro?” Miranda ficou com aquele olhar sonhador novamente em seus olhos e colocou seus joelhos em seu queixo. “Quantos detalhes você quer?” “Tudo – apenas me faça o favor de pular as palavras como pulsando e

inchando.” Ela bufou. “Ótimo, mas eu vou dizer isso: Se lembra o que você disse sobre como o Hades ser espetacular na cama?” “Sim.” “Bem...” Ela se tornou rosa brilhante. “Você não sabe nem a metade disso.” *** Domingo á noitinha Miranda acordou de uma vez, sem a transição de coçar os olhos em vigília, e encarou piscando o teto do seu quarto por um minuto inteiro antes dela perceber que ela podia enxergar no escuro. O quarto nunca era cem por cento negro mesmo com as pesadas cortinas – e a camada de papelão– que ela pendurava sobre as duas janelas; um pouco de luz sempre entrava através das frestas da porta. Ainda, ela nunca tinha abandonado seus hábitos noturnos do Haven, então ela queria isso bom e escuro em seu quarto durante o dia para deixá-la dormir; normalmente a primeira coisa que ela fazia uma vez que o sol estivesse se posto era estalar a lâmpada ao lado da cama então ela não tinha que mancar ao redor para bater suas canelas nas coisas. Dessa vez, ela abriu seus olhos para descobrir que estava um brilho incomum, ainda que ela soubesse que nada tinha mudado enquanto ela dormisse. O nível de luz no quarto era o mesmo sempre...mas ela podia ver. Tudo era azul e lavanda e cinza, mas perfeitamente distinto.


Ela se sentou e olhou ao redor, fascinada. Ela podia ler os volumes de livros do outro lado do quarto. Ela podia ler a impressão da conta de luz que ela tinha lançado cuidadosamente na sua mesa. Sua boca ficou seca com um medo momentâneo. Isso era normal? Ela tinha... Ela saiu da cama e andou, sem tropeçar em seu pé uma vez, para dentro do banheiro, onde ela não teve que acender a luz para se ver no espelho. Ela ainda estava no espelho. Que era algo. David tinha dito que seus sentidos iriam aflorar. Era assim que os vampiros enxergavam? Tudo era afiado e claro, e era quase como se algumas coisas fossem mais do que tri-dimensionais. Uma vez que ela superou a novidade disso e relaxou com a diferença, ela descobriu que ela gostava disso. Era certamente útil ler a letra da música na luz escassa dos clubes. Ela tirou seu pijama –Mickey estava ficando muito fedorento– e foi para o chuveiro, e novamente descobriu que ela estava hipnotizada, dessa vez pela água correndo do chuveiro. Se ela se concentrasse, ela podia ver as gotas individuais e observar o trajeto que cada uma delas fazia descendo com o jato. Sacudindo-se para fora disso, ela entrou no chuveiro, mas quando ela ensaboou-se com a sua esponja de banho o cheiro da sua loção de banho de lavanda era tão intensa que ela quase vomitou. Ela tampou o frasco e remexeu ao redor na miscelânea de toalhas meio-usada que desordenavam a sua prateleira de toalhas, alcançando o recipiente de viagens que portava um sabonete orgânico sem cheiro que Kat tinha deixado quando ela passou a noite em Janeiro. Isso ainda tinha cheiro, mas era tolerável. Ela se ensaboou e, depois de considerar a sua seleção de shampoo, colocou a mesma coisa no seu cabelo. Sonolenta do calor e do vapor, ela se envolveu em um roupão de banho e vagou para dentro da cozinha. Na rua do lado de fora um alarme de carro subitamente disparou, e ela estremeceu e mergulhou de volta para o corredor, mãos fechadas em seus ouvidos. Dor ricocheteando pra fora do interior do seu crânio. Ela encarou cegamente para dentro da geladeira por um tempo. Nada era remotamente apetitoso. Ela tinha pedido para Faith jogar a pizza na caçamba de lixo quando ela partiu, e embora houvesse tecnicamente muita comida, ela não queria nada disso. O pensamento de comer fez o seu estômago rodar.


Ela decidiu por algumas bolachas salgadas e uma garrafa de água vitaminada. O seu telefone tocou; ela pulou novamente mas dessa vez não entrou em pânico. O toque não era de perto tão alto quanto o carro do lado de fora tinha sido. O seu celular estava onde ela tinha deixado na mesa. Ela viu quem era, e o seu coração saltou. “Oi,” ela disse. “Como você está?” David perguntou. “Melhor. Mas eu posso ver no escuro.” Uma pausa. “Você pode?” “Yeah. Tudo está azul. Isso é normal?” Ela ouviu ele tomar uma profunda respirada. “Não exatamente. Eu acho que esse é outro sinal que nós exageramos.” “Se você diz que sim. Eu acho maravilhoso, realmente. Eu não posso esperar para ver o que vem a seguir.” Ele gargalhou. “Você é uma mulher rara.” “Eu sou algo, tudo bem.” Ela sentou-se no sofá, o som da voz dele fazendo os seus dedos dos pés se curvarem, e disse, “Eu desejaria que você estivesse aqui.” “E eu também.” “Quando você virá?” Um suspiro. “Eu não posso sair até Sexta – talvez eu possa passar por aí depois do seu show.” “Eu gostaria disso.” Quase uma semana toda; ela entendia isso de alguma maneira. “Como você está se sentindo?” O humor retornou. “Aparentemente eu estou irônico. A Elite está me achando bastante desagradável.” “Você, irônico?” “Relativamente falando, eu tenho certeza.” Ela ouviu algo soando, e ele disse, “Maldição. Eu tenho que ir –eu estou no meio de recalibrar parte da rede, e eu tinha um minuto enquanto ele estava funcionando. Eu apenas quis checar você. E ouvir a sua voz.” “Eu fico feliz que você ligou.” “Eu vou falar com você logo – talvez até mesmo mais tarde essa noite se você estiver acordada. Eu amo você.” Ela sabia que estava sorrindo como uma boba, e ela não se importava. “Eu amo você, também.”


Eles desligaram. Miranda estava grata que o afastamento pareceu ter desvanecido; ela não se sentia como se quisesse chorar dessa vez. De fato, integralmente, ela se sentia fantástica. A fraqueza tinha deixado o seu corpo, e ela queria se levantar e fazer algo, preferencialmente algo que envolvia muito em correr. Ela não tinha outra sessão agendada com Sophie até Terça, e ela tinha apresentações na Quarta até o final da semana, deixando a com mais tempo livre pelo menos durante as noites. Ela estava muito certa que Kat gostaria de se reunir amanhã. Ela deveria sair e conseguir algo para comer. Talvez indo a um restaurante, com os cheiros de comida ao redor, iria estimular o seu apetite; parte da sua resistência em comer era a idéia de cozinhar. Ela poderia ir ao Kerbey e ter todas as panquecas que ela quisesse. Feito a sua mente, ela se vestiu e colocou uma jaqueta. Quando ela se olhou no espelho novamente, ela teve que sorrir. Sua cor tinha retornado, na maior parte, e ela parecia desperta. Havia um conhecimento em seus olhos. Ela parecia como uma mulher com um segredo. Do lado de fora, Austin estava razoavelmente quieto; havia um pequeno tráfego, de pedestre ou veicular, e ela estava feliz. Tal como foi, o barulho e a confusão eram muito no início, mas ela se manteve calma e continuou respirando. As luzes das ruas doíam seus olhos – como a Elite corria nas redondezas sem usar óculos escuros? Uma lua minguante pendurava no céu, e ela podia provar da mudança das estações no ar: flores selvagens florescendo, árvores brotando, tudo tinha uma essência que registrava a ela tudo de uma vez e individualmente. Não foi até ela estar dentro do ônibus que as coisas começaram a desenrolar. Havia apenas alguns poucos passageiros, e ela pegou o assento mais para trás á algumas fileiras de distância de uma mulher de meia idade em um casaco surrado. Enquanto ela passou, ela podia cheirar cada pessoa fortemente; várias tinham muito intensos odores corporais de problemas, e a única que não era um repelente por si só era a mulher, que cheirava como uma idade velha e a pétalas de rosas. Idade velha tinha um cheiro? Miranda se concentrou, e cheirou o ar novamente. Com muita certeza, de que a mulher cheirava como uma avó, e isso era familiar o suficiente – úmido, um pouco doce. O cheiro tinha camadas que sua mente escolhia uma a uma. A mulher estava cansada e tinha pés doloridos, mas ela estava em uma boa saúde. Miranda olhou para ela, seus olhos fixos na pálida pele enrugada, e em


nos fracos traçados azuis de veias no seu pescoço. Ela ouviu...ela podia ouvir o batimento cardíaco da mulher...ar entrando e saindo dos seus pulmões...o silencioso click de seus ossos uns contra os outros enquanto ela flexionava seus dedos artríticos...a veia pulsando, e Miranda sentiu o céu da sua boca começar a doer, depois queimar. Ela estava faminta. O seu estômago rosnou alto, assustando-a, e assustando também o objeto da sua obsessão, que olhou para cima para ela furiosamente quando ela percebeu que ela estava sendo encarada. “Desculpe,” Miranda murmurou. Ela não podia respirar. Ela puxou a corda de parada, e assim que o ônibus encostou, ela praticamente disparou descendo os degraus e de volta para dentro da noite de ar frio. Ela agarrou um poste de luz e se inclinou muito nele, ofegante. Um homem caminhava, e sua cabeça estalou para cima para cheirá-lo. Câncer. Em sua próstata. Ele iria ter gosto ruim. Podre. Um casal atravessou a rua – a mulher estava grávida. Gêmeos. O homem estava fodendo com a irmã dela. Ela podia sentir o cheiro de sexo nele, e a mulher que ele esteve dentro era relacionada com a sua esposa, mas não era ela. Ela estava sorrindo, falando animadamente sobre...berços. A conversa deles era tão alta quanto pudesse ser a sessenta centímetros de distância. Escapes de carro. Lixo. Buzinas soando. Um bebê chorando. Fumaças de cigarro. Música de um bar a três quadras de distância. Miranda tentou colocar escudo novamente, mas dessa vez isso não ajudou; o que ela estava sentindo não era psíquico, era físico. Sua audição e o sentido de olfato tinham quadruplicado ao menos, e não havia maneira de bloquear isso exceto encontrar um lugar silencioso e seguro. Ela olhou ao redor, tentando se orientar. Ela estava ao menos meia milha85 de casa e não havia maneira como no inferno que ela fosse voltar em um ônibus. Ela tinha apenas que caminhar, e lidar com isso. Era como se isso fosse...era como se ela tivesse que olhar adiante. Quanto tempo iria levar até que ela se acostumasse com a sobrecarga? Isso apenas a estava afetando dessa forma porque ela ainda era humana em seu corpo e a sua mente estava muito fraca para lidar com isso? Ela tinha que lidar com isso. Ela não iria mudar de idéia. Isso seria difícil, mas ela iria lidar. Havia muito mais em jogo para ser derrotado por esses primeiros passos de bebês. 85

(uma milha equivale a 1,6 km.)


Se enrijecendo e endireitando a sua coluna, ela começou a caminhar para casa. *** “Você sabe,” Deven disse, “meu Cônjuge está bastante confuso com você.” David se inclinou de volta em seu assento, observando a paisagem noturna pela janela do carro. Eles voltariam ao Haven em dez minutos ou menos. “Ele está, agora,” ele disse no seu celular. O tom da voz de Deven sugeriu que Jonathan tinha tornado o assunto de suas previsões terríveis já há algum tempo. “Ele continua convencido que você vai conseguir matar Miranda.” “É exatamente o que eu tenho intenção de fazer,” David respondeu. “Eu vou trazê-la para o outro lado.” O Prime no outro lado da linha suspirou resignado. “Eu vou poupá-lo dos lembretes da enorme responsabilidade que é isso, e como mal isso foi da última vez.” “Essa é diferente. Ela tem certeza, e eu tenho certeza. De fato, ela não vai aceitar não como resposta. Além disso, você não estava a favor disso da última vez que nos falamos?” “Eu não estou contra a idéia de qualquer meio – só cauteloso. Isso não é algo para se comprometer levemente. Sem mencionar que essa mulher é ainda bastante jovem, e você pode ser tão denso e ósmio86 algumas vezes. O amor tende a nos cegar aos aspectos práticos.” “Isso é uma referência científica? Mestre, eu não sabia que você tinha isso em você.” “Eu achei que talvez se eu falasse a sua língua você poderia realmente me escutar uma vez por um tempo.” David sorriu. “Eu sempre escuto. Então eu faço o que eu quero. Você sabe disso.” “Essa é uma das suas mais enfurecidas qualidades. Mas eu me preocupo por você, David.” Havia uma surpreendente seriedade na voz de Deven – nele estava quase sempre sério, mas normalmente com uma sagacidade afiada, seca que estava notavelmente em falta agora. “Eu quero que o seu governo dure ao menos tanto quanto o meu – eu tenho visto muitos amigos morrerem, e você...eu sempre pensei em você como se você fosse um dos meus.” 86

(ósmio -é um elemento químico de símbolo Os, de número atômico 76 e massa atômica igual à 190,2. Trata-se de um metal de transição, classificado no grupo da platina. Os compostos do ósmio são altamente tóxicos, podendo congestionar os pulmões e causar danos à pele e aos olhos)


“Eu praticamente sou.” “Exatamente. Então traga o seu amor por sobre as sombras, mas tenha cuidado, ambos com o dela e com o seu próprio coração. Eu ajudei você a se refazer uma vez antes, e eu preferiria não ter que fazer isso novamente. Você está me ouvindo?” “Eu estou, Mestre. E eu serei cuidadoso. Acredite em mim, eu quero fazer isso direito.” “Chame se você precisar de ajuda.” “Eu vou.” David repetiu essa conversa em sua cabeça o resto da viagem para casa, se perguntando o quanto seriamente ele deveria tomar isso. A visão de Jonathan não tinha mudado, mas isso também não havia recorrido; e agora que ele sabia que ele e Miranda estavam enfrentando juntos, ele não achou isso tão perto de alarmante. Sim, ela iria morrer; e na noite seguinte ela iria despertar. O fogo já tinha acontecido quando a base dos rebeldes queimou. Ele tinha encontrado o bilhete de Miranda dentro do livro. Ele pensou de volta na sua breve ligação para Miranda e sentiu-se com renovado bem-estar com a memória da sua voz. Ele a veria em alguns dias, e ele estava contemplando em dizer para ela que eles deveriam esperar pela lua cheia para trazê-la de volta ao Haven. Isso á daria uma semana para resolver seus assuntos pelo momento. Ele tinha certeza de que ela iria querer voltar aos palcos o mais cedo possível, mas isso iria levar duas semanas, no mínimo, antes dele ficar confortável com ela saindo para a cidade, mesmo com seguranças. Idealmente ele gostaria de mantê-la fechada por um mês para ter certeza de que ela estivesse forte o suficiente. Não era algo para se arriscar. A maioria dos vampiros acordavam com um capricho cruel ou a idiotice de alguns românticos envolvendo ‘amor eterno,’ o qual tendiam a não durar as primeiras décadas. Parcerias reais surgiam mais freqüentemente com vampiros que não estavam relacionados – que a primeira vista a paixão entre mestre e descendente era uma coisa efêmera. Vampiros mais velhos, especialmente Primes, quase nunca transformavam um humano por uma razão; seus poderes significavam que as suas descendências tinham potencial para tomar os Signets por eles mesmos, e eles geralmente eram relutantes em gerar suas próprias competições. Harlan encostou o carro no meio-fio, e o Prime desembarcou, olhando, por um momento, para cima para o Haven, sua casa...a casa dela. Mesmo com a saída dela, o lugar tinha sido estampado com a sua presença. Faith e vários dos


outros guardas da sua ala tinham reportado que, mais de uma vez, eles tinham certeza que eles a viram fora com o canto do olho. Um dos tenentes encontrou com ele nas portas assim que ele entrou. “Mestre, a garota Blackthorn está perguntando por você.” “Obrigado, Patrick. Eu a verei agora.” Ele pegou a escada do lado direito para o segundo andar ao invés da esquerda e fez o seu caminho pelo corredor das suítes onde os raros visitantes do lado de fora do seu território ficavam. Primes raramente deixavam os seus domínios, mas uma vez por um tempo o segundo em comando ou alguém alto na outra Corte viam prestar as suas homenagens. Ele tinha um fluxo constante de convidados nos primeiros dois ou três anos. Agora não havia ninguém além de Bethany Blackthorn. Dois guardas ficavam do lado de fora da sua porta; eles se curvaram e pisaram ao lado para deixá-lo entrar. Ele fez a coisa educada e bateu. Não havia razões para começar as coisas com o pé errado. “Entre,” ele ouviu. Ele a colocou em uma das menores suítes – apenas um quarto e um banheiro e uma área de estar com a lareira, muito parecida com a de Miranda mas nem perto de confortável. Ela parecia pequena e fora do lugar, sentada em uma das poltronas, sua postura rígida, seus cabelos recém-lavados pendurados com bordas retas em ambos os lados do seu rosto. Ela talvez tivesse sido bonita um dia, mas o abuso a tinha deixado fantasmagórica, e seus olhos eram muito grandes para o seu rosto. Seu inabalável azul celeste era a única coisa sobre ela que parecia ter vida. Ela se sentou com as aranhas pálidas da sua mão entre seus joelhos, como não-reativo a sua chegada como tinha sido na noite em que eles a tinham encontrado, nem se curvou pelo seu poder nem enfurecida pelos seus supostos crimes. “Mestre,” ela disse. Ela soou muito nova. “Bethany,” ele respondeu, pegando a outra poltrona. “Você está se sentindo melhor essa noite?” “Sim.” Ela olhou para baixo para as suas mãos. “Eles estão cuidando bem de mim. Eu não mereço isso.” “Porque não?” Ela franziu o cenho e deu um dar de ombros. “Eu sou uma Blackthorn. Nós somos o inimigo. Ou vocês são. Meu pai disse que você é o demônio.” “Eu tenho certeza que ele disse. O que você acha?”


“Eu acho que ele provavelmente estivesse certo. Mas você me salvou. E Ariana...” Ela engoliu com o nome com se ele prendesse na sua garganta. “O que você faz quando o anjo é pior que o demônio?” Ele dobrou a sua mão, cotovelos nos braços da poltrona. “O que você pode me dizer sobre os planos dela, Bethany? É importante que eu saiba então eu posso parar os membros remanescentes de matar alguém mais.” Ela olhou para ele com curiosidade. “Você se preocupa com humanos,” ela disse. “Meu pai disse que humanos foram colocados nessa Terra para nós os usarmos.” “Mas nós todos viemos de humanos,” ele apontou. “Isso é certo. Nós usamos os seus corpos e então nós usamos o seu sangue. Uma vez que nós tivermos o que nós precisamos, eles não importam. É da vontade de Deus que nós fôssemos superiores.” Ele assentiu. Ele tinha ouvido essa linha de “raciocínio” antes, e como com qualquer forma de fanatismo, não havia argumento com isso. “Mesmo se isso for verdade, o pessoal da sua irmã foi responsável pelas mortes da nossa espécie também. E se eles se permitirem se organizar, haverão mais mortes. Eu não posso permitir isso. O que você pode me dizer?” Ela deu de ombros novamente. “Não muito. Eu era um bichinho de estimação, não um membro do grupo. Ela me odiava do tempo que nós vivíamos na Califórnia. Eu era a favorita do Papai – ele queria que eu fosse ao Auren, mas ela despejou o seu poder. Eu acho que secretamente ela estava feliz que Papai foi assassinado.” “Você pode me dizer por que não há nenhuma gravação de você em qualquer lugar? Todos da família original foram representados com exceção de você.” Ela fez um som que talvez fosse uma gargalhada. “Não, eles não foram. Havia outros. Qualquer um que não quisesse se tornar um guerreiro por uma causa, qualquer um quem discordou...nós desaparecíamos, ao longo do tempo. Papai tinha um carinho por mim, embora, porque eu parecia muito como a minha mãe. Ele me deixou ficar e me manteve salva mesmo embora eu fosse uma traidora. Assim que ele morreu, Ariana teve a sua vingança. Ela estava para me dar a Elite de Auren como um brinquedo.” “Eu vejo. E você não sabe nada sobre seus grandes planos para a organização?” “Ela tinha um plano?”


Ela não pode evitar além de sorrir com o inesperado toque de humor. “Ela tinha a intenção de me matar e entregar o Signet para alguém.” “Não Ariana. Ela manteria isso pra ela mesma. Ela apenas agia recatada quando o meu pai estava vivo.” Bethany pegou a borda da sua manga por um momento, depois disse, “Todos eles acreditavam nela. Ela os uniu depois que Papai morreu. Sem ela, eles não eram nada.” “Eu desejaria poder acreditar nisso.” Ela olhou para cima e encontrou seus olhos, os seus próprios de repente cheios de súplica. “Eles vão me matar,” ela disse. “Assim que eles descobrirem que eu estou viva, eles vão me abater. Eles pensam que eu estou em conspiração com você.” “Eles não vão deitar um dedo em você,” ele disse a ela. “Eu tenho você sobre guarda dobrada e vigilância digital. Ninguém entra ou saí do Haven sem meu conhecimento, mesmo assumindo que eles possam encontrá-lo em primeiro lugar. Não se preocupe Bethany.” “Mas...o que você vai fazer comigo?” Ele se levantou. “Eu não decidi ainda. Então se há algo mais que você saiba, eu iria apreciar grandemente que você repartisse isso logo. Depois de tudo que você tem passado eu não quero te causar mais sofrimento, mas eu vou se isso for necessário. Sua família tem a sua causa e eu tenho a minha. Eu sinto muito que você foi pega no fogo cruzado. Se você cooperar, eu vou fazer o que eu puder para assegurar a sua segurança.” Ela voltou o seu olhar para as suas mãos. “Eu acredito em você,” ela disse. Ele começou a partir, mas a sua voz o chamou de volta. “Obrigada.” Ele se virou e assentiu para ela. “É meu direito proteger aqueles embaixo do meu domínio, Bethany, até que eles se tornem infratores da lei. Por tudo que eu sei eu não fiz nada de errado.” “Eu não quis dizer sobre isso,” ela disse, e por apenas um segundo ele viu algo queimando em seus olhos. “Eu quis dizer obrigada...por matar a minha irmã.”


Capítulo

Q

16

UANDO SOPHIE ABRIU A PORTA NAQUELA TERÇA À noite, qualquer que fosse a saudação mordaz que ela tinha planejado morreu nos seus lábios. Ela encarou por um minuto, olhando Miranda de cima a baixo. Sophie sacudiu sua cabeça. “Garota.” Miranda deu a ela a mesma levantada de sobrancelha que ela sempre oferecia a Miranda. “O que?” Sophie gesticulou para ela entrar, como sempre, e por um tempo Miranda não achou que ela fosse dizer algo mais; ela colocou Miranda através dos usuais exercícios de aquecimento e exercícios básicos de espada com apenas um comentário ocasional sobre a sua forma. Então ela pegou a sua própria espada da parede e sem cerimônia mergulhou para o ataque. Miranda contrapôs, mas em minutos ela estava desarmada. Isso era normal, mas hoje isso a deixou zangada e frustrada. Ela esteve esperando que as mudanças em seus sentidos fariam...algo. Ajudá-la a se mover mais rápido, talvez, ou mantê-la em seus pés por mais tempo. Se algo, a prejudica-se; ela estaria tão ocupada sendo impaciente que ela continuaria sendo derrubada na sua bunda. Sophie ficou acima dela, o olhar no seu rosto ilegível. “Levante daí, porra” ela estalou. Miranda levantou, mas a raiva borbulhava em sua garganta. Dessa vez quando Sophie atacou ela estava pronta, ou pensou que estivesse. Ela oscilou a


sua lâmina forte, arremessando a sua energia com isso, mas o seu descuido a custou, e Sophie simplesmente a chutou no estômago e estalou a espada da sua mão. “Pare de desperdiçar o meu tempo,” Sophie disse a ela. “Você acha apenas porque você está fodendo com o Prime que você é algo especial? Eu tenho notícias pra você, garotinha. Você não é melhor do que você era á uma semana atrás. De fato, você é um saco da mesma maneira que você era da primeira vez que eu encontrei você.” “Ótimo,” Miranda bateu de volta. “Qual é a maneira certa de fazer isso?” “Eu disse a você. Pare de lutar como uma humana. Se você quer ser um vampiro, você não pode continuar pensando como um boneco de carne. Deixe isso ir.” “Deixe isso ir do que, ser humana?” “Sim, maldito seja.” Sophie bateu sua espada em sua bainha e encarou Miranda com braços cruzados. “Se tornar um de nós é um dom. Isso eleva você além dos limites da mortalidade. Mas não é um jogo e não é bonito. É sangrento e escuro e sujo e isso dura pra sempre. Uma vez que você cruzar a ponte, não há volta. Você está vendendo a sua alma para essa vida, Miranda. Você está pronta? E além disso – você é digna?” Seus olhos entediados nos de Miranda pela melhor parte de um minuto antes de Miranda dizer, calmamente, “Me mostre como.” “Levante.” Miranda se levantou, agarrando a sua arma apertadamente. Todo o seu corpo se sentiu como se fosse feito de aço. “Vá para a sua Visão. Defina os seus escudos, defina a sua posição.” Sophie a circulou, seu ritmo deliberado e lento. “Agora, alcance mais profundo nela. Há um poder dentro de você que você nunca foi capaz de acessar antes. Você ainda não pode, não totalmente, mas ele está ali, e você pode tocá-lo.” “Sim,” Miranda disse. Ela procurou dentro dela mesma e encontrou o que ela tinha experimentado naquela primeira noite com David, a sombra adormecida, esperando pelo sangue para chamá-la adiante. “Eu sinto isso.” “Imagine isso como um ar. Respire. Deixe ela preencher você por dentro.” A energia rastejou subindo a sua coluna, escaldando-a, e ela quase deixou de se estabelecer, mas antes de Sophie pudesse comandá-la a fazer, ela se transportou de volta sobre controle. O poder dos seus sentidos de antes eram nada comparados com o que ela sentia agora. Ela podia sentir toda a sala ao redor dela, estendendo-se da sua


