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A Cin Cravel Novel
W a g e s of Sin
Papyrus Traduções de Livros
“Qui sait beaucoup ne craint rien.” “Do muito saber vem o nada a temer.”
Sinopse:
D
ULCINEA MACGREGOR CRAVEN É A filha única de um rico visconde inglês. Ela também é uma bruxa natural, um de uma longa linhagem de bruxas Macgregor pelo lado de sua mãe. Quando seus pais são mortos em um acidente de carruagem, Dulcie não acha que a sua vida pode ficar muito pior. Então um velho amigo de infância retorna ao país um pouco diferente do que ele deixou e jura que nada vai impedi-lo em possuí-la e a sua mágica. Em uma tentativa desesperada de salvar a sua vida, Dulcie convoca um trio de vampiros chamados de os Justos para o seu auxílio. Com a ajuda dos Justos e de quatro amigos humanos, Dulcie tenta frustrar os planos do seu inimigo para capturá-la e usar a sua magia para os seus propósitos malignos. Mesmo quando ela se apaixona pela primeira vez, Dulcie percebe que ela pode ter que fazer um sacrifício extremo a fim de salvar o mundo.
Capítulo
M
EU NOME É CIN. É UM APELIDO INCOMUM, UM QUE sempre incita especulação sobre como eu o recebi. Alguns dizem que é devido à cor do meu cabelo, loiro avermelhado e pecaminoso. Outros aqueles que sussurram por trás das suas mãos, ou do outro lado da rua ao invés de passar por mim pela calçada, dizem que é devido a quem eu sou ao o que eu sou. Ah, o que você perguntou? Eu sou uma bruxa... Dentre outras coisas. Eles estão todos errados, claro. Eu me lembro bem como eu consegui esse nome, quem o deu pra mim, e por que. Tanto tempo atrás, e ainda algumas vezes parece como se fosse ontem. Eu tenho sido Cin por muitos longos anos, mas eu nem sempre fui ela. Uma vez quando eu era nova e doce e inocente, apenas uma garota com toda a sua vida pela frente. Eu nasci Dulcinéia Macgregor Craven. Minha mãe me chamava Dulcie...
Ravenworth Hall Inglaterra 1815 “Dulcie, minha querida, você tem certeza que você não quer vir essa noite?” minha mãe perguntou, parecendo adorável como sempre em um vestido esmeralda de baile de cetim, o seu cabelo vermelho-cobre empilhado em cima da sua cabeça em uma massa gloriosa de cachos. “Os Anworthys sempre arrojam uma festa magnífica,” meu pai adicionou. “O ponche é realmente bebível e não haverá fim de jovens homens elegíveis ali,” ele disse com um piscar. Eu gargalhei. “Não, seriamente, minha cabeça dói. Além disso, nós acabamos de retornar da Pequena Temporada e eu tive o suficiente de dança e de jovens homens elegíveis pelo momento. Eu acho que eu vou beber algum chocolate quente e me retirar mais cedo essa noite. Dê os meus melhores aos Anworthys entretanto.” “Querida você tem certeza que você não quer ficar em casa apenas para evitar o Senhor Montford? Eu ouvi que ele retornou para casa.” “Não, Mamãe, eu apenas não me sinto bem para sair essa noite. Senhor Montford é uma peste, mas ele é inofensivo.” “Nem como o homem pela metade, Dulcie,” Papai bufou, endireitando a sua já impecável gravata no espelho do corredor. “Se você sabe o que eu quero dizer.” Eu sabia. A minha mãe era uma bruxa Macgregor, mas o meu pai veio de uma longa linhagem de homens que casavam com as bruxas Macgregor. Algumas vezes ele podia, bem, sentir coisas. Minha mãe estava sempre tentando convencê-lo a desenvolver suas habilidades, mas ele sempre oscilava a mão e dizia que não era nada. Duas bruxas na família era o bastante, ele dizia. Sebastian, Senhor Montford, era bonito, um tanto excessivamente zeloso, meu pretendente, mas ele nunca foi nada além de um perfeito cavaleiro comigo. Céus, nós brincávamos juntos enquanto crianças mesmo se o nosso relacionamento tivesse tomado um rumo mais tarde, como amigos de infância muitas vezes fazem. Eu o amava enquanto uma criança, o odiava enquanto uma adolescente e estava
surpreendentemente inteiramente indiferente a ele como adulta. Entretanto, se Papai dizia que não gostava dele então eu tinha que respeitar isso. Eu nunca soube que a sua intuição estivesse errada. Para dizer a verdade, havia algo sobre Sebastian, algo em seus olhos, que me fazia apreensiva também. “Eu sei, Papai. Eu estou tentando dissuadi-lo educadamente mas ele não parece entender o recado. Talvez eu devesse ser mais enérgica, embora eu odeie ferir os seus sentimentos.” “Seus sentimentos vão se corrigir.” Mamãe disse. “É você que eu não quero ver ferida.” “Elegante,” eu zombei. “Eu quero que você tome cuidado ao redor dele, minha querida,” Papai disse. “Mesmo o Diabo pode ser bondoso quando ele corteja.” “Eu posso tomar conta de mim mesma. Eu não sou uma criança,” eu murmurei. “Você é a minha criança,” Papai disse e envolveu os seus braços ao meu redor. Eu coloquei os meus braços em volta dele e descansei o meu queixo contra o seu fraque. Ele beijou o topo da minha cabeça e então eriçou o meu cabelo. “Agora, mais do que isso e eu vou ter que subir e ter Sanders amarrando uma outra gravata.” “Oh nós não podemos fazer isso,” eu gargalhei, pensando no engomado criado de Papai, Sanders. “Meu Senhor, Minha Senhora,” nosso mordomo Masterson disse da porta da frente, “a carruagem está esperando quando vocês estiverem prontos.” Eu abracei a minha mãe. “Eu amo você, Mamãe.” “E eu amo você também, Dulcie querida. Descanse bem e nós nos veremos pela manhã,” ela disse enquanto me abraçava. Eu os assisti andarem pela porta, o braço da minha mãe com o do meu pai. Ela riu alto de algo que ele disse e ele olhou para baixo para ela com um sorriso cheio de amor.
Eu acordei subitamente, meu pescoço e as costas do meu cabelo ensebado de suor, uma gota perdida correndo para baixo entre os meus seios. O que havia me acordado? Um pesadelo? Não, não. Eu olhei para o relógio de cobre no meu manto. Três horas da manhã. Meus pais devem estar em casa dos Anworthys a qualquer momento. Meu estômago se apertou com o pensamento. Querido Deus, algo estava errado. Eu joguei meu roupão de veludo espesso por cima da minha camisola e saí correndo pela porta do meu quarto descendo o corredor. Parando em frente a uma massiva porta dupla da suíte dos quartos dos meus pais e me senti subitamente ridícula. Lentamente facilitando uma porta aberta, eu olhei para dentro. Sem candeeiros queimando na sala de estar mas havia um pequeno fogo posto na grelha em antecipação da chegada deles. Eu passei por isso e lentamente abri a porta do seu quarto de dormir. Meus pais tinham se casado por amor e nunca viram o sentido em manter camas separadas, enquanto muitos da aristocracia faziam. Eles sempre dormiram juntos, curvados um nos braços do outro, mas essa noite a cama esculpida em mogno com quatro colunas com suas cortinas de veludo em verde escuro estava vazia. Eles não tinham chegado em casa ainda. Eu me virei e corri descendo o corredor, meus pés voando levemente descendo as grandes escadarias. Masterson estava adormecido em uma cadeira na porta da frente. Gracioso, eu pensei com um sorriso, o homem até dormia como se houvesse uma haste de aço subindo nas suas costas, apenas a sua cabeça pendendo para um lado. Sem importar quantas vezes os meus pais disseram a ele que ele não deveria esperar acordado ele sempre fazia. Masterson tomava as suas atribuições muito seriamente. Eu toquei o seu ombro e suavemente chamei o seu nome. Ele bufou e então olhou para cima para mim, sem um fio de cabelo grisalho ou um bigode fora do lugar. “Minha Senhora?” ele perguntou, e então piscou umas duas vezes. “Ah, não. Senhorita Dulcie. O que esteja errado?” Eu devo ter acordado o querido homem do seu sonho profundo porque ele não me chamava de Dulcie desde que eu tinha superado os vestidos curtos e tranças. Ele chiou um pouco enquanto ele ficava em pé e endireitava o seu colete e casaco.
“Masterson, eu-” Boa aflição, como eu digo o que eu estava sentindo sem soar como uma completa lunática? Eu decidi mentir apenas um pouco. “Eu tive um pesadelo. Por favor, você poderia mandar alguém descer aos estábulos e ter um dos cavalariços selando um cavalo e ir até Anworthys?” Ele olhou para mim interrogativamente. “Eu sei que soa maluco e eu odeio acordar alguém á essa hora e mandá-lo no que é provavelmente uma incumbência tola, mas-” “Nunca tema, Senhorita Craven,” ele disse. “Considere isso feito.” “Obrigada, Masterson. Eu vou esperar na sala verde.” “Muito bem, senhorita. Devo eu trazer um agradável bule de chá?” “Não, obrigada,” eu respondi. Eu andei para dentro da sala verde, derramando para mim mesma um ponto do mais fino contrabandeado whisky do meu pai, da destilaria George Smith em Glenlivet e andei para as portas do terraço. Agitando o ardente líquido no copo, eu sorri. Masterson sequer tinha piscado um olho com o meu pedido, mas então ele estava bem consciente que nós não éramos exatamente um lar normal. Tendo estado com a família desde que meu pai era um menino, Masterson estava acostumado com as excentricidades das mulheres da casa. Eu olhei para cima para os dois retratos em cada lado da lareira. Eles eram a minha família, dois grandiosos ancestrais e mesmo enquanto eu era uma menininha olhando para eles sempre me deram uma sensação de calma e força. Eu precisava disso essa noite. O retrato da esquerda era uma linda mulher nos primeiros relances da sua juventude, cabelo todo negro e olhos azuis escuros. O seu nome era Lorraina Macgregor e ela tinha vivido durante meados do século XVII. Agora, algumas mulheres se tornavam bruxas e algumas nasciam com uma habilidade natural à magia. As mulheres Macgregor da linhagem da sua mãe eram todas naturais, ou hereditariamente bruxas, e Lorraina foi a primeira a nascer com a magia dentro dela.
Como sempre o caso com as mulheres da minha família, seus poderes mágicos não se manifestavam completamente até que elas estivessem perto dos vinte anos de idade. Nossa magia é uma coisa paciente, deitada embaixo da superfície, esperando pelo momento certo para se libertar. Eu sou um disparate atraso. Aos vinte e dois eu ainda não experimentei O Acordar, mas eu posso sentir a magia dentro de mim, esperando. A magia de Lorraina não tinha vindo até depois do nascimento da sua filha. O seu marido tinha pego os seus homens e ido para a Inglaterra lutar pela recuperação de Charles Stuart, esperando que o apoio do clã seria recompensado com a elevação do Ato da Proscrição contra o nome Macgregor. O marido desapareceu durante a batalha e estava presumidamente morto. Sabendo o quanto das suas esperanças o clã tinha investido nos planos do seu marido, Lorraina deixou a sua filha bebê aos cuidados da sua irmã e foi para Londres para a nova corte de Charles II. A maioria das pessoas acredita que Charles II elevou a proscrição no nome da sua família por causa dos serviços dos Macgregors para o seu pai; mas as mulheres Macgregor sabem que isso aconteceu porque Rainy Macgregor seduziu o rei. Ela mandou uma carta para casa da corte e nunca foi vista ou ouvida novamente. Cada geração dos primogênitos do sexo feminino foi chamada pelo nome dela. Eu andei para ficar na frente do segundo retrato. Ela sempre me fez sorrir. Como é o caso com muitas famílias da aristocracia, nós tinhamos parentes por casamento mistos com uma surpreendente taxa. O cão pastor do meu primo Seamu tem um pedigree mais limpo do que pelo menos quatro dos meus amigos mais chegados e pelo soar da árvore genealógica da família Craven você pensaria que nós não éramos muito melhores. Por ao menos três gerações, e não sem uma vasta quantidade de sobrancelhas levantadas a toneladas, os homens Craven têm sido particularmente tomados pelas mulheres Macgregor. Agradecidamente os Macgregor são um clã grande o bastante que eu posso clamar apenas pelo mais distante parentesco pelo lado da minha mãe a qualquer dos meus ancestrais Craven. Pintado quando ela estava perto dos seus quarenta, o retrato da direita é uma ruiva de olhos castanhos, muito parecida comigo embora eu imagino que eu seja mais classicamente bonita do que Charlotte Macgregor Craven. Sua beleza
assentava em sua força; você podia ver em cada traço do pincel. Ela era uma senhora de aço, minha bisavó. A carta que tinha vindo de Lorraina para a sua irmã e filha pequena antes dela desaparecer tinha sido preenchida com profecia. Ela dizia que dentre suas magias Rainy Macgregor possuía a Visão. Ela advertiu que uma grandiosa guerra entre a Escócia e a Inglaterra iria despedaçar a zona rural antes de outro século passar. Morte viria para cada e toda porta e os clãs seriam esmagados pelos calcanhares dos carniceiros. Ela sabia que os homens lutariam pela Escócia e como sempre seriam as mulheres que seriam deixadas para recolher os pedaços, para assegurar a sobrevivência daqueles deixados para trás. Por quase oitenta anos as mulheres da sua família mantiveram a carta em segredo e planejaram o dia quando elas sozinhas aceitariam o destino pela garganta dobrando-o a sua vontade. E o destino tinha as entregado Charlotte Macgregor em uma bandeja de prata. Uma grande herdeira, Charlotte herdou 50.000 acres das terras dos Macgregor com a morte do seu pai. Em 1740 as mulheres do clã tinham equipado-a com uma égua premiada e sua mãe e tia a tiraram de Londres para obter um marido Inglês e assegurar a sobrevivência da sua família. Cinco curtos anos depois Bonnie Prince Charlie veio da Escócia e os campos correram vermelhos com sangue em Culloden quando os escoceses, homens Macgregor entre eles, morreram pela sua causa. Os clãs foram destruídos, seus tartãs1 e gaitas de foiles ilegais, inocentes foram assassinados segundo os caprichos da ocupação Inglesa, mas graças a Lorraina Macgregor e as mulheres da sua linhagem, um santuário esperava os membros dessas famílias que sobreviveram: 50.000 acres de intocáveis terras pertencentes ao Visconde Inglês Ravenworth e sua amada Viscondessa, Charlotte. Eu reabasteci o meu copo do decantador2 e olhei para o relógio na cobertura. Certamente eles estavam seguros. Eu assisti Mamãe colocar um feitiço de proteção na nova carruagem nem três dias atrás. Eu poderia ser apenas capaz de realizar o mais simples dos glamours, ou oscilar um livro ou uma bandeja de chá, mas minha
1
(tartãs -é um tipo de tecido quadriculado, parecido com xadrez, com padrões de linhas diferentes e cores levemente distintas. É o padrão utilizado para se fazer um kilt, típica indumentária escocesa.) 2 (decantador –é uma garrafa de vidro ou de cristal, com formato circular, que auxilia na respiração da bebida, ou na sua oxigenação. As moléculas de oxigênio permitem a total liberação dos aromas da bebida, favorecendo o seu paladar.)
mãe era uma bruxa poderosa, uma descendente direta de Lorraina Macgregor a única filha pela linhagem feminina. Certamente eles estavam seguros, certamente. Eu coloquei o whisky na mesa e empurrei aberta as portas do terraço o qual conduzia para fora a um pequeno Jardim de Inverno. Eu tinha que fazer algo ou a espera iria me deixar louca. As altas paredes de pedra mantinham o jardim marginalmente aquecido nos meses de inverno mas o calafrio das noites de Outubro ainda me faziam estremecer e enrolar o meu roupão mais apertado ao meu redor. Eu andei para dentro do centro do jardim, em pé ali silenciosamente recolhendo a minha energia e depois fechando meus olhos e levantando as minhas mãos, palmas para cima. Inspirando, eu abri minha mente ao mundo ao meu redor, aos cheiros e sons da natureza. Eu me forcei a ficar imóvel, a esvaziar minha mente como eu aprendi na infância e deixei a Bondade fluir para dentro de mim. Eu senti o vento, ouvi o enrugar das folhas caídas, cheirei o ar puro do outono. Eu estava procurando por paz. Eu não a encontrei. Um momento o mundo estava calmo e no seguinte ele parecia girar em torno de mim. Talvez isso fosse o whisky. Eu tentei abrir meus olhos, para dar um passo e me firmar, mas eu não podia. Nem sequer meus dedos podiam se mover. Era como se eu estivesse congelada, ficando ali em súplica, na escuridão, o mundo girando loucamente ao meu redor, cores fluindo e cintilando atrás dos meus olhos. Eu ouvi cavalos gritando e comecei a entrar em pânico, tentando em vão virar a minha cabeça e olhar em volta, para descobrir de onde o som tinha vindo. Um homem gritou e então o rachar de madeira, alto como um tiro de arma. Meus olhos voaram abertos. O que quer que tenha me agarrado se foi. Eu estava respirando pesadamente mas eu continuei imóvel, tão imóvel como se não me movendo eu pudesse fingir que isso não tinha acontecido. A noite a minha volta estava quieta, pacífica. Os sons não tinham vindo do lado de fora das paredes; eles tinham vindo de dentro da minha cabeça. E então eu senti o cheiro. Rosas e violetas, o perfume da minha mãe, e nesse único aterrorizante momento eu soube que ela não estava vindo para casa. Sua alma tinha fluído livre e estava me cercando agora como uma coisa quase tangível. Eu
podia sentir ela comigo. Me virando ao redor meio que esperava vê-la em pé atrás de mim mas não havia ninguém lá, sem um corpo físico pelo menos, mas algo estava ali. Magia, a sua magia. Eu não sei como eu soube, mas eu sabia. Isso se moveu contra mim, formigando como champanhe quente na minha pele. Eu segurei as minhas mãos para fora e minha pele brilhou, dourado e furta-cor à luz da lua. O que estava acontecendo? Eu joguei para trás a minha cabeça enquanto a magia se empurrava para dentro de mim, me preenchendo, como se a magia dela Acordasse a minha própria. Eu deveria ter experimentado O Acordar, o processo gradual de atravessar o seu poder, anos atrás, mas ele nunca tinha vindo. Era como se ele estivesse esperando ali dentro de mim, pacientemente esperando por...algo. O Acordar deveria ser lento, espalhando por meses ou até mesmo anos, mas ele explodiu dentro de mim como fogos de artifícios no Jardim do Convento. Eu podia senti-lo misturando com a magia da minha mãe e se espalhando por mim. Era como água culminando na borda de um copo, uma gota a mais, um falso movimento e ela derramaria. O calor inicial estava começando a queimar. A magia me preencheu tanto que parecia não haver mais espaço para nada mais, sem espaço para mim dentro de meu próprio corpo. Eu coloquei minhas mãos em minha cabeça como se eu pudesse de alguma forma segurá-la do lado de dentro, mas não havia como. Ela precisava de uma saída; tinha que sair por algum lugar ou eu ficaria insana. Gritando, eu caí no chão e no minuto que minhas mãos atingiram a grama eu senti todo o poder fluir para fora de mim. Uma onda de dourado furta-cor deixou minhas mãos e espalhou sobra a grama, os canteiros, as árvores, e a terra absorveram-na como a chuva depois da seca. Eu observei com horror como todas as cuidadosas plantas que tendiam no jardim eram sugadas para dentro da terra como se puxadas por baixo por alguma mão invisível e então, tão rapidamente empurradas para fora novamente, como assistir vários meses de crescimento da primavera em questão de segundos. Eles eram diferentes, entretanto, o mesmo padrão do jardim, mas as flores estavam todas diferentes: cada prímula, damas-da-noite, jasmim, madressilva, lírios
da noite, gladíolos e toda uma série de outras, todas em floração plena como elas nunca ficaram no meio de Outubro. Inferno sangrento. Como eu alguma vez vou explicar isso ao jardineiro? A onda de magia, que cintilava dourado, atingiu as paredes do jardim e moveu de volta em minha direção. Eu estava tão cansada para me mover e eu sentei ali e a observei vir, como se eu estivesse sentada em uma praia enquanto as marés rolavam. Assim que a magia me cercou e pareceu absorver de volta para dentro de mim eu esperei pela dor vir novamente, aquela plenitude insuportável, mas ela nunca veio. A magia reside em mim agora, confortável como ela deveria ser, como eu sempre soube que ela seria, mas havia tão mais ali do que eu alguma vez esperei, não apenas o meu poder, mas o da minha mãe também. Mamãe. Ela ainda estava aqui; eu podia cheirar o seu perfume. “Mamãe, não vá. Por favor, não vá,” eu chorei, as lágrimas finalmente vindo, escorrendo em minhas bochechas em torrentes. “Eu amo tanto você, você e Papai.” Eu ouvi uma carruagem, o chocalhar de muitos arreios de cavalos, mas dessa vez não era na minha cabeça. Era fora do estacionamento, além da parede do jardim onde nenhuma carruagem deveria estar. As rodas e os cascos pareciam como se eles estivessem viajando sobre a terra acumulada, não a suave grama circulante eu sabia o que estava ali fora. O perfume de Mamãe cresceu mais forte, como sempre fazia quando ela me abraçava. “Eu estou com tanto medo,” eu sussurrei. “Não me deixe sozinha.” Eu não deveria me sentir aquecida ali no lado de fora na fresca noite de outono mas como eu cheirei a sua essência tão forte ao meu redor eu senti uma paz e calor que eu nunca senti desde que eu acordei. Ela estava dizendo adeus. Tantas pessoas nunca tiveram a chance e eu estava sendo humilde a isso. “Eu amo os dois,” eu disse no céu da noite. Eu ouvi os fantasmagóricos sons da carruagem desencarnada se movendo novamente além das sombras da parede do jardim, e então a noite estava silenciosa. Eu não tinha idéia de quanto tempo eu fiquei ali sentada na fria, úmida grama, chorando, pensando, relembrando, mas na maior parte esperando. Esperando por
alguém aparecer e me dizer o que eu já sabia. Eu teria que ser forte, minha família iria esperar isso, meus pais iriam esperar isso. Arranjos deveriam ser feitos, os serviços de funerais planejados, a papelada resolvida. Eu iria ser forte e esperaria. Quando isso acabasse eu poderia me despedaçar. Eu poderia me curvar em uma bola no meio da cama deles e ficar ali por um mês. Mas não agora, não agora. Minha dor teria que esperar enquanto eu realizava o que era requerido a mim. E então eu esperei. Deveriam ser várias horas. Eu estava entorpecida por todo o caminho, ambos fisicamente e emocionalmente, quando nossa arrumadeira Senhora Mackenzie me encontrou. Seu rosto estava vermelho e listrado com lágrimas. “Dulcie,” ela engasgou e engoliu forte, “houve um acidente. O Magistrado está vindo.” Eu assenti uma vez, me levantei com alguma dificuldade, endireitando meu roupão e, correndo uma mão através do meu cabelo como se eu sempre fosse encontrada sentada na grama coberta de orvalho no meio da noite, mantive minha cabeça alta e andei através da porta.
Capítulo
T
INHA APENAS PASSADO DAS CINCO E MEIA DA MANHÃ. Era uma bobagem que eu deveria notar quando eu tinha o magistrado, Senhor Lindsey, na minha frente com seu chapéu em sua mão, parecendo completamente como se ele preferisse estar em qualquer outro lugar na face da terra do que na minha sala de desenho. A porta do corredor estava entreaberta e Masterson ficou apenas do lado de dentro com Tim, um dos rapazes do estábulo. Do olhar no rosto do garoto eu diria que ele deveria ter sido aquele mandado ao Anworthys. Depois do que eu ouvi na minha cabeça eu não estava certa se eu queria saber o que ele encontrou. Eu estremeci. Senhora Mackenzie estava vertendo um copo de whisky ao lado da mesa e pela maneira que suas mãos estavam sacudindo eu pensei que ela pudesse precisar disso tanto quanto eu precisava. “Senhorita Craven,” Senhor Lindsey começou, trocando de um pé ao outro. Ele era um sujeito atarracado parecendo tímido, mas um bom homem entretanto. “Senhorita, eu sinto muito em ter que lhe dizer mas houve um acidente.” “Sim, meu senhor. Isso foi...como se diz, com os dois?” “Sim, Senhorita.” Eu assenti. Senhor Mackenzie me entregou o whisky e eu o tomei em um rígido gole, o calor disso desabrochou em meu peito e tirou um pouco do calafrio. Se Senhor Lindsey pensou que isso era inapropriado, ele não mostrou.
“Eu sabia que algo estava errado. Masterson mandou Tim para os Anworthys. A carruagem.” Eu disse. “Algo aconteceu com a carruagem. O que foi?” Houve um audível engasgo e murmúrio na porta e eu captei um vislumbre de ao menos quatro ou cinco empregadas e lacaios em pé no corredor antes que Masterson fechasse a porta em seus rostos com um sussurro reprimindo. Senhor Lindsey limpou sua garganta e se acalmou. “Jovem Tim aqui estava a duas milhas descendo a estrada, apenas indo para a grande curva próxima do rio,” ele disse. “Sim, eu soube do local.” Eu drenei o último bocado de whisky e entreguei o copo de volta para Senhora Mackenzie. “Assim que ele chegou ao redor da curva ele viu a carruagem na estrada na frente dele,” ele disse, olhando para baixo para o bloco de notas em suas mãos para ter certeza que ele estivesse dizendo isso direito. Tim falou, seus olhos redondos como discos em seu pequeno, pálido rosto. “Uma grande preta carruagem isso foi, Senhorita Craven, conduzida por seis cavalos todos eles pretos como a noite.” O barulho de vidro o interrompeu quando Senhora Mackenzie derrubou o decantador de whisky e então o endireitou rapidamente. Ela olhou para mim e eu olhei para ela e então eu assenti para Tim continuar. “Isso estava indo inteiramente muito rápido, fazendo barulho descendo a estrada como se estivesse em plena luz do dia. Eu vi a carruagem do senhorio subindo a estrada mas os pretos, eles nunca recuaram. Parecendo como se eles estivessem visando ir direto para a carruagem do senhorio. Nos últimos minutos os pretos de alguma forma espremeu passando no acostamento, mas Bacchus e Zeus eles estavam fortemente temerosos. Eles gritaram e empinaram e John o cocheiro gritou para eles.” “E então a rachadura da madeira quebrou,” eu meditei suavemente. “Sim, senhorita. Pareceu para mim como se a roda traseira deslizasse para fora da estrada e quebrou o eixo para todo o inferno, me desculpe senhorita. Os cavalos
de alguma forma se libertaram e vieram para mim descendo a estrada como se o próprio diabo estivesse perseguindo eles.” Eu olhei para cima afiadamente. “Os cavalos estão vivos?” “Sim, senhorita, mas pela maneira como eles estavam correndo é suscetível de estar em Lunnon por agora.” “Mande todos os cavalariços para fora na primeira luz para procurarem por eles. Eles são...eles eram os favoritos do meu pai.” “Sim, senhorita,” ele disse avidamente, como se aqui estivesse finalmente algo que ele pudesse fazer, algo que ele pudesse fazer certo. “Não se aflija com nada; nós vamos encontrá-los e trazê-los de volta para casa, sãos e salvos.” “Então o que aconteceu? E a outra carruagem? Ela parou?” “Sim, senhorita, ela parou. Eu nunca vi o cocheiro, entretanto. A carruagem do seu senhorio ela...bem, ela oscilou no aterro e foi para o lado. John o cocheiro foi arremessado livre.” “Ele está...ele estava?” “Naw, senhorita. Quebrou sua perna toda e ele não se lembra muito de nada além do galo em sua cabeça, mas nós o trouxemos de volta ao seu quarto nos estábulos.” “Masterson, você chamou pelo Dr. Frady?” eu perguntei. O mínimo que eu podia fazer, era providenciar ao pobre homem os serviços do médico da nossa família.” “Sim, Senhorita Craven,” Masterson disse com um pequeno curvar. “Ele deve estar aqui dentro da hora.” Agora eu tinha que perguntar a pergunta que eu estive evitando. Eu olhei ao Senhor Lindsey. “E meus pais?” Senhor Lindsey olhou de volta para Tim. “O rapaz encontrou o,er, encontrou...”
“Oh, Tim!” Eu exclamei. O pobre garoto não poderia ter mais do que quatorze anos e testemunhou o que ele teve essa noite quase mais do que ele podia suportar. “Bem, eu tinha que, senhorita. Se eles ‘se feriram e precisavam’ de ajuda, embora como tão íngreme o morro é...” “Sim, eu sei,” eu murmurei. Eu sempre tinha odiado aquele pedaço da estrada onde o chão descia para o rio. Cada vez que nós passávamos ali eu olhava pra fora e imaginava a carruagem caindo sobre a beirada. Isso me aterrorizava enquanto uma criança e como uma adulta eu não era muito mais racional. “Não havia qualquer sangue, senhorita, bem não muito pelo menos. O seu senhorio tinha os seus braços em volta da sua senhoria, como se ele estivesse protegendo-a. Eles pareciam como se estivessem dormindo. Verdadeiramente.” “E seus homens, eles estão trazendo eles pra casa agora?” eu perguntei ao Senhor Lindsey. “Enquanto nos falamos, senhorita.” Eu assenti. “Obrigada.” Eu me levantei e caminhei para Tim. Esquecendo de todo o meu treinamento do que era certo e o comportamento apropriado a uma jovem dama de qualidade, eu o coloquei em meus braços. “Obrigada, Tim. Você foi um bravo rapaz e você será bem cuidado pelo resto dos seus dias pelo serviço que você providenciou a minha família essa noite. Agora vá para fora. Coma um pouco e durma, se você puder.” O seu rosto ruborizou vermelho brilhante e ele sorriu tristemente para mim. Enquanto ele alcançava a porta eu o chamei. “Tim? Quem chamou pelo Senhor Lindsey? Eram as pessoas na carruagem preta?” eu perguntei mesmo embora eu pensasse já saber a resposta. “Naw, senhorita. A carruagem preta ficou ali por um minuto e depois continuou descendo a estrada, tipo desaparecendo na névoa como talvez eu tenha imaginado isso, mas eu não imaginei, com certeza eu não imaginei. Eu vou me lembrar daquela carruagem e dos seis cavalos pretos com suas crinas emplumadas
até o meu último dia, eu vou. Bastardos sangrentos, desculpe senhorita, nem sequer saíram para ver o que eles tinham feito. Estavam o Senhor e a Senhora Bascombe da propriedade seguinte descendo a estrada um minuto ou dois mais tarde. Eu imagino que eles estavam retornando do mesmo baile.” “Obrigada, Tim” Eu disse. Quando ele deixou a sala eu olhei para o Senhor Lindsey. “O cocheiro dos Bascombe viu a carruagem preta?” eu perguntei. “Não, Senhorita Craven, mas estou certo que eu terei cada homem que eu tenho, fora procurando por ela. Uma carruagem e cavalos que distintivamente não vão muito longe. Nós vamos arrastá-los para pagar pelos seus descuidos forjados dessa noite, eu prometo a você. É injusto estar dirigindo dessa maneira e então causar um acidente e escapar da cena de tal maneira. Injusto.” “Sim, é sim. Obrigada, meu senhor,” eu disse. “De fato,” ele disse de uma maneira o qual claramente indicou que ele estava procurando por qualquer oportunidade para escapar da situação desconfortável, “Eu vou fazer a busca agora mesmo. Eu sinto muito pela sua perda, Senhorita Craven. Seu pai era um dos melhores homens que eu já conheci e sua mãe era uma excelente, devotada esposa.” “Sim, obrigada, Senhor Lindsey. Obrigada por vir e me contar você mesmo,” eu disse, mesmo embora Tim tivesse feito a maior parte do contar. Masterson mostrou ao senhorio a saída, silenciosamente fechando a porta atrás dele. Senhora Mackenzie permaneceu silenciosamente como uma estátua. Eu caminhei e enchi outra dose com whisky. Verdadeiramente eu bebi mais essa noite do que eu tinha em toda a minha vida mas, então novamente, nenhuma noite em minha vida tinha justificado isso tanto quanto essa. “Eles podem procurar por todo estábulo, balcão e casa de postagem do João aos grumos finais da terra,” Senhora Mackenzie disse, “e eles nunca encontrarão essa carruagem.” Eu girava o líquido âmbar no copo. “Você acha que isso era o coach-a-bower?” eu perguntei. “Você não acha?”
O coiste-bodhar3, ou coach-a-bower, era o cocheiro da morte. Era dito em estar uma carruagem preta conduzida por cavalos negros, embora em algumas lendas os cavalos fossem brancos. Ele vinha para as almas dos mortos, para levá-las ao próximo mundo. Essa noite ele tinha vindo pelos meus pais. Sentada lá fora na grama essa noite eu repassei uma vez atrás da outra a memória da minha mãe acendendo as velas, falando as palavras do feitiço de proteção para guardar a nova carruagem, tentando encontrar alguma falha, em algum lugar o feitiço tinha ocorrido mal, mas eu não podia descobrir. Agora eu sabia que eu não tinha dado errado em tudo. “Não,” eu disse suavemente, “Eu não acho que era o coach-a-bower. Eu sei que era.” Eu sabia por que eu tinha ouvido por mim mesma na noite passada. No meu primeiro verão na Escócia, onde eu comecei a aprender meu ofício na tenra idade dos oito, minha tia Maggie tinha me explicado as regras e limitações da magia para mim.
Vós não podeis enganar a morte, Dulcie, ela tinha dito para mim. Vós não podeis usar a magia para curar e para vos proteger, pois eventualmente o coistebodhar vem clamar-nos e nenhuma magia dentre nós pode deter a mão do destino. A mão do destino. Minha mãe era uma bruxa poderosa, eu tinha sentido isso em mim mesma essa noite enquanto a sua magia me preenchia. Nem um mero acidente iria sobrevir a uma carruagem que estava protegida por um dos seus feitiços. Era a mão do destino. Era simplesmente a vez deles e eles tinham ido juntos, como eles teriam desejado. O conhecimento não era muito confortante para mim em minha dor.
3
(O cocheiro da morte faz parte do folclore do norte da Europa ocidental. É particularmente forte na Irlanda, mas também é encontrado na cultura britânica e americana. No folclore irlandês, que é conhecido como o Bodhar Cóiste (koe shta-Bower), que significa cocheiro surdo ou mudo, e é dito que a visão ou o som do cocheiro é o prenúncio da morte. Ele adverte da morte iminente, quer a si próprio ou a um parente próximo. Na Irlanda, em especial, o cocheiro da morte é visto como um significante da inevitabilidade da morte, como diz a crença, uma vez que veio à Terra ele nunca pode retornar com ela vazia . Assim, uma vez que a morte de um indivíduo que foi decidido por um poder maior, os mortais não podem fazer nada para impedi-lo).
Capítulo
Uma semana depois
E
U ESTAVA CURVADA NO MEIO DA CAMA DOS MEUS PAIS. Enquanto eu observava as sombras projetadas do sol no tapete do chão, eu vagamente percebi que eu estive deitada aqui quase vinte e quatro horas. Eu não podia dormir; cada vez que eu fechava meus olhos eu imaginava que eles deveriam ter olhado para a morte, deitados no topo daquele morro meio aos destroços de estilhaços da nossa brilhante e nova carruagem. Então eu apenas deitei ali, observando os ciscos de poeiras flutuarem no ar, contando as listras do papel de parede, olhando para o solto segmento no topo do dossel. Pensando. A casa estava estranhamente quieta. O dia depois do acidente um quarto dos empregados domésticos tinham deixado a propriedade. Aparentemente uma mão cheia de faxineiras e lacaios que tinham demorado no corredor para verem a minha
reação às notícias do Senhor Lindsey, tinha clamado que algum tipo de bruxaria estava em andamento. Isso não era natural, eles sussurravam que eu sabia do acidente antes dele ter ocorrido, que eu mandei Tim o rapaz do estábulo no meio da noite, sabendo de alguma forma que algo terrível estava para tomar o controle. Aqueles que tinham zombado e dito que eu era uma boa e obediente filha com sem uma insinuação de malícia em meu corpo, tinham mudado sua melodia naquela tarde quando William, o jardineiro-chefe, tinha entrado no Jardim Verde para terminar de cortar de volta as roseiras para o inverno. Claro não havia mais rosas; nada no jardim parecia sequer remotamente como tinha sido no dia anterior quando ele esteve lá. Apressadamente benzeu-se e voltando para fora do portão, ele disse a qualquer um que iria ouvir o que ele tinha visto e prontamente tirando ele mesmo as partes desconhecidas. Durante o dia do funeral apenas Masterson, Senhora Mackenzie e sua filha Fiona, e Cook remanesceram; os outros tinham escorregado pela noite. Talvez eles pensassem que eu pudesse transformá-los em sapos ou algo tal sem sentido. Quando eu perguntei se eles ao menos quisessem seus salários, Senhora Mackenzie tinha me informado com lábios franzidos que uma grande, horrível sopeira de prata que tinha pertencido a tia-avó do meu pai, Gertrude, estava desaparecida. Eu desejei que eles fizessem bom proveito. John o cocheiro estava rigorosamente confinado ao seu quarto nos estábulos, acamado com suas pernas quebradas. A primeira vez que eu fui vê-lo ele estava lutando para se levantar, querendo verificar Bacchus e Zeus, que foram encontrados sem muito esforço, tinham rompido para dentro do celeiro dos Bascombe e fizeram-se bem como em casa. Eu tinha aquietado John com a promessa de que eu os veria eu mesma. Eu tinha também prometido a ele uma grande bolsa de ouro e assim que ele fosse capaz de viajar, eu o mandaria para a sua mãe em Essex para se recuperar. Ele nunca se lembrou de nada daquela noite além de partir dos Anworthys, o qual era provavelmente para o melhor. Meus pais foram enterrados na capela da família no Mosteiro de Ravenworth em Hertfordshire. Foi uma cerimônia adorável, como funerais são. Eu não imaginei que Mamãe fosse particularmente querer gastar a eternidade no Mosteiro, mas isso estava na sede da família Craven e o lugar apropriado para eles serem
enterrados. Mamãe sempre tinha preferido o Ravenworth Hall, a menor casa de grandes jardins, nas proximidades de Londres. Era nossa casa. Ela tinha provavelmente pensado que haveria muito tempo para falar com Papai para mudar as instruções em sua vontade, mas não houve e o procurador tinha sido muito específico sobre os detalhes do funeral. Papai sempre tinha sido um homem que sabia exatamente o que ele queria. A leitura do testamento por si tinha se realizado sem surpresas, enquanto eu há muito tempo estive bem consciente da minha fortuna. Sendo que eu era filha única do meu pai, o título, a residência de Londres e a Abadia Ravenworth tinha ido para o filho mais velho do seu falecido irmão. Era como isso deveria ser. Meu primo Thomas seria um excelente visconde e a sua esposa Amélia seria um crédito para o título da sua própria família. Eles tinham duas filhas acabando de atingir a feminilidade e um filho mais novo, todos os três que eu positivamente adorava. Eles me chamavam de Tia Dulcie. Eu me lembro de ter segurado a mais velha, Sarah Katherine, no dia em que ela nasceu. Ela estaria debutando em alguns anos. Suspirando, eu me rolei e coloquei as cobertas sobre mim, olhando em branco para a parede. Quando todos os meus direitos fossem executados, quando eu não tivesse mais que ser forte, eu me encontraria querendo nada mais do que me envolver na solidão e luto. Os serventes desaparecerem realmente tinha sido uma benção disfarçada. Eu precisava de silêncio e eu precisava estar sozinha. Eu até tinha mandado Masterson para fora na residência de Londres. Ele tinha protestado que isso não era certo por eu estar sozinha aqui. Eu tinha argumentado que o novo visconde iria precisar da sua experiência de valor inestimável no funcionamento da casa uma vez que só restou uma equipe mínima na casa em Londres quando nós não estávamos residindo. Eu pintei uma vívida pintura de toda a Londres aparecendo e o primo Thomas no vão da porta para pagar os seus respectivos e ali estava o bom mordomo para atender a porta. Isso tinha mandado Masterson para fora do seu quarto para fazer as malas, cacarejando como uma velha mãe galinha. Era a única coisa nesses dias o qual me fez sorrir. Eu mandei Cook com ele para uma boa ajuda. Senhora Mackenzie era uma mão leal
com uma panela e não era como se eu estivesse recebendo quaisquer festas de jantares em qualquer momento agora. Eu rolei sob minhas costas e olhei para cima para as verdes escuras antiquadas cortinas. As senhoras ruivas da minha família eram particularmente parciais ao verde. O Ravenworth Hall ainda era a minha casa. A propriedade e os seus pertences não estavam vinculados então ela era exclusivamente minha. O grosso da fortuna do meu pai era também meu, mais dinheiro do que eu poderia gastar em várias vidas. Eu era agora uma extremamente jovem senhora rica. Quando o meu tempo de luto estivesse acabado eu poderia ir a qualquer lugar que eu quisesse. Eu poderia vestir vestidos escandalosos e flutuar nos canais de Veneza. Eu poderia ser tão excêntrica quanto eu nunca quis ser. Pelo resto da minha vida eu poderia fazer exatamente o que me satisfizesse. De alguma forma eu não podia me fazer importar. Quando eu tinha dezesseis eu me imaginei apaixonada por um dos lacaios, um horrível clichê, eu sei. Ele tinha acertadamente não retornado a minha afeição e eu tinha ficado desanimada. Mais tarde em uma manhã enquanto eu deitava na cama me curando do meu coração partido, minha mãe tinha batido levemente e entrado.
“Dulcie, querida” ela disse para mim, “o mundo não para por um coração partido. A vida continua e você deve continuar com ela. Há pessoas nesse mundo, pessoas doentes e morrendo, que dariam tudo por mais um dia para estarem inteiros e bem e andarem na luz do sol ou lerem embaixo de uma árvore ou coletarem flores selvagens em uma clareira. Eu sei que você está machucada, mas você pode ser apenas como um coração partido enquanto faz algo produtivo com o seu dia, e você nunca sabe, talvez no final disso você vai se sentir melhor. Ao menos isso vai dar a você algo para ocupar a sua mente além de meditar sobre o que nunca será. Agora, é obvio que você precisa de algumas direções então eu vou dar a você uma hora para se tirar dessa cama e fazer as malas. Você e eu estamos indo para Londres por algumas semanas. Eu acho que é apenas o que você precisa. Todas aquelas maravilhosas lojas na Rua Bond tem uma maravilhosa maneira de levantar o espírito de uma mulher, você não acha?”
Isso tinha sido um devaneio de pensamento daquele dia o qual tinha me levantado. E poderia estar machucada, mas eu estava sendo desrespeitosa com a memória dos meus pais em estar deitada ao redor como uma dorminhoca e cumprindo nada. Mamãe ficaria horrorizada com meu comportamento. Desde que o sol já tinha se posto e eu tinha visto o suficiente da parte de dentro da casa por um dia, eu pensei que eu pudesse caminhar aos estábulos e verificar John e os meninos. Eu chamei por Fiona enquanto eu andei descendo o corredor para o meu quarto. Uma vez ali eu abri meu guarda-roupa e franzi o cenho. Eu não tive tempo ainda para ir a minha modista em Londres para me equipar com roupas de luto, mas eu precisava ir logo, desesperadamente. Eu não tinha absolutamente nada apropriado para vestir. Ninguém em minha família próxima tinha morrido desde que eu tinha perdido minhas duas avós e Tio William, o irmão mais novo do meu pai, quando eu era uma criança. Eu tinha um vestido de luto por conta própria, um de seda cinza um laço preto sobreposto, o qual eu vestia em funerais de conhecidos e familiares de amigos, mas não seria aceitável para eu usar até eu estar em um meio-luto. O preto bomzanie4 e seda paramatta5 o qual eu tinha vestido no funeral dos meus pais tinha sido da minha mãe. Ele estava escondido em um baú desde que o seu período de luto tinha terminado pela sua avó. Senhora Mackenzie tinha alterado ele para mim então esse eu poderia vestir no funeral. Eu tive um pequeno contratempo com o vestido depois, de fato eu ainda me encolhia com o pensamento, e ele não era mais usável. A única peça do vestuário que eu tinha em preto, outras além do meu manto, era a minha vestimenta de montaria. Eu suspirei e corri minhas mãos sobre os vestidos no meu guarda-roupa. Eu tinha muitos vestidos que estavam em cores aceitáveis para um meio-luto e eu imaginei que eles teriam que servir por alguns dias até eu poder escorregar para Londres e visitar a loja de Madame Rousseau. Havia dois adoráveis vestidos para a tarde, uma musselina lavanda e outro de musselina branca com flores lavanda e limpo. Havia um escuro de cor de malva, vestido para a noite o qual eu comprei contra meu melhor julgamento e nunca usei. A modista tinha dito que ele iria 4
(bomzanie -Tecido de veludo de seda ou algodão com sulcos muito profundos na camada de uso no sentido da teia. Tem muita resistência ao uso e serve para vestuário de homem, senhora e decoração) 5 (paramatta – vestido de tecido leve, com uma urdidura de algodão e recheio de lã fina.)
complementar a minha cor, mas por mais que eu tentasse colocá-lo quando cheguei em casa, por mais que eu pensasse que ele era simplesmente horrível. Eu não podia me atrever a colocá-lo novamente então eu coloquei o lavanda de musselina para fora ao invés disso. Era um vestido de dia, mas se eu jogasse o meu manto sobre ele ninguém iria saber. Assim que Fiona laçou o meu curto espartilho e abotoado o meu vestido eu desci as escadas e cruzei o vestíbulo, mentalmente planejando o melhor tempo para dirigir a Londres para visitar Madame Rousseau. Apenas quando eu alcancei a maçaneta da porta da frente, uma batida soou do outro lado. Eu puxei minha mão de volta, assustada, e olhei a porta. Meu primeiro instinto era procurar por Masterson, mas claro ele não estava aqui, Senhora Mackenzie estava na cozinha preparando a ceia e Fiona tinha descido pelas escadas dos fundos para se unir a ela. Eu estava completamente sozinha. Bem, não havia ajuda para isso; eu teria que responder a porta por mim mesma, embora eu não podia, pela minha vida, pensar em quem poderia ser no outro lado. Todos os vizinhos já tinham prestado homenagens no funeral. Todos exceto... Eu abri a porta para encontrar Senhor Sebastian Montford na minha porta da frente. Ele parecia imaculado como sempre, sua roupa finamente costurada, seus brilhantes cachos negros artisticamente despenteados, as unhas nos seus longos, finos dedos lustradas para brilhar, seu rosto muito pálido e adequado e Inglês. Eu amaldiçoei embaixo da minha respiração e então sorri docemente. “Senhor Montford,’ eu disse, “que doce de você aparecer.” Ele se curvou majestosamente sobre a minha mão estendida. “Dulcinea, nós nos conhecemos desde que nós éramos pequenos; eu acho que você pode me chamar de Sebastian enquanto nós estamos sozinhos. Me perdoe pela tarde da hora mas eu acabei de retornar em casa e ouvi as terríveis notícias sobre seus pais.” “Claro. Eu achei que você houvesse retornado de Yorshire na semana passada, entretanto?” “Ah, bem, eu retornei, mas eu estava doente por um tempo e não quis passar meus respeitos até que eu estivesse inteiramente recuperado.” Ele pausou e olhou para mim com expectativa. “Er, posso entrar?”
Maldição. “Realmente, eu estive engaiolada nessa casa por dias e eu estava quase para fazer um passeio a pé aos estábulos antes da ceia. Você se importaria em se unir a mim?” Ele pareceu momentaneamente aborrecido, o qual eu pensei ser bastante estranho, e então ele sorriu e ofereceu o seu braço a mim. “Eu ficaria encantado.” Eu não vi uma carruagem na entrada, mas talvez o motorista de Sebastian a tenha colocado nas redondezas dos estábulos. Nós caminhamos em volta da lateral da casa. Havia abundância de luz desde que Senhora Mackenzie tinha acabado de dar a ceia a John e o rapaz dos estábulos e Tim tinha acendido as lanternas entre a porta da cozinha e os estábulos para ela. “Dulcinea, eu me pergunto se você teve tempo para ter qualquer pensamento do que você fará agora?” “Fazer?” “Bem, você é uma jovem mulher por conta própria sem ninguém para te guiar.” Era muito aborrecido que alguém pudesse pensar que eu precisasse ser guiada. Eu não era exatamente uma garota imatura acabando de sair da sala de aula. Ele limpou a sua garganta. “Eu tenho certeza que isso não parece tão surpreso para você que eu tenho sentimentos por você.” “E eu conto com você como um dos meus melhores amigos, Sebastian.” Eu menti, afagando a mão dele onde ela descansava em cima da minha sob sua luva, esperando que fosse evitar para onde quer que essa conversa estivesse indo. Sebastian e eu tínhamos sido amigos enquanto crianças, mas tinha sido há muitos, muitos anos desde que eu pensei nele nesses termos. “Sim, bem, meus sentimentos por você são muito mais profundos do que isso,” ele respirou fundo, se estabeleceu e se virou para me encarar. “Eu quero me casar com você, Dulcinea.”
Oh maldição.
Ele continuou. “Não é certo que você fique aqui nessa casa grande completamente sozinha, com ninguém da família.” “Sebastian, eu estou de luto. Eu não posso nem possivelmente considerar me casar pelo menos por um ano.” “Nós podemos dizer que seus pais tinham me dado consentimento antes das suas mortes. Nós podemos casar em uma cerimônia privada aqui e viver em silêncio até que o seu ano de luto acabe. Mesmo as grandes damas da sociedade não podem criticar isso. É inteiramente mais apropriado do que você vivendo aqui sozinha.”
Oh, maldição dupla. O homem tinha uma resposta para tudo? Ele tinha claramente pensado nisso. “Sebastian, eu aprecio a sua oferta, verdade eu aprecio, mas não há nada inapropriado sobre eu viver aqui. É a minha casa agora e eu tenho a Senhora Mackenzie comigo.” Ele zombou. “Uma arrumadeira é dificilmente uma dama de companhia apropriada.” “Talvez não mas ela foi minha babá quando eu era uma criança, sem mencionar que ela é a mãe do meu primo. Ela dificilmente é uma servente. E meu primo Thomas e sua família estão a menos de um dia de viagem a Londres. Não é como se eu estivesse presa na parte de trás do além com apenas uma empregada de limpeza na residência.” Ele se aproximou, tomando os meus ombros em suas mãos. Eu não gostei disso nem pela metade. “Nós seremos bons juntos, Dulcinea.” “Sebastian, eu estou lisonjeada com a sua oferta, mas o assunto está encerrado.” Ele me deu uma pequena sacudida e seus dedos se fecharam. “Pense que os seus pais fossem querer isso para você, então. Eles iriam querer que você estivesse segura com um marido apropriado.” “Realmente, Sebastian, a última coisa que meus pais me disseram era para ficar longe de você! Agora tire as suas mãos de cima de mim.”
Ele suspirou e estreitou seus olhos. “Esse é o caminho que isso vai tomar então?” “Sim.” Ele me soltou e eu esfreguei meus braços, certa de que haveria contusões ali amanhã. Realmente, o que tinha acontecido com esse homem? “Bem, isso é uma pena então. Eu quis fazer isso do jeito fácil,” sua mão direita disparou como um raio, tão rápido que eu mal pude vê-la, alcançando o outro lado do seu corpo e agarrando o meu braço direito, me girando até minhas costas estarem pressionadas contra ele. “Mas eu não me importo em fazer do jeito difícil se necessário.” Eu lutei mas ele era mais forte, muito mais forte do que ele deveria ser. “Sebastian, me solte ou eu vou gritar.” Sua voz era suave e mortalmente calma em meu ouvido, “Vá em frente, minha querida. Chame todos aqui fora. Eu vou matá-los, seus preciosos Senhora Mackenzie, Fiona, aquele descarado rapaz do estábulo, todos eles.” Eu parei de lutar. Havia algo em sua voz, algo novo e aterrorizante. Uma semana atrás eu tinha rido de tal declaração, mas agora eu estava com medo. Medo do que ele realmente faria. “Essa é a minha garota. Agora não se preocupe,” ele disse, desabotoando o fecho do meu pescoço e empurrando o meu manto para baixo de um dos ombros, “isso não vai doer. Muito.” A sua respiração estava atrás da minha orelha enquanto ele falou, e depois se moveu mais para baixo. O seu dente ralou no pulso palpitante do meu pescoço e houve uma afiada, dor de calor-branco enquanto ele afundava seu dente dentro da minha pele. Vampiro, algum instinto antigo no meu cérebro gritou. Eu vi isso tudo como se eu estivesse observando de alguém do lado de fora do meu corpo. Eu não podia me mover, eu não podia gritar ou ele iria matar todos que eu amava. Tudo que eu pude fazer era observar. Eu observei a sua cabeça escura se inclinar sobre o meu pescoço. Eu observei a sua mão, tragando a minha, pressionando contra o meu seio. Eu observei uma
pequena trilha de sangue correr para baixo da minha pele branca e ensopar o laço do decote do meu vestido, observei meus olhos vibrarem fechados...e algo estalou dentro de mim. Isso não iria acontecer. Eu iria, pelos deuses, não permitir. Estendendo a minha mão livre, eu alisei as minhas unhas descendo no seu rosto. Ele assobiou, seu aperto se afrouxando apenas o suficiente para eu bater para trás, atingindo-o na garganta com meu cotovelo. Ele se virou me soltando, uma mão alcançando para apertar a sua garganta e então ele veio para mim novamente. Pare, pare, pare, eu pensei enquanto eu tropeçava para trás. Levantando minhas mãos eu chamei pelo meu poder e o empurrei para fora através das minhas palmas. Como tinha acontecido no Jardim de Inverno uma semana atrás, minha magia fluiu livre, cercando Sebastian e o segurando. Ele olhou para baixo aos seus pés, intrigado. Eu corri. O que eu fiz não era um feitiço, não era nenhum tipo de magia que eu alguma vez aprendi. Eu o chamei para fora por pura emoção e eu não tinha idéia de quanto tempo ele iria segurá-lo. Eu tinha que conseguir chegar na porta da cozinha. Eu vi Tim vindo dos estábulos com os pratos da ceia. Ele me viu correndo e parou na trilha. Olhando sobre o meu ombro e viu Sebastian lutando. Parecia como se ele estivesse fazendo progresso. “Corra!” Eu gritei para Tim, apontando para a porta da cozinha. “Corra!” Deveria ter algo na minha voz porque Tim largou os pratos e talheres e correu para a porta. Eu podia ouvir meus saltos nos ladrilhos de pedras no caminho do jardim. Podia sentir meu coração batendo freneticamente. Meu pescoço estava em fogo e eu estava vagamente consciente que eu estava coberta com sangue. Talvez tivesse sido ao sangue que Tim reagiu. Apenas quando o garoto alcançou a porta que eu senti Sebastian se libertando da minha magia. Eu não precisava olhar para trás; eu podia senti-lo vindo. Um uivo de raiva soou atrás de mim e o vento captou, espalhando as folhas e soprando poeira do caminho para cima no meu rosto. Tim tinha empurrado a porta aberta e estava esperando ali, congelado de medo no limiar da porta. Eu não reduzi o meu passo, mas coloquei minhas mãos nele e o empurrei através da porta na minha frente. Eu podia quase sentir Sebastian respirar
na parte de trás do meu pescoço enquanto Tim e eu caíamos através da porta aberta e espalhávamos em um amontoado deselegante no chão de pedra. Eu ouvi gritos femininos sobre a minha cabeça, Senhora Mackenzie e Fiona. Rolando rapidamente nas minhas costas, eu olhei para cima para a porta, pronta para a batalha. Sebastian estava ali olhando para mim, seus punhos fechados em seus lados, seus longos dentes caninos malvadamente afiados. Então ele fez um movimento para atravessar o limiar da porta. Eu gargalhei para ele, fingindo uma fanfarronice que eu não estava perto de sentir. “Vampiro,” Eu gargalhei, minha voz soando um pouco histérica, mesmo para os meus ouvidos. “Você não pode entrar ao menos que eu convide você.” O dente branco brilhante retraiu a um normal comprimento enquanto Sebastian pareceu recolher a sua compostura. “Sim, bem, eu fui convidado a entrar quando eu era humano. Eu estava esperando que isso fosse suficiente, mas sem problema,” ele disse, retirando um lenço branco limpo do seu bolso e enxugando o sangue, meu sangue, do canto da sua boca. “Você tem que sair mais cedo ou mais tarde, minha querida. Eu não posso tocar você enquanto o sol estiver brilhando, mas a escuridão é agora o meu terreno de perseguição. Eventualmente você vai sair depois do anoitecer, você ou qualquer um dos outros,” ele disse olhando pra Tim e as senhoras enquanto ele ordenadamente dobrava o lenço e retornava-o ao seu bolso. “Depois de tudo, eu tenho muito tempo. Eu posso ser paciente.” Meu temperamento queimou com o pensamento que ele fosse prejudicar qualquer um dos outros para chegar a mim. Ele tinha voltado de Eton um patife tirano e anos de intervenção aparentemente não tinha corrigido essa falha. “Você não é nada além de uma fuinha, Sebastian!” Eu gritei. “Isso é tudo o que você sempre foi e tudo que você sempre será!” Sua forma brilhou dourado furta-cor. Ele olhou para baixo as suas mãos. “O que?” ele disse e então ele se foi. Nos ladrilhos de pedras do lado de fora da porta da cozinha agora estava sentado uma muito grande, muito zangada fuinha.
“Oops,” eu rangi. “Dulcie, o que você fez?” Fiona perguntou em um sussurro de fôlego. Ela parecia como uma versão mais jovem da sua mãe com o mesmo cabelo acastanhado e rosto com formato de coração, um rosto que agora olhava para a irada fuinha com fascinação e horror. “Eu não sei,” eu respondi. “Isso é magia; eu não pareço controlá-la. O dia depois do funeral eu estava no meu quarto, chorando e arrumando a casa, e eu desejei que eu pudesse queimar aquele horrível vestido preto e a coisa surgiu em chamas por conta própria.” Mentalmente sacudindo-me eu saltei e agarrei um pedaço de madeira da pilha perto do forno. Envolvendo o que possivelmente era uma pequena toalha de mesa envolta nele e amarrando apertado, e eu o acendi no fogo. “Tim, tome isso agora e volte aos estábulos.” Tim estava em pé agora, olhando com horror para o Sebastian a fuinha. Eu agarrei o seu braço e o sacudi gentilmente. “Tim, me escute.” Ele estremeceu e olhou para mim com olhos alargados. “Não,” eu disse, minha voz rachando com as palavras, “não me olhe assim. Você me conhece. Você sabe que eu nunca machucaria você.” Seu rosto virou vermelho. “Não, senhorita. Me desculpe, eu não queria-” “Está tudo bem. Agora me escute cuidadosamente. A carruagem e o motorista do Senhor Montford estão no estábulo?” “Não senhorita, eu assumo que ele se transportou por conta própria.” “Bom. Agora, não diga aos outros o que você viu aqui. Volte aos estábulos e tranque todas as portas. Não as abra até o amanhecer, não para nada nem ninguém, você pode fazer isso?” Ele assentiu.
“Bom rapaz,” eu disse, entregando a ele a tocha improvisada. “Volte para a casa pela manhã, bem depois de você vir o nascer do sol, e nós vamos conversar sobre o que tem que ser feito.” “Mas senhorita, eu não posso deixar as senhoras aqui sem proteção!” “Nós ficaremos bem. Ele não pode entrar ao menos que nós o convidemos e nós certamente não vamos fazer isso. Agora, vá rapidamente!” Tim se moveu para a porta de entrada. Sebastian a fuinha assobiou e estalou para ele. Tim impulsionou a tocha no pequeno demônio e ele se afastou, permitindo Tim passar e se encaminhar ao caminho dos estábulos. Eu observei pela janela para ter certeza que ele chegasse lá em segurança. “Dulcie?” Senhora Mackenzie disse, gesticulando em direção a fuinha. “Como você fez isso?” “Como eu disse, eu não sei,” eu suspirei. “O Acordar não aconteceu como era previsto. É muito de uma vez só e eu não consigo controlá-lo.” Nos três ficamos em um semi-círculo na frente da porta aberta, olhando. Sebastian a fuinha passeava para trás e para frente, olhando para nós, para mim em particular, e cuspindo enquanto ele passeava. “Você acha que você deveria... ‘desafuinhá-lo’, Dulcie? Fiona disse em uma voz baixa. Eu dei de ombros e me virei para ela. “Eu não sei como eu o transformei em fuinha em primeiro lugar,” eu disse. “Eu verdadeiramente sequer sei como ‘desafuinhá-lo’. Eu imagino que eu poderia olhar os livros de Mamãe, talvez exista um feitiço de algum tipo.” “Então novamente,” Senhora Mackenzie disse. “Nós realmente queremos transformá-lo de volta? Eu quero dizer, sendo como isso parece que Senhor Montford é agora um vampiro e deseja matar você, não seria melhor apenas deixálo assim?” “Francamente, Senhora Mac, eu não daria uma merda se Sebastian permanecesse como fuinha ou não, mas você sabe muito bem tanto quanto eu que a
primeira regra da magia é não prejudicar ninguém. Eu acho que transformar alguém em uma fuinha seria considerado como um prejuízo,” eu apontei. “Eu realmente não acho que a regra de ‘prejudicar ninguém’ aplica aos mortos vivos, você acha?” Fiona perguntou. “Eu quero dizer, eles estão mortos. Eles não estão muito mais do que...prejudicados do que eles estarão?” “Bom ponto, minha querida,” sua mãe disse, acariciando o seu ombro. “Além disso, ele estava tentando prejudicar você primeiro e eu acho que Senhor Montford faria uma ótima fuinha. Provavelmente estaria muito feliz. E observe a sua linguagem, jovem moça.” “Se vocês senhoras terminaram completamente,” uma profunda voz masculina disse do vão da porta. Todas nós engasgamos e viramos. Sebastian estava ali, de volta a forma humana. Bem, não exatamente humano, não mais. “Eu imagino que isso se resolveu, então,” eu disse. Na verdade eu estava um pouco desapontada. “Você acha que você é esperta,” ele cuspiu. “Você não tem idéia do poder que eu tenho agora, as coisas que eu posso fazer a você agora que eu provei de você.” “Você teve muito do gosto do meu próprio poder,” eu disse, engatilhando a minha cabeça ao lado. “Você gostou?” “Oh você vai pagar por isso, nunca tema. Eu quero você por anos, Dulcineia, e eu terei você. Nós precisamos de você e ninguém pode nos parar. O seu sangue está em mim, fluindo através de mim, e não há chance de você escapar, não mais. Você vai ouvir sobre mim em breve.” E com isso ele se foi.
Capítulo
N
ÓS ESCOLHEMOS A SALA DE JANTAR PORQUE ERA A única sala grande o suficiente para satisfazer os nossos propósitos o qual não tinha quaisquer janelas ou portas externas. Me chame de paranóica. Dentro de uma hora minha sala de jantar provavelmente lembrava um dos escritórios do Departamento de Guerra. Senhora Mackenzie e Fiona trouxeram para baixo cada livro que minha mãe tinha em seu privado escritório e os empilharam ao longo da mesa de mogno. Eu os ordenei enquanto Senhora Mackenzie e Fiona procuravam através das pilhas por qualquer informação sobre vampiros. Eu não podia encarar Sebastian novamente com lendas sendo as minhas únicas armas. Uma estaca de madeira através do coração realmente matava um vampiro? E sobre cruzes e Água Benta? Eu tinha que saber com certeza porque um erro de julgamento podia nos matar a todos. Eu coloquei outro livro na pilha da Senhora Mackenzie e continuei ordenando. Senhora Mackenzie não era realmente uma “Sra.” Como um todo. Quando ela era uma mera menina, ela se permitiu ser seduzida pelo bonito filho mais velho do ferreiro. Infelizmente ele já era casado, com duas crianças pequenas de sua autoria e não tinha mais utilidade para ela quando ela veio a ele para dizer-lhe que ela estava grávida. A situação infeliz ficou ainda mais agravada pelo fato que ela era a filha do vigário. Seus pais, horrorizados e envergonhados, tinha sido bastante claro sobre o
fato de que ela não podia ficar sobre as suas congregações santificadas e teria que partir de Glen Gregor, antes que isso se tornasse aparente que ela tinha se metido em problemas. Eu sempre me encolhi com essa frase, se metido em problemas, como se não houvesse duas partes envolvidas! O bom vigário tinha escrito para a minha mãe, uma prima distante, para ver se ela poderia obter um lugar para a sua filha em uma das casas de caridade em Londres. Aparentemente Inverness não estava muito longe o suficiente para ele. Mamãe tinha acabado de saber que ela própria estava para ser mãe, então ela mandou um cocheiro a Glen Gregor para pegar a jovem Jane Mackenzie. Quando Jane chegou em Ravenworth Hall Mamãe a apresentou como a sua prima, a pobre viúva Sra. Mackenzie cujo jovem marido tinha sido acidentalmente atingido na cabeça em um acidente de caça. Eu sempre pensei que ambas, Mamãe e Sra Mackenzie, saborearam com o pensamento do filho do ferreiro sendo “acidentalmente” atingido na cabeça. E então a não casada mãe jovem tinha se tornado Sra. Mackenzie, primeiro minha babá e depois nossa arrumadeira. Eu nunca a conheci como a jovem garota assustada que ela deveria ter sido naquele tempo; das minhas primeiras recordações ela sempre foi á ferrenha autoridade suprema sobre tudo o que acontecia com nossos familiares. Fiona e eu nunca fomos capazes de fugir com sequer o mais leve prejuízo sob o seu olhar vigilante. Eu suspirei e estatelei para baixo na cadeira, folheando por um livro de feitiços de proteção. “Eu vou ter que mandar John e os meninos para longe,” eu meditei enquanto eu virava outra página. “Eu terei os meninos atrelando Zeus e Bacchus na antiga carruagem a primeira coisa pela manhã e levar John para a sua mãe em Essex. Ela mora em uma pequena fazenda no mar e eu acho que os meninos iriam aproveitar um feriado. Eu posso obter alguns lacaios das vilas para aparecer durante o dia e cuidar dos outros cavalos.” “Eu achei que eles estivessem seguros lá fora?” Fiona perguntou. “Eles não estão seguros, Dulcie?”
“O galpão é nos estábulos. É nossa casa e Sebastian não pode entrar sem um convite. No entanto, se ele ficar desesperado o suficiente não há razão para que ele não coloque fogo nos estábulos para conseguir que eles saiam.” Fiona olhou para cima para mim em horror. Eu dei de ombros. “Se eu posso pensar nisso ele vai também, eventualmente. Nada útil aqui,” Eu disse, lançando o livro para o lado e alcançando por outro. “Vocês duas deveriam ir com eles. Não é seguro aqui.” Sra Mackenzie bufou. “Você nunca foi uma garota estúpida, Dulcie. Não comece agora.” “Mas não é seguro para nenhuma de vocês. Vocês ouviram o que Sebastian disse essa noite. Ele vai usar vocês para me pegar se ele puder.” Sra. Mackenzie elevou o olhar para mim que não admitia argumento. “Sua mãe, Deus descanse a sua alma, salvou a minha vida. Eu não vou abandonar sua única filha e isso é o final disso.” “Além disso,” Fiona disse, alcançando outro livro, “e sobre você ter transformado vampiros em fuinhas na nossa varanda da cozinha, certamente nós estamos seguros em casa.” Ela piscou para mim o que eu com certeza entendi como um sorriso encorajador. Eu não sabia mais argumentar e, na verdade, uma parte de mim estava feliz que elas estavam ficando. Outra parte estava aterrorizada por elas. Tão inacreditável quanto isso soava, e eu tinha crescido em uma casa onde o inacreditável era comum, um vampiro estar me seguindo e eu não ter idéia de como lutar com ele, como matá-lo. Minha única arma era uma fonte de poder mágico que eu não podia parecer controlar. A vida apenas não podia ficar pior. “Você acha que em todos esses livros de magia e no arcano há algo útil sobre vampiros,” eu disse lançando outro livro para a pilha de descartados. Eu limpei o sangue de mim e troquei meu vestido, mas as feridas no meu pescoço ainda estavam em carne viva. Eu corri minhas pontas dos dedos sobre elas distraidamente. “Dulcie, não esfole,” Sra. Mackenzie disse, sem sequer olhar para cima do seu livro.
