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Editorial
Chegou a hora de renovar o transporte no Brasil Até pouco tempo, o discurso em torno do biodiesel esteve concentrado em seus impactos sociais e econômicos, já que o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel – PNPB adquire a produção de mais de 250 mil agricultores familiares, triplicou a renda média desses mesmos agricultores em cinco anos e integra parte dessa produção agrícola à criação de gado, suínos e aves, reduzindo o custo de produção de alimentos e transformando, em 2015, 800 mil toneladas de resíduos agropecuários em energia. O setor agora vive uma mudança de paradigma. Pesquisa do Instituto Datafolha, encomendada pelo Observatório do Clima e pelo Greenpeace Brasil, mostra que cerca de 85% da população brasileira não só está preocupada com as mudanças climáticas, como também tem conhecimento de que os investimentos em energias renováveis e transporte coletivo para melhoria da mobilidade urbana podem ajudar a resolver os problemas relacionados às emissões de poluentes e gases do efeito estufa. E é neste ponto que a Ubrabio ampara seu discurso e chama a sociedade brasileira para um debate extremamente atual, que une em uma só interface a questão do transporte urbano, os problemas ambientais e os problemas associados à saúde pública decorrentes das emissões veiculares. Desde sua fundação, em 2007, a Ubrabio vem defendendo o uso da mistura de 20% de biodiesel no diesel (B20) que abastece a frota urbana de ônibus das maiores cidades brasileiras. Por ser um combustível limpo e renovável e isento de
enxofre o biodiesel pode reduzir a lista de mais de oito milhões de pessoas que morrem por ano no mundo devido à poluição do ar. Com o objetivo de sensibilizar os gestores das maiores cidades brasileiras quanto aos benefícios do uso de B20 na frota de ônibus, o chamado B20 Metropolitano, a Ubrabio e a Embrapa Agroenergia realizaram, em maio de 2015, o Seminário B20 Metropolitano – Mobilidade Sustentável para as Cidades Brasileiras. Diminuição de doenças e mortes por problemas respiratórios, cardiovasculares e câncer, mitigação dos problemas de demência por enfartos e perda do volume cerebral, melhora na visibilidade no trânsito e contenção de extremos climáticos como ondas de calor e crises hídricas são alguns dos desafios das cidades contemporâneas que, no Brasil, podem encontrar apoio no PNPB, bastando para isso decisão política que permita a evolução do programa, e é por isso que chamamos os gestores e a sociedade brasileira para este importante diálogo. Nas próximas páginas, apresentamos o importante papel que as cidades podem desempenhar ao ampliar o uso deste biocombustível e de que forma a qualidade de vida da população está associada ao combustível que ela usa.
Juan Diego Ferrés
Presidente do Conselho Superior da Ubrabio
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SCN Quadra 01 Bloco C nº 85 - Sala 304, Edifício Trade Center Brasília/DF - CEP. 70711-902 Telefone (61) 2104-4411 E-mail: faleconosco@ubrabio.com.br /ubrabio @ubrabio ubrabio.com.br
A União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) é uma associação sem fins econômicos que representa nacionalmente toda a cadeia produtiva desses biocombustíveis. Desde sua criação, em 2007, a entidade lidera o segmento e atua como interlocutora entre sociedade e governo para mobilizar e unir esforços, recursos e conhecimentos na busca pelo desenvolvimento do setor. Focada em colaborar com a trajetória virtuosa do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) e atuar em prol da estruturação do Segmento de Combustíveis Renováveis de Aviação no Brasil, a Ubrabio coopera com a execução de políticas socioeconômicas e atua diretamente para a substituição gradual dos combustíveis fósseis na matriz energética brasileira; incentivando a agricultura familiar e agregando valor às matérias-primas produzidas no país. Nossos principais objetivos são o estímulo à produção, comercialização, realização de pesquisas, e elaboração de projetos e propostas em prol da regulamentação e aperfeiçoamento de toda a cadeia produtiva, na busca pela previsibilidade para o setor e a aprovação de um novo Marco Regulatório para o PNPB. A representação da Ubrabio compreende produtores de biodiesel e bioquerosene e das matérias-primas necessárias à produção, além de fornecedores de equipamentos, agroindústrias de extração de óleo vegetal e farelos, indústrias de insumos químicos, tecnologias e serviços relacionados ao setor.
Esta é a edição n° 6, setembro de 2015, da Biodiesel em Foco, publicação de responsabilidade da Coordenação de Comunicação da Ubrabio
Vice-Presidente Técnico Marcos Boff Diretor de Biocombustíveis de Aviação Pedro Scorza
Presidente do Conselho Superior Juan Diego Ferrés
Vice-Presidente de Relações Associativas e Institucionais Paulo Mendes
Vice-Presidente de Assuntos Jurídicos Julio Valente Junior Vice-Presidente Administrativo Pedro Granja Vice-Presidente Financeiro Patrícia Fuga Bebber
Vice-Presidente de Assuntos Tributários Irineu Boff Diretor Superintendente Donizete Tokarski Diretor Executivo Sergio Beltrão
Comunicação Social Jornalista Responsável Nayara Machado (MTb 10.537/DF) Design Gráfico Michael Danglen Monteiro Redação Nayara Machado, Daniela Garcia Collares e Vivian Chies Apoio Técnico e Revisão Donizete Tokarski, Sergio Beltrão, Donato Aranda Impressão e acabamento: Maurício F. Fernandes Tiragem: 1.000 exemplares
© Todos os direitos reservados. Permitida a reprodução das matérias desde que citada a fonte.
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Combustível do transporte sustentável O que é biodiesel e como ele pode tornar a mobilidade urbana mais sustentável
B20
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Flashes Gestores, parlamentares e pesquisadores comentam a proposta do B20 Metropolitano
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27 Frente Parlamentar do Biodiesel é relançada e adota Marco Regulatório como bandeira
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ARTIGO
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Cientistas por um dia: estudantes do DF descobrem como o óleo de cozinha vira biodiesel
Árvores/Ano Árvores/Ano Biodiesel: um remédio para a saúde e o meio ambiente
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Descarbonizar o transporte é questão de saúde A relação do setor de transportes com a saúde pública foi apresentada por especialistas durante Seminário realizado pela Ubrabio e Embrapa Agroenergia
ARTIGO
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NOx: enquanto nos preocupamos com a formiguinha, deixamos passar uma manada de elefantes
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Cidades na UTI O custo da poluição causada pela queima de combustíveis fósseis nas cidades brasileiras
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Biodiesel e Bioquerosene na agenda do clima O Brasil tem nas mãos projetos que podem oferecer contribuições efetivas na luta pela redução das emissões de CO2
Como explorar o “pré-sal verde” do Brasil Com aumento de mercado e investimentos em pesquisa e inovação, biocombustível aponta caminhos para a economia do futuro
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Estudo fornece subsídios à diversificação de matérias-primas para produção de biodiesel
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Evento debate biodiesel, saúde e mudanças climáticas com assessores parlamentares na Embrapa
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B20 Metropolitano
Empresas já oferecem garantias para o uso do biodiesel
Combustível do transporte sustentável O biodiesel é um combustível biodegradável produzido a partir de oleaginosas como a soja, o algodão, a palma, o girassol e a canola, além de óleo de fritura usado e de gorduras animais como sebo bovino, óleo de peixe, gorduras de frango e porco. Essas gorduras de origem animal e o óleo de fritura, antes do programa de biodiesel, eram descartados no meio ambiente, contaminando o solo e os cursos d’água. Hoje, são transformados no biocombustível que abastece ônibus, caminhões, máquinas agrícolas e locomotivas, além de equipamentos industriais e geradores de energia elétrica. A mistura de 20% deste biocombustível no diesel fóssil a ser utilizado pelas frotas de ônibus dos grandes centros do país – B20 Metropolitano – representa benefícios para toda a população, um projeto que vem sendo incentivado pela Ubrabio desde a sua fundação, em 2007. Uma das vantagens desse biocombustível é ser limpo e renovável, além de ser isento de enxofre (S). O seu uso tem ação efetiva na redução de emissões de poluentes nocivos à saúde humana e causadores
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do efeito estufa, com impactos diretos e indiretos na qualidade de vida das pessoas nas cidades brasileiras.
É BOM PARA O MEIO AMBIENTE
O uso do B7 (7% de biodiesel no diesel fóssil), vigente no Brasil desde novembro de 2014, representa anualmente 7,3 milhões de toneladas de emissões de CO2 equivalente evitadas. De forma aproximada, cada percentual a mais de biodiesel mandatório no país é equivalente ao plantio de cerca de 7,2 milhões de árvores. O B20 representa 15% menos Gases de Efeito Estufa, em relação ao diesel fóssil, e reduz em cerca de 23% as emissões de Aromáticos Policondensados (componentes do material particulado). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 8 milhões de pessoas morrem todos os anos por inalarem o material particulado presente no ar poluído.
E É BOM PARA O PAÍS
O biodiesel é um produto nacional feito a partir de matérias-primas diversificadas, apro-
veitando o potencial produtivo do Brasil. Além disso, o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel – PNPB tem como um dos pilares o fortalecimento da agricultura familiar. Este biocombustível também diminui a dependência brasileira de diesel fóssil importado (o Brasil importa cerca de 11 bilhões de litros/ano) e, em 2015, com os aumentos sucessivos no preço dos combustíveis, o biodiesel passou a ser mais vantajoso também em relação ao preço do combustível fóssil comercializado em grande parte do país. Além disso, as principais montadoras e fabricantes de sistemas a diesel dão garantia para o uso de B20, no Brasil e nos EUA. O biodiesel é também um dos temas que a Embrapa Agroenergia, parceira da Ubrabio desde 2011, elegeu como relevantes para sua pesquisa. Esta unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária tem buscado a aproximação com diversos segmentos do setor, promovendo discussões, publicando em revistas técnicas e participando de eventos sobre o assunto.
Diesel Fóssil 0
Árvores/Ano Árvores/Ano
B7 44
Árvores/Ano Árvores/Ano
B20
Artigo
132 Árvores/Ano Árvores/Ano
Redução de emissões de CO2 equivalente ao plantio de árvores, em comparação com o diesel fóssil
Biodiesel: um remédio para a saúde e o meio ambiente Que tal oferecer garantia de compra para a produção de mais de 250 mil agricultores familiares? Melhor ainda, que tal triplicar a renda média desses mesmos agricultores em cinco anos? E se integrarmos parte dessa produção agrícola à criação de gado, suínos e aves, reduzindo assim, o custo de produção dessas carnes? E que tal transformarmos um milhão de toneladas de resíduos desses animais em energia de fácil transporte e alto poder calorífico? E se, ao mesmo tempo, pudéssemos contribuir sensivelmente com a diminuição de doenças e mortes por problemas respiratórios e cardiovasculares? Se pudéssemos diminuir um dos vetores reconhecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como causadores de câncer? Se contribuíssemos para redução de extremos climáticos como ondas de calor e crises hídricas? E que tal se participássemos de um programa capaz de reduzir
a gigantesca lista de pessoas que morrem por ano devido à poluição do ar? Em julho, a presidente Dilma Rousseff anunciou em conjunto com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a meta de estabelecer a participação de energia renovável na matriz energética entre 28% a 33%, excluindo a hidráulica. O Brasil tem nas mãos a oportunidade de fazer a diferença e apresentar um programa que já vem dando certo e pode oferecer contribuições ainda mais significativas ao desenvolvimento sustentável do País: o PNPB. A análise da pegada de carbono da produção do biodiesel de óleo de soja no Brasil atesta uma redução de 70% dos gases de efeito estufa quando comparado ao diesel. Já a mistura de 7% de biodiesel ao diesel fóssil (B7), vigente no país desde 1º de novembro de 2014, reduz as emissões de CO2 em 5%, evitando a liberação de aproximadamente 9 milhões de
Por Donizete Tokarski, diretor superintendente da Ubrabio e Donato Aranda, consultor técnico da Ubrabio
toneladas de CO2 ao ano na atmosfera, o que equivale ao plantio de cerca de 50 milhões de árvores. Quando comparamos a redução das emissões de CO2 provenientes da queima de diesel fóssil, o aumento do teor de biodiesel de 7% para 20% equivaleria ao plantio anual de 150 milhões de novas árvores. Cada caminhão rodando com B20 representa em redução de emissões o plantio de 105 árvores, quando comparado a um caminhão usando diesel fóssil puro. Nos grandes centros urbanos, onde o trânsito é mais caótico, o consumo de diesel pelos ônibus é superior ao dos veículos que trafegam nas estradas, por exemplo. Com isso, a redução de emissões com o uso do biodiesel torna-se ainda mais significativa, equivalendo ao plantio de 132 árvores por ano, para cada ônibus usando B20, evidenciando a relação do biodiesel com a mitigação de extremos climáticos, ondas de calor e crise hídrica.
