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Empatia: reavivando o interesse pelo outro.
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u professora, e você, leitor, com as suas funções, trabalhamos com seres humanos. E aqui consta o primeiro grande desafio de toda a atividade humana. Que desafio é esse? Os seres humanos são diferentes entre si, são distintos, e eu jamais sentirei a dor de um outro ser humano por que os mecanismos celulares e cerebrais, nervosos e emocionais que conduzem a dor são, exclusivamente, individuais. Eu posso chorar pela dor de um amigo, eu posso lamentar a dor de um ente querido, porém, a dor é da pessoa, eu jamais sentirei essa dor, pois ela pertence a cada um. E mais, a diferença de cada um na percepção do frio, do calor, da fome e da dor. Quando alguém me diz que está com calor, eu sequer consigo avaliar se esse calor é similar ao calor que eu sinto. Talvez não seja. Nem o calor, nem a dor, sequer a alegria, comunica qualquer coisa. Temos uma barreira institucional, uma barreira epistemológica (formal), uma barreira de acesso ao conhecimento do outro. Por isso que tanto a filosofia, quanto a psicanálise, quanto a religião, trabalharam esse difícil exercício do contato com a alteridade, que vem do latim “alterum”, o outro. O gosto culinário ou o gosto estético, por exemplo, são únicos e irrepetíveis. E eu não consigo entendê-lo, mas apenas posso afirmar que é diferente. E não obstante, eu sou obrigada a conviver em comunidade
e negociar, permanentemente, de detalhes a grandes questões, num momento em que o narcisismo das pessoas disparou. Em um momento em que ninguém escuta mais ninguém e que esse narcisismo se tornou uma referência importante para todo mundo. Em um momento em que as pessoas usam no Brasil à exaustão a expressão: fulano me representa ou beltrano não me representa. Essa expressão não significa apenas que eu gosto, mas que a pessoa está no meu lugar (uma representação). E ao dizer isto, eu estou afirmando que o ideal seria eu estar lá. Mas como eu não estou, fulano me representa. O que eu digo para os outros é que eles têm que ser iguais a mim. E isso traduz muito do que eu sou, traduz muito dos meus valores. Não tem como, de fato, eu sentir ao outro. O valor da empatia ajuda a reavivar o interesse pelas pessoas que nos cercam e, dessa maneira, desenvolver relações interpessoais harmônicas, pois às vezes as preocupações e correria do dia a dia nos levam a centrar-nos em nós mesmos e tornar-nos indiferentes diante dos outros. A história da humanidade é feita através de uma recusa do outro, que vai se tornando conscientemente uma antipatia, ou uma simples blindagem, uma cegueira diante de todas as pessoas. Empatia é um desafio muito grande. Ela pressupõe, em primeiro
Nicole de Albuquerque V. Soares Mestre em Administração de Empresas, professora do Centro Universitário Christus/ Unichristus e Coordenadora Editorial da Revista Interagir
lugar, uma vontade de entender ao outro, de tirar um pouco da cegueira sobre o outro e aceitar discutir, incorporar e aceitar valores que pertençam ao outro. Consciência é tudo, do que eu quero, do que eu acredito, de tudo o que eu sei. Se eu for uma pessoa consciente, autônoma, se eu for uma pessoa pensante e crítica, que tenha dito com clareza o que eu gosto e o que eu não gosto, eu raramente serei ofendida, raramente deixarei que um antipático me perturbe e, com muita chance, transformarei antipáticos em simpáticos por que empatia é fruto de consciência e sabedoria. Concluímos dizendo que a empatia é um valor indispensável em todos os aspectos da vida, permite enriquecer as relações interpessoais e ao mesmo tempo cultivar outros valores, como confiança, solidariedade, amizade, compreensão, generosidade, respeito e comunicação.
espaço do leitor A Revista Interagir dedica um espaço a você, caro leitor, para que envie sugestões e comentários do conteúdo de cada edição. Sua participação e interação são importantes para a melhoria da nossa publicação. Nosso e-mail é: revistainteragir01@unichristus.edu.br
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especial
Núcleo de Práticas de Gestão Empresarial (NPGE)
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prática do ofício de administrar empresas é, na formação dos alunos do Curso de Administração, um desafio para qualquer faculdade, independentemente de seu porte. Muitas vezes, os alunos só vivenciam essa realidade quando exercem, de fato, a profissão depois de algum tempo de graduado. As primeiras experiências geralmente se dão por meio do estágio, de um emprego ou mesmo da participação em uma empresa Júnior. Essas experiências são setoriais, não proporcionam ao aluno uma visão mais holística de uma organização, o que acaba empobrecendo as experiências do exercício prático diante de muita teoria acumulada ao longo do processo de aprendizagem. Com o escopo de suprir essa necessidade, a Unichristus criou, no Curso de Administração de Empresas, o Núcleo de Práticas de Gestão Empresarial (NPGE). O objetivo do NPGE consiste em gerar soluções para empresas parceiras e, ao mesmo tempo, proporcionar uma formação prática aos alunos mediante a orientação de experientes mestres. Portanto, para a realização efetiva desse projeto, foi inicialmente formada uma equipe multidisciplinar de
professores nas áreas afins de administração, necessárias para um bom desenvolvimento socioeconômico do comércio do entorno da Unichristus, que, ao mesmo tempo, fosse uma oficina para os alunos do Curso. Iniciando suas atividades em 2016, o NPGE surgiu de forma compassada. Primeiro foi realizado um levantamento para conhecer o perfil das empresas que atuam nas adjacências do campus Dom Luís. Essa atividade foi nomeada de ‘Marcando Território’, uma ação que se consistiu em uma pesquisa de campo que contou com a participação de 26 alunos que cadastraram 127 empresas em 18 quadras do conhecido corredor comercial da Avenida Dom Luís. A pesquisa realizada no cadastramento das empresas apontou que existia uma carência considerável de suporte técnico nas áreas administrativas, sobretudo na área de marketing, estratégia e finanças. Baseados nesse resultado, os professores do NPGE montaram uma estrutura de diagnóstico mediante o uso de ferramentas como o modelo de Fatores Críticos de Sucesso; Análise de perfil empreendedor, baseado no modelo da Endeavor; Modelo Canvas. Já na
área de custos, foram elaborados instrumentos para aferição da realidade financeira e contábil das instituições a serem trabalhadas. Após um período de capacitação específica para o uso da estrutura de diagnóstico desenvolvida, os alunos passaram a atuar na empresa sob a orientação dos professores durante 9 horas semanais no primeiro semestre de 2017. Parte desse trabalho foi desenvolvida nas empresas e outra na sala do NPGE ou nos laboratórios da Unichristus. Esse levantamento, anteriormente comentado, permitiu também que o NPGE escolhesse a empresa para ser protótipo por conveniências que convergiam para suas necessidades de experiência incipiente. Assim feito, foi escolhido o Salão de Beleza Júlia Ratts. Depois de um ano de trabalho, foram avaliadas as atividades por alunos, professores, coordenadores, além da própria empresária e de seus colaboradores. Os depoimentos sobre o trabalho realizado podem ser lidos no quadro que segue. Os resultados da experiência foram bastante positivos como podemos observar mediante o testemunho dos atores participantes do processo.
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“A prática da Administração me mostrou a face mais bela dessa ciência! O projeto de consultoria do NPGE me proporcionou a oportunidade de aplicar os conhecimentos adquiridos em aulas, eventos, pesquisas e atividades complementares em uma empresa com uma identidade local e me apresentou a realidade dinâmica da gestão em sentido mais concreto. O principal benefício percebido foi a liberdade para interpretar a atividade empresarial acima do pragmatismo superficial, além das doutrinas acadêmicas. Por tudo isso, sou grato pela experiência e pelo apoio irrestrito de todos os alunos, que criaram um laço inesperado durante o projeto, pelos professores, que foram além de suas atribuições para garantir a melhor vivência dos estudantes, e agradeço também à coordenação por prestar total confiança ao projeto”. Gustavo Leite Aluno Participante
“Chamo-me Maria Fábia, sou egressa do Curso de Administração da Unichristus e faço parte da equipe do Espaço Julia Ratts. Participo do NPGE da Unichristus, um projeto que tem o intuito de aproximar empresas e alunos e colocá-los em contato com a realidade das empresas. Nesse projeto, eu tive o prazer de trabalhar diretamente com futuros grandes profissionais, pois, mesmo sem experiência alguma, destacam-se no decorrer do projeto. Também trabalhei diretamente com professores e coordenadores de grande prestígio para esta Instituição e para a sociedade. Venho aqui ressaltar a importância desse projeto para empresas parceiras, pois ele faz diagnósticos, planeja e auxilia em sugestões que trazem melhorias para as diversas áreas de atuação da empresa. Para os alunos participantes, o projeto os coloca diretamente com a realidade das empresas. Estes participam dando ideias e sugestões para a tomada de decisão, o que é de extrema importância, pois une teoria e prática dentro e fora da sala de aula. Maria Fábia Gerente Financeiro
“Meu nome é Julia Ratts, proprietária e responsável pela empresa do mesmo nome. Exatamente há um ano, iniciamos uma parceria entre a empresa e a Unichristus. O primeiro momento foi dedicado ao conhecimento e ao diagnóstico da ŹAlunos na empresa Júlia Ratz empresa. Nesse processo, os professores e seus alunos fizeram visitas semanais, solicitando informações e esclarecendo dúvidas. Seguindo-se com o final do semestre, encerraram essa fase e concluíram com as diretrizes a serem tomadas no segundo semestre. Chegou, então, o momento do dever de casa. O relatório apresentado pelos gestores do projeto, muito bom, diga-se de passagem, sugeria diversas mudanças que seriam necessárias para o andamento e a sequência do processo. Nesse momento, consolidou-se um trabalho maior do que o de uma consultoria, uma parceria. Com muito esforço feito, apresentei as mudanças solicitadas e reiniciamos o semestre com muito empenho e confiança, pois as mudanças, mais que sugestões, eram necessárias. Uma vez feitas, iniciou-se um processo de mudanças. Bem, mas, para mim, o mais importante foi um dia, em continuidade ao processo, ser recebida pelo professor Luís Carlos. Durante a conversa, expus o seguinte: ‘‘professor, recebi uma preciosa ajuda do NPGE para a empresa e realmente está melhorando. Agora, peço-lhe uma ajuda para mim. Como dona, estou cansada e não consigo mais continuar. Quem sabe o que é ser empresário nesse país de incertezas? Pode me ajudar? Quem sabe o que é estar sempre lutando para fazer de seu negócio uma empresa correta? Na verdade, vivo essa realidade e confesso que não imaginava ser ouvida, compreendida e ajudada. Tive redobrados empenho e dedicação de mestres e alunos. E acredite, fez e faz toda a diferença. É um privilégio fazer parte desse projeto e desse grupo que vejo formar profissionais diferenciados para o mercado. Obrigada!” Júlia Ratts Empresária
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“Vivenciar as rotinas e os anseios das empresas no cenário atual é um grande desafio. Nesse ano, os alunos e eu tivemos a oportunidade de elaborarmos um projeto de marketing para uma empresa de serviços do entorno da Unichristus. Iniciamos com um diagnóstico minucioso sobre as estruturas de custos, receitas e posicionamento da empresa. Nesse processo, os alunos puderam aplicar pesquisas de campo e observar como o administrador gerencia os 4Psdo marketing. Em um segundo momento, elaboramos um plano de ação a partir dos fatores críticos de sucesso para que a empresa pudesse melhorar seu desempenho financeiro e, no médio prazo, fortalecer seu posicionamento de mercado. Uma experiência muito intensa e dinâmica porque vivemos as rotinas mercadológicas e administrativas da empresa”.
Depois da exitosa jornada no salão de Beleza Júlia Ratts, o NPGE deu continuidade a seus trabalhos com outras empresas. Estamos concluindo, no final de 2018, os trabalhos simultaneamente em duas empresas: na academia de ginástica Easy Fitness e na produtora de sucos naturais Suco Nosso de Cada Dia.
Christian Avesque Professor Orientador do NPGE
“Minha contribuição e experiência no NPGE está sendo muito gratificante, atuo na área de Custos, na qual posso perceber que os alunos participam de forma ativa com os professores fazendo com que o grupo possa desempenhar as atividades propostas com êxito e qualificação. Tivemos a oportunidade de trabalhar com uma empresa na área de salão de beleza “Julia Ratts”, onde os integrantes tiveram a liberdade de expor suas ideias e aprender com o outro, vivenciando, estabelecendo uma conexão com o que aprendemos na sala de aula, contribuindo, dessa forma, para a formação dos alunos. O NPGE é um local de ótimo aprendizado, pois vivenciamos na prática e diariamente as técnicas e os processos de uma consultoria aprendendo a melhor forma de trabalho, levando o aprendizado além da sala de aula. Sem dúvida, participar do NPGE é uma experiência única, que deveria ser vivenciada por todos os alunos que cursam Administração na Unichristus.” Amaurinete Furtado Professora Orientadora do NPGE
ŹDa esquerda para a direita: Profa. Amauinete Furtado, Maria Fábia, Júlia Ratts, Prof. Christian Avesque e Prof. Luis Carlos Alencar.
ŹAlunos na Easy Fitness entrevistando a empresária
ŹAlunos conhecendo a Easy Fitness
Neste semestre, ainda se contabiliza o reconhecimento auferido pela Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (ANGRAD) ao escolher o NPGE como uma entre as 23 melhores iniciativas inovadoras em Ensino e Aprendizagem eleitas pelo Prêmio ANGRAD de Inovação e Aprendizagem no Brasil. Além disso, recebeu o prêmio e o certificado de menção de distinção (entre as oito melhores iniciativas do país) no jantar de premiação e encerramento do 29º ENANGRAD, ocorrido no dia 26 de agosto de 2018, em São Paulo.
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ŹPapo de negócios
ŹPapo de negócios
Esse reconhecimento é uma confirmação de que estamos na orientação certa no que se refere à busca de formarmos administradores ainda melhores do que já fazemos. Ressaltamos que isso não seria possível sem a participação de muitos atores na tecedura desse projeto, aos quais rendemos nossos sinceros agradecimentos.
Papo de Negócios Em seus eixos traçados na busca de promover conhecimento da vivência prática de administração de empresas aos alunos, o NPGE realiza um evento que proporciona uma rica troca de experiências. O evento é mensal, com uma hora de duração, começando sempre antes do início das aulas do período noturno, é uma atividade inspiradora promovida por nossos convidados que dialogam, de forma franca e aberta, com a plateia com a mediação de um professor da Unichristus. Entre outros temas, já foram abordados os seguintes assuntos:
ŹFormação com os funcionários da empresa na Unichristus
• Avenida Dom Luís e seu entorno de negócios. • NPGÉtica: ética empresarial contemporânea. • Quem vai comer o meu hambúrguer? • O impacto da crise no mundo dos negócios. • Minha Faculdade, meu negócio. • Meu negócio na base da pirâmie. • Reforma trabalhista, boa para quem? • Neurovendas. • Economia Compartilhada. • Capitalismo Consciente. • Mídias Digitais. Existem, ainda, projetos a serem desenvolvidos como a resolução de casos reais de empresas em tempo máximo de 30 dias, a projeção do NPGE em expedições volantes nos pequenos negócios na periferia da cidade e outros que, de acordo com nossa possibilidade e necessidades dos alunos, iremos realizar. O NPGE conta com a Coordenação do professor Luís Carlos Queiroz de Alencar, auxiliado pe-
ŹAlunos tabulando dados com os professores no laboratório
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ŹAlunos na ação ‘Marcando Território’
los professores Christian Avesque, Amaurinete Furtado e Zaíla Oliveira e por uma equipe de oito alunos elencados por meio de processo seletivo, além de toda a infraestrutura disponibilizada pela Unichristus.
ŹPrêmio ANGRAD de Inovação e Aprendizagem no Brasil.
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história de sucesso
Uma enriquecedora experiência acadêmica em Brasília
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lá, meu nome é Ênio Cidrão e, nas próximas linhas, procurarei relatar um pouco da minha “viagem acadêmica” à capital do nosso país. Posso dizer que a minha ida à Capital Federal iniciou-se muito tempo antes de propriamente ir às terras brasilienses. Tudo teve princípio na minha participação, no 2º e no 3º semestres do Curso de Direito, no Programa de Iniciação à Docência da Unichristus, mais conhecido como monitoria. Foi um período muito fértil do ponto de vista da inserção no âmbito da pesquisa, no qual a minha professora orientadora, Jacqueline Alves, e eu desenvolvemos estudos sobre a aplicação de metodologias ativas no ensino do Direito. Era um estudo incipiente sim, mas que nos rendeu uma pesquisa empírica fascinante. Após alguns meses do encerramento do programa, tive a possibilidade de acessar o edital de um congresso científico que era es-
pecializado no ramo do Ensino Jurídico. Isso gerou diversas expectativas boas quanto à oportunidade de apresentar o nosso trabalho em um evento científico em âmbito nacional. Para ser sincero, não vislumbrei, nesse primeiro momento de euforia, as barreiras e os percalços que eu poderia enfrentar, principalmente por ser de um núcleo familiar de baixa renda. O meu pensamento girava em torno da ideia: “afinal, não custa nada tentar”! Assim, submeti um resumo expandido à avaliação. Para acréscimo da minha ansiedade, o resultado foi adiado para a semana seguinte à prevista, entretanto, logo tive uma ótima surpresa: nosso trabalho foi aceito para ser apresentado! Que alegria para um pesquisador iniciante: o primeiro evento científico especializado fora da zona de conforto dos eventos internos da instituição! Como mencionado, havia um detalhe – ou muitos, aliás – que se
impunha como obstáculo à realização desse objetivo, qual seja, o suporte material para que eu pudesse ir a Brasília. De pronto, recorri à coordenadora de pesquisa, Ana Stela Câmara, que, durante o período da monitoria, foi uma grande apoiadora para que eu tivesse êxito durante todo esse percurso inicial na pesquisa. Ela me orientou que era possível um diálogo institucional a fim de que a Unichristus pudesse me ajudar, mas que, independentemente da proporção desse auxílio, “passar o chapéu” sempre seria uma alternativa subsidiária. Então, era hora de “arregaçar as mangas” e procurar resolver esse impasse. Sendo, assim, optei por criar uma página na internet a fim de repassar toda a história e, principalmente, estabelecer canais com os quais os interessados pudessem colaborar. O lema dessa investida on-line era: juntos podemos fazer aquilo que, sozinhos, seria inimaginável; afinal, eu estava contando com o apoio dos que
se sensibilizassem com a causa para que pudesse ser dado esse passo importante nessa jornada principiante como pesquisador. O site Auxílio Bem-Vindo foi criado! Todavia, pensamentos duvidosos vieram tanto de minha parte quanto de fontes externas, já que alguns chegaram a dizer que era algo rebaixador tudo que eu estava fazendo, outros questionavam a eficácia das vias que escolhi para alcançar meu objetivo. Porém, não seriam a insuficiência e a limitação características do ser humano? A sociedade individualista de hoje pode tentar camuflar essa realidade, mas ninguém é tão forte a ponto de nunca precisar ser ajudado, e ninguém é tão fraco que não possa ajudar em algum momento. A fim de sintetizar todo esse transtorno: deu tudo certo! Vale salientar que, à medida que pessoas contribuíam para esse propósito, um sentimento incômodo surgia, mas, na verdade, era algo bom, tratava-se de um peso de responsabilidade, ou seja, descobri, ao longo da arrecadação, que cada apoio que recebemos na nossa trajetória de vida deve funcionar como
um estímulo para darmos o nosso melhor, pois existe alguém que está apostando em nosso sucesso. Ao chegar o dia da minha partida a terras planálticas, julguei-me estranhamente tranquilo para a minha primeira viagem de avião, o que se estendeu até o final desse “passeio acadêmico”. Pude ser agraciado com outra benesse em todo esse movimento. Encontramos uma grande amiga de juventude da minha avó, e aquela nos acolheu em sua casa durante o período em que ficamos no Distrito Federal. Tivemos um acolhimento para além dos padrões comuns de hospitalidade, o que ampliou nosso rol de pessoas essenciais para que tudo isso, de fato, acontecesse. De forma além das expectativas, o Congresso Nacional de Ensino Jurídico da Associação Brasileira de Ensino do Direito proporcionou a todos os presentes discussões consideravelmente ricas dentro do foco científico do evento, debates que foram desde pontos deficitários do modelo atual de ensino até propostas de alternativa no âmbito epistemológico, didático, metodológico e profissional. Discutimos sobre a internacionalização da educação jurídica e a importância da multidisciplinaridade no Curso de Direito, por exemplo. Ademais, tive a oportunidade de ouvir muitos dos estudiosos acerca do reconhecimento nacional na área que serviu de referência para a minha pesquisa, o que foi deveras enriquecedor. Já a apresentação do trabalho se deu de forma natural, haja vista o fato de todos os Grupos de Trabalho terem sido ambientes confortáveis de compartilhamento de vivências e ideias, o que se mostrou distintamente proveitoso para todos os envolvidos.