“Eu não posso evitar, elas coçam.” “Talvez nos possamos purificá-las com Água Benta?” Fiona sugeriu. Eu arqueei uma sobrancelha a ela. “Por acaso você tem alguma Água Benta com você?” Ela sorriu e olhou de volta para baixo para o seu livro. Eu continuei coçando. “Você sabe quem provavelmente pode ajudar?” Sra. Mackenzie disse. “Sr. Pendergrass.” “Agora, isso é um pensamento,” eu respondi. Sr. Pendergrass era um boticário em Londres e um querido amigo de minha mãe. Em um pequeno quarto dos fundos em seu legítimo negócio ele fornecia as bruxas das redondezas ingredientes para poções e feitiços e ele também tinha uma impressionante coleção de livros por si só. “Se eu pegar um cavalo pela manhã eu poderia possivelmente conseguir voltar pelo pôr do sol.” “Eu odeio o pensamento de você saindo por sua conta, Dulcie, mas parece que o Sr. Pendergrass será a sua única opção,” Sra. Mackenzie disse severamente enquanto ela lançava ainda um outro livro na pilha de descarte. “Se eu não puder voltar pelo pôr do sol então eu vou ficar em Londres e isso deixa vocês duas aqui sozinhas e desprotegidas.” “Nós podemos gerenciar,” ela disse firmemente. Eu sacudi minha cabeça e gesticulei para os livros. “Continuem olhando. Eu não vou deixar vocês duas aqui sozinhas exceto para uma última estância.” Eu esfreguei minhas têmporas. Minha cabeça estava começando a sentir como se uma abelha estivesse zumbindo em volta dela. Me levantei, e andei para o aparador e derramei para mim mesma uma xícara de chá. Como uma reflexão eu deixei cair um bocado de whisky dentro dele. O zumbido estava ficando pior.
Dulcinea. Eu olhei ao redor. “Vocês ouviram isso?” “Ouvir o que?” Sra.Mackenzie perguntou. Fiona pareceu preocupada.
“Nada,” eu respondi, sacudindo a minha cabeça e franzindo o cenho para baixo na minha xícara de chá.
Dulcinea. Venha a mim. Eu esfreguei a minha cabeça.
Venha venha venha. Eu tenho coisas tão maravilhosas planejadas para nós. Venha para fora e brinque. “Ele está aqui,” eu sussurrei, a xícara de chá chocalhava enquanto eu a colocava para baixo no aparador. “Ele está aqui.” Sra. Mackenzie e Fiona ambas levantaram e deram a volta na mesa. “Eu tenho que ir,” eu disse, como se em um sonho, e olhei para a porta. Sra Mackenzie me agarrou e me sacudiu forte. “Dulcie, pare. Pense no que você está falando.” “Eu sei, eu sei,” Eu disse, minha cabeça clareando um pouco. “Mas ele não vai ficar quieto. Ele não vai parar até eu sair.”
Dulcinea. Venha, garota, não me faça machucar você. Venha para fora... Eu olhei para a porta novamente e Sra. Mackenzie agarrou minas costas. Nós lutamos. Eu chicoteei para fora, prendendo-a através do ombro com o meu punho, e me libertando. Uma das cadeiras da sala de jantar voou do outro lado da sala por sua vontade e espatifando na parede atrás de nós. Eu parei e fiquei muito imóvel. Eu tinha feito isso. “Ajude-me,” eu sussurrei. Sra. Mackenzie endireitou a cadeira caída e me empurrou para baixo nela. Ela correu para fora da sala de jantar, retornando em segundos mais tarde com uma corda de seda espessa o qual era usada para amarrar para trás as cortinas pesadas na sala verde. “Perdoe-me, criança,” ela disse e prosseguiu me amarrando á cadeira.
“Se eu deixar essa casa, ele vai me matar. Faça isso apertado,” eu disse, e ela olhou para cima para mim, uma carranca vincando em sua testa, mas ela empurrou as cordas apertadas.
Dulcinea. Não as deixe segurarem você, não quando você sabe que você quer vir para mim. Você tem tanto poder. Use! Eu gritei. “Deixe-me ir! Eu devo ir para ele. Me solte ou eu vou-” Fiona bateu uma mão sobre a minha boca antes que eu pudesse terminar a frase. “Shush,” ela disse. “Mamãe? O que nós fazemos?” Sra. Mackenzie agarrou os seus dedos. “Láudano! Se ela estiver dormindo ela não pode ouvir o diabo a chamando. Fique com ela e a observe como um falcão.” Sra. Mackenzie correu para a porta. Eu olhei para Fiona, minha amiga da vida toda e companheira, e ela olhou de volta para mim, atenta e assustada. “Eu juro, Dulcie, se você me transformar em algum tipo de animal roedor da floresta eu nunca vou perdoar você.”
Venha a mim. Venha, Dulcienea. Venha venha venha venha venha... Eu gemi e me levantei o máximo que eu pude, amarrada na cadeira como eu estava. Com um girar do meu corpo eu peguei a borda da cadeira na espessa mesa de jantar em mogno, por pouco perdendo os meus dedos e braços. A madeira rachou e quebrou e dentro de segundos eu tinha me libertado. Fiona se saltou para mim e nós caímos no chão juntas. Ela aterrissou em cima de mim e lutou para segurar minhas mãos no chão. Eu tinha uma perna para fora embaixo dela e a usei para empurrar contra o chão, nós duas rolamos uma vez atrás da outra. A sua cabeça atingiu a perna da mesa com um pesado baque e eu lutei o meu caminho sob os meus pés e me guiei para a porta. Apenas enquanto eu alcancei a maçaneta eu senti uma mão em mim, me empurrando para trás com tal força que eu tropecei. Fiona se moveu entre mim e a porta, suas costas contra ela. “Isso dói, Fiona,” Eu disse, pressionando minhas mãos em minha cabeça, “e eu vou machucar você para fazer isso parar. Eu não quero, mas eu vou. Agora, se mova para o lado.”
Eu espreitei em direção a ela, meus olhos nunca deixando o seu rosto, procurando por alguma visão que ela fosse desistir e me deixar ir. Eu tinha que ir. Eu tinha que fazer isso parar.
Dulcinea. A voz dele na minha cabeça me distraiu, apenas por um momento mas isso foi longo o suficiente. Longo o suficiente para eu não notar a mão de Fiona serpentear para fora para agarrar o pesado vaso Chinês no pedestal perto da porta.
Dulcinea, venha. “Eu não quero machucar você também, mas-” Eu olhei para ela em confusão, sem saber mais qual voz eu estava ouvindo, Sebastian ou de Fiona. E então houve dor e o tintilar de porcelana quebrada e o mundo ficou preto e imóvel...e abençoadamente silencioso.
Capítulo
E
U MANOBREI A MINHA ÉGUA PELAS RUAS CHEIAS. MISSY não se importava muito por cavalgar em Londres e eu não podia dizer que eu a culpasse. Minha cabeça ainda martelava e meu pescoço palpitava com cada batida do meu coração. Fiona, abençoada seja, tinha sido muito apologética quando eu recuperei a consciência meia hora antes do amanhecer. Eu não a censurei; ela fez o que precisava fazer e eu teria feito a mesma coisa se eu estivesse no seu lugar. Embora, eu não achei que ela precisasse bater com tanta força. Isso tinha funcionado entretanto; eu dormi e não sonhei, com Sebastian ou meus pais ou nada mais. Uma hora depois do amanhecer e mandei Tim e ou outros dois lacaios em seus caminhos com John o cocheiro e Zeus e Bacchus. John tinha protestado que sua mãe não tinha um celeiro bom o suficiente para abrigar os cavalos favoritos do meu pai pelo inverno. Eu pressionei uma bolsa com uma quantidade obscena de dinheiro em sua mão e disse a ele para contratar alguém para construir um. John amava esses cavalos e eu sabia que eles seriam bem cuidados. Tim esteve com medo, mas eu acho que ele estava com mais medo de ficar do que ir. Eu prometi que eu mandaria buscá-los assim que o perigo estivesse passado. No minuto que eles apuraram nos portões eu selei Missy e segui para Londres. Se eu realmente me apressasse eu poderia conseguir voltar apenas antes do anoitecer, mas eu ainda teria que arrefecer Missy antes que eu a colocasse em seu
estábulo com comida e água. Por mais que eu odiasse, eu teria que ficar a noite em Londres e eu sabia que o embrulho não deixaria o meu estômago até que eu estivesse em casa e soubesse que Sra. Mackenzie e Fiona estivessem seguras. Eu parei a égua na frente de uma pequena loja na Rua Panton perto da Piccadilly e desmontei. Eu ganhei olhares de desaprovações das matronas, narizes empinados das jovens senhoritas e olhares interessados de mais do que alguns cavaleiros. Para o inferno com eles todos; eu realmente não tinha tempo para estar propriamente paramentada e saindo de uma carruagem, deixada sozinha sem dama de companhia. A debutante em mim estava agradecida, contudo, o meu chapéu de montaria ostentava mais do que atraentes penas de pavão branco; ele também tinha um véu o qual escondia as minhas características muito bem. Eu gesticulei para um dos meninos de rua onipresentes. O garoto tinha cerca de onze ou doze anos, encardido e parecendo como se ele estivesse com alguma dolorosa necessidade de alguns fundos. Eu pressionei um régio na sua mão. Que deveria comprar bem a sua lealdade. “Segure o meu cavalo?” “Sim, senhorita,” ele respondeu. Mesmo com o meu dinheiro no seu bolso ele ainda tinha o olhar desconfiado de que poderia roubar o meu cavalo no minuto em que minhas costas se virassem. Eu olhei para ele por completos dez segundos e então me virei para entrar na Pendergrass & Company Apothecary Shoppe. Eu ouvi uma pequena voz atrás de mim, “Você vai entrar ali, senhorita?” Eu me virei. Ele obviamente ouviu os rumores que Sr. Pendergrass era o provedor local de todas as coisas mágicas. “Sim, eu vou,” Eu disse. “e se você sabe o porquê então você sabe que eu não sou o tipo de mulher que você quer o mal.” “Não, senhorita,” ele disse rapidamente. “Eu sou o mais velho aqui e legal e do tipo gentil. Nunca se preocupe. Nós estaremos bem aqui.”
Eu assenti minha cabeça. O pequeno corrupto realmente teria roubado o meu cavalo! A “companhia” de Pendergrass & Company era o sócio do Sr. Pendergrass e um aprendiz. Ele sempre pareceu bastante ridículo ficando atrás da polida bancada, mais como um pugilista do que um boticário. Ele era um homem grande com cabelo escuro, bonito o suficiente em um áspero jeito de ser, e possuía um ar sobre ele que dizia a você nunca querer conseguir ver o lado mau do seu temperamento. Eu sempre pensei que o seu tamanho e sua aparência deveriam ser um grande benefício para ele, crescendo como ele cresceu com o lamentável nome de Archie Little. “Bom dia, madame,” ele chamou. “Como eu posso ajudá-la?” Eu levantei meu véu. “Senhorita Craven!” ele me recebeu calorosamente enquanto ele dava a volta na bancada. Eu estava subitamente me relembrando que ele costumava deslizar em mim balas de hortelã quando eu tinha dez anos de idade e ele era um crescido em seus dezoito. Isso o fazia rir. “Archie, que bom ver você,” eu disse. “Nós ouvimos sobre seus pais. Trágico, simplesmente trágico. Sua mãe era uma das mais finas mulheres que eu alguma vez conheci.” “Obrigada,” eu respondi, sem saber o que mais dizer por que, muito honestamente, eu pensava isso também. “Então, o que traz você a Londres?” ele perguntou. “Atualmente eu preciso pedir conselhos ao Sr. Pendergrass com relação a um problema que eu tenho. Ele está aqui?” “Certamente,” ele disse, um olhar no seu rosto que claramente disse que ele queria saber mais, porém não era educado perguntar.
Ele me escoltou para a porta dos fundos da loja o qual eu sabia por experiência que abria em uma pequena sala onde Sr. Pendergrass fazia a maioria dos seus negócios. Eu andei para dentro e imediatamente localizei Sr. Pendergrass espanando e re-organizando as garrafas de tônicos os quais se alinhavam na parede oposta. “Senhor?” eu disse. Ele pulou e se virou, um amplo sorriso enrugou o seu rosto enquanto ele me via. Verdadeiramente, o homem deveria ter cerca de cem anos de idade. Ninguém nunca iria imaginar ao olhar para ele que ele era o distribuidor dos mais finos suprimentos de magia do sul de Hadrian Wall, e um bastante hábil assistente de magia. Eu conhecia Sr. Pedergrass por toda a minha vida. Quando eu era uma criança ele sempre tinha alguma bugiganga brilhante secretamente em seu bolso quando minha mãe vinha para a loja; quando eu era uma jovem moça havia sempre um pedaço perdido de cetim ou uma fita de veludo que ele apenas “acontecia” de ter espalhada por aí. Ele veio ao meu encontro agora, sua bengala batendo contra o piso de madeira. A bengala era de um metro de altura e naturalmente de madeira trançada o qual tinha sido lustrada com um brilho bem profundo e coberta com uma esfera de âmbar polido do tamanho do meu punho. Ele tinha essa bengala tanto tempo quanto eu podia me lembrar. Ele colocou seus braços para fora e eu me afundei neles, tanto quanto por um avô amado. “Minha querida,” ele disse simplesmente. Depois de um longo momento ele me guiou para um das roliças, cadeiras estofadas em frente á pequena lareira. Assim que eu sentei, ele virou o serviço de chá e derramou para cada um de nós uma xícara, suas velhas, rugosas mãos nunca sacudindo. “Minha querida, eu não posso lhe dizer o quanto foi aflitivo para mim ouvir sobre seus pais,” ele disse enquanto ele lentamente tomava o seu assento aposto ao meu. “Você nem sempre encontra pessoas que se amavam como esses dois se amavam. E sua mãe era uma amiga minha muito querida por quase trinta anos. Isso
parte o meu coração, isso sim. Ela era uma excelente bruxa, sim deveras, uma excelente bruxa. Eu não entendo como tal coisa poderia ter acontecido.” Eu sorri e o agradeci pelas suas palavras gentis e disse a ele, brevemente, o que tinha transcorrido na noite do acidente. “Sim, bem isso não conforta você agora que foi o destino e que eles não foram levados antes das suas horas, mas um dia isso irá. Quando a dor começar a diminuir você vai ao menos ser capaz de agradecer por isso.” Ele tomou um sorvo de chá e olhou para mim, mas eu não podia pensar em um resposta adequada. “Você disse que ela passou o seu poder para você? Isso é muito estranho. Eu nunca sequer ouvi tal coisa, mas é o meu negócio saber que qualquer coisa é possível. Sua mãe tinha muito poder, ela certamente tinha. Você vai ficar na cidade com o seu primo? Eu ficaria feliz em ajudar você a trabalhar no seu controle, mas você deve ser melhor servida na Glen Gregor com a sua tia.” “Atualmente, Sr. Pendergrass, não é por isso que eu vim aqui.” Ele levantou uma espessa sobrancelha branca. “Eu estou com um problema. Grande problema,” eu disse. “Bem,” ele disse, “me conte o que está errado e o que eu posso fazer para lhe ajudar.” Eu corri as minhas palmas descendo a lã preta da minha vestimenta de montaria e então estendi a minha mão para cima e empurrei o xale sobre o meu pescoço. Eu puxei para baixo as bordas de babados da blusa, enfiando-as para dentro do pescoço da jaqueta. A Cruz Craven pendia na minha garganta, suspensa em uma curta corrente. Era uma cruz Céltica cerca de sete centímetros de comprimento, intrinsecamente esculpida no ouro e facetada com vinte e quatro rubis vermelhos e vários pequenos diamantes brilhosos. Eu virei a minha cabeça para que ele pudesse ver as duas feridas de punção e o desagradável hematoma roxo e verde que marcava o meu pescoço. Um olhar de puro horror atravessou o seu rosto e ele sugou uma respiração.
“Pelos deuses,” ele sussurrou, estendendo uma mão em direção a mim e então parando, apenas para se afastar de mim como se com medo de me tocar. “Archie!” ele gritou em uma forte voz que eu nunca ouvi de um homem velho. Archie veio correndo através da porta, empurrando de volta uma pesada trança de cabelo marrom escuro o qual tinha caído sobre um olho. Ele olhou do Sr. Pedergrass para mim, como se ele esperasse que algum desastre tivesse acontecido com um de nós pelo tom da voz do seu parceiro. “Tranque as portas e coloque para fora a placa de fechado,” Sr. Pedergrass disse, nunca tirando os seus olhos de mim, “e então se junte a nós.” “Oh, Archie?” Eu disse. “Há um jovem garoto sujo lá fora segurando a Missy pra mim.” “Eu vou colocá-la em um estábulo e cuidar dela,” ele me assegurou. “Obrigada.” Depois de Archie partir eu assenti a agora porta fechada e perguntei, “Sr.Pendergrass, você acha que é sábio trazê-lo para dentro disso tudo?” “Eu confio em Archie implicitamente em todas as coisas,” ele disse, “ e além disso, ele pode ser útil. Ele teve um primo que foi um matador de vampiro.” “Matador de vampiro?” “Sim, eles são o material das estórias de uma longa noite de inverno, assim como os próprios vampiros, mas você e eu sabemos que há verdade na maioria das coisas que as pessoas consideram como mera superstição. Um matador é normalmente o sobrevivente de um ataque de vampiro. Nem as suas mentes podem aceitar o que aconteceu com eles ou sua ira os consome, mas eles se tornam obcecados com apenas uma coisa: executar vampiros. Isso se torna toda a sua vida e é normalmente uma vida bastante curta. Matadores são conduzidos a treinar técnicas de lutas e armamento. Eles fazem um pouco mais do que matar, dormir e comer. Eles são lutadores excepcionais, mas no final,” ele deu de ombros, “eles são apenas humanos.”
Eu pensei sobre isso e sentei em silêncio, sorvendo o meu chá, até que Archie voltou, suas chaves soando enquanto elas deslizavam para dentro do bolso do seu colete. Ele olhou questionadoramente para Sr. Pendergrass, quem gesticulou para ele se aproximar e então estendeu a mão e tomou o meu queixo em sua mão, virando a minha cabeça então Archie poderia dar uma boa olhada. “Não,” Archie sussurrou silenciosamente, seus olhos ficando largos. “Me conte o que aconteceu,” Sr. Pendergrass disse. Eu contei a eles sobre Sebastian e o ataque, não deixando nada fora por medo de que qualquer minúsculo detalhe fosse algo de importância. Sr. Pendergrass se firmou em sua cadeira. “Bem, claramente algo deve ser feito sobre a sua inabilidade em controlar a sua magia, Dulcinea. Nós não podemos ter você perdendo o seu temperamento e transformando em fuinha qualquer um que cruzar com você.” “Eu não perco o meu temperamento,” eu disse arrogantemente. Ele levantou uma sobrancelha para mim. “Muito bem, eu raramente perco o meu temperamento, então. Em suma, isso não é a questão.” “Sim, eu ouso dizer que a questão é que nós devemos encontrar uma maneira de eliminar a ameaça a você.” “E sobre o matador?” eu perguntei. “Nós podemos encontrar algum?” Archie sacudiu a sua cabeça. “Meu primo era um matador, o único que eu conheci em Londres, mas ele foi morto durante uma caçada ha três semanas atrás.” “Oh, Archie, eu sinto muito,” eu disse. “Certamente você sabe como matá-los, entretanto, os vampiros? Se apenas eu soubesse como lutar com ele, como matá-lo. Eu não quero ir contra ele com um arsenal que consiste em apenas lendas de folclore.” Archie olhou para mim. “Você poderia realmente matá-lo? Cortar a sua cabeça para fora? Esse homem que você conheceu toda a sua vida?”
Eu engoli e pausei por uma batida de coração, duas, três. “Sim,” eu disse, e eu falei a sério. “Pelo tempo que você levou a responder essa pergunta ele poderia ter estalado o seu pescoço,” Archie disse. Eu realmente não me importava com a sua brutal honestidade. Eu não queria admitir que talvez eu fosse fraca assim. “O que você sugere Archie?” Eu disse, um pouco mais friamente do que eu intencionei. “Talvez Sr. Pendergrass pudesse lutar com Sebastian? Ou poderia de preferência ser você? Eu deveria deixar a sua jovem esposa como viúva, tudo para salvar a minha pele? Não, tem que ser eu. Eu posso fazer o que precisa ser feito, eu juro isso. Eu só preciso que você me diga como fazer.” Ele pensou por vários longos minutos, passeando pela sala, e então ele olhou para mim e sacudiu a sua cabeça. “Faz a minha pele arrepiar sugerir isso, mas eu acho que eu tenho algo que possa ajudar você. É uma idéia insana, mas ela deve apenas ajudar.” “Bem?” “Espere aqui,” ele disse. “Eu preciso pegar algo.” Ele voltou em alguns minutos mais tarde segurando um pequeno, desgastado, diário com capa de couro em suas mãos. Eu não podia ter certeza, mas eu suspeitei que algumas das manchas na capa fossem sangue. “Esse era o diário do meu primo. Eu o encontrei ao longo das coisas em seu quarto depois que ele foi morto. Eu, um, liberei isso antes que a minha tia pudesse encontrá-lo. Eu não acho que era sensato para ela descobrir o que ele realmente era.” Eu assenti. “Há uma passagem escrita cerca de um mês antes dele morrer. Ouça:
Eu temo que não fique mais velho para isso. Essa noite eu era o segundo fora, uma batida de coração tão lenta e a besta estava em mim. Ela tinha me prendido nos paralelepípedos, suas presas esticando, sua cabeça recuou para o ataque. Eu
observei em horror, congelado por um instante...e então um pé com uma bota saiu de nenhum lugar e conectou com o lado da sua cabeça. O impacto a lançou para o outro lado do beco. Eu olhei para cima à minha salvação. Ela era a mulher mais incrivelmente bela que eu jamais vi. Seu cabelo loiro pálido estava puxado para trás para pender em cachos que passavam dos seus ombros e a sua vestimenta masculina se ajustava a ela como uma luva. O vampiro chegou aos seus pés, assobiando para a mulher e então atacando-a. Elas lutaram enquanto eu deitava ali, observando em fascinação. A loira era como alguma deusa guerreira, cada movimento perfeito, cada soprar um trabalho de arte. Ela continuou lutando com a morta-viva parecendo como crianças brincando, nunca sequer rompendo um suor. O vampiro caiu diante dela e a deusa estendeu a mão para trás e puxou uma espada a qual tinha sido embainhada em sua espinha, escondida sob o seu fraque. ‘Você sabe quem eu sou?’ ela calmamente perguntou ao vampiro. ‘Traidora!’ a besta cuspiu. ‘Eu sou o Demônio da Justiça,’ a mulher disse e a espada caiu, a sua lâmina tomando a cabeça do vampiro em um claro movimento. Nada além de poeira e osso foi deixado onde a besta esteve. A deusa embainhou a sua espada e se virou para mim. Estendendo uma mão, ela ofereceu para ajudar a me levantar. Eu peguei a sua mão; era gelada. Recuando, eu percebi o que ela era. Não uma matadora, como eu tinha pensado. Ela era um vampiro. Ela olhou para mim, seus olhos tristes por um momento e então ficando frios e distantes. Eu me sentei ali, relutante em pegar a sua mão mesmo embora ela tivesse salvo a minha vida. ‘Lembre-se,’ ela disse, ‘quem era este que permitiu que você visse outro amanhecer.’ E então ela se virou para longe. ‘Quem é você?’ eu chamei por ela. ‘O Demônio da Justiça,’ foi tudo que ela disse, e então ela se foi. “Duas semanas mais tarde ele escreveu isso:
Eu tenho perguntado a aqueles que deveriam saber. Eu acredito que ela era uma dos Justos. Eles que poderiam saber sussurravam que os Justos são um grupo de três vampiros que matam os morto-vivo maus, aqueles que tiram as vidas dos humanos. Seu líder é um vampiro chamado Devlin, ou o Senhor Sombrio. Supostamente em vida ele era um dos campeões de Edward III. Ele é invencível na batalha e os mortos-vivos o temem assim como eles temem a luz do sol. Sua companheira é uma Francesa chamada Justine; alguns a chamavam de o Demônio da Justiça. Em vida ela era uma atriz e uma cantora de ópera sem igual e a cortesã dos reis. O terceiro do grupo é o mais novo, menos de um século de idade. Eles o chamam de Michael, o Demônio Arcanjo. Eles dizem que é um Escocês que caiu em Culloden6 e Devlin esteve tão impressionado pela sua habilidade em batalha que ele poupou-o da verdadeira morte para que então ele pudesse lutar para sempre como um vampiro. Então, eu acredito em algum desses? Antes que eu a visse eu teria dito com absoluta convicção que não haveria bons vampiros, e ainda ela tendo salvo a minha vida, tirado a cabeça de um dos da sua espécie, e ido embora. Os Justos realmente existem? Eu acredito? Sim. Sim, eu acredito. Eu olhei para Archie e então olhei para Sr. Pendergrass. Ele tinha uma expressão pensativa no seu rosto.
Oh Deus. “Então,” eu disse lentamente, “você acha que eu deveria pedir a esses vampiros para me ajudarem? Você acha que eles iriam?” Archie deu de ombros. “Só há uma maneira de descobrir. Além disso, quem melhor para matar o seu vampiro do que um próprio morto-vivo?”
6
(A Batalha de Culloden /16 de Abril de 1746/, foi aquela pela qual o católico Charles Edward Stuart, aspirante ao trono de Inglaterra foi definitivamente derrotado, juntamente com o seu exército de apoiantes jacobitas, recrutados sobretudo nas Highlands (zonas católicas) escocesas. Com esta derrota, a carreira política do "young pretender" conheceu o seu fim, e a revolta que ele incitou na Escócia, procurando apoio entre os Highland Clans, foi definitivamente dominada. Foi o fim de uma campanha de mais de um ano, na qual as tropas Jacobitas conheceram algumas vitórias e tentaram marchar sobre Londres (vindas da Escócia) para alcançar o poder. A batalha de Culloden foi também a última batalha terrestre a ter lugar na Grã-Bretanha.)
“Mas isso foi escrito há meses atrás! E se eles nem sequer estiverem mais em Londres? E como você encontra um grupo de vampiros na Cidade de qualquer forma?” “Um feitiço de invocação poderia funcionar,” Sr. Pendergrass disse, um dedo dedilhando ociosamente no globo âmbar no topo da sua bengala. “Mas ele tem que ser feito à noite, então eles seriam capazes de viajar,” eu disse. “Sim.” “E eu não posso sair à noite ou Sebastian iria me comer, ou o que quer que seja.” “Verdade,” Sr. Pendergrass disse suavemente, como se esperando para eu ter algum tipo de conclusão por mim mesma. Eu pulei sob meus pés. “Oh você não pode estar falando sério! Você espera que eu trabalhe em um feitiço de invocação, o qual eu nem ao menos tenho certeza se eu posso fazer de qualquer modo, para chamar vampiros para minha casa que podem ou não podem ser amigáveis. E mesmo se eles forem amigáveis eles estarão mais do que provavelmente muito zangados comigo quando eles chegarem lá. Senhor e Senhora, eu posso muito bem simplesmente cortar todas as nossas gargantas!” “Você tem uma idéia melhor?” Archie perguntou. “Apenas me diga como matá-lo!” eu gritei. “Dulcinea,” Sr. Pendergrass disse gentilmente, “venha criança, sente-se. Aqui está uma excelente xícara de chá. Agora, nós temos que ser realistas aqui. Eu poderia possivelmente trabalhar em um feitiço rápido o suficiente para incinerar Sebastian mas se ele tem reforços então nós todos morreremos. Archie é um excelente rapaz bem constituído, mas ele é apenas um humano e sem equivaler com a força de um vampiro e além disso, assim como você disse, há a sua jovem esposa para se considerar. Você tem uma ótima oferta de poder dentro de você mas você tem ainda que aprender o canal e focar-se nele e, como Archie apontou, se você
hesitar por um instante, se você pensar por uma batida de coração sobre Sebastian Montford que foi o seu amigo de infância, então tudo está perdido.” “Agora, eu não gosto da idéia mais do que você, e ninguém vai obrigar você a fazer qualquer coisa que você não queira, mas eu acho que você deveria descansar e considerar isso. Venha, me deixe lhe mostrar o quarto de hóspedes.” Enquanto eu exaustamente seguia Sr. Pendergrass subindo as escadas dos fundos eu pensei sobre o que Archie tinha sugerido. Era tolo, tolo e horrivelmente arrogante. Arrogante em acreditar que eu poderia encher um vampiro com compulsão para vir a mim, pedir a ele para me ajudar a matar um dos da sua própria espécie e esperá-lo em concordar com isso, ou pelo menos não me matar por pura irritação. Isso era ridículo. Amanhã de manhã eu pegaria Missy e voltaria para casa. Sr. Pendergrass e Archie ficariam em Londres sãos e salvos e iriam pensar em algo mais. Uma coisa era certa, não havia maneira que eu fosse sequer executar um feitiço de invocação para acolher vampiros na minha casa. Não. Absolutamente não.
Capítulo
“E
NTÃO COMO EXATAMENTE ESSE FEITIÇO funciona?”Eu perguntei ao Sr. Pendergrass enquanto a carruagem retumbava ao longo da pista, uma muito debilitada Missy amarrada na parte traseira.
“É simples, realmente. Você cria um círculo de poder e abre si mesma à magia. Depois você chama aqueles que você pretende. Quanto mais perto eles estiverem, mais forte a magia será. Se os vampiros estão em Londres você deve ser capaz de chamar um ou dois deles, provavelmente o Escocês e a mulher desde que eles são os mais novos dos três. Se eles acontecerem de estar perto, até mesmo você será capaz de chamar o próprio Senhor Sombrio.” “E você está assumindo que se eu puder chamar um, os outros irão seguir?” “Sim,” Sr. Pendergrass disse. Archie sacudiu as rédeas e fez uma careta. “Então porque nós não fizemos isso na noite passada enquanto nós estávamos em Londres?” Sr. Pendergrass mandou a ele um olhar curvado. “Ela estava exausta. Eu poderia ter feito isso mais precisa ser o feitiço dela e ela precisa estar bemdescansada e aparentando o seu melhor.”
“Por quê?” Eu perguntei. Eu entendi que eu estava tão cansada que meus pensamentos estavam muitos dispersos na noite passada para formar o feitiço, mas eu não entendi o último comentário do Sr. Pendergrass. Ele gargalhou. “Minha querida, eu sou um velho homem enrugado, mas você,” ele oscilou uma mão distraidamente em minha direção, “você é uma donzela em perigo. Isso pode fazer a diferença na atitude deles. Nós estamos pedindo uma grande barganha à eles e um rosto bonito não pode ferir. Eu espero que algumas coisas até mesmo na morte não mudem em um homem,” ele disse com um piscar de olhos. Eu sorri, meu estômago se contorcendo de medo. “Eu não acho que eu consiga fazer isso.” “Oh, vamos, agora,” ele disse. “Você esteve flertando o seu caminho através de cada baile na sociedade.” “Não, não assim. Eu não tenho problema com isso. Eu quero dizer com o feitiço. E se eu tentá-lo e ele não funcionar? Ou se ele sair completamente errado e algo terrível acontecer?” Eu pisoteei o meu pé. “Eu treinei por isso toda a minha vida e agora que eu tenho, eu estou aterrorizada. Não era assim como isso deveria ter acontecido.” “Não, não é, e o seu medo é parte do que faz você ser tão focada. Não se preocupe,” ele disse, acariciando o meu cabelo no que eu tenho certeza que significava ser uma forma tranqüilizadora, “Eu estarei ali para ajudá-la.” Claro que isso por si era uma das coisas que me preocupava. Agora eu tinha não apenas a Sra. Mackenzie e Fiona no meio dessa bagunça além de Archie e Sr. Pendergrass também. A esposa de Archie, Kitty, estava fora visitando a sua mãe; ele não tinha idéia que eu estava liderando o seu marido para o perigo. Eu me senti enjoada. Ao menos com Sr. Pendergrass ali, todos eles teriam uma chance de lutar se os vampiros me comessem e viessem atrás deles. Eu poderia ceder em fazer o feitiço de invocação, mas não havia chance que eu fosse permitir que o Sr. Pendergrass ou qualquer um dos outros estivessem presentes quando os mortos-vivos chegassem. Se as coisas dessem erradas eu os queria salvos, trancados em um quarto seguro com
todas as cruzes da casa e a maior garrafa de Água Benta que eu furtei da St. James a caminho para fora da cidade. Eu me perguntei se roubada, a Água Benta ainda funcionaria? Nós entramos na estrada às quatro da tarde. Ravenworth Hall sempre tirava o meu ar com o sol da tarde banhando os seus três andares de muros de pedras em luz dourada. A casa principal era relativamente nova, foi construída no início do século passado pelo meu tataravô quem quis uma casa de campo mais perto de Londres além do Mosteiro Ravenworth, algum lugar em que a família pudesse descansar, se eles escolhessem, enquanto o Parlamento estava em seção. Eu amava essa casa com suas paredes cobertas de eras e rosas trepadeiras, os jardins e os trezentos acres de parque e floresta, e a lagoa que eu tinha aprendido a pescar e nadar. Minha atenção foi para a porta da frente enquanto nós entrávamos em um percurso circular, meu estômago se apertando em alívio enquanto Sra. Mackenzie e Fiona corriam descendo os degraus da frente. Eu nunca estive tão feliz em ver alguém na minha vida. “Nenhum problema noite passada?” eu perguntei enquanto eu saltava para baixo e abraçava Sra. Mackenzie. “Não aqui,” ela disse enigmaticamente e então voltou a sua atenção aos cavaleiros na carruagem. “Bom dia para vocês Sr. Pendergrass, Sr. Little.” Archie tirou o seu chapéu para Sra. Mackenzie e então olhou para baixo para mim. “Eu vou andar com os cavalos e colocá-los no estábulo para a noite.” “Os lacaios da vila foram para casa cerca de uma hora atrás,” Sra. Mackenzie disse. “Eu receio que não há ninguém para te ajudar.” “Eu vou gerenciar,” ele respondeu com um sorriso. “Eu vou dispor de um feitiço de proteção nos estábulos,” Sr. Pendergrass disse. “Você, jovem senhora, precisa ter um bom banho quente e descansar. Nós temos muito trabalho adiante para nós essa noite.” “Obrigada, novamente,” eu respondi, e Archie cacarejou para os cavalos e os conduziu na redondeza para o estábulo.
“Você disse que nós não tivemos problemas aqui,” eu perguntei a Sra. Mackenzie enquanto nós caminhávamos para a porta. “Houve algum problema em outro lugar?” Sebastian tinha percebido que eu fugi e ficou zangado? Sra. Mackenzie suspirou. “Duas manhãs atrás uma das garçonetes da taverna foi encontrada morta, sua garganta cortada. Eu não descobri sobre isso até você ter partido. Essa manhã outra garota da vila foi encontrada morta no rio, morta exatamente da mesma maneira. Senhor Lindsey colocou um toque de recolher em toda a vila. Eles dizem que as garotas foram mortas em algum outro lugar e seus corpos largados porque elas perderam muito sangue e ainda não havia nenhum no chão onde elas foram encontradas.” “Da maneira que a gente entende isso,” Fiona disse, “Senhor Montford deve ter bebido delas e então cortado as suas gargantas para cobrir as suas marcas.” “Senhor e Senhora,” eu gemi. Tudo isso era minha culpa também? Eu era a razão de Sebastian estar aqui, depois de tudo. Não, eu pensei, sacudindo a minha cabeça. Não, eu não era responsável pelo que ele tinha se tornado. Alguém, alguma coisa tinha feito isso com ele, feito ele um morto-vivo. Eles iriam pagar. Eles todos iriam pagar pelas vidas que eles roubaram. Eu iria trabalhar nesse feitiço e Os Justos viriam e eles caçariam esses assassinos. O diário havia dito que era isso o que eles faziam. E então a vida voltaria ao normal. Bem, ao menos tão normal quanto ela sempre foi para uma bruxa Macgregor. “Talvez se não houver ninguém que ele possa pegar na vila isso quer dizer que ele terá que ir mais longe para caçar essa noite. Isso nós dará mais tempo, ao menos, para fazer o que precisa ser feito,” eu disse, sentindo uma onda de frio de culpa lavar através de mim por falar tão claramente sobre a vida inocente que ele tomaria essa noite. “Então Sr. Pendergrass veio. Você encontrou um feitiço? Ou alguma outra maneira de matar o vampiro?” Fiona perguntou. “Algo assim,” eu murmurei. Eu pausei no vestíbulo no pé das escadas e olhei para cima. Parecia haver tantas escadas a mais do que havia há poucos dias atrás.
“Você não vai gostar da idéia mais do que eu gostei, mas nós realmente não temos outra escolha. Venha, eu vou contar a você o plano enquanto eu me apronto.”
Capítulo
N
ÓS ESCOLHEMOS O SALÃO DE BAILE PARA LANÇAR O feitiço. Idealmente nós deveríamos ter usado a “privada sala de trabalho” de mamãe, como ela chamava para o benefício dos serventes, seu espaço sagrado. Ao invés disso, nós escolhemos o salão de baile por necessidade. Era uma gigante sala retangular com duplas portas espaçadas de forma intermitente até três quartos de cada lado, abrindo para fora para um espaçoso terraço e jardins abaixo. Minha mãe sempre teve muito orgulho dessas portas porque elas podiam ser abertas durante o baile para permitir uma ótima ventilação cruzada. Ninguém nunca reclamou de calor abafado no baile Craven. As portas em um dos finais do salão davam caminho a casa onde os convidados entrariam; o final oposto, onde as portas do terraço paravam, tinha sólidas paredes sem janelas. Durante o baile, era ali onde as mesas de bebidas eram armadas. Alto na sua parede oposta estava a galeria dos menestréis. Mamãe sempre tinha a orquestra tocando de lá de cima para permitir mais espaço na pista de dança. Debaixo da galeria era onde eu podia projetar o meu círculo. A teoria era que as portas do terraço iriam permitir que os vampiros entrassem sem tê-los passeando por toda a casa e o lado oposto do salão de baile com seus três lados sólidos iria me permitir manter as minhas costas na parede e ver o que quer que estivesse se aproximando. Eu me estremeci com o pensamento do que eu estava para fazer e me afundei ainda mais no meu manto.
Eu aparentava o meu melhor essa noite. Eu escolhi o meu casaco de capuz de veludo preto com forro de seda escarlate. Mamãe tinha mandado fazer o casaco para mim para cerimônias e para uso de magia, mas eu costumava usá-lo com mais freqüência do que isso, desde que eu nunca entendi bem a moda atual de construção de longos, casacos quentes e em seguida deixar de fora as luvas. Meu cabelo de cobre escuro estava puxado para cima nos lados e caído em cascatas de cachos para o meio das minhas costas. O pedaço de resistência, entretanto, estava embaixo do casaco, o que eu estava assustada em não revelar ao Sr. Pendergrass e aos outros, especialmente Sra. Mackenzie. O vestido tinha sido feito para a amante de um duque e certamente sem ter a intenção de sair em público. Eu o comprei secretamente da minha modista usando cada bocado de dinheiro extra que eu tinha guardado. Eu o tinha visto no quarto dos fundos e tinha que tê-lo. Claro, eu nunca poderia usá-lo fora da privacidade do meu próprio quarto. Era um vestido Cipriota7, uma criação para uma cortesã da alta classe. Seda escarlate, o qual felizmente combinava com o forro do meu casaco, ele agarrava a cada uma das minhas generosas curvas. Surpreendentemente sem mangas e escandalosamente decotado em V com um mergulho profundo, a sua saia caia da faixa de cetim abaixo dos meus seios para abraçar os meus quadris ligeiramente e revirar para fora em uma pequena explosão para o chão. À noite quando a casa estava quieta eu freqüentemente o retirava do seu lugar escondido em cima do meu guarda-roupa e o colocava. Eu colocava o meu cabelo para cima e escavava o estoque de rouge8 e Kohl9 que eu tinha secretamente em minha penteadeira, escurecendo os meus lábios e aplicando o Kohl aos meus cílios já escuros e em volta dos meus olhos. Eu ficava em pé em frente do meu espelho no meu vestido escandaloso com meu rosto arrumado e fingindo que eu era uma Daquelas Mulheres. Eu era a filha de um visconde e nunca teria a chance de ser qualquer coisa além de ser delicada e apropriada, mas por algumas horas de vez em quando eu podia me deslizar nesse vestido e fingir que eu era alguém mais, alguém inteiramente inapropriada. Eu esperava que usando o vestido essa noite me daria a coragem para fazer o que eu tinha que fazer. 7
(Cipriota –da ilha de Chipre. Situada no mar mediterrâneo, ao sul da Turquia) (rouge – é o blush vermelho) 9 (kohl – é um antigo cosmético para os olhos. Era feito com a moagem de galena -um mineral natural escuro - e outros ingredientes.) 8
“Você está pronta?” Sr. Pendergrass perguntou. Sra. Mackenzie, Fiona e Archie estavam no andar de cima, seguramente trancados na suíte dos meus pais com um arsenal de objetos santos e a Água Benta do St. James. Sr. Pendergrass iria supervisionar o meu feitiço e então se uniria a eles, mantendo-os seguros enquanto eu esperava. Eu já defini um círculo de velas, mais do que eu realmente precisava para fazer o feitiço, mas sem a luz dos grandes candelabros, o salão de baile estaria escuro como uma caverna em menos de meia hora quando o sol se fosse. Eu pisei para dentro do círculo e azeitei a pequena vasilha de pedra saturada de ervas no meio. Eu também tinha uma jarra de sal marinho para a purificação do lugar sagrado. Eu deveria realmente usar sal marinho e água, mas eu não podia me fazer derramar isso no requintado piso de madeira; o sal sozinho iria servir e seria mais fácil para limpar mais tarde. Pegando a jarra, eu andei para a borda do círculo encarando o norte. Lentamente eu derramei o sal para fora enquanto eu caminhava no círculo no sentido do relógio. “Pelo poder das bruxas Macgregor o qual habita em mim, eu consagro esse lugar para os Deuses e extraio todas as energias negativas as quais residem aqui. Eu peço pela benção dos Deuses que nada deva entrar aqui ao menos que eu permita e nenhum mal deva vir a mim dentro desse círculo. Deixe o círculo sagrado ser purificado. Que assim seja,” eu disse solenemente enquanto eu completava o círculo. Eu olhei para Sr. Pendergrass mais uma vez. “Muito bem,” ele disse, gentilmente, se inclinando na sua bengala de ponta âmbar. “Agora projete o seu círculo e trabalhe no seu feitiço. Você pode fazer isso Dulcinea. Você projetou um círculo uma dúzia de vezes, viu isso ser feito centenas de vezes. Não se preocupe, eu vou ajudar você a se focar.” Eu assenti e caminhei de volta para o centro do círculo e fechei meus olhos, me entregando a magia, nem muito deixando-a entrar mas deixando-a sair. Ela já estava dentro de mim, agora eu apenas precisava libertá-la, e deixá-la trabalhar para mim. Eu tomei a imagem e me lembrei da onda de dourado furta-cor no Jardim de Inverno e foquei nisso. Eu imaginei ela radiando de mim e me envelopando,
criando não apenas um círculo mas uma esfera de magia, de proteção, em minha volta. Eu caminhei para a borda do círculo. Encarando o norte eu comecei a andar no sentido do relógio em volta do perímetro, visualizando o círculo de energia dourada me seguindo até eu ter caminhado todo o círculo e a luz dourada me preencher. Enquanto eu andava pela segunda vez no círculo eu disse, “Pelo poder das bruxas Macgregor o qual habita em mim, eu projeto esse círculo para me proteger contra o mal para que eu possa trabalhar em nome dos Deuses. Eu abençôo esse círculo no nome da Senhora e do Senhor.” Enquanto eu caminhei pela terceira vez ao redor e voltei para o norte eu disse, “O espaço sagrado está criado, o círculo está projetado. Que assim seja!” Eu soube no instante em que o círculo se fechou; eu senti isso como um afiado clique em algum lugar bem profundo de mim. O círculo estava preenchido com luz dourada, luz o qual vinha de mim, e era linda. Eu levantei meus braços para chamar o quarteto e com esse pensamento as velas ao redor da borda norte do círculo queimaram a vida. “Aclamo aos Guardiões das Torres de Vigia do Norte, poderes da Mãe Terra! Eu convoco, agito e lhe chamo para ajudar no meu trabalho e proteger o meu círculo. Eu aclamo e lhe dou as boas vindas!” Eu me movi para o leste e as velas ali acenderam com um pensamento. “Aclamo aos Guardiões das Torres de Vigia do Leste, poderes do Ar e Invenção! Eu convoco, agito e lhe chamo para ajudar no meu trabalho e proteger o meu círculo. Eu aclamo e lhe dou as boas vindas!” Eu me movi ao sul e as velas queimaram antes de eu sequer pensar em acendêlas. Eu congelei, assustada. Isso significava que eu já estava perdendo o foco. Eu certamente não queria me empolgar e queimar a casa abaixo. Minha mente estendeu para fora para o Sr. Pendergrass e eu pude senti-lo, sentir a sua energia, sua magia, como uma brisa fresca através da minha pele, calmante e firme para mim. Eu respirei fundo.
“Aclamo aos Guardiões das Torres de Vigia do Sul, poderes do Fogo e Paixão! Eu convoco, agito e lhe chamo para ajudar no meu trabalho e proteger o meu círculo. Eu aclamo e lhe dou as boas vindas!” Me virando a oeste eu me senti mais no controle; as velas acenderam quando elas eram previstas e eu continuei, “Aclamo aos Guardiões das Torres de Vigia do Oeste, poderes de Água e Intuição! Eu convoco, agito e lhe chamo para ajudar no meu trabalho e proteger o meu círculo. Eu aclamo e lhe dou as boas vindas!” Eu retornei ao centro do círculo, para a minha pequena vasilha carregada de ervas. Me ajoelhei, eu coloquei minhas mãos na vasilha. As ervas dentro iriam ajudar a focar e convocar. Havia canela, incenso, mirra, hortelã, e sangue de dragão (o qual é realmente uma planta e não literalmente o sangue de um dragão), esmagadas e misturadas juntas em uma vasilha. Eu me concentrei, sentindo minhas palmas emaranharem com calor enquanto a vasilha alcançava minhas narinas. Era hora de trabalhar no feitiço. “Eu chamo você, Morrigan10, Grande Rainha Fantasma, Guardiã da Morte, para me ajudar como somente você pode. Eu invoco você a voar para longe e estender as asas de um corvo negro e trazer para mim aqueles quem eu procuro. Como a Guardiã da Morte, a guardiã daqueles que caíram em batalha, eu peço que você traga a mim três dos mortos-vivos, aqueles cujas vidas você tomou mas que ainda andam entre nós. Eu chamo Os Justos para mim que eles possam me ajudar em minha batalha. Voe, Morrigan! Voe e os traga a mim. Pela sua graça, minha vontade possa ser feita. Que assim seja.” Eu senti o meu poder arremessar para fora do círculo, senti-o voar através de cada parede como uma nuvem furta-cor, e mover-se para fora para no mundo. Era como uma névoa de movimentação rápida, acelerando ao longo dos morros verdes, através da floresta. Estava buscando, pesquisando, como um cão de caça atrás da raposa. Eu me sentei muito imóvel e esperei. Eu a senti quando a nuvem de poder entrou em uma grande concentração de pessoas, porque ela procurava lentamente. Eles deveriam estar em Londres; qualquer lugar a mais com uma população desse tamanho iria ter levado mais tempo para alcançar. Eu senti a névoa trocar de forma, tomando a forma do corvo de Morrigan, ela circulava e mergulhava através das ruas. 10
(Morrigan - era a deusa dominante da Europa chamada Grande Deusa. Ela era um transportador entre a vida e a morte.Em alguns escritos, ela é vista como um curador, o protetor da terra e da pessoa que traz Arthur ao poder. )
Eu ainda estava cega, mas eu podia sentir a sensação de voar, a agitação da brisa passando pelo meu rosto. E então ela parou. Eu os encontrei! Eu podia sentir dois, a mulher e um dos homens. Deveria ser Devlin porque ele era velho, mais velho do que qualquer coisa que eu conheci, e forte. Meu poder arrastou por ele e ele hesitou. A resistência era como um tapa psíquico. Ele estava zangado comigo. Oh, felicidade. O feitiço se moveu para a mulher, mas ele a segurou com ele, emprestando a sua força. Procurando, ela se moveu, encontrando o outro homem sozinho. Pela Deusa, esse aqui eu teria! Respirando fundo, eu arremessei cada bocado de concentração e eu apoderei para dentro do feitiço. Da mesma maneira como Sebastiam tinha falado comigo então eu falei com o Demônio Arcanjo. “Venha a mim. Venha,” eu sussurrei. E senti ele se mover. Eu o tinha. Eu senti uma horrível culpa sobre usar o mesmo tipo de compulsão no vampiro que Sebastian tinha usado em mim. Eu sabia o quanto assustador isso era, mas não podia ser evitado. Se eu tivesse tempo eu teria ido a Londres e os encontrado eu mesma, mas não havia tempo. Se eu quisesse viver não havia tempo. Então eu fiz o que era necessário a eu imploraria por perdão mais tarde. Eu fiquei no círculo até eu ter certeza que o vampiro estava vindo e os dois mais velhos não o parariam. Satisfeita, eu recolhi minha energia e me levantei para fechar o círculo. Eu comecei por soltar o quarteto. “Guardiões das Torres de Vigia do Oeste, eu lhe agradeço pela sua ajuda e proteção. Eu liberto você lhe dou o adeus.” Eu repeti isso no sul, leste e norte. Eu deveria ter extinguido as velas como parte do ritual, mas eu não fiz uma vez que eu tinha apenas que acendê-las novamente mais tarde para enxergar. Quando eu alcancei o norte eu caminhei no círculo uma vez no sentido horário, atraindo toda aquela adorável energia dourada para dentro de mim enquanto eu caminhava. “Eu abro esse círculo e envio esse feitiço para dentro do mundo, ele pode fazer a minha licitação. O círculo está aberto, mas inquebrável. Que assim seja.”
Eu fiquei em meu círculo, piscando um pouco como alguém que tinha acabado de acordar de um sonho. Eu fiz isso! Eu realmente fiz! Ou melhor, nós fizemos. Sr. Pendergrass estava inclinado pesadamente em sua bengala. Não havia ilusões que eu poderia ter executado esse feitiço sozinha. A magia era toda minha, mas sem Sr. Pendergrass para me ajudar a focar, para emprestar a sua energia centrada ao meu círculo, eu não teria conseguido convocar o quarteto. Eu olhei para ele com estima e sem nenhum cansaço. “Funcionou,” eu disse. “Você sentiu?” “Sim. Você fez bem essa noite, Dulcinea. Sua mãe ficaria muito orgulhosa.” Eu sorri com isso. “Então,” eu disse com um pesado suspiro, “Agora nós esperamos.” Ele olhou para mim, sorrindo um cansado sorriso que não tinha muito alcançado seus olhos, e assentiu. “Então agora nós esperamos.”
Capítulo
E
M ALGUM LUGAR NOS ABISMOS DA CASA UM RELÓGIO soou meia-noite. Eu me sentei no salão de baile, sozinha, minhas costas contra a parede mais distante e esperei. Eu tirei o meu casaco, mas o calafrio na grande sala vazia logo levou-me a colocá-lo de volta sobre meus ombros. Eu enganchei o fecho, mas não me incomodei em colocar meus braços sobre as mangas. Me aninhando profundamente dentro das pregas, eu estremeci. Querida Deusa, o que eu fiz? Eu convidei três vampiros para dentro da minha casa para me salvar de um do lado de fora. Eu teria gargalhado se eu fosse capaz. O vento levantou, batendo contra o vidro do meu outro lado como alguma coisa viva socando para obter entrada. Eu ergui minha cabeça e olhei ao redor, meu coração martelando dentro do meu peito. Ele estava aqui; ele estava perto. Uma das portas da entrada a minha esquerda colidiu aberta e o vento soprou um redemoinho de folhas secas de outono para dentro do salão de baile, as folhas rodopiando na redondeza cada uma em pequenos turbilhões como fadas valsando cruzando o chão. Elas chamaram a minha atenção por apenas um momento. O que estava em pé no limiar da porta era de longe muito mais interessante. E estava esperando que ele fosse muito grande de alguma maneira, como algum grandioso desajeitado demônio, mas o fato que ele não fosse não conteve o frisson de terror que soprou através de mim quando eu o vi pela primeira vez.
Terror, oh, sim, e algo mais. Algo que fez o meu corpo cantar e meu estômago se apertar apenas em olhar para ele. Ele era muitos centímetros mais alto do que um metro e oitenta e três e constituído como um elegante, gato selvagem irritado. Michael. O Demônio Arcanjo. E de fato aquele rosto deveria ter pertencido a apenas algum deus caído ou anjo. Ele era sobrenaturalmente lindo, tão cruelmente perigoso, para ser real. O seu cabelo era loiro escuro e mais longo do que tinha estado na moda em qualquer momento nesse século. Ele estava amarrado para trás na sua nuca exceto por várias mechas que tinham trabalhado para se libertarem, como se despenteadas pelo vento ou pela mão de uma amante. Sua sobrancelha era mais escura, definida sobre olhos que eram tão azuis ou verdes, mas que tomava um rosto que era meramente lindo e o catapultava para dentro do reino da fascinação ou divinas eram as maças do seu rosto. Afiadas como a ponta de uma faca, elas faziam o meu ar ficar preso apenas por olhar para ele. As luzes das velas esvoaçaram atravessando o seu rosto, moldando profundas sombras nas depressões debaixo daquelas incríveis maçãs do rosto, chamando a minha atenção para baixo aos seus lábios. Nem cheios ou finos eles eram incrivelmente sensuais, formados de uma tal maneira como se me fizesse perguntar como eles se sentiriam contra os meus, como eles se sentiriam em trilhar ao longo da pele nua da minha garganta. O pensamento me fez estremecer novamente, mas dessa vez não de frio ou medo. Na verdade, ele parecia mais como um pirata do que um vampiro. Grandes botas pretas de couro envoltas nas suas pernas subindo até a metade da coxa e uma simples camisa de linho branca estava aninhada por acaso para dentro das suas bermudas11, como se ele tivesse se vestido com pressa. Talvez minha convocação o tenha puxado da cama de uma amante? Eu não gostei muito desse pensamento. Sua camisa estava aberta no pescoço, expondo a lisa vastidão da sua pele no peito, suas mangas longas se reuniam no pulso em uma pequena queda de renda. Aquela renda deveria ter parecido feminina, mas ao invés disso chamou o meu olhar para as suas mãos as quais agarravam cada lado do limiar da porta. Elas eram fortes, os dedos longos e bruscos. Seus nódulos pareciam como se ele visse mais do que a sua parte de brigas e eu me perguntei brevemente de quem era o sangue correndo nas veias que se sobressaíam nas costas das suas mãos. Ele não estava armado com muito 11
(são aqueles calções até o joelho usados pelos homens do sec. XVIII)
mais do que uma adaga, mas quando seus dedos se fecharam na moldura da porta e eu ouvi o suave quebrar da madeira debaixo eu percebi que aquelas lindas, letais mãos eram armas por si próprias. E mesmo sabendo disso, tudo que eu podia pensar disso era como elas se sentiriam na minha pele, movendo-se para cima no meu braço, tirando o meu cabelo para o lado, movendo mais para baixo... Ele fez um som, um grunhido como aquele gato selvagem que eu o tinha comparado. Aquele som nunca teria vindo de uma boca humana. “Bruxa,” ele sussurrou e se empurrou para longe da porta. E então ele estava se movendo, atravessando o salão de baile com tal malevolência graça e velocidade inumana que foi em apenas dois batimentos cardíacos antes que ele estivesse quase sobre mim. Conduzida por medo e um instinto de auto-preservação, eu levantei uma mão enquanto ele estendia a mão para mim e meu poder fluiu para fora de mim, batendo nele no peito e o levantando para fora dos seus pés. Em um movimento fluido virei nós dois ao redor e o prendi na parede. Ele pareceu surpreso, e muito francamente eu também estava, mas não havia maneira pelo inferno que eu iria deixá-lo saber disso. Ele estava suspenso vários centímetros do chão, minha mão no seu peito. Meus dedos coçavam levemente para deslizar para dentro do V aberto da sua camisa, para sentir a sua pele. Ele seria quente ou frio? Erguendo a minha cabeça eu olhei para ele. Seus olhos eram azuis-acinzentados, com apenas um cintilar de verde. “Brinque gentilmente, vampiro, ou eu vou apunhalá-lo onde você está,” eu disse, meu capuz caindo para trás enquanto eu olhava para cima. “Eu não tenho desejo de machucá-lo, eu preciso da sua ajuda, mas eu vou me defender se necessário.” Ele se acalmou, aqueles olhos assombrosos lentamente se movendo sobre cada centímetro do meu rosto, então abaixando para onde o meu casaco caiu aberto para revelar um generoso avolumar de seios. Seu olhar demorou ali. Tensão martelou entre nós e se ele tinha metade do interesse no meu corpo como eu tinha no dele então talvez eu poderia usar isso para a minha vantagem. Eu estendi para cima com a minha mão livre, sacudi abrindo o fecho na minha garganta e com um dar de ombros o casaco caiu no chão. A seda do forro deslizou para baixo do meu corpo
em um suspiro, me deixando vestida com apenas um vestido escarlate sem mangas. Eu oscilei e me peguei a poucos centímetros de me pressionar contra ele. A magia que estava levando para segurá-lo na parede estava drenando. Quando ele não fez movimento para me ferir eu cuidadosamente o abaixei e o soltei, minha mão trilhando sem necessidade descendo pelo seu peito. Eu senti seus músculos contraírem embaixo dos meus dedos e tive que me forçar para me afastar dele. Eu estendi a minha mão para cima e rocei meu cabelo para fora do meu pescoço, expondo as duas feridas puncionadas ainda visíveis ali. Ele franziu o cenho, estendendo a mão para me tocar, suas pontas dos dedos lentamente traçando a mordida, seu polegar acariciando o pulso na base da minha garganta. Aquelas mãos mortais eram quentes e tão muito, muito fortes. Eu queria me envolver nele, para sentir seus braços ao meu redor, para me sentir segura novamente. Minha respiração acelerou para fora em um suspiro apertado. “Eu vejo que você conheceu um da minha espécie,” ele disse suavemente, seu sotaque irlandês não tão denso quanto ele deveria ser, como se ele vivesse muito tempo entre os Ingleses. “O que é que você quer de mim, moça? Vingança? Devo eu matá-lo por ousar pôr sua boca nessa linda carne branca?” Havia um estranho olhar no seu rosto, um olhar de raiva, de fome, talvez mesmo de ciúmes. “Não, eu quero que você o mate porque ele vai me matar.” “Eu não acredito em você.” ele murmurou. “Isso é o que você faz, não é? Proteger os inocentes?” “E você é?” ele perguntou, se movendo mais perto. Sua mão moveu para a minha mandíbula, inclinando o meu rosto para cima para o dele. Seus lábios estavam perto, tão perto. “Você é inocente?” ele perguntou suavemente, e eu tinha a sensação que nós não estávamos falando da mesma coisa. “É melhor ela ser ou eu irei drená-la por isso,” disse uma voz impaciente atrás de mim. Eu engasguei e girei ao redor, inconscientemente voltando meio passo e pressionando minhas costas contra o peito de Michael. Eu quase gemi alto quando
suas mãos deslizaram para cima nos meus braços nus para se fecharem em meus ombros.
Devlin, o Senhor Sombrio. Michael tinha me surpreendido, mas Devlin era tudo que eu tinha esperado e mais. Bem mais de um metro e oitenta e três de altura, ele era toda escuridão e ameaça. Cabelo preto, olhos pretos, ele era incrivelmente bonito com um arrogante nariz e uma mandíbula quadrada. Seu pescoço era amarrado com músculos. Uma camisa de seda preta que ele nem se incomodou em enfiar cobrindo seus amplos ombros da perfeição e deslizando no topo das suas coxas duras como pedra. Sua bermuda era preta e também eram as botas que se erguiam apenas acima do joelho. Em uma mão ele agarrava uma espada que parecia como se pesasse tanto quanto eu e ainda ele ficou ali, distraidamente batendo-a contra uma das pernas com a bota como se ela pesasse perto a nada. Pela Deusa, se Michael era como uma ágil pantera esse homem assemelhava-se a nada menos do que uma parede de tijolos. Eu podia bem ver como ele teria sido um campeão em seus dias. Ele elevou aquele olhar escuro para mim e interiormente eu me encolhi. “Você sabe quem nós somos, garotinha?” ele perguntou. Sua voz era incrível. Toda profunda e grave, ela raspou por mim como areia contra minha pele. “Sim,” eu respondi. “Vocês são os Justos. Vocês são os defensores dos inocentes, os distribuidores da justiça daqueles da sua espécie.” “E não,” ele disse com outro tapa da sua espada, “para sermos arrastados nas redondezas como cães em uma coleira por excêntricas pequenas bruxas.” Michael riu atrás de mim. “Agora Devlin, eu sou aquele que ela arrastou de uma cama quente, você simplesmente seguiu. Se alguém tem que fazer a censura aqui, deveria ser eu.” “Ah, sim, então me desculpe meu velho amigo, que eu interrompi a língua chicoteada que você estava para dar a ela,” Devlin disse com uma insinuação saudável. Eu me contorci e me empurrei para longe de Michael. “Eu me desculpo pela insolência da minha convocação,” eu disse com tanta arrogância quanto Devlin estava dirigindo em minha direção, “mas eu precisava da sua ajuda e, honestamente,
o que eu faria? Caminhar para dentro de um pub no caís e interrogar onde eu poderia encontrar três vampiros? E não apenas qualquer vampiros, você tenha em mente, mas os Justos, os pesadelos ambulantes dos mortos-vivos?” Risadas femininas trilharam através do salão de baile. “Bem, ela certamente tem você aqui, mon amour.” Eu tinha estado tão absorta pelos homens que eu nem sequer notei a mulher relaxando na porta da frente, um ombro descansando na moldura, seus braços cruzados sobre seus seios. Seus seios não eram maiores que os meus, mas eram ainda mais do que amplos, tentadoramente túrgidos acima do seu vestido de cortesã.
Justine. O demônio da Justiça. Ela era tudo que o primo de Archie tinha escrito que ela era. Seu cabelo era um pálido loiro dourado, como a lua cheia em um campo de trigo, amontoados altos com cachos em cascata. Seus olhos eram um azul claro, inclinados nos cantos como um gato e escurecidos com Kohl. Seus lábios eram cheios e vermelhos, seu nariz levemente romano e a única coisa que mantinha o seu rosto de ser uma beleza clássica. Ele dava, contudo, a ela um olhar de força e algo exótico. Havia algo indefinido sobre ela que fazia você imaginá-la nua em uma cama, todo aquele glorioso cabelo despenteado ao seu redor, seus olhos sonolentos e pesadamente tampados do ato de fazer amor. E eu era uma mulher! Eu não podia imaginar o efeito que ela tinha nos homens. Mas ela sabia. Oh, sim. Ela tinha poder, isso sim, e ela sabia bem como usá-lo. Os olhos de Devlin se suavizaram ao mero som da sua voz. Ele silenciosamente transferiu a sua espada para a sua mão esquerda e, sem sequer olhar de volta para ela, segurou para fora uma mão. Ela espreitou para dentro do salão de baile, quadris oscilando sedutoramente, e se aninhou contra ele. Ela era alta, altas pernas embaixo daquele vestido, e ela se encaixava contra ele como se ela fosse feita para estar ali. Deitando a sua cabeça no ombro dele, ela me fitou com franca curiosidade. “Bem, o que nós temos aqui, mon ami?” ela perguntou.
Michael se moveu atrás de mim novamente, estendendo a mão e tocando uma mecha do meu cabelo, enrolando em volta do seu dedo. “Eu não descobri muito sobre isso ainda.” Ao menos dois dos três deles estavam olhando para mim como se eu talvez fosse perigosa, provavelmente histérica e mais provavelmente perdendo o tempo deles. Eu tive o súbito medo que se o que eu tivesse que dizer não os interessasse, e rapidamente, isso poderia terminar como um petisco a meia-noite. Um eu poderia lidar, possivelmente dois, mas os três deles juntos estavam desgastando os meus nervos. Eu cai de volta na única coisa que eu sabia como fazer com serenidade: ser uma anfitriã graciosa. Gesticulando para as portas no lado oposto do salão eu disse, “Talvez nós pudéssemos ficar mais confortáveis discutindo esse problema na sala verde? Eu poderia oferecer a vocês alguma...” Oh querido. Que tipos de bebidas alguém ofereceria aos mortos-vivos? Eu estava apostando que chás e bolos não seriam a sua primeira escolha, mas nem eu seria tão amável como para oferecer em abrir uma veia por nenhum deles. Eu me virei para Michael com um olhar questionador. Ele sorriu e se havia presas em sua boca eu não poderia vê-las. “Uma dose pequenina do whisky que você estava bebendo mais cedo me faria bem.” Eu me sacudi para trás e me corei levemente. Moças Inglesas Apropriadas certamente não bebiam whisky e eu estava envergonhada por ser pega por isso. “Como você sabia disso?” “Vampiros tem um excelente sentido de olfato,” ele disse, recuperando o meu casaco do chão e o estendendo para mim. Eu me deslizei para dentro dele e ele me ofereceu o seu braço. Inclinando-se, seu rosto roçou contra meu cabelo. “Você cheira como whisky e madressilva selvagem.” Eu peguei o seu braço, meus dedos curvando sobre o seu bíceps o qual flexionou em reação ao meu toque. Meu corar se aprofundou enquanto eu imaginava enfiando minhas pontas dos dedos dentro desses músculos, correndo as minhas mãos para cima aos seus ombros, passando as minhas unhas suavemente
descendo a dura parede do seu peito. Eu sacudi minha cabeça para clareá-la ao pensamento libertino que ele parecia evocar em mim. Devlin e Justine seguiram em um ritmo discreto. Ela estava sussurrando e quando eu virei o meu olhar para trás eu o vi rodá-la em um círculo como se a ampla expansão do salão de baile fosse muito uma tentação para os dois. Ele era surpreendentemente gracioso para um homem do seu tamanho. Justine gargalhou, um som baixo e gutural cheio de promessas. “Conte-me pequena bruxa,” ela bradou. “Como você vai explicar a nossa presença aos seus serventes? Seus pais? Ou há um marido?” Eu senti Michael se enrijecer com a menção de um marido. “Meus pais foram mortos em um acidente de carruagem uma semana atrás, os serventes fugiram – não pergunte, é uma longa história –e não, não há um marido.” “Você não pode estar completamente sozinha nessa casa?” ela perguntou. Eu fiquei tensa. Ela estava meramente curiosa, ou ela estava caçando? Ela gargalhou. “Ah, eu vejo. Você os tem trancados lá em cima em um quarto em qualquer lugar, devidamente armados com cruzes e Água Benta, não?” Eu ao menos tive a graça de parecer envergonhada, embora porque eu deveria estar eu realmente não sabia. Eles eram vampiros, não a pequena nobreza do campo. Eu tinha todo o direito de proteger a minha criadagem, assim como eu fiz, e ainda de alguma maneira eu me senti como uma má anfitriã por não ser capaz de negar isso. “Não se preocupe, moça,” Michael disse, “nós não vamos tocar nos membros da sua criadagem. Isso seria a maior das péssimas maneiras em se alimentar sem a permissão dos nossos anfitriões e acolá o Inglês ali,” ele sacudiu sua cabeça de volta para Devlin, “não tem paciência para péssimas maneiras. De qualquer forma, nós já nos alimentamos bem essa noite.”
Capítulo
E
U ABRI AS PORTAS DA SALA VERDE E ME OCUPEI EM derramar quatro generosos copos de whisky. O decantador retiniu alto contra o copo e eu parei e respirei fundo para me estabilizar. Eu os tinha chamado aqui, depois de tudo. Nenhum propósito em ficar com medo agora, especialmente quando muito estava em jogo. Quando cada um deles tinha uma bebida eu me sentei na poltrona favorita de mamãe, observando Michael rodopiar o líquido âmbar no seu copo e então tomar um sorvo. “Ah,” ele exalou, um olhar de puro prazer no seu rosto. “Deus salve George Smith.” “Aqui, aqui,” Devlin respondeu e levantou o seu copo. Justine tomou um sorvo, enrugando o seu nariz e se recostou nas almofadas da espreguiçadeira como alguma imperatriz se reclinando. O seu olhar demorou nos retratos de Charlotte Craven e Rainy Macgregor os quais pendiam na parede oposta. Ela pareceu ficar muito imóvel e pensativa enquanto ela olhava para eles e eu me perguntei o que ela achou tão fascinante. Eu traguei meu whisky em uma dose e me virei de volta para eles.
