REVISTA OPINIÃO JURÍDICA
R. Opin. Jur.
Fortaleza
v. 15
n. 20
p.1-345
jan./jun. 2017
R. Opin. Jur., Fortaleza, ano 15, n. 20, p.1-345, jan./jun. 2017
REVISTA OPINIÃO JURÍDICA
Fortaleza, 2017
R. Opin. Jur., Fortaleza, ano 15, n. 20, p.1-345, jan./jun. 2017
Revista Opinião JurÃdica Ano 15, no. 20 (jan./jun. 2017) – Fortaleza: Unichristus, 2017. Semestral ISSN 1806 – 0420 e-ISSN 2447 – 6641 1. Direito - Periódicos. I. Centro Universitário Christus - Unichristus. CDD 340 Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP).
Impressão )T¶ſEC G 'FKVQTC .%4 .VFC 4WC +UTCGN $G\GTTC &KQPÈUKQ 6QTTGU %'2 (QTVCNG\C Ō %GCT¶ Telefone: 85 3105.7900 - Fax: 85 3272.6069 5KVG YYY ITCſECNET EQO DT Ō G OCKN CVGPFKOGPVQ "ITCſECNET EQO DT
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Revista Opiniรฃo Jurรญdica Revista do Curso de Direito da Unichristus, ano XV, n. 20, 2017 Reitor ,QUร .KOC FG %CTXCNJQ 4QEJC Prรณ-Reitor de Administraรงรฃo e Planejamento 'UVGXยบQ .KOC FG %CTXCNJQ 4QEJC Prรณ-Reitor de Graduaรงรฃo /CWTKEKQ .KOC FG %CTXCNJQ 4QEJC Prรณ-Reitor de Pesquisa e Pรณs Graduaรงรฃo Marcos Kubrusly 2Tร 4GKVQT FG 'ZVGPUยบQ 4QIร TKQ (TQVC .GKVยบQ FQU 5CPVQU Editora-Chefe Dra. Fayga Bedรช Editora-Adjunta /G #PC .WKUC &GOQTCGU %CORQU Editor-Assistente 'UR #PVร PKQ 4QFQNHQ (TCPEQ /QVC 8GNQUQ Editores-Associados /G #PC 2CWNC 2KPVQ .QWTGPร Q 7PKXGTUKFCFG #WVร PQOC FG .KUDQC ล 7#. .KUDQC ล 2QTVWICN /G #PVQPKQ 6QTSWKNJQ 2TCZGFGU 70+%*4+5675 ล (QTVCNG\C %' ล $TCUKN Me. Diego de Paiva Vasconcelos (UNIR โ Porto Velho, RO โ Brasil) &T 'OGTUQP )CDCTFQ 7(24 ล %WTKVKDC 24 ล $TCUKN /G )WUVCXQ (GTPCPFGU /GKTGNGU 7PKXGTUKVร Fล ย XT[ 8CN Fล 'UUQPPG ย XT[ ล (TCPEG Dr. Horรกcio Wanderlei Rodrigues (UFSC โ Florianรณpolis, SC - Brasil) Dr. Isaac Costa Reis (UFSB โ Porto Seguro, BA โ Brasil) &TC .GKNCPG 5GTTCVKPG )TWDDC %'575% ล (NQTKCPร RQNKU 5% ล $TCUKN /G /CWTร EKQ /WTKCEM FG (GTPCPFGU G 2GKZQVQ 7PK%'7$ $TCUร NKC &( ล $TCUKN Dr. Paulo Ferreira da Cunha (FDUP โ Porto, Portugal/ USP โ Sรฃo Paulo, SP โ Brasil) Dr. Rennan Faria Kruger Thamay (FADISP, Sรฃo Paulo, SP โ Brasil) Dr. Roberto Bueno Pinto (UFU โ Uberlandia, MG โ Brasil) &T 4QDGTVQ %QTTGKC FC 5KNXC )QOGU %CNFCU 70+018' /1&'4#ล 5ยบQ 2CWNQ 52 ล $TCUKN /G 6ร TEKQ #TCIยบQ $TKNJCPVG #)7 ล (QTVCNG\C %'
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ComissĂŁo Editorial &T #NGZCPFTG #PVQPKQ $TWPQ FC 5KNXC 70+%*4+5675 7'%' (QTVCNG\C %' $TCUKN &T #NGZCPFTG (GTPCPFGU &CPVCU 7PKXGTUKFCFG 'UVÂśEKQ FG 5Âś 70'5# ĹŒ 4KQ FG ,CPGKTQ RJ - Brasil) Dr. Altamirando Pereira da Rocha (Universidade Federal de Uberlândia – Uberlândia, MG - Brasil) /G #PC 2CWNC 2KPVQ .QWTGPĂ Q 7PKXGTUKFCFG #WVĂ?PQOC FG .KUDQC ĹŒ 7#. .KUDQC 2QTVWICN &T #PVQPKQ $CRVKUVC )QPĂ CNXGU 'UEQNC 2CWNKUVC FG 2QNĂˆVKEC 'EQPQOKC G 0GIĂŽEKQU '22'0 5ÂşQ 2CWNQ 52 $TCUKN Dr. Antonio Celso Baeta Minhoto (USCS- SĂŁo Paulo, SĂŁo Caetano do Sul, SP - Brasil) Dra. BĂĄrbara Silva Costa (Centro UniversitĂĄrio Ritter dos Reis - Porto Alegre, RS – Brasil) &TC %NÂśWFKC 5QWUC .GKVÂşQ 7'%' (QTVCNG\C %' $TCUKN Dr. ClĂłvis Gorczevski (UNISC-Santa Cruz do Sul, RS - Brasil) Dr. Daniel Francisco NagĂŁo Menezes (Universidade Presbiteriana Mackenzie - Campinas, SP; UFPR – Curitiba, PR; UFSC – FlorianĂłpolis, SC – Brasil) Dra. Danielle Annoni (UFSC- FlorianĂłpolis, SC – Brasil) Dr. Diego Richard Ronconi (Universidade do Vale do Itajaà – FlorianĂłpolis, SC - Brasil) &T 'FUQP -K[QUJK 0CECVC ,WPKQT 7PKXGTUKFCFG (GFGTCN FG /KPCU )GTCKU ĹŒ $GNQ *QTK\QPte, MG – Brasil) &TC 'NCKPG *CT\JGKO /CEGFQ 2QPVKHĂˆEKC 7PKXGTUKFCFG %CVĂŽNKEC FQ 4KQ )TCPFG FQ 5WN Porto Alegre, RS – Brasil) &T ÂœNEKQ 0CEWT 4G\GPFG 'UEQNC 5WRGTKQT &QO *GNFGT %¸OCTC $GNQ *QTK\QPVG /) Brasil) &T 'OGTUQP )CDCTFQ 7(24 %WTKVKDC 24 $TCUKN &TC ÂœTKMC 2KTGU 4COQU 7'2$ 70+5#0615 70+/'2 5ÂşQ 2CWNQ 52 $TCUKN &T 'VKGPPG 2KECTF 2#4+5 + ĹŒ 514$100' ĹŒ 2CTKU (TCPEG &T 'XGTVQP FCU 0GXGU )QPĂ CNXGU 7(5% (NQTKCPĂŽRQNKU 5% $TCUKN Dr. FabrĂcio Bertini Pasquot Polido (UFMG- Belo Horizonte, MG - Brasil) Dra. Fernanda Busanello Ferreira (UFG- Goiânia, GO - Brasil) &TC (GTPCPFC .WK\C (QPVQWTC FG /GFGKTQU 7PKNCUCNNG (#&'4)5 G 27% 2QTVQ #NGITG RS - Brasil) &T (NÂśXKQ ,QUĂƒ /QTGKTC )QPĂ CNXGU 7(% 70+%*4+5675 70+(14 (QTVCNG\C %' Brasil) Dr. Friedrich MĂźller (Universidade de Heidelberg- Heidelberg - Alemanha) &TC )GTOCPC 2CTGPVG 0GKXC $GNEJKQT 70+ (QTVCNG\C %' $TCUKN &TC )NQTKC %TKUVKPC (NĂŽTG\ &ÂśXKNC 7PKXGTUKFCF /CLQT FG 5CP /CTEQ ĹŒ .KOC 2GTW &TC )TGVJC .GKVG /CKC 7(% (QTVCNG\C %' $TCUKN Dr. HorĂĄcio Wanderlei Rodrigues (UFSC- FlorianĂłpolis, SC - Brasil) Dr. Ingo Wolfgang Sarlet (PUC - Porto Alegre, RS - Brasil) Dr. Isaac Costa Reis (UFSB- Porto Seguro, BA - Brasil) Dra. Jamile Bergamaschine Mata Diz (Universidade de ItaĂşna -Itauna, MG- Brasil)
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Dra. Joana Stelzer (UFSC- Florianópolis, SC - Brasil) &T ,QºQ .WÈU 0QIWGKTC /CVKCU 7(% (QTVCNG\C %' $TCUKN &T ,QºQ /CWTÈEKQ #FGQFCVQ 7(2' 4GEKHG 2' $TCUKN &T ,QUà %CNXQ )QP\¶NG\ÅŒ 7PKXGTUKFCF FG /¶NCIC /¶NCIC 'URCPJC /G ,QUà 'FOCT FC 5KNXC 4KDGKTQ 7(% ÅŒ (QTVCNG\C %' ÅŒ $TCUKN &T ,QUà (TCPEKUEQ FG #UUKU &KCU 7PKXGTUKFCFG 'UVCFWCN FG /CTKPI¶ ÅŒ /CTKPI¶ 24 $TCUKN Dr. Jorge Cavalcanti Boucinhas Filho (FGV, PUC - São Paulo, SP - Brasil) &T ,WTCEK /QWTºQ .QRGU (KNJQ 70+%*4+5675 ÅŒ (QTVCNG\C %' ÅŒ $TCUKN &T .GQPCTFQ 0GVVQ 2CTGPVQPK 7PKXGTUKFCFG (GFGTCN FG /KPCU )GTCKU $GNQ *QTK\QPVG MG - Brasil) &T .GQPGN 2KTGU 1JNYGKNGT 7PKXGTUKFCFG .WVGTCPC FQ $TCUKN %CPQCU 45 ÅŒ $TCUKN Me. MaurÃcio Muriack de Fernandes e Peixoto (Centro Universitário de BrasÃlia, Uni%'7$ ÅŒ$TCUÈNKC &( $TCUKN &TC /CWTKPKEG 'XCTKUVQ 9GPEGUNCW 7PKXGTUKFCFG (GFGTCN FG /CVQ )TQUUQ FQ 5WN %COpo Grande, MS-Brasil) &T 0GNUQP (KPQVVK 5KNXC 70+8'/ ÅŒ /CTÈNKC 52 ÅŒ $TCUKN &T 0KVKUJ /QPGDJWTTWP 70+%'7$ ÅŒ $TCUÈNKC &( ÅŒ $TCUKN &T 1EV¶XKQ %CORQU (KUEJGT 70+$4#5+. %WTKVKDC 24 $TCUKN Dr. Oksandro Osdival Gonçalves (PUCP – Curitiba, PR – Brasil) &T 2CWNQ $QPCXKFGU 7(% (QTVCNG\C %' $TCUKN Dr. Paulo Ferreira da Cunha (FDUP –Porto, Portugal/ USP – São Paulo, SP/Brasil) Dr. Rafael Santos de Oliveira (UFSM- Santa Maria, RS - Brasil) Dra. Renata Giovanoni Di Mauro (Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas - São Paulo, SP - Brasil) Dr. Renato Duro Dias (Universidade Federal do Rio Grande - Rio Grande, RS – Brasil) Dr, Rennan Faria Kruger Thamay (FADISP, São Paulo, SP – Brasil) Dr. Roberto Bueno Pinto (UFU-Uberlandia, MG - Brasil) &T 4QDGTVQ %QTTGKC FC 5KNXC )QOGU %CNFCU 70+018' /1&'4#ÅŒ 5ºQ 2CWNQ 52 -Brasil) Dr. Roberto da Silva Fragale Filho (UFF- Niterói, RJ - Brasil) &TC 8GTC .WEKC FC 5KNXC 7(5% (NQTKCPÃŽRQNKU 5% $TCUKN Dr. Willis Santiago Guerra Filho (UNIRIO- Rio de Janeiro, RJ - Brasil) &TC ;XGVG (N¶XKQ FC %QUVC 70'52 (TCPEC 52 $TCUKN
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Editora TĂŠcnica 2CVTĂˆEKC 8KGKTC %QUVC 70+%*4+5675 ĹŒ (QTVCNG\C %' ĹŒ $TCUKN BibliotecĂĄrias ResponsĂĄveis Tusnelda Maria Barbosa PatrĂcia Vieira Costa RevisĂŁo de LĂngua Portuguesa 'NNGP .CEGTFC %CTXCNJQ $G\GTTC Heitor Nogueira da Silva Helena ClĂĄudia Barbosa IdĂĄlia Cavalcanti Parente (coord.) Maria Gleiciane AraĂşjo Silvana Rodrigues de Oliveira Victor Alan Andrade Marques
Capa +XKPC .KOC 8GTFG
Coordenação de Design Jon Barros
2TQLGVQ )TœſEQ &KCITCOCà ºQ Juscelino Guilherme
CorrespondĂŞncia Unichristus 'FKVQTKC FC 4GXKUVC 1RKPKÂşQ ,WTĂˆFKEC #XGPKFC &QO .WĂˆU ĹŒ CPFCT #NFGQVC ĹŒ %'2 (QTVCNG\C ĹŒ %GCTÂś Telefone: 85 3457.5396 G OCKN QRKPKCQLWTKFKEC "WPKEJTKUVWU GFW DT
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EDITORIAL (ao pĂŠ do ouvido) <<As leis nĂŁo bastam. Os lĂrios nĂŁo nascem da lei.>> (Carlos Drummond de Andrade) Chegamos. O governo brasileiro, por meio da Capes,* atribuiu o conceito A2 para a Revista OpiniĂŁo JurĂdica, o que implica o reconhecimento de padrĂŁo internacional ao periĂłdico. Ă&#x2030; a 2ÂŞ maior nota do Programa Qualis, um ranking escalonado em 8 (oito) estratos; partilhada, no $TCUKN RQT WOC RCTEGNC Ă&#x2C6;PĹżOC FG RGTKĂ&#x17D;FKEQU FC ÂśTGC FQ &KTGKVQ Foi bem mais difĂcil do que eu havia imaginado, mas o fato ĂŠ que deu certo. Desembarcamos em nossa 20ÂŞ edição, ainda em clima de festa. Tive o desejo inconfesso de presentear a equipe com umas medalhinhas de honra ao mĂŠrito â&#x20AC;&#x201C; como as que eu invejava na infância â&#x20AC;&#x201C;, apĂłs mandar gravar as inscriçþes: â&#x20AC;&#x153;A2â&#x20AC;?. Mas me contive. Temi que algum eventual glamour em torno da celebração pudesse seqĂźestrar o que havia de mais genuĂno em nossa alegria: o prazer de ver reconhecido o fruto de um longo e ĂĄrduo trabalho, tanto pelos nossos pares, quanto pela Capes. [Temi tambĂŠm que os colegas nos achassem velhos demais para ostentar nossas portentosas medalhinhas douradas]. ' C DGO FC XGTFCFG ´U XĂ&#x192;URGTCU FG HGEJCT C PQUUC OCKU PQXC GFKĂ ÂşQ VKXGOQU FG UWDUtituir o champagne por algumas doses de cafĂŠ extra forte, adoçadas pelo chantilly de uma VQTVC VTĂ&#x201A;U FĂ&#x192;NKEKGWUG RQTSWG CĹżPCN HGNKEKFCFG GPIQTFC ' HQK CNK OGUOQ EQO Q VGENCFQ CKPFC sujo de glacĂŞ, que começamos a trabalhar rumo a sonhos mais altos. Um pĂŠ apĂłs o outro, uma coisa de cada vez. A subida ĂŠ Ăngreme e os caminhos, sinuosos. Mas, como diria o Prof. Juraci MourĂŁo, sonho pelo qual se trabalha duro jĂĄ nĂŁo ĂŠ sonho, mas objetivo ' CĹżPCN PÂşQ estamos sozinhos. Quando penso na pequenina tropa de soldados bravios, por trĂĄs da OpiniĂŁo JurĂdica, ĂŠ impossĂvel nĂŁo recordar os versos imortais do poeta: â&#x20AC;&#x153;O homem atrĂĄs do bigode/ Ă&#x2030; sĂŠrio, simples e forte/ Quase nĂŁo conversa/ Tem poucos, raros amigos/ O homem atrĂĄs dos Ăłculos e do bigodeâ&#x20AC;?. Gostaria de agradecer a esses amigos de jornada, por se manterem sĂŠrios, simples e fortes. Pessoas comprometidas em servir: aos autores, leitores, pareceristas e demais pesquisadores. /WKVQ QDTKICFC RQT UG OCPVGTGO KOWPGU ´ XCKFCFG Ă&#x2030; a companhia desses amigos que embeleza as nossas pĂĄginas: *
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de NĂvel Superior (CAPES) ĂŠ uma fundação vinculada ao MiPKUVĂ&#x192;TKQ FC 'FWECĂ ÂşQ /'% FQ $TCUKN SWG CVWC PC GZRCPUÂşQ G EQPUQNKFCĂ ÂşQ FC RĂ&#x17D;U ITCFWCĂ ÂşQ UVTKEVQ UGPUW (mestrado e doutorado) em todos os estados do paĂs.
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â&#x20AC;˘ 2TQHC #PC .WKUC &GOQTCGU Ĺ&#x152; 'FKVQTC #FLWPVC â&#x20AC;˘ 2TQH 4QFQNHQ (TCPEQ Ĺ&#x152; 'FKVQT #UUKUVGPVG â&#x20AC;˘ 2CVTĂ&#x2C6;EKC 8KGKTC %QUVC Ĺ&#x152; 'FKVQTC 6Ă&#x192;EPKEC â&#x20AC;˘ +FÂśNKC 2CTGPVG G &GRCTVCOGPVQ FG .Ă&#x2C6;PIWC 2QTVWIWGUC â&#x20AC;˘ ,WUEGNKPQ )WKNJGTOG G ,QP $CTTQU )TœſEC .%4 â&#x20AC;˘ FĂĄtima Mapurunga e pessoal de secretaria da Unichristus #ITCFGEGOQU VCODĂ&#x192;O FG EQTCĂ ÂşQ ´U OGPVGU SWG GORTGUVCTCO VQFQ Q UGW GURNGPFQT a essa edição: lĂłgico: nossos autores e pareceristas 2QT ĹżO CITCFGEGOQU ECTKPJQUCOGPVG a todos os colegas que acreditaram em nosso trabalho, desde sempre!, aqui representados pelos professores doutores: HorĂĄcio Wanderlei, Roberto Caldas, Roberto Bueno e Isaac Reis. 2QT ĹżO QPFG SWGT SWG GUVGLCO QU PQUUQU NGKVQTGU =RTQVGIKFQU FQU TKIQTGU KPXGTPCKU UQD mantas de lĂŁ bem quentinhas, sob a copa frondosa de uma ĂĄrvore, ou quem sabe, no litoral, UQD WO C\WNGLQ FG JQTK\QPVGU TGICFQU C EJKOCTTÂşQ ECHĂ&#x192; QW ÂśIWC FG EĂ?EQ? FGUGLCOQU SWG C sua leitura faça valer todos os nossos esforços. Profa. Dra. Fayga BedĂŞ 'FKVQTC %JGHG FC 4GXKUVC 1RKPKÂşQ ,WTĂ&#x2C6;FKEC
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SUMÁRIO EDITORIAL PRIMEIRA PARTE – DOUTRINA NACIONAL
Justiça restaurativa e crimes culposos de trânsito ..............................................................13 André Ribeiro Giamberardino, Mário Edson Passerino Fischer da Silva 2QNÈVKECU RÕDNKECU FG RTQVGÁºQ ´ XÈVKOC WOC RTQRQUVC FG CTTCPLQ KPUVKVWEKQPCN FG UGIWTCPÁC pública ................................................................................................................................32 Antonio Henrique Graciano Suxberger, Mayara Lopes Cançado #VWCÁºQ FC CWVQTKFCFG RQNKEKCN G FQ RQFGT LWFKEK¶TKQ PQ EQODCVG ´ XKQNÄPEKC FQOÃUVKEC EQPVTC C OWNJGT PC EKFCFG FG 5ºQ .WÈU /#..................................................................................59 Bruno Denis Vale Castro, Artenira da Silva e Silva A justiça consensual do tribunal múltiplas portas e a política pública norte-americana de VTCVCOGPVQ FG EQPƀKVQU EQPVTKDWKÁÐGU CQ OQFGNQ DTCUKNGKTQ .............................................84 Charlise Paula Colet Gimenez
+P EQPUQP¸PEKC FC VWVGNC CPVGEKRCFC PQ %2% FG EQO Q 'UVCFQ &GOQET¶VKEQ de Direito ...........................................................................................................112 Edmilson Araujo Rodrigues, Cynara Silde Mesquita Veloso Autocontenção no judiciário brasileiro: uma análise das relações estratégicas entre os poderes EQPUVKVWÈFQU FQ 'UVCFQ .....................................................................................................138 Juliana de Brito Pontes, José Mário Wanderley Gomes Neto, João Paulo Fernandes de Souza Allain Teixeira O dever de fundamentação das decisões judiciais sob o olhar da crítica hermenêutica do direito ...............................................................................................................................160 Lenio Luiz Streck, Igor Raatz Constitutional design and the Brazilian judicial review: remarks about strong and weak-form review in the Brazilian Federal Supreme Court ...............................................................180 Marco Antonio Loschiavo Leme de Barros 1U CITKEWNVQTGU HCOKNKCTGU EQOQ TÃWU GO RTQEGUUQU CODKGPVCKU TGƀGZÐGU CEGTEC FQ RQFGT simbólico do direito ..........................................................................................................207 Marlene de Paula Pereira, Maria Izabel Vieira Botelho O efeito repristinatório no controle difuso de constitucionalidade e a vedação de decisões surpresa ............................................................................................................................231 Olavo Augusto Vianna Alves Ferreira, Eduardo Alexandre Young Abrahão
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Aspectos cognitivos da memória e a antecipação da prova testemunhal no processo penal .....255 Rafael Altoé, Gustavo Noronha de Avila &CU VGQTKCU FC KPVGTRTGVCÁºQ ´ VGQTKC FC FGEKUºQ RQT WOC RGTURGEVKXC TGCNKUVC CEGTEC FCU KPƀWÄPEKCU G EQPUVTCPIKOGPVQU UQDTG C CVKXKFCFG LWFKEKCN ...............................................271 Ricardo de Lins e Horta, Alexandre Araújo Costa SEGUNDA PARTE – DOUTRINA ESTRANGEIRA Unidade do ordenamento jurídico ...................................................................................298 Friedrich Müller A exceção como dispositivo de governo ..........................................................................306 Luciano Nuzzo 2QT WOC 'EQNQIKC FQU &KTGKVQU *WOCPQU ........................................................................324 Raffaele De Giorgi Normas de Publicação......................................................................................................341
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doi:10.12662/2447-6641oj.v15i20.p13-31.2017
JUSTIĂ&#x2021;A RESTAURATIVA E CRIMES CULPOSOS DE TRĂ&#x201A;NSITO AndrĂŠ Ribeiro Giamberardino* MĂĄrio Edson Passerino Fischer da Silva** 1 Introdução. 2 Desenvolvimento. 2.1 A proposta do modelo restaurativo de justiça. 2.2 Cidadania e justiça restaurativa. 2.3 Justiça restaurativa nos crimes culposos de trânsito. 3 ConclusĂŁo. ReferĂŞncias.
RESUMO O paradigma restaurativo ĂŠ proposto como meio de empoderar o indivĂduo e GOCPEKRÂś NQ FQ GUVCFQ FG CRCVKC PQ SWG VCPIG ´ UWC TGNCĂ ÂşQ EQO QU EQPĆ&#x20AC;KVQU G C UWC TGUQNWĂ ÂşQ %QO HQEQ GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQ PC ÂśTGC FQU ETKOGU EWNRQUQU FG VT¸PUKVQ C pesquisa foi dividida em duas fases, conjugando metodologia qualitativa baseada GO GPVTGXKUVCU PÂşQ GUVTWVWTCFCU G TGXKUÂşQ DKDNKQITœſEC 2CTC VCPVQ RTQEGFGW UG a pesquisa de consulta processual no âmbito da Segunda Vara de Delitos de Trânsito de Curitiba/PR e na interação com familiares de vĂtimas de delitos de trânsito e infratores que cumpriam pena restritiva de direitos no Instituto Paz no Trânsito. Sendo o rito restaurativo uma experiĂŞncia voluntĂĄria que incita o FKÂśNQIQ C TGĆ&#x20AC;GZÂşQ UQDTG CU ECWUCU FC SWGUVÂşQ G C HQTOWNCĂ ÂşQ EQPLWPVC FG WOC UQNWĂ ÂşQ RCTC Q EQPĆ&#x20AC;KVQ GNG RQFG FGOQPUVTCT SWG Q EKFCFÂşQ Ă&#x192; ECRC\ FG CIKT FG HQTOC TGURQPUÂśXGN G CVWCT EQOQ WO CIGPVG OQFKĹżECFQT FC RTĂ&#x17D;RTKC TGCNKFCFG UGO C RTGUGPĂ C PGEGUUÂśTKC FC VWVGNC RWPKVKXC GUVCVCN 6GO UG RQT ĹżO SWG Q campo dos crimes culposos e de trânsito se mostra como muito permeĂĄvel para VGUVCT UG C GĹżEÂśEKC FG VCN OQFGNQ FG LWUVKĂ C FGXKFQ ´ CWUĂ&#x201E;PEKC FG RTQRĂ&#x17D;UKVQ FKTGVQ PC ECWUCĂ ÂşQ FQ FCPQ DGO EQOQ FKCPVG FC OCPKHGUVC KPGĹżEÂśEKC FC RGPC estatal em sentido preventivo. Palavras-chave: Justiça Restaurativa. Crimes culposos. Cidadania. *
Â&#x153; 2TQHGUUQT FG %TKOKPQNQIKC G &KTGKVQ 2GPCN G &GHGPUQT 2Ă&#x2022;DNKEQ PQ 'UVCFQ FQ 2CTCPÂś 'O %WTKVKDC 24 Ă&#x192; Professor na Universidade Federal do ParanĂĄ e da Universidade Positivo, na qual ĂŠ pesquisador do CPJUS - Centro de Pesquisa JurĂdica e Social. CompĂľe o corpo docente, como professor convidado, do Master em Ĺ&#x2018;%TKOKPQNQIKC ETKVKEC G UKEWTG\\C UQEKCNG &GXKCP\C KUVKVW\KQPK G KPVGTC\KQPK RUKEQUQEKCNKĹ&#x2019; FC 7PKXGTUKV´ FK 2CFQXC 7PK2F G 7PKXGTUKV´ FK $QNQIPC 7PK$Q +VÂśNKC &QWVQT GO &KTGKVQ FQ 'UVCFQ RGNQ 2TQITCOC FG 2Ă&#x17D;U-graduação em Direito da Universidade Federal do ParanĂĄ (2014). Possui Mestrado em Direito pela UFPR e GO %TKOKPQNQIKC RGNC 7PKXGTUKV´ FGINK 5VWFK FK 2CFQXC G 'URGEKCNK\CĂ ÂşQ GO &KTGKVQ 2GPCN G %TKOKPQNQIKC RGNQ +PUVKVWVQ FG %TKOKPQNQIKC G 2QNĂ&#x2C6;VKEC %TKOKPCN +%2% 7(24 ' OCKN CPFTG TI"VGTTC EQO DT
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AcadĂŞmico de direito do quinto ano da Universidade Federal do ParanĂĄ, Facilitador em PrĂĄticas Circulares Restaurativas capacitado pelo Tribunal de Justiça do ParanĂĄ e estudante bolsista da Alma Mater Studiorum 7PKXGTUKV´ FK $QNQIPC FWTCPVG Q UGIWPFQ UGOGUVTG FQ CPQ CECFĂ&#x201E;OKEQ FG ' OCKN OCTKQAĹżUEJGT " hotmail.com>.
R. Opin. Jur., Fortaleza, ano 15, n. 20, p.13-31, jan./jun. 2017
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AndrĂŠ Ribeiro Giamberardino | MĂĄrio Edson Passerino Fischer da Silva
1 INTRODUĂ&#x2021;Ă&#x192;O Qual seria o modo mais prudente de se implementar um modelo restaurativo de justiça CFGSWCFQ ´ UGCTC FQ FKTGKVQ RGPCN DTCUKNGKTQ G FG SWG HQTOC GUVG RQFGTKC EQPVTKDWKT RCTC C OWFCPĂ C FC EQPEGRĂ ÂşQ EQOWO CEGTEC FC VTCVCVKXC FG EQPĆ&#x20AC;KVQU G FQ GZGTEĂ&#x2C6;EKQ FC EKFCFCPKC? A pesquisa foi dividida em uma etapa teĂłrica e outra essencialmente empĂrica, utilizando mĂŠtodos qualitativos de anĂĄlise. Na primeira, apresentou-se uma compatibilidade de pressupostos entre a abordagem restaurativa, a tratativa penal dos crimes culposos e as peculiaridades inerentes e eventuais destes. O objetivo primĂĄrio fora demonstrar que os RTQEGUUQU SWG GPXQNXGO C QEQTTĂ&#x201E;PEKC FG ETKOGU EWNRQUQU FGUFG SWG JCLC UWĹżEKGPVG GUENCTGcimento e consistĂŞncia probatĂłria em relação aos fatos narrados, criam ambientes propĂcios ao ĂŞxito da aplicação de medidas restaurativas para o encaminhamento de sua resolução. 2CTC VCPVQ TGEQTTGW UG ´ DKDNKQITCĹżC PCEKQPCN G KPVGTPCEKQPCN TGHGTGPVGU ´U TGĆ&#x20AC;GZĂ?GU UQDTG LWUVKĂ C TGUVCWTCVKXC G CURGEVQU VCPVQ RTQEGUUWCKU SWCPVQ EQPEGTPGPVGU ´ VGQTKC FQ FGNKVQ Na segunda etapa, o objetivo fora problematizar a adoção da perspectiva restaurativa diante da possibilidade desta servir como um mecanismo para o desenvolvimento de um autĂŞntico senso de cidadania e responsabilidade - distinto do sentimento de vingança - por parte FQU GPXQNXKFQU QW CHGVCFQU RGNQ HCVQ FGNKVWQUQ TGNCEKQPCFQ GURGEKĹżECOGPVG CSWK CQU ETKOGU culposos de trânsito. A metodologia adotada baseou-se: i) na consulta processual de autos referentes a casos jĂĄ julgados no âmbito da Segunda Vara de Delitos de Trânsito de Curitiba;1 ii) na interação com a equipe psicopedagĂłgica do Instituto Paz no Trânsito (IPTRAN) e com os sentenciados que lĂĄ cumpriam penas restritivas de direitos,2 incluindo entrevistas nĂŁo esVTWVWTCFCU G KKK PC TGĆ&#x20AC;GZÂşQ UQDTG QU OQFQU EQOQ C CDQTFCIGO TGUVCWTCVKXC RQFGTKC EQPVTKDWKT RCTC C EQPUVTWĂ ÂşQ FKCNĂ&#x17D;IKEC FC TGURQPUCDKNKFCFG GPVTG QU GPXQNXKFQU PQ EQPĆ&#x20AC;KVQ
2 DESENVOLVIMENTO # 2412156# &1 /1&'.1 4'56#74#6+81 &' ,756+Â&#x161;# No artigo â&#x20AC;&#x153;Geography in court: expertise in adversarial settingsâ&#x20AC;?, William A. V. Clark CTIWOGPVC SWG CU EQTVGU RQUUWKTKCO UGWU RTĂ&#x17D;RTKQU FGUGPJQU IGQITœſEQU G SWG GUVGU UGTKCO baseados em um modelo de â&#x20AC;&#x153;campo de batalhaâ&#x20AC;?, no qual dois especialistas se combateriam CTIWOGPVCVKXCOGPVG C ĹżO FG FGOQPUVTCTGO C EQTTGURQPFĂ&#x201E;PEKC FG UGWU TGURGEVKXQU RQPVQU FG XKUVC GO TGNCĂ ÂşQ ´ NGK 3 Segundo tal visĂŁo, os papĂŠis principais no processo seriam ocupados RGNQU GURGEKCNKUVCU CFXQICFQU QW RTQĹżUUKQPCKU EJCOCFQU RGNC EQTVG C ĹżO FG EQORTQXCTGO FGVGTOKPCFC VGUG G PQ ĹżO Q FGDCVG FGKZCTKC FG NCFQ Q EQPĆ&#x20AC;KVQ GPVTG RGUUQCU PÂşQ CNOGjando mais a descoberta da â&#x20AC;&#x153;verdade dos fatosâ&#x20AC;? ou a produção da sanção mais adequada. O objetivo do processo, portanto, seria selecionar qual dos pontos de vista contrapostos seria o mais convincente de ser adotado aos olhos do juiz. 14
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Malcolm Feeley, por sua vez, em â&#x20AC;&#x153;The Process is the Punishmentâ&#x20AC;?, complementa a referida abordagem ao delinear que o prĂłprio desenrolar do processo jĂĄ renderia consequĂŞncias daPQUCU ´ XĂ&#x2C6;VKOC G CQ TĂ&#x192;W UGLC PC XKFC HCOKNKCT PQ VTCDCNJQ UGLC PQ PĂ&#x2C6;XGN FQU TGNCEKQPCOGPVQU pessoais em geral.4 2CTC Q CWVQT C ĹżIWTC OCKU KPĆ&#x20AC;WGPVG G PQVĂ&#x17D;TKC FQ TKVQ RTQEGUUWCN UGTKC Q LWK\ Q SWCN IGQITCĹżECOGPVG HCNCPFQ UG GPEQPVTCTKC PÂşQ CRGPCU ĹżUKECOGPVG CEKOC FQU FGOCKU (por se sentar em um local mais alto ou evidente), como tambĂŠm abstratamente (devido ao HCVQ FG GUVG TGVGT RCTC UK VQFQ Q RQFGT FGEKUĂ&#x17D;TKQ #QU GPXQNXKFQU PQ EQPĆ&#x20AC;KVQ GPVTGVCPVQ TGUGTXC UG WO RCRGN VQVCNOGPVG RCUUKXQ FG OQFQ SWG GUUGU CRGPCU ĹżIWTCTKCO EQOQ GURGEtadores de uma luta verbal cujo conteĂşdo tende a ser inacessĂvel a eles, na medida em que Ă&#x192; EQFKĹżECFQ RQT WOC NKPIWCIGO GZEGUUKXCOGPVG HQTOCN G VĂ&#x192;EPKEC A perspectiva restaurativa pretende, justamente, resgatar a participação ativa e emRQFGTCFC FQU UWLGKVQU FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ EQOQ EQORQPGPVG KORTGUEKPFĂ&#x2C6;XGN FG SWCNSWGT VGPVCVKXC legĂtima de sua resolução. De acordo com Federico Reggio, que tratou dos princĂpios e das formas de aplicação das prĂĄticas restaurativas, inexistiria na atualidade um conceito universal acerca do que ĂŠ a justiça restaurativa e quais seriam os seus objetivos. Citam-se, entĂŁo, algumas propostas da presente vertente, como tornar a experiĂŞncia da vĂtima um objeto de narração, apresentar C LWUVKĂ C TGUVCWTCVKXC EQOQ WOC CPVĂ&#x2C6;VGUG ´ CPVTQRQNQIKC KPFKXKFWCNKUVC G CKPFC HC\Ă&#x201E; NC QRGTCT EQOQ RTQXC FG SWG Q 'UVCFQ PÂşQ Ă&#x192; PGEGUUCTKCOGPVG Q Ă&#x2022;PKEQ ICTCPVKFQT FC QTFGO LWTĂ&#x2C6;FKEC e social.5 Fato ĂŠ que as vĂĄrias perspectivas dos autores nĂŁo tornam claros todos os pressupostos FC RGTURGEVKXC TGUVCWTCVKXC OGUOQ SWG UGLC RQUUĂ&#x2C6;XGN KFGPVKĹżECT GNGOGPVQU GUUGPEKCKU 6 Dentre VCKU GNGOGPVQU RQFG UG HC\GT CNWUÂşQ ´ SWGUVÂşQ FQ GORQFGTCOGPVQ FQU GPXQNXKFQU PQ EQPĆ&#x20AC;KVQ a partir do reconhecimento de que seu espaço/papel no rito processual deve ser relevante, bem como que estes devem ser tratados como seres humanos e nĂŁo objetos de intervenção. Reggio apontou que, por mais que a ausĂŞncia de clareza conceitual complique a compreensĂŁo da temĂĄtica, um consenso teĂłrico poderia representar algo ainda mais negativo, pois engessaria Q FGDCVG FG SWGUVĂ?GU CU SWCKU VCNXG\ PGEGUUKVGO FG OCKQTGU TGĆ&#x20AC;GZĂ?GU 7 A proposta do autor em relação a tal problemĂĄtica foi a de focar-se no conteĂşdo dos conceitos mais condizentes EQO C LWUVKĂ C TGUVCWTCVKXC FGXGPFQ UG KFGPVKĹżECT Q SWG UG VQTPQW WOC Ĺ&#x2018;XKUÂşQ CEGKVCĹ&#x2019; G Q SWG Ă&#x192; FG HCVQ WOC Ĺ&#x2018;XKUÂşQ CEGKVÂśXGNĹ&#x2019; FGUUG RCTCFKIOC &GXGT UG KC PGUUC NKPJC TGĆ&#x20AC;GVKT UQDTG SWGUVKQPCOGPVQU EWLC TGUQNWĂ ÂşQ RQUUC FGĹżPKT OCKU ENCTCOGPVG Q SWG UG RTGVGPFG EQO VCN proposta e se esta se apresentaria como uma alternativa ao sistema penal (principalmente no sentido de possuir valores diversos), se o substituiria ou se se manteria paralelo a ele.8 %JTKUVKG RQT UWC XG\ VTCVQW FQ UGSWGUVTQ KPUVKVWEKQPCN FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ GO HCEG FG UGWU RTĂ&#x17D;RTKQU UWLGKVQU G FCU TGURGEVKXCU EQPUGSWĂ&#x201E;PEKCU %QO C HQTOCĂ ÂşQ FQ 'UVCFQ /QFGTPQ G C DWTQETCVK\CĂ ÂşQ XGKQ VCODĂ&#x192;O C RTQĹżUUKQPCNK\CĂ ÂşQ FQ VTCVQ QĹżEKCN FQ Ĺ&#x2018;KPVQNGTÂśXGNĹ&#x2019; RQT OGKQ FG WO CRCTCVQ KPUVKVWEKQPCN QĹżEKCNOGPVG TGEQPJGEKFQ EQOQ Q Ă&#x2022;PKEQ NGIĂ&#x2C6;VKOQ C VWVGNCT C TG-
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UQNWĂ ÂşQ EQPĆ&#x20AC;KVWCN G RQT ĹżO C EQPUQNKFCĂ ÂşQ FG WO RCTCFKIOC Q SWCN FGĹżPKW UGT Q 'UVCFQ PC HQTOC FQ QTFGPCOGPVQ LWTĂ&#x2C6;FKEQ Q Ĺ&#x2018;QHGPFKFQĹ&#x2019; WPKXGTUCN FQU EQPĆ&#x20AC;KVQU UQEKCNOGPVG TGNGXCPVGU 9 /GUOQ RQTSWG VCN CRCTCVQ LCOCKU QDLGVKXQW C GHGVKXC Ĺ&#x2018;TGUQNWĂ ÂşQĹ&#x2019; FQU EQPĆ&#x20AC;KVQU JWOCPQU aos sujeitos envolvidos em controvĂŠrsias, foi delegada uma posição secundĂĄria no processo RGPCN 6CKU KPFKXĂ&#x2C6;FWQU RCUUCTCO C ĹżIWTCT EQOQ OGTCU VGUVGOWPJCU FQU HCVQU RGTFGPFQ C QRQTVWPKFCFG FG TGĆ&#x20AC;GVKT UQDTG C HWPĂ ÂşQ FC PQTOC SWG KPEKFKTKC UQDTG UGW ECUQ FG VTCDCNJCT traumas, de promover a responsabilização do ofensor, no caso da vĂtima, e de se retratar ou mesmo propor uma forma de compensação, no caso do ofensor.10 Howard Zehr, por sua vez, apresentou a justiça restaurativa como uma perspectiva QRQUVC ´ Ă&#x17D;VKEC TGVTKDWVKXC 11 pois esta representaria a lĂłgica do sistema e do processo penal. Sua concepção teria como escopo principal o empoderamento das â&#x20AC;&#x153;partes de fatoâ&#x20AC;? mediante C EQPHGTĂ&#x201E;PEKC FQ RTQVCIQPKUOQ RTQEGUUWCN C GUVCU 'UUCU RCTVGU GPVÂşQ FKCNQICTKCO GPVTG UK com a presença de suas respectivas famĂlias (quando for o caso) e da comunidade afetada RGNQ EQPĆ&#x20AC;KVQ G UQD QDUGTXCĂ ÂşQ FG WO OGFKCFQT HQTOWNCTKCO WOC UQNWĂ ÂşQ GO EQPLWPVQ RCTC a questĂŁo. Segundo o autor, tal solução deveria implicar reparação ou compensação, ainda que simbĂłlica, do dano causado.12 Nessa senda, certos doutrinadores como Tony Marshall, Paul McCold e Ted Wachtel descrevam a justiça restaurativa como um processo no qual vĂtima e ofensor se reĂşnem e, GO EQPLWPVQ DWUECO WOC UQNWĂ ÂşQ RCTC Q EQPĆ&#x20AC;KVQ DCUGCPFQ UG PQ FKÂśNQIQ 13 tratando apenas da via operacional da questĂŁo, ou seja, das prĂĄticas restaurativas. A justiça restaurativa corresponderia, entĂŁo, a um paradigma, noção defendida por Zehr,14 que compreende uma OGVQFQNQIKC FG TGUQNWĂ ÂşQ EQPĆ&#x20AC;KVWCN CKPFC SWG CNIWPU FG UGWU CURGEVQU RQUUCO UGT QDUGTXCFQU GO CDQTFCIGPU RTQEGFKOGPVCKU CVTGNCFCU C QWVTCU RGTURGEVKXCU # ĹżIWTC FC EQPEKNKCĂ ÂşQ RQT GZGORNQ Ă&#x192; CWVQTK\CFC RGNC .GK PQ ¸ODKVQ FQU LWK\CFQU GURGEKCKU ETKOKPCKU G RQFGTKC GO VGUG EQTTGURQPFGT C WOC RTÂśVKEC TGUVCWTCVKXC VQFCXKC PÂşQ UGTKC TC\QÂśXGN CĹżTmar que nesses ĂłrgĂŁos ĂŠ adotada a perspectiva restaurativa de forma plena, mesmo porque a abrangĂŞncia ĂŠ restrita e a vĂtima volta a ser â&#x20AC;&#x153;substituĂdaâ&#x20AC;? no instituto da transação penal. De todo modo, parece certo de que se trata de uma forma mais humana de conduzir Q RTQEGUUQ G FG TGURQPFGT CQ ETKOG #ĹżPCN C CVGPĂ ÂşQ FQ TKVQ TGUVCWTCVKXQ TGECK UQDTG CU pessoas, nĂŁo sobre a punição e a anĂĄlise dos fatos sob a Ăłtica meramente legal. Reggio, EQPVWFQ CĹżTOQW SWG Q RTQEGUUQ G C LWUVKĂ C TGUVCWTCVKXC PÂşQ UÂşQ PGEGUUCTKCOGPVG QRQUVQU OCU RQUUWGO RTGOKUUCU FKXGTUCU UGPFQ C UGIWPFC OCKU CVGPVC ´U PGEGUUKFCFGU EQPETGVCU FCU partes de fato, mais inclusiva e calcada na participação dos envolvidos que sĂŁo incentivados a dialogarem entre si.15 1 CWVQT RCTVKFÂśTKQ FC XGTVGPVG OCZKOCNKUVC SWCPVQ ´ CDTCPIĂ&#x201E;PEKC do adjetivo â&#x20AC;&#x153;restaurativoâ&#x20AC;?, defende a ideia de que as prĂĄticas restaurativas deveriam sempre TGUWNVCT GO WOC HQTOC FG TGRCTCĂ ÂşQ ´ XĂ&#x2C6;VKOC QW CQU HCOKNKCTGU FGUVC OGUOQ SWG GO PĂ&#x2C6;XGN simbĂłlico, pois o mero â&#x20AC;&#x153;encontro entre ofendido e ofensorâ&#x20AC;?, objeto principal da vertente minimalista (encounter theory PÂşQ DCUVCTKC RCTC RQT TGOĂ&#x192;FKQ ´ QHGPUC G TGRTQFW\KTKC C CVWC-
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ção do Sistema Penal. 16 A justiça restaurativa teria o objetivo de encorajar a â&#x20AC;&#x153;prestação de contasâ&#x20AC;? do ofensor com a vĂtima e/ou os familiares desta, oferecendo aos envolvidos um espaço mais propĂcio CQ FGUGPXQNXKOGPVQ FG GORCVKC G ´ TGUVCWTCĂ ÂşQ FG XĂ&#x2C6;PEWNQU HC\GPFQ SWG QU RCTVKEKRCPVGU UG reconheçam como cidadĂŁos dignos de respeito e que, devido ao diĂĄlogo, as consequĂŞncias e causas minuciosas da ofensa sejam reveladas. Carolyn Hoyle, apesar de defender que a justiça restaurativa seria mais adequada quando utilizada para a resolução de crimes de menor potencial ofensivo, reconhece sua potencialidade em casos mais graves, embora apregoe que, para os referidos crimes, tal metodologia deva ser aplicada como funcionalmente complementar ao sistema criminal. Ou seja, segundo a autora, nos citados casos, deve existir uma pena, e a abordagem restaurativa seria CRNKECFC LWPVQ ´ TGVTKDWVKXC CĹżPCN Q OQFGNQ TGUVCWTCVKXQ PÂşQ EQPĹżIWTCTKC WOC CNVGTPCVKXC ´ punição, mas uma punição alternativa (essencialmente reparativa).17 #ĹżTOQW VCODĂ&#x192;O SWG a responsabilização gerada pelo rito restaurativo exitoso atingiria nĂŁo apenas ao ofensor, ao receptor da censura, mas tambĂŠm: i) ao ofendido, o qual, sendo o receptĂĄculo da reparação, CVWCTKC EQOQ CIGPVG FG EQPVTQNG FQ EWORTKOGPVQ FQ CEQTFQ TGUVCWTCVKXQ KK ´ EQOWPKFCFG
SWCPFQ JÂś SWG FGXGTKC CWZKNKCT PC TGKPVGITCĂ ÂşQ FQ QHGPUQT G KKK ´U HCOĂ&#x2C6;NKCU FQ QHGPUQT e da vĂtima (quando presentes) as quais ofereceriam suporte emocional aos envolvidos no EQPĆ&#x20AC;KVQ G QU CLWFCTKCO EQO RTQDNGOCU RGUUQCKU RQT XG\GU PÂşQ TGNCEKQPCFQU FKTGVCOGPVG com a ofensa. Nessa linha, a implementação desse modelo poderia corresponder a uma distribuição da responsabilidade de controle criminal, dividindo essa tarefa entre comunidade G 'UVCFQ G ETKCPFQ PÂşQ WOC PQXC HQTOC FG IQXGTPQ OCU WOC PQXC HQTOC FG IQXGTPCT 18 com a intervenção institucional se distanciando materialmente, mas se reproduzindo por meio da comunidade. 1HGTGEG UG CQU GPXQNXKFQU WO RCRGN CVKXQ GO WO GURCĂ Q FG TGUQNWĂ ÂşQ EQPĆ&#x20AC;KVWCN PQ qual, como Nils Christie almejava, seria possĂvel discutir nĂŁo apenas acerca da função das normas jurĂdicas relevantes ao caso, mas igualmente fornecer aos agentes participantes (ofenFKFQ QHGPUQT EQOWPKFCFG HCOĂ&#x2C6;NKCU OGFKCFQTGU G OGUOQ CQU LWĂ&#x2C6;\GU C EJCPEG FG TGĆ&#x20AC;GVKTGO sobre os problemas sĂłcio-estruturais que se relacionam ao fato delituoso. Nesses termos, os GPXQNXKFQU VĂ&#x201E;O C RQUUKDKNKFCFG FG RGPUCT ETKVKECOGPVG GO WOC UQNWĂ ÂşQ XKÂśXGN RCTC Q EQPĆ&#x20AC;KVQ de modo proativo e racional, restaurando, entĂŁo, os vĂnculos rompidos pela ofensa. %+&#&#0+# ' ,756+Â&#x161;# 4'56#74#6+8# Segundo Catherine de Vitto e Philip Oxhorn, em paĂses onde a sociedade civil ĂŠ â&#x20AC;&#x153;fraECĹ&#x2019; C EKFCFCPKC Ă&#x192; TGĆ&#x20AC;GVKFC GO FKTGKVQU EWLC CORNKVWFG GURGNJC CU CUUKOGVTKCU FC GUVTWVWTC social, garantindo-se o direito de reivindicação e participação polĂtica aos grupos sociais que jĂĄ os possuem e mantendo-se a exclusĂŁo dos segregados.19 A justiça restaurativa, como
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expressĂŁo de um sistema de â&#x20AC;&#x153;micro-justiçaâ&#x20AC;? (nĂŁo coincidente com o portentoso aparato estatal), possibilitaria o desenvolvimento de um outro tipo de relação entre cidadĂŁo e 'UVCFQ UGO GPVTGVCPVQ TGECKT PCU CTOCFKNJCU KPGTGPVGU ´ JKRGTXCNQTK\CĂ ÂşQ FG ECFC WO FGUVGU EQOQ Q HG\ Q PGQNKDGTCNKUOQ QW Q RCVGTPCNKUOQ GUVCVCN 'UUC CVWCĂ ÂşQ EQPLWPVC acarretaria o maior engajamento dos cidadĂŁos na resolução de problemas enfrentados pela justiça estatal e, consequentemente, a sua maior inclusĂŁo nas estruturas jurĂdica e RQNĂ&#x2C6;VKEC PCEKQPCKU XKUVQ SWG GUVGU KPĆ&#x20AC;WGPEKCTKCO C RTQOQĂ ÂşQ FC Ĺ&#x2018;LWUVKĂ CĹ&#x2019; G HQTVCNGEGTKCO de tal modo, a democracia.20 6CN SWGUVÂşQ FKCNQIC EQO QU CRQPVCOGPVQU FG .WK\C /CTKC FG %CTXCNJQ # CWVQTC ETKticou o fato de que, na sociedade brasileira, o voto ĂŠ a mĂĄxima expressĂŁo da participação popular e adendou que a justiça restaurativa poderia ampliar o exercĂcio democrĂĄtico, uma XG\ SWG RGTOKVKTKC CQU EKFCFÂşQU CVWCTGO CVKXCOGPVG PC TGUQNWĂ ÂşQ FQU RTĂ&#x17D;RTKQU EQPĆ&#x20AC;KVQU G ainda como â&#x20AC;&#x153;embaixadores sociaisâ&#x20AC;?. Com tal termo visou-se a designar os indivĂduos que CWZKNKCTKCO Q 'UVCFQ C KFGPVKĹżECT RQUUĂ&#x2C6;XGKU KORNGOGPVCĂ Ă?GU FG RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU EWLQ Ă&#x201E;ZKVQ poderia nĂŁo apenas contribuir para sanar a controvĂŠrsia concreta entre os envolvidos no EQPĆ&#x20AC;KVQ OCU KIWCNOGPVG EQPFW\KT C UQNWĂ ÂşQ FG RTQDNGOCU UQEKCKU OCKU CORNQU 21 A justiça restaurativa, portanto, alĂŠm de depender do provimento de serviços pĂşblicos e atendimentos multidisciplinares para cumprir com sua missĂŁo emancipadora, operaria como vetor de QTKGPVCĂ ÂşQ FG RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU RQT XG\GU PGEGUUÂśTKCU ´ TGUQNWĂ ÂşQ FG SWGUVĂ?GU RTĂ&#x192;XKCU SWG KORNKECTKCO C RTÂśVKEC FG EQPFWVCU IGTCFQTCU FG EQPĆ&#x20AC;KVQU #U CPVGTKQTGU RTQRQUVCU FG CVWCĂ ÂşQ EQPLWPVC GPVTG 'UVCFQ G UQEKGFCFG EKXKN RQFGTKCO GPVÂşQ RTQOQXGT C CWVĂ&#x201E;PVKEC EKFCFCPKC! #ĹżPCN EQOQ UG EQPEGDG C EKFCFCPKC PQ EQPVGZVQ FC TGCNKFCFG UQEKCN DTCUKNGKTC! 5QDTG VCKU SWGUVĂ?GU TGĆ&#x20AC;GVKW Q CPVTQRĂ&#x17D;NQIQ ,COGU *QNUVQP Q SWCN CĹżTOQW SWG JKUVQTKECOGPVG C EKFCFCPKC PQ $TCUKN UGTKC ECTCEVGTK\CFC por ser formalmente inclusiva, mas substancialmente excludente. Nessa linha, embora o status de cidadĂŁo tenda a ser legalmente conferido sem muitos prĂŠ-requisitos, o usufruto dos direitos reconhecidos aos cidadĂŁos ĂŠ, na realidade, muito dĂspar, e a legislação opera de modo a reproduzir e engessar tal distribuição desigual, conferindo privilĂŠgios e deveres diversos a diferentes categorias que, entretanto, sĂŁo compostas por pessoas de status cĂvico formalmente equivalente.22 O mesmo autor, no artigo Cities and Citizenship, apontou que a cidadania seria a identidade que compreende e coordena todas as demais, correspondendo ´ UWRGTCĂ ÂşQ FG UVCVWU G RTKXKNĂ&#x192;IKQU SWG UGTKCO EGFKFQU C WOC LWTKUFKĂ ÂşQ QW PCĂ ÂşQ C RCTVKT da celebração de uma espĂŠcie de contrato social baseado na igualdade de direitos individuais. Fez-se, entĂŁo, uma diferenciação entre cidadania formal e substancial. A primeira se baseia nos direitos que o indivĂduo possui para ser reconhecido como membro de uma determinada sociedade/nação, porĂŠm muitos desses implicam Ă´nus como o serviço militar, G PQ ECUQ DTCUKNGKTQ Q FG XQVCT # UGIWPFC UG TGHGTG CQU FKTGKVQU RQNĂ&#x2C6;VKEQU UQEKQGEQPĂ?OKEQU culturais e religiosos que um indivĂduo possui e exerce. O autor concluiu que, embora, em teoria, o reconhecimento da segunda implique a concretização da primeira, na prĂĄtica,
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o que consistiria a cidadania seria independente do reconhecimento formal por parte do direito positivo.23 $QCXGPVWTC FG 5QWUC 5CPVQU TGĆ&#x20AC;GVKW UQDTG C EKFCFCPKC GO WOC RGTURGEVKXC UQEKQNĂ&#x17D;IKEC abordando a sua relação com a lĂłgica sistĂŞmica capitalista e com o projeto da modernidade. O autor apresentou o conceito como uma falsa ideia de representação, sendo a cidadania expressa somente no momento do voto. A lĂłgica capitalista liberal, portanto, marginalizou o princĂpio da comunidade preconizado por Rousseau, pois inexistiria uma participação ativa, FKTGVC CWVĂ?PQOC PQ UGPVKFQ FG CWVĂ&#x201E;PVKEC G UQNKFÂśTKC RQT RCTVG FQU IQXGTPCFQU PC VQOCFC FG decisĂľes polĂticas.24 Ao consistir em direitos e deveres, a cidadania enriqueceria a subjetividade dos indivĂduos e lhes abriria novos horizontes de autorrealização, mas, em sua pretensĂŁo de ser universal, ela reduziu a individualidade nos limites de seus pressupostos, acarretando C RTGXKUÂşQ FG WOC UĂ&#x192;TKG FG FKTGKVQU IGTCKU G CDUVTCVQU CQU FGUVKPCVÂśTKQU FG RQFGT 'NC GPVÂşQ limitou a atuação estatal, mas, ao mesmo tempo, facilitou o exercĂcio do controle social ao passo que equalizou e universalizou as particularidades dos sujeitos destinatĂĄrios de poder.25 Por sua vez, Teresa Caldeira analisou alguns paradoxos envolvendo o conceito agora debatido. De um lado, a autora demonstrou otimismo com relação ao extenso rol de garantias e direitos previstos na Constituição de 1988 e como isso possibilitou o desenvolvimento de vĂĄrios movimentos sociais e da democracia. Do outro, adendou que a cidadania nĂŁo ĂŠ criação da referida carta e que, apesar dos avanços no campo do direito, a realidade mateTKCN FGPWPEKC SWG Q DTCUKNGKTQ VGPFQ EQOQ TGHGTĂ&#x201E;PEKC GURGEĂ&#x2C6;ĹżEC Q RCWNKUVC RCTGEG CNOGLCT manter-se em uma posição de observador em frente a um campo em que a cidadania e a justiça sĂŁo invocadas como meros suportes de sustentação ideolĂłgica em contextos nos quais talvez sua invocação nĂŁo possuĂsse o devido sentido.26 'O EQORCTCĂ ÂşQ EQO CU RQUKĂ Ă?GU GZRQUVCU CPCNKUCT UG Âś Q EQPVGĂ&#x2022;FQ FQU SWGUVKQPÂśTKQU que foram preenchidos e falas proferidas por pessoas condenadas por crimes de trânsito, CU SWCKU EWORTKCO JQTCU FG RCTVKEKRCĂ ÂşQ PQ RTQITCOC Ĺ&#x2018;4GĆ&#x20AC;GZÂşQĹ&#x2019; QTICPK\CFQ RGNC GSWKRG RUKEQRGFCIĂ&#x17D;IKEC FQ +PUVKVWVQ 2C\ PQ 6T¸PUKVQ +264#0 GO %WTKVKDC 'UUCU RGUUQCU27 foram convidadas a responder a perguntas abertas de extrema densidade conceitual, como: â&#x20AC;&#x153;No que consistiria a cidadania?â&#x20AC;? â&#x20AC;&#x153;Como ela ĂŠ exercida no cotidiano?â&#x20AC;? â&#x20AC;&#x153;Se o questionado teve oportunidade de se expressar e expor suas opiniĂľes sobre ocorrido durante a tramitação do processo penalâ&#x20AC;? etc. Ă&#x2030; interessante notar como as respostas foram um tanto heterogĂŞneas na descrição GURGEĂ&#x2C6;ĹżEC FC EKFCFCPKC OCU C OCKQTKC C FGUETGXGW DCUKECOGPVG EQOQ EQPLWPVQ FG FGXGTGU e direitos. O ponto em comum de todas as respostas foi que nenhum dos questionados teve a oportunidade de se expressar adequadamente durante a tramitação do processo penal. Nenhum dos indivĂduos se recusou a preencher o questionĂĄrio, mesmo cientes de que poderiam fazĂŞ-lo, porĂŠm foram orientados que o tempo de preenchimento seria contabilizado nas horas que estes deveriam cumprir participando dos eventos do Instituto, o que por certo
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evidenciou a adesĂŁo e a cooperação. O projeto foi explicado a todos, houve participação nos encontros semanais com os questionados na sede do IPTRAN e a oportunidade de discutir sobre justiça e a proposta do novo paradigma com alguns destes, porĂŠm a maioria mostrou-se UKORÂśVKEC ´ KPKEKCVKXC OCU FGUETGPVG GO UWC RQVGPEKCNKFCFG RCTC VTCVCT FG ETKOGU OCKU ITCXGU Observou-se que, de todos os questionados, apenas um cometeu um crime que resultou vĂtima (lesĂŁo corporal), dois dirigiram alcoolizados, um conduziu veĂculo com capacidade psicomotora alterada e dois causaram danos materiais a terceiros, mas responderam pelo ETKOG FG EQPFW\KT UGO JCDKNKVCĂ ÂşQ G FGUUGU FQKU CRGPCU WO HGTKW QWVTGO 'UUC HQK WOC NKmitação da amostra de pesquisa, pois a existĂŞncia do dano ĂŠ um elemento importante para a abertura de espaços, de diĂĄlogo e comunicação. Inicialmente, um dos entrevistados demonstrou encarar a cidadania como o cumRTKOGPVQ FG WO Ă?PWU SWG KORNKECTKC Q EQPXĂ&#x2C6;XKQ UQEKCN JCTOQPKQUQ Ĺ&#x2018;TGURGKVCT Q GURCĂ Q G RQPVQ FG XKUVC FG ECFC WOĹ&#x2019; = ? Ĺ&#x2018;QDGFGEGT C TGITCU = ?Ĺ&#x2019; 'O UGIWKFC C GZRNKECĂ ÂşQ HQK OCKU complexa, oferecida pela questionada mais jovem, uma estudante universitĂĄria: â&#x20AC;&#x153;exercer FKTGKVQU G FGXGTGU RCTC Q DGPGHĂ&#x2C6;EKQ FC RQRWNCĂ ÂşQĹ&#x2019; QW UGLC CRTQZKOQW UG FG WOC FGĹżPKĂ ÂşQ que resultaria na responsabilidade do indivĂduo com o meio social, ainda que a cidadania afete diretamente a esfera individual. No questionĂĄrio 3, novamente a cidadania foi tratada EQOQ WO Ă?PWU FG TGURGKVQ CQ RTĂ&#x17D;ZKOQ G FG VQNGT¸PEKC 0Q SWGUVKQPÂśTKQ FG Pu HQK GUETKVC C HTCUG Ĺ&#x2018;RCICT CU EQPVCUĹ&#x2019; 0Q Pu Q KPFKXĂ&#x2C6;FWQ GZRNKEQW Q EQPEGKVQ GO WOC RGTURGEVKXC mais garantista, embora paradoxalmente tenha descrito a responsabilização personalĂssima como â&#x20AC;&#x153;direito de responder pelos meus atosâ&#x20AC;?, ou seja, provavelmente o questionado tentou FGUETGXGT Q FKTGKVQ FG NKDGTFCFG FG GZRTGUUÂşQ QW FQ EQPVTCFKVĂ&#x17D;TKQ PWO EQPVGZVQ FG Ă?PWU G cobrança de responsabilidade. A resposta presente no questionĂĄrio 5 tambĂŠm apresentou componentes muito abstratos: â&#x20AC;&#x153;ser uma pessoa que faz as coisas de forma certa, frequenta bons lugares e que exerce a boa moralâ&#x20AC;?. No questionĂĄrio 6, foi exposta a clĂĄssica ideia do limite da liberdade, a qual para o questionado parece se confundir com a cidadania: â&#x20AC;&#x153;respeitar ao prĂłximo e exercer os prĂłprios deveres para poder iniciar seus direitosâ&#x20AC;?. No caso em que houve vĂtima, a ofensora buscou entrar em contato com o ofendido G UWC HCOĂ&#x2C6;NKC OCU PÂşQ QDVGXG UWEGUUQ 'NC TGNCVQW Q HCVQ FG UGPVKT SWG C XĂ&#x2C6;VKOC VGPVQW VKTCT RTQXGKVQ FC UKVWCĂ ÂşQ PQ FGEQTTGT FQ RTQEGUUQ C ĹżO FG QDVGT WOC KPFGPK\CĂ ÂşQ OCKQT G HG\ constar que as consequĂŞncias do fato delituoso para a sua vida nĂŁo receberam atenção, alĂŠm de que as leis poderiam ser incoerentes, de modo que considerou sua pena desproporcional. A partir de sua percepção, abre-se a questĂŁo sobre como o papel de vĂtima tambĂŠm ĂŠ socialmente construĂdo, sendo subjetivamente percebido de forma diferenciada por cada sujeito. &QKU FQU SWGUVKQPCFQU CĹżTOCTCO CKPFC SWG Q FGUKPVGTGUUG FQ 2QFGT ,WFKEKÂśTKQ RGNC UWC UKVWCĂ ÂşQ G C CWUĂ&#x201E;PEKC FG EJCPEG FG UG GZRTGUUCT FWTCPVG Q RTQEGUUQ EQPĹżIWTCTCO WOC Ĺ&#x2018;HCNVC FG TGURGKVQĹ&#x2019; QWVTQU FQKU UKORNGUOGPVG CĹżTOCTCO SWG GUVCXCO Ĺ&#x2018;GTTCFQU RQT FGUEWORTKT C leiâ&#x20AC;? e que nĂŁo lhes fez falta nĂŁo emitirem suas opiniĂľes.
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%QO TGNCĂ ÂşQ ´ RGPC CRNKECFC PQU SWGUVKQPÂśTKQU G QU KPFKXĂ&#x2C6;FWQU CĹżTOCTCO SWG GUVC HQK LWUVC RQTĂ&#x192;O PQ SWGUVKQPÂśTKQ C LWUVKĹżECVKXC HQK FG SWG C LWUVKĂ C TGUKFKTKC PC RTGXKUÂşQ legal para sua aplicação. Frisou-se, contudo, que a pena sĂł teria capacidade de transformar positivamente a realidade das pessoas quando na forma de serviço comunitĂĄrio. Outros dois SWGUVKQPCFQU CĹżTOCTCO SWG CU RGPCU PÂşQ VGTKCO VCN ECRCEKFCFG QW RQT UGTGO NGIKVKOCFCU em fatos diversos dos correspondentes com a realidade, ou por colocarem o apenado em um ambiente hostil sem lhe dar a chance de â&#x20AC;&#x153;aprenderâ&#x20AC;? com o que fez. Constatou-se entĂŁo, a partir da arquitetura das respostas oferecidas e da anĂĄlise teĂłrica UQDTG Q VGOC SWG C CDGTVWTC C HQTOCU CNVGTPCVKXCU FG TGUQNWĂ ÂşQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU GO WO CODKGPVG punitivista e imediatista deve ser gradual. ,756+Â&#x161;# 4'56#74#6+8# 015 %4+/'5 %7.21515 &' 64Â&#x2018;05+61 Conforme Tavares, a importância do estudo dos tipos culposos (ou de imprudĂŞncia) se relaciona ao incremento de diversas atividades de risco que se tornaram parte do cotidiano com a motorização da vida moderna desde o sĂŠculo XIX.28 Desse modo, a razĂŁo da extensĂŁo de incidĂŞncia do jus puniendi sobre condutas negligentes lesivas, antes em sua maioria juridicamente irrelevantes e concebidos apenas como quase delictum, foi meramente polĂtica, caracterizando-se, portanto, como resposta de polĂtica penal a essa nova categoria de danos. Tais danos eram causados mediante o exercĂcio de atividades ou com o consumo de produtos de potencial ofensivo inerente dentro do contexto de uma â&#x20AC;&#x153;sociedade de riscosâ&#x20AC;?. Observa-se, entĂŁo, que as citadas atividades e uso dos referidos produtos inevitavelmente lesariam pessoas, mas a â&#x20AC;&#x153;nova fetichização da mercadoriaâ&#x20AC;? transferiu a responsabilidade do dano para Q EQPUWOKFQT QW VTCDCNJCFQT C ĹżO FG KORGFKT SWG C \QPC FQ KNĂ&#x2C6;EKVQ RGPCN UG GUVGPFGUUG C ponto de frear a prosperidade da indĂşstria e o fomento do consumo.29 1 RQFGT FG FGĹżPKĂ ÂşQ HQK KPUVTWOGPVCNK\CFQ RCTC C ETKCĂ ÂşQ FGUUGU VKRQU RGPCKU KPĂ&#x192;FKVQU PÂşQ EQO C NCVGPVG ĹżPCNKFCFG de proteger bens jurĂdicos, mas para garantir a estabilização do conjunto normativo em correspondĂŞncia com a estrutura capitalista industrial que se formava. Alegou-se que os danos seriam inevitĂĄveis e, entĂŁo, para evitar que sua concretização fosse tamanha a ponto de FGUKPEGPVKXCT Q HQOGPVQ FQ EQPUWOQ GUVCDGNGEGTCO UG TGIWNCOGPVQU GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQU FG FGXGTGU de cuidado e sançþes para aqueles que, nĂŁo os observando, lesassem outrem. Nota-se que o objetivo foi limitar a perpetuação de danos a um nĂşmero estatisticamente aceitĂĄvel e atribuir a responsabilidade do dano somente ao indivĂduo, deslocando o foco da questĂŁo acerca do potencial ofensivo dos produtos e atividades. Frisa-se que o processo FG VKRKĹżECĂ ÂşQ HQK VCODĂ&#x192;O OWKVQ VĂ&#x17D;RKEQ RCTC PÂşQ VQTPCT FGOCUKCFCOGPVG VGOGTQUQ Q WUQ de produtos ou o exercĂcio das referidas atividades por parte dos consumidores e operĂĄrios. &G CEQTFQ EQO <CHHCTQPK Q RTQDNGOC FQ ETKOG EWNRQUQ PÂşQ GUVÂś CVTGNCFQ ´ ĹżPCNKFCFG FQ CIGPVG OCU UKO ´ OCPGKTC EQOQ GUVG RTGVGPFG TGCNK\CT UWC CĂ ÂşQ C SWCN prima facie, ĂŠ
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atĂpica.30 A seleção dos meios para se cumprir o objetivo da conduta, portanto, atĂŠm-se a um standard mĂnimo31 formulado a partir de regulamentos e outras orientaçþes normativas com o intuito de minimizar os riscos de causar um dano a outrem. Ressalta-se que, embora o autor reconheça que os conceitos de reasonable man e standard mĂnimo sejam vagos e imaginĂĄrios, ele defende a adoção de um standard GORKTKECOGPVG XGTKĹżEÂśXGN RTQXCXGNOGPVG RQT HCVQTGU estatĂsticos) como referĂŞncia para a imputação de prĂĄtica de crime culposo. Nessa senda, caso o agente possua peculiaridades que o impossibilitem de ser avaliado conforme o referido padrĂŁo, estas devem ser analisadas no âmbito da culpabilidade (hipĂłtese questionĂĄvel, por VGT EWPJQ WPKXGTUCNK\CPVG OCU FGXG UG TGEQPJGEGT SWG C UQNWĂ ÂşQ TGHGTGPVG ´ EWNRCDKNKFCFG Ă&#x192; VGEPKECOGPVG CEGKVÂśXGN 1 CWVQT GPVÂşQ UQOC ´ GSWCĂ ÂşQ EWLQ TGUWNVCFQ Ă&#x192; C KORWVCĂ ÂşQ FC EQPFWVC EWNRQUC Q HCVQT Ĺ&#x2018;C\CTĹ&#x2019; CĹżPCN C EQPFWVC RQFG UGT RTCVKECFC GO FGUEQPHQTOKFCFG com os deveres de cuidado (previstos em outras normas esparsas e, portanto, incorrendo na caracterização do tipo culposo como â&#x20AC;&#x153;abertoâ&#x20AC;?), mas sem a concretização do resultado tĂpico. Nesses termos, a aplicação da sanção penal remete muito mais a um desvalor de resultado que a um desvalor de ação, incluĂda nesta a dimensĂŁo subjetiva, ausente na forma dolosa. Trata-se da inobservância de um dever de cuidado, da criação de risco nĂŁo permitido, da GNGXCĂ ÂşQ FG TKUEQ RGTOKVKFQ OCU VTCVC UG UQDTGVWFQ FG WO FCPQ RQT XG\GU OWKVQ UKIPKĹżcativo, resultante de tal conduta â&#x20AC;&#x153;descuidadaâ&#x20AC;? ou â&#x20AC;&#x153;criadora de riscoâ&#x20AC;? por parte do agente. 2CTC GUUG VKRQ GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQ FG ETKOG C RGPC RTKXCVKXC FG NKDGTFCFG Ă&#x192; SWCPVKVCVKXCOGPVG inferior em comparação a seus correspondentes dolosos e ainda substituĂvel pela pena restriVKXC FG FKTGKVQU 'UUC UWDUVKVWKĂ ÂşQ Ă&#x192; RTGXKUVC PQ CTV KPEKUQ + FQ %Ă&#x17D;FKIQ 2GPCN $TCUKNGKTQ e evidencia a opção por tratamento penal diferenciado, em termos qualitativos, dos autores de delitos culposos. %QOQ CĹżTOCFQ C RQUUĂ&#x2C6;XGN FKHGTGPEKCĂ ÂşQ RGPCN PC VTCVCVKXC FQU ETKOGU EWNRQUQU UG FÂś pela ausĂŞncia de dolo do agente em concretizar o tipo objetivo, o que denota o fato de este, aos olhos do legislador, nĂŁo ser digno de um tratamento tĂŁo severo como o direcionado aos autores de crimes dolosos, pois a intenção deste nĂŁo seria penalmente reprovĂĄvel. Nota-se, KPENWUKXG SWG VGO UG VQTPCFQ KPHGNK\OGPVG EQOWO PC RTCZKU HQTGPUG VKRKĹżECT EQPFWVCU evidentemente culposas como portadoras de â&#x20AC;&#x153;dolo eventualâ&#x20AC;? porque o resultado ĂŠ por demais NGUKXQ G UKIPKĹżECVKXQ FQ RQPVQ FG XKUVC FC QRKPKÂşQ RĂ&#x2022;DNKEC 1TC Ă&#x192; GXKFGPVG SWG Q UGPVKFQ de â&#x20AC;&#x153;justiçaâ&#x20AC;? e sua subjetiva percepção pela população nĂŁo sĂŁo parâmetros para a mĂŠtrica quantitativa da pena privativa de liberdade. Tal desvalor de resultado deve ser colocado em pauta e dentro da criação de um espaço de comunicação capaz de explicitar responsabilidades, espaço inexistente e inviabilizado pelo processo penal tradicional. De todo modo, parece razoĂĄvel dizer que a sociedade e a comunidade jurĂdica seriam HCEKNOGPVG TGEGRVKXCU ´ RTQRQUVC FG CFQĂ ÂşQ FG RTÂśVKECU TGUVCWTCVKXCU PQU RTQEGUUQU GPXQNXGPFQ casos de delitos culposos. Diante de todos, estĂĄ o dano, mas nĂŁo tanto, ou de forma tĂŁo intensa, o â&#x20AC;&#x153;agressorâ&#x20AC;?, pois o â&#x20AC;&#x153;criminosoâ&#x20AC;? vem ab initio destituĂdo do componente subjetivo
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como objeto de Ăłdio e hostilidade. A desconstrução de estereĂłtipos e a abertura de canais de fala e escuta podem ser facilitadas com tal ponto de partida. Pragmaticamente, a possibilidade de substituição das penas privativas de liberdade aplicadas a crimes culposos por restritivas de direitos tambĂŠm evidencia a maior facilidade GO HC\GT FKUUQ WO RTQEGUUQ RCTVKEKRCVKXQ FG HQTOWNCĂ ÂşQ FG OGFKFCU FG EGPUWTC XKUCPFQ ´ compensação, na medida do possĂvel, do dano causado. 5GIWPFQ FCFQU FKXWNICFQU RGNQ &GRCTVCOGPVQ 0CEKQPCN FG 6T¸PUKVQ &'0#64#0 a frota de veĂculos brasileira, em junho de 2014, foi estimada em 84.063.191,32 e, conforme o Mapa da ViolĂŞncia,33 em 2012, 43.821 pedestres foram internados somente pelo 575 FQ VQVCN FG KPVGTPCĂ Ă?GU GPXQNXGPFQ CEKFGPVGU FG VT¸PUKVQ 'O HQTCO registrados os Ăłbitos de 11.959 pedestres, e, segundo o MinistĂŠrio da SaĂşde, no mesmo ano, registraram-se 43.256 mortes no trânsito. Parcela considerĂĄvel desses acidentes estĂĄ associada ao alcoolismo e/ou a crimes culposos de trânsito (homicĂdio e lesĂŁo corporal grave), entretanto, desde 1997 atĂŠ o momento, apenas 8 pessoas cumprem ou cumpriram RGPC GO TGIKOG HGEJCFQ FGXKFQ ´ EQPFGPCĂ ÂşQ RQT ETKOG FG VT¸PUKVQ UGPFQ SWG FGUUG VQVCN 7 cometeram crimes tidos como dolosos e 1 por tentativa de homicĂdio. Portanto, sendo que os delitos culposos mais graves, como homicĂdios e lesĂľes corporais, estĂŁo associados ao trânsito ou a casos nĂŁo frequentes de adultos que esquecem crianças dentro de veĂculos (nesses, a repercussĂŁo midiĂĄtica ĂŠ maior), atesta-se que o efetivo encarceramento de autores de crimes culposos jĂĄ nĂŁo ocorre (mesmo, por exemplo, em casos de homicĂdio culposo com pluralidade de vĂtimas). # VTCVCVKXC GURGEKCN RCUUĂ&#x2C6;XGN FG CRNKECĂ ÂşQ ´U RGPCU FQU FGNKVQU EWNRQUQU PQU VGTOQU LÂś GZRNKEKVCFQU VQTPC Q CODKGPVG FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ ECWUCFQ RQT GUUG VKRQ FG ETKOG RTQRĂ&#x2C6;EKQ ´ KPUVCWTCĂ ÂşQ de medidas restaurativas, na medida em que essas sĂŁo calcadas nos pilares da pessoalidade, reparação, reintegração e participação,34 absolutamente coerentes aos anseios do legislador diante da substituição da pena da reclusĂŁo por prĂĄticas de reparação ou compensação. Fundamental compreender, no entanto, que a mera aplicação de penas restritivas de direito nĂŁo implica, por si sĂł, a caracterização de tais medidas como â&#x20AC;&#x153;restaurativasâ&#x20AC;?. De acordo com o exposto e a perspectiva minimalista, a adjetivação do processo como restaurativo depende da forma pela qual se chegou a essa medida, do â&#x20AC;&#x153;processoâ&#x20AC;?, da participação ativa, respeitosa, voluntĂĄria e empoderada dos sujeitos vitimizados e criminalizados e suas EQOWPKFCFGU FG UWRQTVG 'UUC Ă&#x192; VCODĂ&#x192;O C RQUKĂ ÂşQ FCU 0CĂ Ă?GU 7PKFCU 4GUQNWĂ ÂşQ ONU): restaurativo deve ser o processo, nĂŁo o resultado.35 Ainda, inexistiria o fator â&#x20AC;&#x153;medoâ&#x20AC;? como Ăłbice ao encontro e diĂĄlogo entre ofensor e ofendido, de forma que o desejo da vĂtima ou de sua famĂlia de se aproximar do infrator UGTKC OCKQT #ĹżPCN GUUGU CNOGLCTKCO UWC TGURQPUCDKNK\CĂ ÂşQ G TGVTCVCĂ ÂşQ QW CQ OGPQU â&#x20AC;&#x153;compreender o que aconteceuâ&#x20AC;?. Nos processos que envolvem crimes dolosos, tal encontro ĂŠ possĂvel, porĂŠm evidentemente mais complicado, pois ĂŠ comum que se construa, com o
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incentivo da prĂłpria legislação e dos operadores do sistema de justiça, verdadeiro pavor da XĂ&#x2C6;VKOC GO TGNCĂ ÂşQ C UGW CITGUUQT *QYCTF <GJT VTCVC FGUUC SWGUVÂşQ CĹżTOCPFQ SWG C EKVCFC CXGTUÂşQ UG FGUGPXQNXG FGXKFQ ´ RQUKĂ ÂşQ UWDOKUUC PC SWCN C XĂ&#x2C6;VKOC Ă&#x192; EQNQECFC RQT UGW QHGPsor, sendo o seu posterior empoderamento, proporcionado pelo protagonismo processual PQ FGEQTTGT FQ TKVQ FG TGUQNWĂ ÂşQ EQPĆ&#x20AC;KVWCN C HQTOC OCKU CFGSWCFC FG FGUEQPUVKVWĂ&#x2C6; NC 36 'UUG VTCWOC RQFG UGT UGPVKFQ RGNQU GHGKVQU FQ FGNKVQ EWNRQUQ EQOQ GO ECUQU PQU SWCKU Q agente esquece o bebĂŞ trancado no carro, provoca um incĂŞndio sem intenção (fogos de artifĂcio, fogĂŁo ligado, etc.), provoca lesĂľes ou mesmo a morte de pessoas passageiras do XGĂ&#x2C6;EWNQ SWG EQPFW\ GVE 'PVTGVCPVQ C KPVGPĂ ÂşQ FQ CIGPVG PÂşQ HQK WO FQU HCVQTGU SWG deu causa ao trauma, de modo que a vĂtima e os seus familiares nĂŁo considerariam sua conduta como algo arquitetado cruelmente e, mais alĂŠm, nĂŁo teriam razĂŁo para temĂŞ-lo. Os referidos fatores podem nĂŁo inibir a raiva que recairĂĄ sobre o responsĂĄvel, mas eles contribuem para o ĂŞxito em uma tentativa de aproximação. O foco da justiça restaurativa pode nĂŁo ser o perdĂŁo ou a restauração absoluta do status RTĂ&#x192; FGNKVQ RQTĂ&#x192;O GUUC ETKC WO CODKGPVG RTQRĂ&#x2C6;EKQ ´ EQPETGVK\CĂ ÂşQ FG WOC TGNCĂ ÂşQ FG EQOWPKECĂ ÂşQ KORTGUEKPFĂ&#x2C6;XGN ´ RTĂ&#x17D;RTKC EGPUWTC G ´ TGURQPUCDKNK\CĂ ÂşQ OWKVQ OCKU G OWKVQ CNĂ&#x192;O FG apenas humanizar, informalizar ou â&#x20AC;&#x153;esvaziar prateleirasâ&#x20AC;?. Seria entĂŁo possĂvel vivenciar, por OGKQ FQ FKÂśNQIQ G FQ EQPJGEKOGPVQ OĂ&#x2022;VWQ WOC CWVĂ&#x201E;PVKEC GZRGTKĂ&#x201E;PEKC FG CNVGTKFCFG 'O relação a esse otimismo, entretanto, Declan Roche, em Accountabily in Restorative Justice, fez a ressalva de que, enquanto as partes podem expor a â&#x20AC;&#x153;melhor face da natureza humanaâ&#x20AC;?, demonstrando empatia, buscando compreensĂŁo mĂştua e reconciliando-se, existe tambĂŠm a chance dos ciclos restaurativos apenas servirem como mais um espaço de humilhação e demonização, principalmente em relação ao censurado. Para evitar tal problema, faz-se mister a participação de facilitadores capacitados e, se necessĂĄrio, deve-se observar que, por ser baseado no princĂpio da voluntariedade, qualquer um dos envolvidos pode desistir do rito restaurativo. /GUOQ EQO C TGUUCNXC 4QEJG CĹżTOC SWG Q HCVQ FG Q CRGPCFQ VGT RCTVKEKRCFQ PC HQTmulação de sua sentença implica uma assunção de comprometimento muito maior do que se esta fosse meramente imposta pela corte, o que estĂĄ intimamente ligado com a questĂŁo da justiça restaurativa ser muito mais personalista do que a justiça convencional.37 A referida assunção de comprometimento, para o estudo em questĂŁo, ĂŠ um fator de extrema relevância, pois o cumprimento de uma pena restritiva de direitos depende muito da prĂł-atividade do apenado em comparecer ao local de sua execução, por exemplo. A tratativa legal e midiĂĄtica desse tipo de crime permite inferir que a comunidade jurĂdica seria mais suscetĂvel a aceitar a intervenção de outras metodologias processuais PGUVC GUHGTC KPUVKVWEKQPCN GURGEĂ&#x2C6;ĹżEC $QCXGPVWTC FG 5QWUC 5CPVQU FGHGPFG SWG Q FKTGKVQ estatal nĂŁo pode ser encarado como o Ăşnico legĂtimo diante da diversidade de culturas LWTĂ&#x2C6;FKECU GZKUVGPVGU G FC HQTOC EQOQ GUVCU VCODĂ&#x192;O UG CRTGUGPVCO EQOQ GĹżEKGPVGU GO
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QHGTGEGT UQNWĂ Ă?GU RCTC EQPĆ&#x20AC;KVQU 38 4QDGTVQ .[TC (KNJQ RQT UWC XG\ FGĹżPG SWG Q FKTGKVQ CWVĂ&#x201E;PVKEQ Ă&#x192; CSWGNG SWG XKUC ´ LWUVKĂ C UQEKCN CVGPVCPFQ ´U RGEWNKCTKFCFGU FG UGWU FGUVKPCtĂĄrios e das minorias sociais de forma solidĂĄria.39 Nesses termos, entende-se que a justiça restaurativa se apresenta como uma autĂŞntica e humanitĂĄria abordagem de se operar o direito penal em conformidade com a Constituição e com os direitos humanos. Ainda que Q TGUWNVCFQ ĹżPCN FQ RTQEGUUQ PÂşQ UG CNVGTG Ă&#x192; KPGIÂśXGN SWG QU OGKQU RCTC CVKPIK NQ ICTCPVKTKCO OCKU TGURGKVQ ´ CWVQPQOKC G ´ FKIPKFCFG FC RGUUQC JWOCPC UGPFQ C VTCVCVKXC FQU delitos culposos o canal ideal para se iniciar a disseminação de tal paradigma para alĂŠm dos ECUQU GPXQNXGPFQ CFQNGUEGPVGU GO EQPĆ&#x20AC;KVQ EQO C NGK *QLG Q RTKPEKRCN HQEQ FC CRNKECĂ ÂşQ dos mĂŠtodos restaurativos no paĂs, e a resolução 125/2010 do CNJ evidencia isso, ainda sĂŁo os casos envolvendo os referidos adolescentes, sendo que a condução de tais casos ĂŠ KPĆ&#x20AC;WGPEKCFC GO ITCPFG RCTVG RQT RCUVQTCKU G 10)U TGIKQPCKU 'O TGNCĂ ÂşQ ´U ĹżPCNKFCFGU FC LWUVKĂ C TGUVCWTCVKXC PÂşQ UG VTCVC FG RTGVGPFGT C TGUUQEKCNK\CĂ ÂşQ QW KPEWVKT CĆ&#x20AC;KĂ ÂşQ CQ CRGPCFQ #ODQU QU EKVCFQU QDLGVKXQU CHTQPVCO C FKIPKFCFG FC pessoa humana, seja por desrespeitar a esfera subjetiva do apenado, tornando-o um objeto de intervenção situado em uma relação vertical de poder, seja pela crueldade inerente a qualquer censura que almeje a produção de dor e sofrimento. Algo prĂłximo ao retributiXKUOQ GO UWC XGTVGPVG EQOWPKECVKXC TGNCEKQPC UG FG OGNJQT HQTOC EQO CU ĹżPCNKFCFGU FC justiça restaurativa.40 Juristas antipĂĄticos ao modelo restaurativo acusam-no injustamente de se apresentar como uma alternativa soft punishment para o ofensor, de modo que esse se prontificaria rapidamente em participar dos ciclos restaurativos apenas com intenção de minimizar os efeitos da pena. Tratando-se dos crimes culposos, como se constatou, a possibilidade de o ofensor sentir um remorso genuĂno pela violação do dever de cuidado ĂŠ considerĂĄvel, porĂŠm, supondo que o referido â&#x20AC;&#x153;fingimentoâ&#x20AC;? de fato ocorra, deve-se discordar que a justiça restaurativa se configura como uma maneira mais branda de responsabilização. 'UVCT FKCPVG FCSWGNG U SWG NGUQW TGVTCVCPFQ UG G QWXKPFQ EQPUVKVWK GZRGTKĂ&#x201E;PEKC RUKcologicamente desconfortĂĄvel, pois ele conhecerĂĄ minuciosamente as dimensĂľes e os detalhes dos danos que veio a causar. Soft, portanto, nĂŁo parece ser uma designação LWUVC ´ CDQTFCIGO TGUVCWTCVKXC Os ciclos restaurativos fornecem uma chance de diĂĄlogo inexistente no processo LWFKEKCN EQPXGPEKQPCN 'UUC OGUOC ¸PUKC FG CUUWOKT C TGURQPUCDKNKFCFG G FG TGURQPUCDKlizar, mais facilmente presente nos casos de delitos culposos, reduz as chances de desistĂŞncia da adoção da linha restaurativa de resolução conflitual ao longo dos encontros realizados. O fato de o ofensor nĂŁo ter almejado lesar o ofendido, nesses casos, amplia as possibilidades de construção conjunta de medidas de reparação simbĂłlica, permitindo que ambos os lados possam prosseguir suas trajetĂłrias de vida de maneira menos penosa ou traumĂĄtica.
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Fato ĂŠ que a imposição de uma sentença, a qual, por vezes, prevĂŞ uma compensação totalmente desconexa com o dano resultante do delito, somada a uma responsabilização padronizada realizada por um juiz e membros do MinistĂŠrio PĂşblico, e nĂŁo pela prĂłpria vĂtima ou sua famĂlia (que tiveram uma relação mais estreita com o fato delituoso), nĂŁo contribui para a construção de percepçþes de justiça e responsabilidade.
3 CONCLUSĂ&#x192;O # RGTURGEVKXC CFQVCFC PGUUGU VGTOQU EQTTGURQPFG ´ encounteer theory QW ´ XGTVGPVG minimalista, restando o foco mais sobre o processo que sobre o resultado. Tem-se, por certo, que os objetivos principais da perspectiva restaurativa seriam, portanto: i) a reconstrução de XĂ&#x2C6;PEWNQU KPVGTUWDLGVKXQU TQORKFQU RGNC QHGPUC KK Q VTCVCOGPVQ G C TGĆ&#x20AC;GZÂşQ UQDTG Q VTCWOC causado pelo ato delituoso; iii) a responsabilização do ofensor com fundamento na alteridade G PC TGLGKĂ ÂşQ FCU PQXCU HQTOCU FG Ĺ&#x2018;QTVQRGFKC OQTCNĹ&#x2019; KX C RTQOQĂ ÂşQ G C TGĆ&#x20AC;GZÂşQ UQDTG CU ECWUCU G CU RQUUĂ&#x2C6;XGKU UQNWĂ Ă?GU RCTC Q EQPĆ&#x20AC;KVQ GO UGPVKFQ OCKU CORNQ 6QFQU GUUGU RQPVQU entretanto, dependem do diĂĄlogo (direto ou indireto) entre ofendido e ofensor, de modo SWG GUUG FGXG UGT EQPUKFGTCFQ EQOQ HCVQT KPFKURGPUÂśXGN ´ OGVQFQNQIKC CFQVCFC GPSWCPVQ a reparação adquiria natureza fortemente simbĂłlica, como consequĂŞncia, ou nĂŁo, do cumprimento do acordo restaurativo. HĂĄ de se ter cuidado com as categorias prontas como â&#x20AC;&#x153;vĂtima e ofensorâ&#x20AC;?, as quais, como apontou Cunneen, sĂŁo heterogĂŞneas. Inexiste, desse modo, uma fĂłrmula padrĂŁo para EQPFW\KT WO FKÂśNQIQ GPVTG QU GPXQNXKFQU PQ EQPĆ&#x20AC;KVQ 1 CWVQT CĹżTOQW EQPVWPFGPVGOGPVG SWG C LWUVKĂ C TGUVCWTCVKXC RQT XG\GU VGPVC GPECRUWNCT ĹżIWTCU EQORNGZCU GO EQPEGKVQU IGTCKU estigmatizantes e abstratos; logo, caberia observar que, embora venha a existir um protocolo para a organização do rito restaurativo, esse deve calcar-se tambĂŠm no princĂpio da criatividade, uma vez que a abordagem restaurativa ĂŠ essencialmente casuĂstica, caso contrĂĄrio poderia ser infectada pela lĂłgica processual convencional.41 # XGTVGPVG UQEKQRQNĂ&#x2C6;VKEC FC SWCN C LWUVKĂ C TGUVCWTCVKXC UG CRTQZKOC Ă&#x192; FGĹżPKFC EQOQ â&#x20AC;&#x153;comunitarismoâ&#x20AC;?, descrita por Reggio42 como uma forma de regimento social no qual grande parte do poder decisĂłrio se encontraria nas mĂŁos da comunidade, que exprimiria uma maior preocupação social com o corpo coletivo. Tal vertente apoia-se na participação ativa G FGOQETÂśVKEC 1U XCNQTGU UQEKCKU UGTKCO TGĆ&#x20AC;GVKFQU PC CVWCĂ ÂşQ FCU KPUVKVWKĂ Ă?GU UQEKCKU OCU C UQEKGFCFG FGRQUKVCTKC PC ĹżIWTC FC EQOWPKFCFG C HĂ&#x192; RCTC C TGUQNWĂ ÂşQ FQU EQPĆ&#x20AC;KVQU C SWCN seria realizada de maneira mais informal mas em conformidade com os referidos valores. 6TCPUEGPFGT UG KTKC Q KPFKXKFWCNKUOQ EQPĹżIWTCPFQ UG WO ITWRQ FG RGUUQCU SWG UCNXCIWCTdariam a ordem social de forma nĂŁo autoritĂĄria, mas responsĂĄvel, a partir da construção de um projeto cultural e polĂtico, o qual implicaria a democratização de uma sensação de pertencimento partilhada entre os componentes sociais.43
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Justiça restaurativa e crimes culposos de trânsito
Sendo um modelo paradigmĂĄtico de resolução conflitual inclusivo, capaz de reparar e criar laços intersubjetivos entre pessoas fomentando o uso da racionalidade e do senso de responsabilidade para com o outro e o coletivo, alĂŠm de operar como um instrumento para a identificação dos problemas sociais que contribuem para a ocorrĂŞncia de conflitos mais graves, a justiça restaurativa se apresenta como apta a redefinir a cidadania brasileira. A adoção de tal perspectiva, a longo prazo, poderia implicar a superação de uma cidadania formal rumo a uma substancial (na linha de Holston) e, GO WO UGIWPFQ GUVÂśIKQ RCTC Q SWG UG FGHKPG CSWK EQOQ C Ĺ&#x2018;CWVĂ&#x201E;PVKEC EKFCFCPKC Ĺ&#x2019; 'UUG conceito seria, portanto, o status social reconhecido a um indivĂduo pela sociedade com a qual este possui um vĂnculo intersubjetivo potencialmente perene, de modo que tal condição implique a conferĂŞncia de uma sĂŠrie de deveres de responsabilidade para com a coletividade e os problemas sociais que a afetam e no complementar reconhecimento e efetivação de direitos que permitam a autorrealização e a expressĂŁo da subjetividade individual. A seara dos crimes culposos, por fim, parece indicar um caminho seguro e legĂtimo para projetos piloto e experiĂŞncias inovadoras ainda nĂŁo adotados com tanta intensidade no Brasil. Possibilitando que os envolvidos no conflito vivenciem uma experiĂŞncia democrĂĄtica e atuem como protagonistas, capazes e responsĂĄveis, sem a dependĂŞncia de especialistas, as prĂĄticas restaurativas abrem um canal emancipador e inspirador que nĂŁo se confunde com a banalização da violĂŞncia promovida pelo seu uso, de modo injusto e FGUOGFKFQ RQT RCTVG FQ RTĂ&#x17D;RTKQ 'UVCFQ
REFERĂ&#x160;NCIAS $4#5+. &GRCTVCOGPVQ 0CEKQPCN FG 6T¸PUKVQ Frota Nacional (Junho de 2014). 2014. DisponĂvel em: <http://www.denatran.gov.br/frota2014.htm>. Acesso em: 6 ago. 2014. %#.&'+4# 6GTGUC 8KQNĂ&#x201E;PEKC direitos e cidadania: relaçþes paradoxais. CiĂŞncia e Cultura, SĂŁo Paulo, v. 54, n. 1, p. 44-46, 2002. DisponĂvel em: <http://cienciae cultura.bvs. DT UEKGNQ RJR!RKF 5 UETKRV UEKACTVVGZV VNPI GO #EGUUQ em: 19 jan. 2015. %#48#.*1 .WK\C /CTKC 5 FQU 5CPVQU 0QVCU UQDTG C RTQOQĂ ÂşQ FC GSWKFCFG PQ CEGUUQ G KPVGTXGPĂ ÂşQ FC ,WUVKĂ C $TCUKNGKTC +P 5.#-/10 %CVJGTKPG &' 8+661 4GPCVQ %CORQU Pinto; PINTO, Renato SĂłcrates Gomes (Org.). Justiça Restaurativa. BrasĂlia: PNUD, 2005. p. 211-224. %*4+56+' 0KNU %QPĆ&#x20AC;KEV CU 2TQRGTV[ The British Journal of Criminology, Oslo, v. 17, n. 1, p. 1-15, 1977.
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%.#4- 9KNNKCO # 8 )GQITCRJ[ KP %QWTV 'ZRGTVKUG KP #FXGTUCTKCN 5GVVKPIU Transactions of the Institute of British Geographers .QPFTGU X P R %700'''0 %JTKU *1;.' %CTQN[P Debating Restorative Justice. Portland Oregon: Hart Publishing, 2010. &' 8+661 %CVJGTKPG 1:*140 2JKNKR /KETQ LWUVKĂ C FGUKIWCNFCFG G EKFCFCPKC C EQPUVTWĂ ÂşQ FC UQEKGFCFG EKXKN CVTCXĂ&#x192;U FC ,WUVKĂ C 4GUVCWTCVKXC PQ $TCUKN +P 5.#-/10 %CVJGTKPG &' 8+661 4GPCVQ %CORQU 2KPVQ 2+061 4GPCVQ 5Ă&#x17D;ETCVGU )QOGU 1TI Justiça Restaurativa. BrasĂlia: PNUD, 2005. p. 187-210. (''.'; /CNEQO / The Process is the Punishment: *CPFNKPI %CUGU KP C .QYGT %TKOKPCN Court. Nova Iorque: Russel Sage Foundation, 1992. )+#/$'4#4&+01 #PFTĂ&#x192; CrĂtica da pena e justiça restaurativa: a censura para alĂŠm FC RWPKĂ ÂşQ (NQTKCPĂ&#x17D;RQNKU 'ORĂ&#x17D;TKQ FQ &KTGKVQ *1.5610 ,COGU Insurgent Citizenship: Disjunction of Democracy and Modernity in Brazil. Princeton: Princeton University Press, 2008. .;4# (+.*1 4QDGTVQ RazĂľes de defesa do direito $TCUĂ&#x2C6;NKC 'FKVQTC 1DTGKTC 14)#0+<#Â&#x161;Â&#x201C;1 &#5 0#Â&#x161;¨'5 70+&#5 4GUQNWĂ ÂşQ : princĂpios bĂĄsicos para WVKNK\CĂ ÂşQ FG ,WUVKĂ C 4GUVCWTCVKXC GO OCVĂ&#x192;TKC ETKOKPCN 0QXC +QTSWG %QPUGNJQ 'EQPĂ?OKEQ e Social da ONU, 2002. 4'))+1 (GFGTKEQ Giustizia dialogica: luci e ombre della restorative justice. /KNÂşQ 'FKVQTC Franco Angeli, 2010. 41%*' &GENCP Accountabily in Restorative Justice. Oxford: Oxford University Press, 2003. SANTOS, Boaventura de Sousa. O discurso e o poder 2QTVQ #NGITG 'FKVQTC 5Ă&#x192;TIKQ (CDTKU 1988. 6#8#4'5 ,WCTG\ Teoria do crime culposo GF 4KQ FG ,CPGKTQ .Ă&#x2022;OGP ,Ă&#x2022;TKU 9#+5'.(+5< ,WNKQ ,CEQDQ Mapa da violĂŞncia 2013: acidentes de trânsito e motocicletas. 4KQ FG ,CPGKTQ %GPVTQ $TCUKNGKTQ FG 'UVWFQU .CVKPQ #OGTKECPQU <#((#410+ ' 4CĂ&#x2022;N $#6+56# 0KNQ Direito Penal Brasileiro: introdução histĂłrica e metodolĂłgica, ação e tipicidade. 2. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2010. v. 2. <#((#410+ ' 4CĂ&#x2022;N 2+'4#0)'.+ ,QUĂ&#x192; *GPTKSWG Manual de Direito Penal Brasileiro: parte geral. 6. ed. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. v. 1. <'4* *QYCTF Trocando as lentes: um novo foco sobre o crime e a justiça. SĂŁo Paulo: Palas Athena, 2008.
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Justiça restaurativa e crimes culposos de trânsito
1 A anĂĄlise focou-se na compreensĂŁo: i) das implicâncias jurĂdicas da ocorrĂŞncia de delitos de trânsito, ii) da VTCVCVKXC FQ ,WFKEKÂśTKQ GO TGNCĂ ÂşQ C VCKU ECUQU KKK FC KFGPVKĹżECĂ ÂşQ FG ECUQU RTQRĂ&#x2C6;EKQU CQ Ă&#x201E;ZKVQ FC CFQĂ ÂşQ FG prĂĄticas restaurativas. A consulta processual foi semanal, e se deu com a autorização do juiz responsĂĄvel pela TGURGEVKXC XCTC 'PVTG QU CWVQU GO SWGUVÂşQ GUVÂşQ CSWGNGU PQU SWCKU QEQTTGTCO EQPFGPCĂ ÂşQ QW CDUQNXKĂ ÂşQ FQ rĂŠu, pois ainda nĂŁo existia uma estratĂŠgia de acompanhamento e implementação da metodologia restaurativa para os processos ainda em tramitação. 2 Tal contato foi baseado i) no acompanhamento das reuniĂľes de grupo e atividades com os ofensores e as famĂlias dos ofendidos (os quais sofreram Ăłbito por acidente de trânsito); ii) na apresentação do projeto aos infratores G ´U HCOĂ&#x2C6;NKCU G KKK PC CRNKECĂ ÂşQ FG SWGUVKQPÂśTKQU CQU QHGPUQTGU QU SWCKU VTCVCTKCO FG UWCU EQPEGRĂ Ă?GU CEGTEC FG justiça, cidadania e ofereceriam as suas opiniĂľes sobre a pena que cumpriam e acerca da condução do processo no qual foram rĂŠus. %.#4- 9KNNKCO # 8 )GQITCRJ[ KP EQWTV GZRGTVKUG KP CFXGTUCTKCN UGVVKPIU Transactions of the Institute of British Geographers .QPFGU X P R (''.'; /CNEQO / The Process is the punishment: handling cases in a lower criminal court. Nova Iorque: Russel Sage Foundation, 1992. p. 27. 4'))+1 (GFGTKEQ Giustizia dialogica: luci e ombre della restorative justice. /KNÂşQ 'FKVQTC (TCPEQ #PIGNK 2010. p. 21-24. 6 Ibid, p. 61. 7 Ibid, p. 69-72. 8 Ibid, p. 79-81. %*4+56+' 0KNU %QPĆ&#x20AC;KEV CU RTQRGTV[ The British Journal of Criminology, Oslo, v. 17, n. 1, p. 3, 1977. 10 Ibid, p. 8-9. <'4* *QYCTF Trocando as lentes: um novo foco sobre o crime e a justiça. SĂŁo Paulo: Palas Athena, 2008. p. 199-202. 12 Ibid, p. 185-186. %700'''0 %JTKU *1;.' %CTQN[P Debating restorative justice. Portland Oregon: Hart Publishing, 2010. p. 2. <'*4 QR EKV R 4'))+1 QR EKV R 4'))+1 QR EKV R /CTM 7ODTGKV ETĂ&#x2C6;VKEC C OGFKCĂ ÂşQ SWG HQEC GO WOC EQORQUKĂ ÂşQ OCVGTKCN RCTC GNG ĂŠ mais relevante o encontro entre vĂtima e ofensor, â&#x20AC;&#x153;mediação humanitĂĄriaâ&#x20AC;?, baseado no reconhecimento do alter e de uma humanidade mĂştua, o que sĂł seria possĂvel com um encontro face a face. Por meio desse reconhecimento, as partes se tornariam mais abertas ao diĂĄlogo, mais responsĂĄveis e mais dispostas a compreender o ponto de vista uma da outra. O acordo restaurativo entĂŁo possuiria uma importância secundĂĄria na perspectiva da Encounter Theory 4'))+1 QR EKV R %700'''0 *1;.' QR EKV R %700'''0 *1;.' QR EKV R &' 8+661 %CVJGTKPG 1:*140 2JKNKR /KETQ LWUVKĂ C FGUKIWCNFCFG G EKFCFCPKC C EQPUVTWĂ ÂşQ FC UQEKGFCFG EKXKN CVTCXĂ&#x192;U FC ,WUVKĂ C 4GUVCWTCVKXC PQ $TCUKN +P 5.#-/10 %CVJGTKPG &' 8+661 4GPCVQ %CORQU 2KPVQ PINTO, Renato SĂłcrates Gomes (Org.). Justiça Restaurativa. BrasĂlia: PNUD, 2005. p. 190. &' 8+661 1:*140 QR EKV R %#48#.*1 .WK\C /CTKC 5 FQU 5CPVQU 0QVCU UQDTG C RTQOQĂ ÂşQ FC GSWKFCFG PQ CEGUUQ G KPVGTXGPĂ ÂşQ FC ,WUVKĂ C $TCUKNGKTC +P 5.#-/10 %CVJGTKPG &' 8+661 4GPCVQ %CORQU 2KPVQ 2+061 4GPCVQ 5Ă&#x17D;ETCVGU Gomes (Org.). Justiça Restaurativa. BrasĂlia: PNUD, 2005. p. 215. *1.5610 ,COGU Insurgent citizenship: disjunction of democracy and modernity in Brazil. Princeton: Princeton University Press, 2008. p. 3, 28-30, 63-64. *1.5610 QR EKV R 24 SANTOS, Boaventura de Sousa. O discurso e o poder 2QTVQ #NGITG 'FKVQTC 5Ă&#x192;TIKQ (CDTKU R 25 SANTOS, op. cit., p. 141. %#.&'+4# 6GTGUC 8KQNĂ&#x201E;PEKC direitos e cidadania: relaçþes paradoxais. CiĂŞncia e Cultura, SĂŁo Paulo, v. 54, n. 1, p. 44-46, 2002. DisponĂvel em: <http://cienciae cultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009 UETKRV UEKACTVVGZV VNPI GO #EGUUQ GO LCP
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27 Dois terços (2/3) dos questionados nĂŁo possuĂam ensino superior. A idade mĂnima foi de 25 anos e a mĂĄZKOC EQPUKFGTCPFQ CRGPCU CSWGNGU SWG C KFGPVKĹżECTCO %KPEQ UGZVQU FQU SWGUVKQPCFQU HQTCO condenados por cometerem crimes muito leves e de perigo abstrato. 6#8#4'5 ,WCTG\ Teoria do crime culposo GF 4KQ FG ,CPGKTQ .Ă&#x2022;OGP ,Ă&#x2022;TKU R 6#8#4'5 QR EKV R <#((#410+ ' 4CĂ&#x2022;N 2+'4#0)'.+ ,QUĂ&#x192; *GPTKSWG Manual de Direito Penal Brasileiro: parte geral. 6. ed. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. v. 1. p. 435-441. <#((#410+ ' 4CĂ&#x2022;N $#6+56# 0KNQ Direito Penal Brasileiro: introdução histĂłrica e metodolĂłgica, ação e tipicidade. 2. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2010. v. 2. p. 327-330. $4#5+. &GRCTVCOGPVQ 0CEKQPCN FG 6T¸PUKVQ Frota Nacional (Junho de 2014). 2014. DisponĂvel em: <http://www.denatran.gov.br/frota2014.htm>. Acesso em: 6 ago. 2014. 9#+5'.(+5< ,WNKQ ,CEQDQ Mapa da violĂŞncia 2013: acidentes de trânsito e motocicletas. Rio de Janeiro: %GPVTQ $TCUKNGKTQ FG 'UVWFQU .CVKPQ #OGTKECPQU R 41%*' &GENCP Accountabily in restorative justice. Oxford: Oxford University Press, 2003. p. 8. 14)#0+<#Â&#x161;Â&#x201C;1 &#5 0#Â&#x161;¨'5 70+&#5 4GUQNWĂ ÂşQ : princĂpios bĂĄsicos para utilização de ,WUVKĂ C 4GUVCWTCVKXC GO OCVĂ&#x192;TKC ETKOKPCN 0QXC +QTSWG %QPUGNJQ 'EQPĂ?OKEQ G 5QEKCN FC 107 <'*4 QR EKV R 41%*' QR EKV R 38 SANTOS, op. cit., p. 9-17. .;4# (+.*1 4QDGTVQ RazĂľes de defesa do direito $TCUĂ&#x2C6;NKC 'FKVQTC 1DTGKTC R )+#/$'4#4&+01 #PFTĂ&#x192; CrĂtica da pena e justiça restaurativa: a censura para alĂŠm da punição. (NQTKCPĂ&#x17D;RQNKU 'ORĂ&#x17D;TKQ FQ &KTGKVQ %700'''0 *1;.' QR EKV R 4'))+1 QR EKV R %700'''0 *1;.' QR EKV R
RESTORATIVE JUSTICE AND UNINTENTIONAL TRAFFIC OFFENCES ABSTRACT The restorative paradigm is proposed as a way to empower and emancipate citizens from a state of apathy and passiveness with regard VQ VJGKT TGNCVKQPUJKR VQ EQPĆ&#x20AC;KEV CPF KVU TGUQNWVKQP (QEWUKPI URGEKĹżECNN[ QP WPKPVGPVKQPCN VTCHĹżE ETKOGU VJG TGUGCTEJ YCU QTICPK\GF KP VYQ phases, combining a qualitative methodology based on unstructured KPVGTXKGYU CPF QDUGTXCVKQP YKVJ SWCNKĹżGF NKVGTCVWTG TGXKGY #U UWEJ VJG TGUGCTEJ YCU ECTTKGF QWV KP VJG 5GEQPF %QWTV QH 6TCHĹżE 1HHGPEGU of Curitiba, ParanĂĄ, and through the interaction, at the â&#x20AC;&#x153;Paz no 6T¸PUKVQĹ&#x2019; +PUVKVWVG YKVJ HCOKN[ OGODGTU QH XKEVKOU QH VTCHĹżE QHHGPEGU as well as offenders who were serving a sentence. As the restorative TKVG KU C XQNWPVGGT GZRGTKGPEG VJCV GPEQWTCIGU FKCNQIWG TGĆ&#x20AC;GEVKQP CDQWV the causes of the issue and the joint formulation of a solution to the
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Justiça restaurativa e crimes culposos de trânsito
EQPÆ&#x20AC;KEV KV OC[ FGOQPUVTCVG VJCV VJG RGTUQP KU CDNG VQ CEV TGURQPUKDN[ and act as a modifying agent of their own reality. It follows that the Å¿GNF QH EWNRCDNG CPF VTCPUKV ETKOGU CRRGCTU CU HGTVKNG ITQWPF VQ VGUV VJG effectiveness of this form of justice, due to the absence of direct purpose in causing the damage and the ineffectiveness of State punishment in preventing the offence. Keywords: Restorative Justice. Unintentional crimes. Citizenship.
Submetido: 21 mar. 2017 Aprovado: 28 abr. 2017
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doi:10.12662/2447-6641oj.v15i20.p32-58.2017
POLĂ?TICAS PĂ&#x161;BLICAS DE PROTEĂ&#x2021;Ă&#x192;O Ă&#x20AC; VĂ?TIMA: UMA PROPOSTA DE ARRANJO INSTITUCIONAL DE SEGURANĂ&#x2021;A PĂ&#x161;BLICA Antonio Henrique Graciano Suxberger* Mayara Lopes Cançado** 1 Introdução. 2 Desenvolvimento. 2.1 Aproximação conceitual de Vitimologia e sua conformação no Direito brasileiro. 2.2 Os direitos das vĂtimas de crime e o atual estado de coisas da legislação federal na Ăşltima dĂŠcada. 2.3 Aproximação das polĂticas pĂşblicas: atores e planos de realização. 2.4 Arranjo institucional e um estreito diĂĄlogo interorganizacional. 2.5 Integração operacional que reclama polĂticas de 'UVCFQ %QPENWUÂşQ 4GHGTĂ&#x201E;PEKCU
RESUMO 1 RTGUGPVG CTVKIQ CPCNKUC C QTKGPVCĂ ÂşQ NGIKUNCVKXC PC Ă&#x2022;NVKOC FĂ&#x192;ECFC SWCPVQ ´ EQPHQTOCĂ ÂşQ FCU RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU FG RTQVGĂ ÂşQ ´ XĂ&#x2C6;VKOC PQ RTQEGUUQ RGPCN # pesquisa menciona a relevância de se observar essas polĂticas pĂşblicas sob a perspectiva de um arranjo institucional de segurança pĂşblica, em que o sistema de justiça criminal nĂŁo atua de forma exclusiva. O estudo observa revisĂŁo DKDNKQITœſEC G FQEWOGPVCN FC FQWVTKPC RÂśVTKC UQDTG Q VGOC CDQTFCPFQ CRTQximaçþes conceituais da Vitimologia e de PolĂticas PĂşblicas. O artigo revisita os principais direitos das vĂtimas no processo criminal para cotejĂĄ-los com a EQPVTKDWKĂ ÂşQ FCU RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU GURGEKCNOGPVG GO TGNCĂ ÂşQ ´ EQPHQTOCĂ ÂşQ FQU CVQTGU G FQU RNCPQU FG TGCNK\CĂ ÂşQ FCU RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU CVKPGPVGU ´ XĂ&#x2C6;VKOC de delito. A importância do trabalho reside na compreensĂŁo de que as polĂtiECU RĂ&#x2022;DNKECU FG RTQOQĂ ÂşQ FQU FKTGKVQU CUUGIWTCFQU ´ XĂ&#x2C6;VKOC PQ RTQEGUUQ RGPCN TGENCOCO RQNĂ&#x2C6;VKECU FG 'UVCFQ RQT OGKQ FG WOC KPVGITCĂ ÂşQ QRGTCEKQPCN G FG um estreito diĂĄlogo interorganizacional dos atores de segurança pĂşblica. Palavras-chave: PolĂticas PĂşblicas. Vitimologia. Arranjo institucional.
*
Doutor em Direitos Humanos e Desenvolvimento pela Universidade Pablo de Olavide. Mestre em Direito pela Universidade de BrasĂlia. Professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Direito do Uniceub/DF. Professor do MĂĄster em â&#x20AC;&#x153;Derechos Humanos, Interculturalidad y Desarrolloâ&#x20AC;? e Professor Associado da linha de investigação â&#x20AC;&#x153;Derechos Humanos y Desarrolloâ&#x20AC;? do programa de Doutorado em CiĂŞncias JurĂdicas e PolĂticas da UniversiFCFG 2CDNQ FG 1NCXKFG 5GXKNJC 'URCPJC 2TQOQVQT FG ,WUVKĂ C PQ &( ' OCKN UWZDGTIGT"IOCKN EQO
** Graduada em Direito pelo Centro UniversitĂĄrio do Distrito Federal - UDF (2011). PĂłs-graduada em Ordem ,WTĂ&#x2C6;FKEC G /KPKUVĂ&#x192;TKQ 2Ă&#x2022;DNKEQ RGNC (WPFCĂ ÂşQ 'UEQNC 5WRGTKQT FQ /KPKUVĂ&#x192;TKQ 2Ă&#x2022;DNKEQ FQ &KUVTKVQ (GFGTCN G 6GTTKVĂ&#x17D;TKQU ('5/2&(6 #VWCNOGPVG Ă&#x192; UGTXKFQTC FQ /KPKUVĂ&#x192;TKQ FQ 6TCDCNJQ G GPEQPVTC UG EGFKFC CQ 5WRGTKQT 6TKDWPCN FG ,WUVKĂ C ' OCKN OC[CECPECFQ"IOCKN EQO
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PolĂticas pĂşblicas de proteção Ă vĂtima: uma proposta de arranjo institucional de segurança pĂşblica
1 INTRODUĂ&#x2021;Ă&#x192;O No cenĂĄrio acadĂŞmico atual, ĂŠ possĂvel constatar que as polĂticas pĂşblicas nĂŁo fazem parte da maioria dos currĂculos de graduação nem das pĂłs-graduaçþes em Direito. O ensino LWTĂ&#x2C6;FKEQ DTCUKNGKTQ JÂś SWCUG FQKU UĂ&#x192;EWNQU Ĺ&#x2018;PÂşQ UG RTQRĂ?U GURGEKĹżECOGPVG C HQTOCT RTQĹżUUKQnais do direito preparados para estruturar, operar e aprimorar polĂticas pĂşblicas e programas de ação governamentalâ&#x20AC;?.1 # FGURGKVQ FCU KPĂ&#x2022;OGTCU FKĹżEWNFCFGU EQPEGKVWCKU OGVQFQNĂ&#x17D;IKECU ou empĂricas, ĂŠ perceptĂvel a necessidade de se explorar as interaçþes entre o Direito e as PolĂticas PĂşblicas, principalmente por se tratar de uma ĂĄrea sensĂvel, ainda incipiente aos juristas e de nĂtida preocupação prĂĄtica ao que se discute no Direito. # GNGKĂ ÂşQ FCU RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU FG RTQVGĂ ÂşQ ´ XĂ&#x2C6;VKOC EQOQ QDLGVQ FG GUVWFQ FÂś UG por força da carĂŞncia de estudos jurĂdicos na ĂĄrea da implementação de polĂticas pĂşblicas. Ă&#x2030; possĂvel constatar a limitação, do ponto de vista acadĂŞmico, de recursos metodolĂłgiEQU RCTC WOC OGNJQT EQPGZÂşQ GPVTG Q &KTGKVQ G CU 2QNĂ&#x2C6;VKECU 2Ă&#x2022;DNKECU 'UUC FGĹżEKĂ&#x201E;PEKC CECFĂ&#x201E;OKEC FKĹżEWNVC C HQTOCĂ ÂşQ FG RTQĹżUUKQPCKU RTGRCTCFQU RCTC CVWCTGO EQOQ RQUUĂ&#x2C6;XGKU IGUVQTGU RĂ&#x2022;DNKEQU 1 &KTGKVQ Ă&#x192; EGTVQ XQNVC UG ´ PGEGUUKFCFG FG CEQNJGT C EQPVTKDWKĂ ÂşQ FC Vitimologia para o desenho institucional de suas estruturas de funcionamento. No entanto, C RTGQEWRCĂ ÂşQ FKTKIKFC C WO EQPJGEKOGPVQ LWTĂ&#x2C6;FKEQ CRNKECFQ Ă&#x192; TGĆ&#x20AC;GZQ FC TGNGX¸PEKC QW mesmo da urgĂŞncia - a que a abordagem jurĂdica igualmente se dedique ao modo pelo qual as prescriçþes jurĂdicas assumem contornos prĂĄticos, isto ĂŠ, ao modo pelo qual as açþes FG 'UVCFQ CUUGIWTCO C OCVGTKCNK\CĂ ÂşQ FC QRĂ ÂşQ RQUKVKXCFC LWTKFKECOGPVG FG RTQVGĂ ÂşQ QW garantia desse ou daquele direito. Quanto aos reclamos de Vitimologia, ĂŠ possĂvel observar que, apesar de a Ăşltima dĂŠcada trazer diversos aportes legislativos a respeito do tema, hĂĄ uma carĂŞncia de estudos que tratem do assunto de forma clara e sistemĂĄtica. Por esse motivo, o artigo visa a contribuir com uma abordagem crĂtica do atual estado de coisas da legislação e sua conformação empĂrica. As polĂticas pĂşblicas substanciam a convergĂŞncia entre o funcionamento do governo e a formação dos arranjos institucionais. A essa preocupação se refere a chamada â&#x20AC;&#x153;polĂtica LWTĂ&#x2C6;FKECĹ&#x2019; QEWRCFC FC EQORTGGPUÂşQ FQ HGPĂ?OGPQ IQXGTPCOGPVCN FGPVTQ QW C RCTVKT FQ FKreito. O estudo das polĂticas pĂşblicas, nessa toada, nada mais ĂŠ que uma aproximação da VGEPQNQIKC LWTĂ&#x2C6;FKEC KPEKFGPVG PC TGCNK\CĂ ÂşQ FQ 'UVCFQ 2 A categorização da dogmĂĄtica jurĂdica, tal como realizada por Albert Calsamiglia,3 mostra-se igualmente Ăştil. Ao apresentar trĂŞs diferentes estilos de conformação da dogmĂĄtica jurĂdica, Calsamiglia destaca a ciĂŞncia, reputada como â&#x20AC;&#x153;puraâ&#x20AC;? e situada no debate episteOQNĂ&#x17D;IKEQ FG CĹżTOCĂ ÂşQ FQ FKTGKVQ C VĂ&#x192;EPKEC GUVC QTKGPVCFC RTGEKRWCOGPVG RGNC RTCIOÂśVKEC G RGNQU OGKQU RTĂ&#x17D;RTKQU FG TGCNK\CĂ ÂşQ G OCPKHGUVCĂ ÂşQ FQ FKTGKVQ G ĹżPCNOGPVG C VGEPQNQIKC LWTĂ&#x2C6;FKEC 'UVC Ă&#x2022;NVKOC EWKFCTKC FC XKUWCNK\CĂ ÂşQ FQU CTTCPLQU FQU UWLGKVQU G FQU KPUVTWOGPVQU prĂłprios de realização do direito.
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1 GUVWFQ FCU RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU FG XKĂ&#x192;U KPUVTWOGPVCN CPCNĂ&#x2C6;VKEQ RQT KUUQ CĹżTOCFQ EQOQ Ĺ&#x2018;VGEPQNQIKC LWTĂ&#x2C6;FKECĹ&#x2019; TGUQNXG UG PQ FGDCVG UQDTG QU CTTCPLQU KPUVKVWEKQPCKU PGEGUUÂśTKQU ´ KORNGOGPVCĂ ÂşQ FCU ICTCPVKCU LWTĂ&#x2C6;FKECU RQUKVKXCFCU 6TCVC UG CUUKO FG KFGPVKĹżECT UKUVGOCVK\CT CU EQPFKĂ Ă?GU CU TGITCU G CU KPUVKVWKĂ Ă?GU LWTĂ&#x2C6;FKECU PGEGUUÂśTKCU C WO 'UVCFQ GO FGUGPXQNXKOGPVQ para formular e executar polĂticas pĂşblicas, criando canais e processos de organização das forças da sociedade. 0GUUG UGPVKFQ Ă&#x192; RQUUĂ&#x2C6;XGN EKVCT WOC KPQXCĂ ÂşQ PC NGIKUNCĂ ÂşQ SWCPVQ ´ ĹżZCĂ ÂşQ FQU CVQTGU de sistema de justiça como atores de realização responsĂĄveis pela implementação de polĂticas RĂ&#x2022;DNKECU FG ICTCPVKC ´ XĂ&#x2C6;VKOC EQO C RTGXKUÂşQ FG WO FKÂśNQIQ KPVGTQTICPK\CEKQPCN RQT OGKQ FG WO CTTCPLQ KPUVKVWEKQPCN 'PVTGVCPVQ GUUGU CVQTGU UG FGRCTCO EQO FKĹżEWNFCFGU VGĂ&#x17D;TKECU G RTÂśVKECU PQ OQOGPVQ FG FCT EWORTKOGPVQ ´U FKURQUKĂ Ă?GU NGIKUNCVKXCU 'UUC EQORNGZKFCFG nĂŁo raro, pode gerar um esvaziamento semântico das previsĂľes legislativas e desestimula os gestores pĂşblicos. Dessa forma, ĂŠ com base nessas avaliaçþes que a pesquisa a ser desenvolvida pretende aprofundar o conhecimento acadĂŞmico sobre o tema. AlĂŠm disso, o estudo contribuirĂĄ para uma abordagem aplicada a respeito do motivo pelo qual as previsĂľes legislativas acerca das TGKXKPFKECĂ Ă?GU FG 8KVKOQNQIKC RQUUKXGNOGPVG ECTGEGO FG GĹżEÂśEKC 1 GUVWFQ QDUGTXCTÂś TGXKUÂşQ DKDNKQITœſEC G CPÂśNKUG FQEWOGPVCN FC FQWVTKPC RÂśVTKC UQDTG o tema e tomarĂĄ como amostra a legislação federal promulgada e publicada no decorrer da Ă&#x2022;NVKOC FĂ&#x192;ECFC Ĺ&#x152; OCKU GURGEKĹżECOGPVG CU NGKU HGFGTCKU SWG XGTUGO UQDTG RTQVGĂ ÂşQ ´ XĂ&#x2C6;VKOC PQ RTQEGUUQ RGPCN EQO WOC CDQTFCIGO ETĂ&#x2C6;VKEC G OKPWFGPEKCFC FCU RTGXKUĂ?GU legislativas e suas respectivas propostas de alteração na inclinação legislativa. Inicialmente, ĂŠ apresentada uma abordagem conceitual de Vitimologia e sua conformação no direito brasileiro, com uma aproximação conceitual do termo vĂtima de delito. Seguidamente, o artigo explorarĂĄ a compreensĂŁo das vitimizaçþes causadas direta e indiTGVCOGPVG RGNC RTÂśVKEC ETKOKPQUC KFGPVKĹżECTÂś QU RTKPEKRCKU FKTGKVQU FCU XĂ&#x2C6;VKOCU FG ETKOG G GZRQTÂś Q CVWCN GUVCFQ FG EQKUCU FC NGIKUNCĂ ÂşQ HGFGTCN PC Ă&#x2022;NVKOC FĂ&#x192;ECFC 'O UGSWĂ&#x201E;PEKC RTGVGPFG UG WOC CRTQZKOCĂ ÂşQ FCU RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU EQO GURGEKĹżECĂ Ă?GU FG CNIWPU CVQTGU G RNCPQU FG TGCNK\CĂ ÂşQ FGNCU CVKPGPVGU ´ XĂ&#x2C6;VKOC PQ RTQEGUUQ RGPCN $WUECO UG EQOQ DCUG as interaçþes existentes entre o Direito e as PolĂticas PĂşblicas, a partir da perspectiva dos papĂŠis do Direito e dos juristas nas polĂticas pĂşblicas e da importância de um ensino LWTĂ&#x2C6;FKEQ CECFĂ&#x201E;OKEQ SWG GPINQDG Q ECORQ FCU RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU 2QT ĹżO RTQRĂ?G UG WO arranjo institucional com um estreito diĂĄlogo interorganizacional para a implementação FG RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU FG RTQVGĂ ÂşQ ´ XĂ&#x2C6;VKOC FG FGNKVQ FGOQPUVTCPFQ C PGEGUUKFCFG FG CĂ Ă?GU SWG TGENCOCO RQNĂ&#x2C6;VKECU FG 'UVCFQ
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PolĂticas pĂşblicas de proteção Ă vĂtima: uma proposta de arranjo institucional de segurança pĂşblica
2 DESENVOLVIMENTO Para o desenvolvimento do presente artigo, impĂľe-se a compreensĂŁo da prĂłpria VitiOQNQIKC G UWC EQPVTKDWKĂ ÂşQ RCTC Q FGUGPJQ FCU RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU FG CEQNJKOGPVQ G RTQVGĂ ÂşQ ´ vĂtima no processo criminal. O estudo, pois, dos diplomas legais dirigidos a açþes de proteção FCU XĂ&#x2C6;VKOCU PC Ă&#x2022;NVKOC FĂ&#x192;ECFC Ă&#x192; GZGORNKĹżECVKXQ FC RTGQEWRCĂ ÂşQ FG CVWCĂ ÂşQ CTVKEWNCFC G EQPLWPVC FQU CVQTGU GUVCVCKU KPEWODKFQU VCPVQ FQ RTQITCOC RQNĂ&#x2C6;VKEQ ETKOKPCN FQ 'UVCFQ SWCPVQ FCU CĂ Ă?GU FKTKIKFCU ´ UGIWTCPĂ C RĂ&#x2022;DNKEC # CDQTFCIGO FQU CVQTGU G FQU RNCPQU FG TGCNK\CĂ ÂşQ das polĂticas pĂşblicas mostra-se, entĂŁo, tema indissociĂĄvel dessa problematização, para RGTOKVKT C CĹżTOCĂ ÂşQ FC PGEGUUKFCFG FG WOC CVWCĂ ÂşQ KPVGITCFC G FG CTTCPLQU KPUVKVWEKQPCKU CFGSWCFQU ´ EQPETGVK\CĂ ÂşQ FCU RTGUETKĂ Ă?GU PQTOCVKXCU #241:+/#Â&#x161;Â&#x201C;1 %10%'+67#. &' 8+6+/1.1)+# ' 57# %10(14/#Â&#x161;Â&#x201C;1 01 &+4'+61 $4#5+.'+41 2TKOGKTCOGPVG QRVCPFQ UG RQT PÂşQ CDQTFCT CU FKUEWUUĂ?GU FQWVTKPÂśTKCU SWCPVQ ´ QTKIGO da Vitimologia como uma ciĂŞncia e sua consequente evolução histĂłrica, importa destacar as trĂŞs fases peculiares que demonstram a importância da vĂtima no processo penal: fase protagonista, fase de neutralização e fase da redescoberta.4 O protagonismo da vĂtima se TGHGTG ´ HCUG FC XKPICPĂ C RTKXCFC GO SWG RTGVGTKVCOGPVG C RTĂ&#x17D;RTKC XĂ&#x2C6;VKOC FCXC GPUGLQ ´ RGTUGEWĂ ÂşQ RGPCN G ´ KORQUKĂ ÂşQ FG WO ECUVKIQ 'O EQPVTCRCTVKFC PC PGWVTCNK\CĂ ÂşQ Q ius puniendi RCUUQW ´ VKVWNCTKFCFG GUVCVCN Q SWG UWDUVKVWKW C QWVTQTC XKPICPĂ C RTKXCFC RQT WOC XGTFCFGKTC TGURQUVC RĂ&#x2022;DNKEC ' ĹżPCNOGPVG JÂś C TGFGUEQDGTVC HCUG GO SWG C 8KVKOQNQIKC UG desenvolveu paralelamente a uma extensa cadeia de polĂticas sociais em favor das vĂtimas, por exemplo, programas de assistĂŞncia, reparação, compensação e tratamento. A passagem da fase de neutralização para a fase da redescoberta, sob o enfoque do movimento vitimolĂłgico, destaca-se no tocante a uma abordagem conceitual do termo vĂtima. Dentre os diversos conceitos possĂveis, ressalta-se o conceito jurĂdico-penal, sob o prisma das interaçþes da Vitimologia e as suas consectĂĄrias reformulaçþes. Interessa revisitar o conceito de vĂtima de delito quanto ao seu aspecto jurĂdico, TGUVTKVQ ´ ÂśTGC ETKOKPCN GO SWG C XĂ&#x2C6;VKOC RGPCN Ă&#x192; C RGUUQC CVKPIKFC RGNC QHGPUC FG VGTEGKTQ a uma norma jurĂdica de direito penal, a qual poderĂĄ sofrer algum prejuĂzo, dano ou lesĂŁo decorrente de prĂĄtica criminosa. A concepção criminolĂłgica da vĂtima escapa do recorte do RTGUGPVG GUVWFQ RQT EQPUKFGTCT Q ETKOG EQOQ HGPĂ?OGPQ FC TGCNKFCFG HTWVQ FG EQPFKĂ Ă?GU sociolĂłgicas dentre outras peculiaridades e nĂŁo examinar a vĂtima em face da violação de uma norma, de uma lei. A Organização das Naçþes Unidas (ONU) passou a demonstrar interesse pelo tema em 1980, ocasiĂŁo em que foi elaborada a Declaração dos PrincĂpios BĂĄsicos de Justiça Relativos ´U 8Ă&#x2C6;VKOCU FC %TKOKPCNKFCFG G FG #DWUQ FG 2QFGT 5 C SWCN UG CVGXG C FQKU VKRQU GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQU
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FG XĂ&#x2C6;VKOCU CU XĂ&#x2C6;VKOCU FG FGNKVQ G CU XĂ&#x2C6;VKOCU FG CDWUQ FG RQFGT 0Q VQECPVG ´U XĂ&#x2C6;VKOCU FG delito, a declaração da ONU as conceitua: 'PVGPFGO UG RQT Ĺ&#x2018;XĂ&#x2C6;VKOCUĹ&#x2019; CU RGUUQCU SWG KPFKXKFWCN QW EQNGVKXCOGPVG VGPJCO UQHTKFQ WO RTGLWĂ&#x2C6;\Q PQOGCFCOGPVG WO CVGPVCFQ ´ UWC KPVGITKFCFG fĂsica ou mental, um sofrimento de ordem moral, uma perda material, ou um grave atentado aos seus direitos fundamentais, como consequĂŞncia de atos ou de omissĂľes violadores das leis penais em vigor PWO 'UVCFQ OGODTQ KPENWKPFQ CU que proĂbem o abuso de poder. 2. Uma pessoa pode ser considerada como â&#x20AC;&#x153;vĂtimaâ&#x20AC;?, no quadro da presente &GENCTCĂ ÂşQ SWGT Q CWVQT UGLC QW PÂşQ KFGPVKĹżECFQ RTGUQ RTQEGUUCFQ QW FGENCrado culpado, e quaisquer que sejam os laços de parentesco deste com a vĂtima. O termo â&#x20AC;&#x153;vĂtimaâ&#x20AC;? inclui tambĂŠm, conforme o caso, a famĂlia prĂłxima ou as pessoas a cargo da vĂtima direta e as pessoas que tenham sofrido um prejuĂzo CQ KPVGTXKTGO RCTC RTGUVCT CUUKUVĂ&#x201E;PEKC ´U XĂ&#x2C6;VKOCU GO UKVWCĂ ÂşQ FG ECTĂ&#x201E;PEKC QW para impedir a vitimização.6 (Grifamos). %QO DCUG PC FGĹżPKĂ ÂşQ HQTPGEKFC RGNC 107 Ă&#x192; RQUUĂ&#x2C6;XGN EQPUVCVCT SWG Q EQPEGKVQ FG vĂtima vai alĂŠm da pessoa diretamente afetada pelas consequĂŞncias do delito, podendo incluir tanto a famĂlia quanto as demais pessoas indiretamente afetadas, por exemplo, terceiros que intervĂŞm para proteger a vĂtima ou para prevenir que ocorra a vitimização. Desse modo, entende-se como vĂtima o sujeito passivo eventual da prĂĄtica criminosa, isto ĂŠ, quem sofre QU GHGKVQU PGICVKXQU FC CĂ ÂşQ FGNKVWQUC EQO GURGEKCN RTQVGĂ ÂşQ FQ NGIKUNCFQT # KFGPVKĹżECĂ ÂşQ desse sujeito passivo eventual depende de cada caso concreto, levando em consideração o QDLGVQ LWTĂ&#x2C6;FKEQ FQ ETKOG G Q KPVGTGUUG RTQVGIKFQ RGPCNOGPVG 'PVTGVCPVQ JÂś VCODĂ&#x192;O Q FGPQOKPCFQ UWLGKVQ RCUUKXQ EQPUVCPVG RTGUGPVG GO VQFQU QU ETKOGU Q 'UVCFQ Q SWG LWUVKĹżEC C UWC legitimação para a persecução penal na grande maioria dos crimes. Posto isso, utilizaremos C GZRTGUUÂşQ XĂ&#x2C6;VKOC EQOQ UKPĂ?PKOQ FG UWLGKVQ RCUUKXQ GXGPVWCN A vĂtima ĂŠ, sem dĂşvida, o sujeito mais frĂĄgil em todo o sistema de justiça criminal â&#x20AC;&#x201C; motivo pelo qual necessita de especial atenção. Maia Neto, ao mencionar o fracasso do UKUVGOC RGPCN GO TGRCTCT RTGXGPKT G CNECPĂ CT Q QDLGVKXQ FC TGKPVGITCĂ ÂşQ UQEKCN CĹżTOC SWG para uma visĂŁo mais moderna, a principal missĂŁo da Justiça criminal ĂŠ â&#x20AC;&#x153;reparar e indenizar CU XĂ&#x2C6;VKOCU FG ETKOG RQUVGTKQTOGPVG UGEWPFÂśTKC QW RCTCNGNCOGPVG ´ RWPKĂ ÂşQ FQ CWVQT FQ ilĂcitoâ&#x20AC;?.7 'PVTGVCPVQ C ĹżPCNKFCFG FQ &KTGKVQ 2GPCN SWG VGO ICPJCFQ OCKU FGUVCSWG Ă&#x192; C FC dupla função preventiva, fornecida por Ferrajoli:8 a prevenção de delitos e a prevenção de penas arbitrĂĄrias ou desmedidas contra o autor da infração. A tĂtulo ilustrativo, um exemplo se presta a essa constatação, no tocante aos efeitos da condenação penal. O art. 91 do CĂłdigo Penal prevĂŞ, como efeito secundĂĄrio da condenação, o dever de reparar o dano, alĂŠm de tornar certa a obrigação de indenizar os prejuĂzos. ConVWFQ C TGRCTCĂ ÂşQ FG FCPQU ´U XĂ&#x2C6;VKOCU FGXGTKC UGT GHGKVQ RTKOÂśTKQ OCKU TGNGXCPVG QW VCPVQ
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quanto a prĂłpria pena privativa de liberdade. Nesse sentido, ĂŠ possĂvel mencionar a atual VGPFĂ&#x201E;PEKC FGURGPCNK\CFQTC VTC\KFC RGNC .GK 9 que, alĂŠm de dispor sobre os Juizados 'URGEKCKU XCNQTK\C C TGRCTCĂ ÂşQ FC XĂ&#x2C6;VKOC EQOQ EQPFKEKQPCPVG QW KPFKECFQTC FC FGUPGEGUUKdade da persecução penal. #NĂ&#x192;O FKUUQ JÂś C PGEGUUKFCFG FG WO CORCTQ OCKU GHGVKXQ ´ XĂ&#x2C6;VKOC G OGPQU OGTCOGPVG VGĂ&#x17D;TKEQ GO RTQN FC JWOCPK\CĂ ÂşQ FQ RTQEGUUQ RGPCN EQO HQEQ GO WO EQPĆ&#x20AC;KVQ JWOCPQ regado de soluçþes reais, atento aos problemas, aos anseios e aos interesses das pessoas reais envolvidas, em detrimento de uma mera resposta jurĂdico-formal. No entanto, o atendimento RTQEGUUWCN FKURGPUCFQ ´ XĂ&#x2C6;VKOC OWKVCU XG\GU OQUVTC UG RQVGPEKCNOGPVG JÂśDKN C NJG ECWUCT tantos ou mais males do que a prĂłpria prĂĄtica do crime, ensejando assim um novo processo FG XKVKOK\CĂ ÂşQ %QO GPHQSWG PC RTQRQTĂ ÂşQ FQ HGPĂ?OGPQ XKVKOCN G PCU UWCU EQPUGSWĂ&#x201E;PEKCU RCTC C XĂ&#x2C6;VKOC C FQWVTKPC RCUUQW C ENCUUKĹżECT QU FKUVKPVQU RTQEGUUQU FG XKVKOK\CĂ ÂşQ UQD VTĂ&#x201E;U CURGEVQU GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQU XKVKOK\CĂ ÂşQ RTKOÂśTKC XKVKOK\CĂ ÂşQ UGEWPFÂśTKC G XKVKOK\CĂ ÂşQ VGTEKÂśTKC No tocante aos graus de vitimização, o primeiro dano estĂĄ exclusivamente associado ´ RTÂśVKEC FG WOC EQPFWVC VĂ&#x2C6;RKEC RTGXKUVC EQOQ KPHTCĂ ÂşQ RGPCN G C UWC UWDUWPĂ ÂşQ ´ PQTOC penal repressora; dito de outra forma, a vitimização primĂĄria resulta diretamente do crime e causa danos diversos, como materiais, fĂsicos, psicolĂłgicos. JĂĄ a vitimização secundĂĄria ou sobrevitimização10 se refere aos danos causados pela atuação das instâncias formais de EQPVTQNG OCKU GURGEKĹżECOGPVG RGNQ UKUVGOC FG LWUVKĂ C ETKOKPCN PQU SWCKU UG KPENWGO RQNKciais, juĂzes, promotores, peritos, serventuĂĄrios da justiça, como participantes do processo RGPCN G QU RTKOGKTQU C VGTGO EQPVCVQ EQO C XĂ&#x2C6;VKOC CRĂ&#x17D;U C QEQTTĂ&#x201E;PEKC FQ HCVQ FGNKVWQUQ 'UUC sobrevitimação tende a agravar as consequĂŞncias da vitimização primĂĄria, devido ao fato de Q UKUVGOC FG LWUVKĂ C RGPCN RQUUWKT C CVWCĂ ÂşQ XQNVCFC CQ FGNKPSWGPVG G ´ KPXGUVKICĂ ÂşQ IGTCNmente sem orientação vitimolĂłgica. Imagine-se uma vĂtima de estelionato que procura uma delegacia de polĂcia para prestar um boletim de ocorrĂŞncia e obter informaçþes. Normalmente, o agente de polĂcia faz o atendimento, anota as informaçþes que entende como relevantes para o deslinde do caso e dispensa a vĂtima, sem lhe prestar maiores informaçþes a respeitos dos procedimentos e açþes para reaver os valores extraviados. Nesses casos, muitas vezes, o sofrimento da vĂtima ĂŠ esquecido. NĂŁo hĂĄ uma maior preocupação com suas expectativas e suas necessidades. A grande demanda de questĂľes policiais faz que o fato, de suma importância para vĂtima, se VQTPG EQTTKSWGKTQ RCTC QU RQNKEKCKU 'UUGU PÂşQ TCTQ FGKZCO FG FCT C FGXKFC CVGPĂ ÂşQ ´ XĂ&#x2C6;VKOC como sujeito de direitos; a vĂtima, entĂŁo, passa a ser objeto de investigação. AlĂŠm de a vĂtima se sentir â&#x20AC;&#x153;culpadaâ&#x20AC;? por ter se deixado levar pela fraude, ela se sente desrespeitada e frustrada com a atuação das instâncias de controle. Fernandes conceitua vitimização secundĂĄria como â&#x20AC;&#x153;resultante do indevido funcionamento do sistema processual e da irregular atuação da mĂĄquina policial ou judiciĂĄriaâ&#x20AC;?.11 #UUKO Ă&#x192; RQUUĂ&#x2C6;XGN CĹżTOCT SWG GUUC XKVKOK\CĂ ÂşQ Ă&#x192; OCKU RTGQEWRCPVG FQ SWG C RTĂ&#x17D;RTKC XKVKOK-
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zação primĂĄria, especialmente pela sensação de desamparo e frustração causada na vĂtima; por esta, em tese, esperar que as instâncias de controle nĂŁo sĂł respeitem como tambĂŠm TGUIWCTFGO UGWU FKTGKVQU QWVTQTC CVKPIKFQU G RTGLWFKECFQU EQO C QEQTTĂ&#x201E;PEKC FQ FGNKVQ 'UUC HCNVC FG RTGQEWRCĂ ÂşQ FGOQPUVTC WO FGUXKTVWCOGPVQ FG ĹżPCNKFCFG PC CVWCĂ ÂşQ LWTKUFKEKQPCN gerando uma grave perda de credibilidade nas instâncias formais de controle. Por sua vez, C XKVKOK\CĂ ÂşQ VGTEKÂśTKC GOGTIG FC HCNVC FG CORCTQ FQ 'UVCFQ G FC CWUĂ&#x201E;PEKC FG TGEGRVKXKFCFG social, mediante o contato da vĂtima com o seu meio ambiente social ou grupo familiar, no trabalho, na escola, na igreja ou em qualquer outro convĂvio social; esse tipo de vitimização ĂŠ resultante do desamparo de assistĂŞncia pĂşblica e social. Normalmente, o medo da rotulação, nĂŁo raro, faz que a vĂtima sofra novamente um dano, uma vez que se vĂŞ compelida a nĂŁo tornar pĂşblica a ocorrĂŞncia do crime. O enfoque deste estudo compreende a anĂĄlise da vitimização secundĂĄria, com algumas nuances da terciĂĄria, abordando possĂveis prevençþes no âmbito das polĂticas pĂşblicas, por meio de um arranjo institucional de segurança pĂşblica. 15 &+4'+615 &#5 8 6+/#5 &' %4+/' ' 1 #67#. '56#&1 &' %1+5#5 &# .')+5.#Â&#x161;Â&#x201C;1 ('&'4#. 0# Â.6+/# &Â&#x153;%#&# Com o propĂłsito de sistematizar os principais direitos e garantias das vĂtimas tutelados no ordenamento jurĂdico processual penal brasileiro, destacam-se quatro vertentes de FKTGKVQU XKVKOCKU FKTGKVQ ´ RTQVGĂ ÂşQ FKTGKVQ ´ KPHQTOCĂ ÂşQ FKTGKVQ ´ RCTVKEKRCĂ ÂşQ G FKTGKVQ ´ solução consensual do processo. Dentre essas quatro vertentes, interessa revisitar o direito de proteção da vĂtima em sua acepção mais restrita, o qual tem como objetivo promover o TGVQTPQ FC XĂ&#x2C6;VKOC ´ UWC RQUKĂ ÂşQ CPVGTKQT QW FKOKPWKT VCPVQ SWCPVQ RQUUĂ&#x2C6;XGN QU GHGKVQU FCPQUQU ECWUCFQU RGNC QEQTTĂ&#x201E;PEKC FC KPHTCĂ ÂşQ RGPCN 'O TGUWOQ C CVWCN NGIKUNCĂ ÂşQ RTQEGUUWCN RGPCN DTCUKNGKTC FKURĂ?G UQDTG EKPEQ PQXCU RGTURGEVKXCU CQ FKTGKVQ ´ RTQVGĂ ÂşQ FKTGKVQ C WO VTCVCOGPVQ TGURGKVQUQ FKTGKVQ ´ RTQVGĂ ÂşQ FC UGIWTCPĂ C FKTGKVQ ´ RTQVGĂ ÂşQ FC RTKXCEKFCFG direito a uma assistĂŞncia multidisciplinar (mĂŠdica, psicolĂłgica, social, jurĂdica) e direito ao CORCTQ GEQPĂ?OKEQ FQ 'UVCFQ 12 # .GK 13 conferiu nova redação ao artigo 201 do CĂłdigo de Processo Penal e reconheceu vĂĄrios direitos em prol da vĂtima, especialmente no tocante ao direito de proteção. 'UUG CTVKIQ RTGXĂ&#x201E; PQ h o Q FKTGKVQ ´ UGRCTCĂ ÂşQ HĂ&#x2C6;UKEC FQ CEWUCFQ RQT QECUKÂşQ FC KPUVTWĂ ÂşQ LÂś Q h o estabelece tanto o atendimento multidisciplinar, especialmente nas ĂĄreas psicossocial, jurĂFKEC G FG UCĂ&#x2022;FG SWCPVQ Q FKTGKVQ ´ CUUKUVĂ&#x201E;PEKC LWTĂ&#x2C6;FKEC PQ ¸ODKVQ FQ RTQEGUUQ ETKOKPCN CODQU ´U GZRGPUCU FQ 'UVCFQ QW FQ CWVQT FQ FGNKVQ 2QT ĹżO Q h o FKURĂ?G UQDTG Q FKTGKVQ ´U RTQXKFĂ&#x201E;PEKCU necessĂĄrias para a preservação da honra, da privacidade e da imagem no curso do processo. 'PVTG CU RGTURGEVKXCU FQ FKTGKVQ ´ RTQVGĂ ÂşQ FC XĂ&#x2C6;VKOC OGPEKQPCFCU FGUVCEC UG Q FKTGKVQ ´ RTQVGĂ ÂşQ FC JQPTC FC KOCIGO G FC RTKXCEKFCFG GO HCEG FC RWDNKEKFCFG CORNC RTGXKUVC
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EQOQ TGITC PQ RTQEGUUQ RGPCN 'UUC RWDNKEKFCFG GZGTEG Q RCRGN FG ICTCPVKC FG ICTCPVKC QW garantia de segundo grau,14 FG OQFQ SWG RQUUKDKNKVC Q OQPKVQTCOGPVQ FQ TGURGKVQ ´U ICTCPtias primĂĄrias e assegura a transparĂŞncia da atividade jurisdicional, alĂŠm de afastar a desEQPĹżCPĂ C FC RQRWNCĂ ÂşQ SWCPVQ ´ #FOKPKUVTCĂ ÂşQ FC ,WUVKĂ C 'PVTGVCPVQ C RWDNKEKFCFG PÂşQ ĂŠ uma garantia de carĂĄter absoluto ou tida como inafastĂĄvel no âmbito do processo penal. 'O CNIWOCU UKVWCĂ Ă?GU Q KPVGTGUUG RĂ&#x2022;DNKEQ ´ KPHQTOCĂ ÂşQ FGXG EGFGT GO XKTVWFG FQ KPVGTGUUG RTKXCFQ FG ECTÂśVGT RTGRQPFGTCPVG PQ ECUQ EQPETGVQ 'ZGORNQ FGUUC OKVKICĂ ÂşQ FÂś UG EQO C .GK 15 SWG CETGUEGPVQW Q CTV $ CQ %Ă&#x17D;FKIQ 2GPCN # OQFKĹżECĂ ÂşQ NGIKUNCVKXC objetivou claramente o resguardo da intimidade da vĂtima de crimes contra a dignidade sexual, por meio da imposição da obrigatoriedade de segredo de justiça, isto ĂŠ, publicidade restrita ou interna. 'UUC RQPFGTCĂ ÂşQ FG ICTCPVKCU XKUC C OKVKICT C UWRGTGZRQUKĂ ÂşQ OKFKÂśVKEC SWG EQNGEKQPC ECUQU FG CDWUQ FQ FKTGKVQ ´ KPHQTOCĂ ÂşQ RTQXCXGNOGPVG FGXKFQ ´ DWUEC FGUOGFKFC FG TGNCVQU G CQ GZEGUUQ FG EWTKQUKFCFG 'PVGPFG UG RQT UWRGTGZRQUKĂ ÂşQ OKFKÂśVKEC Q HCVQ FG C XĂ&#x2C6;VKOC ĹżECT FGOCUKCFCOGPVG GZRQUVC CQ OGKQ UQEKCN GO TC\ÂşQ FC TGRGTEWUUÂşQ SWG RQFG GPUGLCT C prĂĄtica da infração penal, alĂŠm de consistir em uma forma de constrangimento causadora dos danos decorrentes das citadas vitimizaçþes secundĂĄria e terciĂĄria; tornando-se, portanto, PGEGUUÂśTKC ´ VWVGNC GUVCVCN Veja-se que a proteção da vĂtima, nesse ponto, caminha pari passu com a tutela do RTĂ&#x17D;RTKQ CEWUCFQ 0C GZRTGUUÂşQ FG 'NGQPQTC 4CPIGN 0CEKH C KPFGXKFC RWDNKEKFCFG FQU HCVQU que estĂŁo sob sigilo acaba transformando o suspeito em indiciado, o indiciado em denunEKCFQ Q CEWUCFQ GO EQPFGPCFQ &C GZKUVĂ&#x201E;PEKC FG KPFĂ&#x2C6;EKQU RCUUC UG TCRKFCOGPVG ´ CĹżTOCção contundente de que a prova ĂŠ robusta, e, assim, quem deveria presumir-se inocente ĂŠ prontamente culpado. â&#x20AC;&#x153;Ă&#x2030; o famoso julgamento do fato e da pessoa pela mĂdia e pela opiniĂŁo formada por estaâ&#x20AC;?.16 # .GK 17 VCODĂ&#x192;O RTQOQXGW KORQTVCPVG CNVGTCĂ ÂşQ GO TGNCĂ ÂşQ CQ FKTGKVQ ´ KPHQTOCĂ ÂşQ FC XĂ&#x2C6;VKOC 'UVC KPFGRGPFGPVGOGPVG FG UWC JCDKNKVCĂ ÂşQ EQOQ CUUKUVGPVG FGXG ser comunicada a respeito dos seguintes eventos ocorridos no curso do processo: entrada e saĂda do acusado da prisĂŁo, designação da data para realização da audiĂŞncia, prolação da UGPVGPĂ C QW FQ CEĂ&#x17D;TFÂşQ TGURGEVKXQ SWG C OCPVGPJC QW OQFKĹżSWG # KPENWUÂşQ FGUUC UĂ&#x192;TKG FG FKTGKVQU QWVTQTC PÂşQ EQPHGTKFQU ´ XĂ&#x2C6;VKOC FGOQPUVTC WOC OCKQT RTGQEWRCĂ ÂşQ FQ NGIKUNCFQT EQO C ĹżIWTC FQ QHGPFKFQ # UWC RCTVKEKRCĂ ÂşQ PÂşQ OCKU UG TGUVTKPIG C HQTPGEGT GNGOGPVQU FG prova. Os atores do sistema de justiça criminal possuem a responsabilidade de nĂŁo sĂł incluir a vĂtima, mas de mantĂŞ-la informada de todos os atos do processo. A alteração promovida, na medida em que assegura ao particular atingido pela ação criminosa e credor da resposta estatal algum tipo de satisfação, fomenta verdadeiro accountability institucional â&#x20AC;&#x201C; responsabilização, obrigação, prestação de contas â&#x20AC;&#x201C; para com o sujeito de direitos mais sensĂveis da persecução criminal.
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# .GK 18 concedeu nova redação ao inciso IV do art. 387 do CĂłdigo de 2TQEGUUQ 2GPCN RQUUKDKNKVCPFQ CQ LWK\ RQT QECUKÂşQ FC UGPVGPĂ C RGPCN EQPFGPCVĂ&#x17D;TKC ĹżZCT valor mĂnimo para reparação dos danos causados pela infração penal. A alteração legislativa nĂŁo cria propriamente uma ação civil cumulada com uma ação penal no juĂzo criminal, RQKU C RQUUKDKNKFCFG FG RTQPVC ĹżZCĂ ÂşQ FG KPFGPK\CĂ ÂşQ UWDUVCPEKC CRGPCU GHGKVQ FC UGPVGPĂ C EQPFGPCVĂ&#x17D;TKC %QPXĂ&#x192;O NGODTCT SWG TGNCVKXCOGPVG ´ RTGVGPUÂşQ FG TGRCTCĂ ÂşQ QW EQORGPUCĂ ÂşQ RGNQ FCPQ ECWUCFQ ´ XĂ&#x2C6;VKOC RQT HQTĂ C FC CĂ ÂşQ ETKOKPQUC XKIQTC GPVTG PĂ&#x17D;U Q UKUVGOC FC independĂŞncia das instâncias, isto ĂŠ, nĂŁo hĂĄ estrita vinculação ou dependĂŞncia entre a ação RGPCN G C CĂ ÂşQ FG TGRCTCĂ ÂşQ G QW EQORGPUCĂ ÂşQ FQ FCPQ ´ XĂ&#x2C6;VKOC 2QT KUUQ C RQUUKDKNKFCFG FC CPVGEKRCĂ ÂşQ FC ĹżZCĂ ÂşQ FG XCNQT KPFGPK\CVĂ&#x17D;TKQ RGNQ LWĂ&#x2C6;\Q ETKOKPCN PÂşQ KPKDG QW PÂşQ KORGFG o manejo da ação civil ex delicto.19 Os artigos 63 e 64 do CĂłdigo de Processo Penal preveem duas opçþes para que o ofendido possa buscar o ressarcimento do dano causado pelo delito: a ação de execução ex delicto, de natureza executĂłria, pressupĂľe a existĂŞncia de um tĂtulo executivo, consubstanciado na sentença penal condenatĂłria com trânsito em julgado; e a ação civil ex delicto, proposta no âmbito cĂvel, de natureza cognitiva e independente da ação criminal.20 No primeiro caso, a vĂtima se vale da sentença condenatĂłria para liquidĂĄ-la na esfera cĂvel e, na sequĂŞncia, promover os atos de execução para indenização do prejuĂzo experimentado por força do crime. No segundo caso, de espectro mais amplo, permite-se que a discussĂŁo seja conduzida, inclusive, para a eventual compensação (e nĂŁo sĂł reparação) dos danos experimentados pela prĂĄtica criminosa, a abranger, portanto, a possibilidade de danos morais ou mesmo outros danos que extrapolem a simples recomposição patrimonial do ofendido. AlĂŠm das alteraçþes normativas jĂĄ mencionadas, algumas outras leis que promoveram direta ou indiretamente a proteção e os direitos das vĂtimas foram publicadas no decorrer dos Ăşltimos FG\ CPQU &GUVCECO UG C .GK 21 SWG CWVQTK\QW C ĹżZCĂ ÂşQ FG CNKOGPVQU RTQXKUĂ&#x17D;TKQU GO favor de criança ou adolescente dependentes de agressor que seja afastado da moradia comum RQT FGVGTOKPCĂ ÂşQ LWFKEKCN C .GK 22 SWG GUVCDGNGEGW C PQVKĹżECĂ ÂşQ EQORWNUĂ&#x17D;TKC FQU CVQU FG XKQNĂ&#x201E;PEKC RTCVKECFQU EQPVTC KFQUQ CVGPFKFQ GO UGTXKĂ Q FG UCĂ&#x2022;FG C .GK 23 SWG KPUVKVWKW Q 2TQITCOC FG #UUKUVĂ&#x201E;PEKC C 8Ă&#x2C6;VKOCU G C 6GUVGOWPJCU G C .GK 24 que determina atendimento obrigatĂłrio e integral de pessoas em situação de violĂŞncia sexual. Contudo, para alĂŠm das alteraçþes pontuais realizadas por esses diplomas legais, faz UG PGEGUUÂśTKQ TGXKUKVCT FG HQTOC OCKU OKPWFGPEKCFC C .GK 25 conhecida como .GK /CTKC FC 2GPJC DGO EQOQ C .GK 26 que institui o Programa Nacional de Segurança PĂşblica com Cidadania - Pronasci. Ambos os diplomas versam de forma mais GURGEĂ&#x2C6;ĹżEC UQDTG RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU RNCPQU RTQITCOCU RTQLGVQU CĂ Ă?GU CVKPGPVGU ´ RTQVGĂ ÂşQ FC XĂ&#x2C6;VKOC FG ETKOG G ´ RTGXGPĂ ÂşQ FG FGNKVQU # .GK 27 VTQWZG WO CTECDQWĂ Q FG OGFKFCU CUUGEWTCVĂ&#x17D;TKCU ´ OWNJGT EQO RQtencial de produzir importantes impactos sociais para o enfrentamento da violĂŞncia domĂŠstica
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PolĂticas pĂşblicas de proteção Ă vĂtima: uma proposta de arranjo institucional de segurança pĂşblica
G HCOKNKCT 'PVTGVCPVQ GUUC NGK PÂşQ QDVGXG FG KOGFKCVQ GHGVKXKFCFG RTÂśVKEC FGXKFQ CQ RQWEQ preparo dos ĂłrgĂŁos de segurança pĂşblica e do sistema de justiça criminal para abordagem RTĂ&#x17D;RTKC G GURGEĂ&#x2C6;ĹżEC FGUUG VKRQ FG XKQNĂ&#x201E;PEKC SWG XCK OWKVQ CNĂ&#x192;O FC UKORNGU EQTTGURQPFĂ&#x201E;PEKC EQO QU VKRQU RGPCKU FC NGIKUNCĂ ÂşQ EQOWO # .GK /CTKC FC 2GPJC VTCFW\ WOC QRĂ ÂşQ GXKFGPVG por um marco normativo protetivo da mulher em situação de violĂŞncia domĂŠstica e familiar. NĂŁo se trata de um diploma legal com preceitos penais ou processuais apenas, mas de uma OCPGKTC GURGEĂ&#x2C6;ĹżEC FG TGCNK\CĂ ÂşQ FC KPVGTXGPĂ ÂşQ FQ 'UVCFQ RQT UWC HGTTCOGPVC OCKU FWTC FG EQPVTQNG UQEKCN Q &KTGKVQ 2GPCN # .GK TGĂ&#x2022;PG Ĺ&#x2018;WO EQPLWPVQ FG RTGEGKVQU normativos que estabelecem aprioristicamente a necessĂĄria consideração do contexto histĂłrico e social de violĂŞncia de gĂŞnero vivenciado no paĂsâ&#x20AC;?.28 #U FKURQUKĂ Ă?GU FGUUC .GK XÂşQ OWKVQ CNĂ&#x192;O FQ LWTĂ&#x2C6;FKEQ # VGOÂśVKEC FC XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G HCOKNKCT RGFG WOC UQĹżUVKECFC KPVGTCĂ ÂşQ FQU CTTCPLQU KPUVKVWEKQPCKU FQ 'UVCFQ DTCUKNGKTQ #U RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU OCVGTKCNK\CO C EQPXGTIĂ&#x201E;PEKC GPVTG Q HWPEKQPCOGPVQ FQU Ă&#x17D;TIÂşQU FG 'UVCFQ G C HQTOCĂ ÂşQ FG UGWU TGURGEVKXQU CVQTGU # KPQXCĂ ÂşQ VTC\KFC RGNC .GK GURGEKCNOGPVG GO TGNCĂ ÂşQ ´ XĂ&#x2C6;VKOC FÂś UG no campo da â&#x20AC;&#x153;polĂtica jurĂdicaâ&#x20AC;?, justamente por manifestar preocupação com a compreensĂŁo FQ HGPĂ?OGPQ IQXGTPCOGPVCN FGPVTQ QW C RCTVKT FQ FKTGKVQ 29 1 CFXGPVQ FC .GK 30 impactou, entre outros pontos, na implementação FG RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU RCTC GHGVKXCĂ ÂşQ FCU FKURQUKĂ Ă?GU FC .GK /CTKC FC 2GPJC #Q RQUKVKXCT Q 2TQITCOC 0CEKQPCN FG 5GIWTCPĂ C 2Ă&#x2022;DNKEC EQO %KFCFCPKC Ĺ&#x152; 2TQPCUEK C .GK buscou articular polĂticas de segurança com açþes sociais; privilegiou a prevenção e centrou UG PC EQPUKFGTCĂ ÂşQ FCU TCĂ&#x2C6;\GU FC XKQNĂ&#x201E;PEKC UQD Q GPHQSWG FC XCNQTK\CĂ ÂşQ FQU RTQĹżUUKQPCKU FG UGIWTCPĂ C RĂ&#x2022;DNKEC FC TGGUVTWVWTCĂ ÂşQ FQ UKUVGOC RGPKVGPEKÂśTKQ FQ EQODCVG ´ EQTTWRĂ ÂşQ policial e do envolvimento da comunidade na prevenção da violĂŞncia. O Pronasci estabelece OGFKFCU GPVTG CĂ Ă?GU GUVTWVWTCKU G RTQITCOCU NQECKU GPXQNXGPFQ C 7PKÂşQ QU 'UVCFQU QU /WPKEĂ&#x2C6;RKQU G C RTĂ&#x17D;RTKC EQOWPKFCFG 1 RTQDNGOC FC ETKOKPCNKFCFG PQU VGTOQU FC .GK FG RCUUQW C UGT XKUVQ EQOQ WOC TGURQPUCDKNKFCFG FG ¸ODKVQ (GFGTCN 'UVCFWCN &KUVTKVCN /WPKEKRCN G FC UQEKGFCFG FG HQTOC KPVGITCFC G PÂşQ OCKU RQT GZGORNQ (GFGTCN QW 'UVCFWCN KUQNCFCOGPVG 3WCPFQ CPCNKUCFCU CU OQFKĹżECĂ Ă?GU RTQRQUVCU RGNQ 2TQITCOC UCNVC CQU QNJQU a nova visĂŁo de uma democracia participativa, com a utilização da conjunção aditiva â&#x20AC;&#x153;eâ&#x20AC;? ao invĂŠs da conjunção alternativa â&#x20AC;&#x153;ouâ&#x20AC;?, quando se arrolam os atores de polĂticas pĂşblicas. A tĂtulo ilustrativo, uma das açþes estruturais previstas ĂŠ a implantação de TerritĂłrios FG 2C\ EQO HQEQ PQ RTQLGVQ /WNJGTGU FC 2C\ FGUVKPCFQ ´ ECRCEKVCĂ ÂşQ FG OWNJGTGU UQEKCNOGPVG CVWCPVGU 'UUG RTQITCOC VGO Q QDLGVKXQ FG RTQOQXGT C GOCPEKRCĂ ÂşQ FCU OWNJGTGU C prevenção e o enfrentamento da violĂŞncia contra as mulheres, isto ĂŠ, um verdadeiro projeto de inclusĂŁo social do paĂs. O pĂşblico-alvo das açþes que integram o Pronasci ĂŠ dividido em quatro focos: foco etĂĄrio (população juvenil de 15 a 24 anos), foco social (jovens e adolescentes egressos do UKUVGOC RTKUKQPCN QW GO UKVWCĂ ÂşQ FG OQTCFQTGU FG TWC HCOĂ&#x2C6;NKCU GZRQUVCU ´ XKQNĂ&#x201E;PEKC WTDCPC
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vĂtimas de criminalidade e mulheres em situação de violĂŞncia), foco territorial (regiĂľes metropolitanas e aglomerados urbanos que apresentem altos Ăndices de homicĂdios e de crimes violentos) e foco repressivo relacionado ao combate de crime organizado. Dentre as diretrizes do Programa, apresentadas no art. 3.o FC .GK 31 destaca-se o inciso VIII, que prevĂŞ a participação e a inclusĂŁo em programas capazes de responder, de modo consistente e permanente, as demandas das vĂtimas de criminalidade, por intermĂŠdio de apoio psicolĂłgico, LWTĂ&#x2C6;FKEQ G UQEKCN PÂşQ FGURTG\CPFQ CU FGOCKU FKTGVTK\GU SWG FKTGVC QW KPFKTGVCOGPVG TGĆ&#x20AC;GVGO nas polĂticas pĂşblicas de segurança e proteção das vĂtimas de delito. As disposiçþes que prestigiam a vĂtima, se dissociadas da positivação de planos, proITCOCU RTQLGVQU G CĂ Ă?GU FG 'UVCFQ VGPFGO C GPUGLCT RTGEGKVQU LWTĂ&#x2C6;FKEQU ECTGPVGU FG GHGVKvidade. A ação estatal que ampara o funcionamento do sistema de justiça criminal deve, pois, necessariamente atuar de modo articulado com as polĂticas pĂşblicas que abrangem o RTQITCOC FG UGIWTCPĂ C RĂ&#x2022;DNKEC FQ 'UVCFQ EQOQ WO VQFQ 'UUC PGEGUUÂśTKC CTVKEWNCĂ ÂşQ UG FÂś RQKU EQO C CUUWPĂ ÂşQ FQU VGOCU FG RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU ´ RTQDNGOCVK\CĂ ÂşQ FQU VGOCU LWTĂ&#x2C6;FKEQU FKTKIKFQU ´ RTQVGĂ ÂşQ FC XĂ&#x2C6;VKOC #241:+/#Â&#x161;Â&#x201C;1 &#5 21. 6+%#5 2Â$.+%#5 #614'5 ' 2.#015 &' 4'#.+<#Â&#x161;Â&#x201C;1 # FGĹżPKĂ ÂşQ LWTĂ&#x2C6;FKEC FQ VGTOQ RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU PÂşQ GPEQPVTC EQPUGPUQ PC FQWVTKPC especializada. Dallari Bucci vĂŞ as polĂticas pĂşblicas como â&#x20AC;&#x153;metas coletivas conscientesâ&#x20AC;?, como programas de açþes governamentais resultantes de um processo ou como conjunto de processos juridicamente regulados, por exemplo, processo administrativo, processo eleitoral, processo judicial, processo de planejamento. Para essa vertente, as polĂticas pĂşblicas RTQRĂ?GO UG C CTVKEWNCT QU TGEWTUQU FKURQPĂ&#x2C6;XGKU FQ 'UVCFQ G FCU CVKXKFCFGU RTKXCFCU RCTC C promoção de objetivos socialmente relevantes e politicamente determinados.32 'O EQPVTCRCTtida, Comparato33 FGĹżPG CU RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU EQOQ WO EQPLWPVQ FG PQTOCU G CVQU QTKWPFQU FG WO UKUVGOC NGIKUNCVKXQ FKTGEKQPCFQU C WOC ĹżPCNKFCFG RĂ&#x2022;DNKEC FGVGTOKPCFC G WPKĹżECFC # FGURGKVQ FG JCXGT FKXGTUCU FGĹżPKĂ Ă?GU G CDQTFCIGPU FG RQNĂ&#x2C6;VKEC RĂ&#x2022;DNKEC RCTC Q RTGUGPVG GUVWFQ PÂşQ Ă&#x192; FG ITCPFG XCNKC FGUVCEÂś NCU G FKHGTGPEKÂś NCU KPFKXKFWCNOGPVG 2CTC QU ĹżPU FQ presente estudo, basta a compreensĂŁo de que as polĂticas pĂşblicas sĂŁo diretrizes elaboradas para enfrentar um problema pĂşblico â&#x20AC;&#x201C; â&#x20AC;&#x153;diferença entre o que ĂŠ e aquilo que se gostaria que fosse a realidade pĂşblicaâ&#x20AC;?.34 Secchi destaca dois elementos como fundamentais para a polĂtica pĂşblica: â&#x20AC;&#x153;intencionalidade pĂşblica e resposta a um problema pĂşblico; em outras palavras, a razĂŁo para o estabelecimento de uma polĂtica pĂşblica ĂŠ o tratamento ou a resolução de um problema entendido como coletivamente relevanteâ&#x20AC;?.35 O processo de elaboração de polĂticas pĂşblicas recebe o nome de ciclo de polĂticas pĂşDNKECU G EQORTGGPFG UGVG HCUGU RTKPEKRCKU KFGPVKĹżECĂ ÂşQ FQ RTQDNGOC HQTOCĂ ÂşQ FC CIGPFC formulação de alternativas, tomada de decisĂŁo, implementação, avaliação e extinção.36 'UUCU
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PolĂticas pĂşblicas de proteção Ă vĂtima: uma proposta de arranjo institucional de segurança pĂşblica
HCUGU PÂşQ UG CRTGUGPVCO UGORTG PC OGUOC UGSWĂ&#x201E;PEKC OCU UKO FG HQTOC JGVGTQIĂ&#x201E;PGC C ĹżO de se adequar a cada caso concreto, demonstrando que o processo de polĂticas pĂşblicas ĂŠ KPEGTVQ G QU NKOKVGU GPVTG CU HCUGU PÂşQ UÂşQ ENCTQU 'PVTGVCPVQ Q EKENQ FG RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU UG FGUVCEC FGXKFQ ´ UWC HWPEKQPCNKFCFG RCTC QTICPK\CT CU KFGKCU G FKOKPWKT C EQORNGZKFCFG FC sua implementação. Atores, no âmbito das polĂticas pĂşblicas, sĂŁo os indivĂduos, as organizaçþes ou os grupos SWG GZGTEGO WO RCRGN PC CTGPC RĂ&#x2022;DNKEC FGPVTG QU SWCKU UG FGUVCECO QU ECRC\GU FG KPĆ&#x20AC;WGPEKCT FKTGVC QW KPFKTGVCOGPVG Q EQPVGĂ&#x2022;FQ G QU TGUWNVCFQU FC RQNĂ&#x2C6;VKEC RĂ&#x2022;DNKEC # EQPĹżIWTCĂ ÂşQ FG atores se apresenta em função de cada arena polĂtica, a depender de alguns fatores: relação dos resultados da polĂtica pĂşblica com as atividades do ator; probabilidade de efeitos positivos ou negativos sobre suas atividades; presença territorial do ator na ĂĄrea de aplicação; acessibilidade aos processos decisĂłrios e de implementação das polĂticas pĂşblicas.37 # TGURGKVQ FC VKVWNCTKFCFG FC RTQOQĂ ÂşQ FQU FKTGKVQU CUUGIWTCFQU ´U XĂ&#x2C6;VKOCU C PQĂ ÂşQ FG polĂticas pĂşblicas nĂŁo se coaduna com a atuação isolada de um ator, pois, atĂŠ nas polĂticas RĂ&#x2022;DNKECU GO SWG C PQTOC RTGXĂ&#x201E; WO RTQVCIQPKUVC GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQ JÂś C KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC FG FKXGTUQU CVQTGU CQ NQPIQ FG WO EKENQ RQNĂ&#x2C6;VKEQ 0C GUHGTC GURGEĂ&#x2C6;ĹżEC FCU RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU CVKPGPVGU ´ XĂ&#x2C6;VKOC JÂś VCPVQ CVQTGU IQXGTPCOGPVCKU SWCPVQ PÂşQ IQXGTPCOGPVCKU KUUQ FGOQPUVTC a fortiori, nĂŁo ser um tema protagonizado exclusivamente pelo sistema de justiça criminal. &GUUG OQFQ Ă&#x192; RQUUĂ&#x2C6;XGN RGTEGDGT ´ RTKOGKTC XKUVC C PGEGUUKFCFG FC GZKUVĂ&#x201E;PEKC FG WO CTTCPLQ KPUVKVWEKQPCN FG UGIWTCPĂ C RĂ&#x2022;DNKEC G WOC CVWCĂ ÂşQ KPVGITCFC UGO RCTVKNJCU FGĹżPKFCU de responsabilidades. 1U CVQTGU IQXGTPCOGPVCKU UÂşQ CSWGNGU SWG CVWCO GO PQOG FQ 'UVCFQ 7NVTCRCUUCPFQ C ENÂśUUKEC EQPHQTOCĂ ÂşQ VTKRCTVKVG FQU 2QFGTGU 'ZGEWVKXQ .GIKUNCVKXQ ,WFKEKÂśTKQ QTICPK\CĂ Ă?GU como o MinistĂŠrio PĂşblico, a Defensoria PĂşblica, a Organização dos Advogados do Brasil (OAB), dentre outras, fazem o papel de atores governamentais e se destacam quando da GNCDQTCĂ ÂşQ FC GZGEWĂ ÂşQ G FC CXCNKCĂ ÂşQ FG RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU FG RTQVGĂ ÂşQ ´U XĂ&#x2C6;VKOCU FG ETKOG JĂĄ os atores nĂŁo governamentais sĂŁo os indivĂduos, os grupos e as associaçþes que representam a sociedade civil, por exemplo, as organizaçþes nĂŁo governamentais (ONGâ&#x20AC;&#x2122;s), os conselhos GUVCFWCKU G OWPKEKRCKU QU ITWRQU EQOWPKVÂśTKQU G QU EKFCFÂşQU SWG CVWCO GO RTQN FC RCEKĹżECĂ ÂşQ FQ UGKQ EQOWPKVÂśTKQ 2QFG UG CĹżTOCT SWG EQO DCUG PC CVWCĂ ÂşQ FQU CVQTGU IQXGTPCOGPVCKU G dos nĂŁo governamentais, o ideal ĂŠ uma atuação integrada, uma vez que assegurar os direitos das vĂtimas nĂŁo ĂŠ tema exclusivamente normativo ou jurĂdico, e a atuação isolada de atores governamentais revela-se fadada ao fracasso. No tocante aos planos de realização, sob uma perspectiva focada na satisfação do interesse compensatĂłrio da vĂtima, evidencia-se uma ideia de solidariedade social, ainda que UWDUKFKÂśTKC PCU JKRĂ&#x17D;VGUGU GO SWG Q CEWUCFQ PÂşQ FKURĂ?G FG OGKQU UWĹżEKGPVGU RCTC TGRCTCT C vĂtima. Pretende-se assegurar uma tempestiva e efetiva tutela da vĂtima, por intermĂŠdio de WO GUHQTĂ Q EQNGVKXQ EQO Q ĹżO FG GXKVCT QU TKUEQU FQU OGKQU TGRCTCVĂ&#x17D;TKQU VTCFKEKQPCKU
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'UUC PGEGUUKFCFG FG KORNGOGPVCĂ ÂşQ FG KPUVTWOGPVQU FG TGRCTCĂ ÂşQ RĂ&#x2022;DNKEC Ă&#x192; TGEQOGPFCda por Organismos Internacionais,38 FGPVTG QU SWCKU UG FGUVCECO CU RTGXKUĂ?GU FQ 'UVCVWVQ FG Roma, integrado ao ordenamento jurĂdico mediante o Decreto n. 4.388, de 25 de setembro de 2002.39 1 'UVCVWVQ GO UGW CTVKIQ TGEQPJGEG Q RCRGN HWPFCOGPVCN FCU XĂ&#x2C6;VKOCU G GUVCDGNGEG a reparação em favor delas, com natureza de restituição, indenização ou reabilitação, com o ĹżO FG RTGUVCT NJGU CORCTQ GEQPĂ?OKEQ ,Âś PQ CTVKIQ GUVCDGNGEG C ETKCĂ ÂşQ FG WO (WPFQ C favor das vĂtimas de crimes da competĂŞncia do Tribunal, bem como das respectivas famĂlias, e o inciso 2 desse artigo dispĂľe que: â&#x20AC;&#x153;O Tribunal poderĂĄ ordenar que o produto das multas e quaisquer outros bens declarados perdidos revertam para o Fundo.â&#x20AC;?40 A iniciativa de criação FG (WPFQ RCTC CORCTCT CU XĂ&#x2C6;VKOCU FG ETKOG Ĺ&#x152; C GZGORNQ FQ RTGXKUVQ RGNQ 'UVCVWVQ FG 4QOC para os crimes de competĂŞncia do Tribunal Penal Internacional - deveria ser reproduzida KPVGTPCOGPVG FG OQFQ C DGPGĹżEKCT VQFCU CU XĂ&#x2C6;VKOCU FG ETKOG # .GK /CTKC FC 2GPJC VTC\ QWVTCU CĂ Ă?GU C UGTGO KORNGOGPVCFCU PQ ¸ODKVQ FCU RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU FG RTQVGĂ ÂşQ ´ XĂ&#x2C6;VKOC GURGEKCNOGPVG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC EQPVTC OWNJGT 1 ECRĂ&#x2C6;VWNQ + FC .GK 41 intitulado â&#x20AC;&#x153;Das medidas integradas de prevençãoâ&#x20AC;?, alĂŠm de determinar que a polĂtica pĂşblica deva ser realizada por meio de um conjunto articulado de açþes da UniĂŁo, FQU 'UVCFQU FQ &KUVTKVQ (GFGTCN G FQU /WPKEĂ&#x2C6;RKQU G FG CĂ Ă?GU PÂşQ IQXGTPCOGPVCKU GUVCDGNGEG algumas diretrizes, as quais, dada a sua relevância, merecem expressa citação (destaques nossos): Art. 8o [...] I - a integração operacional do Poder JudiciĂĄrio, do MinistĂŠrio PĂşblico e da Defensoria PĂşblica com as ĂĄreas de segurança pĂşblica, assistĂŞncia social, saĂşde, educação, trabalho e habitação; II - a promoção de estudos e pesquisas, estatĂsticas e outras informaçþes relevantes, EQO C RGTURGEVKXC FG IĂ&#x201E;PGTQ G FG TCĂ C QW GVPKC EQPEGTPGPVGU ´U ECWUCU ´U EQPUGSWĂ&#x201E;PEKCU G ´ HTGSWĂ&#x201E;PEKC FC XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G HCOKNKCT EQPVTC C OWNJGT para a sistematização de dados C UGTGO WPKĹżECFQU PCEKQPCNOGPVG G C avaliação periĂłdica dos resultados das medidas adotadas; III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores ĂŠticos e sociais da pessoa e da famĂlia, de forma a coibir os papĂŠis estereotipados que legitimem ou exacerbem a violĂŞncia domĂŠstica e familiar, de acordo com o estabelecido no inciso III do art. 1o, no o inciso IV do art. 3o e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal; IV - a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, em RCTVKEWNCT PCU &GNGICEKCU FG #VGPFKOGPVQ ´ /WNJGT V - a promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção da violĂŞncia FQOĂ&#x192;UVKEC G HCOKNKCT EQPVTC C OWNJGT XQNVCFCU CQ RĂ&#x2022;DNKEQ GUEQNCT G ´ UQEKGFCFG GO IGTCN G C FKHWUÂşQ FGUVC .GK G FQU KPUVTWOGPVQU FG RTQVGĂ ÂşQ CQU FKTGKVQU humanos das mulheres; VI - a celebração de convĂŞnios, protocolos, ajustes, termos ou outros instrumentos de promoção de parceria entre ĂłrgĂŁos governamentais ou entre estes e entidades nĂŁo-governamentais, tendo por objetivo a implementação de programas de erradicação da violĂŞncia domĂŠstica e familiar contra a mulher;
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VII - a capacitação permanente das PolĂcias Civil e Militar, da Guarda MuniEKRCN FQ %QTRQ FG $QODGKTQU G FQU RTQĹżUUKQPCKU RGTVGPEGPVGU CQU Ă&#x17D;TIÂşQU G ´U ÂśTGCU GPWPEKCFQU PQ KPEKUQ + SWCPVQ ´U SWGUVĂ?GU FG IĂ&#x201E;PGTQ G FG TCĂ C QW GVPKC VIII - a promoção de programas educacionais que disseminem valores ĂŠticos de KTTGUVTKVQ TGURGKVQ ´ FKIPKFCFG FC RGUUQC JWOCPC EQO C RGTURGEVKXC FG IĂ&#x201E;PGTQ e de raça ou etnia; IX - o destaque, nos currĂculos escolares de todos os nĂveis de ensino, para os EQPVGĂ&#x2022;FQU TGNCVKXQU CQU FKTGKVQU JWOCPQU ´ GSWKFCFG FG IĂ&#x201E;PGTQ G FG TCĂ C QW etnia e ao problema da violĂŞncia domĂŠstica e familiar contra a mulher.42
# .GK 43 ĂŠ bom um exemplo de integração entre a atuação do sistema de LWUVKĂ C ETKOKPCN G CU CĂ Ă?GU FG 'UVCFQ RCTC KPVGTXGPĂ ÂşQ FG OQFQ OCKU CORNQ G EQO TGURGKVQ ´ EQORNGZKFCFG FQ HGPĂ?OGPQ FC XKQNĂ&#x201E;PEKC PQ EQPĆ&#x20AC;KVQ GPUGLCFQ RGNC RTÂśVKEC ETKOKPQUC 0GUUG UGPVKFQ C .GK VTQWZG CNIWOCU KPQXCĂ Ă?GU PQ RNCPQ FCU RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU C UGTGO KORNGOGPVCFCU nĂŁo somente no âmbito de violĂŞncia domĂŠstica contra a mulher, mas a todas as espĂŠcies de crime. Dentre as inovaçþes, tem-se a integração operacional, a ser mencionada no prĂłximo ECRĂ&#x2C6;VWNQ C RTQOQĂ ÂşQ FG GUVWFQU G RGUSWKUCU XKUCPFQ ´ UKUVGOCVK\CĂ ÂşQ FG FCFQU EQO C FGXKFC avaliação periĂłdica dos resultados das medidas adotadas; a implementação de atendimento policial especializado e a celebração de instrumentos de promoção de parceria entre ĂłrgĂŁos governamentais ou entre estes e entidades nĂŁo governamentais. Outra iniciativa implementada RQT GUUC .GK HQTCO CU EJCOCFCU OGFKFCU RTQVGVKXCU FG WTIĂ&#x201E;PEKC CTVU G UU EQO Q ĹżO FG RTQVGIGT GHGVKXCOGPVG C OWNJGT XĂ&#x2C6;VKOC FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC 'UUG KPUVKVWVQ VGXG EQOQ inspiração as restraining orders do direito inglĂŞs, orientadas por dois fundamentos: prevenção e proteção.44 'UUCU OGFKFCU CPVGEKRCTCO C TGHQTOC FCU OGFKFCU ECWVGNCTGU QRGTCFC PQ %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ 2GPCN CRGPCU PQ CPQ FG RQT OGKQ FC .GK WOC XG\ SWG EQPHGTKTCO WOC OCKQT QWUCFKC CQ NGIKUNCFQT PQ WUQ FQ RQFGT ECWVGNCT FQ LWK\ G EQO XKUVCU ´ UWRGTCĂ ÂşQ FG WO modelo bipolar, isto ĂŠ, ora de imposição da prisĂŁo, ora de observância da liberdade do acusado de modo desvinculado ao processo-crime a que responde. Ressalte-se, entretanto, que a ação de implementação das medidas protetivas tem como atores nĂŁo sĂł o juiz, que decidirĂĄ no caso concreto, mas tambĂŠm o MinistĂŠrio PĂşblico e os agentes de segurança pĂşblica, no sentido de facilitar a assistĂŞncia da vĂtima e informĂĄ-la da existĂŞncia do instituto, proporcionando a sua efetivação. # .GK /CTKC FC 2GPJC VCODĂ&#x192;O VTQWZG CVTKDWKĂ Ă?GU GURGEĂ&#x2C6;ĹżECU CQ /KPKUVĂ&#x192;TKQ 2Ă&#x2022;DNKEQ como ator de polĂticas pĂşblicas, conforme os artigos 25 e 26. Atribui-se a ele, por exemplo, ĹżUECNK\CT QU GUVCDGNGEKOGPVQU RĂ&#x2022;DNKEQU G RCTVKEWNCTGU FG CVGPFKOGPVQ ´ OWNJGT CNĂ&#x192;O FG HQTmular um cadastro com os casos de violĂŞncia domĂŠstica e familiar contra a mulher, com o QDLGVKXQ FG CEQORCPJCT CU QEQTTĂ&#x201E;PEKCU G HCEKNKVCT HWVWTCU CVWCĂ Ă?GU 'UUC CUUWPĂ ÂşQ FG EQORGtĂŞncia pelo MinistĂŠrio PĂşblico ĂŠ ilustrativa da adoção de uma abordagem cooperativa entre QU 2QFGTGU G CU HWPĂ Ă?GU FQ 'UVCFQ 2CTC CNĂ&#x192;O FC ENÂśUUKEC FKXKUÂşQ GPVTG CĂ Ă?GU FQ 'ZGEWVKXQ FQ .GIKUNCVKXQ G FQ ,WFKEKÂśTKQ C .GK RTKXKNGIKC CĂ Ă?GU FG 'UVCFQ SWG RQFGO UGT EQPFW\KFCU
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por certo, observada a competĂŞncia legalmente estabelecida, por todos os atores estatais. A ação governamental, que traduz o desenho das polĂticas pĂşblicas vai muito alĂŠm do desenho FG EQORGVĂ&#x201E;PEKCU G CVTKDWKĂ Ă?GU FQ 2QFGT 'ZGEWVKXQ PQU UGWU FKXGTUQU ¸ODKVQU HGFGTCVKXQU 0Q 6Ă&#x2C6;VWNQ 8 FGPQOKPCFQ Ĺ&#x2018;&C GSWKRG FG CVGPFKOGPVQ OWNVKFKUEKRNKPCTĹ&#x2019; C .GK 11.340/0645 RTGXKW C ETKCĂ ÂşQ FG ,WK\CFQU 'URGEKCNK\CFQU EQO WOC GSWKRG FG CVGPFKOGPVQ multidisciplinar, com competĂŞncia para fornecer subsĂdio aos demais atores e para desenvolver trabalhos de orientação, encaminhamento, prevenção e outras medidas, voltados para C QHGPFKFC # OGPĂ ÂşQ ´ PQOGPENCVWTC Ĺ&#x2018;,WK\CFQĹ&#x2019; PÂşQ HQK ITCVWKVC .QPIG FG UG CRTQZKOCT FC CVWCĂ ÂşQ FQ ,WFKEKÂśTKQ RCTC QU ETKOGU FG OGPQT RQVGPEKCN QHGPUKXQ FG OQFQ GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQ QU ,WK\CFQU 'URGEKCKU %TKOKPCKU OGPEKQPCFQU PQ CTV FC %QPUVKVWKĂ ÂşQ FC 4GRĂ&#x2022;DNKEC C CFQĂ ÂşQ FC GZRTGUUÂşQ Ĺ&#x2018;,WK\CFQĹ&#x2019; LWUVKĹżEC UG PC GZVTCRQNCĂ ÂşQ FQ GZGTEĂ&#x2C6;EKQ FG WOC EQORGVĂ&#x201E;PEKC SWG PÂşQ UG FÂś CRGPCU PQ ¸ODKVQ GUVTKVCOGPVG ETKOKPCN Â&#x153; FK\GT C .GK 46 ĹżZC WO estatuto de viĂŠs substancialmente protetivo. Para tanto, tem-se no Juizado de ViolĂŞncia domĂŠstica e familiar contra a mulher uma sĂŠrie de medidas que vĂŁo muito alĂŠm da resposta tradicional ao RCTVKEWNCT C SWG UG KORWVG C RTÂśVKEC FG ETKOG 'O TKIQT CUUWOGO OCKQT TGNGX¸PEKC CU CĂ Ă?GU FG 'UVCFQ RCTC GTTCFKECĂ ÂşQ FC XKQNĂ&#x201E;PEKC RTGXGPĂ ÂşQ FG PQXCU CĂ Ă?GU XKQNGPVCU G UQDTGVWFQ medidas de acolhimento da vĂtima, ainda que em paralelo e sem prejuĂzo da resposta penal. ,Âś C .GK 47 SWG KPUVKVWKW Q LÂś OGPEKQPCFQ 2TQPCUEK ĹżZC WO XGTFCFGKTQ OCTEQ RQNĂ&#x2C6;VKEQ ETKOKPCN 'UVCDGNGEGW FG OQFQ OKPWFGPEKCFQ Q CTECDQWĂ Q PQTOCVKXQ RCTC RQNĂ&#x2C6;VKECU UQEKCKU G CĂ Ă?GU FG RTQVGĂ ÂşQ ´U XĂ&#x2C6;VKOCU 5ÂşQ GZGORNQU FGUUG FGVCNJCOGPVQ Q 2TQLGVQ FG 2TQVGĂ ÂşQ FG ,QXGPU GO 6GTTKVĂ&#x17D;TKQ 8WNPGTÂśXGN FGUVKPCFQ ´ HQTOCĂ ÂşQ G ´ KPENWUÂşQ UQEKCN FG LQXGPU G CFQNGUEGPVGU GZRQUVQU ´ XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC QW WTDCPC Q 2TQLGVQ /WNJGTGU FG 2C\ FGUVKPCFQ ´ ECRCEKVCĂ ÂşQ FG OWNJGTGU UQEKCNOGPVG CVWCPVGU PCU ÂśTGCU IGQITœſECU CDTCPIKFCU RGNQ 2TQPCUEK G Q 2TQLGVQ $QNUC (QTOCĂ ÂşQ FGUVKPCFQ ´ SWCNKĹżECĂ ÂşQ RTQĹżUUKQPCN dos integrantes das Carreiras de segurança pĂşblica, polĂcias militar e civil e outros, com o QDLGVKXQ FG XCNQTK\CT GUUGU RTQĹżUUKQPCKU G EQPUGSWGPVGOGPVG DGPGĹżEKCT C UQEKGFCFG DTCUKleira. As açþes e os projetos de implementação integrantes do Pronasci tĂŞm como principal CVQT C UQEKGFCFG EKXKN ECFC XG\ OCKU CIGPVG G PÂşQ CRGPCU FGUVKPCVÂśTKC FCU NGKU 'ZGORNQ FC KORQTV¸PEKC HQTPGEKFC ´ UQEKGFCFG EKXKN RGNQ 2TQPCUEK UÂşQ QU RTQLGVQU FG KPENWUÂşQ G ECRCEKVCĂ ÂşQ para jovens e mulheres socialmente atuantes, como agentes comunitĂĄrios de prevenção e GPHTGPVCOGPVQ ´ XKQNĂ&#x201E;PEKC Bastos48 CĹżTOC SWG C RTGUUÂşQ FC UQEKGFCFG EKXKN QTICPK\CFC Ă&#x192; Q KPUVTWOGPVQ OCKU CFGSWCFQ RCTC KORNGOGPVCĂ ÂşQ FG RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU # ĹżZCĂ ÂşQ G C ĹżUECNK\CĂ ÂşQ FCU RQNĂ&#x2C6;VKECU pĂşblicas devem ser analisadas sob a luz da soberania popular e nĂŁo sob o viĂŠs da Separação FG 2QFGTGU &KVQ FG QWVTC HQTOC ECDG ´ UQEKGFCFG EKXKN FKTGVCOGPVG KPVGTGUUCFC ĹżUECNK\CT C CVWCĂ ÂşQ FQU FGOCKU CVQTGU RTGUUKQPCPFQ QU G CRQKCPFQ QU EQO Q ĹżO FG KORNGOGPVCT CU polĂticas pĂşblicas.
