Revista Interagir Nº 102

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editorial

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O que diferencia um profissional de excelência?

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cada dia, é comum o fato de nos depararmos com profissionais que buscam uma oportunidade no mercado de trabalho. Muitos deles têm excelente formação acadêmica, experiências e conhecimentos, mas estão desempregados há meses ou, às vezes, há mais de um ano. A questão é que o mercado de trabalho não está fácil e, a cada dia, está mais exigente. Em contrapartida, defrontamo-nos com anúncios de vagas, oportunidades emergentes e recolocação de profissionais no mercado de trabalho. Entretanto, o que diferencia esses profissionais no momento da seleção? Muito se tem falado em profissional de alta performance. Você sabe o que isso significa? Você se considera um profissional com tal característica? Pois bem... O profissional de alta performance é insaciável, e sua vitalidade é desenhada nas atitudes. Esse profissional tem pró-atividade, firmeza, persistência, otimismo e ação. Escuta, analisa e avalia as necessidades e as sugestões do mercado e dos clientes, gera rotas alternativas, surpreende e supera as expectativas, além de ser um exímio negociador, realizando acordos com ganhos mútuos. Vai

além, tem a habilidade de inspirar as pessoas e de contagiar positivamente o meio no qual está inserido, tornando-o mais competitivo e produtivo, conseguindo trabalhar o feedback com maestria. O profissional de alta performance não é apenas mais um candidato no meio da multidão, buscando qualquer oportunidade. Ele se destaca quando começa a trabalhar para ser o tipo de profissional que as empresas buscam. Não é somente mais um profissional à procura de vagas. O fato é que o conhecimento técnico, as formações e a fluência em dois ou mais idiomas são essenciais, mas não são mais diferenciais. São exigências básicas para se estar no mercado de trabalho. As organizações até podem contratar um profissional que detenha tais características, mas, se ele não tiver competências de alta performance, se não for um profissional de excelência comportamental, dificilmente se recolocará no mercado de trabalho de forma consistente e perene! Então, convido você, caro leitor, a fazer uma autoavaliação e refletir sobre que tipo de profissional você é? Independen-

Nicole de Albuquerque V. Soares Mestre em Administração de Empresas, professora do Centro Universitário Christus/ Unichristus e Coordenadora Editorial da Revista Interagir

temente de estar disponível no mercado ou não! O que tem feito para ser empregável e não somente estar empregado? Você é um profissional de alta performance que busca a melhoraria contínua? Por que você deve ser selecionado para a vaga tão desejada? Por que você é o tipo de profissional de que as empresas precisam? Que tipo de profissional você quer ser? Pense nisso e comece a agir!

espaço do leitor A Revista Interagir dedica um espaço a você, caro leitor, para que envie sugestões e comentários do conteúdo de cada edição. Sua participação e interação são importantes para a melhoria da nossa publicação. Nosso e-mail é: revistainteragir01@unichristus.edu.br


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especial

Vida e obra de João Filgueiras Lima (“Lelé”) no Saber Formador da Unichristus Profa. Me. Clarissa Freitas de Andrade (Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Unichristus) Profa. Me. Mariana Lira Comelli (Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Unichristus) Profa. Amélia de Andrade Aragão (Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo)

ŹFigura 1: Desenho de Lelé na construção de Brasília (Fonte: LIMA, 2010)

O projeto “Saber Formador” da Unichristus é uma proposta de diálogo entre os alunos e os professores dos Cursos de Tecnologia. Em suas edições semestrais, são apresentadas personalidades consideradas como destaque em suas áreas de atuação por suas importantes trajetórias profissionais e contribuições, vistas em obras, projetos, estilos, tecnologias ou conceitos desenvolvidos na Arquitetura e Urbanismo, na Engenharia Civil e na Engenharia de Produção. No primeiro encontro do semestre 2018.1, tive o privilégio de apresentar o reconhecido arquiteto João Filgueiras Lima, o “Lelé”. Agradeço o convite que tive da professora Raísse Saraiva para falar sobre um importante profissional para a Tecnologia. Inicialmente, senti o peso de uma importante responsabilidade,

ao mesmo tempo em que senti também a alegria de poder compartilhar um pouco da vida e da obra de um mestre que atuou na Arquitetura até quase 82 anos de idade. Escolhi o Lelé por admirar seu estilo conhecido de tratar de forma humanizada os espaços, privilegiando a estética do seu desenho e os sistemas naturais de ventilação e iluminação. Conhecido mundialmente como um dos maiores arquitetos brasileiros, Lelé trabalhou prioritariamente para o poder público de grande alcance social, projetou escolas, hospitais, residências, entre outros, tendo ficado mais conhecido pelos hospitais da Rede Sarah. Ele recebeu vários prêmios, como o “Grande Prêmio Latino Americano de Arquitetura” na 9ª Bienal Internacional de Arquitetura em Buenos Aires (2001) e na 3ª Bienal Ibero-Americana de Arquitetura e Engenharia em Santiago do Chile (2002) pelo conjunto de sua obra. Em 2012, ele ganhou a Medalha de Ouro da Federação Pan-Americana de Associações de Arquitetos (FPAA). Na literatura, em 2013, foi um dos vencedores do Prêmio Jabuti, com o livro “Arquitetura: Uma Experiência na Área da Saúde” (LIMA, 2008;

DOURADO, 2014). Figura querida entre os arquitetos, o carioca Lelé viveu no período de 10 de janeiro de 1932 até 21 de maio de 2014. Filho único, nascido em Encantado, no subúrbio do Rio de Janeiro, Lelé ganhou esse apelido ainda na infância, quando jogava na posição meia-direita de um ídolo do Vasco da Gama, chamado Lelé, artilheiro em 1945. Ele estudou em Colégio Militar, considerava ter tido uma ótima formação em matemática e ciências. Aos 18 anos, Lelé trabalhou como datilógrafo na Marinha e, por uma casualidade, como ele gostava de falar “a vida da gente é movida por questões acidentais” (ANTUNES, 2008, p.64), assim como por gostar de desenhar, buscou a faculdade de Arquitetura, passando em 25º lugar entre 80 aprovados na Universidade do Brasil (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Lelé trabalhou também como desenhista no Instituto dos Bancários, mas ele contava que seu interesse maior era a música. Sabia tocar piano, acordeão, flauta, violão e tinha uma banda de baile chamada “Gente Nossa” (LIMA, 2004).


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ŹFigura 2: Lelé e Oscar Niemeyer (Fonte: LIMA, 2008)

A atuação profissional na Arquitetura de Lelé foi iniciada logo após sua formatura, em 1955, na implantação do plano piloto de Lúcio Costa em Brasília, mudando-se para construir, projetar e colaborar com os projetos da nova capital. Vivendo em condições difíceis nessa fase de criação da cidade, o arquiteto contava que estudava com muitos livros à luz de lampião no canteiro de obras. Nessa experiência, Lelé pôde obter influências profissionais determinantes para sua vida, visto que, aos 25 anos, ele já pôde trabalhar com arquitetos que já eram referência para ele, como Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Além de ter conhecido outros importantes intelectuais, como Darcy Ribeiro, Lelé estudou propriedades construtivas dos materiais e tornou-se referência de arquiteto que trabalhava com pré-fabricados, concreto armado, argamassa armada, ferrocimento, curvas, sheds, usando de conforto adaptado ao clima de cada local para seus projetos, com foco em ventilação, iluminação e proteção solar (LIMA, 2004).

ŹFigura 3: croqui de galeria de tubulações para ventilação (Fonte: LIMA, 2012)

No período de 1956 a 1960, Lelé fez projetos com Oscar Niemeyer. Em 1957, foi Secretário Executivo do Centro de Planejamento dos Edifícios da Universidade de Brasília (UNB), fez viagens importantes de estudo para o Leste europeu nessa época, tendo sido também professor da UNB na Pós-graduação e em Tecnologia da Construção até 1965, quando pede demissão e vai montar seu escritório, realizando, assim, projetos para diversas cidades (FRAJNDLICH, 2014). Em 1960, Lelé se casa com a arquiteta Alda Rabello, colega de Brasília, e, em 1963, eles sofrem um acidente de carro, em que sua esposa fratura a bacia e tem perfuração no pulmão. Nessa situação, Lelé torna-se amigo do médico ortopedista Aloysio Campos da Paz, com quem posteriormente cria o Subsistema de Saúde na Área do Aparelho Locomotor e a Rede Sarah, do qual foi Diretor do Centro de Tecnologia (projeto e execução dos projetos do hospital da Rede). Lelé teve três filhas: a mais velha, Luciana, nasceu com paralisia cerebral, a filha do meio, Adriana, é formada em música, arquitetura, a mais nova, Sônia, é jornalista (LIMA, 2004).

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Defensor de que a arquitetura deve ser feita em equipe, atender a vários detalhes de construção, de forma que ela não seja fragmentada, Lelé defende também que o projeto use a intuição como ferramenta de criação no papel e não apenas no computador (REBELLO & LEITE, 2008), além de achar que beleza é função e que é necessária para o bem-estar de seus usuários: “o conforto ambiental também é uma questão subjetiva. Varia de cada indivíduo e do ambiente em que ele está. Se você está em um ambiente agradável, você suporta muito melhor, às vezes uma temperatura maior” (ANTUNES, 2008, p.68).

ŹFigura 4: corredores e macas da Rede Sarah (Fonte: VADA, 2018)

Lelé criava equipamentos personalizados na Rede Sarah para os pacientes, como solário, jardins, pistas, esculturas e painéis decorativos feitos em parceria com o artista Athos Bulcão, e contava com a participação de outros profissionais da saúde para criar mobiliários dos pacientes, como cama de urodinâmica, cama-maca etc. (LIMA, 2004).


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ŹFigura 5: obras de arte de Athos Bulcão (Fonte: VADA, 2018)

Ele recomendava para os arquitetos os livros de Le Corbusier: “Urbanismo”, “Por uma arquitetura”, “Planejamento Urbano”, “A Carta de Atenas”, além de revistas brasileiras e de outros países, pois, segundo ele, “o arquiteto tem que estar sempre bem informado para se situar. Como todo cidadão, tem obrigação de se situar politicamente, socialmente. É preciso estar inserido no contexto, em qualquer atividade” (LIMA, 2004, p.109).

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Inventor com estilo próprio, Lelé estudou e trabalhou com modéstia, afinco, simplicidade e criatividade, servindo, assim, de inspiração não apenas para os profissionais da Tecnologia, mas também para todas as pessoas. Como retorno acerca do Saber Formador, os alunos presentes responderam às fichas de aproveitamento da palestra como atividade complementar e disseram que a palestra contribuiu para a formação voltada à aplicação prática e à compreensão interdisciplinar dos cursos, para o desenvolvimento de uma visão mais ampla acerca da busca de qualificações, declararam que houve aprendizagem de novos conceitos para aplicação e aprofundamento profissional. Contaram, ainda, sobre o aproveitamento que tiveram ao conhecer uma personalidade que serviu como exemplo de profissional que não se acomodou, mas sim buscou conhecimentos e obteve excelência.

Referências: ANTUNES, B. Fábrica de Humanidade. In: Revista Arquitetura e Urbanismo. Outubro de 2008. DOURADO, T. Morre em Salvador arquiteto João Filgueiras Lima, o ‘Lelé’. In: G1. Maio de 2014. (Recuperado em: http://g1.globo.com/bahia/ noticia/2014/05/morre-em-salvador-arquiteto-joao-filgueiras-lima-o-lele. html. Acessado em: abril de 2018). FRAJNDLICH, R. Um panorama da vida e obra de João Filgueiras Lima, Lelé In. Arquitetura e Urbanismo nº 244, 2014. LIMA, J. O que é ser arquiteto. Memórias Profissionais de Lelé, em depoimento a Cynara Menezes. Editora Record. 2004. REBELLO, Y., LEITE, M. Architekton Lelé o mestre da arte de construir. In: In: Revista Arquitetura e Urbanismo. Outubro de 2008. VADA, P. “Ventilação e iluminação naturais na obra de João Filgueiras Lima, Lelé”. In: ArchDaily. 2018 (Recuperado em: https://www. archdaily.com.br/br/889818/ventilacao-e-iluminacao-naturais-na-obra-de-joao-filgueiras-lima-lele. Acessado em: abril de 2018).

ŹFigura 6: algumas obras do Lelé: museu de Darcy Ribeiro - passarelas de Salvador - casa no Lago Paranoá - capela São José de Ribamar no Maranhão (Fonte: DOURADO, 2018)


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história de sucesso

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eu nome é Jerry Valdevino Lucas de Oliveira, sou mestrando em Economia com ênfase em Finanças pela Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP), Especialista em Gestão Financeira, Auditoria e Controladoria pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Contador pelo Centro Universitário Christus (Unichristus). Possuo certificação avançada em investimentos pela Associação Brasileira de Mercados de Capitais (Anbima) e atuo no gerenciamento de carteiras empresariais no Banco do Brasil S/A, além de ser consultor half time na área de finanças, contabilidade e gestão. Minha trajetória educacional começou em escolas públicas com todos os seus desafios e suas limitações, mas também suas oportunidades, em Jucás, cidade de 23 mil habitantes no interior do Estado do Ceará. Logo cedo, comecei a me interessar pelas áreas de exatas, principalmente, matemática e física, o que me possibilitou ganhar diversas medalhas em competições em áreas afins, como medalha de ouro na Olimpíada Brasileira de Astronomia e um prêmio em dinheiro do Sebrae Empreendedor, entre outros. Ao terminar o Ensino Médio, deparei-me com diversos desafios. O primeiro deles foi superar a perda da minha mãe que foi acometida de Esclerose

Lateral Múltipla (uma doença ainda sem cura); o segundo foi o fato de como ingressar em uma universidade, pois morava distante dos grandes centros econômicos e não possuía recursos suficientes para pagar uma universidade particular, além de alimentação e moradia em outra cidade. A partir de então, comecei a estudar para o Enem sem muitas certezas, mas com grandes sonhos e muita dedicação, a qual me levou a lograr a aprovação com excelente desempenho nesse certame e a oportunidade de escolher uma universidade para cursar por meio do Prouni (Programa Universidade Para Todos). Como a maioria dos jovens, estava indeciso sobre qual área seguir profissionalmente; então, como gostava da área de exatas, comecei a pesquisar sobre finanças, pois utilizava diversas ferramentas matemáticas, além de possuir uma excelente empregabilidade. Nesse momento, o Curso de Contabilidade e sua grade “saltaram aos olhos”, pois continham justamente o que estava procurando. O próximo desafio era encontrar uma instituição educacional que fosse referência no mercado e garantisse um elevado padrão educacional. Após diversas pesquisas, percebi que o Centro Universitário Christus (Unichristus) detinha todos os requisitos. Tive quatro anos de vida universitária, muita

ŹJerry Valdevino Lucas de Oliveira (Egresso do Curso de Ciências Contábeis)

disciplina, foco e empenho para concluir o curso com bom aproveitamento acadêmico e obter o bacharelado em Ciências Contábeis pela Unichristus. Durante esses quatro anos, notei que a Unichristus é um Centro Universitário que tem uma preocupação que vai além de formar excelentes profissionais para o mercado, perpassando pela formação cidadã e pela construção de famílias por meio de sua filosofia Cristã e humanística, aliás, é oportuno destacar que conheci minha esposa no Curso de Ciências Contábeis dessa Instituição e já são quase 12 anos de relacionamento. Diante de toda essa história vivida, quero também expressar minha gratidão e meu reconhecimento, citando alguns mestres que me inspiraram e contribuíram demasiadamente nessa caminhada: Rogério Frota Leitão, Juraci Sores, Paulo Silva, Uverlan Primo, entre outros. Dando prosseguimento à minha vida acadêmica, posteriormente, observando as exigências do mundo corporativo,


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senti a necessidade de cursar uma pós-graduação ou MBA que agregasse um ferramental estratégico para solução de problemas complexos em Finance & Business. Como prerrogativa, a instituição deveria ser especializada em tais problemas, ter um padrão de educação de nível internacional e propiciar o network com diversas pessoas e instituições. Sob essa ótica, a Fundação Getúlio Vargas como a melhor escola de negócios da América Latina veio preencher essa lacuna, especializando-me em Gestão Financeira Auditoria e Controladoria. Agora, deparo-me com um novo desafio, depois de passar por uma rigorosa e difícil seleção, estou cursando mestrado em Economia com ênfase em Finanças pela Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Sei que o caminho é árduo, mas recompensador. Mais uma vez, agradeço ao Professor

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Rogério Frota Leitão pelo aconselhamento profissional, quando ainda estava indeciso se faria ou não esse mestrado, e pela indicação tão valiosa para aprovação. Em síntese, profissionalmente, iniciei como estagiário no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Depois fui analista financeiro em uma pequena loja de materiais esportivos onde fazia de tudo desde formulação e análise de índices financeiros a encerramento de caixa e marcação de preços dos produtos. Como tratava de empresa de pequeno porte, o aprendizado era o maior possível, pois necessitava de conhecimento de todos os setores. Posteriormente, fui ser analista contábil na empresa Saga Veículos, ocasião em que pude aprofundar-me na área contábil e tributária, era um trabalho de que gostava bastante e, com os bons resultados, fui convidado para ser

contador no grupo Nordeste Tecnologia (Nortec), fazendo toda parte de gestão contábil e controles financeiros. À proporção que estava trabalhando, também me dedicava a estudar para concursos, o que era extremamente difícil devido à elevada carga horária de trabalho e ao estresse do dia a dia. Entretanto, com muita disciplina, um planejamento rigoroso de horário e uma busca de bons materiais de estudo, fui aprovado em três concursos (Caixa Econômica Federal, Banco do Nordeste e Banco do Brasil). Hoje atuo na área empresarial no Banco do Brasil S/A, realizando análise de crédito, visitas às empresas, consultoria em soluções bancárias e financeiras. Como novo desafio na carreira profissional, fui selecionado para atuar no segmento de atacado no Estado Ceará.


