Oba! Férias!
Oba! Férias! Crianças, viagens e um universo de experiências possíveis
Férias à vista! Quando chegam as férias escolares, as possibilidades que se apresentam aos pais ou responsáveis pelas crianças são diversas: fazer viagens mais longas em alguns casos, pequenas escapadas aos finais de semana em outros, ou a permanência no lugar onde se mora. Seja qual for a situação, a quebra da rotina representada pela ausência das aulas por si só já desencadeia formas diferentes de interação com o tempo, o espaço, as experiências cotidianas. Nos meses de janeiro e julho, o programa de Turismo Social do Sesc em São Paulo oferece uma programação especial que convida as crianças a conhecerem novos lugares e a descobrirem sua própria cidade com outros olhares, sempre acompanhadas por seus pais ou responsáveis. O que pode uma viagem proporcionar a uma criança? Como ela vivencia essa experiência? Um passeio pela cidade onde se vive pode também ser uma experiência repleta de descobertas e novidades? Três viajantes compartilham aqui suas reflexões sobre as vivências em família propiciadas pelos passeios e viagens com seus filhos. Inspire-se para experiências em novos caminhos ou em já conhecidas paisagens!
Por que viajar com crianças Gaía Passarelli
Se você tem uma criança na sua vida, seja filho, sobrinho, primo ou agregados, a melhor coisa que você pode fazer com e por ela é levar para viajar. Parece meio forte, eu sei. Vivemos num mundo cheio de tantas obrigações (pra não dizer despesas) com tudo, incluindo nossas crianças, que ficar alardeando a necessidade de viajar não só soa meio arrogante, mas inviável. No curso de turismo uma das coisas que a gente aprende é que viagem é a primeira coisa em que uma pessoa investe quando tem outras contas (moradia, saúde, transporte) resolvidas. É o lazer máximo e esse lazer é diferente para cada pessoa. Tem quem deseje viajar para conhecer as grandes cidades do mundo ou para ver animais selvagens. Tem quem queira tirar fotografias de paisagens, aprender sobre arte e história. Também tem quem queira viajar para fazer compras. Tem quem viaje para fazer tratamentos médicos, quem viaje para estudar. Em resumo, não tem razão certa pra viajar. Mas a viagem, quando é boa, é sempre um aprendizado. Por isso, junto com ser amada e respeitada, não existe nada mais valioso para uma criança do que viajar com a família e amigos. É um momento de estar junto das pessoas que ama fazendo coisas que não são parte de sua rotina normal — porque viagem não é só pra fora do país com roteiros de revista. Viajar também é ir pra sítio no interior, passar dia em hotel fazenda, curtir fim-de-semana
no litoral. E cada momento desse ensina sobre estar fora de casa. Junto com a escola e leitura, viagem é um incentivo à curiosidade natural das crianças. Valem excursões para museus em outras cidades, aulas de história do nosso país em cidades da costa ou do interior, viagens dentro da própria cidade para ver e aprender com algum lugar que ainda não conhece. Não posso falar pelas viagens dos outros, mas tenho um filho pré-adolescente e, viajante que sou, trato de incentivá-lo desde cedo. A cada viagem volto contando histórias e curiosidades sobre lugares, pessoas e costumes. Viajamos juntos uma vez por ano, sempre nas férias e sempre dentro do Brasil. Acredito demais na importância de mostrar o país pra ele, ainda mais nesse momento que tanto se discute quais são nossos caminhos. Então fomos juntos visitar comunidades ribeirinhas no Amazonas, onde ele pode conhecer crianças da sua idade que acordam cedo e vão pescar com o pai e ficaram curiosas com o fato de ele nunca ter pescado com anzol numa canoa antes. Fomos para o Jalapão, no cerrado do Centro-Oeste, uma região de águas transparentes e cenários dramáticos em risco de desaparecer devido ao avanço da pecuária e das plantações de soja. Visitamos praias no litoral de São Paulo, perto de casa, onde está parte da história do Brasil colonial. E sempre passeamos por São Paulo, onde nós dois nascemos, procurando conhecer mais das culturas de todo o mundo que se misturam aqui. Bem perto de casa é onde acho que está nossa maior riqueza, que é a diversidade, e a mais importante lição para ele: a capacidade de respeitar o outro.