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Preço médio de biodiesel (R$/m³)
Preço Diesel B (R$/m³)
abr/15
L40
mar/15
fev/15
L39
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dez/14
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nov/14
out/14
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set/14
ago/14
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jul/14
jun/14
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mai/14
L34
mar/14
fev/14
L33
jan/14
dez/13
L32
nov/13
out/13
L31
set/13
L30
ago/13
jul/13
jun/13
L29
mai/13
abr/13
L28
mar/13
jan/13
R$ 2.800,00 R$ 2.600,00 R$ 2.400,00 R$ 2.200,00 R$ 2.000,00 R$ 1.800,00 R$ 1.600,00 R$ 1.400,00 R$ 1.200,00 R$ 1.000,00
fev/13
COMPARÇÃO DE PREÇOS ENTRE O BIODIESEL E O DIESEL FÓSSIL
L41
Fonte: ANP/SAB, maio 2015
MORTE PELO NARIZ
No âmbito da saúde pública, o uso de B20, principalmente nas grandes metrópoles, significa uma redução imediata de milhares de internações e óbitos, sobretudo de crianças e idosos. Desde 2012, a OMS reclassificou o diesel e suas emissões de “potencial causador de câncer” para “causador de câncer”. Não é à toa que milhões de pessoas contraem câncer de pulmão (o câncer com maior incidência na humanidade) mesmo sem nunca terem fumado. O grande vilão está na fumaça negra que sai dos escapamentos, formada por materiais particulados, que causam alterações no DNA e inflamações sucessivas, ambas carcinogênicas. Os particulados são poluentes nocivos não apenas aos pulmões, mas ao corpo todo. No cérebro, pesquisadores da Escola de Saúde Pública de Harvard comprovaram a correlação entre os particulados com a diminuição do volume cerebral e enfartos cerebrais, ambos causadores de demência precoce. Estudos publicados em periódicos científicos de alto impacto mostram que o B20 reduz em mais de 20% as emissões desse poluente, um efeito não-linear extremamente benéfico à saúde pública.
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COMBUSTÍVEL IDEAL
Quando se fala em energia renovável, um dos grandes questionamentos é o custo. E neste ponto o biodiesel mostra-se mais uma vez o combustível ideal. Em 2015, o biodiesel tem sido significativamente mais barato que o combustível fóssil consumido no Brasil. Aliás, o biodiesel é hoje o combustível mais econômico do país. Em dez anos, avanços tecnológicos e economia de escala reduziram em cerca de 40% o custo deste combustível renovável. O que falta então para avançarmos? Falta decisão política e participação da sociedade neste debate. Tamanha é a importância do biodiesel para o desenvolvimento do País em bases sustentáveis, que foi criada uma Comissão Executiva Interministerial do Biodiesel, coordenada pela Casa Civil da Presidência da República, composta pela Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República; e Ministérios da Fazenda; Transportes; Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Trabalho e Emprego; Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; Minas e Energia; Planejamento, Orçamento e Ges-
tão; Ciência e Tecnologia; Meio Ambiente; Desenvolvimento Agrário; Integração Nacional; e Cidades. O setor também vem ganhando destaque no Congresso Nacional. A Frente Parlamentar Mista do Biodiesel (FrenteBio), relançada no final de maio de 2015, adotou como bandeira as propostas da Ubrabio para aumento gradativo da mistura obrigatória no território nacional e o uso de B20 Metropolitano nas grandes cidades, destacando a necessidade de substituição dos combustíveis fósseis por energia renovável. Poucas vezes estivemos diante de um produto com tantas externalidades positivas. O biodiesel é muito mais do que um mero combustível alternativo, é um combustível social, anti-inflacionário, provedor de empregos de qualidade e, principalmente, uma alternativa para a saúde pública e o meio ambiente. Diante desse quadro, torna-se urgente a adoção de medidas que implementem imediatamente este remédio, o B20, nos municípios com mais de 500 mil habitantes, contribuindo para a qualidade de vida da população.
Seminário B20 Metropolitano
Seminário apresentou os benefícios do uso de 20% de biodiesel no transporte urbano
Descarbonizar o transporte é questão de saúde A poluição do ar mata mais do que acidente de trânsito. Os dados foram apresentados durante o Seminário B20 Metropolitano, evento que debateu com gestores públicos a mobilidade urbana relacionada à saúde da população Por Vivian Chies, da Embrapa Agroenergia
Até 2020, a poluição do ar vai causar a morte de 35 pessoas por dia na cidade de São Paulo. No mundo todo, as estimativas apontam oito milhões de mortes ao ano pelo mesmo motivo. Metade delas é provocada pelos gases e materiais particulados liberados por veículos, especialmente os ônibus que circulam nas cidades. Uma proposta que ajudaria a reduzir esses números é passar a adicionar 20% de biodiesel ao diesel fóssil, estabelecendo o chamado B20 Metropolitano. Atualmente, todo o diesel comercializado no Brasil contém 7% de biodiesel, mistura conhecida como B7. Mas existem diversas experiências no Brasil e no mundo mostrando que os motores dos ônibus funcionam com B20, sem nenhum comprometimento de desempenho ou vida útil. A União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) e a Embrapa Agro-
energia têm trazido esse tema para o debate, como forma de estimular especialmente as prefeituras das grandes cidades e empresas de ônibus a adotar o B20 Metropolitano. A meteorologista e doutora em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP) Samya de Lara Pinheiro, da Rede Clima (Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais), explica que a poluição do ar prejudica a saúde da população de duas formas: por danos primários e por danos secundários. O primeiro ocorre pela absorção do material particulado no sistema respiratório. A partir dos pulmões, os poluentes atingem todo o organismo, podendo provocar problemas cardiovasculares, reprodutivos e até baixo peso ao nascer em bebês. Além disso, partículas e gases liberados pela queima de combustíveis fósseis reagem quimicamente
na atmosfera, formando novos poluentes, como o Ozônio. A preocupação dos efeitos da poluição sobre a saúde das pessoas não recai mais apenas sobre as crianças e idosos. Na cidade de São Paulo, pesquisas já mostram o efeito a médio e longo prazo da poluição associada à incidência de câncer. Os estudos sobre consequências da poluição para o sistema cardiovascular já começam em pessoas com 30 anos de idade. Os efeitos secundários para a saúde estão relacionados ao grande papel das emissões veiculares para as mudanças climáticas. Longos períodos de estiagem, chuvas intensas, ondas de calor e o aumento sucessivo das temperaturas médias têm impacto sobre a segurança alimentar e promovem a proliferação de vetores de doenças, com os mosquitos transmissores da dengue e da febre chikungunya.
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Da esquerda para a direita, Kátia Peixoto, diretora de Distribuição e Vendas do BRB, deputado federal Bohn Gass (PT/RS), Juan Diego Ferrés, presidente do Conselho Superior da Ubrabio, Manoel Souza, chefe-geral da Embrapa Agroenergia, deputado federal Jerônimo Goergen (PP/RS), Aurélio Amaral, superintendente de Abastecimento da ANP, e Carlos Tomé, secretário de Mobilidade do DF
REDUÇÃO DE EMISSÕES
E o que o B20 tem a ver com isso? Nas regiões metropolitanas, 37% do material particulado vem dos ônibus. O professor Donato Aranda, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz que a adição de 20% de biodiesel reduz em 27% a 45% as emissões desses poluentes, dependendo do tipo de motor. Os particulados mais cancerígenos são os de até 2.5 microns de diâmetro, que são impregnados de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, conhecidos pela sigla HPA. Aranda, que é também consultor da Ubrabio, explica que esses materiais são formados pela queima incompleta do combustível, o que ocorre menos frequentemente no biodiesel, por causa da composição do produto. O óleo diesel é formado por hidrocarbonetos, que possuem apenas carbono e hidrogênio; o biodiesel, em contrapartida, é composto por ésteres e, portanto, tem também oxigênio. Esse oxigênio acaba suprindo a falta do elemento no ar e, por isso, a queima do biodiesel pode ser considerada mais completa. Assim, evita-se a formação de HPA.
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Outra vantagem significativa é que o biodiesel é totalmente isento de enxofre que, quando presente no combustível, forma SOx, substância que causa problemas respiratórios e provoca chuva ácida. Embora já exista no mercado brasileiro e algumas cidades utilizem o diesel S10 (com apenas 10 partes por milhão de enxofre), a maior parte do diesel comercializado ainda é S500 (500 partes por milhão). Até mesmo a emissão de NOx [Saiba mais na página 10], que participa da formação do Ozônio, deixou de ser um problema relacionado ao biocombustível. Aranda ressalva que, em misturas de até 20%, não há alteração nas emissões desse poluente pelo diesel. “Mesmo para misturas de biodiesel superiores a B20, os veículos novos a diesel estão sendo dotados de dispositivos de redução de NOx. Com esses dispositivos, mesmo o B100 não representa mais problema algum com respeito ao NOx”, conta.
EXPERIÊNCIA PAULISTANA
Há que se considerar, ainda, que um ônibus rodando com B20 gera 18 toneladas a menos
de CO2 por ano, o que equivale ao plantio de 132 novas árvores. Em São Paulo, o Grupo VIP de Transportes, que opera 40% dos ônibus da cidade, começou a utilizar biodiesel em seus veículos antes mesmo do início do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), elaborado pelo Governo Federal. Paulo Mendes, representante da empresa, conta que a necessidade de adotar medidas para melhoria surgiu em 2003, quando o grupo ficou em último lugar numa avaliação do desempenho ambiental feita pela prefeitura de São Paulo. Foi, então, que se estabeleceu uma parceria com Instituto Nacional de Tecnologia (INT) para desenvolver soluções para o problema. Depois de três anos de estudo, a empresa passou a utilizar até 40% de biocombustíveis nos tanques do ônibus, entre etanol e biodiesel. Mais dois anos de experiência e a conclusão foi de que a melhor opção para ganhos ambientais seria adotar o B20. Assim foi feito e continuou até 2013, com dois mil ônibus usando B20. A empresa agora reestrutura o programa e Mendes garante que, ainda neste
ano, os ônibus da VIP voltarão a rodar com B20 em São Paulo, só que agora serão seis mil ônibus. Para o empresário, o maior ganho foi “a mudança de pensamento dos funcionários da empresa”, que se estendeu para as famílias. A partir do apelo de sustentabilidade do combustível dos veículos, eles próprios se empenharam na adoção de um programa de reciclagem e o ambiente de trabalho também
passou a ser mais limpo e organizado. Mendes diz que, em São Paulo, a questão financeira ainda é um gargalo para o uso do B20. No entanto, em outros locais do Brasil, especialmente nas regiões produtoras, o preço do biodiesel vem ganhando competitividade e, em alguns casos, chega a ficar mais barato do que o diesel. Para o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel
Souza, o biodiesel metropolitano é uma oportunidade imensa para as grandes cidades do Brasil melhorarem a qualidade do ar e promoverem a saúde da população. A opinião é compartilhada pelo presidente do Conselho Superior da Ubrabio, Juan Diego Férres. Para ele, é chegado o momento de entender que, ao favorecer o meio ambiente, o biodiesel impacta positivamente a saúde humana.
HOMENAGENS
Da esquerda para a direita, Florival Carvalho e Odacir Klein recebem homenagem da Ubrabio
O Seminário também celebrou o aniversário da Ubrabio e da Embrapa Agroenergia, que completaram oito e nove anos respectivamente de atuação no setor. Na ocasião, a Ubrabio homenageou duas importantes personalidades que contribuíram para a evolução do PNPB, Odacir Klein e Florival Carvalho. O primeiro homenageado, Odacir Klein, presidiu a Ubrabio desde a sua fundação, em 2007.
Klein foi indicado pelo governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori, para compor a diretoria do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e deixou a presidência da entidade, após oito anos de intensa atuação a favor do desenvolvimento do setor de biodiesel no Brasil, para assumir o prestigioso cargo. Já a segunda congratulação foi direcionada à Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), na figura do então diretor Florival Carvalho, que já exerceu interinamente a direção geral da entidade. A homenagem é estendida a todos os funcionários da Agência pelo importante papel na consolidação do PNPB. No passado, a Ubrabio também homenageou o ex-diretor geral Haroldo Lima e a atual diretora geral Magda Chambriard.
