Unimed cerrado em foco 80 dez 2016

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www.unimedcerrado.com.br • Nº 80 • Ano XXI • Dezembro | 2016

INFORMATIVO DA FEDERAÇÃO DAS UNIMEDS DOS ESTADOS DE GOIÁS E TOCANTINS E DO DISTRITO FEDERAL

VII Simpósio da Unimed Cerrado

Realizado em Goiânia nos dias 1º e 2 de dezembro de 2016, o simpósio promovido pela Unimed Cerrado proporcionou um amplo debate sobre as mudanças no modelo de Atenção Integral à Saúde, com a participação de lideranças do Sistema Unimed, cooperados, médicos, acadêmicos de medicina, representantes do setor público e do setor hospitalar privado e as experiências de sucesso da Espanha, Inglaterra, Portugal, Belo Horizonte (MG), Vitória (ES), Santa Catarina e Paraná.

Homenagem

artigo

Edmundo Castilho, Raimundo Viana de Macedo e José Carlos Guisado

Lena Castello Branco fala sobre mudanças e certezas


ÍNDICE

Federação das Unimeds dos Estados de Goiás e Tocantins e do Distrito Federal – Unimed Cerrado Rua 8-A, número 111, Setor Aeroporto, Goiânia (GO) CEP 74075-240 Fone/fax (62) 3221 5100 www.unimedcerrado.com.br

04 vii simpósio da Unimed Cerrado Abertura e início dos debates

DirEToria Diretor Presidente: Dr. José Abel Ximenes Diretor administrativoFinanceiro e de regulação: Dr. Danúbio Antonio de Oliveira Diretor de integração Cooperativista e Desenvolvimento institucional: Dr. Walter Cherubim Bueno Diretor de Mercado: Dr. José de Oliveira e Silva

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Portugal

inglaterra

A experiência do Sistema Nacional de Saúde português

O controle da qualidade do sistema de saúde

Leia mais... Santa Catarina 9 Público 10

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Personal Produto de sucesso da Unimed Vitória

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Oficinas 12 Homenagens 14 Artigo 16

UNIMED CERRADO EM FOCO • Nº 80 • Ano XXI • Dezembro | 2016

Unimed Cerrado em Foco Número 80 Ano XXI Dezembro/2016

Edição: Santa Inteligência Comunicação Jornalista responsável: Rosane Rodrigues da Cunha - MTb 764/JP Fone (62) 99903 0935 santainteligencia@terra.com.br redação: Karla Araújo e Rosane Rodrigues da Cunha Fotos: Unimed Cerrado e Cristiano Borges arte e impressão: Flex Gráfica

As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Unimed Cerrado em Foco


PALAVRA DO PRESIDENTE

Uma mudança urgente e necessária

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esde 1991, quando foi realizado o primeiro Simpósio das Unimed do Centro-Oeste e Tocantins (Sueco), a Unimed Cerrado vem promovendo eventos com o objetivo de proporcionar a integração das Unimeds e o debate de temas que contribuam para o fortalecimento do cooperativismo de trabalho médico e para a melhoria do sistema de saúde em nossa região e em todo o Brasil. A cada edição destes eventos, graças à colaboração dos palestrantes, organizadores, apoiadores e de todos os participantes, nossos simpósios têm avançado em sua contribuição para a sustentabilidade do cooperativismo de trabalho médico, a partir dos debates democráticos de temas que têm fomentado a reflexão e norteado a tomada de decisões nas nossas cooperativas. No VII Simpósio da Unimed Cerrado, realizado nos dias 1º e 2 de dezembro de 2016, novamente alcançamos nossos objetivos com o aprofundamento do debate sobre os “Desafios da Mudança do Modelo de Atenção à Saúde”, um tema cuja discussão já foi iniciada em outras edições dos simpósios e que acreditamos ser extremamente necessária para uma mudança que se faz urgente no nosso modelo assistencial. Temos uma população envelhecendo com a qualidade de vida comprometida pela ausência de cuidados básicos que poderiam ter sido adotados anos antes. Assistimos ao avanço de doenças crônicas. Vimos o poder público e operadoras de planos de saúde em dificuldades financeiras para arcar com os custos da assistência à população. Enfim, temos contas que não fecham e um sistema hospitalocêntrico focado na medicina curativa, que pagando por produção, sem foco nos meios e nos resultados, penaliza todos os envolvidos. E essa situação precisa mudar no Brasil, como já fizeram outros países e como já estão fazendo alguns Estados brasileiros que iniciaram esse processo de mudança. E essa mudança não deve e não pode ficar restrita ao setor cooperativista. Temos que trabalhar em parceria com o poder público, o setor hospitalar privado e filantrópico e os institutos de autogestão. Acreditamos que uma parceria entre o poder público e o Sistema Unimed e o trabalho conjunto entre as cooperativas e o setor filantrópico e as operadoras de autogestão podem beneficiar os clientes de todos esses segmentos,

