REVISTA UPLANET JANEIRO 2018

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Janeiro.2018

A ECONOMIA DE BAIXO CARBONO FLORESCE EM PERNAMBUCO

A TECNOLOGIA REVOLUCIONA O APRENDIZADO

ÔNIBUS ELÉTRICO CHEGA EM RECIFE E NORONHA

PARQUE DE SOLUÇÕES SUSTENTÁVEIS MOSTRA INOVAÇÕES


UM ESPAÇO DOIS SÉCULOS DE HISTÓRIA UM FUTURO DE POSSIBILIDADES SENDO COCRIADO

Hub de impacto econômico, social e sustentável que une cultura, inovação design, comunicação e empreendedorismo criativo. Ambiente inovador para conectar ideias e pessoas com vontade de transformar problemas em soluções.

CURSOS * PALESTRAS * WORKSHOPS * FEIRAS * FILMES EXPOSIÇOES * ATIVIDADES CULTURAIS * MENTORIAS ˜ POCKET SHOWS * E OUTRAS EXPERIMENTAÇÕES


+55 81 3366.9666 Praรงa do Arsenal

Recife Antigo - Pernambuco


04

EDITORIAL

PERNAMBUCO DÁ PASSOS PIONEIROS EM DIREÇÃO À ECONOMIA DE BAIXO CARBONO

N

Nas últimas edições da uPlanet mostramos a importante (R) evolução que alguns personagens (públicos e privados) têm causado

quando o assunto é transformar dificuldades em

oportunidades. Nesque quesito, Pernambuco tem chamado atenção, puxando a emergente revolução da Economia de Baixo Carbono.

Não é novidade que o nosso planeta está em risco de graves mudanças climáticas e a humanidade é a principal responsável e provável maior vítima desta situação. Reduzir o aquecimento global, diminuindo rapidamente as emissões de gases poluentes, é o maior desafio do século XXI. Mas a boa notícia é descobrir as imensas oportunidades desse processo. Além de melhorar a qualidade de vida nas grandes cidades e tornar a nossa Terra mais verde e azul, reduzir as emissões de gases de efeito-estufa significa criar uma nova economia mais inclusive, saudável e equilibrada. Foi com esta convicção, que o Movimento uPlanet

realizou

a Conferência Internacional FutureCity, em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco (SEMAS) e a Secretaria de Meio Ambiente do Recife, integrada ao Festival Rec’n’Play do Porto Digital. O Encontro

reu-


SUMÁRIO

niu importantes especialistas para dialogar sobre Inovação, Sustentabilidade, Conexão e Cooperação, visando construir novos caminhos para um futuro sustentável. Mas o evento foi muito além da teoria, dos conceitos e dos debates. Avançou concretamente na implementação de soluções práticas, provando que Pernambuco já começa a colher flores das sementes plantadas nos últimos 3 anos desse movimento: No FutureCity

foi anunciada

a fase

de testes do primeiro Ônibus 100% Elétrico em Recife e Fernando de Noronha (parceria da SEMAS com a Chinesa BYD); lançada a nova Rede

de Energia Solar de

100 MW (da Pernambucana Blue Sun); apresentada a nova Plataforma de Veículos Elétricos Compartilhados (consórcio com experiência internacional da Autolev, Fractal e VivaBR); formalizado o projeto da Mini-Cidade Sustentável do Parque Dois Irmãos (SEMAS e COMPESA) e consolidado o Parque de Soluções Sustentáveis das ilhas do Recife e de Fernando de Noronha, com assinatura de Termo de Compromisso do governador de Pernambuco Paulo Câmara e do prefeito do Recife Geraldo Júlio. Mais do que nunca é preciso trocar inspirações e conhecimentos, pois o desafio que temos não será solucionado com respostas isoladas ou desconectadas. O tempo está correndo contra a civilização baseada no petróleo, mas acreditamos que ainda dá tempo de mudar o horizonte,

de

cinza

fumacento

para

azul

límpido.

Por isso, convido a todos a sair da zona de conforto degenerativo e entrar na zona de confronto criativo... a zona de confronto de ideias limpas para a construção de uma sociedade sustentável, inclusiva e colaborativa. Boa Leitura e

muita inspiração!!

Maria Luciana Nunes Editora Geral marialuciananunes@gmail.com

05


06

EXPEDIENTE

1

4

7

3

6

2

EDITORA GERAL

FOTÓGRAFO

1. Maria Luciana Nunes

6. Thais Lima

REPÓRTERES 2. Mirella Monteiro 3. Rui Gonçalves 4. Sâmar Razzak REVISORA Cristiane Herold

PLANEJAMENTO EXECUTIVO 7. Gabriela Pires

ARTICULAÇÃO Patrícia Ferraz

ESTA REVISTA FAZ PARTE DO HUB DE CONEXÕES E NEGÓCIOS SUSTENTÁVEIS UPLANET

MÍDIAS SOCIAIS Nilton Leal ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO

CONTEUDO@UPLANET.WIKI +55 81 3366.9666

Sueli Costa

DESIGNER 5. Juliana Delgado

5

PRODUÇÃO DE CONTEÚDO IMPRESSÃO Gráfica Provisual

E PROJETO GRÁFICO:

TIRAGEM 10.000 exemplares DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

editora e comunicação


SUMÁRIO

08

07

O FUTURO DAS CIDADES É hora de transformar!