própria pele, o espaço vazio conectando ela com Sophie, com o chão, o teto, as paredes. A espada na sua mão era tão leve quanto uma pena e sentia-se com se estivesse crescido da sua palma. “Bom.” Sophie caiu em sua própria postura pronta e disse, “Agora, fique nesse lugar enquanto você luta. Espere na sombra. Deixe ela guiar você. Dance com ela.” Ela ergueu sua espada e trouxe em direção a Miranda, onde a lâmina atingiu o seu gêmeo com um afiado tinido. Miranda respirou na escuridão, e subitamente ela podia ver Sophie como se houvessem duas dela, uma diante dela e uma pós-imagem. A pós-imagem estava girando e chutando – Miranda não estava ali para sentir. Ela saiu sem esforço para fora do caminho e se virou, conduzindo a sua espada para cima em um gracioso arco para encontrar a de Sophie. Pelos próximos poucos minutos ela se perdeu completamente na ação e reação, ponto e contraponto, como duas melodias se fundindo em harmonia. Isso não durou muito, embora. Assim que seu braço se sentiu tão pesado quanto chumbo, e a exaustão a empurrou para baixo no chão, sua espada caiu inutilmente no chão. Ela estava respirando forte e encharcada em suor da maneira que ela não tinha ficado desde os dias iniciais do seu treinamento. Sophie, ainda impecável e serena, disse, “Agora você sabe o que sente.” Miranda não podia falar, mas quando ela olhou para cima para a sua professora, ela estava sorrindo. *** Ser amiga da mais quente artista da cidade tinha seus benefícios. Kat ficou para assistir o show inteiro das coxias ao invés de ficar fora com a multidão, e ela estava duplamente agradecida essa noite. O lugar estava tão cheio que o calor da sala estava tão intenso quanto um texano em Julho, e duas pessoas já tinham sido levadas para fora por seguranças para conseguir ar fresco. Se Miranda notou, ela não pareceu se importar . Ela estava no fogo. Kat nunca a tinha visto tão ardente. Parecia como se a sua energia estivesse inflamado a platéia, também, e eles estavam dançando e empurrando uns os outros e era um pequeno milagre que um motim não tivesse irrompido. O poder no corpo diminuto da cantora era impressionante. Sua voz disparou para fora das vigas e não mostrou sinais de cansaço depois de duas horas inteiras de performance sólida. Era um contraste nítido da última vez que Kat a tinha visto tocar, meses e meses atrás. Ela tinha estado tão triste naquela época, escrava de qualquer que


seja a droga que ela esteve dependente. Ela tinha sido uma imitação pálida da Miranda que Kat conheceu pela primeira vez na faculdade, a garota que captava a atenção de todos com sua inteligência e beleza como uma boneca. Atualmente uma boneca era a última coisa que Miranda trazia a mente. Ela era como uma lâmina que tinha sido temperada, purificada em fogo. Mesmo o seu cabelo estava em chamas nas luzes do palco. Sem perguntar o porque que Drew tinha se apaixonado tão forte por ela. Kat se sentia horrível por toda a situação. Ela tinha empurrado eles um ao outro quando, agora, era obvio que Miranda estava saindo com esse cara David, e toda aquela sua conversa de não estar preparada para homens era uma cortina de fumaça por não ter aquele que ela queria. Nos poucos dias desde que David tinha valsando de volta a sua vida, Miranda tinha mudado novamente. Havia algo sobre ela que estava fisicamente diferente, mas Kat não podia colocar seus dedos nisso; independentemente, ela estava agindo com a amnésia de quem tinha subitamente se lembrado que ela estava livre. Deveria ter sido chato se não estivesse sido tão...incrível. Vendo ela agora, Kat sentia-se como uma boba por mesmo considerar Miranda e Drew como um casal. Ele era um cara doce e tinha muito vindo para ele, mas ele era muito manso para uma força da natureza como ela. Tão arrogante e frio quanto David pareceu, Kat tinha que admitir que ele tinha carisma. Ela queria saber mais sobre ele, entretanto, antes dela tomar uma decisão. Não apenas qualquer cara era bom o suficiente para Miranda, sem importar o quanto repugnantemente quente ele era. Uma coisa era absolutamente certa: Ele não era nenhum conselheiro de drogas. Se ela tivesse que colocá-lo nessas palavras, ela o teria atrelado a um traficante de drogas. Sem chance de alguém com o dinheiro para se proporcionar aquelas roupas trabalhava para serviços humanos. Particularmente não dado pela maneira que ele olhou para Kat e Drew como se eles fossem de outra espécie. Miranda terminou a sua última música a uma ovação e pulverização timpânica e curvou-se, dizendo algo para a platéia sobre como incríveis eles eram e boa noite. Ela andou para fora do palco, colocando o seu violão sobre a cabeça e entregando-o ao técnico de som... ...então parou, vacilando em seus pés, e desmaiou fria. *** “Eu estou dizendo a você, eu estou bem,” Miranda disse a enfermeira pela centésima vez. “Eu só fiquei superaquecida, é tudo.”


“Senhorita Grey,”a rodada, inflexível mulher negra em jaleco azul disse, “você tem severa desidratação e você mesma disse que não tem se alimentado em três dias. Nós precisamos fazer um exame de sangue-” Miranda bufou. “ –para descobrir porque você perdeu o seu apetite, e nós precisamos colocar alguns fluidos para dentro de você.” Kat, quem estava pairando perto da entrada do cubículo, disse, “Mira...docinho, ouça ela. Você tem que comer.” Miranda pulou da mesa de exames, se levantando em sua completa altura, o qual mal levantou ao nariz da enfermeira. Ela estava em seus sutiã e calcinha, e a enfermeira era claramente o tipo de não-foda-comigo-docinho, mas a mulher recuou um pé ou assim de qualquer maneira, assim que a aura de Miranda a atingiu. “Eu quero ir pra casa,” Miranda disse calmamente. “Eu estou recusando tratamento. Eu vou assinar qualquer formulário que você precise que eu assine.” A enfermeira pareceu como se ela quisesse dar a ela uma bronca mas ao invés disso apenas sacudiu a sua cabeça e disse, “Ótimo.” Kat estava dando a Miranda um olhar um pouco nervoso. “Que diabos deu em você ultimamente?” ela perguntou assim que elas estavam sozinhas. Miranda olhou para cima para o teto. “Eu estou bem, Kat. Você pode me dar uma carona pra casa?” “Claro. Mas apenas se você me deixar levar você para jantar primeiro. E apenas se eu ver você comer.” Miranda cruzou os seus braços e considerou a sua amiga por um minuto. Kat estava genuinamente preocupada com ela; ela estava apenas tentando ajudar, apenas como ela tivesse sempre tentado fazer. Não havia razão para tratá-la mal. “Me desculpe,” Miranda disse com desgosto. “Eu não quis ser uma piranha. É apenas que...eu não quero que eles me cutuquem. Não há nada de errado comigo que uma boa comida e um longo sono não irão curar.” Kat a encarou, mas eventualmente desviou o olhar, fazendo um barulho de eu desisto! “Okay, okay. Eu vou trazer o carro para a saída. Você assine os formulários ou o que quer que seja, e não respire fogo em ninguém mais.” “Você pode levar isso?” Kat pegou o seu violão com um grunhido de assentimento e partiu. Miranda colocou suas roupas de volta, feliz que ela teve a presença de espírito de perguntar ao técnico pelo seu violão antes de Kat tê-la varrido para


fora do clube para a Emergência do Hospital Brackenridge. Por outro lado ela teria que voltar lá por ele, e tudo que ela realmente queria era voltar para casa. Assim que ela colocou suas botas, ela teve que parar e respirar. Esse lugar...havia tanta dor. Todos aqui estavam com medo. Medo de doenças, de doer, de morte...especialmente morte. Ela podia sentir os médicos e enfermeiras se movendo no meio dos pacientes, as suas cabeças calmas como estrelas na escuridão do espaço. A maneira deles era encontrar respostas, perseguir e matar doenças e unir todos os buracos. O que eles iriam encontrar se eles olhassem para o seu sangue agora? Ela não tinha idéia, mas ela sabia que isso a assustava. Ela abriu a cortina para o lado e enfiou a sua cabeça para fora do cubículo; a sua enfermeira não estava em nenhum lugar à vista. Bom. Miranda recolheu a sua sacola e partiu. Na metade da saída ela viu a enfermeira e mergulhou para dentro de um cubículo vazio até que ela passou. O posto da enfermagem estava perto dela, e ela viu pela extremidade da cortina que um homem em jaleco estava em pé ali preenchendo algo para fora enquanto um mulher em um diferente estilo de uniforme – branco, com um crachá preso em sua camisa ao invés de pendurado por um cordão –esperava com um grande vermelho cooler87 em seus pés. “Doze unidades,” o homem enfermeiro estava lendo. “Cinco O positivos, cinco O negativos, um AB positivo, um AB negativo. Parece que está tudo certo. Oh, espere...não era suposto ter outro cooler com os As e Bs? Ou esses eram pra vir separadamente? A mulher abriu o cooler e olhou para dentro. Miranda viu vermelho escuro no plástico, e o seu estômago virou uma cambalhota. Ela reconheceu aquela embalagem: uma bolsa com uma etiqueta preta e branca dividida em quatro sessões, código de barra com o tipo e a ID do doador. O céu da sua boca começou a doer novamente. Sua mão apertou na cortina. “Eu acho que você está certo,” a mulher estava dizendo. “Me deixe correr lá fora e checar a van pra ter certeza.” Ela se apressou para fora da ER, deixando o cooler para trás. Miranda encarou forte para a mesa do enfermeiro. Desvie o olhar. Desvie o

olhar. Ele se virou para a esquerda e começou a cavar em volta dentro da gaveta por algo. 87

(cooler- isopor)


Miranda olhou para fora do cubículo e, manteve a sua intenção focada no enfermeiro, empurrando a sua mão para dentro do cooler. Antes que ela pudesse até mesmo pensar sobre o que ela estava fazendo, ela tinha se apossado de uma das bolsas do interior e a enfiado dentro da sua jaqueta. Ela quase correu para a saída, deixando a mente do enfermeiro ir no último minuto antes dela se desatar para fora, onde Kat estava esperando por ela. Ela deslizou no assento do passageiro. “Obrigada,” ela disse. Kat não parecia muito feliz com ela. “Qualquer coisa pra você, docinho. Agora, onde você quer comer? Kerbey?” “Okay. Está ótimo. Realmente...a gente pode passar na minha casa antes? Eu gostaria de tirar essas roupas e guardar meu vilão.” “Claro.” Kat dirigiu para longe do hospital, e Miranda manteve seus braços cruzados sobre seu peito, sentindo a frieza da bolsa escoando através da sua camisa. O que ela estava fazendo? Ela tinha perdido o juízo? Ela tinha apenas roubado sangue do hospital. Ele deveria ter sido destinado a bebês ou alguma mãe idosa aleijada. Ela estava andando no carro com sua amiga como se tudo estivesse normal, e ela tinha sangue em seu bolso. “Espere aqui,” Miranda disse quando elas alcançaram o complexo de apartamentos. “Eu estarei de volta em cinco minutos.” Ela descarregou o seu violão e foi para a cozinha, levando a bolsa e a arrumando na geladeira – por um segundo ela se perguntou em que prateleira ela deveria ser posta. Na dos crocantes? Ela enfiou isso atrás do leite, depois foi se trocar. *** Ela se forçou a comer uma pequena pilha de panquecas, apesar de ter sido uma luta de não vomitá-las imediatamente depois. Ela mal tinha comido algo desde o burrito que Faith a tinha alimentado, mas não era por falta de apetite como a enfermeira havia pensado. Ela tinha tentado comer. Ela tinha tentado se estimular com as suas comidas favoritas, mesmo o sorvete da Amy. Tudo tinha gosto de serragem e cinzas. Ela tinha se surpreendido que ela estava desidratada, entretanto. Ela teve bebendo água continuamente, embora isso nunca pareceu saciar a sua sede. Ela tinha comprado uma caixa de Vitamin Water88 então ela estaria obtendo ao menos alguns nutrientes. 88

(Vitamin Water- marca de água vitaminada)


A coisa impressionante era que ela se sentia impressionante. Ela estava constantemente faminta e sedenta, algumas vezes ao ponto de chorar, mas quando ela conseguia colocar isso fora da sua mente, ela se sentia como uma Super-mulher. Desde que ela deixou a casa de Sophie ela se sentiu como se ela pudesse voar. Ela não quis que essa sensação fosse embora. Assim que ela viu o sangue no cooler, tudo fez um sentido terrível. “Então Drew está um desastre,” Kat estava dizendo sobre o seu café. “Ele se sente horrível. Você está planejando perdoá-lo?” “Perdoá-lo? De que?” Miranda perguntou, piscando. Ela não estava realmente escutando, mas ela se lembrou rápido o suficiente. “Oh, disso. Eu imagino. Eu sei que ele não queria fazer nenhum mal.” “Você deveria dizer isso a ele. Ele realmente está louco por você – nesse momento ele está convencido que você o odeia e que ele está a beira de hara-

kiri89.” “Eu vou mandar um e-mail pra ele,” Miranda a assegurou. “Quando você vai me contar mais sobre o outro cara?” Miranda sorriu um pouco. “O que você quer saber?” “Você disse que você o conheceu na reabilitação. O que ele faz?” Ela procurou em sua mente por uma descrição apropriada que não seria muito uma mentira. “Ele está na aplicação da lei,” ela disse. “Ele é aquele que me levou pra lá em primeiro lugar.” “E na outra noite, vocês dormiram juntos?” “Sim.” “Eu achei que você não estivesse pronta para homens.” Miranda dilacerou a última metade da sua panqueca para fazer parecer como se ela estivesse comendo. “David é diferente,” ela disse, embora isso soou fraco mesmo para os seus ouvidos sem qualquer tipo de história de fundo. “Eu confio nele. Eu não acho que eu possa alguma vez confiar em outro homem novamente.” “Você o ama?” “Sim. Muito.” “Eu imagino que eu estou feliz por você, então.” “Você imagina?”

89

( Harakiri é um dos mais intrigantes e fascinantes aspectos do código de honra do samurai: consiste na obrigação ou dever do samurai de suicidar-se em determinadas situações, ou quando julga ter perdido a sua honra. Significa literalmente "corte estomacal". Esse suicídio ritual também é chamado de seppuku.)


Kat fez uma cara. “Para ser honesta, docinho, ele parece como um tipo de cretino. Mas eu o conheci apenas por cerca de trinta segundos, então eu posso estar errada.” Miranda gargalhou. “Ele não é. Eu prometo. Ele é apenas...ele tem muitas responsabilidades, e ele não é muito bom com pessoas normais. Ele é um tipo de ursinho de pelúcia com presas.” Kat pareceu ainda mais duvidosa. “Eu vou encontrar ele novamente, certo? Como melhores amigas eu reservo o direito de chutar o traseiro dele para o meio-fio se eu não aprovar.” Miranda sorriu para ela, calorosamente, sentindo-se grata e também envergonhada. Havia tanto que ela queria contar para Kat, e ela não estava certa se ela alguma vez fosse capaz. O segredo do Mundo das Sombras era o que o mantinha de ser destruído. Os Signets trabalhavam diligentemente para manter a espécie dos vampiros fora da mídia e fora do radar. Ela tinha o direito de deixar um humano saber dessa existência? “Nós vamos todos sair,” Miranda disse a Kat. “Vai levar um tempo para ele se soltar, mas você vai gostar dele uma vez que você chegar a conhecê-lo.” Kat insistiu em pagar a conta, e Miranda estava aliviada em deixar o café. Ela estava acostumada a pressão de uma sala cheia de humanos, mas era ainda uma tensão, especialmente depois de uma noite de apresentação e duas horas de ER90 cercada por ferimentos e morte. Ela disse a si mesma que era isso, e não o pensamento do que estava na geladeira, que a fez tão ansiosa para chegar em casa. Kat a levou para fora até a sua porta com um abraço e beijo na bochecha. “Me ligue,” ela disse firmemente. Miranda concordou, e a observou partir, tendo certeza que ela tinha saído do estacionamento antes de girar a trava e acender a lâmpada da sala de estar. Ela se sentia enjoada das panquecas no seu estômago, e na hora em que ela tirou seu casaco e suas botas, ela estava tão nauseada que ela voou para o banheiro, onde o jantar fez um compromisso inglório de retorno. Era Quinta. David tinha dito que ela se sentiria mais normal por agora. Ela contemplou em ligar para ele, mas não o queria preocupar. Ela o veria amanhã de qualquer forma depois do seu show. Ela apenas tinha que manter tudo unido até lá.

90

Emergência hospitalar.


Ele provavelmente iria ficar zangado com ela. Ele queria que ela deixasse o seu sangue sair do corpo dela dessa vez, e a levar corretamente para o Haven onde ela estaria protegida e ele poderia controlar a situação. Ela sabia que ele estava certo. Mas ela estava com tanta fome...e nada estava ajudando. Não iria machucar manter o sangue dele vivo em suas veias por mais um dia, não iria? Ela deu descarga na privada e lavou o seu rosto com água muito gelada. O seu reflexo pareceu verde ao redor das guelras, e o arder de poder tinha desvanecido do seu rosto, deixando para trás uma palidez cinzenta muito parecida com aquela que ela tinha na primeira noite. Ela não podia agüentar ficar doente daquele jeito novamente.

Apenas dessa vez. Miranda pegou a bolsa da geladeira e a colocou no balcão, se perguntando como se proceder sobre isso. Ela deveria aquecê-lo? Colocar em um copo? Enfiar um canudo nele? Ela nunca realmente viu David beber de um, mas ela não podia ver a figura dele sugando de uma bolsa como um Capri Sun91. Sem dúvida ele usava um copo. Ela abriu o armário. Uma taça de champagne? Não,algo para um vinho. Ela instalou uma caneca de café para que ela pudesse colocar no microondas por alguns segundos. Assim ficaria melhor, mais como...mais como a forma fresca de uma pessoa. Recortando um canto da bolsa, ela derramou o suficiente para encher meia caneca, e o rico cheiro de cobre disso a atingiu como uma marreta. Suas pernas quase cederam embaixo dela, mas ela se segurou e apertou vinte segundos, observando o animado logo EU VI OS MORCEGOS DE AUSTIN!92 se virar em círculos. Ela pegou a caneca e cheirou, depois tomou um sorvo experimental. Miranda gemeu suavemente. Assim que isso atingiu a sua língua, ela sentiu o calor e a força renovada escorrendo por ela. Um sorvo virou um gole, e antes que ela percebesse, ela tinha drenado a caneca e a estava preenchendo com mãos trêmulas. O ímpeto do orgasmo que ela se lembrou de beber do sangue de David retornou, embora não com tanta intensidade. Ela tinha que se forçar a não engolir – o pensamento de vomitar sangue era a coisa mais nojenta que ela podia imaginar, e isso seria um desperdício. Ela não sabia quando ela podia conseguir mais. 91 92

(Capri Sun –marca de sucos infantis, onde a embalagem é um saquinho com um canudo.) (uma das atrações turísticas de Austin e observar as colônias de morcegos, que visitam a cidade periodicamente.)


Ela terminou afundando os seus joelhos no chão, suas mãos espalhadas sobre os azulejos, a alegria e o prazer inebriante a balançando para trás e para frente. A dolorosa queimação e ardor em sua boca acabaram, e também o seu cansaço e fraqueza. A sua visão estava aguda novamente, as cores na sala mais afiadas. Ela não tinha percebido o quanto aborrecido os seus sentidos tinham se tornado como a semana os tinha desgastado. Agora tudo estava se sentindo certo novamente. Era maravilhoso. Ela estava gargalhando enquanto ela caiu no sono no chão da cozinha. *** David Solomon foi o primeiro Prime que informatizou todos os seus registros. Tudo no seu Haven era armazenado eletronicamente; tudo estava além do estado-de-última-geração, porque se ele não tivesse a tecnologia que ele quisesse, ele simplesmente criava uma. O sistema de com, a rede conectando todos os Signets em todo o mundo, os sensores que agora ajudavam a proteger Austin – ele já tinha uma dúzia de patentes no seu nome e estava em andamento com vários mais, incluindo um novo tipo de celular solar que aproveitava o inimigo universal dos vampiros como uma fonte de energia renovável de poder não apenas no Haven, mas em todos os sistemas e até mesmo nos carros. No início os outros Signets gargalharam, mas eventualmente eles foram pegos pela conveniência e eficiência. A Califórnia foi a primeira a comprar uma licença de software e se unir a rede; Deven conhecia uma coisa boa quando ele via uma. Depois disso, a maior parte dos outros caiu na conformidade. Mesmo uns poucos Signets quem eram abertamente antagônicos à Califórnia, e pela extensão ao Sul, tinham expressado interesse em aprimorar suas comunicações arcaicas. A única área que Faith tinha realmente visto um problema era quando vinha à pesquisa. Tudo que David tinha trazido com ele da Califórnia, incluindo todas as suas informações do sindicato original dos Blackthorn, estava em um servidor. Tudo datado de antes do Signet trocar de mãos era ainda mantido em cópias pesadas nos arquivos do Haven. Auren era praticamente desdenhoso em relação a tecnologia, então todos os seus antigos relatórios de patrulha estavam ainda no papel, escritos à mão. Isso significava que quando David pediu a ela para descobrir mais sobre Ariana e Bethany Blackthorn através dos arquivos de Auren, ela quis nada mais além de bater nele na cabeça com os 1954-1955 relatórios vinculados até que ele tivesse uma idéia melhor.


“Tudo que eu estou pedindo é pra você puxar os arquivos relevantes,” O Prime disse. “Eventualmente eu vou tentar escanear e regravar todas as antigas merdas de Auren pra que a gente possa passar por isso e salvar o que nós queremos, então retalhar e queimar o resto. Tudo que isso faz agora é tomar espaço. Apenas me traga o que você acha que eu deveria olhar.” “Como diabos eu encontro isso?” Faith perguntou. A tarefa adiante era assustadora, para dizer ao mínimo. Os arquivos consistiam de oito salas enfileiradas do chão ao teto com prateleiras de arquivos, alguns tão velhos que estavam despedaçados ou ilegíveis. “Tem alguma coisa disso em ordem?” “Sim, Faith.” Essa paciência recém-descoberta dele, embora refrescante em alguns sentidos, tendia-a fazer ainda mais impaciente em resposta. “Os arquivos de Auren serão os mais recentes, então estará na sala oito. De acordo com Bethany, ela e Ariana estiveram aqui apenas cerca de quatro anos antes de Auren morrer, então procure por algo que corresponda a essa linha de tempo, puxe ele, e traga pra mim.” “E porque eu tenho essa honra? Eu sou a secretária no comando agora?” David olhou para ela a partir da matriz de bits eletrônicos e sensores semiconstruídos que ele estava trabalhando para aperfeiçoar ainda mais a rede na cidade. “Eu não confio em ninguém mais nessas salas,” ele disse. “Há milhares de tipos de informações sensitivas aqui, e é apenas para os seus olhos.” Resmungando, Faith seguiu para fora do corredor de arquivos, onde cada número da sala estava pendurado na sua porta correspondente. Sala oito era no final à esquerda. Ela destravou a porta com o seu com e se deixou entrar, tentando não se chocar com a poeira e o cheiro sufocante do espaço negligenciado. “Oh, Jesus,” ela murmurou. “Isso vai me levar um ano todo.” Faith levou um momento para se orientar; o mais próximo do que ela podia dizer, os arquivos estavam em algo como uma ordem cronológica. Ela começou a separar através da primeira pilha, encontrando como ela imaginou que a maior parte dos relatórios de patrulha eram inúteis agora. Uma hora mais tarde ela ainda estava neles e sua paciência estava se desgastando perigosamente fina. Ela lançou outra mão cheia de papéis da pilha no chão; ao menos ela tinha uma caixa deles para incinerar mais tarde para que, nessa era distante, quando David tivesse tempo de sobra para arquivar, ele poderia evitar todos esses. Todo o Haven estava cheio de pessoas que poderiam estar fazendo isso. Certamente ela tinha um trabalho mais importante ao invés de estar fazendo


isso. Ela podia ter designado uma dupla de recrutas verdes para isso e voltar para a cidade para outra ronda de patrulhas. Ela não acreditava na paz mais do que o Prime acreditava, mas ele estava usando uma momentária pausa para apertar a rede. Ela quis estar fora nas ruas para ter certeza que o Mundo das Sombras soubesse quem era o encarregado. Agravada, ela empurrou outra pilha de papéis no chão, mandando uma nuvem de poeira para o ar. Ela tossiu violentamente e xingou Auren por ao menos não usar os armários de arquivos para todo o lixo acumulado de décadas de governo. Embaixo da pilha, ela viu algo estranho: uma caixa de metal. Ela a puxou para cima e limpou a tampa. Era de um cinza indescritível, o tipo de coisa onde as pessoas guardavam papéis importantes trancados em caso de incêndio, e era um tamanho legal; não tinha trava por com, claro, mas travas normais não eram um obstáculo real para ela. Ela puxou para fora o seu canivete e o cutucou abrindo facilmente. Os conteúdos estavam embrulhados em folhas de plásticos, amarrados com fita adesiva, e rotulados: AUREN: EFEITOS PESSOAIS. Agora isso era interessante. Ela levou a caixa para a mesa, empurrando os arquivos que estavam em cima dela para o chão com um baque satisfeito, e apoiou a caixa abaixo, tirando o pacote e cortando a fita com a sua faca. Uma mão cheia de itens soltos caiu: um passaporte, alguns cartões de créditos expirados, outros detritos que provavelmente estavam na carteira do Prime quando ele foi assassinado. Ela se perguntou quem tinha revistado as suas roupas; não tinha sido ela, e David estava muito ocupado para se importar com o que aconteceu ao cartão Visa de Auren. Havia um molho de chaves – ela estava grata pelo sistema de com, então ela não precisava carregar tanta coisa. Ele parecia ter uma para cada porta trancada na sua ala. Havia também uma mão cheia de canetas em meia dúzia de cores. O último item a surpreendeu: um livro preto de capa dura, desgastado com a idade. Ela folheou com cuidado. Auren tinha algo de um artista amador. O livro tinha sido na maioria usado para esboços, embora houvessem alguns dispersos lançamentos diários escritos no que parecia ser Alemão. Faith reconheceu as imagens dos jardins do Haven, os estábulos, um dos enormes carvalhos ladeando a garagem; havia até mesmo um esboço do Signet. Os desenhos foram processados em caneta com toques de cores aqui e ali. Alguns estavam manchados de uma maneira que sugeria que Auren tinha sido canhoto, apenas como David era.


