Psicologia e Comportamento

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Caro estudante,

Desde a criação da Unifacs, acreditamos que formação é muito mais do que preparação técnico-científica e que nossa missão como Universidade é proporcionar ao estudante uma educação para toda a vida, embasada no domínio do conhecimento, na fixação de valores e no desenvolvimento de habilidades e atitudes. É proporcionar o desenvolvimento integral do indivíduo.

Mais do que profissionais, queremos formar pessoas com visão abrangente do mundo e das transformações da dinâmica social, com competência para avaliar de forma crítica e criativa as questões que nos cercam. Pessoas capazes de enfrentar os desafios que se coloquem ao longo de sua vida e de sua trajetória profissional, e de aprender permanentemente e de forma autônoma.

Buscamos atingir este objetivo - fundamentados na nossa missão e no nosso Projeto Pedagógico Institucional - por intermédio das diversas atividades acadêmicas, dentro e fora da sala de aula, que compõem o Currículo Unifacs e que desenvolvem e fortalecem habilidades essenciais para a formação do perfil do egresso Unifacs; como um “DNA” reconhecido pela sociedade e pelo mercado de trabalho. Este Currículo compõe-se dos elementos descritos a seguir:

Disciplinas de Formação Humanística: oferecidas em todos os cursos de graduação da Unifacs; Disciplinas de Formação Básica: conferem conhecimentos e competências comuns aos cursos de uma mesma área do conhecimento, para o futuro exercício profissional; Disciplinas de Formação Específica: proporcionam a formação técnica e o desenvolvimento de habilidades e atitudes necessárias ao perfil profissional do curso; Atividades integradoras: permitem vivenciar na prática os conteúdos teóricos trabalhados em sala de aula, através do desenvolvimento de projetos específicos; Atividades Complementares: oferecem oportunidades de ampliação do conhecimento fora da sala de aula, a exemplo da Iniciação Científica, ações comunitárias, programas de intercâmbio, cursos de extensão e participação em Empresas Juniores, entre outras; Estágio Supervisionado; Trabalho de Conclusão de Curso e demais atividades acadêmicas.


As disciplinas de Formação Humanística, em especial, cumprem um papel fundamental na consecução desse perfil. Preparam uma sólida base de conhecimentos gerais que permitirão uma compreensão mais ampla da formação técnica de cada curso, estimulando o pensamento crítico e sensibilizando o estudante para as questões sociais, políticas, culturais e éticas que envolvem sua atuação como cidadão e profissional; motivando à busca do saber perene.

Em complementação, portanto, à formação técnico-profissional proporcionada pelas disciplinas de Formação Básica e Específica, as disciplinas de Formação Humanística possibilitarão ao estudante adquirir quatro importantes saberes: aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.

Esta é a concretização do nosso compromisso de formar pessoas melhores, cidadãos atuantes e profissionais comprometidos para a construção de um mundo melhor.

Cordialmente,

Prof. Manoel J. F. Barros Sobrinho Chanceler


Formação Humanística Unifacs Conforme explicitado no Projeto Pedagógico Institucional da Unifacs, as disciplinas de Formação Humanística têm como objetivo:

Possibilitar aos discentes a visão abrangente do mundo e da sociedade, propiciando aquisição de competências relativas ao processo de comunicação e raciocínio lógico, necessárias para a formação profissional; bem como conhecimentos inerentes aos direitos humanos, à ética, às questões sócio-ambientais que envolvam aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos e culturais, delineando a formação cidadã.

As disciplinas de Formação Humanística e seus objetivos são:

1. Comunicação Desenvolver a capacidade de ler criticamente e produzir textos de forma autônoma, adequando-se às diversas situações comunicativas presentes no dia-adia, e reconhecer a importância do desenvolvimento destas habilidades para sua vida pessoal e profissional.

2. Introdução ao Trabalho Científico Despertar o interesse pela ciência, apontando seu papel na construção do conhecimento e mostrar como o método científico pode ser utilizado para a solução de questões cotidianas.

3. Sociedade, Direito e Cidadania. Promover uma reflexão sobre o exercício da cidadania e os mecanismos que garantem sua efetividade, bem como a participação nos processos sociais, de forma a interferir positivamente na sociedade.

4. Conjuntura Econômica Habilitar à compreensão da dinâmica da economia e do impacto das suas diversas variáveis e características no dia-a-dia de países, empresas e cidadãos.


5. Arte e Cultura Proporcionar o conhecimento e a valorização das manifestações artísticas e culturais e ampliar a percepção estética como habilidade relevante para profissionais de qualquer área do conhecimento.

6. Meio Ambiente e Sustentabilidade Transmitir conceitos fundamentais sobre ambiente, sustentabilidade e suas relações com o desenvolvimento e despertar atitude político-ambiental nos estudantes, a partir do entendimento de seu papel como profissionais e cidadãos.

7. Psicologia e Comportamento Estudar as interações dos indivíduos no cotidiano, nos grupos dos quais fazem parte, e avaliar papeis e funções nas relações pessoais e profissionais.

8. Filosofia Discutir as grandes questões da vida humana pela compreensão das diversas correntes de pensamento filosófico e de suas contribuições.

9. Empreendedorismo Desenvolver a atitude empreendedora como elemento indispensável para o sucesso pessoal e profissional, seja trabalhando em organizações ou como empresário.

10. Saúde e Qualidade de Vida Enfatizar a importância dos cuidados preventivos com a saúde para obter uma melhor qualidade de vida dando a base para o pleno desenvolvimento dos projetos pessoais e profissionais.


PSICOLOGIA E COMPORTAMENTO Autora: Clรกudia Vaz Torres



Sumário Formação Humanística Unifacs..............................................................................................................................................3

PSICOLOGIA E COMPORTAMENTO................................................................................................... 5 AULA 01 – A Psicologia e o comportamento humano...............................................................................................9 AULA 02 - A construção social do homem: subjetividade e identidades................................................ 19 AULA 03 - Relações interpessoais na contemporaneidade .............................................................................. 33 AULA 04 - as Relações interpessoais.................................................................................................................................. 45 AULA 05 - A dinâmica das relações nos grupos e equipes de trabalho.................................................... 55 AULA 06 - Emoções, sentimentos e afetos: DELIMITAÇÕES conceituais ....................................................... 63 AULA 07 - Emoções, sentimentos e afetos: repercussões no cotidiano do trabalho .................. 71 AULA 08 - A motivação no trabalho................................................................................................................................... 79



mento humano Autor(a): Cláudia Vaz Torres

Nesta aula refletiremos sobre o surgimento da psicologia e o seu papel no desenvolvimento das questões humanas.

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AULA 01 – A Psicologia e o comporta-

Por que nos tornamos o que somos, aqui e agora? O que constitui a nossa singularidade? O que mudou na história e o que a Psicologia tem a ver com isso?

Fonte das imagens: http://www.sxc.hu/.

A análise das imagens e das questões acima permite pensar que na contemporaneidade o modo como enxergamos a nós mesmos mudou bastante, pois em épocas passadas não havia o interesse em promover a exposição de si cotidianamente, havia maior preocupação com a manutenção da privacidade e com o lugar social previamente “determinado”. Podemos interpretar o mundo contemporâneo, como um período no qual predomina o intenso culto à pessoa, ao auto-conhecimento, à intimidade, à vida privada. É um momento em que percebemos que muitas mulheres e homens constroem as suas relações consigo e com os outros e interpretam a sua realidade sem reconhecer a importância do outro na existência de cada um, valorizando apenas as suas intimidades e interesses pessoais (SENNETT, 1998). Na contemporaneidade as ciências comportamentais ampliaram muito a sua área de análise, atuação e abriram espaço para campos específicos de aplicação como educação, saúde, trabalho, conflitos sociais, entre outros. Cotidianamente somos compelidos a pensar sobre o comportamento de mulheres e homens, a revisar conceitos e modelos, pois a todo momento novos acontecimentos vêm à tona, transformando o momento presente. Torna-se, então necessário saber lidar com a diversidade de situações nas relações humanas e com as diferentes questões que trazem em si a marca da instabilidade e da competitividade.

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Lidamos acentuadamente, hoje, com o sentimento de instabilidade, de incompletude que nos desafia e nos leva a desejar algo e querer ser melhor do que o que se é, porém esta busca muitas vezes está centrada nas aquisições, ou seja, em ter: bens, títulos, contratos, matrimônio, etc. Às vezes, pensamos que precisamos olhar o outro, sermos mais sensíveis, porém logo nos distanciamos desses ideais, assumimos os valores e princípios de uma sociedade de consumo e anestesiamos os nossos sentidos. Vamos, assim, formando territórios e exibindo o que esperamos que o outro queira ver. Sibilia (2008) explica que na contemporaneidade há uma necessidade imperiosa de exibir a intimidade e espetacularizar os recônditos do eu. Há, conforme a autora, um abandono da privacidade, do que se passa na experiência solitária e íntima de si para uma gradativa exteriorização do eu. O apelo social é para que se mostre e constitua a própria vida como um relato para ser saboreado, comentado, criticado e desejado pelo outro. As ferramentas atuais disponíveis na Internet como blogs, weblogs, YouTube, fotologs, redes de sociabilidade como Orkut, Myspace, facebook, entre outras promovem e celebram o eu, para tanto é preciso insistentemente atualizar o outro com fragmentos de informações que são adicionados a todo momento e sustentam apenas o tempo presente, enfim é preciso mostrar-se cotidianamente. [...] os sujeitos destes inícios do século XXI, familiarizados com as regras da sociedade do espetáculo, recorrem a infinidade de ferramentas ficcionalizantes disponíveis no mercado para se autoconstruir. A

meta é enfeitar e recriar o próprio eu como se fosse um personagem ________________________ audiovisual. Não é muito difícil, pois a mídia oferece um farto cata________________________ logo de identidades descartáveis que cada um pode escolher e emu________________________ lar: é possível copiá-las, usá-las e logo descartá-las, para substituir ________________________ por outras mais novas e reluzentes (SIBILIA, 2008, p. 241-242). ________________________ ________________________ ________________________ O desejo de visibilidade, de ser protagonista, mostrar-se e causar um efeito no ________________________ outro marcam as experiências de construção das subjetividades atualmente. Nos no________________________ vos modos de ser e estar no mundo é possível mentir sobre as suas próprias vidas e ________________________ inventar fatos sobre si mesmo. ________________________ ________________________ Leia o trecho abaixo: ________________________ ________________________ ________________________ Eu conheci o Cris pela internet em 2007. Ele era amigo do namorado virtual de uma amiga. ________________________ Ficamos próximos e decidimos namorar. Ele era muito ciumento, mas muito carinhosos. Eu ________________________ não ficava com mais ninguém. Um dia, a minha amiga brigou com o namorado e começou ________________________ a fazer pressão para ele contar mais coisas. Aí, veio à tona: nem o namorado dela nem o ________________________ meu eram reais. Quem fazia o personagem dos dois era uma menina! (REPS, 2009) ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________


construções do “eu”?

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Reflita: Quais os desdobramentos disso? Como lidar com as diferentes versões de

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Esta infinidade de construções de versões do “eu” interessa a psicologia que além da sua cientificidade, está cada vez mais frequente na vida cotidiana. Figueiredo e Santi (2006) alertam que a tendência que mais cresce no mercado é a das “terapias de auto-ajuda” que misturam concepções do senso comum, com pressupostos humanistas sobre a liberdade do homem e prega o individualismo e a submissão do eu a um conjunto de regras de gerenciamento da própria vida. Analise: O que é “terapia de auto-ajuda”? A auto-ajuda é uma terapia? Quais as diferenças entre esta abordagem e as abordagens da psicologia científica?

Alguns saberes e práticas sobre o ser humano pertencem a outros campos e estão em oposição aos princípios da psicologia científica. Compreender a psicologia numa dimensão histórica e social implica pensar nas ações, atitudes, emoções, sentimentos e comportamentos inerentes a mulheres e homens, constituídos a partir das relações. Assim, é importante refletir sobre a psicologia e destacar que a mesma pode ser considerada uma ciência, pois o conhecimento que produz é considerado científico por ter um objeto de estudo, uma linguagem rigorosa, objetividade, métodos e técnicas específicos e uma construção teórica cumulativa. O campo de conhecimento da Psicologia se constituiu como ciência a partir do século XIX, quando seus temas passaram a ser investigados pelos fisiologistas e pelos neurofisiologistas, que demonstraram que as nossas percepções e pensamentos derivam do sistema nervoso central; também, quando estes cientistas passaram a empregar nos seus estudos, métodos de observação cuidadosos e sistemáticos para normatizar e padronizar as ações, atitudes e comportamentos dos homens. Antes disso, a Psicologia estava atrelada à Filosofia. Conforme Bock (2001), foram os filósofos gregos que tentaram pela primeira vez sistematizar o conhecimento psicológico, concebendo-o como estudo da alma. O termo psicologia vem do grego psyché, que significa alma, e de logos, que significa

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razão. Etimologicamente, a Psicologia significa o estudo da alma. A alma era concebida como a parte imaterial do ser humano que inclui os sentimentos, os desejos, as sensações, as percepções e os pensamentos. Atualmente, a Psicologia é vista como uma ciência em desenvolvimento. Cambauva, Silva e Ferreira (1998) esclarecem que a psicologia vai sendo construída à medida que os homens vão construindo a si mesmos e ao seu mundo. O homem, sendo personagem principal desse processo de desenvolvimento do pensamento, cria idéias, entre elas as idéias psicológicas. Ele cria as ciências como forma de compreensão do mundo; entre essas ciências cria a psicologia, tendo como objetivo o entendimento do que hoje chamamos subjetividade, bem como a interpretação desta na sua relação com o mundo e com outros homens. Isso significa que a psicologia pode ser considerada uma ciência social, e seu objeto o homem. Ao falarmos do desenvolvimento da psicologia, estamos, ao mesmo tempo, nos referindo ao desenvolvimento, ao processo, à elaboração e à criação do pensamento humano. Ou seja, assumimos e entendemos que o homem está em constante movimento (CAMBAUVA; SILVA; FERREIRA, 1998, p. 2-3).

Depreendemos com as autoras que a pessoa humana, na sua relação com o outro, constrói a si mesma, é produtora de ideias, da ciência e produtora da história da

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sociedade. Diante da diversidade que encontra no mundo, da necessidade de conhecer, controlar e potencializar a sua eficiência desenvolve um modo de pensamento específico sobre seu comportamento, desenvolve métodos para análise e compreensão das inúmeras possibilidades de ser e estar no mundo. Diante dessas inúmeras possibilidades de interpretar o homem, encontramos na psicologia uma diversidade de objetos de estudo. Bock (2001) analisa que a diversidade de objetos justifica-se porque os fenômenos psicológicos são diversos e não podem ser acessíveis ao mesmo nível de observação, padrões de descrição, medida, controle e interpretação. A psicologia, então, enfoca, de maneira particular, o seu objeto de estudo e constrói conhecimentos específicos e distintos sobre a nossa singularidade e individualidade. Acrescentamos que a psicologia científica está dividida entre diferentes linhas de pensamento, pois existem inúmeras maneiras de conceber e intervir no campo do “psicológico”. De acordo com Ferreira (2006), os saberes e as práticas psicológicas contemporâneas apresentam algumas experiências constitutivas fundamentais como a constituição da subjetividade e as individualidades como unidades políticas a serem destacadas e diferenciadas no conjunto da sociedade. Sem que o outro que convive conosco saiba, passamos longo tempo pensando sobre quem somos, o que queremos, se vamos ou não fazer uma coisa, até que decidimos por algo. Preservamos a nossa individualidade pelo desejo de sermos livres e acreditamos que o nosso modo de sentir e pensar é único, porém ao lado das nossas individualidades existe uma imensa possibilidade de padronização, normatização e disciplina com o objetivo de controlar o comportamento, a imaginação, as emoções,


A valorização da individualidade pode ser vista ao longo da história como na obra de Michel de Montaigne em 1580, ao advertir o leitor de que escreveu os seus Ensaios para si mesmo e, alguns íntimos para que pudessem conservar mais inteiro e vivo o conhecimento que tiveram do seu caráter e de suas idéias. Entretanto até o século XIII não existia sequer a noção de individuo. Acrescentamos que na Grécia, do ponto de vista político, a noção de indivíduo

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os sentimentos, os desejos e manter a ordem social.

não aparece, isso não significa que a pessoa não existisse, mas que ele tinha a sua existência reconhecida como cidadão da polis. A maior punição para o homem era ser banido da polis. O espaço público e social era o lugar para o desenvolvimento pleno do homem.

Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Michel_de_Montaigne_1.jpg

No século XVI, esclarecem Figueiredo e Santi (2006), há uma grande valorização e confiança no homem, geradas pela concepção de que o mundo passou a ser considerado cada vez menos sagrado e mais como objeto de uso, movido por forças mecânicas a serviço dos homens que passaram a ser considerados livres e centro do mundo. Esta transformação é parte da origem da ciência moderna. As condições socioculturais constituíram o terreno propício para a construção do projeto de uma psicologia como ciência, pois à medida que o homem sentia-se livre, diferente, capaz de experimentar sentimentos, ter desejos e pensar independentemente dos demais e, também, perceber as instâncias de controle na sociedade que colocavam em questão a sua soberania, autonomia e identidade acentuou-se para o Estado a necessidade de recorrer a práticas de previsão e controle para dar conta das seguintes questões:

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Como lidar melhor com os sujeitos individuais? Como educá-los de forma mais eficaz, treiná-los, selecioná-los para os diversos trabalhos? Em todas essas questões se expressa o reconhecimento de que existe um sujeito individual e a esperança de que é possível padronizá-lo segundo uma disciplina[...] Surge, desse modo uma demanda por uma psicologia (FIGUEIREDO; SANTI, 2006, p. 49).

Depreendemos que para a Psicologia progredir era necessário conhecer e controlar as individualidades e suas diferenças. A experiência de individualização marca as escolas psicológicas fundadas no século XIX. O homem, sujeito individual, torna-se um objeto da ciência: Os estudos psicológicos científicos começaram e se desenvolveram sempre marcados por essa contradição: por um lado a ciência moderna pressupõe sujeitos livres e diferenciados – senhores de fato e de direito da natureza; por outro, procura conhecer e dominar essa própria subjetividade, reduzir ou mesmo eliminar as diferenças individuais, de forma a garantir a “objetividade”, ou seja, a validade intersubjetiva dos achados. Em contraposição [...] muitos psicólogos repudiam essa meta de conhecer para dominar os meandros da subjetividade e afirmam, ao contrário, que o que interessa é conhecer esses aspectos profundos e poderosos do “eu” para dar-lhes voz, para expandi-los, para fazê-los mais fortes e livres. É claro que os que

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pensam assim querem fazer da psicologia uma “ciência” sui generis não só por ter um campo e um objeto próprios, mas por adotarem, em relação às demais ciências, outros métodos e outras metas. (FIGUEIREDO; SANTI, 2006, p.56-57)

Assim, há diversas psicologias, histórias e linhas de pensamento que divergem nos aspectos teóricos e metodológicos. A psicologia passou a existir como uma ciência no final do século XIX com a criação do laboratório de psicologia experimental de Wilhelm Wundt em 1875 na Alemanha na Universidade de Leipzig. O Laboratório de Leipzig atraiu estudantes de vários países e impulsionou a institucionalização formal da psicologia. A construção de um projeto de uma psicologia independente com objeto próprio de estudo e métodos adequados não foi tarefa fácil, principalmente porque a filosofia abordava os conceitos relacionados ao comportamento, “alma” e consciência e a História, a Sociologia, a Linguística também abordavam as ações humanas e sua importância na sociedade de acordo com as condições sociais e históricas. A psicologia reivindicou um lugar no campo das ciências buscando objetividade, embasamento matemático e um elemento básico de investigação através da aproximação com os conceitos e métodos das ciências naturais. Ferreira (2006, p. 21) ao analisar o mapa das psicologias do século XIX explica que: Surge, então, no final do século XIX, na Alemanha, o projeto da psicologia enquanto ciência da experiência, tomando como base a fisiologia, calcado no conceito de sensação como elemento objetivo e matematizável.


gia como área de conhecimento específico, embora com divergências no estudo do comportamento e da mente. As visões de homem de Wilhelm Wundt e seu contemporâneo William James não são mais bem aceitas hoje, porém, ainda assim, os estudos de Wundt sobre os processos mentais básicos através do método introspeccionista e a abordagem de James sobre a análise dos processos, através dos quais a mente funciona desempenharam um importante papel na construção de uma psicologia científica (GLASSMAN, 2008).

