CARTA AOS LEITORES Em continuidade ao aperfeiçoamento de sua política de comunicação, o Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (trt-pe) está lançando neste mês de abril a revista dialogar. Com periodicidade quadrimestral, a publicação pretende abrir espaço para abordagens mais detalhadas e profundas de temas relevantes na esfera da Justiça Trabalhista. Este primeiro número é dedicado ao tema Trabalho Seguro, para assinalar o Dia Mundial da Saúde e Segurança no Trabalho, comemorado em 28 de abril. A matéria de capa chama a atenção para a importância da proteção à integridade do trabalhador, apresentado na categoria profissional do vaqueiro, precursor no uso sistemático dos Equipamentos de Proteção Individual – epis. Na reportagem sobre os canavieiros, observam-se melhorias no ambiente de trabalho, embora se constate que o respeito aos direitos estabelecidos continue sendo um desafio. Construída à base de amianto, Itaparica (município de Jatobá – pe) aparece na reportagem “Sob o amianto tenebroso”, em que se revelam os potenciais riscos aos quais os moradores estão expostos. “Rota para doenças ocupacionais” traz pesquisa que constata as difíceis condições de trabalho dos profissionais do transporte rodoviário público na Região Metropolitana do Recife. Esclarecedora, a entrevista do desembargador do trt-mg e professor Sebastião Oliveira discute aspectos legais, humanos e históricos da problemática dos acidentes laborais. Artigos dos magistrados do trt-pe Fábio Farias & Patrícia Brandão, Ana Freitas e Luciana Conforti e da Odontóloga do Regional Ana Cláudia de Souza tratam da questão acidentária sob diversas perspectivas. É com satisfação que entregamos ao público nossa primeira edição da revista dialogar, com o propósito de informar a sociedade sobre temas que se relacionem com o Direito do Trabalho. Ivanildo da Cunha Andrade Desembargador Presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região
Expediente TRT da 6ª Região Cais do Apolo, 739 Bairro do Recife 50.030-902
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Recife PE
Imprensa: 81 3225 3216 dialogar@trt6.jus.br PRESIDENTE Ivanildo da Cunha Andrade VICE-PRESIDENTE Pedro Paulo Pereira Nóbrega CORREGEDORA Virgínia Malta Canavarro
Eneida Melo Correia de Araújo André Genn de Assunção Barros Ivanildo da Cunha Andrade
Stela Maris
DESEMBARGADORES FEDERAIS DO TRABALHO
Vaqueiro: vanguarda no uso de equipamentos de proteção individual
Gisane Barbosa de Araújo Pedro Paulo Pereira Nóbrega Virgínia Malta Canavarro Valéria Gondim Sampaio Ivan de Souza Valença Alves Valdir José Silva de Carvalho
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Acácio Júlio Kezen Caldeira Dione Nunes Furtado da Silva Dinah Figueirêdo Bernardo Maria Clara Saboya Albuquerque Bernardino Nise Pedroso Lins de Sousa Ruy Salathiel de Albuquerque e Mello Ventura Maria do Socorro Silva Emerenciano Sergio Torres Teixeira Fábio André de Farias
SECRETÁRIO-GERAL DA PRESIDÊNCIA Ayrton Carlos Porto Júnior DIRETOR-GERAL Wlademir de Souza Rolim
Elysangela Freitas
Paulo Alcantara
Melhoria e novos desafios no ambiente de trabalho dos canavieiros
SECRETÁRIA DO TRIBUNAL PLENO Nyédja Menezes Soares de Azevedo
REDATORES Eugenio Pacelli / Mariana Mesquita Helen Falcão / Fábio Nunes REVISÃO Eugenio Pacelli
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FOTOGRAFIA Stela Maris / Elysangela Freitas PROJETO GRÁFICO e DIAGRAMAÇÃO Simone Freire / Gilmar Rodrigues
IMPRESSÃO Gráfica e Editora Liceu (Tiragem: 1.000 exemplares) EDIÇÃO Núcleo de Comunicação Social
Elysangela Freitas
ESTAGIÁRIA Jaqueline Fraga
Os subestimados riscos do trabalho doméstico
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Ações do Programa
Saúde e segurança do
Trabalho Seguro para
trabalho cada vez mais como
diminuir acidentes e
tema na literatura do Direito
doenças laborais
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Prevenção é matéria
Motoristas e cobradores e suas
no programa de cursos
péssimas condições de trabalho
técnicos e superiores em Pernambuco
52 04
Punir e educar: a dupla função Uma vila inteira
das ações regressivas
construída com amianto
Entrevista
Os riscos a que estão expostos os que trabalham sobre duas rodas
CEREST tem competência para atuação em matéria de segurança do trabalho
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Sebastião Geraldo de Oliveira
Diálogo entre atores
Desembargador do TRT
da construção civil
de Minas Gerais
Opinião Mais do que revelam os números
Fábio Farias e Patrícia Brandão
A prescrição nas ações acidentárias trabalhistas
Colunas
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Segurança pelo Brasil
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Na prateleira
Ana Maria Aparecida de Freitas
Tutela inibitória na Justiça do Trabalho
Luciana Paula Conforti
Odontologia do trabalho e suas interfaces sociais
Ana Cláudia de Souza Melo
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Notícias Logomarca do Getrin6 é escolha popular
ASCOM TRT3
Entrevista
Sebastião Geraldo de Oliveira
Desembargador do Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais (trt3), Sebastião Oliveira é Mestre em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais, professor da puc-mg, estudioso das questões relativas à proteção da saúde do trabalhador, com diversas publicações sobre o tema. Nesta entrevista, o magistrado aborda a contribuição que o Programa Trabalho Seguro está dando para “formação de uma nova mentalidade na magistratura trabalhista” e defende uma mudança de paradigma, passando-se da quantificação monetária dos acidentes à tutela preventiva à saúde do trabalhador.
6
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
E
m 2004 passou a ser de compe-
começaram mesmo, no mundo, a
tência da Justiça do Trabalho o
partir do final do século xix, com
julgamento de ações indenizatórias
aprofundamento ao longo do século
que surgem de acidentes ou doen-
xx. No Brasil, o progresso nessa
ças do trabalho. Qual a repercussão
área teve início tardiamente, após
dessa mudança no meio jurídico e
as repercussões dolorosas das esta-
no mundo do trabalho?
tísticas elevadas de mutilações, in-
Houve uma mudança considerá-
capacidades e mortes. Depois que
vel. Até 2004 o Juiz do Trabalho não
o Brasil foi considerado campeão
analisava os danos pessoais sofridos
do mundo em acidentes do traba-
pelo trabalhador, porquanto apre-
lho, nos anos 70 do século passado,
ciava apenas a saúde monetizada,
muitas normas foram criadas para
por intermédio dos adicionais de
proteger as vítimas e punir ou one-
insalubridade, periculosidade, no-
rar o empregador descuidado. A
turno ou de horas extras. Agora, em
Portaria do Ministério do Trabalho
vez de analisar o risco potencial, o
n. 3.214 de 1978 foi um marco nessa
magistrado julga o dano real, o aci-
evolução e acelerou o desenvolvi-
dente ocorrido. Assim, passamos a
mento da Medicina do Trabalho, da
conhecer o lado sombrio do traba-
Engenharia de Segurança no Traba-
lho, o descaso de alguns emprega-
lho, da Ergonomia e das medidas
dores com a vida humana, o ponto
sobre prevenção. A Constituição da
final da história de muitos empre-
República de 1988 deu um passo a
gados. E o juiz pôde constatar que o
mais, uma vez que criou condições
trabalho que dignifica, também da-
estruturais para o desenvolvimento
nifica. Atualmente, quando o magis-
do direito ambiental do trabalho,
trado aprecia qualquer postulação
fortaleceu a proteção à dignidade do
a respeito da higiene, segurança ou
trabalhador e instituiu o comando
saúde do trabalhador, tem um outro
da “redução dos riscos inerentes ao
olhar, uma percepção mais aguça-
trabalho, por meio de normas de
da porque já conhece as causas e
saúde, higiene e segurança” (art. 7º,
os efeitos danosos das condições de
xxii). Além disso, estabeleceu de
trabalho inadequadas.
forma definitiva o direito à inde-
Que percurso podemos traçar
nização por acidente do trabalho,
no desenvolvimento da legislação
independentemente dos benefícios
protetiva da saúde do trabalhador
pagos pela Previdência Social (art.
no Brasil, dos primeiros tempos aos
7º, xxviii).
dias atuais?
Atualmente, quando o magistrado aprecia qualquer postulação a respeito da higiene, segurança ou saúde do trabalhador tem um outro olhar, uma percepção mais aguçada porque já conhece as causas e os efeitos danosos das condições de trabalho inadequadas.
As alterações legislativas nos
As preocupações com a segu-
últimos 30 anos colocaram de vez
rança e saúde do trabalhador só
a questão da saúde do trabalhador
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
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no planejamento estratégico das or-
com faixa etária mais elevada, tra-
ganizações, demonstrando a neces-
balhos monótonos, tarefas repetiti-
sidade imperiosa de investimentos
vas são questões que estão exigindo
na prevenção. Em síntese, pode-se
aprofundamento dos médicos do
perceber, atualmente, um movi-
trabalho e novos desafios para atu-
mento consistente de trabalhadores,
ação preventiva eficiente.
autoridades diversas, entidades sin-
Que relação podemos fazer entre
dicais e de empresários no sentido
globalização e proteção à saúde dos
do fortalecimento do direito à saúde
indivíduos no ambiente de trabalho?
do trabalhador. Sem dúvida, ain-
Da mesma forma que está ocor-
da que haja percalços ocasionais, o
rendo a globalização no aspecto
direito a um ambiente de trabalho
econômico e tecnológico, também
seguro e saudável é um caminho
avança a globalização normativa.
A carga de trabalho
sem volta.
Até mesmo para evitar a concor-
está se deslocando dos
A medicina do trabalho nasce
rência desleal no comércio interna-
músculos para o cérebro
da condição de fragilidade do tra-
cional é necessário que os custos de
e novos riscos surgem a
balhador diante das máquinas no
produção sejam semelhantes. Então,
partir desta mudança.
período que se segue à Revolução
os países mais desenvolvidos estão
Industrial. O que a condição do
empenhados em exigir mercado-
trabalhador nesta denominada
rias produzidas com observância de
revolução tecnológica dos dias
padrões de segurança e normas de
atuais está a exigir da medicina
saúde aceitáveis, mas isso deman-
do trabalho?
da investimentos e maior custo de
A medicina do trabalho acom-
produção. É verdade que a saúde
panhou a evolução mencionada na
não tem preço, mas tem custo. E o
resposta anterior. No início, era uma
custo, naturalmente, é repassado ao
medicina curativa, voltada para o
produto final.
socorro das vítimas; agora, atua pri-
Já virou lugar comum a afirma-
mordialmente na prevenção para
ção de que só a união de todos os
evitar o adoecimento ou a morte.
segmentos sociais pode ser capaz
Ocorre que os riscos e agentes noci-
de enfrentar a grave questão dos aci-
vos também mudaram e as pesqui-
dentes laborais. Mas nós poderíamos
sas mostram os danos mais sutis ou
determinar a natureza da responsa-
encobertos. A carga de trabalho está
bilidade de cada um? Do empregado,
se deslocando dos músculos para
do empregador, do magistrado, do
o cérebro e novos riscos surgem a
governo?
partir desta mudança. Agressões
Entendo que sim. O problema
psíquicas, assédios moral ou sexual,
acidentário e as doenças ocupa-
jornadas exaustivas, trabalhadores
cionais repercutem intensamente
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REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
Stela Maris
na vida do trabalhador, na família,
de segurança; a Justiça colaborar
de atingir a pessoa do trabalhador,
na Previdência Social e em toda a
na conscientização e nas tutelas de
mas várias outras barreiras anterio-
sociedade. Iniciativas isoladas de
prevenção etc. Somente a força do
res podem e devem ser acionadas
um ou outro segmento dão baixo
conjunto pode amenizar a extensão
para evitar o sinistro.
retorno. Não se pode imaginar, por
desse problema.
O Senhor é um homem de li-
exemplo, que só a Inspeção do Tra-
É uma visão simplista e distor-
vros, um pensador das questões da
balho pode acabar com as condições
cida pensar a segurança do traba-
saúde do trabalhador. Mas é tam-
nocivas do trabalho. Então, é ne-
lho como apenas a adoção de equi-
bém um homem prático, que precisa
cessário que cada segmento assuma
pamentos de proteção individual,
decidir esses casos cotidianamente,
o seu papel de contribuição ou de
os chamados epis.
um magistrado trabalhista. Em que
atuação. Certamente que a educa-
É uma visão primária que mar-
medida o escritor auxilia o magis-
ção está na base de tudo para criar
cou um estágio inicial. Como tam-
trado e em que medida o magistrado
uma cultura de prevenção, mas só
bém ficou ultrapassada a concepção
auxilia o escritor?
isso não basta! O mais importan-
de que a maioria dos acidentes ocor-
A inspiração para os livros sur-
te é cada segmento indagar como
reriam por “ato inseguro” da própria
giu em razão do enfrentamento dos
pode contribuir e tomar as inicia-
vítima. Por óbvio, não se dispensa o
casos práticos. Escrevi tentando
tivas de atuação, cobrando sempre
uso dos equipamentos de proteção,
buscar soluções para os problemas
a participação dos demais setores.
mas é preciso ir além atuando nas
que vivencio na atividade judican-
Trabalhadores devem cobrar dos
fontes dos agentes nocivos, no pro-
te, os dramas que são expostos na
empregadores; empregadores de-
cesso produtivo, no treinamento, na
sala de audiência ou nas sessões
vem cobrar a participação dos tra-
conscientização, preferencialmente
dos tribunais. De certa forma não
balhadores na prevenção; o governo
eliminando os riscos na sua origem.
entendia como o tema da saúde do
exigir o cumprimento das normas
Os epis são a última barreira antes
trabalhador não vinha merecendo da
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De fato, o caminho recomendável hoje não é mais criar adicionais para compensar riscos, mas sim oferecer descansos adicionais para possibilitar maior tempo de recuperação pela exposição aos agentes ou condições de trabalho nocivas.
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REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
doutrina brasileira a devida atenção.
tempo de recuperação pela expo-
Atualmente verifico e testo cada ca-
sição aos agentes ou condições de
pítulo dos meus livros nas horas do
trabalho nocivas.
julgamento conferindo a aplicação
Dezessete anos após o lançamen-
prática das teorias que desenvolvi.
to desse livro, a proteção jurídica à
Tanto que a cada nova edição releio
saúde do trabalhador exige uma nova
e reviso integralmente o livro. Em
abordagem?
síntese, sou prioritariamente magis-
Não uma nova abordagem, mas
trado e nos intervalos, nas férias, nas
um acompanhamento da evolução
horas de folga “descanso” tentando
do tema. Nas duas últimas edições
escrever; ou seja, sou magistrado
do livro abordamos temas novos,
por vocação e escritor por ocasião.
tais como o assédio moral, a jornada
No seu livro Proteção Jurídica
exaustiva, o direito à desconexão,
à Saúde do Trabalhador – um clás-
o princípio da falha segura etc. É
sico na área, lançado em 1996 e já
possível dizer hoje que o tema da
na 6ª edição -, o Senhor procura de-
saúde do trabalhador conquistou
monstrar que o objetivo principal
espaço no pensamento jurídico e
deve ser sempre a proteção à saúde
aceitação como direito irrenunciá-
de quem trabalha e não o direito ao
vel, necessário para tornar realidade
recebimento de compensações que
o trabalho decente.
legalizem a exposição do indivíduo
Atualmente as iniciativas que vi-
a agentes perigosos ou nocivos. Esse
sam a resguardar a saúde do traba-
pensamento vem prevalecendo no
lhador têm se tornado mais intensas
Brasil?
e recebido grande divulgação. A esse
Posso dizer que esse pensamento
movimento o Senhor avalia que cor-
hoje incomoda mais. No passado a
responde um crescimento da litera-
monetização do risco parecia ser a
tura jurídica que trata de segurança
solução, ou seja, em vez de elimi-
e medicina do trabalho?
nar o agente nocivo compensava
Felizmente a literatura jurídi-
o incômodo com o pagamento de
ca sobre o tema vem crescendo e
adicionais. Mas o pagamento dos
ganhando mais densidade, contri-
adicionais foi confirmado no texto
buindo para consolidar o direito
constitucional e somente a longo
ao trabalho seguro e saudável. A
prazo esta tendência deve ser to-
doutrina possibilita organizar as
talmente eliminada. De fato, o cami-
ideias, apontar os aperfeiçoamentos,
nho recomendável hoje não é mais
extrair do direito positivo todas as
criar adicionais para compensar
potencialidades de sua aplicação e
riscos, mas sim oferecer descansos
dar um caráter científico ao direito
adicionais para possibilitar maior
ambiental do trabalho. Além disso,
os novos profissionais, percebendo a magnitude do problema acidentário, estão empenhados na busca de melhores condições de trabalho, tanto por idealismo como por convicção pessoal. Teria efeitos práticos uma reorientação curricular em áreas que lidam com a proteção à saúde do trabalhador, como Direito, Engenharia, e, é claro, Medicina, para enfrentamento do problema acidentário? Este é um ponto importante. A formação jurídica no Brasil ainda está trabalhando com o paradigma do risco monetizado, não habilitando o profissional para as grandes controvérsias sobre as indenizações por acidente do trabalho ou doença profissional, nem sobre as tutelas
ele tenha apenas uma atuação pas-
conjuntas para garantir o direito ao
preventivas à saúde do trabalhador.
sageira?
meio ambiente do trabalho saudável.
