CalourECO - 2013.2

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CALOUR Escola de Comunicação da UFRJ | 2013.2

ECOS DO FUTURO

A chegada dos novos alunos na ECO foi marcada por tinta, alvoroço, vingança dos sustenidos, bordões e, é claro, polêmicas. Desde o trote até a gincana, os calouros passaram por todas as tradições ECOinas, como o PicnECO, a lista de tarefas e a primeira Juquinhada do período. Fique por dentro de tudo o que rolou durante as primeiras semanas do período na faculdade. p. 7

Nada rima com JUCS Com o surgimento dos Jogos Universitários de Comunicação Social, em 2011, a ECO adquiriu espaço para competições esportivas, âmbito inexistente no passado. p. 2

O histórico do nosso palácio Como foi planejado, concebido e erguido a construção com a qual convivemos todos os dias? p. 5

O SISU e a UFRJ O fluxo de estudantes que vem de fora do estado fluminense para estudar na UFRJ demonstra suas particularidades. p. 6


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ATLÉTICA

A atlética por trás dos treinos

Pedro Rodrigues de Mello

M

uito se fala, entre os corredores das faculdades, mesas de bar ou reuniões de amigos, sobre os jogos universitários. Que atire a primeira pedra quem nunca ouviu e ficou interessado em saber mais sobre esses eventos que estão cada vez mais presentes no cenário estudantil nacional. Se, antes, só o OREM (Olimpíada Regional dos Estudantes de Medicina) e os Jogos Jurídicos (Jogos dos Estudantes de Direito) possuiam o monopólio esportivo das faculdades Brasil afora, hoje, a realidade é outra : outros cursos estão se empenhando cada vez mais para que aconteçam seus próprios jogos. Afinal, por que não? E foi assim que tudo começou. Na verdade, uma pequena correção - é assim que basicamente tudo começa. São os desafios e as possibilidades de “fazer acontecer” que movem o mundo, de um modo geral. E não poderia ter sido diferente com a atlética da Escola de Comunicação da UFRJ. Cansados de ser espectadores desses eventos esportivos, alguns alunos se reuniram, em 2011, com um propósito - formar sua própria atlética e o seu próprio evento. Então tornariam-se, mais

tarde, protagonistas do que hoje é conhecido como JUCS, Jogos Universitários de Comunicação Social. O JUCS, apesar de recente (possui apenas 2 edições), já mobiliza muitos estudantes que sempre curtiram praticar/ ver esportes. Pedro Souto, presidente da AAACBV (Associação Atlética Acadêmica Cláudio Besserman Vianna), disse que, para ser da Atlética, não é preciso, necessariamente, praticar algum esporte ou ser atleta. Existem questões burocráticas e financeiras que vão além das quadras e dos treinos e a ajuda das pessoas está sendo importantíssima nesse processo inicial. Há uma verdadeira equipe de peso, composta por alunos da ECo, para que tudo isso aconteça. Ter dinheiro em caixa para treinos e materiais é necessário; logo, festas têm que ser feitas. Ter torcida no JUCS é fundamental; assim, criou-se a Bateria Zuêra. E tudo isso não se resume à questões burocráticas ou financeiras. Ser parte disso, segundo Souto, é se integrar à faculdade, conhecer pessoas de outros períodos e inserir-se num ambiente onde a mais ampla diversidade de pessoas convivem juntas. Ele continua : “A Atlética e os Jogos me permitiram conhecer e con-


