2015
Jacareúba TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 3
TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 3
sumÁrio Um ônibus com nome de Jacareúba | Anderson Mauricio ..............................................06 Um ônibus, uma Trupe e um Terminal ...........................................................................12 O registro do Toda Terça | Junior Docini .......................................................................22 Abre alas que a Trupe vai ficar | Priscila Reis .............................................................24 Atividades realizadas em 2015 ....................................................................................30 Embarcando com Humor | março .......................................................................................................................31 Dançando no busão! | abril ...................................................................................................................................46 Cordel do amor sem fim | maio ...........................................................................................................................58 Quando o ...........................................................................60 teatro nos une | Rafael Balseiro Zin Karaokê da Polly | junho ......................................................................................................................................65 #vocênotodaterça_ Literatura | julho .....................................................................................................78 89 O poeta do ............................................................................. subúrbio | Aguinaldo Roberto Lago Samba no terminal | agosto ...............................................................................................................................90 #vocênotodaterça_ Artes visuais | setembro ...................................................................................100 Mês Rosa | outubro .................................................................................................................................................114 ....128 Sobre um portal possível de atravessar somente de ônibus | Luciana Benatti Sarau Passageiro | novembro ..........................................................................................................................134 ......................................................................................139 Toda Terça teve Chaiss | Rob ASHTOFFEN 145 Zózima que ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,, me faz chorar | Manoel Moreira Abertura do processo de criação | dezembro .......................................................................................148 154 Minutos – ...................................................................................... Dramaturgia | Cláudia Barral .................................................................................................... 156 Intervenção Urbana | Lucas Lopes Ficha técnica ..............................................................................................................160 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 1
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Karaokê da Polly | foto_ Priscila Reis TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 3
foto_ Priscila Reis 4 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
arar, plantar e colher o fruto Cimento duro, grade de ferro Cuidado o ônibus, pressa é costume Apito, criança chora Grita: Porque você me bateu! Tempo de arar a terra é trabalho. O sorriso é porta aberta Boa noite, ela olha para trás Sim!!! Toda terça-feira Um dia ela entra Tempo de plantar é sempre sonhar com o que está por vir. Ela chora, ele ri, tem sempre abraço Do lado de fora, samba no pé até acabar Encontramos o menino perdido Senhor Francisco sempre nos presenteia com paçocas de amendoim Colher é perceber o poder do tempo.
Anderson Maurício
artista-pesquisador, diretor e cofundador da Trupe Sinhá Zózima
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foto_ Priscila Reis
Um ônibus com nome de
jacareúba [Dedico este texto à minha família, à Trupe, à minha mestra Lídia Zózima, ao meu amigo Rudinei Borges e ao formador Cássio Santiago]
Por que escolher o ônibus urbano para a feitura do
teatro da Trupe Sinhá Zózima e não um palco de nenhum teatro, a rua ou um espaço inusitado para cada trabalho? Essas são algumas das questões que nos 6 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
fazem, que nos sondam, pois pairam dúvidas sobre o grupo jovem que tão cedo define seu espaço de pesquisa como também decidi viver de arte. Ambas decisões arriscadas, pois não sabemos o dia de amanhã; mas ambas as escolhas brotam como uma flor no estrume e que não deixam de ter as suas contradições e o encantamento como na natureza. Não podemos negar também que ambas as escolhas – a de fazer arte e fazê-la no ônibus urbano – vem nos revelando beleza e crueldade, pois é preciso capinar e suar neste terreno extenso de matos altos, debaixo de sol e chuva. No frio é preciso saber se agasalhar bem, pois não podemos cessar o trabalho nem mesmo em tempos secos. Pois ainda é preciso plantar as sementes do doce mamão papaia – fruto refrescante e diurético –, do saboroso e adocicado tomate cereja, do ácido limão Taiti – antibiótico natural –, da mandioca – raiz energética de fina casca marrom que protege sua brancura interna. Também plantar as sementes de roseiras nas cores brancas, amarelas, cor-de-rosa e as rosas vermelhas bordeaux de beleza inconsciente, não esquecendo dos girassóis – pois gostamos de observá-los ao olhar o sol. Para realçar o sabor dos pratos: temperos – coentro, manjericão, pimenta, louro, alho e cebolinha. E vamos plantar uma Jacareúba, árvore que se adapta a terrenos onde outras espécies encontram dificuldade. Mesmo em terras pobres, pedregosas, rasas ou sujeitas às inundações, ela floresce. Também pode ser conhecida por outros nomes populares como guanandi, guanambi, casca-d’anta, guanandido-brejo, cedro-do-pântano, santa-maria, pindaíba, entre outros. Neste terreno ela será nosso relógio das estações, pois acompanharemos o seu ciclo a cada ano. Jacareúba, claro, viverá mais do que todos nós, dando sombra a outras pessoas nos dias de calor intenso e lembrando a todos que por alguém – não interessa quem – ela um dia foi semeada. O trabalho é árduo, mas para o agricultor é preciso cultivar logo, pois TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 7
precisa sobreviver do seu próprio trabalho. A sua família aguarda ansiosa pela colheita – momento de festejar, agradecer e recomeçar o plantio – trabalho que nasceu para fazer. O teatro do encontro sem fronteiras é, principalmente, para o trabalhador, homem simples, aquele que quase nunca vai ao teatro, que passa quase quinze horas por dia, entre a ida ao trabalho e o retorno para casa, aquele que tem o próprio corpo abatido – dia a dia – pelas insuficiências do transporte coletivo. É sem fronteiras porque ele se alastra rapidamente depois do seu encontro com o público, que é arrebatado pela reinvenção poética do seu espaço através da arte. E ele propaga-se mais do que o capítulo da novela das oito, pois ele é novo, vivo, é reciproco, é o encontro da arte com o povo. No teatro no interior do ônibus acontece um fenômeno, uma relação esperada por séculos e direito de todos. É real, o teatro está lá, com o público. O ônibus que parte em movimento pelas ruas da cidade, com suas janelas que se vê o mundo; há um universo do lado de fora, o interior e o exterior do ônibus se transformam, paulatinamente, com magia, encantamento e estranhamento. Este encontro se alastra criando ramificações de encontros do lado de fora do ônibus com o padeiro, a menina do panfleto, o guarda preocupado, o senhor da rua, o casal de namorado, o suposto amigo de Antônio, os rapazes querendo ajudar Madalena. Todos intrigados com o fato inusitado, criativo. O ônibus segue, no caminho segue outro ônibus, este, tradicional transporte coletivo com passageiros indo ao trabalho, ao hospital, a faculdade, as compras, no seu cotidiano, no seu mundo particular, mas como imã os ônibus se encontram, ficam lado a lado, observam-se. É inexplicável a fenda que se tem neste momento: o real e a fantasia, a rotina e o inesperado. Há um mundo de questões nos olhares dos motoristas, dos cobradores, dos passageiros e dos artistas. O verde do farol ascende, os ônibus aceleram e partem juntos como 8 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
Sarau Passageiro_ Poemas Jazzeados, com Rob Ashtoffen_ Chaiss na Mala | foto_ Priscila Reis TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 9
gêmeos siameses até que, na quadra adiante, olho no olho, se despedem em silêncio. Nosso ônibus seguindo seu caminho percorre pelas largas avenidas, nas ruas de mão única, até nos estreitos becos, atento a cada imagem interna e externa e explorando o já percebido potencial de encontros por onde passa. Pelos bares, bancos, lojas, creches, casas, prédios, feiras, por onde chega se apresenta. Ele faz amizade rápido, é jovem, é simpático, tem carisma este ônibus. Depois de um tempo ele chega ao seu destino: o terminal, ao seu ponto final, as portas se abrem, os artistas se despedem, as pessoas dessem, o motorista desliga o motor do ônibus, ele para de pulsar, os encontros cessam... Olhando pela janela, logo percebemos que, na primeira lanchonete, há uma moça apontando para o ônibus, compartilhando algo que acabara de viver com a garçonete, do outro lado ouço um homem ligando para sua esposa contando com entusiasmo a experiência que tivera, o motorista vai ao encontro do amigo que encontrou no caminho, o cobrador conversa com os amigos, os passageiros daquele ônibus comum olham e procuram algo no ônibus já desligado, elas perguntam quando vai ter no ônibus que elas se locomovem diariamente, elas partem para o trabalho falando desta possibilidade, uma senhora chama uma das atrizes e diz que sua neta nunca tinha ido ao teatro e que queria nos dizer algo. A menina de sete anos, de olhos castanhos e de voz doce, nos conta como um segredo guardado a sete chaves que ela gosta de cantar. Certo dia uma das atrizes da Trupe Sinhá Zózima estava se locomovendo para sua residência dentro de um ônibus urbano e foi abordada por uma menina que lhe perguntou: Você é a moça da Trupe que faz teatro dentro do ônibus, não é? Já faz três anos que assisti ao espetáculo de vocês. Nosso teatro não é para trinta e duas pessoas, pois não há fronteiras para o encontro com dezenas, centenas, milhares de pessoas e por muito tempo, pois está na memória de todos que encontramos dentro e fora do ônibus. Como diz Betinho: “quem fica na 10 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
memória de alguém não morre” e, por isso, não estamos nos palcos de nenhum teatro, nem em uma rua ou praça específica, nem trocamos a cada projeto de espaço para pesquisar nosso teatro. Escolhemos o ônibus e ele nos escolheu, pois a Trupe é o teatro do encontro sem fronteiras dentro de um ônibus urbano. Sem ele, não existe o teatro da Sinhá Zózima.