Nos horários vagos, sempre fazíamos breves tours por Brasília, até porque não é todo dia em que se está tão próximo de locais tão importantes para toda uma nação. Por isso, certamente, esses foram dias inesquecíveis de aprendizado, intercâmbio acadêmico e experiências socioculturais, um período relevante em múltiplos aspectos. Redigi relatos diários os quais estão disponíveis no site (auxilio-bem-vindo.webnode.com); desenvolvi um canal no YouTube para o fim específico de, inicialmente, pedir o apoio e, ao final, agradecer a todos; estabeleci novas redes de relacionamento; respirei novos ares; em suma, essa foi uma experiência transversal por excelência. Por fim, a minha gratidão também é direcionada à minha instituição, o Centro Universitário Christus, que, prontamente, auxiliou-me para além do âmbito material, sendo determinante para todas essas conquistas. Sou grato a todos e espero que esse relato, de teor não tanto acadêmico, possa inspirar os seus leitores, seja com relação à importância da pesquisa científica e das vivências acadêmicas seja no que diz respeito ao valor que há na resiliência. Ênio Stefani Rodrigues Cardoso Cidrão (Aluno do 6º semestre do Curso de Direito da Unichristus)
em foco
Museu Nacional em chamas: em memória da memória e da ciência brasileira
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undado por um decreto de Dom João VI, em 6 de junho de 1818, o Museu Nacional é a mais antiga instituição brasileira desse gênero, que possui, entre seus objetivos, a promoção da educação e da cultura, bem como a difusão da ciência. Ao longo de dois séculos, recebendo peças oriundas do Brasil e de outras partes do Mundo, tornou-se o maior Museu de história natural e antropológica da América Latina. O vasto acervo, de notória relevância para as diversas áreas do conhecimento, como botânica, zoologia, paleontologia, linguística e geologia, constituía-se em cerca de 20 milhões de itens, ícones de preservação do patrimônio material e imaterial, natural e cultural brasileiro e mundial. Na noite de 2 de setembro de 2018, pouco depois de o Museu Nacional completar seu bicentenário, um incêndio de grandes proporções atingiu a sua sede, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), reduzindo a pó cerca de 90% de seu acervo, que ruiu com anos de estudo, de trabalho, de catalogação e de observação de pesquisadores. Em relação a isso, o Poder Público falhou imperdoavelmente ao descumprir a obrigação constitucional de garantir o pleno exercício dos direitos culturais e acesso a fontes de cultura nacional, bem como a proteção do patrimônio cultural brasileiro, conforme arts. 215 e 2016, CF/1988, para as gerações presentes e futuras.
Profa. Dra. Ana Stela Vieira Mendes Câmara (Doutora em Direito, docente do Curso de Direito da Unichristus)
Áila Beatriz Moura Bandeira, Gabriel Maciel Barbosa, Vitória Dávina Alencar (Alunos do 1º semestre do Curso de Direito da Unichristus)
Longe de ser uma fatalidade, pode-se afirmar, parafraseando a narrativa de Gabriel García Marquez, que o lamentável acontecimento pende mais para a crônica de uma tragédia anunciada, especialmente por duas razões. Primeiro porque já era de conhecimento público que a estrutura do museu estava bem desgastada e precisava de reparos: paredes descascando, estruturas vulneráveis e fios de eletricidade desencapados compunham o cenário provocado por sucessivas reduções de repasses financeiros. Além disso, parecem não ter servido de alerta os incêndios recentes (em 2015 e 2013, respectivamente) ocorridos em outros equipamentos culturais, como no Museu da Língua Portuguesa e no Memorial da América Latina. Nesse contexto, há uma percepção clara de que resta a nós brasileiros, do nosso lugar de fala, em especial, dirigindo-nos à comunidade acadêmica, valorizar mais a cultura e a produção científica local, que possamos interessar-nos mais em conhecer nossas origens, identidades e contextos, em busca de superar velhos estigmas que recaem sobre nós, como o que Nélson Rodrigues cunhou como complexo de vira-latas. É o esforço coletivo de recuperar aquilo que for possível, in-
clusive, a dignidade dos brasileiros, diante desse episódio devastador. Aprender a resistir às intempéries e a renascer das cinzas, como fênix, bem como a ter a força e a disposição necessárias para colaborar com a construção e a reconstrução do nosso patrimônio histórico, cultural e científico local - esta é a palavra de ordem do dia.
Referências LOPES, Reinaldo José; VETTORAZZO, Lucas. Com incêndio em museu, Brasil tem sua maior perda histórica e científica. Folha de São Paulo, São Paulo, 4 set. 2018. Disponível em: <https://www1. folha.uol.com.br/cotidiano/2018/09/ com-incendio-em-museu-brasil-tem-sua-maior-perda-historica-e-cientifica. shtml>. Acesso em: 12 set. 2018. MARQUEZ, Gabriel García. Crônica de uma morte anunciada. Rio de Janeiro: Record, 1981. MUSEU NACIONAL – UFRJ. Acervo. Rio de Janeiro, 2018. Disponível em: <http://www.museunacional.ufrj.br/dir/ acervo.html>. Acesso em: 12 set. 2018. PIRES, Débora de Oliveira (Org.). 200 anos do Museu Nacional. Rio de Janeiro: Associação dos Amigos do Museu Nacional, 2017. Disponível em: <http:// www.museunacional.ufrj.br/200_anos/ doc/200_anos_do_Museu_Nacional. pdf>. Acesso em: 11 out. 2018. RODRIGUES, Nelson. À sombra das chuteiras imortais. São Paulo: Cia. das Letras, 1993.
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destaque
“Treinão pela Doação de Órgãos” no Parque do Cocó
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o Brasil e nos demais países mundo, os avanços científicos, tecnológicos, organizacionais e administrativos têm colaborado para o aumento expressivo do número de transplantes, embora ainda insuficiente, em face de enorme demanda acumulada de órgãos (MATTIA, 2010). O potencial doador é o paciente com diagnóstico de morte encefálica, que tenham sido descartadas contraindicações clínicas as quais representam riscos aos receptores dos órgãos (SANTOS, 2005). No Brasil, a taxa obtida é de 5,4 doadores por milhão de habitantes/ano (MATTIA, 2010), e a recusa dos familiares é hoje o fator limitante principal dos programas de transplantes de órgãos em vários países do mundo (SANTOS, 2005). Acredita-se que o desconhecimento sobre morte encefálica seja um dos principais
Isabele Fontenele de Santiago Campos – S6 Kaik Brendon dos Santos Gomes – S6 Amanda Lima Pimentel – S6 (Alunos do Curso de Medicina da Unichristus) Orientadora: Profa. Claudia Maria Costa de Oliveira (Docente do Curso de Medicina da Unichristus)
motivos, e, além deste, outros também podem ser citados como influenciadores da doação: a religião, a ocorrência de transplantes na família do doador e o primeiro contato entre a família do doador e a equipe de transplante (GONÇALVES, 2012). Diante disso, na manhã do dia 23 de setembro de 2018, no Parque do Cocó, houve uma reflexão acerca da doação de órgãos. O evento contou com a presença de, pelo menos, 200 pessoas, as quais participaram do “Treinão pela Doação de Órgãos”, campanha promovida pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO).
ŹDa esquerda para direita: aluna Isabele Campos, aluno Kaik Brendon, orientadora Claudia Oliveira, aluna Amanda Pimentel, todos integrantes da Liga de Nefrologia (LINEFRO) da Unichristus.
No encontro, supervisionado por educadores físicos, foram realizados alongamentos e caminhadas pelas trilhas do Parque, incentivando a promoção da saúde. O “Treinão” reuniu associações de pacientes, professores e universitários, ligas acadêmicas das faculdades de Medicina da capital, profissionais da área da saúde, familiares, amigos e pessoas da população em geral. Os pacientes transplantados, após o momento da caminhada, aproveitaram a oportunidade para compartilhar depoimentos emocionantes sobre os desafios e os benefícios do processo de transplante. Um transplantado,
ŹAlongamento antes da caminhada pelas trilhas do Parque.
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fluenciado por familiares, amigos, profissionais da saúde e campanhas sobre doação de órgãos. Porém, mais importante que o veículo de informação deve ser a qualidade dela, pois a pessoa bem informada é capaz de promover discussão com amigos e familiares, o que é um mecanismo de promoção de doação (TRAIBER, 2006).
Referências ŹDepoimentos de transplantados sobre os desafios e os benefícios do processo de transplante.
emocionado, descreveu como foi difícil conseguir um transplante de rim na época em que o fez, uma vez que, há alguns anos, o processo de doação não era tão conhecido e, tampouco, compreendido adequadamente pela população. Hoje, o senhor participa efetivamente de ações para conscientizar e incentivar tanto doadores quanto pacientes “desesperançosos” à espera do transplante. Além disso, os familiares dos transplantados deram seu depoimento, ficando evidente a gratidão por essas vidas salvas. A lei que dispunha sobre doação de órgãos e tecidos para fins de transplante é a Lei 9.434, de 04 de fevereiro de 1997, e incluía a doação presumida de órgãos e tecidos. Esta foi alterada
em 2001, sendo substituída a doação presumida pelo consentimento informado do desejo de ser doador. Com a nova lei, o registro de ser ou não doador que constava na carteira de identidade civil ou na carteira nacional de habilitação perdeu a validade. Assim, a doação de órgãos no Brasil depende hoje, exclusivamente, da autorização da família do doador (TRAIBER, 2006) e poderia ser facilitada se fosse priorizada e garantida uma boa qualidade de comunicação entre os profissionais e a família do doador (SANTOS, 2005). Assim, a maior parte da população recebe informações sobre transplante de órgãos e doação mediante os meios de comunicação de massa (televisão, rádio, jornais, revistas), e um número menor é in-
GONÇALVES, Thiago Barbosa. A intenção de doar órgãos é influenciada pelo conhecimento populacional sobre morte encefálica? Rev Bras Ter Intensiva, Belém (pa), v. 24, n. 3, p.258-262, 2012. Disponível em: <http://www. scielo.br/pdf/rbti/v24n3/v24n3a09>. MATTIA, Ana Lúcia de et al. Análise das dificuldades no processo de doação de órgãos: uma revisão integrativa da literatura. Revista Bioethikos, Centro Universitário São Camilo, v. 4, n. 1, p.66-74, 2010. Disponível em: <https://www.saocamilo-sp.br/pdf/ bioethikos/73/66a74.pdf>. SANTOS, Marcelo José dos; MASSAROLLO, Maria Cristina Komatsu Braga. PROCESSO DE DOAÇÃO DE ÓRGÃOS: PERCEPÇÃO DE FAMILIARES DE DOADORES CADÁVERES. Rev Latino-am Enfermagem, São Paulo, v. 13, n. 3, p.382-387, jun. 2005. Disponível em: <http://www. scielo.br/pdf/rlae/v13n3/v13n3a13>. TRAIBER, Cristiane; LOPES, Maria Helena Itaqui. Educação para doação de órgãos. Scientia Medica, Porto Alegre, v. 16, n. 4, p.178-182, dez. 2006.
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Visita de campo que inspira saberes e ações: Núcleo Interdisciplinar dos Cursos de Tecnologia e Saúde passando uma manhã no Dragão do Mar mais colorido
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o dia 1 de setembro de 2018, os alunos e os professores do Núcleo Interdisciplinar dos Cursos de Tecnologia e Saúde (NICTS) do Centro Universitário Christus (Unichristus) visitaram a intervenção Cidade da Gente nas ruas adjacentes do Centro Cultural Dragão do Mar. O projeto encheu de novas cores o entorno do Dragão do Mar, promoveu novos espaços de convivência e reduziu o espaço dos carros nas vias. A manhã do primeiro sábado de setembro foi uma aula ao ar livre para os alunos dos diversos cursos que integram o NICTS da Unichristus. A vivência do espaço da cidade proporcionou um momento de aprendizado lúdico e de diálogo entre vários campos do conhecimento que integram o projeto: Arquitetura e Urbanismo, Fisioterapia, Biomedicina, Odontologia, Medicina, Engenharia Civil e Nutrição. Mais especificamente na rua Almirante Jaceguai, no trecho entre as avenidas Monsenhor Tabosa e Almirante Barroso, ao lado do Porto Iracema das Artes, foram feitas intervenções com tinta, cones, jarros de plantas, bancos e outros mobiliários que deram nova vida ao espaço urbano. A intervenção foi uma ação da Prefeitura de Fortaleza com apoio da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global.
ŹO antes e o depois da vista aérea da região do entorno do Dragão do Mar. Fonte: Nacto e Global Designing Cities Initlative.
ŹO antes e o depois da região do entorno do Dragão do Mar. Fonte: Nacto e Global Designing Cities Initlative.
O projeto Cidade da Gente na cidade de Fortaleza é um tipo de intervenção urbana chamada de “Urbanismo Tático”. Essa forma de intervir no espaço consiste em realizar intervenções temporárias de baixo custo e de grande impacto. As transformações no ambiente induzem a uma nova forma de apropriação do lugar onde vivemos. A utilização do Urbanismo Tático como método de promover novas formas de apropriação da cidade tem sido uma estratégia em diversas cidades do mundo.
Uma das práticas dos projetos de urbanismo tático é a ampliação do espaço do pedestre e a redução do espaço dos carros. Em alguns casos, há a implantação de ruas compartilhadas em que o pedestre e o transporte não motorizado têm prioridade, e o acesso ao carro deve ser restrito e com baixa velocidade. Os alunos do projeto NICTS já haviam iniciado uma pesquisa sobre o impacto da implantação de espaços livres qualificados na vida da população. Essas pesquisas prévias indicavam que a tipologia
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ŹHerald Square, em Nova York (Foto: NYC DOT/Flickr). Fonte: The City Fix Brasil
ŹIntervenção urbana passeio lúdico em Santiago, Clille. Fonte: Archdaily.
de intervenção em outras capitais são um dos fatores capazes de induzir a redução da violência urbana, bem como os acidentes por atropelamento. Os impactos também estão na qualidade de vida por meio do aumento das práticas de atividades ao ar livre e das possiblidades de encontros e de trocas sociais.
Durante a visita de campo do dia 1º/9/2018, os alunos tiveram a oportunidade de vivenciar em sua cidade o que havia sido apreendido por meio das pesquisas, e algumas observações foram feitas pela vivência no local. Um primeiro aspecto observado foi a sensação de maior limpeza do espaço, atribuída a um possível au-
Intervenção urbana passeio lúdico em Santiago, Clille. Fonte: Archdaily.
mento do sentimento do cuidado devido à afetividade criada. Outro ponto interessante observado foi a maior acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida. A respeito dessa questão, foi presenciado o deslocamento com menos dificuldade de uma pessoa em cadeira de rodas, e, entre as vantagens da intervenção para o deslocamento, foi notória a diminuição dos obstáculos devido ao espaço de calçada estar no mesmo nível da rua e ao menor espaço de travessia na faixa de pedestre, por causa da redução da faixa viária de carros. Em relação ao aspecto da psicologia ambiental e conforto, foi observado que as cores vivas pintadas no chão, substituindo o preto tradicional do asfalto, tiveram a capacidade de tornar os espaços mais convidativos, alegres e lúdicos. A simples pintura da “amarelinha” no chão deixou vários alunos animados para relembrar essa brincadeira tradicional da infância. A coberta em tecidos coloridos foi reconhecida como importante elemento harmonioso. Essa cobertura, além de gerar sombra, possui um efeito de escultórico e dinâmico com seu movimento natural ao sabor do vento.
Projeto que inspira: Os alunos do Núcleo Interdisciplinar dos Cursos de Tecnologia e Saúde (NICTS) do Centro Universitário Christus vêm realizando atividades no bairro Vicente Pizon desde março de 2018, por meio de uma parceria com a Escola Municipal Matias Beck. As atividades voltadas, sobretudo, ao público jovem do bairro e aos
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alunos da escola vêm movimentando sonhos e anseios da juventude do local. Entre as atividades já realizadas por meio da parceria entre Unichristus e Escola Matias Beck, constam ‘A Tenda da Saúde’, ‘Feiras das Profissões’, ‘Rodas de debates de assuntos de interesse da juventude’ e uma ‘Festa Junina’ na rua da escola, rua Professor Aída Balaio. Essa construção coletiva de sonhos culmina, nesse momento, no projeto de realização de uma intervenção urbana para tornar a via da escola Matias Beck em uma rua compartilhada. Nesse sentido, a visita ao entorno do Dragão do Mar, após a intervenção realizada pelo projeto “Cidade da Gente”, foi uma grande inspiração como projeto de referência para o planejamento de uma possível intervenção futura de urbanismo tático no bairro Vicente Pizon. Atualmente, a equipe do projeto de extensão está envolvida em um estudo de viabilidade para tal projeto. A região onde está situada a escola Matias Beck teve sua origem em uma ocupação irregular. Áreas da cidade com essa origem, consideradas favelas, são regiões, historicamente, estigmatizadas por parte da sociedade e habitadas por populações de menor renda. Então, esse projeto social se
mostra relevante, tendo em vista que é importante a atuação nessas áreas de forma a trazer melhores espaços públicos, opções de lazer e promoção da melhoria da qualidade de vida aos moradores. O arquiteto urbanista Jan Gehl alerta para a importância dos espaços ao ar livre em áreas densamente ocupadas por habitações: (...) É precisamente naquelas áreas habitacionais com alta densidade populacional e poucos recursos econômicos que o espaço ao ar livre tem um impacto muito grande nas condições de vida. (...) (GEHL, 2013, p.217) O autor citado ficou conhecido por suas ideias de valorização dos espaços públicos nas cidades e resgate da escala humana no desenho dos espaços urbanos e na valorização dos deslocamentos não motorizados. No livro “Cidade para Pessoas” (GEHL, 2013), ele elenca critérios/ características que são importantes para qualificar o espaço livre urbano: • Oportunidades para sentar-se e para ficar em pé. • Oportunidades para brincar e praticar atividade física. • Oportunidades para ouvir e conversar (baixos ruídos e mobiliários que favoreçam conversas). • Oportunidades para aprovei-
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tar aspectos positivos do clima (sol/ sombra, calor/frescor, brisa etc). • Experiências sensoriais positivas (árvores, plantas, visuais). A partir da vivência e do contato com os moradores do Vicente Pizon e da Escola Matias Beck, utilizando como referência o projeto “Cidade da Gente” no Dragão do Mar e considerando os princípios indicados por Jan Gehl, os alunos dos Cursos de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Civil do Projeto de Extensão NICTS estão em fase de elaboração de um projeto de intervenção para a rua Aída Balaio.
Referências: GEHL, Jan. Cidade para Pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. Global Designing Cities Initlative. The Power of Paint: Bringing Life to the Streets of Dragão do Mar. NACTU, 2018. Disponível em: < https://globaldesigningcities.org/2018/09/20/ the-power-of-paint-bringing-life-to-the-streets-of-dragao-do-mar/> Acesso em: 2 out. 2018. Profa. Ma. Lara Barreira de Vasconcelos. Mestra em Arquitetura da Paisagem pelo Programa de Pós- Graduação em Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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Palestrantes internacionais marcam o catálogo de eventos da Graduação e o Mestrado em Direito da Unichristus
O
catálogo de eventos jurídicos da Unichristus, além de diversificado, foi marcado, em 2018, pela presença de renomados professores estrangeiros, que vieram prestigiar nossos alunos, ora na Graduação, ora no Mestrado, a fim de ampliar os horizontes de discussão, enriquecendo-nos com seus aportes teóricos e com suas experiências. Abrindo as variadas atividades, já no 1º semestre, o projeto “Para Entender...”, albergado pela Coordenação de Pesquisa do Curso de Direito, promoveu a conferência “La cuestión de la desigualdad socioeconómica en los países desarrolados desde una perspectiva científica”, ministrada pela Professora Dra. Obdulia Taboadela Alvarez, doutora em Sociologia pela Universidade Complutense de Madri e professora titular na Universidade Da Coruña (UDC), com passagem, como pesquisadora, por diversos centros de pesquisa de excelência. A palestrante abordou a questão social e econômica na Espanha e em países em desenvolvimento, demonstrando alguns avanços e re-
trocessos vividos em seu país de origem, ao tempo em que estabeleceu um comparativo em relação à realidade vivenciada em certas regiões do mundo, como o Brasil. A pesquisadora apresentou vários dados que demostraram a inserção da mulher no mercado de trabalho, mostrando a sua situação de desigualdade sócioeconômica, bem como tratou da questão da flexibilização das relações trabalhistas como um agravante para a situação das desigualdades econômicas e sociais. Já no dia 14 de agosto de 2018, a graduação de Direito recebeu o Professor Dr. Alvaro Sanchez Bravo, professor da Universidad de Sevilla, na Espanha, no bojo do projeto “Para Entender...”, ministrando conferência sobre o tema “Crise Hídrica: água direito humano ou mercadoria?”. O professor convidado abordou o problema da mercantilização da água, demonstrando a complexidade do tema. O palestrante apresentou diversos dados a respeito do custo para a produção de água potável, assim como tratou sobre os problemas sociais e econômicos vi-
ŹProf. Dr. Juraci Mourão e Prof Dr. Leonardo ŹProfa. Maria José Capelo (Portugal), em palestra no Programa de Mestrado de Direito da Unichristus Pasquali (Itália)
venciados pela população de muitos países que sofrem com a escassez de água. O palestrante buscou demonstrar que a água tem sido explorada como mercadoria por grandes corporações e por alguns países. Em sua fala, defendeu que a água é um bem essencial para a manutenção da vida e da dignidade da pessoa humana, razão pela qual defende que o seu acesso deve ser concebido como um direito humano. No âmbito do projeto “Sexta da Pesquisa”, a graduação recebeu, no dia 24 de agosto de 2018, a presença da Profa. Dra. Julia Motte-Baumvol, doutora em Direito Internacional Público pela Université Paris I Panthéon-Sorbonne e professora da Université Paris Descartes (Paris V). Na ocasião, a palestrante abordou o tema “Estratégias de pesquisa jurídica em Direito Internacional”, apresentando diversos modos de se encontrar uma pergunta de partida e um objeto de pesquisa para o desenvolvimento de pesquisas na área de Direito Internacional. Além disso, foi um momento muito produtivo para todos os presentes,
ŹProfa. Dra. Julia Motte-Baumvol (França)
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pois a professora pontuou as principais diferenças entre a experiência com pesquisa dos alunos de graduação no Brasil e na França, bem como tratou a respeito das oportunidades existentes para os alunos interessados em estudar na Europa, esclarecendo qual seria o momento acadêmico mais propício para isso. Já o Mestrado em Direito procurou mesclar grandes nomes do cenário nacional com pesquisadores internacionais. No que tange aos convidados estrangeiros, em 30 de agosto de 2018, o Programa de Pós-Graduação em Direito promoveu o seminário “Aspectos jurídicos-internacionais Brasil-Itália”, com o Prof. Dr. Leonardo Pasquali, professor de Direito na Universidade de Pisa na Itália, cujo seminário teve o objetivo de traçar um estudo de direito comparado acerca dos aspectos principiológicos fundamentais do constitucionalismo contemporâneo. Na sequência, nos dias 17 e 18 de setembro de 2018, foi a vez de os mestrandos do PPGD da Unichristus receberem a Profa. Dra. Maria José Capelo, professora da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, cujo seminário apresentou pesquisa comparada, versando sobre os “Estudos de Processo Brasil/Por-
ŹPúblico do Projeto “Sexta da Pesquisa”
tugal”, por meio do qual debateu sobre os aspectos principiológicos fundamentais que moldam o direito processual na atualidade. Em outubro do corrente ano, o Prof. Dr. Juraci Mourão Lopes Filho, Coordenador do Mestrado em Direito, retribuiu a prestigiosa visita da professora, proferindo palestra na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, em Portugal, para os alunos de doutorado da Profa. Dra. Maria José Capelo, representando a Instituição em evento que contou com professores de vários países da Europa. Esperamos que os esforços conjugados pela equipe de Coordenação da Graduação em Direito e pela Coordenação do Mestrado em Direito da Unichristus, ao promoverem uma agenda de internacionalização, possam, cada vez mais, fazer vicejar pesquisas de excelência entre os seus mestrandos e acadêmicos.