14

ARRANJOS INOVADORES Arranjos para uma nova economia

24

ECONOMIA CIRCULAR A transformação começa em você

28

MEDELLIN De passado violento a capital mundial de inovação

30

ENERGIA SOLAR Oportunidade que vem do sol

34

EDUCAÇÃO Como a tecnologia está revolucionando o aprendizado e a forma de se absorver conteúdo

40

RELAÇÕES HUMANAS Na questão ambiental, são as pessoas que fazem a diferença

44

INHOTIM Integração entre arte e natureza

48

CONFERÊNCIA FUTURECITY Exemplos de Inovação, Sustentabilidade Conexão e Cooperação na busca pela transformação do planeta.


08

DESAFIO

NOVOS ARRANJOS ECONÔMICOS PODEM PROMOVER NOVAS TECNOLOGIAS E CRIATIVIDADE PARA FAZER ACONTECER UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Engarrafamentos

quilométricos,

poluição,

mudanças

climáticas repentinas. De um lado, pessoas apressadas com seus inúmeros afazeres. Do outro, um meio ambiente que sofre com o descaso humano. Os grandes centros urbanos estão em constante evolução. Não param de crescer e precisam se reinventar a todo momento para comportar os enormes desafios gerados pelas superpopulações. Segundo o último relatório de Perspectivas de Urbanização Global das Nações Unidas, já somos 4 bilhões vivendo em grandes cidades, mas este número deve chegar a 6 bilhões de pessoas até 2050. E o cenário global pode ser assustador. Grandes centros urbanos, como Nova Iorque e Cingapura, são consideradas como usinas urbanas, sendo importante polo financeiro, mas devendo resoluções de problemas na sua sustentabilidade. Já cidades como Estocolmo, na Suécia, e Copenhague, na Dinamarca, servem de exemplos, já que conseguem unir desenvolvimento a uma nova forma de viver e fazer as cidades.


DESAFIO

09

A verdade é que o mundo tem anseios dif-

em produtos e serviços inteligentes para

erentes a cada ano, a cada mês, a cada se-

sustentar o crescimento econômico e as

gundo. As novas tecnologias, que permitem

demandas materiais da nova classe média.

que a inteligificação das coisas, e os

Ao mesmo tempo, países desenvolvidos pre-

padrões econômicos pedem uma mudança rad-

cisam aprimorar a infraestrutura urbana

ical no cotidiano das pessoas. Tudo ac-

existente para permanecer competitivos.

ontece muito rápido. Essas transformações

Na busca por soluções para esse de-

precisam acontecer também no local em que

safio, mais da metade das cidades euro-

as pessoas moram, trabalham, vivem. Nessa

peias acima de 100 mil habitantes já pos-

lógico, o conceito de cidades inteligen-

suem ou estão implementando iniciativas

tes é a solução para os problemas atuais.

para se tornarem de fato Smart Cities.

De acordo com especialistas, as cidades

Ao invés de definir que cidades devem

inteligentes são, de forma prática, siste-

ou não ser consideradas “inteligentes” é

mas de pessoas interagindo e usando ener-

construtivo se pensar nas atividades e

gia, materiais, serviços e financiamento

fatores que podem tornar uma cidade mais

para catalisar o desenvolvimento econômi-

inteligente.

co e a melhoria da qualidade de vida. Es-

Na trilha da construção de cidades in-

ses fluxos de interação são considerados

teligentes,

inteligentes por fazer uso estratégico de

projeção. A ideia é ocupar espaços pú-

infraestrutura e serviços e de informação

blicos com arte. Seja ela música, artes

e comunicação com planejamento e gestão

plásticas, ou qualquer outra manifestação

urbana para dar resposta às necessidades

cultural. Assim, a cultura ganha o pro-

sociais e econômicas da sociedade.

tagonismo. Onde era espaço vazio, pouco

O

conceito

Smart

City

se

conso-

lidou como assunto fundamental na discussão global sobre

movimentos culturais ganham

utilizado, logo vira espaço de protagonismo e transformação social.

o desenvolvimento

E já que o futuro já está sendo con-

sustentável e movimenta um mercado global

struído com disrupção e conexão entre os

de soluções tecnológicas, que é estima-

agentes que constroem as cidades, o uP-

do a chegar em US$ 408 bilhões até 2020.

lanet ouviu especialistas e importantes

Atualmente, cidades de países emergen-

personalidades das discussões sobre ci-

tes estão investindo bilhões de dólares

dades inteligentes. Confira!


10

DESAFIO

Um dos grandes problemas das cidades é que elas se expandem sem con-

trole, planejamento, e infraestutura mínima, daí decorre a sua profunda desumanização.

A tentativa de convergir as agendas das cidades

sustentáveis e das cidades inteligentes é, também, dar uma dimensão humana e mais funcional para cidades. Há muitas cidades do mundo que disputam o título de cidades globais, que são aquelas que se constituem em plataformas que convergem atividades econômicas e socioculturais que fazem delas as principais cidades do mundo. Algumas dessas cidades globais são óbvias como Londres, Paris e Nova Iorque. Mas surgem outras que começam a disputar esse status como Copenhague, Melbourne, Chicago, Sidney, Hongkong, São Paulo e Rio de Janeiro

para citar algumas . Essas

RICARDO YOUNG,

cidades são caracterizadas por uma grande infraestrutura financeira que

Empresário, professor

beneficia investimentos internacionais, investimentos em logística e

e ativista

exportação, aeroportos que se constituem como hubs de companhias aéreas internacionais, recursos humanos especializados e com habilidades para se articular com a comunidade global. E muito investimento em tecnologia. Uma cidade sustentável e inteligente necessita a integração dos três setores: público e privado e sociedade civil organizada.”