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Artigo
NOx:
enquanto nos preocupamos com a formiguinha, deixamos passar uma manada de elefantes Por Donato Aranda, professor PhD do Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro e consultor técnico da Ubrabio
O uso de combustíveis fósseis causa o lançamento de uma série de poluentes na atmosfera como o CO (monóxido de carbono), HC (hidrocarbonetos), NOx (Óxidos de Nitrogênio), MP (material particulado), SOx (Óxidos de Enxofre) e CO2 (dióxido de carbono). O NOx diz respeito a um conjunto de poluentes (NO, NO2, N2O) que são emitidos na queima de qualquer combustível. Apesar de a combustão ser o principal mecanismo de geração de NOx, raios elétricos e mesmo alguns microorganismos também contribuem para o lançamento de NOx na atmosfera. Nos níveis atuais de emissões, seu principal efeito negativo está associado a uma possível geração de ozônio troposférico que, ao contrário do ozônio estratosférico, é bastante nocivo à saúde humana. Todavia, a geração de ozônio depende não apenas do NOx, mas também de compostos orgânicos voláteis. Em alguns casos, o aumento das emissões de NOx pode ter um efeito opos-
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to ao convencional, ou seja, um decréscimo do ozônio troposférico. Por outro lado, os gases NOx também são gases de efeito estufa e contribuem com cerca de 20% da chuva ácida no planeta. Especificamente nos motores do ciclo diesel, a variação na geração de NOx pode ser causada por inúmeras razões: mudanças na temperatura máxima de combustão, ou no tempo de residência dentro dos cilindros; atraso na ignição que tem como efeito a geração de fragmentos moleculares que influenciam na geração de NOx; o tipo de motor; a injeção de combustível; o tipo de diesel, e sobretudo, o teor de aromáticos; as misturas diesel/ biodiesel; os sistemas de tratamento pós-combustão, apenas para citar alguns. Observa-se vários parâmetros que afetam as emissões de NOx e a presença de biodiesel é apenas um deles. A literatura científica é muito farta em trabalhos que avaliam o efeito do biodiesel nas emissões de NOx. Em muitas ocasiões, foram observadas re-
duções nas emissões de NOx com a adição de biodiesel ao diesel. Para teores até 30% de biodiesel, existem trabalhos que tanto mostram redução, aumento ou, na maior parte das vezes, variações ou oscilações insignificantes desse tipo de poluente. Apenas para teores de biodiesel entre 50% e 100% (B50 e B100, respectivamente) é que existe alguma tendência mais clara de aumento nas emissões de NOx, que pode chegar, no máximo, a um crescimento de 10% em alguns casos reportados durante o uso de B100. Ocorre que, desde 2012 no Brasil, e mesmo antes, na Europa e EUA, a maior parte dos veículos e sistemas diesel são equipados com catalisadores que removem até 98% das emissões de NOx. O sistema usado aqui é o ARLA 32 (uma solução aquosa de uréia, na concentração de 32%). Esse composto é continuamente bombeado para o sistema de pós-combustão onde se decompõe em amônia e reage com alta eficiência
com os gases NOx, transformando-os nos inofensivos O2 e N2 e H2O. Esse mesmo sistema é também conhecido na Europa como AUS 32 ou AdBlue; nos EUA como DEF, ou de forma geral, SCR (Selective Catalytic Reduction). Ou seja, até mesmo no caso do NOx, cuja alteração na emissão com o uso de B20 é insignificante, a atual tecnologia soluciona a questão, não existindo, portanto, justificativa para não utilizarmos imediatamente esta mistura cujos benefícios de saúde pública vem sendo amplamente divulgados. O que precisamos é de ação. Infelizmente, no Brasil constata-se problemas de fraudes nos chips que monitoram o uso desse sistema, o que é lamentável. Recentemente, o Sindicom (Sindicato Nacionaldas Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes) noticiou uma operação da Polícia Rodoviária Federal batizada de Operação Atmosfera, destacando a importância do compromisso dos órgãos fiscalizadores frente às irregularidades com o uso do ARLA 32, que afrontam a legislação e prejudicam as empresas sérias que atuam nesse mercado, além dos danos ao meio ambiente. Um sistema que apresenta grande sucesso no abatimento praticamente completo das emissões de NOx no mundo inteiro não pode ser boicotado de forma inescrupulosa prejudicando de tal maneira o meio ambiente. Se existe uso inadequado, os órgãos ambientais precisam agir e ser mais eficazes nas fiscalizações. As punições inerentes aos crimes ambientais devem ser aplicadas com firmeza e de forma exemplar. Um programa como o de biodiesel, que traz tantas vantagens sociais, ambientais, econômicas e, para a saúde pú-
EFEITO DAS EMISSÕES AO INCREMENTO DA MISTURA BX 10 0 -10 -20 -30 -40 -50 -60 -70 -80 -90 -100
B5
CO
CO²
HC
B20 MP
SOx
NOx*
B100
Fonte: United States - Environmental Protection Agency
blica, não pode ficar refém de fraudes como essas que burlam o uso do ARLA 32. Também não faz sentido limitar o uso de altos teores de biodiesel por causa de um eventual pequeno aumento nas emissões de NOx, enquanto já existe implementado um sistema eficiente que reduz a praticamente zero essas emissões, para qualquer combustível, mas que sofre com a sabotagem de seus próprios usuários. Do mesmo modo, não faz sentido discutir
um aumento de NOx em misturas como o B100, quando o que se quer é o B20, que, como explicado tecnicamente, não apresenta alteração significativa nas emissões do composto, mas contribui significativamente para a redução de venenos presentes no ar que a população respira, como o material particulado e o enxofre, além do CO2. Às vezes parece que preferimos nos preocupar com uma formiguinha enquanto deixamos passar uma manada de elefantes.
Operação da Polícia Rodoviária Federal fiscaliza o uso do Arla 32
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Flashes
Izabella Teixeira, Ministra do Meio Ambiente “A agenda do clima é uma agenda de desenvolvimento e o setor de biodiesel desempenha um papel de interlocução central nesse sentido. Este é o debate que o Brasil deseja. Nós, brasileiros, queremos fazer a diferença na negociação do clima também com a competitividade que nós adquirimos com o aprendizado no setor de biocombustíveis”. Aldo Rebelo, Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, sobre o uso de B30 nas máquinas e implementos agrícolas (BAgro) “Casa de ferreiro não pode usar espeto de pau. Máquinas agrícolas deviam dar exemplo e ser referência no aproveitamento do combustível que as sustenta”. Patrus Ananias, Ministro do Desenvolvimento Agrário “Primeiro há uma preocupação nossa como cidadão, que é a questão do meio ambiente, da qualidade de vida e da preservação do Brasil e do planeta para gerações futuras, em que é fundamental a substituição dos combustíveis fósseis. Outra preocupação é como a gente pode estimular a agricultura familiar e utilizar o biodiesel como uma forma de torná-los produtivos e autossustentáveis”. Carlos Tomé, Secretário de Mobilidade do DF “Este não era um assunto que estivesse nas nossas prioridades, mas, diante da provocação da Ubrabio, no bom sentido, nós passamos a avaliar o assunto para ver quais são os benefícios e custos associados para, eventualmente, se for vantajoso para a sociedade, implantar o B20 na nossa frota”.
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Rodrigo Rodrigues, Coordenador da Comissão Executiva Interministerial do Biodiesel (Ceib), ligada à Casa Civil da Presidência da República e gestora do PNPB “Se houver uma adesão dos governos estaduais e municipais, juntamente com a iniciativa privada para viabilizar um uso maior do biodiesel isso vai gerar um grande benefício para as populações locais e fortalecer o programa em nível nacional”. Manoel Teixeira Souza Junior, Chefe-Geral da Embrapa Agroenergia “Metas por si só não geram resultados. Pessoas e instituições comprometidas com metas geram resultados. É por isso que estamos chamando as prefeituras das 40 maiores cidades brasileiras para participar deste debate. No Seminário, mostramos como e por que grandes centros urbanos deveriam se engajar na ampliação do uso do biodiesel no transporte público, reforçando a participação de combustíveis de origem renovável na matriz energética nacional”. Deputado Estadual Jairo Santana (PRB-SE) “O conteúdo do Seminário foi bastante proveitoso, estamos levando para Sergipe informações que a priori não tínhamos. Nós temos uma região propícia para o plantio de matérias-primas da composição do biodiesel e nessa discussão eu pude perceber que há a possibilidade de implantarmos uma usina de biodiesel no Estado de Sergipe, levando desenvolvimento, garantindo a renda e a empregabilidade da nossa região. Foi importante ter participado deste debate e saio satisfeito pelo conteúdo dos painéis, qualidade dos palestrantes e enriquecimento do assunto”.
Deputado Federal Evandro Gussi (PV-SP), Presidente da Frente Parlamentar Mista do Biodiesel “Especialmente hoje nós observamos uma exposição muito interessante que demonstra com clareza o mal que o diesel fóssil traz à saúde humana, não só ao sistema respiratório, mas a todo o nosso organismo. São inúmeras doenças, inúmeras mortes hoje comprovadas por conta do diesel fóssil. É fundamental que sensibilizemos o Governo Federal com uma pauta importante, uma pauta positiva, o incremento da mistura de biodiesel no nosso diesel, contribuindo, para a nossa balança comercial de diesel, para a agricultura brasileira, para a agricultura familiar, e, de modo especial, para o meio ambiente e a saúde humana”. Deputado Federal Bohn Gass (PT-RS), 4º Vice-Presidente da FrenteBio “O uso do biodiesel traz várias vantagens para o desenvolvimento regional, como as indústrias de transformação que agregam renda e geram empregos. O produto básico do biodiesel hoje é o grão de soja. Tradicionalmente, ele ia para o porto, em seguida para o contêiner e depois para a Europa ou outros países, ou seja, era exportado sem trazer qualquer agregação de valor. Com o uso do grão, para a produção do biodiesel, ele passa a ter uma agregação de valor na indústria e gera emprego, o que é um fator de desenvolvimento, além de melhor remuneração para o produtor, gerando a ele mais estímulo. Outro benefício é sobre o tema ambiental, já que o biodiesel é um produto menos poluente. Portanto a nossa pauta tem que dialogar para que possamos ampliar e criar espaços de convencimento em todos os órgãos”.
Dr. Eduardo Cavalcanti, Pesquisador do Instituto Nacional de Tecnologia “O INT é pioneiro nesse trabalho de óleos vegetais e biodiesel, e a gente vê com muito bons olhos que o B20 Metropolitano venha a ser utilizado nesses grandes centros, notadamente em regiões em que as condições microclimáticas levam a uma grande incidência de doenças respiratórias causadas pela poluição. A nossa participação na questão do B20 pode ser também no sentido de validar o que já está validado lá fora, mas talvez precise de um convencimento maior interno frente à indústria automobilística”. Senador Donizeti Nogueira (PT-TO), Secretário-Geral da FrenteBio “Temos que melhorar a qualidade do ar que respiramos. Esse setor tem muito a contribuir, tanto na questão ambiental e de saúde, quanto para a economia do país” Deputado Federal Jerônimo Goergen (PP-RS), 3º VicePresidente da FrenteBio “Nós tivemos a conquista do B7, mas não podemos estagnar nem perder a perspectiva de futuro que qualquer setor precisa ter. Independente de ser B10, 20 ou 30, esse cronograma é a principal tarefa da nossa frente parlamentar neste momento para que tenhamos a solidez dos investimentos, a segurança jurídica dos produtores e das empresas e que avancemos com os ganhos ambientais e socioeconômicos, que já são claros. O biodiesel é uma realidade no Brasil e o governo precisa acertar sua política, o seu plano de produção que é fundamental”.
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Dra. Samya de Lara Pinheiro, Meteorologista, Doutora em Medicina pela USP e pela Escola de Saúde Pública de Harvard/EUA “Para a área da Saúde, essa é uma interface importante e inédita, porque consegue falar com a esfera do transporte público, do transporte urbano sobre os problemas ambientais, os problemas associados à saúde pública das emissões veiculares. O debate é extremamente pertinente não só no quesito mudanças climáticas, mas também os problemas associados com os níveis de poluentes nas grandes cidades. Foi interessante conseguir juntar todas as externalidades do programa de biodiesel e começar a caminhar para construir políticas mais consistentes, não só para pura e simples implementação, por um interesse econômico, mas sim buscando benefícios para a sociedade como um todo”. Deputado Estadual Olyntho Neto (PSD-TO) “No Tocantins, já temos grandes indústrias produtoras de biodiesel, daí a importância de fortalecer cada vez mais uma cadeia produtiva de combustível renovável. O biodiesel vem para substituir os combustíveis fósseis. Nós criamos no Tocantins uma frente parlamentar para entender essa importância do biodiesel no cenário nacional, e, até penso, internacional. O objetivo agora é avançar. Nós estamos nacionalmente com o B7, a intenção seria implantar no estado alguma dinâmica pioneira, alguma iniciativa que possa servir de exemplo para todos os demais estados do nosso país, como o B20”.
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Hiramatsu Yochi, Representante da Agência de Cooperação Internacional do Japão “Achei muito interessante esse projeto no Brasil porque o biodiesel, assim como o bioquerosene, é uma fonte de energia que pode substituir os combustíveis fósseis. Nós estamos querendo desenvolver projetos nessa área porque o Japão não tem muita experiência com o biodiesel, mas nós podemos oferecer ao Brasil a capacitação técnica profissional de como pesquisar na área de energia, engenharia de combustão, motores, como aumentar a performance dos motores, nessa área o Japão pode contribuir muito com o Brasil”. Mauro Mendes, Prefeito de Cuiabá (MT) “Nós estamos estudando a viabilidade de implantar o B20 na capital. O projeto é importante para tornar o transporte mais sustentável, mas também tem apelo tanto econômico, quanto social, porque relaciona o fortalecimento da agricultura familiar da região, custo de matéria-prima, valorização de produtos, regionalização e eficiência da indústria, geração de emprego e renda e competitividade logística do biocombustível em relação ao diesel fóssil”. Deputado Federal Sérgio Souza (PMDB-PR) 2º Vice-Presidente da FrenteBio “O Brasil pode levar para a COP 21 uma solução energética de combustíveis como o biodiesel, o bioquerosene e o etanol, não só para o país, mas para o planeta”.
Capa
A poluição do ar agrava doenças respiratórias e gera custos para o sistema de Saúde
Cidades na UTI 8 milhões de pessoas morrem por ano por causa da poluição do ar, segundo a OMS. Parte significativa desses poluentes sai dos escapamentos dos veículos usados pela população nos seus deslocamentos diários, o que leva à pergunta: quanto as cidades brasileiras pagam por uma matriz veicular suja? Com extensão de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, 200 milhões de habitantes e frota de 88,4 milhões de veículos, o Brasil conta com um quadro de poluição atmosférica cujo histórico de medições, quando comparado aos internacionalmente recomendados, preocupa. É o que afirma o 1° Diagnóstico das Redes de Mo-
nitoramento da Qualidade do Ar no Brasil, publicado, em abril de 2014, pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente. O agravamento de doenças respiratórias, cardiovasculares e neurológicas, especialmente em crianças e idosos vem sendo associado à poluição do ar, principalmente nas grandes cidades. Estudos também apontam a
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correlação entre a exposição a certos poluentes e a ocorrência de diferentes tipos de câncer. Outros impactos dos poluentes presentes no ar que merecem atenção dizem respeito aos ecossistemas, pois são responsáveis pela acidificação das águas da chuva e da poeira, contaminam o solo, os córregos d’água e as plantas, levando à redução da capacidade fotossintética.