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Assim na virada para o século XIX, torna-se possível a configuração da psicolo-

A psicologia é definida como o estudo científico do comportamento. O termo comportamento pode ser compreendido como respostas observáveis, experiência interna (pensamentos, sentimentos, etc). Alguns psicólogos preocupam-se apenas com o comportamento humano, outros estudam as ações de outras espécies. De qualquer modo o comportamento humano é rico e complexo, não há como explicar todos os aspectos numa teoria isolada, há uma diversidade de abordagens que diferem em termos de pressupostos básicos, métodos e teorias no estudo desta temática. A psicologia, portanto, nas suas diferentes abordagens do estudo do comportamento, como a abordagem behaviorista, a abordagem cognitiva, a psicodinâmica, a humanista e a biológica tentou explicar a experiência humana, a partir dos seus diferentes pressupostos, métodos e explicações. Vamos resumidamente conhecer alguns dos aspectos estudados por elas: Abordagem Behaviorista Fundamenta-se na suposição de que a ciência deve basear-se no estudo de comportamentos observáveis, ou seja, observar as interações entre o organismo e o seu ambiente. Os behavioristas abstêm-se de analisar a consciência e estados subjetivos internos. A aprendizagem é o principal fator na explicação das mudanças de comportamento. Abordagem Cognitiva Enfatiza o papel dos processos de mediação no comportamento humano. O comportamento pode ser compreendido através da observação dos processos que ocorrem entre um estímulo ambiental e a resposta comportamental. O desenvolvimento da abordagem cognitiva está associado ao behaviorismo, pois, desenvolveu-se como uma reação contra a ênfase nos eventos externos. Abordagem Humanista Enfatiza a experiência subjetiva e rejeita o determinismo em favor da escolha individual. Para os humanistas para o entendimento do comportamento humano é necessário compreender a pessoa que está produzindo o comportamento, incluindo a maneira como a pessoa enxerga o mundo. Abordagem Psicodinâmica Compreende o comportamento em termos do funcionamento da mente, enfatiza a motivação e o papel da experiência passada. A teoria psicanalítica de Freud, pioneira para representar esta abordagem enfatiza a importância do determinismo psíquico e das pulsões e a importância do inconsciente. Freud considerava o comportamento humano em termos dos relacionamentos dinâmicos entre o id, ego e superego (inconsciente, consciente e pré-consciente). A psicanálise explica a personalidade em termos de estágios psicossexuais do desenvolvimento.

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Abordagem Biológica Baseia-se na suposição do materialismo que afirma que todo comportamento tem uma base fisiológica, assim procura explicar o comportamento em termos do funcionamento do sistema físico. O funcionamento do sistema nervoso e o papel da hereditariedade no comportamento são as principais preocupações desta abordagem. Enfatiza o papel do temperamento no desenvolvimento da personalidade como tendo sua base na hereditariedade.

Fonte: GLASSMAN; HADAD (2008)

É um desafio descobrir maneiras para avaliar as diferenças entre as abordagens e compreender as suas divergências, porém, diante da complexidade do comportamento, nenhuma teoria isolada pode explicar todos os aspectos que dizem respeito ao comportamento. Acrescentamos que as abordagens desenvolveram-se em resposta a complexidade do estudo do comportamento, mas também em consonância com fatores pessoais, históricos e culturais. O conjunto de saberes e das práticas psicológicas contemporâneas apresenta algumas experiências como a constituição da subjetividade que estão presentes em todas as psicologias e que a partir dessas experiências, esclarece Ferreira (2006) surgem outras práticas relevantes que conduzem as reflexões sobre mente e corpo, a constituição da loucura como doença mental e as distinções relativas aos diferentes períodos da vida. Compreendemos também que existem inúmeras maneiras de

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conceber o campo do psicológico e outras tantas maneiras de intervenção. Sobre isso, esclarece Figueiredo (2006, p. 9): Entre as maneiras de pensar o psicológico há mesmo quem pretenda descartar-se desta denominação e dar preferência a outros conceitos, como conduta ou comportamento. Entre os que se situam no campo do psicológico, há também os que pretendem fazer outra coisa que não psicologia como, por exemplo, psicanálise.

Há uma pluralidade no campo da psicologia, e o entendimento e aceitação das diferentes diversas abordagens com as suas contradições sobre o comportamento estão de acordo com os nossos vieses pessoais, nossas crenças e o nosso momento histórico.

Fonte das imagens: http://www.sxc.hu/.


outro como no campo das ciências naturais. A diversidade neste campo torna-o ainda mais interessante para pensar como a nossa subjetividade se constitui e por quê. E como a partir disso, como nos lembra Arnaldo Antunes, construímos a História.

[...]o tempo do nascimento, crescimento, envelhecimento, um momento

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Não há no campo da psicologia uma teoria ou projeto que predomine sobre o

um momento o homem pensa que faz a guerra, a paz enquanto o homem pensa o tempo se faz o homem pensa que é alegre, triste enquanto o tempo passa o homem assiste como matar o tempo como matar o tempoÂ… Arnaldo Antunes - Tempo Veja o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=Ek0wqw14Bkg

Consideramos, então que é preciso pensar em mulheres e homens não somen- ________________________ te com características pessoais, mas principalmente como sujeitos sociais que cons- ________________________ troem a sua vida num espaço coletivo, histórico e cultural. É preciso, ainda aumentar a ________________________ nossa capacidade de olhar para si, para o outro e reconhecer valor em cada um.

síntese Nesta aula refletimos sobre a psicologia como ciência, seu surgimento e importância. Para aprofundar seus estudos leia o texto da Anita Resende cujo título é Subjetividade: novas abordagens de antigas dicotomias. Disponível em: http://www. anped.org.br/reunioes/28/textos/gt20/gt201453int.rtf. Na próxima aula você continuará este estudo analisando a construção da subjetividade e das identidades, aspecto importante para a compreensão das diferentes dinâmicas nas relações interpessoais. Vamos em frente!

QUESTÃO PARA REFLEXÃO - Por que os psicólogos divergem em relação à definição do que é psicologia? - É preciso compreender a pessoa humana como um produto social e um ser coletivo? Pense e converse a respeito com seus colegas e amigos.

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LEITURAS INDICADAS CAMBAÚVA, L.G.; SILVA, L.C.; FERREIRA, W. Reflexões sobre os estudos da psicologia. Disponível em: <http:// www.scielo.br/pdf/epsic/v3n2/a03v03n2.pdf>. Acesso em: 25 maio 2009.

GLASSMAN, W.; HADAD, M. Psicologia: abordagens atuais. Porto Alegre: Artmed, 2008.

RESENDE, A. C. A. Subjetividade: novas abordagens de antigas dicotomias. Disponível em: http://www. anped.org.br/reunioes/28/textos/gt20/gt201453int.rtf> Acesso em 25-05-09.

SITES INDICADOS http://www.anped.org.br/reunioes/28/textos/gt20/gt201453int.rtf http://www.scielo.br/pdf/epsic/v3n2/a03v03n2.pdf

REFERÊNCIAS ANTUNES, A. Tempo. Disponível em: <http://letras.terra.com.br/arnaldo-antunes/91765/>. Acesso em 25 maio 2009.

BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. São

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Paulo: Saraiva, 2001.

CAMBAÚVA, L.G.; SILVA, L.C.; FERREIRA, W. Reflexões sobre os estudos da psicologia. Disponível em: <http:// www.scielo.br/pdf/epsic/v3n2/a03v03n2.pdf>. Acesso em: 25 maio 2009.

FERREIRA, A. A. L. O múltiplo surgimento da psicologia. In: JACO-VILELA, A. M.; FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T. História da psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: Nau, 2006. p. 13-46.

FIGUEIREDO, L. C. M.; SANTI, P. L. R. de. Psicologia, uma (nova) introdução: uma visão histórica da psicologia como ciência. São Paulo: EDUC, 2006.

GLASSMAN, W.; HADAD, M. Psicologia: abordagens atuais. Porto Alegre: Artmed, 2008.

MONTAIGNE, M. Ensaios. São Paulo: abril Cultural, 1984.

SENNETT, R. O declínio do homem público: as tiranias da intimidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

SIBILIA, P. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

REPS, R. Namoro entre telinhas: comportamento. Revista Capricho, n. 1072, p. 90-93, São Paulo, Editora Abril, Junho 2009, p. 90-93.


mem: subjetividade e identidades Autor(a): Cláudia Vaz Torres

Nesta aula analisaremos os aspectos da construção da subjetividade, das identidades e sua importância nas relações sociais. Sleep Salvador Dali, ver imagem em: http://www.virtualdali.com/37Dream.html

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AULA 02 - A construção social do ho-

A identidade é um tema multidisciplinar da Filosofia, Antropologia, Sociologia, Psicologia e outras áreas. Apreende-se o conceito através da análise das condições de vida historicamente construídas de um sujeito e não através do estudo das singularidades da alma ou no arcabouço biológico. Propomos, nesta aula, algumas reflexões acerca construção do conceito das subjetividades e identidades da pessoa humana e, em especial, as motivações psicológicas que ensejam a realização das suas ações. Reflita: Como homens e mulheres investem continuamente em assumir características e traços considerados inerentes à constituição do ser? Por que este tema é importante para o estudo das relações humanas? Importa, para você, a identidade do outro?

Existe uma tensão constante do termo identidade, com o termo subjetividade. Woodward (2000, p. 55) esclarece que os termos “identidade” e “subjetividade” são às vezes utilizados de forma intercambiável. Existe, na verdade, uma considerável sobreposição entre os dois. Subjetividade sugere a compreensão que temos sobre o nosso eu. O termo envolve os pensamentos e as emoções inconscientes que constituem nossas concepções sobre ‘quem somos nós’. A subjetividade envolve nossos sentimentos e pensamentos mais pessoais. Entretanto, nós vivemos nossa subjetividade em um contexto social no qual a linguagem e a cultura fornecem elementos para a construção do significado sobre a experiência que temos de nós mesmos e no qual nós construímos e adotamos identidades. Depreendemos que os conceitos de identidade e subjetividade tensionam entre si porque envolvem discussões sobre a subjetividade individual e coletiva, a historicidade, as interações sociais, a dependência do outro como constituinte da subjetividade e os processos de individuação. As tensões, também, revelam a dificuldade de exprimir conceitualmente as suas complexidades.

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*Buffer - memória do processador, de uso rápido e imediato.

Construindo um Conceito de Identidade Como se constroem as nossas identidades?

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Reflita sobre a questão a partir dos vídeos: Identidade de Fernando Meireles disponível em http://www.youtube.com/ watch?v=yKG8no8OKDg e Identidade cultural na pós- modernidade disponível em http://www.youtube.com/ watch?v=x4mwIWTEdC8

Para construir o conceito de identidade, é necessário que se façam opções epistemológicas, metodológicas e políticas, pois existem diferentes formas de pensar sobre qualquer conceito. Para os propósitos deste estudo, constitui-se pressuposto fundamental a ideia de identidade como uma construção social, superando aquele que a apresenta como uma entidade fixa e imutável, destacando o caráter ativo do indivíduo no contexto sócio-histórico de sua vida. Nesse sentido, fazemos uma incursão pelos trabalhos de Ciampa (1987), Hall (2001), Woodward (2000) entre outros, que permitem a construção de saberes necessários para a compreensão do processo de constituição da identidade. O termo identidade remete ao que é idêntico, ao que torna os indivíduos iguais aos demais, mas também ao conjunto de caracteres que possuem e que os tornam diferentes e únicos. Ao mesmo tempo em que se representa semelhante ao outro por pertencer à determinada classe, raça ou categoria, o indivíduo percebe-se como um ser único a partir de um conjunto de traços que o diferenciam e o distinguem por algo que ele não é. A identidade de um sujeito não é fixa, permanente, estável; ela está em constante processo de transformação. Confere-se ainda importância ao conceito de identidade ao longo da história.


Em diferentes períodos históricos, o conceito de identidade tem variado de importância. Segundo Gaarder (1995), Sócrates (469-399 a.C.), um dos maiores filósofos da Antiguidade, acreditava que a identidade humana busca o saber essencial da realidade e não apenas o conhecimento do que pode ser útil às suas necessidades. O acesso ao que é essencial na realidade, para Sócrates não poderia ser conseguido sem a busca do conhecimento e o reconhecimento de que o homem é capaz de realizar

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O CONCEITO DE IDENTIDADE NA HISTÓRIA

o desejo de conhecer e de se associar às diferentes realidades de seu dia a dia. Para Sócrates, explica Gaarder (1995), era importante encontrar um alicerce seguro para o conhecimento. Ele acreditava que esse alicerce estava na razão humana. Através da razão, do ato de conhecer, a identidade humana experimentava um comum-pertencer à realidade. A realidade, assim, era compreendida pelo homem através das sensações. Estas conformam um saber útil, constituído pelos sentidos e também pelo conhecimento e pelo discurso, com a função de entrelaçar o homem à sua realidade. Posteriormente, o homem passou a incumbir-se da tarefa de construir sistemas de ideias com os quais julgaria e atribuiria um valor à realidade. Para Platão (427-347 a.C.), o mundo material torna-se compreensível através das hipóteses das ideias, realidades invisíveis, incorpóreas, perfeitas e imutáveis. As ideias são modelos ideais a serem buscados e copiados de modo imperfeito e transitório. Para o filósofo, a identidade humana sempre esteve e está na clareira das ideias, o que a torna capaz de recordá-las, através das sensações do corpo. Assim, em Fédon, Platão (1983, p.115) ________________________ explicava: Uma vez evidenciado que a alma é imortal, não existirá para ela nenhuma fuga possível a seus males, nenhuma salvação, a não ser tornando-se melhor e mais sábia. A alma, com efeito, nada tem consigo, quando chega ao Hades, do que sua formação moral e seu regime de vida.

A alma, neste sentido, é a possibilidade da relação entre a natureza e a sociedade e a identidade humana passa a ser associada ao Ser. Na Idade Média, a identidade humana já não era mais entendida à luz das ideias, mas de acordo com os preceitos da fé cristã. Para os teólogos, o que importava era unir o homem a Deus, através da crença. A fé cristã referida era, então, enunciada através de um discurso teológico que se servia do conhecimento filosófico da época e praticada para assegurar ao homem o seu pertencimento a Deus. A existência, os desejos e as necessidades do homem não interessavam à teologia medieval; o importante era que o homem se aproximasse do divino. Santo Agostinho (354-430), um dos maiores teólogos da Idade Média, acreditava que toda a existência humana é de natureza divina. No cerne da antropologia agostiniana, Deus é a bondade absoluta e o homem um miserável condenado ao inferno, só obtendo salvação mediante a graça divina. No fim da Idade Média e no início do Renascimento e da Reforma, importantes transformações ocorridas nos séculos XV e XVI marcam uma mudança na concepção da identidade, que passou a ser compreendida não mais ancorada nas sensações ou

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na fé, mas na autonomia e liberdade de pensamento e crença. Assim, o início da Modernidade é geralmente interpretado dentro de um pensar cartesiano1: “Penso, logo existo!” principalmente no que tange ao exercício da razão. Deste modo, o homem tomou para si a necessidade de estabelecer o eixo da sua existência e elevar-se a um nível superior para tornar-se ser humano. O distanciamento das concepções reinantes da Idade Média, em que todos os aspectos da vida humana estavam atrelados a Deus, possibilitou que o homem voltasse a ocupar o centro de tudo. A égide deste movimento, segundo Gaarder (1995, p.216) era a seguinte: “De volta às fontes”. E a principal fonte era o humanismo da Antiguidade. Deste modo, a maior contribuição do Renascimento foi a abertura para uma nova visão de homem, cuja existência não estava presa ao divino. Sobre a posição ocupada pelo homem nesse momento, Gaarder (1995, p.219) declara: O homem não existia apenas para servir a Deus, mas também para ser ele próprio. Por esta razão, o homem podia desfrutar aqui e agora de sua própria vida. E se o homem podia se desenvolver livremente, ele tinha possibilidades ilimitadas. Seu objetivo era ultrapassar todas as fronteiras.

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O famoso homem vitruviano, fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Da_Vinci_Vitruve_Luc_Viatour.jpg

Conhecer não era compreender a essência, mas as relações do objeto com o contexto através de estruturas matemáticas, quantitativas. A contemplação cedeu lugar à manipulação; os sistemas hierárquicos sucumbiram à relatividade; o mundo empírico abriu espaço para o conhecimento proveniente da razão. Deste modo, não se pode refletir sobre o conceito de identidade sem o apoio da Filosofia, da Antropologia, da Sociologia e da Psicologia. Expressões distintas – como imagem, representação e conceito de si, que se referem a um conjunto de traços, imagens e sentimentos que o indivíduo reconhece como fazendo parte dele próprio – são empregadas fazendo 1

Faz referência a René Descartes


A identidade pode ser representada pelo nome, pelo prenome eu ou por outras predicações como aquelas referentes ao papel social. No entanto, a representação de si através da qual é possível apreender a identidade é sempre a representação de um objeto ausente (o si mesmo). Sob este ponto de vista, a identidade se refere a um conjunto de representações que responde a pergunta ‘quem és’.

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referência ao conceito de identidade. Como enuncia Jacques (1998, p.160):

Responder à pergunta “quem eu sou” implica, para o indivíduo, tornar claro o modo como está inserido no mundo social, a atividade produtiva que se presentifica como atributo do eu e as relações interpessoais estabelecidas. Percebe o quanto estas questões são importantes? Então: Quem és?

Para a Psicologia Sócio-Histórica, que tem como referência a Psicologia Histórica Cultural, o entendimento de como as identidades se constituem não pode prescindir de levar em conta as condições históricas, sociais e econômicas nas quais o homem está inserido, a compreensão de que a identidade não é preexistente ao homem e que a análise do “mundo interno” exige a análise do “mundo externo”, que estão em movimento contínuo de construção e desconstrução.

