Polvos, safios e bogas vivem em paz a bordo de quatro navios de guerra

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ID: 55803653

21-09-2014

Tiragem: 37998

Pág: 20

País: Portugal

Cores: Cor

Period.: Diária

Área: 25,70 x 31,00 cm²

Âmbito: Informação Geral

Corte: 1 de 3

Polvos, safios e bogas vivem em paz a bordo de quatro navios de guerra DR

À superfície, realizaram centenas de missões pela Marinha Portuguesa. Agora, no fundo do mar de Portimão, os quatro navios de guerra que compõem o parque subaquático Ocean Revival têm outra missão: dão abrigo a dezenas de espécies marinhas e atraem milhares de mergulhadores, portugueses e estrangeiros. Apesar da água turva

Na corveta, paramos sobre a pista do heliporto, onde o mau tempo deste Inverno deixou marcas. A parte traseira do barco, uma secção com 20 metros de comprimento, foi afastada uma centena de metros do resto da corveta. Segundo Pedro Caleja, guia da Subnauta e arqueólogo subaquático, a queda do barco no fundo provocou uma rachadura naquela zona da popa, que acabou por partir totalmente e foi arrastada pelas correntes, o que não estava nos planos. Terá estabilizado entretanto. Basta explorar o exterior do “Oliveira e Carmo” para encontrar inquilinos. Um polvo escondido numa caixa, com os olhos curiosos à espreita, outro encaixado numa prateleira, cabozes a passear no convés. No interior há sargos, safios e nudibrânquios (lesmas do mar). Segundo o biólogo Gonçalo Calado, que conduz a monitorização dos barcos des-

PORTIMÃO Superfície s

Inquilinos à espreita

Parque subaquático Ocean Revival ficou completo há um ano

ilha

Um minuto e dois segundos. Foi o tempo que o antigo navio oceanográfico “Almeida Carvalho” demorou a afundar ao largo de Alvor, em Portimão, há precisamente um ano, completando assim a “armada” do parque subaquático Ocean Revival. No fundo do mar repousavam já uma corveta, uma fragata e um patrulha oceânico, todos com milhares de horas a navegar em representação da Marinha Portuguesa. Mas mesmo reformados, os navios continuam em missão. Quando o PÚBLICO mergulhou no Ocean Revival, numa manhã quente de Junho, não se via uma onda no mar, a três milhas de terra. Mas a “piscina” não era de água quente estava a 13 graus - nem transparente. “Tem estado pior”, dizem-nos. Semanas antes, um boom de algas deixou a água esverdeada, cheia de matéria em suspensão. Resultado? Junto à superfície, a visibilidade ronda os dois metros. Mesmo assim, descemos pelo cabo rumo à corveta “Oliveira e Carmo”, que inaugurou o parque subaquático a 30 de Outubro de 2012. O cenário melhora à medida que nos aproximamos do fundo. Oito metros de visibilidade deixam ver toda a proa do barco. O mastro, onde passeiam robalos, sargos e peixes-porco, está a 15 metros da superfície mas o casco assentou aos 30 metros. A carcaça imponente jaz num fundo de areia, completamente revestida por uma espécie de musgo verde. As cracas, ostras e outros organismos que se fixaram no metal já mal deixam ver a cor original do barco. Guiado por dois instrutores da Subnauta - empresa promotora do Ocean Revival através do seu fun-

dador, Luís Sá Couto -, o grupo de mergulhadores segue por estibordo, como combinado no briefing ainda no centro de mergulho. Fazemos sinal negativo ao guia quando este nos convida a entrar na casa das máquinas. Também não entramos na messe dos praças, onde estão ainda mesas e cadeiras, nem na cozinha. Só mais tarde, no segundo mergulho, temos coragem para entrar na ponte de comando e rodar o leme da fragata “Hermenegildo Capelo”, a terceira a ir ao fundo, em Junho de 2013. O interior dos navios foi preparado para facilitar a vida aos mergulhadores, com muitos pontos de entrada de luz e saídas à vista, mas um só mergulho não chega para ver todos os recantos. O tempo médio de permanência aos 30 metros ronda os 40 minutos, pelo que são precisas três ou quatro visitas para conhecer os barcos de uma ponta à outra.