Cidades devem sim ser feita por e para pessoas, desde que haja

harmonia com o meio ambiente. Precisamos evoluir da lógica moderna de cidades funcionais para cidades vivas. Vivas por que enaltecem a vida e suas diversas formas. De nada adianta bons espaços e serviços públicos se a natureza está sendo degradada. Precisamos quebrar a lógica de que a aglomeração de pessoas é necessária. Não é possível pensar em sustentabilidade em um planeta onde 80% das pessoas pretendem ocupar apenas 2% do seu território até 2050. A

FERNANDO HOLANDA,

maioria absoluta das cidades da América Latina ainda estão sendo

Ativista político

executadas e pensadas a partir de paradigmas ultrapassados. O que foi bom para Paris e Nova Iorque há cem anos não pode ser considerado para o Recife de hoje em dia. Precisamos de uma inversão real de prioridades, incluindo a dinâmica natural no convívio cotidiano. As pessoas devem ser as verdadeiras protagonistas da cidade. Devemos reequilibrar as responsabilidades entre o público e o privado, estimulando o associativismo no cuidado com os espaços públicos e na gestão de escolas. A comunidade pode gerir a escola. Os moradores, cuidar da praça. Com um engajamento real no cotidiano urbano, promoveremos educação cidadã.”


DESAFIO

11

Eu considero que as cidades são produtos da sociedade, resultado de forças

coletivas e que em cada momento da história reflete diferentes lógicas em hábitos, usos e apropriação dos espaços urbanos. Vivemos no presente o resultado de opções e escolhas do passado, por isto é tão importante pensarmos na visão futura da cidade que precisamos. Cada cidade tem seu processo de ocupação do espaço que reflete processos econômico e sociais. No caso das cidades brasileiras, o mais marcante é a desigualdade social de nossa sociedade, que acaba sendo responsável por segregações espaciais e soci-

CIRCE MONTEIRO,

ais que são o grande desafio a ser vencido para ter uma cidade mais justa,

Consultora

inclusiva e segura. As cidades só serão inteligentes se seus habitantes também o forem. Temos uma sociedade com um histórico de lutas de associativismo e colaboração, mas que com tempo foi levada a pensar que não tinha papel no processo de construção de sua cidade. Perdemos muito com este imobilismo e sensação de impotência frente às atribuições do estado. Estamos testemunhando um período fantástico no modo como nos relacionamos com a tecnologia e descobrindo o papel de inúmeros instrumentos que nos conectam, trazem informações e, portanto, potencializa o papel do cidadão comum na defesa de suas ideias.”

Transformar a cidade é uma tarefa de todos. Cada

um pode iniciar esse processo, como fazendo algo tão básico em casa como reciclar o seu lixo, cuidar da sua cidade e deixá-la mais limpa, fazer ações sociais em conjunto para revitalizar certas partes da cidade. Se cada bairro tivesse mais interação e diálogo, seria possível compartilhar as necessidades e experiências e pensar em soluções criativas significativas. Acho que precisamos dialogar mais com os bairros e a cidade. Talvez formar comissões que possam discutir ideias e levar a frente. Eu enxergo arte e tecnologia como mecanismos mais eficientes de ocupação da cidade.

Acredito que ainda

falta muito diálogo entre os produtores e artistas

ANA GARCIA,

e, certamente , com as autoridades, principalmente

Produtora cultural

os movimentos de música e artes plásticas. Mas não tem nada mais lindo quando toda a comunidade artística se mobiliza por uma causa. Precisamos nos mobilizar pelas cidades.”


12

DESAFIO

A maioria das cidades do mundo, inclusive e principalmente as consid-

eradas “desenvolvidas”, desde meados do século passado, passou a serem planejadas pelos e para os veículos individuais motorizados, em especial para os automóveis. Esse fato histórico que reflete uma tendência global, na prática, deixa as cidades reféns do traçado viário, locais hostis e perigosos para a prática da mobilidade ativa (a pé e de bicicleta), justamente o que “humaniza” as cidades. Afinal, como diz aquele slogan publicitário: “na cidade, todos somos pedestres”, independentemente dos modos de deslocamento de que usemos pois mesmo motoristas

FRANCISCO CUNHA,

e usuários de transporte público, em algum momento do dia se deslocam

Consultor

a pé pelo espaço público. A participação da sociedade no processo de inteligificação das cidades é vital. Sem ela, as prioridades dificilmente serão observadas. Um excelente recurso para isso são as redes sociais. Participo de um grupo de whatsApp do meu bairro que tem feito uma articulação muito boa entre a prefeitura do Recife, as polícias e os moradores do bairro. Trata-se de um fenômeno novo e positivo que potencializa a experiência das associações de bairro, com a agilidade e a instantaneidade que as redes sociais possibilitam.”