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#44#0,1 +056+67%+10#. ' 7/ '564'+61 &+Â?.1)1 +06'414)#0+<#%+10#. Diogo Coutinho49 escreve a respeito das interaçþes existentes entre o direito e as polĂticas pĂşblicas e tece importantes distinçþes entre as expressĂľes â&#x20AC;&#x153;direito das polĂticas pĂşblicasâ&#x20AC;? e â&#x20AC;&#x153;direito nas polĂticas pĂşblicasâ&#x20AC;?, oportunidade em que aponta alguns papĂŠis do direito nas polĂticas pĂşblicas. Nessa pesquisa, o autor aponta a carĂŞncia do estudo das polĂticas pĂşblicas no âmbito do ensino jurĂdico e a distância acadĂŞmica entre o Direito e o campo das polĂticas RĂ&#x2022;DNKECU 'ODQTC QU LWTKUVCU UGLCO FKCTKCOGPVG EJCOCFQU C QRKPCT G C FGEKFKT UQDTG SWGUVĂ?GU TGNCEKQPCFCU ´ RQNĂ&#x2C6;VKEC RĂ&#x2022;DNKEC OWKVQU PÂşQ GUVÂşQ RTGRCTCFQU RCTC GUUG FKÂśNQIQ WOC XG\ SWG lhes foram negligenciados, na academia, a problematização e o debate como mĂŠtodo de estudo, apegando-se a referenciais teĂłricos e ensinamentos doutrinĂĄrios. Dantas chega a CĹżTOCT SWG Ĺ&#x2018;Q EWTUQ LWTĂ&#x2C6;FKEQ Ă&#x192; UGO GZCIGTQ WO EWTUQ FG KPUVKVWVQU LWTĂ&#x2C6;FKEQU CRTGUGPVCFQU sob a forma expositiva de tratado teĂłrico-prĂĄticoâ&#x20AC;?.50 O fato de, academicamente, a discussĂŁo sobre os efeitos de leis e de polĂticas pĂşblicas ser ignorada faz com que a maioria dos juristas brasileiros nĂŁo saibam distinguir os papĂŠis no EGPÂśTKQ FCU RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU G EQPUGSWGPVGOGPVG ĹżECO FGĹżEKGPVGU PQ RCRGN FG HQTOWNCT G propor soluçþes ou ajustes capazes de executar e aperfeiçoar polĂticas pĂşblicas. Diogo CouVKPJQ EJGIC C UWRQT SWG C HCNVC FG EQPUEKĂ&#x201E;PEKC FGUUG RCRGN RTQĹżUUKQPCN VGPFG C CWOGPVCT Q risco de que haja maior opacidade na compreensĂŁo do problema; menor participação dos atores relevantes e pouca mobilização deles para o desenvolvimento das polĂticas pĂşblicas.51 'UUC ECTĂ&#x201E;PEKC FQ FGDCVG FCU RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU UG KPVGPUKĹżEC PCU CĂ Ă?GU GO RTQN FCU XĂ&#x2C6;VKOCU no processo penal. A proteção da vĂtima, nĂŁo raro, deixa de ser mencionada na maioria dos programas de ensino jurĂdico brasileiro. Normalmente, a atenção dos estudiosos do direito RGPCN Ă&#x192; XQNVCFC ´ RGUUQC FQ CEWUCFQ G ´U RGPCU GO GURGEKCN CU RTKXCVKXCU FG NKDGTFCFG Ĺżcando a vĂtima sem a atenção devida. HĂĄ uma visĂŁo fragmentĂĄria, que ainda permeia as polĂticas pĂşblicas, defendida por juristas administrativistas, para os quais as polĂticas pĂşblicas sĂŁo percebidas, em regra, â&#x20AC;&#x153;como uma sucessĂŁo de atos administrativos e nĂŁo como um continuum articulado, dinâmico e estruVWTCFQ GO VQTPQ FG ĹżPU RTGXKCOGPVG CTVKEWNCFQU C OGKQUĹ&#x2019; 52 As polĂticas pĂşblicas devem ser visualizadas como planos de ação prospectivos, em permanente processo de implementação e avaliação, nĂŁo se confundindo com as categorias jurĂdicas dos atos administrativos. Para que os agentes pĂşblicos possam elaborar e executar as polĂticas pĂşblicas, ĂŠ preciso de um certo grau de discricionariedade, de uma margem de liberdade e de adaptação que vai alĂŠm da dicotomia de atos vinculados ou atos discricionĂĄrios. A questĂŁo nĂŁo deve ser â&#x20AC;&#x153;pode ou nĂŁo podeâ&#x20AC;?, mas sim â&#x20AC;&#x153;como se podeâ&#x20AC;? e â&#x20AC;&#x153;quais as estratĂŠgias necessĂĄriasâ&#x20AC;?. Vale ressaltar que raramente o legislador minudencia os objetivos da polĂtica pĂşblica, o que dĂĄ lugar a caminhos alternativos para alcançå-los, uma vez que as polĂticas pĂşblicas estĂŁo a todo tempo em processo de adaptação, de ajustes e de avaliaçþes.53 +UUQ FGOQPUVTC C PGEGUUKFCFG FG Ć&#x20AC;Gxibilizar o arcabouço jurĂdico para a melhor atuação dos administradores e gestores pĂşblicos.
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0Q ECUQ FQU FKTGKVQU CUUGIWTCFQU ´ XĂ&#x2C6;VKOC PQ RTQEGUUQ RGPCN C GNCDQTCĂ ÂşQ C GZGEWĂ ÂşQ G a avaliação de polĂticas pĂşblicas, em regra, ainda ĂŠ analisada sob o viĂŠs de qual Poder ou ator pĂşblico tem predominância ou exclusividade para atuar. Muito se discute sobre qual Poder VGTKC OGNJQTGU EQPFKĂ Ă?GU FG ĹżUECNK\CT C ĹżZCĂ ÂşQ G C KORNGOGPVCĂ ÂşQ FG RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU 1 debate sobre a competĂŞncia para a concretização dessas polĂticas pĂşblicas, se primordialmente Q 'ZGEWVKXQ QW UG KUUQ Ă&#x192; HWPĂ ÂşQ GZENWUKXC FQ ,WFKEKÂśTKQ RQT UG XKPEWNCT WODKNKECNOGPVG CQ prĂłprio processo criminal -, nĂŁo se mostra relevante ou em conformidade com o contexto apresentado. Deixar a implementação das garantias aos direitos das vĂtimas a cargo apenas FQ 'ZGEWVKXQ QW GZENWUKXCOGPVG FQ UKUVGOC FG LWUVKĂ C ETKOKPCN Ă&#x192; OKPKOK\CT C KORQTV¸PEKC FG tais direitos. O recomendĂĄvel ĂŠ uma atuação conjunta dos atores, dos pĂşblicos e dos privados, nĂŁo mais cabendo a repartição de atribuiçþes que outrora vigorava. #NĂ&#x192;O FKUUQ PQ SWG UG TGHGTG GURGEKĹżECOGPVG ´U RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU GO RTQN FCU XĂ&#x2C6;VKOCU no processo penal, nĂŁo hĂĄ recorrente discussĂŁo a respeito da judicialização dos direitos e do risco da interferĂŞncia dos juĂzes nas polĂticas pĂşblicas, na medida em que eles, os juĂzes, sĂŁo KPGICXGNOGPVG WO FQU CVQTGU VCPVQ FG KORNGOGPVCĂ ÂşQ SWCPVQ FG ĹżUECNK\CĂ ÂşQ FGUUCU RQNĂ&#x2C6;VKECU A despeito de o sistema de justiça criminal se destacar como ator dessas polĂticas pĂşblicas de RTQVGĂ ÂşQ ´ XĂ&#x2C6;VKOC PÂşQ JÂś SWG UG HCNCT GO GZENWUKXKFCFG OCU GO CTTCPLQ KPUVKVWEKQPCN GPVTG VQFQU QU CVQTGU FG UGIWTCPĂ C RĂ&#x2022;DNKEC SWG GUVGLCO FKTGVC QW KPFKTGVCOGPVG NKICFQU ´ XĂ&#x2C6;VKOC de delito, para abranger o MinistĂŠrio PĂşblico, a Defensoria PĂşblica, as diversas PolĂcias, o prĂłprio JudiciĂĄrio, as equipes multidisciplinares de acolhimento e atendimento ou outros, a depender do caso concreto. Coutinho propĂľe o direito como componente de um arranjo institucional com o objetivo de partilhar responsabilidades entre os atores, â&#x20AC;&#x153;uma espĂŠcie de â&#x20AC;&#x2DC;mapaâ&#x20AC;&#x2122; de responsabilidades e tarefas nas polĂticas pĂşblicas.â&#x20AC;? 54 JĂĄ Dallari Bucci observa as prĂłprias polĂticas pĂşblicas como â&#x20AC;&#x153;arranjos institucionais complexos, expressos em estratĂŠgias ou programas de ação IQXGTPCOGPVCN SWG TGUWNVCO FG RTQEGUUQU LWTKFKECOGPVG TGIWNCFQU XKUCPFQ C CFGSWCT ĹżPU e meios.â&#x20AC;?55 A ideia de um arranjo institucional estĂĄ estritamente ligada a um diĂĄlogo interorganizacional, diĂĄlogo a ser promovido entre atores das instituiçþes pĂşblicas e estes com os atores privados, visando a aproximĂĄ-los com o intuito de que haja um preenchimento de lacunas pela complementariedade sinĂŠrgica dos atores, ressaltando as vantagens e mitigando CU FGĹżEKĂ&#x201E;PEKCU FG ECFC EQORQPGPVG FQ CTTCPLQ +06')4#Â&#x161;Â&#x201C;1 12'4#%+10#. 37' 4'%.#/# 21. 6+%#5 &' '56#&1 %QPUKFGTCPFQ Q FGUVCSWG FQ 'UVCFQ GO TGNCĂ ÂşQ CQU FGOCKU CVQTGU FG RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU FKUVKPIWGO UG CU GZRTGUUĂ?GU Ĺ&#x2018;RQNĂ&#x2C6;VKEC FG IQXGTPQĹ&#x2019; G Ĺ&#x2018;RQNĂ&#x2C6;VKEC FG 'UVCFQĹ&#x2019; C RTKOGKTC RQUUWK relação com um grupo polĂtico detentor de mandato eletivo, isto ĂŠ, a elaboração e o estabelecimento de polĂticas pĂşblicas tĂŞm prazo determinado, a depender do mandato eletivo. ,Âś C RQNĂ&#x2C6;VKEC FG 'UVCFQ KPFGRGPFG FG EKENQU GNGKVQTCKU G XKUC C CVGPFGT C FGOCPFCU PÂşQ UQNW-
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cionĂĄveis em mandatos, na medida em que depende de orientaçþes e açþes de longo prazo para impactar o quadro social. As polĂticas pĂşblicas voltadas para a proteção da vĂtima no processo penal nĂŁo podem ĹżECT ´ OGTEĂ&#x201E; FG LQIQ FG KPVGTGUUGU G C ETKVĂ&#x192;TKQ FG ITWRQU RQNĂ&#x2C6;VKEQU FGVGPVQTGU FG OCPFCVQ GNGVKXQ *Âś FG UG DWUECT GUVTCVĂ&#x192;IKCU FG EQPVTQNG FG ETKOKPCNKFCFG UQEKCNOGPVG QTKGPVCFQ ´ vĂtima, sob um prisma tanto preventivo como reparatĂłrio, isto ĂŠ, uma polĂtica criminal mais RTĂ&#x17D;ZKOC FQ UKUVGOC RGPCN FC TGCNKFCFG UQEKCN FGUVKPCFC ´ GUVCDKNK\CĂ ÂşQ UQEKCN UQD C RGTURGEtiva vitimolĂłgica. O nĂvel de titularidade de conformação das polĂticas pĂşblicas em prol das vĂtimas de crime, pela anĂĄlise da legislação federal na Ăşltima dĂŠcada, tem exigido um arranjo institucional que vai alĂŠm da tradicional separação dos poderes. Utilizando-se das previsĂľes FC .GK P 56 cuida-se de um conjunto articulado de açþes, ao lado de uma integração operacional do Poder JudiciĂĄrio, do MinistĂŠrio PĂşblico e da Defensoria PĂşblica com ĂĄreas de segurança pĂşblica, assistĂŞncia social, saĂşde, educação, trabalho e habitação. 'UUC KPVGITCĂ ÂşQ QRGTCEKQPCN UG TGHGTG C WOC CVWCĂ ÂşQ OCKU EQPLWPVC GPVTG QU CVQTGU GO SWG WO CVQT EQORNGOGPVC C CĂ ÂşQ FG QWVTQ CVQT UGO SWG JCLC WOC TGRCTVKĂ ÂşQ GURGEĂ&#x2C6;ĹżEC FG atribuiçþes e competĂŞncias. Cada ator deve saber a importância do seu papel para a efetividade da polĂtica pĂşblica. Cita-se o importante papel da sociedade civil como ator dessas polĂticas RĂ&#x2022;DNKECU GO RTQN FC EQPETGĂ ÂşQ FQ FKTGKVQ UQEKCN ´ UGIWTCPĂ C RĂ&#x2022;DNKEC # FGOQETCEKC PÂşQ UG restringe ao viĂŠs de status (democracia representativa), mas hĂĄ de ser compreendida como uma prĂĄtica polĂtica. â&#x20AC;&#x153;A democracia considerada como prĂĄtica polĂtica implica um projeto de construção ĂŠtica do bem comum a partir da participação cidadĂŁâ&#x20AC;?.57 # GHGVKXKFCFG G C GĹżEÂśEKC FC KORNGOGPVCĂ ÂşQ FCU RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU FG CVGPFKOGPVQ ´U vĂtimas parte do pressuposto de que ĂŠ necessĂĄrio um estreito diĂĄlogo interorganizacional, com a participação ĂŠtica da sociedade civil e de todos os demais atores, comunicando e coQRGTCPFQ GPVTG UK EQO WO Ă&#x2022;PKEQ QDLGVKXQ GHGVKXCT CĂ Ă?GU FG RTQVGĂ ÂşQ ´U XĂ&#x2C6;VKOCU FG FGNKVQ
3 CONCLUSĂ&#x192;O A partir da premissa de que as vĂtimas de crime sĂŁo aquelas pessoas que sofrem direta ou indiretamente com as consequĂŞncias do delito, isto ĂŠ, o sujeito passivo eventual da prĂĄtica criminosa, ĂŠ possĂvel constatar a relevância de que sejam implementadas polĂticas pĂşblicas EQO Q ĹżO FG RTQVGIĂ&#x201E; NCU G FG OKPKOK\CT QU RTQEGUUQU FG XKVKOK\CĂ ÂşQ A legislação mais recente tem mostrado que, apesar de a missĂŁo principal da Justiça criminal nĂŁo ser a reparação da vĂtima, hĂĄ uma tendĂŞncia despenalizadora que valoriza a TGRCTCĂ ÂşQ FC XĂ&#x2C6;VKOC G GXKVC RTQEGUUQU FG XKVKOK\CĂ ÂşQ IGTCFQU RGNC RGTUGEWĂ ÂşQ RGPCN 'UUC tendĂŞncia demonstra uma orientação legislativa com viĂŠs de humanização do processo penal. #U OQFKĹżECĂ Ă?GU NGIKUNCVKXCU PC Ă&#x2022;NVKOC FĂ&#x192;ECFC VKXGTCO EQOQ FKTGVTK\GU SWCVTQ CURGEVQU FQU FKTGKVQU XKVKOCKU FKTGKVQ ´ RTQVGĂ ÂşQ FKTGKVQ ´ KPHQTOCĂ ÂşQ FKTGKVQ ´ RCTVKEKRCĂ ÂşQ G FKTGKVQ ´
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UQNWĂ ÂşQ EQPUGPUWCN FQ RTQEGUUQ 'PVTGVCPVQ CU NGKU SWG OCKU UG FGUVCECO PQ SWG UG TGHGTG GURGEKĹżECOGPVG ´U RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU GO RTQN FCU XĂ&#x2C6;VKOCU UÂşQ C .GK G C .GK 11.530/2007, pois ambas estabelecem medidas e açþes de segurança pĂşblica voltadas para a vĂtima de delito. 0Q SWG UG TGHGTG ´U RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU Ă&#x192; RQUUĂ&#x2C6;XGN CĹżTOCT SWG UÂşQ FKTGVTK\GU GNCDQTCFCU RCTC GPHTGPVCT WO RTQDNGOC RĂ&#x2022;DNKEQ EQO Q HKO FG UG OQFKĹżECT C TGCNKFCFG WVKNK\CPFQ UG FG CVQTGU IQXGTPCOGPVCKU G PÂşQ IQXGTPCOGPVCKU 'UUGU CVQTGU PÂşQ RQUUWGO CVTKDWKĂ Ă?GU TĂ&#x2C6;IKFCU QW formalmente delimitadas. Ao contrĂĄrio, os atores devem interagir e se auto complementar, em prol de melhor implementar as polĂticas pĂşblicas. A ausĂŞncia de interaçþes entre o direito e as polĂticas pĂşblicas, no âmbito acadĂŞmico, demonstra um provĂĄvel despreparo da maioria dos juristas para distinguir os diferentes papĂŠis no cenĂĄrio das polĂticas pĂşblicas, o que gera um risco de maior opacidade na percepção do problema, menor participação dos atores relevantes e pouca mobilização desses para o implemento das polĂticas pĂşblicas. 'URGEKĹżECOGPVG GO TGNCĂ ÂşQ ´U RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU FG RTQVGĂ ÂşQ ´ XĂ&#x2C6;VKOC PQ RTQEGUUQ RGPCN nĂŁo hĂĄ que se falar em protagonismo de um ator, nem da exclusividade de atuação do sistema de LWUVKĂ C ETKOKPCN RQT OCKU RGTVQ SWG GUUG Ă&#x2022;NVKOQ GUVGLC RTĂ&#x17D;ZKOQ FC XĂ&#x2C6;VKOC FGXKFQ ´ RGTUGEWĂ ÂşQ penal. A conformação legislativa mais recente, com destaque para aquela positivada na Ăşltima dĂŠcada, tem por pressuposto para a sua efetividade a observância de um estreito diĂĄlogo dos atores dentro das organizaçþes e entre elas, em uma atuação conjunta e integrada. Assim, conclui-se que a inclinação legislativa na Ăşltima dĂŠcada apresenta uma conformação de polĂticas pĂşblicas em prol das vĂtimas no processo criminal voltada para a atuação conjunta dos atores de polĂticas pĂşblicas no modelo de arranjo institucional. No entanto, GUUC EQPHQTOCĂ ÂşQ RTGUUWRĂ?G RQNĂ&#x2C6;VKECU FG 'UVCFQ SWG KPFGRGPFGO FQU EKENQU GNGKVQTCKU G UÂşQ implementadas a longo prazo, com açþes contĂnuas. Percebe-se a necessidade de aplicação empĂrica desse modelo de arranjo institucional, com uma mudança de postura dos atores de RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU RCTC GXKVCT SWG CU PQTOCU LÂś GZKUVGPVGU ECTGĂ CO FG GHGVKXKFCFG G GĹżEÂśEKC
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%176+0*1 &KQIQ 4 1 FKTGKVQ PCU RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU +P /#437'5 'FWCTFQ (#4+# %CTNQU #WTĂ&#x192;NKQ Pimenta de. PolĂtica PĂşblica como campo disciplinar. SĂŁo Paulo: Unesp; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2013. p. 183. %176+0*1 &KQIQ 4 1 FKTGKVQ PCU RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU +P /#437'5 'FWCTFQ (#4+# %CTNQU #WTĂ&#x192;NKQ Pimenta de. PolĂtica PĂşblica como campo disciplinar. SĂŁo Paulo: Unesp; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2013. p. 185. $.#0%#(146 #NDGTV %CNUCOKINKC 5QDTG NC FQIOÂśVKEC LWTĂ&#x2C6;FKEC RTGUWRWGUVQU [ HWPEKQPGU FGN UCDGT LWTĂ&#x2C6;FKEQ Anales de la CĂĄtedra Francisco SuĂĄrez, n. 22, p. 235-276, 1982. )1/'5 .WK\ (NÂśXKQ /1.+0# #PVQPKQ )CTEĂ&#x2C6;C 2CDNQU FG Criminologia. GF 6TCFWĂ ÂşQ .WK\ (NÂśXKQ )QOGU SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 73. 14)#0+<#Â&#x161;Â&#x201C;1 &#5 0#Â&#x161;¨'5 70+&#5 #UUGODNGKC )GTCN 4GUQNWĂ ÂşQ FG . DisponĂvel em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Direitos-Humanos-na-Administração-da-Justiça.-Proteção-dos-Prisioneiros-e-Detidos.-Proteção-contra-a-Tortura-Maus-tratos-e-Desaparecimento/declaracao-dos-principios-basicos-de-justica-relativos-as-vitimas-da-criminalidade-e-de-abuso-de-poder.html>. Acesso em: 9 jul. 2016. 14)#0+<#Â&#x161;Â&#x201C;1 &#5 0#Â&#x161;¨'5 70+&#5 #UUGODNGKC )GTCN 4GUQNWĂ ÂşQ FG . DisponĂvel em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Direitos-Humanos-na-Administração-da-Justiça.-Proteção-dos-Prisioneiros-e-Detidos.-Proteção-contra-a-Tortura-Maus-tratos-e-Desaparecimento/declaracao-dos-principios-basicos-de-justica-relativos-as-vitimas-da-criminalidade-e-de-abuso-de-poder.html>. Acesso em: 9 jul. 2016. /#+# 0'61 %¸PFKFQ (WTVCFQ Direitos humanos das vĂtimas de crimes ĹżNQUQĹżC RGPCN G VGQTKC ETĂ&#x2C6;VKEC ´ luz das reformas processuais penais. Curitiba: JuruĂĄ, 2014. p. 362-363. ('44#,1.+ .WKIK Direito e razĂŁo: teoria do garantismo penal. Tradução Ana Paula Zomer, Fauzi Hassan %JQWMT ,WCTG\ 6CXCTGU G .WK\ (NÂśXKQ )QOGU 5ÂşQ 2CWNQ 4GXKUVC FQU 6TKDWPCKU R $4#5+. .GK P FG FG UGVGODTQ FG &KURĂ?G UQDTG QU ,WK\CFQU 'URGEKCKU %Ă&#x2C6;XGKU G %TKOKPCKU G dĂĄ outra providĂŞncias. PresidĂŞncia da RepĂşblica, BrasĂlia, DF. DisponĂvel em: <http://www.planalto.gov.br/ EEKXKNA NGKU . JVO #EGUUQ GO UGV 10 BARROS, Flaviane de MagalhĂŁes. A participação da vĂtima no Processo Penal 4KQ FG ,CPGKTQ .WOGP ,WTKU 2008. p. 70. ('40#0&'5 #PVQPKQ 5ECTCPEG O papel da vĂtima no processo criminal. SĂŁo Paulo: Malheiros, 1995. p. 38. 41&4+)7'5 4QIGT FG /GNQ A tutela da vĂtima no processo penal brasileiro. Curitiba: JuruĂĄ, 2014. p. 69. .GK P FG FG LWPJQ FG #NVGTC FKURQUKVKXQU FQ &GETGVQ .GK P FG FG QWVWDTQ FG %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ 2GPCN TGNCVKXQU ´ RTQXC G FÂś QWVTCU RTQXKFĂ&#x201E;PEKCU PresidĂŞncia da RepĂşblica, BrasĂlia, DF. DisponĂvel GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA ACVQ NGK N JVO #EGUUQ GO LWP ('44#,1.+ .WKIK Direito e razĂŁo: teoria do garantismo penal. Tradução Ana Paula Zomer, Fauzi Hassan %JQWMT ,WCTG\ 6CXCTGU G .WK\ (NÂśXKQ )QOGU 5ÂşQ 2CWNQ 4GXKUVC FQU 6TKDWPCKU R $4#5+. .GK P FG FG CIQUVQ FG #NVGTC Q 6Ă&#x2C6;VWNQ 8+ FC 2CTVG 'URGEKCN FQ &GETGVQ .GK P FG FG FG\GODTQ FG Ĺ&#x152; %Ă&#x17D;FKIQ 2GPCN G Q CTV Q FC .GK P FG FG LWNJQ FG SWG FKURĂ?G UQDTG QU ETKOGU JGFKQPFQU PQU VGTOQU FQ KPEKUQ :.+++ FQ CTV Q FC %QPUVKVWKĂ ÂşQ (GFGTCN G TGXQIC C .GK P FG 1o de julho de 1954, que trata de corrupção de menores. PresidĂŞncia da RepĂşblica, BrasĂlia, DF. DisponĂvel GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA ACVQ NGK N JVO #EGUUQ GO CIQ 0#%+( 'NGQPQTC 4CPIGN # OĂ&#x2C6;FKC G Q RTQEGUUQ RGPCN ObservatĂłrio da Imprensa, v. 13, n. 622, 28 dez. 2010. DisponĂvel em <http://observatoriodaimprensa.com.br/>. Acesso em: 20 dez. 2016. $4#5+. .GK P FG FG LWPJQ FG #NVGTC FKURQUKVKXQU FQ &GETGVQ .GK P FG FG QWVWDTQ FG %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ 2GPCN TGNCVKXQU ´ RTQXC G FÂś QWVTCU RTQXKFĂ&#x201E;PEKCU PresidĂŞncia da RepĂşblica, $TCUĂ&#x2C6;NKC &( &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA ACVQ NGK N JVO Acesso em: 26 jun. 2016. $4#5+. .GK P FG FG LWPJQ FG #NVGTC FKURQUKVKXQU FQ &GETGVQ .GK P FG FG QWVWDTQ FG %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ 2GPCN TGNCVKXQU ´ UWURGPUÂşQ FQ RTQEGUUQ emendatio libelli, mutattio libelli e aos procedimentos. PresidĂŞncia da RepĂşblica, BrasĂlia, DF. DisponĂvel em: <http://www.planalto.gov.br/ EEKXKNA A#VQ .GK . JVO #EGUUQ GO LWP .+/# 4GPCVQ $TCUKNGKTQ FG Manual de processo penal: volume Ăşnico. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 307.
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PolĂticas pĂşblicas de proteção Ă vĂtima: uma proposta de arranjo institucional de segurança pĂşblica
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5'%%*+ .GQPCTFQ PolĂticas pĂşblicas: conceitos, esquemas de anĂĄlise, casos prĂĄticos. 2. ed. SĂŁo Paulo: %GPICIG .GCTPKPI R 36 Ibid., p. 43. 5'%%*+ .GQPCTFQ PolĂticas pĂşblicas: conceitos, esquemas de anĂĄlise, casos prĂĄticos. 2. ed. SĂŁo Paulo: %GPICIG .GCTPKPI R %Â&#x2018;/#4# )WKNJGTOG %QUVC Programa de polĂtica criminal: orientado para a vĂtima de crime. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. $4#5+. &GETGVQ P FG FG UGVGODTQ FG 2TQOWNIC Q 'UVCVWVQ FG 4QOC FQ 6TKDWPCN 2GPCN Internacional. PresidĂŞncia da RepĂşblica $TCUĂ&#x2C6;NKC &( &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA decreto/2002/D4388.htm>. Acesso em: 27 ago. 2016. $4#5+. &GETGVQ P FG FG UGVGODTQ FG 2TQOWNIC Q 'UVCVWVQ FG 4QOC FQ 6TKDWPCN 2GPCN Internacional. PresidĂŞncia da RepĂşblica $TCUĂ&#x2C6;NKC &( &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA decreto/2002/D4388.htm>. Acesso em: 27 ago. 2016. $4#5+. .GK P FG FG CIQUVQ FG %TKC OGECPKUOQU RCTC EQKDKT C XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G HCOKNKCT EQPVTC C OWNJGT PQU VGTOQU FQ h o FQ CTV FC %QPUVKVWKĂ ÂşQ (GFGTCN FC %QPXGPĂ ÂşQ UQDTG C 'NKOKPCĂ ÂşQ de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, 2WPKT G 'TTCFKECT C 8KQNĂ&#x201E;PEKC EQPVTC C /WNJGT FKURĂ?G UQDTG C ETKCĂ ÂşQ FQU ,WK\CFQU FG 8KQNĂ&#x201E;PEKC &QOĂ&#x192;UVKEC G (COKNKCT EQPVTC C /WNJGT CNVGTC Q %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ 2GPCN Q %Ă&#x17D;FKIQ 2GPCN G C .GK FG 'ZGEWĂ ÂşQ 2GPCN G FÂś outras providĂŞncias. PresidĂŞncia da RepĂşblica, BrasĂlia, DF. DisponĂvel em: <http://www.planalto.gov.br/ EEKXKNA ACVQ NGK N JVO #EGUUQ GO LWP $4#5+. .GK P FG FG CIQUVQ FG %TKC OGECPKUOQU RCTC EQKDKT C XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G HCOKNKCT EQPVTC C OWNJGT PQU VGTOQU FQ h o FQ CTV FC %QPUVKVWKĂ ÂşQ (GFGTCN FC %QPXGPĂ ÂşQ UQDTG C 'NKOKPCĂ ÂşQ de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, 2WPKT G 'TTCFKECT C 8KQNĂ&#x201E;PEKC EQPVTC C /WNJGT FKURĂ?G UQDTG C ETKCĂ ÂşQ FQU ,WK\CFQU FG 8KQNĂ&#x201E;PEKC &QOĂ&#x192;UVKEC G (COKNKCT EQPVTC C /WNJGT CNVGTC Q %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ 2GPCN Q %Ă&#x17D;FKIQ 2GPCN G C .GK FG 'ZGEWĂ ÂşQ 2GPCN G FÂś outras providĂŞncias. PresidĂŞncia da RepĂşblica, BrasĂlia, DF. DisponĂvel em: <http://www.planalto.gov.br/ EEKXKNA ACVQ NGK N JVO #EGUUQ GO LWP $4#5+. .GK P FG FG CIQUVQ FG %TKC OGECPKUOQU RCTC EQKDKT C XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G HCOKNKCT EQPVTC C OWNJGT PQU VGTOQU FQ h o FQ CTV FC %QPUVKVWKĂ ÂşQ (GFGTCN FC %QPXGPĂ ÂşQ UQDTG C 'NKOKPCĂ ÂşQ de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, 2WPKT G 'TTCFKECT C 8KQNĂ&#x201E;PEKC EQPVTC C /WNJGT FKURĂ?G UQDTG C ETKCĂ ÂşQ FQU ,WK\CFQU FG 8KQNĂ&#x201E;PEKC &QOĂ&#x192;UVKEC G (COKNKCT EQPVTC C /WNJGT CNVGTC Q %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ 2GPCN Q %Ă&#x17D;FKIQ 2GPCN G C .GK FG 'ZGEWĂ ÂşQ 2GPCN G FÂś outras providĂŞncias. PresidĂŞncia da RepĂşblica, BrasĂlia, DF. DisponĂvel em: <http://www.planalto.gov.br/ EEKXKNA ACVQ NGK N JVO #EGUUQ GO LWP 57:$'4)'4 #PVQPKQ *GPTKSWG )TCEKCPQ 1 5KUVGOC +PINĂ&#x201E;U +P Â?8+.# 6JKCIQ #PFTĂ&#x192; 2KGTQDQO FG GV CN Modelos Europeus de enfrentamento Ă violĂŞncia de gĂŞnero: experiĂŞncias e representaçþes sociais. BrasĂlia: '5/27 R $4#5+. .GK P FG FG CIQUVQ FG %TKC OGECPKUOQU RCTC EQKDKT C XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G HCOKNKCT EQPVTC C OWNJGT PQU VGTOQU FQ h o FQ CTV FC %QPUVKVWKĂ ÂşQ (GFGTCN FC %QPXGPĂ ÂşQ UQDTG C 'NKOKPCĂ ÂşQ de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, 2WPKT G 'TTCFKECT C 8KQNĂ&#x201E;PEKC EQPVTC C /WNJGT FKURĂ?G UQDTG C ETKCĂ ÂşQ FQU ,WK\CFQU FG 8KQNĂ&#x201E;PEKC &QOĂ&#x192;UVKEC G (COKNKCT EQPVTC C /WNJGT CNVGTC Q %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ 2GPCN Q %Ă&#x17D;FKIQ 2GPCN G C .GK FG 'ZGEWĂ ÂşQ 2GPCN G FÂś outras providĂŞncias. PresidĂŞncia da RepĂşblica, BrasĂlia, DF. DisponĂvel em: <http://www.planalto.gov.br/ EEKXKNA ACVQ NGK N JVO #EGUUQ GO LWP $4#5+. .GK P FG FG CIQUVQ FG %TKC OGECPKUOQU RCTC EQKDKT C XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G HCOKNKCT EQPVTC C OWNJGT PQU VGTOQU FQ h o FQ CTV FC %QPUVKVWKĂ ÂşQ (GFGTCN FC %QPXGPĂ ÂşQ UQDTG C 'NKOKPCĂ ÂşQ de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, 2WPKT G 'TTCFKECT C 8KQNĂ&#x201E;PEKC EQPVTC C /WNJGT FKURĂ?G UQDTG C ETKCĂ ÂşQ FQU ,WK\CFQU FG 8KQNĂ&#x201E;PEKC &QOĂ&#x192;UVKEC G (COKNKCT EQPVTC C /WNJGT CNVGTC Q %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ 2GPCN Q %Ă&#x17D;FKIQ 2GPCN G C .GK FG 'ZGEWĂ ÂşQ 2GPCN G FÂś outras providĂŞncias. PresidĂŞncia da RepĂşblica, BrasĂlia, DF. DisponĂvel em: <http://www.planalto.gov.br/ EEKXKNA ACVQ NGK N JVO #EGUUQ GO LWP
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PolĂticas pĂşblicas de proteção Ă vĂtima: uma proposta de arranjo institucional de segurança pĂşblica
$4#5+. .GK P FG FG QWVWDTQ FG +PUVKVWK Q 2TQITCOC 0CEKQPCN FG 5GIWTCPĂ C 2Ă&#x2022;DNKEC EQO Cidadania â&#x20AC;&#x201C; PRONASCI e dĂĄ outras providĂŞncias. PresidĂŞncia da RepĂşblica, BrasĂlia, DF. DisponĂvel em: JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA ACVQ .GK . JVO #EGUUQ GO LWP $#5615 'NĂ&#x2C6;UKQ #WIWUVQ 8GNNQUQ # KORQTV¸PEKC FC %KFCFCPKC PC FGĹżPKĂ ÂşQ G PC KORNGOGPVCĂ ÂşQ FG RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU +P /14#'5 #NGZCPFTG FG -+/ 4KEJCTF 2CG Cidadania: o novo conceito jurĂdico e a sua relação com os direitos fundamentais individuais e coletivos. SĂŁo Paulo: Atlas, 2013. p. 146. %176+0*1 &KQIQ 4 1 FKTGKVQ PCU RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU +P /#437'5 'FWCTFQ (#4+# %CTNQU #WTĂ&#x192;NKQ Pimenta de. PolĂtica PĂşblica como campo disciplinar. SĂŁo Paulo: Unesp; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2013. 50 DANTAS, Francisco Clementino de San Tiago. A educação jurĂdica e a crise brasileira. 1955, p. 452 apud %176+0*1 &KQIQ 4 1 FKTGKVQ PCU RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU +P /#437'5 'FWCTFQ (#4+# %CTNQU #WTĂ&#x192;NKQ Pimenta de. PolĂtica PĂşblica como campo disciplinar. SĂŁo Paulo: Unesp; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2013. p. 4. %176+0*1 &KQIQ 4 1 FKTGKVQ PCU RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU +P /#437'5 'FWCTFQ (#4+# %CTNQU #WTĂ&#x192;NKQ Pimenta de. PolĂtica PĂşblica como campo disciplinar. SĂŁo Paulo: Unesp; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2013.p. 184. 52 BUCCI, Maria Paula Dallari. Direito administrativo e polĂticas pĂşblicas. SĂŁo Paulo: Saraiva, 2002. p. 18. %176+0*1 &KQIQ 4 1 FKTGKVQ PCU RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU +P /#437'5 'FWCTFQ (#4+# %CTNQU #WTĂ&#x192;NKQ Pimenta de. PolĂtica PĂşblica como campo disciplinar. SĂŁo Paulo: Unesp; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2013.p. 187. 54 Ibid., p. 188. 55 BUCCI, Maria de Paula Dallari. Notas para uma metodologia jurĂdica de anĂĄlise de polĂticas pĂşblicas. In: (146+0+ %TKUVKPC '56'8'5 ,Ă&#x2022;NKQ %Ă&#x192;UCT FQU 5CPVQU &+#5 /CTKC 6GTG\C (QPUGEC PolĂticas pĂşblicas: possibilidades e limites. Belo Horizonte: FĂłrum, 2008. p. 250. $4#5+. .GK P FG FG CIQUVQ FG %TKC OGECPKUOQU RCTC EQKDKT C XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G HCOKNKCT EQPVTC C OWNJGT PQU VGTOQU FQ h o FQ CTV FC %QPUVKVWKĂ ÂşQ (GFGTCN FC %QPXGPĂ ÂşQ UQDTG C 'NKOKPCĂ ÂşQ de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, 2WPKT G 'TTCFKECT C 8KQNĂ&#x201E;PEKC EQPVTC C /WNJGT FKURĂ?G UQDTG C ETKCĂ ÂşQ FQU ,WK\CFQU FG 8KQNĂ&#x201E;PEKC &QOĂ&#x192;UVKEC G (COKNKCT EQPVTC C /WNJGT CNVGTC Q %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ 2GPCN Q %Ă&#x17D;FKIQ 2GPCN G C .GK FG 'ZGEWĂ ÂşQ 2GPCN G FÂś outras providĂŞncias. PresidĂŞncia da RepĂşblica, BrasĂlia, DF. DisponĂvel em: <http://www.planalto.gov.br/ EEKXKNA ACVQ NGK N JVO #EGUUQ GO LWP 57:$'4)'4 #PVQPKQ *GPTKSWG )TCEKCPQ MinistĂŠrio PĂşblico e polĂtica criminal: uma segurança pĂşblica compromissada com os direitos humanos. Curitiba: JuruĂĄ, 2010. p. 123.
PUBLIC POLICIES ON THE PROTECTION OF VICTIMS: A PROPOSAL FOR AN INSTITUTIONAL ARRANGEMENT IN PUBLIC SECURITY ABSTRACT The present article analyzes the legislative approach adopted over the last decade, in relation to public policies on the protection of victims in $TC\KNKCP %TKOKPCN .CY 6JG TGUGCTEJ OGPVKQPU VJG TGNGXCPEG QH QDUGTXKPI such public policies under an institutional arrangement in public security, in which the Brazilian Criminal Justice System does not act exclusively. This study is a biographical and documentary research on the theme, also approaching concepts from Victimology and Public Policies Studies. The article also revisits the main rights of victims stated in Brazilian Criminal
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Antonio Henrique Graciano Suxberger | Mayara Lopes Canรงado
.CY KP QTFGT VQ CPCN[\G VJGO WRQP ETKOG XKEVKOUล RGTURGEVKXG 6JG importance of the study consists in understanding that public policies for the promotion of the rights of victims in criminal procedure require the creation of State policies, through an operational integration and a strict inter organizational dialog among public security actors. Keywords: Public Policies. Victimology. Institutional Arrangements.
Submetido: 29 dez. 2016 Aprovado: 31 maio 2017
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doi:10.12662/2447-6641oj.v15i20.p59-83.2017
ATUAĂ&#x2021;Ă&#x192;O DA AUTORIDADE POLICIAL E DO PODER JUDICIĂ RIO NO COMBATE Ă&#x20AC; VIOLĂ&#x160;NCIA DOMĂ&#x2030;STICA CONTRA A MULHER NA CIDADE DE SĂ&#x192;O LUĂ?S/MA1 Bruno Denis Vale Castro* Artenira da Silva e Silva** %QPUKFGTCĂ Ă?GU KPKEKCKU # TGFG FG GPHTGPVCOGPVQ ´ XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC PQ $TCUKN CXCPĂ QU G OCTEQU NGIKUNCVKXQU # &GNGICEKC 'URGEKCN FC /WNJGT FG 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U /# FKĹżEWNFCFGU PQ GPHTGPVCOGPVQ FC XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC EQPVTC C OWNJGT # &'/ FG 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U G CU RGEWNKCTKFCFGU PQ CVGPFKOGPVQ ´ OWNJGT XĂ&#x2C6;VKOC FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC # 8CTC 'URGEKCNK\CFC FG 8KQNĂ&#x201E;PEKC &QOĂ&#x192;UVKEC G (COKNKCT %QPVTC C /WNJGT CVWCĂ ÂşQ PC EKFCFG FG 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U #PÂśNKUG FQU FCFQU FQU RTQEGUUQU FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC SWG VTCOKVCTCO PC 8CTC 'URGEKCNK\CFC FG 8KQNĂ&#x201E;PEKC &QOĂ&#x192;UVKEC G (COKNKCT %QPVTC C /WNJGT FC %QOCTEC FG 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U FG CEQTFQ EQO NGXCPVCOGPVQ FQ CPQ FG %QPUKFGTCĂ Ă?GU ĹżPCKU 4GHGTĂ&#x201E;PEKCU
RESUMO Considerando os nĂşmeros crescentes de casos de violĂŞncia domĂŠstica contra C OWNJGT G Q FĂ&#x192;ĹżEKV FG GUVWFQU XQNVCFQU RCTC WOC CXCNKCĂ ÂşQ FC GUVTWVWTC FCU polĂticas pĂşblicas a nĂveis locais e seus efeitos para coibir a violĂŞncia de gĂŞnero, este artigo tem o objetivo de realizar um levantamento de informaçþes e FCFQU TGHGTGPVGU ´U RTGUVCĂ Ă?GU FQU UGTXKĂ QU G CVWCĂ ÂşQ FC &GNGICEKC 'URGEKCN FC /WNJGT G FC 8CTC 'URGEKCNK\CFC FC /WNJGT G FC 8KQNĂ&#x201E;PEKC &QOĂ&#x192;UVKEC FG 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U /# TGURQPUÂśXGKU TGURGEVKXCOGPVG RGNQ CVGPFKOGPVQ G LWNICOGPVQ FQU possĂveis crimes de violĂŞncia domĂŠstica contra a mulher, de modo a discutir 1
'UVG CTVKIQ Ă&#x192; HTWVQ FQU TGUWNVCFQU FC RGUSWKUC KPVKVWNCFC Ĺ&#x2018;21. 6+%#5 2Â$.+%#5 ' #55+56Â?0%+# ,74 &+%# 0# %+&#&' &' 5Â&#x201C;1 .7 5 GPHTGPVCOGPVQ FC XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC EQPVTC C OWNJGTĹ&#x2019; ĹżPCPEKCFC RGNQ %02S 2+$+% 7(/# G FGUGPXQNXKFC PQ 0Ă&#x2022;ENGQ FG 'UVWFQU FG &KTGKVQ %QPUVKVWEKQPCN 7(/#
0'&% 7(/# FWTCPVG QU CPQU
*
Graduado em Direito (UFMA), Mestrando em Direito e Instituiçþes do Sistema de Justiça da UFMA (PPG&+4 7(/# /GODTQ FQ 0Ă&#x2022;ENGQ FG 'UVWFQU FG &KTGKVQ %QPUVKVWEKQPCN 0'&% 7(/# #UUGUUQT FG 2TQmotor de Justiça (MPMA). Desenvolve pesquisa dentro das linhas de pesquisa de Constituição e Justiça, &KTGKVQ %QPUVKVWEKQPCN &KTGKVQ 2GPCN 6TKDWVÂśTKQ G +PUVKVWKĂ Ă?GU FQ 5KUVGOC FG ,WUVKĂ C ' OCKN DTWPQFXECUVTQ"JQVOCKN EQO
**
2Ă&#x17D;U FQWVQTC GO 2UKEQNQIKC G 'FWECĂ ÂşQ RGNC 7PKXGTUKFCFG FQ 2QTVQ &QWVQTC GO 5CĂ&#x2022;FG %QNGVKXC RGNC 7PKversidade Federal da Bahia. Mestre em SaĂşde e Ambiente pela Universidade Federal do MaranhĂŁo, Graduada em Psicologia pela PontifĂcia Universidade CatĂłlica de SĂŁo Paulo. Docente e pesquisadora do Departamento de SaĂşde PĂşblica e do Mestrado em Direito e Instituiçþes do Sistema de Justiça da Universidade Federal do MaranhĂŁo. Coordenadora de linha de pesquisa do ObservatĂłrio Ibero Americano de SaĂşde e Cidadania e coordenadora do Observatorium FG 5GIWTCPĂ C 2Ă&#x2022;DNKEC 22)&+47(/# %'%)2 2UKEĂ&#x17D;NQIC %NĂ&#x2C6;PKEC G (QTGPUG ' OCKN CTVGPKTCUUKNXC"JQVOCKN EQO
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CU RTKPEKRCKU FKĹżEWNFCFGU GPEQPVTCFCU RQT GUUGU Ă&#x17D;TIÂşQU GO UWCU CVWCĂ Ă?GU 'XKFGPEKQW UG SWG Q CVGPFKOGPVQ C OWNJGTGU XĂ&#x2C6;VKOCU FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC QW KPVTCHCOKNKCT GZKIG WOC SWCNKĹżECĂ ÂşQ VĂ&#x192;EPKEC GURGEĂ&#x2C6;ĹżEC WOC XG\ SWG FGOCPFC WOC CVWCĂ ÂşQ VTCPUFKUEKRNKPCT FCSWGNGU SWG CVWCO HTGPVG CQ HGPĂ?OGPQ CNWFKFQ UGLC PCU &GNGICEKCU 'URGEKCKU FC /WNJGT UGLC PCU 8CTCU 'URGEKCNK\CFCU AlĂŠm disso, concluiu-se que a Vara de ViolĂŞncia DomĂŠstica e Familiar ConVTC C /WNJGT FC %KFCFG FG 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U /# RTGEKUC TGUUKIPKĹżECT C UWC CVWCĂ ÂşQ diante do inexpressivo nĂşmero de processos que possuem decisĂľes de mĂŠrito e condenaçþes transitadas em julgado desde sua criação em 2008. Apenas focar em concessĂŁo de medidas protetivas de urgĂŞncia, considerando-as açþes â&#x20AC;&#x153;satisfativasâ&#x20AC;?, mostra-se como sendo uma restrição demasiada do escopo de RTQVGĂ ÂşQ SWG C .GK RTGVGPFG CNECPĂ CT 5GO KPUVTWĂ Ă?GU RTQEGUUWCKU FG EWPJQ GZRNKEKVCOGPVG VTCPUFKUEKRNKPCT SWG XKUKDKNK\G Q HGPĂ?OGPQ FC XKQNĂ&#x201E;PEKC FG IĂ&#x201E;PGTQ GO UWCU GURGEKĹżEKFCFGU G EQORNGZKFCFG PÂşQ JÂś ICTCPVKC GHGVKXC FG proteção de mulheres violentadas, tampouco justiça. Palavras-chave: ViolĂŞncia domĂŠstica. Autoridade Policial. Poder JudiciĂĄrio. 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U /#
1 CONSIDERAĂ&#x2021;Ă&#x2022;ES INICIAIS # XKQNĂ&#x201E;PEKC EQPVTC C OWNJGT ĹżIWTC PQ UĂ&#x192;EWNQ ::+ EQOQ WO HGPĂ?OGPQ FG FGUVCSWG diante dos nĂşmeros alarmantes de sua incidĂŞncia em detrimento da crescente conscientização global acerca dos direitos humanos. De origens associadas a razĂľes biolĂłgicas, sociais, psicanalĂticas e histĂłricas, o problema assume dimensĂľes que ultrapassam as fronteiras dos paĂses, tornando-se prioridade na agenda mundial. No Brasil, vĂĄrias polĂticas pĂşblicas voltadas para a proteção da mulher foram implantadas principalmente a partir da Constituição de 1988, considerada um divisor de ĂĄguas no constitucionalismo brasileiro ao inaugurar um sistema baseado em valores universais FG KIWCNFCFG VTC\GPFQ GO UGW VGZVQ WO EQPLWPVQ FG CĂ Ă?GU G ICTCPVKCU CĹżTOCVKXCU RCTC C promoção dos direitos das mulheres. AlĂŠm disso, a Organização Mundial de SaĂşde (OMS), GO FGĹżPKW QĹżEKCNOGPVG C XKQNĂ&#x201E;PEKC EQPVTC C OWNJGT EQOQ Ĺ&#x2018;VQFQ CVQ SWG RTQFW\ FCPQ HĂ&#x2C6;UKEQ UGZWCN QW RUKEQNĂ&#x17D;IKEQ ´ OWNJGT KPENWKPFQ CU EQPUGSWĂ&#x201E;PEKCU FGUUGU CVQU C EQGTĂ ÂşQ C privação arbitrĂĄria da liberdade, independente se ocorre na instância pĂşblica ou privada.â&#x20AC;?1 Nesse contexto, avanços na polĂtica brasileira de proteção da mulher, como a criação FC 5GETGVCTKC FG 2QNĂ&#x2C6;VKECU 2Ă&#x2022;DNKECU RCTC /WNJGTGU C CĹżTOCĂ ÂşQ FQ 2CEVQ 0CEKQPCN RGNQ 'PHTGPVCOGPVQ FC 8KQNĂ&#x201E;PEKC %QPVTC CU /WNJGTGU G CU RTGXKUĂ?GU RQNĂ&#x2C6;VKECU RTGXKUVCU PC .GK /CTKC FC 2GPJC XĂ&#x201E;O EQPVTKDWKPFQ UKIPKĹżECVKXCOGPVG RCTC Q VTCVCOGPVQ FQ RTQDNGOC FC XKQNĂ&#x201E;PEKC
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Atuação da autoridade policial e do poder judiciário no combate à violência doméstica contra a mulher na cidade de São Luís/MA
EQPVTC C OWNJGT PQ RCÈU #FGOCKU QU GUHQTÁQU RCTC Q GPHTGPVCOGPVQ ´ XKQNÄPEKC EQPVTC C OWNJGT VCODÃO UºQ XGTKſECFQU PC EQPUVTWÁºQ FC 4GFG FG 'PHTGPVCOGPVQ ´ 8KQNÄPEKC EQPVTC a Mulher, arcabouço normativo que reúne ações integradas dos entes federativos de forma C RTGUVCT UGTXKÁQU FG RTGXGPÁºQ G CVGPFKOGPVQ ´U OWNJGTGU XÈVKOCU FGUUG VKRQ FG XKQNÄPEKC &KCPVG FG VQFQ GUUG EQPVGZVQ C .GK P .GK /CTKC FC 2GPJC CRCTGEG EQOQ WO OCTEQ KORQTVCPVG RCTC Q CRGTHGKÁQCOGPVQ FGUUC 4GFG FG EQODCVG ´ XKQNÄPEKC VGPFQ C ſPCNKFCFG FG EQKDKT C XKQNÄPEKC FQOÃUVKEC G HCOKNKCT EQPVTC C OWNJGT CNKPJCPFQ UG CQ HWPFCOGPVQ LWTÈFKEQ GZRTGUUQ PQ h o do art. 226 da Constituição Federal brasileira, o SWCN GUVCDGNGEG Q FGXGT FQ 'UVCFQ FG ETKCT OGECPKUOQU RCTC EQKDKT C XKQNÄPEKC PQ ¸ODKVQ das relações domésticas. Não obstante a importância desses avanços, há ainda um número crescente de casos FG XKQNÄPEKC FQOÃUVKEC EQPVTC C OWNJGT G WO ITCPFG FÃſEKV FG GUVWFQU XQNVCFQU RCTC WOC avaliação da estrutura dessas políticas públicas a níveis locais e seus efeitos para coibir a XKQNÄPEKC FG IÄPGTQ 'UUG GUVWFQ FGHGPFG SWG CNÃO FC RGTEGRÁºQ UQDTG C KORQTV¸PEKC FC RTQVGÁºQ LWTÈFKEC VQTPC UG GUUGPEKCN TGƀGVKT UQDTG C CVWCÁºQ FQU ÎTIºQU FQ RQFGT RÕDNKEQ SWG CVWCO FKTGVCOGPVG PC GHGVKXKFCFG FCU RQNÈVKECU RÕDNKECU FKTGEKQPCFCU ´ OWNJGT XÈVKOC de violência, tendo em vista que tais esclarecimentos possibilitam o diagnóstico das atuais FKſEWNFCFGU GPEQPVTCFCU PC EQPETGVK\CÁºQ FQU UGTXKÁQU RTGUVCFQU ´U XÈVKOCU DGO EQOQ C propositura de alternativas viáveis para o enfrentamento da violência doméstica e/ou intrafamiliar contra as mulheres. Diante disso, tem-se o objetivo de realizar um levantamento de informações e dados TGHGTGPVGU ´U RTGUVCÁÐGU FQU UGTXKÁQU G ´ CVWCÁºQ FC &GNGICEKC 'URGEKCN FC /WNJGT G FC 8CTC 'URGEKCNK\CFC FG 5ºQ .WÈU /# TGURQPU¶XGKU TGURGEVKXCOGPVG RGNQ CVGPFKOGPVQ G RGNQ LWNgamento dos possíveis crimes de violência doméstica contra a mulher, de modo a discutir as RTKPEKRCKU FKſEWNFCFGU GPEQPVTCFCU RQT GUUGU ÎTIºQU GO UWCU CVWCÁÐGU 3WCPVQ CQU RTQEGFKOGPVQU G ´U VÃEPKECU FG RGUSWKUC CFQVQW UG C RGUSWKUC FG ECORQ C TGXKUºQ DKDNKQIT¶ſEC C TGXKUºQ PQTOCVKXC G C RGUSWKUC FQEWOGPVCN RCTC HC\GT C FKUEWUUºQ proposta. As informações foram coletadas em livros especializados, revistas nacionais e dados TGIKQPCKU CNÃO FG KPHQTOCÁÐGU QDVKFCU LWPVQ ´ &GNGICEKC 'URGEKCN FC /WNJGT &GNGICFC 6KVWNCT FC /WNJGT G ´ 8CTC 'URGEKCNK\CFC FG 8KQNÄPEKC &QOÃUVKEC G (COKNKCT %QPVTC C /WNJGT
CUUGUUQTGU LWTÈFKEQU FC 8CTC VQFQU NQECNK\CFQU G EQO CVWCÁºQ PC EKFCFG FG 5ºQ .WÈU # COQUVTC FG RTQſUUKQPCKU GPVTGXKUVCFQU RCTC C QDVGPÁºQ FG FCFQU TGHGTGPVGU C ECFC ÎTIºQ UG FGW RGNC GUVTCVKſECÁºQ 1 ETKVÃTKQ FG KPENWUºQ RCTC KFGPVKſECT GUUGU RTQſUUKQPCKU HQK Q CVGPFKOGPVQ FKTGVQ ´ XÈVKOC PQ RTKOGKTQ CVGPFKOGPVQ QW PQ CEQNJKOGPVQ PC TGCNK\CÁºQ FQ UGTXKÁQ ſPCNÈUVKEQ FQ ÎTIºQ QW PQ GPECOKPJCOGPVQ FC XÈVKOC C QWVTQ ÎTIºQ FC TGFG FG RTQVGÁºQ Assim, este trabalho realiza, em um primeiro momento, uma pequena explanação sobre C 4GFG FG 'PHTGPVCOGPVQ ´ 8KQNÄPEKC &QOÃUVKEC FG OQFQ C GUENCTGEGT EQOQ UG FGW PQ $TCUKN
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o avanço das polĂticas pĂşblicas voltadas para a proteção da mulher vĂtima de violĂŞncia e como se dĂĄ o funcionamento da rede de enfrentamento, na qual a autoridade policial e os ĂłrgĂŁos FQ 2QFGT ,WFKEKÂśTKQ GUVÂşQ KPENWĂ&#x2C6;FQU FGUETGXGPFQ RQT ĹżO C FGĹżPKĂ ÂşQ FGUUC OQFCNKFCFG FG XKQNĂ&#x201E;PEKC UGIWPFQ C .GK P 0Q UGIWPFQ OQOGPVQ UÂşQ TGCNK\CFCU FKUEWUUĂ?GU G CRQPVCFCU TGĆ&#x20AC;GZĂ?GU VGPFQ RQT DCUG CU KPHQTOCĂ Ă?GU G FCFQU QDVKFQU LWPVQ ´ &GNGICEKC FC /WNJGT G ´ 8CTC 'URGEKCNK\CFC FG 8KQNĂ&#x201E;PEKC &QOĂ&#x192;UVKEC G (COKNKCT %QPVTC C /WNJGT EQO CVWCĂ Ă?GU PC EKFCFG FG 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U MA sobre a atuação desses ĂłrgĂŁos e consideraçþes qualiquantitativas sobre os dados e informaçþes obtidas.
2 A REDE DE ENFRENTAMENTO Ă&#x20AC; VIOLĂ&#x160;NCIA DOMĂ&#x2030;STICA NO BRASIL: AVANĂ&#x2021;OS E MARCOS LEGISLATIVOS 9CKUGNĹżU\2 FGUVCEC SWG C KFGQNQIKC RCVTKCTECN SWG FGĹżPG CU TGNCĂ Ă?GU FG RQFGT GPVTG homens e mulheres na sociedade - e que permeia a cultura, as instituiçþes e o prĂłprio sisteOC FG LWUVKĂ C ETKOKPCN VGO EQPUVKVWĂ&#x2C6;FQ WO HQTVG QDUVÂśEWNQ RCTC QU CXCPĂ QU GO FKTGĂ ÂşQ ´ garantia de igualdade de direitos para as mulheres. A verdade ĂŠ que discussĂľes voltadas para o enfrentamento da violĂŞncia contra a mulher sĂŁo recentes no paĂs. AtĂŠ a dĂŠcada de 1970, a tese de legĂtima defesa da honra era aceita nos tribunais para inocentar maridos que assassinavam suas mulheres, como o famoso caso Doca Street, de 1977, que gerou uma forte reação do movimento feminista. Nesse mesmo perĂodo, debatia-se no meio jurĂdico se o marido poderia ser sujeito ativo do crime de estupro contra UWC GURQUC WOC XG\ SWG GTC FGXGT FQU EĂ?PLWIGU OCPVGT TGNCĂ Ă?GU UGZWCKU 3 Como resultado das reivindicaçþes oriundas do movimento feminista brasileiro, o 2TQITCOC FG #UUKUVĂ&#x201E;PEKC +PVGITCN ´ 5CĂ&#x2022;FG FC /WNJGT 2#+5/ HQK ETKCFQ GO EQO Q QDLGVKXQ FG CVGPFGT ´ OWNJGT GO UWC KPVGITCNKFCFG GURGEKCNOGPVG SWCPFQ GO UKVWCĂ Ă?GU de violĂŞncia domĂŠstica. No ano de 1985, foi institucionalizado o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), oportunidade em que foram criadas as primeiras Delegacias 'URGEKCNK\CFCU PQ #VGPFKOGPVQ ´ /WNJGT &'#/U 0Q CPQ UGIWKPVG TGIKUVTQW UG C ETKCĂ ÂşQ da primeira Casa Abrigo para mulheres, instituĂda pela Secretaria de Segurança PĂşblica de 5ÂşQ 2CWNQ EQO C ĹżPCNKFCFG FG CDTKICT CU OWNJGTGU GO UKVWCĂ ÂşQ FG TKUEQ FG OQTVG 4 Apesar de a Constituição de 1988 ter igualado as funçþes familiares entre homens G OWNJGTGU CRGPCU GO C .GK P TGXQIQW Q #TVKIQ FQ %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ Penal, que estabelecia que a mulher casada nĂŁo poderia exercer o direito de queixa sem a CWVQTK\CĂ ÂşQ FQ OCTKFQ UCNXQ SWCPFQ HQUUG EQPVTC GNG QW SWG GUVC GUVKXGUUG UGRCTCFC 'O C .GK P SWG RTQRWPJC OGFKFCU RTQVGVKXCU RCTC C OWNJGT XĂ&#x2C6;VKOC FG XKQNĂ&#x201E;PEKC domĂŠstica - com o afastamento do agressor da habitação - foi totalmente vetada pelo entĂŁo Presidente da RepĂşblica.
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Atuação da autoridade policial e do poder judiciĂĄrio no combate Ă violĂŞncia domĂŠstica contra a mulher na cidade de SĂŁo LuĂs/MA
0Q CPQ FG RCTC EQQTFGPCT QU UGTXKĂ QU FG CVGPFKOGPVQ ´ OWNJGT GO UKVWCĂ ÂşQ FG XKQNĂ&#x201E;PEKC C .GK P VTCPUHQTOQW C 5GETGVCTKC FG 'UVCFQ FQU &KTGKVQU FC /WNJGT Ă&#x17D;TIÂşQ KPVGITCPVG FQ /KPKUVĂ&#x192;TKQ FC ,WUVKĂ C GO 5GETGVCTKC 'URGEKCN FG 2QNĂ&#x2C6;VKECU RCTC /WNJGTGU ĂłrgĂŁo integrante da PresidĂŞncia da RepĂşblica, o que representou mais um passo em direção ´ EQPUVKVWKĂ ÂşQ FG WOC 4GFG FG 'PHTGPVCOGPVQ ´ 8KQNĂ&#x201E;PEKC EQPVTC C /WNJGT VGPFQ GO XKUVC que foram garantidos recursos para a criação de serviços e implementação de polĂticas pĂşblicas que supostamente deveriam atuar integradas.5 A denominação Rede de Enfrentamento Ă ViolĂŞncia Contra as Mulheres reĂşne termos de alcance amplo, de modo a englobar uma variedade de serviços e complexidade na organização do atendimento. Observa-se a existĂŞncia de ĂłrgĂŁos e serviços, que, embora nĂŁo estejam FKTGVCOGPVG GPXQNXKFQU PC CUUKUVĂ&#x201E;PEKC ´U OWNJGTGU GO UKVWCĂ ÂşQ FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FGUGORGPJCO WO TGNGXCPVG RCRGN PQ SWG VCPIG CQ EQODCVG G ´ RTGXGPĂ ÂşQ FC XKQNĂ&#x201E;PEKC G ´ ICTCPVKC FG direitos das mulheres e por isso passam a ser incluĂdos no rol dos integrantes da â&#x20AC;&#x153;rede de GPHTGPVCOGPVQ ´ XKQNĂ&#x201E;PEKC EQPVTC CU OWNJGTGUĹ&#x2019; 0GUUG EQPVGZVQ GUUC 4GFG CDTCPIG CNĂ&#x192;O dos serviços responsĂĄveis pelo atendimento, os agentes governamentais e nĂŁo governamenVCKU HQTOWNCFQTGU ĹżUECNK\CFQTGU G GZGEWVQTGU FG RQNĂ&#x2C6;VKECU XQNVCFCU RCTC CU OWNJGTGU RCTC CU universidades, para o movimento de mulheres, entre outros.6 1 EQPEGKVQ FG TGFG FG GPHTGPVCOGPVQ ´ XKQNĂ&#x201E;PEKC EQPVTC CU OWNJGTGU FK\ TGURGKVQ ´ atuação articulada entre as instituiçþes/serviços governamentais, nĂŁo governamentais e a comunidade, visando ao desenvolvimento de estratĂŠgias efetivas de prevenção e de polĂticas que garantam o empoderamento e a construção da autonomia das mulheres, os seus FKTGKVQU JWOCPQU C TGURQPUCDKNK\CĂ ÂşQ FQU CITGUUQTGU G C CUUKUVĂ&#x201E;PEKC SWCNKĹżECFC ´U OWNJGTGU em situação de violĂŞncia.7 # ĹżO FG EQPVGORNCT GUUGU RTQRĂ&#x17D;UKVQU C TGFG FG GPHTGPVCOGPVQ ĂŠ composta por: agentes governamentais e nĂŁo governamentais HQTOWNCFQTGU ĹżUECNK\CFQTGU G GZGEWVQTGU FG RQNĂ&#x2C6;VKcas voltadas para as mulheres (organismos de polĂticas para as mulheres, ONGs feministas, movimento de mulheres, conselhos dos direitos das mulheres, outros conselhos de controle social; nĂşcleos de enfrentamento CQ VTœſEQ FG OWNJGTGU GVE UGTXKĂ QU RTQITCOCU HQECPFQ C responsabilização dos agressores; as universidades; os ĂłrgĂŁos federais, estaduais e municipais responsĂĄveis pela garantia de direitos ´ JCDKVCĂ ÂşQ ´ GFWECĂ ÂşQ CQ VTCDCNJQ ´ UGIWTKFCFG social, cultura) G UGTXKĂ QU GURGEKCNK\CFQU G PÂşQ GURGEKCNK\CFQU FG CVGPFKOGPVQ ´U mulheres em situação de violĂŞncia. Sendo assim, essa Rede de atendimento corresponde ao conjunto de açþes e serviços de diferentes setores (em especial, da assistĂŞncia social, da justiça, da segurança pĂşblica e da UCĂ&#x2022;FG SWG XKUCO ´ CORNKCĂ ÂşQ G ´ OGNJQTKC FC SWCNKFCFG FQ CVGPFKOGPVQ ´ KFGPVKĹżECĂ ÂşQ G ao encaminhamento das mulheres em situação de violĂŞncia. A respeito dos marcos legislativos voltados para o combate e prevenção da violĂŞncia EQPVTC C OWNJGT UCPEKQPCFC RGNQ 2TGUKFGPVG .WK\ +PÂśEKQ .WNC FC 5KNXC C .GK Ă&#x192;
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EQORQUVC RQT WO EQPLWPVQ FG FKURQUKVKXQU PQTOCVKXQU FGFKECFQU GURGEKCNOGPVG ´ RTGXKUÂşQ FG RTQITCOCU G CVKXKFCFGU XQNVCFQU ´ FKXWNICĂ ÂşQ G ´ EQOGOQTCĂ ÂşQ FCU EQPSWKUVCU FC OWNJGT no âmbito da sociedade civil, de forma a promover iniciativas que consolidem a igualdade e inserção da mulher na sociedade brasileira. 'PVTGVCPVQ Q OCKQT OCTEQ NGIKUNCVKXQ FQ EQODCVG ´ XKQNĂ&#x201E;PEKC EQPVTC C OWNJGT PQ $TCUKN HQK C UCPĂ ÂşQ FC .GK EQPJGEKFC RQRWNCTOGPVG EQOQ .GK /CTKC FC 2GPJC 'UUC lei surgiu como importante instrumento infraconstitucional de concretização dos preceitos constitucionais por meio da criação de mecanismos destinados a coibir a violĂŞncia domĂŠstica e familiar contra a mulher. O mencionado dispositivo legal estabeleceu a articulação de uma polĂtica pĂşblica concretizada por meio de açþes integradas dos entes federativos e organizaçþes nĂŁo governamentais, de forma a fomentar um atendimento especializado para a mulher em situação de violĂŞncia.8 # .GK /CTKC FC 2GPJC ./2 EQPHQTOG FGUVCECFQ RQT %CNC\CPU G %QTVGU 9 representa um dos mais empolgantes e interessantes exemplos de amadurecimento democrĂĄtico, pois contou na sua formulação com a participação ativa de organizaçþes nĂŁo governamentais feministas, Secretaria de PolĂtica para Mulheres, academia, operadores do Direito e o Congresso Nacional.10 %QPHQTOG VCODĂ&#x192;O KPFKEC 9CKUGNĹżU\ 11 'O VGTOQU OCKU IGTCKU WOC KPQXCĂ ÂşQ KORQTVCPVG FC ./2 Ă&#x192; SWG GUVC RTQEWrou tratar de forma integral o problema da violĂŞncia domĂŠstica, e nĂŁo apenas da imputação de uma maior pena ao ofensor. Com efeito, a nova legislação ofereceu um conjunto de instrumentos para possibilitar a proteção e o acoNJKOGPVQ GOGTIGPEKCN ´ XĂ&#x2C6;VKOC KUQNCPFQ C FQ CITGUUQT CQ OGUOQ VGORQ SWG criou mecanismos para garantir a assistĂŞncia social da ofendida. AlĂŠm disso, a lei previu os mecanismos para preservar os direitos patrimoniais e familiares da vĂtima; sugeriu arranjos para o aperfeiçoamento e efetividade do atendimento jurisdicional; e previu instâncias para tratamento do agressor.
Ainda ĂŠ importante destacar o Pacto Nacional pelo Enfrentamento da ViolĂŞncia Contra as Mulheres.12 'UVCDGNGEKFQ PQ CPQ FG RGNQ )QXGTPQ (GFGTCN GUUG 2CEVQ EQPVGORNC dentre outras medidas, a criação dos juizados de violĂŞncia domĂŠstica e familiar contra a muNJGT RTGXKUVQU PC .GK /CTKC FC 2GPJC Q HQTVCNGEKOGPVQ FC TGFG FG CVGPFKOGPVQ ´U XĂ&#x2C6;VKOCU FG XKQNĂ&#x201E;PEKC EQO C ETKCĂ ÂşQ FG PQXCU FGNGICEKCU GURGEKCNK\CFCU PQ CVGPFKOGPVQ ´ OWNJGT FGHGPUQTKCU RĂ&#x2022;DNKECU FC OWNJGT ECUC CDTKIQ GUVCDGNGEG Q CVGPFKOGPVQ ´U OWNJGTGU GO UKtuação de violĂŞncia nos Centros de ReferĂŞncia de AssistĂŞncia Social (CRAS) e campanhas educativas de prevenção da violĂŞncia domĂŠstica e familiar. Nesse contexto, a atuação governamental passou a assumir, nĂŁo somente o apoio a serviços emergenciais e a campanhas isoladas, mas tambĂŠm uma atuação ampla que contempla açþes, como a capacitação de agentes pĂşblicos para prevenção e atendimento das vĂtimas; a criação de normas e padrĂľes de atendimento; o aperfeiçoamento da legislação; o incentivo ´ EQPUVKVWKĂ ÂşQ FG TGFGU FG UGTXKĂ QU Q CRQKQ C RTQLGVQU GFWECVKXQU G EWNVWTCKU FG RTGXGPĂ ÂşQ ´
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XKQNĂ&#x201E;PEKC G C CORNKCĂ ÂşQ FQ CEGUUQ FCU OWNJGTGU ´ LWUVKĂ C G CQU UGTXKĂ QU FG 5GIWTCPĂ C 2Ă&#x2022;DNKEC Nesse aspecto, a atuação integrada dos entes federativos tornou-se imprescindĂvel para o fortalecimento de uma rede de enfrentamento da violĂŞncia contra a mulher no Brasil. Nesse sentido, a Secretaria de PolĂticas para Mulheres lançou diretrizes para uma atuação coordenada dos organismos governamentais nas trĂŞs esferas da federação, de forma C GUVTWVWTCT C 4GFG FG #VGPFKOGPVQ ´ /WNJGT GO UKVWCĂ ÂşQ FG XKQNĂ&#x201E;PEKC PQU GUVCFQU PQU OWPKEĂ&#x2C6;RKQU G PQ &KUVTKVQ (GFGTCN RQT OGKQ FQ KPEGPVKXQ ´ ETKCĂ ÂşQ FG RQNĂ&#x2C6;VKECU PQ ¸ODKVQ FG cada ente envolvido no Pacto. %QTTQDQTCPFQ EQO GUUG RQUKEKQPCOGPVQ FQ )QXGTPQ (GFGTCN Q CTV FC .GK /CTKC FC Penha prevĂŞ, como uma das estratĂŠgias de enfrentamento da violĂŞncia domĂŠstica e familiar contra a mulher, que C CUUKUVĂ&#x201E;PEKC ´ OWNJGT GO UKVWCĂ ÂşQ FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G HCOKNKCT UGTÂś RTGUVCFC FG HQTOC CTVKEWNCFC G EQPHQTOG QU RTKPEĂ&#x2C6;RKQU G CU FKTGVTK\GU RTGXKUVQU PC .GK 1TI¸PKEC FC #UUKUVĂ&#x201E;PEKC 5QEKCN PQ 5KUVGOC ÂPKEQ FG 5CĂ&#x2022;FG PQ 5KUVGOC ÂPKEQ de Segurança PĂşblica, entre outras normas e polĂticas pĂşblicas de proteção.13
6CODĂ&#x192;O C %GPVTCN FG #VGPFKOGPVQ ´ /WNJGT Ĺ&#x152; Ligue 180- constitui outro instrumento imRQTVCPVG RCTC Q CRGTHGKĂ QCOGPVQ FC TGFG FG RTQVGĂ ÂşQ ´ OWNJGT GO UKVWCĂ ÂşQ FG XKQNĂ&#x201E;PEKC 1 UGTXKĂ Q foi criado pela Secretaria de PolĂticas para Mulheres com o escopo de promover a orientação de mulheres em situação de violĂŞncia sobre seus direitos e sobre os serviços de proteção correspondente, alĂŠm de auxiliar no monitoramento da rede, por meio da reuniĂŁo de dados que compĂľem o diagnĂłstico da violĂŞncia no paĂs. Funciona por meio da disponibilização de um nĂşmero de utilidade pĂşblica, que pode ser acessado gratuitamente por mulheres de todo o territĂłrio nacional. 'PVGPFG UG PGEGUUÂśTKQ FGUVCECT CKPFC PGUVG VĂ&#x17D;RKEQ FC FKUEWUUÂşQ SWG C .GK 14 [...] cria mecanismos para coibir e prevenir a violĂŞncia domĂŠstica e familiar EQPVTC C OWNJGT PQU VGTOQU FQ h Q FQ CTV FC %QPUVKVWKĂ ÂşQ (GFGTCN FC %QPXGPĂ ÂşQ UQDTG C 'NKOKPCĂ ÂşQ FG 6QFCU CU (QTOCU FG 8KQNĂ&#x201E;PEKC EQPVTC C /WNJGT FC %QPXGPĂ ÂşQ +PVGTCOGTKECPC RCTC 2TGXGPKT 2WPKT G 'TTCFKECT C 8KQNĂ&#x201E;PEKC EQPVTC C /WNJGT G FG QWVTQU VTCVCFQU KPVGTPCEKQPCKU TCVKĹżECFQU RGNC RepĂşblica Federativa do Brasil; dispĂľe sobre a criação dos Juizados de ViolĂŞncia DomĂŠstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistĂŞncia e RTQVGĂ ÂşQ ´U OWNJGTGU GO UKVWCĂ ÂşQ FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G HCOKNKCT #TV
#UUKO C TGHGTKFC NGK FGĹżPG Q EQPEGKVQ FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G HCOKNKCT EQPVTC C OWNJGT de forma clara e objetiva como â&#x20AC;&#x153;[...] qualquer ação ou omissĂŁo baseada no gĂŞnero que lhe cause morte, lesĂŁo, sofrimento fĂsico, sexual ou psicolĂłgico e dano moral ou patrimonial.â&#x20AC;?
CTV 15 #NĂ&#x192;O FKUUQ FGĹżPG VKRQU G HQTOCU FG XKQNĂ&#x201E;PEKC TQORGPFQ C KFGKC FG SWG C XKQlĂŞncia se resumia aos tipos de violĂŞncia que deixassem marcas no corpo (como violĂŞncia fĂsica e sexual). O referido dispositivo legal avança categorizando a violĂŞncia psicolĂłgica, a violĂŞncia patrimonial e violĂŞncia moral tambĂŠm como formas de violĂŞncias importantes de
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serem efetivamente punidas e combatidas, especialmente pela sua ciclicidade e pela intensidade com que comprometem a saúde emocional da mulher, tolhendo-lhe a autoestima, a autodeterminação e atÊ sua motivação para viver, ou seja, matando-a em vida.
# &'.')#%+# '52'%+#. &# /7.*'4 &' 5Â&#x201C;1 .7 5 /# &+(+%7.&#DES NO ENFRENTAMENTO DA VIOLĂ&#x160;NCIA DOMĂ&#x2030;STICA CONTRA A MULHER A atuação da autoridade policial em crimes de violĂŞncia domĂŠstica contra a mulher estĂĄ RTGXKUVC PQ ECRĂ&#x2C6;VWNQ +++ CTVKIQU C FC .GK P FG .GK /CTKC FC 2GPJC # %KFCFG FG 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U /# RQUUWK CRGPCU WOC &GNGICEKC 'URGEKCN FC /WNJGT &'/ NQECNK\CFC na Avenida Beira Mar, Centro, responsĂĄvel por toda a demanda de casos de crimes de vioNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC QEQTTKFQU PC ECRKVCN 'O GPVTGXKUVC EQO C &GNGICFC FG 2QNĂ&#x2C6;EKC VKVWNCT FC &'/ FC ECRKVCN HQK KPHQTOCFQ SWG CVWCNOGPVG GZKUVGO CRGPCU &GNGICEKCU 'URGEKCKU FC /WNJGT GO VQFQ Q 'UVCFQ FQ /CTCPJÂşQ EQPVCPFQ EQO C WPKFCFG FC ECRKVCN FGUVCECPFQ SWG GPVTG QWVTCU FKĹżEWNFCFGU C RTKPEKRCN Ă&#x192; C HCNVC FG HWPEKQPÂśTKQU VGPFQ GO XKUVC C FGOCPda16. Destaque-se ainda que a referida delegacia atua com o mesmo contingente de pessoal e material hĂĄ quase uma dĂŠcada, tendo, em 2016, 8 estagiĂĄrios suprimidos de seu quadro de funcionĂĄrios. Nesse mesmo perĂodo, o nĂşmero de denĂşncias de violĂŞncias contra mulheres registrados diariamente na delegacia em questĂŁo tem crescido ano apĂłs ano. 'UENCTGEGW UG SWG QU RTQEGFKOGPVQU FG CVWCĂ ÂşQ UG FÂşQ RGNQ CVGPFKOGPVQ C OWNJGTGU vĂtimas de violĂŞncia de gĂŞnero, nĂŁo envolvendo crimes que nĂŁo tenham relação direta com a violĂŞncia de gĂŞnero, estando a violĂŞncia domĂŠstica dentro desses crimes. #RĂ&#x17D;U Q TGIKUVTQ FC QEQTTĂ&#x201E;PEKC RGNC XĂ&#x2C6;VKOC UÂşQ PQVKĹżECFCU G QWXKFCU CU VGUVGOWPJCU colhidas as eventuais provas e encaminhamento da vĂtima para exame de corpo de delito, SWCPFQ PGEGUUÂśTKQ 1 KPSWĂ&#x192;TKVQ RQNKEKCN CRĂ&#x17D;U TGCNK\CFQ TGNCVĂ&#x17D;TKQ ĹżPCN Ă&#x192; GPECOKPJCFQ RCTC C 8CTC %TKOKPCN 'URGEKCNK\CFC G EQPUGSWGPVGOGPVG FCFC XKUVC CQ /KPKUVĂ&#x192;TKQ 2Ă&#x2022;DNKEQ 6QFQ GUUG RTQEGFKOGPVQ FG CVGPFKOGPVQ PC &'/ FG 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U /# ´ OWNJGT XĂ&#x2C6;VKOC FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC RCTGEG GĹżEKGPVG G UCVKUHCVĂ&#x17D;TKQ OCU PÂşQ 'O XKUKVC TGCNK\CFC PC TGHGTKFC &GNGICEKC 'URGEKCNK\CFC EQPUVCVQW UG SWG PÂşQ JÂś OĂ&#x192;FKEQ NGIKUVC GURGEKCNK\CFQ RCTC C realização dos exames de corpo de delitos nas vĂtimas, uma vez que sĂł existe um Instituto /Ă&#x192;FKEQ .GICN +/. PC EKFCFG FG 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U /# EQO OĂ&#x192;FKEQU NGIKUVCU TGURQPUÂśXGKU RGNQ CVGPdimento geral, sem divisĂŁo de especialidade (o que, alĂŠm de redundar em atrasos na juntada FQU NCWFQU PQU KPSWĂ&#x192;TKVQU KORQUUKDKNKVC WOC RTGUVCĂ ÂşQ FG UGTXKĂ Q CFGSWCFQ G JWOCPK\CFQ ´ XĂ&#x2C6;VKOC #FGOCKU HQK KPFKECFQ RGNC RTĂ&#x17D;RTKC &GNGICFC C GZKUVĂ&#x201E;PEKC FG WO PĂ&#x2022;OGTQ KPUWĹżEKGPVG FG GUETKXÂşGU G CIGPVGU FG RQNĂ&#x2C6;EKC CVWCPFQ PC &GNGICEKC 'URGEKCNK\CFC FC /WNJGT 'UUC ECTĂ&#x201E;PEKC PQ CVGPFKOGPVQ KPKEKCN UG GUVGPFG RQT VQFC VTCLGVĂ&#x17D;TKC FC OWNJGT XĂ&#x2C6;VKOC FG XKQNĂ&#x201E;PEKC SWG CQ RTQEWTCT Q CORCTQ FQ 2QFGT FQ 'UVCFQ CECDC RQT UG GZRQT C QWVTQ VKRQ
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de violĂŞncia, uma violĂŞncia institucional, uma vez que nĂŁo tem o seu direito de proteção CUUGIWTCFQ RQT KPIGTĂ&#x201E;PEKC G QOKUUÂşQ FQ RQFGT GUVCFWCN CNĂ&#x192;O FC HCNVC FG CEGUUQ C OGKQU GĹżcientes e capazes de oferecer e garantir minimamente a sua proteção. O MinistĂŠrio da SaĂşde17 FGĹżPG 8KQNĂ&#x201E;PEKC +PUVKVWEKQPCN EQOQ CSWGNC GZGTEKFC PQU RGNQU RTĂ&#x17D;RTKQU UGTXKĂ QU RĂ&#x2022;DNKEQU RQT CĂ ÂşQ QW QOKUUÂşQ 2QFG KPENWKT FGUFG C FKOGPUÂşQ OCKU CORNC FC HCNVC FG CEGUUQ ´ UCĂ&#x2022;FG RQT exemplo, atĂŠ a mĂĄ qualidade dos serviços prestados. Abrange desde abusos cometidos em XKTVWFG FCU TGNCĂ Ă?GU FG RQFGT FGUKIWCKU GPVTG WUWÂśTKQU G RTQĹżUUKQPCKU FGPVTQ FCU KPUVKVWKĂ Ă?GU CVĂ&#x192; CVWCĂ Ă?GU RTQĹżUUKQPCKU KORGTKVCU KORTWFGPVGU G QW QOKUUCU 1 SWG UG FGUVCEC CSWK PÂşQ Ă&#x192; C KPGĹżEKĂ&#x201E;PEKC QW QOKUUÂşQ PQ CVGPFKOGPVQ FCU XĂ&#x2C6;VKOCU RGNQU RTQĹżUUKQPCKU SWG CVWCO PC &'/ FG 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U OCU C HCNVC FG QTĂ COGPVQ RĂ&#x2022;DNKEQ FGUVKPCFQ RCTC GUUC Ă&#x2022;PKEC &GNGICEKC FC /WNJGT PC EKFCFG FG 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U /# Q SWG CECTTGVC EQPHQTOG relatou a Delegada, no atendimento insatisfatĂłrio por falta de corpo tĂŠcnico, estrutura fĂsica FC &GNGICEKC G PĂ&#x2022;OGTQ FG UGTXKFQTGU UWĹżEKGPVG RCTC FCT EQPVC FC KPUVTWĂ ÂşQ FG SWCUG OKN inquĂŠritos anuais. # &'/ &' 5Â&#x201C;1 .7 5 ' #5 2'%7.+#4+&#&'5 01 #6'0&+/'061 Â? /7.*'4 8 6+/# &' 8+1.Â?0%+# &1/Â&#x153;56+%# # &GNGICFC FGUVCEQW CKPFC SWG PC CVWCĂ ÂşQ LWPVQ ´ OWNJGT XĂ&#x2C6;VKOC FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC GZKUVGO CURGEVQU SWG HQIGO FC GUHGTC GUVTKVC FC CVWCĂ ÂşQ RQNKEKCN 'NWEKFQW UG SWG C CVWCĂ ÂşQ GO ETKOGU FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC GZKIG WOC SWCNKĹżECĂ ÂşQ VĂ&#x192;EPKEC GURGEĂ&#x2C6;ĹżEC PQ SWG VCPIG ´ EQORTGGPUÂşQ FQU HGPĂ?OGPQU FC XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G FC XKQNĂ&#x201E;PEKC FG IĂ&#x201E;PGTQ FG OQFQ SWG Q RTQĹżUUKQPCN GUVGLC UGORTG CVGPVQ ´ XWNPGTCDKNKFCFG FC XĂ&#x2C6;VKOC GO UWCU OCKU diferentes facetas, alĂŠm da necessidade de a autoridade policial ter a capacidade de realizar o encaminhamento da vĂtima para a defensoria pĂşblica e para a casa abrigo da mulher, GFWECĂ ÂşQ LWTĂ&#x2C6;FKEC FCU XĂ&#x2C6;VKOCU SWCPVQ C UGWU FKTGKVQU G SWCPVQ ´ CVWCĂ ÂşQ FG VQFC C TGFG FG proteção que existe para a mulher vĂtima de violĂŞncia domĂŠstica. Autores como Menezes18 destacam a dependĂŞncia financeira da vĂtima como um FQU RTKPEKRCKU HCVQTGU TGNCEKQPCFQU ´ TGUKUVĂ&#x201E;PEKC G CQ OGFQ FC XĂ&#x2C6;VKOC GO FGPWPEKCT Q agressor, uma vez que aquele que agride pode tambĂŠm ser o principal mantenedor da casa. Novas pesquisas, inclusive a realizada pela Vara de ViolĂŞncia DomĂŠstica e Familiar %QPVTC C /WNJGT FC %QOCTEC FG 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U UQDTG Q RGTHKN FC XĂ&#x2C6;VKOC FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC tĂŞm demonstrado que muitas das vĂtimas possuem atividade remunerada,19 o que chama a atenção para outros fatores que compĂľe a vulnerabilidade da vĂtima: falta de apoio familiar para o prosseguimento das denĂşncias, introjeção de valores sociais e religiosos SWG KORWVCO ´ OWNJGT C Ĺ&#x2018;PGEGUUKFCFGĹ&#x2019; FG UQHTGT ECNCFC C HKO FG PÂşQ Ĺ&#x2018;RTGLWFKECTĹ&#x2019; Q RCK de seus filhos, marido ou ex-marido e atĂŠ a vinculação afeto sexual passada ou presente mantida com o agressor.
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# &'/ FG 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U /# KPHQTOQW SWG PQ CPQ FG HQTCO KPKEKCFQU EGTEC FG (novecentos) inquĂŠritos policiais para investigar possĂveis casos de violĂŞncia contra a mulher. Isso evidencia que a violĂŞncia de gĂŞnero contra a mulher constitui um grave problema de UCĂ&#x2022;FG G UGIWTCPĂ C RĂ&#x2022;DNKEC ETGUEGPVGU PQ OWPKEĂ&#x2C6;RKQ FG 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U /# A estimativa feita pelo Mapa da ViolĂŞncia 2015: homicĂdio de mulheres no Brasil, com base em dados de 2013 do MinistĂŠrio da SaĂşde, alerta para o fato de ser a violĂŞncia domĂŠstica e familiar a principal forma de violĂŞncia letal praticada contra as mulheres no Brasil.20 Â&#x153; KORQTVCPVG FGUVCECT SWG CRGUCT FG C .GK /CTKC 2GPJC PÂşQ VGT EQOQ HQEQ Q JQOKEĂ&#x2C6;FKQ de mulheres, parte-se do pressuposto de que a violĂŞncia domĂŠstica ocorre em ciclos, em que, â&#x20AC;&#x153;muitas vezes, hĂĄ um acirramento no grau de agressividade envolvida, que, eventualmente, TGFWPFC OWKVCU XG\GU FG HQTOC KPGURGTCFC PC OQTVG FQ EĂ?PLWIGĹ&#x2019; 21 por isso seria razoĂĄvel imaginar que a lei, ao fazer cessar ciclos de agressĂľes intrafamiliares, gere tambĂŠm um efeito de segunda ordem para fazer diminuir os homicĂdios ocasionados por questĂľes domĂŠsticas e de gĂŞnero. A RGUSWKUC #XCNKCPFQ C 'HGVKXKFCFG FC .GK /CTKC FC 2GPJC22 CRQPVQW SWG C .GK P 11.340/2006 fez diminuir, em cerca de 10%, a taxa de homicĂdios contra mulheres praticados FGPVTQ FCU TGUKFĂ&#x201E;PEKCU FCU XĂ&#x2C6;VKOCU /WKVQ GODQTC GUUG FCFQ UKIPKĹżSWG SWG OKNJCTGU FG OWNJGTGU FGKZCTCO FG UQHTGT JQOKEĂ&#x2C6;FKQU PQ $TCUKN JÂś SWG UG CXCPĂ CT PQ SWG VCPIG ´ UWC GHGVKXKFCFG A delegada, quando questionada sobre sua visĂŁo em relação aos motivos do nĂşmero crescente de registros de crimes de violĂŞncia domĂŠstica, destacou que tem observado uma mudança de postura da mulher vĂtima de violĂŞncia nos Ăşltimos anos. As mulheres alcançaram OCKQT CWVQPQOKC ĹżPCPEGKTC EQPUEKĂ&#x201E;PEKC FQU UGWU FKTGKVQU G GODQTC GO OWKVQU ECUQU PÂşQ desejem a separação do agressor, tendem a nĂŁo se submeterem tĂŁo passivamente a situaçþes de violĂŞncia. NĂŁo obstante estejam sempre em evidĂŞncia as violĂŞncias fĂsicas, como lesĂŁo corporal EKTEWPUETKVC ´ NGUÂşQ ´ KPVGITKFCFG HĂ&#x2C6;UKEC FC XĂ&#x2C6;VKOC CU FGOCKU HQTOCU FG XKQNĂ&#x201E;PEKCU EQOQ C RUKEQNĂ&#x17D;IKEC G C OQTCN EQOGĂ CO VCODĂ&#x192;O C UGT KFGPVKĹżECFCU RGNC XĂ&#x2C6;VKOC EQOQ CVQU XKQNGPVQU A pesquisadora Isadora Vier Machado, em sua tese de doutorado, destacou que: No campo normativo-legal as violĂŞncias psicolĂłgicas contra mulheres ganharam destaque na dĂŠcada de 1990, sua acolhida institucional aconteceu, no Brasil, WO RQWEQ CPVGU FC CRTQXCĂ ÂşQ FC .GK GO GUVTWVWTCU IQXGTPCOGPVCKU 10)Ĺ&#x17D;U EQNGVKXQU HGOKPKUVCU GVE 'UVGXG EQPVWFQ NKICFC ´ OQDKNK\CĂ ÂşQ RQNĂ&#x2C6;VKEC que impulsionou a criação e implementação do diploma legal. Aos poucos, a categoria violĂŞncia psicolĂłgica começa a aparecer nos registros brasileiros, ganhando projeção e sendo referida com frequĂŞncia.23
Isso quer dizer que o reconhecimento da violĂŞncia psicolĂłgica como forma de violĂŞncia no campo normativo-legal ĂŠ relativamente novo no Brasil, entretanto tem sido apontado como uma das principais formas de violĂŞncia contra a mulher e, de modo crescente, tem 68
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sido reconhecido pela vĂtima, embora normalmente relacionado ao crime de ameaça ou insulto. Todavia, ĂŠ importante destacar que o tipo penal da violĂŞncia psicolĂłgica, previsto PC .GK /CTKC FC 2GPJC CTV ++ Ă&#x192; OCKU CDTCPIGPVG SWG WO EQPUVTCPIKOGPVQ RTQXGPKGPVG de ameaça ou humilhação e ĂŠ um tipo penal isolado, nĂŁo precisando estar acompanhado de WOC CITGUUÂşQ HĂ&#x2C6;UKEC RCTC SWG UGLC FGPWPEKCFQ G RWPKFQ # .GK RTGXĂ&#x201E; SWG Art. 7o SĂŁo formas de violĂŞncia domĂŠstica e familiar contra a mulher, entre outras: II - a violĂŞncia psicolĂłgica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas açþes, comportamentos, crenças e decisĂľes, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito FG KT G XKT QW SWCNSWGT QWVTQ OGKQ SWG NJG ECWUG RTGLWĂ&#x2C6;\Q ´ UCĂ&#x2022;FG RUKEQNĂ&#x17D;IKEC G ´ CWVQFGVGTOKPCĂ ÂşQ 24
Nesse sentido, ĂŠ fundamental o papel da autoridade policial, do defensor pĂşblico e do MinistĂŠrio PĂşblico no reconhecimento da prĂĄtica da violĂŞncia psicolĂłgica, mesmo que a vĂtima, a princĂpio, nĂŁo tenha consciĂŞncia de que tambĂŠm ĂŠ vĂtima desse tipo de violĂŞncia. Quanto aos motivos que levam a mulher a nĂŁo chegar a registrar ocorrĂŞncia contra o agressor, de acordo com Dias,25 vĂĄrios sĂŁo os motivos pelos quais a primeira agressĂŁo sofrida, geralmente, nĂŁo Ă&#x192; FGPWPEKCFC C OWNJGT RQFG XKXGPEKCT WO EQPĆ&#x20AC;KVQ RQT PÂşQ FGUGLCT UGRCTCT UG FQ EQORCPJGKTQ ou nĂŁo desejar a punição do agressor, pois apenas pretende que cessem as agressĂľes. AlĂŠm disso, FG CEQTFQ EQO C OGUOC CWVQTC HTGSWGPVGOGPVG CU OWNJGTGU RTQEWTCO LWUVKĹżECT CU CVKVWFGU FQ vitimador, por meio de argumentos, como o ciĂşme e a proteção, que acreditam ser demonstraçþes de amor. Atribuem ainda a fatores externos, como o estresse, decorrente principalmente FQ VTCDCNJQ FCU FKĹżEWNFCFGU ĹżPCPEGKTCU G FQ ECPUCĂ Q QU CVQU XKQNGPVQU EQPVTC GNCU RTCVKECFQU TambĂŠm o ĂĄlcool ĂŠ um dos motivos alegados pela maioria das vĂtimas para explicar o comportamento agressivo de seus parceiros. Gregori26 argumenta que o ĂĄlcool estimula esse tipo de comportamento dos homens, mas age apenas como um catalisador de uma vontade preexistente, havendo, portanto, uma intenção prĂŠvia ao consumo de ĂĄlcool de ferir a integridade fĂsica da mulher. AlĂŠm disso, o mesmo autor revela que, quando hĂĄ o desejo de se separar do marido, essa ideia vem sempre acompanhada por sentimentos de culpa e vergonha pela situação em que vive, por medo, impotĂŞncia e vulnerabilidade geral da vĂtima. 1U OGKQU FG EQOWPKECĂ ÂşQ VĂ&#x201E;O VTC\KFQ ´ OĂ&#x2C6;FKC GUUG VKRQ FG XKQNĂ&#x201E;PEKC G CU RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKcas disponĂveis para o amparo das vĂtimas o que, consequentemente, trouxe, de acordo com C &GNGICFC FC &'/ FG 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U /# OCKQT EQPUEKGPVK\CĂ ÂşQ FC OWNJGT XĂ&#x2C6;VKOC FG XKQNĂ&#x201E;PEKC domĂŠstica das mais diferentes classes sociais sobre seus direitos. Outro tipo de avanço, no âmbito da atuação policial, estĂĄ relacionado ao uso da tecnologia no serviço de proteção da XĂ&#x2C6;VKOC EQOQ Q WUQ FG VQTPQ\GNGKTCU GNGVTĂ?PKECU Ĺ&#x2018;DQVÂşQ FG UQEQTTQĹ&#x2019; GVE
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# TGCNKFCFG Ă&#x192; SWG PÂşQ GZKUVGO QĹżEKCKU FG RQNĂ&#x2C6;EKC FKURQPĂ&#x2C6;XGKU RCTC TGCNK\CT C XKIKN¸PEKC de todas as mulheres que possuem deferimento de uma Medida Protetiva de UrgĂŞncia a seu HCXQT &G CEQTFQ EQO FCFQU FKXWNICFQU PQ ) /CTCPJÂşQ GO LWNJQ FG Q 'UVCFQ FQ MaranhĂŁo possui 1 (um) policial militar para 816 (oitocentos e dezesseis) habitantes27. Isso HC\ SWG TGEWTUQU EQOQ VQTPQ\GNGKTCU GNGVTĂ?PKECU RCTC QU CITGUUQTGU G Q Ĺ&#x2018;DQVÂşQ FG UQEQTTQĹ&#x2019; RCTC C XĂ&#x2C6;VKOC UGLCO KPUVTWOGPVQU HWPFCOGPVCKU PC GĹżEÂśEKC FC OGFKFC FG WTIĂ&#x201E;PEKC G RTQVGĂ ÂşQ da mulher violentada. A autoridade policial, de modo geral, ĂŠ o ĂłrgĂŁo responsĂĄvel por grande parte do primeiro CVGPFKOGPVQ SWG C OWNJGT XĂ&#x2C6;VKOC FG XKQNĂ&#x201E;PEKC RCUUC CQ DWUECT CLWFC G CORCTQ FQ 'UVCFQ sendo essencial que esse atendimento seja realizado por pessoas com capacitação tĂŠcnica e conhecimento transdisciplinar, de modo que nĂŁo haja revitimização ou mesmo violĂŞncia KPUVKVWEKQPCN EQPVTC GUUC OWNJGT SWG XĂ&#x201E; PQ 'UVCFQ Q UGW Ă&#x2022;NVKOQ QW Ă&#x2022;PKEQ TGEWTUQ #NĂ&#x192;O disso, a qualidade da instrução do inquĂŠrito policial ĂŠ determinante para o oferecimento da denĂşncia e, consequentemente, para a condenação do rĂŠu.
4 A VARA ESPECIALIZADA DE VIOLĂ&#x160;NCIA DOMĂ&#x2030;STICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER: ATUAĂ&#x2021;Ă&#x192;O NA CIDADE DE SĂ&#x192;O LUĂ?S 0C EKFCFG FG 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U /# JÂś CRGPCU WOC 8CTC 'URGEKCNK\CFC EQO CVWCĂ ÂşQ GO crimes de violĂŞncia domĂŠstica contra a mulher. Considerando aspectos quantitativos, foi informado pela Vara que, em mĂŠdia, sĂŁo realizadas 12 (doze) audiĂŞncias por semana, PÂşQ UGPFQ GURGEKĹżECFQU SWCKU VKRQU FG CWFKĂ&#x201E;PEKCU GUVÂşQ KPENWĂ&#x2C6;FCU PGUUG FCFQ HQTPGEKFQ pela Vara (se relativas a MPUs, conciliação ou instrução processual, por exemplo); sĂŁo despachados, em mĂŠdia, 30 (trinta) procedimentos cautelares por semanas, nĂŁo havendo controle do tempo mĂŠdio das movimentaçþes destes. Destacou-se que sĂŁo priorizados os despachos referentes aos procedimentos cautelares em detrimento das açþes penais. A 8CTC PÂşQ KPHQTOQW GO TGNCĂ ÂşQ ´ SWCPVKFCFG UGOCPCN QW OGPUCN FG FGEKUĂ?GU FG OĂ&#x192;TKVQ condenatĂłrias e de absolvição. 'O TGNCĂ ÂşQ ´U UQNKEKVCĂ Ă?GU FG OGFKFCU RTQVGVKXCU RGUSWKUC KPUVKVWEKQPCN FQ 6,/#28 GXKFGPEKC SWG FCU OGFKFCU RTQVGVKXCU TGSWGTKFCU VĂ&#x201E;O FGEKUÂşQ EQPEGFGPFQ CU ´ requerente. Desse percentual, 27,5% das medidas solicitadas tĂŞm por objetivo o distanEKCOGPVQ FQ TGRTGUGPVCFQ GO TGNCĂ ÂşQ ´ TGRTGUGPVCPVG UGIWKFC FC RTQKDKĂ ÂşQ FG OCPVGT contato, 26,7%, e proibição de frequentar determinados locais, como a residĂŞncia e o local de trabalho da ofendida, 24%. 89% sĂŁo de Sentença InibitĂłria e 11% â&#x20AC;&#x153;outrosâ&#x20AC;?, nĂŁo sendo informado, no documento, a que esses â&#x20AC;&#x153;outrosâ&#x20AC;? se referem, de modo que nĂŁo UG RĂ?FG FGVCNJCT GUUG FCFQ O procedimento cautelar ĂŠ o mais simples, pois dispensa advogados e pode ser requerido por meio das Delegacias, Promotorias de Justiça, Casa da Mulher e atĂŠ pela prĂłpria vĂtima.
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No entanto, nĂŁo hĂĄ anĂĄlise de mĂŠrito nesse tipo de decisĂŁo, nĂŁo havendo, portanto, condenação do rĂŠu e/ou efetivo enfrentamento da gravidade da violĂŞncia denunciada. #EQPVGEG SWG C OGTC OGFKFC RTQVGVKXC PÂşQ FGVGTOKPC GĹżEÂśEKC RNGPC FG RTQVGĂ ÂşQ GObora possa inibir atos de violĂŞncia. Portanto, ĂŠ um equĂvoco entender que o grande nĂşmero de decisĂľes determinando medidas protetivas em favor da vĂtima ĂŠ um indicador de efetiva RTQVGĂ ÂşQ ´ OWNJGT XĂ&#x2C6;VKOC FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC 0ÂşQ UG GUVÂś CĹżTOCPFQ SWG C RQUUKDKNKFCFG FC OGFKFC RTQVGVKXC VTC\KFC EQO C .GK /CTKC FC 2GPJC .GK PQ PÂşQ UGLC WO KORQTVCPVG KPUVTWOGPVQ RTQEGUUWCN SWG XKUC C KPKDKT C RTÂśVKEC FG PQXQU CVQU FG XKQNĂ&#x201E;PEKC EQPVTC C XĂ&#x2C6;VKOC 'PVTGVCPVQ C TGCNKFCFG FQ /CTCnhĂŁo e de todo o Brasil ĂŠ a carĂŞncia de policiamento por habitante, sendo irracional pensar SWG UGO ĹżUECNK\CĂ ÂşQ QW OGKQU KPKDKVĂ&#x17D;TKQU GĹżEKGPVGU WOC OGTC FGEKUÂşQ LWFKEKCN FG CHCUVCOGPVQ irĂĄ impedir o agressor de se aproximar ou atĂŠ mesmo matar a vĂtima. &CFQU FKURQPKDKNK\CFQU RGNC m 2TQOQVQTKC FG ,WUVKĂ C 'URGEKCNK\CFC PC &GHGUC FC /WNJGT da Capital do MaranhĂŁo apontam que durante o ano de 2014 foram oferecidas 152 (cento e EKPSWGPVC G FWCU FGPĂ&#x2022;PEKCU G SWCTGPVC G UGVG CNGICĂ Ă?GU ĹżPCKU #KPFC PQ CPQ FG FQU 4729 processos em fase de instrução e julgamento, apenas 2 (dois) haviam transitado em julgado (ambos com sentença de absolvição); outros 13 (treze) possuĂam sentença de absolvição, mas sem que tenham transitado em julgado e 12 (doze) possuĂam sentença de condenação, mas sem transitar em julgado. Os 19 demais processos em fase de instrução e julgamento estavam UGO UGPVGPĂ C QW GURGTCPFQ CU CNGICĂ Ă?GU ĹżPCKU FC FGHGUC G WO GO UGITGFQ FG LWUVKĂ C 'UUGU FCFQU FGOQPUVTCO SWG OGUOQ UGPFQ QHGTGEKFCU FGPĂ&#x2022;PEKCU PQ CPQ FG CRGPCU RTQEGUUQU EJGICTCO ´ HCUG FG KPUVTWĂ ÂşQ G LWNICOGPVQ QW UGLC OCKU FC OGVCFG FQU RTQEGUUQU EQO FGPĂ&#x2022;PEKCU PÂşQ EJGICTCO ´ HCUG FG LWNICOGPVQ /CKU ITCXG CKPFC Ă&#x192; RGTEGDGT SWG FQU RTQEGUUQU SWG EJGICTCO ´ HCUG FG KPUVTWĂ ÂşQ G LWNICOGPVQ XKPVG PÂşQ QDVKXGTCO UGPVGPĂ C FGĹżPKVKXC GO G VQFCU CU EQPFGPCĂ Ă?GU PÂşQ RQUUWĂ&#x2C6;TCO UGPVGPĂ C VTCPUKVCFC GO LWNICFQ Q SWG UKIPKĹżEC SWG QU TĂ&#x192;WU GODQTC EQPFGPCFQU PÂşQ VKXGTCO as condenaçþes executadas. (QK GXKFGPEKCFQ RGNC 8CTC 'URGEKCNK\CFC GO FQEWOGPVCĂ ÂşQ FQ 6,/#30 que a maioria de suas decisĂľes sĂŁo em virtude das determinaçþes de Medidas Protetivas de UrgĂŞncia, o que nĂŁo Ă&#x192; PGEGUUCTKCOGPVG WO GTTQ 'O EQPVTCRCTVKFC Ă&#x192; WO EQORNGVQ GSWĂ&#x2C6;XQEQ RGPUCT SWG KPFKECĂ Ă?GU de medidas protetivas surtirĂŁo o efeito desejado quando o Poder JudiciĂĄrio nĂŁo tem sentenças de condenação transitadas em julgado, alimentando, senĂŁo a impunidade propriamente dita, a sensação de que agredir ou matar uma mulher nĂŁo acarreta punição efetiva. 'UVG VTCDCNJQ FGHGPFG SWG C KORWPKFCFG QW C UGPUCĂ ÂşQ FGNC Ă&#x192; WO FQU RTKPEKRCKU HCVQTGU que contribuem para os grandes Ăndices de todas as formas de violĂŞncia domĂŠstica e feminicĂdio no paĂs. NĂŁo existem estudos especializados ou profundos sobre a relação da impunidade e as taxas de violĂŞncia domĂŠstica, mas a anĂĄlise de alguns dados nacionais apontados na
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RGUSWKUC FG 9CKUGNĹżU\31 relacionando a população carcerĂĄria do Brasil e o nĂşmero de casos registrados de violĂŞncia contra a mulher corrobora com o entendimento de que existe impunidade para os crimes de violĂŞncia domĂŠstica em escala nacional no Brasil. Nos Ăşltimos levantamentos realizados pelo MinistĂŠrio da Justiça32 sobre a população carEGTÂśTKC CKPFC PÂşQ EQPUVC C VKRKĹżECĂ ÂşQ FQ ETKOG FG HGOKPKEĂ&#x2C6;FKQ UCPEKQPCFQ TGEGPVGOGPVG SWG deverĂĄ começar a ser incorporado em futuros levantamentos. Ainda assim, foram registradas, no Grupo de Crimes contra a Pessoa, um total de 2.450 pessoas (2.430 do sexo masculino e FQ HGOKPKPQ CEWUCFCU FG 8KQNĂ&#x201E;PEKC &QOĂ&#x192;UVKEC #TV h u FQ %Ă&#x17D;FKIQ 2GPCN 33, que correspondem a 188.866 pessoas de quem o Departamento PenitenciĂĄrio conseguiu completar as informaçþes.34 De acordo com o mesmo relatĂłrio, a população prisional total era de 607.731 RGUUQCU .QIQ EQPUGTXCPFQ CU RTQRQTĂ Ă?GU RQFG UG EJGICT ´ GUVKOCVKXC FG Q PĂ&#x2022;OGTQ FG pessoas privadas de liberdade por ViolĂŞncia DomĂŠstica (considerando o total de 607.731). 'PVTGVCPVQ RGNQ 5KUVGOC FG +PHQTOCĂ ÂşQ FG #ITCXQU FG 0QVKĹżECĂ ÂşQ 5+0#0 Ă&#x192; RQUUĂ&#x2C6;XGN XGTKĹżECT SWG HQTCO CVGPFKFCU RGNQ 575 GO WO VQVCN FG OKN OGPKPCU G OWNJGTGU XĂ&#x2C6;VKOCU FG XKQNĂ&#x201E;PEKC GZGTEKFC RQT RCKU RCTEGKTQU G GZ RCTEGKTQU ĹżNJQU KTOÂşQU CITGUUĂ?GU FG VCN KPVGPUKFCFG SWG FGOCPFCTCO CVGPFKOGPVQ OĂ&#x192;FKEQ 'UVKOC UG SWG FQU CVGPFKOGPVQU FG saĂşde no PaĂs sĂŁo realizados pelo SUS; assim, um total estimado de 107 mil meninas e mulheres devem ter sido atendidas em todo o sistema de saĂşde do PaĂs, vĂtimas de violĂŞncias domĂŠsticas. Considerando-se que, em 2014, havia, no Sistema PenitenciĂĄrio Nacional, por motivo de ViolĂŞncia DomĂŠstica, um nĂşmero estimado de 7.912 pessoas privadas de liberdade, condenadas ou aguardando julgamento, tem-se que, no limite, apenas 7,4% dos agressores domĂŠsticos, acusados de cometerem violĂŞncias relativamente sĂŠrias contra vĂtimas que demandaram atendimento no sistema de saĂşde do PaĂs, foram condenados ou estĂŁo esperando LWNICOGPVQ Ĺ&#x152; Q SWG PÂşQ UKIPKĹżEC SWG UGTÂşQ EQPFGPCFQU %QOQ C RGPC RTGXKUVC PQ #TV h FQ %Ă&#x17D;FKIQ 2GPCN Ă&#x192; FG OGUGU C CPQU RQFG UG UWRQT WO Ă&#x2C6;PFKEG FG EQPFGPCĂ ÂşQ CKPFC OGPQT SWG 'XKFGPEKCPFQ UG OCKU WOC XG\ o impĂŠrio da impunidade no paĂs para esse tipo de crime. #0Â?.+5' &15 &#&15 &15 241%'5515 &' 8+1.Â?0%+# &1/Â&#x153;56+%# 37' 64#/+6#4#/ 0# 8#4# '52'%+#.+<#&# &' 8+1.Â?0%+# &1/Â&#x153;56+%# ' (#/+.+#4 %1064# # /7.*'4 &# %1/#4%# &' 5Â&#x201C;1 .7 5 &' #%14&1 %1/ .'8#06#/'061 &1 #01 &' 'O TGNCVĂ&#x17D;TKQ FG RGUSWKUC KPUVKVWEKQPCN TGHGTGPVG CQU ECUQU FGPWPEKCFQU PC 8CTC 'URGEKCNK\CFC FG 8KQNĂ&#x201E;PEKC &QOĂ&#x192;UVKEC G (COKNKCT EQPVTC C /WNJGT PC EQOCTEC FG 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U PQ CPQ FG HQTCO EQORKNCFQU FCFQU GUVCVĂ&#x2C6;UVKEQU TGHGTGPVGU ´U XĂ&#x2C6;VKOCU CQU TĂ&#x192;WU CQU CVQU FG XKQNĂ&#x201E;PEKC ´U FGPĂ&#x2022;PEKCU G ´U OGFKFCU RTQVGVKXCU FG WTIĂ&#x201E;PEKC # RGUSWKUC TGCNK\CFC RQT uma equipe multidisciplinar, analisou 34% dos processos em tramitação naquela unidade,
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no perĂodo de janeiro a abril de 2014, relativos somente a casos de medidas protetivas de WTIĂ&#x201E;PEKC PQ VQVCN FG CĂ Ă?GU LWFKEKCKU 'O VTCOKVCXCO PC 8CTC 'URGEKCNK\CFC EGTEC de cinco mil processos, dos quais 473 foram distribuĂdos somente em 2015.35 3WCPVQ ´U XĂ&#x2C6;VKOCU FG CEQTFQ EQO C RGUSWKUC KPUVKVWEKQPCN EKVCFC FCU OWNJGTGU em situação de violĂŞncia, representantes em processos de Medidas Protetivas de UrgĂŞncia /27Ĺ?U PC 8CTC 'URGEKCNK\CFC FG 8KQNĂ&#x201E;PEKC &QOĂ&#x192;UVKEC G (COKNKCT EQPVTC C /WNJGT 8'VDFM, no ano de 2014, tinham entre 26 e 34 anos de idade; 60% eram solteiras, 20%, ECUCFCU G FGENCTCTCO GUVCT GO WO TGNCEKQPCOGPVQ FG WPKÂşQ GUVÂśXGN 'O CRGPCU RQT EGPVQ FQU RTQEGUUQU RGUSWKUCFQU HQK RQUUĂ&#x2C6;XGN KFGPVKĹżECT Q ITCW FG KPUVTWĂ ÂşQ FCU XĂ&#x2C6;VKOCU GO SWG FCU XĂ&#x2C6;VKOCU FQU RQUUWĂ&#x2C6;CO 'PUKPQ 5WRGTKQT EQORNGVQ UGIWKFQ RQT EQO 'PUKPQ /Ă&#x192;FKQ EQORNGVQ 3WCPVQ CQ GZGTEĂ&#x2C6;EKQ FG CVKXKFCFG TGOWPGTCFC FCU OWNJGTGU CĹżTOCTCO SWG GZGTEGO CNIWO VKRQ FG CVKXKFCFG TGOWPGTCFC PQU RTQEGUUQU GO SWG HQK RQUUĂ&#x2C6;XGN GZVTCKT VCN KPHQTOCĂ ÂşQ 1 KVGO TGHGTGPVG ´ TGPFC PÂşQ EQPUGIWKW ECRturar tal informação de forma vĂĄlida, uma vez que, em 96% dos autos, nĂŁo consta essa informação; 24,2% eram donas de casa, enquanto 11,1% eram empregadas domĂŠsticas e EQOGTEKÂśTKCU 1U DCKTTQU FG OQTCFKC OCKU KFGPVKĹżECFQU HQTCO %QTQCFKPJQ #PLQ FC )WCTFC G 6WTW FCU OWNJGTGU CĹżTOCTCO VGT ĹżNJQU EQO Q TGSWGTKFQ G FCU vĂtimas do estudo sĂŁo maranhenses.36 Da anĂĄlise dos dados descritos acima, destaque-se que a Vara em questĂŁo exclui de seu escopo de proteção mulheres meninas e idosas, mulheres homossexuais e mulheres transgĂŞneras, nĂŁo havendo qualquer instrução processual que inclua a proteção a essas ECVGIQTKCU FG OWNJGTGU PC 8CTC 'URGEKCNK\CFC CVĂ&#x192; OCTĂ Q FG #NĂ&#x192;O FKUUQ GUUGU FCFQU apresentados no relatĂłrio fornecido pelo TJMA37 evidenciam a precariedade dos inquĂŠritos policiais, com dados imprecisos, escassos de informaçþes mĂnimas sobre as vĂtimas e sobre os agressores. De acordo com Rabello e C. JĂşnior,38 o fator renda pode interferir diretamente para que a violĂŞncia aconteça, assim como o nĂvel de escolaridade. 8CNG FGUVCECT SWG GODQTC CNIWPU CWVQTGU TGNCEKQPGO C RQDTG\C ´ XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKca contra a mulher, ela tambĂŠm estĂĄ inserida em classes mĂŠdias e altas. Adeodato et al.39 TGNCVCO SWG HCOĂ&#x2C6;NKCU FG OCKQT RQFGT CSWKUKVKXQ FKURĂ?GO FG TGEWTUQU RQNĂ&#x2C6;VKEQU G GEQPĂ?OKEQU para, em muitos casos, ocultar a violĂŞncia domĂŠstica, surgindo, entĂŁo, uma alteração nos dados de violĂŞncia registrados. Quanto aos dados referentes aos rĂŠus, a faixa etĂĄria com maior incidĂŞncia ĂŠ entre 26 a 34 anos (29,5% do total); 61% sĂŁo solteiros, 20% sĂŁo casados e 13% vivem em uniĂŁo estĂĄvel; GO TGNCĂ ÂşQ ´ GUEQNCTKFCFG PÂşQ HQK RQUUĂ&#x2C6;XGN QDVGT FCFQ UKIPKĹżECVKXQ XKUVQ SWG GO FQU RTQEGUUQU PÂşQ EQPUVCXC GUUC KPHQTOCĂ ÂşQ 'O FQU RTQEGUUQU HQK KFGPVKĹżECFQ Q exercĂcio de alguma atividade remunerada pelo representado.
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#NIWPU CWVQTGU EQOQ )KHĹżP40 relacionam a violĂŞncia com o desemprego, jĂĄ que este RQFG GO CNIWPU ECUQU FGUGUVCDKNK\CT C KFGPVKFCFG OCUEWNKPC Q SWG HC\ SWG Q JQOGO VTCPUĹżTC a frustração com o desemprego, em forma de violĂŞncia, para as suas parceiras. 'O OCKU FG FQU RTQEGUUQU PÂşQ JCXKC KPHQTOCĂ ÂşQ UQDTG Q WUQ FG DGDKFC CNEQĂ&#x17D;NKEC PQ entanto, em 33%, foi apontado o uso abusivo de ĂĄlcool como um fator eliciador da violĂŞncia denunciada. Quanto ao uso de drogas, em 19%, foi apontada essa problemĂĄtica. Rabello e JĂşnior41 destacam que a violĂŞncia domĂŠstica contra a mulher ocorre, muitas vezes, devido ao alto consumo de ĂĄlcool pelos agressores. AlĂŠm disso, o referido autor aponta que estudos demonstram que o ĂĄlcool parece ser a droga mais nociva ao funcionamento familiar, pois, por ser aceito socialmente, passa a ser consumido em grandes quantidades, principalmente pelos JQOGPU +ORQTVCPVG FGUVCECT OCKU WOC XG\ SWG Q CVQ FG XKQNĂ&#x201E;PEKC PÂşQ UG LWUVKĹżEC CRGPCU pelo consumo do ĂĄlcool, ele ĂŠ apenas um catalizador da intenção de agressĂŁo. Um total de 40,1% dos agressores eram os ex-companheiros das representantes, enquanto 17,1% eram companheiros e 12,3%, esposos. Quanto aos bairros de maior incidĂŞncia, destacaram-se os Bairros Coroadinho (com 6,3%), seguido do Anjo da Guarda (4,1%) e SĂŁo Francisco/Ilhinha (2,9%). # CPÂśNKUG SWG UG HC\ FQ TGNCVĂ&#x17D;TKQ TGCNK\CFQ G FKURQPKDKNK\CFQ RGNC 8CTC 'URGEKCNK\CFC Ă&#x192; FG que se trata de um documento meramente quantitativo de exposição de dados, restringindo UG C RGTĹżU UQEKCKU FG XĂ&#x2C6;VKOCU G CITGUUQTGU Q SWG PÂşQ CLWFC C EQORTGGPFGT Q HGPĂ?OGPQ FC XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC EQPVTC C OWNJGT CNĂ&#x192;O FG PÂşQ RQUUKDKNKVCT TGĆ&#x20AC;GZĂ?GU GO TGNCĂ ÂşQ ´ GHGVKvidade da Vara no processamento e julgamento das lides em questĂŁo. 'O TGNCĂ ÂşQ CQU CVQU FG XKQNĂ&#x201E;PEKC RTCVKECFQU G GXKFGPEKCFQU PQ FQEWOGPVQ FQ 6,/# 42 34,4% sĂŁo de prĂĄtica de violĂŞncia psicolĂłgica; 29,2% de violĂŞncia moral/injĂşria; 24% de RTÂśVKEC FG XKQNĂ&#x201E;PEKC HĂ&#x2C6;UKEC 'O FQU ECUQU C XKQNĂ&#x201E;PEKC HQK RTCVKECFC FGPVTQ FG ECUC G Q KPEQPHQTOKUOQ EQO Q ĹżO FQ TGNCEKQPCOGPVQ CRCTGEGW EQOQ Q RTKPEKRCN OQVKXCFQT para a prĂĄtica da violĂŞncia, pontuando 26,3%, seguido de problemas decorrentes do uso abusivo e dependĂŞncia de ĂĄlcool e outras drogas, com 18,1% e do ciĂşme, com 13,3% do total. O maior percentual, entretanto, foi alcançando por â&#x20AC;&#x153;outros motivosâ&#x20AC;?, com 34,9%, em que mais uma vez nĂŁo foi possĂvel obter informaçþes do que o relatĂłrio incluiu dentro FC ENCUUKĹżECĂ ÂşQ Ĺ&#x2018;QWVTQUĹ&#x2019; O estudo realizado indica um dado interessante em relação ao percentual referente ´U XKQNĂ&#x201E;PEKCU RUKEQNĂ&#x17D;IKEC G OQTCN 1 OCKQT RGTEGPVWCN FGUUGU VKRQU FG XKQNĂ&#x201E;PEKCU FGOQPUVTC OCKQT TGEQPJGEKOGPVQ FGUUCU OQFCNKFCFGU FG ETKOG SWG CVĂ&#x192; C .GK /CTKC FC 2GPJC PÂşQ GTCO VKRKĹżECFCU EQO RTQRTKGFCFG EQOQ HQTOCU FG XKQNĂ&#x201E;PEKCU EQPVTC C OWNJGT 'UUGU FCFQU FGmonstram tambĂŠm um avanço nesse sentido, uma vez que as violĂŞncias psicolĂłgica e moral tĂŞm efeitos devastadores sobre a mulher, muitas vezes mais intensos e reincidentes que a violĂŞncia fĂsica.
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0Q SWG UG TGHGTG ´ QTKIGO FQU RTQEGUUQU EQO RGFKFQU FG OGFKFCU RTQVGVKXCU UÂşQ QTKIKPÂśTKCU FC &GNGICEKC 'URGEKCN FC /WNJGT FG QWVTCU KPUVKVWKĂ Ă?GU FC %CUC FG ReferĂŞncia da Mulher; 7%, Defensoria PĂşblica; e 6% solicitadas diretamente na prĂłpria Vara 'URGEKCN FC /WNJGT 43 entretanto sem informaçþes se foi a vĂtima que pessoalmente realizou o pedido de medida protetiva na Vara. 'UUG FCFQ OCKU WOC XG\ EQTTQDQTC EQO Q SWG HQTC FGHGPFKFQ PQ ECRĂ&#x2C6;VWNQ CPVGTKQT C respeito da importância da qualidade e do trabalho da autoridade policial, por ser ela a maior TGURQPUÂśXGN RGNQ RTKOGKTQ CVGPFKOGPVQ ´ OWNJGT XĂ&#x2C6;VKOC FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G FGOCKU formas de violĂŞncia de gĂŞnero. NĂŁo se pretende com a discussĂŁo da sĂntese desses dados esgotar a anĂĄlise referente a eles. Conforme bem elucidado na conclusĂŁo da referida pesquisa institucional do TJMA:44 1U TGUWNVCFQU FGUVC RGUSWKUC EQPĹżTOCO CNIWOCU KPHQTOCĂ Ă?GU LÂś TGIKUVTCFCU GO GUVWFQU CPVGTKQTGU G CRTGUGPVCO WO RQWEQ FC TGCNKFCFG FC EKFCFG FG 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U no intuito de contribuir, conforme anteriormente mencionado, nĂŁo sĂł para o conhecimento da realidade em que se encontra a mulher que sofre de violĂŞncia de gĂŞnero. Pretende-se, sim, contribuir para uma atuação mais responsĂĄvel e GĹżEC\ C RCTVKT FQ EQPJGEKOGPVQ FGUUC TGCNKFCFG RQT RCTVG FGUVC 8CTC 'URGEKClizada de ViolĂŞncia DomĂŠstica e Familiar, junto com as demais instituiçþes da TGFG FG CVGPĂ ÂşQ ´ OWNJGT GO UKVWCĂ ÂşQ FG XKQNĂ&#x201E;PEKC 8GTKĹżEC UG SWÂşQ PGEGUUÂśTKQ UG HC\ KPVGPUKĹżECT CU CĂ Ă?GU FG CNECPEG UQEKCN VCODĂ&#x192;O FG ECTÂśVGT RTGXGPVKXQ PQU mais diversos espaços sociais. Fundamental tambĂŠm ĂŠ a articulação do Poder JudiciĂĄrio com outras ĂĄreas de atuação do poder governamental, a exemplo das RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DKECU FG 5GIWTCPĂ C 5CĂ&#x2022;FG G 'FWECĂ ÂşQ
Para o relatĂłrio realizado pelo TJMA,45 TGRTGUGPVCFQ RGNC 8CTC 'URGEKCNK\CFC FG ViolĂŞncia DomĂŠstica e Familiar Contra a Mulher, um dado positivo e resultado da melhor CVWCĂ ÂşQ FCU KPUVKVWKĂ Ă?GU SWG EQORĂ?GO C 4GFG FG #VGPFKOGPVQ ´ /WNJGT GO 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U Ă&#x192; Q crescimento do nĂşmero de representaçþes criminais em 2014. Inferiu-se que esse crescimento pode tambĂŠm ser consequĂŞncia do investimento dessas instituiçþes em açþes preventivas e KPHQTOCVKXCU UQDTG C .GK 46 e principalmente demonstra que a mulher ludovicente VGO UG VQTPCFQ OGPQU VQNGTCPVG ´ XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC 2QT ĹżO ECDG C HCNC FG ,Ă&#x2022;NKQ ,CEQDQ 9CKUGNĹżU\ GO UGW GUVWFQ /CRC FC 8KQNĂ&#x201E;PEKC HomicĂdio de mulheres no Brasil: 4GEGPVGOGPVG 4CĂ&#x2022;N 'WIGPKQ <CHHCTQPK /KPKUVTQ FC 5WRTGOC %QTVG #TIGPVKPC e diretor do Departamento de Direito Penal e Criminologia na Universidade de Buenos Aires, colocava em uma entrevista: â&#x20AC;&#x153;Cada paĂs tem o nĂşmero de presos que decide politicamente terâ&#x20AC;?. Por minha conta e risco, complementaria C CĹżTOCĂ ÂşQ FQ KNWUVTG RTQHGUUQT Ĺ&#x2018;%CFC RCĂ&#x2C6;U VGO Q PĂ&#x2022;OGTQ FG HGOKPKEĂ&#x2C6;FKQU que decide politicamente ter, assim como o nĂşmero de condenaçþes por essa agressĂŁoâ&#x20AC;?.47
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5 CONSIDERAĂ&#x2021;Ă&#x2022;ES FINAIS # NWVC RGNQ ĹżO FC XKQNĂ&#x201E;PEKC EQPVTC C OWNJGT PQ $TCUKN VGXG EQOQ OCTEQ C .GK P FG FG CIQUVQ FG EQPJGEKFC RQT .GK /CTKC FC 2GPJC 'UVC HQK HTWVQ FG HCVQTGU EQPLWPVWrais, como pressĂľes internacionais pela defesa dos direitos humanos e erradicação da violĂŞncia contra a mulher, de vĂĄrias lutas das mulheres para que a violĂŞncia de gĂŞnero fosse vista como WOC SWGUVÂşQ FG RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU G CĹżTOCĂ ÂşQ FC PGEGUUKFCFG FG Q 'UVCFQ KPVGTXKT FG HQTOC direta por meio de leis e polĂticas pĂşblicas que erradicassem esse tipo de violĂŞncia, que detĂŠm as suas bases numa lĂłgica patriarcal de poder e dominação masculina de um lado e subordinação e opressĂŁo da mulher de outro. Contudo, as leis nĂŁo bastam. Ă&#x2030; preciso acionar um leque de polĂticas pĂşblicas que garantam e possibilitem a efetivação e disseminação dessa nova lĂłgica social baseada na ideia de que a violĂŞncia contra a mulher viola os direitos humanos e ĂŠ crime. 0GUUG UGPVKFQ Ă&#x192; FG HWPFCOGPVCN KORQTV¸PEKC CPCNKUCT Q VTCDCNJQ TGCNK\CFQ G CU FKĹżEWNFCFGU GPHTGPVCFCU RGNQU Ă&#x17D;TIÂşQU SWG CVWCO FKTGVCOGPVG LWPVQ ´ OWNJGT XĂ&#x2C6;VKOC FG XKQNĂ&#x201E;PEKC desde o primeiro contato com a autoridade policial responsĂĄvel pela instrução do inquĂŠrito policial atĂŠ a Ăşltima instância, representada pelo Poder JudiciĂĄrio, responsĂĄvel pela instrução do processo penal e detentor do poder de punir. 'XKFGPEKQW UG SWG C CVWCĂ ÂşQ GO ETKOGU FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC GZKIG WOC SWCNKĹżECĂ ÂşQ VĂ&#x192;EPKEC GURGEĂ&#x2C6;ĹżEC WOC XG\ SWG FGOCPFC WOC CVWCĂ ÂşQ VTCPUFKUEKRNKPCT FCSWGNGU SWG CVWCO HTGPVG CQ HGPĂ?OGPQ CNWFKFQ # EQORNGZKFCFG FQ HGPĂ?OGPQ GO SWGUVÂşQ KPENWK Q HCVQ FG C vĂtima e o agressor estarem unidos por elos afetivos pretĂŠritos ou presentes, de a violĂŞncia UGT EĂ&#x2C6;ENKEC FGĹżPKPFQ WOC XWNPGTCDKNKFCFG GURGEĂ&#x2C6;ĹżEC FC XĂ&#x2C6;VKOC GO GURGEKCN FGRGPFĂ&#x201E;PEKC ĹżPCPEGKTC G GOQEKQPCN CNĂ&#x192;O FG EQPĆ&#x20AC;KVQU HCOKNKCTGU UGFKOGPVCFQU HCEG ´ XKQNĂ&#x201E;PEKC UQHTKFC DaĂ a importância de um trabalho cada vez mais articulado e especializado por parte dos RTQĹżUUKQPCKU SWG CVWCO FKTGVCOGPVG LWPVQ ´ XĂ&#x2C6;VKOC VGPFQ GO XKUVC C PGEGUUKFCFG FG VQFC uma rede que envolve procedimento criminal, assistĂŞncia psicolĂłgica, social e jurĂdica, alĂŠm de proteção fĂsica e psicolĂłgica da mulher violentada. # &'/ FG 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U /# KPHQTOQW SWG PQ CPQ FG HQTCO KPKEKCFQU EGTEC FG 900 (novecentos) inquĂŠritos policiais para investigar possĂveis casos de violĂŞncia contra a OWNJGT GPVTGVCPVQ C m 2TQOQVQTKC FG ,WUVKĂ C 'URGEKCNK\CFC FG &GHGUC FC /WNJGT CRQPVC que, de acordo com seu controle interno, sĂł foram oferecidas 152 denĂşncias no ano de 2014 por aquela Promotoria de Justiça. Ă&#x2030; importante destacar que sĂł existem duas Promotorias FG ,WUVKĂ CU 'URGEKCNK\CFCU FG &GHGUC FC /WNJGT PC EKFCFG FG 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U G GO VGQTKC RQT WOC QW QWVTC RCUUCTCO Q VQVCN FQU KPSWĂ&#x192;TKVQU RQNKEKCKU KPKEKCFQU PC &'/ +UUQ SWGT FK\GT SWG em mĂŠdia, 450 inquĂŠritos deveriam ter passados por cada uma das Promotorias de Justiça 'URGEKCNK\CFCU EQPENWKPFQ UG SWG FGPĂ&#x2022;PEKCU QHGTGEKFCU UG VQTPC WO PĂ&#x2022;OGTQ KPGZRTGUUKXQ ao considerar a mĂŠdia de 450 inquĂŠritos. #FGOCKU CRGPCU RTQEGUUQU FQ VQVCN FCU FGPĂ&#x2022;PEKCU QHGTGEKFCU EJGICTCO ´ HCUG de instrução e julgamento, ou seja, mais da metade, 69,1%, dos processos com denĂşncias nĂŁo 76
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Atuação da autoridade policial e do poder judiciĂĄrio no combate Ă violĂŞncia domĂŠstica contra a mulher na cidade de SĂŁo LuĂs/MA
EJGICTCO ´ HCUG FG LWNICOGPVQ 1 SWG UG VQTPC CKPFC OCKU ITCXG Ă&#x192; RGTEGDGT SWG FGUUGU RTQEGUUQU SWG EJGICTCO ´ HCUG FG KPUVTWĂ ÂşQ G LWNICOGPVQ XKPVG PÂşQ QDVKXGTCO UGPVGPĂ C FGĹżPKVKXC GO G FCU UGPVGPĂ CU FG EQPFGPCĂ Ă?GU GO SWG GZKUVKTCO GO RTQEGUUQU FKUVTKDWĂ&#x2C6;FQU RCTC C m 2TQOQVQTKC FG ,WUVKĂ C 'URGEKCNK\CFC FG &GHGUC FC /WNJGT PGPJWO RQUUWĂ&#x2C6;C UGPVGPĂ C VTCPUKVCFC GO LWNICFQ +UUQ UKIPKĹżEC FK\GT SWG QU TĂ&#x192;WU GODQTC EQPFGPCFQU PÂşQ VKXGTCO as condenaçþes executadas, evidenciando-se a impunidade pelo prĂłprio sistema de justiça. 'ODQTC Q ETGUEKOGPVQ FQ PĂ&#x2022;OGTQ FG TGRTGUGPVCĂ Ă?GU ETKOKPCKU GO FGOQPUVTG SWG C OWNJGT FG 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U GUVGLC OGPQU VQNGTCPVG GO TGNCĂ ÂşQ ´ XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC esse dado isolado nĂŁo possui valor caso nĂŁo haja efetiva punição do agressor por parte do Poder JudiciĂĄrio. Nesse sentido, entende-se que a Vara de ViolĂŞncia DomĂŠstica e Familiar %QPVTC C /WNJGT FC %KFCFG FG 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U /# RTGEKUC TGRGPUCT C UWC CVWCĂ ÂşQ FKCPVG FQ RGqueno nĂşmero de processos que possuem decisĂľes de mĂŠrito e condenaçþes transitadas em julgado. Destaca-se que apenas focar em concessĂŁo de medidas protetivas de urgĂŞncia ĂŠ um equĂvoco, caso nĂŁo haja um esforço ainda maior para instrução e julgamento dos processos, uma vez que sem condenação efetiva do rĂŠu nĂŁo hĂĄ garantia de proteção, tampouco justiça. Apesar da existĂŞncia de avanços nas polĂticas sociais que garantem os direitos das mulheres, ainda hĂĄ muito a ser feito diante dos nĂşmeros crescentes de casos de violĂŞncia domĂŠstica, o que nos faz indagar se todas as polĂticas sociais estĂŁo sendo praticadas de forma efetiva no combate a esse tipo de violĂŞncia. # TGFG FG GPHTGPVCOGPVQ ´ XKQNĂ&#x201E;PEKC EQPVTC C OWNJGT UG DGO GUVTWVWTCFC EQPUVKVWK WOC polĂtica pĂşblica de imensurĂĄvel relevância, tendo em vista que o esforço se direciona a minimizar um problema que assume contornos cada vez mais graves no mundo e no Brasil, constituindo ITCXG XKQNCĂ ÂşQ FG FKTGKVQU JWOCPQU 0GUUG CURGEVQ Q GĹżEKGPVG VTCDCNJQ FC CWVQTKFCFG RQNKEKCN articulado com instituiçþes do sistema de justiça comprometidas e que assumam a sua responsabilidade diante da gravidade da violĂŞncia contra a mulher podem alcançar os reais objetivos FC .GK /CTKC FC 2GPJC 7OC RTQVGĂ ÂşQ NGICN RQT OGNJQT SWG UGLC PÂşQ IGTC GHGKVQU SWCPFQ estĂĄ apenas no papel; ĂŠ necessĂĄrio que toda a sociedade tome consciĂŞncia de que a violĂŞncia contra a mulher nĂŁo ĂŠ mais admitida no Brasil e que a impunidade nĂŁo encontra mais espaço. Para que o aumento dos casos de violĂŞncia contra a mulher deixe de ser uma realidade, PGEGUUKVC UG FG WO QNJCT OCKU CORNQ SWG WNVTCRCUUG CVWCĂ Ă?GU KUQNCFCU FCU &GNGICEKCU 'URGEKCKU FC /WNJGT 2TQOQVQTKCU 'UVCFWCKU G 8CTCU 'URGEKCNK\CFCU VCODĂ&#x192;O Ă&#x192; PGEGUUÂśTKQ SWG Q planejamento estratĂŠgico da rede seja pressuposto pelo envolvimento dos ĂłrgĂŁos federais, estaduais e municipais na tarefa de concretizar a proteção da vĂtima de violĂŞncia que recorre ´ RTQVGĂ ÂşQ FQ 'UVCFQ #UUKO FGXG JCXGT WO CRGTHGKĂ QCOGPVQ EQPUVCPVG UGLC RQT OGKQ FC FKUEWUUÂşQ EQPLWPVC FQU Ă&#x17D;TIÂşQU CEGTEC FCU FKĹżEWNFCFGU GPHTGPVCFCU G CNVGTPCVKXCU XKÂśXGKU UGLC RQT OGKQ FC CDGTVWTC FCU FGEKUĂ?GU KPUVKVWEKQPCKU ´ UQEKGFCFG EKXKN QTICPK\CFC SWG VCODĂ&#x192;O ĂŠ parte integrante da rede, alĂŠm do diĂĄlogo com a prĂłpria mulher em situação de violĂŞncia, sujeito central de toda a atenção estatal e destinatĂĄria dos esforços envolvidos na rede.
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Ressalta-se, neste trabalho, o papel fundamental das instituiçþes acadĂŞmicas maranhenses no sentido de produzir estudos e visibilizar dados voltados para o tema, de modo a analisar como tem sido realizado o enfrentamento da violĂŞncia contra a mulher e quais os principais pontos de dificuldades enfrentados pelas instituiçþes do sistema de justiça que atuam diretamente com a mulher vĂtima de violĂŞncia. Refletir criticamente sobre as fragilidades no atendimento prestado ĂŠ fundamental para a implementação de melhores açþes. 2QT ĹżO FGUVCEC UG OCKU WOC XG\ SWG C UWRGTCĂ ÂşQ FQ HGPĂ?OGPQ FC XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;Utica ultrapassa açþes isoladas da autoridade policial e do Poder JudiciĂĄrio. A polĂtica de enfrentamento dessa violĂŞncia engloba a segurança pĂşblica, educação, trabalho e renda, habitação e todas as secretarias e os ministĂŠrios no âmbito federal, estadual e municipal VTCDCNJCPFQ GO EQPLWPVQ RCTC GPHTGPVCT GUUG HGPĂ?OGPQ 0GUUG CPQ FG C .GK /CTKC da Penha completa dez anos, e o momento ĂŠ oportuno para maiores açþes de combate e prevenção da violĂŞncia domĂŠstica, uma vez que discussĂľes sobre o tema tĂŞm estado na pauta de diversas esferas governamentais.
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Atuação da autoridade policial e do poder judiciĂĄrio no combate Ă violĂŞncia domĂŠstica contra a mulher na cidade de SĂŁo LuĂs/MA
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%'437'+4# &CPKGN GV CN Avaliando a Efetividade da Lei Maria da Penha 4KQ FG ,CPGKTQ +2'# &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY KRGC IQX DT RQTVCN KOCIGU UVQTKGU 2&(U 6&U VFA RFH #EGUUQ GO dez. 2015. %'437'+4# &CPKGN GV CN Avaliando a Efetividade da Lei Maria da Penha 4KQ FG ,CPGKTQ +2'# &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY KRGC IQX DT RQTVCN KOCIGU UVQTKGU 2&(U 6&U VFA RFH #EGUUQ GO dez. 2015. 23 MACHADO, Isadora Vier. Da dor no corpo Ă dor na alma: uma leitura do conceito de violĂŞncia psicolĂłIKEC FC .GK /CTKC FC 2GPJC H 6GUG &QWVQTCFQ GO %KĂ&#x201E;PEKCU *WOCPCU 7PKXGTUKFCFG (GFGTCN de Santa Cataria, FlorianĂłpolis, 2013. p. 148. $4#5+. .GK P FG FG CIQUVQ FG %TKC OGECPKUOQU RCTC EQKDKT C XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G HCOKNKCT contra a mulher. &KÂśTKQ 1ĹżEKCN FC 7PKÂşQ, BrasĂlia, DF, 2006. DisponĂvel em: <http://www.planalto.gov. DT EEKXKNA ACVQ NGK N JVO 25 DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na justiça C GHGVKXKFCFG FC .GK FG EQODCVG ´ violĂŞncia domĂŠstica e familiar contra a mulher. 3. ed. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. )4')14+ /CTKC (KNQOGPC Cenas e queixas: um estudo sobre mulheres, relaçþes violentas e a prĂĄtica feminista. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. &CFQU QDVKFQU GO PQVĂ&#x2C6;EKC FKXWNICFC GO ) %#44#/+.1 %NCTKUUC /CTCPJÂşQ VGO C RKQT VCZC FQ RCĂ&#x2C6;U FG policial militar por habitantes. 2015. DisponĂvel em: <http://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2015/07/ maranhao-tem-pior-taxa-do-pais-de-policial-militar-por-habitantes.html>. Acesso em: 20 ago. 2015. 4Â?)1 0GNUQP /GNQ FG /QTCGU %QQTF ViolĂŞncia domĂŠstica contra a mulher: dados estatĂsticos da vara espeEKCNK\CFC FC EQOCTEC FG 5ÂşQ .WKU 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U 8CTC GURGEKCN FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G HCOKNKCT EQPVTC C OWNJGT &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR IGTGPEKCFQT VLOC LWU DT CRR YGDTQQV ĹżNGU RWDNKECECQ FCFQUAGUVCVQUVKEQUAFCAXCTCAGURGEKCNK\CFCAFCAEQOCTECAFGAUQQANWQUA ACPQA A A RFH #EGUUQ GO LWN &CFQU FQ EQPVTQNG RTKXCFQ TGCNK\CFQ RGNC m 2TQOQVQTKC FG ,WUVKĂ C 'URGEKCNK\CFC FC /WNJGT FC %CRKVCN FQ MaranhĂŁo atualizados atĂŠ dezembro de 2014. 4Â?)1 0GNUQP /GNQ FG /QTCGU %QQTF ViolĂŞncia domĂŠstica contra a mulher: dados estatĂsticos da XCTC GURGEKCNK\CFC FC EQOCTEC FG 5ÂşQ .WKU 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U 8CTC GURGEKCN FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G HCOKNKCT EQPVTC C OWNJGT &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR IGTGPEKCFQT VLOC LWU DT CRR YGDTQQV ĹżNGU RWDNKECECQ FCFQUAGUVCVQUVKEQUAFCAXCTCAGURGEKCNK\CFCAFCAEQOCTECAFGAUQQANWQUA ACPQA A A RFH Acesso em: 25 jul. 2015. 9#+5'.(+5< ,WNKQ ,CEQDQ Mapa da violĂŞncia 2015: homicĂdio de mulheres no Brasil. Rio de Janeiro: (.#%51 $TCUKN &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO YYY OCRCFCXKQNGPEKC QTI DT #EGUUQ GO FG\ $4#5+. /KPKUVĂ&#x192;TKQ FC ,WUVKĂ C +0(12'0 Levantamento nacional de informaçþes penitenciĂĄrias: junho de 2014. BrasĂlia: Departamento PenitenciĂĄrio Nacional/MJ, 2015. 1 #TV h FQ %Ă&#x17D;FKIQ 2GPCN GUVCDGNGEG EQOQ 8KQNĂ&#x201E;PEKC &QOĂ&#x192;UVKEC C NGUÂşQ EQTRQTCN SWCNKĹżECFC RGNC proximidade do vĂnculo familiar entre a vĂtima e o agressor: qualquer parente em linha reta - ascendentes QW FGUEGPFGPVGU EQNCVGTCKU CVĂ&#x192; Q UGIWPFQ ITCW Ĺ&#x152; KTOÂşQU G EĂ?PLWIG QW EQORCPJGKTQ 5GIWPFQ 9CKUGNĹżU\ FWCU TGUUCNXCU VĂ&#x201E;O FG UGT CKPFC EQNQECFCU PC CPÂśNKUG GURGEĂ&#x2C6;ĹżEC FGUUGU FCFQU GUUCU UÂşQ CU VKRKĹżECĂ Ă?GU RGPCKU FQU ETKOGU C OGUOC RGUUQC RQFG UGT CEWUCFC FG OCKU FG WO ETKOG RQTVCPVQ Q PĂ&#x2022;OGTQ FG ETKOGU VKRKĹżECFQU RQFG UGT KIWCN QW UWRGTKQT CQ PĂ&#x2022;OGTQ FG RGUUQCU GO TGIKOG FG RTKXCĂ ÂşQ FC liberdade; 2) os 2.450 crimes correspondem a 188.866 pessoas de quem o Departamento PenitenciĂĄrio 0CEKQPCN &'2'0 EQPUGIWKW EQORNGVCT CU KPHQTOCĂ Ă?GU 4Â?)1 0GNUQP /GNQ FG /QTCGU %QQTF ViolĂŞncia domĂŠstica contra a mulher: dados estatĂsticos da XCTC GURGEKCNK\CFC FC EQOCTEC FG 5ÂşQ .WKU 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U 8CTC GURGEKCN FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G HCOKNKCT EQPVTC C OWNJGT &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR IGTGPEKCFQT VLOC LWU DT CRR YGDTQQV ĹżNGU RWDNKECECQ FCFQUAGUVCVQUVKEQUAFCAXCTCAGURGEKCNK\CFCAFCAEQOCTECAFGAUQQANWQUA ACPQA A A RFH Acesso em: 25 jul. 2015. 4Â?)1 0GNUQP /GNQ FG /QTCGU %QQTF ViolĂŞncia domĂŠstica contra a mulher: dados estatĂsticos da XCTC GURGEKCNK\CFC FC EQOCTEC FG 5ÂşQ .WKU 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U 8CTC GURGEKCN FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G HCOKNKCT EQPVTC C OWNJGT &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR IGTGPEKCFQT VLOC LWU DT CRR YGDTQQV ĹżNGU RWDNKECECQ FCFQUAGUVCVQUVKEQUAFCAXCTCAGURGEKCNK\CFCAFCAEQOCTECAFGAUQQANWQUA ACPQA A A RFH Acesso em: 25 jul. 2015.
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4Â?)1 0GNUQP /GNQ FG /QTCGU %QQTF ViolĂŞncia domĂŠstica contra a mulher: dados estatĂsticos da XCTC GURGEKCNK\CFC FC EQOCTEC FG 5ÂşQ .WKU 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U 8CTC GURGEKCN FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G HCOKNKCT EQPVTC C OWNJGT &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR IGTGPEKCFQT VLOC LWU DT CRR YGDTQQV ĹżNGU RWDNKECECQ FCFQUAGUVCVQUVKEQUAFCAXCTCAGURGEKCNK\CFCAFCAEQOCTECAFGAUQQANWQUA ACPQA A A RFH Acesso em: 25 jul. 2015. 4#$'..1 2 / %#.&#5 ,Â0+14 # ( 8KQNĂ&#x201E;PEKC EQPVTC C OWNJGT EQGUÂşQ HCOKNKCT G FTQICU Rev. SaĂşde PĂşblica, v. 41, n. 6, p. 970-978, 2007. #&'1&#61 8 ) GV CN 3WCNKFCFG FG XKFC G FGRTGUUÂşQ GO OWNJGTGU XĂ&#x2C6;VKOCU FG UGWU RCTEGKTQU Revista SaĂşde PĂşblica, SĂŁo Paulo, v. 39, n. 1, p. 108-113, 2005. 40 GIFFIN, K. Pobreza, desigualdade e equidade em saĂşde: consideraçþes a partir de uma perspectiva de gĂŞnero transversal. Caderno de SaĂşde PĂşblica, Rio de Janeiro, v. 18, p. 103-112, 2002. 4#$'..1 2 / %#.&#5 ,Â0+14 # ( 8KQNĂ&#x201E;PEKC EQPVTC C OWNJGT EQGUÂşQ HCOKNKCT G FTQICU Rev. SaĂşde PĂşblica, v. 41, n. 6, p. 970-978, 2007. 4Â?)1 0GNUQP /GNQ FG /QTCGU %QQTF ViolĂŞncia domĂŠstica contra a mulher: dados estatĂsticos da XCTC GURGEKCNK\CFC FC EQOCTEC FG 5ÂşQ .WKU 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U 8CTC GURGEKCN FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G HCOKNKCT EQPVTC C OWNJGT &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR IGTGPEKCFQT VLOC LWU DT CRR YGDTQQV ĹżNGU RWDNKECECQ FCFQUAGUVCVQUVKEQUAFCAXCTCAGURGEKCNK\CFCAFCAEQOCTECAFGAUQQANWQUA ACPQA A A RFH Acesso em: 25 jul. 2015. 4Â?)1 0GNUQP /GNQ FG /QTCGU %QQTF ViolĂŞncia domĂŠstica contra a mulher: dados estatĂsticos da XCTC GURGEKCNK\CFC FC EQOCTEC FG 5ÂşQ .WKU 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U 8CTC GURGEKCN FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G HCOKNKCT EQPVTC C OWNJGT &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR IGTGPEKCFQT VLOC LWU DT CRR YGDTQQV ĹżNGU RWDNKECECQ FCFQUAGUVCVQUVKEQUAFCAXCTCAGURGEKCNK\CFCAFCAEQOCTECAFGAUQQANWQUA ACPQA A A RFH Acesso em: 25 jul. 2015. 4Â?)1 0GNUQP /GNQ FG /QTCGU %QQTF ViolĂŞncia domĂŠstica contra a mulher: dados estatĂsticos da XCTC GURGEKCNK\CFC FC EQOCTEC FG 5ÂşQ .WKU 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U 8CTC GURGEKCN FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G HCOKNKCT EQPVTC C OWNJGT &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR IGTGPEKCFQT VLOC LWU DT CRR YGDTQQV ĹżNGU RWDNKECECQ FCFQUAGUVCVQUVKEQUAFCAXCTCAGURGEKCNK\CFCAFCAEQOCTECAFGAUQQANWQUA ACPQA A A RFH Acesso em: 25 jul. 2015. 4Â?)1 0GNUQP /GNQ FG /QTCGU %QQTF ViolĂŞncia domĂŠstica contra a mulher: dados estatĂsticos da XCTC GURGEKCNK\CFC FC EQOCTEC FG 5ÂşQ .WKU 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U 8CTC GURGEKCN FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G HCOKNKCT EQPVTC C OWNJGT &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR IGTGPEKCFQT VLOC LWU DT CRR YGDTQQV ĹżNGU RWDNKECECQ FCFQUAGUVCVQUVKEQUAFCAXCTCAGURGEKCNK\CFCAFCAEQOCTECAFGAUQQANWQUA ACPQA A A RFH Acesso em: 25 jul. 2015. 4Â?)1 0GNUQP /GNQ FG /QTCGU %QQTF ViolĂŞncia domĂŠstica contra a mulher: dados estatĂsticos da XCTC GURGEKCNK\CFC FC EQOCTEC FG 5ÂşQ .WKU 5ÂşQ .WĂ&#x2C6;U 8CTC GURGEKCN FG XKQNĂ&#x201E;PEKC FQOĂ&#x192;UVKEC G HCOKNKCT EQPVTC C OWNJGT &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR IGTGPEKCFQT VLOC LWU DT CRR YGDTQQV ĹżNGU RWDNKECECQ FCFQUAGUVCVQUVKEQUAFCAXCTCAGURGEKCNK\CFCAFCAEQOCTECAFGAUQQANWQUA ACPQA A A RFH Acesso em: 25 jul. 2015. 9#+5'.(+5< ,WNKQ ,CEQDQ Mapa da violĂŞncia 2015: homicĂdio de mulheres no Brasil. Rio de Janeiro: (.#%51 $TCUKN &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO YYY OCRCFCXKQNGPEKC QTI DT #EGUUQ GO FG\
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Atuação da autoridade policial e do poder judiciário no combate à violência doméstica contra a mulher na cidade de São LuÃs/MA
THE PERFORMANCE OF POLICE AUTHORITIES AND THE JUDICIARY IN COMBATING DOMESTIC VIOLENCE AGAINST 91/'0 +0 6*' %+6; 1( 5Â&#x201C;1 .7+5 /# ABSTRACT In view of the increasing numbers in cases of domestic violence against YQOGP CPF QH VJG NCTIG FGÅ¿EKV QH UVWFKGU HQEWUGF QP CP GXCNWCVKQP QH VJG structure of public policies at local levels and their effects to curb gender violence, this article aims at conducting a collection of information and data relating to the services and activities of the Special Police Station for Women and the Specialized Jurisdiction on Women and Domestic 8KQNGPEG KP 5CP .WKU /# YJKEJ CTG TGURQPUKDNG TGURGEVKXGN[ HQT attending to victims and judging possible crimes of domestic violence CICKPUV YQOGP VQ FKUEWUU VJG OCKP FKHÅ¿EWNVKGU GPEQWPVGTGF D[ VJGUG bodies in performing their duties. It became clear that the assistance to YQOGP XKEVKOU QH FQOGUVKE QT HCOKN[ XKQNGPEG TGSWKTGU C URGEKÅ¿E VGEJPKECN SWCNKÅ¿ECVKQP UKPEG KV FGOCPFU VJG RGTHQTOCPEG QH VTCPUFKUEKRNKPCT[ activities by those who act against the aforementioned phenomenon in the Special Police Stations and in the Specialized Jurisdiction. Furthermore, it was concluded that the Specialized Jurisdiction for &QOGUVKE CPF (COKN[ 8KQNGPEG CICKPUV 9QOGP QH VJG %KV[ QH 5ºQ .WÃ&#x2C6;U MA needs to reframe its actions taking into account the inexpressive PWODGT QH ECUGU KP YJKEJ VJGTG JCXG DGGP OGTKV FGEKUKQPU CPF Å¿PCN convictions since its creation in 2008. To focus only on granting urgent protective measures, and considering such actions as being enough, is GZEGUUKXGN[ TGUVTKEVKPI VJG UEQRG QH RTQVGEVKQP VJCV .CY CKOU at achieving. Without procedural instructions which explicitly translate the transdisciplinary nature of the phenomenon of gender violence in KVU URGEKÅ¿EKV[ CPF EQORNGZKV[ VJGTG CTG PQ GHHGEVKXG IWCTCPVGGU HQT VJG protection of women victims of violence â&#x20AC;&#x201C; or the achievement of justice. Keywords: Domestic violence. Police Authorities. Judiciary Power. São .WKU /#
Submetido: 18 jun. 2016. Aprovado: 15 mar. 2017
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doi:10.12662/2447-6641oj.v15i20.p84-111.2017
A JUSTIĂ&#x2021;A CONSENSUAL DO TRIBUNAL MĂ&#x161;LTIPLAS PORTAS E A POLĂ?TICA PĂ&#x161;BLICA NORTE-AMERICANA DE TRATAMENTO DE CONFLITOS: CONTRIBUIĂ&#x2021;Ă&#x2022;ES AO MODELO BRASILEIRO Charlise Paula Colet Gimenez* 1 Consideraçþes iniciais. 2 A organização judiciĂĄria norte-americana no sistema jurĂdico do common law: o desenvolvimento das prĂĄticas de alternative dispute resolution
#&4 1 VTCVCOGPVQ FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ RGNQ multidoor courthouse system. 4 Consideraçþes ĹżPCKU 4GHGTĂ&#x201E;PEKCU
RESUMO O presente artigo tem como tema a justiça consensual e o tratamento de conĆ&#x20AC;KVQU EWLC FGNKOKVCĂ ÂşQ GUVÂś GO GUVWFCT Q OQFGNQ FQ 6TKDWPCN /Ă&#x2022;NVKRNCU 2QTVCU FQU 'UVCFQU 7PKFQU FC #OĂ&#x192;TKEC RCTC RQUUĂ&#x2C6;XGKU EQPVTKDWKĂ Ă?GU ´ RQNĂ&#x2C6;VKEC LWFKEKÂśTKC DTCUKNGKTC Ĺ&#x152; 4GUQNWĂ ÂşQ P FG FG PQXGODTQ FG FQ %QPUGNJQ 0CEKQPCN de Justiça brasileiro. O estudo, a partir do mĂŠtodo de abordagem hipotĂŠtico FGFWVKXQ G FQ OĂ&#x192;VQFQ FG RTQEGFKOGPVQ DKDNKQITœſEQ OGTGEG WOC CPÂśNKUG CRTQHWPFCFC FKCPVG FC FKĹżEWNFCFG FQU OGECPKUOQU VTCFKEKQPCKU CFQVCFQU RGNQ 2QFGT ,WFKEKÂśTKQ GO CVGPFGT UCVKUHCVQTKCOGPVG C VQFQU QU EQPĆ&#x20AC;KVQU UWDOGVKFQU CQ UGW LWNICOGPVQ DGO EQOQ RGNQU GPVTCXGU XGTKĹżECFQU PC EQPETGVK\CĂ ÂşQ FQU OĂ&#x192;VQFQU CWVQEQORQUKVKXQU PQ $TCUKN 2QT QWVTQ NCFQ C GZRGTKĂ&#x201E;PEKC PQU 'UVCFQU 7PKFQU FC #OĂ&#x192;TKEC C SWCN GUVWFC OGKQU EQORNGOGPVCTGU FG VTCVCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU FGUFG QU CPQU FG TGEQPJGEG WOC RQUVWTC FKEQVĂ?OKEC EQO C SWCN CU RTĂ&#x17D;RTKCU partes constroem suas respostas, considerando suas necessidades, seus interesses G C TGNCĂ ÂşQ GPVTG GNCU &GUUG OQFQ EQPUKFGTCPFQ CU ECTCEVGTĂ&#x2C6;UVKECU FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ o multiportas apresenta o mĂŠtodo mais adequado, o que garante a satisfação de VQFQU QU GPXQNXKFQU 0GUUG UGPVKFQ ICTCPVG Q CEGUUQ ´ LWUVKĂ C PQ UGPVKFQ CORNQ e fortalece a participação social do cidadĂŁo, fomentando uma cultura de paz, FG CNVGTKFCFG G FG VTCVCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU FG HQTOC SWCNKVCVKXC CFGSWCFQ ´U ECTCEVGTĂ&#x2C6;UVKECU FG ECFC RGUUQC G ´ VKRQNQIKC FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ Palavras-chave: 6TCVCOGPVQ FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ ,WUVKĂ C %QPUGPUWCN 6TKDWPCN /Ă&#x2022;Ntiplas Portas. Cultura de Paz. *
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Doutora em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul â&#x20AC;&#x201C; UNISC. Professora dos Cursos de Graduação, Mestrado e Doutorado em Direito da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das MissĂľes â&#x20AC;&#x201C; 74+ ECORWU 5CPVQ Â&#x2018;PIGNQ 45 %QQTFGPCFQTC FQ %WTUQ FG )TCFWCĂ ÂşQ GO &KTGKVQ FC 74+ ECORWU 5CPVQ Â&#x2018;PIGNQ 45 ' OCKN EJCTNKUGI"UCPVQCPIGNQ WTK DT
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A justiça consensual do Tribunal mĂşltiplas portas e a polĂtica pĂşblica norte-americana GH WUDWDPHQWR GH FRQĂ&#x20AC;LWRV FRQWULEXLo}HV DR PRGHOR EUDVLOHLUR
1 CONSIDERAĂ&#x2021;Ă&#x2022;ES INICIAIS 0QU 'UVCFQU 7PKFQU FC #OĂ&#x192;TKEC C CDQTFCIGO FG RTÂśVKECU EQORNGOGPVCTGU RCTC Q CFGSWCFQ VTCVCOGPVQ FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ RGNQ 6TKDWPCN /Ă&#x2022;NVKRNCU 2QTVCU KPKEKQW GO C RCTVKT FC %QPHGTĂ&#x201E;PEKC 2QWPF GO JQOGPCIGO CQ RTQHGUUQT 4QUEQG 2QWPF EWLQ QDLGVKXQ GTC TGĆ&#x20AC;GVKT acerca das causas da insatisfação no sistema judicial norte-americano. Para Pound, o qual FKUEWVKC CU FKĹżEWNFCFGU GPEQPVTCFCU RGNC CFOKPKUVTCĂ ÂşQ FC LWUVKĂ C JCXKC C RQUUKDKNKFCFG FG lançar um olhar otimista para o Direito, diante do cenĂĄrio na ĂŠpoca, por meio de ideias e VGQTKCU FG QWVTCU FKUEKRNKPCU #UUKO C CPÂśNKUG OWNVKFKUEKRNKPCT GPXQNXGPFQ 'EQPQOKC %KĂ&#x201E;PEKC 2QNĂ&#x2C6;VKEC (KNQUQĹżC 2UKEQNQIKC 5QEKQNQIKC G 4GNKIKÂşQ PC RTQFWĂ ÂşQ FQ &KTGKVQ RGTOKVKW um novo Direito adaptado a um mundo moderno e complexo.1 0GUUG TWOQ Q RTQHGUUQT FC 'UEQNC FG &KTGKVQ FC 7PKXGTUKFCFG FG *CTXCTF (TCPM Sander, desenvolveu o conceito do multidoor courthouse system UQD C LWUVKĹżECVKXC FG SWG Q VTCVCOGPVQ CFGSWCFQ CQ EQPĆ&#x20AC;KVQ RGTOKVG Q WUQ GĹżEKGPVG FQU TGEWTUQU RGNQU VTKDWPCKU CECTreta a redução de custos e de tempo pelas partes e pelo prĂłprio Poder JudiciĂĄrio; e diminui Q PĂ&#x2022;OGTQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU UWDUGSWGPVGU 0C Ă&#x192;RQEC GO SWG 5CPFGT CRTGUGPVQW UWC RTQRQUVC PÂşQ JCXKC PQ RCĂ&#x2C6;U PGPJWO EGPVTQ FG VTCVCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU TGIKUVTQ FG CFXQICFQ CEQPUGNJCPFQ por meio de petição o uso de mĂŠtodos complementares ou, ainda, autorização explĂcita dos tribunais para o seu uso. 'O JCXKC GUVCFQU PQTVG COGTKECPQU EQO EGPVTQU FG VTCVCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU um grande nĂşmero de petiçþes de advogados aconselhando o encaminhamento do processo RCTC WO VTCVCOGPVQ FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ FKXGTUQ FC CFLWFKECĂ ÂşQ G CWVQTK\CĂ Ă?GU GZRTGUUCU FQ 2QFGT JudiciĂĄrio para a adoção de tais mĂŠtodos. Ademais, estimou-se que em 2001, na FlĂłrida, esVCFQ SWG WVKNK\C CU RTÂśVKECU FG VTCVCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU PQ OCKU CNVQ ITCW FQ 2QFGT ,WFKEKÂśTKQ foram 113.000 processos encaminhados para os mĂŠtodos complementares.2 Destaca-se que, a partir da ConferĂŞncia de 1976, criou-se a DivisĂŁo de Melhoramentos na Administração da Justiça, com uma força-tarefa para avaliar e implementar as ideias lançadas no encontro, incorporada, tambĂŠm, pela American Bar Association (ABA)3, inclusive com leis estaduais e federal sobre o tema, como o dever ĂŠtico do advogado de avaliar FKHGTGPVGU HQTOCU FG TGUQNWĂ ÂşQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU GO UWCU CĂ Ă?GU 4 O professor, ao apresentar o Tribunal MĂşltiplas Portas, questionou â&#x20AC;&#x153;what are the sigPKĹżECPV EJCTCEVGTKUVKEU QH XCTKQWU CNVGTPCVKXG FKURWVG TGUQNWVKQP OGEJCPKOU UWEJ CU CFLWFKcation by courts, arbitration, mediation, negotiation, and various blends of these and other devices)?â&#x20AC;?5, bem como perguntou â&#x20AC;&#x153;how can these characteristics be utilized so that, given the variety of disputes that presently arise, we can begin to develop some rational criteria for allocating various types of disputes to different resolution processes?â&#x20AC;?.6 A consequĂŞncia FCU TGURQUVCU ´U RGTIWPVCU CPVGTKQTGU Ă&#x192; Q OGNJQT CLWUVG PQ GPECOKPJCOGPVQ FG ECUQU RCTC C CFLWFKECĂ ÂşQ G ECUQU RCTC QU FGOCKU OĂ&#x192;VQFQU EQORNGOGPVCTGU FG VTCVCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU 7
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A questĂŁo fundamental, portanto, centra-se em examinar as diferentes formas de TGUQNWĂ ÂşQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU G TGURQPFGT SWCKU RQTVCU UGTKCO CFGSWCFCU GO TGNCĂ ÂşQ C SWCKU EQPĆ&#x20AC;KVQU 8 A importância da presente discussĂŁo reside em escolher a ferramenta/mĂŠtodo mais GĹżEC\ RCTC C FKURWVC C SWCN FCTÂś CQU EQPĆ&#x20AC;KVCPVGU C OCKQT UCVKUHCĂ ÂşQ CQU UGWU KPVGTGUUGU 'O segundo lugar, importa em convencer o oponente acerca das vantagens em adotar formas EQORNGOGPVCTGU OCKU GURGEĂ&#x2C6;ĹżECU CQ EQPĆ&#x20AC;KVQ GO UK G GO VGTEGKTQ GO EQPXGPEGT Q VTKDWPCN do porquĂŞ da escolha de uma porta em detrimento de outra, ou vice-versa.9 Nesse sentido, o artigo ora apresentado tem por objetivo estudar a polĂtica pĂşblica PQTVG COGTKECPC FG VTCVCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU PQ UKUVGOC FQ common law, apresentando os seus OGECPKUOQU CRNKEÂśXGKU ´ UQNWĂ ÂşQ FQU NKVĂ&#x2C6;IKQU CPCNKUCPFQ CU EQPVTKDWKĂ Ă?GU FQ OQFGNQ PQTVG COGTKECPQ FQ 6TKDWPCN /Ă&#x2022;NVKRNCU 2QTVCU ´ RQNĂ&#x2C6;VKEC LWFKEKÂśTKC DTCUKNGKTC10 â&#x20AC;&#x201C; Resolução n. 125 do Conselho Nacional de Justiça, de 29 de novembro de 201011, a qual instituiu no Brasil WOC RQNĂ&#x2C6;VKEC FG VTCVCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU CRTGUGPVCPFQ C OGFKCĂ ÂşQ G C EQPEKNKCĂ ÂşQ EQOQ as formas autocompositivas, e determinando aos Tribunais a criação e a gestĂŁo de centros LWFKEKÂśTKQU FG TGUQNWĂ ÂşQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU G C ECRCEKVCĂ ÂşQ FQ VGTEGKTQ HCEKNKVCFQT
2 A ORGANIZAĂ&#x2021;Ă&#x192;O JUDICIĂ RIA NORTE-AMERICANA NO SISTEMA JURĂ?DICO DO COMMON LAW: O DESENVOLVIMENTO DAS PRĂ TICAS DE ALTERNATIVE DISPUTE RESOLUTION (ADR) 1 UKUVGOC LWTĂ&#x2C6;FKEQ PQTVG COGTKECPQ RQFG UGT ENCUUKĹżECFQ EQOQ common law12 misto, RQKU CRTGUGPVC WO XCNQT XKPEWNCPVG FG WOC TGITC FGĹżPKFC RQT WO CEĂ&#x17D;TFÂşQ FG WO 6TKDWPCN superior, considerada com efeitos universais, alĂŠm das partes no processo sub judice, ao lado da existĂŞncia de normas escritas por legisladores postados fora de atividade judicante, GXGPVWCNOGPVG EQO JKGTCTSWKC UWRGTKQT ´SWGNCU FGĹżPKFCU RQT CSWGNGU Ă&#x17D;TIÂşQU Ĺ&#x152; G CRTGUGPVC ECTCEVGTĂ&#x2C6;UVKECU GURGEKCKU GO TC\ÂşQ FG UGT WOC HGFGTCĂ ÂşQ EQO ITCPFG CWVQPQOKC FQU 'UVCFQU em termos de direito material e processual. Por sua vez, a organização judiciĂĄria do paĂs ĂŠ regulada nos nĂveis federal e estadual, a RCTVKT FQ UKUVGOC RQNĂ&#x2C6;VKEQ CEKOC KPFKECFQ Q SWCN Ă&#x192; CFQVCFQ PQU '7# # PQTOC SWG KPUVKVWKW o paĂs â&#x20AC;&#x201C; a US Constitution â&#x20AC;&#x201C; somente previu a Supreme Court,13 deixando a organização e as regras da Corte para US Statutes.14 # %QPUVKVWKĂ ÂşQ (GFGTCN FQU '7# EQO UWCU GOGPFCU denominada de Bill of Rights HQK CRTQXCFC GO FG UGVGODTQ FG G TCVKĹżECFC RGNQU estados em 15 de dezembro de 1791. O seu artigo III, seção I15, estabelece que o Poder JudiEKÂśTKQ FQU '7# UGTÂś KPXGUVKFQ GO WOC 5WRTGOC %QTVG G QU VTKDWPCKU KPHGTKQTGU GUVCDGNGEKFQU oportunamente pelo Congresso. Os juĂzes conservarĂŁo os seus cargos enquanto servirem bem, percebendo remuneração protegida de qualquer redução durante o exercĂcio da atividade. A seção 216 determina que a competĂŞncia do Poder JudiciĂĄrio se estenderĂĄ a todos os ECUQU FG CRNKECĂ ÂşQ FC NGK G FC GSWKFCFG QEQTTKFQU FKCPVG FC %QPUVKVWKĂ ÂşQ FCU NGKU FQU 'UVCFQU
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Unidos e dos tratados concluĂdos ou que forem concluĂdos sob sua autoridade; a todos os ECUQU SWG CHGVGO QU GODCKZCFQTGU OKPKUVTQU G EQPUWNGU ´U SWGUVĂ?GU FQ CNOKTCPVCFQ G FG LWTKUFKĂ ÂşQ OCTĂ&#x2C6;VKOC ´U EQPVTQXĂ&#x192;TUKCU GO SWG QU 'UVCFQU 7PKFQU UGLCO RCTVG QW GPVTG FQKU ou mais estados, entre um estado e cidadĂŁos de outro estado, entre cidadĂŁos de diferentes estados, entre cidadĂŁos do mesmo estado reivindicando terras por concessĂľes feitas por ouVTQU GUVCFQU GPĹżO GPVTG WO GUVCFQ QW QU UGWU EKFCFÂşQU G RQVĂ&#x201E;PEKCU EKFCFÂşQU QW UĂ&#x2022;FKVQU estrangeiros. 1U RQFGTGU PÂşQ FGNGICFQU CQU '7# RGNC %QPUVKVWKĂ ÂşQ PGO RQT GNC PGICFQU CQU GUVCFQU sĂŁo reservados aos estados-membros ou ao povo. Assim, a justiça nos estados da Federação ĂŠ regida pelas Constituiçþes estaduais, pelos State statutes e pelas regras votadas em seus JudiciĂĄrios superiores. Destaca-se que a matĂŠria nĂŁo ĂŠ de competĂŞncia remanescente e a legislação federal nĂŁo pode interferir na soberania estadual.17 Na justiça federal, o sistema ĂŠ regulado pelas Federal Rules of Civil Procedures, editadas pela Suprema Corte, em 1938. Pela competĂŞncia em razĂŁo da matĂŠria, essa ĂĄrea compreende: a) a questĂŁo federal (federal question cases); b) causas baseadas em diversity cases; e c) EQORGVĂ&#x201E;PEKC HWPFCOGPVCFC PCU OQFKĹżECĂ Ă?GU FC EQORGVĂ&#x201E;PEKC QTKIKPCN 1U federal question cases envolvem: 1) a interpretação e a aplicação da Constituição Federal, inclusive com o julgamento de habeas corpus; 2) a interpretação e a aplicação de atos internacionais; 3) os ECUQU GO SWG JÂś CVTKDWKĂ Ă?GU GZENWUKXCU ´U EQTVGU HGFGTCKU RGNCU NGKU HGFGTCKU GO IGTCN GO FKplomas que regulam direito material, como falĂŞncia e concordata; patentes e direito autoral, etc. Por sua vez, nos diversity cases, a justiça federal se apresenta como um foro neutro para abordar a diversidade de â&#x20AC;&#x153;cidadaniasâ&#x20AC;?. Assim, nessa seara, hĂĄ trĂŞs graus. O primeiro com competĂŞncia originĂĄria e os demais EQO EQORGVĂ&#x201E;PEKC QTKIKPÂśTKC TGUVTKVC G EQORGVĂ&#x201E;PEKC TGEWTUCN 'O RTKOGKTQ ITCW GUVÂşQ QU US District Courts, totalizando 94 em todo o paĂs, com jurisdiçþes que devem corresponder aos NKOKVGU VGTTKVQTKCKU FQU GUVCFQU OGODTQU 'NCU UÂşQ EQPUVKVWĂ&#x2C6;FCU FG WO LWK\ EWLC FGEKUÂşQ Ă&#x192; singular, ou decisĂľes de jĂşri. HĂĄ, tambĂŠm, previsĂľes para tribunais com trĂŞs juĂzes, em casos determinados por lei. Ainda, no primeiro grau, hĂĄ cortes com competĂŞncia especial: a) Court of Claims, EQORGVGPVG RCTC LWNICOGPVQ QTKIKPÂśTKQ FG ECUQU GO SWG QU '7# ĹżIWTCO PQ RQNQ RCUUKXQ b) Court of Customs and Patent Appeals, para julgamentos de pedidos judiciĂĄrios de recursos de decisĂľes administrativas do 2CVGPV 1HĹżEG sobre pedidos de registros de patentes e direitos assemelhados; c) Customs Court, de conhecimento e julgamento de pedido de exame judicial das decisĂľes administrativas da International Trade Commission; d) Courts of Military Appeals, de exame judicial das decisĂľes das cortes disciplinares das Forças Armadas na aplicação das regras militares. Salienta-se que, exceto casos tributĂĄrios e de Direito disciplinar aos militares, no Direito norte-americano, nĂŁo hĂĄ organização judiciĂĄria para assuntos especializados. Portanto,
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nĂŁo hĂĄ justiça do trabalho, nem eleitoral, nem militar, sendo a Ăşnica divisĂŁo conhecida a da Justiça Federal e a justiça entre os estados-membros. A seu turno, o segundo grau da Justiça Federal norte-americana compĂľe-se por 13 tribunais regionais, sendo um para o District of Columbia18 (sediado na cidade de Washington, capital do paĂs), um de competĂŞncia limitada (Court of Appeals for the Federal Circuit) e 11 tribunais regionais (US Court of Appeals for the Circuit ' RQT UWC XG\ Q VGTEGKTQ ITCW FG jurisdição nacional, ĂŠ a US Supreme Court, composta por 8 Ministros (Associate Justices) e um Presidente (Chief Justice), o qual dĂĄ seu nome para o perĂodo de sua gestĂŁo. A organização da justiça nos estados-membros, em razĂŁo do modelo de federação vigente no paĂs, consagrando uma impressionante autonomia a eles, varia de estado para estado, motivo pelo qual algumas apresentam trĂŞs graus e outras, por outro lado, dois. 'O RTKOGKTQ ITCW GPEQPVTCO UG QU LWĂ&#x2C6;\GU UKPIWNCTGU QU SWCKU FGEKFGO EQO QW UGO C participação do jĂşri, exceto quando houver justiça especializada. Como exemplo, tem-se o estado de Nova Iorque, cuja organização judiciĂĄria de primeiro grau apresenta-se da seguinte forma: Supreme Courts (jurisdição cĂvel e criminal, com competĂŞncia geral) e as courts of limited jurisdiction: Family and Domestic Relations Courts (para relaçþes de Direito de FamĂlia e no âmbito domĂŠstico), Probate Courts (para inventĂĄrios), Surrogateâ&#x20AC;&#x2122;s Courts (para ĂłrfĂŁos e sucessĂľes) e outros ĂłrgĂŁos, cujas decisĂľes sĂŁo sempre rejulgadas pelos tribunais/foros de competĂŞncia geral: Police Courts (para infraçþes de trânsito, reclamaçþes entre vizinhos, etc.); Small Claims Courts (estrutura e competĂŞncia semeNJCPVG CQ ,WK\CFQ 'URGEKCN %Ă&#x2C6;XGN PQ $TCUKN G Tariffs Courts (para tributos estaduais em revisĂŁo de decisĂľes administrativas). 'O UGIWPFQ ITCW GPEQPVTCO UG CU EQTVGU EQNGIKCFCU EQO EQORQUKĂ ÂşQ G OCVĂ&#x192;TKC FG julgamento de acordo com cada estado. No estado de Nova Iorque, conforme exemplo, denominam-se Appellate Division of the Supreme Court. A nomenclatura, na maioria dos estados, ĂŠ Courts of Appeal. JĂĄ em sede de terceiro grau, os estados possuem, de forma colegiada, as cortes, cujo nome revela o estado a qual pertencem, por exemplo, no estado de Nova Iorque: New York Court of Appeals.19 Importante, tambĂŠm, enfatizar a existĂŞncia nos 'UVCFQU 7PKFQU FC #OĂ&#x192;TKEC FQU VTKDWPCKU CFOKPKUVTCVKXQU EQO HWPĂ ÂşQ FG FKTKOKT EQPĆ&#x20AC;KVQU entre os administrados e os ĂłrgĂŁos da Administração descentralizada. 1 ETGUEGPVG PĂ&#x2022;OGTQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU LWFKEKCNK\CFQU PQU VTKDWPCKU HQTQU FQU 'UVCFQU 7PKFQU FC #OĂ&#x192;TKEC UQOCFQU EQO Q VGORQ G Q EWUVQ FQ RTQEGUUQ RTQXQECTCO Q FGDCVG G C TGĆ&#x20AC;GZÂşQ GPVTG QU OCIKUVTCFQU UGTXGPVWÂśTKQU FC LWUVKĂ C G CFXQICFQU FG OGFKFCU RCTC VQTPCT GĹżEKGPVG C administração da resposta processual. Nessa Ăłtica, iniciou-se o processo de reconhecimento G GZRCPUÂşQ VGTTKVQTKCN G VĂ&#x192;EPKEC FQU OĂ&#x192;VQFQU EQORNGOGPVCTGU FG VTCVCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU OCTECPFQ HQTVGOGPVG CU FĂ&#x192;ECFCU FG G PQU 'UVCFQU 7PKFQU FC #OĂ&#x192;TKEC 20 Na primeira, conforme referido no intrĂłito deste artigo, a ConferĂŞncia Pound de 1976, que reuniu juristas e advogados preocupados com os custos e o tempo do acesso ao JudiciĂĄrio, ĂŠ
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considerada o marco do debate, da qual decorreram investimentos pĂşblicos em projetos piloto de mediação e arbitragem, apoiado pela Associação dos Advogados ao sistema multiportas. Posteriormente, em 1980, observa-se a advocacia aproximando-se dos mĂŠtodos de VTCVCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU DGO EQOQ C KPFĂ&#x2022;UVTKC FG UGIWTQU TGCNK\CPFQ RGUSWKUCU RCTC TGFW\KT QU EWUVQU FG NKVKI¸PEKC RCTC CU RCTVGU KPĆ&#x20AC;WGPEKCPFQ PC KPUVKVWEKQPCNK\CĂ ÂşQ FG RTÂśVKECU EQORNGOGPVCTGU CQU NKVĂ&#x2C6;IKQU PC ÂśTGC FQU PGIĂ&#x17D;EKQU #Q ĹżPCN FG C GZRGTKOGPVCĂ ÂşQ G QU RTQLGVQU piloto deram espaço para a efetiva institucionalização das prĂĄticas de ADR, em especial, no 2QFGT ,WFKEKÂśTKQ #U EQTVGU GUVCFWCKU VCODĂ&#x192;O UQHTGTCO C KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC QHGTGEGPFQ Q UGTXKĂ Q G as prĂłprias pessoas passaram a solicitar a seus advogados as prĂĄticas complementares para o seu litĂgio. 'O C 'UEQNC FG &KTGKVQ FG *CTXCTF EQO C #$# e The Center for Public Resource (CPR) Legal Program, organizou a National Conference on Emerging ADR issues in the State and Federal Courts, para relatar experiĂŞncias em meios complementares de tratamento de EQPĆ&#x20AC;KVQU XKXGPEKCFCU CVĂ&#x192; CSWGNG OQOGPVQ RGNQ 2QFGT ,WFKEKÂśTKQ PQTVG COGTKECPQ 'UUG evento foi realizado na sequĂŞncia da promulgação do Civil Justice Reform Act (1990)21, o qual estabelecia que todas as cortes federais no paĂs implementassem planos de redução de custos e de morosidade na prestação jurisdicional, incluindo a consideração das prĂĄticas ADR.22 Destaca-se, ainda, no ano de 1998, o Alternative Dispute Resolution Act23, o qual determinou a adoção dos mecanismos alternativos de resolução de disputas pelos tribunais federais em todas as açþes cĂveis. Assim, todo tribunal deve, de forma obrigatĂłria, oferecer ´U RCTVGU PQ OĂ&#x2C6;PKOQ WO OGECPKUOQ FG VTCVCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQ Q SWCN FGXG UGT CPCNKUCFQ por elas, embora nĂŁo sejam obrigadas a participar. Ademais, cada tribunal deve ter um funcionĂĄrio encarregado de divulgar os mĂŠtodos complementares, recrutando e treinando os terceiros neutros que atuarĂŁo enquanto faciliVCFQTGU 'O CIQUVQ FG C #$# G C National Conference of Comissioners on Uniform State Laws, publicaram o Uniform Mediation Act (UMA), com o objetivo de dar um tratamento PCEKQPCN ´ OCVĂ&#x192;TKC G FKHWPFKT C OGFKCĂ ÂşQ TC\ÂşQ RGNC SWCN Q FQEWOGPVQ UWDUVKVWKW CU PQTOCU GUVCFWCKU FG OGFKCĂ ÂşQ GZKUVGPVGU PQU 'UVCFQU 7PKFQU G TGIWNCOGPVQW FG HQTOC WPKHQTOG QU OĂ&#x192;VQFQU EQPUGPUWCKU FG VTCVCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU 24 O UMA contĂŠm regras sobre a mediação abordados em mais de 2.500 estatutos estaduais e federais, e mais de 250 delas lidam com questĂľes de confidencialidade e privilĂŠgios. Complexidade significa incerteza, o que pode inibir a utilização da mediação. Assim, o documento oferece uma Ăşnica lei abrangente que rege privilĂŠgios e confidencialidade na mediação. Igualmente, um dos objetivos centrais da UMA ĂŠ dar prioridade ao procedimento da mediação para garantir a confidencialidade, estabelecendo-a para os mediadores e mediandos ao proibi-los de utilizar o que foi mencionado na sessĂŁo em um processo judicial posteriormente. A lei tambĂŠm prevĂŞ exceçþes importantes para a confidencialidade.
