ANO 1 - Nยบ 4 - 2013
EXPRESSร ES
DA LINGUAGEM
Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Bens Culturais
Equipe de Produção deste número Coordenadores Profa. Dra. Zilá Bernd Profa. Dra. Luciana Éboli
Redatores Alunos da Disciplina de Oficinas de Linguagens Culturais e suas formas de Expressão 2013/1
Revisão, Arte, Diagramação Breno Lacerda
Foto da capa Margela Arnold
EDITORIAL
A
Revista Memória e Linguagens Culturais é uma publicação semestral de divulgação científica vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Bens Culturais. Seu objetivo é veicular
as produções discentes realizadas no âmbito das disciplinas de Mobilidades Culturais e dos seminários: Itinerários Culturais e Oficina de Linguagens Culturais e suas formas de Expressão. Em formato de magazine, é um canal de comunicação entre as produções de alunos de mestrado e a comunidade. Sua linha editorial propõe: (1) reflexões e sugestões de itinerários, percursos, rotas e linguagens culturais, buscando integrar o sistema dinâmico de relações entre história, turismo e patrimônio cultural; (2) apresentação de estudos de caso e estudos críticos de itinerários culturais e rotas de interesse cultural existentes ou em fase de elaboração; (3) estudos de caso de mobilidades culturais – espaciais, temporais, discursivas e linguísticas; e (4) análises críticas da noção de mobilidade cultural em contextos de globalização e/ou de fronteira, marcados por fluxos migratórios, transferências e choques culturais. O público-alvo das publicações é composto por estudantes, professores e profissionais da área de atividades artísticas, humanísticas, turísticas, recreativas e desportivas. A distribuição dos números semestrais é em formato digital e a veiculação e promoção das edições digitais da Revista se dá através da Página do Mestrado em Memória Social e Bens Culturais do Unilasalle pela URL http://www.unilasalle.edu.br/canoas/pagina.php?id=5719. Os temas apresentados nesta edição, intitulada EXPRESSÕES DA LINGUAGEM, envolvem vários tipos de expressão das linguagens culturais, artísticas e comunicacionais, como: a fotografia; a literatura; a comunicação interna nas empresas, com enfoque nas diferenças geracionais dos empregados; os aspectos de criatividade e hibridação no Festival Nativista Carijo da Canção Gaúcha; as dificuldades da comunicação verbal em região do Rio Grande do Sul povoada por imigrantes japoneses e alemães; o consumismo produzido através da linguagem publicitária. Além dessas formas de expressão, apresenta-se um artigo teórico que caracteriza a forma da linguagem através do hipertexto. Esse número da revista é fruto das discussões e indagações levantadas ao longo do seminário Oficina de Linguagens Culturais e suas formas de Expressão, que teve como proposta as variadas apresentações e reflexões acerca do tema. As referências teóricas dão um panorama das inúmeras possibilidades de análise suscitadas pelas linguagens culturais, sobretudo quando abrimos o foco para as áreas diversas de expressão da linguagem. Temos, assim, enfoques a partir de Mikhail Bakhtin, Néstor García Canclini, Fayga Ostrower, Walter Benjamin, Susan Sontag, Pierre Lévy, Henry Jenkins, Darcy Ribeiro, entre outros teóricos. Os textos contêm instigantes ilustrações e referências bibliográficas e digitais, que permitem ao leitor ir além da análise, ultrapassar as fronteiras dos artigos propriamente ditos e lançar novos olhares aos temas em questão.
Editoras e professoras de Linguagens Culturais e suas formas de Expressão Profa. Dra. Luciana Éboli É professora do Mestrado em Memória Social e Bens Culturais e do Curso de Letras do UNILASALLE, onde coordena o grupo de pesquisa Cultura e Linguagens Artísticas. Possui Doutorado (2010) e Mestrado (2007) em Letras - Teoria da Literatura pela PUCRS, Bacharelado em Artes Cênicas - Direção Teatral pela UFRGS (1997). Realizou estágio de doutoramento na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Atualmente tem bolsa de pesquisa ARD- Fapergs.
Profa. Dra. Zilá Bernd Professora do Mestrado em MSBC do Unilasalle, do PPg-Letras/UFRGS e bolsista
PQ/CNPq.
É
presidente
pro
tempore
da
Abecan
e
editora
assistente da Revista Interfaces Brasil-Canadá (A1). Possui Licenciatura em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul -UFRGS (1967), mestrado em Letras pela mesma Universidade (1977) e doutorado em Letras (Língua e Literatura Francesa) pela Universidade de São Paulo (1987). Fez pós-doutorado na Université de Montréal (Canadá) em 1990.
SUMÁRIO
1. Vozes sociais na polifonia de “Ópera”, poema de Edimilson de Almeida Pereira ......................................................................................................................................06 Breno Lacerda, Juliane Zilio M. Flores, Plínio José Borges Mósca 2. Criatividade e hibridismo no Festival nativista Carijo da Canção Gaúcha ............11 Tania Rodrigues Soares, Alini Hammerschmitt, Kellen Cristina V. Lazzari, Vania Gondim 3. Grafia do olhar: fotografia como expressão de sensibilidade ................................17 Leandro da Silveira Lopes, Margela Arnold 4. Comunicação verbal de imigrantes japoneses nas Cidade das Flores ...................24 Diva Maria Peter, Olgaires Schneider 5. Dialogando com as diferentes gerações ....................................................................30 Katherine Minella, Lília Sabrina da Cunha 6. Linkando o passado e o futuro: a evolução e as aplicações dos hipertextos.........34 Alexandre Moroni, Cássia Bethânia Gröess de Souza Barbosa, Claudiane Ramos Furtado, Sheila Beatriz Ost 7. Consumismo produzido através da linguagem publicitária ...................................38 Alana da Fonseca Jorge, Fernanda dos Santos Flores
Publicitária
Vozes sociais na polifonia de “Ópera” “Ópera”,, poema de Edimilson de Almeida Pereira
U
ma das vozes mais significativas
Segundo a revista Orobó, em alguns
da literatura afro-brasileira con-
de seus poemas, Edimilson demonstra a
temporânea, o juiz-forano Edimilson de
intenção de fazer da poesia uma casa dos
Almeida Pereira nos apresenta o surpre-
outros todos sem casa no mundo das ex-
endente “Ópera”, publicado recentemen-
clusões, sendo o poema “Ópera” é um be-
te na revista eletrônica Orobô1.
lo exemplo disso. Nele várias vozes sociais se entrecruzam num tecer poético.
Foto que ilustra poema no site de que :www.algumapoesia.com.br . foi retirado. ele
A poesia de Edimilson tem múltiplas faces. Em vários momentos,
a poesia de
Edimilson assume um tom de fala popular. A presença do negro do interior mineiro é marcante. Sua obra poética inclui os livros Árvore dos Arturos & outros poemas. (1988), Corpo imprevisto & Margem dos nomes (1989), Corpo vivido: reunião poéti-
Edimilson de Almeida Pereira
ca (1991), entre outros livros.
Professor de literatura na Universidade Federal de Juiz de Fora, Pereira coleciona títulos universitários: é mestre em literatura e em ciência da religião e doutor em comunicação e cultura. Em poesia, estreou em 1985, com o livro de poesias Dormundo, de lá para cá, já publicou quase duas dezenas de livros.
Para o crítico Gilvan Ribeiro, Edimilson de Almeida Pereira estabelece equilíbrios, em sua poesia, "entre a negritude afetiva, ancestral, num certo sentido quase cósmica, e o mundo branco, com toda a ambígua carga de opressão e atração, de cativeiro e libertação que contém; entre o menino pobre e negro e o intelectual celebrado e admirado que descobriu" (2003, p. 3).
1
http://revistaorobo.blogspot.com.br/2013/03/um-poema-de-edimilson-de-almeida-
Bakhtin e suas múltiplas vozes
O pensador e filósofo
mais de uma perspectiva,
russo Mikhail Bakhtin (1895 -
mais de um posicionamento
1975 ) fez muitos estudos so-
diante dos fatos, dos aconte-
bre
cimentos, diante do que é di-
a
linguagem
humana.
Dentre as suas teorias, desta-
to.
ca-se a Polifonia. Segundo o pensador russo, polifonia é a
Bakhtin fala também de
presença de outras vozes, de
dialogismo. Para ele, os textos
outros textos dentro de um
são dialógicos porque resultam
texto. O termo ‘Voz’, na con-
do embate de muitas vozes so-
cepção Bakhtiniana, é usado
Mikhail Bakhtin
ciais. Dialogismo é definido por
para se referir à consciência
Bakhtin como processo de inte-
falante presente nos enuncia-
ração entre textos que ocorre
dos. A característica básica dessa consci-
na presença das múltiplas vozes (polifonia). O
ência falante é que ela sempre carrega um
texto dessa forma não é visto de forma isola-
juízo de valor, uma visão de mundo. No tex-
da, é preciso observar as correlações existen-
to de Edimilson, percebe-se a presença de
tes entre este texto e os outros. A interlocução
várias vozes.
é, pois, um espaço dialógico.
O poema de
Edimilson apresenta um processo dialógico, O termo polifonia, empregado na mú-
pois, segundo Tezza (1988, p.55) ”nossas pa-
sica para nomear a multiplicidade de sons
lavras não são ‘nossas’ apenas; elas nascem,
de uma peça musical, se refere à possibili-
vivem e morrem na fronteira do nosso mundo
dade de que um autor tem de fazer valer
e do mundo alheio; elas são respostas explíci-
várias vozes, vários pontos de vista no seu
tas ou implícitas às palavras do outro, elas só
texto. Assim, um texto polifônico é aquele
se iluminam no poderoso pano de fundo das
em que se pode depreender a presença de
mil vozes que nos rodeiam” .
O
TERMO
‘VOZ’,
NA CONCEPÇÃO
BAKHTINIA-
NA, É USADO PARA SE REFERIR À CONSCIÊNCIA FALANTE PRESENTE NOS ENUNCIADOS.
A
CARACTERÍS-
TICA BÁSICA DESSA CONSCIÊNCIA FALANTE É QUE ELA SEMPRE CARREGA UM JUÍZO DE VALOR, UMA VISÃO DE MUNDO.
A polifonia em “Ópera” O poema “Ópera“ está divido em
A voz da operária faz referência à líder política e filósofa Rosa de Luxemburgo
três partes: 1ª O FILHO DO OPERÁRIO
que foi uma das principais revolucionárias mar-
2ª ROSA, DISTANTE AMIGA
xistas do século XIX.
3ª UM OPERÁRIO LÊ Na primeira parte, temos a presença da voz do eu lírico, um menino – o filho do operário. Na segunda parte: Rosa, Distante Amiga, temos a voz da operária e uma outra voz em terceira pessoa (eu lírico). Na voz da operária é possível perceber um discurso ideológico, mas não
.. tivéssemos amado a rosa de Luxemburgo. A beleza nesse conflito é triste: apenas mulher....
panfletário. Esta é a voz do oprimido. Para Bakhtin, a polifonia “pressupõe uma multiplicidade de vozes plenivalentes nos limites de uma obra” literária (2005: 35), ou seja, os personagens e as vozes que eles representam não estão meramente a serviço de uma única ideologia ou de uma única visão dominante, pois O
...cada personagem funciona como um ser autônomo, exprimindo suas próprias vivências. Dessa forma, pouco importa se as ideologias coincidam ou não com as do próprio autor da obra. A polifonia ocorre, pois, quando cada personagem fala com a sua própria voz, expressando seu pensamento particular, de tal modo que, existindo n personagens, existirão n posturas ideológicas. (LOPES 2003: 74).