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Na região metropolitana, os ônibus representam 37% das emissões de material particulado
”
Os impactos da poluição têm ainda efeitos negativos do ponto de vista social e econômico, gerando custos para os sistemas de saúde com internações hospitalares e afetando a produção de alimentos, por exemplo. No Brasil, cerca de 96% das emissões de material particulado está associada ao diesel fóssil, alerta a pesquisadora da Rede Clima, Dra. Samya de Lara Pinheiro. O material particulado (MP) é um poluente atmosférico composto de sólidos com diâmetro reduzido, que penetram as vias respiratórias podendo causar câncer respiratório, arteriosclerose, inflamação de pulmão, agravamento de sintomas de asma, aumento de internações hospitalares e até mesmo a morte, segundo o Ministério do Meio Ambiente. “Na região metropolitana, os ônibus representam 37% das emissões de material particulado. Apesar de os fatores de emissões terem melhorado, ao longo dos anos, com melhora na tecnologia automotiva para emitir menos poluentes, na contrapartida estamos aumentando a frota e os congestionamentos”, destaca a pesquisadora.
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Doenças cardiovasculares e neurológicas podem ser agravadas pela poluição
O CUSTO DE UMA MATRIZ SUJA
No Brasil, cerca de 160 milhões de pessoas vivem em áreas urbanas, isto é, nas cidades, segundo o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A poluição atmosférica causada pela movimentação das pessoas em veículos abastecidos com combustíveis fósseis tem um custo anual de cerca de R$ 6,7 bilhões. Desse total, R$ 2,4 bilhões são relativos à poluição causada pela queima de diesel fóssil que abastece o transporte coletivo, de acordo com o Relatório Geral do Sistema de Informações da Mobilidade Urbana da Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP). Neste contexto, o transporte coletivo nas cidades com mais de 500 mil habitantes emite, por ano, 6,29 milhões de toneladas de poluentes como CO (monóxido de carbono), HC (hidrocarbonetos), NOx (Óxidos de Nitrogênio), MP (material particulado), SOx (Óxidos de Enxofre) e CO2 (dióxido de carbono). Segundo a ANTP, os veículos usados pelas pessoas emitem 527 mil toneladas de poluentes locais – CO, HC, NOx, MP e SOx – por ano nos seus deslocamentos. A maior parte, 59%, é emitida pelos auto-
Custo dos impactos bilhões de reais/ano
5,0 4,0
R$
3,0 2,0 1,0
2,4 Bi R$
4,3 Bi R$
0
Transporte Coletivo
Transporte individual
Custos dos impactos (emissão de poluentes)
móveis, seguida pelos ônibus (22%). Considerando a emissão de CO2, os veículos emitem 29,6 milhões de toneladas, das quais, 59% vêm dos automóveis e 36% dos ônibus. Os dados mostram que o modelo atual do setor de transportes no Brasil, baseado em combustíveis fósseis, representa uma ameaça à qualidade de vida da população. Se, por um lado, há a necessidade de diminuir a frota de veículos investindo em transporte público, por outro, é preciso tornar este transporte coletivo sustentável do ponto de vista ambiental e de saúde pública.
“
As cidades precisam repensar seu modelo de mobilidade. A Ubrabio defende não só uma mobilidade mais eficiente, mas também com combustíveis limpos
LIVRE DE ENXOFRE
As regiões metropolitanas são as mais afetadas pela concentração de material particulado na atmosfera
“As cidades precisam repensar seu modelo de mobilidade. A Ubrabio defende não só uma mobilidade mais eficiente, mas também com combustíveis limpos”, ressalta o diretor superintendente da Ubrabio, Donizete Tokarski, ao explicar a proposta do B20 Metropolitano. As regiões metropolitanas são as mais afetadas pela concentração de material particulado na atmosfera. Segundo o Instituto Saúde e Sustentabilidade, o nível de poluentes no ar das Regiões Metropolitanas do Rio de Janeiro e São Paulo está 2,5 a 3 vezes acima do limite estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Nos últimos seis anos, 135 mil pessoas morreram nessas regiões devido à poluição do ar. O biodiesel pode ser uma vacina ambiental para esta epidemia, que atinge, principal-
mente, as pessoas que passam mais tempo no trânsito. O B20 reduz em 27% as emissões de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs), um composto cancerígeno emitido na queima de diesel fóssil. Ainda de acordo com a OMS, uma a cada oito mortes ocorridas no mundo está relacionada a problemas causados pela exposição à poluição do ar. “Investir em combustíveis renováveis deveria ser uma ação de saúde pública. Temos políticas muito fortes contra o tabaco e nenhuma contra poluição. Quando você faz uma política pública de incentivo aos biocombustíveis, ela não é só uma política de energia, é uma política de saúde. Tudo o que melhora a qualidade de vida das pessoas se reflete em saúde”, defende o professor da Faculdade de Medicina da USP, Paulo Saldiva.
”
A emissão do enxofre presente no diesel fóssil pode agravar os sintomas da asma e causar o aumento de internações hospitalares, decorrentes de problemas respiratórios. Limites mais rígidos de emissão para veículos pesados passaram a valer no Brasil, em 1° de janeiro de 2012, por meio da Resolução nº 403/2008 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Essa resolução implicou na disponibilização do Diesel S10 no mercado, com teor de 10 ppm de enxofre. Pelo cronograma em vigor, as indústrias automobilísticas e de combustíveis têm até 2016 para se adaptarem às novas normas técnicas, disponibilizando no mercado brasileiro diesel e motores nos padrões que já são adotados na Europa. O uso de teores maiores de biodiesel vai ao encontro desta agenda proposta pelo Conama, uma vez que é isento de enxofre. “O Conama desempenhou um papel fundamental na redução do teor de enxofre no óleo diesel, mas o órgão pode ser ainda mais atuante, definindo, por exemplo, parâmetros de qualidade do ar que melhorem a qualidade de vida das pessoas”, defende o presidente do Conselho Superior da Ubrabio, Juan Diego Ferrés. “Mesmo o Diesel S10, considerado o diesel de melhor qualidade no Brasil e no mundo, tem suas emissões classificadas pela Organização Mundial da Saúde, desde 2012, como causadoras de câncer”, alerta.
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Maior experiência do uso de B20 vem de São Paulo, com dois mil ônibus do transporte público utilizando a mistura
ÔNIBUS LIMPOS
Em março deste ano, os prefeitos de 20 municípios latino-americanos que compõem o C40 (Cities Climate Leadership Group) assinaram a Declaração de Intenções para Ônibus Urbanos Limpos com o objetivo de captar investimentos em transporte público com baixa emissão de carbono. Curitiba, Salvador e Rio de Janeiro assinaram o documento do grupo formado pelas maiores cidades do mundo para implementação de ações sustentáveis e de combate ao aquecimento global. O uso de biodiesel em teores acima dos 7% obrigatório já é uma realidade em São Paulo e Curitiba. Na capital paulista, dois mil ônibus utilizaram a mistura de 20% (B20), entre 2011 e 2013, sem que fosse necessário fazer alterações nos motores. Segundo Paulo Mendes, vice-presidente de Relações Associativas e Institucionais da Ubrabio e
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O projeto é importante, tem apelo tanto econômico, quanto social, e já estamos dando encaminhamento para ampliar o uso do biodiesel e tornar o transporte mais sustentável
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sócio da B100 Participações, o resultado foi tão positivo, que a empresa quer dar continuidade ao projeto e está articulando junto ao governo do município de São Paulo para colocar o B20 agora em seis mil ônibus. A importância do biocombustível também é reconhecida por gestores brasileiros. Segundo o prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet, a redução de emissões de GEE proporcionada pelo biocombustível vem sendo medida no município. “O uso do biodiesel é importante, é uma tendência e isso é incentivado na cidade. O ganho ambiental com a diminuição de emissões é muito positivo”, afirma.
Além dos benefícios ambientais proporcionados pelo uso de um combustível limpo e renovável isento de enxofre, o biodiesel também apresenta vantagens econômicas. No Mato Grosso, maior estado produtor de soja, o prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes, estuda a viabilidade de implantar o B20 na capital. Fortalecimento da agricultura familiar da região, custo de matéria-prima, valorização de produtos, regionalização e eficiência da indústria, geração de emprego e renda e competitividade logística do biocombustível em relação ao diesel fóssil são alguns pontos que despertaram o interesse do gestor. “O projeto é importante, tem apelo tanto econômico, quanto social, e já estamos dando encaminhamento para ampliar o uso do biodiesel e tornar o transporte mais sustentável”, afirma Mauro Mendes.
Principais montadoras dão garantias para o uso de B20 no Brasil e no mundo
GARANTIAS
O B20 já é uma realidade em outras nações. De acordo com o Departamento de Energia dos Estados Unidos da América (DOE, sigla em inglês), existem cerca de 600 postos de combustíveis vendendo B20 no país. Desde 2005, o governo federal concede aos agentes fornecedores de diesel um incentivo denominado “Biodiesel Income Tax Credit” que garante US$ 1/galão (3,785 litros) de biodiesel ou diesel renovável na etapa final de comercialização da cadeia. Especialistas afirmam que todos os veículos movidos a diesel estão aptos a receber B20 sem necessidade de uma adaptação específica. A Associação Norte-Americana de Biodiesel (National Biodiesel Boarding NBB) realizou uma pesquisa com empresas de transporte que totalizam cerca de 50 mil caminhões. Dessas empresas, 88% já haviam testado B20 e 96% dos entrevistados recomendam o uso de misturas con-
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Adotar o B20 Metropolitano nas grandes cidades significa a redução imediata de diversos problemas ligados à saúde pública, que afastam o cidadão do trabalho,
”
tendo pelo menos 20% de biodiesel no diesel. A NBB criou uma Comissão para acompanhar as experiências em frotas com B20. De acordo com essa Comissão, cerca de 45 milhões de milhas (aproximadamente 72 milhões de km), com diversos tipos de veículos a diesel, têm sido monitoradas sem apresentar qualquer problema mecânico. Além disso, as principais montadoras e fabricantes de sistemas a diesel, como a General Motors, Ford, Scania, Volkswagen, Mercedes-Benz, Volvo, Cummins e Bosch, dão garantia para o B20 no Brasil e nos EUA. No Brasil, o grupo de trabalho da Câmara Setorial de Oleaginosas e Biodiesel do Ministério da Agricultura, Pecuá-
ria e Abastecimento, do qual a Ubrabio faz parte, elaborou um relatório reunindo 57 estudos de 12 países, envolvendo testes e experiências com o uso de misturas de biodiesel ao diesel de petróleo superiores a 10%, com representatividade aplicável à realidade brasileira, que apresentou resultados favoráveis à adoção de teores maiores do biocombustível. Segundo o levantamento, não foram registrados impactos significativos do uso dessas misturas sobre a potência, o consumo e o desempenho dos motores, notadamente no caso do B20, e que o aumento do teor de biodiesel resulta num balanço de emissões favorável às misturas elevadas. “Adotar o B20 Metropolitano nas grandes cidades significa a redução imediata de diversos problemas ligados à saúde pública, que afastam o cidadão do trabalho, causam internações e mortes, e que provocam um prejuízo impagável”, alerta Tokarski.
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Mudanças Climáticas
Biocombustíveis contribuem para a sustentabilidade do planeta
Biodiesel e Bioquerosene na agenda do clima A descarbonização do setor de transportes no Brasil vem sendo defendida pela Ubrabio como contribuição brasileira nas iniciativas globais para redução de emissões de CO2 Alemanha, 7 de junho de 2015 – Reunidos na vila alemã Kruen, os líderes do G7 – grupo das nações mais industrializadas do mundo – chega a consenso sobre eliminar os combustíveis fósseis gradualmente. Em comunicado oficial, os sete governantes concordam em apoiar uma redução de 40% a 70% das emissões de CO2 até 2050 (em relação aos níveis de 2010) e zerá-las até 2100. Medida fundamental para evitar o aumento de 2 graus Celsius na temperatura média global, o que, segundo cientistas, pode provocar uma série de catástrofes climáticas. Vaticano, 18 de junho de 2015 – Em Carta Encíclica sobre O Cuidado da Casa Comum, o Papa Francisco reconhece que o aquecimento global é resultado principalmente da ação do homem e alerta: “A tecnologia baseada em combustíveis fós-
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seis extremamente poluentes, como o carvão, mas também o petróleo e, em menor medida, o gás, precisa ser substituída de forma gradual e sem demora”. EUA, 30 de junho de 2015 – Os presidentes Barack Obama e Dilma Rousseff defendem um acordo mundial ambicioso sobre o clima, afirmando sua disposição de privilegiar as energias renováveis. Em declaração conjunta sobre mudanças climáticas, o Brasil anunciou que pretende que sua matriz energética (incluindo biocombustíveis) atinja em 2030 uma participação de 28% a 33% de fontes renováveis, sem contar a hidráulica. Junho de 2015 foi marcado por declarações de grandes líderes mundiais sinalizando o caminho que a humanidade deve trilhar nos próximos anos, no sentido de substituição dos combustíveis fósseis por fontes limpas de energia. O atual mo-
delo econômico baseado em derivados de petróleo vem mostrando seu esgotamento. Em dezembro, os 196 integrantes da Organização das Nações Unidas estarão reunidos em Paris, na COP 21, para tentar chegar a um consenso sobre como lidar com as mudanças climáticas. Que papel o Brasil pode desempenhar nas negociações climáticas? Em reuniões com os Ministérios do Meio Ambiente, Minas e Energia, Ciência, Tecnologia e Inovação, Desenvolvimento Agrário, Casa Civil e Congresso Nacional, a Ubrabio vem defendendo a discussão da ampliação do uso do biodiesel e a introdução do bioquerosene no Brasil no âmbito do INDC (Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida), isto é, a meta que o país deve apresentar às Nações Unidas para cumprir o novo acordo do clima, a ser assinado em dezembro na COP 21.