O mundo interno dos seres humanos não pode ser entendido descolado da realidade, que inclui aspectos importantes, como o trabalho social e a atividade humana, característica que promove a divisão das funções e origina novas formas de comportamento, bem como o uso de ferramentas e o aparecimento da linguagem. A linguagem é um sistema de códigos e um recurso que permite a abstração, a generalização, o pensamento, a imaginação, a criatividade, a reestruturação emocional e a construção da subjetividade. Não se pode estudar o mundo interno dos homens sem levar em conta esses aspectos: o trabalho, o uso de ferramentas, a linguagem e a atividade consciente entendidos não de modos justapostos, mas como presenças que

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caracterizam uma unidade. Antônio Ciampa (1987), psicólogo social que desenvolveu uma concepção psicossocial da identidade, explica que ela aparece como um processo, sem características de permanência ou independência entre os elementos biológicos, psicológicos e sociais que a constituem. Para Ciampa (1987, p.152): “A identidade de uma pessoa é um fenômeno social e não natural.” É, então, um processo em constante movimento dialético, construído pela atividade e ação do sujeito. O autor citado emprega o termo “metamorfose” como possibilidade de transformação e superação da identidade pressuposta, para expressar este movimento em que é preciso articular estabilidade/transformação, como também a dicotomia do igual e do diferente. “Uma identidade nos aparece como uma articulação de várias personagens, articulação de igualdades e diferenças, constituindo, e constituída por uma história pessoal” (CIAMPA, 1987, p.157). A identidade que um indivíduo assume em determinado momento da sua existência é o desdobramento das múltiplas determinações a que está sujeito. Há, como diz Ciampa (1987), uma rede intricada de relações, em que cada identidade reflete outra identidade, sem que se possa estabelecer um fio condutor para se alcançar um fundamento originário para cada uma delas.

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O conceito de identidade proposto por Bock, Furtado e Teixeira (1993) tem que ser pensado na sua implicação com a realidade social, que constitui a história de vida do sujeito e lhe dá sentido. As experiências concretas que o sujeito vivencia em determinada época, cultura, classe social, grupo étnico, grupo religioso etc. exercem grande influência sobre a formação do ser. A identidade é resultante de toda uma vida real e de todo um conjunto de condições materiais experienciadas. “A identidade é a síntese pessoal sobre si mesmo, incluindo dados pessoais, biografia e atributos que os outros lhe conferem” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1993, p.145). Nesse conceito está implícita a ideia de singularidade, da construção de uma representação de si no confronto com o outro, através da dinâmica das relações. Há, então, um processar contínuo na construção e definição de si mesmo. Do mesmo modo, na sociedade moderna, não há espaço para uma identidade bem definida e localizada no mundo social e cultural, em que o homem possa ser pensado como um conjunto de papéis, atitudes, valores etc e distanciado da sua realidade.


Eu, etiqueta Em minha calça está grudado um nome Que não é meu de batismo ou de cartório Um nome... estranho Meu blusão traz lembrete de bebida

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Leia o poema de Carlos Drumond de Andrade e reflita sobre o que estamos tratando:

Que jamais pus na boca, nessa vida, Em minha camiseta, a marca de cigarro Que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produtos Que nunca experimentei Mas são comunicados a meus pés. Meu tênis é proclama colorido De alguma coisa não provada Por este provador de longa idade. Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, Minha gravata e cinto e escova e pente, Meu copo, minha xícara, Minha toalha de banho e sabonete, Meu isso, meu aquilo. Desde a cabeça ao bico dos sapatos, São mensagens, Letras falantes, Gritos visuais, Ordens de uso, abuso, reincidências. Costume, hábito, premência, Indispensabilidade, E fazem de mim homem-anúncio itinerante, Escravo da matéria anunciada. Estou, estou na moda. É duro andar na moda, ainda que a moda

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Seja negar minha identidade, Trocá-lo por mil, açambarcando Todas as marcas registradas, Todos os logotipos do mercado. Com que inocência demito-me de ser Eu que antes era e me sabia Tão diverso de outros, tão mim mesmo [...] Onde terei jogado fora meu gosto e capacidade de escolher, Minhas idiossincrasias tão pessoais, Tão minhas que no rosto se espelhavam E cada gesto, cada olhar, Cada vinco da roupa Sou gravado de forma universal,

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[...] Por me ostentar assim, tão orgulhoso De ser não eu, mar artigo industrial, Peço que meu nome retifiquem. Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é Coisa. Eu sou a Coisa, coisamente. Fonte: http://www.pensador.info/p/eu_etiqueta_-_carlos_drumond_de_andrade/1/

Outro teórico que desenvolve uma reflexão sobre a questão da identidade cultural na modernidade é Stuart Hall (2001). Para ele, as identidades existentes num mundo que se intitula pós-moderno, que tem como base uma sociedade informatizada e pós-industrial, em que não existem “grandes narrativas” como o discurso iluminista, que pregava a emancipação pela revolução ou pelo saber para fundar a ciência, se inserem em sociedades que têm como preocupação central a extinção de fronteiras, nas quais predominam o hedonismo, o consumismo exagerado e estruturas psíquicas narcisistas que valorizam a estética e encontram-se distanciadas ou esvaziadas das demais subjetividades. Estas características promovem o descentramento, o deslocamento e a fragmentação pela perda de um sentido de si estável e permanente. Neste sentido, Hall (2001) propõe a distinção de diferentes concepções de identidade: a do sujeito do Iluminismo, a da Sociologia e a que enfatiza o caráter de mudança na construção da identidade do sujeito pós-moderno.


nalidade e libertado dos dogmas religiosos, própria do sujeito do Iluminismo, o indivíduo nascia e permanecia idêntico ao longo de toda a existência. A razão, a consciência e a ação predominavam. A identidade era fixa, havia uma identidade verdadeira que era um apelo à existência do sujeito. Para o Iluminismo, o homem era um ser perfectível, com condições de libertar-se dos medos e preconceitos através do conhecimento que advém das ciências, da política, das artes e da doutrina jurídica, áreas que expressavam o grau de progresso de uma civilização. O instrumento do Iluminismo era a

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Segundo esse autor, de acordo com a concepção de sujeito, centrado na racio-

consciência individual e autônoma que possibilitava ao homem a libertação da ignorância e dos medos. Também o controle sobre si mesmo, que advém da racionalidade, era condição de fundamental importância para a formação pessoal (TORRES, 2003). Do ponto vista sociológico, a identidade tem um núcleo ou essência interior que é o “eu real”. Este núcleo forma-se e se modifica num diálogo contínuo com o outro e com o mundo. “A identidade, então, costura o sujeito à estrutura. Estabiliza tanto os sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam tornando ambos reciprocamente mais unificados e predizíveis.” (HALL, 2001, p.12). Para a Sociologia, o que está ocorrendo com o sujeito num dado momento, a sua história, os tensionamentos, os conflitos e as crises existentes no mundo estão presentes na construção da sua identidade.

Fonte das imagens: http://www.sxc.hu/

Para refletir: Há possibilidade de existirem identidades contraditórias? Há uma identidade mestra? É possível ser “isso” e “aquilo”?

Mudanças estruturais e institucionais ocasionaram a perda da estabilidade, do centramento e da unificação da identidade com as “necessidades” objetivas da cultura, produzindo o sujeito pós-moderno que não tem uma identidade fixa, essencial ou permanente. Os sujeitos passam a assumir identidades conforme são representados ou interpelados pela família, pela escola, pelo trabalho e pelos diversos sistemas sociais e culturais em que estão inseridos. Não há garantia da posição de identidade que o sujeito quer assumir, em consequência dos diversos apelos feitos por outras identida-

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des envolvidas e das negociações e conflitos que são travados. Assim, Hall (2001, p.13) explica que há possibilidade de existirem identidades contraditórias, que se cruzam e se deslocam mutuamente. Não há uma “identidade mestra”. Por conseguinte, a análise dos determinantes centrais das posições sociais não pode ser simplificada, tomando como causa, apenas, os fatores socioeconômicos. É preciso levar em conta também a raça, o gênero e a sexualidade. Todos esses aspectos, assim como as representações simbólicas e a linguagem, fornecem as condições para que as identidades existam e lhes conferem um sentido. Através das relações sociais e da apropriação da cultura, o homem desenvolve um sentido pessoal, compreende as coisas que estão ao seu redor, compreende a si mesmo e aos outros. O caráter de mudança presente nas situações sociais, nas relações e na história de vida de cada um promove um ressignificar contínuo sobre a consciência que se tem de si mesmo. Desse modo, entende-se que o mundo social e as representações simbólicas referem-se a processos necessários para a construção e a manutenção das identidades. “Somos sujeitos de muitas identidades” A análise do posicionamento do sujeito frente a condições fundamentalmente diferentes e das motivações que determinam a preferência por algumas representações em detrimento de outras deve levar em conta os estudos da Psicologia Social, da Filosofia e da Psicanálise. Estas explicam que as identidades são produzidas em locais

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históricos, emergem de conflitos e negociações, resultam da marcação da diferença, da exclusão e distanciam-se da homogeneidade e da unificação. Conforme diz Louro (1999, p.12): “Somos sujeitos de muitas identidades”. Essas identidades se apresentam de modo transitório e refletem os resultados das relações e embates entre o sujeito e os grupos.

Fonte das imagens: http://www.sxc.hu/

Portanto, na nossa sociedade, não há espaço para uma identidade bem definida e localizada no mundo social e cultural, em que o homem possa ser pensado como um conjunto de papéis, atitudes, valores etc e distanciado da sua realidade. Peculiar está a paixão pelo efêmero, pela satisfação-insatisfação com a imagem, pelas novas tecnologias, pelo consumo, pelo descartável. Sobre isso, concorda-se com Chauí (2001) ao


lação do capital, relega os conceitos que fundaram e orientaram a modernidade, como as ideias de racionalidade e universalidade, contrapõe necessidade com contingência e despreza as discussões sobre a relação entre sujeito e objeto. Portanto, na sociedade contemporânea a fragmentação caracteriza a construção das identidades das crianças e o modo de ser de homens e mulheres, valorizando-se a imagem de prestígio, poder, sucesso, juventude e beleza e sua possibilidade de ser substituída a qualquer tempo para acompanhar os rumos do mercado, como também, privilegia-se a subjetividade

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admitir que o pós-modernismo é a ideologia que acompanha a nova forma de acumu-

fragmentada, conflituosa e insatisfeita. De qualquer modo é importante lembrar de que a identidade permite uma relação com o outro, propicia o reconhecimento de si, cria e demarca lugares e posições que não são fixos, estão em constante mudança.. À duração da minha existência dou uma significação oculta que me ultrapassa. Sou um ser concomitante: reúno em mim o tempo passado, o presente e o futuro, o tempo que lateja no tique-taque dos relógios.

Clarice Linspector

Assista aos vídeos que evidenciam as dimensões subjetivas no cotidiano e reflita sobre o conteúdo estudado. Que beleza! Ser bonito. Isso faz diferença? Alguém já disse que a beleza é fundamental. [...] Diariamente julgamos e somos julgados pela aparência. Os valores e sentimentos que dividem o mundo entre feios e belos são o tema desse programa. Assista ao vídeo disponível: http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/publicacoes/videos/ videos_081030_0001.html Preto no branco Todos os brasileiros são iguais perante a lei. Mas será que todos os brasileiros se sentem iguais? Assista ao vídeo disponível em: http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/publicacoes/videos/ videos_081030_0001.html Lugar comum Ter uma casa própria. Esse é o sonho de muita gente. Afinal, todo mundo quer ocupar um lugar no espaço. Mas de quanto espaço a gente realmente precisa? Esse episódio mostra que a forma de criar e ocupar espaços faz parte da dimensão subjetiva. Assista ao vídeo disponível em: http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/publicacoes/videos/videos_081030_0001.html

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SÍNTESE Nesta aula analisamos os aspectos da construção da subjetividade, das identidades e sua importância nas relações sociais. Na próxima aula você continuará refletindo sobre as relações interpessoais e os principais elementos que interferem nessas relações.

Questão para reflexão Qual a importância do “outro” na construção da identidade?

Leitura indicada EWALD, Ariane; SOARES, Jorge. Identidade e subjetividade numa era de incertezas: estudos da Psicologia. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/epsic/v12n1/ a03v12n1.pdf>. Acesso em: 16 julho 2009.

Site indicado http://www.scielo.br/pdf/epsic/v12n1/a03v12n1.pdf

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Referências BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva. 1993.

BUZZI, Arcângelo. A identidade humana: modos de realização. Petrópolis: Vozes, 2002.

CHAUI, Marilena. Escritos sobre a universidade. São Paulo: UNESP, 2001.

CIAMPA, Antonio. A estória do Severino e a história da Severina. São Paulo: Brasiliense, 1987.

FURTADO, Odair. O psiquismo e a subjetividade social. In: BOCK, Ana Mercês Bahia; GONCALVES, Maria da Graça Machina; FURTADO, Odair (Orgs.). Psicologia sócio-histórica: uma perspectiva crítica em Psicologia. São Paulo: Cortez, 2001. p. 75-93.

GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia: romance da história da Filosofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva, Guacira Lopes Louro. 6. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

HALL, Stuart. Quem precisa da identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 103-133.

JACQUES, Maria da Graça. Identidade. In: STREY, Marlene et al. Psicologia social contemporânea. Petrópolis: Vozes, 1998. p.159-167.


dade. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. p.7-34.

PLATÃO. Diálogos. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

TORRES, Cláudia Regina Vaz. Sobre gênero e identidade: algumas considerações teóricas.In: FAGUNDES, Tereza Cristina Pereira Carvalho. Ensaios sobre identidade e gênero. Salvador: Helvécia, 2003.

WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, Tomaz

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LOURO, Guacira Lopes. Pedagogias da Sexualidade In: ______. O corpo educado: pedagogias da sexuali-

Tadeu (Org.). Identidade e diferença. Petrópolis: Vozes, 2000. p.7-72.

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contemporaneidade Autora: Cláudia Vaz Torres Olá!

O correr da vida embrulha tudo.

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AULA 03 - Relações interpessoais na

A vida é assim: esquenta e esfria,

aperta e daí afrouxa,

sossega e depois desinquieta.

O que ela quer da gente é coragem.

Guimarães Rosa1

Nesta aula analisaremos a importância das relações interpessoais e os principais elementos que interferem nestas relações.

Dança dos aldeões, Museu do Prado - Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Peter_Paul_Rubens

Vimos na aula passada como nos constituímos como sujeitos, indivíduos singulares e com modos diversos e complexos de ser e estar no mundo. Compreendemos também que as inúmeras possibilidades de ser de cada um são construídas na interação com o outro e com o mundo. Discutir sobre a importância das relações interpessoais e interações nos diferentes grupos e compreender que os grupos estão presentes em toda a sociedade nos remete ao poeta João Cabral de Melo Neto: 1

Citando Guimarães Rosa. http://recantodasletras.uol.com.br/poesias/291914

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34 Tecendo a Manhã João Cabral de Melo Neto

“Um galo sozinho não tece a manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro: de um outro galo que apanhe o grito que um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzam os fios de sol de seus gritos de galo para que a manhã, desde uma tela tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão”.

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Fonte: MELO, João Cabral de Melo Neto. Tecendo a manhã. Disponível em: <http://www.consciencia.net/2006/0117-melo-neto. html>. Acesso em: 26 maio 2009.

As interações humanas que são ações recíprocas e conscientes entre pessoas, tecem vidas, histórias e manhãs, implicando transformações, modificações dos comportamentos, significações e ressignificações dos atos individuais e recíprocos de acordo com o tipo de contato, as expectativas e as respostas. A busca de identidades, as afirmações de um modo de ser, são movimentos constante na sociedade humana, assim como o uso desta como referência de liberdade, felicidade e cidadania nas relações interpessoais (SAWAIA, 2004). O medo do desconhecido (quem é o outro?), explica o autor, gera ansiedade, agressão e a busca de sinais identitários. Nas nossas relações indagamos pela identidade do outro, queremos saber a que grupo pertence, que ideais possui, quais as afinidades, o que repudia. Mas, para quê? O que se esconde nesta pergunta e nessa necessidade de saber qual a identidade do outro? Essa pergunta e a resposta são repletas de sentidos e constituem o passo inicial no modo como nos relacionaremos com esta pessoa que diz quem é, qual a sua bandeira ou etiqueta que possui. A partir daí, estabelecem-se relações de poder, de conflito, de solidariedade, de admiração, de desconfiança, enfim modos diversos de inclusão ou exclusão e, por conseguinte, estratégias de relacionamentos. Sawaia (2004) esclarece que a identidade é uma categoria política disciplinadora das relações entre as pessoas, grupo e sociedade, usada para transformar o outro em estranho, igual, inimigo ou exótico.


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No estudo sobre as constituições das subjetividades não podemos desdenhar a relevância dos diferentes grupos e entender a natureza das pressões e influência social que exercem para alcançar a uniformidade e os seus fins. Neste processo é importante dar especial atenção ao potencial dos grupos virtuais que se encontram no ciberespaço, acolhem-se, aprendem, mobilizam-se e expandem-se para divulgar as suas ideias. Sobre este espaço que a internet produz, Sibilia (2008, p.27) explica: Ao longo da última década, a rede mundial de computadores tem dado à luz um amplo leque de práticas que poderíamos denominar “confessionais”. Milhões de usuários de todo planeta - gente “comum”, precisamente como eu ou você - tem se apropriado das diversas ferramentas disponíveis on-line, que não cessam de surgir e se expandir, e as utilizam para expor publicamente a sua intimidade. Gerou-se, assim, um verdadeiro festival de “vidas privadas”, que se oferecem despudoradamente aos olhares do mundo inteiro. As confissões diárias de você, eu e todos nós estão aí, em palavras e imagens, a disposição de quem quiser bisbilhotá-las; basta apenas um clique no mouse. E, de fato, tanto você como eu e todos nós costumamos dar esse clique.

Junto com essas instigantes novidades, vemos instigarem-se algumas premissas básicas da autoconstrução, da tematização do eu e da sociabilidade moderna; e é justamente por isso que essas novas práticas resultam significativas [...]. A rede mundial de computadores se tornou um grande laboratório, um terreno propício para experimentar e criar novas subjetividades: em seus meandros nascem formas inovadoras de ser e estar no mundo, que por vezes parecem saudavelmente excêntricas e megalomaníacas, mas outras vezes (ou ao mesmo tempo) se atolam na pequenez mais rasa que se pode imaginar. Como quer que seja, não há dúvidas de que esses reluzentes espaços da Web 2.0 são interessantes, nem que seja porque se apresentam como cenários bem adequados para montar um espetáculo cada vez mais estridente: o show do eu.

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Depreendemos com a autora que há uma tendência na contemporaneidade a buscar a visibilidade, o exibicionismo e o reconhecimento pelo outro. Então, perguntamos: Como essa tendência repercute nas relações interpessoais? E quanto aos relacionamentos? Como os conflitos, as relações de poder, as comunicações, as expectativas do grupo interferem nos nossos relacionamentos? Em que medida o nosso comportamento reflete as características do grupo a que pertencemos?

Estamos tão habituados a viver em relação com as pessoas que poucas vezes percebemos a tônica dos relacionamentos, o quanto influenciamos e somos influenciados em nossas ações, decisões, sentimentos e comportamentos (ALBUQUERQUE; PUENTE-PALACIOS, 2004). Nossa vida decorre num universo de relações interpessoais, mas ainda assim é crescente a dificuldade no domínio destas relações. Sabemos que não é possível ensinar relações interpessoais a alguém. Não há uma receita a ser seguida. O que é possível é analisar os princípios que fundamentam essas relações. De qualquer modo é importante destacar que é amplo o campo de estudo das relações interpessoais.

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Nesse estudo das relações interpessoais alguns conceitos da ciência psicológica contribuem muito, como as diferenças individuais analisadas na Aula 2 a partir do conceito de identidades. Outros conceitos como percepção, aptidão, inteligência, atitude, entre outros são importantes para a compreensão do quanto as pessoas são diferentes. Vamos analisar brevemente cada um deles: Percepção - A percepção é um processo cognitivo, uma forma de conhecer e interpretar o mundo. É o ponto de encontro entre a cognição, ou seja, o processo de selecionar, organizar, interpretar informações, eventos, etc. e o que está presente na realidade. A percepção é uma interpretação singular da realidade. Durante a percepção, o conhecimento sobre a realidade combina-se com as nossas habilidades construtivas (antecipação, hipótese, amostragem, armazenamento e integração) a fisiologia (sistema sensorial e nervoso) e as nossas experiências que advêm do processo de construção subjetiva (DAVIDOFF, 2001). Diante de situações ambíguas percebemos claramente o nosso esforço para interpretar o que vivenciamos. Considere, então, a cena do pintor holandês Maurits Escher: O que vê?


