Portal da Ciência - Ano V • Número I • Maio - Junho de 2017

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Revista

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ISSN 2178-9090

Ano V • Número I • Maio - Junho de 2017

ESTUDO ANALISA PROGRAMAS DE COMBATE À POBREZA Cinco estados fazem parte do projeto: Maranhão, Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo e Goiás Pesquisas avaliam: • Novos fatores de risco durante o parto prematuro • Diminuição do tempo de ação de medicamentos no organismo • Função dos algoritmos no tratamento do câncer pulmonar



Praรงa da Reitoria


Estrutura Organizacional PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Michel Miguel Elias Temer Lulia

Expediente Portal da Ciência

Uma publicação da Universidade Federal do Maranhão www.ufma.br

MINISTRO DA EDUCAÇÃO

José Mendonça Bezerra Filho

IDEALIZAÇÃO E PRODUÇÃO ASCOM ascom@ufma.br

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO ASSESSOR DE COMUNICAÇÃO E COORDENAÇÃO EDITORIAL REITORA

ANTÔNIO FERNANDO DE JESUS OLIVEIRA SILVA

Nair Portela Silva Coutinho EDIÇÃO

Fernando Carvalho Silva

IVANDRO COÊLHO, LUCIANO SANTOS E SANSÃO HORTEGAL

PRÓ-REITORA DE ENSINO

PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO ELETRÔNICA

Dourivan Camara Silva de Jesus

MIZAEL MELO ALVES

VICE-REITOR E PRÓ-REITOR DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E INOVAÇÃO

PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO

ILUSTRAÇÕES

Dorlene Maria Cardoso de Aquino

ANA ÁUREA SANTOS

PRÓ-REITORA DE RECURSOS HUMANOS

REPORTAGENS

Maria Elisa Cantanhede Lago Braga Borges

ADRIANA MORAES, ALEILTON SANTOS, ALINE ACAZOUBEL, ARIELE JÚLLIAN, DANIEL SANTOS, EDMARA SILVA, GÉSSICA DOS ANJOS, LETÍCIA MOURÃO, LÍGIA GUIMARÃES, RILDO CORRÊA, SUELLEN SULIVAN, VANESSA CUTRIM

PRÓ-REITORA DE GESTÃO E FINANÇAS

Eneida de Maria Ribeiro CIDADE UNIVERSITÁRIA Av. dos Portugueses, Nº 1966 CEP 65080-805 São Luís-MA

PRODUÇÃO

ADRIANA MORAES, LARISSA VIVEIROS E NATHALIA RIBEIRO REVISÃO DE TEXTO

JÁDER CAVALCANTE FOTOS

ALEILTON SANTOS, ALINE ACAZOUBEL, EDGAR ROCHA, MAIARA PACHECO, SANSÃO HORTEGAL E ARQUIVOS PESSOAIS DOS PESQUISADORES APOIO ADMINISTRATIVO

FREDERICO OLIVEIRA E SUELEN RODRIGUES TIRAGEM

5 MIL EXEMPLARES


EDITORIAL Em um cenário político-econômico marcado pela redução dos investimentos em pesquisa científica e inovação tecnológica, a Universidade Federal do Maranhão confirma seu compromisso histórico com a produção do conhecimento e a inclusão social. Os avanços mais recentes obtidos nas áreas de pesquisa, ensino e extensão são revelados nesta edição, com base nos trabalhos de alunos e professores de diferentes câmpus. Um exemplo é o projeto Jumper, desenvolvido pelo grupo de pesquisa Tecnologia e Narrativas Digitais do Laboratório de Convergência de Mídias da UFMA (Labcom). O estudo explora novas tecnologias na distribuição de conteúdo jornalístico. Outra iniciativa em destaque é o projeto desenvolvido por docentes da UFMA em parceria com pesquisadores da Universidade do Porto (Portugal), que busca tornar alguns remédios mais solúveis e aceitáveis para o organismo humano, podendo beneficiar principalmente pacientes com hipertensão, diabetes e que apresentem problemas cardíacos. O leitor poderá acompanhar também um importante projeto de energia alternativa que há nove anos beneficia os moradores da Ilha dos Lençóis, em Cururupu. O sistema híbrido eólico-solar é o único em operação contínua no Brasil. Além disso, esta edição traz também: projeto dos professores do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, que avalia fatores de risco durante o parto prematuro; estudo dos docentes do departamento de Educação Física sobre a influência da genética em habilidades de jogadores de futebol; pesquisa do Grupo de Pesquisas sobre Gênero e Sexualidade nas práticas educativas da UFMA (Gesepe), que faz uma análise das bases conceituais dos estudos de gênero e sexualidade. Todos esses projetos revelam que a Universidade Federal do Maranhão vem cumprindo sua missão, superando desafios e consolidando avanços, para se transformar em um espaço permanente de criação, difusão do saber e formação humana, além de local de promoção da cultura, do esporte e do empreendedorismo.


Sumário 8

PLANTA DO CERRADO VIRA MEDICAMENTO Cervejinha-do-campo pode ajudar no tratamento de doença de chagas e leistthmaniose

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NOTÍCIA COMO DIVERSÃO

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POR QUE UMA CRIANÇA NASCE ANTES DO TEMPO?

Ideias e mecanismos de jogos são utilizados para produzir conteúdo jornalístico

Novos fatores de risco para as mães em caso de parto prematuro são objeto de estudo

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MELHORIA NA AGRICULTURA FAMILIAR MARANHENSE

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MEDICAMENTOS MAIS EFICAZES, BARATOS E COM MENOS EFEITOS COLATERAIS

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Projeto ajuda pequenos produtores a cultivar a terra e a aumentar a produtividade, sem necessidade de queimadas ou mudança de área

Pesquisa beneficiará inicialmente pacientes com Diabetes Mellitus Tipo 2, Hipertensão Arterial e Hanseníase

NOME PRÓPRIO!

Você já parou para pensar quais características psicológicas o seu nome carrega?


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INFLUÊNCIA DA GENÉTICA NO FUTEBOL

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PROGRAMAS DE COMBATE À POBREZA EM FOCO

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ALGORITMOS NO TRATAMENTO DO CÂNCER PULMONAR

Informações coletadas em células de jogadores profissionais ajudam a melhorar o treinamento dos atletas

Políticas assistencialistas são analisadas em cinco estados: Maranhão, Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo e Goiás

Ferramentas são utilizadas no processamento de imagens e computação inteligente para detectar tumores cancerígenos

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ENERGIA ALTERNATIVA BENEFICIA COMUNIDADE

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COMO LIDAR COM AS QUESTÕES DE GÊNERO EM SALA DE AULA?

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Sistema isolado híbrido eólico-solar é o único em operação contínua no Brasil e existe há nove anos na Ilha de Lençóis, em Cururupu

Professores são orientados a trabalhar com essa temática nas escolas, evitando preconceitos, mitos e discriminações

MÚLTIPLOS SENTIDOS DA LINGUAGEM VIRTUAL

Textos utilizados no facebook, twitter e outras redes sociais são analisados como parte de um processo de ressignificação


PLANTA DO CERRADO AJUDA NO TRATAMENTO DA DOENÇA DE CHAGAS E LEISHMANIOSE Medicamento foi desenvolvido por professora da UFMA, em parceria com pesquisadores brasileiros e suíços Por Géssica dos Anjos

Você sabe o que são doenças negligenciadas? Se

A pesquisa foi realizada em parceria com os pro-

não, podemos explicar: trata-se de um grupo de pato-

fessores Wagner Vilegas, do Instituto de Biociências

logias causadas por agentes infecciosos e parasitários

da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Jean-Luc

que atingem principalmente os habitantes das regi-

Wolfender e Emerson Ferreira Queiroz, ambos da Uni-

ões mais quentes do planeta, como Ásia, África e Amé-

versidade de Genebra, na Suíça.

rica Latina, e que possuem maior fragilidade social e

“O estudo consiste na análise de uma molécula nova

econômica. A palavra “negligenciada” é usada para

que isolamos de uma espécie vegetal do cerrado brasi-

caracterizar enfermidades que não atraem o interesse

leiro, a cervejinha-do-campo. Depois de alguns ensaios

da indústria farmacêutica para o desenvolvimento de

in vitro e in vivo para avaliação da atividade contra o

remédios e vacinas.

Trypanosoma cruzi, feitos em parceria com o grupo da

Muitas doenças de que escutamos falar no nosso

pesquisadora Milena Soares, da Fiocruz-Bahia, chega-

cotidiano são doenças negligenciadas, e não sabemos

mos a resultados interessantes, pois a molécula se apre-

disso. A dengue, a tuberculose, a malária, a hansenía-

sentou muito ativa e sem efeitos tóxicos nos modelos

se, a esquistossomose, a doença de chagas e a leish-

testados”, declarou Cláudia Quintino.

maniose são exemplos de doenças negligenciadas.

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS)

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), por

mostram a existência de 12 milhões de portadores da

ano, 1,5 bilhão de pessoas em 149 países sofrem com

doença de chagas nas Américas. Destes, entre 2 e 3

essas doenças, e não recebem a devida atenção.

milhões estão no Brasil. A doença de chagas resulta

No Brasil, encontramos inúmeros casos dessas en-

da infecção pelo protozoário Trypanosoma cruzi, e a

fermidades, porém o país se configura hoje como um

maioria das infecções causadas por esse agente são

dos locais que mais investem em estudos sobre novas

adquiridas por meio das fezes do inseto conhecido co-

formas de tratamento para as doenças negligencia-

mo barbeiro . Porém há alguns casos de contaminação

das. Um desses estudos — desenvolvido pela profes-

em laboratórios, por meio de transfusão sanguínea,

sora do curso de Química da UFMA, Cláudia Quintino

transplante de órgão e, mais recentemente, devido à

da Rocha — tem como base uma molécula extraída de

contaminação de alimentos , como polpas de frutas,

uma planta do cerrado brasileiro (Arrabidaea brachy-

caldo de cana e de juçara. Casos crônicos da doença

poda), popularmente conhecida como cervejinha-do-

causam insuficiência cardíaca e complicações digesti-

-campo, que vai ajudar no combate a duas doenças

vas. Até hoje, os tratamentos existentes só minimizam

negligenciadas: a doença de chagas e a leishmaniose.

os sintomas, mas não atingem a cura total.