As cidades são pessoas. Em movimento, em desejos, angústias, son-

hos, trabalho, lazer e paixões. A cidade não é um lugar no espaço, é um drama no tempo, já dizia no começo do século XX, o urbanista inglês Patrick Geddes. A estrutura física é o resultado concreto, histórico, em determinados lugares escolhidos para se constituírem comunidades urbanas, do esforço coletivo de convivência de gerações e gerações. Repito: a cidade é um drama no tempo. É a história em movimento. Não é um dado. É um resultado em mutação. O desempenho de cada uma vai depender dos protagonismos em disputa. O futuro urbano é uma disputa de imaginários. Os desafios de sustentabilidade ambiental das cidades no sentido estrito (convivência

CLÁUDIO MARINHO, Consultor

harmônica homem/natureza) é atualmente, com as taxas de urbanização do planeta (o Brasil já é quase 90% urbano), um desafio do ambiente construído,

denso, diversificado e complexo. Um ambiente cada vez mais intensivo em informação em bases digitais. O desafio “ecológico” de convivência nesses ambientes é um desafio informacional, de construção de novas regras de convivência em que o cidadão é digitalmente empoderado pelo acesso descentralizado à informação. O principal desafio da cidade brasileira (ou de qualquer lugar) no futuro imediato é um desafio de transformação digital dos modos de produção e convivência neste drama no tempo que são as cidades. O cidadão digitalmente empoderado é o fim e o meio de qualquer projeto de desenvolvimento das nossas cidades. Ele vai transformar os seus modos de convivência em comunidades, queiram ou não queiram os governos.”


DESAFIO

13

O sabão Bem-te-vi limpa suas roupas e ajuda a manter o mundo limpo. O sabão em barra Bem-te-vi já recolheu 6,5 milhões de litros de óleo que seriam descartados de forma errada na natureza, ajudando a preservar mais de 130 milhões de litros de água. Através do Projeto Mundo Limpo, foi criada uma rede de coleta, reciclagem e reutilização do óleo no processo de fabricação do sabão em barra Bem-te-vi. Além disso, o projeto também ajuda o IMIP, Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira, através de contribuição financeira proporcional ao volume coletado. Um programa que promove o desenvolvimento sustentável e uma vida melhor em Pernambuco.

200 gramas

de sabão ajudam a preservar mais de

300 litros de água.


14

TRANSFORMAÇÃO

INOVAÇÃO: COINVENTANDO OS NEGÓCIOS DO SÉCULO XXI UM FUTURO SUSTENTÁVEL DEPENDE DE NOVAS PERCEPÇÕES E ATITUDES A palavra de ordem do novo século é inovação. O mundo assiste hoje uma nova revolução econômica, focada na junção entre economia e meio ambiente, que se fundamenta, principalmente, no seu caráter inovador. Nesse novo episódio da história mundial, as máquinas se aliam ao desenvolvimento sustentável. O que antes era visto como um problema, agora é solução, é oportunidade de negócio. Essa conexão entre economia, meio ambiente e inovação criou o que chamamos de arranjos inovadores, que, segundo especialistas, será a única forma de fazer negócios em um futuro muito próximo.


TRANSFORMAÇÃO

15

O Porto Digital fica no Recife Antigo e é um belo exemplo de novos arranjos econômicos

Essa forma de fazer negócios está inspirando todo

Em termos práticos, esses novos arran-

o setor produtivo. Quem quer sobreviver a maré de

jos têm suporte em bases tecnológicas,

crise econômica, precisa descobrir os benefícios da

o que permite o aumento na oferta de

inovação e deixar de lado o medo de fazer diferente.

serviços dentro do modelo de colaboração.

O cenário econômico mundial – que está cada vez mais

“A consciência da relação consumo x des-

rápido, graças a ascensão da internet e da tecnologia

perdício, está provocando uma revisão na

da informação – exige novas formas de produção, de

forma de se viver. O que traz a busca da

consumo, de distribuição, de trabalhar e de viver.

eficiência e o pensamento de como podemos

Essa inovação gera acúmulo de novas tecnologias es-

continuar produzindo, consumindo e tendo

pecificas que acabam permitindo mudanças radicais na

um

produção devido aos seguintes pontos: Robôs autôno-

cursos naturais”, afirma Linda.

maior equilíbrio na gestão dos

re-

mos, Simulações, Integração de sistemas, Internet

Segundo ela, para atingir o público e

das coisas, Cibersegurança, Computação em nuvens,

as necessidades da própria empresa, as

Impressão 3D, realidade Aumentada e o Big Data.

mesmas começam a implantar serviços como:

“Essa nova percepção e visão de mundo, levando em

compartilhamento de carros, sistemas de

conta os problemas sociais e ambientais que estão

aluguel de equipamentos, roupas, brin-

se agravando e da responsabilidade sobre os

impac-

quedos, espaços de escritórios, hosped-

tos produzidos. O que nos leva a reformular a forma

agem, locais de convivência, educação e

como estamos fazendo os negócios”, explica a super-

experimentação. “O consumidor quer ter

intendente de Sustentabilidade do Banco Santander

experiências que lhe proporcionem bem-es-

Linda Murasawa. Ela ainda explica que “estes arranjos

tar – fundamental neste modelo colabo-

passam a ter compartilhamento e troca de serviços,

rativo. E as empresas que adotam estes

onde a população passa a ter um papel determinante

conceitos em seus serviços ampliam seu

pela escolha/aceitação dento deste conceito”.