Temos que trabalhar em parceria com o poder público, o setor hospitalar privado e filantrópico e os institutos de autogestão pois temos um objetivo comum que é garantir o melhor atendimento aos pacientes e com viabilidade financeira para nossas instituições. Entendemos que o setor de saúde suplementar enfrenta um momento delicado, inclusive com a redução expressiva do número de clientes, fruto da crise econômica, política e institucional que o Brasil enfrenta. Mas, no mercado há espaço para todos os segmentos e cada um precisa buscar a melhor saída para se manter ativo. Nesta edição de Unimed Cerrado em Foco apresentamos a cobertura do simpósio, que abordou novos modelos de atenção integral à saúde adotados com sucesso na Inglaterra, Espanha e Portugal e exemplos implantados pela Unimed Belo Horizonte, Unimed Vitória e Federações das Unimeds do Paraná e Santa Catarina e que vêm dando grandes e inspiradores resultados. Boa leitura e saudações cooperativistas,

Dr. José abel Ximenes

Presidente da Unimed Cerrado Dezembro | 2016 • Ano XXI • Nº 80 • UNIMED CERRADO EM FOCO

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VII SIMPÓSIO DA UNIMED CERRADO

Unimed Cerrado promove discussões sobre mudanças no modelo de assistência à saúde Durante dois dias, o público pôde ouvir e debater com especialistas os desafios da mudança do atual modelo brasileiro de atenção à saúde e conhecer experiências de sucesso implantadas em outros países

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s desafios da mudança do atual modelo de atenção à saúde foram debatidos em Goiânia (GO), nos dias 1º e 2 de dezembro de 2016, durante o VII Simpósio da Unimed Cerrado. O evento, promovido pela Unimed Cerrado e realizado na sede da Sicoob UniCentro Brasileira, reuniu um público atento e formado por lideranças, gestores e técnicos do Sistema Unimed, representantes de órgãos públicos, de instituições de saúde e do setor hospitalar privado, médicos e acadêmicos de medicina, todos interessados em discutir essa mudança que se mostra cada vez mais urgente. A abertura oficial aconteceu na noite de 1º de dezembro, com a participação da diretoria da Unimed Cerrado – José Abel Ximenes, presidente; Danúbio Antonio de Oliveira, diretor Administrativo-Financeiro e de Regulação; Walter Cherubim Bueno, diretor de Integração Cooperativista e Desenvolvimento Institucional, e José de Oliveira e Silva, diretor de Mercado, que participaram de todo o simpósio – e convidados, como o presidente da Unimed do Brasil, Eudes de Freitas Aquino; o vice-presidente, Orestes Barroso Medeiros Pullin, e lideranças do Sistema Unimed.

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José Abel Ximenes: abertura oficial do simpósio

Durante o simpósio, foram apresentadas experiências bemsucedidas de atenção à saúde na Espanha, Inglaterra e Portugal e trabalhos realizados pelo Sistema Unimed no Paraná, Vitória (ES), Santa Catarina e Belo Horizonte (MG). A prioridade à atenção primária à saúde foi citada por todos os palestrantes como o principal alvo das mudanças necessárias no atual modelo assistencial. A experiência portuguesa foi apresentada por Henrique Botelho, coordenador nacional para reforma do Serviço Nacional de Saúde na área dos Cuidados de Saúde Primários de Portugal. O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade e médico de família da Unimed Belo Horizonte, Daniel Knupp Augusto, falou sobre a atenção à saúde na Espanha.

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Gerente médico e especialista clínico da BMJ no Brasil, Ricardo Cypreste, abordou a organização do sistema de saúde na Inglaterra e destacou que é preciso avaliar o trabalho de outros países e construir algo mais adequado à realidade brasileira. A experiência do Paraná foi apresentada pelo gerente de Estratégias e Regulação de Saúde da Unimed Paraná, Marlus Volney Morais. O superintendente de Atenção à Saúde da Unimed Vitória, Paulo Magno do Bem Filho; o diretor-superintendente da Federação das Unimeds de Santa Catarina, Jauro Soares; e o diretor de Provimento de Saúde da Unimed Belo Horizonte, José Augusto Ferreira, falaram sobre projetos que deram certo em suas localidades, com destaque, mais uma vez, para atenção integral a saúde.


eudes de Freitas aquino fala sobre o momento atual do sistema Unimed e da saúde suplementar

Palestrante da solenidade oficial de abertura do VII Simpósio da Unimed Cerrado, o presidente da Unimed do Brasil, Eudes de Freitas Aquino, falou sobre “Avanços, Desafios e Perspectivas do Sistema Unimed” e foi enfático: a mudança nos rumos do cooperativismo de saúde no Brasil implica em uma mudança

de cultura tão radical que nem todos os envolvidos conseguirão participar. “Atualizar o modelo passa previamente por transformá-lo em algo linear e uniforme. Uma só cara, uma só face, um pensamento convergente. Com isso, em um período curto conseguiremos transformar a história do cooperativismo médico no Brasil”, afirmou o presidente. Durante a palestra, ele expôs dados que apontam a estimativa de contratação de 300 mil novos planos de saúde em 2017, mas observou que o número é insuficiente para cobrir as perdas dos últimos anos. De acordo com ele, o número demonstra que a população está sem dinheiro para arcar com os

custos dos planos. Aquino alertou que as diretorias das Unimeds precisam ter em mente o crescimento da demanda por saúde por meio do envelhecimento da população. “Hoje, a maior parte das pessoas com mais de 65 anos tem pelo menos duas doenças crônicas. Esse número de pacientes vai aumentar, eles irão recorrer aos serviços de saúde e não podemos deixar estas pessoas desassistidas”, explicou ele. Para garantir o crescimento da cooperativa nos próximos anos, Aquino ressaltou a importância de realizar atendimento de qualidade e transformar o atual modelo de atenção à saúde colocando o foco no cliente.