Anderson Maurício | foto_ Priscila Reis
Anderson Maurício
artista-pesquisador, diretor e cofundador da Trupe Sinhá Zózima . TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 11
[Se descobrirmos que nossa vida se tornou muito estressante, alienante, simplesmente desconfortável ou sem motivação, então temos o direito de mudar de rumo e buscar refazêla segundo outra imagem e através da construção de um tipo de cidade qualitativamente diferente. A questão do tipo de cidade que desejamos é inseparável da questão do tipo de pessoa que desejamos nos tornar. A liberdade de fazer e refazer a nós mesmos e as nossas cidades dessa maneira é, sustento, um dos mais preciosos de todos os direitos humanos. David Harvey, 2013]¹ 12 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
Embarcando com Humor_ De partida, com Grupo A2 Teatral | foto_ Priscila Reis
Um ônibus, uma Trupe e um Terminal Um ônibus. Sim, um daqueles de linha.
A catraca foi retirada, porque neste espaço espera-se que todos possam entrar e circular livremente. Por dentro, algumas transformações possíveis para que a música e a encenação aconteçam com o ônibus em movimento. Assim é o território da Trupe Sinhá TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 13
Zózima. Um ninho, uma casa em movimento que vai em busca da arte do encontro sem fronteiras. E este ônibus é transformado e transforma quem nele decide adentrar desde 2007. A semente, a primeira residência no Terminal, foi plantada em 2009, quando a Trupe criou em parceria com a São Paulo Transportes (SPTrans), o projeto Arte Expressa – Mostra de teatro no ônibus, que promoveu pela primeira vez no transporte público uma sequência de apresentações artísticas: doze grupos de teatro foram convidados a encenar peças curtas em ônibus que circulam no Complexo Viário Expresso Tiradentes, num percurso que vai do centro da cidade ao bairro Sacomã e região de Heliópolis, a maior comunidade periférica de São Paulo. Intervenções cênicas foram apresentadas para mais de 4.500 pessoas durante uma semana. Assim, desde 2009, este ônibus faz do Terminal Urbano Parque Dom Pedro II, por onde circulam mais de 200 mil pessoas diariamente, seu ponto de partida. Em 2014, a Trupe lançou a ação Toda Terça Tem Trabalho, Tem Também Teatro! com intuito de promover a cidadania artística, o encontro, a humanização do transporte, o diálogo com os trabalhadores. Uma residência-resistência, já que é preciso vencer constantemente os desafios e as burocracias. Desde então, todas as terças-feiras, às 20h, é ofertada, aos trabalhadores e passageiros do transporte público, uma programação artística e cultural gratuita com apresentações de espetáculos teatrais, performances, rodas de debates, saraus, cantoria, cinema e encontros. Essa é a semente do Arte Expressa: um programa que visa explorar dois movimentos de pesquisa com relação ao espaço: 1) o ônibus enquanto arquitetura que é ressignificada/reinventada por elementos artísticos que nela interferem e 2) o ônibus enquanto arquitetura que reinventa a arte, rompendo o limiar entre real e imaginário. Atualmente o projeto Arte Expressa organiza-se a partir de três ações: 14 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
Dançando no busão!_ Danças Circulares | foto_ Priscila Reis
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1. Arte Expressa: Mostra de teatro no ônibus: Realização de encenações teatrais em terminais de ônibus na cidade de São Paulo e outras cidades brasileiras e países estrangeiros. Também é um convite para que jovens grupos de teatro dialoguem com a Trupe e realizem apresentações em ônibus. 2. Arte Expressa: Residência artística no Terminal Parque Dom Pedro II: Ação desenvolvida por meio dos projetos Plantar no ferro frio do ônibus o ninho e Os minutos que se vão com o tempo: da imobilidade urbana ao direito à poesia, à cidade e à vida, contemplando a criação de espetáculos teatrais, carpintarias, conversações, partilhas de vivências e elaboração de publicações e formas de difusão dos trabalhos da Trupe em busca do diálogo com passageiros e frequentadores do terminal. 3. Arte Expressa: Toda Terça Tem Trabalho, Tem Também Teatro! A execução da ação conta com diversas possibilidades de intervenção no espaço público e de abertura para que outros artistas e grupos possam vivenciar esse processo. No caderno Goiabeira é possível conferir depoimentos e imagens dos participantes da ação em 2014.
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Samba no Terminal_ Canto de Resistência, com Anderson Maurício, Maria Alencar, Érica Santos, Tatiana Nunes Muniz e Tatiane Lustoza | foto_ Priscila Reis TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 17
Trupe Sinhá Zózima Projeto Arte Expressa
entre 2014 e 2015 mais de 100 atividades realizadas, contemplando diversas linguagens artísticas e culturais mais de 250 artistas e grupos envolvidos, vindos de diversos estados do Brasil e até mesmo de outros países mais de 3.000 pessoas embarcaram no ônibus da Trupe Sinhá Zózima e, ao longo das atividades que aconteceram dentro e fora do ônibus estacionado no Terminal Parque Dom Pedro II e das ações de divulgação (imprensa, redes sociais, banners, flyers e locução no terminal), indiretamente foi atingindo o imaginário poético dos passageiros de que a arte é possível dentro daquele espaço, onde circulam diariamente 200 mil pessoas 18 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
É importante ressaltar que, desde 2009, a Trupe realiza uma pesquisa de trajetória, que traz apontamentos relevantes para a escolha dos novos caminhos. No primeiro ano foi constatado que 75% das pessoas entrevistadas que usavam o transporte municipal nunca tinham tido contato com as artes cênicas. Mas foi mais surpreendente que 95% escolheriam para se locomover um ônibus onde houvesse encenações teatrais. Nesse mesmo ano foi levantado que 8% das pessoas entrevistadas que nunca haviam assistido a um espetáculo teatral estiveram no ônibus da Trupe Sinhá Zózima. Número que, no primeiro semestre de 2014, subiu para 15%. Em 2012 a pesquisa foi realizada em dias e horários em que não aconteciam ações artísticas. Foram entrevistados trabalhadores que transitavam pelo terminal. A partir da pergunta “quantas vezes você já foi ao teatro?”, a Trupe levantou que 31% nunca havia ido e 78% não iam ao teatro há mais de um ano. Essa questão reforçou para a Trupe a necessidade de aproximação das artes ao ambiente do trabalhador, indicou caminhos de pesquisa e ações, como o Toda Terça Tem Trabalho, Tem Também Teatro! – que embora tenha surgido com teatro no nome, contempla atividades das mais diversas áreas. Em relação ao trabalho da Trupe, em 2014, 31% dos entrevistados já haviam participado das ações no ônibus em outro momento. Número que em 2015 já subiu para 52%. Ou seja, muitos tiveram contato com o teatro pela primeira vez no ônibus da Trupe Sinhá Zózima e voltaram para mais uma experimentação. Sendo assim a Trupe Sinhá Zózima acredita que, ao criar espaços para a manifestação das artes, promove-se vantajoso diálogo com a sociedade a partir do debate sobre democratização das artes, transporte coletivo e revitalização de lugares públicos. E melhor, as pessoas estão abertas para o encontro. _________
1 VAINER, Carlos; HARVEY, David; MARICATO, Ermínio et al. Cidades rebeldes: Passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo: Boitempo, 2013. TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 19
Dançando no busão!_ Danças Circulares | foto_ Priscila Reis 20 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
A SPTrans e o Toda Terça São Paulo é uma metrópole em constante movimento. A cidade não para e impressiona pela sua grandiosidade, diversidade e dinamismo. Por isso, a São Pauto Transporte (SPTrans), empresa res-ponsável pela gestão do sistema público por ônibus na cidade, tem o desafio diário de garantir a circulação de 15 mil coletivos, em 1.300 linhas, para o transporte de cerca de 6 milhões de pessoas. Além disso, a empresa administra 30 terminais de ônibus. Esses locais são ponto de encontro de milhares de pessoas e em muitas regiões são a principal referência de equipamento público. Por esse motivo é preciso humanizar esses espaços, torná-los cada vez mais democráticos e oferecer, além do transporte, atividades que contribuam para o bem-estar das pessoas e para melhorar a relação delas com a cidade. A parceria experimental com a Trupe Sinhá Zózima, para levar ações de cultura, lazer e entretenimento, aos usuários de ônibus e, em especial a atividade Toda Terça Tem Trabalho, Tem Também Teatro!, realizada no Terminal Parque Dom Pedro II, contribui com o processo para ampliar e democratizar o acesso aos bens culturais da nossa cidade.