Defendemos a introdução de uma
O Programa Trabalho Seguro
Quanto ao risco da atuação pas-
disciplina sobre o direito ambiental
da Justiça do Trabalho está con-
sageira do programa, consideramos
do trabalho e as consequências ju-
tribuindo para formação de uma
também esta possibilidade. Mas o
rídicas das lesões a respeito. Aliás,
nova mentalidade na magistratura
csjt tornou permanente o progra-
a Convenção n. 155 da oit, que o
trabalhista. Há resultados apreciáveis
ma que já conta com orçamento
Brasil ratificou, determina a intro-
especialmente no compartilhamen-
próprio aprovado legalmente. Além
dução das matérias de segurança,
to dos dados com as diversas insti-
disso, hoje em dia a interação com
saúde e meio ambiente do traba-
tuições que atuam de alguma forma
os demais parceiros é praticamente
lho em todos os níveis de ensino, o
na saúde do trabalhador. O volume
um caminho sem volta, colocando
que ainda não está sendo cumprido.
de ações regressivas da Previdência
o magistrado do trabalho como im-
Este é um direito cuja implantação
Social está crescendo intensamente
portante formador de opinião. Em
devemos exigir.
após os ofícios enviados pelo Juiz do
vez de apenas proferir decisões con-
Lançado em 2012 pelo tst/csjt,
Trabalho. Também os gestores regio-
denatórias após o sinistro ocorrido,
o Programa Trabalho Seguro vem
nais estão desenvolvendo um pre-
o juiz pode discutir com a sociedade
desenvolvendo diversas ações em
cioso trabalho em cada unidade da
as medidas cabíveis para evitar os
nível nacional. Já podemos apontar
federação, contribuindo com outros
acidentes.
resultados decorrentes dessas ações?
parceiros locais na divulgação das
O Senhor defende a criação do
Há riscos de que, como programa,
normas preventivas e nas atuações
Estatuto Nacional de Segurança e
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Saúde do Trabalhador, embora o
dos acidentes e doenças ocupacio-
dos equipamentos, instalação dos
país conte com uma alentada legis-
nais; as medidas preventivas e pe-
acessórios de segurança. Sem um
lação na área? Por que a necessidade
dagógicas; a educação ambiental do
sistema de inspeção eficiente, não
da criação desse estatuto e quais de-
trabalho; as penalidades etc. Vale
há garantia de implementação das
vem ser seus pontos centrais?
registrar a propósito que a Política
medidas preventivas. Poucas em-
A reunião da matéria em um só
Nacional de Segurança e Saúde no
presas adotam espontaneamente
diploma legal organiza e estrutura
Trabalho, instituída no Brasil pelo
as normas de segurança recomen-
as ideias fundamentais, dá mais co-
Decreto n. 7.602/2011, estabelece
dáveis. O avanço dos Termos de
erência ao sistema e facilita a sua
como uma das suas diretrizes a
Ajuste de Conduta conduzidos pelo
compreensão, obtendo, com isso,
“harmonização da legislação e a
Ministério Público do Trabalho e
maior efetividade. A promulgação
articulação das ações de promoção,
as tutelas preventivas deferidas pela
do Estatuto despertaria nos meios
proteção, prevenção, assistência, re-
Justiça do Trabalho estão contri-
acadêmicos maior interesse pelo as-
abilitação e reparação da saúde do
buindo para dar mais efetividade
sunto e, com o tempo, é provável
trabalhador”.
às normas de proteção. Há outro aspecto que o Senhor
que na formação jurídica haverá
Até aonde deve ir a ação edu-
uma disciplina específica para es-
cativa e onde deve começar a ação
tudar o tema. Um Estatuto poderia
punitiva quanto à responsabilida-
Quero registrar minha satisfa-
abordar aspectos do direito mate-
de do empregador nas questões de
ção pessoal pelo interesse demons-
rial relacionados à segurança, higie-
proteção da saúde do trabalhador?
trado pela matéria da saúde do tra-
ne e saúde do trabalhador; as ques-
Educação e fiscalização são me-
balhador por todos os magistrados
tões modernas do meio ambiente
didas complementares e indispen-
do trabalho. Muitos acreditavam
do trabalho; as tutelas processuais
sáveis. A prevenção de acidentes e
que o juiz trabalhista não estava
mais adequadas para garantir a se-
doenças ocupacionais exige investi-
habilitado para julgar demandas
gurança e a saúde do trabalhador;
mentos, ajustes no sistema de pro-
envolvendo responsabilidade civil,
a reparação dos danos decorrentes
dução, treinamentos, modernização
mas hoje a realidade demonstrou
acha importante destacar?
exatamente o contrário. Além de julgar com profundidade e rapidez as demandas a respeito, a Justiça do Trabalho passou a contribuir para reduzir os acidentes. Em pouco tempo já se formou uma jurisprudência nacional sobre as indenizações, ajudando a criar uma mentalidade preventiva no meio empresarial. Com certeza a Justiça do Trabalho cresceu como instituição ao receber a ampliação da competência pela Emenda Constitucional n. 45/2004.
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REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
Stela Maris
Um precursor no uso de equipamentos de proteção individual A categoria profissional do vaqueiro nasceu com a chegada dos colonizadores aos sertões nordestinos, a partir do século XVII, e se distingue como uma das primeiras a fazer uso sistemático do que hoje chamamos equipamentos de proteção individual - EPIs
P
ara enfrentar ambiente de tra-
de muita coragem um traje resisten-
a teia de árvores, arbustos e cactos
balho hostil e exercer ativida-
te: gibão, guarda-peito, perneiras,
que fazem da flora sertaneja uma
botas, luvas e chapéu.
das mais ásperas.
de de risco, o vaqueiro nordestino
O vaqueiro só enfrenta a caatin-
Ele não sai para o trabalho –
a desenvolver uma indumentária
ga encourado, isto é, vestido com
seja a simples recuperação de uma
completa, tendo o couro como
o conjunto de peças que o protege
novilha que deu cria escondida em
matéria-prima básica, que lhe des-
dos lancinantes espinhos do man-
alguma furna, seja o caso mais ar-
se o mínimo de proteção. Montar
dacaru, dos temíveis espinhos da
riscado do resgate de um garrote
a cavalo e perseguir bois velhacos
jurema preta, das macambiras, fa-
que se criou bandoleiro, ignorando
e furiosos num relevo acidentado,
velas, xiquexiques e urtigas que lhes
limite de cercas e de cordas – sem
solo irregular, vegetação espinhosa,
alcançam as pernas, dos galhos mais
usar todos os itens que compõem
sol de quarenta graus exigem além
grossos e resistentes, enfim de toda
suas vestimentas.
Stela Maris
foi obrigado pelas circunstâncias
Técnica e prevenção Sob a proteção dos equipamentos de couro, o vaqueiro alia técnica e coragem para romper a caatinga
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
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Stela Maris
“Antigamente o vaqueiro recebia a sorte, de cada quatro bezerros nascidos na fazenda, um era dele”, relembra Assis Vaqueiro, evocando um tempo anterior à popularização das cercas de arame farpado.
Experiência Com 50 anos dedicados à profissão, Assis Vaqueiro conhece bem todos os riscos da atividade e sabe que o uso do terno de couro é indispensável
O gibão, espécie de dólmã de
os dedos livres, evitam que os gar-
quando ainda nem se cogitava o
couro curtido, é o item que mais
ranchos rasguem as mãos e que,
conceito de segurança nas ativida-
se destaca, tanto por sua função
na derrubada do boi, o que se faz
des profissionais, esse trabalhador já
quanto pelo seu simbolismo, che-
enrolando-se e puxando-se a cauda,
se protegia para evitar ou minimizar
gando mesmo a representar toda
o atrito possa ferir o punho. Chapéu
os riscos de acidentes no exercício
a lida do vaqueiro. Sobreposto ao
de couro resistente salva a cabeça
de suas atividades.
peitoral ou guarda-peito, um tipo
dos galhos das árvores mais impo-
Quem conhece bem essa lida
de jaleco, o gibão protege com ele
nentes da caatinga, como aroeira,
é Assis Vaqueiro, de Serrita (pe),
o corpo do vaqueiro. Acessório in-
angico, baraúna.
66 anos, 50 deles escanchado no
dispensável para rebater espinhos e
Surgindo com o início da colo-
lombo de um cavalo, correndo
agudas pontas de galhos rasteiros,
nização da área mais afastada do
atrás de rês “manhosa” na caatinga.
as perneiras prolongam-se do início
litoral, as terras sertanejas, para cui-
Ele confessa que só entra no mato
da tíbia à coxa.
dar do gado bovino introduzido na
todo encourado e depois de pedir
As extremidades do corpo re-
região e criado à solta nas vastas ex-
a proteção de Padre Cícero e Nossa
cebem também proteção especial.
tensões territoriais, o vaqueiro pode
Senhora.
Botas de sola fornidas garantem
ser considerado um pioneiro no uso
Assis vem de um tempo em que
a integridade dos pés. Luvas, que
de equipamentos de proteção indi-
o gado era criado completamente
começam no antebraço e deixam
vidual (epis). Quatro séculos antes,
solto, sem limites de cerca, nem
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REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
cultivo de pastagem, tornando-se,
prêmio de até trezentos reais”, ex-
assim, semisselvagem. Em tais
plica animado.
condições, os serviços do vaqueiro
Conta que, ao longo da vida, na
eram absolutamente indispensáveis
“loita” com gado perdeu uma vista
para campear os bois desgarrados.
com um galho, teve a perna quebra-
A introdução de raças mais dóceis e
da em uma pancada num tronco e
economicamente rentáveis, como a
recebeu uma violenta chifrada de
holandesa, em substituição ao tradi-
uma novilha no bucho. Era para
cional pé-duro, aliada à mudança de
amparar o vaqueiro em acidentes
manejo do rebanho tornou dispen-
como esses que a Lei nº 12.870, pre-
sável a atuação do vaqueiro cam-
via a contratação de um seguro para
peador. Hoje não há mais bezerros
o profissional, mas o artigo foi ve-
que nascem, viram garrotes e depois
tado pela Presidência da República,
barbatões sem nunca terem encara-
sob a alegação de que muitos pro-
do a presença humana.
prietários, por sua modesta condi-
“Antigamente o vaqueiro rece-
ção econômica, não poderiam arcar
bia a sorte, de cada quatro bezerros
com os custos e por isso diminuiria
nascidos na fazenda, um era dele”,
a contratação da mão de obra.
relembra Assis Vaqueiro, evocando
Assis Vaqueiro se declara des-
um tempo anterior à popularização
cendente próximo de caboclo
das cercas de arame farpado.
(índio). “Minha vó foi trazida do
No presente, ele faz trabalhos
mato”, afirma. Ainda com agilida-
eventuais, nas fazendas da região.
de de atleta, apesar dos 66 anos e
A Lei nº 12.870, de outubro de 2013,
dos acidentes de que foi vítima, é
que regulamenta a profissão de va-
também bom de aboio e gosta de
queiro, não surtiu nenhum efeito na
exercitar esse canto para espantar
sua vida, parece ter chegado tarde
as tristezas e acalmar o gado.
demais, com a previsão de direitos básicos.
Stela Maris
Declara seu amor pela terra e pelo ofício de vaqueiro: “Pedi a mi-
Mas o vaqueiro não perde o
nha família que quando eu morrer
entusiasmo e revive os velhos tem-
me enterre numa porteira, pra eu
pos de pega boi real participando
ouvir o gado passar por cima”.
constantemente de uma atividade
O veterano Assis tem discípu-
rústico-recreativa, que é a pega de
los. Ensinou a arte de campear aos
boi organizada como evento e que
jovens irmãos Itamar Galvão, 22, e
se tornou popular no sertão. “Sol-
Pedro Antônio, 19, que demonstram
tam o boi no limpo e a gente, três
habilidade e são parceiros do mestre
ou quatro companheiros, corre atrás
nas pegas de boi que acontecem em
dele na caatinga, se pegar recebe o
vários municípios sertanejos.
Nova geração Aos 22 anos, Itamar Galvão já é um profissional experiente com participação frequente nas festas de pega de boi
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Transformando segurança em arte
C
Celebridade do couro Mais famoso nome da arte do couro, Zé do Mestre aprendeu o ofício com seu pai, Mestre Luís, e ensinou ao filho Irineu do Mestre, que transmitiu a Irineu Jr.
mais requintadas. Sem descuidar da
contam-se quatro gerações de mes-
função principal das peças, que é
tres no trabalho de transformar
proteger a vida do vaqueiro, os ar-
couro em gibão.
om o passar do tempo, as partes que compõem as vestes do
vaqueiro foram ganhando formas
tesões do couro começaram a pro-
O mais célebre da dinastia, Zé
duzir itens de acabamento perfeito
do Mestre, de batismo José Luís
e admirável beleza.
Barbosa, 81 anos, decidiu mereci-
Em Salgueiro, cidade do Sertão
damente “esbarrar de trabalhar”,
Central de Pernambuco, a 513 km do
mas ainda é a referência quando
Recife, uma família de artesões se
se fala em roupa de vaqueiro. Dei-
dedica à arte de confeccionar ternos
xou a tenda e residência no sítio
de vaqueiro. De Mestre Luís, nas-
Cacimbinha — a 18 km da sede do
cido em 1896 e iniciador do ofício
município e agora sob os cuidados
na família, a Irineu Júnior, 20 anos,
do sucessor, Irineu do Mestre — e
o mais novo seguidor da profissão,
vive na cidade de Salgueiro. Já fez
18
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
Fotos: Stela Maris
De Mestre para Mestres: Mestre Luís, Zé do Mestre, Irineu do Mestre e Irineu Júnior representam quatro gerações que fazem história na confecção das peças que dão segurança ao vaqueiro
gibão para muita gente famosa. Per-
“Na hora que eu for chamado,
família dos Mestres está garantida. O
sonalidades como o rei da Espanha,
tenho um seguidor”, diz o artesão,
jovem concilia o curso de Direito, que
Juan Carlos, o papa João Paulo II,
referindo-se envaidecido ao seu filho
faz em Salgueiro, com o trabalho no
um reitor de universidade paulista e
Irineu do Mestre.
couro, na oficina que foi do avô, Zé
Luiz Gonzaga, seu cliente habitual,
Aproveitando os novos tempos e a
por quem revela uma admiração
fama do pai, que transformou “Zé do
sem tamanho, descrevendo-o como
Mestre” numa “grife”, Irineu do Mestre
“uma voz sem sacrifício”.
concentra seu talento na confecção de
Embora existindo desde o início
Quando a atividade tradicional
peças para artistas. Contabiliza, orgu-
da chegada do colonizador português
do vaqueiro perdeu espaço e conse-
lhoso, entre seus clientes, os cantores
aos sertões nordestinos, já no século
quentemente a procura pelos trajes
Fagner, Gilberto Gil, Zé Ramalho e
xvii, e reunindo um conjunto de ha-
típicos caiu, Zé do Mestre começou a
Alceu Valença. “A procura é boa, estou
bilidades e tarefas próprias, a profis-
construir uma nova clientela, admira-
terminando umas peças para o cantor
são de vaqueiro não era oficialmente
dores da cultura nordestina e cantores
Flávio Leandro e o Coral de Aboio de
reconhecida. Segundo a Classificação
na esteira de Gonzaga, a exemplo de
Serrita”, disse, no final de fevereiro.
Brasileira de Ocupações – cbo –, ela-
do Mestre.
Profissão: vaqueiro
Dominguinhos e Trio Nordestino.
Atento à modernidade, Irineu co-
borada pelo Ministério do Trabalho
Passou a fazer costuras mais elabo-
meça a variar sua produção, incluindo
e Emprego, os vaqueiros enquadra-
radas, carregando nos “vivos das
bolsas femininas, chapéus com escu-
vam-se como trabalhadores na pe-
peças” — detalhes de couro colorido
dos de times de futebol, que vende
cuária de animais de grande porte.
sobrepostos — e tornou popular uma
para Fortaleza e Natal, e bolsas para
Mas desde 15 de outubro de 2013,
jaqueta, mais leve que o gibão e que
notebook, mas tudo com material, mo-
quando a presidenta da República,
não integra originalmente a roupa do
tivos e técnica tradicionais.
Dilma Rousseff, sancionou a Lei nº
vaqueiro. Com uma memória admirável e se orgulhando de ainda se assinar sem precisar de lentes, conta histó-
Se depender de Irineu Júnior, 20 anos, a tradição da arte do couro na
12.870, esses trabalhadores passaram a ter a profissão reconhecida.
O que protege o vaqueiro Chapéu
rias que abarcam o universo sertanejo em geral, incluindo casos com Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, com quem
Guarda-peito
estreitou amizade na Missa Vaqueiro,
Luva
em Serrita (pe), ainda no começo dos anos setenta.
Gibão
Atualmente percorre o estado de Pernambuco a exposição “O Sertão
Perneira
de Zé do Mestre”, que mostra suas criações, com curadoria de Ticiano Arraes, fotos de Josivan Rodrigues e documentário dirigido por Tila Chi-
Bota
tunda.