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ŹDa esq. para a dir._Prof. Dr. Juraci Mourão, Coord. do Mestrado em Direito da Unichristus, proferindo palestra na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, em Portugal, ladeado pela professora portuguesa Dra. Maria José Capelo.
ŹProfa. Andréia Costa, Coord. do Curso de Direito e a palestrante Profa. Dra. Obdulia Taboadela Alvarez, professora da Universidade Da Coruña (UDC)
Autoria: Profa. Me. Ana Carolina Barbosa Pereira Matos Coordenadora de Pesquisa do Curso de Direito da Unichristus Doutoranda em Direito pela Universidade Federal do Ceará
Profa. Dra. Fayga Bedê Professora do Mestrado e da Graduação em Direito da Unichristus Editora-Chefe da Revista Opinião Jurídica (Qualis – A2) Doutora em Ciências Sociais pela UFC
ŹPúblico na palestra do Prof. Dr. Juraci Mourão, na Faculdade de Direito de Coimbra (Portugal)
ŹProf. Dr. Alvaro Sanchez Bravo, da Universidad de Sevilla e Profa. Ana Carolina Matos (Coord. de Pesquisa do Curso de Direito da Unichristus)
ŹPúblico do Projeto “Para Entender”
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Grupo de Leitura de Administração contemporânea: encontros com estudantes para ações de leitura
U
ma análise de “Por que fazemos o que fazemos?: aflições vitais sobre trabalho, carreira e realização”, livro do filósofo Mário Sérgio Cortella1 foi posta em evidência no curso de Administração no mês de outubro desse 2018. Por proposição do professor Luiz Carlos Queiroz de Alencar encampada pela Coordenação do curso de Administração, criou-se o Grupo de Leitura de Administração contemporânea com o objetivo maior – e põe maior na expressão, de tão essencialmente digna – de ampliar nos estudantes do curso criticidade em leitura de textos pertinentes às áreas que gravitam em torno do campo administrativo, ampliando-se em olhares que inquirem os temas analisados em sua relação com a sociedade. Nesse contexto, o Grupo de Leitura de Administra1 CORTELLA, Mário Sérgio. Por que fazemos o que fazemos?: aflições vitais sobre trabalho, carreira e realização. São Paulo: Planeta, 2016.
ção contemporânea é merecedor de efusivos aplausos, extensivos a seu idealizador. Essa é uma época em que ainda se diz que a maioria dos brasileiros não sabe ler de maneira competente. Dados do Inaf2 2018 dispõem que a escolaridade do brasileiro tem crescido nas últimas décadas, mas ao mesmo tempo não tem crescido o alfabetismo (letramento) de maneira proporcional. Como o alfabetismo (letramento) está relacionado às competências em leitura e escrita, os dados mostram que, mesmo havendo maior 2 “O Inaf é uma pesquisa idealizada em parceria entre o Instituto Paulo Montenegro e a ONG Ação Educativa e aplicada pelo IBOPE Inteligência com o objetivo de mensurar o nível de alfabetismo da população brasileira entre 15 e 64 anos, avaliando suas habilidades e práticas de leitura, de escrita e de matemática aplicadas ao cotidiano”. Indicador de Alfabetismo Funcional – INAF. Dados colhidos no endereço eletrônico <http://plataforma.prolivro. org.br/ipl-na-bienal-inaf-2018-e-retratos-da-leitura-no-brasil/> Acesso em 20/10/2018.
ŹProf. Luiz Carlos Queiroz de Alencar
quantidade de pessoas escolarizadas, não se tem registrado maior competência de leitura e de escrita entre aqueles que chegam à escola. Afirma o Instituto Pró-Livro (IPL)3 que O que o Inaf 2018 mostra é que a escolaridade do brasileiro cresceu, no entanto, os índices de alfabetismo não cresceram proporcionalmente. Segundo o estudo, 32% da população que está no ensino 3 O Instituto Pró-Livro (IPL) pode ser encontrado no ambiente eletrônico da Plataforma Pró-Livro.
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médio possui um nível de alfabetismo rudimentar. Esse número sobe para 42% se forem considerados os que estão no Ensino e cai para alarmantes 25% de alfabetismo elementar no ensino superior.
Pelo que revelam o IPL e o INAF, devemos compreender como muito preocupante o que não tem conseguido fazer a educação formal brasileira no que se refere a sua proposta basilar, qual seja a de letrar adequada e amplamente aqueles que chegam às escolas. Referindo-se à importância da leitura e da literatura, o texto do IPL reporta que O Inaf 2018 mostra também que escolaridade e hábitos de leitura estão diretamente relacionados. E que a principal diferença entre os níveis de alfabetismo está na variedade de gêneros e suportes com os quais esses leitores entram em contato
ou estão expostos. Enquanto os alfabetizados elementares e os consolidados leem em proporções similares livros de literatura por vontade própria (30% e 37%, respectivamente), quando o foco é a leitura de livros técnicos e formação profissional, a diferença fica em 16% (25% e 41%, respectivamente). Tais informações deixam bastante claro o fato de que quem não desenvolve adequada e amplamente competências leitoras na educação básica encontrará, certamente, muito maior dificuldade em se apropriar dos conhecimentos técnicos necessários ao formar-se na profissão escolhida. É de se louvar, então, a proposta de formação do grupo de leitura idealizado pelo professor Luiz Carlos. Sua iniciativa destaca a visão que tem de que a leitura é fundamental
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para quem vive em sociedade, ainda mais àqueles que buscam formação superior com o objetivo de obter melhores chances no mercado de trabalho altamente competitivo. O Grupo de Leitura de Administração contemporânea teve seu primeiro encontro no dia 06 de outubro; o segundo e o terceiro nos dias 20 e 27, respectivamente, do mesmo mês. Até o instante de produção desse texto não havia confirmação de datas para os encontros no mês de novembro, embora já soubéssemos o livro a ser lido, comentado, debatido: Inevitável, de Kevin Kelly. Certamente mais uma valiosa leitura na formação dos estudantes de Administração. Por: Sérgio Araujo. (Professor do Curso de Administração, Engenharia Civil e Engenharia de Produção da Unichristus)
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Curso de Fisioterapia participa do XIX Simpósio Internacional de Fisioterapia Cardiorrespiratória e Fisioterapia em Terapia Intensiva
A
s acadêmicas do 10º semestre de Fisioterapia Unichristus Cristine Camerino, Mikaelle Santos, Victória Ferraz e Luiza Raira e a egressa Márcia Lopes estiveram presentes e apresentaram um total de 10 trabalhos científicos no importantíssimo XIX Simpósio Internacional de Fisioterapia Cardiorrespiratória e Fisio-
terapia em Terapia Intensiva (SIFR), que ocorreu em outubro/2018, na cidade de Manaus. Trabalhos apresentados pela aluna Mikaelle Santos: 1) “Abordagem e interpretação do fisioterapeuta nos gráficos ventilatórios” 2) “Conhecimento de discentes de fisioterapia sobre a prope-
dêutica da polineuropatia do doente crítico” Trabalhos apresentados pela aluna Cristine Camerino: 3) “Desfecho clínico e fatores associados ao desmame prolongado da ventilação mecânica em uma unidade de terapia intensiva” 4) “Fatores terapêuticos asso-
ciados à sobrevida de pacientes em desmame prolongado na ventilação mecânica invasiva em uma unidade de terapia intensiva” 5) “Repercussão da pressão arterial após mobilização passiva em pacientes com uso de noradrenalina” Trabalhos apresentados por Victória Ferraz: 6) “Caracterização dos pacientes atendidos no setor pneumológico em uma clínica escola de fisioterapia” 7) “Caracterização dos pacientes atendidos no setor cardiológico em uma clínica escola de fisioterapia” Trabalhos apresentados pela egressa Unichristus Márcia Coelho: 8) “Abordagem da fisioterapia em prematuros broncodisplásicos sob ventilação mecânica” 9) “Desenvolvimento neurocomportamental de prematuros tardios” 10) “Desfecho clínico de recém-nascidos prematuros broncodisplásicos na unidade de terapia intensiva neonatal” E para a felicidade da Fisioterapia Unichristus, um dos nossos trabalhos foi premiado em 4o lugar: “Desenvolvimento neurocomportamental de prematuros tardios”. O trabalho, originalmente trabalho de conclusão de curso da egressa Suzana Almeida de Oliveira Neta, teve como colaboradores as egressas Melissa de Queiroz e Márcia Coelho Lopes (apre-
sentadora do trabalho no Simpósio), as professoras Valdeleda Uchôa e Márcia Cardinalle Correia Viana, e a preceptora Sandra Mara Benevides. Os trabalhos apresentados tiveram como colaboradores docentes, preceptores de campos de estágio e colegas discentes da Unichristus. Docentes Unichristus: Márcia Cardinalle Correia Viana, Maria Valdeleda Uchôa, Andrea Stopiglia Guedes Braide,
Cymara Pessoa Kuehner e Márcia Pinheiro Dantas. Preceptores: Sandra Mara Benevides Caracas, Marcus César Moraes e Carmen Araripe. Discentes: Ártemis Monte, Adriane Sampaio, Suzana Almeida, Melissa de Queiroz. Colaboração: Profa. Msc. Cymara Kuehner (Docente do Curso de Fisioterapia)
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Vivência acadêmica: conhecendo o CAPS e o universo da saúde mental Introdução
É
notória a associação da teoria com a vivência prática nos cursos oferecidos pelas universidades na área da saúde, fazendo que os estudantes vivenciem, cada vez mais cedo, contato com dia a dia da profissão escolhida. Essa atitude responde à necessidade de construir profissionais completos em diversos âmbitos, principalmente quanto ao da humanização, proporcionando aos alunos visualizar o paciente como um todo, não somente a sua enfermidade, além de promover a empatia, sentimento fundamental na construção da prática médica. Nesse contexto, a saúde mental é um desafio, já que, por muitos, é vista de forma preconceituosa, mostrando-se essencial o contato com essa realidade ainda no início da trajetória acadêmica, visando a minimizar qualquer tipo de preconceito, angústia, medo e desrespeito quanto à condição de um paciente com algum distúrbio psicopatológico.
Métodos O relato é de natureza qualitativa e tem como objetivo discorrer sobre a percepção de alunos da graduação de Medicina quanto ao processo saúde-doença no universo da saúde mental. A participação nesse tipo de vivência fez parte da grade do Curso de Medicina da Unichristus, recebendo colaboração dos profissionais do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) geral.
Os alunos que participaram da visita receberam orientação de uma professora e de uma monitora e aplicaram um questionário aos profissionais do CAPS e a alguns pacientes, usando-o como roteiro para a vivência.
Relato de experiência No dia 15 de fevereiro de 2017, uma tarde de quarta-feira, realizou-se uma visita ao Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Dr. Nilson de Moura Fé, Regional II, sob orientação das professoras Dirlene e Wládia. Ao chegar, reuniram-se na sala da direção com o psicólogo responsável pelo CAPS e, depois de alguns esclarecimentos sobre o funcionamento do local, fizeram-lhe algumas perguntas sobre a percepção que ele tinha quanto ao entendimento do processo de saúde e doença naquele local. Ele, muito solícito, respondeu que, nesse âmbito, os indivíduos não têm
uma noção clara sobre esse processo, já que, muitas vezes, perdem a capacidade de compreender o que se passa ao seu redor. Citou, inclusive, o exemplo de pacientes com esquizofrenia, que possuem dificuldade de entender as manifestações dessa doença e criam um “universo paralelo”, dificultando, muitas vezes, o convívio social. Além disso, o psicólogo relatou que os profissionais do CAPS buscam minimizar as consequências dessas psicopatologias e incentivar a convivência social dos pacientes e a reabilitação deles por meio de projetos sociais como o “Musicalização”: grupo de música que acontece duas vezes por semana, utilizando a arte como forma de “extravasar” as emoções, o que demonstra o apoio que esse ambiente oferece aos pacientes e às famílias na busca de independência e de responsabilidade com seu tratamento, promovendo serviços que, muitas vezes, ultrapassam a
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própria estrutura física, buscando suporte social para que possam garantir o sucesso de suas ações. Há preocupação com a pessoa, sua história, sua cultura e sua vida cotidiana, que é assistida por uma equipe multiprofissional composta por médico psiquiatra, clínico geral, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, entre outros. Após as perguntas ao psicólogo, foi-se à sala de espera do local conversar com alguns pacientes e buscar conhecer a realidade de um indivíduo com algum tipo de patologia psicológica. Os pacientes, calmos e bastante receptivos, responderam aos questionamentos e apresentaram um “universo” totalmente diferente do que era esperado, sempre enfatizando que ainda é muito difícil conviver com uma psicopatologia em um “mundo tão cheio de preconceitos”, relato de uma paciente. Entretanto, o CAPS tem oferecido grande apoio nesses momentos, tanto com o amparo médico, psicológico e recreativo quanto farmacológico, possibilitando a inclusão social.
Considerações finais A visita e os conhecimentos adquiridos favoreceram a percepção sobre a importância desse
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A tarefa da medicina no século XXI será a descoberta da pessoa – encontrar as origens da doença e do sofrimento; com este conhecimento, desenvolver métodos para o alívio da dor, e, ao mesmo tempo, revelar o poder da própria pessoa, assim como nos séculos XIX e XX foi revelado o poder do corpo. (Cassel, 1991:X) serviço para a sociedade em geral, já que ele cuida daqueles que não possuem, muitas vezes, consciência do que é ter saúde e de que estão doentes. A atenção e o amplo amparo profissional são essenciais nesse processo de “descoberta” dos pacientes que apresentam problemas psicopatológicos, indivíduos que, geralmente, sofrem preconceito e exclusão pela sua condição psíquica e encontram no CAPS uma possibilidade de socializar novamente, um dos principais pontos relatados por diversos pacientes entrevistados. Assim, considera-se essencial participar desse tipo de atividade, já que ela proporciona quebrar paradigmas quanto ao universo da saúde mental e eliminar preconceitos e medos que muitos têm. A experiência é transformadora e torna os envolvidos mais humanizados e preparados para lidar, não só com pacientes que apresentem psicopatologias, mas com qualquer ser humano que precise de ajuda, apoio e cuidado.
Referências CHINATO, Igor. Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. A relação médico-paciente e a formação de novos médicos: análises de vivências de hospitalização. Disponível em: <https:// rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/289> Acesso em: 2 de abril de 2017. Associação Pró Reintegração Social da Criança. A humanização na área de saúde mental pública: uma revisão teórica de trabalhos com equipes multiprofissionais. Disponível em: <http://www. associacaocrianca.org.br/Artigos/A-humanizacao-na-area-de-saude-mental-publica-uma-revisao-teorica-de-trabalhos-com-equipes-multiprofissionais. aspx> Acesso em: 2 de abril de 2017. LAURELL, Asa Cristina. A saúde-doença como processo social. Maria Améllya Nunes Diniz, Marcos Alencar Araripe do Amaral Junior, Maria Beatriz Menescal Pinto Lima, Maria Letícia Cavalcante Magalhães, Matheus Lira Arrais Maia, Matheus Mendonça Leal Janja e Samantha Sousa Silva (Alunos do 4º semestre do Curso de Medicina da Unichristus)
Orientação: Profa. Dirlene Mafalda Ildefonso da Silveira (Docente do Curso de Medicina da Unichristus)
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Encontro Nacional dos Estudantes de Engenharia Civil1
E
Estevam Júnior
m abril deste ano, tive a oportunidade de participar
do Encontro Nacional dos Estudantes de Engenharia Civil (ENEC), organizado pela Federação Nacional dos Estudantes de Engenharia Civil (FENEC), que aconteceu na cidade do Rio de Janeiro. Ao ter a informação sobre esse evento, procurei formas significativas de contribuir para o desenvolvimento desse encontro. Assim sendo, descobri o Desafio Civil, em que os estudantes teriam de mostrar um problema enfrentado pelos alunos de Engenharia Civil nas áreas de ensino, pesquisa ou mercado e, consequentemente, procurar uma solução. Assim, como as dificuldades que enfrentamos durante o Curso é tema presente nas conversas entre os colegas, cheguei à conclusão de que a falta da práti-
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ca na aquisição do conhecimento é uma das maiores dificuldades encontradas por estudantes do referido Curso. Com o apoio da Unichristus, principalmente da coordenação do Curso de Engenharia Civil, pude fazer uma pesquisa sobre o ponto de vista da instituição, dos professores e dos alunos. Desse modo, meu trabalho foi escolhido para ser apresentado no evento no dia 4 de abril de 2018. Contudo, além do artigo apresentado, a troca de conhecimento, o fortalecimento da aprendizagem e as experiências ouvidas foram essenciais para estimular e incentivar a minha continuidade nesse Curso, foi ter a certeza de que estou no caminho certo. Entretanto, o que mais me chamou a atenção foi a quantidade de contatos que pude fazer, um bom networking nos proporciona crescimento e oportunidades profissionais. Inclusive após o ENEC, fui chamada para
(Aluno do 3º semestre do Curso de Psicologia e extensionista do projeto Espera Terapêutica)
Prof. Rafael Ayres de Queiroz (Docente do Curso de Psicologia – Unichristus)
ajudar na organização da Conferência Nacional de Construção e Urbanismo (CONACON) que aconteceu no mês de setembro em Fortaleza. Após a minha participação no ENEC, pessoas me perguntaram como foi a experiência e se a presença no evento foi importante para a minha formação acadêmica. Diante de tais indagações, respondo sempre que a faculdade me proporciona momentos de crescimento pessoal, preparação para o mercado e oportunidades únicas, mas é sempre importante procurar outras formas de ampliar seus contatos e conhecimentos, por exemplo, a minha participação no ENEC. Dessa feita, um congresso contribui para a vida acadêmica e profissional, portanto é de grande importância envolver-se nesses eventos.
Depoimento da aluna do Curso de Engenharia Civil da Unichristus, Evelyn Timbó Dias Martins
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Curso de Psicologia realiza oficina sobre Drogas e Mapas Afetivos
O
Curso de Psicologia da Unichristus, por meio do Programa Escola Promotora de Saúde, promoveu uma oficina com a temática Drogas e Mapas Afetivos: espaço de ressignificação, na Escola Estadual Arquiteto Rogério Froes, com o objetivo de debater o assunto com estudantes de escola pública. O debate foi mediado pelos acadêmicos do Curso de Psicologia; Bruna Feitosa, Caroline Araújo, Clara Luiza, Lucas Gabriel, Paulo Holanda e Wanessa Falcão, sob a orientação e supervisão do professor Rafael Ayres.
Programa de Orientação Profissional: processo de escolha e autoconhecimento
O
Curso de Psicologia da Unichristus, por meio de seu Programa de Orientação Profissional, realizou nos meses de setembro e outubro atividades que favoreceram o processo de escolha profissional e de autoconhecimento dos estudantes da Escola Estadual Arquiteto Rogério Froes. O programa foi supervisionado pelos professores Rafael Ayres, Renan Brasil e contou com a participação dos acadêmicos do Curso de Psicologia Bruna Feitosa, Bruno Reis, Lucas Gabriel, Luíza Magalhães e Wanessa Falcão.