ATLÉTICA viver com pessoas que hoje são amigas, pessoas que eu respeito ou que posso vir a trabalhar no futuro. É fundamental no sentido de mostrar que um projeto dos próprios alunos pode ser tocado com a mais profunda seriedade e com resultados muito positivos que vão para além das disputas esportivas. É um espaço também contínuo do exercício profissional, de assumir responsabilidades e de tirar sonhos do papel.”. Segundo ele, inclusive, alguns alunos já conseguiram estágio na área de marketing esportivo por conta da experiência com a Atlética. E tudo isso não se resume à questões burocráticas ou financeiras. Ser parte disso, segundo Souto, é se integrar à faculdade, conhecer pessoas de outros períodos e inserir-se num ambiente onde a mais ampla diversidade de pessoas vivem juntas. Ele continua: “A Atlética e os Jogos me permitiram conhecer e conviver com pessoas que hoje são amigas, pessoas que eu respeito ou que posso vir a trabalhar no futuro. É fundamental no sentido de mostrar que um projeto dos próprios alunos pode ser tocado com a mais profunda seriedade e com resultados muito positivos que vão para além das disputas esportivas. É um espaço também contínuo do exercício profissional, de assumir responsabilidades, de tirar sonhos do papel.”. Segundo ele, inclusive, alguns alunos já conseguiram estágio na área de marketing esportivo por conta da experiência com a Atlética. Entrar em um novo grupo, no entanto, é sempre algo complicado, pelo menos a primeira vista. Quando soube da existência do JUCS e dos treinos, quis participar por sempre ter sido fã de esportes e por ter praticado alguns, no colégio. Já tinha, no entanto, conhecido uma Atlética em outra faculdade e e, sinceramente, tinha certa implicância com o ambiente muitas vezes segregador que caracteriza esses espaços. Me enganei profundamente. A Atlética da ECo é, por experiência própria, acolhedora e amigável. Fui muito bem recebido pelos meus companheiros de equipe e, em momento algum senti que estava à parte dos acontecimentos - o movimento era contrário, vale ressaltar. A palavra que melhor define a AAACBV, para mim, é “inclusão”. São pessoas que embarcaram em um sonho, mesmo que “aos trancos e barrancos” , sem muitos recursos no início (por motivos óbvios), mas que acreditam no que fazem....e precisam de gente. Não é necessário ser atleta federado ou algo do tipo. O que ecoa nos grupos é que estão precisando de pessoas para completar os times. Então, se você (sim, você aí, leitor) souber jo-

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gar ou apenas tiver noção de algum esporte, vontade conhecer novas pessoas ou fazer novas amizades, vá aos treinos. Procure representantes, pessoas ligadas ao time, corra atrás. Sua ajuda será de extrema importância para toda a faculdade, de um modo geral. Tendo tudo isso em vista, vale relatar o que aconteceu com a direção que essa matéria acabou seguindo : a primeira idéia de assunto, quando discutida em reuniões do CalourECo, foi “a experiência do primeiro treino”. Não pude, no entanto, depois de um comentário em um dos treinos, continuar com a ideia inicial. Percebi que havia muito mais por trás dessa organização, dos exercícios, dos técnicos e das quadras. Um comentário foi feiro por uma uma aluna,Alessandra Farina, ao final do treino de vôlei. Ela dizia estar muito feliz porque a quantidade de atletas presentes naquele dia havia aumentado consideravelmente e emocionada, compartilhou que a Atlética tinha sido uma das melhores coisas que tinham acontecido para ela na faculdade. Contou que fazer parte disso mudou sua experiência, enquanto aluna, e o modo como ela enxergava a ECo. Trouxe amigos - talvez para a vida toda - e fez com que ela sentisse, entre as pessoas, uma união que poucas vezes viu na vida. Alessandra foi uma das que ajudaram a formar a Atlética (foi a segunda presidente) e, assim como Pedro Souto, compartilhou a vontade de ver a Atlética, formada por nós, alunos, continuar existindo nos próximos anos. Essa paixão, que pode ser vista nos atletas, membros fundadores, organizadores, entre outros, é algo que não é compreendido muito bem quando o atleta começa a ir aos treinos, entrar nos grupos,etc. Lembro que, ao ouvir a expressão “família handebol”/”família basquete” no primeiro treino, isso me soou bem engraçado, confesso. No entanto, hoje, fazendo essa análise cuidadosa sobre tudo o que me aconteceu, sobre as experiências vividas por esses alunos no último JUCS, sobre a formação da Atlética etc, a minha percepção é outra. Tal palavra (família) nunca fez tanto sentido. Que a Atlética consiga crescer nos próximos anos e que continue a marcar, tão positivamente, a vida das pessoas que por ela passam. Para ilustrar o avanço nesse pequeno período de existência, seguem alguns dados: no primeiro JUCS (2012), a UFRJ ficou em 4º lugar. No segundo, em maio deste ano, conquistamos o 2º. Para os jogos do ano que vem, o objetivo é o topo. E se depender da vontade, disposição e paixão das pessoas que fazem parte dessa grande família, isso já está mais do que garantido.