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Escher Relativity, 1953 - fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/M._C._Escher

Percebemos que as cenas mudam conforme as nossas direções perceptivas. Desse modo, compreendemos que o que o indivíduo percebe e como percebe são dados importantes para a compreensão do comportamento humano, para a análise das suas relações, pois as pessoas são seus próprios referenciais na percepção dos outros. Ressaltamos, então que a percepção é o ponto em que cognição e realidade encontram-se – depende da pessoa e do ambiente. Quanto maior o conhecimento ________________________ que temos sobre nós mesmos, mais fácil será o entendimento sobre o comportamen- ________________________ to do outro e maior será a constatação de que certas características que atribuímos ________________________ a alguém pertencem a nós mesmos, mas temos dificuldade de aceitar (projeção). A ________________________ projeção, conceito muito discutido na psicanálise, consiste em responsabilizar o meio ________________________ externo por algo pertencente a nós mesmos que consideramos difícil, ofensivo ou ________________________ sem atrativo. Muitas vezes, também as simplificações ocupam um papel importante ________________________ no processo de perceber e julgar as pessoas, pois produz uma percepção seletiva e ________________________

________________________ ________________________ ________________________ Quantas vezes você cometeu equívocos nos seus julgamentos por conta do seu modo único de perceber as coisas? ________________________ ________________________ Alguns equívocos ou problemas que ocorrem no processo de perceber os ou- ________________________ ________________________ tros são: ________________________ ________________________ percebemos dentro de um contexto e contrastamos com outros, Contraste ________________________ o que produz impressões favoráveis e desfavoráveis. ________________________ podemos julgar uma pessoa a partir da observação de um traço Efeito halo ________________________ do seu comportamento. ________________________ percebemos o outro de modo simplificado, através de uma ________________________ Preconceito e categorial social ou comportamental. Os estereótipos muitas estereótipos ________________________ vezes, produzem preconceitos. ________________________ (MAXIMIANO, 2007) ________________________

proporciona equívocos.


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O processo preceptivo é estruturante na relação da pessoa com o mundo. Como diz Campos (2002, p.1): “Vida psicológica é vida perceptiva, consequentemente problemas psicológicos são questões, distorções perceptivas”. Aptidão - consiste no potencial para realização de tarefas e podem ser agrupadas em três categorias:

aptidão verbal, numérica, espacial, compreensão mecânica, Cognitivas ou intelectuais

criatividade literárias e artística, velocidade de percepção, percepção de formas, etc.

Físicas

coordenação motora, destreza manual, aptidão sensorial, etc.

Interpessoais

capacidade de liderar, lidar com o outro, decidir, etc.

Inteligência - capacidade cognitiva ou intelectual que integra a globalidade humana nos seus aspectos afetivos, sociais e cognitivos. Há diversas definições e teorias sobre inteligência. A abordagem da psicologia diferencial, baseada na tradição positivista define a inteligência como um composto de habilidades que poderia ser medida pelos testes psicológicos. A abordagem dinâmica define a inteligência como a produção cognitiva e intelectual do homem (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2003).

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Uma outra corrente, Howard Gardner, que estuda a inteligência defende a existência das múltiplas inteligências, ou seja, temos a capacidade logico-matemática, capacidade linguística (aptidões medidas pelo QI), a capacidade musical, espacial, corporal-cinestesica, naturalista, existencial e a capacidade intrapessoal e interpessoal, todas inter-relacionadas. No final do século XX, os estudos sobre um tipo específico de inteligência foi bastante debatido: a inteligência emocional. A teoria da inteligência emocional defendida por Daniel Goleman e Howard Gardner explica que a inteligência emocional pode ser desenvolvida, proporcionando maior facilidade para o indivíduo lidar com suas próprias emoções e com a dos outros. Fazem parte desse conjunto: autoconhecimento, autocontrole, empatia, habilidades interpessoais, etc. Voltaremos a tratar da inteligência emocional nas próximas aulas.


za avaliativa que influenciam nossas reações com relação às pessoas e as coisas. As atitudes são compreendidas como tendo três componentes: a crença em si (componente cognitivo); sentimentos associados a ela (componente emocional) e ações resultantes (componente comportamental). Glassman (2008) esclarece que uma das teorias mais conhecidas da mudança de atitude é a teoria da dissonância cognitiva desenvolvida por Leon Festinger em 1957.

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Atitudes - são estados mentais e representam crenças pessoais de uma nature-

Segundo Festinger, todos procuramos nos comportar de uma maneira autoconsistente. Ou seja, nossas ações devem se adequar às nossas palavras e às nossas atitudes. O que acontece, no entanto, se nossas ações não se ajustam às nossas crenças, ou se duas crenças estão em conflito? Festinger declarou que, quando há conflitos deste tipo, experimentamos uma tensão que ele chamou de dissonância cognitiva. Por exemplo, suponhamos que você odeie o burburinho da cidade de Nova York, mas tem bons amigos que vivem lá e que quer ver. Isso cria um conflito entre sua atitude com relação à Nova York e sua atitude com relação a seus amigos, o que resulta em dissonância. A teoria de Festinger lida com a natureza desses conflitos e com o modo como os resolvemos.[...] A teoria da dissonância tem gerado enorme quantidade de pesquisa na psicologia social, em parte porque as questões que levanta são interessantes e, em parte, devido às aparentes fragilidades da teoria. (GLASSMAN, 2008, p. 218)

As fragilidades da teoria ocorrem porque não há possibilidade de prever com precisão o que acontece em uma determinada situação, tendemos a ignorar as informações ou situações que criam conflito e estão disseminadas as reações de dissonância na vida diária. A teoria de Festinger mostra a influência da abordagem cognitiva (Aula 1) ao sinalizar que os processos internos como as atitudes e a redução da dissonância são importantes para a compreensão do comportamento social.

Sabemos, também, que o comportamento não reflete, apenas, o nosso modo de ser e pensar, mas também a posição que o sujeito ocupa nos seus grupos de referência e as relações que estabelece.

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“O outro guarda um segredo: o segredo do que eu sou” (J. P. Sartre)

Você concorda com a expressão de Sartre? A imagem que você tem de você mesmo é o retrato do que os outros veem em você? Certamente que não! Concorda? Mesmo porque os outros não veem a mesma pessoa, porém acrescentam muito nesta construção de quem somos nós, nesta “viagem” de querer responder as inquietações, dúvidas e, às vezes, angústias sobre quem somos. Então, conta muito às imagens que os outros que estão nos nossos grupos de referência (família, amigos, comunidades, trabalho) tem de nós, a partir daí inauguram-se modos bem diversos de relações.

Reflita: Por que nos grupos, às vezes, é tão difícil um trabalho coletivo? Como trabalhar as relações interpessoais num grupo de pessoas que não se gostam, não confiam umas nas outras, não respeitam, não cedem e não se retiram?

Os grupos têm uma grande relevância na nossa vida em todos os contextos, inclusive no mundo do trabalho, aspecto que chamaremos mais atenção nesta aula.

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Grupos: definição e classificação Um grupo é definido pela interdependência e interação entre dois ou mais indivíduos que visam um determinado objetivo. Podem ser classificados em formais, como os grupos de uma organização que possuem atribuições, tarefas e metas a serem alcançadas e podem ser classificados como informais, caracterizados pela reunião de pessoas com outros interesses, como contato social. Podem ser classificados como primários voltados para relacionamentos interpessoais diretos, como a família e secundários, orientados para tarefas e metas, como os grupos de trabalho. Um outro modo de classificar os grupos é através da duração da existência, assim eles poderão ser temporários ou permanentes. Os motivos para a formação de um grupo são muitos, como a amizade, a segurança, o reconhecimento, o poder, solução de problemas entre outros. O grupo é o elemento que completa a dinâmica de construção social da realidade, reproduz, realiza, reformula as regras e promove os valores. São atributos básicos do grupo: o status individual e do grupo, papéis, normas; coesão e pensamento grupal. O grupo é responsável pela produção dentro das organizações e pela singularidade, afirmam Bock, Furtado e Teixeira (2001). No campo da psicologia do século XX sobre este assunto, destacamos os estudos de Kurt Lewin (1890-1947), professor alemão refugiado do nazismo nos Estados Unidos que considerava que o comportamento humano deve ser visto em sua totalidade. Segundo este pesquisador o comportamento humano é função tanto das características da pessoa quanto do meio em que a pessoa está inserida e devem ser levados em consideração a totalidade dos fatos coexistentes. Desse modo, no grupo


grupo alteram a dinâmica do mesmo e podem afetar de modo singular a cada um. Os estudos de Lewin tiveram grande importância para as pesquisas na área da motivação social e da dinâmica dos grupos, pois os conceitos de grupo e campo social embasam as teorias e técnicas de trabalho de grupo, explicam Bock, Furtado e Teixeira (2001). Sobre isso, eles acrescentam que quando um grupo se estabelece, os fenômenos grupais passam a atuar sobre as pessoas individualmente e sobre o grupo (o processo grupal). A coesão é condição necessária para a manutenção do grupo, através do cumprimen-

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há uma interdependência entre as pessoas. Os processos que ocorrem no interior do

to das regras que foram estabelecidas. Quando alguém começa a participar de um novo grupo, terá seu comportamento avaliado para verificação do grau de adesão. Os membros mais antigos já não sofrem esse tipo de avaliação e se, eventualmente, quebram alguma regra (que não seja muito importante), não são cobrados por isso. Ocorre que, no caso dos membros mais antigos, é conhecido o grau de aderência ao grupo e sabe-se que eles não jogam contra a manutenção do grupo. Esta certeza da fidelidade dos membros é o que chamamos de coesão grupal. Os grupos, de acordo com suas características, apresentam maior ou menor coesão grupal (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001, p. 221).

Depreendemos que um grupo tende a se dissolver se há um baixo grau de coesão grupal e que a coesão é um aspecto que influencia o relacionamento interpessoal e a produtividade. Reflita: No ambiente organizacional o que promovem os grupos muito coesos? Promovem mais sinergia e menos conflito? Um elevado nível de coesão grupal pode afetar o desempenho e a criatividade individual?

A coesão diz respeito ao grau em que membros são atraídos entre si e motivados a permanecer como grupo, esclarece Robbins (2002). A coesão está relacionada com a produtividade do grupo e depende das normas de desempenho estabelecidas: Se essas normas forem de alto nível (por exemplo, excelência de resultados, trabalho de qualidade, cooperação de indivíduos de fora do grupo), um grupo coeso será mais produtivo do que um grupo menos coeso. Se a coesão for grande, com normas de desempenho fracas, a produtividade será baixa. Se a coesão for pequena e as normas, de alto nível, a produtividade será mais alta, mas menor do que um grupo coeso com as mesmas normas. Quando tanto a coesão como as normas de desempenho são fracas, a produtividade fica entre baixa e moderada (ROBBINS, 2002, p. 231).

A atenção e estímulo em relação à coesão do grupo é necessária e pode ser alcançada através de redução do tamanho do grupo, do aumento do tempo juntos, do prestigio social do grupo, entre outros. Silvia Lane (1984) revisou as teorias sobre os grupos e ao tratar do deste assunto enfatiza o seu aspecto histórico e dialético. Os grupos existem em todas as instituições: família, escola, universidade, entre outras e na análise é preciso estar atento ao

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tipo de inserção do grupo na instituição e a participação de cada membro. O grupo, para a autora, é uma experiência histórica que se constrói através das relações, das contradições sociais que expressam e da articulação entre aspectos pessoais, características grupais, vivência subjetiva e a realidade objetiva. O grupo é uma estrutura social, um conjunto que não pode ser reduzido à soma dos seus membros através de relações de interdependência. As relações de poder e as práticas compartilhadas promovem a construção das identidades. Ver Operários de Tarsila do Amaral em http://www.tarsiladoamaral.com.br/index_frame.htm

Observe a imagem e responda: serão necessariamente um grupo?

Albuquerque e Puente-Palacios (2004) esclarecem que para lidar com pessoas devemos compreender que o grupo é maior do que os indivíduos. Você concorda?

Vamos analisar o que os autores explanam sobre esta questão: [...] o grupo é maior do que os indivíduos, embora por eles seja constituído. Possuir uma visão global ou sistêmica é o caminho mais

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adequado para conseguir estabelecer padrões de comportamento desejáveis em uma organização. Compreendendo que os grupos existem, que estabelecem normas de convivência e que essas normas podem ir a favor ou contra os objetivos organizacionais o administrador pode estabelecer suas próprias regras comportamentais para interagir de maneira adequada com os diversos grupos e assim lograr seus objetivos.

Embora possa parecer simples, gerenciar o comportamento humano é uma tarefa complexa. Os membros da organização reconhecem as diferenças entre os comportamentos socialmente sustentados pelo seu grupo e as cobranças feitas pela organização. Nessas circunstâncias, a comunicação constitui um elemento que favorece o adequado gerenciamento. Contudo, ela é benéfica apenas à medida que as pessoas encarregadas de gerenciar indivíduos conhecem os grupos as quais pertencem e também as regras que, nesses grupos, norteiam o comportamento (ALBUQUERQUE; PUENTE-PALACIOS, 2004, p. 360).

A complexidade de comportamentos que existe em qualquer organização aponta para a necessidade da comunicação, do diálogo e do silêncio, que implica saber falar, saber ouvir, comunicar-se face a face, não fingir que ouve, estar atento às expectativas, predileções e interesses do outro, saber distinguir o momento oportuno da mensagem ser enviada, não gerar intrigas e procurar ser direto e simples (MINICUCCI, 2007). Desse modo o diálogo é um princípio e não pode ser reduzido a uma estratégia nas relações.


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Fonte das imagens: http://www.sxc.hu/

SÍNTESE Nesta aula analisamos importância das relações interpessoais e interações nos diferentes grupos. Na próxima aula daremos continuidade a esse assunto através da análise de processos presentes nas relações interpessoais como a comunicação, a liderança, entre outros.

________________________ ________________________ ________________________ Assista ao Vídeo Indivíduo Coletivo da série “Não é o que parece” e reflita sobre o ________________________ conteúdo estudado ________________________ Indivíduo e Coletivo ________________________ ________________________ O que é mais importante? O tijolo ou a parede? Construir um projeto coletivo ou ter seu próprio projeto de vida? Como se constrói esta relação? Ela é natural? Se não é, como é ________________________ que a dimensão subjetiva atua e constrói esta relação? Uma criança nasce em uma tribo ________________________ indígena, outra em um projeto coletivo e outra em uma cidade grande. Quais são as ________________________ diferenças? O que se espera delas? Que sentimentos, medos, esperanças envolvem isto? Em ________________________ uma cidade grande é comum se valorizar o indivíduo, mas então o que causa a presença ________________________ de mendigos? Como nascem os projetos solidários? Em um projeto coletivo se valoriza o ________________________ grupo, mas o que acontece quando alguém quer ter seu próprio projeto? Para discutir a ________________________ dimensão subjetiva neste episódio matérias com o grupo Nós do Morro, em uma república da USP, em um acampamento do MST e em uma cooperativa de pescadores. ________________________ http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/publicacoes/videos/videos_020701_0052.html ________________________ ________________________ Leituras INDICADAS ________________________ ________________________ ALBUQUERQUE, Francisco José; PUENTE-PALACIOS, Katia Elizabeth. Grupos e equipes ________________________ de trabalho nas organizações. In: ZANNELI, Jose Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo; ________________________ BASTOS, Antonio Virgilio Bittencourt. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. ________________________ Porto Alegre: Artmed, 2004. ________________________ ________________________ CAMPOS, Vera Felicidade. A questão do ser, do si mesmo e do eu. Disponível em: ________________________ <http://www.verafelicidade.com.br/page13.html>. Acesso em: 14 julho 2009.

Questão para reflexão


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Sites INDICADOS http://www2.uol.com.br/aprendiz/guiadeempregos/primeiro/noticias/ge140403. htm#1 http://www.mrg.com.br/artigos_desenvolvimento.php

Referências ALBUQUERQUE, Francisco José; PUENTE-PALACIOS, Katia Elizabeth. Grupos e equipes de trabalho nas organizações. In: ZANNELI, Jose Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo; BASTOS, Antonio Virgilio Bittencourt. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. São Paulo: Saraiva, 2001.

CAMPOS, Vera Felicidade. A questão do ser, do si mesmo e do eu. Disponível em: <http://www.verafelicidade.com.br/page13.html>. Acesso em: 26 maio 2009.

DAVIDOFF, Linda. Introdução à psicologia. São Paulo: Makron Books Editora, 2005.

GLASSMAN, Willian; HADAD, Marilyn. Psicologia: abordagens atuais. Porto Alegre:

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Artmed, 2008.

LANE, Silvia. O processo grupal. In: LANE, Silvia; CODO, Wanderley. Psicologia social: o homem em movimento. São Paulo: Brasiliense, 1984.

MINICUCCI, Agostinho. Relações humanas: psicologia das relações humanas. São paulo: Atlas, 2007.

MAXIMIANO, Antonio Cesar Maru. Teoria geral da administração. São Paulo, Atlas, 2007

ROBBINS, Stephen Paul. Comportamento organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

SAWAIA, Bader. Identidade: uma ideologia separatista? In: SAWAIA, Bader. As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. Petrópolis: Vozes, 2004.

SIBILIA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.


Autor(a): Cláudia Vaz Torres O senhor mire, veja...o mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior.

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AULA 04 - as Relações interpessoais

Guimarães Rosa

Olá!

Vimos na aula passada como ocorrem as relações interpessoais e interações nos diferentes grupos. Em continuidade a esse assunto analisaremos os processos presentes nas relações interpessoais como a comunicação, a liderança, o poder, entre outros. A comunicação é um processo presente nas relações interpessoais em qualquer grupo, assim como a liderança e a motivação, mas se for pouco cuidada, gera como conseqüência muitos conflitos. Nesse processo, há o emissor e o receptor e entre os dois existem os ruídos e bloqueios que advém de interpretações, respostas que muitas vezes atrapalham a comunicação. Jorge Forbes, psicanalista esclarece que a comunicação sonha com a língua universal, sendo útil, suprindo as necessidades e tem por objetivo dissipar o mal entendido, passando uma informação rápida e segura. Vale lembrar que inúmeras são as formas de comunicação: fala, escritos, desenhos, corpo, códigos, entre outros e muitos são os ruídos que interferem na comunicação e que derivam da falta de atenção, dos preconceitos, do negativismo, do uso impróprio da linguagem, da parcialidade e da ausência de uma comunicação franca e aberta. Minicucci (2001) acrescenta que os bloqueios, as filtragens e os ruídos provocam ressentimentos nas reações interpessoais e podem durar muito tempo. As nossas necessidades e experiências tendem a colorir o que vemos e ouvimos, a dourar certas pessoas e excluir o que não queremos saber, pois conflitam com as nossas velhas idéias. Sem contar que o efeito de uma emoção poderá distorcer a comunicação. “[...] quando nos sentimentos inseguros, aborrecidos ou receosos, o que ouvimos e vemos parece mais ameaçador do que quando nos sentimos seguros [...]” (MINICUCCI, 2007, p. 55).