relacionamento em forma em rede, trazen-

Como exemplo, a executiva aponta o Airbnb. “Ele

do a escala aos negócios, e resultados

revolucionou a forma de hospedagem através de um

econômicos,

modelo colaborativo. Trouxe o uso consciente de lo-

impactos positivos para a sociedade em

cais para se hospedar, sem a necessidade de expansão

geral”, explica. Em termos práticos, a

de mais edificações, e trouxe resultados para todos

executiva afirma categoricamente: “Com-

os envolvidos: hospede, o fornececedor da hospedagem

partilhar colabora com uma sociedade mais

e a empresa que disponibiliza o serviço”, conta.

sustentável”.

sociais

e

ambientais,

com


16

TRANSFORMAÇÃO

Dentro dessa perspectiva inovadora dos

território carbono neutro do Brasil. Para

novos arranjos produtivos, o secretário

isso, a tarefa passa primeiro pela etapa

de

Meio

de conexão. “É preciso conectar empre-

Ambiente do Recife, o economista Bruno

Desenvolvimento

Sustentável

e

sas privadas, entre si e com o governo,

Schwambach, destaca a vocação inovadora

outros órgãos públicos, organizações não

do Recife. “Apoiar as universidades e to-

governamentais, e claro, pessoas”, ex-

das as instituições de ensino, formação de

plica o secretário de Meio Ambiente e

profissionais, fornecer uma infraestru-

Sustentabilidade

tura adequada são os tipos de trabalhos

Xavier.

de

Pernambuco,

Sérgio

que são desenvolvidos na cidade do Recife

Exemplo dessa vocação inovadora do Reci-

para esse efeito. Esses esforços tornam

fe e de Pernambuco é o sucesso do projeto

a cidade um polo diferenciado na biome-

Carro Leve, que viabiliza uma mobilidade

dicina por exemplo”, explica Bruno. Ain-

sustentável e inovadora de compartilha-

da segundo o secretário, “Recife também

mento de carros elétricos. “A primeira

se beneficia do Porto Digital, um dos

etapa foi um teste. Foi muito positi-

maiores arranjos inovadores do país, que

vo. O sistema funciona, o aplicativo foi

possui um reconhecimento internacional e

consolidado e os usuários responderam a

centros de pesquisa de renome como o Ce-

questões que ajudaram no desenvolvimento

sar”.

do projeto”, explica o secretário. “Para

Os desafios, segundo o gestor, são pre-

a implantação da segunda etapa estamos

sentes e futuros de promover mais in-

dependendo das empresas fabricantes de

teração entre as instituições de ensi-

carros elétricos”, afirma.

no e ao

setor privado para a pesquisa

e desenvolvimento o que irá reforçar o sistema produtivo local. O especialista ainda aponta que precisa continuar a capacitar mais a nossa mão de obra e os nossos alunos. Nesse cenário inovador e sustentável, Pernambuco desponta no cenário mundial como modelo em seus arranjos inovadores. O Estado tem o desafio de transformar o arquipélago de Fernando de Noronha no 1º

{

Ônibus da BYD será responsável pelos primeiros testes em Recife e Fernando de Noronha


TRANSFORMAÇÃO

17

Os arranjos inovadores multiconectados vão acelerar e impulsionar a nova economia de baixo carbono. Integram energia renovável, mobilidade elétrica, reciclagem e eficiência digital, criando novos negócios disruptivos.

Ainda assim, Xavier adianta que a ideia agora é oferecer o serviço em larga escala. Para tanto, o Governo vem negociando parcerias com os Estados americanos da Califórnia e do Havaí e deve fechar também com a Alemanha, com várias empresas inovadoras. A nova etapa começará por Fernando de Noronha e Recife, obedecendo a prioridades como: serviço de táxi, carro elétrico compartilhado e troca de carros particulares por carros elétricos. Entre as vantagens do sistema, Xavier aponta a diminuição de veículos particulares nas cidades. “Em Paris, para cada carro elétrico compartilhado são reduzidos sete carros convencionais das ruas.” O próprio Xavier, no entanto, ressalva aspectos que surgem como obstáculos nesse processo de transição que, para ele - e alguns países mais desenvolvidos têm mostrado isso -, é irreversível. “Primeiro, não dá para fazer esse projeto se não houver carro elétrico disponível. Também falta uma

}

política do Governo Federal e uma estratégia que enxergue a potencialidade inovadora e os benefícios dessa mobilidade elétrica e compartilhada. Não é um projeto simples, mas Pernambuco está na frente desse processo”, avalia. Mas a mobilidade elétrica deve priorizar o transporte coletivo. Neste sentido, Xavier anunciou na Conferência FutureCity a parceria da SEMAS com a BYD para os testes de ônibus elétricos no Recife e Fernando de Noronha.


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TRANSFORMAÇÃO

Enquanto o uso do carro elétrico no Brasil ainda não é uma realidade, outros países seguem avançando.

Além

do Reino Unido, a Noruega, Holanda, França, Alemanha, China e os Estados Unidos lideram a lista de países onde a mudança de realidade é mais visível. Na Noruega, onde a venda de carros com motor unicamente a combustão será proibida a partir de 2025, metade de todos os veículos automotores vendidos este ano já são elétricos ou híbridos. Recentemente, a Shell, uma das gigantes da distribuição de combustíveis, inaugurou seu primeiro posto de carregamento rápido para carros elétricos numa das estações de serviço no Reino Unido. A montadora sueca Volvo também anunciou que até 2020 só produzirá veículos elétricos ou híbridos. Gesto que são interpretados como uma reação otimista do mercado.