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ATLÉTICA

Do fla para o flu

T

oda vez que conversava com alguém mais velho sobre faculdade via um brilho nos olhos e a típica frase “aproveita, porque essa vai ser a melhor fase da sua vida!”. Aquilo me deixava intrigada: como podia a fase em que eu mais estudaria e mais teria que me virar sozinha ser a mesma fase a que se referiam com tanta alegria? Havia um paradoxo ali... Pelo menos até eu entrar em uma universidade e ver que aquilo realmente era verdade. A Semana dos Calouros da UFRJ (2013.2) não foi exatamente o início dessa fase pra mim, assim como para muitos outros que já cursaram faculdades ou outros períodos em locais diferentes. E, como vários, também criei laços de amizade e descobri que universidade é muito mais que o conjunto “professor-aluno-estudo-choppada”. É amadurecer, tomar as suas próprias decisões, conhecer pessoas novas, pessoas especiais. Faculdade não apenas é aprender, também é errar, conhecer coisas novas, se arriscar, e finalmente, jogar. Com certeza, dentre todas as oficinas a que fui apresentada durante a Semana dos Calouros, a Atlética foi a que mais me chamou a atenção. O alto astral das representantes ao mostrar e falar sobre os vídeos dos JUCS ou a ironia da ex-presidente quando se referia à PUC era contagiante. Ainda mais para mim, que acompanhei tudo o que eles falavam de perto - mais especificamente, dentro das quadras (e no time adversário) em que ocorreram os JUCS desse ano. O curioso é que, há alguns meses atrás, todo esse

Luísa Abreu

entusiasmo, empolgação e orgulho de estudar na Federal eram voltados contra mim e a minha equipe: a PUC. Portanto, mais que mudar de faculdade, eu havia mudado de time, e, com toda rivalidade que há entre PUC e UFRJ, sentia que era como se eu tivesse saído do Flamengo para o Fluminense, do Inter para o Grêmio. E é aí que tudo muda: se eu pensava que as meninas da Atlética pudessem ter alguma antipatia por eu ter sido adversária delas há tão pouco tempo, me enganei completamente. Todo o meu receio transformou-se em ótimas expectativas para entrar no time da ECO. Afinal, fazer parte de uma equipe é muito mais do que jogar, ganhar ou perder, é se envolver com as outras pessoas do grupo, fazendo do time uma espécie de segunda família. E, de um dia para o outro, fui apresentada para outra família: a família da ECO. Durante a primeira Semana dos Calouros conheci pessoas que vieram de outros estados e até mesmo de outros países para estudar aqui. Elas deixaram familiares, amigos e rotina para se arriscarem numa vida totalmente nova em outro país. E tudo isso para quê? Para realizar o sonho de ingressar na UFRJ? Quando mudei de faculdade pensava assim. Hoje, vejo que há muito mais do que “se formar em uma boa faculdade e entrar para o mercado de trabalho”. O esporte, somado às pessoas ali envolvidas, me fez pensar diferente e, finalmente, entender o porquê daquele brilho nos olhos quando diziam que a faculdade é a melhor fase da vida.


UFRJ

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Palácio, palácio meu

S

e esse jornal chegou às suas mãos, provavelmente és um felizardo aluno da ECO. Das duas uma: ou você está aqui há algum tempo e já está familiarizado com a caótica faculdade na qual estuda ou é calouro: sofredor e perdido por natureza. Eu me incluo na segunda categoria, e fazendo poucas contas constatei que passarei nos próximos quatro anos: 800 dias, 4800 horas ou 288.000 minutos na praia vermelha. Mais especificamente no Palácio Universitário. E ele é que nos interessa. O nosso prédio e os demais que compõem o campus abrigam o Fórum de Ciência e Cultura (que segundo eles mesmos: busca a “difusão científica e cultural do patrimônio histórico, cultural, artístico e da natureza brasileira, além da preservação e expansão do mesmo”¹), a Escola de Comunicação (NÓS!), a Faculdade de Educação, o Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas, a Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, o Instituto de Economia e o glorioso Sistema de Bibliotecas e Informação (informação?! Onde?!) da UFRJ. Além disso, vale mencionar que a construção, que hoje não parece muito sólida, foi considerada o “Palácio neoclássico mais belo do país.”, segundo o crítico Clarival do Prado Valadares (Wikipédia informa: médico, escritor, professor, poeta, pesquisador E crítico de arte. Viveu de 1918 a 1983). Toda a edificação é cercada por um gradil de ferro fundido, as peças decorativas, pegões, são de granito. O piso do edifício é de mármore e a escada de acesso ao segundo piso foi talhada em jacarandá escuro. Tamanha é a valorização artística do Palácio Universitário que, em 11 de julho de 1972, ele foi tombado pelo IPHAN, tornando-se área de preservação do Patrimônio Histórico Nacional. O preço para a realização de tamanha “belezura” foi de dois bilhões, seiscentos e setenta e dois milhões, quatrocentos e vinte e quatro mil e seiscentos e oitenta réis. Algo em torno de 1 bilhão de reais. A obra foi realizada ao longo de 10 anos, e em 1852 foi inaugurado o Hospício Pedro II, primeiro hospital especializado no tratamento de doenças mentais no Brasil. Sua função acadêmica dizia respeito à formação de médicos