‘SETOR DE BIODIESEL DESEMPENHA PAPEL DE INTERLOCUÇÃO CENTRAL’
Como principais demandas, a Ubrabio propõe a evolução do uso de biodiesel no país por meio do aumento da mistura obrigatória de 7% (B7) para B8 imediatamente e com progressividade para o B9 e B10, ampliando o mercado e dando previsibilidade à indústria, além de usos facultativos de misturas superiores, como o B20 no transporte metropolitano, o B+ em regiões onde o biocombustível é mais barato que o diesel fóssil e o B Agro – 30% de biodiesel em máquinas e implementos agrícolas, indústria de extração mineral e geração termelétrica. A Ubrabio estima que, se os ônibus que fazem o transporte urbano das 40 maiores cidades brasileiras fossem abastecidos com uma mistura de 20% de biodiesel no diesel – o chamado B20 Metropolitano – 300
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O Brasil tem a oportunidade de apresentar na COP 21 um programa que já vem dando certo
”
milhões de litros de diesel fóssil deixariam de ser consumidos anualmente, evitando a emissão de cerca de 577,2 mil toneladas a mais de CO2 pelo transporte público dessas cidades. Isso equivale ao plantio de 3,6 milhões de árvores. “Nossa ideia é que a introdução do B20 Metropolitano nas grandes cidades ocorra imediatamente dentro de um modelo em que a questão ambiental, principalmente a questão da qualidade do ar das cidades, seja a principal motivação”, defende o presidente do Conselho Superior da Ubrabio, Juan Diego Ferrés. “O Brasil tem a oportunidade de apresentar na COP 21
RELAÇÃO EMISSÕES VEICULARES COM AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E A SAÚDE PÚBLICA
um programa que já vem dando certo”, afirma o presidente da Frente Parlamentar Mista do Biodiesel (FrenteBio), deputado federal Evandro Gussi (PV-SP) ao defender um marco regulatório que dê previsibilidade ao setor de biodiesel, tendo em vista que o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) representa uma pauta positiva para o País. “Sabendo do desejo do Brasil de contribuir e protagonizar esse processo de redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), com o processo de aumento de mistura de biodiesel, para além da questão econômica, sob o ponto de vista ambiental, nós temos condições de apresentar um programa concreto que contribui para a redução de emissões de gases do efeito estufa”, destaca o deputado.
Doenças cardiovasculares Doenças respiratórias
Impactos Diretos
Qualidade do Ar
Desfechos neonatais Mortes no trânsito (visibilidade) ...
Emissões Veiculares
Extremos climáticos
Impactos Indiretos MITIGAR RESULTA EM BENEFÍCIOS EM AMBAS AS FRENTES ($$ e bem estar Social)
Mudanças Climáticas
Alterações em regimes de doenças infectoscontagiosas vetorinas Questão urbana Segurança alimentar Perda de produtividade ...
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IMPACTOS DIRETOS E INDIRETOS DAS EMISSÕES Poluição do ar no mundo ► 8 millhões de mortes ao ano
(50% devido poluição veicular). Gasto de U$1.7 trilhões ao ano devido aos impactos da poluição veicular (países OECD + China + India).
Poluição do ar em SP ► 17.500 mortes e 246 milhões de reais em gastos
públicos com hospitais e internações em 2011. (entre 2012 e 2030 estima-se uma média 35 mortes por dia).
NÃO EXISTE LIMIAR SEGURO PARA A SAÚDE HUMANA!!! Grandes cidades e menos desvaforecidos ► MAIOR IMPACTO. Fonte: Vormittag Et Al., 2013 / OCDE, 2014 Custo das mudanças climáticas
Para a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, a agenda do clima é uma agenda de desenvolvimento e o setor de biodiesel desempenha um papel de interlocução central nesse sentido. “Este é o debate que o Brasil deseja. Nós, brasileiros, queremos fazer a diferença na negociação do clima também com a competitividade que nós temos hoje com o aprendizado no setor de biocombustíveis no Brasil”, defendeu a ministra. A ministra também chama a atenção para o papel que o Brasil pretende desempenhar nos próximos anos, no sentido do desenvolvimento com uma economia de baixo carbono.
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É extremamente pertinente que o país trilhe esse caminho do ponto de vista da economia de baixo carbono
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“O que se quer objetivamente é debater a participação dos biocombustíveis na Matriz Energética brasileira. Eu acho que é extremamente pertinente que o país trilhe esse caminho
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Redução das emissões de GEE pelo aumento do percentual de biodiesel no diesel Diesel 85,2*
B30 66,51* -21,8%
B20 72,8* -14,5%
B10 79,0* -7,3%
B9 79,61* -6,5%
B8 80,23*
B6 81,47* -4,4% B7 80,9* -5%
B5 82,1* -3,6%
-5,8%
* Fator de emissão: Gramas de CO2 equivalente por megajoule
Emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) no uso do Biodiesel
do ponto de vista da economia de baixo carbono, mas também do ponto de vista das salvaguardas econômicas e sociais. É preciso ter viabilidade, previsibilidade, e transparência para que a sociedade saiba que caminhos são esses assumidos pelo país e mostrar que o Brasil quer fazer a diferença no seu desenvolvimento com a inclusão social e a proteção ambiental”, destaca.
‘BRASIL PODE SER UM GRANDE FORNECEDOR MUNDIAL DE BIOMASSA SUSTENTÁVEL’
O Programa Nacional de Bioquerosene também pode entrar na agenda de iniciativas brasileiras para redução de emissões de gases do efeito estufa a ser apresentada na COP 21. Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Sul estão traba-
lhando na construção de plataformas de biocombustíveis de aviação que aliam a produção de biomassa sustentável com energia renovável.
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O Brasil tem várias alternativas de biodiversidade regionais que estão sendo agora analisadas para compor um quadro de biomassa sustentável a ser oferecida para a indústria do bioquerosene
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Essas iniciativas regionais podem servir de modelo para outros estados e integram uma plataforma brasileira. Em tramitação no Congresso Nacional, o PLS 506/2013 do ex-senador Eduardo Braga, atual ministro de Minas e Energia, cria o Programa Nacional do Bioquerosene, para incentivar a pesquisa e a produção de energia à base de biomassas voltadas para a sustentabilidade da aviação brasileira. De acordo com a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, sigla em inglês) – que engloba 230 companhias e 93% de todo o tráfego aéreo mundial –, as metas para a redução de emissões de poluentes concentram-se na melhoria da eficiência energética, estabilização das emissões de carbono, e redução das emissões em 50% até 2050, com base nos índices de 2005. O diretor de Biocombustíveis de Aviação da Ubrabio, Pedro Scorza, explica que o Brasil pode ser um grande fornecedor de biomassa para o mundo. “A produção de biomassa sustentável é o grande desafio. O Brasil tem várias alternativas de biodiversidade regionais que estão sendo agora analisadas para compor um quadro de biomassa sustentável a ser oferecida para a indústria do bioquerosene”. De acordo com o gerente Técnico de Análise Ambiental
da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), Alexandre Filizola, os biocombustíveis de aviação são uma tendência e um dos elementos que vai permitir que a aviação continue crescendo sem aumentar suas emissões de CO2, um problema mundial. Segundo Scorza, que também é assessor técnico para combustíveis renováveis da GOL Linhas Aéreas, a estratégia montada no Brasil para desenvolvimento do setor de bioquerosene, além de estar adequada ao propósito de estabelecer uma cadeia de valor, é muito similar às estratégias que estão sendo adotadas na Europa e EUA, respeitando as particularidades locais de cada região. “Isso nos dá certo conforto, porque vemos que está todo mundo na mesma direção”, destaca.
OURO VERDE DO BRASIL
A proposta de primeira biomassa sustentável para produção de biocombustível de aviação no Brasil vem da Plataforma Mineira de Bioquerosene, com o desenvolvimento da cadeia produtiva de macaúba. Palmeira nativa das regiões tropicais, a macaúba ocorre naturalmente em várias regiões do Brasil. Essa palmeira produz frutos de uma coloração amarelada cujo óleo pode ser utilizado na indústria de biocombustíveis. “A macaúba tem sido apontada como uma das espécies potenciais para a produção do biodiesel, e mais recentemente, tem sido estudada para a produção de bioquerosene. A palmeira ocorre principalmente em regiões de cerrado, como Minas Gerais, Mato Grosso, Tocantins e Distrito Federal, e tem uma produção de frutos bastante elevada, então a quantidade de óleo que se consegue produzir em uma área é muito maior
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A produção de biomassa sustentável é o grande desafio
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do que a de outras oleaginosas”, explica o pesquisador da Embrapa Agroenergia Alexandre Alonso. Por ser planta nativa brasileira que pode cumprir a função não só de recuperação de APPs (Áreas de Proteção Permanente), Reservas Legais e pastagens degradadas, contribuindo para a qualidade do meio ambiente, como também de produção de bioquerosene, a macaúba pode representar importante papel na revitalização da Bacia do Rio São Francisco e no desenvolvimento da cadeia de biocombustíveis de aviação no Brasil. “O problema do meio ambiente, especialmente dos recursos hídricos é a primeira preocupação da Plataforma Mineira de Bioquerosene, e com a macaúba trazemos a possibilidade de recuperação da capacidade hídrica e, ao mesmo tempo, fornecer biomassa sustentável para inclusão da agricultura familiar e, consequentemente, alimentar uma biorrefinaria com alto grau de eficiência regional”, explica o diretor de Biocombustíveis de Aviação da Ubrabio. Recuperação da capacidade hídrica, fornecimento de biomassa sustentável e produção e uso de combustíveis renováveis que contribuem para a mitigação das emissões de gases do efeito estufa são alguns pontos da plataforma que vão ao encontro da agenda climática. “Nós propusemos a inclusão do programa na pauta da COP 21 ao Ministério do Meio Ambiente porque como o projeto consorcia geração de energia com recuperação de áreas degradadas, vai ao encontro agenda brasileira para a conferência do clima”, destaca Scorza.
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Menos resíduo, mais energia A Embrapa, a Caesb e a Ubrabio unem-se para apresentar o projeto “MOVER – Meu Óleo Vira Energia Renovável”, uma ação que tem por objetivo promover e estimular a coleta do óleo de cozinha usado no Distrito Federal para transformá-lo em biodiesel, um combustível limpo e renovável. São feitas demonstrações do processo de coleta e transformação do produto e dos benefícios para o meio ambiente, com repercussões na qualidade das águas dos rios, lagos, mananciais e lençóis freáticos.
Cientistas por um dia: estudantes do DF descobrem como o óleo de cozinha vira biodiesel Exposição interativa da Embrapa Agroenergia mostra a fabricação do biodiesel pelo mesmo processo utilizado nas indústrias a partir de outras matérias-primas, além da soja, como o óleo de fritura Por Daniela Collares e Priscila Botelho
Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. De acordo com a frase do pai da química, Antoine Lavoisier, podemos aproveitar tudo que se tem na natureza, certo? Podemos aproveitar, por exemplo, óleo de soja, milho, dendê e até mesmo de cozinha para fazer biodiesel. O nome do processo de conversão do óleo vegetal em biodiesel é chamado de transesterificação. Mesmo processo utilizado nas indústrias. Esse método é baseado na reação química entre um óleo e um álcool, acelerada por um catalisador. Normalmente, usa-se óleo de soja, metanol e hidróxido de sódio. A palavra é difícil, mas o processo é fácil. Tão simples que cerca de dois mil alunos de escolas públicas e privadas do Distrito Federal – DF participaram na edição
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de 2014 da exposição “Cientista por um Dia”, que enfatizou o biodiesel, a partir de óleo de fritura usado (OFU), tema que vem sendo trabalhado com os alunos no projeto de divulgação M.O.V.E.R – Meu Óleo Vira Energia Renovável uma junção dos projetos Biguá – realizado pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) desde 2008 para recolhimento do óleo de fritura –, e o Biofrito – coordenado pela Embrapa Agroenergia em parceria com a Caesb, com recursos da Finep para utilizar óleo residual na produção de biodiesel. O projeto M.O.V.E.R. foi criado para conscientizar a população sobre a importância do descarte correto do OFU e tem como principal objetivo a geração de biodiesel, a partir de um resíduo poluente. Todo o óleo recolhido
pela Caesb será transformado em biodiesel em uma usina piloto com capacidade de 1.000 litros/dia. Óleo vegetal, etanol, catalisador e mãos à obra. Além da parte prática, na Exposição são ministradas palestras que têm por objetivo apresentar a energia renovável e destacar a produção de biodiesel a partir de outras matérias-primas, além da soja, como o óleo de fritura. Os visitantes podem ver, ao vivo, a fabricação do biodiesel pelo mesmo processo utilizado nas indústrias: a transesterificação. Para que a campanha M.O.V.E.R. tenha sucesso, é necessária a parceria com as instituições de ensino, diz o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Souza. A proposta é que os alunos sejam os multiplicadores da campanha,
Crianças assistem produção ao vivo de biodiesel na Embrapa Agroenergia
que tem por objetivo a conscientização da população do DF de não jogar óleo de fritura na pia e, sim, armazená-lo em garrafas e entregá-las nos pontos de coleta e que as escolas sejam pontos de coleta. Assim, todos estarão ajudando o meio ambiente e a produção de energia renovável (biodiesel). As iniciativas de divulgação mais dinâmicas com as instituições de ensino em que os alunos podem interagir com o material de pesquisa exposto são mais eficientes. Além da conscientização, os estudantes também adquirem conhecimento na área química e visualizam onde os conceitos aprendidos em sala de aula são aplicados. O diretor executivo da Ubrabio, Sergio Beltrão, é palestrante no projeto e comenta. “Mostramos aos alunos que todos nós precisamos de energia, seja para brincar, praticar esporte, fabricar produtos, mover os carros, caminhões etc. Mas essa energia deve ser a menos prejudicial à saúde humana e ao meio ambiente, como os biocombustíveis: que além do etanol, mais conhecido e usado nos carros e feito a partir da cana de açúcar,
“
Energia deve ser a menos prejudicial à saúde humana e ao meio ambiente, como os biocombustíveis
”
o biodiesel que é usado misturado com o diesel em caminhões, tratores e caminhonetes. Também mostramos que, enquanto as plantas crescem, absorvem o gás carbônico, o que não acontece com os produtos derivados de petróleo, como a gasolina e o diesel”, explicou. A fabricação de biodiesel a partir de óleos e gorduras residuais (OGR) transforma esses passivos ambientais - que poluem as águas, geram entupimento nas redes de esgoto e gastos com manutenção -, em energia limpa e renovável. Até 2012, o óleo de fritura ainda não possuía representatividade na cadeia produtiva do biodiesel, mas, em 2013, passou a responder por 1% da produção. No cenário da mistura obrigatória vigente desde novembro de 2014 – 7% de biodiesel adicionado ao diesel fóssil (B7) –, esse percentual corresponde a cerca de 40 milhões de litros, dos 4 bilhões de litros de biodiesel que serão consumidos em 2015, segundo
as projeções. Há potencial para aumentar essa participação, já que, atualmente, apenas 2% do óleo de fritura é reciclado. Os problemas causados pelo lançamento do óleo de fritura usado nos sistemas de esgoto ocorrem em todas as cidades e a apresentação do programa de coleta desse resíduo e do processo de produção de biodiesel visa a estimular outras cidades brasileiras (e também de outros países) a conduzir projetos semelhantes. Projetos que recolhem o óleo de fritura para reaproveitamento acontecem por todo o Brasil e a produção do biodiesel a partir do óleo de fritura se integra perfeitamente no arranjo produtivo local no meio rural e urbano, salienta Rossano Gambetta, pesquisador da Embrapa Agroenergia e responsável por esta ação.