Orestes defende a busca da sustentabilidade O vice-presidente da Unimed do Brasil, Orestes Barrozo Medeiros Pullin, abriu a programação do VII Simpósio Unimed Cerrado com a palestra “O Sistema Unimed: desempenho nacional e regional” e destacou a necessidade de discutir os desafios da mudança do atual modelo de atenção à saúde. “Precisamos pensar como sistema estará em 20 ou 30 anos. Não estaremos aqui, mas os médicos brasileiros estarão. É preciso pensar em um modelo diferente. Com a forma ‘tradicional’, já sabemos que não é possível continuar”, afirmou, ressaltando que a necessidade de reduzir despesas é um dos pontos que enfatizam a urgência da mudança. Segundo Pullin, todos os anos o custo para o contratante de serviços é reajustado, mas as despesas crescem na mesma proporção. “Com isso, temos dificuldade de sair do lugar, apesar do espaço de crescimento ser muito grande”, explicou.

Ainda de acordo com ele, os resultados da discussão sobre o modelo não serão vistos em breve, pois se trata de mudança cultural, mas ele enalteceu a necessidade do debate realizado ao longo do simpósio e observou que a responsabilidade está nas mãos dos dirigentes e parceiros da Unimed. “Mais do que buscar o resultado financeiro, é preciso criar um sistema sustentável”, afirmou.

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VII SIMPÓSIO DA UNIMED CERRADO

simpósio recebe coordenador do

Ministério da Saúde de Portugal Henrique Botelho apresentou o Sistema Nacional de Saúde, modelo universal desenvolvido em Portugal

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coordenador nacional para reforma do Serviço Nacional de Saúde (SNS) na área dos Cuidados de Saúde Primários do Ministério da Saúde de Portugal, Henrique Bo-

telho, ministrou a palestra “Atenção Integral à Saúde: experiências de Portugal”, que fechou a primeira tarde de discussões do VII Simpósio Unimed Cerrado. Botelho expôs como funciona o SNS, um sistema universal, geral e definido pelo palestrante como uma história de sucesso. “Ninguém é excluído do sistema, independentemente de ter um plano de saúde particular ou ser um imigrante ilegal”, explicou. Como a saúde pública é sustentada com os impostos pagos pelos cidadãos, Botelho esclareceu que o SNS não pode ser classificado como ‘de graça’, porque “pagamos

por ele quando somos jovens e saudáveis e descontamos ao usar o serviço quando ficamos doentes. É gratuito quando é requisitado, mas o pagamento foi realizado antes”. Ele explicou que a reforma na saúde pública em Portugal começou após reflexão dos responsáveis em relação a modelos mais interessantes que encontraram em outros países. “Começou, então, a busca por um novo perfil de profissional e um sistema que atendesse às necessidades das pessoas e que não fosse centrado na doença, mas na saúde”, disse o médico.

Na espanha, 35 mil médicos trabalham na atenção primária O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, Daniel Knupp Augusto, falou sobre as experiências da Espanha com a atenção integral à saúde. Médico de família na Unimed Belo Horizonte, ele conheceu o modelo de saúde espanhol após um intercâmbio no país. Hoje, a Espanha conta com cerca de 2,8 médicos para cada mil habitantes. No Brasil, existe 1,8 médico para cada mil habitantes. Knupp destacou que 35 mil médicos espanhóis trabalham na atenção primária à saúde, o que representa cerca de um terço do total. No Brasil, são menos de 10%. “Os médicos de família e pediatras são os especialistas mais presentes na atenção primária na Espanha. Para cada mil habitantes, existe 0,8 médico na atenção

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primária. É um indicador adequado e precisamos pensar nesse número ao discutirmos o que iremos oferecer no futuro por meio do Sistema Unimed”, afirmou Knupp.


VII SIMPÓSIO DA UNIMED CERRADO

Controle de qualidade na inglaterra é

destaque em palestra

Gerente médico e especialista clínico da BMJ no Brasil, Ricardo Cypreste compartilhou informações e experiências de atenção à saúde na Inglaterra durante o VII Simpósio Unimed Cerrado. Nesta entrevista, ele fala sobre o assunto. Confira: Quais características do sistema de saúde da inglaterra o senhor destaca? O controle de qualidade que eles fazem é muito bom e tem um foco muito importante, desde o educacional até à implementação. Com estas informações, é possível regionalizar a qualidade, pois nenhuma localidade é igual à outra. Esses dados são utilizados também na construção de projetos e para realizar parcerias público-privadas. Acredito que os sistemas público e particular se complementam na saúde. Como avalia a importância das discussões realizadas no simpósio? Como médico de família e entusiasta da atenção primária à saúde,