A referida líder participou na fundação do grupo de tendência marxista que viria a tornar-se, mais tarde, o Partido Comunista Alemão. Foi assassinada brutalmente e teve seu corpo jogado em um Rio na Alemanha. Essa referência mostra-se no âmago do discurso e nos permite encontrar aqui a emissão de ideias, de valores, de ideologias, de diferentes vozes (voz da operária, voz da revolucionária marxista) significativas e ideológicas.
Segundo Bakhtin, nossos enunciados es-
O conteúdo histórico, social e ideoló-
tão repletos de palavras dos outros (como
gico, não fica fora do conceito de polifonia
há neste texto). As coisas a que fizemos re-
bakhtiniano. Para Bezzerra (2012, p.192) a
ferências são resultados de nossas leituras
reificação do homem surge com a divisão de
(orais/escritas)
classes. Essa coisificação das relações soci-
anteriores.
Dessa
forma,
sempre que proferimos um discurso, esta-
ais é visível na voz da líder operária:
mos sendo influenciados por inúmeras fontes. Essa troca de conhecimentos é impor-
...gado se alinha com roupa sport,
tante para a nossa formação cultural e, evidentemente, social. É no âmago do discurso que encontramos a emissão de ideias, de
os homens com argolas ao nariz.
valores, de ideologias, de diferentes vozes significativas e ideológicas.
Bezerra (2012, p.193), ao comentar os Mais adiante, no poema, a voz da operá-
conceitos de Bakhtin, diz que o capitalismo
ria usa a primeira pessoa do plural, trazendo
produz vozes e consciências que resistem à
mais vozes para seu discurso, mais vozes
condição humana de mero objeto.
femininas, vozes oprimidas: “Nós não tocamos o céu de Luxemburgo, somos a rosa...”
As vozes que participam do processo dialógico em “Ópera” são sociais, representam o discurso do oprimido da classe operária. Na terceira parte do poema, um operá-
Foto que ilustra poema no site de que ele foi retirado.
rio lê,
.... U m livro de poemas sobre operários e lamenta: – Não nos conhecem. Vão às colunas de tebas, ao inferno, os poetas.
É possível observar que, inicial-
Essas são as várias vozes que
mente, há uma voz em 3ª pessoa, mas
dialogam no poema de Edimilson. Quando
que, em seguida, essa voz, quando diz
uma voz faz uma enunciação, não a faz só,
“Não nos conhecem...” também se coloca
pois esta voz que fala se junta a outras vo-
como operário. Esta voz faz referência à
zes que já falaram também aquele discur-
imagem de um operário lendo, refere-se
so, como é possível observar no discurso
à ilustração em um livro didático, essa
da operária líder, por exemplo. Essa mis-
ilustração representa uma outra voz den-
tura de vozes é polissêmica, ou seja, pos-
tre deste texto.
sui muitos significados.
Um operário lendo à porta da fábrica (coisa rara) ilustra os livros do ensino médio, rende trabalhos que servirão de fundo aos armários... Percebemos aqui uma crítica sobre
Assim, a enunciação é essencialmente polifônica, uma vez que é de natureza social, histórica e ideológica. A enunciação compõe uma rede complexa de interrelações dialógicas neste discurso de Edimilson, no qual temos uma constante inquieta movimentação de vozes sociais.
um tipo de ensino que não tem muita utilidade, uma vez que “rende trabalhos que servirão de fundo aos armários a utilidade do ensino.” Mais adiante ao dizer que “talvez o nome na capa multiplique o homem”, a voz das massas excluídas (operário) diz que a
Quando uma voz faz uma enunciação, não a faz só, pois esta voz que fala se junta a outras vozes que já falaram ele discurso ....
autoria (“.. o nome na capa...”) é importante pois marca a individualidade, já as vozes excluídas não são ouvidas, sem identidade, são apenas “outra peça da engrenagem”. O último verso inicia com a conjunção adversativa “No entanto” que exprime uma ideia de oposição ao que foi dito anteriormente, ou seja, mesmo que o leitor não se identifique com a leitura, ela traz reflexões, traz questionamentos.
Referenciais teóricos BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução de Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec. 1999. _______, Mikhail 2008. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense Universitária. 2008.
_______, Mikhail. Para uma filosofia do ato. Tradução de Carlos Alberto Faraco e Cristóvão Tezza. Disponível em: hletrasuspdownload.wordpress. com/2009/09/20/ livropara-uma-filosofia-do-ato/. BEZERRA, Paulo. Polifonia. In: BRAIT, Beth (org.). Bakhtin conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2012. LOPES, Edward. Discurso literário e dialogismo em Bakhtin. In: Dialogismo, polifonia, intertextualidade. São Paulo: Edusp. 2003. TEZZA, Cristovão. Discurso poético e discurso romanesco na teoria de Bakhtin. In: FARACO et al. Uma introdução a Bakhtin. Curitiba: Hatier, 1988.
Juliane Zilio Marto Flores Graduada em Turismo pela PUCRS. Mestranda em Memória Social e Bens Culturais no UNILASALLE. Professora na Faculdade La Salle-Estrela.
AUTORES
Breno Lacerda
Plínio José Borges Mósca
Graduado em Letras pela FAPA, Especialista em Ensino de Língua e Literatura (FAPA), Mestrando em Memória Social e Bens Culturais no UNILASALLE. Professor da Faculdade La Salle de Estrela.
Graduado no Curso Superior de Tecnologia em Produção Cênica das Faculdades Monteiro Lobato. Diretor e professor de teatro. Tradutor. Mestrando em Memória Social e Bens Culturais.
Criatividade e hibridismo no Festival Nativista Carijo da Canção Gaúcha
O Carijo, a cada ano, então renasce Como erva boa pra um mate de primeira Ergue o Rio Grande no girau da poesia E ceva o mate da amizade na palmeira.
O
Rômulo Chaves
festival Carijo da Canção Gaú-
De acordo com seu regulamento, o Carijo
cha ocorre anualmente no muni-
da Canção Gaúcha tem entre seus objetivos
cípio de Palmeira das Missões desde maio
principais promover “[...] um resgate dos va-
de 1986, cujo patrono permanente é o histo-
lores históricos e culturais” (28º CARIJO DA
riador, escritor e professor Mozart Pereira
CANÇÃO GAÚCHA, 2013, p.1). Segundo a
Soares, autor do nome do festival. Desde
página oficial da Prefeitura de Palmeira das
então, vem acontecendo de forma ininter-
Missões, a denominação de carijo deriva do
rupta e atinge sua 28ª edição. Em 2005, tor-
fato de que
nou-se Patrimônio Cultural do Rio Grande do Sul através da Lei Estadual nº. 12.282/05 (PREFEITURA DE PALMEIRA DAS MISSÕES, 2013).
Ilustração da estrutura da atividade de carijó Fonte: http:// maragatoassessoramento.blogspot.com.br/2011/03/ochimarrao.html
Este é o sistema mais antigo de produção da erva mate. É um jirau de varas toscas, horizontal ou em forma de cumeeira rasa, a um metro e meio ou pouco mais do solo, onde se colocam os feixes de erva-mate, já sapecados, para a secagem ao calor direto do braseiro que arde embaixo de toda extensão coberta. A distribuição do calor obriga as “rondas” do carijo a passarem as noites em vigilância emparelhando o braseiro com o auxílio de guampas d`água, atiradas de quando em quando sobre as labaredas mais altas [...]. Durante três noites completas, favorecem os causos, os desafios e até os romances (PREFEITURA DE PALMEIRA DAS MISSÕES, 2013, p. 1).
Nosso interesse está centrado no estu-
apenas o bugio e o contrapasso.
do do processo criativo e híbrido presentes no Carijo da Canção Gaúcha, além de ressaltar a
O processo de criação de uma música
continuidade do festival, caracterizando-se co-
nativista envolve inúmeras ideias, combina-
mo um dos mais antigos no gênero, fato que
ções, imprevistos, dúvidas, hipóteses, testa-
não ocorre com a maioria dos demais festivais
gens, enfim o artista sofre, inevitavelmente, a
nativistas do RS, pois muitos já sofreram inter-
influência do ambiente, do meio no qual vive,
rupções ao longo de suas edições, comprome-
do mundo que o rodeia. Podemos dizer que “o
tendo a credibilidade desta manifestação cultu-
processo de criação de uma obra é a forma do
ral.
artista conhecer, tocar e manipular seu caráter geral” (SALLES, 2004, p. 39). A música nativista foi buscar sua temáti-
ca no universo rural: o homem do campo, os
A mescla de instrumentos, melodias e
animais, as ativi-
pessoas é característi-
dades
pertinen-
ca dos festivais nativis-
tes ao cenário
tas, mas o Carijo da
campeiro,
bem
Canção Gaúcha, além
como nos fatos
de seguir a mesma es-
que marcaram a
trutura dos demais fes-
trajetória do po-
tivais existentes no es-
vo
sul-rio-
tado, tem como dife-
grandense, des-
rencial a associação
de seus habitan-
permanente
tes
com a temática da erva
primitivos,
até o processo de povoamento e
Troféus oferecidos aos vencedores do Carijo Fonte: http://www.comunitaria.com.br/fw/vernoticia.php? id=3789#
que
faz
mate e seus elementos correspondentes,
seja
a fixação do elemento humano; além disso, in-
sob a forma de tema, seja na denominação
troduziu elementos de reflexão, de diversidade
empregada às premiações. Assim, tem-se pre-
cultural, empregando ritmos importados de ou-
sente a fusão de aspectos tradicionais da ativi-
tras culturas.
dade campeira e a reflexão sobre temas universais juntamente com o passado histórico do
Conforme Pereira (2011), a música
Rio Grande do Sul, do município de Palmeira
nativista está dividida em três gêneros: euro-
das Missões e da produção de erva mate, con-
peu, sul-americano e sul-rio-grandense. A in-
figurando no ato criativo que, para Ostrower
fluência europeia contribuiu com ritmos como a
(2005), representa um ato intencional, a ação
chimarrita, valsa, polca, vaneira e mazurca; já
de um ser consciente, que pressupõe uma mo-
a corrente sul-americana trouxe a rancheira,
bilização capaz de gerar uma nova realidade,
toada, milonga e polca paraguaia, além do
uma nova obra, no caso a música nativista re-
chamamé e do rasquito-doble. E como repre-
presentativa do Carijo.
sentantes do gênero sul-rio-grandense tem-se
Especificamente, o Carijo da Canção
so. Verifica-se uma desvinculação dos modos
Gaúcha dá mostras de sua criatividade e hi-
culturais, em termos de espaço e tempo do
bridismo ao identificar suas premiações com
qual se originam, sendo transplantados a no-
a simbologia decorrente da atividade ervatei-
vos espaços e tempos, mas conservando al-
ra e seu produto principal, o histórico e repre-
guns dos seus traços originais; este é o pro-
sentativo chimarrão. Desse modo, foram cria-
cesso identificado como desterritorialização;
dos os troféus Erva Mate, Cevadura e Chi-
fato comprovado pela retirada dos elementos
marrão como símbolos da planta e da bebida
constitutivos do processo de elaboração da
dela oriunda; bem como os troféus que repre-
erva mate e implantados no âmbito do festi-
sentam os indivíduos envolvidos no preparo
val.
da erva mate: Sapecador (o responsável por passar as folhas na labareda, num primeiro processo de secagem), Cancheador (o que faz o cancheio, isto é, espalha a erva mate de forma parelha para a secagem), Tarefeiro (responsável pelo corte da erva, pessoa contratada para desempenhar uma determinada tarefa), Soque de Erva Mate (a erva era soca-
Ilustração da colheita da erva mate Fonte: http://maragatoassessoramento. blogspot.com.br/2011/03/o-chimarrao.html
da a pilão, de forma manual).