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Núcleo de Apoio Contábil (NAF) capacita alunos para realizar atendimento na nova plataforma virtual PGFN
N
o dia 10 de outubro, a Receita Federal do Brasil (RFB), com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) e os Núcleos de Apoio Contábil e Fiscal (NAF), promoveram um evento com intuito de capacitar os alunos dos NAFs do Estado do Ceará para realizar o atendimento à população, utilizando a nova plataforma virtual da PGFN, a REGULARIZE. Essa nova plataforma da PGFN substituiu o e-CAC da RFB e traz serviços para a emissão do Documento de Arrecadação de Receitas Federais (Darf),
de Arrecadação de Simples Nacional (DAS) e parcelamentos. O evento, intitulado “O papel da PGFN no macroprocesso do crédito tributário”, foi dividido em dois momentos, o primeiro com a procuradora-chefe Joana Marta Onofre, e o segundo com a aluna do Curso de Ciências Contábeis da Unichristus Maria das Graças Augusta de Lima. O público-alvo do evento era os alunos que compõem os NAFs das Instituições de Ensino Superior do estado do Ceará. A aluna Maria das Graças ministrou a capacitação prática
Maria das Graças Augusta de Lima (Aluna do 4º semestre do Curso de Contábeis)
para o Sistema Regularize. Sua atuação neste evento foi bem avaliada pelos profissionais que ali estavam, e este treinamento proporcionou novas oportunidades para a nossa aluna. Ela, que já era estagiária da Receita Federal, após sua apresentação, foi convidada a integrar o quadro de estagiários da PGFN para a implantação do primeiro autoatendimento orientado do PGFN no Brasil. Colab.: Profa. Ma. Maely Barreto Borges (Docente dos Cursos de Administração, Ciências Contábeis e Sistemas de Informação)
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artigos
Potencial Terapêutico da Mangifera indica
O
impacto potencial de certos alimentos e seus compostos
bioativos para reverter ou prevenir processos fisiopatológicos tem atraído intensa atenção de pesquisadores. Diversos vegetais, frutas, grãos, raízes, flores e sementes são ricos em compostos polifenólicos e oferecem efeitos benéficos na proteção contra doenças como cânceres, Diabetes, doenças cardiovasculares e neurodegenerativas (Morry, 2017; Csányi; Miller, 2014; Albarracin, 2012). De acordo com Aune e colaboradores (2017), uma dieta adequada evitaria várias mortes prematuras. Segundo os autores, estima-se que, em 2013, cerca de 5,6 e de 7,8 milhões de mortes prematuras em todo mundo poderiam ser atribuídas a uma ingestão insuficiente de frutas e vegetais, respectivamente. Mangifera indica (MI) pertence à família Anacardiaceae e é amplamente encontrada em muitas regiões tropicais e subtropicais e possui um dos frutos comestíveis mais populares em todo o mundo, a manga (Burton-Freeman, 2017). A MI possui diferentes componentes químicos, especialmente os polifenóis, flavonoides e triterpenoides (Shah, 2010). Entre eles destaca-se a mangiferina (MAG), um glicosídeo de xantona com uma ligação C-glucosil e quatro grupos hidroxílicos aromáticos,
disponível abundantemente em diferentes partes, tais como cascas do tronco, folhas e frutos (Lauricella et al, 2017). É um potente antioxidante com imensas propriedades relacionadas à saúde, como efeitos antivirais, anticancerígenos, antidiabéticos, antioxidantes, antienvelhecimento, imunomoduladores, hepatoprotectores e analgésicos.
Anticâncer A avaliação do potencial anticancerígeno da MI tem sido realizada por meio de estudos in vitro e in vivo. Peng e colaboradores (2015) observaram que a mangiferina promove, de forma dose-dependente, a parada do ciclo celular na fase G2/M de linhagem leucêmica. Apresenta também potencial terapêutico em células A549 de adenocarcinoma de pulmão (Shi et al, 2016) e, quando administrado com o medicamento anticancerígeno Cisplatina, afigura-se como efeito sinérgico, aumentando assim seu potencial antineoplásico. Todos esses mecanismos envolveram a inibição da proliferação na fase G2 / M e a indução de apoptose. Além disso, os autores demonstraram que a mangiferina foi capaz de diminuir o volume e peso da massa tumoral subcutânea e prolongar a sobrevida dos animais com xenoenxerto de células de adenocarcinoma de pulmão. Du Plessis-Stoman e colaboradores (2011), ao analisar a associação da mangiferina com fármacos já utilizados contra o câncer, verificaram que sua associação com o oxaliplatin apresentou efeito sinérgico ao induzir a morte
Hugo Jefferson Ferreira e Evandro Moreira de Almeida (Alunos do 7º semestre do Curso de Biomedicina)
Profa. Carolina Melo de Souza (Docente do Curso de Biomedicina)
celular de linhagens celulares, como a de câncer cervical (HeLa) e a de câncer de colón (HT29).
Antidiabético Ensaios pré-clínicos destacam o potencial efeito antidiabédico da MI. O efeito da ingestão de manga nos níveis de glicose no sangue de ratos normais e diabéticos foi estudado. Os resultados desta pesquisa sugerem que a farinha da manga pode ajudar no tratamento da diabetes (Perpétuo et al, 2003). Um extrato etanólico a 50% das folhas de Mangifera indica produziu um efeito hipoglicemiante significativo a uma dose de 250 mg / kg, tanto em animais diabéticos induzidos por estreptozotocina quanto em normais, possivelmente, devido à estimulação das células E para libertar a insulina (Sharma et al, 1995). Outro estudo demonstrou que a mangiferina exibiu um papel antidiabético em ratos C57BL / 6 J adultos, melhorando assim a tolerância à glicose, aumentando os níveis séricos de insulina e reduzindo a apoptose de células E pancreáticas (Wang et al, 2014). A administração oral de Mangiferina (40 mg / kg / dia) em ratos diabéticos durante 30 dias reduziu significativamente o nível de açúcar no sangue desses ratos e aumentou sua insulina plasmática. O mecanis-
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mo proposto envolveu a modulação de enzimas antioxidantes Superóxido HYPERLINK “https://pt.wikipedia. org/wiki/Super%C3%B3xido_ dismutase”dismutase (SOD), Catalase (CAT) e Glutationa peroxidase (GPx) hepáticas (Sellamuthu et al., 2013).
Citoprotetor O extrato da casca da Mangifera indica e a mangiferina apresentaram propriedades neuroprotetoras semelhantes contra insultos excitotóxicos induzidos por glutamato em cultura de neurônios corticais, um modelo in vitro de acidente vascular encefálico (AVE). As propriedades antioxidantes e a manutenção da integridade mitocondrial foram os mecanismos propostos (Lemus-Molina, et al., 2009). Outro estudo mostrou que a mangiferina exerceu a citoproteção contra a toxicidade induzida por cloreto de magnésio, aumentando significativamente os níveis de componentes de defesa antioxidante intracelulares, como a gHYPERLINK “https://pt.wikipedia.org/ wiki/Glutationa”lutationa reduzida (GSH), a SOD, a catalase, e a glutationa tranferase (GST), diminuindo a percentagem de células apoptóticas (Agarwala et al,2012). Por fim, estudos pré-clínicos indicam que a Mangifera indica apresenta um diversificado potencial terapêutico, pelo menos em parte, devido à presença da mangiferina. Vale salientar que a mangiferina se encontra em diferentes partes da planta, tais como cascas do tronco, folhas e frutos. Além disso, como o estresse oxidativo participa da fisiopatologia de uma ampla variedade de doenças crônicas, a investigação desse produto natural deve ser intensificada.
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Plano de Segurança da Água
N
as últimas décadas, tem-se iniciado um reconhecimento
das limitações em se monitorar somente o produto final da água como garantia de segurança para o consumidor. Para a garantia e segurança da qualidade da água, têm-se adotado estratégias preventivas onde os riscos devem ser identificados de forma proativa, além de devidamente avaliados e gerenciados. Este conceito tem se proliferado a partir do desenvolvimento dos planos de segurança da água: gerenciamento dos riscos para o suprimento de água, da captação ao consumidor final (HAMILTON et al., 2006). O controle da qualidade microbiológica e química da água para consumo humano requer o desenvolvimento de planos de gestão cuja aplicação constitua a base para a proteção do sistema de abastecimento de água (SAA) e o controle dos processos com a finalidade de garantir que as concentrações de agentes patógenos e substâncias químicas existentes ocasionem riscos insignificantes para a saúde pública e que a água seja aceitável para os consumidores. A denominação trazida pelos Guias da Organização Mundial da Saúde (OMS) para esses planos de gestão a serem desenvolvidos pelos prestadores de serviços de água
é “Plano de Segurança da Água” (PSA) (OMS, 2006). Um PSA engloba a avaliação e o desenho do sistema, os planos de gestão e o monitoramento operacional, incluindo ainda a documentação e a comunicação pertinentes. Os componentes de um PSA se baseiam no princípio das barreiras múltiplas, os princípios de análises de perigos e pontos críticos de controle (APPCC) e outros métodos de gestão sistemáticos. Os planos devem contemplar todos os aspectos do sistema de abastecimento de água para consumo, centrando-se no controle da extração, do tratamento e da distribuição da água (WHO/ IWA, 2009). Os PSAs correspondem à tradução e à sistematização dos conceitos e fundamentos que caracterizam a análise de risco aplicada ao abastecimento de água para consumo humano. São definidos como “instrumento que identifica e prioriza perigos e riscos em um sistema de abastecimento de água, desde o manancial até o consumidor, visando estabelecer processos para verificação da eficiência da gestão dos sistemas de controle e da qualidade da água produzida” (PÁDUA, 2009). Nesse contexto, pode-se observar a interface existente entre o PSA e os diversos instrumentos já bastante difundidos e de amplo conhecimento das áreas de Recursos Hídricos, de Gestão e de Saúde Ambiental, como: ava-
Profa. Dra. Soraia Tavares de Souza Gradvohl (Docente dos Cursos de Engenharia Civil e Arquitetura e Urbanismo)
liação de impactos ambientais, avaliação ambiental estratégica, planos de manejo, planos de gestão e planos de bacias, entre outros. As principais vantagens do desenvolvimento e aplicação de um PSA em sistemas que já proporcionam uma água inócua e de qualidade são: a avaliação e a classificação, de forma sistemática e detalhada, do grau de prioridade dos perigos, assim como o monitoramento operacional das barreiras ou medidas de controle. Ademais, um PSA compreende um sistema organizado e estruturado que reduz a probabilidade de falhas devido a descuidos ou omissões da gestão, assim como planos de contingência para responder a falhas do sistema ou a eventos perigosos imprevistos (WHO/FAO, 2003). Os objetivos principais de um PSA para garantir a aplicação de práticas adequadas no abastecimento de água potável são: a redução ao mínimo da contaminação da água bruta; a redução ou eliminação dos contaminantes mediante operações de tratamento; e, a prevenção da contaminação durante o armazenamento, a distribuição e a manipulação da água potável (OMS, 2006). Estes objetivos tornam-se alcançáveis a partir de algumas medidas necessárias, tais como (WHO, 2008):
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• conhecimento do sistema e sua capacidade de distribuir água que cumpra as metas de proteção à saúde; • determinação das possíveis fontes de contaminação e do modo como se pode controlar; • validação das medidas de controle empregadas para combater os fatores de perigo; • aplicação de um sistema de monitoramento das medidas de controle adotadas no sistema de abastecimento de água; • adoção de um prazo suficiente de medidas corretivas para garantir a distribuição contínua de água inócua; e, • verificação da qualidade da água potável, a fim de comprovar a correta execução do PSA e que sua eficácia é a necessária para cumprir as normas ou objetivos da qualidade da água pertinentes de âmbito nacional, regional e local. Visando à segurança da água para consumo humano, os PSAs são inseridos numa visão mais ampla, incluindo, de forma interativa, componentes diversificados, como a definição de metas de saúde a serem alcançadas ou resguardadas em um contexto socioeconômico, e consequentemente, em um perfil epidemiológico, além da abordagem de controle externo (auditoria, regulação e vigilância) (PÁDUA, 2009). Segundo a OMS (2006), a elaboração e aplicação de um PSA deve ser uma das responsabilidades de toda entidade que gerencie um sistema de abastecimento de água potável. Este
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plano deve normalmente ser examinado e aprovado pela autoridade responsável pela proteção da saúde pública, para garantir que a qualidade da água distribuída cumpra as metas de proteção de saúde estabelecidas. Quando não exista um prestador formal do serviço, a autoridade competente, nacional ou regional, deverá atuar como fonte de informação e orientação acerca da forma adequada de gerenciar as fontes de abastecimento de água para consumo, sejam comunitárias ou individuais. Sua responsabilidade incluirá a definição de requisitos relativos ao monitoramento operacional e à gestão. Em tais circunstâncias, os meios de verificação dependerão da capacidade das autoridades e comunidades locais e deverão estar definidos na política nacional pertinente, como de Saúde Ambiental, por exemplo. Um PSA compreende, no mínimo, três medidas essenciais, guiadas por metas de proteção à saúde e supervisionadas mediante a vigilância do abastecimento de água potável, para garantir a segurança da água para consumo, as quais são apontadas como de responsabilidade do prestador de serviço de água. São elas: avaliação do sistema; monitoramento operacional eficaz; e, gestão (OMS, 2006). O planejamento para a elaboração e aplicação de um PSA para cada sistema de abastecimento de água para consumo é o seguinte (WHO/IWA, 2009): • reunir uma equipe e adotar uma metodologia para o desenvolvimento de um PSA;
• determinar todos os perigos e eventos perigosos que podem afetar a segurança do sistema de abastecimento de água, desde a bacia de captação, o tratamento e a distribuição, até o ponto de consumo; • avaliar o risco associado a cada perigo e evento perigoso; • considerar se existem controles ou barreiras para cada risco significativo; • validar a eficácia dos controles e barreiras; • determinar em que casos há necessidade de novos controles ou melhorias; • aplicar um plano de melhoria, caso necessário; • demonstrar que a segurança do sistema se mantém de forma permanente; • reexaminar periodicamente os perigos, os riscos e os controles; • manter registros fidedignos para oferecer transparência e justificar os resultados. Pode-se observar que dentre as etapas apresentadas, aquelas englobadas desde a determinação dos perigos e eventos perigosos até a proposta de aplicação de um plano de melhoria contemplam exatamente o processo de avaliação de riscos. Percebe-se, portanto, a importância deste instrumento para a implantação do PSA. As etapas fundamentais para a elaboração de um plano de segurança da água (PSA) são apresentadas na Figura 01. A aplicação de um PSA deve ter como objetivo principal a prevenção de contaminação nas fontes naturais
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Figura 01 – Resumo das etapas fundamentais da elaboração de um PSA.
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• quanto à conveniência de se aprofundar mais na discussão e mecanismos de vigilância que privilegiem incentivos (e.g.: instrumentos econômicos) à adoção das “boas práticas” (inclusive os planos de segurança da água) em oposição às práticas comando/controle, próprias da tradição cultural da vigilância; e, • se a efetiva participação da sociedade na vigilância da qualidade da água para consumo humano está prevista e tem sido adequadamente praticada, ou se há necessidade de instrumentos mais eficazes.
Bibliografia Consultada HAMILTON, P. D.; GALE, P.; POLLARD, S. J. T. A commentary on recent water safety initiatives in the context of water utility risk management. Environmental International, n. 32, p. 958-966, 2006. HELLER, L. et al. Terceira Edição dos Guias da Organização Mundial da Saúde: Que impacto esperar na Portaria 518/2004? In: 23º CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 2005, Mato Grosso. Anais... Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, 2005. OMS - ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD. Guias para La Calidad del Agua Potable - Primer Apéndice a la Terceira Edición. V. 1. Recomendaciones. Genebra-Suiça: WHO, 2006. XIII – 393 p. PÁDUA, V. L. (Coordenador) Remoção de microrganismos emergentes e microcontaminantes orgânicos no tratamento de água para consumo humano. 1ª Ed. Rio de Janeiro: ABES, 2009. 392 p.
ŹFonte: Adaptado de OMS, 2006, p. 50.
de água, a redução ou remoção de contaminação durante o processo de tratamento e a prevenção de contaminação durante o transporte, a reserva e a distribuição da água, garantindo boas práticas no abastecimento público de água (VIEIRA et al., 2008). Entretanto, Heller et al. (2005) trazem também algumas indagações bastante pertinentes a esse respeito, alegando que, com a implementação do Plano de Segurança da Água, as auditorias poderão ser mais específicas e minuciosas, dado o maior acúmulo de informações gerenciais, de monitoramento e operação que este plano proporcionará:
VIEIRA, J. et al. Experiência da Aplicação do Plano de Segurança da Água na Águas do Cávado, SA. Engenharia Civil - UM, n. 33, p. 5-16, 2008. WHO - WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guidelines for Drinking-water Quality: Incorporating the First and Second Addenda. 3a Ed. V. 1. Recommendations. Genebra: WHO, 2008. XX – 516 p. WHO/FAO - WORLD HEALTH ORGANIZATION / FOOD AND AGRICULTURE UNITED NATION ORGANIZATION. Caracterización de peligros de patógenos en los alimentos y el água: Directrices. Serie de evaluación de riesgos microbiológicos 3. Genebra: FAO/WHO, 2003. 68 p. WHO/IWA - WORLD HEALTH ORGANIZATION / INTERNATIONAL WATER ASSOCIATION. Water safety plan manual: step-by-step risk management for drinking-water suppliers. Genebra: WHO/IWA, 2009. 102 p.
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Psicopatologia das condutas centradas no corpo: anorexia nervosa em adolescente do sexo feminino Introdução
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entre as psicopatologias centradas no corpo, a
anorexia nervosa como tipologia de transtorno alimentar de grande incidência na atualidade em adolescentes do sexo feminino será a temática abordada neste artigo. O corpo encontra-se no centro da maior parte dos conflitos do adolescente. As transformações morfológicas da puberdade e a irrupção da maturidade sexual recolocam em questão a imagem corporal que, pertencendo ao registro do simbólico, utilizará pulsões libidinais e agressivas na apresentação dos mais diversos tipos de sintomas. Seguindo o pensamento de Marcelli & Braconnier (1989), de que “a corpulên-
cia e/ou a absorção alimentar servem para resolver ou dissimular problemas adaptativos inter nos e externos”, na clínica estas perturbações assumem a forma de modificações ponderais estáveis (obesidade, anorexia nervosa) ou flutuantes, ou de preocupações dietéticas excessivas ligadas, em geral, à aparência corporal, acarretando hábitos alimentares particulares. O ato de comer constitui-se uma das necessidades básicas do homem para a preservação de sua sobrevivência. A dinâmica do processo de alimentação inicia-se já na vida intrauterina, quando através do cordão umbilical a mãe veicula sangue, oxigênio, alimento e toda uma química emocional para o feto, cuja influência será decisiva para o desenvolvimento do bebê. Após o nascimento, o primeiro evento social da vida da criança ocorre com a interação entre mãe e filho na situação de alimentação. A amamentação não é apenas um processo fisiológico de alimentar o bebê, mas, psicologicamente falando, envolve um padrão mais amplo de comunicação psicossocial entre estes, tendo a grande vantagem de reduzir o efeito traumático da separação provocada pelo parto.
Yvana Coutinho de Oliveira (Aluna do 5º semestre do Curso de Psicologia)
Orientador: Prof. M.S. João Vitor Moreira Maia (Docente do Curso de Psicologia)
É fato que a criança vivencia um longo processo evolutivo desde as primeiras mamadas ao desmame e, mais tardiamente, a introdução de alimentos sólidos. A transição entre ser alimentada e alimentar-se por si mesma, comer com sua própria mão e aprender a fazer uso de talheres, leva à gradual dissipação da relação mãe-alimento e, também, de certa desexualização da comida e do prazer centrado na alimentação, decorrente da saída da fase oral do desenvolvimento psicossexual, favorecendo atitudes racionais para com o alimento as quais serão decisivas para os hábitos alimentares da vida adulta. Segal (1975), utilizando os constructos teóricos da teoria kleiniana, refere que a vivência pela criança relacionada à gratificação de um “seio bom” deverá ter predominância sobre as ansiedades persecutórias relacionadas a um “seio mau” porque constituirão a base de um desenvolvimento psíquico saudável. A analogia seio bom e seio mau relativas às vivências do bebê com relação ao mundo objetal estão
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intrinsecamente atreladas às situações de alimentação. Deste modo, são muitos os fatores psicogênicos que poderão ocasionar efeitos deletérios no processo de alimentação, o que pode configurar, no futuro, sintomatologia de anorexia nervosa.
Discorrendo sobre a anorexia nervosa A quantidade de alimento que uma pessoa deve ingerir normalmente é aquela que possa satisfazer a vontade de se alimentar e que seja suficiente para lhe assegurar a homeostase orgânica. Mas, o indivíduo pode desejar quantidades inadequadas, para mais ou para menos, com consequências danosas à sua saúde, modificando sua imagem corporal. Quando a ingestão de alimentos é menor do que o necessário, se inicia um processo de desnutrição, configurando um caso de anorexia nervosa. Gwirtsman e Ebert, citados por Ebert, Loosen & Nurcomb (2002), referem que a anorexia nervosa como transtorno alimentar pode ser classificada como uma doença psicossomática verdadeira, na medida em que uma vulnerabilidade biológica básica interage com determinado estresse cultural, de modo a produzir sintomas comportamentais e psicológicos. Ainda ressaltam que existe uma prevalência maior de anorexia nas sociedades industrializadas, onde existem alimentos em abundância e onde a atratividade fe-
minina está relacionada com a magreza. Imigrantes oriundos de culturas nas quais a anorexia nervosa é rara tendem a desenvolver a doença à medida que assimilam os ideais de uma aparência corporal esbelta. A incidência e a prevalência dos transtornos alimentares, tanto anorexia como bulimia, cresceram ao longo do século XX, devido às pressões culturais nas sociedades industrializadas (especialmente, sobre as mulheres), estimulando a ênfase em uma figura feminina esbelta, de formas quase pré-púberes. Esta ênfase é retratada em revistas, na indústria do entretenimento e nos concursos de beleza. Entretanto, é improvável que a anorexia nervosa tenha um fundo unicamente cultural, pois parece haver descrições do quadro na Idade Medieval, quando as pressões culturais eram diferentes das de hoje. No Século XIII, na Hungria, por ocasião da invasão dos tártaros, o Rei Béla IV prometeu consagrar um de seus filhos a Deus, caso os invasores deixassem seu país. Em cumprimento à promessa feita, a princesa Margarita foi entregue a religiosas para que fosse educada. Sua vida monástica, documentada nos Anais do Vaticano e em processo de canonização, corresponde à de uma jovem anorética, que se esgotava em trabalhos pesados e constantemente recusava-se a comer. Faleceu aos vinte e seis anos, vitimada por uma doença febril e em precárias condições físicas.