Segundo a pesquisadora, alguns resultados feitos com a molécula ativa extraída da cervejinha-do-campo mostraram também que a nova substância tem atividade contra a leishmaniose, pois o gênero leishmania pertence à família Trypanosomatidae, a mesma do Trypanosoma cruzi, causador da doença de chagas. O laboratório da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está aprofundando os estudos direcionados para essa doença. A leishmaniose é uma doença transmitida por um inseto conhecido como mosquito palha ou birigui . As duas formas principais da doença são a cutânea, que afeta a pele, causa úlceras no rosto, nos braços e nas pernas; e a forma visceral, também conhecida por ca-

lazar, que provoca febre, aumento do baço e do fígado, perda de peso e anemia. Quando não tratada, a leishmaniose visceral leva o indivíduo à morte. A descoberta da nova molécula e a valorização dos medicamentos de origem natural A flora do Brasil é bastante diversificada, e o uso de plantas com finalidade medicinal faz parte da cultura brasileira. Já a utilização de plantas medicinais para a produção de medicamentos torna a relação custo-benefício mais barata, se comparada aos produtos sintéticos. Sua ação biológica é eficaz, pois apresenta baixos índices de toxicidade, e os efeitos colaterais são menos severos. Além disso, apresenta um custo

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de produção inferior e, consequentemente, um preço de venda menor, o que torna esses medicamentos mais acessíveis às populações mais pobres. “Nossos projetos têm como objetivo desenvolver medicamentos extraídos de fontes naturais, principalmente da flora brasileira, e colocá-los no mercado a um preço mais acessível. Além disso, é necessário que eles sejam eficazes e seguros”, afirmou a professora Cláudia Quintino. A nova molécula ativa foi descoberta pela pesquisadora Cláudia Quintino durante seu estágio de doutorado na Universidade de Genebra, na Suíça e, depois, durante seu pós-doutorado, na mesma instituição. A partir daí, foi desenvolvida uma rota sintética para a produção da molécula em laboratório. Para os pesquisadores envolvidos no projeto, a nova molécula tem grande potencial para se tornar um produto no mercado farmacêutico. A equipe busca, agora, parceiros da indústria farmacêutica para viabilizar a aplicação do medicamento e aprofundar as pesquisas.

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Novos estudos A professora Cláudia Quintino vem desenvolvendo outros projetos na Universidade Federal do Maranhão, em parceria com grupos de pesquisa da própria instituição, além das parcerias regionais, nacionais e internacionais, aprofundando, portanto, o conhecimento em moléculas bioativas e formando novos pesquisadores na área. Seus projetos são voltados para a tentativa de obtenção de novas substâncias que poderão ser usadas na produção de algum fármaco para a cura de males como malária, leishmaniose, inflamação, úlcera e câncer. As plantas são a principal fonte dessas substâncias. Após isolar e realizar ensaios farmacológicos, a pesquisadora desenvolve metodologias para obtê-las em grande escala em laboratório. “Sinto-me privilegiada por estar no Maranhão, um estado com uma flora riquíssima. Nessas espécies vegetais, poderemos encontrar moléculas biologicamente muito ativas e terapeuticamente úteis”, ressaltou Cláudia Quintino.

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Recém-chegada à Universidade Federal do Maranhão, a professora tem realizado constantes esforços para obter financiamento para seus projetos e firmar parcerias com outros pesquisadores. “Para fazer ciência de qualidade, em qualquer lugar do mundo, o trabalho deverá ser multidisciplinar. Dificilmente, chegaremos a produzir um fármaco sem a ajuda de vários outros pesquisadores de diferentes áreas”, pondera a estudiosa. Atualmente, Cláudia Quintino orienta os alunos do curso de Farmácia e coordena o projeto de pesquisa “Estudos Químico e Farmacológico de espécies da família bignoniaceae, do estado do Maranhão, com potencial inovador no desenvolvimento de medicamentos”, que têm por objetivo despertar nos alunos o interesse pela pesquisa na área da química de produtos naturais. Perfil da pesquisadora Claudia Quintino da Rocha é licenciada e bacharel em Química pelo Centro Universitário de Patos de Minas; possui mestrado em Química pela Universidade Federal de Alfenas; doutorado Sanduíche pela Universidade de Genebra, Suíça; doutorado em Química Orgânica pelo Instituto de Química-Unesp-Araraquara; estágio de pós-doutorado pela Universidade de Genebra; pós-doutorado no Instituto de Biociências do Litoral Paulista (Unesp). É professora da Universidade

Federal do Maranhão e desenvolve pesquisas na área de Química de Produtos Naturais, atuando principalmente no isolamento, na identificação de metabólitos secundários e no desenvolvimento e validação de métodos analíticos para quantificação de marcadores em matrizes vegetais. Possui depósitos de patentes nacionais com extensão internacional na área, com aplicações de compostos bioativos para tratamento de doenças crônicas e parasitárias.

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UM NOVO JEITO DE APRESENTAR NOTÍCIAS Estudo utiliza ideias e mecanismos de jogos para produzir conteúdo jornalístico

Por Aline Acazoubel

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Já imaginou acessar conteúdos jornalísticos de forma interativa, visualizando ambientes em 360° e em realidade virtual? É isso que busca o projeto Jumper, realizado pelo grupo de pesquisa Tecnologia e Narrativas Digitais do Laboratório de Convergência de Mídias da UFMA (Labcom). A ideia é oferecer ao público a possibilidade de contato com o conteúdo jornalístico por dentro da cena. Para isso, o projeto explora as novas tecnologias na distribuição de conteúdo jornalístico, entre elas a Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês) e a Realidade Virtual (RV). A IoT é um termo genérico para um grande conjunto de dispositivos que atualmente conseguem se conectar à internet e com isso trocar informações entre si, oferecendo novas funcionalidades para os seus usuários. Já a RV diz respeito a um conjunto de tecnologias que permite a interação com ambientes totalmente criados por meios digitais, nos quais podemos visualizar ambientes e mundos virtuais e nos transportar para eles de forma imersiva, já que os óculos eliminam as referências do entorno real e só apresentam para o cérebro as imagens do mundo digital. Partindo do uso dessas tecnologias, os pesquisadores tentam responder, entre outros questionamentos, de que forma as empresas de mídia tradicional venderão conteúdo informativo no futuro para as novas

gerações que não se interessam em consumir notícias usando as formas tradicionais. A pesquisa é coordenada pelo professor Márcio Carneiro, do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão. Segundo ele, o plano é desenvolver um protótipo de aplicativo que vai captar notícias de uma grande quantidade de fontes tradicionais, classificá-las por tema e localização e oferecer esse material tanto na forma tradicional como em dispositivos de RV, como oculus rift e cardboards, para experimentação. “Com essa pesquisa, espero mostrar que as novas gerações podem se interessar por conteúdos informativos, contanto que estejam formatados segundo características valorizadas pelos adolescentes, como a gamificação, a possibilidade de interação e a imersão em ambientes digitais. E o Jumper está nos dando, além dos ganhos específicos sobre o nosso problema, uma excelente experiência para lidar com o desenvolvimento de soluções usando realidade virtual, que, no futuro, poderemos aplicar em outras áreas de conhecimento”, explicou. Questionado sobre o tempo que ainda falta para as notícias serem entregues nesse formato, Márcio pontuou que não pode prever uma data, mas que sabe dos problemas enfrentados pela indústria da notícia. Um

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deles é que os jovens precisam de motivação para interagir e participar de uma forma mais direta. O professor disse também que os dispositivos de RV ainda são pouco conhecidos pela maioria da população, mesmo com as apostas de grandes players da tecnologia, como Facebook, Microsoft, Google e da indústria de Games. “Acredito que, em breve, essas soluções vão ganhar escala e difusão mundial, o que criaria o cenário propício para que soluções como o Jumper possam ser adotadas mais facilmente. Vamos aguardar”, afirmou. O projeto conta com alunos das áreas de Geografia, Design, Ciência da Computação e Comunicação, que trabalham tanto na interface da aplicação como no módulo que capta notícias das fontes. A equipe de bolsistas atua ainda na parte de geolocalização (que mapeia a notícia, onde ela está acontecendo e, assim, oferece a visualização desse lugar por meio da função street view do Google Maps). Também está em desenvolvimento a cena totalmente em 3D do assassinato do jornalista Décio Sá para teste no Jumper. O local do crime será montado todo em computação gráfica para que o usuário possa imergir na cena e ver, por

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exemplo, a partir do ângulo do atirador, do ângulo da vítima e as informações sobre o crime. “Queremos oferecer um jeito novo de apresentar as notícias que imaginamos serem mais interessantes para os jovens. A ideia é recuperar a percepção de valor, hoje reduzida devido à abundância e à facilidade de acesso às notícias que a internet proporcionou. Assim, com o Jumper, pretendemos oferecer um caminho a essa indústria que emprega muitas pessoas, mas que enfrenta sérios problemas em função da fragmentação das audiências e da exploração de um modelo de negócio que está em crise, como comprovam, por exemplo, os constantes fechamentos de redações de jornais impressos”, esclareceu o pesquisador. Márcio Carneiro disse que ainda há muito a ser feito e que, após a divulgação do vídeo sobre o projeto na internet, vários pesquisadores de outras instituições se interessaram e começaram a articular um esforço em rede para desenvolver outros aspectos ligados à realidade virtual, incluindo um levantamento bibliográfico de conteúdo acadêmico sobre o tema, articulado pelo grupo da Federal de São João Del Rei; um estudo sobre as possibilidades narrativas do conteú-