Verdadeiro salão social dos ervateiros, o Carijo, desde suas origens, foi um ritual festivo e competitivo, em que as noites de ronda se encurtavam com anedotas, chistes, causos, assombrações, os desafios rimados e os descantes ao som do violão ou da acordeona, animados a trago de canha (SOARES, 2013, p. 1).
Segundo Bernd (1998), por meio da
De acordo com Soares (2013), o corte,
hibridização, há uma separação dos elemen-
o sapeco, o cancheio, o soque e o acondicio-
tos de seu contexto original para uma posteri-
namento podem ser feitos somente por uma
or combinação com outros modos, vindo a
pessoa, já a secagem do carijo deve ser uma
se configurar em novas práticas do proces-
atividade coletiva uma vez que há risco de incêndio, pela presença do braseiro intenso; os olhos sofrem com o calor; e as chamas precisam ser controladas para que a erva não se queime, vindo a alterar o sabor do mate, e, para tanto, era necessário fazer uso de guampas com água para diminuir a intensidade das chamas, durante os três dias e noites de ronda no carijo. Essa transposição da atividade produtiva ervateira para o contexto do festival evidencia que não há uma uniformidade na hibridização, isto é, a mistura de elementos
que resulta numa nova manifestação cultural
“ouro verde das matas” espraiado pelas coxi-
não ocorre de modo linear e progressivo,
lhas da região. Ato contínuo, os seguidos
muito pelo contrário, apresenta altos e bai-
acampamentos foram se enraizando, para
xos, tendo na dinamicidade uma marca im-
logo se tornar a sede de um distrito, ocupan-
portante. Assim, para Canclini (2006), o modo
do uma extensão de 15 mil quilômetros qua-
como a hibridização funde estruturas ou práti-
drados, localizado entre Santa Bárbara do
cas para gerar novas práticas, às vezes não
Sul, Iraí, Passo Fundo e Santo Ângelo
é planejado ou é resultado casual; pois, com
(SOARES, 2013).
frequência, a hibridização surge da criatividade individual e coletiva que, no caso do festival, apresenta-se sob as duas formas.
As músicas levadas ao palco do Carijo concretizam o projeto dos idealizadores, abrangendo o Rio Grande do Sul como um
Conforme Schüler (1995), a hibridiza-
todo, em seu passado, presente e perspectiva
ção produz uma mistura de cores, ideias e
de futuro, bem como ressaltam o passado da
textos sem que haja a anulação de um ou ou-
comunidade palmeirense e sua ligação direta
tro item, verificando-se a renovação, como
com a erva mate, destacando-se sua ativida-
característica principal de um mundo em mo-
de produtiva, matéria prima para o chimarrão.
vimento. No caso do Carijo da Canção Gaúcha, observa-se, no presente, a reverência do
Com o objetivo de preservar a história
passado histórico e cultural de Palmeira das
do festival, o Centro Cultural de Palmeira das
Missões representando
Missões conta com um acervo das 27 edições já realizadas do Carijo da Canção Gaúcha
[...] a concretização de um novo diálogo entre a cidade e o campo, uma expressão singular de rurbanismo, em que o galpão, antes rude abrigo de servidores rurais, assumiu a condição de espaço humanizado para encontro entre todas as classes sociais, no ritmo fraterno do chimarrão e na fusão afetiva de tertúlias e fandangos (SOARES, 2013, p. 1).
disponibilizado em seu Salão de Atos. O conjunto do acervo contém registros fonográficos referentes a cada uma das edições em fitas cassetes, compact disc (cd) e disco vídeo digital (DVD), numa caracterização da evolução nas mídias disponíveis ao registro . Também o público pode ter contato com as letras que participaram de cada uma das edições do festival e não foram classifica-
A cidade de Palmeira das Missões das para integrarem as gravações, ficando copode ser considerada uma “filha da erva ma- mo parte do livro de registros das respectivas te”, uma vez que era conhecida como “Vilinha edições. Além de um vasto acervo fotográfico, do Erval”, reconhecido ponto de abastecimen- numa forma de perpetuar a memória do festito para os carreteiros oriundos de Cruz Alta e val, com seus organizadores, jurados, músique buscavam se recuperar da jornada com o cos, vencedores e público presente.
Criatividade e hibridismo caracterizam o
mento com características ímpares e dife-
festival nativista Carijo da Canção Gaúcha,
renciadas: o festival Carijo da Canção Gaú-
presentes em sua estrutura organizacional e
cha.
na própria manutenção, bem como na consolidação observada enquanto festival de música
Desse modo, sorver um mate com
nativista, cujo reconhecimento se dá pela pe-
erva de carijo representa um retorno às ori-
culiaridade de mesclar a cultura nativista com
gens, na relação entre trabalho e cultura
o processo de produção ervateira.
dos antepassados e um sabor de que um povo com história traz consigo uma identidade própria que o distingue dos demais.
O campo vive em mim Porque no campo eu nasci Não sei se ele me escolheu Ou fui eu que o escolhi Composição vencedora do 27º Carijo da Canção Gaúcha O campo vive em mim (milonga arrabalera) Letra e Música: Ramires Monteiro Intérprete: http://www.youtube.com/watch?v=P0VzIRNvpdQ
Capa do primeiro registro fonográfico do festival Fonte: Pesquisa, 2013
No instante em que o artista realiza a produção da letra e da melodia que irá participar do Carijo, manifesta-se o processo de criação que encontra sua consolidação na combinação da música nativista com a produção ervateira característica do município de Palmeira das Missões. De acordo com Canclini (2006), no processo de hibridismo, as estruturas ou práticas existentes de forma separada se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas, fato comprovado na estruturação do festival, através da união de dois elementos: produção de erva mate e música nativista, para gerar um terceiro ele-
REFERÊNCIAS BERND, Zilá. Escrituras Híbridas: Estudos em literatura comparada interamericana. Porto Alegre: Editora da Universidade, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1998. CANCLINI, Néstor García. Culturas Híbridas: Estratégias para entrar e sair da modernidade. Tradução Heloísa Pezza Cintrão, Ana Regina Lessa. Tradução da introdução Gênese Andrade. 4.ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006. 28º CARIJO DA CANÇÃO GAÚCHA. Disponível em: <http://www.carijo.com.br/index.php>. Acesso em: 30 abr. 2013. OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. Petrópolis: Vozes, 1984. PEREIRA, Juliano Amaral. Música Nativista do Rio Grande do Sul como fonte de informação. Porto Alegre: UFRGS, 2011. Monografia do Curso de Biblioteconomia. PREFEITURA DE PALMEIRA DAS MISSÕES. Carijo da Canção Gaúcha. Disponível em: < http:// www.palmeiradasmissoes-rs.com.br/index.php? option=com_content&task=view&id=4&Itemid=7>. Acesso em: 30 abr. 2013.
SALLES, Cecília, A. Gesto inacabado: processo de criação artística. 2.ed. São Paulo: FPESP: Annablume, 2004. SCHULER, Donaldo. Do homem dicotômico ao homem híbrido. In Bernd, Z.; De Grandis, R. (orgs). Imprevisíveis Américas: questões de hibridação cultural nas Américas. Porto Alegre: Sagra Luzzato/Abecan, 1995. p. 11- 20. SOARES, Mozart Pereira. A importância do Carijo do Rio Grande. Disponível em: < http://www.carijo.com.br/ index.php?menu=carijo>. Acesso em: 30 abr. 2013.
... sorver um mate com erva de carijo representa um retorno às origens, na relação entre trabalho e cultura dos antepassados e um sabor de que um povo com história traz consigo uma identidade própria que o distingue dos demais.
Autores:
Alini Hammerschmitt
Tanira Rodrigues Soares
Graduada em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda pela PUC/RS (2005). Atualmente é produtora na Pironauta Produções Culturais. Trabalha na área de Artes, com ênfase em Artes do Vídeo. Mestranda em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE.
Técnica em Assuntos Educacionais da UFRGS. Formada em História, com Especialização em Metodologia do Ensino Superior. Mestranda em Memória Social e Bens Culturais – UNILASALLE.
Kellen Lazzari
Vania Gondim
Advogada, Especialista em Direito do Consumidor pela UFRGS e Mestranda em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE. Membro da Pesquisa do Cnpq: Possibilidades e limites no rompimento do ciclo de violência contra mulheres.
Administradora da UFRGS. Formada em Administração de Empresas, com Especialização em Gestão Empresarial, Análise de Projetos Econômicos Financeiros e Qualidade e Produtividade. Mestranda em Memória Social e Bens Culturais – UNILASALLE.
Foto arquivo Escola Industrial Senador Alberto Pasqualini1961
Grafia do olhar: fotografia
como expressão de sensibilidades
O
guém, própria de quem enxerga o espaço público como um suporte possível para atitudes de cunho individualista. Punição, multas, e, quem sabe até, mais educação patrimonial, diríamos, são as formas clássicas de resolver o problema. Entretanto, o que foi tombado é ainda uma escola, por natureza o tipo de ambiente mais apropriado à livre manifestação de visões, ideias, sentimentos e
palco desse artigo está armado
expressões. É patrimônio, mas também uma
no bairro Hamburgo Velho, em
escola e tudo o que ela contém, incluindo
Novo Hamburgo. Ali funciona o Colégio Es-
seus espaços de contestação e transgres-
tadual Senador Alberto Pasqualini. Seu edifí-
são.
cio hoje se acha tombado como patrimônio
A possibilidade de reverter o quadro é
público. Basta, porém, um pequeno passeio
pensar em uma Educação diferenciada. A
pelo interior da escola para perceber que
Educação precisa ser pensada como meio
nem tudo ali é sinônimo de conservação.
de dialogar entre as experiências trazidas
Rabiscos, desenhos e inscrições estão pre-
por esse sujeito contemporâneo, a fim de,
sentes em toda parte, paredes, muros e por-
transformar o homem num sujeito capaz de
tas. Alunos interagem com a escola sob a
mudar seu mundo. Ou seja, capaz de modifi-
lógica de que o que é de todos não é de nin-
car a si
mesmo.
Uma Educação
que
desperte para a sensibilidade do olhar. A pro-
pal) existente até hoje, foi então derrubada a
posta é trazer a fotografia como veículo de
sede da ex-cervejaria, buscando espaço para
possibilidades.