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em foco

A importância da empregabilidade e o compromisso da Unichristus com alunos e egressos.

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os últimos oito anos, a Central de Estágios e Empregos da Unichristus atua, de modo crescente, promovendo ações baseadas na necessidade de empregabilidade dos nossos egressos e na inclusão dos nossos alunos em estágios profissionais que permitam uma melhoria no processo de aprendizagem, o que contribui para a articulação da teoria com a prática. Inicialmente, a Central de Estágios e Empregos realizava publicações diárias por meio de cartazes e por e-mail direcionado aos alunos, bem como os apoiava nos processos burocráticos com documentação para o ingresso e a legalização da sua situação nas empresas contratantes. Na sequência, foi destinada uma página no site da IES com exclusividade para o setor, a qual contém informações sobre as vagas, esclarece dúvidas recorrentes sobre estágios, disponibiliza documentos para convênios de estágios, informa sobre as empresas agentes de integração conveniadas, dentre outras. Foi realizada, por intermédio da Central de Estágios e Empregos, pesquisa de verificação dos interesses dos nossos alunos em buscar estágios e das áreas de atuação que gostariam de assumir. A pesquisa realizada nos Cursos de Administração, de

Ciências Contábeis e de Sistemas de Informação orientou várias ações posteriormente no setor. Com a busca das empresas parceiras e conveniadas, pôde-se ampliar o leque de oportunidades para estágio e emprego dos alunos e dos egressos em todas as áreas e cursos. Nos últimos anos, tivemos um aumento significativo no número de empresas conveniadas em Fortaleza e na região metropolitana. Os convênios inicialmente permitiam uma aproximação para os estágios e, por consequência, informavam aos egressos as oportunidades possíveis para empregos formais. No ano de 2017, foram mais de 1000 publicações de vagas entre estágios e empregos nas áreas relativas aos Cursos de Administração, Ciências Contábeis, Direito, Engenharia Civil, Engenharia de Produção, Arquitetura, Gastronomia, Nutrição, Psicologia e Fisioterapia, dentre outras, e, no primeiro trimestre de 2018, foram realizadas 395 publicações. O aprimoramento das questões legais dos processos de estágios tem sido uma constante preocupação e dedicação para manter atualizados os alunos, os parceiros, as empresas, os coordenadores, os demais profissionais e as entidades envolvidas no processo de contratação de esta-

ŹProfa. Fabiana Sousa (Coordenadora da Central de Estágios e Empregos da Unichristus. Graduada e Mestra em Psicologia (UNIFOR). Atua também como consultora em Gestão de Pessoas/RH há mais de 20 anos)

giários. Com o suporte do setor jurídico da Instituição, muito se tem avançado para os ajustes necessários à evolução e ao cumprimento dessas questões. O acompanhamento semestral dos alunos em situação de estágio é outro diferencial da Central de Estágios e Empregos da Unichristus, pois os resultados são apurados e analisados para direcionamento de ações corretivas e de melhoria em cada coordenação de curso. Essa ação é fundamental para monitorar o resultado dos alunos no meio profissional, desde seus comportamentos, suas atitudes e suas habilidades até o conhecimento teórico apreendido no processo de aprendizagem na graduação. O


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atendimento diário aos alunos e a orientação às empresas parceiras - incluindo agentes de integração – ocorrem de forma constante tanto de modo presencial quanto por telefone ou e-mail. A atenção é redobrada para que nenhuma situação fique sem resposta. No ano de 2017, foram incluídos minicursos sobre Mercado de Trabalho e Perfil Profissional como atividade complementar destinada aos alunos do Curso de Ciências Contábeis.

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No ano de 2018, o mesmo minicurso foi estendido ao Curso de Administração, tendo sido bem aceito pelos alunos. Para o ano de 2018, a Central de Estágios e Empregos manterá palestras semestrais para orientação sobre empregabilidade e mercado de trabalho, bem como realizará pesquisa com os alunos no intuito de identificar os interesses profissionais a fim de direcionarmos ações para atender aos anseios de todos.

Como uma das ações para aproximação das empresas com a Instituição e os alunos, podemos citar a empresa Makro Engenharia, recebida em abril para apresentação do programa de Trainee aos alunos dos Cursos de Administração, de Engenharias, de Ciências Contábeis e de Sistemas de Informação. A parceria, de imediato, provocou visitas técnicas e promoveu a participação dos alunos na seleção do programa nessa empresa.

A Central de Estágios e Empregos funciona na sede Dom Luís, nos horários de segunda, quarta e quinta-feira, das 17h às 20h30, na sala 1306, bem como nos horários de quartas-feiras, das 9h às 12h.


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destaque

Se você pensa que pode ou se pensa que não pode, de qualquer forma você está certo (Henry Ford).

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odos nós, a cada momento de nossa vida, enfrentamos dificuldades. A dificuldade em si é apenas um desafio. A forma como enfrentamos o desafio é que irá determinar o sucesso ou o fracasso. Todos nós, como dizia Henry Ford, quer pensemos que podemos, quer pensemos que não podemos, estamos sempre certos. Pouco importa se está falando-se de um ser humano, de uma empresa ou de uma nação, a situação é sempre a mesma. Ao iniciar-se uma caminhada, inúmeros desafios se apresentam, e a disposição do agente em superá-lo pode fortalecer esse agente ou deixá-lo paralisado. Ao longo da caminhada como seres humanos, enfrentamos inúmeros desafios e, à medida que os vencemos, vamos adquirindo conhecimentos que, ao longo do caminho, servem de base para a tomada de decisão. A fragilidade em um desses aprendizados pode comprometer a nossa capacidade de avançar. É muito comum encontrar pessoas, notadamente, alunos que, ao se depararem com dificuldade de uma determinada matéria, ficam paralisados. Essas pessoas insistem, muitas vezes, em aprender o tema proposto sem, contudo, perceberem que sua dificuldade não está

no conteúdo mais recentemente estudado, mas sim na base que é exigida para entender o assunto corrente. Não importa o que seja para continuar uma trajetória de realizações bem-sucedidas, é essencial formar o alicerce que servirá de base para um aprendizado constante, consistente e enriquecedor. Em geral, o não entendimento desse princípio basilar para o entendimento e a possibilidade de crescimento levam o agente a insistir em escolhas pouco exitosas que produzem sempre consequências, na melhor das hipóteses, ineficazes. Deve ter-se sempre em mente o pensamento de Sartre: Viver é Isso: ficar se equilibrando o tempo todo entre escolhas e consequências. Somos livres para fazermos nossas escolhas, porém escravos das consequências. Seja como estudante, seja como profissional, deve ter-se sempre em mente que os resultados que obtivermos em qualquer empreitada serão resultados diretos das escolhas que fizermos a cada dia. Como professor, tenho a condição de observar tanto em mim mesmo quanto nos alunos que determinados estímulos podem transformar algumas vidas e não fazer nenhuma dife-

José Lima Crisóstomo (Docente dos Cursos de Administração, Direito e Sistemas de Informação) Luciana Lima da Silva (Egressa do Curso de Administração)

rença para outras pessoas. Os estímulos e as dificuldades estão por toda parte, mas a maneira como cada um de nós os encara faz uma enorme diferença. Parece ser essencial que estejamos abertos para identificar nossas limitações e preparados para buscar as ferramentas que nos ajudarão a superar a limitação. Pode ter sido um mero acaso, mas, certa vez, vivenciei uma situação que me chamou muita a atenção e agora passo a relatar. Já leciono Matemática Financeira há alguns anos. Nessa jornada, tive o prazer de ter, em sala de aula, inúmeros alunos e alunas com os mais diversos níveis de aprendizagem de base. Alguns avançam rapidamente


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no conteúdo, outros têm dificuldade, em geral, em função da falta de base. Nessa disciplina, especificamente, a ausência de base pode comprometer todo o entendimento. Como exemplo de superação dessa limitação da base, tive o prazer de ser professor de uma aluna chamada Luciana Lima da Silva, que me provou que, com escolhas adequadas, todos nós podemos superar nossas dificuldades e dominar novos conhecimentos. Já havia verificado que essa aluna apresentava alguma dificuldade no entendimento da matéria. Como sempre faço, coloquei-me à disposição de toda a turma para tirar dúvidas. Ela, contudo, raramente me procurava. Certa vez, tive a felicidade de apresentar para a turma dela um joguinho que acabara de conhecer chamado Rei da Matemática. Dias após apresentar o joguinho na sala, fui surpreendido em certo momento em que a Luciana passou por mim e disse: “professor, eu estou viciada.” Imediatamente, eu perguntei: “Em que, Luciana”? De pronto, ela respondeu: “No Rei da Matemática”. Fiquei muito feliz em saber que o joguinho estava, de alguma forma, sendo útil. Nesse semestre, que já era o terceiro em que a Luciana tentava fazer a disciplina de matemática financeira, felizmente, ela passou. Sem dúvida, o fato da aprovação nesse período já mostrou a importância da nova postura assumida pela aluna. Mais edificante ainda foi receber dessa mesma aluna depois o pedido

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de sugestão de livro na área de finanças. Disse ela: “Professor, já que venci minhas dificuldades em matemática, agora quero fazer pós-graduação em finanças, por favor, poderia me indicar algum livro na área”. Quando recebi essa demanda, fiquei, realmente, muito feliz em ver o progresso obtido por ela. O que aconteceu para que ela superasse sua limitação: foi o Rei da Matemática? Foi vontade dela de avançar? Ou foi uma combinação de tudo isso? Acredito que o motivo principal que desencadeou esse processo foi a vontade que ela tinha de se superar. Quando desejamos superar uma limitação, os meios acabam surgindo. Devemos sempre nos preparar, aprender e desenvolver competências, buscando conhecer todos os meios que nos auxiliem a superar nossas dificuldades. Passarei agora a palavra à Luciana, a fim de que ela exponha como foi sua experiência nesse processo para que juntos nós consigamos mostrar uma alternativa de caminho que possa contribuir para a superação de nossas limitações. “Para superar minhas dificuldades e conseguir a aprovação na disciplina, tive que mudar meus hábitos.” Procurei o Serviço de Apoio Psicopedagógico (SAP) para conversar, fui questionada em alguns pontos, por exemplo, você está tendo dedicação com a disciplina? Você sempre teve dificuldade em matemática? Pediu ajuda ao professor? Tirou dúvidas? Para a maioria dessas perguntas, a minha res-

posta era não, pois há aluno que tem dúvidas, mas tem vergonha de perguntar, e, naquele momento, eu fazia parte dessa estatística. Tinha dúvidas, mas não perguntava, assim a dificuldade e o medo da disciplina só aumentavam. De fato, eles queriam entender o que estava acontecendo para poder me ajudar de alguma forma e tirar esse bloqueio com a disciplina. Percebi que, na primeira tentativa, já comecei estudando errado, e isso fez que eu desistisse, fiquei muito chateada, pois já estava próxima da conclusão do meu Curso de Administração e não queria uma reprovação, então fiquei para fazer a disciplina no semestre seguinte. Foi então que surgiu outro problema, nas minhas opções de disciplinas, havia: o TCC, a administração financeira I e II e a matemática financeira. Resolvi fazer tudo de uma vez e não aconselho ninguém a fazer isso, principalmente se tiver alguma dificuldade com cálculos. O resultado dessa minha segunda tentativa foi mais uma vez ser reprovada na disciplina porque acabei dedicando-me às outras matérias e deixei a matemática financeira em segundo plano. Foi um grande erro, essa disciplina exige dedicação, o aluno não aprende do dia para a noite. Meus pais me incentivaram bastante, teve um dia em que cheguei triste em casa e meu pai perguntou: o que aconteceu, minha filha? Foi a matemática? Respondi que sim, e ele me disse:


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não desista, você vai conseguir! Depois dessas tentativas sem sucesso, fiquei bastante pensativa, tentando encontrar soluções para ser aprovada e verificando todos os erros cometidos que não poderiam acontecer novamente. Surgiram os seguintes questionamentos: a didática do professor é ruim; o livro passado pelo professor não aborda de forma clara e objetiva o conteúdo. Fiquei pensando também, será que o problema sou eu? Essa disciplina é muito difícil. Chega o semestre, prometi para mim que seria o último e tinha de ser, pois não tinha mais disciplina para fazer, só a Matemática, mas fiz tudo diferente. Nesse período, descobri um aplicativo para o celular chamado “O Rei da Matemática” que o professor me apresentou, esse aplicativo é sensacional para exercitar o raciocínio lógico/matemático. Já o indiquei para alguns amigos que possuem dificuldade em matemática, e todos adoraram. Algumas das categorias disponíveis são adição, subtração, divisão, multiplicação, potenciação e radiciação, média e mediana, equações e frações. Nele você encontra exercícios de cálculos para resolver de forma bem rápida, é um grande estimulador para o cérebro, comecei usando a versão gratuita e gostei tanto que logo passei para a versão paga. Esse aplicativo me ajudou bastante na resolução de questões, comecei a raciocinar mais rápido e resolver as provas do semestre elaboradas pelo professor com mais facilidade. Passei a responder ques-

tões com frequência. Quando não sabia determinada questão, eu perguntava ao professor que respondia com bastante cuidado, pois sabia que eu tinha dificuldade na disciplina e assim fui evoluindo e descobrindo que não era difícil, só precisava de prática, e, neste semestre, pratiquei bastante. Levava o livro para todos os lugares a que ia, este se tornou assim um “amigo inseparável”, cheguei a responder todas as questões dos capítulos que foram passados pelo professor, tenho os cadernos até hoje; e assim fui caminhando no semestre, cada questão respondida corretamente era uma motivação para responder a novas questões. Na primeira prova do semestre, parecia que eu estava indo para a forca, fiquei tão nervosa e com medo, veio todo aquele filme das tentativas anteriores, mas respirei fundo e respondi à prova. Quando chegou o resultado, fui razoável, contudo não gostei do resultado, percebi que, pelo nervosismo do momento, errei questões que sabia resolver, mas, mesmo assim, fiquei motivada para a próxima prova. Na segunda prova, estava mais calma, e o resultado foi melhor, o meu gosto pela matemática também estava aumentando, cheguei a pensar: devo estar maluca, eu gostando de matemática? Na última prova do semestre, eu olhei para o professor e pensei: é a última vez que entro aqui para fazer prova ou assistir à aula. Estava mais tranquila e mais confiante, pois, de tanto

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resolver questões, quando olhava para a prova, eu entendia o que ele estava perguntando e assim consegui a resolução correta. Este semestre realmente foi o último, consegui a aprovação na disciplina e finalizei meu Curso de Administração, assim fiquei feliz da vida. Logo quando terminei, comecei uma pós-graduação em controladoria e hoje consigo resolver questões de matemática com facilidade, procurando sempre maneiras diferentes de resolver as questões. “Hoje, finalmente venci esse bloqueio com a disciplina. Você deve estar perguntando-se como? Isso ocorreu diante da identificação das minhas dificuldades, da superação a cada dia, dos estudos, em que tiro as dúvidas e o principal: coloco na cabeça que a disciplina é fácil e que eu vou aprender.” Agradeço a Luciana por ter, gentilmente, mostrado a todos nós que vivemos limitações iniciais em relação à disciplina e à maneira como conseguiu sua maravilhosa superação. Convido a todos a fazer como ela. Quando, ao estudar um assunto novo, você identificar uma dificuldade para entendê-lo, você deve, de imediato, acreditar que pode superar essa dificuldade para avançar e deve buscar toda a ajuda possível para superar a situação. Lembre-se do pensamento de Henry Ford colocado na abertura desse trabalho: “Quer você acredite que pode, quer acredite que não pode, você estará sempre certo” e colherá os frutos da sua escolha.