Irene Niskier

psiquiatras, dando início a pesquisa sobre psicanálise. Duas curiosas informações surgiram ao fazer a pesquisa para escrever o artigo. Alguém sabia que em maio de 1960, a Faculdade de Arquitetura, sediada na Praia Vermelha, recebeu o show “Noite do amor, o sorriso e a flor”, considerado o primeiro festival de Bossa Nova? E mais, o anfiteatro ao ar livre esteve absolutamente lotado para escutar Vinícius de Moraes, João Gilberto, Roberto Menescal, Nana e Dorival Caymmi? Pois é, vivendo e aprendendo. Por último, descobri que ninguém menos que Lima Barreto passou seus últimos dias internado no Hospício, e lá, em 1919, escreveu Diário de Hospício e Cemitério dos Vivos. Dizem que hoje o Palácio recebe alunos e professores, há quem diga que ainda não loucos. Pelo sim, pelo não, melhor acreditar que somos um pouco dos dois.


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UFRJ

Rio de encantos Sara Ramos

A

adesão da Universidade Federal do Rio de Janeiro ao ENEM (Exame Nacional de Ensino Médio) em seu processo seletivo abriu as portas para uma maior inserção de jovens do país inteiro. O ensino superior por ela oferecido, resultado de um imposto pago por todos os estados, deixa de ser uma exclusividade, que antes era quase carioca, pelas distâncias e barreiras financeiras que os jovens de outras regiões encontravam. Como uma estudante Comunicação Social que vem de um dos rincões do país, Palmas - Tocantins, entender a possibilidade do Enem como uma forma democratização do processo seletivo se torna mais fácil. Recém-chegada ao Rio, e, no entanto já encantada por ele, pude observar que, na universidade, a horda de alunos que vem de outros estados aumenta a cada ano; e o que atrai esses jovens, além de um ensino superior de qualidade, se relaciona também com, nas palavras da caloura mato-grossense Ana Lídia (?): “estilo carioca de uma vida sem frescura, um enorme desapego, a sensação de estar sempre em festa”. A cidade grande, ou até mesmo as peculiaridades do Rio, podem trazer estranhamento para aqueles que vêm pela primeira vez: o calouro José Augusto, antes residente em Teresina, afirma que não foi fácil se acostumar aos famosos e adorados palavrões aqui proferidos, mas diz que já agregou ao seu vocabulário novos termos como “caô” e “caxias”. Para a cearense Isadora Boaventura, “o carioca fuma muito! Em Fortaleza as pessoas fumam apenas em determinados lugares, a diferença é sensível.” Ela se encantou com gírias como “dar PT” e “fazer o trinta”: a primeira “achei que tinha a ver com o partido” e a segunda “pensei que fosse o novo quadradinho de 8!”. Além disso, quando questionados sobre a adaptação ao clima, as respostas variavam de acordo com a origem dos alunos: quem vem do sul capricha no protetor solar, e aqueles do norte e nordeste acabaram deparando-se com a necessidade de comprar um novo casaco; mas a maioria concorda comicamente que muitos cariocas, a apenas 21º, vestem-se como se estivessem na Europa, cheios de gorros, botas e cachecóis.

Mas a mudança mais significativa para nós que, a partir de agora, nos desvinculamos do comodismo oferecido pela presença constante dos pais, é essa nova carga de responsabilidade que vem com esse novo estilo de vida. “É um saco ter que lavar banheira e lavar louça, mas, apesar de tudo, considero importante para o amadurecimento” diz Isadora, apoiada por José Augusto: “Me sinto menos adolescente a cada dia”. Como a única que não tem maioridade da minha turma (17), vir morar só foi, inclusive, complicado (tive que me emancipar), além de ser um peso pela independência adquirida. No mais, tudo o que é diferente para jovens de outras regiões não representa, necessariamente, um choque cultural: o carioca (alguns dizem que a expressão está mais para um estado de espírito do que de natalidade) é, em sua homogeneidade, heterogêneo. É uma sociedade formada pelo negro, mulato, nordestino, europeu, asiático, dentre outros. E talvez seja isso o que mais encanta: a diversidade que molda os aspectos de convívio faz com que quem venha de fora, em 5 minutos, já se sinta acolhido e pertencente ao samba que aqui se faz.