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do em RV, que está sendo feito por pesquisadores da Federal de Santa Catarina; um estudo sobre modelos de negócio nesse ambiente, que está se iniciando com uma equipe do Rio Grande do Sul e da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte. “Temos cerca de dez pesquisadores associados ao projeto e que agora fazem parte do grupo do CNPq Tecnologia e Narrativas Digitais, liderado por mim. Vem coisa boa por aí”, declarou. Para a bolsista Karla Dutra, participar desse projeto é fazer parte de uma revolução digital no mundo do jornalismo. Segundo ela, trata-se de uma mudança na forma de contar histórias, na qual o usuário será um espectador que se move em meio ao cenário de um acontecimento real. Ainda que não tenha capacidade de alterar o rumo dos fatos, a experiência sensorial permite que o telespectador/ouvinte/leitor se sinta testemunha do acontecimento em questão. “A ideia é melhorar cada vez mais a interação do espectador com a cena. Quanto mais fiel estiver, maior a chance de provocar sentimento e interesse no usuário. Além disso, queremos mostrar que é possível uma nova forma de oferecer conteúdo utilizando os artifícios lúdicos que temos hoje, como, por exemplo, os elementos dos jogos que despertam a atenção de um novo público”, informou. Karla trabalhou inicialmente na coleta de dados do

assassinato do jornalista Décio Sá, para ter base para a modelagem do espaço tridimensional, feito com auxílio da ferramenta de modelagem 3D Sketch Up, do Google. Após essa etapa, ela foi a responsável por inserir as modelagens no Unity (plataforma de desenvolvimento de jogos, projetada e já adaptada para os óculos de realidade virtual, os oculus rift), em que baseou a programação, implementando os códigos que dariam “vida” ao cenário, como movimentação, som ambiente, interação do jogador com o espaço, etc., tudo o que ajuda a tornar mais real a experiência do usuário com o acontecimento. Já o bolsista Jorge Lucas Cavalcante desenvolveu a criação de um algoritmo de busca simples em feeds de notícias que utiliza uma lista de palavras-chave para filtrar as notícias; depois foi feita a montagem da interface do Jumper, usando a Unity juntamente com os oculus rift e o LeapMotion (aparelho que faz a captação dos movimentos das mãos). E agora, após tentativas e erros, está aperfeiçoando o código de busca para unir posteriormente com a interface. “Hoje, ao olhar para as partes do Jumper ganhando forma, sabendo que escrevi algumas de suas linhas de vida, sinto-me bastante feliz e motivado a continuar trabalhando no desenvolvimento desse projeto que me fez aprender muito até agora. Espero que possamos gerar algo novo e surpreendente”, finalizou.

Alunos de Comunicação, Geografia, Design e Ciências da Computação participam de diversas áreas do projeto

https://youtu.be/1qM2V6DT0pI

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NOVOS FATORES DE RISCO PARA AS MÃES DURANTE O PARTO PREMATURO Por Vanessa Cutrim

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Por que uma criança nasce antes do tempo adequado de gestação? O nascimento prematuro, também denominado pré-termo, consiste na realização de um parto quando o feto tem menos de 37 semanas de idade gestacional. A prematuridade é pesquisada no mundo inteiro, porém existem causas e fatores de risco que ainda não foram bem definidas. Partindo dessa constatação, professores do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Maranhão desenvolveram o projeto de pesquisa que busca avaliar novos aspectos de risco do nascimento prematuro. O estudo recebe o nome de Coorte de Nascimento Brasileira Ribeirão Preto e São Luís (BRISA). Os estudos de coorte são fundamentais para analisar os eventos ao longo da vida de um indivíduo e perceber como isso se reflete em sua saúde. Por isso essa metodologia foi a mais adequada para o projeto, que acompanhou mulheres grávidas e seus filhos em três fases: no período pré-natal, após o nascimento e no segundo ano de vida das crianças.

Além de avaliar os fatores de risco para as mães em caso de parto prematuro, os pesquisadores também queriam explorar hipóteses pouco estudadas na literatura dessa área da saúde, como a neuroendócrina e a infecciosa. Na neuroendócrina, os fatores de risco surgiram por meio dos hormônios da grávida, que foram alterados por questões de estresse, ou quando a mulher sofreu algum tipo de discriminação e/ou violência durante a gravidez. A segunda abordagem foi a hipótese infecciosa, em que eles investigaram quais infecções poderiam desencadear o nascimento pré-termo, realizando diversos exames com grávidas de São Luís. O estudo também foi realizado pela Universidade de São Paulo (USP), na cidade de Ribeirão Preto. Durante esse processo, as equipes da UFMA e da USP trocavam informações constantemente sobre os avanços e resultados obtidos em cada etapa da pesquisa. Aqui em São Luís, o trabalho foi desenvolvido no Centro de Pesquisa Clínica do Hospital Universitário da UFMA

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(CEPEC), e o grupo trabalhou inicialmente com 1.400 grávidas com menos de cinco meses de gestação. Eles verificavam os dados gestacionais delas e, em seguida, preenchiam questionários detalhados, faziam exames de urina, sangue, ultrassonografia obstétrica e exame bucal. Resultados – Depois do parto, que ocorria em hospitais públicos de São Luís, o acompanhamento continuou até os dois anos de idade da criança. Isso permitiu aos estudiosos chegarem a algumas conclusões. “Os resultados foram surpreendentes, e encontramos alguns fatores associados ao nascimento pré-termo. Um deles foi a cesárea sem trabalho de parto, marcada por conveniência. Outro fator vinculado foi a violência: quando a mulher sofria agressão, ocorria o sangramento, e a criança nascia prematura. Por último, o uso de drogas ilícitas. O risco de nascimento pré-termo neste grupo foi “muito elevado”, explicou o professor Antônio Augusto Moura da Silva, coordenador do projeto. O levantamento também observou que não ocorreu nenhuma associação entre a prematuridade e a infecção no período pré-natal. O projeto BRISA foi realizado entre os anos 2009 e 2013. Nesse período, quinze professores e aproximadamente quarenta bolsistas participaram da pesquisa. Os dados coletados na época ainda são muito utilizados em publicações científicas e em outras pesquisas dentro do programa. Para Carolina Abreu de Carvalho, bolsista e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, esse estudo é de extrema relevância para a área

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de saúde do Maranhão. “Esta pesquisa é muito importante. Não são todos os centros do Brasil que têm possibilidade de realizar estudos dessa dimensão. Para mim, é muito gratificante ver um trabalho tão grande sendo desenvolvido no nosso estado”, justifica. PRÓXIMO PASSO O projeto revelou que o nascimento por cesárea tem consequências. Por isso é preciso que as grávidas tenham mais informações no período pré-natal e façam prevenção. Além disso, o Estado precisa combater a violência contra as mulheres e também o uso de drogas, abrindo um leque de recomendações ao setor da saúde para melhorar a qualidade de vida da população local. De acordo com os pesquisadores, com a coleta de dados do projeto BRISA já encerrada, o foco agora é continuar os estudos incluindo os estudantes com sete anos de idade. A pesquisa prosseguirá em 2017 considerando outras hipóteses: descobrir se a violência que a mulher sofreu repercutiu na infância; verificar a saúde da criança nessa idade ou relacionar as doenças crônicas às exposições no início da vida delas.

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MELHORIA NA AGRICULTURA FAMILIAR DO MARANHÃO Projeto ajuda pequenos produtores a cultivar a terra e a aumentar a produtividade, sem necessidade de queimadas ou mudança de área Por Suellen Cristiane

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Uma pesquisa desenvolvida pela professora Alana Aguiar, do Departamento de Biologia da Universidade Federal do Maranhão, em parceria com pesquisadores da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e Universidade de Nottingham (Inglaterra), vem contribuindo para mudar o cenário agrícola no interior do Maranhão. Em funcionamento desde 2010, o projeto tem como objetivo oferecer alternativas de implantação de sistemas agronomicamente eficientes e ecologicamente adequados às condições da agricultura familiar do Maranhão. A interação com a comunidade rural ocorre por meio de Unidades Demonstrativas,

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que são postos onde a equipe faz o manejo do solo por meio de leguminosas arbóreas e que servem tanto para adubá-lo como para protegê-lo, possibilitando um cultivo prolongado das áreas selecionadas. As terras são cedidas pela própria população, que, ao final de cada ciclo, fica com a colheita. Segundo Alana Aguiar, geralmente os produtores familiares encontram dificuldade em cultivar a terra. “Eles até cultivam, mas a cada ano trocam de área, porque a que eles plantaram anteriormente não serve mais para o cultivo. Nosso propósito é garantir que esse produtor cultive a mesma área todos os anos e, com o tempo, ainda aumente sua produ-