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unichristus

Relato de Atividade da Liga de Saúde da Família da Unichristus Kenya Vitória de Aguiar Queiroz, Juliana Leão Moraes, Barbara Chaves Alves de Oliveira, João Romano Ponte Nogueira, Lucas Holanda do Nascimento, Lívia Leal Chagas Parente, Lyvia Gonçalo da Silva, Raoul Costa Praciano Sampaio, Sabrina Maria Lima Bezerra, Thais Helena Paiva da Silva, Joseane Marques Fernandes, Bruno Souza Benevides. (Alunos do Curso de Medicina da Unichristus)

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s ligas acadêmicas são um espaço transformador, que possibilitam o desenvolvimento do ensino e da pesquisa, promovem o estabelecimento de vínculos entre estudantes, professores e comunidade e possibilitam um cenário diversificado de práticas, aproximando os estudantes da comunidade. (SILVA, 2015). Assim, as atividades realizadas propiciam uma experiência acadêmica de extrema importância para o desenvolvimento profissional dos estudantes. A Liga de Saúde da Família (LISF) na Unichristus é voltada para pesquisa e, durante o ano de 2017, foi realizada uma pesquisa voltada para os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) nas unidades básicas de saúde da Regional II, a fim de avaliar o conhecimento dos ACS sobre Chikungunya. Para isso, os dez alunos

da liga dividiram-se em duplas, e cada dupla ficou responsável por dois postos de saúde. Nesse trabalho, foi aplicado um questionário com 23 questões objetivas que foram elaboradas pelos alunos, e foi realizado um grupo focal, por meio do qual os ACS puderam expor suas opiniões sobre a conduta que eles consideram mais adequada, diante de um caso suspeito de Chikungunya, em visita domiciliar e sobre quais atitudes devem ser praticadas por eles para contribuir com o seguimento adequado do paciente após a avaliação clínica e a confirmação de um caso suspeito. Além disso, eles, para participarem da pesquisa, tiveram de assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Esse processo foi bastante trabalhoso para todos no que concerne à execução das atividades, como a divisão das duplas,

o deslocamento dos participantes, a aplicabilidade dos questionários e a realização dos grupos focais. Até julho de 2017, foram realizados a escrita do projeto, a aprovação do Comitê de Ética, a aprovação da Secretaria Municipal, o contato com os gestores dos postos e a aplicação dos questionários e dos grupos focais. No contato inicial com os alunos ligantes e os ACS, muitos profissionais contestaram as questões, afirmavam que não havia nenhuma resposta correta ou que existia mais de uma. Essas situações serviram de experiência para saber lidar com diferentes opiniões no âmbito profissional, sabendo responder-lhes o mais conveniente na ocasião. Além disso, no momento do grupo focal, foi percebido o conhecimento dos ACS sobre a Chikungunya, mas, em algumas atitudes, eles discor-


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davam bastante, o que incitava nos estudantes e nos pesquisadores a necessidade de limitar algumas discussões, redirecionar o foco da conversa e concluir o objetivo pretendido. Isso foi inovador para a maioria dos alunos, o que foi uma experiência rica e satisfatória para futuros médicos, os quais, em alguns momentos da prática profissional, terão de ter atenção no discurso do paciente, porém deverão redirecionar o foco do atendimento quando preciso. Posteriormente, foram realizadas a construção da base de dados e a análise dos dados colhidos, em que se analisaram a porcentagem de acertos em relação às questões objetivas e as características dos ACS, como escolaridade, idade e sexo. Isso foi importante, pois os alunos responsáveis por essas ações pesquisaram qual a melhor forma de construir a base dos dados. Com reuniões com o

estatístico, foram em busca dos objetivos do projeto inicial, para, na escrita do artigo, provê-los. Como resultado desse ano de pesquisa e experiências construtivas na LISF, houve a finalização com um Guia Prático sobre Chikungunya para os ACS, no qual foram sanadas muitas dúvidas identificadas com a aplicação dos questionários e a análise dos dados, como também a possibilidade de tentar publicar o trabalho em uma revista médica.

Referências SILVA, SA; FLORES, Oviromar. Ligas Acadêmicas no Processo de Formação dos Estudantes. , 39, 3, pp.410-417. ISSN 0100-5502. http://dx.doi.org/10.1590/1981-52712015v39n3e02592013. HAMAMOTO FILHO, Pedro Tadao. Ligas Acadêmicas: motivações e críticas a propósito de um repensar necessário. Rev. bras. educ.

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med., Rio de Janeiro , v. 35, n. 4, p. 535-543, Dec. 2011 . Available from <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S010055022011000400013&lng=en&nr m=iso>. access on 14 Feb. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/S010055022011000400013. BASTOS, Mayara Lisboa Soares de et al . O papel das ligas acadêmicas na formação profissional. J. bras. pneumol., São Paulo , v. 38, n. 6, p. 803-805, Dec. 2012 . Available from <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S180637132012000600018&lng=en&nr m=iso>. access on 14 Feb. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/S180637132012000600018. TORRES, Albina Rodrigues et al . Ligas Acadêmicas e formação médica: contribuições e desafios. Interface (Botucatu), Botucatu , v. 12, n. 27, p. 713-720, Dec. 2008 . Available from <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S141432832008000400003&lng=en&nr m=iso>. access on 14 Feb. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/S141432832008000400003.


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Prática de uma sala de espera sobre prevenção de acidentes na infância: um relato de experiência. Kenya Vitória de Aguiar Queiroz; Kaik Brendon dos Santos Gomes (Alunos do Curso de Medicina – Unichristus) Orientadora: Profa. Dra. Jocileide Sales Campos.

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prática do ensino-aprendizagem possibilita ao aluno desenvolver sua capacidade de comunicação, interação com o cliente e práticas educativas. Não constitui um trabalho que leva apenas transmissão de conhecimento, mas o reconhecimento da realidade sociocultural do sujeito, suas representações, seus conceitos, preconceitos e formas populares de cuidado.’’ (TEIXEIRA, 2006). Dessa forma, a prática da sala de espera é um meio educativo dinâmico, prático e interativo, a qual proporciona ao estudante experiências construtivas para a formação profissional e humana, em especial, relacionada à educação em saúde. Nesse contexto, foi realizada a sala de espera em uma Unidade de Atenção Primária à Saúde (UAPS), Benedito Artur de Carvalho, em Fortaleza, por alunos do quarto semestre de Medicina da Unichristus, orientados pela professora Jocileide Campos. Inicialmente, foram feitas leituras de referências sobre o tema, o que possibilitou a confecção de um folder informativo, contendo imagens e textos de alerta sobre os cuidados que os responsáveis devem ter com as crianças

em ambientes comuns do cotidiano, na prevenção dos acidentes. Foram priorizadas áreas de vivência das crianças, como quarto, lembrando a necessidade de evitar o acesso aos objetos pequenos, por exemplo, botões, bolas de gude, moedas e tachinhas, objetos que podem facilmente ser engolidos pelas crianças, causando asfixia. O material utilizado foi alterado algumas vezes conforme as observações da orientadora e, posteriormente, impresso pela faculdade, disponibilizando-o aos usuários na UAPS. A atividade deu-se com a participação de acadêmicos de Medicina, os quais inicialmente se apresentavam e perguntavam se as pessoas em espera tinham interesse em receber o folder e conversar um pouco sobre a prevenção de acidentes na infância. Depois, foi feita uma pergunta geral, com o objetivo de envolvê-los no assunto: ‘’Vocês conhecem alguma criança que sofreu algum tipo de acidente no ambiente doméstico? Qual? Poderia ser evitado? Como?’’. Algumas pessoas ficavam tímidas, não respondiam ou, até mesmo, ignoravam o que os acadêmicos falavam, não dando atenção. Enquanto outras,

porém, a maioria, responderam que sim, compartilhando muitos momentos vividos por seus filhos e conhecidos, fazendo daquele ambiente um momento de aprendizado múltiplo, permitindo que os próprios usuários da unidade fossem sujeitos de transmissão de conhecimento. Uma dessas pessoas relatou que a criança puxou a toalha da mesa, derramando um copo de caldo quente, causando uma queimadura grave; outra contou que seu filho se queimou ao tentar apagar o fogo que os amigos fizeram com esponja de aço, derramando um líquido que estava em uma garrafa PET debaixo da pia do quintal com o intuito de conter as chamas, porém o conteúdo era solvente, o que gerou graves ferimentos a ele; outro disse que sua filha colocou três


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pérolas de um colar no ouvido, foi preciso ser removido com cirurgia. Assim, algumas responderam que tais acidentes poderiam ter sido evitados se dificultasse o acesso a esses objetos para as crianças, trancasse produtos tóxicos e bloqueasse a presença de crianças sozinhas na cozinha, por exemplo. A partir desse diálogo, foi comentado sobre essas atitudes, como se poderia agir para evitar esses casos, além de citar outras maneiras de evitar acidentes, evidenciando situações no ambiente doméstico, na rua, no trânsito e em ambientes de lazer nos quais há riscos para as crianças. Em seguida, foi perguntado se as pessoas achavam importante a UAPS falar sobre a prevenção de acidentes na infância, e, mais

participativa, a maioria delas respondia que sim, que é um meio de alertar as mães, que é necessário, tendo em vista que há muitas mães que não são orientadas ou são de ‘’primeira viagem’’, não tendo experiência sobre a necessidade desses cuidados. Este é um meio de, até quem não é pai e mãe, aprender para compartilhar com os vizinhos. A prática da sala de espera permitiu um grande aprendizado para os acadêmicos, permitindo-lhes ter contato com a população de forma direta, ouvir a realidade vivida e reconhecer que a transmissão de conhecimento é mútua, pois tanto os alunos passaram informações para o público quanto eles, durante a discussão e o compartilhamento de experi-

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ências, foram agentes ativos da transmissão de informações, fazendo isso de acordo com suas percepções de mundo e seus conceitos. Foram atores no processo de educação em saúde e ganharam novos atores especiais – a comunidade.

Referências 1. Violência intrafamiliar- CAB nº8. Pág. 5-45. Disponível em: http:// bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes 2. TEIXEIRA, Enéas Rangel; VELOSO, Raquel Coutinho. O grupo em sala de espera: território de práticas e representações em saúde. Texto contexto – enferm. Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 320-325, June, 2006. 3. Violência na infância e adolescência. In: Manual de segurança da criança e do adolescente. Pág. 195-271.


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Participação do Curso de Arquitetura e Urbanismo na III Mostra de Responsabilidade Social Universitária - Cuca Barra Alana Kelia Parente de Aguiar, Bruna Napoleão Moreno e Elane Bezerra Ramos (Alunas do 7º semestre do Curso de Arquitetura e Urbanismo) Profa. Me. Kelma Pinheiro Leite (Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo) Profa. Me. Germana Pinheiro Câmara (Docente e Coordenadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo) Prof. Me. Mateus Gonçalves de Medeiros (Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo)

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o segundo semestre de 2017, crianças da Barra do Ceará tiveram a oportunidade de participar de atividades do programa de responsabilidade social da Unichristus. Dentre elas, houve oficinas sobre consciência ambiental e sobre prática projetual. A arquitetura e o urbanismo são multidisciplinares, e seu estudo auxilia a criança a desenvolver todas as áreas de conhecimento, das humanas às exatas. O evento contou ainda com ações de diversos cursos de graduação do centro universitário. Algumas organizações têm-se dedicado em vivências com crianças, como Arquitectura para Niños1, Arquitocos e Coletivo Sinergia Urbana. Segundo a arquiteta e urbanista Isabela Rech Schumacher, que desenvolveu o Arquitocos, atividades de arquitetura com crianças contribuem para o aumento das habilidades psicomotoras, de foco e de atenção e para o controle da ansiedade, já que é preciso respeitar todas as etapas 1 http://www.xn--arquitecturaparanios-l7b.es/ , acesso em 15/2/2018

ŹFigura 1 - Palestra das graduandas de Arquitetura

dos exercícios de construção, aumentando a autoconfiança e o desenvolvendo autocrítica. O Projeto Participativo (PP) tem como principal característica o envolvimento da comunidade como atores no processo de concepção e vem sendo desenvolvido como um método que busca identificar as reais demandas dos usuários. Além disso, oficinas de PP contribuem para sensibilização e o entendimento do lugar, além da percepção espacial (ArchDaily Brasil, 2017). Assim, as oficinas tiveram como objetivo estimular as crianças a pensarem

no urbano, ambiente no qual elas se inserem, ou seja, no bairro e no espaço de abrigo, estimulando a percepção de cidade, sustentabilidade e de concepção e construção de moradia. Foram estabelecidas duas etapas para as atividades realizadas no Cuca da Barra do Ceará: primeiro a sensibilização do tema por meio de uma apresentação dialogada; em seguida, a organização em grupos de cinco ou seis crianças para a realização de processos participativos simplificados. As atividades envolveram, além das alunas autoras deste


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artigo, que desenvolveram pesquisa sobre os processos de urbanização da cidade de Fortaleza na disciplina de Planejamento Urbano e Regional com a Professora Germana Câmara, os alunos Ivalo Augusto De Lima Barbosa e Maria Cristiellen Rodrigues Ribeiro bolsistas do Programa de Iniciação Científica, que estavam pesquisando sobre processo participativo de projeto com a professora Kelma Pinheiro Leite. As crianças assistiram à palestra sobre a história da cidade de Fortaleza e do bairro Barra do Ceará, sobre a obra de requalificação urbana do projeto Vila do Mar2, o desenvolvimento sustentável e a importância da preservação do meio ambiente. A ideia era transmitir, por intermédio da apresentação, a inserção urbana do bairro; foi questionado se elas sabiam onde estavam (dentro da cidade de Fortaleza); depois disso, foi abordado um pouco da história da Barra do Ceará, como o bairro surgiu e sua importância (ver figura 1). Como um dos focos era a conscientização ambiental, foi levada a seguinte pergunta: “O que você faz para cuidar da natureza?” Diante disso, foi possível mostrar, por meio de imagens, as riquezas naturais do bairro que tem tido seu potencial 2 As obras do projeto Vila do Mar foram iniciadas em 2002 e incluem intervenções estruturais e sociais nos bairros Pirambu, Cristo Redentor e Barra do Ceará. A urbanização da área retirou moradores de áreas de risco e habitações precárias; implementou sistemas de abastecimento d’água e esgotamento sanitário; construiu nova via paisagística, integrando a região Oeste de Fortaleza, e aumentou os equipamentos esportivos e de lazer para a população.

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ŹFigura 2 - O¿cina1

reduzido devido às ações antrópicas. Por fim, foi discutida a questão da moradia, assunto bastante debatido em se tratando da Barra do Ceará; foi abordada também a questão dos assentamentos precários, os riscos de morar em dunas, bem como as remoções com o projeto Vila do Mar. Procuraram-se abordar os assuntos da palestra de forma lúdica e com uma linguagem acessível para a idade das crianças (7 a 12 anos), a fim de que elas sentissem interesse pelo que seria explanado, além de manter a concentração delas. O primeiro ponto a ser pensado foi em levar uma apresentação que atraísse visualmente, por isso a utilização de cores vivas no layout da exposição e o emprego de mais fotos que textos. Dessa forma, buscaram-se introduzir perguntas ao longo da palestra para estimular a interação de todos. Ao chegar ao local, antes do início da explanação, viu-se a possibilidade da utilização de pufes, que foram logo colocados para acomodar as crianças, gerando uma atmosfera descontraída. No início da palestra, as

crianças foram orientadas sobre o fato de que, depois dessa paletra, fariam uma oficina com o intuito de mostrar o que aprenderam no debate (figura 2). Elas foram divididas em cinco grupos, e a atividade consistia em colocar em um cartaz frases, palavras, imagem que fizesse referência ao que foi abordado. Para isso, além de cartolinas coloridas, foram utilizadas diversas revistas, cola e tesoura. Cada grupo contou com o apoio de um estudante de Arquitetura e uma monitora do próprio Cuca sob a supervisão de uma docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Unichristus.