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Nas ações que realizamos junto aos estudantes, mostramos a importância de não jogar o óleo de fritura no ralo ou na pia
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O óleo coletado pela Caesb no DF será transformado em biodiesel em uma usina demonstrativa que está sendo montada na Caesb, com recursos da Finep, dentro do Projeto Biofrito. “Nas ações que realizamos junto aos estudantes, mostramos a importância de não jogar o óleo de fritura no ralo ou na pia. Acreditamos que a conscientização ambiental é fundamental para a qualidade do meio ambiente”, ressalta Sérgio Beltrão, diretor executivo da Ubrabio. Manoel Teixeira reforça. “O objetivo dessa ação é contribuir para a formação de um cidadão consciente, apto a decidir e atuar de forma eficaz diante da realidade que o mundo vem enfrentando com a poluição, escassez de água e altos custos para produção de energia”.
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SUSTENTABILIDADE
BIODIESEL RECICLA MAIS DE 30 MILHÕES DE LITROS DE ÓLEO
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É uma oportunidade para as pessoas conhecerem o papel do Brasil no cenário mundial de uso de biocombustíveis e da contribuição especifica do biodiesel
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Durante a exposição interativa, a demonstração de como se faz o biodiesel em escala laboratorial é complementada com uma visão geral do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB). Além de abordar o uso do óleo reciclado, também é apresentada a complexidade e as variáveis socioambientais e econômicas do Programa. “É uma oportunidade para as pessoas conhecerem o papel do Brasil no cenário mundial de uso de biocombustíveis e da contribuição especifica do biodiesel nas dimensões econômica, ambiental e social”, explica o diretor da Ubrabio. O diálogo acerca da substituição do combustível fóssil por combustíveis renováveis também integra a agenda do programa. Para as entidades, a questão se adéqua a esse período de transição para uma sociedade mais sustentável. “É gratificante perceber a satisfação e o envolvimento das crianças, principalmente, nesse contexto de uma ação sustentável que precisa passar justamente pela mudança do paradigma de consumo da sociedade atual, numa fase de transição para uma economia de baixo carbono”, acrescenta Beltrão. As escolas, públicas ou privadas, que tenham interesse em participar podem entrar em contato com o Núcleo de Comunicação Organizacional pelo email agroenergia.eventos@embrapa.br, ou pelo telefone (61) 34481581.
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Exposição interativa da Embrapa Agroenergia
MENOS RESÍDUO, MAIS ENERGIA!
Enquanto o Brasil já recicla 98% das latinhas de alumínio que utiliza, apenas 2% do óleo de fritura é reaproveitado, alerta Donizete Tokarski, diretor superintendente da Ubrabio. O simples ato de coletar óleo de fritura pode colaborar para a preservação do meio ambiente, inclusão e transformação social, destaca. A fabricação de biodiesel a partir de óleos e gorduras residuais é sustentável e transforma esses passivos ambientais – que poluem as águas, geram entupimento nas redes de esgoto e gastos com manutenção –, em energia limpa e renovável. Além da produção ecológica a partir de resíduos, o uso do biodiesel reduz a emissão de gases de efeito estufa (GEE) gerados pela queima de combustíveis fósseis. A mistura obrigatória B7 (7% de biodiesel adicionado ao diesel fóssil), em vigor desde novembro de 2014, evita a emissão de aproximadamente 9 toneladas de CO2/ano, o equivalente ao plantio de cerca de 60 milhões de árvores/ano.
Até 2012, o OFU integrava a fatia de 4% de representatividade na cadeia de produção do biodiesel, juntamente com gordura de porco e frango, ácido graxo de óleo de soja, e espécies vegetais como a macaúba, a canola, a palma e o nabo-forrageiro. Em 2013, essa representatividade cresceu, e o óleo de fritura usado passou a responder por 1% da produção do biodiesel nacional. Hoje, o Brasil utiliza cerca de 30 milhões de litros de óleo reciclado para produzir biodiesel. Com o aumento da mistura obrigatória de biodiesel ao diesel fóssil, há potencial para aumentar ainda mais essa participação.
Óleo de fritura usado serve de matéria-prima para o biodiesel
Congresso Nacional
Da esquerda para a direita, Juan Diego Ferrés presidente do Conselho Superior da Ubrabio, deputado federal Evandro Gussi (PV-SP), presidente da FrenteBio e deputado federal Jerônimo Goergen (PP-RS), 3º Vice-Presidente da FrenteBio, homenageado como ex-presidente da FrenteBio.
Frente Parlamentar do Biodiesel é relançada e adota Marco Regulatório como bandeira
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O biodiesel é um forte vetor nacional na transição para o desenvolvimento de baixo carbono
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A previsibilidade de ampliação do uso de biodiesel no Brasil é a principal bandeira da Frente Parlamentar Mista do Biodiesel (FrenteBio) lançada no final de maio de 2015, na Câmara dos Deputados. O evento contou com a presença de senadores e deputados, além de representantes das entidades do setor. “É impossível pensar a dependência estrita dos combustíveis fósseis no longo prazo. Queremos B8, queremos o B20 Metropolitano e, mais do que isso, queremos previsibilidade para o setor”, afirmou o presidente da Frente, deputado federal Evandro Gussi (PV-SP). Atualmente, todo o diesel fóssil comercializado no país contém a mistura de 7% de biodiesel (B7), combustível renovável isento de enxofre. O presidente do Conselho Superior da Ubrabio, Juan Diego Ferrés, apresentou à FrenteBio a importância da
evolução do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel – PNPB, de forma a garantir a diversificação de matéria-prima para produção e a regionalização da indústria respeitando as particularidades locais. Ferrés também destacou que o setor depende de inovação para concorrer com o petróleo e é preciso que haja escala e previsibilidade de mercado para isso. “O biodiesel é um forte vetor nacional na transição para o desenvolvimento de baixo carbono. Um dos mercados que a gente entende que tem que ser agregado imediatamente ao da mistura obrigatória é o B20 Metropolitano, que capta, além dos benefícios ambientais, os benefícios de saúde da população das grandes cidades.”, explica Ferrés. Para Gussi, o biodiesel, que é um combustível biodegradável derivado de fontes renováveis como óleos vegetais e
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gorduras animais, pode representar uma alternativa econômico -industrial para o agronegócio e uma grande oportunidade para a agricultura familiar, mas para isso é necessário garantir a previsibilidade mercado. Ele defendeu o estabelecimento de um marco regulatório para o setor. O secretário-geral da Frente, o senador Donizeti Nogueira
(PT-TO), lembrou que o setor ganhou importância desde o lançamento do PNPB, em 2004 e defendeu novos avanços. “Temos que melhorar a qualidade do ar que respiramos. Esse setor tem muito a contribuir”, ressaltou o senador. Veja as propostas apresentadas pela Ubrabio e assumidas pela FrenteBio com apoio
COMPOSIÇÃO DA EXECUTIVA DA FRENTE PARLAMENTAR MISTA DO BIODIESEL: Presidente deputado federal (PV-SP) Evandro Gussi; 1º vice-presidente senador (PMDB-RO) Valdir Raupp; 2º vice-presidente deputado federal (PMDB-PR) Sergio de Souza; 3º vice-presidente deputado federal (PP-RS) Jerônimo Goergen; 4º vice-presidente deputado federal (PT-RS) Bohn Gass; Secretário-geral senador (PT-TO) Donizeti Nogueira; Secretário-adjunto deputado federal (PSB-MT) Adilton Sachetti; Coordenador deputado federal (PSDB-SP) Mendes Thame; Coordenador-adjunto deputado federal (PV-MA) Sarney Filho.
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do setor para ampliar o mercado e dar previsibilidade à indústria: “Nós temos uma pauta e precisamos identificar os caminhos para que ela avance. Estamos com a faca e o queijo na mão para construir um processo para mostrar à população como isso interfere na vida dela”, defendeu o presidente da FrenteBio.
PROPOSTAS UBRABIO PARA O BIODIESEL NO BRASIL (PNPB 2ª FASE) B8 Imediato
B9 01/03/2016
B10 01/03/2017
B20 Metropolitano a partir de 2015 Transporte Coletivo Cidades acima de 500 mil habitantes. Mercados Regionais Facultativos Quantidades adicionais além da Mistura Obrigatória Nacional de acordo com as necessidades dos Agentes. B+ B20 imediato em regiões onde o biodiesel é mais barato que o diesel fóssil comercializado. B Agro (B30) Imediato Uso em máquinas, implementos agrícolas, indústria de extração mineral e geração termelétrica. Isenção de IPI para veículos movidos a misturas superiores a B30 Isenção de IPI (máxima de 100%) para fabricantes que ofereçam garantia aos veículos movidos com misturas superiores a B30. Inclusão do fomento do biodiesel na INDC (Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida) Meta estratégica de governo a ser proposta na Conferência do Clima das Nações Unidas - COP21 - realizada em Paris, em dezembro de 2015. Equipamentos movidos a B100 para frota própria dos produtores rurais. Utilização de Biodiesel (B100) em caminhões, automóveis, tratores, outros equipamentos agrícolas e geradores de eletricidade.
Associadas
GRANOL: BODAS DE OURO
Em 2015, a Granol completa 50 anos. Atualmente, a empresa está presente, além de São Paulo, em outros cinco estados brasileiros e promove ações
sociais e ambientais, buscando participar da transformação nas regiões em que atua. Exemplo disso é a Ação Grandiesel, que mobiliza empresas e a população e incentiva a adoção de práticas ecologicamente corretas que contribuem para a diminuição significativa da poluição. Por meio desta iniciativa, a Granol transforma o óleo de fritura usado em combustível limpo.
Em novembro de 2014, a empresa patrocinou o evento Direito de Viver promovido pelo Hospital de Câncer de Barretos (SP) e promoveu a Ação Grandiesel, que além de educar sobre o descarte correto de óleo de fritura usado (OFU) incentivou as pessoas a levarem o resíduo para ser transformado em Grandiesel. Para cada 2 litros de OFU recebido a Granol doou um litro de óleo novo ao hospital.
FIAGRIL: NOVO ÓLEO
Há cincos anos, o programa Novo Óleo iniciou suas atividades no município de Lucas do Rio Verde, no estado de Mato Grosso. A iniciativa da Fiagril já recolheu, entre 2009 e o primeiro semestre de 2015, cerca de 600 mil litros de óleo de cozinha usado na região da BR 163, nas localidades de filiais da empresa associada à Ubrabio, e nas cidades de Sinop, Nova Mutum e Sorriso.
“O Programa Novo Óleo dissemina práticas sustentáveis entre a população ao difundir a ideia de que a qualidade de vida e o futuro do planeta dependem de todos nós”, explica o gerente de Sustentabilidade da Fiagril, Gheorges Rotta. Todo óleo coletado é levado para a Fábrica de Biodiesel da Fiagril em Lucas do Rio Verde para ser utilizado na produção de biocombustível.
BIANCHINI: DIA DE FÁBRICA DA AGRICULTURA FAMILIAR Em julho de 2015 a Bianchini realizou o sexto Dia de Fábrica para a Agricultura Familiar. A ação faz parte das iniciativas da empresa no âmbito do Selo Combustível Social e busca consolidar a parceria com a agricultura familiar. Durante o Dia de Fábrica, os agricultores podem conhecer o caminho que a soja segue de-
pois de sair de sua porteira. Devidamente orientados sobre os procedimentos de segurança e uso de EPIs, os produtores rurais entram na fábrica e têm acesso a todas as etapas do processo, tanto de esmagamento de soja, quanto de produção e expedição de biodiesel, além de setores periféricos
como os laboratórios de controle de qualidade, a geração de vapor, oficinas e o setor de expedição fluvial que faz o transporte de farelo de soja para o porto de Rio Grande, servindo-se da hidrovia da Lagoa dos Patos. Cada fase industrial é explicada por um profissional da empresa responsável pela etapa.