ECO

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O 1ยบ DIA DA ECO EM 6 PARTES

Gabriela Isaias Fotos por Suelen Bastos


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ECO

1) Eco

de tretas e amor

“Na ECO é só amor”. Esse é, possivelmente, o bordão mais dito nas primeiras semanas não só entre os corredores do palácio, como também nas redes sociais. Nos grupos do Facebook e perfis do Twitter rolam as mais profundas e superficiais discussõess possíveis entre os veteranos. Às vezes, por alguma besteira que um calouro falou, outras, por uma frase mais polêmica dita por um sustenido. Chuvas de likes, comentários irônicos, memes criados instantaneamente, incontáveis visualizações a cada minuto, rixinhas aqui, deboches acolá, frases, palavrões, xingamentos e.... Surpresa: logo logo vem algum ser um pouco mais afetivo (ou irônico, pois, na ECO, nunca se sabe) pra mandar um “Relaxa, na ECO é só amor” e colher aprovações de 90% dos envolvidos (ou não) na briguinha e ganhar o amor eterno dos novatos na universidade.

2) É

spam? É uma personagem? É uma lenda? Talvez: é a Beth Cerqueira Conhecida por muitos como “santa dos estágios”, Elizabeth Cerqueira é a responsável pela divulgação dos mais diferentes tipos de informação que circundam

as caixas de entrada dos emails dos estudantes da ECO. “Titia Beth”, como também é chamada, não só nos envia programações culturais, convites de palestras e divulga os trabalhos dos estudantes da Escola: ela e suas assistentes enviam notícias sobre vagas de estágio, que vão desde um salário astronomicamente mínimo (afinal, estamos falando de Comunicação) até serviços voluntários, em que os alunos podem adquirir experiência. Foram muitos os estudantes beneficiados pelo serviço de Bethinha e que, graças a ela, entraram no mercado de trabalho em empresas sólidas e renomadas.

3) Elefantinho

maldito

Nesse adorável e constrangedor momento do primeiro dia de ECO, os novatos são induzidos a cheirar o cofrinho do mais novo coleguinha de faculdade. As coisas funcionam mais ou menos assim: sustenidos e recém-veteranos, vingativos e malvados (durante a execução dessa atividade), mandam os calouros segurarem nas mãos de quem está na frente. Coisa simples, se não fosse pela particularidade da posição exigida: com o rosto no meio dos fundilhos alheios, segurando a mão que se encontra entre as pernas da outra pessoa. Não bastasse a sacanagem (no sentido mais ingênuo que a palavra pode ter, claro), palavras

O “elefantinho maldito”


ECO

Na ECO 茅 s贸 amor

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10 ECO


ECO 11 de ordem como “Corre, calouro!”, “Grita ECO” e “Segura na pepeca da amiguinha e vai em frente” são faladas pelos que já estudam na faculdade, fazendo com que os novatos conheçam, de vez, o que vem a ser a realidade deste, que é o novo lar para os estudantes recém-aprovados.

4) As

cocotas da choppada

É na primeira semana de vida ecoína que os calouros ouvem outro jargão que exala pelas veias mais alcoólicas e sóbrias de toda a Escola de Comunicação: “paguem a porra da cota da choppada”. É assim, basicamente, que as coisas funcionam. Logo nos minutos que antecedem o tradicional trote, os novos alunos são levados à mítica e magnífica sala Vianninha, onde assitem depoimentos e mais depoimentos de veteranos que fizeram história, de alguma forma, nessa noite tão particular e única que ocorre a cada período. Após serem envoltos em uma aura de otimismo, esperanças e ficarem completamente sedentos por diversão (ou álcool, eu diria), os calouros estão na vibe perfeita para receberem tinta e irem às ruas pedir dinheiro para qualquer ser que tenha uma carteira, em prol do objetivo maior: bater a cota da choppada.

5) Hora

do banho de tinta e...

Bem,

melhor ler

Sentados ao redor do famoso, querido e amado Laguinho, os calouros estão prontos para o batismo - isto é, o “banho” com diferentes substâncias que, juntas, formam a meleca mais nojenta da face da Terra. Além de uma aquarela de tintas, café, óleo de cozinha, molho de tomate, farinha, glitter, amido de milho e açúcar, dúzias de ovos e tiras de papel higiênico - pelo menos não usado (mas fica a dica para as próximas edições) - também fazem parte do mix de nojeiras que o corpo e cabelo dos novatos recebem. Após todos estarem bem “caracterizados”, um grupo de veteranos “renomados” composto por inúmeras diversidades sexuais (sim, eu disse inúmeras) escolhem, entre as meninas, a “Sereia” e a “Piriguete” do período, e, entre os garotos o “Sereio” e o “Muleke Piranha”.