acredito que compartilhar experiências nestas oportunidades é fundamental para construir um modelo próprio. Não existe uma receita de bolo, mas quando analisamos as experiências de outros países e regiões do Brasil, construímos algo mais adequado para a nossa realidade. Os projetos de administração e governança são criados assim. Qual a importância do investimento em qualificação profissional neste processo? A qualificação profissional e padronização de atendimento baseado em evidências precisam andar juntos com a estratégia de implementação e criação de novos projetos. Sem a qualificação dos profissionais, um novo sistema de

atenção à saúde pode ser implementado por gênios, que não vai dar certo. É comprovado por estudos que a medicina baseada em evidencias gera qualidade, diminui erros, aumenta a resolutividade e diminui custos. É bom para o médico, paciente e empresa.

experiência de sucesso no Paraná Um exemplo de mudança implantada no atual modelo de atenção à saúde foi apresentado no simpósio pelo gerente de estratégia e Regulação de Saúde da Unimed Paraná, Marlus Volney Morais. Trata-se do Centro de Atenção Personalizada à Saúde (APS), já em funcionamento no Paraná com equipes de profissionais que oferecem o serviço focado nas necessidades dos pacientes. De acordo com Morais, no Centro APS, o paciente passa pela recepção do estabelecimento, pelo técnico de enfermagem, por uma breve consulta com um enfermeiro e é encaminhado ao médico. O Centro APS também conta com psicólogo, nutricio-

nista, fisioterapeuta e farmacêutico em sua equipe de apoio. “É preciso criar um time e ter uma equipe de Tecnologia de Informação forte para que o sistema dê certo. Os profissionais também precisam ter discussões sobre os casos para saberem o que está sendo feito”, disse. Ele destacou que a mudança no modelo traz viabilidade para financiar a atenção à saúde de qualidade e boa remuneração para os profissionais. “A qualidade é uma questão intrínseca do serviço de saúde. Nós, como cooperativa, fazemos saúde pública. A diferença entre a Unimed e o Sistema Único de Saúde (SUS) é a gestão”, disse o gerente.

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VII SIMPÓSIO DA UNIMED CERRADO

Unimed Personal é destaque na

Unimed Vitória

Implantado em 2012, o serviço já atende 13 mil vidas e conta com 15 médicos de família em apenas uma de suas unidades

O

superintendente de Atenção à Saúde da Unimed Vitória (ES), Paulo Magno do Bem Filho, participou do VII Simpósio Unimed Cerrado e falou sobre o Unimed Personal, um produto de sucesso lançado pela Unimed Vitória em 2012. Ele recordou que as discussões sobre a implantação do produto começaram em 2008, quando membros da diretoria da cooperativa fizeram uma série de viagens de troca de experiências com sistemas de atenção à saúde de outros estados do Brasil e de outros países. “O primeiro passo para mudar é a tomada da decisão e toda diretoria precisa estar comprometida com isso”, explicou o superintendente.

De acordo com ele, o Unimed Personal é o único produto para pessoa física oferecido pelo departamento comercial da cooperativa. “Não falamos sobre médico de família ou atenção primária, apesar de o conceito realmente ser este. Tomamos esta decisão para que os clientes não confundissem o produto com algo de menor importância”, disse. Atualmente, a Unimed Vitória tem seis unidades que atendem clientes Personal. A maior delas assiste 13 mil vidas e possui mais de 15 médicos de família, além de clínico geral, ginecologista e pediatra. “Nosso modelo está focado nas necessidades do cliente e não do médico. Um dos nossos principais objetivos

é fazer com que o paciente tenha vínculo com a equipe e com a unidade, pois acreditamos que nisso está a receita do sucesso do nosso trabalho e do bem-estar dos nossos clientes”, afirmou Bem Filho.

Na Unimed Belo Horizonte, cresce a adesão ao Unimed Pleno O Unimed Pleno é o produto oferecido pela Unimed Belo Horizonte que tem foco na atenção primária à saúde e valoriza a relação entre médico e paciente. A experiência mineira foi apresentada no VII Simpósio Unimed Cerrado pelo diretor de Provimento de Saúde da Unimed Belo Horizonte, José Augusto Ferreira. O produto em questão foi lançado em maio de 2013, mas na época não teve sua divulgação impulsionada e as vendas foram baixas. Dois anos depois, a Unimed Belo Horizonte decidiu investir em atenção primária de forma

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veemente e relançou o Unimed Pleno. Em um ano, a quantidade de clientes que possuem o produto saltou de 5 mil para 34 mil. “O Unimed Pleno também se tornou uma alternativa diante da crise econômica, porque é um produto mais barato que os demais”, afirmou Ferreira. De acordo com o diretor, o Unimed Pleno foi um instrumento fundamental para fidelizar clientes que poderiam ter tirado o plano de saúde do orçamento familiar devido à crise, mas encontraram no produto uma forma de ter assistência de qualidade com preço menor.