2m

Mergulho Marisa Soares

26-32m

15m

3,3

as

milh

1 milha

Localização dos navios

Navio Patrulha Zambeze

Fundo marinho

Corveta Oliveira e Carmo

Navio Almeida Carvalho

Número de espécies residentes nos quatro navios

9 2 2 Nov 2012

9 2

Dez

Fonte: Ocean Revival

9

11 12

9 6

6

Fev

Mar

22 20 1112

11

13

Jan 2013

4 Abr

Mai

Jun

Jul

22 20

22 20

1617

1415

2

Fragata Hermenegildo Capelo

5 Ago

5 Set

56 Out

56 Nov PÚBLICO


ID: 55803653

21-09-2014

Tiragem: 37998

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País: Portugal

Cores: Cor

Period.: Diária

Área: 25,70 x 31,00 cm²

Âmbito: Informação Geral

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No total, seriam investidos 1,3 milhões de euros, com comparticipação de fundos comunitários de o primeiro dia, a colonização começou poucas semanas depois dos naufrágios. “Como o casco não era limpo há muito tempo, a parte que fica debaixo de água estava cheia de mexilhões, que ali continuaram depois do afundamento”, afirma. Os polvos aproveitaram o festim. O efeito de atracção é quase imediato, explica Miguel Neves dos Santos, biólogo do ex-Ipimar (integrado no Instituto Português do Mar e da Atmosfera), especialista em recifes artificiais. Ao embaterem no barco, as correntes marítimas provocam um ruído não perceptível ao ouvido humano. Mas os peixes ouvem e em poucos minutos encontram a embarcação. Depois, uns aproveitam para arranjar “casa”, outros usamna apenas como ninho ou para se protegerem dos predadores, alguns fazem só “visita de médico”. A monitorização dos navios inclui a contagem de espécies residentes. No “Oliveira e Carmo”, até ao final do ano passado foram identificadas 22, com destaque para a boga, o sargo, o peixe-porco e a choupa. Pedro Caleja conta que, há duas semanas, viu pela primeira vez um peixe-lua a passear junto à corveta. Ocasionalmente, o barco tem visitas de lírios, peixes-galo. “Há um mês três golfinhos roazes desceram com os mergulhadores”, diz o guia. No navio patrulha “Zambeze”, afundado poucas horas depois da corveta, foram identificadas 20 espécies até ao final de 2013. Tanto a fragata “Hermenegildo Capelo” como o navio oceanográfico “Almeida Carvalho”, os dois últimos a naufragar, “beneficiaram das larvas que já estavam a sair dos primeiros e por isso a colonização foi mais rápida”, diz Gonçalo Calado. Para este biólogo, o recife artificial está a ter “um impacto positivo no aumento da biodiversidade” na zona, mas ainda serão precisos mais dois anos até que a comunidade de espécies residentes estabilize. Os impactos ambientais do Ocean Revival foram, desde o início, uma das principais preocupações de quem se opôs ao projecto. “Um dos receios era o assoreamento à volta dos navios, mas isso não se verificou”, diz Gonçalo Calado. Outra preocupação era a toxicidade dos materiais. Os navios, cedidos pela Marinha à Câmara de Portimão a custo zero, foram limpos e descontaminados antes do afundamento. “Ninguém pode garantir que não há nenhum impacto”, admite Miguel Neves dos Santos, até porque faltam

estudos sobre casos semelhantes. Mas até agora, segundo os biólogos, o prato que mais pesa na balança parece ser o dos benefícios. Este parque subaquático com quatro navios numa zona delimitada, de acesso livre para todos os centros de mergulho, foi pioneiro a nível mundial. Financiado pela Subnauta, por fundos europeus e por “mecenas privados”, o projecto implicou um investimento de dois milhões de euros, que demorou vários anos a concretizar. “Não houve qualquer dinheiro do município de Portimão”, garante Sá Couto, ex-responsável da Accenture Portugal. Foi ele o “cérebro” e o “músculo” do projecto, considerado visionário por uns e excessivo por outros. O objectivo era dinamizar o turismo subaquático na região, aumentando as receitas da actividade de 2,6 milhões de euros em 2012 para 70,5 milhões de euros em 2022. “Quem vem mergulhar ao Algarve traz como referência o Ocean Revival”, admite João Rosário, proprietário do Pinguim Sub, centro de mergulho com mais de 20 anos em Portimão. Embora reconheça que o projecto foi bem divulgado em Portugal e no estrangeiro, João Rosário critica a sua localização, próxima da foz do Rio Arade e da Ria de Alvor, que transportam muitos sedimentos. “Quando um barco não tem condições de visibilidade, os outros também não têm”, lamenta. Miguel Neves dos Santos, que ajudou a definir o local para os afundamentos, explica que este foi “o melhor compromisso” possível, tendo em conta condicionantes relacionadas com o ordenamento do espaço marítimo e imposições do promotor. “Mas a falta de visibilidade é um falso problema, porque não se coloca a profundidades superiores a 20 metros [todos os barcos estão na cota dos 30 metros]”, observa. Desde Outubro de 2012 até Agosto deste ano, a Subnauta realizou perto de dez mil mergulhos no Ocean Revival, cinco mil só este ano, com os quatro navios já instalados. “Dos dez mil mergulhos, pelo menos metade correspondem a pessoas que vieram ao Algarve de propósito para realizar a visita aos navios”, diz Sá Couto. Para a Subnauta, os portugueses - estima-se que haja 30 mil a 50 mil mergulhadores certificados em Portugal - foram os mais fáceis de convencer, mas os espanhóis, alemães, escandinavos e ingleses começam agora a chegar em força.