Assessoria de Marketing - SPTrans
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#vocênotodaterça_Literatura_ Botica de Histórias – Onde dói?, com Junior Docini | foto_ Priscila Reis
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o registro do toda terça Para mim registrar em vídeo o Toda Terça é criar com muito desafio e marcar no tempo imagens líricas, políticas e poéticas de um lugar inóspito, acinzentado, que distribui para todas as periferias de São Paulo o coração, as pessoas. Aguçar o olhar para o passageiro foi a responsabilidade desde processo. Fazer da reação espontânea a história a ser contada. Como se o artista, no mais alto da sua performance fosse o coadjuvante dos olhares. É muita responsabilidade colher e, principalmente, escolher as imagens que serão trabalhadas. Qual imagem representa aquilo que vivemos naquele momento!? Como criar sentidos, dinamismo, compressão, de tanto material vivo!?
junior docini
ator, artista-pesquisador da Trupe Sinhá Zózima e responsável pela edição do material audiovisual da ação Toda Terça Tem Trabalho, Tem Também Teatro! 2015
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Mês rosa_ Parto com Prazer | foto_ Priscila Reis 24 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
Abre Alas
que a Trupe Vai Ficar TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 25
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Sarau passageiro_ Oficina Borboletra foto_ Priscila Reis
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Samba no Terminal_ Canto de Resistência, com Priscila Reis | foto_ Priscila Reis
[Sobre a fartura cultural que acontece Toda Terça no Terminal Urbano Parque Dom Pedro II, dentro do ônibus, e alimenta o trabalhador, o artista; e fortalece nossa casa] [Na verdade, não basta dizer Viva o múltiplo, grito de resto difícil de emitir. É preciso fazer o múltiplo, não acrescentando sempre uma dimensão superior, mas, ao contrário, da maneira mais simples, com força de sobriedade, no nível das dimensões de que se dispõe, sempre. Gilles Deleuze e Félix Guattari, 2000]¹ 28 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
Era uma morada, um pé de Jacareúba
com frutos de todos os tipos: dança, música, artes visuais, samba, humor e poesia. Cada terça, a Jacareúba oferecia um fruto diferente. E esses frutos serviam para alimentar o motor da vida. Nesse ano nossa morada recebeu tantos cultivadores. Artistas convidados que, com toda vontade e visão, colocaram a mão na terra, plantando no âmago do Terminal Parque Dom Pedro II a sua semente. Então, Toda Terça, ao cair da tarde, quando o passageiro desce a ladeira da labuta e embarca no terminal em direção ao seu destino, ele pode subir no pé da Jacareúba e saciar seu apetite. E quem come um fruto da terça sempre volta pra comer de novo. Bateu fome de arte é só parar no ônibus e provar. O sumo está caudaloso. Veja como o trabalho amadureceu.
Priscila Reis
artista-pesquisadora, atriz e cofundadora da Trupe Sinhá Zózima. Fotógrafa do projeto Toda Terça Tem Trabalho, Tem Também Teatro! 2015 __________ ¹ DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs. São Paulo: Editora 34, 2000. TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 29
Samba no Terminal_ Encontro de Compositores | foto_ Priscila Reis
Atividades realizadas em 2015
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Embarcando com Humor | março
3/3_ De partida, com Grupo A2 Teatral (Patrícia Crispim e Reginaldo Ferreira) 10/3_ EU TRANSITO, 2º experimento, com Cia. Asfalto de Poesia (Amanda Massaro, Caio Marinho, Marcela Sampaio, Maria Silvia do Nascimento, Yohana Back) 17/3_ ShakesPirando, com Cia. Canta Circo & Teatro (Weslei Soares e João Rocha) 24/3_ Dus’Cuais Carigudun, com Fabulosa Trupe de Variedades (Henrique Rímoli) 31/3_ Causos de coração partido, com As Doloridas (Janaina Brizolla e Suellen Ribeiro) TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 31
Embarcando com Humor_ De partida, com Patrícia Crispim_ Grupo A2 Teatral | foto_ Priscila Reis
“A Trupe é muito organizada e faz uma condução gentil e convidativa. Num lugar onde pessoas têm tanta pressa em chegar nos seus lugares, não é nada fácil convencê-las a assistir ou participar de um evento cultural.”
patrícia crispim
atriz do Grupo A2 Teatral 32 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
Embarcando com Humor_ ShakesPirando, com Weslei Soares e João Rocha_ Cia. Canta Circo & Teatro | foto_ Priscila Reis TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 33
Embarcando com Humor_ De partida, com Reginaldo Ferreira_ Grupo A2 Teatral | foto_ Priscila Reis
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Embarcando com Humor_ EU TRANSITO – 2º experimento, com Marcela Sampaio_ Cia. Asfalto de Poesia | foto_ Priscila Reis
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Embarcando com Humor_ EU TRANSITO – 2º experimento, com Amanda Massaro, Marcela Sampaio e Maria Silvia do Nascimento _ Cia. Asfalto de Poesia | foto_ Priscila Reis
“O mais interessante é que o contato com o público do Terminal e no busão. É tão intenso que cada experiência se torna única!”
Maria Silvia do Nascimento atriz da Cia. Asfalto de Poesia
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Embarcando com Humor_ ShakesPirando, com Weslei Soares e João Rocha_ Cia. Canta Circo & Teatro | foto_ Priscila Reis
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“Poder trocar com o público a menos de um metro de distância é realmente diferente de qualquer linguagem teatral.“
João Rocha
ator da Cia. Canta Circo & Teatro
Embarcando com Humor_ ShakesPirando, com Weslei Soares_ Cia. Canta Circo & Teatro | foto_ Priscila Reis TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 39
Embarcando com Humor_ ShakesPirando, com Weslei Soares e João Rocha_ Cia. Canta Circo & Teatro | foto_ Priscila Reis
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Embarcando com Humor_ ShakesPirando, com João Rocha_ Cia. Canta Circo & Teatro | foto_ Priscila Reis
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Embarcando com Humor_ Dus’Cuais Carigudun, com Henrique Rímoli_ Fabulosa Trupe de Variedades | foto_ Priscila Reis
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Embarcando com Humor_ Dus’Cuais Carigudun, com Henrique Rímoli_ Fabulosa Trupe de Variedades | foto_ Priscila Reis
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Embarcando com Humor_ Causos de coração partido com Janaina Brizolla_ As Doloridas | foto_ Priscila Reis
“É uma experiência maravilhosa apresentar e assistir uma peça dentro de um ônibus. Gosto muito da transgressão que há nisso, mudar esse espaço de passagem, de rostos sérios, para um teatro em que tudo pode acontecer.”
Suellen Ribeiro
atriz do grupo As Doloridas 44 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
Embarcando com Humor_ Causos de coração partido com Suellen Ribeiro_ As Doloridas | foto_ Priscila Reis
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Dançando no busão! | abril
7/4_ Danças Circulares, com Andréa de Paula Santos e João dos Santos 14/4_ Magia Cigana, com Grupo Shabartalí (Milagres Torres e Luciana Saltó) 21/4_ Ensaio sobre Celeiro, com Companhia Artística Afro Sol (Juliana Ferraz, Raifha Monteiro, Ana Paula Quintino e Emerson Queiroz) 28/4_ Dança do Oriente – A magia é aqui!, com Cleide Amorim, Jeane Silva e Tatiana Nunes Muniz
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Dançando no busão!_ Danças Circulares, com Andréa de Paula Santos | foto_ Priscila Reis
Dançando no busão!_ Danças Circulares | foto_ Priscila Reis
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Dançando no busão!_ Danças Circulares, com Andréa de Paula Santos e João dos Santos | foto_ Priscila Reis
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Dançando no busão!_ Magia Cigana, com Milagres Torres e Luciana Saltó_ Grupo Shabartalí | foto_ Priscila Reis
“Foi a primeira vez que tivemos a experiência de dançar tendo um ônibus como parte de um cenário! Foi uma oportunidade especial de estarmos muito próximas de pessoas que não estão acostumadas a esse tipo de intervenção cultural.”
Luciana Saltó
atriz, dançarina e coordenadora do Stúdio Saltó de Dança, em São Caetano do Sul 50 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
Dançando no busão!_ Magia Cigana, com Grupo Shabartalí | foto_ Priscila Reis
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Dançando no busão!_ Magia Cigana, com Grupo Shabartalí | foto_ Priscila Reis TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 53
Dançando no busão!_ Ensaio sobre Celeiro, com Juliana Ferraz, Raifha Monteiro, Ana Paula Quintino, Emerson Queiroz e Edson Tadeu_Companhia Artística Afro Sol | foto_ Priscila Reis 54 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
Dançando no busão!_ Ensaio sobre Celeiro, com Companhia Artística Afro Sol | foto_ Priscila Reis TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 55
Dançando no busão!_ Dança do Oriente – A magia é aqui!, com Estúdio de Danças Suhane Hurye | foto_ Priscila Reis
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“Os olhares atentos, curiosos e encantados com a magia que envolve a dança do ventre na apresentação foi o que mais me chamou a atenção. Poder levar um pouquinho de uma dança tão bonita foi gratificante. Acredito que a dança, mesmo que não seja entendida, não se saiba onde e porquê de sua origem, ela envolve, ilumina, contagia e alegra quem está aberto para receber a energia que ela emana.”
Tatiana Nunes Muniz
atriz, artista-pesquisadora da Trupe Sinhá Zózima e dançarina
Dançando no busão!_ Dança do Oriente – A magia é aqui! | foto_ Priscila Reis TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 57
Cordel do amor sem fim | maio 5, 12, 19 e 26/05_ dramaturgia de Cláudia de Barral, direção de Anderson Maurício, com Trupe Sinhá Zózima (Anderson Maurício, Cleide Amorim, Junior Docini, Maria Alencar, Priscila Reis e Tatiana Nunes Muniz)
Cordel do amor sem fim, com Anderson Maurício_ Trupe Sinhá Zózima | foto_ Christiane Forcinito 58 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
Cordel do amor sem fim, com Cleide Amorim Trupe Sinhá Zózima | foto_ Thiago Teixeira
“O contato direto e íntimo com o público é magnifico, amplia muitas possibilidades (tanto boas quanto ruins) e isso faz com que você, artista, esteja sempre em estado de alerta! E, dependendo da temática, isso pode expandir para fora do espaço do ônibus. Você acaba criando uma integração de espaços e sendo afetado por eles; isso também te coloca em outras condições sensoriais, por isso é sempre desafiador estar em cena e observar os movimentos e manifestações. É um aprendizado sem fim.”