A segunda oficina foi a de projetação de uma casa de forma coletiva entre os membros de cada equipe (ver figura 3). Foi um momento em que as crianças exerciam, de forma lúdica, a atividade de arquiteto, com cartolina, canetas, lápis e maquetes de mobiliários, para projetar uma casa em planta baixa. Utilizando materiais recicláveis, como revistas, e materiais para estimular a criatividade, como lápis de cor, pincéis e gabarito de mobiliário na escala 1:50,


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ŹFigura 3 - Resultado da o¿cina 2 “Projetando uma Casa”

ŹFigura 4 - Equipe Unichristus e Monitoras do Cuca Barra

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as crianças foram levadas a pensar e a elaborar a planta da casa onde gostariam de morar (oficina 2), por meio de desenhos e colagem dos móveis fornecidos. Desse modo, pôde-se identificar a importância de projetos sociais que envolvam a comunidade como protagonista do processo de conhecimento e percepção do local em que está inserida, o bairro. Assim, ao inserir o Projeto Participativo nas atividades da Barra do Ceará, conseguiu-se que as crianças e os adolescentes compreendessem os riscos de morar em áreas de dunas,

as consequências ambientais e da paisagem com a degradação do mangue e, ainda assim, buscou-se conscientizá-los de seu papel como atores transformadores na comunidade.

Referências Equipe ArchDaily Brasil. “Arquitetura e Cidade para Crianças: projeto estimula a relação afetiva das crianças com a vida urbana” 12 Dez 2017. ArchDaily Brasil. Acesso em: 15 de fevereiro de 2018. <https://www.archdaily. com.br/br/885224/arquitetura-ecidade-para-criancas-projeto-estimula-a-relacao-afetiva-das-criancascom-a-vida-urbana> ISSN 0719-8906


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Escritório de Direitos Humanos do Curso de Direito da Unichristus (EDH)

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Escritório de Direitos Humanos do Cur so de Direito da Unichristus (EDH) iniciou, em março de 2018, o projeto de educação em direitos humanos envolvendo parceria com o Conselho Estadual de Direitos Humanos do Ceará – CEDDH (Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado -SEJUS). Desde 2015, a Unichristus, por meio do EDH, foi eleita e reeleita, por inter médio de edital público, par a re presentação na vaga de Instituição Par ticular de Ensino Superior. A par tir desse projeto de e xtensão, os alunos do Escritório acompanham as atividades do Conselho Estadual de Direitos Humanos na condição de estagiários voluntários. Os alunos, sob supervisão da Profa. Natalia M. Castilho, obser vam as reuniões CEDDH e auxiliam nos encaminhamentos dos processos administr ativos. O CEDDH é composto por re presentantes de órgãos gover namentais e da sociedade civil. Além disso, atua no controle social das políticas públicas de proteção aos direitos humanos de for ma ger al. Colaboração: Eneas Mamede

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Curso de Odontologia participa da primeira edição da revista do Conselho Regional de Odontologia (CRO) de 2018

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primeira edição da revista do Conselho Regional de Odontologia (CRO) de 2018 conta com a participação do acadêmico João Paulo de Mota e da professora Patrícia Oliveira, veiculando um artigo com a temática de Ergonomia. O trabalho é produto das atividades regulares da disciplina de Saúde Coletiva 2, que faz parte do Curso de Odontologia da Unichristus. Ao cursar a disciplina, os alunos são estimulados a

escrever pequenos artigos no formato de revista para, posteriormente, publicarem. A temática é extremamente relevante para a prática profissional e, muitas vezes, negligenciada pelo cirurgião-dentista. Estimular a produção científica com base nas necessidades reais do profissional de Odontologia é meta das atividades do curso. Colaboração: Eneas Mamede

Revista Gestão em Análise (ReGeA) presente no Expo MILSET Brasil

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Revista Gestão em Análise (ReGeA) esteve presente no Expo MILSET Brasil que é um evento do Movimento Inter nacional para o Recreio Científico e Técnico (MILSET), do Comitê da MILSET AMLAT e da Comitiva Nacional da MILSET. As melhores pesquisas apresentadas foram convidadas ao fast track da ReGeA. O evento contou com a participação de todos os estados do Brasil e de outros sete países da América Latina e da Europa. Colaboração: Eneas Mamede


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Curso de Nutrição participa do “ISGH na Comunidade.”

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Curso de Nutrição da Unichristus participou da ação social “ISGH na Comunidade”, promovida pelo Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH), no dia 19 de maio, orientando a comunidade sobre Alimentação Saudável e sobre como fazer melhores escolhas alimentares. Foi uma manhã de promoção à saúde e prevenção de doenças para crianças, jovens, adultos e idosos, com participação de docentes e discentes do 2º e 3º semestres do curso. Colaboração: Eneas Mamede

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Jack e Adaysa no Curso de Direito da Unichristus: mãe e filha inseparáveis Por que o Curso de Direito? Adaysa (a filha): Foi influência do meu avô paterno. Desde criança, eu tinha essa vontade, porque ele me influenciava com livros, presentes... Ele chegou até mesmo a me dar seu anel de formatura.

Bem, Adaysa decidiu fazer o curso de Direito por influência do avô. E você, Jack, por que seguiu os passos dela um semestre depois? Jack (a mãe): Por livre e espontânea “pressão” [risos]... Na verdade, minha filha me incentivou bastante, porque essa área jamais seria minha primeira opção, afinal, eu sou formada em Enfermagem, e o Direito não tem nada a ver com a área da saúde, mas a Adaysa está me ensinando a amá-lo aos poucos, me sinto confiante ao lado dela.

E como lidar com essa relação mãe e filha no mesmo curso? Jack: Para mim, como ela está mais adiantada, é meu porto seguro, alguém que me apoia nas horas difíceis, nas dúvidas, nos estudos, pois eu sou mãe e dona de casa, então, quem me dá esse suporte e estímulo para seguir em frente é a minha filha. Adaysa: Eu não sinto que minha mãe me priva dos meus amigos, ao contrário, como ela é muito alegre e simpática, interage com todo mundo, e também não há segredos entre nós, contamos tudo uma pra outra, tudo mesmo!... [risos]. Não somos apenas mãe e filha, somos melhores amigas.

Quais são os planos para o futuro, quando se formarem? Jack: O meu objetivo é me formar e, quem sabe um dia, eu e ela trabalharmos juntas com o nosso próprio escritório. Só não sabemos ainda em qual ramo do direito, mas até agora nossa área favorita é civil. Adaysa: Além do escritório, quero prestar concurso para seguir os passos do meu avô.

O que vocês vão guardar com mais carinho dessa jornada? Adaysa: Companheirismo e conhecimento. Jack: A força, a união, a determinação e a prosperidade da família. Entrevista colhida por Cleo Bedê, ex-aluna do Curso de Direito na Unichristus, atualmente residindo em Porto Alegre.

Mãe: Jaqueline Julião Miranda (4º Semestre). Filha: Adaysa Marianna Julião Miranda (5º Semestre).



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artigos

Relato de Experiência sobre as atividades realizadas no Centro Integrado de Hipertensão e Diabetes

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efinido como um transtorno

metabólico caracterizado por

hiperglicemia crônica devido a um

Gabriel Melo Ferraz Pessôa, Joana Cysne Frota Viera, Gisele Câmara Ferreira e Igor Torres Dias (Alunos do 5º semestre do Curso de Medicina) Orientadora: Profa. Dra. Cristina Figueiredo Sampaio Façanha

defeito na produção de insulina, na sua ação, ou em ambos, o Diabetes Mellitus (DM) assume proporções epidêmicas, destacando-se como um problema de saúde pública.¹ Segundo a Federação Internacional de Diabetes (IDF), cerca de 415 milhões de pessoas no mundo têm diabetes, dos quais 542 mil são crianças (0-14 anos) com DM tipo 1. Estima-se, também, que são diagnosticados 86 mil novos casos por ano desse tipo de diabetes². O tratamento do DM1 é complexo: envolve múltiplas aplicações de insulina, com esquemas terapêuticos variáveis, em que a participação do paciente no autoajuste das doses do medicamento é fundamental para o sucesso terapêu-

tico e para evitar o aparecimento de complicações agudas e crônicas da doença. Uma das propostas do ISEC é estimular uma maior integração dos estudantes com a equipe de saúde e com a comunidade, a fim de obter impacto positivo na formação dos estudantes6. Uma das atividades propostas é a pesquisa-ação, que é desenvolvida em

grupo junto com um orientador no segundo e no terceiro período do curso de Medicina. O nosso grupo, orientado pela professora Cristina Façanha, iniciou um projeto de pesquisa-ação no Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão (CIDHCE), um centro de referência para o atendimento dos pacientes diabéticos no SUS. Tendo em vista que, no ano de 2017, completaram-se 10 anos de dispensação de fitas, glicosímetros e insumos para os tratamentos de DM1, consideramos importante avaliar a disponibilidade desses insumos e a forma como estão sendo usados pelos pacientes, pois para o benefício completo da monitorização da glicemia no controle metabólico, é necessário ter o domínio da técnica, saber interpretar os resultados e tomar atitudes e mudanças para ajustar o tratamento. As atividades do primeiro semestre visaram capacitar a equipe por meio do entendimento das dificuldades do tratamento, proporcionando uma maior

aproximação com os pacientes e conhecendo a doença e o funcionamento da unidade de saúde. Nesse contexto, tivemos a oportunidade de participar do acompanhamento dos pacientes com DM com vários profissionais de saúde da equipe multidisciplinar. A participação nas consultas de enfermagem, do serviço de nutrição e em consultas de atendimento médico, sempre acompanhados por profissionais capacitados e com profundo embasamento teórico, foi experiência enriquecedora e positiva para a formação dos futuros médicos. Entre estas atividades, destaca-se a realização de sala de espera, no nosso primeiro dia no CIDH, sobre pé diabético, que é definido, segundo o International Working Group on the Diabetic Foot como “infecção, ulceração e/ou destruição de tecidos moles associadas a alterações neurológicas e vários graus de doença arterial periférica (DAP) nos membros inferiores”. Tal complicação é frequente no paciente com DM, com incidência aproximada de 2


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a 4%.³ Nessa roda de conversa, as enfermeiras alertaram sobre cuidados necessários com os pés, orientação sobre a higiene e o tipo de calçado adequado e a hidratação dos pés. Observamos como o conhecimento sobre o assunto é importante para a promoção da saúde e para a prevenção desse agravo.4 Com a equipe de enfermagem do CIDH, recebemos capacitação através de oficinas sobre técnicas de monitoramento da glicemia capilar e de insulinização. Fomos apresentados aos diferentes tipos de insulina, seringas e canetas para aplicá-la e às técnicas corretas para seu uso. Durante essa atividade, podemos perceber o quão difícil é o uso dessa medicação, pois, além de exigir o conhecimento dos tipos e dos diferentes tempos de ação das insulinas para o preparo das doses, a aplicação, segundo os relatos dos próprios pacientes, gera certo desconforto e algumas preocupações, como a lipodistrofia, uma massa fibrogordurosa no local da injeção causada pelo uso repetido de um sítio de aplicação da insulina, e a hipoglicemia, que é a queda dos níveis da glicose no sangue, que pode resultar em confusão mental, convulsões, coma e até levar a óbito. Assim, é necessário investir na educação e no acompanhamento desses pacientes (muitas vezes com baixa escolaridade) e em seus cuidadores para que eles possam manusear corretamente as insulinas e, assim, aderir ao tratamento. Um aspecto importante observado foi a habilidade de conversar com os pacientes, colher informações importantes sobre os

seus hábitos e sobre a aderência ao tratamento, além de checar se as técnicas ensinadas na consulta anterior estão sendo utilizadas de forma correta. Isto ajuda muito no sucesso do tratamento, pois observamos que em muitas ocasiões o insucesso no tratamento não se deve somente a um erro de prescrição da dose de insulina, mas a técnicas de aplicação incorreta. Isto reforça ainda mais a importância do trabalho em equipe. A terapia nutricional é uma abordagem fundamental no tratamento do paciente com Diabetes Mellitus tipo 1, pois auxilia no controle glicêmico, prevenindo comorbidades e possíveis complicações do diabetes5. Tendo como objetivo o melhor entendimento da rotina de orientação nutricional do paciente diabético, tivemos uma oficina de nutrição, em que fomos orientados sobre princípios da alimentação saudável, função dos nutrientes e sua atuação no organismo. Discutimos sobre a pirâmide alimentar, como categorizar os diferentes grupos ali-

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mentares, os benefícios de alimentos integrais na dieta, que, com a mesma quantidade de calorias, o aumento na quantidade de fibras evita o pico glicêmico. Abordamos também sobre o método da Contagem de Carboidratos, uma técnica nutricional que proporciona maior flexibilidade na alimentação. O paciente aprende a usar a quantidade de insulina necessária para a manutenção do estado interprandial (a dose de insulina basal) e também conceitos importantes como a aplicação de insulina bôlus pré-alimentar e o bôlus de correção da glicemia. Para que isso funcione, é fundamental que o paciente tenha pleno domínio dos conceitos nutricionais e compreenda a composição de carboidratos dos alimentos, além de fazer uso adequado da monitorização da glicemia capilar. Essa oficina exigiu dos alunos grande empenho para a sua compreensão. Isto nos fez pensar nas dificuldades que esses pacientes devem superar para o


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aprendizado desses conceitos e nos grandes desafios que devem enfrentar para a aplicação do mesmo em sua rotina diária. Com a equipe de fisioterapia e educadores físicos do CIDH, observamos a importância de estimular um estilo de vida ativo e saudável nestes pacientes. Nessas vivências, aprendemos também a conduzir esses pacientes, desde a anamnese até a conduta clínica, aplicando conhecimentos de semiologia. Participamos de atendimentos em que deveríamos colher a história clínica, passar o caso para o médico responsável, além de discutir com o grupo a conduta terapêutica e educativa do paciente. Após essas vivências, elaboramos um questionário para fazer o diagnóstico da situação sobre a prática e o grau de entendimento sobre a monitorização da glicemia capilar em paciente e cuidadores de pacientes DM1 inscritos no programa de monitoração glicêmica no período de 2016 e 2017 do CIDH-CE. Os dados foram colhidos de pacientes presentes em consultas ambulatoriais no período do estudo. Colhemos informações acerca do conhecimento da doença, técnica e frequência de monitorização, autoajuste da insulina e das complicações da doença. Entrevistamos mais de 100 pacientes DM1, dos quais 95 prosseguiram no estudo. A aplicação dos questionários também foi uma atividade muito rica, pois utilizamos um instrumento que foi desenvolvido a partir de

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nossas experiências. Tivemos a oportunidade de conversar com o paciente e entender a realidade de cada um e também aprender a importância de cada etapa no desenvolvimento de um trabalho acadêmico, assim como também compreender como definir prioridades para atividades preventivas no SUS. Isso enriquece o aprendizado e estimula o desenvolvimento de ações de promoção e proteção da saúde que são essenciais no campo da atenção básica à saúde 9. É importante reforçar a necessidade de atividades como essa, que fazem grande diferença na formação acadêmica. Dessa forma, a produção desse projeto de pesquisa-ação transcendeu as expectativas em se tratando de proporcionar experiências. O crescimento pessoal dos alunos ocorreu durante todo o processo, e as fases do projeto em si lhes permitiram expandir seu conhecimento teórico, sua relação com os pacientes, sua vivência quanto à realidade da doença e sua capacidade quanto a construção do trabalho científico. Assim, podemos dizer que começamos esse projeto de pesquisa-ação com a “cabeça de médico” e devido às atividades vivenciadas terminamos “enxergando o diabetes com os olhos de pacientes”. Espera-se que o trabalho proporcione também uma mudança na rotina desses pacientes no CIDH, expondo o que precisa ser melhorado e propiciando melhor alocação dos recursos educativos e investimento no autocuidado.

Referências 1. Classificação Etiológica. ADOLFO, Milech et. al. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2015-2016). São Paulo: A.C. Farmacêutica, 2016. Página 7-8 2. IDF Diabetes Atlas – 7TH Edition < http://www.diabetesatlas.org/key-messages.html > Acesso em 08 de Dezembro de 2016 3. Princípios para Orientação Nutricional no Diabetes Mellitus. ADOLFO, Milech et. al. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2015-2016). São Paulo: A.C. Farmacêutica, 2016. 4. TEIXEIRA, Enéas Rangel; VELOSO, Raquel Coutinho. O grupo em sala de espera: território de práticas e representações em saúde. Texto contexto - enferm., Florianópolis , v. 15, n. 2, p. 320-325, Junho 2006. 5. Princípios para Orientação Nutricional no Diabetes Mellitus. ADOLFO, Milech et. al. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2015-2016). São Paulo: A.C. Farmacêutica, 2016. 6. Ferreira RC, Silva RF, Aguera CB. Formação do Profissional Médico: a aprendizagem na Atenção Básica de Saúde. Rev Bras Educ Med. 2007;31(1):52–9 7. Trajman A, Assunção N, Venturi M, Tobias D, Toschi W, Brant V. A preceptoria na rede básica da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro: opinião dos profissionais de Saúde. Rev Bras Educ Med. 2009;33(1):24-32. 8. Teixeira RR. Humanização e Atenção Primária à Saúde. Ciênc Saúde Coletiva. 2005;10(3): 585-97. 9. Feuerwerker LCM. Educação dos profissionais de Saúde hoje - problemas, desafios, perspectivas e as propostas do Ministério da Saúde. Rev. da ABENO 2003;3(1):24-27.