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tividade, não havendo necessidade de mudança nem de queimada, prática recorrente”, afirma a coordenadora do projeto. Para as atividades práticas, são usadas quatro espécies de árvores: Leucena, Acácia, Gliricidia e Sombreiro (planta nativa). Essas árvores levam de 2 a 3 anos para o pleno estabelecimento, quando é feita a primeira poda, e têm uma vida útil de até 20 anos. Todas as unidades são acompanhadas regularmente, e o cronograma de atividades consiste basicamente no seguinte: no primeiro semestre de cada ano (período chuvoso), plantio de milho, feijão, mandioca e arroz; no segundo, descanso e análises laboratoriais da terra e das espécies. De acordo com a professora Alana, além dos critérios técnicos, a questão social foi determinante para a implantação do projeto. Dados da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário informam que o Maranhão é o terceiro estado


com a maior concentração de famílias agricultoras da região Nordeste e o quinto do país. Segundo o último Censo Agropecuário, divulgado em setembro de 2016, são quase 860 mil agricultores familiares responsáveis pela produção de 93% do café, 89% do arroz, 86% da mandioca e do feijão consumidos no estado. “A nossa intenção era ajudar esses agricultores, pois eles não estavam mais conseguindo produzir e acabavam migrando para os centros urbanos. Esse êxodo acaba superlotando as cidades e marginalizando essas pessoas”, declarou. Para a pesquisadora, é preciso manter esses produtores no campo, por meio de políticas públicas, e acabar com a ideia, muito comum no estado, de que o campo é uma coisa ruim. Para Larissa Brandão, doutoran-

da do Bionorte e colaboradora da pesquisa, a experiência. com o projeto foi muito proveitosa. “Durante dois anos, acompanhei e implantei um experimento em um sistema de Aleias, no assentamento rural Vila União, em Chapadinha, onde o objetivo era determinar a taxa de decomposição de leguminosas arbóreas. Foi uma experiência enriquecedora que resultou em minha dissertação de mestrado”, relatou. Apesar do custo elevado e dos resultados em longo prazo, principais dificuldades enfrentadas pelos pesquisadores, o projeto continua a ser desenvolvido ainda este ano, e não há previsão para se encerrarem as atividades. Além da professora Alana das Aguiar Ferreira Aguiar, também compõem a equipe Anágila Janenis Cardoso Silva, Larissa Brandão Portela, Ana Luiza Privado Martins, Diogo Ribeiro de Araújo, Conceição de Maria Batista de Oliveira e Roselaine Ponso. Colaboram ainda com a pesquisa os professores Glécio Siqueira (UFMA) e Emanuel Moura (UEMA). A UFMA dá suporte para que se leve o projeto às agências de fomento, estrutura (laboratório para análise das plantas) e deslocamento. A Uema entra com

laboratório para análise do solo, e a Universidade de Nottingham participa das análises e propõe o intercâmbio de ideias. Resultados – Segundo os pesquisadores, entre os frutos da pesquisa “Interações benéficas e antagônicas entre árvores, culturas e ervas para o manejo de agrossistemas ecologicamente adequados ao trópico úmido”, estão vários artigos publicados, monografias, relatórios técnicos, além da difusão de técnicas que permitem aos alunos ampliarem o conhecimento e se inserirem melhor no mercado de trabalho. As unidades demonstrativas estão situadas entre Chapadinha (2), São Luís (1), Brejo (2) e São Bento (1). A mais recente está em fase de implantação e funcionará em Santa Rita. Para o agricultor da cidade de Brejo, Chico Lita, o projeto trouxe muitos benefícios aos agricultores locais. “Além de dobrar a produção, o estudo contribuiu para reduzir os custos com os produtos para fertilização, algo que nem todos tinham condições de comprar. Outro benefício comprovado foi o valor nutricional do milho, que incrementa a nossa alimentação e a dos animais”, afirmou.

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MEDICAMENTOS MAIS EFICAZES, BARATOS E COM MENOS EFEITOS COLATERAIS Pesquisa beneficiará inicialmente pacientes com Diabetes Mellitus Tipo 2, Hipertensão Arterial e Hanseníase Por Edmara Silva, Aleilton Santos e Lígia Guimarães

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O fármaco é toda substância capaz de causar alguma alteração no organismo com finalidades curativas, alívio de sintomas, preventivas e contraceptivas, pois possuem ação bioativa. Porém alguns fármacos presentes em medicamentos administrados via oral possuem baixa solubilidade em água, o que os torna menos disponíveis para serem absorvidos no trato gastrointestinal e mais passíveis de serem eliminados pelo intestino. Para compensar essa perda, produzem-se medicamentos contendo maiores quantidades de princípio ativo, resultando no aumento de possíveis efeitos colaterais e maior custo para o consumidor final. Com o objetivo de pesquisar uma forma de melhorar as propriedades físicas e químicas dos fármacos pouco solúveis em água, o professor Paulo Roberto da Silva Ribeiro, do Curso de Engenharia de Alimentos da UFMA, Câmpus Imperatriz, vem investigando a síntese e a caracterização de cocristais e de coamorfos de fármacos para o tratamento da hipertensão, do Diabetes Mellitus Tipo 2 e da hanseníase. Os cocristais de fármacos são formas farmacêuticas sólidas e cristalinas, que visam aumentar a hidrossolubilidade dos fármacos, tornando-os mais solúveis. De acordo com Paulo Ribeiro, que também é professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Materiais da UFMA e líder do Núcleo de Pesquisas em Ciências Farmacêuticas e Química Analítica Aplicada (NUPFARQ), essas pesquisas surgiram com base em um projeto desenvolvido durante seu pós-doutorado. O projeto – intitulado “Inovação Farmacêutica: desenvolvimento de métodos analíticos de alto desempenho para a caracterização espectroscópica de formas sólidas, polimorfos e cocristais de fármacos anti-hiperten-

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sivos” – foi realizado entre 2013 e 2014 na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, Portugal. “Nesse projeto, foram sintetizados, sob monitoramento via espectroscopia no infravermelho (NIR), cocristais de furosemida (um diurético amplamente utilizado como anti-hipertensivo), usando diferentes coformadores, substâncias químicas em geral inertes para o organismo e que não apresentam atividade biológica. Posteriormente, esses cocristais foram caracterizados por técnicas espectroscópicas e de análise térmica”, explicou o pesquisador. Paulo Ribeiro destacou a importância da pesquisa e disse ainda que ela é de grande interesse para a indústria farmacêutica, pois, a partir desse monitoramento, torna-se possível saber o tempo real de síntese dos cocristais. Esses estudos tiveram continuidade na UFMA, Câmpus Imperatriz, a partir da aprovação de quatro projetos em instituições de fomento como a Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico do Maranhão (FAPEMA), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), sob a coordenação do professor Paulo Ribeiro. Colaboram com a pesquisa os professores da UFMA, Câmpus Imperatriz, Pedro de Freitas Façanha Filho e Adenilson Oliveira dos Santos, além dos professores da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (Portugal), Mafalda Sofia Coelho Cruz Sarraguça e Jorge Miguel Gonçalves Sarraguça. Também participam do estudo os pesquisadores Gilbert Bannach e Flávio Junior Caires, do Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Câmpus Bauru-SP.

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Estão envolvidos ainda nesses projetos cinco bolsistas de iniciação científica do Curso de Engenharia de Alimentos e três bolsistas mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Materiais da UFMA, Câmpus de Imperatriz. Além de estudar a furosemida, essas pesquisas investigam a síntese de cocristais de anti-hipertensivos (como a hidroclorotiazida), de antidiabéticos orais (como clorpropamida, tolbutamida, gliclazida, glipizida e glibenclamida) e de fármacos para o tratamento da hanseníase (como a dapsona). Benefícios – Os principais benefícios do projeto estão relacionados à diminuição dos efeitos colaterais, do baixo custo e do aumento da eficácia terapêutica dos medicamentos, uma vez que os fármacos agem com mais rapidez no organismo. A esse respeito,

Francisca Célia, mestre em Ciência dos Materiais pela UFMA, Câmpus Imperatriz, ressaltou que aumentar a solubilidade de fármacos e diminuir em até 50% o tempo de absorção dos medicamentos pelo organismo é um dos passos mais significativos da pesquisa. “É importante que esse novo material venha a ser absorvido mais rápido pelo organismo. Ou seja, se um medicamento demora quatro horas para fazer efeito, por exemplo, com o processo que realizamos, ele talvez venha a produzir efeitos no corpo em duas horas. Esse é nosso objetivo: possibilitar que essa nova substância venha a ter mais benefícios em relação às demais que já estão no mercado”, aponta. Para o professor Adenilson Oliveira, do curso de Engenharia de

Alimentos e do mestrado em Ciência dos Materiais da UFMA, “o grande interesse nessas substâncias pode ser verificado pelo considerado aumento de publicações, depósitos de patentes e depósitos de estruturas cristalinas no banco de dados de Cambridge”. Segundo o pesquisador e colaborador do projeto, os estudiosos reconhecem que uma das principais dificuldades encontradas durante a pesquisa é a obtenção do cocristal, que requer experiências e muitas análises físicas e químicas do processo, além da otimização do procedimento para a obtenção do material. As pesquisas já renderam até o momento duas dissertações de mestrado e a publicação de quatro artigos em revistas científicas internacionais (Qualis A1).

Paulo Roberto da Silva Ribeiro Possui graduação em Farmácia, com Habilitações em Análises Clínicas e Farmácia Industrial pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2000); mestrado em Agroquímica (Química Analítica Ambiental) pelo Departamento de Química da Universidade Federal de Viçosa (2002); doutorado em Química (Química Analítica) pelo Instituto de Química

da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2006) e Pós-Doutorado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade do Porto Portugal (2013). Atualmente, é Professor Associado I e Pesquisador do Centro de Ciências Sociais, Saúde e Tecnologia da Universidade Federal do Maranhão, Imperatriz Ano V • Número I •

– MA. Também integra o quadro permanente de professores do Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Materiais desta Instituição. Legenda: Equipe do NUPFARQ, coordenador professor Paulo Ribeiro e orientandos de mestrado e de iniciação científica que integram as pesquisas. Portal Maio - Junho de 2017 25 da


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NOSSO NOME PRÓPRIO! Você já parou para pensar quais características psicológicas o seu nome carrega? E de que forma ele é um direito ou um dever? Pesquisa da professora Isalena Santos Carvalho, da UFMA, busca discutir essas questões. Por Adriana Moraes

Ana Beatriz Oliveira. Isabela Silva. Augusto Lopez. Paloma Muniz. Independentemente de como ele seja, todas as pessoas possuem um nome próprio que as distingue e as identifica. Uma sociedade em que os indivíduos não utilizem os nomes para se diferenciarem ou criarem a identidade de cada um se torna inimaginável.

