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A arte de passar o bastão

O revezamento é uma prova clássica do atletismo. Quatro corredores se alternam na mesma raia ao longo de 400 metros. A cooperação entre eles é sinalizada pela passagem de um bastão. Vence a equipe que completar o circuito em menor tempo. Assim tem sido desde os Jogos Olímpicos de Estocolmo, que ocorreram em 1912.

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“Essa é uma ótima metáfora para a sucessão familiar”, exalta John Davis, fundador do Cambridge Family Enterprise Group e nome à frente dos programas de negócio familiar da MIT Sloan School of Management. Conselheiro de algumas das famílias mais ricas do mundo, Davis aprecia a imagem da corrida em todos os seus detalhes. “A passagem de uma mão a outra precisa ser firme. Lembre-se: é uma passagem de propriedade e de responsabilidade. Para dar certo, ambas as gerações precisam estar no mesmo passo. Os novos não podem esperar os antigos ficarem cansados. Existe um momento certo. É uma arte”, descreve.

E também é um dilema. Após uma vida inteira dedicada aos negócios, muitos empreendedores se perguntam: “Como saber a hora de parar?”. Em suas palestras no Workshop Family Business 2019 (veja box na página 57), na sede da CNT (Confederação Nacional do Transporte), o professor americano não cansou de provocar a plateia com essa questão. Expôs um gráfico com curvas de crescimento e declínio de produtividade dos CEOs. Fez uma enquete. Colheu depoimentos apaixonados. Depois, trouxe uma solução menos emocionante, porém confiável.

Em suma, nunca saberemos se a saída de cena teve o timing perfeito, se foi no auge da carreira. Em compensação, graças ao plano de sucessão, sabemos como será a transição. Se for bem estruturado, esse plano revelará oportunidades de crescimento e premiará os envolvidos, colocando em primeiro lugar o legado da família. Davis afirma que as transições mais bem-sucedidas costumam ser aquelas guiadas pelo dono do negócio.

Ainda assim, há riscos consideráveis. A 9ª Pesquisa Global sobre Empresas Familiares PwC, de 2018, revela que a primeira geração supera claramente as seguintes quanto à capacidade de atingir um crescimento de dois dígitos, embora os sucessores performem bem em vendas de um dígito (veja gráfico na página 54). A tendência à perda de pujança se explica de muitas formas. Davis, porém, sugere que a análise comece sempre pelo “modelo de três círculos”, que consiste em família, propriedade e negócio (veja box). As crises geralmente nascem em uma dessas esferas.

O especialista considera ainda que a longevidade do negócio depende da disposição em aproveitar os talentos da família e driblar os fatores de estresse. O sucessor ou líder natural precisa ser identificado o quanto antes para que possa ser treinado. Afinal, ele personificará a cultura da empresa. Nem sempre esse nome surgirá do “núcleo duro” do clã, mas da “família ampliada”. Será um genro, um cunhado ou um parente distante. Na ausência dessa figura, deve-se pensar seriamente em buscar, no mercado, um gestor profissional.

DINÂMICAS DESAFIADORAS PARA O NEGÓCIO

Sobreposição de papéis

Famílias são complexas e emocionais, mas precisam ser disciplinadas nos objetivos em comum

Tensão entre a família e as regras do negócio

Quando a propriedade é transmitida como uma herança, em vez de um emprego

Leia a íntegra da reportagem na edição de junho da revista CNT Transporte Atual.

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