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Estudo das inter-relações pessoa-ambiente no filme “O Quarto de Jack”

A

arquitetura é um ramo multidisciplinar que neste

trabalho buscou estudar interrelações pessoa-ambiente por análise

Carlos Eduardo Campos, Camila Félix Queiroz, Larissa Lima, Marcela Marques Teixeira (Alunos do 7º semestre do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Unichristus) Profa. Me. Clarissa Freitas Andrade (Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Unichristus) Prof. Me. Mateus Gonçalves de Medeiros (Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo)

fílmica. Verificou-se, com a obra “O Quarto de Jack”, que ambientes têm valor simbólico e que influenciam comportamentos. A disciplina Conforto Ambiental III no curso de Arquitetura e Urbanismo avalia comportamentos em diferentes ambientes e culturas e leva em consideração aspectos técnicos de conforto, sendo a Psicologia parte integrante do Conforto Ambiental. A Psicologia Ambiental (PA) permite “o estudo do homem em seu contexto físico, social e busca suas inter-relações com o ambiente, atribuindo importância às percepções, atitudes, avaliações ou representações ambientais, ao mesmo tempo em que considera os comportamentos associados a ela” (PINHEIRO, GUNTHER, GUZZO, 2014, p. 5). Como atividade acadêmica, os alunos foram designados a ver e rever um filme, a fim de examiná-lo tecnicamente, à luz da Psicologia e do Conforto Ambiental (MACHADO & MATOS, 2013). Buscou-se relacionar os conceitos de PA, tais como: ambientes restauradores, apropriação, apego ao lugar, identidade, behavior setting, affordance, comportamento

pró-ambiental, relações interpessoais da proxêmica (HALL, 2005; CAVALCANTE & ELALI, 2011). Buscou-se, ainda, perceber a aplicação dos pressupostos baseados em experiências individuais, tais como: “o ambiente é vivenciado como um campo unitário”, “as pessoas têm propriedades ambientais tanto quanto características psicológicas individuais”, “não há ambiente físico que não seja envolvido por um sistema social”, “a influência do ambiente físico no comportamento varia de acordo com a conduta em questão”, “o ambiente opera abaixo do nível da consciência”, “o ambiente observado não é necessariamente o ambiente real”, “o ambiente é organizado cognitivamente em um conjunto de imagens mentais”, “o ambiente tem valor simbólico”, “o aumento da quantidade de tecnologia criou novas dimensões ambientais que têm impacto nas atividades diárias”, “os aspectos éticos da pesquisa exigem uma reflexão contínua”, “a experiência ambiental tem natureza holística” (ITTELSON, PROSHANSKY, RIVLIN, WINKEL, 1974; RIVLIN, 2003). Por fim, foram avaliados elementos arquitetônicos quanto às distâncias interpessoais, nichos, mobiliário, barreiras acústicas e

ŹFig.1: Cartaz do ¿lme

visuais, iluminação, desníveis de piso e teto, amplidão (BARROS, PINA, KOWALTOWSKI, FUNARI, ALVES, TEIXEIRA, COSTA, 2005). “A arte imita a vida ou a vida imita a arte?” Como diria Alfred Hitchcock: “filmes são como a vida com as partes chatas cortadas”. O cineasta deve entender a natureza humana e ambiental de uma história que será apresentada por uma época, clima, arqui-


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tetura, materiais construtivos, paisagens, figurino, gestos, diálogos, sons, roteiros, personagens e ambientes. Filmes como “Aquarius”, “Um Estranho no Ninho”, “Que horas ela volta”, “A Cabana”, “O Conde de Monte Cristo”, “A forma d’água”, “Moradores de Javé”, “Hotel Cambridge”, “Her”, entre outros, além de documentários e séries, são algumas das obras discutidas em sala. A escolha do filme “O Quarto de Jack” por uma das equipes se deu pela seleção de cenas acerca da percepção do ambiente. Neste artigo serão apresentadas informações que podem causar aborrecimento para os que pretendem ver o filme sem conhecer, previamente, seus detalhes. O filme escolhido tem como título original “Room” e foi escrito por Emma Donoghue, dirigido por Lenny Abrahamson, no Canadá, Irlanda, Estados Unidos e Reino Unido; venceu prêmios e foi indicado ao Oscar de 2016, nas categorias de melhor filme, roteiro adaptado, diretor e atriz,

ŹFig.2: Elementos do ambiente. Fonte: ¿lme

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tendo Brie Larson conquistado esse último prêmio. “O Quarto de Jack” conta a história de Joy que é sequestrada por um desconhecido (Velho Nick) e fica presa em cativeiro por sete anos. Neste local sofre abuso sexual e dele nasce seu filho (Jack). Ambos, mãe e filho, vivenciam uma relação bela e complexa em forma de drama e suspense. O cativeiro consiste em um cômodo pequeno, formado por uma pia, vaso sanitário, banheira, cama, armário, tapete, mesa, duas cadeiras, criado mudo, geladeira, fogão, abajur, televisão, e é iluminado naturalmente por uma claraboia. Diariamente, o garoto “cumprimenta” esses objetos, demostrando um apego ao lugar, conceito esse que exprime experiência positiva, de segurança e bem-estar com o local que para ele é a única realidade possível (ELALI & MEDEIROS, 2011), enquanto sua mãe desespera-se um pouco a cada dia para tirá-los daquela situação. Joy mantém Jack entretido, fazendo exercícios, estu-

dando, lendo livros. O local da prisão não é amplo, não possui desníveis de piso, é caracterizado por pé direito baixo, predominância de cores escuras e pouca iluminação. Eles sempre precisam tomar vitaminas complementares para não adoecerem. Os móveis têm várias possibilidades de uso, como o guarda-roupa onde Jack dorme enquanto Nick está no quarto, e a banheira onde seria o “mar” do seu barquinho. As paredes são fechadas e acusticamente protegidas (barreiras visuais e acústicas). Uma cena que indica isso é quando Joy e Jack gritam em direção à claraboia, tentando qualquer comunicação com o meio externo, mas não têm sucesso (BARROS et. Al, 2005). As relações interpessoais possuem distâncias que variam de acordo com uma maior intimidade (15 a 45cm), distância entre conhecidos (50 a 120cm); desconhecidos (120 a 350cm); distância com indivíduo famoso que é superior a 350cm (HALL,


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ŹFigura 3: Distância interpessoal no quarto e encontro após o resgate. Fonte: ¿lme

2005). Pela grande quantidade de tempo que mãe e filho passam juntos, a distância entre eles é íntima, fato evidenciado principalmente quando estão deitados (HALL, 2005). A mãe ensina para o filho que o que se passa na televisão não é real. Um dia, entra um rato no quarto e Jack começa a suspeitar que é falso esse discurso da mãe, que então decide contar a verdade para o garoto. Após um período sem aquecedor elétrico no quarto, ela cria um plano de fuga e simula a doença e morte do garoto, enrola a criança em um tapete e entrega para que o agressor leve o corpo embora sem olhar para o menino. Como este pai não teve qualquer relação com o filho, usando de uma distância mínima entre desconhecidos a partir de 120cm (HALL, 2005), concorda em se desfazer do suposto defunto e o leva para fora do quarto, colocando-o em uma picape. Jack estranha ao ver pela primeira vez a paisagem de amplidão do céu, com nuvens e galhos e observa cada sinal de trânsito. Assustado, lembra-se da orientação: “quicar, rolar, pular, correr, alguém...”, a fim de conseguir socorro, dando aos policiais as coordenadas do percurso que fez, dado que “o ambiente

é organizado em um conjunto de imagens mentais” (Ittelson et. Al, 1974, RIVLIN, 2003). Mesmo após ser liberto, Jack pede para que os dois possam voltar para a cama do quarto, sugerindo o apego que sente ao lugar. Joy se sente depressiva após o período de cativeiro e o garoto percebe. Ele diz sentir saudades da realidade que tinham. Com o decorrer da história, o filme sugere que mãe e filho tendem a se adaptar ao ambiente novo no qual foram inseridos. É válido pontuar que Jack é levado para visitar o cativeiro e relata que o quarto parecia ser maior antes, mas sugere que talvez o local fosse o mesmo se a porta estivesse fechada. No entanto, ele se recusa a ver a porta sendo fechada por dentro novamente. Através deste trabalho foi possível ver a aplicação prática da teoria e refletir sobre como os ambientes interferem em cada pessoa de maneira diferente. Pe r c e b e u -se como a experiência ambiental é muito importante

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para o ser humano e como seus componentes estão relacionados à subjetividade e à percepção ambiental, de forma que os ambientes têm valor simbólico e eles não determinam, mas influenciam comportamentos (ITTELSON et. Al, 1974, RIVLIN, 2003).

Referências CAVALCANTE, Sylvia; ELALI, Gleice A (Orgs.). Temas básicos em psicologia ambiental. Petrópolis: Vozes, 2011. DONOGHUE, Emma. O Quarto de Jack. Direção: Lenny Abrahamson. Elenco: Brie Larso; Jacob Tremblay; Joan Allen; William H. Macy; Sean Bridgers. 2016. Filme. ELALI, G., MEDEIROS, S. Apego ao Lugar. In: CAVALCANTE, Sylvia; ELALI, Gleice A (Orgs.). Temas básicos em psicologia ambiental. Petrópolis: Vozes, 2011. HALL, E. A Dimensão Oculta. São Paulo: Martins Fontes, 2005. MACHADO, Diego, MATOS, Fátima. Estudos Observacionais em Linguagem Fílmica. Ed. CRV 2013. PINHEIRO, J., GUNTHER, H., GUZZO, R. Psicologia Ambiental: entendendo as relações do homem com seu ambiente. São Paulo: Alínea. 2014.

ŹFigura 4: Visita de Jack e Joy ao quarto. Fonte: ¿lme


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Simulação realística como metodologia de ensino e aprendizagem na graduação de Enfermagem: relato de experiência da Faculdade Pernambucana de Saúde - FPS/IMIP Introdução Um desafio atual da educação está na perspectiva de se desenvolver a autonomia individual e coletiva, com vistas a propiciar uma visão integral e a construção de processos de mudanças sociais, com consequente estruturação das consciências individual e coletiva. Para tanto, faz-se necessário buscar métodos inovadores que permitam uma prática pedagógica ética, crítica, reflexiva e transformadora, a qual ultrapasse os limites do conhecimento puramente técnico, para alcançar a formação do indivíduo como um ser histórico inserido na dialética da ação-reflexão-ação (MITRE, 2008). A simulação é considerada um método inovador no ensino, já que oportuniza possibilidades de ampliação da teoria e da prática (BARRETO, 2014). O uso de tal prática no ensino das ciências da saúde vem se tornado uma ferramenta fundamental e frequente, contribuindo para a formação dos estudantes, tanto na graduação, quanto na pós-graduação (TEIXEIRA, 2011). A simulação realística é um método de ensino que possibilita o desenvolvimento pleno

Andreto, LM (Coordenadora de tutor e docente permanente do mestrado pro¿ssional em educação para o ensino na área de saúde da Faculdade Pernambucana de Saúde) Figueira, MCS (Coordenador do Curso de Enfermagem da Faculdade Pernambucana de Saúde) Melo, IB (Coordenadora de período do curso de Enfermagem da Faculdade Pernambucana de Saúde e coordenadora da pós-graduação em enfermagem em obstetrícia da Faculdade Pernambucana de Saúde) Morimura, MCR (Coordenadora de período do curso de graduação em enfermagem da Faculdade Pernambucana de Saúde) Valentim, ES (Coordenadora dos laboratórios de Prática do Cuidar da Graduação em Enfermagem da Faculdade Pernambucana de Saúde)

de todas as habilidades, resguardando o paciente de riscos. Permite o aperfeiçoamento de aspectos técnicos e comportamentais, o que contribui para um melhor desempenho clínico, além de oportunizar a representatividade de um ambiente semelhante ao hospital, posto de saúde, domicílio, vias públicas, dentre outros, agregando valores da realidade do indivíduo e sociais. Podem replicar situações e/ou desafios vividos no cotidiano do profissional de saúde.4 Simuladores de paciente como manequins e atores profissionais fazem com que os treinamentos estejam o mais próximo da realidade, permitindo ao profissional praticar, corrigir falhas e resolver dúvidas, de forma segura e eficiente. A simulação pode ser utilizada para fins

de estudo, avaliação e pesquisa, em diversas modalidades. Na montagem do cenário devem ser tomados cuidados específicos, como testagem de equipamentos e preparo dos simuladores. Possibilita também desenvolver habilidades como raciocínio clínico, trabalho em equipe, comunicação e liderança (BARRETO, 2014). Esse artigo tem como objetivo relatar as duas primeiras experiências de implantação da simulação realística como uma metodologia de ensino e aprendizagem aplicada aos estudantes do 1º e 6º períodos após planejamento pelos tutores do Curso de Graduação de Enfermagem da FPS/IMIP, com o apoio executivo dos monitores da instituição de ensino superior no segundo semestre de 2016.


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Descrição da Experiência O projeto piloto de simulação realística foi implantado na instituição em agosto de 2016. O público-alvo escolhido para participar dos treinamentos foram monitores e tutores dos laboratórios de práticas do cuidar do curso de graduação de enfermagem. Foram realizadas em dois dias consecutivos (quinta e sexta-feira), em horário de trabalho no turno da tarde. Incorporou-se à equipe de saúde uma profissional artística para possibilitar os desequilíbrios orgânicos propostos para os focos de aprendizagem com materiais, produtos e adereços adequados ao objetivo. Para participarem das simulações realísticas, os estudantes foram convidados pelo docente do laboratório de práticas para compartilharem uma nova proposta de avaliação. O tempo predeterminado era de 15 minutos para que realizassem as manobras e 10 minutos para discussões sobre a simulação, devolutivas e avaliação dos participantes sobre a metodologia utilizada, as quais foram registradas pelos instrutores. As temáticas definidas foram identificadas de acordo com as necessidades comuns referidas pelos estudantes nas práticas curriculares dos laboratórios e através de reuniões com enfermeiros preceptores das unidades de assistência hospitalar e da atenção primária, possibilitando um diagnóstico situacional das principais fragilidades. Para a prática com simulação realística com os estudantes do 1º período, visto que já haviam traba-

lhado em tutorias e nos cenários de prática a assistência de enfermagem em primeiros socorros, foi elaborado um cenário externo ao prédio da IES, onde se simulou um grupo de amigos num passeio a um parque com acontecimentos de diferentes e concomitantes desequilíbrios de saúde: queimadura, picada de animais peçonhentos, acidente com arma branca, fratura exposta. No cenário para os estudantes do sexto período, no estacionamento externo, foi avaliada assistência em enfermagem no suporte avançado de saúde num acidente automobilístico envolvendo um carro, uma moto e um pedestre, além de várias vítimas com gravidade diversas. A turma foi dividida em grupos de 08 alunos que chegavam ao local e se deparavam com a ocorrência, sendo convidados a atuarem como enfermeiros e prestarem assistência às vítimas. Os monitores desempenhavam cada caso com riqueza de informações, com sinais e sintomas previamente determinados, encenando um acontecimento real. Como recursos físicos foram utilizados um manequim simulador de paciente, utilizado para treinamento de habilidades de enfermagem, material hospitalar como compressas, gases, curativos, prancha para remoção de vítimas do local do acidente, colar cervical, dispositivos para acesso venoso e medicamentos disponibilizados pelos laboratórios da instituição de ensino. Na medida em que a situação se desenvolvia, um formulário composto por uma lista de ações esperadas era preenchido pelos instrutores enfermeiros, docentes do laboratório de práticas. Este

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instrumento forneceu subsídios para discussões posteriores com as equipes, visando às boas práticas assistenciais, fortalecendo, desta forma, o processo avaliativo. Durante toda a dinâmica das simulações, a coordenadora do curso esteve presente. O gerenciamento de todo o processo de simulação ocorreu pela atuação de uma equipe de profissionais enfermeiros docentes da faculdade Pernambucana de Saúde.