Afirmaria Celso Favaretto,
a instalação de um adequado pátio escolar.
pesquisador, professor e filosofo: “Arte é es-
Em 15 de dezembro de 1931 foi inaugurado
sa experiência da delicadeza das nuances. A
o novo prédio. Tendo uma jornada de oito
percepção das nuances na arte é uma espé-
décadas desde sua criação.
cie de treinamento não consciente de outras tantas coisas”
Prédio imponente construído em Hamburgo Velho, Novo Hamburgo, o atual Colégio
Os veículos produzidos pela arte ou ca-
Estadual Senador Alberto Pasqualini, foi feito
minhos de sensibilidade são meios para pen-
em estilo Art déco, com características do
sar outras dimensões, até então, não explo-
início do modernismo, mas com aspectos
radas, que exija de nós outros modos de ver.
monumentais, influência da arquitetura da
Com isso faz-nos gerar simbolismos de vida,
época. O arquiteto foi Christino de La Pax
e esses simbolismos que desenvolvemos
Gelbert, contratado por uma associação ca-
nos permitem ir ao cotidiano, viver as nossas
tólica alemã. A execução ficou a cargo dos
próprias experiências de maneiras diversifi-
empreiteiros de mão de obra João B. Pastro
cadas. Essa sensibilidade através da arte en-
e Antonio Lemosconforme atesta o projeto
sina a ver, ensina a sentir.
original.
De cervejaria a patrimônio: ... Um pouco de história No início do século passado funcionava na área onde hoje está localizado o Colégio Estadual Senador Alberto Pasqualini a cervejaria de Maximiliano Fischel, que ofereceu à Sociedade União Popular as terras de sua propriedade, que totalizavam 11,23 hectares.
Fotos Margela Arnold
De 1933 a 1939 a direção da escola esteve a cargo do padre jesuíta Miguel Maier, po-
Em 1929 surgiu a Escola Normal Católi-
rém em 25 de julho de 1939, data de comemo-
ca, tendo como diretor, o professor Kurt Du-
ração da imigração alemã no Brasil, houve um
dzig. As aulas eram dadas na própria ex-
incidente, que causou o encerramento das ati-
cervejaria. Mais tarde, quando já havia sido
vidades da Escola. Um aluno fez um discurso
construído o novo prédio (parte frontal princi-
enaltecendo o povo alemão, porém
estava
presente nessa ocasião o Dr. Coelho de
tes, aos meninos oferecia: sapataria, mecâni-
Souza, então secretário da Educação do Es-
ca, gráfica, fundição, marcenaria e para as
tado, que se sentiu provocado e desafiado
meninas: culinária, corte e costura, puericul-
na sua campanha de Nacionalização, que
tura, bordado, trabalhos manuais. Tornou-se,
significava o banimento da língua alemã. E o
em 1975, escola de 2º grau, funcionando os
resultado disso foi o encerramento das ativi-
cursos: Técnico em Decoração e Desenhista
dades da Escola, prolongando-se durante
Mecânico, 1977, agrega o Técnico em Mecâ-
todo o período da Segunda Guerra Mundial.
nica. No ano de 1982, foi autorizado o funcionamento da habilitação de Auxiliar de Escri-
A fase atual da Escola começou em
tório e a de Técnico Musical.
1945 quando o Governo comprou da Sociedade União Popular o que pertencia a Escola
A partir de 1981 chama-se Escola de 1º
Normal Católica de Hamburgo Velho. Tendo
e 2º Graus Senador Alberto Pasqualini e em
início assim a Escola Vocacional Agro-Indus-
2000, Colégio Estadual Senador Alberto Pas-
trial que era subordinada ao SESME (Serviço
qualini.
Social de Menores) recebendo órfãos, menores abandonados e adolescentes problemáti-
Em 23 de setembro de 2003 foi tombado
cos. Por isto chamavam-na de Reformatório.
pelo 1Patrimônio Cultural e Histórico do Estado
Em 1960, tornou-se Ginásio Industrial Sena-
do RS o prédio e a área pertencentes ao Colé-
dor Alberto Pasqualini (GISAP), funcionava
gio Estadual Senador Alberto Pasqualini, atra-
em turno integral e preparava adolescentes
vés do Projeto de Lei Nº 102/2003 do Deputado
para a profissionalização. Além do ensino
Paulo Azeredo.
ginasial havia aulas práticas profissionalizan-
Fotos Margela Arnold
civilização egípcia tinha a intenção de preser-
fragmento do mundo, uma miniatura da reali-
var o corpo para a eternidade, afirma Bazin
dade que todos podem construir ou adquirir.
que algo foi herdado pelas técnicas de apreensão do visível conhecidas até hoje, uma
Por ser um fragmento do mundo e em razão de
espécie de defesa do homem contra o tempo
seu efeito depender da existência de um objeto
(Bazin, 1991: 121-122).
real diante da câmera, a fotografia nos fornece provas. Assim sua natureza parece ser mais
Desde a antiguidade, estudiosos notam
próxima à da denuncia, pois é a comprovação
a necessidade que o homem tem com a manutenção
das
aparências
para o fortalecimento da memória. Foi assim que a fotografia começou a ter papel fundamental como registro
documental
e,
mais tarde, artístico. Para Sunsan Sontag, critica e cineasta americana, salienta os valores morais e éticos da fotografia. Uma
de um acontecimento. O fotógrafo
F
otografar é apropriar-se da coisa fotografada. É envolver -se em uma certa relação com o mundo que se assemelha com o conhecimento – e por conseguinte com o poder. (...) A fotografia brinca com a escala do mundo, pode ser reduzida, ampliada, cortada, recortada, consertada e distorcida. Envelhece ao ser infestada pelas doenças comuns aos objetos feitos de papel; desaparece; valoriza-se, é comprada e vendida; é reproduzida. (Sontag, 1981:04)
foto se diferencia dos anti-
no
passado
tem muito de um flâneur,
um
caminhante
solitário, descrito pelo critico
alemão
Walter
Benjamin. O fotógrafo, como o flâneur, reconhece e percorre o inferno urbano, caçando os instantes mais fugidios, em que pode estar depositada a beleza. Em certo sentido, ele é um
gos registros, tanto verbais quanto visuais,
voyeurista, que vê a cidade como um corpo
pois não se trata de uma interpretação, nem
tatuado, repleto de sinais; e as esquinas, como
mesmo de depoimentos visuais de artistas,
extremidades voluptuosas. Ao observar, acaba
como a pintura e a gravura. Significa sim um
por
achar
o
mundo
Fotos Margela Arnold
(Benjamin, 1985).
sempre
“pitoresco”.
Fotografia veículo de sensibilidades
sibilidades implica que a situação do mundo atual é parte de um incessante ciclo histórico de destruição e construção, nas fotografias, as superfícies das paredes do
Ao fotografar as inscrições deixadas no
colégio se tornam uma espécie de palimp-
Senador
sesto – pergaminhos reutilizados – em que
Alberto Pasqualini permite trabalhar sobre
as marcas de décadas continuam a ser
a noção de território e de sua história,
registrados.
prédio
do
Colégio
Estadual
prestando atenção especial os vestígios deixados pelo homem. Ela se concentra
Rabiscos,
em revelar eventos e as marcas da
fotos, memória
e educação patrimonial
história, tanto no corpo e nas paisagens do prédio.
Indiferentes ao status de patrimônio hisA fotógrafa reflete uma volta ao real. A percepção através da fotografia está engajada com as ambiguidades do que poderia chama-se de terreno do real e das emoções coletivas. A paisagem fotografada aparece em fragmentos: danificada, marcada. Esses traços de histórias, os quais poderiam chamar de detalhes do mundo, são como cicatrizes em um corpo, e eles transmitem sensações semelhantes às de registros de memória.
tórico atribuído ao prédio da escola, os alunos do Colégio Estadual Senador Alberto Pasqualini não podem ser taxados como pessoas de comportamento anormal pelo uso das estruturas físicas do espaço onde estudam para se manifestar. Considerados forma de expressão tão legítima como qualquer outra, os rabiscos, riscos, desenhos e pinturas acompanham historicamente o ser humano e, assim como um edifício, representam meios de preservação da memória. Como conciliar essas aspirações legítimas de autoex-
A ambiguidade também se estabelece quando a metáfora das inscrições é transposta para o corpo do colégio. A ocupação pelo tempo – rugas, cicatrizes, inscrições acumuladas ao longo da vida – também são marcas do embate provocado pela vivência, como se a ação do tempo lapidasse o prédio, tornando-o único e embutido de pura história. A abordagem da pesquisa Grafia do Olhar: Fotografia como expressão de sen-
pressão – elas mesmas registros mnemônicos passíveis de alguma forma de conservação – com a necessidade de preservação patrimonial é algo que a fotografia pode propiciar.
Por um longo tempo na história da
mais e têm mais a ver com o seu presente
humanidade, os rabiscos e inscrições cons-
do que a arquitetura do prédio em estilo Art
tituíram o principal modo de expressão artís-
Déco. Portanto, ignorá-los não fará que eles
tica. Modernamente, esses registros ressur-
ou, mais categoricamente, os sentimentos
gem como formas de manifestação das ca-
que eles externam deixem de existir. Mu-
madas mais desfavo-
dam-se os receptá-
recidas
popula-
culos, as paredes
ção, que, na falta de
alheias, mas não
espaços,
utilizam
se extinguem sen-
estruturas
sibilidades e dese-
áreas
da
e
públicas como supor-
jos.
te e tela. Do ponto de vista social mais am-
O uso da técnica fo-
plo, essa não parece
tográfica
ser a melhor escolha
a
pelo incômodo que
prolongamento
representa
possibilidade
de da
cria. Ainda assim, eles merecem ser valori-
existência para formas de manifestação efê-
zados segundo uma dupla dimensão: o ca-
meras, mas ricas de sentimentos e afetos. Se
ráter estético e, portanto, artístico, e en-
no espaço tombado é vedada às inscrições
quanto veículos de memória.
murais qualquer chance de sobrevivência, a fotografia introduz
Quando
se
a perspectiva de
enxerga as inscri-
que elas se con-
ções por esse ân-
servem numa outra
gulo,
um
condição: a de fra-
o
gmentos congela-
cria-se
problema
para
campo da educa-
dos
ção
(KOSSOY,
patrimonial,
da
cena
que se torna algo
2001:44). Somente
não tão simples de
a fotografia – e o
ser feito. Não se
cinema
podendo mais pen-
um congelamento
sar
dinâmico –, é ca-
nos
rabiscos
operando
apenas como depredação, é preciso traba-
paz de realizar essa função. A linguagem foto-
lhar formas de sua inclusão. Sem dúvida,
gráfica vem, por assim dizer, em socorro à ou-
rabiscos também fazem parte da escola. O
tra, mais impermanente, vulnerável e volátil,
que eles registram é aquela parcela extraofi-
comple(men)tando funcionalmente seu papel
cial dos itinerários escolares e de vida, que,
na estrutura do sistema geral de conservação
na visão do adolescente, significam muito
das lembranças.