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
19
Saúde e segurança do trabalhador em vídeo e prosa A literatura no campo do direito vem apresentando uma produção crescente na temática da segurança e saúde do trabalhador, mas a área ainda se ressente de abordagens no meio acadêmico
A
saúde e a segurança do tra-
e Desafios da Vigilância e da Pre-
Locais de Trabalho Seguros e Saudá-
balhador têm sido tema de
venção de Acidentes do Trabalho, de
veis, no Festival Internacional pro-
diversas produções tecno-científi-
Rodolfo Andrade de Gouveia Vilela.
movido pela Agência Europeia para
cas. Especialistas da área jurídica
Apesar de a literatura especia-
a Segurança e Saúde no Trabalho. O
e produtores de audiovisual estão
lizada estar em evidência, Sérgio
filme descreve o cotidiano de uma
desenvolvendo projetos que per-
Torres observa que no cenário aca-
prisão brasileira a partir do ponto
mitem conscientizar empregados e
dêmico a produção ainda está aquém
de vista dos guardas penitenciários,
empregadores sobre a necessidade
do desejado: “Sentimos falta de um
abordando o difícil ambiente laboral
de prevenção de doenças e aciden-
maior interesse sobre o assunto por
e promovendo debates sobre os ris-
tes laborais. Para o desembargador
parte de mestrandos e doutorandos”.
cos físicos e psicológicos presentes
do Tribunal Regional do Trabalho
Mas, em contraponto, ele destaca a
na profissão e no local de trabalho.
da 6ª Região (trt-pe) e professor
qualidade dos trabalhos que versam
Outro documentário que retrata
Sérgio Torres Teixeira, o campo da
sobre o assunto.
a dificuldade diária vivida por tra-
Um exemplo é a dissertação de
balhadores é o Carne, osso. Com
mestrado em Direito, pela Uni-
direção de Caio Cavechini e Carlos
“Hoje em dia acredito que evo-
versidade Federal de Pernambuco
Juliano Barros, o filme mostra o
luímos muito no campo da doutri-
(ufpe), defendida em 2011 pela juíza
cotidiano de riscos e depressão vi-
na especializada. São dezenas de
do trabalho Luciana Paula Conforti:
venciado pelos funcionários da ca-
obras sobre o assunto publicadas
Garantias Constitucionais do Pro-
deia produtiva da carne no Brasil.
por várias editoras”, disse. Entre os
cesso nas Ações Acidentárias Tra-
Revelando as jornadas repetitivas
livros da literatura especifica, o de-
balhistas — Meio Ambiente do Tra-
que causam danos à saúde física e
sembargador destaca as seguintes
balho, Direito à Prova e Dignidade
mental dos trabalhadores, a obra
obras: Indenizações por Acidente do
Humana. “Trata-se de um trabalho
demonstra, ainda, os desrespeitos
Trabalho ou Doença Ocupacional,
científico de excelente qualidade”,
das empresas à legislação trabalhis-
de Sebastião Geraldo de Oliveira;
avalia Sérgio Torres.
ta e os custos gerados para a Previ-
segurança do trabalho tem crescido significativamente.
Direito Ambiental do Trabalho e a
No campo do audiovisual duas
dência Social. Em 2011, Carne, osso
Saúde do Trabalhador, de Raimun-
produções nacionais merecem des-
ganhou a 35ª edição do Prêmio Vla-
do Simão de Melo; Responsabilida-
taque. O documentário A Gente, do
dimir Herzog de Anistia e Direitos
de Objetiva do Empregador, de José
cineasta brasileiro Aly Muritiba,
Humanos, importante prêmio na-
Antônio Ribeiro de Oliveira Silva;
venceu o Prêmio Cinematográfico
cional de jornalismo.
20
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
Segurança pelo Brasil NORDESTE Pernambuco sedia a PreveNor
em Olinda. Com entrada franca, o
workshops com foco na capacitação
evento reúne novidades em pro-
técnica.
A 13ª edição da Feira Norte-
dutos e serviços para promoção do
A Feira é promovida pelas revis-
-Nordeste de Saúde, Segurança no
trabalho seguro e saudável, além
tas “Proteção” e “Emergência”, am-
Trabalho e Emergência (PreveNor)
de itens usados em emergências
bas da editora “Proteção Publicação
será de 22 a 24 de outubro, no Cen-
e resgates. Ao longo dos três dias,
e Eventos”. Para saber mais, acesse:
tro de Convenções de Pernambuco,
também haverá cursos, seminários e
www.protecaoeventos.com.br.
Reuniões levantam a
- grupo formado por representan-
cipeiros, bem como distribuídas
importância das CIPAs
tes do empregador e dos funcioná-
cartilhas com o manual da Comis-
rios de uma instituição, que atuam
são. Este ano, também acontecem
para reduzir riscos de acidentes
encontros com empresários para
O Getrin23 (Mato Grosso) fará,
e doenças de trabalho. A ação do
tratar do tema.
no segundo semestre de 2014, nova
Getrin23, feita em parceria com o
Para saber mais sobre o progra-
rodada de eventos para orientação
Sesi/mt, acontece na capital e em
ma ou a agenda de visitas, conta-
e incentivo da Comissão Interna
cidades-polos do interior. Nelas são
te: (65) 3648 4200 / grupogetrin@
de Prevenção de Acidentes (cipa)
promovidas oficinas e palestras com
gmail.com.
Radiológica e a Sociedade Portu-
público-alvo os trabalhadores que
Entre 26 e 29 de agosto, em
guesa de Proteção contra Radiações,
atuam expostos à radiação, os pro-
Gramado/rs, acontece a “Inter-
trará informações sobre a segurança
fissionais de segurança do trabalho
national Joint Conference radio
no uso dessa energia, seja ele no âm-
e os acadêmicos e estudantes que se
2014”. O evento, organizado pela
bito hospitalar/laboratorial, seja no
interessam pela área. Detalhes em:
Sociedade Brasileira de Proteção
industrial. A conferência tem como
www2.sbpr.org.br/radio2014.
CENTRO-OESTE
SUL Congresso aborda Radioproteção
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
21
Na prateleira Curso de Direito Processual Civil
Código Penal Comentado
55ª ed.
8ª Edição
Autor
Autor Rogério Greco Editora Impetus
Humberto Theodoro Júnior Editora Forense Jurídica (Grupo GEN)
Constituição Brasileira de 1988 - Reflexões em comemoração ao seu 25º aniversário Coordenadores Antônio Pereira e Márcio Gil Editora Juruá
A nova edição do Curso de Direito
Nesta edição do Código Penal
Lançado em março, o livro com-
Processual Civil, do professor e
Comentado, o professor Rogério
preende um estudo coletivo em
magistrado aposentado Humberto
Greco reúne as principais discussões
comemoração ao 25º aniversário
Theodoro Júnior, incorpora as
relativas ao estudo do Direito Penal
da atual Constituição da República
principais novidades observadas
brasileiro. De forma clara e objetiva,
Federativa do Brasil. A obra tem a co-
na jurisprudência, sobretudo dos
o autor elenca as divergências
ordenação dos professores Antônio
Tribunais Superiores. A obra leva em
doutrinárias e jurisprudenciais
Pereira e Márcio Gil e a colaboração
consideração a tramitação do projeto
existentes em cada tema. A obra
de um grupo de pensadores notáveis
de um novo Código de Processo
conta, ainda, com a posição dos
em seu campo de atuação. O livro
Civil e aponta, sinteticamente, os
Tribunais, ementas específicas,
traduz os impactos jurídicos e políti-
principais rumos previstos para o
citações legislativas e súmulas dos
cos da Carta Constitucional de 1988
Direito Processual brasileiro.
Tribunais Superiores.
nos mais variados ambientes.
Processo do Trabalho e Evolução do Direito
Prática Trabalhista
Coordenadores
Autor
7ª Edição
Acidentes de Trabalho e Doenças Ocupacionais 3ª Edição
Sérgio Torres, Amaro Clementino e Juliana Teixeira Editora Juruá
André Luiz Paes de Almeida
Autor
Editora
Oswaldo Michel
Método (Grupo GEN)
Editora LTr
O desembargador do TRT6 Sérgio
O livro apresenta, sem complexidade,
No livro Acidentes do Trabalho e
Torres e os professores Amaro
as primeiras linhas sobre as peças
Doenças Ocupacionais, o médico
Clementino e Juliana Teixeira
trabalhistas. É destinado a estudantes
especialista em Medicina do
coordenaram a edição do livro
de Direito em preparação para o
Trabalho Oswaldo Michel fala sobre
Processo do Trabalho e Evolução do
exame da Ordem dos Advogados do
a avaliação da capacidade laborativa,
Direito, lançado em março. A obra
Brasil (OAB) e também para acadêmi-
necessária para a concessão de
contém estudos em homenagem ao
cos que desejam esclarecer as
benefícios decorrentes de doenças do
professor José Soares Filho e possui
dúvidas mais frequentes em sala de
trabalho. Doutorado em Toxicologia
a colaboração de 17 autores, entre
aula. Com linguagem clara e objetiva,
Ocupacional, Oswald produziu textos
eles os magistrados da 6ª Região Ana
a obra proporciona uma consulta
de rigor técnico e científico, que
Maria de Freitas, Luciana Conforti e
segura e imediata a problemas da
expõem uma condensação de bases
Marcílio Florêncio.
prática trabalhista.
legais sobre a área.
22
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
Avanços nas condições de trabalho dos canavieiros A cana-de-açúcar foi a primeira cultura agrícola introduzida pelo colonizador português no Brasil a ser plantada em larga escala. No cultivo dessa atividade, por si só penosa, os trabalhadores contam hoje, após séculos de condições degradantes, com direitos básicos, incluindo um ambiente de trabalho mais saudável. O desafio é garantir que essas normas sejam cumpridas por todas as empresas do setor sucroalcooleiro.
Elysangela Freitas
D
esde seu surgimento, no
transportavam cana e almoçavam
a cultura da cana, os canaviais co-
início do século xvi, até os
expostos ao sol, conquistaram di-
meçaram a se desenvolver e pros-
dias atuais, as relações de trabalho
reito à condução em ônibus e um
peraram especialmente na região
na indústria da cana-de-açúcar
ambiente de trabalho mais saudável,
Nordeste. Naquela época, o lucro
passaram por muitas mudanças.
com alojamento para refeições, água
obtido com o pau-brasil não era
Se compararmos a exploração da
potável e sanitários. Também houve
suficiente para os colonizadores
mão de obra escrava, que movia os
avanço quanto ao uso de equipa-
lusos, fazendo-os optar pela cul-
primitivos banguês, passando pelo
mentos individuais de segurança. A
tura da cana-de-açúcar, já que
trabalho precário nos engenhos e
categoria é protegida pelos direitos
dominavam as técnicas de plantio
primeiras usinas, hoje a realidade
trabalhistas básicos desde os histó-
desenvolvidas nas ilhas atlânticas
dos trabalhadores da cana, embora
ricos dissídios coletivos mediados
de Madeira e Açores, também co-
longe do ideal, é bastante diferente.
pelo Tribunal Regional do Trabalho
lonizadas por Portugal. A grande
Os empregados, que se deslocavam
da 6ª Região no final dos anos 70,
aceitação do produto na Europa, o
das periferias das cidades às plan-
de forma pioneira no Brasil.
clima e o solo brasileiro também
tações amontoados nas carroce-
Com o desembarque dos portu-
rias dos mesmos caminhões que
gueses no Brasil, em 1530, trazendo
foram determinantes para a escolha da atividade.
Lula Cardoso Ayres. Acervo: Fundação Joaquim Nabuco
Em evolução O ambiente de trabalho dos canavieiros ainda está longe do ideal, mas, comparado a uma época nem tão distante, apresenta significativas melhorias
Nesse contexto, as primeiras
Nos latifúndios, os senhores de
idade, fato que configurava uma ro-
plantações surgiram nas regiões
engenho se instalavam nas chama-
tina de trabalho demasiado abusiva.
litorâneas, destacando-se o culti-
das “casas grandes”, situadas nas
Foi nesse cenário que se desen-
vo, dentre outras, na capitania de
áreas mais elevadas do terreno,
volveu a cultura da cana no Brasil.
Pernambuco. O uso de grandes
estrategicamente construídas para
Construída em bases cruéis, sem
lavouras era essencial para que os
facilitar a fiscalização do trabalho
qualquer conforto e dignidade para
lucros com a cana fossem altos e
dos escravos e, ao mesmo tempo,
os trabalhadores, essa realidade
vantajosos para os produtores e o
antecipar-se a uma possível revolta
perdurou muito tempo. Segundo
governo português. Carentes de
destes. Do outro lado, os escravos
estudo realizado pela mestra em
uma população grande o suficiente
se amontoavam nas senzalas, sem
História Cristhiane Laysa Andra-
para oferecer a mão de obra neces-
qualquer conforto para descansar
de Teixeira Raposo no final do ano
sária para a evolução da indústria
depois das longas horas trabalhadas.
passado, em que examinou dados
no Brasil Colônia, os portugueses
A carga e a jornada de trabalho eram
do Memorial da Justiça do Traba-
utilizaram o trabalho escravo de
tão desumanas, que raramente um
lho de Pernambuco, do acervo do
índios e africanos.
escravo sobrevivia aos 40 anos de
Tribunal Regional do Trabalho da
24
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
Elysangela Freitas
6ª Região (trt-pe) cedido à ufpe,
Foi por meio das greves do final
“Pernambuco é um dos
além de prontuários da extin-
dos anos setenta que canavieiros
poucos estados do país que
ta dops/pe (Delegacia de Ordem
começaram a reivindicar melhores
conseguiu convencionar
Política e Social de Pernambuco)
condições de trabalho. O diretor de
com a classe patronal uma
e periódicos da imprensa local da
assalariados rurais da Federação
tabela de tarefa, que disciplina
época compreendida entre 1979 e
dos Trabalhadores na Agricultura
todas as atividades de trato
1985, as condições de trabalho se
do Estado de Pernambuco (Fetape),
e colheita na lavoura da
desenvolveram e evoluíram pauta-
Paulo Roberto Rodrigues, conta que
cana. Avançamos também
das em grandes lutas por direitos
houve, nos últimos 30 anos, uma
quanto aos instrumentos
constituídos nos embates judiciais
redução significativa no número
de medições das tarefas e a
trabalhistas e movimentos reivin-
de trabalhadores rurais da lavoura
obrigatoriedade do transporte
dicatórios do campo.
da cana-de-açúcar: “De 250 mil ca-
gratuito e de qualidade”.
O sindicalismo rural teve nos
navieiros naquela época, hoje essa
paulo roberto rodrigues
trabalhadores da cana de Pernam-
quantidade caiu para 80 mil tra-
DIRETOR DE ASSALARIADOS DA FETAPE
buco um de seus maiores alicerces.
balhadores, devido ao fechamento
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
25
de ser obrigatório, há vários des-
grande maioria improvisados: “ge-
gando os trabalhadores a sair dos
cumprimentos a essa determinação,
ralmente alguns comem nos ônibus
engenhos para morar nas periferias
o que deixa os trabalhadores expos-
adaptados ou nas barracas, instala-
das cidades”. O sindicalista também
tos a um possível acidente laboral.
das nas proximidades das frentes de
lamenta que nos últimos anos dis-
Outro problema é que, embora haja
serviços”, destacando que a maior
seminou-se o modelo de contrato
proibição legal, em muitos casos as
parte dos trabalhadores não tem
por tempo determinado, gerando
ferramentas de trabalho – facões,
lugar apropriado para se alimentar.
alguns prejuízos aos canavieiros,
enxadas –, que representam risco à
Apesar das dificuldades, Paulo
como por exemplo impossibilidade
integridade física, continuam sendo
Roberto também conta que a re-
de acesso ao seguro desemprego e
transportadas no mesmo espaço dos
lação respeitosa entre a Fetape e o
ao aviso prévio.
passageiros, conforme se verifica na
Sindicato da Indústria do Açúcar e
maioria das inspeções que a Fetape
do Álcool no Estado de Pernambu-
realiza.
co (Sindaçúcar), ao longo desses 30
Sobre o fornecimento e reposição de Equipamentos de Proteção Individual (epis) nos dias de hoje,
Os espaços das refeições, segun-
anos, favoreceu as melhorias con-
Paulo Roberto explica que, apesar
do o diretor de assalariados, são na
quistadas pela categoria, inclusive “Graças aos cursos e à rádio, temos noção da importância do uso dos EPIs. Também temos ginástica laboral, que alivia os músculos cansados com os movimentos do corte da cana” severino feliciano dos prazeres TRABALHADOR
Trabalho árduo Não dá para enfrentar a alta temperatura nem o pelo da cana e suas folhas cortantes sem o uso de equipamentos básicos de proteção
26
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
Elysangela Freitas
de várias usinas e destilarias, obri-
por meio de Convenções Coletivas
Bom exemplo – A Usina São
de Trabalho: “Pernambuco é um dos
José, uma das maiores produtoras
poucos estados do país que conse-
de açúcar, etanol e energia elétrica
guiu convencionar com a classe
de Pernambuco, é um bom exem-
patronal uma tabela de tarefa, que
plo de como evoluíram as condições
disciplina todas as atividades de
dos trabalhadores da indústria su-
trato e colheita na lavoura da cana.
croalcooleira no estado. Com um
Avançamos também quanto aos ins-
solo acidentado, não favorável à
trumentos de medições das tarefas
mecanização na colheita, diferente-
e a obrigatoriedade do transporte
mente de São Paulo, cujo relevo per-
gratuito e de qualidade”. Além dis-
mite o uso de máquinas no corte da
so, o sindicalista também relata que
cana, Pernambuco depende de mão
o empregador abona dois dias por
de obra humana para o preparo do
ano para os trabalhadores realiza-
solo, plantio e colheita.
embora haja proibição legal, em muitos casos as ferramentas de trabalho – facões, enxadas –, que representam risco à integridade física, continuam sendo transportadas no mesmo espaço dos passageiros, conforme se verifica na maioria das inspeções que a Fetape realiza.