Conclusão A experiência demostrou que a simulação é um método efetivo e inovador e que sua utilização possibilita uma abordagem pedagógica, ampliando as relações entre a teoria e a prática em um ambiente seguro.

Referências Barreto GD, Silva KGN, Moreira SSCR, Silva TS, Magro MCS. Simulação realística como estratégia de ensino para o curso de graduação em enfermagem: revisão integrativa. Revista Baiana de Enfermagem, Salvador, v. 28, n. 2, p. 208-214, maio/ago. 2014. Costa, R.O; Medeiros, S.M.; Martins, J.C.A; Menezes, R.M.P; Araújo, M. S. REVISTA ESPAÇO PARA A SAÚDE. Londrina, v. 16, n. 1 , p. 59-65. jan/mar. 2015 . Mitre SM, Batista RS, Mendonça JMG, Pinto NMM, Meirelles CAB, Porto CP, Moreira T, Hoffmann LMA. Metodologias ativas de ensino-aprendizagem na formação profissional em saúde: debates atuais. Ciência & Saúde Coletiva (Rio de Janeiro) 2008; 13 (Supl.1): 2133-2143. Teixeira, I.N.D.O.; FELIX, J.V.C. Simulation as a teaching strategy in nursing education: literature review. Interface - Comunic., Saude, Educ. v.15, n.39, p.1173-83, out./dez. 2011.


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Palácio da Abolição e Mausoléu do Presidente Castelo Branco – visita a um ícone da arquitetura cearense

N

o ano de 2018, mês de

Profa. Amélia de Andrade Aragão (Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo) Profa. Me. Clarissa Freitas Andrade (Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo) Profa. Larissa de Carvalho Porto (Docente do curso de Arquitetura e Urbanismo)

março, os alunos do curso

de Arquitetura e Urbanismo da Unichristus realizaram uma visita técnica ao complexo de obras arquitetônicas composto por quatro edificações: o Palácio da Abolição, o Gabinete de Despacho, a Capela e o Monumento e Mausoléu do Presidente Castelo Branco. O Complexo está sito à cidade de Fortaleza, Ceará, ocupando o equivalente a três quadras de seu entorno imediato, entre a Av. Barão de Studart e Ruas Silva Paulet, Deputado Moreira da Rocha e Tenente Benévolo.

O Palácio da Abolição O Palácio da Abolição foi projetado pelo arquiteto carioca Sérgio Bernardes e é considerado um clássico da arquitetura modernista e, sem dúvida, uma das obras arquitetônicas mais importantes do estado do Ceará. De acordo com informações constantes no site do Governo do Ceará, a obra começou a ser concebida no fim dos anos 1950, tendo sido inaugurada somente em 1970 e, devido a sua importância arquitetônica e histórica para o estado, desde 2011 é pos-

ŹFigura 1 - Alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unichristus ao lado de historiadora durante visita guiada ao Palácio da Abolição. Fonte: Autora.

sível aos fortalezenses e turistas que venham a nossa cidade realizar visitas guiadas por um historiador, mediante agendamento prévio (CEARÁ, 2013). Essa possibilidade de visita guiada demonstra, de certa forma, um reconhecimento do Governo do estado perante estas obras arquitetônicas e configura-se como medida de extrema importância e riqueza para difundir e fomentar o debate sobre cultura e arquitetura cearenses ainda tão escasso no nosso estado. Dessa forma, no dia 09 de março de 2018, como dito, alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo tiveram a oportunidade de vivenciar os espaços das edifica-

ções que compõem o complexo, agregando conhecimentos sobre sua história e seu contexto social, tendo sido ainda possível testemunhar diversos conceitos estudados nas disciplinas que compõem esse curso de graduação.

História Por volta do ano de 1970, sob gestão de Plácido Castelo, foi realizada a transferência da sede do Poder Executivo do Estado do Ceará, do bairro Centro, para o Palácio da Abolição, erguido no bairro Meireles, na zona leste da cidade (CEARÁ, 2013). Em 2004, o complexo, que perfaz uma área de 4.000,00m²


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ŹFigura 2 – Foto aérea do complexo situado no bairro Meireles à época de sua construção. Autoria: José Alberto Cabral Fonte: https://www.archdaily.com.br

(CEARÁ, 2013), foi tombado pelo governo estadual e, em 2013, também por determinação da administração à época, o Palácio da Abolição foi reabilitado e restaurado para ser novamente a sede do executivo cearense. O projeto de restauro ficou a cargo do próprio governo, através do Departamento de Arquitetura e Engenharia do Estado do Ceará (ArchDaily Brasil, 2013). Desde a sua construção até os dias atuais, a quadra onde as edificações se situam não possui muros que criem a dualidade aberto/confinado ou separação entre público/privado. Para a questão da segurança, o arquiteto modernista projetou um fosso que se estende em praticamente todo

o entorno do terreno, sendo possível, ao atravessar esse fosso, ter contato com um jardim projetado pelo arquiteto paisagista Fernando Chacel.

Análise de acordo com os conceitos de Silvio Colin Ao analisarmos o Monumento e Mausoléu do Presidente Castelo Branco de acordo com os conceitos preconizados por Silvio Colin (2013), percebemos uma volumetria simples, com muros em parte reais e em parte virtuais. O Monumento possui espaços de transição interior/exterior onde antes ficavam objetos ligados à história do Presidente Castelo

ŹFigura 3 – Lado esquerdo: espaços de transição exterior/interior.

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Branco, os quais, posteriormente, foram retirados, devido a esta característica de integração ao exterior, que traz insegurança aos bens expostos. Esses espaços de transição preparam o visitante para a imersão em um ambiente extremamente encerrado e isolado do exterior, onde estão os restos mortais do Presidente e de sua esposa e no qual a iluminação ocorre quase que exclusivamente através da fenestração da luz por um vitral retangular com desenho em forma de cruz. O Palácio da Abolição em si e o Gabinete de Despacho configuram um volume compostos por articulação através de uma passarela que recebeu um novo abrigo em treliça de madeira com pequenos fechamentos em acrílico formando o desenho de uma renda, com inspiração no artesanato cearense (ArchDaily Brasil, 2013). Os espaços internos destas edificações apresentam tensão isotrópica, como esperado em obras concebidas sob forte influência modernista. Os muros desempenham papel exclusivamente vedante, sendo independentes da estrutura, que por sua vez

ŹFigura 4 – Lado direito: Espaço con¿nado, iluminação por fenestração. Fonte: Autora.


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Considerações Finais

ŹFigura 5 – Passarela que articula os volumes do Palácio da Abolição propriamente dito e o Gabinete de Despachos. Fonte: Autora.

segue princípios de integração à arquitetura, não havendo necessidade nem intencionalidade em disfarçá-la. A Capela apresenta volumetria em secção de pirâmide, caracterizando-a como uma tipologia geométrica, contrariando o que se costuma observar em construções reli-

giosas, que geralmente são classificadas como tipológicas, seguindo quase sempre uma conformação espacial e volumétrica característica. Em vista disso, resulta em espaços internos isotrópicos, com pequena tensão orientada para o altar, de forma que mais uma vez percebemos as influências modernistas do arquiteto Sérgio Bernardes. Os muros da capela apresentam internamente textura e aberturas que iluminam e exemplificam como um projeto pode utilizar-se do ritmo, figura comumente emprestada da música para arquitetura. ŹFigura 6 – Volumetria da capela componente do complexo. Fonte: http:// guiaarquiteturamodernafortaleza.arquitetura.ufc.br. Autoria: desconhecida.

A visita ao complexo foi fundamental e serviu como base para que os alunos pudessem elaborar análises de outras obras arquitetônicas importantes da cidade e, dessa forma, aplicar os conhecimentos adquiridos até então no curso de Arquitetura e Urbanismo. Conhecer uma obra de tanta expressividade e importância trouxe, sem dúvidas, um importante acréscimo de conhecimentos aos alunos. Alguns deles tiveram a oportunidade de ter o primeiro contato com a arquitetura de uma forma mais técnica e analítica, enquanto outros, mais experientes, puderam realizar um aprofundamento sobre os princípios modernistas adotados nas obras.

Referências COLIN, Silvio. Uma Introdução à Arquitetura. RJ: Ed. UAP, 2013 CEARÁ, Governo do Estado do. Conjunto Palácio da Abolição e Mausoléu Castelo Branco.: Características do bem tombado e justificativa do tombamento.. Disponível em: <http:// www.secult.ce.gov.br/index.php/ component/content/article/71-bens-tombados-fortaleza/43556-conjunto-palacio-da-abolicao-e-mausoleu-castelo-branco>. Acesso em: 10 abril. 2018. Reabilitação e Restauro do Palácio da Abolição / DAE” 29 Out 2013. ArchDaily Brasil. Acessado 10 Abr 2018. <https://www.archdaily. com.br/149418/reabilitacao-e-restauro-do-palacio-da-abolicao-slash-dae> ISSN 0719-8906


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Oficina de Plástica – da teoria à prática: a “oficina” que exercita a criatividade

U

nir teoria sobre noções de

Profa. Larissa de Carvalho Porto (Docente do curso de Arquitetura e Urbanismo) Profa. Me. Clarissa Freitas de Andrade (Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo) Profa. Amélia de Andrade Aragão (Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo)

linguagem visual, formas,

composição, cores e texturas ao trabalho manual em atelier é o principal objetivo da disciplina de Oficina de Plástica do segundo semestre da matriz curricular do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Christus. As atividades propostas para colocar em prática a criatividade e proporcionar aos alunos o contato com materiais diversos têm gerado bons frutos. Há três semestres seguidos, um trabalho sobre um elemento compositivo que faz parte da estética da arquitetura moderna brasileira tem levado os alunos a conhecer um pouco mais da nossa história, de onde surge esse elemento que tem a capacidade de trazer, ao mesmo tempo, permeabilidade visual e privacidade ao usuário e, mais ainda, poesia ao projeto de arquitetura. O cobogó foi criado para solucionar o problema da intensa luz solar no nosso clima tropical. A partir da sua composição vazada, a iluminação penetra no interior do ambiente de forma amena, criando os mais diversos efeitos de sombra tanto no piso quanto na parede. De acordo com Vieira, Borba e Rodrigues (2012, p. 05),

Invenção de dois comerciantes e um engenheiro radicados no Recife no início do século XX — Coimbra, Boeckmann e Góes, que emprestariam as iniciais de seus sobrenomes para batizar o produto – o cobogó foi concebido como um simples elemento pré-fabricado, próprio a ser construído em série, baseado na vazadura de uma retícula modular sobre uma placa prismática de concreto. Na prática, se utilizado como elemento de composição de septos verticais, permitiria a passagem da ventilação natural, ao mesmo tempo em que reduziria a incidência da luz solar, fatores adequados para projetos em lugares de clima quente e úmido. Apesar da sua criação ter sido brasileira e ter se popularizado na nossa cultura, sua inspiração veio de outra tradição. Os colonizadores portugueses trouxeram para Recife um elemento da arquitetura árabe conhecido como muxarabi (Mashrabiya), que eram treliças de madeira instaladas nas janelas e sacadas das residências que proporcionavam privacidade ao fechar parcialmente os ambientes internos (ANUAL DESIGN, 2017; VIEIRA; BORBA; RODRIGUES, 2012). Adaptou-se, portanto, uma invenção secular utilizada pelos

islâmicos ao nosso contexto, com a confecção em um outro material, formas originais e modo de produção viável à nossa realidade. A atividade proposta aos alunos no início do semestre é, a partir do conhecimento dos elementos básicos da linguagem visual e da função prática – e plástica – do elemento vazado, criar um modelo exclusivo de cobogó. Levando-se em consideração que a unidade estará dentro de uma composição onde múltiplos cobogós irão combinar-se entre si, solicita-se que cada dupla faça um estudo prévio das possíveis combinações que o seu modelo poderá desenvolver. A ideia é fazer com que os alunos exercitem a criatividade e a capacidade de abstração, ao imaginar quantos formatos e desenhos possíveis podem surgir a partir da montagem de várias peças. Após o modelo definido e apresentado em desenho à mão, o trabalho se inicia no ateliê de plástica. O material escolhido para a confecção do cobogó é o papel paraná, devido às suas características de alta gramatura e rigidez e por possuir uma superfície que pode receber diversos tipos de tintas. Com tesouras, estiletes e réguas metálicas, o processo de “fabricação” do elemento vazado começa.


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Ao longo das aulas práticas, os cobogós são desenvolvidos. Para que as peças cortadas separadamente se encaixem, é necessário que as medidas tenham sido definidas com precisão e que os cortes dos planos sejam feitos com cuidado. A cola de silicone aplicada quente com a pistola permite que as peças sejam unidas com rapidez e a peça comece a se estruturar. O exercício exige atenção e raciocínio, pois é fundamental a noção de formas, tamanho, proporção e estrutura para um bom resultado. Ao longo da atividade, os alunos também vão descobrindo as características

ŹAlunos executando os seus cobogós no ateliê de plástica

ŹAlunos do turno da noite

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do material manuseado, identificando as potencialidades e limitações do papel. Finalizando o processo de montagem com a cura da cola, os alunos decidem as cores a serem aplicadas. E, enfim, cada dupla apresenta a sua criação. Os resultados desse exercício têm sido extremamente positivos, pois há um total engajamento dos estudantes em todo o processo, desde a pesquisa pelo assunto até a tentativa de encontrar uma forma original. Há a fase dos esboços e rascunhos, a definição da forma, o desenho sobre o papel paraná, o trabalho minucioso de cortar e colar e a escolha

ŹAlunos do turno da tarde

particular das cores. Os próprios alunos se surpreendem com o que eles foram capazes de criar e percebem a importância do processo criativo e do trabalho manual e que o resultado revela-se extremamente interessante.

Referências BLOG ANUAL DESIGN disponível em: http://anualdesign.com.br/ blog/5887/a-origem-do-cobogo/. Acesso em: 06 abril 2018. VIEIRA, Antenor; BORBA, Cristiano; RODRIGUES, Josivan. Cobogó de Pernambuco. Recife: J. Rodrigues, 2012.


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O espaço privado como arquétipo da experiência urbana moderna

A

pós a passagem histórica da

Prof. Me. Mateus Gonçalves de Medeiros (Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo) Profa. Me. Clarissa Freitas de Andrade (Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo) Profa. Larissa de Carvalho Porto (Docente do curso de Arquitetura e Urbanismo)

Roma do século I, uma cidade

que chegou a atingir a quantia de dois milhões de habitantes1, a humanidade precisaria de dezoito séculos para se extasiar novamente com a visão da multidão urbana. Somente no século XIX os adensamentos urbanos atingem os números da antiga capital imperial: Londres se aproxima dos dois milhões de habitantes, seguida de perto por Paris. A concentração urbana da época moderna nasce, e, com ela, uma figura típica de seu tempo: o homem privado2. Quanto mais a cidade cresce em adensamento populacional urbano, mais forte parece ser a tendência de o indivíduo isolar-se da multidão que o circunda. A experiência da vida na metrópole moderna se baseia na nova regra social do ignorar o outro. Simmel nos lembra que “antes do desenvolvimento dos ônibus, dos trens, dos bondes no século XIX, as pessoas não conheciam a 1 BENÉVOLO, Leonardo. História das Cidades. São Paulo: Perspectiva, 2001. 2 BENJAMIN, Walter. Passagens. Trad. br. Irene Aron e Cleonice Paes Barreto Morão. Belo Horizonte: Editora UFMG. São Paulo: Imprensa Oficial. 2006, p. 59.

situação de terem de se olhar reciprocamente por minutos, ou mesmo por horas a fio, sem dirigir a palavra umas às outras’’ 3 . O homem privado vivencia uma situação onde o crescimento do número de pessoas ao seu redor parece conduzi-lo ao isolamento, quer no espaço público da rua, quer no espaço privado de sua casa. Este último Walter Benjamin chamará de intérieur. O intérieur não é somente a morada da classe burguesa ascendente, mas um ambiente pleno de significados. A partir de uma leitura cautelosa desse espaço é possível aprender sobre a experiência da vida na metrópole moderna, esse agrupamento político que nasce no contexto da transição entre a economia rentista feudal e o monetarismo capitalista e que ao mesmo tempo é expressão e influência da nova ideologia econômica. A metrópole surge no contexto do advento de um

novo ethos, um novo padrão de vida baseado na valorização do indivíduo, de sua liberdade, privacidade e isolamento. Nesse contexto, Walter Benjamin visualiza, no interior da residência burguesa do século XIX em sua decoração carregada, ornamentação ostensiva, gosto pelo veludo e pela pelúcia, bibelôs e tecidos de franjas, uma imagem que desvela a experiência da modernidade. O intérieur é tomado como arquétipo da experiência moderna. A metrópole inaugura uma relação do habitante com a multiplicidade. O vislumbre da multidão pode ser um lembrete da possibilidade de dissolução do eu-uno em meio ao múltiplo. A visão inédita de uma “multidão a perder de vista, onde ninguém é para o outro nem totalmente nítido nem totalmente opaco” 4 , pode ser perturbadora. E na desesperada tentativa de manter o sujeito unificado e prote-

3 SIMMEL, Georg apud BENJAMIN, Walter. Passagens. Trad. br. Irene Aron e Cleonice Paes Barreto Morão. Belo Horizonte: Editora UFMG. São Paulo: Imprensa Oficial. 2006, p. 46.

