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Memória da capital preservada no coração da Cidade Baixa

Desde 1979, o Solar Lopo Gonçalves, na rua João Alfredo, abriga o Museu Joaquim Felizardo, com o propósito de manter viva a história de Porto Alegre

Quem passa pela rua João Alfredo, na Cidade Baixa, conhecida pelos seus bares, talvez nem imagine que o número 528 abriga o Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo. Localizado no antigo Solar Lopo Gonçalves, que também é um patrimônio histórico tombado, o museu possui um imenso acervo arqueológico, fotográfico e tridimensional da capital.

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Construído entre 1845 e 1855, inicialmente foi uma espécie de casa de veraneio da família de Lopo Gonçalves, já que ficava em uma localidade fora do limite urbano da cidade. Com o passar do tempo, tornou-se a casa oficial da família e assim permaneceu até os anos 1940, quando foi vendida para Albano Volkmer, um empresário alemão que fundou uma fábrica de velas no local.

Em 1966, o solar passou para o controle do Serviço de Assistência e Serviço Social dos Economiários, que pretendia construir um condomínio para os empregados do setor. “A casa já era um dos poucos remanescentes de um estilo arquitetônico conhecido como de transição, marcado pela passagem do colonial para o neoclássico, então, em 1976, começou um movimento para a sua preservação”, conta a museóloga da instituição, Luciana Brito. “A nossa missão é preservar e comunicar a história da cidade, contar a história de Porto Alegre e do seu povo”, descreve.

Nossa missão é preservar e comunicar a história da cidade”

Quando o Museu começa, em 1979, ele passa a reunir objetos da elite da época. Com o tempo, segundo Luciana, a instituição vai incorporando peças afro-brasileiras, indígenas e pré-coloniais. “Afinal de contas, a história de Porto Alegre começa muito antes dos açorianos”, destaca a museóloga. “Inclusive, o museu fica na Cidade Baixa, teritórrio negro por tradição”, lembra.

Manutenção

A maior parte das cerca de 300 mil peças do museu compõem o acervo arqueológico. “Objetos encontrados em 91 sítios arqueológicos de Porto Alegre estão aqui, pois somos uma das poucas instituições aptas pelo Iphan para acolher esses objetos”, explica Luciana. Há peças de cerâmica indígena, principalmente Guarani, e itens de acervo afro-brasileiro. A coleção tridimensional possui cerca de 1.300 objetos dos séculos 19 e 20, entre louças, documentos e vestuários. E o acervo fotográfico reúne em torno de 10 mil imagens, fotos e postais. Mas a preservação dessa memória é um desafio. O museu não possui climatização, apenas conta com desumidificadores. Por ser um prédio tombado, não é possível instalar ar-condicionados nas paredes, por exemplo. A única solução seria um sistema de refrigeração central, que demandaria alto investimento.

A atual diretora do Joaquim Felizardo, Elizabeth Corbetta, que assumiu a gestão em 2022, conta que encontrou o museu em condições precárias.

“No período em que o museu ficou sem vigilância foram roubadas as grades do fosso que cerca a casa, além de outros furtos que aconteceram em 2021”, conta.

“Era muito arriscado voltar a receber visitas, principalmente, de escolas e de crianças.

Não tínhamos câmeras de vigilância funcionando, não tínhamos Wi-Fi, era uma série de coisas que precisava e foi feito”.

Conforme a Lei 13.280/22 - Lei de Diretrizes Orçamentárias do Município de Porto Alegre para 2023, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa possui um orçamento previsto de R$ 35,6 milhões. Entretanto, não está previsto nenhum repasse especial para investimento ou manutenção do Museu Joaquim Felizardo e apenas R$ 11 mil estão na rubrica “memória da cidade”.

Visibilidade do acervo

Algumas iniciativas buscam tornar o acervo do museu cada vez mais conhecido. Até o começo de 2023, conforme Luciana Brito, a instituição tinha um setor educativo muito atuante, mas que está parado em função da saída das servidoras que tocavam os projetos. “O único projeto que conseguimos continuar por enquanto é o Caixas de Memória, caixas temáticas montadas com objetos do acervo do museu que são utilizadas pelas professoras para o preparo de aulas espe-

Museu guarda mais de 300 mil objetos arqueológicos, que são motivo de orgulho para a museóloga Luciana Brito ciais”, conta. O Museu também é conhecido pelos seus recursos de acessibilidade, que compreendem plataforma elevatória, banheiro acessível, audiodescrição das exposições e a maquete tátil do Museu. “Desde a pandemia, quando começamos a utilizar mais as redes sociais para compartilhar as peças do nosso acervo, todas as nossas postagens de fotografias, imagens de objetos e etc., possuem audiodescrição também”, completa Luciana.

Segundo Elizabeth, para cumprir a sua função social, o Museu tem que ser um espaço habitado pelas pessoas: “Acervos guardados são depósitos. Para fazer sentido, as pessoas têm que conhecer o que temos aqui”.

Para ela, eventos como a Noite dos Museus são essenciais. Na edição deste ano, houve fila na porta de entrada durante a noite toda. A mostra Patrimônio Imaterial: As Lendas Urbanas de Porto Alegre foi a que mais chamou atenção de Mariah da Fonseca: “A maioria das lendas eu já conhecia, mas não sabia que eram baseadas em crimes reais e muito menos que se tratavam de acontecimentos que se passaram em Porto Alegre”. Além disso, a visitante disse que nunca tinha visto esse tipo de exposição em outro museu. Embora já tivesse passado pela frente da casa, essa foi a primeira vez que ela entrou para conhecer a memória guardada na instituição.

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