“Eu não percebi que vampiros comiam ou bebiam nada além de...sangue,” eu disse. “Nós podemos comer comida e beber outros líquidos além do sangue,” Michael permitiu, “com moderação, observe você, mas isso não nos dá sustento. Ainda,” ele disse, segurando o copo embaixo do seu nariz e inalando profundamente, “um Escocês tem que estar morto por muito tempo para não apreciar um bom singelo malte.” Eu sorri com isso e ele piscou para mim de uma forma descarada. “Agora que nós respondemos as suas perguntas, pequena bruxa, talvez você possa ser tão boa e me dizer por que você nos convocou de um hotel muito confortável para correr horas através da noite sobre o que parece ser uma mordida de um vampiro recém-formado?” Justine perguntou, alisando uma mão sobre a curva do seu quadril. Eu particularmente não gostava da maneira que ela me chamava de “pequena bruxa” embora eu não pudesse detectar nenhuma intenção de insulto da parte dela, gostado disso ou não, eu estava dificilmente em uma posição de dar evasivas sobre semânticas. “Como você sabe que ele é um recém-formado?” eu perguntei. Devlin gesticulou distraidamente com o seu copo. “Mesmo com a ajuda de um vampiro mestre, um ancião, ainda leva tempo para o corpo completar todas as mudanças que vem em ser um morto-vivo. Aquele que mordeu você não pode ter mais de duas semanas de morto ou a ferida teria fechado dentro de uma hora da mordida e não deixado nenhuma marca na sua pele. Ele é novo tem muito pouco poder. Você, eu acho, tem um grande acordo. O que preocupa tanto você sobre ele?” “Ele me chama,” eu disse suavemente. Michael e Devlin se inclinaram adiante em seus assentos e mesmo Justine olhou para mim com um novo interesse. “O que você quer dizer?” Michael perguntou atentamente.
“Na minha cabeça, ele me chama. Ele quer que eu vá até ele. Eu acho que ele teve a intenção de me matar duas noites atrás quando ele me mordeu, mas eu o surpreendi, a extensão dos meus poderes o surpreendeu, e eu fugi. Ele não pode entrar na casa então ele me chama para sair ao invés disso. Leva toda a minha força e ambas minha arrumadeira e a sua filha para me manter de ir até ele. Ontem á noite dois amigos meus, boticários de Londres, vieram para ficar comigo. Se vocês não puderem me ajudar Sr. Pendergrass terá que me drogar porque se eu ficar inconsciente eu não posso ouvir o chamado de Sebastian.” “Você conhece esse vampiro?” Michael perguntou. “Sim. Sebastian, Senhor Montford. Ele era um pretendente meu, um indesejável pretendente, mas um pretendente da mesma forma.” “Você tem certeza que ele é um recém-formado?” “Ao menos que vampiros possam agora caminhar no sol então sim, ele era humano menos de três semanas atrás. Ele me levou para um passeio de carruagem através do Park Hyde o dia antes dele deixar Londres para ir a Yorkshire a negócios. Ele retornou uma semana atrás. Porque você pergunta?” Devlin respondeu. “Ele não deveria ser capaz de chamar você. Ele não pode chamar você para ele, não um vampiro tão novo. Uma vez que nós sabemos por um fato que ele tem menos do que três semanas de idade, isso significa que o vampiro que o fez, um ancião, está trabalhando através dele. Pode ser a voz de Montford que chama você, mas ele é apenas capaz de fazer isso porque é da vontade do seu mestre.” Devlin pausou e franziu o cenho abaixo ao seu whisky. “O questão é, por que?” “Você é cego, homem?” Michael disse. “Olhe pra ela.” Uma baixa risada soou da entrada da porta. Eu me virei para ver Sr. Pendergrass vacilando para dentro da sala, se inclinando pesadamente na sua bengala. Archie pairava atrás dele, uma escura carranca no seu rosto enquanto ele inquiria os ocupantes da sala. Malditos homens, eles não podiam ficar onde eles tinham dito?
“Enquanto eu aplaudo o seu bom gosto, jovem homem,”Sr. Pendergrass disse enquanto ele beijava a mão estendida de Justine, murmurando “adorável, adorável” embaixo do seu fôlego e então se estabeleceu no sofá perto de Michael, “eu acho que a resposta para essa pergunta é um pouco mais complicada.” “Sr. Pendergrass,” eu repreendi, “era pra você estar lá em cima.” “Sim, bem, um dos benefícios de alcançar a minha avançada idade é que eu não tenho mais que receber ordens,” ele provocou. Archie ficou protetoramente perto da minha poltrona, uma mão descansando nas costas. Michael olhou para ele. Archie olhou de volta. Michael rosnou baixo em sua garganta e Archie rapidamente removeu a sua mão. Justine tinha um sorriso no seu rosto como se ela estivesse assistindo alguma fascinante peça ostentada. “Você é um Escocês, você não é, meu rapaz?” Sr. Pendergrass perguntou, gentilmente dando tapinhas na perna de Michael com a sua bengala. Michael ergueu uma sobrancelha e olhou para mim como se me perguntando se o velho homem não tinha percebido que ele estava se endereçando a um homem que esteve nessa terra, quer vivo ou morto-vivo, por um século. Eu sorri, sacudi minha cabeça e dei de ombros. “Sim, sir,” ele disse respeitosamente, um insinuar de diversão em sua voz. Sr. Pendergrass não pareceu notar. “Você conhece as bruxas Macgregor então?” O olhar de Michael sacudiu afiadamente para mim. “Elas não são nada mais do que mitos das terras altas,” ele respondeu. Sr. Pendergrass riu. “Como vampiros? Permita-me apresentar a vocês Dulcinea Macgregor Craven, uma descendente direta de Rainy Macgregor e uma mulher que terá mais poder do que até mesmo a própria Rainy jamais pensou em possuir.” “Como você sabe disso?” Devlin perguntou. “Meu Senhor, eu sou um mago por mim mesmo e tenho fornecido aos praticantes Da Arte por quase tanto tempo quanto esse aqui,” ele gesticulou para
Michael com a sua bengala, “tem sido como um vampiro. Eu conheço bruxas e eu conheço poder quando eu o vejo. Ela não aprendeu a controlar o que ela possui ainda, mas ela vai e quando ela colocar arreios no seu poder...bem,” ele olhou de forma significativa para Devlin. “Então,” Justine disse, “esse Montford, ele não a quer como mulher, o seu mestre quer o seu poder.” “Oh Montford a quer certamente,” Sr. Pendergrass disse, “e minha suspeita é que foi por isso que o mestre o escolheu.” “Se o mestre me quer tão malditamente porque ele não aparece por conta própria?” Eu perguntei. “Porque envolver Sebastian em tudo?” Devlin se levantou e passeou pela sala. “Para ser capaz de controlar um vampiro que você criou requer grande poder, poder que apenas vem com a idade. Eu tenho quatrocentos e sessenta e dois anos de idade e em nenhuma parte perto de ser capaz de fazer isso. O vampiro que nós buscamos tem muito mais de mil. Pode ser que ele esteja simplesmente curtindo o drama.” “Então Sebastian morreu por que algum velho vampiro rabugento está entediado?” Eu perguntei, incrédula. Sebastian e eu tínhamos sido amigos enquanto crianças, mas ele mudou depois que ele saiu para Eton. Eu não me importava muito por ele como uma pessoa depois disso, mas eu nunca desejei prejudicá-lo também. Sr. Pendergrass oscilou a sua bengala. “Montford é irrelevante. Esse vampiro mestre, se ele conseguir transformá-la, ele seria capaz de controlá-la como o Montford faz? Para subordinar o seu poder?” “Talvez controlar seja a palavra errada,” Devlin disse. “Ao meu conhecimento nem mesmo um ancião pode controlar outro vampiro. Nós temos livre vontade. Ele pode se fundir com ela, entrar na sua cabeça e usar o seu poder, mas apenas se ela permitir isso. Não, minha opinião é que esse mestre não quer transformá-la, ele a quer viva.” Eu me animei um pouco com isso. “Ele não quer me tornar um vampiro?” Devlin sacudiu a sua cabeça. “Eu nunca ouvi sobre uma bruxa humana sendo transformada. Eu não estou nem certo se você iria reter a sua magia ou se ela fosse
morrer com a sua vida humana. Eu duvido que o mestre esteja certo também. Não, ele iria manter você viva então ele teria certeza do seu poder e do seu controle sobre você. Acredite em mim entretanto quando eu digo que morte seria preferível do que viver assim. Se você seguir o chamado de Montford e eles pegarem você, eles podem se alimentar de você noite após noite, nunca matando você mas mantendo você como escrava deles. Você seria como um viciado em ópio, uma casca de você mesmo e completamente no controle deles. Como uma humana você é fraca mas como um vampiro você seria forte e imune a qualquer compulsão que o mestre criar. Eles seriam tolos em transformar você.” “Você vai me ajudar então?” eu perguntei suavemente. Devlin olhou para Justine e então para Michael. “Você não pode sequer pensar em deixá-la, Devlin,” Michael disse. “Você nunca lutou com um vampiro velho assim, Michael,” ele disse. “Isso não será bonito.” Michael arremessou a ele um olhar de desprezo. Devlin se virou para Justine. Eu não reconheci o olhar que ela deu a ele, mas aparentemente ele reconheceu. Ele suspirou. “Que assim seja.” Ele se inclinou abaixo e beijou um dos seus ombros vestidos de seda. “Vá e se troque, meu doce. Nós vamos caçar essa noite.” Toda a comitiva ficou de pé quando ela se levantou. “Mon amie,” ela disse para mim, “talvez você possa ser tão boa em emprestar uma muda de roupa? Esse vestido, ele é bonito, mas não muito bom para se lutar.” “Claro,” eu respondi, “se vocês cavaleiros nos derem licença?” Devlin se levantou. “Nós temos uma carruagem na frente. Nós podemos usar o seu estábulo para os cavalos?” “Certamente,” eu disse. “Oh, não. Você não pode entrar lá. Sr. Pendergrass lançou um feitiço de proteção no estábulo.” Devlin arqueou uma sobrancelha para mim.
“Eu amo meus cavalos, meu senhor. Sebastian me conhece bem o suficiente para saber disso.” “Eu vou com ele,” Archie disse, “se ele prometer manter os seus dentes para si mesmo.” Devlin gargalhou. “Meu juramento solene.” Os dois partiram. Justine ficou em pé esperando por mim. Eu não tinha certeza sobre deixar Sr. Pendergrass sozinho com Michael. Ocorreu a mim que os vampiros tinham acabado de dividir todos nós. Era uma armadilha? Eu supus que não havia muito que eu pudesse fazer além de confiar neles e esperar que isso não custasse todas as nossas vidas. Fazia a minha cabeça latejar apenas em pensar em todas as maneiras que isso poderia dar errado. Enquanto eu cruzei a sala de estar com Justine eu a perguntei o que ela iria requerer com que tipo de roupa. Ela gargalhou. “Eu preciso apenas de uma camisa de homem, se você tiver uma para emprestar.” Ela parou no inferior das escadas, colocando um pé no segundo degrau e levantando a bainha da saia de seda púrpura escuro. Abaixo da saia e de uma anágua ela calçava botas e bermudas similares as de Michael. “Tão sensato e ainda Devlin não me permite vesti-las em público, apenas quando nós caçamos.” Eu tinha que concordar com Devlin. O pensamento de um motim que Justine iria criar em caminhar por Londres em bermudas e botas altas até as coxas, era alucinante. “Justine,” eu disse enquanto nós subimos as escadas, “Devlin disse algo lá dentro sobre poderes de vampiro, sobre ‘compulsão.’ Todos os vampiros têm esse poder?” Eu estava pensando em Michael e a maneira como eu reagi a ele, a maneira como o meu corpo sentiu quando ele estava perto. Certamente era algum tipo de feitiço. Eu conheci muitos homens bonitos em minha vida, bem não tão bastantes bonitos como o vampiro na minha sala verde, mas eu nunca reagi a nenhum deles dessa forma. Sim, isso definitivamente era algum tipo de poder vampírico.
“Vampiros mais velhos, não um tão novo quanto esse Montford, podem enfeitiçar você com seus olhos. Nós podemos fazer você ficar atordoada, quase comatosa para que nós possamos nos alimentar e você não vai se lembrar disso mais tarde. Apenas os verdadeiros anciões adquirem mais variedade de poderes, como chamar por um humano depois deles terem se alimentado deles assim como esse chama você.” “Mas Michael, ele é mais novo do que você. Ele não tem qualquer outro tipo de poder?” Ela parou no patamar. “O que é isso que você está me perguntando, mon amie?” Eu me corei e olhei para longe. “É só que ele me faz sentir...coisas e eu nem sequer o conheço e ele é um vampiro e ainda tudo o que eu posso pensar sobre isso é...” Eu deixei isso ali antes que eu dissesse algo mais embaraçoso. “Eu pensei que talvez isso fosse algum tipo de feitiço ou alguma parte do poder de vampiro.” Ela se inclinou contra a parede e gargalhou. Eu arremessei minhas mãos no ar. “Esqueça isso,” eu murmurei e me virei para longe. O palpitar na minha cabeça estava piorando pelo segundo. Sentia-se agora como se agulhas estivessem perfurando o meu crânio. Ela agarrou o meu braço e era como uma faixa de aço acorrentando meu pulso. “Non, me perdoe. Faz tanto tempo desde quando eu era nova e inocente, se eu alguma vez fui inocente, que eu tinha me esquecido,” ela fez algum movimento vago com a sua mão. “Nosso Michael, ele é bonito, não?” Com o seu sotaque Francês Michael saiu mais como Meeshell. Certamente por agora o meu rosto estava vermelho como o meu cabelo. Ela deu de ombros de uma maneira completamente Francesa. “Isso é para ser esperado. Vampiros são geralmente uma raça de criaturas bonitas,” ela disse, “fisicamente ao menos. Você vê, quando você cria outro vampiro é normalmente para companhia e você não quer olhar para um amante feio pela
eternidade, n’est-ce pas12? Michael, sua beleza é pura sorte. Devlin o fez porque ele admirou a habilidade de Michael com a espada, não por causa da sua habilidade na cama. Mas para responder a sua pergunta, não, Michael não tem poder sobre você exceto aquele de um homem bonito. O que você sente não é poder de vampiro ou feitiço,” ela disse com sorriso manhoso, “é pura luxúria humana.” Perfeito. Eu podia contar apenas dois homens em minha vida que eu estive fisicamente atraída. Houve o lacaio quando eu tinha dezesseis anos e quando eu tinha dezoito houve o Senhor Beecham. Senhor Becham era um terrível mulherengo. Eu me lembro da minha mãe realmente gargalhando no meu rosto quando eu a perguntei se ela achava que ele poderia ser corrigido. Agora aqui estava Michael e ele nem sequer estava vivo! Meu gosto por homens apenas ficava pior e pior. Eu suspirei. Bem, aí você tem. Obviamente eu sou defeituosa de alguma maneira.
Venha a mim. Dulcie...venha venha venha... “Não,” eu disse, pressionando minhas mãos a minha cabeça. “Mon amie, isso não é nada para se ter vergonha,” Justine disse, confusa. “Não, não, não.” Eu caí em meus joelhos e estendi a mão para ela. “É ele, não? Montford?” ela disse, agarrando-me pelos ombros. “Michael! Rapido! Vite13!”
Venha a mim, venha a mim, venha a mim, ele chamou. E eu gritei.
12 13
(n’est-ce pás – não é?) (vite –rápido, depressa)
Capítulo
A
PRÓXIMA COISA QUE EU SOUBE EU ESTAVA DEITADA no patamar das escadas com Michael inclinado sobre mim, preocupação esboçada em seu rosto. E então todo o inferno desabou.
“Se afaste dela!” Eu ouvi e estiquei meu pescoço para ver Sra. Mackenzie nas escadas, o frasco de Água Benta em sua mão, seu braço estabelecido para trás como se fosse arremessá-lo nos vampiros. Fiona estava em pé atrás dela com uma bastante grande, ornamentada cruz feita de ouro. Eu não tinha idéia de onde elas tinham vindo. Eu gemi em frustração. Nenhuma dessas pessoas sabia como ficar em seus lugares? “Mocinha,” Michael disse lentamente, “diga a ela que nós não estamos machucando você.” “Oh, não,” Sra. Mac disse, dando um passo mais perto, “Sem truques mentais, vampiro. Eu disse a ela que isso era uma idéia tola.” Sr. Pendergrass bateu a sua bengala no degrau inferior. “Sra. Mackenzie, ele não está prejudicando-a, eu lhe asseguro.” Ela olhou ceticamente para mim. “Então porque ela estava gritando?” “Sebastian,” eu disse. “Ele está de volta. Eles estavam apenas tentando ajudar, Sra. Mac. Por favor.”
“Oh, baby,” ela disse, impulsionando a Água Benta para Fiona e se ajoelhando ao meu lado. “É o mesmo que o da última vez?” “Sim,” eu disse, “ele está perto. Oh deuses! Devlin e Archie, eles estão lá fora no estábulo, completamente sozinhos. E se ele aparecer?” Justine bufou. “Ele seria um tolo de se enredar com Devlin mas eu irei avisálos de qualquer maneira. Mon ami, cuide dela.” Ela flutuou descendo as escadas em uma agitação de seda púrpura. O olhar da Sra. Mackenzie a seguiu abaixo como se ela não soubesse se aprovava a forma da cortesã ou a admirava. “Há um quarto onde nós possamos ficar que não tenha janelas?” Michael perguntou. “Apenas a sala de jantar e a adega,” Sra. Mackenzie respondeu. “O visconde quem construiu a casa tinha uma predileção por luz natural.” “A suíte da viúva,” eu disse. “Vovó tinha reumatismo e não podia tolerar um vento muito forte. A sua suíte tem pesadas persianas construídas dentro das janelas. Elas bloqueiam muito perfeitamente. Isso dará?” “Enquanto ninguém venha e as abra, isso deverá ser excelente,” Michael disse. Curvando-se para baixo ele me arrastou para cima em seus braços como se eu pesasse nada mais do que lanugem de cardo.14 “Você seria tão gentil para me mostrar o caminho?” ele disse a Sra. Mackenzie. Sra. Mackenzie olhou para ele e então para mim por um momento. Acenando, ela se virou e começou a subir as escadas. “Eu posso andar você sabe,” eu sussurrei. “Sim,” ele disse, inclinando a sua cabeça abaixo perto do meu ouvido, “mas você não iria roubar de mim a chance de bancar o galante herói, você iria moça?” Eu ri e deitei a minha cabeça no seu ombro. 14
(lanugem do cardo –é uma flor que quando assoprada, libera as pétalas ao vento, para serem germinadas)
“Oh Senhor,” Fiona murmurou atrás de nós e todos nós marchamos para o andar de baixo à suíte da Viúva. Eu me sentei na cama, me amontoei dentro do meu casaco. Sra Mackenzie, Fiona, Sr. Pendergrass e Michael estavam em pé nas redondezas olhando para mim como se eles esperassem que em qualquer minuto eu pudesse conjurar um demônio a comer os seus rostos e fazer uma pausa para a porta. Foi como Devlin e os outros nos encontraram. “O que está acontecendo?” ele perguntou, largando uma grande sacola de couro no chão aos seus pés. “Nós estamos apenas esperando que ela nos transforme em fuinhas,” Fiona disse brilhantemente. “Fiona!” sua mãe repreendeu. Eu gargalhei. “Não, ela está certa. Eu acidentalmente transformei Sebastian em uma fuinha na outra noite.” Todos os vampiros deram um passo para longe de mim. “Você pode fazer isso?” Michael perguntou. “Aparentemente,” eu disse. “Não se preocupe, entretanto, isso não durou. O problema é que quando ele me chama eu me sinto compelida a ir para ele.” Eu dei de ombros. “Ele me faz querer fazer qualquer coisa necessária para sair dessa casa e ir para ele.” “Ele está perto então,” Devlin disse. “Nós vamos caçá-lo.” Eu olhei para Justine, ainda em seu elegante vestido. “Fiona, você poderia levar a Mademoiselle Justine ao guarda-roupa do meu pai e deixá-la ter qualquer roupa que ela necessite?” Fiona assentiu e escoltou Justine para fora da porta. “Você sabe onde o vampiro está ficando?” Devlin perguntou. “Eu diria que provavelmente na sua fazenda a qual se une a nossa propriedade ao norte.” Eu suspirei e sacudi a minha cabeça. “Nós costumávamos brincar aqui
enquanto crianças. Seus pais realmente não se importavam com o que ele fazia até ele atingir a idade de ir para a escola. Nós gastamos muitas tardes juntos, velejando em pequenos barcos descendo a enseada ou brincando nos campos.” “E você ainda disse que ele era um pretendente indesejado?” Michael perguntou. “Ele mudou, depois que ele saiu para Eton. Eu não sei o que aconteceu com ele ali, mas quando ele voltou para casa no feriado ele estava diferente.” “Diferente como?” Eu dei de ombros. “Com raiva. Quero dizer, agressivo. Ele chutou o meu cachorro e eu o soquei no nariz e disse a ele para nunca vir aqui novamente. Eu não o vi de novo até anos depois em eventos sociais em Londres. Ele me perseguiu e eu gastei algum tempo com ele, pensando que ele estando crescido agora e talvez ele tivesse mudado, talvez ele pudesse novamente ser o rapaz agradável que eu conheci.” “Mas ele não era,” Michael disse, não um pergunta, mas uma afirmação. Eu sacudi minha cabeça. “Não. Oh, ele era cavaleiro e cortês o suficiente. Ele sempre dizia a coisa certa, era sempre solícito comigo, mas ainda havia algo sombrio e assustador atrás dos seus olhos que me assustava. Eu tentei dissuadi-lo, mas ele apenas não desistia.” “O que exatamente ele disse a você na noite em que ele lhe mordeu?” Devlin perguntou. “Ele veio depois do escurecer, ele disse que prestava as suas homenagens. Ele pediu para entrar, mas eu queria caminhar até os estábulos então eu o convidei a se unir a mim. Eu não percebi na hora porque isso pareceu irritá-lo; agora eu sei. Ele disse que ele tinha acabado de voltar de Yorkshire, mas quando eu disse a ele que eu soube que ele estava em casa por cerca de uma semana ele disse que ele esteve doente.” Eu respirei fundo. “Ele me pediu para casar com ele. Ele disse que não era apropriado para eu viver aqui por minha conta. Quando eu me recusei ele me agarrou e...e me mordeu. Nós lutamos e eu consegui me libertar. Tim, o rapaz do
estábulo, e eu corremos para dentro da casa através da porta da cozinha e Sebastian não pode seguir.” Michael arqueou uma sobrancelha apressadamente que um vampiro?”
para
mim.
“Você
correu mais
“Com um pouco da ajuda de magia.” Devlin sacudiu a sua cabeça. “Eu não senti a presença de quaisquer outros humanos no estábulo.” “Não eu os mandei embora em um tipo de feriado. Eu não podia muito bem deixá-los lá fora como forragens.” A porta do quarto abriu e Justine espreitou para dentro, não havia outra palavra para isso. A blusa branca a atingia no topo das suas coxas, as calças pretas agarravam de forma sedutora, naquelas longas pernas envoltas em botas de couro. Archie realmente tropeçou sobre o pé da mesa. Devlin rolou seus olhos para o homem. “Ele disse algo mais?” ele perguntou. “Ameaças. ‘Você não pode ficar aí dentro para sempre,’ ‘não há escapatória para você’...blah blah. Oh, e ele disse ‘nós precisamos de você,’qualquer que seja o que isso signifique.” Devlin apenas assentiu. Os humanos dentro do quarto olharam com fascinação enquanto ele abria a sacola de couro e começava a arrancar as armas. Ele entregou vários itens a Justine e eu observei enquanto ela prendia em um cinto que tinha invólucros de facas atacados em cada quadril. Os invólucros eram então afivelados em cada coxa e assim ela tinha duas, com aparências muito perversas, adagas prontas ao nível da mão. Ela adicionou um invólucro na coluna com uma pequena espada o qual corria abaixo nas suas costas. Devlin tinha um também e adicionou duas adagas a si mesmo, uma no topo de cada bota. Ele arremessou um invólucro de espada e um sgain dhu15 a Michael.
15
(sgain dhu – a Faca Negra dos escoceses (pronuncia-se “Sgian” em Gaélico). São pequenas facas com a forma de lança de 7 a10 cm de comprimento. São freqüentemente adornadas com prata e o cabo preto é tradicionalmente feito de carvalho do pântano. O punho é espalmado, para ser mais confortável ao levá-la escondida na meia.)
Enquanto eles caminhavam para a porta, Justine pausou na frente de Archie. “Eu acabei de perceber porque ela sabia como nos chamar,” ela disse e engatilhou sua cabeça a um lado. “Ele era o seu irmão?” “Quem?” Archie perguntou, confuso. “O matador que foi morto em Londres algumas semanas atrás. Você tinha que parecer com ele.” “Ele era meu primo.” Justine assentiu. “Se lhe traz algum conforto, eu tomei a cabeça daquele quem o matou.” Archie abriu sua boca e então fechou novamente, sem saber o que dizer. Justine sorriu tristemente e se virou embora. Devlin colocou sua mão no ombro de Michael quando ele se moveu para segui-la. “Justine e eu vamos caçar,” ele disse. “Você fique aqui e observe a garota.” “Eu deveria estar nas suas costas,” Michael argumentou. “Alguém forte o suficiente para controlá-la deve ficar com ela.” Michael pausou, mas então olhou para mim e assentiu. “Boa caçada, velho amigo.”
Capítulo
D
ULCINEA, VOCÊ TEM SIDO UMA GAROTA desobediente. O que você tem feito? Venha para fora, venha para fora! Você deve ser punida.
“Deixe-me em paz!” Eu gritei enquanto Michael me agarrou em volta da cintura e me arrastou para trás da porta. Um livro e um vaso voaram passando pela cabeça dele para se esmagarem na parede oposta. “Pendergrass!” ele gritou. “Você não pode fazer nada sobre esses detritos voadores?” “Eu posso dar a ela láudano então ela deverá dormir, mas isso é o melhor que eu posso fazer.” “Não,” eu disse. “Por favor, ainda não. Eu não quero estar desamparada.” “Nós podemos amarrar você novamente?” Fiona sugeriu. “Oh, deuses,” eu disse e me sentei, minha cabeça em minhas mãos. Sentia-se como se a minha cabeça fosse uma abóbora e alguém estivesse esculpindo, em uma constante maçante raspagem interna. “Isso funcionou?” Michael perguntou.
“Na maior parte do tempo,” eu respondi. “Até ela quebrar uma cadeira em pedaços e eu ter que bater nela até ficar inconsciente.” “O qual nós não estaremos fazendo novamente,” eu disse, elevando o meu olhar para ela. “Eu acho que você aproveitou isso muito além da conta.” “Eu não,” ela murmurou. “Mas nós deveríamos provavelmente amarrar você em algo mais resistente do que uma cadeira dessa vez.” Eu captei o olhar de Michael vaguear para a larga, cama de carvalho cravada. Um pequeno sorriso brincou em seus lábios e então ele virou a sua atenção de volta a mim. Eu levantei a minha cabeça, acenando para ele se aproximar. “Por mais que eu odeie isso, nós deveríamos fazer como Fiona sugere,” eu sussurrei. “Isso não vai impedir que as coisas voem ao redor do quarto mais isso vai me impedir de fugir. Uma coisa a menos para se preocupar. É apenas que, bem, eu realmente não quero ser amarrada com todos em pé ao redor olhando para mim. Você me entende?” Ele olhou para mim com aqueles olhos azuis-acinzentados e seus lábios curvaram-se para cima em um pequeno sorriso. “Eu vou cuidar disso.” Ele passou e falou silenciosamente com os outros. Fiona deslizou um braço em volta do meu ombro e deitou a sua cabeça em mim. “Eu amo você, você sabe,” eu sussurrei. “Eu amo você também,” ela disse. “Não se preocupe, nós vamos consertar isso. Se alguém pode, eu acho que são esses três. Ele é bastante bonito, ele não é?” ela disse, acenando em direção a Michael. Eu não respondi. O que eu poderia dizer? Sim, ele foi o mais sensual, atraente homem que eu alguma vez conheci. Ele também estava morto. Eu não poderia estar interessada nele. Uma garota deveria ter alguns padrões, depois de tudo. Com isso um homem deveria ao menos ter um pulso. Sr. Pendergrass e Archie deixaram o quarto. Sra Mackenzie veio a mim.
“Eu vou descer e preparar algum chá e sanduiches para o Sr. Pendergrass e Sr. Little. Eu vou deixar Fiona para ajudar você a se acomodar e manter você acompanhada,” ela disse, olhando para Michael. Acompanhada, como uma dama de companhia. “Você me deixe saber se você precisar de algo.” “O amanhecer poderia ser bom. Você pode conseguir isso?” eu disse com um sorriso. “Bagagem impertinente,” ela disse com um abraço e partiu. Fiona imediatamente tomou o comando. Ela ondulou uma mão na direção do Michael. “Feche as janelas e puxe as cortinas e então trague duas cordas.” Eu gemi. “Quando isso acabar eu vou queimar cada sangrenta corda de cortina nessa casa.” “E eu ficarei mais do que feliz em ajudá-la,” Fiona disse enquanto ela arrastava para fora o meu casaco. “Jesus, Maria e José! Dulcinea Craven, onde você conseguiu esse vestido?” Maldição. Eu me esqueci do vestido. “Nem uma palavra com a sua mãe, Fiona Mackenzie,” eu disse. “E a mantenha fora daqui até o amanhecer.” Fiona estreitou seus olhos para mim. “Com uma condição,” ela disse. “Qual?” eu perguntei ceticamente. “Você me deixe experimentá-lo amanhã!” “Combinado,” eu concordei. Michael retornou com as temidas cordas das cortinas. Eu suspirei e me sentei na cama. Era a única coisa no quarto que era muito pesada para eu quebrar se as coisas ficassem ruins. “Não,” Fiona disse, “Melhor você entrar debaixo das cobertas, dessa maneira se alguém entrar nós podemos estender sobre o vestido.” Eu puxei os lençóis para baixo. Michael estava do meu outro lado e nós encaramos um ao outro sobre o quarto vazio. Quanto fácil seria para rastejar do
outro lado daquela cama, ajoelhar diante dele, correr minhas mãos em cima no seu peito. “Fi, porque você não vai descansar um pouco?” Eu disse, meus olhos nunca deixando os dele. “Porque era para eu ser a dama de companhia,” ela disse altivamente. “E você pode ser a dama de companhia tão bem do outro maravilhoso confortável sofá no quarto ao lado.” Ela olhou para mim e então para Michael e então sorriu um perverso sorriso. “Eu posso, não posso?” ela disse, sussurrando enquanto ela partia. Eu me deitei na cama e observei enquanto Michael amarrava uma das cordas das cortinas de seda trançada na coluna da cama. Ele parou e olhou abaixo para mim. Eu levantei oferecendo o meu pulso direito. “Eu vou deixar alguma folga nisso,” ele disse. “Não tem sentido em você não ser capaz de se mexer um pouco, você vai quebrar a coluna da cama antes de você alguma vez partir essas cordas.” Ele amarrou o meu pulso. Eu podia mover meu braço até o meu cotovelo quase tocar a minha lateral. Ele deu a volta ao outro lado.
Dulcinea! Apunhale ele e acabe com isso. Eu estou ficando cansado desses jogos. “Depressa,” eu sussurrei. Ele amarrou a corda apertado.
Você acha que esses dois podem me deter? Meu mestre e eu vamos matá-los e então eu vou atrás de você. Venha a mim agora e salve a vidas daqueles que você ama. “Não, não,” eu gemi. “O que acontece?” “Ele sabe que eles estão lá fora. Ele está caçando-os.”
Michael bufou. “Não se preocupe por Devlin e Justine,” ele disse, mas havia algo em seus olhos que não estavam ali um minuto atrás. Não preocupação exatamente, mas ansiedade e inquietação. Ele queria estar lá fora caçando e eu não o culpava. Eu o observei caminhar pelo quarto. “Fale comigo.” Eu disse. “Mantenha a minha mente fora dele. Isso pode ajudar.” Ele parou novamente e correu uma mão através do seu cabelo loiro escuro. “Sobre que você quer conversar?” “As lendas dizem que você morreu em Culloden. Isso é verdade?” Ele sentou-se no pé da cama. “Não, eu não consegui chegar tão longe. Foi em Falkirk16.” “Elas dizem que você é um excelente espadachim. Você sempre foi um soldado?” Ele se sentou ali e olhou para as suas mãos como se as visse pela primeira vez. No princípio eu não estava certa se ele iria me responder. Então ele disse suavemente, “Não. Eu era jardineiro, realmente.” Meus olhos voaram para o seu rosto. Eu não esperava isso. O Demônio Arcanjo tinha sido um jardineiro? Claramente que não. “Eu queria ser um aprendiz do ferreiro, mas ele não me levou porque eu não era grande o suficiente ou forte o bastante. Meu pai estava morto e não havia comida suficiente para alimentar minha mãe e irmãs e meu pequeno irmão. O jardineiro-chefe na grande propriedade passando a minha vila conhecia o meu pai. Ele ficou com pena de mim e me deu um trabalho. Isso não pagava muito, mas nos impedia de passar fome, na maioria das vezes.” “Quantos anos você tinha?” eu perguntei. “Oito,”Ele disse. “O filho do latifundiário tinha quase a minha idade. Ele costumava praticar esgrima nos jardins. Ele me pegou o observando um dia e me perguntou se eu gostaria de tentar. Depois de muito tempo nós estamos praticando 16
(Falkirk -Um distrito administrativo na região Central, no centro sul da Escócia.)
todo dia. Eu não acho que ele me daria um tempo do seu dia se ele tivesse alguém mais com quem praticar, mas eu não me importei. Os jardineiros estavam mais do que felizes em nos fazer vista grossa porque se o pequenino diabo estivesse esgrimando comigo então ele não estaria atacando as rosas. Eventualmente o seu instrutor sequer me permitia tomar parte nas suas aulas.” “Eu era bom com isso e eu aprendi tudo que eu pude. Quando eu estava com dezesseis eu fui para Edinburg. Eu treinei com todos os melhores espadachins, mestres conhecidos, durões de ruas, qualquer um que pudesse me ensinar. Á noite eu trabalhava nos pubs ou nas docas, qualquer lugar que eu pudesse ganhar algum dinheiro para mandar para casa.” “E o seu objetivo era?” “Meu objetivo era aprender o suficiente, para ser bom o bastante, que os ricos aristocratas iriam me pagar o meu peso em ouro para ensinar aos seus filhos.” “Isso funcionou?” “Eu nunca soube. A guerra apareceu. Eu assinei para lutar para os Jacobitas17. Eu imaginei que com a minha habilidade eu poderia fazer um nome por mim mesmo,” ele gargalhou amargamente. “E Falkirk?” “A batalha começou tarde da noite. Estava chovendo e tão escuro e cinza, você sabe como fica na Escócia em Janeiro?” Eu assenti. “Nós vencemos a batalha, não durou mais do que meia hora do que eu esperava, mas foi uma tal massa de confusão, alguns dizendo que nós ganhamos, alguns dizendo que nós perdermos. Pela escuridão ainda havia retardatários. Eu era um deles. Em minha juventude e arrogância eu pensei em levar alguns poucos prisioneiros comigo. Eu tinha em mente em ser um herói de guerra, se você pode
17
(Jacobitismo - foi um movimento político dos séculos XVII e XVIII na Grã-Bretanha e Irlanda que tinha por objetivo a restauração do reinado da casa dos Stuarts na Inglaterra e Escócia (e depois de 1707, ano em que a Escócia e a Inglaterra se uniram, o reino da Grã-Bretanha). Teve um pendor católico e anti-protestante.)
acreditar nisso,” ele sacudiu a sua cabeça pesarosamente e se sentou silenciosamente por um momento. Eu esperei pacientemente, com medo que se eu dissesse algo ele não fosse continuar. “Havia três deles, Ingleses, sozinhos, virando-se no escuro apenas como eu. Eu me ocupei deles. A corrida da batalha, o sentir da espada na minha mão, era melhor do que whisky. Eu teria levado os três deles, estava quase terminado, e então um quarto Soldado Inglês saiu de lugar nenhum.” “Eu nunca o ouvi, nunca o vi. Eu tinha incapacitado dois dos Ingleses na minha frente e estava fazendo um rápido trabalho com o terceiro quando de repente,” ele olhou para baixo como se ele estivesse vendo isso, “houve uma dor afiada, não realmente algo como eu teria esperado, choque eu imagino, e eu olhei para baixo e havia essa espada enfiada para fora do meu estômago. O sangrento covarde rastejou por trás de mim e me apunhalou nas costas. Isso ainda me surpreende como sem importar em quantas batalhas você lute, sem importar quantos homens você vê morrer e você sabe que você pode ser o próximo, isso ainda vem como uma surpresa quando é você. Eu quase desejei que eu pudesse ver o olhar no meu rosto quando isso aconteceu.” “O que aconteceu depois?” eu perguntei. Sebastian estava sendo estrategicamente silencioso e eu quis ouvir o final antes que ele começasse novamente. “Eu deitei ali no chão, curvado de lado com minhas mãos sobre a ferida como se eu pudesse de alguma forma parar o sangue de fluir para fora no chão. Os soldados Ingleses estavam gargalhando e ajudando os seus companheiros aos seus pés. Então eu ouvi esse rosnado e esse gigante homem saiu da escuridão, mais forte do que tudo que eu nunca sequer ouvi falar. Em uma questão de segundos ele massacrou os quatro Ingleses e então ele se ajoelhou por mim. Eu o ouvi falar; eu soube que ele não era Escocês. Eu pensei que ele estava indo me matar,” ele gargalhou. “Eu imagino que você pode dizer que ele matou. Ele disse algo para mim sobre lutar bem, mas eu estava muito fraco e muito perto da inconsciência e quando eu acordei a seguir eu estava curado e estava mais forte e ainda eu estava muito, muito morto.”
Dulcinea, evitar os seus assassinos está ficando cansativo. Venha para fora, minha querida, porque se eu tiver que transformar você, você será uma pequena menina muito arrependida. “Você não pode me transformar e você sabe disso!” Eu gritei. Michael levantou uma sobrancelha para mim. “Não você,” eu disse, minha respiração vindo rapidamente da dor na minha cabeça. “Sebastian continua interrompendo.” “Devlin irá encontrá-lo logo,” ele disse, e deitou uma mão no meu joelho. “Há algo que eu possa fazer para lhe ajudar? Para tirar a sua mente disso?” Eu olhei para aquela mão, apenas um pedaço pequeno de seda entre ela e minha pele nua. “Sim,” eu respirei. “Me bata ou me beije.” Ele olhou para cima afiadamente. “Beijar você?” ele perguntou. E ainda ele não se moveu. Ele apenas sentou-se ali olhando para mim, eu olhando para ele, amarrada na cama, desejando que eu pudesse retomar as minhas palavras. E então ele se mexeu. Trazendo a sua outra perna para cima sobre a cama, ele rastejou em direção a mim com mãos e joelhos. Músculos que eu nunca imaginei existirem moviam-se embaixo das suas roupas. Ele pendeu ali, pairando sobre mim, uma mecha de cabelo caindo sobre o seu rosto. Eu estendi a mão para cima para removê-la de volta, mas a corda não estava longa o suficiente. Ele a escondeu atrás da sua orelha e então correu seus dedos abaixo no meu rosto para cobrir o meu queixo. “Meu Deus,” ele respirou, “você é a coisa mais linda que eu alguma vez vi. Você tem certeza?” Eu olhei para a boca sensual, seu lábio inferior levemente mais cheio, levemente aberto. Esperando pela minha resposta. Ele não tomou vantagem do fato que eu estava amarrada a cama, inútil. Não, ele iria me fazer pedir por isso. “Por favor,” eu sussurrei. Eu nunca quis nada mais. Sua boca arrebatou para baixo e meus olhos deslizaram-se fechados, todo o pensamento de algo além de Michael fugiu da minha mente. Seus lábios eram
como as cordas de seda que atavam meus pulsos, lisos e fortes. Sua língua correu de um lado ao outro do meu lábio inferior. Eu gemi e ele se moveu para dentro. Eu tinha sido beijada antes, mas nada pode ter me preparado para isso. Era como se nós estivéssemos ambos morrendo de sede, bebendo de cada um e nunca tendo o suficiente. Uma mão correu descendo a lateral do meu seio, passando minha cintura e sobre a dilatação do meu quadril. Ele agarrou a costura da minha saia e arrastou para cima passando pelos meus joelhos. Eu estava tremendo, mas eu não o parei, não poderia sequer se eu quisesse. Ele se fixou entre minhas coxas, sua mão se movendo para cima para cobrir as costas da minha cabeça. Algo inatamente feminino dentro de mim entendeu o que ele queria. Eu ergui minhas pernas e as envolvi ao redor da sua cintura. Ele gemeu e se pressionou contra mim. Eu pude senti-lo contra mim, nada entre nós além da costura da bermuda dele. Eu puxei as cordas amarrando os meus pulsos. Senhor e Senhora, eu queria minhas mãos livres. Eu queria sentir cada centímetro dele. Eu estava estremecendo quando ele finalmente se puxou livre da minha boca e correu a sua língua descendo o lado do meu pescoço. Eu enrijeci quando eu senti o roçar afiado de dentes contra o meu pulso. Eu tinha me esquecido. Por um pouco breve, brilhante momento eu me esqueci o que ele era. Ele deitou a sua cabeça no meu peito, respirando pesadamente, tremendo. “Não se preocupe,” ele disse, sua voz tão rouca que era quase irreconhecível. “Eu não vou fazer isso. Deus me ajude, eu quero, mas não vou fazer.” Ele soou como se ele estivesse com tanta dor que por um instante eu quase me ofereci para ele, deixando-o me provar. Eu arqueei minhas costas e gritei. Michael se lançou para trás, olhando abaixo para mim em confusão. Eu olhei abaixo para mim, meio esperando ver o meu peito rasgado aberto pela dor ser tão real. Eu gritei e me contorci, tentando me libertar, arrebatar o que fosse que estivesse rasgando o meu peito. A porta do quarto voou aberta. “O que diabos você pensa que está fazendo?” Fiona gritou.
“Venha aqui,” Michael gritou. “Algo está errado.” O rosto preocupado de Fiona sacudiu em vista. Eles dois engasgaram e Michael, ainda ajoelhado entre as minhas pernas, se moveu para trás, suas mãos removendo a saia para baixo enquanto ele se movia. “O que é isso?” sua voz rouca com medo agora. “O que está acontecendo?” O que de fato? Eles dois olhando para mim com tal horror que eu me empurrei a dor para cima e virei o meu rosto em direção a minha mão, tentando sentir o que eles estavam olhando. Meu cabelo estava no caminho. Ah. Eu soube então. “O glamour,” Fiona disse com temor. “O que você quer dizer, moça? O que está acontecendo?” Fiona se sacudiu. “O glamour foi o primeiro feitiço que ela alguma vez aprendeu. Tia Lora, er, sua mãe, disse que a cor do seu cabelo era antinatural, disse que as pessoas iriam falar, então ela a ensinou a segurar o glamour e esconder a cor. É tão natural quanto respirar para ela. Quando nós éramos novas eu uma vez a vi cair de uma árvore e quebrar o seu braço e ela nunca largou o seu glamour. Eu não posso imaginar a dor em que ela estava para não ser capaz de manter o seu feitiço. Eu não tinha visto a cor verdadeira do seu cabelo desde quando nós éramos crianças pequenas.” Ela olhou dentro dos meus olhos, viu minha áspera respiração. “É melhor eu pegar o láudano.” Ela correu do quarto. Michael estendeu a mão e pegou uma mecha do meu cabelo em sua mão, olhando para ele maravilhado. Foi-se a natural, cor de cobre que eu via todos os dias da minha vida. E em seu lugar estava a minha cor verdadeira, um profundo vermelho escarlate como um fino rubi. Michael sacudiu sua cabeça como se ouvindo e então se moveu para fora de mim, puxando a colcha para cima até o meu queixo. Eu me debati e gemi. Ele prendeu meus ombros para baixo com suas palmas. “Calma querida, nós vamos dar algo a você para tirar a dor e fazer você dormir. Devlin encontrou o seu vampiro e provavelmente foi isso o que você sentiu.”
“Você sabia?” eu sufoquei. “Que você sentiria a dor de Montford? Não, moça, eu juro. Eu teria lhe dado o láudano como a primeira coisa se eu alguma vez suspeitasse. Eu nunca intencionalmente lhe causaria dor. Se você não acredita em nada mais de mim, acredite nisso.” Houve uma algazarra de barulho na antecâmara e Sra Mackenzie e Fiona correram para dentro, seguidas de perto por Archie e Sr. Pendergrass. Todos eles pararam e olharam. Sra. Mackenzie restaurou-se primeiro,despejando uma colher cheia da droga e colocando-a em meus lábios. “Durma agora, baby,” ela disse, “onde ele não pode machucar você.” Minha cabeça estava ficando vaga. Eu vi Michael se virar ao redor como se em câmara lenta. “Eles chegaram,” ele disse. Ele inalou afiadamente. “Algo está errado.” Ele se moveu rapidamente para a porta e todos limparam o caminho. Um momento mais tarde Devlin chegou caminhando e carregando Justine. Sua blusa branca estava ensopada com sangue, mas ela estava consciente, agarrada ao pescoço dele. Como algum demônio vingador ele espreitou para o lado da cama e extraiu a grande espada do seu invólucro ao longo da sua coluna. Em um movimento fluido ele deslizou através das cordas da cortina que me atavam. Um coletivo suspiro de alívio lavou através do quarto. Talvez fosse a influência da droga, mas eu não pensei por um segundo que ele quisesse me prejudicar. Eu arrastei os meus braços para baixo das cobertas, esfregando os meus pulsos e usando cada última pitada de força eu consegui correr para um lado da cama então ele podia deitar Justine. Ela virou a sua cabeça para olhar para mim e sorriu fracamente. Devlin agarrou o seu rosto em ambas as suas mãos enormes e com o seu nariz a centímetros do dela gritou, “Sua teimosa pequena cadela! Quando eu disser a você para correr, você corre! Você me entendeu?” “Nós...não...corremos,” ela disse, desafiadoramente.
“Nós sangradamente bem fazemos quando eu disser para fazer. Você não tem idéia com o que você estava lutando. É total sorte e estupidez que você não está em pó e osso nesse momento,” ele gritou, sacudindo-a assim como ele fez. “Devlin,” eu sussurrei, “isso realmente é produtivo nesse momento?” Sua cabeça estalou ao redor e a pura ameaça em seu olhar teria me arremessado para trás se eu pensasse que eu poderia me mover. O quarto estava começando a rodar. Devlin se virou de volta para Justine com um rosnado, beijou-a forte na boca e se afastando dela em um veloz, feroz movimento. “Ela precisa de sangue,” ele disse, olhando para o relógio na chaminé e então para Michael. “Nós temos apenas tempo suficiente para chegar na taverna da vila e voltar.” “Você não vai encontrar ninguém ali,” Sra. Mackenzie disse. “Sebastian esteve deixando corpos dispersos na zona rural e o magistrado ordenou um toque de recolher na vila inteira.” “Maldição!” Devlin gemeu. “Ela pode beber de mim,” eu disse fracamente. “O láudano já dentro do meu corpo pode até mesmo fazê-la descansar.” “Não,” Michael disse. “Está tudo bem, Michael. Ela arriscou a sua vida por mim. É o mínimo que eu posso fazer. Por favor.” “Você está muito fraca,” ele disse. “Eu não estou fraca,” eu disse furiosamente. “Eu estou drogada, há uma diferença.” “Quanto sangue ela precisa?” Archie perguntou, pisando adiante, seu olhar na linda loira deitada perto de mim. “Você vai sentir vertigens quando isso terminar, mas é o pior disso,” Michael disse. “Ela não pode tomar o suficiente em uma alimentação para matar você.” Archie assentiu. “Eu devo a ela por vingar meu primo. Eu vou fazer isso.”
“Você...não me deve...nada, mon amie,” Justine disse. “Seria uma honra,” Archie respondeu, afrouxando a sua gravata. Devlin olhou para ele, ciúme marcava de um lado ao outro as suas bonitas feições por um breve momento, e então ele assentiu. Eu fechei meus olhos. Estava muito trabalhoso para mantê-los mais abertos. Então, o que você faria se a cavalaria recuasse, quebrada e sangrando? Maldição se eu soubesse.
Capítulo
E
U ACORDEI COM FIONA ME BATENDO LEVEMENTE, E então um pouco mais forte, na bochecha. Quanto tempo eu dormi? Não muito, não perto de longe o bastante. Eu só podia abrir mal os meus olhos e focar em seu rosto.
“Acorde,” ela disse, sua voz soando como se ela estivesse falando comigo a partir de um longo, escuro túnel. “Nós não temos muito tempo antes dos outros retornarem. Eu trouxe uma camisola e eu vou esconder esse vestido se você apenas me ajudar a tirá-lo.” Por um minuto eu não podia me lembrar onde eu estava ou por que. Então eu virei a minha cabeça e vi Justine deitada na cama perto de mim, seu pálido rosto sem vida. Ela estava morta? Eles tinham removido a camisa ensangüentada e, eu assumi, sua bermuda e deslizaram-na em uma das minha camisolas. “Ela está bem,” Fiona disse, impacientemente. “Você pode se sentar?” Eu assenti; era muito trabalhoso tentar e falar. “Você precisa de ajuda?” veio uma profunda, masculina voz do outro lado do quarto, áspera e grave. Devlin. “O que eu preciso,” Fiona disse, “é que você mantenha as suas costas viradas como você prometeu.” Ele rangeu.
Fiona desabotoou o vestido com facilidade. Tinha me levado meia hora de retorcer e me virar para ter aqueles botões fechados sem ajuda. Eu ainda estava quase certa que eu perdi vários deles, mas meus longos cabelos esconderam aqueles que foram mais difíceis de alcançar. Fiona deslizou minhas pernas para o lado da cama. Por alguma razão eu não conseguia fazê-las funcionar corretamente. “Ok, aqui vamos nós.” Com isso ela agarrou meus braços e me arrastou aos meus pés. Meus joelhos cederam e eu caí em cima dela. Eu tentei alcançar o criadomudo para nos firmar, mas apenas consegui cortar Fiona na mandíbula com o meu cotovelo. Ela rangeu e nós tropeçamos no criado-mudo com um pesado baque. “Oh inferno sangrento, mulher,” Devlin rosnou e se moveu atravessando o quarto. “Todo esse reboliço por causa de um vestido bobo. Ela é uma mulher crescida, ela não é? Ela deveria ser capaz de usar o que ela deseja.” Fiona bufou e se empurrou para mim. Eu estava tentando ajudar, verdade, mas meu corpo se sentia como chumbo. “Você diga isso a minha mãe,” ela rangeu. Devlin me agarrou por trás, me arrastando para fora dela. “Eu prefiro acabar logo com isso,” ele disse, segurando os meus pulsos e me puxando para cima como uma marionete. Fiona sorriu. “Covarde.” Ele rosnou para ela. Fiona estendeu a mão para baixo e agarrou a bainha da saia. “Olhe para o teto.” “Você tem que estar brincando,” ele disse. “Ajude se você quiser, mas desvie os seus olhos.” “Pequena garota, eu tenho quatrocentos e sessenta e dois anos de idade. Eu vi muitas mulheres nuas.” “Não essa aqui você não viu. Agora, desvie os seus olhos.”
Ele bufou mas deve ter feito para que Fiona puxasse o vestido para cima e o empurrasse sobre a minha cabeça. “Você não tem absolutamente nenhum medo de mim, você tem?” Devlin perguntou. “Não,” ela disse com um sorriso enquanto ela desatava os laços do curto espartilho, “mas me lembre mais tarde e eu vou tentar me esforçar em algum para você.” “Criada imprudente.” Entre os dois, eles conseguiram tirar o vestido, a anágua, o espartilho e a camisa de mim e deslizar a camisola de flanela sobre a minha cabeça. Devlin me levantou em seus braços e me deitou na cama, gentilmente arrastando as cobertas sobre mim. “Durma, pequena bruxa,” ele disse. “Nós temos muitos problemas para discutir quando você acordar.” Eu sucumbi ao vazio da sucção e dormi.
Muitos problemas. Ótimo. Seis horas mais tarde eu estava sentada na cama, apoiada nos travesseiros, encarando três vampiros e quatro humanos, uma esquecida xícara de chá erguida na metade do caminho aos meus lábios. “Ela é o que?” eu perguntei, lentamente. Oh, isso só ficava pior e pior. Talvez eu ainda estivesse grogue da droga e eu entendi errado. “Um demônio,” Devlin disse. “A mestre de Montford é uma anciã, demoníaca muito poderosa.” Não, eu ouvi direito. Justine estava passeando, meu vestido de baile azul escuro rodopiando em volta dos seus pés descalços. Quaisquer que fossem as suas feridas na noite passada, ela pareceu estar curada agora. “Pareceu como um vampiro para mim,” ela murmurou.
“Bem ela não era, não exatamente. Eu sei disso e foi por isso que eu disse para você correr. Da próxima vez você vai obedecer um comando direto ou não haverá mais caçada pra você.” Ela bateu sobre a cadeira perto da cama e se arremessou nela com petulante florescer. “Então, deixe-me ver se eu entendi isso direito,” eu disse. “A mestre do Sebastian, aquela que me quer tão malditamente, é uma mulher e um demônio e não exatamente um vampiro? Explique por favor.” Um músculo marcou a bochecha de Devlin enquanto ele me considerava por um momento e então disse, “Ela é Kali, a Destruidora.” Sr. Pendergrass se levantou, “Ela é uma deusa Hindu?” ele perguntou, sem fôlego. “Não, não,” Devlin disse, ondulando uma mão, “ela só gosta desse nome. Qualquer que seja o seu nome verdadeiro foi há muito tempo perdido no mundo mortal. Ela tem sido a Destruidora desde quando Jesus andou na terra.” “Ela é velha assim?” eu perguntei. “Ela é mais velha do que qualquer coisa que você jamais imaginou.” “E um demônio?” “Sim. Encontrar um demônio verdadeiro é raro. Para um existir nessa realidade tem que tomar uma forma que é natural ao nosso mundo. Demônios acham que o corpo humano é muito limitado. Você pode viver quinhentos anos e nunca ver um.” “Então, deixe-me ver se eu entendi. Existe outras...realidades, outros mundos, se você determina, onde os demônios residem?” “Sim.” “E eles podem apenas saltar para dentro do nosso mundo à vontade?” “Bem, é um pouco mais difícil do que isso e toma muita poderosa magia para realizar, mas essencialmente isso está correto.”
“Então se demônios não gostam do nosso mundo então porque ela ainda está aqui? Porque ela não vai para casa? Dois mil anos ou mais é um tempo muito longo para ficar em um lugar, especialmente se você não gosta da embalagem.” “Ela não pode ir para casa. Ela está atada aqui,” ele suspirou, correndo suas mãos através do seu cabelo preto. “Deixe-me começar do inicio. Quando Kali entrou nesse mundo, nesse plano de existência, ela tomou um corpo de uma recémmorta princesa do Oriente indiano. Seus súditos, que se reuniram para lamentar o falecimento da sua jovem princesa, adoraram-na como uma deusa quando ela se levantou dos mortos. Sendo um demônio imortal presa em um corpo humano mortal, ela veio a perceber que eventualmente o seu corpo envelheceria e morreria.” “Deixe-me adivinhar,” eu disse, “ela gostava do seu corpo humano e ela gostava se ser adorada como uma deusa e então ela encontrou um vampiro para fazê-la imortal.” Ele assentiu. “Ela matou muitas pessoas, se banhou em seus sangues. Os camponeses a adoravam com temor mas os homens santos a conheciam pelo que ela era. Os sacerdotes do templo colocaram um poderoso feitiço nela, tentando mandála de volta à sua realidade e a prender ali. Isso só funcionou parcialmente. Eles falharam em mandá-la de volta mas foram vitoriosos em prendê-la. Ao invés de mandá-la para casa eles acorrentaram-na a esse mundo. Poderia ser por isso que ela quer você porque ela pensa que você pode quebrar o feitiço.” “Isso é impossível. Apenas aquele que colocou o feitiço de vinculação pode desfazê-lo. Certamente ela sabe disso por agora.” “Eu não sei,” Devlin disse, dando de ombros. “Sr. Pendergrass,” eu perguntei, “eu estou certa sobre isso, não estou? Apenas aquele que colocou o feitiço pode quebrá-lo, certo?” Ele deu de ombros. “Essa é a minha crença. Contudo, se ela está tão determinada talvez ela adquiriu algum conhecimento durante os séculos que nós perdemos.” “Você quer dizer que talvez seja possível quebrar o vínculo? Se ela tem o feitiço que faria isso e ela acha por alguma razão que eu posso trabalhar no feitiço dela?”
Ele assentiu uma vez, lentamente. “Isso é possível.” “Se o feitiço de veiculação estiver quebrado ela pode novamente viajar entre os mundos,” eu pensei alto, para ninguém em particular. “Milhares morreriam,” Devlin disse suavemente. “Chegando a esse mundo, se tornando um vampiro, isso não era um plano para o futuro, isso era uma agradável diversão. Agora ela está presa aqui e ela não está feliz sobre isso. Se ela puder novamente se mover entre os mundos, tomar novos corpos sem as limitações dos mortos-vivos, ela seria imbatível.” “Você não acha que ela apenas iria pra casa?” eu perguntei. “Eu acho que ela iria desafogar uma vingança sangrenta.” “Mas ela pode ser parada agora,” eu disse, lentamente. “Como um vampiro vinculado a esse reino ela é,em teoria, capaz de ser destruída, certo?” Ele assentiu lentamente. “Nós não somos verdadeiramente imortais; nós podemos ser mortos.” “Então,” Michael disse, movendo-se para ficar perto de mim. “Quando nós a matamos?” “Nós não matamos,” Devlin disse severamente. “Nós corremos.” “O que?” isso foi de mim, Michael e Justine em um uníssono. “O que você está falando?” Michael disse. “Nós não corremos de uma batalha; você me ensinou isso.” Devlin apontou para Justine. “Ela não correu também e ela teve um espada atravessada no peito por isso.” Justine se arrastou para cima reta na cadeira e disse arrogantemente, “Mas não antes de eu dar o mesmo ao seu cachorrinho, Sebastian.” Eu esfreguei o ponto no meio do meu peito, exatamente acima do meu coração, onde a dor tinha quase me comido viva na noite passada. Michael viu e puxou a minha mão, dando a ela um pequeno apertão.
“Devlin o que está acontecendo?” Michael perguntou. “Nós somos os protetores dos inocentes. Nós não corremos dos vampiros. Deve haver algo que nós possamos-” “Maldito seja!” Devlin rosnou, e Sra. Mackenzie, Fiona, Archie e Sr. Pendergrass se moveram para trás contra a parede. “Eu tenho lutado guerras pelos quatro continentes. Eu tenho liderado homens para as suas mortes em batalha. Eu tenho matado milhares que vão contra mim ao longo dos séculos. Eu nunca falhei em nenhuma missão que eu me comprometi. Você acha que isso me agrada ter que dizer que essa é uma luta que nós não podemos vencer? Você acha?” Ele apanhou uma estatueta de porcelana de uma pastora e a enviou colidindo na parede distante. Suportando as suas mãos na mesa, ele suspendeu a sua cabeça freando o seu temperamento antes de dizer lentamente e calmamente, “A Destruidora não viveu pelo milênio por ser fraca ou estúpida. Acredite em mim, eu a conheço. Eu tive a infelicidade de desfrutar da sua hospitalidade uma vez. Ela está presa nesse mundo e a única alegria que ela conhece é morte e dor e ela tem perfeitamente a arte de ambos. Nós corremos ou nós todos morremos. Façam as suas escolhas.” O silêncio no quarto se estendeu de segundos a minutos. “Digo eu corro,” eu disse suavemente. Todos olharam para mim. “Eu tenho muito dinheiro; eu posso fugir o mais longe que eu precisar. Mas ela virá atrás de mim, não virá? Ela vai me seguir. Pelo resto da minha vida, eu vou estar fugindo e olhando sobre o meu ombro até ela finalmente me pagar. Não vou?” “Sim,” Devlin disse, sua voz cheia de arrependimento. “Ou, opção dois, eu faço o que ela quer o qual, até onde eu posso ver, irá resultar em uma de duas coisas: Se eu não quebrar o feitiço de veiculação então ela vai me matar e eu vou assumir que não será rápido e fácil. Se eu puder quebrar o vínculo então milhares de pessoas inocentes vão morrer e ela provavelmente ainda vai me matar depois de tudo, de qualquer modo. Eu estou morta se eu fizer e morta se não fizer.”
Ninguém respondeu. Eles não precisavam. Eu respirei fundo, sentindo uma estranha sensação de calma lavando através de mim. “Há apenas uma resposta então,” eu disse, olhando para Devlin e então Justine, meu olhar vindo descasar no lindo rosto de Michael. “Um de vocês terá que me matar.”
Capítulo
“N
ÃO!”FIONA CHOROU, LÁGRIMAS ESCORRENDO ABAIXO em seu rosto enquanto ela voava em Devlin, batendo nele com seus punhos. “Você deveria ajudar! Você deveria consertar as coisas! O quanto bom você é então? Quanto bom?” Devlin ficou ali como uma estátua e a deixou bater nele, um olhar de choque e perplexidade em seu rosto como se ele não soubesse muito bem o que fazer com ela. Eu me levantei e corri para ela, agarrando as suas mãos e a envolvendo em meus braços. Sra. Maczenzie pareceu igualmente atingida. Eu olhei para ela sobre o ombro de Fiona. Ela engoliu forte e começou a recolher os pratos e empilhá-los na bandeja de chá. Eu entendi. Era algo familiar a se fazer, algo para se manter ocupada então ela não teria que pensar. “Não,” Michael disse. “Não, eu não vou permitir. Tem que haver outro jeito.” Ele cruzou o quarto e eu me virei da forma chorosa de Fiona. Ele agarrou o meu rosto em ambas as suas mãos.
“Nós vamos fugir se isso for o que nós precisamos fazer. Eu vou ficar com você; eu vou proteger você.” “Mesmo quando eu for velha e enrugada e você ainda parecer como um deus?” eu gargalhei severamente. Ele sorriu. “Mesmo quando você for velha e enrugada e não se lembrar do meu nome ou do seu próprio. Eu vou manter você segura.” “Vocês sabem, mes amies,” Justine disse. “Pode haver um outro jeito.” Nós todos nos viramos para ela, com esperança. “Se ela deve morrer, ela não tem que ficar morta, ela tem?” Michael já estava sacudindo a sua cabeça. “Non, escute,” Justine se virou para Sr. Pendergrass. “Você disse que ela será uma grande bruxa um dia, não?” Ele assentiu. “Se ela for um vampiro ela poderia ser jovem e forte para sempre. Ela não terá nenhuma das suas fraquezas humanas. Mon amour diz que nós não podemos lutar com o destruidor, que ela é muito forte. Isso eu vi. Ela tem a sua própria magia para convocar. Não é como a magia humana; é o poder de um demônio. Quem pode dizer, porém, que dados anos suficientes a magia da mademoiselle não vai ser mais forte do que a do Destruidor? Ela pode matar o demônio com a nossa ajuda.” “Mas Sr. Pendergrass disse que eu posso não manter a minha magia, que ela deve morrer com o meu corpo humano,” eu disse. Devlin deu de ombros. “Então sem a sua magia você não tem utilidade para ela.” Eu girei para Sr.Pendergrass. “A magia. É o que ela quer. Você pode tirá-la? Um feitiço de veiculação ou um ritual? Você pode fazê-la ir embora?” Ele sacudiu a sua cabeça tristemente. “Eu posso atar você a certos atos, digo de realizar certos feitiços ou de causar dano, mas eu não posso tirar a sua magia. É um dom da deusa e apenas ela pode tira isso de você.”
Eu caminhei para a janela e coloquei a minha mão nas persianas fechadas. Eu queria sentir o sol, sentir algo bom e puro em toda essa escuridão. “Eu preciso ficar sozinha,” eu disse e empurrei o meu caminho através da multidão, pegando o meu roupão enquanto eu fugia. Eu estava ajoelhada no Jardim de Inverno, olhando para baixo a uma pequena área de prímulas da noite, esfregando as aveludadas pétalas entre meus dedos, quando eu ouvi a porta da sala de estar verde abrir e fechar. Eu olhei para cima e Michael estava nas sombras, o sol da manhã ainda não fluindo no chão com a sua luz. Eu me levantei e limpei a sujeira da minha camisola. Dando as felizes pequenas flores uma última olhada, eu caminhei para dentro da sala de estar. “O sol está brilhando. Você não deveria estar dormindo?” Ele deu de ombros. “Eu não tenho que dormir durante o dia mais do que você tem que dormir durante a noite. Eu posso até mesmo ficar aqui e olhar para o sol no jardim, enquanto eu não ande para o lado de fora. Elas não deveriam estar florescendo, você sabe,” ele disse, acenando para as flores amarelas. “Eu sei; é a magia. Elas vão morrer em alguns dias a mais eu tenho certeza.” Eu gargalhei amargamente, pensando que em poucos dias a mais eu provavelmente estaria morta também. “Isso é tão inútil.” “O que é?” “Essa magia. Eu posso senti-la dentro de mim, me preenchendo, e eu não posso controlá-la o suficiente para usá-la.” “Eu não entendo isso,” ele disse. “Transformar Sebastian em uma fuinha, eu não quis fazer isso. Isso aconteceu. Eu pensei que ele era uma fuinha e ali ele estava... ‘afuinhado.’ Eu não deveria ser capaz de fazer isso, Michael, não apenas com um pensamento. O vestido que eu vesti no funeral dos meus pais? Eu ateei fogo porque eu estava chateada e eu simplesmente pensei sobre queimá-lo. Eu faço bem o bastante em um cenário estruturado, como quando eu fiz o feitiço para invocar você, mas me colocar lá fora onde as minhas emoções estão correndo selvagens é um mero palpite. Você viu os livros e as cadeiras voadoras por todo o quarto. Eu não quis fazer isso, isso apenas
aconteceu. Eu não tenho controle sobre isso e eu não sei como ter controle sobre isso.” “Mas você foi treinada, eu ouvi o Sr. Pendergrass dizer.” “Sim,” eu disse, me abraçando, “desde que eu tinha oito anos mesmo antes disso. Eu não sei como explicar isso a você.” Eu passei na sala, pensando. “Tudo bem, dizem que você é uma criança e você será um espadachim quando você crescer. Você gastou a sua vida observando os outros espadachins, lendo tudo que você pode colocar em suas mãos sobre a arte, e então um dia quando você está com vinte e dois, alguém coloca uma espada na sua mão pela primeira vez. Você sabe tudo que é preciso saber aqui,” eu disse, batendo um dedo na minha cabeça, “mas você nunca realmente segurou uma espada antes. Agora você me entende?” Ele assentiu. “Isso deve ser extremamente frustrante.” “Isso,” eu disse, “é um eufemismo.” Michael se moveu para a minha frente e agarrou os meus ombros. “Nós podemos lutar com ela, e nós vamos. Devlin pode não ter sido capaz de derrotá-la antes, mas há três de nós agora. A Destruidora é perigosa, ela é uma assassina, mas isso é o que nós fazemos.” “Mas você ouviu o que ele disse. Ela é muito forte. Você vai morrer.” Ele deu de ombros. “Eu já vivi muito mais tempo do que eu tenho o direito. Eu vou morrer em batalha um dia; eu fiz isso antes. Eu sou um vampiro, Dulcie. Eu não vou morrer dormindo na minha cama. Se eu cair contra a Destruidora então ao menos terá sido por uma boa causa.” Eu me inclinei para ele e deitei a minha cabeça em seu ombro. “Não seja estúpido,” eu disse. “Eu não vou ter vocês todos mortos, não quando eu posso salválos. O mundo precisa de vocês...e eu sou apenas uma garota.” Ele se enrijeceu e sussurrou, “Porque você se importa tanto?” Eu olhei para cima nos seus olhos. “Porque você se importa?” Ele roçou a lateral do meu rosto com sua mão e então correu seus dedos através do meu cabelo, olhando para ele como se ele fosse algo precioso. “Eu tenho
estado satisfeito com quem eu sou por muitos anos. Eu gostei do que eu fiz e até a noite passada eu não teria trocado isso por qualquer outra existência.” “E agora?” “Você me faz desejar que eu fosse humano,” ele disse suavemente. Eu deitei a minha cabeça de volta no seu ombro, deslizando os meus braços em volta dele, meus dedos se alargando sobre os duros músculos das suas costas. “Isso é engraçado,” eu disse com um suspiro, “você me faz desejar que eu não fosse.”