4 BENJAMIN, Walter. Passagens. Trad. br. Irene Aron e Cleonice Paes Barreto Morão. Belo Horizonte: Editora UFMG. São Paulo: Imprensa Oficial. 2006, p. 46.


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gido frente à pluralidade da cidade g rande, o burguês buscará o abrigo do intérieur. Lá ele pode espalhar os vestígios de sua existência que foram dissolvidos na multidão da metrópole. No espaço público ele não é reconhecido. O refúgio no intérieur o compensa pelo desaparecimento de seus rastros na g rande cidade. A ausência da marca individual no mundo remete à dissolução de uma identidade. Os rastros confirmam sua existência. Se a vida na coletividade não mais atesta e significa o subsistir, o burguês buscará essa validação nos objetos. Na pelúcia ele imprime sua marca. E reconstrói suas certezas. O temor do desaparecimento dos vestígios da vida privada na cidade grande ameaça a própria existência simbólica do burguês. Em um desespero de autoafirmação, seus rastros são espelhos que confirmam a sua presença, sejam eles deixados de maneira consciente ou inconsciente. O rastro deixado pelo burguês no intérieur tor na-se signo da própria decadência do liame social. Depõe contra a cidade como coletividade. Juntamente dos objetos exi-

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bidos como troféus, sobram elementos ocultos que denunciam a fantasmagoria burguesa: a de que a convivência social e o sentimento de pertença que daí decorreria são descartáveis. Em suma, trata-se da ilusão de que o indivíduo é autossuficiente. Como um estojo 5 , a morada fecha-se em si mesma, protegendo o homem privado do temor de que sua individualidade se dissolva, anônima, na multidão. Para proteger sua individualidade ele a objetiva. Os objetos do intérieur compõem essa individualidade. O estojo em que se transforma o mundo privado do intérieur é um envoltório protetor dos bens de propriedade do morador 6 . Os rastros de sua existência estão ali, objetivados em utensílios de cozinha. É preciso protegê-los. Afinal, são pedaços de sua alma partida. Dentro da casa-estojo, mesmo os objetos possuem seus próprios casulos que a eles se moldam. Os objetos também precisam proteger a sua individualidade mágica, mas também a identidade do proprietário que se manifesta no objeto. 5 Ibidem, p. 59 6 Ibidem, p. 261.

Ademais, mesmo os objetos são protegidos do contágio da rua 7. Como no romance de Wilde, preservar o quadro do protagonista mantém sua vitalidade. Para o burguês, também é preciso preservar-se. O temor em desaparecer o faz repartir sua imagem não apenas em uma pintura, mas em objetos espalhados por toda a casa. No intérieur o morador alimenta um mundo onírico de ilusão. Sua desorientação desenvolve a necessidade de se manter envolto pelo casulo protetor da ilusão fantasmagórica, que o alivia até mesmo do desenvolvimento de uma consciência social. Na fantasmagoria do intérieur jaz o recalque. O intérieur seduz seu ocupante abraçando-o em seu ventre e o protegendo contra o lado de fora. Ele o cativa e o conduz suavemente através de um sonho protetor. Esse aconchego mater nal é, todavia, ilusório. Seu niilismo é imanente. “Ao final, as coisas são apenas manequins, e mesmo os g randes momentos da história universal são apenas roupagens sob as quais elas trocam olhares de conivência com o nada, com o trivial e o banal. Semelhante 7 Ibidem, p. 255.


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niilismo é o cer ne do aconchego burguês” 8 . Os objetos que o protegem são inertes. A eles é atribuído apenas significado, não anima. Uma atribuição simbólica não é suficiente para insuflar vida a um objeto. O golem de barro que o protegeria não passa de matéria inanimada, um ídolo mal-acabado. Ver este objeto respirar é apenas sinal de que se trata, na verdade, de apenas um sonho. O homem privado, esta recente criação moderna, busca, portanto, no interior de sua morada, a sensação de proteção tão ansiada para o prolongamento de sua vivência. Proteção esta que atuaria tanto fisicamente, ao proteger das intempéries dos mundos natural e social, quanto psicologicamente, ao atribuir significados simbólicos à existência do morador e de sua 8 BENJAMIN, Walter. Passagens. Trad. br. Irene Aron e Cleonice Paes Barreto Morão. Belo Horizonte: Editora UFMG. São Paulo: Imprensa Oficial. 2006, p. 251.

individualidade, ainda que de maneira ilusória. Na proteção do intérieur o burguês pode se isolar do mundo real, mas também do psíquico, afagando sua alma no caloroso e aconchegante toque do veludo. Entretanto, a necessidade de recalcar a preocupação em se manter por debaixo do véu de suas ilusões mostra como é frágil o constructo simbólico de proteção e justificação da e xistência oferecido pelo intérieur. Este se tor na uma fantasmagoria a qual o habitante se prende para suportar o peso de seus próprios temores. As tensões contra as quais o homem moder no procura se proteger parece estar na origem da for mação do manto ilusório que cobre o intérieur de símbolos, uma tentativa desesperada de enfrentamento de uma crise de sentido que é, de uma só ve z, individual e comunitária. Afinal, o enfraquecimento do liame social na era moder na distancia aqueles

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que podem reconhecer nos outros, um “outro eu”. Se o outro é cada ve z menos espelho do eu, tanto indivíduo quanto comunidade entram em decadência. O indivíduo pela ilusão de que é mônada, autossuficiente; a comunidade porque não se sustenta sem a integ ração entre os indivíduos que a compõem.

Referências BENÉVOLO, Leonardo. História das Cidades. São Paulo: Perspectiva, 2001. BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo. Obras Escolhidas. Volume III. Trad. br. José Carlos Martins Barbosa, Hemerson Alves Baptista. São Paulo, Brasiliense, 1989. _________, Walter. Passagens. Trad. br. Irene Aron e Cleonice Paes Barreto Morão. Belo Horizonte: Editora UFMG. São Paulo: Imprensa Oficial, 2006. _________, Walter. The Arcades Project. Trad. In. Howard Eiland e Kevin McLaughlin. Cambridge: Harvard University Press, 2002.


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Resistência Vila Vicentina da Estância Introdução

E

ste trabalho é baseado em artigo aprovado para o IX Mestres e

Profa. Me. Kelma Pinheiro Leite (Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo) Profa. Me. Germana Pinheiro Câmara (Docente e Coordenadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo)

Conselheiros Agentes Multiplicadores do Patrimônio, realizado em junho de 2017, em Belo Horizonte/MG, pela profa. Kelma Pinheiro, e, também, nas ações desenvolvidas pelos alunos de Arquitetura e Urbanismo orientados pela profa. Germana Câmara. A análise realizada resultou de estudo arquitetônico e urbanístico da Vila Vicentina da Estância, bem como de uma aproximação com a comunidade e com as famílias. A Vila foi construída na década de 1940 na cidade de Fortaleza (Ce), ocupando uma quadra inteira no bairro Dionísio Torres, e forma um importante conjunto de relevância histórica, arquitetônica, urbanística, morfológica e ambiental.

da instalação de conjuntos habitacionais periféricos em bairros dormitórios ou gasto excessivo com aluguel, a Vila Vicentina da Estância encontra-se em uma região, hoje, central.

Contexto histórico A estrutura urbana da cidade sofre algumas transformações a partir da década de 20. Apesar da intensa prosperidade econômica gerada pela industrialização da capital, havia um contínuo movimento de migração da população agrícola do interior do Estado do Ceará para a Capital em decorrência das secas, agravando os problemas de habitação em Fortaleza (ARAGÃO, 2010). Os setores oeste e sul da cidade passam a ser ocupados pela população carente, fazendo

A Vila está localizada em uma Zona Especial de Interesse Social – ZEIS tipo 1 (ver figura 1), conforme determinado pelo Plano Diretor Participativo de Fortaleza (lei 062/2009). Sendo a ZEIS 1 de ocupação, a área está protegida para regularização fundiária da comunidade que lá habita através de um plano integrado de regularização fundiária (PIRF). Na contramão ŹFigura 1 – Delimitação da ZEIS tipo 1 da Vila Vicentina da Estância Fonte: www.mapas.fortaleza.ce.gov.br, acesso em 07/05/2017.

com que algumas famílias de alta renda passem a se deslocar do lado oeste para a área leste da cidade, até então pouco adensada (ARAGÃO, 2010). Em 1930, a capital ultrapassava 125 mil habitantes, passando a demandar ações no campo habitacional de forma a organizar o crescimento dos assentamentos de retirantes que se formavam na cidade. As pessoas mais abastadas passam a investir parte de seu capital em patrimônio imobiliário (Figura 3) enquanto os conjuntos habitacionais para os retirantes da seca e outros necessitados são implantados nas regiões periféricas como, por exemplo, a ação governamental Fundação Casa Popular das décadas de 40 e 50 (ARAGÃO, 2010).


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ŹFigura 2 – Foto aérea do bairro Dionísio Torres, década de 1960 (esquerda) e nos dias atuais (direita)

Fonte: arquivo Nirez/ GoogleEarth.

Neste contexto, a Estância Castelo, denominação dada ao sítio onde se implanta a Vila Estância Vicentina, localizado no setor leste de Fortaleza, foi adquirida em meados de 1920. Dionísio Torres passa a empreender uma série de ações de loteamento e infraestrutura e investimento em vilas populares, com destaque para a Vila Estância, a Vila Zoraide e a Vila Vicentina da Estância. A Vila foi doada para a Sociedade Beneficente São Vicente de Paulo em 13 de dezembro de 1938.

segundo a advogada do Escritório de Direitos Humanos e Assessoria Jurídica Popular Frei Tito de Alencar, provavelmente há uma negociação arbitrária entre o Conselho e uma construtora-incorporadora de Fortaleza. Para evitar a retirada de mais moradores e demolição das demais casas, foi solicitado, ainda no ano de 2016, o tombamento provisório (que tem os mesmos efeitos do tombamento

definitivo) junto à Secretaria da Cultura de Fortaleza – SECULTFOR (DUARTE et al, 2017). Com o tombamento provisório, o grupo denominado resistência Vila Vicentina – formada pelos moradores que lutam pela permanência – passou a promover uma série de oficinas no local (oficina de dança de salão, bordado, jogos e outros) para garantir visibilidade à questão. Em 22 de maio de 2017, foi apresentada à Secultfor a instrução de tombamento definitivo (DUARTE et al, 2017). A instrução de tombamento finaliza estabelecendo que toda e qualquer intervenção proposta deverá ser discutida e avaliada, antes da sua execução, em conjunto com os moradores e aprovada pela equipe técnica da CPHC/Secultfor, de forma a garantir que sejam evitadas decisões unilaterais. Ainda, os moradores devem observar o que estabelece a Lei Municipal Nº 9.347,

Processo de tombamento No dia 28 de outubro de 2016, doze casas da Vila foram demolidas com mandado de reintegração de posse (ver Figura 4), a despeito de ser uma ZEIS do tipo 1, conforme já dito acima. Contudo, ainda na mesma data foi suspenso o mandado de reintegração de posse, tendo em vista que foi considerada precipitada e imprudente a demolição das casas. A reintegração de posse havia sido solicitada pelo Conselho Central de Fortaleza da Sociedade de São Vicente de Paulo, porém,

ŹFigura 3 – demolição de casas na Vila Vicentina da Estância

Fonte: a autora.

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de 11/03/2008, sobre autorizações para intervenções físicas (reformas, acréscimos, supressões, alterações etc.) em bens tombados no âmbito municipal.

Mobilização Popular A suspensão do mandado de reintegração de posse e a abertura do processo de tombamento foram conquistas alcançadas com a ajuda dos movimentos populares de apoio à resistência da Vila Vicentina. Dentre as mobilizações, podemos destacar a participação dos estudantes dos cursos de Arquitetura e Urbanismo da cidade de Fortaleza, em particular os alunos da Unichristus. No ato de execução do mandado, os alunos participaram fazendo coro junto aos moradores contra a ação truculenta e desproporcional que levou à demolição de 12 casas. A partir deste momento, e da aproximação que os alunos já possuíam com os moradores da Vila, em virtude do trabalho acadêmico que realizavam no local antes do ocorrido, algumas ações de conscientização e mobilização social foram desenvolvidas. Além das assembleias gerais convocadas pelos moradores e atores envolvidos no caso, os alunos de graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo contribuíram com a disseminação do entendimento da legislação urbanística da cidade, especificamente do conceito de ZEIS e seus rebatimentos no caso da Vila.

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Os alunos realizaram oficinas de elaboração de cartazes, que foram afixados nas fachadas das casas para visualização de quem passa pela vizinhança, e eventos sociais, culturais e de lazer, que contribuíram para o fortalecimento da comunidade, assim como para atrair mais atenção e a consequente conscientização e participação da população no movimento de resistência. A experiência no caso da Vila Vicentina demonstra a importância de discentes realizarem trabalhos acadêmicos de pesquisa em situações reais. A formação de arquitetos urbanistas, se envolvidos nos processos de construção do espaço urbano e conscientes de seus conflitos, é fundamental para a construção de cidades mais justas.

Referências ANDRADE, Margarida J. F. de S. Onde moram os operários... Vilas operárias em Fortaleza 1920-1945. Dissertação de mestrado em Arquitetura e Urbanismo UFBA, Salvador, 1990. ARAGÃO, Thêmis Amorim. Influência das políticas habitacionais na construção do espaço urbano metropolitano de Fortaleza : história e perspectivas / Thêmis Amorim Aragão. – 2010. 132 f. : il. color. ; 30 cm. DUARTE, Romeu et al. Contribuição à elaboração da instrução de tombamento municipal da Vila Vicentina da Estância. 2017. FORTALEZA. Lei Complementar Nº 062, de 2 de fevereiro de 2009. Plano Diretor Paritcipativo. Diário Oficial do Município, Fortaleza, CE, ano LVI, n. 14.020, 13 de MARÇO de 2009. p. 1- 520.

ŹO¿cina de elaboração de cartazes ŹFonte: Autora

ŹO¿cina de elaboração de cartazes ŹFonte: Autora

ŹCartazes ¿xados nas fachadas. ŹFonte: https://www.facebook.com/pg/vilavicentinadaestancia



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Odontologia e Sustentabilidade ambiental: a responsabilidade em cuidar do nosso planeta

A

sustentabilidade resulta no uso dos recursos renováveis

através de práticas qualitativamente adequadas e em quantidades compatíveis com sua capacidade de renovação1. É um termo utilizado na atualidade voltada para o equilíbrio da vida e da saúde, sendo um novo desafio para a Odontologia, em virtude da preocupação com o planeta e a vida saudável. Nesse contexto, pressupõe comprometimento com a qualidade ambiental e com a gestão adequada do desenvolvimento econômico, assim como implica a compreensão de que desgastes ambientais interligam-se uns aos outros2,3 e trazem repercussões negativas a todo o globo terrestre. Por tratar-se de uma profissão da saúde, a Odontologia tem papel fundamental na discussão de ambientes saudáveis e o estímulo do consumo consciente. Para tanto, é necessário priorizar atitudes ecologicamente favoráveis, que preservem os recursos naturais, evitando custos desnecessários e supérfluos, deixando de agredir os ecossistemas. Resulta na urgência da adoção de soluções economicamente viáveis de suprimento das necessidades permeada por relações sociais que permitam qualidade adequada de vida para todos2,3.