Cleide Amorim
atriz e artista-pesquisadora da Trupe Sinhá Zózima TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 59
Quando o teatro nos une... Rafael e Renata
a vida tem dessas coisas que, em tese,
não deveríamos tentar explicar, mas, apenas sentir, refletir e nos esforçarmos para não nos esquecermos de sempre nos lembrar, com amor. No primeiro semestre de 2009, em meados do mês de maio, a Sinhá Zózima estreou sua mais nova temporada do espetáculo experimental-busônico-teatral intitulado Cordel do amor sem fim, obra um tanto delicada, apresentada no já clássico ônibus em movimento e que inaugurou os trabalhos da Trupe dois anos antes, em 2007. Na ocasião, as apre60 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
sentações foram garantidas pela parceria estabelecida com o SESC-SP, em sua unidade provisória, localizada na avenida Paulista. Para os que não se recordam, 2009 foi um ano que ficou marcado por uma série de acontecimentos no Brasil e no mundo: imagens da Agência Espacial Americana (NASA) comprovaram a existência de água na lua; Barack Obama tomou posse da presidência dos Estados Unidos, tornando-se o primeiro negro a chefiar a Casa Branca; os brasileiros de despediam de Lombardi, locutor de rádio e televisão que ficou famoso por anunciar produtos e quadros no Programa Silvio Santos; além de ter sido o Clube de Regatas do Flamengo o campão brasileiro de futebol. A despeito destes fatos, 2009, para mim, foi um ano muito difícil. Os que já sentiram na pele como pesam sobre nós, seres humanos, as dores da partida, e, também, o fardo que é ter que carregar no peito um coração todo repartido, devem imaginar ao quê me refiro. Quando somos jovens e não sabemos lidar muito bem com os nossos sentimentos, coisas como essa acontecem. Lembro-me bem que, naquela época, nada mais fazia sentido e viver já não tinha a mesma graça. Os amigos e amigas eu fazia questão de evitar e as rápidas escapadelas para a rua somente aconteciam na intenção de um breve retorno. O dentro de casa e o dentro de mim, por mais dolorosos que fossem, eram lugares longínquos, onde somente neles eu queria habitar. Mas a vida é esperta, sábia e generosa e tem sempre uma surpresa para nos oferecer. Em meio ao turbilhão afetivo pelo qual estava passando, decidi espairecer a mente e resolvi, num domingo à noite, assistir a um novo espetáculo em cartaz na cidade, encenado por excelentes atores e atrizes de uma companhia que, até então, eu desconhecia. Evidentemente, refiro-me à Trupe Sinhá Zózima e ao preciso trabalho que seus integrantes cultivam até hoje. Cordel do amor sem fim é uma obra que me marcou, positivamente, por ene motivos, a começar pela escolha do foco narrativo, baseado em um sertão TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 61
qualquer desse Brasil, dentre tantos possíveis. O texto, que é fruto da capacidade inventiva da dramaturga baiana Cláudia Barral, ganhou nova roupagem ao ser interpretado e possibilitado pela Trupe. Entre sotaques e trejeitos, passando pelo figurino característico das personagens, a aridez do concreto urbano, típico da avenida Paulista, aos poucos, ia sendo substituída, em minha imaginação, pelo doce tilintar das águas do rio São Francisco, pano de fundo daquela nada típica circunavegação busônica. Ao me permitir experimentar novas possibilidades estéticas, propiciadas pela Sinhá Zózima naquela fatídica noite de domingo, mal sabia eu que, a partir daquele dia, minha vida mudaria por completo. Ao término da apresentação, decidi estender um pouco mais a noite e me dirigi até o Charme, famoso bar paulistano, localizado ao lado do também famoso parque Trianon. Entre um trago e outro de uma bebida qualquer, eis que me deparei com uma jovem moça, a mesma que se transformaria, algum tempo depois, no grande amor da minha vida. Entre os olhares cruzados e certa timidez característica dos recém-apaixonados, aquele meu velho coração partido, sem que ela ou eu mesmo soubéssemos, começava a reclamar um novo rumo para si: ele já não aguentava mais sofrer à toa e bater em desespero por conta de um passado que jamais retornaria. Foi então que percebi, que entregar-se a uma nova aventura poderia ser a melhor maneira de atribuir novos significados à vida. Até hoje eu me pergunto se tivesse me mantido prisioneiro daqueles mesmos sentimentos que me angustiavam há tempos, ao invés de ter saído de casa naquela inesquecível noite de domingo, para assistir ao também inesquecível espetáculo da Trupe Sinhá Zózima, teria tido a oportunidade de me encontrar com ela em outro momento? Não tenho como fazer especulações a esse respeito, mas acredito que não. Curiosamente, seis anos depois, a vida fez mais uma vez a roda girar e novas surpresas me foram apresentadas. No primeiro semestre de 2015, fiquei 62 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
sabendo que a Trupe Sinhá Zózima faria novas apresentações do espetáculo Cordel do amor sem fim, dessa vez, por conta de um novo projeto de residência artística da companhia no Terminal Parque Dom Pedro II, local de grande fluxo de ônibus e passageiros na cidade de São Paulo. Renata e eu estávamos muito empolgados para assistir a nova apresentação, uma vez que, apesar de ter sido essa peça o marco de nossa união, jamais a tínhamos assistidos juntos. No dia da apresentação, uma terça-feira à noite, saímos do trabalho e fomos correndo ao Terminal, com o objetivo de garantir os lugares na fila e, principalmente, os ingressos. Ao embarcarmos no ônibus, a magia começou e pudemos desfrutar, de mãos dadas, daquele momento todo especial. Foi então que, de repente, senti algo de diferente na fala de uma das atrizes, que, com um papel em mãos, proferiu o seguinte: “Seis anos atrás... Estava um frio danado e nos conhecemos em meio a uma cidade agitada. Era um momento bastante delicado em minha vida, assim como era na sua. Ou eu continuava nessa cidade, naquele instante já quase sem sentido, ou corria para os braços da minha mãe, que estavam longe, mas me esperavam abertos. Foi num instante que nossos olhos se encontraram. Que menino lindo, pensei. Nos conhecemos e conversamos muito rapidamente, o suficiente para você me contar que acabara de assistir um espetáculo e para me encantar... Trocamos telefone e você, no dia seguinte, me ligou do seu trabalho. Foi a sorte! (...) E aqui estamos, seis anos depois, nesse espetáculo, o mesmo que você assistiu no dia em que nos conhecemos. Eu te amo, meu amor!” TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 63
Ao terminar de ouvir aquelas palavras, recebi muito sutilmente a carta em minhas mãos. Meus olhos lacrimejaram de emoção e foi então que percebi o que estava acontecendo: tudo havia sido previamente combinado entre a Renata e a Trupe. Como não poderia deixar de ser, eu fui o último a saber. Mas como foi bom saber... Esse momento mágico me fez ter a certeza de que há fases em nossas vidas em que os sonhos não se convertem em planos, mas há, também, fases em que determinados planos podem se converter em sonhos. E é por conta de momentos mágicos como esse que seguir em frente vale a pena. Até porque, o amor, quando nos transforma, assume o caráter de um ato revolucionário. Evoé!
Rafael Balseiro Zin
Sociólogo, com especialização em Estudos Brasileiros: sociedade, educação e cultura. Possui graduação em Sociologia e Política (2012), pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, e, atualmente, é mestrando em Ciências Sociais, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, onde participa, como pesquisador, do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política (Neamp) 64 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
Karaokê da Polly | junho
2/6_ Músicos De Bar, com Sujeito A-Rock (SujeitoRock | voz e violão; Arthur | guitarra; Cupim | bateria e cajon; Silvinho | baixo) 9/6_ Girandêra, com grupo Clarianas (Fefe Camilo, Martinha Soares, Naloana Lima, Naruna Costa, Giovanni Di Ganzá e Cá Raiza) 16/6_ Entre o antes e o depois, com Rodrigo Régis (Rodrigo Régis | voz e violão; João Frandom | bateria; João Rocha | baixo; Jon Murari | guitarra e guitarra havaiana) 23/6_ Forasteiro, com Ítalo Lencker (Italo Lencker | voz e violão; Gustavo Gody | percussão; Daniel Conti | voz e violão; participação de Amanda Tempori e Paula Barison) 30/6 _ KaraoKê da Polly, com Cleide Amorim, Junior Docini e Erica Santos TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 65
Karaokê da Polly_ Músicos De Bar, com SujeitoRock, Arthur, Cupim, Silvinho_ SujeitoRock | foto_ Priscila Reis
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“Eu já tinha acompanhado antes mesmo de me apresentar. Ideia genial e a mescla de atrações é o ponto forte!”
Zinho, SujeitoRock
músico, produtor musical, fotógrafo e videomaker TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 67
Karaokê da Polly_ Girandêra, com Fefe Camilo, Martinha Soares, Naloana Lima, Naruna Costa, Giovanni Di Ganzá e Cá Raiza _grupo Clarianas | foto_ Priscila Reis
Karaokê da Polly_ Girandêra, com Fefe Camilo, Martinha Soares, Naloana Lima, Naruna Costa, Giovanni Di Ganzá e Cá Raiza _grupo Clarianas | foto_ Priscila Reis
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Karaokê da Polly_ Girandêra, com Naloana Lima e Giovanni Di Ganzá_grupo Clarianas | foto_ Priscila Reis
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Karaokê da Polly_ Entre o antes e o depois, com Rodrigo Régis | foto_ Priscila Reis
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Karaokê da Polly_ Entre o antes e o depois, com Rodrigo Régis, João Fradom, João Rocha e Jon Murari | foto_ Priscila Reis
“O mais legal de toda essa proposta é poder abordar com arte as pessoas que vivem o cotidiano de uma grande cidade como São Paulo e ver a diversidade do público, deste trabalhadores e estudantes até crianças e moradores de rua.”