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6CKU GZEGĂ Ă?GU KPENWGO COGCĂ CU HGKVCU RCTC KPĆ&#x20AC;KIKT FCPQU EQTRQTCKU QW QWVTQU ETKOGU XKQNGPVQU VGPVCVKXC FCU RCTVGU FG TGEQTTGT ´ OGFKCĂ ÂşQ RCTC RNCPGLCT QW EQOGVGT WO ETKOG a necessidade de informação para provar ou refutar as alegaçþes de abuso infantil ou negligĂŞncia; ou a necessidade de informação para provar ou refutar uma reclamação ou queixa de HCNVC RTQĹżUUKQPCN RQT WO OGFKCFQT %QOQ RTQVGĂ ÂşQ FQU GPXQNXKFQU GO ECUQ FG OÂś RTÂśVKEC FQ OGFKCFQT QW EQPĆ&#x20AC;KVQ FG KPVGTGUUG GNG Ă&#x192; FGUETGFGPEKCFQ UGPFQ UWDUVKVWĂ&#x2C6;FQ RQT QWVTQ Ainda estabelece a autonomia das partes na construção do acordo, bem como nĂŁo permite o uso da mediação para processos coletivos de relaçþes de trabalho, conferĂŞncias de liquidação judicial e processos em que as partes sejam todas menores de idade. Defende-se que a uniformidade da lei traz ordem e compreensĂŁo para fora do estado. 5GO WPKHQTOKFCFG PÂşQ RQFG JCXGT PGPJWOC ICTCPVKC ĹżTOG GO SWCNSWGT GUVCFQ SWG C mediação ĂŠ privilegiada.25 A adoção e a implementação das normas acima descritas pelos estados norte-americanos, no ano de 2016, atingiu 13 estados. HĂĄ muitas fontes de regulação das prĂĄticas complementares como jurisprudĂŞncia, estatutos, leis e regras locais, tanto em nĂvel federal e estadual, mas ainda permanecem na GUHGTC RTKXCFC PQU '7# CU RTÂśVKECU FG #&4 FGXGPFQ CU RCTVGU QRVCT EQPVTCVWCNOGPVG CPVGU FWTCPVG QW FGRQKU FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ C HQTOC FG IGTKT QU UGWU NKVĂ&#x2C6;IKQU 1W UGLC PÂşQ JÂś PGPJWOC exigĂŞncia formal de comunicação de tais processos ou os seus resultados, permanecendo desconhecidas as dimensĂľes reais de resolução de litĂgios privados, muitas vezes, totalmente aprovados e sancionados por instituiçþes pĂşblicas. 2QT KUUQ CĹżTOC UG SWG QU '7# TGXGNCO CVWCNOGPVG WO PQXQ EGPÂśTKQ Ĺ&#x2018;FKURWVG TGsolution in the US is now formal, informal and â&#x20AC;&#x2DC;semi-formalâ&#x20AC;&#x2122;â&#x20AC;?.26 27 2QT KUUQ C CWVQTC CĹżTOC que â&#x20AC;&#x153;the question here is whether â&#x20AC;&#x2DC;semi-formalâ&#x20AC;&#x2122; processes can legitimately operate in a space DGVYGGP VJG VTCPURCTGPE[ CPF RTGUWOGF EQPUKUVGPE[ QH HQTOCN LWUVKEG CPF VJG EQPĹżFGPVKCNKV[ Ć&#x20AC;GZKDKNKV[ CPF UGNH FGVGTOKPCVKQP QH KPHQTOCN RTQEGUUGUâ&#x20AC;?.28 29 A justiça formal caracteriza-se pela transparĂŞncia e pela publicidade do processo, baseada em argumentos a partir de precedentes legais e provas, incluindo apresentação de documentos e oitiva de testemunhas, a partir dos quais ĂŠ tomada uma decisĂŁo por um terceiro juiz (ou jĂşri), podendo ela ser revista em uma instância superior. A seu turno, a justiça KPHQTOCN HQEC GO OĂ&#x192;VQFQU EQPUGPUWCKU EQPĹżFGPEKCKU G OCKU TGURQPUKXQU EQPUVKVWKPFQ UG GO HQTOCU RTKXCFCU FG VTCVCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU EQOQ PGIQEKCĂ ÂşQ OGFKCĂ ÂşQ G QWVTQU Nesse contexto, o sucesso relativo dos mĂŠtodos consensuais provocou a sua adaptação e transformação de procedimentos informais privados para uso no setor pĂşblico, inclusive como etapa obrigatĂłria nos processos (condição para o acesso ao processo pĂşblico e formal). Como visto, em decorrĂŞncia da expansĂŁo e da aceitação da justiça informal e consensual de VTCVCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU QU VTKDWPCKU HQTQU GO VQFQU QU ITCWU HGFGTCN G GUVCFWCN RCUUCTCO C oferecer, inicialmente de forma voluntĂĄria, e posteriormente obrigatĂłria, programas de mediação e arbitragem, incluindo mais tarde outros mĂŠtodos que foram desenvolvidos. Alguns
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magistrados, de forma inovadora, adaptaram as tĂŠcnicas dos procedimentos informais para processos da ĂĄrea pĂşblica. &GUUG OQFQ EQPUQCPVG CĹżTOC /GPMGN /GCFQY30, por força de legislação federal, a Civil Justice Reform Act de 1990 e a Alternative Resolution Dispute Act (1998), praticamente todos os 6TKDWPCKU HGFGTCKU FQU '7# RQUUWGO CNIWO OĂ&#x192;VQFQ EQORNGOGPVCT FG VTCVCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQ Os relatĂłrios estatĂsticos disponibilizados por alguns estados mais populosos (incluindo Nova Iorque, CalifĂłrnia, Texas e Michigan) demonstram o alto uso de uma variedade de formas de resolução de litĂgios, dentro do tribunal formal, com â&#x20AC;&#x2DC;taxas de liquidaçãoâ&#x20AC;&#x2122; variando de 30 por cento para mais de 70 por cento em alguns tribunais. Praticamente todos os tribunais federais de apelação agora tĂŞm programas formais de mediação, a maioria com equipes de funcionĂĄrios em tempo integral, alguns contando com voluntĂĄrios. Nesse contexto, insere-se, na seção seguinte, o sistema multiportas, cujo objeto nĂŁo UG FGUVKPC CRGPCU ´ TGFWĂ ÂşQ FG EWUVQ G VGORQ FQU RTQEGUUQU LWFKEKCKU OCU C ETKCT WOC VCZQPQOKC SWG CRTGUGPVG C RQTVC OCKU CRTQRTKCFC RCTC ECFC VKRQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQ EQPUKFGTCPFQ CU pessoas nele envolvidas e a satisfação de suas necessidades, razĂŁo pela qual sua anĂĄlise tem por escopo observar possĂveis contribuiçþes ao modelo brasileiro de polĂtica judiciĂĄria de VTCVCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU
3 O TRATAMENTO DO CONFLITO PELO MULTIDOOR COURTHOUSE SYSTEM Originalmente denominado de Comprehensive Justice Center,31 o Multidoor Courthouse System recebeu essa denominação pela ABA apĂłs ter sido quase que acidentalmente criado pelo professor da Universidade de Harvard, Frank Sander. O autor relata que compilou UWCU CPQVCĂ Ă?GU CEGTEC FG UWCU TGĆ&#x20AC;GZĂ?GU TGNCEKQPCFCU ´U KPUCVKUHCĂ Ă?GU TGHGTGPVGU ´U 8CTCU FG (COĂ&#x2C6;NKC RCTC C TGUQNWĂ ÂşQ FG FKURWVCU PGUUC ÂśTGC DGO EQOQ RGNQU CXCPĂ QU XGTKĹżECFQU na arbitragem para os litĂgios trabalhistas, enviando-as aos seus colegas da Universidade de Harvard para comentĂĄrios. PorĂŠm, sem seu conhecimento, um deles encaminhou a outro colega da Universidade da Pensilvânia que, por sua vez, estava trabalhando com Warren Burger (Justice Chief â&#x20AC;&#x201C; Presidente da Supreme Court), que estavam, em conjunto, planejando uma ConferĂŞncia (1976) em homenagem ao professor Roscoe Pound, que anteriormente jĂĄ havia debatido acerca da problemĂĄtica da Justiça. O propĂłsito era promover o debate sobre vĂĄrios assuntos relacioPCFQU ´ KPUCVKUHCĂ ÂşQ EQO Q UKUVGOC FG CFOKPKUVTCĂ ÂşQ FC ,WUVKĂ C FGPVTG GNGU C TGUQNWĂ ÂşQ FG FKURWVCU 'O XKUVC FKUUQ 5CPFGT HQK EQPXKFCFQ32 para apresentar sua proposta.33 0GUUC QRQTVWPKFCFG Q RTQHGUUQT FC *CTXCTF .CY 5EJQQN OCPKHGUVQW34 que o ser humano GUVÂś CEQUVWOCFQ C DWUECT C UCVKUHCĂ ÂşQ FQ UGW EQPĆ&#x20AC;KVQ VTCFKEKQPCNOGPVG PQ 2QFGT ,WFKEKÂśTKQ negligenciando que a adjudicação nĂŁo pode ser a resposta para todos os litĂgios. O papel
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FQU CFXQICFQU HQK OWKVQ FGUVCECFQ G C UWC QTICPK\CĂ ÂşQ ĹżPCPEKQW RTQLGVQU RKNQVQ FQ UKUVGOC multiportas no JudiciĂĄrio norte-americano.3536 Nesse contexto, o Multidoor Courthouse System CRTGUGPVC UG EQOQ KPUVTWOGPVQ FG VTCVCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU C ĹżO FG GPECOKPJCT C FGOCPFC a uma abordagem mais adequada, considerando as suas peculiaridades. Assim, a recomendação de Sander consistia na criação de um sistema que oferecesse vĂĄrias opçþes de abordagem para os conflitos trazidos pelas pessoas, ou seja, â&#x20AC;&#x153;I tried to look at each of the different processes and see whether we could work out some kind of taxonomy of which disputes ought to go where, and which doors are appropriate for which disputes.â&#x20AC;?3738 #FGOCKU EQPUKUVG GO QNJCT Q EQPĆ&#x20AC;KVQ UQDTG FKHGTGPVGU RGTURGEVKXCU CRTGUGPVCPFQ Q como forma de tratamento a mediação, a negociação, a arbitragem, dentre outros mecanismos: â&#x20AC;&#x153;tentou olhar para cada um dos diferentes processos e trabalhou com o tipo de taxonomia de disputas, observando quais as portas eram apropriadas para o tratamento da demanda.â&#x20AC;?39 A proposta de Sander caracteriza-se por integrar, em um Ăşnico local, vĂĄrios OQFQU FG RTQEGUUCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU Dessa forma, ao invĂŠs de apenas uma porta (processo judicial), o Tribunal MĂşltiplas Portas abrange um sistema mais amplo, com vĂĄrios tipos de procedimentos, aos quais as RCTVGU UÂşQ FKTGEKQPCFCU FG CEQTFQ EQO C RCTVKEWNCTKFCFG FG UGW EQPĆ&#x20AC;KVQ 40 Como manifesta Barbosa, â&#x20AC;&#x153;a caracterĂstica-chave do FĂłrum de MĂşltiplas Portas ĂŠ a sua fase inicial, no qual cada disputa ĂŠ analisada de acordo com diversos critĂŠrios e encaminhada para o procedimento mais adequado. A partir daĂ, o caso serĂĄ tratado conforme o processo indicado.â&#x20AC;?41 +PKEKCNOGPVG TGCNK\C UG WOC CXCNKCĂ ÂşQ FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ RQT OGKQ FG RGUUQCN GURGEKCNK\CFQ KFGPVKĹżECPFQ ´U RGUUQCU Q OĂ&#x192;VQFQ FG VTCVCOGPVQ OCKU CFGSWCFQ CQ UGW EQPĆ&#x20AC;KVQ RQTVC OCKU indicada). A importância do sistema em estudo reside em que as tĂŠcnicas convivam de forma JCTOQPKQUC G CTVKEWNCFC EQO Q UKUVGOC FG LWUVKĂ C TGEGDGPFQ Q UWRQTVG G Q ĹżPCPEKCOGPVQ do Poder PĂşblico. A pertinĂŞncia da adoção das MĂşltiplas Portas em razĂŁo de que ĂŠ preciso TGEQPJGEGT SWG RCTVGU G EQPĆ&#x20AC;KVQU UÂşQ OCKU DGO CUUKUVKFQU EQO OĂ&#x192;VQFQU GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQU FKCPVG FCU ECTCEVGTĂ&#x2C6;UVKECU FQ UGW NKVĂ&#x2C6;IKQ 2QT GUUC TC\ÂşQ CĹżTOC UG SWG UG QDLGVKXC KPHQTOCT ´U RCTVGU CEGTEC FCU CNVGTPCVKXCU FKURQPĂ&#x2C6;XGKU RCTC VTCVCOGPVQ FQ UGW EQPĆ&#x20AC;KVQ CWZKNKCPFQ CU PC GUEQNJC do mecanismo mais apropriado para a disputa particular.42 A implementação do MĂşltiplas Portas ĂŠ disponibilizar mecanismos para tratar os EQPĆ&#x20AC;KVQU VTC\KFQU CQ 2QFGT ,WFKEKÂśTKQ #Q CDQTFCT Q EQPĆ&#x20AC;KVQ TGCNK\C UG WOC CXCNKCĂ ÂşQ KFGPVKĹżECPFQ UG CU RCTVGU QW KPVGTGUUCFQU RCTC GPVÂşQ CRQPVCT Q KPUVTWOGPVQ OCKU CFGSWCFQ ´ UCVKUHCĂ ÂşQ FQU KPVGTGUUGU FCU RGUUQCU GPXQNXKFCU PQ EQPĆ&#x20AC;KVQ #FGOCKU FGUVCEC UG SWG Q RTQĹżUUKQPCN TGURQPUÂśXGN RGNC EQPFWĂ ÂşQ FQ ECUQ RQFG UGT WO PGIQEKCFQT WO EQPEKNKCFQT WO OGFKCFQT WO ÂśTDKVTQ QW WO LWK\ 1 KORQTVCPVG Ă&#x192; KFGPVKĹżECT Q OĂ&#x192;VQFQ GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQ CQ problema apresentado.43
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0C GVCRC UGIWKPVG JÂś Q RTQEGUUQ FG FKCIPĂ&#x17D;UVKEQ FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ Q SWCN RQFG UGT FKXKFKFQ em duas funçþes principais: entrevista e aconselhamento. Na entrevista, realizam-se perIWPVCU C ĹżO FG KFGPVKĹżECT Q RTQDNGOC GPEGTTCPFQ UG C GVCRC EQO Q TGUWOQ FC UKVWCĂ ÂşQ G C aceitação da parte; no aconselhamento, analisam-se as soluçþes potenciais, com suas proXÂśXGKU EQPUGSWĂ&#x201E;PEKCU PGICVKXCU G RQUKVKXCU KFGPVKĹżECPFQ CQ ĹżPCN C RQTVC OCKU CFGSWCFC CQ VTCVCOGPVQ FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ Dessa forma, o FĂłrum MĂşltiplas Portas44 VGO C HWPĂ ÂşQ FG TGEGDGT Q EQPĆ&#x20AC;KVQ GPECOKnhando-o, podendo ser visualizado como uma roda. No centro da roda, estĂŁo localizadas a fase de entrada e a unidade de referĂŞncia; nos raios da roda, encontram-se as portas de VTCVCOGPVQ FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ CU QRĂ Ă?GU FG TGHGTĂ&#x201E;PEKC 2QUVGTKQTOGPVG ´ VTKCIGO G CQ FKCIPĂ&#x17D;UVKEQ FG CFOKUUÂşQ Q EQPĆ&#x20AC;KVQ Ă&#x192; UWDOGVKFQ C WO FQU RTQEGUUQU FG VTCVCOGPVQ QRĂ Ă?GU G GO PÂşQ UGPFQ DGO UWEGFKFC C RTKOGKTC QRĂ ÂşQ Q EQPĆ&#x20AC;KVQ TGVQTPC RCTC Q EGPVTQ FC TQFC UWDOGVGPFQ UG ´ PQXC TGCXCNKCĂ ÂşQ G CRĂ&#x17D;U C PQXQ VTCVCOGPVQ 45 Compreende-se, portanto, que o FĂłrum MĂşltiplas Portas caracteriza-se por uma mesa de entradas e um centro de diagnĂłstico que, a partir do relato do caso feito pelas prĂłprias RGUUQCU GPXQNXKFCU PQ EQPĆ&#x20AC;KVQ Q RTQĹżUUKQPCN GURGEKCNK\CFQ CU QTKGPVC RCTC Q OGKQ OCKU CFGquado de tratamento. Para determinar a porta a ser indicada, devem ser observados quatro fatores:46 a) a natureza da disputa; b) o relacionamento entre as partes; c) o valor do pedido e o valor do processo; d) a velocidade, considerando-se a necessidade de resposta rĂĄpida e urgente intervenção.47 No VQECPVG ´ PCVWTG\C FC FKURWVC TGUUCNVC UG SWG JÂś WOC PGEGUUKFCFG FG FGUGPXQNXKOGPVQ FG WO OGECPKUOQ Ć&#x20AC;GZĂ&#x2C6;XGN SWG RQUUC CVGPFGT FG HQTOC OCKU CFGSWCFC C WO EQPĆ&#x20AC;KVQ RQKU Ĺ&#x2018;+ FQ PQV believe that a court is the most effective way to perform this kind of sifting task.â&#x20AC;?4849 HĂĄ problemas policĂŞntricos nĂŁo adequados para a abordagem adjudicatĂłria, aos quais nĂŁo cabe uma decisĂŁo â&#x20AC;&#x153;tudo ou nadaâ&#x20AC;?. Da mesma forma, deve ser observado o relacionamento existente entre as partes, eis que aquele que existe hĂĄ algum tempo tem forças para auxiliar as pessoas envolvidas a alcançarem a resposta ao litĂgio, bem como possibilita que Q EQPĆ&#x20AC;KVQ UGLC VTCVCFQ PC UWC RTQHWPFKFCFG G PÂşQ CRGPCU PC UWRGTHĂ&#x2C6;EKG 50 7O FQU CURGEVQU RTKOQTFKCKU RCTC TGURQPFGT FG HQTOC CFGSWCFC CQ EQPĆ&#x20AC;KVQ Ă&#x192; QDUGTXCT os objetivos das partes e como elas podem ser satisfeitas por meio dos diversos processos/ OĂ&#x192;VQFQU 2CTC EQORTGGPFGT GUUC CĹżTOCĂ ÂşQ 5CPFGT G 4Q\FGKE\GT51 GZGORNKĹżECO #PC GUVÂś GO meio a um divĂłrcio quando o procura enquanto advogado e solicita o seu aconselhamento de como proceder. A escolha de Ana dependerĂĄ de quais objetivos ela pretende alcançar. 1W UGLC GNC FGUGLC RTGUGTXCT WO DQO TGNCEKQPCOGPVQ EQO ,QJP! 'NC FGUGLC SWG ,QJP RCTticipe da criação das crianças, ou ela prefere que ele nĂŁo as veja? O quĂŁo importante ĂŠ para ela maximizar o ganho monetĂĄrio com o divĂłrcio? O quĂŁo importante ĂŠ a sua preocupação ĹżPCPEGKTC FKCPVG FQ TGNCEKQPCOGPVQ EQO ,QJP! 'NC FGUGLC OCPVGT QU CUUWPVQU FQ FKXĂ&#x17D;TEKQ GO RCTVKEWNCT! 'NC VGO Q FGUGLQ FG XKPICPĂ C RĂ&#x2022;DNKEC! #PVGU FG UCDGT Q SWG #PC TGCNOGPVG
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FGUGLC VQTPC UG KORQUUĂ&#x2C6;XGN VQOCT SWCNSWGT FGEKUÂşQ TGNCEKQPCFC ´ RQTVC OCKU KPFKECFC CQ UGW NKVĂ&#x2C6;IKQ %QO C VCDGNC C UGIWKT XGTKĹżECO UG QDLGVKXQU RQUUĂ&#x2C6;XGKU RCTC C #PC QW SWCNSWGT QWVTC parte, e os graus de satisfação de cada mĂŠtodo. Tabela 1 - Objetivos e Graus de Satisfação nos MĂŠtodos Complementares 2 = satisfaz o objetivo substancialmente 1 = satisfaz parcialmente o objetivo 3 = satisfaz muito o objetivo 'CTN[ Summary MĂŠtodo/Objetivo Mediação Minitrial Neutral Arbitragem Adjudicação Jury Trial 'XCNWCVKQP 1 Velocidade 3 2 2 3 0-2 0 2 Privacidade 3 3 1 2 1 0 3 Vingança PĂşblica 0 1 1 1 2 3 4 OpiniĂŁo Neutra 1 1 2 2 3 3 5 Minimizar Custos 3 2 2 3 0-2 0 Manter/Melhorar Rela6 3 2 2 1 1 0 cionamento 7 Precedente 0-1 0-1 0-1 0-1 2 3 8 Max/Min Recuperação 0(3) 1 1 1 2 3 9 Criar Novas Soluçþes 3 3 1 2 1 0 Controle da Parte do 10 3 2 1 1 1-2 0 Processo Controle de Parte da 11 3 3 1 2 1 0 Renda TransferĂŞncia da res12 ponsabilidade para uma 0-1 1 2 2 3 3 Terceira Pessoa SupervisĂŁo do Tribunal 13 0-2 0 1 1 2 3 ou CompulsĂŁo Transformação das 14 3 1 0 0 0 0 Partes 15 Processo satisfatĂłrio 3 3 2 2 2 0 Melhorar a Compreen16 3 3 1 2 2 1 sĂŁo da Disputa FKĹżEKNOGPVG UCVKUHC\ Q QDLGVKXQ
Fonte: Sander e Rozdeiczer (2006, p. 6).
No exemplo anteriormente citado, deve Ana responder a primeira pergunta sobre o tipo FG TGNCEKQPCOGPVQ SWG FGUGLC EQO Q ,QJP EQO Q VĂ&#x192;TOKPQ FQ FKXĂ&#x17D;TEKQ 5G Q ECUCN VKXGT ĹżNJQU FGXG CKPFC EQPUKFGTCT Q TGNCEKQPCOGPVQ SWG UGLC DQO RCTC QU ĹżNJQU VCODĂ&#x192;O 0Q SWCFTQ observa-se que a mediação apresenta as melhores chances de preservar e, possivelmente, melhorar a relação preexistente. O procedimento mediativo ĂŠ o Ăşnico a receber pontuação mĂĄxima nas dimensĂľes custo, velocidade e manutenção do relacionamento anterior. Por outro lado, o processo judicial frequentemente ameaça destruir esse relacionamento. Portanto, as ECTCEVGTĂ&#x2C6;UVKECU GURGEĂ&#x2C6;ĹżECU FQ ECUQ G QU QDLGVKXQU FCU RGUUQCU GPXQNXKFCU RGTOKVGO CNECPĂ CT WOC TGURQUVC GĹżEC\ G UCVKUHCVĂ&#x17D;TKC TGXGNCPFQ UG C RQTVC OCKU CFGSWCFC 52
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Nesse sentido, Sander apresentou como portas de tratamento a mediação, a conciliação, a arbitragem, os processos hĂbridos, como a mediação e a arbitragem (med-arb ou arb-med), o mini-trial, o summary jury trial, o case evaluation, o ombudsman e a adjudicação.53 A primeira porta, denominada de mediação, consoante manifesta Spengler,54 constitui UG EQOQ WO RTQEGUUQ GO SWG Q VGTEGKTQ CWZKNKC QU RCTVKEKRCPVGU GO WOC UKVWCĂ ÂşQ EQPĆ&#x20AC;KVKXC a tratĂĄ-la, permitindo que a solução seja aceitĂĄvel para os envolvidos, de forma que satisfaça seus anseios e desejos.55 2QT GUUG OĂ&#x192;VQFQ QU EQPĆ&#x20AC;KVCPVGU FGXGO UGT GPEQTCLCFQU C QWXKT G C entender os pensamentos e sentimentos uns dos outros, possibilitando que juntos alcancem uma resposta favorĂĄvel a ambos. &GUUC HQTOC C OGVC FC OGFKCĂ ÂşQ Ă&#x192; TGURQPUCDKNK\CT QU EQPĆ&#x20AC;KVCPVGU RGNQ VTCVCOGPVQ FQ litĂgio que os une a partir de uma ĂŠtica da alteridade, encontrando, a partir do auxĂlio de WO OGFKCFQT WOC ICTCPVKC FG UWEGUUQ Ĺ&#x2018;CRCTCPFQ CU CTGUVCUĹ&#x2019; G CU FKĹżEWNFCFGU FCU RCTVGU bem como compreendendo as emoçþes reprimidas e buscando um consenso que atinja o interesse das partes e a paz social.56 57 A mediação ocorre pela intervenção de um terceiro, de uma terceira pessoa que se KPVGTRĂ?G GPVTG QU FQKU RTQVCIQPKUVCU FG WO EQPĆ&#x20AC;KVQ KUVQ Ă&#x192; FG FWCU RGUUQCU EQOWPKFCFGU ou povos que se confrontam e estĂŁo um contra o outro. Assim, a mediação busca passar QU FQKU RTQVCIQPKUVCU FC CFXGTUKFCFG ´ EQPXGTUCĂ ÂşQ NGXCPFQ QU C XKTCT UG WO RCTC Q QWVTQ para se falarem, compreenderem e, se possĂvel, construir juntos um compromisso que abra ECOKPJQ ´ TGEQPEKNKCĂ ÂşQ 58 59 Denominada de conciliação, a segunda porta ĂŠ entendida como a atividade desenvolXKFC RCTC KPEGPVKXCT HCEKNKVCT G CWZKNKCT CU RCTVGU ´ CWVQEQORQUKĂ ÂşQ CFQVCPFQ RQTĂ&#x192;O WOC metodologia que permita a apresentação de proposição por parte do conciliador. Nesse rumo, â&#x20AC;&#x153;tem como mĂŠtodo a participação mais efetiva desse terceiro na proposta de solução, tendo por GUEQRQ C UQNWĂ ÂşQ FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ SWG NJG Ă&#x192; EQPETGVCOGPVG CRTGUGPVCFQ PCU RGVKĂ Ă?GU FCU RCTVGU Ĺ&#x2019;60 %QORTGGPFG UG SWG C EQPEKNKCĂ ÂşQ QRQTVWPK\C ´U RCTVGU Q FGDCVG G C RQUVGTKQT GZRNQTCĂ ÂşQ das possibilidades de resolução aceitĂĄveis a todos. Por essa razĂŁo, bem como pela tradição histĂłrica diante dos demais mĂŠtodos, esse procedimento tende a ser o mais utilizado pelo (Ă&#x17D;TWO FG /Ă&#x2022;NVKRNCU 2QTVCU #RQPVC UG EQOQ WOC FCU RTKPEKRCKU XCPVCIGPU C RCEKĹżECĂ ÂşQ UQEKCN RQKU FKXGTUQ FQ SWG UG XGTKĹżEC PC UGPVGPĂ C LWFKEKCN Ĺ&#x2018;Q CEQTFQ FC EQPEKNKCĂ ÂşQ PÂşQ ĂŠ imposto autoritariamente e logra ventilar emoçþes das partes para acalmĂĄ-las, podendo atingir a lide sociolĂłgica, em geral, mais ampla do que aquela que emergiu â&#x20AC;&#x153;como simples ponta do iceberg.â&#x20AC;?â&#x20AC;?61 #FKEKQPC UG ´ HWPĂ ÂşQ FG RCEKĹżECĂ ÂşQ UQEKCN C TCEKQPCNK\CĂ ÂşQ FC CRNKECĂ ÂşQ FC ,WUVKĂ C com a consequente redução do congestionamento dos juĂzos, educação da população na negociação de suas prĂłprias disputas, aumento da legitimidade do Poder JudiciĂĄrio e intenUKĹżECĂ ÂşQ FC RCTVKEKRCĂ ÂşQ FGOQETÂśVKEC RQRWNCT PQU ECUQU GO SWG Q EQPEKNKCFQT Ă&#x192; GUEQNJKFQ entre a comunidade.62
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A seu turno, a terceira porta, arbitragem, consiste na escolha pelas partes de um terceiro, denominado de ĂĄrbitro, independente e imparcial, o qual ĂŠ responsĂĄvel por proferir C FGEKUÂşQ GSWKXCNGPVG ´ UGPVGPĂ C LWFKEKCN 63 Assim, conceitua-se arbitragem como o meio RGNQ SWCN Q GUVCFQ GO XG\ FG KPVGTHGTKT FKTGVCOGPVG PQU EQPĆ&#x20AC;KVQU FG KPVGTGUUGU KORQPFQ a sua decisĂŁo, permite que uma terceira pessoa o faça, a partir de um procedimento e da QDUGTXCĂ ÂşQ FG TGITCU OĂ&#x2C6;PKOCU OGFKCPVG WOC FGEKUÂşQ EQO CWVQTKFCFG KFĂ&#x201E;PVKEC ´ FG WOC sentença judicial. Dessa forma, as partes, ao optarem pela arbitragem, afastam a jurisdição estatal e subsVKVWGO RQT QWVTC GUVTCVĂ&#x192;IKC FG VTCVCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU TGEQPJGEKFC G TGIWNCFC RGNQ GUVCFQ permitindo a execução das decisĂľes proferidas, bem como que sejam anuladas aquelas que nĂŁo tenham observado um mĂnimo de regras exigidas pelo legislador.64 O terceiro, denomiPCFQ FG ÂśTDKVTQ VGO VQVCN EQPĹżCPĂ C FCU RCTVGU TGEGDGPFQ CWVQTKFCFG UWĹżEKGPVG RCTC KORQT uma solução satisfatĂłria. Nesse sentido, consoante manifestam Goldberg, Sander, Rogers e Cole,65 a arbitragem apresenta as seguintes vantagens: a) terceiro/ĂĄrbitro com conhecimento especializado; b) reconhecimento/legitimidade da decisĂŁo; c) privacidade do procedimento; d) informalidade do procedimento; e) baixo custo; e f) rapidez. Por sua vez, a avaliação preliminar neutra (Early Neutral Evaluation), quarta porta CSWK CRTGUGPVCFC ECTCEVGTK\C UG RQT HQTPGEGT ´U RCTVGU WO RCTGEGT HWPFCOGPVCFQ RQT WO advogado, juiz ou promotor de justiça. Trata-se, portanto, de uma avaliação prĂŠvia mediante uma opiniĂŁo fundamentada de forma oral,66 SWG RGTOKVG ´U RCTVGU TGVQTPCTGO ´ PGIQEKCĂ ÂşQ com uma opiniĂŁo especializada. Na audiĂŞncia com o avaliador, o qual explica as vantagens e a segurança do procedimento, as partes apresentam de forma sumĂĄria sua argumentação jurĂdica, descrevendo os fatos relevantes e indicando as provas que pretendem produzir para, entĂŁo, possibilitar ao avaliador a confecção de um parecer fundamentando, nĂŁo vinculante para as partes.67 Se a controvĂŠrsia nĂŁo ĂŠ solucionada, a avaliação permanece em confidencialidade, podendo o avaliador auxiliar as partes a encontrar o procedimento mais simples e mais rĂĄpido no tribunal.68 O Summary Jury Trial EQPĹżIWTC UG GO WO RTQEGFKOGPVQ UWOÂśTKQ FKCPVG FG WO LĂ&#x2022;TK RCTC XGTKĹżECĂ ÂşQ FC VGUG G FC TGCĂ ÂşQ FQU LWTCFQU QU SWCKU IGTCNOGPVG PÂşQ RQUUWGO EQnhecimento do seu papel consultivo, ou seja, aos jurados nĂŁo se menciona o seu papel de aconselhamento atĂŠ a entrega do veredicto, razĂŁo pela qual sĂŁo recomendados a tratar o EQPĆ&#x20AC;KVQ EQO C UGTKGFCFG SWG WO LĂ&#x2022;TK TGCN TGSWGT 69 Assim, â&#x20AC;&#x153;o procedimento ĂŠ sumĂĄrio e conta com um resumo das teses e provas, sendo o jĂşri chamado para emitir um parecer opinativo. Normalmente, ĂŠ um mecanismo utilizado para casos complexos que demandem tempo e alto custo.â&#x20AC;?70 71, ou, ainda, â&#x20AC;&#x153;for those novel or unusual cases KP YJKEJ VJG LWT[Ĺ?U XGTFKEV KU FKHĹżEWNV VQ RTGFKEV CPF VJCV FKHĹżEWNV[ KU FGVGTTKPI UGVVNGOGPV Ĺ&#x2019;72 73
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HĂĄ, ainda, o Mini-Trial, o qual consiste em apresentaçþes sumĂĄrias realizadas pelos advogados de cada parte a um painel, composto por um conselheiro neutro e por executivos, buscando negociar a resolução da disputa. Se as partes diretamente envolvidas forem incapazes de fazĂŞ-lo, podem solicitar ao conselheiro neutro uma previsĂŁo de resultado possĂvel do litĂgio.74 Por sua vez, a Court-annexed arbitration utiliza arbitragem anexa ao juĂzo tradicional, ou seja, as partes sĂŁo incentivadas e encorajadas a participar da arbitragem como mecanismo FG VTCVCOGPVQ FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ C SWCN Ă&#x192; KPUGTKFC RGNQ 2QFGT ,WFKEKÂśTKQ GO UGW RTQITCOC OCPtendo acordos e convĂŞnios com instituiçþes privadas de arbitragem para atuação conjunta.75 No Med-Arb e Arb-Med, as partes anuem em realizar a mediação ou a arbitragem e, inexitosa, passa-se ao outro procedimento.76 Trata-se de procedimentos privados e espontâneos, os quais podem ser realizados sob orientação coordenada. Destaca-se que, no processo Med-Arb , a função neutra se dĂĄ primeiro como mediador. Se falhar a mediação, a mesma pessoa neutral servirĂĄ como ĂĄrbitro, porĂŠm, nesse caso, emitindo decisĂŁo. Compreende-se que o â&#x20AC;&#x153;sistema med/arb proporciona total segurança a quem entra na mediação, pois, de WO OQFQ QW FG QWVTQ UCKTÂś EQO UGW EQPĆ&#x20AC;KVQ TGUQNXKFQ EJGICPFQ C WO CEQTFQ QW KOGFKCtamente, obtendo o laudo.â&#x20AC;?77 A seu turno na Arb-Med78 ocorre o contrĂĄrio. Isto ĂŠ, realiza-se o procedimento de arbiVTCIGO CNECPĂ CPFQ UG C UGPVGPĂ C UGO CPWPEKÂś NC ´U RCTVGU KPKEKCPFQ UG CPVGU QU RTQEGFKmentos de mediação.79 Assim, nĂŁo ocorrendo o acordo, revela-se a sentença antes prolatada. A porta denominada de Ombudsman80 (Ouvidor) caracteriza-se por ser uma pessoa nomeada por uma instituição para tutelar seus direitos contra a falta, a disfunção, os abusos ou os retardos dessa mesma instituição. Destaca-se que ela nĂŁo possui o poder de impor uma FGEKUÂşQ PGO FG CPWNCT TGXQICT OQFKĹżECT QU CVQU FC KPUVKVWKĂ ÂşQ OCU SWG CVWC HQTOWNCPFQ observaçþes e recomendaçþes, buscando a satisfação das reclamaçþes dos interessados.81 'UVWFQU OCKU TGEGPVGU CRQPVCO FWCU KPQXCĂ Ă?GU PQ UKUVGOC /Ă&#x2022;NVKRNCU 2QTVCU UCNKGPtando-se que o fĂłrum nĂŁo se limita a um nĂşmero determinado de portas, podendo surgir PQXCU FKCPVG FC GXQNWĂ ÂşQ FQU EQPĆ&#x20AC;KVQU G FC RTĂ&#x17D;RTKC UQEKGFCFG 82 Nessa Ăłtica, aponta-se a porta denominada de Collaborative Law (Direito Colaborador), cuja aplicabilidade se dĂĄ no Direito de FamĂlia, quando o casal, durante o processo de divĂłrcio, concorda em realizar um acordo sem recorrer ao Poder JudiciĂĄrio. A diferença dessa porta das demais negociaçþes com advogados, por exemplo, reside no fato de que, inicialmente, as partes (casal) assinem um acordo de participação. #RĂ&#x17D;U FGXGO VTQECT KPHQTOCĂ Ă?GU ĹżPCPEGKTCU EQORNGVCU FG HQTOC SWG ECFC RCTVG RQUUC VGT VQVCN CEGUUQ ´U KPHQTOCĂ Ă?GU G RQTVCPVQ VQOCT FGEKUĂ?GU UGO CNECPĂ CT WO NKVĂ&#x2C6;IKQ LWFKEKCN Outra nova porta, chamada de Parenting Coordination (Coordenação Familiar), ĂŠ um meECPKUOQ WVKNK\CFQ GO EQPĆ&#x20AC;KVQU PC IWCTFC FG ĹżNJQU FKCPVG FG RCKU FKXQTEKCFQU &GUUC HQTOC o mĂŠtodo busca auxiliar os pais no cumprimento da decisĂŁo judicial, bem como educar os RCKU PC QDUGTXCĂ ÂşQ FQ KORCEVQ FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ PQ UGW ĹżNJQ 83
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# RQTVC OCKU VTCFKEKQPCN CFLWFKECĂ ÂşQ EQPĹżIWTC UG PQ NKVĂ&#x2C6;IKQ FC RCTVG SWG RTQEWTC Q Poder JudiciĂĄrio, propondo a ação judicial, o qual ĂŠ decidido pelo terceiro, aqui denominado de juiz, cuja decisĂŁo possui efeito coercitivo e atinge a todos os fatos do processo. Conforme manifestam Morais e Spengler,84 o carĂĄter contencioso caracteriza o modelo da porta em GUVWFQ #FGOCKU Ĺ&#x2018;= ? VTCVCT Q EQPĆ&#x20AC;KVQ LWFKEKCNOGPVG Ă&#x192; CVTKDWKT CQ OCIKUVTCFQ Q RQFGT FG dizer quem ganha e quem perde no litĂgio.â&#x20AC;?85 Cada mĂŠtodo tem a capacidade de ativar algumas funcionalidades que facilitam o alcance do objetivo das partes. Por exemplo, a mediação e o minitrial permitem a comunicação G OCZKOK\CO CU EJCPEGU FCU RGUUQCU GPXQNXKFCU PQ EQPĆ&#x20AC;KVQ FG QDVGT WOC TGURQUVC C RCTVKT de valores comuns. O Summary Jury Trial e a Avaliação Preliminar Neutra proporcionam WOC QRQTVWPKFCFG RCTC XGTKĹżECT QU RQPVQU HQTVGU G HTCEQU FQ ECUQ RQUUKDKNKVCPFQ C VQOCFC de decisĂŁo mais informada e uma solução possĂvel. Por sua vez, a adjudicação e a arbitragem HQTPGEGO CNIWPU KPUVTWOGPVQU RTQEGUUWCKU SWG RQFGO CVGPFGT ´U PGEGUUKFCFGU FCU RCTVGU incluindo a execução das decisĂľes. Nesse contexto, o quadro a seguir apresenta as caracterĂsticas das principais portas, o SWG RGTOKVG EQPJGEGT QU DGPGHĂ&#x2C6;EKQU SWG ECFC WOC VTC\ CQ EQPĆ&#x20AC;KVQ Tabela 2 - CaracterĂsticas dos MĂŠtodos Complementares Resolução do Problema
CaracterĂsticas 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Bom relacionamento entre os Advogados Bom relacionamento entre as Partes Partes dispostas a 4GUQNXGT Q %QPĆ&#x20AC;KVQ Uma ou ambas as partes deseja(m) se desculpar Desejo de Acordo Pessoas externas envolvidas Muitos assuntos envolvidos no Caso 2CTVG UG DGPGĹżEKC com o processo judicial 'URGEKCNKUVC QW Neutro requerido
Conferência da Adjudicação Realidade Avaliação Summary Mediação Minitrial Prelim. Arbitragem Adjudicação Jury Trial Neutra 3
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Fonte: Sander e Rozdeiczer (2006, p. 6).
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Destaca-se que, justamente em razĂŁo da crĂtica existente com a porta da jurisdição traFKEKQPCN PQXQU OĂ&#x192;VQFQU UWTIKTCO EQO C OGVC FG CVGPFGT ´U GURGEKĹżEKFCFGU FG ECFC EQPĆ&#x20AC;KVQ No entanto, nĂŁo se estĂĄ aqui excluindo da apreciação do Poder JudiciĂĄrio toda e qualquer SWGUVÂşQ CRGPCU UG QDLGVKXC CFGSWCT Q VTCVCOGPVQ CQ VKRQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQ TC\ÂşQ RGNC SWCN Q &KUVTKVQ FG %QNWODKC PQU 'UVCFQU 7PKFQU FC #OĂ&#x192;TKEC GPEQPVTQW PQ UKUVGOC FCU /Ă&#x2022;NVKRNCU 2QTVCU uma resposta aos obstĂĄculos do seu sistema de Justiça, o que serĂĄ abordado no tĂłpico seguinte. Assim, conhecido como â&#x20AC;&#x153;PalĂĄcio de Justiça MĂşltiplas Portasâ&#x20AC;? ou â&#x20AC;&#x153;FĂłrum MĂşltiplas Portasâ&#x20AC;?, os tribunais foram estabelecidos, de forma experimental e inicial,86 em Tulsa, Okalahoma, Houston, Texas, e no Tribunal Superior do Distrito de Columbia. Outros projetos (projetos-piloto) foram iniciados em Nova Jersey e Cambridge.87 A partir dessas experiĂŞncias, a ideia espalhou-se para outros Tribunais no mundo, por exemplo, AustrĂĄlia, Inglaterra e NigĂŠria, apresentando resultados positivos na concretização de uma cultura de paz e no CVGPFKOGPVQ ´U PGEGUUKFCFGU FCU RGUUQCU FG HQTOC UCVKUHCVĂ&#x17D;TKC G CFGSWCFC
4 CONSIDERAĂ&#x2021;Ă&#x2022;ES FINAIS O modelo brasileiro, inspirado na polĂtica norte-americana, assemelha-se por apresentar duas portas â&#x20AC;&#x201C; mediação e conciliação â&#x20AC;&#x201C; determinando aos tribunais estaduais a implementação FG PĂ&#x2022;ENGQU RCTC TGUQNWĂ ÂşQ FQU EQPĆ&#x20AC;KVQU LWFKEKCNK\CFQU 0GUUG EQPVGZVQ EQORTGGPFG UG SWG Q estabelecimento de uma polĂtica pĂşblica judiciĂĄria a qual permita organicidade, qualidade e EQPVTQNG ´ UWC RTÂśVKEC UG LWUVKĹżEC RCTC ICTCPVKT SWG QU OGKQU EQORNGOGPVCTGU FG VTCVCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU GO GURGEKCN QU OGKQU EQPUGPUWCKU Ĺ&#x152; OGFKCĂ ÂşQ G EQPEKNKCĂ ÂşQ Ĺ&#x152; VGPJCO WO WUQ correto e se constituam em um modo efetivo de assegurar o verdadeiro e adequado acesso a uma ordem jurĂdica justa. 0Q GPVCPVQ C RQNĂ&#x2C6;VKEC LWFKEKÂśTKC DTCUKNGKTC FG VTCVCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU Ĺ&#x152; C RCTVKT FC 4GUQNWĂ ÂşQ P FG FQ %QPUGNJQ 0CEKQPCN FG ,WUVKĂ C Ĺ&#x152; CRTGUGPVC HTCIKNKFCFGU CQ PÂşQ KPUVKVWKT WO UKUVGOC FG VTKCIGO FG EQPĆ&#x20AC;KVQU EQOQ QDUGTXCFQ PQ OWNVKRQTVCU # VTKCIGO RGTOKVG SWG UGLC TGCNK\CFC C VCZKPQOKC FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ G RQTVCPVQ Q OĂ&#x192;VQFQ OCKU CFGSWCFQ Ă&#x192; WVKNK\CFQ RGTOKVKPFQ Q VTCVCOGPVQ GĹżEC\ G SWCNKĹżECFQ FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ 4GEQPJGEG UG Q CXCPĂ Q do Poder JudiciĂĄrio no Brasil ao implantar as formas complementares de tratamento de EQPĆ&#x20AC;KVQ RQTĂ&#x192;O CQ KPUVKVWEKQPCNK\Âś NCU VTCPUHQTOC CU GO OGTC HCUG FQ RTQEGUUQ EQO WO rito a ser seguido, sem a capacitação adequada dos facilitadores e da observação do mĂŠtodo FG CEQTFQ EQO CU ECTCEVGTĂ&#x2C6;UVKECU FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ G FC TGNCĂ ÂşQ FCU RGUUQCU GPXQNXKFCU A experiĂŞncia norte-americana, a partir do Tribunal MĂşltiplas Portas, apresenta um OQFGNQ FG RQNĂ&#x2C6;VKEC RĂ&#x2022;DNKEC SWG SWCNKĹżEC C TGURQUVC CQ EQPĆ&#x20AC;KVQ CQ CVGPFGT FG OQFQ OCKU CEGTVCFQ ´U TGNCĂ Ă?GU UQEKCKU G CQ VKRQ FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ C GNG FKTGEKQPCFQ Q SWG UG XKUWCNK\QW PCU RQTVCU especializadas com direcionamento de casos (litĂgios) para o seu tratamento, considerando-se, PGUUC Ă&#x17D;VKEC CU ECTCEVGTĂ&#x2C6;UVKECU G RGEWNKCTKFCFGU FG ECFC EQPĆ&#x20AC;KVQ G FG UGWU GPXQNXKFQU
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Desse modo, o Tribunal MĂşltiplas Portas, a partir da sua organização, estrutura e da CVWCĂ ÂşQ FQ VGTEGKTQ RGTOKVG RTQRQT EQPVTKDWKĂ Ă?GU ´ RQNĂ&#x2C6;VKEC RĂ&#x2022;DNKEC DTCUKNGKTC RQT TGEQPJGEGT PCU ECTCEVGTĂ&#x2C6;UVKECU FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ WO OĂ&#x192;VQFQ CFGSWCFQ RCTC Q UGW VTCVCOGPVQ ICTCPVKPFQ C UCVKUHCĂ ÂşQ FCSWGNGU SWG UG GPEQPVTCO PC UKVWCĂ ÂşQ EQPĆ&#x20AC;KVKXC Q SWG EQPVTKDWK RCTC Q KPEGPVKXQ aos mecanismos autocompositivos, para a compreensĂŁo dos problemas nacionais relacionados ´ UQNWĂ ÂşQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU CRTKOQTCPFQ C RTÂśVKEC FQU OĂ&#x192;VQFQU EQPUGPUWCKU G FGUGPXQNXGPFQ WOC nova cultura de paz social. 6CKU EQPVTKDWKĂ Ă?GU TGXGNCO UG PQ GPECOKPJCOGPVQ FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ CFGSWCFQ ´ OGFKCĂ ÂşQ PQ TGEQPJGEKOGPVQ FQU KPVGTGUUGU GPXQNXKFQU PQ EQPĆ&#x20AC;KVQ G PC KFGPVKĹżECĂ ÂşQ FC TGNCĂ ÂşQ GPVTG as partes, o que possibilitarĂĄ ao terceiro mediador uma atuação adequada, aprimorada e o WUQ SWCNKĹżECFQ FCU VĂ&#x192;EPKECU G JCDKNKFCFGU CFSWKTKFCU EQPVTKDWKPFQ FGUUC HQTOC RCTC Q UGW TGEQPJGEKOGPVQ G RCTC C ETGFKDKNKFCFG FC UWC HWPĂ ÂşQ GUUGPEKCN CQ VTCVCOGPVQ FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ 1 CFGSWCFQ VTCVCOGPVQ FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ ICTCPVG Q CEGUUQ C WOC QTFGO LWTĂ&#x2C6;FKEC LWUVC G fortalece a participação social do cidadĂŁo, fomentando uma cultura de paz, de alteridade e FG VTCVCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU FG HQTOC SWCNKVCVKXC EQPUKFGTCPFQ ECFC RGUUQC GPXQNXKFC Q VKRQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQ CU PGEGUUKFCFGU G QU KPVGTGUUGU C UGTGO CVGPFKFQU
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primary processes) are most appropriate for a particular disputeâ&#x20AC;?. Tradução livre: â&#x20AC;&#x153;um dos problemas mais FGUCĹżCFQTGU PQ ¸ODKVQ FQU OĂ&#x192;VQFQU FG TGUQNWĂ ÂşQ CNVGTPCVKXC FG EQPĆ&#x20AC;KVQU #&4 Ă&#x192; FGEKFKT SWCN RTQEGUUQ QW RTQEGUUQU Ă&#x192; OCKU CRTQRTKCFQ RCTC FGVGTOKPCFQ EQPĆ&#x20AC;KVQĹ&#x2019; 5#0&'4 (TCPM 41<&'+%<'4 .WMCU\ /CVEJKPI ECUGU CPF FKURWVG TGUQNWVKQP RTQEGFWTGU FGVCKNGF CPCN[UKU leading to a mediation-centered approach. Harvard Negotiation Law Review, v. 11, p. 1-28, 2006. 10 Destaca-se que o presente artigo nĂŁo objetiva realizar a abordagem da polĂtica pĂşblica brasileira de tratamento FG EQPĆ&#x20AC;KVQU OCU CRTGUGPVCT EQPVTKDWKĂ Ă?GU C GNC C RCTVKT FC XCUVC NKVGTCVWTC RWDNKECFC SWG TGXGNC UWCU HTCIKNKFCFGU # TGHGTKFC 4GUQNWĂ ÂşQ VGO RQT GUEQRQ KPUVKVWKT C 2QNĂ&#x2C6;VKEC ,WFKEKÂśTKC 0CEKQPCN FG VTCVCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQ FG KPVGTGUUGU CUUGIWTCPFQ C VQFCU CU RGUUQCU Q CFGSWCFQ OĂ&#x192;VQFQ RCTC TGURQUVC CQ UGW EQPĆ&#x20AC;KVQ FG CEQTFQ EQO C natureza e a peculiaridade. Para isso, compete aos ĂłrgĂŁos judiciĂĄrios, no prazo de 12 meses, oferecer a mediação G C EQPEKNKCĂ ÂşQ EQOQ OĂ&#x192;VQFQU FG TGUQNWĂ ÂşQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU RTGUVCPFQ CVGPFKOGPVQ G QTKGPVCĂ ÂşQ ´ RQRWNCĂ ÂşQ 12 No sistema do Common Law UKUVGOC LWTĂ&#x2C6;FKEQ CPINQ UCZÂşQ CFQVCFQ RQT RCĂ&#x2C6;UGU EQOQ 'UVCFQU 7PKFQU FC #OĂ&#x192;TKEC EQO GZEGĂ ÂşQ FQ 'UVCFQ FG .QWKUKCPC 4GKPQ 7PKFQ #WUVTÂśNKC Q &KTGKVQ Ă&#x192; FGENCTCFQ RGNQ LWK\ judge made law), sendo o precedente judicial (case law) a principal fonte jurĂdica. Dessa forma, a partir do confronto entre um precedente e um novo caso, aplica-se a tĂŠcnica das distinçþes, a qual consiste na possibilidade de ajustar, completar ou mesmo reformular a regra, para dar a melhor e mais razoĂĄvel solução ao litĂgio. Os princĂpios de direito sĂŁo inteiramente construĂdos pelas cortes de justiça, sem que haja qualquer lei escrita a TGURGKVQ 8+'+4# #PFTĂ&#x192;KC %QUVC Civil law e common law: os dois grandes sistemas legais comparados. Porto #NGITG 5GTIKQ #PVQPKQ (CDTKU 'FKVQT 2CTC OCKQTGU KPHQTOCĂ Ă?GU RQFG UGT CEGUUCFQ Q UĂ&#x2C6;VKQ GNGVTĂ?PKEQ FC 75 5WRTGOG %QWTV &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR www.supremecourt.gov>. 14 US Statutes UG TGHGTG ´ NGIKUNCĂ ÂşQ QTFKPÂśTKC HGFGTCN PQTVG COGTKECPC 15 Section I: â&#x20AC;&#x153;The judicial Power of the United States, shall be vested in one supreme Court, and in such inferior Courts as the Congress may from time to time ordain and establish. The Judges, both of the supreme and KPHGTKQT %QWTVU UJCNN JQNF VJGKT 1HĹżEGU FWTKPI IQQF $GJCXKQWT CPF UJCNN CV UVCVGF 6KOGU TGEGKXG HQT VJGKT 5GTXKEGU C %QORGPUCVKQP YJKEJ UJCNN PQV DG FKOKPKUJGF FWTKPI VJGKT %QPVKPWCPEG KP 1HĹżEGĹ&#x2019; 6TCFWĂ ÂşQ NKXTG Ĺ&#x2018;5GĂ ÂşQ + Ĺ&#x2018; 1 RQFGT LWFKEKCN FQU 'UVCFQU 7PKFQU FC #OĂ&#x192;TKEC UGTÂś KPXGUVKFQ GO WOC %QTVG 5WRTGOC G em Tribunais inferiores que o Congresso pode, de tempos em tempos, ordenar e estabelecer. Os juĂzes tanto da Corte Suprema como dos Tribunais inferiores conservarĂŁo seus cargos mediante boa conduta, devendo, em prazos determinados, receber por seus serviços por meio de uma remuneração que nĂŁo poderĂĄ ser reduzida durante a sua permanĂŞncia no cargoâ&#x20AC;?. 5GEVKQP ++ Ĺ&#x2018; 6JG LWFKEKCN 2QYGT UJCNN GZVGPF VQ CNN %CUGU KP .CY CPF 'SWKV[ CTKUKPI WPFGT VJKU %QPUVKVWVKQP VJG .CYU QH VJG 7PKVGF 5VCVGU CPF 6TGCVKGU OCFG QT YJKEJ UJCNN DG OCFG WPFGT VJGKT #WVJQTKV[ Ĺ?VQ CNN %CUGU CHHGEVKPI #ODCUUCFQTU QVJGT RWDNKE /KPKUVGTU CPF %QPUWNU Ĺ?VQ CNN %CUGU QH CFOKTCNV[ CPF OCTKVKOG ,WTKUFKEVKQP Ĺ?VQ %QPVTQXGTUKGU VQ YJKEJ VJG 7PKVGF 5VCVGU UJCNN DG C 2CTV[ Ĺ?VQ %QPVTQXGTUKGU DGVYGGP VYQ QT OQTG 5VCVGU Ĺ?DGVYGGP C 5VCVG CPF %KVK\GPU QH CPQVJGT 5VCVG Ĺ?DGVYGGP %KVK\GPU QH FKHHGTGPV 5VCVGU Ĺ?DGVYGGP %KVK\GPU QH VJG UCOG 5VCVG ENCKOKPI .CPFU WPFGT )TCPVU QH FKHHGTGPV 5VCVGU CPF DGVYGGP C 5VCVG QT VJG Citizens thereof, and foreign States, Citizens or Subjects. 2: In all Cases affecting Ambassadors, other public Ministers and Consuls, and those in which a State shall be Party, the supreme Court shall have original Jurisdiction. In all the other Cases before mentioned, the supreme %QWTV UJCNN JCXG CRRGNNCVG ,WTKUFKEVKQP DQVJ CU VQ .CY CPF (CEV YKVJ UWEJ 'ZEGRVKQPU CPF WPFGT UWEJ 4GIWlations as the Congress shall make. 3: The Trial of all Crimes, except in Cases of Impeachment, shall be by Jury; and such Trial shall be held in the State where the said Crimes shall have been committed; but when not committed within any State, the Trial UJCNN DG CV UWEJ 2NCEG QT 2NCEGU CU VJG %QPITGUU OC[ D[ .CY JCXG FKTGEVGFĹ&#x2019; 6TCFWĂ ÂşQ NKXTG Ĺ&#x2018;5GEĂ ÂşQ ++ Ĺ&#x2018; 1 RQFGT LWFKEKCN FGXG GUVGPFGT UG C VQFQU QU ECUQU RGNC .GK G 'SWKFCFG FGEQTTGPVG FGUVC %QPUVKVWKĂ ÂşQ FCU NGKU FQU 'UVCFQU 7PKFQU FC #OĂ&#x192;TKEC G FQU VTCVCFQU HGKVQU QW SWG UGTÂşQ HGKVQU UQD C UWC CWVQTKFCFG RCTC VQFQU QU ECUQU CHGVCPFQ GODCKZCFQTGU QWVTQU OKPKUVTQU G EĂ?PUWNGU RCTC VQFQU QU ECUQU FG ,WTKUFKĂ ÂşQ FQ CNOKTCPVCFQ G OCTĂ&#x2C6;VKOC RCTC EQPVTQXĂ&#x192;TUKCU C SWG QU 'UVCFQU /GODTQU FGXGO UGT 2CTVG RCTC EQPVTQXĂ&#x192;TUKCU GPVTG FQKU QW OCKU 'UVCFQU GPVTG WO 'UVCFQ G EKFCFÂşQU FG QWVTQ 'UVCFQ GPVTG EKFCFÂşQU FG 'UVCFQU FKHGTGPVGU GPVTG EKFCFÂşQU FQ OGUOQ 'UVCFQ TGKXKPFKECPFQ VGTTCU FG 'UVCFQU FKHGTGPVGU G GPVTG WO 'UVCFQ QW QU EKFCFÂşQU FQU OGUOQU G 'UVCFQU GUVTCPIGKTQU EKFCFÂşQU QW UĂ&#x2022;FKVQU
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GO VQFQU QU ECUQU SWG CHGVCO GODCKZCFQTGU QWVTQU OKPKUVTQU G EĂ?PUWNGU G CSWGNGU GO SWG WO 'UVCFQ FGXG UGT RCTVG C %QTVG 5WRTGOC VGTÂś LWTKUFKĂ ÂşQ QTKIKPCN 'O VQFQU QU QWVTQU ECUQU CPVGTKQTOGPVG OGPEKQPCFQU C Corte Suprema terĂĄ competĂŞncia de recurso tanto quanto ao direito quanto aos fatos, com as exceçþes, e sob regulamentos que o Congresso deve fazer. 3: O Julgamento de todos os crimes, exceto em casos de impeachment, serĂĄ feito por jĂşri; e tal julgamento deve ser TGCNK\CFQ PQ 'UVCFQ QPFG QU TGHGTKFQU ETKOGU HQTCO EQOGVKFQU OCU SWCPFQ PÂşQ JQWXGT QEQTTKFQ GO PGPJWO 'UVCFQ Q LWNICOGPVQ UGTÂś GO NWICT SWG Q %QPITGUUQ FGVGTOKPCTÂś RQT NGK Ĺ&#x2019; 51#4'5 )WKFQ (GTPCPFQ 5KNXC Common law KPVTQFWĂ ÂşQ CQ FKTGKVQ FQU '7# GF 5ÂşQ 2CWNQ 4GXKUVC dos Tribunais, 2000. 18 O District of Columbia RQFG UGT XKUKVCFQ RGNQ UĂ&#x2C6;VKQ GNGVTĂ?PKEQ JVVR YYY FEF WUEQWTVU IQX 51#4'5 )WKFQ (GTPCPFQ 5KNXC Common law KPVTQFWĂ ÂşQ CQ FKTGKVQ FQU '7# GF 5ÂşQ 2CWNQ 4GXKUVC dos Tribunais, 2000. .WEJKCTK +P .7%*+#4+ 8CNGTKC (GTKQNK .CITCUVC Mediação judicial: anĂĄlise da realidade brasileira: origem e evolução atĂŠ a Resolução no. 125, do Conselho Nacional de Justiça. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 103) sustenta que â&#x20AC;&#x153;[â&#x20AC;Ś] foi nas dĂŠcadas de 1970 e 1980 que surgiu efetivamente a onda dos mecanismos alternativos FG TGUQNWĂ ÂşQ FG FKURWVCU SWG ĹżEQW EQPJGEKFC EQOQ Ĺ&#x2018;#&4 /QXGOGPVĹ&#x2019; GPSWCFTCPFQ UG RGTHGKVCOGPVG PQ que Mauro Cappelletti denominou de uma das ondas renovadoras do processo [â&#x20AC;Ś]â&#x20AC;?. %QOQ TGHGTG .WEJKCTK +P .7%*+#4+ 8CNGTKC (GTKQNK .CITCUVC Mediação Judicial: snĂĄlise da realidade brasileira: origem e evolução atĂŠ a Resolução no. 125, do Conselho Nacional de Justiça. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 104), â&#x20AC;&#x153;em 1990, foi editado o Civil Justice Reform Act RGNQ %QPITGUUQ FQU 'UVCFQU 7PKFQU SWG NCPĂ QW determinação aos tribunais distritais federais, no sentido de que desenvolvessem um plano objetivo para reduzir Q VGORQ G CU FGURGUCU FQU RTQEGUUQU PQ RTC\Q FG VTĂ&#x201E;U CPQU G CQ FGĹżPKT CU FKTGVTK\GU C UGTGO UGIWKFCU RQT GUUGU planos, incluiu a adoção da mediação, do minitrial e do summary jury trialâ&#x20AC;?. Nesse sentido, â&#x20AC;&#x153;[â&#x20AC;Ś] demandava que as Cortes Federais (District Courts) desenvolvessem planos para redução de custos e demora dos processos judiciais, com ĂŞnfase no gerenciamento da demanda, monitoramento da fase instrutĂłria, dentre outras medidas que assegurassem uma resolução mais expedita e menos custosa do processoâ&#x20AC;? (GABBAY, Daniela Monteiro. Mediação & JudiciĂĄrio no Brasil e nos EUA EQPFKĂ Ă?GU FGUCĹżQU G NKOKVGU RCTC C KPUVKVWEKQPCNK\CĂ ÂşQ FC OGdiação no judiciĂĄrio. BrasĂlia: Gazeta JurĂdica, 2013. p. 131). )1.&$'4) 5VGRJGP $ GV CN Dispute Resolution: negotiation, mediation, and other processes. 5. ed. New York: Aspen Publishers, 2012. 1 FQEWOGPVQ Ĺ&#x2018;=Ĺ&#x2014;? TGEQPJGEGW C KORQTV¸PEKC FQU OGKQU CNVGTPCVKXQU FG UQNWĂ ÂşQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU EQOQ RCTVG FC polĂtica nacional de administração judicial, alĂŠm de requerer que cada District Court desenvolvesse e impleOGPVCUUG Q UGW RTĂ&#x17D;RTKQ RTQITCOC FG OGKQU CNVGTPCVKXQU FG UQNWĂ ÂşQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQUĹ&#x2019; )#$$#; &CPKGNC /QPVGKro. Mediação & JudiciĂĄrio no Brasil e nos EUA EQPFKĂ Ă?GU FGUCĹżQU G NKOKVGU RCTC C KPUVKVWEKQPCNK\CĂ ÂşQ FC mediação no judiciĂĄrio. BrasĂlia: Gazeta JurĂdica, 2013. p. 131-132). .7%*+#4+ 8CNGTKC (GTKQNK .CITCUVC Mediação Judicial: anĂĄlise da realidade brasileira: origem e evolução atĂŠ a Resolução no. 125, do Conselho Nacional de Justiça. Rio de Janeiro: Forense, 2012. 70+(14/ .#9 %1//+55+10 The national conference of commissioners on United States laws. DisponĂvel em: <http://www.uniformlaws.org/Act.aspx?title=Mediation%20Act>. Acesso em: 18 jan. 2016. 6TCFWĂ ÂşQ NKXTG Ĺ&#x2018;C TGUQNWĂ ÂşQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU PQU '7# Ă&#x192; HQTOCN KPHQTOCN G UGOKHQTOCNĹ&#x2019; /'0-'. /'#&19 %CTTKG 4GIWNCVKQP QH FKURWVG TGUQNWVKQP KP VJG 7PKVGF 5VCVGU QH #OGTKEC HTQO VJG HQTOCN VQ VJG KPHQTOCN VQ VJG Ĺ&#x17D;UGOK HQTOCNĹ? +P 56'(('- (GNKZ GV CN Regulating dispute resolution: adr and access to justice at the crossroads. 2013. p. 420. DisponĂvel em: <http://scholarship.law.georgetown.edu/cgi/ viewcontent.cgi?article=2300&context=facpub>. Acesso em: 18 jan. 2016. 28 Tradução livre: â&#x20AC;&#x153;a questĂŁo aqui ĂŠ se processos â&#x20AC;&#x2DC;semiformaisâ&#x20AC;&#x2122; podem legitimamente operar em um espaço entre C VTCPURCTĂ&#x201E;PEKC G C EQGTĂ&#x201E;PEKC RTGUWOKFC FG LWUVKĂ C HQTOCN CUUKO EQOQ C EQPĹżFGPEKCNKFCFG Ć&#x20AC;GZKDKNKFCFG G autodeterminação dos processos informaisâ&#x20AC;?. /'0-'. /'#&19 %CTTKG 4GIWNCVKQP QH FKURWVG TGUQNWVKQP KP VJG 7PKVGF 5VCVGU QH #OGTKEC HTQO VJG (QTOCN VQ VJG +PHQTOCN VQ VJG Ĺ&#x17D;5GOK HQTOCNĹ? +P 56'(('- (GNKZ GV CN Regulating dispute resolution: adr and access to justice at the crossroads. 2013. p. 428. DisponĂvel em: <http://scholarship.law.georgetown.edu/ cgi/viewcontent.cgi?article=2300&context=facpub>. Acesso em: 18 jan. 2016.
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A justiça consensual do Tribunal mĂşltiplas portas e a polĂtica pĂşblica norte-americana GH WUDWDPHQWR GH FRQĂ&#x20AC;LWRV FRQWULEXLo}HV DR PRGHOR EUDVLOHLUR
/'0-'. /'#&19 %CTTKG 4GIWNCVKQP QH FKURWVG TGUQNWVKQP KP VJG 7PKVGF 5VCVGU QH #OGTKEC HTQO VJG (QTOCN VQ VJG +PHQTOCN VQ VJG Ĺ&#x17D;5GOK HQTOCNĹ? +P 56'(('- (GNKZ GV CN Regulating dispute resolution: adr and access to justice at the crossroads. 2013. p. 236. DisponĂvel em: <http://scholarship.law.georgetown.edu/ cgi/viewcontent.cgi?article=2300&context=facpub>. Acesso em: 18 jan. 2016. 31 O presente termo pode ser compreendido como â&#x20AC;&#x153;Centro Abrangente de Justiçaâ&#x20AC;?. 32 O professor Frank Sander explica a tarefa que se constituiu para implementar as propostas da Roscoe Pound %QPHGTGPEG Ĺ&#x2018;9GNN + VJKPM QPG URGEKĹżE VJKPI VJCV JCRRGPGF KU VJCV KP VJG HCNN QH ,KOO[ %CTVGT YCU GNGEVGF 7 5 RTGUKFGPV *G CRRQKPVGF )TKHĹżP $GNN CU #VVQTPG[ )GPGTCN QH VJG 7PKVGF 5VCVGU =$GNN? JCF EQOOGPVGF QP my paper at the [1976] Pound Conference, and he was very intrigued by what he learned there. So, he set up C URGEKCN FKXKUKQP KP VJG &GRCTVOGPV QH ,WUVKEG ECNNGF VJG 1HĹżEG HQT +ORTQXGOGPVU KP VJG #FOKPKUVTCVKQP QH Justice. The, the Pound Conference leaders created a follow-up taskforce to look at what ideas were thrown QWV VJGTG =CV VJG EQPHGTGPEG? CPF JQY VJG[ EQWNF DG CFXCPEGF CPF KORNGOGPVGF CPF )TKHĹżP $GNN YCU VJG JGCF QH VJCV $WV VJGTG YGTG OCP[ QVJGT KPĆ&#x20AC;WGPEGU 6JG #OGTKECP $CT #UUQEKCVKQP GODTCEGF VJKU KFGC CPF set up a special committee initially called the Special Committee on the Resolution of Minor Dispute Resolution. Then in 1993 it became the ABAâ&#x20AC;&#x2122;s Section of Dispute Resolution, which now has 17,000 members. So, VJG #$# JCU GODTCEGF VJKU 6JG[ IKXG C PCVKQPCN EQPHGTGPEG GXGT[ URTKPI VJCV KU XGT[ RQRWNCT KP VJG ĹżGNF They have put out a journal called Dispute Resolution Magazine, so there have been lots of things that have happened. There also has been state and federal legislation on the subject. One interesting law that exists in a number of states is that lawyers have an ethical duty to apprise clients of different forms of dispute resolution for their cases. So when you come to a lawyer in those states â&#x20AC;&#x201C; like Massachusetts, Colorado and New Jersey, and a number of other states â&#x20AC;&#x201C; you have to canvas with a client, just the way a doctor ought to do if you come in with some ailment. You say, â&#x20AC;&#x153;My stomach hurts,â&#x20AC;? and the doctor does not say, â&#x20AC;&#x153;Well, let me get out my scalpel and operateâ&#x20AC;?. [Doctors] have to tell you your options: â&#x20AC;&#x153;You can take drugs, you can do nothing about it, you can have an operationâ&#x20AC;?. So, lawyers ought to be doing the same thing with disputes, and that naturally leads to greater exploration of dispute options. And of course, then the lawyers have to be educated. That is one consequence of that kind of obligationâ&#x20AC;? (GABBAY, 2013, p. 127). Tradução livre: â&#x20AC;&#x153;Bem, acredito que WOC EQKUC GURGEĂ&#x2C6;ĹżEC SWG CEQPVGEGW Ă&#x192; SWG PQ QWVQPQ FG ,KOO[ %CTVGT HQK GNGKVQ RTGUKFGPVG FQU '7# 'NG PQOGQW )TKHĹżP $GNN EQOQ RTQEWTCFQT IGTCN FQU 'UVCFQU 7PKFQU $GNN EQOGPVQW UQDTG Q CTVKIQ SWG GUETGXK RCTC C 2QWPF %QPHGTGPEG FG G GUVCXC OWKVQ KPVTKICFQ EQO Q SWG CRTGPFGW NÂś 'PVÂşQ GNG ETKQW WO ICDKPGVG especial do Departamento de Justiça para melhorar a administração da Justiça. AlĂŠm disso, as lideranças da 2QWPF %QPHGTGPEG ETKCTCO WO ITWRQ FG VTCDCNJQ RCTC CPCNKUCT CU KFGKCU CRTGUGPVCFCU G XGTKĹżECT EQOQ RQFGTKCO UGT KORNGOGPVCFQU )TKHĹżP $GNN HQK Q ECDGĂ C FKUUQ VWFQ /CU JCXKC OWKVCU QWVTCU KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKCU # 1TFGO FQU #FXQICFQU FQU '7# CDTCĂ QW GUUC KFGKC G ETKQW WOC EQOKUUÂşQ GURGEKCN KPKEKCNOGPVG EJCOCFC %QOKUUÂşQ 'URGEKCN UQDTG C 4GUQNWĂ ÂşQ FG .KVĂ&#x2C6;IKQU /GPQTGU 'O VQTPQW UG 5GĂ ÂşQ FG 5QNWĂ ÂşQ FG %QPVTQXĂ&#x192;TUKCU FC 1TFGO JQLG EQO OCKU FG OGODTQU #UUKO C 1TFGO CDTCĂ QW C ECWUC 'NC QTICPK\C WOC EQPHGTĂ&#x201E;PEKC PCEKQPCN C ECFC RTKOCXGTC SWG Ă&#x192; OWKVQ RQRWNCT PC ÂśTGC 'NGU ETKCTCO WO LQTPCN EJCOCFQ &KURWVG 4GUQNWVKQP /CIC\KPG por isso vĂĄrias coisas estĂŁo acontecendo. HĂĄ tambĂŠm uma legislação federal e estadual sobre o assunto. Uma lei interessante que existe em alguns estados ĂŠ que os advogados tĂŞm o dever ĂŠtico de informar aos clientes UQDTG CU FKHGTGPVGU HQTOCU FG TGUQNWĂ ÂşQ FG FKURWVCU RCTC QU UGWU ECUQU 'PVÂşQ SWCPFQ UG XCK C WO CFXQICFQ PGUVGU 'UVCFQU EQOQ /CUUCEJWUGVVU %QNQTCFQ G 0GY ,GTUG[ FGPVTG QWVTQU Ĺ&#x152; Q CFXQICFQ FGXG EQPUKFGTCT Q EGPÂśTKQ IGTCN FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ EQOQ WO OĂ&#x192;FKEQ FGXG HC\GT GO TGNCĂ ÂşQ C WO RCEKGPVG EQO CNIWOC FQGPĂ C Ĺ&#x2018;/GW GUVĂ?OCIQ FĂ&#x17D;KĹ&#x2019; G SWG Q OĂ&#x192;FKEQ PÂşQ FK\ Ĺ&#x2018;$GO FGKZG OG RGICT OGW DKUVWTK G QRGTCTĹ&#x2019; =1U OĂ&#x192;FKEQU? FGXGO FCT QRĂ Ă?GU Ĺ&#x2018;8QEĂ&#x201E; RQFG VQOCT FTQICU XQEĂ&#x201E; PÂşQ RQFG HC\GT PCFC UQDTG KUUQ XQEĂ&#x201E; RQFG VGT WOC QRGTCĂ ÂşQĹ&#x2019; 'PVÂşQ os advogados deveriam estar adotando a mesma medida com as disputas, e que naturalmente leva a uma maior GZRNQTCĂ ÂşQ FG QRĂ Ă?GU FG FKURWVC ' ENCTQ GO UGIWKFC QU CFXQICFQU VĂ&#x201E;O FG CRTGPFGT C CIKT FGUUC HQTOC 'UVC ĂŠ uma consequĂŞncia desse tipo de obrigaçãoâ&#x20AC;?. 33 â&#x20AC;&#x153;A task force resulting from the conference was intrigued with Professor Frank Sanderâ&#x20AC;&#x2122;s vision of a court that was not simply a courthouse but a dispute resolution center where the grievant, with the aid of a screening clerk, would be directed to the process (or sequence of processes) most appropriate to a particular type of ECUGĹ&#x2019; )1.&$'4) 5VGRJGP $ GV CN dispute resolution: negotiation, mediation, and other processes. 5. ed. New York: Aspen Publishers, 2012. p. 8). Tradução livre: â&#x20AC;&#x153;Uma força-tarefa resultante da conferĂŞncia ĹżEQW KPVTKICFC C RCTVKT FC XKUÂşQ FQ 2TQHGUUQT (TCPM 5CPFGT FG WO 6TKDWPCN SWG PÂşQ GTC UKORNGUOGPVG WO
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Charlise Paula Colet Gimenez
6TKDWPCN OCU WO EGPVTQ FG TGUQNWĂ ÂşQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU GO SWG Q CWVQT EQO C CLWFC FG WO HWPEKQPÂśTKQ FC ,WUtiça (triagem), seria direcionado para o processo (ou sequĂŞncia de processos) mais adequado(s) para o tipo determinado de casoâ&#x20AC;?. 34 Nesse sentido, refere Sander que â&#x20AC;&#x153;we lawyers have been far too single-minded when it comes to dispute TGUQNWVKQP 9G JCXG VGPFGF VQ CUUWOG VJCV VJG EQWTVU CTG VJG PCVWTCN CPF QDXKQWU Ĺ&#x152; CPF QPN[ Ĺ&#x152; FKURWVG TGUQNXGTU +P HCEV VJGTG GZKUVU C TKEJ XCTKGV[ QH RTQEGUUGU YJKEJ OC[ TGUQNXG EQPĆ&#x20AC;KEVU HCT OQTG GHHGEVKXGN[ /WEJ CU the police have been looked for to â&#x20AC;&#x153;solveâ&#x20AC;? racial, school and neighborly disputes, so too have we been making greater and greater demands on the courts to resolve disputes that used to be handled by other institutions of society. Quite obviously, the courts cannot continue to respond effectively to those accelerating demands. It DGEQOGU GUUGPVKCN VJGTGHQTG VQ GZCOKPG QVJGT CNVGTPCVKXGU %4'521 /CTKCPC *GTPCPFG\ 5#0&'4 (TCPM 'XQNWVKQP QH VJG OWNVK FQQT EQWTVJQWUG University of St. Thomas Law Journal, Saint Paul, MN, v. 5, n. R &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR RCRGTU UUTP EQO UQN RCRGTU EHO!CDUVTCEVAKF #EGUUQ em: 28 maio 2014). Tradução livre: â&#x20AC;&#x153;NĂłs advogados temos uma visĂŁo restrita quando se trata de resolução de litĂgios. Temos a tendĂŞncia a assumir que os Tribunais sĂŁo os naturais e Ăłbvios â&#x20AC;&#x201C; â&#x20AC;&#x153;resolvedoresâ&#x20AC;? de litĂgios - e sĂł. Na verdade, existe uma grande variedade de processos que podem ser resolvidos de forma mais efetiva. #UUKO EQOQ C RQNĂ&#x2C6;EKC VGO UKFQ RTQEWTCFC RCTC Ĺ&#x2018;TGUQNXGTĹ&#x2019; EQPĆ&#x20AC;KVQU TCEKCN GUEQNCT G CU FKURWVCU FG XK\KPJCPĂ C tambĂŠm percebemos cada vez maiores exigĂŞncias nos Tribunais para resolver disputas que costumavam ser tratadas por outras instituiçþes da sociedade. Obviamente, os Tribunais nĂŁo podem continuar a responder GĹżEC\OGPVG C GUUCU FGOCPFCU GO ETGUEKOGPVQ 6QTPC UG GUUGPEKCN RQTVCPVQ GZCOKPCT QWVTCU CNVGTPCVKXCUĹ&#x2019; 35 Conforme manifestou Sander, â&#x20AC;&#x153;one of the many things the ABA did is when its Dispute Resolution Committee got some money, it set up a pilot project with multi-door courthouses in three places: Tulsa, Oklahoma; Houston, Texas; and Washington, D.C. And while not all of them have survived, the Washington, D.C. multidoor courthouse [the D.C. Superior Courtâ&#x20AC;&#x2122;s Multi-Door Dispute Resolution Division] is now a very active and impressive one. So, this was a useful experiment that showed what to do and what not to do, absolutelyâ&#x20AC;? (GABBAY, Daniela Monteiro. Mediação & JudiciĂĄrio no Brasil e nos EUA EQPFKĂ Ă?GU FGUCĹżQU G NKOKVGU RCTC a institucionalização da mediação no judiciĂĄrio. BrasĂlia: Gazeta JurĂdica, 2013. p. 128). Tradução livre: â&#x20AC;&#x153;uma das muitas coisas que a Ordem fez, quando o ComitĂŞ de Solução de Disputas ganhou algum dinheiro, foi criar um projeto-piloto do sistema multiportas em trĂŞs lugares: Tulsa, Oklahoma; Houston, Texas; e Washington, &% 'ODQTC PGO VQFQU GNGU VGPJCO UQDTGXKXKFQ Q RTQITCOC FG 9CUJKPIVQP &% Ă&#x192; CIQTC OWKVQ CVKXQ G KORTGUUKQPCPVG 'PVÂşQ GUUC HQK WOC GZRGTKĂ&#x201E;PEKC Ă&#x2022;VKN SWG OQUVTQW Q SWG HC\GT G Q SWG PÂşQ HC\GT CDUQNWVCOGPVGĹ&#x2019; 36 GABBAY, Daniela Monteiro. Mediação & JudiciĂĄrio no Brasil e nos EUA EQPFKĂ Ă?GU FGUCĹżQU G NKOKVGU para a institucionalização da mediação no judiciĂĄrio. BrasĂlia: Gazeta JurĂdica, 2013. 6TCFWĂ ÂşQ NKXTG Ĺ&#x2018;'W VGPVGK QNJCT RCTC ECFC RTQEGUUQ FKHGTGPVG G XKUWCNK\CT UG RQFGTĂ&#x2C6;COQU WVKNK\CT CNIWO VKRQ FG taxonomia para determinar onde os litĂgios deveriam ir e quais portas sĂŁo adequadas para tais disputasâ&#x20AC;?. %4'521 /CTKCPC *GTPCPFG\ 5#0&'4 (TCPM 'XQNWVKQP QH VJG OWNVK FQQT EQWTVJQWUG University of St. Thomas Law Journal, Saint Paul, MN, v. 5, n. 3, p. 670, 2008. DisponĂvel em: <http://papers.ssrn.com/ sol3/ RCRGTU EHO!CDUVTCEVAKF #EGUUQ GO OCKQ 1.+8'+4# .WVJ[CPC &GOCTEJK FG 52'0).'4 (CDKCPC /CTKQP O fĂłrum mĂşltiplas portas como polĂtica RĂ&#x2022;DNKEC FG CEGUUQ ´ LWUVKĂ C G ´ RCEKĹżECĂ ÂşQ UQEKCN. Curitiba: Multideia, 2013. p. 27. 5+(7'06'5 /Ă?PKEC 6TKDWPCN OWNVKRQTVCU Jus Navigandi, Teresina, v. 11, n. 972, fev. 2006. DisponĂvel em: <http://jus.com.br/artigos/8047/tribunal-multiportas>. Acesso em: 28 maio 2014. 41 BARBOSA, Ivan Machado. FĂłrum de mĂşltiplas portas: uma proposta de aprimoramento processual. In: #<'8'&1 #PFTĂ&#x192; )QOOC FG 'UVWFQU GO CTDKVTCIGO OGFKCĂ ÂşQ G PGIQEKCĂ ÂşQ $TCUĂ&#x2C6;NKC 'F )TWRQU FG Pesquisa, 2003. v. 2. DisponĂvel em: <http://vsites.unb. br/fd/gt/Volume2.pdf>. Acesso em: 23 jun. 2013. 5#.'5 .KNKC /CKC FG /QTCKU 5175# /CTKCPC #NOGKFC FG 1 5KUVGOC FG OĂ&#x2022;NVKRNCU RQTVCU G Q LWFKEKÂśTKQ brasileiro. Direitos Fundamentais & Justiça, v. 5, n. 16, p. 204-220, jul./set. 2011. 070'5 #PFTKPG 1NKXGKTC 5#.'5 .KNKC /CKC FG /QTCGU A possibilidade do alcance da justiça por meio de mecanismos alternativos associados ao judiciĂĄrio. 2010. DisponĂvel em: <http:// www.conpedi.org.br/ OCPCWU CTSWKXQU CPCKU Ć&#x20AC;QTKCPQRQNKU +PVG ITC RFH #EGUUQ GO LWP %QPUQCPVG 1NKXGKTC G 5RGPINGT 1.+8'+4# .WVJ[CPC &GOCTEJK FG 52'0).'4 (CDKCPC /CTKQP O fĂłrum OĂ&#x2022;NVKRNCU RQTVCU EQOQ RQNĂ&#x2C6;VKEC RĂ&#x2022;DNKEC FG CEGUUQ ´ LWUVKĂ C G ´ RCEKĹżECĂ ÂşQ UQEKCN. Curitiba: Multideia, 2013. p. 113), â&#x20AC;&#x153;o FĂłrum MĂşltiplas Portas ĂŠ um centro multifacetado cuja premissa ĂŠ a aplicação do melhor meca-
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A justiça consensual do Tribunal mĂşltiplas portas e a polĂtica pĂşblica norte-americana GH WUDWDPHQWR GH FRQĂ&#x20AC;LWRV FRQWULEXLo}HV DR PRGHOR EUDVLOHLUR
PKUOQ EQPUKFGTCPFQ CU XCPVCIGPU G FGUXCPVCIGPU FQ ECUQ GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQ PQ VTCVCOGPVQ FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ #UUKO GO XG\ FG CRGPCU WOC Ĺ&#x2018;RQT VCĹ&#x2019; SWG EQPFW\ ´ UCNC FG CWFKĂ&#x201E;PEKCU GUUG EGPVTQ FG LWUVKĂ C INQ DCN VGO OWKVCU RQTVCU que podem ser a â&#x20AC;&#x153;negociaçãoâ&#x20AC;?, a â&#x20AC;&#x153;conciliaçãoâ&#x20AC;?, a â&#x20AC;&#x153;mediaçãoâ&#x20AC;?, a â&#x20AC;&#x153;arbitragemâ&#x20AC;?, a â&#x20AC;&#x153;avaliação preliminar neutraâ&#x20AC;?, dentre outrasâ&#x20AC;?. 1.+8'+4# .WVJ[CPC &GOCTEJK FG 52'0).'4 (CDKCPC /CTKQP O fĂłrum mĂşltiplas portas como polĂtica RĂ&#x2022;DNKEC FG CEGUUQ ´ LWUVKĂ C G ´ RCEKĹżECĂ ÂşQ UQEKCN. Curitiba: Multideia, 2013. 46 Nessa Ăłtica, compreende-se que â&#x20AC;&#x153;a combinação variĂĄvel destes fatores pode levar, em um determinado caso, a diferentes conclusĂľes sobre o processo mais apropriado, e nenhuma suposição taxativa ou conclusĂŁo apresUCFC FGXG UGT GNCDQTCFC FG SWCNSWGT HCVQT GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQĹ&#x2019; -'22'0 .WK\ (GTPCPFQ 6QOCUK /#46+05 0CFKC Bevilaqua. +PVTQFWĂ ÂşQ ´ TGUQNWĂ ÂşQ CNVGTPCVKXC FG EQPĆ&#x20AC;KVQU: negociação, mediação, levantamento de fatos, CXCNKCĂ ÂşQ VĂ&#x192;EPKEC KPFGRGPFGPVG %WTKVKDC ,/ .KXTCTKC ,WTĂ&#x2C6;FKEC R #FKEKQPCO CKPFC -GRRGP G /CTVKPU QU UGIWKPVGU HCVQTGU C PCVWTG\C FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ D Q VGORQ FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ G UG JÂś PGEGUUKFCFG FG WOC TÂśRKFC FGVGTOKPCĂ ÂşQ QW FG OCKQT Ć&#x20AC;GZKDKNKFCFG FG VGORQ OCKU NQPIQ E Q XCNQT FC ECWUC F C EQORNGZKFCFG FC ECWUC (de fato e de direito); e) a necessidade ou o anseio de uma decisĂŁo judicial, gerando efeitos de precedente; f) os objetivos das partes; g) a natureza da relação entre as partes; h) a habilidade de negociação das partes sem a CUUKUVĂ&#x201E;PEKC FG WO VGTEGKTQ K QU TGEWTUQU FKURQPĂ&#x2C6;XGKU RCTC Q VTCVCOGPVQ FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ L Q PĂ&#x2022;OGTQ FG GPXQNXKFQU k) se as partes possuem uma relação constante; l) a necessidade ou desejo de privacidade. (4'0%* 4QDGTV Perspectives on court annexed alternative dispute resolution. 2009. DisponĂvel em: <http://www.hcourt.gov.au/assets/publications/speeches/current-justices/frenchcj/frenchcj27july09.pdf>. Acesso em: 28 maio 2014. 6TCFWĂ ÂşQ NKXTG Ĺ&#x2018;'W PÂşQ CETGFKVQ SWG Q 6TKDWPCN UGLC C HQTOC OCKU GHGVKXC FG TGCNK\CT GUUG VKRQ FG VCTGHC FG selecionar.â&#x20AC;? 5#0&'4 (TCPM XCTKGVKGU QH FKURWVG RTQEGUUKPI +P 2170& %QPHGTGPEG RGTURGEVKXGU QP LWUVKEG KP VJG future. Minnesota: West Publishing Co., 1979. p. 79. 5#0&'4 (TCPM 8CTKGVKGU QH FKURWVG RTQEGUUKPI +P 2170& %QPHGTGPEG RGTURGEVKXGU QP LWUVKEG KP VJG future. Minnesota: West Publishing Co., 1979. p. 65-87. 5#0&'4 (TCPM 41<&'+%<'4 .WMCU\ /CVEJKPI ECUGU CPF FKURWVG TGUQNWVKQP RTQEGFWTGU FGVCKNGF CPCN[UKU leading to a mediation-centered approach. Harvard Negotiation Law Review, v. 11, p. 1-28, 2006. )1.&$'4) 5VGRJGP $ GV CN Dispute resolution: negotiation, mediation, and other processes. 5. ed. New York: Aspen Publishers, 2012. 1.+8'+4# .WVJ[CPC &GOCTEJK FG 52'0).'4 (CDKCPC /CTKQP O fĂłrum mĂşltiplas portas como polĂtica RĂ&#x2022;DNKEC FG CEGUUQ ´ LWUVKĂ C G ´ RCEKĹżECĂ ÂşQ UQEKCN. Curitiba: Multideia, 2013. 52'0).'4 (CDKCPC /CTKQP Da jurisdição Ă mediação RQT WOC QWVTC EWNVWTC PQ VTCVCOGPVQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU IjuĂ: UnijuĂ, 2010. 0C EQPEGRĂ ÂşQ FG )QNFDGTI GV CV +P )1.&$'4) 5VGRJGP $ GV CN Dispute resolution: negotiation, mediation, and other processes. 5. ed. New York: Aspen Publishers, 2012. p. 56), â&#x20AC;&#x153;mediation is clearly the preferred procedure when venting is necessary. By providing an informal atmosphere that encourages full participation by the disputants themselves, as well as by their lawyers, and by the presence of a neutral who can control the venting process, mediation can create a safe harbor for the parties to express their views fully. Some venting is possible in the evaluative ADR procedures; however, since their focus is on presenting evidence and argument concerning the rights of the parties, they are less hospitable to expressions of feelingsâ&#x20AC;?. Tradução livre: â&#x20AC;&#x153;a mediação ĂŠ claramente o procedimento preferencial quando ĂŠ necessĂĄria uma abertura. Ao fornecer um ambiente informal que incentiva a plena participação das partes, bem como por seus advogados, e a presença de um neutro que pode controlar o processo de abertura dos disputantes, a mediação pode criar um porto seguro para que as partes expressem completamente seus pontos de vista. Alguma abertura ĂŠ possĂvel nos procedimentos de avaliação de ADR, no entanto, uma vez que seu foco estĂĄ em apresentar provas e argumentos sobre os direitos das partes, eles sĂŁo menos hospitaleiros para expressar sentimentosâ&#x20AC;?. 5RGPINGT +P 52'0).'4 (CDKCPC /CTKQP Fundamentos polĂticas da mediação comunitĂĄria. IjuĂ: editora 7PKLWĂ&#x2C6; R TGHGTG SWG Ĺ&#x2018;FG HCVQ Q RTKPEKRCN FGUCĹżQ SWG C OGFKCĂ ÂşQ GPHTGPVC PÂşQ Ă&#x192; Q FG IGTCT TGNCĂ Ă?GU calorosas e aconchegantes, sociedades isentas de litĂgio ou uma ordem de mundo harmoniosa. Ao invĂŠs disso, EQPUKFGTCPFQ UG C PCVWTG\C GPFĂ&#x201E;OKEC FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ VCNXG\ Q UGW RTKPEKRCN FGUCĹżQ UGLC GPEQPVTCT OGECPKUOQ SWG RQUUKDKNKVGO WOC EQPXKXĂ&#x201E;PEKC EQOWPKECVKXCOGPVG RCEĂ&#x2C6;ĹżECĹ&#x2019;
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52'0).'4 (CDKCPC /CTKQP Fundamentos polĂticas da mediação comunitĂĄria. IjuĂ: editora UnijuĂ, 2012. 58 Por essa razĂŁo, â&#x20AC;&#x153;escolher a mediação ĂŠ, para cada um dos dois adversĂĄrios, compreender que o desenvolvimento da sua hostilidade sĂł lhes pode ser prejudicial e que tĂŞm todo o interesse em tentar encontrar, por meio de um CEQTFQ COKIÂśXGN WOC UCĂ&#x2C6;FC RQUKVKXC RCTC Q EQPĆ&#x20AC;KVQ SWG QU QRĂ?G = ? # OCKQT RCTVG FCU XG\GU CU FGEKUĂ?GU FC LWUVKĂ C EQTVCO Q PĂ&#x17D; FG WO EQPĆ&#x20AC;KVQ FGUKIPCPFQ WO ICPJCFQT G QWVTQ RGTFGFQT WO ICPJC Q UGW RTQEGUUQ Q outro o perde - e as duas partes saem do tribunal mais adversĂĄrias do que nunca. A mediação nĂŁo se preocupa tanto em julgar um facto passado - que ĂŠ o que faz a instituição judicial - como em apoiar-se nele para o ultraRCUUCT G RGTOKVKT SWG QU CFXGTUÂśTKQU FG QPVGO KPXGPVGO WO HWVWTQ NKDGTVQ FQ RGUQ FG UGW RCUUCFQĹ&#x2019; /7..'4 Jean - Marie. NĂŁo-violĂŞncia na educação 6TCFWĂ ÂşQ FG 6Ă?PKC 8CP #EMGT 5ÂşQ 2CWNQ 2CNCU #VJGPCU p. 171). /7..'4 ,GCP /CTKG NĂŁo-violĂŞncia na educação 6TCFWĂ ÂşQ FG 6Ă?PKC 8CP #EMGT 5ÂşQ 2CWNQ 2CNCU #VJGnas, 2006. %#./10 2GVTĂ?PKQ Fundamentos da mediação e da conciliação. BrasĂlia: Gazeta JurĂdica, 2015. p. 144. 61 BARBOSA, Ivan Machado. FĂłrum de mĂşltiplas portas: uma proposta de aprimoramento processual. In: #<'8'&1 #PFTĂ&#x192; )QOOC FG 'UVWFQU GO CTDKVTCIGO OGFKCĂ ÂşQ G PGIQEKCĂ ÂşQ $TCUĂ&#x2C6;NKC 'F )TWRQU FG Pesquisa, 2003. v. 2. DisponĂvel em: <http://vsites.unb. br/fd/gt/Volume2.pdf>. Acesso em: 23 jun. 2013. 62 BARBOSA, Ivan Machado. FĂłrum de mĂşltiplas portas: uma proposta de aprimoramento processual. In: #<'8'&1 #PFTĂ&#x192; )QOOC FG 'UVWFQU GO CTDKVTCIGO OGFKCĂ ÂşQ G PGIQEKCĂ ÂşQ. $TCUĂ&#x2C6;NKC 'F )TWRQU FG Pesquisa, 2003. v. 2. DisponĂvel em: <http://vsites.unb. br/fd/gt/Volume2.pdf>. Acesso em: 23 jun. 2013. 1.+8'+4# .WVJ[CPC &GOCTEJK FG 52'0).'4 (CDKCPC /CTKQP O fĂłrum mĂşltiplas portas como polĂtica RĂ&#x2022;DNKEC FG CEGUUQ ´ LWUVKĂ C G ´ RCEKĹżECĂ ÂşQ UQEKCN. Curitiba: MultidĂŠia, 2013. /14#+5 ,QUG .WKU $QN\CP FG 52'0).'4 (CDKCPC /CTKQP Mediação e arbitragem CNVGTPCVKXCU ´ LWTKUFKĂ ÂşQ 2QTVQ #NGITG .KXTCTKC FQ #FXQICFQ )1.&$'4) 5VGRJGP $ GV CN &KURWVG TGUQNWVKQP PGIQVKCVKQP OGFKCVKQP CPF QVJGT RTQEGUUGU GF 0GY York: Aspen Publishers, 2012. 1.+8'+4# .WVJ[CPC &GOCTEJK FG 52'0).'4 (CDKCPC /CTKQP O fĂłrum mĂşltiplas portas como polĂtica RĂ&#x2022;DNKEC FG CEGUUQ ´ LWUVKĂ C G ´ RCEKĹżECĂ ÂşQ UQEKCN. Curitiba: MultidĂŠia, 2013. %#./10 2GVTĂ?PKQ Fundamentos da mediação e da conciliação. BrasĂlia: Gazeta JurĂdica, 2015. 68 BARBOSA, Ivan Machado. FĂłrum de mĂşltiplas portas: uma proposta de aprimoramento processual. In: #<'8'&1 #PFTĂ&#x192; )QOOC FG 'UVWFQU GO CTDKVTCIGO OGFKCĂ ÂşQ G PGIQEKCĂ ÂşQ. $TCUĂ&#x2C6;NKC 'F )TWRQU FG Pesquisa, 2003. v. 2. DisponĂvel em: <http://vsites.unb. br/fd/gt/Volume2.pdf>. Acesso em: 23 jun. 2013. )1.&$'4) 5VGRJGP $ GV CN Dispute resolution: negotiation, mediation, and other processes. 5. ed. New York: Aspen Publishers, 2012. 0GUUG UGPVKFQ %CNOQP +P %#./10 2GVTĂ?PKQ Fundamentos da mediação e da conciliação. BrasĂlia: Gazeta JurĂdica, 2015. p. 96) refere que â&#x20AC;&#x153;o nĂşmero de jurados ĂŠ reduzido e ĂŠ possĂvel atĂŠ dividir os jurados GO FQKU LĂ&#x2022;TKU FKUVKPVQU C ĹżO FG RTQRQTEKQPCT SWG UGLCO EQNJKFCU FWCU QRKPKĂ?GU FKUVKPVCU SWG RQFGO QW PÂşQ coincidir.â&#x20AC;? 1.+8'+4# .WVJ[CPC &GOCTEJK FG 52'0).'4 (CDKCPC /CTKQP O fĂłrum mĂşltiplas portas como polĂtica RĂ&#x2022;DNKEC FG CEGUUQ ´ LWUVKĂ C G ´ RCEKĹżECĂ ÂşQ UQEKCN. Curitiba: MultidĂŠia, 2013. p. 103. 72 Tradução livre: â&#x20AC;&#x153;para aqueles casos novos ou nĂŁo usuais em que o veredicto do jĂşri ĂŠ difĂcil de prever e a FKĹżEWNFCFG Ă&#x192; CNECPĂ CT WO CEQTFQ Ĺ&#x2019; )1.&$'4) 5VGRJGP $ GV CN Dispute resolution: negotiation, mediation, and other processes. 5. ed. New York: Aspen Publishers, 2012. p. 435. 74 Compreende-se que â&#x20AC;&#x153;the concept underlying the minitrial is that it provides each business executive with a ETCUJ EQWTUG KP VJG OGTKVU QH VJG FKURWVG Ĺ&#x152; C DTKGH DWV ĹżTUVJCPF XKGY QH VJG DGUV ECUG VJCV ECP DG RWV HQTYCTF D[ the attorneys for both sides, supplemented, if necessary, by the views of a neutral. Armed with this information, as well as their knowledge of the business relationships of the parties, the executives are equipped to negotiate C TGUQNWVKQP QH VJGKT FKURWVG VJCV OCMGU DWUKPGUU UGPUGĹ&#x2019; )1.&$'4) 5VGRJGP $ GV CN Dispute resolution: negotiation, mediation, and other processes. 5. ed. New York: Aspen Publishers, 2012. p. 431). Tradução livre: â&#x20AC;&#x153;o conceito subjacente ao minitrial ĂŠ que ele fornece a cada executivo com um curso intensivo sobre o mĂŠrito da controvĂŠrsia - uma visĂŁo breve, mas em primeira mĂŁo do melhor dos casos que podem ser invocados pelos advogados de ambos os lados, acrescentando-se, se necessĂĄrio, o ponto de vista do terceiro neutro. Armados
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com esta informação, bem como os seus conhecimentos sobre as relaçþes comerciais das partes, os executivos GUVÂşQ RTGRCTCFQU RCTC PGIQEKCT WOC TGUQNWĂ ÂşQ FQ UGW EQPĆ&#x20AC;KVQ SWG HC\ UGPVKFQ RCTC QU PGIĂ&#x17D;EKQU Ĺ&#x2019; %#./10 2GVTĂ?PKQ Fundamentos da mediação e da conciliação. BrasĂlia: Gazeta JurĂdica, 2015. 2CTC )QNFDGTI 5CPFGT 4QIGTU G %QNG +P )1.&$'4) 5VGRJGP $ GV CN Dispute resolution: negotiation, mediation, and other processes. 5. ed. New York: Aspen Publishers, 2012. p. 423), â&#x20AC;&#x153;the central advantage of med-arb over â&#x20AC;&#x153;pureâ&#x20AC;? mediation followed if necessary by â&#x20AC;&#x153;pureâ&#x20AC;? arbitration, in which different neutrals serve CU OGFKCVQT CPF CTDKVTCVQT KU UCKF VQ DG VJCV QH GHĹżEKGPE[ Ĺ&#x2019; 6TCFWĂ ÂşQ NKXTG Ĺ&#x2018;C RTKPEKRCN XCPVCIGO FC OGF CTD diante da mediação â&#x20AC;&#x153;puraâ&#x20AC;? seguida da arbitragem â&#x20AC;&#x153;puraâ&#x20AC;?, na qual diferentes neutros sĂŁo mediador e ĂĄrbitro, ĂŠ C GĹżEKĂ&#x201E;PEKC Ĺ&#x2019; %#./10 2GVTĂ?PKQ Fundamentos da mediação e da conciliação. BrasĂlia: Gazeta JurĂdica, 2015. p. 93. 78 Adiciona-se que esses mĂŠtodos â&#x20AC;&#x153;tĂŞm em comum o fato de reunirem dois mecanismos privados e espontâneos, SWG RQFGO UGT TGCNK\CFQU UQD QTKGPVCĂ ÂşQ EQQTFGPCFC OCU FGXG UG CVGPVCT ´ PGEGUUKFCFG FG UGRCTCT CU HWPĂ Ă?GU FQ OGFKCFQT G FQ ÂśTDKVTQ RCTC GXKVCT SWCNSWGT KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC QW SWGDTC FQ UKIKNQ ECTCEVGTĂ&#x2C6;UVKECU KPVTĂ&#x2C6;PUGECU ´ mediação. No sistema med/arb, caso o mediador seja sucessivamente o ĂĄrbitro, ele jĂĄ terĂĄ ouvido as partes em aspectos sensĂveis, contaminando sua imparcialidade. JĂĄ no sistema arb/med, apesar de o ĂĄrbitro jĂĄ ter prolatado a sentença, nĂŁo tendo conhecido qualquer fato reservado das partes, seu conhecimento da decisĂŁo, que GNG RTĂ&#x17D;RTKQ GNCDQTQW Q HCTÂś CIKT UQD GUUC KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC EQPVCOKPCPFQ C EQPFWĂ ÂşQ FCU VTCVCVKXCU RCTC Q CEQTFQĹ&#x2019;
%#./10 2GVTĂ?PKQ Fundamentos da mediação e da conciliação. BrasĂlia: Gazeta JurĂdica, 2015. p. 93-94). 1.+8'+4# .WVJ[CPC &GOCTEJK FG 52'0).'4 (CDKCPC /CTKQP O fĂłrum mĂşltiplas portas como polĂtica RĂ&#x2022;DNKEC FG CEGUUQ ´ LWUVKĂ C G ´ RCEKĹżECĂ ÂşQ UQEKCN. Curitiba: Multideia, 2013. p. 103. %QOQ TGHGTGO )QNFDGTI 5CPFGT 4QIGTU G %QNG +P )1.&$'4) 5VGRJGP $ GV CN Dispute resolution: negotiation, mediation, and other processes. 5. ed. New York: Aspen Publishers, 2012. p. 436), â&#x20AC;&#x153;the personâ&#x20AC;&#x2122;s job is to help resolve work-related disputed through informal counseling, mediation, or, more rarely, investigation and recommendations to managementâ&#x20AC;?. Ademais, â&#x20AC;&#x153;ombudspeople attempt to assure employees not only VJCV VJG[ CTG PGWVTCN DWV VJCV VJG[ YKNN MGGR CNN EQOOWPKECVKQPU EQPĹżFGPVKCN CPF JGNR VQ RTQVGEV EQORNCKPKPI employees from reprisalsâ&#x20AC;?. Tradução livre: â&#x20AC;&#x153;o trabalho ĂŠ ajudar a resolver disputas relacionadas ao trabalho por OGKQ FG CEQPUGNJCOGPVQ KPHQTOCN OGFKCĂ ÂşQ G OCKU TCTCOGPVG KPXGUVKICĂ ÂşQ G GPECOKPJCOGPVQ ´ IGTĂ&#x201E;PEKCĹ&#x2019; / â&#x20AC;&#x153;o ouvidor busca assegurar aos empregados nĂŁo somente que ele ĂŠ neutro, mas que manterĂĄ toda a comuniECĂ ÂşQ EQPĹżFGPEKCN G RTQVGIGTÂś CU TGENCOCĂ Ă?GU FQU GORTGICFQU C UCNXQ FG TGRTGUÂśNKCU Ĺ&#x2019; %#./10 2GVTĂ?PKQ Fundamentos da mediação e da conciliação. BrasĂlia: Gazeta JurĂdica, 2015. p. 93. -GRRGP G /CTVKPU +P -'22'0 .WK\ (GTPCPFQ 6QOCUK /#46+05 0CFKC $GXKNCSWC Introdução Ă resoluĂ ÂşQ CNVGTPCVKXC FG EQPĆ&#x20AC;KVQU: negociação, mediação, levantamento de fatos, avaliação tĂŠcnica independente. %WTKVKDC ,/ .KXTCTKC ,WTĂ&#x2C6;FKEC R KPFKECO VCODĂ&#x192;O EQOQ RQTVC Q NGXCPVCOGPVQ FG FCFQU fact ĹżPFKPI Q SWCN Ĺ&#x2018;EQPUKUVG GO WOC HQTOC IGTCN FG KPXGUVKICĂ ÂşQ CEWTCFC UQDTG QU HCVQU IGTCFQTGU FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ efetuada por uma terceira pessoa imparcial, que poderĂĄ apresentar relatĂłrio e fazer um aconselhamento sobre QU VGTOQU FQ CEQTFQ 'UUG OĂ&#x192;VQFQ RQFG VQOCT OWKVCU HQTOCU RWTCU QW EQODKPCFCU =Ĺ&#x2014;?Ĺ&#x2019; EQOQ C CXCNKCĂ ÂşQ tĂŠcnica independente ou o mini jĂşri. Adiciona, igualmente, o mĂŠtodo baseball (last-offer arbitration) ou arbitragem vinculada, cuja ideia â&#x20AC;&#x153;ĂŠ uma combinação de negociação e arbitragem. As partes negociam o ponto de impasse e entĂŁo submetem alternativas ao ĂĄrbitro, cuja responsabilidade Ăşnica ĂŠ selecionar a oferta de uma QW FG QWVTC RCTVGĹ&#x2019; R # UGW VWTPQ %CNOQP +P %#./10 2GVTĂ?PKQ Fundamentos da mediação e da conciliação. BrasĂlia: Gazeta JurĂdica, 2015. p. 95) apresenta o EQPĹżFGPVKCN NKUVGPGT ou ouvinte neutro EQPĹżFGPEKCN QW UGLC WO VGTEGKTQ KORCTEKCN C SWGO CU RCTVGU CRTGUGPVCO C UWC RTQRQUVC FG QHGTVC ĹżPCN &GUUG OQFQ Ĺ&#x2018;UGO TGXGNCT Q EQPVGĂ&#x2022;FQ FG ECFC RTQRQUVC ´ RCTVG EQPVTÂśTKC Q QWXKPVG PGWVTQ NJG KPHQTOC UG FKCPVG dessas propostas, hĂĄ qualquer possibilidade de se chegar a um acordo ou se, ao contrĂĄrio, suas posiçþes sĂŁo FGOCUKCFCOGPVG FKUVCPVGU 'O IGTCN QU NKOKVGU FC QHGTVC UÂşQ ĹżZCFQU CPVGTKQTOGPVG EQOQ VCODĂ&#x192;O QU ETKVĂ&#x192;TKQU para resolver eventual diferença. Se as ofertas sĂŁo apresentadas fora dos limites, o ouvinte pode tentar mediar um acordo. O ouvinte nĂŁo precisa explicar os critĂŠrios de sua conclusĂŁo e deve manter a mais rigorosa reserva sobre o conteĂşdo de cada proposta, a menos que as partes o dispensem dessa obrigação.â&#x20AC;? 5#.'5 .KNKC /CKC FG /QTCKU 5175# /CTKCPC #NOGKFC FG 1 UKUVGOC FG OĂ&#x2022;NVKRNCU RQTVCU G Q LWFKEKÂśTKQ brasileiro. Direitos Fundamentais & Justiça, v. 5, n. 16, p. 204-220, jul./set. 2011. /14#+5 ,QUG .WKU $QN\CP FG 52'0).'4 (CDKCPC /CTKQP Mediação e arbitragem CNVGTPCVKXCU ´ LWTKUFKĂ ÂşQ 2QTVQ #NGITG .KXTCTKC FQ #FXQICFQ
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1.+8'+4# .WVJ[CPC &GOCTEJK FG 52'0).'4 (CDKCPC /CTKQP O fĂłrum mĂşltiplas portas como polĂtica RĂ&#x2022;DNKEC FG CEGUUQ ´ LWUVKĂ C G ´ RCEKĹżECĂ ÂşQ UQEKCN. Curitiba: Multideia, 2013. p. 109. 86 Gabbay (In: GABBAY, Daniela Monteiro. Mediação & JudiciĂĄrio no Brasil e nos EUA EQPFKĂ Ă?GU FGUCĹżQU G limites para a institucionalização da mediação no judiciĂĄrio. BrasĂlia: Gazeta JurĂdica, 2013. p. 151-176) realizou WOC RGUSWKUC GORĂ&#x2C6;TKEC GO SWCVTQ RTQITCOCU OWNVKRQTVCU FQU 'UVCFQU FG (NĂ&#x17D;TKFC 1JKQ %QPPGEVKEWV G /CKPG #RĂ&#x17D;U C EQNGVC FG FCFQU CĹżTOC SWG Ĺ&#x2018;QU RQPVQU EQPUKFGTCFQU EQOQ EGPVTCKU RCTC Q UWEGUUQ FQU RTQITCOCU FG OGFKCĂ ÂşQ HQTCO K HQTVG UWRQTVG FQ ,WFKEKÂśTKQ CQU RTQITCOCU FG UQNWĂ ÂşQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU CPGZQU ´ %QTVG KK WOC ENCTC FGĹżPKĂ ÂşQ FCU HQTOCU G QRĂ Ă?GU FG UQNWĂ Ă?GU FG EQPĆ&#x20AC;KVQU KKK WO SWCFTQ FG HWPEKQPÂśTKQU FC %QTVG CNVCOGPVG GZRGTKGPVG G SWCNKĹżECFQ RCTC KORNGOGPVCT OQPKVQTCT G CXCNKCT QU RTQITCOCU KX WO RTQEGUUQ FG GFWECĂ ÂşQ FQU CFXQICFQU G FCU RCTVGU UQDTG CU QRĂ Ă?GU FG UQNWĂ ÂşQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU EQODKPCFQ C ETKVĂ&#x192;TKQU QW C OĂ&#x192;VQFQU RCTC VTKCIGO FQU ECUQU SWG UÂşQ FKTGEKQPCFQU CQU RTQEGUUQU FG UQNWĂ ÂşQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU X TGSWGTKOGPVQ CQU NKVKICPVGU RCTC FGDCVGTGO CU GUEQNJCU FG UQNWĂ ÂşQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU G Q RTQEGUUQ FC %QTVG FG VTKCIGO G GPECOKPJCOGPVQ FQU ECUQU XK GUEQNJC FCU RCTVGU UQDTG SWCN RTQEGUUQ FG UQNWĂ ÂşQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU UGNGEKQPCT RCTC ECFC ECUQ GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQ (vii) provedores e servidores, internos e externos ao JudiciĂĄrio, de qualidade e sistemas de manutenção desta qualidade e integridade; (viii) plena integração do programa de solução de disputas com o gerenciamento dos casos e um agendamento realista do julgamento.â&#x20AC;? 87 Assim, â&#x20AC;&#x153;the programs were designed to function as an integral part of the administration of the courts and to divert cases to the most appropriate â&#x20AC;&#x2DC;doorâ&#x20AC;&#x2122; using screening criteria suggested by Sander and further developed in each project. Unlike individual court-annexed dispute resolution programs, the multi-door model provides a coordinated approach to dispute resolution with intake and referral operating under one centralized program, rather than independently. Flexibility, which enables each system to adapt the multi-door concept, has DGGP C JCNNOCTM QH VJGUG RTQITCOUĹ&#x2019; (4'0%* 4QDGTV Perspectives on court annexed alternative dispute resolution. 2009. DisponĂvel em: <http://www.hcourt.gov.au/assets/publications/speeches/current-justices/ frenchcj/frenchcj27july09.pdf>. Acesso em: 28 maio 2014. p. 5-6). Tradução livre: â&#x20AC;&#x153;Os programas foram EQPEGDKFQU RCTC HWPEKQPCT EQOQ RCTVG KPVGITCPVG FC CFOKPKUVTCĂ ÂşQ FQU 6TKDWPCKU G RCTC GPECOKPJCT ECUQU ´ â&#x20AC;&#x153;portaâ&#x20AC;? mais apropriada, usando critĂŠrios de triagem sugeridos por Sander e desenvolvidos em cada projeto. Ao contrĂĄrio dos programas individuais de resolução de litĂgios, o modelo do MĂşltiplas Portas fornece uma CDQTFCIGO EQQTFGPCFC ´ TGUQNWĂ ÂşQ FG NKVĂ&#x2C6;IKQU EQO C KPIGUVÂşQ G Q GPECOKPJCOGPVQ QRGTCPFQ UQD WO RTQITCOC centralizado ao invĂŠs de forma independente. Flexibilidade a qual permite que a adaptação de cada sistema ao conceito MĂşltiplas Portas ĂŠ uma marca desse programa.â&#x20AC;?
CONSENSUAL JUSTICE IN THE OPEN-DOOR COURTHOUSE MODEL AND THE NORTH-AMERICAN POLICY FOR THE TREATMENT OF CONFLICTS: CONTRIBUTIONS TO THE BRAZILIAN MODEL ABSTRACT 6JKU YQTM JCU CU KVU UWDLGEV EQPUGPUWCN LWUVKEG CPF VJG EQPĆ&#x20AC;KEV VTGCVOGPV and is focused on studying the North American Multi-Door Courthouse model and its possible contributions to the Brazilian Public Policy for VJG 6TGCVOGPV QH %QPĆ&#x20AC;KEVU Ĺ&#x152; 4GUQNWVKQP PWODGT HTQO 0QXGODGT 29th, 2010 of the Brazilian National Justice Council. This study, from a hypothetical-deductive approach and bibliographical research, deserves C FGGRGPGF CPCN[UKU FWG VQ VJG FKHĹżEWNVKGU HCEGF D[ VJG VTCFKVKQPCN
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OGVJQFU CFQRVGF D[ VJG ,WFKEKCT[ VQ UCVKUHCEVQTKN[ CPUYGT CNN EQPÆ&#x20AC;KEVU and the obstacles the alternative methods of dispute resolution face in $TC\KN KP QTFGT VQ DG UQNKFKÅ¿GF CU C EQPÆ&#x20AC;KEV VTGCVOGPV OGVJQF 1P VJG other hand, it indicates the experience in the United States, where the alternative methods have been studied since the 1920s, recognized a dichotomous approach, with which the parties themselves can build their responses according to their needs, interests and mutual relationship. So, EQPUKFGTKPI VJG EJCTCEVGTKUVKEU QH VJG EQPÆ&#x20AC;KEV KV RTGUGPVU VJG OQUV UWKVCDNG OGVJQF HQT VJGKT EQPÆ&#x20AC;KEV GPUWTKPI VJG UCVKUHCEVKQP QH VJQUG KPXQNXGF +P this sense, it guarantees access to the justice in wide sense and strengthens social participation of the person, thus fomenting a culture of peace, of CNVGTKV[ CPF QH VTGCVKPI QH EQPÆ&#x20AC;KEV KP C SWCNKVCVKXG YC[ OQTG UWKVGF VQ VJG EJCTCEVGTKUVKEU QH GCEJ KPFKXKFWCN RGTUQP CPF EQPÆ&#x20AC;KEV V[RG Keywords: 6TGCVOGPV QH EQPÆ&#x20AC;KEV Multi-Door Courthouse. Consensual Justice. Culture of Peace.
Submetido: 1 fev. 2017 Aprovado: 10 maio 2017
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doi:10.12662/2447-6641oj.v15i20.p112-137.2017
(IN) CONSONĂ&#x201A;NCIA DA TUTELA ANTECIPADA NO CPC DE 2015 COM O ESTADO DEMOCRĂ TICO DE DIREITO1 Edmilson Araujo Rodrigues* Cynara Silde Mesquita Veloso** 1 Introdução: o paradigma da tutela provisĂłria. 2 A tutela provisĂłria de urgĂŞncia antecipada. 2.1 A tipologia da tutela antecipada. 2.2 A tutela antecipada no novo cĂłdigo de processo civil de 2015. 3 As diferentes formas de tutela provisĂłria. 4 A tutela antecipada e a teoria neoinstitucionalista do processo. 4.1 O contraditĂłrio, a isonomia e a ampla defesa na democratização da tutela antecipada. 5 ConclusĂŁo. ReferĂŞncias.
RESUMO Objetivou-se neste artigo analisar a tutela provisĂłria de urgĂŞncia antecipada no NCPC de 2015 com enfoque na teoria neoinstitucionalista do processo. A partir dessa matriz teĂłrica, questiona-se: serĂĄ que a tutela provisĂłria de WTIĂ&#x201E;PEKC CPVGEKRCFC PQ 0%2% FG GUVÂś GO EQPUQP¸PEKC EQO Q 'UVCFQ democrĂĄtico de direito? Para responder ao enigma em questĂŁo, o caminho OGVQFQNĂ&#x17D;IKEQ FC RGUSWKUC UGTÂś ENCUUKĹżECFQ SWCPVQ ´ HQTOC FG CDQTFCIGO FG qualitativa e do ponto de vista dos seus objetivos serĂĄ exploratĂłria. No que VCPIG CQU RTQEGFKOGPVQU VĂ&#x192;EPKEQU CFQVCFQU PC CPÂśNKUG C RGUSWKUC UGTÂś FGĹżPKFC EQOQ DKDNKQITœſEC G FQEWOGPVCN WOC XG\ SWG UGTÂś WVKNK\CFQ WO TGHGTGPEKCN teĂłrico por meio de doutrinas e da legislação pertinente. Os resultados da investigação levaram a considerar que, embora o instituto em destaque seja importante, hĂĄ, pois, uma incongruĂŞncia no que se refere ao acesso igualitĂĄrio ´ LWUVKĂ C RGPUCFC PC RGTURGEVKXC FQU NKVKICPVGU #UUKO RGTEGDG UG C PÂşQ RQUsibilidade do contraditĂłrio e da ampla defesa para o polo passivo da relação processual em consonância com o princĂpio da igualdade pensado de forma TGEĂ&#x2C6;RTQEC 'UUC TGUVTKĂ ÂşQ UG TGHGTG ´ KORQUUKDKNKFCFG FC RCTVKEKRCĂ ÂşQ FQ TĂ&#x192;W PC fase preliminar do processo, uma vez que, ao ser concedida a tutela provisĂłria FG WTIĂ&#x201E;PEKC CPVGEKRCFC RGNQ OQFGNQ CVWCN Q FGOCPFCFQ ĹżEC UWDOGVKFQ C uma decisĂŁo sem que tenha previamente participado do debate processual e contribuĂdo com o resultado da decisĂŁo em respeito ao princĂpio da cooperação 'TTCVC C XGTUÂşQ QTKIKPCN FQ RTGUGPVG CTVKIQ QOKVKW Q PQOG FG %[PCTC 5KNFG /GUSWKVC 8GNQUQ FQ TQN FG UGWU CWVQTGU 'ODQTC C QOKUUÂşQ PÂşQ VGPJC FGEQTTKFQ FG GTTQ ECWUCFQ RGNQ RGTKĂ&#x17D;FKEQ GUVCOQU TGRWDNKECPFQ Q TGHGTKFQ CTVKIQ LÂś PQ KPĂ&#x2C6;EKQ FG CIQUVQ FG C RGFKFQ FC RCTVG KPVGTGUUCFC C ĹżO FG UCPCT C QOKUUÂşQ *
Doutor em CiĂŞncias JurĂdicas e Sociais pela Universidad Del Museo Social Argentino-UMSA. Professor 1TKGPVCFQT FQ %GPVTQ FG 2GUSWKUC FC (WPQTVG GO /QPVGU %NCTQU /) ' OCKN GGFFOKNUQP"KI EQO DT
** Doutora em Direito Processual pela PUCMinas, Docente do Curso de Direito das Faculdades Integradas 2KVÂśIQTCU GO /QPVGU %NCTQU /) ' OCKN E[PCTCUKNFG"[CJQQ EQO DT
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G FQ EQPVTCFKVĂ&#x17D;TKQ CNKPJCFQU CQ RQFGT FG KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC CVKPGPVG CQ FKTGKVQ FCU partes. Por conseguinte, o estudo considerou tambĂŠm que a tutela antecipada da forma como ĂŠ normatizada, embora seja uma alternativa para â&#x20AC;&#x153;o autor que tem razĂŁoâ&#x20AC;? â&#x20AC;&#x201C; na expressĂŁo cunhada por Marinoni; nĂŁo se mostra razoĂĄvel, dentro da perspectiva do devido processo legal. Diante disso, pode-se concluir que a tutela provisĂłria de urgĂŞncia antecipada deve ser aperfeiçoada e, com KUUQ CETGUEGPVCT C CWFKĂ&#x201E;PEKC FG LWUVKĹżECĂ ÂşQ RTĂ&#x192;XKC QDTKICVĂ&#x17D;TKC PC HCUG KPKEKCN do processo no qual serĂĄ respeitado o princĂpio do contraditĂłrio, da ampla defesa e da isonomia. Palavras-chaves: Tutela provisĂłria de urgĂŞncia antecipada. Teoria neoinstitucionalista do processo. ContraditĂłrio. Isonomia. Ampla defesa.
1 INTRODUĂ&#x2021;Ă&#x192;O: O PARADIGMA DA TUTELA PROVISĂ&#x201C;RIA A tutela provisĂłria ĂŠ um conceito novo criado para compor o rol de direitos processuais previstos no Novo CĂłdigo de Processo Civil de 2015 (NCPC/2015) que entrou em vigor no QTFGPCOGPVQ LWTĂ&#x2C6;FKEQ DTCUKNGKTQ GO FG OCTĂ Q FG RQT OGKQ FC .GK P 'UUC PQXC HQTOC FG VWVGNC LWTKUFKEKQPCN FG EQIPKĂ ÂşQ UWOÂśTKC VGO RTGXKUÂşQ KPFKECFC PQU CTVKIQU C FQ 0%2% 'ODQTC EQO PQOGPENCVWTC OQFGTPC C PQXC NGK RTQEGUUWCN VTQWZG reminiscĂŞncia da tutela antecipada, prevista no art. 273 da lei processual ora revogada de 1973 (CPC/73) e da tutela cautelar alocada no art. 796 e seguintes do CPC/73 outrora revogado. Cumpre destacar que, dentro do gĂŞnero tutela provisĂłria, que engloba as tutelas de WTIĂ&#x201E;PEKC G GXKFĂ&#x201E;PEKC Q ECORQ FG CPÂśNKUG UGTÂś CVKPGPVG ´ VWVGNC RTQXKUĂ&#x17D;TKC FG WTIĂ&#x201E;PEKC UGPFQ GUUC TCOKĹżECFC RGNCU VWVGNCU RTQXKUĂ&#x17D;TKCU FG WTIĂ&#x201E;PEKC ECWVGNCT G CPVGEKRCFC 6QFCXKC Q HQEQ do trabalho se abstĂŠm das demais espĂŠcies para centrar-se na abordagem da tutela provisĂłria de urgĂŞncia antecipada, objeto de estudo em questĂŁo. Ă&#x2030; importante salientar, outrossim, que o intento deste trabalho ĂŠ analisar a tutela provisĂłria na modalidade de urgĂŞncia, com ĂŞnfase na tutela antecipada a partir da sua adequação aos princĂpios constitucionais do devido processo legal, quais sejam: os princĂpios do contraditĂłrio, da isonomia e da ampla defesa. Ă&#x2030; de todo proveitoso ressaltar que o desiderato aduzido ĂŠ trazer uma discussĂŁo sobre o tema susodito e confrontar a teoria instrumentalista que instituiu a tutela provisĂłria com a teoria crĂtica denominada de teoria neoinstitucionalista do processo. Ainda nesse linear, ĂŠ de suma importância ponderar que a tutela provisĂłria de WTIĂ&#x201E;PEKC CPVGEKRCFC PGEGUUKVC FG WOC TGHNGZÂşQ G WO CRTKOQTCOGPVQ 'ODQTC UGLC um instituto de suma importância para o ordenamento brasileiro, na perspectiva da teoria instrumentalista do processo vinculada ao esteriĂłtipo da celeridade na RGTURGEVKXC FQ CWVQT SWG PÂşQ RQFG UWRQTVCT Q Ă?PWU FQ VGORQ %QOQ EQPVTCRQPVQ
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dessa anĂĄlise, entende-se que a tutela provisĂłria de urgĂŞncia antecipada, para ser compatĂvel com o devido processo legal, necessita de adaptaçþes, visto que a decisĂŁo liminar em discussĂŁo entabulada no NCPC/2015 nĂŁo cria como regra a participação FC RCTVG CFXGTUC PQ NKOKCT FQ RTQEGUUQ RTGEGFGPVGOGPVG ´ FGEKUÂşQ LWFKEKCN 'UUG HGPĂ?OGPQ TGRTGUGPVC WOC TGNCVKXK\CĂ ÂşQ CQ RTKPEĂ&#x2C6;RKQ EQPUVKVWEKQPCN FQ EQPVTCFKVĂ&#x17D;TKQ que irrompe contra a teoria de Fazzalari 1 que visualizara o processo como sendo um procedimento em contraditĂłrio. Nessa perspectiva, a decisĂŁo solipsista do julgador apresentada nĂŁo tem compatibiliFCFG EQO FKTGKVQ CQ CEGUUQ ´ LWUVKĂ C GO UWC RNGPKVWFG RGPUCFC GO WOC FKP¸OKEC DKNCVGTCN KUVQ Ă&#x192; FKTGKVQ FG CĂ ÂşQ G FKTGKVQ FG GZEGĂ ÂşQ 'UUC TGĆ&#x20AC;GZÂşQ ETKC OGECPKUOQU FG CPÂśNKUG UQDTG Q RTKPEĂ&#x2C6;RKQ FC KIWCNFCFG FG EQPFKĂ Ă?GU GPVTG CU RCTVGU G VCODĂ&#x192;O GO TGNCĂ ÂşQ ´ CRNKECDKNKFCFG FC RCTKFCFG FG CTOCU RTGXKUVC PQ CTV FQ 0%2% G CQ RTKPEĂ&#x2C6;RKQ FC EQQRGTCĂ ÂşQ 'UUG CZKCN Ă&#x192; Q GUEĂ&#x17D;NKQ FQ RQFGT FG KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC FCU RCTVGU TGEJCĂ CFQ RGNC FGEKUÂşQ FQ OCIKUVTCFQ RGTURGEVKXCFC WPKNCVGTCNOGPVG Â? NW\ FGUUGU HWPFCOGPVQU Q SWG UG SWGUVKQPC PQ RTGUGPVG trabalho ĂŠ se a tutela provisĂłria de urgĂŞncia antecipada prevista no NCPC/2015 estĂĄ de acorFQ EQO Q 'UVCFQ &GOQETÂśTVKEQ FG &KTGKVQ 1DUGTXC UG EQO CIWFG\C RQT OGKQ FC RGUSWKUC em anĂĄlise, que o instituto da tutela de urgĂŞncia antecipada necessita da inclusĂŁo no texto normativo de garantias constitucionais do contraditĂłrio, da ampla defesa e da isonomia para que os litigantes tenham condiçþes de manifestar-se antes da decisĂŁo, respeitando-se, assim, Q RQFGT FG KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC VTC\KFQ RGNCU RCTVGU CQ RTQEGUUQ
2 A TUTELA PROVISĂ&#x201C;RIA DE URGĂ&#x160;NCIA ANTECIPADA # 6+21.1)+# &# 676'.# #06'%+2#&# O instituto da tutela antecipada no novo CĂłdigo de Processo Civil de 20152 ganhou uma nova roupagem e se constitui como um arcabouço denominado de tutela provisĂłria que CDCTEC VTĂ&#x201E;U VKRQU FG VWVGNC C VWVGNC CPVGEKRCFC C VWVGNC ECWVGNCT G RQT ĹżO C XGTFCFGKTC novidade,3 a tutela de evidĂŞncia. Direcionando o foco para a tutela antecipada, percebe-se SWG Q EQPEGKVQ FG VWVGNC CPVGEKRCFC RQFG UGT FGNKPGCFQ RQT WO RTKOGKTQ UKIPKĹżECFQ SWG XKPFQ ´ VQPC RQFG UG SWGUVKQPCT Q SWG UG CPVGEKRC CPVGEKRC UG Q SWĂ&#x201E;! 'O VGTOQU FG XQECDWNÂśTKQ UKIPKĹżEC HC\GT EJGICT QW QEQTTGT CPVGU FQ VGORQ OCTECFQ CFKCPVCT UG 4 Como explica %CTOKPIPCPK Q UGPVKFQ FG VWVGNC CPVGEKRCFC Ĺ&#x2018;= ? FGRTGGPFG UG FQ RTĂ&#x17D;RTKQ UKIPKĹżECFQ FC RCNCXTC CFKCPVCT QU GHGKVQU FC VWVGNC SWG UGTÂś EQPEGFKFC CQ ĹżPCN UCVKUHC\GPFQ C RTĂ&#x17D;RTKC pretensĂŁo do autor, ainda que provisoriamente [...].â&#x20AC;?5 Para Zavascki,6 Q SWG UG CPVGEKRC CQ TGSWGTGT C VWVGNC Ă&#x192; C GĹżEÂśEKC UQEKCN G PÂşQ C LWTĂ&#x2C6;FKEQ HQTOCN 0Q OGUOQ KVKPGTÂśTKQ .QRGU7 destaca a natureza interlocutĂłria da tutela antecipada. 0QVC UG RQKU SWG C CĹżTOCĂ ÂşQ FGUUG CWVQT CFXĂ&#x192;O FQ GUENCTGEKOGPVQ FG SWG PÂşQ UG VTCVC
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GUUG KPUVKVWVQ FG WOC UGPVGPĂ C QW FG LWNICOGPVQ CPVGEKRCFQ FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ OCU Ĺ&#x2018;FG OGFKFC FG ECTÂśVGT RTQXKUĂ&#x17D;TKQ SWG XKUC C VWVGNCT OCKU GĹżEC\ G RTQPVCOGPVG Q FKTGKVQ FQ CWVQT UGORTG que ele preencher os requisitos exigidos pela lei.â&#x20AC;? Ă&#x2030; de todo conveniente assentar que, para concessĂŁo da tutela provisĂłria de urgĂŞncia antecipada, devem ser levados em conta os pressupostos de admissibilidade, ancorados na probabilidade do direito previsto tanto para tutela antecipada como para a tutela cautelar e PQ RGTKIQ FG FCPQ QW Q FQ TKUEQ CQ TGUWNVCFQ Ă&#x2022;VKN CQ RTQEGUUQ 'UUGU Ă&#x2022;NVKOQU TGSWKUKVQU EQPtemplam respectivamente a exigĂŞncia para a tutela antecipada e cautelar, respectivamente. Ainda sobre a tutela provisĂłria, destaca-se que os requisitos para a tutela de urgĂŞncia e para a tutela evidĂŞncia sĂŁo diferentes. Nessa toada, percebe-se que a tutela de urgĂŞncia contempla como requisito a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco de resultado Ă&#x2022;VKN CQ RTQEGUUQ 'O QWVTC FKTGĂ ÂşQ GUVÂś C VWVGNC FG GXKFĂ&#x201E;PEKC SWG VGO TGSWKUKVQU GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQU do art. 311 do NCPC/20158 e, independentemente do perigo de dano ou risco de resultado Ăştil ao processo, haverĂĄ concessĂŁo da medida. De modo esquematizado, segue o quadro 1 com os institutos ora denominados como HQTOC FG TCVKĹżECT Q CNJWTGU GRKITCHCFQ Tutela ProvisĂłria Urgente Antecipada
Cautelar
Probabilidade do Direito Perigo de Dano ou 4KUEQ FG 4GUWNVCFQ ÂVKN CQ 2TQEGUUQ
'XKFGPVG Art. 311 4GSWKUKVQU GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQU
Quadro 1 - Requisitos da Tutela Provisória Fonte: elaboração própria (2016) com base no novo CPC/2015.
Dentro desse diapasĂŁo, ĂŠ imprescindĂvel destacar que o CPC/739 elencava como requisitos para a concessĂŁo da tutela antecipada: (i) a prova inequĂvoca e (ii) a verossimilhança da alegação. Quanto ao processo cautelar, os requisitos eram fumus buni iuris e periculum in mora 'UUG EQPLWPVQ FG GZKIĂ&#x201E;PEKCU FG QWVTQTC TGRTGUGPVC Q COÂśNICOC CVWCN FGPQOKPCFQ FG probabilidade do direito de um lado e perigo de dano ou risco de resultado Ăştil ao processo FG QWVTQ &GUUC HQTOC QU TGSWKUKVQU SWG CPVGU GTCO GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQU RCTC ECFC VKRQ FG VWVGNC foram aglutinados para os 2 (dois) tipos de tutela provisĂłria de urgĂŞncia, seja para a tutela antecipada, seja para a tutela cautelar. Quanto ao contraditĂłrio, em decisĂŁo liminar, seja na tutela antecedente, seja na cumulativa com o processo principal, manteve-se o legislador renitente a sistemĂĄtica de relativizar o direito ao contraditĂłrio do polo adverso. Nesse sentido, mister destacar que o ordenamento jurĂdico brasileiro tenta subverter a ordem e sistemĂĄtica processual relativizando o contraditĂłrio entabulado outrora por Fazzalari,10 ETKCPFQ C ĹżIWTC FQ EQPVTCFKVĂ&#x17D;TKQ FKHGTKFQ
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#FXGTUCOGPVG GUUC RTGVGPUÂşQ XGO FGUVKVWĂ&#x2C6;FC FG HWPFCOGPVQU RGTGPGU 'UUC EQPUVCVCĂ ÂşQ ĂŠ perfeitamente notada ao confrontar os requisitos utilizados para a concessĂŁo da medida antecipatĂłria, que no CPC/7311 exigia como requisito a prova inequĂvoca e a verossimilhança da alegação. Por conseguinte, no NCPC/201512, essa exigĂŞncia ĂŠ outra, denominada de probabilidade do direito e perigo de dano ou risco ao resultado Ăştil ao processo. Nota-se, com esse enfrentamento, que o prĂłprio legislador nĂŁo foi capaz de sustentar os requisitos de QWVTQTC SWCN UGLC RTQXC KPGSWĂ&#x2C6;XQEC G XGTQUUKOKNJCPĂ C FC CNGICĂ ÂşQ 0ÂşQ UGPFQ CDUWTFQ CĹżTmar que esses requisitos do cĂłdigo revogado se demonstravam com uma interpretação muito particular e, quiçå, contraditĂłria: ou seja, como a prova seria inequĂvoca e verossimilhante? 'PVTGOGPVGU ECOKPJC UG RCTC FKTGEKQPCT Q GUVWFQ UQDTG CU XÂśTKCU HQTOCU FG VWVGNC antecipada, sendo necessĂĄrio trazer o escĂłlio de vĂĄrios doutrinadores como mecanismos para compreensĂŁo do sentido da tutela antecipada no ordenamento jurĂdico. Nesse patamar, Melo13 delineia a tutela antecipada como sendo a proteção ou o amparo antes do tempo que lhe seria prĂłprio. ConvĂŠm mencionar por oportuno que a sobredita autora lembra que, para a maioria dos autores, a tutela antecipada â&#x20AC;&#x153;ĂŠ a decisĂŁo que antecipa CNIWPU FQU GHGKVQU FC UGPVGPĂ C FGĹżPKVKXC Ĺ&#x2019;14 #FUVTKVQ PGUUC ENKXCIGO .GCN15 FGĹżPG C VWVGNC CPVGEKRCFC EQOQ C CRNKECĂ ÂşQ RQT CPVGcedĂŞncia dos â&#x20AC;&#x153;conteĂşdos tutelares da lei pelo ato sentencial interlocutĂłrio.â&#x20AC;? Para Mol,16 trata-se de uma tĂŠcnica processual de adiantamento da proteção da lei ou uma forma de precipitação do tempo para a proteção da parte, tendo em vista o seu direito como visto por Carmignani.17 De modo consequente, na teoria do processo, os vĂĄrios conceitos do que venha a ser a tutela provisĂłria de urgĂŞncia antecipada, parece haver uma unanimidade de que o seu sigPKĹżECFQ GUVÂś TGNCEKQPCFQ EQO WOC OGFKFC FG WTIĂ&#x201E;PEKC QW EQO C RTGUVCĂ ÂşQ LWTKUFKEKQPCN SWG XKUC C UCVKUHC\GT Q FKTGKVQ FQ CWVQT CPVGU FQ OQOGPVQ CFGSWCFQ QW UGLC FC FGEKUÂşQ ĹżPCN /CU C FGĹżPKĂ ÂşQ FG VWVGNC RTQXKUĂ&#x17D;TKC FG WTIĂ&#x201E;PEKC CPVGEKRCFC VGO FG UGT RGPUCFC G RTQDNGOCVK\CFC PQ RTKUOC FC RTCIOÂśVKEC GO SWG Q UKIPKĹżECFQ FC EQPVTQXĂ&#x192;TUKC VGO CEGPVQ PQU UWLGKVQU G PC NKPIWCIGO RQT OGKQ FC SWCN Q NGKVQ FC FKUEWUUÂşQ UG CRTGUGPVC 1 ĹżQ EQPFWVQT FGUUC FKOGPUÂşQ Ă&#x192; TCVKĹżECFQ RQT *CDGTOCU18, que, por meio da razĂŁo comunicativa, apresenta a solução para a reconstrução de emaranhados de discursos formadores de opiniĂŁo e preparadores de decisĂľes onde estĂĄ embutido o poder democrĂĄtico exercido, conforme o direito. # 676'.# #06'%+2#&# 01 0181 %ÂŚ&+)1 &' 241%'551 %+8+. &' A tutela provisĂłria de urgĂŞncia antecipada no NCPC/201519 estĂĄ sob incipiente abordagem. Sendo assim, com a nova legislação, a tutela antecipada tornou-se uma espĂŠcie do gĂŞnero tutela provisĂłria. Dessa maneira, a norma atualizada inovou ao trazer um aparato denominado de tutela provisĂłria para antigas denominaçþes de tutela antecipada e tutela
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cautelar, por meio de outro viĂŠs denominado de tutelas provisĂłrias de urgĂŞncia e evidĂŞncia. Na primeira divisĂŁo (tutela provisĂłria de urgĂŞncia), comporta as tutelas jĂĄ existentes no ordenamento jurĂdico brasileiro que sĂŁo as tutelas antecipadas e tutelas cautelares, que se dĂŁo de 3 (trĂŞs) maneiras (quanto ao peticionamento/protocolo/distribuição), que sĂŁo as formas antecedente, cumulativa e incidental, conforme corroborado por Theodoro Junior.20 Ă&#x2030; importante reter na mente que a tutela antecedente representa uma novidade no NCPC/2015,21 visto que, no CPC/7322, essa possibilidade somente seria viĂĄvel por meio da ação cautelar antecedente ou incidental. Partindo para a segunda divisĂŁo da tutela provisĂłria, encontra-se a tutela provisĂłria de evidĂŞncia, que se efetiva por meio da distribuição de modo cumulativo. A obviedade do peticionamento ao processo de tutela de evidĂŞncia tem como desiderato demonstrar que, nessa tutela, nĂŁo existe o instituto, nem na forma antecedente, nem na forma incidental, uma vez que o pressuposto para a VWVGNC FG GXKFĂ&#x201E;PEKC Ă&#x192; WO TCEKQEĂ&#x2C6;PKQ UKOKNCT ´ Ĺ&#x2018;RTQXC KPGSWĂ&#x2C6;XQECĹ&#x2019; SWG UG GHGVKXC RQT OGKQ da prova prĂŠ-constituĂda. Ainda dentro do mesmo estrato, deve ser destacado que o art. 311, inciso I, do NCPC/201523 trouxe a mesma redação do art. 273, inciso II, do CPC/7324, ora revogado, SWCN UGLC Ĺ&#x2018;CTV KPEKUQ + ĹżECT ECTCEVGTK\CFQ Q CDWUQ FQ FKTGKVQ FG FGHGUC QW Q OCPKHGUVQ propĂłsito protelatĂłrio da parte.â&#x20AC;? Ademais, cabe tutela de evidĂŞncia sempre que o autor na KPKEKCN RTQFW\KT RTQXCU UWĹżEKGPVGU ´ EQPUVKVWKĂ ÂşQ FQ FKTGKVQ G Q TĂ&#x192;W PÂşQ HQT ECRC\ FG VTC\GT elementos que possam causar dĂşvida razoĂĄvel. NĂŁo sendo demais asseverar que essa previsĂŁo ĂŠ fruto de uma percepção cotidiana efetivada pelo rĂŠu em contestaçþes completamente alheias ao pedido exordial. De uma maneira geral, o legislador resolveu colocar debaixo de um mesmo arcabouço judicial a tutela provisĂłria que engloba todas as espĂŠcies de tutela de urgĂŞncia (antecipada G ECWVGNCT G GXKFĂ&#x201E;PEKC OCU ECFC WOC FGNCU EQO CU UWCU GURGEKĹżEKFCFGU FGPVTQ FQ PQXQ Direito Processual Civil. Dentro desse viĂŠs, tem razĂŁo Bueno25 ao descrever de modo lapidar o conceito de tutela provisĂłria caracterizando-se como um conjunto de tĂŠcnicas que possibilitam uma decisĂŁo, atendidos determinados pressupostos que gravitam em torno da urgĂŞncia e evidĂŞncia. Sendo, portanto, prestada a tutela jurisdicional com base em decisĂŁo estĂĄvel apta a assegurar ou a satisfazer desde logo o intento do autor no inĂcio da lide. Sem embargos, encampadas na tutela provisĂłria do novo texto processual, as vĂĄrias espĂŠcies de tutelas careceriam de um estudo pormenorizado, contudo essa pretensĂŁo nĂŁo ĂŠ objeto do presente trabalho que passarĂĄ a descrever de forma perfunctĂłria as espĂŠcies de VWVGNCU RTQXKUĂ&#x17D;TKCU TGECKPFQ CUUKO GURGEKĹżECOGPVG PC CPÂśNKUG FC VWVGNC RTQXKUĂ&#x17D;TKC FG WTgĂŞncia antecipada, que receberĂĄ maior digressĂŁo. 4GUWNVC CUUKO EQPĹżTOCFQ SWG C VWVGNC RTQXKUĂ&#x17D;TKC Ă&#x192; C UQOC FG VQFCU CU VWVGNCU FGPQOKPCFCU FG VWVGNC FG WTIĂ&#x201E;PEKC G VWVGNC FG GXKFĂ&#x201E;PEKC &GXKFQ ´ PCVWTG\C CDTCPIGPVG FQ
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IĂ&#x201E;PGTQ VWVGNC RTQXKUĂ&#x17D;TKC EWORTG TGIKUVTCT C UWC FGĹżPKĂ ÂşQ EQPHQTOG GUVÂś FKUEKRNKPCFC RGNQ NCPC/2015.26 Nesse axial, conceitualmente, a tutela provisĂłria ĂŠ um aparato de tĂŠcnicas que possibilitam ao magistrado de posse de determinados pressupostos, que circundam a presença da â&#x20AC;&#x153;urgĂŞnciaâ&#x20AC;? ou da â&#x20AC;&#x153;evidĂŞnciaâ&#x20AC;?, prestar tutela jurisdicional, seja de forma antecedente, seja incidentalmente, com base em decisĂŁo instĂĄvel (por isso, provisĂłria) apta a assegurar e/ou a satisfazer rapidamente a pretensĂŁo do autor.27 No entendimento de Neves,28 a tutela provisĂłria ĂŠ proferida mediante cognição sumĂĄria porque o decididor, â&#x20AC;&#x153;ao concedĂŞ-la, ainda nĂŁo tem acesso a todos os elementos de convicção a respeito da controvĂŠrsia jurĂdicaâ&#x20AC;?. NĂŁo obstante, destaca o sobredito autor que â&#x20AC;&#x153;excepcionalmente, entretanto essa espĂŠcie de tutela poderĂĄ ser concedida mediante cognição exauriente, quando o juiz a concede em sentença.â&#x20AC;? 0Q SWG UG TGHGTG ´ VWVGNC RTQXKUĂ&#x17D;TKC FG WTIĂ&#x201E;PEKC ECWVGNCT FKURQUVC PQ CTV E E CTV h FQ 0%2% RGTEGDG UG SWG C EQPEGUUÂşQ FC OGFKFC UG FÂś FG VTĂ&#x201E;U HQTOCU quais sejam: (i) de forma cumulativa ao processo principal, (ii) de forma incidental ou (iii) de forma antecedente. JĂĄ a tutela de evidĂŞncia, esta se dĂĄ somente pela forma cumulativa, prevista no art. 311 do NCPC/2015.29 Ă&#x2030; de todo conveniente assentar que a tutela provisĂłria de evidĂŞncia tem suas particularidades divorciadas da tutela provisĂłria de urgĂŞncia, consequentemente, ao fazer uma leitura mais apurada sobre o novo instituto (tutela provisĂłria), descobre-se que a tutela provisĂłria de evidĂŞncia fora tratada pelo legislador com certo descuido, que serĂĄ analisado por meio de situaçþes consignadas na sequĂŞncia. A primeira abordagem a ser feita sobre a tutela provisĂłria de evidĂŞncia ĂŠ em relação ´ KORQUUKDKNKFCFG FGUETKVC UQDTG Q RGFKFQ CPVGEGFGPVG 0GUUG FKCRCUÂşQ C NGIKUNCĂ ÂşQ RTQcessual nĂŁo autoriza pedido antecedente de tutela provisĂłria de evidĂŞncia, embora, para Neves, o pedido antecedente ĂŠ plenamente possĂvel, conforme escĂłlio tratado a seguir: Ĺ&#x2018;1 CURGEVQ PGICVKXQ = ? ĹżEC RQT EQPVC FC GZENWUÂşQ FC VWVGNC =RTQXKUĂ&#x17D;TKC? FG GXKFĂ&#x201E;PEKC como passĂvel de ser concedida de forma antecedenteâ&#x20AC;?.30 AlĂŠm disso, arremata o autor susodito que a tutela provisĂłria de urgĂŞncia satisfativa e a tutela provisĂłria de evidĂŞncia UG CRTQZKOCO FG HQTOC UKIPKĹżECVKXC FC VWVGNC RTQXKUĂ&#x17D;TKC FG WTIĂ&#x201E;PEKC CPVGEKRCFC 627# jĂĄ que a Ăşnica diferença entre as tutelas se relaciona com os requisitos para sua concessĂŁo. Diante desse trivial, a satisfação fĂĄtica ĂŠ a mesma na tutela provisĂłria de urgĂŞncia antecipada e na tutela provisĂłria de evidĂŞncia. Insta destacar, pois, que Neves31 entende que C VWVGNC RTQXKUĂ&#x17D;TKC FG GXKFĂ&#x201E;PEKC UGTKC UKOKNCT ´ VWVGNC RTQXKUĂ&#x17D;TKC FG WTIĂ&#x201E;PEKC CPVGEKRCFC uma vez que ambas as decisĂľes em relação aos institutos seriam acolhidas pela estabilidade prevista no artigo 304 cumulado com artigo 303 do NCPC/2015.32 Dentro desse mesmo norte, ĂŠ de bom alvitre lembrar que somente serĂĄ estabilizada a demanda se o rĂŠu nĂŁo agravar de instrumento, sendo esse o escĂłlio do caput do art. 304 que assim obtempera:
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â&#x20AC;&#x153;A tutela antecipada, concedida [...] torna-se estĂĄvel se da decisĂŁo que a conceder nĂŁo for interposto o respectivo recurso.â&#x20AC;? 0ÂşQ QDUVCPVG Q CNGICFQ RGNQ TGPQOCFQ FQWVTKPCFQT TGHGTGPVG ´ UKOKNCTKFCFG GPVTG C VWVGNC antecipada e a tutela de evidĂŞncia, nota-se que a discordância com o tema ĂŠ inequĂvoca, pelo seguinte motivo: a incongruĂŞncia da necessidade de tutela provisĂłria de evidĂŞncia antecedente estĂĄ presente na desnecessidade em patrocinar a documentação para o pedido principal entabulado no artigo 311, incisos II e III, do NCPC/2015.33 'ZRNKEC UG PC VWVGNC RTQXKUĂ&#x17D;TKC FG urgĂŞncia antecipada antecedente, necessita-se da probabilidade do direito e do perigo de dano ou risco de resultado Ăştil ao processo, jĂĄ na tutela provisĂłria de evidĂŞncia, nĂŁo hĂĄ as exigĂŞncias susoditas, apenas provas previamente constituĂdas, sendo, portanto, despiciendo o pedido antecedente na tutela de evidĂŞncia, sendo essa a lĂłgica pensada pelo legislador ordinĂĄrio. 'O TGNCĂ ÂşQ ´ VWVGNC RTQXKUĂ&#x17D;TKC FG WTIĂ&#x201E;PEKC CPVGEKRCFC QDLGVQ FQ RTGUGPVG CTVKIQ atualmente, estĂĄ sob o manto da legislação do NCPC/2015,34 mas possui antecedentes hisVĂ&#x17D;TKEQU 'UUC GURĂ&#x192;EKG FG VWVGNC UWTIKW PQ QTFGPCOGPVQ DTCUKNGKTQ PQ %2% EWLC TGHQTOC CEQPVGEGW ´ Ă&#x192;RQEC RQT OGKQ FC .GK P 8.952, de 13.12.199435 que trouxe, em seu artigo 273, a possibilidade de antecipação dos efeitos da tutela em todos os processos de conhecimento. %WTKCN CUUGTKT RQKU SWG Q KPUVKVWVQ FC CPVGEKRCĂ ÂşQ FQU GHGKVQU FC VWVGNC RTGEGFGPVG ´ TPUA, representara prĂĄtica corriqueira do dia a dia forense. Dentro desse panorama, a tutela antecipada vai sendo construĂda e amoldada em busca FG WOC GHGVKXKFCFG FC LWTKUFKĂ ÂşQ SWG EQNQEC GO EQPĆ&#x20AC;KVQ C TC\QÂśXGN FWTCĂ ÂşQ FQ RTQEGUUQ G Q devido processo legal.
3 AS DIFERENTES FORMAS DE TUTELA PROVISĂ&#x201C;RIA Para analisar a tutela provisĂłria e suas espĂŠcies, ĂŠ necessĂĄrio um estudo comparativo GPVTG QU KPUVKVWVQU C ĹżO FG GXKFGPEKCT CU UKOKNKVWFGU G FKHGTGPĂ CU GPVTG CU OQFCNKFCFGU FC tutela provisĂłria. Por conseguinte, nota-se que a tutela provisĂłria de urgĂŞncia cautelar objetiva a proteção do processo, jĂĄ a tutela provisĂłria de urgĂŞncia antecipada tem como intento â&#x20AC;&#x153;a antecipação dos efeitos do resultado.â&#x20AC;?36 Nessa direção, o ensinamento de Bueno37 VTC\ C FGĹżPKĂ ÂşQ FG VWVGNC RTQXKUĂ&#x17D;TKC FG WTIĂ&#x201E;PEKC ECWVGNCT G VWVGNC RTQXKUĂ&#x17D;TKC FG WTIĂ&#x201E;PEKC antecipada com o seguinte comentĂĄrio: a tutela provisĂłria cautelar deve ser compreendida EQOQ WOC VĂ&#x192;EPKEC SWG DWUEC CUUGIWTCT Q TGUWNVCFQ Ă&#x2022;VKN CQ RTQEGUUQ 'O QWVTQ UGPVKFQ C tutela provisĂłria antecipada ĂŠ responsĂĄvel pela tĂŠcnica que intenta satisfazer, desde logo, a pretensĂŁo obtemperada pelo autor da demanda. Ă&#x2030; importante destacar que as tutelas provisĂłrias de urgĂŞncia, seja antecipada, seja cauVGNCT RQFGO UGT EQPEGFKFCU FG HQTOC CPVGEGFGPVG QW FG HQTOC KPEKFGPVCN 'UUC RQUUKDKNKFCFG constitui a redação do art. 294 do NCPC/2015, que assim obtempera, in verbis: art. 294. â&#x20AC;&#x153;A tutela provisĂłria pode fundamentar-se em urgĂŞncia ou evidĂŞncia. ParĂĄgrafo Ăşnico. A tutela
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provisĂłria de urgĂŞncia, cautelar ou antecipada, pode ser concedida em carĂĄter antecedente ou incidental.â&#x20AC;?38 Crivado na mesma entonação, a tutela provisĂłria de urgĂŞncia antecedente (cautelar ou antecipada) ĂŠ utilizada quando ainda nĂŁo hĂĄ processo principal. No mesmo trilho, a tutela provisĂłria de urgĂŞncia incidental ĂŠ constituĂda por meio de uma mera petição protocolada nos autos do processo jĂĄ em curso, denominado de processo principal (cautelar ou antecipada). Como consequĂŞncia da abordagem da tutela de urgĂŞncia que o NCPC/201539 trata como similares em termos procedimentais (a tutela cautelar e a tutela antecipada), nĂŁo hĂĄ dĂşvida de que a natureza jurĂdica das sobreditas espĂŠcies de tutela de urgĂŞncia, conforme liçþes de Neves40, PÂşQ RQFGO UGT OQFKĹżECFCU RGNC XQPVCFG FQ NGIKUNCFQT Nessa quadra de ideias, a distinção dos institutos, embora considerados similares em determinada rubrica, permanece inalterada a diferença entre a tutela cautelar como gaTCPVKFQTC FQ TGUWNVCFQ Ă&#x2022;VKN G GĹżEC\ FQ RTQEGUUQ G C VWVGNC CPVGEKRCFC TGRTGUGPVCPFQ EQOQ FGUKFGTCVQ HWPFCOGPVCN ´ UCVKUHCVKXC FQ FKTGKVQ FC RCTVG PQ RNCPQ HÂśVKEQ NĂŁo sendo novidade sufragar que a tutela antecipada e a tutela cautelar, embora com PQXC PQOGPENCVWTC G TGSWKUKVQU OQFKĹżECFQU UG EQORCTCFQU EQO Q VGZVQ FC NGK RTGEGFGPVG FG Ă&#x192; KPGSWĂ&#x2C6;XQEQ SWG C CDTCPIĂ&#x201E;PEKC G C ĹżPCNKFCFG FGNCU EQPVKPWCO KPCNVGTCFCU
4 A TUTELA ANTECIPADA E A TEORIA NEOINSTITUCIONALISTA DO PROCESSO A proposta deste artigo visou a uma anĂĄlise da tutela provisĂłria de urgĂŞncia antecipada na visĂŁo da teoria neoinstitucionalista do processo por entender que ĂŠ relevante o instituto em questĂŁo, por esse carecer de um olhar para alĂŠm dos muros das doutrinas institucionalistas processuais as quais instituĂram tal procedimento. AlĂŠm disso, a escolha de tal teoria LWUVKĹżEC UG RQTSWG Q KPUVKVWVQ FC VWVGNC PGEGUUKVC FG WOC XKUÂşQ OCKU ETĂ&#x2C6;VKEC FGXKFQ C UWC KPEQORCVKDKNKFCFG EQO QU RTKPEĂ&#x2C6;RKQU SWG UG XKPEWNCO CQ 'UVCFQ &GOQETÂśVKEQ FG &KTGKVQ A constatação de que a tutela antecipada nĂŁo compatibiliza com os princĂpios dignos FG WO 'UVCFQ &GOQETÂśVKEQ FG &KTGKVQ GUVÂś FGOQPUVTCFC PQ FGUTGURGKVQ CQU RTKPEĂ&#x2C6;RKQU FQ contraditĂłrio, da isonomia e da ampla defesa. Nesses termos, por nĂŁo se vincular a tais desideratos, faz-se mister adequar a tutela com Q OQFGNQ EQPVGORQT¸PGQ FG 'UVCFQ G RCTC VCPVQ ECDG CSWK WOC FQUG FG ETKVKEKFCFG EQO Q CWZĂ&#x2C6;NKQ FC VGQTKC PGQKPUVKVWEKQPCNKUVC FQ RTQHGUUQT G FQWVTKPCFQT 4QUGOKTQ 2GTGKTC .GCN SWG traz uma abordagem diversa do sistema processual dominante, encantador instrumentalista, no qual foi gestada a tutela de outrora, denominada atualmente de tutela provisĂłria. 'O XKTVWFG FGUUG RTQEGFKOGPVQ RCFTÂşQ Q UKUVGOC LWTĂ&#x2C6;FKEQ DTCUKNGKTQ PQ SWGUKVQ VWVGNC CPVGEKRCFC PÂşQ EQCFWPC EQO Q 'UVCFQ &GOQETÂśVKEQ FG &KTGKVQ LÂś SWG PÂşQ EQPHGTG ´U RCTVGU
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total igualdade na relação processual. Isso porque, de acordo com Mattos,41 o formalismo moderno ocidental preconizado para a aplicação das normas jurĂdicas contempla um formalismo conjugando um carĂĄter genĂŠrico e abstrato para aplicação no caso concreto, sendo distante do mundo ĂŠtico e polĂtico materialmente consubstanciado. # VGQTKC PGQKPUVKVWEKQPCNKUVC FG CEQTFQ EQO .GCN 42 questiona esses aspectos existentes no sistema processual brasileiro dotado de um Direito normatizado e dogmĂĄtico, distante do carĂĄter contĂnuo e problematizante implĂcito no conhecimento jurĂdico. Dentro desse contexto e em nome de uma celeridade ao procedimento, no caso da tutela antecipada, Q TKVQ RTQEGFKOGPVCN CECDC RQT GO XKTVWFG FC FGOCPFC TCFKECNOGPVG DGPGĹżEKCT Q CWVQT que sempre terĂĄ razĂŁo, e prejudicar o rĂŠu, que nunca tem razĂŁo, contrariando o devido processo legal. 2CTC WOC OGNJQT FGĹżPKĂ ÂşQ FC VGQTKC PGQKPUVKVWEKQPCNKUVC FQ RTQEGUUQ FK\ .GCN43 que se VTCVC FG WOC Ĺ&#x2018;6GQTKC FC RTQEGUUWCNK\CĂ ÂşQ VGUVKĹżECPVG FC XCNKFCFG PQTOCVKXQ FGOQETÂśVKEC porque propĂľe e atua um pensar jurĂdico na racionalidade sempre problematizĂĄvel, por falibilidades revisĂveis, da produção e aplicação do direitoâ&#x20AC;?. 'O EQOGPVQ CQ EQPEGKVQ CEKOC 8GNQUQ44 CETGUEGPVC SWG PQU OQNFGU CRQPVCFQ RQT .GCN â&#x20AC;&#x153;[...] o processo ĂŠ um modelo construĂdo com base na constituição e com ampla participação da comunidade jurĂdica na construção do provimentoâ&#x20AC;?.45 0GUUG UGPVKFQ GUENCTGEG .GCN46 que a teoria neoinstitucionalista do processo â&#x20AC;&#x153;nĂŁo ĂŠ WOC QTFGO FG RGPUCOGPVQ CECDCFQ 'TKIG UG FG WO CRGNQ ETĂ&#x2C6;VKEQ RCTVKEKRCVKXQ FCU RCTVGU LWTKFKECOGPVG NGIKVKOCFCU ´ KPUVCWTCĂ ÂşQ FG RTQEGFKOGPVQU GO VQFQU QU FQOĂ&#x2C6;PKQU FC jurisdicionalidadeâ&#x20AC;?. AlĂŠm disso, ainda acrescenta o doutrinador que a marca distintiva da teoria neoinsVKVWEKQPCNKUVC FQ RTQEGUUQ GO TGNCĂ ÂşQ ´ VGQTKC EQPUVKVWEKQPCNKUVC Ă&#x192; C RTQRQUVC FG WOC VGQTKC oriunda de â&#x20AC;&#x153;um espaço processualizadoâ&#x20AC;? e, portanto, uma teoria comprometida â&#x20AC;&#x153;com a teorização do Direito DemocrĂĄtico, tornando-se impraticĂĄvel num regime jurĂdico que esteja CKPFC KFGPVKĹżECFQ EQO QU XGNJQU EQPEGKVQU FG 'UVCFQ FG &KTGKVQ QW 'UVCFQ 5QEKCN FG &KTGKVQĹ&#x2019; 47 Diante da pluralidade de perspectivas doutrinĂĄrias que se divergem no campo do Direito 2TQEGUUWCN PQ SWCN UG KPUGTG C VWVGNC RQFGO UGT KFGPVKĹżECFQU CNIWPU RQUKEKQPCOGPVQU SWG divergem da teoria neoinstitucionalista, que serĂĄ bem detalhada adiante. #Q SWG UG RGTEGDG C VWVGNC CPVGEKRCFC EQOQ VĂ&#x192;EPKEC RTQEGUUWCN HQK ETKCFC EQO Q ĹżVQ de antecipação da proteção da legislação como quebra do paradigma do reconhecimento do direito material somente apĂłs decisĂŁo exauriente ou para a satisfação do direito como demonstra o art. 273, I ou II, do CPC/197348 (os requisitos para a concessĂŁo da tutela antecipada ora revogados). Conforme estabelece a legislação, a concessĂŁo da tutela antecipada ĂŠ proferida (in limine litis Q SWG UKIPKĹżEC SWG GUUG KPUVKVWVQ RQUUWK ECTÂśVGT NKOKPCT QW UGLC QEQTTG PQ KPĂ&#x2C6;EKQ FQ
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processo. NĂŁo se pode esquecer de que o objetivo de tal pretensĂŁo ĂŠ a satisfação do direito por meio da precipitação do tempo. Dessa forma, o julgamento antecipado de um problema ou de uma lide se dĂĄ â&#x20AC;&#x153;de forma a se alcançar a efetividade do processo de maneira mais rĂĄpida e completa possĂvelâ&#x20AC;?.49 Como se observa da doutrina sobre a tutela antecipada, esse instrumento de urgĂŞncia emerge como prestação jurisdicional com traços de procedimento que procura, em detriOGPVQ FC OQTQUKFCFG FC LWUVKĂ C UQNWEKQPCT QU EQPĆ&#x20AC;KVQU FG OQFQ C CDTGXKCT Q VGORQ C FCT efetividade ao processo com o discurso do contraditĂłrio postergado. &KCPVG FGUUG HGPĂ?OGPQ (GTGU50 ao discorrer sobre o assunto da tutela, entende que, ECUQ GUVC UG GPEQPVTG GO OGKQ ´ Ĺ&#x2018;FGOQTC FQ RTQEGUUQ OQVKXCFC PÂşQ CRGPCU RGNQ UKUVGOC legal implantado, que inclui sistema de recursos morosos, mais por fatores de toda ordem, KPENWUKXG RGNQ GZEGUUQ FG ECWUCU FKUVTKDWĂ&#x2C6;FCU ECWUC RTGLWĂ&#x2C6;\Q ´U RCTVGU FGUCETGFKVCPFQ C LWUVKĂ C G UWC ĹżPCNKFCFG FG UQNWEKQPCT EQPĆ&#x20AC;KVQUĹ&#x2019; No mesmo sentido, Bueno51 ĂŠ adepto de uma tutela antecipada como mesmo diz â&#x20AC;&#x153;sempre adorei, mesmo antes de ela â&#x20AC;&#x2DC;existirâ&#x20AC;&#x2122; no CPC [de 1973], pelo menos de forma expressa [...], UGORTG OG HCUEKPCTCO CU GPQTOGU FKĹżEWNFCFGU FG UWC KPVGTRTGVCĂ ÂşQ UKUVGOÂśVKECĹ&#x2019; Na visĂŁo de Bueno,52 C VWVGNC CPVGEKRCFC Ă&#x192; WOC HQTOC FG UKORNKĹżECT OWKVQ CU CĂ Ă?GU dentro do Processo Civil brasileiro, que recebeu o credenciamento para que o procedimento GO WOC NKFG RCUUCUUG C Ĺ&#x2018;EQOGĂ CT FQ ĹżO RCTC Q EQOGĂ Q FC UCVKUHCĂ ÂşQ FG UGWU TGUWNVCFQU RCTC C EQPĹżTOCĂ ÂşQ FGUUGU OGUOQU TGUWNVCFQU Ĺ&#x2019; Nesses termos, com a tutela antecipada, vislumbra-se o legislador promover, por meio da celeridade e da efetividade do processo, o direito material em uma satisfação do direito em tempo recorde. %QO GUUC EQORTGGPUÂşQ ĹżEC GXKFGPVG SWG RGNCU PQTOCU SWG TGIGO C VWVGNC GUUG OGKQ RTQEGUUWCN UWTIG EQO Q KPVWKVQ FG DGPGĹżEKCT Q CWVQT PC UWRQUKĂ ÂşQ FG WO FKTGKVQ SWG OQUVTG RTQXÂśXGN TC\ÂşQ SWG LWUVKĹżECTKC C OCPKHGUVCĂ ÂşQ FGUVG GO QDVGT C OGFKFC 53 Oportuno, nesse Ănterim, trazer o escĂłlio de Medina54, que assim destaca sobre o tempo FQ RTQEGUUQ SWG TGRTGUGPVC WOC ĹżUKQNQIKC RTQEGUUWCN G HQPVG FG FCPQ RCTC Q CWVQT SWG VGO razĂŁo no pleito. Pensar divorciado dessa premissa ĂŠ patrocinar o custo das delongas processuais como de responsabilidade aduzida ao autor. 0C OGUOC FKTGĂ ÂşQ FG .QRGU 55 ĂŠ o entendimento de Alvim,56 que levanta a tese da bilateralidade das audiĂŞncias (audia tur et altera pars) para que se dĂŞ possibilidade de oitiva do rĂŠu. A pesquisa aponta que, com a concessĂŁo da liminar, certos paradoxos que ensejam EQPĆ&#x20AC;KVQU FG FKTGKVQU HWPFCOGPVCKU +UUQ FGXKFQ ´U TGITCU FG WO 'UVCFQ CWVQTKVÂśTKQ KORQUVCU para tal benefĂcio tutelar. Como destaca Bueno,57 â&#x20AC;&#x153;a tutela antecipada ĂŠ instituto que, por FGĹżPKĂ ÂşQ RTGUVKIKC OWKVQ OCKU Q CWVQT FQ SWG Q TĂ&#x192;WĹ&#x2019;
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Com esse norte e com o conhecimento das questĂľes preconizadas, ĂŠ que a doutrina XGO GPVGPFGPFQ G LWUVKĹżECPFQ C GZKUVĂ&#x201E;PEKC FG VWVGNCU FG WTIĂ&#x201E;PEKC %QPHQTOG (GTGU 58 as FKTGVTK\GU G PQTOCU GUVCDGNGEKFCU RGNQ NGIKUNCFQT Ĺ&#x2018;FGXGO UGT ĹżGNOGPVG QDUGTXCFCU FG HQTOC a garantir o princĂpio da segurança jurĂdicaâ&#x20AC;?. 'O PQOG FGUUC UGIWTCPĂ C LWTĂ&#x2C6;FKEC C VĂ&#x192;EPKEC RTQEGUUWCN FC VWVGNC CPVGEKRCFC = ? VGPFG OWKVQ OCKU ´ TGCNK\CĂ ÂşQ EQPETGVC FQ RTKPEĂ&#x2C6;RKQ FC GHGVKXKFCFG FC LWTKUdição do que do princĂpio do contraditĂłrio ou do devido processo legal, quando analisados, parcialmente, como garantia para o rĂŠu, Ăşnica e exclusivamente. Dito de forma bem simples, a tutela antecipada ĂŠ instituto que [...] depois de sĂŠculos de tradição de um processo que, em nome [...] da segurança jurĂdica que ele representa, prestigiou muito mais [...] o autor.59
Com essa concepção de que, na tutela, predomina o princĂpio da efetividade da jurisdição, ĂŠ que se volta Ăşnica e preponderantemente para o autor, possibilitando evidenciar o aspecto instrumental do direito processual, que acaba sufocando os princĂpios do contraditĂłrio, da ampla defesa e da isonomia, alĂŠm do devido processo constitucional. 2QT JQTC TGUVC CETGUEGPVCT C GUUG EĂ?ORWVQ RGUSWKUCEKQPCN UQDTG VWVGNC CPVGEKRCFC que a teoria neoinstitucionalista do processo defende a ideia de que o Direito deveria ser construĂdo em uma participação popular, consubstanciando no debate efetivado pelos prĂłprios destinatĂĄrios da norma, estabelecendo-se uma criação e aplicação sempre de forma participativa.60 'O WOC OGUOC NKPJC FG TCEKQEĂ&#x2C6;PKQ 8GNQUQ 61 ao analisar a teoria neoinstitucionalista do processo, enfatiza o aspecto da participação do povo no processo jurĂdico defendido por tal perspectiva teĂłrica. Conforme a autora sobredita, o que a teoria neoinstitucionalista do processo visa ĂŠ uma â&#x20AC;&#x153;sociedade jurĂdico-polĂtico-democrĂĄtica em que o direito possa ser garantido por meio de relaçþes dialĂłgicas de liberdade e igualdade do homem RGTCPVG Q 'UVCFQĹ&#x2019; 62 Ainda de acordo com Veloso,63 a teoria crĂtica em comento, que tem como enfoque os contornos e a decisĂŁo democrĂĄtica: Consiste em uma proposição que possibilita compreender de que maneira ocorre a transposição do princĂpio do discurso em princĂpio da democracia, suprindo a lacuna deixada por Habermas em sua obra Direito e Democracia: entre facticidade e validade #NĂ&#x192;O FKUUQ .GCN RQT OGKQ FC UWC VGQTKC PGQKPUVKVWEKQPCNKUVC QDLGVKXC construir um referente lĂłgico-jurĂdico capaz de submeter a testes as teorias que se intitulam de democrĂĄticas.
%QOQ CRQPVC C VGQTKC PGQKPUVKVWEKQPCNKUVC FQ RTQEGUUQ GNCDQTCFC RQT .GCN 64 ĂŠ preciso SWG QU RTQXKOGPVQU SWG UG TGHGTGO ´U FGEKUĂ?GU ´U NGKU G ´U UGPVGPĂ CU FGEQTTGPVGU VGPJCO como resultado o diĂĄlogo processual em sintonia com a comunidade jurĂdica constitucionalizada em todas as fases de criação, alteração, reconhecimento e aplicação de direitos e que
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jamais seja efetivada por meio de poderes autoritĂĄrios dos ĂłrgĂŁos dirigentes, legiferantes e LWTĂ&#x2C6;FKEQU UGLC FQ 'UVCFQ QW FC EQOWPKFCFG 2CTC .GCN 65 o Direito deve ser exercido na sua plenitude constitucional, o que exige uma participação crĂtica das partes juridicamente legitimadas. Desse modo, de acordo com o autor, nĂŁo ĂŠ possĂvel alcançar uma cidadania plena somente quando houver o nivelamento FG VQFQU PQ RTQEGFKOGPVQ #UUKO PC NKFG QU EQPĆ&#x20AC;KVCPVGU FGXGO UG XCNGT FQU RTKPEĂ&#x2C6;RKQU FQ contraditĂłrio, da ampla defesa e da isonomia. 4GHGTGPVG ´ VWVGNC CPVGEKRCFC Q RTQHGUUQT .GCN66 admite que tal procedimento, quando nĂŁo observados os aspectos de constitucionalidade democrĂĄtica, corresponde ao maior e velho amigo da ditadura no Direito processual brasileiro. Nunca ĂŠ demais destacar que a tutela antecipada, ao satisfazer o direito material sem o FGXKFQ EQPVTCFKVĂ&#x17D;TKQ TGNCVKXK\C Q FGXKFQ RTQEGUUQ NGICN EQO Q HGVKEJG FQ Ă?PWU FQ VGORQ 'UUC TGCNKFCFG HC\ Q RGTUQPCIGO Ă?PWU FQ VGORQ UGT Q UWDVGTHĂ&#x2022;IKQ TGURQPUÂśXGN RCTC EQNOCVCT Q princĂpio da igualdade pensada nĂŁo em sentido de postergação do contraditĂłrio, mas sim completamente desvinculado ao direito ao contraditĂłrio analisado sob a temĂĄtica da reciprocidade. 'O XKTVWFG FGUUC FGUKIWCNFCFG FG EQPFKĂ Ă?GU RTQEGFKOGPVCKU C NGK RTQEGUUWCN Ă&#x192; CUUGFKCFC RGNC RTCVKEKFCFG KPUVTWOGPVCN 2CTC .GCN 67 autor e rĂŠu nĂŁo estĂŁo aglutinados em uma igualdade defensiva, provocando uma polissemia incontornĂĄvel na teorização do Direito processual DTCUKNGKTQ 'UUC UKVWCĂ ÂşQ NCEĂ?PKEC FC NGK Ă&#x192; ECWUC FG ITCPFG RGTRNGZKFCFG PQU RTQEGUUWCNKUVCU que sĂŁo avessos ao praxismo judiciĂĄrio. 5GIWKPFQ C NKPJC FG TCEKQEĂ&#x2C6;PKQ FC VGQTKC FC FGEKUÂşQ LWTĂ&#x2C6;FKEC FG .GCN 68 o presente traDCNJQ TGCĹżTOC Q UGW EQORTQOKUUQ GO FGHGUC FC ETKCĂ ÂşQ FC CWFKĂ&#x201E;PEKC FG LWUVKĹżECĂ ÂşQ RTĂ&#x192;XKC obrigatĂłria para a oitiva do rĂŠu. Com esse propĂłsito, mediante a abertura do contraditĂłrio, Ă&#x192; SWG UGIWPFQ .GCN 69 legitima-se a antecipação de tutela a partir do momento em que sĂŁo atendidos os direitos fundamentais do processo. %QO GUUCU SWGUVĂ?GU FK\ .GCN70 que ĂŠ necessĂĄrio questionar os pressupostos da justiça que se quer rĂĄpida para assegurar a efetividade. Nesse sentido, o Autor susodito reforça que: 5GTKC RQTVCPVQ CDUWTFQ KOCIKPCT SWG C UQNWĂ ÂşQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU PQ 'UVCFQ &GOQcrĂĄtico, pudesse ser obtida com postergação (renĂşncia) de direito fundamental, a pretexto de realização da justiça pelo juiz talentoso. Se o acordo ĂŠ obtido com aviltamento (desbalanceamento procedimental) de uma das partes, quebra-se o princĂpio da isonomia, do contraditĂłrio, da ampla defesa, por induzir-se ao acordo ou a desestimulĂĄ-lo ao debate em face dos custos de um advogado, quando impossĂvel um defensor pĂşblico, ou pela morosidade das demandas. A conciliação das partes, nessas circunstâncias, equivale a coonestaçþes expliciVCU EQO C QOKUUÂşQ FQ 'UVCFQ GO RTGUVCT CVKXKFCFG FG LWTKUFKĂ ÂşQ ITCVWKVC RGNQ 2TQEGUUQ C UGTXKĂ Q FC EKFCFCPKC CTV .::8++ %( 71
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7OC FCU ETĂ&#x2C6;VKECU FG .GCN72 GO TGNCĂ ÂşQ ´U VWVGNCU FG WTIĂ&#x201E;PEKC Ă&#x192; SWG JÂś WOC GZCNVCĂ ÂşQ PQ SWG UG TGHGTG ´ RTGUVG\C FQU KPUVKVWVQU &G CEQTFQ EQO Q Jurista, os procedimentos liminares sĂŁo vistos como sendo atos mĂĄgicos que imersos na ambulância do JudiciĂĄrio sĂŁo capazes de socorrer de modo incondicional os direitos ameaçados ou lesionados. #NĂ&#x192;O FKUUQ .GCN73 observa tambĂŠm que, ao decidir pela tutela, o ato implica violação FQ KPUVKVWVQ FC CORNC FGHGUC RTGXKUVQ PQ CTV KPEKUQ .8 %( 74 Como disposto no artigo citado, a Constituição brasileira de 1988, norma mĂĄxima, assegura o contraditĂłrio e a ampla defesa, porĂŠm, como perfeitamente notado pela leitura de QWVTQTC GUUGU FKTGKVQU PÂşQ UÂşQ QDUGTXCFQU Q SWG XCK FG GPEQPVTQ ´ NGK UWRTCEQPUVKVWEKQPCN 1 %1064#&+6ÂŚ4+1 # +5101/+# ' # #/2.# &'('5# 0# &'/1%4#6+<#Â&#x161;Â&#x201C;1 &# 676'.# #06'%+2#&# A Constituição da RepĂşblica Federativa do Brasil de 1988 contemplou, em seu artigo KPEKUQ .+8 75 o devido processo legal, que deve ser o leito por onde deveriam caminhar todos os jurisdicionados em prol de uma justiça em que haja a garantia tambĂŠm do contraditĂłrio e a ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentes. Sem a observância dos princĂpios (contraditĂłrio, isonomia e ampla defesa) que sĂŁo imRTGUEKPFĂ&#x2C6;XGKU RCTC C TGCNK\CĂ ÂşQ FQ RTQEGUUQ PÂşQ GZKUVG C RQUUKDKNKFCFG FG UG HCNCT GO 'UVCFQ &GOQETÂśVKEQ FG &KTGKVQ OCU GO UKORNGU 'UVCFQ RQFGTQUQ CWVQTKVÂśTKQ G SWG KORĂ?G C UWC XQPVCFG Ao que se percebe, a tutela antecipada, nĂŁo incluindo a oitiva do rĂŠu no seu procediOGPVQ KPEKRKGPVG RQT OGKQ FC CWFKĂ&#x201E;PEKC FG LWUVKĹżECĂ ÂşQ RTĂ&#x192;XKC ETKC WO XÂśEWQ PQ EQPVTCFKtĂłrio, que compromete os princĂpios salutares sobre os quais discorre Dallari,76 uma vez que prejudica sobremaneira o prĂłprio direito, qual seja, o direito de defesa, e prejudica o poder FG KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC SWG Ă&#x192; WO CVTKDWVQ FCU RCTVGU 0GUUG SWCFTQ FG EKTEWPUV¸PEKCU .GCN77 lembra que nĂŁo hĂĄ o que se falar em tutela antecipada legĂtima se nĂŁo forem atendidos os direitos fundamentais do processo. Assim, o autor entende que nem sempre uma justiça rĂĄpida (como ĂŠ o caso da tutela antecipada) ĂŠ UKPĂ?PKOQ FG WOC LWUVKĂ C LWUVC 'O EQPUQP¸PEKC EQO .GCN 78 Tucci79 destaca que a urgĂŞncia enfraquece o contraditĂłrio. +UUQ RQTSWG RTQRKEKC Q GUVĂ&#x2C6;OWNQ FCU NKOKPCTGU EWLQ TKUEQ Ă&#x192; Q GUVĂ&#x2C6;OWNQ ´ VWVGNC FG WTIĂ&#x201E;PEKC como uma justiça simplesmente. #UUKO Q CEGUUQ ´ LWTKUFKĂ ÂşQ ICTCPVGO %TW\ G 6WEEK 80 deve-se iniciar nĂŁo com a decisĂŁo, e sim com uma abertura a um tratamento igualitĂĄrio perspectivado para os sujeitos do processo, como forma de oportunidades recĂprocas entre os participantes. A igualdade FGUVCECFC Ă&#x192; EQPFK\GPVG EQO C KUQPQOKC FCU RCTVGU UGLC GO UGWU FKTGKVQU UGLC GO TGNCĂ ÂşQ ´ produção de provas, todas essas possibilidades ligadas ao mesmo tratamento para os litigantes.
