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Sepultura

A banda mais conhecida do Brasil no exterior lança seu 15º álbum, “Quadra”, com o mesmo frescor do início e, ao mesmo tempo, a evidente maturidade de 35 anos de estrada

por_ Gilberto Porcidonio | do_Rio | fotos_ Marcos Hermes

Em uma entrevista ao canal do amigo João Gordo, o baixista Paulo Xisto, o integrante mais antigo em atividade no Sepultura, disse que a gravação de “Quadra”, o 15º álbum da banda de origem mineira que se tornou o “Pelé do heavy metal”, foi a mais difícil que ele já fez na vida. Mas completou: foi “um sofrimento bom”. Se a arte requer sacrifício, o quarteto formado por Paulo, pelo guitarrista Andreas Kisser, pelo vocalista Derrick Green e pelo baterista Eloy Casagrande é craque em não transparecer sofrimento. Prova disso é o prazer com que falam da nova cria.

Com um conceito brilhantemente amarrado e diversos elementos que vão até o limite do repertório do metal, “Quadra” coleciona elogios, inclusive, pela forma em que o quarteto manteve o seu frescor através dos anos sem ficar ancorado ao passado — transmitindo maturidade ao mesmo tempo. Mas será que, para uma banda veterana de 35 anos de estrada, fica mais fácil ou mais difícil explorar repertório e mergulhar no próprio processo criativo?

“Eu acho que não tem uma relação com ser mais fácil ou difícil, mas a gente está cada vez mais experiente, preparado, e está também no melhor momento como músicos. Todo dia a gente acorda para fazer o Sepultura. Esse é o nosso principal objetivo, e viver sempre no presente, sem ficar ansioso com o futuro nem preso no passado, diz Andreas Kisser. “Sempre respeitamos muito os elementos que temos na mão, a caraterística de cada um dos integrantes e o jeito diferente de cada um tocar, a cada vez que houve mudança de membros.”

De mudanças o Sepultura entende. A banda começou em 1984, com os irmãos Igor e Max Cavalera, Paulo Xisto e, como vocalista, Wagner Lamounier. Um ano depois, Wagner saiu, e entrou o guitarrista Jairo Guedez (Jairo T.), que só ficou por um ano, substituído por Andreas Kisser. Assim, a formação que ajudou a moldar o heavy metal mundial por praticamente uma geração — com Max, desta vez, nos vocais — e elementos brasileiros nas composições durou até 1997. Naquele ano, Max saiu de forma conturbada, e o posto da voz gutural foi ocupado pelo americano Derrick Green, que ali permanece até hoje. Em 2006 foi a vez de Igor sair, dando lugar ao baterista Jean Dolabella. Em 2011, Eloy Casagrande passou a ocupar as baquetas.

Para ele, a adaptabilidade evidente do Sepultura pode ajudar a explicar sua longevidade. “A gente vai experimentando. Não adianta a gente achar que a fórmula do Anthrax, por exemplo, vai funcionar para mim, e isso que é o legal. Banda com parente gerenciando, por exemplo, geralmente não dá muito certo, vide Police, o Ira!, o próprio (antigo) Sepultura… Mas tem outras com família que funcionam muito bem, então isso também não é uma regra”, reflete Kisser.

BANDA COM PARENTE GERENCIANDO GERALMENTE NÃO DÁ MUITO CERTO. VIDE O PRÓPRIO (ANTIGO) SEPULTURA.

Andreas Kisser

Nesta nova fase profícua desde 2013, o Sepultura lançou três álbuns conceituais que lhe abriram as possibilidades sonoras e inventivas. “Foi uma evolução natural. Por isso é que escolhemos o mesmo produtor. Eu acho que, você tendo uma direção, o resto todo se encaixa. Quando faz um disco conceitual ou não, precisa de uma mensagem. Se a banda se reúne apenas para ficar discutindo negócios e dinheiro, é porque as coisas estão mal organizadas. Foca na arte, depois a gente resolve o resto. Senão, se estragam o business e também a arte”, avalia o guitarrista.

“The Mediator Between Head and Hands Must be The Heart”, de 2013; “Machine Messiah”, de 2017, e o atual, “Quadra”. O último trabalho embala 12 faixas em cima do conceito de quadra, que pode ser interpretado tanto como o espaço das quadras de esporte, por exemplo, “onde os jogos acontecem”, quanto pelo conceito grego de quadrivium, que engloba as quatro artes liberais: aritmética, geometria, astronomia e música.

Esse equilíbrio, diz Kisser, talvez os tenha levado naturalmente pelo caminho do sucesso, do destaque em grandes festivais: “Os da Europa são muito estratégicos para as bandas de qualquer estilo, e nós estamos neste ciclo desde 1990, quando participamos do Dynamo Open Air na Holanda. Tocamos para um público que, geralmente, não iria a um show nosso e que de repente gosta, compra uma camiseta, ouve um disco. Além disso, você encontra empresários, bandas, pessoal da gravadora... Surgem ideias para se juntar, parcerias... Um festival é um ambiente muito fértil.”

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