Rodrigo Régis músico
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Karaokê da Polly_ Forasteiro, com Ítalo Lencker, Gustavo Gody, Daniel Conti, Amanda Tempori e Paula Barison | foto_ Priscila Reis TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 73
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Karaokê da Polly_ Forasteiro, com Ítalo Lencker, Gustavo Gody, Daniel Conti, Amanda Tempori e Paula Barison | foto_ Priscila Reis
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Karaokê da Polly_ Karaokê da Polly, com Cleide Amorim | foto_ Priscila Reis
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#vocênotodaterça_Literatura | julho
Trabalhos ligados à literatura e narrativas, selecionados por meio do edital #vocênotodaterça – II Mostra de Intervenções Artísticas no Terminal Urbano Parque Dom Pedro II 7/7_ Botica de Histórias – Onde dói?, com Cristiana Ceschi_ Coletivo As Rutes 14/7_ Lançamento do Livro Mar és! Narrativas Caiçaras e Prefácio Musical Canções de Marear, com Bado Todão e participação de Denise Luiz e Priscila Reis 21/7_ Africanas Femininas, com Dinah Feldman e Toumani Kouyaté 28/7_ Posso te contar uma história?, com Monalisa Lins_ Histórias em movimento
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#vocênotodaterça_Literatura_ Botica de Histórias – Onde dói?, com Cristiana Ceschi_ Coletivo As Rutes | foto_ Priscila Reis
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#vocênotodaterça_Literatura_ Lançamento do Livro Mar és! Narrativas Caiçaras e Prefácio Musical Canções de Marear, com Bado Todão | foto_ Rodrigo Silva TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 81
#vocênotodaterça_Literatura_ Lançamento do Livro Mar és! Narrativas Caiçaras e Prefácio Musical Canções de Marear, com Bado Todão, Denise Luiz e Priscila Reis | foto_ Rodrigo Silva 82 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
: #vocênotodaterça_Literatura_ Africanas Femininas, com Toumani Kouyaté | foto_ Priscila Reis TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 83
#vocênotodaterça_Literatura_ Africanas Femininas, com Toumani Kouyaté | foto_ Priscila Reis
“O trabalho com a palavra, com as histórias, ele tem, para mim, o objetivo do encontro em múltiplas acepções, então a experiência foi muito rica, por ampliar esse leque de diálogo e pesquisa.”
Dinah Feldman
narradora de histórias, atriz, produtora, teatro-educadora e jornalista 84 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
#vocênotodaterça_Literatura_ Botica de Histórias – Onde dói?, com Cristiana Ceschi_ Coletivo As Rutes | foto_ Priscila Reis
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#vocênotodaterça_Literatura_ Posso te contar uma história?, com Monalisa Lins_ Histórias em movimento | foto_ Priscila Reis
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#vocênotodaterça_Literatura_ Posso te contar uma história?, com Monalisa Lins_ Histórias em movimento | foto_ Priscila Reis TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 87
Aguinaldo Lago | foto_ Priscila Reis 88 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
O poeta do subúrbio Ônibus carregam vidas Benditas Malditas Ônibus carregam vidas De sonhos De realidades Ônibus carregam vidas Da casa para o trabalho Do trabalho para a escola Vidas vidas Com sonhos Sonhadas Reais Nos bancos dos ônibus
Aguinaldo Roberto Lago
educador social, poeta, ator amador
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Samba no Terminal | agosto
4/8_ Samba Paulista, com Kolombolo diá Piratininga 11/8_ Encontro de Compositores, com Frente de Resistência do Congo 18/8_ Canto de Resistência, com Cicí Andrade + Sarau Samba Original 26/8_ (excepcionalmente quarta) A voz de um samba, a vez de um povo, com Samba da Vela
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Samba no Terminal_ Samba Paulista, com Kolombolo diá Piratininga | foto_ Priscila Reis
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Samba no Terminal_ Samba Paulista, com Ligia Fernandes_ Kolombolo diá Piratininga | foto_ Priscila Reis 92 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
Samba no Terminal_ Encontro de Compositores, com Fernando Ripol_ Frente de Resistência do Congo | foto_ Priscila Reis
“O projeto Toda Terça Tem Trabalho tem um papel importante na proximidade do povo com a cultura. O fato de ser realizado dentro de um ônibus e este ônibus estar dentro do Terminal faz com que as pessoas que transitam por lá tenham, mesmo que por um pequeno período, um momento de pausa, descontração e aprendizado no dia a dia corrido da nossa cidade”
Fernando Ripol
compositor da Frente de Resistência do Congo TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 93
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Samba no Terminal_ Encontro de Compositores, com Frente de Resistência do Congo | foto_ Priscila Reis TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 95
Samba no Terminal_ Canto de Resistência, com Cicí Andrade | foto_ Priscila Reis
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Samba no Terminal_ Canto de Resistência, com Cicí Andrade | foto_ Priscila Reis
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Samba no Terminal_ A voz de um samba, a vez de um povo, com Chapinha_ Samba da Vela | foto_ Priscila Reis
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Samba no Terminal_ A voz de um samba, a vez de um povo, com Samba da Vela | foto_ Priscila Reis
“Antes de mais nada gostaria de parabenizar a Trupe por essa iniciativa. Nos anos oitenta houve uma movimentação de samba nos ônibus. Cada região armava sua roda de samba no ônibus e, no fundão, íamos tocando a vida até seus respectivos bairros. Portanto me senti muito homenageado por vocês por terem resgatado essa atividade. OBS: Naquela época dos anos oitenta/noventa, fomos proibidos de continuar fazendo música nos coletivos.”
Nino Miau
compositor do Samba da Vela
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#vocênotodaterça_Artes visuais | setembro Trabalhos ligados às artes visuais, selecionados por meio do edital #vocênotodaterça – II Mostra de Intervenções Artísticas no Terminal Urbano Parque Dom Pedro II, organizado pela Trupe Sinhá Zózima. 1/9_ Nu-instante, com Thiago Cohen e Renata Brandolizi (abertura da exposição com participação de Camila de Sá e Maremata) 8/9_ Fluxo nas v(e)ias, com Coletivo Mãe da Rua 15/9_ Cidade Nômade, com Guilherme Kramer 22/9_ Mudanças - Mudas danças, com Lucas Lopes 29/9_ Mix de obras, com Stefanie Fabian
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#vocênotodaterça_Artes visuais_ Nu-instante, com Thiago Cohen e Renata Brandolizi | foto_ Priscila Reis
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#vocênotodaterça_Artes visuais_ Maremata, com Camila de Sá | foto_ Priscila Reis
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“Sempre nos sentimos muito bem acolhidos de todas as maneiras. Este lugar construído, emanado de dentro do ônibus é sem dúvidas dos mais encantados e cotidianamente transformadores que conheço.”
camila de sá
representou Thiago Cohen na exposição Nu-instante
#vocênotodaterça_Artes visuais_ Maremata, com Camila de Sá | foto_ Priscila Reis
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#vocênotodaterça_Artes visuais_ Nu-instante, com Thiago Cohen e Renata Brandolizi | foto_ Priscila Reis
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#vocênotodaterça_Artes visuais Cidade Nômade | foto_ Priscila Reis
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#vocênotodaterça_Artes visuais_ Cidade Nômade, com Guilherme Kramer | foto_ Priscila Reis
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#vocênotodaterça_Artes visuais_ Fluxo nas v(e)ias, com Grupo Mãe da Rua | foto_ Priscila Reis
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#vocênotodaterça_Artes visuais_ Fluxo nas v(e)ias, com Maria Gabriela D’Ambrozio e Carina Castro_ Grupo Mãe da Rua | foto_ Priscila Reis
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#vocênotodaterça_Artes visuais_ Mudanças - Mudas danças, com Lucas Lopes | foto_ Priscila Reis
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#vocênotodaterça_Artes visuais Mudanças - Mudas danças | foto_ Priscila Reis
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Mês rosa | outubro
06 a 27/10_ Exposição Parto com Amor, com fotos de Marcelo Min e organização de Luciana Benatti 06 a 27/10_ Útero Urbe_Living Painting de Graffiti, com Carol Teixeira 6/10_ Mulheres em (contra)fluxo, com Mãe da Rua 13/10_ Yabás, com Coletivo Corpo Aberto 20/10_ Empoderadas, com Renata Martins e Joyce Prado 27/10_ Parto com Prazer, com Luciana Benatti 114 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
Mês rosa_ Exposição Parto com Amor, com fotos de Marcelo Min e organização de Luciana Benatti | foto_ Priscila Reis
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Mês rosa_ Útero Urbe_Living Painting de Graffiti, com Carol Teixeira | foto_ Priscila Reis
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Mês rosa_ Útero Urbe_Living Painting de Graffiti, com Carol Teixeira | foto_ Priscila Reis
“Foi incrível! Adorei a experiência de encontrar com o pessoal voltando do trabalho, passantes, etc. As pessoas foram muito abertas, comentaram o trabalho. Nunca tinha feito nada no Terminal.”