Informa a gerente de Recursos
Para o advogado do Sindaçúcar,
Humanos Márcia Gonçalves que,
Marcelo Brandão, outro marco im-
desde 2004, antes mesmo da subs-
portante na luta pelas conquistas
crição do Compromisso de 2009, a
por melhores condições de trabalho
Usina já oferecia ginástica laboral
foi o “Compromisso Nacional para
aos seus empregados. Outra ação
Aperfeiçoar as Condições de Tra-
diferenciada é a disponibilização de
balho na Cana-de-Açúcar”, firma-
ônibus para o transporte dos traba-
do em 2009 pelo Governo Federal
lhadores, uma preocupação, segun-
e entidades de trabalhadores e de
do o Diretor Executivo Frederico
empresários do setor sucroenergé-
Vilaça, que já era do seu avô, Paulo
tico e subscrito por 100% das usinas
Petribu, fundador da Usina, que im-
do estado, para enfrentar o desafio
plementou o transporte na década
de aprimorar as condições de vida
de 70. “Meu avô, há 30 anos, já se
e trabalho no cultivo manual da
incomodava com as condições nas
cana.“Os principais ganhos da ca-
quais trabalhavam os canavieiros,
tegoria com a subscrição foram a
especialmente mulheres e crianças”.
garantia de duas pausas coletivas
Antes de ser advogado do Sinda-
por dia (uma pela manhã e outra
çúcar, Marcelo Brandão representou
à tarde); a prática da ginástica la-
a Usina São José por muitos anos e
boral nas atividades manuais de
relata que a empresa anda na van-
plantio e corte da cana-de-açúcar
guarda da indústria desde que sua
e o fornecimento gratuito do soro
memória alcança. Antes da edição
hidratante durante os serviços de
da nr-31 (Norma Regulamentadora
campo”, enumerou.
de segurança e saúde no trabalho na
Elysangela Freitas
rem exames preventivos.
Outro problema é que,
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
27
agricultura, pecuária, silvicultura,
de epis, e capacitações em técnicas
que a população consome”, esclarece
exploração florestal e aquicultura)
de corte também são proveitos
Márcia Gonçalves.
existiam quatro nrrs (Normas Re-
que os trabalhadores da Usina va-
A administração da empresa
gulamentadoras Rurais), em cujo
lorizam. Funcionário da empresa
também implantou um sistema de
texto era previsto um chapéu de
há mais de 30 anos, Severino Fe-
fornecimento de água potável para
abas para proteger do sol o trabalha-
liciano dos Prazeres afirma que, a
os trabalhadores durante a jorna-
dor, mas que não funcionava bem.
cada novo período de moagem, são
da. O diretor Agrícola, José Carlos
“Era um chapéu vazado e frágil, en-
ministrados treinamentos para os
Petribu Vilaça, desenvolveu, junto
tão começamos a perceber que nem
trabalhadores. “Graças aos cursos e
com sua equipe, a adaptação de um
era bom para o empregado, que não
à rádio, temos noção da importân-
caminhão originalmente projetado
se protegia bem, nem para o empre-
cia do uso dos epis. Também temos
para o transporte de grandes quan-
gador, já que o custo era alto, e o epi
ginástica laboral, que alivia os mús-
tidades de leite. No início da safra,
não durava”, explica.
culos cansados com os movimentos
os empregados recebem da Usina
do corte da cana”, explica.
uma garrafa térmica para se servi-
Foi quando a Usina desenvol-
rem de água tratada e fresca.
veu o “chapéu Legião Estrangeira”,
Outro diferencial da Usina é o
hoje chamado de “Chapéu Árabe”,
funcionamento de uma lavanderia
A Usina São José também ins-
que é um boné com uma parte de
industrial para o manuseio e a lava-
talou na lavoura bacias sanitárias
napa que protege o pescoço do ca-
gem da roupa utilizada por aqueles
e pias com água para higienização,
navieiro. Com isso, o epi passou a
empregados que aplicam os agrotó-
semelhantes a banheiros químicos,
ser vantagem para as duas partes:
xicos na plantação da cana-de-açú-
porém com fossas sépticas, dando
protege orelha e pescoço do traba-
car. “Isso evita o contato direto com
aos canavieiros mais conforto e co-
lhador e, para o empresário, tem um
os produtos químicos pela família
modidade durante o trabalho, além
custo menor, pois é mais resistente,
do obreiro e também impede que
de serem peças ecologicamente sus-
durando de três a quatro vezes mais
os tóxicos se misturem com a água
tentáveis.
do que o antigo. “Como na Mata Norte, naquela época, a contratação de mulheres era muito pequena, a iniciativa também foi positiva para a comunidade: as mulheres formaram uma cooperativa para produzir e vender os bonés, melhorando também a renda familiar”, destaca Marcelo. Hoje a empresa oferece muitos outros benefícios. A criação de uma Elysangela Freitas
rádio em que se veiculam dicas de segurança e saúde do trabalho no campo, uma cartilha em forma de quadrinhos com orientações de uso
28
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
Água fresca Caminhão adaptado para fornecer água potável aos canavieiros
Elysangela Freitas
Riscos no trabalho doméstico Direitos básicos só recentemente foram estendidos à categoria dos trabalhadores domésticos, além disso o desempenho de suas atividades nos domicílios dificulta a fiscalização quanto ao respeito às normas de segurança
A
adoção de normas de higiene,
básicas de segurança do trabalho.
saúde e segurança para reduzir
Não é comum, por exemplo, falar-se
riscos do ambiente ou da execução
em prevenção de acidentes para o
do trabalho passou a ser um direito
dia a dia do doméstico”, explica a de-
expresso dos trabalhadores domés-
sembargadora do Tribunal Regional
ticos com a Emenda Constitucional
do Trabalho da 6ª Região (trt-pe)
72, promulgada em abril do ano pas-
Nise Pedroso.
sado. A norma, no entanto, ainda
A opinião é reforçada pela dire-
aguarda a regulamentação do Con-
tora geral do Sindicato das Traba-
gresso Nacional para definir quais
lhadoras Domésticas da Cidade do
serão as medidas obrigatórias e a
Recife (Sindomésticas), Luiza Ba-
forma de fiscalizar o cumprimento.
tista Pereira. Ela pontua que nem
“A relação de emprego doméstico
o empregador nem o empregado
é peculiar. Desenvolve-se no âmbito
conhecem ou dão o devido valor
residencial. Portanto, diferentemente
às medidas preventivas.
de uma empresa, tudo nessa relação
As ações governamentais vol-
é mais flexível, mais maleável. E, por
tadas à Segurança do Trabalho,
conta dessas peculiaridades, mui-
por sua vez, raramente abarcam a
tas vezes são negligenciadas regras
categoria. O Trabalho Doméstico
Ao empregado doméstico enfermo ou acidentado, com a carteira de trabalho devidamente registrada, é previsto o benefício auxíliodoença (simples), pago pela Previdência Social. O direito ao seguro contra acidentes de trabalho, por sua vez, ficou garantido com a Emenda 72, porém ainda não está regulamentado.
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
29
Cidadão, projeto de capacitação
Os acidentes e doenças rela-
das profissionais, que, dentre ou-
cionados ao trabalho doméstico,
tras matérias, aborda questões de
contudo, são comuns e, algumas
ergonomia, acidentes e manuseio
vezes, fatais. Luiza Batista cita como
de produtos de limpeza, teve ape-
os mais corriqueiros as quedas e
nas duas edições, uma em 2006 e
queimaduras. Existem, ainda, as
“A relação de emprego
a outra em 2011. Segundo a Fede-
infecções causadas por produtos
doméstico é peculiar.
ração Nacional das Trabalhadoras
químicos, os fungos e outras mo-
Desenvolve-se no âmbito
Domésticas (fenatrad), que de-
léstias contraídos pelo contato com
residencial. Portanto,
senvolveu o projeto em conjunto
lixo e dejetos sem o uso devido de
diferentemente de uma
com a Secretaria de Políticas de
equipamentos de proteção. Não são
empresa, tudo nessa
Promoção da Igualdade Racial (se-
raros os casos de trabalhadores do-
relação é mais flexível, mais
ppir) e o Ministério do Trabalho
mésticos que despencam de prédios
maleável. E, por conta dessas
e Emprego (mte), ainda não está
ao limparem a parte externa das ja-
peculiaridades, muitas vezes
confirmada uma edição em 2014.
nelas, destaca a diretora.
são negligenciadas regras
Para a presidente do fenatrad,
Dores musculares e lesões por
básicas de segurança do
Creuza Oliveira, a luta da Federa-
esforço repetitivo (ler) também es-
trabalho. Não é comum,
ção é no sentido de que a ação se
tão presentes nesse cenário. Maria
por exemplo, falar-se em
torne um programa continuado,
Francisca dos Santos é uma das ví-
prevenção de acidentes para
nos moldes do realizado em 2006,
timas, ela trabalhou durante 13 anos
o dia a dia do doméstico”
pois a primeira edição, além da
numa casa de família, com a função
capacitação profissional, também
exclusiva de passadeira. Por con-
abarcou a qualificação educacional
ta da atividade, desenvolveu ler,
e a discussão de políticas públicas.
que, agravada, resultou na perda dos
consciência social, existem entraves no ato de fiscalizar as práticas de segurança. Quando há denúncia de desrespeito a regras de segurança em empresas, sindicatos e órgãos públicos têm autonomia de visitar o local e, mesmo, embargar seu funcionamento. Tal iniciativa não é possível nos domicílios, locais onde o empregado doméstico exerce suas atividades. Soma-se a isso o fato de, normalmente, não haver colegas de trabalho, o que dificulta a prova testemunhal.
30
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
DESEMBARGADORA DO TRT6
Elysangela Freitas
Além da necessidade de maior
nise pedroso
movimentos de seu braço direito.
pagamento de indenização corres-
atividade e capacidade do trabalha-
Mesmo após submeter-se a cirur-
pondente ao valor que por ele seria
dor, evitando cobranças abusivas.
gia e estar aposentada há sete anos,
auferido junto ao INSS, caso sua
A desembargadora Nise Pedroso,
Maria ainda sente dor e fraqueza
situação nessa autarquia estivesse
por fim, expõe: “É de fundamental
no braço, além disso, ele ficou mais
regularizada”, explica a desembar-
importância, que os patrões mante-
curto que o esquerdo.
gadora Nise Pedroso.
nham relação respeitosa com seus
Além dos riscos à saúde física, a
Para contribuir com um traba-
empregados, a fim de que se evi-
categoria também está exposta ao
lho doméstico seguro e saudável,
te a condenável prática de assédio
desrespeito dos patrões. “O assédio
empregadores e empregados devem
moral”.
moral é pior do que um acidente
atentar para algumas medidas. Em
O mte dá orientações importan-
direto, porque ele vai minando a
primeiro lugar, a desembargadora
tes na Cartilha de Segurança no Lar,
pessoa aos poucos, vai minando a
do trt-pe destaca o respeito à jor-
disponível no endereço: www3.mte.
autoconfiança, o amor próprio”, afir-
nada de trabalho e o cumprimento
gov.br/trab_domestico.
ma Luiza Batista. “Chegam muitas
dos demais direitos trabalhistas e
aqui [no sindicato], dizendo ‘minha
previdenciários: “A pesada carga
patroa diz que eu sou burra, ela tem
horária de uma empregada, espe-
razão, eu sou burra mesmo’, Ou seja,
cialmente a das domésticas, é apon-
essas pessoas são levadas a crer que
tada como uma das causas de ado-
não têm valor, elas não valorizam
ecimento e de acidentes”, pontua.
o seu trabalho, pois são constantemente xingadas”, continua.
A diretora do Sindomésticas en-
Dicas de segurança 1
2
Nunca usar frigideiras, panelas, etc. com o cabo solto
Usar sempre um mexedor de frituras com o cabo longo,
fatiza os cuidados na hora de ma-
para evitar queimaduras
Ao empregado doméstico enfer-
nusear produtos químicos: “Não
mo ou acidentado, com a carteira de
misturar produtos de limpeza, isso
trabalho devidamente registrada, é
não potencializa a higiene, pelo
previsto o benefício auxílio-doença
contrário, pode causar uma ime-
uma escada, não improvisar
(simples), pago pela Previdência
diata alergia respiratória”, alerta.
com caixotes, bancos, pias,
Social. O direito ao seguro contra
Paralelamente, é importante o uso
acidentes de trabalho, por sua vez,
de luvas tanto na utilização desses
ficou garantido com a Emenda 72,
materiais, como na lavagem de
porém ainda não está regulamen-
vasos sanitários e outros locais de
tado.
fácil contaminação. Empregadores
Quando o trabalhador está ir-
devem ter cuidado também no mo-
regular – sem carteira assinada ou
mento da compra dos itens, optan-
sem o devido recolhimento pre-
do por marcas que não acarretem
videnciário – a responsabilidade
em inflamações.
caberá ao patrão: “Poderá o em-
No que tange à agressão psico-
pregado doméstico se socorrer do
lógica e emocional, é importante
Judiciário Trabalhista para buscar
o respeito a um ritmo de traba-
a condenação do empregador ao
lho compatível com a natureza da
3
Quando precisar alcançar locais altos usar sempre
lavanderias, vasos sanitários, etc. Antes, verificar se a escada está em boas condições e observar o piso onde ela será instalada.
4
Quando ficar muito tempo em pé (lavar pratos, lavar ou passar roupas), aconselha-se o uso de um banquinho ou outro apoio que permita a colocação alternada dos pés para evitar fadiga excessiva, inchaços e dor.
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
31
Stela Maris
Justiça para além dos julgamentos Cerca de 20% dos processos julgados anualmente no Tribunal Superior do Trabalho (TST) trazem pedidos de indenizações decorrentes de doenças ocupacionais ou acidentes de trabalho. Constatações como esta impulsionaram o TST e o Conselho Superior da Justiça do Trabalho a criar o Programa Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho em 2012
A
Organização Internacional do
pedidos de indenizações decorrentes
voltados à prevenção desses acon-
Trabalho (oit) aponta 270 mi-
de doenças ocupacionais ou aciden-
tecimentos. O Programa também
tes de trabalho.
busca a aproximação dos atores da
lhões de acidentes de trabalho e 160 milhões de casos de doenças ocupa-
A recorrência de acidentes e
sociedade civil, tais como empre-
cionais a cada ano em todo o mundo.
doenças dessa natureza fez o tst e
gados, empregadores, sindicatos,
É uma morte a cada quatro horas.
o Conselho Superior da Justiça do
Comissões Internas de Prevenção
No Brasil, de acordo com os regis-
Trabalho (csjt) voltarem a atenção
de Acidentes (cipas), instituições de
tros do Ministério da Previdência, o
para a problemática da segurança do
pesquisa e ensino. Com essas ações
número é igualmente alarmante: sete
trabalho no Brasil, instituindo, em
conjuntas, as entidades promovem
é a média de óbitos diários gerados
2012, o Programa Trabalho Seguro –
a conscientização da importância
por acidentes de trabalho, além das
Programa Nacional de Prevenção de
do tema, contribuindo para o de-
700 mil vítimas por ano durante o
Acidentes de Trabalho. A iniciativa
senvolvimento de uma cultura de
exercício de atividades profissionais.
surgiu com o fim de estabelecer par-
prevenção.
Além disso, no Tribunal Superior do
cerias com diversas instituições pú-
Dado relevante é que as reper-
Trabalho (tst), cerca de 20% dos
blicas e privadas, visando a conceber
cussões dessas ocorrências não atin-
processos julgados anualmente têm
e executar projetos e ações nacionais
gem apenas o âmbito jurídico: os
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REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
custos para o Estado são altíssimos,
Programa, autoridades essas res-
pelo presidente do trt-pe, desem-
com a concessão de benefícios pelo
ponsáveis por articular, elaborar e
bargador André Genn, do protocolo
Instituto Nacional de Seguridade
realizar as ações planejadas. Assim,
de cooperação técnica com o Minis-
Social (inss), tais como auxílio-
a Presidência do órgão indicou cin-
tério Público do Trabalho (mpt6), o
-acidente, habilitação e reabilitação
co magistrados como gestores, que
Instituto Nacional do Seguro Social
profissional e pessoal, aposentado-
ajudam na coordenação nacional
(inss-ne), o Ministério do Trabalho
ria por invalidez e pensão por mor-
dos esforços empreendidos pelo
e Emprego (mte) e a Advocacia-
te. Só em 2010, cerca de 17 bilhões
Programa. No âmbito regional, são
-Geral da União (agu-prf5). Além
de reais foram gastos pela Previdência
designados dois magistrados pela
desses órgãos, o Grupo tem como
Social com a concessão desses benefí-
Presidência de cada trt para atua-
parceiros a Fundação Jorge Duprat
cios. Isso sem falar nas consequências
rem na região respectiva.