Respeitar e conviver com o que nos parece diferente é algo que a viagem ensina. Mesmo quando a viagem é pro bairro vizinho. Basta estar com coração aberto.
Sou repórter e escritora, com passagens na MTV Brasil, Ilustrada, Rolling Stone e Bizz. Como viajante profissional, tenho no currículo trabalhos para companhias como Avianca, Eurail e Intercontinental Group e sou embaixadora da marca Lonely Planet no Brasil. Meu livro de crônicas de viagem “Mas Você Vai Sozinha?” foi lançado pela Globo Livros em 2016.
O melhor aplicativo
George Queiroz
Viajar, todos dizem, é supérfluo. “Eu quero, mas não posso agora”. “Quem sabe um dia!”. “Quando eu tiver dinheiro sobrando eu vou!”. “Quando eu mudar de emprego!”. “Quando eu ganhar na Mega Sena!”. “Quando os filhos crescerem!” E viajar com filhos, então? “Ah, não tenho coragem!”. “Loucura”, “É difícil, meus filhos são impossíveis!” “Eles são muito pequenos ainda”. Calma. Senta aqui e vamos conversar: não é nada disso. Eu faço longas viagens com meus filhos desde que eles eram bebês, e não há nada mais recomendável e possível pra todo tipo de família. Acredite: levar as crianças para viajar não é um sonho e nem é tão difícil quanto se vende por aí. E tem que fazer parte da vida. Com eles, uma viagem, por mais curta que seja, nunca será só uma escapada da rotina, um descanso, uma saída. Viajar é o melhor investimento que você pode fazer com eles e para eles. O retorno é garantido – a curto, médio e longo prazo. E não adianta pensar só no ano que vem, ou no outro, ou quando der. É pra agora. Vocês não precisam ir pra cidade mais longe, cheia de museus e monumentos. Nem pro lugar mais caro, nem pro hotel mais chique. Luxo e loucuras financeiras nunca foram pré-requisitos – viajar barato sempre foi viável, basta planejar. Mas não espere o momento ideal, nem a conjunção dos astros. Faça acontecer. Tenha em mente que viajar com filhos pode ser tão importante em sua formação quanto levá-los a uma boa escola,
ao museu, ao teatro. É tão vital quanto ensiná-los a nadar, a pedalar, a atravessar a rua. Viajar junto é participar ativamente da criação de seu repertório de imagens. É criar laços afetivos permanentes, produzir memórias conjuntas que vão acompanhá-los pelo resto da vida. Uma viagem, qualquer que seja, não é simplesmente entrar em um ônibus, num carro, ou avião, desembarcar em um ponto turístico, tirar selfies e voltar. O caminho é também o destino. O aprendizado acontece desde o momento em que saímos da porta de casa. Saber se deslocar, entender as distâncias já é uma educação, e eles vão precisar disso no futuro para serem cidadãos autônomos e livres. Viajar é ensinar. Saindo da sua zona de conforto, você ensina que o mundo é muito maior do que sua casa, que seu condomínio, sua quadra, seu bairro, sua cidade. Você o liberta do mundo dos caixotes, das paredes do quarto, do carro, da sala de aula, da tela quadrada. Você ensina que o mundo é grande, é diverso, que tem que ser cuidado, preservado. Ensina que o mundo tem pessoas diferentes de você e que devemos ouvi-las e respeitá-las. Viajar é também a oportunidade de dar a seu filho aquilo que eles mais pedem, querem e precisam: a sua atenção. Fora do conforto de sua casa, o pai presente sempre será a melhor companhia do filho, e vice-versa. E isso vale mais do que qualquer bem material que você um dia pense em comprar. Vivenciar a realidade em um mundo dominado pela tecnologia torna uma viagem uma experiência ainda mais importante. É mostrar-lhes o que jamais será vivenciado em um smartphone, em um tablet ou em um vídeo do
youtube. O mundo é um aplicativo gratuito que já nasceu interativo, em 360 graus, em 3D, em 5.1, em touch screen, em alta definição e com uma bateria que dura o dia inteiro. Pobre tecnologia. Não se preocupe, vai dar tudo certo. Para onde você for, você vai saber cuidar muito bem de seu filho. Sim, você certamente estará cansado ao fim de cada dia. Mas você não vai se cansar nunca de falar de cada momento que você passou junto com eles. As lembranças gravadas na memória de cada um é um backup que será acessado pra sempre. É só iniciar.
