Cidade Universitária
| 1Especial Jul/Ago - 2016 :: Cidade Universitária Impresso
9912290201-DR/MA UFMA
Publicação da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal do Maranhão | Ano VIII | Nº 14 | JULHO/AGOSTO de 2016
CORREIOS
ufma.br
UFMA 50 anos: sem parar de transformar Págs. 18 e 19
Nesta edição
• Histórias e nomes das ruas de São Luís • Escola animada: o teatro de animação • Creche como equipamento social
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ASCOM UFMA
JORNAL CIDADE UNIVERSITÁRIA ascom@ufma.br
Reitora: Nair Portela Silva Coutinho Vice-Reitor: Fernando Carvalho Silva Pró-Reitoria de Assistência Estudantil: João de Deus Mendes da Silva Pró-Reitora de Ensino: Isabel Ibarra Cabrera Pró-Reitora de Extensão: Dorlene Maria Cardoso de Aquino Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação: Fernando Carvalho Silva Pró-Reitora de Gestão e Finanças: Eneida de Maria Ribeiro Pró-Reitora de Recursos Humanos: Maria Elisa Cantanhede Lago Braga Borges
Coordenação Editorial: Fernando Oliveira Edição: Ivandro Coelho, Luciano Santos Reportagem: Aleilton Santos, Aline Acazoubelo, Amanda Carvalho, Ariele Jullian, Carina Andrade, Deolindo Deolino, Edmara Silva, Fabiana França, Géssica dos Anjos, Henrique Coutinho, Larissa Viveiros, Luciano Santos, Ramayana Mendes, Rildo Corrêa, Sansão Hortegal, Vanessa Cutrim Produção: Adriana Moraes, Maiara Pacheco, Nathália Ribeiro, Rosana de Oliveira Fotografia: Aline Acazoubelo, Fabiana França, Luciano Santos, Maiara Pacheco, Rildo Corrêa, Sansão Hortegal Revisão: Débora Pereira e Patrícia Santos Projeto Gráfico: Mizael Melo Alves Arquivo: Edna Oliveira Apoio Administrativo: Franciane Coimbra e Suelen Rodrigues
Assessoria de Comunicação Institucional - ASCOM/UFMA Cidade Universitária Dom Delgado Av. dos Portugueses, 1966 - Bacanga CEP 65080-805 - São Luís-MA Fone: (98) 3272-8020 - E-mail: atendimento@ufma.br www.ufma.br
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Jornal Cidade Universitária produzido pela Assessoria de Comunicação está de cara nova. O informativo também ganhou novas editorias de modo a ampliar o espaço para a divulgação das ações do ensino, pesquisa, extensão, cultura, empreendedorismo, inovação tecnológica, esportes. As mudanças chegam junto com o Jubileu de Ouro da Universidade Federal do Maranhão, que completa 50 anos de fundação em outubro. Uma programação a ser realizada até o fim do ano marcará as comemorações pela data. Congresso científico, atividades culturais, feira de livros, lançamento do projeto memória institucional, Palmas Universitárias e uma grande confraternização entre a comunidade universitária da UFMA estão entre os eventos planejados para celebrar cinco décadas da maior instituição de ensino superior do Maranhão. Nesta edição, pessoas que testemunharam a transformação por que passou a UFMA dão seu depoimento e contam histórias marcantes. Como a da criação da bandeira da universidade pelo professor Paulo Sérgio Lago de Carvalho, do Departamento de Design, no ano de 1981, quando do aniversário de 15 anos da instituição. Trinta e cinco anos depois de sua criação a bandeira ainda é desconhecida para muita gente. Você lê ainda: Pesquisa analisa a creche como equipamento social; Teatro de animação como recursos lúdico e pedagógico; Trabalho toponímico recupera nomes e histórias de ruas de São Luís; Juçara: uma esperança na luta contra o câncer de próstata; Projeto Enfermeiros do Riso, do curso de enfermagem de Imperatriz, promove educação e saúde para crianças em tratamento; Museu do Leste Maranhense, do Campus Chapadinha, aproxima a população da Universidade.
Índice Museu de História Natural do Leste Maranhense .................. 04 Creche: direito da criança e da mulher ............................ 06 e 07 Escola Animada: o Teatro de Animação ........................... 08 e 09 Trabalho toponímico recupera nomes e histórias de ruas de São Luís .......................................... 10 e 11 UFMA comemora 50 anos com avanços em pesquisa, ensino e extensão ....................................... 18 e 19
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Museu de História Natural do Leste Maranhense aproxima a população da Universidade Ambiente estimula a pesquisa e a formação cultural dos visitantes
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Deolindo Deolino
ocalizado no Centro de Ciências Agrárias e Ambientais da Universidade Federal do Maranhão - Campus Chapadinha -, o Museu de História Natural do Leste Maranhense trabalha com o objetivo de incentivar a formação de novos recursos humanos na área de Biologia e História Natural, além de estimular o conhecimento sobre o assunto. O museu recebe regularmente visitas escolares, que são agendadas e acompanhadas por monitores integrantes de um grupo de voluntários formado por estudantes do Centro. Criado em 2008, conta com a participação de professores e alunos do curso de Ciências Biológicas. No início, fazia exposições itinerantes em escolas e no Campus, mas só em 2013 o projeto conseguiu a estrutura atual. “Só conseguimos chegar a esta estrutura de Unidade de Estudos Biológicos através do apoio que recebemos da UFMA, com financiamento da Fapema”, disse o coordenador do museu, professor Jivanildo Miranda. A aluna do 7º período do curso de Ciências Biológicas, Termute Sarana Dutra Cardoso, descobriu a sua vocação depois de visitar o museu, ainda no ensino médio. “Tive o meu primeiro contato com a Universidade através de uma visita ao museu, organizada por minha professora de Biologia do primeiro ano. Ao conhecer o espaço, despertei o interesse pelo trabalho dos organizadores e, consequentemente, pelo curso de Ciências Biológicas”, explicou. Para Sarana, o museu possibilita experiências enriquecedoras e estimula a procura de mais
Museu possui mais de 300 fósseis distribuídos em dois paíneis, um da biodiversidade e outro vegetal
conhecimentos. “Além de ampliar meus conhecimentos, essa experiência me deu a oportunidade de contribuir para a divulgação da ciência no município, assim como um dia fui influenciada pelo material apresentado lá”, lembrou. Visitas - De acordo com Jivanildo Miranda, o acervo tem importância não só para a pesquisa científica, mas também como um fonte de cultura para a população da cidade. “Na perspectiva acadêmica, tem um viés que é público e outro que é específico para a pesquisa. Para a população da cidade, é como um espaço cultural e científico. Os alunos do curso trabalham orientando visitas guiadas para o público, que também usa o laboratório e o repositório de material de pesquisa científica”, descreveu.
Segundo Sarana Cardoso, que hoje atua como voluntária, o projeto busca trazer, além de conhecimento científico, mais alunos da região para o Campus de Chapadinha. “A Universidade ainda é algo distante da realidade para a maioria dos estudantes. Muitos alunos vêm de outras cidades e estados. O museu serve como lugar de primeiro contato da população com a universidade e com o conhecimento científico”, acrescentou. Fósseis - O museu conta com dois painéis da biodiversidade, um animal e outro vegetal. Por meio deles é possível compreender as etapas da evolução da principal linhagem, partindo das formas marinhas até as formas terrestres mais derivadas, fósseis importantes da história da vida, entre eles insetos raros, como
Xiphosura (primo marinho das aranhas), Nautióides, que são moluscos de mar aberto, considerados fósseis vivos. Ao todo, são mais de 300 itens que representam descartes de pesquisa desenvolvida no Centro de Ciências Agrárias e Ambientais (CCAA) – Campus Chapadinha. Meio Ambiente - A maior preocupação dos pesquisadores envolvidos com o projeto é com questões relacionadas ao meio ambiente. Para o professor Jivanildo, há problemas muito sérios relacionados à coleta de lixo. “Depois de falar dos bichos, a gente foca sempre na questão do lixo, porque falta a coleta seletiva na cidade. Outra questão que sempre priorizamos é colocar a conservação das matas e de animais juntos numa escala evolutiva”, explicou o coordenador.
Espaço cultural e de pesquisa, museu recebe visitas de estudantes da região
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Alunos de Economia avaliam condições de infraestrutura na Vila Santa Júlia
Pesquisa permite identificar as precárias condições sociais das comunidades que vivem em bairros periféricos de São Luís
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Carina Andrade
Vila Santa Júlia está localizada próxima ao bairro Vila Palmeira, numa região marcada pela falta de urbanização e saneamento básico, energia elétrica em condições ilegais e presença de palafitas. Diante das irregularidades e das péssimas condições de infraestrutura do local, o professor Tavares Júnior levou um grupo de alunos do curso de economia da UFMA para identificar e avaliar os fatores que afetam a Vila Santa Júlia. A visita foi realizada no dia 10 de Junho e teve como objetivo sensibilizar os discentes sobre a problemática social da área. Durante a visita, os discentes puderam identificar os espaços econômicos segundo teorias e conceitos específicos adotados no curso de Economia, a exemplo do economista François Perroux e do geógrafo Milton Santos, e assim avaliar as precárias condições de vida das pessoas que vivem à margem da sociedade. O levantamento das informações foi feito pelo método survey, que abrange a coleta de dados quantitativos e qualitativos por meio de questionários e entrevistas realizadas pelos alunos diretamente com os moradores da região. Foram enfocadas características gerais da comunidade a partir da obtenção de dados pri-
mários e informações sobre especificidades físicas e sociais, dado que o ambiente natural é a melhor forma de pesquisar o ambiente de respectivo interesse. Segundo o coordenador do projeto, Tavares Júnior, “a busca da opinião de moradores da comunidade descreve e delineia, de alguma forma, o fenômeno da precarização social, tão nítido nos bairros da periferia de São Luís”, declarou. Os resultados da pesquisa foram apresentados pelos alunos em sala de aula e demonstraram correlação com a literatura específica sobre o assunto. Ou seja, avaliou-se o conceito de espaço econômico segundo o economista Perroux, que observa o espaço econômico sob três perspectivas: polarizado, de planejamento e homogêneo. Além dessas observações, utilizou-se a abordagem do geógrafo Milton Santos, que observa os impactos produzidos pela modernização tecnológica na economia das cidades, sobretudo nos espaços periféricos. O professor Tavares Júnior destacou que essas transformações são percebidas nas relações que Milton Santos denomina de dois circuitos (superior e inferior), em que o segundo aparece como dependente do primeiro. “Um desses circuitos é o resultado direto da modernização e das ativi-
Relatório de pesquisa produziu apontamentos para ações sociais que atenderão demandas básicas da comundade
dades criadas para servir ao progresso tecnológico e à população que dele se beneficia (água, luz, tv a cabo, tratamento de esgoto etc). O outro é também é resultado da modernização, mas um resultado indireto, que diz respeito àqueles indivíduos que só parcialmente se beneficiam ou não das vantagens a ele ligadas”, explicou o professor. A diferença fundamental entre os dois circuitos, segundo ele, está baseada nas diferenças tecnológicas e de organização. Ainda de acordo com o professor Tavares Junior, a pesquisa proporcionou um interessante debate em sala de aula. Os alunos apresentaram trabalhos e relatórios de pesquisa com propostas de ações sociais para aque-
la comunidade, tais como: criação de postos de saúde, escolas, saneamento básico, energia elétrica, laborterapia para as mães, atividades recreativas para as crianças, coleta de lixo, etc. “Os resultados ainda não foram levados até a comunidade, mas a proposta da turma é entregar uma resposta formal para o líder comunitário ou alguma outra fonte de comunicação da comunidade”, disse Tavares Júnior. Para o professor Tavares, a iniciativa também despertou interesse em outros alunos, que pretendem aprofundar a pesquisa para utilizar os dados em trabalhos de conclusão de curso, artigos científicos e outros projetos acadêmicos.
