E o mar ali tão longe

Page 1

ID: 60313208

25-07-2015 | Revista E

Tiragem: 101375

Pág: 91

País: Portugal

Cores: Cor

Period.: Semanal

Área: 23,50 x 29,70 cm²

Âmbito: Lazer

Corte: 1 de 3

vícios “PESSOAS SEM VÍCIOS TÊM POUCAS VIRTUDES”

Es Algpecial Inte arve rior

E o mar ali tão longe Algarve é quase sempre sinónimo de praia, bolas de Berlim e diversão noturna. Mas quem se aventura pelo interior da região mais a sul descobre vilas, montes, serras, barragens e museus. Roteiro de atividades para fazer em família, a dois ou sozinho TEXTOS CAROLINA REIS FOTOGRAFIAS LUÍS COELHO E 91


ID: 60313208

25-07-2015 | Revista E

Tiragem: 101375

Pág: 92

País: Portugal

Cores: Cor

Period.: Semanal

Área: 23,50 x 29,70 cm²

Âmbito: Lazer

Corte: 2 de 3

Passar a fronteira numa corda A linha não se vê, mas está lá, algures a meio do rio. O cabo mal se vê, mas está lá, algures por cima do rio. De Alcoutim a Sanlúcar do Guadiana, de Portugal a Espanha, são três minutos de barco. Ou escassos segundos de adrenalina. O slide que atravessa o Guadiana é uma das viagem transfronteiriças mais originais (€17). Mal se aterra em Espanha, o mundo parece diferente. “Nota-se logo, aqui já não há calçada portuguesa”, diz José Cavaco, que, com colegas espanhóis e portugueses, se dedica ao turismo radical. O cabo que atravessa o ar para cruzar a fronteira é forte e seguro, por muito que as pernas teimem em dizer o contrário e tremam ao chegar aos 770 metros de altura. À medida que se aproxima o momento de se ficar suspenso no ar, a energia com que se foi fazendo o caminho até ao ponto mais alto dá lugar à adrenalina. Falta pouco para os pés ficarem suspensos. Um, dois e... três. SLIDE TRANSFRONTEIRIÇO Alcoutim

Pelos caminhos da água

Uma viagem ao passado

O EXPRESSO VIAJOU A CONVITE DO TURISMO DO ALGARVE

A moda também pode ser uma forma de contar a história de um país. Os vestidos negros com gola branca bordada expostos na segunda sala do Museu do Trajo, em São Brás de Alportel, refletem o modo de viver austero e conservador das mulheres da região. O saiote de arame está à vista na sala que abre a exposição “Sombras e Luz, o Algarve no Século XIX”. Uma visita a este museu — instalado numa casa construída por um negociante de cortiça e que chegou a ser sede de um banco que faliu na sequência do crash de 1929 — é um passeio pelo passado do Algarve. A maioria das 16 mil peças do museu foi doada pela família Pestana Girão. A um mês do fim da atual mostra já se constroem as trincheiras da I Guerra Mundial para a próxima, em setembro. As antigas cavalariças estão ocupadas com cortiça, outra forma de explicar a história de um país. O pátio do museu permite fazer uma chegada diferente: de charrete. E dali seguir no mesmo veículo para descobrir o resto da terra. O centro hípico faz passeios (a partir de €20) pela cidade e pela serra. MUSEU DO TRAJO Rua Dr. José Dias Sancho, 61, São Brás de Alportel. Entrada: €2 CENTRO HÍPICO Tel. 916 354 930

As semanas de Reinaldo Alves são passadas na Câmara Municipal de Monchique a tratar de burocracias. Para fugir à rotina, começou a organizar, aos fins de semana, passeios na serra que tem o nome da vila, levando aventureiros para longe do rebuliço das cidades. Conhece de cor os caminhos, atalhos e rasteiras que a terra deslizante e as rochas da serra escondem. No percurso da Malhada Quente e do Moinho da Rocha (€25, tudo incluído), inserido na Rota da Água, leva os caminhantes a descobrir riachos, termas antigas, fontes e casas desabitadas. O passeio pela mata da Picota, o segundo ponto mais alto da serra de Monchique, tem uma surpresa que não faz mal revelar. Mais ou menos a meio do percurso de 10 quilómetros, há uma paragem numa padaria tradicional — a Branco Quente, que abastece várias cidades algarvias — para uma tiborna à Monchique (feita de azeite e muito sal). O pão, claro, é partido “como deve ser, com as mãos”. Os minutos de pausa são a desculpa perfeita para conviver com os habitantes e conhecer a maneira de viver serrana. Calma e tranquila. PASSEIOS NA SERRA Tel. 962 543 217