Figueiredo de Segurança e Medicina
de acidentes menos graves, em que o
Esses gestores se reúnem perio-
do Trabalho (Fundacentro) e a Fun-
empregado se ausenta do serviço
dicamente e contam com o auxí-
dação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que
por um período inferior a 15 dias,
lio de equipes técnicas e apoio das
aderiram ao protocolo no ano pas-
ficando o empregador com seu qua-
Presidências do tst e dos Tribunais
sado e neste ano, respectivamente.
dro de pessoal desfalcado tempora-
Regionais do Trabalho, devendo
Sob a coordenação das primei-
riamente, além de ter que arcar com
representar o Programa perante a
ras gestoras regionais do Programa
os custos dessa lacuna.
sociedade civil e instituições públi-
Trabalho Seguro, desembargadoras
Mas viabilizar o desenvolvimen-
cas. As atividades técnicas e ope-
Valéria Gondim e Dinah Figueiredo,
to das atividades do Programa não
racionais do Programa são sempre
o Getrin6 começou a dar os primei-
seria possível sem a integração de
acompanhadas pelo Escritório de
ros passos: “Os desafios para a im-
atores regionais. Por essa razão, o
Gestão de Projetos – egp.
plantação do Programa Nacional do
Getrin6 – No trt-pe, o Grupo
Trabalho Seguro, em Pernambuco,
nº 96, determinando a participa-
de Trabalho Interinstitucional da
por meio do Getrin6, foram e são
ção de magistrados como gestores
Sexta Região (Getrin6) foi criado
muitos, de diversas ordens, mas, em
nacionais e regionais na gestão do
em julho de 2012, com a assinatura,
seu início, situaria a dificuldade de
Stela Maris
csjt editou, em 2012, a Resolução
Jogo pela vida O presidente do TST (2011-2013), ministro João Oreste Dalazen, reunido com autoridades, magistrados, artistas e atletas, divulga o programa Trabalho Seguro aos operários da Arena Pernambuco
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
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Fotos: Stela Maris
No trabalho e na escola As desembargadoras Valéria Gondim e Dinah Figueiredo levam a mensagem do Trabalho Seguro aos canteiros de obras e às escolas
planejar e de cumprir metas de um
diversos Estados onde seriam ergui-
Dois meses depois, começou a
programa ainda novo e inovador”,
das arenas para a copa do mundo.
primeira Semana do Trabalho Segu-
ressaltou a desembargadora Valéria
O evento aconteceu em setembro
ro, que focou nos operários da cons-
Gondim. Outro desafio apontado
de 2012 e contou com a participação
trução civil, com ações que contem-
pela desembargadora foi a busca
de três mil operários da obra da Are-
plavam visitas de arte-educadores a
por parceiros aptos a colaborar com
na Pernambuco, em São Lourenço da
canteiros de obras para apresenta-
a melhoria das condições de saúde
Mata, Região Metropolitana do Reci-
ção de estratégias de prevenção de
e segurança no ambiente laboral.
fe. Na ocasião, o então presidente do
acidentes no trabalho, seminários,
“Tudo isso passando pela formação
tst e do csjt, ministro João Oreste
palestras com magistrados e espe-
de consciência dos trabalhadores e
Dalazen, declarou que o ato era um
cialistas em segurança do trabalho
dos empregadores”, completou.
esforço e uma contribuição para
e distribuição de material educativo
Logo após a instituição do Ge-
mostrar que a Justiça do Trabalho va-
nas escolas.
trin6, em agosto daquele ano, os
loriza muito a saúde e a vida de todos
No ano passado, o desembarga-
trabalhos começaram a ganhar
os trabalhadores. A desembargadora
dor Fábio Farias e a juíza ouvidora
forma. O pontapé inicial foi dado
Dinah Figueiredo sublinhou que o
Patrícia Brandão foram nomeados
pelas então gestoras e o desembar-
ato alcançou o objetivo de divulgar
gestores, realizando, ao longo de
gador Pedro Paulo Nóbrega, que
o Programa Trabalho Seguro: “O nú-
2013, ações significativas para dis-
apresentaram ao Secretário Exe-
mero expressivo de trabalhadores e
seminar a cultura da segurança no
cutivo de Relações Institucionais
a intensa participação demonstrada
ambiente de trabalho. O desem-
da Secopa-pe, Gilberto Pimentel,
atestam o sucesso da iniciativa que,
bargador Fábio Farias explica que
e ao representante do Consórcio
em clima descontraído, atingiu o
a “inércia” da Justiça do Trabalho,
Odebrecht, responsável pela cons-
público-alvo, inclusive em razão do
princípio que norteia toda ativida-
trução da Arena Pernambuco, José
comparecimento de jogadores de
de jurisdicional e dita a ação dos
Ayres, o plano do Ato Público em
futebol conhecidos, alertando para
juízes apenas mediante solicitação
Defesa do Trabalho Seguro, que o
a necessidade e importância da pre-
de alguém, “não pode ser esqueci-
tst e o csjt vinham realizando nos
venção de acidentes.”
da pelos gestores do Programa, sob
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REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
Fotos: Stela Maris
Perícias em discussão O presidente do TRT-PE, desembargador Ivanildo Andrade (3º da esquerda para a direita) durante abertura do Seminário sobre Perícias, ao lado do procurador-chefe da PRT6, José Laízio, e dos desembargadores André Genn e Fábio Farias (à direita)
Reconhecimento A juíza Patrícia Brandão entrega placa ao auditor fiscal do MTE Carlos Fernando, que atuou no seminário
pena de comprometer a atuação do
Outra iniciativa de grande re-
oficialmente, o Grupo também
Tribunal enquanto órgão julgador.
levância foi a divulgação da cam-
conta com a rede formada pelos
Pensando nisso, nossa intervenção
panha “Trabalho seguro, direito de
Centros de Referência em Saúde do
fundamental tem se dado no campo
todos, obrigação de cada um” em
Trabalhador (Cerest estadual e oito
da formação e da propaganda sobre
contas de luz, de água, e nos ônibus
regionalizados), e com a Secretaria
a necessidade de um ambiente de
e metrôs que circulam na Região
de Saúde de Olinda, instituições
trabalho seguro”, esclareceu.
Metropolitana do Recife.
que colaboram com o Getrin6 de-
Dentre as atividades realizadas
O Gentrin também buscou o
senvolvendo atividades relaciona-
pelo Getrin em 2013, destacaram-se
apoio de outras entidades para
das à disseminação do Trabalho
dois seminários. Um deles aconte-
disseminar a cultura da segurança,
Seguro.
ceu durante as comemorações dos
a exemplo do Sistema Jornal do
Para a magistrada Patrícia
70 anos da clt, na última semana
Commercio de Comunicação,
Brandão, “Além de estreitar os laços
de abril, com o tema “Homenagem
Ministério Público Estadual de
entre as instituições, a atuação do
ao 28 de abril – Dia Mundial da
Pernambuco (mppe), Secretaria de
Grupo estimula o exame da temá-
Segurança e da Saúde no Trabalho
Educação de Pernambuco e Diários
tica sob os mais variados ângulos,
e em Memória às Vítimas de Aci-
Associados de Pernambuco. Além
multiplicando-se, assim, ideias e so-
dentes e Doenças do Trabalho”. O
disso, os novos gestores deram vá-
luções”. A juíza conta que cada en-
outro, com o mote “perícias judi-
rias entrevistas e participaram de
tidade parceira contribui com suas
ciais”, ocorreu em outubro, dentro
debates em emissoras de tv e rá-
experiências, habilidades e compe-
da programação do 10º Módulo
dio, chamando a atenção do público
tências, dentro do seu papel institu-
Concentrado de Aperfeiçoamento
para o tema.
cional. “Com a adesão da Fiocruz,
de Magistrados da Sexta Região,
A mais recente conquista do
respeitada fundação voltada à pro-
aberto não só aos juízes participan-
Grupo foi a adesão da Fiocruz-
moção da saúde e do conhecimento
tes do evento, mas a profissionais
-PE, que desenvolve um trabalho
científico, reunimos mais esforços
que operam na área trabalhista, a
de pesquisa e ensino em saúde pú-
em torno desta causa tão nobre, que
exemplo de advogados e peritos.
blica. Além das parcerias firmadas
é a do trabalho seguro”, destacou.
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
35
A equipe de pesquisadores, co-
Rota para doenças ocupacionais
ordenada pelos professores Béda Barkokébas, da upe, e Laura Martins, da ufpe, entrevistou profissionais da categoria e instalou equi-
Motoristas e cobradores de ônibus estão expostos a péssimas condições de trabalho
pamentos nos veículos para medir riscos ocupacionais e fatores ergonômicos. A pesquisa mostra que os níveis de ruído, calor, vibração, poeira e gases estão em padrões alarmantes. Dos 95 motoristas entrevistados no levantamento, 43% trabalham numa jornada de 9 a 10 horas por dia, 67% consideram ruim o tempo para cumprir a rota e metade dos motoristas afirma ser péssimo o ritmo de trabalho. Em relação às pausas, 64% afirmam que os intervalos são péssimos. A remuneração é classificada como péssima por 42% e 64% consideram a segurança péssima. O motorista c.d.s.s, 50 anos, 11
Stela Maris
anos de profissão, que já atuou em
S
mais de 10 linhas, trabalha numa carga horária de 12 horas, fazendo em torno de 15 viagens por dia. Ele
ão várias as condições degradan-
rmr, durante um mês, analisou as
reclama da cabine apertada, do ca-
tes de trabalho a que são expostos
condições dos postos de trabalho
lor excessivo e da falta de circulação
os motoristas e cobradores de ônibus
dos profissionais. O levantamen-
de ar. “Temos grande dificuldade
da Região Metropolitana do Recife
to foi realizado pelo Núcleo de
de entrar e sair da cabine. O que
(rmr): muitas paradas, excessivos
Segurança e Higiene do Trabalho
incomoda muito também é o ru-
movimentos repetitivos, local ina-
da Universidade de Pernambuco
ído do motor e da cigarra”, relata.
dequado para intervalo de descanso,
(upe) e pelo Laboratório de Ergo-
O motorista pontua que as condi-
espaço reduzido da cabine, percur-
nomia e Design da Universidade
ções de trabalho precisam melho-
sos longos, ruídos e alta temperatura,
Federal de Pernambuco (ufpe),
rar, oferencendo-se, por exemplo,
além de problemas posturais.
encomendado pelo Ministério Pú-
veículos mais adequados, melhor
blico do Trabalho em Pernambuco
remuneração e carga horária menor.
(mpt-pe).
“Fico exausto ao final da jornada,
Uma pesquisa aplicada em 2013 com as 18 empresas de ônibus da
36
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
sentindo dores no corpo, pois passo
superlotação. Isso é um total des-
muito tempo sentando, sem falar
respeito”, desabafou.
na sensação de insegurança, pois já
Com base nos resultados da
fui assaltado duas vezes”, comenta.
pesquisa, e em denúncias rece-
3000 ônibus
Ainda na pesquisa, dos que afir-
bidas e em um relatório entregue
mam ter doenças decorrentes da ati-
pelo Instituto Nacional da Segu-
atendem
vidade profissional, 27% apontam a
ridade Social (inss) – reportando
hipertensão, 9% dor na coluna, 5%
que, nos últimos anos, quase cinco
problema de circulação, 18% outros
mil benefícios foram concedidos a
(alergia, gastrite, estresse). Entre os
cobradores e motoristas –, o mpt-
entrevistados, 68% relatam que já
-pe entrou com ações civis públicas
sofreram assalto e 67% afirmam não
contra a maioria das empresas de
se sentirem seguros no ambiente de
ônibus da rmr. Segundo a procu-
trabalho.
radora Vanessa Patriota, as ações
Sobre a jornada de trabalho, foi
solicitam, principalmente, altera-
constatado por dados do Grande
ções nas estruturas dos ônibus e
Recife Consórcio de Transporte
adequação da carga horária.
(empresa que controla o sistema
Antes de ingressar com as ações,
na rmr) que a carga de atividades
o mpt-pe realizou audiências públi-
dos profissionais é excessiva. Em
cas com empresas e sindicatos do
alguns casos, motoristas chegam a
setor. “Propusemos a assinatura de
trabalhar 15 horas em um único dia
um Termo de Ajuste de Conduta
de serviço.
para regularizar as condições de tra-
Com as atuais condições de tra-
balho, mas os representantes não
balho dos cobradores e motoristas, a
quiseram assinar”, ressaltou a pro-
população acaba sofrendo as conse-
curadora. “Também recomendamos
quências. Regina Célia Neves, mo-
ao Governo que fossem incluídos
radora de Casa Amarela, é corretora
no edital de licitação, aberto para a
de seguro de saúde e usuária de ôni-
contratação de serviços de transpor-
bus há mais de 40 anos. Ela utiliza
te público de passageiros, cláusulas
o transporte em vários horários e
com determinações apropriadas
para diversos destinos a fim de visi-
sobre jornada e meio ambiente de
tar seus clientes, chegando a passar
trabalho”, complementou.
mais de cinco horas por dia dentro
O Urbana-pe, sindicato que re-
dos coletivos. “Acho o serviço de má
presenta as empresas de ônibus,
qualidade. Os ônibus são velhos e
se comprometeu a implantar al-
sujos e o atendimento é ruim. Além
gumas solicitações da Procurado-
disso, o preço da passagem é alto e
ria para minimizar os problemas
não temos conforto, sem falar na
apontados.
2 milhões de usuários
a cada 24h
3,86 anos é a idade média da frota 17 mil trabalhadores da categoria piso salarial
motorista
R$ 1.605,00
fiscal
R$ 1.037,90
cobrador
R$ 738,30
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
37
A força pedagógica da ação regressiva Obrigados, quando negligentes, a ressarcir os cofres públicos com os valores pagos a trabalhadores vítimas de doença profissional ou acidente laboral, empresários podem passar a cumprir rigorosamente as medidas que garantem um ambiente de trabalho saudável
A
nualmente, a Previdência
O possível descuido da empresa
contribuindo para o aumento do
Social gasta mais de r$ 14
é investigado em um “procedimen-
número de Ações Rescisórias e a
bilhões para custear benefícios
to de instrução prévia” instaurado
Justiça do Trabalho coopera para
decorrentes de acidentes ou doen-
pela agu. Nesse momento, confor-
tal. É que, em 2011, o Tribunal Su-
ças do trabalho, conforme expõe o
me explica o desembargador do
perior do Trabalho instituiu a reco-
procurador federal Eurico Paulino
Tribunal Regional do Trabalho da
mendação para que todos os ma-
da Silva Neto. Dentre eles estão o
6ª Região (trt-pe) Sergio Torres
gistrados do Trabalho enviassem, a
auxílio-acidente, o auxílio-doença,
Teixeira, são feitas diligências para
uma unidade da Procuradoria Geral
a aposentadoria por invalidez e a
identificar se houve a responsabili-
Federal, cópia de sentenças e acór-
pensão por morte, destinada a de-
dade do empregador, bem como se
dãos nos quais se reconhece a con-
pendentes do trabalhador falecido.
a moléstia teve causas laborais e se
duta culposa do empregador no que
Parte desse valor, no entanto,
o benefício social foi devidamente
tange a acidentes de trabalho. “Até
vem sendo ressarcido aos cofres públicos por meio das Ações Regressivas Acidentárias. Representado pela Advocacia-geral da União (agu), o inss (Instituto Nacional do Seguro Social), requer judicial-
o ano de 2013, o inss ajuizou mais “Até o ano de 2013, o INSS ajuizou mais de três mil ações regressivas, com uma expectativa de ressarcimento
de três mil ações regressivas, com uma expectativa de ressarcimento superior a 600 milhões de reais”, informa o procurador Eurico Neto. Além do caráter econômico, po-
mente a compensação dos valores
superior a 600 milhões de
de-se falar em um efeito educativo
gastos com os pagamentos sociais,
reais”
das ações: “As condenações obtidas
nos casos em que é identificada ne-
nessas ações têm servido como me-
gligência do empregador quanto à
dida pedagógica para o setor empre-
segurança ou higiene do trabalho.
sarial, incentivando a observância
Além da quantia já paga ao be-
pago ao segurado. Somente se con-
das normas de Segurança e Saúde
neficiado, o inss também pleiteia
firmadas essas condições, será ini-
do Trabalhador e estimulando um
parcelas previstas, com vencimento
ciado o processo.
maior investimento na política de
futuro, como aposentadoria por invalidez e pensão por morte.
38
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
Para o desembargador Sérgio
prevenção de acidentes no âmbito
Torres, a eficiência nessa fase vem
das empresas”, finaliza o procurador.
A cota da escola à prevenção de acidentes O tema Trabalho Seguro faz parte do programa de cursos técnicos e superiores da área da construção civil e ganha destaque nesta fase da economia de Pernambuco com as obras de infraestrutura
C
ursos na área de Segurança
Estudos e Pesquisas Educacionais
candidatos inscritos no Sisutec, para
do Trabalho têm surgido com
Anísio Teixeira (inep) revelam que
jovens e adultos que concluíram o
mais frequência em Pernambuco.
no Brasil são 1.055 cursos de Se-
ensino médio e fizeram o Exame
A procura de interessados por essa
gurança do Trabalho, com 95.961
Nacional do Ensino Médio (Enem).
capacitação e a demanda natural
alunos matriculados. Em Pernam-
Em 2013, o curso recebeu 51.724 ins-
em razão dos investimentos e em-
buco, são 20 cursos e 3.710 alunos.
crições para 13,3 mil vagas, o que re-
preendimentos no estado fizeram
Segundo informação do Minis-
presenta 3,87 concorrentes por vaga.
com que instituições de ensino
tério da Educação (mec), Segurança
O técnico em segurança do tra-
públicas e privadas passassem a
do Trabalho é o curso com maior
balho no Brasil é um profissional
oferecer cursos específicos de téc-
procura no Sistema de Seleção Uni-
com formação regulada pela Lei
nicos e tecnológicos ou incluíssem
ficada da Educação Profissional e
7.410/85, que também dispôs sobre
disciplinas que tratam do tema em
Tecnológica (Sisutec). A formação
a especialização, em nível de pós-
cursos relacionados à área.
técnica aparece no topo da lista dos
-graduação, de engenheiros e arqui-
dez cursos mais procurados pelos
tetos em engenharia de segurança
Dados do Instituto Nacional de
40
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
“Os alunos têm uma excelente receptividade aos assuntos abordados na cadeira pela necessidade de conhecimento na área de segurança do trabalho, que é muito requerida nas atividades de construção civil” ronaldo faustino COORDENADOR DO CURSO ENGENHARIA DA PRODUÇÃO CIVIL (IFPE)
do trabalho. As atribuições desse
de 2008. Nele, se formam profissio-
profissional são definidas pela por-
nais capacitados para atuar no pro-
taria 3.275/89, na nr 27, do Ministé-
jeto e execução de obras e serviços
rio do Trabalho e Emprego (mte),
de construção civil. Nesse curso, a
que também obriga a contratação
cadeira de Engenharia de Seguran-
de técnicos em função do número
ça do Trabalho é ofertada no sexto
de empregados e grau de risco da
período, com carga horária de 54
empresa.
horas/aula e aborda assuntos como
Segundo o Anuário Estatístico
Teoria de Riscos, Legislação Aci-
de Acidentes do Trabalho 2012,
dentária, Programas de Segurança
disponibilizado pelo Ministério da
e Saúde Ocupacional, Sistemas de
Previdência Social, em 2011 foram
Proteção Individual e Coletiva, Sis-
registrados 720.629 acidentes e em
temas de Proteção Contra Incên-
2012 ocorreram 705.239.
dios e Primeiros Socorros.