6) Mendigos

por um dia

Quando estão nojentos o suficiente (ou quando a tinta acaba), os calourinhos são liberados para pedir dinheiro pela zona sul carioca. O detalhe a parte é o pé descalço, que dá um toque de estilo ainda maior ao visual singular de cada um dos novatos. Eles invadem pontos turísticos da cidade, como a Urca, a praia do Flamengo, o calçadão de Copacabana e até mesmo o mirante do Leblon. Comumente confundidos com mendigos, ladrões ou fugitivos do Pinel (opa!), os novos alunos aprendem, assim, desde cedo, como a é a vida de um profissional da Comunicação e fazem um estudo antropológico sobre a solidariedade do ser humano.


12 ECO

As habilitações da ECO Esperanza Mariano & José Augusto Assis

J

ornalista, publicitário, radialista, editor, assessor, vagabundo... Para uma pessoa cursando Comunicação, são tantas opções de emprego (ou de desemprego), que às vezes não sabemos direito o que realmente queremos fazer. Entramos no curso com aquela convicção inicial de “vou ser jornalista, o próximo William Boner da Globo”, ou “eu vou ser é publicitário e ganhar dinheiro fazendo propagandas de cerveja”, mas é preciso lembrar que no mundo “real”, essas são apenas pequenas porcentagens do mercado de trabalho da Comunicação, que é extremamente abrangente. Por esse motivo, o curso de Comunicação Social, após três períodos básicos, é dividido em quatro possíveis habilitações dentro da área: Jornalismo, Propaganda e Publicidade, Produção Editorial e Rádio e TV. Desse modo, o aluno tem tempo de experimentar todas as áreas antes de finalmente escolher o caminho que quer seguir. Seguem aqui algumas informações sobre as habilitações:

Jornalismo Bom, acho que essa é possivelmente a mais clichê de todas (e mais concorrida na ECO também, empatando sempre com Publicidade e Propaganda), não é? Jornalista é aquela pessoa que trabalha mais que um médico e ganha menos que um. Bem menos (piso salarial cotado em R$ 2.076,00). Mas como ninguém está aqui pelo salário... Um jornalista tem a opção de trabalhar em funções bastantes variadas. Vai de âncora a editor, reporter a assessor e até servir cafezinho pro chefe, ele é capaz de servir. Um profissional bastante versátil, que apesar de trabalhar como um condenado, sempre volta pra casa um pouco mais culto e cheio de histórias interessantes para compartilhar. Um jornalista tem acesso à eventos com a mesma facilidade que um jogador de futebol e também corre o risco de ser vaiado e apedrejado. Seu melhor companheiro, uma boa xícara de café, está presente durante as noites passadas em claro para terminar uma matéria no prazo.

Rádio

e

TV

O profissional de Rádio e TV pode ser meio esquecido e confundido na maioria das vezes, mas não se enganem: é ele quem se responsabiliza pela edição de programas de TV, produção e até mesmo (pasmem!) direção. As funções que podem ser exercidas por quem se forma em Rádio e TV, são quase incontáveis, tendo eles um campo de trabalho extremamente amplo e provavelmente um dos mais divertidos. A única parte desanimadora da habilitação, é a recompensa. O piso salarial está cotado entre R$ 1.704,51.

Publicidade

e

Propaganda

Juntamente com jornalismo, a habilitação em publicidade e propaganda é muito concorrida pelos alunos da ECO. Se você é criativo, essa é uma habilitação que certamente se encaixa com o seu perfil. O trabalho de um publicitário é bastante dinâmico. Se em um dia você está criando uma propaganda de cerveja, no outro estará pensando em como promover uma marca de fraldas. No entanto, a função de um publicitário não se resume somente a criar propagandas. Um publicitário pode também: ser o responsável pela pesquisa de mercado, do público-alvo, do meio comunicativo que será usado na campanha, ou poderá coordenar as atividades dos demais em uma agência publicitária, entre outras funções. O piso salarial de um publicitário é de R$ 1028,26 e a média gira em torno de R$ 2500,00. O mercado de trabalho, assim como jornalismo, está saturado. No entanto, as novas mídias abrem excelentes oportunidades para quem está ingressando no mercado de trabalho.

Produção Editorial É a habilitação menos concorrida da ECO mas é a que mais consegue adeptos durante o Ciclo Básico. Um produtor editorial é o responsável pela editoração e


ECO 13 publicação de obras impressas e eletrônicas. Era comum associar o trabalho de produção editorial somente com obras impressas (livros e revistas). No entanto, um novo mercado se abriu: o de obras eletrônicas, como o e-book. Uma pessoa habilitada em Produção Editorial pode desempenhar diversas funções desde um auxiliar a um gerente de produção editorial ou até mesmo a de um tradutor. O salário pode variar muito, enquanto um auxiliar ganha, em média, R$ 1061,00; um gerente ganha em torno de R$ 5934,00. É uma habilitação muito tentadora para alunos da ECO, pois é a que mais emprega recém-formados.