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GOL LINHAS AÉREAS: VÔOS VERDES
A GOL Linhas Aéreas pretende ampliar na Olimpíada de 2016 a mesma estratégia utilizada na Copa do Mundo de 2014, chamada de “Copa Verde” pela empresa, quando mais de 360 vôos da GOL foram feitos com bioquerosene. Segundo a companhia, essas demonstrações nos gran-
PARCERIAS
Em julho de 2014, a GOL e a Amyris anunciaram um acordo para utilizar o combustível de aviação renovável farnesane. O novo produto respondeu por até 10% do combustível usado nas aeronaves do modelo Boeing 737 que viajaram entre o Brasil e os EUA, a partir daquele mês. O combustível, um com-
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des eventos esportivos servem para demonstrar o nível de maturidade da tecnologia e o quão pronta ela está para aplicação. A GOL também vem trabalhando na estruturação de plataformas regionais de bioquerosene, com o objetivo criar volume de produção capaz de
tornar o biocombustível economicamente competitivo com o querosene fóssil. Além das operações em grandes eventos esportivos no Brasil, em setembro do ano passado, a companhia aérea realizou seu primeiro vôo internacional com o combustível.
ponente químico feito a partir da fermentação do caldo de cana, foi desenvolvido pela Amyris em parceria com a petroleira francesa Total, com apoio da Boeing e do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Segundo a Amyris, o biocombustível pode reduzir em até 80% a emissão de gases causa-
dores do efeito estufa, comparado com combustíveis tradicionais derivados de petróleo. Pelos acordos internacionais, as companhias aéreas de todo o mundo devem reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa em 50% até 2050, levando-se em conta as emissões de 2005.
PNPB
Como explorar o “pré-sal verde” do Brasil Além dos ganhos ambientais, o biodiesel também é mais sustentável economicamente. Com aumento de mercado e investimentos em pesquisa e inovação, biocombustível aponta caminhos para a economia do futuro A necessidade do país de alinhar conhecimento e demandas do mercado, para dar competitividade aos produtos de fontes renováveis e sustentar a chamada Economia Verde, é um dos pontos chaves da Plataforma Nacional de Biorrefinarias Integradas, a Plataforma BioBrasil, que integra o Programa Nacional de Plataformas do Conhecimento (PNPC). Sob o comando do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o objetivo é articular o sistema empresarial com pesquisa e inovação para gerar avanço científico com impactos diretos na vida da população brasileira. Para o presidente do Conselho Superior da Ubrabio, Juan Diego Ferrés, a evolução do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel – PNPB representa um vetor nesse sentido. “A Ubrabio, junto com a sua experiência no biodiesel, tem uma familiaridade com
esse envolvimento de novas soluções de combustíveis relacionadas a conhecimento. São combustíveis que devem ser utilizados em sobreposição ao petróleo, que precisa ser substituído por combustíveis sustentáveis. E isso requer conhecimento para tornar esses produtos mais competitivos e mais baratos em relação aos de petróleo”, explicou. Coordenador do Comitê de Assessoramento em Biocombustíveis do programa, o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Souza, explica que a plataforma aproveitou dois setores consolidados no Brasil, o etanol e o biodiesel, para construir uma proposta de fortalecimento da área. “O objetivo é aumentar a eficiência na produção e transformação da biomassa e na diversificação de produtos com maior valor agregado. Queremos aumentar a competitivida-
de desse setor num exercício de construção de uma economia de base biológica para o Brasil”, conta Souza. Para o presidente da Frente Parlamentar Mista do Biodiesel, deputado federal Evandro Gussi (PV/SP), a evolução do programa de biodiesel é importante para o setor industrial, para a agricultura e também para a população brasileira. “Os interesses do setor concorrem em uma grande sinergia com o interesse público. Ele agrega valor aos nossos produtos agrícolas, fortalece a agricultura familiar, e reúne uma série de fatores que fazem com que o natural interesse empreendedor esteja alinhado ao interesse público. Todos querem energia limpa, sustentável e que agregue valor”, ressaltou. Segundo o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo, o Brasil precisa aproximar o setor industrial da
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pesquisa acadêmica, e a Plataforma BioBrasil pode auxiliar neste sentido. “Essa plataforma, e o PNPC na forma como foi concebido, vai servir como um roteiro para superar uma dificuldade que o Brasil tem de aproximação do mercado com a academia. E nas áreas onde nós temos essa oportunidade, nós precisamos aproveitar melhor. E uma delas eu acho que é essa”. Para Ferrés, a segunda fase do PNPB, com previsibilidade de mercado para a indústria, fomentaria investimentos em pesquisa no sentido de construir uma economia baseada em bens sustentáveis. “O Brasil é um país privilegiado pela natureza e esta é a estrutura econômica do futuro, com bens sustentáveis”, destaca. Souza também aponta o papel importante dos biocombustíveis no desenvolvimento de uma economia verde. “Essa é uma tendência mundial, o Brasil já identificou essa oportunidade, a presidente Dilma com a sanção dessa plataforma e com a seleção desse tema já mostrou a importância da economia verde no Brasil a partir de biocombustíveis”.
“CASA DE FERREIRO NÃO PODE USAR ESPETO DE PAU”
O ministro Aldo Rebelo também manifestou apoio à proposta do B Agro, que permite a utilização de 30% de biodiesel adicionado ao diesel fóssil que abastece máquinas e implementos agrícolas, o B30. “Casa de ferreiro não pode usar espeto de pau. Máquinas agrícolas deviam dar exemplo e ser referência no aproveitamento do combustível que as sustenta”, defendeu o ministro.
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Florival Carvalho fala sobre a qualidade do biodiesel brasileiro
O PREJUÍZO DE NÃO USAR BIODIESEL Florival Carvalho à época, diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), conta que a ANP é o órgão responsável pela garantia de qualidade do biocombustível e vem acompanhando o biodiesel desde o início do PNPB. “Hoje a questão de qualidade é uma questão resolvida. A entrada do biodiesel no mercado através da mistura com o diesel, em 7% desde novembro, em nada alterou a qualidade do que é entregue ao consumo da população”. Além de ser uma fonte de energia mais limpa, o biodiesel vem se mostrando também mais barato em relação ao diesel fóssil comercializado no Brasil. O óleo diesel é o combustível mais
usado no país e seu valor impacta na inflação e nos preços das passagens de ônibus. “Uma vez que o biodiesel é mais barato que o diesel, se a gente pudesse aumentar a participação que hoje é 7% para 10, ou 20% no diesel, a gente teria um B20 mais barato que o B7”, explica Donizete Tokarski, diretor superintendente da Ubrabio. Para dar uma ideia de quanto seria mais barato abastecer com B20, a Ubrabio faz uma estimativa, considerando o preço do diesel nas unidades da federação e o preço médio do biodiesel adquirido pela Petrobras no leilão realizado pela ANP para abastecer o mercado nacional nos meses de setembro e outubro.
LEILÕES DE BIODIESEL
Até agosto deste ano foram realizados quatro leilões para a compra de biodiesel pelas distribuidoras de combustível, totalizando 44 desde o início do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel. No último realizado, o 44º Leilão de Biodiesel, foram negociou 696,8 milhões de litros, sendo 100% deste volume oriundo de produtores detentores do Selo Combustível Social. O preço médio foi de R$ 2,162 por litro, sem considerar a margem Petrobras, e o valor total negociado atingiu o patamar de R$ 1,50 bilhão, refletindo num deságio médio de 17,83% quando comparado com o preço máximo de referência médio (R$ 2,632/L). Ainda neste ano serão realizados mais dois leilões – o L45 (entrega em novembro e dezembro) e o L46 (que é realizado no final do ano para entrega de biodiesel em janeiro e fevereiro de 2016). Fonte: MME e ANP
Em regiões produtoras de biodiesel, como o Sul e o Centro-Oeste, considerando a margem Petrobrás (R$ 0,02/litro) e margem estimada da distribuição (R$ 0,04/litro), o óleo diesel comercializado pelas distribuidoras ficaria até R$ 0,10 mais barato com uma mistura B20. Tokarski também lembra que, de acordo com estimativa da ANP, a dependência brasileira de diesel fóssil importado, atualmente em 11 bilhões de litros ao ano, deve dobrar até 2025, em razão do abandono dos projetos de construção das duas refinarias brasileiras (Premium I e II – Maranhão e Ceará) pela Petrobras e considerando um crescimento no consumo de diesel da ordem de 5% ao ano.
COMBUSTÍVEL QUE VEM DO CAMPO
O PNPB é exemplo global em inclusão produtiva e tem como um dos pilares o fortalecimento da agricultura familiar. Por meio do Selo Combustível Social, os agricultores têm acesso a assistência técnica e capacitação. A medida também garante a aquisição prioritária de matérias-primas da agricultura familiar para a produção do biodiesel. Só em 2014, o PNPB movimentou R$ 3,2 bilhões em aquisições de matéria-prima da agricultura familiar para a produção de biodiesel, com a inclusão de cerca de 250 mil agricultores em todo o Brasil.
DEPENDÊNCIA DE DIESEL IMPORTADO VAI MAIS QUE DOBRAR NOS PRÓXIMOS 10 ANOS, SEGUNDO ANP
A dependência brasileira de óleo diesel importado em 2025 será de 24,3 bilhões de litros, segundo estimativa da ANP. Atualmente, o país importa aproximadamente 11 bilhões de litros/ano de diesel fóssil para abastecer o mercado nacional. A previsão era de que o Brasil se tornasse autossuficiente na produção de óleo diesel nos próximos 10 anos, mas o adiamento para início de operações das duas refinarias brasileiras para processamento de diesel – Abreu e Lima, em Pernambuco e Comperj, no Rio de Janeiro –, acompanhado pela crise na Petrobras, mudou as previsões da Agência. Para o consultor técnico da Ubrabio Donato Aranda, esta é uma oportunidade fantástica para o biodiesel. De acordo com o especialista, com os investimentos adequados, o Brasil poderia aumen-
tar sua produção de biodiesel dos atuais 4,2 bilhões de litros por ano para 10 bilhões de litros, ajudando a aliviar a dependência brasileira do combustível fóssil importado. Essa produção de 10 bilhões de litros poderia ser facilmente alcançada até 2020, e representaria uma mistura aproximada de 15% de biodiesel ao diesel fóssil, bastando para isso uma decisão política sobre a previsibilidade desse avanço da participação do biocombustível na Matriz Energética Brasileira. “Além de todos os benefícios ambientais proporcionados pelo uso do biodiesel – um combustível renovável, que reduz as emissões de gases do efeito estufa – o incentivo à produção e uso do biodiesel reduz a dependência brasileira de combustível importado e traz impactos positivos à balança comercial do país”, explica Aranda.
Dependência Externa de Combustíveis em 2025 Combustíveis
milhoes m³
mil bd*
Gasolina A (Inclui nafta destilada)
29,0
500
Óleo diesel A (Inclui consumo PETROBRAS)
24,2
417
Querosene de Aviação
3,9
67
CLP (inclui Rota 3)
2,3
40
TOTAL
59,4
1024
*Barris por dia
Fonte: ANP
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Pesquisa e Inovação
Pesquisador Donato Aranda apresenta estudo sobre processos de produção de biodiesel no MCTI
Estudo fornece subsídios à diversificação de matérias-primas para produção de biodiesel
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Para fazer biodiesel precisamos de um óleo e um álcool. O Brasil importa metanol e é um grande produtor de etanol. Por que não usamos etanol para produzir biodiesel?
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Lançado no início de julho no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o livro “Parâmetros Físico-Químicos para os Processos de Produção de Biodiesel” apresenta dados que permitem projetar equipamentos mais eficientes para produção de biodiesel de óleos de soja, pinhão manso, girassol e mamona. O consultor técnico da Ubrabio Donato Aranda explica que o estudo, inédito no Brasil, traz subsídios para a indústria e contribui para a diversificação de matérias-primas. “Na literatura mundial, há pouco daquilo que publicamos apenas para biodiesel metílico de soja. Publicamos para biodiesel etílico de soja e o metílico e etílico dessas outras três ole-
Lançamento do livro “Parâmetros Físico-Químicos para Processos de Produção de Biodiesel” no MCTI
aginosas (girassol, mamona e pinhão manso). Isso irá permitir o uso dessas matérias-primas sem risco de diminuição de rendimentos”, explica Aranda, que é professor da Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro e um dos coordenadores da publicação. O Brasil é o segundo maior produtor de biodiesel no mundo, um combustível renovável, isento de enxofre, que reduz as emissões de poluentes e gases do efeito estufa em relação ao diesel fóssil. Atualmente, todo óleo diesel terrestre comercializado no país conta com a mistura de 7% de biodiesel (B7). “Para fazer biodiesel precisamos de um óleo (ou gordura) e um álcool (metanol ou etanol). O Brasil importa metanol e é um grande produtor de etanol. Por que não usamos etanol para produzir biodiesel? Um dos motivos é a falta de subsídios técnicos”, conta o pesquisador, e acrescenta que o mesmo vale para a diversificação de óleos. “Cada matéria-prima possui sutilezas nas reações e nas etapas de purificação”. Financiado pelo MCTI, via Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o livro reúne os
principais resultados alcançados por um grupo de pesquisadores do Instituto Nacional de Tecnologia (INT/MCTI), Universidade de Brasília (UnB), UFRJ e Universidade Federal de Alagoas (UFAL), com o objetivo de preencher essas lacunas.