Pensando em reduzir a estatísti-
O coordenador do curso, profes-
ca do grande número de acidentes
sor Ronaldo Faustino, explica que o
de trabalho, o Instituto Federal de
objetivo da disciplina é identificar
Educação, Ciência e Tecnologia
os conceitos básicos de Higiene e
em Pernambuco (ifpe) é uma das
Segurança do Trabalho, bem como
instituições que oferece o curso
sua aplicação em situações cotidia-
técnico presencial de Segurança
nas, além de demonstrar a impor-
do Trabalho. O curso prepara os
tância das Normas e Legislações
alunos para atribuições de exe-
pertinentes. Ele comenta que a dis-
cutar normas e regulamentos de
ciplina é importante para habilitar
segurança do trabalho, assessorar
profissionais, ampliando suas atri-
empresas em assuntos de seguran-
buições e responsabilidades, tendo
ça, higiene e medicina do traba-
como foco a redução e eliminação
lho, inspecionar áreas, máquinas
dos acidentes de trabalho, nos di-
e equipamentos de empresas, or-
versos segmentos das atividades de
ganizar, supervisionar e assessorar
construção civil.
comissões internas de prevenção
“Os alunos têm uma excelente re-
de acidentes (cipas), promover
ceptividade aos assuntos abordados
campanhas de segurança nas em-
na cadeira pela necessidade de co-
presas e coordenar atividades que
nhecimento na área de segurança do
visem à redução ou eliminação dos
trabalho, que é muito requerida nas
riscos de acidentes.
atividades de construção civil”, disse.
Também no ifpe há o curso
Ainda segundo o coordenador,
de bacharelado em Engenharia da
esses conhecimentos também são
Produção Civil, criado em agosto
significativos para as empresas do
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mercado, pois a segurança e a saúde
no Recife. Na unidade da capital, são
Na Escola Politécnica (poli)
do trabalho na área da construção
13 turmas distribuídas nos três tur-
da Universidade de Pernambuco
civil baseiam-se em normas regula-
nos, com 260 alunos matriculados.
(upe), a disciplina Engenharia da
mentadoras. “A nr-18, que ordena os
“O aluno formado atua como um
Segurança é cadeira obrigatória, há
sistemas preventivos de segurança
consultor de segurança, orientando
mais de 30 anos, em todos os cursos
no meio ambiente de trabalho na
constantemente sobre a forma de
de Engenharia, com carga horária
indústria da construção civil, tem
agir, no intuito de garantir a práti-
de 60 horas. A upe também oferece
feito aumentar a procura por cursos
ca de atividades seguras, sendo ele
uma pós-graduação e um mestrado
na área de Segurança do Trabalho
essencial na promoção da conscien-
na área.
no estado de Pernambuco. Raphael
tização coletiva na busca de resulta-
Segundo o professor da disci-
Andrade, 23 anos, é aluno do sexto
dos, prevenindo a integridade física
plina, Dr. Béda Barkokébas Júnior,
período do curso. Trabalha desde
e a saúde das pessoas no ambiente
que também é coordenador da pós-
abril de 2013 na GranMarco Enge-
de trabalho”, esclareceu. No curso
-graduação, o objetivo da cadeira
nharia como auxiliar de engenheiro.
técnico do senai, o aluno tem a pos-
é estudar e aprender os conceitos
Atualmente, ele está acompanhando
sibilidade de realizar aulas práticas
básicos relacionados à Segurança
20 operários terceirizados nas obras
nas mais diversas áreas: altura, pre-
do Trabalho e Higiene Ocupacio-
de construção do aeródromo Coroa
venção e combate a incêndio, ava-
nal. “O aluno aprende normaliza-
do Avião, em Igarassu-pe. “A disci-
liação de risco e ações educativas.
ção e legislação de Segurança do
plina no curso é muito importante e viável para meu trabalho. Estou aprendendo a classificação dos acidentes e estatísticas da área e tenho aplicado na prática os conceitos aprendidos no curso, principalmente os relacionados aos equipamentos de segurança e às ações preventivas”, ressaltou. No Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial em Pernambuco (senai-pe), o curso técnico de Segurança do Trabalho é oferecido desde 2006. O curso é composto por um módulo básico e três específicos, com carga total de 1600 horas/aula. A coordenadora do curso, professora Renata Kelly de Melo, explica que o senai oferta o curso em quatro unidades: Araripina, Cabo de Santo Agostinho, Garanhuns e Água Fria,
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REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
Trabalho, controle dos riscos e dos
preservação da integridade de to-
acidentes, ergonomia, equipamen-
dos os envolvidos com o processo
tos de proteção coletiva e individual,
produtivo.
proteção contra incêndio e primeiros socorros”, elencou.
normalização e legislação de Segurança do Trabalho, controle dos riscos e dos acidentes, ergonomia, equipamentos de proteção
nhecimento na área terá a possibili-
Preocupada em dar aos alunos
dade de contribuir para a empresa no
condições de conhecer, discutir,
que diz respeito às medidas técnicas,
participar das decisões e exigir as
legais e gerenciais na melhoria das
medidas cabíveis e necessárias para
condições de trabalho e satisfação
assegurar a integridade não apenas
dos trabalhadores, bem como para
dos trabalhadores, mas de todos os
a prevenção de perdas que podem
que convivam nos ambientes produ-
advir de um acidente de trabalho”,
tivos, a Universidade Federal de Per-
explicou.
nambuco (ufpe) oferta a disciplina
O professor comenta ainda que
Engenharia de Segurança do Traba-
tem notado o crescimento do inte-
lho no curso de Engenharia Civil. O
resse dos alunos no tocante às ques-
coordenador do curso, Prof. Alfredo
tões relacionadas à temática, em es-
Ribeiro Neto, explica que a ementa
pecial pela amplitude da abordagem
da disciplina conta com 30 horas/
com que a disciplina é ministrada
aula e que os graduandos podem
no curso. A cadeira Investigação e
se especializar posteriormente nos
Análise de Acidentes do Trabalho
cursos de pós-graduação lato sensu.
na Construção Civil também é ofe-
“Na ementa da disciplina cons-
“O aluno aprende
“O profissional que detiver co-
recida no curso como eletiva.
tam conhecimentos sobre dimensões
O docente destaca que na matéria
legais, como a clt e outras normas
há algumas aulas práticas, quando
aplicáveis, sobre técnicas específicas
equipamentos são levados à sala, nas
das atividades e do setor produtivo
aulas sobre calor, ruído e epi. Ele re-
da engenharia, e, por último, sobre
lata que nos estágios curriculares e
o gerenciamento da rotina da Segu-
extracurriculares alguns discentes
rança do Trabalho aplicada à Cons-
têm tido oportunidades de lidar com
trução Civil”, esclareceu.
essa prática.
Antônio Nunes, professor da
“As empresas do setor buscam
disciplina, que está escrevendo um
cada vez mais profissionais com
primeiros socorros”
livro sobre Tópicos de Segurança do
uma formação ampla, diferenciada,
Trabalho aplicados à Construção
com os olhos voltados não apenas
béda barkokébas júnior
Civil, expõe que os principais obje-
à produção, mas, sobretudo, para a
tivos da cadeira estão relacionados
responsabilidade social envolvida
a prover o aluno da compreensão
pela Segurança do Trabalho”, com-
dessas dimensões para assegurar a
plementou.
coletiva e individual, proteção contra incêndio e
PROFESSOR DA DISCIPLINA ENGENHARIA DA SEGURANÇA NA UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO (UPE)
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
43
Stela Maris
Rápido, mas inseguro
P
izza, medicamentos, refeições
ocasionados por moto. Outro levan-
de Moto em Pernambuco (Cepam),
e até mesmo feiras completas.
tamento realizado pela Secretaria
médico João Veiga, explica que após
Nesses tempos modernos de agenda
com pacientes internados no Hospi-
o advento da lei federal 12.009, de
lotada e trânsito travado, receber no
tal da Restauração (hr) revelou que,
2009, os motoboys e mototaxistas,
conforto do nosso lar o que quer
no período compreendido entre ja-
pessoas que trabalham sobre duas
que desejemos, e a qualquer hora
neiro e agosto do ano passado, dos
rodas transportando bens e passa-
do dia ou da noite, é uma facilida-
3.831 acidentes de trânsito notifica-
geiros, passaram a sofrer menos
de de que nós, cidadãos, lançamos
dos como eventos relacionados ao
sequelas, “por estarem mais prote-
mão cotidianamente. Mas a que
trabalho, 2.873 tiveram como víti-
gidos devido à obrigatoriedade do
custo usufruímos dessa comodida-
mas motociclistas, uma taxa assus-
uso de equipamentos de proteção
de? Quem está em casa e contrata
tadora de 75%. Também foi consta-
individual (epis) durante a jornada
esses serviços, tão triviais em nossa
tado que 11% dessas pessoas saíram
de trabalho, como capacete, botas,
rotina, não vislumbra a quantidade
amputadas ou paraplégicas do hr.
joelheiras, cotoveleiras e ombreiras”.
alarmante da ocorrência de aciden-
O mesmo órgão também descobriu,
O coordenador esclareceu, ainda,
tes de moto todos os dias.
no estudo, que das ocorrências em
que, antes da norma federal, as con-
Dados da Secretaria de Saúde
trânsito que resultaram em morte,
sequências mais comuns decorren-
do Estado de Pernambuco apon-
41,2% das vítimas eram condutores
tes de acidentes que envolviam esses
tam que em 2013 foram registrados
de motocicleta.
profissionais eram amputação dos
2.014 óbitos decorrentes de aciden-
O coordenador executivo do
pés – por conduzirem muitas ve-
tes de trânsito. Destes, 738 foram
Comitê de Prevenção aos Acidentes
zes descalços –, da rótula, e traumas
44
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
Mariana Mesquita
graves nos cotovelos e ombros, além dos traumatismos crânio-encefálicos, que muitas vezes resultavam em óbito. Apesar da lei, numa rápida observação pelas ruas vamos encontrar motoqueiros trabalhando sem a utilização dos equipamentos mínimos necessários. Mas há exemplos de profissionais cuidadosos. Combinando prudência e o uso de equipamentos, o motoboy André Gomes, 33 anos, trabalha na área há
Prudente e protegido Atuando na atividade há sete anos, André Gomes alia o uso de equipamentos à prudência
cerca sete. André nunca sofreu ne-
da média mundial de 1.2 milhão de
dias”. O médico informou ainda que
nhum acidente durante o exercício
mortes por ano decorrentes de aci-
no ano passado foram incluídos 100
da atividade de motoqueiro. “Gra-
dentes no trânsito. Um total de 134
novos leitos no Hospital Otávio de
ças a Deus, nunca sofri nenhum
países aderiu ao Pacto, cujo intui-
Freitas, apenas para atender aciden-
arranhão. Mas nem todos têm essa
to é de reduzir à metade, até 2020,
tados de moto.
sorte”, reconhece.
tais incidências. Pernambuco foi
Número e proporção de vítimas
Para fazer frente às desanima-
pioneiro na formação do Comitê,
doras estatísticas e com o intuito
sendo o único estado até agora a
terrestre notificadas como evento
de implementar políticas públicas
tomar providências para reduzir os
relacionado ao trabalho, segundo
para combater os altos índices de
acidentes de moto.
acidentes que envolvem esse tipo
João Veiga revela que as estatís-
de transporte, que ocasionam mor-
ticas são preocupantes: “O Comi-
tes, incapacidades, sequelas físicas e
tê não pode intervir nas políticas
psicológicas e impacto econômico,
públicas por ser órgão fiscalizador
sobretudo na saúde pública,
e de cunho educativo e de preven-
o governo do Estado criou,
ção, mas nas reuniões mensais sem-
em 2011, o Comitê Estadual
pre cobra providências dos órgãos
de Prevenção aos Acidentes de
responsáveis, pois é a Secretaria
Moto – Cepam. A iniciativa, que reúne 19 entidades, surgiu por causa da subscrição do Brasil, em 2010, do Pacto
de acidentes de transporte
meio de locomoção. Pernambuco, janeiro a agosto de 2013 Número
%
Motocicleta
2.8737
75,0
Automóvel
351
9,2
A pé
229
6,0
Bicicleta
165
4,3
Veículo pesado
94
2,5
Coletivo
43
1,1
Outros
54
1,4
Em branco/ ignorado
22
0,6
de Saúde do Estado quem paga a conta. Os gastos com tratamento e cirurgia de um motoqueiro somam 154 mil reais
Mundial para Redução de Acidentes
para o Estado,
de Trânsito de Transporte Terres-
já que o período
tre, promovido pela Organização
de internamento
das Nações Unidas (onu) em face
é de, em média, 45
Fonte: USIATT/SEVS/Secretaria de Saúde-PE Dados captados em 08/09/2013, sujeitos a revisão
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
45
Em defesa da Saúde do Trabalhador O Tribunal Superior do Trabalho reconheceu a competência dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (cerest) para fiscalizar e autuar em matéria de segurança do trabalho
E
m 2002, por meio da Portaria
de 200 Centros de Referência. Em
sentido de promover ações capa-
nº 1.679 do Ministério da Saú-
novembro de 2013, uma decisão do
zes de melhorar as condições de
de, foi criada a Rede Nacional de
Tribunal Superior do Trabalho (tst)
trabalho e a qualidade de vida do
Atenção Integral à Saúde do Tra-
reconheceu, inclusive, a competência
trabalhador por meio da preven-
balhador (renast). Com o obje-
do órgão para fiscalizar e autuar em
ção e da vigilância, reconhecendo
tivo de disseminar ações de saúde
matéria de segurança do trabalho.
as condições capazes de gerar agra-
do trabalhador, articuladas aos de-
Para a coordenadora do cerest
vos à saúde dos trabalhadores. Ela
mais grupos do Sistema Único de
estadual de Pernambuco, Flávia
explica, também, a importância dos
Saúde (sus), a renast compreende
Reis, a decisão do tst legitima a
centros para a promoção da saúde
uma rede de informações e práti-
atuação do centro também no es-
do trabalhador: “A importância dos
cas, organizada com o propósito de
tado. “A decisão do tst vem corro-
centros está na sua capacidade de
implementar ações assistenciais, de
borar a estratégia adotada em Per-
articular junto a organismos go-
vigilância, prevenção, e de promo-
nambuco, o reconhecimento pelo
vernamentais e não governamen-
ção da saúde.
Poder Judiciário da legitimidade das
tais políticas públicas de atenção
Implantados pela renast, os
instituições de saúde em promover
à saúde dos trabalhadores formais
Centros de Referência em Saúde do
ações de vigilância e fiscalização no
e informais, disseminando conhe-
Trabalhador (cerest) promovem
âmbito do trabalho, que até então
cimento e organizando a Rede de
ações para melhorar as condições
era reconhecida apenas às Superin-
Saúde”.
de trabalho e a qualidade de vida do
tendências Regionais do Trabalho e
trabalhador por meio da prevenção
Emprego”, avalia.
e da vigilância. Cabe aos cerest,
A coordenadora esclarece, ain-
por exemplo, assessorar a realização
da, que o cerest estadual atua no
de convênios de cooperação técnica,
Saiba mais sobre Doenças Relacionadas ao Trabalho no site do Ministério da Saúde (www.saude. gov.br).
subsidiar a formulação de políticas
Competência reconhecida
públicas, apoiar investigações e
O Centro de Referência em Saúde do Trabalhador de Jundiaí (sp) venceu uma ação
fortalecer a articulação para iden-
trabalhista que questionava sua autuação por infração sanitária, após acidente de
tificar e atender acidentes e males
trabalho ocorrido em 2008 em uma empresa metalúrgica do município. O Tribunal
relacionados ao trabalho, em especial, aqueles contidos na Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho ou de notificação compulsória. Divididos entre estaduais e regionais, que abrangem diversos municípios, o Brasil conta hoje com mais
46
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
Regional do Trabalho da 15ª Região já havia dado parecer favorável ao cerest, reconhecendo a competência do órgão municipal para a fiscalização e autuação em matéria de segurança do trabalho, mas houve recurso à decisão e o processo seguiu à última instância da Justiça do Trabalho. O tst, por sua vez, manteve a sentença, validando o auto de infração e a punição prevista. A decisão, transitada em julgado, obriga a metalúrgica ao pagamento da multa lavrada em 2008 e, ao reconhecer a competência do cerest para fiscalizar e autuar em matéria de segurança do trabalho, beneficia a atuação destes órgãos em todo o país.
(Marreta) aponta, no ano passado, nove mortes decorrentes de acidentes laborais em obras. Nos anos de 2012, 2011 e 2010, foram oito, seis e 13 óbitos respectivamente. Dulcilene Carneiro de Morais, presidente do Sindicato, conta que nos anos oitenta, morriam de dois a três trabalhadores por semana durante a jornada nos canteiros.
Nova consciência na Construção Civil
Dulcilene começou a militar no movimento sindical há cerca de 15 anos, quando ocupava posição de auxiliar de escritório em uma construtora. Resolveu fazê-lo porque começou a se incomodar com a diferença entre o tratamento dispensado aos trabalhadores dos escritórios das construtoras e aos dos canteiros: enquanto aqueles dispunham de condições dignas de trabalho, com direito a café da manhã e tíquete alimentação, estes
Stela Maris
comiam na embalagem de cimento, bebiam a água utilizada para fazer a mistura do cimento e não dispu-
A reivindicação dos trabalhadores e a visão dos empresários de que produção e segurança do trabalho caminham de mãos dadas vêm gerando bons resultados no setor da construção civil, potencialmente a área mais sujeita a ocorrência de acidentes
O
nham de Equipamento de Proteção Individual: “epi era artigo de luxo, só quem usava eram os engenheiros”. Naquela época, quando assumiu como suplente da presidência do Marreta, narra que não havia fiscalização nas obras do estado: “quando o trabalhador fazia uma
s dados mais recentes do
número, Pernambuco é responsável
denúncia, era demitido”.