TRANSFORMAÇÃO

19

Cada carro elétrico compartilhado retira 07 carros convencionais das ruas.

Focado nesse fomento de arranjos inovadores

Xa-

ria com a Califórnia e com o Havaí nos dá

comitiva

um respaldo muito importante porque eles

norte-americana formada por represent-

têm muito tecnologia e conhecimento. A

antes do governo dos Estados Unidos, da

ideia é desenvolver modelos com viabili-

ONG californiana Renewables 100 Policy

dade econômica”, falou o secretário.

vier

em

comandou

Pernambuco, uma

visita

Sérgio

desperdício em diversos setores. A parce-

da

Institute e de empresas privadas da Califórnia e do Havaí.

Para o cônsul geral dos Estados Unidos

“Nós juntamos as

em Pernambuco, John Barrett. “A parceria

universidades com conhecimento, parcei-

entre os Estados Unidos e Pernambuco tem

ros internacionais, empresas, comunidade

mais de 200 anos, é uma história forte

local e órgãos internacionais que possam

e sustentável, como o projeto que vamos

transformar Noronha em um modelo em to-

fazer aqui. Vamos implantar um modelo que

dos os setores”, explicou o secretário

gere emprego e que também é bom para o

Sérgio Xavier. A visita foi resultado do

meio ambiente”, afirmou o cônsul.

workshop “Energia Renovável e Inovações Interconectadas:

Mercados

Sustentáveis

para o Século XXI”.

“Nós

trouxemos

14

especialistas

em energia renovável para Fernando de Noronha do setor público e de empre-

O grupo, que esteve em Noronha no se-

sas americanas que entendem a geração

gundo semestre, visitou diversos locais

de energia. Eles estão avaliando com a

da ilha e viu a usina de produção de en-

tecnologia pode ajudar a ilha. O fato

ergia solar. Segundo Xavier, o projeto,

do cônsul geral fazer a primeira viagem

que já está em andamento, deve atingir

oficial para Noronha é o resultado do

muitas áreas. “É energia, junto com mobi-

trabalho que realizamos há alguns anos

lidade, gestão de resíduos, com gestão de

com o secretário Sérgio Xavier”, infor-

água, eficiência energética, redução de

mou o cônsul.


20

TRANSFORMAÇÃO

DESAFIO 2025: ILHAS DE NORONHA E RECIFE MODELOS DE ECONOMIA VERDE PARQUES DE SOLUÇÕES SUSTENTÁVEIS VÃO FOMENTAR NOVOS MODELOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O Bairro do Recife, carinhosamente chamado de Recife Antigo, é um território urbano e singular que abriga um dos principais ambientes de inovação, tecnologia e criatividade do País: o Porto Digital. Já a Ilha de Fernando de Noronha é um arquipélago do estado de Pernambuco que abriga um dos mais ricos Os secretários Bruno Schwambach e Sérgio Xavier, firmam parceria para transformar Recife e Noronha em territórios-piloto de soluções sustentáveis da economia de baixo carbono

e incríveis ecossistemas brasileiros.

E o que os dois têm em

comum? Ambientes extremamente adequados para se tornarem modelos de soluções sustentáveis e inteligentes que poderão ser replicados em outras cidades, do Brasil e do Mundo.


TRANSFORMAÇÃO

21

Com o objetivo de fomentar a economia inclusiva, colaborativa e que pense o futuro dialogando com a preservação do meio-ambiente, o Governo de Pernambuco através da Sec-

ACESSE AS PORTARIAS QUE ESTRUTURAM

retaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade

O PARQUE DAS SOLUÇÕES DE RECIFE E NORONHA

(SEMAS) fechou um termo de compromisso com a Prefeitura do Recife por meio da Secretária de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (SDSMA) para transformar os dois locais em territórios-piloto de soluções da economia de baixo carbono. A iniciativa faz parte do programa Desafios 2025 que está integrado com o Projeto Noronha Carbono Neutro, coordenado pelo secretário da Semas, Sérgio Xavier. O projeto reúne um conjunto de iniciativas que

HTTP://BIT.LY/2YIKVUA

HTTP://BIT.LY/2BX7VPP

serão implementadas para o desenvolvimento de uma experiência territorial de inclusão social e inovação econômica. No Desafio 2025, os Parques vão integrar o bairro e o arquipélago e servir de plata-

dos mecanismos que vão garantir o suporte

forma para demonstrações de novas tecnolo-

necessário à iniciativa. “Fernando de Noronha

gias, novos modelos de negócios multiconec-

tem conseguido avançar, com ideias do futuro.

tados e inovações multissetoriais, integrando

Temos esta oportunidade de fazer essas parce-

parceiros

acadêmicos,

órgãos

rias agora com o Recife, que tem gestores que

públicos,

organizações

governamentais

estão completamente comprometidos com isso:

e movimentos artístico-culturais. Produtos,

com um futuro melhor, com baixo carbono, den-

serviços e modelos gerados nesse ecossiste-

tro desse conceito de cidades eco-inteligen-

ma sócio-econômico poderão ser replicados em

tes”, pontuou Paulo Câmara.

empresariais, não

maior escala, em outros territórios, ampli-

Reduzir os impactos ambientais, melhorar

ando o impacto das ações e permitindo fo-

indicadores

mentar uma nova economia e melhor simultan-

modelos de negócios para atrair investimen-

eamente

tos ligados a economia de baixo carbono é a

a qualidade de vida da população.