Fonte: http://www.sxc.hu/

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Leia o exemplo a seguir:

Comunicação Linear - O Eclipse Solar no Quartel

“Capitão ao Sargento-ajudante: -Sargento! Dando-se amanhã um eclipse do Sol, determino que a companhia esteja formada, Com uniforme de campanha, no Campo de exercício, onde darei explicações em torno do raro fenômeno que não acontece todos os dias. Se por acaso chover, nada se poderá ver e neste caso fica a companhia dentro do quartel. Sargento-ajudante ao Sargento de Dia: -Sargento, de ordem de meu capitão, amanhã haverá um eclipse do sol, em uniforme de campanha .Toda a companhia terá de estar formada no campo de exercício - onde seu capitão dará as explicações necessárias, o que não acontece todos os dias. Se chover, o fenômeno será mesmo dentro do quartel ! Sargento de Dia ao Cabo: Cabo, o nosso capitão fará amanhã um eclipse do sol no campo de exercício. Se chover, o que não acontece todos os dias, nada se poderá ver. Em uniforme de campanha o capitão dará a explicação necessária, dentro do quartel. Cabo aos Soldados:

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Soldados, amanhã para receber o eclipse que dará a explicações necessárias sobre o nosso capitão, o fenômeno será em un1forrne de exercício. Isto, se chover dentro do quartel, o que não acontece todos os dias”. Fonte: http://www.sit.com.br/SeparataDIV0034.htm

A comunicação é importante para que os processos desenvolvam-se adequadamente, é uma aliada na execução de tarefas. A comunicação esclarece Robbins (2002) tem quatro funções básicas dentro de um grupo, a saber:

Controle Motivação Expressão emocional Informação

a comunicação formal ou informal promove um modo de controle do comportamento das pessoas. a comunicação estimula a motivação, através do esclarecimento sobre as tarefas, as metas, a qualidade do desempenho e o que pode ser melhorado. a comunicação favorece a expressão de sentimentos e posicionamentos frente aos mesmos. a comunicação proporciona as informações que as pessoas precisam para analisar, avaliar e tomar decisões.

É importante lembrar de que existem barreiras que podem impedir a eficácia da comunicação, como a filtragem ou manipulação das informações pelo emissor; a percepção seletiva, ou seja, o receptor vê e escuta de acordo com os seus interesses, experiências e características pessoais; sobrecarga de informações; defesa diante de sentimentos de ameaça; tipo de linguagem e medo ou ansiedade de falar, escrever, evitando a comunicação em situações necessárias.


nas relações interpessoais. O líder, explicam Albuquerque e Puente-Palacios (2004), é um fenômeno grupal, funcional, ele sintetiza as aspirações do grupo e existe de modo contextualizado, ou seja, em determinada circunstância e lugar histórico. Exercer a liderança significa estabelecer um processo interativo, estar centrado nos grupos, ser capaz de defender os interesses, correr riscos para cumprir metas e representar o poder instituído.

Fonte: http://www.sxc.hu/photo/931543

Assista ao vídeo sobre Liderança: missão impossível da Série Não é o que Parece do Conselho Federal de Psicologia http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/publicacoes/videos/videos_020701_0052.html - (http:// www2.pol.org.br/publicacoes/video_play_dvd06.cfm)

Vimos que existem diferentes modos de ocupar as posições de liderança, essas podem ocorrer de acordo com a oportunidade e por determinado tempo. . Acrescentamos que nem sempre há valorização da cooperação, da competência e da interação nessas situações: As pessoas são o ingrediente essencial das organizações. Se as pessoas, no seu conjunto, não mudam, as instituições não mudarão. As pessoas com liderança são as que ditam o ritmo das mudanças. Existem líderes que inspiram confiança e incentivam a participação; outros só impõem diretrizes e conseguem obter adesões superficiais. Em organizações autoritárias, há muito pouca comunicação real. Existem muitas mensagens unidirecionais e feedback pouco confiável. Muitos se limitam a obedecer e oferecer informações desejadas, esperadas, não as reais.

Por ter tido educação deficiente, principalmente no aspecto emocional, encontramos muitas pessoas mal resolvidas, que guardam rancor e esperam o momento de prejudicar alguém ou sabotar decisões tomadas. Elas conseguem atrasar significativamente o proces-

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Além da comunicação, a liderança é um importante aspecto a ser analisado

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so de mudança organizacional. Muitas delas estão mais atentas às

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Funcionários mal resolvidos semeiam discórdia, divisão, mal-estar

críticas do que à cooperação, à sabotagem do que à colaboração. e pessimismo. Fomentam o ambiente de fofoca, de intrigas. Estabelecem redes paralelas de informação, que corroem a confiança, geram incerteza e envenenam umas pessoas contra as outras.

Existem grupos de pessoas que não sabotam diretamente, mas adotam uma postura passiva e indiferente quanto às mudanças. São aquelas que resistem silenciosamente. Aparentemente colaboram, mas, sem um controle externo, pouco produzem. Infelizmente nossa educação valoriza mais a obediência do que a autonomia; a competição do que a colaboração, e isso se reproduz no ambiente profissional. (MORAN, 2007, s.p.)

Compreendemos, desta forma, que os grupos possuem as suas características, organizam-se, influenciam-se e tendem a se ajustar, porém quanto mais coeso o grupo, maior será a resistência às mudanças no próprio grupo e mais poder ele exercerá sobre os demais. Sobre as relações de poder que existem nas relações interpessoais, Albuquerque e Puente-Palacios (2004) analisam que é um fenômeno complexo presente nas interações, que pode ser considerado como força impulsionadora, provocadora de

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mudanças ou manutenção de comportamentos de pessoas, grupos, organizações. Os elementos básicos do poder são os jogadores - pessoas pertencentes ou não à estrutura organizacional que tem a intenção de exercer influência nos resultados organizacionais - chamados influenciadores. Esses influenciadores usam meios e sistemas de influência - autoridade, ideologia, especialidade ou perícia e política - para controlar as decisões nas organizações (PAZ; MARTINS; NEIVA, 2004, p. 386).

Identificar as pessoas que exercem influência, ou seja, que utilizam o tempo, a habilidade política e a competência na dinâmica das organizações para alcançar as necessidades que desejam que sejam atendidas é necessário, pois o poder que possuem é capaz de afetar os resultados nas organizações. O poder é um componente importante em qualquer grupo ou organização. A psicologia social e a psicologia organizacional adotaram o poder como objeto de estudo, analisando a dinâmica do poder nos níveis grupais e organizacionais. Muitos estudos contemplam a dimensão negativa do poder e o concebem como coerção, repressão, manipulação, dominação, dominação, etc. Os estudos da abordagem comportamental caracterizam o poder descrevendo-o como imposição de vontade de uns sobre outros. Para a psicologia social o poder está na tessitura das relações humanas, demarcando, delimitando territórios e produzindo sentidos e estratégias de enfrentamento e resistência. De acordo com Paz, Martins e Neiva (2004), a teoria do poder organizacional de Mintzberg1, caracterizada pelo enfoque sistêmico, contempla os níveis individual 1

A teoria de Mintzberg resultou de pesquisa em organizações na sociedade ocidental sobre o poder dentro e em torno das orga-


com dinamicidade, fluidez e capacidade de afetar os resultados organizacionais. O poder organizacional é refletido nas configurações de poder que sinalizam aos grupos e membros quais os comportamentos típicos das organizações e formas de funcionamento:

o poder é centralizado no mais alto chefe da organização Autocracia

que define as metas. Nas organizações pequenas esse tipo de

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e coletivo, interno e externo, intra e entre grupos e caracteriza o poder organizacional

configuração é comum. o poder se encontra fora da organização que serve de Instrumento

instrumento para o alcance dos objetivos propostos pelo influenciador ou grupo de influenciadores dominantes. A hierarquia é rígida e o poder flui de fora para dentro. o poder é a própria ideologia organizacional. A dinâmica da

Missionária

organização é centrada em uma missão que domina toda a atividade organizacional. Há um comprometimento afetivo.

Meritocracia

o poder é dos especialistas que com base nas habilidades e no conhecimento influenciam fortemente a organização. o poder é da coalizão interna, de pessoas que vivem o cotidiano

Sistema autônomo

das organizações. Os influenciadores são os próprios membros da organização que para exercerem controle interno, usam de padrões burocráticos e trabalham com um sistema de metas.

Arena política

o poder fica dividido numa organização em crise em que os influenciadores perseguem seus objetivos individuais.

Para os autores Paz, Martins e Neiva (2004), essas configurações de poder são as mais comuns, mas não são estanques, pois as organizações vivem processos de transformação ou declínio. Reflita: O assédio sexual no local de trabalho é um aspecto importante para discussão, pois envolve poder e gênero. O assédio sexual é definido como ato de constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente de sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função (Art 216 A - Lei 10.224). E o assédio moral? O assedio moral que diz respeito à exposição das trabalhadoras e trabalhadores a situações humilhantes, constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho ou no exercício de suas funções também envolve uma intensa discussão sobre as relações de poder.

A questão do poder, da liderança e da comunicação são aspectos importantes na discussão sobre a teoria dos grupos e muitos outros autores como Pichon-Rivière (1998) analisaram sobre a estrutura e funcionamento dos grupos através do conceito de Grupos Operativos, baseado na teoria do vínculo. O Vínculo, estrutura psíquica complexa, de caráter social, um dos princípios organizadores do grupo operativo é importante para a compreensão do conceito, assim como a Tarefa, um outro princínizações.

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pio, que diz respeito ao modo pelo qual cada integrante do grupo interage a partir das suas necessidades. O grupo operativo configura-se como um modo de intervenção, organização e resolução de problemas grupais. Através dessa teoria é possível avaliar determinado grupo durante a realização de tarefas concretas e identificar o campo de fantasias e simbolismos presentes nas relações interpessoais. Moscovici (1998) esclarece que o relacionamento interpessoal harmonioso proporciona um trabalho cooperativo, mas essas condições resultam das competências interpessoais que se expressam no interjogo entre sentimentos, interações e atividades. As relações interpessoais e o clima de grupo influenciam-se reciprocamente. Sentimentos de simpatia e atração nas organizações ensejam mais produtividade, ao passo que sentimentos de rejeição tendem a afetar as interações, a comunicação e produzem queda na produtividade. Na teia de relacionamentos não podemos deixar de tratar da dimensão ética que regula as relações e ações, pois a ética é o conjunto de valores e da moral que conduzem a pessoa a tomar decisões. Vidal (1998) sobre este assunto, esclarece que a ética nasce da pessoa e se refere à pessoa, pois somos pessoas quando estamos em relação, partilhando e exercendo uma escuta sensível do outro.

Reflita: O que significa ética? Ela define um modo de comportar-se com o outro? É o mesmo que moral? E os valores morais? Qual a sua importância neste estudo sobre as

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relações interpessoais?

Para tratarmos destes termos, seus significados e relações, precisaríamos de mais uma aula, mas é importante enfatizar que ambas refletem o nosso momento histórico, não provém da natureza, e sim da disposição humana para a sociabilidade e para valores como justiça, honradez, integridade, generosidade e tantos outros que dizem respeito a nós mesmos e às relações que mantemos com os outros. Na contemporaneidade há uma redescoberta da ética, esclarece Passos (2007), pois há exigências de valores éticos e morais em todas as instâncias sociais. No momento em que a nossa sociedade passa por uma crise de valores, identificada pelo senso comum como falta de decoro, de respeito pelo outro, de limites e, também pela dificuldade de internalizar as normas, leis e regras sociais, precisamos da ética, ciência que estuda o comportamento moral dos homens na sociedade para compreender os valores que constituem a vida humana e que configuram os projetos de vida individuais ou coletivos. Portanto, é importante identificar as bases morais da nossa sociedade hoje, as características das relações humanas e a repercussão desses aspectos nas dimensões subjetivas. Precisamos, então, encontrar meios para melhor conviver com as pessoas, quer seja na família, no trabalho, na comunidade. Para isso torna-se necessário interrogar sempre:


Qual o meu projeto de vida? Quais os compromissos que assumi com o outro, com a sociedade?

A preocupação com a dimensão humana, com a construção do projeto de vida compromissado com a sociedade significa preocupação com a dimensão ética, “pois

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Que valores estão orientando a minha vida e minha prática profissional?

se estabelece o respeito no lugar do desrespeito, a confiança em vez da desconfiança, o companheirismo e a solidariedade e não a competição cega e desenfreada” (Passos, 2007, p.124). Ainda, como explica a autora: As pessoas são chamadas e incentivadas a mostrarem suas preferências e suas competências, a reivindicarem e participarem, sem o receio de serem tomadas como impertinentes e criadoras de problemas. A ética assegura o respeito à diferença e a inclusão de todos e não somente dos que pensam e agem dentro da mesma tendência (PASSOS, 2007, p.124).

A submissão às coisas e às exigências do mundo para dar conta das ânsias de consumo e aquisição de bens poderá ser rompida através da redefinição constante do

papel social e da interrogação sobre a razão de ter que se submeter, aceitar uma con- ________________________ dição. Saber escolher e construir espaços individuais coletivos em que prepondere o ________________________ respeito e em que possamos participar fraternalmente de equipes de pessoas implica ________________________

________________________ ________________________ Enfim, podemos nos sentir convocados a criar redes mais envolventes, a apren- ________________________ der a partilhar, a ser sensível ao outro ... ________________________ ________________________ São caminhos e compromissos de cada um. ________________________ Fiquemos agora com o poema de Olavo Bilac que selecionamos para terminar ________________________ a nossa aula: ________________________ ________________________ ________________________ “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo ________________________ Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, ________________________ Que, para ouvi-las, muita vez desperto ________________________ E abro as janelas, pálido de espanto ... ________________________ ________________________ Direis agora: “Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido ________________________ Tem o que dizem, quando estão contigo?” ________________________ ________________________ E eu vos direi: “Amai para entendê-las! ________________________ Pois só quem ama pode ter ouvido ________________________ Capaz de ouvir e de entender estrelas.” ________________________ ________________________ reconhecer-me no outro.

Fonte: BILAC, Olavo. Ora (direis) ouvir estrelas. Disponível em:http://www.jornaldepoesia.jor.br/bilac2.


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Síntese Nesta aula demos continuidade à análise dos grupos, às relações interpessoais e aos elementos que interferem nessas relações. Na próxima aula discutiremos sobre as dinâmicas das relações nos grupos e equipes de trabalho. Saudações afetuosas!

questão para Reflexão Assista aos Vídeos e reflita sobre o conteúdo estudado:

Mesa redonda on-line Diálogos com a Psicologia Organizacional e do Trabalho Evolução, desafios e novos rumos: Assista ao Debate

http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/publicacoes/videos/videos_080515_0001.html

Liderança: Profissão Impossível

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Como se constrói um líder? Ele é realmente necessário? Nem sempre foi assim. O que se espera então? Qual o papel da liderança? E do liderado? É possível representar a todos? Então será que é possível ser um líder? Estas são algumas das questões deste episódio. A galeria dos líderes, dos liderados, um jogo para se tornar uma liderança e a opinião de pessoas do Recife, Porto Alegre e São Paulo são alguns dos elementos utilizados para discutir um tema tão complexo. Quais são os sentimentos, medos, as expectativas, que constroem a relação com a liderança? E com liderados? Apesar da imediata associação com a política, ser uma liderança é mais do que isto. Existem novas formas de liderança que surgem diariamente em comunidades, grupos, associações, entre outros. Entrevistas com Itamar Silva da comunidade do Santa Marta, no Rio de Janeiro, e com outras lideranças ajudam a discutir a dimensão subjetiva da liderança. http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/publicacoes/videos/videos_020701_0052.html

Quais sentimentos, problemas, pensamentos cabem no mundo do trabalho? Quais ficam de fora? Como é que casa e trabalho se confundem no cotidiano? Essas são algumas das perguntas que o programa sugere e que fazem parte da dimensão subjetiva. O trabalho se torna o centro da vida das pessoas sem que se perceba as conseqüências desse fato. Uma fábrica de sapatos onde a operária que produz mais de dez mil sapatos por ano possui apenas três, digitadores de uma empresa que raramente se lembram do que escreveram depois de passarem horas digitando e uma entrevista de emprego com candidatos diferentes com o mesmo currículo são algumas das matérias do episódio. http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/publicacoes/videos/videos_020701_0052.html


Para aprofundar os seus conhecimentos, leia o texto: ALBUQUERQUE, Francisco José; PUENTE-PALACIOS, Katia Elizabeth. Grupos e equipes de trabalho nas organizações. In. ZANNELI, Jose Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo;BASTOS, Antonio Virgilio Bittencourt. Disponível em: <http://www.cchla.ufpb. br/pospsi/drvs/producao_caplivro/2004-GruposEEquipesDeTrabalhoNasOrganiza%E 7%F5es.pdf>. Acesso em: 26 maio 2009.

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Leituras indicadas

Vamos, também, ampliar a discussão com a leitura do texto Ética e Relações humanas através do link: http://cafefilolimeira.blogspot.com/2007/06/tica-e-relaes-humanas. html E para entender mais sobre conflitos, leia: http://www.catho.com.br/estilorh/index. phtml?combo_ed=29&secao=181

Sites Indicados http://www.portal-rp.com.br/bibliotecavirtual/culturaorganizacional/0105.htm http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/LEIS_2001/L10224.htm http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/publicacoes/videos/videos_020701_0052.html http://www.assediomoral.org/spip.php?article1

Referências BRASIL. Lei No 10.224, de 15 De Maio De 2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/ LEIS_2001/L10224.htm>. Acesso em: 26 maio 2009.

FORBES, Jorge. Conversação. Disponível em: <http://www.jorgeforbes.com.br/br/contents. asp?s=23&i=73>. Acesso em: 26 maio 2009.

MINICUCCI, Agostinho. Relações humanas: psicologia das relações interpessoais. São Paulo: Atlas, 2001.

MORAN, Jose Manuel. A comunicação em grupo e organizações. Disponível: <http://www.eca.usp.br/prof/ moran/reorg.htm>. Acesso em: 26 maio 2009.

MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento interpessoal: treinamento em grupos. Rio de Janeiro: Jose Olympio, 1998.

PAZ, Maria das Graças; MARTINS, Maria do Carmo; NEIVA, Elaine Rabelo. O poder nas organizações. In: ZANNELI, Jose Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo; BASTOS, Antonio Virgilio Bittencourt. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

PICHON-RIVIÈRE, Enrique; QUIROGA, Ana Pampliega. Psicologia da vida cotidiana. São Paulo: Martins, 1998.

PASSOS, Elizete. Ética nas organizações. São Paulo: Atlas, 2007.

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ROBBINS, Stephen Paul. Comportamento organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

VIDAl, Marciano. A ética civil e a moral cristã. São Paulo: Santuário, 1998.


grupos e equipes de trabalho Autor(a): Cláudia Vaz Torres Olá!

Analisamos na aula passada os grupos, as relações interpessoais e os elementos que interferem nessas relações. Nesta aula, ampliaremos a discussão sobre as dinâmi-

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AULA 05 - A dinâmica das relações nos

cas dos relacionamentos que ocorrem nos grupos e equipes de trabalho, mas antes de discutirmos sobre isto, precisamos assistir ao vídeo:

Trabalho em equipe: http://www.youtube.com/watch?v=oYmWPucPRTQ

E, então? A partir do que foi abordado é possível interrogar:

Quais as principais dificuldades para a realização de um trabalho em equipe? Qual a diferença entre grupos e equipes de trabalho? O desempenho é o mesmo? E as relações?