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Buoncompagno, Oliveira e Silva (1985) relatam que a preocupação com a anorexia nervosa já aparece no ano de 1500, descrita por um médico italiano chamado Símon Porta. Em 1689, Morton e, em 1771, Csapó, mencionaram a anorexia como uma inquietude psíquica das jovens. Em 1868, William Gull, numa publicação clássica, chamou a atenção para as peculiaridades da enfermidade: ocorria em mulheres jovens e solteiras, inteligentes, introvertidas, geniosas, egocêntricas, perfeccionistas, sensíveis, com condutas impulsivas e autopunitivas. Em 1873, Cull e Laségue, na França, apresentaram descrições detalhadas acerca da afecção relacionada a um transtorno psíquico. Nos escritos de Freud, por volta de 1893/1896, há inclusão da anorexia nervosa com manifestação predominantemente histérica. Hoje, com o avanço dos estudos das Neurociências, acredita-se que parte da etiologia dos transtornos alimentares deve ser biológica (perturbações nas monoaminas do sistema nervoso central, particularmente noradrenalina e serotonina, e em determinados neuropeptídios foram descritas na fase aguda da enfermidade), sendo o grau de expressão fenotípica determinado por fatores culturais. As taxas de prevalência no período da vida para a anorexia nervosa em mulheres são aproximadamente 0,5 a 1,0 em 100 a 200 indivíduos. Mais de 90% dos indivíduos afetados são do sexo feminino e
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os dados relativos à prevalência no sexo masculino são escassos. No mundo inteiro, o transtorno parece ser mais comum na Europa, além de países como Estados Unidos, Canadá, Austrália, Japão, Nova Zelândia e África do Sul. O início da doença é bimodal, ocorrendo um pico no início da adolescência (dos 12 aos 15 anos) e outro na adolescência tardia e início da idade adulta (dos 17 aos 21 anos). Raramente aparece antes da puberdade ou tem início depois dos 40 anos. Quanto à genética, as taxas de concordância para os gêmeos monozigóticos com anorexia nervosa são mais elevadas do que as dos dizigóticos. Entre os parentes de primeiro grau existe um risco aumentado de anorexia nervosa e transtornos do humor, sendo este último encontrado particularmente entre os parentes de indivíduos com o tipo comer compulsivo/ purgação. A perda de peso é obtida mediante a redução da ingestão total de alimentos e envolve também a exclusão de alimentos calóricos, levando a uma dieta extremamente restrita. Os pacientes podem perder peso mediante purgação (via autoindução de vômitos ou uso indevido de laxantes e diuréticos), ou por decorrência de exercícios físicos excessivos. À medida que avança o declínio ponderal, pode aumentar o medo do paciente de engordar. A distorção da imagem corporal que esses indivíduos experimentam tem uma ampla variação, indo desde
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a crença fervorosa de que têm um excesso de peso generalizado até a percepção do indivíduo de que é magro, mas está insatisfeito com as proporções de certas partes do corpo, como coxas, nádegas, barriga. O paciente também pode alegar inapetência ou desconforto epigástrico como motivação manifesta para a restrição alimentar. A autoestima dos pacientes com anorexia nervosa é extremamente dependente da forma e do peso corporais e parecem obcecados com o emprego de uma variedade de técnicas destinadas a avaliar o tamanho do corpo, incluindo pesagens frequentes, medição de partes do corpo, olhar-se no espelho em busca de pontos de gordura. A perda de peso é considerada uma conquista admirável de uma autodisciplina incomum, ao passo que o ganho ponderal é visto como um fracasso inaceitável do autocontrole. Os pacientes negam as sérias consequências da desnutrição. A maioria tem obsessões relacionadas à comida. Armazenam alimentos ou colecionam receitas, podendo envolver-se no preparo dos alimentos para a família ou em profissões relacionadas. Também podem apresentar temores de comer em público. Para Ebert, Loosen e Nurcombe (2002), os sinais de inanição respondem pela maioria das características físicas da anorexia nervosa: emagrecimento, hipotensão importante, especialmente ortostática, bradicardia, hipotermia, pele
seca e escamosa, lanugo (presença de pelos finos no tronco e nas extremidades), edema periférico (muito comum nos tornozelos), petéquias nas extremidades, compleição pálida e doentia, hipertrofia de glândulas salivares, particularmente da parótida, erosão do esmalte dos dentes e sinal de Rassel (cicatrizes e calos nas palmas das mãos). A amenorreia pode anteceder o início de um apreciável decréscimo de peso, podendo estar relacionada à perda dos reservatórios corporais de gordura, mais do que a redução de massa corporal. Atraso na menarca pode ocorrer em meninas pré-púberes. Há pacientes que, mesmo sem comer compulsivamente, envolvem-se em comportamentos purgativos, vomitando depois de ingerir pequenas quantidades de alimentos. É comum o uso de laxantes. Condições médicas gerais como doenças inflamatórias intestinais, hipertireoidismo, tumores malignos e Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – SIDA podem causar grave perda de peso; entretanto, é raro que os pacientes com tais doenças tenham uma imagem corporal distorcida, um temor de ficar obesos ou um desejo de perder ainda mais peso. Tais condições médicas também não estão associadas com aumento de exercícios e atividades físicas, exceto no caso do hipertireoidismo. A síndrome da artéria mesentérica superior, um distúrbio caracterizado por vômito pós-prandial secundário à
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obstrução gástrica intermitente, pode anteceder ou ocorrer paralelamente à anorexia nervosa, quando um emaciamento significativo estiver presente. A coexistência de transtorno depressivo pode dificultar o diagnóstico diferencial. Mesmo após a recuperação do peso, pacientes com anorexia podem experimentar episódios depressivos que exijam intervenção. Os indivíduos com esquizofrenia podem apresentar padrões ponderais oscilantes e crenças bizarras relacionadas à comida. Indivíduos com anorexia nervosa raramente procuram ajuda de um profissional por conta própria, sendo persuadidos ou forçados pela família a buscar avaliação e tratamento. Não há queixas da perda de peso em si, mas do sofrimento somático ou psicológico relacionados às consequências da inanição, tais como intolerância ao frio, fraqueza muscular ou perda de energia, constipação intestinal, dor abdominal e lentificação mental. Com frequência negam o problema central e a história obtida a partir deles não é confiável, devendo-se incluir a família para obter informações. Uma abordagem multiprofissional é essencial no tratamento da anorexia nervosa. Os pacientes podem necessitar de intervenção médica intensiva e de urgência para corrigir os desequilíbrios hidreletrolíticos, problemas cardíacos e falência de órgãos. O advento das terapias comportamentais redu-
ziu acentuadamente a morbimortalidade da doença, sendo atualmente a peça-chave da maioria dos programas de internação. A recuperação ponderal deve ser um dos objetivos centrais para o paciente com grave perda de peso, sendo que a maioria dos pacientes necessitará de tratamento em regime de internação, durante o qual será possível obter uma situação de controle das condições ambientais. É importante que os pacientes sejam envolvidos em terapia familiar e individual de modo a assegurar a sua cooperação e aliança dentro do programa de tratamento, incentivando-os ao consumo de quantidades cada vez maiores de calorias para que possam obter privilégios tais como, mais atividades, redução do controle por parte da equipe, visitas de familiares e sessões terapêuticas. Atenção especial deve ser dada à gradual re-ingestão calórica nesses pacientes. Agentes farmacológicos tais como antidepressivos, neurolépticos, ciproeptadina e lítio podem ser úteis em anoréticos com características também depressivas e/ou psicóticas. No entanto, ainda não foi descoberto nenhum agente psicofarmacológico que consiga induzir um paciente anoréxico a alimentar-se e ganhar peso fora de um programa estruturado de orientação comportamental.
Relato de caso clínico Paciente púbere com idade de 13 anos, natural e proce-
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dente do estado de São Paulo, estudante do 7º ano do Ensino Fundamental em escola pública. É a primogênita de uma prole de três filhos, sendo a única de gênero feminino. A mãe não conseguiu amamentá-la quando nasceu, por um problema de depressão puerperal, o que não ocorreu no nascimento dos outros filhos. No relato da genitora, a criança, nunca se alimentou bem, mas por volta de 8 anos, começa a ter mais dificuldades em aceitar comida de panela e outros alimentos importantes para o seu crescimento e desenvolvimento físico: leite, ovos, cereais, frutas e verduras. Passa a ter grande seletividade alimentar. Aos 13 anos, a púbere ainda apresenta uma compleição física de uma criança de 8 ou 9 anos. O pai é proprietário de um estabelecimento comercial de distribuição de alimentos. A mãe exerce atividade doméstica no lar e, embora sendo a paciente a única filha mulher, brigam com muita frequência. Ela acha que a filha é mais apegada ao pai e tem ciúmes por isso. A paciente descreve a mãe como controladora, manifestando também atitudes superprotetoras exageradas e ambivalentes com a filha: não a deixa ir para a casa de amigas, limita diversões, não a deixa escolher as próprias roupas, exige alto desempenho na escola. Isto provoca na adolescente um sentimento de baixa estima e uma sensação de autodepreciação por não corresponder aos desejos impostos pela mãe.
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Os vômitos tiveram início há 02 anos. Antes induzidos pela paciente, passaram a ser frequentes após a ingestão de qualquer alimento. Às vezes, a paciente comia gema de ovo crua com mel ou outras misturas que provocavam o vômito. Já tendo ocorrido a menarca aos 12 anos, a paciente passa a apresentar baixo peso ponderal com tecido celular subcutâneo diminuído, amenorreia, lanugem, cabelos finos e quebradiços e com queda aumentada, extremidades frias, ossatura aparente, dor abdominal. Ao exame psíquico: olhar triste e sem brilho, orientada auto e alopsiquicamente, atenção e memória preservadas, humor depressivo e apatia, sem manifestação de distúrbios sensoperceptivos, abúlica e sem julgamento crítico acerca da sua condição de sofrimento psíquico. Passou a apresentar choro fácil, pensamentos de conteúdo depressivos e baixo desempenho escolar. A condição de subnutrição e quadro depressivo levaram-na à internação hospitalar para suporte clínico-nutricional e acompanhamento psiquiátrico e psicológico. Subiabre et al (2015) afirmam existir um consenso para a hospitalização nestas pacientes, no propósito de reverter o perigo iminente do quadro crítico, mediante a realimentação e a intervenção nos componentes psicossociais afetados.
Considerações Finais Conforme pesquisas publicadas, a questão diagnóstica da anorexia não é simples, por-
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que a variação das manifestações sintomáticas dificulta o seu diagnóstico precoce. É também uma doença que envolve psicodinamismos familiares, exigindo uma abordagem multidisciplinar e condutas terapêuticas específicas, especialmente com a participação de profissionais da saúde mental. Os estudos de seguimento mostram que cerca de 25% dos pacientes irão ter resultados desfavoráveis com o tratamento. De 5 a 10% destes pacientes morrem em consequência das complicações de inanição e do desequilíbrio hidreletrolítico. Metade dos pacientes irá continuar com uma relação bizarra no que diz respeito à comida, tais como comer compulsivo, uso de laxantes ou outros rituais alimentares obsessivos, conservando também distorções acerca da sua imagem corporal. Essas observações indicam que as sequelas psicológicas da anorexia nervosa são, talvez, as mais persistentes e resistentes ao tratamento. Evocamos Soifer (1985) quando caracteriza este distúrbio psicossomático da adolescência de obstinada negação em comer com antecedentes de inapetência e fobia alimentar na infância, uma tentativa de suicídio, um angustiante pedido de ajuda e de imposição de limites, que necessitarão de acompanhamento e apoio psicoterápico por um tempo maior que os ajustes predominantemente clínicos. Com o diagnóstico precoce pode-se ter um prognóstico
favorável da maioria dos casos. Os pais também precisam estar atentos aos sintomas iniciais que podem indicar uma enfermidade anorética. A educação com crianças, adolescentes, pais e professores é uma intervenção que necessita ser contínua, propiciando sempre reflexões sobre as questões do corpo e do sentido dos sintomas nos transtornos alimentares na contemporaneidade.
Referências Boarati, M. A.; Pantano, T.; Scivoletto, S. Psiquiatria da infância e adolescência: cuidado multidisciplinar. São Paulo: Manole, 2016. Buocompagno, E. M.; Oliveira, M. L. C.; Silva, A. G. C. R. Anorexia nervosa em adolescente do sexo feminino. Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização em Psiquiatria e Psicologia Clínica da Adolescência. Departamento de Psiquiatria. Faculdade de Ciências Médicas. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1985. Ebert, M. H.; Loosen, P. T.; Nurcombe, B. Psiquiatria: diagnóstico e tratamento. Porto Alegre: Artmed, 2002. Marcelli, D. & Braconnier, A. Manual de psicopatologia do adolescente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989. Segal, H. Introdução à obra de Melanie Klein. Imago: Rio de Janeiro, 1975. Soifer, R. Psiquiatria infantil operativa: psicopatologia. Artes Médicas: Porto Alegre: 1985. Subiabre, S. C. et al. Significados sobre la experiencia de hospitalización en pacientes adolescentes diagnosticados con anorexia nerviosa. Revista Chilena de Neuro-psiquiatria, Santiago , v.53, n.2, p. 100-109, jun. 2015 .
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A marca na transformação do modelo de negócios de mídia impressa na era da informação digital no Brasil
O
ambiente digital conectado vem modificando a estrutura de
comunicação na sociedade, uma vez que a informação pode ser consumida ou produzida instantaneamente em qualquer lugar do planeta, além da mudança de papéis dos elementos
Adriano Medeiros Mollik Graduado em Marketing (2011) e em Publicidade e Propaganda (2012). Pós-graduado no curso de MBA em Gestão Estratégica de Marcas (2014) e no curso de MBA em Gerência de Marketing pela Unichristus (2018).
Maria Ivete Almeida Holanda Bacharel em Administração (1986) e graduação em Turismo (2002). Especialista em Administração Hoteleira (1998) e mestre em Administração de Empresas (2003).
Iany Bessa Silva Menezes Pedagoga (Unichristus). Mestre em Formação de Professores. Especialista em Recursos Humanos, Arte Educação, Educação Infantil, Psicopedagogia. Atua na Gestão de Pprojetos Educacionais. Professora de Metodologia Cientí¿ca.
de comunicação, uma vez que os mesmos estão ampliando funções ou assumindo novos papéis nesse processo, impactando diretamente no modelo tradicional de negócios de comunicação por todo o mundo. Segundo dados do Instituto Verificador de Comunicação (IVC, 2018), empresa que audita a circulação de jornais e revistas no mercado publicitário mundial, no Brasil, de agosto de 2012 a agosto de 2017, os quatro maiores jornais impressos em circulação paga no país (Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, O Globo e Zero Hora) registraram uma queda média de 45,1%, o que representa um número absoluto de mais de 405 mil exemplares diários que saíram de circulação no país. Para Porter (2014), como parte de uma estratégia aplicada em um segmento de indústrias, deve-se analisar estruturas competitivas de acordo com as cinco forças mencionadas pelo autor, no seu respectivo livro, Estratégia Competitiva. São elas: ameaça de novos entrantes; intensidade de concorrência das
indústrias existentes; pressão de produtos substitutos; poder de negociação com fornecedores; e poder de negociação com compradores. Além das forças supracitadas, o autor reforça que se faz necessário analisar um grande número de fatores que podem, potencialmente, impactar a competição do mercado. Porter (2014) aponta outro fator a ser analisado: os sinais de mercado. Em análise dos dados de publicidade impressa no mundo, de 2010 a 2014, segundo a Associação Nacional de Jornais (ANJ, 2018), os números apontam uma queda de 17,51% no meio do período. Enquanto a publicidade de jornais caiu, a publicidade pela Internet, de 2003 a 2014, saltou de 4% para 24% na participação total do investimento publicitário mundial, ficando atrás apenas da televisão, que ocupa a primeira posição com pouco menos de 40%. Para Larry Kilman (apud ANJ, 2018), secretário-geral da WAN-IFRA, Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias, “a suposição básica do modelo de negócio de notícias (o subsídio que os anuncian-
tes forneceram durante muito tempo ao conteúdo de notícias) terminou”, em referência ao período em que a publicidade chegou a contribuir com 80% das receitas em alguns jornais do mundo. O secretário ainda ressaltou ser uma mudança estrutural, cujo modelo de negócios deixa de ser business-to-business, entre empresas, e passa a ser business-to-consumer, entre empresa e consumidor.
A Relevância da marca na transformação do modelo de negócios Tradicionalmente, as marcas representavam apenas um elemento de marketing para vendas, contudo, à medida que se constituíram como um diferencial para as empresas passaram a assumir uma importância maior, transformando-se em elemento modelador de negócios e integrante do ativo intangível destas. De acordo com Mattar et al. (2008), a gestão de marca ganhou maior importância nas últimas três décadas, quando passou a constatar a padronização da oferta de produtos similares pelo mesmo segmen-
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to de produtores, devido ao acesso comum de tecnologias, restando às empresas utilizarem a gestão para a formação de marcas de valor para o desenvolvimento de vantagens competitivas sustentáveis. A partir desses aspectos, reconhece-se que as marcas desempenham papéis fundamentais na atribuição de valor agregado, onde surge o brand equity, valor da marca. Para Kotler (apud BENNETT et al., 2016, p. 70), uma marca deve manter esforços para passar um propósito, identidade, credibilidade, posicionamento e benefícios. Além disso, ressalta que a empresa precisa saber o que está sendo feito, qual a sua posição no mercado, quais são os valores e como se diferenciam dos seus concorrentes de uma maneira positiva. De acordo com Bennett et al. (2016), o brand equity das empresas de mídia impressa relaciona-se à reputação construída, ou seja, configura a credibilidade do serviço prestado. Assim, os veículos de comunicação impressa que trabalharem a credibilidade terão audiência fiel. Foi também por meio do atributo credibilidade que o jornal americano The New York Times apostou, quando, em 2014, reformulou seu modelo de negócios, época em que lançou o paywall, modelo de assinatura digital, preparando-se para a transformação do modelo de negócio impresso para o digital. Segundo o site Advertising Age (apud Meio&Mensagem, 2018), a New York Times Co., empresa controladora do jornal The New York Times, reportou um lucro anual de US$ 112,3 milhões, em 2017, crescimento de 10,6% na comparação com 2016. Até o final do ano de 2017, o jornal já tinha aproximadamente 2,6 milhões de assinaturas exclusivamente digitais, o que configura um
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crescimento de 46% na comparação com 2016. A verba vinda de assinantes chegou a US$ 1 bilhão, correspondendo a 60% do total de receitas, que fechou o ano em US$ 1,7 bilhão. No Brasil, a Pesquisa Brasileira de Mídia (PBM, 2018), elaborada anualmente pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (SECOM), apontou que, em 2016, 49% da população declararam, em primeira e segunda menções, que utilizam a web para obter notícias, posição só desbancada pela TV, pois 89% dos entrevistados afirmaram que preferem a mídia visual. O meio jornal ficou com apenas 3%. Contudo, quando o quesito é confiança, a mídia impressa, no caso, o jornal, lidera o ranking entre todos os meios na mesma pesquisa, com 59% contra 57% da TV. Abordando dados ainda da referida pesquisa, 63% dos brasileiros afirmaram confiar poucas vezes no que foi publicado nas redes sociais. Assim, o surgimento de novas tecnologias disruptivas, a mudança no comportamento do consumo da informação, o aumento do número de pessoas conectadas e a queda da tiragem de exemplares dos grandes jornais evidenciam, a partir de uma análise das cinco forças de Porter (2014), uma necessidade de reinvenção das empresas de mídia impressa. A era digital, além de desonerar os modelos de negócios, torna o processo mais rápido e centrado no cliente, gerando novos fluxos de receitas e aumentando a vantagem competitiva. Já as marcas possuem o poder de diferenciar ofertas na mente do consumidor. Portanto, a remodelagem de negócios das empresas dessa indústria deve estar centrada na credibilidade da marca e focar nas necessi-
dades de seus leitores, fortalecendo os valores de marca e mantendo economicamente suas atividades no mercado, que hoje devem passar de veículos de comunicação, intermediadores, para produtores de conteúdo, mediadores segmentados. Nesse sentido, conclui-se que a migração, a utilização de estratégias de negócios para era digital e a manutenção e o desenvolvimento de marcas jornalísticas relevantes podem permitir, por enquanto, a manutenção das atividades das empresas dessa indústria a partir de uma transformação do modelo adotado.
Referências BENNETT, Mathew et al. Innovation in News Media World Report 2016. 18th edition. WAN-IFRA, Espanha, 2016. KELLER, Kevin; KOTLER, Philip. Administração de Marketing. 14ª edição. São Paulo, SP: Pearson, 2012. MATTAR, Fauze Najib et al. (Org.). Gestão de marcas, mercados, produtos e serviços: Estratégias e Ações para alcançar e manter-se “top of market”. São Paulo: Atlas, 2010. 320 p. PORTER, Michael E. Estratégia Competitiva: Técnicas para Análise de Indústrias e da Concorrência. São Paulo: Elsevier, 2014. 448 p. ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS (ANJ). (Brasil). Tendências da Imprensa Mundial: As receitas obtidas pelos jornais mudam para novas fontes. Disponível em: <http://bit.ly/2FSxUnk>. Acesso em: 15 fev. 2018. INSTITUTO VERIFICADOR DE COMUNICAÇÃO (IVC). (Brasil). Sistema de Informação Jurada do Auditado (IJA). 2018. Disponível em: <http://bit. ly/2pelY5Z>. Acesso em: 09 fev. 2018 SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA (SECOM). (Brasil). Pesquisa Brasileira de Mídia - 2016: Pesquisa Final. Disponível em: <http://bit.ly/pbm2016>. Acesso em: 09 mar. 2018.