Para além da função mnemônica,
Autores
que nesse caso a fotografia efetua com o transplante dos registros para novos e mais adequados suportes, a imagem fotográfica tem ainda potencial de participar como instrumento de educação patrimonial. E nesse particular ela pode atuar sob uma dupla perspectiva, tanto de fomentar a consciência sobre a importância da historicidade do patrimônio como mediante a introdução de novas possibilidades de expressão pela criação de espaços ou círculos específicos e não competitivos de manifestação. Professora, Artista Plástica Mestranda em Memória Social e Bens Culturais
Referências BAZIN, André. Ontologia da imagem fotográfica. In: A experiência do Cinema. Ismail Xavier (org). Rio de Janeiro: Edições Graal, 1991. BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas. vol. I, São Paulo, Brasiliense, 1985 SONTAG, Susan. Ensaios sobre a fotografia. Trad. Joaquim Paiva. Rio de Janeiro, Arbor, 1981. Diário 1http://www.al.rs.gov.br/diario/ Proposicoes/PROP1268.htm
Leandro da Silveira Lopes Professor no Unilasalle - Canoas Mestrando em Memória Social e Bens Culturais
Comunicação verbal dos imigrantes japoneses na Cidade das Flores Este artigo origina-se de uma visita realizada à Cidade das Flores (Ivoti/RS)
O
bservamos a colônia japonesa
grantes de origem alemã que ali já residiam,
com suas heterogeneidades, múl-
bem como, os brasileiros natos, estabeleciam
tiplas vozes, e a consequente hi-
as relações interpessoais e a preservação da
bridação das linguagens. Nosso objetivo é
língua materna, a fim de dar visibilidade a es-
evidenciar como se inserem os imigrantes ja-
te povo que ajudou na construção desse país
poneses em pequena cidade de uma coloni-
multicultural e multiétnico.
zação alemã. Como se processa a comunicação verbal em um ambiente de línguas tão
RESGATE HISTÓRICO
distintas? Isso tem impacto no nível das rela-
DA IMIGRAÇÃO JAPONESA
ções interpessoais e da adaptação ao local onde vivem? Quais os esforços são realizados pelos imigrantes japoneses e seus descendentes na tentativa de preservação da língua materna em contexto multilíngue (alemão e português)? A heterogeneidade pode ser entendida como diferenciação cultural. Embora tenham pontos diferentes, devem ser apreciadas como forma de expressão da riqueza de possibilidades do sujeito, como forma de unir-se com seus semelhantes e formar uma complexa sociedade.
A imigração japonesa é uma etapa pouco conhecida na história do RGS, pois eles preocupavam-se em formar colônias a fim de manter as suas tradições socioculturais, gerando com isso um afastamento parcial da macro comunidade alemã, onde estavam inseridos. A memória destes imigrantes vale a pena ser pesquisada a fim de manter viva a sua cultura, seus valores e modo de viver, para não ser esquecida pelas gerações vindouras. Uma forma de manter viva sua história é o memorial da colônia japonesa de Ivoti.
Os imigrantes japoneses edificaram um espaço cultural textual, construindo uma rede de vozes harmoniosas, sem sobreposições no espaço onde se inseriram, mas com diferentes tonalidades, dando tons multicoloridos no entrelaçamento dessas linguagens. A história vivida pelos japoneses referente à comunicação verbal entre eles e imi-
Memorial da Colônia Japonesa – Ivoti/RS
Memorial da Colônia Japonesa – Ivoti/RS
Fazer reviver essas memórias como o
Alegre (RS), famosa no turismo brasileiro co-
registro de suas relações interpessoais, uso
mo a “Cidade das Flores” e pela colonização
da comunicação nipônica/germânica e a pre-
alemã, que data do início do século XII. Che-
servação da língua materna constituem o en-
garam vinte e seis famílias de imigrantes ja-
foque principal deste artigo, que tem por fina-
poneses em 1966 à região, destinada à pro-
lidade dar visibilidade a essa população que
dução agrícola, principalmente de uvas e hor-
contribui para a formação multicultural e mul-
taliças. Depois seguiram com o cultivo da fina
tiétnica do Brasil.
uva de mesa.
Vale a pena lembrar que os japoneses chegaram ao Brasil no início do século XX, mas no RGS, por volta de 1966 quando se estabeleceram vinte e seis famílias na cidade de Ivoti, que foi escolhida por ser geograficamente semelhante à cidade de Shirga,no Japão, cidade irmã. No Rio Grande do Sul, a maior colônia formada por imigrantes japoneses do estado é a de Ivoti, localizada numa zona montanhosa, de colonização predominantemente alemã, distanciada a 66 km de Porto
Atualmente os principais produtos cultivados na colônia de Ivoti, são as uvas de mesa, tipo fino, variedades Itália e Kioho, o que kiwi, bergamotas do tipo japonês, o caqui, flores naturais (tanto a produção de mudas como para ornamentos) e hortaliças (para o consumo e produção de mudas). (WAGNER, 1997, p.44).
Os japoneses de Ivoti organizaram-se
japoneses transformaram muitas coisas de
em associações com finalidade comerciais e
sua própria cultura, mas também influencia-
culturais. Receberam um incentivo financeiro
ram na cultura dos imigrantes alemães em
do governo japonês, para adquirir as terras e
vários aspectos. Foi principalmente através
o cultivo de suas plantações, com retorno do
da linguagem e da alimentação que, criaram
valor a médio prazo. O qual muito contribuiu
de forma independente e sem conflitos o seu
para o estabelecimento e o desenvolvimento
próprio espaço.
desta comunidade. Com o envelhecimento da primeira geraComo o núcleo de colonização não constituía ajuntamento só de conhecidos e amigos, a primeira ideia que surgia era da necessidade de confraternização. E confraternização não era outra coisa que o comer e beber dos chefes de família, ou então a importância do núcleo. (HANDA, 1987, p. 282).
ção, surge a preocupação da continuidade do idioma, costumes e atividades nipônicos. Um dos fatores que preocupa a comunidade é o falecimento dos imigrantes mais antigos, que por doenças ou idade avançada vão morrendo e com eles a transmissão da cultura vai enfraquecendo.
A colônia japonesa criou a Associação
Outro agravante é o fenômeno decasse-
de Famílias Nipônicas de Ivoti desenvolven-
gui,(pessoas que vão trabalhar temporariamen-
do organizadamente atividades recreativas e
te no Japão, com atividades rudes e perigosas)
culturais, Os japoneses fortalecem continua-
que ocorreu no início de 1980, atingindo grande
mente o desenvolvimento da cultura oriental,
parte dos japoneses, com isto a estrutura fami-
através das tradições nipônicas difundidas
liar nas colônias nipônicas gerou uma diminui-
pelo município.
ção dos valores dos seus antepassados por parte dos mais jovens.
Atualmente há cinquenta e cinco famílias na comunidade japonesa. Com a evolu-
Com o decassegui, houve ganhos finan-
ção econômica, cultural tecnológica, a tercei-
ceiros para algumas famílias, entretanto com
ra e a quarta geração, já não exploram a
idas e vindas, muitas pessoas ficaram solteiras,
agricultura como quando aqui chegaram
sem constituir suas próprias famílias, outro fato
seus ancestrais. Não sendo mais a sua prin-
decorrente deste trânsito, foi a desestrutura de
cipal fonte de renda, apenas os mais velhos
algumas famílias.
se dedicam ao plantio. Os nisseis e os sanseis (filhos e netos de japoneses) já frequen-
Do ponto de vista dos projetos migrató-
taram a escola regular e outros chegaram
rios, esse desafio imposto aos imigrantes é par-
até a universidade.
te de processos identitários e da construção social da própria imigração e dos indivíduos ne-
Desde que se estabeleceram no município de Ivoti, observa-se que os imigrantes
la envolvidos. A complexidade, desse fenômeno imigratório
e
seus contextos culturais
retrata as dificuldades vividas pelos imigrantes muitos desafios, tanto financeiros, quanto nos novos espaços sociais.
culturais, problemas na comunicação principalmente pelas diferenças linguísticas, ali-
A presença da mulher japonesa destaca- mentação diferente, entre outros. Nos seus se significativamente nos movimentos migrató- relatos afirmam não terem tido grandes prorios principalmente pela formação da constitui- blemas com a comunidade alemã, exceto ção familiar, responsável pela educação, arte e que ao chegarem nesta comunidade, eram valores, refletindo a continuidade do processo vistos com certa desconfiança em relação as cultural.
suas técnicas de plantio, de pagamento pelo
FALAS, IDEIAS E VIVÊNCIAS Verificou-se através de relatos dos nipônicos, que a sua formação sócio cultural mesmo não estando evidente, aos olhares da comunidade germânica e brasileira, mas na família procuram manter seu idioma, valores e cultura, a fim de conservarem língua materna. As crianças frequentavam a escola existente na localidade, até a atualidade para ambos os grupos de imigrantes, levando assim para casa novos elementos culturais. Sempre existiu na comunidade japonesa um espaço cultural visando à manutenção do idioma materno, dando assim a continuidade
que vendiam aos japoneses, e também receio de dividir o que já tinham conquistado como terras, estabilidade social e cultural. Quando foram entrevistados sobre a percepção que tinham das dificuldades na comunicação entre os japoneses e alemães, alguns disseram que foi boa, sem problemas, outros que quando a linguagem não era suficientemente entendida usavam a mímica, a exemplo disso um dos entrevistados relatou que a esposa brasileira lhe pediu para compra vinagre e ele foi a cavalo repetindo “vinagre...vinagre”. Entretanto o cavalo caiu numa valeta e ao retirá-lo esqueceu a palavra vinagre, ao chegar à “venda”, ele conseguiu comprar através de gestos que lembrasse o prato chamado salada.
à sua cultura. Atualmente existe um projeto de incentivo à língua japonesa no município de Ivoti, oportunizando o aprendizado do idioma de forma gratuita, a todos os moradores, ministrado por uma pessoa da comunidade nipônica. Percebeu-se através das entrevistas realizadas com os nipônicos que passaram por
Quando se fala, recolhe-se desse acervo, de língua e de propostas possíveis uma determinada parte que corresponde à experiência particular vivida. E o que se quer transmitir e, também, o que se pode transmitir. A fala se articula portanto, no uso concreto da língua, uso sempre parcial porque adequado à área vivencial do indivíduo. (OSTROWER, 1984, p.21).
Outro caso interessante foi o relato de
saudades dos parentes que lá deixaram, da
um nipônico plantador de tomates que para
localidade em que vivam, lembram das con-
aprender a ler precisava escrever na palma
dições insuficientes de sobrevivência, sem
da mão várias vezes, antes que o suor fi-
mais nada explicar, saem e vão embora.
zesse desaparecer, para isso usava a enxada numa mão e protegia
Todos os entrevistados
a mão escrita, de modo
responderam que a comuni-
que não saísse o que ali
cação é satisfatória, que
estava escrito, até que
ambos se entendem bem,
o suor a apagasse e as-
embora alguns tenham rela-
sim sucessivamente dia
tado que muito da comuni-
após
reforçando
cação na língua falada se
que a aprendizagem se
perdeu com a morte dos imi-
dava na memória, atra-
grantes e também com o
vés da repetição da fala.
deslocamento dos mais jovens para outras
dia,
cidades do Brasil, assim como para outros As palavras ditas tornam-se reais para
países.
nós, carregadas de valores, inseridas num complexo de relações emocionais e intelec-
Desta forma, observa-se que o dialo-
tuais originais de uma cultura. As palavras
gismo, contribuiu para o entrelaçamento da
servem de entrelaçamento entre o indivíduo
dupla pertença, oportunizando uma mistura
e o mundo.
de cores nas linguagens destes dois imigrantes. Esse hibridismo
Algumas
pessoas
cultural
acarretou,
uma
procuradas da primeira
linguagem hibrida, mistu-
geração para serem en-
rando-se ao alemão e ao
trevistadas,
português, formando outra
ainda
hoje
não sabem falar o idioma
variação linguística.
português e fogem aparentando receio e timidez por desconhecerem outra
PROAGRII – Cooperativa de Produtores e Agroindústrias de Ivoti Ltda.
língua, geralmente são
A cultura de um povo reflete-se no idioma falado por eles, mas ne-
as mulheres viúvas, que tem esse procedi-
nhuma outra cultura apresentou tantos as-
mento.
pectos diferentes na língua quanto à cultura japonesa, ocupando importante espaço
Outras ao serem questionadas não
nesta cultura. A língua japonesa possui
querem nem falar sobre as dificuldades en-
uma linguagem aglutinante, sendo os fone-
contradas quando chegaram ao Brasil, con-
mas relativamente reduzidos, mas com um
sideraram um período muito difícil, tinham
sistema tonal léxico diferente.
