![](https://assets.isu.pub/document-structure/210605024406-5f9d68fe8209e60b809860572190f5aa/v1/00ef4a8077700e9a35f1420c78e9bf4f.jpeg?width=720&quality=85%2C50)
2 minute read
Tensões
“O que mais tem em Nova Viçosa é boteco e igreja”
Essa é uma fala recorrente dos moradores de Nova Viçosa e demostra a existência de dois fortes grupos na comunidade: os religiosos e os boêmios . No bairro há aproximadamente 20 templos religiosos . Mais do que locais de devoção, são grandes antros de convívio social que reúnem várias pessoas ao final das celebrações para conversas e interações . Igualmente forte e cheia de adeptos, estão os grupos que gostam de frequentar bares e tomar bebidas alcoólicas . Escapando da visão maniqueísta, essas duas congregações, entendendo sua diversidade interna, podem ser vistas como conflituosas no uso do espaço e na interação . É um cenário que em muitos casos não ocorre interação social entre os lados . Em termos de espaço urbano, até inibe presenças, como o caso de um religioso evitar está em um local com grande presença de boêmios .
Advertisement
É evidente que estas são classificações genéricas e estereotipadas, tendo em vista a infinidade de pensamentos e modos de viver presentes entre essas pessoas. Há influência de outros fatores como a denominação religiosa . Os moradores ressaltam que os católicos, em geral, têm mais flexibilidade em se relacionar e estar em ambientes boêmios . Inclusive no próprio grupo que aqui chamo de “religiosos” há divergências e conflitos. Antigamente havia uma intensa rincha entre protestantes e católicos, que hoje se dissipou . Todos esses conflitos se refletem no uso do espaço público, onde cada grupo ocupa e, por vezes sem intensão, monopoliza e cria uma ‘micro’ e talvez temporária segregação socioespacial .
Tais tensões ocorrem também em outros âmbitos, como, por exemplo, a divisão social existente entre o lado do bairro mais próximo da praça e o lado mais próximo da escola, evidenciado por Lima (2005) e moradores entrevistados . Segundo eles, os moradores do lado da praça têm modos de vida mais urbanos, no sentido de agitação, presença maior de violência e diversidade, enquanto que os do lado da escola, possuem modos de vida rurais, pacatos e sossegados. Isso é justificado pela origem dos grupos que ocuparam tais áreas . De um lado há uma concentração de pessoas que vieram da zona rural por conta dos processos de empobrecimento do campo e do outro, aqueles que vieram da cidade por conta dos problemas de acesso à terra e também dos desmoronamentos ocorridos pelas fortes chuvas de 1986, que realocaram mais de 400 desabrigados em um conjunto habitacional próximo a praça . A área da praça concentra mais bares e igrejas evangélicas, além de ser apontada como mais violenta e caótica, evidenciando contrastes e conflitos típicos do complexo urbano. Já a área da escola, não possui nem muitas igrejas nem bares, mas é em sua maioria católica, seus moradores
entendem o outro lado como violento e agitado em demasia .
A diversidade e o confronto é algo que está na raiz de Nova Viçosa . Nos processos de ocupação do bairro, recebeu-se migrantes oriundos de realidades muitos distintas, que foram lançados no bairro como refúgio . Os moradores contam que foi preciso uma readaptação da vida social ao se instalarem ali, por conta do choque com várias culturas contrastantes .