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Vivências Práticas: Relato de Experiência visão dos discentes
N
o meio acadêmico de Fisioterapia, é de suma
Beatriz Carneiro da Mota, Heloísa Araújo da Silva, Karla Evangelina Fonseca Barreira e Mayara Cristina Lima Martins (Alunas do 4º semestre do Curso de Fisioterapia)
Thaís Souza Lôbo
importância que os discentes
(Aluna do 7º semestre do Curso de Fisioterapia)
tenham oportunidades de unir
Profa. Dra. Mirizana Alves de Almeida (Docente do Curso de Fisioterapia)
os conhecimentos teóricos com os práticos. Para que essa união seja mais significativa, nada melhor que a vivência da prática clínica e a interação com o paciente. Pensando nisso, as professoras Dra. Mirizana Alves de Almeida e MSc. Magnely Nascimento David, docentes da disciplina de Fisiologia Humana I, desenvolveram atividades de vivências práticas, a fim de potencializar o ensino e a aprendizagem dos alunos do segundo semestre do curso de Fisioterapia do Centro Universitário Christus. A disciplina de Fisiologia Humana, presente na grade curricular dos cursos da saúde, é uma disciplina básica essencial na formação do acadêmico. Em geral, os alunos apresentam grande dificuldade de aprendizado, seja pelo conteúdo complexo da disciplina, seja por dificuldades com conhecimentos prévios de que o discente necessita (BARROS et al., 2012). É muito importante
o aluno observar que a teoria e a prática estão altamente vinculadas e a vivência da prática clínica enriquece essa percepção e auxilia na valorização do conteúdo, além de estimular a independência e busca do aprendizado (GARCIA et al., 2006). As atividades de vivências práticas proporcionaram aos alunos um contato direto e supervisionado com o paciente para a aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos tanto em aulas teóricas quanto em aulas práticas realizadas em laboratório. As aulas teóricas são essenciais para construir o co-
nhecimento dos alunos e as aulas laboratoriais são fundamentais para “sedimentar”, trazer para o concreto conceitos e mecanismos que foram ensinados. As vivências práticas possibilitam levar o aluno para o ambiente da clínica e contextualizar o aprendizado para a realidade (ALVES et al., 2011). A aplicabilidade do conhecimento transmitido conduz o aluno a perceber a importância deste conhecimento para seu aprendizado, além de confrontá-lo com o que realmente foi retido do conteúdo ministrado em sala de aula, através de uma autoavaliação real em contato
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com a prática clínica cotidiana com os pacientes. Esse momento é riquíssimo, posto que o discente tem a oportunidade de constatar o valor do conhecimento adquirido por meio do processo de ensino-aprendizagem oportunizado pela vivência prática. Na primeira vivência prática da disciplina foi abordada a temática tipagem sanguínea. Os alunos foram divididos em grupos e organizados em ilhas de atendimento, as quais continham todo o material necessário para a prática. Em seguida, foram realizados a tipagem sanguínea e o fator Rh dos pacientes da clínica escola de Fisioterapia da Unichristus que estavam presentes no dia da vivência, bem como dos acompanhantes, funcionários, alunos de outras disciplinas e professores da clínica. A segunda vivência, ocorrida na clínica escola de Odontologia da Unichristus, tratou sobre pressão arterial e diabetes. Na ocasião, os discentes realizaram nos pacientes presentes, bem como em funcionários, alunos e profes-
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sores da clínica, a aferição da pressão arterial e a medida da glicemia, esclarecendo os valores desejáveis e distribuindo um folheto informativo sobre a temática, o qual foi elaborado pelos próprios alunos. Os alunos novamente foram divididos em grupos, nos quais uns ficavam responsáveis pela aferição da pressão e outros pela medida de glicemia e orientação acerca da educação em saúde. Em seguida, os participantes trocavam de posição, a fim de que todos os alunos passassem pelas duas experiências. Para este trabalho, foram usados os seguintes materiais: esfigmomanômetro, estetoscópio, álcool, algodão, lanceta, fita reagente e glicosímetro. Em todas as vivências foram utilizados Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), os professores estavam presentes supervisionando e orientando as atividades que só foram realizadas após treinamento dos alunos no Laboratório de Fisiologia, onde é ensinada a técnica correta dos procedimentos e é estimulada a prática com o propósito de
que os discentes tenham total segurança nos procedimentos para só então terem contato com os pacientes. Durante a atividade de vivências práticas, foi possível notar o despertar de interesse, maturidade e a busca pela autonomia na execução de atividades por parte de todos os alunos, ficando notável, tanto para as docentes como para os discentes, que este tipo de atividade acrescenta experiências acadêmicas únicas, tornando também mais visível a importância da disciplina e sua aplicabilidade na prática.
Referências ALVES, N. et al. Práticas inovadoras no processo ensino-aprendizagem da fisiologia humana. Revista Contexto e Saúde, Ijuí, v. 10, n. 20, p.1227-1232, jan./jun. 2011. BARROS, W. M. et al. Seminários didáticos: ferramenta de aproximação das disciplinas básicas com a prática profissional. Rev. Ciênc. Ext. v.8, n.3, p.127-141, 2012. GARCIA, M. A. A. et al. Interdisciplinaridade e integralidade no ensino em saúde. Rev. Ciênc. Méd., Campinas, v. 15, n. 6, p.473-485, nov./dez. 2006.
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A influência da qualidade da água de amassamento nas propriedades do concreto
O
concreto é uma substância simples que se tornou o mais
importante material estrutural e
Iran Gonçalves Vieira Neto (Aluno do 7° semestre de Engenharia Civil) Luana Freitag e Mariana de Souza Gonçalves (Alunas do 2° semestre de Arquitetura e Urbanismo) Profa. Dra. Elayne Valério Carvalho (Unichristus)
de construção civil [1]. Vários fatores levaram esse material à posição de destaque: resistência à água; preparação, aplicação e manutenção facilitadas; baixo custo e grande disponibilidade do material [2]. É um compósito de alta resistência mecânica e durabilidade composto por cimento, areia, brita, água e, eventualmente, aditivos. As propriedades aglomerantes do concreto são adquiridas mediante reações químicas entre os componentes do cimento Portland – constituído de silicatos e aluminatos complexos – com a água. Essas reações
exoenergéticas de hidratação, inicialmente, conferem plasticidade ao cimento [1]. Esta pasta cimentícia relativamente fluida, após contínuo processo de cristalização de produtos hidratados, conduz ao enrijecimento progressivo do material. Assim, não é exagero dizer que a água é fundamental na preparação do concreto de cimento, sendo obrigatória para a cura, lavagem de agregados e equipamentos de concreto [3]. Como consequência, a composição química da água de amassamento dos aglomerantes é um fator importante na qualidade final do concreto, devendo atender a critérios quantitativos e
qualitativos [2,4]. Não pode conter impurezas e deve estar dentro dos parâmetros recomendados pelas normas técnicas. Deve estar razoavelmente limpa e livre de óleo, ácido, álcali e matéria orgânica [3]. Avaliar esses parâmetros, quando necessário, é importante, pois a utilização de água de amassamento não adequada pode influenciar negativamente no tempo de endurecimento, contração, durabilidade e na sua capacidade de resistência mecânica [4,5]. No entanto, na prática, muitas vezes, um maior controle sobre as propriedades do cimento e do agregado é exercido, mas o controle sobre a qualidade da água é, também muitas vezes, negligenciado. Em geral, a água disponível no canteiro de obras é usada para misturar e curar o concreto [3].
Requisitos para a água de amassamento
ŹFonte: http://www.mapadaobra.com.br/inovacao/traco-de-concreto-a-importancia-do-controle-de-agua/. Créditos: Paulo Barros / e-Construmarket
A NBR 15900-1:2009 é a Norma que especifica os requisitos para a água a ser considerada adequada ao preparo de concreto e descreve os procedimentos de amostragem, bem como os métodos para sua avaliação [6]. De acordo com a NBR 15900-1:2009, para ser empre-
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gada na preparação do concreto, a água deve atender a requisitos de potabilidade. Portanto, a água de abastecimento público atende aos critérios necessários e é considerada adequada para uso sem restrições em concreto, não necessitando de ensaios prévios [6]. Por outro lado, seguindo os princípios de sustentabilidade, a utilização de outras fontes ou mesmo a reutilização da água são alternativas economicamente atraentes. Além disso, em algumas situações, a água potável não está prontamente disponível. Contudo, alguns critérios devem ser considerados em função da origem da água. De acordo com a NBR 15900-1:2009, águas de fontes subterrâneas, de captação pluvial ou oriunda de processo residual industrial podem ser adequadas para uso no concreto, mas devem ser ensaiadas (submetidas a algum tipo de ensaio para comprovar o atendimento a requisitos). No caso de água salobra (água com salinidade intermédia entre a água salgada e a água doce), a utilização é possível, contudo, restrita a concreto não armado, também sendo necessários ensaios. Por fim, a Norma determina que a água do mar não deve ser usada em concreto armado ou protendido, enquanto a água de esgoto, mesmo com tratamento, não é adequada para uso em concreto [1,6].
Relação entre os parâmetros de qualidade da água e as propriedades do concreto As águas sulfatadas, as águas ácidas dos terrenos de turfas e despejos, assim como
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as águas correntes que contêm ácidos carbônicos, são águas que destroem os cimentos [7] e, consequentemente, comprometem a qualidade do concreto. Em relação a esse tópico, a seguir, alguns parâmetros físico-químicos associados a problemas causados ao concreto serão brevemente discutidos. Em uma pasta de cimento Portland hidratada, a fase sólida é composta por hidratos de cálcio insolúveis (como o silicato de cálcio hidratado, C – S – H; o hidróxido de cálcio, Ca(OH)2; e etringita (C6 ASH32)) e se encontra em equilíbrio estável com a solução dos poros de alto pH (entre 12,5 e 13,5) [8]. Dessa forma, qualquer alteração que possa levar à redução da alcalinidade da solução de poros é considerada agressiva, pois levará à desestabilização dos produtos de hidratação dos materiais cimentícios. Assim, a Norma estabelece que a água destinada ao amassamento do concreto deve ter pH 5 [6], com faixa ideal de pH entre 7,2 e 7,6 [3]. Águas contendo grandes quantidades de cloretos (Cl-) tendem a causar umidade permanente e eflorescência na superfície do concreto. Internamente, o concreto sofre um ataque de íons Cl- misturados em concreto fresco no momento de sua preparação, como um forte acelerador dos estágios iniciais da hidratação do cimento. Ocorre, então, a formação de sal de Friedel, que causa corrosão por cloretos [9]. De acordo com a norma, o teor de cloreto na água não deve exceder os limites estabelecidos na Tabela 1 [6].
Tabela 1 - Teor máximo de cloreto em água para amassamento. Uso final
Teor máximo de cloreto (mg/L)
Concreto protendido ou graute
500
Concreto armado
1000
Concreto simples (sem armadura)
4 500
Fonte: Adaptado de [6].
Entre os agentes químicos mais agressivos ao material estão os sulfatos (que, normalmente, encontram-se diluídos na água). A concentração desses íons na solução aquosa dos poros, na composição do cimento Portland utilizado e a permeabilidade e a absorção capilar de água da matriz hidratada são fatores determinantes do grau de degradação por expansão, fissuração, perda de massa e, consequentemente, perda de resistência à compressão e de integridade do concreto, podendo levar a estrutura ao colapso [10]. O teor da água, ensaiada de acordo com ABNT NBR 15900-7, não deve exceder 2 000 mg/L [6]. Contaminações na água de amassamento do concreto por outras substâncias como açúcares, fosfatos, nitratos, chumbo e zinco podem alterar os tempos de pega e resistências do concreto [6]. Além disso, algumas águas minerais contêm teores indesejáveis de carbonatos alcalinos que podem contribuir para reações danosas na matriz das argamassas [4]. Com relação a fatores estéticos, pode-se mencionar que o teor de ferro e de matéria orgânica acima do limite estabelecido causa manchamento e eflorescência do concreto, respectivamente.
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Considerações finais Conforme abordado, a água utilizada em concretos tem influência apreciável nas propriedades do concreto, como tempo de endurecimento, trabalhabilidade, desenvolvimento de resistência e durabilidade, assim como requisitos estéticos. Portanto, quando não se emprega água de abastecimento público para amassamento, é importante a avaliação dos parâmetros físico-químicos, no sentido de atender aos critérios normalizados pela NBR 15900-1:2009. Dessa forma, se garante a capacidade da estrutura em resistir a processos de deterioração e a prevenção do surgimento futuro de patologias indesejáveis.
Referências [1] BORDIN, V. Nova norma da ABNT estabelece critérios para uso de água em concreto. Disponível em:
<http://www.cimentoitambe.com.br/ nova-norma-da-abnt-estabelece-criterios-para-o-uso-de-agua-em-concreto/>. Acesso em: 22 set. 2018. [2] MEHTA, P. K.; MONTEIRO, P. Concreto: Microestrutura, Propriedades e Materiais. 2. ed. São Paulo: Ibracon, 2014. [3] REDDY BABU, G.; MADHUSUDANA REDDY, B.; VENKATA RAMANA, N. Quality of mixing water in cement concrete “a review. Materials Today: Proceedings, v. 5, n. 1, p. 1313–1320, 2018. [4] OLIVEIRA, D. et al. De Amassamento Utilizadas Na Produção De Paredes E Tetos Produzidas Na Cidade De Feira De Santana-Ba. p. 169–180, 2003. [5] ASADOLLAHFARDI, G. et al. Use of treated domestic wastewater before chlorination to produce and cure concrete. Construction and Building Materials, v. 105, p. 253–261, 2016. [6] NBR, A. ABNT NBR 15900-1 Mixing water for concrete. p. 11, 2009. [7] NETO, A. F. Água como material
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de construção. Disponível em: <http:// www.forumdaconstrucao.com.br/ conteudo.php?a=31HYPERLINK “http://www.forumdaconstrucao.com. br/conteudo. hp?a=31&Cod=266”&HYPERLINK “ h t t p : / / w w w. f o r u m d a c o n s trucao.com.br/conteudo. php?a=31&Cod=266”Cod=266>. Acesso em: 22 set. 2018. [8] RIBEIRO, D. V.; CUNHA, M. P. T. Deterioração das estruturas de concreto armado. In: RIBEIRO, D.; CUNHA, M. ;; HELENE, P. (Eds.). . Corrosão em Estruturas de Concreto Armado: Teoria, Controle E Métodos De Análise. 1. ed. 9788535275483: Elsevier, 2013. [9] ZHAO, G.; LI, J.; SHAO, W. Effect of mixed chlorides on the degradation and sulfate diffusion of cast-in-situ concrete due to sulfate attack. Construction and Building Materials, v. 181, p. 49–58, 2018. [10] HOPPE FILHO, J. et al. Concrete attack by sodium sulfate: mineral additions as a mitigation tool. Cerâmica, v. 61, p. 168–177, 2015.
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Sustentabilidade no debate urbano
E
essa tal sustentabilidade? Esse
Profa. Ma. Lara Barreira de Vasconcelos
tema tão discutido, divulgado
(Mestra em Arquitetura da Paisagem pelo Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro e docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Unichristus.)
e, sobretudo, vendido, já vem fazendo parte do vocabulário da sociedade contemporânea há algumas décadas. O conceito de sustentabilidade surgiu como uma crítica ao modelo moderno do crescimento sem limites, desconsiderando a capacidade de suporte dos recursos naturais existentes. Atualmente se percebe a ocorrência de certa “prostituição” do termo, conforme atesta Leonardo Boff: “A maioria daquilo que vem anunciado por sustentável, geralmente, não é. É uma etiqueta, um discurso que agrega valor. ” (BOFF, 2012, p. 09) Desde que se iniciaram os debates acerca do desenvolvimento sustentável nas convenções e eventos internacionais,
em grande parte fomentados pela ONU, vem sendo colocado em pauta também o conceito de “cidades sustentáveis”. A legitimação de políticas urbanas que utilizam o conceito de “cidade sustentável” como instrumento do marketing city para promover as cidades no mercado mundial, muitas vezes tende a acentuar a segregação socioespacial. Isso acontece em parte porque o benefício desses investimentos internacionais privilegia predominantemente a classe dominante e as grandes empresas. A crítica que coloca em cheque a ambientalização das cidades que desconsidera a dimensão social é a percepção de que, na maioria dos casos, a origem da degradação do meio ambiente está diretamente relacionada a questões sociais. No caso bra-
sileiro, essa relação se apresenta muito claramente. Por falta de alternativa do mercado formal, grande parte da população acaba ocupando irregularmente terrenos urbanos para construir suas moradias. Como em Áreas de Proteção Ambiental (APP) não é permitido haver construções licitamente, esses terrenos urbanos tornam-se, frequentemente, o alvo das ocupações pelas populações excluídas. Trazendo maior gravidade a tal panorama, os assentamentos raramente chegam a ter saneamento básico e coleta de lixo, piorando ainda mais a situação ambiental e de insalubridade. Esses fatores acabam por impulsionar sérios problemas ambientais, através da poluição de corpos hídricos e dos solos. Para Herri Acselrad (2009, p. 54-64), existem três diferentes
ŹImagem 01 (esquerda): Ocupações irregulares nas margens do Rio Maranguapinnho, em Fortaleza- CE. Fonte 01: Secretaria das Cidades do Ceará, 2012 apud Silva, 2014. Imagem 02 (direita): Fonte www.researchgate.net
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ŹImagem 03: Diagrama diversos sentidos da “Cidade Sustentável”. Fonte: Produzido pela autora.
sentidos aos quais se associa o conceito de ‘cidade sustentável’: a representação técnica material das cidades (relaciona-se à noção de racionalidade ecoenergética e equilíbrio metabólico das cidades); a cidade como um espaço de qualidade de vida (relaciona-se à noção de urbanidade, cidadania e patrimônio); e a cidade como um espaço de legitimação das políticas urbanas (relaciona-se à noção de eficiência e promoção da equidade pelo poder público).
A representação técnicomaterial das cidades – cidades ecológicas Esse primeiro sentido atribuído à cidade sustentável está relacionado mais diretamente à base física e material das cidades, em grande parte influenciado pelas primeiras conferências internacionais sobre clima e mudanças climáticas. Naquele primeiro momento, houve um processo de
elaboração de estratégias urbanas com foco predominantemente na racionalidade ecoenergética. Conforme registra Dominique Gauzin-Müller (2006, p.34), um dos primeiros a militar a favor da ecologia urbana foi o professor alemão Ekhart Hahn que, em 1987 – mesmo ano de lançamento do relatório “Nosso Futuro Comum” da Sra. Brundland –, publicou sua obra Ökologische Stadtplanungn (Planejamento Urbano Ecológico). Aprofundou seus estudos através da investigação teórica associada a estudos de caso, lançando, no início dos anos 1990, um informe intitulado Ökologischer Stadtumbau (Renovação Urbana Ecológica). Hoje esse modelo de intervenção sofre intensas críticas de alguns autores (SANCHEZ, 2009; MOURA, 2009; ACSELRAD, 2009) que consideram que essa abordagem supervaloriza a base material das cidades, esquecendo a complexidade social ur-
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bana. Os projetos de revitalização ou renovação urbana provocam um processo de valorização do espaço urbano aumentando o preço dos terrenos e, em grande parte das vezes, provocando um processo de “gentrificação” ou elitização do espaço. Intencionalmente ou não, esses projetos têm, por vezes, acentuado as desigualdades sociais e territoriais. A apropriação desse conhecimento por atores sociais no âmbito público ou privado em prol de mecanismos de marketing, atração de investimentos ou inserção em mercados globais, ou, ainda, a gentrificação do espaço urbano ocasionada por esse processo não significa dizer que os conceitos ecológicos elaborados para as cidades tinham essa finalidade em sua essência quando foram idealizados. Porém está claro que a mudança da base técnico-material das cidades não é suficiente para produzir a “realidade desejável”.
Cidade como espaço da qualidade de vida – urbanidade Essa abordagem da qualidade de vida resgata sentidos como cidadania, diálogo e patrimônio, tanto material (arquitetônico), como imaterial – fortalecimento do sentimento de pertencimento dos habitantes que se relaciona tanto com a estrutura física como com a composição e dinâmica social dos lugares da cidade. Um conceito que dialoga com esse debate é a noção de urbanidade. Esse sentimento de urbanidade está principalmente relacionado a algumas relações
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ŹÀ esquerda, BRT de Curitiba, sistema de referência de transporte público. Fonte: http://petcivil.blogspot.com.
criadas entre os indivíduos e o espaço: o quão as pessoas se sentem seguras (Jacobs, 2009; Andrade, 2010); o quão se sentem acolhidas pela escala dos lugares (Gehl, 2012); o quão se sentem à vontade e convidadas a interagir socialmente no espaço (Andrade, 2010; Jacobs; 2009); e o quão o espaço público é capaz de promover a convivência passiva ou ativa de pessoas de diversos interesses, idades e origens sociais (Holanda, 2010; Figueiredo, 2010). Alcançar a qualidade dessas relações por sua vez está vinculado a algumas características do espaço urbano. Por exemplo: a existência de espaços livres bem estruturados e acolhedores, a mistura de usos, a proximidade ou facilidade e conforto da realização de deslocamentos entre moradia, trabalho e serviços urbanos essenciais são colocados pela literatura como características que favorecem que esses sentimentos de conforto e bem-estar sejam garantidos nas cidades.
Ź À direita, foto do parque público em Curitiba. Fonte: www.curitibacvb.com.br.
Cidade como espaço de legitimação das políticas urbanas O último sentido atribuído à “sustentabilidade urbana” abordado nesse texto está relacionado com a capacidade dos governos de atender às necessidades de sua população de forma equilibrada. No panorama urbano brasileiro, onde grande parte das grandes cidades é marcada por uma escandalosa segregação socioespacial, caracterizada principalmente pelo contraste entre áreas com infraestrutura e acesso a serviços e outras
completamente esquecidas pelo poder público, esse debate ganha especial importância. Dessa forma, esse aspecto da sustentabilidade coloca em pauta a questão da equidade no plano urbano. Entende que é dever de uma boa governança fornecer boas condições de vida para todos, colocando a provisão de serviços e de infraestruturas urbanas de maneira justa e equilibrada como um quesito fundamental para alcançar a situação desejável de “sustentabilidade urbana”.