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O nome é garantido por Lei e, como aponta o artigo 16 do Código Civil Brasileiro, “toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome”. O prenome é escolhido de maneira livre, desde que não cause constrangimento ou exponha o indivíduo ao ridículo. Já o sobrenome é o nome da família ou patronímico, designando a filiação do sujeito (a qual grupo ou a que pessoas ele está vinculado). Em algumas sociedades, as pessoas são conhecidas por seu sobrenome que, normalmente, identifica o núcleo familiar do qual faz parte. Em outras, como no Brasil, são conhecidas pelo seu prenome, que também os diferencia dos outros membros da família à qual pertencem. Assim, além de identificar, o nome também individualiza e permite integração e interação social. Juridicamente falando, o Direito de Personalidade aponta que o nome civil não pode ser renunciado nem valorado economicamente. Pela característica jurídica de intransmissibilidade, os filhos têm direito à patronimia de sua família, mas, por exemplo, o pai não perde seu sobrenome quando também o confere ao filho recém-nascido. Ou seja, não é uma propriedade, sendo “inalienável e imprescritível”. No artigo “O nome: Um direito ou um dever?”, escrito em conjunto com Daniela Scheinkman Chatelard (Universidade de Brasília), a professora Isalena Santos Carvalho observa que a escolha do nome de uma criança ocorre à revelia de quem o carrega. “É uma opção, na maioria das vezes, feita pelos pais, que não querem registrar seus filhos com qualquer prenome e fazem uma busca incessante pelo nome perfeito”, afirma. Essa escolha, segundo a pesquisadora, vem 28

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carregada de expectativas. E assim a pessoa carrega uma alcunha anterior a ela, que lhe foi dada sem que esta pudesse opinar sobre a escolha feita. Sendo o nome um direito, o projeto de pesquisa “O Nome Próprio: um estudo sobre seus efeitos no funcionamento psíquico” busca discutir como as pessoas precisam se posicionar em relação a ele em sua história. “Os objetivos da pesquisa envolvem a discussão dos efeitos do nome próprio sobre o funcionamento do aparelho psíquico, com base na forma como é colocada es-

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sa questão no Direito e na Psicanálise, além da interlocução entre as duas áreas”, explicou Letícia Melo, graduanda em Psicologia. O projeto vincula-se ao Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Maranhão-UFMA e é coordenado pela professora e psicóloga Isalena Santos Carvalho. Desenvolvido como uma pesquisa teórica, o estudo tem como base leituras na área de Psicanálise, especialmente as obras de Sigmund Freud e Jacques Lacan, e textos das áreas do Direito de Família e de Personalidade. Após essas leituras, os


pesquisadores perceberam que o estudo sobre o nome próprio é algo complexo, que traz consigo características diversas, não somente as intenções parentais e familiares que levaram a tal escolha. Em seu artigo “O nome civil da pessoa natural. Direito da personalidade e hipóteses de retificação”, o estudioso Clóvis Mendes cita Spencer Vampré, primeiro grande estudioso do nome civil no Brasil. “Quando pronunciamos ou ouvimos um nome, transmitimos ou recebemos um conjunto de sons, que desperta em nosso espírito, e no de

outrem, a ideia da pessoa indicada, com seus atributos físicos, morais, jurídicos, econômicos, etc.”, afirma Vampré. Pode-se destacar, ainda, os atributos civis e sociais. De acordo com a professora Isalena Carvalho, não se pode deixar de considerar, entretanto, que o nome também carrega um grau de dever, ou seja, os deveres de cidadão. Desta forma, a noção de direito não pode ser dissociada da noção de dever. “O direito ao nome está entrelaçado ao dever de responder por ele”, ressalta a pesquisadora. Nesse ponto, destacam-se questões psíquicas em

relação ao nome próprio, uma marca que requer uma resposta por parte de quem o carrega. O nome próprio cria um lugar de pertencimento do indivíduo em sua família e na sociedade. Faz parte da constituição do sujeito. “Ainda que ela questione posteriormente esse lugar, o nome, em sua relação com o significante, marca a passagem da dimensão da natureza para a cultura — dimensão da linguagem e do mal-estar”, afirma Isalena Carvalho no artigo “O nome: Um direito ou um dever?”. De acordo com a pesquisadora, é na relação com o outro que as características e a assimilação com o nome se fazem pelo indivíduo. Esses laços de pertencimento e as relações são gerados nessa troca de experiências, em que o primeiro contato que se tem é com os pais, baseado em uma herança simbólica motivada pelo nome civil. Ou seja, a constituição da subjetividade do ser humano se faz na primeira infância dentro do seio familiar, sendo o primeiro momento em que a criança precisará responder ao ouvir seu nome. Vale lembrar que o sujeito também pode responder a esse nome negando-o e/ou reivindicando outro. O estudo nos mostra, assim, que o nome próprio se articula a essa transmissão psíquica que se dá através das gerações. “Um nome é dado à criança ao nascer porque há a aposta por seus pais de que existe ali um sujeito. O ato de nomear inclui a criança não apenas em uma rede de parentesco de linhas retas ou colaterais. Seu nome é enlaçado por cordinhas do simbólico, o que confere um lugar na cadeia discursiva”, aponta Isalena Carvalho. Ao responder, a criança e, posteriormente, o adulto evidenciam como se posicionaram nesse lugar de fala baseado em seu nome próprio.

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INFLUÊNCIA DA GENÉTICA EM JOGADORES DE FUTEBOL Informações coletadas em células de jogadores profissionais ajudam a melhorar o treinamento dos atletas

Por Rildo Corrêa

Treinamento intenso e boa alimentação são fundamentais para se tornar um craque nos campos de futebol, certo? Talvez não. Se para muitas pessoas esses fatores são essenciais para brilhar nos gramados, estudos genéticos realizados em jogadores profissionais vêm mostrando que talvez não seja bem assim. Com os avanços da ciência e da tecnologia, é possível verificar a real condição física e o porquê de alguns atletas terem mais facilidade para correr ou para resistir a impactos durante treinos e jogos. É o caso de uma pesquisa aplicada ao futebol maranhense que a Universidade Federal do Maranhão vem realizando em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Secretaria de Estado do Esporte e Lazer do Maranhão (Sedel). Segundo o professor do Departamento de Educação Física e coordenador do projeto, Emerson Silami, o trabalho pretende identificar polimorfismos genéticos (diferenças na forma) que 30

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influenciam nos níveis de força, potência e resistência em atletas de futebol. “Queremos avaliar a relação desses fatores com marcadores inflamatórios, hormonais e de dano muscular utilizados como controle de treinamento de atletas de futebol”, contou. O projeto é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema), pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e também recebe apoio da Sedel. Os pesquisadores vêm analisando mutações no gene ACTN3 — que, entre outros genes, está associado ao desempenho esportivo — em jogadores do Moto Club e do Sampaio Corrêa, além de atletas do Cruzeiro Esporte Clube, de Minas Gerais, com troca de informações entre a UFMA e a UFMG. De acordo com Silami, o trabalho iniciado no ano passado já pos-

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sui uma significativa amostra de atletas, o que em breve resultará em publicações da universidade sobre o assunto. “O nosso trabalho envolve muitas variáveis e verifica diversos aspectos dos jogadores com teste de velocidade, resistência, de salto e de flexibilidade. No entanto podemos estudar essas características internamente, fazendo a análise do polimorfismo-alvo diretamente do DNA (no nosso caso, o ACTN3), pois o futebol exige muitas habilidades físicas dos jogadores e, por meio do estudo, será possível traçar um perfil dos jogadores com as suas reais condições físicas”, disse. Segundo a professora do Departamento de Morfologia, Flávia Vidal, o ACTN3 está envolvido com a capacidade de o músculo realizar


movimentos de força e repetição com mais facilidade. “O indivíduo que possui o ACTN3, a proteína do músculo, tem musculatura mais rápida. Dessa forma, um jogador tem mais força quando precisa dar um arranque no campo, por exemplo. Já o indivíduo que apresenta polimorfismo não fabrica o ACTN3, dando lugar a outra proteína, ACTN2, que não é tão forte quanto o ACTN3. Então esse indivíduo polimórfico vai apresentar uma musculatura do tipo mais lenta, mais propensa a ter lesão muscular, caso ele faça algum esporte de forte impacto”, explicou. Ainda de acordo com Flávia, com o avanço da tecnologia, o processo de coleta do material é rápido e não invasivo. “Hoje usamos uma escova própria para coletar células da cavi-

dade oral, que são depositadas em um tubo próprio para preservá-las. Depois levamos os materiais para o laboratório e extraímos o DNA dessas células, a fim de analisar os jogadores polimórficos e não polimórficos. Junto com os testes físicos e outros procedimentos, como a termorregulação, é possível saber a chance de determinado jogador lesionar-se ou não”, explicou. Segundo o professor Silami, com as informações reunidas e repassadas aos clubes, os preparadores físicos poderão aperfeiçoar o treinamento dos seus jogadores. “A identificação da pré-disposição genética dos atletas de futebol traz informações importantes para a comissão técnica no planejamento individualizado das cargas de treinamento, em especial sobre o

curso de tempo de mudanças na fase aguda inflamatória e de dano muscular, tendo em vista que alguns treinamentos e os jogos são de caráter coletivo”, pontuou. Para o fisiologista do Sampaio Corrêa, Ricardo Mendes, o projeto realizado pela UFMA e Sedel tem otimizado o trabalho dentro e fora do campo. “Realizamos testes genéticos, de aptidão física, controles periódicos do volume e intensidade dos treinos e análise de desempenho físico nos jogos. Os testes genéticos auxiliam a determinar quais jogadores estão mais aptos à força ou à resistência, além de programar períodos de descanso mais longos ou curtos para cada atleta, tudo realizado com o que há de mais moderno e tecnológico. Dessa forma, posso relatar para a preparação física e

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para o treinador o nível em que se encontram os atletas e quais tipos de trabalho são mais adequados, sempre visando ao máximo desempenho do jogador”, avaliou No entanto o professor Silami ressalta que os testes genéticos não apresentam informações decisivas para selecionar jogadores. “Além de aptidões físicas, o futebol exige dos atletas outras habilida-

des, como inteligência, comportamento em grupo e habilidades técnicas. O estudo vai oferecer mais conhecimento para a área e, assim, modernizar a ciência no futebol no Maranhão”, concluiu. O presidente do Moto Club, Hans Nina, afirmou que o estudo é importante para o desenvolvimento do esporte. “O curso de Educação Física tem equipamentos e infra-

estrutura de qualidade, elementos de que a maioria dos clubes de futebol maranhenses não dispõe. Então podemos aproveitar a estrutura tecnológica e o conhecimento dos professores para melhorar o potencial do time. Hoje, esportes de alto rendimento, como o futebol, necessitam de pesquisas, por isso a ciência é fundamental nessa busca”, destacou.