VII SIMPÓSIO DA UNIMED CERRADO

em santa Catarina, atenção primária à vocês sabia???

saúde ganha espaço na Unimed Com investimento em profissionalização, novos multiplicadores dos benefícios do novo modelo são formados no Estado

A

s Unimeds de Santa Catarina estão dando os primeiros passos rumo à mudança no modelo de atenção à saúde. Este foi o assunto debatido na palestra ministrada pelo diretor superintendente da Federação das Unimeds de Santa Catarina, Jauro Soares, durante o VII Simpósio Unimed Cerrado. O processo de implantação de unidades que assistem pacientes em Atenção Primária à Saúde (APS) já começou no Estado e, segundo Soares, enfrenta diversos desafios, sendo o principal deles a

mudança de pensamento de diretores e médicos cooperados. “Precisamos acelerar o processo. Mesmo que ocorram falhas no início, podemos corrigi-las com o passar do tempo. A mudança na forma de atender nossos clientes é uma necessidade”, ressaltou. Para implantar as primeiras APSs, a Unimed Santa Catarina investiu na sensibilização de médicos e colaboradores em relação ao novo modelo. “Realizamos palestras e cursos e, hoje, nosso projeto piloto transformou-se em referência no Estado”, contou.

Mesa-redonda debate o modelo de atenção à saúde

O VII Simpósio Unimed Cerrado foi encerrado com uma mesa-redonda que contou com a participação do presidente da Unimed Cerrado, José abel Ximenes; ricardo Cypreste, da BMJ Brasil; Henrique Botelho, do Ministério da Saúde de Portugal; José augusto Ferreira, da Unimed Belo Horizonte, e Teófilo Lopes da Silva, da Unimed Goianésia. Os assuntos que se destacaram na discussão sobre modelos de atenção à saúde foram a remuneração dos profis-

sionais, os desafios para aplicar a transformação de modelo e a necessidade de mudança de cultura. Henrique Botelho ressaltou que o modelo de atenção à saúde em que o médico fica isolado em seu consultório está falido. “Um sistema de saúde não pode mais estar associado ao médico, mas às necessidades dos pacientes”, disse, frisando também a importância de mudar a concepção que a sociedade brasileira tem de que atenção primária à saúde é algo destinado a pessoas de baixa renda. “Enquanto o pensamento for este, não vai funcionar”, concluiu. Ximenes enfatizou que é importante que médicos aceitem as mudanças que são necessárias ao modelo de atenção à saúde e destacou também a necessidade de criação de mecanismos que garantam a remuneração adequada diante do serviço complexo que é prestado por estes profissionais.

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VII SIMPÓSIO DA UNIMED CERRADO

O simpósio cumpriu o seu papel Organizadores e participantes do simpósio avaliaram o evento que, segundo eles, cumpriu seu objetivo e deu uma grande contribuição ao debate sobre a mudança do modelo assistencial

A

sétima edição do Simpósio da Unimed Cerrado chegou ao fim com a certeza de ter cumprido o papel proposto pelos organizadores, que era o fomento e a contribuição para o debate da mudança do modelo de assistência à saúde. “Avançamos na discussão de uma nova forma de organização dos serviços de saúde”, afirmou o presidente da Unimed Cerrado, José Abel Ximenes, ressaltando que os profissionais de saúde, especialmente os dirigentes e cooperados do Sistema Unimed, precisam

aceitar as mudanças e cabe aos dirigentes das cooperativas proporcionarem esta transformação no Sistema Unimed. O diretor Administrativo-Financeiro e de Regulação da Federação, Danúbio Antonio de Oliveira, concordou que a missão do simpósio foi cumprida, dando início a uma discussão que deve continuar para que as mudanças sejam implementadas. Para José de Oliveira e Silva, diretor de Mercado da Federação, é preciso mudar também a mentalidade de médicos que estão atendendo,

mostrar que uma boa consulta clínica e o acompanhamento do paciente podem tirar o foco do excesso de exames, por exemplo. Walter Cherubim Bueno, diretor de Integração e Desenvolvimento Cooperativista, observou que o Sistema Unimed, que completa 50 anos em 2017, já está percebendo que precisa mudar para assegurar sua sustentabilidade no mercado e as experiências de mais de meio século implantadas nos países europeus e apresentadas no simpósio podem inspirar essa mudança.

Palavra dos participantes “Participei das oficinas no primeiro dia do simpósio e das palestras no segundo. Os assuntos abordados foram extremamente relevantes. O assessor jurídico da Unimed Cerrado, Daniel Faria, soube explicar de forma muito clara as novas resoluções da Agência Nacional de Saúde Suplementar. Durante a oficina foi possível perceber a interação de pessoas que lidam com o mercado e atendimento, e não apenas dos advogados” roberta Soares “Gostei muito de escutar sobre as experiências de outros países em relação à atenção à saúde, acredito que esta oportunidade vai gerar crescimento para a nossa região. As propostas de mudanças são interessantes, mas, como destacou Henrique Botelho em sua palestra sobre Portugal, uma mudança cultural é necessária e é uma das mais complexas” Thais regina Perdigão