Projeto analisa informações sobre a estrutura e a dinâmica do mercado de trabalho
Dados podem fundamentar a construção de políticas públicas no Estado do Maranhão
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Henrique Coutinho
ÃO LUÍS - Promover o desenvolvimento e a divulgação de estudos e pesquisas sobre o trabalho no Maranhão para fundamentar as políticas públicas. Este é o objetivo do Eixo do Trabalho, um recorte investigativo que faz parte de um programa de estudos ainda mais amplo, o Observatório Social e do Trabalho no Maranhão. O Observatório faz parte do Grupo de Avaliação e Estudo da Pobreza e de Políticas Direcionadas à Pobreza – GAEPP, coordenado pela professora Maria Ozanira da Silva e Silva. Foi idealizado no período entre 2010 e 2011, tendo como objetivo principal a construção de conhecimento a partir de pesquisas sobre políticas públicas no estado do Maranhão, considerando dois eixos temáticos: trabalho e pobreza. O Eixo do Trabalho desenvolve o levantamento de dados acerca de estudos desenvolvidos sobre a estrutura e a dinâmica do mercado de trabalho. Posteriormente,
sistematiza e disponibiliza essas informações através dos boletins. A coordenadora do Eixo do Trabalho e professora do programa de pós-graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Maranhão, Valéria Almada Lima, revela que, especificamente neste eixo, já foram publicados nove boletins e um caderno de pesquisa. Na edição mais recente, a publicação abordou o aprofundamento da atual crise política e econômica vivenciada pela sociedade brasileira e os reflexos sobre o mercado de trabalho no Maranhão, em comparação com o conjunto do Brasil. Foram utilizados como referência os últimos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Temos efetuado um acompanhamento de alguns indicadores do mercado maranhense nos anos recentes, sintetizados no Caderno de Pesquisa intitulado ‘Um Balanço sobre a Estrutura e a Dinâmica do Mercado de Trabalho Maranhense a partir do anos 2000’”, informou Valéria Almada Lima. Desse modo, mediante a publicação de suas pesquisas, o Observatório estabelece um canal de interlocução entre o GAEPP e a comunidade acadêmica, gestores de políticas públicas, movimentos sociais e a sociedade em geral. Assim, o Eixo do Trabalho fornece informações aos sujeitos sociais para que possam fundamentar os processos de construção de Políticas Públicas no Estado. Missão de Trabalho - O Observatório iniciou efetivamente suas atividades no final de 2012, após a aprovação em edital da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão –
FAPEMA, com vigência até julho de 2016. Em junho deste ano foi realizado um evento intitulado “Missão de Trabalho”, envolvendo outras instituições participantes do projeto, Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas e Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Segundo a professora Valéria, o objetivo foi avaliar o trabalho realizado ao longo dos quatro anos de funcionamento do Observatório, e definir as bases para elaboração de um Projeto de continuidade do trabalho a ser submetido às instituições de fomento, buscando novas fontes de financiamento. Ela acredita que o grande desafio para o futuro do projeto é dar maior visibilidade e alcance as atividades do grupo em termos do público atendido. No evento de avaliação, foram definidas algumas estratégias de ampliação da divulgação dos trabalhos e dos veículos de publicação.
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Creche: direi
Pesquisa analisa a creche mulhere
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Géssica dos Anjos
oice, 23 anos, é mãe de um bebê de um ano e sete meses, fruto de uma gravidez não planejada. Morando com pais, que sobrevivem de salário mínimo, teve que enfrentar o abandono do parceiro, assumir a reponsabilidade de criar o filho sozinha, encarar o preconceito por ser mãe solteira e, ainda, sair do emprego já que não tinha ninguém para cuidar do seu filho. A história narrada acima é fictícia, mas é bastante comum no dia a dia. A maioria já cruzou, em algum momento da vida, com tipos como a Joice: a jovem que se encontra apta para ser inserida no mercado de trabalho, mas não exerce nenhuma atividade remunerada por um motivo, falta de creche pública. Sim, a creche, em alguns casos, está diretamente relacionada à reinserção da mulher no mercado de trabalho, na busca por sua autonomia financeira, o que permite que ela crie com dignidade seus filhos e na melhoria da sua qualidade de vida. A creche é, portanto, um direito da criança e da mulher. Com o intuito de identificar o grau de compreensão que as mulheres têm em relação ao direito a creche, a professora do curso de Serviço Social, Marly de Jesus Sá Dias, coordena o Projeto de Pesquisa “Creche como equipamento social útil às mulheres: investigações sobre a política púbica de creches em São Luís/Maranhão”, que analisa a creche como equipamento social útil às mulheres, a fim de auxiliar na implementação e análise das políticas públicas de creches no Brasil e, particularmente, na capital maranhense.
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ito da criança e da mulher
e como equipamento social que contribui para emancipação das es e melhora a qualidade de vida das crianças De acordo com a Constituição Federal de 1988 e todos os documentos que dela se subsidiaram, a creche é de responsabilidade primordial dos municípios, precisa ser pública, de qualidade e que funcione em período integral. Não é obrigatório que as mães coloquem os filhos em creches, mas é dever do Estado ofertar este serviço. Tendo como orientandas no trabalho as estudantes Brenda Vanessa Pereira Soares e Adriana Ferreira Rabelo, a pesquisadora Marly Dias apontou o direcionamento do projeto: atender a demanda das mulheres dos movimentos feministas, de sindicatos, partidos políticos e da sociedade em geral que lutam por esse direito. “Temos como intuito organizar estudos que possibilitem o debate junto à prefeitura municipal de São Luís e outras entidades governamentais, para buscar a efetivação do direito à creche. O número de creches públicas em São Luís é muito incipiente. Devemos pensar nessas instituições como algo que funcione em tempo integral, que assegurem a melhoria de vida das crianças e proporcione a autonomia das mães”, declarou. O projeto de pesquisa, executado há dois anos, foi aplicado, inicialmente, nos bairros Cidade Olímpica, Vila Embratel e Camboa, que concentram um grande número de mulheres. “A justificativa para escolha desses bairros foi que o acesso aos serviços públicos nessas localidades é mais deficiente e nós gostaríamos de saber como a creche estava inserida no dia a dia das moradoras dessas regiões”, contou Adriana Rabelo. O segundo momento foi desenvolvido na zona rural de São Luís, nos bairros Vila Collier e Estiva, mais precisamente na Vila Samara. A equipe de pesquisadoras, durante suas incursões, tanto na zona urbana, quanto na zona rural, atestou um fator inerente a nossa sociedade patriarcal: a divisão sexual do trabalho. Segundo o relato de Brenda Vanessa Pereira, muitas entrevistadas acreditam que é função exclusiva da mulher cuidar da casa e dos filhos, ainda que trabalhem fora, e que a creche pode caracterizá-las como uma mãe omissa e despreocupada com a criação dos filhos. “Embora reconheçam que a creche seria um equipamento social importante para as suas vidas, ainda predomina a ideia de creche como ‘depósito de criança’, aquele caráter bem assistencialista do início da história das creches no Brasil”, observou.
Pobres, negras e vítimas de violência doméstica O projeto, ainda em andamento, já atestou algumas conclusões preliminares. O perfil das mulheres entrevistadas pode se configurar como pobres, solteiras, negras, embora tenham dificuldades de se reconhecer enquanto negras, que vivem em bairros periféricos da cidade de São Luís e que são impedidas de alcançar sua autonomia financeira por não ter onde deixar seus filhos para poder trabalhar fora de casa. A segunda constatação refere-se à quantidade de vagas disponibilizadas para atender crianças de zero a três anos. Existem poucas creches públicas em São Luís, logo o número de vagas é insuficiente para atender a demanda existente.
São Luís possui mais de um milhão de habitantes e só há três creches que são, de fato, públicas e estão funcionamento. A Unidade de Ensino Básico Recanto dos Pássaros, localizada na Cidade Operária; a Creche Barjonas Lobão, localizada no Jardim América e a Creche Maria de Jesus Carvalho, localizada na Camboa. Essa última é a única que funciona em período integral e mesmo assim, só 200 crianças são atendidas nesta modalidade O contato direto com essas mulheres mostrou, também, que as residentes da área urbana, ainda que de forma superficial, tem noção do direito a creche, sabem da necessidade de ter uma creche pública em seu bairro, mas não sabem para quem cobrar, ou se conformam em deixar seus filhos em creches comunitárias ou pagar alguém para cuidar das crianças, enquanto trabalham. Já as mulheres da zona rural não tem consciência desse direito e são as responsáveis pelo cuidado das crianças, até que as mesmas atinjam a idade adequada para frequentar as escolas de ensino fundamental. “Percebemos que a creche não tem sido ofertada como um direito e sim, ora como um serviço comunitário e ora como um serviço voluntário”, concluiu Adriana Rabelo. O acesso à creche altera outras esferas da vida da mulher.
Quando a mãe possui um emprego formal ou conta com o apoio do pai da criança para criar o filho, ela consegue pagar por uma babá ou serviços de uma creche particular. Quando é uma mulher pobre, a situação é diferente. Submete-se, muitas vezes, a trabalhos informais e precarizados para poder garantir o emprego e o cuidado com o filho, ou fica dependente financeiramente do companheiro e vulnerável às mais variadas formas de violência para garantir o seu sustento e o dos filhos. “Creche é um equipamento social que ajuda, por exemplo, no enfrentamento da violência doméstica, onde muitas mulheres se submetem aos variados tipos de agressões por não ter como sustentar os filhos e a partir de uma autonomia financeira, da conquista de um emprego e de uma tomada de consciência, podem mudar o rumo de suas vidas”, declarou Brenda Vanessa.
De acordo com o Mapa da Violência, de 2012, mulheres entre 20 e 45 anos, em 65% dos casos, são agredidas pelos parceiros ou ex-parceiros A busca pela autonomia da mulher A pesquisadora Marly Dias realçou a necessidade de trazer para o centro dos debates políticos e para a agenda das políticas públicas direcionadas para as mulheres a
discussão da creche como equipamento educacional e social. “A creche é um mecanismo de independência da mulher, é um caminho para a diminuição das desigualdades entre homens e mulheres. É preciso pressionar o governo para criação de novas creches públicas em tempo integral, que assegurem a ampliação de ações futuras destinadas a garantir o direito do acesso ao trabalho remunerado pelas mulheres e o crescimento saudável e seguro das crianças”.