Ela deveria levar isso para ele. Ele falava Alemão; ele poderia traduzir os lançamentos diários. Quem sabia o que Auren tinha escrito nos seus dias finais?” Faith virou para as últimas páginas, e sua boca caiu aberta. Alguns esboços ásperos tinham sido bloqueados no rosto de uma mulher, e um havia sido completado. Era uma semelhança notável, e debaixo Auren tinha escrito ARIANA. Ele tinha até mesmo a desenhado usando o Signet da Rainha que ela nunca ganhou em vida. Ela estava sorrindo para fora da página, recatada e sedutora. Havia apenas um problema. A mulher no desenho era loira. Ariana Blackthorn –a Ariana Blackthorn que eles executaram –tinha cabelos pretos e olhos amêndoas. Essa aqui tinha azuis. Ela também parecia uns bons cinco anos mais nova. “Filha da Puta,” Faith disse. Ela fechou o livro e correu pela sala de arquivos, chamando no seu com. “Elite Quarenta-Três, eu preciso do status da garota Blackthorn.” Não houve resposta. Ela tentou novamente e teve apenas silêncio. O mesmo resultado veio de tentar alçar o outro guarda da porta de Bethany. Xingando, ela mudou para o modo de transmissão. “Segurança para a suíte da visitante imediatamente.” Um som. A voz de David: “Faith, reporte.” Ela partiu para o corredor onde a garota estava ficando em uma corrida mortal. “Mestre,” ela disse, “Nós temos um problema muito sério.”


Capítulo

M

17

IRANDA TEVE UM TEMPO DIFÍCIL PARA SE concentrar essa noite. Pela primeira vez ela estava feliz quando o show acabou. Ela esteve esperando tanto tempo por Sexta. Ela pulou para baixo do palco e mal teve tempo de recolher o seu material e dizer adeus para os caras da luz e do som antes de se encabeçar para casa. Ela estava em um humor fantástico, quase risonha com a antecipação; ela queria chegar em casa, tomar um banho para tirar a maquiagem e o suor que se acumularam nas últimas horas –oh, e depilar suas pernas. Elas estavam como dois escovões, e assim não poderia ficar. Havia também um bocado de sangue deixado no saco na geladeira. Ela queria ter certeza que isso terminasse antes de David chegar. Ela ainda não estava certa de como ela iria explicar o que ela tinha feito...mas ele apenas iria ter que entender. Não era como se ela tivesse se transformado em um vampiro. Além de reconstruir a sua força e impedi-la de ficar maluca, beber aquele único litro de sangue não tinha mudado nada. Miranda pulou para fora do ônibus, sorrindo para o motorista. Ela esteve pegando a mesma linha por muito tempo agora, mas apenas nos últimos meses ela tinha prestado atenção a qualquer coisa além do seu próprio umbigo. Agora ela trocava piadas com o motorista, um homem sedutor mais velho Hispânico chamado George que a reconheceu dos artigos. Ela podia se proporcionar um carro agora, se ela quisesse, mas parecia inútil quando os poucos passos que ela alguma vez precisava para ir estava na rota do ônibus e qualquer coisa era melhor do que tentar estacionar no centro


da cidade de Austin no final de semana. Ela estava com sorte – o transporte público aqui não era exatamente como o nível de Nova Iorque. Se ela tivesse que ir a qualquer lugar fora do seu bairro de costume, isso iria levar um planejamento considerável e várias horas de viagem. Ela caminhou a última quadra para o apartamento cantarolando baixinho embaixo da sua respiração. Uma meia lua montava no céu sobrecarregado em meio a nuvens que anunciavam uma noite fresca, arejada. Tinha sido uma primavera maravilhosa. O verão estava se preparando para ser ainda melhor. Miranda estava sobre a sua rotina habitual pós-show, mas dessa vez com um pouco de pressa. Era quase onze, e David era previsto estar ali à meia-noite. Ela tomou um banho quente, ainda com o sabão sem cheiro, se arremessou em seu jeans confortável e uma T-shirt enquanto ela ficava à toa em casa, seu cabelo amontoado em cima da sua cabeça, sua pele fresca no ar quente do apartamento. Ela estava para se dirigir à geladeira quando ela ouviu uma batida na porta. Um olhar no relógio disse a ela que era apenas 11:25. Ela agarrou o seu celular da sua bolsa enquanto ela ia para a porta, checando as suas mensagens. Maldito seja, ela deveria ter conferido mais cedo – havia uma de David às 10:00, provavelmente dizendo que ele iria se adiantar. Miranda segurou o celular na sua orelha enquanto ela destravava a porta. “Miranda,” a voz de David disse se desculpando, “Eu vou me atrasar. Nós

estamos tendo uma falha no servidor que eu tenho que consertar antes de poder sair, mas isso não deve levar mais do que uma hora-” A porta abriu. Miranda abaixou o celular, apertando o botão de FINALIZAR LIGAÇÃO com seu polegar. “Eu posso te ajudar?” A mulher em pé do lado de fora era magricela e loira, com olhos azuis que estavam de uma vez gelados e em chamas. Ela não estava sozinha. “Samuel,” Miranda disse. “O que você está fazendo aqui?” Ele não respondeu. Ele não olhou para ela, e nem o outro homem –vampiro –com a mulher. Uma ondulação lenta de inquietação passou pelo estômago de Miranda. Ela começou a bater a porta, mas a mulher pegou e forçou para trás, empurrando Miranda forte para dentro da sala. Miranda agarrou a borda do sofá para evitar cair, o seu celular caindo da sua mão para o chão.


“Você deve ser Miranda Grey,” a mulher disse, inclinando a sua cabeça para o lado, o seu sorriso apenas com uma parte sã. Sua voz tão alta quanto a de uma criança, quase cantada. Miranda se levantou reta e cruzou seus braços. “Quem é você?” “Meu nome é Ariana Blackthorn,” ela respondeu. “Isso é impossível. Ariana Blackthorn foi decapitada.” O sorriso assumiu uma borda desagradável. “Absurdo, criança. Ninguém pode me matar. Eu sou a Rainha de direito desse território. Um curvar é apropriado.” “Eu não vejo um Signet.” Miranda arriscou um olhar em volta da sala – não havia nada que ela pudesse usar como uma arma exceto pela faca de David em sua bolsa. Mesmo isso não faria muito bem por ela ao menos que ela pudesse ver através do pescoço de Ariana.

Eles vão mandar ajuda. Apenas gaste algum tempo. “Não tem problema,” Ariana disse. “Eu vou fazer isso assim que eu apanhar do corpo sem vida do seu Prime.” “E como você está planejando fazer isso?” Ela bufou. “Eu pareço estúpida pra você?” Miranda deu de ombros. “Na maior parte apenas maluca. E um tipo feio, realmente. Eu recomendaria o cuidado para os cabelos de Paul Mitchell93 e talvez um sanduíche.” “Querida garota,” Ariana disse, “Você realmente é algo o bastante. Se você alguma vez fosse um de nós ao invés de um mero inseto, você seria uma força a ser considerada. Mas você não terá nenhuma chance, eu suponho.” “Me deixe adivinhar. Você vai me matar.” “Primeiro você,” ela confirmou com um aceno. “Depois assassinar o seu, bastardo de carne-maldita do Prime. Mas não até eu ter força suficiente para controlar toda a cidade. Todos os meus aliados estão convergindo enquanto nós nos falamos. Eu admito que o seu amor nos tratou como um golpe. Sua pequena rede esteve me irritando. Será a primeira coisa que eu vou destruir uma vez que eu tomar o Haven.” “Como você saiu do Haven?” Miranda perguntou. “Eles tinham você sob vigilância.” “Você pergunta que assim como eu estive lá verdadeiramente como uma prisioneira. Meus meninos aqui tinham tudo sob controle.” 93

(Paul Mitchell – é um cabeleireiro americano que tem uma franquia de salões de beleza e vários produtos para o cuidado do cabelo que levam o seu nome.)


Miranda olhou para Samuel. “Você traiu o Prime,” ela disse. “Todo esse tempo ele confiou em você, e você esteve trabalhando para ela?” Samuel falou quase rigidamente. “Eu sou leal a minha líder de direito.” “Qual é esse direito que você continua falando?” Miranda quis saber. “Você nunca foi escolhida como Rainha. Auren morreu e o seu Signet passou para outra pessoa. É como isso funciona.” “Não,” Ariana rosnou, chegando mais perto. Miranda manteve-se estabelecida mesmo quando a mulher estava exatamente em seu rosto. “Não é como isso funciona. Não pra mim. Eu era o seu amor, o seu par perfeito. Eu seria escolhida se a minha irmã não tivesse vindo e ficado no caminho – ela pensou que ela pudesse tirá-lo de mim.” “Auren te largou pela sua irmã? Isso é uma verdadeira vergonha, uma pegadora como você.” “Está tudo bem. Tudo funcionou. Eu tive ele de volta, e então eu consegui que ela confiasse em mim. Eu sou uma mulher paciente. Eu estava gastando o meu tempo para alimentá-la aos lobos. Nos fizemos um plano para trocarmos de lugar, e ela poderia escapar enquanto eu tomava o Haven. Ela era uma corredora mais rápida e melhor lutadora –ela pensou que pudesse iludir aquela pequena piranha da Segunda e estaria segura como uma falsa cativa. Agora ela está fora do meu caminho, e quando os outros chegarem, eu vou ser aquela que tomará o Signet.” “Quando é previsto pra isso acontecer?” Miranda perguntou. O sorriso de Ariana voltou. “Sem mais monólogo,” ela disse. “Eu sou uma melhor vilã que isso. Meninos, peguem-na. Nós temos trabalho a fazer aqui.” Eles vieram para ela, mas ela estava preparada – ela não deu a eles tempo para obterem a vantagem, mas se arremessou para Samuel, atacando com ambos o seu poder e seu gancho de direita. Ele balançou para o lado com um grunhido de dor, e ela rodopiou para aterrissar um chute no intestino do outro vampiro. Ela ouviu Ariana gritar algo para eles mas não parou para conversar; ela se atirou na porta da frente aberta e correu. Os pés descalços de Miranda bateram na calçada dolorosamente, mas ela não podia pensar nisso, não podia pensar em nada além de colocar tanta distância entre ela e eles quanto possível. Ela tinha que encontrar algum lugar seguro e arrumar um jeito de avisar David. Se Samuel pudesse tirar Ariana do Haven, ele poderia colocá-la de volta, e se ninguém dissesse ao Prime, Samuel poderia voltar ao seu posto sem ninguém sequer duvidar dele.


Ela angulou à esquerda, se dirigindo direto para a cidade onde haveria mais testemunhas. Os seus sentidos estavam em alto alerta, e ela podia sentir os outros perseguindo-a, suas raivas e nuvem negra se aproximando rapidamente, tão rapidamente. Não havia jeito que ela pudesse ultrapassá-los. Ela tinha que se esconder, e o melhor lugar era em meio a fervilhante vida mortal do South Congress94. Seus pulmões estavam cheios com formigamento, mas ela não desacelerou até que ela quase estivesse na ponte. Carros passando, seus faróis brilhando sobre ela, e ela quase atropelou um pedestre solitário enquanto ela corria para a ponte onde, ao entardecer, milhões de morcegos mexicanos de cauda livre95 se lançavam para dentro do céu. Turistas amavam ficar na ponte e observá-los durante o verão. Muito abaixo, o Lago Lady Bird era uma mancha negra ondulando com as luzes refletidas da capital da cidade. Ela ouviu os seus passos segundos antes dela sentir suas mãos se fecharem ao redor dos seus ombros. Ela tentou lutar com eles, mas o elemento surpresa tinha acabado – eles sabiam que ela não era nenhuma fraca, agora. Samuel se apossou dos seus braços e os prendeu para trás, embora ela lutasse selvagemente, e o outro vampiro ficou entre eles e as pistas por onde os carros corriam, alheios. Ariana caminhou para eles. Tão fria e fresca como se ela tivesse saído de um salão. “Bem, isso foi divertido.” Ela disse, gargalhando alegremente. O barulho estava quase perdendo para o tráfego. “Você é apenas cheia de surpresas, não é? Um desperdício.” “Eu vou matar você!” Miranda ainda estava lutando. “Eu vou tirar a sua cabeça eu mesma!” Ariana ria. “Isso não é tão bonitinho?” “Nós deveríamos levar ela de volta e a queimar?” Samuel perguntou. “Não,” Ariana disse. “Eu quero que ali esteja um corpo. Eu quero que ele a encontre, para ver a sua morte e senti-la sem vida e fria em seus braços. Eu quero que ele saiba o que ele tirou de mim. Então na lua cheia ele pode perder tudo mais.” Ariana segurou a sua mão para fora, e o outro vampiro colocou a adaga dentro dela. A lâmina de aço cintilando na luz da rua.

94

(South Congress- é um bairro em Austin, localizado na Avenida South Congress) (essa espécie de morcego também é conhecida como Tadarida brasiliensis, é encontrada nas Américas, Chile, Argentina e Uruguai.) 95


Miranda começou a falar novamente, mas Ariana puxou o seu braço para trás, e de repente todo o peito de Miranda ficou arrasado em agonia – ela engasgou, então sufocou, olhando para baixo para ver o punho da adaga escandalosamente saliente nas suas costelas. Suas pernas ficaram dormentes, e ela cedeu no aperto de Samuel, sentindo o seu sangue começar a fluir para baixo no seu peito, seu coração estremecendo. A dor era além do grito, além de tudo, mas ela podia apenas fazer um som estrangulado em encarar para piscina escura encontrada em seus pés. Ariana assentiu a Samuel. Assim como a visão de Miranda foi do azul para o preto, ela sentiu o seu corpo ser rebocado por cima do parapeito, e lançado, inútil como um saco de lixo, para fora da ponte e para dentro da escuridão do lago. Ela nunca sentiu o impacto. *** O Haven estava um caos. “Eu quero um time completo de patrulha no apartamento dois vinte e um na Cypress Grove,” Faith ordenou no seu com. “Tenha certeza de que Senhorita Grey está segura antes de algo mais acontecer. Lindsay, não mexa um músculo. Você me copiou?” Ela encontrou David, na agora vazia suíte dos visitantes a tempo de ouvi-lo gritar uma série de obscenidades e explodir de volta para fora do quarto, gesticulando para os tenentes reunidos o seguir. “Qual o ETA96 do time de patrulha?” ele exigiu. “Onze minutos,” Faith respondeu. “Onde estão os guardas de Bethany?” “Inconscientes no quarto. Ela é esperta – ela sabia que os matando iria interromper o seus sinais do com. Ela possivelmente não pode saber sobre as falhas na segurança, mas ela sabe que eu sei quando alguém morre. Deus fodidamente amaldiçoado.” Ele disparou a Faith um olhar. “E se você disser, ‘Eu disse a você,’ eu vou apunhalar você aqui e agora.” “Não estava planejando isso, Mestre. E agora?” “Eu vou correr uma rede de rastreamento e ver se nós podemos encontrála. Enquanto isso-” Ele se virou, no meio do caminho, para os tenentes e andou para trás. “Patrulhas duplas pela área metropolitana. Mande o recado através de todo o território que ela está foragida e provavelmente vai para a base com os sobreviventes da sua gangue. Se vocês virem tanto como dois vampiros em 96

(ETA- estimado tempo de chegada.)


um lugar,eu não me importo se eles estiverem jogando Twister*, vocês tragam eles aqui.” Ele dispensou os outros e levou Faith com ele descendo as escadas para a sala de servidores. “O que é isso na sua mão?” ele perguntou a Faith enquanto ele tomava a sua cadeira. “O diário de Auren,” ela disse, entregando a ele. “Foi como eu soube que algo estava errado. Olhe para as figuras no final.” Quando ele viu o que ela tinha visto, seu rosto perdeu toda a expressão e ele ficou pálido. “Deus.” Ele largou o livro na mesa e voltou para o computador, trazendo a grade do sensor municipal. Com sua mão livre, ele puxou o seu celular para fora do bolso e entregou a Faith. “Tente encontrar Miranda,” ele disse. “Eu quero saber se ela está segura.” Faith ligou, mas não houve resposta, apenas a voz fantasmagórica de Miranda na caixa postal. “Nada.” Ela atingiu o seu com novamente. “Elite Oitenta-Seis. Lindsay, o time de reforço já chegou?” Sem resposta. “Porra – Mestre, eu posso acessar o com da Lindsay daqui?” “Claro.” Ele clicou em algo e trouxe outra grade, essa mostrando a localização de cada com. Ela viu quatro pontos representando o time de reforço se aproximando do complexo de apartamento de Miranda, e havia um ponto comum que era o sinal de Elite 86. “Ela não está se movendo,” David notou. “Mas ela não está respondendo – ela pode estar inconsciente como os outros. Elite Cinquenta-Sete, qual é o seu status?”

“Nós estamos tendo problemas em chegar ao prédio, Mestre. Há algo acontecendo.” “O que você quer dizer?”

“Há caminhões de bombeiros e ambulâncias em todo o lugar. Eles apareceram assim que nós alcançamos a rua. Eu mandei o Elite Vinte entrar para um olhar mais perto, mas há tanta fumaça que está fazendo a informação visual impossível.” David encontrou os olhos de Faith,e ela viu o que ele estava pensando. Seu próprio interior virou gelo. Ele alcançou com uma mão e trocou as janelas da grade do sensor. Cada forma de vida com uma temperatura corporal mais baixa do que um humano e uma massa corporal de um certo tamanho registrado na rede.


Ele sobrepôs nas duas redes. Havia três vampiros deixando a localização do apartamento de Miranda assim como quatro mais se aproximando na direção oposta. Os quatro se aproximando eram Elite. Os outros três não eram. “Oh meu Deus, ela está lá,” Faith engasgou. Mas quando ela olhou para cima, ele tinha ido. *** David reapareceu do outro lado da rua no complexo de apartamentos, e logo que ele pode ouvir novamente a dissonância era ensurdecedora. Sirenes, conversas de rádio, e pessoas gritando em volta dele, e o cheiro acre de queimado o atacava. Havia dois enormes caminhões de bombeiros bloqueando a rua, e carros de polícia revestindo o quarteirão para conter a multidão. O ar estava espesso com fumaça. David correu atravessando a rua, empurrando ao passar a barreira brilhante amarela e ignorando o oficial que tentava o chamar para voltar. Ele serpenteou entre os caminhões de bombeiros e emergiu do outro lado, onde uma explosão de calor o atingiu de volta. Era como olhar para o inferno. O prédio era um inferno, e vários outros no complexo já tinham ido para cima também. Lentamente, ele ergueu seus olhos para as beiras carbonizadas em branco do edifício. Logo abaixo do telhado, pintada com vermelho escuro que estava escurecendo com a fumaça estava o Selo de Auren. A energia gasta por se mover através de tal grande distância o pegou assim como o choque fez, e ele sentiu os seus joelhos impactando no concreto. Ele não podia desviar seus olhos da chamas lambendo para fora das janelas de Miranda – seus olhos mentais mostravam a ele a mobília rachando e a pintura empolando, a carcaça do seu estimado teclado derretendo com o calor. E tudo enquanto, ele podia ouvir o passado: Lizzie gritando enquanto a fogueira se erguia para consumir a sua pele de lírio branco. “Mestre?” Ele não desviou o olhar do fogo para o líder da patrulha que o tinha encontrado. “Mestre, nós encontramos Elite Oitenta-Seis – ela ainda estava viva quando nós fomos a ela, mas...” “O que mais?” ele perguntou. “O que eles encontraram?”


“Nós não sabemos. Isso aconteceu tão rápido – eles estão certos que isso foi um incêndio culposo. Eles encontraram latas de gasolina no estacionamento. Eles resgataram alguns residentes, mas ao menos a metade está desaparecida.” “E Senhorita Grey?” “Eu não sei, Mestre. Tudo que eu sei é...” “O que?” “Lindsay...quando nós a encontramos, ela estava dizendo ‘Eu falhei, me desculpe’ uma vez atrás da outra. Quando eu perguntei a ela o que aconteceu, tudo que ela disse foi...foi... ‘Ela se foi.’” “Não,” ele disse. “Ela deve ter saído. Ela não pode estar ali dentro. Encontre ela. Agora.” Ele tentou pensar, tentou aparecer com outra explicação. Ela esteve no clube essa noite, era previsto para ele encontrar com ela à meia-noite...ela deveria estar em casa, esperando por ele, quando eles vieram para ela. Ela deveria ter aberto a porta pensando que ele estivesse atrás dela. Não havia maneira que ela pudesse escapar. Uma mulher pequena não poderia elevar-se a três vampiros, não sem meses de treinamento e um milagre. Ela era forte, mas não forte assim, não ainda.

Não. Não...não. Desesperado ele buscou com o seu poder, tentando encontrar a conexão que eles tinham apenas alguns dias atrás. Ele tinha deixado isso desaparecer para que ela pudesse voltar a sua vida normal por um pouco mais de tempo, pensando que essa era a coisa certa a se fazer, que ela deveria ter mais tempo para pensar. Mas ela já sabia o que ela queria. Ele era aquele que estava com medo. E agora... Ele procurou por ela com sua mente, mas quando ele encontrou o que sobrou do link e tentou segui-lo, ele apenas encontrou escuridão onde o seu amor caloroso deveria estar. Mesmo depois de uma semana deveria ter um fraco traço restante disso. Ele não soube quanto tempo ele ficou ali ajoelhado, encarando o fogo, antes de uma voz dizer, “Com licença, senhor, mas eu tenho pedido para te mostrar isso.” David se levantou, distraidamente tirando o pó dos seus joelhos e endireitando o seu casaco, e encarou o paramédico. A jovem mulher estava suada e suja, e ele podia ver que ela era uma profissional experiente que não se deixava sentir a perda da vida até depois dela ter salvo tantas quantas ela pudesse.


Ele assentiu, e ela o guiou ao redor do caminhão de bombeiro, passando por vários humanos em vários graus de perigo com outros EMTs97 fixando máscaras de oxigênio em seus rostos. Perto dali, já havia três corpos cobertos com lençóis, esperando pelo transporte ao necrotério. O Elite líder da patrulha que ele tinha falado antes estava em pé na extremidade da área de triagem. Ele estava olhando para baixo para algo. David nunca tinha querido fugir de algo tão malditamente em sua vida. Ele se forçou a andar para o lado do homem, ficando entre ele e a EMT, e olhou para baixo. Ele estava esperando um corpo. O que ele viu foi o seu violão. “O fogo começou na unidade dois vinte e um,” a EMT estava dizendo. “Um dos primeiros socorros tropeçou sobre isso e terminou arrastando-o para fora com ele. As cordas ficaram presas em volta dos seus pés. Como eu entendo isso, você conhecia o residente dali?” David olhou para o que sobrou do bonito instrumento. Havia mais do que um arranhão no braço e cordas faltando, o corpo tão carbonizado que ele tinha se despedaçado. Ele se lembrou da primeira vez que ele a viu tocar, aquela noite no clube, quando ele não tinha idéia de como ela iria lançar o mundo dele em uma turbulência tão acolhedora. Então, aquela noite no Haven, quando ele a assistiu da porta, o coração dele tão cheio de amor por ela que apenas uma garrafa de Jack pode silenciar. Ele viu as suas mãos finas dançarem sobre as cordas, a maneira que elas tinham dançado sobre a pele dele, e sua boca suave formando palavras, aquela mesma boca que tinha se fechado sobre a dele. Ela se foi. Ele não podia senti-la mais. Ariana tinha chegado nela antes da Elite poder alcançá-la. Ele tinha chegado muito tarde para salvá-la. A visão de Jonathan tinha se tornado realidade, e ele esteve tão cego para atender ao alerta. Ela se foi. Ele respondeu entorpecido as perguntas da EMT, e quando ela finalmente partiu, ele se virou para o Elite. “Você vai ficar aqui até nós termos um corpo,” ele informou o líder da patrulha. “Leve o corpo de Lindsay de volta para o memorial e penteie a área por mais qualquer evidência. Eu quero essa piranha Blackthorn trazida para mim.” Ele olhou de volta para os esfumaçados remanescentes do prédio de

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(EMTs- paramédicos)


apartamentos, onde tudo que importava tinha se tornado cinzas. “Eu estou indo para casa.” Faith estava esperando do lado de fora da porta da frente do Haven quando o carro parou. Ela esteve parada ali por quase meia hora. Ela tinha tentado contatá-lo através dos com, mas ele não estava respondendo; a unidade de patrulha na cena não tinha novidades, apenas que o prédio estava totalmente perdido e nenhum corpo foi encontrado. Mas se qualquer um fosse saber, David saberia. A conexão entre ele e Miranda certamente ainda estava ativa, e mesmo se isso não fosse ele que não estava forte o suficiente para encontrar o seu eco. Ela tinha que estar viva. Não havia simplesmente outra possibilidade. Depois de tudo que tinha acontecido, tudo que Miranda tinha passado, isso não iria acabar tão subitamente. Eles iriam encontrá-la, e ela estaria bem, e ela poderia voltar para casa. Harlan saiu e segurou a porta do carro aberta, e depois de um momento, David emergiu, seu rosto manchado de fuligem. Quando ela viu a expressão do seu rosto, Faith sacudiu sua cabeça violentamente. “Não,” ela descarregou em cima dele, ficando na frente dele, lutando com a urgência de sacudi-lo. “Me diga que você a encontrou, Mestre. Me diga que ela está bem.” Nas décadas que ela o conhecia ela tinha visto ele zangado, visto ele com ódio; ela tinha visto ele chorar. Mas ela nunca tinha visto o que ela viu em seus olhos nesse momento...completa desolação. Faith caiu para trás, sua mão em sua boca contra os soluços que estavam tentando rebater o seu caminho passando por sua rápida fratura calma. O Prime abaixou seus olhos e andou passando por ela para dentro do Haven, silencioso, cabeça curvada. Faith seguiu, lutando para recuperar o controle de si mesma, mas ela viu lágrimas nos rostos dos serventes e dos Elites que ela passou. Quando eles alcançaram a ala do Prime, e ele entrou silenciosamente na suíte e fechou a porta sem admiti-la, Samuel pegou o braço dela. “O que aconteceu?” ele perguntou. “Eu acabei de chegar do plantão e todos estão dizendo...Deus, Faith, é verdade?” Ela se fez soar profissional mesmo se o seu coração estivesse gritando. “Nós não confirmamos ainda. Assim que houver notícias eu certificarei que você saiba.”