ID: 60313208

25-07-2015 | Revista E

Tiragem: 101375

Pág: 93

País: Portugal

Cores: Cor

Period.: Semanal

Área: 23,50 x 29,70 cm²

Âmbito: Lazer

Corte: 3 de 3

Oásis na cortiça Quem atravessa o deserto sonha com oásis. Quem anda por vales e montes, a admirar sobreiros e a ver como se extrai a cortiça, acaba por ceder ao calor e tem de parar para se refrescar. A barragem que abre os caminhos até à serra do Caldeirão, conhecida como Cova da Muda, é esse oásis. As águas límpidas são relativamente seguras para tomar um banho depois de passar pelo Miradouro do Alto da Ameixeira e antes de seguir viagem serra acima. “Há cada vez mais americanos que vêm cá para fazer a rota da cortiça, para ver como se extrai e o que se produz com ela. Dessas rotas fazem sempre parte estas caminhadas pelos sobreiros”, diz Sofia Carrusca, uma jovem da terra que escolheu ficar no interior para mostrar ao mundo o potencial da cortiça.

Todo o terreno

Quem vem, tem de atravessar o rio. Não vale ir a Alcoutim, subir ao ponto mais alto, passar a fronteira de slide e não fazer a travessia de barco. Há várias opções, mas talvez a mais agradável seja conjugar o passeio com a hora de almoço e fazer o caminho da vila até ao monte da Laranjeira. São 45 minutos de viagem relaxante entre o verde da serra e o esverdeado da água, pintada com as muitas cores dos barcos que se vão encontrando. Em qualquer momento pode ser que um deles pare e as pessoas metam conversa. No final, a cozinheira do Cantarinha do Guadiana está à espera com os pratos mais típicos do Sotavento.

Há pouco tempo, uma equipa da RTL, televisão pública alemã, esteve uma semana a viver com o apicultor António Nunes Valério para lhe seguir todos os passos. Na sua destilaria e melaria produzem-se dois dos produtos mais emblemáticos da região e fundamentais para a subsistência desta população. Num ambiente caseiro, António explica como se faz o medronho, desde a apanha do fruto até à destilação, feita num alambique típico da região e que não se encontra noutra zona do país. As regras da ASAE estão todas cá. Mas a produção é feita à moda antiga. Por entre histórias e peripécias, há provas de mel e brindes com medronho e meloso, uma mistura dos dois produtos. É o lugar ideal para descansar depois de percorrer a serra.

Os desportos radicais desta vila raiana, que no século XIX pertenceu ao Alentejo, contrastam com a pacatez dos seus cerca de 600 habitantes. Mas todos convivem pacificamente. Em buggies (€35) pode percorrer-se a Várzea da Lourinhã — quem não está habituado ao campo pensa tratar-se de uma serra... O caminho até à parte mais alta da zona passa por silvas, pedras e poeira, num misto de velocidade e conforto. No ponto mais alto, veem-se casas antigas abandonadas, que são mais do que isso. Contam uma parte importante da história da região. Estes antigos postos da Guarda Fiscal foram colocados para vigiar os contrabandistas, uma ‘profissão’ que o Estado Novo tentou controlar. Tal como noutras comunidades raianas, o contrabando de subsistência — que assentava em produtos como ovos, trigo, galinhas — foi fundamental para a sobrevivência da população, que vivia da pastorícia e da agricultura. Salazar mandou instalar 27 postos entre Vila Real de Santo António e Mértola, colocados de modo a que de cada um se pudesse ver o seguinte. Olhando a partir da Lourinhã, é possível ver que, do outro lado da fronteira, Franco não teve a mesma preocupação.

FUN RIVER Tel. 926 682 605

PORTELA DAS EIRAS Tel. 962 048 417

FUN RIVER Tel. 926 682 605

ALTO DA AMEIXEIRA São Brás de Alportel www.algarverotas.com

Entre duas margens

Na casa da abelha

Chegar ao cume O topo é o lugar onde a dificuldade convive com o desejo. Para chegar lá acima é preciso estar preparado, ser persistente e aliar coragem com estratégia. Há milhares de anos que os humanos lutam por alcançá-lo em busca de uma recompensa. Seja profissional ou pessoal. A Foia, o ponto mais alto da serra de Monchique, o topo do Algarve, não é muito diferente. Deste cume, cuja vista se estende até ao litoral alentejano, partem três rotas pedestres: a das Cascatas, a da Geologia e o Passeio da Foia, que entroncam na via Algarviana, que cobre todo o Algarve. Chegar ao cimo destes 902 metros é enquadrar-se numa imagem de postal, bem diferente daquelas que popularizaram a região como uma zona de (boa) praia e pouco mais. Aqui, no ponto mais alto da região, aglomerados de pedra que requerem boas pernas para serem escalados esperam os que não desistiram. Um pequeno exemplo de resistência para os caminhos, todos devidamente marcados, que se dali se podem escolher e que levam ao interior da região. Quem quiser pode apenas ficar a admirar a vista, a meditar ou a relaxar.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.