Um grupo de trabalho tem por objetivo compartilhar informações e tomar de- ________________________

cisões sem, contudo, ter o engajamento de um trabalho coletivo. São pessoas que dão ________________________ a sua contribuição individual na área em que cada uma é responsável. A equipe de ________________________ trabalho apresenta um esforço coletivo coordenado para o alcance de objetivos; uma ________________________ responsabilidade compartilhada em torno de um projeto específico; certa autonomia ________________________ para decidir e a efetividade da equipe é evidenciada a partir do seu desempenho e ________________________ produção. Muitos autores definem grupos e equipes de trabalho de modo divergente. Albuquerque e Puente-Palacios (2004, p. 370-371), a partir dos estudos de Gonzáles, Silva e Cornejo (1996), esclarecem que grupos e equipes de trabalho possuem estruturas de desempenho bem diferentes. [...] as diferenças são claras, pois, enquanto os grupos se caracterizam por: a) ter um líder claramente designado por um elemento externo perante o qual responde pelo grupo; b) trabalhar em prol do objetivo da organização; c) enfatizar, em aspectos individuais para o desempenho, definição de responsabilidades e estabelecimento de recompensas; d) ter a sua efetividade evidenciada a partir da influencia que exercem sobre outros membros ou grupos da organização, as equipes se caracterizam por: a) compartilhar as responsabilidades que não recaem apenas sobre o líder; b) trabalhar em prol de um projeto específico e próprio; c) enfatizar no esforço conjunto tanto para o desempenho como para recompensas e responsabilidades; d) ter a sua efetividade evidenciada a partir dos produtos da equipe.

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O comprometimento e a dinâmica das relações são diferentes nas equipes de trabalho, por conta do interesse nos resultados. As mudanças nas estruturas organizacionais que abandonaram um padrão de verticalização para a formação de equipes com mais autonomia e flexibilidade estão de acordo com o momento histórico e social de consolidação do capitalismo, do consumo, da competitividade e da necessidade de flexibilização do processo produtivo nas diversas organizações. É necessário acrescentar que o contexto, os recursos, a estrutura, a liderança, o clima de confiança, o sistema de avaliação de desempenho, as recompensas, as habilidades dos integrantes para a solução de problemas, tomadas de decisões e relacionamento interpessoal são aspectos a serem observados antes da formação de uma equipe.

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Fonte: http://www.sxc.hu/photo/1178998

Depreendemos que as mudanças numa organização, tornando-as mais horizontalizadas, proporcionam desafios como saber e ter autonomia para decidir, lidar com a informação rápida e com o poder implicado nas relações. A confiança que resulta do estabelecimento dessas relações numa equipe de trabalho torna as pessoas mais comprometidas, criativas e capazes de atuar em um ambiente dinâmico.

Reflita sobre o trecho da música da Legião Urbana:

Sem trabalho eu não sou nada Não tenho dignidade Não sinto o meu valor Não tenho identidade Mas o que eu tenho É só um emprego

http://letras.terra.com.br/legiao-urbana/46956/


Há uma diversidade de classificação de equipes, entretanto, analisaremos a classificação adotada por Albuquerque e Puente-Palacios (2004). Para os autores, as equipes podem ser classificadas a partir do tempo de duração, natureza da atividade, organização dos elementos (objetivos, pessoas, tecnologias, formas de desempenho), finalidades, etc.

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Classificação das equipes

Por tempo de duração Permanentes - realização de tarefas permanentemente. Temporárias - realização de uma tarefa especifica por tempo determinado. Pela natureza do trabalho Equipes de trabalho - execução de tarefas. Equipes de desenvolvimento - incrementação da efetividade dos processos organizacionais. Pela organização dos elementos e finalidades Grupos força-tarefa - priorização de um objetivo a ser alcançado Equipes - valorização dos indivíduos e as relações interpessoais estabelecidas. Ex.: time de futebol Tripulação - valorização do objetivo e da tecnologia. Ex.: tripulação de um avião.

Robbins (2002) adota um outro modo para classificar as equipes, a saber: Pessoas trocam idéias, oferecem sugestões sobre processos e métodos de trabalho. Raramente a equipe tem autoridade para implementação de idéias. Na década de 80, os Círculos de Qualidade formados por pequenos grupos de funcionários Equipes de solução de problemas

de uma organização que se reuniam durante determinados períodos do trabalho para identificar, analisar e debater formas de melhorar a qualidade, produtividade, reduzir custos, reduzir acidentes de trabalho, etc são um exemplo de equipes de solução de problemas.

Grupos de funcionários que têm responsabilidade pela administração do Equipes de trabalho autogerenciadas

seu trabalho e desenvolvimento de carreira, realizam trabalhos muito relacionados ou interdependentes e avaliam os desempenhos uns dos outros. Formada por pessoas de nível hierárquico equivalente nas diferentes áreas de uma organização que desenvolvem idéias, sugestões,

Equipes multifuncionais

solucionam problemas e coordenam projetos complexos.

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Pessoas que compartilham informações, tomam decisões, realizam tarefas on-line, utilizando Equipes virtuais

meios de comunicação como redes internas ou externas, videoconferência, entre outros.

Para refletir: Imagine situações que representem as equipes estudadas. O que supera o individualismo nas equipes de trabalho? Quais as dificuldades enfrentadas por pessoas de nível hierárquico equivalente, áreas e habilidades diferentes na solução de problemas de uma organização? Como conciliar as vaidades dos membros de uma equipe com os objetivos da organização?

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Fonte: http://www.sxc.hu/

Períodos de turbulência diante de situações complexas e falta de confiança fazem parte do processo de desenvolvimento de uma equipe, em que pessoas possuem diferentes experiências, histórias e perspectivas. As equipes de trabalho passam por diferentes fases que vão desde a formação até o favorecimento do desempenho de tarefas. Sobre isso, esclarecem Albuquerque e Puente-Palacios (2004, p. 372): Essas fases não são uma peculiaridade das equipes de trabalho. São fases do desenvolvimento na vida dos grupos, e, como as equipes constituem um tipo específico de grupo, passam também por elas. De maneira adicional, cabe destacar que nem todas essas etapas são seqüências e pode ocorrer de voltar de uma etapa para a anterior antes de ir para a seguinte. Isso pode ser conseqüência de mudanças ou pressões vindas do meio externo. Também é possível que uma equipe nunca atinja o estágio final ou até faça o possível para


Algumas fases do desenvolvimento das equipes podem ser identificadas, tornando mais fácil o reconhecimento de que as experiências e situações vivenciadas fazem parte de um processo de crescimento que às vezes precisam de uma intervenção direta.

Sabemos que trabalhar em equipe envolve desafios, principalmente quando estamos realizando um trabalho em um ambiente altamente competitivo. Robbins (2002, p. 261) acrescenta que: Para ter um bom desempenho como membro de uma equipe, a pessoa precisa ser capaz de se comunicar aberta e honestamente, confrontar diferenças e resolver conflitos, bem como sublimar suas metas pessoais, para o bem grupo.

Para o autor, algumas pessoas possuem habilidades interpessoais que facilitam a realização de trabalho em equipe, outras, habituadas a contribuir e a serem reconhecidas pelo seu trabalho e desempenho individual encontram dificuldade para se perceberem como parte de uma equipe em que o reconhecimento por um desempenho satisfatório é compartilhado por todos e não apenas um. [...] a implantação da equipe de trabalho exige do individuo habilidades diferentes daquelas exigidas para realizar o trabalho sozinho. Ao trabalhar em equipe, facilmente pode-se perder o controle sobre a evolução do trabalho, os avanços tidos ou os problemas enfrentados, pois não depende mais do que um individuo faz ou deixa de fazer, depende agora do esforço conjunto. (ALBUQUERQUE; PUENTEPALACIOS, 2004, p. 377)

Depreendemos com a citação que algumas habilidades são imprescindíveis para o trabalho em equipe.

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não atingi-lo.

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Fonte: Clipart

Reflita:

Como desenvolver habilidades de resolução de problemas, comunicação, manejo de conflitos, gerenciamento, etc?

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É possível desenvolver habilidades de resolução de problemas, comunicação, manejo de conflitos, gerenciamento, etc, embora envolva um exercício de paciência e um eficiente sistema de recompensas individuais e coletivas, acompanhado de uma boa comunicação entre as pessoas que fazem parte de uma equipe e disponibilização adequada pela organização das informações que são necessárias para a análise da relação entre esforço, desempenho e resultados. Alguns funcionários possuem excelentes habilidades interpessoais, mas outros precisam de treinamento para melhorá-las. Isso inclui aprender a ouvir, a comunicar as idéias de maneira mais clara e a ser um membro mais eficaz na equipe. (ROBBINS, 2002, p. 469)

Além das habilidades interpessoais e habilidades técnicas, é também possível desenvolver o raciocínio e habilidade de identificação de problemas, de levantamento das causas, alternativas e soluções para ampliar a efetividade de uma equipe. Acrescentamos que não existem procedimentos únicos para o alcance dos objetivos, é preciso sempre uma atenção aos recursos disponíveis, ao tempo, à seleção dos membros, aos mecanismos que favorecem o desempenho, entre outros. Assim, na construção de uma equipe é importante analisar os processos que ocorrem, determinar como o trabalho vem sendo realizado, a análise dos papéis de cada um, a percepção que as pessoas têm em relação aos outros, os estereótipos e os conflitos. Depois da formação de uma equipe, é traçado pelos integrantes um projeto de trabalho que possibilitará responsabilidade, comprometimento e autonomia de cada um. Sendo assim, o comprometimento de todos com um propósito comum, o estabelecimento de metas específicas, a identificação dos níveis de conflito e a contribuição com a formação de pessoas como membro de uma equipe são pontos que precisam ser destacados.


Nesta aula discutimos as dinâmicas dos relacionamentos que ocorrem nos grupos e equipes de trabalho. Na próxima aula refletiremos sobre a importância das emoções e afetos no cotidiano do trabalho.

questão para reflexão Como preparar pessoas para serem membros de uma equipe?

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Síntese

Leitura indicada ROBBINS, Stephen Paul. Comportamento organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

Sites Indicados http://www.rh.com.br/ler.php?cod=4539 http://www.catho.com.br/estilorh/index.phtml?combo_ed=95&secao=200

Referências ALBUQUERQUE, Francisco José; PUENTE-PALACIOS, Katia Elizabeth. Grupos e equipes de trabalho nas organizações. In: ZANNELI, Jose Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo; BASTOS, Antonio Virgilio Bittencourt. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004

ROBBINS, Stephen Paul. Comportamento organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

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tos: DELIMITAÇÕES conceituais Autor(a): Cláudia Vaz Torres

Socorro, alguém me de um coração,

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AULA 06 - Emoções, sentimentos e afe-

Que esse já não bate nem apanha Por favor, uma emoção pequena, Qualquer coisa Qualquer coisa que se sinta, Tem tantos sentimentos, deve ter algum que sirva Arnaldo Antunes1 Olá!

Estudamos na aula 2 os processos de construção da subjetividade e das identidades, nesta aula iremos refletir sobre a importância das emoções, sentimentos e ________________________ afetos, na composição da nossa dimensão subjetiva. ________________________

Você conhece bem as suas emoções? Os afetos determinam o nosso comportamento? Quais afetos acompanham seus pensamentos e fantasias?

Falamos em afeto, emoção, sentimento, mas antes de respondermos essas perguntas, faz-se importante compreender o significado do mesmo. Até o século XIX, os termos emoção e sentimento eram utilizados de modo indiscriminado, atualmente distinguimos esses termos de modo mais preciso. A emoção diz respeito a um estado agudo e transitório e o sentimento é um estado mais atenuado e durável, esclarece Bock, Furtado e Teixeira (1993). Gondim e Siqueira (2004, p. 211) aprofundam a compreensão e esclarecem que não há consenso em relação às definições das diversas manifestações afetivas e resumem da seguinte forma os estados afetivo-emocionais que incluem as emoções e afetos: Na maior parte das definições há forte associação das emoções com alterações fisiológicas e corporais desencadeadas por estímulos internos ou externos que parecem não estar sob total controle cons1

http://www.letras.com.br/arnaldo-antunes/socorro / Ouça: http://www.yehplay.com/musics/Arnaldo-Antunes-Socorro/130239/

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ciente da pessoa. Os afetos abarcariam os sentimentos, os humores

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no tempo e sua relação com aspectos cognitivos. Os sentimentos

e os temperamentos, que teriam em comum sua maior persistência não estariam relacionados à prontidão da ação tanto quanto as emoções, mas à interpretação subjetiva da situação que pela persistência do objeto na memória faria perdurar o afeto em relação a ele. O humor também seria um estado afetivo mais duradouro, mas não estaria relacionado especificamente a um objeto, repercutindo de modo significativo na maneira como a pessoa agiria em vários contextos de interação durante o período de permanência de seu estado afetivo. O temperamento, por sua vez, seria a manifestação de um estado afetivo individual persistente no tempo, pouco passível de modificação por fatores circunstanciais e que estaria incorporado nas características subjetivas de cada pessoa.

Assim, depreendemos que os afetos estão presentes na vida da pessoa humana, constituem a nossa dimensão subjetiva e marcam a nossa relação com o outro.

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Foto - Fonte: http://www.sxc.hu/

Henry Wallon, um importante teórico da Psicologia, destacou as manifestações da vida afetiva, como as emoções, os sentimentos e os desejos nos seus estudos sobre o desenvolvimento da pessoa humana numa perspectiva integrada. Para o autor somos pessoas completas em que o afeto, a cognição e o movimento são interdependentes e participam das nossas relações. Na análise walloniana, a afetividade é um conceito mais abrangente no qual se inserem manifestações ou expressões como a emoção. A emoção, para o autor, é uma atividade eminentemente social, que se nutre do efeito que causa no outro.


de outras manifestações da afetividade. São sempre acompanhadas de alterações orgânicas, como aceleração dos batimentos cardíacos, mudanças no ritmo da respiração, dificuldades na digestão, secura na boca. Além dessas variações no funcionamento neurovegetativo, perceptíveis para quem as vive, as emoções provocam alterações na mímica facial, na postura, na forma como são executados os gestos. Acompanham-se de modificações visíveis do exterior, expressivas, que são responsáveis por seu caráter altamente contagioso e por

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As emoções possuem características especificas que as distinguem

seu poder mobilizador do meio humano.

No bebê, os estados afetivos são, invariavelmente, vividos como sensações corporais, e expressos sob a forma de emoções. Com a aquisição da linguagem diversificam-se e ampliam-se os motivos dos estados afetivos, bem como os recursos para sua expressão. Tornam-se possíveis manifestações afetivas como os sentimentos, que, diferente das emoções, não implicam obrigatoriamente em alterações corporais visíveis (GALVÂO, 2003, p. 61-62).

A análise walloniana sobre a emoção traz importantes elementos para que possamos compreender melhor o comportamento emocional, as situações de conflitos, as crises e identificar os fatores que provocam os conflitos, os posicionamentos das diferentes pessoas que acirram a crise, as nossas próprias reações e o que reduz a temperatura emocional. O exemplo a seguir poderá ilustrar essa ideia: Confusão começou com discussão entre duas meninas; em outra oportunidade, teriam tentado pôr fogo no colégio “Porrada, porrada, porrada.” Foi em meio a esses gritos que os alunos da Escola Estadual Amadeu Amaral, no Belém, zona leste de São Paulo, começaram a depredar o colégio, por volta das 9h40 de ontem. Pedras e carteiras foram arremessadas nos vidros, portas arrombadas, tapas e socos fizeram os professores, acuados, se trancarem dentro de uma sala. A “rebelião” só terminou por volta das 12 horas com a entrada da Polícia Militar, acionada por vizinhos e funcionários da unidade. Em meio à correria, adolescentes de 5ª a 8ª séries choravam e gritavam e a diretora da escola desmaiou, segundo testemunhas. U., uma aluna de 15 anos que teria sido pivô da confusão, ficou levemente ferida. [...] Um professor, que pediu para não ser identificado, afirma que desde o início do ano os alunos têm quebrado janelas e até tentaram botar fogo na escola na segunda-feira passada [...] (REHDER, 2008, s.p.)

Esse fato ocorrido numa sala de aula é apenas uma das situações que ocorrem em muitas outras escolas do país, mas que reflete uma situação de tensão emocional em que professores e alunos convivem com agressões verbais e físicas no ambiente escolar.

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Reflita: Como enxergar e lidar com essa situação de modo mais objetivo? Por que os grupos apresentam um espaço propicio para manifestações emocionais coletivas?

Para Wallon, as emoções têm um poder de contágio e propiciam relações interindividuais nas quais se diluem os contornos da dimensão subjetiva de cada um. O poder contagioso e coletivo da emoção tem uma importância decisiva na coesão do grupo social, pois estabelece uma comunhão imediata, esclarece Galvão (2003). As imagens a seguir, também ilustram essa idéia:

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Fonte: http://www.sxc.hu/

Assista ao vídeo Pink Floyd - The Wall: http://www.youtube.com/watch?v=HxsexRjNcb4

A partir do vídeo podemos depreender que a apologia à disciplina, o adestramento, a racionalidade e a tentativa de suprimir os impulsos, impedindo a manifestação das emoções podem provocar uma explosão de emoções que resulta em ações negativas. Nas revistas semanais ou jornais podemos encontrar relatos de experiências que evidenciam os benefícios das expressões das emoções na vida pessoal e profissional e os danos que podem advir quando guardamos tudo para nós mesmos por conta da dificuldade em expressar as angústias, o medo, a raiva, etc. ou pelo receio de ser considerado frágil, imaturo, passional, etc. diante de uma repentina manifestação de emoções. Embora exista o preconceito com relação à livre expressão das emoções, é importante enfatizar que as emoções permitem a comunicação interpessoal, a manutenção das relações, a interação social e a preparação para a ação diante de situações importantes para a nossa sobrevivência. Acrescentamos, porém, que nas pesquisas em Psicologia existem muitas diver-


da pessoa. As discordâncias com relação à ênfase nas funções biológica, psicológica ou social da emoção não são únicas, pois existem outros focos de divergência, quanto a compreensão de como ocorre o processo emocional e o nível de consciência da resposta emocional, esclarecem Gondim e Siqueira (2004). As abordagens biológicas defendem que

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gências teóricas, uma delas em consequência da função que a emoção cumpre na vida

O cérebro ao detectar subliminarmente por meio de algum mediador um determinado estimulo, desencadeia reações fisiológicas, tais como aumento dos batimentos cardíacos, sudorese e sensação de calor que ao se tornarem conscientes fariam com que a pessoa procurasse interpretar o evento atribuindo estados afetivos: medo, tristeza, alegria, etc. (GONDIM; SIQUEIRA, 2004, p. 212).

A abordagem cognitiva incorporou alguns aspectos das teorias de origem biológica, mas enfatizou a emoção e o afeto como manifestações culturais que dependem dos contextos sociais. Nesta perspectiva, a excitação biológica, como as mudanças na frequência cardíaca, na respiração e na pressão sanguínea são importantes, mas é preciso analisar o modo como a nossa interpretação da situação influencia as nossas emoções, em termos de como percebemos o seu efeito no nosso bem estar ou em nossos objetivos. Nesta abordagem, Glassman e Hadad (2008, p. 222) esclarecem: [...] as emoções atualmente desempenham um papel muito mais matizado em nossas vidas, em grande parte graças à influencia dos processos cognitivos. Através da interpretação perceptual e da memória das experiências passadas, avaliamos as situações para sentir não apenas medo ou prazer, mas também amor e tristeza, orgulho e vergonha. Como acontece com muitos fenômenos, o entendimento final da emoção pode envolver uma interação complexa de diferentes fatores - e os processos cognitivos certamente serão um fator.