Ministério da Previdência
por 20.125 ocorrências. Já o levanta-
Na suplência, inaugurou o Mo-
Social revelam que em 2012 houve
mento do Sindicato Intermunicipal
vimento Marreta, fortalecendo
705.239 acidentes de trabalho em
dos Trabalhadores na Indústria da
sobremaneira a luta pelos direitos
todas as atividades no Brasil. Desse
Construção Civil em Pernambuco
dos trabalhadores da categoria em
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
47
Pernambuco. A principal iniciativa
Sinduscon), a conscientização dos
sublinhou, complementando que a
foi a criação da Patrulha Sindical,
empresários, gestores e engenhei-
iniciativa visa a atender as normas
em 1989, que consiste na visita de
ros é crescente: “O entendimento
de segurança no canteiro de obra.
equipes técnicas aos canteiros de
de que a segurança do trabalho é
Ao ganhar força, o movimento
obra para fiscalizar e exigir a tomada
fator de produção, ou seja, que não
sindical dos trabalhadores provocou
de providências urgentes, quando
há dissociação entre a produção e a
a primeira greve geral da categoria,
da detecção de situações de perigo
segurança do trabalho, vem se con-
em meados de 1992, que durou 43
iminente, sob pena de denúncia pe-
solidando”. O especialista também
dias. Da paralisação advieram as
rante a Superintendência Regional
atribui a evolução nas condições
primeiras conquistas, a exemplo do
do Trabalho e Emprego (srte) e
de trabalhado na construção civil
café da manhã, que foi negociado
consequente embargo da obra.
à ação da Sinduscon/pe, que “há 17
por meio de Convenção Coletiva
Paralelamente, o Sindicato da
anos, criou a Campanha de Preven-
de Trabalho. Também foi garanti-
Indústria da Construção Civil do
ção de Acidentes do Trabalho na
do o direito ao almoço, através de
Estado de Pernambuco (Sindus-
Construção Civil, em parceria com
dissídio coletivo.
con/pe) também visita obras e re-
a upe (Universidade de Pernambu-
A presidente do Marreta conta
gistra as irregularidades. Juntos, os
co), sebrae/pe (Serviço de Apoio às
que o quantitativo real de acidentes,
sindicatos fortalecem as ações de
Micro e Pequenas Empresas), fiepe
mesmo hoje em dia, é bem maior
segurança nos canteiros de obra,
(Federação das Indústrias do Estado
do que o que demonstram os nú-
minimizando a ocorrência de aci-
de Pernambuco), ademi (Associa-
meros oficias, em razão da prática
dentes. Para Béda Barkokébas Jú-
ção de Dirigentes de Empresas do
da “subnotificação”, termo usado
nior (Engenheiro Civil e de Segu-
Mercado Imobiliário), e mte (Mi-
para aquelas ocorrências não en-
rança do Trabalho, Mestre e Doutor
nistério do Trabalho e Emprego) e
caminhas pelas empresas ao Minis-
em Engenharia Civil, com ênfase
outras organizações, tendo como
tério da Previdência por meio de
em segurança do trabalho e con-
aspecto principal a pesquisa e a
cat (Comunicação de Acidente de
sultor de Segurança do Trabalho do
conscientização dos profissionais”,
Trabalho). “Qualquer acidente deve Antigamente os trabalhadores comiam na embalagem de cimento, bebiam da mesma água usada para fazer a massa. Além disso, as empresas não ofereciam Equipamento de Proteção Individual: “EPI era artigo de luxo, só quem usava eram os engenheiros”. A fiscalização era precária e “quando o trabalhador
Mariana Mesquita
fazia uma denúncia, era demitido” dulcilene carneiro de morais PRESIDENTE DO MARRETA
48
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
ser notificado, e as empresas não o
Dentre as boas práticas da Mou-
controle a ser adotado. “Mesmo
fazem. A prática ocorre em todo o
ra estão a construção de áreas de
antes da entrada em vigor da nr35
mundo, pois esses registros, além
vivência humanizadas, proporcio-
(Trabalho em Altura), nossos fun-
de exporem a fragilidade das con-
nando ao funcionário uma melhor
cionários já passavam por exames
dições, fazem aumentar os custos”,
qualidade de vida no canteiro de
médicos específicos para avaliação
esclarece.
obra. Além disso, a empresa conta
das condições de saúde, principal-
Em relação à legislação, Dulci-
com uma equipe formada por um
mente os que estavam expostos a
lene diz que o Brasil está muito à
engenheiro supervisor de segurança
trabalho em altura.”
frente de países como Canadá, Ale-
do trabalho, quatro engenheiros de
A construtora também implan-
manha, Estados Unidos, Argentina:
segurança, 60 técnicos de seguran-
tou todas as proteções coletivas
“Formalmente, estamos muito mais
ça, seis estagiários e três nutricionis-
respaldadas tecnicamente, como
avançados do que outros países que
tas. Em cada obra é disponibilizado
“bandejas, plataforma de pilares,
não contam com leis protetivas e
um técnico de segurança, indepen-
proteção de periferia, proteção e
prevencionistas na indústria da
dentemente da quantidade de fun-
assoalho dos poços dos elevadores,
construção civil”. Dulcilene se refere
cionários, que recebe treinamentos
dentre outras”, explica o engenhei-
às Normas Regulamentadoras do
periódicos e atualizações sobre as
ro de segurança, destacando que
Ministério do Trabalho e Emprego,
normas dessa natureza.
a Moura foi a primeira empresa a
em especial à nr-18, que estabelece
Também são executadas as
adotar o sistema de linha de vida
diretrizes administrativas, de plane-
aferições das taxas de saúde dos
como proteção de queda em altura,
jamento e organização para a imple-
trabalhadores da construtora re-
desenvolvido por um encarregado
mentação de medidas de controle e
gularmente, para determinação do
de obra e aperfeiçoado ao longo
sistemas preventivos de segurança nos processos, nas condições e no meio ambiente de trabalho na Indústria da Construção. Boas práticas – Engenheiro Civil e de Segurança do Trabalho, e Supervisor de Segurança da Moura Dubeux, João Carlos Côrte Real acredita que, ao longo desses 15 anos, houve uma grande evolução na melhoria das condições dos trabalhadores dentro dos canteiros de obra: “Podemos destacar o fornecimento do café da manhã, vência, implantação das medidas de segurança, controle das jornadas de trabalho”, enumera. Seguro Trabalhador executa suas tarefas com cinto preso à linha de vida
Elysangela Freitas
almoço, melhoria das áreas de vi-
Fotos: Elysangela Freitas
Convivência Área reservada para os trabalhadores fazerem refeições
de anos. Além disso, a construtora
cobranças de melhores condições,
sindicato tem grande contribuição
também aplica o pcmat (Programa
com a correção imediata das irregu-
para a melhoria das condições de
de Condições e Meio Ambiente de
laridades e negociação direta com
trabalho, através da fiscalização. Por
Trabalho na Indústria da Constru-
os gestores das obras, estabelecendo
outro lado, esclarece que os mem-
ção Civil), previsto na nr-18.
prazos para a conclusão dos pontos
bros do sindicato estão se qualifi-
de risco observados.
cando tecnicamente em segurança
Para João Carlos, a atuação dos sindicatos é de extrema importância
João Carlos afirma ainda que o
do trabalho, e pondera: “acredito
para a melhoria no ambiente laboral:
diálogo entre os Sindicatos é aberto
que caminhamos para discussões
“ao longo dos anos é visível a grande
e franco: “Prova disso á a presença
de cunho muito mais técnico do que
contribuição dos Sindicatos no pro-
dos dois nas reuniões do Comitê
político”. Béda também pontua o
cesso de melhoria da segurança do
Permanente Regional, cada um
avanço das relações entre o sindica-
trabalho na área da construção civil.
dentro das suas atribuições, con-
to dos trabalhadores e patronal: “Há
Parte dessas melhorias ocorreram
tribuindo na luta pela melhoria da
17 anos, o diálogo entre o Marreta
graças à atuação do Marreta, que
segurança do Trabalho no estado de
e o Sinduscon/pe quase não existia.
quebrou alguns paradigmas, como
Pernambuco.” Para ele, os grandes
Atualmente, no entanto, por ambas
travar grandes lutas em busca dos
avanços na área da segurança do
as partes conduzirem o assunto na
direitos dos trabalhadores”. Outra
trabalho nas obras é devido a essa
esfera técnica, e não apenas política,
atividade que considera importan-
atuação conjunta.
creio que o diálogo terá cada vez
te é a intensificação das patrulhas
Quanto à atuação do Marreta,
nas obras, realizando inspeções e
Béda Barkokébas acredita que o
50
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
mais fluidez, acontecendo de forma natural”.
Marca com aprovação popular
E
ntre os dias 17 e 21 de março,
trabalho. A marca teve 1.037 votos,
reclamações trabalhistas, ainda pre-
foi feita uma consulta popular
sendo 465 deles da participação nas
sencia diversos casos de negligência
urnas eletrônicas.
com a saúde do trabalhador .
(Grupo de Trabalho Interinstitu-
O objetivo da eleição foi eviden-
cional da Sexta Região). A votação
ciar a importância de medidas pre-
aconteceu pelo portal do Tribunal
ventivas e higiênicas para garantir
Regional do Trabalho da 6ª Região
ambientes de trabalho seguros. O
(trt-pe), e por meio de seis urnas
alerta para o tema é vital, pois fo-
eletrônicas cedidas pelo Tribunal
mentar a cultura da segurança na
Regional Eleitoral de Pernambuco
sociedade é forma de reduzir os
(tre-pe), que ficaram dispostas no
alarmantes índices de acidentes e
edifício do condomínio sudene,
doenças trabalhistas no Brasil. A
onde funcionam as 23 Varas do
cada dia, estima-se que sete traba-
Trabalho do Recife. A chamada
lhadores perdem a vida por esse
para votação também foi divulga-
tipo de acidente. Outros 1.950 so-
da na página do Tribunal Superior
frem lesões de diferentes categorias,
do Trabalho (tst), iniciativa que
desde as leves até as que resultam
contribuiu para maior alcance da
em sequelas permanentes.
divulgação da campanha. A partici-
Irreversível dano à saúde foi no
pação no portal e nas urnas foi equi-
que resultou a queda, em 1981, de
librada. Naquele, registraram-se 798
Oseas Ramos, ex-operário da cons-
votos, enquanto nestas, 783, o que
trução civil, quando trabalhava em
totalizou 1.581 votantes.
uma obra sem a devida instrução
Para a campanha, os designers
e equipamentos de segurança. Por
do Núcleo de Comunicação Social
conta do acidente, perdeu o mo-
do Tribunal – Simone Freire e Gil-
vimento do braço direito, que foi
mar Rodrigues – desenvolveram
esfacelado, quebrou o fêmur e per-
três possíveis marcas, que foram
deu um rim. Atualmente, funcioná-
submetidas ao crivo do público.
rio de um escritório de advocacia,
Com caracteres fortes, a marca
Oseas foi ao prédio da sudene para
vencedora representa a noção de
acompanhar alguns processos tra-
solidez e segurança. A cor verde,
balhistas. Lá, conheceu a campanha
assim como o capacete que com-
e o Getrin6 e se mostrou satisfeito
põem a imagem, são símbolos
em saber dos esforços para promo-
mundialmente reconhecidos como
ver a prevenção de acidentes. Ele
representadores da segurança no
conta que, em sua vivência com as
Com caracteres fortes, a marca vencedora dá a idéia de solidez e segurança
Helen Falcão
para escolha do logotipo do Getrin6
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
51
Stela Maris
Sob o amianto tenebroso A maioria dos quatro mil moradores do distrito de Itaparica, que pertence ao município de Jatobá-PE, pode estar sob o risco silencioso e letal do amianto, usado como matéria-prima básica na construção da vila, originalmente erguida pela Chesf para abrigar trabalhadores da barragem de Itaparica no final dos anos setenta
Q
uem chega a Itaparica, distrito
são construídas com a fibra letal e
da cidade pernambucana de
muitas delas ainda não foram subs-
Jatobá, no Sertão do Moxotó, a 430
tituídas.
km do Recife, pensa estar entrando
Também os canos que levam
em mais uma dessas vilas sossegadas
água da adutora à comunidade eram
do interior, embora tenham todas
de amianto, mas foram substituídos
elas hoje frota considerável de veícu-
pela Compesa.
los automotores. Mas as ruas largas,
Além de sua face visível, estam-
sob o calor de um sol que sempre
pada nos telhados, recipientes para
sugere o pico do meio-dia, vão aos
armazenar água e frente das edifica-
pouco revelando uma característica
ções, o asbesto na vila de Itaparica
assustadora: a presença abundan-
encontra-se disfarçado na estrutura
te de amianto ou asbesto – o outro
das paredes, maquiado de massa e
nome como o minério é chamado
tinta não se deixa facilmente iden-
– nas casas e demais prédios.
tificar. Ninguém na comunidade
O produto, que libera imper-
havia atentado para essa realidade,
ceptíveis fibras de uma substância
que não só o telhado, mas também
letal, causadora de doenças respi-
as paredes eram edificadas à base
ratórias fatais e diversos tipos de
de asbesto.
câncer, aparece em série nos tetos
Quando, nos anos dois mil, a
das construções e nas fachadas. Pa-
Companhia Hidrelétrica do São
rada de ônibus, clube social, igreja,
Francisco (Chesf) começou a ven-
escola, residências e – inacreditá-
der as casas a quem já morava ne-
vel – hospital, todos têm sua cota
las, os futuros donos acharam que
do material, cuja industrialização
se tratava de um bom negócio, até
e uso estão proibidos em Pernam-
porque os preços foram bastante ca-
buco desde 2004. O perigo tam-
maradas, considerando-se o valor
bém está nas caixas d’água, já que
de mercado.
54
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
Atualmente muitos proprietários estão fazendo reforma nas casas e isso exigiria cuidados especiais, incluindo o uso de equipamentos de proteção que evitem a inalação de partículas da fibra.
Antônio Santos, 63 anos, atual-
que as pessoas estão expostas. “Esse
mente aposentado da Chesf, foi um
é o primeiro passo. Vamos subme-
dos que comprou o imóvel em que
ter o caso aos demais integrantes da
já vivia. Assim como tantos, ele nem
diretoria”, disse Monteiro.
imaginava que poderia estar adqui-
Diretora Jurídica da apea, a ad-
rindo uma fonte potencial de danos
vogada Gerusa Elvas informou que
irreversíveis à saúde. Antônio conta
a instituição vai solicitar aos órgãos
que apenas recentemente, enquanto
competentes os laudos necessários
o filho, que também reside lá, fazia
para determinar qual o risco ver-
uma reforma em casa, descobriu
dadeiro que os moradores correm.
que as paredes são constituídas de
Consequência da abundante
placas encaixáveis de amianto.
quantidade de amianto emprega-
Somando-se ao ambiente de po-
da no local, fragmentos de telhas,
tencial insalubre, a desinformação é
pedaços de caixa d’água, blocos de
um grande inimigo dos moradores
paredes substituídas se espalham
do distrito de Itaparica. Só agora,
pelos terrenos ao redor do distrito,
mais de trinta anos depois que
quando deveriam ser depositados
Chesf ergueu a vila, os moradores,
em aterros sanitários próprios, pois
representadas pela Associação Co-
todos contêm a substância cance-
munitária de Itaparica, começam
rígena. Alheio aos perigos, Salu Menezes
tratar o assunto com seriedade e
mora numa área mais periférica da
urgência. Sem querer instalar um
vila, cria cabras e usa como cocho
clima de pânico entre os habitantes,
para colocar o alimento dos ani-
o presidente da associação, Antônio
mais uma caixa d’água de amianto
Monteiro, fez contato com a Asso-
quebrada. “A caixa d’água de minha
ciação Pernambucana dos Expos-
casa ainda é de amianto”, revela, ig-
tos ao Amianto (apea) para que ela
norando que o perigo pode ir bem
examine o nível de contaminação a
além disso.
Stela Maris
a despertar para a necessidade de
Origem A vila de Itaparica foi construída para alojar os operários que trabalhariam na obra da barragem homônima
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
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Fotos: Stela Maris
Morando com o perigo Alojamentos com largo uso de amianto, construídos para abrigar operários, servem de moradia a famílias. No detalhe, placa feita de amianto, afixada com pregos em suporte de madeira, usada na construção das paredes
De acordo com o médico do tra-
Pernambuco é um dos seis es-
de 18 anos trabalhem nas áreas de in-
balho Ciro Varejão, a presença do
tados, ao lado de Rio Grande do
dustrialização do minério e determi-
amianto no ambiente é potencial-
Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato
na o fornecimento de epis, incluindo
mente ameaçadora e a contamina-
Grosso e Minas Gerais, que aboliu
roupas de trabalho que devem ser
ção pode ocorrer quando as pessoas
a industrialização e a comercializa-
trocadas duas vezes por semana e
perfuram ou destroem peças feitas
ção do amianto. Em nível federal,
lavadas sob responsabilidade da em-
com o produto. Atualmente muitos
a legislação, regulada pela Portaria
presa. Mas especialistas afirmam que
proprietários estão fazendo reforma
nº 001/1991 do Ministério do Tra-
não há forma segura de manuseio do
nas casas e isso exigiria cuidados
balho permite a industrialização do
asbesto em produção industrial. Por
especiais, incluindo o uso de equi-
minério, sob severas condições de
isso, a Anamatra e anpt pediram ao
pamentos de proteção que evitem a
proteção ao trabalhador. A medida
stf declaração de inconstitucionali-
inalação de partículas da fibra.
também não permite que menores
dade da portaria.
na natureza e de larga utilização na
segue a fibrose e a rigidez, causan-
indústria durante o último século.
do a perda da elasticidade pulmo-
Adenocarcinoma - Tipo mais
O mineral contamina gravemente
nar e da capacidade respiratória
frequente entre os cânceres
quem a ele se expõe. O processo de
com sérias limitações ao fluxo aé-
de pulmão desenvolvidos por
contaminação se dá por meio da ina-
reo e incapacidade para o trabalho.
trabalhadores e ex-empregados
lação e causa lesões principalmente
expostos ao amianto.
nos pulmões.