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0C QDTC Ĺ&#x2018;+IWCNFCFG G &KHGTGPĂ C 'UVCFQ &GOQETÂśVKEQ FG &KTGKVQ C RCTVKT FQ RGPUCOGPVQ de Habermasâ&#x20AC;?, Galuppo81 discute sobre o princĂpio jurĂdico da igualdade e assim responde o que TGRTGUGPVC GUUG RTKPEĂ&#x2C6;RKQ RCTC Q 'UVCFQ &GOQETÂśVKEQ FG &KTGKVQ 0C RGTURGEVKXC FG )CNWRRQ 82 a resposta a essa questĂŁo nĂŁo ĂŠ simples, pois envolve certas variĂĄveis, por exemplo, a variĂĄvel escolha. # ETĂ&#x2C6;VKEC FG .GCN TGUKFG PQ HCVQ FG SWG ĹżEC FKHĂ&#x2C6;EKN HCNCT FG RTKPEĂ&#x2C6;RKQ FC KIWCNFCFG QW do contraditĂłrio em um paĂs como o Brasil, que tem um modelo de processo civil portador de uma linguagem ultrapassada ou, nas palavras do autor, â&#x20AC;&#x153;envelhecida e bolorentaâ&#x20AC;?, cuja XGTUÂşQ Ă&#x192; QTVQFQZC 0ÂşQ QDUVCPVG GZRTKOG Q LWTKUVC SWG GODQTC C 'UEQNC 2TQEGUUWCN 2CWNKUVC HWPFCFC RQT .KGDOCP FGUFG Q KPĂ&#x2C6;EKQ SWCPFQ XGKQ RCTC Q $TCUKN UGLC ECNECFC GO DCUGU Chiovendiana, Carneluttiana, outro paradigma ou modelo de ciĂŞncia processual vem se despontando com novas conquistas ou perspectivas teĂłricas (como a teoria neoinstitucionalista do processo adotada nesse artigo) â&#x20AC;&#x153;em bases democrĂĄticas nacionais, supranacionais e mundiais do direito pĂłs-modernoâ&#x20AC;?.83 3WCPVQ CQ RTKPEĂ&#x2C6;RKQ FC KIWCNFCFG QW FC KUQPQOKC .GCN 84 ĂŠ enfĂĄtico ao dizer que se refere ao direito-garantia hoje constitucionalizado em vĂĄrios paĂses de feiçþes democrĂĄticas, e, alĂŠm disso, trata-se de elemento indispensĂĄvel do procedimento em contraditĂłrio (processo). 0C CPÂśNKUG FQ CWVQT Ĺ&#x2018;C NKDGTFCFG FG EQPVTCFK\GT PQ 2TQEGUUQ GSWKXCNG ´ igualdade temporal de dizer e contradizer para a construção, entre partes, da estrutura procedimentalâ&#x20AC;?.85 Diante dessa contextualização, ĂŠ importante perceber que o NCPC/201586 embora tenha uma produção legiferante mais moderna e arquitetada para o respeito ao contraditĂłrio. 0QVC UG C ĹżTOG NKICĂ ÂşQ EQO Q RCUUCFQ GUVCDWNCFQ RGNQ OQFGNQ FQ %Ă&#x17D;FKIQ FG 87 'UUC RGTEGRĂ ÂşQ Ă&#x192; EQPUVCVCFC RGNQ CTVKIQ EQO C UGIWKPVG TGFCĂ ÂşQ Ĺ&#x2018;#TV o NĂŁo se proferirĂĄ decisĂŁo contra uma das partes sem que ela seja Previamente ouvida. ParĂĄgrafo Ăşnico. O FKURQUVQ PQ ECRWV PÂşQ UG CRNKEC + ´ VWVGNC RTQXKUĂ&#x17D;TKC FG WTIĂ&#x201E;PEKC ++ ´U JKRĂ&#x17D;VGUGU FG VWVGNC da evidĂŞncia previstas no art. 311, incisos II e IIIâ&#x20AC;?.88 Diante do sobredito, nĂŁo muito afastado da colocação tomada por mote, nota-se que o RTKPEĂ&#x2C6;RKQ FC EQQRGTCĂ ÂşQ Ă&#x192; VQVCNOGPVG FGUTGURGKVCFQ TCVKĹżECPFQ SWG Q 0%2% 89 embora buscando um Direito mais efetivo, contraria o pilar do processo que ĂŠ diretamente ligado ao princĂpio do contraditĂłrio. %CDG FGUVCECT SWG Q 'UVCFQ &GOQETÂśVKEQ FG &KTGKVQ PÂşQ UG VTCVC FG CNIQ RTQPVQ G acabado. Cumpre observar que o conceito nĂŁo ĂŠ estĂĄtico, mas dinâmico, por isso, como a democracia ĂŠ um complexo em construção em constante aperfeiçoamento, torna-se vĂĄlido FK\GT EQOQ CĹżTOC /CFGKTC GV CN 90 que o processo ĂŠ o garantidor e o aplicador do sentido e FC LWUVKĹżECĂ ÂşQ FG WO &KTGKVQ FGOQETÂśVKEQ EQO GNGOGPVQU LWTĂ&#x2C6;FKEQ GZKUVGPEKCKU G RTKPEĂ&#x2C6;RKQU institutivos estabelecidos pelo contraditĂłrio, isonomia e ampla defesa. #ETGUEGPVC UG ´ NKĂ ÂşQ SWG Q FKTGKVQ FG VGT Q FGXGT FG UGT HWPFCFQ VÂşQ UQOGPVG PQ RTKP-
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cĂpio democrĂĄtico. Desse modo, o decidir nĂŁo seria mais compreendido como um mecanismo NKDGTCN OCLQTKVÂśTKQ QW C RCTVKT FG WOC Ĺ&#x2018;RTGVGPUC XQPVCFG IGTCNĹ&#x2019; FQ 'UVCFQ &KVQ KUUQ FGHGPFG-se que o processo deve ser institucionalizado por â&#x20AC;&#x153;normas que garantam a possibilidade de participação discursiva dos cidadĂŁos no processo de tomada de decisĂľes.â&#x20AC;?91 No entendimento de Almeida,92 JÂś WO NKCOG GPVTG Q 'UVCFQ FG &KTGKVQ &GOQETÂśVKEQ EQO Q 'UVCFQ FG &KTGKVQ 6CN NKICĂ ÂşQ GUVÂś TGNCEKQPCFC CQ RTKPEĂ&#x2C6;RKQ FC TGUGTXC NGICN 6QFCvia, explica a autora que, alĂŠm dessa caracterĂstica de conexĂŁo, hĂĄ algo que vai alĂŠm dos = ? NKOKVGU FQ 'UVCFQ FG &KTGKVQ EQO WO plus FGOQETÂśVKEQ SWG UKIPKĹżEC ICTCPtia de participação efetiva dos destinatĂĄrios estatais na sua criação aplicação e ĹżUECNK\CĂ ÂşQ RQT OGKQ medium linguĂstico-jurĂdico) da processualidade jurĂdica (isonomia, contraditĂłrio e ampla defesa).93
'O EQPUQP¸PEKC EQO C RTQEGUUWCNKFCFG LWTĂ&#x2C6;FKEC FG #NOGKFC 94 .GCN95 acrescenta que a isonomia, o contraditĂłrio e a ampla defesa estĂŁo no plano dos direitos de primeira geração. #KPFC PQ GUEĂ&#x17D;NKQ FG .GCN GO &KTGKVQ 2TQEGUUWCN PÂşQ Ă&#x192; KPCRNKEÂśXGN C TGITC FC GSWKFCFG PQ UGPVKFQ NQEMGCPQ SWG UKIPKĹżEC Ĺ&#x2018;VTCVCT KIWCKU KIWCNOGPVG G FGUKIWCKU FGUKIWCNOGPVG RQTSWG o processo na Teoria do direito democrĂĄtico ĂŠ o ponto discursivo da igualdade dos diferentes, para estabelecer os critĂŠrios de formação de vontadeâ&#x20AC;?.96 Para Tucci,97 a igualdade estĂĄ intimamente vinculada ao devido processo legal, ao EQPVTCFKVĂ&#x17D;TKQ ´ KORCTEKCNKFCFG # EQTTGNCĂ ÂşQ FQ CWVQT GPVTG VTCVCOGPVQ RCTKVÂśTKQ G FGXKFQ RTQEGUUQ NGICN UKIPKĹżEC PQ UGW GPVGPFKOGPVQ SWG Q RTQEGUUQ Ă&#x192; Q TGĆ&#x20AC;GZQ FQU QDLGVKXQU FQ 'UVCFQ PÂşQ UGPFQ RQUUĂ&#x2C6;XGN ´U RCTVGU CQ DGN RTC\GT FG KPVGTGUUGU G EQPFWVCU QTC GO NKVĂ&#x2C6;IKQ Ademais, entre os sujeitos do processo, devem ser conferidas igualdades de oportunidades como garantia de uma tutela adequada. Nesse sentido, deve o juiz sopesar as consequĂŞncias FG GXGPVWCKU OGFKFCU TGNCEKQPCFCU ´ RCTVG EQPVTÂśTKC 4GIKUVTG UG SWG EQPHQTOG FGĹżPG #NOGKFC EKVCFQ RQT 6WEEK 98 o conceito de contraditĂłrio ĂŠ a expressĂŁo da ciĂŞncia bilateral dos atos e dos termos do processo e a possibilidade de contrariĂĄ-los. 2CTC .GCN 99 o contraditĂłrio ĂŠ um princĂpio que se refere ao processo constitucionali\CFQ G RQTVCPVQ VTCFW\ UG GO FKTGKVQ FCU RCTVGU CQ CEGUUQ FKCNĂ&#x17D;IKEQ PGEGUUÂśTKQ ´ FGHGUC G ´ FKURWVC FQU FKTGKVQU GO NKVĂ&#x2C6;IKQ RQFGPFQ KPENWUKXG GZGTEGT C NKDGTFCFG FG PCFC FK\GTGO mesmo tendo o direito-garantia de poder efetivamente manifestar. Conclui o jurista neoinstitucionalista que, se ausente o princĂpio do contraditĂłrio, o processo â&#x20AC;&#x153;perderia sua base democrĂĄtico-jurĂdico-principiolĂłgica e se tornaria um meio procedimental inquisitĂłrio em que o arbĂtrio do julgador seria a medida colonizadora das liberdades das partesâ&#x20AC;?.100 Com esse enfoque, discorre Tucci101 que ĂŠ absolutamente incompatĂvel com a isonomia e com os princĂpios da tutela jurisdicional um tratamento unilateral no processo, e, por isso,
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ao rĂŠu deve ser dado o direito de pedir denegação da tutela jurisdicional pedido pelo autor uma vez que nĂŁo se conforma com o direito objetivo. 'O TGUWOQ 6WEEK102 entende que a igualdade e o contraditĂłrio representam genuinamente os pilares da democracia, â&#x20AC;&#x153;na qual o moderno direito processual estĂĄ completamente inserido.â&#x20AC;? O princĂpio da igualdade processual, de acordo com Cintra, Grinover e Dinamarco,103 DTQVC FQ RTKPEĂ&#x2C6;RKQ FC KIWCNFCFG RGTCPVG C NGK RTGXKUVC PQ CTV caput, da Constituição da RepĂşblica Federativa do Brasil de 1988.104 #NĂ&#x192;O FQ CTV FC %( 105 podem-se encontrar outros dispositivos no CĂłdigo que elegem o princĂpio da igualdade, a exemplo do art. 139, inciso I, do CĂłdigo de Processo Civil de 2015,106 SWG CUUKO RTQRWIPC C EQORGVĂ&#x201E;PEKC FQ LWK\ RCTC Ĺ&#x2018;CUUGIWTCT ´U RCTVGU C KIWCNFCFG FG VTCVCOGPVQ Ĺ&#x2019; De acordo com Cintra, Grinover e Dinamarco,107 o processo civil ĂŠ constituĂdo por PQTOCU G OGECPKUOQU SWG RQUUKDKNKVCO ´U RCTVGU NKVKICTGO EQO RCTKFCFG FG CTOCU EWLQ intento ĂŠ estabelecer que nenhuma das partes tenha condiçþes, seja de superioridade, seja inferioridade em face do outra. No que se refere ao contraditĂłrio, Cintra, Grinover e Dinamarco108 defendem o princĂpio da audiĂŞncia bilateral que, no sentido romano, se representa no brocardo audiatur et altera pars. 'O WO RTQEGUUQ FKCNĂ&#x192;VKEQ TGRTGUGPVCO CU RCTVGU Ĺ&#x152; VGUG CWVQT TĂ&#x192;W CPVĂ&#x2C6;VGUG G ,WK\ (sĂntese). Nesse sentido, ressalta Mitidiero109 que o processo pressupĂľe uma complexidade pautada na argumentação, em que a cooperação ĂŠ o liame entre o carĂĄter apodĂtico eclipsado pela construção dialĂłgica. #UUKO C FKCNĂ&#x192;VKEC VQTPC UG KPFKURGPUÂśXGN ´ EQPETGVK\CĂ ÂşQ FQ 'UVCFQ &GOQETÂśVKEQ FG Direito, ao possibilitar o contraditĂłrio, que, por sua vez, â&#x20AC;&#x153;ĂŠ responsĂĄvel pela garantia da ampla defesaâ&#x20AC;?.110 A ampla defesa ĂŠ outro princĂpio a ser observado quando estĂŁo em discussĂŁo a antecipação de tutela e a teoria neoinstitucionalista do processo. Desse modo, para a teoria neoinstitucionalista do processo, o princĂpio da ampla defesa â&#x20AC;&#x153;ĂŠ coextenso aos princĂpios do contraditĂłrio e da isonomia, porque a amplitude de defesa se faz nos limites temporais do procedimento em contraditĂłrioâ&#x20AC;?.111 O jurista explica que a amplitude da defesa nĂŁo quer FK\GT KPĹżPKVWFG FG RTQFWĂ ÂşQ FG FGHGUC C SWCNSWGT VGORQ OCU Q FKTGKVQ FG OCPKHGUVCT PQ processo em tempo adequado. 0GUUG UGPVKFQ Q UKIPKĹżECFQ FG CORNC FGHGUC PC XKUÂşQ FQ CWVQT FK\ TGURGKVQ C CNIQ SWG nĂŁo pode ser comprimida ou estreitada pela sumarização do tempo a tal ponto de excluir a NKDGTFCFG FG TGĆ&#x20AC;GZÂşQ EĂ?OQFC FQU CURGEVQU HWPFCOGPVCKU FG UWC RTQFWĂ ÂşQ GĹżEKGPVG 112 Diz ainda o autor que o princĂpio da ampla defesa ou o seu curso normal do tempo nĂŁo RQFGO UGT UCETKĹżECFQU C RTGVGZVQ FC EGNGTKFCFG RTQEGUUWCN QW GHGVKXKFCFG FQ RTQEGUUQ 113 HĂĄ
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de ser observado, nesse contexto, que a tutela antecipada sem a concessĂŁo da ampla defesa acaba por suprimir o direito da outra parte, uma vez que a decisĂŁo nesse procedimento antecipatĂłrio sumĂĄrio, ĂŠ rĂĄpida, nĂŁo aprofundada, o que nĂŁo dĂĄ chances ao demandado FG UG FGHGPFGT GO VGORQ G OQFQ UWĹżEKGPVGU RCTC FGOQPUVTCT Q UGW FKTGKVQ EQOQ HQTOC FG KPĆ&#x20AC;WGPEKCT PC FGEKUÂşQ A pesquisa aponta que a tutela antecipada vai de encontro ao que estĂĄ previsto na Constituição Federativa do Brasil de 1998, lei maior que rege o PaĂs. O texto constituEKQPCN RTGXKW QU RTKPEĂ&#x2C6;RKQU FQ EQPVTCFKVĂ&#x17D;TKQ G FC CORNC FGHGUC PQ OGUOQ CTVKIQ CTV KPEKUQ .8 Q SWCN FGVGTOKPC SWG Ĺ&#x2018;CQU NKVKICPVGU GO RTQEGUUQ LWFKEKCN QW CFOKPKUVTCVKXQ e aos acusados em geral sĂŁo assegurados o contraditĂłrio e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentesâ&#x20AC;?.114 2CTC C VGQTKC PGQKPUVKVWEKQPCNKUVC FQ RTQEGUUQ C CORNC FGHGUC KPUETKVC PQ CTV KPEKUQ .8 FC %QPUVKVWKĂ ÂşQ FC 4GRĂ&#x2022;DNKEC (GFGTCVKXC FQ $TCUKN FG FGXG RQUUKDKNKVCT WOC Ĺ&#x2018;EQPEGRĂ ÂşQ GZRCPUKXC FC PGICĂ ÂşQ QW CĹżTOCĂ ÂşQ FG EQPUVKVWEKQPCNKFCFG FQU CVQU G EQPVGĂ&#x2022;FQU jurĂdicos das pretensĂľes e de sua procedimentalidade formal [...].115 Acrescenta-se, ainda, que a ampla defesa estĂĄ inserida em uma perspectiva mais abrangente que, de acordo com Marinoni116 â&#x20AC;&#x153;ĂŠ a do devido processo legal.â&#x20AC;? Conforme o autor em referĂŞncia,117 a ampla defesa deve ser sempre pensada em contraponto com o direito ´ VGORGUVKXKFCFG G ´ GHGVKXKFCFG FC VWVGNC LWTKUFKEKQPCN SWG UÂşQ QU EQTQNÂśTKQU FQ FKTGKVQ FG CĂ ÂşQ GZRTGUUCOGPVG ICTCPVKFQ PQ CTVKIQ KPEKUQ :::8 FC %QPUVKVWKĂ ÂşQ FC 4GRĂ&#x2022;DNKEC Federativa do Brasil de 1988.118
5 CONCLUSĂ&#x192;O Neste trabalho, objetivou-se, de modo geral, analisar se a tutela antecipada vai ao GPEQPVTQ FQ 'UVCFQ &GOQETÂśVKEQ FG &KTGKVQ C RCTVKT FC UWC CFGSWCĂ ÂşQ CQU RTKPEĂ&#x2C6;RKQU EQPUVKtucionais do devido processo legal, ou seja, do contraditĂłrio, da isonomia e da ampla defesa. Diante dessa circunstância, nota-se que esse instituto nĂŁo estĂĄ em consonância com a abertura de um espaço discursivo processualizado, uma vez que nĂŁo inclui a participação do rĂŠu no processo em sua fase inicial. 1 GUVWFQ EQPUVCVQW SWG C 627# PÂşQ UG CLWUVC CQU RTKPEĂ&#x2C6;RKQU FQ 'UVCFQ &GOQETÂśVKEQ FG Direito, visto que hĂĄ uma supressĂŁo das garantias processuais do contraditĂłrio, da isonomia e da ampla defesa em prol de uma das partes sob o fundamento prematuro da probabilidade do direito aliado ao perigo de dano ou o risco ao resultado Ăştil do processo. Ao que se percebe, a tutela provisĂłria de urgĂŞncia antecipada pensada na perspectiva da probabilidade do direito contraria os princĂpios da isonomia, do contraditĂłrio e da ampla defesa e, consequentemente, cria uma anomalia ao devido processo legal. NĂŁo sendo demais
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destacar que esses elementos sĂŁo essenciais para que seja garantido um Direito democrĂĄtico, em que haja a participação de todos os demandantes nos ritos procedimentais, principalmente na fase inicial do processo, como mecanismo de contribuir de forma democrĂĄtica na FGEKUÂşQ C UGT GHGVKXCFC GO TGURGKVQ CQ RQFGT FG KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC FQU NKVKICPVGU CVTGNCFQ CQ RTKPEĂ&#x2C6;RKQ da cooperação consubstanciado no NCPC de 2015. Tomando como pressuposto a teoria neoinstitucionalista do processo do professor 4QUGOKTQ 2GTGKTC .GCN HQK RQUUĂ&#x2C6;XGN CXGTKIWCT SWG WOC XG\ KPUVKVWĂ&#x2C6;FC FGPVTQ FQ CTECDQWĂ Q jurĂdico brasileiro, a instrumentalidade do processo, os aspectos normativos que regem a tutela provisĂłria de urgĂŞncia antecipada nĂŁo estĂŁo adequados a um contexto da pĂłs-modernidade. Os resultados da pesquisa permitiram responder que o campo do Direito ĂŠ facilmente passĂvel de questionamentos das suas verdades absolutas, sobretudo quando nĂŁo hĂĄ, como se observou, o contraditĂłrio que, segundo Tucci,119 indica â&#x20AC;&#x153;precisamente no direito de participação no processo, mediante a utilização de todas as armas legĂtimas e disponĂveis destinadas a convencer o julgador a outorgar um julgamento favorĂĄvel a quem tem um direitoâ&#x20AC;?. Assim, necessĂĄria, pois, a inclusĂŁo da participação das partes como forma de validar o 'UVCFQ FC RĂ&#x17D;U OQFGTPKFCFG PÂşQ UQOGPVG FG &KTGKVQ OCU FQ 'UVCFQ &GOQETÂśVKEQ FG &KTGKVQ De acordo com a teoria neoinstitucionalista do processo, o espaço processual deve dar garantia ao debate entre as partes, na medida em que deve possibilitar aquilo que jĂĄ previa os romanos no brocardo auditur auter pars. 'UUC RGTURGEVKXC TGVKTC C ĹżIWTC FQ LWK\ *Ă&#x192;TEWNGU SWG EQO UGWU RQFGTGU FGEKFG PÂşQ FCT CQ TĂ&#x192;W GURCĂ Q ´ FKUEWTUKXKFCFG &GUUG OQFQ CQ TĂ&#x192;W deve ser dado o direito de participar de todas as fases do processo, de modo a ter uma ampla defesa que o permita estar em paridade de armas com a parte adversa. Considera-se, nesse estudo, que a tutela provisĂłria de urgĂŞncia antecipada deverĂĄ ser CRTGEKCFC OGFKCPVG C RCTVKEKRCĂ ÂşQ FQ TĂ&#x192;W UGPFQ NJG RGTOKVKFC WOC CWFKĂ&#x201E;PEKC FG LWUVKĹżECĂ ÂşQ RTĂ&#x192;XKC QDTKICVĂ&#x17D;TKC 2QT KUUQ Ă&#x192; SWG UG FGHGPFG C PGEGUUKFCFG FC CWFKĂ&#x201E;PEKC FG LWUVKĹżECĂ ÂşQ RTĂ&#x192;XKC obrigatĂłria como forma de o rĂŠu poder manifestar no processo, sob pena de uma decisĂŁo solipsista e desconectada com a dialogicidade.
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XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA NGKU . JVO #EGUUQ GO LCP AAAAAA %QPUVKVWKĂ ÂşQ 'OGPFC EQPUVKVWEKQPCN P FG PresidĂŞncia da RepĂşblica $TCUĂ&#x2C6;NKC &( &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA EQPUVKVWKECQ constituicao.htm>. Acesso em: 20 jan. 2017. AAAAAA .GK P FG FG FG\GODTQ FG #NVGTC FKURQUKVKXQU FQ EĂ&#x17D;FKIQ FG RTQEGUUQ civil sobre o processo de conhecimento e o processo cautelar. PresidĂŞncia da RepĂşblica, BrasĂlia, DF. DisponĂvel em: <JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA NGKU . JVO>. Acesso em: 26 jan. 2017. AAAAAA .GK P FG FG OCTĂ Q FG %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ %KXKN PresidĂŞncia da RepĂşblica $TCUĂ&#x2C6;NKC &( &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA ACVQ NGK . JVO #EGUUQ GO LCP $7'01 %CUUKQ 5ECTRKPGNNC Tutela antecipada. SĂŁo Paulo: Saraiva, 2004. $7'01 %CUUKQ 5ECTRKPGNNC Manual de direito processual civil. 2. ed. SĂŁo Paulo: Saraiva, 2016. CARMIGNANI, Maria Cristina da Silva. A origem romana da tutela antecipada. SĂŁo 2CWNQ .64 %+064# #PVQPKQ %CTNQU FG #TCĂ&#x2022;LQ )4+018'4 #FC 2GNNGITKPK &+0#/#4%1 %¸PFKFQ Rangel. Teoria geral do processo. 28. ed. SĂŁo Paulo: Malheiros, 2013. &#..#4+ &CNOQ FG #DTGW O poder dos juĂzes. SĂŁo Paulo: Saraiva, 1996. DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 11. ed. SĂŁo Paulo: Malheiros, 2003. (#<<#.#4+ 'NKQ Instituiçþes de direito processual 6TCFWĂ ÂşQ 'NCKPG 0CUUKH %CORKPCU Bookseller, 2006. ('4'5 %CTNQU 4QDGTVQ Antecipação da tutela jurisdicional. SĂŁo Paulo: Saraiva, 1999. )#.7221 /CTEGNQ %CORQU Igualdade e diferença: estado de democrĂĄtico de a partir do pensamento de Habermas. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002. *#$'4/#5 ,Ă&#x2014;TIGP Direito e democracia: entre facticidade e validade. 2. ed. Tradução FlĂĄvio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. v. 1. .#5241 1TGUVG 0GUVQT FG 5QW\C )CTCPVKC FQ FWRNQ ITCW FG LWTKUFKĂ ÂşQ +P 67%%+ ,QUĂ&#x192; RogĂŠrio Cruz e. Garantias constitucionais do processo civil. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. .'#. 4QUGOKTQ 2GTGKTC Teoria processual da decisĂŁo jurĂdica 5ÂşQ 2CWNQ .CPF[ .'#. 4QUGOKTQ 2GTGKTC Teoria geral do processo. 6. ed. SĂŁo Paulo: IOB Thomson, 2005. p. 98.
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9#/$+'4 6GTGUC #TTWFC #NXKO &C NKDGTFCFG FQ LWK\ PC EQPEGUUÂşQ FG NKOKPCTGU G C VWVGNC CPVGEKRCVĂ&#x17D;TKC +P 9#/$+'4 6GTGUC #TTWFC #NXKO Aspectos polĂŞmicos da antecipação de tutela. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. ZAVASCKI, Teori Albino. Antecipação de tutela. SĂŁo Paulo: Saraiva, 2009.
1 (#<<#.#4+ 'NKQ Instituiçþes de direito processual 6TCFWĂ ÂşQ 'NCKPG 0CUUKH %CORKPCU $QQMUGNNGT 2 $4#5+. .GK P FG FG OCTĂ Q FG %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ %KXKN PresidĂŞncia da RepĂşblica, BrasĂlia, &( &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA ACVQ NGK . JVO #EGUUQ GO jan. 2017. 3 #ĹżPCN C NKOKPCT FC CĂ ÂşQ RQUUGUUĂ&#x17D;TKC OCPVKFC PQ 0QXQ %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ %KXKN EQPVKPWC C UGT GURĂ&#x192;EKG FG VWVGNC de evidĂŞncia, bem como a concessĂŁo do mandado monitĂłrio e da liminar nos embargos de terceiros, e nenhuma delas estĂĄ prevista no art. 311 do Novo CPC. A Ăşnica conclusĂŁo possĂvel ĂŠ que o rol de tal dispositivo legal ĂŠ exemRNKĹżECVKXQ 0'8'5 &aniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. 8. ed. Bahia: Jus Podivm, 2016. p. 484-485). 4 $7'01 %CUUKQ 5ECTRKPGNNC Tutela antecipada. SĂŁo Paulo: Saraiva, 2004. 5 CARMIGNANI, Maria Cristina da Silva. A origem romana da tutela antecipada 5ÂşQ 2CWNQ .64 R 6 ZAVASCKI, Teori Albino. Antecipação de tutela. SĂŁo Paulo: Saraiva, 2009. 7 .12'5 ,QÂşQ $CVKUVC Tutela antecipada no processo civil brasileiro. 4. ed. SĂŁo Paulo: Saraiva, 2009. p. 40. 8 .GK P FG FG OCTĂ Q FG %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ %KXKN PresidĂŞncia da RepĂşblica, BrasĂlia, DF. DispoPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA ACVQ NGK . JVO #EGUUQ GO LCP 2017. 9 $4#5+. .GK P FG LCPGKTQ FG 4GXQICFQ RGNC .GK P FG OCTĂ Q FG +PUVKVWK Q %Ă&#x17D;FKIQ de Processo Civil. PresidĂŞncia da RepĂşblica $TCUĂ&#x2C6;NKC &( &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA NGKU . JVO #EGUUQ GO LCP 10 (#<<#.#4+ 'NKQ Instituiçþes de direito processual 6TCFWĂ ÂşQ 'NCKPG 0CUUKH %CORKPCU $QQMUGNNGT 11 $4#5+. .GK P FG LCPGKTQ FG 4GXQICFQ RGNC .GK P FG OCTĂ Q FG +PUVKVWK Q %Ă&#x17D;FKIQ de Processo Civil. PresidĂŞncia da RepĂşblica $TCUĂ&#x2C6;NKC &( &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA NGKU . JVO #EGUUQ GO LCP 12 $4#5+. .GK P FG FG OCTĂ Q FG %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ %KXKN PresidĂŞncia da RepĂşblica, BrasĂlia, &( &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA ACVQ NGK . JVO #EGUUQ GO jan. 2017. 13 /'.1 /CTKC 4KVC FG %CTXCNJQ Aspectos atuais da tutela antecipada. SĂŁo Paulo: Verbatim, 2010. 14 Ibidem, p. 36. .'#. 4QUGOKTQ 2GTGKTC Teoria geral do processo: primeiros estudos. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 158. /ÂŚ. #PC .WEKC 4KDGKTQ Antecipação de tutela: sem a prĂŠvia oitiva do rĂŠu no estado democrĂĄtico de direito. Montes Claros: Unimontes, 2012. 17 CARMIGNANI, Maria Cristina da Silva. A origem romana da tutela antecipada 5ÂşQ 2CWNQ .64 18 *#$'4/#5 ,Ă&#x2014;TIGP Direito e democracia: entre facticidade e validade. 2. ed. Tradução FlĂĄvio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. v. 1. 19 $4#5+. .GK P FG FG OCTĂ Q FG %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ %KXKN PresidĂŞncia da RepĂşblica, BrasĂlia, &( &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA ACVQ NGK . JVO #EGUUQ GO jan. 2017. 20 6*'1&141 ,Â0+14 *WODGTVQ Curso de direito processual civil. 57. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. $4#5+. .GK P FG FG OCTĂ Q FG %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ %KXKN PresidĂŞncia da RepĂşblica, $TCUĂ&#x2C6;NKC &( &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA ACVQ NGK . JVO Acesso em: 19 jan. 2017. 22 $4#5+. .GK P FG LCPGKTQ FG 4GXQICFQ RGNC .GK P FG OCTĂ Q FG +PUVKVWK Q %Ă&#x17D;FKIQ de Processo Civil. PresidĂŞncia da RepĂşblica $TCUĂ&#x2C6;NKC &( &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA NGKU . JVO #EGUUQ GO LCP $4#5+. .GK P FG FG OCTĂ Q FG %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ %KXKN PresidĂŞncia da RepĂşblica, $TCUĂ&#x2C6;NKC &( &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA ACVQ NGK . JVO
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(In) consonância da tutela antecipada no CPC de 2015 com o Estado Democråtico de Direito
ao CPC/1973. 4. ed. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 5 .12'5 ,QÂşQ $CVKUVC Tutela antecipada no processo civil brasileiro. 4. ed. SĂŁo Paulo: Saraiva, 2009. 56 9#/$+'4 6GTGUC #TTWFC #NXKO &C NKDGTFCFG FQ LWK\ PC EQPEGUUÂşQ FG NKOKPCTGU G C VWVGNC CPVGEKRCVĂ&#x17D;TKC +P 9#/$+'4 6GTGUC #TTWFC #NXKO Aspectos polĂŞmicos da antecipação de tutela. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. 57 $7'01 %CUUKQ 5ECTRKPGNNC Tutela antecipada. SĂŁo Paulo: Saraiva, 2004. p. 8. 58 ('4'5 %CTNQU 4QDGTVQ Antecipação da tutela jurisdicional. SĂŁo Paulo: Saraiva, 1999. p. 19. $7'01 NQE EKV /ÂŚ. #PC .WEKC 4KDGKTQ Antecipação de tutela: sem a prĂŠvia oitiva do rĂŠu no estado democrĂĄtico de direito. Montes Claros: Unimontes, 2012. 61 8'.151 %[PCTC 5KNFG /GUSWKVC SĂşmulas vinculantes como entraves ideolĂłgicos ao processo jurĂdico de enunciação de uma sociedade democrĂĄtica. 2008. 389 f. Tese (Doutorado em Direito) - PontifĂcia Universidade CatĂłlica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008. 62 Ibidem, p. 321-322. 63 Ibidem, p. 159. .'#. 4QUGOKTQ 2GTGKTC Teoria geral do processo: primeiros estudos. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. 65 Ibidem. 66 Ibidem. 67 Ibidem. 68 Ibidem. 69 Ibidem. 70 Ibidem. 71 Ibidem, p. 159. 72 Ibidem. 73 Ibidem. 74 $4#5+. %QPUVKVWKĂ ÂşQ 'OGPFC EQPUVKVWEKQPCN P FG PresidĂŞncia da RepĂşblica, BrasĂlia, DF. &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA EQPUVKVWKECQ EQPUVKVWKECQ JVO #EGUUQ GO LCP 75 Ibidem. 76 &#..#4+ &CNOQ FG #DTGW O poder dos juĂzes. SĂŁo Paulo: Saraiva, 1996. .'#. 4QUGOKTQ 2GTGKTC Teoria geral do processo: primeiros estudos. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. 78 Ibidem. 79 TUCCI, JosĂŠ RogĂŠrio Cruz e. Garantias constitucionais do processo civil. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. 80 Ibidem. 81 )#.7221 /CTEGNQ %CORQU Igualdade e diferença: estado de democrĂĄtico de a partir do pensamento de Habermas. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002. 82 Ibidem. .'#. QR EKV R 84 Ibidem. 85 Ibidem, p. 99. (grifo do autor). $4#5+. .GK P FG FG OCTĂ Q FG %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ %KXKN PresidĂŞncia da RepĂşblica, $TCUĂ&#x2C6;NKC &( &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA ACVQ NGK . JVO Acesso em: 19 jan. 2017. $4#5+. .GK P FG LCPGKTQ FG 4GXQICFQ RGNC .GK P FG OCTĂ Q FG +PUVKVWK Q CĂłdigo de Processo Civil. PresidĂŞncia da RepĂşblica, BrasĂlia, DF. DisponĂvel em: <http://www.planalto.gov. DT EEKXKNA NGKU . JVO #EGUUQ GO LCP $4#5+. .GK P FG FG OCTĂ Q FG %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ %KXKN PresidĂŞncia da RepĂşblica, $TCUĂ&#x2C6;NKC &( &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA ACVQ NGK . JVO Acesso em: 19 jan. 2017. 89 Ibidem. /#&'+4# &JGPKU %TW\ GV CN 2TQEGUUQ LWTKUFKĂ ÂşQ G CĂ ÂşQ GO ,COGU )QNFUEJOKFV +P .'#. 4QUGOKTQ 2GTGKTC Estudos continuados de teoria do processo: a pesquisa jurĂdica no curso de mestrado em direito processual. Porto Alegre: SĂntese, 2005. v. 6. 91 Ibidem, p. 74.
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Edmilson Araujo Rodrigues
92 #./'+&#, AndrĂŠa Alves de. Processualidade jurĂdica e legitimidade normativa. Belo Horizonte: FĂłrum, 2005. 93 Ibidem, p. 123-123. 94 Ibidem. .'#. 4QUGOKTQ 2GTGKTC Teoria processual da decisĂŁo jurĂdica 5ÂşQ 2CWNQ .CPF[ 96 Ibidem, p. 75. 97 TUCCI, JosĂŠ RogĂŠrio Cruz e. Garantias constitucionais do processo civil. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. 98 TUCCI, JosĂŠ RogĂŠrio Cruz e. Garantias constitucionais do processo civil. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. p. 102. .'#. 4QUGOKTQ 2GTGKTC Teoria geral do processo: primeiros estudos. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. 100 Ibidem, p. 99 101 TUCCI, JosĂŠ RogĂŠrio Cruz e. Garantias constitucionais do processo civil. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. 102 Ibidem. p. 108. 103 %+064# #PVQPKQ %CTNQU FG #TCĂ&#x2022;LQ )4+018'4 #FC 2GNNGITKPK &+0#/#4%1 %¸PFKFQ 4CPIGN Teoria geral do processo. 28. ed. SĂŁo Paulo: Malheiros, 2013. 104 $4#5+. %QPUVKVWKĂ ÂşQ 'OGPFC EQPUVKVWEKQPCN P FG PresidĂŞncia da RepĂşblica, BrasĂlia, DF. &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA EQPUVKVWKECQ constituicao.htm>. Acesso em: 20 jan. 2017. 105 Ibidem. $4#5+. .GK P FG FG OCTĂ Q FG %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ %KXKN PresidĂŞncia da RepĂşblica, $TCUĂ&#x2C6;NKC &( &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA ACVQ NGK . JVO Acesso em: 19 jan. 2017. 107 %+064# #PVQPKQ %CTNQU FG #TCĂ&#x2022;LQ )4+018'4 #FC 2GNNGITKPK &+0#/#4%1 %¸PFKFQ 4CPIGN Teoria geral do processo. 28. ed. SĂŁo Paulo: Malheiros, 2013. 108 Ibidem. 109 /+6+&+'41, Daniel. Colaboração no processo civil: pressupostos sociais, lĂłgicos e ĂŠticos. 2. ed. SĂŁo Paulo: RT, 2011. 110 2'4'+4# 4QFTKIQ FC %WPJC &KTGKVQ G RUKECPCNKUG C UWDLGVKXKFCFG PC QDLGVKXKFCFG FQU CVQU G HCVQU LWTĂ&#x2C6;FKEQU +P )#.7221 /CTEGNQ %CORQU O Brasil que queremos TGĆ&#x20AC;GZĂ?GU UQDTG Q GUVCFQ FGOQETÂśVKEQ FG FKTGKVQ $GNQ Horizonte: PUC Minas, 2006. p. 16. .'#. 4QUGOKTQ 2GTGKTC Teoria geral do processo: primeiros estudos. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 10. (grifo do autor). 112 Ibidem. .'#. 4QUGOKTQ 2GTGKTC Teoria geral do processo: primeiros estudos. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. 114 $4#5+. %QPUVKVWKĂ ÂşQ 'OGPFC EQPUVKVWEKQPCN P FG PresidĂŞncia da RepĂşblica, BrasĂlia, DF. &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA EQPUVKVWKECQ EQPUVKVWKECQ JVO #EGUUQ GO LCP .'#. 4QUGOKTQ 2GTGKTC Teoria processual da decisĂŁo jurĂdica 5ÂşQ 2CWNQ .CPF[ R 116 /#4+010+ .WK\ )WKNJGTOG /CTKPQPK Antecipação de tutela. 9. ed. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 27. 117 Ibidem. 118 $4#5+. %QPUVKVWKĂ ÂşQ 'OGPFC EQPUVKVWEKQPCN P FG PresidĂŞncia da RepĂşblica, BrasĂlia, DF. &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA EQPUVKVWKECQ EQPUVKVWKECQ JVO #EGUUQ GO LCP 119 TUCCI, JosĂŠ RogĂŠrio Cruz e. Garantias constitucionais do processo civil. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. p. 102-103.
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(In) consonância da tutela antecipada no CPC de 2015 com o Estado Democråtico de Direito
(IN) COMPATIBILITY OF URGENT PROVISIONAL RELIEF IN THE 2015 CPC WITH THE DEMOCRATIC STATE OF LAW ABSTRACT The objective of this article was to analyze the institute of urgent provisional relief in the new Brazilian Code of Civil Procedure (NCPC), of 2015, focusing on the neoinstitutionalist theory of the process. From this theoretical matrix, one wonders: is the urgent provisional relief, as established in the NCPC, in consonance with the democratic State of law? In order to answer such question, the methodological path of the research is qualitative and its objectives are to be exploratory. Regarding the technical procedures adopted in the analysis, the research is bibliographical and documentary, since a theoretical reference will be used through doctrine and the relevant legislation. The results of the investigation led us to consider that, although the relevant institute is important, there is an incongruity regarding equal access to justice, from the perspective of the litigants. Thus, one can perceive the impossibility of exercising the principles of adversary system and full defense for the respondents, in consonance with the principle of equality, understood on the basis of reciprocity. This restriction refers to the impossibility of the respondentâ&#x20AC;&#x2122;s participation in the preliminary stage of the proceedings, since when the provisional relief is granted in advance, according to the current model, the respondent is subject to a decision without having previously participated in the procedural debate and contributed to the result of the decision, thus disrespecting the principle QH EQQRGTCVKQP CPF VJG CFXGTUCTKCN U[UVGO CNKIPGF YKVJ VJG RQYGT QH KPĆ&#x20AC;WGPEG pertaining to the rights of the parties. Therefore, the study also considered that way in which urgent provisional relief is standardized, although an alternative to â&#x20AC;&#x153;the plaintiff who is rightâ&#x20AC;? â&#x20AC;&#x201C; in the words of Marinoni, it is not reasonable, within the perspective of due process of law. In view of this, it can be concluded that the proceedings for urgent provisional relief must be improved and, as UWEJ KPENWFG C OCPFCVQT[ RTKQT JGCTKPI HQT LWUVKĹżECVKQP KP VJG KPKVKCN RJCUG QH the process, in which the principles of the adversarial system, full defense and isonomy will be respected.
Keywords: Urgent provisional relief. Neoinstitutionalist theory of the process. Adversary system. Isonomy. Full defense.
Submetido: 9 fev. 2017 Aprovado: 6 jun. 2017
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doi:10.12662/2447-6641oj.v15i20.p138-159.2017
AUTOCONTENĂ&#x2021;Ă&#x192;O NO JUDICIĂ RIO BRASILEIRO: UMA ANĂ LISE DAS RELAĂ&#x2021;Ă&#x2022;ES ESTRATĂ&#x2030;GICAS ENTRE OS PODERES CONSTITUĂ?DOS DO ESTADO Juliana de Brito Pontes* JosĂŠ MĂĄrio Wanderley Gomes Neto** JoĂŁo Paulo Fernandes de Souza Allain Teixeira*** 1Introdução. 2 O sistema de controle de constitucionalidade brasileiro e a arguição de descumprimento de preceito fundamental. 3 A autocontenção no JudiciĂĄrio brasileiro. 4 Metodologia utilizada. 5 Avaliação dos resultados - anĂĄlise das relaçþes estratĂŠgicas entre os Poderes consVKVWĂ&#x2C6;FQU FQ 'UVCFQ 'ZGEWVKXQ XU ,WFKEKÂśTKQ %QPENWUĂ?GU. ReferĂŞncias.
RESUMO A arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) ĂŠ um instrumento processual-constitucional tipicamente brasileiro, capaz de impedir atos de ameaça ou violação a preceito fundamental, decorrentes do Poder PĂşblico. O contexto marcante da judicialização da polĂtica na jurisdição constitucional brasileira evidencia o reduzido nĂşmero de arguiçþes de descumprimento LWNICFCU 2TGVGPFG UG VTCĂ CT Q RGTĹżN GORĂ&#x2C6;TKEQ FQ HWPEKQPCOGPVQ FQ EQPVTQNG de constitucionalidade por meio das ADPFs, bem como analisar a ocorrĂŞncia da autocontenção judicial e o comportamento dos magistrados ao proferirem FGEKUĂ?GU TGHGTGPVGU ´U #&2(U 2CTC VCPVQ JQWXG CXCNKCĂ ÂşQ SWCPVKVCVKXC FQ total das arguiçþes catalogadas e anĂĄlise qualitativa das arguiçþes julgadas e nĂŁo julgadas a partir do estudo de casos abrangendo as ADPFs propostas, sendo distribuĂdas conforme variĂĄveis e analisada a distribuição de frequĂŞncias RQT OGKQ FC GNCDQTCĂ ÂşQ FG ITœſEQU $WUEQW UG EQORTGGPFGT C UGNGVKXKFCFG no julgamento das ADPFs realizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), *
Advogada. Doutoranda em Direito pela Universidade CatĂłlica de Pernambuco (UNICAP) na qualidade de $QNUKUVC FC %#2'5 /GUVTC GO &KTGKVQ RGNC 7PKXGTUKFCFG %CVĂ&#x17D;NKEC FG 2GTPCODWEQ PC SWCNKFCFG FG DQNUKUVC FC %#2'5 ' OCKN LWNKCPCDIR"IOCKN EQO
** #FXQICFQ %KGPVKUVC 2QNĂ&#x2C6;VKEQ 2TQHGUUQT G 2GUSWKUCFQT FQ 24#'614 )TWRQ FG GUVWFQU UQDTG 2QFGT ,WFKEKÂśTKQ 2QNĂ&#x2C6;VKEC G 5QEKGFCFG 7(2' 2QUUWK ITCFWCĂ ÂşQ GO &KTGKVQ RGNC 7PKXGTUKFCFG %CVĂ&#x17D;NKEC FG 2GTPCODWEQ (2000), mestrado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (2003) e doutorado em CiĂŞncia PolĂtica pela Universidade Federal de Pernambuco (2015). Professor da Universidade CatĂłlica de PernamDWEQ ' OCKN LOCTKQY"JQVOCKN EQO *** Doutor em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (2005). Mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (1999). Mestre em TeorĂas CrĂticas Del Derecho pela Universidad Internacional FG #PFCNWEĂ&#x2C6;C 'URCPJC )TCFWCFQ GO &KTGKVQ RGNC 7PKXGTUKFCFG (GFGTCN FG 2GTPCODWEQ Professor Adjunto na Universidade Federal de Pernambuco. Professor na Universidade CatĂłlica de PernamDWEQ G 2TQHGUUQT PCU (CEWNFCFGU +PVGITCFCU $CTTQU /GNQ ' OCKN LRCNNCKP"JQVOCKN EQO
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Autocontenção no judiciĂĄrio brasileiro: uma anĂĄlise das relaçþes estratĂŠgicas entre os poderes constituĂdos do Estado
GURGEKĹżECPFQ QU GNGOGPVQU SWG OQVKXCTCO Q GHGVKXQ RTQEGUUQ FGEKUĂ&#x17D;TKQ G QU fatores que permitem a prĂĄtica de autocontenção pela Suprema Corte brasileira. 8GTKĹżEQW UG Q EQPĆ&#x20AC;KVQ GPVTG QU 2QFGTGU 'ZGEWVKXQ G ,WFKEKÂśTKQ ITCPFG RCTVG das arguiçþes propostas tem como maior violador o prĂłprio Poder JudiciĂĄrio, porĂŠm, quando este profere decisĂľes de mĂŠrito nas ADPFs, julga em maioria as CĂ Ă?GU SWG VKXGTCO EQOQ XKQNCFQT Q 2QFGT 'ZGEWVKXQ KORGFKPFQ SWG CU CĂ Ă?GU contra o JudiciĂĄrio tenham continuidade, e este seja reconhecido como maior XKQNCFQT FQU FKTGKVQU G ICTCPVKCU HWPFCOGPVCKU 'URGTC UG EQO C TGCNK\CĂ ÂşQ desta pesquisa, contribuir para a compreensĂŁo das relaçþes estratĂŠgicas entre QU 2QFGTGU EQPUVKVWĂ&#x2C6;FQU FQ 'UVCFQ Palavras-chave #WVQEQPVGPĂ ÂşQ LWFKEKCN 2QFGTGU FQ 'UVCFQ #TIWKĂ ÂşQ FG descumprimento de preceito fundamental. Seletividade.
1 INTRODUĂ&#x2021;Ă&#x192;O #U OQFKĹżECĂ Ă?GU QEQTTKFCU PCU QTFGPU EQPUVKVWEKQPCKU PQ RGTĂ&#x2C6;QFQ RĂ&#x17D;U 5GIWPFC )WGTTC Mundial (1939-1945) tornaram possĂvel a valorização do JudiciĂĄrio como poder estatal capaz FG UQNWEKQPCT OWKVQU FQU EQPĆ&#x20AC;KVQU RTGUGPVGU PQ ¸ODKVQ UQEKCN RQNĂ&#x2C6;VKEQ LWTĂ&#x2C6;FKEQ # LWTKUFKĂ ÂşQ EQPUVKVWEKQPCN EQORTGGPFKFC EQOQ HWPĂ ÂşQ FQ 'UVCFQ EWLC ĹżPCNKFCFG Ă&#x192; EQPETGVK\CT QU OCPdamentos inseridos na Constituição da RepĂşblica Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88)1, possibilitou que as estruturas normativas abstratas normatizassem a realidade fĂĄtica. # LWTKUFKĂ ÂşQ EQPUVKVWEKQPCN VGXG RQT ĹżO C CĹżTOCĂ ÂşQ FC UWRTCNGICNKFCFG CQ GUVCDGNGEGT as normas infraconstitucionais que deveriam estar vinculadas aos parâmetros estabelecidos pela CRFB/88, tornando possĂvel a prĂĄtica do controle de constitucionalidade das normas. O termo â&#x20AC;&#x153;jurisdição constitucionalâ&#x20AC;?, em sua versĂŁo contemporânea, estĂĄ fundamentado na necessidade do estabelecimento de uma instância mediadora, neutra e imparcial para a UQNWĂ ÂşQ FQU EQPĆ&#x20AC;KVQU GO ¸ODKVQ EQPUVKVWEKQPCN 2 5KOWNVCPGCOGPVG CQ FGUGPXQNXKOGPVQ FC LWTKUFKĂ ÂşQ EQPUVKVWEKQPCN G ´ XCNQTK\CĂ ÂşQ das atividades do JudiciĂĄrio, os demais poderes pĂşblicos tiveram sua capacidade de solução FG EQPĆ&#x20AC;KVQU TGFW\KFC GO XKTVWFG FQ CWOGPVQ FC EQORNGZKFCFG UQEKCN G PGEGUUKFCFG FG WO SWCPVKVCVKXQ OCKQT FG PQTOCU GHGVKXCOGPVG ECRC\GU FG UQNWEKQPCT QU EQPĆ&#x20AC;KVQU QTKWPFQU dessa sociedade pluralista que surgia. Desse modo, o JudiciĂĄrio passou a ser considerado pela sociedade como o guardiĂŁo das garantias e direitos fundamentais e principal poder ao SWCN RQFGTKC TGEQTTGT RCTC C UQNWĂ ÂşQ FQU EQPĆ&#x20AC;KVQU G UCVKUHCĂ ÂşQ FCU TGKXKPFKECĂ Ă?GU FQU ITWRQU de interesses. %QOQ TGUWNVCFQ FCU OQFKĹżECĂ Ă?GU PQU QTFGPCOGPVQU LWTĂ&#x2C6;FKEQU VQTPQW UG RQUUĂ&#x2C6;XGN C realização do controle de constitucionalidade das normas pelo Poder JudiciĂĄrio; antes tal CVKXKFCFG GTC TGUVTKVC CQU 2QFGTGU 'ZGEWVKXQ G .GIKUNCVKXQ # RTÂśVKEC FG EQPVTQNG PQTOCVKXQ
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Juliana de Brito Pontes | JosĂŠ MĂĄrio Wanderley Gomes Neto | JoĂŁo Paulo Fernandes de Souza Allain Teixeira
VGPFQ UG FGUGPXQNXKFQ KPKEKCNOGPVG PC 'WTQRC G #OĂ&#x192;TKEC FQ 0QTVG CRTGUGPVQW EQOQ UKUVGOCU SWG GZGTEGTCO OCKQT KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC UQDTG Q EQPVTQNG EQPUVKVWEKQPCN DTCUKNGKTQ QW UGLC Q controle concentrado e o difuso. Com o surgimento de novos mecanismos de controle constitucional no Brasil â&#x20AC;&#x201C; dentre os quais, a arguição de descumprimento de preceito fundamental - e por meio dos resultados dos julgamentos proferidos em sede de controle concentrado, observa-se que o contexto marcante da judicialização das questĂľes polĂticas na jurisdição constitucional brasileira evidencia o reduzido nĂşmero de arguiçþes de descumprimento julgadas. Buscou-se compreender a seletividade no julgamento das ADPFs realizada pelo SupreOQ 6TKDWPCN (GFGTCN 56( GURGEKĹżECPFQ QU GNGOGPVQU SWG OQVKXCTCO Q GHGVKXQ RTQEGUUQ decisĂłrio e os fatores que permitem a prĂĄtica de autocontenção pela Suprema Corte brasiNGKTC 'URGTC UG EQO C TGCNK\CĂ ÂşQ FGUVC RGUSWKUC EQPVTKDWKT RCTC C EQORTGGPUÂşQ FCU TGNCĂ Ă?GU GUVTCVĂ&#x192;IKECU GPVTG QU 2QFGTGU EQPUVKVWĂ&#x2C6;FQU FQ 'UVCFQ
2 O SISTEMA DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE BRASILEIRO E A ARGUIĂ&#x2021;Ă&#x192;O DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL No Brasil, a maior valorização das funçþes judiciais por parte do Constituinte OriginĂĄrio deu-se mediante a promulgação do texto constitucional de 1988, destacando-se a importância do controle normativo realizado pelo Poder JudiciĂĄrio, que antes sofria restriçþes por RCTVG FQU 2QFGTGU 'ZGEWVKXQ G .GIKUNCVKXQ # RCTVKT FQ EQPVTQNG PQTOCVKXQ LWFKEKCN G FKCPVG da necessidade de efetivação dos direitos e garantias fundamentais, novos mecanismos de controle de constitucionalidade foram criados no ordenamento pĂĄtrio, dentre eles, a arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF), que constituiu objeto de estudo deste trabalho. Por haver sofrido recente processo de democratização, a partir do advento da CRFB/88 G EQO C CFQĂ ÂşQ FQ UKUVGOC JĂ&#x2C6;DTKFQ FG EQPVTQNG FG EQPUVKVWEKQPCNKFCFG HQK RQUUĂ&#x2C6;XGN XGTKĹżECT no ordenamento jurĂdico brasileiro a ocorrĂŞncia de prĂĄticas existentes no sistema norte-americano, quais sejam, a existĂŞncia de judicialização das questĂľes polĂticas, ativismo judicial e autocontenção judicial. Possuindo nĂŁo sĂł a função institucional de guarda da Constituição (art. 102, caput, CRFB/88), o STF exerce tambĂŠm as funçþes de solucionar as controvĂŠrsias e de estabilização FC KPVGTRTGVCĂ ÂşQ EQPUVKVWEKQPCN PQ TGIKOG FG EQPVTQNG FG EQPUVKVWEKQPCNKFCFG OKUVQ .QIQ C mais alta corte do judiciĂĄrio brasileiro nĂŁo ĂŠ um meio para solucionar questĂľes particulares, mas situaçþes que envolvem maior complexidade e repercussĂŁo social. No sistema de controle de constitucionalidade praticado no Brasil, a revisĂŁo judicial exercida tanto sob o âmbito difuso, quanto pelo concentrado, torna possĂvel obter pronunciamentos da mais alta Corte (Supremo Tribunal Federal) por intermĂŠdio de recursos ou de
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Autocontenção no judiciĂĄrio brasileiro: uma anĂĄlise das relaçþes estratĂŠgicas entre os poderes constituĂdos do Estado
KPUVTWOGPVQU RTQEGUUWCKU GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQU 3 Com isso, grupos de oposição (organizaçþes sociais, entidades de classe, partidos polĂticos) podem recorrer ao JudiciĂĄrio para promover ou impedir reformas sociais apresentadas por grupos de interesses majoritĂĄrios, (bancadas polĂticas, ITWRQU FG GORTGUÂśTKQU FGPVTG QWVTQU SWG FGVGPJCO OCKQT KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC RCTC C QDVGPĂ ÂşQ FG seus interesses). No Brasil, a judicialização da polĂtica ĂŠ oriunda do modelo constitucional analĂtico e do sistema de controle de constitucionalidade adotado. O modelo analĂtico da Constituição ECTCEVGTK\C UG RQT CRTGUGPVCT OCKQT FGVCNJCOGPVQ FCU PQTOCU TGHGTGPVGU ´ QTICPK\CĂ ÂşQ G CQ HWPEKQPCOGPVQ FQ 'UVCFQ OCKQT TGNCĂ ÂşQ FG FKTGKVQU HWPFCOGPVCKU QW FG FKTGKVQU JWOCPQU G OCKQT PĂ&#x2022;OGTQ FG TGITCU SWG TGIWNCO UKVWCĂ Ă?GU GURGEĂ&#x2C6;ĹżECU 4 2QT UGT OWKVQ CDTCPIGPVG C %CTVC /CIPC FG VGO EQOQ IWCTFKÂşQ ĹżPCN Q ,WFKEKÂśTKQ EWLC CVWCĂ ÂşQ RQFG VGT KPĂ&#x2C6;EKQ C RCTVKT FQ EQPVTQNG FKHWUQ QW FG CĂ Ă?GU GURGEĂ&#x2C6;ĹżECU 4GHGTKFC CVTKDWKĂ ÂşQ HC\ SWG Q 2QFGT ,WFKEKÂśTKQ VGPJC C RCNCXTC ĹżPCN RCTC FGEKFKT GO FKXGTUQU ECUQU Ĺ&#x152; tanto relacionados a direitos fundamentais quanto a polĂticas pĂşblicas.5 Apesar da presença do modelo hĂbrido de controle constitucional, o Brasil nĂŁo adotou um tribunal ad hoc, mantendo-se a estrutura do controle misto â&#x20AC;&#x201C; controle direto abstrato e incidental concreto -, empregando apenas o instituto da ação de inconstitucionalidade por omissĂŁo, oriundo do direito portuguĂŞs. Importante observar que a existĂŞncia do controle constitucional em sua forma difusa, LWPVQ CQ EQPVTQNG EQPEGPVTCFQ EQPUVKVWK WO KORQTVCPVG KPUVTWOGPVQ FG ĹżNVTCIGO EQPUVKVWcional, por isso a relevância do estudo das peculiaridades que caracterizam o sistema hĂbrido de controle de constitucionalidade brasileiro. â&#x20AC;&#x153;Com efeito, o controle difuso de constitucionalidade [...] retira do ĂłrgĂŁo de cĂşpula do Poder JudiciĂĄrio o monopĂłlio do controle de constitucionalidade.â&#x20AC;?6 A partir da nova Carta Magna, passou a ser observada uma tendĂŞncia que confere ĂŞnfase nĂŁo mais ao modelo difuso, mas ao modelo concentrado, uma vez que a maior parcela das controvĂŠrsias constitucionais foi submetida ao STF, por meio do controle abstrato de normas. +ORQTVCPVG GNGOGPVQ FGEQTTGPVG FG VCN OQFKĹżECĂ ÂşQ TGHGTG UG CQ CORNQ TQN FG NGIKVKOCFQU ´ RTQRQUKVWTC FCU CĂ Ă?GU FQ EQPVTQNG EQPEGPVTCFQ RQUUKDKNKVCPFQ SWG RNGKVQU VKRKECOGPVG individuais sejam conduzidos ao STF mediante ação direta de inconstitucionalidade.7 â&#x20AC;&#x153;Assim, o processo abstrato de normas cumpre entre nĂłs dupla função: ĂŠ a um sĂł tempo instrumento de defesa da ordem objetiva e de defesa de posiçþes subjetivas.â&#x20AC;?8 Nessa forma de controle, o Tribunal decidirĂĄ acerca da lei em tese, nĂŁo sendo necessĂĄria C GZKUVĂ&#x201E;PEKC FG WO EQPĆ&#x20AC;KVQ EQPETGVQ 1 EQPVTQNG EQPEGPVTCFQ CRTGUGPVC GHGKVQ erga omnes, sendo da competĂŞncia exclusiva de Tribunal o controle das normas in abstracto.9 A partir do controle concentrado, novos mecanismos de compatibilização com o texto Constitucional foram criados: a ação direta de inconstitucionalidade (ADIN); a ação direta
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de inconstitucionalidade por omissĂŁo (ADO); a ação declaratĂłria de constitucionalidade (ADC) e a arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF). Instituto Ăşnico no mundo, a arguição de descumprimento de preceito fundamental caracteriza-se por ser um dos instrumentos criados para proteger as diretrizes bĂĄsicas de consolidação FQ 'UVCFQ &GOQETÂśVKEQ FG &KTGKVQ FC 4GRĂ&#x2022;DNKEC (GFGTCVKXC FQ $TCUKN 2QT OGKQ FC #&2( VGO UG por objetivo evitar ou reparar lesĂŁo a preceito fundamental decorrente de atos praticados pelo Poder PĂşblico e tambĂŠm quando relevante o fundamento da controvĂŠrsia constitucional referente ´ NGK QW C CVQ PQTOCVKXQ HGFGTCN GUVCFWCN QW OWPKEKRCN KPENWĂ&#x2C6;FQU QU CPVGTKQTGU ´ %QPUVKVWKĂ ÂşQ A importância da arguição de descumprimento deve-se ao fato de esta permitir a antecipação de decisĂľes sobre controvĂŠrsias de teor constitucional relevante, impedindo que a solução venha a ser dada apĂłs muitos anos, quando muitas das situaçþes questionadas jĂĄ sofreram consolidação FGXKFQ CQ NCRUQ VGORQTCN 1WVTQ CURGEVQ FG FGUVCSWG Ă&#x192; Q TGNCVKXQ ´ RTQVGĂ ÂşQ FCU FKTGVTK\GU DÂśUKECU FG EQPUQNKFCĂ ÂşQ FQ 'UVCFQ &GOQETÂśVKEQ FG &KTGKVQ FC 4GRĂ&#x2022;DNKEC (GFGTCVKXC FQ $TCUKN EQOQ C VTKRCTtição de poderes, o federalismo e os direitos e garantias fundamentais, estabelecidos pela CRFB/88. PorĂŠm, nem sempre as ADPFs sĂŁo reconhecidas como meio apto para solucionar descumprimentos aos mandamentos constitucionais: por apresentarem reduzida utilização, poucos sĂŁo os estudos realizados acerca do processo decisĂłrio desse instituto, acarretando o esvaziamento de sua importância no controle de constitucionalidade concentrado. O presente trabalho teve por objetivo a compreensĂŁo da ocorrĂŞncia da autocontenção judicial nas arguiçþes de descumprimento de preceito fundamental, sendo analisadas as possĂveis causas de estagnação do processo decisĂłrio das ADPFs, com isso, sendo avaliadas CU TGNCĂ Ă?GU GUVTCVĂ&#x192;IKECU GPVTG QU RQFGTGU EQPUVKVWĂ&#x2C6;FQU FQ 'UVCFQ QW UGLC C GZKUVĂ&#x201E;PEKC FG EQPĆ&#x20AC;KVQU GPVTG QU 2QFGTGU 'ZGEWVKXQ G ,WFKEKÂśTKQ
3 A AUTOCONTENĂ&#x2021;Ă&#x192;O NO JUDICIĂ RIO BRASILEIRO A ocorrĂŞncia da judicialização no ordenamento jurĂdico brasileiro foi objeto de estudo TGCNK\CFQ RQT 'TPCPK %CTXCNJQ 10 o qual avaliou o desempenho dos requerentes e atores junto ao STF quando da propositura das ADINs (açþes diretas de inconstitucionalidade), tendo por objetivo a melhor compreensĂŁo da ocorrĂŞncia de judicialização da polĂtica; as consequĂŞncias da revisĂŁo abstrata da legislação foram usadas como referĂŞncia na anĂĄlise de judicialização das açþes diretas de inconstitucionalidade.11 O ativismo judicial tambĂŠm estĂĄ presente no sistema jurĂdico nacional, contudo nĂŁo serĂĄ objeto desta pesquisa, pois, conforme anteriormente referido, a judicialização compreende o fePĂ?OGPQ QRQUVQ ´ CWVQEQPVGPĂ ÂşQ PÂşQ UGPFQ Q CVKXKUOQ RTÂśVKEC QRQUVC ´ CWVQEQPVGPĂ ÂşQ LWFKEKCN Cabe destacar que atĂŠ o presente momento, a literatura brasileira tem se dedicado ao GUVWFQ FQ CVKXKUOQ G FC LWFKEKCNK\CĂ ÂşQ GZKUVKPFQ CORNQ OCVGTKCN TGHGTGPVG CQU HGPĂ?OGPQU
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#ODQU QU VGTOQU UÂşQ FKUVKPVQU RQTVCPVQ PÂşQ UG EQPHWPFGO 'PVTGVCPVQ RQWSWĂ&#x2C6;UUKOQU UÂşQ os trabalhos relacionados ao conteĂşdo da autorrestrição judicial. O vocĂĄbulo acaba por ter seu conteĂşdo desgastado, sendo atitude prudente descartar as determinaçþes estabelecidas RGNQ WUQ KPFKUETKOKPCFQ RCTC VGPVCT UG FGĹżPKT CURGEVQU SWG ECTCEVGTK\CO Q HGPĂ?OGPQ UQD anĂĄlise, substituindo o efeito paralisante dos clichĂŞs.12 'ODQTC PÂşQ OWKVQ RGUSWKUCFC PQ ¸ODKVQ LWTĂ&#x2C6;FKEQ DTCUKNGKTQ C CWVQEQPVGPĂ ÂşQ FQ ,WdiciĂĄrio constitui, assim como o ativismo e a judicialização, termo utilizado para referĂŞncia C ĹżPU FG CDWUQU LWFKEKCKU QW UGLC SWCPFQ JQWXGT KPVGTGUUGU RQT RCTVG FQU OCIKUVTCFQU PC resolução ou nĂŁo de uma questĂŁo, alterando, por meio de algumas prĂĄticas, o resultado do RTQEGUUQ FGEKUĂ&#x17D;TKQ PQ CVKXKUOQ UÂşQ CRNKECFCU ´U FGEKUĂ?GU JKRĂ&#x17D;VGUGU PÂşQ RTGXKUVCU FKTGVCOGPVG no texto constitucional, ampliando, assim, o conteĂşdo da interpretação normativa; na judicialização, ocorre a expansĂŁo do poder decisĂłrio do JudiciĂĄrio e sua inserção na proteção do sistema polĂtico mediante as questĂľes a ele conduzidas por grupos de interesses que objetivam promover alteraçþes nos planos de execução das polĂticas pĂşblicas; na autocontenção, o magistrado utiliza suas preferĂŞncias polĂticas e princĂpios morais para fundamentar a negativa de julgamento de um caso, interferindo, com isso, no resultado da decisĂŁo. A compreensĂŁo brasileira acerca da autocontenção judicial difere da norte-americana, a partir desta teve inĂcio a prĂĄtica de restrição de julgamentos proferidos pelos magistrados em determinadas espĂŠcies de açþes. A literatura jurĂdica nacional apresenta a autolimitação do JudiciĂĄrio como sendo a adoção de uma postura respeitosa dos juĂzes para com os demais poderes GUVCVCKU CQ GXKVCT KPVGTHGTKT PCU CĂ Ă?GU FQ 'ZGEWVKXQ G FQ .GIKUNCVKXQ KORGFKPFQ EQO KUUQ C aplicação direta da Constituição aos casos nĂŁo expressamente previstos no seu plano de incidĂŞncia. Por meio dessa interpretação estrita, o JudiciĂĄrio passa a depender do pronunciamento do legislador originĂĄrio para que ocorra o julgamento dessas questĂľes, bem como a abstenção da interferĂŞncia por juĂzes e tribunais nas questĂľes de polĂticas pĂşblicas, utilizando critĂŠrios conservadores para que haja a declaração de inconstitucionalidade de leis e atos normativos. De outra maneira, na literatura norte-americana, a judicial self-restraint Ă&#x192; XGTKĹżECFC SWCPdo o juiz utiliza suas preferĂŞncias polĂticas e princĂpios morais para fundamentar a negativa de julgamento de um caso; tambĂŠm, quando age com prudĂŞncia e cautela na utilização de suas opiniĂľes â&#x20AC;&#x201C; e nesse caso, tem-se o denominado â&#x20AC;&#x153;juiz respeitosoâ&#x20AC;?, agindo de modo ainda mais limitado do que na primeira situação; hĂĄ ainda autocontenção quando atua de modo a limitar as prĂĄticas polĂticas sobre o exercĂcio do poder judicial. Portanto, a autocontenção PÂşQ UKIPKĹżEC VKOKFG\ SWCPVQ ´ RTQENCOCĂ ÂşQ FCU FGEKUĂ?GU OCU Q WUQ RQT RCTVG FQU OCIKUVTCdos, de suas preferĂŞncias polĂticas e morais para a alteração do resultado de um caso prĂĄtico, baseando-se na negativa de julgamento e, consequentemente, reduzindo a quantidade de açþes que sĂŁo decididas pelo Tribunal. Nesse contexto, diferencia-se um juiz autodisciplinado de um juiz autocontido/respeitoso: o primeiro busca decidir um caso sem levar em consideração suas preferĂŞncias polĂticas,
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ao passo que o segundo fundamenta a decisĂŁo de acordo com seus valores morais e opiniĂľes polĂticas. No entanto, quanto mais elevado for o tribunal do qual esse juiz faz parte, menor a autodisciplina do julgador, ao acreditar que suas preferĂŞncias polĂticas desempenharĂŁo um papel favorĂĄvel na tomada de decisĂŁo judicial, podendo, a partir desse aspecto, adotar entre uma das polĂticas concorrentes â&#x20AC;&#x201C; autocontenção ou judicialização. 8GTKĹżECFCU CU FKUVKPĂ Ă?GU SWCPVQ CQ EQORQTVCOGPVQ FQU OCIKUVTCFQU QDUGTXC UG SWG a autocontenção judicial apresentada pela literatura brasileira assemelha-se ao comportamento do juiz autodisciplinado, nĂŁo ao juiz autocontido. Assim, a pesquisa foi baseada na CWVQEQPVGPĂ ÂşQ PQTVG COGTKECPC PC SWCN JÂś C KFGPVKĹżECĂ ÂşQ FQU HCVQTGU G EQORQTVCOGPVQU de restrição aos julgamentos por parte do Poder JudiciĂĄrio. A personalidade do juiz constitui fonte para o surgimento da judicial self-restraint. Um juiz retraĂdo nĂŁo estaria disposto a enfrentar os demais ramos do governo, sendo, por isso, autocontido, bem como poderia recusar-se a reexaminar as decisĂľes ativistas de seu antecessor. Igualar a judicial self-restraint ´ KPĂ&#x192;TEKC FQ ,WFKEKÂśTKQ EQPUVKVWK WOC KFGKC GSWKXQECFC â&#x20AC;&#x201C; assim como comparar judicialização com ousadia estaria igualmente incorreto. &G OQFQ UGOGNJCPVG ´ LWFKEKCNK\CĂ ÂşQ G CQ CVKXKUOQ GO SWG CU RTGHGTĂ&#x201E;PEKCU RGUUQCKU FQ juiz se fazem presentes, na autocontenção, este tambĂŠm utiliza tais elementos no processo FGEKUĂ&#x17D;TKQ CUUKO FKHGTGPVGOGPVG FC KFGKC GTTĂ?PGC SWG UG RQFG VGT CEGTEC FC CWVQEQPVGPĂ ÂşQ - de que o juiz nĂŁo decide, uma vez que ĂŠ imparcial - nesta, tambĂŠm ĂŠ possĂvel que o maIKUVTCFQ WVKNK\G UWCU RTGHGTĂ&#x201E;PEKCU RQNĂ&#x2C6;VKECU G OQTCKU RCTC LWUVKĹżECT C UQNWĂ ÂşQ FG WOC SWGUVÂşQ que lhe foi apresentada. O juiz que nĂŁo os utiliza ĂŠ autodisciplinado, nĂŁo sendo agente no HGPĂ?OGPQ FC CWVQNKOKVCĂ ÂşQ FQ 2QFGT ,WFKEKÂśTKQ A autolimitação judicial possui como critĂŠrio bĂĄsico o requisito da inconstitucionalidade GXKFGPVG ENCTCOGPVG KFGPVKĹżEÂśXGN CRNKECPFQ UG C TGITC FQ Ĺ&#x2018;ECUQ FWXKFQUQĹ&#x2019;13, ou seja, na dĂşvida, prevalece a opção do legislador, devendo o magistrado abster-se de declarar a inconstitucionalidade: in dubio pro legislatore, mas ocorrendo tambĂŠm a situação de muitos dos casos a serem julgados permanecerem aguardando o julgamento, serem declarados prejudicados, nĂŁo conhecidos ou terem seu seguimento negado â&#x20AC;&#x201C; isso pode ser um dos elementos indicativos da ocorrĂŞncia de autoconVGPĂ ÂşQ LWFKEKCN PQ QTFGPCOGPVQ DTCUKNGKTQ KPĆ&#x20AC;WGPEKCPFQ Q SWCPVKVCVKXQ FG FGEKUĂ?GU RTQHGTKFCU NĂŁo havendo a anĂĄlise de mĂŠrito na ADPF, nĂŁo serĂŁo produzidos os efeitos concretos FC FGEKUÂşQ Q SWG TGFW\ Q PĂ&#x2022;OGTQ FG CTIWKĂ Ă?GU RCUUĂ&#x2C6;XGKU FG OQFKĹżECTGO Q ¸ODKVQ UQEKCN polĂtico e jurĂdico. Por isso, o nĂŁo julgamento do mĂŠrito das ADPFs pode caracterizar o comportamento autocontido dos magistrados brasileiros, que se afastam do julgamento das SWGUVĂ?GU EQPEGTPGPVGU ´ NGUÂşQ CQ RTGEGKVQ HWPFCOGPVCN FGXKFQ CQ HCVQ FG EQO GUUC EQPFWVC serem capazes de alterar o resultado do processo decisĂłrio das arguiçþes. 1 KPFKECVKXQ FG EQORQTVCOGPVQ QRQUVQ ´ CWVQEQPVGPĂ ÂşQ LWFKEKCN UÂşQ CU TGURQUVCU FQ JudiciĂĄrio diante da judicialização praticada pelos grupos de interesses; nesse caso, estarĂĄ
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presente uma elevada taxa de julgamentos das questĂľes levadas ao Supremo Tribunal Federal, que, dessa forma, demonstra a vontade dos magistrados em participarem da formulação de polĂticas pĂşblicas (policymaking &GUUG OQFQ UGTÂś XGTKĹżECFQ EQOQ QEQTTG Q LWNICOGPVQ efetivo (julgamento do mĂŠrito) das açþes em sede de ADPF, tornando-se o JudiciĂĄrio mais interventivo e presente na vida polĂtica de uma sociedade. Com isso, a revisĂŁo judicial ĂŠ bastante Ăştil para os grupos polĂticos de interesses majoTKVÂśTKQU PÂşQ UĂ&#x17D; GUUGU UG DGPGĹżEKCO FC TGXKUÂşQ LWFKEKCN EQOQ VCODĂ&#x192;O QU ITWRQU FG KPVGTGUUGU minoritĂĄrios e os membros do legislativo, vez que o poder de interpretar estatutos e cumprir a lei ĂŠ, com isso, transferido ao JudiciĂĄrio. A revisĂŁo judicial pode ser utilizada para anular normas aprovadas pelos governantes anteriores ou coligaçþes, desestabilizando a base legislativa que estĂĄ atualmente em atividade.14 0Q SWG UG TGHGTG CQ 2QFGT 'ZGEWVKXQ DTCUKNGKTQ CĹżTOC UG SWG RQWEQ Ă&#x192; XGTKĹżECFC C superposição entre este e o JudiciĂĄrio, no entanto faz-se necessĂĄrio analisar em capĂtulo GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQ C TGNCĂ ÂşQ GZKUVGPVG GPVTG Q 2QFGT 'ZGEWVKXQ G ,WFKEKÂśTKQ RQUVQ SWG CSWGNG RQFGT tambĂŠm constitui um dos legitimados ativos para a propositura das arguiçþes, elemento este que poderĂĄ ser determinante para a ocorrĂŞncia da autocontenção judicial nas ADPFs. # RCTVKT FGUUG CURGEVQ HQK XGTKĹżECFC C QEQTTĂ&#x201E;PEKC FG CWVQEQPVGPĂ ÂşQ LWFKEKCN PCU #&2(U CPCNKUCPFQ SWCKU GNGOGPVQU EQPVTKDWGO RCTC C RTÂśVKEC FGUUG HGPĂ?OGPQ RGNQ 5WRTGOQ 6TKDWPCN (GFGTCN 2QT OGKQ FC CPÂśNKUG SWCPVKVCVKXC CTIWKĂ Ă?GU LWNICFCU G PÂşQ LWNICFCU G GURGEKĹżECĂ ÂşQ FG XCTKÂśXGKU CPÂśNKUG SWCNKVCVKXC HQK RQUUĂ&#x2C6;XGN KFGPVKĹżECT CNIWPU FQU HCVQTGU FG NKOKVCĂ ÂşQ PQ RTQEGUUQ decisĂłrio das ADPFs. Foram objeto de anĂĄlise todas as arguiçþes de descumprimento de preceito fundamental propostas no STF compreendidas no perĂodo de dezembro de 1999 a julho de 2013.
4 METODOLOGIA UTILIZADA # XGTKĹżECĂ ÂşQ FG RCFTĂ?GU TGNCVKXQU CQ LWNICOGPVQ FCU #&2(U GPXQNXGW CURGEVQU TGNCcionados ao tipo do ato violador do preceito fundamental/origem do ato pĂşblico questionado
(GFGTCN 'UVCFWCN QW /WPKEKRCN RQFGTGU TGSWGTKFQU NGIKVKOCFQU RCUUKXQU WPKFCFG HGFGrativa de origem da ação, requerente (legitimado ativo), assuntos envolvidos, existĂŞncia de pedido de liminar, resultado da liminar, requisito da subsidiariedade e resultado da arguição. Para tanto, por meio da anĂĄlise quantitativa e qualitativa, buscou-se compreender a seletividade negativa e positiva no julgamento das arguiçþes de descumprimento realizada pelo STF, a partir da anĂĄlise das açþes que nĂŁo sofreram julgamento do mĂŠrito e daquelas que tiveram o mĂŠrito analisado. TambĂŠm foi analisado o comportamento dos Ministros do 56( EQO TGNCĂ ÂşQ CQ TGSWKUKVQ FC UWDUKFKCTKGFCFG G CQ TGURGKVQ ´ .GK 15 que regulamenta as arguiçþes de descumprimento. Caracteriza-se tambĂŠm por ser uma pesquisa de carĂĄter exploratĂłrio e descritivo por meio do acompanhamento processual da totalidade das #&2(U RQT OGKQ FQ UĂ&#x2C6;VKQ GNGVTĂ?PKEQ FQ 56( Ĺ&#x152; www.stf.jus.br>.
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Como hipĂłteses da pesquisa, foi investigado a) se o quantitativo de ADPFs julgadas em relação ao nĂşmero total de arguiçþes propostas no perĂodo de 1993 a 2013 ĂŠ reduzido, entĂŁo, constata-se a prĂĄtica de autocontenção judicial nas ADPFs pelo Supremo Tribunal Federal; b) poucas ADPFs passam pela seletividade positiva e tĂŞm seu mĂŠrito analisado; c) mesmo presente o requisito da subsidiariedade nas arguiçþes, os Ministros nĂŁo proferem LWNICOGPVQ FGKZCPFQ FG QDUGTXCT C .GK 16 G RQT ĹżO F CU OWFCPĂ CU PQ SWCFTQ de julgamentos das ADPFs ocorrem devido ao comportamento autocontido e seletivo dos Ministros Relatores quando decidem essas açþes, tambĂŠm em decorrĂŞncia dos assuntos e FQU TGSWGTGPVGU SWG ĹżIWTCTCO PCU CTIWKĂ Ă?GU FG FGUEWORTKOGPVQ
5 AVALIAĂ&#x2021;Ă&#x192;O DOS RESULTADOS â&#x20AC;&#x201C; ANĂ LISE DAS RELAĂ&#x2021;Ă&#x2022;ES ESTRATĂ&#x2030;GICAS ENTRE OS PODERES CONSTITUĂ?DOS DO ESTADO: EXECUTIVO VS. JUDICIĂ RIO O primeiro dado analisado compreendeu o total de ADPFs propostas e os aspectos relaEKQPCFQU ´ UGNGVKXKFCFG PGICVKXC FCU CTIWKĂ Ă?GU Ĺ&#x152; CSWGNCU SWG PÂşQ UQHTGTCO CPÂśNKUG PQ UGW OĂ&#x192;TKVQ AtĂŠ o mĂŞs de julho de 2013, foi proposto um total de 275 (duzentas e setenta e cinco) ADPFs. Desse quantitativo, apenas 8% de arguiçþes tiveram seu mĂŠrito analisado, enquanto 92% nĂŁo sofreram anĂĄlise em seu conteĂşdo; desse modo, o conjunto das arguiçþes propostas revela um TGFW\KFQ RGTEGPVWCN FG LWNICOGPVQ GHGVKXQ RGNQ 56( EQPHQTOG RQFG UGT QDUGTXCFQ PQ ITœſEQ P
Resultado das ADPFs propostas 1%
Procedente
3% 3% 1% 2% 2%
Procedente em parte Improcedente Concedida liminar Aguardando julgamento
35% 39%
Prejudicada NĂŁo conhecida Negada seguimento Recebida com o ADIn
9%
5%
ADPF extinta
)TœſEQ 4GUWNVCFQ FCU #&2(U RTQRQUVCU (QPVG GNCDQTCĂ ÂşQ RTĂ&#x17D;RTKC C RCTVKT FG FCFQU EQNJKFQU PQ UĂ&#x2C6;VKQ GNGVTĂ?PKEQ FQ 56(
(QK KFGPVKĹżECFQ SWG C OCKQTKC FCU CTIWKĂ Ă?GU RTQRQUVCU VGXG UGW UGIWKOGPVQ PGICFQ â&#x20AC;&#x201C; sofreu seletividade negativa â&#x20AC;&#x201C; em decorrĂŞncia de vĂcios processuais, grande parte deles EQORTGGPFGPFQ C CWUĂ&#x201E;PEKC FQU RTGUUWRQUVQU PGEGUUÂśTKQU ´ CĂ ÂşQ KNGIKVKOKFCFG CVKXC ad cau-
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sam G QDLGVQ PÂşQ EQORTGGPFKFQ EQOQ CVQ FQ RQFGT RĂ&#x2022;DNKEQ 'UUGU UÂşQ CNIWPU FQU HCVQTGU que podem ser utilizados pelo STF para fundamentar o nĂŁo conhecimento das arguiçþes, impedindo assim a ocorrĂŞncia do efetivo processo decisĂłrio. 6CODĂ&#x192;O HQK RQUUĂ&#x2C6;XGN XGTKĹżECT SWG GO OGKQ CQ GNGXCFQ SWCPVKVCVKXQ FG #&2(U nĂŁo julgadas, havia um pequeno Ăndice daquelas que nĂŁo foram solucionadas, mas foram convertidas em açþes diretas de inconstitucionalidade. A essas arguiçþes, mesmo apresentando erros formais, deveria ter sido atribuĂdo o status de negado seguimento, no entanto, XGTKĹżEQW UG SWG UQHTGTCO CPÂśNKUG PQ OĂ&#x192;TKVQ GO TC\ÂşQ FG Q 56( FGUEQPUKFGTCT QU FGHGKVQU de forma nas ADPFs para julgĂĄ-las, demonstrando tanto a presença de preferĂŞncias polĂVKECU G OQTCKU FQU /KPKUVTQU CQ RQPVQ FG CNVGTCT Q TGUWNVCFQ ĹżPCN FGUUCU CĂ Ă?GU EQPHQTOG ocorre na judicial self-restraint norte-americana, como destaca que a instrumentalidade das formas ĂŠ um discurso utilizado pela nossa Suprema Corte para a prĂĄtica da autocontenção judicial implĂcita. 0Q ¸ODKVQ FQU NGIKVKOCFQU ´ RTQRQUKVWTC FCU #&2(U GO VGUG QU OCKQTGU TGSWGTGPVGU sĂŁo as confederaçþes sindicais e as entidades de classe de âmbito nacional (78%), seguidos pelos partidos polĂticos com representação no Congresso Nacional (67%), dados esses que FGUVCECO C GNGXCFC VCZC FG RTQRQUKVWTC FCU CĂ Ă?GU RGNQU TGHGTKFQU GPVGU EQOQ OGECPKUOQ ĹżPCN para a obtenção do cumprimento dos preceitos fundamentais. O dado analisado destacou Q WUQ FCU CTIWKĂ Ă?GU CKPFC SWG GO PĂ&#x2022;OGTQ TGFW\KFQ EQOQ TGEWTUQ KORGFKVKXQ ´U CNVGTCĂ Ă?GU nas polĂticas pĂşblicas realizadas pelos grupos de interesses minoritĂĄrios, mas que exerceram OCKQT KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC RQNĂ&#x2C6;VKEC G CUUKO QDVKXGTCO Ă&#x201E;ZKVQ PC UCVKUHCĂ ÂşQ FCU UWCU TGKXKPFKECĂ Ă?GU Requerente 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0
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Conselho Federal da OAB
n Si
Partido PolĂtico
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Confederação Sindical ou entidade de classe
)TœſEQ 4GSWGTGPVGU PCU #&2(U (QPVG GNCDQTCĂ ÂşQ RTĂ&#x17D;RTKC C RCTVKT FG FCFQU EQNJKFQU PQ UĂ&#x2C6;VKQ GNGVTĂ?PKEQ FQ 56(
# RTQRQUKVWTC FCU CTIWKà �GU FG FGUEWORTKOGPVQ RQT RCTVG FQ 2QFGT 'ZGEWVKXQ PQ âmbito estadual (40%), embora em quantitativo menor que os requerentes acima apresen-
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VCFQU FGOQPUVTC C PGEGUUKFCFG FQ TGURGKVQ ´ UQDGTCPKC FQ 'UVCFQ G FQ RTKPEĂ&#x2C6;RKQ HGFGTCVKXQ constituindo mais um elemento que conduz ao julgamento das arguiçþes. Com relação ao pedido de liminar nas ADPFs, foi observado que 94% das ADPFs traziam o pedido para a sua concessĂŁo e apenas 6% nĂŁo apresentavam esse elemento. Desses 94% de arguiçþes com pedido de liminar, 7% obtiveram sua concessĂŁo, das quais 6% procedentes e 1% procedente em parte. Os demais pedidos de liminares correspondem a 50% como sendo as prejudicadas, 38% aguardam julgamento, e 5% tiveram provimento negado. %QO DCUG PGUUCU KPHQTOCĂ Ă?GU XGTKĹżEC UG SWG C OCKQT RCTVG FCU CTIWKĂ Ă?GU FG FGUEWOprimento, assim como nĂŁo tiveram seu mĂŠrito julgado, sequer sofreram a anĂĄlise do pedido de liminar, pois a sua concessĂŁo importa na antecipação dos resultados da futura sentença. Desse modo, a presença de autocontenção nas arguiçþes tambĂŠm ĂŠ reforçada pelo fato de PÂşQ JCXGT UKFQ FCFQ RTQXKOGPVQ ´ OCKQTKC FQU RGFKFQU FG NKOKPCT Das poucas liminares concedidas, destacaram-se os pedidos de liminar realizados nas CTIWKĂ Ă?GU RTQRQUVCU RGNQU )QXGTPCFQTGU FG 'UVCFQ HQTCO EQPEGFKFCU GO OCKQT RCTVG SWCPFQ comparadas com os pedidos de liminar feitos pelas entidades de classe de âmbito nacional G EQO CU EQPHGFGTCĂ Ă?GU UKPFKECKU 'UUG CURGEVQ RGTOKVKW C XGTKĹżECĂ ÂşQ FG SWG Q 'ZGEWVKXQ 'UVCFWCN HQK Q OCKQT DGPGĹżEKCFQ RGNQ LWNICOGPVQ GHGVKXQ FG UWCU #&2(U CUUKO EQOQ CSWGNCU que apresentaram o pedido de liminar.
Requeridos - Poderes 1% 3%
Executivo
1%
Legislativo
28% 23%
JudiciĂĄrio
Executivo e Legislativo
Executivo e JudiciĂĄrio
11% Executivo, Legislativo e JudiciĂĄrio
33%
MinistĂŠrio PĂşblico
)TœſEQ .GIKVKOCFQU RCUUKXQU 4GSWGTKFQU 2QFGTGU (QPVG GNCDQTCĂ ÂşQ RTĂ&#x17D;RTKC C RCTVKT FG FCFQU EQNJKFQU PQ UĂ&#x2C6;VKQ GNGVTĂ?PKEQ FQ 56(
JĂĄ em relação aos entes responsĂĄveis pelas violaçþes/ameaças aos preceitos fundamenVCKU XGTKĹżEQW UG SWG Q 2QFGT ,WFKEKÂśTKQ FG OQFQ KUQNCFQ HQK TGURQPUÂśXGN RGNQ OCKQT PĂ&#x2022;OGTQ
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Autocontenção no judiciĂĄrio brasileiro: uma anĂĄlise das relaçþes estratĂŠgicas entre os poderes constituĂdos do Estado
de violaçþes (33%), tendo este realizado a aplicação de normas infraconstitucionais que vĂŁo FG GPEQPVTQ ´U TGITCU FC .GK /CKQT 2CTC PÂşQ UGT TGEQPJGEKFQ EQOQ Q OCKQT XKQNCFQT FQU preceitos que deveria justamente proteger, o JudiciĂĄrio permanece inerte com relação ao julgamento desses processos, passando a selecionar apenas casos de grande repercussĂŁo social G SWG GPXQNXGO CVQU FGEQTTGPVGU GO UWC OCKQTKC FQ 2QFGT 'ZGEWVKXQ 'UVC Ă&#x192; C RTKPEKRCN razĂŁo pela qual os Ministros nĂŁo proferem julgamento no âmbito das ADPFs. %QO TGNCĂ ÂşQ ´U #&2(U LWNICFCU PQ OĂ&#x192;TKVQ CVĂ&#x192; Q RGTĂ&#x2C6;QFQ FG LWNJQ FG CRGPCU 8% (vinte) ADPFs do total sofreram processo decisĂłrio efetivo. Desse modo, o conjunto das arguiçþes propostas revela um reduzido percentual de julgamento pelo STF. Conforme XGTKĹżECFQ PQ ECRĂ&#x2C6;VWNQ CPVGEGFGPVG ITCPFG RCTVG FCU CTIWKĂ Ă?GU RTQRQUVCU PÂşQ HQK EQPJGEKFC FGXKFQ ´ RTGUGPĂ C FG XĂ&#x2C6;EKQU RTQEGUUWCKU 1 ITœſEQ P CRTGUGPVC Q TGUWNVCFQ FQ LWNICOGPVQ nas ADPFs efetivamente julgadas:
ADPFs julgadas no mĂŠrito
25% Procedente Procedente em parte
10%
65%
Improcedente
)TœſEQ 4GUWNVCFQ FCU #&2(U LWNICFCU PQ OĂ&#x192;TKVQ (QPVG GNCDQTCĂ ÂşQ RTĂ&#x17D;RTKC C RCTVKT FG FCFQU EQNJKFQU PQ UĂ&#x2C6;VKQ GNGVTĂ?PKEQ FQ 56(
O julgamento procedente proporciona benefĂcios ao requerente da ADPF, enquanto C KORTQEGFĂ&#x201E;PEKC QW Q PÂşQ LWNICOGPVQ DGPGĹżEKC Q GPVG TGURQPUÂśXGN RGNC RTÂśVKEC FC XKQNCĂ ÂşQ ou da ameaça aos preceitos fundamentais. Por meio das arguiçþes julgadas e nĂŁo julgadas, HQK RQUUĂ&#x2C6;XGN QDUGTXCT C QEQTTĂ&#x201E;PEKC FQ EQPĆ&#x20AC;KVQ GPVTG QU 2QFGTGU 'ZGEWVKXQ G ,WFKEKÂśTKQ PCU questĂľes levadas ao Supremo, vez que a maior parte das arguiçþes propostas diz tanto resRGKVQ CQ 2QFGT 'ZGEWVKXQ KPFKECFQ EQOQ CRNKECFQT FG PQTOCU KPEQPUVKVWEKQPCKU G XKQNCFQT FQU RTGEGKVQU HWPFCOGPVCKU RQT OGKQ FG GPVGU FC CFOKPKUVTCĂ ÂşQ RĂ&#x2022;DNKEC SWCPVQ ´U ICTCPVKCU G CQU FKTGKVQU HWPFCOGPVCKU TGNCEKQPCFQU PQU CTVKIQU CQ FC %4($ UGPFQ Q OĂ&#x192;TKVQ CORCTCFQ RGNQ RTKPEĂ&#x2C6;RKQ FC FKIPKFCFG JWOCPC ITœſEQ P
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Assuntos
Tributårio e orçamento
60
Servidores PĂşblicos 52
51
50
Direitos Sociais e PrevidĂŞncia
40
36
30
CompetĂŞncia Legislativa
28
25
22
Economia e ďŹ nanças
20
14
13
10
7
4
Poder Legislativo
4
0 ĂŞn ia Ec ci Le on a g om is l a ia tiv a Po e ďŹ de na n rL ç eg as is Po l at de iv r o Po Jud ic de i r E ĂĄri El xe o ei D ire çþ cu es t ito Ed ivo s e fu d u nd ire ca çã am ito o s en po ta lĂt is i c e os ac es so Ă . ..
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Educação
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Poder Executivo
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Poder JudiciĂĄrio
Eleiçþes e direitos polĂticos Direitos fundamentais e acesso Ă justiça
)TœſEQ #&2(U RQT CUUWPVQU (QPVG GNCDQTCĂ ÂşQ RTĂ&#x17D;RTKC C RCTVKT FG FCFQU EQNJKFQU PQ UĂ&#x2C6;VKQ GNGVTĂ?PKEQ FQ 56(
1 ITœſEQ P CRTGUGPVC QU GPVGU RĂ&#x2022;DNKEQU SWG XKQNCTCO QW COGCĂ CTCO XKQNCT QU RTGEGKVQU HWPFCOGPVCKU PQ ¸ODKVQ FCU #&2(U GHGVKXCOGPVG LWNICFCU 8GTKĹżEC UG SWG Q 2QFGT 'ZGEWVKXQ FG OQFQ KUQNCFQ HQK TGURQPUÂśXGN RGNQ OCKQT PĂ&#x2022;OGTQ FG XKQNCĂ Ă?GU UGIWKFQ pelo JudiciĂĄrio (35%). No total de ADPFs propostas, a situação apresenta uma inversĂŁo, sendo o JudiciĂĄrio o poder que mais ameaça ou viola preceitos fundamentais (33%), seguido FQ 2QFGT 'ZGEWVKXQ EQO FCU CTIWKĂ Ă?GU FG FGUEWORTKOGPVQ
Requeridos - Poderes 1% 3%
Total de ADPFâ&#x20AC;&#x2122;s
ADPFâ&#x20AC;&#x2122;s julgadas no mĂŠrito
Requeridos - Poderes
Requeridos - Poderes Executivo
1%
Executivo
5% 10%
Legislativo
Legislativo
28% 45%
JudiciĂĄrio
23%
Executivo e Legislativo
Executivo e Legislativo
Executivo, Legislativo e JudiciĂĄrio
Executivo e JudiciĂĄrio
11%
11% 33%
JudiciĂĄrio
Executivo, Legislativo e JudiciĂĄrio MinistĂŠrio PĂşblico
11%
)TœſEQ %QORCTCVKXQ 2QFGTGU TGSWGTKFQU PQ VQVCN FG #&2(U RTQRQUVCU G PCU GHGVKXCOGPVG LWNICFCU (QPVG GNCDQTCĂ ÂşQ RTĂ&#x17D;RTKC C RCTVKT FG FCFQU EQNJKFQU PQ UĂ&#x2C6;VKQ GNGVTĂ?PKEQ FQ 56(
A comparação realizada entre os legitimados passivos aponta um fator relevante para a explicação do que tem motivado a autocontenção do Judiciårio, com a seletividade positiva realizada pelos Ministros nas ADPFs: no âmbito geral, o Judiciårio Ê o maior
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Autocontenção no judiciĂĄrio brasileiro: uma anĂĄlise das relaçþes estratĂŠgicas entre os poderes constituĂdos do Estado
responsĂĄvel pelas ameaças/violaçþes (33%); nas que sofreram julgamento efetivo, o 2QFGT 'ZGEWVKXQ Ă&#x192; Q OCKQT CIGPVG XKQNCFQT FQU RTGEGKVQU HWPFCOGPVCKU EQTTGURQPFGPFQ a 45% das arguiçþes. 1 2QFGT .GIKUNCVKXQ CQ EQPVTÂśTKQ FQ SWG UG RQFGTKC QDUGTXCT Ă&#x192; WO FQU RQFGTGU SWG menos ameaça/viola os preceitos fundamentais; sua inĂŠrcia na elaboração de normas e OGFKFCU GO RTQN FQ 'UVCFQ Ă&#x192; WO KPFKECVKXQ FGUUG TGFW\KFQ PĂ&#x2022;OGTQ FG RTQEGUUQU 2QT OGKQ FQU RGTEGPVWCKU FQ ITœſEQ P QDUGTXC UG SWG CQ UGT RTQRQUVC WOC #&2( GO HCEG FQ 'ZGEWVKXQ GUVG GZGTEG EQPVTQNG UQDTG Q 2QFGT ,WFKEKÂśTKQ PQ OQOGPVQ FC RTÂśVKEC FQ CVQ OCU VCN EQPVTQNG PÂşQ UG UQDTGRĂ?G ´ CWVQPQOKC FCSWGNG RQFGT RQKU C KFGKC FG XKIKN¸PEKC e controle recĂprocos entre os poderes traz elementos que caracterizam o moderno princĂpio FC UGRCTCĂ ÂşQ FQU RQFGTGU 1 SWG UG XGTKĹżEC Ă&#x192; SWG Q ,WFKEKÂśTKQ PÂşQ FGEKFG CU CTIWKĂ Ă?GU PCU SWCKU GNG RTĂ&#x17D;RTKQ ĹżIWTQW EQOQ XKQNCFQT CQU RTGEGKVQU HWPFCOGPVCKU RCUUCPFQ C CPCNKUCT Q OĂ&#x192;TKVQ FCU #&2(U RTQRQUVCU EQPVTC Q 2QFGT 'ZGEWVKXQ %QO KUUQ C CĹżTOCVKXC FG SWG RQWEQ Ă&#x192; XGTKĹżECFC C UWRGTRQUKĂ ÂşQ GPVTG QU 2QFGTGU 'ZGcutivo e JudiciĂĄrio estĂĄ equivocada: o JudiciĂĄrio prioriza o julgamento das arguiçþes oriundas FG CVQU FQ RQFGT RĂ&#x2022;DNKEQ EWLC QTKIGO Ă&#x192; Q 'ZGEWVKXQ G FGUUG OQFQ DGPGĹżEKC UG OCPVGPFQ UG EQOQ RQFGT SWG FGHGPFG RTGEGKVQU HWPFCOGPVCKU EQPUVCPVGOGPVG XKQNCFQU RGNQ 'ZGEWVKXQ O nĂŁo julgar, decorrente da seletividade, representa uma opção polĂtica, pois mantĂŠm os GHGKVQU FQ CVQ KORWIPCFQ DGPGĹżEKCPFQ Q GPVG RQNĂ&#x2C6;VKEQ SWG GFKVQW Q CVQ 1 OGUOQ GHGKVQ que ocorre quando do julgamento improcedente. JĂĄ a seletividade positiva compreende a escolha das ADPFs que serĂŁo levadas a julgamento pelo Supremo Tribunal Federal, que, a partir do processo decisĂłrio, torna possĂvel a produção de efeitos concretos no âmbito social, polĂtico e jurĂdico. Desse modo, o Supremo 6TKDWPCN (GFGTCN GZGTEG UGNGVKXKFCFG VCPVQ GO TGNCĂ ÂşQ ´U CĂ Ă?GU FKTGVCU FG KPEQPUVKVWEKQPCNKdade como tambĂŠm nas as arguiçþes de descumprimento a preceito fundamental. Contudo, nestas, a seletividade ocorre de modo ainda mais intenso do que nas ADINs, uma vez que a seletividade das questĂľes polĂticas se faz presente no controle concentrado de constitucionalidade, quando um reduzido percentual de açþes sofre julgamento no mĂŠrito. A anĂĄlise das ADPFs quanto ao julgamento efetivo, com base nas mesmas variĂĄveis estabelecidas para o total de arguiçþes propostas â&#x20AC;&#x201C; quais sejam, tipo do ato violador do preceito fundamental, poderes requeridos, unidade federativa de origem da ação, requerentes, assunto envolvido, existĂŞncia de pedido de liminar, resultado da liminar, requisito da UWDUKFKCTKGFCFG TGUWNVCFQ FC CTIWKĂ ÂşQ G CPQ FG LWNICOGPVQ FC #&2( Ĺ&#x152; RGTOKVG EQPĹżTOCT C existĂŞncia da seletividade positiva no contexto da autocontenção judicial. As arguiçþes de descumprimento julgadas no mĂŠrito apresentaram em comum a busca das confederaçþes sindicais e entidades de classe de âmbito nacional pelo cumprimento FQ RQFGT RĂ&#x2022;DNKEQ CQU RTGEGKVQU HWPFCOGPVCKU TGUIWCTFCFQU PQU CTVU G FC %4($
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'O UGIWKFC EQOQ OCKQT TGSWGTGPVG CRCTGEGO QU RCTVKFQU RQNĂ&#x2C6;VKEQU EQO TGRTGUGPVCĂ ÂşQ PQ %QPITGUUQ 0CEKQPCN 'UUG RCFTÂşQ Ă&#x192; TGRGVKFQ SWCPFQ C CPÂśNKUG Ă&#x192; TGCNK\CFC PQ ¸ODKVQ VQVCN da amostra das ADPFs (275 arguiçþes) utilizadas neste trabalho, em que as confederaçþes sindicais e as entidades de classe de âmbito nacional tambĂŠm constituem os maiores requerentes das açþes. Desse modo, a inefetividade das instituiçþes majoritĂĄrias e sua consequente incapacidade de prover as necessidades revelam a constante procura pela utilização das arguiçþes por minorias como forma de efetivação das demandas sociais. # UWDUKFKCTKGFCFG PCU #&2(U Ă&#x192; EQPUKFGTCFC Ĺ&#x2018;WOC EQPFKĂ ÂşQ GURGEKCN G GURGEĂ&#x2C6;ĹżEC FC açãoâ&#x20AC;?17 que, inexistente, impedirĂĄ o conhecimento desse mecanismo de controle constituEKQPCN Ĺ&#x2018;'O QWVTQU VGTOQU Q RTKPEĂ&#x2C6;RKQ FC UWDUKFKCTKGFCFG Ĺ&#x152; KPGZKUVĂ&#x201E;PEKC FG QWVTQ OGKQ GĹżEC\ FG UCPCT C NGUÂşQ Ĺ&#x152; EQPVKFQ PQ CTV h FC .GK P FG JÂś FG UGT CSWGNG CRVQ C solver a controvĂŠrsia constitucional relevante de forma ampla, geral e imediata.â&#x20AC;?18 O requisito da subsidiariedade ĂŠ, a nosso ver, outro elemento que contribui para a prĂĄtica da autocontenção judicial e maior seletividade das questĂľes polĂticas levadas ao STF, jĂĄ que, mesmo presente o requisito da subsidiariedade nas arguiçþes, os Ministros VĂ&#x201E;O RTQHGTKFQ FGEKUĂ?GU EQPVTCTKCOGPVG ´ NGK FCU #&2(U .GK P 19: nĂŁo sĂŁo observados os requisitos estabelecidos na lei e decisĂľes foram proferidas mesmo quando havia a possibilidade de utilização de outro meio apto a sanar a ameaça ou lesĂŁo. Com isso, hĂĄ a desconsideração dos defeitos de forma nas ADPFs por parte do STF e do requisito da subsidiariedade, demonstrando que a instrumentalidade das formas seria um discurso utilizado pela nossa Suprema Corte para a prĂĄtica da autocontenção judicial implĂcita e a seletividade dos casos que irĂŁo a julgamento. Assim, conforme os interesses polĂticos envolvidos na causa, a subsidiariedade nĂŁo ĂŠ utilizada. Portanto, com essa prĂĄtica, impede-se a ocorrĂŞncia do julgamento, o que favorece a presença da autocontenção judicial implĂcita em sede de arguição de descumprimento de preceito fundamental. %QO C RTÂśVKEC FC CWVQNKOKVCĂ ÂşQ LWFKEKCN Q RTQEGUUQ FGEKUĂ&#x17D;TKQ CRTGUGPVC UG KPĆ&#x20AC;WGPEKCFQ pelas ideologias do juiz, recebendo contornos polĂticos pela possibilidade de seus efeitos interferirem no resultado das polĂticas pĂşblicas. Dessa forma, existe interferĂŞncia entre direito e polĂtica, uma vez que a norma representa a vontade da maioria legislativa e, ao decidir, o juiz adota posicionamento contra ou a favor dessa maioria ou das minorias.
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Autocontenção no judiciĂĄrio brasileiro: uma anĂĄlise das relaçþes estratĂŠgicas entre os poderes constituĂdos do Estado
Ato violador do preceito fundamental 5% 25%
UniĂŁo Estado
80%
MunicĂpio
)TœſEQ 1TKIGO FQ CVQ XKQNCFQT FQ RTGEGKVQ HWPFCOGPVCN (QPVG GNCDQTCĂ ÂşQ RTĂ&#x17D;RTKC C RCTVKT FG FCFQU EQNJKFQU PQ UĂ&#x2C6;VKQ GNGVTĂ?PKEQ FQ 56(
O JudiciĂĄrio Federal foi o ente responsĂĄvel pelo maior percentual de violaçþes aos preceitos fundamentais ao aplicar e interpretar as normas editadas pela UniĂŁo, desse modo, HQK Q GPVG SWG OCKU UQHTGW EQPVTQNG EQPEGPVTCFQ FG EQPUVKVWEKQPCNKFCFG PCU #&2(U 'UUCU normas constituem, assim, os atos decorrentes dos poderes pĂşblicos objeto das arguiçþes RTQRQUVCU RGNQU )QXGTPCFQTGU FG 'UVCFQ G EQPHGFGTCĂ Ă?GU UKPFKECKU G GPVKFCFGU FG ENCUUG FG âmbito nacional. 1 2QFGT .GIKUNCVKXQ CQ EQPVTÂśTKQ FQ SWG UG RQFGTKC QDUGTXCT Ă&#x192; WO FQU RQFGTGU SWG menos ameaçou/violou os preceitos fundamentais - sua inĂŠrcia na elaboração de normas G OGFKFCU GO RTQN FQ 'UVCFQ Ă&#x192; WO KPFKECVKXQ FGUUG TGFW\KFQ SWCPVKVCVKXQ FG RTQEGUUQU 8GTKĹżEC UG SWG Q ,WFKEKÂśTKQ PÂşQ FGEKFG CU CTIWKĂ Ă?GU PCU SWCKU GNG RTĂ&#x17D;RTKQ ĹżIWTQW EQOQ violador aos preceitos fundamentais, passando a analisar o mĂŠrito das ADPFs propostas EQPVTC Q 2QFGT 'ZGEWVKXQ 2QT ĹżO C EQORTQXCĂ ÂşQ FCU JKRĂ&#x17D;VGUGU CRTGUGPVCFCU PGUUC RGUSWKUC TGHGTGPVGU ´ KPXGUtigação das causas de mudança no quadro de julgamento das arguiçþes. Os assuntos objeto das arguiçþes nĂŁo sĂŁo utilizados como mecanismo de restrição ao julgamento, no entanto, a RCTVKT FC CPÂśNKUG HGKVC RQT CPQ FG LWNICOGPVQ XGTKĹżEC UG SWG GNGU EQPVTKDWGO RCTC Q CWOGPVQ do nĂşmero de processos decisĂłrios efetivos. &KHGTGPVGOGPVG FQU CUUWPVQU HQK RQUUĂ&#x2C6;XGN XGTKĹżECT SWG GO TGNCĂ ÂşQ ´ CFOKUUKDKNKFCFG das ADPFs, muitas nĂŁo tiveram seguimento em decorrĂŞncia de o ato questionado nĂŁo ser considerado decorrente do poder pĂşblico e, nesse caso, o tipo do ato praticado funcionou como elemento impeditivo de julgamentos.
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Juliana de Brito Pontes | JosĂŠ MĂĄrio Wanderley Gomes Neto | JoĂŁo Paulo Fernandes de Souza Allain Teixeira
# RCTVKT FGUUCU QDUGTXCĂ Ă?GU HQK XGTKĹżECFQ SWG QU TGSWGTGPVGU FCU #&2(U PÂşQ EQPUVKVWGO elemento responsĂĄvel pela mudança no quadro de julgamento das arguiçþes. A anĂĄlise feita com relação aos legitimados ativos nas arguiçþes revela que, no total de açþes propostas e PCSWGNCU SWG UQHTGTCO LWNICOGPVQ Q OCKQT DGPGĹżEKCFQ RGNQ RTQEGUUQ FGEKUĂ&#x17D;TKQ HQK Q 2QFGT 'ZGEWVKXQ 'UVCFWCN Q SWG TGHQTĂ C C JKRĂ&#x17D;VGUG FG SWG QU TGSWGTGPVGU PÂşQ EQPUVKVWGO GNGOGPVQ responsĂĄvel pela alteração na quantidade de julgamentos. (QK RQUUĂ&#x2C6;XGN VCODĂ&#x192;O EQPĹżTOCT C JKRĂ&#x17D;VGUG FG SWG FG CEQTFQ EQO C RQUVWTC CFQVCFC RGNQU Relatores, haverĂĄ maior ou menor quantidade de açþes julgadas. Quando analisada a amostra total das 275 ADPFs, lideraram o Ăndice de nĂŁo julgamento das arguiçþes os Ministros Marco #WTĂ&#x192;NKQ 4KECTFQ .GYCPFQYUMK G ,QCSWKO $CTDQUC UKVWCĂ ÂşQ GO SWG Ă&#x192; XGTKĹżECFQ Q GZGTEĂ&#x2C6;EKQ da seletividade no julgamento das ADPFs pelo Supremo Tribunal Federal. No âmbito das arguiçþes efetivamente julgadas, a seletividade foi caracterĂstica fortemente presente, sendo XGTKĹżECFC C OCPWVGPĂ ÂşQ FG RQUKEKQPCOGPVQ OCKU UGNGVKXQ RGNC OCKQTKC FQU 4GNCVQTGU EQO GZEGĂ ÂşQ FQ /KPKUVTQ .WK\ (WZ SWG FGEKFKW Q OĂ&#x192;TKVQ FG OCKQT SWCPVKVCVKXQ FG CTIWKĂ Ă?GU 'UUGU GNGOGPVQU FGOQPUVTCO C GZKUVĂ&#x201E;PEKC FG KPVGPUC UGNGVKXKFCFG FCU SWGUVĂ?GU RGNQ Supremo; as escolhas sĂŁo possĂveis em decorrĂŞncia do aumento dos poderes de intervenção dos tribunais na arena polĂtica caracterĂstica que, assim como na judicialização e ativismo, tambĂŠm estĂĄ presente no âmbito da autocontenção judicial.
6 CONCLUSĂ&#x2022;ES O Supremo Tribunal Federal tem adotado uma postura de abstenção voluntĂĄria em relação ao julgamento das ADPFs devido a apresentarem como maior violador de preceitos HWPFCOGPVCKU Q RTĂ&#x17D;RTKQ 2QFGT ,WFKEKÂśTKQ SWG FGXGTKC \GNCT RGNQ TGURGKVQ ´U ICTCPVKCU EQPUtitucionais e preceitos fundamentais previstos na Constituição da RepĂşblica Federativa do Brasil de 1988. PorĂŠm, em meio ao reduzido nĂşmero de ADPFs julgadas, por meio dos /KPKUVTQU 4GNCVQTGU Q 5WRTGOQ UGNGEKQPC CNIWOCU UKVWCĂ Ă?GU GURGEĂ&#x2C6;ĹżECU UWUEKVCFCU PGUUCU arguiçþes para serem julgadas em virtude de sua relevância, maior repercussĂŁo na sociedade e interesses polĂticos envolvidos. Diante do contexto da judicialização das questĂľes polĂticas e do ativismo judicial RTGUGPVG PC LWTKUFKĂ ÂşQ EQPUVKVWEKQPCN DTCUKNGKTC XGTKĹżEQW UG SWG CU #&2(U VĂ&#x201E;O UQHTKFQ limitaçþes no que se refere ao processo decisĂłrio de suas açþes, ocorridas principalmente em razĂŁo de grande parte das arguiçþes de descumprimento apresentar como maior ente violador de preceitos fundamentais o Poder JudiciĂĄrio. Desse modo, a restrição ocorre para SWG Q ,WFKEKÂśTKQ PÂşQ RGTEC UGW RQFGT FG FGEKUÂşQ G EQPĹżCPĂ C PGNG FGRQUKVCFC RGNC UQEKGFCFG EQPUKFGTCFQ EQOQ Ă&#x2022;PKEQ RQFGT GUVCVCN ECRC\ FG UQNWEKQPCT QU EQPĆ&#x20AC;KVQU PÂşQ ĹżPCNK\CFQU RGNQU FGOCKU RQFGTGU 'UUG Ă&#x192; Q RTKPEKRCN GNGOGPVQ SWG HWPFCOGPVC C QEQTTĂ&#x201E;PEKC FG CWVQEQPVGPĂ ÂşQ judicial nas ADPFs.
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Autocontenção no judiciĂĄrio brasileiro: uma anĂĄlise das relaçþes estratĂŠgicas entre os poderes constituĂdos do Estado
Por meio das arguiçþes julgadas e nĂŁo julgadas, foi possĂvel observar a ocorrĂŞncia do EQPĆ&#x20AC;KVQ GPVTG QU 2QFGTGU 'ZGEWVKXQ G ,WFKEKÂśTKQ PCU SWGUVĂ?GU NGXCFCU CQ 5WRTGOQ WOC XG\ SWG C OCKQT RCTVG FCU CTIWKĂ Ă?GU RTQRQUVCU FK\ VCPVQ TGURGKVQ CQ 2QFGT 'ZGEWVKXQ KPFKECFQ como aplicador de normas inconstitucionais e violador dos preceitos fundamentais por inVGTOĂ&#x192;FKQ FG GPVGU FC CFOKPKUVTCĂ ÂşQ RĂ&#x2022;DNKEC SWCPVQ ´U ICTCPVKCU G FKTGKVQU HWPFCOGPVCKU sendo o mĂŠrito amparado pelo princĂpio da dignidade humana. # CĹżTOCVKXC FG SWG RQWEQ Ă&#x192; XGTKĹżECFC C UWRGTRQUKĂ ÂşQ GPVTG QU 2QFGTGU 'ZGEWVKXQ G JudiciĂĄrio estĂĄ equivocada: o JudiciĂĄrio prioriza o julgamento das arguiçþes oriundas de atos FQ RQFGT RĂ&#x2022;DNKEQ EWLC QTKIGO Ă&#x192; Q 'ZGEWVKXQ G EQO KUUQ DGPGĹżEKC UG OCPVGPFQ UG EQOQ RQFGT SWG FGHGPFG RTGEGKVQU HWPFCOGPVCKU EQPUVCPVGOGPVG XKQNCFQU RGNQ 'ZGEWVKXQ 1 PÂşQ julgar, decorrente da seletividade, representa uma opção polĂtica, pois mantĂŠm os efeitos do CVQ KORWIPCFQ DGPGĹżEKCPFQ Q GPVG RQNĂ&#x2C6;VKEQ SWG GFKVQW Q CVQ 1 OGUOQ GHGKVQ SWG QEQTTG quando do julgamento improcedente. Inseridas no âmbito da autocontenção, as ADPFs constituem imprescindĂvel meio FG FGHGUC FQU RTGEGKVQU HWPFCOGPVCKU CFOKVKFQ Q CEGUUQ ´ TGXKUÂşQ RGNQ ,WFKEKÂśTKQ FG HQTOC concentrada e sendo capaz de proporcionar efeitos erga omnes â&#x20AC;&#x201C; que atingem todas as demais situaçþes em que o ato ou a norma objeto da impugnação transgrediu o direito fundamental previsto constitucionalmente. A partir desses resultados, espera-se contribuir para C EQORTGGPUÂşQ FCU TGNCĂ Ă?GU GUVTCVĂ&#x192;IKECU GPVTG QU 2QFGTGU EQPUVKVWĂ&#x2C6;FQU FQ 'UVCFQ G CORNKCT os conhecimentos sobre os efeitos concretos do controle de constitucionalidade realizado mediante a utilização das arguiçþes de descumprimento de preceito fundamental.
REFERĂ&#x160;NCIAS $10#8+&'5 2CWNQ ,WTKUFKĂ ÂşQ EQPUVKVWEKQPCN G NGIKVKOKFCFG CNIWOCU QDUGTXCĂ Ă?GU UQDTG o Brasil. Estudos Avançados, SĂŁo Paulo, v. 18, n. 51, p. 127-150, 2004. DisponĂvel em: <JVVR YYY UEKGNQ DT UEKGNQ RJR!UETKRV UEKACTVVGZV RKF 5 NP g=en&nrm=iso>. Acesso em: 10 jan. 2013. $4#5+. %QPUVKVWKĂ ÂşQ Constituição da RepĂşblica Federativa do Brasil. BrasĂlia: Senado, 1988. AAAAAA .GK P de 03 de dezembro de 1999. DispĂľe sobre o processo e julgamento FC CTIWKĂ ÂşQ FG FGUEWORTKOGPVQ FG RTGEGKVQ HWPFCOGPVCN PQU VGTOQU FQ h o do art. 102 da Constituição Federal. &KÂśTKQ 1ĹżEKCN =FC? 4GRĂ&#x2022;DNKEC (GFGTCVKXC FQ $TCUKN, BrasĂlia, DF, 6 dez. 1999. DisponĂvel em: <JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA .GKU . JVO>. Acesso em: 7 out. 2012.
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Autocontenção no judiciĂĄrio brasileiro: uma anĂĄlise das relaçþes estratĂŠgicas entre os poderes constituĂdos do Estado
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14 WHITTINGTON -GKVJ ' +PVGTRQUG [QWT HTKGPFN[ JCPF RQNKVKECN UWRRQTVU HQT VJG GZGTEKUG QH LWFKEKCN TGXKGY D[ VJG United States Supreme Court. The American Political Science Review: American Political Science Association, v. 99, n. 4, nov. 2005. DisponÃvel em: <http://www.jstor.org/stable/30038966>. Acesso em: 9 jul. 2013. p. 584. 15 $4#5+. .GK P de 03 de dezembro de 1999. Dispõe sobre o processo e julgamento da arguição de descumRTKOGPVQ FG RTGEGKVQ HWPFCOGPVCN PQU VGTOQU FQ h o do art. 102 da Constituição Federal. &K¶TKQ 1Å¿EKCN =FC? República Federativa do Brasil $TCUÃ&#x2C6;NKC &( FG\ &KURQPÃ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA .GKU . JVO #EGUUQ GO QWV 16 $4#5+. .GK P de 03 de dezembro de 1999. Dispõe sobre o processo e julgamento da arguição de descumRTKOGPVQ FG RTGEGKVQ HWPFCOGPVCN PQU VGTOQU FQ h o do art. 102 da Constituição Federal. &K¶TKQ 1Å¿EKCN =FC? República Federativa do Brasil $TCUÃ&#x2C6;NKC &( FG\ &KURQPÃ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA .GKU . JVO #EGUUQ GO QWV 17 $4#5+. 5WRTGOQ 6TKDWPCN (GFGTCN #&2( P 4GNCVQT /KPKUVTQ 5KFPG[ 5CPEJGU Diário de Justiça, BrasÃlia, 27 nov. 2004. DisponÃvel em: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp>. Acesso em: 21 jul. 2013. 18 /'0&'5 )KNOCT (GTTGKTC Arguição de descumprimento de preceito fundamental EQOGPV¶TKQU ´ .GK P de 3.12.1999. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 180. 19 $4#51. .GK P de 03 de dezembro de 1999. Dispõe sobre o processo e julgamento da arguição de descumRTKOGPVQ FG RTGEGKVQ HWPFCOGPVCN PQU VGTOQU FQ h o do art. 102 da Constituição Federal. &K¶TKQ 1Å¿EKCN =FC? República Federativa do Brasil $TCUÃ&#x2C6;NKC &( FG\ &KURQPÃ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA .GKU . JVO #EGUUQ GO QWV
SELF-RESTRAINT IN THE BRAZILIAN JUDICIARY: AN ANALYSIS OF STRATEGIC RELATIONS AMONG THE BRANCHES OF THE STATE The claim of breach of fundamental precept (arguição de descumprimento de preceito fundamental â&#x20AC;&#x201C; ADPF) is a typically Brazilian procedural constitutional instrument, aimed at preventing threats or violations of fundamental precept by the government. The excessive recourse to the Judiciary and judicial activism in the Brazilian Supreme Court (STF) highlights the small number of ADPF that have been judged by the Court. 9G KPVGPF VQ FTCY VJG GORKTKECN RTQÅ¿NG QH VJG HWPEVKQPKPI QH LWFKEKCN review through the judgement of ADPFs and to analyze the occurrence of judicial self-restraint and the behavior of judges when rendering decisions relating to ADPFs. We attempted to understand the selectivity in the judgements of ADPFs by the STF, specifying the elements that motivated the effective decision-making and the factors that allow the practice of self-restraint by the Brazilian Supreme Court. We concluded there is a EQPÆ&#x20AC;KEV DGVYGGP VJG 'ZGEWVKXG CPF VJG ,WFKEKCT[ OCP[ QH VJG #&2(U VJCV YGTG Å¿NGF KPFKECVG VJG ,WFKEKCT[ KVUGNH CU RGTRGVTCVQT QH VJG CNNGIGF breach. However, when selecting which ADPFs to judge, this branch YKNN WUWCNN[ RTGHGT VQ FGEKFG VJQUG KP YJKEJ VJG 'ZGEWVKXG DTCPEJ KU VJG
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Autocontenção no judiciĂĄrio brasileiro: uma anĂĄlise das relaçþes estratĂŠgicas entre os poderes constituĂdos do Estado
respondent, thus impeding the conclusion of cases questioning acts by the Judiciary and the recognition of said branch as the most frequent offender of fundamental rights and guarantees.Through quantitative and qualitative analysis, we sought to understand the positive and negative selectivity in the judgment of ADPFs carried out by the Supreme Court. We analyzed the cases that have not been judged on the merits and those that have, in the period between 1993 and 2013. We also analyzed the behavior of Judges of the Supreme Court regarding the subsidiarity TGSWKTGOGPV CPF VJG QDUGTXCPEG QH VJG .CY YJKEJ TGIWNCVGU ADPFs. The procedural monitoring of all ADPFs was accomplished via the Brazilian Supreme Court website (www.stf.jus.br). We expect that this research will contribute to the understanding of the strategic relations between the branches of the State. Keywords: Judicial self-restraint. State branches. Claim of breach of fundamental precept. Selectivity.
Submetido: 14 mar. 2017 Aprovado: 6 jun. 2017
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doi:10.12662/2447-6641oj.v15i20.p160-179.2017
O DEVER DE FUNDAMENTAĂ&#x2021;Ă&#x192;O DAS DECISĂ&#x2022;ES JUDICIAIS SOB O OLHAR DA CRĂ?TICA HERMENĂ&#x160;UTICA DO DIREITO Lenio Luiz Streck* Igor Raatz** 1 Introdução. 2 DimensĂľes do dever de fundamentação. 3 VersĂľes fracas do dever de fundamentação e o seu contraponto a partir da CrĂtica HermenĂŞutica do Direito. 3.1 &Q FGXGT FG HWPFCOGPVCĂ ÂşQ Ĺ&#x2018;UWĹżEKGPVGĹ&#x2019; CQ FGXGT FG HWPFCOGPVCĂ ÂşQ EQORNGVC FC inexorĂĄvel relação entre dever de fundamentação e contraditĂłrio. 3.2 Da fundamenVCĂ ÂşQ EQOQ Ĺ&#x2018;LWUVKĹżECĂ ÂşQ TCEKQPCN FCU GUEQNJCU FQ LWK\ RCTC FGEKFKTĹ&#x2019; ´ HWPFCOGPVCĂ ÂşQ como explicitação da compreensĂŁo. 3.3 Precedentes nĂŁo servem para desonerar o LWNICFQT FG HWPFCOGPVCT %QPUKFGTCĂ Ă?GU ĹżPCKU 4GHGTĂ&#x201E;PEKCU
RESUMO 'ODQTC Q FGXGT FG HWPFCOGPVCĂ ÂşQ FCU FGEKUĂ?GU LWFKEKCKU EQPUVKVWC WOC ICTCPVKC contra o arbĂtrio de juĂzes e Tribunais, muitas concepçþes a seu respeito vĂŞm servindo para fortalecer decisionismos e arbitrariedades. Diante desse quadro, o presente ensaio buscarĂĄ oferecer, sob o olhar da CrĂtica HermenĂŞutica do Direito, um contraponto a essas versĂľes fracas acerca do dever de fundamentação, defendendo um dever de fundamentação completa e no direito, respeitando-se, desse modo, a sua autonomia, constituindo um empreendimento democrĂĄtico no qual o juiz deverĂĄ se esforçar para mostrar que a decisĂŁo em questĂŁo ĂŠ a melhor (constitucionalmente adequada) para o caso concreto. Palavras-chave: Dever de fundamentação. Autonomia do direito. CrĂtica HermenĂŞutica do Direito.
1 INTRODUĂ&#x2021;Ă&#x192;O Falar do dever de fundamentação das decisĂľes judiciais em uma democracia poderia RCTGEGT CNIQ FGUPGEGUUÂśTKQ CĹżPCN Ă&#x192; EQPFKĂ ÂşQ FG RQUUKDKNKFCFG RCTC Q GZGTEĂ&#x2C6;EKQ FG HWPĂ ÂşQ jurisdicional que as decisĂľes do Poder JudiciĂĄrio sejam fundamentadas. AlĂŠm disso, uma pes*
Professor Titular do Programa de PĂłs-Graduação em Direito da Unisinos, RS, e Unesa, RJ. Doutor e PĂłs-Doutor GO &KTGKVQ 'Z 2TQEWTCFQT FG ,WUVKĂ C /2 45 /GODTQ %CVGFTÂśVKEQ FC #ECFGOKC $TCUKNGKTC FG &KTGKVQ %QPUVKVWEKQPCN Ĺ&#x152; #$&%1056 2TQHGUUQT 'OĂ&#x192;TKVQ FC '/'4, 4, 2TGUKFGPVG FG *QPTC FQ +PUVKVWVQ FG *GTOGPĂ&#x201E;WVKEC ,WTĂ&#x2C6;FKEC +*, #FXQICFQ ' OCKN NGPKQU"INQDQOCKN EQO
** 2Ă&#x17D;U FQWVQTCPFQ GO &KTGKVQ RGNC 70+5+015 UQD C UWRGTXKUÂşQ FQ RTQHGUUQT .GPKQ .WK\ 5VTGEM &QWVQT G OGUVTG GO &KTGKVQ pela mesma instituição. PĂłs-graduado em Direito Processual Civil pela ABDPC â&#x20AC;&#x201C; Academia Brasileira de Direito Processual Civil. Membro da ABDPro â&#x20AC;&#x201C; Associação Brasileira de Direito Processual e do IIDP â&#x20AC;&#x201C; Instituto Iberoamericano de Derecho 2TQEGUCN #FXQICFQ UĂ&#x17D;EKQ HWPFCFQT FQ GUETKVĂ&#x17D;TKQ 4CCV\ #PEJKGVC #FXQECEKC ' OCKN KIQTTCCV\"IOCKN EQO
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O dever de fundamentação das decisĂľes judiciais sob o olhar da crĂtica hermenĂŞutica do direito
soa que nĂŁo conhecesse a realidade dos Tribunais brasileiros poderia objetar que estarĂamos discorrendo sobre uma obviedade, uma vez que a Constituição brasileira consagra o dever de fundamentação e que, portanto, ele ĂŠ um elemento inexorĂĄvel do processo jurisdicional democrĂĄtico. PorĂŠm, aqueles que lidam com o direito no Brasil sabem que as coisas nĂŁo sĂŁo bem assim. Apesar de todos os esforços em fazer que o texto Constitucional seja levado a sĂŠrio, inclusive com o estabelecimento minucioso de critĂŠrios legais para que seja possĂvel CĹżTOCT C HCNVC FG HWPFCOGPVCĂ ÂşQ FG WOC FGEKUÂşQ LWFKEKCN G RQTVCPVQ C UWC KPXCNKFCFG WO breve olhar sobre o modo como juĂzes e Tribunais decidem e fundamentam as suas decisĂľes revela que, ainda, hĂĄ muito a ser feito pela doutrina no sentido de constranger epistemologicamente juĂzes e Tribunais a respeitarem a Constituição. Desse modo, o presente ensaio constitui um compromisso com a democracia. Isso porque nĂŁo hĂĄ processo jurisdicional democrĂĄtico se nĂŁo for respeitado o direito das partes FG QDVGT FGEKUĂ?GU HWPFCOGPVCFCU 'O VGORQU FKHĂ&#x2C6;EGKU PQU SWCKU UÂşQ ECFC XG\ OCKU EQOWPU FGEKUĂ?GU LWFKEKCKU SWG UG NKOKVCO ´ OGTC VTCPUETKĂ ÂşQ FG LWNICFQU CPVGTKQTGU Ă&#x192; KORTGUEKPFĂ&#x2C6;XGN alçar o dever de fundamentação das decisĂľes judiciais a um patamar mais elevado que o WUWCNOGPVG VTCDCNJCFQ RGNC FQWVTKPC DTCUKNGKTC #UUKO UGTÂşQ CRTGUGPVCFCU G TGEJCĂ CFCU ´ luz da Critica HermenĂŞutica do Direito, algumas â&#x20AC;&#x153;versĂľes fracasâ&#x20AC;? acerca do dever de fundamentação, na medida em que fundamentar uma decisĂŁo nĂŁo ĂŠ o mesmo desenvolver uma LWUVKĹżECĂ ÂşQ TCEKQPCN ECRC\ FG GPEQDTKT C FGEKUÂşQ EQOQ UG HQUUG RQUUĂ&#x2C6;XGN EKPFKT QU FQKU PĂ&#x2C6;XGKU da linguagem (logos hermenĂŞutico e logos apofântico). Com isso, defende-se que o juiz tem, ao fundamentar, o dever de empreender o maior esforço possĂvel para mostrar que a decisĂŁo ĂŠ correta (constitucionalmente adequada) e que, portanto, guarda consonância com a histĂłria institucional do direito, de modo a preservar a sua autonomia.
2 DIMENSĂ&#x2022;ES DO DEVER DE FUNDAMENTAĂ&#x2021;Ă&#x192;O O conteĂşdo do dever de fundamentação das decisĂľes previsto no art. 93, IX, da Constituição brasileira somente pode ser precisado se explorado em uma dimensĂŁo histĂłrica, que permita desvelar suas diferentes variaçþes de sentido atĂŠ que possamos situĂĄ-lo na perspectiva CVWCN FQ 'UVCFQ &GOQETÂśVKEQ FG &KTGKVQ 1 Nesse percurso, no entanto, ĂŠ possĂvel explicitar CNIWOCU OCTECU GPXQNVCU ´SWKNQ SWG ITCFWCNOGPVG VGO RGTRCUUCFQ C EQORTGGPUÂşQ CEGTEC FQ FGXGT FG HWPFCOGPVCĂ ÂşQ *Âś FGUUG OQFQ WO GNGOGPVQ RQT CUUKO FK\GT EQOWO ´U FKferentes concepçþes acerca do dever de fundamentação, que ĂŠ o fato de ser encarado como verdadeira garantia contra o arbĂtrio.2 Note-se que, antes mesmo do surgimento das democracias liberais, jĂĄ se falava de um FGXGT FG HWPFCOGPVCĂ ÂşQ %QOQ DGO CĹżCPĂ C /CTKQ 2KUCPK PC +VÂśNKC RTĂ&#x192; WPKVÂśTKC C RTCIOÂśVKEC n. XXVIII do Rei Fernando IV de Bourbon estabelecia a obrigatoriedade de fundamentação, C ĹżO FG SWG QU LWNICOGPVQU HQUUGO Q OCKU RQUUĂ&#x2C6;XGN GUEQKOCFQU FQ CTDĂ&#x2C6;VTKQ RTGUGTXCPFQ UG os juĂzes de qualquer suspeita de parcialidade.3 'ODQTC PGUUG RTKOGKTQ OQOGPVQ Q FGXGT
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FG HWPFCOGPVCĂ ÂşQ PÂşQ GUVKXGUUG NKICFQ C WOC EQPEGRĂ ÂşQ FGOQETÂśVKEC FG 'UVCFQ LÂś GTC RQUUĂ&#x2C6;XGN XGTKĹżECT PC HWPFCOGPVCĂ ÂşQ FCU FGEKUĂ?GU WOC arma contra o arbĂtrio dos juĂzes 'UUC tendĂŞncia foi gradualmente ganhando força a ponto de a obrigatoriedade da fundamentação FCU FGEKUĂ?GU EQPUVKVWKT VTCĂ Q EQOWO C SWCUG VQFCU CU ITCPFGU EQFKĹżECĂ Ă?GU RTQEGUUWCKU FQ sĂŠculo XIX. Na tradição luso-brasileira, o dever de fundamentação esteve presente nas OrFGPCĂ Ă?GU (KNKRKPCU .KXTQ +++ .:8+ h CU SWCKU GUVCDGNGEKCO SWG Q LWK\ KPHTCVQT FQ FGXGT FG HWPFCOGPVCĂ ÂşQ ĹżECTKC UWLGKVQ CQ RCICOGPVQ FG OWNVC GO HCXQT FC RCTVG 2QUVGTKQTOGPVG o art. 232 do Regulamento 737 de 1850 veio estabelecer que o juiz deveria motivar, com precisĂŁo, o seu julgado, preceito que acabou sendo repetido nos CĂłdigos processuais estaduais G KPEQTRQTCFQ RGNCU RQUVGTKQTGU EQFKĹżECĂ Ă?GU RTQEGUUWCKU DTCUKNGKTCU 4 Â? PQĂ ÂşQ GNGOGPVCT FG SWG Q FGXGT FG HWPFCOGPVCĂ ÂşQ HWPEKQPCXC EQOQ WOC GURĂ&#x192;EKG FG ferramenta contra arbĂtrio judicial, foram se agregando outros elementos, como a garantia da imparcialidade do juiz, o controle da legalidade da decisĂŁo, e a possibilidade de impugnação das decisĂľes *Âś SWGO FKIC SWG PQ DQLQ FQ 'UVCFQ &GOQETÂśVKEQ FG &KTGKVQ C HWPFCOGPVCĂ ÂşQ FCU decisĂľes, sem perder o carĂĄter de freio contra eventuais arbitrariedades do julgador, passou a ser vista, tambĂŠm, como â&#x20AC;&#x153;elemento essencial de uma ideologia democrĂĄtica da justiça.â&#x20AC;?5 Nessa XGTGFC /KEJGNNG 6CTWHHQ CĹżTOC SWG C KPUGTĂ ÂşQ FQ FGXGT FG HWPFCOGPVCĂ ÂşQ PCU %QPUVKVWKĂ Ă?GU representa, na atual quadra da histĂłria, a transformação das funçþes a ela atribuĂda. Agrega-se ´ VTCFKEKQPCN HWPĂ ÂşQ endoprocessual da fundamentação, que visa a facilitar a impugnação e os juĂzos sobre ela, uma função extraprocessual. Assim, a fundamentação representaria, tambĂŠm, a possibilidade de controle do exercĂcio do Poder JudiciĂĄrio fora do contexto processual, por parte do povo e da opiniĂŁo pĂşblica em geral, tudo dentro de uma concepção democrĂĄtica do poder.6 'ODQTC DQC RCTVG FC FQWVTKPC GUVGLC FG CEQTFQ PQ UGPVKFQ FG SWG C HWPFCOGPVCĂ ÂşQ ĂŠ (i) uma garantia contra o arbĂtrio judicial, (ii) condição para a imparcialidade do juiz, (iii) ferramenta para que se possa controlar a conformidade das decisĂľes ao direito e que (iv) desempenha tanto funçþes endoprocessuais, tendentes a viabilizar a impugnação das decisĂľes, quanto extraprocessuais, para que nĂŁo somente as partes possam estabelecer EQPUVTCPIKOGPVQU GRKUVGOQNĂ&#x17D;IKEQU ´U FGEKUĂ?GU RTQHGTKFCU RGNQ 2QFGT ,WFKEKÂśTKQ7, existem diferentes versĂľes acerca de quais sĂŁo os critĂŠrios para que uma decisĂŁo judicial possa ser considerada fundamentada. Muitas destas, no entanto, nĂŁo guardam conformidade com o %QPUVKVWEKQPCNKUOQ %QPVGORQT¸PGQ G EQO Q 'UVCFQ &GOQETÂśVKEQ FG &KTGKVQ &KCPVG FGUUG quadro, no prĂłximo item, iremos oferecer, sob a Ăłtica da CrĂtica HermenĂŞutica do Direito, o devido contraponto a essas â&#x20AC;&#x153;versĂľes fracasâ&#x20AC;? do dever de fundamentação.
3 VERSĂ&#x2022;ES FRACAS DO DEVER DE FUNDAMENTAĂ&#x2021;Ă&#x192;O E O SEU CONTRAPONTO A PARTIR DA CRĂ?TICA HERMENĂ&#x160;UTICA DO DIREITO NĂŁo ĂŠ incomum encontrarmos, no âmbito dos Tribunais brasileiros, a presença de versĂľes fracas acerca do dever de fundamentação das decisĂľes judiciais. Trata-se de concepçþes
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SWG GO NKPJCU IGTCKU TGUVTKPIGO Q FGXGT HWPFCOGPVCĂ ÂşQ C WO OGTQ Ă?PWU FG LWUVKĹżECT FGUprovido de qualquer conteĂşdo. Dito de outro modo, a fundamentação transforma-se num ato meramente protocolar, um requisito que, para ser cumprido, nĂŁo depende de maior esforço RQT RCTVG FQ Ă&#x17D;TIÂşQ LWNICFQT #UUKO DCUVCTKC SWG Q LWK\ CRTGUGPVCUUG SWCNSWGT LWUVKĹżECVKXC ´ decisĂŁo judicial para considerĂĄ-la fundamentada. Tais acepçþes a respeito do dever de fundamentação servem somente para mascarar WO RGTĹżN PCFC FGOQETÂśVKEQ FG RTGUVCĂ ÂşQ LWTKUFKEKQPCN GO SWG Q OCIKUVTCFQ PÂşQ RTGEKUCTKC pagar tributo ao prĂłprio direito, ou seja, vale o que foi decidido, ainda que com base em CTIWOGPVQU OQTCKU RQNĂ&#x2C6;VKEQU G RTCIOÂśVKEQU 0Q ĹżO CECDC UG EQPHWPFKPFQ FGEKUÂşQ EQO GUcolha, o que inviabiliza qualquer tentativa de controlĂĄ-la pelo prĂłprio direito. Desse modo, tendo em vista que essas concepçþes se encontram arraigadas ao senso comum teĂłrico dos juristas e, principalmente, na forma como juĂzes e Tribunais brasileiros fundamentam suas decisĂľes, ĂŠ tarefa da doutrina apontĂĄ-las e combatĂŞ-las. &1 &'8'4 &' (70&#/'06#Â&#x161;Â&#x201C;1 Ĺ&#x2018;57(+%+'06'Ĺ&#x2019; #1 &'8'4 &' (70&#/'06#Â&#x161;Â&#x201C;1 %1/2.'6# &# +0':14Â?8'. 4'.#Â&#x161;Â&#x201C;1 '064' &'8'4 &' (70&#/'06#Â&#x161;Â&#x201C;1 ' %1064#&+6ÂŚ4+1 Antes do advento do novo CĂłdigo de Processo Civil, havia quem sustentasse uma FKHGTGPĂ C GPVTG FGEKUĂ?GU PÂşQ HWPFCOGPVCFCU FGEKUĂ?GU OCN HWPFCOGPVCFCU G KPUWĹżEKGPVGmente fundamentadas.8 1WVTC FKUVKPĂ ÂşQ SWG UG HC\KC GTC GPVTG FGEKUĂ?GU Ĺ&#x2018;UWĹżEKGPVGOGPVG fundamentadasâ&#x20AC;? nas quais deveriam constar todos os elementos que o juiz levou em conta para decidir e â&#x20AC;&#x153;decisĂľes completasâ&#x20AC;?, nas quais deveria tambĂŠm constar â&#x20AC;&#x153;elemento fĂĄticos e/ ou jurĂdicos que, segundo as partes, ou segundo uma das partes, deveriam ter sido levados em conta pelo juiz para decidir.â&#x20AC;?9 %JGICXC UG C CĹżTOCT SWG UGPVGPĂ CU RQFGTKCO VGT HWPFCOGPVCĂ ÂşQ UWĹżEKGPVG CQ RCUUQ SWG CEĂ&#x17D;TFÂşQU RTQHGTKFQU RGNQU 6TKDWPCKU NQECKU RCTC XKCDKNK\CT o acesso aos Tribunais Superiores, por força da exigĂŞncia do prequestionamento - deveriam fundamentar de modo completo.10 Mesmo apĂłs a entrada em vigor do CĂłdigo de Processo Civil de 2015, nĂŁo ĂŠ incomum que juĂzes e Tribunais sustentem a inexistĂŞncia de um dever de enfrentar, de modo detido, VQFQU QU CTIWOGPVQU FGFW\KFQU RGNC RCTVG PQ RTQEGUUQ 'UUC RQUVWTC Ă&#x192; UQOGPVG Q TGĆ&#x20AC;GZQ FG WO RTQVCIQPKUOQ LWFKEKCN KPEQORCVĂ&#x2C6;XGN EQO Q 'UVCFQ &GOQETÂśVKEQ FG &KTGKVQ WOC XG\ SWG neste as partes deixam de ser vistas como se estivessem sujeitas ao ĂĄrbitro de um juiz que ĹżIWTC EQOQ Ĺ&#x2018;FQPQ FQ RTQEGUUQ Ĺ&#x2019; Assim como o dever de fundamentação somente pode ser compreendido na sua hisVQTKEKFCFG VCODĂ&#x192;O Q FKTGKVQ CQ EQPVTCFKVĂ&#x17D;TKQ PÂşQ UG OQUVTC KPFKHGTGPVG ´U EKTEWPUV¸PEKCU da ĂŠpoca em que ĂŠ problematizado.11 Com efeito, a visĂŁo clĂĄssica do contraditĂłrio - outrora compreendido exclusivamente como proibição de decisĂľes inaudita altera parte - prĂłpria de
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uma estrutura procedimental dirigida a uma espĂŠcie de formação unilateral de provimentos judiciais centrada no juiz,12 cede espaço para uma noção de contraditĂłrio estruturada a partir de um direito de participação das partes no processo e na formação dos provimentos judiciais.13 Isso, obviamente, coloca em xeque velhos dogmas do processo civil, como a arVKĹżEKCN PQĂ ÂşQ FG SWG CU RCTVGU VGTKCO C VCTGHC GZENWUKXC FG VTC\GT HCVQU CQ RTQEGUUQ G SWG CU questĂľes jurĂdicas seriam apanĂĄgio do juiz.14 Concebido o processo como verdadeira instituição de garantia, ĂŠ inconstitucional qualquer tentativa de legitimar, a partir de brocardos jurĂdicos que nada mais sĂŁo que ĂĄlibis em favor do arbĂtrio judicial, como ĂŠ o caso do conhecido â&#x20AC;&#x153;iura novit curiaâ&#x20AC;?, uma espĂŠcie de GZRGEVCVKXC ĹżGN FCU RCTVGU UQDTG C ECRCEKFCFG FQ LWK\ GPEQPVTCT EQTTGVCOGPVG G UQNKVCTKCOGPVG a melhor solução jurĂdica para os fatos da causa.15 Nesse sentido, mesmo sem nenhum contato com as posiçþes teĂłricas que alicerçam o presente ensaio, hĂĄ quem diga, na doutrina processual italiana, que deve ser afastada qualquer forma de solipsismo processual do magistrado mesmo naquilo que lhe ĂŠ dado conhecer de ofĂcio.16 Seja quanto aos fatos que porventura o juiz possa conhecer de ofĂcio,17 UGLC SWCPVQ ´ EJCOCFC SWCNKĹżECĂ ÂşQ LWTĂ&#x2C6;FKEC FQU HCVQU FC causa, ĂŠ indispensĂĄvel a participação das partes na formação do provimento jurisdicional. Com essa roupagem, o contraditĂłrio pode ser visualizado a partir de um duplo enfoSWG UQD WO CURGEVQ RQUKVKXQ UKIPKĹżEC WO XGTFCFGKTQ FKTGKVQ FG KPĆ&#x20AC;WKT UQDTG C GNCDQTCĂ ÂşQ do provimento judicial;18 UQD WO CURGEVQ PGICVKXQ EQPUVKVWK WOC RTQKDKĂ ÂşQ ´U EJCOCFCU decisĂľes surpresas, tambĂŠm conhecidas como juĂzos de terceira via,19 ou seja, como um caminho diverso daquele desenvolvido pelas partes em contraditĂłrio.20 Nas duas facetas do contraditĂłrio, o que importa revelar ĂŠ a posição ocupada pelo juiz, o qual passa tambĂŠm a ser sujeito do contraditĂłrio em franco diĂĄlogo com as partes.21 O artigo 10 do CĂłdigo de Processo Civil brasileiro ĂŠ, sem dĂşvida, um dos mais importantes dispositivos do CĂłdigo, na medida em que alberga essa nova roupagem do contraditĂłrio, inserindo o prĂłprio juiz no debate processual, ao proibi-lo de proferir decisĂŁo, em qualquer grau de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual nĂŁo se tenha FCFQ ´U RCTVGU QRQTVWPKFCFG FG UG OCPKHGUVCT CKPFC SWG UG VTCVG FG OCVĂ&#x192;TKC UQDTG C SWCN deva decidir de ofĂcio. &GUUG OQFQ ICTCPVG UG WOC XGTFCFGKTC RTQVGĂ ÂşQ ´U RCTVGU EQPVTC Q RGTKIQ FG GXGPtuais surpresas.22 A abrangĂŞncia dessa proteção ĂŠ bastante ampla, devendo-se entender por fundamentos da decisĂŁo todas as questĂľes, processuais ou materiais, idĂ´neas a repercutir no deslinde da controvĂŠrsia.23 Assim, SWCNSWGT RQPVQ TGXGNCFQ CQ LWK\ SWG UGLC KFĂ?PGQ C KPĆ&#x20AC;WGPEKCT as decisĂľes, pode comportar, independente da natureza da questĂŁo revelada, a exigĂŞncia das partes de contradizer a respeito.24 Isso abarca tanto a aplicação de normas jurĂdicas diversas daquelas invocadas pelas partes,25 quanto a atribuição de relevância a elementos fĂĄticos que nĂŁo foram debatidos entre as partes.26 HĂĄ, por conseguinte, uma exigĂŞncia de uma prevenção de qualquer decisĂŁo surpresa.27
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1 CURGEVQ CVKXQ FQ EQPVTCFKVĂ&#x17D;TKQ XKUWCNK\CFQ EQOQ FKTGKVQ FG KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC IWCTFC KPGxorĂĄvel relação com o princĂpio da fundamentação das decisĂľes. O contraditĂłrio, nesse viĂŠs, compreende poderes que correspondem a uma possibilidade de participar ativamente do FGUGPXQNXKOGPVQ FQ RTQEGUUQ G RQTVCPVQ FG KPĆ&#x20AC;WKT UQDTG QU RTQXKOGPVQU FQ LWK\ 28 O contraditĂłrio, com efeito, nĂŁo ĂŠ sĂł informação, mas tambĂŠm participação em toda a atividade RTQEGUUWCN FG OQFQ SWG GUUC RCTVKEKRCĂ ÂşQ UGLC GHGVKXCOGPVG ECRC\ FG KPĆ&#x20AC;WKT PQ TGUWNVCFQ do processo.29 # EQORTGGPUÂşQ FQ RTKPEĂ&#x2C6;RKQ FQ EQPVTCFKVĂ&#x17D;TKQ EQOQ XGTFCFGKTQ FKTGKVQ FG KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC somente tem relevância se contrastada com o princĂpio da fundamentação das decisĂľes. Nisso reside um dos pontos mais sensĂveis do Novo CĂłdigo, que, na contramĂŁo da prĂĄtica LWFKEKÂśTKC DTCUKNGKTC KPEQTRQTQW PQ UGW CTVKIQ h WOC UĂ&#x192;TKG FG ETKVĂ&#x192;TKQU RCTC DCNK\CT o conceito de decisĂŁo fundamentada, dentre eles, a previsĂŁo do inciso IV do mencionado dispositivo, segundo o qual nĂŁo se considera fundamentada qualquer decisĂŁo judicial que Ĺ&#x2018;PÂşQ GPHTGPVCT VQFQU QU CTIWOGPVQU FGFW\KFQU PQ RTQEGUUQ ECRC\GU FG GO VGUG KPĹżTOCT C EQPENWUÂşQ adotada pelo julgadorâ&#x20AC;?.30 Cabe lembrar, utilizando as palavras de OvĂdio Baptista da Silva, que â&#x20AC;&#x153;o direito ao contraditĂłrio nĂŁo se esgota na faculdade de ser ouvido e produzir alegaçþes e provas.â&#x20AC;?31 As partes tĂŞm, portanto, â&#x20AC;&#x153;o direito a uma resposta,â&#x20AC;?32 que compreende â&#x20AC;&#x153;o direito de ver as alegaçþes e provas produzidas tambĂŠm pelo sucumbente examinadas e, alĂŠm disso, rejeitadas com argumentos racionalmente convincentes.â&#x20AC;?33 Sob essa perspectiva, cabe ressaltar que a fundamentação ĂŠ, tambĂŠm, uma espĂŠcie de resposta ao princĂpio do contraditĂłrio. Dessa forma, o juiz pode atĂŠ considerar errados os CTIWOGPVQU FCU RCTVGU OCU FGXG RCTC TGUIWCTFCT Q EQPVTCFKVĂ&#x17D;TKQ EQOQ FKTGKVQ FG KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC NGXÂś NCU GO EQPUKFGTCĂ ÂşQ HC\GPFQ OGPĂ ÂşQ GZRTGUUC ´U VGUGU RTQRQUVCU RGNQU UWLGKVQU RTQEGUUWCKU 6TCVC UG FQ FGXGT FG CVGPĂ ÂşQ ´U CNGICĂ Ă?GU KPVTKPUGECOGPVG EQNKICFQ CQ FGXGT de fundamentação das decisĂľes estatais e ao correlato direito dos cidadĂŁos de verem as suas linhas argumentativas consideradas pelo juiz (Recht auf BerĂźcksichtigung).34 Por sinal, hĂĄ mais FG WOC FĂ&#x192;ECFC Q 5WRTGOQ 6TKDWPCN (GFGTCN UWUVGPVQW SWG C Ĺ&#x2018;RTGVGPUÂşQ ´ VWVGNC LWTĂ&#x2C6;FKEC envolve nĂŁo sĂł o direito de manifestação e o direito de informação sobre o objeto do processo, mas tambĂŠm o direito de ver seus argumentos contemplados pelo ĂłrgĂŁo julgador.â&#x20AC;?35 'ODQTC esse mesmo Supremo seja tambĂŠm exemplo de vĂĄrios outros casos em que o dever de fundamentação (completa) nĂŁo ĂŠ respeitado, isso nĂŁo permite que se possa reduzir as exigĂŞncias KORQUVCU RGNQ FGXGT FG HWPFCOGPVCĂ ÂşQ #ĹżPCN C HWPFCOGPVCĂ ÂşQ FC FGEKUÂşQ UG TGXGNC EQOQ UGPFQ Q RTKPEKRCN OGECPKUOQ RCTC SWG CU RCTVGU RQUUCO XGTKĹżECT UG UWCU CVKXKFCFGU FGHGPUKXCU foram efetivamente respeitadas.36 Somente haverĂĄ fundamentação â&#x20AC;&#x153;completaâ&#x20AC;? quando ela abranger as razĂľes pelas quais o juiz recusou os argumentos deduzidos pelas partes.37 Portanto, o direito das partes em obter decisĂľes fundamentadas ĂŠ dependente do resRGKVQ CQ EQPVTCFKVĂ&#x17D;TKQ GUVG EQORTGGPFKFQ EQOQ ICTCPVKC FC RQUUKDKNKFCFG FC KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC G
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GHGVKXC RCTVKEKRCĂ ÂşQ FCU RCTVGU PC HQTOCĂ ÂşQ FC TGURQUVC LWFKEKCN SWGUVÂşQ SWG UG TGĆ&#x20AC;GVKTÂś PC fundamentação da decisĂŁo, que deve explicitar o iter percorrido no processo,38 com o enfrentamento dos argumentos deduzidos pelas partes. Sem esse mĂnimo necessĂĄrio, qualquer decisĂŁo judicial serĂĄ considerada carente de fundamentação e incorrerĂĄ em violação aos CTVKIQU G h FQ %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ %KXKN DTCUKNGKTQ &# (70&#/'06#Â&#x161;Â&#x201C;1 %1/1 Ĺ&#x2018;,756+(+%#Â&#x161;Â&#x201C;1 4#%+10#. &#5 '5%1.*#5 &1 ,7+< 2#4# &'%+&+4Ĺ&#x2019; Â? (70&#/'06#Â&#x161;Â&#x201C;1 %1/1 ':2.+%+6#Â&#x161;Â&#x201C;1 &# %1/24''05Â&#x201C;1 Muitos autores que defendem um dever de fundamentação completa, ainda assim, possuem uma visĂŁo limitada a respeito do tema na medida em que, embora busquem estabelecer critĂŠrios para que uma decisĂŁo esteja devidamente fundamentada, partem do pressuposto de que seja possĂvel cindir fundamentação e decisĂŁo. Desse modo, fundamentar uma decisĂŁo EQPUKUVKTKC UKORNGUOGPVG PC EQPUVTWĂ ÂşQ FG WOC LWUVKĹżECVKXC TCEKQPCN RCTC C FGEKUÂşQ LWFKEKCN tomada posteriormente ao decidido mediante argumentos muitas vezes capazes de encobrir CU TC\Ă?GU UWDLCEGPVGU ´ FGEKUÂşQ Nesse sentido, por exemplo, Taruffo levanta a seguinte questĂŁo: â&#x20AC;&#x153;formular uma decisĂŁo e expor as razĂľes atravĂŠs das quais ela deve ser considerada pelos outros como uma boa decisĂŁo sĂŁo atividades diversas.â&#x20AC;?39 &GUUG OQFQ C ĹżO FG EQPĹżTOCT C CWUĂ&#x201E;PEKC FG WOC PGEGUUÂśTKC EQTTGURQPFĂ&#x201E;PEKC GPVTG FGEKUÂşQ G HWPFCOGPVCĂ ÂşQ CĹżTOC SWG WOC FGEKUÂşQ VQOCFC KPVWKVKXCOGPVG QW CKPFC FG OQFQ KTTCEKQPCN RQFGTÂś UGT LWUVKĹżECFC ex post com argumentos racionalmente convincentes, da mesma forma que uma decisĂŁo tomada por meio de um TCEKQEĂ&#x2C6;PKQ KTTCEKQPCN RQFGTÂś UGT LWUVKĹżECFC GO OQFQ TCEKQPCNOGPVG KPCFGSWCFQ QW PÂşQ UGT LWUVKĹżECFC FG HCVQ 40 Com efeito, a fundamentação deveria ser estruturada de modo a justiĹżECT a decisĂŁo. NĂŁo se trataria de um controle do que o juiz pensou, mas da racionalidade FCU TC\Ă?GU SWG GNG CFW\KW RCTC LWUVKĹżECT Q SWG FGEKFKW Ĺ&#x2018;Q EQPVTQNG UQDTG C OQVKXCĂ ÂşQ PÂşQ Ă&#x192; um controle sobre a validade e fundamentação das decisĂľes feitas, mas sobre a validade e fundamentação das razĂľes pelas quais o juiz se serve para tornar aceitĂĄvel â&#x20AC;&#x2DC;aos outrosâ&#x20AC;&#x2122; a sua decisĂŁo.â&#x20AC;?41 'UUC LWUVKĹżECĂ ÂşQ VGTKC WO EQPVGĂ&#x2022;FQ OĂ&#x2C6;PKOQ EQPUKUVGPVG PQ GPWPEKCFQ FCU GUEQNJCU FQ LWK\ GO TGNCĂ ÂşQ ´ KPFKXKFWCNK\CĂ ÂşQ FCU PQTOCU CRNKEÂśXGKU G ´U EQPUGSWĂ&#x201E;PEKCU LWTĂ&#x2C6;FKECU FGNCU decorrentes, os nexos de implicação e coerĂŞncia entre os enunciados fĂĄticos e jurĂdicos e, por ĹżO C LWUVKĹżECĂ ÂşQ FQU GPWPEKCFQU VQOCFC TCEKQPCNOGPVG GO HCEG FQ QTFGPCOGPVQ LWTĂ&#x2C6;FKEQ 42 &GUUC HQTOC HWPFCOGPVCT C FGEKUÂşQ GO VGTOQU RTQEGUUWCKU GSWKXCNGTKC C WOC LWUVKĹżECVKXC tomada em momento posterior a partir de elementos jurĂdico-racionais. Dito de outro modo, C LWUVKĹżECĂ ÂşQ GUVCTKC GO WO UGIWPFQ PĂ&#x2C6;XGN GO TGNCĂ ÂşQ ´ FGEKUÂşQ G ´SWKNQ SWG GHGVKXCOGPVG HWPFCOGPVQW Q FGEKFKFQ 'O WOC RGTURGEVKXC JGTOGPĂ&#x201E;WVKEC FKTĂ&#x2C6;COQU SWG UGIWPFQ GUUC perspectiva, o problema da fundamentação das decisĂľes estaria limitado ao logos apofântico e a uma possibilidade de fazer enunciaçþes descoladas do como hermenĂŞutico.43
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O dever de fundamentação das decisĂľes judiciais sob o olhar da crĂtica hermenĂŞutica do direito
'O WOC VGPVCVKXC FG UQĹżUVKECT CKPFC OCKU GUUC XGTUÂşQ SWG VCODĂ&#x192;O FGPQOKPCTGOQU de fraca acerca do dever de fundamentação, alguns setores da doutrina processual vĂŞm WVKNK\CPFQ UG FG EQPEGKVQU QTKWPFQU FC ĹżNQUQĹżC OCKU RTGEKUCOGPVG C FKHGTGPĂ C GPVTG contexto da descoberta e EQPVGZVQ FC LWUVKĹżECĂ ÂşQ. Nesse sentido, Marinoni, Mitidiero e Arenhart referem que pouco importa o contexto da decisĂŁo (context of dicovery), na medida em que interessa RCTC C CHGTKĂ ÂşQ FC UWC XCNKFCFG UQOGPVG Q EQPVGZVQ FC LWUVKĹżECVKXC EQPVGZV QH LWUVKĹżECVKQP), QW UGLC CU TC\Ă?GU SWG HQTCO KPXQECFCU RCTC C UWC LWUVKĹżECĂ ÂşQ 44 Â&#x153; KORQTVCPVG GUENCTGEGT SWG UWRQUVC FKEQVQOKC GPVTG HWPFCOGPVCĂ ÂşQ G LWUVKĹżECĂ ÂşQ SWG TGOGVG C WOC UWRQUVC EKUÂşQ GPVTG Q EQPVGZVQ FC FGUEQDGTVC G Q EQPVGZVQ FC LWUVKĹżECĂ ÂşQ TGOQPVC C EGTVQU RCTCFKIOCU ĹżNQUĂ&#x17D;ĹżEQU EQOQ Ă&#x192; Q ECUQ FC ĹżNQUQĹżC CPCNĂ&#x2C6;VKEC FQ GORKTKUOQ NĂ&#x17D;IKEQ G FQ RQUKVKXKUOQ FQU ĹżNĂ&#x17D;UQHQU FQ EĂ&#x2C6;TEWNQ FG 8KGPC RQFGPFQ UGT EKVCFQ Q GZGORNQ FG *GTDGTV (GKIN SWG XKC PQ EQPVGZVQ FC LWUVKĹżECĂ ÂşQ â&#x20AC;&#x153;uma reconstrução lĂłgica das estruturas EQPEGKVWCKU G FQU VGUVGU FCU VGQTKCU EKGPVĂ&#x2C6;ĹżECU Ĺ&#x2019;45 4GHGTKFC EKUÂşQ PQ ĹżPCN FCU EQPVCU TGRTGUGPVC WOC GURĂ&#x192;EKG FG RTKOC\KC FQ EQPVGZVQ FC LWUVKĹżECĂ ÂşQ KIPQTCPFQ UG C SWGUVÂşQ FC FQDTC FC NKPIWCIGO VÂşQ ECTC ´ JGTOGPĂ&#x201E;WVKEC ĹżNQUĂ&#x17D;ĹżEC G ´ ĹżNQUQĹżC JGTOGPĂ&#x201E;WVKEC 6TCVC UG RQTVCPVQ FG WOC RQUVWTC SWG UQOGPVG RQFGTKC UGT TGEGREKQPCFC ´ NW\ FG WOC Ĺ&#x2018;JGTOGPĂ&#x201E;WVKEC OGVQdolĂłgicaâ&#x20AC;?, cuja atividade e validade se encontra reduzida ao nĂvel do logos apofântico, em FGVTKOGPVQ FQ CKPFC PÂşQ FKVQ 'NC FGNKOKVC Q KPVGTRTGVCT CQ OWPFQ FQ FKVQ KIPQTCPFQ UWC outra margem, o nĂŁo-dito, como se houvesse uma conversĂŁo dos sentidos do plano hermenĂŞutico para o apofântico.46 Cabe lembrar que o como apofântico trata daquilo que ĂŠ expressĂĄvel em locuçþes ou enunciados. No entanto, esse expressar sempre chega depois, ele ĂŠ antecedido por uma prĂŠ-compreensĂŁo interpretante elementar das coisas do meio, ao nĂvel do ser-aĂ.47 Partindo FGUUCU DCUGU C ĹżNQUQĹżC JGTOGPĂ&#x201E;WVKEC QHGTGEGW WO PQXQ QNJCT UQDTG C FKEQVQOKC contexto da descoberta e EQPVGZVQ FC LWUVKĹżECĂ ÂşQ. O contexto da descoberta nĂŁo constitui em si uma operação lĂłgica, de modo que as proposiçþes aĂ produzidas sob o impĂŠrio da presunção de uma totalidade NĂ&#x17D;IKEC VGTÂşQ SWG TGXGNCT UWC EQPUEKĂ&#x201E;PEKC PQ EQPVGZVQ FG LWUVKĹżECĂ ÂşQ 1 EQPVGZVQ FC LWUVKĹżECĂ ÂşQ ĂŠ uma parada metodolĂłgica Â&#x153; GPVÂşQ SWG C CPVGEKRCĂ ÂşQ FG RTQRQUKĂ Ă?GU Ă&#x192; QW PÂşQ EQPĹżTOCFC GO UWC EQGTĂ&#x201E;PEKC KPVGTPC 'UVC Ă&#x192; C UKVWCĂ ÂşQ JGTOGPĂ&#x201E;WVKEC RTQFW\KFC RGNQ ECOKPJQ FC CPCNĂ&#x2C6;VKEC GZKUVGPEKCN PGNC Q HGKZG FG RTGUUWRQUKĂ Ă?GU CPVGEKRCĂ Ă?GU EQPĹżTOCFCU TGRTGUGPVC Q momento de consciĂŞncia do â&#x20AC;&#x153;mĂŠtodoâ&#x20AC;?, a consciĂŞncia da boa circularidade. Conforme Stein, Q EQPVGZVQ FG LWUVKĹżECĂ ÂşQ GO Ser e Tempo ĂŠ coincidente com a situação hermenĂŞutica. A RCTVKT FCĂ&#x2C6; Q ECOKPJQ CPFCFQ FC RTQXKUĂ&#x17D;TKC CPCNĂ&#x2C6;VKEC FQ SWQVKFKCPQ UKIPKĹżECPFQ CPÂśNKUG FQ objeto com uso implĂcito do mĂŠtodo - se revela retrospectivamente vĂĄlido, e a consciĂŞncia do mĂŠtodo permite refazer, jĂĄ com a totalidade antecipada, em uma operação de antecipaĂ ÂşQ FG UGPVKFQ EQPĹżTOCFC G LWUVKĹżECFC C CPCNĂ&#x2C6;VKEC GZKUVGPEKCN UQD Q UKIPQ FC CPVGEKRCĂ ÂşQ exitosa. Na condição produzida pelo â&#x20AC;&#x153;encurtamento hermenĂŞuticoâ&#x20AC;?, em que estĂĄ excluĂda C HWPFCĂ ÂşQ LWUVKĹżECĂ ÂşQ SWGT RQT WOC RTQRQUKĂ ÂşQ EQUOQNĂ&#x17D;IKEC SWGT RQT WOC RTQRQUKĂ ÂşQ teolĂłgica, as proposiçþes da analĂtica existencial sĂł podem ser produzidas com sentido, por
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meio da boa circularidade da antecipação de sentido. Isso quer dizer que a totalidade Ê presumida (no contexto da descoberta) e explicitada no momento da situação hermenêutica
PQ EQPVGZVQ FC LWUVKĹżECĂ ÂşQ &GUUG OQFQ explicitação do mĂŠtodo coincide com explicitação do objeto de toda analĂtica QW GO QWVTCU RCNCXTCU C LWUVKĹżECĂ ÂşQ FQ OQFQ FG RTQEGFGT EQKPEKFG com o resultado da prĂłpria exposição do objeto.48 2QTVCPVQ JÂś WO ITCXG GSWĂ&#x2C6;XQEQ ĹżNQUĂ&#x17D;ĹżEQ KPEQORCVĂ&#x2C6;XGN EQO C %TĂ&#x2C6;VKEC *GTOGPĂ&#x201E;WVKEC do Direito, em aceitar uma cisĂŁo entre o momento decisĂłrio e o ato de fundamentação. NĂŁo que Michelle Taruffo, por exemplo, ingenuamente acredite que a fundamentação venha depois do que foi decidido, porĂŠm ele parece considerar impossĂvel um controle da fundamentação e, por isso, acredita que bastaria ao julgador formular a decisĂŁo e depois expor as TC\Ă?GU RGNCU SWCKU GNC FGXGTKC UGT EQPUKFGTCFC RGNQU QWVTQU EQOQ WOC DQC FGEKUÂşQ ' EQO isso, ele acaba aceitando que o verdadeiro fundamento, aquele que acompanhou a decisĂŁo, UGLC OCUECTCFQ RQT WOC LWUVKĹżECĂ ÂşQ RQUVGTKQT HWPFCFC GO ETKVĂ&#x192;TKQU LWTĂ&#x2C6;FKEQ TCEKQPCKU QW seja, coerentes e universalizĂĄveis. HĂĄ muito, pela CrĂtica HermenĂŞutica do Direito, tem-se advertido que â&#x20AC;&#x153;o julgador nĂŁo decide para depois buscar a fundamentação; ao contrĂĄrio, ele sĂł decide porque jĂĄ encontrou o fundamento.â&#x20AC;?49 O fundamento, no caso, ĂŠ condição de possibilidade para a decisĂŁo tomada. Isso porque hĂĄ um sentido que ĂŠ antecipado ao julgador, do qual â&#x20AC;&#x153;a decisĂŁo ĂŠ parte inexorĂĄvel (dependente) do fundamento.â&#x20AC;?50 Ă&#x2030; claro que o julgador, em um segundo momento, poderĂĄ aprimorar o fundamento, utilizando-se, por exemplo, da doutrina e da jurisprudĂŞncia, e deverĂĄ, ainda, submeter seus prejuĂzos a respeito da decisĂŁo e do seu fundamento em causa, ao crivo dos argumentos deduzidos no processo (e tambĂŠm do que ĂŠ colocado pela doutrina e pela jurisprudĂŞncia), dizendo expressamente porque repeliu os argumentos utilizados pelas partes, levando-se em consideração que a fundamentação ĂŠ o locus de resposta ao direito FG KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC FGEQTTGPVG FQ EQPVTCFKVĂ&#x17D;TKQ 51 Fazendo isso, o julgador estarĂĄ colocando em xeque o prĂłprio fundamento que o levou a decidir, de modo que, nesse processo decisĂłrio, RQFGTÂś JCXGT FKXGTUQU HWPFCOGPVQU G FGEKUĂ?GU CVĂ&#x192; SWG UG EJGIWG ´ TGURQUVC CFGSWCFC CQ caso concreto, a partir da (boa) circularidade hermenĂŞutica. 0GUUC UGPFC CĹżIWTC UG KPEQPEGDĂ&#x2C6;XGN CFOKVKT SWG Q LWK\ RQUUC LWUVKĹżECT C FGEKUÂşQ FG OQFQ C OCUECTCT QU XGTFCFGKTQU HWPFCOGPVQU SWG UÂşQ KPGZQTÂśXGKU ´ FGEKUÂşQ # HCNUC KFGKC de que a decisĂŁo se traduz na possibilidade de o juiz fazer escolhas, acaba servindo de ĂĄlibi para que a fundamentação nĂŁo venha explicitada na decisĂŁo. Por isso que fundamentar nĂŁo UKIPKĹżEC GPEQDTKT Q HWPFCOGPVQ C RCTVKT FG WOC UKORNGU Ĺ&#x2018;LWUVKĹżECĂ ÂşQ TCEKQPCNĹ&#x2019; OCU UKO FGKZÂś NQ XKT ´ VQPC %WORTG EQO Q FGXGT FG HWPFCOGPVCĂ ÂşQ Q LWNICFQT SWCPFQ GZRNKEKVC Q compreendido. No entanto, â&#x20AC;&#x153;explicitar o compreendido nĂŁo ĂŠ colocar uma capa de sentido ao compreendido.â&#x20AC;?52 Aqui entra em jogo o problema de se admitir inĂşmeras respostas para cada caso. Ora, a aceitação desse pressuposto - que, diga-se de passagem, ĂŠ incompatĂvel com o dever de
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integridade previsto no art. 926 do CĂłdigo de Processo Civil - legitima que o juiz primeiro FGEKFC G RQUVGTKQTOGPVG DWUSWG CTIWOGPVQU TCEKQPCKU RCTC LWUVKĹżECT C UWC FGEKUÂşQ EQOQ UG C fundamentação fosse apenas uma capa de sentido. Com efeito, permite-se que seja encoberto CSWKNQ SWG UGTXKW FG HWPFCOGPVQ RCTC C FGEKUÂşQ FG OQFQ SWG HWPFCOGPVCT RCUUC C UKIPKĹżECT WOC LWUVKĹżECVKXC FGPVTG CU VCPVCU RQUUĂ&#x2C6;XGKU RCTC C FGEKUÂşQ &GUUG OQFQ FGKZC UG FG GZKIKT do julgador que, para decidir, coloque em xeque seus prĂŠ-juĂzos diante da Constituição, da lei, da doutrina e da jurisprudĂŞncia. Dito de outro modo, basta que o julgador encontre argumentos dotados de racionalidade para que sua decisĂŁo se considere fundamentada. Portanto, o dever de fundamentação nĂŁo pode ser encarado como um simples dever FG LWUVKĹżECĂ ÂşQ 1 CTV +: FC %QPUVKVWKĂ ÂşQ (GFGTCN UQOGPVG UGTÂś TGURGKVCFQ SWCPFQ Q LWNICFQT UG FGUKPEWODKT FQ Ă?PWU FG FGOQPUVTCT SWG UWC FGEKUÂşQ Ă&#x192; EQTTGVC SWG GUVÂś HWPFCFC GO RTGLWĂ&#x2C6;\QU NGIĂ&#x2C6;VKOQU G SWG UWC UWDLGVKXKFCFG PÂşQ UG UQDTGRĂ?U CQ FKTGKVQ C UWC JKUVĂ&#x17D;TKC KPUVKVWEKQPCN NGXCPFQ UG GO EQPUKFGTCĂ ÂşQ Q EQPVGZVQ EKTEWPUVCPEKCN FQU HCVQU FGĹżPKFQT FQ ECUQ concreto. Com efeito, nĂŁo se encontrarĂĄ cumprido o dever de fundamentação somente com a menção a critĂŠrios lĂłgicos, sendo indispensĂĄvel colocar o sentido ventilado na decisĂŁo no contexto da histĂłria institucional do direito.53 24'%'&'06'5 0Â&#x201C;1 5'48'/ 2#4# &'510'4#4 1 ,7.)#&14 &' (70&#/'06#4 NĂŁo ĂŠ de hoje que, sob o olhar da CrĂtica HermenĂŞutica do Direito, tem-se denunciado os riscos decorrentes da utilização de mecanismos vinculantes no direito brasileiro, RTKPEKRCNOGPVG PQ SWG FK\ TGURGKVQ ´ HWPFCOGPVCĂ ÂşQ FCU FGEKUĂ?GU LWFKEKCKU *Âś OWKVQ UĂ&#x2022;mulas, ementas e outros expedientes vĂŞm sendo utilizados como enunciados assertĂłricos XQECEKQPCFQU C QHGTGEGT FG CPVGOÂşQ TGURQUVCU CPVGU FCU RGTIWPVCU ' RCTC RKQTCT ETKQW UG um modo de operar por parte de juĂzes e Tribunais mediante o qual estes se veem desonerados de fundamentar suas decisĂľes, optando pelo caminho da â&#x20AC;&#x153;simplicidadeâ&#x20AC;?: basta invocar julgados anteriores e, assim, o ĂłrgĂŁo julgador nĂŁo precisarĂĄ fazer menção a um dispositivo legal sequer na sua decisĂŁo.54 Simples, nĂŁo? 'UUC HQTOC FG GPECTCT Q FGXGT FG HWPFCOGPVCĂ ÂşQ IQ\C FG WO XKUĂ&#x2C6;XGN FĂ&#x192;ĹżEKV FGOQETÂśtico. Trata-se de um expediente rasteiro que atua em dois sentidos: de um lado, importa num incomensurĂĄvel reforço de poder em favor dos Tribunais Superiores, na medida em que juĂzes e Tribunais do andar de baixo transformam-se em verdadeiros â&#x20AC;&#x153;boca do precedenteâ&#x20AC;?; por outro, reduz o nĂvel de qualidade das fundamentaçþes das decisĂľes judiciais, pois juĂzes FG FKHGTGPVGU 6TKDWPCKU UÂşQ UGFW\KFQU RGNQ ECOKPJQ HCEKNKVCFQ FG LWUVKĹżECT UWCU FGEKUĂ?GU C partir de â&#x20AC;&#x153;precedentes de prateleiraâ&#x20AC;? que sĂŁo â&#x20AC;&#x153;compradosâ&#x20AC;? na exata medida em que servirem RCTC UWDUKFKCT Q FKUEWTUQ FG LWUVKĹżECĂ ÂşQ FC FGEKUÂşQ 55 Sob essa Ăłtica, o â&#x20AC;&#x153;precedenteâ&#x20AC;? acaba UGTXKPFQ RCTC EQPĹżTOCT C FGEKUÂşQ EQPĹżTOCVKQ KP DKCU CVGPFGPFQ ´U RTGHGTĂ&#x201E;PEKCU FQ LWNICFQT em uma espĂŠcie de â&#x20AC;&#x153;self service insanoâ&#x20AC;?, tudo ao â&#x20AC;&#x153;gosto do intĂŠrprete.â&#x20AC;?56
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Note-se que, no common law, a aplicação de precedentes ĂŠ analisada pelo juiz levando em consideração os fatos e partindo deles.57 Trata-se de algo muito distante daquilo que - de modo equivocado - acontece no direito brasileiro, em que uma suposta â&#x20AC;&#x153;armação normativaâ&#x20AC;? construĂda a partir de conceitos sem coisas balizaria a seleção dos fatos relevantes da controvĂŠrsia.58 Desse modo, pode-se dizer que, no common law, a chave do judicial reasoning estĂĄ na decisĂŁo sobre semelhança e diferença entre os casos e, portanto, antes de tudo, na GUEQNJC FQU CURGEVQU FQU GNGOGPVQU FCU ECTCEVGTĂ&#x2C6;UVKECU G FQU RGTĹżU C CUUWOKT EQOQ VGTOQU de referĂŞncia de semelhança e diferença.59 Portanto, quando os fatos relevantes usados pela %QTVG RCTC RTQHGTKT UWC FGEKUÂşQ PQ ECUQ RTGEGFGPVG UÂşQ UWĹżEKGPVGOGPVG UGOGNJCPVGU ´SWGNGU FQ ECUQ CRTGUGPVCFQ RCTC LWNICOGPVQ GUVCTÂś LWUVKĹżECFC C CRNKECĂ ÂşQ FCSWGNG EQOQ XKPEWNCPVG FGUFG SWG C TGITC FG FKTGKVQ CRNKECFC PCSWGNG ECUQ PÂşQ VGPJC UKFQ OQFKĹżECFC RGNQ NGIKUNCFQT 60 Portanto, ĂŠ o caso futuro que determinada se o caso precedente serĂĄ vinculante ou nĂŁo.61 Desse modo, os incisos V e VI do art. 489 do CPC devem ser lidos na sua melhor luz, para que nĂŁo sirvam de ĂĄlibi retĂłrico em favor de decisĂľes que se limitam a enunciar supostos â&#x20AC;&#x153;precedentesâ&#x20AC;? como fundamentação. Desse modo, ainda que a decisĂŁo invoque algum OGECPKUOQ XKPEWNCPVG EQOQ DCUG RCTC C UWC HWPFCOGPVCĂ ÂşQ KUUQ PÂşQ UKIPKĹżEC SWG Q LWK\ GUVGLC FGUQPGTCFQ FG QHGTGEGT C OGNJQT TGURQUVC RCTC Q ECUQ ´ NW\ FC %QPUVKVWKĂ ÂşQ G FC NGK # KPXQECĂ ÂşQ FQ Ĺ&#x2018;RTGEGFGPVGĹ&#x2019; EQOQ DGO CRQPVC ,WTCEK /QWTÂşQ .QRGU (KNJQ GO GZEGNGPVG QDTC sobre o tema, nĂŁo pode se dar de modo reducionista, desconsiderando-se os amplos aspectos hermenĂŞuticos envolvidos na solução anterior e no novo caso em que estĂĄ inserido.62 Isso impĂľe que, ao ser utilizado um precedente no bojo da fundamentação da decisĂŁo judicial, deve ser realizada uma reconstrução da histĂłria institucional do direito, com a perquirição do DNA dos casos pretĂŠritos mencionados, os quais devem ser devidamente relacionados e contrastados com o caso decidendo. Por outro lado, a previsĂŁo do inciso VI do artigo 489 do CPC, ao estabelecer que nĂŁo se considera fundamentada qualquer decisĂŁo judicial que â&#x20AC;&#x153;deixar de seguir enunciado de sĂşmula, jurisprudĂŞncia ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existĂŞncia de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimentoâ&#x20AC;?,63 PÂşQ UKIPKĹżEC WOC obediĂŞncia cega aos mecanismos vinculantes previstos no art. 927 do CPC. Na verdade, o inciso VI do art. 489 consiste em uma espĂŠcie de desdobramento do dever de fundamentação completa, pois prevĂŞ que o juiz nĂŁo poderĂĄ deixar de enfrentar argumentos oferecidos pelas partes com base em â&#x20AC;&#x153;mecanismos vinculantesâ&#x20AC;?. AtĂŠ porque o art. 927 do CPC diz que referidos mecanismos devem ser observados, e nĂŁo que devem sempre ser seguidos, como se HQUUGO WOC GURĂ&#x192;EKG FG Ĺ&#x2018;GPWPEKCĂ ÂşQ UWRTGOC CEGTEC FQ UGPVKFQ FQ FKTGKVQĹ&#x2019; UWRGTKQT ´U NGKU G ´ RTĂ&#x17D;RTKC %QPUVKVWKĂ ÂşQ 'NGU FGXGO UGT GZRNQTCFQU RQTVCPVQ C RCTVKT FQ FGXGT FG EQGTĂ&#x201E;PEKC e integridade previsto no art. 926 do CPC, o que irĂĄ repercutir diretamente nos contornos do dever de fundamentação.
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4 CONSIDERAĂ&#x2021;Ă&#x2022;ES FINAIS Ă&#x2030; bem verdade que, ao longo do tempo, o dever de fundamentação sofreu transformaçþes, sem, contudo, perder seu carĂĄter essencial de garantia contra o arbĂtrio judicial. PorĂŠm, ele deve ser contextualizado a partir dos paradigmas do Constitucionalismo Contemporâneo G FQ 'UVCFQ &GOQETÂśVKEQ FG &KTGKVQ PQU SWCKU PÂşQ OCKU UG CFOKVG SWG Q &KTGKVQ UGLC RTGFCFQ por discursos morais, polĂticos e pragmĂĄticos. Desse modo, nĂŁo se admite, na atual quadra da histĂłria, que o dever de fundamentação EQPVKPWG UGPFQ GPECTCFQ EQOQ WO OGTQ Ă?PWU FG LWUVKĹżECĂ ÂşQ TCEKQPCN FCU GUEQNJCU FQ LWK\ DecisĂŁo nĂŁo ĂŠ escolha, mas, sim, um ato de responsabilidade polĂtica da magistratura. Com muito esforço, o Direito conquistou sua autonomia, de modo que nĂŁo faz sentido fragilizĂĄ-la CFOKVKPFQ SWG Q LWK\ EWORTG EQO Q FGXGT FG HWPFCOGPVCĂ ÂşQ VÂşQ UQOGPVG CRTGUGPVCPFQ LWUVKĹżcativas racionais para a sua decisĂŁo. As decisĂľes judiciais devem ser fundamentadas no direito. JuĂzes e Tribunais nĂŁo tĂŞm o dever de proferir qualquer decisĂŁo. Devem se empenhar para RTQHGTKT C FGEKUÂşQ EQTTGVC RCTC Q ECUQ CFGSWCFC ´ %QPUVKVWKĂ ÂşQ G PÂşQ DCUVC SWCNSWGT HWPFCOGPtação. As partes, em qualquer processo jurisdicional, tĂŞm o direito fundamental a que as decisĂľes sejam uma espĂŠcie de empreendimento democrĂĄtico, em que os seus argumentos sejam levados a sĂŠrio e que a autonomia do direito seja respeitada, esforçando-se o ĂłrgĂŁo julgador para mostrar que a decisĂŁo em questĂŁo ĂŠ a melhor, de acordo com o direito, para o caso concreto.
REFERĂ&#x160;NCIAS ANZON, Adele. Il valore de precedente nel giudizio sulle leggi. Milano: Giuffrè, 1995. $710%4+56+#0+ &KPQ +N PWQXQ CTV EQOOC % 2 % UWN EQPVTCFFKVVQTKQ G UWK TCRporti tra parti e giudice. Rivista di diritto processuale, Padova, v. 65, n. 2, p. 399-415, 2010. %#$4#. #PVĂ?PKQ FQ 2CUUQ +N 2TKPEKRKQ FGN EQPVTCFFKVVQTKQ EQOG FKTKVVQ FyKPĆ&#x20AC;WGP\C G dovere di dibattito. Rivista di diritto processuale 2CFQXC %'&#/ %#./10 &' 2#5515 ,QUĂ&#x192; ,QCSWKO # HQTOCĂ ÂşQ FQ EQPXGPEKOGPVQ FQ OCIKUVTCFQ G C ICTCPVKC EQPUVKVWEKQPCN FC HWPFCOGPVCĂ ÂşQ FCU FGEKUĂ?GU +P 67$'0%*.#- ,COGU %QQTF Livro de Estudos JurĂdicos 4KQ FG ,CPGKTQ +PUVKVWVQ FG 'UVWFQU ,WTĂ&#x2C6;FKEQU X %#22'..'66+ /CWTQ 5RWPVK KP VGOC FK EQPVTCFFKVQTKQ +P 567&+ KP OGOQTKC FK 5CNXCtore Satta. Padova: Cedam, 1982. Volume primo. %#40'+41 #VJQU )WUOÂşQ 5GPVGPĂ C OCN HWPFCOGPVCFC G UGPVGPĂ C PÂşQ HWPFCOGPVCFC conceitos: nulidades. Revista AJURIS, Porto Alegre, n. 65, nov. 1995. %1.' %JCTNGU & 5VCTG FGEKUKU PC EWNVWTC LWTKFKEC FQU GUVCFQU WPKFQU Q UKUVGOC FG RTGcedente vinculante do common law. Revista dos Tribunais, SĂŁo Paulo, v. 87, n. 752, p. 11-21, jun. 1998.
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%1/1).+1 .WKIK 2CQNQ 6GT\C XKC G RTQEGUUQ IKWUVQ Rivista di diritto processuale, Padova, n. 2, 2006. AAAAAA +N Ĺ&#x2018;IKWUVQ RTQEGUUQĹ&#x2019; EKXKNG KP KVCNKC G KP GWTQRC Revista de Processo, SĂŁo Paulo, v. 29, n. 116, p. 97-158, 2004. &'06+ 8KVVQTKQ 3WGUVKQPK TKNGXCDKNK FyWHĹżEKQ G EQPVTCFFKVVQTKQ Rivista di diritto processuale, Padova, v. 23, p. 217-231, 1968. ('+). *GTDGTV # XKUÂşQ Ĺ&#x2018;QTVQFQZCĹ&#x2019; FG VGQTKCU EQOGPVÂśTKQU RCTC FGHGUC CUUKO EQOQ RCTC crĂtica. Scientiae Studia, SĂŁo Paulo, v. 2, n. 2, p. 265-277, 2004. )11&*#46 #TVJWT . 6JG TCVKQ &GEKFGPFK QH C %CUG +P ,74+5247&'0%' KP CEVKQPG C RGNCFGTyU #PVJQNQI[ 0GY ;QTM $CMGT 8QQTJKU %Q +PE )166*'+. ,WNKQ Common law y civil law: el common law y nuestro sistema juridico. Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1960. )4#&+ /CTEQ +N RTKPEKRKQ FGN EQPVTCFFKVVQTKQ G NC PWNNKV´ FGNC UGPVGP\C FGNC Ĺ&#x2018;VGT\C XKCĹ&#x2019; Rivista di diritto processuale, Padova, v. 65, n. 4, p. 826-848, 2010. )4+018'4 #FC 2GNNGITKPK 1 EQPVTQNG FQ TCEKQEĂ&#x2C6;PKQ LWFKEKCN RGNQU VTKDWPCKU UWRGTKQTGU brasileiros. AJURIS: Revista da Associação dos JuĂzes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 17, n. 50, p. 5-20, nov. 1990. GRODIN, Jean. +PVTQFWĂ ÂşQ ´ JGTOGPĂ&#x201E;WVKEC ĹżNQUĂ&#x17D;ĹżEC. Tradução de Benno Dischinger. 5ÂşQ .GQRQNQ 'FKVQTC 7PKUKPQU .12'5 (+.*1 ,WTCEK /QWTÂşQ Os precedentes judiciais no constitucionalismo brasileiro contemporâneo GF 5CNXCFQT 'FKVQTC ,WU2QFKXO .+'$/#0 'PTKEQ 6WNNKQ &Q CTDĂ&#x2C6;VTKQ ´ TC\ÂşQ TGĆ&#x20AC;GZĂ?GU UQDTG C OQVKXCĂ ÂşQ FC UGPVGPĂ C Revista de Processo, SĂŁo Paulo, v. 29, n. 8, p. 79-81, jan./mar. 1983. /#4+010+ .WK\ )WKNJGTOG #4'0*#46 5Ă&#x192;TIKQ /+6+&+'41 &CPKGN Novo curso de processo civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. v. 2. /106'5#01 .WKIK .C ICTCP\KC EQUVKVW\KQPCNG FGN EQPVTCFFKVVQTKQ G K IKWFK\K EKXKNK FK Ĺ&#x2018;VGT\C viaâ&#x20AC;?. Rivista Di Diritto Processuale, Padova, v. 55, n. 4, p. 929-947, out. 2000. /14'+4# ,QUĂ&#x192; %CTNQU $CTDQUC 5Ă&#x2022;OWNCU LWTKURTWFĂ&#x201E;PEKC RTGEGFGPVG: uma escalada e seus riscos. SĂŁo Paulo: Saraiva, 2007. AAAAAA A motivação das decisĂľes judiciais como garantia inerente ao Estado de Direito. 2. ed. SĂŁo Paulo: Saraiva, 1988. AAAAAA 1U 2TKPEĂ&#x2C6;RKQU FQ FKTGKVQ RTQEGUUWCN EKXKN PC %QPUVKVWKĂ ÂşQ FG +P AAAAAA Temas de direito processual. SĂŁo Paulo: Saraiva, 1993.