Capítulo
E
U CAVALGUEI COM MISSY PARA DENTRO DO PÁTIO DO estábulo duas horas antes do sol se pôr. Desmontando, eu lancei as rédeas para um dos garotos da vila e caminhei para dentro do estábulo. A carruagem gigante de Devlin estava arrastada ao lado da nossa mais velha carruagem. A carruagem dos vampiros tinha sido especialmente fabricada, eu tinha certeza, para acomodar sua grande estrutura, os assentos de veludo na parte interna facilmente acomodando três pessoas de lado a lado. Havia um brasão de armas estampado na porta: um falcão preto com suas asas estendidas, sob a asa direita estava uma flor-de-lis dourada e embaixo da asa esquerda uma branca rosa Jacobita. O lema inscrito ao redor estava em Latim. Eu memorizei a frase, com a intenção de olhar na biblioteca mais tarde. Latim nunca tinha sido uma das minhas melhores disciplinas. Um dos garotos da vila tinha acabado de trazer o primeiro dos quatro cinzas emparelhados para dentro dos piquetes. “Charlie Harper, certo?” Eu perguntei. Ele e os seus irmãos mais novos eram os filhos do dono da taverna. “Sim, senhorita,” ele disse, puxando o seu topete. Ele colocou o cinza em uma das baias vazias e então voltou para ficar em pé diante de mim.
“Você fez um trabalho excelente aqui,” eu disse. “Quando você acabar por hoje vá até a casa para Sra. Mackenzie. Eu vou pedi-la para pagar os seus salários, seu e dos seus irmãos, por um mês.” “Por um mês, Srta. Craven?” “Eu talvez esteja viajando em breve. Eu quero que você mantenha um olho na casa e no celeiro até Tim e os garotos regulares voltarem. Venha toda manhã, o tempo permitindo, leve os cavalos para fora nos piquetes. Limpe as baias e coloque feno fresco e água. Traga-os de volta e então dê a eles grãos ao final da tarde, mas lembre-se de você estar em casa ao pôr do sol. Você pode fazer isso por mim? Eu vou lhe pagar generosamente.” “Sim, Srta Craven, certamente. Eu não me importo em lhe dizer que o dinheiro extra virá a calhar, com as mortes na vila e todos com medo de deixar suas casas à noite. Papai está bastante preocupado em nos alimentar durante o inverno se o magistrado não encontrar o assassino e suspender o toque de recolher em breve.” Eu estava distraída em responder devido a uma pequena, cabeluda gatinha branca e cinza se esfregando contra minha vestimenta preta de montaria. Eu me inclinei abaixo a peguei e ela ronronou para mim. “Bem você não é a coisa mais linda? Você é muito adorável para ser um gato de celeiro. De onde você veio? Bem, não importa. Porque você não vem para a casa comigo e me conta sobre isso?” Eu a cocei atrás das orelhas e o seu ronronar aumentou, mais alto. “Qual é o seu nome, bichano?” Me inclinando para baixo eu coloquei minha orelha perto dos seus bigodes e fingi escutá-la. “Priscilla K. gatinha? É um excelente nome de fato.” Eu falei com Charlie Harper, “Eu vou dar a você um grande extra para trazer alguns suprimentos para os gatos do celeiro de vez em quando,” eu disse, esfregando o meu nariz contra o da gatinha. Um grande pé peludo alcançou e tocou o meu rosto. Charlie sorriu. “Sim, senhorita. Ficarei feliz também.” Eu caminhei para dentro da cozinha e furtei um pouco de frango para a gatinha. Ela sentou ronronando feliz e comeu. Eu realmente não estava consciente que um gatinho pudesse ronronar e comer ao mesmo tempo, mas ali estava ela.
Sra. Mackenzie caminhou para dentro da cozinha enquanto eu estava inclinada contra a bancada, contemplando o ronronar. “Eu disse para Charlie Harper aparecer e pegar um mês de salário com você para ele e para os seus irmãos.” Ela congelou. “Dulcinea, o que você vai fazer?” “Eu não sei,” eu disse com um suspiro, “mas se eu pagá-los seus salários adiantados é menos uma coisa que eu tenho que me preocupar.” Ela cruzou a dependência e me puxou para dentro dos seus braços. Eu me senti como quando eu era uma criança e eu me cortava ou caía e arranhava o meu joelho e Sra. Mackenzie sempre estava lá para me confortar. “O que eu devo fazer?” eu perguntei, enterrando o meu rosto em seu ombro, minha voz vacilando no limite das lágrimas. Eu cavalguei por uma hora e ainda não tinha resposta. De fato eu nunca sequer tinha sido capaz de formar um pensamento coerente durante toda a cavalgada. Sentimentos, imagens, fragmentos de pensamentos, eles todos apenas perseguiam uns aos outros como gatinhos dentro da minha cabeça. “Eu não posso dizer a você o que fazer, Dulcie.” “Se fosse você, o que você faria?” Ela ficou quieta por um momento e então disse suavemente, “Eu iria sobreviver. O que quer que isso levasse, eu iria sobreviver.” E então ela tinha feito, uma vez. Ela deixou a sua família e tudo que ela alguma vez conheceu, tomou o seu destino em suas mãos e fez uma nova vida para si. Era uma boa vida, mas não, eu tenho certeza, aquela que ela imaginou enquanto uma garotinha. Eu poderia fazer o mesmo? Se chegasse a isso, eu poderia ser valente e viver? “Onde está Devlin?” eu perguntei, me afastando. “Eu acho que ele está na biblioteca.” Eu andei para a porta.
“Você não vai deixar esse gatinho na minha cozinha, você vai?” Sra. Mackenzie me chamou. “Se você não a quer aqui dentro então a coloque de volta do lado de fora quando ela terminar o seu frango.” Sra. Mackenzie bufou, mas enquanto eu caminhava descendo o corredor eu pude ouvir o seu arrulho para a pequena bola de pêlos, algo como ela ter “lindas orelhas espessas.” Gatinhos são bons para a alma.
Capítulo
E
U ENCONTREI DEVLIN NA BIBLIOTECA. AS PESADAS cortinas de veludo estavam fechadas contra o sol da tarde e ele estava esparramado no sofá de couro vermelho, uma taça de conhaque descansando no forte plano do seu massivo peito. “Eu devo a você uma desculpa,” ele disse sem sequer olhar para cima. “Não se preocupe,” eu respondi. “Eu sou aquela que arrastou você para dentro disso.” Ele se sentou. “E se fosse qualquer outra besta espreitando você, você estaria livre agora. Noite passada, Kali, ela saiu de lugar nenhum. Eu treinei por séculos para estar preparado por qualquer coisa na batalha mas eu não estava preparado para vê-la. Eu disse para Justine correr; eu pensei que ela estivesse comigo. Eu estava dezoito metros de distância dela quando Kali inclinou o seu poder para Montford e Justine estava ferida.” Ele sorriu, “Entretanto minha garota chegou naquele bastardo antes dela cair.” “Então o que aconteceu?” Ele estremeceu. “Nós dois reunimos nossas feridas e recuamos. Kali poderia ter nos matado os dois. Eu não sei por que ela não matou. Talvez isso se adapte a sua paciência em brincar conosco um pouco mais de tempo.”
“Como está Justine?” “Ela está fraca. Ela precisa se alimentar. Nós temos que sair depois do sol se pôr e caçar,” ele disse. Eu estreitei meus olhos. “Eu poderia lhe pedir que vocês não se alimentem na minha vila?” Ele se levantou. “Eu posso me alimentar de um humano e eles nunca saberão disso. Nós não ferimos humanos, Senhorita Craven.” “Diga isso para as famílias das garotas mortas na minha vila.” “O corpo humano contém muito mais sangue para se beber em uma alimentação. Leva três alimentações em um espaço curto de tempo para matar alguém. Se um vampiro mata um humano não é acidental, é um plano. E se nós deixamos corpos em nosso rastro os humanos começam a notar e nós somos caçados. Isso é porque matar humanos é proibido no Conselho Sombrio. Eu sou o instrumento de justiça deles. Eu sou um juiz e o executor.” “Exceto que você não pode matar esse,” eu disse tristemente. Uma forte tempestade de fúria atravessou o seu rosto e ele se virou e apoiou suas mãos na mesa de mogno. Eu pude ver a tensão em seus massivos ombros. “Devlin, me desculpe.” “Não, você está certa. Eu deveria ser capaz de mantê-la segura e eu não posso.” “Você disse mais cedo que você conhecia esse demônio, que você foi o seu...convidado. Me conte sobre isso.” Ele se virou. “Isso é um pouco pessoal.” “Eu tenho uma impossível decisão para tomar, Devlin. Eu acho que eu tenho o direito de saber tudo.” “Eu imagino que você tenha isso,” ele disse, ondulando uma mão em direção ao sofá. “Sente-se.” Eu me sentei, alisando as pregas de lã do meu traje de montaria a minha volta.
“O ano era 1353. Eu não estava muito mais velho do que você é agora. Eu era um cavaleiro, o filho de um conde, um homem rico porque eu tinha o favor do rei e do filho do rei. Eu ganhei minhas próprias esporas no campo de batalha em Créçy18 ao lado de Edward, o Príncipe Negro. Eu era novo, arrogante e me achava invencível. Eu estava errado.” Eu esperei enquanto ele encarava a distância, se relembrando. “Eu estava em um bordel celebrando a minha recente vitória em um torneio. Foi onde ela me encontrou.” “Kali?” eu disse, corando. “Não, Yasmeen, a tenente de Kali. Ela era uma linda mulher, o cabelo todo escuro e pele escura e olhos como chocolate derretido. Eu a levei para o andar de cima a um dos aposentos. Eu estava morto de bêbado e quando ela me mordeu eu desmaiei da bebida alcoólica, do choque e da perda de sangue,” ele gargalhou, um áspero, som ralado como vidro quebrado. “O que todo o exército Francês não pode efetuar em anos, ela fez em minutos. Eu acordei no harém de Kali.” “No seu o que?” “É a única maneira que eu posso descrever isso. Ela gostava de beber de jovens, fortes homens. Havia pelo menos trinta de nós presos com correntes em um grande, bem equipado quarto em um porão de alguma casa grandiosa. Nós éramos alimentados e vestidos bem e toda noite Yasmeen aparecia e escolhia dois de nós para fazer amor com ela enquanto Kali assistia.” Meu rosto pegou fogo. Eu tinha que perguntar entretanto, “Kali não?” “Não, nunca. Ela prefere mulheres.” Eu olhei para ele em branco. “Na sua cama. Ela prefere mulheres na sua cama, não homens.”
18
(Batalha de Crécy, que teve lugar em 26 de agosto de 1346, foi o primeiro grande confronto da Guerra dos Cem Anos, entre os exércitos de Filipe VI, da França, e Eduardo III, da Inglaterra, que terminou com a vitória dos ingleses. Ali foram utilizados os primeiros canhões.)
“Oh,” eu disse, mas me levou um minuto antes do entendimento verdadeiramente alvorecer em mim. “Oh,” eu disse novamente. “Yasmeen era a amante de Kali tão quanto a sua tenente, mas Yasmeen não era tão...particular sobre quem ela levava para sua cama. Mais tarde elas poderiam se alimentar de nós, amaldiçoadamente perto de nos matar.” “Você nunca tentou escapar?” “Sim, várias vezes. Não havia escapatória entretanto e a punição por tentar...” sua voz falhou. “Minha única esperança era que na próxima vez uma delas fosse me matar. Elas freqüentemente faziam isso com aqueles que tentaram,” ele deu de ombros. “Nós éramos dispensáveis. Yasmeen podia sempre procurar por mais de nós, da mesma maneira que ela tinha me pegado.” “Quanto tempo você ficou ali?” eu perguntei suavemente. “Três anos, seis meses e vinte e três dias.” Eu suguei para dentro a minha respiração. Senhor e Senhora! “Uma manhã Yasmeen veio para o porão. Ela me levou para dentro de um dos quartos e me disse que Kali tinha decidido matar todos os homens, para se banhar em nossos sangues, literalmente. Ela disse para mim, ‘Se você fizer amor comigo como você faz com uma das suas pálidas moças Inglesas, não porque você me teme ou porque eu ordeno isso, mas por sua livre vontade e eu vou arriscar o desprazer da minha amante e libertá-lo. Se você fizer isso, você verá outro nascer da lua, você tem a minha palavra.’ Eu perguntei a ela porque e ela me disse simplesmente, ‘Porque você me agrada, cavaleiro.’” “E então você fez.” “Sim. Eu deveria ter pedido para ela ser mais específica sobre suas intenções, entretanto. Eu deveria ter sabido que a única maneira de sair daquela casa era a morte. Ela me libertou fazendo-me o que ela era, um vampiro. Quando Kali descobriu o que Yasmeen tinha feito ela ficou insana. Eu não tinha visto tal ciúmes antes ou até então. Elas lutaram e ela matou Yasmeen diante dos meus olhos. Eu não acho que ela quis matá-la. Quando ela percebeu o que ela tinha feito a sua dor e raiva não conheciam limites. Ela assassinou o resto dos homens, assassinou-os e
deleitou-se com isso. Eu tinha visto muitas batalhas ao longo dos anos, derramamento de sangue que você sequer começasse a compreender, mas nada podia se comparar com o horror daquele noite. Eu digo a você ela não pode ser vencida porque eu vi o que ela é capaz de fazer.” Ele estremeceu. “O que ela fez com você?” “Ela me deixou ali. Ela me trancou junto com os mortos. Me levou um dia inteiro para quebrar a porta abaixo. Vinte e quatro horas trancado em um quarto com pedaços de homens mortos em todos os lugares que eu me virava e o cadáver sem cabeça de Yasmeen, me assombrando. Me levou várias outras noites para queimar todos os corpos. Eu viajei de volta ao meu estado, deslizei para dentro da minha casa como um ladrão na noite, peguei tudo de valor que eu podia carregar e fugi do país.” “E é por isso você faz o que você faz? Proteger os inocentes, aqueles que são como você foi?” eu perguntei. “Eu não acho que eu alguma vez fui inocente,” ele disse asperamente. “mas sim, essa é uma das razões do por que. Quando o Conselho Sombrio foi convocado em Veneza, assim como ele é convocado de um lugar ao outro cada trezentos anos, eles pediram voluntários para caçar os vampiros trapaceiros, aqueles que quebram a lei sagrada e matam humanos. Eu ofereci meus serviços.” “O que é o Conselho Sombrio?” “Um conselho de anciões, apenas os mais velhos e mais sábios entre nós. Eles fazem as leis que nós devemos sustentar. Aqueles que quebram as leis têm que responder a mim, ou a outros como eu.” Eu assenti silenciosamente. “Dulcinea, eu conheço o Destruidor. Eu vivi embaixo das suas tenras misericórdias por anos e eu vi a sua ira. O demônio dentro dela dá a ela poder que um vampiro normal não teria. Ela tem alguma magia, mas nada como você pode invocar, eu te asseguro. Quando eu digo a você que ela não pode ser derrotada não é por causa disso, é porque ela é mais forte e mais rápida do que qualquer criatura que
eu jamais encarei. Ela é simplesmente a melhor, Dulcinea, tanto que isso me esfola ter que admitir. Eu tenho travado guerras de um jeito ou de outro por quase quinhentos anos. Eu sou um soldado, um general, e eu sei que uma das virtudes de um bom general é saber quando a batalha é invencível. Se nós tivéssemos meses para planejar ou procurar para uma proteção do Conselho, então talvez,” ele sacudiu a sua cabeça, “mas eu não acho que nós temos esse tipo de tempo. Kali gosta de jogar seus jogos mas ela vai ficar impaciente em breve.” “Então o que eu devo fazer, Devlin? Me diga.” “Eu não posso aconselhar você,” ele disse, infelizmente. Eu arremessei minhas mãos para cima. “Aqui vamos nós novamente. Todos dizem, ‘Decida, Dulcie, viva ou morra,’ mas ninguém pode me aconselhar.” Ele segurou a sua mão para cima. “Eu não disse que ninguém pode aconselhar você; eu disse que eu não podia. Você tem perguntas. Pergunte a Justine.” “Justine? Por que?” Ele virou as suas costas para mim, derrubando outro conhaque. “Acredite em mim. Ela pode ajudar você como ninguém mais pode.” Quando ele não se virou de volta eu tive a distinta impressão que seu senhorio tinha acabado de me dispensar.
Capítulo
E
U ESTAVA AO MEU CAMINHO PARA O QUARTO DA VIÚVA para ver Justine quando eu ouvi os altos garganteios sopranos de A Flauta Mágica “Der Hõlle Rache”19 vindo da minha sala de jantar. Sua voz era incrível; cada nota surgindo tão facilmente, tão claramente, e o seu tom era a perfeição. Silenciosamente espreitando para dentro eu a vi, vestida com suas bermudas e botas e outra das camisas do meu pai, graciosamente se deslocando por toda a extensão da sala de jantar, cortando o ar com uma das lâminas de esgrima do meu pai. Cada movimento, cada impulsionar da espada, parecia coreografado na ária20 cantada por ela. A mesa massiva tinha sido movida contra uma parede para dar a ela espaço para manobrar. Eu não sabia como ela fez isso; eu vi seis fortes lacaios debatendo-se para mover a mesa. Ela parou no meio de um impulso e se virou para caminhar de volta para o extremo da sala. “Entre ou saia,” ela chamou, “mas não fique pairando na entrada da porta.” Eu corei como se eu fosse uma criança que foi pega espiando e deslizando para dentro da sala, fechando a porta atrás de mim. 19
(Der Hölle Rache kocht in meinem Herzen (A vingança do inferno arde em meu coração, em alemão), comumente chamada apenas de "Der Hölle Rache", também referida como Ária da Rainha da Noite, é uma ária integrante da ópera Die Zauberflöte (A Flauta Mágica) de Wolfgang Amadeus Mozart. Considerada uma das mais famosas árias de ópera, faz parte do segundo ato da ópera e representa um acesso de fúria vingativa, em que a Rainha da Noite coloca uma faca na mão de sua filha Pamina e exorta-a a assassinar Sarastro, rival da Rainha.) 20 (ária –música de ópera.)
“Eu teria imaginado que você fosse preferir o papel de Pamina,” eu disse. Justine sorriu, “Pamina pode ser a mais importante, mas A Rainha da Noite é muito mais difícil de cantar. Herr21 Mozart a escreveu para mim quando eu disse a ele que eu não tinha tido nada verdadeiramente desafiante em cem anos.” “Você alguma vez a representou?” “Não publicamente,” ela disse, e então efetivamente mudou o assunto. “Então me conte, você pratica esgrima?” “Eu conheço o rudimentar,” eu disse. Sebastian e eu tínhamos brincado em ser cavaleiros quando nós éramos crianças e meu pai tinha achado gracioso em um verão me ensinar um pouco do básico. Justine prendeu seu dedo do pé sob uma segunda lâmina deitada no chão e atirou-a para o ar. Pegando-a habilmente em uma mão e arremessando-a para mim. Eu tirei o meu casaco e o dobrei ordenadamente de um lado ao outro nas costas de uma das cadeiras. Recolhendo minha saia com uma mão e a lâmina com a minha outra, eu a encarei. Ela apontou a sua espada para mim e começou. Ela estava brincando comigo, eu sabia. Eu era menos do que uma noviça e ela tinha séculos de prática. Ela podia ter me desarmado em uma pancada, mas ela não desarmou. Quando ela gentilmente me recuou contra a parede distante ela pisou para trás e disse, “De novo.” Caminhando de volta para o final da sala ela estremeceu um pouco e colocou uma mão em seu peito. “Você ainda está ferida,” eu disse. “Você deveria estar descansando.” “Nós somos mulheres,” ela disse, me cativando novamente, sua voz aumentando para ser ouvida sobre o colidir de aço. “Mesmo com a força de um vampiro os homens ainda são maiores e mais fortes.” O afiado interrupto de metal contra metal ecoou na sala enquanto nós nos movíamos em um balé mortal atravessando o piso de madeira polido. Ela prendeu minha espada e lançou para cima, fixando o meu corpo com a pressão do seu 21
(Herr –Senhor em alemão.)
próprio. “Eles têm uma vantagem sobre nós em força bruta então nós temos que ser mais rápidas e mais espertas e melhores. De novo.” Enquanto nós circulávamos uma a outra, saltando e esquivando, eu perguntei, “Como é? Ser um vampiro?” “Eu posso ver tão bem quanto um falcão, posso ouvir como um lobo. Eu posso correr rápido como um veado por quilômetros e não me cansar. Ser um vampiro é conhecer força e poder...e grandes tristezas.” Ela parou no meio da sala. “Mas isso não é o que você veio me perguntar.” “Não é?” “Você quer saber como você possivelmente pode fazer tal decisão. Você quer saber se a sua alma estará amaldiçoada por toda a eternidade. Você quer saber o que vai se tonar de você se você desistir da sua vida.” Meus olhos se alargaram. Ela estava certa. Aquelas eram as perguntas, mesmo se eu não tivesse ainda formado-as em minha própria mente. Aquelas eram as coisas que estiveram nadando em minha cabeça enquanto eu estava fora cavalgando. “Como você sabia?” eu perguntei. Ela gargalhou, deslizando para cima para se sentar na borda da mesa de jantar, suas longas pernas pendendo. “Porque eu estava uma vez onde você está agora.” Eu pisei para trás em surpresa. “Você era uma matadora. Você os caçava. Eu só assumi-” “Que eu fui feita como Devlin e Michael foram, contra as suas vontades? Non, a escolha foi minha para fazer.” Ela olhou para mim por um longo momento como se decidindo se ou não eu era merecedora da história, ou possivelmente ela estivesse se perguntando se eu podia ser confiável sobre isso. “Meus pais morreram de praga quando eu tinha treze. Eu tinha uma irmã mais nova para cuidar, Solange era minha única irmã, e nós estávamos completamente sozinhas. Nós quase morrermos de fome naquele primeiro inverno. Eu prometi que nós não passaríamos outro mês nas ruas. Uma noite eu arrombei a loja da modista mais elegante em Paris e roubei um vestido. Na manhã seguinte eu me apresentei á corte para a audição de Jean-
Baptiste Lully22. Ele me deu uma posição na Academia Royale de Música e um quarto na corte do Rei Louis XIV. “Logo eu tinha ganho um papel de liderança na ópera de Lully e em balés e peças para a corte. Eu também ganhei a atenção de homens ricos. Aos dezessete eu era a amante do próprio filho do Rei. Aos dezoito eu fui enviada para a corte Inglesa de Charles II para espiar para Louis do conforto da cama de Charles. Para manter Solange dos deboches da vida na corte, eu a matriculei na melhor escola de freiras, mantendo-a longe do meu estilo de vida menos do que adequado. Eu prometi que nós nunca seríamos pobres novamente. Eu cantava e dançava e colecionava um barbante de homens ricos que pagavam generosamente pelos meus favores. Eu amava a minha vida. E então uma noite tudo isso mudou.” “Um vampiro?” “Sim, ele me pegou uma noite no lado de fora de Versailles, enquanto eu estava retornando da cama de Louvois. O vampiro me estuprou e quase me matou. Eu deveria ter vinte feridas de mordidas do meu pescoço ao meu joelho. Eu passei cada momento depois disso aprendendo a lutar. Eu aprendi luta com espadas dos meus protetores ricos e então uma noite no baile Cyprian um duque me apresentou um comerciante de antiguidades Chinesas. Nós nos tornamos amigos e ele conhecia estilos de luta que eu nunca sequer tinha visto. Eu o paguei bem para me ensinar. Eu não estaria desamparada novamente, não nunca. Em um tempo de um ano eu saí caçando aquele que me atacou.” “Você o encontrou?” “Oh, oui. Ele morreu gritando, implorando a mim para poupá-lo,” ela disse com um sorriso frio. “Mas você não parou ali.” Era uma declaração, não uma pergunta. “Non, porque eu deveria? Eu era jovem e forte. Eu sabia quais vampiros eu poderia tomar e quais aqueles, os mais velhos, eram melhor ser deixados sozinhos. Dentro de três anos eu era temida entre os mortos-vivos em Paris, tanto que um 22
(Jean-Baptiste Lully - foi um compositor francês, nascido italiano, que passou a maior parte da sua vida trabalhando na corte do rei Luís XIV da França . Foi um compositor prolixo e o seu estilo de composição foi largamente imitado na Europa. Casou-se com Madeleine Lambert, filha do compositor Michel Lambert. Ele é considerado o mestre do Barroco Francês. Ele tornou-se cidadão francês em 1661.)
grupo deles contratou um assassino para me matar,” ela gargalhou, enrolando uma mecha do pálido cabelo em volta de um dedo. “Isso não funcionou como eles esperavam.” Eu estava confusa por um momento. “Devlin?” eu perguntei, incrédula. “Oui. Ele nem sempre foi como ele é agora. Quando eu o encontrei ele era um mercenário que odiava uma mulher. As lutas que nós tivemos de um lado ao outro do comprimento e da largura de Paris foram inacreditáveis,” ela disse com um saudoso suspiro. “E apesar do que ele disse essa manhã, houve uma missão que ele falhou em concluir.” “Então você se tornou um vampiro para ficar com ele?” “Por mais que eu o quisesse eu podia ter desistido dele. Então. Non, foi ele vir me matar que fez a minha decisão para mim. Eu era jovem e eu me achava invencível. Eu não considerei que eu poderia envelhecer, enfraquecer. Que quando acontecesse os vampiros viriam para aqueles que eu amava. A tentativa de assassinato de Devlin seria apenas a primeira de muitas; eu era muito boa no que eu fazia. Talvez fosse porque eu era uma mulher e os mortos-vivos não suspeitavam que eu fizesse algo além de uma vítima indefesa,” ela sacudiu a sua cabeça e deu de ombros. “Eu tinha o gosto da minha própria mortalidade e era como cinzas em minha boca. O que iria se tornar da minha petite23 irmã quando eu saísse caçando uma noite e falhasse, quando eu chegasse muito tarde e percebesse que eu falhei, eventualmente? Eu tinha pensado em protegê-la e a minha cidade, mas eu não tinha pensado, não realmente. Isso era arrogante e tolo da minha parte. Eu deveria ter deixado tudo como estava; eu deveria ter estado grata por ter sobrevivido.” “Você estava com medo que quando você morresse os vampiros iriam gastar as suas vantagens com a sua irmã?” “Oui. Ela iria receber as Ordens Sagradas. Você entende o que isso teria sido se eles a pegassem? Os mortos-vivos infernais contaminando a Noiva de Cristo?” “Você contou a ela? Ela soube o que você era?” 23
(petite –pequena.)
Ela sacudiu a sua cabeça e seu cabelo transbordou em um ombro e obscureceu o seu rosto da minha visão. “Eu não via Solange desde o seu aniversário de quatorze anos. A freiras, elas sabiam que eu era uma cortesã e elas estavam felizes em tomar o meu dinheiro, mas elas não achavam que a maneira pela qual eu vivia a minha vida fosse uma boa influência para alguém tão nova. Elas á viraram contra mim e eu suponho que era como isso deveria ter sido. Cada coisa imortal que eu tinha concluído tinha sido para que ela nunca estivesse que fazer por si mesma. Quando eu fui visitá-la em seu aniversário ela...” Justine olhou para baixo, balançando uma longa perna para trás e para frente, “pediu que eu não voltasse. Eu imagino que fosse uma vergonha para ela ter a sua irmã puta colocando os pés dentro daquelas paredes sagradas.” “Oh, Justine,” eu disse, vendo a dor marcada através do seu rosto. Ela deu de ombros, como se ela desejasse que eu acreditasse que isso fosse uma pequena conseqüência, e empurrou o seu cabelo para trás. “Ela era nova. Ela ainda não entendia. Mas mesmo embora ela tendo virado as suas costas para mim eu não poderia deixá-la sozinha no mundo, indefesa contra um mau que ela nem sequer sabia que estava lá fora. Quando Devlin me ofereceu a eternidade eu a peguei, porque eu o amava e porque isso me faria nova e forte para sempre. Isso é irônico não é,” ela gargalhou em um tom o qual segurava pouco humor, “que para proteger minha irmã e minha cidade eu tive que me tornar a coisa que eu tinha caçado por tantos anos?” “Isso é o que você quis dizer quando você disse que você esteve onde eu estou agora.” Ela olhou para mim, fogo em seus olhos. “Devlin e Michael são bons homens, mas eles não podem possivelmente entender. Não lhes foram dada a chance. Devlin se tornou um vampiro porque ele andou para dentro do prostíbulo errado, Michael porque Devlin gostou do seu jeito com a espada. A decisão não era deles para se tomar. Eles podem simpatizar todo o dia, mas eles não tem idéia da força e coragem que leva para ficar onde você está, onde eu estive.” Eu assenti. Devlin esteve certo quando ele disse que ele não poderia me aconselhar. Ele tinha entendido isso, ao menos.
“Para se tornar um vampiro você deve ter força, Dulcinea. Você iria conhecer sofrimento como um morto-vivo de centenas de anos mais do que você jamais conheceu como humano. É uma tentação ser jovem e bonito para sempre, ser forte e vigoroso com poder, mas você deve entender o que você sacrifica.” “Eu sou forte,” eu disse, com mais bravata do que eu sentia. “Sim, você é, mais você é forte o suficiente? Você é forte o suficiente para observar todos aqueles que você ama envelhecerem e morrerem, como eu assisti a minha irmã, enquanto você nunca vai parecer um dia mais velha do que você parece agora? Você verá Sr. Pendergrass, Sra. Mackenzie, jovem Archie e petite Fiona envelhecerem e se enrugarem e eles vão morrer. Você viverá para sempre enquanto a vida dos filhos deles e netos e tataranetos passam diante de você, tão rapidamente. Você sofrerá outras mortes que nunca teriam tocado você se você fosse humano. Se lembre disso.” “E minha alma?” eu perguntei. “Os vampiros têm almas? As almas deles se perderam, Justine?” “Você pode sentir uma alma? Eu não sinto diferença de quando eu era viva. As freiras teriam me chamado de suicida. Elas iriam dizer que a minha alma foi amaldiçoada pela eternidade. Eu espero que Deus entenda que eu fiz o que eu fiz pelo bem maior. Como um vampiro eu posso salvar muito mais vidas humanas. Se eu tivesse ficado humana eu seria apenas mais um corpo no chão. Mesmo assim, nós não somos verdadeiramente imortais. Um dia, talvez logo, eu vou cair em batalha. Eu espero que quando Deus me julgar ele irá pesar as vidas que eu salvei contra a decisão que eu fiz.” “Mas os vampiros com quem você lutou, aqueles como Sebastian, como eles podem fazer o que eles fazem e ainda ter uma alma? Você tem certeza que vocês três não são apenas diferentes de todos os outros?” Ela gargalhou, um alto bonito som. “Eu tenho estado nessa terra por cerca de cento e cinqüenta anos. Acredite em mim quando eu digo a você que você não tem que ser um vampiro para ser mau. Eu tenho visto maldade na humanidade de formas que você não pode imaginar. Se o mau está dentro de você, então se tornando um vampiro vai apenas trazer isso a tona.”
“Imaginez, se está no seu interior ferir os outros, roubar, estuprar, matar, e de repente você é um vampiro, você é forte e ninguém pode parar você. Aqueles de fraco caráter são especialmente vulneráveis porque qualquer fraqueza será ampliada pelo poder que eles agora dominam. Non, vampiros não são todos como Sebastian, mas um humano ruim fará um vampiro ruim e esses são aqueles com quem nós lutamos.” “O vigário iria dizer que ninguém é inteiramente mau. Que há algo bom em todos.” Ela bufou. “Ignorância. O vigário não viveu tanto quanto eu, ou viu o que eu vi.” Ela ergueu uma sobrancelha para mim. “Você é Cristã, pequena bruxa? Você se preocupa que Deus vá amaldiçoar a sua alma?” “Eu fui criada entre duas fés, a Igreja da Inglaterra e a Velha Religião do pessoal de minha mãe.” “Mas quando você reza em seu coração, para quem você reza?” Eu fiquei quieta por um momento. Isso não era uma pergunta que eu iria responder para a maioria das pessoas. “Para a Deusa, a Mãe Terra. Quando eu era uma criança eu costumava ter medo do Deus do meu pai. O vigário diria que eu sou uma herege porque eu sou uma filha da Velha Religião. Não é uma escolha, contudo; é como eu fui feita. Eu nasci uma bruxa e eu me orgulho do que eu sou. Quando eu fiquei mais velha isso não mais me assustava. Eu penso que nós apenas descobrimos o nosso caminho para a adoração, nós descobrimos o que fala para as nossas próprias almas.” Ela me considerou silenciosamente, e então assentiu. “Muito sábia para uma tão jovem.” Ela saltou para fora da mesa em um movimento líquido. “Agora,” ela disse, recolhendo a sua lâmina e batendo-a no ar com um movimento hábil do pulso, “pergunte-me a sua última pergunta.” Eu pausei por um momento. “Se eu fizer isso, o que será de mim?” Ela sorriu. “Para ter a resposta a isso você deve perguntar ao jovem Michael, não?”
Capítulo
E
U CAMINHEI DESCENDO O CORREDOR PARA O MEU quarto. Eu não estava certa se eu poderia encarar Michael ainda. Como você diz a uma pessoa que você acabou de conhecer; como você se sentiria sobre estar comigo por um século ou dois? Isso era ridículo. Eu só não podia fazer isso. Eu fechei a porta atrás de mim e me inclinei contra ela, fechando os meus olhos. Houve apenas o mínimo barulho de tecido farfalhando e um dedo caiu sobre meus lábios. Eu dei um pequeno guinchar. “Shhh. Eu não quis prejudicar você.” “Michael,” eu sussurrei, meu coração batendo freneticamente em meu peito. Isso era do susto que ele me deu ou simplesmente da proximidade do seu corpo? “Você esteve falando com Devlin e Justine.” “Sim,” eu disse, intrigada. “Não os deixe manejar você, Dulcie. Nós vamos descobrir uma maneira de sair disso. Você vai viver,” ele disse ferozmente, como se dizendo ele pudesse fazer acontecer. “Eu não acho que eu vou,” eu respondi em uma pequena voz. “Eu não vou deixá-los terem você. Eu não vou permitir que você se torne o que eu sou por causa de você não ter outra escolha.”
“Você não acha que eu sou forte o bastante para ser uma de vocês.” “Oh Deus,” ele disse e me arrastou para dentro dos seus braços. Eu enrijeci e então me afundei dentro da dura parede do seu peito. “Eu acho que você é a criatura mais brava que eu jamais conheci.” Ele se afastou e pegou o meu rosto em suas mãos. “Eu quero que você tenha uma vida, Dulcie. A vida que você queira ter. Você nasceu para coisas finas e casas extravagantes. Você deveria morrer uma senhora muito velha cercada pelos seus netos,” ele disse, mas havia dor e talvez um pouco de ciúmes em sua voz enquanto ele dizia. Eu gargalhei e deitei a minha cabeça no seu ombro. “Eu não sei que netos estão no meu futuro em qualquer índice. Eu sou uma solteirona deliberada que não esteve atraída por um homem por mais de um ano do que eu gostaria de contar.” Ele inclinou a minha cabeça para cima com um dedo. “Não?” ele respirou. Eu abri a minha boca, mas nada saiu. Minha nossa, eu estava agindo como uma debutante imatura! Eu era muito conhecida em toda a sociedade por meus gracejos sofisticados e ainda agora eu nem sequer conseguia formar uma frase. Ao invés disso eu fiz o que eu ansiava em fazer na noite passada e essa manhã. Eu estendi a minha mão e corri meus dedos ao longo da borda da sua afiada maçã do rosto, descendo a lateral do seu rosto, suavemente roçando seus lábios. Ele gemeu e pressionou minhas costas contra a porta antes de seus lábios preencherem os meus. Ele estava selvagem e faminto, sua língua se enrolando com a minha. Meus joelhos quase cederam e eu agarrei um punhado da sua camisa para me firmar. “Michael,” eu disse entre beijos, “se eu fosse me tornar como você, você acha...que isso, que nós parecemos ter, essa...coisa.”
Nós parecíamos ter essa coisa? Deuses, o que estava errado comigo? Ele olhou para mim em confusão por um momento e eu soube que eu estraguei tudo. Então algo impenetrável passou sobre seu rosto. “Eu nunca poderia ter sonhado em ter tal moça para mim,” ele disse, sua voz ficando completamente rouca com alguma emoção sem nome.
Não era verdadeiramente uma resposta, mas no momento eu não me importei. Aquele maravilhoso corpo estava tão próximo ao meu e oh tão tocável. Eu puxei a sua cabeça abaixo para mim, correndo meus dedos através do seu cabelo. Eu movi minhas mãos sobre seus ombros e desci para os botões da sua camisa. Ele se empurrou para trás e olhou para mim enquanto eu sacudia abrindo um botão depois do outro até que eu abrisse todos eles e empurrasse a camisa para baixo sobre seus ombros. Ele estava respirando pesadamente, mas eu não me atrevi a olhar ao seu rosto ou eu perderia meus nervos. Eu nunca vi o peito de homem nu antes. Bem, meu pai poucas vezes, mas eu tinha visto apenas como uma criança pequena então. Eu corri as palmas sobre o duro plano do seu peito, descendo sobre seus mamilos, ao longo dos rígidos músculos do seu estômago. Aqueles quadrados apertados fascinavam os meus dedos. Ele rosnou baixo em sua garganta e inclinou, agarrando-me pelas coxas e me levantando para escarranchar em seus quadris. “Deixe-me ver o seu cabelo,” ele disse contra a minha têmpora, “sua verdadeira cor.” Eu deixei o glamour cair e meu cabelo sangrou para o rubi. “Tão linda,” ele sussurrou. Eu me agarrei a ele, beijando-o e correndo minhas mãos sobre cada centímetro dele que eu pude alcançar. Meu corpo sentia-se como se fosse feito de mercúrio quente. Uma alta batida na porta atrás da minha cabeça me fez empurrar para trás com um pequeno guincho. Eu abracei minhas mãos contra a porta, meus olhos selvagens. Nós fomos pegos. Por quem? Querida Deusa, por favor não permita que seja a Sra. Mackenzie! “Michael,” a profunda voz de Devlin resmungou do outro lado. “O sol se pôs. Venha.” Eu pude ouvir os seus passos se moverem descendo o corredor. Eu nunca tinha ouvido Devlin se mover antes. Ele era quieto como um espectro. Os altos passos tinham sido para o meu benefício. Eu corei uma dúzia de cores de carmesim.
Michael me abaixou aos meus pés e nós ficamos, inclinados um contra o outro e captando nossa respiração. Os vampiros realmente respiravam? Eu não teria pensado que sim. Eu teria que perguntá-lo sobre isso mais tarde. “Você precisa ir,” eu disse contra o seu peito. “Sim,” ele respondeu, mas não fez nenhum movimento. “Não machuque ninguém,” eu disse. “Dulcie, nós não-” “Eu sei, eu sei. Eu já obtive o discurso de Nós Não Prejudicamos Humanos de Devlin. Eu apenas tive que dizer isso novamente.” Ele sorriu e se afastou. “Por favor tenha cuidado,” eu disse. Ele apanhou a sua antiga espada escocesa de onde ela descansava contra minha penteadeira. “Não se preocupe,” ele disse com um sorriso, acariciando a enorme espada. “Ophelia ainda não falhou comigo.” “Ophelia? Você nomeou a sua espada?” “Todos os homens nomeiam as suas espadas,” ele disse, gargalhando. Eu tive a sensação que eu estava perdendo algo ali, mas eu deixei passar. “Porque ‘Ophelia?’” Ele tinha dado o nome depois de algum antigo amor? “Você alguma vez leu Hamlet24?” ele perguntou. “Oh. Claro. Mas porque escolher um nome de Hamlet?” Ele deu de ombros. “Pareceu como uma peça apropriada.” Eu gargalhei, confusa. “Por quê?” 24
(Hamlet é uma tragédia de William Shakespeare, escrita entre 1599 e 1601. A peça, situada na Dinamarca, reconta a história de como o Príncipe Hamlet tenta vingar a morte de seu pai Hamlet, o rei, executando seu tio Cláudio, que o envenenou e em seguida tomou o trono casando-se com a mãe de Hamlet. A peça traça um mapa do curso de vida na loucura real e na loucura fingida — do sofrimento opressivo à raiva fervorosa — e explora temas como a traição, vingança, incesto, corrupção e moralidade.)
“Bem, porque,” ele disse, olhando para a espada com orgulho e afeição, “todos morrem no final.”
Capítulo
U
MA PORTA BATEU FECHADA EM ALGUM LUGAR NA casa. Eu me sacudi acordada, quase deixando cair o grosso livro de Latim que deitava atravessado no meu colo enquanto eu dormia. Eu olhei ao redor na biblioteca. Sra. Mackenzie estava sentada no vermelho sofá de couro, sua cabeça inclinada em um ângulo que iria provavelmente machucar quando ela se endireitasse. Fiona deitava curvada ao seu lado, seus pés enfiados abaixo da sua saia e sua cabeça no colo da mãe. Sr. Pendergrass tinha cochilado em uma das poltronas bergére25 próxima a lareira, seu queixo descansando no seu peito, o livro o qual ele esteve lendo aberto deitado e esquecido no seu colo. Archie em pé na entrada da porta da biblioteca. Quando ele viu que eu tinha acordado ele acenou para mim. Fechando o meu livro de Latim, eu me movi silenciosamente através da sala para o seu lado. “Eles acabaram de chegar,” ele sussurrou. “Como você está se sentindo?” Eu dei de ombros. “Bem. A única pessoa na minha cabeça sou eu essa noite. Que horas são?” “Cinco.”
25
(poltrona bergére - A Bergère é uma poltrona estofada fechada francesa, com uma volta estofada nas costas e nos braços . A estrutura do banco é um excesso de estofados, mas o resto da moldura de madeira está exposta; pode ser moldada ou esculpidas, ou de faia pintada ou dourada, ou de árvores frutíferas, ou de nogueira, ou mogno, com acabamento encerado.)
Eu assenti. “Bem, o que for que Sebastian esteve fazendo essa noite, está muito tarde para ele começar comigo agora. Se ele fosse ser um estorvo ele estaria aqui por agora. Eu vou subir para cama. Você vai acordá-los?” Eu perguntei, mencionando em direção aos meus sonolentos guardiões. “Certamente,” ele disse, dando palmadinhas no meu ombro, “e eu vou continuar observando até o amanhecer.” “Obrigada, Archie,” eu respondi e o abracei brevemente, me afastando antes que isso ficasse muito incômodo. Eu encontrei Devlin e Justine descendo o corredor. Ela estava vestida em seu azul profundo vestido de cortesã novamente, seu braço entrelaçado com o de Devlin e um olhar de promessa nos seus olhos enquanto ele a guiava em direção as escadas. “Foi tudo bem essa noite?” Devlin perguntou. “Você parece descansada.” “Fortuito,” eu respondi. “Todos nós adormecemos na biblioteca. Bem, exceto Archie. Ele ficou de guarda.” Devlin assentiu. “Montford está provavelmente se reparando das suas feridas essa noite. Ele provavelmente estará de volta amanhã à noite. Nós vamos sair e caçá-lo novamente então.” Eu franzi o cenho. “Eu não quero que vocês sejam mortos por minha causa. Eu não posso suportar isso.” “Minha querida,” ele sorriu, “nós já estamos mortos.” “Sim, e Michael vive me relembrando. Não ter vocês feridos é o que eu estou pedindo. Se ela é muito forte para se lutar, então voltem e nós vamos pensar em algo mais.” “Como o que?” Justine perguntou, um fraco condescendente sorriso no seu rosto. “Eu não sei. Olhe, eu sei que isso é o que vocês fazem e vocês devem ser muito bons nisso se vocês sobreviveram tanto tempo. Mas vocês três, vocês são uma família. Vocês dois estão tão apaixonados que vocês brilham completamente com isso. Se algo acontecer a qualquer um de vocês por minha causa...”
“Não se preocupe tanto,” Justine repreendeu. “Se tudo ficar ruim nós vamos retroceder para casa,” Devlin disse, “e Pendergrass e o seu menino podem levar você a algum lugar seguro assim que o sol nasça. Nossas opções são lutar ou fugir, como eu fui relembrado recentemente, nós somos lutadores primeiro e em primeiro lugar.” “Onde está Michael?” eu perguntei. Justine ondulou uma mão no ar. “Ele disse que tinha algo a fazer. Eu não sei.” “Oh,” eu disse, não gostando da lavagem de desapontamento que varreu por mim com o pensamento de que eu não fosse vê-lo essa noite. “Bem, eu estou indo para cama agora. Boa noite, e obrigada a vocês novamente por tudo.” Eu subi as escadas e caminhei descendo o corredor para o meu quarto. Pausando na minha porta, eu troquei o grosso livro de latim para um lado e coloquei a minha mão na maçaneta. Um frisson de antecipação correu através de mim e antes que eu sequer abrisse a porta eu sabia que o meu quarto não estava vazio. “O que você está fazendo aqui?” Eu perguntei, fechando a porta atrás de mim. Michael girou ao redor e se encostou com as costas no criado-mudo. Eu olhei para o que ele segurava, para a expressão em seu rosto, e meu coração derreteu. Em suas mãos estava um inestimável azul e branco vaso Ming26 da mesa do hall de entrada. Ele o encheu de terra e plantou as prímulas noturnas amarelas e brilhantes. Obviamente como o filho pobre do arrendatário, um jardineiro, um soldado, ele não percebeu o valor daquele vaso e que não era algo usado para plantar flores dentro. Eu sorri com isso e meu coração deu um pequeno tremular. Ele em pé ali, agarrando o vaso de flores, com seu olhar de vulnerabilidade, de incerteza e insegurança em seu rosto. Era o olhar que a maioria dos meus – futuros pretendentes tinham quando eles eram apresentados a minha mãe na sala de estar verde, flores na mão, pela manhã após um baile. Fez a minha respiração ficar presa 26
(vaso Ming –são os vasos referentes a dinastia Ming, que foi a dinastia que governou a China de 1368 a 1644. São os vasos mais caros do mundo, por serem muito raros e serem arduamente feito à mão.)
em minha garganta ao ver aquele olhar em alguém tão mortal, tão perigoso, e saber que eu era a causa disso. “Eu, um, você gostou de olhar as prímulas essa manhã. Eu pensei que talvez elas fossem durar mais tempo se elas estivessem dentro da casa onde é quente.” “Elas são adoráveis, obrigada,” eu disse, colocando o meu livro ao lado e pegando o vaso cuidadosamente das suas mãos. Eu o coloquei gentilmente na minha penteadeira. “Aqui. Dessa maneira elas obterão o sol da tarde através das janelas da varanda.” “Então, Sebastian foi ao chão para lamber as suas feridas?” “Sim, foi uma refrescante silenciosa noite.” “Bom. Nós vamos sair amanhã à noite e caçá-los novamente.” “Michael,” eu disse, agarrando seu braço, “prometa-me que você não vai fazer nada tolo.” “Claro, moça,” ele disse suavemente. “Prometa-me que você vai voltar todo em um pedaço.” “Eu não posso prometer isso e você sabe. Essa é uma luta até a morte. Alguém vai morrer e esperançosamente não será nós.” Eu envolvi meus braços em volta de mim. “Eu nunca tive que lutar por nada,” eu sussurrei. Ele estava quieto por um momento e depois disse, “Eu sei. E eu tive que lutar toda a minha vida.” Seus olhos estavam distantes; eu não podia ler nada neles. Era como se ele se retraísse em algum lugar profundamente nele mesmo que eu não pudesse tocar. “Eu devo ir,” ele disse, sua voz espessa com alguma emoção que eu não pude nomear. O que tinha acabado de acontecer? “Michael, não vá.”
Ele olhou para mim e sacudiu a sua cabeça. “Algumas vezes, moça, eu esqueço o que você é.” Dedos de gelo pareceram apertar o meu coração. “O que eu sou? O que isso significa?” “Você é a filha de um visconde e eu não sou nada além-” “Eu sei muito bem o que você é.” Ele sacudiu a sua cabeça. “Você não entende. Mesmo quando eu era humano, eu era nada mais do que um servente. Na noite passada e mais cedo essa tarde, eu não deveria ter beijado você e essa noite eu não deveria ter trazido flores a você como se eu fosse um homem capaz de cortejar você. Você tem as minhas desculpas; isso não acontecerá novamente.” “Oh sério?” eu perguntei, levantando uma sobrancelha para ele. Ele correu uma mão através do seu cabelo. “Quando eu estava vivo você teria sido tão distante sobre mim, tão intocável como a lua, mas agora...eu estou morto, Dulcie, você não pode entender isso?” “E você acha que eu não estou? Sem se importar com o que você pense, Devlin disse que essa besta não pode ser morta. Se é assim, então eu sou uma mulher zumbi, Michael. Você acha que eu gosto desse pensamento? Você acha que isso me traz alegria? Eu não quero morrer, Michael. Eu quero viver. Eu quero caminhar ao longo do Rio Sena em Paris; eu quero flutuar em uma gôndola nos canais de Veneza; eu quero fazer compras nos mercados de Marrocos; eu quero dançar no Palácio de Inverno em São Petersburgo,” eu disse, odiando a mim mesma pelo embaraço na minha voz e pelas lágrimas que eu senti brotando em meus olhos. “Eu não quero morrer, mas eu vou. Eu posso sentir isso como uma nuvem negra pairando sobre mim.” Eu caminhei até ele e corri minhas mãos subindo na frente da sua camisa, sentindo toda aquela pele e músculos embaixo das pontas dos meus dedos. “Nesse momento, a única coisa que me traz alegria é você. O que eu sinto, não é algo que eu tome levemente. Eu estive atraída ao todo por três homens em toda a minha vida, Michael. Você me faz queimar e se eu vou morrer, não me deixe morrer
virgem. Fique comigo essa noite,” eu sussurrei contra o afiado plano da sua bochecha. Um arrepio correu através dele. Suas mãos moveram-se subindo os meus braços para descansar nos meus ombros e eu pensei que ele fosse ceder. E então seus dedos se apertaram e ele se afastou de mim. “Você não vai morrer. Você vai viver e um dia quando você encontrar o homem certo e se casar você vai olhar para trás para essa noite e ficar agradecida que eu fui embora.” “Eu muito seriamente duvido disso,” eu comentei. Ele olhou para mim por um longo tempo, sem falar. Era como se lhe faltasse á vontade de virar e partir. Eu estava muito certa que se eu tentasse novamente eu podia derreter as suas reservas, mas no final eu decidi contra isso. Meu orgulho não me permitia ser rejeitada duas vezes na mesma noite. Então eu o deixei ir embora. Quando ele chegou na porta eu o chamei. “Michael?” Ele se virou. Eu apoiei um quadril no estribo da cama e cruzei meus braços embaixo dos meus seios, fazendo-os incharem convidativamente sobre o decote do meu vestido. “Você esteve certo sobre uma coisa. Eu sou a filha mimada de um visconde e eu estou muito acostumada a ter exatamente o que eu quero. Você faria muito bem em se lembrar disso.” Ele sorriu e inclinou a sua cabeça e então fechou a porta atrás dele quando ele partiu.
Capítulo
E
U FIQUEI EM PÉ NAS SOMBRAS DA ENTRADA DA PORTA da cozinha na noite seguinte e observei Fiona. Ela estava sussurrando e se movendo eficientemente ao redor da cozinha, preparando a ceia. Ela era tão jovem e cheia de vida. Se tudo viesse abaixo e eu tivesse que fazer uma escolha, eu poderia fazê-la? Eu poderia assisti-la envelhecer, assisti-la morrer? E mesmo se eu pudesse, o que seria de mim então? Eu iria com os Justos? Viajar o mundo lutando com o mau? Eu quase me sentei abaixo e gargalhei, ou chorei. Eu não era guerreira. Eu era uma debutante, a filha de um visconde, como Michael foi tão amável em me relembrar. Desde o berço eu não tinha esperado fazer nada mais bravo do que me casar bem e carregar crianças. Eu não queria uma tal vida como eles levavam. Não seria mais fácil acabar com isso agora? Se eu me tornasse uma deles não haveria morte fácil. Uma estaca através do coração, decapitação, fogo. Eu poderia terminar isso muito bem agora com um simples sorvo de uma poção. Porque eu não fazia isso? Se eu deixasse a oportunidade passar eu nunca a teria de volta. Seria a morte na mão da Destruidora ou a vida como morto-vivo. Seria tão fácil caminhar passando por Fiona e descer para dentro da dispensa. Eu conhecia as ervas; eu sabia o que tomar, o que me faria simplesmente cair no sono e nunca acordar. Eles poderiam me enterrar no Mosteiro Ravenworth próximo a
Mamãe e Papai. Eu poderia estar com eles. Eu poderia descansar. Então porque eu não tomava essa caminhada descendente para dentro da fria escura dispensa? Porque eu era uma Craven e eu era uma bruxa Macgregor, eu pensei comigo mesma com um suspiro cansado. Eu não era uma guerreira, verdade, mas eu também não poderia encarar os meus pais no mundo além e dizer que eu desisti da minha vida sem muito lutar. Então eu iria lutar. E eu iria morrer. Que assim seja. “Dulcie!” Fiona chamou, me localizando na entrada da porta. “Entre e me dê uma mão. Mamãe acha que eu consigo fazer costelas de porco e molho, mas eu não tenho certeza. Isso tem o gosto certo?” Eu peguei a colher dela e bravamente provei o molho. “Um pouco mais de sal e farinha, eu acho.” “Hmm,” ela disse, olhando para baixo com olhos estreitos como se um bom olhar iria dar consistência ao molho. “Sr. Pendergrass e Sr. Little estão ajudando Mamãe a mover todas as pesadas cortinas para as dependências onde os nossos amigos são provavelmente mais freqüentes durante o dia. Mamãe e os cavaleiros parecem confiantes nas minhas até então não experimentadas habilidades culinárias,” ela olhou para mim com suas características delicadas, seus cabelos castanhos lustrosos puxados para trás em um coque, farinha em cima dos seus cotovelos e manchando sua bochecha. “Eu não acho que eu fui feita para uma auxiliar de cozinha embora.” Ajudante de cozinha, de fato. Ela parecia mais como uma princesa de contos de fadas que foi despejada em um barril de farinha. Pobre Fiona. A dela não foi uma estrada fácil. Nenhuma servente nem aristocrata, mas pega em algum lugar no meio. Eu sorri para ela e dei palmadinhas no seu quadril quando eu passei. Eu suspirei, meu estômago estava em nós e eu não sabia se eu poderia comer de qualquer maneira. Devlin, Justine e Michael tinham saído há uma hora atrás para caçar Kali e Sebastian. Olhando o relógio não iria ajudar ninguém então eu poderia muito bem dar à Fiona uma mão com a ceia.
“Eu vou cortar os últimos morangos de estufa. Dessa maneira se você ferrar com as costelas de porco nós teremos ainda algo para comer.” Ela riu. “Dulcie! Linguagem!” ela disse em uma perfeita imitação da sua mãe. Eu estava na metade com os morangos quando eu ouvi um arranhar na janela da cozinha. Eu olhei para cima, meu pulso acelerando apenas um pouco, somente para ver uma pequena branca e cinza gatinha de celeiro sentada no parapeito, olhando para dentro. “Quem é?” Fiona perguntou, batendo o seu dedo contra o vidro. “É Priscilla, uma das gatinhas do celeiro,” eu disse. “Eu cometi o erro de trazêla para dentro duas tardes atrás e dei a ela um pouco de frango. Ela provavelmente acha que ela é uma gata domesticada agora.” “Ela muito bem poderia ser,” Fiona disse. “Olhe para todo aquele longo pêlo! Ela é muito bonita para ser uma gata de celeiro.” Fiona abriu a porta da cozinha e chamou pela gatinha. Prissy pulou para fora do parapeito e correu para a porta. Eu olhei de volta abaixo para os meus morangos. A gatinha rosnou. “Bem, qual é o problema com você? Entre aqui, agora,” Eu ouvi Fiona dizer e olhei para cima para vê-la se inclinar e tentar apanhar a gatinha. A gatinha não estava olhando para ela, mas para algum lugar a sua direita e o muito longo pêlo nas suas costas estava em pé no final. “Fi, não!” Eu gritei enquanto a sua cabeça e ombros ultrapassavam a entrada da porta, se inclinando abaixo para pegar a gatinha. Era muito tarde. Uma mão pálida de dedos longos patinou para fora do escuro e agarrou o seu pulso. Na hora em que eu corri ao redor da mesa, faca na mão, tropeçando sobre a aterrorizada gatinha que disparava para dentro, Sebastian segurou Fiona. Um braço segurou o seu pulso, suas costas no peito dele, uma pistola encravada contra a sua têmpora. “Eu estou cansado de jogar com você, Dulcinea,” ele disse friamente. “Venha para fora ou ela morre.”
Eu agarrei a faca firmemente a minha mão. “Eu vou para aí e você vai matá-la de qualquer maneira.” “Talvez,” ele disse, um lento, sorriso perverso estragando suas características bastante elegantes, “mas sério, minha querida, você não tem nada para barganhar.” “Eu não tenho?” Eu disse e pressionei uma faca embaixo dos meus seios. “Aperte esse gatilho e eu vou enfiar essa faca dentro do meu coração. Seu mestre vai ficar muito satisfeito com você se eu morrer, ela vai?” Seus olhos se estreitaram e algo como medo cintilou atrás deles. “Deixe-a ir e eu vou com você de bom grado.” “Não, Dulcie! Não!” Fiona chorou, lágrimas escorrendo no seu rosto. Sebastian me considerou por uma batida de coração e disse, “Ande a metade do caminho para mim e eu vou soltar a garota.” Eu fiz o que ele pediu e para a minha surpresa ele deixou Fiona ir, empurrando-a em minha direção. Ela correu para os meus braços e se agarrou a mim. “Agora,” Sebastian disse, a pistola apontada para Fiona e para mim, “ela entra e você vem até mim. Uma barganha é uma barganha. E Dulcinea, se você fizer um movimento em direção aquela porta eu vou atirar nela na cabeça.” “Entre,” eu disse a Fiona. Ela sacudiu a sua cabeça, lágrimas manchando o seu lindo rosto. “Dulcie,” ela sussurrou. “Eu não quis. Isso foi tudo minha culpa. Me desculpe.” “Não é sua culpa. Isso teria acontecido mais cedo ou mais tarde, você sabe disso,” eu disse. “Vá para dentro e tranque a porta, Fi, e fique longe das janelas. Viva para ver um outro amanhecer. Por mim.” Ela olhou para mim como se ela estivesse memorizando meu rosto. “Eu amo você,” ela disse. “Eu amo você também. E diga aos outros...” Eu não podia terminar, não iria dizer isso.
Ela assentiu e correu para a casa. Enquanto ela fechou a porta, um movimento atrás dela captou o meu olho. Aquele demônio de pequeno gatinho estava no balcão da cozinha, um olhar de pânico no seu rosto e uma roubada costela de porco apertada na sua boca. Eu não pude evitar, eu gargalhei. “Eu não seria tão rápida em rir se fosse você, jovem moça,” Sebastian disse detrás de mim. “Sua magia não vai salvá-la essa noite e todos os seus protetores se foram caçando e deixaram você completamente sozinha.” Não havia sentido em explicar uma gatinha para Sebastian, então eu deixei isso para lá. “O que você quer dizer sobre a minha magia?” Eu perguntei. “Abaixe a faca e eu vou lhe dizer,” ele disse, um olhar inquietante de triunfo em seu rosto. Eu arremessei a faca aos seus pés. A lâmina afundou profundo na terra com um satisfeito baque. Nós dois olhamos para ela. Os olhos de Sebastian ficaram um pouco largos quando eles encontraram os meus. Isso foi pura sorte; eu não poderia duplicar esse arremesso se eu fizesse cem vezes mais. Mas ele não precisava saber disso. Sebastian pareceu recolher-se. Ele enfiou a pistola no cós da sua calça. Pela primeira vez eu notei que ele não estava vestido em seu usual estilo impecável. Suas botas estavam sem polimento, seu paletó desabotoado. Ele não vestia colete ou gravata e sua camisa assentava aberta no pescoço. Eu olhei para ele de cima a baixo em minha melhor forma condescendente. “Dia difícil, Sebastian?” “Eu comi meu mordomo,” ele disse com um dar de ombros, “e é tão difícil encontrar bons ajudantes esses dias.” Ele me observou como se esperando a minha reação. Ele queria me chocar me aterrorizar. Eu empurrei abaixo a minha revulsão e dei a ele olhar brando. “Você disse algo sobre a minha magia?” Ele abriu a sua camisa na garganta. Em volta do seu pescoço pendia uma corrente de ouro e suspensa nela estava um intrincado disco feito de ouro. Os desenhos em volta do disco pareciam ser runas de algum tipo, mas eu estava muito
longe para dizer. No centro estava um grande rubi. Por todo o seu tamanho parecia ser uma peça feminina. E também cheirava a magia. “Minha mestra me deu um talismã. Sua magia não pode me prejudicar,” ele disse com triunfo em sua voz. Maldito seja. Ele podia estar mentindo, mas eu duvidava. Eu podia sentir a magia dentro da coisa. Isso iria me prejudicar se eu tentasse usar magia contra ele ou a minha magia não iria simplesmente funcionar? Eu pensei que o melhor era não descobrir a essa conjuntura. Se Sebastian tinha um talismã, isso significava que Kali não tinha. Talvez eu pudesse usar isso para a minha vantagem. Eu tentei parecer aborrecida e dei de ombros. “Eu quero acabar com isso, Sebastian, de um jeito ou de outro.” “Feliz por ao menos obrigar você, minha querida,” ele disse e pegou a pistola do cós da sua calça novamente. Apontando em direção a casa de madeira com um movimento do seu pulso ele disse duramente, “Agora, se mova.”
Capítulo
S
EBASTIAN ME SEGUIU ATRAVÉS DA MATA, DANDO direções aqui e ali, mas resistindo as minhas tentativas de atraí-lo para qualquer tipo de conversa. Tudo o que ele me disse era que a sua mestra iria revelar tudo na sua hora. Depois de cerca de vinte minutos o vestido de musselina branco com os remates lavanda estava ensopado com sereno, agarrando em minhas pernas no que eu estava certa ser uma forma obscena. Meus chinelos molhados faziam barulho de esguicho com cada passo e finalmente eu parei, esfregando as minhas mãos acima e abaixo nos meus braços nus em uma tentativa de me aquecer. “Assustada?” Sebastian zombou detrás de mim. Eu me virei, “Não, Sebastian, está frio aqui fora e eu não tenho um casaco. Uma vez você foi um cavalheiro e teria notado tais coisas.” Ele empurrou a pistola dentro do cós da sua calça novamente e com um dar de ombros tirou o seu paletó. Ele o estendeu para mim e eu pausei, relutante em pegar qualquer coisa de um homem que estava tentando me matar, ou ao menos, me escravizar. “Minhas desculpas,” ele murmurou e eu decidi que meu orgulho não valia o congelamento à morte. Eu me deslizei para dentro do paletó e Sebastian fez um sinal para eu seguir adiante novamente.
Não demorou muito para descobrir onde nós estávamos seguindo. Sebastian e eu, e mesmo Fiona, tínhamos vindo nesse caminho muitas vezes enquanto crianças. Eu pensei naquelas épocas felizes enquanto eu caminhava, dobrando as mangas do paletó enquanto eu ia. No canto sul-oeste da propriedade de Montford posicionava uma velha, ruína de mosteiro da Cisterciense27 do séc XIII. O monastério tinha gradualmente sucumbido à devastação do tempo depois de Henry VIII28 dissolver os monastérios em 1536. Agora a igreja era apenas uma concha, o teto tinha caído há séculos atrás, as coloridas janelas de vidro removidas quando o resto da construção foi saqueada das suas riquezas. Tudo que restou foram as quatro paredes de fora da igreja, pesadamente cobertas com hera vermelha e verde. Nós entramos através dos bocejantes arcos os quais tinham uma vez sidos as portas da frente. Grandes pedras se espalhavam onde elas tinham caído ao longo da grama a qual crescia dentro das ruínas. Tochas foram acessas em intervalos ao longo das paredes da nave, a luz que iluminava as janelas em arco do clerestório29 e desaparecendo dentro do escuro céu acima. O canto distante ainda retinha uma porção dos seus pisos de pedra, as paredes chamuscadas atrás dela indicavam que ela tinha sido usada como uma fogueira por posseiros ao longo dos séculos. Uma grande fogueira queimava ali agora. Pálidas, formas sombrias, talvez dez delas, estavam em pé em volta do perímetro da nave. Sebastian me cutucou e eu continuei. Enquanto eu passei uma das formas eu parei e olhei para ela. Era Peterson, o mordomo de Sebastian. “Peterson?” eu perguntei.
27
(Cisterciense –Ordem dos Cister é uma ordem monástica católica reformada. Tratava-se de um mosteiro reformado, como muitos de seu tempo, em que se procurava viver a vocação monástica de uma forma mais autêntica, sem compromissos com o mundo, seus negócios e interesses, buscando só a Deus na pobreza, no despojamento, no trabalho das próprias mãos, no silêncio e na oração. Os cistercienses seguiam a Regra de São Bento, escrito que reflete a sabedoria espiritual daquele que é considerado o patriarca dos monges do Ocidente e que viveu na Itália, no século VI. O pequeno núcleo de Cister desenvolveu-se rapidamente, chegando a ser uma grande influência na Igreja, pouco tempo depois de sua fundação. São Bernardo teve um relevante papel na expansão e difusão da Ordem e de sua espiritualidade no século XII.) 28 (Henry XII - 28 de junho de 1491 - 28 de Janeiro 1547- foi Rei de Inglaterra a partir de 21 de abril de 1509 até sua morte. Henry é conhecido por seu papel na separação da Igreja de Inglaterra da Igreja Católica. Henry lutou com Roma levou à separação da Igreja de Inglaterra da autoridade papal, à dissolução dos monastérios, e institui-se como Chefe Supremo da Igreja da Inglaterra.) 29 (nave –igreja/ clerestório –parede da igreja.)
A figura não se moveu, não fez muito além de piscar. Ele estava sujo, suas roupas desleixadas e podres. O cheiro de carne podre permanecendo no ar em volta dele. Eu me encolhi. “Ele é um vampiro?” eu perguntei. “Não,” Sebastian disse. “Nós não compartilhamos esse dom com qualquer um. Ele é um zumbi, não mais, não menos.” Isso era errado. Isso não era natural. “Como você fez isso, Sebastian?” Ele gargalhou. “O poder da minha mestra é grandioso, Dulciena. Venha, veja por você própria.” Ele me conduziu em direção à parede distante e eu não vi nada nas escuras sombras que cintilavam e dançavam pela luz do fogo. Eu me movi mais perto do fogo. Eu não sei se isso era um instinto antigo humano de se atrair mais perto da luz na ameaçadora escuridão ou o mero fato que meu vestido de musselina leve estava ensopado com névoa e orvalho, mas eu desesperadamente precisava desse calor. Eu coloquei minhas costas nas chamas e olhei expectante para Sebastian. O talismã de rubi em sua garganta brilhando na luz do fogo. Meus dedos coçavam para arrancar do seu pescoço. Eu coloquei minhas mãos atrás das minhas costas e apertei meus pulsos. “Bem?” Eu disse, com mais bravata do que eu sentia. “Nós temos a lua sob nossas cabeças, a névoa e a bruma, o cenário gótico, os assustadores homens mortos, um capanga do mal e uma trágica heroína. Agora, onda está a vilã?” Uma baixa, gargalhada gutural preencheu o ar e o cabelo das costas do meu pescoço subiu. Kali a Destruidora apareceu das sombras, parecendo tomar a forma de nada além da bruma e escuridão. Uma olhada nela e eu entendi porque ela se tornou um vampiro, porque ela gostava do corpo humano que ela tinha escolhido quando ela entrou nesse mundo. Ela era requintada. Seu cabelo estava repartido no meio e pendurado em linha reta de um véu preto azeviche até a sua cintura. Os músculos dos seus braços e ombros eram bemdefinidos, seus seios altos e cheios como se os milênios da gravidade não tivessem cobrado pedágio deles. Sua cintura era estreita, seu estômago liso, os músculos
torneados. Seus quadris luxuriantemente inchados, suas pernas eram longas e bem trabalhadas. Seus olhos, pretos e brilhantes, estavam escurecidos com Kohl, seus lábios um escuro vermelho sangue. Ela usava faixas de ouro marteladas na parte superior dos seus braços e pulsos e pequenas correntes douradas corriam dos braceletes para conectar com seus anéis nos dedos. Ela não vestia nada acima da cintura além de uma cortina de colares de ouro de comprimentos graduados. Minúsculos rubis estavam intercalados, parecendo como pequenas gotas de brilho de sangue em sua pele escura. Rubis sempre tinham sido a minha pedra preciosa favorita, mas eu não estava certa se eu alguma vez fosse olhar para eles da mesma maneira. Com cada gracioso passo as correntes oscilavam, expondo o moreno mamilo e então caindo de volta para cobrilo. Algo como um grande diamante piscou do seu umbigo. Sua saia de seda dourada montava abaixo nos seus quadris e brilhava com um vermelho furta-cor enquanto ela se movia. Ela tinha uma fenda em ambos os lados no meio da coxa, cintilando um vislumbre das suas torneadas pernas com cada passo. Seus pés estavam descalços exceto pelas tornozeleiras de ouro em cada tornozelo e um anel de dourado em um dedo do pé. “Humanos,” ela disse em um pesado sotaque Inglês enquanto ela andava em volta de mim, olhando-me de cima a baixo como se eu fosse uma égua para a compra ou possivelmente um lado de carne no açougue. “Vocês são tão impacientes. Mas então, eu imagino que isso é para ser perdoado; as suas vidas são muito curtas.” “O que você quer de mim?” eu perguntei. Sua mão disparou para fora e ela agarrou o meu queixo, unhas enfiando dentro da minha carne. “Eu sou Kali. Eu sou a Destruidora. Eu faço as perguntas, bruxa, não você.” “Ótimo,” eu disse entre dentes. “Eu tenho a noite toda. Você tem?” Ela gargalhou e me soltou. “Eu gosto do seu espírito. Será tão divertido quebrar você.” Ela correu suas pontas dos dedos ao longo das pálidas feridas roxas que Sebastian mordeu em meu pescoço. “E vocês humanos quebram tão facilmente.”