“O que nós vamos fazer?” ele perguntou Ela olhou para trás descendo o corredor. “Nós vamos encontrar Ariana Blackthorn e matá-la. E nós vamos matar todos os seus amigos. E qualquer pessoa a mais que precisarmos. Mas primeiro...primeiro nós vamos encontrar Miranda e trazê-la de volta pra cá, onde ela pertence.”


Capítulo

18

A

PRIMEIRA RESPIRAÇÃO QUE ELA TRAGOU NÃO FOI nada além de água. Ela gritou, mas nenhum som apareceu. Estava frio...tão frio...e ela não podia enxergar. Escuridão a cercava, puxando seus pés, a arrastando para baixo...e ela estava tão fraca, ela mal podia se mover, quanto mais uma luta.

Tão frio. Isso era onde ela sempre tinha se dirigido. Esse era o pesadelo se tornando realidade. A escuridão se fechando sobre ela e não havia escapatória. Imagens fluíam passando pela sua mente enquanto ela se pendia suspensa entre a vida e a morte. Ela viu sua infância, sua mãe, voltando quando as coisas eram boas. Ela viu Marianne de novo quando ela podia sorrir. Ela viu o rosto vago de sua mãe e os olhos sem vida...a sua solitária tumba em Austin, intocada com dez anos até que sua filha prodígio ofereceu a ela alecrins. Piano, profundo e rico. Ela sentiu as teclas embaixo dos seus dedos, depois as cordas, depois músculos. Ela provou sangue. Rostos vinham para ela, alguns com nomes, alguns sem. Kat. Faith. Sophie. Terrence. Helen.

David. Samuel. Ariana. Traidores.Na lua cheia. A memória a atingiu, e em alguma coisa profundo dentro dela que estava quase morto, ela convocou toda a sua força e lutou.


Ela irrompeu pela superfície da água, debatendo-se em todos os lados, então tragando um enorme fôlego que a fez ficar enjoada. Ela entrou em colapso na lama, tossindo e engasgando e soluçando. O seu peito doía. Ela colocou sua mão em seu coração, sentindo ele bater. Ele estava batendo. Ela estava viva. Assim que os seus pulmões estavam vazios e o seu nariz não estava mais cheio do fedor da poluição e da sujeira, ela cheirou algo mais...algo nítido e leve...algo aterrorizante. A manhã. A manhã estava se aproximando. Ela tinha que entrar em algum lugar. O céu estava começando a clarear no leste. Centímetro por centímetro, ela se puxou todo o caminho para fora da água e ficou sob suas mãos e joelhos, depois seus pés. O mundo rodopiava ao redor dela, mas ela permaneceu na posição vertical pela sua força de vontade. Ela tinha de alguma forma, terminado longe da ponte do Congress. Ela estava fora da pista de corrida que contornava o Lago Lady Bird. Em poucas horas haveria pessoas em todos os lugares. Ela podia pedir ajudar, encontrar um telefone, ligar... Ligar para quem, exatamente? Ela nunca teve a preocupação em memorizar os números porque eles estavam todos armazenados no celular. Ela estava fracamente certa que ela sabia o de Kat, mas ela não tinha nenhuma maneira de ligar. O seu celular estava de volta no seu apartamento e não havia forma dela chegar lá pelo amanhecer. Ela tinha que encontrar algum lugar escuro e seguro, algum lugar que ela pudesse descansar. Ela estava tão cansada. Ela quase afundou de volta no chão, mas o medo do que poderia acontecer com ela se ela fosse pega do lado de fora a conduziu adiante. O seu corpo doía inteiro, e ela sentia como se o seu interior fosse revestido com serragem. Ela estava ensopada e imunda e não tinha nenhum dinheiro, sem identificação, nem ao menos setenta e cinco centavos para o ônibus. Sua mente estava girando. Ela tinha que pensar. Para onde ela iria? Ela tropeçou pelo caminho, braços envolvendo ao se redor em uma vaga tentativa de se aquecer. Ela fez o seu caminho subindo a rua, tentando se orientar onde ela estava, e seus olhos borrados decifraram uma placa na rua: LAMAR BOULEVARD. Isso era algo. Lamar corria todo o caminho para Austin, paralelamente a interestadual de um final ao outro. Se ela estava no lago, ela estava a oeste do


seu apartamento e apenas ao sul do centro da cidade. Ela poderia chegar em casa em umas duas horas andando uma vez que o sol caísse. Se ela continuasse ao sul um pouco mais, ela passaria o Teatro Zachary Scott e uma variedade de restaurantes. Ela se concentrou em mover um pé de cada vez, observando cuidadosamente onde ela pisava com os pés descalços. Ela estava começando a estremecer do frio, e seus dentes estavam vibrando, causando uma dor na sua mandíbula superior como se ela estivesse rachada. A dor no seu corpo estava aumentando tão intensamente que ela começou a chorar sem perceber até que ela sentiu as lágrimas atingirem o seu braço. Em volta dela a noite diminuiu, e sua pele começou a se sentir errada, como se estivesse apertada demais. Ela se lembrou de uma sensação familiar há muito tempo atrás quando ela tinha sido picada por uma abelha e descoberto que ela era alérgica. Ela olhou em volta e viu que ela chegou tão longe quanto da loja de sanduíches ao teatro. Estava fechado a essa hora, mas uma idéia se apossou dela, e ela deu a volta atrás de prédio para a porta da cozinha. Respirando fundo, ela se arremessou através da porta; isso estremeceu embaixo do seu peso mas não abriu. Ela tentou novamente, e novamente, chorando alto suavemente com cada pancada, e na quarta vez, a frágil madeira estilhaçou e caiu para dentro. Ela teve que ter fé de que não havia alarme. No interior, o ar estava frio e escuro, e ela queria mais do que tudo apenas se enroscar em um canto e dormir, mas ela seria encontrada; ao invés disso, ela olhou para trás para o balcão até ela encontrar em telefone. Levou várias tentativas até que ela conseguisse acertar o número. Os últimos dois dígitos estavam confusos na sua mente, mas a providência estava com ela, e depois de dois toques, uma voz sonolenta respondeu, “Alô?” “Kat,” ela quase chorou, “É Miranda. Eu preciso da sua ajuda.” “Oh meu Deus, Mira! Graças a Deus! Eu tenho tentado encontrar você – você está bem? Você está ferida?” Miranda meio gargalhou, meio chorou. “Por favor, Kat...eu preciso que você venha me pegar. Eu estou na Delicatessen Newman no Sul de Lamar, pelo Zach. Por favor se apresse –e traga um cobertor.” “Mas-” “Por favor,” ela implorou. “Eu vou explicar tudo mais tarde.”


“Eu estou a caminho,” Kat disse ofegante. “Agüente firme, docinho, eu estarei aí em cinco minutos.” Miranda estava sentada na calçada do lado de fora quando Kat encostou o seu velho batido Corolla. Miranda se empurrou sob seus pés e quase caiu dentro do carro, pegando o cobertor que Kat ofereceu e envolvendo-o em volta de si mesma até cada centímetro da sua pele estivesse coberta. “Depressa...eu tenho que estar na parte de dentro antes que o sol surja.” Pela primeira vez Kat não fez qualquer pergunta. Quando ela viu o estado das roupas de Miranda e cabelo e a maneira com que ela estava tremendo, ela simplesmente pisou no acelerador e as dirigiu para a sua casa no dobro da velocidade permitida. Ela empacotou Miranda em seu duplex alugado e a sentou no sofá. “Okay, comece a falar.” “Ainda não.” Miranda atiçou o seu nariz para fora do cobertor. “Há alguma janela no seu banheiro de hóspedes?” “Não, mas...” Miranda sacudiu sua cabeça e se levantou de volta; Kat fez um barulho de impaciência mas a ajudou para dentro do banheiro. Ali, Miranda tirou o cobertor e ouviu o engasgo de Kat. “Que porra aconteceu com você?” Kat perguntou. “Sua camisa!” Ela olhou para baixo. Havia um buraco sobre o seu peito, e sua T-shirt estava manchada com o borrado remanescente de sangue que tinha jorrado da ferida à faca. Miranda tocou o buraco, a memória ameaçando a engolfá-la. “Alguém tentou me matar,” ela disse. “Jesus, Mira...primeiro o seu apartamento, agora isso –você tem que me contar o que está acontecendo.” “Meu apartamento? O que você quer dizer?” Kat se inclinou na porta do banheiro, olhando completamente mistificada por toda a situação. “Estava em todos os noticiários na noite passada. Alguém queimou abaixo o seu complexo. Há ao menos dez pessoas mortas – você não estava lá?” Miranda se sentou forte na tampa da privada fechada, colocando sua cabeça em suas mãos. “Eles queimaram. Eles queimaram. Todas essas pessoas...tudo...restou alguma coisa?” “Eu acho que não. O fogo começou no seu prédio.” Miranda estava chorando novamente, fora da raiva e da perda, pensando em todas as suas coisas – seu violão, seu computador...a foto da sua mãe,


emoldurada e pendurada na parede da sala de estar. Ela não tinha nada, nem ao menos a sua carteira restou, apenas os trapos que ela estava usando quando ela rastejou saindo do lago. “Eu posso pegar algumas roupas emprestadas?” ela perguntou em uma baixa voz. Os olhos de Kat estavam molhados, e ela assentiu. “Você tome um banho. Eu vou pegar alguma coisa pra você vestir.” Ela enxugou seus olhos e disse, “Vai ficar tudo bem, Mira. Nós vamos dar um jeito.” Miranda tirou a sua T-shirt e o encharcado, enlameados jeans, adicionando a sua roupa de baixo na pilha, em seguida reuniu tudo isso e empurrou para o lixo. Ela abriu a água o mais quente que ela podia suportar e ficou embaixo do jato por um longo tempo, esfregando a sujeira que não parecia ficar limpa. Na hora em que ela saiu, ela estava à beira de perder a consciência. Ela tinha que dormir. Algo estava acontecendo com o seu corpo, e ela estava perdendo o que restou da sua força rapidamente. A sua barriga doía insuportavelmente, como se algo estivesse revirando os seus intestinos e os apertando forte; se houvesse algo no seu estômago ela provavelmente teria perdido isso. A sua cabeça estava latejando, e o céu da sua boca sentia-se como se estivesse em chamas. A sua visão estava nadando e ela caiu de costas contra a parede do banheiro, deslizando para baixo até o seu bumbum atingir o chão. Kat abriu a porta. “Aqui,” ela disse. “Isso deve servir – são apenas moletons mas eu acho que você iria querer algo quente.” “Obrigada,” Miranda conduziu, lutando para dentro do vestiário desconhecido. As pernas e braços eram muito grandes, mas eles estavam secos, e suaves, e cheiravam como amaciante. “O que mais você precisa?” Miranda olhou para ela, seus olhos viajando sobre o rosto da sua amiga e descendo para o seu pescoço. Ela podia ver os afluentes das veias de Kat fluindo para dentro de um grande rio, e como isso pulsava. “Oh, Deus,” Miranda gemeu, dobrando-se. Realização a atingindo quando as peças se encaixavam.

Eu morri. Ariana me matou. E então eu acordei...e agora eu estou...mudando...ainda não acabou. É apenas o começo. “Eu preciso de algum lugar para ficar alguns dias,” ela sussurrou. “Algum lugar escuro. O seu quarto de hóspedes tem janelas?”


“Yeah, ele tem – e eu estou perguntando novamente, que porra está acontecendo? Porque você precisa do escuro? Miranda, nós temos que ligar pros tiras. Alguém tentou te matar. Você acabou de me dizer.” Ela sorriu tristemente. “A polícia não pode me ajudar agora.” “Você disse que você iria explicar, Miranda. Eu não mereço esse tanto?” “Eu não tenho certeza se você acreditaria em mim,” Miranda disse a ela. “Eu vou ter que ficar aqui...você tem cobertores sobressalentes? Talvez um travesseiro?” “Você vai dormir em um banheiro?” “Eu não sei o que vai acontecer comigo. O banheiro talvez seja o melhor lugar.” Ela agarrou o cobertor com o qual ela tinha chegado e o dobrou, estendendo-o no chão como uma almofada. “Kat...o que quer que aconteça...obrigada. Eu não poderia pedir por uma amiga melhor do que você.” “Apenas me conte, maldito seja-” “Okay.” Ela tentou encontrar as palavras, mas sua cabeça estava doendo tanto que ela mal podia pensar; ela se deitou de lado no cobertor dobrado, sem se importar que o chão fosse duro e seu cabelo estivesse molhado. “Eu estou doente, Kat. Eu vou ficar doente por alguns dias. O sol vai me matar. Eu preciso apenas estar no escuro e segura até que isso passe. Depois tudo vai ficar bem.” Kat estava olhando para ela como se ela tivesse perdido a sua cabeça, e realmente, ela não estava muito longe disso. “Miranda, me conte agora mesmo. Você voltou para as drogas?” Miranda gargalhou alto com isso. “Não. Eu prometo a você que não são as drogas. Nunca foram as drogas. Eu quero contar a você...você não sabe muito. Eu quis contar a você desde que você veio me assistir tocar no verão passado. Eu apenas não sei como.” “Me deixe levar você ao hospital, então.” “Sem hospitais. Sem polícia. Por favor, Kat...se você quer me ajudar, tragame mais cobertores, então feche a porta e fique longe até eu sair. Eu não quero machucar você.” Kat se apressou para fora e retornou um momento mais tarde, praticamente lançando uma braçada de roupas de cama para ela. “Você sabe, você esta realmente alongando toda a coisa de ‘acima e além da ligação de amizade.’ Você me liga as cinco da manhã me pedindo ajuda, e eu vou e te apanho parecendo como se você tivesse sido largada no lago, e agora você diz que você precisa dormir pra colocar algo pra fora, no meu banheiro –eu deveria expulsá-la pelo seu traseiro!”


Miranda tentou organizar os cobertores em algo como uma cama, mas seus braços não estavam cooperando. Ela não conseguia se levantar, embora ela tentasse e quase rachou abrindo a cabeça sobre o branco azulejo limpo. Cansada...tão cansada... Kat viu a sua luta e, com um suspiro, se ajoelhou e começou a aconchegar e arranjar as coisas ao redor do corpo de Miranda. “Você me deve uma grande,” ela murmurou. “Desligue a luz e tranque a porta na sua saída, por favor,” Miranda disse, fechando seus olhos. *** Quando ele retornou ao Haven, ele fechou o mundo para fora da sua suíte. Ele entrou no banheiro e tomou banho, lavando a fuligem e a fumaça para longe, e colocou roupas limpas. Ele adicionou outra tora ao fogo. Então ele se deitou na sua cama ainda feita, se curvou em uma bola, e fechou os seus olhos. Ele não se moveu novamente por três dias. Ele estava consciente, de uma grande distância, do movimento ao redor dele. Esther entrando e cuidando do fogo; Faith tentando falar com ele. Ele ouviu vozes do seu com e ele ouviu o seu telefone tocando, mas ele não se mexeu, nem sequer se incomodou em silenciar o barulho. Do lado de fora o sol ergueu e se pôs, ergueu e se pôs. Uma chuva passageira passou durante a tarde. Os jardineiros vieram e apararam as cercas. Nada disso importava. Ele estava com tanto frio. Não havia nada além do frio, gelo formando dentro dele, o fogo morrendo além do quarto. Com um pensamento ele podia se esquentar novamente, mas ele não fez. Não havia razão para isso. A cidade talvez tivesse desmoronado. Ela talvez tivesse queimando. Cada humano no território talvez tivessem as suas gargantas cortadas por agora. O mundo talvez tenha chegado a um fim. Deixe. Ele talvez tenha dormido; ou não; ele não percebeu. O seu corpo talvez estivesse com ânsia de sangue. Ele talvez já tenha morrido de fome. Se apenas. Se apenas ele pudesse deixar acontecer, se libertar da sua carne, e com isso derramar o peso que ele tinha em seus ombros. Ele foi tolo o suficiente para querer isso, por um tempo. Por um tempo, houve a possibilidade de que ele talvez não tivesse que suportar isso sozinho.


Mas o vasto vazio no seu coração era a prova contra até mesmo o mais irracional otimismo. O que quer que estivesse ali, qualquer que seja a tênue ligação que tenha se formado, não havia mais nada. Ele não tinha sequer percebido que isso estava ali até ser muito tarde, quando o suave beijo da sua presença foi abruptamente rasgado dele. Por quanto tempo isso tinha existido? Muito, muito mais tempo do que uma semana. Isso talvez tenha se formado na noite em que ele colocou seus olhos nela. Alguma parte dele sempre soube. Ele ouviu a porta se abrir novamente, e ignorou no início, mas havia algo estranho... Uma presença que ele não sentia em anos se movendo através dele, se instalando na cama ao seu lado. Uma mão tocou seu braço. Ele abriu seus olhos e olhou para cima. “Mestre,” ele disse, sua voz rouca e fina com o desuso. O Prime dos Estados Unidos do Oeste reparou nele através dos seus gentis olhos azuis de lavanda. “Eu não posso ficar muito.” “O que você está fazendo aqui?” “Faith ligou para mim. Eu vim assim que eu pude.” “Onde está Jonathan?” “Do lado de fora no corredor. Ele está com medo que você talvez o culpe.” David não respondeu; sua força parecia ter falhado. Falhado...a palavra tinha mil novos significados para ele agora. “Eu não posso mais fazer isso,” David sussurrou. Deven tinha cerca de dezessete anos quando ele se tornou um vampiro, e seu rosto ainda era novo, com um toque visionário sobre isso. Escuro, cabelo castanho brilhante ao redor dos seus ombros, e ele sempre fez David pensar no teor de anjo renegado que foi expulso do paraíso, especialmente quando ele tinha uma espada em suas mãos. Ele curvou sua cabeça abaixo da dor compartilhada e disse a David, “Sim, você pode. E você vai, Milhões de pessoas dependem do seu governo. Você tomou o Signet, e não há como colocar ele abaixo.” “É previsto que nós morremos quando isso acontece,” David disse. “Eu sei.” “Eu não sei o que fazer.” A mão de Deven subiu para o seu rosto. Fazia muito, muito tempo desde que David sentiu aquele toque. “Você vai lamentar a sua partida, e então você vai seguir em frente. Você ainda tem trabalho para fazer meu amigo, e você deve


fazer isso tanto pela Miranda quanto pelos outros. Não desminta a fé dela em você. Se levante e lute.” “Eu nem sequer sei pelo que mais eu estou lutando. Não é como se importasse de qualquer modo – se eu morrer, haverá um outro alguém. Há sempre um outro alguém.” O Prime deu a ele um irônico sorriso afetuoso. “Acredite em mim, nunca haverá um outro você. Eu não acho que o mundo possa suportar.” David sentiu a determinação dele, permanecer quebrando e entorpecendo debaixo das ondas de desespero, e ele sabia que não havia como segurar a maré. Lágrimas quentes derramavam dos seus olhos, e fora do seu instinto ele tentou repeli-las. “Não,” Deven disse. “Ela valia a pena a sua dor.” Ele abriu seus braços, e David fugiu para dentro deles, enterrando o seu rosto no ombro do seu amigo, e chorou. Ele deixou o sofrimento sair, sabendo que ele estava com uma das poucas pessoas que não iria julgá-lo por isso, a rara força de um Prime a única coisa que poderia entender, e suportar, tal dor. Deven não falou, mas ele ofereceu consolo que significava muito mais do que meras palavras jamais significaram. Gradualmente, um estremecido fôlego de cada vez, ele se sentiu ficar mais calmo. O vazio ainda estava ali, e isso ainda sentia-se como se estivesse arrastando-o para baixo com ele, mas ao menos, por um momento, ele podia pensar um pouco mais claramente. Ele se sentou de volta. “Obrigado por ter vindo,” David disse, tentando não fungar como uma criança. Deven levantou a ponta do edredom e enxugou os olhos de David, fazendo-o sorrir a despeito de si mesmo. “Obrigado, Mamãe,” ele adicionou. O Prime riu. “Eu desejaria que nós pudéssemos ficar mais tempo.” “Está tudo bem. Eu entendo. E você está certo...eu tenho que terminar o que eu comecei. Eles ainda estão lá fora, e se eu não pará-los, isso nunca vai terminar.” “Esse é o meu garoto.” Deven se levantou, levando David com ele; David estava um pouco instável em seus pés, e Dev agarrou seu braço para segurá-lo em pé. David sentiu uma energia invasora, força dentro da força. Ele a pegou com gratidão e trouxe de volta ao centro de si mesmo. “Eu recomendaria um banho,” Dev disse, “e fazer a barba. Você está começando a parecer como o meu tio pedófilo.” “O seu tio era um monge irlandês careca que pesava vinte e dois quilos.”


“É o pêlo facial,” O Prime respondeu. “Eu odeio pêlo facial. Agora, vá. Eu quero ver essa rede de sensores de vocês antes de eu partir.” David estava acostumado a dar ordens, mas mesmo ele sabia quando fazer o que lhe era pedido.” Limpo e vestido e sentindo-se um pouco mais como si mesmo, David aceitou o copo de vinho com sangue que Deven pressionou em suas mãos quando ele emergiu do banheiro mas não teve tempo para saboreá-lo; não havia mais tempo a perder. Ele deixou a suíte para encontrar Faith em pé do lado de fora com Jonathan, os dois em uma conversa que parou assim que a porta se abriu. Nenhum deles pareceu completamente confortável ao vê-lo. “Está tudo bem,” ele disse ao Cônjuge. “Eu não culpo você.” “Maldito certo que você não culpe,” Jonathan replicou, embora ele estivesse sorrindo. “Você não me deu créditos quando você obteve o seu Signet. Não me culpe por isso.” Eles deram as mãos, e quando Deven saiu da suíte Jonathan imediatamente andou para o seu lado esquerdo. Eles eram um estranho casal, para dizer o mínino; o Cônjuge era o dobro do tamanho do Prime, mas era Deven que viajava armado, uma espada embaixo do seu casaco e meia dúzia de facas ocultas sobre a sua estatura aparentemente delicada. David se virou para Faith, que não estava olhando para ele. “Me desculpe,” ele disse. “Eu não deveria ter fechado você pra fora. Eu sei que você está sofrendo, também.” Faith assentiu. “Permissão para falar francamente, Mestre?” “Concedida.” “Você é um babaca,” ela disse, e o abraçou. Ele retornou o seu abraço, dizendo, “Vamos voltar o trabalho.” *** Miranda conhecia a dor na sua vida, mas não como essa. Por dias ela se contorceu no chão do banheiro de Kat, seus dedos arranhando o azulejo, todo o seu corpo escaldado de dentro. Febre se apertou nela, lavando-a com um calor insuportável em um segundo e congeladamente frio no próximo. Ela segurou o travesseiro com sua boca e gritou quando ela não pode suportar. Kat martelou na porta mais de uma vez, perguntando se ela estava bem, mas ela não podia responder. Ela tinha trancado Kat para fora – ninguém deveria vê-la assim.


Sentia-se como cada osso do seu esqueleto estalasse e prendia-se novamente uma vez atrás da outra. Suas células pareciam ter virado ácido e estavam queimando o seu caminho para fora da sua pele. A pior parte era o seu estômago – seu surto com Salmonella na faculdade não a tinha preparado para a torturante cólica e náusea. Ela vomitou quase constantemente no primeiro dia, ao início água, depois nada além de ar; sua sede era tão grande que ela enfiou a sua cabeça na pia e bebeu da torneira, depois vomitou tudo, e bebeu de novo. Foi além do ponto quando ela pensou que não podia suportar mais. Foi além de quando ela rezou para morrer. Em cada poucas horas ela desmaiava, apenas para ser conduzida a acordar novamente por uma punição fresca, milhares de facas em seu intestino ou um aperto de morsa em volta da sua cabeça. Em um ponto ela estava consciente de ter mordido a sua língua e ela estava inchada e carne viva na sua boca, sangrando de dois buracos. O gosto do seu próprio sangue fez o seu interior torcer tão forte que ela teria chorado, mas ela há muito tempo tinha perdido a sua voz.

Eu estou sozinha...eu estou morrendo e eu estou sozinha...eu não posso fazer isso. É muito. Dói tanto... Ela deitou sobre suas costas, suor derramando de cada poro do seu corpo, tão desgastada que ela podia respirar com dificuldade, e por um momento um estranho tipo de paz desceu sobre ela. Ela pensou na noite que ela foi estuprada, e a força bruta que tinha tomado o seu controle. Ela pensou em todas as noites antes disso quando ela tinha deixado as suas habilidades a usarem. Ela tinha sido espancada, e violada, e assassinada. Tudo tinha sido tirado dela a força. Sua ilusória coroa tinha sido arrancada. Não havia música para se esconder, sem Haven para fugir, sem Prime para mostrar a ela o caminho de volta. Havia apenas Miranda, e uma decisão final. Ela podia morrer aqui, um triste monte quebrado no chão de um banheiro...ou... Outro fluxo de pensamentos, ou sim sentimentos: o êxtase que a preenchia quando ela se apresentava. A alegria de transformar a música em emoção e compartilhá-la. O orgulho de se levantar mais uma vez quando ela caiu e pegou a sua espada. O calor de mãos amadas em sua pele e um corpo se encontrando com o dela. A possibilidade...as infinitas possibilidades. Poder, e amor, e todas pertenciam a ela, se ela pudesse encontrar uma maneira de estender a mão e tomá-las...não...em alcançá-las no seu interior.


