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tri.bo sf. 1. Grupo étnico que vive em comunidade, sob um ou mais chefes, e que compartilha a língua, costumes, tradicões e instituicões.
*jazz (djéz) sm. Gênero musical norte americano, vocal ou instrumental, caracterizado pela inprovisação. jaz.zis.ta s2g.; jaz.zís.ti.co adj.
A luz amarelada da praça durante a noite, nos deu a chance de experimentar configurações diferentes dentro das fotografias. Sem muito uso de flash, criando uma estética alinhada com o tema desta edição, as silhuetas e sombras fazem alusão ao ritmo desta edição que traz uma aura de mistério e sensualidade.
O show começou por volta das 19:00hrs e logo encheu o espaço (esse show exclsuivamente rolou no coreto da praça) com um público que curtiu o evento e lotou as ruas do tradicional bairro paulistano. E esse é um dos principais objetivos da escadaria, levar a galera pra rua, resgatar o espírito bairrista e boêmio do tradicional bairro da capital.
O Escadaria do Jazz, é um evento que rola todo mês na famosa escadaria do Bixiga, que liga a rua 13 de Maio à rua dos Ingleses. O primeiro show que cobrimos foi o da Família Bonagente, um trio de jazz que mistura folk e blues, com a pegada das músicas dos anos 40, com poucos instrumentos (banjo, violão, washboard, saxofone e flauts) e com uma originalidade incrível. O show é divertido, dançante e a interação com o público é outro show a parte. Canções que se misturam com histórias, garantem também uma dose de teatral na apresentação.
Família Bonagente
Achar jazz na cidade de São Paulo é simples, afinal existem várias casas de shows especializadas, basta pagar as quantias altas que elas cobram por isso. Para nós seria inviável, já que a grana era alta demais pra todos os eventos que cobriríamos. Partimos então para uma busca implacável por eventos alternativos, mais escondidos e com preços amigáveis.
Quem queria curtir um jazz visceral e muito bem executado, não se arrependeu de ter saído de casa. O evento, foi mais uma vez sucesso de público que aproveitou a inclinação da escada pra criar um camarote natural que só o show na rua poderia propor.
Caio Chiarelli quarteto, é o nome temporário da banda que mistura clássicos da música brasileira e canções autorais, que gera um jazz “rústico”, mais enraízado com os clássicos. O som do baixo, bateria, guitarra e do vibrafone - sim, os caras usam um vibrafone - casam perfeitamente, e o alto nível de ensaio do quarteto transparece em cada nota. O show ainda contou com a participação especial de um convidado que destruiu no som da gaita.
O segundo show, ocorreu de fato na escadaria da 13 de Maio. O local é repleto de grafites e lambes cercados por uma arquitetura clássica imperial, o que sintetiza uma parte da estética contrastante e caótica da cidade de São Paulo.
Caio Chiarini quarteto
Completando 12 anos de existência, a Virada Cultural contou com um palco exclusivo de jazz. Montado no Largo do Arouche, o palco contou com 17 artistas que começaram as apresentações às 18:00hrs. Chegamos no Largo às 22:00hs, exatamente no começo da apresentação do Dharma Samu, quarteto da zona leste paulistana liderado pelo compositor e multi-instrumentista que dá nome ao grupo, os caras arregaçam num ritmo que tem o jazz como base, e abusam da experimentação e fusão de outros estilos, como rock e música latina. O som dos caras prova que jazz é um estilo que aceita todo tipo de experimentação, (desde que bem executada, claro) combinando muito bem com outros ritmos. O quarteto abusa da repetição das notas, e a maneira como sobrepõem os instrumentos utilizados em suas músicas instrumentais, presenteia os ouvintes com viagens sonoras impressionantes. Os quatro integrantes parecem se transformar em uma orquestra ao longo das melodias que passeiam por diversos ritmos até acabar de maneira surpreendente. Após o final de cada apresentação, rolava uma discotecagem com um DJ que não deixava a vibe morrer enquanto a próxima banda preparava o show. O cara mandou muito bem nas mixagens, com jazz, ska, dub e afins. As 2:30hs começou o show da Solana AllStars, uma banda composta por 7 integrantes que mandaram um jazz clássico, com variações sonoras que passaram pelo groove, boogaloo e latin jazz. Todos com uma qualidade invejável e que remete às casas de show de New Orleans e todo aquele ambiente introspectivo e casual que permeia o jazz. A madrugada não poderia ter sido melhor. Com um palco exclusivo sobre o ritmo desta edição, dentro de um evento bem organizado, o público compareceu em peso e pode curtir cada palco espalhado pela cidade, cada um com suas apresentações e diferenças para todos os gostos.
“Jazz é o momento. E vivo... é som, é dança. A música toca a emoção e as palavras a mente”. Tony Bennet
Diferente da primeira edição, onde o carnaval mostrou sua face bizarra e caótica, os eventos de jazz (todos na rua também), mostraram um lado comportado da galera que curtia os shows que estavam rolando. O conforto que o jazz nos trouxe foi extremamente contrastante em relação aos eventos carnavalescos. O jazz é um ritmo misterioso, com variações absurdas e extremamente difíceis de se definir. A origem do nome “jazz” até hoje é incerto, histórias que vão de essência de perfume, à relações sexuais e seus sons, nos dá a margem de não podermos (e não querermos) cravar o que é Jazz de fato. O que nos surpreendeu foi ver um ritmo que nasceu renegado - já que só negros escravos podiam produzir de maneira clandestina - se tornou tão “gourmet” e caro. Graças à eventos como a Escadaria do jazz e até mesmo à Virada Cultural, que são organizados para oferecer jazz de qualidade a todos, podemos contemplar a pluralidade que o jazz passa em suas notas que variam em
suas formas mais complexas, rápidas e melódicas de som, provando ser possível, estando cada vez mais presente nas playlists do público que é variado e tende a crescer cada vez mais, e isso fica claro com a presença de crianças e jovens em todos os eventos. Participando de eventos públicos, vimos que o ritmo cumpre um papel social que ele talvez sempre teve dentro da revitalização dos subúrbios, sem perder suas características de mistério e sensualidade.
“Entendi desde o começo que ser fotógrafo e brincar com a luz, significa brincar com fogo. Nem o fotógrafo nem o modelo passam pela experiência sem se chamuscar.” Richard Avedon
Abr/Mai 2017 Ed. #2
Agradecimentos Especiais: Família Bonagente Participação Especial: Lu Farinha Idealização e Produção: Thales Vinieri Ramos Victor SP Instagram: @tribos.mag Email: tribos.mag@gmail.com