O gerenciamento de água, energia elétrica e resíduos decorrentes da prática odontológica são as principais vertentes a serem destacadas no processo de uso racional de recursos naturais, além do descarte responsável dos produtos do trabalho odontológico. Nesta lógica, deve ser estimulado o consumo consciente destes produtos, priorizando empresas que balizam seu trabalho na responsabilidade ambiental e utilizam produtos biodegradáveis. Recentemente, Cirurgiões-Dentistas têm buscado discutir a questão ambiental com vistas à implementação de estratégias de sustentabilidade na prática odontológica. É inaceitável o exercício da Odontologia preocupado apenas com a solução de problemas bucais; a prática odontológica deve atuar sob a responsabilidade social de incorporar

Profa. Dra. Patrícia Maria Costa de Oliveira Profa. Dra. Ramille Araújo Lima (Docentes do Curso de Odontologia – Unichristus)

em seu cotidiano profissional atitudes concretas que reduzam o impacto de seu processo produtivo, no sentido de traçar cenário de mudança que permita a gestão ambiental sem comprometimento da qualidade dos serviços oferecidos.4

O que pode ser feito? A Equipe identifica os pontos de atenção e sugere propostas de intervenção neles, como se sinaliza abaixo.

Pontos de atenção para água e energia elétrica: ybanheiros; yrecepção;


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ycorredores; ysalas de reuniões; ysalas de radiologia; yclínicas; ysala de pré-lavagem; yarmazenamento; ysuprimento de materiais.

Pontos de atenção para resíduos de saúde: yfalta de lixeiros para que haja um descarte adequado na recepção; yna radiologia, o descarte do chumbo e líquido; ycontrole de validade dos suprimentos; yno armazenamento e distribuição, esterilização do grau; yna clínica, descarte correto do amálgama.

Que medidas podem ser implementadas? Intervenções para pontos de atenção para água e energia elétrica: ydesligar as cuspideiras sempre que não houver atividade; yintervir nos vasos sanitários através da anexação de garrafas pet; yadotar copos para o consumo de água da equipe de trabalho, pacientes e alunos; yinstalar um sistema para coleta de água da chuva; ymanter e usar corretamente os equipamentos; ytrocar as lâmpadas incandescentes dos refletores por fluorescentes ou de LED; ydiminuir a quantidade de lâmpadas em locais de pouco acesso;

yusar iluminação natural em ambientes com muitas janelas de vidro; ypriorizar o uso de caneta de alta rotação, à caneta de baixa rotação, devido a sobrecarga do compressor; ydesligar os periféricos que não estão sendo utilizados; yem locais estratégicos, colocar sensores de movimentação; yconfeccionar materiais (adesivos e cartazes para lembrar-se de apagar a luz) explicativos para conscientização de alunos, funcionários e pacientes; ylimpar regularmente lâmpadas e luminárias.

Intervenções para pontos de atenção para resíduos de saúde: yimplantação das lixeiras seletivas; ycriação de um descarte para resíduos químicos, onde eles devem ser identificados e pesados para que a empresa que realiza a coleta possa dar a destinação final, que pode ser a venda de lâminas de chumbo para empresas de reciclagem ou ainda o reaproveitamento pelas empresas que produzem os filmes radiográficos; yviabilização de lugar específico para um descarte do papel grau cirúrgico na clínica para que possa ser esterilizado e reaproveitado; yestimulação de três tipos de descarte para o amalgama: yo amálgama de contato (aquele que entrou em contato com os fluidos bucais); yo amálgama sem contato (o remanescente do produto que não foi utilizado); yuma mistura homogênea da

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combinação do amálgama com matéria dentária (advinda da remoção de restaurações). A sustentabilidade é um desafio para a Odontologia e esta tem papel fundamental na discussão de ambientes saudáveis e no estímulo do consumo consciente. Espera-se estimular atitudes ecologicamente favoráveis que preservem os recursos naturais, evitando custos desnecessários e supérfluos, deixando de agredir os ecossistemas. O gerenciamento de água, energia elétrica e resíduos decorrentes da prática odontológica são as principais vertentes a serem destacadas no processo de uso racional de recursos naturais, além do descarte responsável dos produtos do trabalho odontológico. Neste sentido, espera-se estimular o consumo consciente de produtos odontológicos, evidenciando-se a necessidade de priorizar a contratação de empresas que balizam seu trabalho na responsabilidade ambiental e utilizam produtos biodegradáveis.

Referências 1. Frysinger, SP. An integrated environmental information system (IEIS) for corporate environmental management. Advances Environm Res. 2001;5:361-7. 2. ABNT. Responsabilidade social Sistema da gestão. Rio de Janeiro: ABNT; 2004. 3. ANVISA. Manual de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde. Brasília; 2006. 4. ALVES-REZENDE, Maria Cristina Rosifini; BERTOZ, André Pinheiro de Magalhães. Estratégias de sustentabilidade na prática odontológica. Revista Odontológica de Araçatuba, v.32, n.1, p. 37-39, Janeiro/Junho, 2011.


leitura

Resenha

Denize Rodrigues de Assis, administradora ou poetisa?1

A

sociedade contemporânea, por variados motivos e diversos meios, tem sugerido às pessoas que sejam múltiplas em seus conhecimentos, ao mesmo tempo em que se tornem holísticos, ou seja, íntegros, sem individuação em suas multiplicidades. Talvez não seja algo fácil de conseguir, de alcançar, mas refletindo em torno desse contexto, trazemos a você, leitor, um pouco da história de Denize Rodrigues de Assis, estudante do curso de Administração da Unichristus no turno da manhã que, De repente, não mais que de repente, entendeu de apresentar ao mundo outra interface sua, afastando-se um pouco dos conhecimentos de administração para trânsito em universo poético. Denize lançou no Abril recente o livro de poesias Poetizando com a Denize2. Saiba um pouco a respeito dela e de seu primeiro livro publicado lendo a entrevista que segue. Revista Interagir – Para que o público saiba, Denize, você estuda Administração. Por que exatamente Administração, um curso das

1 Entrevista concedida ao professor Francisco Sérgio Souza de Araujo, professor de estudos sobre aspectos da língua portuguesa e outras linguagens no curso de Administração e em outros cursos do Centro Universitário Christus. 2 ASSIS, Denize Rodrigues de. Poetizando com a Denize. Fortaleza: Premius Gráfica e Editora, 2018.

Ciências Sociais, e não um curso da área de humanidades? Denize Rodrigues – Atualmente estou cursando Administração no Centro Universitário Christus. Eu sentia a necessidade de ter um curso superior e escolhi Administração por ser um curso com amplas oportunidades no mercado de trabalho. Outro ponto importantíssimo também na escolha do curso foi que me ajudaria na vida pública, caso eu quisesse um dia voltar a disputar um cargo político na minha cidade de Parintins, no Amazonas, ou até mesmo aqui no Ceará, porém a política hoje não é o meu foco, as minhas reais intenções são seguir carreira como escritora. Revista Interagir – Em que momento de sua existência você se descobriu poetisa? Denize Rodrigues – Na minha infância, eu sempre gostei de ler coleções de histórias infantis, me sentia vivendo os personagens, já viajava nas obras literárias, mas foi na minha adolescência que esse amor pela literatura começou de verdade. Eu amava escrever pensamentos e poesias de outros autores no meu caderno de aula e recitava para os amigos mais próximos. Já participei de “Concurso de Toadas do Boi Garantido” para o Festival de Parintins, o que me

fez sonhar também um dia ser compositora. Tudo isso me faz ter a certeza de que eu já nasci com esse dom, com essa sensibilidade de expor meus sentimentos e querer ir mais além. Acredito eu que essa descoberta precisou esperar o tempo certo para que eu me consagrasse uma escritora de verdade e hoje eu posso dizer que tudo tem um tempo certo na vida e que esse tempo que eu vivo hoje foi determinado por Deus e agora eu só preciso lapidar o que já deu certo, pois hoje eu já lancei o meu primeiro livro de poesias e posso me considerar uma escritora de fato e de direito. Revista Interagir – Você é nascida em Parintins. Que relação há entre suas origens Amazonenses e a poetisa Denize? Denize Rodrigues – Eu tenho uma relação muito forte com Parintins, a minha terra natal, no que se refere às minhas origens. Sou sobrinha e filha de criação do saudoso Raimundo Muniz Rodrigues, fundador do Festival Folclórico de Parintins. Esse orgulho que eu tenho engrandece ainda mais o meu amor pela minha cidade, pois ser filha de um homem que muito contribuiu com a cultura e economia de Parintins é realmente uma honra e estar hoje inserida entre as famílias tradicionais de Parintins é um privilégio. Revista Interagir – Seu livro de poesias, além das poesias, está repleto


de imagens, de fotografias. Fale-nos um pouco dessa junção da escrita poética com as imagens fotográficas. Denize Rodrigues – A fotografia também é minha paixão. Fotografar ou ser fotografada me faz feliz e ilustrar este meu primeiro livro com belas imagens faz com que eu transmita ao leitor o privilégio do mesmo poder ver e sentir melhor a poesia, pois ao mesmo tempo em que se leem as palavras, os versos, nos sensibilizamos com a cumplicidade entre a fotografia e a poesia. A fotografia revela não somente a imagem que descreve a poesia, mas transmite amor, harmonia, amizade, a fé e o lado família que também tem uma forte expressão nesta obra. Enfim, uma bela imagem é a recíproca verdadeira do que diz a poesia. Revista Interagir – A poesia se insere no universo da literatura. A literatura exige a existência de leitores, de pessoas que se dediquem ao desafio da leitura de subjetividades. Ao se inserir no espaço da literatura com sua poesia, você propõe subjetividades suas à interpretação de seus potenciais leitores. O que deseja que eles percebam a partir de cada verso lido? Denize Rodrigues – Meu desejo é que através da leitura das minhas poesias o leitor reflita sobre o amor, a amizade e a fé, doando-se de corpo, alma, mente e coração, mergulhando pelas estrofes das poesias, sentindo a leveza das palavras nas fortes e suaves rimas. Desejo que o leitor se encontre na poesia, que sensivelmente possa se imaginar em cada linha de pensamento como se fosse o protagonista. Transmitir esse sentimento para o leitor é algo indescritível, pois esse é o desejo que eu carrego no peito e declaro nas minhas poesias. Acredito que a leitura do livro Poetizando com a Denize ajudará o leitor a ver a vida com harmonia, pois as poesias de amor, fé e amizade com certeza são uma fonte de riqueza para as nossas vidas.

Revista Interagir – O lançamento oficial de seu livro ocorreu em abril recente, na Livraria Leitura, no Shopping RioMar Fortaleza. A partir de agora, onde pretende apresentar ao público seus primeiros registros poéticos. Denize Rodrigues – De fato, o lançamento do meu livro de poesias aconteceu no dia 18 de abril de 2018, na Livraria Leitura Shopping RioMar Fortaleza, e os próximos lançamentos serão no estado do Amazonas, no dia 23 de junho, em Manaus, na Livraria Leitura Amazonas Shopping e em Parintins minha terra natal – será no dia 4 de julho, no Contemporâneo Festas & Eventos. A partir desses dois importantes eventos, darei prosseguimento à divulgação do livro, pois acredito que ele ainda levará muita alegria aos meus leitores e amantes de uma boa poesia. Revista Interagir – A poetisa Denize, como pensa o mundo em que vive, considerando aspectos que a põem em perspectiva artística e outros que a lançam, diariamente, ao enfrentamento de questões sociais, econômicas, políticas? Denize Rodrigues – Penso, como escritora, que analisar os aspectos sociais, econômicos e políticos nos dias de hoje é muito desafiador e ao mesmo tempo preocupante, visto que essas questões veem se tornando bastante evidenciadas, de maneira negativa, o que nos leva a refletir sobre tais situações. Estas agravam o nosso Brasil e entre elas se destacam as greves que por mais que sejam por questões sociais, atingem fortemente a nossa economia e isso acaba se tornando um aspecto negativo para a sociedade como um todo. Revista Interagir – Como Denize se vê, em futuro próximo: uma administradora poetisa, ou uma poetisa administradora?

Denize Rodrigues – Uma poetisa administradora. Eu quero seguir essa carreira tão linda e essencial na minha vida, pois eu sei que estou no caminho certo e que um dia serei uma escritora de sucesso. Já estou a caminho da concretização deste sonho, e o meu lado administrador me ajudará muito para que eu consiga me manter firme neste meu sonho de empreender na literatura. Revista Interagir – Para quem, em especial, a poetiza Denize dedica a sua primeira obra? Denize Rodrigues – Primeiramente a Deus, ao Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Também aos meus familiares, meus pais, irmãos, amigos, colegas e professores do Centro Universitário Christus, além dos meus leitores que hoje fazem parte da minha família literária. Revista Interagir – Para encerrar: quais os próximos passos pensados por Denize, no sentido de tornar sólidas suas experiências com a poesia? Denize Rodrigues – É trabalhar na divulgação desta minha primeira obra - Poetizando com a Denize – na Livraria Leitura e prosseguir firme na minha carreira com novos lançamentos literários. Estou lançando o meu primeiro livro infantil em outubro, em comemoração ao Dia das Crianças e este ano ainda darei início ao projeto do meu segundo livro “Poetizando com a Denize 2”. Tanto o livro infantil quanto o livro de poesias, para mim, serão como uma tradição. Todo ano lançarei dois livros: um de poesias e um infantil. Essa será uma experiência única e desafiadora, porém, é o que me faz feliz: escrever para o meu leitor é o que me move.


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vida inteligente

Do Sertão de Graciliano Ramos à Rússia de Anton Tchekhov: dói aqui, como acolá: a dor é universal Vidas Secas, de Graciliano Ramos “Baleia”, este célebre capítulo extraído da obra-prima de Graciliano Ramos, retrata os momentos derradeiros da vida da cadela Baleia, pertencente a uma família muito sofrida do sertão brasileiro. Devido ao estado de saúde debilitado em que a cachorrinha se encontra, seu dono, Fabiano, decide abreviar o sofrimento dela, sacrificando a pobre criatura. Os filhos de Fabiano, muito apegados ao animalzinho, temem pelo fim dela, e a mãe tenta, em vão, reconfortá-los. Eis que Fabiano mira em Baleia, buscando matá-la com um tiro certeiro, de modo que morresse rápido, mitigando a dor de sua amiga. Seu plano se esfumaça, erra a mira e acerta apenas nos quartos da cadela, agora ainda mais desesperada e confusa. A partir desse momento, a narrativa toma um novo rumo, pois o autor nos transporta à perspectiva de Baleia, construindo uma visão humanizada da cachorrinha, como no trecho “Uma angústia apertou-lhe o pequeno coração”. Ou, ao poupar o dono, que tanto amava: “Não poderia morder Fabiano: tinha nascido perto dele [...]”. Com seu estilo econômico em adjetivos e advérbios, Graciliano Ramos consegue desenhar algumas das mais belas e pungentes imagens da literatura brasileira, como na passagem em que a morte de Baleia já se anuncia: “Baleia queria dormir. Acordaria feliz num mundo cheio de preás [...] gordos, enormes.” Graciliano Ramos é uma aula magna da boa escrita. Felipe Rebêlo Matos (Acadêmico do 1º semestre de Direito - noite) Fayga Bedê (Professora do Mestrado e da Graduação em Direito)

Angústia, de Anton Tchekhov O conto “Angústia”, do escritor russo Tchekhov, relata um dia de trabalho na rotina do cocheiro Yona Potapov, uma semana após a morte de seu filho. Ao longo do texto, acompanhamos as tentativas frustradas do protagonista de desabafar um pouco da sua dor com qualquer um que se dispusesse a ouvi-lo. Tchekhov nos leva a seguir o cocheiro por uma Rússia invernal, viagem após viagem, mendigando a atenção de seus passageiros, a quem aborda, inutilmente, à procura de consolo e atenção. O sentimento de perda desse pai é permeado por uma paisagem gelada, que corrobora ainda mais a solidão do cocheiro. A jornada de Yona, em busca de alguém com quem conversar, vai tornando-se cada vez mais desconcertante, na medida em que os passageiros se mostram grosseiros e indiferentes quanto ao luto do pobre homem. Assim, o autor nos coloca em duas posições de reflexão ao longo do conto. Ora sentimos a dor do personagem, por estarmos sozinhos diante dos nossos problemas pessoais, ora refletimos sobre quantas vezes fomos omissos com os muitos “Yonas”, diante de cujas dores seguimos alheios. Talvez, para fazer perdurar essa ponta de inquietação e angústia em seus leitores, Tchekhov se recuse a compartilhar conosco a razão da morte do filho de Yona, cujas circunstâncias não nos são reveladas. [Será se Tchekhov suspeita de que agiríamos com o mesmo descaso que os passageiros de Yona?...]. Ou, talvez, o autor russo confidencie todas essas circunstâncias ao único personagem que mereceu ouvilas: o amigo fiel, de quem Yona recebeu atenção: seu cavalo. Letícia Coelho Cavalcante Moreira (acadêmica do 1º semestre de Direito - noite) Fayga Bedê (professora do Mestrado e da Graduação em Direito)




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