Além da análise genética, ainda são realizados registros fotográficos por meio do uso da termografia, que revela a temperatura dos músculos do atleta e medição do nível de creatinoquinase (que mede o desgaste muscular). Também é fornecido sistema de GPS durante os jogos, que registra informações precisas sobre o rendimento de cada jogador dentro de campo. Os métodos aplicados pela UFMA em parceria com a Sedel estão presentes em grandes clubes do país, entre eles Palmeiras e Atlético Mineiro.

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Fotos: Edgar Rocha

ESTUDO ANALISA PROGRAMAS DE COMBATE À POBREZA Políticas assistencialistas são analisadas em cinco estados: Maranhão, Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo e Goiás Por Letícia Mourão

AnoAno VII •V •Número Número I •I •Julho/Agosto Maio - Junho dede 2017 2017

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Ao chegar a São Luís, a capital maranhense, não é

esporte e recreio, esquis aquáticos e jet-esquis, gaso-

necessário buscar lugares específicos para ver as dis-

lina, armas e munições, joias e perfumes importados,

crepâncias econômicas e sociais vividas pela popula-

entre outros.

ção. Em meio aos grandes prédios comerciais e pontos

Interessado nessa temática, o Grupo de Avaliação

turísticos, há pessoas que vivem em péssimas condi-

e Estudo da Pobreza e de Políticas Direcionadas à

ções de subsistência. Com uma renda per capita que

Pobreza (GAEPP-UFMA) realizou, entre 2011 e 2014,

não chega a 70 reais por mês, elas são consideradas

a pesquisa “Pobreza e Políticas Relacionadas ao Fun-

em situação de extrema pobreza.

do de Combate e Erradicação da Pobreza no Brasil”,

Em 2013, o Maranhão foi classificado como o esta-

uma continuação da pesquisa “Avaliação das Políticas

do mais pobre da federação, segundo o Atlas de De-

Relacionadas ao Fundo de Combate e Erradicação da

senvolvimento Humano no Brasil. E grande parte da

Pobreza no Brasil”.

população vive com o pouco proporcionado pelos

Segundo a coordenadora do projeto, professora Sal-

programas assistencialistas federais e estaduais des-

viana de Maria Pastor Santos Sousa, o objetivo princi-

tinados à erradicação da pobreza, como o Bolsa Famí-

pal do estudo foi refletir sobre a execução dos pro-

lia e o FUMACOP (Fundo Maranhense de Amparo ao

gramas assistencialistas, de acordo com a legislação

Combate à Pobreza), este último prorrogado até 31 de

que dá suporte ao Fundo de Combate e Erradicação

dezembro de 2021.

da Pobreza (FCEP), regulamentado pela Emenda Cons-

O FUMACOP é fruto da Lei Estadual número 21.725

titucional (EC) nº 31, de 14 de dezembro de 2000. O

e o Decreto 21.725, de 28/11/05, que institui e re-

recorte da pesquisa se deu nos estados do Maranhão,

gulamenta a cobrança por meio de taxa de 2% nas

Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo e Goiás.

alíquotas de ICMS, adquiridos por meio de compras

“Além de continuar a pesquisa iniciada sobre a di-

de bens e serviços como televisão por assinatura,

nâmica do Fundo de Combate à Erradicação da Pobre-

energia elétrica, bebidas alcoólicas, embarcações de

za (FCEP), outra motivação do projeto foi dar suporte

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ao projeto “Observatório Social e

cessão de Bolsa de Produtividade à

rando-se a configuração histórica

do Trabalho”, levantando e siste-

coordenadora. O Programa Institu-

da sociedade brasileira e, particu-

matizando dados secundários e

cional de Bolsas de Iniciação Cientí-

larmente, a realidade de pobreza,

resultados de estudos desenvol-

fica PIBIC-UFMA também financiou a

os programas desenvolvidos nos

vidos sobre a situação de pobre-

participação das bolsistas. A pesqui-

estados investigados não parecem

za no Maranhão. Os estudos são

sa, composta por quatro professoras

agregar potencial capaz de provo-

disponibilizados tanto no site do

e nove alunas bolsistas do Programa

car impactos de maior profundida-

GAEPP (www.gaepp.ufma.br) como

de Iniciação Científica, o PIBIC, está

de sobre essa questão tão aguda e

em apresentações em segmentos

em uma nova fase, no intuito de dar

persistente”, declara.

organizados da sociedade e órgãos

suporte ao Observatório Social e do

públicos responsáveis pela formu-

Trabalho.

lação e implementação de Políticas Públicas”, explicou a professora.

Entre as dificuldades encontradas na execução da pesquisa,

Por meio de estudo bibliográfi-

a professora destaca o processo

co, documental e de campo, o eixo

de coleta de dados referentes aos

Apoio - As pesquisas foram custe-

de análise do projeto transitava

programas. “Muitos dirigentes apa-

adas pelo Departamento de Serviço

entre a investigação da prática e de

rentavam certo receio em desnu-

Social (DESES), Fundação de Amparo

resoluções concretas em relação à

dar dificuldades relativas ao pro-

à Pesquisa e ao Desenvolvimento

pobreza, além de verificar como

cesso de gestão, tais como partici-

Tecnológico do Estado do Maranhão

seriam administrados os Fundos

pação da sociedade, definição de

(FAPEMA) e GAEPP, por meio do Edital

(FCEP) pelos estados. Os resulta-

critérios para partilha de recursos,

004/2010-APP-Universal. Já o Con-

dos da pesquisa, segundo a pro-

entre outras”, finaliza. A professo-

selho Nacional de Desenvolvimento

fessora Salviana, estão disponíveis

ra Salviana Santos é graduada em

Científico e Tecnológico (CNPq) par-

no site do Gaepp, no link Boletins

Serviço Social, mestra e doutora

ticipou do projeto por meio da con-

e Cadernos de Pesquisa. “Conside-

em Políticas Públicas pela UFMA.

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ALGORITMOS NO TRATAMENTO DO CÂNCER PULMONAR Ferramentas são utilizadas no processamento de imagens e computação inteligente para detectar tumores cancerígenos Por Ariele Júllian

O caráter peculiar das Ciências Exatas criou, ao longo dos anos, uma visão que as distancia das demais áreas de conhecimento (Humanas e Biológicas). Falar em informática, cálculos e raciocínio lógico retoma a ideia taxativa de que a matemática é uma ciência isolada das demais. Para quebrar esse tabu, está sendo desenvolvido o projeto Processo e Análise de Imagens Médicas do Núcleo de Computação

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Aplicada (NCA), da Universidade Federal do Maranhão, que utiliza algoritmos matemáticos na criação de recursos de processamento de imagens e computação inteligente. Segundo os pesquisadores, essas ferramentas servem de suporte médico no tratamento de pacientes com câncer pulmonar. “Além de deixar seu legado, a matemática comprova, por meio de algoritmos, o seu uso a favor da Medicina”, diz o professor Aristófanes

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Silva, coordenador e idealizador do projeto. Segundo ele, a iniciativa surgiu em 2000, como uma pesquisa interdisciplinar envolvendo as áreas de exatas e biológicas. A proposta, que contou com o apoio de oito pesquisadores de várias instituições, concentrou-se primeiramente na detecção de lesões. “Há 16 anos, pensei em um projeto do meu campo (engenharia) com o intuito humanístico. A intenção da equipe era utilizar os algorit-


mos para ajudar a sociedade. Começamos, então, com a detecção de lesões e, depois de muitas pesquisas, desenvolvemos métodos que hoje conseguem, além de descobrir, prognosticar e monitorar tumores cancerígenos, numa análise moderna e eficaz”, disse ele. De todos os tipos cancerígenos que comprometem a vida humana, o câncer no pulmão é o maior em incidentes no mundo, seguido dos cânceres de intestino, mama e próstata, que também apresentam um número significativo de casos. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o tumor maligno na região pulmonar é ainda o mais letal, sendo capaz de matar 1,8 milhão de pessoas por ano. No laboratório de Processamento de Análise de Imagens, localizado no Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas (CCET), oito alunos colaboradores recebem tarefas que são divididas de acordo com as diferentes etapas necessárias para a análise da lesão: detecção, diagnóstico e monitoramento. A segmentação do nódulo, por exemplo, é o procedimento inicial na detecção da malignidade ou benignidade do tumor, e fica sob a responsabilidade do professor Stelmo Magalhães Barros Netto, aluno de pós-graduação da UFMA. Detectar a doença não é uma tarefa fácil. A descoberta é realizada por meio do tomógrafo computadorizado, aparelho capaz de produzir imagens seccionais do corpo humano com alta resolução dos diversos tecidos. Posteriormente, o médico deve realizar uma análise geral do paciente e depois encaminhá-lo a um especialista, para que a sistematização seja realizada. Após a sistematização, a equipe do projeto entra em ação com o diagnóstico, baseado na segmentação das imagens dos nódulos. A avaliação da lesão e de suas complicações pode ser estudada mediante sistemas de análise que promovem a Detecção Assistida por Computador (CAD) e