Assim, compreendemos que o modo como interpretamos o contexto tem um importante papel nas emoções e que essas diferenças estão muito baseadas na aprendizagem através das interações que ocorrem na cultura. Outras abordagens como a filosófica, comportamental e clínica adotam premissas específicas para a compreensão das emoções e afetos: - Abordagem filosófica - Este tema é tratado desde a Antiguidade. Nesta abordagem, os filósofos partem da premissa de que o afeto implica uma ação sofrida e que a emoção está na base da formação moral. - Abordagem comportamental – baseada no estudo de eventos observáveis, enfatiza os fatores externos no desencadeamento das emoções. Para esta abordagem as emoções são condicionadas. Glassman e Hadad (2008, p. 138) citam como exemplo: Um bebê recém-nascido pode instintivamente responder ao contato com o corpo da mãe, mas, mais tarde, essa resposta agradável

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torna-se associada ao rosto da mãe e, mais tarde ainda, a objetos da

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tam prazer ao escutar uma velha canção favorita experimentam

casa e, talvez, mesmo a própria casa. Os indivíduos que experimenemoções que se tornaram associadas ao estimulo condicionado da música. Mesmo quando vamos ao cinema, o condicionamento está envolvido (provavelmente através de um processo ordem mais elevada em nossas reações aos heróis, aos vilões e a várias situações intrigantes).

Vamos ouvir as músicas a seguir e refletir sobre as emoções que experimentamos: Os teóricos desta abordagem acreditam que a aprendizagem é o principal fator para explicar as mudanças de comportamentos e, dependendo do tipo de resposta, isso envolve o condicionamento clássico que destaca que os estímulos condicionados vão eliciar respostas condicionadas ou o condicionamento operante que enfatiza a possibilidade de uma resposta voluntária mudar em função das consequências ambientais. O condicionamento clássico e o condicionamento operante estão interrelacionados no nosso comportamento, mas esta abordagem postula que a aplicação do condicionamento operante ao comportamento cotidiano consiste na modificação do comportamento. De qualquer modo, assim como os pensamentos, os sentimentos e os outros estados mentais internos não podem ser estudados empiricamente, portanto não têm

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lugar nesta abordagem. - Abordagem clínica – aborda as emoções como perturbações decorrentes da dinâmica psíquica inconsciente, centra a atenção nos processos psicopatológicos. O conceito abrange uma intricada rede de outros conceitos, como angústia, pulsão. O afeto é um estado emocional permanente e intenso que inclui toda a variedade de sentimentos e que estão presentes ao longo da nossa vida. Leia abaixo um trecho do texto “O afeto no tempo” de Corrêa (2005). Disponível em: http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010034372005000100007&lng=pt&nrm=

Lacan nos diz então que “algo no afeto é verdadeiro como um signo, quer dizer, ele é imediatamente compreensível” Laurent (1986). O afeto seria uma relação, um acesso direto ao verdadeiro independente da cultura, da época ou da língua. Existe sua expressão como as lágrimas na tristeza, o riso na alegria, embora esse riso possa também, em determinadas circunstâncias, expressar ferocidade, como é o caso dos chineses.

[...] Para Lacan o afeto não é sentimento, como a angústia. Não sendo um sentimento é uma paixão, ou como está dito mais claramente: “o afeto é uma paixão da alma”, reforçando a diferença entre afeto e paixão.

Nesta direção, compreendemos que o afeto permeia a nossa condição humana e pode ser percebido no nosso modo tão singular de expressar a nossa divisão, o nosso desassossego, a nossa falta, tudo que nos move e nos torna sujeitos desejantes.


Nesta aula refletimos sobre a importância das emoções, sentimentos e afetos, parte integrante da nossa dimensão subjetiva. Na próxima aula, trataremos ainda desta temática, mas enfatizaremos o mundo do trabalho.

Questão para reflexão Fiquemos, então, com o poema de Fernando Pessoa para refletirmos sobre os

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Síntese

afetos e direcionamentos que damos a nossa vida:

Se em certa altura Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita; Se em certo momento

Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim; Se em certa conversa Tivesse tido as frases que só agora, no meio-sono, elaboro – Se tudo isso tivesse sido assim, Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro Seria insensivelmente levado a ser outro também.

Mas não virei para o lado irreparavelmente perdido, Não virei nem pensei em virar, e só agora o percebo; Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse; Mas as frases que faltou dizer nesse momento surgem-me todas, Claras, inevitáveis, naturais ,A conversa fechada concludentemente, A matéria toda resolvida... Mas só agora o que nunca foi, nem será para trás, me dói.

O que falhei deveras não tem esperança nenhuma Em sistema metafísico nenhum. Pode ser que para outro mundo eu possa levar o que sonhei. Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar?

Saudações afetuosas!

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Leituras indicadas Inteligência Emocional. Disponível em: <http://www.din.uem.br/ia/emocional/>. Acesso em: 16 julho 2009. BISPO, Patrícia. Emoção e profissionalismo. Disponível em: <http://www.rh.com.br/ Portal/Mudanca/Entrevista/4629/emocao-e-profissionalismo.html>. Acesso em: 16 julho 2009.

site indicado http://internativa.com.br/artigo_rh_06_06.html

referências BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva. 1993.

GALVÂO, Izabel. Henry Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.

GLASSMAN, Willian; HADAD, Marilyn. Psicologia: abordagens atuais. Porto Alegre: artmed, 2008.

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GONDIM, Sonia Maria Guedes; SIQUEIRA, Mirlene Maria Matias. Emoções e afetos no trabalho In: ZANNELI, Jose Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo; BASTOS, Antonio Virgílio Bittencourt. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

REHDER, Maria. Alunos brigam, trancam professores e quebram escola na zona leste de SP. Metropole. Estado de São Paulo. Disponível em: <http://txt.estado.com.br/editorias/2008/11/13/cid-1 .93.3.20081113.27.1.xml>. Acesso em: 26 maio 2009.


tos: repercussões no cotidiano do trabalho Autor(a): Cláudia Vaz Torres Olá!

Nesta aula iremos refletir sobre a importância das emoções e afetos no cotidia-

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AULA 07 - Emoções, sentimentos e afe-

no do trabalho. Para darmos início a esta discussão, cabe perguntar: Como conciliar as diferentes emoções com as obrigações do trabalho? O que controla a sua emoção? É a cognição? Qual a sua importância no estudo sobre as emoções? Todos os nossos campos de estudo, trabalho, lazer, etc. são extremamente ricos em objetos, pessoas e situações que despertam reações afetivas, cognitivas e comportamentais. O trabalho, além de viabilizar a construção de um lugar singular para mulheres e homens, repercute também na subjetividade, à medida que dá origem a novas referências e atitudes frente à realidade. Na psicanálise, Freud (1930), no texto Mal-Estar na Civilização, revela que um

dos aspectos que parece melhor caracterizar a civilização é a estima e o incentivo à ________________________ atividade. Quando o homem descobriu que estava em suas mãos melhorar a sua sorte ________________________ na terra e dominar a natureza através do trabalho, um outro homem que trabalhasse ________________________ com ele ou contra ele passou a não ser mais indiferente, passou a ser um auxiliar na ga- ________________________ rantia de melhores condições de vida. “Esse outro homem adquiriu para ele o valor de ________________________ um companheiro de trabalho, com quem era útil conviver.” (FREUD, 1930, p.119). Deste ________________________ modo, através das atividades humanas há um deslocamento de grande quantidade ________________________ de componentes libidinais, agressivos e eróticos para a utilidade, obtenção de prazer ________________________ e substituição do poder do indivíduo em prol de uma comunidade. Sabemos que, principalmente no contexto de trabalho, os aspectos afetivos sempre foram desconsiderados em prol da objetividade, da previsibilidade, da estabilidade e do controle. Neste contexto, pensar um espaço em que exista a espontaneidade, a impulsividade e a expressão de emoções tem sido possível nos dias de hoje, por conta da valorização da afetividade e da sua importância nas análises sobre motivação e satisfação no trabalho. Tornou-se um imperativo na contemporaneidade conhecer mais sobre as pessoas e os seus processos psicológicos. A nossa realidade, alicerçada nas bases aparentemente ilusórias da cultura do espetáculo e da visibilidade exercem uma pressão, como esclarece Sibilia (2008) sobre as subjetividades, para que estas se projetem de acordo com os novos códigos e regras. Mas, as pessoas não mudam facilmente para se tornarem compatíveis com as engrenagens da cultura organizacional. Precisamos, então, sempre considerar que a prescrição de papéis que cada pessoa inserida num contexto organizacional irá exercer auxiliam na lógica da racionalidade que prevalece nesses ambientes e que define o que, como e quando fazer, mas

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não assegura que as ações realizadas pelas pessoas serão bem feitas e bem sucedidas. Isso ocorre porque as pessoas vivem um turbilhão de emoções construídas nas suas relações familiares, comunitárias, de lazer, trabalho, etc. e todos esses processos repercutem no seu fazer diário. Por isso, para analisarmos as repercussões das emoções, sentimentos e afetos no mundo do trabalho, importa refletir inicialmente sobre a relação entre cognição e afeto. Na primeira aula, estudamos que a psicologia possui diferentes abordagens, uma delas é a cognitivista. Esta abordagem prioriza todos os processos envolvidos no conhecer (BASTOS, 2004). A atividade de conhecer inclui, de acordo com o autor construção, organização e uso de conhecimento, algo que vai além do processamento, armazenamento e recuperação de informações e que envolve o raciocínio, julgamentos, afirmações, atribuições e interpretações. A cognição, então, não deve ser traduzida apenas, como atividade racional, intelectual e consciente. As abordagens cognitivistas têm um importante papel na análise da complexa relação entre contexto de trabalho e comportamento do trabalhador.

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Fonte das imagens: http://www.sxc.hu/

A partir das imagens percebemos o quanto os conceitos cognitivos construídos a partir das ações humanas são necessários para a compreensão do comportamento. Para Bastos (2004), a importância que vem assumindo as variáveis cognitivas nos estudos sobre as organizações deve-se ao reconhecimento de que a natureza do ambiente ao qual o indivíduo responde é construída nos seus processos de interação social. Pesquisador da Universidade Federal da Bahia, Antonio Virgilio Bittencourt Bastos conduz um conjunto de pesquisas sobre cognição e organização. Ele esclarece que a ênfase nos processos cognitivos, ou no entendimento do que as organizações são e os processos nelas envolvidos, não devem nos levar a uma visão simplista das complexas relações que unem a cognição humana e os processos constitutivos das organizações de trabalho, pois não existem relações simples e lineares, como também não há uma tecnologia cognitiva efetiva que ajude a lidar com os problemas organizacionais. Não há, então, como fixar modelos ou adotar manuais sobre como gerenciar cognições individuais e coletivas.


a compreensão de vários fenômenos. Sobre esses fenômenos, Bastos (2004, p. 203) esclarece: Estes, vão desde as percepções individuais sobre eventos, passam pelas interações e seus conflitos no interior de díades e pequenos grupos de trabalho, pelas cognições e decisões das pessoas com poder gerencial de moldar regras e estruturas, e chegam até aos processos pelos quais o ambiente é percebido e interpretado e como

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Analisar em profundidade a cognição humana é um importante aspecto para

tais percepções influem na formulação de planos, projetos e políticas, tidos como necessários para a sobrevivência e melhoria das organizações.

Compreendemos com o autor que os estudos sobre a cognição humana possibilitam a compreensão sobre as percepções individuais, as interações, os conflitos, as lideranças, as relações de poder, as retaliações, etc. Os avanços nesse campo de estudo destacam que as pessoas são ativas na construção da sua realidade, interpretam o seu mundo, interagem, e não podem ser manejadas no ambiente organizacional na mesma lógica que os recursos materiais o são. A cognição e a emoção são processos imbricados e inseparáveis no contexto de uma organização e em todos os outros em que estejam presentes as ações humanas. A abordagem da cognição e do papel das emoções no campo dos estudos organizacionais ampliou o debate sobre as pessoas, os seus processos psicológicos e rompeu com ________________________ a ideia da ênfase na racionalidade no ambiente de trabalho. Esses estudos promovem a compreensão do modo como o ambiente externo repercute nas manifestações afetivas e como há uma tentativa constante de neutralizar, normalizar, ajustar a expressão das emoções a diferentes situações sociais. Algumas emoções devem ser inibidas para garantir o bem estar coletivo.

Você concorda que as emoções devem ser inibidas? Quais manifestações afetivas devem ser inibidas? E a inveja, a raiva e o ciúme? E, ainda, a hostilidade, a atitude de retaliação, a insegurança?

Como devem ser consideradas as manifestações afetivas no ambiente de trabalho? É possível um trabalho emocional para compreender e redirecionar essas manifestações? É possível padronizar a expressão das emoções no ambiente de trabalho para que todos demonstrem alegria e satisfação? Vamos analisar então as emoções a partir da HQ “Conveniências emocionais” e de campos de estudo e pesquisa sobre o assunto:

“Conveniências emocionais” de Vinicius Mitchel disponível em oglobo.globo.com/ blogs/gibizada/default.asp?a...

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A HQ “Conveniências emocionais”, as questões acima e tantas outras questões são de interesse de estudiosos que discutem a afetividade no contexto do trabalho. As investigações sobre as condições de trabalho (físicas, temporais, sociais) e sua relação com a afetividade do trabalhador podem ser encontradas em estudos realizados na primeira metade do século XX. Nesses estudos, em que são apontadas a visão mecanicista, há o esclarecimento de que o homem é avesso ao trabalho e o realiza com desagrado tendo como incentivos o dinheiro e o medo do desemprego. Para aqueles que não concordavam com visão mecanicista, uma configuração adequada do ambiente de trabalho poderia tornar as pessoas mais felizes, produtivas e assíduas no trabalho e contribuir com o bem estar físico e emocional de todos os envolvidos (GONDIM; SIQUEIRA, 2004) Nesse campo de investigação, alguns pesquisadores têm profundo interesse em conhecer como agem as pessoas emocionalmente inteligentes e como é possível aprender a controlar as emoções (GOLEMAN, 1995). Goleman (1995) analisou as habilidades que as pessoas emocionalmente inteligentes possuem como autoconsciência, automotivação, autocontrole, empatia e sociabilidade e reconheceu que essas habilidades são importantes na solução de problemas, na regulação de ações em diversos contextos, no conhecimento de si (inteligência intrapessoal) e na interação satisfatória com os outros. Saber lidar com emoções implica saber identificar o impacto das emoções no ambiente de lazer, familiar

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e de trabalho e tomar a iniciativa para saber responder às emoções conflitantes das pessoas de modo construtivo.

Para saber mais sobre a inteligência emocional, leia a entrevista de Daniel Goleman no endereço que está disponível abaixo: http://www.abrae.com.br/entrevistas/entr_gol.htm

Uma perspectiva de estudo no campo da Psicologia sobre a afetividade é a teoria sobre as atitudes, explicam Gondim e Siqueira (2004), que compreende as atitudes como uma rede de sentimentos, crenças, tendências para agir em direção a pessoas, grupos, ideias e objetos. Esta abordagem foi a que conseguiu levar maior número de pesquisadores em Psicologia e de outras áreas correlatas a investigar afetividade no contexto de trabalho. Ela também pode ser apontada como o principal eixo teórico responsável pelo conhecimento psicossocial aplicado ao trabalho durante o século XX, tendo como seus principais representantes os conceitos atitudinais denominados por:

Satisfação no trabalho: grau de contentamento com chefia, colegas, salário, promoções e trabalho realizado.

Envolvimento com o trabalho: nível de identificação com o trabalho realizado.


presa empregadora. (GONDIM; SIQUEIRA, 2004, p. 225)

Depreendemos com os autores que satisfação, envolvimento e comprometimento com o trabalho são vínculos que se relacionam entre si. O conceito de satisfação no trabalho envolve mais que grau de contentamento com chefia, colegas, salário, promoções e trabalho realizado. A satisfação no trabalho que resulta de experiências no meio organizacional e tem os seus desdobramentos na

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Comprometimento organizacional afetivo: afetos dirigidos à em-

vida social da pessoa é um aspecto a ser destacado por ser um indicador de influências do trabalho na saúde mental, na relação entre trabalho e vida familiar e entre trabalho e vínculos afetivos. A satisfação no trabalho, afirmam Siqueira e Gomide Junior (2004) abrange um bem-estar semelhante à satisfação geral com a vida, estado de ânimo, otimismo e autoestima. Este conceito, assim como tantos outros que estudamos ao longo da disciplina possui as suas divergências, pois alguns consideram a satisfação no trabalho como um conjunto de reações específicas a vários componentes do trabalho que produzem graus diferentes de satisfação ou insatisfação. Outros aspectos, também são considerados como fontes de satisfação como: relação com a chefia, com os colegas, atribuições do cargo, o salário e as chances reais de promoção (GONDIM; SIQUEIRA, 2004). Para outros a satisfação no trabalho incide na proximidade do trabalho com a casa, na carga horária, os benefícios, etc. De qualquer modo, é importante destacar que a satisfação no trabalho que também diz respeito à natureza de um vínculo afetivo, promove melhor desempenho, mais produtividade e bem-estar. Para tratarmos desse assunto convém uma reflexão sobre um ponto extremo que diz respeito ao sofrimento mental relacionado ao trabalho. As políticas internas da organização, a política de pessoal, a competitividade, as práticas gerenciais e de organização do trabalho produzem diferentes sentimentos, criam culturas e novos modos de subjetivação. Algumas vezes as situações de medo, insegurança, incerteza, as retaliações, as injustiças, o individualismo em diferentes contextos que a pessoa está inserida produzem um mal estar e em certas circunstancias um sofrimento psíquico. Elizabeth Roudinesco (2000, p. 13), psicanalista, esclarece que o sofrimento psíquico manifesta-se atualmente sob a forma de depressão. Atingido no corpo e na alma por essa estranha síndrome em que se misturam a tristeza e a apatia, a busca de identidade e o culto de si mesmo, o homem deprimido não acredita mais na validade de nenhuma terapia.

Para a autora, antes de buscar vencer o vazio refletindo sobre as causas da angústia, a pessoa trata as suas dores com receitas médicas. Sobre isso, ela acrescenta:

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Quanto mais a sociedade apregoa a emancipação, sublinhando a

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No cerne desse dispositivo, cada um reivindica sua singularidade,

igualdade de todos perante a lei, mais ela acentua as diferenças. recusando-se a se identificar com as imagens da universalidade, julgadas caducas. Assim, a era da individualidade substituiu a da subjetividade: dando a si mesmo a ilusão de uma liberdade irrestrita, de uma independência sem desejo e de uma historicidade sem história, o homem de hoje transformou-se no contrário do sujeito. Longe de construir seu ser a partir da consciência das determinações inconscientes que o perpassam à sua revelia, longe de ser uma individualidade biológica, longe de pretender-se um sujeito livre, desvinculado de suas raízes e de sua coletividade, ele se toma por senhor de um destino cuja significação reduz a uma reivindicação normativa. Por isso, liga-se a redes, a grupos, a coletivos e a comunidades, sem conseguir afirmar sua verdadeira diferença (ROUDINESCO, 2000, p. 13-14).

Depreendemos que nas suas relações a pessoa procura evitar a angustia, através muito mais de estratégias de normalização e fuga que de enfrentamento do vazio que fulmina as relações sociais e afetivas. Discernir a evolução desse sofrimento e o modo como afeta o trabalho é um aspecto importante dos estudos sobre a psicopatologia do trabalho. Para muitas pessoas, o trabalho pode ser pesado, exaustivo, obrigatório e meio

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de sobrevivência, não há satisfação e prazer. Somado a isso, as políticas internas da organização de estruturação das práticas, as políticas de pessoal, a rotina massificante, as dificuldades nos relacionamentos, a ausência de momentos de lazer repercutem nas subjetividades e podem ocasionar problemas de ordem física, emocional ou social. Os problemas mais comuns são: estresse, irritabilidade, depressão, ansiedade, distúrbios de sono, etc.