As crianças aprendem na familia a falar primeiramente a língua japonesa de um
culturais no período mais recente da história do Rio Grande do Sul.
modo simples de se expressar, para depois falar a língua brasileira, quase sempre
REFERÊNCIAS
aprendida na escola. HANDA, Tomoo. Imigrante Japonês: História de sua vida no Brasil. São Paulo, SP: T. Os imigrantes trouxeram na sua A. Queiróz, Centro de Estudos Nipo Brasileibagagem cultural influências de seu país de ros, 1987. origem, como
um estilo único: ikebana,
OSTROWER, Faya. Criatividade e procesorigami, ukiyo-e, técnicas artesanais como sos de criação. 4.ed. Petrópolis: Vozes, 1984. bonecas e objetos de cerâmicas, dança kabuki, noh, raku-go, Yosakoi, Bunraku, teatro, WAGNER, Dyrce Maria Koury. Ivoti – O que foi... como é... 2.ed. Ivoti: Amtad, 1987. música, (Sankyoku, Joruri e Taiko) e tradições (jogos, onsen, sento, cerimônia do chá), além de uma culinária única, tudo isto faz parte de
AUTORES
seu espírito de grupo. Os
japoneses
desenvolveram
uma
culinária sofisticada que tornou-se popular no mundo ocidental, no Brasil, pratos como: sushi, tempura e takiyaki, estão entre os mais
conhecidos.
podemos
Outro
destacar
de
aspecto
que
acordo
com
divulgações dos meios de comunicação refere-se
a
alimentação
proporcionando
longevidade
saudável do
povo
Diva Maria Peter Pedagoga, Mestre em Psicologia da Educação, Mestranda em Memória Social e Bens Culturais. Professora do curso de graduação em Pedagogia na modalidade EAD (ULBRA)
japones. Por fim, a experiência do contato cultural dos imigrantes foi uma configuração vital na história do Brasil do século XX. A importância da experiência de imigração para os próprios imigrantes, para a comunidade hospedeira e para os sujeitos do país de origem que recebia a volta dos imigrantes, muitas vezes através do decassegui, levando as notícias mais variadas, e nesse processo desempenha panorama
um
em
papel
mudanças
significativo dos
no
contatos
Olgaires Schneider Pedagoga, Mestre em Psicologia da Educação, Mestranda em Memória Social e Bens Culturais. Professora do curso de graduação em Pedagogia na modalidade EAD (ULBRA).
Dialogando com as Diferentes Gerações
A
comunicação é um desafio cons-
impresso ou virtual. Os mais utilizados são os
tante para as pessoas. Muitas
quadros murais, os jornais e revistas, a intra-
questões seriam resolvidas ou não
net (site específico para os funcionários), o
se tornariam um problema se houvesse um
e.mail, a comunicação face-a-face, que é a
cuidado em transmitir eficazmente as infor-
conversa direta.
mações. Se os problemas na comunicação acontecem no nosso dia-a-dia, imaginem dentro das empresas, quando há a necessidade de se passar informações aos funcionários. A comunicação nas organizações teve um avanço após o advento da globalização. Os empregados começaram a cobrar informações, pois ficavam sabendo, através de outras fontes, notícias referentes à sua empresa. No
Brasil,
segundo
a
ABERJE
Imagem cedida por: Ismael Gonçalves
(Associação Brasileira de Comunicação Organizacional), a comunicação formal com os empregados teve início em 1970, através do jornal interno. De lá para cá a comunicação nas organizações foi tomando forma e se segmentando. A comunicação organizacional
As técnicas de comunicação, segundo Dominique Wolton, são a parte visível de uma imensa questão antropológica que é a relação com o outro, a troca, a ideia de compartilhar. Segundo o autor,
é responsável pela comunicação da empresa com os seus diferentes públicos, sendo que a comunicação com os empregados é denominada de comunicação interna, marketing interno ou endomarketing. Preferimos aqui chamar de comunicação interna. As organizações utilizam-se das mais variadas formas para comunicar aos empregados informações que julgam importantes. Os chamados canais de comunicação aparecem na forma verbal e escrita, sendo o último
os limites da comunicação devem ser considerados e a comunicação direta, a face-a-face, aparece como um deles já que as técnicas não resolveram os problemas da comunicação humana.
“Além
de todas essas técnicas cada
Estudiosos têm abordado as caracterís-
vez mais simples, acessíveis, lúdicas e in-
ticas específicas dessas gerações, falam dos
terativas, o outro está sempre presente, e
jovens que preferem o compartilhar e o virtual,
permanece tão difícil acessá-lo, compreen-
da sua ansiedade pelo novo, da geração x cu-
dê-lo e interessá-lo.” (WOLTON, p.83). Re-
jos membros são competitivos e adaptáveis,
gistramos desta forma, um dos grandes de-
dos nascidos após a 2ª Guerra, que têm foco
safios, também para as organizações, que
excessivo no trabalho, que são éticos e dos
é o da interação com as pessoas, a comu-
mais velhos que prezam pelos valores pesso-
nicação de mão dupla, onde se possa ouvir
ais, têm fidelidade à empresa e são práticos.
o outro. Afinal, qual é a melhor maneira de se
Vejam que grande e belo desafio a co-
comunicar com as pessoas dentro de uma
municação interna tem com esses diferentes
empresa, de que forma a organização con-
públicos: comunicar a todos, identificando e
versa com os seus funcionários?
respeitando a maneira como cada um se iden-
Para falar sobre este assunto, necessitamos abordar as diferentes gerações que estão juntas nos ambientes de trabalho.
tifica, se informa, se atualiza. Poderia ser simples se partíssemos do princípio que os mais jovens se comunicam pelo virtual e os de mais idade pelo impresso. Contudo, sabemos que não é bem assim.
A faixa etária da população nas empresas atingiu, segundo pesquisa realizada pela Insidedge (Consultoria em comunicação do Grupo Interpublic ), a diferença de 60 anos. Isto é, temos jovens e idosos convivendo no mesmo ambiente organizacional.
Segundo Henry Jenkins, as mídias atuais são participativas e interativas, ao contrário das tradicionais, contudo elas coexistem e estão em rota de colisão.
São as diferentes gerações: a geração dos veteranos/tradicionais (nascidos entre os anos de 1922 e 1944), a geração dos baby boomers (de 1945 a 1964), a geração x (de 1965 a 1978), a geração y (nascidos a partir de 1979) e das demais gerações que estão sendo denominadas de milleniun, z, etc. Capa do livro Cultura da Convergência
O
autor chama esse fenômeno de cul-
A Aberje, no seu livro a Comunicação
tura da convergência. E com base nesse con-
Interna, vol. 6, em artigo referente a integra-
ceito podemos analisar as diferentes formas
ção de gerações, faz recomendações no que
de dialogar com as diversas gerações dentro
se refere a adotar estratégias em relação a
das organizações.
eficácia nos projetos de comunicação interna. São elas:
O jornal e a revista impressa que são utilizados para informar os funcionários nas
1. Personalizar as audiências, conhecendo-as:
organizações poderiam ser tidos como ultra-
identificar o público que será trabalhado, a
passados se comparados às mídias virtuais,
idade, a escolaridade, os gostos e costumes
já que demoram a ser produzidos e tem uma
buscando entender o comportamento e os di-
periodicidade em média mensal. Contudo, se
versos grupos existentes no local.
considerarmos a portabilidade, isto é, a possi-
2. Testar novas formas: disponibilizar diversas
bilidade de levar para ler em casa, repassar
formas de interação para os diferentes públi-
para família, no ônibus, além de que alguns
cos, que agradem a todas as audiências, in-
ainda dão a preferência pelo papel, por ma-
dependente da geração que pertencem.
nusear, este canal tem as suas vantagens.
3. Ser um curador e não um criador: o profissional de comunicação deve orientar para os
A atratividade dos canais de comunicação também deve ser considerada pois os funcionários acabam comparando a mídia interna com as que costumam sutilizar para se informar (sites, revistas, rádio, tv), por isso as empresas devem primar pela qualidade se querem atingir positivamente o seu público.
conteúdos ao invés de apenas repassar informações. 4. Utilizar critérios e estratégia na introdução de mídias sociais: os profissionais das empresas não aderem as redes sociais organizacionais com a mesma facilidade que utilizam o Facebook, Twitter, blogs, etc. na vida pessoal. Importante identificar de que maneira essas ações podem ser introduzidas na empresa e em que tempo. 5. A tecnologia não substitui o contato humano: o virtual, as mídias eletrônicas facilitam a comunicação entre os profissionais das diferentes gerações, porém o contato face-a-face, as conversas e trocas são insubstituíveis e não devem ser deixados de lado por conta da automação.
Foto retirada de http://www.aprimorar.com/blog/internet -como-estrategia-da-comunicacao-intern
6. Treinar as lideranças: instruir os gesto-
MARCHIORI, Marlene. Cultura e Comu-
res para que sejam eficazes na comunica-
nicação Organizacional. São Paulo: Difu-
ção com as suas equipes e que facilitem o
são Editora, 2006.
fluxo de informações da empresa com os seus funcionários.
Autoras
7. Contar histórias: os profissionais de todas as idades se sensibilizam com histórias de vida, grandes depoimentos. Por isso, a importância de descobrir os talentos e premiar os esforços individuais e coletivos com
boas
histórias.
Desta forma podemos identificar que o diálogo na comunicação interna com as diferentes gerações exige atenção e cuidados, pois as mídias se complementam, havendo
Katherine Minella
exclusão por uns e aceitação por outros,
Psicóloga, especialista em recursos humanos e comunicação. Mestranda do curso de Memória Social e Bens Culturais Unilasalle. Consultora de RH
muitas vezes independentemente de idade e geração a que pertençam. Por isso, é importante um planejamento na comunicação onde possa mesclar as diferentes mídias respeitando os diversos públicos e recursos da organização.
Referências JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. São Paulo: Editora Aleph, 2006. OLIVEIRA, Sidnei. Geração Y ser potencial ou ser talento? Faça por merecer. São Paulo: Integrare Editora, 2011
Lília Sabrina da Cunha WOLTON, Dominique. Pensar a Comunicação. Brasília: Editora UNB. 2004. SCHIAVONI, José Luiz. IN: Comunicação Interna: A força das empresas. Vol. 6 São Paulo: Aberje Editorial, 2012.
Gestora, graduada em Gestão de RH. Docente em cursos de extensão. Mestranda em Memória Social e Bens Culturais Unilasalle.
Linkando o
passado e o futuro: a evolução e as aplicações dos hipertextos.