Miranda colocou a sua atenção de volta a sua respiração, então a seguiu, assim como Sophie tinha mostrado a ela, embaixo dentro da sombra entranhada nela. Estava esperando por ela para deixar isso terminar o seu trabalho. Se ela lutasse contra isso, ela iria morrer. Se ela a pegasse pela mão... Ela sorriu dentro da escuridão...e escolheu. *** “Eu estou feliz que você está aqui. Eu não sei o que fazer.” “São as drogas?” Ela ouviu as vozes tão claramente que levou um minuto para perceber que elas não estavam em sua cabeça. Voz um: mulher, raça mista, aproximadamente trinta anos de idade. Sotaque do Sul evidente nas vogais. Voz dois: homem, um pouco mais jovem, sub-tonalidade caucasiana com sotaque mais do Norte do Texas. Ela abriu seus olhos e piscou com a luz inesperada. No início ela pensou que fosse o meio do dia, mas a essência do ar a contou o contrário; era cerca de oito horas. O suporte de luz não foi ligado. O ambiente estava banhado em azul aguado e tonalidades de cinza, e ela podia ver cada detalhe embaixo das rachaduras em forma de teia de aranha na argamassa. Ela sentia fora e ao longo do seu corpo, curioso. Sem dor. Ela se sentia leve, flutuante. Ela levantou sua mão e olhou para ela, impressionada em como distintas as sua extremidades eram, o quanto forte ela parecia; ela fechou em um punho, admirando o sentir dos músculos e o tendão se deslizando uns sobre os outros. Ela abaixou a sua mão ao seu corpo, correndo os seus dedos para baixo no comprimento do seu braço, então sobre os seus seios e barriga. A sensação era tão requintada que ela ficou deitada ali por vários minutos se tocando, cada centímetro vivo. Uma leve batida na porta interrompeu a sua exploração. “Miranda?” a voz feminina chamou. “Você pode me ouvir?” Ela falou, e sua voz era uma maravilha: era o mesmo timbre suave dourado de sempre, mas agora havia camadas de nuances e significados para até mesmo a mais simples das palavras. “Sim.” “Docinho, Drew está aqui. Nós queremos levar você ao médico. Você nos permite entrar?” Ela focou na porta, e nas duas figuras humanas atrás dela. Ela inspirou, e pode sentir o cheiro dos dois. Eles trabalhavam com crianças. Um deles tinha verniz embaixo das unhas. O outro usava manteiga de cacau no cabelo. Eles tinham feito sexo recentemente.


O homem cheirava encantador, como livros antigos e resina, sim, mas no fundo estavam os aromas misturados de sexo e masculinidade. Ele estava saudável e brilhante. Um ocasional comedor de carne, ativo, tinha fumado maconha em algum ponto no último mês. Seus dentes pressionaram dentro do seu lábio superior. Lentamente, ela se virou sobre o seu estômago, então se levantou, permitindo que o seu corpo se desdobrasse graciosamente como um cervo se erguendo do matagal. Ela estendeu uma mão e destravou a porta do banheiro. “Graças a Deus,” ela ouviu a mulher dizer. “Mira, você tem que ir...puta que pariu.” Eles olharam para ela, a boca da mulher se abriu assim que ela perdeu o veredito, os olhos do cara ficaram enormes. Eles eram os dois muito atraentes; a mulher tinha poder, e ela sabia disso, e o homem era afetuoso, tipo. Ambos estavam muito preocupados com ela. Porque? Ela levantou suas mãos novamente e as correu descendo pela sua lateral, olhando para baixo para ver o que ela estava vestindo. Calças de moletom e blusa de moletom. Isso era absurdo. O seu cabelo estava uma bagunça emaranhada. O que eles estavam encarando? Ela inclinou a sua cabeça para um lado, observando eles a observar. “Um...Miranda...” o homem disse hesitantemente, “Você está se sentindo bem?” Miranda. Sim, esse era o seu nome. E esse era Drew; a mulher era Kat. Ela os conhecia. Eles eram seus amigos. Ele tinha tentado beijá-la, uma vez. “Você me empresta o seu pente?” Miranda perguntou. Kat gaguejou algo e gesticulou para trás dela; Miranda se virou em direção ao armário de remédios, abrindo a porta e tirando um pente de dentes largos. Quando ela fechou a porta, ela percebeu o que Kat estava mencionando. A porta do armário era espelhada. Ela podia ver, atrás dela, as duas pessoas emolduradas na porta do banheiro. Ela não podia se ver. Ela encolheu de ombros interiormente e empurrou o pente através dos seus cabelos, estremecendo nos emaranhados. Levou vários minutos de trabalho cuidadoso para ter tudo sob controle novamente. Mesmo depois dela ter terminado, eles ainda estavam a encarando. “O que aconteceu com você?” Kat perguntou suavemente. Sua voz estava trêmula.


“Eu disse a você,” Miranda disse. “Eu estava doente. Eu estou melhor agora.” “Mas...Mira...você está tão pálida...você nem se parece humana!” Ela considerou isso, olhando para baixo, para si mesma, então de volta para eles. Bem, isso era óbvio, não era? “Eu não sou.” “O que você quer dizer?” Ela encontrou os olhos de Kat, e Kat deu um passo para trás. “Não fique com medo. Eu não vou machucar você.” Então ela adicionou, “Ao menos que você corra.” Ela fixou o seu olhar em Drew. “Eu estou faminta,” ela disse. “Eu preciso de você.” Drew se tornou adoravelmente rosa e trocou olhares de alarme com Kat. “Mas você disse...” “Pare de falar.” A boca dele estalou fechada. “Venha a mim.” Ele estava para protestar, mas ela pegou um aperto cuidadoso na sua mente e trouxe ele para dentro do banheiro, andando como um sonhador em direção a ela. Ela o deixou ir suficiente para que ele pudesse falar, se perguntando se ele quisesse fugir, mas para a sua surpresa, ele não quis. Ela soltou a mente dele completamente, e ele ficou onde ele estava. Kat fez um som fraco de choramingo de terror, mas Drew disse, “Está tudo bem, Kat. Ela não vai me machucar. Você vai Miranda?” “Claro que não,” Miranda respondeu, cobrindo o rosto dele com a sua mão, então inclinando a sua cabeça para o lado. “Você tem algo que eu preciso, Drew. Eu sei que você quer me ajudar.” “Eu quero. Eu sou seu amigo. E Kat também. Nós faríamos qualquer coisa por você.” “Eu sei...e eu prometo eu nunca vou pedir novamente.” Ela se inclinou para ele, inalando profundamente no calor e na pulsante vida diante dela. Ela acariciou o seu pescoço, ganhando um gemido, e estudou as veias por um momento, tentando escolher um lugar que não o machucaria. As veias se ramificavam como uma árvore, e ela não sabia como abrir o baú. O cheiro dele conduziu a sua fome a um passo da febre, e ela suspirou contra a pele dele, sentindo a deliciosa dor dos seus dentes deslizando para baixo sobre seus lábios.


Ele não vacilou quando ela mordeu, ou quando ela sugou. Mesmo sem a influência do seu poder ele estava disposto. Ela choramingou e o abraçou, bebendo profundamente, o gosto acometendo seus sentidos enquanto o desejo começou a desaparecer um gole de cada vez. Ela sentiu o coração dele selvagem contra os seus seios, e assim como ela mesma começou a entrar em sincronia com isso, ela sabia por instinto quando era tempo de parar. Miranda ergueu sua boca e o deixou ir. Ele deslizou silenciosamente para o chão aos pés dela. Ela lambeu seus lábios, quase bêbada com inebriante satisfação. Seus dentes se retiraram para um comprimento mais gerenciável. Kat tinha se encolhido contra a parede do corredor. Ela estava chorando. Miranda caminhou ao redor de Drew, que estava respirando forte e tentando esconder a sua ereção ficando sob seus joelhos encarando para longe de Kat. Ela deixou o banheiro mas parou diante da sua amiga, que se recusou a olhá-la nos olhos. “Eu tenho que ir,” Miranda disse. “Eu estou colocando vocês em perigo se eu ficar aqui.” Ela andou passando Kat e atravessando a casa. Parecia tão pequena e confinante. Ela ansiava pela liberdade do ar da noite. “Espere,” ela ouviu, e pausou. Kat não tinha deixado o corredor, mas disse através das suas lágrimas, “Onde você está indo?” “Eu tenho um trabalho a fazer.” “Você vai...você vai alguma vez voltar?” Miranda sorriu. Ela sabia o que Kat queria dizer. “Não,” ela disse. “Mas eu verei você novamente.” Com isso, ela andou para fora da porta do duplex, deixando o mundo mortal atrás dela.


Capítulo

19

I

RIA SER DIFÍCIL MONTAR UM ATAQUE AOS INIMIGOS SEM sapatos. A lua cheia já pendia no céu, e ela sabia que não havia tempo a perder, mas havia coisas que ela precisava: um, sapatos; dois, armas; e três, algum tipo de plano. Um pouco menos de traje de reboque98 poderia ser legal, também. (Ela tentou se lembrar em que parte da cidade ela estava. Havia uma rota de ônibus uma quadra de distância que iria levá-la perto da onde ela precisava ir, mas ela não tinha qualquer passagem de ônibus... Ela gargalhou para si mesma. Dinheiro não iria ser um problema. Quando o ônibus encostou, ela pisou para dentro dele, examinando os outros passageiros e os julgando inofensivos. Mas a motorista do ônibus limpou a sua garganta e assentiu para a caixa de passagens. “Eu tenho um passe,” Miranda disse, e inclinou a sua mente em direção a motorista. Isso era quase tão fácil. “Oh, okay,” a motorista disse. “Sente-se.” Miranda pegou o único assento livre, um no meio. As mentes dos outros começaram a se inclinar nela, mas ela adicionou mais energia aos seus escudos e estava silencioso em sua mente novamente. Houve uma época em que um

98

do original trailer-park – acredito que ela esteja se referindo àqueles macacões dos homens do reboque.)


simples ato iria a exaurir ou ao menos dar a ela uma enxaqueca. Agora era tão fácil quanto respirar. Assim que o ônibus saltou e sacudiu, ela olhou em volta aos humanos viajando com ela e sentiu o despertar da piedade. Eles estavam tão tristes. Alguns eram sem-teto, e outros apenas estavam perdidos mesmo embora eles tivessem algum lugar para ir. Talvez três estivessem genuinamente felizes e vivendo com propósito e paixão. Ela tinha sido um desses outros, uma vez. Ela tinha sido um andarilho com um coração sem teto. Agora o que era ela? Ela saberia essa noite, de uma vez por todas. Um casal de humanos estava encarando-a, e ela não podia culpá-los, realmente. Sem saber eles viram a sua espécie toda noite, mas provavelmente nunca perto assim, e provavelmente nunca alguém tão jovem para as sombras, seu poder inexperiente cobrindo ao redor dela como as asas ainda-molhadas de uma borboleta infantil. Ela sabia que isso, também, mudaria. Ela já estava começando a se sentir um bocado mais estabelecida, a sua verdadeira personalidade fixando de volta os poucos pensamentos com o tempo. Ela reviu a sua memória dos últimos dias e estava aliviada que não tinha causado mais dano – ela poderia ter matado Drew, ou Kat, ou ambos. O horror absoluto no rosto de Kat foi de quebrar o coração...mas poderia ter sido pior. Ela precisava ligar para Kat assim que essa guerra acabasse. Kat talvez nunca falasse com ela novamente, mas ela devia a sua amiga uma explicação, e uma longa. Para o inferno com o segredo. Kat tinha salvo a sua vida. Ela merecia mais do que uma despedida enigmática e o seu namorado deixado no chão com uma furiosa ereção. Embora isso fosse um pouco engraçado, agora que ela pensou sobre isso. Miranda inclinou a sua cabeça adiante na parte de trás do assento próximo. Ela ainda estava cansada. Ela se sentia como se ela pudesse dormir por uma semana...mas não ainda. Havia milhas para ir. “Você está bem, mocinha?” Ela levantou o seu olhar ao velho homem grisalho do outro lado do corredor. “Sim, senhor. Eu apenas...foi um dia longo.” “Eu sei o que você quer dizer.” Ele estava lendo o jornal, algo que ela nunca foi capaz de fazer em um veículo em movimento, e acenou com a cabeça para baixo no título: AUMENTA A VIOLÊNCIA DAS GANGUES EM AUSTIN. “O mundo está ficando assustador, não está? Pessoas queimando


edifícios abaixo, gangues...Não era a muito tempo atrás que Austin era um lugar seguro para deixar as crianças brincarem do lado de fora.” “Ela será novamente,” Miranda disse, sentando-se em cima. “Eu vou me certificar disso.” Ele deu um sorriso banguela. “Isso é bom,” ele disse. “Depende de vocês os jovens agora. Minha geração está na varanda da frente esses dias, e é onde nós deveríamos ficar. Vocês cheguem lá e mudem o mundo.” Miranda sorriu para ele. “Eu planejo fazer.” O ônibus a deixou ligeiramente fora a oeste do seu destino, então ela andou ao longo da estrada, seus olhos perambulando pelo bairro miserável de representantes de taco 99 , armazéns degradados, e escritórios de assistência pública. Ela se sentia como uma visitante de uma terra estrangeira, mesmo embora apenas dias atrás ela tenha andado nessas mesmas ruas com reconhecimento. Sua visão, nos azuis-acinzentados da noite, selecionava cores e formas que ela não podia antes. Ela passou um cão acorrentado no jardim de alguém que a encarou, orelhas para cima e olhos largos, tentando decidir se deveria soar o alarme. Ela encontrou os olhos dele, e ele se afastou, cauda para baixo. Uma quadra depois ela sentiu uma pontada de dor na parte inferior do seu pé esquerdo. Ela parou e levantou o seu tornozelo. O seu pé já estava preto do pavimento, mas havia um caco de vidro bem grande saindo do meio, escorrendo sangue. Ela puxou isso para fora e observou, fascinada, enquanto o corte começava a fechar, e dentro de dez segundos ele tinha ido. Ela colocou o seu pé de volta para baixo, testando se estava dolorido, mas ele estava curado. “Wow,” ela disse alto. Subitamente enjoada com a realidade disso, ela procurou uma árvore próxima e se inclinou nela por um minuto. Oh Jesus, Eu sou...

Eu sou uma vampira. Ela nunca veria o sol novamente ao menos que ela quisesse morrer. Ela nunca veria o seu próprio reflexo novamente. Sem crianças, sem as saídas para a pizza, sem se bronzear no lago, sem matinês, sem churrascos de Quatro de Julho. Uma coisa era abandonar essas coisas em teoria, mas agora...agora isso estava acabado, e não havia como anular. Tudo estava diferente agora. Ela não era mais humana. 99

(taco- comida mexicana)


Ela bateu levemente a testa contra a casca. “Mais tarde...mais tarde. Pense sobre isso mais tarde,” ela disse a si mesma. “Você tem que se apressar.” Ela se afastou da árvore e rompeu em uma caminhada, depois em uma corrida. O movimento acordou todo o seu corpo e a energia surgiu através de seus músculos, impulsionando-a, mais rápido e mais rápido. A liberdade disso, sabendo que ela não teria uma dor aguda na sua lateral, a fez gargalhar enquanto ela corria, sem dúvida dando qualquer transeunte algo para falar sobre o seu rastro. Ela tropeçou em uma parada do lado de fora do prédio do armazém e bateu na porta. Dessa vez ela podia ouvir os passos se aproximando todo o caminho no interior. “Senha?” Miranda empurrou o seu cabelo para trás dos seus olhos. “Eu zombo de você com as minhas calças de macacos.” Ela ouviu um xingamento de morder a isca, e a porta abriu. Sophie olhou para ela, algo totalmente inesperado e, Miranda tinha imaginado, impossível em seu rosto: choque. “Eu preciso de armas,” Miranda disse. “E da sua ajuda.” Sem palavras, Sophie a deixou entrar no corredor, barrando a porta atrás dela com um rápido, olhar caçador para fora na rua. Miranda caminhou para dentro do estúdio e estudou a parede de armas. Ela ouviu Sophie andar atrás dela, então fez o seu usual círculo em volta da sua aluna, mas dessa vez ao invés de especulação individual, havia algo semelhante á maravilha no rosto da vampira. “Isso é novidade,” Sophie disse. Miranda se virou para olhar para ela. “Você está surpreendida?” “Um pouco. A palavra é que você está morta. Queimada, deixada como uma advertência. O Signet declarou rixa de sangue com o Blackthorn e está tendo guerra santa por uma semana. Onde você esteve se escondendo?” “Com uma amiga,” ela respondeu. “Eu tenho que ligar pro Haven. Você tem o número de Faith?” “Não. Eu tenho o seu e-mail.” “Isso não vai ser rápido o suficiente. Ariana e os seus seguidores vão atacar o Haven essa noite.” “Como eles vão passar pela segurança?”


“Eles tem um homem lá dentro. Ele é um dos seguranças do Prime – ele trabalhou para ele por anos. Eles nunca verão isso vindo. Nós temos que alertálos.” Miranda andou para a parede e puxou a espada com que ela esteve treinando. “Você pode me levar no Haven?” “Eu posso desenhar um mapa pra você.” Miranda se virou para ela, franzindo o cenho. “Você tem que vir comigo. Eu preciso de você.” Sophie gargalhou. “Você está brincando? Eu disse a você, eu não vou me envolver nas porcarias do Signet. Eu vou fazer o que eu sempre faço, manter a minha cabeça baixa e esperar.” “Não,” Miranda respondeu. “Você está indo me ajudar. Você não quer que Faith morra e você não quer alguma piranha completamente maluca tome o controle dessa cidade.” “Eu fiz a minha parte. Eu terminei com você. Se você quiser as direções, eu posso dá-las a você. Você quer armas, eu sou a sua garota. Mas essa não é a minha luta.” Os olhos de Miranda se estreitaram. “Eu imagino que essa seja a parte onde eu dou a você um discurso inspirador do que é certo, e o valor da liberdade, e convenço você a arriscar a sua vida para um bem maior.” Ela se rodopiou, oscilando a sua arma para cima, e parou com a lâmina pairando a milímetros da garganta de Sophie. “Eu não tenho tempo para essa bosta,” Miranda disse. “Eu não estou pedindo para você lutar. Tudo o que eu preciso é de uma carona. Então você pode rastejar de volta para baixo da sua rocha e fingir que o resto do mundo não existe além de você. Mas primeiro, pegue as suas chaves, menininha. Nós estamos partindo.” Sophie, imperturbável senão pela espada tão perto da sua jugular ou pelo tom imperativo de Miranda, apenas encarou o seu rosto por um minuto...depois desatou a rir. Miranda abaixou a arma. Sophie sacudiu sua cabeça e foi para a parede de armas, então começou a remover as lâminas, ainda gargalhando enquanto ela disse, “Você, minha Dama, é uma pura fodida fantástica. Eu vou ter uma comissão de agenciamento por você, certo?” Miranda sorriu de volta para ela e pegou a faca que Sophie lançou na sua direção. “Eu tenho certeza que a gente pode arranjar algo.” “Apenas um problema,” Sophie apontou. “O que?”


“Sem chances no inferno que eu vou a algum lugar com você nesses trajes.” *** “Mestre.” Ele não respondeu. “Mestre, você precisa dormir.” Desde a noite do incêndio houve três ataques á humanos na cidade, mas nenhum deles resultou em fatalidades. Graças a rede, a Elite esteve ali a tempo de apreender os fugitivos. A rapidez ainda estava com eles, mas os rebeldes estavam na deles e sabiam esperar um contra-ataque. Eles viajavam em grandes números agora e estavam melhores armados. Cada vez que uma unidade da Elite descia sobre eles, a batalha era sangrenta e terminava em casualidades dos dois lados. Pela Quintafeira, quatro Elites estavam mortos, mas eles tinham derrubado duas vezes mais os inimigos, e cinco humanos saíram sem um arranhão. Bem, eles provavelmente iriam precisar de alguma terapia. Mas ao menos eles estavam vivos. A cidade estava rastejando com vampiros. A maior parte era dele. O Prime tinha eles em tripla-formação nas suas áreas de patrulha e checando em cada vinte minutos ao invés de uma vez por hora. “Eu não posso, não ainda,” ele finalmente disse a sua Segunda. “Eu tenho que depurar essa busca de rotina.” “O que isso quer dizer?” “Eu estou perto,” ele murmurou, seus olhos completos de códigos. “Outra hora e eu terei isso.” “E você tem certeza de que isso vai funcionar?” “Positivo...mas é uma rotina muito detalhada.” “E você esteve nessa cadeira por três dias. O seu traseiro está crescendo no assento. E você só se alimentou porque eu trouxe pra você, mas eu não posso te trazer o sono ao menos que eu atinja a sua cabeça com a cadeira.” “Eu irei dormir quando eu terminar, Faith.” Ela ondulou a sua mão entre o rosto dele e o monitor. “Você poderia ao menos fingir me ouvir? Eu vou ter que ligar pra Califórnia de novo?” Ele não parou de digitar, mas atirou a ela um olhar envenenado. “Eu gostaria bastante se você não fizesse. Há alguma novidade sobre APD100?”

100

(APD- Departamento de Polícia de Austin)


Faithe suspirou. “Nada que nós já não tenhamos ouvido. Eles ainda estão atravessando o que sobrou do prédio. Eles encontraram onze corpos até agora e identificaram seis. Três mais pessoas ainda estão desaparecidas. Eu disse ao Sargento Winters se qualquer objeto pessoal for encontrado mandar pra cá.” “Bom.” Ela se sentou na borda da mesa, cruzando seus braços, dizendo hesitantemente, “Você não acredita que há qualquer chance...” “Não,” ele a cortou. “Se Miranda estivesse viva, ela encontraria alguma maneira de nos contatar por agora. Foi quase há uma semana, Faith.” Ele ouviu a dureza na sua voz, dureza que ela não merecia. Ele deveria deixá-la ter esperança. Ele tinha abandonado qualquer possibilidade e aceitado a verdade, e se o seu coração ainda estivesse uivando de dor, ele ignorou. Ele tinha que. Ele tinha perdido três dias atolado na auto-piedade e uma pessoa tinha morrido. Ele levantou seus olhos para ela. “Assim que nós tivermos isso sob controle, você pode tirar uma folga. Me desculpe se você esteve trabalhando sem parar desde o fogo.” “E você também...e eu estou em uma forma muito melhor do que você está. Eu perdi uma amiga, sim, mas você perdeu uma Rainha.” “Ela não era a minha Rainha,” ele disse curto e voltando a simples tarefa, com coração entorpecido, de revisão de linhas de caracteres e símbolos. Esse lugar preto-e-branco de números e letras, e se então, tinha sido a sua fuga, deixando-o se focar em algo que não o fazia quebrar coisas e assustar os serventes. “Ali.” Ele se sentou para trás e coçou seu pescoço. “Você terminou?” “Não. Eu vou correr uma checagem. Eu terminarei em alguns minutos.” Ele assistiu a barra de progresso na tela de polegadas fazendo o seu caminho da esquerda para a direita. Agradecido que ele aprimorou o processador do servidor duas semanas atrás, por outro lado não haveria maneira dele ter o computador com poder para isso que ele estava fazendo. Como era, ele tinha que fazer muito trabalho à mão ao invés de permitir que a rede trabalhasse por ele. Os sensores estavam programados para fazer a leitura de temperaturas corporais, massa corporal, e velocidade de movimento, então eliminar qualquer um acima ou abaixo da média dos parâmetros humanos; o que caía em uma certa escala era na maior parte um vampiro. Até agora ele tinha 98 por cento de


taxa de precisão com um par de falhas envolvendo cães grandes e um anão imortal. Ele sabia que Ariana Blackthorn se encaixava perfeitamente na taxa, então tudo que ele precisava fazer era isolar o conjunto específico de leituras dela de todos os outros vampiros em Austin. Ele tinha voltado para a rede na noite da invasão, quando os grandesvampiros dela foram levados para o lado de fora e apenas os vampiros dentro da casa eram ele, ela, e a Elite. Todos que estavam no prédio naquela noite tinham um com exceto Ariana, então ele poderia eliminar qualquer um cujo sinal correspondesse a um dos da Elite. A leitura remanescente que ele estava executando contra cada um daqueles vampiros que tinham entrado ou deixado os limites da cidade Sexta à noite. Ele encontrou quatro candidatos prováveis e estava agora deixando o computador fazer o resto. Uma vez que ele tivesse o perfil dela ele poderia rastreá-la dentro da rede. Não era um plano perfeito – longe disso, com tantas variáveis –mas era a melhor coisa que lhe surgiu desde que ele retornou as suas funções na Terçafeira. Eles poderiam continuar a pegar os atacantes, golpeando curativos por todas as feridas da cidade até que isso sangrasse à morte por centímetros, ou eles podiam ir para a fonte. Ele queria o sangue de Ariana Blackthorn derramando sobre suas mãos. Ele queria ver a sua cabeça cair no chão e seu crânio rachar no concreto. Ele queria ver o seu corpo se contorcer e fazer espasmos até ficar duro. Depois, e apenas então, ele poderia descansar. Ele ouviu um barulho como um carrilhão de vento, e Faith deslizou para fora da mesa e pegou o seu telefone. “Eu estarei amaldiçoada,” ela disse. “Um e-mail da Sophie.” Ele olhou para cima para ela. “Sophie...não a Sophie Castellano?” “Você a conhece?” “Você a mencionou uma vez antes – algo sobre ela ser um agente formado da Sombra Vermelha.” Faith franziu o cenho olhando para baixo para a tela do seu telefone. “O inferno...Sophie diz que a gangue Blackthorn está planejando atacar o Haven.” David gargalhou. “E eles vão encontrá-lo, como?” “Eu não sei. Ela não disse. Ela apenas diz que eles estão vindo...essa noite.” “O que a fez pensar assim?” “Novamente, ela não...” Faith parou, e quando ela olhou para cima, seus olhos estavam largos. “Ela diz que há um espião na Elite.”


“Mesmo se isso fosse verdade, não há maneira deles entrarem aqui.” “Nem se eles tiverem alguém do lado de dentro?” A gargalhada de David desapareceu. “Impossível.” “Eu estou mandando um e-mail pra ela de volta – maldito seja, eu deveria ter o seu número de celular, nós poderíamos fazer um trabalho mais curto assim.” David se moveu ao seu laptop e puxou para cima o sistema do com. “Não há possibilidade deles terem alguém do lado de dentro,” ele murmurou. “Eu saberia. Eu tenho vasculhado tudo uma centena de vezes desde que Elite Setenta nos traiu. Não há atividade de sinal incomum entrando ou saindo do Haven...eles teriam que se comunicar de alguma forma. Que porra eles estão usando, então, Código Morse? Sinais de fumaça?” Ele correu uma pesquisa secundária para a transmissão de anomalias, mas ele sabia que não haveria nada – nada de telefones celulares a rádio mostrados no seus monitores, e ele observou todos eles. Algo bipou. “O que é isso?” ele perguntou. “Há algo...ou, houve algo...Sábado à noite, houve uma única ruptura na transmissão do quarto onde nós tínhamos Ariana. Era menos longa do que um segundo...e veio duas vezes mais essa semana.” “Que tipo de transmissão?” “Eu não sei. Com toda a tagarelice do com naquela noite isso se perdeu. Não é de um com, é...Cristo.” “É Cristo?” “Não, não...quem é o guarda na ala de visitantes nesse momento? Mande ele para aquela suíte imediatamente.” “O que ele está procurando?” “Algo que se pareça com um dispositivo de GPS.” Faith ficou boquiaberta com ele. “A piranha escondeu um GPS no Haven?” “É o que isso parece. Ele foi transmitido três vezes – Sábado, Terça, e ontem – e então desligou. Era como um sinal de vida curta, ele estava registrado em um sistema mas não na desengate da segurança. Ela plantou isso na noite em que ela escapou e eu não estava assistindo os registros de transmissão.” Ele quase bateu na tela do seu laptop fechando. “Eles tem a gente mapeado, Faith. Sophie está certa. Eles estão vindo.” Faith e o Prime olharam um para o outro. Ele disse muito, muito calmamente, “Plano Alpha Delta Nove.”