O governador Paulo Câmara anunciou a implan-

socioeconômicos

e

principal missão de todo esse

criar

novos

esforço, se-

tação dos Parques de Soluções Sustentáveis

gundo o Sergio Xavier. “Estamos desde 2011

ao

lado do prefeito Geraldo Julio e dos

articulando parcerias nacionais e internac-

secretaries de Meio Ambiente Sergio Xavier e

ionais com muito intercâmbio de conhecimentos

Bruno Schwambach durante a Conferência

In-

para a construção desses novos modelos de de-

ternacional FutureCity, evento do Uplanet in-

senvolvimento sustentável. Portanto, é muito

tegrado à programação do Festival Rec’n’play.

gratificante ver os resultados começando a

O governador assinou o Termo de Compromisso

florescer, com a participação ativa de muitos

que estabelece as condições para a criação

parceiros”, ressalta.


22

TRANSFORMAÇÃO


TRANSFORMAÇÃO

23


24

ECONOMIA CIRCULAR

RECURSOS NATURAIS

MATÉRIA-PRIMA

É MUITO MAIS QUE REDUZIR, REUTILIZAR E RECICLAR

MANUFATURA

USO/CONSUMO

REPARO/ REUSO

REMANUFATURA

UPCYCLE (SUPERCICLAGEM)

ATITUDES SIMPLES GERAM A TRANSFORMAÇÃO

Se você pensa que a Economia Circular é re-

ela é um conceito baseado na inteligên-

duzir, reutilizar e reciclar está bastante

cia da natureza, indo em contrapartida

enganado. Apesar desses três conceitos con-

ao processo produtivo linear a partir do

struírem um primeiro esqueleto, uma das mais

processo circular, onde os resíduos são

importantes cadeias produtivas da nova econo-

insumos para produção de novos produtos.

mia, ela vai muito além dos 3R´s. Em termos

É que acontece na natureza. Por exemp-

práticos, a Economia Circular propõe a mu-

lo, restos de frutas consumidas por an-

dança em toda a maneira de consumir, do de-

imais se decompõem e viram adubo para

sign dos produtos até a nossa relação com as

plantas. É o “cradle to cradle”, onde

matérias-primas e resíduos.

o que é resíduo para um é matéria-prima

Na construção do seu arquétipo, a Economia

para outro. É a conectividade. Dentro da

Circular agregou diversos conceitos criados

lógica da economia, as cadeias produtivas

no último século, como: design regenerativo,

precisam entrar no conceito circular. É

economia de performance, cradle to cradle –

unir a tecnologia com o modelo sustentáv-

do berço ao berço, ecologia industrial, bi-

el da natureza.

omimética, blue economy e biologia sintética

O desafio da Economia Circular é que-

para desenvolver um modelo estrutural para

brar o paradigma da velha economia, que

a regeneração da sociedade. A verdade é que

fomenta um sistema produtivo de forma


ECONOMIA CIRCULAR

25

linear, que gera resíduos, exploração ex-

mumente descartado em sua casa.

cessiva de recursos e, claro, disforme

garrafa pet, comecei a armazenar o óleo

dos modelos sustentáveis. Mas se engana

usado que antes ignorava. A ideia era:

quem acha que apenas os grandes deten-

fritou, esfriou e guardou. Não demorou

tores do capital é que podem fazer a roda

muito e, quando vi, já tinha juntando uma

da Economia Circular girar. Ela começa

boa quantidade, porém a pergunta ainda

em você, na sua casa, no seu trabalho.

pairava no ar. O que fazer com tudo aqui-

Dentro de você.

lo?”, ressaltou Jonas.

“Com uma

Para se ter ideia, só no Brasil, temos

Segundo ele, as pessoas têm uma con-

hoje mais de 190 milhões de habitantes

cepção muito equivocada sobre uma roti-

gerando resíduos. De acordo com dados do

na sustentável, pois é possível adequar

Instituto Brasileiro de Geografia e Es-

práticas domésticas a um bom uso (e reuso)

tatística (IBGE), cada brasileiro produz

dos recursos diários, sendo o descarte do

quase um quilo de lixo por dia, ou seja,

óleo de cozinha um grande exemplo disso.

183 mil toneladas diárias. Portanto, você

Para cada 2L de óleo, Jonas adiciona 500g

pode (e deve) fazer a diferença no mundo.

de soda cáustica (em flocos), 1L de água

O importante é ter criatividade, com uma

quente, 500ml de álcool e 5ml de essên-

dose de boa vontade e um novo mundo está

cia. “Primeiro dissolvo a soda cáustica

à nossa frente.

na água quente. Depois acrescento o óleo,

Na prática, essa mudança acontece com

sempre mexendo até incorporar bem. Logo

pequenos hábitos. O designer Jonas So-

em seguida, adiciono o álcool e a essên-

breira enxergou no seu óleo de cozinha

cia escolhida, sempre misturando. Quando

uma oportunidade de transformar. Com uma

vira uma textura pastosa, coloco em um

simples pesquisa na internet, ele viu que

recipiente retangular, espero secar 24h

poderia dar um destino muito mais prove-

e depois corto em barras. É super fácil”,

itoso ao seu óleo de cozinha que era co-

detalha.