Um levantamento feito com dados do censo escolar do Ministério da Educação, revela que o Maranhão é um dos três estados brasileiros com o maior número de cidades sem creches, são cerca de 64 cidades que não possuem creches. O Ministério da Educação pretende subir esse índice para 50% até 2020 Mãe solteira ou não, todas as mulheres devem ter o mesmo direito. Entre esses, o acesso a uma educação de qualidade para o seu filho. Enfim, gozar de momentos de lazer, buscar sua independência financeira e emocional o que garante sua emancipação frente a uma sociedade que ainda encara a mulher como a principal responsável pelos cuidados da casa e dos filhos.
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Escola Animada: o Tea recurso lúdico
Projeto de Extensão do Departamento de Artes leva o transforma o professo Vanessa Cutrin/Géssica dos Anjos
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m dos maiores desafios dos educadores hoje em dia é a busca constante por metodologias de ensino que alcancem os alunos em sala de aula. Para isso, o professor necessita cada vez mais conhecer novas ferramentas pedagógicas que ajudem a desenvolver seu lado criativo e participativo. Na educação básica, o teatro de animação em suas diversas formas - com bonecos, sombras e máscaras - é considerado uma estratégia lúdica eficaz no processo de ensino-aprendizagem, uma vez que produz memórias significativas e alimenta a imaginação dos alunos, além de revelar o educador como ser expressivo. Pensando nas potencialidades desse gênero teatral como ferramenta pedagógica, o Projeto de Extensão Casemiro Coco, vinculado ao Departamento de Artes da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), realiza várias atividades para estudar os aspectos histórico, artístico e popular das diversas linguagens do teatro de animação. Ao mesmo tempo, os pesquisadores envolvidos com a iniciativa aprendem diferentes técnicas de elaboração das formas animadas com o intuito de divulgar esses recursos didáticos para a sociedade. Uma das mais recentes ações promovidas pelo grupo de pesquisadores foi o projeto “Teatro de formas animadas das escolas do ensino fundamental”, que treinou professores da educação básica das cidades de São Luís e Raposa para a utilização do teatro de sombras e de bonecos de luva em suas escolas, duas linguagens específicas do teatro de animação. O treinamento foi conduzido pelos instrutores e bolsistas do curso de licenciatura em Teatro da UFMA, por meio de cursos, oficinas e montagens de espetáculos gratuitos, realizados na sala do grupo Casemiro Coco. Mais de vinte escolas, entre municipais e comunitárias, foram beneficiadas em diferentes bairros e povoados, como na Vila Embratel, Anjo da Guarda, Sá Viana, Monte Castelo, Fé em Deus, Bairro de Fátima, Vila Maranhão e Cajupe. “Depois de mais de dez anos do Casemiro Coco, esse acervo de conhecimento não pode ficar fechado enquanto as instituições sofrem por falta de um tratamento adequado para o teatro
de animação aqui no Maranhão. Nossa função é levar isso até as escolas”, ressaltou o professor do Departamento de Artes da UFMA e coordenador do Projeto de Extensão Casemiro Coco, Tácito Borralho. Capacitação - Durante as atividades de capacitação, os professores aprenderam desde a parte teórica e o método de criação, até como manipular e animar os objetos, entre eles os bonecos de luva. No caso do teatro de sombras de cartão, eles receberam indicações de como iluminar e mover a luz para criar diferentes fo-
Origem dos mamulengos
De acordo com estudos históricos, a origem do Teatro dos Bonecos está baseada no hibridismo cultural do Brasil. A presença de diversos povos no período da colonização brasileira, possibilitou a criação de um entretenimento de fácil acesso a população que abordava diversas temáticas, como a vida religiosa, a vida profana e os costumes populares. No Brasil, os primeiros registros sobre os bonecos datam do século XIX, em Pernambuco, onde são conhecidos por mamulengos. O termo serviu para denominar todo o teatro de bonecos popular pernambucano,
cos em movimento. “Muitos p tido contato com esse tipo de sabiam que existia o teatro de f te o treinamento, todos eles se em se inteirar de forma bem a maior recompensa que eles tr a aplicação daquilo que apren atuam”, explicou Raimundo B em Artes da UFMA e um dos in Para a produção dos o
ultrapassando os limites daquele estado tendo sido generalizado como o boneco de luva popular do Nordeste. A disseminação pelos outros estados nordestinos foi inevitável e cada localidade atribuiu aos bonecos denominações diferentes.
Como se chamam os bonecos
Apesar de ser amplamente conhecido como mamulengo, o Teatro de Bonecos tem diversas denominações regionais: Casemiro Coco, no Maranhão e Ceará; João Redondo e Calunga, no Rio Grande do Norte; Babau, na Paraíba; Mamulengo, em Pernambuco.
atro de Animação como o e pedagógico
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o Teatro de Animação para as escolas do Maranhão e or num agente cultural
professores nunca tinham e linguagem, alguns nem formas animadas. Durane mostraram empolgados ampla sobre o assunto. A rouxeram para a gente foi nderam nas escolas onde Barbosa Reis, mestrando nstrutores do projeto. objetos do Teatro de Ani-
mação, vários materiais foram utilizados nas oficinas. Os bonecos de luvas foram feitos de garrafa PET reciclável e confeccionados com retalhos de tecido, pedaços de cartolina, pincéis atômicos e restos de lã. Já para a criação de um espetáculo de sombras de cartão, foram utilizados recortes de revistas, papel cartão, fita adesiva, palitos de churrasco e também um caixote de papelão para a confecção da caixa cênica com tela para sombras. Durante as oficinas, também foram produzidos
dois espetáculos para serem apresentados nas escolas em que os professores ministravam aulas: um de bonecos de luva, intitulado Casipet e seu Papagaio Mágico, e o outro de teatro de sombras, chamado Fragmentos de cenas em sombras de cartão. Os alunos dessas escolas, que são do ensino fundamental menor, tiveram contato direto com o universo do teatro de animação, ferramenta pedagógica até então desconhecida para eles. Segundo Tácito Borralho, o aspecto lúdico e estético desse trabalho artístico de teatro é muito forte, pois as crianças não apenas se divertem como visualizam o extraordinário e o fantástico na animação de um boneco ou no teatro de sombras. Financiado pelo Programa de Extensão Universitária (ProExt) do Ministério da Educação, o “Teatro de formas animadas das escolas do ensino fundamental” teve duração de dez meses. Os espetáculos que surgiram das oficinas continuam sendo apresentados em escolas e o grupo prossegue com o acompanhamento aos professores. Para os instrutores, o principal objetivo foi alcançado com sucesso, pois os discentes realmente desenvolveram em sala de aula o que aprenderam. “A melhor perspectiva possível é quando, a partir dos resultados, se vê que o alcance foi satisfatório e que as pessoas compreenderam a teoria e conseguiram colocá-la em prática”, resume o estudante do sétimo período do curso de Licenciatura em Teatro da UFMA, Rogério Vaz da Silva, bolsista do projeto. Atualmente, o Casemiro Coco está voltado para a pesquisa e elaboração de máscaras de festejos populares, produzidas em períodos como o carnaval e o São João. Ferramenta Pedagógica – Segundo os organizadores do projeto, levar o teatro de animação para as escolas do Maranhão como ferramenta pedagógica é importante tanto para a criança quanto para o professor, que é visto como um canal de transmissão da arte para o público. “Através deste gênero teatral, o discente consegue descobrir outras propostas interdisciplinares dentro do mundo artístico, enriquecendo suas aulas e ele mesmo como educador. Ele dá vida a algo inanimado e se transforma num agente participativo e criativo no processo”, explicou Borralho. São por esses aspectos que o projeto de extensão Casemiro Coco propõe diferentes possibilidades pedagógicas no teatro de formas animadas.
Grupos preservam gênero no Maranhão Abel Lopes Pereira, formado em Teatro pela UFMA, atua como voluntário do projeto e conta como o teatro de animação deu um diferencial a sua formação profissional. Ele se entusiasma ao ver o seu trabalho possibilitar que outras pessoas tenham acesso a esse divertimento. “A partir do projeto tive outra visão sobre o teatro de formas animadas, aprendi a valorizar esse gênero de teatro, que muita gente ainda trata de maneira depreciativa, como algo simples de se fazer”. O artista destacou que o cenário do teatro de bonecos no Maranhão tenta, com muito esforço, permanecer vivo na memória da população e o Projeto Casemiro Coco tem o compro-
misso de garantir essa preservação cultural. “Hoje em dia, poucos grupos trabalham com esse gênero de teatro, o LABORARTE, a Companhia de Bonecos Beto Bittencourt, o Grupo Cambalhotas, a Companhia Pés de Fulô e a atriz Silvana Cartágenes. O grupo Casimiro Coco tem desenvolvido várias ações no sentido de valorização dessa linguagem tanto na prática em sala de aula, como na prática de espetáculos. A tradição ainda permanece, entretanto o risco de extinção é iminente, pois se trata de uma linguagem que o ator tem que se anular para que o boneco se sobressaia e são poucos que se permitem”, conclui Lopes.