Carol Teixeira artista plástica TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 117
Mês rosa_ Mulheres em (contra)fluxo, com Grupo Mãe da Rua foto_ Priscila Reis 118 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
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Mês rosa_ Yabás, com Coletivo Corpo Aberto | foto_ Priscila Reis
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Mês rosa_ Yabás, com Coletivo Corpo Aberto | foto_ Priscila Reis
“É a primeira vez do Coletivo Corpo Aberto numa arquitetura como esta. A experiência foi incrível, pois entender o espaço cênico nesta arquitetura é algo que transcende práticas e conceitos da linguagem da dança e do teatro. Foi um desafio levar esta poesia para um espaço em que, às vezes, gestos sutis de amor não são aceitos. Resistir poeticamente em meio ao caos foi uma vivência transformadora.”
Danielle Rocha de Oliveira
dançarina do Coletivo Corpo Aberto
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Mês rosa_ Yabás, com Coletivo Corpo Aberto | foto_ Priscila Reis
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Mês rosa_ Empoderadas, com Renata Martins e Joyce Prado| foto_ divulgação
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Mês rosa_ Empoderadas, com Renata Martins e Joyce Prado| foto_ divulgação
“A iniciativa da Trupe é maravilhosa, pois, incentiva que a população que em trânsito possa mudar por pelo menos uma hora sua rotina.”
Renata Martins
responsável pelo projeto Empoderadas TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 125
Mês rosa_ Parto com Prazer, com Théo e Tatiane Lustoza | foto_ Priscila Reis
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Mês rosa_ Parto com Prazer foto_ Priscila Reis
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Mês rosa_ Parto com Prazer foto_ Priscila Reis
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Sobre um portal possível de atravessar somente de ônibus Minha primeira surpresa foi saber que
o Terminal Parque Dom Pedro II não fica na estação Pedro II do metrô. Naquela segunda-feira cinzenta de outubro, eu havia saído de casa, em Pinheiros, determinada a chegar no terminal, pois levava comigo os painéis da exposição Parto com Amor, parte da programação do Mês Rosa. Estava tudo combinado: eu deixaria o carro no estacionamento da SPTrans e encontraria a Paula Venâncio, meu contato na Trupe Sinhá Zózima, na plataforma zero. Ali, próximo ao bicicletário, a exposição seria montada sobre uma estrutura de pallets. Depois de dar várias voltas de carro nas ruas e viadutos ao redor do terminal, sem jamais achar a entrada, vi uma placa indicando o estacionamento do metrô Brás. ‘Boa ideia’, pensei, ‘deixo o carro e sigo de metrô’. Eu achava que conhecia bem a região, pois era no Parque Dom Pedro que eu pegava diariamente o ônibus para São Bernardo do Campo, onde fazia a faculdade de jornalismo. Mas isso foi vinte anos atrás! Ao chegar à estação Pedro II, desanimei ao saber que teria de pegar um ônibus até o terminal, o que acabou sendo relativamente tranquilo, pois não era ainda o horário de pico. Respirei aliviada ao chegar ao terminal, afinal meu braço estava amortecido com o peso dos painéis que eu carregava desde a estação Brás. Mas o alívio durou pouco: uma funcionária me explicou que a plataforma zero ficava do lado oposto ao que estávamos. Eu teria que subir as escadas, atravessar uma grande passarela amarela e descer do outro lado. Criei TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 129
coragem e segui e frente. No caminho, sempre com o material da exposição embaixo do braço, observei o intenso fluxo de pessoas, a numeração das plataformas, o vaivém dos ônibus, o movimento nas lanchonetes e a imensa fila na porta do banheiro feminino. Foi meu primeiro contato com aquele lugar. Em meio ao barulho e à fumaça dos ônibus, foi um alento ver Paula acenando e sorrindo para mim, na tal plataforma zero, que àquela altura já me parecia ficção – na verdade deduzi que aquela era a plataforma zero, pois não havia placa indicando –, tão improvável quanto a ideia de fazer teatro dentro de um ônibus num cenário tão hostil. Na hora de ir embora, à noitinha, um vento frio me pegou de surpresa enquanto eu atravessava a passarela. No calorão da tarde, havia deixado o casaco no carro. Lá do alto, observei a cidade e pensei no Marcelo: ele se sentiria muito à vontade naquele lugar. Fotojornalista reconhecido por retratar cenas urbanas com maestria, Marcelo Min, meu amor, era também o autor das imagens da exposição que havíamos acabado de montar. E que a partir daquele dia seriam vistas por aquele mar de gente. Viajei de férias com meus filhos e não pensei mais naquele lugar, onde estivera esta única e impactante vez, mas que fazia parte do dia a dia de tanta gente. Vinte e poucos dias depois, chegava o momento de voltar ao terminal para falar de parto humanizado dentro do ônibus da Trupe, parado na então já conhecida – mas não menos ficcional – plataforma zero. Escolada, desisti da ideia de ir de carro e optei pelo metrô. Anoitecia quando desci na estação São Bento e caminhei alguns quarteirões numa 25 de Março quase vazia, com lojas fechadas e lixo acumulado. Fiquei feliz de não estar sozinha, mas acompanhada de um amigo. Uma passarela em espiral nos conduziu para dentro do terminal. Ao contrário dos arredores, seu interior fervilhava. A fila do banheiro feminino era ainda maior. Desta vez não foi preciso alcançar a passarela amarela: estáva130 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
mos do lado certo. E eu já conhecia o caminho. Parado na plataforma, o ônibus da Trupe parecia igual a todos os outros. Eu sentia um misto de empolgação e receio. Estou acostumada a falar em público sobre parto, mas esta seria, sem dúvida, a plateia mais eclética e o lugar mais inusitado. Seu Francisco, um habitué das noites de terça, foi um dos primeiros a chegar, trazendo paçoquinhas para adoçar nossa noite. Fiquei apreensiva com esse primeiro passageiro, um interlocutor desconhecido para mim, que estou habituada às grávidas. Como capturar a atenção daquele senhor numa conversa sobre gravidez, parto e bebês? Ao entrar no ônibus, me encantei como criança. E, por falar em criança, fiquei surpresa ao saber que elas se juntariam aos adultos no ônibus, num canto cuidadosamente forrado com panos e abastecido de brinquedos. Logo vi chegar uma grávida. Depois outra. E então, a surpresa: uma amiga doula, que mora na Austrália, apareceu sem avisar. Por um momento, acreditei que o terminal fosse na verdade um portal, possível de atravessar somente de ônibus. Que viagem! Relaxei. Agora sim estava à vontade. ‘Vou então tratar de me divertir’, pensei. Convidada a escolher um lugar, me sentei, sem disfarçar a alegria, na cadeira do cobrador: realizava ali um sonho de infância. Sentada lá no alto, onde era possível balançar os pés pelo ar e de onde eu conseguia avistar todos os passageiros, comecei a falar. Sem pensar, contei do nascimento dos meus filhos. Falei como a experiência me transformou e convidei as pessoas presentes a relatarem suas próprias experiências. Foi uma conversa animada. No final, uma revelação. Contei que meu marido e parceiro Marcelo Min, autor das fotos da exposição que visitaríamos a seguir, tinha nos deixado, de forma repentina, dois meses antes. E o quanto tinha sido difícil estar ali, TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 131
contando essa história, a nossa história, na ausência dele. Do fundo do ônibus, alguém pediu uma salva de palmas para ele. Com essa acolhida calorosa, deixei a saudade transbordar em lágrimas. Seguimos de ônibus até a outra ponta da plataforma, para conhecer seu trabalho. Mas antes, um susto. A exposição, que havia permanecido intocada por mais de 20 dias, tinha acabado de sofrer um ataque de vandalismo, o que não desanimou ninguém. Com a ajuda do pessoal da Trupe, a exposição foi colocada novamente em pé. E pode ser apreciada por todos. Entre abraços emocionados, nos despedimos com a certeza de que aquela tinha sido uma noite especial. Pensando como voltaríamos para casa, meu amigo e eu vimos a palavra ‘Pinheiros’ escrita no letreiro de um ônibus. Subimos. Em poucos minutos, descíamos na Cardeal Arcoverde, retornando a um universo que nos era mais familiar. Restou a sensação de que aquele terminal era mesmo um portal. Que atravessamos a bordo de um ônibus.