Costa Norte desistiu de afundar avião...e locomotiva ao largo de Viana do Castelo Marisa Soares O projecto de afundar um avião ao largo de Viana do Castelo, para criar um recife artificial que atraísse mergulhadores de todo o mundo, caiu por terra. O promotor, a empresa Costa Norte, diz que a ideia esbarrou nos entraves colocados pela capitania do porto local. No entanto, o capitão contrapõe que nunca lhe foi pedida autorização para afundar uma aeronave, mas sim para uma locomotiva. Em Dezembro de 2012, o promotor anunciou que já tinha luz verde de todas as entidades competentes para avançar com o afundamento de um avião a duas milhas da costa de Viana, em frente à praia de Carreço. No entanto, ao que o PÚBLICO apurou, os pareceres positivos não diziam respeito ao afundamento de uma aeronave, mas sim de uma locomotiva. A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, por exemplo, foi um dos organismos que emitiram parecer favorável. Também a Autoridade Marítima Nacional se pronunciou favoravelmente quanto ao afundamento da locomotiva. Ao PÚBLICO, esta entidade diz que o capitão Paulo Gomes da Silva, responsável pela capitania de Viana, “respondeu ao utente [um elemento da Costa Norte] no sentido de o afundamento ser autorizado, tendo inclusive indicado as linhas de acção a adoptar, mas o utente nunca mais respondeu”. “Nunca me chegou aqui nada sobre uma aeronave. Eu respondi ao pedido para afundar uma locomotiva e nunca mais tive resposta”, reforça o capitão Paulo Gomes da Silva, alegando que haverá na opinião pública “desinformação” sobre este projecto. A ideia inicial da Costa Norte era mesmo afundar uma locomotiva, admite Francisco Ponte, sócio da empresa e um dos “cérebros” do projecto anunciado em 2012. “Mas concluímos depois que seria mais viável afundar um avião, que este teria mais atenção mediática e da comunidade de mergulhadores”, explica. Insiste, porém, que fez chegar à capitania um

pedido para afundar uma aeronave. “Eles não deram autorização e o primeiro problema levantado foi o local do afundamento”, acrescenta. O avião de 48 metros, que a empresa já tinha em vista, seria importado dos Estados Unidos, limpa e colocada no fundo do mar, “sem prejudicar a navegação”. O local ideal, para Francisco Ponte, seria a Baixa do Parcel, embora inicialmente estivesse prevista a zona de Carreço. O objectivo era criar um recife artificial à semelhança do parque Ocean Revival no Algarve, que levasse os mergulhadores “em romaria” a Viana. Previsto para este ano de 2014, o projecto da Costa Norte incluía também a criação de uma escola de mergulho, eventos de pesca desportiva e passeios turísticos a bordo de um hovercraft (um veículo assente numa espécie de colchão de ar que pode andar na água e no solo). No total, seriam investidos 1,3 milhões de euros. A empresa apresentou uma candidatura a fundos comunitários que, segundo Francisco Ponte, ainda chegou a ser aprovada, mas teve de ser anulada. “Se não podíamos fazer as actividades a que nos propusemos, não podíamos justificar as verbas que iríamos receber”, diz Francisco Ponte. “A capitania impede-nos de trabalhar”, acusa, queixando-se da posição daquela entidade não só em relação ao afundamento do avião, mas também às actividades de formação desenvolvidas pela escola de mergu-

lho da Costa Norte. “Nem sequer nos deixam fazer baptismos no estuário do Lima, temos que ir para Espanha. Damos as primeiras aulas em piscina e depois vamos para a Galiza fazer as aulas no mar”, explica Francisco Ponte. Na Câmara de Viana do Castelo, que assumiu como desígnio estratégico a afirmação de Viana como “cidade náutica”, o projecto nunca reuniu consenso. No anterior executivo, os vereadores do PSD consideraram que se tratava apenas de “folclore” e manifestaram receios em relação ao impacto ambiental da submersão de “sucata” no litoral do concelho. O presidente da Câmara, José Maria Costa, que estava também à frente da autarquia no anterior mandato, considerava em 2012 que o afundamento seria “muito interessante” tendo em conta a procura mundial por este tipo de atracções. O PÚBLICO tentou contactar o autarca, que esteve sempre indisponível nos últimos dias. “Viana perdeu e penso que o país também está a perder”, diz o sócio da Costa Norte, sublinhando que “os entraves foram tantos e tão grandes” que a empresa resolveu mudar de rumo. Agora a principal aposta da empresa é em São Tomé e Príncipe, onde tem já dois centros de mergulho. É lá que pretende afundar o tal avião, desta feita sem o apoio de fundos comunitários. “É um investimento nosso, e maior” do que o que estava previsto para Viana, diz o responsável. DR


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21-09-2014

Tiragem: 37998

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País: Portugal

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Área: 4,97 x 4,74 cm²

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MERGULHO POLVOS, SAFIOS E BOGAS QUE VIVEM EM QUATRO NAVIOS DE GUERRA Local,20/21


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