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Trabalho toponímico recupera nomes e histórias de ruas de São Luís Além do valor estético e utilitário, as obras do artista plástico Paulo César preservam a memória cultural da cidade
Rildo Correa
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aminhar por ruas e becos do Centro Histórico de São Luís reserva ao visitante uma viagem ao passado marcada pelo pulsar econômico exposto nas fachadas de casarões que outrora abrigaram armazéns e comércios. Sobrados que, mesmo com a ação do tempo, sustentam a grandeza da cidade fundada por franceses e a riqueza de nobres portugueses, suas marcas, tradições e costumes. Parte dessa história pode ser encontrada nos diferentes nomes de ruas e becos. Ora homenageiam ilustres nativos, ora possuem curiosos termos que remetem a “causos” maranhenses perdidos ou não no imaginário popular. Foi a indagação dos duplos ou triplos nomes dos logradouros do bairro do Desterro que deu origem ao trabalho realizado há uma década pelo professor do Departamento de Artes da Universidade Federal do Maranhão, Paulo César de Carvalho. No ateliê do Centro de Ciências Humanas onde ministra aulas, ele produz artesanalmente placas toponímicas em pisos de cerâmica, preservando histórias e a própria identidade da capital maranhense. Memória cultural - O modelo de placa toponímica adotado pelo professor Paulo César é produzido à mão nas cores azul e branca utilizando formas geométricas em relevo, aspectos peculiares da expressão portuguesa tão presentes na cidade. Além da questão utilitária, por demarcar o
espaço geográfico para a identificação das vias públicas, as placas ajudam a perpetuar particularidades socioculturais presentes também no saber popular. Por isso, é comum encontrar em bairros históricos como o Desterro, vias com dois ou três nomes: um de denominação popular, dado em função da utilidade da rua ou devido a algum fato histórico, e outro atribuído pela prefeitura geralmente para homenagear pessoas com ligações políticas. Paulo César faz questão de ressaltar essa peculiaridade em seu trabalho ao introduzir um aspecto afetivo aliado ao senso artístico. “Na minha rua, por exemplo, preferi deixar os três nomes pelos quais a via é conhecida: rua do Precipício porque tinha um grave declive para o mar, situação que dificultava a circulação das carruagens, meio de transporte bastante utilizado no século XIX. Rua Zé do Lé, em homenagem a um escravo que juntou esmolas para construir a igreja do Desterro, e rua Dr. Carlos Reis, esse último atribuído pela prefeitura. Tudo isso ajuda a preservar nossa identidade que está se perdendo”, afirmou o professor. Realizado há dez anos, desde que passou a morar no Desterro, o trabalho do artista plástico pode ser visto em algumas ruas e becos, tais como: Largo do Desterro, Beco do Precipício, Rua do Precipício, Beco da Caela, Rua do Dique, Travessa Feliz, Rua da Palma e Rua do Giz. Curiosidades - Morador da Rua da Palma desde que nas-
ceu, Dalmir Campos, 65, é um entusiasta do trabalho de Paulo César e o considera importante, porque ajuda a valorizar histórias curiosas de São Luís. Como a do Beco da Caela. “Lá morava um português que gostava muito de criança e toda vez que passava uma senhora com uma criança ele gritava: “Ei me dê aqui ‘ca’ ela” (a criança), linguajar que soava estranho aos habitantes do lugar. Dessa forma, a rua foi se tornan-
Feitas à mão, placas recuperam aspectos da arte portuguesa dos azulejos
do ponto de referência. Quando alguém perguntava, por exemplo: - Onde fica tal coisa?, as pessoas respondiam: - Lá no Beco do Português; do “ca-ela”. E assim foi ficando ‘Beco da Caela’, narrou. Vandalismo - A ação do tempo e de vândalos, no entanto, fizeram o artista perder várias peças da sua produção. “Eu fiz muitas placas para quatro ruas que chegaram a ser colocadas, mas pessoas que trabalharam comigo
Jul/Ago - 2016 :: Cidade Universitária | 11 desapareceram com muitas delas e eu acabei perdendo essas placas. Sempre as coloco em uma esquina. Em alguns lugares, preciso pedir autorização e geralmente as tenho”, disse Paulo César. Todos os pontos que pretende identificar já estão mapeados - Travessa da Lapa, Rua Bom Sucesso, Rua da Lapa, Travessa do Portinho em alguns trechos. E ainda: Rua Afonso Pena, Rua da Palma, Rua do Giz, chegando até a Praia Grande, Rua do Deserto, Rua da Estrela, Rua Jacinto Maia. Outros becos, próximos ao Convento das Mercês e à antiga Praia do Desterro, intitulada hoje Avenida Jaime Travassos, ainda estão sendo pesquisados. “São mais ou menos doze a quinze ruas envolvendo um pouquinho do bairro Praia Grande que, pelo menos por enquanto, não pretendo mexer. Acho que a Praia Grande tem a sua administração própria e, se eles olharem e gostarem do trabalho, a gente chega lá. Mas, por enquanto não”, declarou. Apoio - Paulo César revelou ainda que experiências desagradáveis do passado fizeram-no desistir de tentar obter apoio de órgãos públicos e partir para o trabalho individual. “Eu já cansei de buscar apoio. Então, parti para as minhas loucuras individuais. Para os meus castelinhos de areia. Hoje vivo com meus castelinhos de areia, eles existem, mas é minha fantasia. É uma coisa minha e pouco importa se o mundo está vendo ou não. Eu sei que estou ocupando minha cabeça”, declarou. Mais do que um elemento decorativo e estético cheio de detalhes, o trabalho desenvolvido pelo artista plástico revive memórias que fizeram parte do cotidia-
no da cidade Patrimônio Cultural da Humanidade. “Sou um instrumento da transformação. Essa é a minha forma de preservar a história e o amor que tenho pelo lugar que move as coisas. Não tenho outra explicação”, teorizou. Vida e arte - O gosto por desenhos e pintura começou bem cedo na vida de Paulo César. A inspiração para produzir as placas toponímicas veio de memórias da adolescência. Na escola, produzia desenhos com a ajuda de um professor. Isso o ajudou a desenvolver a técnica artística. “Quando jovem gostava muito de desenhar. Eu ampliava vários desenhos do meu professor Elyan pra ele pintar e, quando ele ia colorir, observava atentamente para aprender. Dessa forma, fui adquirindo conhecimento e percebendo as maneiras de misturar as cores para conseguir o tom que precisava. Nesse período, São Luís estava sob a gestão do prefeito Haroldo Tavares que criou as placas de azulejo para o Centro Histórico. Um dos meus professores estava envolvido com o projeto o que me fez ter contato com esses bastidores. Assim, fui aprendendo e muitas placas eu ajudei no processo de produção”, lembrou. Produção - Tudo começa por meio de pesquisa, com base nas informações presentes no livro “Breve história das ruas e praças de São Luís”, de Domingos Vieira Filho. Na obra, encontramse decretos publicados no diário oficial do município que instituíram o nome das ruas. A partir daí, começam três etapas, incluindo o biscoito pronto (processo que transforma a argila em cerâmica). Com a arte preparada, es-
tilo e tamanho da fonte definidos, o processo se inicia. Normalmente uma placa leva dois dias para ficar pronta. Trata-se de um trabalho totalmente artesanal que já foi a principal forma de produção em um passado não muito distante. “Antigamente, a gente usava o papel vegetal. Hoje é um pouco difícil achar, então engor-
tinta atravessa a tela e vai pra superfície do azulejo”, detalhou. Para dar um efeito envelhecido às placas, todos os defeitos da tela são aproveitados. Com um toque cuidadoso, o professor finaliza a sua obra preenchendo o contorno das letras para dar volume. Por causa das dificuldades na hora de fixar as placas, o artista alterou o seu modo de produ-
duro o papel com óleo de cozinha, deixando-o transparente e depois preparo a tela de serigrafia. Em seguida, ponho em uma mesa de vidro com luz para secar. Quando a arte seca, eu passo uma régua e ponho o “A positivo”, que é o papel já gravado em uma placa de papel preto, com luz em cima. Esse processo de secagem demora uns quinze minutos porque a mesa é aberta e dispersa muita luz. Logo depois eu lavo. Onde havia sombra das letras, a luz não atravessa. Então, quando lavo, o que não foi queimado a água leva. É como se fosse uma peneira. Boto tinta, puxo com o rodo, a
ção. Antes feita em seis peças de cerâmica, hoje as placas são feitas praticamente em peça única equivalente ao tamanho inicial. “Quando eu produzia em seis azulejos, eu colava com fita adesiva porque, por mais que seja a mesma estampa, o encarte do azulejo e a movimentação da tela da serigrafia em cima criavam desníveis de linha. Então, às vezes, a pessoa que fixava a tela juntava o pedaço de uma com outra, desfigurando toda a placa. Por isso, hoje confecciono praticamente em uma só pra facilitar esse processo”, ensinou Paulo César.
Histórias e curiosidades de ruas e becos do Centro Histórico são resgatadas pelo trabalho do professor Paulo César
12 | Jul/Ago - 2016 :: Cidade Universitária
Quebrando preconceitos e tabus Pesquisa discute sexualidade de cardiopatas
U
Larissa Viveiros
ma das doenças cardíacas que mais afeta os brasileiros, a doença arterial coronariana (DAC), ocorre por um fornecimento inadequado de sangue ao músculo cardíaco. Este quadro é causado por acúmulo de placas de gordura na parte interna das artérias, o que pode levá-las à obstrução e rigidez, condição que torna o paciente propenso a um infarto. Essa é atualmente uma das principais causas de morte entre homens e mulheres, atingindo, principalmente, pessoas entre 40 e 60 anos de idade. Um dos aspectos pouco abordados no tratamento dessa e de outras cardiopatias é como essa condição interfere na sexualidade dos pacientes. A falta de discussão sobre o assunto foi o que levou a estudante Ariela Freitas Barros, do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Maranhão, a produzir uma monografia com o tema “A Percepção da Sexualidade da Pessoa Portadora de Doença Arterial Coronariana”. A fim de entender qual a compreensão, percepção, sentimentos e emoções dos portadores de DAC sobre a sua própria sexualidade, Ariela realizou uma pesquisa com 29 pacientes no Ambulatório de Cardiologia do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão
(HUUFMA), durante os meses de outubro e dezembro de 2015. Entre os entrevistados estão homens e mulheres com mais de 18 anos diagnosticados com DAC. Segundo Ariela Barros, o interesse pelo tema surgiu por haver “uma abordagem limitada da sexualidade no acompanhamento terapêutico dos pacientes cardiopatas e também por ser um tema repleto de tabus que muitas vezes não são discutidos durante as consultas”, declarou a estudante. O foco da pesquisa era averiguar se a condição cardíaca causada pela DAC interferia de algum modo na vida sexual dos seus portadores. O resultado da pesquisa aponta que maioria dos entrevis-
tados (79,3%) afirma que a sexualidade faz parte de sua vida e estabelecem uma ligação entre a vida sexual e a vida amorosa (75,9%). Para grande parte dos entrevistados (58,6%), a doença coronariana não exerceu mudanças na sua sexualidade. Dos portadores que apontam mudanças na prática sexual, 17 pessoas, o que equivale a 56,7% dos entrevistados, relataram diminuição da frequência, outros 13 (43,3%) relataram menor intensidade e 11 (36,7%) relataram a diminuição da libido. Entre as causas dessas mudanças estão o cansaço, dispneia, arritmia, taquicardia, dor precordial e lombar. Outros aspectos que interferem na sexualidade
são o desejo de realizar o ato sexual (70%), o incentivo do parceiro (53,3%). E o medo de sofrer um ataque cardíaco 50%. Quando perguntados sobre as informações que recebem dos médicos, (79,3%) negaram ter recebido informação sobre a sexualidade por profissionais de saúde e 18 (60%) disseram compartilhar suas dúvidas principalmente com o cônjuge. Para Ariela Barros, a pesquisa mostrou que o paciente coronariano enfrenta restrições na sua vida sexual, o que está relacionado principalmente ao medo de sofrer algum evento cardíaco. A estudante ressaltou ainda que a ausência do cônjuge prejudica a prática sexual. Ao abordar esse tema ainda considerado um tabu para médicos e pacientes, Ariela busca fomentar a discussão e diminuir os preconceitos e a desinformação que ainda existem sobre a sexualidade de pacientes cardiopatas. “A sexualidade também é um componente essencial para a qualidade de vida dos indivíduos. A divulgação dessas informações contribui para diminuir os entraves e os tabus que bloqueiam a discussão desse tema nos consultórios e ajuda a despertar o interesse dos acadêmicos e profissionais em trabalhar essa temática, seja no meio acadêmico ou no campo profissional.”.