Luciana Benatti
jornalista e autora do livro Parto com Amor (Panda Books) 132 132 TRUPE TRUPE SINHÁ SINHÁ ZÓZIMA ZÓZIMA
Mês rosa_ Parto com Prazer, com Luciana Benatti | foto_ Priscila Reis
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Sarau Passageiro | novembro 3/11_ Oficina Borboletra, com Lucas Lopes e Andrea Lopes 10/11_ Poemas Jazzeados, com com Fábio de Albuquerque, Rob Ashtoffen, Eder Martins e Vinicius Chagas_Chaiss na Mala + poetas Giovani Baffô e Thiago Calle 17/11_ Do lírico ao político, com Manoel Moreira 24/11_ Sarau Passageiro, aberto para participações
Sarau Passageiro_ Oficina Borboletra, com passageiro Marcio Santos | foto_ Priscila Reis
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Sarau Passageiro_ Oficina Borboletra, com Lucas Lopes e Andrea Lopes | foto_ Priscila Reis
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Sarau Passageiro_ Poemas Jazzeados, com Vinicius Chagas_Chaiss na Mala | foto_ Priscila Reis
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Sarau Passageiro_ Poemas Jazzeados, com Thiago Calle | foto_ Priscila Reis
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Sarau Passageiro_ Poemas Jazzeados, com Rob Ashtoffen_ Chaiss na Mala | foto_ Priscila Reis
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Toda terça teve Chaiss Faço parte daquele grupo de músicos
que dispõem de muita energia para ter ideias e articular pessoas para que elas – as ideias – se concretizem, ou seja, proponho a mim mesmo, todos os dias, trabalhar com cultura. E, para que essas ideias funcionem no mundo material, dependemos de uma categoria: o esforço. O esforço de repetição, estudo, aplicação dos conhecimentos musicais é um universo que convive com o carregar de amplificadores e peças de bateria em trens, metrô, ônibus. Foi nesse contexto essencial que o meu parceiro baterista Fábio de Albuquerque e eu parimos o Chaiss. Desde os 18 carregávamos amplificadores para shows de nossas respectivas bandas de rock, que nasceram e percorreram escolas e bares de quebrada pela periferia da Zona Sul e Zona Oeste – Parque Santo Antônio e Perus. Até hoje o processo é o mesmo. Porém, depois de mais de 12 anos, expandimos para o centro, criamos e espalhamos o Chaiss. Nossa fuga para o centro sempre foi de ônibus, no máximo um trem. Quando deixamos de morar na periferia e migramos para o Butantã, a exigência de mobilidade e de ideias malucas de tocar pelas ruas, por exemplo, tomaram conta de nós. Dentro de uma mala, as ferragens da bateria têm sua proteção e locomoção garantidas. Podemos também substituir a maior peça da bateria, o bumbo. Inspirado em pesquisas na internet de outros que tiveram o insight de uma mala percussiva¹, Fábio me pediu ajuda para furar e colocar uns parafusos em uma samsonite azul usada que ele arranjou por aí. A partir daí fizemos amizade com cobradores e motoristas que nos levavam para a Paulista, República, em meados de 2012. Lá tocávamos free jazz, solto, maluco, qualquer nota. Em alguma das viagens eu imagino que já trocamos ideia sobre a possibilidade de TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 139
tocarmos dentro do ônibus que sempre nos levava para o centro com as magias e bruxarias guardadas na mala. Foi em meados de 2014 que recebi um convite da Trupe Sinhá Zózima para nos apresentarmos no Toda Terça. Dentro de um busão, que poderia se mover e levar o som junto, a partir do Terminal Parque Dom Pedro pelas redondezas desse outro centro, mais sombrio, adornado de sangue, com luta, miscigenado, internacional. Estar dentro de um ônibus improvisando na linguagem universal do jazz não exclui o caráter efêmero da performance. A apresentação finaliza no último compasso, onde geralmente o público pega a deixa para os aplausos, que corresponde ao momento em que se engole a comida mastigada; cada golpe nas palmas das mãos é uma escorregada deglutida do que ali ocorreu. A ideia de improvisar nossos temas em um ônibus com passageiros era ótima e precisávamos carregar para a posteridade o que fazia parte do nosso contexto essencial de fazer a música unir-se com a cultura da cidade. Fábio e eu temos uma formação de documentalistas, bibliotecários com diploma e tudo. No decorrer dos 6 anos de faculdade essa ideia fixa da importância da memória e das representações simbólicas documentadas sempre estiveram incubadas em cada passo do Chaiss. O suporte audiovisual é o mais completo para se registrar a arte performática, pois com ele nos aproximamos da organicidade da oralidade, onde é possível construir narrativas através de gestos captados e somados ao som. De forma experimental, acionei o fotógrafo Welder Rodrigues – um dos vários parceiros do Chaiss – para documentar esse dia. O resultado foi um dos vídeos mais vistos da banda no Youtube. Porém, pensamos esse vídeo de 3 minutos como um registro além da sua própria divulgação pela internet. É um retrato da história da banda, uma configuração do 140 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
nosso desejo de esforço de sair nas ruas cutucando calçadas, com as rodinhas da mala, com o nosso mais sincero som, apaixonado. Geralmente deixamos o romantismo da arte para o século retrasado (e também o passado), mas, nesse caso, ele se encontra em verdade presente naquele vídeo, nos nossos rostos, na dança do pessoal da Trupe. Há um ano eu estava em busca do meu objeto de pesquisa do mestrado. Tinha que unir artes de rua com a documentação e ainda não tinha uma luz sobre meus os objetivos. Nesse ano consegui arrolar as dúvidas cruciais que compõem a linha de força principal da minha pesquisa: Onde está a memória das artes de rua? Como documentar a arte performática em espaços públicos? Um artista de rua conta uma história e como registrar seus gestos e nuances? No dia 10 de novembro de 2015 fomos convocados mais uma vez. Desta vez convidei dois poetas das ruas, Giovani Baffô e Thiago Calle. Um ensaio bastou para que eles jorrassem sua poesia nos passageiros, que também respingou pelas as ruas que o ônibus passava. Eu disse a equipe de vídeo² que queria poética na edição, na forma de contar histórias, com música ao vivo, dialogando com texto dos poetas. Temos outro olhar, diferente do primeiro vídeo que fizemos. A experiência mudou (a nós) e o ônibus agora tem um sistema de som, de luz, cresceu. Nós também crescemos, agregamos mais parcerias artísticas, mais ideias concretas. Tudo resultado claro daquela chama que demos o nome de esforço, que nos fazia subir aos domingos num ônibus metropolitano e ocupar com a mala o espaço reservado para cadeirantes. Vejo nossa participação como uma figura simbólica do ciclo. Documentamos o momento de abertura e fechamos com uma continuidade desse processo de ação cultural. A figura simbólica desse ano é uma roda da fortuna que sobe e desce, levando aos dois extremos, a fortuna e a merda. Para a Trupe, advinda da tradição do teatro, fortuna e merda são a mesma coisa. Para nós, TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 141
músicos, nunca vamos deixar de estar nessa roda, nunca ficaremos tontos com seu vai e vem e sempre vamos ter energia para ver os ciclos fecharem, ano após ano. Até que a ideia se esgote e o tesão esfrie. Nos aposentaremos no crematório com parceiros tocando no funeral. Por fim, todo esse processo que ainda tem chão para manchar, me ensinou que arte, música e cultura são conceitos diferentes e que, para harmonizarem, precisam de trabalho, cultivo, tempo e transgressão. Sobre essa questão cito um autor argentino que me acompanha nessa jornada acadêmica de pesquisa documental, Nestor Garcia Canclini. Ele diz:
Os artistas garantem realmente o domínio sobre seu campo? Quem se apropria de suas transgressões? Ao aceitarem os ritos de egresso, a fuga incessante como a maneira moderna de fazer arte legítima, o mercado artístico e os museus não submetem as mudanças a um enquadramento que as limita e controla? Qual é, então, a função social das práticas artísticas? Não lhes foi atribuída – com êxito – a tarefa de representar as transformações sociais, de ser o palco simbólico onde acontecem as transgressões, mas dentro de instituições que limitam sua ação e eficácia para que não perturbem a ordem geral da sociedade?³
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Qual a nossa função como banda de jazz que toca na rua? Qual a função de um ônibus que toda terça diz que tem trabalho? O ciclo não se enquadra em nada, ele é curvo, faz dançar a ordem e o caos. Rompe os limites modernos. Deixo dúvidas. A cultura é o terreno fértil onde nos estalamos e passamos pelas ruas, pelos bares, vielas, quebradas, coberturas, restaurantes, onde o som se propaga. Para nós tudo isso é rua, os muros são uma ilusão concretada, as portas não existem de fato, estão cheias de fendas. O Chaiss é um ser híbrido, um mutante que cruza com diversos espécimes de artistas. Vira-latas que desejam mais vira-latas nas ruas, com uma mala e pegando ônibus. Destemidos, estranhos e simpáticos. Se falta verdade por aí, o nosso esforço primordial é buscá-la através da música, pelos atos e ideias, sobretudo pelo som que esperamos memoriar.
Rob Ashtoffen
Mestrando na ECA-USP, onde desenvolve pesquisa sobre artes de rua e memória, na linha de Ação Cultural. Baixista, guitarrista, vocalista. Junto com Fábio de Albuquerque, idealizou e gerencia o projeto de música instrumental e experimental de repertório Chaiss
___________________ 1 Para quem quiser saber mais: www.instructables.com/id/Build-a-Suitcase-Drum-Set/ 2 www.facebook.com/cinefotocolapso 3 CANCLINI, Néstor G. Culturas Híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. 4 ed. São Paulo: EDUSP, 2013. pg. 50. TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 143
Sarau Passageiro_ Do lírico ao político, com Manoel Moreira | foto_ Priscila Reis
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Zózima que me faz chorar A beleza de Zózima é uma beleza rara rara de ser encontrada singela e encantada. Beleza não simulada mas sim escavada garimpada com amor e alma. Desnudando a nudez vulnerabilizando o vulnerável aceitando o imperscrutável sedenta do inusitado. A beleza de Zózima me faz chorar disse eu em um poema só a beleza me faz chorar.
Eu choro de saudade eu choro de alegria eu choro de agonia nunca de tristeza. A beleza de Zózima é difícil de descrever sem ver impossível vendo. A beleza de Zózima é anterior as palavras anterior aos pronunciadores de palavras anterior ao tempo e ao próprio espaço.
Manoel Moreira ator e poeta TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 145
Sarau Passageiro_ Sarau Passageiro, com professora Maria de Fátima | foto_ Priscila Reis
“Conheço a Trupe Sinhá Zózima desde 2013 e sou frequentador do Toda Terça desde sempre. O que dizer? Só dizer que foi maravilhoso participar de um projeto tão especial em nossa cidade. Um projeto tão acolhedor e muito bacana com um pessoal genial e que também nos recebe com carinho. Levei meus livros (antologias das quais participei) e mostrei a quem nos assistia. Confesso, fiquei muito à vontade. O público estava bem receptivo. E o ônibus teatro é um espaço onde cabe o nosso corpo, a nossa alma, o nosso coração e quem tiver vontade de conhecer os seus mistérios. Foi uma experiência interessante, diferente. E fica-se com vontade de quero mais. Fica uma vontade de sair com o ônibus pela cidade, lendo e entregando poemas para as pessoas. Que tal?”.