A
Na grande teia de informações, os hipertextos são as junções, os nós que ligam as linhas de informação entre si, possibilitando que se redirecionem, e unam-se por novas conexões a outras linhas de diversas origens, formando uma teia onde um nó – que pode ser desde uma palavra ou uma imagem até documentos complexos - pode estar conectado à rede inteira. Desta forma, uma
sociedade da informação que
única informação, por meio de suas cone-
vivenciamos atualmente insere-
xões, exponencializa seu potencial gerador
se em um novo espaço global
de conhecimento, ao ligar-se ao atendimento
configurado na forma de redes, sendo a World
inumeráveis propósitos.
Wide Web seu ápice. A rede, desenvolvida para fins militares viria, como enfatizou Darcy
A ideia de hipertexto surgiu para huma-
Ribeiro, a se tornar o maior advento da comu-
nizar as formas de aquisição, armazenamen-
nicação humana desde a escrita.
to, classificação e distribuição do conhecimento. Desde o início das civilizações huma-
A rede que se apresenta para nós hoje em
nas há preocupação com o armazenamento
uma quantidade infinita de links tem sua es-
do conhecimento e indexação dos dados. Po-
trutura editorial básica fundamentada em uma
rém no curso da história desde a Biblioteca
forma de editoração textual que teve suas ori-
de Alexandria até o Big Data, utilizado para
gens na Idade Média, desde então visando à
descrever o crescimento, a disponibilidade e
troca de informações a distância e através de
o uso exponencial das informações estrutura-
acesso rápido: o hipertexto.
das e não estruturadas, assim como o volume de dados, cresceu a compreensão sobre a cognição humana. A constatação de que esta não combinava com a forma linear e hierarquizada (com categorização de classes, subclasses, entre outros) com que tradicionalmente se apresentava o conhecimento. As literaturas de Psicologia e Pedagogia associaram e compararam o processo de aprendizagem à memória, e a memória humana não é a simples recordação de itens
imagem retirada de http://zellacoracao1.wordpress.com/oficinas/ oficina-de-hipertextos
em uma lista, assim como a aprendizagem não é a simples aquisição de conhecimentos,
mas um processo que inclui o desenvolvimento pessoal, a construção de um sistema de valores, o aumento da capacidade de revisar criticamente o próprio conhecimento.
riormente, criando uma rede de associações. Baseando nessa forma de pensamento, que organiza o conhecimento de forma não linear, mas através de trilhas associativas,
Marginálias: Na Idade Média, quando a conservação do conhecimento, muito mais do que a sua busca, configurava o leitmotiv dos estudiosos (em sua maioria clérigos), os livros eram peças enormes e pesadas e ficavam restritos (por vezes acorrentados) às bibliotecas. O compartilhamento do conhecimento dava-se no momento da leitura em voz alta dos textos, por aqueles que tinham a permissão de acesso. Os leitores, porém acrescentavam seus comentários às margens, possibilitando uma forma de leitura não linear quando consultados pelos leitores seguintes, que por sua vez acrescentariam seus próprios comentários. Quando estas marginálias ocupavam por completo o espaço disponível, eram transcritas (ou reescritas) por copistas para os cadernos de lugares comuns, que podiam ser consultados por outros leitores para busca de referências.
que, em 1945 o matemático americano Vannevar Bush idealizou e descreveu detalhadamente o Memex, um instrumento de armazenamento e consulta de dados que poderia ser comparado ao que hoje são os computadores pessoais. Permitiria ao leitor suas notas pessoais ao texto, aumentando as associações a cada leitura, formando uma imensa rede conectada por palavraschave. Pretendia um sistema de construção coletiva ainda mais dinâmico que a Internet atual, se considerar que os usuários ainda não podem acrescentar links às páginas que visitam. Somente em 2003 foi desenvolvida a tecnologia co-link, que permite a qualquer usuário acrescentar novos links a um texto, e novos destinos a um link. Apesar de não ter sido construída, a máquina visionária de Bush ajudou a inspirar o con-
Desenvolvia-se assim uma nova forma de escrita, construída coletivamente e que exponenciava a distribuição de informação.
ceito moderno de hipertexto, sendo que este termo viria a ser usado pela primeira vez em 1960, por Theodore Holm Nelson, conhecido como Ted Nelson. Naquele ano, Nelson criou o projeto Xanadu (deriva da palavra chinesa Shàngdū = lugar esplendoroso).
O pensamento humano não é linear, mas
Como seu nome insinuava, a proposta era
sim segue trilhas associativas, desencadea-
extremamentente ambiciosa: uma biblioteca
das a partir da significação dada às informa-
universal, uma ferramenta de publicação
ções, construída a partir da evocação de co-
mundial de hipertexto. O projeto, ainda em
nhecimentos e experiências prévias. Disto
curso, nunca atingiu seu objetivo. Conflitos
pode-se concluir que todo texto é um hiper-
internos e problemas com investimentos difi-
texto, pois é uma ação involuntária do cére-
cultaram o processo, mas a própria grandio-
bro ante às novas informações, remeter a
sidade da ideia inviabiliza sua execução.
textos lidos e mesmo situações vividas ante-
Neste país das maravilhas da comunicação,
a interatividade constante findaria com as dis-
Na era do acesso desenfreado à informa-
putas por direitos autorais, pois toda a rede
ção, quando a busca por dados em sua maioria
seria um fórum dinâmico onde o mérito pode-
não encontra um propósito de desenvolvimento
ria ser facilmente constatado, e falhas de co-
intelectual e, por conseguinte, não se converte
municação seriam rapidamente resolvidas.
em conhecimento, o ideal do Projeto Xanadu
Sendo o pensamento humano (do qual o hi-
revela-se necessário, mas como todas os ide-
pertexto é um reflexo) uma rede de trilhas as-
ais visionários, nossa época ainda não está
sociativas, cujas conexões promovem o au-
preparada para ele.
mento de seu conteúdo e multiplicam suas possibilidades de aplicação, o Projeto Xana-
Atualmente, as tecnologias estão ligadas
du (do qual a Web é apenas um reflexo em-
diretamente às capacidades de criação e ao
baçado), seria, se levado a cabo, não só o
potencial de cada indivíduo, através de novos
maior advento na história da comunicação
processos, técnicas, métodos ou instrumentos
humana, como a mais importante ferramenta
que satisfazem suas necessidades. Todos nós,
para o desenvolvimento da inteligência huma-
em algum momento nos beneficiamos das tec-
na.
nologias de alguma forma, que podem ser divididas entre três grupos: tecnologias instrumenComo seria o Memex – 1945 Uma mesa de trabalho, com telas para projeção, teclado e botões e alavancas. O conteúdo armazenado em microfilme em um canto da mesa pode ser rapidamente recuperado, sendo indexado por meio de códigos e mnemônicos.
tais, intelectuais e educacionais. Embora os hipertextos não se encaixem nas tecnologias instrumentais, pois como o próprio nome diz são os instrumentos ou equipamentos tecnológicos que utilizamos no nosso dia a dia, encaixam-se perfeitamente nas tecnologias intelectuais, também chamadas de tecnologias da inteligência ou simbólicas, pois possibilitam aos indivíduos exteriorizar e objetivar suas ideias e seus pensamentos.
Figura 1: Esboço do dispositivo Memex proposto por Vannevar Bush em 1945
A navegação entre as páginas é feita através de uma alavanca que avança ou retrocede dentro da publicação selecionada e um botão leva à página inicial. Também há uma plaqueta transparente onde poderiam ser colocadas anotações, imagens e memorandos, criados pelo usuário, para serem microfilmados e armazenados.
Pierre Lévy (1993, p. 33) afirma que um hipertexto é um conjunto de nós interligados por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos, partes de gráficos, sequências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos.
Assim, um hipertexto nada mais é do que uma construção possibilitada pelos sistemas de comunicação, que permite que em um texto em formato digital possam ser incluídas referências a outros textos, imagens, sons, vídeos, entre outros chamados de links, com isso, possibilita alterar a rota de avaliação de um documento seguindo a ordem que o leitor achar mais apropriada.
estudosbrasileiros/povobrasileiro/. Acesso em: 29 mai. 2013. Autores: Alexandre Moroni Bacharel em Matemática Aplicada à Informática e Especialista em Educação a Distância. Professor Regente e Coordenador do Laboratório de Práticas em EAD e Coordenador do Eixo de Formação Geral – Presencial e a Distância, na ULBRA. Mestrando do curso de Memória Social e Bens Culturais Unilasalle. Cássia S. Barbosa Licenciada em História e Especialista em História Social e História Cultural. Mestranda do curso de Memória Social e Bens Culturais Unilasalle.
Figura 2: links em hipertextos
Claudiane R. Furtado Ao escrever um hipertexto, os indivíduos podem exteriorizar seus pensamentos, suas ideias, sua capacidade criativa e, principalmente, as relações que estabelecem entre as informações interligadas a partir de sua ideia inicial, o que auxilia os professores na arte de ensinar e os alunos no seu aprendizado, o que também os configura como uma tecnologia educacional. Referências: LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência / Pierre Lévy; tradução de Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994. MORONI, Alexandre, MATTOS, Patrícia Noll de. TIC’s Aplicadas. Canoas: Ed. ULBRA, 2011. 152p. RIBEIRO, Darcy. Transcrição do Documentário da Série O Povo Brasileiro. Disponível em: http://tvcultura.cmais.com.br/aloescola/
Pedagoga habilitada em: orientação educacional, educação infantil e anos iniciais. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional e Design Instrucional. Atualmente coordena pedagogicamente o Laboratório de Arte e Criação do EAD e a ULBRA TV. Mestranda do curso de Memória Social e Bens Culturais Unilasalle. Sheila Beatriz Ost Pedagoga habilitada em: empresarial, orientação educacional, educação infantil e anos iniciais. Especialista em Gestão Educacional. Atualmente atua como Professora Tutora na ULBRA. Mestranda em Memória Social e Bens Culturais—Unilasalle.
Consumismo produzido através da linguagem publicitária
A
Tendo em vista que o advento do consumismo está em toda a parte e indefere socialmente, verificamos que o a fator “amolação” influencia e muito nos bens de consumo produzidos para o público infantil. Conforme Linn argumenta:
sociedade do consumo teve início na Revolução Industrial, no final do século XVIII.
as crianças são bombardeadas de manhã à noite com mensagens produzidas, não com o objetivo de tornar suas vidas melhores, mas de vender alguma coisa.
Neste período, em busca de sofisticação e glamour ocorre um aumento da venda de metais, cerâmicas e outros nichos desta época. Diante de leituras e pesquisas, podemos presumir que este século ficou marcado pelo nascimento de uma sociedade consumista. Neste sentido com o passar dos anos, percebeu-se a necessidade na sofisticação dos mecanismos do marketing para convencer o consumidor a comprar mais. A evolução do Marketing pode ser percebida através das décadas e com ele os diferentes focos adotados nestes períodos, primeiramente nos produtos, passando pelos processos e chegando nos clientes. Um bom exemplo disto é que em meados dos anos sessenta, a linguagem publicitária limitava-se a descrever o produto, informar preços e o local de compra do mesmo. Atualmente vivemos em uma era que esta mesma linguagem aborda diversas camadas sociais, públicos, independente de idade, sexo ou classe social. Este consumidor era objeto de tentativas cada vez mais e mais sofisticadas de incitar desejos e de dirigir preferências, e estava começando a viver em um clima artificialmente estimulado, que retirava seus gostos e preferências do comando da convenção e da tradição local, transferindo-os de modo crescente para as mãos das emergentes forças do mercado (MACGRACKEN, 2003, p.39)
A mídia vislumbra de alguma forma, com a autora cita “alvos”, que serão atingidos para o espetáculo midiático, e através deste espetáculo, diz-se produzir sujeitos, sendo aqueles que serão consumidores de produtos. E neste sentido, Susan Linn, escreve: as sementes do consumismo são plantadas bem cedo. Partindo desta reflexão, FISCHER, também salienta sobre as mensagens, como a linguagem televisiva, na qual reflete na formação de indivíduos. Podemos analisar a busca de pais na oferta não só de produtos e brinquedos infantis, mas também a busca pela satisfação de seu filho.