Eu estremeci. Boa, Dulcie, eu pensei, antagonizando o houri30 do mal. “O que eu quero de você? Eu vou direto ao ponto, então. Eu quero que você abra um portal para mim.” “O que?” “Um portal, uma porta mística entre mundos. Eu quero que você abra um para mim e invoque algo do meu mundo.” “Eu não saberia como funciona uma magia como essa,” eu disse verdadeiramente. “Eu tenho um feitiço,” ela disse. “Eu só preciso da bruxa para trabalhar nele.” “Porque eu? Há outras bruxas, bruxas mais poderosas.” “Outras, talvez, mas eu acho que nenhuma mais poderosa. Antes de eu despedaçar a garganta dele, o tolo padre que colocou esse feitiço de veiculação em mim, me disse que apenas a Bruxa Vermelha poderia me libertar desse domínio,” ela agarrou um punhado do meu cabelo, o qual eu não tinha incomodado em esconder com o meu glamour, e o segurou acima para a luz do fogo. “E essa, minha cara, é você.” Eu sacudi a minha cabeça. “Ele mentiu para você. Apenas aquele que colocou o feitiço pode removê-lo.” A sua mão estalou atravessando a minha bochecha com tal força que eu me encontrei espalhada no chão olhando acima para ela, seu rosto escuro com fúria. “Você não acha que eu sei disso?” ela gritou. “Eu não pedi a você para remover o feitiço. Você não escutou? Eu quero que você abra um portal e invoque a Coroa da Deusa Inkhara. Eu quero a minha coroa, bruxa, você entendeu?” Eu franzi o cenho, não entendendo tudo, mas eu assenti de qualquer modo. Kali girou ao redor, seus braços se ergueram aos céus e disse, “Com a minha coroa eu posso dobrar a estrutura do tempo. Eu posso corrigir todos os meus erros. Eu vou matar aquele cavaleiro e ter a minha Yasmeen de volta. Eu vou matar aqueles monges intrometidos antes deles poderem trabalhar as suas magias negras em mim. 30
(houri - Uma mulher voluptuosa sedutora.)
Eu vou invocar os guerreiros do meu povo e meu exército vai se estender sobre esse mundo, sugando a raça humana até secar e palitando seus dentes com os ossos deles.” Ela agachou-se na minha frente nas esferas dos seus pés, seus cotovelos descansando em seus joelhos. “Eu vou para casa com triunfo, Yasmeen ao meu lado, e serei adorada novamente enquanto uma deusa junto do meu povo. E você vai fazer isso acontecer.” Eu me arrastei aos meus pés, sacudindo minha cabeça violentamente. “Não, eu não vou. Não há nada que você possa fazer para me convencer a fazer isso.” “Oh eu acho que você está muito, muito errada sobre isso,” ela disse com um baixo assobio. Eu me apoiei para trás, colocando ela entre mim e o fogo. “Você acha que você e seus três protetores de outrora são os únicos em todos esses séculos que tentaram me impedir, tentaram me matar? Eles vieram um por um, algumas vezes exército por exército, às suas mortes. Eu tenho matado mais pessoas do que a fome e inundações combinados. Você vai fazer como eu desejo,” ela disse, sua figura delineada pelo brilho vermelho do fogo atrás dela, fazendo-a parecer verdadeiramente como o demônio que era ela. “Eu sou a Destruidora, criança. Eu tenho quebrado milhares mais fortes do que você. Eu tenho quebrado imperadores, guerreiros e homens santos aos seus joelhos diante de mim e cada um traiu suas famílias, seus países, até mesmo seus deuses para se inclinarem a minha vontade,” ela cuspiu, seus olhos brilhando vermelho do fogo e todo o seu corpo vibrando com o mau. Poder rolava para fora dela em ondas, cada palavra batendo em mim como alguma mão mística. “O que faz você pensar que você pode possivelmente ir contra mim, garotinha?” Nada. Querida Deusa, ela estava certa. Não havia forma de pará-la. Ela era poderosa e muito velha. Eu podia sentir o peso dos séculos pressionando contra mim como corpos quentes. Eu não podia ficar contra ela e sobreviver, ninguém podia. Ela se moveu em direção a mim e tudo em todo do meu ser gritou para que eu fugisse, para fazer qualquer coisa que eu pudesse para impedi-la de me tocar. Era um fútil pensamento. Entre ela e Sebastian e os zumbis eu não conseguiria alcançar
três metros. Ela agarrou os meus ombros gentilmente e me virou para encarar a porta aberta. Se inclinando ela sussurrou no meu ouvido, “Me diga o que você vê lá fora, o que você sente.” “Eu não posso ver nada além de sombras e as luzes das tochas,” eu disse, sem me incomodar em adicionar que eu não podia ouvir nada também sobre o bater do meu próprio coração. Ela riu contra o lado do meu pescoço. “Eu sempre me pergunto como vocês humanos sobreviveram enquanto uma espécie. Seus sentidos são quase inexistentes.” “Pura sorte?” eu disse em uma pequena, chocada voz. “Sem dúvida. Deixe eu lhe dizer o que eu sinto,” ela disse, sua mão roçando sobre o meu quadril, subindo e descendo, subindo e descendo. “Seus amigos estão perto. Eles são silenciosos. Eles acham que vão resgatar você. Isso não é tão...adorável?” Eu pude ver Sebastian do canto dos meus olhos. Sua cabeça estalou para cima e suas narinas se alargaram, uma mão se movendo para descansar na arma enfiada no cós da sua calça. Tanto para nós estúpidos humanos; o seu vampiro protégé não tinha ouvido eles também. “Porque nós não damos a eles um pequeno show?” ela ronronou, seus lábios trilhando sobre o ponto onde o meu sangue pulsava tão perto na superfície. Eu entrei em pânico. Eu me libertei dela e corri. Ela agarrou as costas do meu vestido e eu me lancei para frente, mal trazendo as minhas mãos para cima a tempo de impedir a minha queda. Antes que eu sequer pudesse prender meu fôlego eu estava sob minhas costas, Kali deitada completamente contra mim, me prendendo no chão. Com um alto rasgar de tecido ela rasgou o corpete do meu vestido abaixo no meio. Eu bati e a arranhei, mas seus dedos habilmente agarraram meus pulsos, acorrentando-os como algemas de aço. “Oh eu vou adorar provar você,” ela disse enquanto ela corria a sua língua lentamente de um lado ao outro do topo do meu seio, seu corpo pressionando
intimamente com o meu. Ela rolou seus olhos para cima e olhou para mim enquanto seus caninos se alongavam. Afiados dentes perfurando os meus seios, extraindo sangue das veias com sombras azuis. Eu gritei e chorei, incapaz de me mover, seus quadris se sacudindo para dentro dos meus enquanto ela gemia de prazer. Um grito, rouco de negação masculina soou de algum lugar atrás de mim. Eu estiquei o meu pescoço e virei a minha cabeça para ver Devlin, Justine e Michael entrando nas ruínas. A dor no rosto de Michael rasgou através de mim. Sua espada estava empenada e apenas a mão de Devlin o imobilizando o manteve de correr adiante para a sua morte. Kali sentou-se de volta em seus calcanhares. Ela colocou suas mãos na sua cabeça, olhos fechados, e gemeu suavemente. Seu rosto era uma máscara de prazer erótico. “Oh bruxa,” ela respirou como se a palavra fosse um carinho de um amante, “o poder do seu sangue faz tudo brilhar e soltar faíscas.” “Sai de cima de mim, piranha,” eu rosnei. Puxando os meus pés para fora debaixo dela e chutando com toda a minha força, atingindo no seu quadrado do esterno. Eu a peguei de surpresa e ela caiu para trás na grama. Arrastando-me aos meus pés, eu corri para Michael, mas antes que eu pudesse alcançá-lo um vento gelado soprou de nenhum lugar, me empurrando de volta. Michael tentou me alcançar, mas um chanfrado raio atingiu o chão aos seus pés e correu através da grama, parecendo afugentá-lo para trás. Eu me virei lentamente. Kali estava sentada de pernas cruzadas na grama, suas mãos descansando em seus joelhos nus, um sorriso que podia apenas ser chamado de doce em seus lábios cheios.
Ela podia convocar os elementos, eu pensei. “Sim,” ela disse, seu sorriso se alargando, “Eu posso.”
Eu congelei. Eu pensei que meu coração até mesmo perdeu uma batida. Oh não. Maldita seja, não. Tomar o meu sangue significava que ela agora podia entrar na minha mente, ler meus pensamentos? Ela era assim tão poderosa? Ela aplaudiu. “Muito bem. Nós normalmente temos que atravessar o calvário cansativo da negação. Quanta consideração a sua de pular essa parte.”
Baobh, eu pensei em Gaélico. Piranha. Ela levantou a sua cabeça para um lado. “Interessante. Eu não conheço essa linguagem, o que é?” ela perguntou, seu tom leve e interessado, como se nós estivéssemos sentadas tomando chá juntas e discutindo a última moda de chapéus. “É Gaélico,” eu respondi, “a linguagem da família da minha mãe.” Ela se levantou em um gracioso movimento como se puxada por cordas ocultas. “Você terá que me ensinar isso mais tarde. Agora, a noite diminui e há muito para ser feito,” ela estalou seus dedos e os sombrios, silenciosos sentinelas marcharam a vida. Então dez ou mais homens mortos que estavam tão quietos e imóveis que eu me esqueci que eles estavam ali. “Matem todos eles exceto a bruxa de cabelos vermelhos. Ela é minha.” Os homens mortos se moveram em direção a Michael, Devlin e Justine. Seus rostos estavam em branco; eles não tinham pensamentos, sem motivação, além da realização do comando da sua mestra. Ainda, eles não eram nada além de cadáveres ambulantes. Eu me perguntei se Kali realmente pensou que eles iriam ter sucesso contra os Justos. “Isso pouco importa para mim,” ela disse, facilmente lendo-me. “Eles são uma distração dispensável e eu não tenho desejo de lutar essa noite.” Ela olhou para mim de cima abaixo de uma maneira que fez a minha pele arrepiar. “Há tantas mais coisas prazerosas para prosseguir.” Se ou não os homens mortos fossem dar a eles uma boa luta era um ponto discutível. Eles tomaram a atenção dos meus salvadores da Destruidora, os três deles de costas um para o outro, espadas apontadas enquanto o inimigo se movia. Eu me virei de costas para Kali, mantendo todos os meus pensamentos em Gaélico.
“Você realmente não acha que eu vou deixar você me levar desse lugar, você acha?” eu perguntei. “Você realmente acha que você tem uma escolha, você acha?” ela zombou de mim. “Moça, eu acabei de apenas ter tudo de você que eu posso obter por uma noite. Você não é a única quem pode convocar os elementos. E você não tem o seu talismã.” Sua mão flutuou para a sua garganta e houve um momento de inquietação em seus olhos. Ela empurrou isso abaixo, seu rosto se tornando uma máscara de completa serenidade. Ela ergueu seus braços para longe dos seus lados, palmas acima. “Faça o seu pior,” ela disse. Eu propositalmente pensei sobre um raio na Inglaterra e no instante os seus olhos voltaram aos céus para encarar o desafio, eu reuni meu poder e o forcei para fora da dentro da noite. “Teine!” Fogo, eu convoquei em Gaélico. “Venha a mim!” Eu não sei o que ela viu na minha mente, mas ela virou a sua cabeça no último segundo enquanto o fogo da fogueira explodiu em chamas para o exterior como o hálito ardente de algum dragão irritado. Isso pegou na bainha da sua saia, fazendo a seda levantar em chamas e pegar fogo no seu longo cabelo no processo. Ela gritou e Sebastian correu para ela, lançando-a ao chão e tentando bater o fogo para fora. No minuto em que ele entrou em contato com ela as chamas pularam nele também. Eles estavam os dois se contorcendo no chão, gritando, queimando. Eu disparei adiante, agarrei a corrente ao redor do pescoço de Sebastian e puxei o talismã com um audível estalo. Era uma estúpida chance para se arriscar, mas de alguma forma eu sentia que isso era importante. Eu me virei para correr para Michael e recolhi em horror. Partes de corpos desarrumadas no chão, partes de corpos que ainda estavam se contorcendo e se movendo. Um cadáver decapitado se levantou e partiu para Michael, seus braços esticados para fora.
“Essas coisas não morrem, Devlin!” Michael gritou enquanto dois dos homens mortos disparavam para ele de uma vez. Devlin e Justine estavam oprimidos por cinco outros. Eu ergui uma das tochas para fora do chão e corri adiante. Eu enfiei a tocha com fogo nas costas de uma das camisas e a coisa começou a queimar. E isso ainda não parou. “Michael, o que eu faço?” eu gritei. “Fuja!” ele disse. “Volte para casa onde você está segura.” “Eu não vou deixar você.” “Mulher, faça como você disse!” ele estalou, sua espada separando um dos braços. Eu acendi o resto do corpo com fogo. “Não use esse tom comigo,” eu estalei de volta. “Eu estou tentando ajudar.” O primeiro corpo estava consumido em chamas. Ele vacilou, então caiu em seus joelhos. Eu observei em horror e fascinação enquanto ele caia adiante e deitava ali ardente em chamas, e mais importante, não se movendo. Tão rapidamente quanto eu pude eu atei fogo nos outros. Suas ordens eram para matar os vampiros, nenhum deles sequer alguma vez se virou para olhar para mim. Quando eles estavam todos imóveis e silenciosos e em partes carbonizadas no chão nós quatro nos levantamos e encaramos uns aos outros, o cheiro de carne queimada forte em nossas narinas. Michael foi o primeiro a se recuperar. “Nós precisamos tirar as suas cabeças,” ele disse, acenando para a escura pilha onde Kali e Sebastian estavam imóveis. Eles não estavam mais se queimando. Eu não sabia se isso era um bom sinal ou um mal. Michael seguiu adiante, sua espada engatada apertadamente em sua mão. Eu olhei para os corpos. Uma das mãos estendidas de Kali se retorceu e um tremor correu através da terra. Michael pausou e olhou atrás para mim. Meus olhos se alargaram com medo. “Corra,” eu sussurrei.
Ele apertou a sua mandíbula, um músculo tiquetaqueando em sua bochecha. Seus nódulos estavam brancos onde eles agarraram a sua espada. “Você nunca vai chegar perto o bastante,” eu gritei. “Corra!” O vento subiu, uivando pela clareira como uma legião de demônios enfurecidos. Ele nos perseguiu todo o caminho das três direções antes de nos pegar, galhos voando, folhas soprando acima nos nossos rostos. A chuva começou a seguir, arremessando-nos como milhares de minúsculas lâminas enquanto nós acelerávamos através da floresta. Um galho tão espesso quanto o meu pulso atingiu Devlin em sua têmpora. Ele tropeçou e nós corremos. Era como se a floresta estivesse atirando tudo que ela tinha em nossos rostos: nozes, sujeiras, folhas, cascas, galhos. Um raio rachou uma árvore na nossa frente, regando-nos com faíscas e escombros e a terra sacudiu com o trovão. Eu parei e cai em meus joelhos. “Chega!” Eu gritei, meus pulmões queimando. Eu estava tremendo com exaustão e medo. Sangue estava correndo abaixo no meu peito. Novamente. Eu tive o bastante. “Dulcie, vamos!” Michael gritou e se abaixou como se para me pegar. Eu levantei uma mão para impedi-lo, sacudindo a minha cabeça. Os três deles ficaram encarando abaixo para mim como se a minha mente tivesse finalmente estalado e eles não sabiam se me mimavam ou se lutavam comigo. Eu reuni meu poder ao meu redor como um escudo, o pouco dele que eu ainda podia sentir tão exausta como eu estava, foquei e gritei para a fúria, “Escutais também, elementos de vós, venha a mim! Terra e vento, fogo e mar! Calma seja a noite, acabe a luta! Pelas minhas palavras e pela minha vontade, vá em paz, a noite seja tranqüila!” Tudo parou por um instante. Galhos caíram do ar como se fossem largados por mãos invisíveis, folhas flutuaram de volta para a terra, nozes atingiram o chão com a dispersão de suaves estatelares. A floresta estava mortalmente, estranhamente quieta. Eu respirei um suspiro de profundo alívio e cai primeiro com o rosto nas folhas.
Capítulo
E
U ME TORNEI CONSCIENTE DE DUAS COISAS DE UMA VEZ. Uma, que eu estava deitada em alguma superfície suave, coberta com um cobertor e dois, que alguém perto de mim estava com dor. Eu mantive os meus olhos fechados, pensando que se nós fôssemos capturados então seria melhor que eles não soubessem que eu já estivesse acordada. Eu podia ouvir um baixo sussurrante barulho e intermitentes grunhidos masculinos de dor. Ocorreu a mim que se Kali tivesse nos levado ela poderia ler meus pensamentos de qualquer forma e saberia por agora que eu estava acordada. Eu rachei um olho aberto. Esse era o meu teto! Eu virei a minha cabeça para ver Michael deitado próximo a mim em cima das cobertas, braços dobrados atrás da sua cabeça e a pequena branca e cinza gatinha sentada no seu peito, amassando-o furiosamente com suas grandes, cabeludas patas. Eu ri e rolei de lado, observando-os. Ela tinha um muito alto ronronar para uma pequena gatinha. “A sua minúscula gata não tem inteligência,” ele disse. “Eu acho que Deus perguntou para ela se ela queria ser esperta ou bonita e ela escolheu bonita.” Eu gargalhei. “Porque você diz isso? Parece para mim que você é aquele sem inteligência, permitindo que ela o torture desse jeito.”
Ele gargalhou. “Não, eu quero dizer que animais sentem vampiros e eles não gostam de estar perto de nós. Eles sentem que algo está errado sobre nós. Sua gatinha aqui não parece ter cérebro suficiente quando ela encara algo perigoso.” “Bem, talvez sim. Eu imagino que ela é uma gata domesticada agora. Ela não parece se encaixar nos estábulos e certamente parece que ela se sente bastante em casa aqui.” “Qual é o seu nome?” “Gatinha Priscilla K.” “Um nome terrivelmente grande para tal coisinha minúscula.” Eu dei de ombros. “Ela pode ser Prissy para encurtar.” “Prissy,” ele disse suavemente e acariciou a sua pelagem. Havia um olhar de contentamento no seu rosto, como se isso fosse algo que ele apreciava e que ele não foi capaz de fazer por um tempo muito longo. “Eu acho que talvez ela não seja burra,” eu disse. “Talvez ela conheça você pelo que você é e goste de você de qualquer maneira. Eu gosto.” Eu adicionei suavemente. Ele olhou acima para mim e havia tanta tristeza em seus olhos, tristeza e algo mais. “Porque você olha pra mim com desconfiança?” eu perguntei. Ele suspirou. “Eu não quis, moça. Eu prometo. É que...” Eu estava quieta enquanto ele reunia seus pensamentos. “Depois de Devlin me transformar eu fiquei com ele e Justine por poucos meses. Eu aprendi a lidar com o que eu me tornei. Então veio Culloden. O exército de Bonnie Prince Charlie31 caiu e os ingleses invadiram o país, usando qualquer 31
(Charles Edward Louis John Casimir Silvester Severino Maria Stuart foi um pretendente ao trono da Inglaterra e Escócia (unidos desde 1707) e Irlanda. Charles foi juntamente com seu pai uma figura inspiradora do Jacobitismo. Charles liderou uma revolta militar a partir das highlands escocesas, que ele tinha conseguido alcançar por mar com ajuda dos franceses. Era a primeira vez que pisava o solo da Escócia. Charles conseguiu derrotar as forças fieis ao regime parlamentar. Suas tropas dirigiram-se depois para as cidades inglesas. Charles pretendia alcançar Londres e clamar o trono para seu pai (A Escócia e Inglaterra encontravam-se unidas desde 1707). Mas a sua sorte mudou quando
desculpa que eles podiam encontrar para assassinar os inocentes e os não-tãoinocentes. Eu me preocupei pela minha família e então eu fui para casa para protegê-los. Devlin me disse para eu não ir, ele me avisou mas eu não o ouvi.” “Oh, eles estavam felizes em me ver no início. Minha mãe chorou. Minhas irmãs tinham crescido como bonitas moças desde que eu as tinha visto pela última vez. Meu minúsculo irmão tinha acabado de completar seu décimo aniversário. Nós ficamos a noite toda acordados conversando sobre o que aconteceria agora que a guerra tinha sido perdida. Houve uma conversa sobre ir para a América, mas eles estavam tão pobres que eles teriam que se escravizar para a passagem. Eu não iria permitir que eles se vendessem a servidão. Eu disse a eles que eu encontraria um outro jeito. Apenas antes do amanhecer minha mãe me deu o seu quarto para que eu pudesse dormir depois da minha longa jornada. Eu arrastei as cortinas fechadas apertadamente e dormi. Ela entrou para me acordar próximo do pôr do sol, tinindo em como eu poderia dormir o dia todo enquanto ela puxava as cortinas abertas.” “E ela descobriu, o que tinha acontecido com você, o que você era?” Ele respirou fundo. “Sim,” ele disse suavemente. “Minha própria mãe me amaldiçoou de satanás e me atirou da minha própria casa.” “Oh, Michael, como ela pode?” Eu não podia imaginar minha própria mãe sequer fazendo isso comigo. Então novamente, eu tinha certeza que Michael não tinha imaginado isso também. Ele deu de ombros. “Seu filho estava morto. Ela pensou que eu era um demônio. Devlin me encontrou e eu tive que escutar o seu discurso eu-disse-isso-avocê cerca de uma dúzia de vezes. Eu fui devorado com tristeza e raiva. Eu me senti traído por eles em algum tipo de nível, mas eu ainda não iria deixá-los ali completamente sozinhos, desprotegidos.” “O que você fez?” “Devlin quis partir, Justine estava cansada da guerra e da Escócia em geral, mas eu não iria. Não importava que eles tivessem virado as suas costas para mim; eles eram a minha família. Então Devlin marchou descendo o sítio uma noite, fazendo a os ingleses reuniram tropas suficientes (que tinham estado ocupadas a combater na Flandres até então). As tropas de Charles acabaram por ser derrotadas na batalha de Culloden.)
sua melhor impressão de um lorde do século quatorze e deu a minha mãe dinheiro suficiente para ela e as crianças irem à América, comprar uma casa extravagante e viver como aristocratas pelos restos de suas vidas. Minha mãe era uma mulher teimosa e ela disse a ele que isso era dinheiro sangrento e ela não iria aceitá-lo.” “Ela recusou?” Ele assentiu. “Eu não sei o que Devlin disse a ela para mudar a sua cabeça, mas eu estou certo que é provavelmente algo que eu teria que socá-lo na mandíbula. Duas semanas mais tarde eu fiquei nas sombras de uma estalagem no cais e os observei embarcarem em um navio de passageiros fora de Inverness com destino á Carolina do Norte. Eles pareciam bem.” “E você foi embora com Devlin e Justine?” “Sim.” Nós ficamos em silêncio vários minutos, cada um de nós pensando em nossos próprios pensamentos. Sem impressionar que ele não confiasse levianamente se a sua própria mãe tinha virado as suas costas para ele. Eu podia trabalhar com isso, entretanto, agora que eu sabia. Eu só precisava de algum tempo. Eu decidi levar a conversa para qualquer outro lugar pelo momento. “Quando Devlin era humano, quem era ele? Qual era o seu título?” eu perguntei. Isso era algo que eu estive perguntando desde quando eu vi a insígnia do falcão na sua carruagem. “Ninguém sabe. Eu me espanto algumas vezes se ele sequer relembre do seu próprio nome.” “Seu próprio nome?” “Devlin é o nome que ele escolheu quando ele virou um vampiro. É comumente feito dentre a nossa espécie. Você nunca voltará á vida que alguma vez você teve, a pessoa que você uma vez foi, então você começa mais fresco uma nova existência e um novo nome. Justine fez o mesmo. Eu não sei o seu verdadeiro nome também.” “E qual é o seu?”
“Michael,” ele disse com um sorriso encabulado. “Devlin tomou uma simpatia por ele, disse que eu lutava como o Arcanjo Miguel.” “E o seu sobrenome?” “Macqueen.” “Michael Macqueen,” eu disse e deitei a minha cabeça no seu ombro. “Eu realmente deveria me levantar agora. O que os outros estão fazendo?” “Procurando por algum livro. Pendergrass estava todo excitado sobre aquela bugiganga que você roubou de Montford.” “Sério?” eu perguntei com um bocejo. “Eu deveria ajudar.” Ele colocou sua mão na minha cabeça, alisando o meu cabelo. “Você vai ficar exatamente aqui e descansar. Você me assustou até a morte quando você desmaiou na floresta.” “Você já está morto,” eu murmurei. “Você sabe o que eu quis dizer. Você foi magnífica essa noite, tão valente.” “Eu estava aterrorizada.” “Você ainda foi valente.” “Eu fiz você correr. Isso pareceu covarde, mas eu não posso me desculpar por isso. Eu sei que isso não é da sua natureza correr, Michael, mas eu não podia assisti-la destruir você.” Ele acariciou o meu cabelo. “Em toda situação você tem duas escolhas: você pode correr, ou você pode ficar e lutar. Correr nem sempre significa que você é um covarde não mais do que lutar sempre signifique que você é valente. Algumas vezes a coisa valente é correr e viver para lutar outro dia; qualquer tolo pode fazer um esforço e morrer. Você compreendeu o perigo melhor do que eu, e você tomou a decisão certa. Por causa disso nós estamos todos aqui, nós estamos todos em um pedaço e nós vivemos para lutar outro dia. Agora, a sua minúscula besta aqui se curvou e caiu no sono e eu quero que você faça o mesmo. Eu vou acordar você em algumas horas.”
Eu abri meus olhos e olhei para Prissy, soando adormecida no peito dele. Ela estava curvada em uma pequena bola com o seu nariz enterrado em sua orelha peluda. “Você sabe, Michael, parece que eu não sou muito mais esperta do que a minha gatinha. Eu não conduzi você para fora da minha casa, eu convoquei você a entrar nela.” Ele enrijeceu. “Moça, nós já tivemos essa discussão. Você é a filha de um visconde e eu cresci pobre na sujeira em um sítio com uma cabana de dois cômodos.” “Hmmm. E como você pode ver eu estou horrivelmente repulsiva com a idéia,” eu disse e me aconcheguei mais perto. “Agora não discuta mais comigo, apenas me abrace enquanto eu durmo.” “Sim, madame,”ele murmurou e beijou o topo da minha cabeça.
Capítulo
“Q
UEM MORREU?”EU PERGUNTEI ENQUANTO EU caminhei para a sala de jantar, poucas horas mais tarde, recémvestida em um vestido verde escuro. Os rostos que me cumprimentaram estavam sorrindo. “Dulcie, oh meu Deus,” Fiona chorou e se lançou para mim, quase derrubando Michael no processo. “Me desculpe. Me desculpe.” “Calma agora,” eu disse, dando palmadinhas nas suas costas enquanto eu a segurava comigo. “Eu estou bem, Fi. Não é sua culpa.” “Sim, foi sim. Eu fui tão estúpida.” “É o suficiente,” eu disse, dando a ela uma pequena sacudida. “Eu estou bem e nós temos mais informação agora do que nós tínhamos antes, então não se preocupe sobre isso.” Eu olhei para Sr. Pendergrass que estava sentado na mesa, o talismã de Kali diante dele. Seu rosto preocupado mais não ainda desesperado. “O que você pode me dizer sobre isso?” eu perguntei, acenando a minha cabeça para o grande rubi.
Limpando a sua garganta, ele levantou o pendente. “Bem, eu não posso dizer a você o que as runas significam, elas não são familiares a mim. Sebastian lhe disse para o que era isso?” “Ele disse que era de Kali e que iria protegê-lo da minha magia.” “Ele protegeu?” ele perguntou. Eu dei de ombros. “Eu não testei diretamente, mas isso não o impediu de pegar fogo, não.” “Hmmm. Bem, eu tenho boas notícias e más notícias.” “Boas notícias, primeiro.” eu disse. “Eu não tenho ouvido nenhuma delas por um tempo.” “A boa notícia é que nós agora temos alguma influência. Essa pedra parece como um rubi, mas não é. É uma pedra conjurada feita do sangue da própria Kali e, se o seu propósito é protegê-la contra magias, então provavelmente do sangue de uma bruxa poderosa também.” Ele olhou para mim e sorriu. Eu sacudi a minha cabeça. “Eu não entendo.” “É um efeito pessoal e que mais, é feito do seu próprio sangue. Pode ser usado para restringi-la.” “Um feitiço de veiculação? Você quer dizer que nós podemos restringi-la de fazer danos?” “Melhor ainda, você pode restringi-la a um lugar, digo, uma casa. Ou até melhor, com um pequeno remix de ingredientes nós podemos restringi-la a uma pedra ou a uma árvore ou algum outro objeto imóvel.” “Isso...isso não é exatamente magia branca, Sr. Pendergrass,” eu disse. “Não é exatamente magia negra...mais como uma magia cinza, eu diria.” Eu arqueei uma sobrancelha para ele e franzi meus lábios.
“Não fique cheia de melindres, Dulcinea,” Sr. Pendergrass disse em um tom prático. “Eu acho que exceções podem ser feitas para essa situação. Ou você sim permitiria que ela matasse a todos nós?” Eu vacilei com isso. “Não, eu imagino que você esteja certo. É apenas que o pensamento dela sendo presa pela eternidade...é bastante horrível. Eu não tenho certeza se eu poderia fazer isso. Não há outra maneira de trabalhar um feitiço o qual imobilize-a tempo o suficiente para apunhalá-la?” “Ela não é um vampiro comum, Dulcie,” Devlin interrompeu. “Eu não tenho certeza que a apunhalando fosse funcionar. Eu não estou inteiramente certo se ela pode ser morta assim. No último momento você irá simplesmente libertar a sua forma demoníaca e ela encontrará outro corpo para ocupar. Eu sei o que nós estamos pedindo a você é horrível, mas eu não vejo qualquer outra escolha.” “Tudo bem,” eu assenti. “O que o feitiço requer?” Sr. Pendergrass franziu o cenho. “Esse é o problema. Eu não me lembro exatamente e nós não podemos encontrar o livro. Eu sei que a sua mãe o tinha, eu o vendi a ela dois anos atrás, mas,” ele gesticulou para a mesa empilhada com livros, “isso é tudo e ele não está aqui.” “Ela provavelmente deixou na casa da cidade em Londres,” eu disse. “Nós não pudemos ainda transportar tudo depois da Pequena Temporada. Antes de nós ficarmos muito excitados sobre esse feitiço, entretanto, qual é a má notícia?” Sr. Pendergrass fez uma careta. “A má notícia é que você tem que se aproximar o bastante dela para trabalhar no feitiço.” “Quanto perto?” “Vários passos.” “Impossível,” eu disse. “Outro além do fato que ela é a coisa mais aterrorizante que eu alguma vez encontrei, nós temos um pequeno problema, agora que ela teve o meu sangue ela pode ler a minha mente à vontade,” eu disse, minha mão movendose inconscientemente para o ponto no meu seio onde ela tinha se alimentado de mim. Depois de apenas poucas horas as feridas estavam agora curadas, a pele tão
perfeita como ela sempre foi. “Mesmo se eu pudesse ficar perto assim dela a probabilidade de falha é especuladora.” “Eu ouvi que os mais antigos seriam capazes de fazer isso, mas eu pensei que isso fosse nada mais do que um truque de magia,” Devlin disse. “Você tem certeza que ela pode-” “Muita, muita certeza.” Eu respondi. “A única maneira que eu consegui convocar o fogo sem ela descobrir foi pensando em Gaélico. Agradecidamente ela não entendia Gaélico, mas eu não acho que eu posso manter isso tempo suficiente para trabalhar o feitiço e eu não sei se ela será enganada por isso novamente, de qualquer maneira.” “Então,” Archie disse, afundando-se na sua cadeira, “nós estamos de volta onde nós começamos.” Eu franzi o cenho. “Devlin, quando eu estava com ela eu estava aterrorizada, mas eu me lembrei de sentir mais assustada do que eu pensei que eu deveria estar. Eu me lembrei de sentir desespero, sentindo que ela era tão poderosa que eu deveria apenas me entregar a ela. Eu não acho que eles eram inteiramente os meus pensamentos. Você acha que isso é possível?” Ele assentiu. “Se ela realmente pode entrar na sua mente então eu diria que também é uma possibilidade que ela pode ter aumentado seus medos, projetando sensações de desespero.” “Você sente isso também?” eu perguntei. “Não. Truques de vampiros não funcionam em outros vampiros.”
E então, eu pensei, nós voltamos para onde nós começamos. Como um humano eu tinha pouco para não recorrer. Como um vampiro eu poderia chegar perto o suficiente para trabalhar no feitiço de veiculação nela. Ela não mais teria poder sobre mim. Eu teria que perguntar a Devlin, mas eu tinha muita certeza que a sua habilidade de ler a minha mente iria cessar se eu me tornasse um deles. Minhas opções estavam encolhendo. A coisa nobre a se fazer seria me matar, eu imagino, mas eu não queria morrer. Havia tantos lugares que eu queria ir, tantas coisas que eu queria fazer. Eu era
egoísta, eu sabia disso. Se eu lutasse com ela e falhasse, milhões de pessoas iriam morrer. Minha vida era um preço tão insignificante a se pagar para as vidas de cada alma na terra. Eu podia fugir, mas eu sabia que ela me seguiria. Eu vi a determinação, a maldade em seus olhos. Ela iria me caçar até eu estar muito velha e fraca e não mais fugir. Ela pensou que eu era a única que poderia dar a ela o que ela queria e nada iria impedi-la de me encontrar. Se ela me levasse como uma humana ela teria logo total poder sobre mim. Eu podia sentir o seu poder e eu sabia que ela possuía cada pensamento meu, cada movimento, se ela pudesse apenas me pegar e me manter. E se ela conseguisse, então a Deusa ajudasse a todos nós. Se eu me tornasse um vampiro...eu gargalhei para mim mesma. Eu ainda estava pensando se. Justine estava certa; a decisão era a mais difícil, a mais corajosa coisa que eu jamais fiz. Eu sentia uma profunda afinidade com ela nesse momento. Eu olhei para ela, tão serena e friamente bonita como sempre, e eu soube que ela sabia o que eu estava pensando. Ela pensou isso uma vez também. Eu não podia tomar o caminho mais fácil e deixar os meus amigos e familiares desprotegidos. Se eu me matasse e frustrasse os planos de Kali, sua vingança não conheceria limites. Eu estaria expedindo a todos eles um destino verdadeiramente pior do que a morte. Não. Não, eu seria corajosa. Eu iria ficar e lutar porque eu não tinha outra escolha. Eu levantei. “Sr. Pendergrass, eu acho que vale a tentativa e eu gostaria de dar uma olhada naquele livro. Eu acho que você e Archie deveriam partir pela manhã, leve Sra. Mackenzie e Fiona com vocês, e vão para Londres. O resto de nós irá seguir no cair da noite.” Sra. Mackenzie protestou, “Eu não quero deixar você aqui, Dulcie.” “Eu preciso mais de você em Londres, Sra. Mac. Você acha que os meus primos irão deixar Archie e Sr. Pendergrass entrar na casa e procurar através das coisas de minha mãe?” “Oh,” ela disse. “Claro.”
“Além disso,” eu disse. “Seria um mais eficiente uso de tempo para você pegar o livro e tê-lo para mim quando eu chegar ali amanhã á noite. Preste atenção em voltar com Sr. Pendergrass bem antes do pôr do sol, contudo. Eu acho que Kali e Sebastian estarão se resguardando por uns poucos dias enquanto eles curam as suas feridas, mas nós não podemos deixar de sermos muito cuidadosos.” “Eu fiquei muito orgulhoso de você por esse bocado de magia, Dulcinea,” Sr. Pendergrass disse. “O seu controle está melhorando.” “Convocar e soltar os elementos não é exatamente uma magia difícil, Sr. Pendergrass.” “Sim, mas você conseguiu fazer exatamente como você desejou sem percalços. Isso é um progresso; você deveria se orgulhar.” “Eu estou orgulhosa.” Eu suspirei. “Vamos apenas esperar que eu possa manter isso junto o bastante para fazer esse feitiço, se isso produzir a ser um plano factível, que seja. Porque, se eu alguma vez tive dúvidas, eu agora sei que nós nunca iremos abatê-la sem força bruta. Se nós vamos vencer, será através de trapaça e astúcia. Pode não ser tão honrável, mas muito francamente, eu não vou trocadilhar sobre honra a esse ponto. Kali tem mil anos de idade e ela nunca foi derrotada. Isso a fez arrogante. Se nós lutarmos com ela de frente nós vamos perder; nossa única esperança é que a sua arrogância e sua própria crença em sua força e imortalidade irão impedi-la de notar que nós nos erguemos até ser muito tarde.” “Dulcinea,” Sr. Pendregrass disse, “você nunca disse, Kali lhe disse o que ela queria de você?” “Sim,” eu disse suavemente. “O que?” Sete pares de olhos se viraram expectantes em minha direção. Ocorreu a mim que eu não tinha sequer dito a Michael. “Ela quer que eu a ajude a destruir o mundo.”
Capítulo
E
U ME SENTEI NA VARANDA DA COZINHA COM PRISCILLA no meu colo, observando o sol nascer no céu da manhã. O mundo era uma dúzia de tonalidades de rosa e dourado e azul. Archie estava abaixo no estábulo com os rapazes Harper, atrelando a carruagem. Fiona estava sussurrando na cozinha, embalando qualquer coisa que não iria ficar por alguns dias dentro de uma cesta de piquenique. Eu descansei o meu queixo no topo da cabeça de Prissy e me banhei no brilho frio dourado do meu último amanhecer. Eu nunca tinha sido uma pessoa matutina. Se eu alguma vez eu vi o sol nascer foi normalmente enquanto eu estava deslizando para fora de um vestido de baile e caindo na cama. Agora que eu nunca ficaria embaixo de outro amanhecer eu subitamente desejei que eu não tivesse perdido tantos deles. “Você tomou a sua decisão, não tomou?” Eu protegi meus olhos e olhei acima para Sr. Mackenzie. Ela se sentou próxima a mim na varanda. “É a única maneira. Você entende isso, não entende?” eu disse suavemente. Ela engoliu forte e assentiu. “Eu me sinto como se tivesse desapontado a sua mãe,” ela disse. “Era para eu lhe manter segura.”
Eu coloquei meu braço em volta da sua cintura e deitei a minha cabeça no seu ombro. “Ninguém poderia me proteger disso. Mamãe iria entender isso. Você tem sido como uma segunda mãe para mim toda a minha vida, Sra. Mac. Eu amo você e nada jamais vai mudar isso, não para mim de qualquer modo.” Nós sentamos dessa forma uns poucos minutos, observando o sol nascer, e então eu achei que eu tinha que perguntar, tinha que saber. Quando eu a visse em seguida ela ainda iria me amar? Ou eu estaria tão morta para ela quanto Michael estava para a sua mãe? “Sra. Mac, quando Michael foi para casa, para a sua família depois dele ser transformado em um vampiro sua mãe não levou isso muito bem. Quando ela percebeu o que ele era, ela o chamou de demônio e o ordenou para fora da sua casa.” “Pobre rapaz,” ela disse, sacudindo sua cabeça. “Bem, eu estava apenas me perguntando, quando isso for feito...” “Dulcinea Macgregor Craven!” ela assobiou. “Que você jamais pense tal coisa sobre mim! Meu Deus, garota, eu tenho cuidado de você desde antes de você até mesmo nascer. Como você pode pensar que eu sequer fosse parar de amar você? Você está para se sacrificar para salvar o resto de nós, e possivelmente todo o mundo, e você acha que eu vou barrar você da sua casa?” Eu olhei para longe, envergonhada que eu sequer pensei nisso. Sra. Mackenzie agarrou o meu rosto em suas mãos e me forçou a olhar para dentro dos seus adoráveis olhos verdes. “Revenworth é a sua casa e sempre será o seu lar. Você não acha que eu gostaria muito mais ter você andando e falando e flertando com o seu jovem homem do que deitada fria e morta em uma sepultura?” Eu dei de ombros. “Você é a filha de um vigário.” Ela bufou. “Se Deus contar isso como suicídio então eu terei uma palavra ou duas para dizer a Ele quando eu chegar ao paraíso, eu posso lhe garantir isso.”
Eu sorri. “Eu estou feliz que você está do nosso lado, Sra. Mac. E ele não é o meu jovem homem, não realmente.” Ela gargalhou. “Você não pode me enganar, senhorita. Eu não sou totalmente senil ainda. Eu me lembro como é olhar para um homem da maneira que você olha pra ele.” “Ele tem um problema com o fato de que nós somos de classes sociais diferentes.” “Ele é um vampiro, Dulcie. Ele não tem uma classe social.” “Você sabe o que eu quero dizer. Quando ele era vivo ele era um pobre jardineiro. Ele está sendo um terrível esnobe sobre toda essa coisa.” “O seu pai teria gostado dele,” Sra. Mackenzie disse. “Sério? Você acha que sim?” Ela assentiu. “Você deveria ter visto o olhar de dor no rosto dele quando ele entrou na noite passada, carregando você em seus braços, toda pálida e imóvel parecendo morta, ele latiu ordens na esquerda e na direita. O seu pai teria aprovado. Porque, depois de Fiona e eu termos tirado você do seu úmido vestido, o qual está totalmente arruinado a propósito, ele realmente teve a audácia de me ordenar para fora do seu quarto! Eu! Você acredita nisso?” “Eu me surpreendo que você o tenha deixado.” “Bem,” ela disse, “algumas vezes é conveniente deixar os homens pensarem que eles realmente estão no comando, mas nunca por extensos períodos de tempo, lembre-se você. Além disso,” ela disse com um piscar. “eu deixei a gatinha lá dentro. Nenhum homem pode fazer amor com uma gatinha no meio.” Eu gargalhei e corei furiosamente. “Dulcie, nós precisamos falar sobre, bem, coisas antes de eu partir?” “Coisas?” “Sim, você sabe, os tipos de coisas que acontecem entre um homem e uma mulher. Na cama,” ela corou. “Ou em qualquer outro lugar.”
“Oh. Não. Eu quero dizer, eu vivi na cidade na maior parte da minha vida. Eu acho que eu sei o rudimentar.” “Oh bom,” ela disse. “Você percebe, claro, que você não será capaz de se casar na igreja, mas eu espero inteiramente ao menos um handfasting32 antes de você ir a qualquer lugar com aquele patife.” “Casamento?” eu guinchei. “Sra. Mac, ninguém disse nada sobre casamento.” “Bem então é melhor ele ficar fora do seu burro e fazer algo. Eu percebo que quando você vai viver para sempre que certamente os costumes sociais não são mais realmente relevantes, mas o certo ainda é o certo. Seu pai, Deus descanse a sua alma, iria esperar que eu a visse para isso.” “Eu vou, uh, mencionar isso,” eu disse, “mas nós vamos fugir dos nossos propósitos. Nós ainda temos um mau para lutar e eu não tenho certeza se nós podemos vencer. Handfasting ou não pode ser um ponto discutível.” “Tenha alguma fé, Dulcie.” Sra. Mackenzie disse, olhando acima para dentro do céu oriental. “Kali pode ser forte, mas ela não tem um paraíso cheio de anjos olhando por ela. Você tem.” Eu olhei para cima. Eu certamente esperava que ela estivesse certa. Nós precisávamos de toda a ajuda que nós poderíamos ter.
32
(Handfasting é a expressão que usamos para a cerimônia do casamento wiccano(bruxo ou bruxa). Refere-se ao compromisso feito para unir suas vidas à vida dos Deuses através do enlace das mãos dos noivos, tornando-se assim uma alma só, ou seja, um Gêmeo. Ação que ilustra o fato de que esta cerimônia é feita habitualmente no dia de beltaine, o nosso sabbath que celebra a união do Sol e da Lua nas entranhas das florestas, derramando o poder da união, sobre as forças criadoras da Terra e da Natureza. Por este processo unem-se e cruzam-se as duas Polaridades Mágicas do Homem e da Mulher no voto ajuramentado de viverem como um só.)
Capítulo
E
U CAVALGUEI COM MISSY PARA FORA ATRAVÉS DAS clareiras preenchidas pelo sol e passando em córregos cintilantes. Se esse fosse ser o meu último dia no sol, eu tinha a intenção de curti-lo completamente. O dia estava quente para Outubro e não havia uma nuvem no céu. Eu mantive Missy fora nas sombras das árvores onde o ar tinha um pouco do frio do outono e a dirigi em direção a extensa grama a campo aberto que levava ao pequeno lago no centro da nossa propriedade. Quando eu alcancei o lago e me deslizei das costas de Missy e corri minhas mãos sobre sua pelagem branca, coçando suas orelhas enquanto eu retirava a rédea e a deixava pastar. Michael tinha sido inflexível que eu não saísse hoje. Ele fundamentou que, contudo Kali e Sebastian não pudessem andar no sol, que não significava que ela não tivesse o controle de um humano ou um dos seus zumbis que poderiam me levar enquanto eu cavalgasse sozinha. Devlin tinha argumentado que se Kali e Sebastian tivessem conseguido se abrigar antes do sol nascer eles estavam feridos e se curando e eu provavelmente estava segura o suficiente. Eu acho que ele entendeu que eu tomei a minha decisão e quis dizer adeus ao sol. Eu caminhei para a borda do lago e olhei sobre e água calma. Com uma emoção de perversa excitação eu escorreguei as minhas botas para fora e as guardei, minha vestimenta de montaria e camisa, e fiquei nua na margem. Eu sempre quis nadar nua. Eu podia ter escolhido uma melhor época do ano, eu imagino, mas não
havia ajuda para isso. Se eu alguma vez quis nadar nua embaixo o sol essa seria a minha última chance. Respirando fundo, eu entrei na água gelada. Era glorioso. E congelei. Eu rangi meus dentes e nadei ao centro do lago onde eu flutuei embaixo da pura luz dourada da tarde até eu não poder agüentar mais a água fria. Mas no momento em que eu subi de volta a margem meu dentes estavam batendo e meus dedos dos pés estavam bastante como uma adorável tonalidade de azul-arroxeado. Eu sentei no sol até minha pele secar e então eu deslizei de volta a minha vestimenta de montaria. Quando meu cabelo estava na sua maior parte seco eu peguei Missy e coloquei de volta a sua rédea. Encontrando uma tora caída, eu consegui subir de volta na sela. Nós caminhamos em um passo vagaroso de volta a casa, parando ocasionalmente para aproveitar a vista ou deixar Missy mordiscar alguma folhagem de escolha. Michael tinha dito que animais tinham um sexto sentido sobre vampiros e eu me perguntei se ela alguma vez iria me deixar ficar nas suas costas novamente depois dessa noite. Quando nós alcançamos o estábulo eu acenei para Charlie Harper de longe e desmontei e escovei Missy eu mesma. Deitando minha cabeça contra o seu sedoso pescoço eu fiquei ali por um longo tempo, respirando a sua essência. “Eu estou partindo para Londres por alguns dias,” eu disse a Charlie. “Cuide muito bem dela.” “Sim, senhorita, eu certamente irei,” ele disse, dando palmadinhas nela enquanto ele entrava na cocheira com um braço cheio de feno. “Ela é uma boa garota.” “É melhor você voltar para casa,” eu disse. “O sol vai se pôr logo. Houve mais algum problema na vila?” “Naw, senhorita, mas o magistrado ainda não pegou o demônio assassino então todos ainda estão se assegurando que eles estejam todos traçados firmemente em suas casas depois do escurecer.” “Provavelmente sábio,” eu respondi.
“Eu vou trazer alguns restos da taberna para os gatos até você chegar em casa, senhorita, mas eu não vi a pequena gatinha cinza e branca nas redondezas,” ele disse preocupadamente. “Ela aparentemente se moveu para dentro da grande casa por conta própria,” eu gargalhei. “Atualmente, ela se foi para Londres com uma elegante pequena cesta com Fiona essa manhã, mas eu aprecio que você esteja cuidando dos outros. Cuidese, Charlie.” “Sim senhorita, você faça o mesmo.” Não havia ninguém dentro da casa quando eu entrei. Pareceu tão anormalmente quieto sem o alvoroço de serventes ou ao menos sem Fiona sussurrando e cantando nos corredores. Eu fui para a sala de jantar e abri um pouco a porta. Justine tinha movido a mesa de novo e estava praticando, dessa vez com uma pequena espada que ela usava embainhada descendo a sua espinha. “Onde estão todos?” eu perguntei. “Devlin e Michael se fecharam na biblioteca logo após você partir e eu não os vi desde então.” Ela respondeu, sem nunca perder o passo. “Quando você estiver por aqui, você peça para Michael subir e me ver?” Ela parou e olhou para mim, uma combinação de orgulho e preocupação em seus olhos. “Você vai seguir adiante com isso?” “Que escolha eu tenho?” Ela sacudiu a sua cabeça tristemente. “Nenhuma. Você sabe que Michael ainda acha que ele pode de alguma maneira encontrar uma forma de lhe salvar.” Eu sorri, mas não havia alegria nisso. “Essa é a forma.” “E se ele não quiser fazer?” Eu gargalhei asperamente. “Você realmente acha que eu não posso persuadilo?” Ela sorriu. “Você certamente tem um pouco de cortesã em você depois de tudo, mon amie. Eu vou dar a você uma hora para se preparar.”
Eu assenti e fechei a porta.
Capítulo
Q
UANDO EU CHEGUEI NO MEU QUARTO EU TIREI A minha vestimenta de montaria e a úmida camisa. Sem Fiona ali para me ajudar a me vestir essa manhã eu deixei fora meu espartilho e apenas manejei metade dos botões nas costas da vestimenta, mas a jaqueta escondeu a verdade de forma cabal. Havia uma leve protuberância o qual não me fazia exatamente parecer como corcunda, mas se algum outro além de Charlie ou meus convidados tivessem me visto eu teria ficado mortificada. Eu me limpei com água limpa da bacia e então abri a jarra do meu favorito creme perfumado madressilva, lentamente trabalhando-o em cada centímetro da minha pele. Eu deixei o meu glamour cair e observei o meu cabelo sangrar do cobre ao carmesim e então o escovei até ele brilhar em espessas ondas descendo nas minhas costas. Deslizando-me para dentro do meu roupão, eu puxei a minha valise do topo do guarda-roupa e a enchi com o que eu iria precisar. Eu me perguntei se Justine fosse me levar para comprar algumas daquelas maravilhosas bermudas e botas como as que ela vestia quando nós fôssemos para Londres. O sol estava baixo no horizonte enquanto eu arrastava as pesadas cortinas fechadas sobre as janelas e então caminhava em direção a pequena varanda para fora
do meu quarto. Havia um nó no fundo do meu estômago. Eu poderia fazer isso? Eu poderia desistir de tudo o que eu era, tudo que eu quis ser? Eu olhei abaixo ao Jardim de Inverno. Eu costumava amar o cheiro das rosas, mas as rosas se foram. A essência de madressilva e jasmim preenchia o ar agora. Eu agarrei o parapeito de pedra da varanda e olhei para fora sobre os novos arbustos e flores que a minha magia tinha costurado. Meus olhos viajaram de uma a outra enquanto eu me inclinava mais sobre o parapeito. Com desabrochares noturnos, cada uma delas. Minha magia tinha criado um jardim vampiro. Meus joelhos quase cederam embaixo de mim. “Senhor e Senhora,” eu respirei. Se a magia estivesse escolhido meu caminho por mim ou se isso fosse um sinal, uma benção, da minha mãe eu não sabia. Talvez eu não estivesse desistindo do que eu teria que ser depois de tudo; talvez essa fosse á pessoa que eu quisesse ser. Eu olhei para cima ao céu. “Obrigada, Mamãe,” eu suspirei, e eu imaginei uma gentil brisa carregando as minhas palavras para ela no próximo mundo. O céu ocidental estava rosa com fofas nuvens douradas pendendo preguiçosamente acima do horizonte. Era um daqueles pôr-do-sol onde tudo, a grama, as árvores, mesmo Ravenworth por si mesmo, parecia estar colorido de rosa. Toda a minha vida eu usei chapéus e toucas contra o sol, empurrados na minha cabeça para que eu não me cobrisse de sardas no sol. Até essa tarde eu nunca tinha me sentado do lado de fora sem um chapéu de abas largas na minha cabeça e luvas nas minhas mãos. Agora eu abracei a minha última oportunidade. Depois dessa noite as sardas não seriam mais uma questão. Eu abri o roupão e o deixei deslizar para o chão. Em pé no crepúsculo rosa, gloriosamente nua e viva, eu ergui minhas mãos aos céus e exaltei o brilho do sol, o zumbido da terra ao meu redor, a batida do meu próprio coração. O sol aqueceu minha pele e eu lancei a minha cabeça para trás e fechei meus olhos, abrindo-me ao mundo a minha volta. Eu não sei quanto tempo eu fiquei ali, nem perto do longo o
suficiente, quando eu ouvi a porta do quarto se fechar suavemente atrás de mim. Eu me virei, vestida com o rosa pôr-do-sol e nada mais, e observei Michael andar atravessando o quarto. Se eu viver mil anos eu nunca me esquecerei do olhar do seu rosto nesse momento. Luxúria, desejo, ternura, uma feroz necessidade masculina de possuir, tudo passando através daquele rosto angelical. E, sim, talvez mesmo amor. Seus olhos azuis-acinzentados rastrearam sobre mim e me fizeram estremecer com expectativa. Ele seria gentil ou feroz? Eu me importaria enquanto eu pudesse senti-lo próximo a mim? O sol se pondo banhava a varanda e espalhava uma piscina de luz atravessando o chão do meu quarto. Ele parou poucos metros do sol mortal e estendeu a sua mão para mim. Um gesto tão simples, nenhuma palavra foi falada, mas significava tudo. Se eu fosse a ele eu iria me perder, tudo o que eu alguma vez soube que eu era. Se eu deitasse naquela cama com ele não seria eu que acordaria novamente, mas alguém novo, alguém diferente. Eu nunca seria exatamente quem eu era nesse momento. Ele levaria a minha inocência, e a minha vida. Eu olhei para aquele cinzelado rosto, e para aquela forte, mão com cicatrizes de batalha estendida para mim, e eu andei adiante. Parando na beira da luz, eu olhei para a sua mão. Ele estava tão imóvel que eu não estava sequer certa se ele estivesse respirando. Ele esperava que eu me virasse e fugisse? Eu estendi a minha mão, colocando-a na dele, e ele me puxou para fora do sol e para dentro das sombras. “Você tem certeza, moça?” ele perguntou, sua voz áspera com emoção. Eu me pressionei contra ele e o senti estremecer. “Eu não pareço segura?” eu ronronei. Ele agarrou meus quadris e me levantou, minha pernas envolvendo ao redor da sua cintura. Eu me abaixei e pressionei a minha boca na dele. Sua língua mergulhou para dentro e então ele estava caminhando em direção a cama, cada passo me movendo contra ele de uma deliciosa maneira, e nós caímos nos lençóis em um emaranhado de membros. Enquanto ele me beijava de novo e de novo meus dedos se moviam para desabotoar a sua camisa. Eu puxei o material do cós das suas bermudas e o empurrei
abaixo sobre seus ombros, precisando sentir a sua pele nua contra a minha. Seus lábios deslizavam como seda na minha mandíbula e no meu pescoço enquanto eu arqueava minhas costas e me pressionava contra ele, correndo minhas mãos sobre os apertados músculos das suas costas. Seus lábios pausaram brevemente no meu pescoço e então trilharam para baixo. Eu suguei o meu ar para dentro enquanto a sua língua deslizava sobre um mamilo. Arqueando embaixo dele, silenciosamente o implorando, eu fechei em punhos uma mão no seu cabelo. Sua boca se fechou sobre mim, puxando, o mais gentil cintilar de dentes, e minhas pernas levantaram em volta dele. Eu pude sentir a sua dura extensão contra mim e eu estremeci, meus membros tremendo. Sua boca viajava no vale entre meus seios; ele me beijou ali enquanto uma mão calejada se movia lentamente subindo a minha perna, sobre o meu quadril. Seus lábios se fecharam sobre meu outro mamilo, puxando levemente e então soltando, sua língua fazendo uma solitária passagem sobre o apertado cume antes dele puxálo rudemente para dentro da sua boca novamente. Eu lancei a minha cabeça para trás enquanto o seu peso equilibrava e sua mão se movia sobre a mais importante parte de mim, dedos enrolando nas minhas curvas. Pressionando-me novamente contra ele, eu chorei alto pelo seu toque, mas seus dedos levemente circularam-me, me provocando. “Michael,” eu implorei. “Por favor.” “O que você quer, moça?” “Eu não sei,” eu disse, minha cabeça debulhando para trás e para frente no travesseiro, “mas você sabe. Dê isso pra mim!” Seus dedos deslizaram dentro de mim e meus quadris sacudiram, um pequeno grito rasgou da minha garganta. “Oh Deus, você é tão quente,” ele gemeu contra meus lábios. Ele me moveu de lado e curvou o seu corpo atrás de mim, seus dedos constantemente movendo para dentro e fora em um delicioso ritmo que fazia o meu corpo fluir como mercúrio fundido em minhas veias. O seu outro braço veio em torno de mim, embalando o meu pescoço contra o seu ombro enquanto a sua mão livre alcançava e acariciava meus seios, para rolar os rígidos picos entre seus dedos.
Gemendo, eu coloquei a minha mão sobre a dele, sentindo seus dedos pressionando dentro de mim, e me balancei contra ele enquanto ele lentamente deslizava outro dedo para dentro. Eu afundei meus dentes dentro do seu bíceps para me impedir de gritar e cavalgando ferozmente nas ondas de prazer, alcançando, sempre alcançando algo que não era muito atingível. “Não, ainda não,” ele rosnou e deslizou seus dedos para fora de mim, a umidade deles traçando de um lado ao outro o meu estômago. Eu senti a cama se mover, tremer, e me virei para observá-lo se despir. Ele era magnífico. Ele era todo longo, magro com músculos e rígidos planos e ângulos. Sua virilidade erguida orgulhosa e aterrorizante. Eu suguei para dentro um fôlego. Ele tinha que estar brincando; não havia maneira que isso fosse funcionar. Eu estendi a minha mão para tocá-lo, meus dedos roçando na extensão da sua virilidade antes de eu fechar minha mão sobre ele. Eu estendi a minha outra mão e a coloquei próxima da primeira e ainda não podia envolvê-lo completamente. Ele estava tão duro quanto mármore e palpitando nas minhas mãos. Eu olhei para dentro dos seus olhos com uma grande incerteza. “Oh, vós é de pouca fé,” ele murmurou e me lançou de costas para a cama. Espreitando ao redor da cama ele parou no pé dela e olhou abaixo para mim. Meu cabelo espalhado sobre os travesseiros em uma piscina de ondas rubis, minha pele quase da mesma cor do creme dos lençóis. Eu ergui uma perna e tracei meus longos dedos sobre o meu joelho e descendo para dentro da minha coxa no que eu esperava que fosse uma forma provocativa. Ele rosnou e desceu na cama de quatro. Espreitando-me como o predador que ele era, ele se moveu com líquida graça para descansar entre as minhas coxas, seus olhos nunca nenhuma vez deixando o meu rosto. Sua respiração era quente nos meus cachos úmidos e eu gritei o seu nome enquanto a sua boca me cobria, quente e molhada e urgente. “Michael,” eu gemi. Certamente pessoas respeitáveis não faziam isso, mas eu não podia trazer-me o suficiente para pedir que ele parasse. Isso simplesmente sentia-se tão bom. “Dulcie,” ele sussurrou contra mim. Eu enrijeci.
“O que aconteceu?” ele perguntou, olhando acima para mim em confusão. “Minha mãe me chamava de Dulcie. Não parece certo de alguma forma ouvir isso de você enquanto você está fazendo...isso.” “Como eu deveria lhe chamar?” ele murmurou, e lambeu a minha fenda em uma longa acariciada. Eu estremeci. “Me dê um novo nome, Michael. Eu escolhi você. Você escolha meu nome.” “Dulcinea,” ele sussurrou e beijou a minha coxa. Ele olhou acima para mim e eu o observei enquanto ele se levantava sobre mim, suas mãos se movendo sobre os meus generosos quadris. “Cin33,” ele disse, “por Deus saber que você tem um corpo feito para isso.” “Cin,” eu repeti enquanto ele se pressionava contra mim. “Sim, eu gostei dele.” “Minha doce Cin, eu nem sequer comecei,” ele disse perversamente. A cabeça do seu eixo descansou contra mim e eu estava quente e molhada e ansiando. Eu abri minhas coxas e ele empurrou adiante, voltou, empurrou adiante, preenchendo e me esticando. Então ele agarrou minhas coxas e deslizou para casa em um profundo golpe. Dor lançou através de mim e eu me empurrei dele mas ele me segurou imóvel. “Shh, shh,” ele murmurou contra meus lábios e começou a se mover novamente. Longas lentas pancadas dentro e fora e logo a dor foi esquecida, uma bruma de luxúria me preencheu ao invés. Ele se puxava quase para fora de mim e então se movia de volta para dentro, apenas o suficiente para que eu sentisse a ponta de mármore dele na minha entrada, provocando, entrando e retraindo, mas nunca indo mais do que um centímetro ou dois. Eu estava insana com o querer, com necessidade, mas eu não sabia disso. Eu alisei as minhas unhas através de cada centímetro de pele que eu podia encontrar.
33
(Cin –ele fez uma mistura de Sin que significa pecado em inglês com o c de Dulcinea.)
“Como você quer isso, Cin?” “Mais forte,” eu gemi, e ele se moveu adiante. Ele se moveu para dentro de mim de novo e de novo. Não havia nada gentil sobre ele; ele era em todo o centímetro duro, dominante homem. E eu amava isso. Seus pulsos se enrolaram no meu cabelo, sua respiração tão forte e rápida quanto a minha própria. Eu enfiei minhas unhas nas suas costas enquanto eu sentia o mundo espiralando para fora de controle e impulsionando contra mim em ondas após ondas de quente escaldante prazer. Ele gritou e afundou seus dentes profundamente dentro do frenético batimento cardíaco que pulsava no meu pescoço. Eu gritei, sem saber se de prazer ou de dor, enquanto o meu corpo sofria espasmos e minhas pernas se apertavam em volta dele. A toda terra parecia sacudir embaixo de nós. Enquanto ele bebia de mim era como se, naqueles poucos brilhantes momentos, eu estivesse dentro dele. Eu podia sentir meu sangue fluindo para dentro dele. Eu podia cheirar meu perfume e sentir meu cabelo contra a sua pele. Mesmo enquanto eu o sentia dentro de mim eu podia me sentir o cercando, quente e pulsando com necessidade. Eu gritei novamente quando o prazer se lavava por mim pela segunda vez, deixando luzes brancas brilhantes dançando atrás dos meus cílios fechados. Ele estava ainda palpitando dentro de mim quando ele ergueu a sua cabeça, correu sua língua sobre as punções no meu pescoço, e em um rápido movimento nos rolou e assim eu fiquei espalhada em cima dele.
Capítulo
“O
QUE FOI ISSO?”EU PERGUNTEI, SABENDO instintivamente que o que tinha acontecido ali no final não era o curso normal das coisas.
Ele gargalhou suavemente. “Eu acho que é a nossa compensação por nunca ser capaz de andar no sol novamente.” “Era como se eu estivesse vendo o que você estava vendo e sentindo o que você sentia,” eu disse maravilhada. “Sim,” ele disse e estremeceu, correndo as suas mãos sobre as minhas costas. “Sempre existe uma extensão quando você bebe de alguém, porém é mais...intenso quando você faz isso enquanto faz amor.” “Será o mesmo depois de você me transformar? Ou isso só funciona com humanos?” “Oh, será ainda melhor depois. Mas sempre se lembre, entre dois vampiros o sangue é como uma droga ou um afrodisíaco. Apenas tome um pouco e somente para o prazer. Se você tomar mais do que poucos goles de sangue do corpo de outro vampiro isso irá fazer você terrivelmente mal.” “Eu suponho que você fez isso bastante,” eu sussurrei, não gostando de sentir a fúria do ciúme que varria por mim.
Ele se enrijeceu e então disse cuidadosamente, “O que você quer que eu diga a você, Cin? Eu tenho sido morto-vivo por setenta anos e eu não tenho sido um monge.” Eu enterrei o meu rosto no seu pescoço. “Claro que não,” eu respondi, me sentindo virginal e ridícula. “Olhe para mim,” ele disse e se sacudiu ao redor até ele estar nariz com nariz comigo. “Enquanto você me tiver, não haverá ninguém mais. Eu juro isso para você. Meu Deus, mulher, como se eu sequer pudesse pensar em qualquer outra mulher com você ao meu lado e na minha cama.” Eu sorri um sorriso de puro prazer feminino e deitei a minha cabeça no seu peito. “Eu sou muito pesada pra você?” eu perguntei. Ele rangeu. “Se mova e eu mordo você.” “Promessas, promessas,” eu ronronei e beijei a sua clavícula. “Michael.” “Hmmm?” “Eu não posso sentir os meus pés,” eu disse em uma sonolenta e despreocupada voz. A sua gargalhada estrondosa me respondeu. “Você estava planejando ir para algum lugar?” “Não,” eu disse. “Eu só pensei que você deveria saber.” “Então,” ele disse envolvendo seus braços ao meu redor, “o que você fez toda a tarde?” “Eu cavalguei Missy e eu...eu nadei pelada no lago.” “Eu não acredito em você. Isso é algo que você faz com freqüência?” ele provocou.
“Não, nunca seu infeliz. Eu só pensei que uma vez que isso era algo que eu sempre ansiei fazer secretamente e desde que eu só tinha mais uma tarde no sol então eu pensei que isso deveria ser feito, é tudo.” Ele ficou muito imóvel. “Você está determinada a fazer isso, então?” Eu suspirei. Abençoado seja ele por ainda querer me salvar, mas ele teria que superar isso e fazer o que deveria ser feito. “Você sabe que não há outro jeito.” Eu disse, correndo meus dedos de um lado ao outro do seu peito, levemente arranhando o seu mamilo. “Se você não for fazer isso então eu vou procurar o Devlin.” Ele agarrou o meu cabelo e me forçou a olhar para ele. “Nenhum outro homem vai deitar o dedo em você ou as presas em você, você me ouviu?” Um tremor de prazer me percorreu com a sua ferocidade, mas ainda havia dúvidas nublando os meus pensamentos. Havia questões sobre o futuro que ele e eu precisávamos resolver. “Você continua lutando com isso porque você não me quer com você? Eu sei que vocês três são como uma família e eu não quero me intrometer onde eu não sou bem quista. Eu quero dizer, eu poderia sempre ir-” A sua gargalhada me parou no meio da frase. “Bom Deus, moça, por setenta anos eu tenho viajado com Devlin e Justine, invejando-os pelo que eles tem juntos e querendo isso para mim. Eu apenas nunca pensei que quando eu encontrasse seria com alguém tão fina como você. É uma vida difícil essa que nós vivemos; eu só quero que você tenha certeza que eu sou quem você quer.” Eu respirei um suspiro de alívio e prazer. Ele me queria. Eu deitei a minha cabeça de volta para baixo. “Meu pai aprovaria você.” Ele bufou. “Eu duvido muito disso.” Colocando as minhas mãos no seu peito, eu me empurrei para cima então eu estava o escarranchando e olhei. “Ele iria. Sra. Mackenzie disse tão só essa manhã.”