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ŹProjeto Parque Novo Santo Amaro, em São Paulo, do escritório Vigliecca Arquitetos Associados. O Projeto tratou de provisão de Habitação Social para população em área de risco em conjunto com provisão de infraestrutura de drenagem para área alagadiça e implantação de espaços de livres públicos arborizados de lazer para população. Fonte: Archdaily
Afinal, o que seria então a cidade sustentável? Tentamos colocar até aqui alguns sentidos que a concepção de cidade sustentável possui na atualidade. Não é intenção deste texto, todavia, eleger uma concepção que seja a mais correta ou conceber uma definição fechada. A própria imagem de um “modelo de cidade” seria perigoso e suspeito, tendo em vista que a própria cidade é um fenômeno social em constante mudança. Portanto, o debate sobre a cidade desejável para o futuro deve ser contínuo. Nada obstante, alguns princípios podem lhe ser norteadores. A indissolubilidade entre preocupações de cunho ambiental e de inclusão social seja talvez o principal elo norteador para uma abor-
dagem contemporânea e coerente da sustentabilidade, tanto no âmbito do planejamento urbano, como em qualquer outra disciplina.
Referências ACSELRAD, Henri. (org.) A Duração das Cidades: Sustentabilidade e Risco nas Políticas Públicas. 2.ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009. ANDRADE, Luciana. Onde está a urbanidade: num bairro central de Berlim ou numa favela carioca? In: I ENANPARQ – Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Rio de Janeiro, 2010. BOFF, Leonardo. Sustentabilidade: O que é – O que não é. Petrópolis: Vozes, 2012. FIGUEIREDO, Lucas. Desurbanismo: Um manual rápido de destruição de cidades. In: I ENANPARQ – Encontro da Associação Nacional
de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Rio de Janeiro, 2010. GAUZIN-MULLER, Dominique. Arquitetura Ecológica. Barcelona: Gustavo Gili, 2006. GEHL, Jan. Cidade para Pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2014. HOLANDA, Frederico. Urbanidade: Arquitetônica e Social. In: I ENANPARQ – Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Gr aduação em Arquitetur a e Urbanismo. Rio de Janeiro, 2010. JACOBS, Jane. Morte e Vida de Grandes Cidades. 2ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009. SANCHEZ, Fernanda. A (in)sustentabilidade das cidades vitrine. In: ACSELRAD, Henri (org) A duração das Cidades: Sustentabilidade e risco nas políticas urbanas. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009. p. 171-192.
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Análise comparativa entre duas metodologias de tratamento de efluentes Introdução
A
água é um dos mais importantes recursos naturais
do mundo, sendo vital para a manutenção da vida e estando presente em diversas etapas dentro da produção de bens, serviços e alimentos. De acordo com Ribeiro (2008), cerca de 70% do nosso planeta é coberto por água, no entanto, cerca de 97% desse volume é formado por água salgada e somente 3% por água doce e, mesmo assim, boa parte dessa água doce está localizada em geleiras e não possibilita fácil acesso. Dessa forma, apesar do nosso planeta possuir um grande volume de água, somente uma parte ínfima desse total está disponibilizado de forma acessível para o consumo humano na forma de rios e lagos e, apesar disso, a nossa sociedade continua poluindo essas fontes de forma sistemática, enquanto as demandas por água doce continuam crescendo. Estudos indicam que cerca de 1,1 bilhão de pessoas no mundo não possuem acesso à água potável, enquanto 2,5 bilhões não possuem acesso a serviços de saneamento básico. Estimativas avaliam que em cinquenta anos metade da população mundial irá conviver
Prof. Dr. Mario Duarte Pinto Godoy (Doutor em Ciências Marinhas Tropicais pela Universidade Federal do Ceará (UFC) Docente da Unichristus dos Cursos de Arquitetura e Urbanismo Engenharia Civil e Engenharia de Produção)
André Sales Viana Soares (Egresso do Curso de Engenharia Civil da Unichristus)
com a escassez crônica de água (OMS, 2015; ONU, 2014). Em determinadas regiões do mundo, a falta de água já produz resultados como miséria e conflitos inter e extraterritoriais (Ribeiro, 2008). Essa situação poderá se tornar mais crítica, se as previsões relacionadas às mudanças climáticas globais forem comprovadas. Dias (2014) estimou que, até 2050, a tendência é uma diminuição de 10% a 30% de água nas regiões localizadas nas médias e baixas latitudes; essas regiões, normalmente, já são constituídas por ambientes que já sofrem com o estresse hídrico. No Brasil, a área mais suscetível a problemas de falta d’água é o Nordeste. Essa região situa-se em uma área dominada pelo clima semiárido que tem como sua principal característica um regime de chuvas fortemente concentrado em quatro meses (fevereiro-maio) e uma grande variabilidade interanual. Um estudo realizado pelo INPE (2007) apontou uma tendência para a região norte e nordeste do Brasil de redução de chuvas, podendo causar a perda de terras agricultáveis.
No caso de Fortaleza, o Instituto Trata Brasil divulgou, em 2017, o Ranking do Saneamento das 100 maiores cidades do Brasil e informou que 50,96% do total da população de Fortaleza, ou seja, mais de um milhão e trezentos mil habitantes está sem acesso à correta coleta de esgoto. O relatório Ranking do Saneamento das 100 maiores cidades do Brasil mostra ainda que apenas 52,32% da água consumida por Fortaleza possui tratamento de esgoto. Dessa forma, metodologias alternativas para o tratamento de efluentes domésticos podem ser utilizadas, especialmente em áreas com pouca estrutura sanitária. Uma dessas alternativas seria a ETE de Rede de Raízes. De acordo com Van Kaick (2002), a estação de tratamento por meio de zona de raízes é um sistema físico-biológico, idealizado seguindo a lógica do biofiltro, utilizando-se, porém, de mais um filtro constituído por raízes. Nesse sistema, o esgoto é lançado por meio de uma rede de tubulações perfuradas instaladas logo abaixo de uma área plantada, ou seja, na zona de raízes, como mostrado na Figura 1.
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Dentro desse contexto, torna-se importante a busca por uma gestão mais eficiente da água existente, principalmente em áreas sujeitas ao estresse hídrico. Para tal, foi realizada uma análise comparativa entre dois métodos de tratamento de efluentes domésticos de forma a propor um tratamento que busque a diminuição do consumo de água e o tratamento de efluentes domésticos com baixo investimento inicial.
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Figura 1: Esquema básico de uma ETE de rede de raízes
Fonte: Van Kaick (2002).
Metodologia De forma a responder o questionamento apresentado acima, foram realizadas amostragens em uma estação de tratamento de efluentes por raízes localizada no Sítio Floresta (Eusébio). Os pontos de amostragem eram localizados na entrada e na saída da ETE por raízes (figuras 2 e 3); essas amostras foram conservadas em gelo e enviadas para análise no laboratório Tecnoplus, que foi o responsável por realizar as análises de acordo com a COEMA nº 02/2017 da Superintendência Estadual do Meio Ambiente – SEMACE, com base no artigo 12 que trata dos efluentes sanitários lançados diretamente no corpo hídrico. Os resultados obtidos foram comparados com dados fornecidos pela CAGECE para a lagoa de estabilização da ETE Guadalajara operada pela Companhia de Águas, situada na Rua Mário Mendes, nº 274, Conjunto Guadalajara, Caucaia – CE, em operação há 05 anos.
Figura 2: Coleta realizada na entrada da ETE por raízes.
Fonte: Acervo do autor.
Figura 3: Coleta realizada na saída da ETE por raízes.
Fonte: Acervo do autor.
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Resultados e Discussão O resultado da análise do efluente da ETE de Rede de Raízes é demonstrado na Tabela 1. Tais resultados têm como parâmetro de análise a Resolução COEMA 02/2017: Tabela 1: Resultado da análise de efluentes da ETE de Rede de Raízes
Fonte: Autor
O resultado das análises da ETE Guadalajara - localizada em Caucaia – CE - (que conta com uma Lagoa Anaeróbia, uma Lagoa de Estabilização e três Lagoas de Maturação, em sequência) realizadas entre fevereiro e setembro de 2017, foi disponibilizado pela CAGECE e está apresentado na Tabela 2. Tabela 2: Resultado da análise de efluente da Lagoa de Estabilização da ETE Guadalajara
Fonte: CAGECE (2017)
Os dois métodos de tratamento de efluentes são indicados pela literatura como secundários. Porém, a ETE por rede de raízes se mostrou mais eficaz do que a lagoa de estabilização, tanto nos modelos projetados, quanto na literatura e na análise em campo (salientando a diferenciação de tipos de efluente, quantidade de efluente e quantidade de métodos de tratamento associados ao sistema).
Vale ressaltar que o efluente tratado pela ETE por rede de raízes do Sítio Floresta é formado por águas cinzas, enquanto a lagoa de estabilização da ETE Guadalajara recebe efluentes cinzas e negros. Destaca-se também que os resultados obtidos nas análises da ETE Guadalajara são de todo o complexo (que conta com uma lagoa anaeróbia, uma lagoa de estabilização e três lagoas de maturação em sequência), e não exclusivamente da lagoa de estabilização.
Conclusões Os resultados da análise em campo nos mostram o quão promissor é o método de ETE por rede de raízes, já que a sua análise superou a análise da lagoa de estabilização, não obtendo nenhum valor fora do permitido pelo art. 12 da COEMA 02/2017. A ETE por rede de raízes demonstrou uma maior eficiência no tratamento do efluente (cinza), apresentando todos os valores analisados dentro dos limites máximos exigidos pela COEMA 02/2017, no artigo 12, para lançamentos de efluentes diretamente em corpos hídricos. A rede de raízes se demonstrou uma boa alternativa para o tratamento de efluentes domésticos uma vez que é um sistema que não depende de energia elétrica para funcionar e, ainda, exige pouca manutenção. Essas características indicam que essa metodologia de tratamento pode ser aplicada em regiões com
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pouca infraestrutura como uma resposta às baixas taxas de saneamento, auxiliando na manutenção da qualidade da água ao diminuir o lançamento de esgoto bruto em corpos d’água.
Referências DIAS, G. F. Mudança climática e você: cenários, desafios, governança, oportunidades, cinismo e maluquices. São Paulo: Gaia, 2014. INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISA ESPACIAL. Mudanças Climáticas e possíveis alterações nos Biomas da América do Sul. 2007. 29f. Dispo-
nível em: <http://mudancasclimaticas. cptec.inpe.br/~rmclima/pdfs/prod_ probio/Relatorio_6.pdf>. Acesso em: 04 ago. 2018. INSTITUTO TRATA BRASIL. Ranking do saneamento das 100 maiores cidades, 2017. Disponível em: <http:// www.tratabrasil.org.br/ranking-do-saneamento-das-100maiores-cidades-2017>. Acesso em: 03 ago. 2018. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE/FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA INFÂNCIA. Progress on Sanitation and Drinking-Water, 2015 Disponível em: <http://files.unicef.org/publications/files/Progress_ on_Sanitation_and_Drinking_Wate r_2015_Update_.pdf>. Acesso em: 03 ago. 2017.
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ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Investing in water and sanitation: increasing access, reducing inequalities - UN-water global analysis and assessment of sanitation and drinking-water (GLAAS) 2014 – report. Disponível em: <http://www. who.int/water_sanitation_health/publications/glaas_report_2014/en/>. Acesso em: 18 fev. 2017. RIBEIRO, W. C. Geografia Política da Água. São Paulo: Annablume, 2008. VAN KAICK, T. S. Estação de tratamento de esgoto por meio de zona de raízes: uma proposta de tecnologia apropriada para saneamento básico no litoral do Paraná. 2002. 116 f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia) – Programa de pós graduação em
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E lá se foi uma história1 Ontem se foi Luzia Se foi o diário da Imperatriz A maior coleção egípcia da América Latina Anos de estudos Duras rotinas Ontem se foram dinossauros Borboletas Preguiças gigantes mais de 500 títulos nas estantes Se foram marcos da história nacional Dos passos duros da nação Da civilização pré-colombiana O cocar indígena A múmia andina A casa de D. João Tudo virou pó E o pó virou adubo pra dor de muito brasileiro que chora o dinheiro que não foi investido mas sim corrompido no bolso do ladrão E onde tá o ladrão? Dentro do Planalto Na cadeira do Senado E na próxima eleição O passado pegou fogo E o futuro quem dirá? Choro pela cinzas de Luzia e por muitas Luzias que ainda vão lutar.
Bruna Sobreira Kubrusly, aluna do ensino médio do Colégio Christus, relata, neste poema, por meio de metáforas, as cinzas utilizadas para a construção de pontes entre o descuido e a realidade com o passado histórico do Brasil, traduzindo a insensibilidade dos governantes em relação à cultura nacional. O texto faz alusão à destruição pelo fogo do Museu Nacional do Rio de Janeiro, ocorrida neste ano de 2018. Atendimento Linguístico - Campus Parque Ecológico 1
O poema foi concebido assim que ocorreu a tragédia com o Museu Nacional, portanto as partes do crânio de Luzia ainda não haviam sido encontradas.
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A utilização da cinematografia em sala de aula
Prof. Dr. Wagner José Silva de Castro
Introdução
O
(Doutor em Educação pela UFC e docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Unichristus)
Dr. Carlos Augusto Pereira Viana
presente artigo pretende relatar as tentativas de
utilização do filme O Nome da Rosa como metodologia em sala de aula e, com nossos “erros” e “acertos”, fornecer indicações de como trabalhá-lo – utilizando suas cenas de acordo com os temas propostos pelo professor em suas aulas com os alunos do Ensino Médio e depois estendendo como metodologia ao ensino superior, ou seja, utilizar a Cinematografia e a Literatura, como metodologia, elencando outras possibilidades de entendimento de um determinado fato histórico – as heresias medievais, sem que, necessariamente, o professor inicie a explicitação de um fato histórico urbanístico e arquitetônico ocorrido na Baixa Idade Média, utilizando-se, por exemplo, de um viés político ou econômico. Em minha trajetória na docência, tive como aspiração ampliar a compreensão do educando a partir de outras linguagens como a Arquitetura, a Música, o Cinema e a Literatura. Essa vontade brotou de forma solitária e intuitiva para outro colega de profissão, o professor
(Doutor em Educação pela UFC)
Carlos Augusto, em momentos e espaços educativos distintos. Eu, Wagner, iniciei a profissão de professor, lecionando Inglês, na 5ª série do Ensino Fundamental, em 1985. Confesso que, no primeiro dia de aula, pus-me por demais ansioso, ao encarar os alunos; e, de forma intuitiva, passei a utilizar a Música, com o auxílio de um gravador e a letra impressa das canções distribuída em sala de aula. E, assim, de forma lúdica, a partir da letra, trabalhava os verbos em sala – a rigor, uma abertura de caminhos novos a partir de mídias não convencionais e com o apelo da cultura como interface de aproximação dos conteúdos programáticos das disciplinas a experiências culturais daqueles alunos, seja pela música, filme ou outra produção cultural. Em 1987, fui convidado a lecionar a disciplina História, já no Ensino Médio, em Fortaleza. Como no ano anterior já houvera concluído o Curso de História, decidi deixar o ensino de Inglês, passando a dedicar-me por completo ao de História – atividade que exerço até hoje, mas em outra instância e abordagens outras: a Teoria e História da Arquitetura I e a Teoria e História da Arquitetura no Brasil em centros universitários como o Unichristus. Estas disciplinas
relacionam conteúdos de diferentes recortes de tempo com a produção arquitetônica no Brasil e no Mundo. O filme O Nome da Rosa foi lançado no ano de minha formatura; encontrava-me vibrante e seduzido por livros de História, revistas, jornais, também por diversas formas de expressão artística. Eu li o roteiro do filme, antes havia lido a obra, e tudo isso me impeliu a assistir à estreia no cine São Luís, em Fortaleza. No ano seguinte, o ano da minha decisão de dedicar-me ao ensino de História, o filme já estava disponível nas prateleiras das locadoras. Desde 1988, experimento a aplicação do filme com alunos do Ensino Médio de onde colhi importantes lições no uso dessa interação fílmica com os conteúdos das disciplinas. Essa experiência com o filme O Nome da Rosa se desdobrou e hoje utilizo o recurso na graduação e em outras disciplinas de história. Há três anos leciono a disciplina de Estética e História da Arte. Com base no plano de ensino tenho que trabalhar com os estudantes os conceitos de Moderno e Pós-Moderno. Então, lembrei-me do livro O Que é Pós-Moderno, da Coleção Primeiros Passos, produzida pela Editora Brasiliense. Ainda no
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Ensino Médio, esse livro foi por mim utilizado como leitura obrigatória da disciplina de Estética e História da Arte. No primeiro capítulo, Vem Comigo que no Caminho Eu Explico – Caçando o Fantasma, em verdade, na segunda página (SANTOS, 2008, p. 8), chamaram-me atenção às inferências do autor acerca do fantasma pós-moderno. No decorrer da leitura deste capítulo em sala, no curso de Arquitetura, perguntei aos alunos se já haviam assistido aos filmes Indiana Jones e Blade Runner. Não foi surpresa minha, no decorrer desses três anos, ouvir da maioria que tinha visto Indiana Jones, mas apenas um ou dois em cada turma nunca tinham visto Blade Runner. Mais surpreendente foi ouvir, seguidamente – “Não sei quem é esse autor, Umberto Eco”, “Nunca li esse livro” e “Nunca vi esse filme, O Nome da Rosa”. Conversando com o professor Carlos Augusto Viana sobre esse acontecido, ficamos surpresos. Especialmente quando lhe contei sobre as minhas experiências com esse filme na minha vivência no Ensino Médio.
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Em 1988 decidi passar o filme para os alunos do terceiro ano do Ensino Médio. Quando comecei a estudar a Igreja Católica como instituição na Idade Média, levantei a possibilidade com a turma de exibi-lo em sala. Nessa primeira experiência, cheguei a algumas conclusões: primeiramente, não deveria ter passado o filme por completo, 2h11minutos, pois seu ritmo lento, com muita informação histórica, dá-lhe lampejos de hermetismo; depois, se era minha intenção focar nos movimentos heréticos, eu deveria ter explicado antes o porquê do surgimento desses grupos; por fim, se era para fazê-los compreender a censura, a prisão, a tortura, a repressão e a morte determinada pela Inquisição aos “infiéis”, era mister que eu tecesse comentários esclarecedores de todos esses acontecimentos. Enfim, foi um desastre. Diante dessas conclusões, para meu desespero, constatei que eu mesmo tinha muitas dúvidas sobre as questões históricas elencadas, os conceitos e a origem dos movimentos
heréticos. Percebi que a leitura fragmentada do livro tinha sido um grande erro de minha parte. Constatei a necessária urgência de leitura de livros acadêmicos sobre movimentos heréticos e sobre o surgimento da Igreja como instituição. Ficou evidente, também, para mim e para o professor Carlos Augusto, a ineficiência da Universidade, no que se refere à transmissão de outros saberes e de outras abordagens culturais no processo ensino-aprendizagem da História. Fato que reforça a convicção da necessidade de utilizar o recurso do filme em sala de aula. A aquisição dos livros Manual dos Inquisidores e O Queijo e os Vermes: o cotidiano e os ideais de um moleiro perseguido pela Inquisição foi de fundamental importância à compreensão e discernimento desses fatos históricos e conceitos referentes à história da Igreja. Diante do conhecimento de vários movimentos heréticos possibilitado por Eymerich (1993) percebe-se que seria mais proveitoso utilizar as cenas do filme correspondentes ao motivo central a ser trabalhado em sala de aula. Iniciamos a aula explicando a origem da palavra heresia e os conceitos básicos de ortodoxia e heterodoxia. Esclarecemos que dentre a grande maioria dos monges que residiam num mosteiro, apenas cerca de cinco ou seis falavam o Grego, língua em que escreviam ou dela traduziam textos; ou seja, o conhecimento ou controle intelectual na Igreja era privilégio de poucos.
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Os monges ortodoxos seriam aqueles que seguiam os dogmas, bem como os defendiam; enquanto, os heterodoxos, os que questionavam ou elegiam outros princípios ou ideias que não correspondiam a dogmas da Igreja ou mesmo negavam dogmas dela, mas que não eram ateus. Então, escolhemos a cena: a chegada ao mosteiro do inquisidor Bernardo Gui, interpretado por F. Murray Abraham, para tratar destes assuntos: movimentos heréticos, história e dos monastérios e seus projetos arquitetônicos. Ao finalizar a apresentação da cena que dura cerca de doze minutos, retomamos as discussões propriamente ditas e deixamos que os alunos falassem. É interessante a quantidade de indagações, dúvidas e questionamentos. Além disso, enumeramos algumas perguntas pontuais, bem didáticas, tentando relacionar o início da aula teórica e a cena, ou o inverso: a cena e depois a teoria. Mas diante do exposto, deixamos nossas indicações e critério da experiência destes dois professores. Um roteiro de perguntas importantes que nos norteou foi: “Vocês imaginavam que à Igreja – a Inquisição – haveria esse poder todo? E alertamos que o objetivo pretendido não implicava negar a existência de Deus, mas enfatizar o poder da instituição Igreja em determinado período histórico; “Ficaram claros os conceitos de ortodoxia e heterodoxia”?; “A camponesa que estava com o monge no celeiro, cultuando o demônio, era bruxa mesmo?”; “Havia unidade na Igreja naquele momento”?;
“Entenderam por que o monge Salvatore, já meio louco, misturava as Línguas?; “Quem eram os heréticos Dolcinites?”; “Por que a Igreja e os monges ortodoxos não suportavam o racionalismo aristotélico”? “Por que a localização e arquitetura dos monastérios e abadias?” Percebam que são muitos relatos, conceitos e perguntas suscitadas numa única aula. Acreditamos na utilização da literatura e do cinema como metodologia em sala de aula. Temos consciência da não atratividade desse gênero de filme por parte dos adolescentes do Ensino Médio e público jovem do Ensino Superior, mas acreditamos que essa seja uma boa oportunidade para os estudantes despertarem outros conhecimentos que vão além dos propostos pelos livros didáticos. Esperamos, com o presente artigo, ter contribuído para alguns professores pensarem e trabalharem com seus estudantes esse momento históri-
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co utilizando-se da Literatura e do Cinema em sala de aula.