“Sim, Mestre.” Ela levantou seu pulso e bateu no modo de transmissão. “Toda a Elite do Haven e pessoal, incursão ao código Alpha Delta Nove. Estação de Batalha. Cobertura dobrada em cada andar. Janelas fechadas em vinte segundos.” David se inclinou e bateu no interruptor de substituição que iria fechar as persianas de metal, depois virou várias outras opções de segurança, ligando o firewall101 para proteger a rede e lutar com qualquer freqüência de saída. “Eu não acho que nós temos sensores cobrindo o Haven, também,” Faith disse esperançosamente. David sorriu mais largamente. “Na realidade, eu tenho. Eles foram os primeiros sistemas de testes antes da rede tomar vida. Eu não achei que nós alguma vez fôssemos precisar deles, mas eu os deixei no lugar de qualquer maneira.” Um diagrama da propriedade apareceu, e dentro de segundos cada vampiro dentro da suas fronteiras destacou-se como um ponto vermelho; a maioria deles estava em movimento, a Elite se dirigindo às suas estações para uma invasão, os serventes migrando para os quartos de segurança embaixo do chão. Faith se inclinou sobre o ombro dele. “Puta que pariu.” Havia pontos vermelhos se movendo constantemente em direção ao Haven em grupos de dez ou doze, se aproximando através da floresta de três lados. David os adicionou rapidamente em sua cabeça. “Oitenta-Três,” ele disse. “Quantos Elites nós temos?” “Trinta-dois na casa,” ela respondeu. “O resto está fora em patrulha. Eu posso mandar um sinal de retorno-” “Não,” ele disse a ela, se levantando. “Eles precisam ficar e defender a cidade. Nós podemos lidar com o cerco aqui. Assegure todas as entradas assim como os túneis subterrâneos. Não há chance deles entrarem –tudo que nós temos que fazer é mantê-los fora até o sol surgir. Eu vou pegar o resto das minhas armas. Você cheque as entradas.” “Estou nisso!” David rapidamente conectou o seu telefone com o sistema do computador então ele poderia monitorar os sensores de qualquer lugar do Haven e deixou a

101

(firewall - é o nome dado ao dispositivo de uma rede de computadores que tem por objetivo aplicar uma política de segurança a um determinado ponto de controle da rede. Sua função consiste em regular o tráfego de dados entre redes distintas e impedir a transmissão e/ou recepção de acessos nocivos ou não autorizados de uma rede para outra.)


sala de servidores, á trancando; a porta e as paredes eram reforçadas com aço, e a única maneira que alguém pudesse quebrá-la era com aríete102. Ele emergiu da escada e caminhou descendo o corredor para a sua suíte, e Paul, o segundo guarda na porta, disse, “Mestre, são os Blackthorn?” “Parece que sim – onde está Samuel?” “Ele disse que Faith o chamou para as portas da frente e ele saiu correndo.” David tirou a sua espada da parede, então agarrou duas longas adagas com lisas, cônicas lâminas de madeira e as prendeu em sua cintura. Assim que ele estava para sair da suíte, ele viu algo do canto dos seus olhos que fez o seu sangue correr frio. O armário onde ele guardava o livro de Miranda e o Signet da Rainha tinha sido arrombado, a porta rachada e estilhaçada e suspensa parcialmente fora das suas dobradiças. Ele puxou o resto abrindo o caminho e viu que alguém tinha arrancado os conteúdos do armário, lançando as coisas ao lado até que eles encontrassem o que eles queriam. A caixa de metal havia sido arrombada aberta, a madeira interior deixada vazia. Alguém tinha roubado o Signet. *** Faith correu descendo o corredor da Ala Leste, checando enquanto ela passava que todos que ela visse estivessem prontos, armas em punho; eles haviam sido treinados em como lidar com uma invasão, mesmo embora tal coisa não tenha acontecido em décadas. Poucos intrusos eram corajosos, ou estúpidos, suficientes para sitiar o Haven. Quase todo Prime assassinado foi morto além das paredes da sua casa. “Elite Vinte, a Ala Oeste está segura?” ela perguntou.

“Segura e pronta.” “Mestre, qual é a sua posição?” A resposta de David era concisa. “Eu estou na minha suíte. Diga a Samuel

que eu preciso dele de volta aqui. Eu acho que Paul é o nosso canalha – ele invadiu a suíte e depois abandonou o seu posto.” Ela interrompeu. “Samuel não está aí?” 102

(aríete é uma antiga máquina de guerra constituída por um forte tronco de freixo ou árvore de madeira resistente, com uma testa de ferro ou de bronze a que se dava em geral a forma da cabeça de carneiro. Os aríetes eram utilizados para romper portas e muralhas de castelos ou fortalezas.)


“Não – ele não está com você?” “Não.” Normalmente ela adorava ouvir David xingar, mas ultimamente isso parecia estar acontecendo com infeliz freqüência. “Eu estou correndo um rastreador no com dele,” ele disse. “Ele está no prédio, perto das portas da

frente. Eu não posso alçar ele ou Paul. Os sinais dos rebeldes estão convergindo para a entrada – leve todos pra lá agora.” “Sophie disse que eles tinham um homem do lado de dentro,” Faith percebeu, começando a correr novamente. “Eu estou a caminho.” Ela bateu na transmissão. “Toda a Elite disponível para as portas da frente!” Faith acelerou descendo o corredor e deu a volta na esquina em direção a entrada da frente... ...apenas em tempo de ver Samuel oscilando abrindo as duplas portas. Então todo o inferno desabou.


Capítulo

S

20

OPHIE PAROU O SEU PEQUENO CARRO PRETO ATRÁS DOS estábulos e estacionou; antes dela sequer tirar a chave da ignição Miranda tinha saltado para fora. Os cavalos estavam para fora nos cercados, claramente estressados, relinchando e dando patadas na terra da maneira que eles faziam antes da tempestade ruir. Miranda escalou a cerca para ter uma melhor visão do Haven. Um assobio animal escapou dos seus lábios. Ela podia ver figuras negras fluindo para dentro do Haven como formigas e as amplas portas da frente permanentemente abertas. Mesmo se Faith tivesse acreditado nas suas advertências, elas tinham vindo muito tarde. O inimigo os tinha pego de surpresa e encontrado nenhuma resistência nas portas. Miranda podia apenas ter esperança que a Elite fosse forte o suficiente para recuá-los. “Se apresse,” ela chamou Sophie e pulou. “Nós temos que entrar ali.” “Espere um minuto. Você tem algum tipo de estratégia aqui, ou nós somos tão estúpidas quanto eu acho que somos?” Miranda estava olhando para o Haven, desejando que ela pudesse ver além das persianas; daqui de fora parecia quase normal, mas mesmo a essa distância ela podia ouvir vidros quebrando e o claro soar de metal com metal. “Nós lutamos o nosso caminho pra entrar e derrubamos tanto quanto pudermos.” Sophie bufou, forte. “Não é pra ser um pesar, aqui, mas há exatamente duas de nós, e você nunca esteve em uma luta real, muito menos como um


vampiro. Você pode ganhar no mano a mano, mas se nós entrarmos pela frente será a gente contra todos eles. Se nós quisermos ajudar, nós precisamos de um plano, o qual é o que eu disse a você no carro.” “Ótimo, ótimo. Idéias?” “Nós precisamos entrar onde nós teremos uma grande vantagem e fazer o maior estrago.” “Entrada lateral,” Miranda disse. “Há uma por ali – mas as portas são eletronicamente travadas.” “Travas são os menores dos nossos problemas. Vamos.” Elas escorregaram passando os estábulos e dando a volta na lateral do prédio principal. Miranda estava agradecida por suas roupas emprestadas; Sophie a tinha vestido toda de preto, e embora a T-shirt estivesse apertada no seu peito, o resto encaixou bem o suficiente. As duas pareciam como paramilitares, exceto que ao invés de revólver, elas estavam armadas até os dentes com espadas, e Sophie tinha insistido que ela também carregasse uma estaca de madeira em seu cinto. Uma vez no lado mais distante, Miranda olhou para trás ao redor da esquina para a entrada da frente – segundos mais tarde, algo assobiou para baixo do telhado, e um dos rebeldes caiu no chão com um choro, uma flecha em seu peito. Houve mais assobios enquanto a Elite pegava o inimigo de cima. O resto dos rebeldes – Miranda contou ao menos trinta ainda empurrando o seu caminho para dentro – obstruiu as portas, tentando enfiar os seus companheiros para fora do caminho antes deles, também, serem atingidos. Eles estavam tentando destruir a sua casa. Eles estavam matando os seus amigos. Eles talvez já tivessem matado Faith...ou David...Eles queriam despedaçar tudo que estava diante do Signet. A sua visão se tornou vermelha, mas ela manteve a sua raiva sob controle – ela tinha que salvar isso para o que estava à frente. Miranda mergulhou para trás e se uniu a Sophie na porta do jardim que ela e Faith tinham caminhado para dentro e para fora uma dúzia de vezes quando Miranda viveu aqui. Sophie estava brincando com a maçaneta da porta. Miranda estava para relembrá-la que a trava era eletrônica, quando Sophie agarrou o seu braço e a rebocou para trás, dizendo. “Mova-se!” Houve uma pequena explosão, um sopro de fumaça preta, e a porta oscilou aberta. “Não há uma trava feita que eu não possa entrar,” Sophie disse. “Algumas requerem um pouco mais de finesse que outras.”


“É muito ruim que você não trouxe nada mais que exploda. Nós poderíamos usar um lança-chamas legal ou algo.” Miranda arriscou um último olhar para á frente. Subitamente as amplas portas duplas bateram fechadas, esmagando ao menos um invasor entre elas e bloqueando os outros de entrarem. Os inimigos estavam gritando entre si, dividindo-se para encontrarem outras maneiras. “Merda, eles estão vindo para essa direção!” Miranda exclamou. “Entre!” Elas duas correram através da porta lado a lado e Sophie arremessou-a fechada, enquanto Miranda arrastava a mesa próxima na frente da porta para ao menos ganhar tempo. Ela empurrou a mesa com o lado para cima, embaixo da maçaneta da porta enquanto Sophie pegava um maço de algum tipo de goma de mascar cinza e enfiava para dentro da trava. “Explosivo de pressão-sensitiva,” Sophie explicou. “Quando eles tentarem abrir, boom! Isso não fará muito estrago mas vai fazer eles se cagarem nas calças. Vamos nos mover.” Não havia um guarda na porta, o que disse a Miranda que todos que estavam disponíveis tinham se divergido para a entrada da frente. Parecia como uma má idéia – como David poderia saber que todos os rebeldes estavam ali, e não tentando entrar nos lados como ela e Sophie fizeram? A sua resposta veio segundos mais tarde quando quatro Elites bateram para baixo no corredor direto na direção delas. Miranda reconheceu um como Theo, que tinha servido como um guarda da Ala Leste algumas noites durante a sua estadia. “Fiquem onde vocês estão, mãos no ar!” Theo gritou. “Mostre os seus coms!” “Nós não temos coms!” Miranda gritou de volta. “Nós somos amigos do Haven, nós viemos ajudar. Há Blackthorn vindo através dessa porta.” “Nós estamos conscientes disso, nós estamos rastreando eles,” Theo estalou. “Quem são vocês?” “Sophie Castellano,” Sophie disse, aço em suas palavras. “Formada da Sombra Vermelha e uma aliada do Signet. Eu também sou a guarda-costas da amante do seu Prime. Nós precisamos encontrar o Prime imediatamente.” Miranda piscou para Sophie. “O que é Sombra Vermelha?” “Melhor que você não saiba.” Theo ficou boquiaberto para Miranda por alguns segundos, finalmente a reconhecendo, então deferiu a Sophie sem pergunta. “Nosso Prime está com o resto da nossa Elite lutando no Grande Salão. Nós já perdemos guerreiros, e eles


nos ultrapassam de três para um. Quanto mais espadas melhor – venham conosco. Oitenta-Três, Quarenta-Quatro, fiquem aqui e mantenham aquela porta fechada.” Eles todos seguiram descendo o corredor em um trote gracioso, e Miranda perguntou, “O quanto ruim é?” “Ruim, minha Dama. Samuel e Paul estavam os dois em conspiração com o inimigo e deixaram eles entrarem através da segurança depois que Ariana Blackthorn plantou um GPS para rastrear a localização do Haven. Perto da onde a gente possa imaginar, eles estavam se comunicando de uma maneira que nós não verificamos.” “Rádio?” Sophie aventurou. “Não, por cartas. O correio nunca foi inspecionado pedaço por pedaço exceto em casos suspeitos. Samuel estava mandando cartas com carimbo regulares para Ariana pela caixa do correio. Nunca levantou uma única sobrancelha.” Eles pegaram o corredor que conduzia a ala do Prime, e Miranda enfiou a sua cabeça na suíte para ver se David estava ali, por algum milagre, mas ele não estava. De fato parecia como se um tornado tivesse soprado através do quarto. Não havia guardas das suítes – Samuel e esse Paul já tinham abandonado seus postos e toda a pretensão de lealdade. Ela esperava que eles morressem desagradavelmente. Eles passaram a sala de música, e novamente Miranda pausou – a porta estava travada fortemente, mas ela sentiu um momento de medo. “Eu vou proteger você,” ela prometeu ao Bösendorfer do lado de dentro. “Eu não vou deixar você ser destruído.” Sophie deu a ela um olhar de estranheza. “É melhor os bastardos não machucarem o meu piano,” Miranda respondeu. “É com isso que você está preocupada nesse momento? E o seu namorado?” “Ele pode cuidar dele mesmo. Eu sei que ele é um ótimo lutador. Eu apenas nunca o vi fazer isso.” “Estejam prontas,” Theo disse ao seu lado, incitando eles todos para a esquerda. “Nós estamos quase lá.” Os sons da batalha alcançaram eles primeiro – gritos, berros, choros e agonia, o sólido baque de punhos nas carnes, o colidir de lâmina com lâmina. Algo caiu e quebrou por todo o azulejo do chão, provavelmente alguma estátua


ou outra. Os sons de quase cem pessoas congestionando o Grande Salão era ensurdecedor. A Elite defendendo ambas escadarias e até agora os invasores tinham lutado com eles até a metade do segundo andar, mas eles mantinham sua base. Miranda correu até o parapeito, procurando por rostos familiares no estrondo. Um Elite gritava com dor enquanto ele era executado através de uma espada de madeira, e sangue acumulava por todo o redor do seu corpo, sangue que outro vampiro escorregou; Miranda pesquisou os seus rostos, e os rostos dos mortos, por aqueles que ela conhecia. Havia Samuel, decapitado e desmembrado. Outro Elite deitava perto, e ela estava certa de que era Paul. Finalmente ela captou a visão de Faith no centro da luta, exatamente onde Miranda esperava que ela estivesse. A Segunda era um borrão de movimento, suas duas espadas girando ao seu redor, e atacante depois de atacante mergulhando para a morte e nunca emergindo. Ela não perdeu tempo com brincadeira – Faith tinha um objetivo, derrubar os rebeldes, e ela faria exatamente isso. Onde estava David? E onde estava Ariana? Ela tinha que estar aqui. Ela deveria ter vindo. “Mova-se!” Sophie gritou. Dois rebeldes tinham rompido a parede da Elite no topo das escadarias e estavam fazendo uma ruptura mais profunda no prédio. Miranda se uniu a ela, e elas se apressaram ao inimigo e os encararam no corredor, espadas prontas. Os dois rebeldes olharam divertidos com a visão de duas pequenas mulheres estragando por uma luta. Miranda sabia exatamente o que eles fariam – a subestimariam. Um deles se moveu, lâmina pronta, e Miranda o assumiu, enquanto Sophie tomava o outro. Miranda lutou forte, seu braço da espada doendo do uso excessivo, mas ela perdeu tanto terreno quanto ela ganhou até que ela se lembrou que ela tinha melhores armas que uma espada. Ela abaixou sua espada, estendeu sua mão em direção ao homem, procurando dentro de si mesma pelo seu poder, e empurrou. Ele começou a rasgar suas roupas, e seu cabelo, e gritou: “Não, Papai! Não! Me desculpe! NÃO!” Ele caiu no chão em posição fetal, cabeça coberta com seus braços, sua espada e a luta abandonadas a um menos visível mas muito mais potente ataque.


Miranda andou adiante, colocou seu pé com bota no pescoço do homem e empurrou ele liso no chão, e com uma espada tomou sua cabeça. Sophie já tinha despachado os dela com a estaca de madeira que ela tinha enfiado na sua jaqueta. O rebelde deitava em uma piscina espalhada do seu sangue, olhos escancarados. A cabeça de Miranda já se sentia como se fosse se dividir dessa pequena acrobacia, mas ela se estabeleceu rapidamente – ela provavelmente teria que fazer isso novamente. De fato, se apenas ela pudesse controlar mais do que uma mente de uma vez, ela poderia derrubar vários de uma vez, afogando eles nos medos da infância ou revivendo a morte de um amado. Ela podia estrangulá-los em suas próprias histórias enquanto Sophie, de longe uma melhor lutadora, os matava. Ela se lembrou de ser cética que a empatia poderia ser útil em combate. Elas pisaram sobre os corpos e reavaliaram a situação. Até agora a Elite estava defendendo as escadas, mas os rebeldes estavam tentando chegar às portas de trás abertas, e não havia como saber quantos já poderiam ter encontrado outras entradas. “Nós precisamos de uma maneira de inutilizar todos de uma vez,” Miranda disse, gritando para ser ouvida acima do estrondo. “Eu não acho que eu posso trabalhar nesse tanto. Com essa profundidade mental eu tenho que fazer eles um por um.” Sophie começou a falar, então olhou para cima passando por Miranda e sorriu. “O que nós precisamos,” Sophie disse, “é de um puto verdadeiro telecinético.” O coração de Miranda quase explodiu do seu corpo, e isso foi tudo que ela pode fazer para não pular para cima e correr para ele, mas Sophie a manteve firmemente fora do caminho onde elas não fossem vistas. David Solomon pisou para fora da galeria onde as duas escadarias encontravam o Grande Salão. Ele vestia seu longo casaco e estava completamente armado, mas a coisa que era mais assustadora – a coisa que fez toda a luta parar e o corredor cair em silêncio – foi a nuvem agitada da ira que o cercava, a prata da sua aura atravessando com negro mortal. Seus olhos eram prata pura, o Signet brilhante na sua garganta. Ele pisou em cima do parapeito da galeria. Miranda viu a luz do Signet começar a pulsar – ela nunca tinha visto ele fazer isso antes, mas isso o fez parecer ainda mais aterrorizante.


“Elite,” ele disse, “Levantem-se.” Como um, a Elite largou quem eles estavam lutando, abaixaram suas armas, e pisaram para trás das linhas das paredes do Grande Salão. O Prime pulou suavemente para fora do parapeito, aterrissando seis metros abaixo endireitando o nível do olhar de aço nos insurgentes, que estavam se aproximando uns dos outros e parecendo como se eles quisessem erguer as portas traseiras abertas e fugir para a noite. Miranda correu para o parapeito para olhar para baixo. David lentamente, deliberadamente extraiu sua espada e ficou com ela para baixo no seu lado, e quando ele falou, foi com a mesma calma autoridade que ela tinha ouvido ele usar com a Elite no parapeito. Ninguém conseguia desviar o olhar. “Vocês encenaram um ataque aberto ao Haven desse território em uma tentativa de me assassinar e clamar o Signet. Vocês falharam. A sentença para ambas as ações é a morte.” A lâmina da sua espada se inclinou e captou a luz. “Eu vou dar a vocês uma escolha. Se vocês entregarem Ariana Blackthorn, vocês vão morrer uma rápida e misericordiosa morte. Se vocês me encararem, vocês vão morrer com a honra da batalha. Se vocês tentarem escapar, vocês serão cortados pela minha Elite e sangrarão até a morte nesse chão.” Como uma deixa, um dos rebeldes se libertou do aperto hipnótico que David tinha sobre eles e disparou para as portas. David levantou uma mão, e o homem caiu no chão, gritando, com um som doentio de ossos se quebrando. Sangue jorrou do nariz do rebelde e correu da sua boca, e ele se contorceu, ainda tentando voltar aos seus pés e correr. Faith, já pronta, oscilou sua espada e terminou com ele, então se curvou ao Prime. Ele sorriu. “Próximo?” Segundos tiquetaqueavam antes da multidão se separar perto das portas. Os invasores recuavam respeitosamente enquanto uma mulher saía por detrás deles. Ela era loura e tinha grandes olhos, um rosto esquelético que poderia uma vez ter sido bonito, e estava sorrindo como o mesmo sorriso assassino cruel que ela tinha usado quando ela apunhalou Miranda através do coração. Ela veio para o centro da sala e permaneceu encarando o Prime sem um traço de medo. Então ela levantou sua mão, e Miranda viu o que estava pendurada nela: uma cópia em carbono do Signet de David, apenas levemente menor. A sua pedra, também, estava piscando ritmicamente.


Miranda viu os olhos de David se alargarem quase imperceptivelmente. Seu rosto ficando absolutamente branco. “O que está acontecendo?” Miranda sussurrou para Sophie. Sophie, também estava surpresa. “O piscar...é assim que acontece quando o Signet escolhe o seu portador. Quando o Prime encontra a sua Rainha, é como ele sabe.” “Espere...não pode ser ela!” Sophie rolou os seus olhos artisticamente. “Bem, agora, de quem mais ele poderia estar falando?” Ariana e o Prime se encararam. Então Ariana disse docemente, “Parece que nós chegamos a uma trégua, meu Senhor.” Ele não respondeu. “Apenas pense,” Ariana continuou, “Você e eu, unidos por toda a eternidade – que poético. Eu não tinha idéia, quando eu matei a sua pequena humana prostituta, que isso iria acontecer, eu pensei que estava apenas infligindo a mesma dor em você que você fez em mim. Mas isso é muito melhor.” Miranda começou a saltar, mas Sophie de novo agarrou o seu braço e a segurou para trás. “Apenas espere,” ela assobiou. Ariana, gargalhando, estendeu a mão e largou a corrente do Signet em volta do pescoço. No segundo em que ele fixou-se sobre o seu peito, a pedra ficou escura. A de David continuou piscando, e ele olhou para baixo para isso, franzindo o cenho um pouco antes de olhar de volta para Ariana. “Você nunca será a minha Rainha,” ele disse a ela. “Você nunca vai segurar um Signet. Você é uma pretendente ao trono, Ariana, e não merece esses salões sagrados. Eu vou cortar você do mesmo jeito que eu fiz com o seu Prime e você vai morrer da maneira que você viveu – como ninguém.” O rosto de Ariana se tornou uma máscara retorcida de raiva. “Matem ele!” ela gritou. Seus homens correram adiante passando por ela, rugindo os seus desafios, e cercando o Prime, que ficou esperando, um fraco sorriso em seu rosto. Assim que o primeiro dos rebeldes o alcançou, ele trouxe a sua espada para cima e disse a Elite sem levantar a sua voz, “Ataquem.” Os rebeldes, tão preocupados em seguir ordens, tinham todos corridos para o centro da sala em direção a David e estavam cercados pela Elite de todos os lados. Os guerreiros do Haven abateram os rebeldes, suas espadas cortando


através do ar, e a sala estava subitamente cheia de sons de batalha mais uma vez. Miranda colocou seus olhos no Prime. Ele encontrou os primeiros quatro atacantes de uma vez, sua espada uma chama líquida, seu corpo um borrão de movimentos enquanto ele chutava um na cabeça, girava no meio do ar, decapitava o segundo homem, e abria outra garganta no seguimento do curso. A quarta evitou o primeiro corte destinado a ela, mas era simplesmente não rápida o suficiente – ela tentou se defender mas não pode, e ele a atingiu, então puxou uma adaga com lâmina de madeira do seu cinto e a atravessou. Pela hora que ele a tinha pego, mais tinha vindo, mas ele não perdia o passo; ela mal podia vê-lo, ele se movia tão rápido, quase como se ele estivesse dançando, cada movimento com graça e mortal. Sophie estava gargalhando, um olhar de reconhecimento em seu rosto. Pelo cotovelo de Miranda, ela disse, “Isso é estilo – eu conheci apenas um vampiro que lutava assim. Vamos – vamos fazer bagunça.” Miranda á seguiu do parapeito da galeria em volta da escadaria, e elas correram descendo para se unir a Elite. O coração de Miranda estava martelando, mas não havia tempo para pensar, sem tempo para considerar suas ações. Ela simplesmente tinha que lutar. Um dos rebeldes se aproximou dela, e ela sentiu sua sensibilização virando vermelho novamente, sua mente indo mais profundo do lugar em transe que Sophie tinha mostrado a ela antes dela se transformar. Agora o poder vinha por ela como um respirar, e ela se entregou a isso de bom grado. Perto ela ouviu algo rachar, e então um grito; ela inutilizou o seu oponente e bateu a sua espada dentro do seu pescoço, incapaz de evitar o jorrar de sangue; isso atingiu o seu peito e ombros, e o espesso cheiro disso apenas encheu a sua luxúria de sangue. Ela olhou para cima em direção ao barulho em tempo de ver um invasor voar de trás para dentro da parede, então outro, e outro; eles eram pegos do chão e jogados sem ninguém tocá-los. Ela empurrou a sua cabeça para a direta e viu que David estava cortando um ataque com uma das mãos e gesticulando com a outra. Ela sentiu a energia se movendo através dele para cima e para fora como um vulcão em erupção, e outro rebelde caiu no chão, gritando, agarrando a sua cabeça e seu crânio rachando. Miranda lutou o seu caminho em direção ao centro da sala. Ela podia ver Sophie gargalhando enquanto ela fazia a mesma coisa – mas então sua gargalhada foi cortada, e Miranda rodopiou em direção a ela.