“Eu não acredito em você.” ele falou com um sorriso. “Senhor, eu amaria pintar você assim.” “Nua?” eu perguntei, arqueando uma sobrancelha. “Não, é esse olhar altivo no seu rosto que eu estou atrás.” “Mas não nua?” Ele sacudiu a sua cabeça. “Não para esse quadro. Eu acho que eu gostaria de ver você parecendo, vestida em algo vermelho e sedoso e escandaloso. Aquele vestido que você estava usando quando nós nos vimos pela primeira vez, talvez.” Eu sorri e me estiquei em cima dele, revelando o perfeito encaixe dos nossos corpos. “Você pinta?” “Dê anos suficientes para praticar e você pode se tornar bom em qualquer coisa.” “Hmm, talvez eu finalmente vá dominar o piano, então.” Ele curvou uma sobrancelha para mim. “Todas as jovens moças de qualidade não tocam?” Eu fiz uma careta para ele e escondi o meu rosto atrás do meu cabelo caído. “Aparentemente não. Eu não pareço poder deixar a minha mão esquerda e a minha direita trabalharem independentemente uma da outra. É uma falha.” “Hmm, eu talvez possa mudar a minha opinião sobre isso, você sabe. Eu quero dizer, um vampiro que não pode tocar piano...que bom há nisso?” Eu ri e ele me agarrou firmemente a ele e nos rolou até ele estar olhando abaixo para mim. “Espere aqui enquanto eu acendo algumas velas. Eu quero ver você.” “Deixe-me fazer isso,” eu disse, não querendo perder a sensação de tê-lo sobre mim, dentro de mim. Eu fechei meus olhos e invoquei aquele lugar profundo dentro de mim onde a minha magia costumava descansar. Ela brotou em mim, me fazendo sentir tão viva
e fluida com poder. Eu imaginei as velas acendendo e em um instante mais tarde cada pavio no quarto estourou por diante em chamas e em seguida se estabeleceu a um brilho suave. “Você me surpreende,” ele disse suavemente e me beijou alto na minha bochecha. “Eu amo essas pequenas sardas.” “Não são sardas, são marcas de beleza.” “São sardas e são preciosas.” “Você vai ficar argumentando comigo toda a noite?” Ele rosnou. “O que mais você quer fazer?” Eu movi os meus quadris contra ele. “De novo, minha pequena libertina?” ele perguntou. “Nós podemos?” Eu o senti mexer e endurecer dentro de mim. Ele se abaixou e me beijou. “Michael, espere,” eu disse, minha mão no seu peito. “Primeiro me conte o que vai acontecer, quando você me transformar, o que é.” “Eu tenho que beber de você mais uma vez essa noite, logo, e então você deve beber de mim. Você vai simplesmente sentir como se estivesse caindo no sono, mas o seu corpo vai morrer e vai renascer.” “E então nós vamos ver se eu ainda tenho a minha magia ou não.” “Sim.” “Você fez isso antes? Transformar alguém, eu quero dizer.” “Não, mas Devlin me deu instruções muito específicas.” “Eu não quero terminar morta, morta, Michael.” “Não se preocupe então. Faça amor comigo, Cin, e me deixe tomar conta de você.”
Ele se arrancou para fora de mim quase inteiramente e então impulsionou adiante e eu estava perdida no êxtase. Algum tempo mais tarde quando o mundo partiu e caiu em estrelas cintilantes, ele mordeu o outro lado do meu pescoço, exatamente onde Sebastian tinha marcado. Dessa vez eu não senti dor, apenas o prazer branco-quente. O quarto girou preguiçosamente e eu percebi vagamente que eu estava fraca e tonta da perda de sangue. Eu parecia ver tudo como se eu estivesse em pé do lado de fora do meu corpo, olhando para baixo a um quadro. Michael empurrou o meu cabelo do meu pálido rosto e se levantou, remexendo na pilha de roupas descartadas até que ele encontrou a sua sgain dhu. O sgain dhu é uma adaga escocesa, usada enfiada dentro da bota ou no topo da meia do joelho. Michael tinha uma do tipo com uma grande pedra dourada, topázio ou âmbar eu imaginaria, cortada e ajustada na ponta do cabo. Era velha e gasta, a bainha de couro com arranhões e bem-vestida. Ele provavelmente esteve usando-a quando ele caiu em Falkirk. Ele me reuniu em seus braços, desembainhou a lâmina e cortou perpendicularmente a grande veia em seu pescoço. Sangue brotou, tão vermelho na sua pele pálida. “Beba,” ele disse, pressionou meus lábios na ferida. Sangue, quente e salgado, correu para dentro da minha boca. Eu engoli e engasguei e tentei me afastar. “Não,” ele disse pressionando o meu rosto contra a sua pele. “Se você não beber você vai morrer de verdade, Cin. Fique comigo. Beba.” Sangue lavava sobre a minha língua e eu engoli novamente. Quanto mais eu consumia, melhor o gosto ficava até eu estar agarrada a ele, minha boca fundida sobre a ferida. Alimentando-me, e eu me sentia bem. Eu me afastei, com repulsa pelo que eu tinha acabado de fazer. E me ajoelhei com minhas mãos e joelhos na cama, minha cabeça pendida para baixo, o quarto girando incontrolavelmente, e eu gemi. Michael me deitou de costas e escovou meu cabelo do meu rosto.
“Calma amor, eu vou ficar com você. Eu prometo que eu vou guardá-la enquanto você descansa. Durma bem, minha querida.” Ele acariciou o meu cabelo e falou, baixo e suavemente. Era como se eu estivesse ouvindo a sua baixa voz em um longo e escuro túnel, mais suave e mais suave, até eu dormir, ou morrer, me clamando e eu não mais ouvi. Eu deitei ali gelada e pálida e sem me mover com Michael debruçado sobre o meu corpo nu e sangrando.
Capítulo
O
QUE REALMENTE ME SURPREENDEU FOI QUE EU acordei afinal. Em algum nível eu realmente não tinha pensado que isso poderia funcionar. Mas se eu acordei e eu sabia que eu estava diferente. Eu deitei ali com meus olhos fechados, sentindo o meu corpo. Eu não sentia o meu batimento cardíaco. Eu não estava respirando e ainda eu não me sentia como se eu tivesse que respirar. Era estranho e assustador. Minha mente e corpo sentiam-se bastante vagos e desorientados, mas eu podia ouvir trechos de conversas a minha volta. “...a qualquer hora agora...” “Você acha que existem chances dela reter a sua magia?” “...não há como dizer...” Eu deitei ali como uma criança segurando o seu fôlego debaixo da água, esperando até que meus pulmões queimassem antes que eu finalmente desistisse e subisse a superfície. Eu esperei, mas a sensação nunca veio. Eu estava verdadeiramente tão imóvel quanto morta. Oh querida Deusa, eu estava realmente morta? Eu não estava dentro do meu corpo afinal? Entrando em pânico eu me sentei, agradecida que eu consegui me sentar, e draguei grandes pesados tragos de
ar. Não, eu não estava morta. Eu não estava morta, eu pensei uma vez atrás da outra, e o pânico se acalmou até que pude finalmente ver o que estava ao meu redor. Eu estava em algum grande, quarto vagamente aceso. Não havia janelas. Longas mesas preenchidas com jarras e livros enfileirados nas paredes e ervas pendiam do teto em tufos secos. A cama que eu estava deitada estava enfiada ordenadamente em um canto. Eu empurrei as minhas costas para esse canto e olhei para as pessoas que me cercavam. “Dulcinea. Cin, me escute,” disse um lindo homem loiro. “Você está bem, você me ouve? Você precisa de sangue e então a confusão irá embora.” Michael. Sim, Michael. Eu me lembrei dele. Ele fez isso comigo. Sangue. Sim, eu precisava de sangue. Eu olhei em volta, meus olhos sondando as pessoas que estavam olhando para mim. Vampiro, vampiro, homem idoso, uma mulher mais velha que olhou para mim com dor em seus olhos, uma garota jovem. Sim, ela serviria. Eu estendi a minha mão para a garota. “Venha,” eu disse e impulsionei o meu poder para fora. Meu corpo estava correndo com ele, queimando com a magia inexplorada. A garota fluiu através do ar para mim, aterrissando em uma flácida pilha no colchão perto de mim. A mulher gritou e os vampiros correram para mim. Eu arremessei uma mão em direção a eles e a magia os empurrou contra a parede. Agarrando a garota, eu virei o seu rosto acima para mim, expondo o seu pescoço. Ela olhou para mim com dor e descrença turvando o seu grande, líquido olhos verdes. “Dulcie?” ela sufocou em um soluço. Fiona. Eu me lembrei agora. Querida Deusa, o que eu estava fazendo? Eu a empurrei para longe de mim e me amontoei no canto, curvada em uma firme bola, a fome roendo por mim. O que eu tinha me tornado que eu quase machuquei Fiona? Eu não podia sequer pôr-me a olhar para a sua mãe. Era para eu ser forte, mas eu me sentia fraca; eu me sentia como um monstro. “Bem,” o velho homem, Sr. Pendergrass, disse, “ao menos nós sabemos que ela manteve a sua magia.”
Fiona chorou, “O que aconteceu com ela?” Michael veio até mim e esticou a sua mão. Um gesto tão familiar. “Venha, Cin, você deve tomar algum sangue.” “Sim,” eu disse em uma pequena, bastante assustada voz e peguei a sua mão. Ele me conduziu para longe da cama, uma mão segurando a minha, o outro braço envolto ao redor dos meus ombros. Eu olhei abaixo enquanto eu ouvi o ruído do tecido ao meu redor. Eles tinham me vestido em um dos meus vestidos de funeral, a renda preta cobrindo a adorável seda cinza. A ironia não foi perdida por mim. Michael parou no final distante de uma grande sala, com formato retangular. Uma pequena figura sentada em uma cadeira apoiada na escada. Era um menino. Eu dei um passo para trás. Alguém colocou suas mãos nas minhas costas e me deu um pequeno empurrão. “Continue,” disse uma profunda, grave voz atrás de mim, “ele foi enfeitiçado. Ele não vai sentir nenhuma coisa. Tome apenas um pouco para você se orientar e então nós vamos sair.” “Eu não gosto disso,” veio a desaprovadora voz de Sra. Mackenzie. “Depressa, mulher,” disse a voz atrás de mim, Devlin, e ele me empurrou gentilmente para frente novamente. Eu dei poucos passos e a criança virou seus olhos vazios para mim. Era o garoto de rua que tinha segurado Missy para mim no primeiro dia que eu tinha vindo ao Sr. Pendergrass procurando por ajuda. Eu tropecei para trás. “Não,” eu disse, sacudindo a minha cabeça. “Você precisa se alimentar,” Devlin disse e agarrou o meu braço. “Não!” Eu gritei e o empurrei. Ele tinha se esquecido, naquele pequeno momento, que eu não era mais humana e minha nova força o pegou fora de guarda. Ele tropeçou e eu corri para a porta. Michael me alcançou, mas eu o contornei e mergulhei através da porta aberta. Eu bati a porta enquanto eu passei por ela e então parei e me virei.
“Tranque,” eu disse, empurrando a minha vontade na pesada porta. Eu pude ouvi-los batendo nela enquanto eu fugia descendo as escadas. Isso não os seguraria por muito tempo. Eu percebi quando eu alcancei o patamar que eu estava no andar de cima da loja do Sr. Pendergrass. Eu empurrei abrindo a porta traseira da loja,corri para dentro do beco e continuei correndo, cega de onde eu estava indo, cega de tudo exceto da necessidade de ir embora. Sentia-se como se um estranho tivesse tomado conta do meu corpo, como se a pele que eu estava não fosse mais a minha. Eu precisava de algum espaço para pensar e respirar e sentir novamente. Eu esperava cansar rápido mais eu não me cansei. Parecia como se eu pudesse correr para sempre. Depois de um tempo eu percebi que nada mais pareceu familiar. Eu estava em uma pequena, escura rua, tavernas e casas pornográficas revestindo a avenida. Eu parei e coloquei minhas mãos contra a parede próxima, deixando a minha cabeça cair enquanto eu ficava ali e respirava. O que eu tinha feito? O que eu tinha me tornado? Quem eram eles que me ofereceram alguma pobre, criança indefesa como um lanche em cativeiro para mim? Eu sacudi minha cabeça. Virando, eu inclinei as minhas costas contra a parede e olhei pra o céu. Não havia estrelas, elas raramente sequer apareciam em Londres. “Hey agora, o que nós temos aqui?” disse uma voz desencarnada. Um homem andou para fora das sombras, suas roupas sujas e maltrapilhas sobre a sua barriga de cerveja. Sua cabeça era calva e uma completa, muito impressionante barba vermelha cobria o seu rosto. “Que uma senhora muito fina como você está fazendo aqui fora? Favelizando?” ele disse, agarrando a sua forquilha e se ajustando obscenamente. “Quer uma prova do velho Ned?” “Você deve estar brincando,” eu disse mais para mim mesma do que para ele. Meu primeiro instinto foi gritar e correr, mas eu não fiz. Mesmo se eu não conhecesse nada mais sobre mim eu sabia que eu não tinha nada que temer desse homem. Deixe-o vir. Ele cambaleou para mim e eu pude cheirar o gim barato nele há dez passos. Ele estendeu uma mão e eu a bati para longe.
“Não me toque,” eu estalei. “Ow, gosta disso rude, não gosta? O que você me diz se nos dá uma caminhada virando a esquina e você deixa o velho Ned ter uma prova.” Fome brotou dentro de mim novamente, batendo contra mim como uma escura, coisa veloz. Eu podia ouvir o seu batimento cardíaco; eu podia sentir o seu sangue movendo em suas veias. “Não,” eu disse, com um sorriso. “porque nós não damos uma caminhada virando a esquina e você me deixa ter uma prova?” Seus olhos se alargaram. Eu me virei e caminhei virando a esquina do prédio para dentro de um pequeno, cruel beco. Eu ouvi os passos de Ned batendo me seguindo. Eu senti um pequeno movimento atrás de mim e virei. Agarrando a sua mão enquanto ele a esticava para mim de novo, eu o arremessei contra a parede. “Jamais me toque,” eu disse. “Agora, você quer saber como é ter uma mulher como eu?” eu disse, gargalhando. Uma parte de mim ouviu a borda quase histérica da minha gargalhada, mas o resto de mim não se importou. Havia uma excitação e um pouco de medo em seus olhos. “Você não é o primeiro pedaço chique que vem aqui embaixo por um pouco de desordem.” “Oh, acredite em mim quando eu digo a você que você nunca conheceu alguém como eu. Agora, feche seus olhos.” “Pra que você possa enfiar uma faca na minha goela e levar a minha carteira? Eu acho que não, pedaço chique.” Eu dei de ombros. “Ótimo, tenha isso da sua forma. Você só tem uma coisa que vale o esforço de roubar de qualquer forma.” “Que é?” ele disse, me olhando suspeitosamente. Eu me inclinei em direção a ele. Ele fedia, mas eu podia cheirar o seu sangue bem abaixo da sua pele. Fome me apertou e eu senti meus dentes de esticando e afiando. Eu corri minha língua sobre eles, aprendendo a sensação deles na minha boca. Eu olhei acima para Ned.
“Seu sangue,” eu disse simplesmente. Ele se empurrou para trás. “Mas que raio de sangue?” ele chorou e tentou se empurrar passando por mim. Eu agarrei os seus ombros e o prendi na parede. A força que eu tinha era impressionante. Eu me sentia forte e poderosa. Eu me inclinei mais perto, Ned gritou e eu afundei meus dentes dentro do seu pescoço. Sangue derramou dentro da minha boca com cada frenética batida do seu coração. Eu engasguei no início, minha mente se rebelando com o pensamento de sangue dentro da minha boca, mas então o instinto tomou conta de mim e eu bebi profundamente do líquido acobreado. Vida, sua vida, derramando para dentro de mim. O sangue, eu percebi, alimentava qualquer que fosse a magia de criar um vampiro, qualquer que fosse a animação do seu corpo morto, e que magia misturava com a minha própria. Eu podia sentir ambos dentro de mim, rolando a minha volta como duas lontras elegantes brincando no rio. Eu podia sentir o medo de Ned, em algum lugar profundamente no seu interior, um pouco de excitação também. Eu tropecei para trás e ele caiu no chão diante de mim. Michael tinha dito que um vampiro não podia matar com uma mordida, mas eu desci a minha mão para verificar o pulso do homem de qualquer forma. Ele estava inconsciente, mas ainda definitivamente vivo. Eu o rolei de lado, pescando dentro dos seus bolsos, aparecendo com um sujo lenço de mão. Eu o envolvi ao redor do seu pescoço e atei sobre a ferida da mordida. “Aí,” eu disse, franzindo o cenho abaixo para ele, “talvez isso ensine você a não abordar jovens mulheres na rua.” Eu ri e me inclinei contra a parede oposta. “Minha nossa, homem, você deve ter gim puro através das suas veias!” Além da sensação um pouco bêbada, eu me sentia bem. Meus pensamentos não estavam mais fragmentados e eu não estava mais assustada. Eu virei a minha cabeça para trás e respirei fundo...e senti cheiro de sangue. Eu olhei para baixo ao homem dormindo no chão. Não, não era dele. Eu inalei novamente. Era mais distante e havia muito sangue. Lentamente eu desci o beco. A parede de tijolo de uma taverna na minha esquerda terminou com outro pequeno beco repleto de entulho. Havia um largo
armazém atrás da taverna, suas janelas pretas com pó de carvão. Eu andei com um pé silencioso para a janela mais próxima da porta e calmamente estendi a minha mão para esfregar um ponto limpo. Quando o pó não diminuiu eu percebi que não era sujeira; as janelas foram pintadas de preto. Não havia luz no beco e ainda eu podia ver tão claramente como se a lua estivesse cheia. Eu me movi silenciosamente para a porta e muito gentilmente agarrei a maçaneta. Ela abriu com as dobradiças bem lubrificadas, apenas um centímetro ou dois, e o cheiro de sangue fresco soprou do interior, atacando minhas narinas. O armazém era um largo, aberto prédio de dois andares e bem iluminado do lado de dentro com muitas lanternas. Nove vampiros homens estavam descansando nas redondezas em variados esfarrapados e descasados pedaços de mobílias. Outro vampiro, aparentemente mestre deles, sentado mais distante dos outros no que parecia ser um trono, uma perna pendurada sobre o pesado e esculpido braço da poltrona de madeira. Ele era pequeno e escuro, seu rosto bastante comum, mas forte e arrogante. Ele me lembrou um pouco de Napoleão, realmente. Caixas de transporte de madeira enfileiradas nas paredes exceto por um espaço em branco na porta aposta. Havia um homem caído de joelhos, seus braços retesados por correntes as quais estavam parafusadas na parede, seus pulsos acorrentados em carne-viva e sangrando. Sua cabeça estava pendurada para baixo, seu rosto estava obscuro pelas sombras, mas ele tinha que ser um homem mais velho pelo seu cabelo preto estar liberalmente estriado com cinza. Eu vi o fraco subir e descer da sua respiração. Qualquer que fosse a forma em que ele estivesse, ao menos ele estava vivo. Meu olhar viajou para trás do outro lado da sala e foi quando eu vi as garotas, que eu finalmente vi o que meu cérebro tinha se recusado a ver enquanto eu assimilava cada outro detalhe. Garotas, talvez meia dúzia delas, alastradas de um lado ao outro do chão como brinquedos esquecidos em um berçário infantil. Garotas mortas com suas gargantas rasgadas, seus olhos abertos olhando para o vazio. Eu me amordacei e me virei ao redor, correndo. No final do beco, passado o ainda dormindo Ned, eu bati em alguém. Fortes mãos curvaram em volta dos meus ombros.
Capítulo
“C
IN! CIN!” ELE GRITOU ENQUANTO EU LUTAVA CONTRA ele.
Michael, eu percebi e desabei contra ele.
“Michael,” eu disse, tentando capturar o meu fôlego, as imagens das garotas mortas preenchendo a minha cabeça. “Oh, Deus, Cin, me desculpe. Nós realmente arruinamos isso. Eu juro pra você que nós não nos alimentamos de crianças, mas Devlin não podia enfeitiçar um adulto por tanto tempo quanto ele podia com uma criança. Você precisava de sangue fresco e nós não tínhamos idéia quando você acordaria. Era previsto para ser apenas um pouco de sangue, Cin, apenas o suficiente para acalmar você para que nós pudéssemos levar-lhe e ensinar você a caçar. Eu juro a você que a criança não estava em qualquer angústia e ele não iria sentir nenhuma coisa ou sequer se lembrar que isso aconteceu. Você tem que acreditar em mim. Não era previsto que isso acontecesse dessa maneira, eu prometo a você, e eu estou arrependido como o inferno sobre isso.” “Obrigada, Michael, eu acredito em você e eu estou muito mais arrependida sobre tudo também, mas agora você tem que ficar quieto e me ouvir por um momento.”
Ele olhou para mim e suas sobrancelhas levantaram. “Você se alimentou.” Ele olhou sobre meu ombro para Ned. “Ele está bem?” “Ele está ótimo. Michael, me ouça,” eu disse, sacudindo-o gentilmente. “Garotas mortas, Michael, tantas garotas mortas.” Os olhos de Michael se alargaram. “O que você fez?” ele sussurrou. Eu o bati no ombro. “Não eu,” eu assobiei. “Vampiros. Descendo o beco no armazém à esquerda.” Ele permaneceu muito imóvel e inalou. Eu sabia que ele podia sentir o cheiro, também, do sangue. “Fique aqui,” ele disse. Eu agarrei a sua camisa. “Michael, não vá sozinho. Há muitos deles.” “Eu só vou dar uma olhada. Devlin e Justine estão atrás de mim. Fique aqui e espere por eles.” Ele andou para fora descendo o beco, seu andar a passos largos letais e perigosos. Memórias dele nu na minha cama flutuaram a minha volta. Eu suspirei. Restringindo-me ao fracasso que foi o meu despertar como vampiro, eu pensei que talvez essa tenha sido a melhor noite na minha vida. Não, isso não estava certo. Se eu estava em Londres essa deveria ser a noite seguinte. Eu estive “morta” todo o dia? Deitada como um cadáver no sótão do Sr. Pendregrass? Minha nossa, pobre Sra. Mackenzie e Fiona. Isso deve ter sido torturante. E então eu quase ataquei a pobre Fiona. Eu suspirei novamente. Eu teria que implorar ajoelhada pelo perdão por isso. Ela iria me perdoar, ou de agora em diante ela irá me olhar e vir um monstro? Passos soaram nos paralelepípedos do lado de fora do beco. Eu olhei acima para ver Deviln e Justine se aproximando. A longa capa de Justine rodopiando ao redor da sua camisa de seda preta, bermudas coloridas de castanho claro e botas altas até a coxa. Ela estendeu a mão para mim e agarrou os meus ombros, falando em uma grande quantidade de um rápido Francês e acariciando o meu cabelo como
uma criança. Ela produziu um lenço de mão das profundidades do seu casaco e enxugou algo, provavelmente sangue, do meu queixo. “Justine, Justine, eu estou bem,” eu disse, agarrando a sua mão. “Eu tropecei sobre um ninho de vampiros. Garotas mortas, um homem acorrentado na parede. Michael se foi para olhar.” Devlin olhou passando por mim descendo o beco. Michael ergueu a sua mão e gesticulou para ele. “Venha, amor,” ele disse, severamente. “Hora de ir trabalhar.” Justine assentiu. “Pauvre petite34,” ela disse para mim. “Nós vamos fazer tudo isso valer a pena pra você, eu prometo.” Eu assenti, esperando que isso a fosse fazer sentir melhor e parar de fazer estardalhaço sobre mim, e me virei para segui-los descendo o beco. Devlin parou e se virou para me olhar. “Fique aqui,” ele disse. “Eu não vou ficar,” eu respondi. “Eu não sou mais nenhuma humana inútil. Eu quero ir e ajudar.” Devlin olhou de mim para Ned, ainda inconsciente no interior do beco. “Não, você não é mais uma humana. Você está se sentindo forte e vigorada com poder, mas as coisas que nós vamos entrar ali para matar não são humanos também, Cin. Eles são apenas tão fortes quanto você é e você ainda não aprendeu a lutar.” Eu prendi o meu queixo para fora. “Eles são os meus vampiros, eu os encontrei, e eu vou com vocês.” Ele lançou suas mãos no ar. “Ótimo, mas fique fora do caminho e não consiga que te matem.” Nós encontramos Michael no final do quarteirão. Havia outros argumentos sobre eu ficar para trás, seguidos rapidamente pelo mesmo discurso fique-fora-docaminho-e-não-consiga-que-te-matem.
34
(pauvre petite –pobrezinha em Francês)
“Seis prostitutas mortas, um homem acorrentado, dez vampiros. Os vamps estão todos bêbados de sangue e convenientemente confiantes,” Michael disse com um piscar. Devlin sorriu, empurrando a porta abrindo e se encaminhando para o lado de dentro com uma arrogância de um lord. Michael e Justine o flanquearam e ficaram próximos a porta, com minhas costas na parede, eu observei. “Tsk, tsk, tsk,” ele disse, ajoelhando e fechando os olhos de uma das garotas mortas. O homem que me relembrou Napoleão se levantou, sua mão alcançando ao redor a espada de bastão sustentado contra o lado da sua cadeira semelhante a um trono. “Quem diabos é você?” ele estalou. “Você sabe, não sabe,” Devlin falou pausadamente, “que os anciões do Conselho Sombrio proibiram a matança de humanos?” Devlin se levantou lentamente e andou ao redor do corpo da garota morta. Com a fúria mal controlada, a sua profunda voz soou através do armazém, “Nós somos os Justos. Nós somos os defensores dos inocentes.” Justine pisou adiante, “Nós somos a mão da justiça.” Michael puxou a sua antiga espada escocesa da sua bainha. “Nós somos a espada da vingança.” Os olhos do mestre se alargaram em reconhecimento. Ele estalou seus dedos aos outros vampiros. “Matem-nos,” ele disse, mas eu vi o medo dentro dos seus olhos e eu notei que ele não fez nenhum movimento em direção a eles. Os nove outros vampiros pisaram adiante sob a ordem do seu mestre, cada um estendendo uma arma enquanto eles vinham. Eu observei com um horror fascinado como Devlin e Justine despachavam dois dos seus atacantes, as cabeças dos vampiros rolando ao chão com o primeiro golpe das suas espadas. Os outros vampiros pareciam ser mais habilidosos do que os dois primeiros e enquanto a batalha começou a sério os sons de metal tinindo soou através do prédio. Enquanto eu os observava lutando eu entendi porque o nome dos Justos tinha causado aqueles
flashes de medo de um lado ao outro do rosto do líder; eles eram certamente os objetos dos pesadelos dos Maus. A visão de Michael na batalha capturou toda a minha atenção. Eu sabia agora o que Devlin tinha visto naquela noite em Falkirk. Ele movia-se como uma sinfonia da morte. Cada passo era calculado e preciso; nenhum impulso da espada era perdido. Três dos vampiros estavam nele. Ele bloqueou um com a espada e seus punhos se fecharam e atingiram a mandíbula do vampiro. Michael rodopiou, seu pé pegando o vamp atravessando o lado da cabeça, levando a besta aos seus joelhos. Michael mergulhou a sua espada profundo dentro do coração do atacante e montou nele no chão. Ele puxou a espada livre, a lâmina com o corte para cima, pegando o próximo vampiro no estômago. O vamp ergueu a sua espada, mas quando ela caiu, Michael não estava mais ali. Mais rápido que os olhos pudessem segui-lo ele estava atrás do seu inimigo, a antiga grande espada escocesa caindo de um lado ao outro no pescoço do vampiro, separando a sua cabeça. Enquanto ele se virou para encarar o próximo homem eu notei que em todo o tempo um pequeno sorriso demorou nos seus lábios. Ele era bom com isso e ele desfrutava, desfrutava encarar um inimigo e o derrotando com nada mais do que a sua astúcia e seu aço. Ele nasceu para isso; seu ágil, letal corpo relativamente zumbindo com a emoção da batalha. Um movimento captou os meus olhos. O mestre estava se movendo em direção a porta, tentando escapar. Eu pensei sobre ficar onde eu estava e tentar impedi-lo, mas Devlin estava certo, eu ainda não sabia como lutar e se eu entrasse em problemas com o mestre a distração poderia causar a morte de um dos meus amigos. Eu me afastei da porta, ficando nas sombras e contornando a batalha na direção oposta. O homem acorrentado se moveu, balançando levemente. Eu imaginei que eu poderia ser útil e verificar o velho camarada, ver se eu pudesse libertá-lo. Eu rastejei passando os engradados de madeira enfileirados da parede, tentando ser tão discreta quanto possível, e ajoelhei diante do homem. Sua cabeça ainda pendendo para frente, seu cabelo caindo para cobrir seu rosto. Eu coloquei minhas mãos no seu cabelo e o puxei para trás. Ele era muito mais suave do que ele parecia, deslizando-se através dos meus dedos como seda. Eu arfei para o rosto que
olhou para mim . Eu pensei que ele fosse velho, por causa do cinza do seu cabelo, mas o seu rosto era novo, talvez dez anos mais velho do que eu. Ele era bonito, não uma beleza sobrenatural como Michael ou esmagadoramente masculino como Devlin, mas bonito contudo. Suas sobrancelhas eram escuras e seus olhos eram de um estranho formato e profundo âmbar. A completa repugnância que eu vi naqueles estranhos olhos coloridos me fizeram balançar para trás em meus calcanhares. “Não tenha medo,” eu disse. “Eu estou aqui pra te ajudar.” “Quem é você?” ele perguntou, sua voz áspera como se ele precisasse de água. Eu enquadrei meus ombros, “Os Justos.” Eu tive a impressão que o nome significou algo para ele enquanto o seu olhar viajou sobre mim da cabeça aos dedos dos pés em franca descrença. Ele olhou para fora em direção ao centro do armazém e o que ele viu ali deve tê-lo causado satisfação porque ele assentou e depois, com um tinir das correntes, apontou um longo dedo passando por mim. “A chave,” ele disse. Eu olhei sobre meu ombro e vi a grande chave prata pendente em um gancho na lateral do trono cravado do mestre. Eu corri atravessando o espaço aberto, agarrei a chave do gancho e corri de volta. Ajoelhando mais uma vez na frente do homem, eu abri os grilhões. Seus pulsos estavam em carne-viva e sangrando, a carne comida onde as algemas tinham irritado-o. Eu peguei as suas mãos com as minhas. “Nós precisamos levar você a um médico,” eu disse, olhando para as chanfradas, abertas feridas. “Me deixe ir,” o homem disse, puxando as suas mãos das minhas. “Não tenha medo, por favor, nós precisamos lhe conseguir alguma ajuda,” eu disse, alcançando novamente a sua mão. Talvez eu pudesse amarrar os seus pulsos com algum tecido limpo até que nós pudéssemos tirá-lo daqui. Seu rosto estava subitamente muito perto do meu. Um rosnado soou alto em sua garganta. Um honesto-pelos-deuses rosnado de um predador, como eu tinha ouvido de Michael na noite que eu o convoquei pela primeira vez. Quem quer que esse homem acorrentado fosse, ele não era humano. Nada humano alguma vez fez
aquele som. Meus olhos voaram para ele. Eu estava subitamente muito consciente do quanto perto eu estava dele, quanto vulnerável. “O que é você?” eu sussurrei. Ele não parecia como um vampiro para mim. “Eu sou algo que é melhor ser deixado sozinho,” ele rosnou, sua respiração quente na minha bochecha enquanto ele me empurrava para trás. Eu aterrissei em uma pilha esparramada e olhei acima para ver o homem pular três metros direto para cima e aterrissar no topo de uma pilha de caixas de transporte. Ele ergueu uma das grandes caixas e lançou-a quebrando através das janelas enegrecidas. Em um movimento fluido ele arqueou através do buraco chanfrado no vidro. Querida Deusa, o que eu tinha soltado? Um rugido de negação atravessou o prédio e eu me virei para ver o mestre olhando em uma miríade de descrença, frustração e raiva para a janela quebrada onde o homem acorrentado tinha desaparecido para dentro da noite. E então o seu olhar veio a repousar em mim. Fúria contornou as suas características enquanto ele agarrava o cabo da sua espada, puxando a lâmina livre e avançando e atravessando a sala em minha direção.
Oh maldição, eu pensei enquanto ele vinha para mim com olhos assassinos. Eu corri para trás em direção as caixas como se eu pudesse me derreter dentro de uma delas e ficar segura. Eu mantive meu olhar travado no do mestre, com medo de desviar o olhar, e ele avançou direto atrás de mim. Seus olhos finalmente deixando os meus enquanto ele se aproximou do local onde Michael estava lutando com dois vampiros. O trajeto do mestre desviou e ele deu alguns passos em direção a Michael, sua espada erguida. “Michael!” eu gritei. “Atrás de você!” Ao invés dele se virar, a cabeça de Michael subiu e ele olhou na direção da minha voz. A distração foi o bastante e a espada do mestre mergulhou dentro da barriga do meu amado. Michael olhou abaixo e então olhou acima para mim, confusão estragando as suas perfeitas feições, e então ele caiu de joelhos e se lançou para frente.
“Não!” eu gritei e arqueei em meus pés. Não, isso não podia estar acontecendo. Eu tinha acabado de encontrá-lo. Justine estava perto, somente poucos passos da minha direita e um dos capangas do mestre estavam entre nós. O vampiro com peito-de-barril viu a atenção dela vacilar quando eu gritei e ele ergueu a sua espada. Eu agarrei o seu pulso enquanto o seu braço atraia para trás para golpear e senti seus ossos estalarem e quebrarem embaixo dos meus dedos. Ele gritou e eu tomei a espada do seu membro apreendido. Oscilando-a em duas mãos eu separei a sua cabeça em uma limpa pancada. Eu nunca diminuí, apenas avancei ao mestre, meus olhos presos em seu rosto, vingança vibrando através de cada centímetro do meu ser. Ele estalou seus dedos para os dois vampiros que estiveram lutando com Michael e os homens vieram em minha direção. Eu segurei a minha mão para fora, poder e raiva fluindo através de mim, e o primeiro homem voou para trás como se eu o tivesse golpeado. Sua companhia se virou brevemente para olhar para trás ao homem caído e essa era toda a abertura que eu precisava. A lâmina cortou através do seu pescoço e eu pisei sobre o corpo, nunca quebrando o golpe, meu olhar ainda preso com o do mestre. O vampiro no chão tinha acabado de cambalear aos seus pés e eu enterrei a espada com o cabo profundo no seu coração enquanto eu passei por ele. Medo passou através dos olhos do mestre e ele deu um passo para trás. Eu sorri. Preso em sua covardia, seus olhos estreitos com ódio e ele avançou novamente, erguendo a espada manchada com o sangue de Michael diante dele. Ele gritou sem palavras e correu em minha direção, sua espada esticada na frente dele como um aríete. Eu parei. Erguendo uma mão eu chamei o meu poder para fora, dentro da noite, e a espada em sua mão explodiu em uma nuvem de pequenas mariposas prateadas de cinza. Seus olhos se alargaram assim como o seu ímpeto o impulsionava para frente. Eu agarrei sua cabeça enquanto ele batia em mim, pretendendo quebrar o seu pescoço. Eu desloquei a sua cabeça para um lado, mas minha raiva e minha nova força eram uma combinação poderosa e sua cabeça saiu do seu pescoço com um denso som de sucção de osso quebrado e carne molhada. Eu encarei em horror enquanto a pele murchava e desaparecia, como se
decompondo diante dos meus grandes olhos até eu não segurar nada além de um crânio com uns remendos de cabelo atados a pele seca. “Ugh,” eu grunhi e larguei a coisa perto do seu corpo já decomposto. Eu corri para onde Michael deitava em suas costas no chão frio, seus olhos arregalados direto para cima, uma mão pressionada ao buraco no seu estômago. Eu me lancei de um lado ao outro dele, chorando, minhas mãos e movendo sobre o seu rosto. “Michael, não,” eu chorei, “por favor, não. Eu acabei de lhe encontrar e eu acho que eu posso até mesmo amar você e você não pode morrer, você me ouviu? Você não pode morrer.” Devlin passeou e permaneceu encarando abaixo para nós. Seu pé com a bota chutou Michael nenhum pouco muito gentilmente no ombro. “Você vai ficar deitado a noite toda,” ele perguntou, “ou você vai tirar a pobre garota da sua miséria?” Michael olhou acima para ele e então virou a sua cabeça para sorrir para mim. “Oh, seu miserável!” Eu disse, e me empurrei para longe dele. “Eu pensei que aquele maldito homem tinha matado você.” Michael lutou para se sentar. “Leva um pouco mais do que uma espada atravessando a barriga para me matar agora, moça.” Ele se inclinou e colocou uma mão atrás da minha cabeça, arrastando-me para ele e sussurrou, “Mas eu estou lisonjeado que você se importe tanto e eu acho que eu posso até mesmo amar você também.” Uma emoção de excitação me atravessou enquanto ele me beijava. “É o suficiente disso,” Devlin resmungou. “Nós tivemos o suficiente de terremotos por uma semana.” Eu olhei acima para ele em confusão. “O que?” Michael riu. “Aparentemente não foi apenas a gente que sentiu a terra se mover na outra noite.”
Minha mão foi para a minha boca e eu me corei furiosamente. “Exatamente,” Devlin riu. “As pessoas devem ter sentido isso por quilômetros de distância. Você terá que conseguir controlar isso de alguma forma, não terá?” Eu gargalhei. “Sim, mas eu realmente não sei como eu vou abordar essa questão com a minha tia.” Michael grunhiu de dor e eu me levantei e o ajudei aos seus pés. Ele olhou abaixo para a ferida sangrando. “Maldito seja. Eu poderia passar outros setenta anos sem que isso acontecesse novamente.” “Me desculpe se eu o distraí,” eu disse. “Eu estava tentando ajudar.” Michael sacudiu a sua cabeça. “A última vez em que eu o vi ele estava seguindo para a porta. Porque ele voltaria quando ele poderia ter escapado?” “Isso foi minha culpa também,” eu disse timidamente. “Eu libertei o homem acorrentado e o mestre viu isso. Ele estava vindo para mim e você estava no caminho.” Eles todos se viraram para agora as correntes vazias. “Onde ele está?” Devlin disse. “Se foi,” eu disse. “Se foi? O que você quer dizer com se foi?” Eu gesticulei para a janela quebrada do segundo andar. “Se foi.” “Ele era um vampiro?” Justine perguntou. Eu dei de ombros. “Eu não penso que sim. Eu não sei o que ele era, além do que um rude e ingrato, mas eu não acho que ele era um de nós.” “Ele não é mais a nossa preocupação,” Devlin disse com um dar de ombros e então se virou para mim e pegou os meus ombros com suas grandes mãos. “Você foi muito bem essa noite. Com um pouco de treinamento você fará uma excelente guerreira.”
“Sério?” eu disse. Eu tinha a impressão que era um grande elogio vindo de Devlin. Michael empurrou para trás o meu cabelo solto sobre meu ombro. “Você foi magnífica.” Eu sorri para ele e então eu notei as linhas de tensão em volta dos seus olhos e boca. Eu olhei rapidamente para Devlin. “Ele vai ficar bem?” eu perguntei. “Ele precisa de sangue. Venha.” Não foi até nós alcançarmos o final do beco que eu pensei em perguntar, “O que nós vamos fazer sobre os corpos? Nós não podemos apenas deixá-los ali.” Devlin piscou para mim. “Observe.” Na esquina do prédio Justine parou e respirou fundo. Lágrimas brotaram em seus olhos e ela começou a gritar. Ela correu para a porta da taverna e a puxou abrindo, gritando, “Assassinato! Assassinato! Oh meu Deus, venham rápido! Por favor!” A taverna se esvaziou da sua clientela com aparência rude, de fato homens derramavam para fora de duas outras tavernas descendo a rua também. Justine os guiou para a esquina da taverna e apontou descendo o beco. “Corpos!” ela gritou. “Todo o armazém está repleto de corpos!” Os homens marcharam descendo o beco para investigar. Alguém parou para ajudar Ned aos seus pés. O rosto de bêbado estava cinzento enquanto ele tocava o seu pescoço, seus olhos disparando freneticamente em volta do beco. Devlin e Michael e eu nos movemos para trás nas sombras. Assim que ela foi capaz de deslizar para longe, Justine se uniu a nós. “Bom trabalho, meu doce,” Devlin disse. “Eu achei que meus gritos estavam particularmente bons essa noite,” ela sorriu acima para ele.
“Eu sempre adoro os seus gritos, chérie, Devlin murmurou enquanto ele beijava a sua têmpora.” Michael gesticulou para o beco, agora agrupado com pessoas. “Eles vão encontrar os corpos e buscar as autoridades.” Devlin assentiu. “E agora, meu amigo, nós precisamos encontrar um lugar um pouco mais sossegado e obter sangue fresco pra você.” Michael olhou para Justine. “Você a levará de volta para o Pendergrass?” “Mas eu quero ir com você, Michael,” eu protestei. “Deixe-me ajudá-lo.” Ele sacudiu a sua cabeça. “Eu não quero que você me veja assim, veja eu me alimentando. Ainda não. Você teve choques o suficiente por uma noite. Você não precisa ver o seu amado beber o sangue de alguém mais. Deixe Justine levar você de volta a loja. Eu vou estar bem e eu vou encontrar você de volta ali mais tarde. Além disso, Sr. Pendresgrass está ansioso para compartilhar o que ele esteve trabalhando com você.” Eu olhei para ele por um momento. “Você vai voltar a salvo para mim?” Ele beijou a minha testa. “Tem a minha palavra com isso.” Eu assenti e deixei Justine me guiar para longe.
Capítulo
E
U PERMANECI NA ENTRADA DA PORTA ABERTA DO grande sótão, sem janelas de Sr. Pendergrass. Fiona estava sentada na cama, seu queixo descansando em seus joelhos dobrados para cima. Eu olhei para ela e ela olhou de volta, confusão e desconfiança em seus olhos. “Fi,” eu disse, mas ela apenas piscou e não disse nada. Eu podia sentir as lágrimas brotarem profundo dentro de mim. “Oh Fi, você sabe que eu nunca machucaria você. Eu estava...eu não era eu mesma, mas eu estou melhor agora. Isso não irá acontecer novamente.” Eu olhei rapidamente para Justine e exigi, “Isso vai?” Ela sacudiu a sua cabeça e me deu um sorriso triste. “Non.” Eu atravessei o quarto e ajoelhei em frente de Fiona, a garota que eu conhecia toda a minha vida, que tinha sido como uma irmã para mim. Ela parecia tão jovem e inocente e eu subitamente me senti tão velha. Havia um abismo entre nós agora e nós nunca seríamos o mesmo novamente, mas talvez nós pudéssemos nos tornar algo a mais se ela pudesse apenas me perdoar. Ela balançou as suas pernas sobre a borda da cama e estendeu a mão para pegar a lágrima que rolou descendo a minha bochecha. Ela olhou para a umidade no seu dedo, sentindo-a como se assegurando que fosse real. Ela estava se perguntando se monstros choravam? “Noite difícil?” ela perguntou.
Eu engasguei em uma gargalhada e deitei a minha cabeça no seu colo e chorei. Eu sabia que eu precisava ser forte, mas eu peguei um momento para chorar, por assustá-la, por assustar a mim mesma uma dúzias de vezes essa noite, pela perda de tudo que eu tive e nunca mais teria novamente. Sra. Mackenzie veio e se sentou perto da sua filha. Ela pegou a minha mão gentilmente na dela e eu chorei mais forte. As pesadas pisadas de um homem correndo ecoaram subindo as escadas. Eu olhei para cima, e olhei para Justine. Ela descansava o seu quadril apoiado contra uma das mesas parecendo vastamente despreocupada. Archie apareceu na entrada da porta. “Eu perdi algo?” ele perguntou, olhando para nós três para Justine e para Sr. Pendergrass. Nós todos silenciosamente olhamos uns para os outros, ninguém sabendo muito como responder a pergunta, e então Fiona começou a gargalhar. Sua gargalhada foi contagiosa e logo nós todos nos unimos a ela. Pobre Archie foi deixado em pé na entrada da porta, olhando para nós como se nós todos fôssemos malucos. “Onde você esteve?” Eu perguntei. De repente me ocorreu que ele não estava aqui mais cedo. Ele corou e olhou para os seus pés. “Kitty voltou da casa da sua mãe essa tarde.” Eu sorri para ele. “Você deveria ir pra casa e ficar com ela.” “Bem, eu não posso me demorar. Eu disse a ela que eu precisava aparecer e verificar o Sr. Pendergrass uma vez que ele estava ficando muito débil em sua idade senil,” Archie disse com um piscar. Sr. Pendergrass bufou. “Olhe o que você diz, menino.” “Você já disse a ela?” Archie disse a Sr. Pendergrass. “Disse-me o que?” eu perguntei.
“Não, eu não disse. Eu não tive tempo, mas agora que estão todos aqui...” ele olhou ao redor do quarto. “Onde estão Devlin e Michael?” “Oh,” eu disse, “nós deparamos com um pouco de problema, nada haver com Kali ou Sebastian, mas Michael se feriu. Ele vai ficar bem, mas eles dois voltarão um pouco mais tarde.” Fiona acariciou a minha mão e eu sorri com o gesto. “Bem,” Sr. Pendergrass disse com um dar de ombros, “eu imagino que não há sentido em esperar, nada que eles dois já não soubessem. Conte a ela Sra. Mackenzie.” Eu olhei acima para Sra. Mac, confusa. Ela sacudiu a sua cabeça. “Nós não conseguimos encontrar o livro.” “O que você quer dizer? Não está em Ravenworth então tem que estar na casa da cidade em algum lugar.” “Nós gastamos os últimos três dias arrumando todos os objetos pessoais da sua mãe e do seu pai, e os seus também, mas aquele livro não está ali.” “Três dias?” eu gritei, me virando para Justine. “Eu estive morta por três dias?” Ela deu de ombros de uma forma Francesa. “Michael não lhe contou que levaria três noites para você se erguer?” “Não, parece que ele pulou essa parte. Então novamente,” eu disse, mastigando o meu lábio, “eu nunca realmente perguntei. Mas Sra. Mac, o livro tem que estar ali. Mamãe nunca vendeu um livro em sua vida. Sr. Pendergrass, como ele se parece, exatamente?” “Cerca de muito grande, uma encadernação de couro vermelho, nenhum título na capa. É um Livro das Sombras de cem anos de idade pertencente a uma bruxa de Lewis. Está escrito em Gaélico o qual foi porque eu achei que a sua mãe pudesse se interessar nele.” Eu sacudi a minha cabeça. “Não é um dos que eu me lembre. Se ele não está na casa da cidade então ou outro único lugar em que ele pode estar é na Escócia no
Glen Gregor35 com Tia Maggie, e nesse caso nós estamos com grandes problemas,” eu suspirei e esfreguei a ponte do meu nariz. “Sr. Pendergrass, o que você descobriu sobre o talismã?” “Ah,” ele disse, se virando a uma das suas muitas mesas, “Eu o tenho purificado também enquanto eu sou capaz, mas considerando o que ele é, sempre terá energias negativas atadas a ele. Magia com sangue é um mau negócio, de fato.” Ele puxou para fora uma pequena, preta bolsa de couro o qual continha o colar, o couro agindo como uma barreira para impedi-lo de coletar as energias ao seu redor. Ele também puxou para fora outras pequenas bolsas e as colocou próximo ao talismã. “Esses são os muitos dos ingredientes do feitiço que eu posso me lembrar, mas eu devo estar me esquecendo ao menos de três ou quatro. O ingrediente adicional o qual deveria atá-la a um objeto da sua escolha está aqui também.” “O que você está usando que não é do feitiço original?” eu perguntei. “Eu acho que é melhor que você não saiba,” ele respondeu. “Eu tenho que saber, por outro lado como eu vou saber quanto usar no feitiço?” Ele ergueu uma sacola de tecido vermelho. “Uma pitada,” ele disse e ergueu uma sacola azul. “Duas pitadas desse. O resto está listado no livro de feitiços.” Eu não argumentei com ele. Eu provavelmente realmente não queria saber o que estava nessas sacolas. Eu passeei e pesei as bolsas individualmente, olhando sobre os conteúdos da mesa de trabalho do Sr. Pendregrass enquanto eu pesava. Jarras de todas as cores e tamanhos estavam preenchidas com pedras coloridas, várias penas, ervas secas. Quando eu era uma criança eu amava ajudar minha mãe a pendurar e secar as ervas para as suas poções. Quando eu era uma criança... “Ha! Eu sei onde o livro está!” Eu atravessei a sala e abri a minha valise, vasculhando através dela até eu encontrar minha bolsinha frisada. Eu chequei para me certificar que o dinheiro que eu tinha colocado no interior ainda estivesse ali e então adicionei as pequenas bolsas contendo as ervas e o talismã. 35
(Glen Gregor –seria o vale estreito dos Gregor)
“Justine,” eu disse, “nós precisamos pegar uma transporte para Mayfair.” Ela franziu o cenho. “Nós deveríamos esperar pelos homens.” “É perda de tempo; eles provavelmente não podem vir conosco de qualquer maneira,” eu disse. “Eu estou de luto. Mesmo se eu não estivesse, eu não posso possivelmente aparecer na porta da frente do meu primo no meio da noite na companhia de dois homens estranhos que eu não estou aparentada. Ninguém vai erguer uma sobrancelha se minha companhia for outra mulher. Sra. Mackenzie, o que você disse ao Thomas?” “Que nós aparecemos para mudar as suas coisas pessoais para fora da casa. Eles ofereceram a você para ficar ali, no seu antigo quarto, mas eu disse que nós estávamos ficando no Hotel Grillion e que você apareceu com um resfriado e iria visitá-los assim que você se sentisse melhor.” “Grillion?” “Bem,” ela disse, “é onde Devlin e Justine e Michael tem quartos e é o hotel mais agradável em Mayfair.” “Sim, eu sei, mas é bastante perto da casa da cidade. Eu espero que eles não tenham parado para chamar por mim. De qualquer forma, isso não importa nesse momento. Você e Fiona e Sr. Pendergrass esperem aqui. Diga a Michael e Devlin onde nós fomos quando eles retornarem. Nós vamos voltar brevemente com tudo que nós precisamos!” Eu me estiquei e beijei Archie na bochecha e sussurrei, “Obrigada, meu amigo, por tudo. Agora, vá para casa e faça amor com a sua esposa.” Ele corou e eu pisquei para ele. Agarrando a mão de Justine, eu a conduzi escada abaixo.
Capítulo
D
EMOROU MAIS TEMPO DO QUE EU PENSEI PARA arrumar um transporte. Nós caminhamos por várias quadras e ainda não havia nenhum à vista. “Justine,” eu disse. “Você cantaria para mim?”
“Agora?” ela perguntou. Eu dei de ombros. “Porque não?” Ela olhou para mim como se eu fosse insana e então sorriu. Ela cantarolou algumas notas e então a sua voz ressoou, clara e adorável na calma noite. Eu andei junto, balançando a minha bolsinha do meu pulso, e ouvindo-a cantar a música de ópera Donna Anna Or sai chi l’onore de Don Giovanni. Enquanto nós passávamos As Forças Armadas na Rua Panton, vários fregueses dos pubs vieram para a porta para ouvir. Na hora em que nós alcançamos o Haymarket36 no final da quadra e Justine rompeu para dentro de Zerlina Vedrai, carino, quase toda a população dos pubs tinha se movido para dentro da rua para ouvi-la. Nós tínhamos acabado de virar a esquina quando um pequeno, duro homem tropeçou em cima de mim enquanto ele corria passando. Irritada mais do que outra coisa, eu fiz uma careta
36
(Haymarket - é uma rua no distrito de St. James's da Cidade de Westminster, em Londres)
para a figura se recuando do homem até eu perceber com um arranque que a pesada bolsa atada ao meu pulso tinha subitamente desaparecido. “Justine!” eu gritei, como se ela não estivesse em pé exatamente próxima a mim. “Ele cortou a minha bolsa!” Ela nunca errou um compasso da ária, simplesmente deslizou a sua capa para o lado, puxando uma das suas adagas com ponta de safira de dentro da sua bota e a arremessou ao homem. Ela o atingiu na parte traseira da perna e ele caiu na calçada. Eu corri e apanhei minha bolsinha do seu aperto então puxei a faca livre. Ele tropeçou em seus pés, uma mão alcançando a parte de trás e aparecendo com sangue. “Você vai se arrepender por ter feito isso,” ele rosnou. “Sério?” eu disse. “E porque eu deveria?” “Porque,” veio uma voz do beco sombrio, “Eu não posso permitir você roubar do meu irmão.” Três grandes homens saíram do beco, pisando para dentro do círculo de luz lançada pela lâmpada da rua. Um deles pisou adiante. “Agora entregue a bolsa.” Eu lancei minhas mãos no ar. “Bons deuses, não duas vezes em uma noite! Vocês pessoas não tem nada melhor a se fazer do que esconder-se em becos e atacar mulheres sozinhas? E o que você quer dizer com ‘roubar dele’? Ele cortou a minha bolsa!” Ele deu de ombros. “Homens têm que comer.” “Arrume um emprego,” eu estalei. “Mas isso é tão mais fácil,” ele respondeu com um sorriso. O ladrão37 tropeçou sobre o grupo, escondendo-se atrás da corpulência do seu irmão. Eu olhei para Justine. Seus olhos estavam fixos no homem na frente dela, seu corpo vibrando com excitação.
37
(do original cutpurse, que é uma forma Shakespeariana de chamar de ladrão)
Vendo aquele olhar nos olhos de Justine eu disse, “Façam a vocês um favor e vão embora.” “Não sem a bolsa,” ele disse, estalando os seus nódulos. “E eu estarei levando a brilhante adaga também.” Justine estendeu a mão e eu a entreguei a bolsa ao invés da adaga. Eu me sentia muito mais confortável armada com uma arma e eu sabia que a lâmina com a safira na ponta não era a única arma que ela tinha com ela. Ela não argumentou; ela simplesmente deslizou a sua capa para o lado e amarrou a minha bolsa ao grosso cinto de couro que ela vestia. Um dos homens cutucou o outro. “Olha ali, camarada! Ela está usando bermudas!” O seu companheiro de cabelo preto rangeu e gargalhou. “Talvez nós iremos pegar mais do que uma bolsa, eh?” Justine ergueu os seus braços para longe dos seus lados. “Se vocês querem a minha bolsa ou a minha adaga, mes amis, venham e peguem.” “Ooh e uma Francesa também,” o homem de cabelo preto disse. Ele avançou para frente e mais rapidamente do que os meus olhos pudessem seguir o movimento Justine alcançou atrás da sua cabeça e extraiu a sua espada da sua bainha na espinha. O homem de cabelo preto parou, olhos alargados, e olhou para trás aos seus companheiros. O irmão ladrão se deslocou inquieto. “Naw, senhorita,” ele disse. “Vocês senhoras podem seguir. Sem problemas aqui.” O homem de cabelo preto olhou sobre seu ombro. “Elas são apenas mulheres,” ele choramingou. Justine sorriu. “Quer apostar a sua vida nisso?” O vilão empalideceu e pisou para trás. “O que são vocês?” ele sussurrou. Justine embainhou a espada e estendeu a mão para a adaga com sangue. Eu entreguei a ela sem perguntas. Ela a pegou e segurou debaixo do seu nariz, seus
olhos se fechando brevemente quando ela inalava, e então ela muito lentamente abriu seus olhos, olhou para os homens, e lambeu o sangue da adaga. “Eu sou o Demônio da Justiça,” ela disse, e até mesmo eu estremeci. Os homens empalideceram e tropeçaram uns sobre os outros em sua pressa de fugirem para dentro dos trajetos escuros do beco. A gargalhada de Justine perseguiu atrás deles enquanto ela enfiava a sua adaga de volta para dentro da sua bota. Segundos mais tarde o barulho de cascos ecoou na noite e eu olhei abaixo na rua para ver, finalmente, um transporte se aproximando. Eu saudei o motorista e dei a ele o endereço para a casa na cidade enquanto eu subia para dentro da carruagem. Justine olhou para trás, olhando abaixo no beco sombrio quase melancolicamente, e então subiu adentrando atrás de mim. Ela gargalhou. “Isso foi divertido.” Eu sacudi a minha cabeça maravilhada. “Você não achou que isso foi divertido?” ela perguntou. Eu dei de ombros. “Mais cedo essa noite, quando eu estava sozinha, havia um homem que apareceu para mim do lado de fora daquela taverna-” “O homem inconsciente no beco? Aquele que você se alimentou?” “Sim. Quando eu o guiei para dentro do beco e o mordi, eu desfrutei do seu medo, Justine.” “E isso assustou você, Cin, se você fosse meramente uma mulher indefesa ele teria estuprado você, você sabe disso.” “Eu imagino que sim.” “Não há ofensa em sentir prazer na vitória, Cin.” “Não era apenas o prazer da vitória, Justine. Era algo muito mais sombrio que isso.” “Há escuridão em todos nós. Homens encontram isso na pressa da batalha, a emoção de uma briga bem lutada, mas as mulheres raramente têm a chance de
sentir isso por elas mesmas. Foi poder o que você sentiu essa noite, o poder da sua própria força, e isso não é nada para se envergonhar.” Eu franzi o cenho e me fixei mais profundamente dentro da minha capa, envolvendo meus braços a minha volta como se esse pequeno gesto me desse algum conforto. “Então o que faz de nós tão diferentes aos outros monstros?” eu perguntei suavemente, pensando nos vampiros no armazém, o piso desarrumado com corpos. Eles sentiam “prazer” em suas vitórias? “Você poderia ter continuado com aquele homem, se alimentado do seu sangue e do seu medo até que ele não fosse nada além de uma morta, concha vazia. Você não pensou, pensou?” Eu sacudi a minha cabeça. “Você tomou apenas o que você precisava e o deixou com a sua vida, mesmo embora ele pudesse ter gravemente prejudicado você, até mesmo ter lhe matado, se você não tivesse o poder para impedi-lo. Essa é a diferença.” Ela inclinou-se adiante e olhou para mim nos olhos, “A habilidade de moderar o poder com a misericórdia Cin, é o que nos separa dos monstros.”
Capítulo
A
CARRUAGEM PAROU NA FRENTE DA CASA DA CIDADE na Rua South Audley em Mayfair e Justine e eu desembarcamos. Enquanto eu pagava o motorista eu notei a figura de uma alta, mulher de cabelo preto em pé debaixo do poste do outro lado da rua. Ela estava bem vestida com afiadas, feições angulares...e ela pareceu estar apenas ali em pé nos observando. “Justine?” eu disse, virando para captar seus olhos. Quando eu olhei para trás, contudo, a mulher tinha ido. Eu escaneei a rua em ambas as direções, mas eu não encontrei nenhum sinal dela. “O que é?” Justine perguntou, movendo-se para ficar na minha frente. “Nada,” eu disse, sacudindo minha cabeça. “Eu imagino que não foi nada.” Nós nos viramos e subimos os degraus para a porta da frente. Essa tinha sido a minha residência familiar em Londres desde antes de eu nascer e era tão querida e familiar a mim quanto Ravenworth Hall. Justine olhou acima para a estrutura de três andares apreciativamente. “É muito bonita,” ela disse. “Obrigada. Agora, não se esqueça de manter a sua capa fechada todo o tempo. Eu não acho que o velho coração de Masterson irá agüentar a visão de uma mulher vestida de bermudas,” eu ri.
“E como é que você acha que pode encontrar esse livro que Madame Mackenzie e petite Fiona não parecem encontrar?” Eu sorri, “Porque elas estavam procurando nos lugares errados. Eu acho que uma das garotas o extorquiu. Magia é fascinante para uma criança, você sabe. Minhas apostas em Sarah Katherine.” Eu ergui minha mão para apertar a grande aldrava de metal da porta e pausei. Deitando minha mão na porta eu fiquei muito imóvel e estendi para fora com meus sentidos, sentindo o que estava além. “O que é?” Justine perguntou, olhando ao redor. “Você sentiu isso?” eu sussurrei. “Sentiu o que?” “O Mau,” eu disse, simplesmente. Quer fosse parte da minha magia ou possivelmente alguma intuição que meu pai tinha, eu sabia que algo estava errado dentro daquela casa. “Venha, vamos dar a volta nos fundos.” Nós nos encaminhamos para a entrada dos serventes quando eu vislumbrei uma luz em um dos quartos do segundo andar. Eu conhecia aquele quarto muito bem; ele tinha sido meu uma vez. Eu estudei por um momento e puxei a hera que trepava nas treliças abaixo. “Justine, você pode escalar aquilo?” eu sabia que eu nunca conseguiria com o meu vestido. Justine se agachou e então se lançou dentro do ar, saltando em cima da varanda com mal um sussurro. O movimento me relembrou do homem acorrentado no armazém. Ele realmente tinha sido um de nós? Justine se inclinou para baixo e estendeu a sua mão. Eu tentei pular como ela tinha feito mais eu não consegui isso muito bem. Ela agarrou meu pulso e me puxou para cima do corrimão de uma maneira muito vulgar. Eu me arrastei para a porta da varanda e deitei a minha mão nela, ouvindo. Eu não senti nada fora do extraordinário. Batendo levemente, eu esperei por uma das garotas abrir a porta.
Foi a de quinze anos de idade Sarah Katherine que puxou para trás as finas cortinas um centímetro ou dois e olhou para mim, seu rosto manchado com lágrimas. Reconhecimento despontou e ela abriu a porta, se lançando para mim. “Tia Dulcie! Eu estou tão feliz que você veio. Algo está errado no andar de baixo. Mamãe e Papai estão no salão com um homem e uma mulher e eu ouvi Mamãe gritar. Eu sou uma terrível covarde, Tia Dulcie. Eu deveria ter descido, mas eu estava escondendo os menores.” Eu olhei sobre seu ombro para ver a de treze anos de idade Claire e o de dez anos de idade Will encolhidos juntos na minha cama de dossel. Sarah Katherine pisou para trás dentro do quarto, esperando que nós seguíssemos. Eu avancei para frente, mas fui impedida no vão da porta por um escudo invisível, incapaz de andar além disso para dentro do quarto. “Oh, você tem que estar brincando!” Eu murmurei, estendendo uma mão para testar a barreira. “Esse é o meu quarto!” Mas claro não era, não mais. No minuto em que o meu pai morreu a casa da cidade e Ravenworth Abbey se tornaram de Thomas. Eu rangi meus dentes. “Sarah Katherine, você terá que nos convidar a entrar, amor.” Ela olhou para mim em confusão e então corou. Ela pensou que eu estivesse reprimindo as suas maneiras e eu supus que estava melhor assim. Se ela soubesse verdadeiramente o que ela estava convidando para dentro da sua casa ela deveria nos deixar em pé ali na varanda. Enquadrando seus ombros ela disse em sua melhor voz debutante, “Me perdoe. Senhoras, vocês poderiam entrar?” Justine e eu cruzamos o limiar da porta. “Crianças, essa é a minha boa amiga, Mademoiselle Justine.” Justine sorriu, mas se demorou perto da porta. Eu puxei Sarah Katherine para a cama e me sentei com ela e as outras crianças, as segurando e murmurando promessas que eu não estava certa se eu poderia manter. “Linda Kate,” eu disse pegando as suas mãos com as minhas, “conte-me, você viu o casal quando ele entrou?”
Ela sacudiu sua cabeça. “Apenas de costas. Eles dois tinham cabelo preto e estavam vestidos em roupas de noite.” Eu olhei rapidamente acima para Justine, que levantou uma sobrancelha loira para mim. “Crianças, me escutem. Minha mãe, sua Tia Lora, tinha um livro em algum lugar dentro dessa casa e é muito importante que eu pegue ele de volta. Está tudo bem se um de vocês tiverem com ele mas eu preciso de volta agora. Ele vai ajudar a me livrar daquelas pessoas no andar de baixo.” Sarah Katherine corou e então cruzou o quarto para o guarda-roupa e vasculhou no topo dele, finalmente produzindo o volume vermelho com capa de couro. Ela o entregou de volta a mim com um sorriso envergonhado. “Me desculpe, Tia Dulcie. Eu não queria roubá-lo. Mamãe me disse que nós não poderíamos entrar na sala de trabalho da Tia Lora mas Claire e eu escorregamos lá para dentro uma noite. Havia todos os tipos de coisas interessantes ali dentro e eu levei o livro de volta para o meu quarto comigo mas quando eu o abri eu percebi que ele estava em Gaélico. Eu quis colocá-lo de volta mas então Sra. Mackenzie e Srta. Fiona apareceram e eu estava com medo que elas me pegassem. Eu estou muito arrependida, Tia Dulcie.” “Não pense nada disso, minha querida, está perfeitamente bem,” Eu disse, simplesmente aliviada que eu estive certa sobre a localização do livro. Claro, as crianças não eram para saber nada sobre bruxas, especialmente sobre as mulheres Macgregor sendo bruxas, mas crianças sempre sabiam mais do que qualquer um lhes dava o crédito. Eu folheei as folhas do livro até eu encontrar o feitiço de vinculação que Sr. Pendergrass tinha descrito. Eu o li uma vez e então pedi para Justine pela minha bolsa. Ela abriu a sua capa e desamarrou a bolsa do seu cinto. As crianças arfaram. Justine olhou para baixo afiadamente e então mais abaixo para as suas bermudas. Ela rolou seus olhos e me arremessou a bolsa.
“Mademoiselle Justine é uma pirata,” eu disse, cavando entre os conteúdos e puxando para fora as pequenas bolsas de ingredientes, “como Grainne O’Malley38.” Foi o melhor que eu pude aparecer com uma pequena consideração. Sarah Katherine e Claire olharam para Justine como se ela fosse alguma deusa pagã de grandes aventuras. Will simplesmente olhou para ela como se ele estivesse apaixonado. Eu sorri para ele enquanto eu abria cada bolsa e verificava os ingredientes contra o feitiço no livro. Apenas três ingredientes faltando, e nada nenhum pouco exótico. Eu podia trabalhar com isso. “As pessoas do andar de baixo são piratas do mau?” Claire perguntou em um sussurro excitado. “Sim, eles são os inimigos mortais de Capitã Justine?” Will opinou. Eu quase grunhi alto. Pelos deuses, o que essas crianças estavam entendendo? “Algo assim,” eu murmurei, dobrando o canto da página para marcar o lugar. “Capitaine Justine, eu posso falar com você do lado de fora um momento?” Eu pisei para a porta e pausei, “Se nós voltarmos para fora eles tem que nós convidar para dentro novamente?” “Non, eles apenas precisam convidar uma vez.” Nós deslizamos para fora na varanda e puxei a porta fechada. Justine arqueou uma sobrancelha para mim, “Um pirata?” “Foi tudo o que eu pude pensar no momento. Agora, foco Capitaine. Kali e Sebastian estão lá em baixo fazendo a Deusa sabe o que com o meu primo Thomas e sua pobre Amélia. O que nós vamos fazer?” “Nós devíamos voltar para Devlin e Michael,” ela disse. Eu sacudi minha cabeça. “Isso vai levar muito tempo. E se eles levarem Thomas e Amélia para algum lugar? Eu não posso deixar nada acontecer com eles, 38
(Grace O'Malley (ou Gráinne) pertencia a nobreza irlandesa. Comandou um grupo de 200 marinheiros desde a costa de Galway no Século XVI. Enviuvada e aprisionada duas vezes, por ter lutado contra os seus inimigos irlandeses e ingleses pelos seus direitos. Foi condenada por pirataria e desculpada em Londres pela própria Rainha Elisabete. Gráinne era uma das poucas marinheiras que abandonou o mar e morreu na sua própria cama, contudo, onde ela foi enterrada é um mistério)
Justine. Além disso, o fato de que eu amo ambos, e eu sou toda a família que eles têm. Se seus pais morrerem, como por todo o inferno sangrento eu pretenderia criar três crianças?” Justine empalideceu com o pensamento. Eu marchei na varanda. “Tudo bem, aqui está o plano,” eu disse. “Eu tenho quase todos os ingredientes para o feitiço de vinculação e aqueles que estão faltando são ervas comuns que eu posso conseguir em qualquer lugar. Eu desço as escadas e Kali me leva. Ela provavelmente está aqui apenas para usar Thomas e Amélia e as crianças como vantagem para que eu coopere com ela. Se eu for com ela então ela vai deixá-los. Esperançosamente.” Justine franziu o cenho. “E o que eu digo para Devlin e Michael?” “Diga a eles que não havia outra escolha. Eu quero que você fique aqui e guarde as crianças até que nós partamos da casa e então escorregue pelo caminho que nós viemos e encontre Devlin e Michael.” “E como nós vamos encontrar você novamente?” Eu dei de ombros. “Eu não sei. O feitiço requer ser pré-formado em um local sagrado, eu apenas não descobri onde ele é ainda.” Ela sacudiu sua cabeça, cruzando seus braços desafiadoramente sobre seu peito. “Absolutamente non. Eu não vou concordar com um plano o qual coloca você nas mãos deles quando nós não temos idéia onde você está.” “Justine, o plano sempre foi em trabalhar no feitiço de vinculação. Eu tenho que chegar perto o bastante dela para fazer isso. Você sabe disso.” “Oui, mas era para nós estarmos perto para ajudar quando você estivesse com ela, no caso de algo dar errado.” “Então o que nós devemos fazer? Nós não podemos muito bem largar as crianças da varanda e os levar conosco até encontrarmos Michael e Devlin. Se nós deixarmos as crianças sozinhas então eventualmente Kali vai aparecer para procurar por elas. Justine, ela apenas precisa de um refém, os outros quatro são dispensáveis. Me diga, que outra escolha nós temos?”
