OS HEBRAICOS DA AMAZÔNIA Henrique Veltman
INTRODUÇÃO Em 1981, o Beth Hatefutsot pediu ao fotógrafo Sérgio Zalis, na época aluno da escola de arte Betzalel, em Jerusalém, uma documentação do judaísmo brasileiro. Sérgio veio ao meu encontro, em São Paulo, sem maiores recursos além de sua boa vontade, e eu fiz ver a ele que a comunidade judaica brasileira estava espalhada pelos quatro cantos do país, e seria interessante estabelecer qual comunidade seria objeto de sua pesquisa. Elaboramos uma relação de possíveis registros, e Tel Aviv foi consultada. O Beth, depois de várias reuniões, decidiu-se pelo Norte do Brasil. Em janeiro de 1983, finalmente, o Beth Hatefutsot, o Museu da Diáspora da Universidade de Tel-Aviv,Israel, encomendou-nos a realização de uma documentação sobre o que até então era uma história muito pouco conhecida: a saga dos judeus marroquinos e de seus descendentes, os hebraicos, na longínqua e misteriosa Amazônia. Com o apoio do empresário Israel Klabin, durante um mês, percorremos aquela imensidão, começando por Belém do Pará, seguindo depois para Cametá, às margens do rio Tocantins. Dali, partimos para Abaetetuba, Alenquer, Santarém, Óbidos, Maués, Itacoatiara, Manaus, Porto Velho e Guajará Mirim. Em todos esses lugares, encontramos judeus, descendentes de judeus e registros impressionantes da passagem dos judeus de origem marroquina pela Amazônia. Elaborei um texto, quase crônica, e Zalis produziu as fotos. Com esse material, o Museu de Tel-Aviv realizou, em outubro de 1987, uma exposição sobre os judeus na Amazônia. Essa exposição, que depois percorreu o mundo, de Londres a Paris, Roma a Madri, ao Marrocos e aos Estados Unidos, ainda é desconhecida do público brasileiro. Foi uma das exposições transitórias do Museu, de maior afluência de público. O rei Hassan V, do Marrocos, tomou conhecimento da exposição, daí resultando um convite para que prosseguíssemos em nossas pesquisas sobre a presença judaico-marroquina na Amazônia. Isto aconteceu em 1988, quando uma equipe de televisão, comandada por Fábio Golombek e acompanhada por mim, viajou pelo Marrocos, buscando os elos de ligação entre os judeus, o Marrocos, o Brasil e o Estado de Israel. Dessa viagem resultou um documentário de TV, "Marrocos, uma nova África". Em 1990, a RAI, televisão estatal italiana, encomendou a uma produtora local a realização de um pequeno documentário sobre os hebraicos da Amazônia. Rei Hassan V
Esse documentário, produzido por Carlos Nader e dirigido pelo cineasta Henrique Goldman, foi exibido em diversos países, tais como Inglaterra, França, Itália, Bélgica, EUA; Foi exibido pela TV Cultura de São Paulo; em Israel, em 1991, foi o programa especial de Tishabeav (dia de lembrança da queda dos Templos de Jerusalém).