COMPETITIVIDADE DEPENDE DE PESQUISA E INOVAÇÃO
Na oportunidade do lançamento do estudo, a Ubrabio cumprimentou o MCTI pelo apoio à pesquisa e inovação que contribuíram de forma significativa para a consolidação do biodiesel no Brasil. Em 2015, a Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel (RBTB) completa 10 anos. Aranda destaca o importante papel da rede coordenada pelo MCTI, que tem por atribuição articular a pesquisa e o desenvolvimento do processo de produção do combustível renovável no País. “A gente pode dizer, de forma tranquila, que grande parte da competitividade no mercado do diesel e biodiesel no Brasil deve-se, sem sombra de dúvida, desde o início, a esse investimento feito pelo MCTI na pesquisa em biodiesel. Em especial, agradeço a dedicação
da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação-SETEC, do MCTI, sempre empenhada em promover o meio acadêmico e sua interação com a indústria do biodiesel”, ressaltou Aranda.
“
O biodiesel é um case, e a consequência disso é a competitividade
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Para o pesquisador, não há nenhum outro setor no país com tamanha interação da indústria com a ciência, a tecnologia e a pesquisa nas universidades, como o setor de biodiesel. “O biodiesel é um case, e a consequência disso é a competitividade”, destacou. O diretor superintendente da Ubrabio, Donizete Tokarski, solicitou ao secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, Armando Zeferino Milioni, a continuidade da Plataforma Nacional de Biorrefinarias Integradas, a Plataforma BioBrasil, que faz parte do Programa Nacional de Plataformas do Conhecimento (PNPC). Sob o comando do MCTI, o projeto pretende articular o sistema empresarial com pesquisa e inovação para gerar avanço científico com impactos diretos na vida da população brasileira.
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Capacitação
Evento apresentou dados sobre a poluição veicular e seus impactos na saúde e no meio ambiente
Evento na Embrapa debate biodiesel, saúde e mudanças climáticas com assessores parlamentares Em agosto de 2015, assessores de deputados federais e senadores passaram uma tarde “Conversando sobre Biodiesel, Saúde e Mudanças Climáticas” com equipes da Embrapa Agroenergia e da Ubrabio, na sede da Embrapa, em Brasília/DF. O chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Souza, explica que a iniciativa teve como objetivo oferecer aos profissionais que assessoram os parlamentares informações qualificadas sobre o panorama atual, as oportunidades e os desafios para a produção de biodiesel no Brasil. “Essas pessoas dão suporte à elaboração e à avaliação de propostas que permitam a evolução do uso desse biocombustível, que já é um caso de absoluto sucesso de introdução de mais um produto de origem renovável na matriz energética brasileira”, ressalta. “Nós definimos como público-alvo os assessores parlamentares e jornalistas porque esses profissionais estão di-
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retamente envolvidos com as tomadas de decisões que determinam os rumos do país. E nós queremos também que a sociedade tenha conhecimento e possa participar da escolha do combustível que é utilizado no nosso sistema de transporte”, explicou o diretor-superintendente da Ubrabio, Donizete Tokarski. O jornalista Osni Calixto, assessor do secretário-geral da Frente Parlamentar Mista do Biodiesel (FrenteBio), senador Donizeti Nogueira (PT/TO), disse que o evento foi uma espécie de “pós-graduação em biodiesel”. Na opinião dele, todo assessor deve ter conhecimento do conteúdo abordado. “Porque, de repente, há um debate como esse, extraordinário, que pode levar o Brasil a realmente crescer, a pensar um Brasil 20 anos na frente, com menos poluição, e nós não aproveitamos por falta de conhecimento”, comenta. O evento começou com um debate conduzido por Souza, da Embrapa Agroenergia;
Donizete Tokarski, da Ubrabio; Donato Aranda, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e consultor da Ubrabio; e Samya de Lara Pinheiro, pesquisadora da Rede Clima e Fiocruz-RJ. O chefe-geral da Unidade da Embrapa mostrou aos participantes que a palavra-chave para o setor de biodiesel é diversificar. Isso vale tanto para as matérias-primas quanto para os produtos obtidos nas indústrias. Atualmente, cerca de 75% do óleo utilizado na produção do biocombustível vem da soja; outros 20% da matéria-prima são constituídos de gorduras animais, especialmente sebo bovino. A inclusão expressivas de outras culturas, como o dendê e a macaúba, poderia incrementar a participação de agricultores do Norte e Nordeste do Brasil no Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB). As duas plantas fazem parte de pesquisas envolvendo várias unidades da Embrapa e parceiros.
CURTAS
José Esteves, engenheiro mecânico – ANTAQ Eu não sabia que o programa de biodiesel estava tão avançado assim. O biodiesel é um combustível ecológico, uma opção aos combustíveis fósseis, e pode gerar mais empregos no Brasil. Não devemos desprezar o biodiesel, ele apresenta inúmeras vantagens e precisa ser mais divulgado e utilizado. Eu tenho impressão que o biodiesel no Brasil é uma oportunidade desperdiçada, e com esse desperdício a geração de empregos e as vantagens de se ter um combustível menos poluidor ficam prejudicadas, então precisamos aproveitar essa oportunidade
“ Diálogo reuniu assessores parlamentares e especialistas para debater o uso de biodiesel
MAIS BIODIESEL, MENOS POLUIÇÃO
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O país precisa perceber a relevância deste biocombustível tanto na questão ambiental quanto econômica
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A previsibilidade é outra palavra-chave para o setor. Em janeiro deste ano, a introdução do biodiesel na matriz energética brasileira completou 10 anos. Entre as vantagens ambientais do combustível está a emissão zero de enxofre. Esse elemento químico, liberado na queima do diesel fóssil, forma SOx, composto que provoca chuva ácida e problemas respiratórios na população. O biodiesel também emite menos material particulado, cujos prejuízos para a saúde atingem desde o sistema cardiovascular até o reprodutivo. “O biodiesel é o combustível do momento. O país precisa perceber a relevância deste biocombustível tanto na questão ambiental quanto econômica e estabelecer uma política de longo prazo para o aumento gradual do uso do biodiesel na matriz de combustíveis”, destaca Tokarski.
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Pesquisadora destaca que não existe limiar seguro para a saúde humana
A pesquisadora da Fiocruz Samya de Lara Pinheiro ressaltou os benefícios do uso do biodiesel para a saúde: “A utilização do biodiesel, puro ou em adição ao diesel fóssil, traz reduções na emissão de diversos poluentes – principalmente o material particulado. E a redução das emissões de material particulado está associada à diminuição significativa de casos de internações e mortalidade relacionados à poluição do ar”.
Ciro Siqueira, assessor do Senador Donizeti Nogueira (PT-TO) O debate foi muito bom. As pessoas deveriam saber mais sobre o produto, que tem um potencial muito grande de crescimento e está, por alguma razão, travado por questões burocráticas. Eu já tinha um conhecimento sobre o biodiesel, mas hoje tivemos muita informação nova que será bastante utilizada no Senado
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PRODUÇÃO DE BIODIESEL
Após o debate, os participantes visitaram uma exposição, onde conheceram os frutos da macaúba, do dendê, além de sementes de outras oleaginosas, e conversaram com o pesquisador Bruno Laviola, da Embrapa Agroenergia, que trabalha com a domesticação de plantas com potencial agroenergético. Também viram ao vivo a produção de biodiesel e ouviram da pesquisadora Itânia Soares uma explicação sobre a reação química que dá origem ao biocombustível. Conheceram, ainda, um fotobiorreator de microalgas – a analista Lorena Garcia apresentou as pesquisas da Unidade nessa área. Por fim, os participantes conheceram os laboratórios da Embrapa Agroenergia. Para a realização e divulgação do evento, a Unidade contou com o apoio da Secretaria de Comunicação e da Assessoria Parlamentar. Além de assessores parlamentares e jornalistas, participou do evento o secretário de Estado de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural do Distrito Federal, José Guilherme Tollstadius Leal, que elogiou a iniciativa e destacou a importância do PNPB para a economia do Centro-Oeste.
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Convidados participam de exposição interativa da Embrapa Agroenergia
CURTAS
Leonardo Tavares, consultor legislativo da Câmara dos Deputados Eu tinha um conhecimento sobre biodiesel, mas não tão aprofundado. Hoje os palestrantes ressaltaram bastante a parte do impacto positivo que ele tem sobre a saúde humana e sobre as emissões das partículas. Achei bem interessante verificar que o biodiesel tem inúmeros benefícios para o clima, meio ambiente, e, indiretamente, também para a saúde humana. Sou consultor legislativo, meu trabalho é de assessoramento aos parlamentares, então este tipo de evento é importante para nos deixar atualizados e poder auxiliar de forma mais qualificada
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CONVERSANDO SOBRE BIODIESEL, SAÚDE E MUDANÇAS CLIMÁTICAS COM SAMYA DE LARA PINHEIRO
Por Nádia Garajo
Meteorologista, doutora em Medicina pela USP e pela Escola de Saúde Pública de Harvard/EUA a pesquisadora Samya de Lara Pinheiro explica a relação entre a substituição do uso de combustíveis fósseis com as mudanças climáticas e a saúde pública. Ubrabio - Quais os impactos o uso do biodiesel traz para a saúde e para as mudanças climáticas? Samya - A utilização do ponto que não podemos deixar biodiesel, mesmo que seja em de enfatizar é a questão das misturas ao diesel tradicional, mudanças climáticas. Todos ou uso total do B100, reduz a os países, independente de emissão de diversos poluentes, serem desenvolvidos ou não, principalmente o material parti- têm uma responsabilidade com culado (MP). Em termos de efei- o meio ambiente associada às to direto dessa diminuição na mudanças climáticas. A reduemissão do MP, nós podemos ção de emissões de gases de associar a redução significativa efeito estufa tem efeitos diretos tanto dos casos de internações, e indiretos na saúde, que serão quanto de mortalidade. Recen- refletidos nos próximos 20 a 50 temente foi publicado um es- anos. Não é necessário esperar tudo avaliando os cenários em 100 anos. Se nós reduzirmos as cinco regiões metropolitanas emissões, nós mitigamos os imbrasileiras até 2025, conside- pactos da mudança climática, rando o uso de B20, que mos- o que vai reduzir o número de trou qual seria o impacto em mortes associadas a eventos termos de mortalidade, interna- extremos, como ondas de cação, e custo para a saúde. Na lor, ou tempestades. Então, sem cidade de São Paulo, por exem- dúvida, a redução que o biodieplo, haveria uma redução de mi- sel proporciona em relação aos lhões na taxa de mortalidade e gases de efeito estufa também mais de centena de milhões no é muito importante do ponto de número de internações. Outro vista da economia em saúde.
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Sergio Campos, chefe de gabinete do deputado federal Evandro Gussi (PV-SP) O resultado maior dessa discussão é a percepção de que a urgência de usarmos o B20 nas grandes metrópoles é questão humana, de saúde pública. Acredito que todos saímos daqui com um objetivo só: defender junto a à sociedade a o papel fundamental do biodiesel para o nosso país
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Ubrabio - Quais são os desafios e obstáculos existentes para a disseminação do uso do biodiesel no Brasil? Samya - No Brasil existe uma dificuldade das pessoas entenderem o que é o biodiesel. Acho que a primeira grande ação seria neste sentido de explicar o que é o biodiesel, como ele é feito, que ele deixa de lado uma matriz fóssil por uma matriz renovável para então mostrar esse resultado de redução de emissões. Porque essa falta de compreensão dificulta muito o convencimento, mesmo que você fale em cifras, em benefícios associados a custos. Então esse é o primeiro ponto. Outra dificuldade de convencimento é justamente essa ação intersetorial, a decisão sobre o biodiesel sempre fica muito atrelada a uma questão do Ministério da Agricultura, Ministério de Minas e Energia, sempre mais associado com a questão da produção e consumo do diesel em si, mas existem outros interlocutores que devem ser incluídos nessa pauta, como o Ministério de Meio Ambiente e, principalmente, o Ministério da Saúde. Eu entendo que a agenda desses dois ministérios nem sempre vai ao encontro da agenda dos outros, mas esse diálogo precisa acontecer. Só olhar pelo lado econômico, sem mensurar e colocar na ponta do lápis quão benéfico vai ser a adoção de uma medida como o B20 Metropolitano ou o aumento gradual da mistura obrigatória, dificulta a compreensão da população. Todos os problemas ambientais no Brasil sofrem um pouco disso, da falta de conversa, da falta de conexão entre os setores que serão afetados. Só no momento em que você conseguir juntar todos os atores será possível dimensionar o real impacto de um programa como o do biodiesel.
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Ubrabio - Para você, os maiores obstáculos são a falta de consciência ambiental ou o aspecto econômico? Samya - A questão econô- todo, você também não vai ter mica, em geral, é destacada. Por adesão. A população, quando mais que existam externalidades começa a entender quais são associadas com economia no os impactos e benefícios, ela âmbito da saúde pública, isso ain- faz pressão e o poder público da não está bem dimensionado começa a responder com mais como a questão econômica rela- agilidade. Então é importante cionada à produção e comerciali- também que exista esse trazação do biodiesel. Essa falta de balho sobre a consciência amarticulação, sem dúvida, atrapa- biental na população, para que lha muito. Agora, sem trabalhar isso se reflita em quem está to-
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essa questão de consciência ambiental em todos os setores e com a população como um
mando as decisões no Planalto no sentido de promover um plano consistente e eficiente.
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