Campeões

Aconteceu em 2013.2 Confira os principais fatos que ocorreram nesse período

do período

A semana dos calouros aconteceu sem muitas polêmicas. A turma EC1 foi campeã da Gincana e, após uma grande virada, a EC3 venceu a Lista de Tarefas!

EC2

não é mais excluída

Após alguns períodos isolada nos confortáveis e atrativos containers, no Campinho, a turma EC2 finalmente voltou a estudar no Palácio Universitário e agora já não é mais excluída do mundo da ecoíno.

Choppada

adiada

Com tudo contra seu favor, a Choppada do semestre foi adiada. Após muita chuva, problemas com a empresa e, para fechar com chave de ouro, uma proibição bizarra da prefeitura, a maior festa da ECo será realizada em outro momento. Agora, a organização elabora maneiras para diminuir o prejuízo.

ECO

no divã

O período de 2013.2 viu uma movimentação dos alunos para diversos projetos na faculdade. Um deles, o Eco no Divã, reuniu os estudantes para a mobilização quanto às eleições da direção e apuração dos principais problemas da escola. Várias reuniões estão sendo realizadas para discutir essas questões visando conceber propostas inovadoras para resolvê-las.

Primeira

empresa júnior da

ECO

Outro projeto que está surgindo com força total é a OCA, a primeira empresa júnior da ECo. Sonho antigo de diversos ecoínos, a empresa uniu estudantes de diversos períodos da escola em prol do surgimento da empresa. A divulgação do projeto já começou e a OCA já encaminha, aos poucos, suas atividades.


14 CRÔNICA

CARIÓTICA

João Flores

R

io de Janeiro, cidade responsável por integrar o imaginário turístico estrangeiro em que se relaciona ao Brasil. Conhecida por suas belezas naturais e por sua gente hospitaleira, também é, dentre outros clichês, cidade à qual eu escolhi para começar minha vida adulta, desenvolver minha vida profissional e me conhecer como gente.

Mas antes que se façam necessárias mais ponderações, vejo agora a necessidade de explicar minha situação. Sou natural de Macaé, cidadezinha pequena do norte do estado, que convive diariamente com o crescimento desordenado devido ao desenvolvimento de uma má infraestrutura habitacional, gerida por anos e anos de descaso político. Nesse contexto, eu cresci, vi de perto ao mesmo tempo o progresso e o assolamento social que foram trazidos à cidade pelas petrolíferas que lá se instalaram e, cada vez mais, trilhei meus passos para longe daquele pedacinho sofrido de terra. Não foi acaso ou aventura eu vir parar aqui no Rio. Prestei o Enem no ano de 2012 e, no segundo semestre de 2013, fui aprovado para me graduar em Comu-

nicação Social na UFRJ. Foi então que esse ilustríssimo aspirante a jornalista que vos escreve, decidiu vir sozinho para a cidade maravilhosa, habitar na casa dos tios e desfrutar de todos os prazeres que a vida universitária poderia lhe proporcionar. Pois então, nem faz bem duas semanas que aportei em terras cariocas, e já pude sentir em minha pele algo que não somente o sol do Rio (até porque, desde que cheguei, tenho tido o azar de pegar umas ondas escabrosas de frio), mas características bem peculiares que antes, como turista, não havia notado muito bem. Instigado por essas disparidades, resolvi então em um impulso mais anedótico do que jornalístico, listá-las. As principais encontram-se abaixo.


CRÔNICA 15

Perfume

colonial

O primeiro passo dado por qualquer imigrante em solo desconhecido tem sempre o objetivo de situá-lo do espaço a sua volta, e, bem, comigo não foi muito diferente. Nem desembarquei na rodoviária, já me vi decorando os mais ínfimos pontos aos quais minha sempre inesperada distração pudesse me levar. Passados os primeiros segundos de adrenalina, pude então relaxar e encher novamente meus pulmões, naquela que foi minha primeira tragada do doce O2 carioca. Pois bem, foi então que me deparei com a primeira sutileza apresentada à mim pela terra do Cristo. De doce naquele ambiente, só o resquício do Boticário barato que ainda impregnava minha roupa. De O2, nada havia em uma fórmula que mais parecia (NH2)2CO. Aos poucos familiarizados com a boa química, eu esclareço a fórmula citada: Ureia. Isso mesmo, meus caros, urina. Xixi, água-do-joelho, mijo, mijoca, mijada. Segundo o Aurélio: “Líquido excrementício, segregado pelos rins, e que, através dos ureteres, bexiga, uretra e meato urinário, é expelido para fora do organismo” e que agora irritava minhas células olfativas. As maravilhosas e charmosas vielas cariocas, arquitetadas em estilo barroco e que remetem ao período colonial, também cheiram como se ainda habitássemos aquela época. E tal repugnante odor, que embrulha até o âmago de qualquer vira-latas habituado a ingerir o mais pútrido lixo, vem das pobres e viciadas almas que habitam cada esquina dessa cidade. No Rio, cada morador de rua tem seu metro quadrado. E cada metro quadrado, cheira como banheiro de posto de gasolina de beira de estrada.