Roda de Conversa discute combate a discriminação nas escolas Projeto desenvolve atividades de inclusão dos alunos de Educação Especial
A
Ariele Jullian
pelidos, exclusão e até atos de violência física. Essas são algumas marcas da discriminação racial nas escolas do Brasil. Atitudes que antes eram vistas como irrelevantes ou apenas ‘brincadeiras infantis’, hoje são encaradas como um problema social de consequências às vezes trágicas. Daí a necessidade de uma ação conjunta e imediata da escola para enfrentar a questão. Pensando na necessidade de combate ao preconceito no Colégio Universitário (COLUN), o Núcleo de Assistência Estudantil da Universidade Federal do Maranhão criou o projeto “Roda de Conversa: o preconceito e as diferenças na escola”. O programa oferece auxílio psicológico a estudantes deficientes físicos e visuais do ensino fundamental, com atividades que variam entre dinâmicas de grupo, oficinas e mesas-redondas. A intenção é promover a tolerância às diferenças na sala de
aula. Futuramente as ações poderão alcançar alunos com surdez e deficiência intelectual. Para uma das colaboradoras do projeto, a aluna Camila Lucena, as oficinas, debates e brincadeiras são práticas de incentivo ao respeito na escola. “É importante levar aos estudantes a ideia de que cada um tem o seu ritmo, suas habilidades. Sem dúvida, a aceitação é a bandeira deste projeto”, declarou a estudante. Segundo a coordenadora do projeto, professora Márcia, durante as atividades, a timidez é deixada de lado. A conversa e a diversão são essenciais no processo de socialização, “A princípio os alunos chegaram meio acanhados e procuramos entender o que acontece com cada um. Ouvir as experiências dos estudantes é importante para que possamos ajudá-los e também para mostrar aos outros que todos nós temos dificuldades e limites a serem superados”, afirmou a coordenadora.
Recentemente, dias 03 e 04 de junho, o Roda de Conversa teve sua participação no II Encontro de Psicologia da UFMA na Educação. Para Márcia, que além de psicóloga do COLUN é professora do curso de Psicologia da Faculdade Pitágoras, a participação no evento fortaleceu o projeto. “Avalio o encontro como um marco histórico para a
psicologia na educação do Maranhão e a realização reforça cada vez mais a ciência psicológica como profissão e campo científico”, destacou. O programa tem a parceria do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (NAPNEE). A aluna Geciane Albuquerque também colabora com o projeto.
Jul/Ago - 2016 :: Cidade Universitária | 13
Rir é o melhor remédio Projeto “Enfermeiros do Riso” promove educação e saúde para crianças em tratamento
O
Edmara Silva/Aleilton Santos
ambiente hospitalar costuma ser um local hostil para as crianças, que muitas vezes não entendem os procedimentos pelos quais são submetidas. Processos invasivos, como a medicação que é administrada e punções (sondas injetadas nos pacientes), quando administrados longe do ambiente familiar podem se tornar agressivos e até mesmo pouco eficazes. Uma alternativa adotada pelos profissionais da saúde - a terapia do riso, terapia da alegria ou risoterapia, como é mais comumente chamada - tem surtido efeitos positivos. Viver com alegria ajuda a resolver os problemas com bom humor e atitudes positivas podem contribuir para uma recuperação mais eficaz. Motivada por essa teoria e vislumbrando a oportunidade de demonstrar aos alunos a prática de um atendimento mais humanizado, a professora do curso de Enfermagem, Floriacy Stabnow, desenvolveu o projeto “Enfermeiros do Riso”. Realizado desde agosto de 2007 por acadêmicos do Campus Imperatriz, o projeto acolhe pacientes em tratamento no Hospital Municipal Infantil (Socorrinho). O objetivo é promover a educação em saúde às crianças internadas utilizando a risoterapia como instrumento, possibilitando a redução do período de internação. A coordenadora do projeto destaca a preocupação em apresentar aos futuros profissionais da saúde que eles não devem oferecer apenas o cuidado técnico aos pacientes. “É neste ponto que se visa a aproximação entre pacientes e profissionais da saúde, no qual se tenta chegar a um denominador comum, que é a humanização na assistência dessas crianças hospitalizadas, revigorando assim a saúde delas”, explicou a professora Floriacy, doutora em Ciências pelo Progra-
ma de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Ações que fazem a diferença - Ao todo, o projeto conta com quinze voluntários e dois bolsistas, que se alternam em escalas para auxiliar nas ações realizadas no hospital. São estudantes dos cursos de Enfermagem, Medicina e Pedagogia. Em três dias da semana os alunos capricham no figurino, sempre com cores vibrantes, maquiagem de palhaço ou se caracterizam de animais para chamar a atenção das crianças por onde passam. Cantam, brincam de roda, contam histórias e distraem os pequenos pacientes, que esquecem o ambiente hospitalar e se divertem. Na brinquedoteca do hospital são desenvolvidas várias atividades, como leitura de contos, exibição de filmes e apresentação de peças teatrais. A ação acontece sempre depois das 15h, horário em que a rotina do hospital é mais tranquila e as crianças já dormiram um pouco. O espaço é ornamentado com balões e fitas. Um jogo de luz especial e música ambiente completam atmosfera para os Enfermeiros do Riso entrarem em cena. As intervenções, que muitas vezes melhoram a rotina estressante dos pequenos, são elogiadas pelas famílias. É o caso de Francinete Batista, mãe do Samuel, 3, que se recupera de uma queda. “Elas passam muito tempo internadas e não têm uma forma de se divertir. O projeto devolve a alegria a elas”, relata. Segundo a bolsista Sheila Carvalho, é importante participar desse tipo de atividade. “Interessei-me pelo projeto porque ele proporciona uma distração para as crianças e melhora a realidade do hospital. Eu aprendi que a gente sempre pode fazer alguma coisa pelo outro, mesmo que seja pequena. Levar alegria às crianças muda o mundo delas”, avalia.
Brinquedo terapêutico - O brinquedo terapêutico é um dos métodos que mais atraem as crianças. Trata-se de uma forma lúdica de apresentar aos pequenos os tipos de tratamento aos quais serão submetidos, aumentando o grau de confiança deles. A prática faz parte do projeto de conclusão de curso de Enfermagem do bolsista Ytallo Juan, que usa o procedimento para conhecer melhor as crianças através das emoções delas. Ao todo, foram capacitados 64 profissionais, entre técnicos de enfermagem e enfermeiros, por meio de sete oficinas, onde foi explicada a proposta do trabalho. O brinquedo é uma parte significativa na vida de uma criança. Através dele, ela estabelece comunicação com o meio
onde vive, muitas vezes expressando seu sentimento de forma natural. “Associar brinquedo e terapia melhora a comunicação entre os profissionais e as crianças, minimiza possíveis traumas decorrentes de outros atendimentos, além de contribuir para familiarizar a criança com o ambiente hospitalar”, explicou Juan. O projeto Enfermeiros do Riso tem tido uma avaliação positiva tanto por parte dos pacientes como da Casa de Saúde e da Universidade. “A iniciativa possibilita aos alunos mostrarem a sociedade o que é aprendido em sala de aula, além de ensinar aos acadêmicos e futuros profissionais a importância do atendimento humanizado”, explicou a professora Floriacy Stabnow.
14 | Jul/Ago - 2016 :: Cidade Universitária
Empreender para poder crescer Empreendedorismo modifica comportamentos e é visto como oportunidade diante da atual crise financeira do país
O empreendedorismo mostra que a pessoa pode inovar na função dela, propondo novas estratégias, mesmo sendo empregada. Isso aumenta a produção do trabalhador. Nessa conjuntura, o empreendedorismo valoriza o profissional e a empresa, e as pessoas empreendedoras têm mais chance de manter o emprego
Fabiana França
A
iniciativa empreendedora é apontada por estudiosos como a grande chance brasileira de sobreviver à crise financeira que o país atravessa. Para isso, basta comparar os números de pesquisas econômicas. Segundo o SEBRAE, o Brasil tem mais de 22 milhões de novos praticantes de atividades empreendedoras, entre novatos e estabelecidos, o que corresponde a 21% da nossa população. Em 2014, 45 milhões de pessoas - 34,5% dos brasileiros - empreendia. Em 2015, os números passaram para 52 milhões (39,3% da população).
preendedora mostra reflete na educação. Em julho, um projeto que modifica a Lei das Diretrizes e Bases da Educação, implantando o empreendedorismo nos currículos dos ensinos fundamental, médio e superior, foi aprovado pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal. No ensino superior, o empreendedorismo já está presente no currículo de diversas áreas, além de ser praticado através da pesquisa e extensão. O exercício empreendedor na Universidade é mais uma oportunidade de levar conhecimento inovador para
O número de indivíduos buscando ganhar dinheiro por conta própria diante de uma crise é reflexo do perfil brasileiro para empreender. Segundo a Endeavor Brasil, 31% da população do país é situacionista. Isso significa que, a partir de determinada situação, as pessoas identificam uma potência empreendedora em alguma atividade. A força que a atuação em-
a sociedade, como aponta o coordenador do Departamento de Empreendedorismo e Inovação da UFMA (DEMI), Areolino Neto. “Esse conhecimento precisa gerar benefício para a sociedade. A pessoa vai aplicar o que aprendeu na Universidade numa organização que ele mesmo cria e gere. Como trabalhador, ele melhora sua relação com a empresa, sai da rotina de ficar aten-
dendo solicitações do empregador e pode modificar o ambiente de trabalho, contribuindo para que a empresa fique mais competitiva, por exemplo”, declarou o coordenador. Criatividade - O DEMI – UFMA possui um centro dentro da Cidade Universitária Dom Delgado para abrigar inciativas empreendedoras de estudantes, pesquisadores e profissionais. No prédio funcionam as Empresas Juniores dos cursos da Instituição, as Empresas Incubadas e pesquisas oriundas de Bolsas de Iniciação Tecnológica. As Empresas Juniores podem ser o primeiro contato profissional do estudante universitário com o universo empreendedor. Elas não possuem um dono e não visam o lucro. Vivem da iniciativa e do movimento coletivo dos universitários. Na UFMA, 10 EJ mobilizam entre 80 e 100 estudantes de diversos cursos, como Psicologia, Turismo, Design e Administração. Para o coordenador do DEMI, o empreendedorismo não busca apenas transformar os seus protagonistas em patrões, mas também moldar funcionários mais criativos. “O empreendedorismo é para todos, mas nem todos serão empresários. Não é só para quem quer ser dono do próprio negócio. Mesmo para quem só quer trabalhar numa empresa grande ou pequena é interessante, porque ele chega na empresa pensando diferente do senso comum. O empreendedorismo mostra que a pessoa pode inovar na função dela, propondo novas estratégias, mesmo sendo empregada. Isso aumenta a produção do trabalhador. Nessa conjuntura, o empreendedorismo valoriza o profissional e a empresa, e as pes-
soas empreendedoras têm mais chance de manter o emprego”, completou Areolino Neto. Capacitação - Outro exemplo de aproximação com a ideia empreendedora, dentro da Universidade, é a Liga Acadêmica. A Liga existe desde 2013 e tem como objetivo fomentar o empreendedorismo através de ações de inspiração, capacitação e apoio, realizando eventos para que os estudantes possam se aproximar do ambiente empreendedor. Maria Karolyne Borges, graduanda em Administração, foi presidente da Liga por 2 anos e falou da experiência com o empreendedorismo. “Participar da Liga me fez perceber o real sentido do que é fazer a diferença na vida de outras pessoas, e isso só é possível a partir do momento que eu percebi o empreendedorismo. O real conceito não é ter uma empresa, mas é um estilo de vida, em que você observa algo além de você e usa isso para inspirar pessoas. Hoje não consigo ver desenvolvimento real sem o empreendedorismo, em qualquer ambiente”, ressaltou. Segundo Areolino Neto, além de alternativa para tempos de crise, o envolvimento com a ação empreendedora tem muito a contribuir para o engrandecimento profissional de todos. O pensamento que está em voga, em um novo momento, torna-se uma oportunidade para alunos e também para não alunos desenvolverem uma nova mentalidade profissional na sociedade. “O aluno que aprende a empreender pode propor novas atitudes e iniciativas, procurar fazer o trabalho de modo mais eficiente. Olhando por esse aspecto, o empreendedorismo torna-se obrigação da Universidade”, finalizou o coordenador.