Sophie cambaleou adiante, boca aberta. O fim lascado de uma estaca de madeira saindo entre as suas costelas. Ela parecia recolher as últimas de suas forças para dar a volta no seu atacante e retornar o favor, mandando a mulher que tinha a empalado ao chão com madeira no seu próprio peito. Sangue correndo livremente do seu corpo, ela se arremessou na próxima onda de atacantes, derrubando mais três antes da sua força desaparecer dela. “Sophie!” Miranda chorou, mergulhando entre guerreiros em direção a sua professora, que caiu em seus joelhos, depois se lançou adiante sob seu estômago. Ela virou Sophie para cima gentilmente. “O que eu faço?” ela perguntou. “Eu puxo isso? Sophie-” Sophie gargalhou novamente, fracamente. Sangue estava escorrendo da sua boca. “Eu te disse,” ela ofegante, tossindo. Espasmos acumulando na estrutura pequena de Sophie, e algo chocalhou profundamente em seu peito. Então ela permaneceu imóvel. Os olhos de Miranda queimaram. Ela olhou para cima; em todo o seu redor as pessoas estavam morrendo. O fedor de sangue e o caos estavam sobressaltados. Ela captou a visão de Faith, ainda viva, ainda lutando. O seu oponente era Ariana Blackthorn...e Faith estava perdendo. *** Faith cedeu mais terreno para Ariana, que estava balançando lado a lado com a lâmina como se ela tivesse perdido algum tipo de habilidade para a crueza do seu ódio. A Blackthorn era uma visão horrível, seu rosto riscado com sangue e seu cabelo imundo ao redor do seu rosto, Ainda, Faith continuou deixando que ela a conduzisse para trás, e para trás... ...direto para o Prime. Faith se movia de um lado ao outro para evitar os selvagens balanços de Ariana, apenas se incomodando em se defender quando a sua espada cantava muito perto da cabeça de Faith para o confronto. Ariana obsequiosamente a seguia em sua valsa cruzando o corredor até que elas alcançaram o centro da tempestade. David despachou os últimos dois rebeldes que tiveram culhão para lutar com ele, arremessando o corpo deles ao lado enquanto ele puxava a sua adaga de um e sua espada de outro. Faith caiu de costas ao lado dele e então pulou para fora do caminho para deixá-lo tomar o controle. De novo, Prime e Blackthorn se encararam, mas onde Ariana parecia como um zumbi, David estava ainda frio e recolhido, com um único borrão de sangue


em seu queixo onde uma faca tinha atravessado as suas defesas e deixado um corte pra trás. Ela estava respirando forte e áspero, seus olhos se esforçando em volta da sala para ver que suas pessoas estavam quase todas exterminadas. Provavelmente aqueles que tinham ficado esperando do lado de fora estavam longe há muito tempo agora. Mesmo em desvantagem, a Elite tinha vencido. O Signet de David ainda estava piscando. O de Ariana estava ainda escuro. O Prime seguiu o olhar de Ariana do final do Grande Salão ao outro, e ele disse, “Rendição.” A voz de Ariana estava alta e rachada, como se a sanidade tivesse uma vez possuído há tempos atrás. “Rendição? Para a sua misericórdia? Nunca. Eu vou perder o meu último fôlego derramando seus sangues traidores. Eu matei a sua amada e vou matar você!” “Errada em ambas as contagens,” veio uma calorosa, lisa voz, tocada como mel escuro. Uma lâmina cintilou. O rosto de Ariana estava congelado em um olhar de surpresa eterna enquanto a sua cabeça era dividida do seu pescoço e, quase em câmera lenta, caiu no chão. O seu corpo seguiu um segundo depois. O segundo Signet caiu da sua garganta e se estabeleceu no chão. O silêncio no Grande Salão era absoluto. A mão de Faith voou para cima para sua boca. Miranda Grey em pé sobre o corpo da sua inimiga caída, sua espada sangrenta, seu porte real. Ela vestia preto da cabeça aos pés e sua jóia-vermelha de cabelo tinha caído para fora do seu prendedor para rolar em volta dos seus ombros. Sua pele era marfim pálido com o brilho da imortalidade. Seus olhos verdes estavam envoltos com prata. Poder a cercava e brilhava como uma nebulosa. Faith nunca tinha visto nada como isso. Miranda andou adiante, ágil e intencional enquanto ela embainhava a sua espada e se curvava. Ela pegou o Signet, e enquanto a sua mão se fechou ao redor dele, a luz da pedra brilhou para a vida e começou a pulsar. Ela o segurou para cima e prendeu a corrente em volta do seu pescoço. A luz da pedra brilhou e aumentou constantemente. Miranda se virou em um círculo, deixando toda a Elite vir o Signet. Sua voz cantou para fora das paredes. “Eu sou a sua Rainha,” ela disse. “Alguma pergunta?” Houve um som barulhento, e Miranda se virou para encarar o Prime.


Ele estava olhando para ela em silêncio aturdido. A espada tinha caído da sua mão. Todo o inferno estava em seus olhos. Faith podia sentir o poder na sala aumentando, contraindo ao redor deles. Ela podia sentir correntes de energia estalando entre eles – um circuito estava completo, as comportas abertas. Poder se unindo ao poder, ondulando para dentro e ao redor dele mesmo e de cada um, e as fundações do Haven tremeram enquanto David caminhou adiante, uma única gota de lágrima deixando um caminho prateado em seu rosto. Miranda gargalhou com alegria e abriu seus braços para ele, seus próprios olhos brilhando. Nenhum dos dois falou. David extraiu uma maltrapilha, hesitante respiração...e então ele cruzou o último espaço entre eles, e ao longo do Grande Salão uma torcida subia enquanto a Rainha e o seu Prime caíam um nos braços do outro.


Epílogo M

ATT ERA UM GRANDE BABACA. O que ela estava pensando? Madison tropeçou na calçada, tão zangada que ela estava praticamente tremendo, seus dedos perdendo metade das teclas do celular enquanto ela tentava ligar. “Vamos,” ela murmurou. “Responda. Vamos, Teresa.” “Hey, Maddie, como está indo o encontro?” “Você pode vir me pegar?” “Você está bem? O que aconteceu?” “É uma longa história. Nós vamos precisar de um cheessecake.” “Okay, onde você está?” Maddie suspirou, colocando as suas profissionais mechas de cabelo ruivo para fora do seu rosto. Ela tinha feito ele especial porque ela esteve esperando por Matt convidá-la para sair por meses. Ela tinha até se depilado! Que porra de dinheiro gasto. “Eu estou no South Congress perto da Paramount. Eu vou caminhar um pouco mais ao sul –há uma apresentação acontecendo aqui e as estradas estão obstruídas. Eu vou encontrar você na frente do Kinko, okay?” “Claro, bebê. Eu estarei lá em meia hora. Tenha cuidado.” Enquanto ela andava, Maddie fez uma lista mental de todas as formas que ela iria dar o troco no bastardo. Bonecos vodu, pneus furados...ela teve um sorriso de satisfação pensando no pau dele ficando verde e caindo. Ela ficou mais distante da multidão do concerto; graças a Deus que ainda havia centenas de pessoas fora. Deus, ela se sentiu enjoada. Ela só tinha bebido desde que ela se mudou para Austin –ela foi uma menina tão boa na escola, que ela estava recuperando o tempo perdido. Ela tinha bebido meia dúzia de muitos essa noite, entretanto. O barmen os tinha chamado de Mamilos Perfurados, e eles eram açucarados


com uma pitada de amargo e foi direto para a sua cabeça. Ela estava tão fora de si que precisou que a metade da sua camisa estivesse para fora para que ela percebesse o que Matt estava tentando fazer. Agradecidamente os oito Mamilos Perfurados não tinham afetado a sua habilidade de ajoelhá-lo na virilha. O seu telefone tocou, e ela o segurou para cima, mas ela não podia ouvir Teresa falando –havia muito barulho na calçada. Madison sacudiu sua cabeça em irritação e mergulhou para fora do fluxo de pessoas para dentro de um beco que estava mais silencioso. Mas pela hora que ela podia realmente ouvir, Teresa desligou. Xingando, Maddie discou o seu número novamente. “Aí está você!” Madison olhou, e o seu coração fez um mergulho de cisne aos seus joelhos quando ela viu Matt. “Eu tenho procurado por você em todos os lugares,” ele disse, sua arrogância habitual desigual da quantidade de cerveja que ele tinha bebido em grandes goles. “Porque você correu daquele jeito? Eu achei que você estivesse tendo uma boa hora.” “Vai se fuder,” Maddie disse. “Eu disse pra você parar.” “Vamos, Maddie...” “Não!” ela chorou enquanto ele se aproximou e a alcançou. “Me deixe em paz!” Ele tinha as suas mãos ao redor dos seus ombros e a empurrou contra a parede, dessa vez ela não tinha a vantagem da multidão de pessoas e uma boa influência. Ela bateu na parede tão forte que isso a atordoou e ela largou o seu celular. Ela gritou e lutou, mas ele a ignorou e descuidadamente beijou o seu pescoço. Ele fedia a Budweiser e cigarros, e ela podia sentir a sua ereção atingindo ela no estômago. Ele segurou as costas dela contra a parede com seu peso e tateou os seus seios, enfiando uma mão em sua camisa.

Oh meu Deus. Oh Deus por favor, não, por favor.... Ela pegou um fôlego para gritar no topo dos seus pulmões. Antes que ela pudesse, Matt foi arrancado dela e arremessado duro contra a parede distante. Maddie ouviu algo –ela estava muito certa que foi o pulso dele –rachando. Maddie estava tão aliviada que as suas pernas se tornaram água e ela caiu de costas novamente, o seu grito planejado saindo para fora como um soluço.


Uma figura pisou entre ela e Matt. Ela viu um longo casaco preto e uma cascata selvagem de cabelos vermelhos. A mulher não podia ser mais alta que Maddie, mas ela estendeu a mão para baixo e se apossou da frente da camisa de Matt e o rebocou sob seus pés, então o socou no estômago duas vezes. Ele veio até ela, xingando uma seqüência de palavrões, e ela pegou a oportunidade para fazer o que Maddie tinha feito no clube –ela cravou nas bolas dele com um joelho. Matt caiu com um grunhido, e a mulher se ergueu sobre ele, O que quer que fosse em seu rosto, ele choramingou e cobriu sua cabeça com seus braços inúteis. “Por favor não me mate-” A voz dela era calma e forte, e Maddie a reconheceu. “Se você alguma vez machucar uma mulher na minha cidade, humano, você vai responder a mim. Agora vá.” Mat lutou aos seus pés e tropeçou para fora do beco, chorando como uma garotinha. Lentamente, a mulher se virou para Madison. “Você está bem?” Maddie olhou para ela: seus iluminados olhos verdes, seus ombros soberbos, a grande pedra na sua garganta que parecia como se estivesse brilhando. “Puta merda,” Maddison disse. “Você é Miranda Grey.” A mulher sorriu. “Sim.” “Você salvou a minha vida.” “Sim.” Madison engoliu forte e se levantou, tirando a sujeira de si e tateando pela sua bolsa. “Um...você pode me dar um autógrafo.”


B

ônus

(capítulos excluídos da edição final do livro)


#

01

O Entre Espaço

“M

iranda.” Eu ouvi a voz como se ela viesse do fundo do poço, e isso me levou um minuto para responder.

“Miranda.” Finalmente eu pisquei e olhei para cima. Faith, preocupada, estava espiando o meu rosto. Eu percebi pela primeira vez o quanto linda ela era – seus olhos eram de um tipo de marrom dourado líquido, e mantinham ambos inteligência e ferocidade. Seu cabelo ainda estava em suas tranças embora os fios tinham se libertado durante a batalha e pendiam suados e moles em seu rosto. O seu uniforme estava rasgado, mas ela ainda radiava força e calma a um grau que eu nunca realmente apreciei antes dessa noite. “Você precisa descansar,” ela disse suavemente, enunciando cuidadosamente. “Não há nada mais que você possa fazer aqui.” Eu queria falar mas subitamente eu não podia. Eu estava tão cansada. Havia muito acontecendo ao meu redor, muitas emoções conflitantes e sensações. Minha cabeça doía, minha pele rastejava com imundície, e meu estômago... Eu franzi o cenho ligeiramente, tentando entender o que eu estava sentindo. Meu estômago doía completamente e minha mandíbula superior estava formigando, meu palato apertado, boca seca...e enquanto a minha pele coçava de sangue seco e suor, eu senti coçar no interior também.


“Com fome,” eu disse. “Eu estou com fome.” “Bem, não, merda,” Faith respondeu com um sorriso seco. “Você teve tipo uma noite ocupada. Eu acho que consumiu mais energia do que a Companhia Elétrica de Austin. Eu vou mandar Esther levar pra você algum sangue – mas você tem que se limpar e dormir.”

Sangue. Ela vai me trazer sangue. Oh Deus. Eu tive funcionando sob adrenalina desde que eu acordei no banheiro de Kat. Eu tive poucos momentos de clareza, mas eles tinham sido rapidamente varridos em um objetivo e fúria. Agora como resultado com um tinido de espadas e de gritos de morte desaparecendo da minha mente eu estava começando finalmente a processar alguns bocados de dados aqui e ali...e a realidade, de todo o meu universo, estava girando. Meus joelhos cederam. Eu vi Faith começar a mergulhar em minha direção, mas a mão de alguém já tinha se fechado em volta dos meus braços, e eu me senti sendo levantada de volta aos meus pés e segurada muito perto de algo forte. “Mestre, pelo amor de Deus, leve ela pra cama,” Faith quase estalou. “Ela teve o suficiente.” “Eu concordo bastante,” sua voz retumbou contra as minhas costas e também no meu ouvido. O som fez algo em mim se abrir, e eu quase caí novamente. “Você pode conduzir as coisas daqui, não pode, Segunda?” “Claro que eu posso. Agora vá.” Faith fez um movimento de enxotar. Eu sorri. “Você pode andar?” David perguntou gentilmente. Eu não estava certa se eu podia, mas eu estava determinada a tentar. Eu não queria que as memórias formativas da Elite sobre mim como sua Rainha envolvessem sendo carregada para cima das escadarias do Grande Salão como Scarlett O’Hara103. Eu iria andar para fora dali com minha cabeça erguida, e... ...na verdade eu tive que me contentar em mancar lentamente e não despencar. Mesmo assim, eu andei. Nenhum de nós falou até que nós estivéssemos na suíte. Já havia novos guardas no lugar quando nós chegamos embora eu não reconhecesse nenhum. Eles se curvaram para mim enquanto eu passei.

103

(Scarlett O’Hara –personagem do filme E O Vento Levou)


Eu me lembrei tardiamente que Ariana tinha destruído o quarto na sua procura pelo Signet; Esther estava lá arrumando a casa, mas a porta do armário ainda estava quebrada e ainda havia coisas espalhadas. Esther olhou para cima para mim e sorriu amplamente quando eu entrei. Ela depositou para baixo os volumes de livros em suas mãos e veio até mim, cacarejando a sua língua e murmurando em Espanhol enquanto ela olhava para mim. “Eu vou trazer algum jantar pra você,” ela disse. “Depois você vai tomar um banho, sim, Reinita?” Eu senti lágrimas escorrendo dos meus olhos pelo carinho. Ela tinha me chamado assim antes de eu partir. “Obrigada, Esther,” eu sussurrei. Ela beijou minha bochecha. “Bem vinda ao lar,” ela disse, e se apressou para fora da suíte, fechando a porta atrás dela. Eu ouvi David suspirar. Ele estava examinando o armário e as ruínas de algum tipo de algo eletrônico ou outra coisa. Ele rapidamente recolheu os últimos itens que Esther não tinha alcançado, e os enfiou dentro do armário. “Eu posso consertar isso amanhã,” ele disse na maior parte para si mesmo. Por apenas um momento ele parecia tão desgastado quanto eu. Eu fiquei no meio do quarto, silenciosa, enquanto ele foi para a sua mesa e removeu o seu celular, carteira, e armas. Eu não me lembrava dele pegando a minha espada – a espada de Sophie, eu pensei com um aperto de luto que eu não estava pronta para lidar com isso ainda –mas isso estava lá, e ele pegou as duas, pendurando a dele no seu lugar comum, e a minha na cornija da lareira. Eu não conseguia colocar um pensamento junto. Muito tinha acontecido em muito pouco tempo. Eu abaixei meus olhos para o tapete e captei a visão de um livro que David e Esther tinham os dois esquecidos; ele deitava aberto no chão com um pedaço de papel marcando a página. Eu me inclinei e o peguei. Claudio

Silêncio é o perfeito mensageiro da alegria: eu estava além de muito feliz, se eu pudesse dizer o quanto. Dama, como você é minha, eu sou seu: eu desisti de mim por você e caduco após a troca. Beatrice Fale, primo; ou, se você não pode, pararei a sua boca com um beijo, e não o deixarei falar também. O pedaço do papel tremia na minha mão enquanto eu o virei e vi o meu próprio rosto, junto com o título ESTRELAS EM ASCENÇÃO DE AUSTIN.


O livro caiu do meu aperto e atingiu o chão alto, surpreendendo David, que olhou para mim, sua expressão mudando de apreensivo para preocupado. Eu não entendi o porque até que eu percebi que estava chorando. Ele estava do meu lado imediatamente, braços se movendo ao meu redor, e eu enterrei o meu rosto em seu ombro e solucei. Ele não perguntou o que estava errado, não disse nada; ele apenas me abraçou, e eu o agarrei insegura se eu estava chorando por alívio, ou medo, ou alegria, ou tudo de uma vez. Eu me encontrei acariciando ele todo com mãos trêmulas, reassegurando a mim mesma que ele estava realmente ali, e eu realmente estava ali, e nós estávamos os dois vivos, e juntos, o longo pesadelo dos últimos dias finalmente terminado. “Vamos,” ele disse suavemente uma vez que eu me acalmei um pouco. “Vamos nos limpar.” Eu o segui para dentro do banheiro, agradecida por ter algo que fazer, e comecei a tirar minhas rasgadas, ensangüentadas-ensopadas roupas enquanto ele abria a água da banheira. Logo o lugar estava cheio de vapor perfumado de amêndoa e o vazio bruto no meu peito estava se tornando quente e sonolento. Ele acendeu duas velas dos castiçais nas paredes, ignorando a luz acesa. Eu podia ver tão bem mesmo sem as minúsculas chamas mas os seus brilhos eram confortantes. David pegou minha mão e me guiou para a banheira como se eu fosse uma inválida. Ocorreu a mim, enquanto eu afundava na abençoada água quente, que essa era apenas a segunda vez que ele sequer tinha me visto nua, e em um outro relacionamento eu nunca estaria ali sem estar embaraçada nos primeiros minutos –lançando-me nos lençóis, tendo certeza que as luzes estivessem desligadas primeiro, esse tipo de coisa. Não foi até ele deslizar para dentro da água ao meu lado que eu me lembrei que isso não era como qualquer outro relacionamento...e esse era pra valer. A realidade varreu sobre mim novamente.

Eu sou um vampiro. Oh Deus eu sou um vampiro. E...eu sou Rainha. “Respire,” ele me disse. “Fique estabelecida.” Eu assenti e fiz o melhor que eu pude. Eu estava tão cansada – e ainda tão faminta – era quase impossível me concentrar o suficiente para ficar calma, mas


eu tinha praticado isso por meses. Ele estava certo, há muito tempo, quando ele disse que isso se tornaria a segunda natureza.

Eu sou Rainha...a Rainha dele... Para sempre. “Miranda, respire.” “Desculpe,” eu murmurei. “Noite difícil.” Uma risada. “Compreensível.” A sua mão se fechou no meu queixo e virou o meu rosto para um lado depois para o outro, avaliando. “Você está uma bagunça,” ele disse com um sorriso, e eu sorri de volta,enrugando o meu nariz. Ele estendeu a mão para o lado da banheira e retirou uma toalhinha e um frasco de sabão para o corpo. Antes que eu percebesse ele, tinha cuidadosamente levantado o cabelo do meu pescoço com uma mão e estava esfregando levemente a minha pele com a outra. “Eu ainda não estou certa se eu entendi tudo isso,” eu disse, fechando os meus olhos, deixando ele cuidar de mim, o movimento da toalhinha ensaboada hipnótica aos meus sentidos confusos. “Isso leva tempo,” ele respondeu, erguendo o pano ao meu rosto. “Nós temos tempo.” Eu assenti, engolindo. Haveria tempo nos próximos poucos dias para eu empacotar a perda e encontrar um lugar para guardar a dor, assim como se você tirasse a felicidade e pendurasse isso onde eu pudesse olhar para ela todo o dia. Nesse momento eu não precisava fazer mais nada além de tomar um banho e ir pra cama. As mãos dele moviam-se lentamente sobre o meu torso, pausando agora e depois de torcer a água e me enxaguar. Eu notei que havia algo escuro em seus olhos que fez o meu coração doer. “Eu pensei que você estivesse morta,” ele disse muito calmamente, correndo seus dedos sobre meus lábios. “Eu pensei que eu nunca veria você de novo...que eu passaria a eternidade sem você. Eu não estava certo se eu podia agüentar isso.” “Você não tem que.” Eu beijei a sua mão, virando a sua palma sobre a minha, traçando suas linhas do tempo. “Nenhum de nós tem que estar sozinho novamente.” Nossos olhos se encontraram, e depois de um momento ele sorriu incerto. “Para ser honesto eu não tenho idéia do que fazer com isso.”


Eu retornei o sorriso e repeti suas palavras. “Está tudo bem. Nós temos tempo.” Ele colocou suas mãos nos meus ombros e me virou ao redor, depois me inclinou de costas para que o meu cabelo estive submerso, me firmando enquanto ele pegava o shampoo. Eu não tinha sequer notado o quanto enorme era a banheira; aquela na Suíte da Amante era grande, mas nada como essa. Eu me sentia como Cleópatra, especialmente com um homem lindo lavando o meu cabelo. Eu olhei para cima para o seu rosto. Ele sempre se pareceu assim? Era como se ele tivesse se tornado...sólido, pela falta de uma palavra melhor, como se eu pudesse vê-lo em 3D e não pudesse antes. Havia três anéis de cores nos seus olhos eu não tinha sido capaz de detectar com minha antiga visão – azul celeste, anil, mesmo preto. Meus olhos caíram no Signet. Ele não estava mais piscando, mas ainda estava brilhando, e quanto mais tempo eu olhava para isso parecia mais como se a luz estivesse quase dançando. Sem pensar eu levantei a minha mão para fora da água e envolvi meus dedos em volta da pedra na minha garganta. David sorriu. “Sim, ele ainda está aí.” Ele trabalhou os seus dedos através do meu cabelo, massageando meu couro cabeludo até que eu não estivesse certa se eu fosse cair no sono ou pular nele...bem, de verdade, o primeiro estava muito mais provável para o momento. Se tivesse sido em qualquer outra noite eu poderia ter aproveitado a situação: nós dois na banheira, ele me lavando, luz de velas...mas todo o meu corpo estava tão cansado que o pensamento era cômico. Nesse momento tudo que eu aproveitei da experiência era conforto, e nesse momento era o suficiente. “Eu observei que nós todos fazemos isso,” David estava dizendo. “Acariciamos nossos Signets. Especialmente no começo. Leva um tempo para o manto da autoridade se estabilizar em volta dos nossos ombros.” “Autoridade,” eu repeti, tentando ficar consciente apenas um pouco mais. Era tão bom ouvir a voz dele novamente. “Isso é tão estranho.” Ele riu novamente. “Você vai se acostumar com isso. Eventualmente você vai descobrir que tipo de Rainha você quer ser.” “O que você quer dizer, com que tipo?” “Cada par é diferente,” ele disse, mergulhando a minha cabeça para trás – lentamente, graças a Deus – para erguer meu cabelo para fora. Enquanto isso ele puxava a tampa do ralo para deixar a água suja sair da banheira e virava a


torneira para reabastecer. “A maioria das Rainhas ficam fora dos aspectos de liderança e deixam os Primes lidarem com lutas de poder e segurança.” “Então o que elas fazem todo o tempo livre?” Ele deu de ombros. “Gastam dinheiro, o mais perto do que eu posso dizer. Recolhem seguidores, cuidam da Corte, dão grandes festas.” Ela fez uma cara. “Dá um tempo.” “Não todas. Há várias que levam as suas posições seriamente e seus próprios poderes.” Ele me sentou de volta para cima, sorrindo. “Eu tenho a sensação que você vai cair nessa categoria.” “Malditamente certo,” eu murmurei. “Agora me entregue a toalhinha.” Ele levantou uma sobrancelha. “Porque?” “É a sua vez.” “Você está caindo de sono,” ele apontou. “E você está cheirando como uma revolução,” eu respondi sarcasticamente. Ele realmente bufou. Eu fiz como ele tinha feito comigo, ensaboando o seu peito e ombros e deixando minha mão traçar ao redor dos contornos dos seus músculos, admirando como a água e a luz das velas transformavam eles em dourado. Havia uma grande mancha de sangue no seu antebraço, eu imaginei de uma espada; agradecidamente ela tinha se curado há muito tempo, nem ao mesmo deixando uma cicatriz. “Como essa coisa da tatuagem funciona?” eu perguntei, mais para me distrair enquanto eu lavava embaixo das linhas da água. “Os nossos corpos, tipo, rejeitam a tinta ou se curam tão rapidamente ou algo?” “Ambos,” ele respondeu, soando muito sonolento por si só sob as minhas ministrações. Você tem que conscientemente desacelerar o processo de cura e o artista tem que trabalhar rápido. É muito difícil.” “Porque você fez a sua? E quando?” “De volta quando eu era um tenente na Califórnia...eu entrei com Deven uma vez, e ele me convenceu a ter a minha própria.” “Deven...é o seu amigo o Prime gay, certo?” “Sim.” Eu comecei a perguntar outra pergunta, mas seus olhos se abriram e ele disse, “Esther voltou com o sangue para nós. Nós deveríamos terminar antes que ele fique frio.” Eu inclinei meus sentidos em direção ao resto da suíte, e certa o suficiente eu ouvi algo se movendo nas redondezas; eu podia sentir a presença de Esther se


eu tentasse. Iria levar tempo para aprender como usar todos os meus sentidos novamente – eu estava acostumada a lidar com empatia, mas agora minha audição, olfato, e visão eram tão afiados que se eu não quisesse ser constantemente bloqueada por tudo, eu tinha que trabalhar em isolar as coisas que eu queria sentir. Ao pensar que houve uma época, não há tanto tempo realmente, que eu fiquei assustada com a mera idéia de colocar escudo. Essa noite eu fiz muito mais do que isso...e eu sabia que isso não era nem uma lasca do que eu era capaz de fazer. Voltando quando eu tinha ficado aterrorizada com a perspectiva. Agora, eu descobri que eu não podia esperar para me experimentar. Eu queria saber quais eram os limites, quanto longe eu poderia empurrar as coisas. Eu era capaz de influenciar a minha platéia como humana...o que eu podia fazer agora? Um terrível pensamento me ocorreu, e eu me sentei. “Meu violão.” David encontrou meus olhos. Tristeza...eu me lembrei...do fogo. Tudo que eu possuía foi destruído. “Nós vamos arrumar outro pra você,” ele disse. “Do tipo que você quer.” “Meu teclado...todas a minhas roupas...” eu quase chorei novamente. “A foto da minha mãe. Eu não posso substituir isso.” Ele suspirou. “Eu vou ver o que eu posso fazer. Nós vamos encontrar outra.” Eu enxuguei meus olhos impacientemente. “Eu estou tão feliz que eu matei aquela piranha,” eu disse venenosamente, mas isso saiu errado, meio um soluço, meio uma choradeira. “Eu espero que nós tenhamos matado todos eles.” David colocou a tampa no ralo novamente, assentindo. “Nós matamos. Há provavelmente algumas lutas ainda na cidade, mas todos os Blackthorn que colocaram os pés na nossa propriedade hoje a noite estão mortos.” “Bom.” Depois do último enxágüe para ter certeza que nós dois estivéssemos limpos ele me envolveu em um felpudo espesso roupão e me depositou na frente da lareira, não no “meu” braço da cadeira, mas no sofá que ficava entre os dois. Deus, eu senti falta desse quarto. Fazia meses desde que eu me sentei aqui cercada por livros e dispositivos tecnológicos com as persianas fechadas e a lareira gemendo. Quantas vezes eu caí no sono nesse sofá? Eu normalmente acordava na minha cama na Suíte da Amante...o qual não era mais o meu quarto. Esse era o meu quarto...entretanto eu imaginei que se eu quisesse o meu próprio espaço eu poderia tê-lo.