É

um pouquinho de

Brasil

iáiá

Talvez, com um pouco de inocência, preguiça e miopia, eu possa atribuir à questão dos moradores de rua citada acima, a grande especulação imobiliária que se vê atualmente no Rio. Decorridas duas semanas na cidade, das quais boa parte do tempo foi gasto na rua a procura de um futuro apê, eu pude notar que, ao menos no perímetro metropolitano, alugar um apartamento na capital carioca, significa estar disposto a

ser extorquido em no mínimo R$ 2000,00. Do popular “dois barão”, meu camarada. E quando falo apartamento, trato de um con jugado basicão, sem mobília e a trocentos quilômetros da zona sul. Aluguel no Rio, amigo, é coisa pra gringo.

Copacabana’s Edge E foi justamente dos nossos amigos estrangeiros que me veio talvez a maior surpresa desde minha chegada ao Rio. Sem camisa, sujo de tinta e também farinha, fedendo a óleo assim como a café, e, morrendo de frio(diga-se de passagem), em meu primeiro dia de trote, me descambei para Copacabana junto a um grupo de recém conhecidos para a tradicional mendicância imposta aos calouros. Chegando a orla da praia mais conhecida do mundo, nos separamos e começamos o processo de abordagem aos transeuntes no intuito de deixá-los a par de nossa triste sina,assim visando a repentina hipótese de ganharmos uns trocados para financiar a famigerada choppada de nossa instituição. Espanto instantâneo. Dos cinco primeiros passantes abordados por mim, três não arranhavam sequer um “oi” na língua de Camões. E isso foi consenso também entre meus colegas.Tal estatística não se alterou até o fim de nosso percurso, ao término da Orla de Ipanema! Não me lembro de tanto ter gasto meu fraco Inglês em outras hipóteses, da mesma forma que, também não me recordo de ter ouvido “I’m sorry”, “Party!? Where!?” e “Who the fuck are you!?” tantas vezes. Vale lembrar que ao fim do dia, terminei com exatos R$ 2,75 no bolso (isso diz muito sobre a conveniência de nossos visitantes).

Desbocado

pra catete

Falando em conveniência, lembro-me agora de uma conversa que tive com uma amiga recém adquirida, relacionada a um hábito, que eu mesmo como carioca jamais havia notado, muito menos debatido. Batendo perna pelo bairro de Botafogo, conversava com essa menina (também imigrante, porém, vinda de Campo Grande/MS), justamente sobre os hábitos distintos do carioca. Dentre outros assuntos, faláva-


16 CRÔNICA mos sobre diferentes sotaques, gírias e trejeitos, e, ao ser interrompido por ela, pus a refletir. “Cara, porque vocês falam tanto palavrão?” – disse ela. E por mais simplória que tenha sido tal pergunta, realmente me levou a ponderar vinte anos de vocábulos adquiridos cognitivamente. Nunca antes havia pensado que durante uma frase qualquer, eu, um carioca comum, desfilo com toda a naturalidade do mundo, um número infinito de impropérios. Formulamos nosso pensamento em meio a “carvalhos” e “bochechas” com a formalidade de um portador de Tourette. Tal constatação realmente me fez querer pedir desculpa às mães de uns amigos.

CalourECO 2013.2 Edição:

Daniel Salgado Gabriela Isaías

Diagramação:

Ugo Flores

Redação:

Esperanza Mariano Irene Niskier João Flores José Augusto Assis Luísa Abreu Pedro R. de Mello Sara Ramos

Por fim, gostaria de esclarecer-lhe, caro leitor, que todas as conclusões apresentadas foram tomadas com base nessas minhas três semanas de cidade maravilhosa, e, em nada ferem o amor e o fascínio que sinto por essa cidade, porém, me põem de olhos bem abertos (parafraseando o título de Kubrick) para as adversidades existentes na metrópole. Espero ter mostrado com isso que é possível começar uma vida em local tão adverso e ainda levar isso numa boa, sem passar por cego ou passivo. No Rio se vive bem, mas com espiritualidade e bom senso.


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