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Basquete adaptado e qualidade de vida Projeto capacita pessoas com deficiência para práticas esportivas e integração social Ramayana Mendes
“Me sinto um privilegiado em poder participar desse projeto. O basquete em cadeira de rodas faz muito bem pra nossa saúde física e mental” André Goulart, 39 anos, cadeirante. Há 18 anos pratica o basquete em cadeira de rodas e desde 2014 participa do projeto de extensão da UFMA
A
ções, programas e projetos destinados à inclusão de pessoas com deficiência em práticas e atividades físicas representam formas de integração dessas pessoas à sociedade local. Ao mesmo tempo, viabilizam a difusão e o fomento das atividades de ensino, pesquisa e extensão da Universidade. Além disso, estimulam a comunidade acadêmica na construção de novos conhecimentos e vivência de práticas cidadãs. Esses são os objetivos do Projeto de Extensão Basquete Adaptado e Qualidade de Vida, coordenado pela professora Elizabeth Albuquerque, do Departamento de Educação Física da UFMA. O projeto teve início em 2011, após reunião convocada pelo Comitê Olímpico Brasileiro e pelo Ministério do Esporte, em Belém do Pará. De acordo com a coordenadora, o encontro serviu para estimular os professores das universidades públicas a trabalharem com o esporte adaptado, bem como uniformizar o conteúdo dessa disciplina. Para Elizabeth, outro fator que motivou a iniciativa foi a experiência de dez anos de trabalho com pessoas com deficiência. Tudo contribuiu para a criação do projeto, que atualmente conta com a participação de 20 pessoas com deficiência física, numa faixa etária de 11 a 45 anos. A equipe de trabalho é formada pelos professores Elizabeth Albuquerque (coordenadora geral), Flávio Pires (fisioterapeuta), Florentino Assenço e Francisco Navarro (responsáveis pelos testes específicos de laboratório de força e fisiologia do exercício) e o aluno Washington (monitor).
Ainda de acordo com a coordenadora, o engajamento de discentes e profissionais do Departamento de Educação Física da UFMA é um diferencial para o progresso do projeto de extensão, tendo em vista que o trabalho desempenhado por essas pessoas visa, também, à responsabilidade social por meio da inclusão via prática de esporte. “Na medida em que promove a interação social também promove a instrução e capacitação de pessoas com deficiência, visando à formação de futuros atletas paralímpicos e cidadãos conscientes para a sociedade”, declarou a professora Elizabeth Albuquerque. Autoestima - André Goulart (39) conheceu o basquete em cadeira de rodas há 18 anos, quando virou cadeirante devido a um tiro. Ele participa do projeto há dois anos e diz que a iniciativa melhorou sua autoestima e mudou sua vida. “Me sinto um privilegiado em poder participar desse projeto. O basquete em cadeira de rodas faz muito bem pra nossa saúde física e mental. Alguns chegaram aqui sem saber nem pegar numa bola e hoje estão sendo chamados pra jogar com outras pessoas”, destacou. André também agradeceu à UFMA por ter proporcionado a ele esse contato com o esporte. “A Universidade foi nossa parceira acima de tudo”, disse. Outro participante do projeto é Inaldo Simões (37), que pratica o basquete em cadeira de rodas há 20 anos. Natural de Pernambuco, ele mora em São Luís há um ano, quando ingressou no projeto de extensão da UFMA. Para Inaldo, o esporte foi uma forma de conhecer outras pessoas e romper o preconceito interno e também na própria família. “Foi muito difícil fazer com que minha família e eu mesmo me aceitasse do jeito que sou. Por causa do preconceito
a gente deixa de sair de casa. Mas o basquete em cadeira de rodas melhorou minha comunicação com as pessoas. Hoje não tenho vergonha de fazer amizade com ninguém. Sou uma pessoa normal”, declarou. Seleção - Inaldo Simões afirmou também que o esporte o levou a várias cidades do Brasil inteiro e até a outros países. “Joguei na Seleção Brasileira várias vezes e pra mim foi muito marcante na minha vida. Só consegui coisas positivas com o basquete, principalmente em relação ao meu bem-estar”, destacou. Inaldo já foi tricampeão brasileiro, tricampeão da Copa Brasil e vice campeão mundial pela seleção sub-20. Além disso, já jogou na seleção do Canadá e Austrália. “Antigamente tinha medo de sair porque o pessoal podia me chamar de aleijado. Hoje eu não tenho mais isso comigo. Minha autoestima melhorou muito”, disse. Limitações – Para a coordenadora, apesar de ter alcançado seu objetivo, o Projeto de Extensão Basquetebol Adaptado e Qualidade de Vida ainda possui limitações impostas por fatores externos, uma vez que o número de participantes é reduzido em relação ao número de pessoas com deficiência no estado do Maranhão. Além disso, em algumas casas, falta apoio familiar para o enganjamente dessas pessoas em projetos como esse. Mesmo assim, diz Elizabeth Albuquerque, a iniciativa é muito importante, porque proporciona qualidade de vida aos participantes. “Ao viabilizar acesso à prática de esportes, o projeto amplia a socialização, melhora a autoestima dos participantes e propicia qualidade de vida”, ressaltou a coordenadora. Ao mesmo tempo, a Instituição propõe o desafio de construção e difusão de conhecimento ao corpo acadêmico.
16 | Jul/Ago - 2016 :: Cidade Universitária
Juçara: uma esperança na luta contra o câncer de próstata Pesquisa avança e gera expectativas sobre novo fármaco que pode contribuir no tratamento da doença
E
Rildo Correa
stima-se que no Brasil surjam cerca de 61.000 novos casos de câncer de próstata só em 2016, sendo o tipo da doença mais comum entre os homens no país, sem considerar os tumores de pele não melanoma, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA). Essa alarmante situação tem desafiado pesquisadores a encontrar a cura para a doença ou formas de tratamento que complementem as já existentes. Sob essa perspectiva que um grupo de pesquisadores do Núcleo de Imunologia Básica e Aplicada (NIBA), coordenado pela professora Maria do Desterro Nascimento, do Departamento de Patologia da Universidade Federal do Maranhão, vem desenvolvendo análises dos efeitos da juçara (Extrato da Euterpe Oleracea Mart) sobre células causadoras do câncer de próstata (Adenocarcinoma de Próstata, Pc-3), obtendo resultados promissores. A pesquisa, que está em fase de cultura de células, tem parceria com o Laboratório de Farmacologia e Psicobiologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e o Instituto Nacional de Câncer. Em entrevista, um dos pesquisadores do grupo, o estudante de Medicina Marcos Antônio Custódio, falou sobre a possibilidade de obter um novo fármaco que pode contribuir para o tratamento da doença. Ascom: Marcos, como o grupo começou a se dedicar à pesquisa? A pesquisa iniciou a partir da tese de doutorado da professora Dtulcelena Ferreira da Silva, do
Departamento de Morfologia da UFMA, avaliando o papel da juçara, Euterpe oleracea Mart., e seu potencial efeito citotóxico nas células do câncer de mama e nas células de câncer colo-retal. Com os resultados promissores a professora Maria do Desterro submeteu uma proposta a Fundação de Amparo à Pesquisa e Desenvolvimento Científico do Maranhão - Fapema e ao Programa
do em 2014 e 2015 utilizamos os frutos da juçara coletados no Parque Ecológico do Maracanã, em São Luís, e a linhagem de células PC3 foram obtidas no banco de células da UFRJ. A citotoxicidade in vitro foi avaliada por meio da exposição da linhagem de células PC-3, derivadas de adenocarcinoma de próstata humano a diferentes concentrações do extra-
bilidade celular se manteve plena. Após 48 horas de tratamento com diferentes níveis de concentração de extrato hidroalcoólico derivado da juçara, observamos a diminuição da viabilidade celular comprovando que os extratos hidroalcoólicos do caroço da Euterpe Oleracea Mart. possuem potencial citotóxico, de forma tempo-dependente, sobre as células de adenocarcino-
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) para continuarmos com a pesquisa do câncer retal e iniciarmos pesquisas na mesma linha com o câncer de próstata, analisando se componentes da juçara conseguiam matar as células cancerígenas na próstata. Ascom: De que forma o trabalho foi realizado? No trabalho inicial realiza-
to da juçara, por determinados períodos de tempo. A caracterização das modificações morfológicas foi realizada pela microscopia de luz invertida. Ascom: E o resultado foi o esperado? Qual o estágio atual da pesquisa? Nós verificamos, após 24 horas de iniciado o tratamento, que em todas as concentrações a via-
ma de próstata humana. Agora o estudo segue com o professor Walbert Muniz, que está cursando doutorado na Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio), pois na pesquisa utilizamos o extrato bruto, ou seja, todos os componentes do fruto. Agora, estamos avaliando qual parte da juçara tem maior capacidade de induzir a morte celular nas células de câncer de próstata.