Referências ANNAUD, Jean-Jacques. O Nome da Rosa. FLASSTAR, DVD Vídeo, 1986. DEWEY, John. Experiência e Educação. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. EYMERICH, Nicolau. Manual dos Inquisidores. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos; Brasília, DF: Universidade de Brasília, 1993. FONSECA, Thais Nívia de Lima e. História & Ensino de História. 2. ed. Belo Horizonte Autêntica, 2006. GINZBURG, Carlo. O Queijo e os Vermes: o cotidiano e os ideais de um moleiro perseguido pela Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. ________ História Noturna: decifrando o sabá. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. HOBSBAWM, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. SANTOS, Jair Ferreira dos. O Que é Pós-Moderno. 25. ed. São Paulo: Brasiliense, 2008. Coleção Primeiros Passos.
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Responsabilidade social empresarial como meio de comunicação interna
O
processo de globalização mostra-se cada vez mais
rápido, intenso e profundo. A interação entre pessoas e comunidades de diversos lugares e culturas pode ser compreendida através da relação do mercado entre países. Além disso, há maior conectividade social e política devido à internet, estreitando distâncias e promovendo inclusão. Atualmente, diversas empresas de múltiplas áreas estão incorporando nos seus planejamentos de comunicação, tanto internos quanto externos, sua visão, sua missão e seus valores. Em suas estratégias buscam alcançar maior transparência. A transparência no desenvolvimento das atividades empresariais está se tornando mais comum, a ponto de empreendedores incluírem nas estratégias organizacionais quesitos de cunho sociocultural. Diante desse planejamento comunicativo empresarial, os desafios se tornam mais claros à medida que se aprofundam na realidade dos funcionários e da organização, garantindo qualidade nos processos de relacionamentos ou mesmo produtivos, quando existem discordâncias internas entre funcionários e gestores. Incompatibilidade de metas a serem atingidas devido à baixa demanda no mercado, falta de diálogo ou
Daniel Levi Gomes Severo (Aluno do 3º semestre do Curso de Administração)
ordens que devem ser atendidas sem questionamentos podem prejudicar a produtividade da empresa e são exemplos reais dentro das organizações. Propor somente diretrizes pode não ser o suficiente, pois a efetividade do que se expõe no planejamento deve ser, sobretudo, vivenciado. Os conflitos existentes nas empresas são inerentes ao mundo corporativo. A desaprovação de um líder pode pôr em xeque todo o processo de desenvolvimento estratégico de uma entidade. Um perfil de profissional qualificado não significa aprovação de uma equipe a ser supervisionada. Cada membro possui uma perspectiva sobre o papel do líder. Portanto, quando um comportamento impróprio é tolerado à custa de resultados pode facilmente criar uma cultura organizacional indesejada. Outro exemplo: o estigma de que o estagiário nada faz, ou pouco pode fazer, é uma realidade disso. Por vezes esses profissionais em fase inicial ficam de fora de reuniões e processos decisórios que são compartilhados com outros colaboradores, pondo de lado suas expectativas e capacidade em cooperar para o desenvolvimento da atividade em exercício. Acredito que a partir do momento em que a empresa, juntamente com os seus colabora-
dores, comunica seus objetivos, buscando evitar dúvidas, a cultura organizacional se fortalece satisfatoriamente. Sendo assim, existe a possibilidade de alinhar os objetivos empresariais com os objetivos dos funcionários dentro da viabilidade social e econômica dos agentes envolvidos. A responsabilidade social empresarial é o mecanismo que é capaz de projetar a otimização dos relacionamentos existentes no mundo corporativo. Empresas que adotam práticas éticas como igualdade salarial entre pessoas de diferentes sexos, ação social oferecida gratuitamente como atendimento médico e jurídico, além de promover a participação em práticas esportivas a funcionários e seus filhos, estabelecem um processo de comunicação que gera melhor qualidade de vida. Portanto, as dificuldades nos processos comunicativos empresariais ainda são desafiadores. Contudo, práticas como incentivos educacionais e culturais são meios eficazes de comunicação interna que se refletem externamente. O respeito ao meio ambiente, a utilização de materiais recicláveis, tudo se traduz na capacidade da empresa respeitar não somente o ecossistema, mas também o funcionário e o próprio clima e cultura organizacional.
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Nos bastidores do cuidar: a importância do grupo terapêutico como suporte a cuidadores de crianças com doenças crônicas
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os últimos anos, as doenças crônicas têm sido alvo de
constantes pesquisas e atuações dos profissionais de saúde, sendo definidas como uma enfermidade de longa duração ou permanente, a qual, por provocar incapacitação por causa de alterações patológicas, gera inúmeros conflitos e dificuldades que perpassam questões sociais, econômicas, políticas e tecnológicas (BRITO, 2009). Partindo deste pressuposto, o nascimento de uma criança com algum tipo de doença crônica gera intensas mudanças na dinâmica familiar. Além disso, sua vinda é carregada de culpa atribuída social e culturalmente à família, gerando crises e negação das expectativas, sendo necessário à ressignificação do filho idealizado para o real, processo este
ŹDocente e discentes do Projeto Espera Terapêutica
que para Almeida et al (2006) acontece de forma lenta e conflituosa. Neste contexto, observa-se a pessoa do cuidador, representada, muitas vezes, pelos pais, em especial a figura da mãe, pessoa que culturalmente é responsável pelo cuidado do filho, que passa a auxiliá-lo nas suas atividades cotidianas de forma integral. Desta forma, muitos pais passam a ser parte integrante da vida do filho, deixando, por vezes, em segundo plano, sua própria vida, sua identidade, seus gostos, desejos, sonhos, trabalho, amigos, casamento, gerando segundo Cardoso, Rosaline e Pereira (2010 apud Levorato, 2006) problemas psicológicos, físicos e sociais na vida destes, pois suas ações diárias passam a se voltar, exclusivamente, para o cuidado do filho. Com o intuito de prover essas demandas, as redes de apoio, definidas por Domínguez e Castro (2015 apud Dessen 2000) como um sistema composto por vários objetos sociais (pessoas), funções (atividades dessas pessoas) e situações (contexto), surgem como estratégias de atenção ao cuidador / acompanhante / familiar, oferecendo-lhe um apoio social, emocional e informativo em suas diversas necessidades, contribuindo significativamente para seu crescimento pessoal e bem-estar, corroborando a afirmação de Araújo et al (2011) quando afirma que o cuidado à criança com doença crônica deve ser ampliado, de modo que seja realizado em sua totalidade, unicidade e diversidade, no caso, incluindo seus cuidadores, pois planejar o cuidado em saúde nessas condições requer a exis-
Estevam Júnior (Aluno do 3º semestre do Curso de Psicologia e extensionista do projeto Espera Terapêutica)
Prof. Rafael Ayres de Queiroz (Docente do Curso de Psicologia – Unichristus)
tência de redes estratégicas de suporte que forneçam apoio não só à criança, mas a sua família no atendimento de suas demandas (DOMINGUEZ; CASTRO, 2015). Nessa estratégia de promoção do sujeito (cuidador), estão incluídos os grupos terapêuticos de suporte que potencializam as trocas dialógicas, o compartilhamento de experiências e a melhoria na adaptação ao modo de vida individual e coletiva através de atividades onde se possa questionar sobre as alternativas de apoio e suporte emocional, assim como de outros aspectos. Neles os participantes são estimulados a falar das principais dificuldades enfrentadas na produção do cuidado aos pacientes, assim como perceberem que não estão sozinhos nessa luta por uma melhor qualidade de vida, tanto deles como cuidadores, como da pessoa que está sendo cuidada (BENEVIDES et al 2010). Em linhas gerais, o grupo terapêutico possibilita o compartilhamento de experiências entre os participantes, propiciando escuta, orientação e construção de projetos terapêuticos condizentes com suas necessidades; além disso, essa vivência enseja a elaboração de novas visões e sentidos capazes de proporcionar mudanças na percepção de vida de seus integrantes e reconstrução da identidade perdida
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(Benevides et al, 2010 apud Guanaes; Japur, 2005). Dessa maneira, eles se tornam pertinentes para orientar os sentimentos e condutas adotados pelos cuidadores, assim como oferecer o apoio social, psicológico e emocional necessário, contemplando, nesse cuidado, não só a criança, mas toda a família, na perspectiva do resgate à saúde. Assim, considera-se de extrema importância incluir esse cuidado nas políticas públicas, com vistas a uma integração dos serviços em todos os níveis de atenção, no intuito de melhorar a qualidade de vida dos cuidadores (Dezoti et al, 2015), pois o processo de cuidar gera para estes dificuldades no convívio social, sobrecarga física e emocional, pois como afirma Dominguez e Castro (2015 apud Nóbrega, 2010), cuidar de uma criança em cronicidade não é uma tarefa nada fácil podendo ser, por vezes, dolorosa para seus responsáveis. Então, com o objetivo de proporcionar um exercício prático na condução de Grupo Terapêutico aos acadêmicos do curso de Psicologia, foi criado o Projeto de Extensão “Espera Terapêutica”, que é um grupo terapêutico mediado por um docente e vários discentes do curso, tendo por finalidade fomentar um lugar de escuta e fala de cuidadores de crianças portadores de doenças crônicas atendidas na Clínica Escola de Fisioterapia da própria instituição, criando, assim,
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oportunidades para um melhor preparo na condução da dinâmica da vida, de maneira menos técnica e mais humana, onde possam colocar seus sentimentos e expectativas sem culpa ou medo por se expressarem, além de oferecer a possibilidade de socialização, abordando assuntos como família, relacionamento e autoconhecimento. “Aqui eu consigo desabafar, pois é um lugar onde falo o que sinto, onde me percebo”. (Cuidador atendido pelo projeto Espera Terapêutica)
Os grupos se encontram em dois dias da semana (terças e quintas-feiras) por aproximadamente 2 horas e meia de duração em cada dia, com divisão em três blocos de grupos, com, em média, 4 participantes. No projeto oportunizamos a troca de saberes, possibilitando que diferentes visões desenvolvidas pelos cuidadores possam ser compartilhadas. Ademais, trabalhamos com o significado de termos como ressignificação e resiliência, enquadrando-os dentro da flexibilidade necessária para o enfrentamento das adversidades. Espera-se, com esse projeto, estando em sua primeira turma, propiciar não só a relação teoria e prática para seus estagiários, mas proporcionar um espaço de acolhimento e escuta qualificada aos cuidadores, onde possam expor aquilo que lhes causa angústia, culpa e medo, sem julgamentos, enquanto, aguardam o atendimento de seus filhos. Isso evidencia a importância da psicologia junto a toda equipe de saúde, para oferecer um trabalho multiprofissional que englobe, além do paciente, os seus acompanhantes, dando-lhes visibilidade perante os serviços de saúde, oferecendo-
-lhes um espaço de cuidado, de valorização pessoal e de possibilidades de potencializar mudanças na vida pessoal e familiar, propiciando-lhes autoconhecimento, autoexpressão e autoconfiança, bem como melhoria da autoimagem e senso de pertencimento a um grupo, abrindo espaço para que cada pessoa possa redescobrir desejos, emoções e sonhos e promover a reflexão em busca da concretização de objetivos.
Referências ALMEIDA, M. I. et al. Cuidados complexos de mãe de criança com doença crônicas. Esc Anna Nery R Enferm, 10 (1): 36-46, abril/ 2006. ARAÚJO, Y. B. de et al. Rede e apoio social de famílias de crianças com doenças crônica: revisão integrativa. Ciência Cuidado Saúde 10 (4):853-860, 2011. BENEVIDES, D. S. et al. Cuidado em saúde mental por meio de grupos terapêuticos de um hospital-dia: perspectivas dos trabalhadores de saúde. Interface - Comunic., Saúde, Educ., v.14, n.32, p.127-38, jan./mar. 2010. BRITO, D. C. S. de. Cuidando de quem cuida: estudo de caso sobre o cuidador principal de um portador de insuficiência renal crônica. Psicologia em Estud, v. 14, n. 3, p. 603-607, jul./set. Maringá, 2009. CARDOSO, C. C. L; ROSALINI, M. H. P; PEREIRA, M. T. M. L. O Cuidar na Concepção dos Cuidadores: um estudo com familiares de doentes crônicos em duas unidades de saúde da família de São Carlos-SP. Serv. Soc. Rev. V. 13, N.1, P. 2442, Jul/ Dez. São Paulo, 2010. DEZOTI, A. P. et al. Apoio social a famílias de crianças com paralisia cerebral. Acta Paul Enfermagem 28 (2):172-6, Curitiba, 2015. DOMÍNGUEZ, A. G. D; CASTRO, N. C. Doença Crônica na Infância: Desafios para a Promoção da Saúde e Redes Sociais de Apoio. Revista Eletrônica de Relações Internacionais do Centro Universitário Unieuro nº 15, pp. 117-150, Brasília, 2015.
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vida inteligente
Quem tem medo do Prêmio Nobel de Literatura? Querido leitor: Se você tem medo de enfrentar os calhamaços de páginas que compõem vários dos maiores romances da história da literatura ocidental, mas gostaria de desfrutar dos grandes autores nacionais e estrangeiros, aprendendo a escrever com quem domina essa arte, tenho uma sugestão poderosa para lhe dar. Comece pelo começo. Ou, como diria a Deubia: primeiro, as primeiras coisas. Ou seja, se você ainda não tem fôlego para ser maratonista, comece pelas corridas de cem metros rasos. Assim, você não se priva dos melhores escritores só porque acredita não ter tempo para um romance volumoso. Afinal, há muitos autores que escolheram as formas breves como o principal veículo para a sua genialidade. E dificilmente, um universitário poderia alegar que não tem tempo para ler um microconto do argentino Júlio Cortázar com menos de 1 página... Há também alguns autores tão versáteis, como o colombiano Gabriel García Márquez que, seja em gêneros longos, seja em breves, têm uma prosa sempre impecável. É isso que tentamos fazer aqui na disciplina de Tópicos Especiais em Direito I. Estamos lendo contos e crônicas dos grandes mestres – e reparando bem na escolha precisa de palavras, no uso das imagens, nos efeitos de estilo, na arquitetura da pontuação, nas dobras do texto. É que não basta ler de qualquer jeito. Ler para ganhar aposta na Internet e exibir uma pilha de livros “lidos” não vai nos fazer escrever melhor. É preciso ler como os escritores. Escritores leem uns aos outros, de olhos bem abertos, reparando na textura do texto daqueles autores a quem admiram, a fim de apreender os seus recursos de estilo – não para imitá-los de uma forma servil, mas para encontrar, em meio à beleza, a sua própria voz. Por isso, se você ainda tem medo de ler “Cem anos de solidão”, pode começar a conhecer Gabriel García Márquez, lendo alguns dos seus contos magistrais. Na coluna dessa edição, veja o que os calouros do Direito leram do “Gabo” durante esse semestre. E você, o que tem lido além de manuais técnicos, bulas de remédio e formulários burocráticos? NADA? Pois se cuide, amigos, pois como me informou a estampa da blusa de uma garota: “A vida não é só boleto.” Profa. Dra. Fayga Bedê Professora do Mestrado e da Graduação em Direito. Responsável pela seleção e edição de textos da coluna Vida Inteligente. Contato: bedefayga@gmail.com.
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Assombrações de agosto, conto de Gabriel García Márquez O conto trata da história de uma família composta pelos pais e dois filhos. A família está perdida, à procura do castelo de um amigo, com o qual havia assumido o compromisso de almoçar. Ao conseguirem a indicação exata do endereço, são advertidos de que o local é assombrado pelo fantasma de Ludovico, um antigo proprietário morto em circunstâncias trágicas. A partir de então, desenvolve-se uma narrativa em ordem cronológica repleta de suspense. O personagem-narrador ora demonstra incredulidade quanto à existência de fantasmas no castelo – como nos trechos “[...] não acreditamos em aparições de meio-dia” e “[...] visto de fora não tinha nada de pavoroso [...]” –; ora dá indícios de medo do lugar, como na passagem “O castelo, na realidade, era imenso e sombrio”. A narrativa pauta-se no realismo fantástico, vertente que mescla fatos reais e imaginários, sendo estes últimos, ilustrados pelo aroma de morangos recém-cortados, que exalavam inexplicavelmente do antigo quarto onde Ludovico havia assassinado a esposa – caracterizando um dos recursos sinestésicos usados pelo autor. O estímulo final ao imaginário do leitor se dá quando Gabriel García Márquez nos conduz ao desfecho, ao mostrar o assombro de seu narrador-personagem, que havia adormecido num quarto térreo do castelo, mas, ao despertar, percebe que acordara no dormitório do suposto fantasma. Maria Wanderlene Lima Silva Bezerra (Acadêmica do 1º semestre de Direito - Noite)
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Me alugo para sonhar, conto de Gabriel García Márquez Logo no início do conto, o narrador descreve “um tremendo golpe do mar” que acarretou a morte dos transeuntes próximos à praia. Uma das vítimas chama a sua atenção: uma mulher que possuía um anel de serpente com olhos de esmeralda. Por qual motivo esse fato é relevante? – pode questionar-se o leitor. É que esse é o detalhe significativo que evocará a memória de uma misteriosa mulher do seu passado que, assim como a vítima do maremoto, também fazia uso do mesmo anel peculiar. No decurso do texto, o narrador vai, aos poucos, explicando que a mulher, que ele conhecera apenas pelo apelido de Frau Frida, tinha dons premonitórios. Com o uso de imagens poderosas, como no fragmento “[...] até que a vida agarrou-a pelo pescoço [...]”, o autor narra uma série de percalços, de necessidades e de imprevistos da condição humana, que levaram Frau Frida a decidir ganhar a vida “se alugando para sonhar” – vale dizer, Frida previa o futuro dos outros por meio de seus sonhos e ganhava a vida com isso. Ao discorrer sobre os encontros e desencontros do acaso na vida dos personagens, o escritor colombiano Gabriel García Márquez – Prêmio Nobel de Literatura (1982) – constrói um universo ficcional que desliza do real para o fantástico com tanta desenvoltura que chegamos ao final do conto sem podermos aferir com certeza se essa é uma história (im)possível ou não. Kamyla Heleny Titara Martins (Acadêmica do 1º semestre de Direito - Manhã)
O conto se trata de uma fantasia em que a personagem Frau Frida sonha e prevê o que pode acontecer de bom ou de ruim com as pessoas. Há também o fato de ela ser uma mulher que mostra a força e o poder que as mulheres podem ter ao influenciarem as decisões de outras pessoas, apesar de a sociedade nem sempre percebê-las dessa maneira. Além disso, Frau Frida é uma pessoa que passou por dificuldades, mas vai à busca de crescer na vida por meio do que ela sabe e gosta de fazer, como pode ser visto nos trechos: I. “[...] até que a vida agarrou-a pelo pescoço nos cruéis invernos de Viena”; II. “Então, bateu para pedir emprego na primeira casa [...] e quando lhe perguntaram o que sabia fazer, ela disse apenas a verdade: ‘Sonho’.” E não seria assim, na vida real, em que também deveríamos nos esforçar para almejar aquilo que queremos? No texto, há uso de figuras de linguagem, as quais dão mais expressividade ao conto, chamando a atenção do leitor pelo poder imagético das palavras. O narrador nos instiga a querermos saber quem é a mulher tão autoconfiante, com seu anel de serpente, sugerindo-nos que podemos, sim, fazer o que gostamos e crescer por meio disso. É interessante que leiamos esse conto para enxergarmos a vida de uma maneira mais leve, sem toda essa pressão que há nos dias de hoje. Podemos fazer a diferença na vida do outro, simplesmente realizando as coisas de que gostamos. Assim, ao cumprirmos os nossos dons, espalhamos alegria entre as pessoas, como era o caso de nossa sonhadora: “As visitas imprevistas e generosas de Frau Frida na taberna eram então como festa em nosso regime de penúrias.” Maíra Gomes Furtado (Acadêmica do 1º semestre de Direito, Manhã)
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Com criatividade e riqueza de detalhes, o narrador-personagem conta um episódio, vivenciado em Cuba, que o fez lembrar-se de uma marcante mulher do seu passado. O conto se inicia a partir de uma onda gigantesca que se eleva contra o hotel Habana Ribeira, arrastando vários carros próximos ao mar, em especial um, que acaba fulminado contra uma das laterais do hotel. O narrador se refere ao evento, usando termos hiperbólicos como “tremendo golpe do mar” e “explosão de dinamite”, para fazer ver ao leitor a gravidade do desastre. O texto fica ainda mais instigante, quando o narrador-personagem começa a cogitar que já conhecia a mulher que estava no referido carro e que morrera no fatídico acidente, em razão do qual “não sobrou um osso inteiro da falecida”. O apelido da mulher, que usava um anel de serpente no dedo indicador, era Frau Frida, uma personagem misteriosa que “se alugava” para sonhar. Por conseguir prever o futuro das pessoas por meio de seus sonhos, Frida havia passado a ganhar a vida com isso, daí o título do conto. O primeiro encontro do narrador-personagem com Frida havia sido tão singular que, mesmo transcorrido muito tempo sem se reverem, logo se reconheceram, quando de seu reencontro, cerca de treze anos depois. O dom premonitório de Frida nos leva a refletir sobre o quanto o poder de prever o futuro poderia se tornar um fardo, por tirar a beleza de correr riscos e de poder desfrutar das alegrias da vida sem ter de saber quão passageiras elas podem vir a ser. O conto encerra-se com a comprovação de que a mulher do anel de serpente, vitimada pelo maremoto, era mesmo Frida, confirmando-se as nossas suspeitas, porque depois de nos apresentar uma personagem tão fascinante, o mínimo que o autor poderia fazer pelos seus leitores era nos revelar o que aconteceu com a mulher que alugava sonhos e que talvez tenha se esquecido de viver os seus. Taline Ponte de Oliveira (Acadêmica do 1° semestre de Direito - Noite)