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O dever de fundamentação das decisĂľes judiciais sob o olhar da crĂtica hermenĂŞutica do direito
NORMAND, Jacques. I poteri del giudice e delle parti quanto al fondamento delle pretense controverse. Rivista di dirritto procesuale, Padova, v. 43, parte II, 1988. PICARDI, Nicola. Audiatur et Altera Pars: as matrizes histĂłrico-culturais do contraditĂłrio. In: 1.+8'+4# %CTNQU #NDGTVQ #NXCTQ FG Jurisdição e processo. Rio de Janeiro: Forense, 2008. PISANI, Mario. Notas para a histĂłria da motivação no processo penal. Revista de direito penal, Rio de Janeiro, n. 1, jan./mar. 1971. 4'+%*'0$#%* *CPU Elements of symbolic logic. New York: The Macmillan, 1948. 41*&'0 .WK\ Interfaces da hermenĂŞutica: mĂŠtodo, ĂŠtica e literatura. Caxias do Sul: 'FWEU 5+.8# 1XĂ&#x2C6;FKQ # $CRUVKUVC FC (WPFCOGPVCĂ ÂşQ FCU UGPVGPĂ CU EQOQ ICTCPVKC EQPUVKVWEKQPCN Revista do Instituto de HermenĂŞutica JurĂdica, Porto Alegre, v. 1, n. 4, p. 323-352, 2006. 56'+0 'TPKNFQ Aproximaçþes sobre hermenĂŞutica 2QTVQ #NGITG '&+27%45 AAAAAA Seis estudos sobre ser e tempo: comemoração dos sessenta anos de Ser e Tempo de Heidegger. 2. ed. PetrĂłpolis: Vozes, 1990. 564'%- .GPKQ .WK\ Verdade e consenso. 5. ed. SĂŁo Paulo: Saraiva, 2014. AAAAAA HermenĂŞutica jurĂdico e(m) crise: uma exploração hermenĂŞutica da construção FQ &KTGKVQ GF 2QTVQ #NGITG .KXTCTKC FQ #FXQICFQ AAAAAA *GTOGPĂ&#x201E;WVKEC EQPUVKVWKĂ ÂşQ G RTQEGUUQ QW FG Ĺ&#x2018;EQOQ FKUETKEKQPCTKGFCFG PÂşQ combina com democraciaâ&#x20AC;?: o contraponto da resposta correta. Constituição e processo: a contribuição do processo ao constitucionalismo democrĂĄtico brasileiro. Coordenação de Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira e Felipe Daniel Amorim Machado. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. AAAAAA Jurisdição constitucional e hermenĂŞutica: uma nova crĂtica do direito. Porto #NGITG .KXTCTKC FQ #FXQICFQ 6#47((1 /KEJGNNG +N EQPVTQNNQ FK TC\KQPCNKV´ FGNNC FGEKUKQPG HTC NQIKEC TGVQTKEC G FKCNGVKEC Revista de processo, SĂŁo Paulo, v. 32, n. 143. jan. 2007. AAAAAA +N 5KIPKĹżECVQ EQPUVKVW\KQPCNG FGNNyQDDNNKIQ FK OQVKXC\KQPG +P )4+018'4 #FC 2GNGITKPK &+0#/#4%1 %¸PFKFQ 4CPIGN 9#6#0#$' -C\WQ %QQTF Participação e processo. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 1988. AAAAAA La motivazine della sentenza civile 2CFQXC %'&#/ TARZIA, Giuseppe. O contraditĂłrio no processo executivo. Revista de processo, SĂŁo Paulo, v. 28, out./dez. 1982. 6*'1&141 ,Â0+14 *WODGTVQ GV CN Novo CPC: fundamentos e sistematização. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
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6*'1&141 ,Â0+14 *WODGTVQ 070'5 &KGTNG ,QUĂ&#x192; %QGNJQ 7OC FKOGPUÂşQ SWG WTIG TGEQPJGEGT CQ EQPVTCFKVĂ&#x17D;TKQ PQ FKTGKVQ DTCUKNGKTQ UWC CRNKECĂ ÂşQ EQOQ ICTCPVKC FG KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC de nĂŁo surpresa e de aproveitamento da atividade processual. Revista de Processo, SĂŁo Paulo, v. 34, n. 168, p. 107-141, fev. 2009. 6*1/2510 &QPCNF +N RTGEGFGPVG IKWFK\KCTKQ PGN FKTKVVQ EQPUVKVW\KQPCNG KPINGUG +P .# DOTTRINA del precedente nella giurisprudenza della corte costituzionale. A cura di GiuUGRRKPQ 6TGXGU 6QTKPQ 7PKQPG 6KRQITœſEQ 'FKVTKEG 6QTKPGPUG 641%-'4 0KEQNĂ? 2rocesso civile e costituzione; problemi di diritto tedesco e italiano. Milano: Giuffrè, 1974. 9#/$+'4 6GTGUC #TTWFC #NXKO OmissĂŁo judicial e embargos de declaração. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. 1
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Conforme Barbosa Moreira hĂĄ muito advertia, â&#x20AC;&#x153;tem variado inclusive no tempo e no espaço o prĂłprio entendimento de â&#x20AC;&#x2DC;decisĂŁo motivadaâ&#x20AC;&#x2122;, ou, em outras palavras, a extensĂŁo dos requisitos que se hĂŁo de satisfazer para SWG UG VGPJC RQT EWORTKFQ Q FGXGT FG HWPFCOGPVCT QU RTQPWPEKCOGPVQU LWFKEKCKUĹ&#x2019; /14'+4# ,QUĂ&#x192; %CTNQU Barbosa. A motivação das decisĂľes judiciais como garantia inerente ao Estado de Direito: temas de direito processual. 2. ed. SĂŁo Paulo: Saraiva, 1988. p. 86. .+'$/#0 'PTKEQ 6WNNKQ &Q CTDĂ&#x2C6;VTKQ ´ TC\ÂşQ TGĆ&#x20AC;GZĂ?GU UQDTG C OQVKXCĂ ÂşQ FC UGPVGPĂ C Revista de Processo, SĂŁo Paulo, v. 29, n. 8, p. 79-81, jan./mar. 1983.p. 80. 'UUC EQPEGRĂ ÂşQ GUVÂś RTGUGPVG PC Ĺ&#x2018;RTCIOÂśVKEC P ::8+++Ĺ&#x2019; FQ 4GK (GTPCPFQ +8 FG $QWTDQP C SWCN UGIWPFQ /CTKQ 2KUCPK GUVCDGNGEGW RGNC RTKOGKTC XG\ PC +VÂśNKC RTĂ&#x192; WPKVÂśTKC C QDTKICVQTKGFCFG FG OQVKXCĂ ÂşQ Ĺ&#x2018;'PECTG Sua Majestade que os julgamentos devem ser o mais possĂvel escoimados do arbĂtrio, e bem assim devem ser os JuĂzes preservados de qualquer suspeita de parcialidade; por isso, e para isso, as decisĂľes devem fundar-se nĂŁo jĂĄ na pura autoridade dos Doutores, que, infelizmente, com as suas opiniĂľes, tĂŞm alterado o direito, ou tĂŞm-no tornado incerto ou arbitrĂĄrio, mas nas leis, expressas do reino, ou mesmo comuns. Se nĂŁo houver lei GZRTGUUC RCTC Q ECUQ FG SWG UG VTCVC FGXGPFQ UG GPVÂşQ TGEQTTGT ´ KPVGTRTGVCĂ ÂşQ QW ´ GZVGPUÂşQ FC NGK SWGT Q Rei que isso seja feito pelo Juiz de tal modo que as duas premissas do raciocĂnio sejam sempre fundadas em NGKU GZRTGUUCU G NKVGTCKU ' SWCPFQ Q ECUQ HQT VQVCNOGPVG PQXQ QW KPVGKTCOGPVG FWXKFQUQ FG UQTVG SWG PÂşQ possa haver decisĂŁo dentro da lei, nem ao amparo da lei, quer o Rei que lhe seja dito caso encaminhado, e se aguarde o seu Soberano Pronunciamentoâ&#x20AC;? PISANI, Mario. Notas para a histĂłria da motivação no processo penal. Revista de direito penal, Rio de Janeiro, n. 1, jan./mar. 1971. p. 68. /14'+4# ,QUĂ&#x192; %CTNQU $CTDQUC A motivação das decisĂľes judiciais como garantia inerente ao Estado de Direito: temas de direito processual. SĂŁo Paulo: Saraiva, 1988. p. 85. 6#47((1 /KEJGNNG +N 5KIPKĹżECVQ EQPUVKVW\KQPCNG FGNNyQDDNNKIQ FK OQVKXC\KQPG +P )4+018'4 #FC 2GNGITKPK &+0#/#4%1 %¸PFKFQ 4CPIGN 9#6#0#$' -C\WQ %QQTF Participação e processo. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 1988. p. 38. TARUFFO, Michelle. La motivazine della sentenza civile 2CFQXC %'&#/ R 0GUUG Ă&#x2022;NVKOQ UGPVKFQ XGT 564'%- .GPKQ .WK\ *GTOGPĂ&#x201E;WVKEC EQPUVKVWKĂ ÂşQ G RTQEGUUQ QW FG Ĺ&#x2018;EQOQ FKUcricionariedade nĂŁo combina com democraciaâ&#x20AC;?: o contraponto da resposta correta. Constituição e processo: a contribuição do processo ao constitucionalismo democrĂĄtico brasileiro / coordenação de Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira e Felipe Daniel Amorim Machado. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. Nesse sentido, Athos GusmĂŁo Carneiro dizia que, na hipĂłtese de decisĂŁo malfundamentada, nĂŁo hĂĄ que se falar em nulidade, mas, sim, em utilização do meio de impugnação contra ela cabĂvel. Assim, quando o juiz se equivoca ao apreciar as questĂľes de fato e/ou de direito que lhe foram submetidas, a decisĂŁo estĂĄ, em princĂpio, errada, mas serĂĄ vĂĄlida. O mesmo, para ele, nĂŁo corre com a decisĂŁo sucintamente fundamentada, que, embora RQUUC RGECT RGNC OÂś VĂ&#x192;EPKEC PÂşQ UÂşQ PWNCU 'PVTGVCPVQ C UGPVGPĂ C EQO HWPFCOGPVCĂ ÂşQ UWEKPVC PÂşQ FGXGTÂś
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O dever de fundamentação das decisĂľes judiciais sob o olhar da crĂtica hermenĂŞutica do direito
UGT EQPHWPFKFC EQO C UGPVGPĂ C FGĹżEKGPVG KPEQORNGVC GO UWC HWPFCOGPVCĂ ÂşQ %#40'+41 #VJQU )WUOÂşQ Sentença mal fundamentada e sentença nĂŁo-fundamentada: conceitos: nulidades. Revista AJURIS, Porto Alegre, n. 65, nov. 1995. p. 8-9. 9#/$+'4 6GTGUC #TTWFC #NXKO OmissĂŁo judicial e embargos de declaração. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 352. 9#/$+'4 6GTGUC #TTWFC #NXKO OmissĂŁo judicial e embargos de declaração. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 390 11 Sobre o tema, ver PICARDI, Nicola. Audiatur et Altera Pars: as matrizes histĂłrico-culturais do contraditĂłrio. +P 1.+8'+4# %CTNQU #NDGTVQ #NXCTQ FG Jurisdição e processo. Rio de Janeiro: Forense, 2008. 6*'1&141 ,Â0+14 *WODGTVQ 070'5 &KGTNG ,QUĂ&#x192; %QGNJQ 7OC FKOGPUÂşQ SWG WTIG TGEQPJGEGT CQ EQPVTCFKVĂ&#x17D;TKQ PQ FKTGKVQ DTCUKNGKTQ UWC CRNKECĂ ÂşQ EQOQ ICTCPVKC FG KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC FG PÂşQ UWTRTGUC G FG CRTQXGKVCOGPVQ da atividade processual. Revista de Processo 5ÂşQ 2CWNQ X P R HGX R 'UUC RGTURGEVKXC EQOQ DGO OQUVTC 0KEQNC 2KECTFK FGXG UG ´ RCUUCIGO FQ OGFKGXQ RCTC OQFGTPKFCFG FQ iudicium para o processus SWG VTCFW\ WOC OWFCPĂ C PQ OQFQ FG EQPEGDGT Q HGPĂ?OGPQ RTQEGUUWCN 0GUUG UGPVKFQ EQO Q jusnaturalismo moderno, jĂĄ se evidencia uma linha de decadĂŞncia do princĂpio do contraditĂłrio. Abandonada a metodologia dialĂŠtica de investigação, o contraditĂłrio tendia entĂŁo a se resolver em uma mecânica contraposição de teses e, em Ăşltima anĂĄlise, em uma prova de forças. Iniciava, assim, o processo de formalização e de VTCPUETKĂ ÂşQ FQ FKÂśNQIQ GO VGTOQU FG FKTGKVQU G QDTKICĂ Ă?GU Â? EQPEGRĂ ÂşQ ENÂśUUKEC FG XGTFCFG â&#x20AC;&#x153;provĂĄvelâ&#x20AC;? sucedia-se C EQPĹżCPĂ C PC GZKUVĂ&#x201E;PEKC FG WOC XGTFCFG QDLGVKXC CDUQNWVC RTĂ&#x192; EQPUVKVWĂ&#x2C6;FC 1WVTQ RTQDNGOC GTC FGRQKU Q FG KFGPVKĹżECT Ĺ&#x152; EQO DCUG GO RQUVWNCFQU GRKUVGOQNĂ&#x17D;IKEQU TGURGEVKXCOGPVG GORKTĂ&#x2C6;UVKEQU QW TCEKQPCNĂ&#x2C6;UVKEQU Ĺ&#x152; VCN verdade com a verdade â&#x20AC;&#x153;materialâ&#x20AC;? ou com a â&#x20AC;&#x153;formalâ&#x20AC;?. Seja como for, tinha-se que tais verdades poderiam ser alcançadas mesmo sem o contraditĂłrio (...) O novo ordo UQD C FKTGĂ ÂşQ FQ LWK\ CRTGUGPVC FG OCPGKTC FGĹżPKVKXC um carĂĄter â&#x20AC;&#x153;assimĂŠtricoâ&#x20AC;?, na medida em que fundamentalmente apoiado sob a autoridade, a hierarquia e a NĂ&#x17D;IKEC DWTQETÂśVKEC &G TGUVQ LÂś .GKDPK\ JCXKC TGFKOGPUKQPCFQ C HWPĂ ÂşQ FQ CFXQICFQ UWUVGPVCPFQ SWG Q LWK\ ĂŠ, de ofĂcio, o advogado geral das partes (PICARDI, Nicola. Audiatur et Altera Pars: as matrizes histĂłrico EWNVWTCKU FQ EQPVTCFKVĂ&#x17D;TKQ +P 1.+8'+4# %CTNQU #NDGTVQ #NXCTQ FG Jurisdição e processo. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 136-137). %#22'..'66+ /CWTQ 5RWPVK KP VGOC FK EQPVTCFFKVQTKQ +P 567&+ KP OGOQTKC FK 5CNXCVQTG 5CVVC 2CFQXC Cedam, 1982. Volume primo. p. 210. 14 NORMAND, Jacques. I poteri del giudice e delle parti quanto al fondamento delle pretense controverse. Rivista di dirritto procesuale, Padova, v. 43, parte II, p. 724-725, 1988. $710%4+56+#0+ &KPQ +N PWQXQ CTV EQOOC % 2 % UWN EQPVTCFFKVVQTKQ G UWK TCRRQTVK VTC RCTVK G giudice. Rivista di diritto processuale, Padova, v. 65, n. 2, p. 399-415, 2010. p. 408. )4#&+ /CTEQ +N RTKPEKRKQ FGN EQPVTCFFKVVQTKQ G NC PWNNKV´ FGNC UGPVGP\C FGNC Ĺ&#x2018;VGT\C XKCĹ&#x2019; Rivista di diritto processuale, Padova, v. 65, n. 4, p. 826-848, 2010. p. 826. 17 O juiz pode, portanto, participar da construção do edifĂcio do fato, salvo quando se trate de fatos constitutivos individualizadores do direito (porque do contrĂĄrio estaria o juiz a estabelecer o objeto do processo) ou HCVQU KORGFKVKXQU OQFKĹżECVKXQU G GZVKPVKXQU QDLGVQ FG GZEGĂ Ă?GU GO UGPVKFQ GUVTKVQ TGUGTXCFQU ´ RCTVG PGUUG ECUQ C XQPVCFG FC RCTVG GO UGTXKT UG FC GĹżEÂśEKC LWTĂ&#x2C6;FKEC FCSWGNG HCVQ Ă&#x192; GNGOGPVQ EQPUVKVWVKXQ FC GZEGĂ ÂşQ Ocorre, porĂŠm, que apresente o conhecimento do fato ao contraditĂłrio das partes e que estas Ăşltimas tenham C RQUUKDKNKFCFG FG NKXTGOGPVG UG FGHGPFGT $710%4+56+#0+ &KPQ +N PWQXQ CTV EQOOC % 2 % UWN contraddittorio e sui rapporti tra parti e giudice. Rivista di diritto processuale, Padova, v. 65, n. 2, p. 399-415, 2010. p. 406). %1/1).+1 .WKIK 2CQNQ +N IKWUVQ RTQEGUUQ EKXKNG KP +VCNKC G KP 'WTQRC Revista de processo, SĂŁo Paulo, n. 116, p. 132, ago. 2004. )4#&+ /CTEQ +N RTKPEKRKQ FGN EQPVTCFFKVVQTKQ G NC PWNNKV´ FGNC UGPVGP\C FGNC Ĺ&#x2018;VGT\C XKCĹ&#x2019; Rivista di diritto processuale, Padova, v. 65, n. 4, p. 826-848, 2010. p. 827. %1/1).+1 .WKIK 2CQNQ 6GT\C XKC G RTQEGUUQ IKWUVQ Rivista di diritto processuale, Padova, n. 2, p. 758, 2006. 21 Conforme Giuseppe Tarzia, â&#x20AC;&#x153;a participação no â&#x20AC;&#x2DC;diĂĄlogoâ&#x20AC;&#x2122; nĂŁo reclama somente que tenha havido aviso da audiĂŞncia e conhecimento dos pronunciamentos emitidos pelo juiz, e, portanto, a sua comunicação, quando nĂŁo tenham sido proferidos na audiĂŞncia. A extensĂŁo ao juiz do princĂpio do contraditĂłrio, pelo menos na sua
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versĂŁo mais moderna, comporta a ideia de obrigação em relação ao prĂłprio juiz - e, para aquilo que nos concerne, GURGEKĹżECOGPVG RCTC Q LWK\ FC GZGEWĂ ÂşQ FG UWDOGVGT ´ FKUEWUUÂşQ RTĂ&#x192;XKC FCU RCTVGU CU SWGUVĂ?GU TGNGXÂśXGKU FG QHĂ&#x2C6;EKQ UQDTG CU SWCKU ETĂ&#x201E; PGEGUUÂśTKQ FGXGT RTQPWPEKCT UG RQT GZGORNQ CU SWGUVĂ?GU TGNCVKXCU ´ EQORGVĂ&#x201E;PEKC ´ LWTKUFKĂ ÂşQ G QWVTCU FCU SWCKU UG HCNQW CEKOC CVWCPFQ FGUUC HQTOC C Ĺ&#x17D;VWVGNCFCU RCTVGU EQPVTC Q RGTKIQ FCU surpresasâ&#x20AC;&#x2122;, que parece ser essenciais em um processo efetivamente dominado pelo princĂpio que agora se estĂĄ examinandoâ&#x20AC;?. TARZIA, Giuseppe. O contraditĂłrio no processo executivo. Revista de processo, SĂŁo Paulo, X R QWV FG\ 0GUUG UGPVKFQ VCODĂ&#x192;O /106'5#01 .WKIK .C ICTCP\KC EQUVKVW\KQPCNG FGN contraddittorio e i giudizi civili di â&#x20AC;&#x153;terza viaâ&#x20AC;?. Rivista Di Diritto Processuale, Padova , v. 55, n. 4, p. 929-947, out. 2000. p. 931. 641%-'4 0KEQNĂ? Processo civile e costituzione: problemi di diritto tedesco e italiano. Milano: Giuffrè, 1974. p. 499. &'06+ 8KVVQTKQ 3WGUVKQPK TKNGXCDKNK FyWHĹżEKQ G EQPVTCFFKVVQTKQ Rivista di diritto processuale, Padova, v. 23, p. 217-231, 1968. p. 225. )4#&+ /CTEQ +N RTKPEKRKQ FGN EQPVTCFFKVVQTKQ G NC PWNNKV´ FGNC UGPVGP\C FGNC Ĺ&#x2018;VGT\C XKCĹ&#x2019; Rivista di diritto processuale, Padova, v. 65, n. 4, p. 826-848, 2010. p. 837-838. %QOQ RQFG CEQPVGEGT PQ ECUQ PQ SWCN UG OQFKĹżSWG Q VĂ&#x2C6;VWNQ FC TGURQPUCDKNKFCFG FG EQPVTCVWCN RCTC GZVTCEQPVTCVWCN QW XKEG XGTUC QW SWCPFQ UG GPVGPFC OQFKĹżECT C TGURGKVQ FC QRKPKÂşQ FCU RCTVGU C PCVWTG\C FQ EQPVTCVQ objeto do processo, terminando por aplicar disposiçþes diversas com resultados e ĂŞxitos, enquanto em abstrato RTGXKUĂ&#x2C6;XGKU GO EQPETGVQ PÂşQ RTGXKUVCU RGNCU RCTVGU )4#&+ /CTEQ +N RTKPEKRKQ FGN EQPVTCFFKVVQTKQ G NC PWNNKV´ dela sentenza dela â&#x20AC;&#x153;terza viaâ&#x20AC;?. Rivista di diritto processuale, Padova, v. 65, n. 4, p. 826-848, 2010. p. 836. 26 Como poderia ocorrer no caso no qual, em uma controvĂŠrsia referente ao objeto da responsabilidade, o ĂłrgĂŁo judicante decida a causa com referĂŞncia ao nexo causal frente a uma contestação do dano inerente ao elemento GZENWUKXCOGPVG UWDLGVKXQ )4#&+ /CTEQ +N RTKPEKRKQ FGN EQPVTCFFKVVQTKQ G NC PWNNKV´ FGNC UGPVGP\C FGNC Ĺ&#x2018;VGT\C viaâ&#x20AC;?. Rivista di diritto processuale, Padova, v. 65, n. 4, p. 826-848, 2010. p. 838). %1/1).+1 .WKIK 2CQNQ +N Ĺ&#x2018;IKWUVQ RTQEGUUQĹ&#x2019; EKXKNG KP KVCNKC G KP GWTQRC Revista de Processo, SĂŁo Paulo, v. 29, n. 116, p. 97-158, 2004. p. 132. 6#4<+# )KWUGRRG +N %QPVTCFFKVVQTKQ PGN 2TQEGUUQ 'UGEWVKXQ In: '5'%7<+10' HQT\CVC G RTQEGFWTG EQPcorsuali. Milano: Cedam, 1994. p. 60 /14'+4# ,QUĂ&#x192; %CTNQU $CTDQUC 1U 2TKPEĂ&#x2C6;RKQU FQ FKTGKVQ RTQEGUUWCN EKXKN PC EQPUVKVWKĂ ÂşQ FG +P AAAAAA Temas de direito processual. SĂŁo Paulo: Saraiva, 1993. p. 243 6*'1&141 ,Â0+14 *WODGTVQ GV CN Novo CPC: fundamentos e sistematização. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. 5+.8# 1XĂ&#x2C6;FKQ # $CRUVKUVC FC (WPFCOGPVCĂ ÂşQ FCU UGPVGPĂ CU EQOQ ICTCPVKC EQPUVKVWEKQPCN Revista do Instituto de HermenĂŞutica JurĂdica, Porto Alegre, v. 1, n. 4, p. 323-352, 2006. p. 340. 5+.8# 1XĂ&#x2C6;FKQ # $CRUVKUVC FC (WPFCOGPVCĂ ÂşQ FCU UGPVGPĂ CU EQOQ ICTCPVKC EQPUVKVWEKQPCN Revista do Instituto de HermenĂŞutica JurĂdica, Porto Alegre, v. 1, n. 4, p. 323-352, 2006. p. 340. 5+.8# 1XĂ&#x2C6;FKQ # $CRUVKUVC FC (WPFCOGPVCĂ ÂşQ FCU UGPVGPĂ CU EQOQ ICTCPVKC EQPUVKVWEKQPCN Revista do Instituto de HermenĂŞutica JurĂdica, Porto Alegre, v. 1, n. 4, p. 323-352, 2006. p. 340. %#$4#. #PVĂ?PKQ FQ 2CUUQ +N 2TKPEKRKQ FGN EQPVTCFFKVVQTKQ EQOG FKTKVVQ FyKPĆ&#x20AC;WGP\C G FQXGTG FK FKDCVVKVQ Rivista di diritto processuale, Padova, p. 456-57, 2005. $4#5+. 56( 5GIWPFC 6WTOC 41/5 P 4GN /KPKUVTQ )KNOCT /GPFGU LWNICFQ GO & , FG 2CTC WO CRTQHWPFCOGOPVQ FQ VGOC XGT 564'%- .GPKQ .WK\ Verdade e consenso. 5. ed. SĂŁo Paulo: Saraiva, 2014. p. 611-620. 641%-'4 0KEQNĂ? Processo civile e constituzione. Processo civile e costituzione; problemi di diritto tedesco e italiano. Milano: Giuffrè, 1974. p. 460. 5+.8# 1XĂ&#x2C6;FKQ # $CRUVKUVC FC (WPFCOGPVCĂ ÂşQ FCU UGPVGPĂ CU EQOQ ICTCPVKC EQPUVKVWEKQPCN Revista do Instituto de HermenĂŞutica JurĂdica, Porto Alegre, v. 1, n. 4, p. 323-352, 2006. p. 340. 564'%- .GPKQ .WK\ *GTOGPĂ&#x201E;WVKEC EQPUVKVWKĂ ÂşQ G RTQEGUUQ QW FG Ĺ&#x2018;EQOQ FKUETKEKQPCTKGFCFG PÂşQ EQODKPC com democraciaâ&#x20AC;?: o contraponto da resposta correta. Constituição e processo: a contribuição do processo ao constitucionalismo democrĂĄtico brasileiro / coordenação de Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira e Felipe Daniel Amorim Machado. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. p. 17-18. 6#47((1 /KEJGNNG +N EQPVTQNNQ FK TC\KQPCNKV´ FGNNC FGEKUKQPG HTC NQIKEC TGVQTKEC G FKCNGVKEC Revista de
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O dever de fundamentação das decisĂľes judiciais sob o olhar da crĂtica hermenĂŞutica do direito
processo, SĂŁo Paulo, v. 32, n. 143. jan. 2007. p. 76. 6#47((1 /KEJGNNG +N EQPVTQNNQ FK TC\KQPCNKV´ FGNNC FGEKUKQPG HTC NQIKEC TGVQTKEC G FKCNGVKEC Revista de processo, SĂŁo Paulo, v. 32, n. 143. jan. 2007. p. 76. 6#47((1 /KEJGNNG +N EQPVTQNNQ FK TC\KQPCNKV´ FGNNC FGEKUKQPG HTC NQIKEC TGVQTKEC G FKCNGVKEC Revista de processo, SĂŁo Paulo, v. 32, n. 143. jan. 2007. p. 75. 42 TARUFFO, Michelle. La motivazine della sentenza civile 2CFQXC %'&#/ R )4+018'4 Ada Pellegrini. O controle do raciocĂnio judicial pelos tribunais superiores brasileiros. AJURIS: Revista da Associação dos JuĂzes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 17, n. 50, p. 5-20, nov. 1990. p. 8-9. 43 Como bem assinala Stein, com base em Heidegger, â&#x20AC;&#x153;a linguagem traz em si um duplo elemento, um elemento lĂłgico formal que manifesta as coisas na linguagem, e o elemento prĂĄtico de nossa experiĂŞncia de mundo CPVGTKQT ´ NKPIWCIGO OCU SWG PÂşQ UG GZRTGUUC UGPÂşQ XKC NKPIWCIGO G GUVG GNGOGPVQ Ă&#x192; Q como e o logos hermenĂŞutico. Heidegger irĂĄ designar esses dois como, um deles o como hermenĂŞutico e o outro o como apofântico. O enquanto hermenĂŞutico ou o como hermenĂŞutico, ĂŠ o como do mundo, e o outro, o como apofântico ĂŠ o como do discurso. O como hermenĂŞutico ĂŠ o como do nosso mundo prĂĄtico em que nĂłs jĂĄ sempre compreendemos as coisas e, por isso, podemos falar delas atravĂŠs de enunciados assertĂłricos predicativos. A racionalidade, portanto, se constitui sempre de uma certa maneira ambĂgua. Seja-nos permitido usar esta palavra: HĂĄ uma ambiguidade fundamental no homem e por haver esta ambiguidade fundamental ĂŠ que estamos condenados ´ JGTOGPĂ&#x201E;WVKEC # EQORTGGPUÂşQ G C KPVGTRTGVCĂ ÂşQ UÂşQ HQTOCU FGĹżEKGPVGU FG CEGUUQ NĂ&#x17D;IKEQ CQU QDLGVQU G FG CEGUUQ NĂ&#x17D;IKEQ CQ OWPFQ OCU VCNXG\ UGLCO HQTOCU UÂśDKCU 'O VQFQ ECUQ SWGO VGO EQPUEKĂ&#x201E;PEKC FKUUQ Ă&#x192; CRGPCU C ĹżNQUQĹżCĹ&#x2019; 56'+0 'TPKNFQ Aproximaçþes sobre hermenĂŞutica 2QTVQ #NGITG '&+27%45 R Como serĂĄ visto mais adiante, o problema da fundamentação das decisĂľes judiciais nĂŁo se resolve no nĂvel apofântico da linguagem. /#4+010+ .WK\ )WKNJGTOG #4'0*#46 5Ă&#x192;TIKQ /+6+&+'41 &CPKGN Novo curso de processo civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. v. 2. p. 411-412. ('+). *GTDGTV # XKUÂşQ Ĺ&#x2018;QTVQFQZCĹ&#x2019; FG VGQTKCU EQOGPVÂśTKQU RCTC FGHGUC CUUKO EQOQ RCTC ETĂ&#x2C6;VKEC Scientiae Studia, SĂŁo Paulo, v. 2, n. 2, p. 265-77, 2004. A distinção tem origem no pensamento de Hans Reichenbach, SWG FKUVKPIWG Q OQFQ FG Q RGPUCFQT GPEQPVTC Q UGW VGQTGOC G Q OQFQ FG CRTGUGPVÂś NQ CQ RĂ&#x2022;DKEQ 4'+%*'0BACH, Hans. Elements of symbolic logic. New York: The Macmillan, 1948. 41*&'0 .WK\ Interfaces da hermenĂŞutica OĂ&#x192;VQFQ Ă&#x192;VKEC G NKVGTCVWTC %CZKCU FQ 5WN 'FWEU R 47 GRODIN, Jean. +PVTQFWĂ ÂşQ ´ JGTOGPĂ&#x201E;WVKEC ĹżNQUĂ&#x17D;ĹżEC 6TCFWĂ ÂşQ FG $GPPQ &KUEJKPIGT 5ÂşQ .GQRQNQ 'FKVQTC Unisinos, 1999. 56'+0 'TPKNFQ Seis estudos sobre ser e tempo: comemoração dos sessenta anos de Ser e Tempo de Heidegger. 2. ed. PetrĂłpolis: Vozes, 1990. p. 59-61. 564'%- .GPKQ .WK\ Jurisdição constitucional e hermenĂŞutica: uma nova crĂtica do direito. Porto Alegre: .KXTCTKC FQ #FXQICFQ R 564'%- .GPKQ .WK\ Jurisdição constitucional e hermenĂŞutica: uma nova crĂtica do direito. Porto Alegre: .KXTCTKC FQ #FXQICFQ R %#./10 &' 2#5515 ,QUĂ&#x192; ,QCSWKO # HQTOCĂ ÂşQ FQ EQPXGPEKOGPVQ FQ OCIKUVTCFQ G C ICTCPVKC EQPUVKVWEKQPCN FC HWPFCOGPVCĂ ÂşQ FCU FGEKUĂ?GU +P 67$'0%*.#- ,COGU %QQTF Livro de Estudos JurĂdicos. Rio FG ,CPGKTQ +PUVKVWVQ FG 'UVWFQU ,WTĂ&#x2C6;FKEQU X R 564'%- .GPKQ .WK\ HermenĂŞutica jurĂdico e(m) crise: uma exploração hermenĂŞutica da construção do &KTGKVQ GF 2QTVQ #NGITG .KXTCTKC FQ #FXQICFQ R %QPHQTOG 5VTGEM Ĺ&#x2018;3WCPFQ UWUVGPVQ Q FGXGT de accountability, nĂŁo estou simplesmente dizendo que a fundamentação â&#x20AC;&#x2DC;resolveâ&#x20AC;&#x2122; o problema decorrente, por exemplo, do livre convencimento, da livre apreciação da prova ou da admissĂŁo lato sensu da discricionariedade. Por favor, nĂŁo ĂŠ isso que estou dizendo. Accountability, nos moldes em que proponho, quer dizer fundamentação da fundamentação. Isso quer dizer que nem de longe o problema da exigĂŞncia de fundamentação se resolve no nĂvel apofântico. Ora, com tudo o que jĂĄ escrevi, eu nĂŁo seria ingĂŞnuo em pensar que o â&#x20AC;&#x2DC;dever de fundamentar as decisĂľesâ&#x20AC;&#x2122; resolver(ia) o problema da decisĂŁo...! Um vetor de racionalidade de segundo nĂvel â&#x20AC;&#x201C; lĂłgico-argumentativo â&#x20AC;&#x201C; nĂŁo pode se substituir ao vetor de racionalidade de primeiro nĂvel, que ĂŠ a compreensĂŁo. Nela, na compreensĂŁo TGUKFG C Ĺ&#x17D;TC\ÂşQ JGTOGPĂ&#x201E;WVKECĹ? RCTC WUCT C GZRTGUUÂşQ FG 'TPUV 5EJPÂźFGNDCEJ #ĹżPCN RQT SWG TC\ÂşQ Gadamer diria que â&#x20AC;&#x2DC;interpretar ĂŠ explicitar o compreendidoâ&#x20AC;&#x2122;? Note-se: explicitar o compreendido nĂŁo ĂŠ colocar WOC ECRC FG UGPVKFQ CQ EQORTGGPFKFQ 'UUG Ă&#x192; Q GURCĂ Q FC GRKUVGOQNQIKC FC JGTOGPĂ&#x201E;WVKEC 0ÂşQ PQU GUSWGĂ COQU
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aqui, do dilema das teorias cognitivistas-teleolĂłgicas: nĂŁo ĂŠ possĂvel atravessar o abismo do conhecimento â&#x20AC;&#x201C; que â&#x20AC;&#x2DC;separaâ&#x20AC;&#x2122; o homem das coisas â&#x20AC;&#x201C; construindo uma ponte pela qual ele jĂĄ passou. NĂŁo se pode fazer uma leitura rasa do art. 93, IX, da CF. A exigĂŞncia de fundamentação nĂŁo se resolve com â&#x20AC;&#x2DC;capas argumentativasâ&#x20AC;&#x2122;, ou seja, o juiz nĂŁo deve â&#x20AC;&#x2DC;explicarâ&#x20AC;&#x2122; aquilo que o â&#x20AC;&#x2DC;convenceuâ&#x20AC;&#x2122;...deve, sim, explicitar os motivos de sua compreensĂŁo, oferecendo WOC LWUVKĹżECĂ ÂşQ HWPFCOGPVCĂ ÂşQ FG UWC KPVGTRTGVCĂ ÂşQ PC RGTURGEVKXC FG FGOQPUVTCT EQOQ C KPVGTRTGVCĂ ÂşQ QHGTGEKFC RQT GNG Ă&#x192; C OGNJQT RCTC CSWGNG ECUQ OCKU CFGSWCFC ´ %QPUVKVWKĂ ÂşQ QW GO VGTOQU FYQTMKPKCPQU correta), em um contexto de unidade, integridade e coerĂŞncia com relação ao Direito da Comunidade PolĂticaâ&#x20AC;?. 564'%- .GPKQ .WK\ HermenĂŞutica jurĂdico e(m) crise: uma exploração hermenĂŞutica da construção do &KTGKVQ GF 2QTVQ #NGITG .KXTCTKC FQ #FXQICFQ R 564'%- .GPKQ .WK\ HermenĂŞutica jurĂdica e(m) crise: uma exploração hermenĂŞutica da construção do &KTGKVQ GF 2QTVQ #NGITG .KXTCTKC FQ #FXQICFQ R 54 HĂĄ muito, lembra JosĂŠ Carlos Barbosa Moreira que, â&#x20AC;&#x153;em nosso paĂs, quem examinar os acĂłrdĂŁos proferidos, KPENWUKXG RGNQU VTKDWPCKU UWRGTKQTGU XGTKĹżECTÂś SWG PC ITCPFG OCKQTKC C HWPFCOGPVCĂ ÂşQ FÂś UKPIWNCT TGCNEG ´ GZKUVĂ&#x201E;PEKC FG FGEKUĂ?GU CPVGTKQTGU SWG JCLCO TGUQNXKFQ CU SWGUVĂ?GU FG FKTGKVQ CVKPGPVGU ´ GURĂ&#x192;EKG sub iudice. NĂŁo raro, a motivação reduz-se ´ GPWOGTCĂ ÂşQ FG RTGEGFGPVGU Q VTKDWPCN FKURGPUC UG FG CPCNKUCT CU TGITCU NGICKU G os princĂpios jurĂdicos pertinentes - operação que estaria obrigado, a bem da verdade, nos termos do art. 458, P ++ FQ %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ %KXKN CRNKEÂśXGN CQU CEĂ&#x17D;TFÂşQU PQU VGTOQU FQ CTV G UWDUVKVWK Q UGW RTĂ&#x17D;RTKQ TCEKQEĂ&#x2C6;PKQ RGNC OGTC KPXQECĂ ÂşQ FG LWNICFQU CPVGTKQTGUĹ&#x2019; /14'+4# ,QUĂ&#x192; %CTNQU $CTDQUC 5Ă&#x2022;OWNCU LWTKURTWFĂ&#x201E;PEKC RTGEGFGPVG: uma escalada e seus riscos. SĂŁo Paulo: Saraiva, 2007. Temas de direito processual (nona sĂŠrie). p. 300. 564'%- .GPKQ .WK\ HermenĂŞutica jurĂdica e(m) crise: uma exploração hermenĂŞutica da construção do FKTGKVQ GF 2QTVQ #NGITG .KXTCTKC FQ #FXQICFQ R 6*'1&141 ,Â0+14 *WODGTVQ GV CN Novo CPC: fundamentos e sistematização. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 353. )11&*#46 #TVJWT . 6JG TCVKQ &GEKFGPFK QH C %CUG +P ,74+5247&'0%' KP CEVKQPG C RGNCFGTyU Anthology. New York: Baker, Voorhis & Co. Inc., 1953. p. 222. 58 Trata-se de um modo peculiar de conceber a aplicação do direito no âmbito da civl law, que tem sido objeto FG ETĂ&#x2C6;VKEC JÂś OCKU FG OGKQ UĂ&#x192;EWNQ EQOQ UG XĂ&#x201E; GO )166*'+. ,WNKQ Common law y civil law; el common law y nuestro sistema juridico. Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1960. p. 100. 59 ANZON, Adele. Il valore de precedente nel giudizio sulle leggi. Milano: Giuffrè, 1995. p. 57. %1.' %JCTNGU & 5VCTG FGEKUKU PC EWNVWTC LWTKFKEC FQU GUVCFQU WPKFQU Q UKUVGOC FG RTGEGFGPVG XKPEWNCPVG FQ common law. Revista dos Tribunais, SĂŁo Paulo, v. 752, p. 15, 1998. 6*1/2510 &QPCNF +N RTGEGFGPVG IKWFK\KCTKQ PGN FKTKVVQ EQPUVKVW\KQPCNG KPINGUG +P .# &1664+0# del precedente nella giurisprudenza della corte costituzionale. A cura di Giuseppino Treves. Torino: Unione 6KRQITœſEQ 'FKVTKEG 6QTKPGPUG R .12'5 (+.*1 ,WTCEK /QWTÂşQ Os precedentes judiciais no constitucionalismo brasileiro contemporâneo. GF 5CNXCFQT 'FKVQTC JusPodivm, 2016. p. 27. 6*'1&141 ,Â0+14 *WODGTVQ GV CN Novo CPC: fundamentos e sistematização. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
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O dever de fundamentação das decisĂľes judiciais sob o olhar da crĂtica hermenĂŞutica do direito
THE DUTY TO PRESENT THE REASONING OF JUDICIAL DECISIONS UNDER HERMENEUTICAL CRITIC OF THE LAW ABSTRACT Although the duty to present judicial reasoning constitutes a guarantee against the discretion of judges and courts, many conceptions about it have been serving to reinforce â&#x20AC;&#x153;decisionismâ&#x20AC;? and arbitrariness. In view of the situation, the present essay seeks to offer, under the perspective of the *GTOGPGWVKECN %TKVKE QH VJG .CY C EQWPVGTRQKPV VQ VJGUG YGCM XGTUKQPU of the duty to present judicial reasoning, defending a duty to present a complete judicial based on the law, respecting, thereby, its autonomy, constituting a democratic thus respecting, as such, judicial autonomy and building a democratic enterprise in which the judge must make an effort to show that the decision in question is the best (and constitutionally adequate) for the concrete case. Keywords: &WV[ VQ RTGUGPV LWFKEKCN TGCUQPKPI #WVQPQO[ QH VJG .CY *GTOGPGWVKECN %TKVKE QH VJG .CY
Submetido: 3 abr. 2017 Aprovado: 26 abr. 2017
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doi:10.12662/2447-6641oj.v15i20.p180-206.2017
CONSTITUTIONAL DESIGN AND THE BRAZILIAN JUDICIAL REVIEW: REMARKS ABOUT STRONG AND WEAK-FORM REVIEW IN THE BRAZILIAN FEDERAL SUPREME COURT Marco Antonio Loschiavo Leme de Barros* 1 Introduction. 2 The Brazilian judicial review system, STF and the strong-form review. 2. 1 A brief overview on the history of the Brazilian judicial review. 2.2 STF and the strong-form review in practice. 3 Variations of a weak-form review in Brazil. 3.1 The writ of injunction (mandado de injução). 3.2 The action of unconstitutionality by omission (ação declaratória de constitucionalidade por omissão). 4 The outcomes of a judiciary reform without a political reform in Brazil. 5 Final remarks. References.
ABSTRACT This paper discusses the constitutional design model of judicial review estaDNKUJGF KP VJG $TC\KNKCP (GFGTCN %QPUVKVWVKQP VJTQWIJ VJG ENCUUKÅ¿ECVKQP model of strong and weak judicial review forms, generally applied to the Commonwealth countries. Since the end of the military dictatorship in the late 1980s, Brazil has been following a strong judicial supremacy with a hybrid judicial-review system concentrated very much in the Federal Supreme Court. Nevertheless, this paper argues that at the structural level Brazilâ&#x20AC;&#x2122;s constitutional design could be understood to operate in a weak-form judicial review, where VJG 0CVKQPCN %QPITGUU KU ITCPVGF VJG Å¿PCN YQTF QP EQPUVKVWVKQPCN OCVVGTU KP some situations. This conclusion is reached by analyzing some constitutional provisions and rulings. Despite the fact that Congress rarely overrides â&#x20AC;&#x201C; in a responsive manner â&#x20AC;&#x201C; the Brazilian Federal Supreme Courtâ&#x20AC;&#x2122;s judicial review decisions due to political costs and agenda commitments, I argue that Brazilâ&#x20AC;&#x2122;s YGCM HQTO ECP DG GZGORNKÅ¿GF VQ UQOG GZVGPV D[ JKIJNKIJVKPI VJG GHHGEVU QH VYQ different and original constitutional actions: the indirect and concrete judicial review by the writ of injunction (mandado de injunção), to protect fundamental rights, and the direct and abstract judicial review by the declaration action of unconstitutionality by omission (ação declaratória de constitucionalidade por omissão $QVJ NGICN CEVKQPU VTCPUHGT VQ VJG NGIKUNCVQT VJG Å¿PCN YQTF CDQWV constitutional issues and some empirical evidence indicates that during the 1990s the Court had a self-contained performance regarding revision power *
3K' &DQGLGDWH DW WKH 8QLYHUVLW\ RI 5ºQ 2CWNQ .CY 5EJQQN (& 752 ( PDLO PDUFRORVFKLDYR#JPDLO FRP! 6JKU RCRGT YCU ITCPVGF D[ VJG 5ºQ 2CWNQ 4GUGCTEJ (QWPFCVKQP (#2'52 CPF YTKVVGP FWTKPI O[ XKUKVKPI TGUGCTEJ UVC[ CV 7PKXGTUKV[ QH %CNKHQTPKC Å&#x152; .QU #PIGNGU 7%.# 5EJQQN QH .CY + YQWNF NKMG VQ VJCPM VJG comments of Professor Stephen Gardbaum, the peer reviews and the review assistance of Kevin Massoudi.
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Constitutional Design And The Brazilian Judicial Review: Remarks About Strong And Weak-Form Review In The Brazilian Federal Supreme Court
in light of constitutional omissions cases. Finally, the major goal of this paper is to enter into dialogue with the literature of the weak-form judicial review and to encourage a new discussion of application and debate of the model. After all, in an optimal constitutional rule-of-law design, not only do judges play an important role, but the participation of the legislature and executive branch are also required. Keywords: Constitutional Design. Brazilian Federal Supreme Court. Strong-Form Review. Weak-Form Review.
1 INTRODUCTION The Brazilian Federal Supreme Court (STF) has always been an important player in Brazilian society, it has been decisive not only in legal matters, but also in political, economic and social issues in the last decades. Created at the beginning of the Republic in 1981, the Court was always the highest judicial body and it is known as the safeguard of the 1988 Federal %QPUVKVWVKQP %( %WTTGPVN[ KVU LWTKUFKEVKQP KU FGĹżPGF KP #TVKENG QH VJG %( VJCV establishes a division between constitutional original jurisdiction and an extraordinary appeal LWTKUFKEVKQP +P DTKGH 56( JCU VJG NCUV YQTF QP OCP[ EQPUVKVWVKQPCN KUUWGU CPF KU CNUQ VJG ĹżPCN appellate instance in the Brazilian legal system. &GURKVG VJG HCEV VJCV VJG %QWTV UWHHGTU WPFGT KVU KOOGPUG YQTMNQCF KV FQGU PQV DGPGĹżV from the writ of certiorari - since the end of dictatorship in the late 1980s, STF started to play a direct role in the political system. In recent years the Court decided several important political controversies vis-Ă -vis legislative inaction situations, such as the recognition of same sex civil unions, the right to abortion in certain cases (like in pregnancies of fetuses with anencephaly), the implementation of public health programs, the recognition of several CHĹżTOCVKXG CEVKQPU CPF OQUV TGEGPVN[ GPUWTKPI VJG NGICN EQPVTQN QH VJG 5GPCVGĹ?U FGEKUKQP about the President impeachment process. Brazilian scholarship indicates many reasons for the increased participation of STF in the political arena. We can highlight the redesign of Brazilian judicial-review by CF/88 and #OGPFOGPV '% MPQYP CU Ĺ&#x2018;VJG ,WFKEKCT[ 4GHQTOĹ&#x2019; YJKEJ KPETGCUGF VJG RQYGTU QH VJG %QWTV D[ ĹżZKPI PGY EJCPPGNU VJTQWIJ YJKEJ CP[ EKVK\GP EQWNF RTQXKFG C FKTGEV ENCKO 1 the open texture of the constitutional provisions, mainly with the incorporation of principles that facilitates political debates in the judiciary;2 the redemocratization process after the military dictatorship, which facilitated the thematization of certain matters in the courts;3 strategic litigation of political opposition who sees STF as an opportunity to reverse political decisions;4 and some rulings of the Court that strengthened and expanded its power in the last years.5 We can further notice that the political role of STF - carried out by proactive decisions - was built from the social frustrations in recent decades in the country. Annual
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public opinion surveys and databases, like LatinobarĂłmetro QT Â PFKEG FG %QPĹżCPĂ C PC ,WUVKĂ C brasileira /ICJBrasil TGXGCN VJCV VJG .GIKUNCVWTG CPF VJG 'ZGEWVKXG CTG KPUWHĹżEKGPVN[ TGsponsive in relation to the demands of citizens and there is a strong common belief among society that the Judiciary is the last and only legitimate alternative for the solution of political problems in Brazil.6 Nevertheless, the emphasis of these analyses has fallen thus on certain bias of empirical variables of the social demands in the Judiciary. We must highlight that many cases do not reach the Court due to costs and many judicial review cases are often captured by middleENCUU KPVGTGUVU VJWU KV KU CNUQ XGT[ FKHĹżEWNV VQ CUUGTV VJG UQEKCN XCNKFKV[ D[ HTCOKPI ECUGU 5VTKEVN[ speaking, Brazilian constitutional history indicates that courts have been more reactive towards the protection of property and civil rights and very deferential toward the government position rather than adjudicating social and economic rights or promoting social justice. Despite this practical perspective about judicial review, if we take a closer look at the constitutional structure, not all mechanisms of judicial review operate on the basis of a strong-from judicial review in which STF has the monopoly on the last word of a constitutional matter. Such mechanisms, on the contrary, suggest that the ideal operation would DG VQ UWUVCKP C FKCNQIWG YKVJ VJG 'ZGEWVKXG DTCPEJ CPF VJG .GIKUNCVKXG QT VTCPUHGTTKPI KP UQOG ECUGU VJG ĹżPCN FGEKUKQP VQ VJG .GIKUNCVWTG CPF OKPKOK\KPI VJG VGPUKQP DGVYGGP VJG countermajoritarian judicial control and the democratic decision-making. From this last perspective, the paper discusses how in some situations it would be more suitable for the Brazilian high court to operate in a weak-form judicial-review, in the manner described by Mark Tusnhnet or Stephen Gardbaum as the new experience of constitutionalism in some Commonwealth Countries.7 More precisely, in some cases of legislative omission, the Constituent Assembly deliberately attributed the last word to the National Congress, which can strike down certain rulings on constitutional omission by a simple majority vote. This hypothesis is counterintuitive and extremely problematic in view of the current role of STF in Brazilian society. However, the aim of this paper is to indicate that even in a country characterized as a strong judicial review model, there also exist mechanisms that GPEQWTCIG VJG PQP OQPQRQN[ QH VJG ĹżPCN YQTF D[ VJG ,WFKEKCT[ CPF KV KU RQUUKDNG VQ CFFTGUU different arrangements of the weak-form design considering the particularities of the Brazilian legal system.8 6JKU RCRGT RTQRQUGU C FKUEWUUKQP QH VJG YGCM OQFGN KP $TC\KN JKIJNKIJVKPI KVU URGEKĹżEKVKGU and contributing to a more precise and democratic comparative discussion in Constitutional .CY 2CTV ++ RTGUGPVU VJG JKUVQT[ QH LWFKEKCN TGXKGY KP $TC\KN CPF GZRNCKPU VJG TGEGPV UVTGPIthening of the judicial review powers of STF. Part III details how despite the characterization of Brazil as having a strong-form judicial-review system, CF/88 established some mechanisms YJKEJ TGSWKTG LQKPV CEVKQP DGVYGGP VJG ,WFKEKCT[ CPF VJG .GIKUNCVKXG CPF KP UQOG ECUGU JCU granted National Congress the last word on constitutional matters. In this part, I argue the
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possibility of applying the weak form in Brazil by discussing some empirical data, especially in the 1990s when STF had self-contained performance regarding revision power in face of constitutional omissions cases. Part IV explains that in practice and considering the reckless RQUKVKQP QH VJG .GIKUNCVWTG UWEJ OGEJCPKUOU JCXG CNUQ EQPVTKDWVGF VQ VJG UVTGPIVJGPKPI of the Courtâ&#x20AC;&#x2122;s power after â&#x20AC;&#x153;the Judiciary Reformâ&#x20AC;? in 2004. Nonetheless, the analysis of the strengthening of STF in recent years must be accompanied by the study of the political TGHQTO FGDCVG 2CTV 8 ĹżPCNN[ UVTGUUGU VJCV KP CP QRVKOCN LWFKEKCN TGXKGY FGUKIP PQV QPN[ FQ LWFIGU RNC[ CP KORQTVCPV TQNG DWV VJG RCTVKEKRCVKQP QH VJG .GIKUNCVWTG CPF QVJGT DTCPEJGU of government is also required.
6*' $4#<+.+#0 ,7&+%+#. 4'8+'9 5;56'/ 56( #0& 6*' 56410)-FORM REVIEW Typically, Brazilâ&#x20AC;&#x2122;s judicial review system is conceptualized as a hybrid between the LWFKEKCN TGXKGY OQFGN QH VJG 7PKVGF 5VCVGU CPF VJG 'WTQRGCP U[UVGOU DWV VJKU KFGC QH NGICN VTCPURNCPV KU YTQPI CPF OKUNGCFKPI FWG VQ VJG UKIPKĹżECPV FKHHGTGPEGU CV VJG UVTWEVWTCN CPF operational level of the Brazilian legal system. All courts in Brazil have the judicial review power in concrete cases, yet only STF has the direct power of striking down statutes and executive acts. #FFKVKQPCNN[ KV KU FKHĹżEWNV VQ ĹżPF C PGEGUUCT[ GSWKXCNGPV KP VJG 75 QT 'WTQRGCP OQFGNU QH UQOG URGEKĹżE OGEJCPKUOU CPF RTCEVKEGU QH VJG $TC\KNKCP ECUG KH YG EQPUKFGT VJG EWNVWTCN CPF JKUVQTKECN FKHHGTGPEGU QH VJG FGXGNQROGPV QH 2WDNKE .CY $TC\KN YKVPGUUGF C UKIPKĹżECPV expression of social and economic rights, re-distributional policies and public welfare-directed regulation that heavily impacted the judicial review design model in the CF/88. This part highlights the history of the development of Brazilian judicial control and explains some of the actual tensions that STF deals with in the strong-form judicial review. # $4+'( 18'48+'9 10 6*' *+5614; 1( 6*' $4#<+.+#0 ,7&+%+#. 4'8+'9 Brazil has had eight different constitutional experiences,9 with its current version of judicial review developing into what has been called a â&#x20AC;&#x153;hybrid model.â&#x20AC;? The 1824 Imperial Constitution did not have any provision regarding judicial review and it was only in 1890, with the first Republican Constitution, that the US review system was adopted â&#x20AC;&#x201C; it was the famous diffuse model, carried out by all courts that were responsible for constitutional control.10 Decree no. 848, of 1890, organized federal justice in Brazil and expressly provided the possibility that any court could declare the unconstitutionality of a statute. This initial $TC\KNKCP TGXKGY U[UVGO WPFGTYGPV UQOG OQFKĹżECVKQP YKVJ VJG RTQOWNICVKQP QH VJG
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Constitution, which added the direct action of unconstitutionality intervention (ação direta de inconstitucionalidade interventiva 6JKU CEVKQP UQWIJV VQ UQNXG VJG HGFGTCVKXG EQPĆ&#x20AC;KEVU KP VJG country and was to be requested exclusively by the Senate. Whenever there was a necessity for federal intervention, that action was to be carried out by a legal act and would have to be submitted to the prior control by the senators. A second model was established by the 1937 Constitution that provided a new constitutional control by Congress, who could overrule a STF decision by a two-third majority vote. In practice, this turned out to be a powerful mechanism for the authoritarian regime of GetĂşlio Vargas, since the Congress remained closed during the Estado Novo (1937-1945) and the government assumed the legislative veto power of STF decisions. Nonetheless, it was during the 1946 Constitution regime, more precisely with Amendment 16/1965, that the representation of unconstitutionality was established. This action inaugurated the abstract model of judicial review in the country with a special proceeding that later become known as the direct action of unconstitutionality (ação direta de inconstitucionalidade - ADI), to be initiated exclusively by the Attorney General of the Republic and decided by STF. Thus, since 1965, Brazil has had a hybrid judicial review system. In the abstract model, STF rulings have ex-tunc, erga omnes and binding effect on the whole ,WFKEKCT[ CPF 'ZGEWVKXG DTCPEJGU CPF WPFGT VJG FKHHWUG OQFGN CP[ EQWTVĹ?GXGP VJG 56( as a court of appeal - can decide any constitutional issue incidenter tantum and operate extunc and inter partes effect. It is important to highlight that in both models the effects of the FGEKUKQP FQ PQV TGCEJ VJG .GIKUNCVKXG The 1988 Constitution brought four innovations to the hybrid model: 1) the expansion of standing for the proposal of the direct action of unconstitutionality11 and extinguishing the monopoly of the Attorney General; 2) allowing states to institute unconstitutionality representations of state statutes in light of state constitutions; 3) new forms of abstract review, such as the claim of breach of fundamental precept (arguição de descumprimento de preceito fundamental) - a direct action to protect principles present in the Constitution - and the direct action of constitutionality (ação direta de constitucionalidade) - a direct action that declares constitutional any law or federal norm about which there is controversy or relevant doubt as to the constitutional interpretation; and 4) the judicial review of legislative omission cases, in abstract form, by the direct action unconstitutionality by omission (ação declaratĂłria de constitucionalidade por omissĂŁo - ADI by omission), or incidentally, by the concrete control in the case of a writ of injunction (mandado de injunção - MI) - both cases which are examined in this paper. 6JG NCUV OCLQT OQFKĹżECVKQPU QP VJG J[DTKF OQFGN YGTG DTQWIJV D[ '% YJKEJ VTCPUformed the concrete review model in Brazil. This reform - discussed at length in the 1990s by Brazilian politicians, economists and jurists - was marked by a rationalizing discourse and QPG QH KVU OCKP IQCNU YCU VQ QXGTEQOG UQOG UGXGTG QDUVCENGU KP VJG ,WFKEKCT[ VJCV TGĆ&#x20AC;GEVGF
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into the economic development of the country, such as the legal uncertainty and the lack of predictability of judicial decisions. +P VJG ECUG QH LWFKEKCN TGXKGY VJG TGHQTO ETGCVGF C PGY ĹżNVGT HQT VJG EQPUVKVWVKQPCN concrete review in appeal cases, called general repercussion regime (repercussĂŁo geral)12, and the possibility for STF to issue binding precedents (sĂşmulas vinculantes).13 The purpose of these mechanisms was to impart greater effectiveness to the decisions of STF when deciding cases in which there was an important divergence among judicial bodies or between such DQFKGU CPF VJG 'ZGEWVKXG DTCPEJ 5WEJ OQFKĹżECVKQPU UVTGPIVJGPGF VJG %QWTVĹ?U TGXKGY RQYGT GXGP OQTG YJKEJ PQY JCU a quasi-legislative function, and the possibility to control the docket in appeal cases when FGEKFKPI KP VJG EQPETGVG TGXKGY OQFGN 0QVYKVJUVCPFKPI QXGT C FGECFG CHVGT '% VJGTG is still no consensus on whether these mechanisms responded positively to the problem of legal uncertainty and the predictability of judicial decisions in Brazil. The Courtâ&#x20AC;&#x2122;s workload continues to grow each year and issuance of binding precedent by STF is a very controversial KUUWG YJGP EQPUKFGTKPI VJG NKOKVU QH C EQWTVĹ?U RQYGTU KP C %KXKN .CY U[UVGO We discuss in the next topic the practical consequences of the strong control of STF. 56( #0& 6*' 56410) (14/ 4'8+'9 +0 24#%6+%' CF/88 has been as much praised as it has been criticized since its promulgation. On the one hand, the constitutional text is known as the â&#x20AC;&#x2DC;citizenâ&#x20AC;&#x2122;s constitution,â&#x20AC;&#x2122; which underscores how the constitutional provisions guarantee freedoms, political participation and access to UQEKCN YGNHCTG 4GICTFKPI VJG J[DTKF LWFKEKCN TGXKGY OQFGN TGEGPV UEJQNCTUJKR EQPĹżTOU CP expansion in relation to constitutional control that is widely accessible to any individual, groups and to political actors. Its critics, on the other hand, particularly those in government, consider it a barrier to economic modernization, political governance, and there is concern about the greater power of STF in judicial review. Given the large provision of social and economic rights, the Brazilian constitutional text is one of the worldâ&#x20AC;&#x2122;s longest written constitutions â&#x20AC;&#x201C; according to data from Comparative Constitutions Project, if we consider length (in words) as criteria, the CF/88 (with 64.488 words) is just behind the Constitution of India (146.385) and Nigeria (66.263).14 Another KPVGTGUVKPI CURGEV QH %( KU VJCV KV JCU EQPUVKVWVKQPCNK\GF FKHHGTGPV CTGCU QH .CY UWEJ CU 2TKXCVG .CY 6CZ .CY CPF %TKOKPCN .CY 6JGTGHQTG CNOQUV CNN CTGCU PQY DGHCNN WPFGT VJG control of judicial review. (QT $TC\KNKCP UEJQNCTU VJKU EQPUVKVWVKQPCN RTQĹżNG EQPUVTCKPU VJG IQXGTPOGPVCN CIGPFC and forces rulers to form broad parliamentary alliances in order to change â&#x20AC;&#x153;constitutionalized policies.â&#x20AC;?15 Undoubtedly, the fact that a third of the Constitution consists of constitutionalized policies has a strong impact on presidential agendas and has historically forced successive
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governments to rule by changing the constitutional framework via amendments16 or even by the judicial review mechanisms. In short, the policy-oriented constitution was a powerful incentive to strengthen court power over the last decade simply because any policy issue may come under scrutiny during judicial review. The current Brazilian model combines a policy-oriented constitution and a strong-form judicial review control carried out by STF. However, despite the fact that STF has so much power in Brazil, constitutional control is not exclusively in the hands of the Court, since there are also provisions of prior and RTGXGPVKXG EQPVTQN GZGTEKUGF D[ VJG .GIKUNCVKXG CPF VJG 'ZGEWVKXG DTCPEJGU 6JG NGIKUNCVKXG control works through its mandatory committee (ComissĂľes de Constituição e Justiça) that constantly analyzes the constitutionality of bills in the legislative process. In the case of the 'ZGEWVKXG EQPVTQN QEEWTU YKVJ RTGUKFGPVKCN XGVQ RQYGT 17 Another aspect to consider about the strong review control in Brazil has to do with its low functionality in practice, especially if we compare with the Colombian Supreme Court FGEKUKQPU VJCV U[UVGOCVKECNN[ EJCNNGPIG VJG 'ZGEWVKXG 18 Matthew Taylor argues, for instance, VJCV 56( JCU UQOG FKHĹżEWNV[ VQ KPVGTXGPG QP KORQTVCPV RQNKE[ OCVVGTU OCKPN[ DGECWUG QH VJG practical weakness of binding precedents and the formalism within the Brazilian civil law system that usually incentivizes a longer case duration.19 In addition, there is in the country CP GPFNGUU CRRGCNU RTQEGUU VJCV TGĆ&#x20AC;GEVU QP VJG OCLQT YQTMNQCF QH VJG %QWTV An important report, Supremo em NĂşmeros,20 that analyzed 1,222,102 cases in STF from 1988 until 2009, revealed that almost 92 percent of cases of the Court were appeal cases and less than 1 percent were abstract judicial review cases. Quantitatively speaking STF is not a typical constitutional court, but rather it works more like a â&#x20AC;&#x153;supreme appellate court.â&#x20AC;? Table 1 - Cases in STF from 1988 to 2009 Cases
Quantity Percentage
Abstract judicial review
6,199
0,51%
Ordinary Appeal
95,306
7,80%
'ZVTCQTFKPCT[ #RRGCN
1,120,597
91,69%
Source: Supremo em NĂşmeros.
STF is deeply different from classical constitutional courts, since the Court decide cases that go beyond the classical judicial review model and are part of and dependent on the ordinary legal structure. Under VĂctor Comellaâ&#x20AC;&#x2122;s argument of the dualist structure that makes room for institutional variation of constitutional courts, for instance, STF could be ENCUUKĹżGF CU KORWTG CPF PQV CWVQPQOQWU 21
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Thus, one problem for a crystal-clear assessment of the constitutional control carried out by STF and the debate of the weak-form is that among those 92% of extraordinary appeal cases, some had outcomes as typical judicial review decision. Nevertheless, those outcomes occurred frequently and, in an incidental manner in STF, originated from appeal cases and were controlled exclusively by its Justices - there is no constitutional provision establishing any kind of institutional mechanism for a possible control of the Congress in such concrete judicial review situations. +P CFFKVKQP FGURKVG VCMKPI RCTV KP KORQTVCPV FKURWVGU QH UQEKCN CPF RQNKVKECN EQPÆ&#x20AC;KEVU the docket of STF in abstract control has been taken by cases related to the delineation of public careers, or cases about the expansion or restraint of state bureaucracy prerogatives. According to Brazilian scholar Oliveira, STF has played the role of a true state corporate FGNKDGTCVKQP DQF[ FGEKFKPI U[UVGOCVKECNN[ KP HCXQT QH VJG 'ZGEWVKXG 22 In the same way, anQVJGT TGUGCTEJ HTQO -CRKU\GYUMK EQPÅ¿TOGF VJCV 56( RNC[U C UVCVGUOCP EJCTCEVGT CTIWKPI that the Court usually accommodates the interests of elected leaders in its rulings.23 When analyzed in practice, the decisions of STF in abstract control - again, which represent less than 1 percent of the Courtâ&#x20AC;&#x2122;s workload â&#x20AC;&#x201C; showcase a great deference of the Court towards the governmentâ&#x20AC;&#x2122;s positions, since most cases are related to the stateâ&#x20AC;&#x2122;s bureaucracy. 6JKU EQPÅ¿TOU VJCV KP RTCEVKEG VJG %QWTV FGEKFGU OQTG CDQWV EQPUVKVWVKQPCN PGICVKXG TKIJVU compared to decisions on constitutional positive duties and collective rights.24 Moreover, it is important to highlight that many decisions in abstract control decisions are usually denied â&#x20AC;&#x201C; through 2015, 77 percent of STF judgements in abstract review were PQV ITCPVGF YJKEJ WPFGTUEQTGU VJG FKHÅ¿EWNVKGU QH EJCTCEVGTK\KPI VJG %QWTV CU VTWN[ CEVKXKUV Granted
Partially granted
Denied
Impaired
2% 17% 4%
77%
Chart 1 - Judgments by STF in abstract judicial review from 1990 to 2015 Source: STF Database.
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To sum up, we will have a misleading picture of how STF operates de facto if we consider it only as a strong-form judicial review court. Historically the Court has been very deferential to the government and the clear majority of cases decided in abstract judicial-review were not granted; still it is important to highlight again that this represents less 1 percent of the Courtâ&#x20AC;&#x2122;s workload and that most decisions of unconstitutionality occur rather in an incidental manner as outcomes from decisions of extraordinary appeal cases. In the next part, if we take a closer look at the constitutional structure, the current constitutional jurisdiction reveals its originality and diversity in terms of different mechanisms to protect fundamental rights and to control the constitutionality of statutes. As an example of this originality and diversity framework, I discuss the control of constitutionality by omission cases highlighting that this is not an exclusive process that depends only on the Court in Brazil. On the contrary, it requires the participation of the National Congress for settling down problems. This case interestingly indicates that, at the structural level, strong and weak-forms can coexist in a legal framework of judicial review. What this paper suggests KU VJG PGGF HQT C TGÅ¿PGOGPV TGICTFKPI VJG FGUETKRVKXG UKVWCVKQP CPF HQT WPFGTUVCPFKPI VJG real tensions that exist in the judicial review system in Brazil. Finally, it will be possible to SWGUVKQP VJG UVTKEV CPF PQP Æ&#x20AC;GZKDNG EQPUVKVWVKQPCN FGUKIP OQFGNU QH LWFKEKCN TGXKGY
3 VARIATIONS OF A WEAK-FORM REVIEW IN BRAZIL 6JG KORQTVCPV FGDCVG KP %QORCTCVKXG %QPUVKVWVKQPCN .CY TGICTFKPI UVTQPI CPF YGCM HQTO LWFKEKCN TGXKGY JCU PGXGT DGGP RQRWNCT COQPI $TC\KNKCP %QPUVKVWVKQPCN .CY UEJQNCTUJKR just as the classical distinction between abstract and concrete model. In the long run, it KU RQUUKDNG VQ CHÅ¿TO VJCV VJKU FGDCVG JCU JCF C ITGCV KORCEV KP 'PINKUJ URGCMKPI EQWPVTKGU especially to differentiate and criticize the supremacy of the US judicial review system when compared to other models that exist in countries such as Canada, the United Kingdom and 0GY <GCNCPF YJGTG CV C UVTWEVWTCN NGXGN VJG Å¿PCN EQPUVKVWVKQPCN KPVGTRTGVCVKQP TGUVU YKVJ VJG .GIKUNCVWTG 25 A possible reason for the recent and small debate about the strong and weak-form models in Brazil has to do with the fact that there is a quasi-unanimous understanding among the Brazilian legal community regarding that the strong-form is the best normative solution for the country26 and a great deal of scholarship positively evaluate the Courtâ&#x20AC;&#x2122;s role as the legitimate channel for social transformation for excluded sectors in the country.27 This evaluation is mostly supported by empirical data of the Brazilian society regarding the DGPGÅ¿EKCN QWVEQOGU QH VJG RTQCEVKXG FGEKUKQP QH 56( vis-Ã -vis the reckless actions by the 'ZGEWVKXG CPF VJG .GIKUNCVKXG DTCPEJGU VQ KORNGOGPV RWDNKE RQNKEKGU Despite the importance of these studies, they miss important aspects present in the strong and weak-form debate about constitutional design.28 This debate embodies different
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ways to structure judicial review and discuss how courts and legislatures can relate to each other. In this sense the legitimacy problem of judicial-review remains largely unabated by the Brazilian legal scholarship. 6JG UVTQPI CPF YGCM HQTO FGDCVG KP %QORCTCVKXG %QPUVKVWVKQPCN .CY JKIJNKIJVU C common concern about the design options and the everyday operation of the Judiciary and .GIKUNCVWTG 6JG DCUKE RTGOKUG KU VQ WPFGTUVCPF VJCV KP CP QRVKOCN EQPUVKVWVKQPCN TWNG QH NCY design not only do judges play an important role, but it also requires the participation of the .GIKUNCVWTG CPF VJG QVJGT DTCPEJGU QH IQXGTPOGPV 6JWU KV KU KORQTVCPV VQ WPFGTUVCPF JQY normative theorists and constitutional drafters deal with this equilibrium at the structural level. Brazil is an interesting case to discuss because even if much of the normative output YCU VQ EQPĹżTO VJG NCUV YQTF VQ 56( KP UQOG UKVWCVKQPU VJG 0CVKQPCN %QPITGUU JCU DGGP granted the last word. The Brazilian legislature can strike down certain rulings by a simple majority when considering constitutional omission cases or even decide directly the same cases without the interference of STF. This is not a simple truism that every legislature may take decisions without judicial interference â&#x20AC;&#x201C; as derived from the principle of the separation of powers. What I argue is UWDUVCPVKCNN[ FKHHGTGPV CPF TGNCVGF YKVJ EQPUVKVWVKQPCN FGUKIP 'XGP VJQWIJ VJG FKCNQIWG CPF KPVGTCEVKQP DGVYGGP LWFIGU CPF NGIKUNCVQTU JCU PQV DGGP UWHĹżEKGPVN[ KPUVKVWVKQPCNK\GF KP $TC\KN legislative backlash spontaneously occurs29 and there is still a need for further regulation and protection for a better interaction â&#x20AC;&#x201C; just as pointed out by the recent debate about the FTCHV HQT %QPUVKVWVKQPCN #OGPFOGPV P QH 2'% YJKEJ CVVGORVGF VQ OQFKH[ the judicial review system in Brazil,30or even for a better control of the judicial review as outcomes from extraordinary appeal decisions. This situation can be highlighted in practice with some procedural mechanisms of the $TC\KNKCP %QPUVKVWVKQPCN .CY CPF VJG LWFKEKCN TGXKGY U[UVGO In a very straightforward way, these mechanisms require a relevant role of the National Congress, especially in response to decisions of the action of unconstitutionality by omission (ação declaratĂłria de constitucionalidade por omissĂŁo - ADI by omission) and the writ of injunction (mandado de injução - MI). These are constitutional instruments that address the problem of legislative omission and the effectiveness of the constitutional text in Brazil. In such cases, there is no conclusive or final world of the Court, because there is still a pressing need for participation and decision-making of the National Congress. STF rulings in ADI by omission or in MI are provisional and can be easily displaced by a simple majority in Congress. In the next two topics, we discuss in detail these two mechanisms.
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6*' 94+6 1( +0,70%6+10 MANDADO DE INJUĂ&#x2021;Ă&#x192;O) CF/88 establishes a series of express fundamental rights, from individual and collective to social and economic. Most of these are established in Title II of the charter. In BraziNKCP %QPUVKVWVKQPCN .CY CNN VJG RTQXKUKQPU FGĹżPKPI HWPFCOGPVCN TKIJVU CPF IWCTCPVGGU CTG immediately applicable, however in some cases the Constituent Assembly established the need for a regulatory legal act in order so as to give full effective force for the constitutional provision. A good example of this situation is the right of public servants to strike. In order VQ HWNN[ GZGTEKUG VJKU UQEKCN TKIJV VJG EQPUVKVWVKQPCN VGZV TGSWKTGF URGEKĹżE TGIWNCVKQP VJCV FGĹżPGU VJG OCPPGT CPF VJG NKOKVU QH VJG UVTKMG #TVKENG 8++ To protect this and many other fundamental rights that still depend on regulation CPF UWHHGT YKVJ VJG QOKUUKQP QH VJG .GIKUNCVWTG QT VJG 'ZGEWVKXG %( KP CTVKENG th .::+ states that â&#x20AC;&#x153;a writ of injunction (MI) shall be granted whenever the absence of a regulatory provision disables the exercise of constitutional rights and liberties, as well as the prerogatives inherent to nationality, sovereignty and citizenship.â&#x20AC;? MI is a â&#x20AC;&#x153;constitutional remedyâ&#x20AC;? - just like habeas corpus, writs of mandamus and habeas data VJCV URGEKĹżECNN[ FGCNU YKVJ VJG RTQblem of the infectivity of fundamental rights provisions in concrete cases. Thus, whenever a fundamental right cannot be exercised because it has not yet been enacted or regulated D[ C NGICN CEV CP[ KPFKXKFWCN JCU UVCPFKPI VQ ĹżNN C YTKV QH KPLWPEVKQP 6JGTG CTG VYQ DCUKE CUUWORVKQPU HQT ĹżNKPI C YTKV VJG GZKUVGPEG QH C HWPFCOGPVCN TKIJV CPF VJG PQP GZKUVGPEG QH C TGIWNCVQT[ RTQXKUKQP QH VJKU HWPFCOGPVCN TKIJV 6JG TGEGPV .CY 13.300/2016 regulates the writ procedure and the main result of STF decision is the declaration of legislative inaction (mora legislativa). In this case, the Court determines a reasonable time for the responsible body to regulate the issue. The regulation, in a broad sense, must establish the conditions under which it will be possible to exercise said rights, freedoms or claimed prerogatives. It is worth noting that MI can have some similarities with structural interdict or injuncVKQPU TGOGFKGU KP %QOOQP .CY EQWPVTKGU UKPEG DQVJ FGCN YKVJ KPUVKVWVKQPCN KPCEVKQP 31 However, there are important differences that make MI very distinctive. MI is an individualized remedy that deals with the problem of non-regulation in a concrete case - a constitutional QDNKICVKQP QH VJG .GIKUNCVWTG 6JGTG KU PQ UWRGTXKUQT[ LWTKUFKEVKQP PGKVJGT KP VJG HQTO QH CP order for the government to present a plan or to report back after the implementation of a program. Nevertheless, both mechanisms do not necessarily involve excessive interference YKVJ VJG QVJGT RQYGTU CPF /+ URGEKĹżECNN[ YCU FGUKIPGF VQ ITCPV VJG ĹżPCN YQTF VQ VJG 0Ctional Congress. During the 1990s, one of the most controversial points regarding MI was to know the effects and extension of the court decision, especially towards the legislature. There has been a transformation in the rulings of STF about this matter, from a more self-contained to a more active adjudication regarding the statement of legislative delay.
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From 1988 until the early 2000s, the predominant position of the Court when the YTKV YCU ITCPVGF YCU QPN[ VQ EQOOWPKECVG VQ VJG 'ZGEWVKXG QT .GIKUNCVWTG CDQWV VJG omission. In this position, STF argued that it was important to defend the strict principle of separation of powers and sustained that it could not regulate the constitutional right or determine the application by analogy of one case that already existed to regulate similar situations. 6JG HCEV KU VJCV VJG %QWTV UWHHGTU HTQO VJG RTQDNGOU QH CP KPCDKNKV[ VQ FGĹżPG TGIWNCVG and decide cases of legislative omission, mainly because the complexity of the issues that IQGU DG[QPF OGTG NGICN TGCUQPKPI +P VJKU UGPUG 56( VTCPUHGTTGF VJG ĹżPCN FGEKUKQP CDQWV VJG EQPUVKVWVKQPCN OCVVGT VQ VJG NGIKUNCVQT YJQ JCU VJG FKUETGVKQP VQ ĹżZ CPF VCKNQT VJG UKVWCVKQP according to the democratic process. #P KORQTVCPV ECUG VJCV TGĆ&#x20AC;GEVU VJKU RQUKVKQP YCU /+ VJCV FKUEWUUGF YQTM UVCDKNKV[ in the military. The main argument stated in the case was that the omission object of MI could not be overcome by the Courtâ&#x20AC;&#x2122;s decision since there was a constitutional demand for a political regulation carried out exclusively by Congress - and not an ordinary demand for any kind of regulation. Furthermore, the regulation of work stability of military personnel would impact the governmentâ&#x20AC;&#x2122;s budget and would have far-reaching political consequences that the Court could not assess. STF usually argued that in MI cases the decision should respect the opinion of the Constituent Assembly, so as to give the opportunity for the National Congress to decide VJCV OCVVGT OCKPN[ DGECWUG VJG .GIKUNCVWTG EQWNF FKUEWUU VJG KUUWGU OQTG DTQCFN[ YKVJ VJG Brazilian society and would be institutionally in a better position to decide vis-Ă -vis the Courtâ&#x20AC;&#x2122;s reasoning restrictions. In this sense, Justice Celso de Mello said that â&#x20AC;&#x153;STF could not TGRNCEG VJG .GIKUNCVQT QT 'ZGEWVKXG YJQ YGTG TGHTCKPGF HTQO GZGTEKUKPI KVU PQTOCVKXG RQYGT The very exception of this new legal instrument [MI] requires a strict interpretation of the Court about the constitutional principle of separation of powers.â&#x20AC;?32 It is worth noting that until 2008 the Court carried on with this position and, based on a study33 D[ 2CWNC 4QFTKIWGU 5CDTC HTQO C VQVCN QH /+ ĹżNGF ECUGU YGTG KORCKTGF because the legislative inaction had been overcome by the legislator before the judgment. Thus, STF had a self-constraining position in omission cases, where issues were turned to VJG .GIKUNCVWTG KP QTFGT VQ TGIWNCVG Another interesting fact is that most fundamentals rights that depend on regulation. in $TC\KNKCP %QPUVKVWVKQPCN .CY CTG UQEKCN CPF GEQPQOKE TKIJVU 34 The point is almost intuitive if we consider that social and economic rights depend on policy actions and it is certainly apRTQRTKCVG VJCV VJG 'ZGEWVKXG CPF .GIKUNCVWTG JCXG FKUETGVKQP QXGT VJG KUUWG 9JCV KU TGXGCNGF in the Brazilian Judiciary is that courts have reasoning problems towards the adjudication QH FKUVTKDWVKXG TKIJVU YGKIJKPI RQNKE[ CNVGTPCVKXGU CPF KP ECNEWNCVKPI EQUVU CPF DGPGĹżVU 35
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However, based on legislative research, not a single social or economic right was regulated as a response of a MI case. Sabraâ&#x20AC;&#x2122;s research - framed until 2008 - points out that out of all cases of legislative inaction, 98 percent had no legislative response stemming from a MI decisions.36 Given the low legislative response, and with an almost entirely renewed court composition, STF reviewed its position at the end of 2007, in order to regulate the cases despite Congressional inaction. The paradigmatic decision was MI 721 that discussed the regulation of the right to special retirement of a public servant that exercised for more than twentyĹżXG [GCTU VJG HWPEVKQPU CU CP CUUKUVCPV PWTUG KP C RWDNKE JQURKVCN 4GECNNKPI CTVKENG h QH CF/88, the petitioner pointed out that the lack of regulation made her unable to exercise the right to special retirement due to contact with harmful health agents and infectious diseases and materials.37 During oral argument, Justice Rapporteur Marco Aurelio said that the Court should deal with the consequences of legislative inaction, and the Court regulated the right to special retirement.38 1VJGT RCTCFKIOCVKE ECUGU YGTG /+U CPF ĹżNGF D[ VTCFG WPKQPU QH RWDNKE servants, seeking to ensure the right to strike for their members. The Court held by unanimous decision that the inexistence of regulation of the article 37, VII could not provoke an extreme disadvantage for the servants and determined to apply, when possible, the current law on strikes applicable to private sector workers to those in public service.39 ,WUVKEG 'TQU Grau argued in this case that it was useless just to declare the legislative inaction since this was a constitutional obligation.40 .CUVN[ KV KU YQTVJ PQVKPI VJCV VJKU UJKHV KP VJG DGIKPPKPI QH VJG U KNNWUVTCVGU VJG opportunity that the Court had to act strategically in order to strengthen its political powers at the same time they were deciding particular cases. 6*' #%6+10 1( 70%1056+676+10#.+6; $; 1/+55+10 AĂ&#x2021;Ă&#x192;O DECLARATĂ&#x201C;RIA DE CONSTITUCIONALIDADE POR OMISSĂ&#x192;O) A very similar mechanism to the writ of injunction is the action of unconstitutionality by omission (ação declaratĂłria de constitucionalidade por omissĂŁo - ADI by omission) introduced D[ CTVKENG h YJKEJ UVCVGU Ĺ&#x2018;YJGP WPEQPUVKVWVKQPCNKV[ KU FGENCTGF QP CEEQWPV QH NCEM of a measure to render a constitutional provision effective, the competent Power shall be PQVKĹżGF HQT VJG CFQRVKQP QH VJG PGEGUUCT[ CEVKQPU CPF KP VJG ECUG QH CP CFOKPKUVTCVKXG DQF[ to do so within thirty days.â&#x20AC;? #&+ D[ QOKUUKQP KU CP CDUVTCEV LWFKEKCN TGXKGY OQFGN HQT VJG URGEKĹżE ECUG YJGP VJGTG KU any kind of failure in drawing up legislation in regards to a constitutional provision. The purpose of this constitutional action41 KU VQ HQTOCNN[ FGENCTG VJG .GIKUNCVWTG KPCEVKXG 6JWU CNUQ KP #&+ D[ QOKUUKQP CV VJG UVTWEVWTG NGXGN VJGTG KU C FKTGEV VTCPUHGT QH VJG ĹżPCN YQTF VQ %QPITGUU
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4GICTFKPI VJG GHHGEVU QH VJG FGEKUKQP QH #&+ D[ QOKUUKQP 56( WUWCNN[ PQVKſGU VJG TGURQPUKDNG RQNKVKECN DTCPEJ VQ CFQRV VJG PGEGUUCT[ OGCUWTGU %( URGEKſGU VJCV KP ECUG QH an administrative body, there is a period of 30 days to take the necessary measure. However, for legislative omission, there is no deadline given. Since the establishment of the constitutional provision of ADI by omission in CF/88, NGUU VJCP ECUGU JCXG DGGP ſNGF 42 the vast majority was not granted and there is no notice about any kind of repercussion from the National Congress as a response to a case of an ADI by omission. ADI by omissions have not become very popular in Brazil, unlike MI, and we can suppose that this was a direct effect from its restrictions for litigation. ADI by omission is not related to any concrete case or subjective right and, like in any other abstract review case, its object is the legislation itself - statute, federal law or administrative norm. Another CURGEV VQ EQPUKFGT KU VJCV VJGTG KU C TGUVTKEVGF NKUV QH NKVKICPVU VJCV JCXG UVCPFKPI VQ ſNG FKTGEV actions of unconstitutionality. The historical series of MI versus ADI by omission reveals the differences: from 1990 to 2015, STF decided 22 ADI by omission as compared to the 8,853 cases of writs of injunction.43 Also, it is evident the shift occurred with the increase of MIs in 2008 when the Court reviewed its position. This series represents the expansion of the power of STF over time XKU ´ XKU VJG TGEMNGUU RQUKVKQP QH VJG $TC\KNKCP .GIKUNCVKXG Ac on of uncons tu onality by omission
Writ of injunc on
1800 1649
1600 1400
1404 1341 1283
1200
1088
1000
1010
800 600 400 200 0
302 120 0
0 9 9 1
83 53 52 44 45 17 16 16 40 41 23 24 37 17 41 61 0 0 0 0 32 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 14 0 0 1 9 9 1
2 9 9 1
3 9 9 1
4 9 9 1
5 9 9 1
6 9 9 1
7 9 9 1
8 9 9 1
9 9 9 1
0 0 0 2
1 0 0 2
2 0 0 2
3 0 0 2
4 0 0 2
5 0 0 2
6 0 0 2
7 0 0 2
8 0 0 2
0
9 0 0 2
3
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0
1 1 0 2
6
2 1 0 2
5
3 1 0 2
3
4 1 0 2
5
5 1 0 2
Chart 2 - Judgments by STF in cases of legislative omission from 1990 to 2015 Source: STF Database
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In brief - at the structural level - the Brazilian Constitution establishes some limitations on STF having the last word on interpreting the Constitution, however, in practice there is a XGT[ NQY HWPEVKQP 6JG .GIKUNCVWTG JCU PQV DGGP FGEKUKXG KP Å¿ZKPI VJG Å¿PCN EQPUVKVWVKQPCN KUUWGU in omission cases, and only very exceptionally has Congress responded to decisions by STF. #U C OCVVGT QH HCEV VJG $TC\KNKCP .GIKUNCVWTG WUWCNN[ FQGU PQV YQTM KP TGURQPUG DWV according to its own interests, even as a veto point to the STF decisions. We can recall that KP $TC\KN VJG .GIKUNCVWTG ECP GCUKN[ QXGTTKFG C EQWTV FGEKUKQP GXGP KP C LWFKEKCN TGXKGY ECUG - by passing any statute trying to undo a previous ruling in the ordinary legislative process, a typical legislative backlash. 6JKU UKVWCVKQP QH NGIKUNCVKXG QXGTTKFKPI ECP CPF UJQWNF TGÆ&#x20AC;GEV CV VJG QRGTCVKQPCN NGXGN - an incentive for dialogue between the institutions, and not a mere backlash. What this paper suggests is the importance to promote a broader perspective of dialogue between the institutions, not only related with the weak-form in the previous omission cases. The overriding of a STF decision by the Congress should not represent an affront to VJG LWFKEKCN CWVJQTKV[ +P VJKU UGPUG CP KORQTVCPV GZCORNG YCU VJCV QH .CY MPQYP as the Clean Slate Act (Lei da Ficha Limpa), that established new conditions of ineligibility HQT RQNKVKECN ECPFKFCVGU YJQ JCXG DGGP EQPXKEVGF QH C ETKOG HTQO TWPPKPI HQT QHÅ¿EG YJKEJ in some way, tries to control and eradicate the corruption in Brazilian politics. +P $TC\KN KV YCU PQV RQUUKDNG VQ FKUSWCNKH[ C ECPFKFCVG WPNGUU VJGTG YCU C Å¿PCN EQPXKEVKQP against him and according to the Court the basis for this understanding laid in the principle of presumption of innocence. The Clean Slate Act overcame this understanding; according VQ VJG NCY KV YQWNF PQV DG PGEGUUCT[ VQ JCXG C Å¿PCN EQPXKEVKQP HQT VJG ECPFKFCVG VQ DGEQOG ineligible. Just a simple decision made by a collegiate body (in an ordinary appeal court) was UWHÅ¿EKGPV HQT VJGO VQ DGEQOG KPGNKIKDNG #HVGT VJG #EV 56( TGXKGYGF KVU RQUKVKQP YJGP KP C couple of constitutional actions, it held that the legislative response of the Clean Slate Act did not violate the principle of presumption of innocence.44 This case, among others,45 and the constitutional mechanics highlighted in this part show that in Brazil - at the structural level - there is no absolute and rigid judicial supremacy and it is possible to sustain, in some degree, the operation of a weak-form review. In a broader view, the emphasis here is towards the understanding of the importance of mainVCKPKPI C FKCNQIKECN TGNCVKQP DGVYGGP VJG ,WFKEKCT[ CPF VJG .GIKUNCVWTG GXGP HQT VJG UCMG QH the separation of powers. The next part discusses the problems of the operation of weak-form in Brazil. I argue that the weak-form did not thrive in Brazil due to a policy of excessive recourse to the Judiciary and the problems in the political system. To some degree, this was the result of the implementation of the judiciary reform without a political reform that could have established equilibrium in the Brazilian powers during the beginning of the 2000s.
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Constitutional Design And The Brazilian Judicial Review: Remarks About Strong And Weak-Form Review In The Brazilian Federal Supreme Court
4 THE OUTCOMES OF A JUDICIARY REFORM WITHOUT A POLITICAL REFORM IN BRAZIL It is possible to discuss the reasons for the failure of the weak-review in Brazil from the RGTURGEVKXGU QH VJG QWVEQOGU QH VJG LWFKEKCT[ TGHQTO '% 6JGTG CTG VYQ OCKP QWVEQOGU that represented the diminishing practice of the possibility of transferring the last word of EQPUVKVWVKQPCN KUUWGU VQ VJG $TC\KNKCP .GIKUNCVWTG 6JG ĹżTUV EQPUGSWGPEG CU CNTGCF[ RQKPVGF out, was the strengthening of the powers of STF, mainly because of the general repercussion regime (repercussĂŁo geral) for extraordinary appeals cases and the possibility of issuing precedent with binding effects (sĂşmula vinculante 6JKU ĹżTUV CTIWOGPV KPFKECVGU VJCV DQVJ mechanisms gave quasi-legislative function to the Court.46 Nevertheless, another outcome was the incentive of the concentration of many political controversies under STF jurisdiction. This second outcome can be understood due to the previously mentioned â&#x20AC;&#x2DC;constitutionalized policiesâ&#x20AC;&#x2122; in CF/88 and to the fact that, since the 2000s, there is a strong â&#x20AC;&#x153;judicializationâ&#x20AC;? (i.e., a great number of cases being brought before the Judiciary) of policy culture47 VJCV TGUWNVU HTQO VJG FKHĹżEWNV[ QH RTQOQVKPI C RQNKVKECN TGHQTO that could better articulate the powers in Brazil. This diagnosis is well-known in Brazilian constitutional scholarship: after CF/88 and '% VJG ,WFKEKCT[ DGECOG VJG OCKP HQTO QH FKURWVG TGUQNWVKQP KP VJG EQWPVT[ QPN[ TGEGPVN[ JCU $TC\KN CFQRVGF CNVGTPCVKXG OGCUWTGU QH EQPĆ&#x20AC;KEV TGUQNWVKQP UWEJ CU OGFKCVKQP CPF arbitration, in the legal system. What was crucial in this case was the increase of different EJCPPGNU VQ CEEGUU VJG JKIJGUV EQWTV EQPĹżTOKPI VJCV LWFKEKCN TGXKGY UVCTVGF VQ DG WUGF CU C direct policy tactic in Brazil.48 Furthermore, another issue was that the judicial reform occurred without the debate CDQWV VJG PGGF HQT C RQNKVKECN TGHQTO KP VJG EQWPVT[ #U CNTGCF[ OGPVKQPGF '% YCU C long and complex legislative process that lasted for more than 12 years in Congress. The OCLQT EQPEGTP CV VJCV VKOG YCU VQ FGCN YKVJ VJG RTQDNGO QH LWFKEKCN GHĹżEKGPE[ CPF VJG PGGF to promote predictability and legal certainty in the country. #HVGT VJG TGHQTO KV DGECOG ENGCT VJCV '% JCF EQPVTKDWVGF VQ VJG KPETGCUG QH LWFKEKCN interference in political system. Not only at the top of the hierarchy of the courts with STF judicial review power - as discussed in this text - but also in ordinary appeal and local courts that have the power to decide cases of administrative misconduct.49 The point to highlight in this part is that during the consolidation of the Brazilian democracy in the 1990s there was a great debate about the articulation of powers in the country. /CLQT TGHQTOU YGTG WPFGTVCMGP UWEJ CU VJG OQFGTPK\CVKQP QH VJG 'ZGEWVKXG OCKPN[ YKVJ the creation and implementation of regulatory agencies - and the Judiciary reform, yet no political reform occurred. At that time, Brazil was suffering problems of economic hyperinĆ&#x20AC;CVKQP YJKEJ YQWNF QPN[ DG EQPVTQNNGF YKVJ VJG PGY GEQPQOKE 4GCN 2NCP Plano Real), in
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1994, after several failures of economic adjustments that broke the internal market. The concern of the Fernando Henrique Cardoso government (1995-2002) was to promote the OQFGTPK\CVKQP QH VJG 'ZGEWVKXG YKVJ VJG KORNGOGPVCVKQP QH UVCVG TGHQTOU CPF VJG ,WFKEKCT[ reform, both perceived as mechanisms to consolidate the process of stabilizing the economy, EQPVTQNNKPI VJG FGĹżEKV TGEQXGTKPI RWDNKE ĹżPCPEGU CPF ETGCVKPI HCXQTCDNG EQPFKVKQPU HQT VJG safe resumption of development.50 Nevertheless, once again there was no discussion about a political reform, conceived as a set of changes that could improve the Brazilian party system and be able to keep up with VJG EJCPIGU KP VJG ,WFKEKCT[ CPF KP VJG 'ZGEWVKXG %GTVCKPN[ VJGTG YCU C EQOOQP DGNKGH among statesmen that it was too early to modify the rules of the electoral game since a new constitutional text had just been promulgated in 1988.51 Fact is that political reform discussions usually do not thrive in Brazil - like in many other countries - because legislators must decide on rules that will take effect in their own political careers. In addition, the Brazilian party system is highly fragmented, composed of many small and short-lived parties, and often formed around particular personalities.52 This UEGPCTKQ OCMGU KV XGT[ FKHĹżEWNV VQ DTKPI CDQWV C DTQCF TGHQTO QP VJG RQNKVKECN U[UVGO In 2013, former president Rousseff suggested a plebiscite regarding political reform. This plebiscite was a response to the wave of demonstrations over political discontent of the population that took place all over the country.53 However, the plebiscite never prospered due to the governing crisis that ended her government with her impeachment, in August 2016. Recently, the Chamber of Deputies has taken over the matter - they created a special commission to deal with the issue,54 but it is still not clear what its results will be. Brazilian scholarship sustains that a broad party system reform may represent a strengthGPKPI QH VJG .GIKUNCVWTG CPF CP KPEGPVKXG VQ EJCPIG RQNKE[ EWNVWTG KP VJG EQWPVT[ RCTVKEWNCTN[ TGICTFKPI RTKXCVG ECORCKIP ĹżPCPEKPI CPF VJG DCTICKP U[UVGO DGVYGGP RCTNKCOGPVCTKCPU 'ZGEWVKXG DTCPEJGU CPF RTKXCVG CEVQTU VJCV UQOGVKOGU CTG UWUVCKPGF D[ EQTTWRVKQP UEJGOGU The several proposals need to be discussed with the society broadly. After all, this issue has been demanded by the Brazilian society for a long time.55 For the scope of this paper, it is enough to realize that a political reform can contribute to the weak-form in Brazil by equalizing STF decisions with a responsive legislature in the omission cases. Moreover, a new composition of the legislature, with parliamentarians committed with party causes and engaged in public debate with other powers, could be envisioned. All these ideas facilitate the institutionalization of mechanisms that underscore the social control over decision-making on constitutional matters and are an incentive to dialogue between powers. At the same time, instruments of consultation between the Judiciary and .GIKUNCVWTG LWUV NKMG CFXKUQT[ QRKPKQPU QT GXGP VJG UVTWEVWTCN KPLWPEVKQPU GZRGTKGPEGU KP other countries could also be considered.
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In brief, the actual centralized model of policy solution carried out by the Judiciary in Brazil is not enough to deal with the tensions between the burdens of the political decisionmaking and the counter majoritarian features of the Court. It is important to note that the 'ZGEWVKXG CPF .GIKUNCVKXG DTCPEJGU WUWCNN[ JCPF QXGT UQOG TKUM[ KUUWGU VQ VJG NGICN U[UVGO when they decide not to intervene via judicial review cases. Nevertheless, the Judiciary will also have many internal problems, especially regarFKPI VJG NKOKVCVKQPU QH NGICN TGCUQPKPI VJCV OCMGU KV FKHĹżEWNV HQT VJG %QWTV VQ CUUGUU VJG DGUV political decision for the Brazilian society. The political system should regulate the matter and thus take responsibility for the consequences, since judges and courts have no adequate conditions in Brazil â&#x20AC;&#x201C; in light of the separation of powers â&#x20AC;&#x201C; to intervene directly in political issues or to safeguard by incurring costs, otherwise even judicial decisions will not be guarantee against surprises.
5 FINAL REMARKS The main purpose of this paper was to debate the constitutional design and the judicial review in Brazil in light of some consideration of the framework of Compared Constitutional .CY QP UVTQPI CPF YGCM HQTOU One of the challenges was to understand how important it is to discuss this debate outside the familiar settings of the comparison of the US Supreme Court and the British Parliament or other common law countries. Our considerations reveal that the debate about strong or weak-forms is a normative one and, actually, it is a discussion about a spectrum YKVJ FKHHGTGPV XCTKCVKQPU VJCV IQGU HTQO UVTQPI VQ YGCM VJGTG KU PQV LWUV QPG FGĹżPGF HQTO It does not matter if the debate takes place in Brazil or elsewhere, there is always a design question that deals with the tensions between the powers. In this sense, some important remarks from Aileen Kavanagh remind us that even in a very traditional country of weak-form judicial review, like the United Kingdom, there can be, in practice, legislatures that do not want and do not operate the last word, thus suggesting that there are many factors that determine strong or weak-form.56 Although empirical assessment is fundamental, it is not possible to deny the interference of the normative aspect in question. Brazilâ&#x20AC;&#x2122;s case demonstrates that it is possible to combine in the same framework instruments that operate in the strong and weak-form. The omission cases actually reveal the complexity of the issue when designing mechanisms, since judicial review can have several HQTOU EQODKPCVKQPU CPF QWVEQOGU KP C URGEKĹżE EQPUVKVWVKQPCN TGIKOG The paper also suggested that, de facto, the weak-form actually did not fully operate in Brazil due to the high â&#x20AC;&#x153;judicializationâ&#x20AC;? of policy culture and problems in the political system. 6JG VWTPKPI RQKPV YCU '% KP VJG DGIKPPKPI QH VJG U YJKEJ UVTGPIVJGPGF VJG %QWTVĹ?U review power. There is no doubt that, overall, Brazil adopts and works in a strong-form,
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but this option also did not resolve the tensions between the counter majoritarian judicial control and the democratic decision-making in the country. Instead - by highlighting some contextual issues of CF/88 - I argued that this option of a strong court increased excessively the political power of STF and the risk of dysfunctional operation of the legal system. The dysfunctional operation can be simply understood as the fact that judges and courts are progressively abdicating to incorporate the predictability of the legal consequences by dealing with political issues. Moreover, other aspects - that were not examined â&#x20AC;&#x201C; can be correlated to the dysfunctional operation, such as a set of principles that created a broader margin of argumentation to STF and the increase of individual powers of its Justices. Additionally, I stressed that there is a normative weakness in the strong-form in Brazil VJCV YCU PQV GSWCVGF KP '% GURGEKCNN[ KH KV QPG EQPUKFGTU VJG RTGUUKPI PGGF HQT C RQNKVKECN reform in the country and the legal reasoning restrictions when the Court is dealing with distributive kind of rights. All these problems affect the legitimacy of the judicial review in the country, mostly if we consider that there is still an elite control of the legal system as a kind of inheritance from the military dictatorship. As a matter of fact, it is not a surprise that still today the most common litigants in the Judiciary are the government branch and upper and middle-classes that can deal with the judicial costs. As a result of this, the Judiciary tends to be an exclusive arena for internal solutions of problems from the political branches - like the mention of STF as â&#x20AC;&#x2DC;stateâ&#x20AC;&#x2122;s corporate deliberation bodyâ&#x20AC;&#x2122; highlighted in the paper - or for privileged claimants based purely on their capacity to access the Judiciary and less a space for transformation related with the adjudication of social and economic rights or social justice.57 A new arrangement of judicial review should take that into account in Brazil. NeiVJGT UVTQPI PQT YGCM HQTO DWV C URGEKĹżE HQTO VJCV EQWNF CVVGPF VJG PGGFU QH VJG $TC\KNKCP FGOQETCE[ CPF KP VJG GZVGPV QH QVJGT .CVKP #OGTKECP EQWPVTKGU +P VJKU UGPUG KV KU RQUUKDNG VQ TGECNN VJG Ĺ&#x2018;RTCIOCVKEĹ&#x2019; CTIWOGPV QH RQVGPVKCN DGPGĹżVU HTQO YGCM HQTO KP VJG EQPVGZV QH transitional democracies, as described by Stephen Gardbaum, who mentions that the weakform might reduce the pressures that judicial review places on judges, helping to improve legal reasoning, at the same time that it can actually decrease the tensions between court and political bodies.58 Nevertheless, it is not possible to be naĂŻve and believe that the weak-form will eliminate CNN RQNKVKECN VGPUKQP DGVYGGP VJG IQXGTPOGPV DTCPEJ VJG .GIKUNCVKXG CPF VJG EQWTVU 6JG PGY arrangement - more dialogical - can have better outcomes if courts can also engage in public FGDCVG RTQORVKPI VJG TGURQPUGU QH VJG 'ZGEWVKXG CPF .GIKUNCVKXG DTCPEJGU VQ CEV QP VJG decisions reached through the democratic deliberative process. Still, the important question that follows is to know if the framework (strong or weak-form) works from the standpoint of democratic regime stability. Certainly this is a context matter, not only adjusted by reforms, and that needs to be debated at large with the society locally and globally.
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sistency of legislation and other governmental acts with these fundamental rights, which must go beyond the traditional presumption and ordinary modes of normative interpretation ; and more clearly, (3) the existence QH C NGIKUNCVWTG VJCV JCU VJG ĹżPCN YQTF QP VJG EQPUVKVWVKQPCNKV[ QH NCYU KP VJG EQWPVT[ D[ UKORNG OCLQTKV[ XQVG See GARDBAUM, Stephen. The new commonwealth model of constitutionalism: theory and practice. Cambridge: %CODTKFIG 7PKXGTUKV[ 2TGUU QT 675*0'6 /CTM 9GCM %QWTVU 5VTQPI 4KIJVU: Judicial 4GXKGY CPF 5QEKCN 9GNHCTG 4KIJVU KP %QORCTCVKXG %QPUVKVWVKQPCN .CY 2TKPEGVQP 7PKXGTUKV[ 2TGUU 2TKPEGVQP CNUQ 675*0'6 /CTM 9GCM (QTO ,WFKEKCN 4GXKGY CPF Ĺ&#x2018;%QTGĹ&#x2019; %KXKN .KDGTVKGU Georgetown Law Faculty Publications and Other Works. 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17 It is also important to stress that the legislative can overturn the executiveâ&#x20AC;&#x2122;s veto decision, according to article 66, paragraph 4 of CF/88 that says â&#x20AC;&#x153;the veto shall be examined in a joint session, within thirty days, counted from the date of receipt, and may only be rejected by the absolute majority of the Deputies and Senators, by secret votingâ&#x20AC;?. 18 We can mention the leading case of President Alvaro Uribe where the court held that the president two-term could not be amend for a third term or the doctrine of unconstitutional state of affairs in some social CPF GEQPQOKE ECUGU 5GG .#0&#7 &CXKF /74%+# ,WNKÂśP &CPKGN .Ă&#x17D;RG\ 2QNKVKECN +PUVKVWVKQPU CPF ,WFKEKCN Role: An Approach in Context, the Case of the Colombian Constitutional Court. VNIVERSITAS, BogotĂĄ, v. 119, p. 55-92, 2009. p. 55. 5GG 6#;.14 /CVVJGY / 6JG TKFFNG QH JKIJ KORCEV NQY HWPEVKQPCNKV[ %QWTVU KP $TC\KN Rev. Econ. 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Texas Law Review, v. 82, p. 1705-1736, 2004. 5GG 1.+8'+4# (CDKCPC .WEK 5WRTGOG CIGPFC KPVGTGUVU KP FKURWVG KP LWFKEKCN TGXKGY KP $TC\KN Tempo soc., SĂŁo Paulo, v. 28, n. 1, p. 105-133, 2016. 5GG -#2+5<'95-+ &KCPC Challenging decisions: high courts and economic governance in Argentina and Brazil. Cambridge: Cambridge University Press, 2007. Ph.D. diss., Department of Political Science, University of California, Berkeley. 24 See Oliveira supra note 22. +V KU PQV UWTRTKUKPI VJCV VJG OQUV KPĆ&#x20AC;WGPVKCN YQTMU KP VJGUG FGDCVGU CTG HTQO 0QTVJ #OGTKECP CPF Commonwealth scholars - just for a good example like Mark Tushnet and Stephen Gardbaum - and more broadly scholars that stand for an objection towards the judicial review â&#x20AC;&#x201C; the classical case with Jeremy Waldron. See 9#.&410 ,GTGO[ 6JG EQTG QH VJG ECUG CICKPUV LWFKEKCN TGXKGY The Yale Law Journal, New Haven, v. 115, p. 1346-1406, 2006. 26 An important example of this position was the debate about the draft for constitutional amendment n.33 HTQO 2'% YJKEJ CVVGORVGF VQ GZRCPF VJG OGEJCPKUOU QH YGCM HQTO TGXKGY KP $TC\KN 2'% 33/11 was based on the premise that STF is exceeding its powers. As a means of containing such excess, it was intended: (i) to modify Article 97 of the CF/88 to raise the voting quorum for unconstitutionality; (ii) to raise the quorum of binding precedentes (sĂşmulas vinculantes) from 2/3 to 4/5 and to be mandatory approved by the National Congress, and (iii) the condition that the erga omnes effect of STF decisions would be scrutinized D[ VJG 0CVKQPCN %QPITGUU 2'% IQV TGLGEVGF HTQO DQVJ VJG RQNKVKECN ENCUU CPF VJG NGICN EQOOWPKV[ some arguments that were used to refuse the draft was the offense of the principle of separation of powers and VJG GVGTPKV[ ENCWUG HTQO VJG #TVKENG RCTCITCRJ VJ QH VJG %( 5GG $756#/#06' 6JQOCU 8+..#0+ #PFTĂ&#x192; &KÂśNQIQU KPUVKVWEKQPCKU C 2'% G Q FKUEWTUQ LWTĂ&#x2C6;FKEQ PQ .GIKUNCVKXQ G PQ ,WFKEKÂśTKQ +P '0%10641 0#%+10#. &1 %102'&+ (NQTKCPĂ&#x17D;RQNKU #PCKU (NQTKCPĂ&#x17D;RQNKU (70,#$ R (QT C IGPGTCN CPF RQUKVKXG GXCNWCVKQP CDQWV VJG GZRCPUKQP QH VJG EQWTV TQNG UGG 8'4 55+/1 /CTEQU 2CWNQ # %QPUVKVWKĂ ÂşQ FG XKPVG CPQU FGRQKU UWRTGOC EQTVG G Ĺ&#x17D;CVKXKUOQ LWFKEKCN ´ DTCUKNGKTCĹ? Revista Direito GV 5ÂşQ 2CWNQ X P LWN FG\ CPF 8+#00# .WK\ 9GTPGEM GV CN &G\GUUGVG CPQU FG LWFKEKCNK\CĂ ÂşQ polĂtica. Tempo Social, v. 19, p. 39-85, 2007. In addition, an important reference about the expansion of STF RQYGTU KU VJG YQTM QH 8KGKTC CDQWV VJG Ĺ&#x17D;5WRTGOQETCE[Ĺ? 5GG 8+'4+# 1UECT 5WRTGOQETCEKC Revista Direito GV, SĂŁo Paulo, v. 4, p. 441-459, 2008. 28 The issue about constitutional design is also present in another degree in the discussion of the last word in different models of deliberative democracies, the central question is: who should have the last say about a EQPUVKVWVKQPCN KUUWG KP C FGOQETCE[! 'ZVGPUKXG RQNKVKECN UEKGPEG NKVGTCVWTG CPUYGTU VJKU SWGUVKQP YKVJ VJTGG possibilities: â&#x20AC;&#x153;theories of last wordâ&#x20AC;? that usually accepts two opposing answers (either supreme courts or elected legislature), â&#x20AC;&#x153;theories of dialogueâ&#x20AC;? that rejects the last word option and â&#x20AC;&#x153;moderate theoriesâ&#x20AC;? that accepts the RTQXKUKQPCN NCUV YQTF VJCV KU DCUGF KP C Ć&#x20AC;QYKPI TCVJGT VJCP UVCVKE KFGC QH UGRCTCVKQP QH RQYGTU 7UWCNN[ VJGUG
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theories characterize the court as a deliberative catalyst capable of discerning good and bad arguments. See /'0&'5 %QPTCFQ *WDPGT 0GKVJGT FKCNQIWG PQT NCUV YQTF Legisprudence, Oxford, v. 5, p. 1-40, 2011. 29 Furthermore, the Constitution does not prohibit the idea of legislative backlash, especially considering that in Article 102, Paragraph 2 of CF/88 says: [f]inal decisions on merits, pronounced by the STF, in direct actions of unconstitutionality and declaratory actions of constitutionality shall have force against all, as well as a binding effect, as regards the other bodies of the Judicial Power and the governmental entities and entities owned by the Federal Government, in the federal, state, and local levels. 30 See supra note 25. 31 See the famous Government of the Republic of South Africa and Others v Grootboom and Others -, or even in the US Supreme Court arguing the equal protection clause on civil right cases â&#x20AC;&#x201C; like Brown v. Board of Education of Topeka â&#x20AC;&#x201C; in both cases the constitutional courts applied injunction remedies. 5GG $4#5+. 5WRTGOQ 6TKDWPCN (GFGTCN /+ &( 4GN /KP /QTGKTC #NXGU &, FG FG UGVGODTQ FG 1990. Available at: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=81908>. p. 58. 33 See SABRA, Paula Rodrigues. Mandado de Injunção: hĂĄ uma resposta do Poder Legislativo ao instituto? #EEGUUKDNG KP JVVR YYY UDFR QTI DT CTSWKXQU OQPQITCĹżC ARCWNC RFH 34 We can highlight some cases: retirement of public employees with disabilities or engaged in hazardous activities (article 40, paragraph 4); advance notice of dismissal in proportion to the length of service, of at least thirty FC[ CTVKENG ::+ TKIJV VQ UVTKMG QH RWDNKE UGTXCPVU CTVKENG 8++ IWCTCPVGG QH C OQPVJN[ DGPGĹżV QH QPG minimum wage to the handicapped and to the elderly who prove their incapability of providing for their own support or having it provided for by their families (article 203, V) and many others. 35 The reasoning problem is also decisive for questioning the legitimacy of the court when adjudicating social and economic rights that usually refer to social and collective goods that must be enjoyed by a large part of the society. Traditional examples in the CF/88 are the right to healthcare (article 196: â&#x20AC;&#x153;health is a right of all and a duty of the State and shall be guaranteed by means of social and economic policies aimed at reducing the risk of illness and other hazards and at the universal and equal access to actions and services for its promotion, protection and recoveryâ&#x20AC;?) and education (article 205: â&#x20AC;&#x153;education, which is the right of all and duty of the State and of the family, shall be promoted and fostered with the cooperation of society, with a view to the full FGXGNQROGPV QH VJG RGTUQP JKU RTGRCTCVKQP HQT VJG GZGTEKUG QH EKVK\GPUJKR CPF JKU SWCNKĹżECVKQP HQT YQTMĹ&#x2019; +P these cases, the court has to come out with a distributive and proportional reasoning that is able to mediate the simultaneous access of different individuals and groups. Since there is no clear position, it is problematic to understand the role and the common institutional goals of the STF when deciding these cases. 36 The only two issues that were regulated as a response was regarding tax law and electoral from the MI 284 and 232 cases. See Sabra supra note 24. 37 See Supremo Tribunal Federal. MI 721/DF, Rel. Min. Marco AurĂŠlio, DJe de 30 de novembro de 2007. Available at: < http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=497390>. 38 See supra note 37. 5GG 5WRTGOQ 6TKDWPCN (GFGTCN /+ '5 4GN /KP )KNOCT /GPFGU &,G FG FG QWVWDTQ FG #XCKNable at: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=558549>. 40 See supra note 39. 41 This data must be contextualized, although ADI by omission exists since 1988, until 2008 there was no RTQEGFWTCN FKUVKPIWKUJKPI DGVYGGP #&+ CPF #&+ D[ QOKUUKQP VJWU UQOG QOKUUKQP ECUGU EQWNF DG ĹżNGF WPFGT regular ADI procedures and were not included in the STF database. 6JG #&+ D[ QOKUUKQP RTQEGFWTG YCU QPN[ TGIWNCVGF YKVJ VJG .CY 43 See the STF Database, available at: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=estatistica>. 5GG 5WRTGOQ 6TKDWPCN (GFGTCN #&% &( 4GN .WK\ (WZ &,G FG FG LWPJQ FG #XCKNCDNG CV JVVR redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=2243342> and Supremo Tribunal Federal. #&% &( 4GN .WK\ (WZ &,G FG FG LWPJQ FG #XCKNCDNG CV JVVR TGFKT UVH LWU DT RCIKPCFQTRWD paginador.jsp?docTP=TP&docID=2243411> 45 Another interesting case of institutional dialogue occurred in ADI 3772 that debated if the time of service QWVUKFG VJG ENCUUTQQO YCU EQORWVGF HQT VGCEJGTUĹ? TGVKTGOGPV 56( TGEQIPK\GF VJG EQPUVKVWVKQPCNKV[ QH VJG .CY VJCV OQFKĹżGF VJG %QWTVĹ?U KPVGTRTGVCVKQP sĂşmula 726). Before the act was approved, STF did not computed the teacherâ&#x20AC;&#x2122;s time of service outside the classroom, however, after the act, STF admitted that the
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Constitutional Design And The Brazilian Judicial Review: Remarks About Strong And Weak-Form Review In The Brazilian Federal Supreme Court
working time in the function of pedagogical advisory and school management should be computed as working JQWTU HQT VJG TGVKTGOGPV 56( #&+ &( 4GN /KP 4KECTFQ .GYCPFQYUMK &,G FG FG OCTĂ Q FG 46 Since 2004 STF has already issued 56 binding precedents (sĂşmula vinculante). 6JG LWFKEKCNK\CVKQP QH RQNKE[ EWNVWTG ECP DG DTKGĆ&#x20AC;[ WPFGTUVQQF CU VJG U[UVGOCVKECNN[ LWFKEKCN KPVGTHGTGPEG QH the courts in areas that are historically reserved for other branches of government and legislature. For an KORQTVCPV FGUETKRVKQP QH VJG $TC\KNKCP ECUG UGG 4+15 (+)7'41# ,WNKQ 6#;.14 /CVVJGY +PUVKVWVKQPCN Determinants of the Judicialisation of Policy in Brazil and Mexico. Journal of Latin American Studies, v. 38, n. 4, p.739-766, 2006. 48 This was pointed out by Julio Rios-Figueroa and Matthew Taylor about the STF case. They argued that the wider the range of judicial review channels available, the greater the likelihood that judicial review will be used as a policy action and in the long run the judicialization of policy deliberations are less likely to lead to VJG GHĹżEKGPV TGUQNWVKQP QH RQNKE[ FGDCVGU OCKPN[ DGECWUG EQWTVU YKNN DG CEVKXCVGF KP OWNVKRNG YC[U VQ FGEKFG on the same issue. See Rios-Figueroa and Taylor supra note 30. 49 The emergence of new institutions also contributed to the increase of the political intervention of the judiciary. +P VJKU TGURGEV KV UVCPFU QWV VJG PGY 2WDNKE 2TQUGEWVQT 1HĹżEG MinistĂŠro PĂşblico) in Brazil that not only was the CEEWUCVQT[ RCTV KP ETKOKPCN VTKCNU DWV CNUQ KP VJG NCVG U DGEQOG CP GHHGEVKXG KPUVKVWVKQP HQT KPXGUVKICVKQP CPF ĹżNN CEVKQPU QH OKUEQPFWEV UWTXGKNNCPEG KP VJG RQNKVKECN U[UVGO 6JG RTQUGEWVQT KP $TC\KN ECP GCUKN[ ĹżNG CP[ CEVKQPU VGTOU QH CFLWUVOGPV CPF QVJGT RTQEGFWTCN CPF PQP RTQEGFWTCN CEVKQPU CICKPUV IQXGTPOGPVU 5GG IGPGTCNN[ #4#06'5 4QIĂ&#x192;TKQ 6JG (GFGTCN 2QNKEG CPF VJG /KPKUVĂ&#x192;TKQ 2Ă&#x2022;DNKEQ +P 219'4 6KOQVJ[ 6#;.14 /CVVJGY Corruption and Democracy in Brazil. Notre Dame: University of Notre Dame Press, 2010. p. 184-217. 5GG #4+&# 2Ă&#x192;TUKQ $#%*# 'FOCT .#4# 4'5'0&' #PFTĂ&#x192; %TGFKV KPVGTGUV CPF LWTKUFKEVKQPCN WPEGTVCKPV[ EQPLGEVWTGU QP VJG ECUG QH $TC\KN +P )+#8#<<+ )1.&(#,0 *'44' 4# 1TI +PĆ&#x20AC;CVKQP VCTIGVKPI FGDV CPF VJG $TC\KNKCP GZRGTKGPEG: 1999 to 2003. Cam- bridge, MA: MIT Press, 2005. #HVGT VJG GPF QH OKNKVCT[ FKEVCVQTUJKR VJG $TC\KNKCP RQNKVKECN U[UVGO WPFGTYGPV VQ C HGY URGEKĹżE EJCPIGU NKMG in 1994 for presidential term of four years, in 1997 for the reelection of presidents, governors and mayors, in 1999 was approved the criminalization of buying votes and in 2010 was approved the Clean Slate Act (Lei da Ficha Limpa). All these examples are punctual transformations and within the last ten years the National %QPITGUU VTKGF ĹżXG CVVGORVU VQ RCUU C DTQCF RQNKVKECN TGHQTO YKVJQWV UWEEGUU 0QV UWTRTKUKPIN[ VJG Ĺ&#x2018;RQRWNKUOĹ&#x2019; YCU C DKI JKV KP .CVKP #OGTKEC UGG VJG ECUG QH .WNC KP $TC\KN -KTEJPGT HCOKN[ KP #TIGPVKPC *WIQ %JCXG\ KP 8GPG\WGNC 'XQ /QTCNGU KP $QNKXKC CPF 4CHCGN %QTTGC KP 'EWCFQT 1PG QH VJG RTQDNGOU QH $TC\KNĹ?U RQNKVKECN U[UVGO KU VJG FKHĹżEWNV VQ QRGTCVG KP VJG RTGUKFGPVKCN EQCNKVKQP OQFGN since the executive suffers from a continues lack of a base of congressional support that is needed to govern in the â&#x20AC;&#x2DC;constitutionalized policiesâ&#x20AC;&#x2122; scenario. Traditionally, the executive forms a majority coalition by bargaining for legislative support by favoring parliamentarians with government positions or release of funds. However, in $TC\KN VJKU UKVWCVKQP JCU PGXGT TGUWNVGF Ĺ&#x152; KP VJG ĹżTUV RNCEG Ĺ&#x152; QH C UVTQPIN[ GUVCDNKUJGF CITGGOGPV D[ VJG RCTVKGU but rather as a result of personal interests and agendas. This practice has been severely critiqued recently by the Brazilian population after the scandals of corruption revealed by the judiciary. 5QOG MG[ RTQRQUCNU CTG VJG GPF QH TGGNGEVKQP HQT GZGEWVKXG RQUKVKQPU ĹżXG [GCT VGTOU HQT CNN RQUKVKQPU EWTTGPVN[ VJG VGTO QH HQWT [GCTU HQT CNN RQUKVKQPU GZEGRV VJG UGPCVQTU YJQUG VGTO QH QHĹżEG KU GKIJV [GCTU ECORCKIP ĹżPCPEG TGUVTKEVKQPU QH EGTVCKP FQPCVKQPU WPKĹżECVKQP QH VJG FCVG QH VJG GNGEVKQPU HQT CNN RQUKVKQPU DGIKPPKPI KP 2022 and the reduction from 35 to 30 the minimum age for election for senator. 55 Since 2013 many protest took place on the streets of Brazil, many of them were social movements that had a common thrive: the dissatisfaction against the political system and the wave of corruption scandals with executive and legislative branches that were revealed by the judiciary in two cases (MensalĂŁo and Lavajato). 56 See KAVANAGH, Aileen. Whatâ&#x20AC;&#x2122;s So Weak About Weak-Form Review? The Case of the UK Human Rights Act 1998. Int J Const Law, v. 13, n. 4, p. 1008-1039, 2015. 5GG .12'5 ,QUĂ&#x192; 4GKPCNFQ FG .KOC $TC\KNKCP EQWTVU CPF UQEKCN TKIJVU C ECUG UVWF[ TGXKUKVGF. +P )#4)#4'..# Roberto; DOMINGO, Pilar; ROUX, Theunis. Courts and social transformation in new democracies: an institutional voice for the poor? [S.l.]: [s.n.], 2006. 58 See GARDBAUM, Stephen. Are strong constitutional courts always a good thing for new democracies? Columbia Journal of Transnational Law, United States, v. 53, n. 2, p. 285-320, 2015. p. 285.
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DESENHO CONSTITUCIONAL E O MODELO BRASILEIRO DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE: REFLEXĂ&#x2022;ES SOBRE O CONTROLE JUDICIAL FORTE E FRACO PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL RESUMO O artigo discute o tema do controle de constitucionalidade a partir da CPÂśNKUG FQ FGUGPJQ PQTOCVKXQ ĹżZCFQ RGNC %QPUVKVWKĂ ÂşQ (GFGTCN FG G RQT OGKQ FC ENCUUKĹżECĂ ÂşQ GPVTG CU HQTOCU FG EQPVTQNG LWFKEKCN HQTVG G HTCEQ distinção tradicionalmente aplicada aos membros da Commonwealth. Desde FQ ĹżPCN FC FKVCFWTC OKNKVCT PC FĂ&#x192;ECFC FG Q $TCUKN CRQUVC GO WO modelo que combina uma forte supremacia judicial e um controle judicial hĂbrido de constitucionalidade, centralizado em grande medida na atuação da suprema corte do paĂs. Todavia, no nĂvel normativo-estrutural, o modelo de controle de constitucionalidade brasileiro pode operar de uma maneira fraca, quando o Congresso Nacional assume um protagonismo para decidir alguns casos de constitucionalidade. Tal compreensĂŁo ĂŠ alcançada apĂłs as anĂĄlises de alguns julgados e provisĂľes constitucionais. Ainda que o %QPITGUUQ 0CEKQPCN FKĹżEKNOGPVG CPWNG Ĺ&#x152; FG OCPGKTC TGURQPUKXC Ĺ&#x152; CU FGEKUĂ?GU de controle de constitucionalidade do Supremo Tribunal Federal, devido aos custos polĂticos e compromissos estratĂŠgicos, o controle judicial fraco pode UGT GZGORNKĹżECFQ RQT FQKU OGECPKUOQU FG EQPVTQNG FG EQPUVKVWEKQPCNKFCFG C forma concreta e indireta de controle pelo mandado de injunção, que protege direitos fundamentais, e a forma abstrata e direta pela ação declaratĂłria de constitucionalidade por omissĂŁo. Ambos mecanismos transferem, em tese, C RCNCXTC ĹżPCN UQDTG Q EQPVTQNG FG EQPUVKVWEKQPCNKFCFG RCTC Q NGIKUNCFQT G FCFQU FC FĂ&#x192;ECFC FG EQPĹżTOCO SWG PC RTÂśVKEC C UWRTGOC EQTVG possuĂa uma posição mais restrita ao poder de revisĂŁo nos casos de omissĂŁo. Finalmente, o principal objetivo do artigo ĂŠ estabelecer um diĂĄlogo com a literatura do controle fraco de constitucionalidade e permitir uma discussĂŁo CORNC FQ OQFGNQ #ĹżPCN FG EQPVCU GO WO RTQLGVQ KFGCN FG GUVCFQ FG FKTGKVQ constitucional, nĂŁo apenas juĂzes desempenham um papel importante, mas tambĂŠm a participação do legislativo e do executivo sĂŁo imprescindĂveis. Palavras-chave: Desenho Constitucional. Supremo Tribunal Federal. Controle Judicial Forte de Constitucionalidade. Controle Judicial Fraco de Constitucionalidade. Submetido: 17 abr. 2017 Aprovado: 8 maio 2017 206
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doi:10.12662/2447-6641oj.v15i20.p207-230.2017
OS AGRICULTORES FAMILIARES COMO RĂ&#x2030;US EM PROCESSOS AMBIENTAIS: REFLEXĂ&#x2022;ES ACERCA DO PODER SIMBĂ&#x201C;LICO DO DIREITO Marlene de Paula Pereira* Maria Izabel Vieira Botelho** +PVTQFWĂ ÂşQ 1 SWG TGXGNCO QU CWVQU 4GĆ&#x20AC;GZĂ?GU C RCTVKT FCU EQPUWNVCU RTQEGUUWCKU 1 RQFGT UKODĂ&#x17D;NKEQ FQ FKTGKVQ G QU TGĆ&#x20AC;GZQU UQDTG QU OGKQU FG XKFC FQU CITKEWNVQTGU familiares. 5 ConclusĂľes. ReferĂŞncias.
RESUMO %QO HTGSWĂ&#x201E;PEKC QU CITKEWNVQTGU HCOKNKCTGU GPHTGPVCO RTQDNGOCU TGNCEKQPCFQU ´ NGIKUNCĂ ÂşQ CODKGPVCN 1 RTGUGPVG CTVKIQ VGO RQT QDLGVKXQ TGĆ&#x20AC;GVKT C TGURGKVQ FCU consequĂŞncias decorrentes dos processos judiciais na vida desses agricultores. As metodologias utilizadas foram a consulta processual e as entrevistas. Os principais resultados revelam que a condição de vulnerabilidade que atinge GUUGU CITKEWNVQTGU FQ RQPVQ FG XKUVC UQEKCN G GEQPĂ?OKEQ GUVGPFG UG CVĂ&#x192; Q ECOpo judicial. Apesar de haver o pressuposto de que a Justiça busca enfrentar as SWGUVĂ?GU EQO KUQPQOKC EQPUVCVQW UG SWG QU ITWRQU GEQPĂ?OKEC G UQEKCNOGPVG mais frĂĄgeis sĂŁo tambĂŠm mais fortemente atingidos com a solução da lide. Palavras-chave: .GIKUNCĂ ÂşQ CODKGPVCN #ITKEWNVQTGU HCOKNKCTGU 2TQEGUUQU LWdiciais. Poder simbĂłlico.
1 INTRODUĂ&#x2021;Ă&#x192;O O Direito possui uma função primordialmente reguladora, mas tambĂŠm guarda em si uma dimensĂŁo simbĂłlica, que decorre da força com que se impĂľe sobre os diversos grupos de indivĂduos, em seus diferentes lugares sociais. A lei interfere diretamente sobre os meios de XKFC FQU CITKEWNVQTGU HCOKNKCTGU XKUVQ SWG ´ OGFKFC SWG TGIWNCO C XKFC EQVKFKCPC KPVGTHGTGO na maneira como as pessoas se comportam, impondo restriçþes e trazendo consequĂŞncias. 2QT GPHTGPVCTGO ITCPFG FKĹżEWNFCFG FG CEGUUQ ´ KPHQTOCĂ ÂşQ G CQU OGECPKUOQU FG FGfesa, com frequĂŞncia, os agricultores familiares sĂŁo autuados e condenados ao pagamento de multas, celebram termo de ajustamento de conduta e, algumas vezes, atĂŠ mesmo respon*
2TQHGUUQTC FQ +PUVKVWVQ (GFGTCN FG 'FWECĂ ÂşQ EKĂ&#x201E;PEKC G VGEPQNQIKC FQ 5WFGUVG FG /) ECORWU $CTDCEGPC $CEJCTGNC GO &KTGKVQ 7(8 /GUVTG GO &KTGKVQ 7'4, &QWVQTC GO 'ZVGPUÂşQ 4WTCN Ĺ&#x152; 7(8 ' OCKN FGRCWNCOCTNGPG"[CJQQ EQO DT
** 2Ă&#x17D;U &QWVQTC GO 9CIGPKPIGP 7PKXGTUKV[ 2TQHGUUQTC #UUQEKCFC FQ &GRCTVCOGPVQ FG 'EQPQOKC 4WTCN FC 7PKXGTsidade Federal de Viçosa. ' OCKN ODQVGNJQ"WHX DT
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Marlene de Paula Pereira | Maria Izabel Vieira Botelho
FGO C RTQEGUUQU LWFKEKCKU 'UUGU RTQEGUUQU LWFKEKCKU SWG UGTÂşQ QDLGVQ FG GUVWFQ FGUVG CTVKIQ revelam o quanto tais agricultores se encontram em situação de desvantagem em relação a outros segmentos e o quanto o Direito pode ser um instrumento de poder. Desse modo, propĂľe-se uma anĂĄlise do Direito entendendo o âmbito jurĂdico como um campo, na acepção de Bourdieu. Segundo Bourdieu, o campo ĂŠ um espaço de disputas de poder entre grupos. Cada grupo possui um capital, que, para o autor, representa os interesses RQUVQU GO LQIQ 1 EQPEGKVQ FG ECRKVCN KPENWK CNĂ&#x192;O FQ CURGEVQ GEQPĂ?OKEQ SWG EQORTGGPFG C TKSWG\C OCVGTKCN Q FKPJGKTQ CU CĂ Ă?GU GVE DGPU RCVTKOĂ?PKQU VTCDCNJQ Q CURGEVQ FQ ECRKVCN cultural, que compreende o conhecimento, as habilidades, as informaçþes; o capital social, correspondente ao conjunto de acessos sociais, que compreende o relacionamento e a rede de contatos; e o capital simbĂłlico, que ĂŠ uma sĂntese dos demais, correspondente ao conjunto de rituais de reconhecimento social, e que compreende o prestĂgio, a honra. A metodologia empregada nesta pesquisa foi a anĂĄlise processual e a realização de entrevistas. Foram analisados 148 dos 240 processos/procedimentos ambientais em curso na Comarca de Viçosa, no perĂodo de 2011 a 2013. Chegou-se a esse quantitativo por meio FQ EÂśNEWNQ FC COQUVTC XÂśNKFC 'UENCTGEG UG SWG C CPÂśNKUG FC VQVCNKFCFG FQU ECUQU UG VQTPC praticamente impossĂvel, no perĂodo de tempo da pesquisa, visto que os processos/procedimentos tramitam de uma instância para outra, de um ĂłrgĂŁo para outro para que sejam feitas anĂĄlises, pareceres, e, desse modo, seriam necessĂĄrias vĂĄrias outras visitas para conseguir ter acesso a todos os autos. As pesquisas foram realizadas na 2ÂŞ Promotoria CĂvel e na 1ÂŞ e 2ÂŞ varas criminais da Comarca de Viçosa. Na Promotoria, foram analisados os Termos de Ajustamento de ConFWVC CU #Ă Ă?GU FG 'ZGEWĂ ÂşQ FQU 6GTOQU FG #LWUVCOGPVQ FG %QPFWVC QU +PSWĂ&#x192;TKVQU %KXKU G as Açþes Civis PĂşblicas propostas pelo MinistĂŠrio PĂşblico. Na 1ÂŞ Vara Criminal, foram analisados os processos que seguem o rito ordinĂĄrio para onde sĂŁo destinados os processos referentes a crimes cujas penas mĂĄximas sejam superiores a dois anos. Poucos processos por crimes ambientais sĂŁo processados nessa vara, visto que a maior parte dos crimes previstos na lei de crimes ambientais estipula penas mĂĄximas inferiores a dois anos. Na 2ÂŞ Vara Criminal, foram analisados os processos criminais que se enquadram na categoria de â&#x20AC;&#x153;causas de menor potencial ofensivoâ&#x20AC;?, considerados estes os crimes e as contravençþes penais cujas penas mĂĄximas nĂŁo sejam superiores a dois anos de RTKXCĂ ÂşQ FG NKDGTFCFG 'UVGU TGRTGUGPVCO C OCKQT RCTVG FQU ECUQU GO GUVWFQ 3WCPVQ ´U GPVTGXKUVCU HQTCO TGCNK\CFCU GPVTGXKUVCU UGOKGUVTWVWTCFCU HGKVCU EQO CITKEWNVQTGU HCOKNKCTGU G EQO CIGPVGU RĂ&#x2022;DNKEQU &G CEQTFQ EQO .CMCVQU G /CTEQPK 1 a entrevista ĂŠ o procedimento em que o entrevistador se coloca face a face com o entrevistado, do qual busca obter informaçþes que nĂŁo possui sobre determinado assunto. Ă&#x2030; uma conversa metĂłdica, que segue uma diretriz previamente estabelecida, uma estratĂŠgia metodolĂłgica que deve ser adequada ao objeto da pesquisa. Para a pesquisa aqui relatada, foram entrevistados
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25 agricultores que desenvolvem suas atividades nos municĂpios que compĂľem a Comarca de Viçosa e oito agentes pĂşblicos. A realização das entrevistas ocorreu durante o mĂŞs de maio de 2015. O nĂşmero de 25 entrevistados foi aleatĂłrio. Os critĂŠrios utilizados para selecionar os entrevistados foram que fosse agricultor familiar e residisse em um dos municĂpios que compĂľem a Comarca de Viçosa. Ressalta-se que os agricultores familiares entrevistados nĂŁo estĂŁo diretamente relacionados CQU RTQEGUUQU CPCNKUCFQU 'ZKUVGO CNIWOCU EQKPEKFĂ&#x201E;PEKCU RGUUQCU GPVTGXKUVCFCU SWG GUVÂşQ respondendo a processos que foram analisados), mas hĂĄ outros que jĂĄ foram autuados pela prĂĄtica de infraçþes ambientais, mas cujo processo nĂŁo foi analisado, e outros, ainda, que CĹżTOCTCO PWPEC VGTGO VKFQ RTQDNGOCU FGUUC PCVWTG\C %QOQ WO FQU QDLGVKXQU FC RGUSWKUC foi analisar as consequĂŞncias que um processo pode trazer em relação ao modo como esse infrator passa a ser visto pelo grupo social, tornou-se importante ter, tambĂŠm, a participação de pessoas que nunca tiveram problemas com a justiça. Quanto aos agentes pĂşblicos, foram entrevistados oito representantes, que foram os UGIWKPVGU FQKU RQNKEKCKU CODKGPVCKU FQKU VĂ&#x192;EPKEQU FQ +PUVKVWVQ 'UVCFWCN FG (NQTGUVCU +'( WO RTQOQVQT WO LWK\ Q UGETGVÂśTKQ FQ OGKQ CODKGPVG WO VĂ&#x192;EPKEQ FC 'ORTGUC FG #UUKUVĂ&#x201E;PEKC 6Ă&#x192;EPKEC G 'ZVGPUÂşQ 4WTCN FQ 'UVCFQ FG /KPCU )GTCKU 'OCVGT O artigo estĂĄ dividido da seguinte maneira: na primeira parte, serĂŁo apresentados os FCFQU QDVKFQU PCU EQPUWNVCU RTQEGUUWCKU GO UGIWKFC UGTÂşQ HGKVCU TGĆ&#x20AC;GZĂ?GU C TGURGKVQ FQ SWG HQK EQPUVCVCFQ PCU CPÂśNKUGU FQU RTQEGUUQU G RQT ĹżO UGTÂşQ HGKVCU EQPUKFGTCĂ Ă?GU CEGTEC FQ RQFGT simbĂłlico do Direito, com apoio nas ancoragens teĂłricas escolhidas. Algumas conclusĂľes encerram o trabalho.
2 O QUE REVELAM OS AUTOS Na Comarca de Viçosa, em geral, a autuação ĂŠ feita pela PolĂcia Militar do Meio Ambiente. Os policiais chegam ao local do fato por meio de denĂşncia, na maior parte das vezes, ou por meio de policiamento ostensivo, ou seja, do trabalho normal de ronda. Constatada a infração, C RQNĂ&#x2C6;EKC PQVKĹżEC Q KPHTCVQT C TGURGKVQ FC KPUVCWTCĂ ÂşQ FG WO RTQEGFKOGPVQ CFOKPKUVTCVKXQ SWG geralmente, tem como consequĂŞncia a aplicação de uma multa. O boletim de ocorrĂŞncia, lavrado PC JQTC Ă&#x192; GPECOKPJCFQ RCTC C &GNGICEKC FC 2QNĂ&#x2C6;EKC %KXKN G RCTC Q /KPKUVĂ&#x192;TKQ 2Ă&#x2022;DNKEQ 'UVCFWCN Cabe ao delegado da PolĂcia Civil analisar se o fato constitui crime ambiental. Se constituir, deverĂĄ ser iniciado um inquĂŠrito policial. ConcluĂdo o inquĂŠrito, este deverĂĄ ser encaminhado ao MinistĂŠrio PĂşblico, ĂłrgĂŁo responsĂĄvel para propor a ação penal. O processo UWTIG EQO C CĂ ÂşQ RGPCN RQKU CQ FCT KPĂ&#x2C6;EKQ C GNC Q EQPĆ&#x20AC;KVQ Ă&#x192; NGXCFQ ´ CRTGEKCĂ ÂşQ FQ 2QFGT JudiciĂĄrio para que o juiz decida se houve crime e se a pessoa acusada deve ser punida. Paralelamente a isso, o MinistĂŠrio PĂşblico analisa, ainda, se o fato causou dano ambiental. Se tiver causado, poderĂĄ optar entre propor um termo de ajustamento de conduta
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(TAC) ou iniciar uma ação civil pĂşblica. O MinistĂŠrio PĂşblico tem competĂŞncia ainda para iniciar inquĂŠrito civil para apuração de dano ambiental, independentemente de ocorrĂŞncia de crime ou infração ambiental. Nesses casos, o fato chega ao conhecimento do promotor RQT OGKQ FG FGPĂ&#x2022;PEKC 'UUGU KPSWĂ&#x192;TKVQU EKXKU RQFGO QW UGT CTSWKXCFQU QW TGUWNVCT GO VGTOQU de ajustamento de conduta ou ensejar a propositura de ação civil pĂşblica. A possibilidade de mais de um desdobramento da infração ambiental ĂŠ um dos aspectos mais difĂceis de serem compreendidos pelos agricultores, pois, muitas vezes, eles sĂŁo autuados administrativamente e acreditam que o problema serĂĄ totalmente solucionado com o RCICOGPVQ FC OWNVC 'PVTGVCPVQ CRĂ&#x17D;U Q RCICOGPVQ UÂşQ UWTRTGGPFKFQU EQO WOC PQVKĹżECĂ ÂşQ para que compareçam ao fĂłrum para realizar um TAC ou recebem uma citação judicial que informa que foi instaurado um processo em que ele ĂŠ rĂŠu. A sensação dos agricultores ĂŠ a de que estĂŁo sendo punidos duplamente ou triplamente pelo mesmo fato. De acordo com a lei, ĂŠ possĂvel apresentar defesa contra o auto de infração, no prazo de XKPVG FKCU EQPVCFQU FC FCVC FC PQVKĹżECĂ ÂşQ 'UUC FGHGUC RQFGTÂś UGT GNCDQTCFC RGNQ RTĂ&#x17D;RTKQ CWVWCFQ QW RQT WO CFXQICFQ %CDG CQ CWVWCFQ C RTQXC FQU HCVQU CNGICFQU 'PVTGVCPVQ CU provas propostas pelo autuado poderĂŁo ser recusadas, mediante decisĂŁo fundamentada da autoridade competente. ApĂłs julgamento da defesa apresentada, o autuado receberĂĄ, em sua residĂŞncia, uma correspondĂŞncia, contendo um ofĂcio que informarĂĄ sobre a resposta da defesa. CaberĂĄ, ainda, o recurso que poderĂĄ ser apresentado no prazo de 30 (trinta) dias, contados da data FC PQVKĹżECĂ ÂşQ FQ CWVWCFQ FQ LWNICOGPVQ FC FGHGUC 1 TGEWTUQ VCODĂ&#x192;O RQFGTÂś UGT GNCDQTCFQ pelo prĂłprio autuado ou por advogado. &G CEQTFQ EQO Q CTV FQ &GETGVQ P KPEKUQ + 2 poderĂĄ haver a redução do valor da multa aplicada, se o interessado comprovar a existĂŞncia de uma das situaçþes GNGPECFCU PQU CTVKIQU EQOQ C EQOWPKECĂ ÂşQ KOGFKCVC FQ FCPQ QW RGTKIQ ´ CWVQTKFCFG CObiental ou a colaboração do infrator com os ĂłrgĂŁos ambientais na solução dos problemas advindos de sua conduta. 'ODQTC C NGIKUNCĂ ÂşQ FGKZG ENCTCU GUUCU RQUUKDKNKFCFGU FCFQ Q ITCW FG FGUKPHQTOCĂ ÂşQ existente entre os agricultores, a apresentação de defesa e de recurso pelo prĂłprio autuaFQ Ă&#x192; OWKVQ RQWEQ WVKNK\CFC 'UUC RTGUUWRQUKĂ ÂşQ HQK EQPĹżTOCFC RGNQU VĂ&#x192;EPKEQU FQ +PUVKVWVQ 'UVCFWCN FG (NQTGUVCU +'( GO GPVTGXKUVC TGCNK\CFC GO CDTKN FG 5GIWPFQ Q CPCNKUVC CODKGPVCN FQ +'( Ĺ&#x2018;a maior parte dos agricultores autuados paga a multa, sem contestaçþes, de forma parcelada.â&#x20AC;?3 O Sr. Daniel, morador de CĂłrrego Fundo, Viçosa-MG, ĂŠ um exemplo que parece representar o comportamento comum entre os agricultores da regiĂŁo em relação ao pagamento de multas. Disse ele: â&#x20AC;&#x153;Paguei R$ 6.000,00 porque nĂŁo ajustei advogado. Depois me falaram que, se tivesse arrumado advogado, a multa tinha diminuĂdo. Mas eu nĂŁo arranjei nĂŁo, porque eu nĂŁo preciso de advogado. Pra quĂŞ advogado? Eu nĂŁo matei ninguĂŠm [...].â&#x20AC;?
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A partir da fala desse agricultor, duas observaçþes podem ser feitas: a primeira vai ao encontro do estudo de Woortmann, de acordo com o qual a honestidade ĂŠ um valor a que o camponĂŞs dĂĄ muita importância.4 Nesse sentido, â&#x20AC;&#x153;demandar na justiçaâ&#x20AC;? ĂŠ algo que sĂł deve QEQTTGT SWCPFQ PÂşQ RWFGT UGT GXKVCFQ RQKU TGOGVG ´ RTÂśVKEC FG WOC OÂś EQPFWVC &GUUC RGTEGRĂ ÂşQ FGEQTTG C UGIWPFC QDUGTXCĂ ÂşQ SWG CRQPVC RCTC Q UKIPKĹżECFQ UQEKCN G RUKEQNĂ&#x17D;IKEQ do processo na vida desses sujeitos, pois, muito alĂŠm de ser um contratempo, implica deduçþes a respeito do indivĂduo. Ainda sobre a utilização dos recursos, observa-se que somente aqueles que detĂŞm inforOCĂ Ă?GU UWĹżEKGPVGU RCTC UG FGHGPFGTGO UGLC UQ\KPJQU UGLC RQT OGKQ FG UGTXKĂ QU GURGEKCNK\CFQU WVKNK\CO GUUGU KPUVTWOGPVQU NGICKU /CKU WOC XG\ ĹżEC GXKFGPEKCFQ Q HCVQ FG SWG GODQTC existam previsĂľes legais no sentido de facilitar a resolução dos problemas de irregularidade, GZKUVG WOC RCTEGNC UKIPKĹżECVKXC FG EKFCFÂşQU SWG RGTOCPGEG GZENWĂ&#x2C6;FC FQ GZGTEĂ&#x2C6;EKQ RNGPQ desses direitos. Considerando a acepção ampla de meios de vida, em que recursos ou ativos UÂşQ VCODĂ&#x192;O QU CEGUUQU G CU QRQTVWPKFCFGU ĹżEC ENCTQ SWG ITWRQU UQEKCN G GEQPQOKECOGPVG XWNPGTÂśXGKU EQOQ Ă&#x192; Q ECUQ FQU CITKEWNVQTGU HCOKNKCTGU GPEQPVTCO OCKU FKĹżEWNFCFGU RCTC usufruĂrem as garantias legais e jurĂdicas. As autoridades se esforçam para atribuir aos agricultores a responsabilidade por nĂŁo utilizarem as concessĂľes dadas pela lei e por nĂŁo pleitearem as polĂticas de que necessitam, CĹżTOCPFQ UGTGO QU CITKEWNVQTGU RGUUQCU Ĺ&#x2018;caladas e pouco participativas.â&#x20AC;? Disse o promotor de justiça da Comarca: â&#x20AC;&#x153;os agricultores nĂŁo sĂŁo organizados, e, mesmo quando conseguem se organizarem, de alguma maneira, os representantes tĂŞm pouca instrução.â&#x20AC;? Na Comarca de Viçosa, durante o perĂodo de 2011 a 2013, considerando os 240 procedimentos em curso, 65,8% resultaram em TAC. Destes, 33,5% foram cumpridos e 66,5% VKXGTCO FGUFQDTCOGPVQU LWFKEKCKU EQO RTQRQUKVWTC FG CĂ Ă?GU .QIQ PÂşQ UG RQFG CĹżTOCT SWG a realização do acordo extrajudicial tenha amenizado a situação do agricultor, evitando que este tenha desgastes decorrentes da lentidĂŁo e da burocracia da Justiça, pois a quantidade FG CEQTFQU SWG PÂşQ HQTCO EWORTKFQU Ă&#x192; ITCPFG #U RTKPEKRCKU TC\Ă?GU SWG LWUVKĹżECO Q FGUEWORTKOGPVQ FQU 6#% UÂşQ CU FKĹżEWNFCFGU GO EWORTKT CU OGFKFCU G Q EWUVQ SWG GNCU GPXQNXGO Quanto ao perĂodo mĂŠdio para que a questĂŁo seja solucionada por meio de TAC, observou-se que, entre a ocorrĂŞncia do fato e a realização do acordo, decorrem, em mĂŠdia, CPQU 'PVTG C TGCNK\CĂ ÂşQ FQ 6#% G Q VGTOQ ĹżPCN FQ RTQEGUUQ FGEQTTGO GO OĂ&#x192;FKC CPQU totalizando um perĂodo de duração mĂŠdio para o processo de 5 anos, desconsiderando GXGPVWCKU TGEWTUQU 'UUG RTC\Q RQFG XCTKCT FG CEQTFQ EQO CU GURGEKĹżEKFCFGU FQ ECUQ OCU UG RĂ?FG PQVCT SWG Q HCVQT SWG OCKU KPVGTHGTG PQ VGORQ FG FWTCĂ ÂşQ FQ RTQEGUUQ Ă&#x192; C TGCNK\CĂ ÂşQ FC RGTĂ&#x2C6;EKC &G CEQTFQ EQO KPHQTOCĂ Ă?GU QDVKFCU PQU RTĂ&#x17D;RTKQU CWVQU G EQPĹżTOCFCU RQT funcionĂĄrios estaduais, a estrutura dos ĂłrgĂŁos tĂŠcnicos estaduais responsĂĄveis pela perĂcia GPEQPVTC UG DCUVCPVG FGĹżEKVÂśTKC FG OQFQ SWG QU CIGPVGU UÂşQ KPUWĹżEKGPVGU RCTC Q PĂ&#x2022;OGTQ de solicitaçþes feitas pela Justiça.
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3 REFLEXĂ&#x2022;ES A PARTIR DAS CONSULTAS PROCESSUAIS Nesta seção, serĂĄ feita uma anĂĄlise dos dados apresentados anteriormente, entendendo o âmbito jurĂdico como um campo, na acepção de Bourdieu, segundo o qual o campo ĂŠ um espaço de disputas de poder.5 &G CEQTFQ EQO Q CWVQT ECFC ITWRQ RQUUWK WO ECRKVCN 'UVG KPENWK CNĂ&#x192;O FQ CURGEVQ GEQPĂ?OKEQ Q CURGEVQ EWNVWTCN SWG CDTCPIG Q EQPJGEKOGPVQ CU JCbilidades, as informaçþes; o aspecto social, correspondente ao conjunto de acessos sociais, que inclui o relacionamento e a rede de contatos; e o aspecto simbĂłlico, que ĂŠ uma sĂntese dos demais, correspondente ao conjunto de rituais de reconhecimento social. Segundo Bourdieu, existe uma conexĂŁo entre o campo e o habitus. O habitus deve ser visto â&#x20AC;&#x153;como um conjunto de esquemas de percepção, apropriação e ação que ĂŠ experimentado e posto em prĂĄtica pelo indivĂduo.â&#x20AC;?6 'UUG CWVQT GO QWVTQ GUVWFQ GUENCTGEG SWG Q habitus â&#x20AC;&#x153;ĂŠ adquirido por aprendizagem e funciona como um sistema de esquemas geradores de estratĂŠgias.â&#x20AC;?7 O habitus assegura a reprodução das relaçþes sociais, pois o indivĂduo interioriza norOCU G XCNQTGU G TGRTQFW\ CU TGNCĂ Ă?GU UQEKCKU JKGTCTSWK\CFCU LÂś EQPUVTWĂ&#x2C6;FCU 'O IGTCN Q ITWRQ dominante forma o habitus, estabelecendo o que deve ser entendido como o senso comum. Uma vez internalizada a hierarquia, o habitus se torna ainda mais homogĂŞneo, dada a impossibilidade de tais indivĂduos perceberem a existĂŞncia dos grupos de interesse no seio social. A adesĂŁo ou aceitação dos dominados das regras e das crenças partilhadas como se fossem â&#x20AC;&#x153;naturaisâ&#x20AC;? e a incapacidade crĂtica de reconhecer o carĂĄter arbitrĂĄrio de tais regras impostas pelas autoridades dominantes de um campo ĂŠ chamada por Bourdieu de â&#x20AC;&#x153;dominação conUGPVKFCĹ&#x2019; G TGĆ&#x20AC;GVG WO VKRQ FG Ĺ&#x2018;XKQNĂ&#x201E;PEKC UKODĂ&#x17D;NKEC Ĺ&#x2019;8 De acordo com Bourdieu,9 na sociedade, existem os grupos dominantes e os dominados, e as instituiçþes tĂŞm um papel importante para a perpetuação da dominação. Assim, igrejas, escolas, famĂlias contribuem para o processo de dominação porque reproduzem o habitus criado pelo grupo dominante. Considerando a esfera judicial como um campo, ĂŠ possĂvel perceber a existĂŞncia de um habitus. Por meio deste, os dominantes impĂľem um conjunto de posturas que os dominados passam a compreender como aceitĂĄveis. Tais posturas sĂŁo continuamente reproduzidas, e, dessa forma, ocorre a manutenção do sistema. O poder simbĂłlico, de acordo com Bourdieu, ĂŠ â&#x20AC;&#x153;o poder invisĂvel o qual pode ser exercido dessa maneira com cumplicidade daqueles que nĂŁo querem saber que lhe estĂŁo sujeitos ou mesmo que o exercem.â&#x20AC;?10 O autor entende que â&#x20AC;&#x153;os sistemas simbĂłlicos â&#x20AC;&#x201C; como arte, religiĂŁo G NĂ&#x2C6;PIWC Ĺ&#x152; VĂ&#x201E;O HWPĂ ÂşQ KORQTVCPVG PC TGRTQFWĂ ÂşQ FC QTFGO UQEKCN Ĺ&#x2019; 'UUC TGRTQFWĂ ÂşQ FC QTFGO RQT KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC FCU RTQFWĂ Ă?GU UKODĂ&#x17D;NKECU EQPĹżIWTC C GZKUVĂ&#x201E;PEKC FG KFGQNQIKCU SWG UÂşQ RCTC o autor, â&#x20AC;&#x153;formaçþes capazes de apresentar interesses particulares como se fossem universais G SWG FGUUG OQFQ KPĆ&#x20AC;WGO UQDTG C HWPĂ ÂşQ RQNĂ&#x2C6;VKEC FQ UKUVGOC UKODĂ&#x17D;NKEQ Ĺ&#x2019;11 &G CEQTFQ EQO $QWTFKGW CU VGQTKCU SWG DWUECO LWUVKĹżECT Q &KTGKVQ EQOQ WOC EKĂ&#x201E;PEKC que encontra fundamento em si prĂłprio sĂŁo a clara demonstração do poder simbĂłlico que
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esse campo possui, pois o consideram independente e desvinculado de contextos sociais e histĂłricos.12 1U EQPĆ&#x20AC;KVQU G CTIWOGPVQU FQ EQVKFKCPQ UÂşQ XKUVQU EQOQ CSWĂ&#x192;O FC NGK G FGOCUKCFCOGPVG VTKXKCKU 0Q OGUOQ UGPVKFQ 5CPVQU CĹżTOC SWG Ĺ&#x2018;Q RGPUCOGPVQ FC FQIOÂśVKEC jurĂdica sublima, mediante sucessivas prĂłteses tĂŠcnicas, tudo o que existe de quotidiano e de vulgar.â&#x20AC;?13 'O NWICT FG DWUECT EQORTGGPFGT Q EQPVGZVQ UQEKCN G JKUVĂ&#x17D;TKEQ FQ HCVQ SWG GUVÂś UGPFQ julgado, com frequĂŞncia, o Direito busca a solução em precedentes ou decisĂľes anteriores, em uma pressuposição de que aquilo que jĂĄ foi decidido ĂŠ o que representa o justo, o adequado. De acordo com Bourdieu, â&#x20AC;&#x153;a busca do precedente ĂŠ, para o pensamento jurĂdico, uma forma FG CĹżTOCĂ ÂşQ FC CWVQPQOKC FQ FKTGKVQ GO TGNCĂ ÂşQ ´U SWGUVĂ?GU UQEKCKU QW JKUVĂ&#x17D;TKECU Ĺ&#x2019;14 Dessa HQTOC CU FGEKUĂ?GU XÂşQ UGPFQ RCFTQPK\CFCU G Q RQFGT FC KPUVKVWKĂ ÂşQ Ă&#x192; TGCĹżTOCFQ 'PVTGVCPVQ com isso, o Direito perde o carĂĄter de instrumento de transformação social. Nesse sentido, &YQTMKP CĹżTOC SWG Ĺ&#x2018;Q LWNICFQT FGXG FGKZCT FG UGT WO UKORNGU CRNKECFQT FG PQTOCU RCTC ser uma ferramenta na construção do direito.â&#x20AC;?15 De acordo com ele, â&#x20AC;&#x153;o direito nasce de um RTQEGUUQ FG EQPUVTWĂ ÂşQ G LWUVKĹżECĂ ÂşQ G PÂşQ FC TGRTQFWĂ ÂşQ FG WO RCUUCFQ RTGGUVCDGNGEKFQ pois o julgamento feito a partir da reprodução de outras decisĂľes, sem o estudo atento do caso concreto, representa a incidĂŞncia da violĂŞncia da autoridade envolvida.â&#x20AC;?16 0C OGUOC NKPJC &GTTKFC CĹżTOC SWG Ĺ&#x2018;Q LWNICFQT PÂşQ RQFG CIKT EQOQ WOC OÂśSWKPC de calcular porque o alcance do justo estĂĄ muito distante dessa tarefa, de cĂĄlculo, pois cada exercĂcio da justiça como direito sĂł poderĂĄ ser justo se for um julgamento novo.â&#x20AC;?17 Barroso VCODĂ&#x192;O CĹżTOC SWG QU ECUQU EWLC UQNWĂ ÂşQ PÂşQ UG GPEQPVTC RTĂ&#x192; RTQPVC PQ QTFGPCOGPVQ LWrĂdico exigem uma atuação criativa do intĂŠrprete, baseada nas orientaçþes constitucionais. 'NG QDUGTXC SWG Ĺ&#x2018;PÂşQ HQK Q &KTGKVQ G C KPVGTRTGVCĂ ÂşQ EQPUVKVWEKQPCN SWG UG VQTPCTCO OCKU EQORNKECFQU OCU C XKFC SWG ĹżEQW OCKU EQORNGZC GZKIKPFQ ECVGIQTKCU LWTĂ&#x2C6;FKECU OCKU UQĹżUticadas e sutis.â&#x20AC;?18 A linguagem judiciĂĄria repleta de erudiçþes e expressĂľes em latim ĂŠ uma manifestação do poder simbĂłlico do Direito. Mas o discurso jurĂdico ĂŠ composto de uma sĂŠrie de outros elementos que contribuem para enfatizar a força da instituição. Bourdieu menciona um conjunto de caracterĂsticas sintĂĄticas tais como construçþes passivas, frases impessoais, recurso ao verbo no indicativo, emprego de verbos atestativos e na terceira pessoa do singular que sĂŁo comumente utilizadas para caracterizar a neutralidade e a impessoalidade que se espera de um enunciado da justiça.19 Para pensar a respeito do poder embutido no discurso jurĂdico, ĂŠ importante esclarecer o que estĂĄ sendo compreendido como â&#x20AC;&#x153;discursoâ&#x20AC;? e o que seria o â&#x20AC;&#x153;exercĂcio do poderâ&#x20AC;?. 2CTC /GWTGT Ĺ&#x2018;FKUEWTUQ Ă&#x192; Q EQPLWPVQ FG CĹżTOCĂ Ă?GU SWG CTVKEWNCFCU CVTCXĂ&#x192;U FC NKPIWCIGO GZRTGUUCO QU XCNQTGU G UKIPKĹżECFQU FG WO ITWRQ UQEKCN Ĺ&#x2019;20 Sendo assim, para ele, o discurso UGTKC Q EQPLWPVQ FG XCNQTGU G UKIPKĹżECFQU RQT VTÂśU FQ VGZVQ # TGURGKVQ FQ GZGTEĂ&#x2C6;EKQ FQ RQFGT seguiu-se a linha de pensamento de Foucault, para quem o exercĂcio do poder ĂŠ um modo
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de ação de uns sujeitos sobre as açþes de outros.21 De acordo com esse autor, os efeitos de poder sĂŁo constituĂdos nas relaçþes de força entre os sujeitos desiguais, seja pela situação FG ECFC WO UGLC RGNQ RQVGPEKCN FG TGEWTUQU SWG RQUUWGO UGLCO GNGU GEQPĂ?OKEQU OKNKVCTGU de informação). 3WCPFQ WOC SWGUVÂşQ EJGIC CQ 2QFGT ,WFKEKÂśTKQ GO TGITC GZKUVG WO EQPĆ&#x20AC;KVQ FG KPteresses, em que os dois lados tentam mostrar quem tem razĂŁo, apresentando suas provas. %CDG CQ LWK\ CPCNKUCT VQFQ Q GZRQUVQ KFGPVKĹżECT EQO SWGO GUVÂś Q FKTGKVQ GPEQPVTCT C PQTOC CRNKEÂśXGN CQ ECUQ G UQNWEKQPCT Q RTQDNGOC 1 QDLGVKXQ FQ RTQEGUUQ RQTVCPVQ ´ NW\ FQ RTKPEĂ&#x2C6;RKQ da dignidade humana, ĂŠ, a partir das provas produzidas, fazer com que o juiz se aproxime ao mĂĄximo do que de fato ocorreu. Mas, a partir das provas produzidas nos autos, ĂŠ possĂvel EJGICT ´ EGTVG\C SWCPVQ ´ XGTFCFG FQU HCVQU! #FQVC UG CSWK C RTGOKUUC FG SWG C XGTFCFG ĂŠ sempre uma construção social.22 De acordo com Foucault, a verdade ĂŠ um conjunto de procedimentos regulados para a circulação e o funcionamento dos discursos e estĂĄ ligada a sistemas de poder que a produzem e apoiam e a efeitos de poder que a reproduzem e sĂŁo induzidos por ela.23 De acordo com Foucault, as relaçþes de poder utilizam o Direito para criar discursos de verdade.24 Por ser o direito o discurso da verdade, e a verdade criadora do Direito, Foucault busca demonstrar que o Direito, em sua capilaridade, fomenta relaçþes de sujeição. O Direito deve ser visto como um procedimento de sujeição que ele desencadeia, e nĂŁo como uma legitimidade a ser estabelecida. Para Bourdieu, â&#x20AC;&#x153;o direito ĂŠ a forma por excelĂŞncia do discurso atuante, capaz, por sua prĂłpria força, de produzir efeitos.â&#x20AC;?25 1 RQFGT PÂşQ Ă&#x192; UQOGPVG CSWGNG UQDGTCPQ SWG GOCPC FQ RQXQ CTV RCTÂśITCHQ Ă&#x2022;PKEQ da CF/1988);26 ele ĂŠ tambĂŠm constituĂdo por prĂĄticas sociais concretas. De acordo com Foucault, o poder ĂŠ relacional e sĂł se constitui em uma rede de atores sociais na medida em que se faz uso dele.27 O poder circula em rede por todo o meio social, agindo sobre o corpo e construindo subjetividades, tendo caracterĂstica, ao mesmo tempo, de um poder disciplinar, que age sobre a individualidade; e de um biopoder que age sobre a vida e sobre a coletividade. Vianna propĂľe pensar os autos processuais, em termos metodolĂłgicos, como â&#x20AC;&#x153;um conjunto de relatos convertidos em â&#x20AC;&#x2DC;depoimentosâ&#x20AC;&#x2122;, escritos por um mecanismo de controle DWTQETÂśVKEQ G FG EQPUVTWĂ ÂşQ FG CĹżTOCĂ ÂşQ FG CWVQTKFCFG HWPFCOGPVCKU RCTC C RTQFWĂ ÂşQ FG uma decisĂŁo judicial.â&#x20AC;?28 Nesse sentido, â&#x20AC;&#x153;um auto processual se constitui como resultado do confronto de posiçþes de autoridade entre os que depĂľem e os que sĂŁo responsĂĄveis em traduzir as falas em termos da universalidade jurĂdica.â&#x20AC;?29 Os tĂŠcnicos do JudiciĂĄrio tĂŞm a função de ouvir o depoente e transcrever a fala de acordo com o jargĂŁo forense. Posteriormente, esses trechos serĂŁo aproveitados para a confecção da sentença. Portanto, assim como os depoentes selecionam o conteĂşdo de suas falas, os tĂŠcnicos da justiça tambĂŠm escolhem o que registrar. Segundo Rinaldi, â&#x20AC;&#x153;em geral, procuram produzir um discurso capaz de trazer benefĂcios no âmbito da decisĂŁo judicial.â&#x20AC;?30
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Foucault, ao comentar esse aspecto, observa como o sistema processual vigente atribui poder aos agentes estatais, pois eles sĂŁo responsĂĄveis por transcrever a fala dos depoentes e, a partir desses relatos, produzir a sentença.31 Foucault ressalta que a observação nĂŁo se mostra EQPVTC QU VĂ&#x192;EPKEQU QW CU UWCU VĂ&#x192;EPKECU G UKO EQPVTC Q RQFGT SWG RQUUWGO GO KPĆ&#x20AC;WGPEKCT CU decisĂľes do JudiciĂĄrio.32 0Q OGUOQ UGPVKFQ $QWTFKGW CĹżTOC SWG RQT OGKQ FCU KPUVKVWKĂ Ă?GU os agentes desempenham seus papĂŠis na sociedade, reforçando o habitus instituĂdo e promovendo a sua internalização.33 'ZKUVG WO RTQXĂ&#x192;TDKQ QTKIKPCFQ FQ &KTGKVQ 4QOCPQ SWG CĹżTOC SWG Q SWG PÂşQ GUVÂś PQU CWVQU PÂşQ GUVÂś PQ OWPFQ 'UUC RTGOKUUC TGUUCNVC C PGEGUUKFCFG FG Q LWNICFQT CVGT UG ´U RTQXCU RTQFW\KFCU RCTC RTQHGTKT UWC FGEKUÂşQ TGHQTĂ CPFQ SWG Q SWG PÂşQ GUVKXGT PQU CWVQU processuais nĂŁo interessa ao debate processual. Portanto, como regra, do ponto de vista da justiça, o que importa ĂŠ o que estĂĄ no processo, ou seja, o discurso construĂdo. Nesse sentido, (QWECWNV CĹżTOC SWG Q KPSWĂ&#x192;TKVQ Ă&#x192; HQTOC FG GZGTEĂ&#x2C6;EKQ FQ RQFGT RQKU Ĺ&#x2018;Ă&#x192; WOC OCPGKTC PC cultura ocidental, de, por meio da instituição judiciĂĄria, autenticar a verdade, revelar coisas que vĂŁo ser consideradas verdadeiras e transmiti-las.â&#x20AC;?34 De acordo com Foucault,35 o discurso nĂŁo ĂŠ simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas ĂŠ aquilo pelo qual e com o qual se luta, ĂŠ o prĂłprio poder FG SWG RTQEWTCOQU CUUGPJQTGCT PQU 1 CWVQT CĹżTOC %CFC UQEKGFCFG FGĹżPG QU VKRQU FG FKUEWTUQ SWG GNC TGEGDG G RĂ?G C HWPEKQPCT QU mecanismos e as instâncias que permitirĂŁo que se diferenciem os enunciados XGTFCFGKTQU FQU HCNUQU CU HQTOCU EQOQ UG TCVKĹżECO WPU G QWVTQU CU VĂ&#x192;EPKECU G os procedimentos aos quais serĂŁo dados maior valor no alcance da verdade; a EQPFKĂ ÂşQ Q NWICT SWG Ă&#x192; EQPHGTKFQ ´SWGNGU SWG UG QEWRCO GO FK\GT Q SWG HWPciona como verdadeiro.36
2CTC GNG Ĺ&#x2018;Q FKUEWTUQ PCFC OCKU Ă&#x192; FQ SWG Q TGĆ&#x20AC;GZQ FG WOC XGTFCFG SWG GUVÂś UGORTG C nascer diante dos seus olhos.â&#x20AC;?37 De acordo com Bourdieu, ĂŠ necessĂĄrio que existam agentes para construir o discurso, instituiçþes para validĂĄ-los e a aceitação da sociedade.38 Nota-se, assim, a importância e a complexidade do discurso. Ă&#x2030; importante, porque ĂŠ um instrumento pelo qual sĂŁo transmitidos valores e ideologias, e ĂŠ complexo porque uma manifestação repleta de interesses de categorias e carregada de signos de poder. De acordo com Foucault, o discurso nĂŁo deve ser compreendido apenas pelas palavras e pelas frases, porque o discurso ĂŠ uma prĂĄtica. Assim, ele afirma: [...] o discurso nĂŁo ĂŠ uma estreita superfĂcie de contato, ou de confronto, entre uma realidade e uma lĂngua, o intrincamento entre um lĂŠxico e uma experiĂŞncia = ? TGXGNC CĹżPCN FG EQPVCU WOC VCTGHC KPVGKTCOGPVG FKHGTGPVG SWG EQPUKUVG GO nĂŁo mais tratar os discursos como conjuntos de signos [...] mas como prĂĄticas que formam sistematicamente os objetos de que falam.39
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.CENCW VCODĂ&#x192;O EQORTGGPFG Q FKUEWTUQ EQOQ WO KPUVTWOGPVQ FG NKPIWCIGO SWG WNVTCpassa o campo meramente linguĂstico. O autor argumenta que o discurso ĂŠ uma instância NKOĂ&#x2C6;VTQHG EQO Q ECORQ UQEKCN Ĺ&#x2018;RQTSWG ECFC CVQ UQEKCN VGO WO UKIPKĹżECFQ EQPUVKVWĂ&#x2C6;FQ PC forma de sequencias discursivas que articulam elementos linguĂsticos e extralinguĂsticos.â&#x20AC;?40 Assim, ele prossegue, â&#x20AC;&#x153;a sociedade poderia ser entendida como uma um vasto tecido argumentativo no qual a humanidade constrĂłi a sua prĂłpria realidade.â&#x20AC;?41 Nesse ponto, vale apresentar a anĂĄlise de Brito a respeito do discurso jurĂdico.42 A autora aplicou as tĂŠcnicas de anĂĄlise de discurso para compreender e explicar os elementos que subsistem por trĂĄs do texto escrito das peças que compĂľem o processo judicial. Na linha de pensamento de PĂŞcheux, a anĂĄlise do discurso enfoca a linguagem como prĂĄtica social e busca investigar o modo como os indivĂduos interagem pela linguagem e a descrição das HWPĂ Ă?GU SWG HQTOCU NKPIWĂ&#x2C6;UVKECU TGCNK\CO GO RTÂśVKECU FKUEWTUKXCU GURGEĂ&#x2C6;ĹżECU PQTOCNOGPVG KPUVKVWEKQPCKU G NKICFCU CQ 'UVCFQ 43 'UUC XGTVGPVG FQU GUVWFQU FKUEWTUKXQU EQPVGORNC C RTQdução de sentido do discurso como resultante do processo de interação social. Dessa forma, busca compreender a relação entre o â&#x20AC;&#x153;euâ&#x20AC;? e o â&#x20AC;&#x153;outroâ&#x20AC;?. Ao aplicar as tĂŠcnicas de anĂĄlise do discurso ao texto da denĂşncia, Brito observou que o promotor de justiça, assim se expressa: â&#x20AC;&#x153;O Representante do MinistĂŠrio PĂşblico, ao ĹżPCN CUUKPCFQ PQ WUQ FG UWCU CVTKDWKĂ Ă?GU G PC OGNJQT HQTOC FG FKTGKVQ XGO EQO DCUG PQ KPENWUQ KPSWĂ&#x192;TKVQ RQNKEKCN QHGTGEGT FGPĂ&#x2022;PEKC EQPVTC (7.#01 &' 6#. XWNIQ Ĺ&#x17D;<Ă&#x192; QW <Ă&#x192; Mariaâ&#x20AC;&#x2122; [...].â&#x20AC;?44 &G CEQTFQ EQO CU GZRNKECĂ Ă?GU FG $TKVQ SWCPFQ Q RTQOQVQT FG LWUVKĂ C CĹżTOC serem â&#x20AC;&#x153;suasâ&#x20AC;? as atribuiçþes de denunciar os atos que nĂŁo se enquadram nos moldes de uma UQEKGFCFG GSWKNKDTCFC EQNQEC UG GO WOC RQUKĂ ÂşQ FG CWVQTKFCFG GO TGNCĂ ÂşQ ´SWGNG SWG GUVÂś UGPFQ RQT GNG FGPWPEKCFQ 0Q OGUOQ RCUUQ SWCPFQ CĹżTOC SWG Q HC\ Ĺ&#x2018;PC OGNJQT HQTOC FG direitoâ&#x20AC;?, estĂĄ o representante do MinistĂŠrio PĂşblico construindo a sua verdade Ăşnica, irrefutĂĄvel. Ao utilizar o termo â&#x20AC;&#x153;vulgoâ&#x20AC;? para se referir ao denunciado, o sujeito se coloca em uma posição de superioridade, jĂĄ que tal adjetivo coloca o â&#x20AC;&#x153;outroâ&#x20AC;? na posição inferior de quem nem sequer ĂŠ conhecido pelo prĂłprio nome.45 'O TGNCĂ ÂşQ CQ KPVGTNQEWVQT FQ FKÂśNQIQ KPKEKCFQ EQO Q QHGTGEKOGPVQ FC FGPĂ&#x2022;PEKC SWG Ă&#x192; Q LWK\ C CPÂśNKUG FG $TKVQ EQPĹżTOC C KFGKC FG SWG Q VGZVQ CEGPVWC CU TGNCĂ Ă?GU FG RQFGT G HQTĂ C instauradas entre os sujeitos, pois apaga a voz do denunciado e ressalta a voz do juiz como o portador da verdade absoluta. De acordo com a anĂĄlise da autora, o juiz recebe a denĂşncia, FGHGTG CNIWOCU FKNKIĂ&#x201E;PEKCU TGSWGTKFCU G FGEKFG Ĺ&#x2018;= ? 'PVGPFQ PGEGUUÂśTKC C EWUVĂ&#x17D;FKC ECWVGNCT do denunciado. Consoante podemos notar que o delito noticiado na peça acusatĂłria se reveste de gravidade e gera indignação.â&#x20AC;?46 Brito chama a atenção para o uso do verbo na 1ÂŞ pessoa, que expressa a posição de autoridade e poder. De acordo com Brito, o juiz faz uma recapitulação, apresentando os principais argumentos da acusação e da defesa e termina com as expressĂľes â&#x20AC;&#x153;Ă&#x2030; o relatĂłrioâ&#x20AC;?, â&#x20AC;&#x153;Decidoâ&#x20AC;?. Na sequĂŞncia, ele apresenta os esclarecimentos sobre a teoria implĂcita, cita jurisprudĂŞncias de outros tribunais e trechos da doutrina que
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UGTXGO RCTC HQTVCNGEGT UGWU CTIWOGPVQU G EQPENWK Ĺ&#x2018;'O HCEG CQ GZRQUVQ G OCKU Q SWG FQU CWVQU EQPUVCO Q RGFKFQ EQPVKFQ PC FGPĂ&#x2022;PEKC FGXG UGT LWNICFQ 241%'&'06'Ĺ&#x2019; # UGIWKT ele aplica a pena e termina com as expressĂľes costumeiras: â&#x20AC;&#x153;Publique-seâ&#x20AC;?, â&#x20AC;&#x153;Registre-seâ&#x20AC;?, Ĺ&#x2018;+PVKOG UGĹ&#x2019; SWG OCKU WOC XG\ FGPQVCO UWC CWVQTKFCFG FGĹżPKFC PQ RQFGT FG HCNCT RQT Ăşltimo e decidir o destino do rĂŠu.47 # RCTVKT FCU TGĆ&#x20AC;GZĂ?GU C TGURGKVQ FQ FKUEWTUQ EQOQ WOC GZRTGUUÂşQ FG RQFGT UGTÂşQ apresentadas, a seguir, situaçþes extraĂdas dos autos processuais analisados para a presente RGUSWKUC $WUEQW UG UGORTG SWG RQUUĂ&#x2C6;XGN KPVGTRTGVCT VCKU UKVWCĂ Ă?GU ´ NW\ FCU TGĆ&#x20AC;GZĂ?GU FG Bourdieu concernentes ao Direito como um poder simbĂłlico e de algumas abordagens sobre os meios de vida.
4 O PODER SIMBĂ&#x201C;LICO DO DIREITO E OS REFLEXOS SOBRE OS MEIOS DE VIDA DOS AGRICULTORES FAMILIARES Tendo em vista as interferĂŞncias da legislação ambiental sobre os meios de vida dos agricultores familiares, a penalidade apresenta-se como um dos aspectos mais relevantes, visto que todo o conjunto de acontecimentos que o agricultor passa a vivenciar, a partir do OQOGPVQ GO SWG TGEGDG WOC CWVWCĂ ÂşQ TGĆ&#x20AC;GVG UG GO UWC HQTOC FG XKFC VCPVQ FQ RQPVQ FG vista material e social quanto do psicolĂłgico. 'O IGTCN FKCPVG FG WOC KPHTCĂ ÂşQ CODKGPVCN C RTKOGKTC RGPCNKFCFG CRNKECFC Ă&#x192; C OWNVC CFOKPKUVTCVKXC 0C OCKQT RCTVG FQU ECUQU CPCNKUCFQU Q XCNQT C RCICT ĹżEQW GPVTG 4 G 4 FG CEQTFQ EQO Q VKRQ FG KPHTCĂ ÂşQ RTCVKECFQ 1U RCT¸OGVTQU RCTC C FGVGTOKPCĂ ÂşQ do valor da multa estĂŁo estabelecidos em decreto. Os policiais ambientais entrevistados teceram crĂticas a tais parâmetros, porque, de acordo com eles, provocam situaçþes de disparidade. Disse o sargento comandante da equipe: â&#x20AC;&#x153;uma intervenção em ĂĄrea de atĂŠ um hectare gera uma multa de mil e trezentos reais. Se for um centĂŠsimo de hectare ou um hectare, a multa Ă&#x192; C OGUOC 'UUG XCNQT ´U XG\GU Ă&#x192; OWKVQ DCKZQ RCTC WPU G OWKVQ CNVQ RCTC QWVTQU Ĺ&#x2019;48 %QO HTGSWĂ&#x201E;PEKC QU CITKEWNVQTGU OGPEKQPCTCO SWG SWGO VGO RQFGT GEQPĂ?OKEQ EQPsegue livrar-se do problema, e quem nĂŁo tem ĂŠ penalizado. # KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC FQ RQFGT GEQPĂ?OKEQ FQ KPHTCVQT PÂşQ RCUUC FGURGTEGDKFC RCTC Q RTQOQVQT FG LWUVKĂ C FC %QOCTEC SWG GO GPVTGXKUVC CĹżTOQW SWG C OCKQT RCTVG FCU RGUUQCU CWVWCFCU sĂŁo pobres e que â&#x20AC;&#x153;[...] nĂŁo se sabe se hĂĄ uma predileção da polĂcia por esse pĂşblico ou se GZKUVG WO TGEGKQ FG CVWCĂ ÂşQ SWCPFQ Q RQFGT GEQPĂ?OKEQ Ă&#x192; GZRTGUUKXQ Ĺ&#x2019; # HCNC FQ RTQOQVQT TGĆ&#x20AC;GVG WO OQFGNQ FG UQEKGFCFG JKGTCTSWK\CFC UGIWPFQ Q SWCN CVĂ&#x192; mesmo as instituiçþes atuam de forma preconceituosa em relação aos sujeitos perifĂŠricos. %CDG OGPEKQPCT 5QW\C G C KFGKC FC VTĂ&#x2C6;CFG OGTKVQETÂśVKEC SWG GPXQNXG SWCNKĹżECĂ ÂşQ RQUKĂ ÂşQ G UCNÂśTKQ VTĂ&#x201E;U ECTCEVGTĂ&#x2C6;UVKECU SWG FG CEQTFQ EQO GUUG CWVQT FGĹżPGO Q status do indivĂduo na sociedade.49
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'O IGTCN SWGO RQUUWK SWCNKĹżECĂ ÂşQ RQUKĂ ÂşQ G UCNÂśTKQ RQUUWK VCODĂ&#x192;O Q ECRKVCN UQEKCN que, de acordo com Bourdieu, constitui um ativo individual que determina as diferenças FG XCPVCIGPU GZVTCĂ&#x2C6;FCU FQ ECRKVCN GEQPĂ?OKEQ SWG WO KPFKXĂ&#x2C6;FWQ RQUUWK CFSWKTKFQ RQT OGKQ FCU TGFGU FG EQPJGEKOGPVQU FG KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKCU SWG GNG GUVCDGNGEG CQ NQPIQ FG UWC XKFC 50 Ainda EQPHQTOG $QWTFKGW WO OĂ&#x2C6;PKOQ FG ECRKVCN GEQPĂ?OKEQ Ă&#x192; HWPFCOGPVCN RCTC SWG Q KPFKXĂ&#x2C6;FWQ consiga inserir-se em um grupo; e, uma vez que isto ocorra, cria-se um cĂrculo de relacionaOGPVQU TGNCVKXCOGPVG KPFGRGPFGPVG FQ ECRKVCN GEQPĂ?OKEQ 51 O capital social, assim, ĂŠ capaz de ampliar as oportunidades do indivĂduo porque facilita sua inserção nas altas camadas de RQFGT RQNĂ&#x2C6;VKEQ GEQPĂ?OKEQ G UQEKCN &G CEQTFQ EQO $GDDKPIVQP Q CEGUUQ RQFG UGT XKUVQ EQOQ CPCNKVKECOGPVG CPVGTKQT ´ EQPUVKVWKĂ ÂşQ FC RNCVCHQTOC FG CVKXQU RQKU CEGUUQ C QWVTQU CVQTGU precede o acesso a recursos.52 Bourdieu esclarece que â&#x20AC;&#x153;as condutas dos agentes jurĂdicos podem sujeitar-se mais ou OGPQU ´U GZKIĂ&#x201E;PEKCU FC NGK FGRGPFGPFQ FC EQORQUKĂ ÂşQ FQ ITWRQ FG FGEKUÂşQ QW FQU CVTKDWVQU FQU SWG GUVÂşQ UWLGKVQU ´ LWTKUFKĂ ÂşQ Ĺ&#x2019;53 1 CWVQT CĹżTOC SWG C RTÂśVKEC FQU CIGPVGU GPECTTGICFQU FG RTQFW\KT Q &KTGKVQ QW FG CRNKEÂś NQ FGXG OWKVQ ´U ĹżPCNKFCFGU SWG WPGO QU FGVGPVQTGU FQ RQFGT UKODĂ&#x17D;NKEQ CQU FGVGPVQTGU FQ RQFGT VGORQTCN RQNĂ&#x2C6;VKEQ QW GEQPĂ?OKEQ 0GUUG UGPVKFQ o Direito pode ser um instrumento Ăştil para oprimir os grupos dominados, visto que grupos mais vulnerĂĄveis, portanto, dominados, serĂŁo investigados, inquiridos, e/ou processados RQT ITWRQU OCKU HQTVGU RQTVCPVQ FQOKPCPVGU PGUVG VTCDCNJQ GZGORNKĹżECFQU RQT RQNĂ&#x2C6;EKC promotores, juĂzes. Continuando as observaçþes a respeito dos processos analisados, foi possĂvel perceber que a realização de TACs tem sido a principal solução utilizada para resolver os casos de degradação ambiental e de desenvolvimento de atividades irregulares. Quando realizado o acordo, ĂŠ comum o MinistĂŠrio PĂşblico solicitar a apresentação de um projeto tĂŠcnico FG TGEQPUVKVWKĂ ÂşQ FC Ć&#x20AC;QTC 264( CNĂ&#x192;O FG FGVGTOKPCT C CSWKUKĂ ÂşQ G Q RNCPVKQ FG OWFCU Aceita a proposta, ĂŠ concedido um prazo para que a regeneração da ĂĄrea ocorra, e, durante esse perĂodo, o autuado deverĂĄ comparecer mensalmente ao fĂłrum para prestar contas. O EWUVQ FQ 264( FG CEQTFQ EQO QU FCFQU EQPUVCPVGU PQU RTQEGUUQU KPKEKC UG GO 4 PC OQFCNKFCFG OCKU UKORNKĹżECFC RQFGPFQ EJGICT C XCNQTGU DGO OCKQTGU FGRGPFGPFQ FC situação do local e das exigĂŞncias da justiça. Para que a justiça possa determinar as medidas de reparação e/ou compensação do dano ambiental, ĂŠ necessĂĄrio que exista um laudo atestando a existĂŞncia e a extensĂŁo desse dano. 'UUG NCWFQ Ă&#x192; TGCNK\CFQ RQT Ă&#x17D;TIÂşQ GUVCFWCN QW RQT RTQĹżUUKQPCN RCTVKEWNCT JCDKNKVCFQ FGUFG SWG custeada pelo agente causador do dano. Nesse Ăşltimo caso, o infrator arcarĂĄ, portanto, com FQKU RCICOGPVQU PQ XCNQT FG 4 WO PQ EQOGĂ Q FQ RTQEGUUQ RCTC EQPUVCVCT Q FCPQ G QWVTQ CQ ĹżPCN RCTC CXGTKIWCT Q EWORTKOGPVQ FCU QDTKICĂ Ă?GU CUUWOKFCU Muitos dos TACs analisados tiveram de ser executados porque, embora tenham sido aceitos, a pessoa infringente nĂŁo conseguiu cumprir o seu. Acredita-se que a pessoa aceita
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a proposta por se sentir intimidada diante do cenĂĄrio forense, mas, na verdade, pouco compreende acerca do que estĂĄ sendo proposto, mesmo porque, na maioria dos casos, nĂŁo estĂĄ acompanhada de advogado. 'ODQTC Q 6#% UGLC CRTGUGPVCFQ EQOQ WOC HQTOC OCKU EĂ&#x192;NGTG FG TGUQNWĂ ÂşQ FQ RTQDNGOC RQTSWG GXKVC Q GODCVG LWFKEKCN SWG RTGUUWRĂ?G RTQFWĂ ÂşQ FG RTQXCU PÂşQ UKIPKĹżEC SWG C RCTVKT FG entĂŁo, a questĂŁo serĂĄ encerrada. Durante o perĂodo de cumprimento do ajuste, deve haver o EQORCTGEKOGPVQ OGPUCN ´ UGFG FQ /KPKUVĂ&#x192;TKQ 2Ă&#x2022;DNKEQ RCTC RTGUVCĂ ÂşQ FG EQPVCU 1U CITKEWNVQTGU que passaram por essa experiĂŞncia enfatizaram que o fato de terem de comparecer ao fĂłrum comprometia o trabalho na propriedade, pois representava perda de dia de serviço, em um contexto em que a mĂŁo de obra ĂŠ escassa e a direção dos trabalhos corre por conta apenas do dono da terra: â&#x20AC;&#x153;mĂŁo de obra ĂŠ muito difĂcil de achar [...] Ă&#x2030; a gente mesmo [...] Se sair, perde o dia [...].â&#x20AC;? 5G CNĂ&#x192;O FG FCPQ CODKGPVCN Q HCVQ EQPĹżIWTCT ETKOG CODKGPVCN UGTÂś NCXTCFQ WO 6GTOQ %KTEWPUVCPEKCFQ FG 1EQTTĂ&#x201E;PEKC SWG UGTÂś GPECOKPJCFQ CQ ,WK\CFQ 'URGEKCN %TKOKPCN 5G Q crime apresentar pena mĂĄxima superior a dois anos, o fato deverĂĄ ser investigado por meio de inquĂŠrito, que serĂĄ encaminhado para a Justiça Comum. Durante a pesquisa realizada na Comarca de Viçosa, foram constatados apenas dois processos em curso na Justiça Comum, PQ RGTĂ&#x2C6;QFQ GO GUVWFQ 1U FGOCKU ECUQU VTCOKVCO PQ ,WK\CFQ 'URGEKCN %TKOKPCN # OCKQT RCTVG FQU RTQEGUUQU GO VT¸OKVG PQ ,WK\CFQ 'URGEKCN HQK UQNWEKQPCFC RQT OGKQ da transação penal que se concretizou em uma multa no valor de um salĂĄrio-mĂnimo, cujo pagamento, em geral, foi feito de modo parcelado. A determinação, geralmente, ĂŠ para que o valor seja depositado em uma conta do Tribunal de Justiça ou na conta do Fundo Nacional do Meio Ambiente, mas foram constatados muitos casos em que a determinação era para SWG Q CIGPVG FGRQUKVCUUG Q FKPJGKTQ PC EQPVC DCPEÂśTKC FG CNIWOC KPUVKVWKĂ ÂşQ DGPGĹżEGPVG OWPKEKRCN EQOQ /QDKNK\CĂ ÂşQ 'FWECVKXC /CTKC FC %QPEGKĂ ÂşQ $CVCNJC #UUQEKCĂ ÂşQ 2TQVGVQTC de Animais ou Associação SĂŁo Vicente de Paula. De acordo com determinação da lei de crimes ambientais, os valores arrecadados devem ser destinados ao Fundo Nacional do Meio #ODKGPVG RCTC TGRCTCT Q FCPQ QPFG JQWXG Q KORCEVQ 'PVTGVCPVQ EQOQ PÂşQ HQK KPUVKVWĂ&#x2C6;FC forma de controle para esse procedimento, nem sempre ele ĂŠ cumprido. 0QU ECUQU GO SWG Q CIGPVG VGPJC UKFQ DGPGĹżEKCFQ RGNC VTCPUCĂ ÂşQ RGPCN JÂś OGPQU FG EKPEQ CPQU QW VGPJC UKFQ EQPFGPCFQ ´ RGPC RTKXCVKXC FG NKDGTFCFG PÂşQ Ă&#x192; RQUUĂ&#x2C6;XGN C RTQRQUKĂ ÂşQ de novo acordo; a condenação, entĂŁo, costuma ser a uma pena de detenção, de seis meses C WO CPQ &G CEQTFQ EQO Q CTVKIQ h FQ %Ă&#x17D;FKIQ 2GPCN 54 ECDG CQ 'UVCFQ CQ CRNKECT C pena de detenção, apresentar a opção de substituição desta por uma pena pecuniĂĄria. Nos casos analisados, tais penas foram substituĂdas por prestaçþes pecuniĂĄrias a entidades beneĹżEGPVGU GO XCNQTGU SWG XCTKCXCO FG 4 C 4 UGORTG RCTEGNCFCU A partir da leitura e da anĂĄlise realizadas, foi possĂvel observar que, na primeira instância, os processos, com frequĂŞncia, seguem o rito de forma bastante padronizada; embora, algumas XG\GU QU HCVQU UGLCO FKHGTGPVGU C OQFCNKFCFG G C FWTCĂ ÂşQ FC RGPC UÂşQ CU OGUOCU 'O CNIWPU
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casos, foi possĂvel notar algumas disparidades em relação ao valor da multa aplicada. Foram observadas situaçþes em que o juiz aplicou pena de multa de um salĂĄrio mĂnimo em razĂŁo FQ FGUOCVG FG JGEVCTGU FG VGTTC 'O QWVTQ RTQEGUUQ CRNKEQW C OGUOC RGPC GO TC\ÂşQ FG FGUOCVG FG WO JGEVCTG FG VGTTC ' GO QWVTQ CKPFC CRNKEQW C OGUOC RGPC FG WO UCNÂśTKQ mĂnimo a um indivĂduo que havia vendido 16 pĂĄssaros silvestres. A respeito desse Ăşltimo caso, que nĂŁo se trata de um agricultor familiar, o infrator estava respondendo ao sexto processo por venda de pĂĄssaros silvestres e, em todos os casos, as penas por ele recebidas eram inferiores ao valor recebido pela venda de cada pĂĄssaro. 3WCPVQ ´ ECTCEVGTĂ&#x2C6;UVKEC FG C OCKQT RCTVG FQU ETKOGU RTGXKUVQU PC .GK FG %TKOGU #Obientais contar com penas mĂĄximas inferiores a dois anos e, portanto, serem processados PQ ,WK\CFQ 'URGEKCN %TKOKPCN EQORTGGPFG UG SWG UGLC WOC GUEQNJC FQ NGIKUNCFQT EQGTGPVG EQO QU KPVGTGUUGU SWG JCXKC RQT VTÂśU FC ETKCĂ ÂşQ FGUUC NGK 'PVTGVCPVQ C CRNKECĂ ÂşQ OGE¸PKEC FG RGPCU OĂ&#x2C6;PKOCU CQU FKXGTUQU VKRQU FG KPHTCĂ ÂşQ TGĆ&#x20AC;GVG WOC FGURTGQEWRCĂ ÂşQ EQO C HWPĂ ÂşQ social da pena, pois um agricultor que cortou ĂĄrvores para fazer cerca recebeu a mesma pena que um infrator reincidente na venda de pĂĄssaros silvestres. A ideia que transparece ĂŠ a de que o Direito foi brando para o criminoso e ĂĄrduo para o trabalhador. AlĂŠm disso, para o infrator que vendia pĂĄssaros, funcionou como um incentivo, pois a pena foi bem menor do que o benefĂcio auferido, e ainda foi parcelada. Tanto que esse infrator jĂĄ estava respondendo ao sexto processo pela mesma prĂĄtica. A esse respeito, vale mencionar a ideia de Dworkin, que propĂľe interpretar a prĂĄtica jurĂdica como uma atividade dinâmica que compreenda o Direito como um processo em FGUGPXQNXKOGPVQ EQPVĂ&#x2C6;PWQ 'UUC KFGKC PGIC Q VTCĂ Q EQPXGPEKQPCNKUVC FG &KTGKVQ WPKECOGPVG como relato de fatos estabelecidos no passado e propĂľe uma atividade interpretativa que combine tanto elementos voltados para o passado quanto para o futuro.55 'O TGNCĂ ÂşQ CQU CEĂ&#x17D;TFÂşQU FQ 6TKDWPCN FG ,WUVKĂ C FG /) 6,/) SWG HQTCO CPCNKUCFQU PÂşQ UG QDUGTXQW C OGUOC NKPJC RCFTQPK\CFC FCU FGEKUĂ?GU 3WCPVQ ´ XGPFC FG RÂśUUCTQU UKNXGUVTGU Q 6,/) VGO UG RQUKEKQPCFQ HCXQTCXGNOGPVG ´ EQPFGPCĂ ÂşQ CRNKECFC RGNQU LWĂ&#x2C6;\GU de primeira instância, inclusive com reconhecimento de causas de aumento de pena. JĂĄ em relação aos desmates realizados por agricultores familiares, hĂĄ decisĂľes do TJMG compreendendo que nĂŁo existe adequação social em punir pessoas que provocam danos ambientais mĂnimos na busca pela subsistĂŞncia. Dessa forma, nĂŁo manteve a decisĂŁo de primeira instância e absolveu o acusado. Considerando a ĂĄrea mĂnima desmatada; considerando a situação real da acusada; considerando a necessidade induvidosa de ter-se a subsistĂŞncia familiar como valor superior ao bem atingido que, aliĂĄs, ĂŠ passĂvel de recomposição, EQPHQTOG NCWFQ FQ +'( H PÂşQ UG OQUVTC UQEKCNOGPVG CFGSWCFC WOC punição criminal a quem, como visto, jĂĄ ĂŠ punida pela prĂłpria carĂŞncia a que estĂĄ submetida, juntamente com sua famĂlia.56
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Apesar de as instâncias superiores apresentarem uma visĂŁo mais moderada da situação e considerarem o contexto social das partes envolvidas para a elaboração da decisĂŁo, poucos processos chegam a ser analisados pelo tribunal, visto que razĂľes diversas, como a DCKZC TGPFC G Q DCKZQ ITCW FG KPUVTWĂ ÂşQ HC\GO EQO SWG FKĹżEKNOGPVG C SWGUVÂşQ EJGIWG CVĂ&#x192; CU instâncias recursais. Da sentença que homologa o acordo de transação penal cabe um Ăşnico recurso, que ĂŠ a apelação, mas tambĂŠm esse ĂŠ muito pouco utilizado, mesmo porque, por ser a transação penal uma espĂŠcie de acordo, pressupĂľe-se que os dois lados estejam cientes e dispostos a cumprir o combinado. O baixo quantitativo de infraçþes ambientais praticadas por agricultores que chega CQ EQPJGEKOGPVQ FQU VTKDWPCKU FGOQPUVTC SWG GUUG ITWRQ RQUUWK WOC FKĹżEWNFCFG FG CEGUUCT as instâncias superiores, atĂŠ porque isso nĂŁo ĂŠ possĂvel sem a presença de um advogado/ defensor. Sobre esse aspecto, vale mencionar Niederle e Grisa, de acordo com os quais o conjunto de ativos (na pesquisa aqui relatada, o acesso tem sido compreendido como um ativo) constitui a base de poder dos atores, pois ĂŠ o que permite a eles se reproduzirem e alterarem as estruturas institucionais sob as quais a reprodução ocorre.57 Nessa perspectiva, possibilitar acesso aos ativos torna-se uma polĂtica de empoderamento, uma vez que afeta CU TGNCĂ Ă?GU FG RQFGT SWG IGTCNOGPVG FKĹżEWNVCO CQU KPFKXĂ&#x2C6;FWQU G ITWRQU EQPUVTWĂ&#x2C6;TGO UWCU estratĂŠgias para garantir a vida. Sobre a divergĂŞncia de opiniĂľes entre os juĂzes de primeira instância e os desembargaFQTGU FQ VTKDWPCN $QWTFKGW CĹżTOC SWG VQFQ ECORQ RQFG UGT FKXKFKFQ GO TGIKĂ?GU OGPQTGU os subcampos.58 Nesse sentido, as instâncias judiciais (inferiores e superiores) podem ser consideradas subcampos do campo do direito. Nesses subcampos, as fraçþes sociais dominantes impĂľem a sua espĂŠcie de capital como princĂpio de hierarquização do campo. NĂŁo se trata de uma luta meramente polĂtica, mas de uma luta, na maioria das vezes inconsciente, pelo poder. Por esse raciocĂnio, ao reformar as decisĂľes de primeira instância e apresentar pareceres mais elaborados e atualizados de acordo com as discussĂľes contemporâneas, as KPUV¸PEKCU UWRGTKQTGU GUVCTKCO ĹżTOCPFQ Q UGW RQFGT RGTCPVG CU KPUV¸PEKCU LWTĂ&#x2C6;FKECU KPHGTKQTGU De acordo com Bourdieu, aqueles que compĂľem o campo jurĂdico concorrem pelo OQPQRĂ&#x17D;NKQ FQ FKTGKVQ FG Ĺ&#x2018;FK\GT Q FKTGKVQĹ&#x2019; QW UGLC FG CRTGUGPVCT C KPVGTRTGVCĂ ÂşQ FGĹżPKVKXC FQ HCVQ ´ NW\ FQ FKTGKVQ Q XGTGFKVQ 59 â&#x20AC;&#x153;SĂŁo agentes investidos de competĂŞncia ao mesmo tempo social e tĂŠcnica que consiste essencialmente na capacidade reconhecida de interpretar um texto que consagra a visĂŁo legĂtima, justa, do mundo social.â&#x20AC;?60 Assim, Bourdieu ressalta que eles prĂłprios se dividem em grupos com interesses divergentes e, atĂŠ mesmo opostos, em função da posição na hierarquia interna.61 A partir das leituras processuais, apresentam-se, tambĂŠm, aqui, algumas consideraçþes a respeito da lei de crimes ambientais, que parecem importantes. A primeira observação dĂĄ conta de que existe uma dependĂŞncia da lei ambiental em relação ao Direito Administrativo. 'O OWKVQU ECUQU C NGK CODKGPVCN PGEGUUKVC UG XCNGT FQ &KTGKVQ #FOKPKUVTCVKXQ RCTC FGĹżPKT
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Q VKRQ RGPCN 'UUC ECTCEVGTĂ&#x2C6;UVKEC VGO UKFQ FGPQOKPCFC RGNC FQWVTKPC EQOQ Ĺ&#x2018;CEGUUQTKGFCFG administrativa.â&#x20AC;?62 Assim, muitos tipos penais descritos necessitam de complementação FCFC RQT RQTVCTKCU QW TGUQNWĂ Ă?GU #NĂ&#x192;O FKUUQ ITCPFG RCTVG FCU CĂ Ă?GU VKRKĹżECFCU EQOQ ETKOG ambiental descreve um fato em que o agente praticou uma conduta, sem a autorização ou a permissĂŁo do ĂłrgĂŁo ambiental competente. Assim, o que caracteriza o crime ĂŠ a falta da autorização administrativa. Reconhece-se a importância da regulamentação administrativa no caso dos crimes CODKGPVCKU RQKU VCKU PQTOCU CDQTFCO VGOCU GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQU RQT GZGORNQ PĂ&#x2C6;XGKU FG RQNWKĂ ÂşQ Q que talvez seja difĂcil de ser previsto no texto da lei. Mas acredita-se que mais importante do que averiguar se existe a autorização do ĂłrgĂŁo competente ĂŠ averiguar se, de fato, ocorreu o FCPQ CODKGPVCN G CKPFC UG JQWXG FQNQ EWNRC PC EQPFWVC FQ CIGPVG 'O OWKVQU RTQEGUUQU analisados, nĂŁo foi possĂvel constatar o dolo do agricultor, nem mesmo o dano, pois, em razĂŁo da demora na realização das perĂcias, muitas vezes, a prĂłpria natureza se encarrega da recomposição do ambiente. Outro aspecto que pode ser pontuado se refere ao fato de os atos administrativos RQFGTGO UGT OQFKĹżECFQU FG HQTOC OCKU HÂśEKN FQ SWG CU NGKU ' UG ITCPFG RCTVG FC NGIKUNCĂ ÂşQ FGUVKPCFC C EQKDKT ETKOGU CODKGPVCKU XKPEWNC UG C FGĹżPKĂ Ă?GU G GURGEKĹżECĂ Ă?GU EQPUVCPVGU GO atos administrativos, aquela tambĂŠm se torna facilmente mutĂĄvel, o que comprometeria a segurança jurĂdica dos destinatĂĄrios.63 AlĂŠm disso, ainda existe o risco de criminalizar meras desobediĂŞncias administrativas, que podem nĂŁo acarretar dano ou risco de dano ao bem jurĂdico tutelado que ĂŠ o meio ambiente. Assim, pune-se a falta de permissĂŁo ou autorização e nĂŁo o prejuĂzo ambiental que a conduta poderia causar, pois esse nĂŁo ĂŠ avaliado.64 2QT ĹżO tal prĂĄtica pode abrir margem para o arbĂtrio da autoridade administrativa responsĂĄvel pela ĹżUECNK\CĂ ÂşQ 65 Compreende-se que essa vinculação entre a legislação ambiental e o Direito AdmiPKUVTCVKXQ UGLC WO CURGEVQ SWG FKĹżEWNVC DCUVCPVG Q EWORTKOGPVQ FC PQTOC RQKU C RTÂśVKEC da conduta correta depende, em certa medida, de alguma instrução ou assessoria, e, muitas XG\GU VCODĂ&#x192;O FQ RCICOGPVQ FG VCZCU /CKU WOC XG\ RQTVCPVQ XQNVC UG ´ SWGUVÂşQ FQ CEGUso. De acordo com Bebbington, frequentemente, o acesso constitui o recurso mais crĂtico. Melhorar o acesso a ativos remete ao desenvolvimento tanto de capacidades individuais e EQNGVKXCU SWCPVQ FCU GUVTWVWTCU FG QRQTVWPKFCFG EQPVGZVQ UQEKCN RQNĂ&#x2C6;VKEQ G GEQPĂ?OKEQ SWG constrangem ou facilitam o acesso.66 %QO TGNCĂ ÂşQ ´U HWPĂ Ă?GU FC RGPC ECDG OGPEKQPCT SWG FG HQTOC IGTCN UÂşQ FWCU CU funçþes bĂĄsicas: a repressĂŁo ao crime perpetrado e a prevenção de novos delitos. Portanto, os seus principais objetivos sĂŁo reeducar o infrator e intimidar a sociedade para que o crime UGLC GXKVCFQ 2GNCU TC\Ă?GU GZRQUVCU CPVGTKQTOGPVG CETGFKVC UG SWG FC HQTOC EQOQ Q 'UVCFQ tem tratado a questĂŁo ambiental, ele nĂŁo tem conseguido reeducar os que agem trazendo prejuĂzo ao meio ambiente e, tambĂŠm, nĂŁo tem coibido a ação criminosa. Apesar de haver
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uma legislação considerada moderna e uma doutrina ampla sobre o tema, a aplicação do FKTGKVQ PQ SWG UG TGHGTG ´U SWGUVĂ?GU CODKGPVCKU TGCĹżTOC WOC LWUVKĂ C NGPVC DWTQETÂśVKEC G OWKVCU XG\GU FGUKIWCN Q SWG CORNKC Q FGUETĂ&#x192;FKVQ FC UQEKGFCFG GO TGNCĂ ÂşQ CQ 'UVCFQ G ´U instituiçþes. As entrevistas evidenciaram esse aspecto, na medida em que permitiram ouvir, de quem ĹżIWTQW QW ĹżIWTC PC EQPFKĂ ÂşQ FG TĂ&#x192;W PÂşQ CRGPCU CSWKNQ SWG LÂś UG GURGTCXC C TGURGKVQ FG EWUVQU CDQTTGEKOGPVQU VTCVCOGPVQ FGUKIWCN OCU VCODĂ&#x192;O TGNCVKXCOGPVG ´ HCNVC FG EQPĹżCPĂ C PCU CWVQTKFCFGU PCU KPUVKVWKĂ Ă?GU G PQ 'UVCFQ 1U GPVTGXKUVCFQU PÂşQ UG RQUKEKQPCTCO EQPVTC a lei; mas se manifestaram contra quem faz a lei e contra quem a aplica. Isto demonstra que CU GZRGTKĂ&#x201E;PEKCU FGUUCU RGUUQCU EQO TGNCĂ ÂşQ ´ LWUVKĂ C FGKZCTCO Q UGPVKOGPVQ FG FGEGRĂ ÂşQ FG FGUEQPĹżCPĂ C G FG FGUCORCTQ &G CEQTFQ EQO $QWTFKGW Ĺ&#x2018;C GĹżEÂśEKC FQ FKTGKVQ UWTIG PC medida em que ele ĂŠ socialmente reconhecido e se depara com um acordo, mesmo tĂĄcito e RCTEKCN FG TGURQUVC ´U PGEGUUKFCFGU G KPVGTGUUGU TGCKU Ĺ&#x2019;67 #KPFC EQPHQTOG $QWTFKGW GPSWCPVQ RGTVGPEGPVG ´ QTFGO FC KFGQNQIKC QW FQU UKUVGOCU simbĂłlicos, o Direito nĂŁo faz senĂŁo consagrar simbolicamente o estado da correlação de forças GPVTG QU ITWRQU 1 CWVQT GUENCTGEG GPVTGVCPVQ SWG Ĺ&#x2018;C GĹżEÂśEKC UKODĂ&#x17D;NKEC FQ FKTGKVQ CEQPVGEG menos por intençþes conscientes e mais pelos mecanismos estruturais.â&#x20AC;?68 O que ocorre ĂŠ que os detentores de posiçþes dominantes no campo jurĂdico, como policiais, promotores e LWĂ&#x2C6;\GU VGPFGO C UGT OCKU HCXQTÂśXGKU ´ ENKGPVGNC FQU FQOKPCPVGU G KUUQ CWOGPVC CKPFC OCKU C KPHGTKQTKFCFG FQU FQOKPCFQU PQ ECUQ GO VGNC QU CITKEWNVQTGU HCOKNKCTGU ' CUUKO $QWTFKGW conclui que â&#x20AC;&#x153;o campo jurĂdico consagra o esforço dos grupos dominantes para imporem uma TGRTGUGPVCĂ ÂşQ QĹżEKCN FQ OWPFQ UQEKCN SWG GUVGLC FG CEQTFQ EQO UGWU KPVGTGUUGU Ĺ&#x2019;69 A convergĂŞncia das posiçþes tomadas pelo JudiciĂĄrio com os interesses dos grupos economicamente mais fortes decorre, segundo Bourdieu,70 da proximidade de habitus daqueles que compĂľem o Poder JudiciĂĄrio com aqueles que representam o grupo dos dominantes, devido a formaçþes familiares e escolares que receberam. Assim, de acordo com o autor, â&#x20AC;&#x153;hĂĄ poucas probabilidades de as decisĂľes judiciais desfavorecerem os dominantes. A prĂłpria lĂłgica dos textos jurĂdicos, repletos de lacunas e ambiguidades, estĂŁo adequados aos interesses e valores dos dominantes.â&#x20AC;?71 Desse modo, Bourdieu, na obra acima citada, conclui que o Direito ĂŠ uma forma de poder simbĂłlico. No mesmo sentido, vale lembrar, aqui, um juiz americano, mencionado por Dworkin, na obra â&#x20AC;&#x153;O impĂŠrio do Direitoâ&#x20AC;?, que dizia ter mais medo de um processo judicial do que da pena de morte ou dos impostos a serem pagos, isto porque, os processos judiciais, FK\KC GUUG LWK\ VĂ&#x201E;O ´U XG\GU EQPUGSWĂ&#x201E;PEKCU OWKVQ CORNCU G KORTGXKUĂ&#x2C6;XGKU 0ÂşQ ´ VQC QU UĂ&#x2C6;ODQNQU FQ &KTGKVQ GURCFC OCTVGNQ DCNCPĂ C VQIC RGPC GUVÂşQ NKICFQU ´ KFGKC FG HQTĂ C RQKU Q RQFGT SWG PGNG TGUKFG FG HCVQ Ă&#x192; ECRC\ FG VTC\GT RCTC Q EKFCFÂşQ o sentimento de temor. Por meio do veredito (do latim: verdadeiramente dito), o Direito ENCUUKĹżEC G FGĹżPG C RGUUQC RQKU GNG TGRTGUGPVC Ĺ&#x2018;C RCNCXTC CWVQTK\CFC C RCNCXTC RĂ&#x2022;DNKEC
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QĹżEKCN GPWPEKCFC GO PQOG FG VQFQU G RGTCPVG VQFQU RQT OCPFCVÂśTKQU CWVQTK\CFQU FG WOC coletividade.â&#x20AC;?72 2QT OGKQ FC FGEKUÂşQ LWFKEKCN Q KPFKXĂ&#x2C6;FWQ Ă&#x192; ENCUUKĹżECFQ RGTCPVG C UQEKGFCFG como honesto, criminoso, bom/mau carĂĄter. As consultas e anĂĄlises processuais e, principalmente, as entrevistas realizadas com QU CITKEWNVQTGU GXKFGPEKCTCO C EQPFKĂ ÂşQ FGUUGU UWLGKVQU EQOQ UĂ&#x2022;FKVQU FQ &KTGKVQ Â? NW\ FC literatura dos meios de vida, foi possĂvel perceber que a lei interfere, de maneiras diversas, na forma de as pessoas ganharem a vida, mas as principais interferĂŞncias por ela produzidas nĂŁo UG TGHGTGO CQ CURGEVQ GEQPĂ?OKEQ OCU CQU CEGUUQU UGLC ´U KPUV¸PEKCU RĂ&#x2022;DNKECU ´U EQPEGUUĂ?GU FC NGK QW CQU Ă&#x17D;TIÂşQU SWG RQFGTKCO CLWFÂś NQU (CNVC ECRKVCN GEQPĂ?OKEQ G EQPUGSWGPVGOGPVG capital social que possa lhes auxiliar, nesses espaços, a exercerem os direitos que, muitas XG\GU C NGK NJGU EQPEGFG OCU SWG ĹżECO CRGPCU PQ RCRGN De acordo com Niederle e Grisa,73 o acesso envolve, basicamente, as esferas do mercado, FQ 'UVCFQ G FC UQEKGFCFG EKXKN GO UWCU FKHGTGPVGU GUECNCU %CFC WOC FGUUCU GUHGTCU UQEKCKU possui sua prĂłpria lĂłgica de ação, exigindo determinados comportamentos dos agentes e KPĆ&#x20AC;WGPEKCPFQ CQ UGW OQFQ C FKUVTKDWKĂ ÂşQ Q EQPVTQNG G C VTCPUHQTOCĂ ÂşQ FQU CVKXQU 74 ConHQTOG $GDDKPIVQP CU FKĹżEWNFCFGU FG FGOQETCVK\CĂ ÂşQ FQ CEGUUQ FGEQTTGO RTKPEKRCNOGPVG do fato de que as pessoas com maior dotação inicial de ativos dominam os recursos, uma XG\ SWG EQPUGIWGO EQPUVKVWKT TGNCĂ Ă?GU OCKU RTĂ&#x17D;ZKOCU CQU CVQTGU FQ OGTECFQ FQ 'UVCFQ G da sociedade civil. Pessoas com menores dotaçþes apresentam capacidade limitada para construir redes que poderiam intermediar o acesso.75 Desse modo, uma questĂŁo essencial passa a ser compreender como as pessoas com menos dotaçþes podem desenvolver o acesso a atores e ativos; ou seja, quais sĂŁo as formas de construir acessos? Por meio das entrevistas, foi possĂvel notar que existe muita disposição, por parte dos agricultores e de seus familiares, para buscar formas de superar os obstĂĄculos. 1 GPVWUKCUOQ FQU RTQRTKGVÂśTKQU GO TGCĹżTOCT Q FGUGLQ FG RGTOCPGEGT PQ ECORQ G FG RGTmanecer na luta por melhores condiçþes vai ao encontro do viĂŠs otimista da abordagem dos OGKQU FG XKFC FG CEQTFQ EQO Q SWCN CU FKĹżEWNFCFGU EQPFW\GO ´ ETKCĂ ÂşQ FG PQXCU GUVTCVĂ&#x192;IKCU de sobrevivĂŞncia.