Pesquisas com Cólon O grupo de pesquisa coordenado pela professora Maria do Desterro também desenvolveu estudos sobre o efeito da juçara em duas linhagens de cólon (HT29 e CACO-2). Para o estudo nas células de adenocarcinoma de cólon, os frutos foram coletados no Parque da Juçara, em São Luís, como explicou o estudante. “Após a coleta dos frutos, partimos para a confecção exsicata (amostra feita para a identificação de espécies vegetais). Os extratos hidroalcoólicos foram extraídos no Laboratório de Farmacologia e Psicobiologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. As linhagens utilizadas na pesquisa, o CACO-2 e HT-29, apesar de vindas de um mesmo tipo tumoral, apresentam características distintas, sendo a CACO-2 uma célula com fenótipo mais diferenciado e proliferação mais
lenta quando comparada à linhagem HT-29, com fenótipo mais indiferenciado e proliferação mais rápida”, disse Marcos. Entretanto, os resultados encontrados no estudo não foram os mesmos obtidos na pesquisa com as células de próstata. Nas células de adenocarcinoma de cólon, a juçara não conseguiu reduzir a viabilidade celular. Reconhecimento - As pesquisas com o extrato da juçara para o combate ao câncer têm chamado atenção da comunidade científica. As pesquisas foram premiadas em duas categorias do Prêmio Dr. Hélio Mendes de incentivo à pesquisa em Oncologia no II Congresso de Oncologia do Hospital São Domingos, realizado entre os dias 13 e 15 de abril. O grupo representado por Marcos Antônio Custódio levou duas das três primeiras coloca-
Vida Saudável ções: 1º lugar com o trabalho em “Análise da citotoxidade da juçara em linhagens de Adenocarcinoma de Próstata, PC-3”, e o 3º lugar com a “Análise da citotoxidade do extrato da juçara, Euterpe oleracea Mart., em células de Adenocarcinoma de Cólon, HT29 e CACO-2”. Para o estudante Marcos Antônio Custódio foi uma grata surpresa ver o trabalho da Universidade ser reconhecido. “É importante para nós, enquanto equipe, porque é um estímulo para continuarmos mantendo nossas atividades de pesquisa, pois nós sabemos que o estudo de oncologia no Maranhão ainda é carente. Então, esses trabalhos mostram que podemos aliar saberes populares com o conhecimento científico para que possamos avançar nos métodos de tratamento oncológico”, comemorou.
Além da idade, fatores de risco sociais e ambientais aumentam a possibilidade de desenvolver o câncer. No entanto, hábitos saudáveis (não fumar; ter uma alimentação equilibrada; praticar exercícios físicos; realizar exames de prevenção) são algumas ações que ajudam a reduzir as chances de desenvolver a doença.
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Chegou a hora do ENADE, e aí?
Avaliação é parâmetro direta e indiretamente para análises que formam indicadores de qualidade dos cursos de graduação
P
Luciano Santos
ara que serve o Enade? A pergunta ainda é muito comum entre os universitários, principalmente quando se aproxima o mês de novembro, quando tradicionalmente é aplicado o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes. O Ministério da Educação realiza o exame desde 2004, porém muitos ainda desconhecem que é um dos mais importantes instrumentos de avaliação de instituições de ensino superior do país e que sua análise pode influenciar tanto na estruturação dos cursos quanto na própria carreira profissional do aluno. O Enade, segundo consta no site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Texeira, “avalia o rendimento dos concluintes dos cursos de graduação, em relação aos conteúdos programáticos, habilidades e competências adquiridas em sua formação”. Obrigatório para os convocados, vez que é requisito do histórico escolar do aluno concluinte, o Enade produz e divulga anualmente informações sobre a qualidade do ensino superior brasileiro. Os dados correspondem aos cursos de graduação elencados no ciclo corrente de aplicação dos testes (ver box). Orçamento - O procurador educacional institucional da UFMA, Romildo Sampaio, afirmou que, com o exame, o MEC não tem o objetivo de formar rankings e comparações entre as instituições. Trata-se de uma avaliação de cursos para que possa atestar as competências e habilidades dos estudantes e buscar níveis de excelência. O orçamento da universidade e até a manutenção da oferta de vagas para os cursos também depende dos conceitos obtidos na avaliação. “Uma parte da composição da matriz orçamentária tem relação com os indicadores de qualidade, medidos pelo Enade, Conceito Preliminar de Cursos e Índice Geral de Cursos (ver box). Já se sabe que até a concessão de
financiamento por meio do Prouni e Fies está associada a critérios de qualidade que as instituições privadas devem ter”, completou. O MEC estuda considerar as notas obtidas pelo aluno no Enade em seletivos de programas de pós-graduação em instituições federais de ensino superior: “Hoje, o mercado de trabalho e alguns programas de pós-graduação têm começado a usar a nota como um dos critérios de admissão. Isso tem acontecido com uma frequência maior na área das ciências exatas”. A Universidade Federal do Maranhão tem obtido, já há alguns anos, a média de conceitos 3 em seus cursos de graduação, considerado bom pelo MEC, em uma escala de 0 a 5. De acordo com o procurador, os estudantes têm tido um envolvimento expressivo com o exame, e são poucas as ausências nos dias de prova. Conscientização - Nos últimos anos, a UFMA tem intensificado as ações de conscientização e o diálogo com os estudantes e os professores para que entendam o significado do Enade, não só para os currículos dos discentes, mas, também, para a manutenção das atividades da Instituição. A campanha se estende, também, a assistência prestada ao aluno no dia da prova pela administração superior e por coordenadores de curso, estreitando os laços e o compromisso mútuo com o exame. “Nós temos aumentado o trabalho de sensibilização com coordenadores meses antes da prova, pois são eles que estão no dia a dia com os alunos, estabelecendo diálogos para melhorar a universidade enquanto conceito de cursos”, declara a pró-reitora de Ensino da UFMA, Isabel Ibarra. Para a aluna do curso de Direito, Delene Pimentel, que participou em 2015, a maior motivação foi contribuir com a Instituição: “Fui para honrar o curso, pois se eu deixar de fazê-lo, vai ficar com nota baixa na avaliação do MEC”, resumiu.
Ciclos e áreas de conhecimento Os cursos são avaliados e obtêm informações de análises de três em três anos, de acordo com o ciclo em que são enquadrados. O exame foi iniciado em 2004, com o ciclo verde, que compreende as áreas da saúde, ciências agrárias e áreas afins, e os eixos tecnológicos de ambiente e saúde, produção alimentícia, recursos naturais, militar e segurança. O ciclo azul começou em 2005 e avalia as ciências exatas, licenciaturas e áreas afins, além dos eixos tecnológicos de controle e processos industriais, informação e comunicação, infraestrutura e produção industrial. O ciclo vermelho teve a primeira aplicação da prova em 2006 e compreende as ciências sociais aplicadas, ciências humanas e áreas afins, e os eixos tecnológicos de gestão e negócios, apoio escolar, hospitalidade e lazer, produção cultural e design.
Indicadores de qualidade Conceito Enade - Divulgado anualmente para os cursos que tiveram estudantes concluintes participantes do exame, tem como objetivo aferir o desempenho dos estudantes em relação aos conteúdos programáticos previstos nas diretrizes curriculares do respectivo curso de graduação e as habilidades e competências em sua formação. Serve, diretamente e indiretamente, como um dos critérios de avaliação em outros dois conceitos, CPC e IGC. CPC - É calculado no ano seguinte ao da realização do Enade de cada área, com base no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes, corpo docente, infraestrutura, recursos didático -pedagógicos e demais insumos, conforme orientação técnica aprovada pela Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (Conaes). O CPC dos cursos com
oferta nas modalidades presencial e a distância é divulgado de maneira unificada, considerando a soma dos estudantes das duas modalidades e seus respectivos resultados. IGC - Foi concebido para ser um indicador de qualidade que avalia as instituições de educação superior e leva em consideração a média dos últimos CPCs disponíveis dos cursos avaliados da instituição no ano do cálculo e nos dois anteriores; o número de matrículas em cada um dos cursos computados; a média dos conceitos de avaliação dos programas de pósgraduação stricto sensu atribuídos pela Capes na última avaliação trienal disponível; e a distribuição dos estudantes entre os diferentes níveis de ensino, graduação ou pós-graduação stricto sensu. O IGC é calculado desde 2007 e os resultados estão disponíveis para download no site do INEP.
A UFMA realiza campanhas periódicas de estímulo para o aluno que é convocado a prestar o exame
18 | Jul/Ago - 2016 :: Cidade Universitária
UFMA comemora 50 anos com avan Servidores e ex-alunos que testemunharam a transformação da UFMA em
E
Sansão Hortegal
dilla Costa, 23 anos, é uma das oitenta estudantes que foram beneficiadas com o acesso ao curso de Letras Libras da Universidade Federal do Maranhão. Ela ingressou em uma comunidade surda ainda na adolescência, porque se apaixonou pela Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Hoje, Edilla caminha para conquistar o sonho tão almejado: a graduação em Letras Libras Licenciatura. O curso, um dos mais novos, representa um dos muitos avanços ao longo desses 50 anos de existência da UFMA, uma das 26 instituições de ensino superior a oferecer esta graduação. “É uma oportunidade incrível estudar uma graduação em Letras Libras, que é a primeira do estado, e, com ela, formar profissionais que atendam a comunidade surda”, disse a estudante, que é da segunda turma do curso de Letras. Ela pretende se aprofundar cada vez mais na área para, futuramente, trabalhar com crianças surdas e contribuir com a educação no estado. A criação do curso de Letras Libras é um grande avanço na política de acessibilidade da UFMA, que tem tido destaque no cenário atual. Por determinação do Ministério da Educação, todas as licenciaturas deverão ter pelo menos uma disciplina de libras. A UFMA vestiu a camisa em prol das pessoas com deficiência e criou, em 2010, o Núcleo de Acessibilidade, responsável por atender todo o contingente de discentes que possui alguma deficiência, sejam elas de locomoção, auditivas ou visuais. O Núcleo visa ainda dar suporte ao ensino de graduação, incluindo todos os componentes curriculares que compõem o curso de cada ingressante. Instituída em 21 de outubro de 1966, neste jubileu de ouro a UFMA tem muito a comemorar. A começar pelo crescimento na graduação, talvez o avanço mais significativo para a sociedade, já que ampliou a oferta de cursos para as mais diversas áreas do
conhecimento. Nos últimos dez anos passou de 43 cursos nas modalidades presenciais, a distância e especial para aproximadamente 140 cursos. Quem viveu os primeiros anos da Universidade testemunha a evolução com indisfarçável orgulho. A professora aposentada do Departamento de Enfermagem, Terezinha Frias, lembra que começou a lecionar na Universidade Católica, na antiga Escola de Enfermagem São Francisco de Assis, que ficava na Rua Rio Bran-
co, no centro da Cidade. Antes de 1966, a UFMA ainda não existia e quem a mantinha era a Arquidiocese de São Luís - daí o nome de Universidade Católica. “Não tínhamos a estrutura que temos hoje. Naquela época os cursos eram isolados. Chamávamos de faculdades isoladas e só existiam as de Direito, Odontologia e Enfermagem. Tempos depois os cursos foram se tornando federais, sendo criado mais um, o de Farmácia. Foi então que surgiu a Fundação Universidade do Maranhão, e logo depois foi criada a Faculdade de Medicina, que ainda não existia no começo”, recordou. Terezinha Frias lembrou ainda que naquela época pratica-
mente não havia pesquisas, “isso evoluiu muito”. A professora conta que tinha um estudo desenvolvido pelo Departamento de Enfermagem em parceria com o de Farmácia sobre o uso do chuchu. “Naquela época, brincávamos porque no nosso Departamento as pesquisas eram somente com o uso do chuchu e hoje percebemos a expansão e a participação ativa dos nossos egressos, que têm tido muito sucesso mundo afora”.