Ela franziu seus lábios. “Ela pode matar os pais de qualquer maneira, uma vez que ela tiver você, ou ela pode levar eles junto para assegurar a sua cooperação.” “Então traga Sra. Mac e Fiona e Sr. Pendergrass de volta pra cá. Sra. Mac e Fiona podem cuidar das crianças e eu quero que o Sr. Pendergrass descubra algum tipo de feitiço que revogue os convites emitidos para os mortos-vivos.” “Até mesmo você?” ela perguntou. Eu franzi e assenti relutantemente. “Sim,” eu disse, “mesmo eu. Essa não é mais a minha casa. Eu não tenho o direito de estar aqui.” Ela sacudiu sua cabeça. “Você arrisca a sua vida por eles e ainda acha que você não tem nenhum direito em ser parte da vida deles?” Eu olhei para ela e arqueei uma sobrancelha. “Você não fez a mesma coisa pela sua irmã?” “Touché,” ela disse, um olhar doloroso cruzando o seu rosto por um momento fugaz. “O que nós vamos dizer as crianças?” Eu sorri e pisquei. “Deixe isso comigo.” Eu chamei Sarah Katherine para fora na varanda. Justine pisou para dentro para ficar com as outras crianças e eu fechei a porta atrás dela. Eu olhei abaixo dentro do rosto de Sarah Katherine. Ela era tão adorável, com o cabelo loiro escuro de sua mãe e os olhos azuis reluzentes do seu pai. Eu me lembrei de tê-la segurado quando ela acabou de nascer, quando eu era um pouco mais do que uma criança. Eu não iria, não poderia, perdê-la ou nenhum deles, não enquanto houvesse um bocado de luta restante em mim. “Linda Kate,” eu disse, usando o seu apelido que eu a chamava enquanto um bebê, “Eu preciso que você seja a minha garota crescida essa noite, você pode fazer isso?” Ela assentiu.
“As pessoas no andar de baixo são pessoas muito ruins. Eles querem que eu faça algo para eles e eu acho que eles querem manter os seus pais prisioneiros para que eu faça o que eles desejam.” “Você vai fazer? O que eles querem?” ela perguntou, mastigando o seu lábio inferior. “Sim, eu vou fazer qualquer coisa que eu puder para manter os seus pais seguros. Para fazer isso, entretanto, eu vou ter que fingir que eu estou do lado deles. Qualquer coisa que você vir ou ouvir essa noite, qualquer coisa que alguém disser a você que eu fiz, eu quero que você saiba que eu estou fingindo completamente. Eu amo você e eu vou entregar a minha vida para proteger você e a sua família, você me entende?” Ela assentiu novamente. “Justine vai ficar com você e os pequenos até que as pessoas malvadas partam. Eles devem insistir em levar a sua Mamãe e o Papai com eles. Eu prometo a você que eu vou fazer tudo o que eu puder para mate-los a salvo e trazê-los para casa até você, tudo bem?” “Se você e Mamãe e Papai vão partir com as pessoas más, a Srta Justine vai ficar conosco?” “Ele vai partir apenas por um pouco para conseguir ajuda. Sra. Mackenzie e Fiona virão ficar com vocês. Também um muito simpático velho homem chamado Sr. Pendergrass. Ele é um feiticeiro-” “Como a Tia Lora era?” “Sim, e ele vai se certificar que a casa esteja segura para todos vocês. Agora, se a sua Mamãe e Papai forem conosco, no minuto em que Srta. Justine parta você desça e diga ao Sr. Masterson o que eu lhe disse e que Sra. Mackenzie e Fiona e Sr. Pendergrass estão a caminho. E Sarah Katherine, isso é muito importante,” eu disse, a pegando pelos ombros, “não abra a porta para ninguém mais além de Sra. Mackenzie, você me entendeu? Eu não me importo se o próprio rei aparecer chamando, não abra a porta ou convide ninguém para entrar além da Sra. Mackenzie. Você me entendeu?”
“Sim, Tia Dulcie. Eu prometo. O que nós dizemos as crianças?” ela perguntou, tão crescida. “A maior parte da verdade,” eu disse. “Eu sei que é assustador, mas eu preciso que você seja corajosa pelos pequenos, tudo bem? Para que eles não se assustem.” Eu peguei a sua mão na minha e andei de volta para o quarto. Claire e Will olharam acima para mim com largos, olhos redondos. “Crianças, eu acabei de falar com Sarah Katherine,” eu disse. “Parece que dois piratas ruins, arco inimigos da minha amiga Capitaine Justine, fizeram dos seus pais prisioneiros.” O lábio inferior de Will tremeu e Claire retorceu a costura da sua camisola em suas mãos. “Mas não tenham medo,” eu disse. “Nós vamos derrotar os vilões e devolver a sua Mamãe e Papai para vocês seguros e salvos. Apenas pensem nas histórias de aventuras que eles serão capazes de contar a vocês! Agora, eu vou descer e fingir que sou uma dos piratas do mau, mas é tudo uma estratégia para tirá-los da casa para que vocês três estejam seguros.” “Porque Capitaine Justine apenas não os corta com o seu cutelo?” Will voluntariou. “Bem,” eu disse, “porque a honesta Capitaine deve sair e encontrar o Rei Pirata e o seu imediato e os três irão cavalgar ao nosso resgate e salvar a todos nós!” Claire estreitou seus olhos, “Ela vai nós deixar aqui completamente sozinhos?” Eu beijei a sua bochecha. “Apenas um pouco, amor, mas ela vai mandar Sra. Mackenzie e Fiona para ficar com vocês e um simpático velho homem chamado Sr. Pendergrass que tem muitas maravilhosas histórias para contar. Fiona até mesmo tem um novo gatinho que vai adorar brincar com você.” “Tia Dulcie?” Claire disse. “Você não se parece muito como uma pirata do mau para mim. Você tem certeza que você vai enganá-los?” Eu olhei abaixo ao meu vestido com suas longas mangas e um modesto V no pescoço. Havia manchas de sangue na seda cinza, mas a pesada renda preta
cobrindo o vestido os escondia bem. Verdadeiramente eu não parecia muito como uma pirata do mau, embora. “Talvez eu seja uma dama pirata?” Claire olhou para mim duvidosamente. “Bem,” eu suspirei, “nós só temos que fazer acontecer com o que nós temos. Talvez quando tudo isso terminar Capitaine Justine irá me levar para onde as mulheres piratas conseguem fazer as suas vestimentas?” Justine sorriu e piscou para mim. Eu me sentei na beirada da cama e arrastei as três crianças para dentro do círculo dos meus braços. “Adeus, meus bebês. Sempre, sempre se lembrem que a sua Tia Dulcie ama vocês. Prometam-me?” Três rostos assentiram de volta para mim, três rostos com excitação e medo escritos por todo ele. Eu teria que ser forte e muito poderosa para manter os seus pais vivos para eles e, a Deusa me ajudasse, eu esperava que eu pudesse fazer. Eu segurava a vida de todos dessa família em minhas mãos essa noite. Eu me levantei e enquadrei meus ombros. Eu faria isso. Eu iria lutar com ela e eu iria provar o gosto da vitória. Depois de tudo, foi por isso que eu morri e por todos os deuses do céu eu não iria deixar isso ser em vão.
Capítulo
E
U ANDEI CALMAMENTE DESCENDO AS ESCADAS,MAIS calmamente do que eu me sentia. No interior eu estava tremendo. O saguão abaixo era um mal controlado caos. As portas da sala de estar estavam firmemente fechadas. Masterson deitava sangrando, mas com vida no piso azulejado, várias criadas quase histéricas pairando sobre ele. A cozinheira estava tocando as suas mãos e o lacaio pareceu estar esperando por instruções de Masterson. Silêncio caiu por toda a parte no hall enquanto eles todos olhavam para cima a mim com surpresa e então cada um deles correu até mim, tropeçando-se uns sobre os outros e falando um quilômetro por hora. Ninguém pareceu se surpreender como foi que eu tinha vindo do andar de cima; eu imagino que todos eles estavam apenas acostumados com a minha presença nessa casa. Finalmente eu pedi por silêncio e me ajoelhei, facilmente ajudando Masterson aos seus pés. Havia um corte na sua têmpora, mas ele não parecia tão mal. “Srta. Dulcie, Senhor Montford e uma mulher vieram chamar. Ele me deu uma pancada em minha cabeça, ele deu, e eles encorajaram Senhor e Senhora Craven para dentro da sala de estar e trancaram a porta!” “Eu pude ouvir a minha senhora gritando, mas eu não conseguia abrir a porta,” uma das empregadas do salão disse. A pobre pequena pareceu como se estivesse para desmaiar.
“Ninguém foi ao magistrado? Ou correndo a Rua Bow?” Masterson repreendeu, olhando abaixo para cada lacaio que estava em pé. Três deles foram para a porta, mas eu os chamei de volta. “Não, Masterson,” eu disse suavemente. “Acredite em mim quando eu digo a você que o magistrado não pode nos ajudar com isso.” Eu me dirigi a multidão, “eu quero que todos vocês vão para os seus quartos. Tranquem suas portas. Não há nada mais para ser visto aqui essa noite. Vocês podem fofocar sobre tudo isso se vocês quiserem pela manhã mas nenhuma palavra sobre isso deixa essa casa. Se eu ouvir sequer um sussurro dos eventos dessa noite na Cidade eu vou despedir até o último de vocês apenas assim eu saberei que eu peguei a pessoa certa. Eu me fiz clara?” Todos assentiram e se deslocaram desconfortavelmente. Agradecidamente nenhum deles se lembrou que eu não estava mais na minha casa e que eu não tinha mais o direito de terminar com o emprego de qualquer um. Um dos lacaios falou, “Srta. Craven, nós não podemos deixar você aqui sozinha e indefesa.” Eu gargalhei. “De todas as pessoas nessa casa eu sou a menos indefesa. Agora, busquem os seus quartos e boa noite a todos.” Uma pequena, mulher com cabelo escuro em um vestido de azul profundo captou meu olhar. “Você,” eu disse e ela se virou para mim com um olhar muito vago no seu rosto. “Eu não conheço você. Quem é você?” “A governanta, senhorita.” Eu franzi meus lábios. “Ocorreu-lhe que as crianças podem precisar de você?” Um olhar de horror apareceu no seu rosto, como se ela tivesse acabado de acordar de um sonho. “Oh, querido Senhor!” ela exclamou. “Suba e fique com eles, eles estão todos no meu...no quarto de Sarah Katherine. Uma amiga minha está com eles. Ela inventou um jogo fictício, de piratas e assim por diante, para mantê-los ocupados. Faça qualquer coisa que ela pedir a você.” “Sim, senhorita,” ela tropeçou e voou para cima nos degraus.
Eu rolei meus olhos para a sua figura partindo e me virei para a Cozinheira e Masterson que tinha ficado atrás do saguão. Eu olhei para as portas fechadas da sala de estar, pensando quanto mais sensível a minha audição estava agora que eu era um vampiro. Kali quase certamente sabia que eu estava aqui, mas eu não queria dar dica da minha presença completamente. “Cozinheira,” eu sussurrei, “leve-o de volta para a cozinha e cuide dessa ferida. Depois de eu conseguir tirar essas pessoas dessa casa minha amiga vai mandar Sra. Mackenzie e Fiona do...hotel.” “Oh graças ao querido Senhor,” A cozinheira disse. “Sra. Mackenzie vai consertar as coisas certa e apropriada.” “Masterson, você se lembra do amigo de Mamãe. Sr. Pendergrass?” “Sim, Srta. Craven,” ele disse com um piscar. Ele entendeu que haveria magia em andamento essa noite. “Ele estará vindo com Sra. Mac e Fiona. Dê a ele qualquer coisa que ele necessitar e o deixe fazer o que precisa ser feito,” eu disse. “E não abra aquela porta para ninguém além de Sra. Mac.” “Muito bem, senhorita,” Masterson disse, limpando a sua cabeça com o seu lenço de bolso. “Srta. Craven, eles são-” “Eles são maus, Masterson, é tudo o que você precisa saber.” Eu olhei para a Cozinheira. “Leve-o e limpe essa ferida. Certifique-se que ele veja um médico como primeira coisa pela manhã.” E no último minuto eu me inclinei e beijei a sua encharcada velha bochecha. Ele corou e tropeçou a Cozinheira o enxotou em direção a cozinha como uma grande mãe galinha. Eu coloquei o Livro das Sombras abaixo na mesa do hall e avancei para a porta da sala de estar. Eu tentei a maçaneta, mas ela estava trancada, apenas como a empregada havia dito. Eu puxei o meu braço para trás e bati a palma da minha mão na porta, bem em cima da trava. Ela explodiu no interior com um rachar de madeira. Thomas e Amélia estavam encolhidos juntos no sofá. Eles estavam pálidos e aterrorizados, o cabelo de Amélia estava pendurado ao redor dos seus ombros em
desordem como se ela fosse arrastada por ele, mas eu não podia ver ou cheirar qualquer sangue neles. Era mais do que eu poderia esperar. Sebastian descansava negligentemente contra a verga da chaminé na parede oposta, suas roupas pretas de noite imaculadas, um charuto aceso pendente dos seus longos, finos dedos. Eu cerrei meus dentes. Eu deveria transformá-lo em um sapo por ousar fumar na sala de estar da minha mãe. Kali estava na minha frente no centro da sala, resplandecente em um vestido de seda dourado de noite. Seu cabelo estava habilmente organizado, mas ali certamente pareceu ser menor do que ele tinha sido da última vez que eu a vi. No conjunto, os dois pareciam extraordinariamente bem por terem sido queimados como batatas fritas quatro noites atrás. “A grande Dama conseguiu despachar todos os serventes?” Kali perguntou, sua voz leve e arejada como se ela tivesse acabado de me oferecer uma xícara de café. Eu inclinei minha cabeça, mas não respondi. Ela espreitou em minha direção, quadris oscilando, e seus olhos se alargaram um pouco. Ela se inclinou e me cheirou. Eu enrijeci, mas não pisei para trás. Eu não iria permitir que ela visse o quanto assustada eu realmente estava. “Oh, você foi uma garota perversa, minha pequena bruxa.” Sebastian se endireitou e andou para mim, seus olhos nunca deixando o meu rosto. “O que você fez?” ele sussurrou. “Assegurei a minha sobrevivência,” eu disse, “tanto quanto você fez, eu vou apostar.” Eu arranquei o charuto dos seus dedos e o desprezei dentro de um pequeno, bastante feio prato de vela que deveria ser de Amélia. “Se vocês queriam conversar, tudo o que vocês tinham que fazer era pedir,” eu disse, peregrinando através da sala e traçando os meus dedos distraidamente sobre a mobília. “Não havia necessidade de ter todo esse problema.” Eu parei na frente de Thomas e Amélia, minhas costas para Kali e Sebastian. Eu arregacei o prendedor do cabelo de Amélia atrás da sua orelha e pisquei para ela. Ela olhou para mim, congelada com terror, mas Thomas pareceu entender. Aquele
entendimento piscou momentaneamente em seus olhos e então desapareceu. Ele apertou a mão da sua mulher e a acariciou, mas a expressão em seu rosto nunca mudou. Ele tinha sido um soldado uma vez; eu estava esperando que esse treinamento iria mantê-lo de cabeça erguida através dessa difícil prova. “Me desculpe, mas você tem sido bastante não receptiva aos meus convites até agora. Além disso nós falamos o bastante, você e eu,” Kali assobiou, uma mão estendendo subconscientemente para tocar o meu cabelo. “Agora ou você faz o meu feitiço ou você morre, mas não antes de eu fazer você assistir como eu mato todos que você ama.” Eu dei de ombros, como se o que ela tivesse acabado de dizer significasse menos do que nada para mim. “Sim, bem, isso realmente não funciona mais pra mim. Eu vim para renegociar.” Seus olhos se estreitaram. “Renegociar?” “Seus termos,” eu elaborei. “Eu não me recordo de oferecer a você quaisquer termos.” “Sim, eu imagino que você não ser recorde. ‘Faça isso ou morra,’ blah, blah, ‘Eu vou fazer você rastejar.’ Mas, veja você, isso foi quando eu era fraca e humana. Você não tem nenhum poder mais sobre mim, Kali. Claro você poderia me matar completamente, cortar fora a minha cabeça, me apunhalar através do coração,” eu pavoneei para baixo em um dos braços da poltrona e sorri acima para ela. “Mas eu sou a única que pode dar a você o que você quer. Então, eu vim renegociar.” Fúria ferveu bem abaixo da sua pele, mas ela manteve o seu temperamento a prova. “O que você quer? Você quer que eu prometa a você que eu vou partir? Voltar ao meu mundo e libertar os seus preciosos humanos?” Eu ondulei uma mão distraidamente. “Eu não dou uma maldita questão ao que acontece a maioria deles. Não, eu vou fazer o seu feitiço para você e eu vou obter a sua coroa de volta, porém em retorno eu quero que você me faça a sua Sacerdotisa.” Kali olhou para mim. Sebastian gargalhou. “Eu a conheço, ela está mentindo. É algum truque.”
“Sem truque, Sebastian. É chamado de alto-preservação, um instinto eu tenho certeza que você conhece muito bem. Eu percebi na outra noite que eu não podia ficar contra ela. Se ela me fizer a sua Sacerdotisa então eu vou estar ao seu lado e não presa aqui em baixo na imundice quando o apocalipse vier.” Sebastian olhou para mim e eu dei o meu melhor sorriso debutante em branco, aquele perfeito prazeroso, levemente padronizado sorriso que eu salvava para os desajeitados parceiros de dança e companhias chatas de jantares. “Feito,” Kali disse, embora ela ainda não parecesse como se ela confiasse inteiramente no meu novo rosto. Demônio inteligente, mas sério, que escolha ela tinha se ela quisesse a sua coroa de volta? “Excelente,” eu disse e saltei da poltrona. “Agora, vamos sair dessa casa. Sem sentido ficar em Mayfair quando nós temos lugares para ir e feitiços para lançar.” “De fato,” Kali disse, “mas eles vem conosco.” Eu olhei para trás sobre meu ombro para Thomas e Amélia, tentando não entrar em pânico. “Você está falando sério? Eu pensei que você fosse uma mulher de apetites mais fortes do que isso. Vamos encontrar algo mais divertido. Eu conheço esse batedor de carteiras e sua gangue em Piccadilly-” “Eles não são para comer,” ela disse naquele tom de voz reservados para crianças pequenas e lunáticos. “Eles são para o seu feitiço.” Eu olhei para ela em confusão. “O feitiço?” Ela puxou um pedaço dobrado de pergaminho de profundidades impressionantes do seu corpete e entregou a mim. Uma extremidade estava esfarrapada como se tivesse sido rasgada de um livro e o papel estava amarelado com a idade e crepitando debaixo dos meus dedos. Eu olhei para as palavras e empalideci. “Isso é magia de sangue,” eu sussurrei. “Sim, é. E requer o sangue de dois. Nós temos esses dois aqui então nós podemos muito bem usá-los.”
Eu olhei para o papel. Isso era magia de sangue, sacrifício humano. Querida Deusa, o feitiço de vinculação que eu intencionava trabalhar nela era a magia mais negra que eu alguma vez pensei em realizar, mas isso, isso era algo que iria manchar a sua alma pela eternidade. Claro, eu não tinha absoluta intenção em continuar com o feitiço, mas o pensamento do que ela esperava que eu fizesse mandou um arrepio a minha espinha. Kali observou a minha reação de perto. “Você hesita. Por quê?” Eu me recompus. “Eu nunca fiz esse tipo de magia antes. Vai requisitar um local sagrado para realizar o ritual. Eu não sei aonde ainda. Eu vou ter que pensar sobre isso.” “Talvez isso seja porque você hesitou. Então novamente, talvez não seja,” ela disse suavemente, sua mão estendendo para acariciar o lado do meu rosto, suas unhas trilhando a minha bochecha. “A sua magia morreu com o seu corpo humano, pequena bruxa? Isso é apenas uma fraude depois de tudo? Me conte agora e eu vou matá-la rapidamente. Minta para mim e eu vou ver você sofrer pela eternidade.” “Eu ainda tenho minha magia.” “Prove,” ela disse. Eu estalei meus dedos e as luzes se apagaram, mergulhando a sala na escuridão. Eu enviei a minha vontade flutuando para o exterior e as velas queimaram de volta a vida. Kali pareceu indiferente. “Truques de salão,” ela estalou. “Bem, é um truque.” Ela não gargalhou. Oh, bem. “Ótimo, o que satisfaz você? Talvez fosse divertido em transformá-lo em uma fuinha de novo?” Eu disse, gesticulando para Sebastian. “Aqui, agora,” Sebastian falou, “não haverá mais disso!” Eu sorri e pisei mais perto da Destruidora, muito mais perto do que eu alguma vez quis chegar de novo. Meros centímetros dos seus lábios e eu sussurrei, “Nós realmente não precisamos de uma mostra de força, nós precisamos? Tão poderosa quanto você é, você pode sentir a minha magia.”
Alguma coisa cintilou em seus olhos e ela assentiu. Eu não sei se ela realmente podia sentir o meu poder ou se ela apenas não quis admitir que ela não podia. De qualquer forma, isso me salvou de ter que transformar alguém em fuinha. Eu ainda não tinha nenhuma idéia de como eu tinha feito isso e eu não estava ansiosa para provar a mim mesma. Ela olhou para Sebastian. “Traga os humanos e venha.” Eu vacilei. Um veloz olhar para trás, mas ela o viu. Ela se virou para mim, seu poder batendo em mim, seus olhos preenchidos com fúria. “Um segundo pensamento, talvez eu vá matá-los agora, apenas para testar o seu compromisso.” Maldito seja. Eles teriam que vir conosco. Eu prometi as crianças que me certificaria que seus pais estivessem a salvo, mas se eu empacasse em qualquer coisa a mais ela mataria Thomas e Amélia apenas para ver se ela pudesse me quebrar. Eu arremessei minhas mãos no ar. “Faça o que você quiser, mas nós teremos que sair dessa cidade para trabalhar no feitiço e seria muito mais fácil de viajar sem eles nos desacelerando. Nós poderíamos encontrar duas virgens rechonchudas quando nós chegássemos no campo que iriam representar tão bem ou melhor.” Kali olhou dentro dos meus olhos como se ela estivesse tentando rastejar para dentro da minha mente e bisbilhotar lá dentro. Eu apostava que só a irritava que ela não pudesse mais se atropelar livremente através da minha cabeça. Finalmente ela assentiu a Sebastian. “Traga-os,” ela disse e caminhou da sala tão suntuosa quanto qualquer rainha, ou deusa demônio. “Além disso, você tentou encontrar virgens no campo esses dias?”
Capítulo
A
ESCURA CARRUAGEM ROLOU A UMA PARADA NO MEIOfio enquanto nós saíamos para dentro da noite, quase como se estivesse esperando nas sombras pela convocação da patroa. O motorista tinha a aparência e o cheiro, os olhos mortos, de um dos zumbis de Kali. Eu apertei o Livro das Sombras na minha mão, desamparada, enquanto Sebastian empurrava Thomas e Amélia grosseiramente para dentro. Kali olhou para trás a mim e arrancou o livro do meu aperto, folheando por ele impacientemente. “Mais do seu Gaélico?” ela disse, seu tom áspero e fresco. “Eu não acho que eu vou permitir que você mantenha isso uma vez que eu não entendo o que ele diz. Livre-se disso.” “É um livro de feitiços de bruxa, nada mais. Ele tem informações que serão úteis para trabalhar no seu feitiço. Eu voltei aqui por ele e se você quer que o seu feitiço seja feito corretamente seria sábio me deixar mantê-lo. Como eu disse antes, eu sequer fiz esse tipo de magia.” Ela me observou por um longo tempo, me estudando, procurando por alguma indicação que eu estivesse sendo mentirosa. O que quer que ela tenha visto no meu rosto a convenceu.
“Ótimo, mas se alguma coisa pegar fogo repentinamente,” ela disse com um grande significado, “eu vou queimar esse livro com você.” “Entendido,” eu disse. Ela olhou para mim através de olhos estreitos. “Eu ainda não confio em você, bruxa. “Ande com muito cuidado comigo.” “Eu poderia dizer o mesmo a você, mas nós precisamos uma da outra, então vamos fazer o melhor para isso, não vamos?” Ela me considerou cuidadosamente e então assentiu. “Você diz que nós precisamos de um espaço sagrado para fazer o feitiço. Onde eu peço ao motorista para nos levar?” Eu não tinha pensado tão longe e eu disse a primeira coisa que veio a mente, “Stonehenge39.” “O que?” Sebastian rosnou. “Isso vai levar dias!” “Olhe, esse não é um simples feitiço. Ele requer uma grande quantidade de poder e ritual. Samhain40 é três noites a partir daqui. Se nós fizermos o feitiço durante toda a noite no lugar sagrado então nós teremos uma boa chance de sucesso. Nós podemos tentar essa noite em algum lugar fechado, mas eu não posso garantir o resultado. Para colocar de forma sucinta, essa é a nossa melhor chance. Aceite ou desista.”
39
(Stonehenge é um monumento megalítico da Idade do Bronze, localizado na planície de Salisbury, próximo a Amesbury, no condado de Wiltshire, no Sul da Inglaterra. Constituí-se no mais visitado e conhecido círculo de pedras britânico, e até hoje é incerta a origem da sua construção, bem como da sua função, mas acredita-se que era usado para estudos astronômicos, mágicos ou religiosos.) 40 (Samhaim - era o festival em que se comemora a passagem do ano dos celtas. Marca o fim do ano velho e o começo do ano novo. O Samhain inicia o inverno, uma das duas estações do ano dos celtas. O início da outra estação, o verão, é celebrado no festival de Beltane. Este festival, Samhain, é chamado de Samonios na Gália. Segundo alguns autores, grande parte da tradição do Halloween, do Dia de Todos-os-Santos e do Dia dos fiéis defuntos pode ser associada ao Samhaim. O Samhaim era a época em que acreditava-se que as almas dos mortos retornavam a suas casas para visitar os familiares, para buscar alimento e se aquecerem no fogo da lareira. Alguns autores acham que não existe nenhuma evidência que relacione o Samahin com o culto dos mortos e que esta crença se popularizou no século XIX. Segundo o relato das antigas sagas o Samhain era a época em que as tribos pagavam tributo se tivessem sido conquistadas por outro povo. Era também a época em que o Sídhe deixava antever o outro mundo. O fé-fiada, o nevoeiro mágico que deixava as pessoas invisiveis, dispersava no Samhain e os elfos podiam ser vistos pelos humanos. A fronteira entre o Outro Mundo e o mundo real desaparecia.Uma das datas do calendário lunar celta de Coligny pode ser associada ao Samhain. No 17º dia do mês lunar Samon, a referência *trinox Samoni sindiu é interpretada como a data da celebração do Samhain ou do solstício de Verão entre os Gauleses.)
“O que é esse Stonehenge?” Kali perguntou. “Um círculo de gigantes pedras erguidas na Planície de Salisbury. É um local antigo de grande poder, construído antes sequer de você andar na terra.” “E vai levar ao menos duas sangrentas noites viajando sem parar para chegar ali,” Sebastian resmungou. “Chega,” Kali disse curtamente. “Eu gostaria de ver esse lugar. Ele me intriga. Contudo, nós devemos parar em um hotel. Eu não vou viajar tanto tempo sem uma troca de roupa. Vamos.” Sebastian segurou a porta da carruagem e assistiu Kali e eu entrarmos antes dele escalar subindo com o motorista. O pensamento de Thomas e Amélia aos seus cuidados amorosos por três dias e noites fizeram o meu sangue correr frio, mas eu tinha pouca escolha. Talvez eu pudesse encontrar uma maneira de ajudá-los escapar entre agora e depois, durante o dia quando os vampiros seriam menos poderosos para persuadi-los. Então de novo, eu realmente achava que eles poderiam ir muito longe, escondidos bem o bastante, que Kali não os encontrasse uma vez que o sol se posse? Isso seria até mesmo pior para eles. Enquanto a carruagem deslocava-se com ruídos, Amélia se inclinou para frente e agarrou minhas mãos. “Pelo amor de Deus, Dulcie,” ela chorou. “Nos ajude!” Eu sacudi suas mãos livres. “Ninguém pode ajudar você agora, Amélia.” Se eu tivesse a chance eu deveria dizê-los o que eu planejei? Um gesto errado de qualquer um deles, uma palavra errada, e toda a estratégia iria falhar a nossa volta. Eu sabia que seria melhor se eles pensassem que eu estava na liga da Destruidora. Eu suspirei e olhei para fora da janela para evitar as lágrimas de súplicas de Amélia e os soluços. Querida Deusa, eu não podia ficar aqui três dias e noites assim. Sem importar o perigo eu teria que dizer algo a eles afinal. Eu quase gargalhei alto quando nós paramos na frente do Hotel Grillion na Rua Albemarle. Se apenas Devlin e Michael soubessem que Kali e Sebastian tinham pego quartos no mesmo hotel que eles! Levou um pouco de persuasão para conseguir que o recepcionista me desse os números dos quartos deles, mas ele finalmente sucumbiu ao meu charme.
“O que é isso tudo, bruxa?” Kali perguntou enquanto nós subíamos as escadas. Sebastian ficou do lado de fora com a carruagem. Eu me perguntei se Kali faria uma mala para ele. Eu não acho que Sebastian iria gostar de vestir as mesmas roupas por uma semana, também. Eu gargalhei então. “Você percebeu que você está ficando no mesmo hotel que os Justos?” Ela pausou na escada e olhou ao redor. “Não se preocupe, eles não estão aqui. A última vez que eu os vi eles estavam sangrando uns aos outros em um armazém descendo para as docas.” Ela olhou para mim. “Eu não me preocupo, bruxa, mas eu não vivi todo esse tempo sendo descuidada. Você os matou?” “Não, eles correram para afrontar cerca de uma dúzia de vampiros excêntricos enquanto eles estavam me perseguindo pela cidade. Eles estavam apenas feridos e pela hora que eles se recuperarem o suficiente para voltarem para o hotel, nós teremos partido há muito tempo daqui. Eu pedi pelos seus números de quartos para que eu pudesse roubar algumas roupas de Justine.” Nós encontramos o primeiro dos quartos. A porta abriu com um som de estalo enquanto eu empurrava forte contra a trava. Meia dúzia de vestidos e outras coisas de senhora estavam espalhadas de um lado ao outro dos móveis dourados me dizendo que eu tinha encontrado o quarto certo. Kali inquiriu a câmara vazia e então se virou para mim. “Se você sequer pensar em trair, bruxa-” “Eu não tenho intenção em trair você, Kali. Desde que eu acordei como um vampiro eu percebi que eu estive errada sobre muitas coisas, nada menos do que são os meus ex-compaheiros. Eu atravessei muita coisa para não terminar no lado vencedor disso. Eu não tenho a intenção em trair você; eu tenho a intenção em ficar ao seu lado. Eu descobri que eu gosto bastante do gosto da vitória.” Ela não pareceu convencida, mas disposta a me dar o benefício da dúvida, por agora. “Nós veremos. Fique aqui e eu retornarei para você logo.”
Ela caminhou atravessando a porta e eu a chamei, “Kali, outra coisa. Meu nome é Cin Craven, a Sacerdotisa da Destruidora. Eu apreciaria que você usasse isso ao invés de me referir como a ‘bruxa.’ Seus olhos se estreitaram por um momento e então ela inclinou a sua cabeça e voltou a caminhar descendo o corredor. Eu fechei a porta atrás de mim, escutando até ela alcançar o final do corredor, e então me afundei no chão, tremendo. Eu deveria ser insana. Como eu possivelmente iria conseguir manter isso por três dias? Roubando as roupas de Justine, eu logo percebi, apresentada a um bocado de problemas. Eu tive que cortar a maior parte da parte de trás da renda do vestido de luto porque eu não podia alcançar todos os botões então não havia forma que esse vestido fosse mais usável. Mesmo se ele fosse, o sangue na seda logo iria começar a cheirar. O problema maior é que eu não tinha contado em exatamente quão diferente a estrutura corporal Justine e eu era. As bainhas dos seus vestidos arrastavam o chão porque ela era ao menos dez centímetros mais alta do que o meu um metro e sessenta e cinco. Sua cintura era também um pouco mais estreita, mas ao menos a moda atual dos vestidos sem cintura estava em minha vantagem nesse placar. Não, era com os corpetes que eu estava tendo mais problema. Todos os vestidos de Justine eram decotados e meus seios eram maiores do que os dela. Tê-los apertados dentro do vestido era uma coisa, mas então eles ameaçavam estourar de volta para fora se eu fizesse muito mais como um movimento errado. Eu abri a tampa de outro baú e encontrei mais vestidos, nenhum deles nada melhor do que eu já estava tirando. Um terceiro baú continha lingeries, camisas e uma absurda variedade de escandalosas pantalettes41 de Paris. Eu segurei uma das delicadas roupas íntimas na minha cintura e olhei no espelho, sacudindo minha cabeça. Arremessando a pantalettes na cama, eu considerei o último baú. Era melhor ter algo mais útil nesse aqui. A mulher não possuía um vestido modesto? Eu abri a tampa e quase cantei com deleite. Ele continha todo o vestuário masculino de Justine. 41
(Pantalettes são roupas que cobrem as pernas usada pelas mulheres, meninas e meninos muito jovens (são as roupas íntimas) no início dos anos para meados do século XIX.)
As bermudas não couberam um pouco melhor do que os vestidos, mas elas eram um bocado de uma melhora. Elas estavam apertadas na pele de um lado ao outro dos meus quadris e não fecharam completamente os botões em todo o caminho até a cintura. Eu me movi pelo quarto e o tecido cedeu o bastante para fazer as bermudas quase confortáveis. Eu selecionei uma camisa bege de linho o qual era obviamente feita sob-medida para Justine e apertava um pouco mais do que eu gostaria, mas isso também serviria. Eu encontrei um par de botas que provavelmente vinham apenas acima dos joelhos de Justine, mas em mim elas montavam na meia-coxa. Elas eram muito grande, claro, mas eu surrupiei ao redor e encontrei dois pares de grossas meias de lã e com eles ao mesmo tempo as botas eram usáveis. Eu enchi uma valise e empurrei poucos pares de bermudas e cinco camisas de cores variadas e materiais dentro da mala. Cruzando para a mesa eu vi uma das adagas com pontas de safiras de Justine colocadas ali. Ela deveria ser sobressalente, eu pensei, e me perguntei quantas delas ela tinha. Eu a recolhi e a pesei na minha mão. Muito bom equilíbrio. Eu amarrei a bainha a minha coxa para que a minha bota escondesse a faca, apenas como eu tinha visto Justine fazer. Então eu puxei um pedaço de papel para fora da mesa e rabisquei um rápido bilhete. Fique bem atrás. Se ela sentir você perto, nós estamos todos mortos. Eu preciso de um lugar sagrado para trabalhar no feitiço – nós estamos indo para Salisbury. Se tudo sair bem eu vou encontrar você depois. Se não, então que a Deusa ajude a todos nós. E obrigada, Michael, por tudo. Eu acho que eu realmente amo você. Cin Eu enfiei o bilhete dentro do corpete do meu vestido descartado. Talvez eles fossem retornar ao hotel para encontrá-lo, mas eu não sustentava grandes esperanças. A porta se abriu sem nada mais do que uma batida e eu me levantei rapidamente, tentando não parecer culpada ou chamar atenção para o que eu estava fazendo. Kali ficou no vão da porta, seu vestido dourado foi trocado por um de verde jade manchado com dourado. Seus olhos se alargaram quando ela me viu. Ela espreitou ao meu redor, olhando-me de cima abaixo. Eu enrijeci quando ela se moveu atrás de mim e eu não mais podia vê-la, mas eu não me virei.
Ela se pressionou contra as minhas costas e sussurrou no meu ouvido, “Eu gosto disso. Muito.” Eu estremeci, e não de excitação. “Você teve um dos Justos na sua cama,” ela ronronou, “Eu posso sentir a mudança em você. Não a mulher loira, eu acho. Foi o Devlin ou o seu Arcanjo? Talvez os dois? Isso nada importa. Eu vou ensiná-la a amar o toque de uma mulher. Você não tem idéia do prazer que eu posso provocar em você.” “E a Yasmeen?” Eu perguntei, adiando, evitando ter que dizê-la que eu certamente não tinha intenção de alguma vez seguir de boa vontade para a sua cama. “E Yasmeen?” ela perguntou, confusa. “Eu pensei que você planejasse trazê-la de volta.” “E eu vou trazer.” “Ela não vai ficar com ciúmes?” Kali gargalhou, um som de puro prazer. “Oh, minha querida, Yasmeen vai gostar de você também.” Maldição. Essa noite só continuava ficando mais assustadora e assustadora. Aparentemente Kali não podia viajar por uma semana com menos de duas grandes arcas. Então de novo, talvez uma delas fosse de Sebastian. Kali estava dando ordens aos carregadores sobre como eles deveriam prender as arcas no topo da carruagem. Eu podia ouvi-la estalando com um dos jovens homens para ser cuidadoso. Eu me senti como uma pobre com a minha única pequena valise, mas eu a entreguei para um dos carregadores e subi para dentro da carruagem. “Escute rapidamente,” eu sussurrei para Thomas e Amélia. “Eu vou tirar vocês disso, eu juro, mas vocês precisam ser fortes. Isso não vai ser agradável ou fácil. Eu tenho que atuar, entretanto, como se eu estivesse do lado dela e eu não posso ajudar vocês se vocês fizerem algo tolo. A melhor coisa que vocês podem fazer é ficarem quietos e não atrair atenção á vocês mesmos. Vocês me entenderam?”
Eles assentiram e Amélia soluçou, “Meus bebês?” “Eles estão seguros com Sra. Mac por agora. Não se preocupe com eles.” Soluçando, ela enterrou sua cabeça no ombro de Thomas e ele olhou para mim, seu cabelo chocolate tão bagunçado como o da sua mulher, seus pálidos olhos azuis preenchidos com preocupação. “Nós faremos como você disser, eu prometo,” ele prometeu. “Obrigado por ter visto as crianças.” Eu assenti para a porta. “Ela é um demônio e uma assassina, nunca se esqueça disso.” “E você?” Thomas disse suavemente. “O que é você?” Eu vi Kali movendo-se em direção a porta e soube que meu tempo estava esgotado. Reclinando para dentro do assento eu deixei minha capa cair aberta revelando minhas bermudas e apoiando um dos meus pés com bota no assento próximo a ele. Kali subiu para dentro da carruagem e o porteiro fechou a porta. “Eu sou um vampiro,” eu respondi. “Eu não sou mais a garota que você conheceu.” Kali sorriu presunçosamente para Thomas e ele abaixou seus olhos, não encontrando o olhar dela. Eu virei a minha cabeça para olhar para fora da janela. Sim, eu não era mais a garota que ele conhecia e eu nunca mais seria novamente. Eu me dei a Michael, por uma noite e por toda a eternidade. Esperançosamente eu viveria tempo o bastante para me segurar em seus braços mais uma vez, para sentir o seu duro corpo em cima do meu, dentro de mim, para olhar para aquele rosto de beleza sobrenatural mais uma vez. O pensamento era tudo o que me sustentou através das poucas próximas horas.
Capítulo
N
ÓS CONSEGUIMOS CHEGAR APENAS TÃO DISTANTE quanto Chiswick na primeira noite. Ainda estava completamente escuro quando a carruagem arrancou para dentro de do jardim de uma hospedaria, mas eu podia sentir o amanhecer se aproximando como eu nunca tive antes, como se algum instinto profundo dentro de mim estivesse gritando para eu encontrar um abrigo. Eu observei pela janela enquanto Sebastian pulou descendo da cocheira, lançando uma moeda para o rapaz sonolento saindo da hospedaria e moveu-se para abrir a porta da carruagem com floreio. Kali se inclinou adiante e olhou nos olhos de Thomas. “Se comportem aqui. Se vocês gritarem ou fizerem uma cena eu simplesmente vou assassinar cada alma naquela hospedaria. A vida deles não importa para mim. Elas importam pra vocês?” Amélia olhou para fora da janela ao jovem rapaz e agarrou a mão de Thomas. Thomas assentiu e nós saímos da carruagem. “Philip, venha,” Kali chamou o seu motorista e nós todos marchamos para dentro da hospedaria. O administrador da hospedaria, um Sr. Hughes, era um homem redondo, com aparência alegre. Ele sorriu e assentiu enquanto nós andávamos através da porta,
seu olhar descansando em Kali em apreciação. Eu não o culpava; ela era uma mulher bonita, se você não se importasse pelo fato de que ela fosse uma insana assassina. Kali requisitou um grande quarto. “Dois quartos,” eu disse. “E uma cama estreita.” Ela estreitou seus olhos para mim. Eu dei de ombros e sussurrei, “Eu estou cansada e eu não vou ficar a manhã em claro preocupada sobre o que vocês dois irão tentar fazer comigo se eu cair no sono. Eu vou levar eles dois,” eu disse acenando para meus primos, “e você e Sebastian podem pegar o outro quarto.” Ela me deu um suspiro irritado e requisitou dois quartos. Nós todos a seguimos subindo os degraus como camponeses seguindo o rastro da rainha. Sr. Hugdes parou na frente do primeiro quarto. Abriu a porta, ele gesticulou para mim. Eu caminhei para dentro para encontrar um quarto espaçoso com duas camas, um guarda-roupa, um lavatório e uma confortável poltrona perto da lareira. “Não precisa de uma cama estreita,” ele disse. “Esse deve encaixar muito bem, eh?” “Muito bem. Obrigada, Sr. Hughes,” eu respondi. Ele deixou Kali e Sebastian entrarem no seu quarto então perguntou se nós gostaríamos que nos enviassem café da manhã. “Não,” Kali respondeu. “Sim,” eu disse. “Três de nós apreciariam muito bem uma certa quantidade.” Hughes olhou para Kali como se buscando a sua permissão e ela sorriu glacialmente e inclinou a sua cabeça. Ele se retirou, sussurrando enquanto ele partia. Eu gesticulei para Thomas e Amélia para entrarem no quarto enquanto Kali cruzou o hall da porta do seu próprio quarto. “Eles tem que comer,” eu disse simplesmente. “Por que?” ela perguntou, como se ela realmente não entendia o propósito de os alimentar.
“O que você quer dizer com ‘porque’? Eles são humanos, Kali. Eles têm que ter algo para comer e beber.” “Talvez,” ela disse, olhando para dentro do quarto onde Thomas e Amélia se encolhiam juntos em uma das camas. “E você? Você vai ficar aqui bebendo enquanto Sebastian e eu dormimos?” Eu bufei. “Claro que não. Eles não podem ser tocados, você sabe disso.” Seus olhos estalaram para os meus. “O que você quer dizer?” “Eu pensei que você soubesse,” eu disse, meus olhos amplos em uma simulada surpresa. “Eles devem estar puros para o sacrifício. Nós não podemos nos alimentar deles ou eles serão inúteis para nós.” Ela rangeu seus dentes; eu quase podia ouvir o rangido. “Ótimo, mantenha os seus humanos bichinhos de estimação. Philip vai ficar de guarda do lado de fora hoje. Ele tem ordens para arrancar os braços de qualquer um que tente deixar esse quarto, entendeu?” Eu assenti. “Bom. Descanse bem, Sacerdotisa. Essa noite nós nos alimentaremos e então nós devemos viajar. Eu estou ansiosa para ver essas suas Stonehenges.” “Descanse bem,” eu respondi e caminhei para dentro do quarto, fechando a porta atrás de mim e me inclinando contra ela com um suspiro de alívio. “Dulcie, deixe-nos ir,” Amélia implorou. Eu sacudi minha cabeça e cruzei para fechar as abençoadas pesadas cortinas sobre uma janela do quarto. Correndo a outra cama para o canto mais distante do quarto eu respondi, “O cocheiro é uma das suas criaturas. Ela falou sério quando ela disse que ele arrancaria os braços de qualquer um que tentasse deixar esse quarto.” “Mas há três de nós e apenas um deles,” Thomas argumentou. “Eu lutei com eles antes,” eu disse, colocando o Livro das Sombras na poltrona e lançando a minha capa sobre ela. Eu removi a faca da minha bota, deitando-a em
cima da minha capa. “Vocês podem cortá-los em pedaços e eles continuam avançando.” Amélia olhou para mim com horror. “Dulcie, querido Deus, o que você esteve fazendo lá em Ravenworth?” Eu lentamente consegui remover minhas botas e me estiquei em cima da cama. “É uma história muito longa,” eu suspirei. “Se há alguma maneira que eu possa afastar vocês dela antes de nós chegarmos em Stonehenge eu faria mas se nós tentarmos e falharmos ela vai matar a todos nós. É melhor nós residirmos o nosso tempo e esperar.” “Dulcie, o que você quis dizer quando você disse que você era um vampiro?” Amélia perguntou. “Um morto-vivo foi o que ela quis dizer,” Thomas grunhiu. “O demônio roubou a sua alma e agora ela não é nada mais do que um morto-vivo.” “Isso,” eu me escorei para cima em um cotovelo e apontei para a porta fechada, “é um morto-vivo. Eu sou algo bem mais. E ele não era o demônio e ele não roubou minha alma. Ele é um bom homem e ele e seus amigos virão para nós. Até então, eu sou a única coisa em pé entre vocês dois e uma morte muito horrível então eu acho que eu mereço um pouco de respeito.” “Claro,” Thomas disse, parecendo vergonhado. “Eu peço desculpas, Dulcie, sinceramente. Mas o que nós vamos fazer?” Eu expliquei o plano a eles. Nós iríamos para Stonehenge. Kali pensaria que eu estava fazendo o seu feitiço, mas na realidade eu iria trabalhar em um feitiço de vinculação contra ela. Eu tinha que dar uma outra olhada naquele papel que ela tinha com as instruções para o seu feitiço, comparar com o feitiço de vinculação e descobrir uma maneira de bagunçar os dois para que ela não fosse notar que nada estivesse errado até ser muito tarde. No momento, entretanto, eu estava muito exausta para pensar sobre isso. Uma batida na porta do quarto e eu me levantei para atendê-la. Philip estava ao lado, olhos encarando o vazio adiante, enquanto o menino do jardim da hospedaria pisava para o lado de dentro com minha valise. Uma muito
jovem arrumadeira apareceu atrás dele com uma pesada bandeja de comida e bebida. Ela colocou a bandeja na mesa em frente da lareira, curvou uma reverência e partiu. O menino colocou a minha valise no final da cama. Eu pesquei uma moeda da minha carteira. “Os outros que estão comigo,” eu disse, “eles vão dormir até o crepúsculo. “Fique assustado por isso, entendeu?” Ele olhou para mim com mais sabedoria em seus olhos do que qualquer jovem garoto deveria ter. “Sim, senhorita. O mauricinho no outro quarto, ele é um daqueles tipos de almofadinhas, eh?” Eu não tinha idéia sobre o que ele estava falando, mas eu sorri complacentemente e assenti. Quando ele se foi e a porta fechou firmemente atrás dele, Philip permaneceu de pé como uma estátua no seu posto, eu me virei para Thomas. “O que ele quis dizer?” eu perguntei. Thomas corou e olhou abaixo para os seus ovos. “Você realmente não quer saber,” ele murmurou. “Ele vai ficar bem longe deles, embora, acredite em mim.” Eu dei de ombros e deslizei para dentro da cama. “Comam bem, se lavem, façam qualquer coisa que desejarem, apenas sob nenhuma circunstância vocês abram aquelas cortinas ou coloquem os pés do lado de fora dessa porta. Use o dia para descansar,” eu adverti. “Será uma longa noite.”
Capítulo
K
ALI ENTROU RAPIDAMENTE NO QUARTO AO PÔR DO SOL. Eu tinha acabado de ajudar Amélia com o seu cabelo e estava colocando o pente de volta na minha valise. O olhar de Kali varreu a câmara, satisfeita que nós estávamos todos onde ela tinha nos deixado. “Eu pensei que você gostaria de aparecer na porta ao lado. Eu ordenei que subisse algo para comer,” ela disse com uma gargalhada imoral. “Eu acho que eu preferiria sair.” Eu respondi. “E eu preferiria que você ficasse aqui,” ela estalou. “Eu não pretendi ofender,” eu disse, tão humildemente quanto eu podia manobrar. “Tudo isso é muito novo para mim e eu prefiro me alimentar em privado. Por agora.” Ela cruzou o quarto em um borrão de movimento, agarrando meu cabelo e o retorcendo no seu pulso. “Você sempre tem tais respostas prontas, uma razão lógica para me desafiar a cada volta. Isso aumenta tediosamente.” Ela me soltou com um pequeno empurrão e segurou as minhas mãos para fora, palmas para cima. “Eu não estou tentando desapontar você de qualquer maneira. É apenas minha preferência pessoal.”
“Alguém poderia pensar que você se importa pela minha preferência pessoal,” ela estalou. “Vá se alimentar, mas leve Sebastian com você. Eu passei por muitos problemas para adquirir você, eu odiaria que algum infortúnio caia sobre você.” Isso era ridículo. Que prejuízo possivelmente viria a mim? Ela queria o seu cachorrinho para me vigiar, nada mais. “Eu não jantei com o Sebastian quando eu estava viva e eu não tenho intenção de começar agora.” “Você vai fazer como eu disse!” ela gritou, sua fúria fluindo dela em ondas, fazendo meus dentes doerem com o poder disso. “Eu sou a mestre aqui, garotinha, não você.” “Ótimo,” eu disse. “Diga a ele que eu estou pronta.” Sebastian apareceu no vão da porta, um sorriso fácil nos seus lábios. Ele provavelmente esteve espionando. “Leve-a para fora pra comer,” Kali ordenou Sebastian se curvou, cada centímetro de cavalheiro, e ofereceu o seu braço. Eu me encolhi, mas aceitei o gesto. Eu tinha provocado Kali o bastante por uma noite; eu gostaria de jogar junto. Além disso, se eu levasse Sebastian para fora para caçar então ninguém iria morrer nessa hospedaria essa noite. Eu esperava. A rua principal ainda estava cheia de pessoas e eu deixei Sebastian me conduzir até as tavernas no final da rua. “Então me conte, Sebastian, pelo que você vendeu pela sua alma?” “O que você quer dizer?” ele perguntou. “Kali. O que ela ofereceu a você que valia a pena a sua vida?” “Você não acha que eu fiz isso simplesmente pela juventude eterna?” ele provocou. “De alguma forma eu duvido disso,” eu murmurei. “Eu quero viver, ser a Sacerdotisa. Eu fiz isso por poder e liberdade e, sim, eu sou mulher o bastante para admitir que a juventude eterna fosse uma probabilidade bastante significativa.”
“Inglaterra,” ele disse simplesmente. “Inglaterra?” eu perguntei incrédula. “Mas que diabos você quer dizer com isso?” “Eu quero dizer que quando as hordas dela alcançarem a terra eu terei duas coisas: Inglaterra e você.” “Então você fez um acordo muito ruim, Sebastian. Eu não serei sua, eu posso garantir isso a você. Eu serei a Sacerdotisa dela e eu não vou ser permutada como um bem imóvel. Quanto a Inglaterra, não haverá restado nada depois dela terminar ali.” “Claro que haverá. Ela fala como se tudo fosse um bom jogo, mas na verdade eu acho que ela gosta desse mundo. Ela terá o seu bocado de diversão, mas não será uma total destruição. Ela vai deixar os mais fortes para que eles possam repovoar o mundo.” “E ela prometeu a você a Inglaterra?” “Sim,” ele disse, triunfo e expectativa em sua voz. “Eu ainda não entendo. Você quer ser rei?” Eu não podia ter a minha cabeça muito em torno disso. Sebastian olhou para mim como se eu fosse insana. “Isso seria traição,” ele assobiou. Eu parei e olhei, e então quase gargalhei no seu rosto. Ele estava totalmente sério e completamente horrorizado. O pensamento que ele se importasse um pouquinho com traição quando ele assassinou sem consciência não fazia sentido para mim. “Eu lutei na França em Wellington,” ele disse. “Você sabia disso?” “Não.” Eu sabia que ele esteve no Continente, mas eu de alguma forma nunca imaginei Sebastian realmente em batalha. “O que quer que eu seja, Dulcinea, eu amo o meu país. A sugestão que eu queira ser rei é ridícula e traiçoeira. A monarquia vai permanecer tanto tempo
quanto a Inglaterra. Eu mal desejo ser o poder atrás do trono. O país será meu e eu vou fazê-lo tão forte que ninguém vai ousar se levantar contra ele de novo.” Eu sacudi a minha cabeça em espanto. Ele era absolutamente insano, não havia dúvida sobre isso, mas poderia haver um vislumbre de algo nobre e patriótico debaixo dessa insanidade? Havia tal olhar de medo e determinação no seu rosto. Era o olhar de alguém que foi arremessado de um cavalo e está determinado a voltar, não porque eles quisessem, mas porque eles apenas não se afastavam. “Sebastian, o que aconteceu com você ali?” eu sussurrei. O que era isso que ele apenas não podia se afastar. Sua mandíbula cerrou e toda a emoção sangrou do seu rosto até não ficar mais nada além de uma máscara em branco. “Nada que diz respeito a você, minha querida,” ele rosnou e agarrou meu braço, me puxando mais rápido descendo a rua principal. Nós pisamos na frente de uma taverna de aparência bastante rude chamada O Galo e o Touro. Eu gargalhei suavemente. “Dê a volta nos fundos,” eu disse. “Eu vou encontrar você ali fora em um minuto.” “Não é para eu deixar você sozinha,” ele contrapôs, cruzando seus braços sobre seu peito. “Sebastian, por favor, como eu vou conseguir que um daqueles homens deixe a taverna comigo com você pairando sobre o meu ombro como um marido ciumento?” “Você tem cinco minutos,” ele rosnou. Eu entrei na taverna e pausei na porta para efeito, escaneando a multidão do lado de dentro. Um silêncio caiu sobre a sala comum. Eu me relembrei de Michael dizendo que eu podia beber líquidos em pequenas quantidades então eu andei para o bar e pedi um whisky. Eu tinha apenas tomado um sorvo quando dois homens apareceram, um de cada lado meu. Eles obviamente eram irmãos, altos e loiros, sujos do dia duro trabalhando nos campos. Eu senti culpa disparar através de mim
pelo o que eu estava para fazer, mas se eu não fizesse isso então não havia como dizer onde o apetite de Sebastian poderia vaguear. “Alô, amor,” aquele no meu lado direito disse. “Meu nome é Nick Bridges e esse aqui é meu irmão Dick. E quem seria você?” Eu sorri acima para ele. “Eu seria a interessada,” eu respondi. “Porque vocês dois bonitos homens não vem comigo dar um pequeno passeio ao luar?” Eu me virei e eles dois me ofereceram seus braços. Gargalhando, eu uni meus braços com o deles, os conduzindo para fora da porta. Nós viramos a esquina, comigo e meus dois delimitadores, para encontrar Sebastian descansando negligentemente contra o prédio. Ele jogou o seu charuto em uma poça e sorriu. “Minha querida, você me surpreende. Quão rapidamente você conseguiu procurar nosso pequeno lanche da noite.” “Aqui, agora,” um dos irmãos disse, “eu acho que você teve uma idéia errada. Nós estamos interessados na moça, não em você, camarada.” “Não,” eu disse tristemente, “é você que teve a idéia errada.” Eu o empurrei em direção a Sebastian e me virei para o outro, agarrando seus braços e o empurrando contra a parede. Sua cabeça rebateu e atingiu o tijolo, nocauteando-o inconsciente. Isso provavelmente foi para o melhor. Fome rosnou através de mim e eu senti meus caninos se alongarem. Eu os afundei profundo no pescoço dele, mentalmente pedindo perdão pelo o que eu tinha que tomar. Eu bebi profundamente, mas não o suficiente para prejudicá-lo. Me afastando, eu o deixei deslizar gentilmente ao chão. O seu irmão estava lutando inutilmente contra Sebastian. Sebastian em pé atrás dele, sua boca rapidamente no pescoço do homem e seus braços o envolveram para mantê-lo imóvel. Quando o homem parou de lutar e seus olhos tremularam fechados eu me aproximei e tirei Sebastian dele. “Basta,” eu disse.
Sebastian removeu o seu lenço do seu bolso e limpou seus lábios. Ele então agarrou o meu queixo em uma mão forte e enxugou um ponto de sangue para fora do canto da minha boca. Eu puxei a minha cabeça para longe e ele deu de ombros, redobrando o linho e retornando-o ao seu bolso. “Você ainda não é velho o bastante para enfeitiçá-los enquanto você se alimenta?” eu perguntei, olhando aos dois homens no chão. “Não,” Sebastian respondeu. “Eu vou ficar feliz quando eu atingir essa idade. Eu odeio quando eles lutam comigo.” “Sério?” Sebastian disse com um sorriso. “Essa é a minha parte favorita.” Eu fiz uma careta para ele. “Seria,” eu murmurei. “Vamos, então. A Destruidora espera.”
Capítulo
O
CHÃO DO QUARTO NA HOSPEDARIA EM AMESBURY tinha um guincho próximo da janela. Depois de ouvir a esse guincho pela décima quinta vez eu me sentei na cama e olhei para Thomas enquanto ele marchava. Ele estava nervoso e eu não o culpava. Nós gastamos ontem enfurnados em uma hospedaria em Basingstoke. Amanhã a noite seria Samhain. Nós iríamos para Stonehenge e nós iríamos derrotar Kali, ou nós iríamos morrer. Ele tinha o direito de estar nervoso, mas esse guincho infernal estava me enlouquecendo. Eu tinha que sair desse quarto. Eu precisava obter os suprimentos remanescentes necessários para realizar o feitiço de vinculação e eu ainda não tinha dado outra olhada no feitiço de Kali. Cruzando para a porta, eu a abri. Philip dos olhos mortos permanecia na entrada da porta. Ele se virou, considerando-me com uma expressão sem vida, como se isso realmente não importasse a ele se eu ficasse ou se eu atravessasse aquela porta e ele tivesse que arrancar os meus braços. E provavelmente não importava. Uma vez que isso importava bastante para mim, eu fechei a porta e caminhei até a parede. Eu bati nela três vezes. Kali e Sebastian estavam no quarto próximo, eu podia senti-los. Um minuto mais tarde ela apareceu na minha porta vestindo um longo manto de veludo preto com botões de prata ascendendo na frente. Eu não tinha idéia do que estava por baixo disso. “O que é?” ela estalou.
Eu pisquei. Ela estava mais estranha do que o usual essa noite. Isso não poderia ser bom. “Eu preciso ver uma cópia do seu feitiço e eu preciso sair e pegar os suprimentos para amanhã a noite.” “Você também precisa caçar. Você não se alimentou na noite passada.” Eu não tinha e a fome agora roia a minha barriga. Ela estava em um estranho humor na noite passada e eu não quis deixar Thomas e Amélia desprotegidos. Essa noite o humor não estava muito melhor, mas eu não tinha uma escolha essa noite. Eu tinha que pegar os suprimentos e eu tinha que ter sangue ou eu seria inútil para eles amanhã a noite. “Sim, eu preciso me alimentar e eu preciso encontrar um boticário. Eu posso ver o feitiço novamente para que eu possa ter certeza que eu tenho os ingredientes certos?” “Sim, me dê alguns minutos e eu vou com você,” ela disse. “Isso não é realmente necessário-” Ela estreitou seus olhos e eu fechei a minha boca. Eu realmente, realmente não queria ir a nenhum lugar com ela, mas eu também tinha a muito distinta impressão que eu não queria a sua raiva essa noite. “Tudo bem,” eu sussurrei. Ela se virou em um redemoinho de veludo preto e eu soltei um fôlego que eu não sabia que estava prendendo. Meu estômago estava atado de fome e medo. Eu me virei para Thomas. “Eu voltarei em uma hora ou duas. Não se preocupem, Sebastian não vai prejudicar vocês. Ele não arriscaria a sua cólera.” Thomas assentiu e eu esperei que eu estivesse certa. O ar estava frio e fresco, úmido da chuva que tinha caído naquele dia. Eu esperava que o tempo fosse se manter amanhã a noite. Eu não podia pensar em nada mais miserável do que ter que trabalhar esse feitiço na chuva em Outubro no
exterior, na desprotegida vastidão da Planície Salisbury. Eu virei minha cabeça para o oeste. O henge42 estava a três quilômetros do lado de fora da cidade. Eu inalei profundamente como se eu pudesse talvez cheirar ou senti-lo. Eu não podia, claro. Se eu estivesse mais perto eu podia sentir, mas três quilômetros era muito longe. Eu senti algo mais entretanto. Eu me virei e escaneei a quase vazia rua, mas não vi nada fora do normal. Ainda, eu podia sentir olhos lá fora, de algum lugar. Alguém estava nos observando. Era o Michael? “O que você está procurando?” Kali perguntou. Minha atenção estalou de volta para o demônio perto de mim. “Oh. Eu estava apenas vendo se eu podia sentir o henge daqui.” “Você pode?” “Não, está ainda muito longe.” “Conte-me sobre essas pedras de vocês.” Eu arrastei meus pensamentos de Michael e estremeci. “Elas são antigas e muito poderosas. Eu desejo que eu pudesse tê-las visto antes delas caírem em ruínas; elas deveriam ter sido magníficas. Minha mãe me levou ali para vê-las quando eu era uma criança.” “Ah, sim, sua mãe. Uma linda mulher. Eu pensei que ela fosse a minha bruxa, no início.” Algo muito frio se espalhou dentro de mim e eu parei e me virei para Kali. Ela tinha visto a minha mãe. Ela esteve próxima, mesmo antes de Sebastian vir a mim, e nós não sabíamos. Eu tinha estado errada sobre o cocheiro da morte? Kali tinha sido a única responsável pela morte dos meus pais? “O que você sabe sobre a minha mãe?” eu disse, minha voz soando áspera e ameaçadora, mesmo para mim. Kali ergueu uma sobrancelha. “Eu tenho observado você.” “Quanto tempo?” 42
(henge –Stonehenge)
Ela deu de ombros. “Semanas antes de eu enviar o Sebastian a você.” Eu fechei minhas mãos em punhos para impedi-las de tremer. “Você matou meus pais?” eu disse, muito lentamente. “Claro que não,” ela zombou. “Aquilo foi um acidente verdadeiro.” Eu estreitei meus olhos. “Porque eu deveria acreditar em você?” Ela gargalhou. “Porque eu iria mentir? Honestamente criança, você acha que eu me importo o suficiente sobre os seus sentimentos para mentir para você?” “Eu não sou uma criança e, sim, eu acho que você mentiria se você achasse que eu não faria o seu feitiço para você se eu descobrisse que você matou meus pais.” Raiva radiava dela. “Você é uma criança, uma berrante e infantil. Você tem o que? Vinte e dois? Eu tenho visto mais milênios do que você pode começar imaginar. Eu estava dominando milhões quando as suas preciosas Stonehenge eram nada mais do que um sonho. Eu não me importo sobre os seus temperamentos ou seus sentimentos. Eles não são nada para mim. Era minha intenção pegar você no baile, mas então o seu costume de luto sujou esse plano. Eu não queria esperar outro ano então eu transformei Sebastian porque ele disse que ele podia procurar você. Essa é a verdade, mas pouco importa para mim se você acredita nisso ou não.” Havia algo indefinido na sua voz que me disse que ela realmente não se importava se acreditasse nela ou não e, a Deusa me ajudasse, eu acreditei nela. Tolamente talvez, mas eu acreditei. “Porque Sebastian?” eu perguntei subitamente. “Eu imaginaria que você teria escolhido alguma...” Alguma mulher, mas eu não disse isso alto. “O último tenente que eu tive foi Yasmeen. Eu não esperava que ela me traísse e isso...machuca,” ela disse finalmente, como se ela estivesse surpresa pela emoção. “Eu escolhi um homem dessa vez porque eu espero que um homem me traia. Quando ele fizer, e ele vai, eu não vou sentir aqueles sentimentos inquietantes novamente. Também, ele estava poderosamente motivado para ter você. Da maneira dele ele te ama, você sabe. Ele estava muito zangado quando você se deu para o espadachim.”
Eu olhei para os meus pés e continuei andando descendo a rua principal. Eu não queria comentar os meus sentimentos sobre Sebastian, e especialmente não os meus sentimentos por Michael. “Eu disse a ele que ele era um tolo,” Kali continuou, abstraída ao fato de que eu não estava encorajando a conversa. “Virgindade é altamente superestimada. Você sabe que há homens nesse mundo cujo deus promete a eles que eles terão várias virgens no paraíso?” ela gargalhou, uma alta, pronúncia rolada de contentamento. “Você pode imaginar algo mais tedioso? Uma mulher experiente na sua cama é inegavelmente mais satisfatório.” Eu olhei para ela, impressionada que ela verdadeiramente pensou que eu me importasse sobre a visão de Sebastian sobre minha castidade. “Esse irá servir?” ela perguntou. Eu pisquei e olhei ao redor. Nós estávamos em frente de uma loja boticária com uma grande janela de sacada e um letreiro sobre a porta que lia-se Silas Simms, Boticário. Eu espiei pela janela escurecida a fileira de frascos e ervas. Parecia bemestocado. “Isso deverá servir,” eu concordei. Ela agarrou a maçaneta e empurrou. Houve um som de madeira quebrando e a porta oscilou aberta. Eu pisei no lado de dentro e olhei a minha volta, minha lista apertada fortemente na minha mão. Uma coisa boa sobre ser um vampiro, eu não precisava da luz de velas para ver no escuro. “O feitiço,” eu disse. Kali se virou e olhou para mim em dúvida. “Eu preciso ver o feitiço a fim de ter certeza que eu tenho os ingredientes certos.” Ela alcançou dentro do seu bolso e puxou para fora um pequeno, pedaço dobrado de pergaminho amarelado. Eu o peguei dela e li os ingredientes, surpresa de quanto poucos eles eram. Então de novo, quando você tem sangue humano alimentando a sua magia eu suponho que você não precise de muito mais ajuda.