Meu nome é George Queiroz. Sou diretor de vídeos, tenho 40 anos e sou pai da Irene, uma pimentinha de 8 anos e do Paulo, um espoleta de 6 anos.
Qual a importância de viajar para uma criança?
Arianne Brianezi
Quando lembramos de uma viagem que fizemos quando criança, a maioria das vezes nos recordamos das pessoas que estavam junto com a gente, do que foi vivenciado, dos momentos felizes. O lugar pouco importa, o que marca mesmo essas viagens são as emoções, sentimentos e experiências. Atualmente, poucas são as chances que temos de conviver durante um longo período de tempo de qualidade com nossas crianças. Isso acontece devido ao acúmulo de atividades das crianças, ou ao trabalho integral dos adultos, ou às vezes, por falta de oportunidade, costume e de intimidade para que isso aconteça. Entramos na rotina, que funciona, e ficamos reticentes quando convidados a sairmos dela. Mas diante da oportunidade de viajar com elas, não podemos desperdiçar esse tempo, é preciso estar atento e aberto a tudo que pode acontecer. A primeira atitude que devemos ter é relaxar e aceitar que não ter o controle de tudo pode ser bom. E depois se entregar a tudo o que essa viagem tem para oferecer e nos ensinar. Toda viagem pode ser uma experiência educacional, e das melhores; e educar é, sobretudo, compartilhar o que somos, muito mais do que aquilo que sabemos. Na criança, os órgãos de percepção sensoriais estão muito abertos, quando visitam lugares novos, bonitos, interessantes, com estímulos positivos, a absorção é intensa e benéfica para seu desenvolvimento emocional e intelectual.
Por outro lado, a criança não tem tantas condições psíquicas de elaborar tudo o que está vivenciando. O adulto pode ajuda-la, conduzi-la a aprofundar a experiência e estreitar os laços entre eles. A energia, entusiasmo e interesse do adulto com certeza interferirão na experiência da criança. Um aspecto muito importante é a oportunidade de estar em um lugar diferente e ter a chance de conhecer outras características e comportamentos da criança, e deixar que ela também descubra outras características e comportamentos do adulto que está com ela. Uma viagem é o melhor presente para sua criança; bens materiais logo perdem importância e são substituídos por outros. Experiência é algo que ninguém tira, duvida ou menospreza. A experiência se dá no corpo, por meio dos nossos órgãos do sentido e da nossa percepção sutil de nós mesmos, dos outros e do que está ao nosso redor. Se não fosse assim, não existiria diferença entre ler informações sobre um roteiro turístico e ir visitá-lo. Novas experiências fazem surgir novos pensamentos que conduzem a novas maneiras de pensar e agir. Se a experiência for positiva pode deixar a convicção de que novas relações com o mundo são possíveis; e a criança precisa cada vez mais acreditar e sentir por ela mesma que o mundo é um lugar belo e bom para se viver! Sou Arianne Brianezi, adoro viajar e desde que meu filho nasceu, em 2014, aproveito toda a oportunidade para viajar e fazer passeios, pois acredito no potencial para sua formação como ser humano e fortalecimento de vínculos. Sou sócia do Instituto Romã, turismóloga e mestre em Educação pela UFSCAR.
Família tipográfica: Lyon Text Ilustrações: Veridiana Scarpelli Projeto Gráfico: Celso Longo Tiragem: 5 000 2 017
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