o Diagnóstico Assistido por Computador (CADx), ferramentas que aceleram e facilitam a avaliação de muitas imagens, conforme esclareceu o professor Stelmo. “Os softwares (CAD) e (CADx) facilitam a análise de um grande número de imagens, o que toma muito tempo do especialista, quando existe um número muito grande de pacientes a serem analisados em um único dia”, acrescentou o professor. Ainda segundo Stelmo, a segmentação de nódulos pulmonares envolve o uso da matemática. “Para a segmentação, eu uso o Algoritmo Growing Neural Gas (GNG), que agrupa os voxels do volume e a função K de Ripley para descrever a textura dos objetos segmentados. A classificação desses objetos é feita por uma Máquina de Vetor de Suporte (Support Vector Machine - SVM)”, explicou o professor. O monitoramento é a etapa final, em que todos os exames são analisados. A quantificação de mudanças na forma e no tecido são considerações importantes no prodiagnóstico do câncer, como explica o responsável por essa etapa da análise, Otílio Paulo da Silva Netto, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI). “No prognóstico, eu analiso o estado do nódulo de cada paciente de acordo com os três primeiros exames. A partir daí, eu aplico técnicas matemáticas, no caso, o modelo Markoviano, que prediz como o nódulo estará daqui a um tempo. Esta predição é essencial, pois confirma se o tratamento está dando certo ou não”, contou Otílio. Antes da criação do projeto, as características do tumor eram analisadas de maneira manual ou semiautomática. Mesmo com recurso tecnológico, a atuação do médico em todas as etapas é indispensável, alerta o professor Aristófanes. “A intenção não é substituir o profissional, e, sim, unir forças para a detecção precoce do câncer”, declarou o coordenador.

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ENERGIA ALTERNATIVA BENEFICIA COMUNIDADE Sistema isolado híbrido eólico-solar é o único em operação contínua no Brasil e existe há nove anos na Ilha de Lençóis, em Cururupu Por Daniel Santos

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Desde a ECO-92, a histórica conferência global sobre meio ambiente realizada no Rio de Janeiro, o Brasil se tornou protagonista em discussões ambientais que resultaram, entre outras coisas, na elaboração da Convenção sobre Mudanças Climáticas da ONU e no Protocolo de Kyoto (documento por meio do qual as nações se comprometeram a reduzir suas emissões de gases provocadores do efeito estufa). Recentemente, o Brasil fez parte da COP-21, em Paris, em que diversos países declararam metas e compromissos voluntários de redução das emissões de gases poluentes. As iniciativas tomadas pelo Brasil nos últimos anos resultaram também no aumento de sua matriz de energia limpa (hidrelétricas, parques eólicos e solares) e em programas de acesso à energia elétrica, entre eles o “Luz para Todos”, que, por meio de subsídios governamentais, levou energia para mais de 3,4 milhões de pessoas nos últimos 13

anos. Além da energia produzida por hidrelétricas, cresce também a demanda por fontes alternativas que tenham o menor impacto ambiental possível e que sejam economicamente viáveis. É aí que entram a energia eólica e a solar.

Dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) apontam que, em 2015, a matriz energética brasileira ficou mais limpa, com alta de 77,1% na geração de energia eólica, o que ajudou a reduzir o consumo de carvão vegetal e de combustíveis co-

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mo gasolina e diesel para a produção de energia elétrica. Seguindo essa tendência, o Instituto de Energia Elétrica da UFMA tem desenvolvido projetos que buscam aumentar essa oferta de energias limpas com foco em comunidades de baixa renda. Um dos projetos desenvolvidos pelo IEE foi a implantação de um sistema híbrido de geração de energia eólico-solar para atender à Ilha dos Lençóis, em Cururupu. De acordo com os pesquisadores, desde 2004, já havia pesquisas de alunos e professores do Núcleo de Energias Alternativas relacionadas a esse sistema. Os estudos eram financiados pelo CNPQ e voltados para a Ilha do Cajual, próxima a Alcântara. Após a implantação do programa “Luz Para Todos”, não era mais viável a implantação do sistema, porque o Estado tinha interesse em estender a rede de transmissão convencional à Ilha. Então as pesquisas ficaram arquivadas até 2006, quando o programa Luz Para Todos abriu uma linha de pesquisa para que as universidades desenvolvessem programas de energia alternativa para comunidades de baixa renda e onde a oferta de energia convencional não era viável economicamente. Após a readequação do projeto para a Ilha dos Lençóis, o Ministério de Minas e Energia aprovou o financiamento, e a pesquisa foi executada em 2008. Sistema – O sistema de geração híbrida que foi

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desenvolvido é composto de três turbinas eólicas e um conjunto de 164 painéis fotovoltaicos interligados que geram uma potência aproximada de 20 KW. A energia não utilizada é armazenada num conjunto de 120 baterias. Caso não haja energia solar ou eólica suficientes, e o sistema de baterias não estiver carregado, um grupo gerador a diesel é automaticamente acionado. “Apesar da pequena probabilidade de o gerador ser acionado, ele é essencial para a confiabilidade do sistema e é necessário para operações de manutenção sem a interrupção do fornecimento de energia aos moradores”, explicou Osvaldo Saavedra, professor do curso de Engenharia da Eletricidade e um dos responsáveis pelo projeto, em conjunto com os professores José Gomes de Matos e Luiz Antônio de Souza Ribeiro. Saavedra conta que hoje o projeto é um ícone nacional e o único sistema isolado híbrido eólico-solar em operação contínua no Brasil. “Várias inovações tecnológicas foram elaboradas para superar os inúmeros desafios que surgiram, em particular pela falta de soluções tecnológicas no Brasil. O sistema de Lençóis também foi importante para criar a legislação nacional para sistemas baseados em energias renováveis. Isso permitiu que esse sistema fosse incorporado à concessão da CEMAR”, declarou o pesquisador.

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O Instituto de Energia Elétrica-IEE foi criado em 2009, resultado de um convênio entre a UFMA e a Eletrobrás, com o objetivo de Avanço social e econômico - Formada por dunas e mangues, a Ilha dos Lençóis fica localizada a 30km de Apicum-açu e possui cerca de 100 famílias, a maioria, de pescadores. É uma região propícia para a instalação de turbinas eólicas e painéis fotovoltaicos pela grande incidência de ventos e irradiação solar. Segundo Shigeaki de Lima, ex-aluno do curso de Engenharia da Eletricidade da UFMA que participou das pesquisas e da implantação do projeto, as principais dificuldades enfrentadas foram o acesso à ilha, a falta de infraestrutura e o desenvolvimento de tecnologias específicas do sistema. Para Shigeaki, que atualmente é professor da pós-graduação em Engenharia da Computação, a aceitação do sistema pela comunidade foi algo essencial, desde o transporte das turbinas, geradores e outros materiais pelas dunas, até a instalação. Já o desenvolvimento das tecnologias específicas para o sistema, como controladores de carga e equipamento de conversão de energia, foi realizado pelos próprios professores e alunos do curso. “No final, tivemos um projeto genuinamente nacional e com tecnologia nacional”, completa o professor. Segundo o professor Saavedra, a ilha, que antes só tinha energia derivada de geradores a diesel e que funcionavam cerca de 4 horas por dia, teve um grande

concentrar as pesquisas de energias renováveis em um espaço físico. São realizadas pelo Instituto atividades de ensino e pesquisa em: conversores para geradores fotovoltaicos e eólicos, integração de fontes renováveis, operação de sistemas híbridos, microrredes inteligentes, operação de sistemas de energia modernos e energias oceânicas.

avanço social e econômico. “O padrão de vida progrediu fortemente, com a melhora de qualidade das casas, que passaram a ter eletrodomésticos. O uso de geladeira melhorou a alimentação das crianças, assim como a conservação de peixes. Surgiram também pequenos empreendimentos como pousadas, oficinas para embarcações, ensino noturno na escola, etc.”, comemorou. Após a incorporação do sistema pela CEMAR, o IEE ficou responsável por toda a transmissão dos conhecimentos sobre sistema e capacitação dos agentes da empresa. Neste ano, o sistema completa nove anos em pleno funcionamento e ainda é base para futuros projetos em energias alternativas.

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COMO LIDAR COM AS QUESTÕES DE GÊNERO EM SALA DE AULA? Professores desenvolvem estudos e pesquisas sobre relações de gênero e sexualidade nas escolas Por Ariele Júllian

Discutir as questões de gêne-

ras pesquisas sobre o tema foram

atividades práticas e análises de

ro não é uma tarefa tão simples

produzidas em 2004, em parceria

textos, o GESEPE conta com 26

quanto parece. Devido ao pre-

com o Grupo de Estudo e Pesquisa

membros de várias graduações, da

conceito, crenças e tradicionalis-

sobre Educação, Mulheres e Rela-

Secretaria de Estado da Educação

mo existentes no Brasil, a inser-

ções de Gênero da UFMA (GEMGe).

(Seduc), docentes e discentes dos

ção desse debate na sala de aula

O GEMGe analisa especifica-

cursos de Psicologia, Pedagogia,

ainda é um grande desafio a ser

mente a relação de gênero e mu-

Geografia, Teatro e Ciências Sociais,

enfrentado

educadores.

lheres na sociedade. Segundo a

professores do Colégio Universitá-

Na busca de alternativas para a

professora Sirlene, as atividades

rio (Colun) e do Instituto Federal

desconstrução de mitos e discri-

do grupo despertaram interesse

do Maranhão (IFMA), que realizam

minações em relação a questões

pelo estudo da sexualidade em sa-

mensalmente os encontros na Sala

de gênero nas escolas, o Grupo

la de aula, o que serviu de estímu-

da Escola Laboratório no Centro de

de Pesquisas sobre Gênero e Se-

lo inicial para a criação do GESEPE.