5 CONCLUSĂ&#x2022;ES Por meio desta pesquisa, foi possĂvel constatar que grande parte dos agricultores familiares da regiĂŁo estudada faz uso indevido da terra, e isso os coloca em situação vulnerĂĄvel RQTSWG ĹżECO UWLGKVQU C WOC CWVWCĂ ÂşQ G CVĂ&#x192; OGUOQ C WO RTQEGUUQ LWFKEKCN Q SWG RQFG VTC\GT consequĂŞncias que vĂŁo muito alĂŠm do custo monetĂĄrio ou do desgaste pessoal. 'ODQTC Q 2QFGT ,WFKEKÂśTKQ EQO HTGSWĂ&#x201E;PEKC WVKNK\G OGECPKUOQU GZVTCLWFKEKCKU RCTC solução de tais problemas, como ĂŠ o caso dos TACs (Termos de Ajustamento de Conduta), C RQUKĂ ÂşQ FG FGUXCPVCIGO FQU CITKEWNVQTGU GO HCEG FQ RQFGT FQ 'UVCFQ HQK GXKFGPEKCFC RGNC
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incapacidade de tais sujeitos utilizarem os mecanismos legais de defesa, como a defesa tĂŠcnica realizada por advogado ou mesmo o acesso aos recursos. Ficou evidenciado, portanto, que C NGK Ă&#x192; GNGOGPVQ EQPUVKVWVKXQ FQU OGKQU FG XKFC RQTSWG ´ OGFKFC SWG UG CRTGUGPVC EQOQ â&#x20AC;&#x153;geral e abstrataâ&#x20AC;?, â&#x20AC;&#x153;igual para todosâ&#x20AC;?, promove efeitos mais gravosos sobre aqueles que nĂŁo RQUUWGO QU CEGUUQU G CU TGFGU FG TGNCEKQPCOGPVQ GĹżEC\GU RCTC NJGU ICTCPVKT KOWPKFCFG 0GUUG sentido, a lei funciona como um elemento de poder e, como tal, em lugar de promover o tratamento equânime entre os diversos grupos sociais, amplia e reforça o histĂłrico de exclusĂŁo, LÂś GZKUVGPVG PCU GUHGTCU UQEKCN G GEQPĂ?OKEC #U EQPUWNVCU RTQEGUUWCKU TGCNK\CFCU OQUVTCTCO SWG C GZENWUÂşQ UQEKCN G GEQPĂ?OKEC SWG OCTEC C JKUVĂ&#x17D;TKC FC UQEKGFCFG DTCUKNGKTC UG TGĆ&#x20AC;GVG PQ ECORQ LWTĂ&#x2C6;FKEQ RQKU QU ITWRQU UQEKCN G GEQPQOKECOGPVG OCKU HQTVGU GPEQPVTCO OCKU HCEKNKFCFG RCTC UG CFGSWCTGO ´U GZKIĂ&#x201E;PEKCU legais e, assim, escaparem das puniçþes, enquanto os grupos mais vulnerĂĄveis enfrentam OCKQTGU FKĹżEWNFCFGU VCPVQ RCTC EWORTKT CU QDTKICĂ Ă?GU NGICKU SWCPVQ RCTC UG FGHGPFGTGO FCU acusaçþes e mostrarem suas limitaçþes. Constatou-se, ainda, que as decisĂľes judiciais sĂŁo bastante padronizadas e atĂŠ mesmo o valor das multas estabelecidas nas transaçþes penais costumam ter o mesmo valor, embora as infraçþes sejam diferentes. Apesar de a lei e o prĂłprio JudiciĂĄrio reconhecerem a condição de vulnerabilidade do agricultor, nĂŁo existem medidas no sentido de corrigir o desnĂvel, como a estruturação de ĂłrgĂŁos (inclusive voluntĂĄrios) que possam prestar assistĂŞncia e oferecer CRQKQ RCTC XKCDKNK\CT C FGHGUC FQU CITKEWNVQTGU QW VQTPÂś NC OCKU GĹżEKGPVG #UUKO CU ICTCPVKCU constitucionais e legais, como o acesso aos recursos ou o direito de ser tratado com dignidade QW FG TGEGDGT WOC RGPC RTQRQTEKQPCN ´ ITCXKFCFG FC EQPFWVC RTCVKECFC CECDCO ĹżECPFQ apenas no papel.
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/'74'4 ,QUĂ&#x192; .WK\ #URGEVQU FQ RTQEGUUQ FG RTQFWĂ ÂşQ FG VGZVQU GUETKVQU Trab. de Ling. #RN Campinas, v. 21, p. 49-62, jan./jun. 1993. DisponĂvel em: <http://revistas.iel.unicamp. br/index.php/tla/article/view/2632/2042>. Acesso em: maio 2013. /+0#5 )'4#+5 'UVCFQ &GETGVQ P FG FG LWPJQ FG 'UVCDGNGEG PQTOCU RCTC NKEGPEKCOGPVQ CODKGPVCN G CWVQTK\CĂ ÂşQ CODKGPVCN FG HWPEKQPCOGPVQ VKRKĹżEC G ENCUUKĹżEC KPHTCĂ Ă?GU ´U PQTOCU FG RTQVGĂ ÂşQ CQ OGKQ CODKGPVG G CQU TGEWTUQU JĂ&#x2C6;FTKEQU G GUVCDGNGEG RTQEGFKOGPVQU CFOKPKUVTCVKXQU FG ĹżUECNK\CĂ ÂşQ G CRNKECĂ ÂşQ FCU RGPCNKFCFGU &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO <http://www.siam.mg.gov.br/sla/download.pdf?idNorma=7966>. Acesso em: jan. 2013. 0+'&'4.' 2CWNQ #PFTĂ&#x192; )4+5# %CVKC &KXGTUKĹżECĂ ÂşQ FQU OGKQU FG XKFC G CEGUUQ C CVQTGU e ativos: uma abordagem sobre a dinâmica de desenvolvimento local da agricultura familiar. Cuadernos de Desarrollo Rural, v. 5, n. 61, p. 41-69, 2008. Disponible en: <http://www. redalyc.org/articulo.oa?id=11713138002>. Acesso em: 16 maio 2016. 2Â?%*'7: /KEJGN Semântica e discurso WOC ETĂ&#x2C6;VKEC ´ CĹżTOCĂ ÂşQ FQ Ă&#x17D;DXKQ 6TCFWĂ ÂşQ 'PK 2 FG 1TNCPFK GV CNKK %CORKPCU 'FKVQTC FC 70+%#/2 4+0#.&+ #NGUUCPFTC FG #PFTCFG Sexualização do crime no Brasil: um estudo sobre criminalidade feminina no contexto das relaçþes amorosas (1890-1940). Rio de Janeiro: Mauad X: Faperj, 2015. SANTOS, Boaventura de Sousa. O discurso e o poder: ensaio sobre a sociologia da retĂłrica jurĂdica. Porto Alegre: Fabris, 1988. SOUZA, JessĂŠ. A construção social da subcidadania: para uma sociologia polĂtica da moFGTPKFCFG RGTKHĂ&#x192;TKEC $GNQ *QTK\QPVG 'FKVQTC FC 7(/) VIANNA, Adriana de Resende Barreto. Limites da menoridade: tutela, famĂlia e autoridade em julgamento. 2002. 350f. Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, 2002. WOORTMANN, Klaas. Com parente nĂŁo se neguceia: o campesinato como ordem moral. AnuĂĄrio AntropolĂłgico, BrasĂlia, v. 87, p. 11-73, 1990. 1 .#-#615 'XC /CTKC /#4%10+ /CTKPC FG #PFTCFG (WPFCOGPVQU FG OGVQFQNQIKC EKGPVĂ&#x2C6;ĹżEC. 5. ed. SĂŁo Paulo: Atlas, 2003. 2 /+0#5 )'4#+5 'UVCFQ &GETGVQ P FG FG LWPJQ FG 'UVCDGNGEG PQTOCU RCTC NKEGPEKCOGPVQ CODKGPVCN G CWVQTK\CĂ ÂşQ CODKGPVCN FG HWPEKQPCOGPVQ VKRKĹżEC G ENCUUKĹżEC KPHTCĂ Ă?GU ´U PQTOCU FG RTQVGĂ ÂşQ CQ OGKQ CODKGPVG G CQU TGEWTUQU JĂ&#x2C6;FTKEQU G GUVCDGNGEG RTQEGFKOGPVQU CFOKPKUVTCVKXQU FG ĹżUECNK\CĂ ÂşQ G CRNKECĂ ÂşQ FCU RGPCNKdades. DisponĂvel em: <http://www.siam.mg.gov.br/sla/download.pdf?idNorma=7966>. Acesso em: jan. 2013. 3 A lei admite que a multa seja parcelada em atĂŠ sessenta parcelas mensais, observados os requisitos legais. 4 WOORTMANN, Klaas. Com parente nĂŁo se neguceia: o campesinato como ordem moral. AnuĂĄrio AntropolĂłgico, BrasĂlia, v. 87, p. 11-73, 1990. 5 $174&+'7 2KGTTG O poder simbĂłlico. Tradução Fernando Tomaz. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. $174&+'7 2KGTTG Coisas ditas. Tradução CĂĄssia R. da Silveira e Denise Moreno Pegorim. SĂŁo Paulo: Brasiliense, 1987. p. 22.
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7 8 9 10
$174&+'7 2KGTTG Questþes de sociologia. Tradução Jeni Vaitsman. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1984. p. 119.
Idem.
$174&+'7 2KGTTG Questþes de sociologia. Tradução Jeni Vaitsman. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1984. $174&+'7 2KGTTG O poder simbólico. Tradução Fernando Tomaz. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. p. 8.
11 Idem, p. 11. 12 Idem, op. cit. 13 SANTOS, Boaventura de Sousa. O discurso e o poder: ensaio sobre a sociologia da retĂłrica jurĂdica. Porto Alegre: Fabris, 1988. p. 230. 14 $174&+'7 2KGTTG O poder simbĂłlico. Tradução Fernando Tomaz. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. 15 DWORKIN, Ronald. O impĂŠrio do direito 6TCFWĂ ÂşQ ,GHHGTUQP .WK\ %COCTIQ 5ÂşQ 2CWNQ /CTVKPU (QPVGU p. 254. 16 DWORKIN, Ronald. O impĂŠrio do direito 6TCFWĂ ÂşQ ,GHHGTUQP .WK\ %COCTIQ 5ÂşQ 2CWNQ /CTVKPU (QPVGU p. 255. 17 &'44+&# ,CESWGU Força de lei Q HWPFCOGPVQ OĂ&#x2C6;UVKEQ FC CWVQTKFCFG 6TCFWĂ ÂşQ .G[NC 2GTTQPG /QKUĂ&#x192;U 5ÂşQ 2CWNQ Martins Fortes, 2007. p. 44. 18 $#44151 .WĂ&#x2C6;U 4QDGTVQ )TCPFGU VTCPUHQTOCĂ Ă?GU FQ FKTGKVQ EQPVGORQT¸PGQ G Q RGPUCOGPVQ FG 4QDGTV #NGZ[ +P #.':; 4QDGTV GV CN PrincĂpios formais e outros aspectos da teoria discursiva do direito. Rio de Janeiro: Forense UniversitĂĄria, 2014. p. 69-99. DisponĂvel em: <http://s.conjur.com.br/dl/palestra-barroso-alexy.pdf>. Acesso em: nov. 2014. 19 $174&+'7 2KGTTG O poder simbĂłlico. Tradução Fernando Tomaz. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. 20 /'74'4 ,QUĂ&#x192; .WK\ #URGEVQU FQ RTQEGUUQ FG RTQFWĂ ÂşQ FG VGZVQU GUETKVQU 6TCD FG .KPI #RN Campinas, v. 21, p. 49-62, jan./jun. 1993. DisponĂvel em: http://revistas.iel.unicamp.br/index.php/tla/article/view/2632/2042>. Acesso em: maio 2013. (17%#7.6 /KEJGN 1 UWLGKVQ G Q RQFGT +P &4';(75 *WDGTV . 4#$+019 2CWN /KEJGN (QWECWNV WOC VTCLGVĂ&#x17D;TKC ĹżNQUĂ&#x17D;ĹżEC: para alĂŠm do estruturalismo e da hermenĂŞutica. Tradução Vera Porto Carrero. Rio de Janeiro: Forense UniversitĂĄria, 1995. 22 (17%#7.6 /KEJGN A verdade e as formas jurĂdicas GF 6TCFWĂ ÂşQ 4QDGTVQ % FG / /CEJCFQ G 'FWCTFQ , Morais. Rio de Janeiro: Nau, 2002. 23 Idem. 24 (17%#7.6 /KEJGN 1 UWLGKVQ G Q RQFGT +P &4';(75 *WDGTV . 4#$+019 2CWN /KEJGN (QWECWNV WOC VTCLGVĂ&#x17D;TKC ĹżNQUĂ&#x17D;ĹżEC: para alĂŠm do estruturalismo e da hermenĂŞutica. Tradução Vera Porto Carrero. Rio de Janeiro: Forense UniversitĂĄria, 1995. 25 $174&+'7 2KGTTG O poder simbĂłlico. Tradução Fernando Tomaz. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. p. 237. 26 $4#5+. %QPUVKVWKĂ ÂşQ %QPUVKVWKĂ ÂşQ FC 4GRĂ&#x2022;DNKEC (GFGTCVKXC FQ $TCUKN FG FG QWVWDTQ FG $TCUĂ&#x2C6;NKC DF, 05 out. 1988. PresidĂŞncia da RepĂşblica $TCUĂ&#x2C6;NKC &( &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVR YYY RNCPCNVQ IQX DT EEKXKNA Constituicao/Constituiçao.htm>. Acesso em: 2 abr. 2013. 27 (17%#7.6 /KEJGN HistĂłria da loucura na Idade ClĂĄssica. 8. ed. Tradução JosĂŠ Teixeira Coelho Netto. SĂŁo Paulo: Perspectiva, 2008. 28 VIANNA, Adriana de Resende Barreto. Limites da menoridade: tutela, famĂlia e autoridade em julgamento. 2002. 350f. Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, 2002. p. 94. 29 Idem. 30 4+0#.&+ #NGUUCPFTC FG #PFTCFG Sexualização do crime no Brasil: um estudo sobre criminalidade feminina no contexto das relaçþes amorosas (1890-1940). Rio de Janeiro: Mauad X: Faperj, 2015. p. 29. 31 (17%#7.6 /KEJGN A verdade e as formas jurĂdicas GF 6TCFWĂ ÂşQ 4QDGTVQ % FG / /CEJCFQ G 'FWCTFQ , Morais. Rio de Janeiro: Nau, 2002. 32 Idem. 33 $174&+'7 2KGTTG O poder simbĂłlico. Tradução Fernando Tomaz. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. 34 (17%#7.6 /KEJGN A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France, em 2 de dezembro de 1970. 16. GF 6TCFWĂ ÂşQ .CWTC ( FG # 5CORCKQ 5ÂşQ 2CWNQ .Q[QNC R
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(17%#7.6 /KEJGN A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France, em 2 de dezembro de GF 6TCFWĂ ÂşQ .CWTC ( FG # 5CORCKQ 5ÂşQ 2CWNQ .Q[QNC 36 Ibid, p. 12. 37 Ibid, p. 13. 38 $174&+'7 2KGTTG O poder simbĂłlico. Tradução Fernando Tomaz. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. 39 A ordem do discurso CWNC KPCWIWTCN PQ %QNNĂ&#x201A;IG FG (TCPEG GO FG FG\GODTQ FG GF 6TCFWĂ ÂşQ .CWTC ( FG # 5CORCKQ 5ÂşQ 2CWNQ .Q[QNC R 40 .#%.#7 'TPGUVQ # RQNĂ&#x2C6;VKEC G QU NKOKVGU FC OQFGTPKFCFG +P *1..#0&# *GNQĂ&#x2C6;UC $ PĂłs-modernismo e polĂtica. Rio de Janeiro: Rocco, 1991. p. 127-150. 41 Idem. 42 $4+61 &KPÂś 6 FG .KPIWCIGO Q RQFGT PQ FKUEWTUQ LWTĂ&#x2C6;FKEQ DiĂĄlogo e Interação, ParanĂĄ, v. 1, 2009. DisponĂvel em: <http://www.faccrei.edu.br/gc/anexos/diartigos14.pdf>. Acesso em: maio 2016. 43 2Â?%*'7: /KEJGN Semântica e discurso WOC ETĂ&#x2C6;VKEC ´ CĹżTOCĂ ÂşQ FQ Ă&#x17D;DXKQ 6TCFWĂ ÂşQ 'PK 2 FG 1TNCPFK GV CNKK %CORKPCU 'FKVQTC FC 70+%#/2 44 BRITO, op. cit. 45 Idem. 46 BRITO, op. cit. 47 BRITO, op. cit. 48 Sargento da PolĂcia Militar do Meio Ambiente, entrevista março de 2015. 49 SOUZA, JessĂŠ. A construção social da subcidadania: para uma sociologia polĂtica da modernidade perifĂŠrica. Belo *QTK\QPVG 'FKVQTC FC 7(/) 50 $174&+'7 2KGTTG O poder simbĂłlico. Tradução Fernando Tomaz. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. 51 Idem. 52 BEBBINGTON, Anthony. Capitals and capabilities: a framework for analyzing peasant viability, rural livelihoods and poverty. World Development, United Kingdom, v. 27, n. 12, p. 2021-2044, 1999. 53 BOURDIEU, Pierre. O poder simbĂłlico. Tradução Fernando Tomaz. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. p. 223. 54 BRASIL. Decreto-lei nÂş 2.848, de 7 de dezembro de 1940. CĂłdigo Penal. 'LiULR 2ÂżFLDO GD 8QLmR (DOU), Rio de Janeiro, Seç. 1, p. 23911, 31 dez. 1940. (Publicação Original). DisponĂvel em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 14 maio 2015. 55 DWORKIN, Ronald. O impĂŠrio do direito. Tradução Jefferson Luiz Camargo. SĂŁo Paulo: Martins Fontes, 2003. 56 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. ,QWHLUR WHRU GRV DFyUGmRV: leis especiais. DisponĂvel em: <http://www.tjmg.jus.br>. 57 1,('(5/( 3DXOR $QGUp *5,6$ &DWLD 'LYHUVLÂżFDomR GRV PHLRV GH YLGD H DFHVVR D DWRUHV H DWLYRV XPD DERUdagem sobre a dinâmica de desenvolvimento local da agricultura familiar. &XDGHUQRV GH 'HVDUUROOR 5XUDO, v. 5, n. 61, p. 41-69, 2008. Disponible en: <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=11713138002>. Acesso em: 16 maio 2016. 58 BOURDIEU, Pierre. O poder simbĂłlico. Tradução Fernando Tomaz. 6. ed. Ri
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FAMILY FARMERS AS DEFENDANTS IN ENVIRONMENTAL JUDICIAL CASES: REFLECTIONS ON THE SYMBOLIC POWER OF THE LAW ABSTRACT Farmers often face problems related to environmental legislation. This CTVKENG CKOU CV TGƀGEVKPI QP VJG EQPUGSWGPEGU QH EQWTV RTQEGGFKPIU KP the lives of said farmers. The methodologies used were consultations and interviews. The main results show that the condition of vulnerability that affects these farmers, from both a social and an economic point of view, GZVGPFU VQ VJG LWFKEKCN ſGNF 9JKNG VJGTG KU VJG CUUWORVKQP VJCV LWUVKEG seeks to resolve issues with equality, it was found that the economically and socially disadvantaged groups are also the ones that are hit the hardest by the solution of the dispute. Keywords: 'PXKTQPOGPVCN NGIKUNCVKQP (COKN[ HCTOGTU ,WFKEKCN NCYUWKVU Symbolic power.
Submetido: 13 out. 2016 Aprovado: 12 maio 2017
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doi:10.12662/2447-6641oj.v15i20.p231-254.2017
O EFEITO REPRISTINATร RIO NO CONTROLE DIFUSO DE CONSTITUCIONALIDADE E A VEDAร ร O DE DECISร ES SURPRESA Olavo Augusto Vianna Alves Ferreira* Eduardo Alexandre Young Abrahรฃo** 1 Introduรงรฃo. 2 Ato inconstitucional e sanรงรฃo. 3 Origem e conceito do efeito repristiPCVร TKQ #RNKECร ยบQ FQ GHGKVQ TGRTKUVKPCVร TKQ 4GUVTKร ยบQ ยด CRNKECร ยบQ FQ GHGKVQ TGRTKUVKPCVร TKQ 'HGKVQ TGRTKUVKPCVร TKQ PQ EQPVTQNG FKHWUQ 2TQKDKร ยบQ NGICN FG Q OCIKUVTCFQ proferir decisรตes inovando sem prรฉvio contraditรณrio. 8 Conclusรตes. Referรชncias.
RESUMO O ato normativo inconstitucional รฉ nulo. Quando รฉ declarada a inconstitucionalidade de um ato normativo, os atos revogados por aquele serรฃo automatiECOGPVG TGUVCDGNGEKFQU Lยถ SWG PยบQ TGXQICFQU XCNKFCOGPVG 'UVC ร C GUUร PEKC do chamado efeito repristinatรณrio, que nรฃo se confunde, apesar da similitude semรขntica, com a repristinaรงรฃo. O efeito repristinatรณrio serรก aplicado de forma automรกtica na declaraรงรฃo de inconstitucionalidade de ato normativo. Ocorre no controle de constitucionalidade em geral; resta saber se, no controle difuso, deverรก ser adotada a cautela de ser observado o contraditรณrio a respeito, GURGEKCNOGPVG RQT HQTร C FQU CTVKIQU G FQ %ร FKIQ FG 2TQEGUUQ %KXKN CVWCN Palavras-chave #VQ KPEQPUVKVWEKQPCN 0WNKFCFG 'HGKVQ TGRTKUVKPCVร TKQ %QPtrole difuso e contraditรณrio.
1 INTRODUร ร O Apesar de pouco usual, uma lei, ou mesmo um ato administrativo, pode restaurar outro jรก revogado, desde que o faรงa expressamente. A repristinaรงรฃo,1 nessa seara, nรฃo pode ser tรกcita,2 diante
&QWVQT GO &KTGKVQ FQ 'UVCFQ RGNC 2QPVKHร EKC 7PKXGTUKFCFG %CVร NKEC FG 5ยบQ 2CWNQ /GUVTG GO &KTGKVQ FQ 'UVCFQ 2QPVKHร EKC 7PKXGTUKFCFG %CVร NKEC FG 5ยบQ 2CWNQ 2TQEWTCFQT FQ 'UVCFQ FG 5ยบQ 2CWNQ P 8 (QK OGODTQ GNGKVQ FQ %QPUGNJQ 5WRGTKQT FC 2TQEWTCFQTKC )GTCN FQ 'UVCFQ FG 5ยบQ 2CWNQ 2TQHGUUQT 6KVWNCT FQ 2TQITCOC FG /GUVTCFQ GO &KTGKVQ G ITCFWCร ยบQ FC 70#'42 (QK 2TQHGUUQT FG FKTGKVQ EQPUVKVWEKQPCN FQ %WTUQ .() 2TQHGUUQT EQPXKFCFQ FG EWTUQU FG Rร U ITCFWCร ยบQ 27% %1)'#' 7($# 'UEQNC 5WRGTKQT FQ /KPKUVร TKQ 2ร DNKEQ ,7521&+8/ (##2 G 752 (&42 QTKGPVCFQT FC Rร U ITCFWCร ยบQ FC 'UEQNC 5WRGTKQT FC 2TQEWTCFQTKC )GTCN FQ 'UVCFQ FG 5ยบQ 2CWNQ G FC Rร U ITCFWCร ยบQ FG 2TQEGUUQ %KXKN FC 752 (&42 /GODTQ FQ %QPUGNJQ %WTCFQT FC 'UEQNC 5WRGTKQT FC 2TQEWTCFQTKC )GTCN FQ 'UVCFQ FG 5ยบQ 2CWNQ #WVQT FG NKXTQU LWTร FKEQU #XCNKCFQT FG %WTUQU FG &KTGKVQ G +'5 FGUKIPCFQ RGNQ /KPKUVTQ FC 'FWECร ยบQ 2QTVCTKC P FG FG UGVGODTQ FG ' OCKN QNCXQCHGTTGKTC"JQVOCKN EQO ** /GUVTCPFQ GO &KTGKVQ RGNC 7PCGTR QPFG ร 2TQHGUUQT FC )TCFWCร ยบQ (QK CFXQICFQ 2TQEWTCFQT FQ 'UVCFQ G CVWCNOGPVG ร ,WK\ FG &KTGKVQ ' OCKN GCDTCJCQ"VLUR LWU DT
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da expressa previsĂŁo legal.3 'NC Ă&#x192; VĂ&#x2C6;RKEC FQ RTQEGUUQ NGIKUNCVKXQ G VCODĂ&#x192;O RQFG UG HC\GT RTGUGPVG PC edição de atos administrativos. 0Q EQPVTQNG EQPEGPVTCFQ FG EQPUVKVWEKQPCNKFCFG QEQTTG HGPĂ?OGPQ ´U XG\GU EQPHWPFKFQ EQO C repristinação. Ao ser expurgado do ordenamento jurĂdico determinado texto ou trecho de texto legal ou de ato normativo, diante da sua nulidade, automaticamente os atos normativos anteriores sĂŁo considerados nĂŁo revogados validamente. Aqui, diversamente, nĂŁo se trata de repristinação, mas de â&#x20AC;&#x153;efeito repristinatĂłrioâ&#x20AC;?4 e, ao contrĂĄrio da repristinação, esse efeito ĂŠ sempre tĂĄcito ou automĂĄtico.5-6 O Supremo Tribunal Federal, entretanto, no exercĂcio do controle de constitucionalidade, pode decidir por afastar o efeito repristinatĂłrio,7 particularmente quando o efeito repristinatĂłrio possa gerar situação indesejada de restabelecer lei ou ato administrativo anterior inconstitucional, inclusive nĂŁo impugnado na ação direta,8 EQOQ RTGXĂ&#x201E; Q VGZVQ FQ h FQ CTV FC .GK FG de novembro de 1999.9 Consideramos o livro de Clèmerson Merlin Clève,10 cuja primeira edição surgiu em 1995, como marco teĂłrico no Direito brasileiro sobre efeito repristinatĂłrio no controle abstrato.11 O efeito repristinatĂłrio, no controle abstrato, foi objeto de vĂĄrios estudos, conforme ser veTKĹżECTÂś PQ FGUGPXQNXKOGPVQ FGUVG VTCDCNJQ 'PVTGVCPVQ TGUVC UWC CRTGEKCĂ ÂşQ PQ EQPVTQNG FKHWUQ impondo-se a investigação se a aplicação do efeito repristinatĂłrio deverĂĄ observar a previsĂŁo do art. 10 do CĂłdigo de Processo Civil de 2015,12 a qual proibiu que sejam proferidas decisĂľes sobre temas nĂŁo submetidos previamente ao contraditĂłrio, ainda que a matĂŠria, como hĂĄ hipĂłtese em estudo, UGLC FG QTFGO RĂ&#x2022;DNKEC CTVKIQU 13 e 1014). Trata-se da vedação das â&#x20AC;&#x153;decisĂľes-surpresaâ&#x20AC;?15, versando este estudo sobre a sua aplicação, quando hĂĄ declaração de inconstitucionalidade no controle difuso. Optamos pela divisĂŁo do desenvolvimento do trabalho em sete partes: trataremos do ato inconstitucional e a respectiva sanção; a origem e o conceito do efeito repristinatĂłrio; a sua apliECĂ ÂşQ C TGUVTKĂ ÂşQ ´ CRNKECĂ ÂşQ FQ GHGKVQ TGRTKUVKPCVĂ&#x17D;TKQ Q GHGKVQ TGRTKUVKPCVĂ&#x17D;TKQ PQ EQPVTQNG FKHWUQ G a proibição legal de o magistrado proferir decisĂľes inovando sem prĂŠvio contraditĂłrio, externando CU EQPENWUĂ?GU CQ ĹżPCN
1 OĂ&#x192;VQFQ FGFWVKXQ HQK CFQVCFQ TGCNK\CPFQ C RGUSWKUC DKDNKQITœſEC G EQPUKUVG PC CPÂśNKUG crĂtica sobre a doutrina nacional e sobre precedentes do Supremo Tribunal Federal, visando a consolidar entendimento para o desenvolvimento da problemĂĄtica exposta.
2 ATO INCONSTITUCIONAL E SANĂ&#x2021;Ă&#x192;O Algumas palavras sĂŁo necessĂĄrias acerca da inconstitucionalidade e da sua respectiva sanção, antes de tratarmos do efeito repristinatĂłrio. A inconstitucionalidade, vĂcio que: NĂŁo se confunde, vale ressaltar, com a sanção de inconstitucionalidade, que ĂŠ a consequĂŞncia estabelecida pela Constituição para a sua violação: a
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O efeito repristinatório no controle difuso de constitucionalidade e a vedação de decisþes surpresa
providĂŞncia prescrita pelo ordenamento para a sua restauração, a evolução FQ XĂ&#x2C6;EKQ TWOQ ´ UCĂ&#x2022;FG EQPUVKVWEKQPCN %CUQ GUUC GXQNWĂ ÂşQ PÂşQ UG XGTKĹżSWG espontaneamente ou dependa de intervenção coativa, far-se-ĂĄ uso dos remĂŠdios constitucionais, ou seja, dos instrumentos de garantia compreendidos no chamado controle de constitucionalidade.16
Impende salientar que nĂŁo hĂĄ previsĂŁo expressa na Constituição da sanção cominada ao ato inconstitucional, o que caracteriza o princĂpio da nulidade17 como implĂcito,18 sendo extraĂdo do controle difuso de constitucionalidade.19 Na doutrina,20 defende-se que a modalidade de controle de constitucionalidade adotada KFGPVKĹżEC C UCPĂ ÂşQ 1 UKUVGOC FG EQPVTQNG FG EQPUVKVWEKQPCNKFCFG HWPEKQPC EQOQ ETKVĂ&#x192;TKQ KFGPVKĹżcador da sanção de inconstitucionalidade acolhida pelo ordenamento. Assim, a sanção de nulidade exige a presença do controle via incidental, apresentando a decisĂŁo que constata a incidĂŞncia da sanção aparĂŞncia de uma retroatividade radical, por redundar na negativa de efeitos ab initio ao ato impugnado. JĂĄ a sanção de anulabilidade aparece necessariamente associada ao controle conEGPVTCFQ GO SWG UG RTQFW\CO FGEKUĂ?GU CPWNCVĂ&#x17D;TKCU EQO GĹżEÂśEKC GTIC QOPGU G nĂŁo retroativas ou com retroatividade limitada.21
Canotilho concorda com os ensinamentos acima: â&#x20AC;&#x153;No caso do judicial review o efeito tĂpico ĂŠ o da nulidade e nĂŁo simples anulabilidade.â&#x20AC;?22 ' CĹżTOC C UCPĂ ÂşQ PWNKFCFG Ă&#x192; VĂ&#x2C6;RKEC FQ EQPVTQNG FKHWUQ %QPXĂ&#x192;O NGODTCT SWG Ĺ&#x2018;# UCPĂ ÂşQ FG PWNKFCFG Ă&#x192; VKFC EQOQ C OCKU GĹżEKGPVG PQ SWG FK\ TGURGKVQ ´ RTGUGTXCĂ ÂşQ FC UWRTGOCEKC FCU PQTOCU EQPUVKVWEKQPCKU RQT KORGFKT Q KPITGUUQ FQ CVQ NGIKUNCVKXQ PQ RNCPQ FC GĹżEÂśEKC FGUFG Q UGW PCUEGFQWTQ ab initio), automaticamente (pleno iure).â&#x20AC;?23 Acrescentamos que a Constituição Federal dispĂľe, em cinco oportunidades,24 que a inconstitucionalidade ĂŠ reconhecida por decisĂŁo declaratĂłria, e nĂŁo podemos desprezar o termo GORTGICFQ RGNQ 2QFGT %QPUVKVWKPVG 1TKIKPÂśTKQ LÂś SWG PÂşQ JÂś RCNCXTCU KPĂ&#x2022;VGKU PQ VGZVQ FC .GK Maior.25 'UUG HWPFCOGPVQ TGHQTĂ C C VGUG FC PWNKFCFG FQ CVQ KPEQPUVKVWEKQPCN EQPUKFGTCPFQ que, segundo a doutrina, as decisĂľes declaratĂłrias26 reconhecem atos nulos,27 nĂŁo anulĂĄveis.28 #UUKO RGTVGPEG ´ VTCFKĂ ÂşQ LWTĂ&#x2C6;FKEC DTCUKNGKTC29 a teoria da nulidade da lei inconstitucional, fundada no aforismo pelo qual â&#x20AC;&#x153;inconstitucional statute is not law at all.â&#x20AC;?30 Firmou-se o dogma da nulidade da lei inconstitucional na doutrina e na jurisprudĂŞncia do Supremo Tribunal Federal,31 EQPHGTKPFQ UG ´ FGENCTCĂ ÂşQ FG KPEQPUVKVWEKQPCNKFCFG GĹżEÂśEKC ex tunc. Como consequĂŞncia, impĂľe-se o desfazimento no tempo de todos os atos passĂveis de retroação que tiverem ocorrido durante a vigĂŞncia do ato inconstitucional. 8GTKĹżECFC C RTGOKUUC KPKEKCN PQ UGPVKFQ FC GZKUVĂ&#x201E;PEKC FC UCPĂ ÂşQ PWNKFCFG PQ QTFGPCmento pĂĄtrio, resta conceituar o objeto do nosso estudo.
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3 ORIGEM E CONCEITO DO EFEITO REPRISTINATĂ&#x201C;RIO 1 GHGKVQ TGRTKUVKPCVĂ&#x17D;TKQ Ă&#x192; CFOKVKFQ RGNQ 2TGVĂ&#x17D;TKQ 'ZEGNUQ 32 desde a Constituição anterior,33 como decorrĂŞncia do princĂpio da nulidade do ato inconstitucional.34 No direito estrangeiro, XGTKĹżECOQU C GZKUVĂ&#x201E;PEKC FQ GHGKVQ GO VGUVKNJC GO 2QTVWICN35 (artigo 282.1 da Constituição Portuguesa),36 PC Â?WUVTKC CTV 37 G PC #NGOCPJC CTV .GK FC %QTVG %QPUVKVWEKQPCN (GFGTCN 38 A norma declarada inconstitucional nĂŁo foi apta para revogar validamente a lei anterior que tratava da mesma matĂŠria, uma vez que nasceu nula;39 este ĂŠ o efeito repristinatĂłrio. Na verdade, ocorre, na hipĂłtese, uma pseudo-revogação.40 1 HGPĂ?OGPQ FGRGPFG FC CVWCĂ ÂşQ FQ Poder JudiciĂĄrio no exercĂcio do controle de constitucionalidade ou mesmo de ofĂcio pelo %JGHG FQ 2QFGT 'ZGEWVKXQ EQOQ XGTGOQU CFKCPVG Na feliz sĂntese de Rui Medeiros: â&#x20AC;&#x153;A norma pretensamente revogada pela norma inconstitucional se mantĂŠm em vigor.â&#x20AC;?41 Declarada a inconstitucionalidade da norma revogadora, constata-se que ocorreu uma mera pretensĂŁo da norma nula revogar outra norma.42 8GO C RTQRĂ&#x17D;UKVQ CĹżTOCT SWG TGRTKUVKPCĂ ÂşQ G GHGKVQ TGRTKUVKPCVĂ&#x17D;TKQ UÂşQ XQEÂśDWNQU inconfundĂveis,43 pois â&#x20AC;&#x153;a termos diversos nĂŁo se deve atribuir o mesmo conteĂşdo.â&#x20AC;?44 Clèmerson Clève45 CRQPVC CU FKHGTGPĂ CU GPVTG QU KPUVKVWVQU 1 GHGKVQ TGRTKUVKPCVĂ&#x17D;TKQ Ă&#x192; Ĺ&#x2018;1 HGPĂ?OGPQ FC reentrada em vigor da norma aparentemente revogada. JĂĄ a repristinação, instituto distinto, substanciaria a reentrada em vigor da norma efetivamente revogada em função da revogação (mas nĂŁo anulação) da norma revogadora.â&#x20AC;?46 'UVC UQOGPVG Ă&#x192; RGTOKVKFC ECUQ GZKUVC RTGXKUÂşQ NGIKUNCVKXC GZRTGUUC RQT XGFCĂ ÂşQ FC .GK FG +PVTQFWĂ ÂşQ ´U PQTOCU FQ &KTGKVQ $TCUKNGKTQ CTVKIQ RCTÂśITCHQ QWVTCU XG\GU TGHGTKFQ # TGRTKUVKPCĂ ÂşQ Ă&#x192; WO HGPĂ?OGPQ NGIKUNCVKXQ SWG XGTUC UQDTG XKIĂ&#x201E;PEKC 1 GHGKVQ TGRTKUVKnatĂłrio ĂŠ uma decorrĂŞncia da declaração de nulidade de um ato normativo que nĂŁo revogou validamente outro, envolvendo duas leis ou atos normativos e uma decisĂŁo judicial ou ato PQTOCVKXQ GFKVCFQ RGNQ %JGHG FQ 2QFGT 'ZGEWVKXQ 'O UĂ&#x2C6;PVGUG PC TGRTKUVKPCĂ ÂşQ VGOQU WO KPUVKVWVQ SWG GPXQNXG C XKIĂ&#x201E;PEKC FG VTĂ&#x201E;U CVQU normativos, todos vĂĄlidos, ao passo que, no efeito repristinatĂłrio, temos duas leis, e a posterior nĂŁo revogou validamente a anterior, diante da sua inconstitucionalidade. Na doutrina47 JÂś SWGO UG OCPKHGUVG EQPVTCTKCOGPVG CQ GHGKVQ TGRTKUVKPCVĂ&#x17D;TKQ CĹżTOCPdo que nĂŁo se harmoniza com o princĂpio da segurança jurĂdica, pois a restauração de atos normativos jĂĄ revogados traz inconvenientes que teriam sido corrigidos pelo novo texto e TGUVCWTÂś NQU UGTKC FG VQFQ KPFGUGLÂśXGN 'UUC EQPENWUÂşQ PÂşQ RQFG UGT CEGKVC A ausĂŞncia de tal efeito provocaria um vazio normativo, obrigando a integração da lacuna.48 O efeito repristinatĂłrio ĂŠ compatĂvel sim com o princĂpio da segurança jurĂdica,49 pois viabiliza a certeza da norma aplicĂĄvel50 sobre determinado assunto. Ademais, nĂŁo houve revogação vĂĄlida.
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NĂŁo hĂĄ risco de o Poder JudiciĂĄrio atuar como legislador positivo nesta hipĂłtese, pois o efeito repristinatĂłrio ĂŠ decorrĂŞncia automĂĄtica51 da decisĂŁo declaratĂłria de inconstitucionalidade. As normas aparentemente revogadas pela norma inconstitucional â&#x20AC;&#x153;jĂĄ estĂŁo latentes no ordenamento jurĂdico, nĂŁo sendo, portanto, criadas pelo ĂłrgĂŁo de controle da constitucionalidade.â&#x20AC;?52
4 APLICAĂ&#x2021;Ă&#x192;O DO EFEITO REPRISTINATĂ&#x201C;RIO # CRNKECĂ ÂşQ FQ GHGKVQ TGRTKUVKPCVĂ&#x17D;TKQ Ă&#x192; GZRTGUUCOGPVG RTGXKUVC PQ &KTGKVQ RQUKVKXQ .GK P CTV h 53 quanto ao deferimento de medida cautelar em ADI ou ADC. #RGUCT FC QOKUUÂşQ FCSWGNG VGZVQ NGICN C OGUOC TGITC Ă&#x192; CRNKEÂśXGN ´U FGEKUĂ?GU FG OĂ&#x192;TKVQ PCU açþes de controle abstrato, jĂĄ que decorrente da nulidade do ato inconstitucional.54 3WCPVQ ´U FGEKUĂ?GU FG OĂ&#x192;TKVQ RTQHGTKFCU PC CĂ ÂşQ FKTGVC FG KPEQPUVKVWEKQPCNKFCFG G na ação declaratĂłria de constitucionalidade,55 nĂŁo hĂĄ dĂşvida da existĂŞncia do efeito em estudo como regra. Resta saber: e a decisĂŁo prolatada na arguição de descumprimento de preceito fundamental? 'PVGPFGOQU SWG CRGPCU VĂ&#x201E;O GHGKVQ TGRTKUVKPCVĂ&#x17D;TKQ CU FGEKUĂ?GU RTQNCVCFCU PGUVG Ă&#x2022;NVKOQ instrumento que reconheçam o descumprimento de preceito fundamental por parte de determinado ato normativo, uma vez que o efeito repristinatĂłrio ĂŠ aplicĂĄvel apenas aos atos normativos, e nĂŁo a todo e qualquer ato do Poder PĂşblico. O Supremo Tribunal Federal56 e a doutrina57 GPVGPFGO SWG Q EJGHG FQ 2QFGT 'ZGEWVKXQ pode descumprir a lei inconstitucional, com fundamento no princĂpio da constitucionalidade (que estĂĄ acima da legalidade), no princĂpio da supremacia da Constituição e de diversas normas constitucionais, tais com as previstas nos artigos 23, I,58 85,59 dentre outras. Uma XG\ CHCUVCFC C PQTOC KPEQPUVKVWEKQPCN RGNQ 'ZGEWVKXQ Ă&#x192; CRNKEÂśXGN Q GHGKVQ TGRTKUVKPCVĂ&#x17D;TKQ! # TGURQUVC Ă&#x192; CĹżTOCVKXC G CRNKEÂśXGN Q GHGKVQ GO GUVWFQ FKTGVCOGPVG RGNQ 2QFGT 'ZGEWVKXQ pelos mesmos fundamentos que nos referimos quanto ao Poder JudiciĂĄrio,60 considerando UG SWG Q 'ZGEWVKXQ PÂşQ VGO QRĂ ÂşQ XÂśNKFC UCNXQ CRNKECT C PQTOC CRCTGPVGOGPVG TGXQICFC afastando a norma inconstitucional. Uma ressalva merece ser feita: uma vez apreciada a questĂŁo em processo objetivo, seja em sede cautelar61, seja de mĂŠrito, a posição do JudiciĂĄrio ĂŠ obrigatĂłria, ante a existĂŞncia do efeito vinculante. Da mesma forma, caso exista sĂşmula com efeito vinculante sobre o assunto, deverĂĄ ser respeitada, sob pena de cabimento de reclamação em ambas as situaçþes.
5 RESTRIĂ&#x2021;Ă&#x192;O Ă&#x20AC; APLICAĂ&#x2021;Ă&#x192;O DO EFEITO REPRISTINATĂ&#x201C;RIO Clèmerson Merlin Clève adverte para o fato de que nem sempre o efeito repristinatĂłrio ĂŠ vantajoso. A norma que foi revogada pela norma declarada inconstitucional pode:
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Padecer de inconstitucionalidade ainda mais grave que a do ato nulificado. Previne-se o problema com o estudo apurado das eventuais consequĂŞncias que a decisĂŁo judicial haverĂĄ de produzir. O estudo deve ser levado a termo por ocasiĂŁo da propositura, pelos legitimados ativos, da ação direta de inconstitucionalidade. Detectada a manifestação de eventual eficĂĄcia repristinatĂłria indesejada, cumpre requerer, igualmente, jĂĄ na inicial da ação direta, a declaração de inconstitucionalidade, e, desde que possĂvel, a do ato normativo ressuscitado.62
O Supremo Tribunal Federal aplicou o entendimento acima, conforme se percebe pelo trecho da ementa abaixo transcrita: A questĂŁo do efeito repristinatĂłrio indesejado. Necessidade, em tal hipĂłtese, de formulação de pedidos sucessivos de declaração de inconstitucionalidade tanto do diploma ab-rogatĂłrio quanto das normas por ele revogadas, desde que tambĂŠm eivadas do vĂcio da ilegitimidade constitucional. AusĂŞncia de KORWIPCĂ ÂşQ PQ ECUQ FQ FKRNQOC NGIKUNCVKXQ EWLC GĹżEÂśEKC TGUVCWTCT UG KC GO função do efeito repristinatĂłrio. HipĂłtese de incognoscibilidade da ação direta. Precedentes. Ação direta nĂŁo conhecida.63
Na ação direta de inconstitucionalidade n. 3660-MS, cujo Relator ĂŠ Ministro GilOCT /GPFGU HQK TGKVGTCFC RGNQ 2TGVĂ&#x17D;TKQ 'ZEGNUQ C RQUUKDKNKFCFG FG OQFWNCĂ ÂşQ FQ GHGKVQ em estudo.64 &CPKGN 5CTOGPVQ OCPKHGUVC UG HCXQTCXGNOGPVG ´ OQFWNCĂ ÂşQ FQ GHGKVQ TGRTKUVKPCtĂłrio indesejĂĄvel: 'PVGPFGOQU SWG FC EQPLWICĂ ÂşQ FQU CTVU h G FC .GK Ă&#x192; RQUUĂ&#x2C6;XGN inferir uma autorização para que o STF, mediante um juĂzo de ponderação, restrinja ou atĂŠ mesmo afaste os efeitos repristinatĂłrios das decisĂľes no controle FG EQPUVKVWEKQPCNKFCFG /CU UGORTG SWG C TGUVTKĂ ÂşQ ´ TGRTKUVKPCĂ ÂşQ FGEQTTGT nĂŁo de um juĂzo sobre a inconstitucionalidade da lei revogada, mas de uma avaliação polĂtica do STF, calcada em â&#x20AC;&#x2DC;razĂľes de segurança jurĂdica ou de excepcional interesse socialâ&#x20AC;&#x2122;, pensamos que o quorum de 2/3, previsto no art. 27 FC .GK VCODĂ&#x192;O FGXGTÂś UGT GZKIKFQ 65
'O UĂ&#x2C6;PVGUG Q GHGKVQ TGRTKUVKPCVĂ&#x17D;TKQ PÂşQ FGXG UGT CRNKECFQ PCU JKRĂ&#x17D;VGUGU GO SWG C PQTOC revogada pela declarada inconstitucional tambĂŠm ĂŠ invĂĄlida.66 #RNKEÂśXGN ´ JKRĂ&#x17D;VGUG Q KPUVKtuto da modulação ou restrição dos efeitos da decisĂŁo que declara a inconstitucionalidade.67
6 EFEITO REPRISTINATĂ&#x201C;RIO NO CONTROLE DIFUSO Feitas as consideraçþes sobre aplicação do efeito repristinatĂłrio no controle concentrado abstrato, resta abordar sua aplicação no controle difuso.68 O efeito repristinatĂłrio, como dito, ĂŠ decorrĂŞncia do princĂpio da nulidade do ato inconstitucional69-70, portanto, nĂŁo hĂĄ como afastar sua aplicação no controle difuso.
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'O 2QTVWICN RQT GZGORNQ Q GHGKVQ TGRTKUVKPCVĂ&#x17D;TKQ Ă&#x192; CRNKEÂśXGN PC ĹżUECNK\CĂ ÂşQ EQPETGVC de constitucionalidade.71 1 5WRTGOQ 6TKDWPCN (GFGTCN RTQPWPEKQW UG HCXQTCXGNOGPVG ´ CRNKECĂ ÂşQ FQ GHGKVQ repristinatĂłrio no controle difuso, com efeito apenas entre as partes, logicamente.72 NĂŁo hĂĄ como adotar entendimento em sentido diverso, considerando-se que o efeito repristinatĂłrio, repita-se, constitui em decorrĂŞncia automĂĄtica73 da declaração da inconstitucionalidade, consoante vimos anteriormente, e as normas aparentemente revogadas pela norma inconstitucional â&#x20AC;&#x153;jĂĄ estĂŁo latentes no ordenamento jurĂdico, nĂŁo sendo, portanto, criadas pelo ĂłrgĂŁo de controle da constitucionalidade.â&#x20AC;?74 Â&#x153; Q ECUQ FG TGĆ&#x20AC;GVKT UG C 4GUQNWĂ ÂşQ FQ 5GPCFQ PQU VGTOQU FQ CTVKIQ : FC %QPUVKVWKĂ ÂşQ Federal, ao suspender os feitos da norma declarada inconstitucional pelo Supremo, acarreta efeito repristinatĂłrio da norma anterior, isto ĂŠ, apĂłs a declaração de inconstitucionalidade, ĂŠ editada resolução nos termos acima, e esta produz efeitos repristinatĂłrios? 'PVGPFGOQU SWG C TGURQUVC Ă&#x192; CĹżTOCVKXC 0ÂşQ FGXG RTQURGTCT Q XÂśEWQ PQTOCVKXQ CRĂ&#x17D;U C UWURGPUÂşQ FC GĹżEÂśEKC RQT 4GUQNWĂ ÂşQ FC NGK FGENCTCFC KPEQPUVKVWEKQPCN RGNQ 5WRTGOQ 6TKbunal Federal. Todavia, como a resolução do Senado nĂŁo declara a inconstitucionalidade do ato normativo, mas simplesmente suspende os efeitos, nĂŁo hĂĄ efeito retroativo erga omnes, restando ao interessado ingressar com ação prĂłpria para discutir os atos praticados sob a ĂŠgide da lei inconstitucional, respeitadas a prescrição e decadĂŞncia. O Supremo Tribunal Federal tem precedente sobre o assunto.75 NĂŁo hĂĄ fundamento, expresso ou implĂcito, apto para afastar a aplicação do efeito repristinatĂłrio no controle difuso, considerando-se que decorre do princĂpio da nulidade do ato inconstitucional, caracterizando-se como consequĂŞncia automĂĄtica da decisĂŁo que declara a inconstitucionalidade.
7 PROIBIĂ&#x2021;Ă&#x192;O LEGAL DE O MAGISTRADO PROFERIR DECISĂ&#x2022;ES INOVANDO SEM PRĂ&#x2030;VIO CONTRADITĂ&#x201C;RIO 1U CTVKIQU G FQ %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ %KXKN FG 76 trouxeram a expressa necessidade do debate de temas que sejam utilizados pelo magistrado como fundamentos de decidir. Trata-se da vedação de â&#x20AC;&#x153;decisĂľes surpresaâ&#x20AC;?, tida como â&#x20AC;&#x153;incensurĂĄvelâ&#x20AC;?, por Araken de Assis,77 valorizando o contraditĂłrio. Ă&#x2030; comum o julgador notar, no curso do processo, a presença de tema de ordem pĂşblica que, por vezes, nĂŁo ĂŠ ventilado pelas partes ou pelo MinistĂŠrio PĂşblico. %NCUUKECOGPVG RQT HQTĂ C FQ FKURQUVQ PQ CTV h 78 QW FQ CTV h 79, do CĂłdigo de Processo Civil de 1973, conheceria da situação GZ QHĹżEKQ e extinguiria o processo,80 mesmo sem qualquer debate a respeito.
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'O Ă&#x192;RQEC TGEGPVG PQ CPQ FG HCEWNVQW UG CQ LWK\ C RQUUKDKNKFCFG FG EQPJGEGT FG QHĂ&#x2C6;EKQ C RTGUETKĂ ÂşQ FG FKTGKVQU FKURQPĂ&#x2C6;XGKU C RCTVKT FC OQFKĹżECĂ ÂşQ FQ VGZVQ FQ CTV h FQ %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ %KXKN FG RGNC .GK P FG FG HGXGTGKTQ FG 81-82 +PENWUKXG Q 5WRGTKQT 6TKDWPCN FG ,WUVKĂ C PQU CWVQU FQ 4GEWTUQ 'URGEKCN P RJ,83 julgado sob o rito dos repetitivos, dispensou a necessidade de ouvir a Fazenda PĂşblica C TGURGKVQ FC QEQTTĂ&#x201E;PEKC FC RTGUETKĂ ÂşQ CPVGTKQT ´ RTQRQUKVWTC FG CĂ ÂşQ RQT GNC 84 apoiado naquele fundamento. #SWGNC EQPENWUÂşQ VKFC EQOQ Ĺ&#x2018;RCEKĹżECFCĹ&#x2019; FKĹżEKNOGPVG UG UWUVGPVCTÂś HTGPVG ´ NGVTC expressa do art. 10 do CĂłdigo de Processo Civil de 2015, que prevĂŞ, em homenagem ao contraditĂłrio, verdadeira obrigação ao magistrado, sob pena de nulidade, assim sintetizada: â&#x20AC;&#x153;O juiz nĂŁo pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito FQ SWCN PÂşQ UG VGPJC FCFQ ´U RCTVGU QRQTVWPKFCFG FG UG OCPKHGUVCT CKPFC SWG UG VTCVG FG matĂŠria sobre a qual deva decidir de ofĂcio.â&#x20AC;?85 Atualmente, deparando-se com a situação que nĂŁo foi objeto de contraditĂłrio prĂŠvio para as partes,86 Q OCIKUVTCFQ Ă&#x192; QDTKICFQ C VTC\Ă&#x201E; NC ´ FKUEWUUÂşQ FCPFQ EKĂ&#x201E;PEKC CQU NKVKICPVGU e ao MinistĂŠrio PĂşblico de sua existĂŞncia para que possam se manifestar a respeito. Atuar de ofĂcio nĂŁo era, menos ainda hoje, fundamento bastante para deixar de lado o contraditĂłrio.87 O magistrado, no exercĂcio do controle difuso de constitucionalidade, tem a prerrogativa de conhecer de ofĂcio a inconstitucionalidade de leis ou atos administrativos em geral.88 Como dito linhas acima, se tal acontecer, aplicarĂĄ o texto do art. 10 do CĂłdigo de Processo Civil de 2015 e submeterĂĄ o tema ao contraditĂłrio, conforme ressalta Araken de Assis: â&#x20AC;&#x153;Ă&#x2030; o que exige o processo justo e equilibrado.â&#x20AC;?89 O problema, entretanto, pode emergir no efeito repristinatĂłrio presente no controle difuso. Aquele efeito ĂŠ automĂĄtico, acontece mesmo que nĂŁo haja pronunciamento judicial expresso a respeito. O fato de o efeito repristinatĂłrio ser automĂĄtico nĂŁo impede o julgador de se referir a ele. AliĂĄs, melhor (rectius: necessĂĄrio) que o faça, por causa do â&#x20AC;&#x153;sagradoâ&#x20AC;? contraditĂłrio, evitando-se a nulidade da decisĂŁo proferida, por afronta ao art. 10 do CĂłdigo de Processo Civil de 2015. Prima facie, poder-se-ia supor que a omissĂŁo judicial90 (em reconhecĂŞ-lo diretamente) PÂşQ UGTKC ENCUUKĹżECFC EQOQ Ĺ&#x2018;FGEKUÂşQĹ&#x2019; RQKU Q GHGKVQ TGRTKUVKPCVĂ&#x17D;TKQ PÂşQ HQK KPXQECFQ EQOQ fundamento ou consequĂŞncia do provimento. Portanto, de forma precipitada, poder-se-ia concluir nĂŁo ser relevante a falta do contraditĂłrio. Ă&#x2030; inegĂĄvel, entretanto, o nexo de causalidade entre o efeito repristinatĂłrio e a decisĂŁo judicial. Aquele depende desta. Aqui, fatalmente, nĂŁo houve contraditĂłrio por iniciativa do juiz, pois, em verdade, o efeito repristinatĂłrio passou despercebido por ele.
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A consequĂŞncia ĂŠ uma decisĂŁo judicial carente de fundamentação adequada que abre OCTIGO ´ FKUEWUUÂşQ C TGURGKVQ FC XKQNCĂ ÂşQ FC NGVTC FQ CTV FQ %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ %KXKN afetando o princĂpio do contraditĂłrio.
8 CONCLUSĂ&#x2022;ES O princĂpio da nulidade do ato inconstitucional ĂŠ implĂcito, extraĂdo do controle difuso de constitucionalidade e da natureza declaratĂłria da decisĂŁo que reconhece a inconstitucionalidade. O efeito repristinatĂłrio decorre do princĂpio da nulidade do ato inconstitucional. 0Q &KTGKVQ GUVTCPIGKTQ XGTKĹżECOQU C GZKUVĂ&#x201E;PEKC FGUUG GHGKVQ GO 2QTVWICN CTVKIQ FC %QPUVKVWKĂ ÂşQ 2QTVWIWGUC PC Â?WUVTKC CTV G PC #NGOCPJC CTV FC .GK FC %QTVG Constitucional Federal). A norma declarada inconstitucional nĂŁo foi apta para revogar validamente a lei anterior que tratava da mesma matĂŠria, uma vez que nasceu nula. Repristinação e efeito repristinatĂłrio sĂŁo inconfundĂveis. Naquela temos um instituto que envolve a vigĂŞncia de trĂŞs atos normativos, todos vĂĄlidos, ao passo que neste temos duas leis ou atos normativos, e o posterior nĂŁo revogou validamente a anterior, diante da sua inconstitucionalidade. O efeito repristinatĂłrio ĂŠ compatĂvel com o princĂpio da segurança jurĂdica, jĂĄ que a sua inexistĂŞncia provocaria um vazio normativo, obrigando a integração da lacuna. O efeito repristinatĂłrio nĂŁo deve restaurar ato normativo anterior inconstitucional. Ao ser reconhecida a inconstitucionalidade de um texto, a restauração do anterior sĂł se opera se ele nĂŁo padecer do mesmo vĂcio. Aplica-se o efeito em estudo na declaração de inconstitucionalidade de ato normativo no controle concentrado e no controle difuso, pois se trata de consequĂŞncia da nulidade do ato normativo revogador. No controle difuso, dada sua natureza inter partes, ĂŠ imprescindĂvel que o efeito repristinatĂłrio aconteça depois de prĂŠvio contraditĂłrio, sob o risco de nulidade da decisĂŁo, por negativa de vigĂŞncia do art. 10 do CĂłdigo de Processo Civil em vigor.
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'HGKVQ TGRTKUVKPCVĂ&#x17D;TKQ G TGRTKUVKPCĂ ÂşQ PÂşQ UG EQPHWPFGO # TGRTKUVKPCĂ ÂşQ UĂ&#x17D; CEQPVGEG FG HQTOC GZRTGUUC SWCPFQ Q PQXQ VGZVQ PQTOCVKXQ CUUKO FGVGTOKPC 'NC CEQPVGEG PC GFKĂ ÂşQ FG NGKU QW FG CVQU CFOKPKUVTCVKXQU 0Q GHGKVQ repristinatĂłrio, nĂŁo hĂĄ edição de um novo texto legal, jĂĄ que o Poder JudiciĂĄrio reconhece um ato normativo como inconstitucional, e, diante da sua nulidade, ele nĂŁo revogou validamente a norma anterior, que permanece vigente. 1 CTV h FC .GK P RTGUETGXG SWG PC EQPEGUUÂşQ FG OGFKFC ECWVGNCT PC #Ă ÂşQ &KTGVC FG +PEQPUVKtucionalidade, haverĂĄ a suspensĂŁo da vigĂŞncia da norma questionada, com o retorno da legislação anterior, salvo GZRTGUUC OCPKHGUVCĂ ÂşQ GO UGPVKFQ EQPVTÂśTKQ $4#5+. .GK P FG FG UGVGODTQ FG &KURĂ?G UQDTG o processo e julgamento da ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratĂłria de constitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal. &KÂśTKQ 1ĹżEKCN FC 4GRĂ&#x2022;DNKEC FQ $TCUKN, BrasĂlia, DF, 10 nov. 1999. 0GUUG UGPVKFQ Q RTGEGFGPVG FQ 5WRGTKQT 6TKDWPCN FG ,WUVKĂ C Ĺ&#x2018;241%'557#. %+8+. 64+$76Â?4+1 /#0&#&1 &' 5')74#0Â&#x161;# &'%.#4#Â&#x161;Â&#x201C;1 &' +0%1056+67%+10#.+&#&' &' .'+ 4'81)#&14# '(+%Â?%+# EX TUNC +0#26+&Â&#x201C;1 &# .'+ +0%1056+67%+10#. 2#4# 241&7<+4 37#+537'4 '('+615 +01%144Â?0%+# &' 4'81)#Â&#x161;Â&#x201C;1 &+56+0Â&#x161;Â&#x201C;1 '064' &'%.#4#Â&#x161;Â&#x201C;1 &' +0%1056+67%+10#.+&#&' ' 4'81)#Â&#x161;Â&#x201C;1 &' .'+ 1 XĂ&#x2C6;EKQ FC KPEQPUVKVWEKQPCNKFCFG CECTTGVC C PWNKFCFG FC norma, conforme orientação assentada hĂĄ muito tempo no STF e abonada pela doutrina dominante. Assim, C CĹżTOCĂ ÂşQ FC EQPUVKVWEKQPCNKFCFG QW FC KPEQPUVKVWEKQPCNKFCFG FC PQTOC OGFKCPVG UGPVGPĂ C FG OĂ&#x192;TKVQ GO ação de controle concentrado, tem efeitos puramente declaratĂłrios. Nada constitui nem desconstitui. Sendo FGENCTCVĂ&#x17D;TKC C UGPVGPĂ C C UWC GĹżEÂśEKC VGORQTCN PQ SWG UG TGHGTG ´ XCNKFCFG QW ´ PWNKFCFG FQ RTGEGKVQ PQTmativo, ĂŠ ex tunc. 2. A revogação, contrariamente, tendo por objeto norma vĂĄlida, produz seus efeitos para o futuro (ex nunc), evitando, a partir de sua ocorrĂŞncia, que a norma continue incidindo, mas nĂŁo afetando de forma alguma as situaçþes decorrentes de sua (regular) incidĂŞncia, no intervalo situado entre o momento da edição e o da revogação. 3. A nĂŁo repristinação ĂŠ regra aplicĂĄvel aos casos de revogação de lei, e nĂŁo aos casos de inconstitucionalidade. Ă&#x2030; que a norma inconstitucional, porque nula ex tunc, nĂŁo teve aptidĂŁo para revogar a legislação anterior, que, por isso, permaneceu vigente. 4. No caso dos autos, foi declarado inconstitucional Q CTV h FC .GK SWG FGVGTOKPCXC C TGXQICĂ ÂşQ FQ CTV + FC .GK CNVGTCPFQ C DCUG de incidĂŞncia da contribuição da folha de pagamentos para o faturamento. NĂŁo tendo essa lei, porĂŠm, face ao reconhecimento de sua inconstitucionalidade, jamais sido apta a realizar o comando que continha, vigeu e XKIG FGUFG C UWC GFKĂ ÂşQ CVĂ&#x192; QU FKCU CVWCKU Q CTV KPEKUQ + FC .GK SWG FGVGTOKPC SWG CU GORTGUCU FG CVKXKFCFG TWTCN TGEQNJCO C EQPVTKDWKĂ ÂşQ UQDTG C HQNJC FG UCNÂśTKQU 'ODCTIQU FG FKXGTIĂ&#x201E;PEKC RCTEKCNOGPVG EQPJGEKFQU G PGUUC RCTVG PÂşQ RTQXKFQUĹ&#x2019; '4'UR $# m 6WTOC 4GN /KP ,QÂşQ 1VÂśXKQ FG 0QTQPJC L GO Ĺ&#x152; I P $4#5+. 5WRGTKQT 6TKDWPCN FG ,WUVKĂ C &KURQPĂ&#x2C6;XGN GO JVVRU YY UVL LWU DT RTQEGUUQ TGXKUVC FQEWOGPVQ OGFKCFQ !EQORQPGPVG #6% UGSWGPEKCN PWOATGIKUVTQ F ata=20051205&tipo=5&formato=PDF>. Acesso em: 15 nov. 2016. 7 O Supremo Tribunal Federal pode decidir pela nĂŁo aplicação do efeito repristinĂĄtorio, com respaldo, no art. 27 FC .GK G PQ CTV FC .GK OQFWNCPFQ QU GHGKVQU FC FGENCTCĂ ÂşQ FG KPEQPUVKVWEKQPCNKFCFG Ĺ&#x2018;#Q declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razĂľes de segurança jurĂdica ou de excepcional interesse social, poderĂĄ o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, TGUVTKPIKT QU GHGKVQU FCSWGNC FGENCTCĂ ÂşQ QW FGEKFKT SWG GNC UĂ&#x17D; VGPJC GĹżEÂśEKC C RCTVKT FG UGW VT¸PUKVQ GO LWNICFQ QW FG QWVTQ OQOGPVQ SWG XGPJC C UGT ĹżZCFQĹ&#x2019; $4#5+. .GK P FG FG UGVGODTQ FG &KURĂ?G UQDTG o processo e julgamento da ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratĂłria de constitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal. &KÂśTKQ 1ĹżEKCN FC 4GRĂ&#x2022;DNKEC FQ $TCUKN, BrasĂlia, DF, 10 nov. 1999. 8 O controle concentrado ĂŠ exercido mediante provocação dos legitimados previstos pelo art. 103 da Constituição Federal. Pode acontecer de nĂŁo existir pedido expresso de reconhecimento de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo anterior. Surgem trĂŞs possibilidades: o STF afasta de ofĂcio o efeito repristinatĂłrio; determina a emenda da petição inicial para ser suprida a omissĂŁo ou, simplesmente, nĂŁo conhece da ação. Os julgados mais recentes optaram por afastar o efeito repristinatĂłrio (ADIs 2154, 2258 e 3660). Nesse sentido: â&#x20AC;&#x153;Conjugando os entendiOGPVQU ĹżZCFQU RGNQ 6TKDWPCN FG SWG PQ ¸ODKVQ FQ EQPVTQNG GO CDUVTCVQ FC EQPUVKVWEKQPCNKFCFG Q TGSWGTGPVG deve impugnar todo o complexo normativo supostamente inconstitucional, inclusive as normas revogadas que poderĂŁo ser eventualmente repristinadas pela declaração de inconstitucionalidade das normas revogadoras, e de SWG Q RTQEGUUQ FG EQPVTQNG CDUVTCVQ FGUVKPC UG HWPFCOGPVCNOGPVG ´ CHGTKĂ ÂşQ FC EQPUVKVWEKQPCNKFCFG FG PQTOCU pĂłs-constitucionais, concluiu-se que a impugnação deveria abranger apenas a cadeia de normas revogadoras e
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revogadas atĂŠ o advento da Constituição de 1988. Asseverou-se, ademais, que a exigĂŞncia de impugnação de toda a cadeia normativa supostamente inconstitucional poderia atĂŠ mesmo ser relativizada, haja vista a possibilidade de o Tribunal deliberar a respeito da modulação do prĂłprio efeito repristinatĂłrio da declaração de inconstitucioPCNKFCFG .GK CTV h E E Q CTV Ĺ&#x2019; #&+ 4GN /KP )KNOCT /GPFGU Ĺ&#x2018;0Q SWG UG TGHGTG ´ PQTOC ĹżPCN FQ h FQ CTV FC .GK SWG RTGXĂ&#x201E; SWG C Ĺ&#x2018;EQPEGUUÂşQ FC OGFKFC ECWVGNCT VQTPC CRNKEÂśXGN C legislação anterior, salvo expressa manifestação em sentido contrĂĄrioâ&#x20AC;?, o Tribunal, por maioria, julgou improcedente o pedido formulado. Salientou-se, inicialmente, que a ação direta foi instituĂda como instrumento de salvaguarda FC JKIKFG\ FC QTFGO LWTĂ&#x2C6;FKEC G PÂşQ RCTC C VWVGNC FG RTGVGPUĂ?GU FG FKTGKVQ FQU UWLGKVQU NGIKVKOCFQU RCTC RTQRĂ? NC e que, em razĂŁo disso, a recepção do princĂpio do pedido no processo objetivo da jurisdição constitucional hĂĄ de ser dimensionada a partir dessa perspectiva institucional do sistema de controle abstrato de normas. Tendo isso em conta, entendeu-se, na linha adotada pela doutrina portuguesa e pequena parte da brasileira, que o Tribunal RQFG UQDTGRQT CRTGEKCT KPEKFGPVGOGPVG C EQPUVKVWEKQPCNKFCFG FC NGK RTGEGFGPVG ´ KORWIPCFC RCTC LWNICPFQ C igualmente invĂĄlida, impedir sua revivescĂŞncia decorrente da declaração de inconstitucionalidade da que a tenha revogado. Ressaltou-se que a recusa da repristinação se basearĂĄ em juĂzo similar ao da declaração incidente de inconstitucionalidade de norma cuja validade seja prejudicial da decisĂŁo principal a tomar, a qual sempre se pode FCT FG QĹżEKQ G SWG PCFC GZENWK RQUUC QEQTTGT PQ LWNICOGPVQ FG WOC #&+ GO SWG WO OGUOQ VTKDWPCN EQOQ Q 56( cumule as funçþes de ĂłrgĂŁo exclusivo do controle abstrato com o de ĂłrgĂŁo de cĂşpula do sistema difuso. Vencido, nessa parte, o Min. Marco AurĂŠlio que declarava a inconstitucionalidade da expressĂŁo impugnada por considerar que a possibilidade de o Tribunal extravasar os limites objetivos da prĂłpria ADI, declarando restabelecida ou nĂŁo a legislação anterior, contrariaria os princĂpios da segurança jurĂdica e o de que o JudiciĂĄrio atua apenas mediante provocação. ADI 2154/DF e ADI 2258/DF, rel. Min. SepĂşlveda Pertence, 14.2.2007. (ADI-2154) (ADI-2258)â&#x20AC;? Ĺ&#x152; +PHQTOCVKXQ 56( P VĂ&#x2C6;VWNQ Ĺ&#x2018;#&+ G .GK Ĺ&#x152; Ĺ&#x2019; $4#5+. 5WRTGOQ 6TKDWPCN (GFGTCN Informativo STF. DisponĂvel em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo456.htm>. Acesso em: 15 nov. 2016). .GK FG FG PQXGODTQ FG CTV Ĺ&#x2018;%QPEGFKFC C OGFKFC ECWVGNCT Q 5WRTGOQ 6TKWPCN (GFGTCN HCTÂś RWDNKECT GO UGĂ ÂşQ GURGEKCN FQ &KÂśTKQ 1ĹżEKCN FC 7PKÂşQ G FQ &KÂśTKQ FC ,WUVKĂ C FC 7PKÂşQ C RCTVG FKURQUKVKXC FC FGEKUÂşQ PQ RTC\Q FG FG\ FKCU FGXGPFQ UQNKEKVCT CU KPHQTOCĂ Ă?GU ´ CWVQTKFCFG FC SWCN VKXGT GOCPCFQ Q CVQ QDUGTXCPFQ UG PQ SWG EQWDGT Q RTQEGFKOGPVQ GUVCDGNGEKFQ PC 5GĂ ÂşQ + FGUVG %CRĂ&#x2C6;VWNQ = ? h Q # EQPEGUUÂşQ da medida cautelar torna aplicĂĄvel a legislação anterior acaso existente, salvo expressa manifestação em sentido EQPVTÂśTKQĹ&#x2019; $4#5+. .GK P FG FG UGVGODTQ FG &KURĂ?G UQDTG Q RTQEGUUQ G LWNICOGPVQ FC CĂ ÂşQ direta de inconstitucionalidade e da ação declaratĂłria de constitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal. &KÂśTKQ 1ĹżEKCN FC 4GRĂ&#x2022;DNKEC FQ $TCUKN, BrasĂlia, DF, 10 nov. 1999. %.Â&#x203A;8' %NĂ&#x201A;OGTUQO /GTNKP # ĹżUECNK\CĂ ÂşQ CDUVTCVC FC EQPUVKVWEKQPCNKFCFG PQ FKTGKVQ DTCUKNGKTQ. 2. ed. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 249. 11 Controle abstrato ĂŠ realizado em tese, independentemente da existĂŞncia de uma lide, em quatro açþes: ação direta de inconstitucionalidade genĂŠrica, ação direta de inconstitucionalidade por omissĂŁo, ação declaratĂłria de constitucionalidade e arguição de descumprimento de preceito fundamental. JĂĄ o controle difuso ĂŠ aquele TGCNK\CFQ RQT SWCNSWGT LWK\ QW VTKDWPCN GO SWCNSWGT RTQEGUUQ LWFKEKCN EQOQ SWGUVÂşQ RTGLWFKEKCN ´ CPÂśNKUG FG QWVTC RTKPEKRCN 5QDTG Q VGOC XKFG C QDTC FG ('44'+4# 1NCXQ #NXGU Controle de constitucionalidade e seus efeitos. 3. ed. Salvador: Juspodivm, 2016. 12 O PlenĂĄrio do Conselho Nacional de Justiça decidiu, por unanimidade, em sessĂŁo virtual extraordinĂĄria, realizada dia 3 de março de 2016, que o CĂłdigo de Processo Civil de 2015 passaria a vigorar dia 18 de março de 2016. O LWNICOGPVQ HQK CDGTVQ PC m 5GUUÂşQ 1TFKPÂśTKC FQ %QPUGNJQ PC VGTĂ C HGKTC G EQPVKPWQW GO CODKGPVG virtual por decisĂŁo da PresidĂŞncia do Conselho, apĂłs a Corregedora Nacional de Justiça, Ministra Nancy Andrighi, pedir mais prazo para analisar melhor a manifestação encaminhada ao CNJ pela Ordem dos Advogados do $TCUKN 1#$ $4#5+. %QPUGNJQ 0CEKQPCN FG ,WUVKĂ C CNJ responde Ă OAB e decide que vigĂŞncia do novo CPC começa em 18 de março. DisponĂvel em: <http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/81698-cnj-responde-a-oab-e-decide-que-vigencia-do-novo-cpc-comeca-em-18-de-marco>. Acesso em: 15 nov. 2016). $4#5+. .GK P FG FG OCTĂ Q FG %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ %KXKN &KÂśTKQ 1ĹżEKCN FC 4GRĂ&#x2022;DNKEC (GFGrativa do Brasil $TCUĂ&#x2C6;NKC &( OCT Ĺ&#x2018;#TV 0ÂşQ UG RTQHGTKTÂś FGEKUÂşQ EQPVTC WOC FCU RCTVGU UGO SWG GNC seja previamente ouvida. ParĂĄgrafo Ăşnico. O disposto no caput PÂşQ UG CRNKEC + ´ VWVGNC RTQXKUĂ&#x17D;TKC FG WTIĂ&#x201E;PEKC ++ ´U JKRĂ&#x17D;VGUGU FG VWVGNC FC GXKFĂ&#x201E;PEKC RTGXKUVCU PQ CTV KPEKUQU ++ G +++ +++ ´ FGEKUÂşQ RTGXKUVC PQ CTV Ĺ&#x2019;
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O efeito repristinatório no controle difuso de constitucionalidade e a vedação de decisþes surpresa
$4#5+. .GK P FG FG OCTĂ Q FG %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ %KXKN &KÂśTKQ 1ĹżEKCN FC 4GRĂ&#x2022;DNKEC (Gderativa do Brasil, BrasĂlia, DF, 16 mar. 2015. â&#x20AC;&#x153;Art. 10. O juiz nĂŁo pode decidir, em grau algum de jurisdição, EQO DCUG GO HWPFCOGPVQ C TGURGKVQ FQ SWCN PÂşQ UG VGPJC FCFQ ´U RCTVGU QRQTVWPKFCFG FG UG OCPKHGUVCT CKPFC que se trate de matĂŠria sobre a qual deva decidir de ofĂcioâ&#x20AC;?. 15 As chamadas â&#x20AC;&#x153;decisĂľes-surpresaâ&#x20AC;? sĂŁo aquelas que violam a exigĂŞncia de contraditĂłrio prĂŠvio, como delimitado RGNQU CTVKIQU G TGHGTKFQU NKPJCU CEKOC #PVGU FG FGEKFKT SWCNSWGT VGOC EQOQ TGITC CU RCTVGU FGXGO VGT a oportunidade de manifestação. 4#/15 'NKXCN FC 5KNXC A inconstitucionalidade das leis: vĂcio e sanção. SĂŁo Paulo: Saraiva, 1994. p. 63-4. 17 Adotamos a lição do professor Celso Ribeiro Bastos que â&#x20AC;&#x153;toda a norma infringente da Constituição ĂŠ nulaâ&#x20AC;? (BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional GF 5ÂşQ 2CWNQ 5CTCKXC R 'PVGPFGO SWG C PQTOC KPEQPUVKVWEKQPCN Ă&#x192; PWNC GPVTG QWVTQU ,QUĂ&#x192; %TGVGNNC ,Ă&#x2022;PKQT %4'6'..# ,70+14 ,QUĂ&#x192; Elementos de direito constitucional GF 5ÂşQ 2CWNQ 'FKVQTC 4GXKUVC FQU 6TKDWPCKU R )GTCNFQ #VCNKDC #6#.+$# )GTCNFQ Regime tributĂĄrio e estado de direito. DisponĂvel em: <www.trf3.gov.br/palestra03.htm>. Acesso em: 28 set. 2001); Alfredo Buzaid (BUZAID, Alfredo. Da ação direta de declaração de inconstitucionalidade 5ÂşQ 2CWNQ 5CTCKXC R ,QUĂ&#x192; #HQPUQ FC 5KNXC 5+.8# ,QUĂ&#x192; #HQPUQ FC Curso de direito constitucional positivo. 11. ed. SĂŁo Paulo: Malheiros, 1996. p. 55); Ada Pellegrini Grinover
)4+018'4 #FC 2GNNGITKPK %QPVTQNG FC EQPUVKVWEKQPCNKFCFG Revista Forense, v. 94, n. 341, p. 3-12, 1998. R )KNOCT (GTTGKTC /GPFGU /'0&'5 )KNOCT (GTTGKTC Jurisdição Constitucional. 2. ed. SĂŁo Paulo: 5CTCKXC R %NĂ&#x201A;OGTUQP /GTNKP %NĂ&#x201A;XG %.Â&#x203A;8' %NGOĂ&#x201A;TUQP /GTNKP # ĹżUECNK\CĂ ÂşQ CDUVTCVC FG constitucionalidade. 2. ed. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 249); AndrĂŠ Ramos Tavares (TAVA4'5 #PFTĂ&#x192; 4COQU Tribunal e jurisdição constitucional. 5ÂşQ 2CWNQ %GNUQ $CUVQU 'FKVQT R .WK\ #NDGTVQ &CXKF #TCĂ&#x2022;LQ G 8KFCN 5GTTCPQ 0WPGU ,Ă&#x2022;PKQT #4#Â,1 .WK\ #NDGTVQ &CXKF 070'5 ,Â0+14 8KFCN Serrano. Curso de direito constitucional GF 5ÂşQ 2CWNQ 5CTCKXC R /KEJGN 6GOGT 6'/'4 Michel. Elementos de direito constitucional GF 5ÂşQ 2CWNQ /CNJGKTQU 'FKVQTGU R G ,WNKCPQ 6CXGKTC $GTPCTFGU $'40#4&'5 ,WNKCPQ 6CXGKTC Controle abstrato de constitucionalidade: elementos materiais e princĂpios processuais. SĂŁo Paulo: Saraiva, 2004. p. 347). No mesmo sentido ĂŠ o entendimento do 56( 4' 52 4GNCVQT /KP (KTOKPQ 2C\ ,WNICOGPVQ Ĺ&#x152; m 6WTOC 4' 40 4GNCVQT C /KP %Â&#x2018;0&+&1 /166# ,WNICOGPVQ 24+/'+4# 674/# $4#5+. 5WRTGOQ 6TKDWPCN (Gderal. 4' 52. DisponĂvel em: <http://www.lexml.gov.br/urn/urn:lex:br:supremo.tribunal.federal;tu TOC CEQTFCQ TG #EGUUQ GO PQX #&+/% 52 #Â&#x161;Â&#x201C;1 &+4'6# &' +0%1056+67%+10#.+&#&' /'&+&# %#76'.#4 4GNCVQT /KP %'.51 &' /'..1 ,WNICOGPVQ 6TKDWPCN 2NGPQ $4#5+. 5WRTGOQ 6TKDWPCN (GFGTCN #Ă ÂşQ FKTGVC FG KPEQPUVKVWEKQPCNKFCFG &KUponĂvel em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=347055>. Acesso em: 15 nov. 2016). 18 NĂŁo se pode olvidar que entre os princĂpios implĂcitos e os expressos â&#x20AC;&#x153;nĂŁo se pode falar em supremaciaâ&#x20AC;?. Ă&#x2030; dizer, ambos retiram fundamento de validade do mesmo texto jurĂdico, segundo lição de Paulo de Barros Carvalho
%#48#.*1 2CWNQ FG $CTTQU Curso de direito tributĂĄrio. SĂŁo Paulo: Saraiva, 1996. p. 90). Ĺ&#x2018;1 UKUVGOC FG EQPVTQNG FG EQPUVKVWEKQPCNKFCFG HWPEKQPC EQOQ ETKVĂ&#x192;TKQ KFGPVKĹżECFQT FC UCPĂ ÂşQ FG KPEQPUVKVWEKQnalidade acolhida pelo ordenamento. Assim, a sanção de nulidade exige a presença do controle via incidental, apresentando a decisĂŁo que constata a incidĂŞncia da sanção aparĂŞncia de uma retroatividade radical, por redundar na negativa de efeitos ab initio ao ato impugnado. JĂĄ a sanção de anulabilidade aparece necessariaOGPVG CUUQEKCFC CQ EQPVTQNG EQPEGPVTCFQ GO SWG UG RTQFW\CO FGEKUĂ?GU CPWNCVĂ&#x17D;TKCU EQO GĹżEÂśEKC erga omnes G PÂşQ TGVTQCVKXCU QW EQO TGVTQCVKXKFCFG NKOKVCFCĹ&#x2019; 4#/15 'NKXCN 5KNXC A inconstitucionalidade das leis. SĂŁo Paulo: Saraiva, 1994. p. 94). Canotilho concorda com os ensinamentos acima: â&#x20AC;&#x153;No caso do judicial review o efeito tĂpico ĂŠ o da nulidade e nĂŁo simples anulabilidadeâ&#x20AC;? (op. cit., p. 875). Vale lembrar que o ordenamento constitucional pĂĄtrio adotou o sistema hĂbrido ou misto, isto ĂŠ, temos o controle difuso e concentrado. 4#/15 'NKXCN FC 5KNXC QR EKV R 21 Ibidem, p. 94. %#016+.*1 , , )QOGU Direito constitucional GF %QKODTC .KXTCTKC #NOGFKPC = ? R 4#/15 'NKXCN FC 5KNXC QR EKV R 24 Constituição Federal: Artigo 52, X â&#x20AC;&#x201C; â&#x20AC;&#x153;suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstituEKQPCN RQT FGEKUÂşQ FGĹżPKVKXC FQ 5WRTGOQ 6TKDWPCN (GFGTCNĹ&#x2019; G h Ĺ&#x2018;Declarada a inconstitucionalidade
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por omissĂŁo de medida para tornar efetiva norma constitucional, serĂĄ dada ciĂŞncia ao Poder competente para a adoção das providĂŞncias necessĂĄrias e, em se tratando de ĂłrgĂŁo administrativo, para fazĂŞ-lo em trinta diasâ&#x20AC;?; e art. 102. â&#x20AC;&#x153;Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I â&#x20AC;&#x201C; processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a Ação DeclaratĂłria de Constitucionalidade de lei ou ato normativo federal; e 102, III â&#x20AC;&#x201C; julgar, mediante recurso extraordinĂĄrio, as causas decididas em Ăşnica ou Ăşltima instância, quando a decisĂŁo recorrida:...b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federalâ&#x20AC;?; e art. 97. â&#x20AC;&#x153;Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo ĂłrgĂŁo especial poderĂŁo os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder pĂşblicoĹ&#x2019; $4#5+. %QPUVKVWKĂ ÂşQ FC 4GRĂ&#x2022;DNKEC Federativa do Brasil de 1988. &KÂśTKQ 1ĹżEKCN FC 4GRĂ&#x2022;DNKEC (GFGTCVKXC FQ $TCUKN, BrasĂlia, DF, 5 out. 1988. .GODTCOQU SWG PC %QPUVKVWKĂ ÂşQ PÂşQ JÂś RCNCXTCU KPĂ&#x2022;VGKU LÂś SWG CRNKEÂśXGN C NKĂ ÂşQ FG %CTNQU /CZKOKNKCPQ Ĺ&#x2018;KPVGTRTGVGO UG CU FKURQUKĂ Ă?GU FG OQFQ SWG PÂşQ RCTGĂ C JCXGT RCNCXTCU UWRĂ&#x192;TĆ&#x20AC;WCU G UGO HQTĂ C QRGTCVKXCĹ&#x2019; /#:+/+.+#01 Carlos. HermenĂŞutica e aplicação do direito GF 5ÂşQ 2CWNQ 'FKVQTC .KXTCTKC (TGKVCU $CUVQU 5 # R Ĺ&#x2018;1 RTQEGUUQ OGTCOGPVG FGENCTCVĂ&#x17D;TKQ XKUC CRGPCU ´ FGENCTCĂ ÂşQ FC GZKUVĂ&#x201E;PEKC QW KPGZKUVĂ&#x201E;PEKC FC TGNCĂ ÂşQ LWTĂ&#x2C6;FKECĹ&#x2019; %+064# #PVQPKQ %CTNQU FG #TCĂ&#x2022;LQ )4+018'4 #FC 2GNNGITKPK &+0#/#4%1 %¸PFKFQ 4CPIGN Teoria geral do processo GF 5ÂşQ 2CWNQ /CNJGKTQU 'FKVQTGU R 'PVGPFGOQU SWG Ă&#x192; CRNKEÂśXGN o conceito acima aos processos de controle abstrato, jĂĄ que a inconstitucionalidade ĂŠ uma relação jurĂdica. 27 Canotilho aponta: â&#x20AC;&#x153;Fala-se em efeito declarativo quando a entidade controlante se limita a declarar a nulidade prĂŠ-existente do acto normativo. O acto normativo ĂŠ absolutamente nulo (null and void), e, por isso, o juiz ou qualquer outro ĂłrgĂŁo de controlo â&#x20AC;&#x2DC;limita-seâ&#x20AC;&#x2122; a reconhecer declarativamente a sua nulidade. Ă&#x2030; o regime tĂpico do controle difusoâ&#x20AC;? (op. cit., p. 875). 5QDTG Q VGOC XKFG PQUUQ ('44'+4# 1NCXQ #WIWUVQ 8KCPPC #NXGU Controle de constitucionalidade e seus efeitos GF 5ÂşQ 2CWNQ /Ă&#x192;VQFQ 9CNDGT FG /QWTC #ITC CĹżTOC SWG GO CNIWPU ECUQU C FGEKUÂşQ de inconstitucionalidade ĂŠ constitutivo-negativa, â&#x20AC;&#x153;tornando-se o ato inconstitucional por vontade do Poder JudiciĂĄrio, dimensionando-se o STF como um ĂłrgĂŁo legislativo negativoâ&#x20AC;? (AGRA, Walber de Moura. Curso de direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 495). 29 BARBOSA, Rui. Os atos inconstitucionais do Congresso e do executivo. +P AAAAAA Trabalhos JurĂdicos. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 1962. p. 70. 9+..17)*$; 9GUVGN 9QQFDWT[ The Constitutional Law of the United States. New York: [S.l.], 1910. X R 8CNG QDUGTXCT SWG EQPUQNKFCĂ ÂşQ FQ EQPVTQNG FG EQPUVKVWEKQPCNKFCFG CVTKDWKW UG ´ FGEKUÂşQ RTQHGTKFC no caso Marbury vs. Madison, em 1803: â&#x20AC;&#x153;Ou a Constituição ĂŠ a lei superior, intocĂĄvel por meios ordinĂĄrios, ou ela estĂĄ no mesmo nĂvel que os atos legislativos ordinĂĄrios, e, como os outros atos, ĂŠ alterĂĄvel quando a legislatura aprouver alterĂĄ-los. Se a primeira parte da alternativa ĂŠ verdadeira, entĂŁo um ato legislativo contrĂĄrio ´ %QPUVKVWKĂ ÂşQ PÂşQ Ă&#x192; NGK UG C Ă&#x2022;NVKOC Ă&#x192; XGTFCFGKTC GPVÂşQ CU %QPUVKVWKĂ Ă?GU GUETKVCU UÂşQ VGPVCVKXCU CDUWTFCU RQT RCTVG FQ RQXQ FG NKOKVCT WO RQFGT RQT UWC RTĂ&#x17D;RTKC PCVWTG\C KNKOKVÂśXGNĹ&#x2019; #ĹżTOC CKPFC %CRRGNNGVVK SWG Ĺ&#x2018;UG Ă&#x192; XGTFCFGKTQ SWG JQLG VQFCU CU EQPUVKVWKĂ Ă?GU OQFGTPCU FQ OWPFQ QEKFGPVCN VGPFGO LÂś C CĹżTOCT Q UGW ECTÂśVGT FG EQPUVKVWKĂ Ă?GU TĂ&#x2C6;IKFCU G PÂşQ OCKU Ć&#x20AC;GZĂ&#x2C6;XGKU Ă&#x192; VCODĂ&#x192;O XGTFCFGKTQ PQ GPVCPVQ SWG GUVG OQXKOGPVQ FG KORQTV¸PEKC fundamental e de alcance universal, foi efetivamente, iniciado pela Constituição norte-amerticana de 1787 e RGNC EQTCLQUC LWTKURTWFĂ&#x201E;PEKC SWG UG CRNKEQWĹ&#x2019; %#22'..'66+ /CWTQ O controle judicial de constitucionalidade das leis no direito comparado. 2. ed. Porto Alegre: Fabris, 1992. p. 47-48). 31 Vide notas de rodapĂŠ 15 e 17 citando os autores e precedentes que acolheram o dogma da nulidade do ato inconstitucional. Ĺ&#x2018;# 37'56Â&#x201C;1 &# '(+%Â?%+# 4'24+56+0#6ÂŚ4+# &# &'%.#4#Â&#x161;Â&#x201C;1 &' +0%1056+67%+10#.+&#&' Ĺ&#x2018;+0 #$564#%61Ĺ&#x2019; # FGENCTCĂ ÂşQ ĹżPCN FG KPEQPUVKVWEKQPCNKFCFG SWCPFQ RTQHGTKFC RGNQ 5WRTGOQ 6TKDWPCN (GFGTCN GO UGFG FG ĹżUECNK\CĂ ÂşQ PQTOCVKXC CDUVTCVC KORQTVC EQPUKFGTCFQ Q GHGKVQ TGRTKUVKPCVĂ&#x17D;TKQ SWG lhe ĂŠ inerente - em restauração das normas estatais anteriormente revogadas pelo diploma normativo objeto do juĂzo de inconstitucionalidade, eis que o ato inconstitucional, por ser juridicamente invĂĄlido (RTJ 146/461-462), UGSWGT RQUUWK GĹżEÂśEKC FGTTQICVĂ&#x17D;TKC &QWVTKPC 2TGEGFGPVGU 56( Ĺ&#x2019; #&+ 4GNCVQT C /KP %'.51 &' /'..1 6TKDWPCN 2NGPQ LWNICFQ GO &, 22 '/'06 81. 22 46, 81. 22 33 Na jurisprudĂŞncia do Supremo Tribunal Federal, o efeito repristinatĂłrio surgiu antes da Constituição de 1988, no controle abstrato nos julgamentos: i) em 26 de fevereiro de 1981, da Medida Cautelar da representação de
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O efeito repristinatório no controle difuso de constitucionalidade e a vedação de decisþes surpresa
KPEQPUVKVWEKQPCNKFCFG P EWLQ 4GNCVQT HQK Q /KPKUVTQ /QTGKTC #NXGU G KK GO FG QWVWDTQ FG FC /GFKFC %CWVGNCT FC TGRTGUGPVCĂ ÂşQ FG KPEQPUVKVWEKQPCNKFCFG P #. EWLQ 4GNCVQT HQK Q /KPKUVTQ (TCPEKUEQ 4G\GM Ĺ&#x2018;4GRTGUGPVCĂ ÂşQ RQT KPEQPUVKVWEKQPCNKFCFG 5WURGPUÂşQ NKOKPCT FC GĹżEÂśEKC FC NGK %QPUGSWĂ&#x201E;PEKCU # UWURGPUÂşQ NKOKPCT FC GĹżEÂśEKC FC NGK VQTPC CRNKEÂśXGN C NGIKUNCĂ ÂşQ CPVGTKQT CECUQ GZKUVGPVG G PÂşQ KORGFG SWG UG edite nova lei, na conformidade das regras constitucionais inerentes ao processo legislativoâ&#x20AC;? (STF Pleno, Rp /% TGXQICĂ ÂşQ 4GNCVQT /KP (4#0%+5%1 4'<'- LWNICFQ GO &, 22 '/'06 81. 22 %QPXĂ&#x192;O TGUUCNVCT SWG GUVGU LWNICFQU PÂşQ UG FGFKECTCO CQ CRTQHWPFCOGPVQ teĂłrico do tema em estudo. /'0&'5 )KNOCT (GTTGKTC Jurisdição constitucional GF 5ÂşQ 2CWNQ 5CTCKXC R %.Â&#x203A;8' %NĂ&#x201A;merson Merlin. # ĹżUECNK\CĂ ÂşQ CDUVTCVC FG EQPUVKVWEKQPCNKFCFG PQ FKTGKVQ DTCUKNGKTQ. 2. ed. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 246. 35 O Tribunal Constitucional â&#x20AC;&#x153;nĂŁo tem de decidir expressis verbis GHGKVQU TGRTKUVKPCVĂ&#x17D;TKQU PGO VGO FG GURGEKĹżECT SWCKU CU PQTOCU TGRTKUVKPCFCUĹ&#x2019; %#016+.*1 ,QUĂ&#x192; ,QCSWKO )QOGU Direito constitucional. 4. ed. Coimbra: .KXTCTKC #NOGFKPC = ? R %QPUVKVWKĂ ÂşQ FC 4GRĂ&#x2022;DNKEC 2QTVWIWGUC CTVKIQ 'HGKVQU FC FGENCTCĂ ÂşQ FG KPEQPUVKVWEKQPCNKFCFG QW FG ilegalidade), â&#x20AC;&#x153;1. A declaração de inconstitucionalidade ou de ilegalidade com força obrigatĂłria geral produz efeitos desde a entrada em vigor da norma declarada inconstitucional ou ilegal e determina a repristinação FCU PQTOCU SWG GNC GXGPVWCNOGPVG JCLC TGXQICFQĹ&#x2019; 21467)#. Constituição da RepĂşblica Portuguesa. Portugal, 2 abr. 1976. 37 Onde o Tribunal Constitucional Federal detĂŠm competĂŞncia para indicar com efeitos vinculantes se o efeito TGRTKUVKPCVĂ&#x17D;TKQ Ă&#x192; QW PÂşQ CRNKEÂśXGN 0GUVG UGPVKFQ /'&'+415 4WK A decisĂŁo de inconstitucionalidade. .KUDQC 7PKXGTUKFCFG %CVĂ&#x17D;NKEC 'FKVQTC R 5GPFQ SWG C %QTVG FGEKFG UQDTG C KPEKFĂ&#x201E;PEKC FQ GHGKVQ TGRTKUVKPCVĂ&#x17D;TKQ EQPHQTOG NGEKQPC ,QUĂ&#x192; #FĂ&#x192;TEKQ .GKVG 5CORCKQ 5#/2#+1 ,QUĂ&#x192; #FĂ&#x192;TEKQ .GKVG A Constituição reinventada pela jurisdição constitucional. Belo Horizonte: Del Rey, 2002. p. 224). ,Ă&#x2018;TP +RUGP CĹżTOC SWG UG VTCVC FG WOC GXKFĂ&#x201E;PEKC FQIOÂśVKEC PQ SWCFTQ FC VGQTKC FC PWNKFCFG FC NGK KPEQPUVKtucional. Rechtsfolgen der Verfassungswidrigkeit von Norm umd Einzelakt, Baden-Baden, p. 258. 1980, 'ZRTGUUÂşQ UWIGTKFC RGNQ #OKIQ G 2TQHGUUQT #PFTG[ $QTIGU FG /GPFQPĂ C 2TQEWTCFQT FC 4GRĂ&#x2022;DNKEC /'&'+415 QR EKV R 42 â&#x20AC;&#x153;A norma anterior nĂŁo chegou juridicamente a cessar a sua vigĂŞncia. Por isso, e como sempre, ela mantĂŠm-se GO XKIQT G EQPVKPWC C UGT CRNKEÂśXGN CRĂ&#x17D;U C FGEKUÂşQ FG KPEQPUVKVWEKQPCNKFCFGĹ&#x2019; /'&'+415 QR EKV R 0GUVG UGPVKFQ )WKNJGTOG 2GĂ&#x152;C FG /QTCGU /14#'5 2GĂ&#x152;C FG /QTCGU Direito Constitucional: teoria da EQPUVKVWKĂ ÂşQ GF 4KQ FG ,CPGKTQ 'FKVQTC .WOGP ,WTKU R PQVC FG TQFCRĂ&#x192; G ,WNKCPQ 6CXGKTC $GTPCTFGU $'40#4&'5 ,WNKCPQ 6CXGKTC Efeitos das normas constitucionais no sistema normativo brasileiro 2QTVQ #NGITG 5GTIKQ #PVQPKQ (CDTKU 'FKVQT R 'UVG FQWVTKPCFQT VTCVC FG WOC aparente NKICĂ ÂşQ FQ GHGKVQ TGRTKUVKPCVĂ&#x17D;TKQ EQO C TGRTKUVKPCĂ ÂşQ 'O UGPVKFQ EQPVTÂśTKQ CNIWPU LWNICFQU FQ 56( VTCVCO FCU GZRTGUUĂ?GU RCTC FGUKIPCT Q OGUOQ KPUVKVWVQ XKFG 4' 4GNCVQT /KPKUVTQ 1UECT %QTTĂ&#x201E;C L ADIN 2574, Relator Ministro Carlos Velloso, DJ 29/08/2003; ADIN 2847, Relator Ministro Carlos Velloso, J. 05/8/2004; ADI 2.154 e ADI 2.258, Rel. Min. SepĂşlveda Pertence, julgamento em 14/2/07, Informativo 456. .WĂ&#x2C6;U 4QDGTVQ $CTTQUQ GORTGIC CU GZRTGUUĂ?GU EQOQ UKPĂ?PKOCU Ĺ&#x2018;C RTGOKUUC FC PÂşQ CFOKUUÂşQ FQU GHGKVQU XÂśNKFQU FGEQTTGPVGU FQ CVQ KPEQPUVKVWEKQPCN EQPFW\ KPGXKVCXGNOGPVG ´ VGUG FC TGRTKUVKPCĂ ÂşQ FC PQTOC TGXQICFC Â&#x153; SWG C TKIQT NĂ&#x17D;IKEQ UGSWGT UG XGTKĹżEQW C TGXQICĂ ÂşQ PQ RNCPQ LWTĂ&#x2C6;FKEQ &G HCVQ CFOKVKT UG SWG C PQTOC CPVGTKQT continue a ser tida por revogada importarĂĄ na admissĂŁo de que a lei inconstitucional inovou na ordem jurĂdica, submetendo o direito objetivo a uma vontade que era viciada desde a origem. NĂŁo hĂĄ teoria que possa resistir C GUUC EQPVTCFKĂ ÂşQĹ&#x2019; $#44151 .WĂ&#x2C6;U 4QDGTVQ $CTTQUQ Interpretação e aplicação da constituição. 3. ed. SĂŁo Paulo: Saraiva, 1996. p. 92-93. 44 BASTOS, Celso Ribeiro. HermenĂŞutica e interpretação constitucional 5ÂşQ 2CWNQ %GNUQ $CUVQU 'FKVQT 1997. p. 117. %.Â&#x203A;8' %NĂ&#x201A;OGTUQO /GTNKP # ĹżUECNK\CĂ ÂşQ CDUVTCVC FC EQPUVKVWEKQPCNKFCFG PQ FKTGKVQ DTCUKNGKTQ. 2. ed. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 250, nota de rodapĂŠ 259. 46 Ibidem, p. 250.
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47 FRANCO, Amedeo. Considerazioni sulla dichiarazione di inconstituzionalitĂ di disposizioni espressamente abrogatrici. Giur: Cost, 1974. II. p. 3449-3450. /'&'+415 QR EKV R 5GIWPFQ NGEKQPC 2CWNQ FG $CTTQU %CTXCNJQ Q RTKPEĂ&#x2C6;RKQ FC UGIWTCPĂ C LWTĂ&#x2C6;FKEC FKTKIG UG Ĺ&#x2018;´ KORNCPVCĂ ÂşQ FG WO XCNQT GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQ SWCN UGLC Q FG EQQTFGPCT Q Ć&#x20AC;WZQ FCU KPVGTCĂ Ă?GU KPVGTJWOCPCU PQ UGPVKFQ FG RTQRCICT PQ UGKQ da comunidade social o sentimento de previsibilidade quanto aos efeitos jurĂdicos da conduta. Tal sentimento tranquiliza os cidadĂŁos, abrindo espaço para o planejamento de açþes futuras, cuja disciplina jurĂdica conhecem, EQPĹżCPVGU SWG GUVÂşQ PQ OQFQ RGNQ SWCN C CRNKECĂ ÂşQ FCU PQTOCU FQ FKTGKVQ UG TGCNK\CĹ&#x2019; %#48#.*1 2CWNQ de Barros. Curso de direito tributĂĄrio GF 5ÂşQ 2CWNQ 5CTCKXC R &KOKVTK &KOQWNKU CĹżTOC SWG C Ĺ&#x2018;UGIWTCPĂ C LWTĂ&#x2C6;FKEC Ă&#x192; Q TGUWNVCFQ UWDLGVKXQ G FG EWPJQ RUKEQNĂ&#x17D;IKEQ FG WOC EQPĹżIWTCĂ ÂşQ LWTĂ&#x2C6;FKEC EWLQ GNGOGPVQ RTKPEKRCN QDLGVKXQ Ă&#x192; C RTGXKUKDKNKFCFG FCU EQPUGSĂ&#x2014;Ă&#x201E;PEKCU LWTĂ&#x2C6;FKECUĹ&#x2019; &+/17.+5 &KOKVTK Positivismo jurĂdico: introdução a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo jurĂdico-polĂtico. SĂŁo Paulo: MĂŠtodo, 2006. p. 198). 50 â&#x20AC;&#x153;AlĂŠm de tudo, como conclui Radbruch, um direito incerto ĂŠ tambĂŠm um direito injusto, pois nĂŁo ĂŠ capaz de assegurar a fatos futuros tratamento igualâ&#x20AC;? (Ministro Moreira Alves, STF, Ação DeclaratĂłria de Constitucionalidade n. 1-1/DF). # GZRTGUUÂşQ Ă&#x192; GORTGICFC RQT 4WK /GFGKTQU /'&'+415 QR EKV R /'&'+415 QR EKV R #TV h .GK P Ĺ&#x152; Ĺ&#x2018;# EQPEGUUÂşQ FC OGFKFC ECWVGNCT VQTPC CRNKEÂśXGN C NGIKUNCĂ ÂşQ CPVGTKQT CECUQ existente, salvo expressa manifestação em sentido contrĂĄrioâ&#x20AC;?. 54 â&#x20AC;&#x153;A declaração de inconstitucionalidade in abstracto FG WO NCFQ G C UWURGPUÂşQ ECWVGNCT FG GĹżEÂśEKC FQ CVQ reputado inconstitucional, de outro, importam - considerado o efeito repristinatĂłrio que lhes ĂŠ inerente - em restauração das normas estatais revogadas pelo diploma objeto do processo de controle normativo abstratoâ&#x20AC;?, #&+P 2' /GFKFC %CWVGNCT 4GN /KP %GNUQ FG /GNNQ $TCUĂ&#x2C6;NKC FG CDTKN FG .QIKECOGPVG LWNICPFQ KORTQEGFGPVG C CĂ ÂşQ FGENCTCVĂ&#x17D;TKC 56 Neste sentido, Supremo Tribunal Federal: RTJ 96/496, 1981, p. 508, Rep. N. 980-SP, Relator Ministro Moreira Alves; Adin 221-DF, Relator Ministro Moreira Alves, RTJ 151/331, 1995. 57 Neste sentido, RAMOS, op. cit., p. 238. %QPUVKVWKĂ ÂşQ (GFGTCN Ĺ&#x2018;#TV Â&#x153; EQORGVĂ&#x201E;PEKC EQOWO FC 7PKÂşQ FQU 'UVCFQU FQ &KUVTKVQ (GFGTCN G FQU /WPKEĂ&#x2C6;RKQU + \GNCT RGNC IWCTFC FC %QPUVKVWKĂ ÂşQ FCU NGKU G FCU KPUVKVWKĂ Ă?GU FGOQETÂśVKECU G EQPUGTXCT Q RCVTKOĂ?PKQ pĂşblicoâ&#x20AC;?. 59 Constituição Federal: â&#x20AC;&#x153;Art. 85. SĂŁo crimes de responsabilidade os atos do Presidente da RepĂşblica que atentem contra a Constituição Federalâ&#x20AC;?. 7OC UKVWCĂ ÂşQ RQFGTÂś UGT KOCIKPCFC Q %JGHG FQ 2QFGT 'ZGEWVKXQ XGTKĹżEC C KPEQPUVKVWEKQPCNKFCFG FC PQTOC SWG FKURĂ?G UQDTG Q EÂśNEWNQ FG WO VTKDWVQ VCN EQOQ HG\ Q 56( PQ LWNICFQ CPVGTKQTOGPVG EKVCFQ 4' 52 4GNCVQT /KPKUVTQ 5GRĂ&#x2022;NXGFC 2GTVGPEG &, 'PVGPFGOQU SWG RQFGTÂś CHCUVÂś NC G CRNKECT ´ CPVGTKQT perfeitamente vĂĄlida, evitando, dessa forma, a prĂĄtica de crime de responsabilidade, previsto no artigo 85 da CF. 61 Sobre as diferenças entre cautelar, tutela antecipada e liminar no controle abstrato de constitucionalidade XKFG PQUUQ ('44'+4# 1NCXQ #WIWUVQ 8KCPPC #NXGU Controle de constitucionalidade e seus efeitos. 2. ed. SĂŁo Paulo: MĂŠtodo, 2005. %.Â&#x203A;8' %NĂ&#x201A;OGTUQP /GTNKP # ĹżUECNK\CĂ ÂşQ CDUVTCVC FC EQPUVKVWEKQPCNKFCFG PQ FKTGKVQ DTCUKNGKTQ. 2. ed. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 250. #&+P 2' /GFKFC %CWVGNCT 4GN /KP %GNUQ FG /GNNQ 0Q OGUOQ UGPVKFQ #&+ MC, Ministro Moreira Alves, DJ de 05/04/02; ADI 2.242, Ministro Moreira Alves, DJ de 19/12/01; ADI 3218 %' 4GNCVQT /KPKUVTQ 'TQU )TCW L #&+ &( TGN /KP )KNOCT /GPFGU Ĺ&#x2018;%QPLWICPFQ QU GPVGPFKOGPVQU ĹżZCFQU RGNQ 6TKDWPCN FG SWG PQ ¸ODKVQ FQ EQPVTQNG GO CDUVTCVQ FC EQPUVKVWEKQnalidade das leis e dos atos normativos, o requerente deve impugnar todo o complexo normativo supostamente inconstitucional, inclusive as normas revogadas que poderĂŁo ser eventualmente repristinadas pela declaração de inconstitucionalidade das normas revogadoras, e de que o processo de controle abstrato destina-se, fundaOGPVCNOGPVG ´ CHGTKĂ ÂşQ FC EQPUVKVWEKQPCNKFCFG FG PQTOCU RĂ&#x17D;U EQPUVKVWEKQPCKU EQPENWKW UG SWG C KORWIPCĂ ÂşQ deveria abranger apenas a cadeia de normas revogadoras e revogadas atĂŠ o advento da Constituição de 1988. Asseverou-se, ademais, que a exigĂŞncia de impugnação de toda a cadeia normativa supostamente inconstitu-
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cional poderia atĂŠ mesmo ser relativizada, haja vista a possibilidade de o Tribunal deliberar a respeito da modulação do prĂłprio efeito repristinatĂłrio da declaração de inconstitucionalidade .GK CTV h E E Q CTV #UUKO SWCPVQ ´ .GK EQPUKFGTQW UG SWG PÂşQ UG RQFGTKC GZKIKT UWC KORWIPCĂ ÂşQ RQT UGT PQTOC CPVGTKQT ´ %( G GO TGNCĂ ÂşQ ´ .GK QDUGTXQW UG SWG Q 2TQEWTCFQT )GTCN FC 4GRĂ&#x2022;DNKEC aditara o pedido inicial, em seu parecer, para incluĂ-la no objeto da açãoâ&#x20AC;?. ADI 3660/MS, rel. Min. Gilmar Mendes, 18.6.2007. 5#4/'061 &CPKGN # GĹżEÂśEKC VGORQTCN FCU FGEKUĂ?GU PQ EQPVTQNG FG EQPUVKVWEKQPCNKFCFG JGTOGPĂ&#x201E;WVKEC e jurisdição constitucional. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. p. 37. 'O 2QTVWICN Q GHGKVQ TGRTKUVKPCVĂ&#x17D;TKQ PÂşQ Ă&#x192; CEGKVQ KPEQPFKEKQPCNOGPVG Ĺ&#x2018;6GPFQ GO EQPVC C UWC TC\ÂşQ FG UGT Ă&#x192; lĂłgico que: â&#x20AC;&#x153;(i) existam esses efeitos quando entre nenhuma norma e a norma repristinada, seja esta a solução mais razoĂĄvel; (ii) nĂŁo existam quando a norma declarada inconstitucional nĂŁo tiver revogado qualquer norma anterior. No caso de a norma repristinada ser inconstitucional nĂŁo estĂĄ vedada ao TC a possibilidade de conhecer dessa inconstitucionalidade para fundamentar nela a recusa de efeitos repristinatĂłrios (cfr. Ac. TC 56/84). Mais duvidoso (por violar o princĂpio do pedido) ĂŠ a possibilidade de o TC conhecer e declarar a KPEQPUVKVWEKQPCNKFCFG FCU PQTOCU TGRTKUVKPCFCU #E &4 ++ Ĺ&#x2019; %#016+.*1 QR EKV R 0Q OGUOQ UGPVKFQ Ă&#x192; Q GPVGPFKOGPVQ FG /'&'+415 QR EKV R 67 Ibidem, mesma pĂĄgina. Sobre o tema vide nosso Controle de constitucionalidade e seus efeitos. 2. ed. SĂŁo Paulo: MĂŠtodo, 2005. 68 Controle difuso de constitucionalidade ĂŠ aquele exercido pelos magistrados em geral nas açþes individuais e coletivas. /'0&'5 )KNOCT (GTTGKTC Jurisdição constitucional GF 5ÂşQ 2CWNQ 5CTCKXC R %.Â&#x203A;8' Clèmerson Merlin. # ĹżUECNK\CĂ ÂşQ CDUVTCVC FG EQPUVKVWEKQPCNKFCFG. 2. ed. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 246. 0Q UGPVKFQ FC CĹżTOCĂ ÂşQ Q RTGEGFGPVG FQ 5WRTGOQ 6TKDWPCN (GFGTCN SWG UGIWG Ĺ&#x2018;241%'557#. %+8+. 64+$76Â?4+1 (70&#/'061 0Â&#x201C;1 +/27)0#&1 5Â/7.# 56, (70474#. &'%.#4#Â&#x161;Â&#x201C;1 &' +0%1056+67%+10#.+&#&' #%#44'6# # 4'24+56+0#Â&#x161;Â&#x201C;1 &# 014/# 4'81)#&# 2'.# .'+ 8+%+#&# %Â?.%7.1 &# ':#Â&#x161;Â&#x201C;1 015 /1.&'5 &# .'+ 4'81)#&# '('+61 .ÂŚ)+%1 &'%144'06' &# 4'24+56+0#Â&#x161;Â&#x201C;1 ':')'5' &1 4'52 24 57$/'6+&1 #1 4')+/' &15 4'%74515 4'2'6+6+815 #46 % &1 %2% 5Â/7.# 56, /7.6# &G KPĂ&#x2C6;EKQ observa-se que as razĂľes do agravo regimental nĂŁo impugnam o fundamento da decisĂŁo agravada quanto ´ CWUĂ&#x201E;PEKC FG QOKUUÂşQ PQ LWNICFQ CHCUVCPFQ C RTGNKOKPCT FG XKQNCĂ ÂşQ FQ CTV FQ %2% +PEKFĂ&#x201E;PEKC FC SĂşmula 182/STJ. 2. Nos termos da jurisprudĂŞncia desta Corte, havendo declaração de inconstitucionalidade de uma lei, volta a vigorar a lei revogada. 3. A repristinação da lei anterior impĂľe o cĂĄlculo da exação nos moldes da lei revogada, sendo devida a restituição tĂŁo somente da diferença existente entre a sistemĂĄVKEC KPUVKVWĂ&#x2C6;FC RGNC NGK KPEQPUVKVWEKQPCN G C RTGXKUVC PC NGK TGRTKUVKPCFC ECUQ JCLCĹ&#x2019; 'PVGPFKOGPVQ ĹżTOCFQ PQ 4'UR 24 FC TGNCVQTKC FQ /KP .WK\ (WZ UWDOGVKFQ CQ TGIKOG FQU TGEWTUQU TGRGVKVKXQU CTV 543-C do CPC). 4. â&#x20AC;&#x153;O efeito repristinatĂłrio ĂŠ uma consequĂŞncia da declaração de inconstitucionalidade, RQKU C NGK FGENCTCFC KPEQPUVKVWEKQPCN PÂşQ RQUUWK GĹżEÂśEKC FGTTQICVĂ&#x17D;TKC 1EQTTG C TGGPVTCFC GO XKIQT FC PQTOC aparentemente revogada. Dessa forma, decidida a lide nos limites em que foi proposta, nĂŁo hĂĄ falar em ofensa aos arts. 128 e 460 do CPC, tendo em vista que a fundamentação nĂŁo ĂŠ critĂŠrio apto para a avaliação de LWNICOGPVQ WNVTC RGVKVCĹ&#x2019; #I4I PQ 4'UR 24 4GN /KPKUVTQ /#741 %#/2$'.. /#437'5 5')70&# 674/# LWNICFQ GO &,G 1 56, GPVGPFG SWG FGXG UGT CRNKECFC C OWNVC RTGXKUVC PQ CTV h FQ %2% PQU ECUQU GO SWG C RCTVG KPUWTIKT UG SWCPVQ ´ VGOC LÂś FGEKFKFQ GO LWNICFQ UWDOGVKFQ ´ UKUVGOÂśVKEC FQ CTV % FQ %2% #ITCXQ TGIKOGPVCN EQPJGEKFQ GO RCTVG G KORTQXKFQ EQO CRNKECĂ ÂşQ FG OWNVC #I4I PQ 4'UR 24 5GIWPFC 6WTOC 4GNCVQT /KP *WODGTVQ /CTVKPU L em 10/03/2016, DJe de 17/03/2016). 71 â&#x20AC;&#x153;De facto, se a norma inconstitucional ĂŠ invĂĄlida ab initio e como tal deve ser considerada, nĂŁo se pode TGEQPJGEGT GHGKVQU LWTĂ&#x2C6;FKEQU ´ PQTOC KPEQPUVKVWEKQPCN TGXQ ICVĂ&#x17D;TKC QW RGNQ OGPQU Q LWĂ&#x2C6;\Q FG KPEQPUVKVWEKQPCNKFCFG OGUOQ SWCPFQ RTQHGTKFQ GO UGFG FG ĹżUECNK\CĂ ÂşQ EQPETGVC FGUVTĂ&#x17D;K TGVTQCEVKXCOGPVG VCKU GHGKVQUĹ&#x2019; /'&'+415 QR EKV R 1 6TKDWPCN %QPUVKVWEKQPCN NWUKVCPQ LÂś CRNKEQW VCN GPVGPFKOGPVQ #EĂ&#x17D;TFÂşQ P 103/87 e n. 490/89.
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Ĺ&#x2018;+6$+ RTQITGUUKXKFCFG . FQ /WPKEĂ&#x2C6;RKQ FG 5ÂşQ 2CWNQ KPEQPUVKVWEKQPCNKFCFG # KPEQPUVKVWEKQPCNKFCFG TGEQPJGEKFC RGNQ 56( 4' FQ UKUVGOC FG CNĂ&#x2C6;SWQVCU RTQITGUUKXCU FQ +6$+ FQ /WPKEĂ&#x2C6;RKQ FG 5ÂşQ 2CWNQ . CTV ++ CVKPIG GUUG UKUVGOC EQOQ WO VQFQ FGXGPFQ Q KORQUVQ UGT ECNEWNCFQ PÂşQ RGNC OGPQT FCU CNĂ&#x2C6;SWQVCU RTQITGUUKXCU OCU PC HQTOC FC NGIKUNCĂ ÂşQ CPVGTKQT EWLC GĹżEÂśEKC GO TGNCĂ ÂşQ ´U RCTVGU UG TGUVCDGNGEG EQO Q VT¸PUKVQ GO LWNICFQ FC FGEKUÂşQ RTQHGTKFC PGUVG HGKVQĹ&#x2019; 4' 52 4GNCVQT /KPKUVTQ SepĂşlveda Pertence, DJ 26/5/2000. # GZRTGUUÂşQ Ă&#x192; GORTGICFC RQT /'&'+415 QR EKV R /'&'+415 QR EKV R Ĺ&#x2018;64+$76Â?4+1 2+5 .'+ %1/2.'/'06#4 0 .')+6+/+&#&' &# %1$4#0Â&#x161;# #2ÂŚ5 # &'%.#4#Â&#x161;Â&#x201C;1 &' +0%1056+67%+10#.+&#&' &15 &'%4'615 .'+5 ' 4'51.7Â&#x161;Â&#x201C;1 &1 5'0#&1 ('&'4#. '('+61 4'24+56+0#6ÂŚ4+1 1 5WRTGOQ 6TKDWPCN (GFGTCN possui o entendimento consolidado no sentido de que ĂŠ legĂtima a cobrança da contribuição ao PIS, na forma FKUEKRNKPCFC RGNC .GK %QORNGOGPVCT PQ RGTĂ&#x2C6;QFQ EQORTGGPFKFQ GPVTG C FGENCTCĂ ÂşQ FG KPEQPUVKVWEKQPCNKdade dos Decretos-leis 2.445/88 e 2.449/88 e a entrada em vigor da MP 1.212/95. Precedentes. 2. A Resolução do Senado Federal 49/95, que conferiu efeitos erga omnes ´ FGEKUÂşQ RTQHGTKFC PQ 4' 4, TGFCVQT RCTC Q CEĂ&#x17D;TFÂşQ /KP (TCPEKUEQ 4G\GM 6TKDWPCN 2NGPQ &, HG\ GZUWTIKT C .% PWOC GURĂ&#x192;EKG FG GHGKVQ repristinatĂłrio, de forma que tal norma voltasse a produzir seus efeitos. Precedente. 3. Agravo regimental imRTQXKFQĹ&#x2019; 56( #+ #I4 4GNCVQT C /KP '..'0 )4#%+' 5GIWPFC 6WTOC LWNICFQ GO &,G &+87.) 27$.+% '/'06 81. 22 %2% Ĺ&#x2018;#TV 0ÂşQ UG RTQHGTKTÂś FGEKUÂşQ EQPVTC WOC FCU RCTVGU UGO SWG GNC UGLC RTGXKCOGPVG QWXKFC ParĂĄgrafo Ăşnico. O disposto no caput PÂşQ UG CRNKEC + ´ VWVGNC RTQXKUĂ&#x17D;TKC FG WTIĂ&#x201E;PEKC ++ ´U JKRĂ&#x17D;VGUGU FG VWVGNC FC GXKFĂ&#x201E;PEKC RTGXKUVCU PQ CTV KPEKUQU ++ G +++ +++ ´ FGEKUÂşQ RTGXKUVC PQ CTV Ĺ&#x2019; #U JKRĂ&#x17D;VGUGU FQ CTV entretanto, nĂŁo sĂŁo taxativas. HĂĄ pelo menos uma situação que o juiz atua de ofĂcio antes de formada a relação LWTĂ&#x2C6;FKEC RTQEGUUWCN G RTQHGTG FGEKUÂşQ UGO UWLGKVÂś NC CQ EQPVTCFKVĂ&#x17D;TKQ #UUKO Q VGZVQ FQ CTV h %2% Ĺ&#x2018;#PVGU FC EKVCĂ ÂşQ C ENÂśWUWNC FG GNGKĂ ÂşQ FG HQTQ UG CDWUKXC RQFG UGT TGRWVCFC KPGĹżEC\ FG QHĂ&#x2C6;EKQ RGNQ LWK\ SWG determinarĂĄ a remessa dos autos ao juĂzo do foro de domicĂlio do rĂŠuâ&#x20AC;?. CPC/2015: Art. 10. â&#x20AC;&#x153;O juiz nĂŁo pode FGEKFKT GO ITCW CNIWO FG LWTKUFKĂ ÂşQ EQO DCUG GO HWPFCOGPVQ C TGURGKVQ FQ SWCN PÂşQ UG VGPJC FCFQ ´U RCTVGU oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matĂŠria sobre a qual deva decidir de ofĂcioâ&#x20AC;?. 77 ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro RCTVG IGTCN HWPFCOGPVQU G FKUVTKDWKĂ ÂşQ FG EQPĆ&#x20AC;KVQU 5ÂşQ 2CWNQ Revista dos Tribunais, 2015. v. 1. p. 275. 78 CPC/73: Art. 301. â&#x20AC;&#x153;Compete-lhe, porĂŠm, antes de discutir o mĂŠrito, alegar: I - inexistĂŞncia ou nulidade da citação; II - incompetĂŞncia absoluta; III - inĂŠpcia da petição inicial; IV - litispendĂŞncia; V - coisa julgada; VI - conexĂŁo; VII - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização; VIII - compromisso arbitral; IX - carĂŞncia de ação; X - falta de caução ou de outra prestação, que a lei exige como preliminar. (...)â&#x20AC;?. h Ĺ&#x2018;%QO GZEGĂ ÂşQ FQ EQORTQOKUUQ CTDKVTCN Q LWK\ EQPJGEGTÂś FG QĹżEKQ FC OCVĂ&#x192;TKC GPWOGTCFC PGUVG CTVKIQĹ&#x2019; 1 %2% OCPVGXG EQO CNIWPU CLWUVGU CSWGNG GPVGPFKOGPVQ #TV h Ĺ&#x2018;'ZEGVWCFCU C EQPXGPĂ ÂşQ de arbitragem e a incompetĂŞncia relativa, o juiz conhecerĂĄ de ofĂcio das matĂŠrias enumeradas neste artigoâ&#x20AC;?. $4#5+. .GK P FG FG LCPGKTQ FG +PUVKVWK Q %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ %KXKN &KÂśTKQ 1ĹżEKCN FC 4GRĂ&#x2022;blica Federativa do Brasil, BrasĂlia, DF, 11 jan. 1973. %2% #TV h Ĺ&#x2018;1 LWK\ RTQPWPEKCTÂś FG QHĂ&#x2C6;EKQ C RTGUETKĂ ÂşQĹ&#x2019; $4#5+. .GK P FG FG LCPGKTQ FG Institui o CĂłdigo de Processo Civil. &KÂśTKQ 1ĹżEKCN FC 4GRĂ&#x2022;DNKEC (GFGTCVKXC FQ $TCUKN, BrasĂlia, DF, 11 jan. 1973. %2% #TV Ĺ&#x2018;'ZVKPIWG UG Q RTQEGUUQ UGO TGUQNWĂ ÂşQ FG OĂ&#x192;TKVQ + SWCPFQ Q LWK\ KPFGHGTKT C RGVKĂ ÂşQ KPKEKCN +N SWCPFQ ĹżECT RCTCFQ FWTCPVG OCKU FG WO CPQ RQT PGINKIĂ&#x201E;PEKC FCU RCTVGU +++ SWCPFQ RQT PÂşQ RTQOQXGT os atos e diligĂŞncias que Ihe competir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias; IV - quando se XGTKĹżECT C CWUĂ&#x201E;PEKC FG RTGUUWRQUVQU FG EQPUVKVWKĂ ÂşQ G FG FGUGPXQNXKOGPVQ XÂśNKFQ G TGIWNCT FQ RTQEGUUQ 8 SWCPFQ o juiz acolher a alegação de perempção, litispendĂŞncia ou de coisa julgada; Vl - quando nĂŁo concorrer qualquer das condiçþes da ação, como a possibilidade jurĂdica, a legitimidade das partes e o interesse processual; VII - pelo EQORTQOKUUQ CTDKVTCN 8NN RGNC EQPXGPĂ ÂşQ FG CTDKVTCIGO Ĺ&#x2019; $4#5+. .GK P FG FG LCPGKTQ FG Institui o CĂłdigo de Processo Civil. &KÂśTKQ 1ĹżEKCN FC 4GRĂ&#x2022;DNKEC (GFGTCVKXC FQ $TCUKN, BrasĂlia, DF, 11 jan. 1973. %2% #TV h Ĺ&#x2018;1 LWK\ RTQPWPEKCTÂś FG QHĂ&#x2C6;EKQ C RTGUETKĂ ÂşQĹ&#x2019; $4#5+. .GK P FG FG LCPGKTQ de 1973. Institui o CĂłdigo de Processo Civil. &KÂśTKQ 1ĹżEKCN FC 4GRĂ&#x2022;DNKEC (GFGTCVKXC FQ $TCUKN, BrasĂlia, DF, 11 jan. 1973.
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O efeito repristinatório no controle difuso de constitucionalidade e a vedação de decisþes surpresa
# RTGXKUÂşQ EQNKFKW EQO C RQUUKDKNKFCFG FG Q VKVWNCT TGPWPEKCT ´ RTGUETKĂ ÂşQ 1 CTV FQ %Ă&#x17D;FKIQ %KXKN Ă&#x192; GZRTGUso a respeito: â&#x20AC;&#x153;A renĂşncia da prescrição pode ser expressa ou tĂĄcita, e sĂł valerĂĄ, sendo feita, sem prejuĂzo de terceiro, depois que a prescrição se consumar; tĂĄcita ĂŠ a renĂşncia quando se presume de fatos do interessado, KPEQORCVĂ&#x2C6;XGKU EQO C RTGUETKĂ ÂşQĹ&#x2019; $4#5+. .GK P FG FG LCPGKTQ FG +PUVKVWK Q %Ă&#x17D;FKIQ %KXKN &KÂśTKQ 1ĹżEKCN FC 4GRĂ&#x2022;DNKEC (GFGTCVKXC FQ $TCUKN, BrasĂlia, DF, 10 jan. 2002. 83 Relator Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Seção, j. em 10/6/2009, DJe 18/6/2009 e RSSTJ vol. 38 p. 448. Ĺ&#x2018;64+$76Â?4+1 ' 241%'551 %+8+. ':'%7Â&#x161;Â&#x201C;1 (+5%#. +267 24'5%4+Â&#x161;Â&#x201C;1 &'%.#4#Â&#x161;Â&#x201C;1 &' 1( %+1 8+#$+.+&#&' 'O GZGEWĂ ÂşQ ĹżUECN C RTGUETKĂ ÂşQ QEQTTKFC CPVGU FC RTQRQUKVWTC FC CĂ ÂşQ RQFG UGT FGETGVCFC FG QHĂ&#x2C6;EKQ EQO DCUG PQ CTV h FQ %2% TGFCĂ ÂşQ FC .GK independentemente da prĂŠvia ouvidada Fazenda PĂşblica 1 TGIKOG FQ h FQ CTV FC .GK SWG GZKIG GUUC RTQXKFĂ&#x201E;PEKC RTĂ&#x192;XKC UQOGPVG UG CRNKEC ´U JKRĂ&#x17D;VGUGU FG RTGUETKĂ ÂşQ KPVGTEQTTGPVG PGNG KPFKECFCU 2TGEGFGPVGU FG CODCU CU Turmas da 1ÂŞ Seção. 2. Recurso especial desprovido. AcĂłrdĂŁo sujeito ao regime do art. 543-C do CPC e da 4GUQNWĂ ÂşQ 56, Ĺ&#x2019; 4GEWTUQ 'URGEKCN P 4, 0GUUG UGPVKFQ 0'4; ,70+14 0GNUQP #0&4#&' 4QUC /CTKC FG ComentĂĄrios ao cĂłdigo de processo civil. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 215-218. 86 O direito material tambĂŠm traz orientação para o magistrado conhecer das nulidades, mesmo sem provocação, a exemplo do disposto no parĂĄgrafo Ăşnico do art. 168 do CĂłdigo Civil: â&#x20AC;&#x153;As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negĂłcio jurĂdico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, nĂŁo lhe sendo RGTOKVKFQ UWRTK NCU CKPFC SWG C TGSWGTKOGPVQ FCU RCTVGUĹ&#x2019; $4#5+. .GK P FG FG LCPGKTQ FG Institui o CĂłdigo Civil. &KÂśTKQ 1ĹżEKCN FC 4GRĂ&#x2022;DNKEC (GFGTCVKXC FQ $TCUKN, BrasĂlia, DF, 10 jan. 2002. 87 â&#x20AC;&#x153;A garantia fundamental da Justiça e regra essencial do processo ĂŠ o princĂpio do contraditĂłrio, segundo este RTKPEĂ&#x2C6;RKQ VQFCU CU RCTVGU FGXGO UGT RQUVCU GO RQUKĂ ÂşQ FG GZRQT CQ LWK\ CU UWCU TC\Ă?GU CPVGU SWG GNG RTQĹżTC C FGEKUÂşQ #U RCTVGU FGXGO RQFGT FGUGPXQNXGT UWCU FGHGUCU FG OCPGKTC RNGPC G UGO NKOKVCĂ Ă?GU CTDKVTÂśTKCUĹ&#x2019; .+'$/#0 CRWF /#4%#61 #PVĂ?PKQ %CTNQU 2TGENWUĂ?GU NKOKVCĂ ÂşQ CQ EQPVTCFKVĂ&#x17D;TKQ! Revista de Processo, SĂŁo Paulo, v. 5, n, 17, 1980). 88 Aos tribunais, entretanto, como regra, faz-se necessĂĄria a observância da â&#x20AC;&#x153;clĂĄusula de reserva de plenĂĄrioâ&#x20AC;?, descrita pelo art. 97 da Constituição Federal: â&#x20AC;&#x153;Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo ĂłrgĂŁo especial poderĂŁo os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder PĂşblico.â&#x20AC;? 89 ASSIS, op. cit., p. 424. 1 5WRGTKQT 6TKDWPCN FG ,WUVKĂ C FGEKFKW GO UGFG FG #ITCXQ 4GIKOGPVCN GO 4GEWTUQ 'URGEKCN SWG C QOKUUÂşQ C TGURGKVQ FQ GHGKVQ TGRTKUVKPCVĂ&#x17D;TKQ PÂşQ CHCUVC C UWC QEQTTĂ&#x201E;PEKC 0GUUG UGPVKFQ Ĺ&#x2018;64+$76Â?4+1 ' 241%'557#. %+8+. %1064+$7+Â&#x161;Â&#x201C;1 24'8+&'0%+Â?4+# '/24')#&14 474#. 2'551# ( 5+%# 4'%'+6# $476# %1/'4%+#.+<#Â&#x161;Â&#x201C;1 &# 241&7Â&#x161;Â&#x201C;1 474#. &'%.#4#Â&#x161;Â&#x201C;1 &' +0%1056+67%+10#.+&#&' 2'.1 56( '('+61 4'24+56+0#6ÂŚ4+1 %105'37Â?0%+# .ÂŚ)+%1 ,74 &+%# ,7.)#/'061 EXTRA PETITA 0Â&#x201C;1 1%144Â?0%+# %WKFC UG PC QTKIGO /CPFCFQ FG Segurança, no qual se sustenta a inconstitucionalidade da contribuição previdenciĂĄria incidente sobre a receita bruta proveniente da comercialização da produção do empregador rural pessoa fĂsica, conforme previsto no art. FC .GK 1 CITCXCPVG UG KPUWTIG EQPVTC Q TGEQPJGEKOGPVQ FG SWG RQT HQTĂ C FQ GHGKVQ TGRTKUVKnatĂłrio da declaração de inconstitucionalidade assentada pelo Tribunal a quo, â&#x20AC;&#x153;o regime de tributação retorna CQ OQFGNQ CPVGTKQT CQ FC .GK P SWCN UGLC Q FC EQPVTKDWKĂ ÂşQ UQDTG C HQNJC FG UCNÂśTKQU CFKEKQPCFC FQ 5#6 CTVKIQ + G ++ FC .GK P Ĺ&#x2019; Ć&#x20AC; %QPHQTOG CUUGPVCFQ RGNQ 56, GO ECUQU CPÂśNQIQU Q reconhecimento do efeito repristinatĂłrio da legislação em vigor anteriormente ĂŠ consequĂŞncia lĂłgico-jurĂdica da declaração de inconstitucionalidade #I4I PQ 4'UR 24 4GN /KPKUVTQ /CWTQ %CORDGNN /CTSWGU 5GIWPFC 6WTOC &,G #I4I PQ 4'UR 45 4GN /KPKUVTQ 1I (GTPCPFGU 5GIWPFC 6WTOC DJe 12.11.2014). 4. Assim, nĂŁo hĂĄ falar em julgamento extra petita, uma vez que o reconhecimento em tese da possibilidade de o indĂŠbito ser compensado com eventual crĂŠdito constituĂdo de contribuição previdenciĂĄria sobre a folha de salĂĄrios, em razĂŁo do efeito repristinatĂłrio da declaração de inconstitucionalidade, ĂŠ inerente CQU NKOKVGU FC FGOCPFC 1 CTV RCTÂśITCHQ Ă&#x2022;PKEQ FC .GK GSWKRCTC Q GORTGICFQT TWTCN RGUUQC HĂ&#x2C6;UKEC EQPVTKDWKPVG KPFKXKFWCN ´ GORTGUC #I4I PQ 4'UR 45 4GN /KPKUVTQ *WODGTVQ /CTVKPU 5GIWPFC 6WTOC &,G 1 56( PQ 4' KPFGHGTKW TGSWGTKOGPVQ FG OQFWNCĂ ÂşQ FQU GHGKVQU
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do julgamento, o que nĂŁo se confunde com o alegado afastamento do efeito repristinatĂłrio. A propĂłsito, colhe UG FQ XQVQ EQPFWVQT FQ /KPKUVTQ /CTEQ #WTĂ&#x192;NKQ CĹżTOCĂ ÂşQ SWG CWVQTK\C Q TGEQPJGEKOGPVQ FC TGUVCWTCĂ ÂşQ FC vigĂŞncia da contribuição previdenciĂĄria sobre a folha de salĂĄrios: â&#x20AC;&#x153;Forçoso ĂŠ concluir que, nos casos do produtor rural, embora pessoa natural, que tenha empregados, incide a previsĂŁo relativa ao recolhimento sobre o valor FC HQNJC FG UCNÂśTKQUĹ&#x2019; #ITCXQ 4GIKOGPVCN PÂşQ RTQXKFQ #I4I PQ 4'UR 24 m 6WTOC 4GN /KP Herman Benjamin, j. em 24/11/2015, DJe de 04/02/2016). DisponĂvel em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/ TGXKUVC FQEWOGPVQ OGFKCFQ !EQORQPGPVG +6# UGSWGPEKCN PWOATGIKUVTQ FC VC HQTOCVQ 2&( #EGUUQ '/ PQX
THE REINSTATEMENT EFFECT ON THE DIFFUSE CONTROL OF CONSTITUTIONALITY AND THE PROHIBITION OF SURPRISE DECISIONS ABSTRACT The unconstitutional normative act is null. When the unconstitutionality of a normative act is declared, the acts revoked by it will be automatically reinstated, since they had not been validly revoked. This is the essence of the so-called reinstatement effect, which is not to be confused, despite the semantic similarity, with reinstatement. The reinstatement effect will be applied automatically in the decision that declares the unconstitutionality of normative acts. It occurs in decisions on the control of constitutionality, in general, and it remains to be seen whether in diffuse control of constitutionality the caution of observing the principles of the adversary system should be adopted, especially by virtue of articles 9 and 10 of the current Code of Civil Procedure. Keywords: Unconstitutional act. Nullity. Reinstatement effect. Diffuse control of constitutionality and the adversary system.
Submetido: 1 mar. 2017 Aprovado: 6 jun. 2017 254
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doi:10.12662/2447-6641oj.v15i20.p255-270.2017
ASPECTOS COGNITIVOS DA MEMĂ&#x201C;RIA E A ANTECIPAĂ&#x2021;Ă&#x192;O DA PROVA TESTEMUNHAL NO PROCESSO PENAL Rafael AltoĂŠ* Gustavo Noronha de Avila** 1 Introdução. 2 Aspectos cognitivos da memĂłria. 3 Prova testemunhal e a memĂłria declarativa episĂłdica: aspectos da sugestionabilidade e a urgĂŞncia presumida na colheita da prova. 4 Ă&#x2030; preciso antecipar a prova testemunhal: uma anĂĄlise a partir da SĂşmula 455 do STJ. 5 ConclusĂŁo. ReferĂŞncias.
RESUMO A prova testemunhal ĂŠ baseada, essencialmente, na ideia de que o ser humano, por meio da memĂłria declarativa episĂłdica (uma espĂŠcie de um amplo gĂŞnero), VGO C GURGEKCN ECRCEKFCFG FG TGRTQFW\KT EQO DCUVCPVG ĹżFGNKFCFG WO GXGPVQ passado. Ocorre, porĂŠm, que as recentes descobertas no campo da psicologia do testemunho atestam que a memĂłria, em verdade, tem se apresentado como WO HGPĂ?OGPQ OCKU EQORNGZQ FQ SWG RQRWNCTOGPVG UG CETGFKVC #U OĂ&#x2022;NVKRNCU GVCRCU FC HQTOCĂ ÂşQ FC OGOĂ&#x17D;TKC GO GURGEKCN C EQFKĹżECĂ ÂşQ Q CTOC\GPCOGPVQ e a evocação) ocorrem por força da atividade simultânea de variadas regiĂľes FQ EĂ&#x192;TGDTQ EQO KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC FG CURGEVQU GPFĂ&#x17D;IGPQU G GZĂ&#x17D;IGPQU 2QT ECWUC FGUUC CĹżTOCĂ ÂşQ CETGFKVC UG SWG C OGOĂ&#x17D;TKC PÂşQ Ă&#x192; Q Ĺ&#x2018;TGUICVGĹ&#x2019; FG WOC KPHQTOCĂ ÂşQ RTGXKCOGPVG CTOC\GPCFC OCU NGIĂ&#x2C6;VKOQ RTQEGUUQ FG EQPUVTWĂ ÂşQ 'UUC EQORNGxidade, como nĂŁo poderia ser diferente, vem acompanhada de riscos acerca FC EQPĹżCDKNKFCFG FC OGOĂ&#x17D;TKC EWLQU FCFQU Q 2TQEGUUQ 2GPCN PÂşQ RQFG KIPQTCT Ressalta-se, apenas como um dos elementos possĂveis, que o tempo pode ter KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC PC EQPĹżCDKNKFCFG FC OGOĂ&#x17D;TKC FG OCPGKTC OCKU EQPVWPFGPVG FQ SWG se acredita, de maneira que a antecipação da prova testemunhal, sempre que possĂvel, deve ser levada a efeito em nome da melhor solução do caso objeto do processo judicial. Palavras-chave: Processo Penal. MemĂłria. Falibilidade. Prova testemunhal. Antecipação.
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/GUVTG GO %KĂ&#x201E;PEKC ,WTĂ&#x2C6;FKEC FQ %GPVTQ FG 'PUKPQ 5WRGTKQT FG /CTKPIÂś 7PKEGUWOCT 2TQHGUUQT FC 'UEQNC FC /CIKUVTCVWTC FQ 2CTCPÂś '/#2 ,WK\ FG &KTGKVQ PQ 'UVCFQ FQ 2CTCPÂś ' OCKN TCHCGNCNVQG"JQVOCKN EQO
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Doutor e Mestre em CiĂŞncias Criminais pela PontifĂcia Universidade CatĂłlica do Rio Grande do Sul (PU%45 2TQHGUUQT FQ /GUVTCFQ GO %KĂ&#x201E;PEKC ,WTĂ&#x2C6;FKEC FQ %GPVTQ FG 'PUKPQ 5WRGTKQT FG /CTKPIÂś 7PKEGUWOCT 2TQHGUUQT FQ &GRCTVCOGPVQ FG &KTGKVQ 2Ă&#x2022;DNKEQ FC 7PKXGTUKFCFG 'UVCFWCN FG /CTKPIÂś 7'/ ' OCKN IWUVCXQPQTQPJCFGCXKNC"IOCKN EQO
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1 INTRODUĂ&#x2021;Ă&#x192;O O Processo Penal brasileiro, fruto de uma crença na especial capacidade retrospectiva da mente humana, ĂŠ estruturado na ideia do resgate de fatos pretĂŠritos. Com base nessas caracterĂsticas, compartilhando da lĂłgica formal de outros ramos, o sistema processual brasileiro tem na confiança na memĂłria da testemunha seu principal ponto de legitimidade. Ao buscar a apuração de fatos imputados a determinada pessoa, todo o procedimento processual acaba por exigir, ainda que em mĂşltiplas variĂĄveis, a valoração da prova testemunhal para decisĂŁo do caso, buscando sempre apurar um conjunto de informaçþes transmitidas por pessoas que, por aspectos sensoriais, tiveram contato com o episĂłdio denunciado. Pessoas que viram, ouviram, ou experimentaram outra forma de contato sensorial com o fato CRWTCFQ RCUUCO C UGT EQORGNKFCU C RTQOQXGT EQO OCKQT ĹżFGNKFCFG RQUUĂ&#x2C6;XGN C TGEQPUVTWĂ ÂşQ do evento a que tiveram contato. 1EQTTG RQTĂ&#x192;O SWG CQ OGUOQ VGORQ GO SWG CVTKDWK ´ RTQXC VGUVGOWPJCN Q RGUQ FG UGT determinante para os possĂveis destinos do processo, pouco contribui, de forma legĂtima, para a EQPUGTXCĂ ÂşQ FC EQPĹżCDKNKFCFG FGUUG VKRQ FG RTQXC #U UWRQUVCU OGFKFCU GNGIKFCU RGNQ NGIKUNCFQT com o objetivo de conservar a prova oral possuem pouca aplicabilidade, notadamente ante a falta de maior delimitação sobre qual ĂŠ, verdadeiramente, a segurança da memĂłria humana e SWCN Ă&#x192; Q TKUEQ SWG Q VGORQ QRGTC PC OQFKĹżECĂ ÂşQ QW GNKOKPCĂ ÂşQ FGUUCU KPHQTOCĂ Ă?GU 2GUSWKUCU TGEGPVGU VĂ&#x201E;O KPFKECFQ CNĂ&#x192;O FKUUQ SWG PÂşQ Ă&#x192; CRGPCU C FKĹżEWNFCFG FG RTGUGTXCĂ ÂşQ FC OGOĂ&#x17D;TKC SWG OGTGEG OCKQT TGĆ&#x20AC;GZÂşQ 'O XGTFCFG C RTĂ&#x17D;RTKC XGTCEKFCFG FQ EQPVGĂ&#x2022;FQ recordado ĂŠ, nos dias atuais, objeto de grandes questionamentos. Destacam-se, neste ponto, as falsas memĂłrias,1 consistentes em recordaçþes inverĂdicas nĂŁo intencionais (desprovidas FG SWCNSWGT TGĆ&#x20AC;GZQ FG OÂś HĂ&#x192; SWG UWTIGO PCU RGUUQCU RQT FKXGTUQU HCVQTGU 23 #ETGUEGPVG UG CKPFC C EQPUVCVCĂ ÂşQ EKGPVĂ&#x2C6;ĹżEC FG SWG C OGOĂ&#x17D;TKC Ă&#x192; UWIGUVKQPÂśXGN GO variados graus, podendo ser moldada ou criada em determinadas circunstâncias. A forma de se questionar uma testemunha, o ambiente a que estĂĄ submetida, situaçþes endĂłgenas e exĂłgenas de mĂşltiplos aspectos, sĂŁo apenas algumas das situaçþes que podem ser indicadas para atestar que ĂŠ possĂvel, inclusive, fazer surgir a recordação de um evento que nunca existiu ou que ocorreu de forma diversa da rememorada. Com base nesses apontamentos, questiona-se: a forma com que o processo penal brasileiro tem tratado a prova testemunhal ignora os riscos apontados? A preservação da prova VGUVGOWPJCN Ă&#x192; EQPUKFGTCFC FG HQTOC UWĹżEKGPVG PQ 2TQEGUUQ 2GPCN! No objetivo de responder a esses questionamentos, foram elaborados trĂŞs capĂtulos e, CQ ĹżPCN CRTGUGPVCFC C EQPENWUÂşQ GZVTCĂ&#x2C6;FC AlĂŠm disso, vale mencionar que a pesquisa se amparou no mĂŠtodo teĂłrico, sem prejuĂzo de serem citados experimentos extraĂdos das obras utilizadas no curso da pesquisa. 256
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Aspectos cognitivos da memória e a antecipação da prova testemunhal no processo penal
No primeiro capĂtulo, sĂŁo abordados alguns aspectos cognitivos da memĂłria humana (pouco, dada a complexidade do assunto), buscando situar as premissas de que a memĂłria PÂşQ Ă&#x192; RWTCOGPVG DKQNĂ&#x17D;IKEC G RQT VCN TC\ÂşQ OCPKHGUVC UG EQOQ WO HGPĂ?OGPQ EQORNGZQ FG construção SWG Ă&#x192; RCUUĂ&#x2C6;XGN FG OĂ&#x2022;NVKRNCU KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKCU JĂĄ no segundo capĂtulo, ingressa-se na anĂĄlise da memĂłria declarativa episĂłdica, espĂŠcie SWG FÂś DCUG ´ RTQXC VGUVGOWPJCN GODQTC GZKUVCO QWVTCU GURĂ&#x192;EKGU C UGTGO EQPUKFGTCFCU GO QWVTQU GUVWFQU 5ÂşQ KFGPVKĹżECFCU CNIWOCU ECTCEVGTĂ&#x2C6;UVKECU FGUUC GURĂ&#x192;EKG FG OGOĂ&#x17D;TKC UQDTGVWFQ UWC OCKQT RNCUVKEKFCFG SWG RGTOKVGO WOC RCTVKEWNCT KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC FC UWIGUVKQPCDKNKFCFG TambĂŠm se avaliam os possĂveis riscos que o tempo pode operar nesse tipo de memĂłria. No terceiro e Ăşltimo capĂtulo, promove-se a valoração acerca da possibilidade ou nĂŁo de antecipação da prova testemunhal no Processo Penal, apenas por conta do decurso do VGORQ 'O GURGEKCN GPHQEC UG C SWGUVÂşQ UG Q FGEWTUQ FQ VGORQ Ă&#x192; OQVKXQ DCUVCPVG RCTC produção antecipada da prova na hipĂłtese de suspensĂŁo do processo na forma do artigo 366 do CĂłdigo de Processo Penal. Para tanto, realiza-se o cotejo das contribuiçþes recentes da psicologia do testemunho, com as razĂľes que embasam a SĂşmula 455 do Superior Tribunal de Justiça.
2 ASPECTOS COGNITIVOS DA MEMĂ&#x201C;RIA # OGOĂ&#x17D;TKC Ă&#x192; WO HGPĂ?OGPQ RTQHWPFCOGPVG EQORNGZQ G SWG RQT HQTĂ C FG UWCU KPVTKICPVGU ECTCEVGTĂ&#x2C6;UVKECU UGSWGT HQK EQORTGGPFKFQ RNGPCOGPVG PQU FKCU CVWCKU 'ODQTC CNIWOCU pessoas tendam a conceituar a memĂłria de forma ampla, tratando-a, por exemplo, como â&#x20AC;&#x153;a capacidade de repetir um desempenhoâ&#x20AC;?4, o fato ĂŠ que o prĂłprio conceito de memĂłria, como OGNJQT UG XGTÂś CFKCPVG Ă&#x192; DCUVCPVG KPFGĹżPKFQ De tempos em tempos, novas pesquisas surgem sobre o tema, e, embora consigam desvendar, em parcial medida, alguns fragmentos dos mistĂŠrios que a memĂłria carrega, apenas comprovam que ainda hĂĄ longo caminho a ser trilhado para compreender, de forma segura, Q CUUWPVQ %QPHQTOG CĹżTOC )WUVCXQ 0QTQPJC FG Â?XKNC Ĺ&#x2018;C OGOĂ&#x17D;TKC RQFG UGT XKUVC EQOQ WO HGPĂ?OGPQ DKQNĂ&#x17D;IKEQ HWPFCOGPVCN G GZVTGOCOGPVG EQORNGZQ G EQPVKPWC C UGT WO FQU grandes enigmas da natureza.â&#x20AC;?5 'O WO RTKOGKTQ OQOGPVQ C OGOĂ&#x17D;TKC HQK GPVGPFKFC CRGPCU EQOQ WOC OCPKHGUVCĂ ÂşQ EQTRQTCN HTWVQ FQU UKUVGOCU DKQNĂ&#x17D;IKEQU G SWG GUVCTKC KOWPG ´U KPVGTHGTĂ&#x201E;PEKCU SWG UGLCO CNJGKCU ´ DKQNQIKC 6 'UUG EQORQTVCOGPVQ HG\ EQO SWG KPĂ&#x2022;OGTQU RGUSWKUCFQTGU RCUUCUUGO C DWUECT muitas vezes de maneira incansĂĄvel, um lugar dentro do cĂŠrebro humano em que a memĂłria poderia estar armazenada. Partia-se da premissa de que as incontĂĄveis funcionalidades do sistema cerebral humano UGTKCO CWVĂ?PQOCU FG OQFQ SWG ECFC TGIKÂşQ FQ UKUVGOC PGTXQUQ VGTKC WOC HWPĂ ÂşQ RTĂ&#x17D;RTKC G CWVQUUWĹżEKGPVG 4GEJCĂ CXC UG EQOQ EQPUGSWĂ&#x201E;PEKC C KFGKC EQPVGORQT¸PGC FG SWG PC
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realidade, a atividade cerebral humana ĂŠ revestida de profunda complexidade, havendo em ECFC OCPKHGUVCĂ ÂşQ FC RGUUQC C CVWCĂ ÂşQ EQPLWPVC FCU XÂśTKCU TGIKĂ?GU FQ EĂ&#x192;TGDTQ 'UUC HQTOC FG RGPUCT LWUVKĹżEQW C OGPEKQPCFC RTQRGPUÂşQ SWG CNIWPU EKGPVKUVCU CFQVCTCO GO DWUECT Q espaço ou o local em que a memĂłria poderia ser guardada. 'PĹżO VCN SWCN QEQTTG EQO Q GUVWFQ UQDTG SWCN C TGIKÂşQ FQ EĂ&#x192;TGDTQ JWOCPQ Ă&#x192; C TGURQPUÂśXGN RGNQU EQPVTQNGU OQVQTGU FQ EQTRQ CETGFKVCXC UG SWG C OGOĂ&#x17D;TKC EQOQ HGPĂ?OGPQ puramente biolĂłgico, poderia ser localizada dentro de uma regiĂŁo particular do cĂŠrebro humano. Nessa busca, alguns experimentos foram realizados com a pretensĂŁo de descobrir ou acessar o misterioso local do cĂŠrebro em que a memĂłria poderia estar â&#x20AC;&#x153;armazenadaâ&#x20AC;?. 'ODQTC CVWCNOGPVG PÂşQ UG EQPEGDC OCKU C KFGKC FG SWG C OGOĂ&#x17D;TKC RQUUC UGT CEGUUCFC GO WO NQECN GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQ Ĺ&#x152; UGPFQ EQOQ OCKU CFKCPVG UG XGTÂś WO RTQEGUUQ FG EQPUVTWĂ ÂşQ SWG EQPVC EQO CVWCĂ ÂşQ UKOWNV¸PGC FG FKXGTUCU ÂśTGCU Ĺ&#x152; QU GZRGTKOGPVQU EKGPVĂ&#x2C6;ĹżEQU OGPEKQPCFQU RWFGTCO CQ OGPQU KFGPVKĹżECT SWG Q hipocampo ĂŠ uma regiĂŁo do cĂŠrebro essencial para o proEGUUQ FC OGOĂ&#x17D;TKC 'O CNIWPU GZRGTKOGPVQU HQK RQUUĂ&#x2C6;XGN QDUGTXCT SWG Q hipocampo exerce papel KORQTVCPVG PQ OKUVGTKQUQ RTQEGUUQ FC OGOĂ&#x17D;TKC GODQTC PÂşQ UGLC UWĹżEKGPVG RCTC EQORTGGPFĂ&#x201E; NQ Atualmente, inclusive contando com as valiosas contribuiçþes dos mencionados experimentos, reconhece-se que a memĂłria, na verdade, sequer pode ser encarada como uma KPHQTOCĂ ÂşQ GURGEĂ&#x2C6;ĹżEC CTOC\GPCFC FGPVTQ FC OGPVG JWOCPC 2QWECU FĂ&#x2022;XKFCU JÂś PQ UGPVKFQ de que inĂşmeros fatores, endĂłgenos e exĂłgenos, inter-relacionam-se para a construção da memĂłria, ressaltando-se a complexidade do tema. A emoção, o ambiente externo, a capacidade de atenção, o cansaço, dentre outros aspectos, sĂŁo alguns fatores que promovem atuação conjunta para a memĂłria. 5QDTG Q VGOC CRTQHWPFCFC C KFGKC FG KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC FG HCVQTGU CUUQEKCFQU XCNG EQPUKIPCT as liçþes de IvĂĄn Antonio Izquierdo, Jociane de Carvalho Myskiw, Fernando Benetti e Cristiane Regina Guerino Furini: Todas as memĂłrias sĂŁo associativas: se adquirem atravĂŠs da ligação entre um grupo de estĂmulos (um livro, uma sala de aula) e outro grupo de estĂmulos (o material lido, aquilo que se aprende; algo que causa prazer ou penĂşria). O do segundo grupo, que ĂŠ de maiores consequĂŞncias biolĂłgicas, chama-se estĂmulo EQPFKEKQPCFQ QW TGHQTĂ Q 'O CNIWOCU HQTOCU FG CRTGPFK\CFQ CUUQEKC UG WO ITWRQ de estĂmulos com a ausĂŞncia do outro ou de qualquer outro.7
%QOQ EQPUGSWĂ&#x201E;PEKC FGUUC EQODKPCĂ ÂşQ Ă&#x192; RQUUĂ&#x2C6;XGN CĹżTOCT EQO TC\QÂśXGN VTCPSWKNKFCFG SWG C OGOĂ&#x17D;TKC PÂşQ Ă&#x192; Ĺ&#x2018;TGUICVCFCĹ&#x2019; PC OGPVG JWOCPC 'O XGTFCFG EQOQ UG XGTÂś PQ VĂ&#x17D;RKEQ UGIWKPVG SWCPFQ FGVGTOKPCFC RGUUQC VGPVC RTQOQXGT Q Ĺ&#x2018;CEGUUQĹ&#x2019; ´ OGOĂ&#x17D;TKC TGEQPUVKVWKPFQ mentalmente um fato passado, na verdade acaba por desencadear um processo de â&#x20AC;&#x153;consVTWĂ ÂşQĹ&#x2019; FG WOC KOCIGO OGPVCN #NWFKFQ RTQEGUUQ EQPHQTOG KPĂ&#x2022;OGTQU GUVWFQU GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQU Ă&#x192; RCUUĂ&#x2C6;XGN FG KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKCU G HCNJCU SWG RGTOKVGO GO Ă&#x2022;NVKOC CPÂśNKUG C ETKCĂ ÂşQ RQT GZGORNQ de falsas memĂłrias.8
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Aspectos cognitivos da memória e a antecipação da prova testemunhal no processo penal
#NCP $CFFGNG[ /KEJCGN % #PFGTUQP G /KEJCGN 9 '[UGPME9 citam que uma das maiores provas da complexidade da memĂłria reside na capacidade de esquecimento, o que se traduz em um mecanismo essencial para a vida em alguns aspectos. De maneira ainda nĂŁo elucidada, mas certo que de forma inata (alheia aos controles racionais), o ser humano tem a aptidĂŁo natural de bloquear determinados eventos traumĂĄticos em certas ocasiĂľes, permitindo que sejam acessados apenas em raras oportunidades, ou por vezes sejam completamente bloqueados. Ainda, olvidar os detalhes dos mĂşltiplos episĂłdios diĂĄrios ĂŠ, acima de tudo, medida GUUGPEKCN RCTC SWG UGLC RQUUĂ&#x2C6;XGN OGUOQ SWG ĹżIWTCVKXCOGPVG WO FKC PQXQ 5GO EQPHWPFKT esse aspecto com a popular visĂŁo da â&#x20AC;&#x153;falha da memĂłriaâ&#x20AC;? (relacionada ao esquecimento de dados ou atividades importantes), todo ser humano, sem qualquer risco de exceção, sĂł consegue realizar novas atividades e adquirir novos conhecimentos a partir de um proporcional instrumento de esquecimento.10 ' KUUQ Ă&#x192; HGKVQ FG OCPGKTC CWVQOÂśVKEC UGO SWG C RGUUQC tenha o domĂnio desses cursos mentais. Nesse particular, ĂŠ incontestĂĄvel a conclusĂŁo de que ninguĂŠm consegue se recordar de todos os detalhes de uma imagem vivenciada, e essa CDQTFCIGO PÂşQ UG TGFW\ CRGPCU ´U OCKU VĂ&#x2C6;OKFCU KPHQTOCĂ Ă?GU QW ´U ĹżNKITCPCU FGUKORQTVCPVGU Tenha-se de forma imaginĂĄria, em carĂĄter ilustrativo, como seria a vida de uma pessoa que se recordasse de todos os detalhes, sem qualquer esquecimento, do que vivenciou. Cada processo de evocação da memĂłria seria extremamente duradouro, temporalmente idĂŞntico ao episĂłdio vivenciado, o que impediria que o ser humano se imergisse em novas experiĂŞncias. 'UUCU DTGXGU EQPUKFGTCĂ Ă?GU KPFKECO WO RQPVQ TGNGXCPVG RCTC VQFQ FGDCVG TGNCVKXQ ´ OGOĂ&#x17D;TKC GRKUĂ&#x17D;FKEC CSWGNC SWG DWUEC TGĆ&#x20AC;GVKT WO HCVQ RCUUCFQ SWG RGNC RGUUQC HQK GZRGTKmentado): nessa forma especial de memĂłria - que ĂŠ o objeto da prova testemunhal - jamais serĂĄ possĂvel cogitar de uma retratação perfeita do episĂłdio da vida que se tenta resgatar. 'O QWVTCU RCNCXTCU C OGOĂ&#x17D;TKC FGENCTCVKXC GRKUĂ&#x17D;FKEC VTCDCNJC C RCTVKT FG fragmentos do que ocorreu, e a compreensĂŁo desse importante ponto tem utilidade atĂŠ mesmo para se ter de ETKVĂ&#x192;TKQ SWCPFQ FGVGTOKPCFQ VGUVGOWPJQ Ă&#x192; QW PÂşQ XGTFCFGKTCOGPVG EQPſœXGN Diferentemente do que muito se alega no campo jurĂdico â&#x20AC;&#x201C; destacando-se aqueles que defendem que o estudo da memĂłria seria matĂŠria desimportante para o processo, ou que seria FKUEWTUQ FQNQUCOGPVG ETKCFQ RCTC QDUVCT SWCNSWGT TGUSWĂ&#x2C6;EKQ FG EQPĹżCPĂ C PC VGUVGOWPJC Ĺ&#x152; Q HCVQ Ă&#x192; SWG C KPXGUVKICĂ ÂşQ UQDTG CU OCPKHGUVCĂ Ă?GU FC OGOĂ&#x17D;TKC VGO RQT CĹżTOCĂ Ă?GU GORĂ&#x2C6;TKECU incontestĂĄvel importância. Serve, como exemplo, para dar melhores parâmetros para a produção da prova testemunhal com mais qualidade, e ainda garantir maior conhecimento RCTC SWG UG RQUUC KFGPVKĹżECT EQO OCKU RTGEKUÂşQ SWCPFQ FGVGTOKPCFQ VGUVGOWPJQ Ă&#x192; QW PÂşQ EQPſœXGN #NĂ&#x192;O FKUUQ RGTOKVG Q FGUGPXQNXKOGPVQ FG VĂ&#x192;EPKECU FG QKVKXC SWG RQUUKDKNKVGO SWG a testemunha entregue a informação com maior propriedade, e de maneira menos constranIGFQTC Q SWG KPVGTGUUC ´ FGEKUÂşQ LWFKEKCN RGNC EQPĹżCPĂ C RTQRQTEKQPCFC PC RTQXC ICTCPVKPFQ OCKQT EQPĹżCPĂ C CQ RTĂ&#x17D;RTKQ UKUVGOC RTQEGUUWCN
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Seriam inĂşmeros os exemplos que podem ser indicados a respeito da essencialidade que reside em melhor entender a complexidade da memĂłria (sobretudo a memĂłria declarativa episĂłdica). Ilustre-se, por exemplo, que uma excessiva riqueza de detalhes em determinado relato, trazendo informaçþes e minĂşcias ordinariamente nĂŁo localizadas na generalidade dos testemunhos, pode indicar, desde que aliados a outros elementos, a ausĂŞncia de veracidade FQ VGUVGOWPJQ Q SWG PÂşQ UKIPKĹżEC PGEGUUCTKCOGPVG OÂś HĂ&#x192; CPVG C LÂś OGPEKQPCFC GZKUVĂ&#x201E;PEKC dos riscos das falsas memĂłrias). )WUVCXQ 0QTQPJC FG Â?XKNC G #NGZCPFTG /QTCKU FC 4QUC XCNGPFQ UG FG KPVGTGUUCPVG ĹżIWTC FG NKPIWCIGO CRQPVCO SWG C OGOĂ&#x17D;TKC Ă&#x192; EQOQ Q FKCOCPVG SWCPVQ OCKU HCNUC OCKU perfeita).11 Quanto mais â&#x20AC;&#x153;perfeitoâ&#x20AC;? for o relato, o que se entende por uma narrativa impassĂvel de olvidar detalhes, muitas vezes, desimportantes, ou excessivamente perfeita mesmo depois do decurso do tempo, hĂĄ um indicativo de que possivelmente se estĂĄ diante de um HCNUQ 'UUGU FCFQU EQOQ UG PQVC UÂşQ GUUGPEKCKU RCTC VQFQU SWG CVWCO PQ 2TQEGUUQ 2GPCN independentemente do referencial teĂłrico de cada um. 'NK\CDGVJ .QHVWU WO FQU RTKPEKRCKU PQOGU FCU RGUSWKUCU UQDTG HCNUCU OGOĂ&#x17D;TKCU FGĹżniu, apĂłs sucessivos experimentos, que a memĂłria nĂŁo deve ser pensada como um registro HQVQITœſEQ QW EQOQ WO XĂ&#x2C6;FGQ ITCXCFQ RQT WOC E¸OGTC 1213 Diferentemente do que popularmente se imagina (que se ĂŠ capaz de reproduzir um fato RCUUCFQ RGNC KOCIGO OGPVCN FQ ĹżNOG CTOC\GPCFQ Q TGUWNVCFQ FC KPHQTOCĂ ÂşQ RTQXGPKGPte do processo de (re)construção da memĂłria nasce, na verdade, de ao menos trĂŞs etapas UWEGUUKXCU SWG PÂşQ GUVÂşQ KOWPGU C OĂ&#x2022;NVKRNCU KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKCU C EQFKĹżECĂ ÂşQ Q CTOC\GPCOGPVQ (de curta e longa duração) e a evocação. Aliam-se a essas trĂŞs etapas os incontĂĄveis fatores determinantes para a qualidade e para a quantidade de informaçþes que, uma vez somadas, transmitirĂŁo um esboço de resultado que jamais terĂĄ o condĂŁo de reproduzir, com exatidĂŁo perfeita, o fato da vida passado. # EQFKĹżECĂ ÂşQ EQOQ RTKOGKTC GVCRC FC HQTOCĂ ÂşQ FC OGOĂ&#x17D;TKC FÂś UG PC HQTOC RGNC SWCN o ser humano faz com que a informação obtida seja assimilada e possa ingressar no segundo GUVÂśIKQ #RĂ&#x17D;U UGT EQFKĹżECFC RCTVG UG RCTC CPÂśNKUG FQ CTOC\GPCOGPVQ FC KPHQTOCĂ ÂşQ G Ă&#x192; PGUVG momento que residem inĂşmeras questĂľes ainda pendentes de respostas. 5CDG UG SWG C OGOĂ&#x17D;TKC GO VGTOQU FG ENCUUKĹżECĂ ÂşQ RQFG UGT CTOC\GPCFC GO WO ECtĂĄlogo de pouca duração e, em carĂĄter excepcional, de longa duração. 6QFC KPHQTOCĂ ÂşQ QDVKFC RGNC RGUUQC PGEGUUCTKCOGPVG CRĂ&#x17D;U UGT EQFKĹżECFC KPVGITC Q catĂĄlogo de curta duração (entendido como perĂodo inferior a um dia), e normalmente aĂ ĂŠ descartada de forma nĂŁo deliberada. PouquĂssimas informaçþes, por outro lado, conseguem migrar, como etapa sucessiva, para o grupo de longa duração 'UUC VTCPUKĂ ÂşQ CNKÂśU EQPUVKVWK hoje um dos pontos mais intrigantes e pendentes de explicaçþes quando se fala em memĂłria. NĂŁo ĂŠ por outra razĂŁo que sĂŁo estudadas e propostas algumas tĂŠcnicas capazes de tentar promover, com maior qualidade, a transição da memĂłria de curta duração para de longa duração. 260
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Aspectos cognitivos da memória e a antecipação da prova testemunhal no processo penal
Ilustre-se, por exemplo, que a memĂłria sensorial (aquela proveniente de maneira natural do ser, como melhor se verĂĄ) traz bons exemplos de informaçþes que foram transferidas para o catĂĄlogo de longa duração. Ainda na infância a maioria das pessoas acaba por armazenar informaçþes permanentes, como a evidente conclusĂŁo de que colocar a mĂŁo no fogo causarĂĄ dor.14 Maior complexidade, todavia, estĂĄ em algumas memĂłrias declarativas episĂłdicas (reconstrução de fato) que acabam por migrar para o catĂĄlogo de longa duração,15 fazendo com que a pessoa se recorde, por toda sua vida, de determinados fatos ocorridos dĂŠcadas passadas. ApĂłs a etapa de armazenamento (de curta duração e de longa duração), fala-se na etapa ĹżPCN EQPEGTPGPVG ´ evocação SWG UKIPKĹżEC GO NKPJCU IGTCKU Q OQOGPVQ GO SWG UG CETGFKVC que a memĂłria ĂŠ â&#x20AC;&#x153;resgatadaâ&#x20AC;? pela pessoa, acessando a informação armazenada. 0GUUG RQPVQ GPVTGVCPVQ Ă&#x192; RTGEKUQ QDUGTXCT SWG QU CXCPĂ QU EKGPVĂ&#x2C6;ĹżEQU QRGTCFQU PGUVG CUUWPVQ EQORTQXCO SWG CU VTĂ&#x201E;U GVCRCU GUUGPEKCKU FC OGOĂ&#x17D;TKC EQFKĹżECĂ ÂşQ CTOC\GPCOGPVQ G GXQECĂ ÂşQ UÂşQ RCUUĂ&#x2C6;XGKU FG KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKCU GPFĂ&#x17D;IGPCU G GZĂ&#x17D;IGPCU FG OQFQ SWG RQFGO TGEGDGT TWĂ&#x2C6;FQU SWG GPVTGIWGO CQ ĹżPCN TGUWNVCFQ FKUUQPCPVG FC TGCNKFCFG #VĂ&#x192; OGUOQ HCVQTGU emocionais, quando do processo de evocação, podem fazer com que a memĂłria nĂŁo seja reproduzida de forma satisfatĂłria. HĂĄ, ainda, alguns autores que inserem uma etapa especial na construção da memĂłria: a reconsolidação, inserida entre o armazenamento e a evocação. Tal tema ĂŠ importante quando se fala em memĂłrias traumĂĄticas reprimidas por um mecanismo de defesa (nĂŁo racional), e naturalmente tem bastante importância para a oitiva de vĂtimas de eventos revestidos de inevitĂĄvel trauma moral (v.g crimes de natureza sexual). Muitos eventos traumĂĄticos sĂŁo CTOC\GPCFQU OCU FKĹżEKNOGPVG QW FQNQTQUCOGPVG CEGUUCFQU RGNC RGUUQC FG OCPGKTC SWG CPVGU FG UG KPITGUUCT PQ EWTUQ FC GXQECĂ ÂşQ Ă&#x192; RTGEKUQ ICTCPVKT RQT VĂ&#x192;EPKECU GURGEĂ&#x2C6;ĹżECU G RQT ambientes propĂcios (citando-se os avanços do depoimento sem dano com crianças) que se promova a reconsolidação, estabelecendo-se o tempo necessĂĄrio e o conforto necessĂĄrio para que a pessoa possa evocar a memĂłria traumĂĄtica sem distorçþes e sem maiores danos ´ RTĂ&#x17D;RTKC XĂ&#x2C6;VKOC FQ GXGPVQ 1 VGOC FC TGEQPUQNKFCĂ ÂşQ Ă&#x192; DCUVCPVG RTQHWPFQ G EGTVCOGPVG transborda essas breves consideraçþes aqui apontadas, comportando pesquisas prĂłprias que merecem e devem ser levadas a efeito. Todas essas caracterĂsticas apontadas sobre a memĂłria, dando-se especial destaque ao HCVQ FG SWG C GXQECĂ ÂşQ RQFG UGT KPĆ&#x20AC;WGPEKCFC RQT FKXGTUCU HQTOCU CVGUVCO SWG PC XGTFCFG C memĂłria nĂŁo ĂŠ propriamente â&#x20AC;&#x153;resgatadaâ&#x20AC;? (daĂ o uso de aspas). O resgate pressuporia, logicaOGPVG C DWUEC FG WOC KPHQTOCĂ ÂşQ NQECNK\CFC GO WO GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQ RQPVQ G WOC XG\ NQECNK\CFC PÂşQ GUVCTKC UWUEGVĂ&#x2C6;XGN FG OQFKĹżECĂ Ă?GU QW HCNJCU VTCVCT UG KC FG WO TGVTCVQ RGTHGKVQ /CU RGNQ SWG CVĂ&#x192; CSWK UG XKW RCUUCPFQ UG CQ OGPQU RQT VTĂ&#x201E;U GVCRCU UWEGUUKXCU KPĆ&#x20AC;WGPEKÂśXGKU por fatores da prĂłpria pessoa ou por fatores externos (onde reside a sugestionabilidade), a memĂłria se constitui em um processo mental de construção.