No curso de Enfermagem, só tinha três estudantes, recorda a professora. Com o curso prestes a fechar a então diretora saiu em busca de alunos. “Fui a vários estados ministrando palestras, sempre com o intuito de angariar novos alunos. Tínhamos um curso de Ciências Exatas que fechou. Então, trouxe esses estudantes para o nosso curso de Enfermagem, que deram vida nova a essa turma e dali saíram profissionais brilhantes”, destacou. O técnico-administrativo Leônidas Rodrigues Coimbra, 47 anos de serviços prestados à UFMA, atualmente lotado no Núcleo de Sindicância e Processo Administrativo Disciplinar, é ou-
tro que acompanhou de perto a extraordinária evolução nesses 50 anos da Instituição. “Naquela época havia mais familiaridade entre docentes, discentes e técnicos, mas o número de profissionais era bem menor. Hoje, contamos com mais recursos e a infraestrutura melhorou bastante, facilitando o nosso trabalho e a prestação de serviços à comunidade acadêmica”, comparou. Formado em Direito e em Comunicação Social, ambos pela UFMA, Coimbra atesta que hoje a Universidade é realmente uma cidade. Nos idos de 1969, a reitoria funcionava na Rua 13 de maio, próximo à Faculdade de Farmácia. Naquela época sequer havia o Campus. “O prédio, que conhecemos como Castelão, onde funciona hoje a reitoria, foi fundado pelo reitor Cônego José Ribamar Carvalho, em 1970, com a presença do então ex-ministro da Educação, Jarbas Passarinho. Este foi o primeiro prédio. Em seguida surgiu o Centro de Ensino Básico, conhecido atualmente por CEB
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nços em pesquisa, ensino e extensão cinco décadas relembram momentos marcantes da história da Instituição Velho. Depois, o Centro de Ensino Integrado, da área de Medicina, e assim foram surgindo os prédios”, lembrou. O servidor testemunhou uma passagem marcante na história da UFMA: a indicação do professor e escritor Josué Montello para a reitoria, em 1970. “Houve um desentendimento entre o reitor Pedro Neiva de Santana e o Cônego Ribamar Carvalho, que resultou na intromissão do então ex-ministro da Educação, Jarbas Passarinho. Ele nomeou o escritor Josué Montello como reitor pró-tempore. Foi assim que surgiu a figura do reitor pró-
tempore. Ele cumpriu seu mandato até 1972”, lembra. Se o avanço na graduação, hoje, com mais de 90 cursos, é a face mais visível do crescimento da Universidade, a pós-graduação exibe números que colocam a UFMA em um patamar de destaque entre as instituições de ensino superior do país. Atualmente, são 34 mestrados e nove doutorados, além de 207 grupos de pesquisa. Em um ranking divulgado recentemente, a UFMA alcançou a 19º posição entre as universidades/ instituições das Américas que mais tiveram avanço em atividades de
pesquisa de alto impacto nos últimos anos, em Ciências Naturais, no período de 2012 a 2015, alcançando o status de “Rising Star” (Estrela Ascendente), em 2016. O ranking NATURE INDEX é constituído por um conjunto de artigos científicos publicados anualmente em um seleto grupo de jornais de alta qualidade. Com escopo em Ciências Naturais, proporciona um painel indicativo que engloba mais de 45 mil instituições em todo o mundo no que concerne à produção de alto impacto e qualidade em Física, Química, Ciências de Materiais, Geociências, Ciências Ambientais, Ecologia e Ciências da Vida em geral. Esse destaque só foi possível com os investimentos nos laboratórios e em infraestrutura, como o Centro de Pesquisa do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia, inaugurado em outubro de 2013 e utilizado, exclusivamente, para o ensino e o desenvolvimento da pesquisa por professores e estudantes. O prédio reúne centrais e laboratórios voltados para a pesquisa em Física, Química de Materiais e Engenharia Elétrica – muitas das vezes em caráter interdisciplinar. Possui equipamentos de alta tecnologia em pequeno e médio porte, como o difratômetro de raio X (instrumento utilizado para medir o
diâmetro de pequenas partículas em um campo microscópico, mediante os anéis de difração que parecem envolvê-las), o microscópio eletrônico de varredura e o microscópio de força atômica. A Universidade se expandiu também para além de seus muros e desenvolve cerca de 500 projetos de extensão que atendem à comunidade do Itaqui-Bacanga. A reitora Nair Portela diz que a UFMA tem muito a comemorar no seu jubileu de ouro por tudo que fez, esta fazendo e fará em prol do desenvolvimento econômico e social do estado. “São cinquenta anos de uma história dedicada à formação de milhares de pessoas. Em muitos postos estratégicos da administração pública, vejo com orgulho egressos da UFMA em posição de destaque, contribuindo para melhorar indicadores sociais do estado, trabalhando pelo desenvolvimento do Maranhão e do Brasil. Esta é a grande missão da Universidade: gerar, ampliar, difundir e preservar ideias e conhecimentos nos diversos campos do saber, propor soluções visando ao desenvolvimento intelectual, humano e sócio‐cultural, bem como à melhoria de qualidade de vida do ser humano em geral e situar‐se como centro dinâmico de desenvolvimento local, regional e nacional”, enfatizou.
Criação da bandeira marcou os quinze anos Criada em 1981, próximo das comemorações pelos seus 15 anos, a bandeira da Universidade Federal do Maranhão é um dos símbolos da Instituição. Aquela época, havia como distintivo apenas o brasão, obra do professor José de Ribamar Nina Rodrigues. O projeto gráfico é de autoria do professor do curso de Design, Paulo Sérgio Lago de Carvalho. “A bandeira foi desenhada seguindo as mesmas medidas da bandeira do Brasil, no formato retangular. Suas cores azuis e brancas foram definidas de acordo com as cores oficiais da Universidade Fe-
deral do Maranhão. No projeto, a figura do brasão está evidenciada pela luminosidade do círculo branco sobre o polígono azul que significa sua existência no universo. Sua imagem ímpar representa a força da Instituição enquanto agente de mudanças culturais, políticas e tecnológicas na sociedade através do ensino, pesquisa e extensão. A sequência de faixas verticais em azul sobre o fundo branco, espaçadas e dispostas de forma crescente na sua largura, simboliza a difusão do saber”, detalha Paulo Sérgio. Em 21 de outubro de 1981, a bandeira da UFMA foi hasteada
pela primeira vez durante a comemoração dos 15 anos de fundação da Universidade, realizada nos salões do Grêmio Lítero Recreativo Português. Atualmente, a bandeira é utilizada seguindo as regras nacionais, em todas as solenidades da Instituição que exijam seus símbolos representativos como colação de grau; posses de reitor, diretor de centro, chefe de departamento e coordenador de curso; concessão do título de Doutor Honoris Causa; concessão da comenda Palmas Universitárias, solenidade de abertura de eventos como fóruns, congressos, entre outros.
20 | Jul/Ago - 2016 :: Cidade Universitária
Livro reportagem propõe uma nova visão sobre moradores de rua Trabalho de estudantes de Comunicação traça perfil de população tida como “invisível”
C
Aline Acazoubelo
om a proposta de dar visibilidade às pessoas em situação de rua, o projeto “Ilha Invisível” dos alunos de Comunicação Social, Matheus Coimbra e Lorena Araújo, apresenta nas redes sociais histórias reais recolhidas em horas de entrevista. Os depoimentos revelam que muitos são levados a essa situação por uma série de acontecimentos pessoais, sociais ou econômicos. O trabalho é orientado pela professora Jovelina Maria Oliveira dos Reis. O projeto nasceu como solução ao TCC, baseado na página Sp Invisível (coletivo de São Paulo e primeiro do país a se dispor a ouvir e publicar o depoimentos das pessoas em situação de rua). “Sempre acompanhamos a página ‘SP Invisível’, então, quando fizemos a disciplina Elaboração de TCC, resolvemos escrever um livro-reportagem que contasse as histórias das pessoas em situação de rua em São Luís. Ao começar o trabalho ficamos tão felizes com tudo que estávamos ouvindo que lançamos logo o material na internet”, explicou Matheus. Lorena conta que optaram pelo formato livro-reportagem porque seria contraditório discutir “pautas invisíveis”, temas que a mídia tradicional não costuma aprofundar e qualificar. “Trouxemos o trabalho para a prática, com a intenção de atingir o maior público possível, pois queríamos ter esse contato mais direto com as pessoas e com o jornalismo, na rua mesmo”. O primeiro dia foi desafiador. “O tempo foi tornando o trabalho mais gratificante”, revelou a estudante. Os personagens são adul-
tos, mas não essencialmente mendigos, já que a maioria faz “bicos” e trabalhos informais. Alguns não dormem na rua, outros são usuários de drogas. É preciso ter cuidado na abordagem. “Eles querem ser escutados, têm muita coisa a dizer. Esperamos levar esse sentimento às nossas personagens e às pessoas que acompanham as publicações”, assegurou. Lorena e Matheus pretendem continuar colhendo depoimentos e alimentando a página nas redes sociais. Após a defesa do TCC, querem montar uma equipe para ajudar na coleta de depoimentos. Também pensam em alguma forma de realizar ações e suprir as demandas dos entrevistados, que muitas vezes pedem cobertores, mochilas e outras coisas.
“Evitamos dar dinheiro, levamos algum lanche e oferecemos enquanto conversamos. É chato poder fazer tão pouco por eles. Não saber reagir quando nos pedem um cobertor pra não passar frio à noite. Sempre que podemos, voltamos com algo a mais”, desabafou Lorena. Outra dificuldade é obter informações e dados oficiais, pois não existe um diagnóstico atualizado sobre a realidade. Os acadêmicos recorreram aos dados de atendimento nos Centros Pop’s, nos abrigos e ao trabalho de abordagem realizado pela Secretaria Municipal da Criança e Assistência Social (Semcas). Também usaram como fonte a plataforma on -line “Criança não é de rua”, onde a prefeitura e organizações da so-
ciedade civil lançam os dados sobre a cidade. A repercussão com a publicação das histórias foi tamanha que, criada há cerca de dois meses, a página já tem quase duas mil curtidas. Tem gente que procura como fazer para ajudar na pesquisa. Outras, às pessoas em situação de rua ou, simplesmente, para parabenizar pelo trabalho. Mesmo ainda em andamento, o trabalho tem cumprido até aqui com os objetivos, na opinião dos autores. “Entre eles, o de viver o jornalismo e poder retribuir para a sociedade o conhecimento adquirido em quatro anos de curso”, afirmou Lorena. “É bom ver que o projeto saiu do papel”, concluiu Mateus.