Ciências Sociais (CCSo/UFMA).

xualidade nas Práticas Educativas

“As pesquisas do GEMGe servi-

Durante as reuniões de estu-

da Universidade Federal do Mara-

ram como base para a formação do

do, um participante do grupo fica

nhão (GESEPE-UFMA) realiza aná-

Gesepe. Quando entrei no grupo,

responsável pela apresentação do

lises das bases conceituais dos

percebi que meu foco era voltado

capítulo de uma obra referente

estudos de gênero e da sexuali-

mais para a questão da sexualida-

às questões de gênero, que é de-

dade, com encontros mensais pa-

de. Logo após o doutorado em Edu-

batido por todos. Ao fim de cada

ra apresentação e discussão entre

cação, realizado na Universidade

ciclo de estudos, os integrantes

os participantes.

de São Paulo (USP), alguns colegas

recebem um certificado de parti-

O Grupo é coordenado pela pro-

notaram a minha afinidade com o

cipação. Na primeira reunião de

fessora doutora Sirlene Mota Pi-

tema e sugeriram a formação de

2017, a estudante Catarina Morei-

nheiro da Silva, do Departamento

um grupo específico sobre gênero

ra expôs o capítulo “Pedagogias

de Educação. Desde a sua mono-

e sexualidade”, explicou. Em sua

da Sexualidade”, do livro “O corpo

grafia de graduação em Pedagogia

tese de doutorado, “Decifra-me!

Educado”, de Guacira Louro.

e na dissertação de mestrado, inti-

Não me devore! Gênero e Sexua-

Para Catarina Moreira, debater

tulada “As mulheres professoras e

lidade nas Tramas das lembranças

o tema em conjunto é importante

a sexualidade no espaço escolar”,

e nas práticas escolares”, a profes-

para a produção de conhecimento.

a pesquisadora vem estudando

sora já apontava na direção do tra-

“Temos pesquisadores de várias

as representações e práticas no

balho que vem conduzindo hoje.

áreas, e isso é bom para ampliar a

pelos

trabalho escolar. As suas primei42

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Com pouco mais de um ano de

da

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visão sobre o tema e para o com-


partilhamento das nossas experi-

instrução dos professores gera dú-

foi gerado no sistema de educação.

ências”, disse.

vidas sobre a maneira de levantar

Os professores mais antigos foram

A questão norteadora é que as

na escola a discussão sobre sexu-

afetados por não terem se prepara-

crianças e os adolescentes encon-

alidade. “Infelizmente, os profes-

do durante a formação”, ressaltou.

tram-se na fase de concepção do

sores da rede estadual não estão

O Grupo está organizando agora

ser, e o ambiente escolar, por sua

preparados para ter uma conversa

um Curso de Extensão intitulado

vez, torna-se o primeiro espaço

aberta com os alunos. Quando nós

Gênero e Sexualidade na Escola,

de sociabilização, fator importan-

chegamos à escola, os professores

com carga horária de 120 horas,

te nesse processo. Para a coorde-

nos questionam sobre como abor-

propondo teorização sobre as te-

nadora do projeto, os educadores

dar esse tema em sala de aula”.

máticas, que podem ajudar profis-

precisam estar preparados para

FORMAÇÃO - A falta de instrução

sionais da educação em suas prá-

transmitir segurança ao tratar do

dos profissionais da educação pro-

ticas pedagógicas. Previsto para

assunto e promover a igualdade

voca o silêncio sobre as questões

iniciar no mês de agosto, o curso

em sala de aula.

de gênero. Contudo a professora

destina 100 vagas para São Luís,

Para a aluna do curso de Peda-

Diomar Motta explicou que a culpa

50 vagas para Codó e 50 vagas pa-

gogia, Alyne Andrade, a falta de

não é dos professores. “O problema

ra Imperatriz.

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MÚLTIPLOS SENTIDOS DA LINGUAGEM VIRTUAL Textos utilizados no facebook, twitter e outras redes sociais são analisados como parte de um processo de ressignificação Por Rildo Corrêa

Marcar compromissos, bater um papo descontraído, fazer novas amizades e até resolver assuntos profissionais. A internet tem causado impactos nas mais diversas atividades da vida contemporânea. Essa dinâmica e a velocidade na troca de informações têm propiciado o surgimento de estudos que buscam analisar a linguagem utilizada por essa tecnologia. Os resultados vêm chamando atenção do meio acadêmico. Para a professora do Departamento de Letras, Veraluce da Silva, existe um processo de ressignificação da linguagem no contexto das redes sociais. “Elas estão rompendo com o conceito de língua proposto pela linguagem tradicional”, afirmou a pesquisadora. Veraluce coordena o projeto “A escrita em redes sociais da web: um contributo para uma melhor compreensão da língua em uso”. O estudo é desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Tecnologia e Ensino (GPTECEN), e faz parte das atividades do Núcleo de Pesquisa em Ensino e Tecnologias Simbólicas, do Departamento de Letras da UFMA. Além do facebook, o grupo também estuda textos e interações realizadas no microblog twitter. “Um elemento que temos visto é a abreviação. Aprendemos

uso da maiúscula. Na internet, esse recurso representa

que, em uma sílaba, o elemento central é a vogal. Nas

gritos de raiva, de alegria ou de euforia, ou seja, en-

redes sociais, vemos palavras formadas somente com

tende-se com a própria língua: o ‘internetês’. A própria

consoantes. Você lê e compreende o exemplo de: blz

Capes já reconhece essa linguística”, comentou.

(beleza), tb (também), bjs (beijos). Então, às vezes,

Essa é uma linguagem que a estudante de nutrição

pela pressa, as pessoas abreviam as palavras. E como

Elisabeth Santos, 20, utiliza com frequência em todas

já as temos memorizadas, acredito que isso facilita a

as suas conversas pelas redes sociais. Para ela, no en-

compreensão”, analisou a pesquisadora.

tanto, há exceções.

Ainda segundo Veraluce da Silva, o uso da maiúscu-

“Eu sempre abrevio palavras, principalmente em

la ganhou um novo significado. O que antes era usa-

conversas pelo WhatsApp, porque assim é mais fá-

do somente para iniciar frases e nomes próprios hoje

cil para digitar. Só que nem todo o mundo entende, a

representa sentimentos. “Há uma ressignificação do

exemplo dos mais idosos. Quando converso com al-

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guém mais velho da família, escrevo de forma normal,

geral colocados à disposição do internauta pelo pro-

senão eles não entendem, acho que por falta de cos-

vedor da Rede. Os símbolos ganham sentido à medida

tume”, opinou a estudante.

que as mensagens vão sendo construídas.

A expressividade dos símbolos

“Também uso com frequência os emoticons. Às ve-

Os recursos utilizados para demonstrar a reação de

zes envio para os amigos por preguiça de digitar ou por

quem escreve nas redes sociais são diversificados. Os

falta de assunto. Na maioria dos casos, os emoticons já

emoticons, ou ícones emocionais, são códigos elabo-

expressam o que eu sinto ou quero dizer no momento

rados com base em sinais de pontuação e mostram

da conversa”, revelou a estudante Elisabeth Santos.

a criatividade dos usuários da rede para expressar o

Para a professora Veraluce, esse contexto demonstra

seu estado emocional. Por exemplo: :-) ou :) feliz; ;-)

que não há mais um limite para o que pertence somen-

ou ;) piscando; :-D ou :D dando gargalhadas.

te à linguagem verbal ou à linguagem escrita. “Esses

Junto aos emoticons, há os smiley, caracteres em

elementos vêm preencher o vazio provocado pela falta

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de contato face a face, substituindo os gestos, o tom da

lar maranhense por meio de imagens e textos de te-

voz, a expressão. Para isso, os usuários da rede utilizam

or cômico. Então passamos a investigar a forma como

recursos linguísticos que a própria língua nos oferece”.

essas expressões maranhenses eram passadas para o

Enquanto alguns pesquisadores consideram esse

público”, explicou a estudante.

processo prejudicial à norma culta, a professora Veralu-

De acordo com Letícia, a variação linguística encon-

ce encara o fenômeno de maneira diferente, mas faz um

trada no Maranhão é um elemento primordial para a

alerta. “Vejo como uma grande evolução a criação de re-

construção da identidade maranhense. “Encontramos

cursos que vêm a facilitar a comunicação na rede. No en-

algumas lexias e montamos um glossário formado por

tanto, como praticantes da língua, devemos saber usá-la

palavras como afobado (Apressado), arriliada (zan-

de acordo com os lugares da interlocução”, advertiu.

gada) e nigrinhagem (prática de atos imprudentes).

Publicações

Percebemos que há um prolongamento do falar ma-

O Grupo de Pesquisa do Núcleo de Pesquisa em

ranhense nas redes sociais e que essa variação se evi-

Ensino e Tecnologias Simbólicas é formado por dez

dencia nas escolhas lexicais que o falante realiza de

componentes, entre estudantes de graduação e pós-

acordo com o espaço que habita”, concluiu.

-graduação. A equipe também conta com a participa-

Perfil

ção de professores da rede privada.

Formada em Letras pela Universidade Federal do

No ano passado, o projeto teve cinco trabalhos

Maranhão, a professora Veraluce Lima é Mestra em

aprovados para o IV Congresso Internacional de Dia-

Educação pela UFMA e Doutora em Ciências da Edu-

letologia e Sociolinguística – CIDS, realizado em Paris,

cação pela Universidade de Évora. Atualmente, é

na França. Dos cinco, dois foram apresentados no en-

professora associada II da UFMA. Possui experiência

contro. Um deles foi “As lexias dialetais da variedade

na área de Letras, com ênfase em descrição e análise

linguística maranhense na escrita digital”, da estu-

de usos da língua portuguesa sob orientação da Lin-

dante de graduação Letras-Espanhol, Letícia Abreu.

guística da Internet, abordando o uso da língua nas

“Navegando pela internet, encontramos a Fanpage ‘Indiretas Ludovicenses’, que utiliza expressões do fa-

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redes sociais da web e suas implicações no ensino de língua portuguesa.

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