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A construção da memĂłria pode condizer, ainda que por bastante aproximação, com C TGCNKFCFG FQ GRKUĂ&#x17D;FKQ XKXGPEKCFQ 5GO FĂ&#x2022;XKFC CNIWOC PÂşQ UKIPKĹżEC EQOQ WOC NGKVWTC RTGEKRKVCFC RQFG HC\GT ETGT SWG VQFQ G SWCNSWGT TGNCVQ PÂşQ Ă&#x192; EQPſœXGN #RGPCU UKIPKĹżEC SWG PÂşQ FGXG UGT VÂşQ EQPſœXGN EQOQ QTFKPCTKCOGPVG UG HC\ ETGT 5KIPKĹżEC CKPFC RGNC KOportância que carrega, que a memĂłria nĂŁo deve ser ignorada quando do estudo da prova VGUVGOWPJCN G SWG FGXG UGT GPECTCFC EQOQ HGPĂ?OGPQ EQORNGZQ SWG Ă&#x192; OGTGEGPFQ CEKOC de tudo, treinamento e aperfeiçoamento de tĂŠcnicas de inquirição que melhor se adaptem ´U CVWCKU FGUEQDGTVCU FC RUKEQNQIKC FQ VGUVGOWPJQ
3 PROVA TESTEMUNHAL E A MEMĂ&#x201C;RIA DECLARATIVA EPISĂ&#x201C;DICA: ALGUNS ASPECTOS DA SUGESTIONABILIDADE E A URGĂ&#x160;NCIA PRESUMIDA NA COLHEITA DA PROVA 3WCPFQ UG HCNC PC EQPĹżCDKNKFCFG FC RTQXC VGUVGOWPJCN GUVÂś UG FKTGVCOGPVG VTCVCPFQ FC RTĂ&#x17D;RTKC EQPĹżCDKNKFCFG FG WOC GURĂ&#x192;EKG RQPVWCN FG OGOĂ&#x17D;TKC C FGENCTCVKXC GRKUĂ&#x17D;FKEC 'UUC particular espĂŠcie nĂŁo consegue reproduzir com exatidĂŁo irreparĂĄvel o episĂłdio vivenciado no perĂodo pretĂŠrito, jĂĄ que trabalha, desde o inĂcio, apenas com fragmentos do que aconteceu, preenchendo-se as lacunas existentes por juĂzos de verossimilhança ou, o que ĂŠ mais arriscado, por falsas memĂłrias16 (decorrentes ou nĂŁo da sugestionabilidade). A memĂłria declarativa episĂłdica, portanto, tem caracterĂsticas prĂłprias que a diferenciam das demais espĂŠcies.17 Cite-se a jĂĄ mencionada memĂłria sensorial (sem prejuĂzo de outras), em que nĂŁo tem por conteĂşdo o armazenamento de uma informação plĂĄstica como C XKUWCNK\CĂ ÂşQ FG WO GRKUĂ&#x17D;FKQ HÂśVKEQ FC XKFC 0C XGTFCFG C KPHQTOCĂ ÂşQ EQFKĹżECFC RGNC OGmĂłria sensorial ĂŠ fruto do acionamento de mecanismos inatos que fazem com que a pessoa â&#x20AC;&#x153;aprendaâ&#x20AC;? determinadas reaçþes que somente os sentidos podem permitir. O jĂĄ mencionado exemplo da certeza de que colocar a mĂŁo no fogo pode causar danos ĂŠ exemplo claro da memĂłria sensorial. Como se vĂŞ, esse tipo de memĂłria nĂŁo tem o risco de sofrer as mesmas interferĂŞncias do que a memĂłria declarativa episĂłdica (jĂĄ que esta ĂŠ plĂĄstica), de modo que nĂŁo hĂĄ de se cogitar da mesma proporção de risco entre elas. Ressalta-se, neste particular, que o relembrar de um episĂłdio demanda quantidade de informaçþes amplamente superior ao necessĂĄrio para a memĂłria sensorial, alĂŠm de demandar a construção de uma imagem mental de uma situação concreta supostamente ocorrida. O carĂĄter plĂĄstico da memĂłria declarativa episĂłdica, portanto, abre espaço para a atuação da sugestionabilidade da memĂłria (que pode, em certa medida, atĂŠ ser moldada). A memĂłria episĂłdica, em outras palavras, ĂŠ mais sugestionĂĄvel que as demais. Isso tambĂŠm exige que nĂŁo seja tratada como as demais, notadamente ante a importância que o relato testemunhal tem dentro da sistemĂĄtica processual.18
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Outra conclusĂŁo que deriva logicamente desse carĂĄter estĂĄ no fato de que o tempo, naturalmente, afeta mais a memĂłria declarativa episĂłdica do que qualquer outra espĂŠcie, especialmente porque a reconstrução mental de um fato passado demanda grande quantiFCFG FG KPHQTOCĂ Ă?GU KORQTVCPVGU EQOQ LÂś XKUVQ # OGOĂ&#x17D;TKC GRKUĂ&#x17D;FKEC PQ SWG KPVGTGUUC ´ RTQXC VGUVGOWPJCN UGORTG GUVCTÂś NKICFC ´U RQWECU KPHQTOCĂ Ă?GU SWG EQPUGIWKTCO CVKPIKT Q catĂĄlogo de memĂłria de longa duração, G PGUVG RQPVQ EQOQ CFXGTVG )KNDGTVQ #PVĂ?PKQ :CXKGT a â&#x20AC;&#x153;passagem do tempo ĂŠ crĂtica, pois leva ao decaimento da retenção da informação.â&#x20AC;?19 Ano apĂłs anos novos, experimentos atestam que a memĂłria declarativa episĂłdica, por UGT RNÂśUVKEC RQFG UQHTGT KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKCU SWG CNVGTGO Q EQPVGĂ&#x2022;FQ GXQECFQ %QPSWCPVQ GUUG FCFQ PÂşQ UKIPKĹżSWG SWG VQFQ G SWCNSWGT TGNCVQ FGXG UGT NCPĂ CFQ ´ XCNC FC VQVCN FGUETGPĂ C PÂşQ Ă&#x192; disso que trata a pesquisa), a questĂŁo ao menos atesta que se deve ter maior atenção com Q RTQDNGOC GURGEKCNOGPVG SWCPVQ ´ HQTOC FG UG KPSWKTKT VGUVGOWPJCU ECFC SWCN EQO UWC particularidade, como o caso de oitiva de crianças). Ainda que possam ser citados dados empĂricos mais recentes, poucos experimentos foram tĂŁo elucidativos, no campo da sugestionabilidade, quanto o estudo conduzido por 'NK\CDGVJ .QHVWU G 2CNOGT PQ CPQ FG #NWFKFQU RGUSWKUCFQTGU CRTGUGPVCO C UKVWCĂ ÂşQ de um acidente automobilĂstico, por meio de imagens, para quatro grupos diferentes. ApĂłs, a forma de interrogação sobre o evento visualizado foi feita de forma diferente para cada grupo, com o objetivo de avaliar se haveria distinçþes da evocação.20 Para o primeiro grupo, perguntou-se o que viram na cena quando os veĂculos se encontraram. Para o segundo, o que se recordavam de terem visto quando os veĂculos toparam. JĂĄ para o terceiro o que teriam visto quando os veĂculos bateram 2QT ĹżO RCTC Q SWCTVQ ITWRQ Q SWG UG TGEQTFCO FG VGTGO visto quando os veĂculos se estraçalharam. Alguns integrantes do primeiro grupo indicaram velocidades baixas, inexistĂŞncia de sangue e de vidros quebrados na cena. JĂĄ no segundo grupo, determinados integrantes jĂĄ CRQPVCTCO C GZKUVĂ&#x201E;PEKC FG XGNQEKFCFG UWRGTKQT ´ FQ RTKOGKTQ ITWRQ C RTGUGPĂ C FG CNIWPU vidros quebrados, conquanto nĂŁo tenham visualizado sangue. Quanto ao terceiro grupo, KFGPVKĹżECTCO UG TGNCVQU CVGUVCPFQ XGNQEKFCFGU CKPFC OCKQTGU CNIWOCU CRTQZKOCFCU C MO J XKFTQU SWGDTCFQU G CNIWOCU RQTĂ Ă?GU FG UCPIWG #Q ĹżPCN PQ SWCTVQ ITWRQ CNIWPU entrevistados conseguiram apontar velocidades muito elevadas dos veĂculos, diversos vidros quebrados, sangue e, o que ĂŠ mais intrigante, a presença de mortos.21 Todas as consideraçþes atĂŠ aqui apontadas convergem para a conclusĂŁo de que a memĂłria declarativa episĂłdica (aquela que dĂĄ base ao depoimento testemunhal) ĂŠ suscetĂvel de sugestionabilidade, e seu carĂĄter plĂĄstico, como jĂĄ se viu, permite falhas. Por isso, Q FGEWTUQ FQ VGORQ FGXG UGTXKT RQT UK FG LWUVKĹżECVKXC UWĹżEKGPVG RCTC C CPVGEKRCĂ ÂşQ FGUUC modalidade probatĂłria no curso do processo, jĂĄ que intrinsicamente carrega, em seu nĂşcleo, uma presunção de urgĂŞncia.
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4 Ă&#x2030; PRECISO ANTECIPAR A PROVA TESTEMUNHAL. UMA ANĂ LISE A PARTIR DA SĂ&#x161;MULA 455 DO STJ 'ODQTC Q UKUVGOC RTQEGUUWCN VGPJC PC RTQXC VGUVGOWPJCN UGW RQPVQ FG OCKQT NGIKVKmação, jĂĄ que trabalha com a (re)construção de episĂłdios passados, ainda ĂŠ bastante tĂmida C RTGQEWRCĂ ÂşQ EQO C RTGUGTXCĂ ÂşQ FC EQPĹżCDKNKFCFG FQ VGUVGOWPJQ RGNQ FGEWTUQ FQ VGORQ 5GTKC RQUUĂ&#x2C6;XGN CDQTFCT FKXGTUQU RTQDNGOCU FKHGTGPVGU SWCPVQ ´ SWGUVÂşQ FQ VGORQ PQ RTQEGUUQ mas elege-se, pela amostragem, a possibilidade (ou dever?) de antecipar as provas na hipĂłtese da suspensĂŁo do Processo Penal em curso, quando o rĂŠu nĂŁo ĂŠ localizado para citação pessoal, mas Ă&#x192; EKVCFQ FG HQTOC ĹżEVC RQT GFKVCN &G CEQTFQ EQO Q CTVKIQ FQ %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ 2GPCN 5G Q CEWUCFQ EKVCFQ RQT GFKVCN PÂşQ EQORCTGEGT PGO EQPUVKVWKT CFXQICFQ ĹżECTÂşQ suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisĂŁo preventiva, nos termos do disposto no art. 312. (grifo nĂŁo original).22
# KPVGTRTGVCĂ ÂşQ NKVGTCN FQ FKURQUKVKXQ EQPFW\ ´ EQPENWUÂşQ FG SWG C CPVGEKRCĂ ÂşQ FC prova, na hipĂłtese de suspensĂŁo do processo, consiste em uma faculdade do julgador, que FGXGTÂś CWVQTK\CT C OGFKFC SWCPFQ XKUNWODTCT OQVKXQU UWĹżEKGPVGU FG SWG C SWCNKFCFG G C utilidade do elemento probatĂłrio estejam em risco por força do possĂvel decurso do tempo. Ressalta-se que a doutrina majoritĂĄria, quanto ao Processo Penal, adota a ideia de que a antecipação da prova testemunhal deve partir de um juĂzo ponderação, nĂŁo havendo um TKUEQ UWĹżEKGPVGOGPVG RTGUWOKFQ RGNQ FGEWTUQ FQ VGORQ %KVG UG Q GPVGPFKOGPVQ FG 0GUVQT TĂĄvora e Rosmar Rodrigues Alencar: Durante a suspensĂŁo do processo, a regra ĂŠ de que nĂŁo seja antecipada a proFWĂ ÂşQ RTQXC 'O ECUQU FGXKFCOGPVG LWUVKĹżECFQU Ĺ&#x152; C GZGORNQ FC KOKPĂ&#x201E;PEKC FG perecimento da prova â&#x20AC;&#x201C; o juiz, a partir de um critĂŠrio de necessidade, adequação e proporcionalidade da medida, ordenarĂĄ a antecipação, que serĂĄ produzida â&#x20AC;&#x2DC;com a prĂŠvia intimação do MinistĂŠrio PĂşblico, do querelante e do defensor pĂşblico ou dativo, na fata do primeiro, designado par ao atoâ&#x20AC;&#x2122;.23
Agrega-se a esse dado tĂŠcnico uma salutar constatação fĂĄtica: o nĂşmero de processos em andamento e a quantidade de demandas a serem enfrentadas superam, em muito, a estrutura fĂsica e humana do poder judiciĂĄrio, de forma que a nĂŁo antecipação da prova (especialmente a testemunhal) acaba tambĂŠm sendo, na via de realidade, uma ponderação GPVTG C KPUWĹżEKĂ&#x201E;PEKC FG XCICU PC RCWVC FG CWFKĂ&#x201E;PEKCU G Q TKUEQ SWG Q VGORQ RQFG QRGTCT PC EQPĹżCDKNKFCFG FC RTQXC VGUVGOWPJCN Ademais, tambĂŠm hĂĄ quem argumente que a nĂŁo antecipação da prova encontra HWPFCOGPVQ PQ RTKPEĂ&#x2C6;RKQ EQPUVKVWEKQPCN FC CORNC FGHGUC CPVG C KPUWĹżEKĂ&#x201E;PEKC PQVĂ&#x17D;TKC FC defesa dativa)24 e do contraditĂłrio, jĂĄ que evita que o conjunto probatĂłrio seja formado sem a presença do acusado.
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Com a devida vĂŞnia, o aludido entendimento nĂŁo deve prosperar por razĂľes distintas. A primeira delas estĂĄ no fato de que a antecipação da prova testemunhal nĂŁo tolhe o contraditĂłrio nem a ampla defesa, em especial, porque o processo nĂŁo chegarĂĄ a ser sentenciado em seu mĂŠrito enquanto o rĂŠu nĂŁo for localizado, e uma vez comparecendo ao processo, VGTÂś EQPVCVQ EQO VQFQU QU VGUVGOWPJQU RTQFW\KFQU RCTC UQOGPVG GPVÂşQ EQOQ CVQ ĹżPCN FC produção da prova oral, ser interrogado. Acrescente-se, tambĂŠm, o argumento de que a prova oral antecipada na forma do artigo FQ %22 GZKIG C RTGUGPĂ C FG CFXQICFQ G UWC EQNJGKVC CPVGEKRCFC RTGOKC C EQPĹżCDKNKFCFG do testemunho, evitando-se distorçþes que o tempo pode causar, cujo risco, inclusive, recai sobre os interesses do prĂłprio rĂŠu (dada a possibilidade empiricamente demonstrada do surgimento de falsas memĂłrias em determinadas circunstâncias). 4GUUCNVC UG SWG Q GPVGPFKOGPVQ FG SWG Q UKORNGU FGEWTUQ FQ VGORQ PÂşQ Ă&#x192; UWĹżEKGPVG para autorizar a produção antecipada da prova (exigindo-se, em acrĂŠscimo, a demonstração de outros riscos concretos) deu origem ao texto da SĂşmula 455 do Superior Tribunal de Justiça, com a seguinte redação: â&#x20AC;&#x153;A decisĂŁo que determina a produção antecipada de provas EQO DCUG PQ CTV FQ %22 FGXG UGT EQPETGVCOGPVG HWPFCOGPVCFC PÂşQ C LWUVKĹżECPFQ unicamente o mero decurso do tempo.â&#x20AC;?25 O fato de se tratar de um enunciado sumular naturalmente faz que o entendimento seja seguido pelas instâncias inferiores, sobretudo para salutar manutenção da coerĂŞncia do sistema. Mas embora nĂŁo se ignore as razĂľes que motivaram a adoção do aludido entendimento, as constataçþes sobre os elementos cognitivos da memĂłria que jĂĄ foram apontadas PGUVG VGZVQ DCUVCO FG OCPGKTC DCUVCPVG EQPXKPEGPVG RCTC FGHGPFGT C OQFKĹżECĂ ÂşQ FQ CNWFKFQ entendimento, ou mesmo a construção de fundamentação que seja capaz, no caso concreto, de superar as limitaçþes impostas pela sĂşmula. Observa-se que inĂşmeros sĂŁo os precedentes do Superior Tribunal de Justiça que adotam o jĂĄ mencionado entendimento doutrinĂĄrio e que representam o mesmo raciocĂnio consolidado no enunciado sumular. Cite-se, sem prejuĂzo de inĂşmeros outros, o caso de recente Recurso OrdinĂĄrio em Habeas Corpus em que se decidiu que a antecipação da prova deve UG TGUVTKPIKT Ĺ&#x2018;´U RTQXCU EQPUKFGTCFCU WTIGPVGU ECTCEVGTĂ&#x2C6;UVKEC SWG FGXG GUVCT EQPETGVCOGPVG EQORTQXCFC GO ECFC ECUQ RQT HWPFCOGPVQU SWG LWUVKĹżSWGO C GZEGREKQPCN CPVGEKRCĂ ÂşQ Ĺ&#x2019;26 Nota-se que a SĂşmula 455 do Superior Tribunal de Justiça, ao nĂŁo excepcionar o VGUVGOWPJQ CECDC RQT CĹżTOCT C EQPENWUÂşQ FG SWG C WTIĂ&#x201E;PEKC PÂşQ FGEQTTG RWTCOGPVG FQ transcorrer do tempo no caso da prova testemunhal, limitação esta com a qual nĂŁo se pode EQPEQTFCT ´ NW\ FCU TGEGPVGU EQPVTKDWKĂ Ă?GU FC RUKEQNQIKC FQ VGUVGOWPJQ 'O XGTFCFG C CPVGEKRCĂ ÂşQ FC RTQXC PQ RTQEGUUQ SWCPFQ FC JKRĂ&#x17D;VGUG FQ CTVKIQ FQ CPP deveria ser automĂĄtica e obrigatĂłria em todos os casos, situando-se como uma decorrĂŞncia PCVWTCN FC FGEKUÂşQ 1U TKUEQU SWG Q VGORQ QRGTC PC OGOĂ&#x17D;TKC RGNQ SWG ĹżEQW FGOQPUVTCFQ UÂşQ
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extremamente nocivos e substancialmente maiores do que ordinariamente se crĂŞ, de modo que se deve ter por presumida, em todos os casos envolvendo a prova testemunhal, a necessidade que a SĂşmula 455 do STJ exige na condição de uma fundamentação de cunho excepcional. Observa-se que, embora o entendimento predominante ainda seja pela nĂŁo antecipação da prova testemunhal (por causa da aplicação literal da aludida sĂşmula), jĂĄ ĂŠ possĂvel encontrar recentes decisĂľes, inclusive no prĂłprio Superior Tribunal de Justiça, que se amparam na HCNKDKNKFCFG FC OGOĂ&#x17D;TKC JWOCPC RCTC LWUVKĹżECT C RTQFWĂ ÂşQ CPVGEKRCFC FC RTQXC RCTVKPFQ UG em tais casos, do juĂzo de presunção de que a urgĂŞncia ĂŠ inerente quando se estĂĄ diante da RTQXC VGUVGOWPJCN 'KU TGEGPVG FGEKUÂşQ RTQNCVCFC RGNC SWKPVC VWTOC 4'%7451 14&+0Â?4+1 '/ *#$'#5 %14275 &'5#%#61 2418# 6'56'/70*#. 241&7Â&#x161;Â&#x201C;1 #06'%+2#&# #46 &1 %ÂŚ&+)1 &' 241%'551 2'0#. /'&+&# %#76'.#4 %#4Â?6'4 74)'06' (#.+$+.+&#&' &# /'/ÂŚ4+# *7/#0# 4'.'8#06' .#251 6'/214#. &'5&' # &#6# &15 (#615 &'('0514+# +06+/#&# &# &'%+5Â&#x201C;1 0#&# 4'37'4'7 #75Â?0%+# &' 24',7 <1 %10564#0)+/'061 +.')#. 0Â&#x201C;1 '8+&'0%+#&1 #RGUCT FG Q GPWPEKCFQ FC 5Ă&#x2022;OWNC FGUVC Corte de Justiça dispor que â&#x20AC;&#x153;a decisĂŁo que determina a produção antecipada de provas com base no art. 366 do CPP deve ser concretamente fundamentada, nĂŁo C LWUVKĹżECPFQ WPKECOGPVG Q OGTQ FGEWTUQ FQ VGORQĹ&#x2019; C PCVWTG\C WTIGPVG SWG FÂś GPUGLQ ´ RTQFWĂ ÂşQ CPVGEKRCFC FG RTQXCU Ă&#x192; KPGTGPVG ´ RTQXC VGUVGOWPJCN VGPFQ em vista a falibilidade da memĂłria humana. 2. No caso, tendo em vista que os fatos ocorreram em 2010 e as audiĂŞncias de produção antecipada das provas ocorreram em 2012 e 2014, entendo que inexiste a ausĂŞncia de fundamentação na adoção da medida, visto que o decurso do prazo, de fato, poderia prejudicar a colheita da prova testemunhal, nĂŁo havendo, portanto, que se falar em ofensa ao CTV FQ %22 G ´ 5WOWNC FGUVC %QTVG # &GHGPUQTKC 2Ă&#x2022;DNKEC EKGPVG FC decisĂŁo desde 2012, apenas se insurgiu contra a mesma em 2014, demonstrando que houve apenas alegação genĂŠrica da matĂŠria, sem apontar qualquer prejuĂzo ao recorrente. 4. Ressalte-se que o deferimento da realização da produção antecipada de provas nĂŁo traz qualquer prejuĂzo ao acusado, jĂĄ que, alĂŠm de o ato ser realizado na presença de defensor nomeado, caso o acusado compareça ao processo futuramente poderĂĄ requerer a produção das provas que julgar necesUÂśTKCU ´ EQORTQXCĂ ÂşQ FC VGUG FGHGPUKXC KPENWUKXG C TGRGVKĂ ÂşQ FC RTQXC RTQFW\KFC GO CPVGEKRCĂ ÂşQ UG CRTGUGPVCT CTIWOGPVQU KFĂ?PGQU 4GEWTUQ PÂşQ RTQXKFQ 27
' PÂşQ Ă&#x192; UĂ&#x17D; #NĂ&#x192;O FC EQPĹżCDKNKFCFG FC OGOĂ&#x17D;TKC CTIWOGPVQ GZVGPUĂ&#x2C6;XGN C VQFQU QU ECUQU RQFGO UGT EQPUKFGTCFQU QWVTQU CTIWOGPVQU RCTC C CPVGEKRCĂ ÂşQ FCU RTQXCU 'O ETKOGU de natureza sexual, por exemplo, ĂŠ plausĂvel concluir que a prĂłpria SĂşmula 455 do STJ recomenda a utilização de fundamentação concreta para a colheita antecipada dos testemunhos enquanto o rĂŠu nĂŁo ĂŠ localizado. Neste ponto, poucas dĂşvidas hĂĄ no sentido de que o testemunho prestado dentro do ambiente judicial por vĂtimas de crimes desta natureza reveste-se de particular constrangimento. AlĂŠm disso, impĂľe sofrimento moral a tais pessoas por reviverem, pelo curso de uma narrativa, o evento traumĂĄtico a que foram submetidas. Nessa ordem de ideias, o decurso do tempo pode suavizar as mĂĄculas causadas pelo delito,
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HC\GPFQ SWG C XĂ&#x2C6;VKOC RTQUUKIC EQO UWC XKFC GODQTC KUUQ LCOCKU UKIPKĹżSWG Q GUSWGEKOGPVQ do evento (apenas o enclausura). Fazer a pessoa reviver o trauma, muito tempo depois, reabrindo a dor que, com o tempo, enclausurou, ĂŠ elemento que os agentes do processo nĂŁo devem ignorar quando forem decidir pela antecipação ou nĂŁo das provas.
5 CONCLUSĂ&#x192;O Diante dos argumentos apresentados, ĂŠ possĂvel extrair algumas conclusĂľes que podem CNKOGPVCT FGDCVGU VGĂ&#x17D;TKEQU UQDTG Q VGOC OCU GUUGPEKCNOGPVG RTQOQXGT KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKCU RTÂśVKECU na questĂŁo da prova testemunhal. 'O NKPJCU IGTCKU RQFG UG CRQPVCT Q UGIWKPVG C C OGOĂ&#x17D;TKC JWOCPC PÂşQ RQFG UGT XKUVC EQOQ WO HGPĂ?OGPQ RWTCOGPVG DKQNĂ&#x17D;IKEQ jĂĄ que suscetĂvel a mĂşltiplos aspectos simultâneos, inclusive emocionais e fĂsicos (nĂŁo ĂŠ por outra razĂŁo que hĂĄ uma atividade cerebral bastante complexa quando FQ RTQEGUUQ FG EQPUVTWĂ ÂşQ FC OGOĂ&#x17D;TKC %QPENWK UG PGUUG RQPVQ GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQ SWG C OGOĂ&#x17D;TKC PÂşQ Ă&#x192; CTOC\GPCFC GO WO ECORQ GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQ OCU UG EQPUVKVWK FG HQTOC contrĂĄria do que se imaginou, em verdadeiro processo de construção composto de CQ OGPQU VTĂ&#x201E;U GVCRCU GUUGPEKCKU C EQFKĹżECĂ ÂşQ Q CTOC\GPCOGPVQ PQ ECVÂśNQIQ FG curta duração e de longa duração, este em carĂĄter excepcional) e a evocação; b) o tema, em razĂŁo disso, ĂŠ ainda revestido de bastante complexidade, e pouco domĂnio hĂĄ de forma plena sobre o controle que a pessoa pode ter sobre a memĂłria no curso dessas trĂŞs etapas, embora haja bastante evidĂŞncia de que a memĂłria soHTG KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKCU FC UWIGUVKQPCDKNKFCFG KPVGTPC G GZVGTPC RQFGPFQ UGT CHGVCFC GO qualquer de suas fases. DaĂ jĂĄ ĂŠ possĂvel acentuar, desde jĂĄ, a maior necessidade de colheita antecipada da prova testemunhal; c) das diversas espĂŠcies de memĂłria existentes, destaca-se para o estudo a declarativa episĂłdica TGNCEKQPCFC EQOQ UG GZVTCK FC RTĂ&#x17D;RTKC VGTOKPQNQIKC ´ VCTGHC FG TGOGOQTCT um episĂłdio passado. Por caracterĂstica ĂŠ mais plĂĄstica, por exemplo, que a memĂłria sensorial, mas ĂŠ a mais suscetĂvel de equĂvocos e distorçþes, inclusive por força da sugestionabilidade, de maneira que o tempo entre o episĂłdio vivenciado e o momento da evocação nĂŁo podem ser considerados fatores de baixo risco para a qualidade do testemunho a ser prestado. AliĂĄs, o efeito do tempo nessa particular espĂŠcie de memĂłria ĂŠ empiricamente demonstrado mais nocivo do que se imagina; F GODQTC JQLG GZKUVCO UWĹżEKGPVGU TC\Ă?GU RCTC EQPENWKT SWG C WTIĂ&#x201E;PEKC PC CPVGEKRCção da prova testemunhal deveria ser encarada como consequĂŞncia da natural falibilidade da memĂłria declarativa episĂłdica, a prova testemunhal, na hipĂłtese da suspensĂŁo do processo de que trata o artigo 366 do CPP, ĂŠ permitida apenas de forma excepcional pelo atual entendimento Jurisprudencial (tendĂŞncia tambĂŠm
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acompanhada pela doutrina). Cite-se a Súmula 455 do STJ que claramente indica que o decurso do tempo não Ê motivo bastante para a colheita antecipada dos testemunhos enquanto o rÊu não for localizado, exigindo-se fundamentação que seja capaz de demonstrar outros elementos na espÊcie que autorizem, em caråter excepcional, a colheita antecipada da prova; e) as atuais descobertas da psicologia do testemunho atestam, no entanto, que a memória declarativa episódica, de forma bastante pontual (diferentemente, por exemplo, da memória sensorial), sofre interferência relevante do tempo, abrindo-se espaço, inclusive, para distorçþes e para o surgimento de falsas memórias, riscos que afetam a todos os agentes do processo. Nesse contexto, o decurso do tempo promove riscos UWDUVCPEKCKU ´ RTQXC VGUVGOWPJC G Lœ VTC\ EQPUKIQ C RTGUWPà ºQ FG PGEGUUKFCFG FG antecipação da prova, de modo que sua colheita antecipada, na hipótese descrita no artigo 366 do Código de Processo Penal, deve sair do campo da excepcionalidade, para se traduzir, doravante, em regra geral.
REFERĂ&#x160;NCIAS Â?8+.# )WUVCXQ 0QTQPJC FG Falsas memĂłrias e sistema penal em xeque. Rio de Janeiro: .WOGP ,WTKU Â?8+.# )WUVCXQ 0QTQPJC FG 415# #NGZCPFTG /QTCKU FC MemĂłria ĂŠ como diamante: quanto mais falsa, mais perfeita. DisponĂvel em: <http:// JVVR LWUVKĹżECPFQ EQO memoria-e-como-diamante-quanto-mais-falsa-mais-perfeita/>. Acesso em: 16 nov. 2015. $#&&'.'; #NCP GV CN O que ĂŠ memoria? SĂŁo Paulo: Artmed, 2010. $4#5+. &GETGVQ NGK P FG FG QWVWDTQ FG +PUVKVWK Q %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ 2GPCN &KÂśTKQ 1ĹżEKCN FC 7PKÂşQ, BrasĂlia, DF, 13 out. 1941. %#05+01 2CVTKEKC 6TGLQ /QTCNGU 5GNG 'HGEVQU FG NC CVGPEKĂ&#x17D;P FKXKFKFC UQDTG NC OGOQTKC episĂłdica en adultos jĂłvenes y mayores. Revista Colombiana de Psicologia, BogotĂĄ, v. 20, p. 182, 2011. +<37+'4&1 +XÂśP #PVQPKQ GV CN /GOĂ&#x17D;TKC VKRQU FG OGECPKUOQU CEJCFQU TGEGPVGU. Revista Usp, SĂŁo Paulo, n. 98, p. 9-16, 2013. .1(675 'NK\CDGVJ ( %TGCVKPI HCNUG OGOQTKGU 5EKGPVKĹżE #OGTKECP, Washington, v. 277, p. 70-75, 1997. .1(675 ' ( 2#./'4 , %. Reconstruction of auto-mobile destruction: An example of the interaction between language and memory. Journal of Verbal Learning and Verbal Behavior, v. 13, p. 585-589, 1974. .12'5 ,70+14 #WT[ Direito processual penal. 10. ed. SĂŁo Paulo: Saraiva, 2013.
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Aspectos cognitivos da memória e a antecipação da prova testemunhal no processo penal
1.+8'+4# #E[T MemĂłria: cognição e comportamento. SĂŁo Paulo: Casa do PsicĂłlogo, 2007. 415# #NGZCPFTG /QTCKU FC .12'5 ,70+14 #WT[ MemĂłria nĂŁo ĂŠ polaroid: precisamos falar sobre reconhecimentos criminais. DisponĂvel em: <http:// http://www.conjur. com.br/2014-nov-07/limite-penal-memoria-nao-polarid-precisamos-falar reconhecimentos-criminais>. Acesso em: 16 nov. 2015. 56'+0 .KNKCP /KNPKUVUM[ 0'7('.& %CTOGO $GCVTK\ (CNUCU OGOĂ&#x17D;TKCU RQTSWG NGODTCOQU de coisas que nĂŁo aconteceram? Arquivos de CiĂŞncias da SaĂşde da Unipar, ParanĂĄ, v. 5, n. 2, p. 179-186, 2001. 6Â?814# 0GUVQT #.'0%#4 4QUOCT 4QFTKIWGU Curso de direito processual penal. 7. ed. Salvador: Juspodvim, 2012. :#8+'4 )KNDGTVQ (GTPCPFQ # OQFWNCTKFCFG FC OGĂ&#x17D;TKC G Q UKUVGOC PGTXQUQ. Revista Psicologia USP, SĂŁo Paulo, v. 4, p. 68, 1993. 1 56'+0 .KNKCP /KNPKUVUM[ 0'7('.& %CTOGO $GCVTK\ Falsas memĂłrias: porque lembramos de coisas que nĂŁo aconteceram?. Arquivos de CiĂŞncias da SaĂşde da Unipar, ParanĂĄ, v. 5, n. 2, p. 179-186, 2001. 2 Â?8+.# )WUVCXQ 0QTQPJC FG Falsas memĂłrias e sistema penal em xeque. 4KQ FG ,CPGKTQ .WOGP ,WTKU R 3 )#7'4 )WUVCXQ (CNUCU /GOĂ&#x17D;TKCU +P 1.+8'+4# #E[T MemĂłria: cognição e comportamento. SĂŁo Paulo: Casa do PsicĂłlogo, 2007. p. 165. 4 8#5%10%'..15 5KNXKQ ,QUĂ&#x192; /GOĂ&#x17D;TKC GXQNWĂ ÂşQ G RUKEQNQIKC GXQNWEKQPKUVC +P 1.+8'+4# #E[T MemĂłria: cognição e comportamento. SĂŁo Paulo: Casa do PsicĂłlogo, 2007. p . 85. 5 Â?8+.# )WUVCXQ 0QTQPJC FG Falsas memĂłrias e sistema penal em xeque. 4KQ FG ,CPGKTQ .WOGP ,WTKU R 6 Ibidem, p. 82. 7 +<37+'4&1 +XÂśP #PVQPKQ GV CN /GOĂ&#x17D;TKC VKRQU FG OGECPKUOQU CEJCFQU TGEGPVGU Revista Usp, SĂŁo Paulo, n. 98, p. 12, 2013. 8 )#7'4 )WUVCXQ (CNUCU OGOĂ&#x17D;TKCU +P 1.+8'+4# #E[T MemĂłria: cognição e comportamento. SĂŁo Paulo: Casa do PsicĂłlogo, 2007. p. 166. 9 $#&&'.'; #NCP GV CN O que ĂŠ memoria?. SĂŁo Paulo: Artmed, 2010. p. 29. 10 Ibidem, p. 30. 11 Â?8+.# )WUVCXQ 0QTQPJC FG 415# #NGZCPFTG /QTCKU FC MemĂłria ĂŠ como diamante: quanto mais falsa, mais perfeita. 2014. DisponĂvel em: <http://JVVR LWUVKĹżECPFQ EQO OGOQTKC G EQOQ FKCOCPVG SWCPVQ OCKU HCNUC-mais-perfeita/>. Acesso em :16 nov. 2015. 12 .1(675 'NK\CDGVJ ( %TGCVKPI HCNUG OGOQTKGU 5EKGPVKĹżE #OGTKECP, Washington, v. 277, p. 70-75, 1997. 13 #KPFC UQDTG Q VGOC 415# #NGZCPFTG /QTCKU FC .12'5 ,70+14 #WT[ MemĂłria nĂŁo ĂŠ polaroid: precisamos falar sobre reconhecimentos criminais. DisponĂvel em: <http:// http://www.conjur.com.br/2014-nov-07/limite-penal-memoria-nao-polarid-precisamos-falar reconhecimentos-criminais>. Acesso em: 16 nov. 2015. 14 $#&&'.'; #NCP GV CN O que ĂŠ memoria?. SĂŁo Paulo: Artmed, 2010. p. 19. 15 Ibidem, p. 23. 16 Â?8+.# )WUVCXQ 0QTQPJC FG Falsas memĂłrias e sistema penal em xeque 4KQ FG ,CPGKTQ .WOGP ,WTKU R 17 8KFG %#05+01 2CVTKEKC 6TGLQ /QTCNGU 5GNG 'HGEVQU FG NC CVGPEKĂ&#x17D;P FKXKFKFC UQDTG NC OGOQTKC GRKUĂ&#x17D;FKEC GP CFWNVQU jĂłvenes y mayores. Revista Colombiana de Psicologia, BogotĂĄ, v. 20, p.182, 2011. 18 Se preocupar com a sugestionabilidade ĂŠ assunto de relevância para todos (mesmo que inicialmente defendam pretensĂľes diferentes em seus pedidos). No Processo Penal, por exemplo, todos possuem interesse de que a testemunha arrolada consiga retratar o fato com maior proximidade da realidade. Por isso, estudar as tĂŠcnicas adequadas de interrogação (v.g adoção de perguntas mais abertas) certamente contribui para melhor solução do processo, e evita decisĂľes equivocadas. 19 :#8+'4 )KNDGTVQ (GTPCPFQ # OQFWNCTKFCFG FC OGOĂ&#x17D;TKC G Q UKUVGOC PGTXQUQ Revista Psicologia USP, SĂŁo Paulo, v. 4, p. 68, 1993.
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20 .1(675 ' ( 2#./'4 , %. Reconstruction of auto-mobile destruction: an example of the interaction between language and memory. Journal of Verbal Learning and Verbal Behavior, v. 13, p. 585-589, 1974. 21 .1(675 ' ( 2#./'4 , %. Reconstruction of auto-mobile destruction: an example of the interaction between language and memory. Journal of Verbal Learning and Verbal Behavior, v. 13, p. 585-589, 1974. 22 $4#5+. &GETGVQ NGK P FG FG QWVWDTQ FG +PUVKVWK Q %Ă&#x17D;FKIQ FG 2TQEGUUQ 2GPCN &KÂśTKQ 1ĹżEKCN FC 7PKÂşQ, BrasĂlia, DF, 13 out. 1941. 23 6Â?814# 0GUVQT #.'0%#4 4QUOCT 4QFTKIWGU Curso de direito processual penal. 7. ed. Salvador: Juspodvim, 2012. p. 708. 24 .12'5 ,70+14 #WT[ Direito processual penal. 10. ed. SĂŁo Paulo: Saraiva, 2013. p. 764. 25 $4#5+. 5WRTGOQ 6TKDWPCN FG ,WUVKĂ C Habeas-corpus P 5% 4GNCVQT /KPKUVTQ ,QTIG /WUUK SWKPVC VWTOC 5CPVC Catarina, 28 de abril de 2015. 26 $4#5+. 5WRTGOQ 6TKDWPCN FG ,WUVKĂ C Habeas-corpus P 5% 4GNCVQT /KPKUVTQ ,QTIG /WUUK SWKPVC VWTOC 5CPVC Catarina, 28 de abril de 2015. 27 $4#5+. 5WRTGOQ 6TKDWPCN FG ,WUVKĂ C Habeas-corpus P 41 4GNCVQT /KPKUVTQ .GQRQNFQ FG #TTWFC 4CRQUQ
&GUGODCTICFQT EQPXQECFQ FQ 6, 2' SWKPVC VWTOC 4QPFĂ?PKC FG OCTĂ Q FG
COGNITIVE ASPECTS OF MEMORY AND THE ANTICIPATION OF EYEWITNESS TESTIMONY IN CRIMINAL PROCEDURE ABSTRACT Testimony is essentially based on the idea that a person, through episodic declarative memory, has the special ability to reproduce, with great CEEWTCE[ C RCUV GXGPV +V LWUV UQ JCRRGPU JQYGXGT VJCV VJG NCVGUV UEKGPVKĹżE ĹżPFKPIU KP VJG ĹżGNF QH VJG RU[EJQNQI[ QH VGUVKOQP[ UJQY VJCV OGOQT[ KU in fact, a more complex phenomenon than it is popularly believed. The multiple stages of the formation of a memory (especially encoding, storage and retrieval) occur under the simultaneous activity of different brain TGIKQPU KPĆ&#x20AC;WGPEGF D[ GPFQIGPQWU CPF GZQIGPQWU CURGEVU +V KU DGNKGXGF VJCV memory does not mean the recovery of a previously stored information, but a true process of construction. Such complexity is accompanied by risks on the reliability of memory, which cannot be ignored by Criminal Procedure. +V KU PQVGYQTVJ[ VJCV VKOG ECP KPĆ&#x20AC;WGPEG VJG TGNKCDKNKV[ QH OGOQT[ KP C OQTG decisive way than what is believed, so that the anticipation of evidence based on testimony should be, whenever possible, carried out, in the name of the best solution of the case that is the object of a judicial procedure. Keywords: %TKOKPCN 2TQEGFWTG /GOQT[ (CNNKDKNKV[ '[GYKVPGUU Testimony. Anticipation.
Submetido: 14 fev. 2017 Aprovado: 15 maio 2017
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doi:10.12662/2447-6641oj.v15i20.p271-297.2017
DAS TEORIAS DA INTERPRETAĂ&#x2021;Ă&#x192;O Ă&#x20AC; TEORIA DA DECISĂ&#x192;O: POR UMA PERSPECTIVA REALISTA ACERCA DAS INFLUĂ&#x160;NCIAS E CONSTRANGIMENTOS SOBRE A ATIVIDADE JUDICIAL Ricardo de Lins e Horta* Alexandre AraĂşjo Costa ** +PVTQFWĂ ÂşQ FC FGEKUÂşQ ´U VGQTKCU FC KPVGTRTGVCĂ ÂşQ 6GQTKCU UQDTG C FGEKUÂşQ LWFKEKCN RCPQTCOC FQ GUVCFQ FC CTVG # RUKEQNQIKC FC LWUVKĹżECĂ ÂşQ FC FGEKUÂşQ CTVKEWNCPFQ FGUEQDGTVC G LWUVKĹżECĂ ÂşQ &CU VGQTKCU FC KPVGTRTGVCĂ ÂşQ ´ VGQTKC FC FGEKUÂşQ %QPclusĂŁo. ReferĂŞncias.
RESUMO A ideia de que seja possĂvel desenvolver uma metodologia hermenĂŞutica capaz de conduzir a decisĂľes corretas continua sendo um dos elementos centrais dos discursos dogmĂĄticos contemporâneos, especialmente na forma das teorias da CTIWOGPVCĂ ÂşQ 'O XKTVWFG FKUUQ Q EQORQTVCOGPVQ LWFKEKCN EQPĹżIWTC WO GNGmento secundĂĄrio no desenvolvimento das teorias tradicionais. As pesquisas descritivas a seu respeito acabaram se inspirando numa peculiar vertente do positivismo, o realismo jurĂdico, que levou a sĂŠrio a ideia de que era preciso realizar uma ciĂŞncia empĂrica do Direito, capaz de explicar o papel das preferĂŞncias polĂtico-ideolĂłgicas, pessoais, entre outras, na decisĂŁo judicial. Neste artigo, sustentamos que uma teoria realista da interpretação, que encare o Direito como uma arena decisĂłria, permite que se vislumbre uma teoria da decisĂŁo, que integre nĂŁo sĂł fatores discursivos, mas tambĂŠm estratĂŠgicos, sociais e reputacionais da decisĂŁo. Para tanto, apresentamos uma sĂŠrie de estudos empĂricos, oriundos da Psicologia Cognitiva e Social, da CiĂŞncia PolĂtica e da 'EQPQOKC %QORQTVCOGPVCN SWG KPXGUVKICO EQOQ QU HCVQTGU GZVTCLWTĂ&#x2C6;FKEQU KPĆ&#x20AC;WGPEKCO G EQPUVTCPIGO Q RTQEGUUQ FG VQOCFC FG FGEKUÂşQ LWFKEKCN 2QT ĹżO com base em teorizaçþes recentes sobre como o raciocĂnio humano se articula EQO Q RTQEGUUQ CTIWOGPVCVKXQ FG LWUVKĹżECĂ ÂşQ FGHGPFGOQU SWG FQ RQPVQ FG vista da formulação de uma teoria da decisĂŁo judicial, a oposição entre conVGZVQU FG Ĺ&#x2018;FGUEQDGTVCĹ&#x2019; G Ĺ&#x2018;LWUVKĹżECĂ ÂşQĹ&#x2019; PÂşQ OCKU UG UWUVGPVC *
Doutorando em Direito (UnB) e Mestre em NeurociĂŞncias (UFMG). Pesquisador visitante no grupo Ă&#x2030;volution & Cognition Sociale, da Ă&#x2030;cole Normale SupĂŠrieure GO 2CTKU ' OCKN TKECTFQNKPUJQTVC"IOCKN EQO
** Mestre e Doutor em Direito pela Universidade de BrasĂlia (UnB). Professor da Faculdade de Direito da UnB. %QQTFGPCFQT FQ )TWRQ FG 2GUSWKUC GO 2QNĂ&#x2C6;VKEC G &KTGKVQ 7P$ ' OCKN CNGZCPFTG CTCWLQ EQUVC"IOCKN EQO
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Ricardo de Lins e Horta | Alexandre AraĂşjo Costa
Palavras-chave: DecisĂŁo judicial. Teoria da Argumentação JurĂdica. Contexto da descoberta. Fatores extrajurĂdicos da decisĂŁo judicial. Teoria Realista da Interpretação.
1 INTRODUĂ&#x2021;Ă&#x192;O: DA DECISĂ&#x192;O Ă&#x20AC;S TEORIAS DA INTERPRETAĂ&#x2021;Ă&#x192;O 'ODQTC C decisĂŁo judicial seja um dos temas centrais de todas as abordagens acerca do &KTGKVQ HQK UQOGPVG PCU Ă&#x2022;NVKOCU FĂ&#x192;ECFCU SWG QU HGPĂ?OGPQU RUKEQNĂ&#x17D;IKEQU GPXQNXKFQU GO VCKU FGEKUĂ?GU UG VQTPCTCO WO VGOC EGPVTCN FG KPXGUVKICĂ ÂşQ +UUQ PÂşQ UKIPKĹżEC SWG GO OQOGPVQU histĂłricos anteriores, tenha passado despercebido o fato de que as decisĂľes judiciais (como SWCKUSWGT QWVTCU FGEKUĂ?GU FGEQTTGO FG LWNICOGPVQU HQTVGOGPVG KPĆ&#x20AC;WGPEKCFQU RGNCU EQPFKçþes subjetivas do juiz. AristĂłteles, por exemplo, reconhecia que o julgamento adequado era um ato individual que envolvia uma combinação de capacidades intelectivas (sem as quais nĂŁo seria possĂvel EQORTGGPFGT FGXKFCOGPVG CU EQPUGSWĂ&#x201E;PEKCU FCU FGEKUĂ?GU G UWCU LWUVKĹżECVKXCU G FG formação moral UGO CU SWCKU UGTKC KORQUUĂ&#x2C6;XGN KFGPVKĹżECT C UQNWĂ ÂşQ LWUVC G RGUCT QU KPVGTGUUGU GO LQIQ 1U ĹżNĂ&#x17D;UQHQU ITGIQU FC #PVKIWKFCFG PÂşQ FKURWPJCO FG WOC OGVCNKPIWCIGO RUKEQNĂ&#x17D;IKEC SWG VTCVCUUG FC EQIPKĂ ÂşQ EQOQ WOC CVKXKFCFG EGTGDTCN GURGEĂ&#x2C6;ĹżEC OCU #TKUVĂ&#x17D;VGNGU FGUGPXQNXGW categorias voltadas para compreender e avaliar a interferĂŞncia das condiçþes subjetivas nos processos decisĂłrios, especialmente a noção de â&#x20AC;&#x153;disposição da almaâ&#x20AC;?. Por mais que entendesse relevante formar pessoas capazes de reconhecer intelectualmente uma solução socialmente considerada justa, AristĂłteles considerava que a excelĂŞncia moral consistia em uma disposição da alma para a prĂĄtica de atos moralmente excelentes. Uma das principais virtudes dessa concepção era a admissĂŁo clara de que o desenvolvimento meramente intelectual era incapaz de gerar boas decisĂľes e que, portanto, a sociedade deveria ser capaz de promover uma educação moral das pessoas, para que elas fossem capazes de tomar decisĂľes adequadas tanto no campo ĂŠtico (do cuidado de si e das relaçþes interpessoais) quanto no campo polĂtico.1 Tal concepção estava ligada ao profundo ceticismo de PlatĂŁo e AristĂłteles quanto ´U RTQRQUVCU FG QTICPK\CT C UQEKGFCFG C RCTVKT FG WO UKUVGOC ĹżZQ FG TGITCU RQKU PGPJWO EQPLWPVQ RTGĹżZCFQ FG PQTOCU UGTKC ECRC\ FG NKFCT CFGSWCFCOGPVG EQO CU EQORNGZKFCFGU da polĂtica. Quando uma sociedade atribui valor primordial ao Direito (entendido como EQPLWPVQ FG TGITCU C UGTGO CRNKECFCU G PÂşQ ´ justiça GPVGPFKFC EQOQ WO RCT¸OGVTQ ĹżPClĂstico a ser buscado pelas decisĂľes polĂticas), as decisĂľes jurĂdicas tendem a ser medidas por uma espĂŠcie de ĹżFGNKFCFG ao parâmetro normativo, o que exige a formulação de uma teoria da interpretação SWG TGIWNG C EQPGZÂşQ GPVTG PQTOC G FGEKUÂşQ # EQPUEKGPVG CĹżTOCĂ ÂşQ FG SWG a decisĂŁo polĂtica nĂŁo deveria ser reduzida a uma espĂŠcie de interpretação normativa conduziu C VTCFKĂ ÂşQ ĹżNQUĂ&#x17D;ĹżEC FG OCVTK\ ITGIC C PGICT EGPVTCNKFCFG CQ RGPUCOGPVQ PQTOCVKXKUVC SWG XGKQ C UG VQTPCT JGIGOĂ?PKEQ PQ RGPUCOGPVQ RQNĂ&#x2C6;VKEQ FC OQFGTPKFCFG
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Das teorias da interpretação Ă teoria da decisĂŁo: por uma perspectiva realista VREUH DV LQĂ&#x20AC;XrQFLDV H FRQVWUDQJLPHQWRV VREUH D DWLYLGDGH MXGLFLDO
Onde nĂŁo hĂĄ uma centralidade da norma, tampouco ĂŠ cabĂvel a centralidade de uma teoria da interpretação 0Q ECUQ FC VTCFKĂ ÂşQ ĹżNQUĂ&#x17D;ĹżEC ITGIC JCXKC WOC GURĂ&#x192;EKG FG teoria da decisĂŁo (com outro nome, ĂŠ claro) que apontava no sentido de que estratĂŠgia fundamental RCTC RTQFW\KT DQCU FGEKUĂ?GU PÂşQ GTC FGĹżPKT ETKVĂ&#x192;TKQU QDLGVKXQU CRNKEÂśXGKU FG HQTOC KORGUUQCN OCU HQTOCT DQPU LWNICFQTGU 'UUG GUHQTĂ Q GZKIKC WOC teoria moral que organizasse o processo decisĂłrio, o que conduziu ao desenvolvimento de um discurso que articulasse de forma indissolĂşvel as noçþes de ĂŠtica e polĂtica: nĂŁo ĂŠ por acaso que PlatĂŁo descreve a justiça com a metĂĄfora da RepĂşblica e que a Ă&#x2030;tica a NicĂ´macos de AristĂłteles fosse uma espĂŠcie de KPVTQFWĂ ÂşQ ´ 2QNĂ&#x2C6;VKEC As alteraçþes sociais que estĂŁo na base da formação das sociedades modernas eviFGPEKCTCO QU NKOKVGU GUVTGKVQU FGUUC GUVTCVĂ&#x192;IKC 1U ĹżNĂ&#x17D;UQHQU ITGIQU RGPUCXCO PQ NKOKVG FC polis: uma unidade polĂtica relativamente pequena, integrada por cerca de 40.000 cidadĂŁos G FQVCFC FG WOC CNVC JQOQIGPGKFCFG EWNVWTCN 'UUC FGOQITCĹżC RGTOKVKC SWG WO IQXGTPQ central e unitĂĄrio monitorasse toda a população e tomasse todas as decisĂľes polĂticas refeTGPVGU ´ QTICPK\CĂ ÂşQ UQEKCN 1U FGUCĹżQU NKICFQU ´ QTICPK\CĂ ÂşQ RQNĂ&#x2C6;VKEC FG WPKFCFGU OCKQTGU G OGPQU JQOQIĂ&#x201E;PGCU GPXQNXKCO WOC ECOCFC FG EQORNGZKFCFG SWG GUECRCXC ´ VGQTKC ITGIC a necessidade de estabelecer um governo central que coordenasse uma sĂŠrie de unidades TGNCVKXCOGPVG CWVĂ?PQOCU FG IQXGTPQ 'UUC EQORNGZKFCFG OCKU CEGPVWCFC PQU KORĂ&#x192;TKQU EQO sua grande variedade de culturas submetidas ao mesmo governo central, e que exigiam a difĂcil tarefa de criar estruturas de governos locais que fossem enraizados em seus territĂłrios sem perder a lealdade ao centro de governo.2 A centralização governamental ĂŠ uma estratĂŠgia perigosa de governo, pois ela pode conduzir a um gasto demasiado de energia no controle da prĂłpria rede de pessoas investidas em funçþes governamentais. A capacidade de governar territĂłrios amplos e heterogĂŞneos HC\ SWG C EQGUÂşQ KPVGTPC FQU IQXGTPQU UGLC EQPUVCPVGOGPVG FGUCĹżCFC Ă&#x192; KORQUUĂ&#x2C6;XGN IQXGTPCT UGO CNIWOC HQTOC FG FGUEGPVTCNK\CĂ ÂşQ OCU QU KPVGTGUUGU FG ECFC WPKFCFG UÂşQ FKĹżEKNOGPVG conciliĂĄveis entre si e com os interesses do governo central. Por mais que grandes unidades centralizadas sejam capazes de gerar exĂŠrcitos de formidĂĄvel poder, tais organizaçþes reiteradamente tĂŞm sucumbido aos limites da prĂłpria capacidade de garantir a unidade do sistema. Na modernidade, a necessidade de coordenar unidades populacionais maiores e mais diversas foi enfrentada a partir do desenvolvimento de procedimentos impessoais, capazes de gerar resultados adequados independentemente das caracterĂsticas pessoais dos governantes. No âmbito do Direito, a tese clĂĄssica de que ĂŠ preciso educar bons julgadores foi substituĂda pela concepção de que ĂŠ preciso criar boas leis e aplicĂĄ-las de forma impessoal.3 'ODQTC CU teorias polĂticas da modernidade tipicamente acentuem o aspecto legislativo do governo como uma das caracterĂsticas fundamentais da soberania, devemos tambĂŠm reconhecer que Q RTQEGUUQ OQFGTPQ FG EGPVTCNK\CĂ ÂşQ IQXGTPCOGPVCN SWG EWNOKPQW PC HQTOCĂ ÂşQ FQU 'UVCFQU nacionais) foi sempre mitigado pelo desenvolvimento de estratĂŠgias limitadoras dos poderes
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legislativos do governo, especialmente pelo estabelecimento de uma burocracia judicial TGNCVKXCOGPVG CWVĂ?PQOC Como indica AntĂłnio Hespanha,4 e diversamente do que sugere nossa compreensĂŁo usual da ideia de absolutismo, antes de 1800, a lei nĂŁo apenas era uma fonte de Direito minoritĂĄria, mas era tambĂŠm uma fonte subordinada. Os costumes eram a principal fonte invocada nos julgamentos e, ao longo da modernidade, antes que o judiciĂĄrio se constituĂsse como WO RQFGT RQNĂ&#x2C6;VKEQ CWVĂ?PQOQ HQTCO FGUGPXQNXKFCU XÂśTKCU ECVGIQTKCU XQNVCFCU C GUVCDGNGEGT parâmetros jurĂdicos que fossem blindados contra a autoridade governamental: Law of the land, due process, Direito Romano, Direito Natural, princĂpios gerais de Direito, constituição. Quando o constitucionalismo norte-americano instituiu o judiciĂĄrio como um dos trĂŞs â&#x20AC;&#x153;ramosâ&#x20AC;? do governo, jĂĄ era estabelecida a tradição de que julgamentos adequados deveriam levar em EQPVC RCT¸OGVTQU LWTĂ&#x2C6;FKEQU UWRGTKQTGU ´ CWVQTKFCFG FQU IQXGTPQU 3WCPFQ CU EQPUVKVWKĂ Ă?GU passaram a ser consideradas como uma norma jurĂdica com hierarquia superior ao prĂłprio poder legislativo, a ideia de que o governo se submetia a limites normativos superiores jĂĄ era bem assentada. No contexto de uma burocracia judicial cuja autoridade se fundamentava no fato de que eles deveriam ser meros intĂŠrpretes de textos normativos dotados de uma autoridade prĂłpria, nada mais natural do que a tentativa de descrever as decisĂľes judiciais como processos de interpretação adequada do Direito.5 Na mitologia polĂtica da modernidade, as decisĂľes legislativas precisavam ser descritas como expressĂľes da soberania do povo e as decisĂľes judiciais precisavam ser descritas como aplicaçþes adequadas das normas vigentes. O governo nĂŁo poderia se apresentar como governo, pois o mito fundante da modernidade polĂtica ĂŠ a ausĂŞncia de cisĂŁo entre governantes e governados: o povo se autogoverna com base em uma noção idealizada de representação, e suas decisĂľes devem ser impostas por meio de procedimentos impessoais de interpretação. As grandes escolas modernas de hermenĂŞutica foram desenvolvidas nesse contexto de RQFGTGU LWFKEKÂśTKQU CWVĂ?PQOQU SWG LWUVKĹżECXCO UWC CWVQTKFCFG RGNQ UGW ECTÂśVGT impessoal e que buscavam garantir essa objetividade por meio de discursos dogmĂĄticos, ou seja, por teorias normativas da interpretação que tinham como função primordial oferecer diretrizes capazes de organizar os processos de tomada de decisĂŁo e, com isso, contribuir para que o sistema FG LWUVKĂ C TGCNK\CUUG CU UWCU HWPĂ Ă?GU RQNĂ&#x2C6;VKECU 'UUCU VGQTKCU PQTOCVKXCU GXKFGPVGOGPVG PÂşQ eram calcadas em uma descrição realista dos processos efetivos de tomada de decisĂŁo, mas em uma descrição idealizada, comprometida com a caracterização de tais processos como manifestaçþes de procedimentos tĂŠcnicos determinados. A caracterĂstica radicalmente moderna de tais teorias estĂĄ em sua pretensĂŁo de oferecer critĂŠrios hermenĂŞuticos que possam ser manejados de modo impessoal e cuja utilização conduza a decisĂľes corretas, independentemente de quem seja o julgador. NĂŁo se trata apenas de uma perspectiva que nĂŁo valoriza os elementos psicolĂłgicos da decisĂŁo, mas de uma
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concepção voltada justamente a proporcionar julgamentos blindados contra esses elementos, cuja Ăşnica função teĂłrica passa a ser a de um obstĂĄculo a ser superado. A receita para superar esses obstĂĄculos estava em uma concentração na LWUVKĹżECĂ ÂşQ FCU FGEKUĂ?GU: a legitimidade de uma decisĂŁo nĂŁo deveria ser fundamentada nas caracterĂsticas pessoais dos julgadores, nem PQU TGUWNVCFQU SWG GNC VGPFGTKC C TGCNK\CT OCU CRGPCU PCU TC\Ă?GU CRQPVCFCU RCTC LWUVKĹżECT que a decisĂŁo era efetivamente uma aplicação adequada dos mandamentos legais. A ideia de que era possĂvel desenvolver uma metodologia hermenĂŞutica capaz de conduzir a decisĂľes corretas, por mais que seja contrĂĄria a todas as nossas intuiçþes relativas ao comportamento individual dos juĂzes, continua sendo um dos elementos centrais dos discursos dogmĂĄticos contemporâneos. A resiliĂŞncia dessa concepção ĂŠ especialmente notĂĄvel quando consideramos que a teoria tradicional da interpretação foi submetida a uma sĂŠrie de ETĂ&#x2C6;VKECU OWKVQ UGXGTCU ´U KFGCNK\CĂ Ă?GU FC FQIOÂśVKEC LWTĂ&#x2C6;FKEC 6QFCXKC SWCPFQ QDUGTXCOQU com cuidado essas crĂticas, notamos que existe muito mais um debate acerca de qual seria a metodologia adequada do que acerca da viabilidade de desenvolver uma tal metodologia. A KFGKC FG SWG UGTKC RQUUĂ&#x2C6;XGN FGUGPXQNXGT WO CNIQTKVOQ KPVGTRTGVCVKXQ ĹżZQ VGO RQWEQU CFGRVQU nos dias de hoje, mas a pretensĂŁo original sobreviveu de maneiras mais leves, especialmente na forma das teorias da argumentação. As teorias da argumentação jurĂdica, formuladas especialmente nas dĂŠcadas de 1970 e RQFGO UGT NKFCU EQOQ WOC TGURQUVC ´U ETĂ&#x2C6;VKECU SWG HQTCO FKTKIKFCU ´ VGQTKC VTCFKEKQPCN RGNCU VGQTKCU RQUKVKXKUVCU ECNECFCU PQU FGUGPXQNXKOGPVQU EQPVGORQT¸PGQU FC ĹżNQUQĹżC FC linguagem. No inĂcio do sĂŠculo XX, vĂĄrias teorias apontaram o carĂĄter idealista das hermenĂŞuticas dogmĂĄticas e indicaram que uma visĂŁo realista dos processos decisĂłrios deveria reconhecer que, em grande medida, as decisĂľes judiciais eram manifestaçþes de preferĂŞncias polĂticas # VGZVWTC CDGTVC FCU PQTOCU G C KPXKCDKNKFCFG FG LWUVKĹżECT TCEKQPCNOGPVG QU RTQcessos decisĂłrios foram apontados por positivistas, como Kelsen e Hart, por realistas, como Alf Ross, e por hermenĂŞuticos, como Hans-Georg Gadamer. A teoria da interpretação de Kelsen ĂŠ especialmente reveladora dessa crĂtica: deverĂamos ser capazes de diferenciar os atos de conhecimento RQT OGKQ FQU SWCKU KFGPVKĹżECOQU QU RQVGPEKCKU UKIPKĹżECFQU FG WOC PQTOC dos atos de vontade pelos quais escolhemos uma das interpretaçþes possĂveis.6 'UUCU VGQTKCU FKTKIKTCO WO CVCSWG RQFGTQUQ EQPVTC CU CDQTFCIGPU FQIOÂśVKECU G RTQvocaram contra-ataques ruidosos, mas com alcance teĂłrico limitado, tais como a teoria da interpretação FG 'OKNKQ $GVVK 6QFCXKC NQIQ ĹżEQW ENCTQ VCODĂ&#x192;O SWG CU VGQTKCU RQUKVKXKUVCU eram fundadas em uma divisĂŁo binĂĄria entre racionalidade e irracionalidade que nĂŁo levava em conta os modos pelos quais as decisĂľes eram efetivamente tomadas. Kelsen e Hart partiram FQ RTGUUWRQUVQ RQUKVKXKUVC FG SWG QW WOC SWGUVÂşQ Ă&#x192; EKGPVĂ&#x2C6;ĹżEC G RQFG UGT TCEKQPCNOGPVG TGURQPFKFC QW GNC Ă&#x192; RQNĂ&#x2C6;VKEC G UQDTG GNC C EKĂ&#x201E;PEKC FGXGTKC UKNGPEKCT 2QTVCPVQ CĹżTOCT Q ECTÂśVGT RQNĂ&#x2C6;VKEQ FCU FGEKUĂ?GU LWFKEKCKU UKIPKĹżECXC EQNQEÂś NCU HQTC FQ CNECPEG FC CiĂŞncia do Direito, dado que o positivismo parte do dogma de que nĂŁo ĂŠ possĂvel tratar racionalmente
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os juĂzos de valor.7 Ademais, cabe ressaltar que a redução positivista de todo juĂzo de valor a um ato de vontade implica uma noção de escolha que nĂŁo se deixa compatibilizar com os FGUGPXQNXKOGPVQU EKGPVĂ&#x2C6;ĹżEQU SWG DWUECO EQORTGGPFGT QU EQORQTVCOGPVQU EQO DCUG GO elementos psicolĂłgicos ou inconscientes. Uma das primeiras reaçþes mais densas contra essa crĂtica foi elaborada por ChaĂŻm Perelman, que promoveu um retorno a AristĂłteles para analisar empiricamente os discursos FG LWUVKĹżECĂ ÂşQ GHGVKXCOGPVG WVKNK\CFQU GO EQPVGZVQU FGEKUĂ&#x17D;TKQU 2GTGNOCP RGTEGDGW SWG CRGUCT FG KPGZKUVKTGO ETKVĂ&#x192;TKQU JGTOGPĂ&#x201E;WVKEQU ĹżZQU PGO FGEKUĂ?GU RQNKVKECOGPVG PGWVTCU KUUQ PÂşQ UKIPKĹżECXC SWG C CVKXKFCFG LWFKEKCN QEQTTGUUG FC HQTOC FGUQTFGPCFC *CXKC WOC QTFGO mas essa ordem precisava ser medida por categorias que rompessem a distinção binĂĄria GPVTG WO ECORQ TCEKQPCN EQORNGVCOGPVG FGĹżPKFQ G WO ECORQ KTTCEKQPCN EQORNGVCOGPVG ilĂłgico. A resposta encontrada por Perelman foi fecunda: havia uma lĂłgica jurĂdica, que nĂŁo seguia padrĂľes da lĂłgica formal, mas que tinha suas prĂłprias formas de estabelecer a validade dos argumentos.8 'UUG HQK Q RQPVCRĂ&#x192; KPKEKCN RCTC WO IKTQ CTIWOGPVCVKXQ PCU VGQTKCU JGTOGnĂŞuticas do direito: em vez de se dedicarem ao objetivo impossĂvel de estabelecer critĂŠrios hermenĂŞuticos racionais capazes de gerar interpretaçþes corretas, deveria ser possĂvel avaliar os argumentos utilizados (e nĂŁo o seu resultado): o critĂŠrio de validade das decisĂľes nĂŁo deveria estar em sua correspondĂŞncia com o verdadeiro sentido da lei, mas no fato de a decisĂŁo ser tomada a partir de uma argumentação juridicamente razoĂĄvel. 'UUG IKTQ RTQEGFKOGPVCN KPEQTRQTCXC CNIWPU GNGOGPVQU FQ IKTQ RTCIOÂśVKEQ FC ĹżNQUQĹżC FC linguagem, especialmente a noção de que as funçþes da linguagem deveriam ser percebidas no modo como elas contribuem para a articulação efetiva dos comportamentos das pessoas (diOGPUÂşQ RTCIOÂśVKEC G PÂşQ PC OGFKFC GO SWG GNCU RQTVCO UKIPKĹżECFQU XGTFCFGKTQU FKOGPUÂşQ semântica). As variadas teorias da argumentação tiveram bastante sucesso em sua tentativa de estabelecer critĂŠrios de razoabilidade capazes de medir a adequação jurĂdica dos discursos de LWUVKĹżECĂ ÂşQ 6QFCXKC QU NKOKVGU FGUUCU VGQTKCU NQIQ UG VQTPCTCO ENCTQU VCODĂ&#x192;O GNCU VGPFGO C se concentrar naquilo que os juĂzes dizem (julgando a validade jurĂdica a partir da consistĂŞncia argumentativa), quando a crĂtica fundamental dos positivistas do inĂcio do sĂŠculo XX era que os FKUEWTUQU LWFKEKCKU PÂşQ EQTTGURQPFKCO CQ SWG QU LWĂ&#x2C6;\GU GHGVKXCOGPVG HC\GO 'PSWCPVQ Q TGCNKUOQ dos positivistas exigia teorias capazes de descrever adequadamente o comportamento dos juĂzes, esclarecendo o modo pelo qual eles decidem, as teorias da argumentação se concentraram em renovar a dogmĂĄtica, proporcionando critĂŠrios normativos para orientar a prĂĄtica judicial. 'UUC PCTTCVKXC UWIGTG SWG C CWUĂ&#x201E;PEKC FG WOC teoria da decisĂŁo jurĂdica fundada em estudos empĂricos acerca dos processos efetivos de tomada de decisĂŁo ĂŠ plenamente compatĂvel com as teorias hermenĂŞuticas tradicionais (voltada a elaborar metodologias decisĂłrias baseadas em critĂŠrios dogmĂĄticos), com as teorias positivistas (que negavam a possibilidade de uma dogmĂĄtica racional) e com as teorias da argumentação (que se limitaram a renovar as pretensĂľes dogmĂĄticas do direito). Se hoje existe um grande contingente de pesquisas voltadas a compreender o efetivo
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processo de tomada de decisĂľes, a principal inspiração teĂłrica nĂŁo estĂĄ nas teorias citadas, mas em uma peculiar vertente do positivismo, o realismo jurĂdico. Foi essa a concepção que levou a sĂŠrio a ideia de que era preciso realizar uma ciĂŞncia empĂrica do Direito, capaz de explicar racionalmente o comportamento irracional dos juĂzes: suas preferĂŞncias ideolĂłgicas, suas concepçþes de mundo, suas disposiçþes da alma, sua subjetividade, sua classe social, suas ideologias. A ideia FG SWG GTC RQUUĂ&#x2C6;XGN GZRNKECT Q HGPĂ?OGPQ FGEKUĂ&#x17D;TKQ C RCTVKT FG conexĂľes causais ĂŠ muito diversa das VGPVCVKXCU FG ĹżZCT RCT¸OGVTQU CFGSWCFQU RCTC QTKGPVCT CU FGEKUĂ?GU LWFKEKCKU Os desenvolvimentos dessa perspectiva nĂŁo nos conduzem a uma teoria normativa da interpretação (pois os positivistas nĂŁo deixaram muito espaço para que uma hermenĂŞutica dogmĂĄtica viesse a ser considerada como uma ciĂŞncia, ao menos em um sentido diverso da EKĂ&#x201E;PEKC CUVTQNĂ&#x17D;IKEC QW FQ VCTĂ? PGO C WOC teoria normativa da argumentação (visto que uma dogmĂĄtica centrada no processo nĂŁo tem grandes ganhos com relação a uma dogmĂĄtica centrada na interpretação verdadeira), mas a uma teoria descritiva da decisĂŁo jurĂdica, capaz FG KFGPVKĹżECT HCVQTGU SWG KPĆ&#x20AC;WGPEKCO QU GHGVKXQU RTQEGUUQU FG VQOCFC FG FGEKUÂşQ Cabe ressaltar que os defensores do positivismo, de uma teoria da interpretação ou de uma teoria da argumentação PÂşQ PGICO C RQUUKDKNKFCFG FG CDQTFCIGPU EKGPVĂ&#x2C6;ĹżECU XQNVCFCU C EQORTGGPFGT C RUKEQNQIKC FC FGEKUÂşQ 'NGU UKORNGUOGPVG KPFKECO SWG GUUGU GNGOGPVQU ECWUCKU PÂşQ VĂ&#x201E;O relevância dogmĂĄtica: para o discurso jurĂdico, pouco importam os motivos pelos quais uma determinada autoridade enunciou uma decisĂŁo, visto que a questĂŁo jurĂdica fundamental (a XCNKFCFG FC FGEKUÂşQ Ă&#x192; KPFGRGPFGPVG FQU OQVKXQU SWG KPĆ&#x20AC;WGPEKCTCO C FGEKUÂşQ 'UUCU VGQTKCU UÂşQ especialmente compatĂveis com a noção clĂĄssica, jĂĄ mencionada por Piero Calamandrei, de que os juĂzes primeiramente tomam a decisĂŁo por meio de uma intuição fulgurante e que somente FGRQKU FKUUQ FGUGPXQNXGO WOC CTIWOGPVCĂ ÂşQ XQNVCFC C LWUVKĹżECT LWTKFKECOGPVG C FGEKUÂşQ RTGXKCOGPVG VQOCFC Ĺ&#x2018;´U XG\GU CEQPVGEG SWG Q LWK\ CQ HQTOCT C UGPVGPĂ C KPXGTVC C QTFGO PQTOCN FQ UKNQIKUOQ KUVQ Ă&#x192; GPEQPVTG CPVGU C EQPENWUÂşQ G FGRQKU CU RTGOKUUCU SWG UGTXGO RCTC LWUVKĹżEÂś-la.â&#x20AC;?9 Tal percepção, inclusive, permitiu que teĂłricos vinculados a essa concepção dividissem a atividade decisĂłria em dois â&#x20AC;&#x153;contextosâ&#x20AC;?: o â&#x20AC;&#x153;contexto da descobertaâ&#x20AC;?, que indica o momento em que o julgador descobre a decisĂŁo que considera intuitivamente mais adequada, e o â&#x20AC;&#x153;contexto FC LWUVKĹżECĂ ÂşQĹ&#x2019; GO SWG GNG CRTGUGPVC RWDNKECOGPVG WO FKUEWTUQ LWTĂ&#x2C6;FKEQ XQNVCFQ C LWUVKĹżECT UWC FGEKUÂşQ KPVWKVKXC %QOQ CĹżTOC /CE%QTOKEM WO FQU GZRQGPVGU FC VGQTKC FC CTIWOGPVCĂ ÂşQ .QIQ C PQĂ ÂşQ GUUGPEKCN Ă&#x192; C FG FCT Q SWG UG GPVGPFG RQT G Ă&#x192; CRTGUGPVCFQ EQOQ DQCU TC\Ă?GU LWUVKĹżECVĂ&#x17D;TKCU GO FGHGUC FG TGKXKPFKECĂ Ă?GU QW FGEKUĂ?GU 1 RTQEGUUQ SWG XCNG GUVWFCT Ă&#x192; Q RTQEGUUQ FG CTIWOGPVCĂ ÂşQ EQOQ RTQEGUUQ FG LWUVKĹżECĂ ÂşQ (...) o que leva um juiz a considerar vitoriosa uma parte em vez da outra ĂŠ uma SWGUVÂşQ VQVCNOGPVG FKHGTGPVG FQ HCVQ FG UCDGT UG C TGĆ&#x20AC;GZÂşQ PQU TGXGNC JCXGT DQCU TC\Ă?GU LWUVKĹżECVĂ&#x17D;TKCU OCKU HCXQTÂśXGKU C WOC RCTVG SWG ´ QWVTC 10
&G HCVQ FKXGTUCOGPVG FQ GUVWFQ FCU TC\Ă?GU LWTĂ&#x2C6;FKECU KPXQECFCU RCTC LWUVKĹżECT WOC decisĂŁo, o estudo empĂrico dos processos de tomada de decisĂŁo nĂŁo conduz a argumentos com relevância dogmĂĄtica. Todavia, nĂŁo parece ter grande utilidade prĂĄtica essa tentativa
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de reduzir o Direito a um jogo argumentativo e nĂŁo a uma arena decisĂłria. Se ĂŠ correta a percepção de que a decisĂŁo nĂŁo ĂŠ tomada em função da argumentação, tambĂŠm deverĂamos reconhecer que, nos processos judiciais, a interferĂŞncia dos argumentos nĂŁo deve ser medida em termos de sua consistĂŞncia argumentativa, mas em termos de sua capacidade de KPĆ&#x20AC;WGPEKCT C FGEKUÂşQ 3WCPFQ KUQNCOQU C RCTVKEKRCĂ ÂşQ FG WO FGVGTOKPCFQ CVQT RQFG CVĂ&#x192; fazer algum sentido distinguir o contexto da descoberta do EQPVGZVQ FG LWUVKĹżECĂ ÂşQ. Todavia, quando analisamos conjuntamente a interação dos diversos atores, em que as petiçþes dos CFXQICFQU KPĆ&#x20AC;WGPEKCO CU FGEKUĂ?GU FQU LWĂ&#x2C6;\GU G QU XQVQU FG WO LWK\ KPVGTHGTGO PCU FGEKUĂ?GU FQU outros, deixa de fazer sentido a distinção FGUEQDGTVC LWUVKĹżECĂ ÂşQ, que somente tem potencial heurĂstico quando descreve um comportamento individual. Como categoria adequada para analisar as interaçþes coletivas envolvidas nas decisĂľes, GUUC FKXKUÂşQ CTVKĹżEKCN XQNVCFC GURGEKCNOGPVG C KUQNCT G XCNQTK\CT C CTIWOGPVCĂ ÂşQ LWTĂ&#x2C6;FKEC GHGtivamente manifestada, deixa de ser relevante. Por isso, nĂŁo obstante a Ăłbvia importância de se zelar por um sistema de Justiça em que as decisĂľes sejam fundamentadas em argumentos vĂĄlidos e passĂveis de debate na esfera pĂşblica, ĂŠ estranho que tanto esforço se tenha dediECFQ ´ LWUVKĹżECĂ ÂşQ FQIOÂśVKEC FCU FGEKUĂ?GU G VÂşQ RQWEQ ´ EQORTGGPUÂşQ FQU GHGVKXQU RTQEGUUQU decisĂłrios. Temos vĂĄrias teorias interpretativas, algumas teorias da argumentação, mas falta PQU WOC VGQTKC FC FGEKUÂşQ RTQRTKCOGPVG FKVC RQUUKXGNOGPVG RGNCU GXKFGPVGU FKĹżEWNFCFGU FG equilibrar a utilidade dogmĂĄtica de uma teoria com sua precisĂŁo descritiva. Um argumento frequentemente utilizado na defesa dessa posição ĂŠ que nĂŁo ĂŠ possĂvel â&#x20AC;&#x153;acessarâ&#x20AC;? a mente judicial, e que nĂŁo hĂĄ uma metodologia que permita sondar as razĂľes da â&#x20AC;&#x153;descobertaâ&#x20AC;? de uma decisĂŁo. Neste artigo, buscamos mostrar que essa objeção nĂŁo ĂŠ procedente e que, nos Ăşltimos anos, um vasto instrumental vem se desenvolvendo para que a CPÂśNKUG FG Ĺ&#x2018;FGUEQDGTVCĹ&#x2019; G Ĺ&#x2018;LWUVKĹżECĂ ÂşQĹ&#x2019; UG FĂ&#x201E; FG HQTOC KPVGITCFC A seguir, traçaremos um breve panorama de como a decisĂŁo judicial ĂŠ tratada a partir FC %KĂ&#x201E;PEKC 2QNĂ&#x2C6;VKEC FC 'EQPQOKC G FC 2UKEQNQIKC OQUVTCPFQ EQOQ QU CURGEVQU EQORQTVCOGPVCKU NKICFQU CQ EQPVGZVQ FC Ĺ&#x2018;FGUEQDGTVCĹ&#x2019; LÂś UÂşQ GZVGPUCOGPVG VTCVCFQU 'O UGIWKFC enfrentaremos o problema de como uma teoria da interpretação poderia ser articulada numa VGQTKC FC FGEKUÂşQ EQO DCUG GO VGQTKCU TGEGPVGU UQDTG LWUVKĹżECĂ ÂşQ G FGEKUĂ?GU
2 TEORIAS SOBRE A DECISĂ&#x192;O JUDICIAL: PANORAMA DO ESTADO DA ARTE Para compreender como cientistas polĂticos e economistas compreendem a decisĂŁo judicial, ĂŠ importante lembrar que, como ciĂŞncias com pretensĂľes empĂricas, o tratamento dispensado ao problema partilha de um pressuposto metodolĂłgico que combina uma visĂŁo â&#x20AC;&#x153;behavioristaâ&#x20AC;? da decisĂŁo - focada no comportamento observĂĄvel - e baseada no individualismo metodolĂłgico, muitas vezes por meio da â&#x20AC;&#x153;teoria da escolha racionalâ&#x20AC;?. NĂŁo ĂŠ de admirar,
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assim, que, desde o princĂpio, a ĂŞnfase fosse dada nĂŁo em textos judicias e seus argumentos, mas sobre os resultados das decisĂľes, se procedentes ou nĂŁo. Passemos em revista essas abordagens sobre a decisĂŁo, antes de nos debruçarmos sobre a literatura psicolĂłgica. Desde a dĂŠcada de 1940, cientistas polĂticos norte-americanos se dedicam ao estudo das KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKCU GZVGTPCU PC FGEKUÂşQ LWFKEKCN 2QT XQNVC FGUUC Ă&#x192;RQEC QU LWNICOGPVQU FC 5WRTGOC Corte que, em sua maioria, eram decididos por unanimidade, passaram a ser julgados por um colegiado cada vez mais dividido em linhas ideolĂłgicas, progressistas ou conservadoras.11 #FGOCKU RQT KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC FQ 4GCNKUOQ ,WTĂ&#x2C6;FKEQ PQTVG COGTKECPQ LÂś UG VTCVCXC EQO EGTVC PCturalidade a ideia de que as preferĂŞncias polĂtico-ideolĂłgicas poderiam ter um grande peso PC TGUQNWĂ ÂşQ SWG WO OCIKUVTCFQ FCTÂś ´ ECWUC Ĺ&#x152; GO QRQUKĂ ÂşQ C WOC XKUÂşQ GO VGUG KPIĂ&#x201E;PWC â&#x20AC;&#x153;legalistaâ&#x20AC;?, de que os textos jurĂdicos seriam o determinante da decisĂŁo judicial.12 Como boa parte dessa literatura inicialmente se concentrou sobre decisĂľes polĂŞmicas da Suprema Corte, que tratavam de temas moralmente carregados, ĂŠ compreensĂvel que o partido do Presidente da RepĂşblica que indicou os Ministros do tribunal aparecesse como uma forte variĂĄvel preditiva de como eles votariam em casos referentes ao direito ao aborto, ´ FKUETKOKPCĂ ÂşQ TCEKCN G ´ GZVGPUÂşQ FQ RQTVG FG CTOCU RQT GZGORNQ # RCTVKT FG EGPVGPCU FG estudos empĂricos, consolidaram-se, assim, os chamados â&#x20AC;&#x153;modelos atitudinaisâ&#x20AC;?, de acordo com os quais as preferĂŞncias polĂtico-ideolĂłgicas seriam determinantes sobre a forma como os LWĂ&#x2C6;\GU FGEKFGO 'UUGU OQFGNQU IQ\CTCO FG ITCPFG RTGUVĂ&#x2C6;IKQ PC FKUEWUUÂşQ FG EKGPVKUVCU RQNĂ&#x2C6;VKEQU e permitiam um olhar razoavelmente preciso sobre a dinâmica dos votos na Suprema Corte. Os resultados, porĂŠm, revelavam-se menos promissores quando os cientistas polĂticos analisavam os tribunais inferiores e os juĂzos individuais. Aparentemente, a clivagem ideolĂłgica era menos saliente nesses casos. AlĂŠm disso, uma discussĂŁo proposta no inĂcio dos anos 1990 por Richard Posner colocava em questĂŁo a visĂŁo de que juĂzes nada mais seriam do que grandes ideĂłlogos, utilizando seu cargo para promover polĂticas de sua preferĂŞncia. Para Posner, para compreender as â&#x20AC;&#x153;motivaçþes judiciaisâ&#x20AC;?, seria preciso primeiro considerar que eles sĂŁo pessoas comuns e buscam, no seu trabalho, â&#x20AC;&#x153;maximizarâ&#x20AC;? o mesmo que os FGOCKU RTQĹżUUKQPCKU %QOQ C TGOWPGTCĂ ÂşQ LWFKEKCN Ă&#x192; ĹżZC G RTGXKUVC GO NGK LWĂ&#x2C6;\GU PÂşQ VGTKCO incentivo para pautar sua atuação por melhores salĂĄrios, no entanto, poderiam, valendo-se do seu trabalho, buscar melhorar a prĂłpria reputação, ganhar prestĂgio no meio acadĂŞmico e intelectual, ou utilizar formas de reduzir a carga processual, desincumbindo-se mais rapidamente de suas tarefas, para gozar de tempo livre. Posner formulou, assim, uma â&#x20AC;&#x153;teoria FC WVKNKFCFG LWFKEKCNĹ&#x2019; DGO VĂ&#x2C6;RKEC FQ RGPUCOGPVQ FQU GEQPQOKUVCU RCTC FCT VTCVCOGPVQ ´ questĂŁo de o que motiva os juĂzes a decidirem num sentido ou em outro.13 2QTĂ&#x192;O OGUOQ PWO RCĂ&#x2C6;U EQOQ QU 'UVCFQU 7PKFQU EQO NCTIC VTCFKĂ ÂşQ FG GUVWFQU PCU XGTVGPVGU TGCNKUVC G CVKVWFKPCN GUUG VKRQ FG CĹżTOCĂ ÂşQ GPHTGPVC UWCU TGUKUVĂ&#x201E;PEKCU 0CU RTQXQcativas palavras de Frederick Schauer:
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Poucos parlamentares sĂŁo relutantes em falar sobre seu desejo de serem reeleitos, e poucos dos participantes de processos polĂtico-eleitorais tĂŞm vergonha em admitir suas ambiçþes. Para um vice-governador ou procurador de Justiça, a RGTURGEVKXC FG UG ECPFKFCVCT CQ IQXGTPQ FQ 'UVCFQ Ă&#x192; VKFC EQOQ EGTVC G CORNCmente discutida (...). PorĂŠm, a ambição judicial ĂŠ um tĂłpico que ĂŠ raramente discutido e mais raramente ainda admitido, especialmente pelos juĂzes que a RQUUWGO ' RCTC CNIWĂ&#x192;O SWG PÂşQ Ă&#x192; LWK\ VTC\GT GUUG CUUWPVQ FQ CWVQKPVGTGUUG LWFKEKCN ´ VQPC PC EQORCPJKC FG OCIKUVTCFQU Ă&#x192; EQOQ HCNCT FQ CUUWPVQ FQ preparo de carnes numa convenção de vegetarianos. JuĂzes federais quase nunca falam publicamente (ou mesmo em privado) do seu desejo de serem promovidos a desembargadores, e desembargadores federais raramente revelam suas aspiraçþes para a Suprema Corte. O que quer que esse silĂŞncio possa mostrar, ele certamente indica que estudar o tĂłpico das ambiçþes judiciais ĂŠ algo extraordinariamente difĂcil, e assim, acadĂŞmicos â&#x20AC;&#x201C; que por sua vez tĂŞm seus prĂłprios incentivos e ambiçþes â&#x20AC;&#x201C; provavelmente se afastam do que parece ser uma tarefa intimidadora.14
0ÂşQ QDUVCPVG GUUC FKĹżEWNFCFG GORĂ&#x2C6;TKEC QU CECFĂ&#x201E;OKEQU PQTVG COGTKECPQU SWG GUVWFCO o sistema de Justiça atenderam ao chamado e buscaram formas de aperfeiçoar os modelos de FGEKUÂşQ LWFKEKCN 'O EQPUGSWĂ&#x201E;PEKC FKUUQ PQU Ă&#x2022;NVKOQU SWKP\G CPQU WOC CNVGTPCVKXC ICPJQW espaço, os chamados â&#x20AC;&#x153;modelos estratĂŠgicosâ&#x20AC;?. De acordo com esses modelos, as decisĂľes juFKEKCKU UÂşQ KPĆ&#x20AC;WGPEKCFCU RGNQU KPEGPVKXQU SWG QU OCIKUVTCFQU VĂ&#x201E;O FGXKFQ C UGW ECTIQ EQOQ satisfação no trabalho, tempo livre para o lazer, reputação e prestĂgio, e o prospecto de serem promovidos e a receberem melhores remuneraçþes em tribunais superiores.15 Assim, com base nos extensos bancos de dados que contĂŞm decisĂľes da justiça federal norte-americana e aplicando empiricamente o paradigma estratĂŠgico, estudiosos norte-americanos tĂŞm sugerido, por exemplo, que um juiz nĂŁo leva em conta apenas sua preferĂŞncia polĂtico-ideolĂłgica ao decidir num determinado sentido; ele considera a chance, a priori, de ter sua decisĂŁo revertida em tribunais superiores, ou de ser derrotado no colegiado que integra, antes de pautar a causa.16 Os resultados tambĂŠm mostram que a tendĂŞncia padrĂŁo de magistrados integrantes de turma ĂŠ evitar a divergĂŞncia, seja para nĂŁo se indispor com seus colegas de trabalho, seja para evitar a tarefa de precisar redigir um longo e fundamentado voto divergente.17 6CODĂ&#x192;O UQD KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC FC NKPJC FQ Law & Economics, Nuno Garoupa e Tom Gisnburg FGUGPXQNXGTCO WOC Ĺ&#x2018;VGQTKC GEQPĂ?OKECĹ&#x2019; FC TGRWVCĂ ÂşQ LWFKEKCN &KUEWVKPFQ CU GUVTWVWTCU de incentivos do Poder JudiciĂĄrio, os autores buscam, numa perspectiva do Direito Comparado e com base em dados de dezenas de paĂses, mostrar como o desenho institucional pode favorecer o cultivo de reputaçþes no nĂvel individual ou coletivo. Um juiz bem reputado pode gozar nĂŁo sĂł da estima dos pares, como tambĂŠm, no meio polĂtico e social, receber convites para eventos, tornar-se um autor lido e respeitado no meio acadĂŞmico e ter sua promoção, na carreira, facilitada. Do ponto de vista coletivo, a seu turno, decisĂľes emanadas de judiciĂĄrios bem reputados parecem mais legĂtimas aos olhos da população, e
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instituiçþes judiciais respeitadas podem obter mais recursos do orçamento pĂşblico nacional G KPĆ&#x20AC;WGPEKCT C CIGPFC FQ UGW RCĂ&#x2C6;U # TGRWVCĂ ÂşQ CUUKO RQFG UGT EQPUKFGTCFC WO DGO EQO XCNQT UQEKCN G GEQPĂ?OKEQ 18 Analisando a dinâmica entre os tribunais de um mesmo Poder JudiciĂĄrio, os autores sugerem que, para preservarem sua reputação, cortes constitucionais precisam levar em conta duas audiĂŞncias externas em suas decisĂľes: uma audiĂŞncia â&#x20AC;&#x153;polĂticaâ&#x20AC;?, composta pelos outros Poderes e ĂłrgĂŁos de governo; e uma audiĂŞncia composta pela comunidade jurĂdica como um todo. DecisĂľes unânimes podem parecer mais legĂtimas do que decisĂľes nĂŁo consensuais, e aperfeiçoar a reputação coletiva. PorĂŠm, pode ocorrer de diferentes ministros da corte constitucional se preocuparem com audiĂŞncias externas distintas, de acordo com UWCU RTGHGTĂ&#x201E;PEKCU KFGQNĂ&#x17D;IKECU QW LWTĂ&#x2C6;FKECU Q SWG NGXC ´ HTCIOGPVCĂ ÂşQ CDTKPFQ GURCĂ Q RCTC C projeção de reputaçþes individuais.19 #Q CRTGUGPVCT QU OQFGNQU GUVTCVĂ&#x192;IKEQU FG FGEKUÂşQ LWFKEKCN RTQFW\KFQU PQU 'UVCFQU Unidos, ao menos duas objeçþes podem ser vislumbradas: em primeiro lugar, a experiĂŞncia cotidiana mostra que o conteĂşdo dos textos jurĂdicos ĂŠ, ao contrĂĄrio do que sugerem, muito importante para o resultado de um processo judicial; em segundo lugar, esses modelos seriam pouco Ăşteis para compreender a realidade brasileira. A primeira crĂtica jĂĄ ĂŠ respondida pelos prĂłprios estudiosos dos modelos estratĂŠgicos. 'UVWFCPFQ GZCWUVKXCOGPVG QU FCFQU FKURQPĂ&#x2C6;XGKU .GG 'RUVGKP G EQNGICU FGUEQDTKTCO SWG CU variĂĄveis extrajurĂdicas sĂŁo muito importantes para explicar o resultado de decisĂľes da Suprema Corte, mas muito menos relevantes na segunda instância, e menos ainda na primeira. A explicação nĂŁo ĂŠ tĂŁo surpreendente: o desenho institucional do Poder JudiciĂĄrio confere CORNC FKUETKEKQPCTKGFCFG ´ 5WRTGOC %QTVG OCU VTKDWPCKU KPHGTKQTGU G LWĂ&#x2C6;\GU RTGEKUCO UGIWKT a jurisprudĂŞncia, devem cumprir sĂşmulas e geralmente apreciam menos casos difĂceis. Como consequĂŞncia disso, o grau de discricionariedade torna-se maior quanto mais elevada a instância, compreensivelmente maior ĂŠ o grau de interferĂŞncia de variĂĄveis extrajurĂdicas.20 A segunda crĂtica nos parece mais relevante, na medida em que o sistema de Justiça no Brasil passou a ser estudado empiricamente de forma sistemĂĄtica hĂĄ pouco mais de vinte anos, especialmente o Supremo Tribunal Federal, e que, apĂłs a Reforma do JudiciĂĄrio, o ITCW FG CVWCĂ ÂşQ FGUUG 2QFGT UQDTG CU RQNĂ&#x2C6;VKECU RĂ&#x2022;DNKECU ETGUEGW UKIPKĹżECVKXCOGPVG 21 'UVWFQU empĂricos recentes sugerem que, embora sustente um discurso de que ĂŠ o guardiĂŁo dos direitos de cidadania, reforçado por rumorosos casos recentes que trataram de questĂľes como a uniĂŁo homoafetiva, a liberdade de expressĂŁo e o direito ao aborto, os nĂşmeros mostram que o STF atua precipuamente em questĂľes de Direito Administrativo, na competĂŞncia de entes federados e na defesa de interesses corporativos.22 Os dados tambĂŠm mostram que as indicaçþes presidenciais podem ter resultados efetivos no resultado de julgamentos polĂŞmicos pelo Supremo Tribunal Federal, como foi o caso do MensalĂŁo.23 AlĂŠm disso, os Ministros daquela Corte possuem poderes de atuação direta no processo polĂtico e deles fazem uso
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EQOQ C RQUUKDKNKFCFG FG CPVGEKRCT RQUKĂ Ă?GU PC KORTGPUC TGVGT RTQEGUUQU KPFGĹżPKFCOGPVG RQT OGKQ FQ RGFKFQ FG XKUVC G RTQHGTKT FGEKUĂ?GU OQPQETÂśVKECU SWG CECDCO FGĹżPKPFQ ECWUCU sem que passem pelo colegiado.24 'O UWOC CU GXKFĂ&#x201E;PEKCU TGEGPVGU UWIGTGO SWG OQFGNQU GUVTCVĂ&#x192;IKEQU FGXKFCOGPVG CFCRVCFQU ´ PQUUC EQPĹżIWTCĂ ÂşQ KPUVKVWEKQPCN RQFGO RTQFW\KT resultados interessantes. 1WVTC NKVGTCVWTC SWG UG FGDTWĂ C UQDTG CU KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKCU GZVGTPCU CQ &KTGKVQ PC CVKXKFCFG judicante ĂŠ composta por trabalhos recentes e cada vez mais numerosos, que partem de enfoques cognitivos e comportamentais, oriundos da Psicologia Cognitiva e Social. Uma caricatura, difundida por muitos, como Ronald Dworkin,25 ĂŠ a de que o ceticismo dos proponentes do Realismo JurĂdico quanto aos condicionantes jurĂdicos da decisĂŁo LWFKEKCN UKIPKĹżECTKC SWG Q &KTGKVQ FGRGPFGTKC GUUGPEKCNOGPVG FCSWKNQ SWG QU LWĂ&#x2C6;\GU Ĺ&#x2018;EQOGTCO PQ ECHĂ&#x192; FC OCPJÂşĹ&#x2019; 'ODQTC RCTGĂ C CDUWTFC GUUC CĹżTOCĂ ÂşQ HQK QDLGVQ FG GUVWFQ GORĂ&#x2C6;TKEQ e, surpreendentemente, os cientistas encontraram um resultado que parece estar de acordo com ela. Analisando mais de mil decisĂľes reais sobre concessĂŁo ou nĂŁo de livramento condicional em Israel, Shai Danziger e colegas descobriram que a variĂĄvel mais relevante para a soltura ou nĂŁo do condenado nĂŁo eram os fatos e os aspectos jurĂdicos do caso, ou as caracterĂsticas pessoais do requerente, mas o horĂĄrio em que as decisĂľes eram proferidas. No inĂcio dos turnos de julgamento, a taxa de concessĂŁo de livramento era de 65% e ia graduCNOGPVG FGECKPFQ CVĂ&#x192; Q ĹżO FC UGUUÂşQ #RĂ&#x17D;U C RCWUC RCTC Q NCPEJG Q RGTEGPVWCN FG FGEKUĂ?GU procedentes retornava ao patamar de 65%. O provocativo estudo sugeria que o cansaço e a fome poderiam ter consequĂŞncias concretas na efetivação do direito dos condenados.26 'UVG Ă&#x192; CRGPCU WO GZGORNQ FG WOC CORNC CIGPFC FG RGUSWKUC SWG RCTVG FQU OQFGNQU de julgamento e tomada de decisĂŁo consagrados nos Ăşltimos 40 anos â&#x20AC;&#x201C; sintetizados no livro â&#x20AC;&#x153;RĂĄpido e devagarâ&#x20AC;?27, de Daniel Kahneman, ganhador do prĂŞmio Nobel por seu trabalho em 'EQPQOKC %QORQTVCOGPVCN Ĺ&#x152; SWG VTCVCO FCU Ĺ&#x2018;JGWTĂ&#x2C6;UVKECUĹ&#x2019; G FQU Ĺ&#x2018;XKGUGUĹ&#x2019; 0WOC DTGXG UĂ&#x2C6;Ptese, esses modelos partem da constatação que, longe de serem agentes racionais que pesam todos os aspectos de um caso antes de decidir como proceder, seres humanos possuem uma racionalidade limitada e tomam decisĂľes em condiçþes de premĂŞncia de tempo, informação incompleta e recursos mentais escassos. Sendo assim, muitas decisĂľes cotidianas sĂŁo tomadas EQO DCUG GO RCNRKVGU G KPVWKĂ Ă?GU 'O XG\ FG RTQEGUUCT GZCWUVKXCOGPVG VQFC C KPHQTOCĂ ÂşQ disponĂvel e optar pelos processos mais complexos e precisos de decisĂŁo, humanos se valem FG Ĺ&#x2018;CVCNJQU EQIPKVKXQUĹ&#x2019; CU EJCOCFCU Ĺ&#x2018;JGWTĂ&#x2C6;UVKECUĹ&#x2019; 'O HWPĂ ÂşQ FKUUQ Q TCEKQEĂ&#x2C6;PKQ JWOCPQ estĂĄ sujeito a uma sĂŠrie de desvios sistemĂĄticos em relação ao que se esperaria de uma decisĂŁo correta, objetiva e neutra â&#x20AC;&#x201C; os chamados â&#x20AC;&#x153;viesesâ&#x20AC;?. Uma das constataçþes mais consistentes dessa literatura, reproduzida em diversos EQPVGZVQU FKHGTGPVGU Ă&#x192; SWG OGUOQ RTQĹżUUKQPCKU EQO CNVC GUEQNCTKFCFG GUVÂşQ UWLGKVQU C XKGUGU cognitivos; e que, mesmo sendo alertados sobre sua existĂŞncia, estĂŁo sujeitos a eles. Uma analogia Ăştil para compreender a onipresença e a certa inevitabilidade dos vieses ĂŠ comparĂĄ-
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NQU C KNWUĂ?GU FG Ă&#x17D;VKEC SWG VCODĂ&#x192;O FGTKXCO FC QTICPK\CĂ ÂşQ FC OGPVG UCDGT SWG WOC ĹżIWTC Ă&#x192; WOC KNWUÂşQ PÂşQ UKIPKĹżEC SWG Q QDUGTXCFQT FGKZG FG XĂ&#x201E; NC 1U OQFGNQU FG JGWTĂ&#x2C6;UVKECU G XKGUGU RCTGEGO UG CRNKECT ´ FGEKUÂşQ LWFKEKCN PC SWCN TCEKQEĂ&#x2C6;nios automĂĄticos e intuitivos desempenham um papel relevante. Num estudo, pesquisadores ingleses seguiram mais de trezentas decisĂľes reais no perĂodo de 4 meses e descobriram que, GO LWNICOGPVQU UQDTG FGEKUĂ?GU FG ĹżCPĂ C XCNKCO UG FG JGWTĂ&#x2C6;UVKECU KUVQ Ă&#x192; CVCNJQU EQIPKVKXQU RCTC TGFW\KT C EQORNGZKFCFG FQ ECUQ G CEGNGTCT Q RTQEGUUQ FGEKUĂ&#x17D;TKQ 'O XG\ FG EQPUKFGTCTGO a totalidade do conjunto probatĂłrio, os magistrados se atinham a uma ou duas informaçþes salientes â&#x20AC;&#x201C; a opiniĂŁo da autoridade policial ou o rĂŠu ser primĂĄrio ou nĂŁo, por exemplo â&#x20AC;&#x201C; ao FGEKFKTGO UG EQPEGFGTKCO QW PÂşQ C ĹżCPĂ C 28 JuĂzes nĂŁo sĂł decidem com heurĂsticas, como estĂŁo sujeitos a vieses cognitivos. Numa sequĂŞncia de experimentos aplicados em centenas de juĂzes presentes em conferĂŞncias para magistrados norte-americanos, Chris Guthrie e colegas reproduziram com eles resultados antes obtidos com amostras de pessoas comuns: apesar de â&#x20AC;&#x153;especialistas em decisĂŁoâ&#x20AC;?, juĂzes tambĂŠm se valem de intuiçþes e do â&#x20AC;&#x153;piloto automĂĄticoâ&#x20AC;? para analisar casos simulados. Ao avaliar se o montante devido numa indenização ĂŠ justo, magistrados estĂŁo sujeitos ao efeito da â&#x20AC;&#x153;ancoragemâ&#x20AC;? â&#x20AC;&#x201C; se o valor pedido pelo requerente ĂŠ maior, a indenização concedida tambĂŠm ĂŠ maior, e vice-versa. Ou ainda, ao analisarem se um acidente teria resultado de negligĂŞncia do trabalhador, observou-se a ocorrĂŞncia do â&#x20AC;&#x153;viĂŠs da representatividadeâ&#x20AC;?, ou seja, a superestimação da probabilidade de ocorrĂŞncia de um evento saliente, em vez de se basear num cĂĄlculo estatĂstico.29 6GUVCPFQ OCKU FKTGVCOGPVG C KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC FG HCVQTGU KFGCNOGPVG KTTGNGXCPVGU RCTC C UQlução de um caso, em contraste com o direito aplicĂĄvel, Spamann & KlĂśhn recentemente submeteram a 32 juĂzes norte-americanos um caso decidido pelo Tribunal Penal InternaEKQPCN RCTC C GZ +WIQUNÂśXKC 1U OCIKUVTCFQU VKPJCO EGTEC FG WOC JQTC RCTC TGĆ&#x20AC;GVKT UQDTG Q caso e foram divididos em quatro grupos, em que se variava, de um lado, o sentido de um precedente judicial aplicĂĄvel ao caso; e, de outro, as caracterĂsticas pessoais do requerente â&#x20AC;&#x201C; que podia exibir uma postura ressentida ou conciliatĂłria. As caracterĂsticas pessoais do rĂŠu VKXGTCO WO KORCEVQ GUVCVKUVKECOGPVG OCKU UKIPKĹżECPVG FQ SWG C LWTKURTWFĂ&#x201E;PEKC CRNKEÂśXGN CQ caso â&#x20AC;&#x201C; o que pode atĂŠ ser compreensĂvel, mas certamente nĂŁo ĂŠ compatĂvel com uma visĂŁo dos textos jurĂdicos como determinantes da decisĂŁo judicial.30 .QPIG FG UGTGO GZGORNQU KUQNCFQU GUUGU GUVWFQU EQORĂ?GO WOC NKVGTCVWTC ETGUEGPVG G diversas pesquisas chegam a resultados convergentes.31 As consequĂŞncias de estudos como este para a prĂĄtica judicial nĂŁo podem ser subestimadas se o Poder JudiciĂĄrio analisa os casos a ele submetidos atendo-se apenas a uma parcela saliente das informaçþes, e, de forma enviesada, injustiças podem ser cometidas. AlĂŠm de se debruçaram sobre a psicologia da decisĂŁo judicial mapeando heurĂsticas e vieses por meio de mĂŠtodos e ferramentas oriundos da Psicologia Cognitiva e Social, alguns
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FGUUGU GUVWFQU UG OQUVTCTCO EQGTGPVGU EQO C NKVGTCVWTC UQDTG KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKCU RQNĂ&#x2C6;VKECU PC FGEKUÂşQ judicial, apresentada acima. Dan Kahan e sua equipe buscaram testar se o julgamento sobre os limites da liberdade de expressĂŁo dependeria do posicionamento polĂtico-ideolĂłgico do observador. A tarefa consistia em assistir a um mesmo vĂdeo, com imagens de um protesto e avaliar a atuação da polĂcia ao dispersĂĄ-lo. Os dizeres das faixas e dos cartazes da manifestação estavam tarjados no vĂdeo. Dividindo 202 pessoas em dois grupos, os pesquisadores primeiro aplicaram um SWGUVKQPÂśTKQ UQDTG QU RQUKEKQPCOGPVQU RQNĂ&#x2C6;VKEQU FQU UWLGKVQU 'O UGIWKFC FKUUGTCO ´ OGVCFG FGNGU SWG C OCPKHGUVCĂ ÂşQ GTC EQPVTC Q CDQTVQ G ´ QWVTC OGVCFG SWG UG VTCVCXC FG WO RTQVGUVQ EQPVTC C FKUETKOKPCĂ ÂşQ FKTGEKQPCFC ´ RQRWNCĂ ÂşQ .)$6 %QPHQTOG EQPEQTFCUUGO QW PÂşQ EQO o conteĂşdo da manifestação, os participantes tendiam a ver ou nĂŁo excessos na atuação da RQNĂ&#x2C6;EKC CQ FKURGTUÂś NC QW UGLC C GZVGPUÂşQ FQ FKTGKVQ ´ NKDGTFCFG FG GZRTGUUÂşQ FGRGPFKC GO Ă&#x2022;NVKOC CPÂśNKUG ´ EQPEQTF¸PEKC QW PÂşQ EQO UGW EQPVGĂ&#x2022;FQ RQNĂ&#x2C6;VKEQ 32 'ODQTC C COQUVTC FGUUG GUVWFQ PÂşQ UGLC FG OCIKUVTCFQU Ă&#x192; FG UG SWGUVKQPCT UG GUVGU PÂşQ GUVCTKCO UWLGKVQU ´U OGUOCU KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKCU CQ CWVQTK\CTGO QW PÂşQ C CVWCĂ ÂşQ FG HQTĂ CU RQNKEKCKU GO CĂ Ă?GU FG TGKPVGITCĂ ÂşQ FG posse e de retirada de ocupantes em protestos. 'O QWVTQ TGUWNVCFQ ,QUJWC (WTIGUQP G EQNGICU TGCNK\CTCO WOC survey com 152 assessores de juĂzes e descobriram que o mĂŠtodo hermenĂŞutico adotado ao solucionar um caso estĂĄ forVGOGPVG EQTTGNCEKQPCFQ EQO CU RTGHGTĂ&#x201E;PEKCU RQNĂ&#x2C6;VKEQ KFGQNĂ&#x17D;IKECU %QPHQTOG UG KFGPVKĹżECUUGO como liberais ou conservadores, os assessores tendiam a utilizar uma tĂŠcnica interpretativa mais extensiva e ativista, de um lado, ou mais restritiva e deferente ao legislador, de outro. Dito de outra forma, a preferĂŞncia polĂtica precedia e condicionava a hermenĂŞutica constiVWEKQPCN C UGT CFQVCFC PC LWUVKĹżECĂ ÂşQ FG WOC FGEKUÂşQ 33 A psicologia por trĂĄs da polĂtica da decisĂŁo judicial tambĂŠm emerge no trabalho de .CYTGPEG $CWO UQDTG TGRWVCĂ ÂşQ LWFKEKCN 'PSWCPVQ CDQTFCIGPU DCUGCFCU PQ GPHQSWG GEQPĂ?OKEQ EQOQ C FG 0WPQ )CTQWRC G 6QO )KPUDWTI VTCVCO IGPGTKECOGPVG FG KPEGPVKXQU institucionais da busca por reputação, Baum aponta para um quadro mais complexo. Como quaisquer pessoas, juĂzes se preocupariam precipuamente com as opiniĂľes dos seus pares e das pessoas que lhe sĂŁo caras. Assim, a visĂŁo de familiares, amigos, colegas magistrados, do meio acadĂŞmico em que se inserem, das corporaçþes que integram, dos grupos de interesse que apoiam, etc., teriam um peso substancialmente maior do que a das demais pessoas. Baum sugere, assim, que ĂŠ um equĂvoco considerar que juĂzes se preocupam com a opiniĂŁo pĂşblica â&#x20AC;&#x153;em geralâ&#x20AC;? â&#x20AC;&#x201C; como qualquer ser humano, eles, na verdade, importam-se com as opiniĂľes de pessoas de seu meio social e cultural, com quem efetivamente convivem.34 'UUG GPHQSWG RGTOKVG EQORTGGPFGT EQOQ VTKDWPCKU RQFGO FGEKFKT EQPVTCTKCOGPVG posiçþes majoritĂĄrias na sociedade, mas, geralmente, nĂŁo decidem contra os pontos de visVC FC GNKVG LWTĂ&#x2C6;FKEC QW UQEKQGEQPĂ?OKEC FG EWLC OCKQTKC FQU UGWU OGODTQU Ă&#x192; QTKWPFC #NĂ&#x192;O disso, permite enriquecer mesmo a anĂĄlise dos enunciados discursivos de decisĂľes judiciais
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Das teorias da interpretação Ă teoria da decisĂŁo: por uma perspectiva realista VREUH DV LQĂ&#x20AC;XrQFLDV H FRQVWUDQJLPHQWRV VREUH D DWLYLGDGH MXGLFLDO
GURGEĂ&#x2C6;ĹżECU %QOQ UWIGTG 'KNGGP $TCOCP C LWUVKĹżECĂ ÂşQ FG FGEKUĂ?GU LWFKEKCKU UG FKTGEKQPC C CWFKVĂ&#x17D;TKQU GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQU G Ă&#x192; GO TGNCĂ ÂşQ C GUUGU ITWRQU TGNGXCPVGU RCTC Q OCIKUVTCFQ SWG a argumentação ĂŠ construĂda; sĂŁo esses os grupos que verdadeiramente constrangeriam o universo de possibilidades decisĂłrias.35 6QFCU GUUCU FGUEQDGTVCU UQDTG C QEQTTĂ&#x201E;PEKC FG KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKCU RUKEQNĂ&#x17D;IKECU PQ RTQEGUUQ FG VQOCFC FG FGEKUÂşQ LWFKEKCN VCODĂ&#x192;O NGXCTCO ´ FKUEWUUÂşQ UQDTG CU HQTOCU FG TGFW\KT QW OKVKICT XKGUGU 'PVTG GUUGU OGECPKUOQU ĹżIWTCO FGUFG C VGPVCVKXC FG EQPUEKGPVK\CT QU LWNICFQTGU FG que estĂŁo sujeitos a limitaçþes cognitivas, atĂŠ isolĂĄ-los totalmente de decisĂľes passĂveis de KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKCU KPFGXKFCU 0ÂşQ VTCVCTGOQU CSWK FCU FKXGTUCU RQUUKDKNKFCFGU FQ EJCOCFQ Ĺ&#x2018;FGUGPXKGUCOGPVQĹ&#x2019; SWG UÂşQ QDLGVQ FG FKXGTUQU VTCDCNJQU GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQU TGEGPVGU 36 PorĂŠm, destacamos que, se, por um lado, o sistema jurĂdico jĂĄ prevĂŞ diversos mecanismos para evitar decisĂľes KPĆ&#x20AC;WGPEKCFCU RQT HCVQTGU KNGIĂ&#x2C6;VKOQU Ĺ&#x152; EQOQ QU KPUVKVWVQU FG UWURGKĂ ÂşQ G KORGFKOGPVQ Ĺ&#x152; RQT QWVTQ QU GUVWFQU KPFKECO SWG GNGU RQFGO UGT KPUWĹżEKGPVGU RCTC EQTTKIKT KPĂ&#x2022;OGTCU KPLWUVKĂ CU atualmente existentes.37 Uma das formas de mitigar vieses seria, inclusive, a polĂŞmica proRQUVC FG CFQVCT HGTTCOGPVCU FG KPVGNKIĂ&#x201E;PEKC CTVKĹżEKCN PC CVKXKFCFG LWFKECPVG %QO Q CXCPĂ Q das novas tecnologias sobre empregos caracterizados pela atividade intelectual, essa ĂŠ uma discussĂŁo que jĂĄ ĂŠ realidade.38 Diante dos estudos apresentados, sugerimos uma provocação: se jĂĄ se sabe tanto sobre os aspectos extrajurĂdicos da decisĂŁo judicial, por que se devota tanta atenção a teorias exENWUKXCOGPVG XQNVCFCU RCTC Q EQPVGZVQ FC LWUVKĹżECĂ ÂşQ! Ao nosso ver, a melhor forma de encaixar esses achados recentes da literatura empĂriEC UQDTG FGEKUÂşQ LWFKEKCN Ă&#x192; CEQRNCT C WOC XKUÂşQ TGCNKUVC FC FGEKUÂşQ LWFKEKCN CU KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKCU G constrangimentos extrajurĂdicos, descrevendo o direito como uma arena decisĂłria em que atores podem agir estrategicamente.39 Nesse sentido, ĂŠ preciso revisitar a distinção tradicional GPVTG RTQEGUUQU FG FGUEQDGTVC G Q EQPVGZVQ FC LWUVKĹżECĂ ÂşQ 2CTC VCPVQ KPKEKCTGOQU RGNCU VGQTKCU RUKEQNĂ&#x17D;IKECU TGEGPVGU SWG DWUECO FGUETGXGT EQOQ UG CTVKEWNCO TCEKQEĂ&#x2C6;PKQ G LWUVKĹżECĂ ÂşQ
3 A PSICOLOGIA DA JUSTIFICAĂ&#x2021;Ă&#x192;O DA DECISĂ&#x192;O: ARTICULANDO DESCOBERTA E JUSTIFICAĂ&#x2021;Ă&#x192;O A literatura sobre julgamento e tomada de decisĂŁo revisada na seção anterior nĂŁo desconsidera o fato de que, mesmo que as pessoas tomem decisĂľes por motivos irracionais, KPĆ&#x20AC;WGPEKCFCU RQT XKGUGU QW RTGHGTĂ&#x201E;PEKCU RGUUQCKU QW GOQĂ Ă?GU GNCU CKPFC CUUKO RTGEKUCO LWUVKĹżECT UWCU GUEQNJCU 5GTGU JWOCPQU UÂşQ CPKOCKU UQEKCKU SWG PÂşQ XKXGO KUQNCFCOGPVG 2GNQ EQPVTÂśTKQ C UCVKUHCĂ ÂşQ G C CWVQGUVKOC RGUUQCN GUVÂşQ UGORTG KPVKOCOGPVG NKICFCU ´U TGNCĂ Ă?GU EQO QU RCTGU G ´ KPUGTĂ ÂşQ UQEKCN FQ UWLGKVQ 1U OCTEQU VGĂ&#x17D;TKEQU SWG DWUECO GZRNKECT EQOQ os processos intuitivos e deliberativos interagem se preocupam em explicar como as pessoas LWUVKĹżECO C UK RTĂ&#x17D;RTKCU G ´U QWVTCU UWCU FGEKUĂ?GU
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0Q ĹżO FQU CPQU HQK TGCNK\CFQ WO GUVWFQ ENÂśUUKEQ UQDTG CU QRKPKĂ?GU CEGTEC FQ RQlĂŞmico tema da pena de morte. Os pesquisadores pediram a 151 estudantes que avaliassem a qualidade metodolĂłgica de dois estudos sobre o efeito da pena de morte sobre a prevenção de crimes. A metodologia de ambos era semelhante, mas a qualidade atribuĂda pelos sujeitos a cada estudo dependia da convicção prĂŠvia que eles tinham sobre o tema. Se apoiavam a pena de morte, os resultados empĂricos sobre a inexistĂŞncia de efeito preventivo dessa punição GTCO RQUVQU GO FĂ&#x2022;XKFC VQFCXKC UG QU UWLGKVQU GTCO EQPVTC C RGPC FG OQTVG FGUEQPĹżCXCO dos resultados que apontavam em sentido contrĂĄrio. AlĂŠm disso, a assimilação enviesada FC KPHQTOCĂ ÂşQ NGXCXC C WOC OCKQT RQNCTK\CĂ ÂşQ Ĺ&#x152; QU QRQPGPVGU FC RGPC FG OQTVG ĹżECXCO ainda mais convencidos de sua posição inicial, mesmo tendo visto provas em contrĂĄrio; o mesmo ocorrendo com os defensores, quando confrontados com estudos que contradiziam suas convicçþes.40 Como explicar esses resultados? Por que estamos todos sujeitos, ainda que inconscientemente, a esses vieses? # EJCOCFC Ĺ&#x2018;FKUUQP¸PEKC EQIPKVKXCĹ&#x2019; Ă&#x192; WO FQU HGPĂ?OGPQU GUVWFCFQU JÂś OCKU VGORQ sendo mencionado em praticamente todos os manuais introdutĂłrios de Psicologia. ForOWNCFQ RQT .GQP (GUVKPIGT PQ ĹżO FQU CPQU Q OQFGNQ RTQRĂ?G SWG CU RGUUQCU DWUECO o â&#x20AC;&#x153;conforto cognitivoâ&#x20AC;? e se sentem desconfortĂĄveis quando encontram informaçþes que EQPVTCFK\GO UWCU ETGPĂ CU 1 GUVCFQ FG Ĺ&#x2018;FKUUQP¸PEKCĹ&#x2019; GPVTG KPHQTOCĂ Ă?GU EQPĆ&#x20AC;KVCPVGU RTGEKUC ser superado. Para tanto, a mente tenta reduzir a inconsistĂŞncia, o que geralmente envolve TGEWUCT C KPHQTOCĂ ÂşQ PQXC SWG EQPĆ&#x20AC;KVC EQO C ETGPĂ C UGFKOGPVCFC 1 OGECPKUOQ RUKEQNĂ&#x17D;IKEQ FC TGFWĂ ÂşQ FC FKUUQP¸PEKC EQIPKVKXC CUUKO Ă&#x192; Q FG KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC FC Ĺ&#x2018;OQVKXCĂ ÂşQĹ&#x2019; TGFW\KT a inconsistĂŞncia) sobre a â&#x20AC;&#x153;cogniçãoâ&#x20AC;? (o processamento de informação).41 2TĂ&#x17D;ZKOQ FQ HGPĂ?OGPQ FC FKUUQP¸PEKC EQIPKVKXC Ă&#x192; Q FQ Ĺ&#x2018;XKĂ&#x192;U FG EQPĹżTOCĂ ÂşQĹ&#x2019; SWG UG TGHGTG ´ VGPFĂ&#x201E;PEKC GPEQPVTCFC GO FKXGTUQU EQPVGZVQU GZRGTKOGPVCKU SWG QU UWLGKVQU VĂ&#x201E;O de buscar ativamente informaçþes que estejam em consonância com suas crenças preconEGDKFCU G FG UG UGPVKTGO UCVKUHGKVQU GO EQPĹżTOÂś NCU CQ RCUUQ SWG CVTKDWGO RQWEQ RGUQ G evitam se deparar com informaçþes incoerentes com essas mesmas preconcepçþes. Ou seja, CU RGUUQCU VGPFGO C DWUECT PÂşQ CNIQ EQOQ C Ĺ&#x2018;XGTFCFGĹ&#x2019; OCU KPHQTOCĂ Ă?GU SWG EQPĹżTOGO Q que jĂĄ pensam, e as ajudem a manter as prĂłprias convicçþes.42 Ora, se, do ponto de vista do raciocĂnio, os seres humanos â&#x20AC;&#x153;enxergam o que desejam verâ&#x20AC;? , como ĂŠ possĂvel que exista debate, e que as pessoas sejam persuadidas a mudar de opiniĂŁo? O raciocĂnio ĂŠ sempre dependente e guiado por motivaçþes e preferĂŞncias subjaEGPVGU! 1TC PÂşQ Ă&#x192; TCTQ SWG CU RGUUQCU CDCPFQPGO EQPXKEĂ Ă?GU RQT OCKU ĹżTOGU SWG UGLCO diante de provas em contrĂĄrio. 43
2CTC FCT EQPVC FGUUGU HGPĂ?OGPQU <KXC -WPFC RTQRĂ?U C VGQTKC FQ Ĺ&#x2018;4CEKQEĂ&#x2C6;PKQ /QVKXCdoâ&#x20AC;?. Para Kunda, as pessoas podem ter motivaçþes diferentes ao lidarem com um problema, ou ao raciocinarem sobre como solucionar uma questĂŁo. A motivação pode ser, conforme o caso, a de buscar uma resposta mais acurada; ou, em vez disso, a de chegar numa conclusĂŁo
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GURGEĂ&#x2C6;ĹżEC EQGTGPVG EQO UWCU RTGHGTĂ&#x201E;PEKCU 'O CNIWPU EQPVGZVQU CU RGUUQCU GUVÂşQ FKURQUVCU a se engajar em um raciocĂnio deliberado e trabalhoso, admitindo provas em contrĂĄrio do que pensam, mas elas se dĂŁo esse trabalho apenas caso seja efetivamente relevante para si encontrar a melhor solução. Contudo, caso o tomador de decisĂŁo, ao analisar informaçþes que tem diante de si, FGUGLG EJGICT C WO TGUWNVCFQ SWG EQPĹżTOG UWC ETGPĂ C HCTÂś C VGPVCVKXC FG EQPUVTWKT WOC LWUVKĹżECVKXC EQPXKPEGPVG RTKOGKTQ C UK RTĂ&#x17D;RTKQ G RCUUĂ&#x2C6;XGN FG RGTUWCFKT VGTEGKTQU #UUKO C RGUUQC OGUOQ CIKPFQ UQD C KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC FG WO ENCTQ XKĂ&#x192;U OQVKXCEKQPCN OCPVĂ&#x192;O C Ĺ&#x2018;KNWUÂşQ FG QDLGVKXKFCFGĹ&#x2019; FQ UGW RTĂ&#x17D;RTKQ TCEKQEĂ&#x2C6;PKQ 3WCPVQ OCKU HQT EQORGVGPVG GO EQPUVTWKT LWUVKĹżECVKvas, mais estarĂĄ sujeito a acreditar nas suas prĂłprias conclusĂľes â&#x20AC;&#x201C; ou, dito de outra forma, â&#x20AC;&#x153;as pessoas vĂŁo acreditar no que elas quiserem apenas na medida em que sua razĂŁo permita.â&#x20AC;?44 Uma das consequĂŞncias prĂĄticas da teoria do RaciocĂnio Motivado ĂŠ de que ĂŠ possĂvel KPĆ&#x20AC;WGPEKCT QU VQOCFQTGU FG FGEKUÂşQ C CFQVCTGO C OQVKXCĂ ÂşQ RQT WOC TGURQUVC OCKU RTGEKUC GO XG\ FG WOC TGURQUVC SWG EQPĹżTOG UWCU RTGEQPEGRĂ Ă?GU Ĺ&#x152; Q SWG UGTKC WO RQUUĂ&#x2C6;XGN ECOKPJQ RCTC TGFW\KT C KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC FG XKGUGU 2QTĂ&#x192;O Q OCKU TGNGXCPVG RCTC C RTGUGPVG FKUEWUUÂşQ Ă&#x192; SWG o modelo de Ziva Kunda incorpora ao â&#x20AC;&#x153;processo da descobertaâ&#x20AC;? (a busca por informaçþes RCTC HQTOCT C RTĂ&#x17D;RTKC EQPXKEĂ ÂşQ Q Ĺ&#x2018;RTQEGUUQ FC LWUVKĹżECĂ ÂşQĹ&#x2019; ECUQ C OQVKXCĂ ÂşQ FQ TCEKQEĂ&#x2C6;PKQ UGLC C FG EQPĹżTOCT CU RTĂ&#x17D;RTKCU ETGPĂ CU Q KPFKXĂ&#x2C6;FWQ UGPVG C PGEGUUKFCFG FG EQPUVTWKT WOC narrativa coerente e defensĂĄvel do que acredita. Uma segunda proposta, que igualmente articula a questĂŁo das intuiçþes e da necessidade FG LWUVKĹżEÂś NCU Ă&#x192; Q OQFGNQ Ĺ&#x2018;UQEKCN KPVWKEKQPKUVCĹ&#x2019; FG ,QPCVJCP *CKFV GUVWFKQUQ FC 2UKEQNQIKC /QTCN &G CEQTFQ EQO GUUG OQFGNQ CU KPVWKĂ Ă?GU RTGEGFGO CU LWUVKĹżECVKXCU RQTĂ&#x192;O WOC vez que o tomador de decisĂŁo tem uma intuição sobre a resposta correta, trata de avaliĂĄ-la G FG DWUECT TC\Ă?GU SWG C LWUVKĹżSWGO 0GUUG RTQEGUUQ CU QRKPKĂ?GU FQU UGWU RCTGU KORQTVCO ECUQ UGLC KPECRC\ FG LWUVKĹżECT UWC GUEQNJC RGTCPVG QU FGOCKU Q UWLGKVQ RQFG TGXKUÂś NC 1 RTQEGUUQ UQEKCN FG LWUVKĹżECĂ ÂşQ FCU FGEKUĂ?GU Ă&#x192; CUUKO WO EQPUVTCPIKOGPVQ RCTC Q RTQEGUUQ de descoberta. Haidt utiliza a analogia de um porta-voz de uma organização: o presidente toma decisĂľes, por motivos legĂtimos ou escusos; razoĂĄveis, ou equivocados â&#x20AC;&#x201C; nĂŁo importa. A função do porta-voz ĂŠ, mesmo sem ter acesso aos reais motivos da decisĂŁo, encontrar os CTIWOGPVQU OCKU RGTUWCUKXQU RQUUĂ&#x2C6;XGKU RCTC CRTGUGPVÂś NC CQ RĂ&#x2022;DNKEQ 'O UWOC Q TCEKQEĂ&#x2C6;PKQ Ă&#x192; VCODĂ&#x192;O EQPFKEKQPCFQ RGNCU KPVWKĂ Ă?GU G LWUVKĹżECVKXCU FKUUGOKPCFCU G FGHGPFKFCU PQ EĂ&#x2C6;TEWNQ social do tomador de decisĂŁo.45 Noel Struchiner e Marcelo Brando sugerem que, ao menos nos â&#x20AC;&#x153;casos difĂceisâ&#x20AC;?, o modelo social-intuicionista do raciocĂnio moral de Haidt permite descrever o que ocorre na mente do juiz: Tomando-se a descrição do processo de julgamento moral sugerido pelo modelo sĂłcio-intuicionista, ĂŠ possĂvel formular a hipĂłtese de que as decisĂľes judiciais nesses casos sĂŁo tomadas da seguinte forma: ao se depararem com os elementos
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de uma demanda moralmente carregada, os juĂzes veriam surgir na consciĂŞncia, ou na margem da consciĂŞncia, um sentimento avaliativo sobre o caso como um todo, sem qualquer consciĂŞncia de se ter passado pelas etapas de busca e balanceamento de evidĂŞncias, ou pela inferĂŞncia controlada de uma conclusĂŁo. 'UUG Ć&#x20AC;CUJ FG KPVWKĂ ÂşQ ECWUCTKC C GZRGTKĂ&#x201E;PEKC PC EQPUEKĂ&#x201E;PEKC FG WOC EQPFGPCção ou condecoração de uma das partes incluindo uma crença na correção ou KPEQTTGĂ ÂşQ FC FGEKUÂşQ 'UUG Ă&#x192; Q LWNICOGPVQ OQTCN 6WFQ CEQPVGEG FG OCPGKTC TÂśRKFC G CWVQOÂśVKEC RTGEGFGPFQ ´ EQPUWNVC FQU OCVGTKCKU LWTĂ&#x2C6;FKEQU 7OC XG\ VQOCFC C FGEKUÂşQ Q LWK\ UCDG SWG PÂşQ RQFG LWUVKĹżEÂś NC RCTC UGWU RCTGU QW RCTC C EQOWPKFCFG CĹżTOCPFQ SWG WO Ć&#x20AC;CUJ KPVWKVKXQ G KPEQPUEKGPVG Q NGXQW a tomar a decisĂŁo a favor ou contra as partes. A Constituição brasileira exige que o juiz apresente fundamentação construĂda a partir de materiais jurĂdicos existentes (art. 93, inciso IX). Portanto, a partir do momento em que o juiz ganha consciĂŞncia da decisĂŁo moral e crĂŞ na sua correção, ele se vĂŞ diante da PGEGUUKFCFG FG LWUVKĹżEÂś NC 1 UGIWPFQ GNQ FQ OQFGNQ UĂ&#x17D;EKQ KPVWKEKQPKUVC UWIGre que os realistas jurĂdicos tambĂŠm neste ponto estavam certos: os materiais jurĂdicos aparecem nas sentenças como parte de racionalizaçþes post hoc de decisĂľes tomadas com base em outros elementos.46
2QT ĹżO C HQTOWNCĂ ÂşQ VGĂ&#x17D;TKEC SWG TGEGPVGOGPVG OCKU VGO ICPJCFQ CVGPĂ ÂşQ Ă&#x192; C Ĺ&#x2018;6GQTKC Argumentativa do RaciocĂnioâ&#x20AC;?, formulada por Hugo Mercier e Dan Sperber. Os autores propĂľem que, em vez de pensarmos que a argumentação advĂŠm do raciocĂnio, devemos encarar a principal função do raciocĂnio como argumentativa, isto ĂŠ, os seres humanos raciocinam UQDTG RTQDNGOCU RQT OGKQ FC PGEGUUKFCFG FC RTQFWĂ ÂşQ FG LWUVKĹżECVKXCU 'PEQPVTCPFQ DQPU argumentos para defender seu ponto de vista, as pessoas nĂŁo se dĂŁo ao trabalho de se engajar GO GZCWUVKXQU TCEKQEĂ&#x2C6;PKQU FGNKDGTCVKXQU RQTĂ&#x192;O ECUQ RTGEKUGO LWUVKĹżECT UGW RQPVQ FG XKUVC FKCPVG FG WOC CWFKĂ&#x201E;PEKC KUUQ CU QDTKIC C TGĆ&#x20AC;GVKT OCKU G C RTQFW\KT OGNJQTGU CTIWOGPVQU 'O ECUQ FG FKUEQTF¸PEKCU FG QRKPKÂşQ CU RGUUQCU VGPFGO C UGT OWKVQ XKIKNCPVGU GO TGNCĂ ÂşQ C argumentos contrĂĄrios aos seus, buscando contestĂĄ-los â&#x20AC;&#x201C; e, caso nĂŁo encontrem argumentos UWĹżEKGPVGU GO FGHGUC FG UWC RQUKĂ ÂşQ G VGPJCO OQVKXQU RCTC VGT ETGFKDKNKFCFG PQ KPVGTNQEWtor, podem mudar de ideia. Assim, discussĂľes de grupo podem ser efetivas quando os seus membros estiverem efetivamente engajados em encontrar a resposta correta para um problema. A Teoria Argumentativa do RaciocĂnio integra em um sĂł marco teĂłrico os achados da literatura psicolĂłgica recente e ajuda a explicar diversos vieses no raciocĂnio, como a FKUUQP¸PEKC EQIPKVKXC Q XKĂ&#x192;U FG EQPĹżTOCĂ ÂşQ G Q TCEKQEĂ&#x2C6;PKQ OQVKXCFQ 47 ' FQ RQPVQ FG XKUVC FC RTGUGPVG FKUEWUUÂşQ UWIGTG SWG C GZKUVĂ&#x201E;PEKC FG EQPVGZVQU FG LWUVKĹżECĂ ÂşQ OCKU GZKIGPVGU pode levar a processos de descoberta mais rigorosos e menos enviesados. Diante disso, a descrição que emerge da mecânica entre, de um lado, a produção FG LWUVKĹżECĂ Ă?GU RCTC C FGEKUÂşQ G FG QWVTQ QU RTQEGUUQU FG FGUEQDGTVC OGUOQ SWCPFQ intuitivos ou enviesados, ĂŠ a de que a argumentação pode servir de constrangimento ao raciocĂnio. Quanto menos exigentes os interlocutores ou os auditĂłrios, menos incentivos o sujeito tem para tomar uma decisĂŁo cuidadosa. As teorias psicolĂłgicas da decisĂŁo, assim, OGUOQ SWCPFQ GXKFGPEKCO CU Ĺ&#x2018;KTTCEKQPCNKFCFGUĹ&#x2019; G KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKCU GZĂ&#x17D;IGPCU PQ RTQEGUUQ FG
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tomada de decisão, indicam que hå constrangimentos que podem direcionå-lo rumo aos parâmetros esperados.
4 DAS TEORIAS DA INTERPRETAĂ&#x2021;Ă&#x192;O Ă&#x20AC; TEORIA DA DECISĂ&#x192;O A objeção mais comum a abordagens realistas da decisĂŁo judicial ĂŠ que elas abririam espaço para o decisionismo e o arbĂtrio, considerando como vĂĄlidas ou aceitĂĄveis quaisquer decisĂľes, uma vez que nĂŁo haveria um parâmetro â&#x20AC;&#x153;racionalâ&#x20AC;? de aceitabilidade e adequação FGUUCU TGURQUVCU 'UUC CEWUCĂ ÂşQ RQTĂ&#x192;O PÂşQ RTQEGFG GURGEKCNOGPVG VGPFQ GO XKUVC QU OQdelos discutidos, em que os aspectos cognitivos ou intuitivos do processo de decisĂŁo nĂŁo GUVÂşQ FKUUQEKCFQU FC LWUVKĹżECĂ ÂşQ CTIWOGPVCVKXQ FKUEWTUKXC Um dos primeiros aspectos que precisam ser esclarecidos para que uma teoria da decisĂŁo mais abrangente seja formulada ĂŠ a inutilidade de uma oposição rĂgida entre essas duas dimensĂľes. Brian Tamanaha critica as divisĂľes entre um â&#x20AC;&#x153;legalismoâ&#x20AC;? segundo o qual a decisĂŁo ĂŠ uma questĂŁo estritamente jurĂdica, e uma visĂŁo â&#x20AC;&#x153;realistaâ&#x20AC;? segundo a qual fatores UQEKCKU RUKEQNĂ&#x17D;IKEQU G RQNĂ&#x2C6;VKEQU UÂşQ QU Ă&#x2022;PKEQU FGVGTOKPCPVGU 'O XG\ FKUUQ RTQRĂ?G WO Ĺ&#x2018;TGClismo balanceadoâ&#x20AC;?, que combine: 2QT WO NCFQ ´ EQPUEKĂ&#x201E;PEKC FCU HCNJCU NKOKVCĂ Ă?GU G FC CDGTVWTC FQ &KTGKVQ C EQPUEKĂ&#x201E;PEKC FG SWG LWĂ&#x2C6;\GU ´U XG\GU HC\GO GUEQNJCU SWG RQFGO OCPKRWNCT TGITCU G RTGEGFGPVGU LWTKURTWFGPEKCKU SWG ´U XG\GU UÂşQ KPĆ&#x20AC;WGPEKCFQU RQT XKUĂ?GU RQNĂ&#x2C6;VKECU G morais e por seus vieses pessoais (aspecto cĂŠtico). Por outro lado, um ceticismo que compreende que regras jurĂdicas funcionam apesar disso; que juĂzes cumprem e aplicam o Direito; que hĂĄ fatores prĂĄticos, sociais e institucionais que constrangem os juĂzes; e que juĂzes proferem decisĂľes geralmente previsĂveis, coerentes com o Direito (aspecto guiado pelas regras)48.
'O UGPVKFQ UGOGNJCPVG $TWEG #PFGTUQP PQU EQPXKFC C FGKZCT FG NCFQ CU QRQUKĂ Ă?GU GZENWFGPVGU GPVTG QU RTQEGUUQU FG FGUEQDGTVC G LWUVKĹżECĂ ÂşQ FC FGEKUÂşQ LWFKEKCN Descriçþes do raciocĂnio jurĂdico nem sempre foram dominados por anĂĄlises TGUVTKVCU ´ LWUVKHKECĂ ÂşQ ,WTKUVCU PGO UGORTG RTGUWOKTCO JCXGT WOC FKXKUÂşQ Ĺ&#x2018;TĂ&#x2C6;IKFCĹ&#x2019; GPVTG FGUEQDGTVC G LWUVKHKECĂ ÂşQ ' PGO UGORTG UWUVGPVCTCO SWG Q â&#x20AC;&#x153;verdadeiroâ&#x20AC;? processo que leva um juiz a uma decisĂŁo ĂŠ desimportante, arbitrĂĄrio ou irracional, ou ainda que nĂŁo poderia ou deveria ser estudado pelos juristas. Para expoentes do Realismo JurĂdico Americano (...), o processo de julgamento incluĂa tanto a operação mental de pensar (descobrir e testar soluçþes possĂveis para um caso), quanto as exposiçþes orais ou escritas que expĂľem seu resultado. Contrastando com os debates contemporâneos, na opiniĂŁo desses realistas, as atividades mentais que precedem a exposição QW LWUVKHKECĂ ÂşQ FG WOC FGEKUÂşQ UÂşQ WOC RCTVG UKIPKHKECVKXC FGNC 'ODQTC destacassem o carĂĄter nĂŁo-lĂłgico e nĂŁo-racional das intuiçþes judiciais, estas nĂŁo eram apresentadas como atos arbitrĂĄrios ou irracionais de descoberta ou invenção.49
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0GUUG UGPVKFQ .WK\ 5KNXGKTC RTQRĂ?G SWG UG CDCPFQPG C XKUÂşQ UKORNKUVC FC FGEKUÂşQ LWFKEKCN UGIWPFQ C SWCN WO OQOGPVQ FG FGUEQDGTVC UGLC UGIWKFQ RQT LWUVKĹżECĂ Ă?GU a posteriori. Na sua proRQUVC FGUEQDGTVC G LWUVKĹżECĂ ÂşQ FC FGEKUÂşQ LWFKEKCN UG CTVKEWNCO FG HQTOC FKP¸OKEC #Q FGRCTCT com um caso, inicia-se o processo de descoberta do magistrado, em que intuiçþes podem ter um RCRGN KORQTVCPVG 2QTĂ&#x192;O Q RTQEGUUQ FG FGUEQDGTVC KPENWK C PGEGUUKFCFG FG LWUVKĹżECĂ ÂşQ Q LWK\ precisa primeiro convencer a si mesmo de que a escolha que intuiu faz sentido. Para tanto, reĂşne argumentos que articulem juĂzos de valor que permitem defender sua escolha como jurĂdica, justa ou razoĂĄvel. Por sua vez, ao reunir essas razĂľes, o processo de descoberta ĂŠ enriquecido, na medida em que a resposta inicialmente contemplada pode ser reforçada â&#x20AC;&#x201C; ou abandonada, caso nĂŁo seja UWĹżEKGPVGOGPVG EQPXKPEGPVG #UUKO OGUOQ SWG WO insight seja potencialmente irracional, ou enviesado, o processo de descoberta inclui um processo consciente de avaliação de razĂľes e argumentos que o retroalimenta.50 Como se pode observar, essa proposta para a compreensĂŁo da decisĂŁo LWFKEKCN GUVÂś GO UKPVQPKC EQO CU VGQTKCU RUKEQNĂ&#x17D;IKECU FC LWUVKĹżECĂ ÂşQ CPCNKUCFCU PC UGĂ ÂşQ CPVGTKQT Assim, adotar uma teoria da interpretação que leve em conta os elementos psicolĂłgicos GPXQNXKFQU PQ RTQEGUUQ FGEKUĂ&#x17D;TKQ PÂşQ UKIPKĹżEC EGFGT C CURGEVQU Ĺ&#x2018;KTTCEKQPCKUĹ&#x2019; KORTGXKUĂ&#x2C6;XGKU QW KPUQPFÂśXGKU FC OGPVG LWFKEKCN 2GNQ EQPVTÂśTKQ UKIPKĹżEC NGXCT GO EQPVC WOC ICOC FG HCVQTGU SWG XKPJC UGPFQ FGKZCFC FG NCFQ PQU FGDCVGU LWTĂ&#x2C6;FKEQ ĹżNQUĂ&#x17D;ĹżEQU CPCNKUCPFQ PÂşQ UĂ&#x17D; C HQTĂ C dos argumentos por si, mas tambĂŠm as audiĂŞncias a que se referem, ou, ainda, os possĂveis ganhos estratĂŠgicos ou reputacionais para o magistrado que os profere diante de pĂşblicos GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQU RQT WO NCFQ G Q Ă?PWU FG UWUVGPVCT FGEKUĂ?GU SWG EQPVTCTKGO UGVQTGU TGNGXCPVGU RCTC GNG RQT QWVTQ #UUKO LWUVKĹżECĂ ÂşQ G FGUEQDGTVC UÂşQ FWCU HCEGU FC OGUOC OQGFC G C UGRCTCĂ ÂşQ FGUUGU FQKU GNGOGPVQU Ă&#x192; VÂşQ CTVKĹżEKCN G KORTQFWVKXC SWCPVQ C FGUCETGFKVCFC FKUVKPĂ ÂşQ entre interpretação e aplicação do Direito. Com isso, permite-se deslocar a discussĂŁo, hoje EQPEGPVTCFC CRGPCU PQU OĂ&#x192;VQFQU OCKU QW OGPQU CFGSWCFQU RCTC C LWUVKĹżECĂ ÂşQ Ĺ&#x2018;TCEKQPCNĹ&#x2019; FG WOC FGEKUÂşQ G UGO TGVKTCT C KORQTV¸PEKC FKURGPUCFC ´ GUHGTC FKUEWTUKXC KPEQTRQTCT C GNC o carĂĄter inevitavelmente polĂtico-estratĂŠgico da atividade judicante.51
5 CONCLUSĂ&#x192;O Com base em um panorama das pesquisas empĂricas sobre a decisĂŁo judicial, bem como PCU VGQTKCU OCKU TGEGPVGU UQDTG EQOQ C LWUVKĹżECĂ ÂşQ CTIWOGPVCVKXC UG CTVKEWNC EQO ĹżPU GUVTCtĂŠgicos no contexto social, buscamos mostrar que a oposição entre processos de descoberta G Q EQPVGZVQ FG LWUVKĹżECĂ ÂşQ FCU FGEKUĂ?GU LWFKEKCKU RTGEKUC UGT UWRGTCFC Os estudos revisados sugerem que uma descrição do processo de tomada de decisĂŁo LWFKEKCN FGXG NGXCT GO EQPVC CU KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKCU GZVTCLWTĂ&#x2C6;FKECU SWG KPENWGO CU NKOKVCĂ Ă?GU EQIPKVKXCU CU KPVWKĂ Ă?GU CU RTGHGTĂ&#x201E;PEKCU GUVTCVĂ&#x192;IKECU G QU CWFKVĂ&#x17D;TKQU GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQU C SWG UG FKTKIG Q OCIKUVTCFQ 3WCPVQ OCKQT C OCTIGO FG FKUETKEKQPCTKGFCFG OCKQT C KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKC FGUUGU HCVQTGU Assim, especialmente nos chamados â&#x20AC;&#x153;casos difĂceisâ&#x20AC;?, em casos moralmente carregados, ou em julgamentos que envolvam o autointeresse dos prĂłprios magistrados, ou suas preferĂŞncias
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RQNĂ&#x2C6;VKEQ KFGQNĂ&#x17D;IKECU QU HCVQTGU GZVTCLWTĂ&#x2C6;FKEQU FGXGO UGT NGXCFQU GO EQPVC EQOQ KPĆ&#x20AC;WĂ&#x201E;PEKCU que, sem a contraposição de constrangimentos institucionais e estratĂŠgicos dos demais atores envolvidos, podem ser determinantes no resultado da lide. %QPVWFQ QU GUVWFQU VCODĂ&#x192;O OQUVTCO SWG C LWUVKĹżECĂ ÂşQ RQFG CVWCT EQOQ WO EQPUVTCPIKOGPVQ PC OGFKFC GO SWG TGVTQCNKOGPVC Q RTQEGUUQ FG FGUEQDGTVC 'UUC FGUETKĂ ÂşQ UWIGTG SWG UG os interlocutores relevantes para o magistrado sĂŁo mais exigentes e potencialmente discordam FG UWC QRKPKÂşQ Q Ă?PWU FGEKUĂ&#x17D;TKQ Ă&#x192; OCKQT Q SWG RQFG NGXCT C FGEKUĂ?GU OCKU TGĆ&#x20AC;GVKFCU 1DUGTXC UG assim, que, longe de trazer um mero ceticismo quanto ao valor da argumentação jurĂdica, uma perspectiva realista da interpretação permite vislumbrar que, em certos casos, a necessidade FG LWUVKĹżECĂ ÂşQ RQFG XCNGT EQOQ WO EQPUVTCPIKOGPVQ GUVTCVĂ&#x192;IKEQ PC CTGPC FGEKUĂ&#x17D;TKC 'UUC CDQTFCIGO RGTOKVG CUUKO C GNCDQTCĂ ÂşQ FG CPÂśNKUGU SWG GUECRCO ´U VGQTKCU GZENWUKXCOGPVG HQECFCU UQDTG Q EQPVGZVQ FC LWUVKĹżECĂ ÂşQ &G WO NCFQ C FQU ECUQU HÂśEGKU QW corriqueiros, em que os juĂzes, premidos pelo volume de trabalho, efetivamente se valem de JGWTĂ&#x2C6;UVKECU RCTC UKORNKĹżECT C CPÂśNKUG RTQEGUUWCN G PÂşQ FG WOC CPÂśNKUG CDTCPIGPVG FQU HCVQU e textos jurĂdicos; de outro, a dos casos difĂceis, em que nĂŁo ĂŠ a escolha do mĂŠtodo hermenĂŞutico que condiciona a decisĂŁo polĂtica, mas muito provavelmente o inverso o que ocorre. #RQPVCOQU RQT ĹżO SWG EQPVTCTKCOGPVG C VGUGU EQTTGPVGU PC FKUEWUUÂşQ EQPVGORQT¸PGC CFQVCT WOC VGQTKC TGCNKUVC FC KPVGTRTGVCĂ ÂşQ PÂşQ UKIPKĹżEC EGFGT GURCĂ Q CQ FGEKUKQPKUOQ PGO tampouco desconsiderar a força dos argumentos empregados na defesa de teses jurĂdicas. Pelo contrĂĄrio, uma perspectiva realista permite que elementos estratĂŠgicos, reputacionais e psicolĂłgicos sejam igualmente analisados, em Ăntima relação com a produção discursiva, o que permite que se vislumbre a formulação de uma teoria integrada da decisĂŁo judicial.
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*'52#0*# #PVĂ&#x17D;PKQ / Panorama histĂłrico da cultura jurĂdica EuropĂŠia /GO /CTVKPU 'WTQRC #OĂ&#x192;TKEC 1997. p. 177. 5 COSTA, Alexandre A. Direito e mĂŠtodo FKÂśNQIQU GPVTG C JGTOGPĂ&#x201E;WVKEC ĹżNQUĂ&#x17D;ĹżEC G C JGTOGPĂ&#x201E;WVKEC LWTĂ&#x2C6;FKEC 421 f. Tese (Doutorado em Direito) - Universidade de BrasĂlia, BrasĂlia, 2008. p. 87. -'.5'0 *CPU Teoria pura do direito. 3. ed. SĂŁo Paulo: Martins Fontes, 1991. p. 366-371. 7 COSTA, Alexandre A. Direito e mĂŠtodo FKÂśNQIQU GPVTG C JGTOGPĂ&#x201E;WVKEC ĹżNQUĂ&#x17D;ĹżEC G C JGTOGPĂ&#x201E;WVKEC LWTĂ&#x2C6;FKEC 421 f. Tese (Doutorado em Direito) - Universidade de BrasĂlia, BrasĂlia, 2008. p. 341-359. 2'4'./#0 %JCĂ&#x160;O LĂłgica jurĂdica. SĂŁo Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 137. %#.#/#0&4'+ 2KGTQ 'NGU QU LWĂ&#x2C6;\GU XKUVQU RQT WO CFXQICFQ. SĂŁo Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 176. 10 MACCORMICK, Neil. Argumentação jurĂdica e teoria do direito. Tradução WaldĂŠa Barcellos. SĂŁo Paulo: Martins Fontes, 2006. p. 19-20. '256'+0 .GG -0+)*6 ,CEM 4GEQPUKFGTKPI LWFKEKCN RTGHGTGPEGU Annual Review of Political Science, United States, v. 16, p. 11-31, 2013. p. 14. 12 TAMANAHA, Brian Z. Beyond the formalist-realist divide: the role of politics in judging. Princeton: Princeton University Press, 2010. p.111-121. 2150'4 4KEJCTF # 9JCV FQ LWFIGU CPF LWUVKEGU OCZKOK\G! VJG UCOG VJKPIU GXGT[QPG GNUG FQGU Supreme Court Economic Review, v. 3, p. 1-41, 1993. p. 3-21. 5%*#7'4 (TGFGTKEM +PEGPVKXGU 4GRWVCVKQP CPF VJG KPINQTKQWU FGVGTOKPCPVU QH LWFKEKCN DGJCXKQT University of Cincinnati Law Review, United States, v. 68, p. 615-636, 2000. p. 623. Tradução livre. '256'+0 .GG -0+)*6 ,CEM 4GEQPUKFGTKPI LWFKEKCN RTGHGTGPEGU Annual Review of Political Science, v. 16. p. 8GT VCODĂ&#x192;O 2150'4 4KEJCTF # How judges think. Cambridge: Harvard University Press, 2008. '256'+0 .GG .#0&'5 9KNNKCO / 2150'4 4KEJCTF # The behavior of federal judges: a theoretical and GORKTKECN UVWF[ QH TCVKQPCN EJQKEG %CODTKFIG *CTXCTF 7PKXGTUKV[ 2TGUU R 8GT VCODĂ&#x192;O 57056'+0 Cass et al. Are judges political? an empirical analysis of the federal judiciary. Washington: Brookings Institution Press, 2006. '256'+0 .GG .#0&'5 9KNNKCO / 2150'4 4KEJCTF # The behavior of federal judges: a theoretical and empirical study of rational choice. Cambridge: Harvard University Press, 2013. p. 126-136. 18 GAROUPA, Nuno; GINSBURG, Tom. Judicial reputation: a comparative theory. Chicago: Chicago University Press, 2015. p. 19. 19 GAROUPA, Nuno; GINSBURG, Tom. Judicial reputation: a comparative theory. Chicago: Chicago University Press, 2015. p. 147-148. A prĂĄtica de valorizar os votos individuais de magistrados, em detrimento da redação de votos coletivos, os quais contemplam a maioria formada no colegiado ĂŠ um traço da forma como decidem as cortes superiores brasileiras, notadamente o STF, como mostrou JosĂŠ Rodrigo Rodriguez. Utilizando o modelo de Garoupa & Ginsburg, pode-se sugerir que, em detrimento da inteligibilidade da jurisprudĂŞncia, esse modelo favorece a TGRWVCĂ ÂşQ KPFKXKFWCN FQU /KPKUVTQU 8KFG 41&4+)7'< ,QUĂ&#x192; 4QFTKIQ Como decidem as cortes? para uma crĂtica FQ FKTGKVQ DTCUKNGKTQ 4KQ FG ,CPGKTQ 'FKVQTC )8 '256'+0 .GG .#0&'5 9KNNKCO / 2150'4 4KEJCTF # The behavior of federal judges: a theoretical and empirical study of rational choice. Cambridge: Harvard University Press, 2013. p. 154-199; 235-241; 385-395. &'5215#61 5EQVV 9 +0)4#/ /CVVJGY % .#00'5 ,70+14 1UOCT 2 2QYGT %QORQUKVKQP CPF FGEKUKQP making: the behavioral consequences of institutional reform on Brazilâ&#x20AC;&#x2122;s Supremo Tribunal Federal. The Journal of .CY 'EQPQOKEU CPF 1TICPK\CVKQP, v. 31, n. 3, p. 534-567, 2014. $'08+0&1 ,WNKCPQ <CKFGP %156# #NGZCPFTG #TCĂ&#x2022;LQ A quem interessa o controle concentrado de constitucionalidade? o descompasso entre teoria e prĂĄtica na defesa dos direitos fundamentais. 2013. (RelatĂłrio de pesquisa). #4#Â,1 /CVGWU /QTCKU Comportamento estratĂŠgico no Supremo Tribunal Federal. 2017. Tese (Doutorado em CiĂŞncia PolĂtica), Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017. #4)7'.*'5 &KGIQ 9GTPGEM 4+$'+41 .GCPFTQ /QNJCPQ 1 5WRTGOQ KPFKXKFWCN OGECPKUOQU FG CVWCĂ ÂşQ FKTGVC dos Ministros sobre o processo polĂtico. &KTGKVQ 'UVCFQ G 5QEKGFCFG, Rio de Janeiro, n. 46, p. 121-155, jan./jun. 2015. Ĺ&#x2018;#NIWPU TGCNKUVCU GZRTKOKTCO GUUCU KFGKCU GO WOC NKPIWCIGO RTQHWPFCOGPVG EĂ&#x192;VKEC #ĹżTOCTCO SWG Q FKTGKVQ PÂşQ existe, diziam, ou o direito nĂŁo passa da previsĂŁo do que farĂŁo os tribunais, ou ĂŠ apenas uma questĂŁo daquilo que os juĂzes tomaram no cafĂŠ da manhĂŁâ&#x20AC;?. DWORKIN, Ronald. O impĂŠrio do direito 6TCFWĂ ÂşQ ,GHHGTUQP .WK\ %COCTIQ SĂŁo Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 45.
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Ricardo de Lins e Horta | Alexandre AraĂşjo Costa
&#0<+)'4 5JCK .'8#8 ,QPCVJCP #80#+/ 2'551 .KQTC 'ZVTCPGQWU HCEVQTU KP LWFKEKCN FGEKUKQPU Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 108, n. 17, p. 6889-6892, 2011. -#*0'/#0 &CPKGN RĂĄpido e devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. 28 DHAMI, Mandeep K. Psychological models of professional decision making. Psychological Science, United States, v. 14, n. 2, p. 175-180, 2003. )76*4+' %JTKU 4#%*.+05-+ ,GHHTG[ , 9+564+%* #PFTGY , $NKPMKPI QP VJG DGPEJ JQY LWFIGU FGEKFG cases. Cornell Law Review, United States, v. 93, p. 1-44, 2007. 52#/#00 *QNIGT -.Š*0 .CTU ,WUVKEG KU NGUU DNKPF CPF NGUU NGICNKUVKE VJCP YG VJQWIJV GXKFGPEG HTQO CP experiment with real judges. The Journal of Legal Studies, v. 45, n. 2, p. 255-280, 2016. 2CTC WOC TGXKUÂşQ FQU GUVWFQU UQDTG JGWTĂ&#x2C6;UVKECU G XKGUGU PQ EQPVGZVQ LWFKEKCN XKFG 6'+%*/#0 &QTQP <#/+4 '[CN ,WFKEKCN FGEKUKQP OCMKPI C DGJCXKQTCN RGTURGEVKXG +P 6'+%*/#0 &QTQP <#/+4 '[CN Behavioral economics and the law. Oxford: Oxford University Press, 2014. 32 KAHAN, Dan M. et al. They saw a protest: cognitive illiberalism and the speech-conduct distinction. Stanford Law Review, United States, v. 64, n. 4, p. 851-906, 2012. (74)'510 ,QUJWC 4 $#$%1%- .KPFC 5*#0' 2GVGT / $GJKPF VJG OCUM QH OGVJQF RQNKVKECN QTKGPVCVKQP and constitutional interpretive preferences. Law and Human Behavior, United States, v. 32, p. 502-510, 2008. $#7/ .CYTGPEG Judges and their audiences. Princeton: Princeton University Press, 2006. $4#/#0 'KNGGP 5GCTEJKPI HQT EQPUVTCKPV KP NGICN FGEKUKQP OCMKPI +P -.'+0 &CXKF /+6%*'.. )TGIQT[ The psychology of judicial decision making .QPFQP 1ZHQTF 7PKXGTUKV[ 2TGUU ,1..5 %JTKUVKPG 57056'+0 %CUU 4 &GDKCUKPI VJTQWIJ .CY The Journal of Legal Studies, v. 35, n. 1, p. 199-242, 2006. Para um texto mais recente, incorporando vĂĄrios trabalhos publicados nos Ăşltimos anos, vide PI, &CPKGN 2#4+5+ (TCPEGUEQ .722+ $CTDCTC $KCUKPI FGDKCUKPI CPF VJG NCY +P 6'+%*/#0 &QTQP <#/+4 '[CN Behavioral economics and the law. Oxford: Oxford University Press, 2014. Para uma perspectiva do sistema FG ,WUVKĂ C DTCUKNGKTQ XKFG %156# 'FWCTFQ ,QUĂ&#x192; FC (QPUGEC Levando a imparcialidade a sĂŠrio: proposta de um modelo interseccional entre direito processual, economia e psicologia. 2016. 187 f. Tese (Doutorado em Direito) PontifĂcia Universidade CatĂłlica de SĂŁo Paulo, SĂŁo Paulo, 2016. 'UUG Ă&#x192; WO CTIWOGPVQ VTCVCFQ FG HQTOC GURGEKCNOGPVG GPHÂśVKEC GO $'0(14#&1 #FCO Unfair: the new science of criminal injustice. New York: Crown Publishers, 2015. 8KFG -.'+0$'4) ,QP GV CN *WOCP FGEKUKQPU CPF OCEJKPG RTGFKEVKQPU NBER Working Paper n. 23180. 2017. DisponĂvel em: <http://www.nber.org/papers/w23180>. 8KFG *146# 4KECTFQ FG .KPU G #TIWOGPVCĂ ÂşQ GUVTCVĂ&#x192;IKC G EQIPKĂ ÂşQ UWDUĂ&#x2C6;FKQU RCTC C HQTOWNCĂ ÂşQ FG WOC VGQTKC da decisĂŁo judicial. Revista EletrĂ´nica Direito e Liberdade, v. 18, p. 151-193, 2016. .14& %JCTNGU ) 4155 .GG .'22'4 /CTM 4 $KCUGF #UUKOKNCVKQP CPF CVVKVWFG RQNCTK\CVKQP VJG GHHGEVU QH prior theories on subsequently considered evidence. Journal of Personality and Social Psychology, United States, v. 37, n. 11, p. 2098-2109, 1979. *#4/10 ,10'5 'FFKG *#4/10 ,10'5 %KPF[ EQIPKVKXG FKUUQPCPEG VJGQT[ CHVGT [GCTU QH FGXGNQROGPV Zeitschrift fĂźr Sozialpsychologie, v. 38, n. 1, p. 7-16, 2007. p. 7-9. 0+%-'4510 4C[OQPF 5 %QPĹżTOCVKQP DKCU C WDKSWKVQWU RJGPQOGPQP KP OCP[ )WKUGU Review of General Psychology, United States, v. 2, n. 2, p. 175-220, 1998. 2CTC WOC TGXKUÂşQ TGEGPVG FGUUC NKVGTCVWTC XKFG /1.&'0 &CPKGN % *+))+05 ' 6QT[ /QVKXCVGF VJKPMKPI +P *1.;1#- -GKVJ , /144+510 4QDGTV ) The oxford handbook of thinking and reasoning. New York: Oxford University Press, 2012. 44 KUNDA, Ziva. The case for motivated reasoning. Psychological Buletin, v. 108, n. 3, p. 480-498, 1990. p. 483. 45 HAIDT, Jonathan. Moral Psychology and the law: how intuitions drive reasoning, judgment and the search for evidence. Alabama Law Review, United States, v. 64, n. 4, p. 867-880, 2012. 5647%*+0'4 0QGN $4#0&1 /CTEGNQ 5 %QOQ QU LWĂ&#x2C6;\GU FGEKFGO QU ECUQU FKHĂ&#x2C6;EGKU FQ FKTGKVQ! +P 5647%*+0'4 0QGN 6#8#4'5 4QFTKIQ FG 5QW\C Novas fronteiras da teoria do direito FC ĹżNQUQĹżC OQTCN ´ RUKEQNQIKC experimental. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2014. p. 199-200. /'4%+'4 *WIQ 52'4$'4 &CP YJ[ FQ JWOCPU TGCUQP! CTIWOGPVU HQT CP CTIWOGPVCVKXG VJGQT[ Behavioral and Brain Sciences X R /'4%+'4 *WIQ 6JG CTIWOGPVCVKXG VJGQT[ RTGFKEVKQPU CPF GORKTKECN evidence. Trends in Cognitive Sciences, United Kingdom,v. 20, n. 9, p. 689-700, Sept. 2016.
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Das teorias da interpretação à teoria da decisão: por uma perspectiva realista VREUH DV LQÃ&#x20AC;XrQFLDV H FRQVWUDQJLPHQWRV VREUH D DWLYLGDGH MXGLFLDO
48 TAMANAHA, Brian Z. Beyond the formalist-realist divide: the role of politics in judging. Princeton: Princeton University Press, 2010.p. 6. Tradução livre. #0&'4510 $TWEG Å&#x2018;&KUEQXGT[Å&#x2019; KP NGICN FGEKUKQP OCMKPI .QPFQP -NWYGT #ECFGOKE 2WDNKUJGTU R 5+.8'+4# .WK\ (GTPCPFQ %CUVKNJQU &KUEQXGT[ CPF LWUVKÅ¿ECVKQP QH LWFKEKCN FGEKUKQPU VQYCTFU OQTG RTGEKUG FKUVKPEtions in legal decision-making. Recht en Methode in onderzoek en onderwijs, v. 2014-9, 2014. 51 COSTA, Alexandre A. Judiciário e interpretação: entre polÃtica e direito. Pensar (UNIFOR), Fortaleza, v. 18.1, p. 41-43, 2013.
FROM INTERPRETATION THEORIES TO DECISION THEORY: ON A REALISTIC PERSPECTIVE ABOUT INFLUENCES AND CONSTRAINTS IN JUDICIAL DECISION-MAKING ABSTRACT The idea that it is possible to develop an interpretative method that leads to right answers is still paramount in contemporary jurisprudence, GURGEKCNN[ KP VJG 6JGQT[ QH .GICN #TIWOGPVCVKQP #U C TGUWNV LWFKEKCN behavior is relegated to a secondary role in the development of traditional VJGQTKGU &GUETKRVKXG TGUGCTEJ KP VJKU UWDLGEV KU QHVGP KPURKTGF D[ .GICN 4GCNKUO YJKEJ VQQM FGVGTOKPGF VJG PGGF HQT CP 'ORKTKECN 5EKGPEG QH .CY to be practiced, capable of explaining the role of political-ideological and personal preferences, among others, in judicial decision-making. In the present article, we claim that a realistic theory of interpretation, that treats .CY CU C FGEKUKQP CTGPC CNNQYU HQT C 6JGQT[ QH &GEKUKQP /CMKPI YJKEJ integrates not only discourse, but also strategic, social and reputational factors. To this end, we present various empirical studies, from Cognitive CPF 5QEKCN 2U[EJQNQI[ 2QNKVKECN 5EKGPEG CPF $GJCXKQTCN 'EQPQOKEU VJCV KPXGUVKICVG JQY GZVTCPGQWU HCEVQTU KPÆ&#x20AC;WGPEG CPF EQPUVTCKP LWFKEKCN decision-making. Moreover, we draw upon recent theories on how human TGCUQPKPI TGNCVGU VQ VJG RTQFWEVKQP QH LWUVKÅ¿ECVKQPU VQ CTIWG VJCV KP light of a Theory of Judicial Decision-Making, the opposition between Å&#x2018;FKUEQXGT[Å&#x2019; CPF Å&#x2018;LWUVKÅ¿ECVKQPÅ&#x2019; UJQWNF DG CDCPFQPGF Keywords: ,WFKEKCN FGEKUKQP OCMKPI 6JGQT[ QH .GICN #TIWOGPVCVKQP &KUEQXGT[ KP FGEKUKQP OCMKPI 'ZVTCPGQWU HCEVQTU KP LWFKEKCN FGEKUKQPU Realism in legal interpretation.
Submetido: 31 mar. 2017 Aprovado: 31 maio 2017
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doi:10.12662/2447-6641oj.v15i20.p298-305.2017
UNIDADE DO ORDENAMENTO JURĂ?DICO1 Friedrich MĂźller* 1 Sobre o conceito. 2 Origem histĂłrica. 2.1 Direito racional. 2.2 Positivismo. 2.3 CrĂtica histĂłrica. 3 Nexo com a proibição da negação do direito. 4 CrĂtica da unidade do ordenamento jurĂdico como crĂtica do positivismo. 5 Unidade da constituição. 5.1 Sobre o conceito. 5.2 Origem histĂłrica. 5.3 PrĂĄxis dos tribunais. 5.4 CrĂtica pela teoria estruturante do direito. 6 ConclusĂľes. ReferĂŞncias.
RESUMO Uma expressĂŁo que encerra mĂşltiplas atividades, a Unidade do ordenamento jurĂdico ĂŠ tomada como uma caracterĂstica ou axioma ou postulado do Direito. Filha do Direito Natural de tradução racionalista, foi adotada pelo Direito Positivo. No que toca a unidade como um todo e enquanto unidade da Constituição, a anĂĄlise apresentada ĂŠ conduzida sob os aspectos racionais, histĂłricos e positivistas, assim como sob a orientação da teoria estruturante do Direito. A conclusĂŁo ĂŠ que a Unidade do ordenamento jurĂdico â&#x20AC;&#x201C; como um dado ou uma meta inspiradora da prĂĄtica jurĂdica â&#x20AC;&#x201C; ĂŠ ilusĂłria. Palavras-chave: Unidade. Ordenamento jurĂdico. Constituição. Teoria estruturante do Direito. IlusĂŁo.
1 SOBRE O CONCEITO Compreende-se por â&#x20AC;&#x153;unidadeâ&#x20AC;? do ordenamento jurĂdico, e.g. uma qualidade do sistema EKGPVĂ&#x2C6;ĹżEQ TGHGTKFQ CQ &KTGKVQ 2QUKVKXQ OCU VCODĂ&#x192;O WOC SWCNKFCFG FC CDQTFCIGO CPCNĂ&#x2C6;VKEC G FC UWC TGHGTĂ&#x201E;PEKC K G WOC WPKFCFG FQ EQPJGEKOGPVQ EKGPVĂ&#x2C6;ĹżEQ # Ĺ&#x2018;WPKFCFGĹ&#x2019; FQ &KTGKVQ RQFG UGT KPVTQFW\KFC EQOQ CZKQOC DGO EQOQ RQUVWNCFQ FQ VTCDCNJQ LWTĂ&#x2C6;FKEQ 'PVTGVCPVQ ela se transmuda nĂŁo apenas de acordo com a localização, mas tambĂŠm de uma disciplina para outra, assim entre o Direito PĂşblico e o Direito das Gentes, o Direito Internacional 1
6TCFWĂ ÂşQ FG 2GVGT 0CWOCPP 4GXKUÂşQ FG 2CWNQ $QPCXKFGU 2WDNKECFQ GO /ÂŻ..'4 (TKGFTKEJ O novo paradigma do direito. 3.ed. SĂŁo Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. pp. 101 ss.
*
(TKGFTKEJ /Ă&#x2014;NNGT PCUEGW GO 'UVWFQW &KTGKVQ G (KNQUQĹżC GO 'TNCPIGP 0WTGODGTIWG G (TKDWTIQ GO $TKUICW
#NGOCPJC 'O FQWVQTQW UG GO &KTGKVQ RGNC WPKXGTUKFCFG FG (TKDWTIQ GO $TKUICW G GO QDVGXG Q VĂ&#x2C6;VWNQ FG NKXTG FQEGPVG G C NKEGPĂ C RCTC CUUWOKT EÂśVGFTCU PCU ÂśTGCU FG &KTGKVQ FQ 'UVCFQ &KTGKVQ #FOKPKUVTCVKXQ &KTGKVQ 'ENGUKÂśUVKEQ (KNQUQĹżC FQ &KTGKVQ G FQ 'UVCFQ DGO EQOQ 6GQTKC FQ &KTGKVQ &G C NGEKQPQW PC 7PKXGTUKFCFG FG (TKDWTIQ GO $TKUICW 'O CUUWOKW WOC EÂśVGFTC PC (CEWNFCFG FG &KTGKVQ FC 7PKXGTUKFCFG de Heidelbergue, onde coordenou o NĂşcleo de Direito PĂşblico de 1973 a 1975. A partir de 1975, e novamente a partir de 1979, foi diretor daquela Faculdade de Direito. Desde 1989, vem-se destacando nas ĂĄreas de pesquisa e FG RWDNKECĂ Ă?GU EKGPVĂ&#x2C6;ĹżECU 6CODĂ&#x192;O VGO CVWCFQ EQOQ RTQHGUUQT XKUKVCPVG G RGUSWKUCFQT GO FKXGTUCU WPKXGTUKFCFGU GUVTCPIGKTCU UQDTGVWFQ PC Â?HTKEC FQ 5WN G PQ $TCUKN #NĂ&#x192;O FG UWC ECTTGKTC LWTĂ&#x2C6;FKEC (TKGFTKEJ /Ă&#x2014;NNGT VCODĂ&#x192;O UG FGUVCEC EQOQ NKVGTCVQ RQGUKC G RTQUC VTCFWVQT G EKPGUVC ' OCKN OWNNGTHGFLC"CTEQT FG
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Unidade do ordenamento jurĂdico
2TKXCFQ Q &KTGKVQ 2GPCN G Q &KTGKVQ %KXKN 0C UWC OKUVWTC EQO QWVTCU XCTKCPVGU FG UKIPKĹżECFQ o argumento revela ser usado de modo muito inseguro.
2 ORIGEM HISTĂ&#x201C;RICA &+4'+61 4#%+10#. # GZRTGUUÂşQ OWNVĂ&#x2C6;XQEC FC WPKFCFG FQ QTFGPCOGPVQ LWTĂ&#x2C6;FKEQ Ă&#x192; ĹżNJC FQ &KTGKVQ 4CEKQPCN da tradição racionalista, tendo sido adotada mais tarde pelo positivismo. O jusnaturalismo de data mais recente bem como o positivismo procedem axiomaticamente, querem construir WO UKUVGOC TKIQTQUQ FQ EQPJGEKOGPVQ GZCVQ G ECTGEGO FQ TCEKQEĂ&#x2C6;PKQ EQFKĹżECPVG Q NGIKUlador regulamentou em abordagem autoritĂĄria tudo o que merece ser regulamentado; fora das suas instruçþes sĂł se pode conceber o â&#x20AC;&#x153;espaço vazio de direitoâ&#x20AC;? [â&#x20AC;&#x153;rechtsleerer Raumâ&#x20AC;?]. Considera-se â&#x20AC;&#x153;coerenteâ&#x20AC;? [â&#x20AC;&#x153;geschlossenâ&#x20AC;?] o Direito sistematizado e formalizado, monopoli\CFQ G DWTQETCVK\CFQ RGNQ 'UVCFQ KPUVKVWEKQPCNK\CFQ EQPVKPGPVCN FC 'WTQRC OQFGTPC 6QFQ o comportamento humano deverĂĄ ser normatizĂĄvel, antecipĂĄvel por meio de normas. Ao QTFGPCOGPVQ LWTĂ&#x2C6;FKEQ GPSWCPVQ GPITGPCIGO LWTĂ&#x2C6;FKEC =4GEJVUDGVTKGD? EQTTGURQPFG ´ KOCgem da â&#x20AC;&#x153;unidadeâ&#x20AC;? do estoque de normas. A doerĂŞncia enquanto integralidade bem como enquanto isenção de contradiçþes internas foi o pressuposto ingĂŞnuo da ideia da legislação abrangente, do otimismo social da ĂŠpoca do Direito Racional, sem com isso chegar a ser um programa da ciĂŞncia e prĂĄtica jurĂdicas. 2.2 POSITIVISMO Somente a ciĂŞncia das pandectas e o positivismo legalista exageraram esse enfoque na direção da pretensĂŁo de poder operar a ciĂŞncia jurĂdica como sistema conceitual coerente, de poder derivar decisĂľes por via da lĂłgica a partir do sistema, do conceito e da doutrina =.GJTUCV\? G FG RQFGT UQNWEKQPCT ECUQU LWTĂ&#x2C6;FKEQU RQT OGKQ FC UWDUWPĂ ÂşQ UKNQIĂ&#x2C6;UVKEC 1U conceitos jurĂdicos parecem oferecer um numerus clausus de axiomas. NĂŁo mais o prĂłprio ordenamento jurĂdico, mas o sistema conceitual de uma ciĂŞncia jurĂdica purista deve estar FGĹżPKFQ PGEGUUCTKCOGPVG RQT Ĺ&#x2018;WPKFCFGĹ&#x2019; # TGCNKFCFG Ă&#x192; TGRTKOKFC FC ÂśTGC FG CVWCĂ ÂşQ FQ VTCDCNJQ LWTĂ&#x2C6;FKEQ 1 RQUKVKXKUOQ RGTIWPVC EQOQ C EKĂ&#x201E;PEKC LWTĂ&#x2C6;FKEC UG RQFGTKC VQTPCT CWVĂ?PQOC como ela poderia proceder â&#x20AC;&#x153;de modo puramente jurĂdicoâ&#x20AC;?. O fato de essa orientação prĂŠvia constituir um fator polĂtico jĂĄ foi percebido pelo positivismo dos GrĂźnderjahre* (v. Gerber).1 A aparente coerĂŞncia e nĂŁo contraditoriedade do direito dogmaticamente formalizado, a sua â&#x20AC;&#x153;força de expansĂŁo lĂłgicaâ&#x20AC;? (Bergbohm)2, a capacidade dos conceitos jurĂdicos de â&#x20AC;&#x153;copularâ&#x20AC;? e â&#x20AC;&#x153;gerar novos [conceitos]â&#x20AC;? (assim o novem Ihering) nĂŁo traem apenas a fĂŠ na inimpugnaDKNKFCFG FC NĂ&#x17D;IKEC LWTĂ&#x2C6;FKEC OCU VCODĂ&#x192;O WOC RQNĂ&#x2C6;VKEC EKGPVĂ&#x2C6;ĹżEC DGO FGĹżPKFC
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%4 6+%# *+56ÂŚ4+%# Por volta da Ăşltima virada do sĂŠculo essa doutrina dominante foi contestada. Falava-se, GPVÂşQ FQ Ĺ&#x2018;FQIOC GTTĂ?PGQ FC EQGTĂ&#x201E;PEKC FQ UKUVGOC LWTĂ&#x2C6;FKEQĹ&#x2019; )GQTI ,GNNKPGM3, similarmente 'TKEJ ,WPI 4 A doutrina da Escola do Direito Livre, a jurisprudĂŞncia de interesses e o debate em torno das orientaçþes do Direito PĂşblico na dĂŠcada de 1920 tornou patente o fracasso da VGUG ETKRVQ LWUPCVWTCNKUVC FC WPKFCFG 'O HTGPVG CORNC QU CWVQTGU FC DKDNKQITCĹżC LWTĂ&#x2C6;FKEC especializada bandearam-se para o campo das metĂĄforas de â&#x20AC;&#x153;sistemasâ&#x20AC;? jurĂdicos, abertos, fragmentĂĄrios, nĂŁo axiomĂĄticos, nĂŁo dedutĂveis, de sistemas ditos mĂłveis. Os problemas reconhecĂveis na prĂĄxis cotidiana do trabalho jurĂdico passaram a assumir a liderança, relegando a um segundo plano a fĂŠ no sistema e na unidade.
3 NEXO COM A PROIBIĂ&#x2021;Ă&#x192;O DA NEGAĂ&#x2021;Ă&#x192;O DO DIREITO Para o positivismo o Direito deve, para poder ser â&#x20AC;&#x153;aplicĂĄvelâ&#x20AC;? logicamente, ser pressuposto nĂŁo apenas como isento de contradiçþes, mas tambĂŠm como isento de lacunas. Tal estado VKPJC UKFQ C OGVC FCU EQFKĹżECĂ Ă?GU FQ &KTGKVQ 4CEKQPCN JÂś OWKVQ CDCPFQPCFC # EKĂ&#x201E;PEKC FCU RCPFGEVCU G Q RQUKVKXKUOQ Ĺż\GTCO EQO SWG Q RQUVWNCFQ UG FGUNQECUUG RCTC C CWUĂ&#x201E;PEKC FG NCEWPCU PÂşQ FQ UKUVGOC FG PQTOCU OCU FQ UKUVGOC FG EQPEGKVQU 'UUC OGVCHĂ&#x2C6;UKEC FWXKFQUC FG um jusnaturalismo burguĂŞs dos GrĂźnderjahre desempenhava tambĂŠm uma função polĂtica de primeira ordem. O debate em torno do assim chamado direito jurisprudencial procurou aqui C UWC NQECNK\CĂ ÂşQ FGUFG C 'UEQNC FQ &KTGKVQ .KXTG &GXG UG TGIKUVTCT CSWK SWG C RTQKDKĂ ÂşQ FC negação do Direito das sociedades modernas nĂŁo necessita da ausĂŞncia de lacunas enquanto EQTTGNCVQ EQPHQTOG HQK CĹżTOCFQ RQKU FGXG UG FKUVKPIWKT RQT WO NCFQ GPVTG Q GUVQSWG FG normas e as necessidades efetivas da prĂĄxis e, por outro lado, entre o Direito material e o Direito processual. Medida pela demanda social de normatização, cada ordenamento jurĂdico GXKFGPEKQW UGT KPEQORNGVQ CVĂ&#x192; C CVWCNKFCFG 0Q 'UVCFQ FG &KTGKVQ WOC RCTVG NKVKICPVG TGEGDG mesmo em uma decisĂŁo de indeferimento no conteĂşdo, que, no entanto, ĂŠ processualmente correta, a resposta do direito vigente, que lhe cabe de direito. A proibição da negação do Direito nĂŁo força a suposição de uma unidade coerente.
4 CRĂ?TICA DA UNIDADE DO ORDENAMENTO JURĂ?DICO COMO CRĂ?TICA DO POSITIVISMO &GUFG C 'UEQNC FQ &KTGKVQ .KXTG C LWTKURTWFĂ&#x201E;PEKC FG KPVGTGUUGU G C EKĂ&#x201E;PEKC LWTĂ&#x2C6;FKEC FG QTKGPVCĂ ÂşQ UQEKQNĂ&#x17D;IKEC C QDLGĂ ÂşQ VTCFKEKQPCN EQPVTC QU FQIOCU WPKVCTKUVCU CĹżTOC SWG C KPtegralidade do ordenamento jurĂdico seria apenas um postulado, pois o juiz sempre se veria diante da necessidade de â&#x20AC;&#x153;preencher lacunas da lei por meio de um ato de criação do direitoâ&#x20AC;? (Arthur Kaufmann).5 6CN ETĂ&#x2C6;VKEC PÂşQ Ă&#x192; UWĹżEKGPVGOGPVG CORNC 'NC CRQPVC RCTC C GZRGTKĂ&#x201E;PEKC EQVKFKCPC FC KPUWĹżEKĂ&#x201E;PEKC NĂ&#x17D;IKEC FC RTÂśZKU LWTĂ&#x2C6;FKEC RCTC Q HTCECUUQ FQU KFGCKU FQ Ĺ&#x2018;UKNQIKUOQĹ&#x2019; G
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da â&#x20AC;&#x153;subsunçãoâ&#x20AC;?. Ocorre que aqui o conceito da norma e as qualidades do que ele designa nĂŁo sĂŁo pensadas atĂŠ as suas Ăşltimas consequĂŞncias. Com sua imagem do direito como unidade, com sua compreensĂŁo da decisĂŁo como subsunção lĂłgica, com sua eliminação de todos os elementos da ordem social que nĂŁo foram nĂŁo dogmatizados no texto da norma, o positivismo EQO GHGKVQ UGIWKW G EQPVKPWC UGIWKPFQ WOC ĹżEĂ ÂşQ /CU CU FQWVTKPCU FQ &KTGKVQ .KXTG FQ Direito determinado por interesses, do Direito jurisprudencial, a TĂłpica, a HermenĂŞutica originĂĄria das CiĂŞncias Humanas [geisteswissenschaftliche Hermeneutik], o Decisionismo, a Doutrina Integracionista e os antipositivismos restantes preferiram formular crĂticas no nĂvel dos detalhes em vez de questionar a norma e o conceito de norma. Se, no entanto, tanto a norma jurĂdica e o texto da norma SWCPVQ ´ PQTOC LWTĂ&#x2C6;FKEC G C norma de decisĂŁo forem distinguidas sistematicamente (por parte da Teoria Estruturante do Direito), a ideia do â&#x20AC;&#x153;Direito Vigenteâ&#x20AC;? se esclarece: o que se costuma designar por esse termo ĂŠ o conjunto dos textos das normas, que devem ser desenvolvidos apenas no caso na direção de normas jurĂdicas, de acordo com regras de mĂŠtodo, sendo que essas normas jurĂdicas, por UWC XG\ FGXGO UGT FGUGPXQNXKFCU PC FKTGĂ ÂşQ FG PQTOCU FG FGEKUÂşQ 'UENCTGEG UG QWVTQUUKO que â&#x20AC;&#x153;unidadeâ&#x20AC;?, â&#x20AC;&#x153;integralidadeâ&#x20AC;? e â&#x20AC;&#x153;coerĂŞnciaâ&#x20AC;? foram confundidas com a positividade e equiXCNĂ&#x201E;PEKC FCU PQTOCU FG WOC EQFKĹżECĂ ÂşQ DGO EQOQ EQO C KFGPVKFCFG FQ GUVQSWG FG PQTOCU consigo mesma.
5 UNIDADE DA CONSTITUIĂ&#x2021;Ă&#x192;O 5.1 51$4' 1 %10%'+61 'UUG GPHQSWG VCODĂ&#x192;O RGTOKVG FGUETGXGT OCKU RTGEKUCOGPVG QU OQFQU FG WVKNK\CĂ ÂşQ da expressĂŁo â&#x20AC;&#x153;unidade da constituiçãoâ&#x20AC;?. # VGQTKC GUVTWVWTCPVG FC EQPUVKVWKĂ ÂşQ FGĹżPKW EQO DCUG PGUUG GZGORNQ Q RGTĹżN FG CNIWPU VKRQU FG EQPEGRĂ Ă?GU FG WPKFCFG formal (ausĂŞncia de lacunas â&#x20AC;&#x201C; nĂŁo contraditoriedade; unidade do texto, unidade do nĂvel hierĂĄrquico de fontes do direito - unidade da estrutura da constituição) e de vĂĄrias teorias da unidade em termos de conteĂşdo, a saber modalidades ideolĂłgicas, de histĂłria da constituição, legitimadoras, funcionais e metodolĂłgicas do recurso a uma unidade da constituição. 14+)'/ *+56ÂŚ4+%# As origens da expressĂŁo â&#x20AC;&#x153;unidade da constituiçãoâ&#x20AC;? estĂŁo na RepĂşblica de Weimar. Para Smend6, uma constituição ĂŠ a normatização de aspectos individuais do processo no qual o 'UVCFQ RTQFW\ EQPUVCPVGOGPVG Q UGW RTQEGUUQ XKVCN RQT KUUQ GUVC PÂşQ FGXG XKUCT C RCTVKEWNCTKFCFGU OCU Ĺ&#x2018;C VQVCNKFCFG FQ 'UVCFQ G C VQVCNKFCFG FQ UGW RTQEGUUQ FG KPVGITCĂ ÂşQĹ&#x2019; 'UVCOQU CSWK PÂşQ CRGPCU FKCPVG FG WO RGPUCOGPVQ SWG XKUC ´ VQVCNKFCFG OCU FKCPVG FG WO RGPUC-
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mento a partir da totalidade e da sua unidade. Kelsen7 registrou o aspecto problemĂĄtico desse JQNKUOQ 2CTC GNG C WPKFCFG FQ 'UVCFQ UQOGPVG RQFG UGT HWPFCOGPVCFC PQTOCVKXCOGPVG Q ordenamento jurĂdico constitui uma unidade apenas enquanto ordenamento lĂłgico: com a SWCNKFCFG FG RQFGT UGT FGUETKVQ GO PQTOCU LWTĂ&#x2C6;FKECU =4GEJVUUÂźV\GP? SWG PÂşQ UG EQPVTCFKICO reciprocamente. A grandeza formal â&#x20AC;&#x153;norma fundamentalâ&#x20AC;? constitui a unidade na multiplicidade das normas. Diante disso, Carl Schmitt8 EJCOQW C CVGPĂ ÂşQ ´U KPUWĹżEKĂ&#x201E;PEKCU FG WOC acepção que se restringe ao imperativo isolado pelo positivismo e, conforme devemos acresEGPVCT UQDTGVWFQ ´ ĹżIWTC NKPIĂ&#x2014;Ă&#x2C6;UVKEC FC PQTOC CQ VGZVQ FC PQTOC /CU C XQPVCFG GZKUVGPVG por força do decisionismo, que sĂł quer a si mesma, atropela toda e qualquer normatividade materialmente vinculada: â&#x20AC;&#x153;a totalidade da unidade polĂticaâ&#x20AC;? (Schmitt)9 oferece um exemplo extremado de holismo nĂŁo estruturado. Totalidade enquanto fonte de argumentos tende ao RQFGT G ´ UWC OCPKRWNCĂ ÂşQ KPEQPVTQNCFC # GUUC VGPFĂ&#x201E;PEKC Q 'UVCFQ FG &KTGKVQ EQPVTCRĂ?G QU KORGTCVKXQU FC XKPEWNCĂ ÂşQ CQ FKTGKVQ G ´ EQPUVKVWKĂ ÂşQ FC FGVGTOKPKFCFG FQ UWRQTVG HÂśVKEQ FC ENCTG\C FQU OĂ&#x192;VQFQU G FC HWPFCOGPVCĂ ÂşQ TCEKQPCN UWĹżEKGPVG +PHGTĂ&#x201E;PEKCU C RCTVKT FQ VQFQ G FC UWC WPKFCFG PÂşQ CVGPFGO UWĹżEKGPVGOGPVG ´U GZKIĂ&#x201E;PEKCU FG mĂŠtodos democraticamente XKPEWNCFQU G EQPĹżIWTCFQU EQPHQTOG Q 'UVCFQ FG &KTGKVQ 24Â?:+5 &15 64+$70#+5 Na prĂĄxis, a Corte Constitucional Federal RTQEWTC KORQT FGUFG C UGPVGPĂ C UQDTG Q 'UVCFQ FQ 5WFQGUVG $8GTH)' UU C XKUÂşQ FC .GK (WPFCOGPVCN EQOQ WOC WPKFCFG 1 Superior Tribunal Federal segue essa linha ocasionalmente com fĂłrmulas do tipo â&#x20AC;&#x153;unidade indivisĂvelâ&#x20AC;? ou â&#x20AC;&#x153;totalidade da ordem de valoresâ&#x20AC;?. O Poder JudiciĂĄrio gerou um caos de modos de utilização FGUUG CTIWOGPVQ #UUKO C m %¸OCTC FC %QTVG %QPUVKVWEKQPCN (GFGTCN CĹżTOC PC UWC VGUG sobre a unidade que haveria diferenças hierĂĄrquicas genĂŠricas no direito constitucional positivo; contrariamente, na acepção da 1ÂŞ Câmara da mesma Corte infere-se, desde a sentença UQDTG C KIWCNFCFG FG FKTGKVQU $8GTH)' UU LWUVCOGPVG FC WPKFCFG FC EQPUVKVWKĂ ÂşQ SWG CU PQTOCU FC .GK (WPFCOGPVCN FGXGO GO RTKPEĂ&#x2C6;RKQ VGT C OGUOC FKIPKFCFG JKGTÂśTSWKEC &Q RQPVQ FG XKUVC FQ 'UVCFQ FG &KTGKVQ C KPVGTRTGVCĂ ÂşQ FC m %¸OCTC GO EQPHQTOKFCFG com o princĂpio, revela-se insustentĂĄvel. %4 6+%# 2'.# 6'14+# '5647674#06' &1 &+4'+61 Um exame sob perspectivas formais, de conteĂşdo e de metodologia, conduz a resulVCFQU ENCTQU C .GK (WPFCOGPVCN PGO Ă&#x192; PGEGUUCTKCOGPVG FGUVKVWĂ&#x2C6;FC FG NCEWPCU PGO ea ipsa isenta de contradiçþes. Mas ela ordena a integralidade do texto e o rigor do texto, nesse sentido, uma unidade do documento constitucional GO PĂ&#x2C6;XGN HQTOCN 'NG PÂşQ CRTGUGPVC ITCWU hierĂĄrquicos distintos nem dissocia grupos individuais de normas juriciamente dos outros ITWRQU 2QT KUUQ C .GK (WPFCOGPVCN EQPJGEG WOC WPKFCFG FQ grau hierĂĄrquico das fontes do
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direito e, desconsideradas as prescriçþes sobre o estado de emergĂŞncia, uma unidade da sua estrutura normativa. Para esses casos, a expressĂŁo â&#x20AC;&#x153;unidade da constituiçãoâ&#x20AC;? poderia ser utiNK\CFC GODQTC UGLC UWRĂ&#x192;TĆ&#x20AC;WC 1 SWG GNC FK\ TGUWNVC FCU SWCNKFCFGU IGPĂ&#x192;TKECU FC EQPUVKVWKĂ ÂşQ escrita ou das normas constitucionais individuais. Todas as perguntas por uma unidade FC EQPUVKVWKĂ ÂşQ UÂşQ FG SWCNSWGT OQFQ RCTC C .GK (WPFCOGPVCN FC 4GRĂ&#x2022;DNKEC (GFGTCN FC Alemanha, respondidas pelas qualidades da sua positividade. A positividade da constituição resolve tanto os casos nos quais o discurso da unidade da constituição fracassa diante da prĂłpria constituição (ausĂŞncia de lacunas, isenção de contradiçþes, unidade ideolĂłgica), como tambĂŠm os casos nos quais a tese da unidade jĂĄ se vĂŞ fundamentada pelo Direito Positivo (unidade legimadora, unidade funcional, unidade enquanto meio da interpretação sistemĂĄtica e harmonizadora da constituição). O mesmo vale para os tipos jĂĄ mencionados supra (unidade do documento, unidade do grau hierĂĄrquico das fontes do direito bem como da estrutura normativa da constituição).