Aguinaldo Roberto Lago
educador social, poeta, ator amador 146 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
Sarau Passageiro_ Sarau Passageiro, com Aguinaldo Roberto Lago | foto_ Priscila Reis
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Abertura do processo de criação | dezembro Nas duas primeiras terças do mês, a Trupe Sinhá Zózima compartilhou com o público a pesquisa do seu novo trabalho artístico, com estreia prevista para o início de 2016. O trabalho faz parte do projeto Os minutos que se vão com o tempo – da imobilidade humana ao direito à poesia, à cidade e à vida, contemplado pela 24º Edição da Lei de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo. 1/12_ Cantigas d’alma (Ponto de encontro: Plataforma zero – Espaço da ação: Ônibus parado – Ingresso: Gratuito) 8/12_ Rumo à casa (Ponto de encontro: Plataforma zero – Espaço da ação: Ônibus de linha 4313/10, com trabalhadores/passageiros - Ingresso: R$ 3,50 ida, valor da passagem de ônibus, e R$ 3,50 volta.) Encenação Anderson Maurício | Dramaturgia (em processo colaborativo) Cláudia Barral | Direção Musical Luiz Gayotto | Direção de Arte e Ilustrações Lucas Lopes | Artistas Pesquisadores Anderson Maurício, Cleide Amorim, Junior Docini, Maria de Alencar, Priscila Reis, Tatiana Nunes Muniz e Tatiane Lustoza | Trilha Original Trupe Sinhá Zózima | Confecções de Objetos Cênicos Thamata Barbosa | Preparação Corporal Lídia Zózima | Produção Geral Tatiane Lustoza | Produção Executiva Thais Polimeni | Assistência de Produção Érica Santos | Fotografia Christiane Forcinito e Danilo Dantas | Documentarista Luciana Ramin | Assessoria de Imprensa Paula Venâncio| Designer Gráfica Deborah Erê | Webmaster Danilo Peres 148 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
Abertura do processo de criação_ Rumo à casa, com Junior Docini, Maria Alencar, Tatiane Lustoza e Anderson Maurício_ Trupe Sinhá Zózima| foto_ Christiane Forcinito TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 149
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Abertura do processo de criação_ Rumo à casa, com Priscila Reis e Maria Alencar_ Trupe Sinhá Zózima| foto_ Christiane Forcinitos TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 151
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Abertura do processo de criação_ Rumo à casa, com Priscila Reis_ Trupe Sinhá Zózima| foto_ Christiane Forcinito
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Abertura do processo de criação_ Rumo à casa, com Tatiane Lustoza_ Trupe Sinhá Zózima| foto_ Christiane Forcinito
Minutos – Dramaturgia A pesquisa da Trupe Sinhá Zózima e,
consequentemente, a dramaturgia de “Os Minutos que se vão com o Tempo”, foi construída a partir da leitura Odisséia, de Homero, da travessia pessoal dos atores, que fizeram, a pé, o percurso do Terminal Parque D. Pedro II a Cidade Tiradentes, e da compilação de história de vida de alguns passageiros do Terminal Parque D. Pedro II. Esses três 154 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
pontos de partida geraram uma sorte de laboratórios, experiências e improvisações que foram, paulatinamente, desvendando personagens. O entrelaçamento do cotidiano e do mitológico faz surgir figuras que remetem à luta diária dos passageiros e que representam, ao mesmo tempo, arquétipos: o louco, o sábio, a noiva, a velha sábia... Todos têm um desejo, todos cumprem uma travessia na qual um destino prefigurado não é o fator mais importante. O grande desafio de encarnação dessa dramaturgia é, entretanto, o espaço. A história, cuja ficção é encenada dentro de um ônibus urbano em movimento, precisa ser contada de forma a tocar o passageiro que, a princípio, sequer sabe que vai assistir a uma peça de teatro. A fala surge, assim, com a meta de, antes de mais nada, conquistar a atenção e, para isso, precisa ser composta de breves e potentes passagens, para que gerem uma experiência válida também para aqueles que não permanecerão no ônibus ocupado durante todo o percurso. Em atenção a esses desafios, foi concebida uma dramaturgia essencialmente épica e linear, composta de núcleos que se bastam em si mesmos. Nossa missão, acredito, com esse espetáculo, é embalar e colorir o retorno desses homens e mulheres cansados às suas casas, oferecendolhes a música e a poesia que construímos através da nossa sensibilidade, recontando-lhes a história desse retorno, reencenando, dessa forma, o mito de cada passageiro-espectador.
Cláudia Barral
escritora e psicanalista. Publicações em poesia incluem O Coração da Baleia (Ed. P55, 2011) e Primavera em Vão (Ed. Penalux, 2015). Suas peças de teatro contam com numerosas premiações e montagens, no Brasil e em países como Alemanha, Itália, Portugal e Peru. TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 155
intervenção urbana [As cidades como os sonhos, são construídas por desejos e medos, ainda que o fio condutor do seu discurso seja secreto, que as suas regras sejam absurdas, as suas perspectivas enganosas, e que todas as coisas escondam uma outra coisa (…). As cidades também acreditam ser obra da mente ou do acaso, mas nem um nem o outro bastam para sustentar as suas muralhas. De uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas a resposta que dá às nossas perguntas. – Ou as perguntas que nos colocamos para nos obrigar a responder, como Tebas na boca da Esfinge. Ítalo Calvino, 1990]¹ Quais as viagens possíveis e impossíveis que fazemos ao entrar em um ônibus? Quais os lugares que observamos dentro e fora de nós durante esse percurso? Quais as descobertas, lembranças, angústias, anseios que aparecem em nossas janelas? Quais sensações e paisagens que nos atravessam ao atravessarmos ruas e avenidas, pontes e viadutos, favelas, quebradas, sonhos, desejos? Sim, os espaços educam. Dos muitos locais e lugares que poderíamos citar para responder as perguntas acima, a Trupe Sinhá Zózima multiplica e alarga nossas fronteiras de percepção e sentido (de nós, do mundo e do outro) trazendo para nossas viagens (geográficas, emocionais, afetivas...) territórios criativos e sensíveis como respostas, ou melhor, como caminhos para elaborarmos respostas, a essas perguntas que nos fazemos e que nós mesmo, atentos ou não, construímos e desconstruímos cotidianamente ao longo de nossos trajetos e pausas. 156 TRUPE SINHÁ ZÓZIMA
Abertura do processo de criação_ Rumo à casa, com Anderson Maurício_ Trupe Sinhá Zózima| foto_ Christiane Forcinito
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Rompimento da malha urbana. Criação de espaços/fissuras para que a cidade com todas as suas diferenças se encontre e se reconheça, se reconecte. É o que ocorre no Terminal Parque Dom Pedro II às terças-feiras. Nesses encontros as possibilidades de reconexão se dão de diversas maneiras e intensidades, nos reconectamos com o outro, com o espaço e com o momento presente. Através de proposições artísticas a Trupe traz o campo imaginário e simbólico para dentro do terminal. Interagindo com toda sua potência, com suas estruturas carregadas de demasiada realidade, mostrando o humano forte e frágil, o comum e o irreverente habitando um mesmo espaço, um mesmo modo de ser. Gerando trocas e situações de múltiplas vozes, ativadas por material sensível e poético. Essa malha urbana aqui citada se baseia a partir de uma lógica funcionalista, que mecaniza a vida e todas as suas possibilidades de encontro e interação. Impedindo assim expressões e práticas criativas e livres. As intervenções propostas no Toda Terça criam essas brechas, fissuras, esses lugares para o improvável existir. Criam manjedouras para sonhos que ainda nem sequer sabíamos que poderiam ser sonhados. Intervenções que não modificam apenas o espaço, mas também o tempo vivido nele, o Toda Terça transmuta o tempo da pressa em tempo de contemplação, de respiro profundo, de sentir não mais os ponteiros, mas sim, as batidas do coração. E é com esse coração ritmado com o tempo da vida que recebemos respostas (e mais perguntas) para todas as nossas viagens.
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Lucas Lopes
artista plástico, arte-educador de fotografia no Programa Fábricas de Cultura. Co-Fundador do Projeto Nau-frágil – Qual a sua solidão? Co-Fundador do Coletivo Borboletra. Co-Criador na Revista Transvista (edição e elaboração do material visual). Possui dois livros infantis publicados com ilustrações de sua autoria [Poesia dos olhos e Menina Aluada]
__________ ¹ CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. São Paulo: Cia das Letras, 1990, pg.44. TRUPE SINHÁ ZÓZIMA 159
Ficha técnica Toda Terça Tem Trabalho, Tem Também Teatro! 2015 Coordenador Anderson Maurício
Motorista Wilson dos Santos
Produção Geral Tatiane Lustoza
Assessoria de imprensa e redação Paula Venâncio
Produtora Érica Santos
fotografias Christiane Forcinito Daniel Abicair Priscila Reis Rodrigo Silva Thiago Teixeira
Audiovisual Junior Docini Priscila Reis Equipe de apoio Cleide Amorim Maria Alencar Tatiana Nunes
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Designer Deborah Erê Desenhos Guilherme Kramer Roberta Giotto Deborah Erê
Contatos www.sinhazozima.com.br contato@sinhazozima.com.br 55 (11) 96292-0447 55 (11) 2584-2852
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Arar, plantar e colher o fruto Colher é perceber o poder do tempo
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