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“A Unimed Araguaína já pensa em mudar o modelo de atenção à saúde há pelo menos dois anos. Já estivemos em Vitória para conhecer o sistema deles. O incentivo da Federação é fundamental para alavancar a nossa região neste novo modelo. A Unimed precisa entrar em uma nova era para que possa sobreviver aos próximos anos” Cesar augusto Delgado, superintendente da Unimed araguaína

“Como médica de família, sinto a necessidade de mudança no modelo de atenção à saúde. Na saúde suplementar, o paciente, quando sente uma dor, não sabe qual médico procurar. Ter um profissional generalista otimiza o serviço. Como vimos na experiência da Unimed do Paraná, esta mudança reduz custos e traz mais qualidade para o serviço” - Belise Evangelista

“Acredito que a Unimed Cerrado foi feliz com a escolha do tema do simpósio. O modelo de atenção integral à saúde está se impondo no momento. O que está vigente no nosso País, baseado em especialidades, não está se sustentando. E isso está acontecendo no mundo inteiro” Paulo César rangel – diretor de Controle da Unimed Federação Minas

“É preciso mudar o modelo de atenção ao cliente. Estar começando e conhecer as experiências de outros países e Estados é muito importante e nos ajuda na mudança” - Luiz Paulo da Silveira – presidente da Unimed Gurupi

“A discussão sobre a transformação do modelo de atenção à saúde é imprescindível e já acontece no Brasil inteiro. Onde a mudança já começou, os resultados já aparecem. Todas as palestras do simpósio foram esclarecedoras e nos deram a oportunidade de trazer itens relevantes para a nossa região, os adequando à nossa realidade” - ana Carolina arantes Coutinho Costa – associação Goiana de Medicina de Família e Comunidade “Como representante dos hospitais de alta complexidade de Goiás, entendo que participar desta discussão é muito importante para nós. Queremos tratar o paciente dentro daquilo que ele precisa. Se o modelo mudar, vai ser muito bom para os hospitais quanto aos atendimentos de emergência, pois 50% deles são ambulatoriais, que poderiam ser assistidos no modelo proposto nas palestras do simpósio” - rodrigo Hernandez – associação dos Hospitais Privados de alta Complexidade do Estado de Goiás (ahpaceg)

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VII SIMPÓSIO DA UNIMED CERRADO

Oficinas abordam temas técnicos de

planos de saúde

A venda online de produtos pelas operadoras de planos de saúde foi um dos temas das oficinas técnicas realizadas durante o simpósio Com o objetivo de aprimorar o conhecimento dos profissionais que atuam no Sistema Unimed, foram ministradas oficinas técnicas nas áreas de Mercado, Jurídica, Tecnologia da Informação e Contábil. As oficinas foram realizadas ao longo do primeiro dia do VII Simpósio Unimed Cerrado. A oficina Contábil, que teve como palestrante Janaina Oliveira, da Assessoria Contábil da Unimed do Brasil, abordou temas, como impactos contábeis e fiscais do intercâmbio; múltipla contabilidade e guarda dos arquivos digitais e lastro, ativos garantidores e vinculação das provisões técnicas. O Registro Eletrônico em Saúde (RES), a Informática Médica e o Doctor’s Office, o uso do prontuário eletrônico do paciente e a segurança na transmissão de dados foram assuntos

abordados na oficina de Tecnologia da Informação. O assessor jurídico da Unimed Cerrado, Daniel Rodrigues Faria, foi um dos palestrantes das oficinas de Mercado e Jurídica, que abordaram temas, como a venda online de planos de saúde, o cancelamento de planos individual e familiar e a exclusão de beneficiários de contrato coletivo empresarial ou por adesão. “Os temas são de grande importância. Abordamos as resoluções 412 e 413 da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). São decisões mais recentes da área de mercado. A discussão é importante para atualizar os técnicos que lidam diretamente nessas áreas”, explicou Faria. De acordo com o assessor jurídico, as questões mais levantadas pelos participantes das oficinas disseram respeito ao cancelamento de

Curso aborda a gestão de custos e recursos próprios Com cerca de dez horas de duração e também realizado no primeiro dia do VII Simpósio da Unimed Cerrado, o curso Gestão de Custos de Operadoras/ Recursos Próprios foi ministrado por Robson Luís Espírito Santo, sócio-diretor da XHL Consultoria. O curso enfocou

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temas, como recursos próprios, conceituação e estruturação dos centros de custos, o procedimento médico hospitalar, gestão estratégica, demonstração dos resultados, análises de custos para fins gerenciais e o relacionamento entre operadora e recursos próprios.

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plano de saúde e exclusão de beneficiário. Faria explicou que a ANS cria regras para as operadoras de planos de saúde, mas, muitas vezes, estas normas também envolvem as empresas contratantes, que não estão ligadas ao órgão. “As operadoras acabam como responsáveis por comunicar as mudanças às empresas, e muitas vezes essa situação, esse relacionamento é complicado”, disse o assessor jurídico. Jania D’amario, da área de Gestão Estratégica e Relacionamento com Unimeds da Unimed do Brasil; Eduardo Hammes Torres, da Quemais Comunicação; Paulo Henrique Oliveira, da Unimed Anápolis, e Cátia Sampaio Loureiro Motta, da AxisMed/Telefônica, também ministraram palestras na oficina de Mercado e Jurídica.