Amianto - Amianto (latim) ou
Asbestose – Doença causada pela
atingindo a pleura, ou incidindo
asbesto (grego) são nomes gené-
deposição de fibras de asbesto nos
sobre o peritônio e o pericárdio.
ricos de uma família de minérios
alvéolos pulmonares, provocando
encontrados com abundância
uma reação inflamatória, a que se
VOCABULÁRIO DO MAL
56
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
Mesotelioma - Forma rara de tumor maligno, mais comumente
Fonte: http://www1.inca.gov.br/ conteudo_view.asp?ID=15
Mais do que revelam os números FÁBIO FARIAS
Desembargador do TRT6
PATRÍCIA BRANDÃO Juíza Ouvidora do TRT6
B
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REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
ophal, Índia, 3 de dezembro
de repercutirem nos lares, aliás,
de 2004. Chernobyl, extin-
diga-se de passagem, esta é uma
ta União Soviética, 26 de abril de
marca de todos os acidentes que
1986. Three Mile Island, eua, 28 de
vitimam milhares de brasileiros
março de 1979. Paulínia, São Paulo,
coletiva ou individualmente.
Brasil, década de 1970. Belo Jardim,
Segundo as estatísticas oficiais
Pernambuco, Brasil, início de 1990.
ocorreram 36.751.305 acidentes
Quem lembra desses lugares e pe-
de trabalho no Brasil no período
ríodos? Talvez poucos os associem
de 1970 a 2009. Entendam-se por
a grandes tragédias humanas que
acidentes de trabalho aqueles fatos
tiveram como centros irradiado-
que lesionam, predominantemente,
res espaços de trabalho, fábricas
trabalhadores, física e psiquicamen-
ou centros de geração de energia.
te, e que são divididos nas catego-
Alguns desses desastres ficaram
rias de típicos, os que acontecem
restritos aos trabalhadores e mora-
no exercício do trabalho, os de
dores do entorno onde ocorreram.
trajeto, ocorridos no caminho de
Outros se expandiram de tal for-
casa para o trabalho e vice-versa,
ma que algumas mães evitaram dar
e os adoecimentos, aqui abrangi-
leite em pó a seus filhos brasileiros
dos tanto aqueles produzidos ou
com medo de terem sido fabricados
desencadeados pelo exercício do
próximo ao local do acidente nucle-
trabalho peculiar a determinada
ar. O certo é que, todos esses fatos
atividade, quanto os adquiridos ou
podem ser considerados acidentes
desencadeados em função de con-
de trabalho de acordo com a lei bra-
dições especiais em que o trabalho
sileira e têm a triste característica
é realizado e com ele se relacionem
diretamente. Como, em última ins-
aquele enorme universo de pessoas
vencendo resistências internas e ex-
tância, foi a própria vida que esteve
vai desde aqueles aos quais não é
ternas com uma jurisprudência que
em questão em cada acidente deste,
reconhecido o direito a anotação
reconhecia a competência para jul-
registraram-se no mesmo período
da carteira de trabalho até aqueles
gar causas que envolvam acidentes
150.060 mortos nesses eventos. Para
que trabalham por conta própria,
de trabalho de empregados “celetis-
cada ano tivemos uma média de
como é o caso de grande parte dos
tas”, para usarmos o jargão já popu-
918.783 acidentes e 3.752 mortos. As-
que vivem da agricultura familiar,
larizado, e posteriormente por ex-
sim, anualmente, para cada grupo
por exemplo. Quem mais está fora
pressa disposição constitucional (art.
de 100 mil trabalhadores tivemos
dessa estatística? Os servidores pú-
114, vi), a Justiça do Trabalho passou
uma média de 19 mortos. Para os
blicos da administração direta dos
a ter contato com a realidade acima
que olham o meio copo cheio, é
Municípios, Estados e da União Fe-
descrita. Com o objetivo específico
importante que se diga que caímos
deral, além daqueles que trabalham
de contribuir com a diminuição de
de 31 mortos por grupo de 100 mil
nas fundações e autarquias desses
tais números ou, quiçá, levá-los a
trabalhadores em 1970, para 9 em
entes da federação. Isto porque são
zero, o Conselho Superior da Justiça
2009. Para os que veem o meio copo
regidos por estatutos próprios e,
do Trabalho criou o Programa Na-
vazio, morreram 2.496 trabalha-
assim sendo, não estão sob a pro-
cional de Prevenção de Acidentes de
dores no ano de 2009, o que nos
teção dos dois ministérios acima
Trabalho por intermédio da Resolu-
colocou no quarto lugar no ranking
citados que têm por missão, basica-
ção 96 de 2012. No âmbito de cada
de acidentes do trabalho de acordo
mente, regular o trabalho privado.
Tribunal Regional do Trabalho essa
com a Organização Internacional
Até que novas luzes sejam lançadas
inciativa materializa-se por meio
do Trabalho – oit.
sobre o assunto também estão ex-
das ações dos Grupos de Trabalho
Uma coisa, no entanto, as esta-
cluídos, por expressa disposição
Interinstitucional que congregam
tísticas não evidenciam: a múltipla
legal, o contingente de 6,7 milhões
diversas instituições. Em Pernam-
invisibilidade que envolve o tema.
de empregadas domésticas, 17% das
buco integram formalmente nossa
Em primeiro lugar observemos
mulheres empregadas no país, e 500
articulação o próprio trt, a funda-
que os dados acima foram cons-
mil homens em igual situação jurí-
centro, o Ministério do Trabalho
truídos a partir de dados coletados
dica. Ou seja, forçoso é reconhecer
e Emprego, o inss, o ifpe, a agu, a
do mte/rais – Ministério do Tra-
que, pela invisibilidade ilegal ou
fiocruz/Aggeu Magalhães e estão
balho e Emprego/Relação Anual
pela exclusão expressa da lei, um
informalmente incorporados, ainda,
de Informações Sociais, e do mps/
considerável número de brasileiros
toda rede de Centros de Referência
aeps – Ministério da Previdên-
simplesmente não é computado nas
em Saúde do Trabalhador – cerest
cia Social/Anuário Estatístico da
estatísticas oficiais de acidentes de
–, a Secretaria de Saúde de Olinda,
Previdência Social. Essas quatro
trabalho.
além de interações pontuais com
siglas escondem um triste detalhe
Diante de tal quadro uma insti-
representantes dos trabalhadores e
nem sempre observado mesmo aos
tuição como a Justiça do Trabalho
dos empregadores. A atuação fun-
olhos mais atentos, qual seja: elas
não podia ficar em silêncio. Todos
damental tem se dado na promoção
espelham uma parcela do mercado
os dias milhares de demandas são
de campanhas e eventos educativos,
formal de trabalho. Quem não está
postas a serem analisadas pelos
objetivando a promoção da saúde do
nela? Os trabalhadores informais,
juízes do trabalho. Inicialmente
trabalhador.
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
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A prescrição nas ações acidentárias trabalhistas ANA MARIA APARECIDA DE FREITAS Juíza Titular da Vara do Trabalho de Salgueiro – PE (TRT da 6ª Região)
N
a temática infortunística do
dos trabalhadores em fábricas de
sdi-i, segundo a qual “a suspensão
trabalho, dentre os principais
amianto, com a asbestose.
do contrato de trabalho, em virtu-
desafios enfrentados pelo magistra-
Outro exemplo seria o trabalha-
de da percepção do auxílio-doença
do está a questão atinente ao dies a
dor acometido de ler/dort, doença
ou da aposentadoria por invalidez,
quo para a contagem do prazo pres-
muitas vezes de ordem ocupacional,
não impede a fluência da prescrição
cricional. O stf pacificou o entendi-
que, no início, apenas causa a sensa-
quinquenal, ressalvada a hipótese de
mento de que “A prescrição da ação
ção incômoda de dor, por vezes até
absoluta impossibilidade de acesso
de acidente do trabalho conta-se do
dormência nos membros superiores,
ao Judiciário.”
exame pericial que comprovar a en-
e que, mediante algum analgésico, a
Observe-se, então, que a Corte
fermidade ou verificar a natureza da
sensação dolorosa cede, autorizando
Trabalhista tem compreendido que
incapacidade” (súmula 230), e, em
a continuidade das tarefas labora-
apenas naquelas hipóteses de abso-
sentido convergente, o stj editou
tivas, mas, com o passar do tempo,
luta impossibilidade de acesso ao
a súmula 278, segundo a qual “O
pode até levar ao afastamento e até
Judiciário não correria o prazo pres-
termo inicial do prazo prescricional,
à invalidez.
cricional. Tal entendimento parece
na ação de indenização, é a data em
É evidente que, aos primeiros si-
ser razoável, pois há situações de
que o segurado teve ciência inequí-
nais da doença ocupacional, o traba-
enfermidade, quer com percepção
voca da incapacidade laboral.”
lhador, por vezes, sequer tem noção
do auxílio-doença, quer pela apo-
É que a enfermidade, por vezes,
do mal que o acomete e até há quem
sentadoria por invalidez, nas quais
pode levar um tempo considerável
se sinta extremamente constrangi-
o trabalhador não tem condições
para sua manifestação, surgindo
do pelo fato de ter de ir ao médico,
físicas ou mentais de discernimento
de um processo evolutivo, de for-
faltar ao trabalho, entrar de licença
ou mesmo de acesso à Justiça, com
ma que é a ciência inequívoca da
médica, justificar suas ausências, até
contratação de assistência jurídica,
lesão sofrida que levará o trabalha-
mesmo por receio de uma dispensa.
orientação acerca de seus direitos
dor até mesmo a mensurar acerca
Mas, a partir do momento em que
e locomoção.
de seu interesse jurídico-processual
descobre que a causa do mal tem
Para essas situações, nada mais
de demandar em face de seu em-
origem em ação, omissão voluntária,
justo, mormente em vista dos prin-
pregador. Até porque há doenças
negligência, imperícia decorrente de
cípios protetivos do Direito do Tra-
ocupacionais invisíveis que o em-
seu empregador, violando direito e
balho, que a prescrição seja obstada
pregado somente vários anos após
causando dano (art. 186 do Código
de ser iniciada, já que a falta das con-
haver deixado suas atividades la-
Civil), surge seu direito de ver re-
dições acima expostas jamais pode-
borativas em contato com o agente
parado esse mesmo dano (art. 927).
riam levar à conclusão precipitada de
causador vem a saber de sua situ-
Quanto à fluência do prazo pres-
falta de interesse jurídico-processual
ação de saúde, como é o exemplo
cricional, o tst editou a oj nº 375 da
de demandar pelos danos sofridos.
60
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
Tutela inibitória na Justiça do Trabalho LUCIANA PAULA CONFORTI Juíza Titular da 1ª Vara do Trabalho de Barreiros – PE (TRT da 6ª Região) e Mestre em Direito Constitucional pela UFPE
A
tutela judicial da saúde do
própria Constituição, precisamente
especialmente porque o primeiro
trabalhador compete à Jus-
no artigo 5º, xxxv, que estabelece
desejo do trabalhador é ter um am-
tiça do Trabalho e poderá ser pres-
que “a lei não excluirá da apreciação
biente de trabalho seguro e saudável
tada na reclamação trabalhista, no
do Poder Judiciário lesão ou ameaça
para poder “ganhar a vida”.
dissídio coletivo, na ação civil pú-
de direito.”
Sebastião Oliveira enfatizam que
blica, dentre outros instrumentos.
Diante de um estado de ameaça
os remédios judiciais tradicionais,
A importância do tema requer
de prática de ato violador de um
normalmente, visam à cicatrização
ampla análise, principalmente no
direito, pode o seu titular requerer
decorrente da lesão sofrida, pela sis-
que respeita à prevenção dos ris-
ao Poder Judiciário a adoção de me-
temática reparatória, mas a tutela
cos (e não limitada à reparação dos
didas que impeçam a concretização
ideal é aquela que poupa o paciente
danos), para conferir efetiva prote-
dos atos ameaçados, fazendo, assim,
do ferimento iminente, acrescen-
ção ao meio ambiente do trabalho, à
com que o autor possa usufruir de
tando que:
saúde e à vida do trabalhador.
seu direito in natura.
“Antes de socorrer o acidenta-
Quando se pensa em tutela
Sebastião Geraldo Oliveira
do, é fundamental atuar para que o
inibitória, afirma Luiz Guilherme
destaca o escopo essencialmen-
acidente do trabalho não aconteça;
Marinoni, imagina-se uma tutela
te preventivo da tutela inibitória,
em vez de só garantir a reparação do
que tem por fim impedir a prática,
para impedir que o ilícito venha se
prejuízo causado pela doença ocupa-
a continuação ou a repetição do
materializar em um dano. O provi-
cional, impõe-se remover os agentes
ilícito, e não uma tutela dirigida à
mento judicial, de natureza manda-
nocivos para evitar o adoecimento”.
reparação do dano.
mental, determina o cumprimento
Diante do exposto, é inegável
A inibitória funciona, basica-
de uma obrigação de fazer ou não
que a tutela judicial da saúde do tra-
mente, através de uma decisão ou
fazer e de outras medidas necessá-
balhador deve ser provocada com
sentença capaz de impedir a prática,
rias para afastar ou impedir as pos-
mais entusiasmo pelos detentores
a repetição ou a continuação do ilí-
sibilidades de ocorrência do dano.
de tal legitimidade (trabalhadores,
cito, o que permite identificar o fun-
O autor entende que o ajuizamento
sindicatos e Ministério Público do
damento normativo-processual des-
de ação trabalhista com pedido de
Trabalho) e que o Judiciário deve
ta tutela nos artigos 461 do cpc e 84
tutela inibitória pode ser uma me-
apreciar os institutos processuais
do cdc. Aliás, o fundamento maior
dida de destacada importância no
respectivos da forma mais ampla
da inibitória, como afirma Luiz Gui-
campo da prevenção dos acidentes
possível, para a efetiva proteção da
lherme Marinoni, encontra-se na
de trabalho e doenças ocupacionais,
incolumidade física do trabalhador.
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
61
Odontologia do trabalho e suas interfaces sociais ANA CLÁUDIA DE SOUZA MELO Dentista do TRT6 e Mestra em Saúde Pública
N
o mundo globalizado, os no-
aquelas ocorridas na organização
é o que falta a muitos empregadores
vos paradigmas de qualidade
do trabalho desde a Revolução
e ao poder público, ainda em débito
total e produtividade incorporada
Industrial. Ao longo de todo esse
com a sociedade no que diz respeito
aos programas das empresas têm em
período, profissionais de diver-
a políticas que fortaleçam o cuida-
seu ideário a busca de mecanismos
sas áreas da saúde se dedicaram a
do odontológico no ambiente do
de controle da produção, induzindo
compreender o processo de saúde
trabalho e incluam a especialidade
o trabalhador a um comportamento
e doença de um grupo específico
na composição dos serviços espe-
mais competitivo e individualista,
de pessoas em sua relação com o
cializados em saúde e segurança do
trazendo um descuido cada vez
trabalho, desenvolvendo alternati-
trabalhador, conforme o Projeto de
maior com sua saúde.
vas de intervenção para o alcance
Lei 422/07, que tramita, já em fase
A Odontologia do Trabalho vem
de resultados positivos para todas
conclusiva, na Comissão de Cons-
redefinindo as relações laborais nos
as partes envolvidas. Nesse cenário,
tituição, Justiça e Cidadania, para
diversos espaços que está ocupando
o dentista do trabalho expande seus
posterior aprovação no Senado e
com o foco na saúde bucal do traba-
conceitos para além do vínculo cau-
sanção presidencial.
lhador, uma vez que se dedica à pro-
sal entre a doença e agentes de risco
Fruto do pioneirismo, resultados
moção da saúde bucal no ambiente
específicos, passando a considerar
positivos vêm sendo alcançados no
do trabalho e às suas implicações
toda a subjetividade envolvida nas
Tribunal Regional do Trabalho da
na qualidade de vida do trabalha-
ocorrências odontológicas no am-
6ª Região ao incluir na equipe mul-
dor, nos resultados da empresa e em
biente de trabalho.
tiprofissional do pcmso (Programa
todo o desenvolvimento da nação.
Essa subjetividade encontra-se
Essa nova visão é essencial visto que
nos mecanismos dos processos de
os problemas bucais, frequentemen-
produção, no espaço que o trabalha-
Muito se avançou desde as con-
te, provocam desconforto físico e
dor ocupa na teia social, no conjun-
dições subumanas em que trabalha-
emocional, além de causarem pre-
to das suas próprias subjetividades
vam os homens, mulheres e crian-
juízos à saúde geral, diminuindo a
– crenças, conceitos, valores, prin-
ças que entregaram sua dignidade
produtividade dos empregados nas
cípios e no contexto histórico em
à expansão da indústria nos séculos
suas funções e favorecendo a ocor-
que estamos. Por ser o trabalho um
18 e 19, mas ainda há importantes
rência de acidentes de trabalho pela
organizador da vida social, o dentis-
capítulos dessa história a serem
falta de concentração e automedi-
ta do trabalho é também agente de
escritos.
cação, além de contribuir para as
construção das relações sociais que
Que no futuro venham novos
faltas ao trabalho.
definem a história da humanidade.
tempos sem as lacunas que ainda
A especialidade passa por trans-
Essa visão humanista da odon-
se impõem à promoção da saúde
formações tão dinâmicas quanto
tologia que a especialidade enfoca
bucal do trabalhador na atualidade.
62
REVISTA DIALOGAR · ABRIL - JULHO 2014
de Controle Médico e Saúde Ocupacional) o dentista do trabalho.