Homenagem 32
Um grande cronista. Um analista fino dos costumes, das contradições, do racismo intrínseco da nossa sociedade, do machismo. Um pioneiro do samba sincopado. Um influenciador de grandes criadores e intérpretes do nosso país, de João Gilberto a Nelson Sargento. Geraldo Pereira foi tudo isso e, no entanto, talvez você nunca tenha ouvido falar nele. Nascido há um século — em 23 de abril de 1918, em Juiz de Fora (MG) — e morto apenas 37 anos depois, no Rio, onde se estabeleceu e fez uma carreira prolífica, com 77 (ou 78) canções registradas, ele é autor de canções famosíssimas e muitas vezes regravadas. Mas, por um desses mistérios da vida, muitas delas não são associadas a ele. “Escurinho” (que fala sutilmente de racismo), “Acabou a Sopa”, “Ela Não Teve Paciência”, “Falsa Baiana” e tantos outros clássicos saíram da pena e da mente do mestre, “um craque do samba sincopado, da Lapa de Francisco Alves, Mario Reis, Orlando Silva, aquela rapaziada que, entre as décadas de 1940 e 1960, frequentava aquele bairro boêmio do Rio”, como define Rildo Hora, gaitista, maestro, violonista, arranjador, compositor e produtor e grande conhecedor da obra de Pereira. João Gilberto usou sambas de Pereira — “Bolinha de Papel” entre eles — para criar a batida típica da bossa nova que revolucionou a MPB. Daí dizer-se que Pereira foi um sambista “bossa-novista”.
Geraldo Pereira No centenário de nascimento de um dos maiores sambistas de todos os tempos, morto precocemente aos 37 anos, a importância da sua obra é celebrada do_ Rio
ilustração_ Lan