6 CONCLUSĂ&#x2022;ES A expressĂŁo â&#x20AC;&#x153;unidade da constituiçãoâ&#x20AC;? pode ser abandonada tambĂŠm quando ela RQFGTKC UGT WVKNK\CFC EQO UGPVKFQ 'NC PÂşQ RQFG EQPVKPWCT UGTXKPFQ C VGPVCVKXCU FG CRCICT C linha de fronteira entre argumentos orientados segundo as normas e os argumentos de polĂtica jurĂdica desvinculada do Direito. A tentativa de salvação estimada desde os escritos de Smend10 de considerar a unidade nĂŁo como um dado [gegeben], mas sim como uma tarefa [aufgegeben] tambĂŠm nĂŁo leva mais longe, conforme a prĂĄxis do tribunal supremo mostra involuntariamente. Se a unidade nĂŁo existe enquanto dado nem pode ser tornada plausĂvel, ela tambĂŠm nĂŁo existe como meta a ser atingida na prĂĄxis. Do contrĂĄrio, sĂł substituiremos uma ilusĂŁo por outra, a ilusĂŁo positivista pela ilusĂŁo antipositivista. O que conduz mais longe ĂŠ uma estruturação pĂłs-positivista do campo de problemas. Os argumentos enganosos [schillernd] da â&#x20AC;&#x153;unidadeâ&#x20AC;?, seja do ordenamento jurĂdico na sua totalidade, seja da constituição, levaram a caminhos errados. Constituem exemplos de um holismo irracional do trabalho jurĂdico que pode ser abandonado sem prejuĂzo desse mesmo trabalho, que deveria ser abandonado no interesse de uma atuação dos juristas em EQPHQTOKFCFG EQO Q 'UVCFQ FG &KTGKVQ
REFERĂ&#x160;NCIAS $'4)$1*/ -CTN Jurisprudenz und Rechtsphilosophie .GKR\KI 8GTNCI 8QP &WPEMGT & Humblot, 1892. v. 1. BURCKHARDT, Walter. Die LĂźcken des Gesetzes und der Gesetzesauslegung. Bern: [s.n], 1925.
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'0)+5%* -CTN &GT TGEJVUHTGKG 4CWO <GKVUEJTKHV HÃ&#x2014;T FKG IGUCOVG 5VTCHTGEJVUYKUUGPUEJCHV ,QWTPCN QH +PUVKVWVKQPCN CPF 6JGQTGVKECN 'EQPQOKEU ,QWTPCN QH +PUVKVWVKQPCN CPF 6JGQTGVKECN 'EQPQOKEU Germany, Bd. 108, H. 3, p. 385-340, 1952. AAAAAA Die Einheit der Rechtsordnung. Heidelberg: [s.n.], 1935. )'4$'4 %CTN (TKGFTKEJ 9KNJGNO XQP Grundzüge des deutschen Staatsrechts. 3. ed. .GKR\KI =U P ? ,'..+0'- )GQTI Allgemeine Staatslehre. 3. ed. Darmstadt: [s.n.], 1960. ,70) 'TKEJ 8QP FGT yNQIKUEJGP ,WTKUVGPHCMWNV¼V HÃ&#x2014;T *GKPTKEJ &GTPDWTI )GUEJNQUUGPJGKV +P ('56)#$' FGU 4GEJVU )KGUUGPGT ,WTKUVGPHCMWNV¼V HÃ&#x2014;T *GKPTKEJ &GTPDWTI $GTNKP 9 H. Muller, 1900. KAUFMANN, Arthur. Gedanken zu einer ontologischen Grundlegung der juristischen Hermeneutik. In: HORN, Norbert Horn. Europäisches Rechtsdenken in Geschichte und Gegenwart: festschrift für Helmut Coing zum 70. München: Geburststag, 1982. v. 1, p. 53l7. -'.5'0 *CPU Reine Rechtslehre. 2 ed. Viena: Deuticke, 1960. .#$#0& 2CWN Das Staatsrecht des Deutschen Reiches. 5. ed. Tübingen:[s.n.], 1911. v. 1. .#4'0< -CTN Methodenlehre der Rechtswissenschaft. 5. ed. Heidelberg: [s.n.], 1983. .7*/#00 0KMNCU &KG 'KPJGKV FGU 4GEJVUU[UVGOU Rechtstheorie 14, H. 2, p. 129-154, 1983. /¯..'4 (TKGFTKEJ Die Einheit der Verfassung: elemente einer Verfassungstheorie III. Berlin: [s.n.], 1979. AAAAAA Strukturierende Rechtslehre. 2. ed. Berlin: [s.n.], 1994. AAAAA Juristische methodik. 7. ed. Berlin: [s.n.], 1997. SCHMITT, Carl. Vergfassungslehre. 4. ed. Berlin: [s.n.], 1965. 5/'0& 4WHQNH Verfassung und Verfassungsrecht. München: [s.n.] 1928. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
)'4$'4 %CTN (TKGFTKEJ 9KNJGNO XQP Grundzüge des deutschen Staatsrechts GF .GKR\KI =U P ? $'4)$1*/ -CTN Jurisprudenz und Rechtsphilosophie .GKR\KI 8GTNCI 8QP &WPEMGT *WODNQV X ,'..+0'- )GQTI Allgemeine Staatslehre. 3. ed. Darmstadt: [s.n.], 1960. ,70) 'TKEJ 8QP FGT yNQIKUEJGP ,WTKUVGPHCMWNV¼V HÃ&#x2014;T *GKPTKEJ &GTPDWTI )GUEJNQUUGPJGKV +P ('56)#$' FGU 4GEJVU )KGUUGPGT ,WTKUVGPHCMWNV¼V HÃ&#x2014;T *GKPTKEJ &GTPDWTI $GTNKP 9 * /WNNGT KAUFMANN, Arthur. Gedanken zu einer ontologischen Grundlegung der juristischen Hermeneutik. In: HORN, Norbert Horn. Europäisches Rechtsdenken in Geschichte und Gegenwart: festschrift für Helmut Coing zum 70. München: Geburststag, 1982. v. 1, p. 53l7. 5/'0& 4WHQNH Verfassung und Verfassungsrecht. München: [s.n.] 1928. -'.5'0 *CPU Reine Rechtslehre. 2 ed. Viena: Deuticke, 1960. SCHMITT, Carl. Vergfassungslehre. 4. ed. Berlin: [s.n.], 1965. SCHMITT, Carl. Vergfassungslehre. 4. ed. Berlin: [s.n.], 1965. 5/'0& 4WHQNH Verfassung und Verfassungsrecht. München: [s.n.] 1928.
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THE UNITY OF LEGAL SYSTEM ABSTRACT An expression that carries multiple meanings, the unity of the legal system is taken as a legal characteristic, axiom or postulate. Arising from Natural .CY QH VJG TCVKQPCNKUV VTCFKVKQP VJG KFGC QH WPKV[ YCU CFQRVGF D[ 2QUKVKXG .CY 9JGVJGT TGICTFKPI VJG NGICN U[UVGO CU C YJQNG QT VJG %QPUVKVWVKQP the analysis presented here is conducted under rational, historical and positivist aspects, and also under the guidance of the Structuring Theory QH .CY 6JG EQPENWUKQP KU VJCV VJG WPKV[ QH VJG NGICN U[UVGO Å&#x152; CU C FCVC or as an inspiring goal of legal practice - is illusory. Keywords: 7PKV[ .GICN U[UVGO %QPUVKVWVKQP 5VTWEVWTKPI 6JGQT[ QH .CY +NNWUKQP
Submetido: 17 abr. 2017 Artigo convidado
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doi:10.12662/2447-6641oj.v15i20.p306-323.2017
A EXCEĂ&#x2021;Ă&#x192;O COMO DISPOSITIVO DE GOVERNO1 Luciano Nuzzo* +PVTQFWĂ ÂşQ 'ZEGREKQPCNKUOQ UQDGTCPQ %TKUG # PQTOCNK\CĂ ÂşQ FC GZEGĂ ÂşQ Soberania e biopoder. 6 ConclusĂŁo. ReferĂŞncias.
RESUMO Por meio da discussĂŁo das ideias de Carl Schmitt e Walter Benjamin, Michel Foucault e Giorgio Agamben, este artigo visa a analisar o funcionamento de WO FKURQUKVKXQ FG IQXGTPQ SWG WUC C GZEGĂ ÂşQ EQOQ PQTOC 'UUG FKURQUKVKXQ Ă&#x192; FGĹżPKFQ EQOQ Ĺ&#x2018;GZEGREKQPCNKUOQ UQDGTCPQĹ&#x2019; G KPVTQFW\ PQXCU HQTOCU FG controle, que resultam de uma combinação inĂŠdita entre excepcionalismo e governamentalidade, em que o Direito e as instituiçþes democrĂĄticas continuam a existir, mas sĂŁo sempre mais esvaziadas, revogadas por meio de prĂĄxis governamentais. O excepcionalismo soberano, em Ăşltima instância, coloca-nos frente aos paradoxos do Direito e desconstrĂłi radicalmente a geometria polĂtica moderna e a razĂŁo que constituiu seu pressuposto. Palavras-chave: Crise. Soberania. Biopoder.
1 INTRODUĂ&#x2021;Ă&#x192;O O objetivo destas pĂĄginas ĂŠ analisar um dispositivo de poder que faz da exceção o UGW GUVCVWVQ QRGTCVKXQ 'UUG FKURQUKVKXQ FGVGTOKPC PQXCU HQTOCU FG TGNCĂ ÂşQ GPVTG &KTGKVQ G 2QNĂ&#x2C6;VKEC GPVTG RGTVGPEKOGPVQ G FKTGKVQU RTQFW\KPFQ WOC EQPVĂ&#x2C6;PWC TGFGĹżPKĂ ÂşQ FQ UGPVKFQ dos conceitos e das categorias com as quais a PolĂtica e o Direito na modernidade haviam representado o espaço da prĂłpria operatividade.1-2 O que quero fazer emergir ĂŠ um quadro complexo no qual discursos, prĂĄticas e instituiçþes constroem o que usam como objeto do prĂłprio saber-poder.3 Nas palavras de Michel Foucault, o dispositivo representa: Um conjunto absolutamente heterogĂŞneo, que implica discurso, instituiçþes, estruVWTCU CTSWKVGVĂ?PKECU FGEKUĂ?GU TGIWNCVĂ&#x17D;TKCU NGKU OGFKFCU CFOKPKUVTCVKXCU EQO CU SWCKU se intervĂŠm nas relaçþes para orientĂĄ-las a uma certa direção, seja para bloqueĂĄ-las QW RCTC ĹżZÂś NCU G WVKNK\Âś NCU FG OQFQ GUVTCVĂ&#x192;IKEQ PQ KPVGTKQT FCU TGNCĂ Ă?GU FG RQFGT 4 1
Tradução do Italiano para o Português de Diego de Paiva Vasconcelos, Professor da Universidade Federal FG 4QPF�PKC G FQWVQTCPFQ PC (CEWNFCFG 0CEKQPCN FG &KTGKVQ FC 7(4, $QNUKUVC %CRGU 2&5'
.WEKCPQ 0W\\Q Ă&#x192; Ĺ&#x2018;4KEGTECVQTG EQPHGTOCVQĹ&#x2019; RGUSWKUCFQT GHGVKXQ FG (KNQUQĹżC FQ &KTGKVQ G 2TQHGUUQT &QWVQT FG .Ă&#x17D;IKEC G 6GQTKC FC #TIWOGPVCĂ ÂşQ ,WTĂ&#x2C6;FKEC FQ &GRCTVCOGPVQ FG %KĂ&#x201E;PEKCU ,WTĂ&#x2C6;FKECU FC 7PKXGTUKV´ FGN Salento. Atualmente ĂŠ pesquisador visitante com uma bolsa do CNPq na Faculdade de Direito da UFRJ. ' OCKN NWEKCPQ PW\\Q"WPKUCNGPVQ KV
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A exceção como dispositivo de governo
As polĂticas em matĂŠria de terrorismo e, sobretudo, as polĂticas em matĂŠria de imigração que muitos paĂses adotaram nas duas Ăşltimas dĂŠcadas nos impele a compreender como os FKURQUKVKXQU FG IQXGTPQ TGEQTTGO GO OQFQ FKHWUQ ´ GZEGĂ ÂşQ 0Q PQXQ EQPVGZVQ JKUVĂ&#x17D;TKEQ RQNĂ&#x2C6;VKEQ RĂ&#x17D;U EQNQPKCN FC INQDCNK\CĂ ÂşQ FCU PQXCU IWGTTCU CQ VGTTQTKUOQ G FQU HQTVGU Ć&#x20AC;WZQU migratĂłrios que atravessam velhas e novas fronteiras, as prĂĄticas de governo excepcionais TGFGUGPJCO C IGQITCĹżC RQNĂ&#x2C6;VKEC G LWTĂ&#x2C6;FKEC FG WO 1EKFGPVG UWRQUVCOGPVG PWVTKFQ FG RTKPEĂ&#x2C6;RKQU WPKXGTUCNKUVCU G FKTGKVQU EKXKU 'UUC EGPVTCNKFCFG FQ WUQ FC GZEGĂ ÂşQ PCU RTÂśVKECU IQXGTPCOGPVCKU TGEQPĹżIWTCO GUVG FKURQUKVKXQ G PQU HQTĂ C C TGĆ&#x20AC;GVKT UQDTG Q &KTGKVQ G C HQTOC FG QTICPK\CĂ ÂşQ SWG UG EQUVWOC FGUETGXGT RGNQ UKPVCIOC 'UVCFQ %QPUVKVWEKQPCN FG &KTGKVQ 7OC HQTOC SWG aponta descontinuidade com um passado e que pressupĂľe um sistema institucional centrado PC NGIKVKOCĂ ÂşQ FQ RQFGT RQT OGKQ FC TGHGTĂ&#x201E;PEKC ´ NGK QTFKPÂśTKC G EQPUVKVWEKQPCN 5 Aquilo que parece emergir por meio desse dispositivo ĂŠ a transformação do estado de GZEGĂ ÂşQ GO WO GUVCFQ FG PQTOCNKFCFG 'O WO SWCFTQ QPFG C TGIWNCĂ ÂşQ WPKVÂśTKC ICTCPVKFC pelo Direito PĂşblico Constitucional ĂŠ fraturada, assistimos a uma pluralidade de autoridades UGOK UQDGTCPCU UGOK EQPUVKVWKPVGU SWG QRGTCO PQU EQPĹżPU FC NGK PQ UGW GURCĂ Q KPVGTUVKEKCN FGPVTQ G HQTC FQU EQPĹżPU FC UQDGTCPKC +UUQ UKIPKĹżEC SWG C GZEGĂ ÂşQ HWPEKQPC PQ KPVGTKQT FG um processo de gestĂŁo e administração da contingĂŞncia. A consequĂŞncia ĂŠ que a exceção PÂşQ RGTVGPEG OCKU ´ GZEGĂ ÂşQ G C PQTOC CQ FKTGKVQ FG GZEGĂ ÂşQ EQOQ RTGFKECXC %CTN 5EJOKVV Procurando descrever o funcionamento desse dispositivo, acredito ser Ăştil partir de um ECUQ GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQ G GZGORNCT 1 ECORQ FG FGVGPĂ ÂşQ FG )WCPVÂśPCOQ PGUUG UGPVKFQ TGRTGUGPVQW VCNXG\ C OCKQT CHTQPVC ´U EQPXGPĂ Ă?GU KPVGTPCEKQPCKU FQ &KTGKVQ KPUV¸PEKC PC SWCN QU 'UVCFQ 7PKFQU UG CTTQICTCO WO NWICT HQTC FQ &KTGKVQ 'EQU FC GURGVCEWNCTK\CĂ ÂşQ FQ ECORQ RQFGO KPENWUKXG UGT GPEQPVTCFQU PC GUVĂ&#x192;VKEC FQ 'UVCFQ +UN¸OKEQ EQO UGWU RTKUKQPGKTQU XGUVKFQU de laranja. GuantĂĄnamo, assim, abriu uma discussĂŁo que, acredito, ainda nĂŁo se concluiu. 'ODQTC UG HCNG FQ HGEJCOGPVQ FQ ECORQ EQPUKFGTQ SWG GNG TGRTGUGPVC WOC EQPETGVK\CĂ ÂşQ exemplar de tal dispositivo de poder. O que interessa, ademais, nĂŁo ĂŠ sĂł GuantĂĄnamo, mas o dispositivo de poder encontrĂĄvel em diversos contextos, com outros nomes e outras aparĂŞncias. GuantĂĄnamo torna-se o nome comum dos espaços onde o poder soberano se exerce do lado de fora dos limites do estado de Direito e das convençþes de Direito Internacional como uma prĂĄtica governamental. A guerra passar a ser um caso de polĂcia. NĂŁo ĂŠ um acaso que a triste histĂłria de GuantĂĄnamo, como lugar de internamento e legal black hole, como espaço de exceção e de produção de novas formas de aniquilamento da subjetividade, tenha sido iniciada com a autorização concedida pelo Congresso ao entĂŁo 2TGUKFGPVG )GQTIG 9 $WUJ CRĂ&#x17D;U Q CVCSWG VGTTQTKUVC ´U VQTTGU IĂ&#x201E;OGCU GO 0QXC +QTSWG 0GNC se reconheceu o direito do Presidente de utilizar: all necessary and appropriate force against those nations, organizations, or persons he determines planned, authorized, committed, or aided the terrorist attacks that occurred on September 11, 2001, or harboured such organizations or persons, in order to prevent any future acts of international terrorism against the United States by such
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nations, organizations or persons (Authorization for Use of Military Force, Pub. . 0 5VCV 6
Graças aos poderes conferidos pelo Congresso com esta decisĂŁo, Bush, mesmo antes de lançar mĂŁo das operaçþes militares anglo-americanas contra o AfeganistĂŁo talibĂŁ, promulIQW WOC QTFGPCĂ ÂşQ OKNKVCT UQDTG C FGVGEĂ ÂşQ FGVGPĂ ÂşQ G VTCVCOGPVQ FKURGPUCFQU ´SWGNGU ECRVWTCFQU FWTCPVG C IWGTTC CQ VGTTQTKUOQ .GODTCT C Authorization for Use of Military Force torna imediatamente perceptĂvel a excepcionalidade de GuantĂĄnamo e permite evocar o FGDCVG VGĂ&#x17D;TKEQ LWTĂ&#x2C6;FKEQ UQDTG Q UKIPKĹżECFQ FG WOC FGVGPĂ ÂşQ KPĹżPKVC UWDVTCĂ&#x2C6;FC FC NGK G FQ EQPVTQNG LWFKEKÂśTKQ OCU SWG CKPFC CUUKO CĹżTOC CRNKECT C NGK G VGO C PGEGUUKFCFG FG WVKNK\CT o processo como meio de comunicação para com um pĂşblico mundial.7 O campo cubano ĂŠ, para o observador que observa utilizando a distinção Direito/nĂŁo Direito, um vĂĄcuo que permite superar a diferença entre soberania e governamentalidade, entre lei e ato administrativo, entre nacional e estrangeiro. O campo ĂŠ o inĂcio de uma nova ordem jurĂdica, invisĂvel começo de um novo sistema social que, por meio de um impulso externo ao Direito, como sistema constitucionalmente garantido, se mostra apto a anular o GUVCVWVQ LWTĂ&#x2C6;FKEQ FQ KPFKXĂ&#x2C6;FWQ RTQFW\KPFQ WO UGT LWTKFKECOGPVG KPQOKPÂśXGN G KPENCUUKĹżEÂśXGN 8-9 # XKQNĂ&#x201E;PEKC CDUQNWVC GURGVCEWNCT G VGTTĂ&#x2C6;XGN FQ CVCSWG ´U VQTTGU IĂ&#x201E;OGCU FG 0QXC ;QTM ĂŠ, de fato, o big bang na origem da Declaration of National Emergency by Reason of Certain Terroristic Attacks (14.11.2001), uma situação de emergĂŞncia que permitiu ao Presidente dos 'UVCFQU 7PKFQU UWRGTCT C TĂ&#x2C6;IKFC UGRCTCĂ ÂşQ FG RQFGTGU UQD C SWCN UG HWPFC Q CTTCPLQ EQPUVKVWcional americano e de promulgar o Patriot Act, o President Issues Military Order, as Ordenaçþes e Instruçþes para a ComissĂŁo Militar, instâncias em que se atribuiu competĂŞncia para julgar os suspeitos de atividade terrorista ou de atividade contrĂĄria aos interesses nacionais.
2 EXCEPCIONALISMO SOBERANO 0ÂşQ Ă&#x192; PGEGUUÂśTKQ HC\GT TGHGTĂ&#x201E;PEKC CQ FKUEWTUQ FG )GQTIG 9 $WUJ CQ %QPITGUUQ QW ´U diretrizes de governo em matĂŠria de antiterrorismo. Basta ler a pĂĄgina polĂtica de um jornal QW QWXKT WO FGDCVG PC VGNGXKUÂşQ RCTC UG FGRCTCT EQO C CĹżTOCĂ ÂşQ FG SWG VGORQU FG GZEGĂ ÂşQ FGOCPFCO OGFKFCU GZEGREKQPCKU 'O QWVTCU RCNCXTCU C GZEGREKQPCNKFCFG FQU GXGPVQU FK\-se, causou uma situação nova, nĂŁo previsĂvel e que necessita de uma resposta, por sua vez, GZEGREKQPCN 6TCVC UG FG CĹżTOCĂ Ă?GU SWG RGTVGPEGO CQ UGPUQ EQOWO 'PVTGVCPVQ Q UGPUQ comum, como lembra Wittgenstein no seu ensaio â&#x20AC;&#x153;Da certezaâ&#x20AC;?, nĂŁo ĂŠ comum porque se funda sobre dados comumente aceitos, percebidos por todos da mesma maneira. O senso comum nĂŁo tem nada de natural. Trata-se da generalização de determinados esquemas EQIPKVKXQU 2QTVCPVQ GODQTC Q UGPUQ EQOWO PÂşQ UGLC UCDGT EKGPVĂ&#x2C6;ĹżEQ OCPVĂ&#x192;O WOC TGNCĂ ÂşQ muito estreita com este, em um duplo sentido: porque tem uma estrutura gramĂĄtico-teĂłrica imanente e porque generaliza esse esquema de tal modo que possa parecer natural.10 Assim,
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RCTC RTQEWTCT EQORTGGPFGT C CĹżTOCĂ ÂşQ UQDTG Ĺ&#x2018;VGORQU GZEGREKQPCKU RTQFW\KTGO G FGOCPFCTGO OGFKFCU GZEGREKQPCKUĹ&#x2019; Ă&#x192; PGEGUUÂśTKQ UG CRTQHWPFCT PQ UKIPKĹżECFQ FC TGNCĂ ÂşQ GZEGĂ ÂşQ excepcionalismo. Desse modo, pode-se ver que aquilo que aparenta ser uma obviedade ĂŠ, CQ KPXĂ&#x192;U WOC CĹżTOCĂ ÂşQ SWG RTGUUWRĂ?G KORNKEKVCOGPVG WOC FGVGTOKPCFC EQPEGRĂ ÂşQ FC TGalidade e assim uma determinada teoria do conhecimento e, sobretudo, uma determinada posição nos confrontos da PolĂtica e do Direito. 'ODQTC PÂşQ UG RQUUC PGUUG CTVKIQ FGVGT UG UQDTG CU KORNKECĂ Ă?GU GRKUVGOQNĂ&#x17D;IKECU FC citada expressĂŁo, emerge, de modo imediato, o modo como se postula uma relação linear do tipo causa/efeito entre exceção e excepcionalismo. O evento excepcional como tal ĂŠ inacessĂvel. O carĂĄter excepcional do evento depende de um observador que o constrĂłi como tal. Depende, em outros termos, de ser interpretado e representado como excepcional. Depende, em Ăşltima anĂĄlise, da utilização de uma distinção entre normal e excepcional que permite EQPUVTWKT Q OWPFQ EQO VCN FKUVKPĂ ÂşQ G SWCNKĹżECT WO GXGPVQ EQOQ GZEGREKQPCN 11 A utilização da distinção entre regra e exceção ĂŠ rica em implicaçþes. Na verdade, a construção e a representação de uma situação como emergĂŞncia/exceção constitui, num primeiro momento, a condição de operatividade de um novo dispositivo de poder. A representação da exceção antecipa o prĂłprio evento, produzindo e determinando consequĂŞncias excepcionais. A exceção nĂŁo ĂŠ uma situação real, objetiva, depende do poder de FGENCTÂś NC EQOQ VCN +UUQ UKIPKĹżEC SWG Q GXGPVQ Ă&#x192; Q TGUWNVCFQ FG WOC EQPUVTWĂ ÂşQ FGRGPFG da sua representação. NĂŁo ĂŠ de espantar que um dos mais profundos teĂłricos da soberania, Carl Schmitt, nĂŁo tenha fugido do problema posto pela exceção. Toda a sua teoria da soberania, na verdade, gira em torno da questĂŁo da decisĂŁo como prerrogativa do soberano, nĂŁo sendo limitada pela lei. Quem decide sobre o estado de exceção, diz Schmitt, â&#x20AC;&#x153;decide tanto sobre se existe um caso extremo de emergĂŞncia, quanto sobre o que se deve fazer para superĂĄ-la.â&#x20AC;?12 Resulta, entĂŁo, evidente que declarar um evento como excepcional torna-se o instrumento para produzir e legitimar as medidas realmente excepcionais. Desse ponto de vista GuantĂĄnamo ĂŠ um caso paradigmĂĄtico. Ă&#x2030; o produto de um conjunto de discursos e prĂĄticas SWG UG EQPĹżIWTCO EQOQ GZEGREKQPCKU GO TGNCĂ ÂşQ ´U TGITCU FQ &KTGKVQ +PVGTPCEKQPCN VCPVQ SWCPVQ GO TGNCĂ ÂşQ ´U FQ 'UVCFQ FG &KTGKVQ %QPUVKVWEKQPCN %QPUVKVWK UG EQOQ TGUWNVCFQ FCSWGNG FKURQUKVKXQ FG UCDGT RQFGT FGĹżPKFQ EQOQ GZEGREKQPCNKUOQ UQDGTCPQ # TGNCĂ ÂşQ SWG KPUVCWTC EQO C GZEGĂ ÂşQ Ă&#x192; FWRNC 'O RTKOGKTQ NWICT RQTSWG C EQNQECĂ ÂşQ FQ ECORQ PC DCUG militar de GuantĂĄnamo teve o intuito de evitar que aos prisioneiros se pudessem aplicar as normas previstas no Direito estadunidense. Colocar o campo na base militar, sob a jurisdição do exĂŠrcito americano, garantiu que os prisioneiros fossem postos fora do alcance legal, GZENWUKXCOGPVG ´ OGTEĂ&#x201E; FQ SWG &GTTKFC EJCOQW FG Ĺ&#x2018;C HQTĂ C FG NGK UGO NGK Ĺ&#x2019;13 'O UGIWPFQ lugar, o fato de os supostos terroristas serem detidos em uma base militar estadunidense e, CUUKO GO WO NWICT PÂşQ UGETGVQ EQPUVKVWĂ&#x2C6;C WOC CĹżTOCĂ ÂşQ FG UQDGTCPKC 14
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Mas nĂŁo se trata apenas disso. Por meio da constituição, da gestĂŁo e da difusĂŁo do modelo GuantĂĄnamo, torna-se explĂcita e, portanto, visĂvel uma forma de poder governamental cujo objetivo ĂŠ a gestĂŁo, a submissĂŁo e o controle de indivĂduos e populaçþes previamente consVKVWĂ&#x2C6;FQU EQOQ RGTKIQUQU 'O QWVTQU VGTOQU )WCPVÂśPCOQ TGCNK\C WOC OWFCPĂ C UKIPKĹżECVKXC FCU GUVTCVĂ&#x192;IKCU FG UGIWTCPĂ C G FG FGHGUC GO TGNCĂ ÂşQ ´ RTGXGPĂ ÂşQ 1U GZGORNQU UÂşQ KPĂ&#x2022;OGTQU Q RQPVQ EGPVTCN GPVTGVCPVQ KPFGRGPFGPVGOGPVG FQ ECUQ GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQ Ă&#x192; SWG C FGEKUÂşQ UQDTG C RGTKEWNQUKFCFG Ă&#x192; EQPĹżCFC ´ XKC RTGXGPVKXC FQU CRCTCVQU OKNKVCTGU QW FG RQNĂ&#x2C6;EKC G RGTFG UGW carĂĄter provisĂłrio. As medidas de polĂcia se autonomizam da magistratura/JudiciĂĄrio. No KPVGTKQT FG WO SWCFTQ RQNĂ&#x2C6;VKEQ ECTCEVGTK\CFQ RQT WO HQTVCNGEKOGPVQ FQ 'ZGEWVKXQ RGTCPVG ĂłrgĂŁos eletivos e da administração sobre a jurisdição, assiste-se, em muitos casos, a um FGUNQECOGPVQ FCU RTGTTQICVKXCU Ĺ&#x152; G CVĂ&#x192; OGUOQ FQU FKTGKVQU Ĺ&#x152; FQ ,WFKEKÂśTKQ ´ HQTĂ C FQ RQFGT FC RQNĂ&#x2C6;EKC 'UUG FGUNQECOGPVQ TGURQPFG C WOC NĂ&#x17D;IKEC FKUEWTUKXC KOCPGPVG CQ FKURQUKVKXQ FQ excepcionalismo soberano. O discurso sobre a â&#x20AC;&#x153;guerra ao terrorismoâ&#x20AC;? funciona como produção e legitimação da exceção. As novas leis sobre terrorismo e, em geral, a polĂtica de segurança introduzem novas HQTOCU FG EQPVTQNG EQOQ QU EGPVTQU FG KFGPVKĹżECĂ ÂşQ G GZRWNUÂşQ FG OKITCPVGU KTTGIWNCTGU QW CSWGNGU FG KFGPVKĹżECĂ ÂşQ RCTC QU SWG TGSWGTGO CUKNQ PQXQU RTQEGFKOGPVQU TGXQICVĂ&#x17D;TKQU das regras ordinĂĄrias de Direito Penal e, em alguns casos, como naqueles dos prisioneiros de )WCPVÂśPCOQ LWTKUFKĂ ÂşQ GURGEKCN 'O VQFQU GUUGU ECUQU EQOQ PC UKVWCĂ ÂşQ FQU RTKUKQPGKTQU de GuantĂĄnamo julgados por comissĂľes militares ad hoc, o papel do JudiciĂĄrio parece absolutamente residual ou, no mĂnimo, subalterno em relação ao aparato militar ou da polĂcia.
3 CRISE A representação de um evento como excepcional produz a exceção, isso ĂŠ, produz a decisĂŁo sobre o estado de exceção. Carl Schmitt pĂľe em evidĂŞncia, de maneira politicamente interessada, o carĂĄter polĂtico da decisĂŁo. O fato ĂŠ que a distinção imanente ao polĂtico ĂŠ aquela entre amigo e inimigo.15 A decisĂŁo polĂtica Ăşltima, em outras palavras, ĂŠ sempre expressĂŁo de uma crise. A etimologia da palavra crise (Krisis), sob este ponto de vista, ĂŠ RCTVKEWNCTOGPVG UKIPKĹżECVKXC %QOQ GZRNKEQW -QUGNNGEM Krinai indica o momento extremo, a Ăşltima fase de uma doença, quando hĂĄ a luta entre vida e morte.16 Se escavĂĄssemos as sedimentaçþes de sentido da palavra, encontraremos o juĂzo, a decisĂŁo, o risco terrĂvel da GUEQNJC %QOQ QDUGTXQW 'NKIKQ 4GUVC Q FKUEWTUQ UQDTG C GZEGĂ ÂşQ Ă&#x192; Q FKUEWTUQ VĂ&#x2C6;RKEQ FCU ETKUGU G UKIPKĹżEC TGFGUEQDTKT WOC FKOGPUÂşQ RQNĂ&#x2C6;VKEC FQ &KTGKVQ WOC FKOGPUÂşQ PC SWCN C FKUVKPĂ ÂşQ que opera ĂŠ aquela entre amigos/inimigos.17 1 RTQDNGOC Ă&#x192; C FGEKUÂşQ ' C FGEKUÂşQ SWG FGEKFG UQDTG Q GUVCFQ FG GZEGĂ ÂşQ EQOQ OCKU uma vez disse Schmitt, ĂŠ uma decisĂŁo absoluta cuja validade depende da sua legitimidade de UGT C FGEKUÂşQ FG CWVQTKFCFG EQPUVKVWĂ&#x2C6;FC ' EQPUGSWGPVGOGPVG C NGIKVKOKFCFG FC CWVQTKFCFG consiste no fato de que toma a decisĂŁo. Instaura-se uma relação circular entre decisĂŁo, evento
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excepcional e legitimação das prĂĄticas excepcionais que dela derivam. A decisĂŁo antecipa o evento. A representação do evento como excepcional funciona como legitimação das prĂĄticas excepcionais. Aquilo que emerge do estado de exceção funciona como legitimação de prĂĄticas excepcionais. O que emerge ĂŠ o carĂĄter belicoso da PolĂtica: a construção do outro como inimigo e a legitimação de medidas que limitam o Direito e direitos. Penso, contudo, que uma crĂtica do estado de exceção nĂŁo se possa limitar a colocar em evidĂŞncia o aspecto, embora de fundamental importância, das limitaçþes e privaçþes do Direito e dos direitos. Ă&#x2030; necessĂĄrio, como alerto, enfrentar toda ambivalĂŞncia e paradoxalidade do estado de exceção para ver e indagar a relação estrutural entre Direito e violĂŞncia. A teoria do estado de exceção permite desconstruir essas representaçþes que neutralizaram o polĂtico no interior da relação jurĂdica, de um lado, e, de outro, no interior do liberalismo GEQPĂ?OKEQ 1 GUVCFQ FG GZEGĂ ÂşQ Ă&#x192; WO EQPEGKVQ NKOKVG SWG RGTOKVG QDUGTXCT Q RCTCFQZQ FG que a autoridade nĂŁo necessita do Direito para criar direito. O Direito no estado de exceção denuncia sua origem, isto ĂŠ, o fato de nĂŁo haver direito de ser Direito; denuncia sua relação constante com a violĂŞncia que o funda e conserva. Mas a decisĂŁo para poder decidir deve poder operar a distinção entre Direito e nĂŁo Direito, entre regra e exceção. Se ĂŠ verdade que a relação entre norma e exceção se inverte, ou seja, a exceção passa ser a condição para aplicação da norma, a distinção entre eles deve permanecer. O estado de exceção, no momento em que libera e denuncia a violĂŞncia que funda o Direito, paradoxalmente, mantĂŠm aberta e constante a relação entre Direito e violĂŞncia. O estado de exceção ĂŠ, portanto, o OGECPKUOQ RQT OGKQ FQ SWCN C GZEGĂ ÂşQ PQ UGW UKIPKĹżECFQ GVKOQNĂ&#x17D;IKEQ ex capere, inclui aquilo que lhe ĂŠ estranho. O Direito, por meio do ciclo violĂŞncia-Direito-violĂŞncia, que para $GPLCOKP EQPUVKVWK Q PĂ&#x2022;ENGQ OĂ&#x2C6;VKEQ TGVQTPC ´ UWC QTKIGO 4GCVKXC C OGOĂ&#x17D;TKC FC UWC QTKIGO e, por meio da construção da prĂłpria histĂłria, oculta o seu paradoxo constitutivo. Desse modo, pode produzir a prĂłpria imunização. Pode, em outros termos, operar distinguindo Q &KTGKVQ FQ PÂşQ &KTGKVQ 'O QWVTCU RCNCXTCU CRGPCU Q EQPVĂ&#x2C6;PWQ TGVQTPQ FQ RCUUCFQ RQFG UCNXCT Q RTGUGPVG FC KPEGTVG\C SWG Q HWVWTQ RTQLGVC # KOWPK\CĂ ÂşQ FQ &KTGKVQ GO TGNCĂ ÂşQ ´ PolĂtica pode se realizar, assim, para Schmitt, por meio do estado de exceção, que garante a segurança nos confrontos de um risco futuro por meio de doses preventivas sustentĂĄveis.18
4 A NORMALIZAĂ&#x2021;Ă&#x192;O DA EXCEĂ&#x2021;Ă&#x192;O Qual ĂŠ o preço que se paga por esta imunização? Trata-se de uma real imunização? Isto ĂŠ, uma vez que o Direito se confunde com a PolĂtica â&#x20AC;&#x201C; e substitui seu prĂłprio cĂłdigo por aquele de amigo/inimigo â&#x20AC;&#x201C;, de que modo pode operar? Schmitt disse que para salvar a constituição ĂŠ necessĂĄrio suspendĂŞ-la. Porque a norma RCTC UGT CRNKECFC PGEGUUKVC FG WOC QTFGO ' PQ GUVCFQ FG GZEGĂ ÂşQ JÂś WOC HTCVWTC FQ UKPVCIOC do ordenamento jurĂdico. O mĂŠrito de Schmitt ĂŠ o de possibilitar ver o paradoxo do Direito moderno na sua relação constante com a violĂŞncia e a exceção. A exceção representa uma
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RQUUKDKNKFCFG KOCPGPVG CQ LWTĂ&#x2C6;FKEQ G PÂşQ WO CEKFGPVG PQ EWTUQ FG UWC JKUVĂ&#x17D;TKC ' GUVG Ă&#x192; WO RQPVQ FGEKUKXQ /CU RCTC 5EJOKVV Q RTQDNGOC Ă&#x192; TGOQXGT C GZEGĂ ÂşQ ' Q GUVCFQ FG GZEGĂ ÂşQ ĂŠ o dispositivo por meio do qual a anomia ĂŠ recolocada no interior do ordenamento. O problema, contudo, persiste porque o estado de exceção, uma vez introduzido, comporta WOC TCFKECN VTCPUHQTOCĂ ÂşQ FQ RTĂ&#x17D;RTKQ QTFGPCOGPVQ 'NG GUEQPFG GO UGW KPVGTKQT WOC NĂ&#x17D;IKEC OKOĂ&#x192;VKEC &KTGKVQ G XKQNĂ&#x201E;PEKC CRQKCO UG GO UWC KPFKUUQNĂ&#x2022;XGN WPKFCFG /CU KUUQ UKIPKĹżEC que o Direito nĂŁo pode mais operar com um cĂłdigo diferente daquele amigo/inimigo. No momento, portanto, no qual o Direito denuncia a sua origem e nĂŁo consegue distinguir-se G FKHGTGPEKCT UG FQ RQNĂ&#x2C6;VKEQ RGTFG C FKHGTGPĂ C G CUUKO CUUGOGNJC UG ´ IWGTTC 1 &KTGKVQ Penal assume, entĂŁo, o risco de transformar-se em â&#x20AC;&#x153;Direito do inimigoâ&#x20AC;?. Um Direito que nĂŁo estabiliza expectativas, mas que aumenta a possibilidade de frustração, generalizando os fatores de insegurança. Um Direito que assume diretamente uma tarefa polĂtica de defesa contra um inimigo. O que emerge, entĂŁo, das polĂticas de segurança ĂŠ uma inversĂŁo da relação regra/exceção. No sentido que a exceção se normaliza, tornando-se modalidade estĂĄvel de gestĂŁo da 2QNĂ&#x2C6;VKEC G FQ &KTGKVQ +UUQ UKIPKĹżEC SWG C GZEGĂ ÂşQ WOC XG\ KPVTQFW\KFC UG PQTOCNK\C 0ÂşQ constitui um intermezzo para a (re)estabilização da ordem, mas, antes, torna-se instrumento para organizar e legitimar uma nova ordem. A questĂŁo que se coloca aqui ĂŠ para onde conduz a teoria do estado de exceção de Schmitt. A tal propĂłsito ĂŠ oportuno retomar a discussĂŁo entre Schmitt e Walter Benjamin sobre a normalidade do estado de exceção. NĂŁo estranha, de fato, que Schmitt e Benjamin, dois autores tĂŁo diversos sob todos os aspectos, compartilhassem desde perspectivas opostas, durante os anos convulsos da RepĂşblica de Weimar, o juĂzo negativo sobre a democracia liberal G OCKU CORNCOGPVG WOC ETĂ&#x2C6;VKEC ´ EQPĹżCPĂ C QVKOKUVC G EGIC PQ RTQITGUUQ PCU FWCU XGTUĂ?GU que surgiram entre os sĂŠculos XIX e XX: a liberal e a social-democrĂĄtica. Como observou 0QTDGTV $QN\ $GPLCOKP UG KPVGTGUUQW RQT 5EJOKVV RQT ECWUC FC CPCNQIKC ĹżUKQPĂ?OKEC GPVTG C crĂtica reacionĂĄria e anĂĄrquica, vendo em ambos os casos uma recusa dos mitos liberais e a CĹżTOCĂ ÂşQ FQ GUVCFQ FG GZEGĂ ÂşQ EQOQ Q GNGOGPVQ EGPVTCN FC QTFGO RQNĂ&#x2C6;VKEC 19-20 0Q GPUCKQ FG Ĺ&#x2018;2CTC C ETĂ&#x2C6;VKEC FC XKQNĂ&#x201E;PEKCĹ&#x2019; $GPLCOKP CĹżTOC SWG Q GUE¸PFCNQ SWG a violĂŞncia constitui, quando observada pela perspectiva do Direito, ĂŠ estar fora do Direito. O Direito nĂŁo pode tolerar a existĂŞncia de um fora, deve excluir o fora que ĂŠ a violĂŞncia, e tal exclusĂŁo nĂŁo pode acontecer se nĂŁo por meio de uma inclusĂŁo, uma interiorização do que ĂŠ externo. A ilegitimidade da violĂŞncia consiste na sua posição e nĂŁo no seu conteĂşdo. 'NC RGTUKUVKTÂś GPSWCPVQ C XKQNĂ&#x201E;PEKC RGTOCPGEGT GZVGTPC CQ &KTGKVQ 1 &KTGKVQ RQUVQ RGNC violĂŞncia a reconduz ao seu interior, mas no momento em que o Direito produz tal interiorização, o Direito mantĂŠm a diferença com a violĂŞncia. Assim o Direito moderno, no uso da violĂŞncia legĂtima, pode reproduzir e repetir a sua origem. 21-22 Â? FKHGTGPĂ C FG 5EJOKVV SWG SWGT PGWVTCNK\CT C XKQNĂ&#x201E;PEKC TGEQNQECPFQ C PQ KPVGTKQT FQ &KTGKVQ $GPLCOKP SWGT CĹżTOCT C
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TGCNKFCFG FG WOC XKQNĂ&#x201E;PEKC RWTC C XKQNĂ&#x201E;PEKC TGXQNWEKQPÂśTKC 'UVC Ă&#x192; WOC XKQNĂ&#x201E;PEKC GZVGTPC G estranha ao Direito: â&#x20AC;&#x153;O carĂĄter prĂłprio dessa violĂŞncia ĂŠ que ela nĂŁo pĂľe nem conserva o direito, mas o depĂľe e inaugura, assim, uma nova ĂŠpoca histĂłrica.â&#x20AC;?23 'O A Ditadura, Schmitt usa a distinção entre o poder constituinte e o poder constituĂdo, GPVTG PQTOC FG NGK G PQTOC FG CVWCĂ ÂşQ C ĹżO FG FKUVKPIWKT GPVTG C FKVCFWTC EQOKUUÂśTKC PC SWCN Q GZGTEĂ&#x2C6;EKQ FQ RQFGT CNĂ&#x192;O FC NGK UG LWUVKĹżEC RCTC C EQPUGTXCĂ ÂşQ FC NGK G FQ GUVCFQ G C ditadura soberana, na qual o exercĂcio da violĂŞncia sem Direito è usada para instaurar uma PQXC QTFGO LWTĂ&#x2C6;FKEC 0C 4GRĂ&#x2022;DNKEC FG 9GKOGT C TGHGTĂ&#x201E;PEKC UEJOKVVKCPC ´ FKVCFWTC EQOKUUÂśTKC RQTVCPVQ UKIPKĹżECXC RQT WO NCFQ KPXQECT G LWUVKĹżECT WO IQXGTPQ HQTVG PÂşQ OCKU XKPEWNCFQ C WO RCTNCOGPVQ KPECRC\ FG GPHTGPVCT C ETKUG GEQPĂ?OKEC G RQNĂ&#x2C6;VKEC FGĆ&#x20AC;CITCFC RGNQ VTCVCFQ FG 8GTUCNNGU RQT QWVTQ NCFQ UKIPKĹżECXC OCPVGT WOC TGNCĂ ÂşQ GPVTG XKQNĂ&#x201E;PEKC G &KTGKVQ 24 Para Benjamin, por sua vez, trata-se de desconstruir a teoria schmittiana do estado de exceção e pensar uma violĂŞncia que nĂŁo tem nenhuma relação com o Direito, uma violĂŞncia RWTC SWG PÂşQ GUVGLC GO WOC TGNCĂ ÂşQ FG OGKQ ĹżPU EQO Q &KTGKVQ ' RQTVCPVQ WOC XKQNĂ&#x201E;PEKC SWG seja puro meio e, como tal, nem pĂľe nem conserva o Direito. Como observa Giorgio Agamben: â&#x20AC;&#x153;a violĂŞncia pura expĂľe e corta o elo entre direito e violĂŞncia e pode, assim, aparecer ao ĹżPCN PÂşQ EQOQ XKQNĂ&#x201E;PEKC SWG IQXGTPC QW GZGEWVC OCU EQOQ XKQNĂ&#x201E;PEKC SWG UKORNGUOGPVG CIG e se manifesta.â&#x20AC;?25 Assim, a teoria schmittiana do estado de exceção pode ser lida como uma VGPVCVKXC FG TGURQPFGT ´ ETĂ&#x2C6;VKEC FG $GPLCOKP 1 GUVCFQ FG GZEGĂ ÂşQ VQTPC UG WO FKURQUKVKXQ que permite reconduzir ao interior do Direito o que ĂŠ estranho ao Direito. Ao mesmo tempo, a impossibilidade de decidir juridicamente o caso de exceção funda a necessidade da decisĂŁo do soberano como â&#x20AC;&#x153;suprema potestas superiorem non recognoscensâ&#x20AC;? (Bodin). Para Schmitt, a dimensĂŁo absoluta da decisĂŁo aparece, precisamente, no estado de exceção. 'O Ĺ&#x2018;1 &TCOC $CTTQEQĹ&#x2019; $GPLCOKP TGVQOC CU ECVGIQTKCU FG 5EJOKVV FG UQDGTCPKC FGcisĂŁo, estado de exceção, mas coloca-as em um horizonte completamente diferente que lhes altera radicalmente o sentido. A idade barroca, para Benjamin, ĂŠ dominada pela crise. As personagens que a povoam sĂŁo caracterizadas pela percepção de uma catĂĄstrofe iminente. O prĂncipe da alegoria barroca ĂŠ incapaz de tomar decisĂŁo, apesar de ser o titular do poder supremo. As situaçþes nas quais ĂŠ constantemente envolvido demonstram, para Benjamin, essa incapacidade. A soberania ĂŠ vazia, ĂŠ um simulacro. O soberano, como observa Agamben, ĂŠ â&#x20AC;&#x153;o lugar em que a fratura que divide o corpo do direito se torna irrecuperĂĄvel: entre Macht e Vermoegen, entre o poder e seu exercĂcio, abre-se uma distância que nenhuma decisĂŁo ĂŠ capaz de preencher.â&#x20AC;?26 A catĂĄstrofe, portanto, e nĂŁo o milagre, constitui, para Benjamin, diferentemente de Schmitt, o paradigma do estado de exceção. Mas se o estado de exceção ĂŠ, de acordo com Schmitt, o lugar no qual se articula a relação entre anomia e contexto jurĂdico, para Benjamin, o estado de exceção ĂŠ, como escreve Agamben, â&#x20AC;&#x153;antes, uma zona de absoluta indeterminação entre anomia e direito, em que a esfera da criação e a ordem jurĂdica sĂŁo arrastadas em
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uma mesma catĂĄstrofe.â&#x20AC;?27 A tentativa do poder estatal de anexar (a si mesmo) a anomia RQT OGKQ FQ GUVCFQ FG GZEGĂ ÂşQ Ă&#x192; WOC TGRTGUGPVCĂ ÂşQ SWG VGO EQOQ ĹżO FGUXKPEWNCT Q RQFGT da lei, mantendo a lei em um estado de vigĂŞncia sem aplicação. Benjamin, na sua crĂtica a 5EJOKVV G ´ EQPEGRĂ ÂşQ FQ &KTGKVQ EQOQ XKQNĂ&#x201E;PEKC FGPWPEKC Q ECTÂśVGT ĹżEVĂ&#x2C6;EKQ FQ GUVCFQ FG exceção, o seu ser uma construção do direito violento e da violĂŞncia jurĂdica. Contrariamente a Schmitt, Benjamin chega a uma posição radicalmente anti-estatal. O ponto central que emerge da anĂĄlise de Benjamin ĂŠ que a verdade da histĂłria nĂŁo reside na lei, na regra, na PQTOC OCU PC XKQNĂ&#x201E;PEKC FG WOC UQDGTCPKC SWG UG CĹżTOC PQ NKOKVG PQ GUVCFQ FG GZEGĂ ÂşQ SWG VTC\ ´ NW\ C PWFG\C FC TGNCĂ ÂşQ RQNĂ&#x2C6;VKEC EQOQ TGNCĂ ÂşQ DĂ&#x192;NKEC 28 'O PC CDGTVWTC FG UGW GPUCKQ Ĺ&#x2018;5VCCV $GYGIWPI 8QNMĹ&#x2019; 5EJOKVV GUETGXG A constituição de Weimar nĂŁo estĂĄ mais em vigor. Depois da lei de 24 de março de 1933 (Gesetz zur Behebung der Not von Staat und Volk) sobre os plenos RQFGTGU ECFC VGPVCVKXC FG LWUVKĹżECT QW FG TGHWVCT C UKVWCĂ ÂşQ LWTĂ&#x2C6;FKEC CVWCN GO base a Constituição de Weimar ĂŠ vista pelo estado nacional-socialista como um jogo sem sentido; ou entĂŁo, como uma expressĂŁo da tendĂŞncia polĂtica de reconduzir o direito pĂşblico hoje vĂĄlido e a auctoritas rei constitutae, que pertence ao estado atual, a ordens jurĂdicas superadas e, assim, paralizĂĄ-lo ou, pelo menos, relativizĂĄ-lo.29
'O GPVTCXC UG GO WO TGIKOG VTCPUKVĂ&#x17D;TKQ EWLQ TGUWNVCFQ KOGFKCVQ PÂşQ GTC QWVTQ senĂŁo o estado total. O estado totalitĂĄrio era, no entanto, pensado e repensado como consequĂŞncia inevitĂĄvel da crise do estado de direito, como um estado de justiça irredutĂvel a um formalismo legislativo vazio, como o produto constitucional da exceção e conjuntamente como agente de transformação de exceção em regra. A crĂtica de Benjamin havia acertado o ponto. 'O HTGPVG ´ TGCNKFCFG FQ GUVCFQ FG GZEGĂ ÂşQ $GPLCOKP TGVQOC CU ECVGIQTKCU FG Schmitt para desmascarar seu carĂĄter reacionĂĄrio. No Ăşltimo e profĂŠtico texto de Benjamin, â&#x20AC;&#x153;Sobre o conceito de HistĂłriaâ&#x20AC;?, na tese VIII, lĂŞ-se: â&#x20AC;&#x153;A tradição dos oprimidos ensina-nos que o estado de exceção em que vivemos ĂŠ a regra.â&#x20AC;?30 Diante da indeterminação entre exceção e TGITC SWG UG TGCNK\C PQ 6GTEGKTQ 4GKEJ G PC 'WTQRC FQU VQVCNKVCTKUOQU $GPLCOKP CĹżTOC SWG a distinção entre violĂŞncia e Direito torna-se impossĂvel e o estado de exceção, no momento em que se normaliza, se transforma em uma ĹżEVKQ KWTKU. Aquilo que resta ĂŠ um vazio, um lugar no qual violĂŞncia e Direito sĂŁo indistinguĂveis. Ainda na tese VIII, lĂŞ-se: Temos de chegar a um conceito de histĂłria que corresponda a essa ideia. SĂł entĂŁo UG RGTĹżNCTÂś FKCPVG FQU PQUUQU QNJQU EQOQ PQUUC VCTGHC C PGEGUUKFCFG FG RTQXQECT o verdadeiro estado de exceção; e assim a nossa posição na luta contra o fascismo OGNJQTCTÂś # JKRĂ&#x17D;VGUG FG GNG UG CĹżTOCT TGUKFG GO ITCPFG RCTVG PQ HCVQ FG QU UGWU opositores o verem como uma norma histĂłrica, em nome do progresso. O espanto por as coisas a que assistimos â&#x20AC;&#x153;aindaâ&#x20AC;? poderem ser assim no sĂŠculo vinte nĂŁo ĂŠ WO GURCPVQ ĹżNQUĂ&#x17D;ĹżEQ 'NG PÂşQ GUVC PQ KPĂ&#x2C6;EKQ FG WO RTQEGUUQ FG EQPJGEKOGPVQ C nĂŁo ser o de que a ideia de histĂłria de onde provĂŠm nĂŁo ĂŠ sustentĂĄvel.31
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4GEQPJGEGT SWG Q GUVCFQ FG GZEGĂ ÂşQ UGLC C TGITC UKIPKĹżEC TGRGPUCT CU OQFCNKFCFGU FG NWVC EQPVTC Q HCUEKUOQ 5KIPKĹżEC UWDUVKVWKT C KFGKC FG JKUVĂ&#x17D;TKC EQOQ VGORQ NKPGCT G KPĹżPKVQ pela imagem paradoxal de um estado da histĂłria, no qual o evento fundamental ĂŠ sempre em curso e a meta nĂŁo estĂĄ longe, no futuro, mas ĂŠ sempre jĂĄ presente.32 A revolução de Benjamin quebra a concepção reacionĂĄria de Schmitt e aparece paradoxalmente no momento da catĂĄstrofe, como o tempo cairolĂłgico no qual o homem aproveita a oportunidade e decide no ĂĄtimo da prĂłpria liberdade.33
5 SOBERANIA E BIOPODER A nossa ĂŠpoca se caracteriza por uma normalização do estado de exceção. O estado de exceção nĂŁo precisa mais ser declarado formalmente, opera como produção e representação discursiva de uma situação de fato que permite um exercĂcio extralegal de poder em nome de exigĂŞncias governamentais. No momento em que o estado de exceção se transforma em TGITC Q GURCĂ Q SWG UG CDTG Ă&#x192; WO GURCĂ Q SWG PÂşQ EQPJGEG RCEKĹżECĂ ÂşQ Ă&#x192; GPVÂşQ WO GURCĂ Q onde a PolĂtica, de acordo com Foucault, se manifesta como prossecução da guerra com outros meios, invertendo a fĂłrmula de Claussewitz. 34 O inimigo ĂŠ criminalizado, e a guerra se transforma em uma operação de polĂcia perOCPGPVG EWLC ĹżPCNKFCFG PÂşQ Ă&#x192; FGTTQVCT Q KPKOKIQ KFGPVKĹżEÂśXGN OCU C IGUVÂşQ FC KPUGIWTCPĂ C ' KUUQ UKIPKĹżEC SWG Q FKURQUKVKXQ FC IWGTTC G FQ GUVCFQ FG GZEGĂ ÂşQ UG PQTOCNK\CO 2TÂśVKECU excepcionais saem do interior do estado de exceção, no qual eram ocultadas, para retornarem, na sua complexidade, ao â&#x20AC;&#x153;espaço polĂtico da cidadeâ&#x20AC;?. A PolĂtica torna-se indistinguĂvel FC RQNĂ&#x2C6;EKC ' C RQNĂ&#x2C6;EKC EQOQ PC KPVWKĂ ÂşQ FG $GPLCOKP VQTPC UG UQDGTCPC Hannah Arendt, em uma passagem a propĂłsito da situação dos apĂĄtridas, escreve: (QK GUUC C RTKOGKTC XG\ GO SWG C RQNĂ&#x2C6;EKC FC 'WTQRC QEKFGPVCN TGEGDGW CWVQTKFCFG para agir por conta prĂłpria, para governar diretamente as pessoas; nessa esfera da vida pĂşblica, jĂĄ nĂŁo era um instrumento para executar e fazer cumprir a lei, mas havia se tornado autoridade governante independente de governos e de ministĂŠrios.35
Â&#x153; KPVGTGUUCPVG PQVCT SWG GUVC QDUGTXCĂ ÂşQ Ă&#x192; RTQRQUVC RGNC ĹżNĂ&#x17D;UQHC PWO ECRĂ&#x2C6;VWNQ GO SWG analisa a crise de categorias polĂticas modernas que construĂram o espaço da PolĂtica e o Direito em torno da trĂade territĂłrio, ordenamento e nação. A questĂŁo que se coloca aqui ĂŠ EQOQ UG EQPLWICO Q GZEGREKQPCNKUOQ G Q RQFGT FG IQXGTPQ GPSWCPVQ DKQRQFGT 'O QWVTCU palavras, como se relacionam o poder soberano sobre a vida e a morte e uma tecnologia polĂtica cujo objetivo ĂŠ organizar e potencializar a vida individual ou de uma população? Na Ăşltima lição do curso de 1976 no College de France, Foucault interroga-se sobre o ECTÂśVGT DKQRQNĂ&#x2C6;VKEQ FQ TGIKOG PC\KUVC Ĺ&#x2018;UG Ă&#x192; XGTFCFG SWG Q ĹżO FQ 'UVCFQ Ă&#x192; GUUGPEKCNOGPVG aquele de potencializar a vida, como ĂŠ possĂvel que um poder polĂtico mate, reivindique a
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OQTVG GZKLC C OQTVG FĂ&#x201E; C QTFGO FG OCVCT GZRQPJC ´ OQTVG PÂşQ UQOGPVG QU UGWU KPKOKIQU mas tambĂŠm os seus cidadĂŁos?â&#x20AC;?36 O poder que ĂŠ desenvolvido a partir do sĂŠculo XVIII se caracteriza por ser um poder sobre a vida, isto ĂŠ, se exercita sobre a vida do homem enquanto ser vivente. A velha ideia FG WO &KTGKVQ UQDGTCPQ FG XKFC G FG OQTVG WO &KTGKVQ CUUKOĂ&#x192;VTKEQ SWG FGĹżPG C XKFC GO TGNCĂ ÂşQ ´ OQTVG Ă&#x192; UWDUVKVWĂ&#x2C6;FC RQT WO RQFGT FG XKXGT G TGRGNKT C OQTVG 1TC KUUQ PÂşQ UKIPKĹżEC OGPQU FKTGKVQ FG OQTVG OCU UWC CFCRVCĂ ÂşQ ´ GZKIĂ&#x201E;PEKC FG WO RQFGT SWG CFOKPKUVTC C XKFC A guerra nĂŁo ĂŠ feita em nome da defesa do soberano, mas em nome da existĂŞncia de todos. O poder de morte que se manifesta na guerra se apresenta como o complemento daquele que se exercita sobre a vida. Nesse sentido, o racismo moderno representa o modo pelo qual se introduz uma censura no domĂnio da vida. Uma censura entre o que deve viver e o que deve morrer. O racismo de estado determina o modo de continuação e transformação da guerra. Os inimigos nĂŁo sĂŁo adversĂĄrios polĂticos. SĂŁo elementos potencialmente mais perigosos ainda, GZVGTPQU QW KPVGTPQU ´ RQRWNCĂ ÂşQ 1 FKUEWTUQ UQDTG C EKFCFCPKC HWPEKQPC EQOQ NGIKVKOCĂ ÂşQ dos dispositivos de exclusĂŁo e de expulsĂŁo da comunidade. O status de cidadĂŁo nĂŁo indica a posição jurĂdico-formal de um sujeito face ao ordenamento jurĂdico, mas vem carregado FG WO UKIPKĹżECFQ FKTGVCOGPVG RQNĂ&#x2C6;VKEQ GZKUVGPEKCN QW UG RTGHGTKT DKQRQNĂ&#x2C6;VKEQ 5GT EKFCFÂşQ torna-se condição essencial para nĂŁo ser privado das condiçþes materiais de existĂŞncia. De modo anĂĄlogo, tambĂŠm a outra parte da distinção, o nĂŁo-cidadĂŁo, se preenche de novos conteĂşdos. Ser nĂŁo-cidadĂŁo ĂŠ o sinal biolĂłgico do nĂŁo pertencimento a uma determinada RQRWNCĂ ÂşQ #UUKO Ă&#x192; RQUUĂ&#x2C6;XGN C KFGPVKĹżECĂ ÂşQ FQ KPKOKIQ GPSWCPVQ COGCĂ C ´ UQDTGXKXĂ&#x201E;PEKC da população a que nĂŁo pertence. O paradoxo biopolĂtico de Foucault, no entanto, nĂŁo obstante a anĂĄlise do racismo como dispositivo que reintroduz a morte no biopoder, ĂŠ destinado a nĂŁo ser resolvido. Na verdade, o racismo explica a função da morte no interior do biopoder, mas nĂŁo o poder do soberano de decidir sobre o valor e o desvalor da vida. O problema ĂŠ, mais uma vez, a sobeTCPKC SWG TGVQTPC RQTSWG EQOQ TGEQTFC $CVCKNNG Ĺ&#x2018;C OKUUC HĂ&#x2022;PGDTG FQ TGK Ă&#x192; C OCKQT CĹżTOCĂ ÂşQ da soberania.â&#x20AC;?37 Agamben, por meio de um diĂĄlogo travado com Schmitt e Benjamin e com Arendt e Foucault, pensa o poder a partir da conexĂŁo entre soberania e biopoder. O que para Foucault representa um problema insolĂşvel, a relação entre soberania e biopolĂtica e entre liberalismo e totalitarismo, ĂŠ superado na perspectiva de Agambem, que pensa o campo como espaço no qual a soberania e o biopoder se entrelaçam e no qual o liberalismo se inverte em totalitarismo. No momento em que o nazismo realiza os dispositivos jĂĄ presentes no regime liberal e quando o poder soberano reaparece sob a forma de racismo de estado, a forma de uma FGEKUÂşQ UQDTG C XKFC G C OQTVG DCUGCFC GO WOC TC\ÂşQ DKQNĂ&#x17D;IKEC ĹżEC GXKFGPVG EQOQ 2QNĂ&#x2C6;VKEC e vida aparecem estreitamente ligadas desde o inĂcio da modernidade e como o poder se
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exprime em um controle e um assujeitamento total da vida. No estado de exceção, tornado para Agamben permanente, a decisĂŁo soberana sobre a exceção consiste em dispor da vida, no seu poder essencial de suspendĂŞ-la, colocando-a numa zona de indiscernibilidade entre vida e morte.38-39 Na teoria de Schmitt da soberania como decisĂŁo sobre o estado de exceção, de acordo EQO Q ĹżNĂ&#x17D;UQHQ KVCNKCPQ Ă&#x192; RQUUĂ&#x2C6;XGN TGEQPJGEGT Q PĂ&#x17D; DKQRQNĂ&#x2C6;VKEQ PQ SWCN C UQDGTCPKC EQORTKOG C XKFC 2QT OGKQ FC CPVKIC ĹżIWTC FQ FKTGKVQ TQOCPQ CTECKEQ FQ homo sacer, Agamben reconstrĂłi o percurso que leva ao biopoder: â&#x20AC;&#x153;Colocando a vida biolĂłgica no centro de seus cĂĄlculos, o 'UVCFQ OQFGTPQ PÂşQ HC\ OCKU RQTVCPVQ FQ SWG TGEQPFW\KT ´ NW\ Q XĂ&#x2C6;PEWNQ UGETGVQ SWG WPG Q RQFGT ´ XKFC PWC Ĺ&#x2019;40 A condição do homo sacer de ser passĂvel de morte mas nĂŁo de sacrifĂcio, representa, como a exceção soberana, uma condição limite. Soberano e vida nua estĂŁo nos pĂłlos opostos de uma relação de exclusĂŁo recĂproca. Soberano ĂŠ aquele diante do qual todos os homens sĂŁo sacer, matĂĄveis sem que se cometa homicĂdio, porque o soberano estĂĄ, ao mesmo tempo, fora e dentro da ordem. Por outro lado, homo sacer ĂŠ aquele diante do qual todos os homens sĂŁo soberanos, podem matĂĄ-lo sem cometer homicĂdio. Soberano e homo sacer NKOKVGU GZVTGOQU FC QTFGO EQNQECO GO FKUEWUUÂşQ QU EQPĹżPU 'O CODQU QU ECUQU UG percorre uma zona de indistinção entre interno e externo. O homo sacer vive, como o soberano, na exceção, em um estado no qual violĂŞncia e Direito, fato e norma se indeterminam, PQ SWCN QU EQPĹżPU GPVTG NĂ&#x2C6;EKVQ G KNĂ&#x2C6;EKVQ UG EQPHWPFGO # UQDGTCPKC Ă&#x192; RQTVCPVQ Ĺ&#x2018;C GUVTWVWTC QTKIKPÂśTKC PC SWCN Q FKTGKVQ UG TGHGTG ´ XKFC G C KPENWK GO UK CVTCXĂ&#x192;U FC RTĂ&#x17D;RTKC UWURGPUÂşQ Ĺ&#x2019;41 0Q OQOGPVQ GO SWG Q PC\KUOQ NGXC ´U Ă&#x2022;NVKOCU EQPUGSWĂ&#x201E;PEKCU C FGEKUÂşQ UQDGTCPC UQDTG Q valor e o desvalor da vida, o campo nĂŁo pode mais ser considerado uma anomalia pertencente ao passado, um fato histĂłrico, mas o nomos do espaço polĂtico moderno.42 Os campos, entĂŁo, que se difundem no interior e no exterior das fronteiras dos estados, RCTC KPVGTPCT QU KPKOKIQU FG Ĺ&#x2018;IWGTTCU KPĹżPKVCUĹ&#x2019; QW RCTC EQPUVTWKT DCTTGKTCU EQPVTC QU OKITCPVGU representam o ponto mais visĂvel de um processo que tem como objetivo a gestĂŁo das formas FG XKFC RQT OGKQ FG WOC TGEQPĹżIWTCĂ ÂşQ PCU EJCXGU FG UGIWTCPĂ C FQ GURCĂ Q FC 2QNĂ&#x2C6;VKEC O campo constitui o â&#x20AC;&#x153;nĂŁo lugarâ&#x20AC;? da PolĂtica no momento em que a geometria polĂtica da modernidade entra em crise. Indica o espaço no qual o poder soberano se exercita, livre de vĂnculos, em toda a sua força e no qual o polĂtico se manifesta sem mediação do jurĂdico no confronto com um indivĂduo que, desprendido de vĂnculos de pertencimento e de direitos, sem cidade e sem cidadania, surge frente ao poder exclusivamente como vida nua, como zoe e nĂŁo mais como bios 1 ECORQ EQOQ CU ĹżIWTCU SWG Q JCDKVCO Ă&#x192; WO NKOKVG FC 2QNĂ&#x2C6;VKEC G FQ &KTGKVQ KUVQ Ă&#x192; QPFG UG TGFGĹżPGO CU TGNCĂ Ă?GU GPVTG XKQNĂ&#x201E;PEKC G &KTGKVQ GPVTG RGTVGPEKOGPVQ e Direito. Onde a PolĂtica e o Direito assumem a vida na sua totalidade atĂŠ confundirem-se com ela. O campo ĂŠ o espaço no qual o poder soberano opera como mecanismo de produção e transformação da vida natural em vida nua.
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6 CONCLUSĂ&#x192;O 1 FKURQUKVKXQ FGĹżPKFQ EQOQ GZEGREKQPCNKUOQ UQDGTCPQ GPEQPVTC PQ ECORQ Q UGW NWICT paradigmĂĄtico. De acordo com Agamben, o campo ĂŠ uma localização do estado de exceção. Ă&#x2030; a estrutura na qual o estado de exceção, cuja possibilidade de existĂŞncia funda o poder soberano, se realiza normalmente. O espaço do campo, territĂłrio separado da comunidade, se pĂľe fora da ordem. Isso pressupĂľe uma separação entre Ortung e Ordunung, entre Localization e Order. Ă&#x2030; uma localização sem ordem. Mas, ao mesmo tempo, mantĂŠm uma relação com a ordem43. Disso deriva que no espaço do campo se realiza, em Ăşltima instância, uma confusĂŁo entre Direito e fato, entre violĂŞncia e Direito, entre norma e aplicação. O Direito nĂŁo pode mais operar como Direito. Portanto, quem entra no campo vive o estado de exceção, uma situação â&#x20AC;&#x153;de indistinção entre externo e interno, lĂcito e ilĂcito, na qual cada proteção jurĂdica ĂŠ reduzida, no qual a polĂcia tem um poder absoluto e indiscutĂvel de decisĂŁo.â&#x20AC;?44 O campo tambĂŠm integra o mais absoluto espaço biopolĂtico, sendo os seus habitantes GURQNKCFQU FG ECFC GUVCVWVQ RQNĂ&#x2C6;VKEQ G TGFW\KFQU ´ XKFC PWC 45 Para Agamben, o campo representa o horizonte extremo das prĂĄticas governamentais do poder estatal, o lugar no qual a soberania da lei, fundada sobre a sanção e sobre a responsabilidade subjetiva, se confunde e se dissolve em prĂĄtica de controle, que assume como prĂłprio objeto nĂŁo indivĂduos, mas membros de categorias nacionais, raciais ou sociais percebidos preventivamente como suspeitos ou danosos RQT FGĹżPKĂ ÂşQ 46 e nesse sentido parece claro como a função do campo nĂŁo ĂŠ aquela de punir quem cometeu um delito, mas a de isolar a tĂtulo preventivo uma parte do corpo social sobre C DCUG FG WOC RTGUWPĂ ÂşQ FG RGTKEWNQUKFCFG 7OC GUVTWVWTC EQO Q ĹżO PÂşQ FG RWPKĂ ÂşQ G TGGFWcação de um sujeito culpado, mas de controle de uma população que, por dadas caracterĂsticas e condiçþes, ĂŠ considerada perigosa e, por esta razĂŁo, ĂŠ presa, capturada no interior de uma TGNCĂ ÂşQ FG DCPFQ HGEJCFC PQ KPVGTKQT FG WO GURCĂ Q FG EQPĹżPCOGPVQ PQ SWCN C CFOKPKUVTCĂ ÂşQ ĂŠ liberada da lei para exercer completamente sua vocação governamental. 'ZEGREKQPCNKUOQ UQDGTCPQ Ă&#x192; WO FKURQUKVKXQ KUVQ Ă&#x192; WOC TGFG FG EQPGZĂ?GU GPVTG UCDGT poder, instituiçþes, que intervĂŠm sobre a vida, moldando corpos e produzindo sujeitos. De um lado, a condição de seu operar ĂŠ a emergĂŞncia; por meio da decisĂŁo, se produzem, estabilizam e legitimam prĂĄticas de controle excepcionais. De outro, o excepcionalismo soberano tende a estabilizar a exceção, a transformar por meio da legitimação de novas prĂĄticas a exceção EQOQ RTÂśZKU RCTC Q GZGTEĂ&#x2C6;EKQ FG IQXGTPQ 1 GZGTEĂ&#x2C6;EKQ GZVTCNGICN FQ RQFGT GUVCVCN LWUVKĹżEC C si mesmo por tempo indeterminado, colocando-se como fator mais ou menos permanente na vida polĂtica. Tal dispositivo introduz novas formas de controle, que resultam de uma combinação inĂŠdita de excepcionalismo e governamentalidade e na qual o direito e as instituiçþes democrĂĄticas continuam a existir, mas sĂŁo sempre mais esvaziadas, revogadas por meio de prĂĄxis governamentais. Mas, sobretudo, o dispositivo excepcionalismo soberano nos coloca frente aos paradoxos do direito e desconstrĂłi radicalmente a geometria polĂtica moderna e a razĂŁo que constituiu
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seu pressuposto. As categorias com as quais a PolĂtica moderna construĂa o espaço a partir da distinção entre interno/externo, entre polĂcia/guerra, regra/exceção, criminoso/inimigo permitiram criar representaçþes polĂticas estĂĄveis, garantindo ao direito diferenciar-se da polĂtica e da religiĂŁo e, ao mesmo tempo, imunizar-se da violĂŞncia. A violĂŞncia, excluĂda da comunicação por meio da sua inclusĂŁo na forma de desvio, constituĂa o pressuposto ausente FQ RQFGT 1 &KTGKVQ RĂ?FG QRGTCT CRGPCU QEWNVCPFQ Q UGW RCTCFQZQ EQPUVKVWVKXQ Q HCVQ FG PÂşQ VGT FKTGKVQ C UGT &KTGKVQ Â? EQPFKĂ ÂşQ FG QEWNVCT C NCVĂ&#x201E;PEKC Q &KTGKVQ OQFGTPQ RQFKC WVKNK\CT operativamente a distinção entre Direito e nĂŁo Direito e, ao mesmo tempo, podia construir sua prĂłpria histĂłria de inclusĂŁo e reconhecimento. Nada mais que um relato entre tantos possĂveis na quais o Direito se narra, se pĂľe em frente a si mesmo e nĂŁo vĂŞ nada alĂŠm de si mesmo.47-48 1 FKURQUKVKXQ GZEGREKQPCNKUOQ UQDGTCPQ EQPĹżIWTC UG EQOQ Q GURCĂ Q FG WO Direito que nĂŁo ĂŠ Direito, de uma exclusĂŁo que nĂŁo dialoga mais com a inclusĂŁo, de uma violĂŞncia sem logos 1 UKUVGOC LWTĂ&#x2C6;FKEQ TGXGNC FG OQFQ ECVCUVTĂ&#x17D;ĹżEQ CU RTĂ&#x17D;RTKCU NCVĂ&#x201E;PEKCU Aquilo que aparece ĂŠ o paradoxo do Direito, a forma de uma ausĂŞncia de formas, a face de um mundo sem face. 49 Como vimos, esse dispositivo opera por meio da crise: ele depende da crise para existir G C TG RTQFW\ WOC XG\ SWG HWPEKQPC RTGEKUCOGPVG PC \QPC FG EQPĹżPCOGPVQ G FG KPFGVGTOKnação que se abre quando as categorias da polĂtica moderna sĂŁo postas em xeque pela nova QTFGO GEQPĂ?OKEC G RQNĂ&#x2C6;VKEC ' UG Ă&#x192; XGTFCFG SWG VCKU OQOGPVQU G GURCĂ QU GTCO RTGUGPVGU G necessĂĄrios como pressupostos para o normal funcionamento da PolĂtica e do estado, eles, CQ OGUOQ VGORQ HQTCO EQPUVTWĂ&#x2C6;FQU EQOQ GZEGREKQPCKU 3WCPFQ CQ KPXĂ&#x192;U QU EQPĹżPU SWG Q constitucionalismo liberal procurou estabelecer entre PolĂtica e Direito desvanecem e inclusĂŁo G GZENWUÂşQ UG KPFGVGTOKPCO CSWKNQ SWG GTC EQPĹżPCFQ CQ RTKXCFQ CQ oikos, torna-se objeto privilegiado de intervenção pĂşblica. Todo o espaço polĂtico aparece entĂŁo como espaço de exceção onde as formas de legitimação de poder por meio do direito e seus procedimentos UÂşQ KPFGĹżPKFCOGPVG UWURGPUQU G QPFG XKIQTC Ĺ&#x2018;WOC HQTĂ C FG NGK UGO NGK Ĺ&#x2019;50 1 GZEGREKQPCNKUOQ UQDGTCPQ ĹżPCNOGPVG EQNQEC PQU HTGPVG C WOC VTCPUHQTOCĂ ÂşQ FQ HWPEKQPCOGPVQ FQ &KTGKVQ EQPVGORQT¸PGQ 'UVG PÂşQ OCKU RCTGEG UGT GUVTWVWTCFQ UQDTG C UQberania da lei, mas ĂŠ cada vez mais determinado pela racionalidade tĂŠcnica que pode existir sem a mediação polĂtica pensada pela tradição jurĂdica moderna. O Direito nĂŁo estabiliza OCKU CU GZRGEVCVKXCU OCU UG QTKGPVC ECFC XG\ OCKU ´U RTĂ&#x17D;RTKCU EQPUGSWĂ&#x201E;PEKCU VQTPCPFQ UG WO conjunto de tĂŠcnicas de gestĂŁo do risco. As formas de legitimação das decisĂľes, ademais, de transformam radicalmente. Se no estado constitucional de direito a decisĂŁo ĂŠ legitimada por meio dos procedimentos com os quais se forma, agora a decisĂŁo se impĂľe na contingĂŞncia de uma situação de crise. A legitimação nĂŁo vem ex ante, mas somente ex post. A legitimidade da decisĂŁo depende do sucesso da intervenção que ela produz.
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REFERĂ&#x160;NCIAS #)#/$'0 ). Homo Sacer Q RQFGT UQDGTCPQ G C XKFC PWC $GNQ *QTK\QPVG 'FKVQTC UFMG, 2007. AAAAAA Che cosa è un campo. +P AAAAAA /G\\K UGP\C ĹżPG. Torino: Bollati Boringhieri, 1996. p. 35-45. AAAAAA. Infanzia e storia FKUVTW\KQPG FGNNĹ?GURGTKGP\C G QTKIKPG FGNNC UVQTKC 6QTKPQ 'KPCWFK 2001. AAAAAA Estado de exceção: homo sacer, II. SĂŁo Paolo: Boitempo, 2004. AAAAAA Che cosa è un dispositivo. Roma: Nottetempo, 2006. #4'0&6 * Origens do totalitarismo. SĂŁo Paolo: Companhia de Bolso, 2015. $#6#+..' ) La sovranitĂ . Bologna: Il Mulino, 1990. $'0,#/+0 9 5QDTG Q EQPEGKVQ FC JKUVQTKC +P $'0,#/+0 9CNVGT O anjo da historia. Rio de Janeiro: Autentica, 2012. p. 9-20. AAAAAA 5QDTG C ETKVKEC FQ RQFGT EQOQ XKQNĂ&#x201E;PEKC +P $'0,#/+0 9CNVGT O anjo da historia. Rio de janeiro: Autentica, 2012. p. 57-82. AAAAAA Il dramma barocco tedesco 6QTKPQ 'KPCWFK $1.< 0 %JCTKUOC WPF 5QWXGTCPKVÂźV %CTN 5EJOKVV WPF 9CNVGT $GPLCOKP KO 5EJCVVGP /CZ 9GDGTU +P 6#7$'5 ,CEQD Religionstheorie und Politische Teologie: Der FĂźrst dieser Welt - Carl Schmitt und die Folgen. MĂźnchen: Fink, 1983. v. 1. p. 254-257. $7%+ ).7%-5/#00 % * Walter Benjamin et lâ&#x20AC;&#x2122;ange de lâ&#x20AC;&#x2122;histoire: une archĂŠologie de la modernitĂŠ. Lâ&#x20AC;&#x2122;Ecrit du Temps 2, n. 2, p. 45-85, 1983. $76.'4 , Precaroius life VJG RQYGTU QH OQWTPKPI CPF XKQNGPEG .QPFQP 8GTUQ &#. .#)1 # 2QNK\KC INQDCNG )WGTTC G EQPĆ&#x20AC;KVVK FQRQ NĹ? UGVVGODTG. Verona: Ombre Corte, 2003. &'44+&# , Forza di legge KN HQPFCOGPVQ OKUVKEQ FGNNĹ?CWVQTKV´ 6QTKPQ $QNNCVK $QTKPIJKGTK 2003. '5215+61 4 Immunitas: RTQVG\KQPG G PGIC\KQPG FGNNC XKVC 6QTKPQ 'KPCWFK (17%#7.6 / .G LGW FG /KEJGN (QWECWNV +P AAAAAA Dits et ĂŠcrits: 1976-1979, Paris: Gallimard, 2001. v. 3. p. 299-300. (17%#7.6 / Bisogna difendere la societĂ : corso al collège de France (1975- 1976). Milano: Feltrinelli, 1998. )#..+ % La guerra globale 4QOC $CTK .CVGT\C
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A exceção como dispositivo de governo
GIORGI, R. de. +N FKTKVVQ PGNNC UQEKGV´ FGN TKUEJKQ +P AAAAAA 6GOK FK ĹżNQUQĹżC FGN FKTKVVQ. .GEEG 2GPUC /WNVK/GFKC C R GIORGI, R. de. &KTKVVQ G TGCVQ PGN UGEQNQ ::+ +P AAAAAA 6GOK FK ĹżNQUQĹżC FGN FKTKVVQ. .GEEG 2GPUC /WNVK/GFKC D R -15'..'%- 4 Crisi. In: ______. Il vocabolario della modernitĂ . Bologna: il Mulino, 2009. p. 95-109. -16'- , 4+)1ÂŹ.16 2 Il secolo dei campi: Detenzione, concentramento e sterminio: la tragedia del novecento. Milano: Mondadori, 2002. .Š9; / Redenzione e utopia ĹżIWTG FGNNC EWNVWTC GDTCKEC OKVVGNGWTQRGC 6QTKPQ $QNNCVK Boringhieri, 1992. p. 105-135. .7*/#00 0 Soziale System: Grundriss einer allgemeinen Theorie. Frankfurt: Suhrkamp, 1984. 0'#. # Exceptionalism and the politics of counter terrorism: liberty, security and VJGYCT QPVGTTQT .QPFQP 4QWVNCIG 07<<1 . Le anticamere del diritto 1TFKPG RQNKVKEQ GF GENKUUK FGNNC HQTOC IKWTKFKEC .GEEG Pensa MultiMedia, 2008. 4'56# '. La regola dellâ&#x20AC;&#x2122;emergenza. In Antigone, I, 2006. pp. 24-35. 4'56# ' Diritto vivente 4QOC $CTK .CVGT\C SCHMITT, C. 6GQNQIKC RQNKVKEC SWCVVTQ ECRKVQNK UWNNC FQVVTKPC FGNNC UQXTCPKV´ +P AAAAAA Le categorie del politico. Bologna: Il Mulino, 1998. p. 29-89. SCHMITT, C. +N EQPEGVVQ FK RQNKVKEQ +P AAAAAA Le categorie del politico. Bologna: Il Mulino, 1998. p. 101-167. SCHMITT, C. 5VCVQ OQXKOGPVQ RQRQNQ +P AAAAAA Un giurista davanti a se stesso: saggi G KPVGTXKUVG 8KEGP\C 0GTK 2Q\\C 'FKVQTG R 56';0 , GuantĂĄnamo bay: the legal black hole. International and Comparative Law Quarterly, v. 52, n. 1, p. 25-41, 2004. 64#8'451 ' A ferro e fuoco: la guerra civile europea 1915-1945. Bologna: Il Mulino, 2007. 9+66')'056'+0 . Della certezza 6QTKPQ 'KPCWFK 1 2 3
)#..+ % La guerra globale 4QOC $CTK .CVGT\C &#. .#)1 # Polizia globale IWGTTC G EQPĆ&#x20AC;KVVK FQRQ NĹ? UGVVGODTG 8GTQPC 1ODTG %QTVG (17%#7.6 / Bisogna difendere la societĂ . Corso al collège de France (1975- 1976). Milano: Feltrinelli, 1998. p. 29. (17%#7.6 / .G LGW FG /KEJGN (QWECWNV +P AAAAAA Dits et ĂŠcrits: 1976-1979. Paris: Gallimard, 2001. v. 3. p. 299-300.
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Sobre os aspectos temporais da observação, ver De Giorgi, 2006, p. 223-233; sobre o estado de direito, ver o mesmo De Giorgi, 2006, p. 213-222. Uma anĂĄlise histĂłrica e teĂłrica do estado de direito se encontra nos ensaios fundamentais de Zolo, 2002, p. 17-88 e Costa, 2002, p. 89-170. 6 Authorization for Use of Military Force. Public Law, n. 107-40, 115 Stat. 224, 2001. DisponĂvel em: <https://www. EQPITGUU IQX RNCYU RWDN 2.#9 RWDN RFH #EGUUQ GO LWP 7 56';0 , GuantĂĄnamo bay: the legal black hole. International and Comparative Law Quarterly, v. 52, n. 1, p. 25-41, 2004. 8 .7*/#00 0 Soziale System: grundriss einen allgemeinen theorie. Frankfurt: Suhrkamp, 1984. p. 654. 9 $76.'4 , Precaroius life VJG RQYGTU QH OQWTPKPI CPF XKQNGPEG .QPFQP 8GTUQ R 10 9+66')'056'+0 . Della certezza 6QTKPQ 'KPCWFK 11 0'#. # Exceptionalism and the politics of counter terrorism NKDGTV[ UGEWTKV[ CPF VJGYCT QPVGTTQT .QPFQP Routlage, 2009. 12 SCHMITT, C. 6GQNQIKC RQNKVKEC SWCVVTQ ECRKVQNK UWNNC FQVVTKPC FGNNC UQXTCPKV´ +P AAAAAA Le categorie del politico. Bologna: Il Mulino, 1998. p. 29-89. p. 34. 13 &'44+&# , Forza di legge KN HQPFCOGPVQ OKUVKEQ FGNNĹ?CWVQTKV´ 6QTKPQ $QNNCVK $QTKPIJKGTK 14 No sentido de ÂŤthat the USA is an exception to the rule, that it need pay heed to international law or normsÂť tanto quanto no de ÂŤthat it (USA) fears or expects no serious sacntionÂť (A. Neal 2009). 15 SCHMITT, C. +N EQPEGVVQ FK RQNKVKEQ +P AAAAAA Le categorie del politico. Bologna: Il Mulino, 1998. p. 101-167. 16 -15'..'%- 4 Crisi. In: AAAAAA Il vocabolario della modernitĂ . Bologna: il Mulino, 2009. p. 95-109. 17 4'56# ' .C TGIQNC FGNNĹ?GOGTIGP\C Antigone, I, p. 24-35, 2006. p. 29. 18 4'56# ' Diritto vivente 4QOC $CTK .CVGT\C 19 $1.< 0 %JCTKUOC WPF 5QWXGTCPKVÂźV %CTN 5EJOKVV WPF 9CNVGT $GPLCOKP KO 5EJCVVGP /CZ 9GDGTU +P 6#7$'5 Jacob. Religionstheorie und Politische Teologie: Der FĂźrst dieser Welt - Carl Schmitt und die Folgen. MĂźnchen: Fink, 1983. v. 1. p. 254-257. 20 .Š9; / Redenzione e utopia ĹżIWTG FGNNC EWNVWTC GDTCKEC OKVVGNGWTQRGC 6QTKPQ $QNNCVK $QTKPIJKGTK R 105-135. 21 $'0,#/+0 9 5QDTG Q EQPEGKVQ FC JKUVQTKC +P $'0,#/+0 9CNVGT O anjo da historia. Rio de Janeiro: Autentica, 2012, p. 59-61. 5QDTG KUUQ U NGT C KPVGTGUCPVG CPÂśNKUG FG 4QDGTVQ 'URQUKVQ KP '5215+61 4 Immunitas: protezione e negazione FGNNC XKVC 6QTKPQ 'KPCWFK R 23 #)#/$'0 ). Estado de exceção: homo sacer, II. SĂŁo Paolo: Boitempo, 2004. p. 85. 24 64#8'451 ' A ferro e fuoco: la guerra civile europea 1915-1945. Bologna: Il Mulino, 2007. p. 191-197. 25 #)#/$'0 ). Estado de exceção: homo sacer, II. SĂŁo Paolo: Boitempo, 2004. p. 96. 26 #)#/$'0 ). Estado de exceção: homo sacer, II. SĂŁo Paolo: Boitempo, 2004. p. 88. 27 #)#/$'0 ). Estado de exceção: homo sacer, II. SĂŁo Paolo: Boitempo, 2004. p. 89. 28 $7%+ ).7%-5/#00 % * Walter Benjamin et lâ&#x20AC;&#x2122;ange de lâ&#x20AC;&#x2122;histoire: une archĂŠologie de la modernitĂŠ. Lâ&#x20AC;&#x2122;Ecrit du Temps 2, n. 2, p. 45-85, 1983. p. 67. 29 SCHMITT, C. 5VCVQ OQXKOGPVQ RQRQNQ +P AAAAAA Un giurista davanti a se stesso: saggi e interviste. Vicenza: 0GTK 2Q\\C 'FKVQTG R R 30 p. 9-20. p. 13. 31 $'0,#/+0 9 5QDTG Q EQPEGKVQ FC JKUVQTKC +P $'0,#/+0 9CNVGT O anjo da historia. Rio de Janeiro: Autentica, 2012. p. 9-20. p. 13. 32 #)#/$'0 ). Infanzia e storia FKUVTW\KQPG FGNNĹ?GURGTKGP\C G QTKIKPG FGNNC UVQTKC 6QTKPQ 'KPCWFK R 33 #)#/$'0 ). Infanzia e storia FKUVTW\KQPG FGNNĹ?GURGTKGP\C G QTKIKPG FGNNC UVQTKC 6QTKPQ 'KPCWFK R 34 (17%#7.6 / Bisogna difendere la societĂ : corso al collège de France (1975- 1976). Milano: Feltrinelli, 1998. 35 #4'0&6 * Origens do totalitarismo. SĂŁo Paolo: Companhia de Bolso, 2015. p. 391. 36 (17%#7.6 / Bisogna difendere la societĂ : corso al collège de France (1975- 1976). Milano: Feltrinelli, 1998. p. 165. 37 $#6#+..' ) La sovranitĂ . Bologna: Il Mulino, 1990. p. 66. 38 #)#/$'0 ). Homo Sacer Q RQFGT UQDGTCPQ G C XKFC PWC $GNQ *QTK\QPVG 'FKVQTC 7(/) 39 #)#/$'0 ). Estado de exceção: homo sacer, II. SĂŁo Paolo: Boitempo, 2004. 40 #)#/$'0 ). Homo Sacer Q RQFGT UQDGTCPQ G C XKFC PWC $GNQ *QTK\QPVG 'FKVQTC 7(/) R
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A exceção como dispositivo de governo
41 #)#/$'0 ). Homo Sacer Q RQFGT UQDGTCPQ G C XKFC PWC $GNQ *QTK\QPVG 'FKVQTC 7(/) R 42 #)#/$'0 ). Homo Sacer Q RQFGT UQDGTCPQ G C XKFC PWC $GNQ *QTK\QPVG 'FKVQTC 7(/) R 43 #)#/$'0 ). Che cosa è un campo. +P AAAAAA /G\\K UGP\C ĹżPG. Torino: Bollati Boringhieri, 1996. p. 35-45. p. 37. 44 #)#/$'0 ). Homo Sacer Q RQFGT UQDGTCPQ G C XKFC PWC $GNQ *QTK\QPVG 'FKVQTC 7(/) R 45 #)#/$'0 ). Homo Sacer Q RQFGT UQDGTCPQ G C XKFC PWC $GNQ *QTK\QPVG 'FKVQTC 7(/) 46 -16'- , 4+)1ÂŹ.16 2 Il secolo dei campi: Detenzione, concentramento e sterminio: la tragedia del novecento. Milano: Mondadori, 2002. p. 9. 47 GIORGI, R. de. +N FKTKVVQ PGNNC UQEKGV´ FGN TKUEJKQ +P AAAAAA 6GOK FK ĹżNQUQĹżC FGN FKTKVVQ .GEEG 2GPUC /WNVKMedia, 2006a. p. 69-81. 48 GIORGI, R. de. &KTKVVQ G TGCVQ PGN UGEQNQ ::+ +P AAAAAA 6GOK FK ĹżNQUQĹżC FGN FKTKVVQ .GEEG 2GPUC /WNVK/GFKC 2006b. p. 83-96. 49 07<<1 . Le anticamere del diritto QTFKPG RQNKVKEQ GF GENKUUK FGNNC HQTOC IKWTKFKEC .GEEG 2GPUC /WNVK/GFKC 2008. 50 &'44+&# , Forza di legge KN HQPFCOGPVQ OKUVKEQ FGNNĹ?CWVQTKV´ 6QTKPQ $QNNCVK $QTKPIJKGTK
EXCEPTION AS A GOVERNMENT RESOURCE ABSTRACT Through the discussion of the ideas of Carl Schmitt and Walter Benjamin, Michel Foucault and Giorgio Agamben, this article aims at analyzing the workings of a government resource that uses exception as the norm. 6JKU TGUQWTEG KU FGĹżPGF CU Ĺ&#x2018;UQXGTGKIP GZEGRVKQPCNKUOĹ&#x2019; CPF KPVTQFWEGU new forms of control, that result from a combination that was previously unheard of between exceptionalism and governability in which the .CY CPF FGOQETCVKE KPUVKVWVKQPU EQPVKPWG VQ GZKUV DWV VJG[ CTG CNYC[U emptier, revoked through governmental praxis. Sovereign exceptionalism WNVKOCVGN[ TGXGCNU VJG RCTCFQZ QH VJG .CY CPF TCFKECNN[ FGEQPUVTWEVU VJG modern political geometry and the reason that built its tenet. Keywords: Crisis. Sovereignty. Biopower.
Submetido: 7 jun. 2017 Artigo convidado
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doi:10.12662/2447-6641oj.v15i20.p324-340.2017
POR UMA ECOLOGIA DOS DIREITOS HUMANOS1, 2 Raffaele De Giorgi* 1 Introdução. 2 Os direitos da razão e as razþes dos direitos: os catålogos de direitos como esquemas de inclusão. 3 Os catålogos dos Direitos Humanos. 4 A função evolutiva dos Direitos Humanos e o excedente da alteridade. 5 Ambiente externo G CODKGPVG KPVGTPQ FC UQEKGFCFG 0ºQ NWICTGU FG PºQ RGUUQCU G C JKRGTVTQſC FQU direitos humanos. 7 A ordem do mundo de uma sociedade heterarquica. 8 Conclusão: ecologia dos Direitos Humanos. Referências.
RESUMO 'UVG CTVKIQ VTC\ C FKUEWUUÂşQ UQDTG QU &KTGKVQU *WOCPQU G EQOQ UÂşQ ECTCEVGTKzados por grandes expectativas ´U SWCKU EQTTGURQPFGO UKUVGOÂśVKECU FGUKNWUĂ?GU 0GUUC RGTURGEVKXC HC\ WOC TGĆ&#x20AC;GZÂşQ TGCNKUVC UQDTG C KPXGPĂ ÂşQ FQ KPFKXĂ&#x2C6;FWQ EQOQ sujeito unitĂĄrio, racional e livre, ao mesmo tempo que permite a compreensĂŁo da estrutura semântica que tornou possĂvel a elaboração dos Direitos Humanos na sociedade moderna; sua função e contribuição especial para a evolução da UQEKGFCFG 2TGVGPFG CKPFC TGĆ&#x20AC;GVKT UQDTG Q ECTÂśVGT GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQ FC HWPĂ ÂşQ FQU &Kreitos Humanos, sobre os paradoxos da sua semântica, sobre o seu contributo ´ RTQFWĂ ÂşQ FG CNVGTKFCFG G Q GZEGFGPVG FGUUC RTQFWĂ ÂşQ #UUKO Q VTCDCNJQ propĂľe mostrar o horizonte de uma possĂvel ecologia dos Direitos Humanos. Palavras-chave: Direitos Humanos. Sociedade Moderna. Invenção do Sujeito. #NVGTKFCFG 'EQNQIKC 1
Tradução do italiano, por: Diego de Paiva Vasconcelos (CV: http://lattes.cnpq.br/5892231067274303); ApareEKFC .W\KC #N\KTC <WKP %8 http://lattes.cnpq.br/1584841068017210); Ulisses Schwarz Viana (CV: http://lattes. cnpq.br/5011240224774863).
'UVG CTVKIQ TGVQOC G CORNKC C %QPHGTĂ&#x201E;PEKC RTQHGTKFC PQ II Congresso Internacional de Direito, Cidade e Meio #ODKGPVG PC #OC\Ă?PKC Do Inferno Verde ao Inferno Urbano: 2GTURGEVKXCU RCTC Q 2CĂ&#x2C6;U Q 'UVCFQ G C %KFCFG FQ Futuro, 2QTVQ 8GNJQ 4QPFĂ?PKC CIQUVQ
*
2TQHGUUQT VKVWNCT FG 6GQTKC )GTCN FQ &KTGKVQ 5QEKQNQIKC FQ &KTGKVQ G (KNQUQĹżC FQ &KTGKVQ FC (CEWNFCFG FG ,WTKURTWFĂ&#x201E;PEKC FC 7PKXGTUKFCFG FG 5CNGPVQ GO .GEEG +VÂśNKC Â&#x153; VCODĂ&#x192;O FKTGVQT FQ %GPVTQ FQU 'UVWFQU FQ 4KUEQ HWPFCFQ GO RCTEGTKC EQO Q UQEKĂ&#x17D;NQIQ CNGOÂşQ 0KMNCU .WJOCPP 2TQHGUUQT 8KUKVCPVG FC 7PKXGTUKFCFG (GFGTCN FQ 4KQ FG ,CPGKTQ Ĺ&#x152; 7(4, 2TQHGUUQT 8KUKVCPVG PQ /CZ 2NCPEM +PUVKVWV HĂ&#x2014;T 'WTQRÂźKUEJG 4GEJVUIGUEJKEJVG (TCPMHWTV CO /CKP &GWVUEJNCPF 9KNJGNOU 7PKXGTUKVÂźV /Ă&#x2014;PUVGT *WODQNFV 5VKHVWPI &GWVUEJNCPF 7PKXGTUKVÂźV FGU 5CCTNCPFGU Ĺ&#x152; +PUVKVWV HĂ&#x2014;T 4GEJVU WPF 5Q\KCNRJKNQUQRJKG 5CCTDTĂ&#x2014;EMGP &GWVUEJNCPF (1972-1979). Conduz muitos estudos e seminĂĄrios na AmĂŠrica meridional, onde desenvolve estudos e preside C %ÂśVGFTC FG 'ZEGNĂ&#x201E;PEKC PC 7PKXGTUKFCFG 0CEKQPCN #WVQPĂ?OC FG /Ă&#x192;ZKEQ FGUFG CVĂ&#x192; HQK &KTGVQT FC (CEWNFCFG FG ,WTKURTWFĂ&#x201E;PEKC CPQ GO SWG HQK PQOGCFQ FKTGVQT FG &GRCTVCOGPVQ FQU 'UVWFQU LWTĂ&#x2C6;FKEQU da Universidade de Salento, ItĂĄlia. Ă&#x2030; um dos maiores estudiosos italianos na Teoria dos Sistemas Sociais, tendo VTCDCNJCFQ EQO 0KMNCU .WJOCPP G RWDNKECFQ GO RCTEGTKC EQO Q UGW OGUVTG C Teoria da Sociedade, no ano de 1992. ' OCKN <TCHHCGNGFGIKQTIK"IOCKN EQO>.
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Por uma ecologia dos direitos humanos
1 INTRODUĂ&#x2021;Ă&#x192;O A literatura sobre os Direitos Humanos, ainda que seja concluĂda, apresenta, todavia, caracterĂsticas constantes: manifesta expectativas que oscilam entre a esperança e a resignação, entre desilusĂŁo do presente e certeza de futuros melhores. Os Direitos Humanos vĂŞm sendo tratados como garantias do reconhecimento da individualidade dos indivĂduos, de sua dignidade, de sua liberdade, de sua impossibilidade de repetição da pessoa humana.1 Deles UG FGTKXCO QU RTKPEĂ&#x2C6;RKQU FC RTQRTKGFCFG FC KIWCNFCFG FC RTQVGĂ ÂşQ EQPVTC Q 'UVCFQ G FGRQKU FC RTQVGĂ ÂşQ RQT RCTVG FQ 'UVCFQ 'O UGIWKFC RQFG UG GPEQPVTCT C XKQNCĂ ÂşQ UKUVGOÂśVKEC FGUUGU FKTGKVQU G CUUKO UG LWUVKĹżECO QU CRGNQU RCTC SWG XGPJCO TGURGKVCFQU 0Q PĂ&#x2C6;XGN OCKU CNVQ FCU pretensĂľes, protesta-se pela obtenção de sua juridicização.2 No entanto, ocorre o que ocorre. Por exemplo, ocorre que os Direitos Humanos puderam coexistir por sĂŠculos com a velha escravidĂŁo;3 ocorre que nĂŁo obstante as numerosas declaraçþes, essas coexistem com as formas atuais da escravidĂŁo: com os mortos do Mediterrâneo, com a guerra cotidiana em cidades como o Rio de Janeiro, com as crianças que morrem exploradas nos navios de pesca do mar da China e com os adultos que aos milhares morrem neste paĂs pelo estresse do trabalho a que sĂŁo submetidos,4 com os campos de deVGPĂ ÂşQ FQU KOKITCFQU EQO CSWGNG FGHGKVQ FG EQT SWG PQU 'UVCFQU 7PKFQU NGXC C RQNĂ&#x2C6;EKC C FKURCTCT EQPVTC QU LQXGPU PGITQU SWG EQTTGO RGNCU TWCU CSWK PC #OC\Ă?PKC RQUUCO EQGZKUVKT com o Plano emergencial que deveria fortalecer os indĂgenas para que pudessem resistir ao impacto de Belo Monte ' QEQTTG SWG PÂşQ QDUVCPVG UGW ECTÂśVGT VGQNĂ&#x17D;IKEQ G OGUUK¸PKEQ QU &KTGKVQU Humanos coexistem com a mais universal violĂŞncia legĂtima que tem sempre se abatido sobre o globo terrestre, como aquela que vivĂamos desde o inĂcio dos anos 90 do sĂŠculo XX, SWG UGORTG EQPVKPWC G FG OQFQ OCKU CVTQ\ G UG LWUVKĹżEC EQO C PGEGUUKFCFG FG GZRQTVCT C democracia ocidental. 3WGTGOQU TGĆ&#x20AC;GVKT UQDTG QU &KTGKVQU *WOCPQU C RCTVKT FG WO OQFQ OCKU TGCNĂ&#x2C6;UVKEQ queremos nos indagar qual ĂŠ a sua função,5 queremos ver como operam e queremos tomar C UĂ&#x192;TKQ Q UKIPKĹżECFQ FQU VGTOQU SWG XĂ&#x201E;O WVKNK\CFQU SWCPFQ UG HCNC GZCVCOGPVG FG &KTGKVQU *WOCPQU 'O QWVTQU VGTOQU SWGTGOQU PQU KPFCICT o que estĂĄ por trĂĄs?
2 OS DIREITOS DA RAZĂ&#x192;O E AS RAZĂ&#x2022;ES DOS DIREITOS: OS CATĂ LOGOS DE DIREITOS COMO ESQUEMAS DE INCLUSĂ&#x192;O Os Direitos Humanos sĂŁo uma herança do velho Direito Natural.6 'NGU HWPEKQPCO FG um modo estranho: se ativam quando o Direito se livra de seu vĂnculo com a natureza, mas, TGEQTTGO ´ PCVWTG\C RCTC LWUVKĹżECT C UWC WPKXGTUCNKFCFG 5ÂşQ WOC JGTCPĂ C SWG UG OCVGTKCNK\C quando as razĂľes do Direito nĂŁo sĂŁo mais determinadas pela qualidade das pessoas, que sĂŁo, RTGEKUCOGPVG PCVWTCKU OCU UG ĹżZCO PC razĂŁo. 1 &KTGKVQ GPEQPVTC ĹżPCNOGPVG CU UWCU TC\Ă?GU PC universalidade da razĂŁo.7 'UUC ITCPFG CSWKUKĂ ÂşQ UG TGCNK\C PC 'WTQRC LÂś PQ UĂ&#x192;EWNQ :8++ 'UUC
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nova determinação racional do Direito torna-o acessĂvel a todos; todos podem ser titulares FG FKTGKVQ ´ EQPFKĂ ÂşQ FG SWG ECFC WO UGLC ECRC\ FG CEGUUCT Q FKTGKVQ 5GT ECRC\ C CEGUUCT Q FKTGKVQ UKIPKĹżEC UGT senhor de si, como dirĂĄ Kant.8 O direito ĂŠ atribuĂdo e reconhecido, ĂŠ uma demarcação que determina o espaço da ação dentro da qual o agir ĂŠ lĂcito. A razĂŁo fornece QU ETKVĂ&#x192;TKQU SWG RGTOKVGO CQ OGUOQ VGORQ WPKXGTUCNK\CT G GURGEKĹżECT GUUG FKTGKVQ Para que tudo isso seja possĂvel ĂŠ necessĂĄrio que aqueles aos quais o direito possa ser atribuĂdo, os titulares do direito, sejam considerados nĂŁo mais como objeto do direito, mas como sujeitos de direito. Somente sujeitos racionais sĂŁo capazes de exercitar o direito. Como se vĂŞ, aqui estamos diante de um paradoxo â&#x20AC;&#x201C; porque tambĂŠm o direito subjetivo ĂŠ sempre um direito objetivo, como dirĂĄ Kelsen,9 isto ĂŠ, um direito que constrĂłi como seu objeto o sujeito que ĂŠ autorizado a exercitĂĄ-lo â&#x20AC;&#x201C;, mas o paradoxo ĂŠ muito frutĂfero. Para que esta operação da construção do sujeito possa funcionar, por sua vez, serĂĄ necessĂĄrio que os sujeitos de direito sejam considerados como indivĂduos, como individualidades, como diferenças, como particularidades. Ou seja, devem ser tratados pelo Direito na sua integralidade, na sua totalidade. Somente assim as açþes poderĂŁo ser imputadas aos singulares, isto ĂŠ, aos indivĂduos, a complexos unitĂĄrios que nĂŁo podem ser divididos.10 'UVGU EQORNGZQU WPKVÂśTKQU EJCOCFQU FG KPFKXĂ&#x2C6;FWQU RTGEKUCOGPVG RQFGO EQQTFGPCT CU CĂ Ă?GU G GUVCDGNGEGT TGNCĂ Ă?GU GPVTG ĹżPU G meios, isto ĂŠ, podem ser sujeitos de um agir racional. Naturalmente o sujeito da imputação deverĂĄ ser pressuposto como livre, diversamente a ação nĂŁo lhe poderia ser imputada. 'UUC KPXGPĂ ÂşQ FQ KPFKXĂ&#x2C6;FWQ EQOQ sujeito unitĂĄrio, racional e livre terĂĄ particular relevância na futura construção dos catĂĄlogos de Direitos Humanos. O complexo das atribuiçþes e dos requisitos que sĂŁo necessĂĄrios para a representação unitĂĄria do destinatĂĄrio da imputação serĂĄ recolhido ao interior de uma concha protetora: esse invĂłlucro poderĂĄ ser facilmente utilizado como referĂŞncia da comunicação; isso se chama pessoa.11 A pessoa ĂŠ uma exterioridade da comunicação que oculta a diferença das particularidades. A pessoa ĂŠ, precisamente, uma mĂĄscara, de acordo com a correta etimologia latina. 1 XGNJQ &KTGKVQ 0CVWTCN PÂşQ RQFKC HWPEKQPCT OCKU EQOQ WO XĂ&#x2C6;PEWNQ PQTOCVKXQ ´ construção das expectativas dirigidas ao futuro, porque se consumava a força legitimante da ideia de natureza sobre a qual ele prĂłprio podia ser construĂdo. Agora se dirĂĄ que a natureza do indivĂduo ĂŠ aquela de ser um sujeito racional # QDTC FG %CTVĂ&#x192;UKQ JCXKC FGUGPJCFQ Q RGTĹżN dessa individualidade do sujeito. Para que o mundo nĂŁo seja despedaçado pela ameaça do mal que podia ser causado pelas açþes dos indivĂduos, ĂŠ necessĂĄrio que a razĂŁo se conserve e a autoconservação da razĂŁo se realize por meio do agir racional12 do indivĂduo. Por isso, os KPFKXĂ&#x2C6;FWQU TCEKQPCKU GPEQPVTCO WO CEQTFQ TGEĂ&#x2C6;RTQEQ PC DCUG FQ SWCN UG ĹżZCO QU GURCĂ QU FQ recĂproco reconhecimento do agir de cada um. O racionalismo havia elaborado o esquema do contrato social: de acordo com esse esquema os indivĂduos deveriam ser pensados como ECRC\GU FG UG XKPEWNCT G FG TGURGKVCT CU EQPFKĂ Ă?GU FQ RCEVQ 'UUCU EQPFKĂ Ă?GU NGIKVKOCXCO Q RQFGT G KORWPJCO VTCVCT QU RCTVKEWNCTGU EQOQ KPFKXĂ&#x2C6;FWQU 'O QWVTQU VGTOQU GUVCXC EQPUW-
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OCFC C GUVTWVWTC FC XGNJC GUVTCVKĹżECĂ ÂşQ UQEKCN G PQ JQTK\QPVG UG RGTĹżNCXC WOC UQEKGFCFG SWG nĂŁo tolerava mais a centralidade e a verticalidade, assim como nĂŁo tolerava mais a ordem das castas e a ordem das corporaçþes. 'UUC HQTOC FC UQEKGFCFG UG EJCOC sociedade moderna:13 C SWCN GTC GZRQUVC ´U COGCĂ CU RCTVKEWNCTGU GTC GZRQUVC ´U TGUKUVĂ&#x201E;PEKCU CQU TKUEQU FG KPXQNWĂ ÂşQ SWG RTQXKPJCO FC XGNJC ordem; para resistir a essas pressĂľes deveria ser estabilizada. A estabilização deveria poder manter a nova norma das açþes e, assim, para evitar as ameaças do passado, deveria abrir-se ao risco do futuro.
3 OS CATĂ LOGOS DOS DIREITOS HUMANOS Os catĂĄlogos dos Direitos Humanos fornecem esquemas de referĂŞncia Ăşteis para a estabilização das possibilidades do agir nessa sociedade moderna, quais sejam: do agir polĂtico, FQ CIKT LWTĂ&#x2C6;FKEQ FQ CIKT GEQPĂ?OKEQ GUUGU UÂşQ GUSWGOCU FC KPENWUÂşQ FG VQFQU PQ WPKXGTUQ FCU RQUUKDKNKFCFGU FQ CIKT 'UUC KPENWUÂşQ WPKXGTUCN FG HCVQ Ă&#x192; Q EQTTGNCVQ FC WPKXGTUCNKFCFG FC razĂŁo. Deve estar claro, contudo, que a inclusĂŁo de todos se torna possĂvel porque a seleção FQU GURCĂ QU TGCKU FQ CIKT Ă&#x192; EQPĹżCFC C ECFC UKUVGOC UQEKCN # CWVQEQPUGTXCĂ ÂşQ FC TC\ÂşQ PC TGCNKFCFG UKIPKĹżEC SWG KUUQ SWG UG EQPUGTXC UÂşQ as razĂľes de cada sistema social. A função da universalidade da razĂŁo torna possĂvel o acesso, mas a seletividade das possibilidades do agir ĂŠ a seletividade evolutivamente alcançada por cada um dos sistemas sociais. Os Direitos Humanos tĂŞm a função de manter abertas as possibilidades de inclusĂŁo: deixam abertos os espaços entre os quais se realizarĂŁo as modalidades reais de inclusĂŁo, as SWCKU TGRGVKOQU UÂşQ EQPĹżCFCU C ECFC WO FQU UKUVGOCU UQEKCKU FC UQEKGFCFG OQFGTPC 2QT isso se diz que os Direitos Humanos sĂŁo garantias RQTSWG PCFC RQFGO GO TGNCĂ ÂşQ ´ IGUVÂşQ real da inclusĂŁo e de suas consequĂŞncias. Fixam as condiçþes de generalização, ou seja, da KPFKHGTGPĂ C GO TGNCĂ ÂşQ CQ ECUQ GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQ C FKIPKFCFG Ă&#x192; KPVQEÂśXGN FG CEQTFQ EQO Q RTKOGKTQ CTVKIQ FC %QPUVKVWKĂ ÂşQ CNGOÂş /CU C OGFKFC FG WO VTCVCOGPVQ RGPKVGPEKÂśTKQ Ĺ&#x2018;FKIPQĹ&#x2019; Ă&#x192; ĹżZCFC pelo Direito Penal. Se um rĂŠu ĂŠ construĂdo como altamente perigoso, pode ser mantido em uma cela de isolamento de dois metros quadrados, com a luz acesa por vinte e quatro horas e privado da possibilidade de falar. Ou entĂŁo pode ser esquecido em GuantĂĄnamo. A digniFCFG PÂşQ Ă&#x192; VQECFC ' PÂşQ Ă&#x192; Q ECUQ FG TGEQTFCT SWCN UGLC C EQT FC RGNG FC FKIPKFCFG QW SWCKU UGLCO CU UWCU QTKGPVCĂ Ă?GU UGZWCKU # FKIPKFCFG Ă&#x192; XWNPGTCDKNĂ&#x2C6;UUKOC RQT KUUQ Ă&#x192; Ĺ&#x2018;KPVQEÂśXGNĹ&#x2019; ' quando os sistemas sociais parciais â&#x20AC;&#x153;tocam-naâ&#x20AC;?, hĂĄ sempre um fator da seleção que abaixa ou levanta o nĂvel da â&#x20AC;&#x153;intocabilidadeâ&#x20AC;?. Dignidade,14 entĂŁo, ĂŠ aquele reconhecimento que ĂŠ atribuĂdo a cada um que seja e que lhe permite acessar a comunicação social sem que a sua participação prejudique ou interrompa a continuidade da prĂłpria comunicação. Dignidade, entĂŁo, ĂŠ um esquema da autorrepresentação que permite aos indivĂduos se sentirem pessoas, isto ĂŠ, indiferenças que
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RQFGO CĹżTOCT UWC FKHGTGPĂ C SWG RQT UWC XG\ NJGU RGTOKVG PÂşQ UGTGO EQPHWPFKFQU EQO outras indiferenças; todavia, a tolerabilidade da diferença ĂŠ objeto de seleção por parte da GUVTWVWTC FG SWCNSWGT UKUVGOC UQEKCN 'O WO ENKOC SWG RTGCPWPEKCXC Q 0C\KUOQ PC #NGOCPJC dos anos trinta, do sĂŠculo XX, quem praticava o homossexualismo era condenado com base na aplicação de uma velha lei sobre a tutela da raça e do sangue germânico. NĂŁo ĂŠ diferente do que ocorre com a â&#x20AC;&#x153;igualdadeâ&#x20AC;?.15 Os Direitos Humanos sĂŁo considerados como um direito superior. Na realidade ocupam o espaço intermediĂĄrio que separa, mas se pode tambĂŠm dizer acopla, o Direito e a PolĂtica. Aos Direitos Humanos se atribui uma posição privilegiada por meio da sua fundação sobre um valor. Os valores, na verdade, sĂŁo apresentados como absolutos, ou seja, como exclusivos. Na realidade, porĂŠm, aquilo que torna absolutos os valores ĂŠ o fato de que, na sua paradoxal fundação, se exclui a outra parte, aquela parte que ĂŠ simplesmente negada e que faz aparecer o valor como Ăşnico. Igualdade, por exemplo, ĂŠ apenas uma parte de uma distinção da qual a desigualdade ĂŠ a outra parte. Uma nĂŁo pode existir sem a outra. Se observa-se isso que vem ocultado por meio do paradoxo da igualdade, vĂŞ-se que igualdade e desigualdade crescem simultaneamente. TambĂŠm os sistemas sociais operam do mesmo modo: cada sistema reconstrĂłi o mundo a partir de sua perspectiva e, por consequĂŞncia, na sociedade moderna cresce ao mesmo tempo, seja a inclusĂŁo, seja a exclusĂŁo.
4 A FUNĂ&#x2021;Ă&#x192;O EVOLUTIVA DOS DIREITOS HUMANOS E O EXCEDENTE DA ALTERIDADE Se a função real dos Direitos Humanos consiste na realização das condiçþes que estabilizam a forma da modernidade da sociedade moderna, entĂŁo nĂŁo se pode, por certo, negar que tenham uma função evolutiva: bloqueiam a involução, impedem que o passado inunde o presente com seus detritos. Sabemos, de fato, que evolução social sempre produz destruição. 'UVC CEWOWNC GUEQODTQU Ă&#x192; CUUKO SWG Q RCUUCFQ CRCTGEG PC GXQNWĂ ÂşQ EQOQ NWICT PQ SWCN UG acumulam escombros, detritos. Os Direitos Humanos, assim, realizam espaços de possibilidade para que a evolução nĂŁo destrua a si mesma, mas aja de modo a reproduzir condiçþes evolutivas. A garantia de subsistĂŞncia dessas condiçþes evolutivas depende do fato de que na sociedade se rompa a cadeia de determinaçþes: tambĂŠm essa ruptura, naturalmente, ĂŠ Q TGUWNVCFQ SWG UG RTQFW\ PC GXQNWĂ ÂşQ Â?U FGVGTOKPCĂ Ă?GU UG UWDUVKVWGO possibilidades.16 A modernidade nĂŁo ĂŠ outra coisa senĂŁo o resultado dessa transformação, cuja transformação se torna condição da abertura de um particular horizonte: trata-se do horizonte no qual a improbabilidade se transforma em possibilidade. Quando aquele horizonte se delineia, a evolução abre o caminho para si mesma. Ă&#x2030; claro que a transformação da improbabilidade em RQUUKDKNKFCFG GXQNWVKXC UG TGCNK\C RQT UK 'PVTGVCPVQ PC UQEKGFCFG FGXGO GZKUVKT FKURQUKVKXQU que realizam as condiçþes de possibilidade dessa transformação.
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1TC Q GUSWGOC FQU &KTGKVQU *WOCPQU EQPVTKDWK ´ RTQFWĂ ÂşQ FG EQPFKĂ Ă?GU EWLCU KOprobabilidades evolutivas se transformam em possibilidade. O mecanismo pode ser descrito deste modo: o agir dos indivĂduos, assim como o agir dos sistemas sociais, ĂŠ continuamente GZRQUVQ ´ EQPVKPIĂ&#x201E;PEKC QW UGLC ĂŠ aberto sempre Ă s possibilidades sempre diversas, as quais todas devem estar acessĂveis: podem ser condicionados, mas nĂŁo podem ser determinados. PorĂŠm, tambĂŠm o condicionamento ao qual estĂŁo submetidos aumenta a necessidade de procurar alternativas, isto ĂŠ, aumenta a contingĂŞncia. Porque cada tratamento da contingĂŞncia produz outra contingĂŞncia. ' EQPVKPIĂ&#x201E;PEKC UKIPKĹżEC RQUUKDKNKFCFG FCSWKNQ SWG Ă&#x192; QWVTQ. Ă&#x2030; aqui que o esquema dos Direitos Humanos funciona como tĂŠcnica de abertura ao futuro e, assim, como tĂŠcnica da transformação de improbabilidades em possibilidades evolutivas. 1 SWG UKIPKĹżEC VWFQ KUUQ! 5KIPKĹżEC SWG Q GUSWGOC FQU &KTGKVQU *WOCPQU EQPVTKDWK para a estabilidade da sociedade moderna porque deixa aberto o espaço para a contĂnua produção do outro, para a contĂnua emergĂŞncia daquilo que ĂŠ outro. O esquema dos Direitos Humanos garante o funcionamento da estrutura tĂpica dessa sociedade, a qual assegura a si mesma a contĂnua produção de um excedente de alteridade. Nosso tema, entĂŁo, ĂŠ esse excedente de alteridade. 3WCPFQ PQU CPQU HQK FGNKPGCFQ Q RGTĹżN FC TC\ÂşQ GOGTIKW C RQUUKDKNKFCFG FG VQFQU CEGUUCTGO PC 'UUC RQUUKDKNKFCFG RGTOKVKC EQODCVGT Q RTKXKNĂ&#x192;IKQ 6QFQU RQFKCO UGTXKT UG FC TC\ÂşQ RCTC QTKGPVCT UWCU CĂ Ă?GU G WUCT Q CIKT TCEKQPCN QTKGPVCFQ CQ ĹżO EQOQ VĂ&#x192;EPKEC FG KPclusĂŁo, como requisito para obter o reconhecimento. Mas, ao mesmo tempo emerge a outra parte da razĂŁo, la dĂŠraison RCTC RTQVGIGT Q RGTĹżN FC TC\ÂşQ GTC PGEGUUÂśTKQ KPFKECT QU OQFQU FG ser da dĂŠraison ' HQK CUUKO SWG UG VQTPQW OCPKHGUVC C COGCĂ C FC dĂŠraison e a multiplicidade de suas manifestaçþes. Foi assim tambĂŠm que se viu quĂŁo grande era o espaço da ação que podia ser ocupado pela dĂŠraison. Um excedente de alteridade. 'ZRNKEC UG FGUUG OQFQ Q HCVQ FG que a invenção da razĂŁo moderna teve como sua real consequĂŞncia a grande internação da qual fala esplendidamente Foucault.17 A internação GO OCUUC UG LWUVKĹżEC EQO C PGEGUUKFCFG de proteger a razĂŁo. No entanto, no universo da inclusĂŁo, aquilo que deve ser protegido ĂŠ C TC\ÂşQ FQ &KTGKVQ C TC\ÂşQ FC 'EQPQOKC C TC\ÂşQ FC 2QNĂ&#x2C6;VKEC 5ÂşQ GUUCU as razĂľes da razĂŁo. Ă&#x2030; claro que a indicação de uma parte exclui a outra parte. A dĂŠraison como a outra RCTVG FC TC\ÂşQ FGXG UGT OCPVKFC ´ RCTVG FGXG UGT GZENWĂ&#x2C6;FC FGXG UGT QEWNVCFC # TC\ÂşQ VGO sua razĂŁo de ser na sua unicidade, ou seja, na sua identidade consigo mesma. Identidade, FK\KC .WJOCPP Ă&#x192; OCPVGT Q QWVTQ ´ FKUV¸PEKC #SWKNQ SWG Ă&#x192; outro de si mesmo ĂŠ tratado como aquilo que ĂŠ outro PGUUG UGPVKFQ FGXG UGT OCPVKFQ ´ FKUV¸PEKC # TC\ÂşQ SWG Ă&#x192; Q si mesmo, nĂŁo tolera a simultânea presença do outro. Uma vez inventada a razĂŁo, a outra parte se torna um problema, ao qual se responde com a grande internação. Uma situação que ninguĂŠm transformou em grande motivo literĂĄrio como Machado de Assis, na obra O Alienista. A velha metafĂsica e a velha ontologia tratavam a alteridade como nĂŁo-ser, como negatividade. A sociedade moderna, em vez disso, constrĂłi a alteridade como correlato das operaçþes
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UGNGVKXCU FG ECFC WO FQU UKUVGOCU UQEKCKU %QOQ CSWKNQ SWG FGXG UGT OCPVKFQ ´ FKUV¸PEKC 2QTSWG UQOGPVG CQ OCPVGT UG ´ FKUV¸PEKC UG VQTPC XKUĂ&#x2C6;XGN C KFGPVKFCFG /CU VQTPC RQUUĂ&#x2C6;XGN VCODĂ&#x192;O Q VTCVCOGPVQ FC CNVGTKFCFG 3WCNSWGT VTCVCOGPVQ UGTÂś UGORTG LWUVKĹżECFQ CUUKO EQOQ UGTÂś UGORTG LWUVKĹżECFC C GZRGEVCVKXC FQ QWVTQ FG UGT QDLGVQ FG VTCVCOGPVQ Quando GinĂŠs de SepĂşlveda sustentava que os Ăndios eram bestas feras utilizava argumentos da velha metafĂsica. A Bula Veritas ipsa de Paulo III, de 1537, em vez disso, utilizou CTIWOGPVQU OCKU OQFGTPQU C $WNC FGĹżPG QU Ă&#x2C6;PFKQU EQOQ homines veri EQO GUUC FGĹżPKĂ ÂşQ porĂŠm, pretende negar que os Ăndios fossem fera bestia porque assim se podia motivar a sua ECRCEKFCFG FG UGT ETKUVKCPK\CFQU PQ SWG UG TGHGTG ´ UWC NKDGTFCFG &GUUG OQFQ C $WNC RTGtende dar a entender que nĂŁo se deve ter os Ăndios como escravos e que nĂŁo lhes deveriam ser subtraĂdas suas coisas. Mas, o mais interessante, o fato de que a Bula nĂŁo se ocupou da questĂŁo da racionalidade dos Ăndios, em nenhum momento essa questĂŁo ĂŠ de fato tratada. NĂŁo se colocou essa questĂŁo como problema. O Papa se preocupou sobre o tratamento dos Ăndios UQOGPVG RCTC ĹżPU FG KPENWUÂşQ PQ UKUVGOC FC TGNKIKÂşQ EQPVWFQ nĂŁo exatamente de sua inclusĂŁo no sistema da sociedade. NĂŁo ĂŠ o caso de maravilhar-se se na metade dos anos cinquenta do UĂ&#x192;EWNQ RCUUCFQ C 5WRTGOC %QTVG FQU 'UVCFQU 7PKFQU VGPJC VTCDCNJCFQ PC KPVGTRTGVCĂ ÂşQ FC doutrina separate but equal. Retornemos aos Ăndios: assim construĂdos, sĂŁo excedentes da comunicação social. SĂŁo PCVWTG\C UÂşQ CODKGPVG GZVGTPQ FC UQEKGFCFG %QPVWFQ SWCPFQ GNGU TGCIKTCO ´ GURQNKCĂ ÂşQ FCU VGTTCU SWCPFQ QEWRCO CU VGTTCU SWG UGORTG HQTCO FGNGU SWCPFQ UG QRWUGTCO ´ TGFWĂ ÂşQ ´ GUETCXKFÂşQ GPVÂşQ VKXGTCO SWG UGT reconhecidos: reconhecidos como outro 'NGU PÂşQ UGTÂşQ mais natureza, mas, por meio do reconhecimento, tornaram-se alteridade construĂda pela razĂŁo ocidental C TC\ÂşQ FQ &KTGKVQ C TC\ÂşQ FC 'EQPQOKC C TC\ÂşQ FC 2QNĂ&#x2C6;VKEC 5QOGPVG GPVÂşQ tiveram uma cultura, puderam ser tratados enquanto tal, puderam ser objeto de tutela, de ICTCPVKCU QW EQPĹżCFQU ´ ĹżNCPVTQRKC 2QT VWFQ KUUQ FGOQTQW RGNQ OGPQU FQKU UĂ&#x192;EWNQU RCTC que os Ăndios como natureza fossem dizimados, como ĂĄrvores que sĂŁo abatidas por motivos EQOGTEKCKU EQOQ VGTTCU FGUĆ&#x20AC;QTGUVCFCU Como alteridade construĂda, tornam-se ambiente interno da sociedade, como a dĂŠraison: eles podem ser nĂŁo-proprietĂĄrios, nĂŁo-aculturados, nĂŁo-cidadĂŁos, nĂŁo-sĂŁos, nĂŁo-civilizados. SĂŁo, em outros termos, alteridade que excede e que torna possĂvel a identidade de qualquer coisa, da qual sĂŁo a outra parte. O esquema dos &KTGKVQU *WOCPQU FKURĂ?G FG OCNJCU UWĹżEKGPtemente largas para que atravĂŠs delas possam passar diferentes alternativas. Naturalmente, deve estar claro que os Ăndios nĂŁo sĂŁo apenas inventados como Ăndios, mas continuamente reproduzidos como Ăndios. Ocorre que agora sĂŁo Ăndios brasileiros ou Ăndios mexicanos, Ă&#x2C6;PFKQU SWG XQVCO G RTQXCXGNOGPVG Ă&#x2C6;PFKQU SWG XÂşQ ´ GUEQNC 5ÂşQ CNVGTKFCFGU FKHGTGPVGU OCU sĂŁo sempre excedentes que podem ser tratados. A Terra tambĂŠm ĂŠ, naturalmente, a fonte da produção de excedente de alteridade. 8GLCOQU CVĂ&#x192; SWCPFQ C #OC\Ă?PKC GTC PCVWTG\C GTC Ć&#x20AC;QTGUVC EQPUVKVWĂ&#x2C6;C UG UQOGPVG FG WOC
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Por uma ecologia dos direitos humanos
HQPVG FG RTQFWĂ ÂşQ FG QZKIĂ&#x201E;PKQ RCTC VQFQ Q INQDQ VGTTGUVTG /CU SWCPFQ C #OC\Ă?PKC RCUUC C UGT VTCVCFC EQOQ GURCĂ Q EKXKNK\CFQ RGNC 2QNĂ&#x2C6;VKEC RGNQ &KTGKVQ G RGNC 'EQPQOKC GPVÂşQ C Terra se torna propriedade, adquire valor, converte-se em espaço do agir racional: e a razĂŁo do Direito exclui os nĂŁo-proprietĂĄrios, inclui os ocupantes, as populaçþes sĂŁo tratadas de modo diferenciado, os elementos que integram as comunidades sĂŁo tratados como indivĂduos, complexos unitĂĄrios tornam-se personalidade jurĂdica. Nessa perspectiva, tambĂŠm a razĂŁo FC 'EQPQOKC FGXG WVKNK\CT C FKHGTGPĂ C GPVTG CSWKNQ SWG VGO XCNQT G Q SWG PÂşQ VGO XCNQT QW entĂŁo, entre ter dinheiro e nĂŁo-ter dinheiro. Ă&#x2030; assim que os habitantes, do mesmo modo inventados como sujeitos racionais, tornam-se excedente. Tornam-se qualquer coisa diferente FC PCVWTG\C 6QTPCO UG WOC EQPUVTWĂ ÂşQ LWTĂ&#x2C6;FKEC ' FG VCN EQPUVTWĂ ÂşQ UG RQFGTÂś FKUEWVKT UG para o propĂłsito de sua inclusĂŁo, deverĂĄ ser tratada de um modo ou de outro. Assim a Terra, mais que frutos, produzirĂĄ excedente de alteridade. A Terra poderĂĄ ser ocupada, transmitida por herança, tornada produtiva ou transformada em reserva, ou entĂŁo utilizada para a construção de grandes obras ou de grandes cidades. Tudo isso serĂĄ um excedente SWG RQFGTÂś UGT VTCVCFQ FG SWCNSWGT OQFQ 0GUUGU VGTOQU C #OC\Ă?PKC RQFG UGT FGUĆ&#x20AC;QTGUVCFC WOC #OC\Ă?PKC CVTCXGUUCFC RQT EGPVTCKU JKFTQGNĂ&#x192;VTKECU WOC #OC\Ă?PKC FG RQXQU GO HWIC WOC #OC\Ă?PKC SWG XKXG WOC #OC\Ă?PKC SWG OQTTG &G WOC RCTVG C PCVWTG\C JWOCPC CPKOCN vegetal ou mineral, da outra uma natureza que se torna ambiente da sociedade.
5 AMBIENTE EXTERNO E AMBIENTE INTERNO DA SOCIEDADE 5QDTG Q CODKGPVG FC UQEKGFCFG OGTGEG OGPEKQPCT UQDTG Ĺ&#x2018;WTDCPK\CTĹ&#x2019; 7TDCPK\CT UKIPKĹżEC VTCPUHQTOCT Q CODKGPVG GZVGTPQ FC UQEKGFCFG GO CODKGPVG KPVGTPQ FC UQEKGFCFG 5KIPKĹżEC VTCPUHQTOCT CSWGNG SWG Ă&#x192; FCFQ EQOQ PCVWTG\C PCSWKNQ SWG Ă&#x192; EQPUVTWĂ&#x2C6;FQ EQOQ CTVKĹżEKCN A primeira distinção que se constrĂłi simultaneamente com a construção da cidade ĂŠ a distinção entre centro e periferia. Todavia, essa distinção nĂŁo diferencia somente lugares, ela diferencia a sociedade, diferencia funçþes sociais: ela transforma espaços urbanos em periferias da sociedade. Aqueles que construĂram a cidade, e para tal construção se utilizaram das mĂŁos, se diferenciam daqueles que para construir a mesma cidade se utilizam FCU ĹżPCPĂ CU 'UUC FKHGTGPĂ C EGPVTCNK\C CNIWPU G HC\ RGTKHGTKC FQU QWVTQU %QO TGURGKVQ CQ centro, a periferia ĂŠ um excedente RGTKHGTKC Ă&#x192; CNVGTKFCFG FGXG ĹżECT FG HQTC OCU RQFG UGT QDLGVQ FG VTCVCOGPVQ QW UGLC FG KPENWUÂşQ EQPFKEKQPCFC 'NC RQFG UGT VTCVCFC EQOQ RGTKferia com base na cor, como destinatĂĄria da alocação dos excedentes da cidade, do ponto de vista alimentar, higiĂŞnico, sanitĂĄrio, escolar e polĂtico. Mas, por meio de um processo de externalização que ĂŠ determinado pela estrutura das periferias da sociedade, a periferia urbana se torna facilmente espaço de alocação dos resĂduos do passado, torna-se teatro de uma espĂŠcie de â&#x20AC;&#x153;economia moralâ&#x20AC;?18, espaço de alocação do crime, da violĂŞncia. Nas RGTKHGTKCU FG HCVQ JÂś UGORTG KPVGITCĂ ÂşQ GPVTG QU KPFKXĂ&#x2C6;FWQU 'UUC KPVGITCĂ ÂşQ FGRGPFG FQ fato de que nas periferias criam-se condiçþes de estreita dependĂŞncia entre os indivĂduos:
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cada um depende de algum outro que depende sempre de algum outro. As prestaçþes sociais podem ser satisfeitas somente por meio de ajuda recĂproca. Por meio de apoio dos OGODTQU FC HCOĂ&#x2C6;NKC FC XK\KPJCPĂ C FCSWGNGU SWG VĂ&#x201E;O OCKU OGKQU ´ FKURQUKĂ ÂşQ G QU WVKNK\CO para construir cadeias de dependĂŞncia. Ă&#x2030; claro que o apoio daqueles que tĂŞm mais força e podem utilizĂĄ-la para construir hierarquias da dependĂŞncia torna-se fator daquela forma estreitĂssima da interação que se manifesta como criminalidade organizada. Como se pode ver facilmente, esse excedente de alteridade se produz no espaço de ação dos Direitos *WOCPQU 0KPIWĂ&#x192;O RQFGTÂś CĹżTOCT SWG XKXGT PC RGTKHGTKC Ă&#x192; WOC XKQNCĂ ÂşQ FC FKIPKFCFG ou que a um Ăndio expulso de sua terra seja impedido o exercĂcio de um direito. A escraXKFÂşQ HQK LWTKFKECOGPVG CDQNKFC PQ ĹżO FQ UĂ&#x192;EWNQ :+: PGUUGU VGTOQU QU VTCDCNJCFQTGU UÂşQ livres, como dizia o socialismo daquele mesmo sĂŠculo, para vender a alguĂŠm sua força de trabalho. Mas, como as favelas do Rio de Janeiro, no Brasil, se explicam com a abolição da escravidĂŁo, do mesmo modo aquelas que circundam BrasĂlia se explicam com a construção da cidade: aqueles que construĂam, depois do trabalho se tornavam materialmente inutilizĂĄveis, excesso para deixar de fora, tornavam-se ambiente da cidade, precisamente. Do mesmo modo a violenta espoliação das terras das comunidades indĂgenas na Ama\Ă?PKC LWUVKĹżEC UG EQO Q FGUGPXQNXKOGPVQ SWG FGXG UGT CUUGIWTCFQ RGNC GPGTIKC RTQFW\KFC pelos monstros das centrais hidrelĂŠtricas. Por exemplo, na realização do monstro de Belo Monte, Altamira - PA, com a organização de um conhecido Plano Emergencial, cuja execuĂ ÂşQ PC CWUĂ&#x201E;PEKC FG QTICPKUOQU RĂ&#x2022;DNKEQU Ă&#x192; EQPĹżCFC ´ GORTGUC RTKXCFC Norte Energia. â&#x20AC;&#x153;O Plano Emergencial VKPJC EQOQ QDLGVKXQ ETKCT RTQITCOCU GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQU RCTC ECFC GVPKC RCTC SWG os indĂgenas estivessem fortalecidos na relação com Belo Monte. A ideia ĂŠ que os Ăndios se GORQFGTCUUGO RCTC PÂşQ ĹżECT XWNPGTÂśXGKU FKCPVG FQ GORTGGPFKOGPVQ Ĺ&#x2019;19 'O WOC GURNĂ&#x201E;PFKFC GPVTGXKUVC EQPEGFKFC GO CQ FKÂśTKQ El PaĂs,20 o membro do MinistĂŠrio PĂşblico Federal, ThaĂs Santi, assim descreve o espetĂĄculo que pode pessoalmente assistir: # ĹżNCPVTQRKC QU DKUEQKVQU TGEJGCFQU QU TGHTKIGTCPVGU C EQEC EQNC Q EJQEQNCVKPJQ RCTC CU ETKCPĂ CU Ĺ&#x2018;'TC EQOQ UG HQUUG WO RĂ&#x17D;U IWGTTC WO JQNQECWUVQ 1U Ăndios nĂŁo se mexiam. Ficavam parados, esperando, querendo bolacha, pedindo comida, pedindo para construir as casas. NĂŁo existia mais medicina tradicional. 'NGU ĹżECXCO RGFKPFQ ' GNGU PÂşQ EQPXGTUCXCO OCKU GPVTG UK PÂşQ UG TGWPKCO 1 Ă&#x2022;PKEQ OQOGPVQ GO SWG GNGU UG TGWPKCO GTC ´ PQKVG RCTC CUUKUVKT ´ PQXGNC PWOC 68 FG RNCUOC 'PVÂşQ HQK DTWVCN ' Q NKZQ PC CNFGKC C SWCPVKFCFG FG NKZQ GTC KORTGUUKQPCPVG 'TC ECDGĂ C FG DQPGEC ECTTKPJQ FG DTKPSWGFQ LQICFQ RCEQVG de bolacha, garrafa pet de refrigerante.
1U Ă&#x2C6;PFKQU GO ĹżNC FKCPVG FQU GUETKVĂ&#x17D;TKQU FC 0QTVG 'PGTIKC UGO UCDGT Q SWG RGTIWPVCT porque para eles jĂĄ lhe havia sido retirado tudo que tinham e queriam ter somente aquilo que sempre haviam tido. Thais narra: 'UUG ITWRQ FG TGEGPVG EQPVCVQ GUVCXC EQOGPFQ DQNCEJCU G VQOCPFQ TGHTKIGTCPtes, estava com problemas de diabetes e hipertensĂŁo. Mas o meu impacto mais
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brutal foi quando eu estava tentando fazer uma reuniĂŁo com os Arara, e uma senhora, talvez das mais antigas, me trouxe uma batata-doce para eu comer.
Ă&#x2030; dessa maneira que os habitantes das terras sĂŁo transferidos; seus usos e costumes sĂŁo acuradamente salvaguardados; pelo respeitoso tratamento das comunidades sĂŁo elaborados grandes projetos, as grandes empresas de construção se comprometem por contrato com o Governo Federal a ocupar-se das exigĂŞncias dos novos marginalizados exatamente para evitar que sejam marginalizados.
6 NĂ&#x192;O-LUGARES DE NĂ&#x192;O-PESSOAS E A HIPERTROFIA DOS DIREITOS HUMANOS A estrutura da diferenciação da sociedade moderna considera racional utilizar pequenas diferenças para produzir as grandes diferenças e externalizĂĄ-las. Desse modo reĂşne no seu interior formas de uma estabilização evolutivamente Ăştil. As grandes metrĂłpoles do mundo21 deixaram crescer em seu interior os conhecidos slums que jĂĄ reĂşnem milhĂľes de pessoas. Cidades como Jacarta, como Mumbai, como Cidade do MĂŠxico sĂŁo ocupadas por monstruoso excedente de alteridade 0C 'VKĂ&#x17D;RKC FC RQRWNCĂ ÂşQ XKXG GO slums. Na mesma direção, quatro milhĂľes de sĂrios estĂŁo em fuga; quando param estĂŁo acampados em pequenos cantos de uma terra que queima. MilhĂľes de corpos, milhĂľes de nĂŁo-pessoas, grande parte das quais nĂŁo tem existĂŞncia social, porque nĂŁo tem existĂŞncia jurĂdica; nĂŁo tem endereço, PÂşQ UÂşQ EKFCFÂşQU EQOQ UG FK\ EQO GWHGOKUOQ SWG LÂś RGTFGW UWC PQDTG\C 'UVCU PÂşQ RGUUQCU sĂŁo mantidas diante da porta da lei, como no maravilhoso conto de Kafka, mas em um UGPVKFQ FKXGTUQ FG VCPVQU UGPVKFQU SWG HTGSWGPVGOGPVG UÂşQ CVTKDWĂ&#x2C6;FQU ´ OGVÂśHQTC MCHMKCPC do camponĂŞs: aqui a porta da lei diante da qual envelhecem as nĂŁo-pessoas nĂŁo tem nenhum carĂĄter messiânico. Aqui a lei ĂŠ o sistema do Direito moderno o qual, obviamente, nĂŁo vĂŞ que nĂŁo vĂŞ aquilo que nĂŁo vĂŞ. Um corpo nĂŁo ĂŠ um indivĂduo, assim como um nĂŁo-indivĂduo PÂşQ Ă&#x192; WOC RGUUQC 5GO SWCNKĹżECĂ ÂşQ LWTĂ&#x2C6;FKEC KUUQ Ă&#x192; UGO C CVTKDWKĂ ÂşQ FG WO TGEQPJGEKOGPVQ LWTĂ&#x2C6;FKEQ C RGUUQC KUUQ Ă&#x192; Q KPXĂ&#x17D;NWETQ FCU CVTKDWKĂ Ă?GU Ă&#x192; RTKXCFQ FG EQPVGĂ&#x2022;FQ ' WO KPXĂ&#x17D;NWETQ privado de conteĂşdo nĂŁo existe. O slum, entĂŁo, ĂŠ um nĂŁo-lugar de nĂŁo-pessoas. Assim como diante de uma central hidroelĂŠtrica um Ăndio ĂŠ uma nĂŁo-comunidade e uma nĂŁo-comunidade ocupa um nĂŁo-territĂłrio. Pode compreender-se agora porque ao camponĂŞs de Kafka22 que estĂĄ para morrer e, depois de haver esperado a vida inteira para entrar na lei, nĂŁo pode mais esperar, o guardiĂŁo da lei pode dizer: esta porta estava aberta somente para ti. Agora vou e fecho-a. A alteriFCFG FGXG TGUVCT PC CPVGUUCNC FC NGK Ĺ&#x152; RCTC WUCT WOC KPVGTGUUCPVG GZRTGUUÂşQ FG . 0W\\Q C alteridade pode sempre entrar, mas desse modo se produzirĂĄ outra alteridade. Os Direitos Humanos, em outras palavras, regulam a abertura e o fechamento ao mesmo tempo. Por isso, tĂŞm caracterĂsticas paradoxais. Diz-se que, quando sĂŁo colocados
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PC HQTOC FQ XCNQT CFSWKTGO HWPFCOGPVQU GUVÂśXGKU 7OC CĹżTOCĂ ÂşQ RTKXCFC FG UGPVKFQ 5G KUUQ VKXGUUG UGPVKFQ EQOQ UG RQFGTKC HC\GT WOC EQORCTCĂ ÂşQ FG Ĺ&#x2018;XCNQTGUĹ&#x2019;! 1 SWG UKIPKĹżEC â&#x20AC;&#x153;ponderaçãoâ&#x20AC;?23 de valores? Quem ĂŠ o observador que pode decidir se o valor propriedade tem mais valor que o valor dignidade! 'O TGNCĂ ÂşQ C GUVG Q XCNQT FQ XCNQT FC vida? Vejamos: no ano 2014, na zona norte do Rio de Janeiro, mil e setecentos policiais liberaram um terreno que era de propriedade da Oi; o terreno jĂĄ estava abandonado hĂĄ muitos anos, eram espaços livres e galpĂľes decadentes, e estava ocupado por cinco mil pessoas, muitas das quais eram â&#x20AC;&#x153;moradores de ruaâ&#x20AC;?; muitas outras, ao contrĂĄrio, viviam nas ruas por efeito do incremento FQU EWUVQU FQU CNWIWĂ&#x192;KU PCU HCXGNCU SWG UG XGTKĹżECXC GO VQFC C EKFCFG GO EQPUGSWĂ&#x201E;PEKC FC Copa do Mundo. Como pode o observador avaliar o valor do valor propriedade como mais alto ou como primĂĄrio em face do valor do valor vida ou dignidade ou igualdade? Os Direitos Humanos sĂŁo UGORTG TGURGKVCFQU 1 QDUGTXCFQT RQUVQ PQ KPVGTKQT FC UQEKGFCFG XĂ&#x201E; CSWKNQ SWG XĂ&#x201E; COGCĂ C ´ forma da diferenciação social; assim, o ambiente externo da sociedade que ameaça suprimir C FKHGTGPEKCĂ ÂşQ 1 QDUGTXCFQT XĂ&#x201E; Q SWG XĂ&#x201E; 5G UG XKQNC Q FKTGKVQ FG RTQRTKGFCFG UG FCPKĹżEC a economia, o mercado, a livre circulação de bens, rompe-se a diferença entre pĂşblico e RTKXCFQ ' RQFGTĂ&#x2C6;COQU EQPVKPWCT PCVWTCNOGPVG /CU PCFC FG VWFQ KUUQ RQFG UGT VQNGTCFQ FCFQ SWG Q GURCĂ Q FQU &KTGKVQU *WOCPQU Ă&#x192; UWĹżEKGPVGOGPVG Ć&#x20AC;GZĂ&#x2C6;XGN WOC XG\ TGUVCDGNGEKFCU as condiçþes da diferenciação, aquele espaço pode ser reaberto, alargado, estendido em outro modo, por exemplo, por meio da intervenção do sistema polĂtico. Aquilo que caracteriza o Direito moderno ĂŠ o alto nĂvel da CTVKĹżEKCNKFCFG FC SWCNKĹżECĂ ÂşQ jurĂdica. O grande jurista alemĂŁo F. Carl von Savigny podia dizer que o sistema do Direito Ă&#x192; TGUWNVCFQ FC .Ă&#x17D;IKEC G FC (KNQUQĹżC 24 Aquilo que antes vinha elaborado por meio de uma ĹżNQUQĹżC FC PCVWTG\C QW CKPFC RQT OGKQ FCU FGVGTOKPCĂ Ă?GU FQU IĂ&#x201E;PGTQU G FCU GURĂ&#x192;EKGU CIQra vem determinado da natureza da coisa. Mas a coisa ĂŠ agora somente uma coisa jurĂdica, um construto lĂłgico conceitual por meio do qual o Direito deriva outros construtos lĂłgico-conceituais. O Ăndio, o slum, a favela, o homossexual, o negro, o nĂĄufrago, o requerente de asilo tornam-se um problema quando sĂŁo inventados como construtos lĂłgico-conceituais. 'PSWCPVQ GUVÂşQ PC CPVGUUCNC FC NGK Q &KTGKVQ PÂşQ QU XĂ&#x201E; 3WCPFQ GNGU ETW\CO C UQNGKTC FC porta da lei o Direito os constrĂłi como sua realidade. Como realidade do Direito, nĂŁo como realidade no sentido comum do termo. # HQTOC FQU &KTGKVQU *WOCPQU GPVÂşQ RQFG UGT FGĹżPKFC EQOQ WO GUSWGOC SWG RGTOKVG CQ &KTGKVQ GZRQT UG ´ EQPVĂ&#x2C6;PWC GXQNWĂ ÂşQ KUVQ CEQPVGEG RQTSWG C OQNFWTC FQU &KTGKVQU Humanos deixa aberta ao Direito a possibilidade de alcançar nĂveis sempre mais altos de CTVKĹżEKCNKFCFG PĂ&#x2C6;XGKU UGORTG OCKU TGĹżPCFQU FG UGFKOGPVCĂ ÂşQ LWTĂ&#x2C6;FKEC FC EQOWPKECĂ ÂşQ UQEKCN aquela moldura deixa ao Direito a possibilidade de elaborar tecnologias conceituais sempre mais complexas. Isso ocorre tambĂŠm porque aquela moldura reabre continuamente o espaço social destinado ao sistema polĂtico.
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A evolução do Direito, assim como a estabilização evolutiva da forma da diferenciação social, tambĂŠm constitui as caracterĂsticas mais relevantes da modernidade, que sĂŁo limitadas a uma parte dos paĂses que ocupam o globo terrestre e sĂŁo realizadas em modalidades diferentes. A forma do catĂĄlogo dos Direitos Humanos se coloca no espaço intermediĂĄrio entre Q UKUVGOC LWTĂ&#x2C6;FKEQ G Q UKUVGOC RQNĂ&#x2C6;VKEQ #SWGNGU FKTGKVQU GUVÂşQ GZRQUVQU UGLC ´ 2QNĂ&#x2C6;VKEC UGLC CQ &KTGKVQ Q SWG UKIPKĹżEC SWG UÂşQ ECTCEVGTK\CFQU RQT WOC CNVC UGPUKDKNKFCFG PQU EQPHTQPVQU FG ambos. Ora, se a modernidade produz continuamente excedentes de alteridade, e se o Direito usa esses excedentes para produzir Direito, entĂŁo a produção de alteridade ĂŠ imparĂĄvel. # IGUVÂşQ FC CNVGTKFCFG UGORTG HQK WOC IGUVÂşQ EQPĹżCFC CQ UKUVGOC RQNĂ&#x2C6;VKEQ Q SWCN na sua histĂłria agiu de modos diferentes, adotou polĂticas de inclusĂŁo, ameaçou o Direito, OQTCNK\QW C 'EQPQOKC EQOQ CEQPVGEGO EQO CSWGNCU RQNĂ&#x2C6;VKECU SWG UG EJCOCO PGQNKDGTCKU HC\GO IWGTTCU G FGRQKU ĹżTOCO QU VTCVCFQU FG RC\ RCTC EQPVKPWCTGO GO RC\ EQO CU UWCU guerras. O sĂŠculo passado viu grandes tragĂŠdias nas quais, sem tanta vergonha da histĂłria, consumaram-se as decisĂľes polĂticas sobre a gestĂŁo dos excedentes de alteridade. ' EQO CSWGNCU FGEKUĂ?GU UG EQPUWOCTCO VCODĂ&#x192;O CU KNWUĂ?GU UQD C HQTOC FQ RQFGT OQderno e de seu Direito. PorĂŠm, aqueles excedentes nĂŁo eram excedentes produzidos pelo normal funcionamento da diferenciação da sociedade. Na Ăşltima parte da segunda metade daquele sĂŠculo, realizaram-se condiçþes que no presente tornaram impossĂveis a gestĂŁo RQNĂ&#x2C6;VKEC FQ GZEGFGPVG FG CNVGTKFCFG ' CUUKO CDTG UG Q GURCĂ Q RCTC WOC JKRGTVTQĹżC FQU Direitos Humanos: fala-se muito, fala-se continuamente, cada pretensĂŁo ĂŠ formulada com Q TGEWTUQ C GNGU CUUKO RTGVGPFG UG SWG Q 'UVCFQ NJGU CĹżTOG EQPVTC Q 'UVCFQ G EQPVTC CU EQTRQTCĂ Ă?GU RTGVGPFG UG SWG C EQOWPKFCFG KPVGTPCEKQPCN NJGU CĹżTOG EQPVTC C KPFKHGTGPĂ C da comunidade internacional.
7 A ORDEM DO MUNDO DE UMA SOCIEDADE HETERARQUICA O sistema da sociedade moderna ĂŠ o sistema de uma Ăşnica sociedade. Digamos que essa sociedade ĂŠ sociedade do mundo porque o mundo, como seu limite, ĂŠ sempre presente na comunicação social. Todavia, no seu interior nem todos os sistemas sociais sĂŁo univerUCNK\CFQU FQ OGUOQ OQFQ ' UKUVGOCU UQEKCKU RNGPCOGPVG WPKXGTUCNK\CFQU EQOQ CSWGNG FC 'EQPQOKC QW FQ EQPJGEKOGPVQ PÂşQ RQFGO UGT EQPVTQNCFQU RQT QWVTQU UKUVGOCU UQEKCKU SWG PÂşQ CNECPĂ CTCO Q OGUOQ PĂ&#x2C6;XGN FG WPKXGTUCNK\CĂ ÂşQ ' CUUKO C OQFGTPKFCFG FGUUC UQEKGdade se funda propriamente sobre a heterarquia,25 ou seja, na impossibilidade de qualquer JKGTCTSWKC SWG UGLC ' GPVÂşQ CQ ĹżO FQ UĂ&#x192;EWNQ :: C RQNĂ&#x2C6;VKEC SWG VGO PQ 1EKFGPVG Q UGW centro de elaboração das representaçþes dos problemas universais transformou aquela sua EGPVTCNKFCFG GO WOC RTGVGPUÂşQ FG EQNQECT QTFGO PQ OWPFQ 1 OWPFQ TGUKUVKW ´ KORQUKĂ ÂşQ da ordem e implodiu em si mesmo deixando emergir a selvagem ordem das coisas que o tempo havia escondido.
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' FG HCVQ Q OWPFQ EQPJGEKC VCPVQU NWICTGU FQ OWPFQ SWG UG EQPUKFGTCXCO EGPVTQU G que tentaram impor ordem ao mundo; desde as antigas cosmologias, aos romanos, aos cristĂŁos, aos ĂĄrabes e atĂŠ aos modernos fascismos. As tentativas recentes de construir a ordem FQ OWPFQ GTCO LWUVKĹżECFCU RGNC COGCĂ C FC FGUQTFGO FQ OWPFQ &K\KC UG SWG GTC PGEGUUÂśTKQ exportar a democracia, e assim foram organizadas â&#x20AC;&#x153;as grandes tempestades no desertoâ&#x20AC;?, aquelas tentativas todas fracassaram miseravelmente. Aqueles fracassos deixaram atrĂĄs de si grandes CDKUOQU HGPFCU FC 2QNĂ&#x2C6;VKEC G FQ &KTGKVQ NWICTGU RTGHGTKFQU FC EGIC XQTCEKFCFG FCU ĹżPCPĂ CU O mundo agora ameaça a si mesmo e nĂŁo encontra proteção contra si mesmo. A essas condiçþes do mundo, a produção de excedente de alteridade estĂĄ difundida de modo inobstĂĄvel e irreprimĂvel. Uma guerra universal molecular se difunde entre as alteridades produzidas por detritos da ordem que se queria impor; essa guerra do mundo contra o mundo apropriou-se das cidades e das planĂcies, dos desertos e das montanhas, das ruas, das vilas, das ravinas e dos bairros esquecidos. Velhas unidades que tinham a forma FG 'UVCFQU FG 'UVCFQU RCVTKOQPKCKU FG ECTCEVGTĂ&#x2C6;UVKECU VTKDCN Ă&#x192;VPKEC TGNKIKQUC RCVTKCTECN G que sĂŁo despedaçadas e disseminaram por seu entorno detritos humanos: sĂŁo as nĂŁo-pessoas que sĂŁo sobreviventes e que correm pelo mundo: Vidas Secas.26 'NGU EQTTGO GO FKTGĂ ÂşQ CQ 1EKFGPVG GO FKTGĂ ÂşQ ´ 'WTQRC OCU VCODĂ&#x192;O GO FKTGĂ ÂşQ ´ #OĂ&#x192;TKEC .CVKPC EQTTGO RQT OCTGU G VGTTCU %QTTGO GO FKTGĂ ÂşQ ´U VGTTCU JCDKVCFCU RQT RGUUQCU FCSWGNGU SWG UÂşQ KPENWĂ&#x2C6;FQU porque o Direito os trata como seus objetos e vivem enclausurados dentro de barricadas que eles ergueram para proteger-se da invasĂŁo dos excluĂdos. Corpos que se iludem de poder tornarem-se pessoas; fugitivos de guerras e fugitivos da paz; vĂtimas das suas cores ou de sua religiĂŁo, presas da rejeição ĂŠtnica o do prejuĂzo polĂtico, refĂŠns de grupos que por sua vez sĂŁo grupos de refĂŠns. Um universo de corpos que o Direito mantĂŠm longe da sua porta, permitindo o aproximar-se de sua soleira como mercadorias que serĂŁo utilizados na medida e nas circunstâncias oportunas. *Âś GPVTGVCPVQ QWVTC QTFGO FQ OWPFQ SWG ´ XG\ FKUUQ FQOKPC UGO SWCNSWGT QRQUKĂ ÂşQ C QTFGO FCU ĹżPCPĂ CU # QTFGO FG WOC GEQPQOKC WPKXGTUCN SWG Ă&#x192; TGFW\KFC ´ GUETCXKFÂşQ RQT UWC RTĂ&#x17D;RTKC QTICPK\CĂ ÂşQ RGNCU ĹżPCPĂ CU 1 WPKXGTUQ FCU ĹżPCPĂ CU Ă&#x192; Q WPKXGTUQ FQ XCNQT SWG PÂşQ VGO XCNQT OCU SWG RGTOKVG VTCPUHQTOCT VWFQ GO XCNQT #U CTVKĹżEKCNKFCFGU FQ &KTGKVQ nĂŁo podem seguir a convulsiva rapidez das transformaçþes do valor, e a PolĂtica pode intervir agora somente com a atitude do post-decisional-regret: recusa das decisĂľes depois que essas foram tomadas. A PolĂtica corre atrĂĄs das consequĂŞncias de suas decisĂľes. A primeira conseSWĂ&#x201E;PEKC FQ OQPQRĂ&#x17D;NKQ UQEKCN FCU ĹżPCPĂ CU Ă&#x192; EQPUVKVWĂ&#x2C6;FC RGNQ HCVQ SWG ´ GUVÂśXGN RTQFWĂ ÂşQ FG GZEGFGPVGU FG CNVGTKFCFG CIQTC UG UQOC VCODĂ&#x192;O ´ EQPVĂ&#x2C6;PWC COGCĂ C FG GZRWNUÂşQ FCSWGNGU que eram incluĂdos. Basta considerar aquilo que aconteceu em nĂvel planetĂĄrio nos Ăşltimos anos e a ameaça que se torna iminente a cada dia em nĂvel planetĂĄrio. Nessas condiçþes, cerca de um bilhĂŁo de pessoas vive atualmente nas favelas e o nĂşmero arrisca estender-se atĂŠ o dobro nos prĂłximos anos. O futuro tem o horizonte do dia seguinte, e perguntamos: e os Direitos Humanos?
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8 CONCLUSĂ&#x192;O: ECOLOGIA DOS DIREITOS HUMANOS Os catĂĄlogos dos Direitos Humanos, assim como as numerosas declaraçþes que abrem contĂnuos espaços de expectativas, sĂŁo construtos de observadores que observam a partir do interior da sociedade. SĂŁo observadores que usam a distinção entre sistema e ambiente. 'NGU CNKOGPVCO GZRGEVCVKXCU SWG UÂşQ FKTKIKFCU CQU ECVÂśNQIQU FQU &KTGKVQU *WOCPQU RQTSWG a partir do interior da sociedade, nĂŁo se vĂŞ aquilo que estĂĄ no exterior dela. O ambiente PÂşQ UG XĂ&#x201E; 1 CODKGPVG Ă&#x192; COGCĂ C RQTSWG Ă&#x192; OCKU EQORNGZQ SWG Q UKUVGOC ' QU QDUGTXCFQTGU veem somente as ameaças. Ocorre que esse ambiente ĂŠ o ambiente do sistema. O sistema nĂŁo poderia existir sem o ambiente, o qual nĂŁo ĂŠ um dado natural, ĂŠ ele prĂłprio uma construção do sistema. O ambiente ĂŠ a â&#x20AC;&#x153;descargaâ&#x20AC;? de acordo com o qual a sociedade tem o excedente de alteridade que essa mesma produz. Uma ecologia dos Direitos Humanos, ou seja, uma observação dos Direitos Humanos que pressupĂľe a perspectiva da relação do sistema da sociedade com o ambiente deste sistema, uma perspectiva que observe como sua construção as relaçþes que a sociedade constrĂłi com o seu ambiente; em outras palavras: uma perspectiva que observe como no ambiente da sociedade, a sociedade aloca as alteridades que produz, tal perspectiva poderia permitir PQU XGT TGCNKUVCOGPVG G RGTIWPVCT PQU SWCN Ă&#x192; C HWPĂ ÂşQ FQU FKTGKVQU JWOCPQU ' SWCKU UÂşQ as possibilidades de futuro que se podem construir a partir dessas observaçþes.
REFERĂ&#x160;NCIAS #.':; 4QDGTV Theorie der juristischen argumentation: die Theorie des rationalen Diskurses als Theorie der juristischen BegrĂźndung. Frankfurt: Suhrkamp Verlag, 1983. AAAAAA Theorie der grundrechte. Frankfurt: Suhrkamp Verlag, 1987. &' )+14)+ 4CHHCGNG CiĂŞncia do direito e legitimação: crĂtica da epistemologia jurĂdica CNGOÂş FG -GNUGP C .WJOCPP %WTKVKDC ,WTWÂś AAAAAA Azione e imputazione UGOCPVKEC G ETKVKEC FK WP RTKPEKRKQ PGN FKTKVVQ RGPCNG .GEEG Milella, 1984. AAAAAA /QFGNQU LWTĂ&#x2C6;FKEQU FG NC KIWCNFCF [ FG NC GSWKFCF +P AAAAAA Los derechos fundamentales en la sociedad moderna /Ă&#x192;ZKEQ 'FKVQTKCN (QPVCOCTC )Š6< 0QTDGTV /QTCN GEQPQO[ KVU EQPEGRVWCN JKUVQT[ CPF CPCNKVKECN RTQURGEVU Journal of Global Ethics, United States, v. 11, p. 147-162, 2015. GRIMM, Dieter. Die Zukunft der Verfassung. Frankfurt: Suhrkamp Verlag, 1991. (17%#7.6 /KEJGN Surveiller et punir: naissance de la prison. Paris: Gallimard, 1993. -#(-# (TCP\ 8QT FGO )GUGV\ +P AAAAAA Der ProceĂ&#x;. Frankfurt: Insel Verlag, 1990. v. 3. p. 226.
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KANT, Immanuel. Die Methaphysik der Sitten. Frankfurt: Suhrkamp Verlag, 1982. v. 8. -'.5'0 *CPU Reine Rechtslehre: einleitung in die rechtswissenschaftliche Problematik. .GKR\KI (TCP\ &GWVKEMG 8GTNCI .7*/#00 0KMNCU Grundrechte als Institution. Berlin: Dunker & Humblot, 1965. AAAAAA Das Recht der Gesellschaft. Frankfurt: Suhrkamp Verlag, 1995. AAAAAA &G )+14)+ 4CHHCGNG Teoria della società . Milano: Franco Angeli, 2013 (1992). RAMOS, Graciliano. Vidas secas. São Paulo: Saraiva, 2008. SANTI, Thais. Belomonte: a anatomia de um etnocÃdio. El PaÃs FG\ 'PVTGXKUVC EQPEGFKFC C 'NKCPG $TWO 5#55'0 5CUMKC Globalization and its discontents. New York: New Press, 1999. SAVIGNY, Friedrich C. Juristische methodenlehre. Stuttgart: Koehler, 1951. AAAAAA System des heutigen römischen Rechts. Aalen: Scientia Verlag, 1973. v. 1. 51//'4 /CPHTGF Die Selbsterhaltung der Vernunft. Stuttgart-Bad Cannstatt: Fromman-Holzboog, 1990. STANDING, Guy. The Precariat VJG PGY FCPIGTQWU ENCUU .QPFQP $NQQOUDWT[ #ECFGmic, 2011. 6*1/2510 'FYCTF 2 Customs in common. New York: New Press, 1991. 9'.<'. *CPU Naturrecht und materiale Gerechtigkeit. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1990. 1
4 8 10
GRIMM, Dieter. Die Zukunft der Verfassung. Frankfurt: Suhrkamp Verlag, 1991.; e, em particular nas relações aos temas dos quais nos ocuparemos nos próximos parágrafos. Id., Die Zukunft der Verfassung II: #WUYKTMWPIGP XQP 'WTQR¼KUKGTWPI WPF )NQDCNKUKGTWPI (TCPMHWTV 5WJTMCOR 8GTNCI %H CPEJG ('44#,1.+ .WKIK Diritti fondamentali WP FKDCVVKVQ VGQTKEQ 4QOC $CTK .CVGT\C R R R 277-370. 5QDTG GUUC SWGUVºQ EH &' )+14)+ 4CHHCGNG. 'N HWVWTQ FG NC ,WUVKEKCDKNKFCF FG NQU FGTGEJQU JWOCPQU +P #4)7/'06#%+¦0 ,74+5247&'0%+#. /'/14+# &'. %10)4'51 +06'40#%+10#. &' #4)7/'06#%+¦0 ,74 &+%# ,756+%+#$+.+&#& &' .15 &'4'%*15 /Ã&#x192;ZKEQ Anaisâ&#x20AC;¦ México: Suprema Corte de Justicia de la Nación, 2014. p. 407-429. .7*/#00 0KMNCU Das Recht der Gesellschaft. Frankfurt: Suhrkamp Verlag, 1995. p. 574 e ss. STANDING, Guy. The Precariat VJG PGY FCPIGTQWU ENCUU .QPFQP $NQQOUDWT[ #ECFGOKE .7*/#00 0KMNCU Grundrechte als Institution. Berlin: Dunker & Humblot, 1965. %H .7*/#00 0KMNCU Das Recht der Gesellschaft, op. cit., p. 233 e ss.; 484, s. 9'.<'. *CPU Naturrecht und materiale Gerechtigkeit. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1990. KANT, Immanuel. Die Methaphysik der Sitten. Frankfurt: Suhrkamp Verlag, 1982. v. 8. p. 345. Die Qualität des Menschen, sein eigener Herr (sui iuris) zu sein. -'.5'0 *CPU Reine Rechtslehre GKPNGKVWPI KP FKG TGEJVUYKUUGPUEJCHVNKEJG 2TQDNGOCVKM .GKR\KI (TCP\ Deuticke Verlag, 1934. KANT, op. cit., p. 329: Tat heiÃ&#x;t eine Handlung, sofern sie unter Gesetzen der Verbindlichkeit steht, folglich auch,
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Por uma ecologia dos direitos humanos
sofern das Subjekt in derselben nach der Freiheit seiner WillkĂźr betrachtet wird. Der Handelnde wird durch einen solchen Akt als Urheber der Wirkung betrachtet, und diese, zusamt der Handlung selbst, kĂśnnen ihm zugerechnet werden. 11 Idem, l.c., : Person ist dasjenige Subjekt, dessen Handlungen einer Zurechnung fähig sind %H &' )+14)+ 4Cffaele. Azione e imputazione UGOCPVKEC G ETKVKEC FK WP RTKPEKRKQ PGN FKTKVVQ RGPCNG .GEEG /KNGNNC 51//'4 /CPHTGF Die Selbsterhaltung der Vernunft. Stuttgart-Bad Cannstatt: Fromman-Holzboog, 1990; Kant diz com extrema clareza: Grundsatz der Vernunft: ihre Selbsterhaltung 4GĆ&#x20AC; ## :8 .7*/#00 0KMNCU &' )+14)+ 4CHHCGNG Teoria della SocietĂ . Milano: Franco Angeli, 2013 (1992). .7*/#00 0KMNCU Grundrechte als Institution. Berlin: Dunker & Humblot, 1965. p. 53-83. &' )+14)+ 4CHHCGNG /QFGNQU LWTĂ&#x2C6;FKEQU FG NC KIWCNFCF [ FG NC GSWKFCF +P AAAAAA Los derechos fundamentales en la sociedad moderna /Ă&#x192;ZKEQ 'FKVQTKCN (QPVCOCTC R .7*/#00 0KMNCU &' )+14)+ 4CHHCGNG Teoria della societĂ . Milano: Franco Angeli, 2013 (1992). cit., cap. 3: Evoluzione. p. 169-246. (17%#7.6 /KEJGN Surveiller et punir: naissance de la prison. Paris: Gallimard, 1993. 6*1/2510 'FYCTF 2 Customs in common 0GY ;QTM 0GY 2TGUU EH )Š6< 0QTDGTV /QTCN economy: its conceptual history and analitical prospects. Journal of Global Ethics, United States, v. 11, p. 147-162, 2015. 19 SANTI, Thais. Belomonte: a anatomia de um etnocĂdio. El PaĂs FG\ 'PVTGXKUVC EQPEGFKFC C 'NKCPG Brum. 20 SANTI, Thais. Belomonte: a anatomia de um etnocĂdio. El PaĂs FG\ 'PVTGXKUVC EQPEGFKFC C 'NKCPG Brum. A Procuradora da RepĂşblica Thais Santi conta como a terceira maior hidrelĂŠtrica do mundo vai se tornando fato consumado numa operação de suspensĂŁo da ordem jurĂdica, misturando o pĂşblico e o privado G ECWUCPFQ WOC ECVÂśUVTQHG KPFĂ&#x2C6;IGPC G CODKGPVCN FG RTQRQTĂ Ă?GU COC\Ă?PKECU El PaĂs, 1dez. 2014. 5#55'0 5CUMKC Globalization and its discontents. New York: New Press, 1999. -#(-# (TCP\ 8QT FGO )GUGV\ +P AAAAAA Der ProceĂ&#x;. Frankfurt: Insel Verlag, 1990. v. 3. p. 226 e ss. #.':; 4QDGTV 1DTC FG TGHGTĂ&#x201E;PEKC Theorie der grundrechte. Frankfurt: Suhrkamp Verlag, 1987; Id. Theorie der juristischen argumentation: die Theorie des rationalen Diskurses als Theorie der juristischen BegrĂźndung. Frankfurt: Suhrkamp Verlag, 1983.24 v. SAVIGNY, Friedrich C. Juristische Methodenlehre. Stuttgart: Koehler: 1951. p. 37. (ed. Wesenberg, Segundo a elaboração de J. Grimm) e System des heutigen rĂśmischen Rechts #CNGP 5EKGPVKC 8GTNCI X R %H &' )+14)+ 4CHHCGNG CiĂŞncia do direito e legitimação: ETĂ&#x2C6;VKEC FC GRKUVGOQNQIKC LWTĂ&#x2C6;FKEC CNGOÂş FG -GNUGP C .WJOCPP %WTKVKDC ,WTWÂś R G UU %H .7*/#00 0KMNCU &G )+14)+ 4CHHCGNG Teoria della societĂ . Milano: Franco Angeli, 2013 (1992). cap. 5. 26 RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. SĂŁo Paulo: Saraiva, 2008.
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TOWARDS AN ECOLOGY OF HUMAN RIGHTS ABSTRACT This article brings forward a discussion on Human Rights and how they are characterized by great expectations that match systematic disillusions. #U UWEJ VJG CTVKENG RTGUGPVU C TGCNKUV TGÆ&#x20AC;GEVKQP QP VJG KPXGPVKQP QH VJG individual as a unique subject, rational and free, while allowing for the comprehension of the semantic structure that made it possible for Human Rights to thrive in modern society, their function and special contribution VQ VJG GXQNWVKQP QH UQEKGV[ 6JG CTVKENG CNUQ KPVGPFU VQ TGÆ&#x20AC;GEV WRQP VJG URGEKÅ¿E EJCTCEVGT QH VJG HWPEVKQP QH *WOCP 4KIJVU QP VJG RCTCFQZ QH its semantics, on its contribution to the production of singularities and the excess of such production. Thus, the article proposes to set the scene for a possible ecology of Human Rights. Keywords: Human Rights. Modern Society. Invention of the Subject. 5KPIWNCTKV[ 'EQNQI[
Submetido: 20 jun. 2017 Artigo convidado
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Normas de Pubicação
NORMAS DE PUBLICAĂ&#x2021;Ă&#x192;O 1 LINHAS DE PESQUISA Os temas poderĂŁo receber abordagens variadas tanto de natureza mais dogmĂĄtica quanto teorĂŠtica. SĂŁo admissĂveis leituras histĂłricas, polĂticas, jurĂdicas, metodolĂłgicas e KPVGTFKUEKRNKPCTGU Â&#x153; HCEWNVCFQ CQU CWVQTGU CDQTFCT CRGPCU CURGEVQU GURGEĂ&#x2C6;ĹżEQU PQ EQPVGZVQ maior da linha de pesquisa escolhida. SĂŁo elas: %QPUVKVWKĂ ÂşQ 'UVCFQ G 5QEKGFCFG &KTGKVQ #EGUUQ ´ ,WUVKĂ C G 5QNWĂ ÂşQ FG .KVĂ&#x2C6;IKQU &KTGKVQ 'UVCFQ G #EGUUQ CQ &GUGPXQNXKOGPVQ Direitos Humanos e Fundamentais 'RKUVGOQNQIKC ,WTĂ&#x2C6;FKEC /GVQFQNQIKC ,WTĂ&#x2C6;FKEC G 'FKVQTKC ,WTĂ&#x2C6;FKEC Teoria PolĂtica e do Direito
2 ESTRUTURA GERAL DO ARTIGO CIENTĂ?FICO ( 15 A 30 PĂ GINAS) 'NGOGPVQU RTĂ&#x192; VGZVWCKU TĂtulo e subtĂtulo (se houver), separado por dois pontos; Nome do autor (e do coautor, se houver), acompanhado de breve currĂculo que Q SWCNKĹżSWG PC ÂśTGC FG EQPJGEKOGPVQ FQ CTVKIQ EQO C TGURGEVKXC VKVWNCĂ ÂşQ CECFĂ&#x201E;OKEC ĹżNKCĂ ÂşQ KPUVKVWEKQPCN %KFCFG 'UVCFQ 2CĂ&#x2C6;U G GPFGTGĂ Q GNGVTĂ?PKEQ GO PQVC FG TQFCRĂ&#x192;
Resumo na lĂngua do texto: sequĂŞncia de frases concisas e objetivas, e nĂŁo uma simples enumeração de tĂłpicos, de 150 a 250 palavras, espacejamento entre linhas simples. Seguem-se CU RCNCXTCU EJCXG TGRTGUGPVCVKXCU FQ EQPVGĂ&#x2022;FQ FQ VTCDCNJQ UGRCTCFCU RQT RQPVQ G ĹżPCNK\CFCU por ponto (de 3 a 5 palavras). 'NGOGPVQU VGZVWCKU Modelo A: 1 Introdução 2 Desenvolvimento * A submissĂŁo do artigo deve ser realizada sem qualquer menção de autoria, exclusivamente pelo portal de periĂ&#x17D;FKEQU XKC YGD 1U FCFQU TGHGTGPVGU CQU CWVQTGU G EQCWVQTGU FGXGO UGT KPUGTKFQU ´ RCTVG PC UGĂ ÂşQ FGPQOKPCFC â&#x20AC;&#x153;meta-dadosâ&#x20AC;?. O periĂłdico opera com o sistema de dupla avaliação cega.
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Normas de Pubicação
3 ConclusĂŁo Modelo B: 1 Introdução 2 Referencial TeĂłrico 3 Metodologia da Pesquisa 4 AnĂĄlise dos Resultados (deve conter a anĂĄlise dos dados obtidos) 5 ConclusĂŁo 'NGOGPVQU RĂ&#x17D;U VGZVWCKU Agradecimento (nĂŁo ĂŠ obrigatĂłrio) ReferĂŞncias 0QVCU FG ĹżO CRĂ&#x17D;U TGHGTĂ&#x201E;PEKCU GO Times Nem Roman 10
3 FORMATAĂ&#x2021;Ă&#x192;O DO ARTIGO O tĂtulo deve estar centralizado, em negrito e em caixa alta, sendo escrito em tamanho 14. .QIQ CDCKZQ FQ VĂ&#x2C6;VWNQ FQ VTCDCNJQ FGXGO EQPUVCT Q U PQOG U EQORNGVQ U FQ CWVQT FQ U EQCWVQT GU TGEWCFQU ´ FKTGKVC CEQORCPJCFQU FG DTGXG EWTTĂ&#x2C6;EWNQ SWG QU SWCNKĹżSWGO na ĂĄrea de conhecimento do artigo, com a respectiva titulação acadĂŞmica e endereço eleVTĂ?PKEQ GO PQVC FG TQFCRĂ&#x192; KFGPVKĹżECFC EQO CUVGTKUEQ 'ZGORNQ 6 67.1 &1 #46+)1 JoĂŁo J. JoĂŁo* Pedro P. Pedro** Maria M. Maria*** O texto deve ser digitado com letra Times New Roman, tamanho 12, usando espaço entrelinhas 1,5 e espaçamento entre parĂĄgrafos de 0 pt antes e 06 pt depois. O espaço da primeira linha dos parĂĄgrafos ĂŠ de 1cm. As citaçþes de mais de trĂŞs linhas, as notas de rodapĂŠ, as referĂŞncias e os resumos em vernĂĄculo e em lĂngua estrangeira devem ser digitados em espaço simples. * Breve currĂculo ** Breve currĂculo *** Breve currĂculo
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Normas de Pubicação
1 HQTOCVQ FQ RCRGN C UGT WVKNK\CFQ VCPVQ PC XGTUÂşQ GNGVTĂ?PKEC SWCPVQ PC KORTGUUC FGXG ter formato A4 (210 mm x 297 mm), com as seguintes margens: superior e esquerda - 3,0cm; inferior e direita - 2,0 cm. O trabalho deve estar obrigatoriamente digitalizado em Word.
4 REFERĂ&#x160;NCIAS As referĂŞncias devem ser constituĂdas por todas as obras citadas no artigo e devem ser listadas de acordo com a norma ABNT-NBR-6023/2002, conforme exemplos abaixo: .KXTQU #.8'5 4QSWG FG $TKVQ %KĂ&#x201E;PEKC %TKOKPCN 4KQ FG ,CPGKTQ (QTGPUG $#0&'+4# /CPWGN 1TI )QPĂ CNXGU &KCU RQGUKC GF 4KQ FG ,CPGKTQ #IKT Artigos em periĂłdicos /106'+41 #IQUVKPJQ FQU 4GKU 1 RÂşQ FQ FKTGKVQ ´ GFWECĂ ÂşQ 'FWECĂ ÂşQ 5QEKGFCFG Campinas, SP, v. 24, n. 84, p. 763-789, set. 2003. 1 /'.*14 FG FQKU OWPFQU #RĂ&#x17D;U 5ÂşQ 2CWNQ CPQ R HGX Artigos em revistas, jornais etc. /106'+41 0'61 #TOCPFQ &GUQPGTCĂ ÂşQ FC HQNJC UCNCTKCN 'UVCFQ FG /KPCU $GNQ *Qrizonte, n. 22.368, p. 9, 26 mar. 2003. Sites CONY, Carlos Heitor. O frĂĄgil lenho. Folha online, SĂŁo Paulo, 19 jan. 2004. DisponĂvel em: <www.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult505u135.shtml>. Acesso em: 19 jan. 2004. (4'+4' ,QUĂ&#x192; $GUUC 1 RCVTKOĂ?PKQ EWNVWTCN KPFĂ&#x2C6;IGPC +P 9'.(146 (TCPEKUEQ 517<# /ÂśTcio (Org.). Um olhar sobre a cultura brasileira. BrasĂlia: MinistĂŠrio da Cultura, 1998. DisponĂvel em: <http: // www.minc.gov.br/textos/olhar/patrimonioindigena>. Acesso em: 20 jan. 2004.
5 CITAĂ&#x2021;Ă&#x2022;ES As citaçþes deverĂŁo ser feitas da seguinte forma (NBR 10520): citaçþes de atĂŠ trĂŞs linhas devem estar contidas entre aspas duplas; as citaçþes de mais de trĂŞs linhas devem ser destacadas com recuo de 4cm da margem esquerda, em Times New Roman 10, sem aspas. Para enfatizar trechos da citação, deve-se destacĂĄ-los indicando essa alteração com a expressĂŁo â&#x20AC;&#x153;grifo nossoâ&#x20AC;? entre parĂŞnteses apĂłs a chamada da citação ou â&#x20AC;&#x153;grifo do autorâ&#x20AC;?, caso o destaque jĂĄ faça parte da obra consultada. # TGHGTĂ&#x201E;PEKC FC EKVCĂ ÂşQ UGTÂś HGKVC GO PQVC FG ĹżO CRĂ&#x17D;U CU TGHGTĂ&#x201E;PEKCU FQ VGZVQ
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Normas de Pubicação
6 ABSTRACT E KEYWORDS #RĂ&#x17D;U CU TGHGTĂ&#x201E;PEKCU UGIWGO UG CU PQVCU FG ĹżO CRĂ&#x17D;U CU PQVCU FG ĹżO EWNOKPCPFQ VQFQ o trabalho, deve-se fazer constar o tĂtulo do artigo, o resumo e as palavras-chave em versĂŁo para o inglĂŞs, com recuo de 4 cm em espaço simples.
7 INSTRUĂ&#x2021;Ă&#x2022;ES AOS AUTORES 7.1 Avaliação por pares â&#x20AC;&#x201C; modus operandi Os artigos recebidos passam por uma anĂĄlise prĂŠvia (fase inicial: desk review), GPXQNXGPFQ C GSWKRG FG 'FKVQTGU KPUVKVWEKQPCKU G QW 'FKVQTGU #UUQEKCFQU XKPEWNCFQU C QWVTCU +PUVKVWKĂ Ă?GU FG QWVTQU 'UVCFQU 'UUC RTKOGKTC HCUG HWPEKQPC EQOQ WO OGECPKUOQ FG HKNVTCIGO SWCPVQ ´ CFGSWCĂ ÂşQ FQ CTVKIQ ´U NKPJCU FG RGUSWKUC ´ CFGSWCĂ ÂşQ ´U PQTmas de publicação; inteligibilidade, coerĂŞncia e coesĂŁo do texto; avaliação preliminar FC EQORCVKDKNKFCFG FQ CTVKIQ UWDOGVKFQ ´U GZKIĂ&#x201E;PEKCU CVTKDWĂ&#x2C6;XGKU C WOC RTQFWĂ ÂşQ GO termos de pĂłs-graduação; relevância e adequação do aporte teĂłrico; relevância da discussĂŁo enfrentada e potencial de contribuição do artigo para a comunidade acadĂŞmica. 'UUCU UÂşQ FKTGVTK\GU ´U SWCKU C GSWKRG FG 'FKVQTGU KPUVKVWEKQPCKU G CUUQEKCFQU UG CVĂ&#x201E;O de modo geral. Superada essa fase preliminar, o artigo ĂŠ submetido a, no mĂnimo, dois parecerisVCU SWG VGPJCO VKVWNCĂ ÂşQ OCKQT RTGHGTGPEKCNOGPVG QW KIWCN ´ VKVWNCĂ ÂşQ FQ EQCWVQT mais bem titulado do trabalho em exame. Atenta-se, ainda, quando da escolha dos pareceristas responsĂĄveis para uma adequação entre as ĂĄreas de conhecimento dos CXCNKCFQTGU G C ÂśTGC FC VGOÂśVKEC GPHTGPVCFC PQ CTVKIQ CPVGU FG UWDOGVĂ&#x201E; NQ ´ CRTGEKCção dos pares. Opera-se com o sistema double blind review, conforme orientação do Programa 3WCNKU RTQEGFGPFQ UG ´ FGUKFGPVKHKECĂ ÂşQ FQU CTVKIQU C HKO FG SWG C CXCNKCĂ ÂşQ RQT RCTGU seja cega, garantindo-se a lisura do processo. Nessa etapa da avaliação, os pareceristas RTGGPEJGO WOC HKEJC FG CXCNKCĂ ÂşQ GURGEĂ&#x2C6;HKEC G RCFTQPK\CFC C SWCN Ă&#x192; FGXQNXKFC ´ GSWKRG FG 'FKVQTGU 4GURQPUÂśXGKU TGEQOGPFCPFQ QW PÂşQ C RWDNKECĂ ÂşQ FQU CTVKIQU UWDOGVKdos. Cada parecerista sĂł pode avaliar, no mĂĄximo, dois artigos por nĂşmero publicado. Procura-se, sempre que possĂvel, escolher pareceristas que nĂŁo pertençam ao mesmo 'UVCFQ FC (GFGTCĂ ÂşQ FG QPFG UG QTKIKPQW Q CTVKIQ 'O ECUQ FG FKXGTIĂ&#x201E;PEKC FG RCTGEGTGU ou, permanecendo quaisquer dĂşvidas, pode a equipe institucional ampliar o leque de avaliaçþes para melhor subsidiar sua decisĂŁo.
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7.2 Idiomas de publicação A OpiniĂŁo JurĂdica aceita artigos escritos em portuguĂŞs, espanhol, francĂŞs, italiano e inglĂŞs. Artigos em alemĂŁo serĂŁo aceitos apenas de autores previamente convidados. Todos os artigos, independentemente da lĂngua em que estejam escritos, devem fazer constar tĂtulo, TGUWOQ G RCNCXTCU EJCXG GO KPINĂ&#x201E;U Ĺ&#x152; CVGPFGPFQ UG ´U GZKIĂ&#x201E;PEKCU FQ 2TQITCOC Qualis da Capes. 7.3 Ineditismo # 1RKPKÂşQ ,WTĂ&#x2C6;FKEC XKUC ´ RWDNKECĂ ÂşQ G ´ FKXWNICĂ ÂşQ FG VTCDCNJQU KPĂ&#x192;FKVQU FGXGPFQ Q CWVQT fazer constar, sob as penas da lei, qualquer condição em contrĂĄrio, por ocasiĂŁo da submissĂŁo de seu VTCDCNJQ 'O ECUQ FG GZKUVĂ&#x201E;PEKC FG RWDNKECĂ ÂşQ RTĂ&#x192;XKC FGXG Q CWVQT GZRNKEKVCT Q XGĂ&#x2C6;EWNQ FG RWDNKECĂ ÂşQ G Q UWRQTVG WVKNK\CFQ XKTVWCN QW KORTGUUQ C ĹżO FG SWG C GSWKRG FG 'FKVQTGU +PUVKVWEKQPCKU delibere, soberanamente, a respeito da conveniĂŞncia de uma eventual republicação. 7.4 TransferĂŞncia de direitos autorais # UWDOKUUÂşQ FG CTVKIQ ´ CRTGEKCĂ ÂşQ FC 'SWKRG 'FKVQTKCN FC 4GXKUVC 1RKPKÂşQ ,WTĂ&#x2C6;FKEC KORNKEC RQT GUVG OGUOQ CVQ C EGUUÂşQ RQT RCTVG FQ U CWVQT '5 RCTC Q %GPVTQ 7PKXGTUKVÂśTKQ %JTKUVWU Ĺ&#x152; 70+%*4+5675 FC TGHGTKFC 1$4# RCTC ĹżPU FG TGRTQFWĂ ÂşQ FKXWNICĂ ÂşQ distribuição, impressĂŁo, publicação e disponibilização, a encargo da UNICHRISTUS, em qualquer forma ou meio que exista ou venha a existir, nos termos do art. 49 e os seguintes FC .GK ParĂĄgrafo Primeiro. A cessĂŁo, objeto deste Termo, ĂŠ feita a tĂtulo nĂŁo exclusivo e gratuito, abrangendo a totalidade da OBRA. ParĂĄgrafo Segundo. # 70+%*4+5675 RQFGTÂś FKURQPKDKNK\CT RCTC ĹżPU FKFÂśVKEQU C OBRA no todo ou em partes, vedada a alteração de seu conteĂşdo textual, ressalvadas corTGĂ Ă?GU G HQTOCVCĂ Ă?GU SWG UG Ĺż\GTGO PGEGUUÂśTKCU ParĂĄgrafo Terceiro. A cessĂŁo ĂŠ vĂĄlida em quaisquer paĂses, em lĂngua portuguesa ou tradução, a critĂŠrio da UNICHRISTUS. 7.5 Das responsabilidades Ao submeter(em) artigo de sua lavra, o autor (e coautores, se houver) assume(m), por esse ato, a responsabilidade exclusiva pela integralidade do conteĂşdo da obra de sua autoria. Dessa forma, quaisquer medidas judiciais ou extrajudiciais concernentes ao seu conteĂşdo serĂŁo de sua inteira responsabilidade. ParĂĄgrafo Ăşnico. 'O ECUQ FG RNWTCNKFCFG FG CWVQTGU EQPUKFGTC UG UQNKFÂśTKC C TGURQPsabilidade, ressalvadas as provas em contrĂĄrio.
R. Opin. Jur., Fortaleza, ano 15, n. 20, p.341-345, jan./jun. 2017
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