Eu deitei o papel no balcão e deslizei atrás dele para reunir o que eu precisava. Eu escolhi as ervas para o feitiço de Kali e então me movi para encontrar aquelas que eu precisava, esperando que ela não notasse os ingredientes extras. Olhando para cima, eu a observei perambular através da loja, pegando frascos e escaneando o conteúdo das prateleiras, parecendo não prestar qualquer atenção em mim. Eu não era tola. Eu rapidamente coloquei o óleo de rosa, arruda e alecrim dentro da mala e então comecei a procurar pelo esconderijo de Silas Simms. Geralmente cada boticário teria um armário ou gaveta que continha coisas que apenas as bruxas iriam querer. O fornecimento aberto às bruxas não é aconselhado, mas é lucrativo. Voltando aos tempos das Fogueiras a maior parte das pessoas que ficavam na praça da cidade observando a bruxa queimar tinha ido a ela para encantamentos ou por curas eles mesmos, os hipócritas. Eu tinha acabado de encontrar os suprimentos de velas negras e estava escorregando vários para dentro da minha mala quando uma voz zangada me assustou. “’Mas que diabos vocês estão fazendo na minha loja?” o homem gritou, empunhando um picador de ferro da lareira. Maldição. Sr. Simms deveria viver acima da sua loja. “Olhe pra mim,” Kali disse suavemente. Ele se virou, surpreso. Ele não a tinha visto ali. Ele olhou para o seu lindo rosto e se perdeu. Ela o enfeitiçou com um olhar. O picador de ferro lentamente abaixou ao seu lado e então tiniu no chão enquanto ele continuava olhando para ela, um olhar vago no seu rosto. Eu senti um horrível sentimento de culpa enquanto eu dava a volta no final do balcão. Eu tinha invadido a loja do pobre homem, roubado dele (não que eu não estivesse planejando deixar para ele três vezes mais do que os suprimentos valiam) e agora eu iria tomar o seu sangue. Minha culpa era apenas oprimida pela minha fome. Eu não iria machucá-lo, depois de tudo, a muitas vidas dependiam mediante a minha força. Eu caminhei atrás dele. Ele era um homem pequeno, apenas cerca da minha altura. Eu envolvi um braço nele e puxei para baixo o colarinho da sua camisa com a outra. Seu sangue me chamava e meus caninos se alongaram e afiaram. Kali
observava enquanto eu afundava os meus dentes no seu pescoço, seu sangue fluindo para dentro de mim, rico e quente, preenchendo-me e me energizando. Eu podia sentir os olhos dela em mim, sentir a tensão arranhar através do seu corpo, mas eu não podia parar. Quando eu tinha bebido minha cota eu soltei o homem. Kali se aproximou na frente dele, seus olhos escuros olhando para mim enquanto ela lambia a ferida e então afundava seus próprios dentes dentro dos buracos que eu tinha deixado para trás. Eu quase puxei o homem para trás dela, com medo que ela fosse matá-lo se ela bebesse dele depois de eu ter bebido, mas ela o soltou depois de apenas uma prova. Eu corei quando eu percebi que ela tinha feito isso para que a ferida se fechasse e desaparecesse. Relembrando da mordida de Sebastian no meu pescoço, eu sabia que eu não era velha ainda o bastante para não deixar as marcas denunciadoras para trás. “Suba para a cama e durma bem,” ela sussurrou. O homem se embaralhou subindo as escadas dos fundos como se ele fosse sonâmbulo. “Você pensou que eu iria matá-lo,” Kali disse. Eu dei de ombros. O que eu poderia dizer? Minha culpa momentânea por pensar que ela tinha a intenção de matá-lo quando ela era a única disfarçando as feridas que eu tinha infligido se perdeu quando eu me lembrei quem e o que ela era. Ela não tinha feito isso por misericórdia ou pena. Ela fez isso porque nós teríamos que gastar mais um dia na hospedaria e ela não queria uma multidão de aldeões com tochas arrastando-nos para dentro da luz do dia. Vindo a pensar sobre isso, eu não estava certa se uma multidão teria realmente a incomodado. Ela provavelmente apenas fez isso porque massacrar toda uma vila teria levado muito tempo. Eu me movi de volta para trás do balcão e coletei minha mala de velas e ervas. Antes que eu pudesse alcançar o feitiço, Kali o pegou e deslizou de volta para dentro do bolso do seu manto. Eu coloquei dinheiro no balcão, quatro vezes o valor que os suprimentos valiam, não que isso fosse acalmar a minha consciência.
“Vamos sair daqui,” eu disse. “Você precisa se alimentar e então eu preciso voltar para a hospedaria e descarregar as ervas e revisar o feitiço novamente.” “Então por todas as razões, vamos retornar para a hospedaria. Eu não preciso me alimentar. Sebastian e eu temos algo arranjado para mais tarde,” ela disse, misteriosamente. Eu realmente não queria saber o que era isso então eu sorri e assenti e conduzi o caminho de volta para a hospedaria.
Capítulo
E
U PAREI NA MINHA PORTA. PHILIP DOS OLHOS MORTOS não se moveu um centímetro, bloqueando minha passagem bastante eficientemente. Eu me virei para olhar a Kali. Ela sorriu de um tipo muito estranho.
“Venha para o meu quarto,” ela praticamente ronronou. Eu dei um passo para trás. “Não,” eu disse, “eu preciso trabalhar no feitiço.” Ela inclinou a sua cabeça para um lado. “Mas você não o tem.” Eu dei de ombros. “Você parece relutante em dá-lo a mim então eu pensei que eu escreveria a partir da memória.” “Você pode fazer isso?” “A maior parte.” “Bem, isso não vai acontecer. Venha para o meu quarto por poucos momentos e eu darei a você o feitiço. Você pode levá-lo com você quando você sair,” ela disse, como se ela estivesse concedendo uma grande dádiva. Eu não era estúpida e nem ela era; não havia chance dela me dar a única cópia daquele feitiço. Eu a segui para a porta, disposta a salientar que o feitiço estava dentro do seu bolso e ela podia apenas dá-lo a mim no corredor. Algo estava errado.
Ela estava tensa, não ansiosa, mas excitada. Ela praticamente flutuou através da porta. Eu a segui para dentro, meus olhos levando uns pouco precisos segundos para se ajustar a obscura iluminação a vela. Foi o tempo suficiente para ela fechar a porta atrás de mim. Eu rodopiei, mas ela não estava dando qualquer atenção em mim, ela estava olhando sobre meu ombro e sorrindo. Me virando lentamente para trás, eu percebi que eu estava em sérios problemas. Eu também descobri o que aquele pequeno “algo” era que ela e Sebastian tinham arranjado. Sebastian estava de joelhos no meio da cama, seu rosto sombreado de perfil. Ele estava completamente nu, pálido e possuindo um pouco mais de músculos do que eu teria pensado que estivesse debaixo daquelas roupas elegantes. Nas suas mãos e joelhos na frente dele estava a roliça garçonete loira do andar de baixo. Os olhos de Sebastian se ergueram lentamente aos meus, correndo por todo o meu corpo, enquanto ele se movia para dentro e para fora dela. Os olhos dela estavam vidrados, não enfeitiçados porque ele não era velho o bastante para isso ainda, mas drogados talvez. Ainda, ela pareceu como se ela estivesse aproveitando. Eu pisei para trás em direção a porta. “Não tão rápido,” Kali disse. “Fique um pouco.” “Não, realmente,” eu tropecei, tentando olhar para qualquer outro lugar além daquela cama. “Eu vou dar a vocês privacidade.” Kali agarrou uma mão cheia do meu cabelo e me lançou poucos pés da porta. “Eu disse fique,” ela comandou e se virou de volta para a cama, respirando fundo. “Ah, Sebastian, olhe o que você trouxe para mim. Apenas o que eu precisava.” O seu manto de veludo caiu no chão e eu estava impressionada em ver que ela estava nua debaixo dele. Todo o tempo que nós estivemos fora juntas ela não tinha uma peça de roupa! Ela espreitou em direção a cama, quadris oscilando sedutoramente. Ela era como alguma selvagem, bonita, exótica criatura da selva; você sabia que ela iria comer o seu rosto fora, mas você não podia fazer nada além de ficar em pé e encarar. Sua pele morena parecia brilhar do interior enquanto ela sentava na cama, se inclinando para acariciar os seios da garota enquanto eles
balançavam-se gentilmente para trás e para frente com cada estocada longa de Sebastian. Kali estremeceu e eu não achei que fosse necessariamente de luxúria. “Que tipo de demônio você era?” eu perguntei. Era como atrair a atenção de uma cobra enrolada, mas eu não podia impedir as palavras. Kali sorriu, seus olhos me observando enquanto ela corria a sua língua subindo a lateral da garganta da garota. “Succubus,” ela ronronou e gentilmente atraiu o lóbulo da orelha da loira dentro da sua boca, como se enfatizando o ponto. Succubus, um demônio que assumia formas femininas e se alimentava do sexo. Não é a toa que ela passasse por muitos problemas para manter aquele corpo. E não admira que seus poderes fossem muito mais fortes do que um vampiro normal. Ela estava desviando energia por se alimentar do sexo. Que explicava muitas coisas, mais especialmente como Devlin veio a ser o seu prisioneiro. Eu me perguntei se ele soubesse o que ela era. Eu observei com fascinado horror enquanto Kali se manobrou para baixo das mãos plantadas da garçonete. Ela era um pouco mais alta do que a garota o qual colocava os seus generosos seios nivelados com o rosto da garota. A garçonete se inclinou para baixo e tomou um dos escuros mamilos de Kali dentro da sua boca, puxando gentilmente e depois mais forte. Kali gemeu e plantou seus pés sólidos no colchão, erguendo seus quadris até seus cachos escuros roçarem contra os da garota. Sebastian nunca tirou os seus olhos de mim. Suas pupilas estavam enormes, fazendo seus olhos sangrarem preto. Ele saiu da garota, seu membro longo e molhado. Ela gemeu e se moveu para trás um pouco, como se o seu corpo estivesse procurando por ele. Ele olhou para baixo então. Ele escorregou o seu polegar profundamente dentro dela, ao mesmo tempo mergulhando três longos dedos dentro da maciez preparada de Kali. As duas mulheres diante dele gritaram de prazer. Ele se virou novamente para mim, se acariciando com a sua mão livre, suor correndo em filetes no seu peito. “Venha aqui,” ele disse firmemente. “Não,” eu sussurrei e então mais forte, “não!”
Era muito para me pedir ao ficar em pé ali e assistir a isso. Eu nunca sequer tinha ouvido em algo assim. Eu me virei e corri para a porta, a voz de Kali me parou apenas quando eu a alcançava. Dor cortou através de mim como giletes em meu cérebro enquanto ela gritava para eu parar. Eu parei então, inclinando minhas palmas e minha testa contra a fresca porta de madeira. Eu me movi através da dor, agarrando a maçaneta da porta e quase chorando quando eu a encontrei trancada. Ela tinha sido capaz de trancá-la do outro lado do quarto? Ou eu apenas não tinha notado que ela trancou atrás de mim quando nós entramos? “Faça o que ele pede,” ela comandou friamente. “Não,” eu disse. “Você não pode me obrigar. Você terá que me matar primeiro e você não fará isso porque você precisa de mim.” “Eu tenho dado a você mais rédea livre do que eu dei a qualquer outro em séculos...bruxa.” Ela cuspiu a palavra para mim e meus ossos começaram a doer do poder que ela estava emanando. “Agora, dessa vez, você vai fazer o que eu digo a você.” “Eu não vou fazer isso,” eu repeti. “Você vai fazer ou eu vou à porta ao lado e mato aqueles dois humanos que você parece gostar também.” “Você vai matá-los amanhã a noite de qualquer forma.” Eu afirmei, cuidadosamente removendo qualquer tipo de emoção da minha voz. Ela gargalhou. “Sim, mas se você não fizer como eu digo nesse momento então Sebastian e eu vamos estuprar a mulher e fazer você e o marido assistirem. Agora. Venha. Aqui.” Eu me virei lentamente, meus olhos brilhando com uma mistura de ódio e medo. Eu cruzei o quarto, suando, tremendo. Quando eu estava perto o bastante, Sebastian estendeu a mão e agarrou meu pulso, me puxando de joelhos na cama. Eu lutei até que eu pude sentir os ossos do meu pulso triturarem debaixo dos seus dedos. “Você não tem idéia quanto tempo eu esperei para ter você de joelhos,” ele rosnou. “Agora, se abaixe e abra a sua linda boca.”
“O que?” eu perguntei, confusa. Kali gargalhou, um som de prazer verdadeiro. “Oh Sebastian, eu acho que talvez você devesse começar lentamente.” Havia um manhoso sorriso em seu rosto enquanto suas mãos perambulavam sobre o corpo da garota. “Ótimo,” ele disse, puxando-me em direção a ele até que eu estava nivelada contra o seu lado. Enquanto seus dedos se moviam furiosamente para dentro e fora das duas mulheres, sua mão livre agarrou a minha, colocando-a no seu inchado eixo. Eu me encolhi; ele estava escorregadio com a essência dela. Ele curvou meus dedos em torno de si, colocando sua mão sobre a minha. Nós dois acariciamos, o ritmo mantendo marcha com a sua outra mão. Ele apertava e afrouxava, me ensinando o que ele queria. Umidade cresceu na ponta dele e ele correu minha palma sobre ela, espalhando-a abaixo no seu duro comprimento. Ele moveu a minha mão entre suas pernas, gentilmente rolando seus sacos entre meus dedos. Deusa, eu o teria amassado se eu não achasse que Kali fosse me matar por interromper o seu esporte, ou talvez cumprir a sua ameaça contra Amélia como punição. Eu fechei meus olhos, quase engasgando com bile enquanto ele se movia contra a minha mão em uma frenética marcha. Kali e a garçonete estavam fazendo suaves, sons de choramingos. Subitamente Sebastian grunhiu e se afastou de mim. Agarrando os quadris da loira e se dirigindo para dentro dela em um único forte movimento, lançando a sua cabeça para trás e gritando. A loira gritou e Kali deu um gemido gutural, afundando seus dentes profundo no pescoço da garota. Os três gozaram juntos em uma onda de dor e prazer. A mão de Sebastian disparou para fora, agarrando meu cabelo e puxando o meu rosto em direção ao dele. Antes que eu soubesse o que ele intencionava ele pressionou seus lábios nos meus e o poder que estava fluindo através dos três derramou para dentro de mim também. Era bem-estar, como chocolate e whisky e cobertas quentes. Era poder, como convocando os elementos e sentindo a enorme força da natureza acelerando através do meu corpo. Era luxúria, como observando Michael cruzar o quarto e então subitamente ter suas mãos sobre mim, seus lábios contra a minha pele nua. Era tudo isso e mais, muito mais. E debaixo disso estava algo sombrio e mau e atado com sangue contaminado.
Eu me libertei de Sebastian e tropecei cruzando o quarto, minha cabeça rodando, meu estômago se agitando, minhas pernas dormentes e formigando. Eu caí contra a penteadeira e me inclinei contra ela por um momento, meu estômago pesado como se eu fosse vomitar. Da cama eu podia ouvir Kali começar a gargalhar. Enquanto eu permanecia ali com minhas mãos apoiadas e minha cabeça pendurada, eu notei que a sua manta descartada estava no chão perto dos meus pés. Alcançando abaixo, eu pesquei o feitiço dobrado do seu bolso e corri para a porta. Para a minha surpresa, ela abriu para mim. Eu me derramei do quarto como uma bêbada de uma taverna, o pungente cheiro de sexo agarrado a mim e a gargalhada zombadora de Kali me perseguindo descendo o corredor.
Capítulo
A
CARRUAGEM TINIU AO LONGO DA NÉVOA DA NOITE. Eu olhei fora da janela, me perguntando se Michael estava lá fora em algum lugar, me vigiando. Teria sido ele que eu senti me observar na noite passada? Eu suspirei para mim mesma. Eu queria que tudo isso terminasse. Queria me curvar em cima da cama, em segurança nos seus braços. Eu descansei minha testa na parede da carruagem. A primeira coisa que eu fiz quando retornei ao meu quarto na noite passada foi chamar por um banho. Thomas foi um completo cavaleiro e manteve suas costas para o quarto enquanto eu me encharcava em uma pequena banheira de cobre atrás de um antigo, quase transparente biombo. Eu fiquei ali, tremendo e me esfregando, até que minha pele estivesse toda enrugada e a água quente tivesse virado gelada. Amélia me trouxe uma toalha o qual ela tinha aquecido na lareira e ela esfregou meu cabelo e foi uma mãe para mim, embora nem ela ou Thomas tivessem me perguntado o que aconteceu. Eu acho que era mais porque eles realmente não queriam saber do que a ausência de qualquer consideração pelos meus sentimentos. O resto da noite e parte do dia eu trabalhei nos feitiços, tentando descobrir como incorporar os componentes de ambos para que eu pudesse mudar de um para o outro no meio do feitiço sem Kali perceber isso e sem comprometer o resultado final. Eu descobri tudo exceto o que eu iria fazer sobre Sebastian se eu conseguisse prender Kali em uma daquelas pedras. Eu teria que lutar com ele, claro. O
problema era que ele tinha a sua espada e ele tinha Philip, que podia ou não podia aceitar ordens dele, e tudo o que eu tinha era uma das adagas de Justine escondida na minha bota. Deitando minha cabeça contra o assento, eu fechei meus olhos. Talvez com magia suficiente eu pudesse afastá-lo até que os reforços chegassem. Talvez. Uma mão no meu ombro puxou-me reta. Kali estava inclinada de um lado ao outro do assento, seu característico vestido Inglês dos últimos dias agora substituído com o traje huri43 que ela vestia no nosso primeiro encontro. Claro, essa não era a mesma saia. Aquela tinha se queimado, eu pensei com um pouco de satisfação. A nova era de vermelho profundo combinando com os rubis em seu colar. Nós parecíamos como pares combinados, eu e ela, todas em preto e vermelho. Meu cabelo pendia solto em sua natural onda escarlate descendo as minhas costas. As botas pretas altas até a coxa de Justine e confortáveis bermudas envolviam minhas pernas. Eu vesti minha capa preta com o forro carmesim o qual quase exatamente combinava com a camisa de seda sob ela. A camisa tinha pequenos plissados reunidos em torno de um modesto decote e longas, fluidas mangas presas nos pulsos em uma queda de rendas tingidas de carmesim. Ela caía em uma insinuação no topo das minhas coxas. A camisa era a mais modéstia de todas as roupas que eu peguei de Justine e depois da noite passada eu sentia que eu precisava de todo o pudor que eu pudesse ter. “Nervosa, minha sacerdotisa?” Kali ronronou, sua mão gentilmente apertando meu joelho. O final do seu cabelo preto roçando seus mamilos onde eles espiavam através dos muitos fios de ouro lavrado. “Talvez quando tudo isso se encerrar nós podemos terminar o que nós começamos na noite passada?” Eu pensei na garçonete loira. Janet era o seu nome. Ela não tinha aparecido para trabalhar essa noite. Toda a hospedaria estava espalhando a fofoca que ela tinha fugido com um amante. Eu sabia quem seus amantes eram e eu me perguntei onde eles tinham escondido o seu corpo. Eu me perguntei se alguém alguma vez a encontraria e daria a ela um enterro apropriado. Eu olhei para mão de Kali em
43
(huri- Mulher belíssima que o alcorão promete ao fiel muçulmano na vida futura. Mulher muito formosa.)
mim, sabendo que ela e Sebastian tinham usado aquela pobre garota e então sentido o prazer em matá-la, e algo dentro de mim estalou. Eu agarrei o seu pulso e a lancei do outro lado da carruagem, aterrissando em cima dela no canto distante, a ponta dos meus dedos enfiando na sua carne. Minha outra mão envolveu a sua garganta e apertou. “Se você alguma vez,” eu disse, com estreita fúria refreada, “sequer, tentar algo como aquilo comigo novamente eu vou talhar o seu coração, queimar o seu corpo a cinzas e montar a sua cabeça sobre a minha lareira. Você me entendeu?” “Você pode morrer tentando,” ela sussurrou. “Então nós duas vamos queimar. Eu não tenho medo de morrer. Você tem?” Ela estremeceu e seus olhos ficaram preto líquido. Querida Deusa, eu percebi, ela ficou excitada com isso! Batendo a sua cabeça uma vez contra a parede, eu a soltei e recuei ao canto oposto. Amélia me considerou com olhos amplos. Eu tinha acabado de quebrar cada uma das minhas próprias regras: manter a sua cabeça baixa, ser imperceptível, não fazê-la se zangar e você poderá viver para ver um outro amanhecer. Mas que inferno, eu pensei, nós todos provavelmente iríamos morrer de qualquer forma. *** Se eu tivesse uma estaca eu provavelmente poderia ter enfiado através do seu coração enquanto ela ficou paralisada, olhando para a maravilha que era Stonehenge. As fortes, silenciosas, sentinelas de pedras erguidas majestosamente da terra lisa da Planície de Salisbury, a luz da lua cheia as tornando douradas com um brilho prateado. Kali balbuciou e correu suas mãos sobre as pedras, caminhando ao redor até que ela parou embaixo de uma das vergas ainda de pé. Alongando as suas mãos para fora, ela respirou profundamente e arremessou a sua cabeça para trás. “Tanto poder. Você poder sentir?” ela sussurrou. “Sim,” eu respondi.
“Quando eu arruinar esse mundo eu vou restaurar esse lugar a sua gloriosa forma. O chão irá correr vermelho com sangue dos sacrifícios que nós vamos realizar aqui.” “Sacrifícios a quem?” eu perguntei, me perguntando para que deus Kali rezava. “Porque não a mim, claro. Esse será o meu templo.” Ela atravessou as pedras verticais de arenito para dentro do círculo interno como se isso já fosse o seu templo. Eu segui atrás, Sebastian e Philip vindo atrás com Thomas e Amélia no reboque. Sebastian sorriu para mim e piscou, uma promessa em seus olhos de coisas que ainda viriam. Eu virei para longe dele e corri minhas mãos descendo as pernas da minha bermuda, como se eu pudesse enxugar a memória da noite passada. “Ali,” Kali disse, apontando para duas pequenas pedras na vertical dentro de uma grande ferradura de trilithons44 em volta do altar de pedra. Philip ficou de guarda enquanto Sebastian forçou Thomas de joelhos e o amarrou a pedra, então se moveu para fazer o mesmo a Amélia. Pobre Amélia, que tinha sido tão estóica até então, começou a gritar e chorar. O olhar no rosto de Thomas era de pura tortura. Eu me virei de costas enquanto eu colocava minhas bolsas de ervas, frascos de óleo e jarra de água salgada em um altar de pedra, tentando ignorar os seus choros. Eu faria o melhor que eu pudesse para salvar todos nós, mas nesse momento eu precisava me concentrar. Eu medi minhas misturas de ervas e óleos cuidadosamente dentro da minha pequena vasilha de pedra: óleo de rosa, sangue de dragão, alecrim, arruda. As pequenas bolsas que Sr. Pendergrass tinha dado a mim contendo o que parecia como cinzas e eu estava agradecida que eu não sabia o que elas realmente eram. As ervas que eu tinha trazido não eram aquelas listadas no feitiço de Kali mas eu não achei que ela distinguisse arruda de tasna45. Ao menos eu sinceramente esperava que ela não soubesse. Se ela percebesse que eu estava usando as ervas erradas, nós todos estávamos condenados. 44
(A trilithon (ou trilith) é uma estrutura que consiste em duas pedras verticais grandes que suportam uma terceira pedra ajustada horizontalmente através do alto. Usado geralmente no contexto dos monumentos megalíticos. Os trilithons mais famosos são aqueles de Stonehenge na Inglaterra e aqueles encontrados nos templos pré-históricos em Malta. A palavra trilithon é derivado do grego ' que tem três pedras. (Tri - três, lithos - pedra). 45 (tasna –nome popular de uma planta, o mesmo que tasneira)
Eu olhei para cima, cuidadosamente, mas ela me deu pouca atenção, muito mais ocupada em andar nas redondezas, olhando para o henge. Quando minhas ervas estavam prontas eu reuni minhas velas negras e caminhei para o lado de fora da ferradura, colocando-as em cima da menor pedra azul que anelava o trilithons interno. Kali me seguiu como uma sombra barulhenta, suas jóias brilhantes oscilando e tinindo com cada oscilar dos seus quadris. Ela deitou uma mão em uma das pedras azuis e rapidamente deu um passo para trás disso, segurando a sua mão contra o seu peito. “Está quente,” ela disse, mais como uma pergunta para mim do que uma declaração do que era para ser. “Sim, estrategicamente aquelas são sempre mais quentes do que as outras,” eu respondi e continuei ao redor, colocando minhas velas onde eu podia. Algo se moveu para fora da Planície e eu congelei, virando a minha cabeça para olhar passando as pedras de pé. Havia uma sombra escura ali fora, baixa no chão. Como se ela tivesse sentido o meu olhar nela, ela parou de se mover e se misturou para dentro da névoa e sombras. Poderia ser o Michael? Não, certamente ele e Devlin pensariam melhor do que se aproximar assim. Não havia árvores perto, nada para prover disfarce. Além disso, ela parecia muito pequena para ser um homem. Eu observei tanto tempo quanto eu pensei que eu pudesse sem alguém notar, mas a sombra não se moveu novamente então eu caminhei de volta para o altar de pedra. “Kali, eu estou pronta para começar, mas eu preciso que Sebastian e Philip se movam para fora do círculo.” “Não,” ela disse, “Eles tem sido leais a mim e merecem estar aqui quando eu recuperar a minha coroa.” “Eles podem ver tão bem do lado de fora do círculo,” eu argumentei. “Você me provocou o máximo que pode por uma noite,” ela disse através de dentes cerrados. “Eles ficam. O problema está encerrado.”
Eu não achava que eu pudesse escapar com essa, mas valia a tentativa. “Ótimo, mas uma vez que o círculo for lançado ninguém pode cruzá-lo. Se alguém quebrar o círculo então o feitiço está arruinado, entende?” “Ninguém vai interferir,” ela me assegurou. “Prossiga.” Eu peguei a minha jarra de água salgada e caminhei para o perímetro do meu círculo, limpando a área como eu tinha feito quando eu fiz o feitiço para convocar Os Justos. Eu caminhei três vezes mais, fechando o círculo, e então a partir do norte convoquei o quarteto. As velas explodiram a vida, apenas quando elas deveriam, e eu senti um pequeno triunfo que eu seria capaz de fazer isso tudo sem a ajuda de ninguém mais. Talvez fosse somente uma questão de tempo ou talvez tivesse algo a ver com eu me tornar um vampiro, mas eu me sentia mais em controle da magia dentro de mim desde quando eu tinha acordado no sótão de Sr. Pendergrass. Eu não me sentia mais uma alienígena; sentia-se como se fosse uma parte de mim. Eu ainda tinha uma grande ação para trabalhar à frente de mim, aprendendo a extensão do poder que eu possuía e como colocar arreios nele e controlá-lo, mas essa noite eu me sentia forte. Claro, a lua cheia, a noite do Samhain e as pedras assustadoras emprestavam-me poder além da minha imaginação. Enquanto eu caminhava de volta e permanecia sobre o altar de pedra eu podia sentir o poder fluindo através de mim. Magia tinha sido realizada aqui desde os tempos imemoriais e da terra relembrada. Poder se ergueu do chão abaixo de mim, batendo através de mim como um tambor. Essa era Samhain, a noite quando o véu entre a vida e a morte era o mais fino, a noite quando todos aqueles que morreram durante o ano eram finalmente capazes de atravessar para dentro do mundo espiritual. Sendo ambos vivo e morto, eu senti a atmosfera carregada dessa noite mais agudamente do que a maioria. Eu fiquei ali no altar de pedra por um longo tempo, me imergindo com o poder e reunindo a minha vontade. Finalmente eu abri meus olhos, flutuando graciosamente fora da pedra, minha capa farfalhando atrás de mim, e andei para Thomas. Amélia era uma massa feminina trêmula de histeria e eu não podia usá-la para o que eu precisava fazer agora. Thomas ajoelhado com a arrogância da família Craven, alto e orgulhoso
encarando uma morte certa. Apenas ele sabia que eu não tinha a intenção de matálo e isso o fez mais corajoso, ao menos até eu alcançar abaixo e puxar a adaga com ponta de safira da minha bota e erguê-la alto. Ele se tornou várias tonalidades mais pálidas com isso. Eu ergui a adaga e pausei. Formando vincos na minha sobrancelha no que eu esperasse que parecesse como completa confusão eu abaixei a adaga e me virei para Kali. “Não,” eu disse, “o feitiço está errado.” “O que você quer dizer com está errado?” ela cuspiu. “Ele não pode estar errado. Ele foi escrito pelas bruxas muito mais bem informadas que você.” “Não, me desculpe, eu não quero dizer que o feitiço está errado, eu quero dizer que a sua interpretação dele está errada.” Eu pensei que a sua cabeça pudesse realmente explodir por ela estar tão zangada. “O que?” ela assobiou, espreitando em direção a mim. “O sangue de dois, não são eles que precisam sangrar.” Ela pausou, inclinando a sua cabeça. “O que você quer dizer?” “Não é o sangue deles, é o nosso. O sangue deles não irá convocar a sua coroa. O sangue deles não tem o poder para fazer isso, apenas o nosso sangue, seu e meu.” “Sim,” ela disse lentamente, “eu vejo a sua lógica.” “Venha,” eu disse e caminhei de volta para o altar de pedra. Eu acho que Amélia realmente desmaiou quando eu virei minhas costas para ela e Thomas. Que foi provavelmente para o melhor. Eu ajoelhei na pedra, colocando ela na minha frente. Ela me ofereceu seu pulso. “Sua faca,” ela disse, gesticulando ao seu pulso exposto.
“Não,” eu disse, sacudindo minha cabeça. Aqui era a parte perigosa. Eu me lembrei quando eu bebi de Michael na noite que eu fui transformada, me lembrei de estar dentro da sua mente como se o sangue dele fluísse para dentro do meu. Eu me vi enquanto ele me viu, senti o que ele sentiu. Eu estava com esperanças que se eu a mordesse eu teria um resultado similar. O que eu precisava era uma imagem daquela coroa, um vislumbre de imagem dos seus pensamentos, algo que eu pudesse usar para atraí-la para dentro do feitiço de vinculação. “Não,” eu repeti, “eu quero que você me ofereça o seu pescoço.” Seus olhos se alargaram em choque e talvez um pouco de medo. “Não,” ela respondeu. “Eu não confio em você o bastante para isso.” “Você quer a sua coroa ou não?” “Eu ofereci a você o meu sangue,” ela argumentou, segurando o seu pulso estendido para mim de novo. “Eu não preciso do seu sangue unicamente na pedra,” eu disse suavemente. “Eu preciso dele dentro de mim, fluindo através de mim.” Seus lábios entreabriram e ela se aproximou. “Seja honesta,” eu sussurrei, empurrando o seu cabelo ébano para trás sobre um ombro para expor o seu pescoço, “você quis a mesma coisa desde a primeira noite em que nós nos encontramos.” Ela não disse nada, mas inclinou a sua cabeça para o lado, oferecendo-me seu pescoço. Eu respirei fundo, me dando suporte para a tarefa desagradável diante de mim. Eu envolvi meus dedos nos seus ombros e me inclinei para baixo. Contra a morena perfeição da sua pele eu sussurrei, “Agora, pense na sua coroa, como ela se parece, como é a sua textura. Chame por ela enquanto seu sangue move através de mim para que eu possa trazê-la de volta a você.” Ela estremeceu e eu senti o seu aceno. Eu respirei fundo e limpei a minha mente, pois se até mesmo um vislumbre do que eu tinha a intenção de fazer passasse para ela durante a troca então tudo estaria perdido. Eu recuei e arranquei
para dentro da sua garganta. Eu não fui gentil e pelo suave som de choramingo que ela fez, isso estava bem para ela. Imagens piscaram através da minha cabeça, breves vinhetas de uma larga, ornamentada trabalhada coroa de osso branco polido, pedras vermelhas a definindo toda como a pedra fixa no talismã de Kali o qual estava escondido no bolso na minha capa. Era o suficiente. Eu recuei e ela balançou em mim, seus olhos pretos líquido com luxúria. Eu me afastei dela e esperei. “Está feito,” eu disse, erguendo meus braços e reunindo meu poder mais uma vez. A locação de sangue expandiu algo escuro dentro do poder que fluiu da terra e brevemente eu me perguntei exatamente o que tinha sido feito ali todos aqueles séculos atrás. Empurrando isso para baixo, eu me movi aos trilithons verticais opostos ao Thomas, Amélia, Sebastian e Philip. Eles estavam para experimentar algo que nenhum deles jamais esqueceria. Com o meu gesto Kali se moveu comigo. Eu estendi a mão e extraí algum sangue do seu pescoço, manchando-o na pedra. Então eu peguei a adaga da minha bota e fiz um corte superficial no meu antebraço esquerdo. Eu apertei o corte até o sangue brotar e então eu espalhei meu sangue em cima do dela na superfície da pedra. Eu não pensei que isso fosse exatamente magia negra, era meu sangue e o dela, dados de boa vontade, mas era uma coisa muito próxima. Eu enviei uma oração silenciosa para a Deusa pela compreensão. Eu me movi de volta para reposicioná-la entre mim e a pedra e então eu empurrei a minha vontade para dentro da pedra. Seria muito mais fácil se eu fosse capaz de dizer as palavras que eu precisava, alto, mas eu não podia. Eu tinha que criar um espaço na pedra para prendê-la. Era como convocar os elementos, para a pedra era a parte da terra, apenas que essa era muito mais dura. Eu empurrei a minha vontade para dentro da pedra, sentindo o que eu queria dela, chamando a terra para fazer o meu comando. Suor cercou a minha testa e as veias na minha cabeça palpitaram. Finalmente, apenas quando eu me senti tonta com o esforço, a superfície da pedra tremeluziu e pareceu desabar sobre si mesma. A abertura pareceu como um estreito corredor de algum castelo antigo, um pequeno túnel aceso com luz cintilante, e dentro desse túnel estava a coroa de Kali. Ela não era realmente a sua coroa, mas um simples glamour imposto dentro da pedra, uma imagem que eu projetei das memórias que ela me deu. A respiração de
Kali ficou presa e eu desejei que eu pudesse ver o seu rosto. Ela estendeu uma mão, pisando para frente para reivindicar o que era dela. Sua mão se moveu através da onde a pedra deveria estar. Isso oscilou como névoa ao redor dela, a coroa apenas fora do seu alcance. Vamos, eu pensei, apenas um pouco mais adiante. E então ela foi. No minuto em que ela pisou completamente dentro da pedra eu permiti quebrar a minha concentração. A sólida superfície de uma gigante pedra agitou de volta a realidade, prendendo-a no interior. Um grito sobrenatural soou de dentro da pedra enquanto eu alcançava o bolso da minha capa, puxando o talismã de Kali para fora e esmagando-o contra a superfície da pedra. Faíscas voaram do disco enquanto o rubi conjurado explodia como um melão maduro. Uma sacudidela de vento voou disso, mandando o meu cabelo voar atrás de mim. O sangue de dentro do rubi rolou na superfície da pedra, misturando com as duas manchas já ali. Eu reuni meu poder e gritei sobre o vento e sobre a pedra gritando, “Kali, a Destruidora, pelo meu sangue eu vinculo você! Pelo poder desse círculo eu vinculo você! Pelo poder da minha vontade eu vinculo você! Eu vinculo você atrás dessa porta de pedra. Até o fim dos dias, já não caminha mais. Então que assim seja!” Houve um estalo de poder, como um clicar de uma fechadura, e o vento que estava fluindo ininterruptamente da pedra se inverteu, sugando-se de volta para dentro da pedra e selando-a do lado de dentro. Eu fiz isso. Querida Deusa, eu pensei enquanto o meu corpo se apertava com exaustão e eu caía de joelhos, eu realmente tinha feito isso! E então detrás de mim eu ouvi o rugido de recusa de Sebastian.
Capítulo
“O
QUE VOCÊ FEZ?”SEBASTIAN GRITOU. correu para mim e eu me fortaleci para o ataque.
ELE
Michael, eu silenciosamente supliquei, agora seria uma
boa hora para aparecer.
A respiração que eu estive segurando explodiu em uma agradecida lufada quando Sebastian roçou passando por mim e foi direto para ficar diante da pedra, batendo nisso com seus punhos, marchando ao redor, chamando por ela. Eu olhei do outro lado do círculo e vi Thomas olhando para mim com sua boca aberta, seus olhos ficando ampliados com assombro, ou possivelmente horror. Amélia ainda estava abençoadamente inconsciente. Philip deitado no chão, bem na verdade morto agora que o poder de Kali não estava mais ali para animá-lo. Uma sombra me chamou a atenção do lado de fora do círculo. Eu observei, como se eu não tivesse nada mais no mundo para me preocupar, como a sombra se movia atrás das pedras. Lobo, eu pensei e então me repreendi. Lobos foram extintos na Inglaterra por séculos. Ainda, esse animal não se movia como um cão. Eu o observei, sua cabeça baixa e sua penugem do pescoço erguida, enquanto ele trotava circulando a extremidade do círculo. A maneira com que ele se movia, aquele fluído movimento em suspensão entre cada passo, não era como um cão se movia. Ele realmente era um lobo, e estava procurando por uma maneira de entrar. Até que um de nós de dentro do círculo o quebrasse, embora, nada mais poderia entrar. Eu virei
minha cabeça de volta para Sebastian e me perguntei se eu não estava mais segura do lado de fora com o lobo. “O que você fez?” Sebastian assobiou, virando-se em direção a mim. “Era o talismã, não era? Eu sabia que você o tinha, mas ela jurou que ele devia ter se queimado no fogo. Ela disse que você não tinha estômago para tomá-lo dela. Ela disse que ela seria capaz de sentir a energia dele se você o tivesse. Sua piranha, eu vou matar você por isso!” Eu estava sentada ali na grama, tremendo e fraca do poder que tinha levado para trabalhar no feitiço de vinculação. Ele correu para mim então, mãos estendida, dedos inclinados como garras. Eu apenas fiquei sentada ali, esperando. No segundo depois que ele caiu em cima de mim eu rolei para trás, dei chutei para cima com minhas pernas, atingindo-o no estômago e o lançando sobre a minha cabeça. Me empurrando para a vertical eu me virei para ver que ele tinha aterrissado nem trinta centímetros da borda do círculo. O lobo estava rosnando agora e se lançando para a barreira invisível do círculo atrás de mim. Sebastian se levantou. “Traga-a de volta,” ele grunhiu. Eu sacudi minha cabeça. “Não.” “Traga-a de volta ou eu vou matar seus dois bichinhos humanos,” ele disse, extraindo sua espada, “e depois eu vou matar você.” Eu suspirei. “Se eu tiver que sacrificar a todos nós para salvar esse mundo então eu vou fazer isso, Sebastian.” Eu alcancei atrás de mim e usei uma das pedras azuis para me levantar. Os músculos nas minhas pernas estremeceram, mas eu consegui ficar sob meus pés. “Agora, se você quer lutar então abaixe a sua espada e lute comigo. Ou você é tanto um covarde que você precisa de uma arma para lutar com uma mulher desarmada?” Os músculos da sua mandíbula se apertaram. Ele virou de costas para mim, para mostrar que eu não emitia nenhuma ameaça a ele, e afundou a ponta da sua espada dentro do chão...e maldito seja o homem se ele não estendeu a mão atravessando a borda do círculo para fazer isso. O escudo invisível caiu com um estouro que fez meus tímpanos doerem.
“Sebastian seu tolo!” eu gritei enquanto o calor de uma pelagem roçou a minha coxa direita. Sebastian tinha se virado e dado vários passos em minha direção antes do seu cérebro processar exatamente o que ele estava vendo. O grande lobo cinza e preto correu para o centro do círculo de pedra, saltando para cima do altar de pedra e pulando para dentro do ar com um rosnado, seus dentes piscando brancos e mortais no luar. Sebastian tinha apenas colocado seus braços para cima em um reflexo defensivo quando o lobo bateu nele, jogando-o no chão. Os gritos de Sebastian romperam o silêncio da noite. “Dulcie!” uma voz feminina gritou do outro lado do círculo. Minha cabeça estalou para cima e ao redor. Em algum ponto Amélia tinha recobrado a consciência e ela e Thomas estavam freneticamente puxando as cordas que os unia. “Eu vou libertar vocês,” eu gritei. “A faca! Onde está a maldita faca?” Eu rastejei em minhas mãos e joelhos, procurando através da grama pela adaga que eu tinha largado. Eu tinha que libertá-los. Uma vez que o lobo estivesse terminado com Sebastian ele iria se virar para o resto de nós. Eu não podia deixálos morrer assim. Eu estava tão aplicada na minha procura que eu não notei quando os gritos de Sebastian pararam. “Dulcie, atrás de você!” Thomas gritou. Eu rodopiei e o lobo estava vindo na minha direção em um lento caminhar. Eu gritei e tropecei para ter os meus pés debaixo de mim. Eu caranguejei andando para trás, mas não havia nenhum lugar para ir. O lobo estava arfando, sua língua pendurada para fora no canto da sua boca. Sangue manchando sua mandíbula, mas ele não agiu como se ele estivesse inclinado a me comer. Eu parei de me mover, minha respiração vindo em arfadas superficiais. Eu fixei meu olhar no chão na frente dele, não o olhando no olho, esperando que se eu não fizesse nada que o ameaçasse então talvez ele apenas fosse embora. Quando ele estava centímetros de mim ele deu um pequeno salto, suas patas da frente subindo e me atingindo diretamente do peito, me lançando para trás no chão. Amélia gritou. Meu olhar involuntariamente voou para o rosto do lobo, seus
olhos cor de âmbar brilhando com inteligência. E então sua cabeça se inclinou na minha direção...e lambeu minha bochecha. Eu deitei ali suando frio, piscando para o preto, estrelado céu. Uma centena de pensamentos e emoções fluindo através de mim, não menos do que se fosse o choque eu não estava gritando e sangrando. O lobo sentou-se em suas ancas e esperou, sua cabeça inclinada para um lado. Eu me ergui sob meus cotovelos e olhei para o animal. Havia algo sobre aqueles olhos... O lobo arremessou sua cabeça para trás e uivou, levantando cada cabelo do meu corpo na vertical. E então eu senti. Poder. Poder e uma nébula brilhante de magia que formigava ao redor na minha pele. O lobo caminhou para dentro do derramamento prateado do luar e seu corpo convulsionou, suas pernas se alongando, seu focinho se encurtando, seu cabelo parecendo entrar na sua própria pele. No espaço de um batimento cardíaco ou dois o lobo se foi e um homem nu permaneceu ali onde ele esteve. Ele era alto e sólido, seus músculos grandes e bem-definidos, estremecendo levemente do estresse da mudança. Meu olhar voou para o seu rosto enquanto o calor rastejou para dentro das minhas bochechas. Ele ainda era bonito, seu rosto não tendo nem a beleza de Michael ou a completa masculinidade de Devlin, mas em algum lugar confortavelmente no meio. Seu cabelo era ainda muito longo, ainda preto estriado generosamente com cinza apenas como a pelagem da sua pele de lobo. “Eu conheço você!” eu cantei. “Eles me perguntaram quando você desapareceu do armazém se você era um vampiro e eu disse que não, mas eu sabia que você não era humano também.” Eu gargalhei. “Mulher,” ele disse, “eu não tenho muito tempo. Você sabe quanta energia isso requer para manter a minha forma humana debaixo da lua cheia?” “Desculpe,” eu murmurei, tentando manter meus olhos de ficar peregrinado para longe do seu rosto. “Como você chegou aqui?” “Eu tenho seguido você,” ele disse, como se isso explicasse muito de nada.
“Mas...porque?” eu perguntei, percebendo que deveria ter sido ele e não Michael que eu tinha sentido me observando na noite anterior. “Você salvou a minha vida e agora eu salvei a sua. Meu débito está reembolsado, vampiro, e a honra está preenchida.” Eu assenti. Eu não iria perder tempo argumentando que ele não me devia nada por salvar a sua vida, especialmente quando ele considerava isso uma questão de honra. Homens eram muito peculiares sobre esse tipo de coisa. “Ele está morto?” eu perguntei, empurrando o meu queixo em direção onde Sebastian deitava imóvel na grama. “Não, mas ele estará. Sua vida não é minha para ser tirada embora,” o lobisomem disse. Virando a sua cabeça como se ele tivesse ouvido algo que eu não, ele inalou profundamente. “O seu companheiro se aproxima.” Eu me girei ao redor. “Michael?” à distância eu podia ouvir cascos de cavalo. Alívio espalhou por mim. Ele estava chegando. Quando eu me virei de volta o homem tinha ido e o lobo permaneceu em seu lugar. “Maldição,” eu murmurei. “Eu desejava ter perguntado o seu nome.” O lobo deixou sair um pequeno latido. “Latido, huh? Bem, latido, você poderia vigiar o Sebastian enquanto eu desamarro meus primos, por favor?” O lobo rodopiou e saltou em cima do altar de pedra, abaixando sua cabeça e silenciosamente mostrando seus dentes. Parecia vagamente como um sorriso canino. Eu encontrei a adaga na grama e cruzei o círculo tão rapidamente quanto minhas pernas trementes podiam me carregar. Levou mais tempo do que eu esperava atravessar as cordas, mas logo eu tive Thomas e Amélia livres. Ela caiu nos braços dele, soluçando histericamente. Ele a segurou mais perto e sorriu para mim sobre o topo da cabeça dela, mas o sorriso não alcançou muito seus olhos, havia uma tristeza à distância neles.
Eu senti meu peito se apertar, mas eu assenti antes de eu me afastar. Não, as coisas nunca mais seriam as mesmas. Sem importar o quanto eu os amasse, sem importar se eles ainda pudessem me amar, eles eram humanos e em algum lugar bem profundo eles iriam sempre pensar em mim como um dos monstros. Era uma parte do sacrifício que eu fiz, eu sabia disso, mas isso não fazia doer menos. Eu caminhei até a extremidade do círculo de pedra, meus braços envoltos ao meu redor. Eu podia ver Michael agora, cavalgando em uma marcha insana do outro lado da Planície. Quando ele me viu ele empinou o cavalo. A cabeça dele lançando violentamente, ele trotou através dos caminhos de obstáculos de pedras que enchiam a área. Era uma prova à vontade de Michael que para chegar a mim ele teve que subir na traseira de um cavalo. O pobre animal estava claramente aterrorizado por ele. Ele conseguiu manobrar o cavalo a uma parada e deslizou das suas costas nuas. Rapidamente soltando a rédea, ele bateu no cavalo na sua garupa e a pobre coisa se arrancou cruzando a Planície, mandando pedaços de terra voando atrás dele. As rédeas caíram no chão com um tinido de metal e eu reuni a última das minhas forças para correr para ele. Seu rosto estava marcado com tensão e preocupação, mas ele deslizou suas mãos para dentro da minha capa agarrou minha coxas e me levantou. Minhas pernas se prenderam ao redor da sua cintura e eu olhei para dentro daqueles olhos azuis-acizentados, corri meus dedos sobre suas maças do rosto e descendo atravessando seus lábios como se para me certificar que ele fosse realmente real. “Eu sei que você disse para ficar para trás, mas quando eu ouvi você gritar...” “Está tudo bem,” eu disse, incapaz de segurar as lágrimas que eu tinha reprimido por dias. “Tudo está bem. Thomas e Amélia estão vivos e o feitiço funcionou, Michael. Kali está presa dentro da pedra. Ele funcionou.” Ele me rodopiou e me beijou. Se eu vivesse outros cem anos eu não acho que nada iria jamais parecer tão perfeito quanto esse beijo. Seus lábios eram calorosos, movendo-se suavemente, mas urgentemente contra os meus, e eu o beijei de volta como se eu quisesse rastejar para dentro dele e ficar ali onde era seguro e nada pudesse alguma vez me prejudicar novamente.
“Dulcie!” eu ouvi Thomas gritar do círculo de pedra. “Ele está se movendo!” Eu me recuei e olhei para o rosto confuso de Michael. Olhos ampliados, eu sussurrei. “Sebastian.”
Capítulo
M
ICHAEL ME GIROU PARA BAIXO E ME POSICIONOU firmemente de lado. Arremessando fora o seu sobretudo para revelar suas altas botas pretas, bermudas e um camisa preta similar aquela que ele vestia na noite que nós nos encontramos pela primeira vez, ele puxou a sua espada livre e espreitou com um propósito letal em direção ao centro do círculo. O que o recebeu ali o fez pausar. Thomas segurava Amélia perto, seus olhos ficando amplos quando ele viu Michael se aproximar, a cruel aparência da claymore46 firmemente em seu aperto. O lobo estava agachado no altar de pedra, dentes descobertos, e Sebastian estava sentado no chão além. Sua garganta tinha sido quase arrancada. Não era uma ferida que iria matá-lo, mas levaria muito tempo para curar e iria doer como um inferno enquanto isso. Eu esperei que ele tivesse aproveitado o seu esporte na noite passada porque eu não achava que ele estaria bebendo de novo em qualquer momento em breve. Eu imagino que apenas acontece de qualquer maldade que você faz vai voltar e mordr você no traseiro, ou na garganta. “Cin, querida,” Michael disse cautelosamente, “você sabe que há um lobo no seu círculo?” 46
(claymore – antiga espada escocesa)
“Oh sim, esse é o Latido. Não o machuque, ele é amigo,” eu disse, correndo para o lado de Michael, os músculos da minha perna e braços ainda vibrando com leves tremores. Michael arqueou uma sobrancelha para mim e Latido soprou uma lufada de ar o que eu imagino que fosse uma versão canina de um bufar. “Bem, tudo bem, talvez não um amigo mas ele atacou Sebastian e salvou minha vida. Eu vou explicar isso tudo mais tarde mas ele está do nosso lado então não o machuque.” Latido grunhiu e olhou severamente para Sebastian e então para Michael antes de virar o seu olhar âmbar para mim. Era como se ele estivesse dizendo que depois do que ele fez ao Sebastian ele duvidava que Michael pudesse prejudicá-lo também. “Oh por favor,” eu disse ao lobo, “ele é um dos Justos, não algum lacaio recémcriado. Dê a ele algum crédito.” Latido olhou para Michael, fez o seu bufado canino novamente e deitou-se no altar de pedra descansando a sua cabeça nas suas patas da frente. Eu não me enganei. Ele olhou para mim, mas suas patas traseiras estavam dobradas debaixo dele em caso dele precisar saltar em um momento de aviso prévio. “Se vocês dois meio que terminaram?” Michael perguntou. Eu abri minha boca para responder, mas ele me cortou. “Esqueça. Me conte mais tarde. Agora, contudo, eu tenho alguns trabalhos inacabados para atender.” Ele espreitou em direção a Sebastian, cada músculo do seu corpo trêmulo com intenção mortal. Sebastian tropeçou aos seus pés e puxou a sua arma do chão. Os dois circularam um ao redor do outro e eu me movi para me colocar entre eles e Thomas e Amélia. “Sem ameaças, Montford? Não tão corajoso sem a sua mestra para lutar as suas batalhas, não é? Qual é o problema? Michael zombou. “O lobo comeu a sua língua?”
Um molhado, borbulhante rosnado veio da garganta arruinada de Sebastian e ele se lançou para Michael. A força do choque das suas espadas mandou faíscas voando do aço. Eles se moveram ao redor de dentro do círculo de pedra com uma velocidade que mesmo eu tive uma dificuldade em seguir. Sebastian pode ter lutado com os Franceses no Continente, mas ele não era páreo para Michael. Depois de vários minutos ficou claro que Michael estava apenas brincando com ele, muito como Justine tinha feito comigo na sala de jantar em Ravenworth. Sebastian sabia disso também. Ele estava aprendendo à primeira mão porque a espada do Demônio Arcanjo era temida dentre os mortos vivos. Eu continuei movendo Thomas e Amélia para fora do caminho, seus olhos humanos não capazes de seguir os rápidos movimentos dos dois vampiros. Finalmente eu enxotei os dois para a extremidade externa do círculo de pedra e longe da luta. Latido saltou para baixo do altar de pedra, mantendo-se perto de mim. Eu estendi a mão abaixo para acariciar a sua pelagem, mas ele me deixou saber com um rápido estalar de dentes que isso era inapropriado. Era difícil me lembrar que ele era um homem dentro daquele revestimento peludo e eu não o conhecia bem o suficiente para ser tão íntima com ele. “Eu posso fazer isso a noite toda,” Michael gritou, “mas você está parecendo um pouquinho pálido. Porque você apenas não desiste? Eu vou fazer isso rápido, embora você não merecesse.” Sebastian estava claramente fatigado, seus passos recuados vacilantes, sua espada lançando-se descontroladamente. Michael, contudo, movia-se como um espectro sobre o chão, fluido, gracioso, cada movimento exato em sua precisão. Ele poderia pegar Sebastian a qualquer hora, mas eu acho que ele queria que o outro homem se entregasse. Quando eles se aproximaram de mim novamente, eu pulei para cima ao altar de pedra para sair do caminho. O olhar de Sebastian agitou-se brevemente a mim, seus pés se prenderam em uma rocha e ele estatelou-se na superfície da pedra, sua espada voando das suas mãos para aterrissar inutilmente na grama, fora de alcance. Michael gargalhou suavemente e pisou adiante, a ponta da sua espada vindo a descansar na garganta rasgada de Sebastian. “Eu sou a espada da vingança,” Michael disse, sua voz alta e perigosa. “Você violou as regras do Conselho Sombrio e agora você deve perder a sua vida.”
Michael ergueu a grande espada escocesa e Sebastian virou sua cabeça para mim, seu cabelo caindo sobre um olho. Foi-se o olhar de maliciosa astúcia, a malícia e a arrogância e crueldade que tinham marcado suas feições por tanto tempo. Seus olhos encontraram os meus, silenciosamente suplicando. Eles estavam suaves e castanhos e naquele momento me lembraram tanto do menininho que eu conheci uma vez, aquele amável menininho que desesperadamente precisava de um amigo. Deusa me ajude, pela primeira vez eu verdadeiramente entendi porque Archie tinha dito que eu não poderia lutar com ele. E eu recordei o que Justine tinha dito para mim sobre misericórdia sendo o que nos separava dos monstros. “Michael,” eu suspirei, apenas o mais básico dos sussurros no vento, mas ele ouviu. Eu não podia me fazer pedir para ele poupar Sebastian, mas Michael veio a me conhecer muito bem. O que quer que ele tenha visto no meu rosto o fez gemer e abaixar sua espada. Com um rápido movimento ele empurrou a ponta dentro da ferida escancarada que Sebastian tinha na garganta. Sebastian guinchou e virou os seus olhos cheios de terror para Michael. “Grave bem isso, Montford,” ele disse, “você tem sorte que era eu aqui essa noite. O Senhor Sombrio não daria por você nenhum quarto de dólar, e não pelo amor de nenhuma mulher.” Eu estremeci com isso, por que isso era verdade. Devlin não teria feito o que Michael estava para fazer. Claro, Justine nunca pediria isso a ele. “Olhe para ela, Montford. Ela é minha e é na minha cama que ela dorme, agora e para sempre. É a minha espada que a protege. Nunca se aproxime dela novamente porque da próxima vez que nós nos encontrarmos eu vou matar você sem nenhuma consideração. Você me entendeu?” Sebastian assentiu e Michael pisou para trás, sua espada descansando contra o lado da sua perna. “Ela deu a você um precioso presente essa noite, Montford; é chamado de misericórdia. Faça isso valer à pena.”
Sebastian tropeçou aos seus pés. Ele se moveu para reaver a sua espada, mas Michael bateu a borda lisa da claymore contra o braço de Sebastian e silenciosamente sacudiu sua cabeça. Os olhos de Sebastian se alargaram e mais rápido do que uma fuinha no escuro ele correu para a carruagem à espera de Kali, pulou para cima na guarita e estalou as rédeas. Eu fiquei em pé e assisti, sem muito acreditar que estava finalmente terminado, até ele desaparecer dentro das sombras ao norte. “Michael,” eu disse, pulando para baixo da pedra e me movendo para dentro do abrigo dos seus fortes braços, “eu não deveria ter pedido isso de você. É que ele era um menininho tão doce uma vez e nós éramos...” “Shhh,” ele disse. “Uma semana atrás você era humana. Eu não posso esperar que você se torne tão dura quanto nós somos de uma noite para a outra.” “Mas Devlin-” “Eu vou cuidar do Devlin.” Eu tirei a minha cabeça do seu ombro e olhei ao redor. “Onde estão Devlin e Justine de qualquer modo?” “Oh, eles estão a caminho da Catedral de Salisbury. Eles deverão estar aqui em breve.” “O que eles foram fazer na Catedral?” eu perguntei. “Bem,” Michael se safou, “na próxima vez que você for seqüestrada e deixar um bilhete você pode querer ser mais específica?” “Eu fui!” eu engasguei. “Eu disse exatamente para onde nós estávamos seguindo!” “Não, você disse que vocês estavam indo para um lugar sagrado em Salisbury. Eles naturalmente assumiram que fosse a Catedral. Eu tenho que admitir que me levou um tempo para descobrir que um lugar sagrado para uma bruxa não seria uma igreja Cristã.” “Hmmm,” eu ronronei, me aconchegando dentro da sólida parede do seu peito, “você é um homem muito inteligente.”
Ele suspirou e me segurou mais perto. “Eu não sei sobre inteligência, mas eu sou um homem muito sortudo.”
Capítulo
A
ENORME CARRUAGEM PRETA DE DEVLIN RETUMBOU A uma parada do lado de fora do henge, a voz familiar de Archie gritando com os cavalos. Michael e eu estávamos andando em direção a ela quando a porta explodiu aberta e Devlin e Justine emergiram. Justine correu para mim e agarrou meus ombros, me examinando como se certificando que eu ainda estivesse inteira. “O feitiço?” ela perguntou. “Funcionou,” eu respondi, com um satisfeito sorriso. “Que coisa tola você fez, mon amie,” ela me repreendeu, sacudindo-me uma vez. “Eu fiz o que eu tinha que fazer. Você de todas as pessoas deveria entender isso.” Ela me considerou por um momento e então assentiu solenemente. Olhandome de cima abaixo, ela franziu seus lábios. “Minhas roupas não couberam bem em você.” Michael correu uma mão dentro da minha capa para acariciar meu quadril. “Eu acho que elas couberam muito bem.”
Eu gargalhei. “Talvez, Justine, quando nós voltarmos a Londres você possa me levar a sua modista?” Eu olhei abaixo para as bermudas e botas que eu vestia. “Ou talvez o seu alfaiate?” “Mas é claro,” ela respondeu. “Venha,” eu disse, “eu quero que você conheça meus primos.” Eu os guiei para onde Thomas e Amélia estavam de pé, olhando os recémchegados com interesse e uma dose saudável de suspeita. “Esses são meus amigos Devlin e Justine; Sr. Archie Little, um bom amigo de Londres; e esse é Michael, meu...” eu percebi que eu não tinha uma idéia de como apresentá-lo. “O seu cônjuge,” ele forneceu e fez uma elegante reverência. Eu corei. “Devo eu apresentar Thomas e Amélia Craven, Visconde e Viscondessa Revenworth?” Murmúrios de saudações foram trocados, mas depois de passado os últimos dias Thomas e Amélia estavam compreensivelmente cautelosos com qualquer um que não fosse eu. Eu podia ver os nódulos nas mãos de Amélia tornando-se brancos onde ela agarrava a manga do seu marido. “Amélia,” eu disse suavemente, “Justine é aquela que manteve as crianças seguras enquanto eu tentava tirar Kali e Sebastian da casa. Ela também foi buscar Sra. Mackenzie e Fiona para ficarem com eles enquanto nós estávamos...fora. Sarah Katherine não sabe nada mais do que Sebastian e Kali eram pessoas más que levaram vocês para que eles pudessem tentar me forçar a fazer algo para eles. Os mais novos pensam que Justine é uma pirata e que nós todos estávamos em uma grande aventura.” Os olhos de Amélia se alargaram. “Obrigada,” ela disse. “Obrigada por cuidar dos meus bebês.” Thomas pegou minhas mãos. Foi a primeira vez que ele me tocou voluntariamente. “Nós devemos a você nossas vidas e nós devemos a você por
proteger nossas crianças. Todos vocês,” ele disse, olhando de mim para os outros por sua vez. Eu sacudi minha cabeça. “Se não fosse por mim vocês nunca se tornariam parte desse pesadelo andante. Eu não posso pedir pelo seu perdão, mas eu quero que vocês saibam o quanto horrivelmente arrependida eu estou.” Devlin se aproximou antes que ele pudesse responder, colocando uma mão no meu ombro. “Eu tenho certeza que sua senhoria gostaria de nada mais do que voltar ao hotel e ter um bom banho quente, uma troca de roupas e uma boa noite de sono. Se você nos perdoar por apenas um momento eu gostaria de ver o que Cin fez com a Destruidora.” “Claro,” eu disse e os conduzi através do anel externo de pedras. “Cin,” Michael perguntou, “onde está seu lobo?” Eu arfei e olhei ao redor, mas Latido se foi há muito tempo. Nenhuma sombra movendo-se em algum lugar na Planície que eu pudesse ver. Eu me perguntei se eu alguma vez fosse cruzar o caminho com o lobisomem novamente, ou se eu realmente mesmo quisesse. “Eu não acredito que eu esqueci sobre ele na briga. Eu imagino que ele se foi.” “Lobo?” Devlin zombou. “Nós não temos mais lobos na Inglaterra.” “Nós temos lobisomens,” eu respondi. “Você se lembra do homem acorrentado que escapou no armazém através da janela do secundo andar? Lobisomem. Ele me seguiu de Londres porque ele disse que eu salvei a sua vida e ele estava vinculado com honra para reembolsar o seu débito. Se ele não aparecesse quando ele apareceu, Sebastian poderia ter me matado.” “O lobisomem matou Sebastian?” Devlin perguntou, olhando em torno do círculo interno, seu olhar viajando sobre o corpo inerte de Philip, mas não vendo nenhum outro. “Não exatamente,” Michael disse. “Ele fugiu, na verdade,” eu interrompi.
“Fugiu?” Devlin disse, incrédulo. “Como isso é possível? Você não pode jamais deixar um inimigo nas suas costas, Michael, você sabe disso.” “Mais tarde, velho homem,” Michael disse, seus olhos tornando-se frios. “Eu vou explicar isso tudo mais tarde.” “E sobre ele?” eu perguntei, gesticulando para onde Philip deitava muito morto na grama. “Eu vou mandar alguém da vila para buscá-lo e dá-lo um enterro apropriado no adro47. Agora, me mostre, por favor.” Eu parei na frente do grande trilithon de pedra onde Kali estava presa. Nosso sangue ainda manchava a superfície da rocha, mas iria ser lavado com a primeira chuva. Eu não tinha ilusões que a pedra a manteria para sempre. Ela era tão forte; eventualmente ela iria descobrir uma maneira de sair. Como Sr. Pendergrass disse, uma entidade sempre iria encontrar o seu caminho de volta para a sua forma natural. Foi por isso que eu não fui capaz de manter Sebastian como uma fuinha. Mas minha magia estava forte agora, especialmente essa noite e especialmente nesse lugar. O poder do círculo iria segurá-la por um longo tempo. Eu sabia embora que um dia eu teria que lutar com ela novamente. Até lá eu estaria mais esperta, mais forte, meu poder maior. Eu a combati uma vez e eu faria isso novamente. Eu deitei minha mão contra a pedra. Eu podia senti-la, não com minha pele, mas com minha magia. Ela sentia-se como uma mariposa presa em um frasco, suas asas batendo contra o vidro. “Nós somos Os Justos,” eu disse. Devlin se moveu para ficar a minha esquerda. “Nós somos os defensores dos inocentes.” Justine se moveu para a minha direita. “Nós somos a mão da justiça.” Michael se aproximou atrás de mim. “Nós somos a espada da vingança.” Eu me inclinei para frente, colocando meus lábios próximos na pedra, apenas para que ela pudesse me ouvir. “Nós somos o que o Mau teme.” 47
(adro- o nome pelo qual é chamada a área externa, em geral cercada, das igrejas. Nas igrejas mais antigas é comum, ainda, a existência de cemitérios)
A carruagem da cidade de Devlin era uma coisa massiva, larga o bastante para acomodar seis pessoas confortavelmente. As janelas foram pintadas com uma densa tinta preta. Archie explicou que eles não encontraram meu bilhete até a noite depois do meu desaparecimento e para compensar o tempo perdido ele pintou as janelas de preto para afastar o sol e para eles dirigirem dia e noite em um esforço de me encontrar. Mesmo embora a carruagem fosse grande o bastante para todos nós, Devlin se ofereceu para andar em cima com Archie na volta ao Hotel Red Lion em Salisbury, ele disse para dar aos meus primos um pouco de espaço para respirar. Devlin tinha dito a eles que ele iria arrendar uma segunda carruagem para eles fazerem a viagem de retorno a Londres. Ele pegou quartos suficientes para todos nós no Red Lion e eu senti uma onda de orgulho que eles não tinham duvidado que eu seria capaz de trabalhar o feitiço e sair com Thomas, Amélia e eu vivos. Thomas estava agüentando bem o bastante, mas eu me preocupei sobre a tensão dos últimos dias em Amélia. Ou seja, até ela pausar entrando na carruagem, olhar para minha cabeça e dizer, “Dulcinea Macgregor, o que quer que seja o que você fez com o seu cabelo?” Eu não tinha me incomodado com meu glamour em dias e ela não tinha sequer percebido. Eu percebi que se ela estivesse sentindo-se bem o bastante para me repreender sobre o meu cabelo, ela estaria bem. Um bom banho quente e um novo vestido iria fazer por nós duas um bem enorme. Antes de eu subir para dentro da carruagem atrás dela eu puxei a porta metade fechada e dei uma boa olhada no espigão na lateral. Alguém tinha pintado um pentagrama prata acima do falcão. Eu sorri. Eles três eram uma família e agora eu era parte deles. Eu tracei o brasão com meu dedo, a rosa Jacobina, a flor de lis e o pentagrama formando um triângulo em volta do falcão com suas asas estendidas. O lema que se curvava em volta da extremidade era Latim. Eu procurei pelo seu significado na biblioteca em Ravenworth.
Non Sum Qualis Eram: Eu não sou o que eu costumava ser.
Capítulo
E
U ACONCHEGUEI MINHA CABEÇA NA CURVA DO OMBRO de Michael e suspirei. Nós retornamos para Ravenworth noite passada e era bom estar em casa. Devlin e Justine ficaram para trás em Londres com Sra. Mackenzie e Fiona para nos dar algum tempo sozinhos juntos. Eles iriam retornar em poucos dias com os baús que Fiona e Sra. Mac tinham embalado da casa da cidade em Londres. Thomas e Amélia tinham chegado em casa para suas crianças sãos e salvos, apenas como eu tinha prometido. De novo, eu fiz uma oração silenciosa de ação de graças por esse milagre. Um bilhete anônimo tinha alertado Senhor Lindsay ao fato de que ele poderia querer fazer uma busca na propriedade de Montford em conexão com os assassinatos na vila. Eles encontraram corpos no lixo da mansão e no solo e quatro aterrorizados serventes presos em uma adega, balbuciando incoerências de demônios e vampiros. Havia um mandato de prisão para Sebastian, mas se acreditava que ele fugiu da Inglaterra para o Continente. Eu certamente esperava que sim. Eu mandei uma carta para Tim e John o Cocheiro aconselhando a Tim que eles e os meninos podiam retornar e que John podia seguir na primavera quando sua perna estivesse curada. E para mim mesma, eu não podia permanecer aqui por tanto tempo com Michael e Devlin e Justine debaixo do meu teto enquanto eu deveria estar de luto. Eventualmente as pessoas descobririam e iriam falar. Nós decidimos ficar em Ravenworth por algumas semanas e então seria dito que eu fui ficar com minha tia
na Escócia. Na realidade, Michael tinha me prometido que ele iria me levar para um passeio de gôndola em Veneza. Na primavera nós pegaríamos um navio para Inverness, ou possivelmente Edimburgo, e gastar alguns meses com minha Tia Maggie. Ainda havia muito para eu aprender dela, mas eu não levaria vampiros, até mesmo eu, para dentro do refúgio do Vale Gregor. Eu pedi a Thomas para mandar o procurador do meu pai para Ravenworth na semana seguinte para que eu pudesse elaborar a minha vontade. Em algum ponto eu teria que “morrer” para os olhos do mundo. Até então a pilha da minha fortuna estaria em casas e contas do outro lado da Europa e América. Michael, com seu senso Escocês de sobriedade, iria administrar minhas finanças como ele administrava a de Devlin e Justine. Eu iria, contudo, ter que deixar Ravenworth Hall e uma renda obscenamente grande para Sra. Mackenzie e Fiona. A propriedade e o dinheiro seriam passados de Fiona para a sua filha mais velha e assim por diante, muito como a minha magia tinha vindo a mim. Fiona não foi feita para ser uma servente. Agora ela seria a dama de uma mansão. Ela teria dinheiro suficiente para fazer a educada sociedade aceitá-la, se isso fosse o que ela queria, e ela e suas filhas e netas através de gerações seriam ricas para se casarem bem e financeiramente independentes o bastante para fazer isso somente por amor. Esse seria o meu legado. Eu corri minha mão para baixo na sólida rigidez do peito nu de Michael. “Sobre o que você está pensando?” ele perguntou, acariciando minha perna onde ela deitava caída sobre suas coxas. “Tudo,” eu murmurei. “Você se arrepende?” ele perguntou suavemente. Eu não sabia o que ele queria que eu dissesse. Se eu sentia falta da pessoa que eu tinha sido uma vez? Sim, algumas vezes. Se eu sentia falta das coisas que eu perdi? Com freqüência. Eu estava arrependida que eu coloquei meus primos através de um pesadelo que iria assombrá-los pelo resto das suas vidas? Claro que eu estava. Se eu me arrependia do que eu me tornei? Eu olhei para cima e empurrei a fofa cauda branca de Prissy para fora do rosto de Michael pela quinta vez essa noite. Ela tinha adotado dormir curvada em cima
dos travesseiros da nossa cama e ele não tinha o coração para fazê-la se mover. Eu sorri. Senhor e Senhora, quando ele tinha se tornado tão amado para mim? Em que ponto eu tinha dado o meu coração para ele? No momento eu sabia sem dúvida a resposta da sua pergunta. “Não, meu amor. Eu não estou arrependida,” eu disse, deslizando meu corpo sobre o dele. Eu me arrependia do que eu tinha me tornado? Não. Eu sou Cin Craven. Eu sou uma bruxa. E agora eu também sou uma vampira, um dos mortos-vivos...e minha vida está apenas começando.
Fim a série
A Cin Cravel Novel continua em
Grave Sin
Papyrus Traduções de Livros
“Qui sait beaucoup ne craint rien.” “Do muito saber vem o nada a temer.”