Galeria

Oficina de Mercado e Jurídica

Oficina de TI

Pausa para o café

Festa de encerramento e confraternização

Abertura oficial do VII Simpósio da Unimed Cerrado

Diretores: Walter Cherubim Bueno (esq.), José Abel Ximenes, Danúbio Antonio de Oliveira e José de Oliveira e Silva

Sorteio de brindes dos patrocinadores

Entrevista à Rádio 730

Sorria: presença registrada

Confraternização: diretores, palestrantes e convidados Dezembro | 2016 • Ano XXI • Nº 80 • UNIMED CERRADO EM FOCO

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MEMÓRIA DO COOPERATIVISMO – PERSONAGENS

Saudosas lideranças

do cooperativismo são homenageadas pela Unimed Cerrado Três grandes nomes do cooperativismo brasileiro e mundial, falecidos em 2016, foram homenageados durante a abertura do VII Simpósio da Unimed Cerrado. Na homenagem, a Federação destacou a importância do trabalho realizado e agradeceu o legado deixado ao setor cooperativista por Edmundo Castilho, Raimundo Viana de Macedo e José Carlos Guisado

edmundo Castilho: o pai do sistema Unimed

Edmundo Castilho foi o idealizador e fundador da primeira cooperativa de trabalho na área médica do Brasil e das Américas: a Unimed Santos. Natural de Penápolis, no interior de São Paulo, ele deixou sua cidade natal, tornou-se médico e a medicina brasileira ganhou muito com essa decisão, pois, além da dedicação aos pacientes, Castilho se preocupou também com o exercício digno da profissão, que assegurasse um atendimento de qualidade à

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população e condições de trabalho justas aos colegas médicos. Ele faleceu no dia 9 de junho de 2016, aos 86 anos de idade. Foi um visionário, que sonhou, acreditou, trabalhou e conseguiu dar origem à maior cooperativa de trabalho médico do mundo, que um dia disse ser a “filha que não teve”. Em Goiás e no Tocantins, não mediu esforços nas andanças e no trabalho de mobilização da classe médica para a criação de Unimeds. Assim, deixou seu nome no histórico da fundação da Unimed Catalão, da Unimed Gurupi, da Unimed Palmas, da Unimed Goiânia, dentre outras, e escreveu seu nome na história do Sistema Unimed e da medicina brasileira. Também em Goiás e no Tocantins, apoiou a criação de todas as estruturas do Sistema Unimed e do cooperativismo, como cooperativas de crédito, de usuários e a Seguros Unimed. A Unimed Cerrado e as Unimeds federadas têm muito que agradecer a Edmundo Castilho pelo que fez e por tudo o que ensinou a todos. Continuar cuidando do Sistema Unimed, seu grande legado, é uma forma de homenageá-lo e de demonstrar essa gratidão.


raimundo viana de Macedo: um incentivador do cooperativismo Falecido em 11 de abril de 2016, aos 69 anos de idade, o médico e então presidente da Unimed Santos, Raimundo Viana de Macedo, também teve seu trabalho publicamente reconhecido pela Unimed Cerrado. Para os companheiros de profissão, a dedicação dele à medicina e ao cooperativismo faz muita falta, entretanto, os ensinamentos deixados seguem orientando o crescimento diário do Sistema Unimed, do qual Raimundo Viana de Macedo era uma grande liderança e um dos maiores incentivadores. Raimundo Viana de Macedo foi presença constante em eventos promovidos pela Unimed Cerrado e sempre se mostrou um defensor apaixonado do cooperativismo de trabalho médico. Em entrevista ao jornal “Unimed Cerrado em Foco”, publicada em 2012, ele avaliou a evolução do Sistema Unimed, que completava 45 anos de fundação, e confidenciou sua satisfação ao ver que a Unimed se perenizou, pois, de acordo com ele, isso era algo que nem os fundadores tinham a certeza que aconteceria.

José Carlos Guisado: atenção especial à Unimed Cerrado

O médico espanhol José Carlos Guisado, que faleceu no dia 14 de outubro, em Québec, no Canadá, aos 61 anos de idade, também recebeu justas homenagens da Unimed Cerrado. Ele era CEO da Fundação Espriu, na Espanha, que reúne cooperativas espanholas de saúde, presta serviços a mais de 2 milhões de pessoas e emprega mais de 30 mil profissionais de saúde.

Presidente da Organização Internacional de Saúde Cooperativista e membro do Conselho da Aliança Cooperativa Internacional, Guisado dedicou mais de 30 anos ao cooperativismo, que ele dizia ser um sistema capaz de fazer a diferença na sociedade e ressaltava que as cooperativas de saúde têm uma abordagem diferente para a assistência ao paciente, sendo adequadas para os países desenvolvidos e em desenvolvimento. A Unimed Cerrado sempre recebeu uma atenção muito especial de José Carlos Guisado durante visitas técnicas do presidente, José Abel Ximenes, e de comitivas da Federação às cooperativas espanholas. Guisado sempre fez questão de compartilhar seu conhecimento de forma generosa, enriquecendo o aprendizado e cooperando para o crescimento das cooperativas. Ele também era um defensor de uma maior parceria entre o poder público e o setor cooperativista, que muito perdeu com sua morte, mas ficou com seu exemplo, que inspira os profissionais da área a seguirem com a construção do cooperativismo.