Aprofunde o assunto através da leitura do artigo de SELIGMANN-SILVA, Edith. Psicopatologia no trabalho: aspectos contemporâneos. Disponível em: <http://www.prt18. mpt.gov.br/eventos/2006/saude_mental/anais/artigos/Edith_Seligmann_Silva.pdf>. Acesso em: 16 julho 2009.

O trabalhador pode fazer muito por si mesmo no seu ambiente de trabalho, porém a organização deve preocupar-se com a qualidade de vida de todos os seus integrantes, desenvolvendo ações que promovam o bem-estar e crescimento profissional. Uma ação interinstitucional é necessária diante dos graves problemas de saúde que atingem os trabalhadores. Vamos finalizar a nossa aula. Assista ao vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=rUWqQZMyK7M

QUESTÃO para reflexão Como evitar que as pessoas não sejam manejadas no ambiente organizacional na mesma lógica que os recursos materiais o são?


Nesta aula refletimos sobre a importância das emoções e afetos no cotidiano do trabalho e analisamos as manifestações afetivas no ambiente de trabalho. Na próxima aula discutiremos sobre a motivação humana e as suas principais abordagens.

LEITURA indicada

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Síntese

SELIGMANN-SILVA, Edith. Psicopatologia no trabalho: aspectos contemporâneos. Disponível em: <http://www.prt18.mpt.gov.br/eventos/2006/saude_mental/anais/ artigos/Edith_Seligmann_Silva.pdf>. Acesso em: 16 julho 2009.

Sites Indicados http://www.guiarh.com.br/pp128.htm http://www22.sede.embrapa.br/publicacoes/balsoc2000/ssmedt.htm http://www.msd-brazil.com/msd43/m_manual/mm_sec6_64.htm FORBES, Jorge. Solidão dos executivos: líderes. Disponível em: <http://www.jorgeforbes.com.br/br/contents.asp?s=23&i=54>. Acesso em: 16 julho 2009.

referências BASTOS, Antonio Virgilio Bitencourt. Cognição nas organizações de trabalho. In. ZANNELI, Jose Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo; BASTOS, Antonio Virgilio Bittencourt. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

FREUD, S. O mal-estar na civilização. Rio Janeiro: Imago, 1930.

GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.

GONDIM, Sonia Maria Guedes; SIQUEIRA, Mirlene Maria Matias. Emoções e afetos no trabalho In: ZANNELI, Jose Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo; BASTOS, Antonio Virgílio Bittencourt. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

SIBILIA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

SIQUEIRA, Mirlene Maria Matias; GOMIDE JUNIOR, Sinésio. Vínculos do individuo com o trabalho e com a organização. In: ZANNELI, Jose Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo; BASTOS, Antonio Virgilio Bittencourt. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

ROUDINESCO, Elisabeth. Por que a psicanálise? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

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Autor(a): Cláudia Vaz “O alcance da promessa

O salto do desejo

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AULA 08 - A motivação no trabalho

O agora e o infinito

Só o que me interessa” Lenine

Olá!

Nas aulas anteriores refletimos sobre a importância das emoções e afetos no cotidiano do trabalho. Nesta aula discutiremos sobre a motivação, processo psicológico básico, que na complexidade da vida organizacional é assunto muito discutido por pesquisadores da psicologia organizacional, administração, entre outros. Para iniciarmos é preciso refletir sobre as seguintes questões:

O que é motivação? O que motiva você? Existem situações que exigem um esforço maior para alcançar o que deseja? Quais são?

A motivação é o que desperta, mantém, orienta e demarca o nosso comportamento. É uma força que nos impulsiona a buscar, perserverar, sustentar, criar estratégias para alcançar e atingir metas. A motivação é intrínseca, ou seja, é impulsionada internamente e constitui a base para buscar a novidade, o desafio, o envolvimento e a satisfação. Não resulta de treino, instrução, mas pode ser influenciada pela ação do outro. Como exemplo, podemos citar a situação de um aluno motivado em sala de aula que demonstra envolvimento no processo de aprendizagem, engaja-se nas tarefas, faz uso de estratégias, esforça-se, desenvolve novas habilidades, apresenta entusiasmo, e orgulha-se da superação dos desafios. Neste contexto, temos o estilo motivacional do/a professor/a que está, de acordo com as suas crenças, confiança e estratégias de ensino e motivação interagindo com esse aluno e facilitando a sua autonomia.

Fonte: http://www.sxc.hu/photo/1195959

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A motivação envolve uma discussão sobre necessidade, que produz uma tensão, novos estímulos e ações, como também, é associada a outros conceitos como satisfação, comprometimento e envolvimento no trabalho que dificultam sua delimitação teórica no campo de estudos do comportamento organizacional. Gondim e Silva (2004) esclarecem que os conceitos citados acima estão relacionados à motivação, entretanto existem especificidades, pois satisfação, como analisado na aula anterior, refere-se ao nível de contentamento com as relações entre chefe e colegas, com o sistema de recompensas, remuneração e trabalho realizado. O envolvimento está atrelado à identificação e à afinidade com o trabalho realizado e o comprometimento organizacional refere-se aos afetos dirigidos ao trabalho e ao contexto organizacional. A motivação, para Gondim e Silva (2004), é definida como ação dirigida a objetivos, auto-regulada, biológica ou cognitivamente, persistente no tempo e ativada por um conjunto de necessidades, emoções, valores, metas e expectativas.

Motivação: ênfase, foco, pergunta e resposta

Os seguintes aspectos: ênfase, foco, pergunta e resposta, envolvidos no conceito de motivação repercutiram na construção de teorias sobre esse processo psi-

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cológico. A ênfase envolve ativação, direção, intensidade e persistência como pontos importantes para compreender a motivação; o foco é o objeto de atenção; a pergunta envolve indagações a respeito da escolha do alvo, da intensidade da motivação e a resposta abrange o nível de compreensão que se deseja obter. De acordo com Robbins (2002), a motivação é um processo responsável pela intensidade, direção e persistência de esforços para o alcance de uma meta. Intensidade diz respeito à medida do esforço que a pessoa despende em direção aos objetivos da organização. A qualidade e a persistência são medidas que apontam quanto tempo uma pessoa consegue manter-se motivada para que os objetivos sejam atingidos. Nas décadas de 40, 50 e 60 desenvolveram-se importantes teorias da motivação: Teoria das Necessidades de Maslow (1943), Teoria das Necessidades (afiliação, poder e realização) de McClelland (1953), a Teoria ERC (existência, relacionamento e crescimento) de Aldefer (1969), a Teoria bifatorial de Herzberg, Mausner e Snyderman (1959), entre outras. As antigas teorias fundamentam as teorias contemporâneas sobre motivação e os conceitos ainda são utilizados para explicar a motivação.

Três modelos de classificação das teorias da motivação

As teorias da motivação podem ser organizadas em três modelos de classificação, de acordo com os estudos de Gondim e Silva (2004), que esclarecem que o primeiro modelo da classificação divide as teorias da motivação em dois grupos: teorias de conteúdo que explicam a motivação a partir das necessidades/carências e teorias de processo que entendem a motivação como um processo de tomada de decisão que abrangem as percepções, objetivos, expectativas e metas pessoais. As mais conhecidas


de processo explicam o processo pelo qual a conduta inicia-se, mantém-se e termina. Neste grupo, desponta a teoria de Vroom. O segundo modelo de classificação postula uma outra dimensão de diferenciação entre as teorias da motivação, em razão das referências ao reforço da conduta e à cognição. De acordo com esse modelo, é possível estabelecer uma relação entre a motivação e o que ocorre depois da ação (reforço) ou na mente da pessoa que decide agir (cognição). O terceiro modelo de classificação enfatiza a motivação como uma

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são a Teoria de Maslow, a Teoria de McClelland, entre outras. As teorias motivacionais

teoria da ação. Vamos conhecer algumas dessas teorias que são mais referidas no manuais que tratam do tema:

Teoria das Necessidades de Maslow - Teoria da Hierarquia das Necessidades (1943):

De acordo com essa teoria, as necessidades humanas têm origem biológica e estão dispostas em uma hierarquia. O autodesenvolvimento e a capacidade de realização fazem parte desse conjunto, mas para isso é preciso que as necessidades básicas, como as necessidades fisiológicas e de segurança sejam satisfeitas e as necessidades sociais e de estima sejam motivadoras da conduta humana. A autorrealização para Maslow é o maior estágio que a pessoa pode alcançar. É sempre singular.

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Foto de Steve Ford Elliott - fonte: http://www.sxc.hu/profile/SteveFE

Maslow procurou difundir o movimento da psicologia Humanista e conferir-lhe um grau de respeitabilidade acadêmica. Ele estudou uma pequena amostra de pessoas saudáveis psicologicamente a fim de determinar de que maneira diferiam das pes-

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soas com saúde mental comprometida. A partir desse estudo, Maslow desenvolveu uma teoria da personalidade que enfatizava a motivação para crescer, desenvolver-se e realizar-se a fim de concretizar de modo pleno as capacidades e potencialidades humanas (SCHULTZ; SCHULTZ, 1981). O método de pesquisa e os dados de Maslow foram criticados em razão da pequena amostra pesquisada e dos critérios subjetivos de escolha dos sujeitos. Sobre isso, Schultz e Schultz (1981, p. 397) confirmam: “apesar da sua popularidade entre os lideres de negócio, a teoria tem um baixo grau de validade cientifica e uma aplicabilidade apenas limitada ao mundo do trabalho.”

Teoria ERC (existência, relacionamento e crescimento) de Aldefer (1969) Aldefer, no final da década de 60, a partir da teoria de Maslow, redefiniu as cinco necessidades hierarquizadas e as agrupou em três (GONDIM; SILVA, 2004): Existência (E) - necessidades fisiológicas e de segurança. Relacionamento (R) - necessidades sociais e de estima. Crescimento (C) - necessidade de auto-realização.

Para Aldefer não há uma hierarquia como foi apontada por Maslow, pois a motivação da conduta humana não obedece a um único sentido, o progressivo. As necessidades de nível baixo promovem o desejo de satisfazer as necessidades do nível mais alto; mas múltiplas necessidades operam ao mesmo tempo motivando a conduta humana e provocando sentimentos de frustração pela não satisfação da necessidade.


A teoria de McClelland afirma que há três tipos de necessidades: poder, afiliação e realização que são inter-relacionadas e se apresentam em níveis de intensidade variados de acordo com o perfil psicológico da pessoa e os contextos dos seus processos de socialização. Gondim e Silva (2004, p. 151) esclarecem:

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Teoria das Necessidades (afiliação, poder e realização) de McClelland (1953)

Quando a necessidade de auto-realização prepondera, a pessoa evidencia alta motivação para a auto-realização e a busca de sua autonomia, assumindo, inclusive, desafios realísticos no trabalho e lutando continuadamente pelo seu sucesso pessoal. Quando a necessidade mais forte é a da afiliação, a pessoa centra sua atenção na manutenção de seus relacionamentos interpessoais, muitas vezes em detrimento de seus interesses individuais. Estar mais próximo do outro e ser aceito por ele é o que orienta sua ação. Por último, quando a necessidade de poder é a que está mais desenvolvida, a pessoa se sente motivada pelo desejo de influenciar, reorientar e mudar as atitudes e as condutas alheias.

Percebemos que para compreender a motivação é preciso analisar os arranjos entre os três tipos de necessidades de McClelland que destacou ainda que o comportamento não é aleatório, está relacionado aos grupos, aos processos de socialização e à cultura.

Teoria bifatorial de Herzberg, Mausner e Snyderman (1959) Esta teoria foi formulada a partir da investigação sobre o que as pessoas desejam do seu trabalho, destacando o que promovia bem-estar ou mal-estar nesse contexto. Depois de categorizadas, as respostas foram separadas pela relação direta com a satisfação e insatisfação no trabalho. De acordo com Robbins (2002), as pesquisas de Herzberg apontam que o oposto da satisfação não é a insatisfação, pois a eliminação das características de insatisfação de um trabalho não o torna necessariamente satisfatório. [...] os fatores que levam a satisfação com o trabalho são diferentes e separados daqueles que levam a insatisfação. [...] as condições em torno do trabalho, como a qualidade da supervisão, a remuneração, as políticas da empresa, as condições físicas de trabalho, o relacionamento com os outros e a segurança no emprego foram caracterizados por Herzberg como fatores higiênicos. Quando elas são adequadas, as pessoas não se mostram insatisfeitas, mas também não estão satisfeitas (ROBBINS, 2002, p. 155).

A motivação das pessoas no trabalho, de acordo com Herzberg deverá incidir nos fatores intrínsecos ao trabalho, ou seja, aqueles associados com o trabalho em si ou nos resultados diretos dele, como as oportunidades de crescimento pessoal, reconhecimento, responsabilidade e realização.

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Fatores higienicos

fatores de motivação

extrinsecos ao trabalho

intrinsecos ao trabalho

Política da empresa

Realização

Supervisão

Reconhecimento

Salários

O trabalho

Condições de trabalho

Responsabilidade

Relacionamento com os colegas

Crescimento

A teoria de Herzberg foi muito divulgada e, também criticada por vários motivos, como: não há uma medida geral para satisfação; as variáveis situacionais são ignoradas; não há relação entre satisfação e produtividade. A partir dos estudos de Kanfer que considerou as teorias de Maslow, Aldefer, McClelland, Herzberg como teorias baseadas no conceito de necessidade e insuficientes para a orientação da conduta humana, Gondim e Silva (2004) explicam que apenas a identificação da necessidade não promove a ação, pois às vezes a pessoa não dispõe de informações que a encaminhem para a satisfação da sua necessidade. Podemos acreditar que uma pessoa apresente um desempenho ruim

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no trabalho porque não se sinta aceita por sua equipe e concluir que ela precisa suprir tal necessidade para melhorar sua performance, mas este reconhecimento não traz implícito quais seriam os passos para conseguir tal aceitação. (GONDIM; SILVA, 2004, p. 153)

As ações seriam sempre consequência de fatores internos e desse modo, não conseguiríamos redirecionar a motivação de uma pessoa, pois a intervenção externa não provocaria mudanças.

TEORIA DAS EXPECTATIVAS Uma teoria bem difundida e aceita é a Teoria das Expectativas de Vroom concebe a motivação como uma força de natureza emocional e consciente que é ativada no momento em que a pessoa é levada a escolher entre diversos planos de ação (GONDIM; SILVA, 2004). A força dessa escolha estaria relacionada às expectativas individuais e à avaliação subjetiva das consequências. Podemos citar como exemplo, uma pessoa que deseja uma promoção e constrói a expectativa que o resultado do seu trabalho resultará numa boa avaliação do seu desempenho, que esta avaliação irá oferecer-lhe recompensas e o alcance do que deseja. Para Gondim e Silva (2004) na teoria de Vroom, as pessoas decidem sobre suas ações de modo instrumental, maximizando o prazer e ganhos e minimizando as perdas e o desprazer. A escolha resultaria de três conceitos: Valência, instrumentalidade e expectancia.


Valência

sinta atração ou repulsa, por exemplo, por uma promoção” (GONDIM; SILVA, 2004, p. 153). Clareza da relação entre a ação a ser empreendida e a

Instrumentalidade

obtenção do resultado esperado; Relação percebida entre esforço e rendimento; clareza

Expectância ou expectativa

de que os esforços concretizarão os objetivos desejados (GONDIM; SILVA, 2004).

85 psicologia e comportamento

Sentimentos acerca dos resultados, importância atribuída aos resultados obtidos; “é o que faz com que uma pessoa

A valência, a instrumentalidade e as expectativas sofrem as restrições do ambiente, assim como é importante enfatizar que não há um princípio universal que explique a motivação das pessoas. Esta teoria procura compreender os objetivos de cada pessoa, a relação entre esforço e desempenho, desempenho e recompensa e recompensa e alcance de metas pessoais. Para o autor, uma pessoa irá esforçar-se bastante no trabalho se perceber que existe uma forte relação entre esforço e desempenho, desempenho e recompensa e recompensa e satisfação de metas pessoais. A relevância das teorias está em compreender o alcance e as limitações de cada uma delas, pois não são modelos que explicam universalmente o comportamento humano ou resolvem os problemas enfrentados numa organização quanto à satisfação, produtividade e comprometimento no trabalho.

Foto de Ophelia Cherry fonte: http://www.sxc.hu/profile/ophelia

As teorias fornecem subsídios importantes para a realização de intervenções efetivas com o objetivo de motivar as pessoas, como também refletir sobre o pacto que envolve a relação da pessoa com a organização, os vínculos e o desempenho. As diferentes teorias motivacionais não podem ser concebidas como soluções fáceis para a compreensão da amplitude da disposição de determinada força de trabalho. A concepção da necessidade e integração de diferentes teorias, entendidas como complementos que auxiliam na visibilidade do quadro motivacional de determinado agrupamento humano, aparece apontar a tendência de os teóricos desse tema perceberem, cada vez mais, as diferentes facetas e circunstâncias que acompanham o fenômeno da motivação (GONDIM; SILVA, 2004, p. 173).

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Identificar os fatores que são motivadores para as pessoas no ambiente do trabalho em determinada circunstância e intervir de modo efetivo é necessário, como também é importante estar atento à relação entre motivação e desempenho no trabalho, aspecto que envolve uma discussão sobre o significado do trabalho para a pessoa que o realiza, a história de vida, as identidades assumidas, o sistema de recompensas, as punições, as relações interpessoais, o estilo de liderança e a relação entre os objetivos pessoais e os organizacionais. Atualmente, as discussões sobre motivação e satisfação no trabalho foram ampliadas através das questões que envolvem o conceito de Qualidade de Vida no Trabalho. Este conceito baseia-se numa visão integral das pessoas, com ênfase no grau de satisfação da pessoa com a empresa, condições ambientais e promoção da saúde, origina-se da medicina psicossomática, que propõe uma visão integrada ou holística do ser humano. A promoção da Qualidade de Vida no Trabalho é estratégica, pois os impactos da baixa qualidade de vida do trabalhador na produtividade não podem ser desconsiderados. Um aspecto importante é a satisfação no trabalho que decorre, entre outras coisas, das relações interpessoais agradáveis e produtivas.

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Nesta aula analisamos a motivação humana, os modelos de classificação e as principais teorias. Percebemos que existem diversas concepções sobre o tema e que o estudo de cada uma das abordagens proporciona a compreensão do ser humano nas dinâmicas intrapessoais e interpessoais no mundo do trabalho. Saudações afetuosas!

QUESTÃO PARA REFLEXÃO E você, está motivado para o estudo, o trabalho? O que mais proporciona o seu envolvimento e satisfação?

Leitura indicada GONDIM, Sonia Maria Guedes; SILVA, Narbal. Motivação no trabalho. In. ZANNELI, Jose Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo; BASTOS, Antonio Virgilio Bittencourt. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

Sites Indicados http://www.portaldomarketing.com.br/artigos/estrategias%20para%20 motivacao%20e%20desenv%20de%20carreiras.htm. Maslow - www.maslow.org


GONDIM, Sonia Maria Guedes; SILVA, Narbal. Motivação no trabalho. In. ZANNELI, Jose Carlos; BORGESANDRADE, Jairo; BASTOS, Antonio Virgílio Bittencourt. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

ROBBINS, Stephen Paul. Comportamento organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

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Referências

SCHULTZ, Duane; SCHULTZ, Sydney Ellen. História da psicologia moderna. São Paulo: Cultrix, 1981.

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