Eu não queria. Aqui é aonde eu queria estar. O pensamento de que eu poderia gastar tanto tempo quanto eu quisesse na biblioteca agora, e na sala de música com o piano –meu piano –era uma sensação tão inebriante e feliz quanto ver a cabeça decepada de Ariana Blackthorn atingir o chão. Oh, vida estava ficando mais estranha a cada minuto. David colocou um par de calças pretas de flanela e me entregou um pente, e eu comecei a trabalhar através do ruivo emaranhamento do meu cabelo molhado enquanto ele deu atenção a uma bandeja de prata que Esther tinha deixado na mesa de café. Nela estavam duas taças de vinho e dois sacos plásticos de sangue doados. Meu estômago cambaleou com o que deveria ter sido náusea mas era, de fato, fome. O formigamento na minha mandíbula, o qual eu estive ignorando, retornou com força total e se tornou uma dolorosa queimação. Eu me lembrei dessas sensações agora...que eu tinha sentido quando eu mordi Drew. “Eu mordi Drew,” eu disse, me surpreendendo. David pausou no meio do caminho de cortar a ponta de um dos sacos e olhou para mim curiosamente. “Você o matou?” Eu gargalhei fracamente. “Não...mas eu dei a ele uma poderosa ereção.” Ele riu para mim. “Isso é porque –e você não pode ver isso agora, então você vai ter que acreditar na minha palavra –você é indescritivelmente linda.” Eu olhei para baixo para minhas mãos. Mesmo tão trêmulas quanto elas estavam com a fome e exaustão, elas pareciam mais fortes, e minha pele já pálida estava praticamente translúcida agora. Eu desejaria poder ver o meu rosto. Eu tinha encontrado vampiros de todas as raças e uma variedade de idades físicas, mas eles todos tinham uma certa beleza subjacente que era difícil de apontar. Eu era bonita agora também? “Você sempre foi linda,” ele disse, entregando-me uma taça de sangue então voltando para encher a sua própria. “Eu achei isso na primeira vez que eu te vi.” Agora eu encarei o sangue. “Na mercearia,” eu recordei vagamente, incapaz de erguer a minha mão e beber. Eu ia realmente fazer isso? Essa era realmente a minha vida agora? Eu estava realmente sentada aqui salivando pelo

sangue? “Tome lentamente,” David advertiu. “Você só se alimentou uma vez e você não quer exceder-se com isso. O seu sistema ainda está se ajustando a mudança.”


Eu não queria que ele me assistisse. Eu pensei voltando aquela noite no meu apartamento quando eu esbanjei o sangue roubado em uma caneca de café. Parecia tão civilizado, sentada aqui na frente da lareira, segurando a haste da taça como se eu fosse uma yuppie provando um novo Merlot. Eu era humana, ou na maior parte, quando eu bebi aquele saco. Agora eu não era.

Eu não sou mais humana. Para repelir o pânico que surgiu com esse pensamento, eu tomei um sorvo. Instantaneamente meus sentidos foram sobressaltados. A dor na minha boca aumentou tão forte que eu quase chorei, e a única maneira que eu sabia que eu poderia amenizar isso era bebendo – eu tomei outro gole, depois outro, tentando levar o meu tempo, cuidadosamente para não cuspir. Quando eu terminei a minha taça ele reabasteceu. Eu continuei bebendo até que toda a minha bebida tivesse acabado. Na hora que eu terminei ele tinha terminado o dele e estava me observando silenciosamente, aprovação em seus olhos. Eu segurei o último sorvo na minha língua por um momento, me perguntando em quanto completamente eu tinha mudado – uma semana atrás eu teria me esforçado a vomitar com o gosto disso, mas agora eu quase não podia suportar que tivesse acabado. Eu podia sentir isso se movendo através de mim, relaxando a comichão, sedando a queimação, restaurando o meu corpo em todo lugar que ele ia. As últimas contusões e arranhões da batalha desapareceram, assim como algum do meu cansaço. Não era como a euforia que eu senti naquela primeira vez, mas era muito mais que satisfatório. Nós prendemos o olhar. Eu podia ver isso nele também. O surto de poder e prazer se estabeleceu muito rapidamente entre as minhas coxas. “Eu vou ficar excitada toda vez?” eu perguntei. Faíscas nos seus olhos. “Isso é um problema?” Eu coloquei a minha taça vazia na mesa de café, então estendi a mão e peguei a dele, retornando ambas na bandeja. Duas taças vazias, dois sacos plásticos gastos. Eu me movi para ele, lentamente me deslocando para o seu colo, e o beijei. Suas mãos se moveram para cima para o meu cabelo, me trazendo mais perto; Eu enrolei as minhas pernas ao redor dele, deixando a sua língua se lançar na minha boca, minhas unhas arranhando lentamente descendo os seus braços. Meu desejo por dormir desapareceu e o calor se ergueu para substituí-lo. Mais uma vez eu senti os meus dentes pressionando o meu lábio, mas dessa vez por uma razão diferente. O instinto estava sobrecarregado; eu me entreguei


a ele, sentindo a estranha tração de escorregar dos meus caninos deslizando da minha mandíbula, e me inclinei, atingindo forte onde o pescoço se unia com o ombro. O seu sangue brotou e ele engasgou, um pequeno rosnar construindo em sua garganta, seus dedos enfiando nos meus quadris. Eu rodei delicadamente com as duas gotas de sangue – eu não atingi uma veia ou nada maior, mas brotou o suficiente para uma prova. Eu tinha esquecido como ele provava...e estava diferente agora, mais doce, com uma essência subjacente que eu percebi que era idade...imortalidade. Ele não tinha o gosto de Drew, ou do sangue do saco. Ele não tinha gosto humano. Antes que eu pudesse reagir, uma corrente de ar passou pelo meu rosto, e eu estava no chão sob minhas costas; ele tinha me lançado para fora do sofá em um borrão, movendo a mesa de café para fora do caminho sem tocar nela. Mas não havia vigor –nunca vigor –apenas necessidade, ele me abaixou o resto do meu caminho ao chão quase reverentemente antes de retornar a sua atenção ao meu corpo, sua boca presa firmemente na minha, sugando o seu próprio sangue para fora da minha língua. Eu arqueei as minhas costas para ajudá-lo a tirar o roupão e lançar o vestuário ao lado. A radiação do calor do coração banhava a minha pele. Ele parecia querer me devorar, percorrendo o meu corpo com lábios e dentes e mãos, e parecia como se eu estivesse deitada dentro da lareira, queimando, me tornando incandescente antes que eu pudesse virar cinzas. Eu lutei para tê-lo sem roupas, e por um momento quando a sua carne nua tocou a minha nenhum de nós pôde sequer respirar – o contato era como um sobressalto, como se um circuito estivesse completo, e todas as coisas que eu estava detectando dele toda a noite cresceu exponencialmente mais intenso. Nós nos encaramos por um minuto, e eu pude ver meu próprio maravilhado reflexo nele. Nós seguramos os olhos um do outro, ambos detectando a importância do que estava acontecendo, e eu enrolei minha perna ao redor da sua cintura e o puxei para dentro de mim. Nós nos movemos juntos com uma dolorosa lentidão no início, se relembrando um do outro, como se tivesse sido anos desde o nosso último toque, e ainda, de alguma forma, parecia como se nós nunca estivéssemos nos separados. Nós rolamos para um lado, depois para o outro, cada longa ondulação como uma onda me lançando mais e mais para fora do oceano, então gentilmente me puxando de volta para a superfície, ofegando e gemendo


enquanto as ondas aumentavam mais altas e mais altas. Eu apoiei as minhas costas no chão, e nós nos encontramos com mais ímpeto, a reverência começando a arder em chamas e então inflamar. Entre as centenas de sensações alarmando pela minha atenção estava o conhecimento que o meu corpo era muito mais forte agora – e que ele sempre foi forte, mesmo na primeira noite que nós fizemos amor, e ele deveria estar se contendo por medo de me machucar. Não havia razão para temer isso agora. O desejo de ser preenchido, de sentir os nossos corpos dissolvidos em uma carne, corria por mim, e eu o mordi novamente, tentando infundir aquela mordida com a necessidade de condução...e dessa vez, ele me mordeu de volta. A picada dos seus dentes quebrou tudo em um foco de ponto único. O mundo contraiu, todo o universo do lado de fora do quarto desapareceu. Eu o deixei ter tudo –deixei tudo isso ir –meus escudos, meu coração, meu corpo, tudo, tudo, me abrindo e o conduzindo para dentro. Contração...explosão...criação...tudo convergiu, e então saiu, girando minha alma com isso...com ele...até juntos nós destruirmos o mundo dentro de mim. Eu gritei. Depois eu desmaiei. Sem surpresa, eu acordei na cama. Por um momento eu não me movi. Eu permaneci ali com meus olhos fechados, apenas ouvindo e sentindo. Eu podia ouvir o fogo ainda crepitando calmamente. Eu podia ouvir a respiração: de nós dois, relaxadas e mais. Eu podia cheirar a lareira, onde o fogo estava queimando baixo; eu podia cheirar amêndoas e shampoo e sabão em pó enquanto o meu cabelo foi ventilado sobre o travesseiro para secar. Eu podia cheirar o sexo, embora esse cheiro estivesse desaparecido, provavelmente vinha da toalhinha de banho da banheira, pelas minhas coxas não estarem tão pegajosas quanto eu esperava. Eu podia cheirar algo no ar...algo brilhante e de calor branco que fez o meu coração tremular ligeiramente. Luz do dia, eu percebi. Eu podia cheirar a luz do dia. Mais importante, embora, eu podia cheirar, e sentir, a presença ao meu lado na cama; a essência indefinida da imortalidade, e algo antigo mas ainda vital, com sub-tonalidades de vinho e algum tipo de almíscar com cume selvagem. Eu podia senti-lo me assistindo, e eu deixei os meus olhos se abrirem, encontrando os seus azuis profundos.


Ele sorriu suavemente. “Volte a dormir, minha Rainha. É quase meio-dia.” Eu ergui uma mão e a descansei contra o seu Signet, então descendo para onde eu podia sentir o seu coração batendo contra a minha palma. Seus dedos se fecharam ao redor dos meus. “Boa noite,” eu murmurei, já à deriva. “Descanse bem, amada,” ele sussurrou. Essa foi a primeira vez que ele alguma vez me chamou assim.


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02

Uma amável maneira de arder

E

LA ERA UMA RÁPIDA APRENDIZA. Ele não tinha idéia do que fazer com ela no início. Eles se conheciam por meses, dormiam em quartos adjacentes, trabalhavam próximos para treinar os seus dons, até que ele viu o dente dela piscar na noite e perfurar a pele de uma jovem mortal contorcendo-se em seu aperto, ele realmente não a conhecia. Todos eles se alimentavam diferentemente alguns eram apreciadores de certo tipo de raça e tipo sanguíneo, alguns procuravam se alimentar por aqueles que os lembrava alguém mais, há muito tempo atrás, em outra vida. Alguns eram menos distintos e caçavam quem quer que estivesse saudável e conveniente. Outros transformavam em um jogo. A sedução, a perseguição...eles se alimentavam disso mais do que o próprio sangue. O desejo sexual inflamava a força da vida no sangue, dando a ele poder, o fazendo mais nutritivo. Essa sempre tinha sido a sua técnica preferida, embora isso levasse tempo, era uma maneira certa de fazer a força crescer sem ter que matar. A morte exalava uma


tremenda quantidade de poder, mas era perigoso...viciante...e extraía muita atenção da sua espécie. Por séculos ele tinha levado pra cama a maior parte das suas presas. Ele não as compelia ao ato, apenas para esquecer o que ele era mais tarde; encontrar humanos dispostos nunca era um problema. Ele não se importava muito com aparências; ele tinha provado humanas de todas as formas, tamanhos, cor, idades, e credo. O que ele procurava era sutil e rígido para definir, mas ele sempre sabia disso quando ele captava a essência. O sal da pele com suor escorregadio, o entrelaçar de cabelos ao redor dos seus dedos, a suavidade de um seio e uma barriga contra a sua palma...o fogo líquido de corpos envoltos ao redor um dos outros na pista de dança, na cama, contra a parede...terminando com a picada de caninos afiados e o fluxo de sangue...eles eram melhores que qualquer droga. E então ela veio para ele. Nunca tinha ocorrido a ele que ele teria que abrir mão do seu modo de caçar – mas então, ele nunca esperava encontrá-la. Ele estava preparado por gastar todo o seu governo sozinho, e parte dessa preparação envolvia em tentar muito forte não pensar sobre o que ele estava perdendo, sobre como a sua vida iria mudar com uma Rainha ao seu lado. Agora aqui estava ela, e a vida dele tinha sido jogada para dentro do mais alegre delírio imaginado. No momento que ele a viu no Grande Salão, espada na sua mão e fogo em seus olhos, tudo tinha mudado. Ele simplesmente não tinha percebido o quanto até a primeira vez que eles caçaram juntos. “Me ensine,”ela disse. Então eles moveram através da multidão de mãos dadas, levando o seu tempo, permitindo a ela aprender o que procurar. Ela ainda estava descobrindo como lidar com pessoas em grupo, e a sua tendência era se afastar, mas o contato dos dedos dele apertando os dela a manteve estabelecida e capaz de focar nos seus objetivos. Ele disse a ela que ela deveria confiar em seus instintos; ela saberia as doenças pelo cheiro, e também as drogas – ela podia sempre usar a sua empatia para informar um malfeitor de um tipo de alma, se isso importava para ela, ele suspeitava que importava. Muitos vampiros, particularmente os mais novos aqui na América, apenas se alimentavam de criminosos, relutantes em tomar vantagens de um inocente. Ele tinha conhecido vários vampiros vigilantes que matavam em nome da justiça...mas quanta distância estava ali, realmente, entre


eles e os Blackthorn, que acreditavam eles mesmos como os justos da mão de Deus? Ela era diferente. Porque com o seu dom ela nunca seria capaz de tomar o sangue daqueles que matavam, estupravam, ou abusavam; a sua raiva e ódio iriam sobrecarregá-la, assumindo que ela pudesse se forçar a tocá-los. Para ela haveria um conflito no início: como ela iria encontrar um meio equilíbrio para a proteção dos instintos de uma Rainha, as exigências dos seus dons, e o que ela teria que fazer para sobreviver? Ele também sabia que eles deveriam começar com mulheres. As suas feridas ainda estavam muito cruas, mesmo com a morte e a transformação entre ela e os seus atacantes. Ele podia ouvir os ecos dos pesadelos dela no seu próprio sonho. Que ela estava permitindo que ele á tocasse era uma honra. Provavelmente passariam anos antes que ela pudesse se alimentar de um homem. Ele tomou a liderança. A garota que ele escolheu estava fluindo com juventude e saúde e o primeiro do que sem dúvida seriam algumas margaritas. Ela tinha um tipo arredondado, suculenta figura que ele sempre gravitou em direção a uma mulher, mas ele não a escolheu porque ela era bonita e muito porque ele sabia como ela poderia provar...doce, mas com um calor subjacente, como chocolate perfumado com pimentas malaguetas, sua suavidade enganosa, cobrindo uma afiada inteligência e um rápido temperamento. Ele sabia sem perguntar que a sua Rainha iria gostar dela. Ele estendeu a mão para a garota e correu sua mão descendo no seu braço nu enquanto ele inclinava a sua vontade contra ela. Ela se virou na direção dele lentamente, e quando os seus olhos se encontraram ele a rebocou da multidão com sua mente, oferecendo-a silenciosamente a seguir o casal sombrio que seus amigos não se lembrariam de ver. Eles talvez pensariam que ela mergulhou para o banheiro das mulheres ou para pegar outro drink, mas ela estaria de volta antes que eles tivessem a chance de se preocupar. O clube tinha recantos e cantos fora do caminho, cabines e quartos escuros, apenas fora da visão da pista de dança mas bem dentro da conscientização do pessoal da segurança. Eles o conheciam, claro, e sabiam que ele seria confiável com suas convidadas humanas, mas o conhecimento aqui era que qualquer um, mortal ou imortal, estava sendo observado, ele aprovava. Eles guiaram a garota a um canto silencioso e ele a fez se inclinar para trás contra a parede. Ele podia ouvir o seu coração batendo rápido, e acalmou a sua ansiedade gentilmente, deixando-a saber que não havia nada a temer.


Ele estabeleceu a sua mão contra o queixo da garota e inclinou a sua cabeça em direção a ele, expondo a garganta dela a sua amada. “Beba,” ele disse suavemente. Ela tocou o pescoço da garota com os seus pálidos, graciosos dedos, e garota estremeceu, um calmo gemido escapou de seus lábios. A Rainha se inclinou mais perto, inalando o cheiro da sua pele, aprendendo, como todos eles faziam, por ouvir os seus sentidos. O seu corpo estava agora sobre o gingar de instintos de milhares de anos de idade, e ela tinha que vir com o seu próprio conhecimento de onde a sua personalidade se encaixava na do predador, para aprender a natureza da sua própria escuridão então ela poderia escolher como melhor viver com isso. A sua língua agitou para fora para tocar a carne da garota, provocando um engasgo, e ele não sentia pouca vontade de si próprio assistindo ela, assistindo elas, assistindo. Seus lábios se abriram, e ele viu seus dentes estenderem para baixo, captando a luz apenas antes dela golpear. Era melhor morder rapidamente para que o sangue começasse a fluir antes da dor ter tempo de registrar; mesmo sobre escravidão algumas vezes o seu reflexo era de recuar, o qual podia causar que o dente do vampiro rasgasse um músculo e causasse mais dor ou mesmo cicatriz. Um rápido atirar com uma lanceta ou a ponta do dedo, deixava limpo, pequenas punções. A garota não teve tempo de chorar antes da dor aparecer e a boca da Rainha estar apertada forte na ferida. Haveria fracas contusões ao redor das punções onde ela segurava, mas elas iriam desaparecer quase imediatamente. Pela hora que a humana acordasse pela manhã não haveria nenhum traço da sua alimentação, e tão saudável quanto ela estava era improvável que ela sequer sentisse a perda de sangue. Eles não precisavam mais do que ela deveria doar a Cruz Vermelha. Não haveria razão para causar dano nela, e nenhuma razão para protegê-la. Ela estava na vida deles. Ele esperou até que ele pode sentir o sangue saciando a sua fome e então a tocou levemente no ombro, mas ela já tinha desacelerado e estava para retirar-se sem incitamento. Ele tinha esquecido que ela já tinha se alimentado de um humano vivo uma vez, então ela sabia como isso se parecia – o seu ritmo cardíaco caindo em sintonia com o da sua presa, dizendo a ela que ir mais era um sério risco para ferir a humana. Ela ergueu sua boca com a despedida da sua língua passando pelas suas feridas e lambendo os últimos traços de sangue, e enquanto ela lambia os seus lábios, ela olhou para cima para encontrar os seus olhos.


Todo o corpo dele queimou com aquele olhar. Ele podia sentir a satisfação, a euforia, cantando através dela. Ele envolveu uma mão em volta da sua nuca e rebocou os lábios dela para os dele. Ele podia provar o sangue da garota em sua boca, e o fogo se apossou dos dois. Por um momento ele estava perdido nela, todo o mundo desaparecendo. “Espere,” ela sussurrou, se afastando. Ela inclinou sua cabeça em direção a humana. Ele assentiu. Eles tinham que cuidar dela primeiro. Ele retornou a sua atenção á garota, reafirmando o seu controle, e implantando a usual serie de sugestões: ela deveria se limpar, então beber um copo de água. Sem mais álcool essa noite. Ela deveria se sentar por um tempo, e se ela estivesse se sentindo um pouco tonta, ir para casa; havia taxis do lado de fora. Ela deveria comer bem quando chegasse em casa, e descansar...e ela não iria se lembrar de nada exceto que ela dançou, e bebeu, e se divertiu. Enquanto ela se afastava ele observou para ter certeza que ela estivesse firme em seus pés. A segurança sabia o que procurar, então mesmo fora da sua visão ela estaria segura, mas eles tinham acabado de tomar a vida dela, e ter certeza de que ela não iria sofrer nenhum efeito nocivo era o mínimo que eles podiam fazer. Ele se virou e encontrou os olhos esmeraldas iluminados pelo fogo, mais uma vez. “Você dorme com elas, não dorme.” Ela disse. Ele sorriu. “Eu costumava.” Agora ela se inclinou de volta na parede, pensativa. “Eu não sei se eu gosto desse lugar.” “Você não tem que gostar. Mas eu queria que você visse...esse é o nosso mundo, amada. É assim como nós vivemos junto deles e nos alimentamos deles sem resultar em assassinato. Se nós quisermos nos mantermos fortes, nós não podemos viver só de sacos –nós temos que caçar.” “Eu sei.” Ela observou a pista de dança por um momento. “Eles não tem idéia do que nós realmente somos.” Ele se moveu para o lado dela, deslizando os seus braços em volta da sua cintura, falando perto do seu ouvido. “Alguns sim. Algumas dessas pessoas ali fora sabem exatamente o que eles estão fazendo aqui. Alguns acreditam, outros não mas acham que eles estão em um clube fetiche. Alguns deles querem se ferir, até mesmo morrer. É o nosso trabalho ter certeza que eles não caiam nas mãos daqueles que iriam levar a sério as suas ofertas.”


Ela descansou a sua cabeça no ombro dele. Sua mão deslizando para cima no seu braço e sobre o seu coração. “Eu estou...” “Com medo,” ele terminou por ela, a segurando mais perto. “Do que você sente, do que você é, do que tudo isso significa.” “Sim.” “Isso fica mais fácil.” “Eu vou querer esse...ansiar pelo gosto, a maneira como isso me faz sentir...para sempre. Nunca realmente acaba.” “Não. Isso é a verdade de estar vivo: humano, vampiro, animal, nós estamos sempre famintos.” Ela fechou seus olhos apertadamente e o abraçou mais forte. “Isso dói...” “Mentalize os seus escudos, amada. Não se perca.” Ele olhou para baixo para os seus olhos. “Se mantenha no que você é.” Várias longas, lentas respirações depois, ela estava estabelecida novamente. Ele sorriu, orgulhoso dela. Quando eles se conheceram ela não deveria ser capaz de sobreviver à mudança com a sua sanidade intacta. Agora aqui eles estavam no coração da cidade, cercados pelas emoções conflitantes e energias de centenas de humanos e varias dúzias de vampiros, e ela já estava dominando mais do que a maioria dos vampiros novos faziam no primeiro mês das suas vidas. Isso era estranho...ele tinha visto o poder nela quando ela era humana, apenas em vislumbres; ainda isso o surpreendeu ao ver isso emergir, alongando suas garras, e mergulhando elas dentro do coração dele. Quando ela abriu seus olhos novamente a sua chama tinha retornado, e ela suspirou, sorrindo, e o beijou forte. Dessa vez o calor era quase enlouquecedor; ele a queria tão malditamente nesse momento, levou toda a sua força para que ele não a empurrasse contra a parede, mas ele não pensava que ela estivesse bastante pronta... Ela o pegou pelos ombros e o imobilizou. Eles se beijaram fervorosamente, unhas se enfiando em cada um dos braços, uma das pernas dela enrolando ao redor dele e pressionando o quadril dela contra ele. Ele gemeu dentro da sua boca, cada centímetro dele doendo por ela. Ele quase rosnou em frustração quando ela se afastou mais uma vez. “Ainda não,” ela disse, as palavras uma promessa, um desafio. “Casa?” Ele conduziu. Os olhos dela circularam sobre a multidão novamente, depois de volta para ele. Ela sorriu. Havia uma maldade naquele sorriso que ele amava. “Não...primeiro...é a sua vez.”


Oh, sim. Ela era uma rápida aprendiza...e ele estava condenado a morrer no seu fogo. Seria um prazer. Ela pegou as suas mãos e o levou em direção a pista de dança.


Papyrus Traduções de Livros Tradução: Joana Revisão: Fran Formatação: Leo

“Qui sait beaucoup ne craint rien.” “Do Do muito saber vem o nada a temer” temer


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