Dezembro | 2016 • Ano XXI • Nº 80 • UNIMED CERRADO EM FOCO

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ARTIGO – LENA CASTELLO BRANCO

De Mudanças e

Certezas O que distingue o ser humano é a capacidade de questionar, raciocinar, entender e acumular conhecimentos – além de conservá-los e transmiti-los às novas gerações. Com o passar dos anos, nas diversas ciências consagram-se certezas que passam a vigorar como definitivas e perduram por muito tempo. Foi o caso, por exemplo, da chamada teoria geocêntrica, segundo a qual a terra seria o centro do universo. Dúvidas ou divergências a respeito eram vistas como heresias e podiam levar aos tribunais da Inquisição. Como ocorreu com Galileu Galilei, um dos formuladores da teoria heliocêntrica, afinal aceita depois de muitos séculos de estudos, debates e controvérsias. Nas searas da medicina, mudanças também aconteceram (e acontecem) de forma lenta e cumulativa. Assim é que a teoria humoral das doenças prevaleceu desde Hipócrates (sec. IV a.C.) até a Idade Contemporânea. Supunha-se que as doenças decorriam da desarmonia dos quatro humores do organismo [sangue, fleuma, bile amarela e bile negra], e que, para recuperar a saúde, era necessário retirar do corpo o humor alterado. Como assinala Joffre Marcondes de Rezende (1): “A doutrina da patologia humoral guiou a prática médica e somente começou a perder terreno com a descoberta da estrutura celular dos seres vivos graças ao descobrimento da microscopia”, em meados do século XIX. E prossegue: “A milenar doutrina da patologia humoral foi substituída pela patologia celular”, seguindo-se outras descobertas

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* Lena Castello Branco Ferreira de Freitas é doutora em História, professora Titular (aposentada) da Universidade Federal de Goiás, sócia emérita do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, sócia fundadora da Sociedade Brasileira de História da Medicina e acadêmica da Academia Goiana de Letras. (lenacastelo@uol.com.br)

revolucionárias na medicina e em áreas correlatas. O desenvolvimento de instrumental científico avançado também contribuiu para que fossem superadas antigas práticas relativas ao equilíbrio do organismo, segundo as quais o papel da terapêutica seria ajudar a physis (natureza) a seguir os seus mecanismos normais. A febre, vista como uma reação do corpo para coser os humores em excesso, devia ser debelada com a expulsão deles através de purgativos, clisteres, vomitório e sangria. Na medicina moderna, são empregados procedimentos e medicamentos a cada dia mais eficazes, produzidos por laboratórios e indústrias farmacêuticas, algumas das quais são multinacionais gigantescas. Nas últimas décadas, começaram a desenvolver-se terapias genéticas que levam esperança a portadores de doenças até recentemente vistas como fatais. Isso sem falar nos avanços de equipamentos que permitem diagnósticos e intervenções cirúrgicas inimagináveis há poucos anos. Como acontece no campo da reprodução assistida, que tão de perto se aproxima do mistério ontológico que é a própria origem da vida. Na terapêutica empregada no dia-a-dia, entretanto, é visível a permanência de velhas ideias e procedimentos, ao lado da medicina moderna. Por exemplo: a crença popular inabalável no poder curativo dos purgantes, para expulsar o que haveria de “ruim” no organismo, comprova a sobrevivência da teoria humoral neste início do século XXI.

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Mais ainda quando é associada a garrafadas, chás e infusões à base de raízes que “depuram” e “afinam” o sangue. Tudo misturado a antibióticos regularmente prescritos por médicos, que ninguém dispensa uma boa e velha benzetacil... Registre-se outrossim a volta da crença na importância da alimentação como base da vida saudável e da longevidade. Ao lado da preeminência de estudos de nutrição e nutrologia, persiste a aceitação de antigas categorias de alimentos “frios” ou “quentes”, “saudáveis” ou “reimosos” – o que traz consigo a força da cultura popular, fenômeno de longa duração da História. Não raro, parece surpreendente a exaltação por cientistas e pesquisadores, de espécimes vegetais – tais como o açaí, a quinua, a batata doce, o inhame e o cará - consumidos tradicionalmente nos extratos desfavorecidos da população. De igual modo, a revalorização de um dos alimentos mais difundidos do planeta: o ovo. Durante décadas, execrado como perigosa fonte de “mau” colesterol foi resgatado por nutricionistas e nutrólogos, o que parece ótimo em termos de acesso a melhores padrões de alimentação: entre os pobrezinhos, tanto na roça como na cidade, onde há um pedaço de quintal criam-se galinhas poedeiras. O que seria mais saboroso do que um singelo prato de ovo com arroz soltinho? . 1 REZENDE, Joffre Marcondes de. Dos quatro humores às quatro bases. In À sombra do Plátano. Crônicas de História da Medicina. São Paulo: Unifesp, 2009, p. 49-53.


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