(...) Kelly Stitt, uma gerente de marcas sênior da divisão de ketchup da Heinz, disse o seguinte para o Wall Street Journal: “Toda a nossa propaganda é voltada para as crianças.
Se analisarmos, podemos ver que não
Quando discutimos sobre a linguagem
são somente propagandas que influenciam
publicitária produzida para o público infantil,
na
a
trazemos exemplos, como o Shrek e o Mickey
pela publicidade, que
Mouse, como que um ogro e um rato
desperta emoções, e que poderá atingir uma
desenvolvem nas crianças embatia? Parte da
instância cultural,
explicação, se traduz através da linguagem
massa
consumista,
linguagem produzida
mas
também
através dos artefatos,
como, os: desenhos e personagens que
utilizada
pelos
seus
criadores,
eles
atualmente vivencia-se na mídia.
evidenciam a família, valores sociais e heroísmo. Consequentemente, o mercado
Podemos identificar vários autores que
disponibiliza os produtos para o consumo,
discursam a linguagem publicitária, mas
pois toda criança, de alguma maneira, deseja
Lange (et al, 2009, p.35) define que: A
levar para casa um “pedaço” do personagem,
linguagem
publicitária,
uma
pois representa parte da história do filme,
ferramenta
de
de
assim gerando o desejo para o consumo. O
capitalismo
poder de amolar, conflita com os pais
moderno, é capaz de provocar efeitos de
diariamente. Prova é quando ao levar uma
sentido,
públicos
criança ao cinema e se deparar com aquele
destinatários reações empáticas compatíveis
balde de pipocas personalizado com os
com as intencionalidades dos anunciantes e
personagens do filme, dificilmente os pais
das agências de circulação do capital. "
deixaram de comprar.
organizações
enquanto marketing
complexas
despertando
Interpretamos
que
do nos
a
linguagem
publicitária não apenas vincula, mas também produz discursos, significados e sujeitos. As crianças como principal “alvo” tornam-se ativos
consumidores
desta
linguagem.
Destaca-se uma nova era para a infância, muitas vezes, moldada.
Percebe - se que o consumismo pode ser definido como um pilar de sustentação, e consequentemente nos leva a gerar um mercado que busca a linguagem publicitária para o avanço da mesma.
Nesta sociedade a geração de novos
o auto escalão tinha acesso ao mesmo,
produtos é necessária tendo em vista as
tendo e vista que os valores cobrados por
mudanças
estes materiais eram de valor extremamente
tecnológicas
e
também
a
influencia midiática que ofusca produtos
caro.
relativamente novos, mas que acabam não tendo mais os mesmo valor em função das criações diárias que surgem no mundo.
Nesta época a mídia publicitária também começava a invadir o mercado e para o desenvolvimento
(...) entre as décadas de 1970 e 1980,
a
publicidade
brasileira
de
tais
marcas
equipamentos foi necessário reformular a linguagem para a divulgação de tais produtos.
assumiu o surgimento deste novo target – o infantil – e, desde então, ações diretas e indiretas buscam seduzir
a
criança
e
torná-la
consumidora de bens e serviços. (SOUZA
JUNIOR,
FORTALEZA,
MACIEL, 2009, p.22).
Se analisarmos o mercado de produtos infantis, podemos verificar que no final do século passado, o foco deste público era Babies vídeo game Nintendo, hoje uma criança de 2 anos já não se contenta com um único personagem, tendo em vista a grande publicidade e foco em diversos atrativos
https://www.google.com.br/ sclient=psyab&q=imagem+do+primeiro+celular+no+brasil
A evolução e o desenvolvimento que levarão
a
publicitária,
adaptação “tem
seu
da bum”
linguagem com
a
possibilidade de crescimento da tecnologia e
infantis.
dos ambientes virtuais que também levam à Interpretamos
que
a
linguagem
possibilidade de adequação dessa linguagem
publicitária busca focar em todos os tipos de
a estas novas tecnologias. A publicidade on-
mercado, não dando apenas atenção ao
line migrou para novas plataformas de
adultos, pois crianças tornaram-se também
comunicação, como as mídias sociais.
consumidores desta linguagem. Linguagem Publicitária e as Novas Tecnologias.
Pois se verificarmos nossos e-mail’s e redes sociais iremos perceber que a 10 anos não tínhamos a possibilidade de realizar pes-
Na
década
de
90,
vivenciávamos
estouro dos eletrônicos, tais como celulares, computadores e jogos eletrônicos, porém só
quisa para compras online, muito menos realizar estas apenas com um click. A publicidade online só vem a crescer no
meio virtual, pois hoje, é praticamente impossível não encontrar uma loja, seja ela de qualquer setor, na internet, e tudo isto é adquirido através da mídia e da linguagem publicitária que as empresas vem se adequado e aperfeiçoando. Tendo em vista o grande número de usuários digitais, podemos definir
A publicidade emerge a partir da institucionalização das organizações sociais. Estas surgiram porque o homem , ao se constituir como ser racional que vivem em grupos, foi descobrindo que precisava criar instituições que facilitam a organização da estrutura social. (SANTOS. 2005.p26 ).
que o potencial de vendas cresce a cada dia neste meio e que a abordagem realizada pelas empresas tem seu destaque buscando apresentar um linguajar que alcance este público. Podemos verificar, que antes da tecnologia, a linguagem publicitária era mais artesanal, pois era baseada em uma ideia original e reproduzida em um vídeo ou anuncio no jornal de no máximo 30 segundos. Hoje, as ideias surgem, porém são baseadas em um roteiro que deve se adaptar a vontade do consumidor, pois estes é que decidem o que querem através da mídia que mais os agradam, que mais lhes enchem os olhos.
Na publicidade o fator consumo é utilizado como preceito e princípio básico para a sua significância. Produtos de variados segmentos e estilos diariamente são inseridos no mercado com a finalidade de serem consumidos por diversificados tipos de públicos e classes. As formas e variantes do consumo podem atribuir aos fatores sociais das classes mais altas, com requintes de qualidade extrema e grande glamour quanto às classes menos favorecidas que consomem produtos alternados como os classificados populares. O consumo pode ser entendido como uma variável decisiva em
Hoje a publicidade é necessária em
nossa sociedade, na qual diariamente con-
qualquer meio, pois é ela que impulsiona o
sumimos produtos e objetos que nos com-
consumismo para todas idades. Aliás, é ela
pletam como seres sociais em um sistema
quem define nosso calendário anual, pois es-
proposto por Debord ( 1997 ) em A socie-
ta em qualquer meio nos chamando a aten-
dade do espetáculo na forma de análise
ção para as datas especiais e nem tão espe-
crítica da sociedade e o fator consumo em
ciais que temos em nosso calendário.
massa.
A publicidade na sociedade atua como força determinante de resultado, sendo que na sua grande maioria, muitos produtos são lançados diariamente no mercado em constante ritmo acelerado, enaltecendo ainda mais a força emergente da publicidade rotineiramente em uma sociedade globalizada.
Considerado em sua totalidade, o espetáculo é ao mesmo tempo o resultado e o projeto do modo de produção existente. Não é um suplemento do mundo real, uma decoração que lhe é acrescentada. É o âmago do irrealismo da sociedade real. Sob todas as suas formas particulares – informação ou propaganda, publicidade ou consumo direto de divertimentos –, o espetáculo constitui o modelo atual da vida dominante na sociedade (DEBORD, 1997: 14).
Qualquer tipo de cultura em uma sociedade globalizada possui ritos de consumo em seu centro de estrutura social. As formas de consumo são adotadas principalmente a partir de emoções, sentimentos ou valores incutidos por publicidades e propagandas em geral transformando os valores sociais em processos de rápida escala cultural de massa se analisada na forma de consumis-
MACGRACKEN, Grant. Cultura & Consumo. Rio de Janeiro: Editora Mauad, 2003. SANTOS, Gilmar. Princípios da publicidade. Belo Horizonte. Ed. UFMG, 2005. SOUZA JUNIOR, Ednilson Gomes de; FORTALEZA, Camila Hildebrand Gazal; MACIEL, Josemar de Campos. Publicidade infantil: o estímulo à cultura de consumo e outras questões. In: Infância e Consumo: estudos no campo da comunicação. Brasília, DF: ANDI; Instituto Alana, 2009.
mo acelerado. Diariamente em nossos cotidianos alternadas formas de produtos apare-
Autoras
cem nas possíveis formas de uso em nossas vidas. Consumimos produtos muita das vezes com pouquíssimas finalidades e proveitos,
na qual se concentram grande parte
dos produtos anunciados em questão sem qualquer necessidade eventual ou até mesmo posteriormente.
Sendo assim, podemos afirmar, que a linguagem publicitária, evolui a cada dia, perpassando pelas culturas e pelo consumismo crescente não somente em nosso país, mas mundialmente fazendo com que
Alana da Fonseca Jorge Pós-Graduada em Gestão e Planejamento Empresarial, pela Universidade Luterana do Brasil. Graduada em Gestão de Recursos Humanos na mesma Instituição. Mestranda em Memória Social e Bens Culturais - La Salle - Canoas. Cursando Administração na Faculdade Uniasselvi. Tutora Virtual na Universidade Luterana Do Brasil curso de Administração e Tecnólogo em Recursos Humanos.
esta se destaque aos olhares de todos que inconscientemente realizam esta leitura diariamente.
Referências Bibliográficas DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. LANGE, Talvani (et al), Alice no país da propaganda: um estudo da linguagem publicitária e sua recepção junto ao público infantil. In:VIVARTA, Veet. Infância e Consumo: estudos no campo da comunicação. Brasília, DF; ANDI; Instituto Alana, 2009. LINN, S. Crianças do Consumo. 1º ed. São Paulo: Instituto Alana, 2006
Fernanda dos Santos Flores Graduada em Pedagogia Empresarial (ULBRA) - Especialização em Educação a Distância (SENAC). Mestranda - em Memória Social e Bens Culturais (UNILASALLE). Faz parte do quadro de associados da Associação Brasileira de Educação a Distância - ABED. Atualmente exercendo atividades de Professora/Tutora no curso de Pedagogia EAD, assim como, laborando como Pedagoga Empresarial a frente de trabalhos como TD&E em instituição empresarial.
Reitor Ir. Dr. Paulo Fossatti
Vice-Reitor Ir. Dr. Cledes Antônio Casagrande
Diretoria de Extensão e Pesquisa Diretor Ir. Dr. Cledes Antônio Casagrande
Diretora -Adjunta Profª. Drª. Patricia Kayser Vargas Mangan
Coordenação do Mestrado em Memória Social e Bens Culturais Coordenadora Profª. Drª. Cleusa Maria Gomes Graebin
Coordenador-Adjunto Prof. Dr. Lucas Graeff