Etapas do processo de reciclagem do Grupo ASA


26

ECONOMIA CIRCULAR

Tudo é uma questão de hábito. “Hoje ten-

colaborativo,

envolvendo

pessoas

para

ho orgulho de tomar esse posicionamento

fazer com que a economia fosse, de fato,

perante essa questão que é de suma im-

ainda mais circular. “Tínhamos resíduos

portância. Você muda sua forma de agir

com características bem distintas e pre-

quando, ao olhar para trás, vê tudo o que

cisávamos de competências múltiplas para

consumiu e descartou, muitas vezes, de

eles. Por isso, iniciamos um trabalho com

forma completamente indevida”, conclui.

pessoas de conhecimentos variados, com

Jonas faz de forma individual e compar-

o objetivo de reutilizar as sobras que

tilha com vizinhos e amigos mais próxi-

ficavam na ASA após a coleta do óleo.

mos, incentivando-os a fazer o mesmo.

Tínhamos, então, que buscar novos pro-

Tomando como exemplo a reutilização de

cessos produtivos, evitando, assim, que

óleo de cozinha, a ASA Indústria, que fica

sobrasse qualquer material após a reci-

no bairro de Afogados, na Zona Sul do Reci-

clagem do óleo”, destaca a coordenadora

fe, incentiva a coleta do produto através

do projeto Flávia Moura.

do programa “Mundo Limpo, Vida Melhor”.

Ainda na busca pelo fortalecimento da

O programa já retirou mais de 6,5 mil-

Economia Circular como um dos pilares dos

hões de litros de óleo do Meio Ambiente,

novos negócios do século XXI, a Asso-

ajudando a preservar mais de 130 bilhões

ciação dos Trapeiros de Emaús ou sim-

de litros de água em 47 municípios de

plesmente, “Trapeiros de Emaús” é outro

Pernambuco, através do processo de edu-

grande exemplo. Fuundada em 1996 por Dom

cação ambiental que já conscientizou mais

Helder Câmara e Luis Tenderini, a insti-

de 90 mil pessoas. Ao todo, são 500 pon-

tuição realiza um trabalho de coleta e

tos de coleta seletiva para a sociedade,

recuperação de objetos em desuso, que são

ou seja, não há desculpa para não con-

vendidos por preços simbólicos em bazares

tribuir para o meio ambiente.

comunitários. É filiada a Emaús Internac-

Em 2017, o projeto passou por uma grande transformação,

trazendo

ainda

ional, movimento fundado na França pelo

mais

Abbe Pierre, em 1949, sendo uma das 350

benefícios para a sociedade e ao meio am-

comunidades Emaús espalhadas em 37 países

biente.

do mundo.

A ideia era focar em um trabalho


ECONOMIA CIRCULAR

27


VOCÊ CONHECE MURILO CAVALCANTI

A capital mundial da inovação e do urbanismo fica na América Latina. Mais precisamente no nosso país vizinho, a Colômbia. Medellín, que até o começo dos anos 90 só era conhecida como o lar do megatraficante Pablo Escobar, vem colecionando prêmios internacionais por ter deixado para trás o passado violento e se tornado uma referência em mobilidade, cultura, segurança e educação. Em 2013, Medellín recebeu o título de Cidade Mais Inovadora do Mundo, deixando para trás Nova York (EUA) e Tel Aviv (Israel). O prêmio, outorgado pelo The Wall Street Journal e o Urban Land Institute, mostrou que as parcerias entre o poder público e as empresas privadas criou um ambiente propício ao empreendedorismo e à criatividade. No ano passado, Medellín voltou a brilhar ao vencer o prêmio Lee Kuan Yew World City, considerado o Nobel de urbanismo das cidades. Desbancou Toronto (Canadá), Viena (Áustria), Sidney (Austrália) e Auckland (Nova Zelândia) com seus projetos de sustentabilidade, inovação urbana e aproveitamento do espaço público.


Mobilidade integrada faz de Medellin a cidade mais inovadora do mundo

Além dos prêmios internacionais, a face

metrô conectado ao serviço de ônibus e na

mais visível da transformação de Medellín

aposta em inovações como teleféricos e

pode ser medida pela segurança pública.

escadas rolantes nos morros.

Em 1993, quando Pablo Escobar tombou em

As comunidades pobres contam com uni-

um cerco policial, a taxa de homicídios

dades de saúde estruturadas, creches e

local era de 370 para cada grupo de 100

escolas de alta qualidade e centros soci-

mil habitantes. Em 2016, esse índice caiu

ais batizados de UVAs (Unidades de Vida

para 20 a cada 100 mil pessoas.

Articulada).

A profissionalização da polícia, a in-

O resultado de tudo isso é uma cidade

corporação da tecnologia e a redução da

repleta de gente orgulhosa de ter ree-

impunidade tiveram papel fundamental nes-

scrito sua história e mostrado ao mundo

sa mudança. No entanto, os colombianos

que não há limites para a transformação

provaram que democratizar cidadania é o

quando existe vontade política e compro-

caminho

misso de todos.

mais

racional

para

diminuir

a

criminalidade. Isso se materializa na mobilidade in-

Murilo Cavalcanti é Secretário de Segurança Urbana do Recife,

tegrada desde a priorização na qualidade

visitou, nos últimos 12 anos Bogotá e Medellín por 27 vezes

das calçadas e ciclovias, passando pelo

e foi organizador do livro “As Lições de Bogotá e Medellín”.


30

ENERGIA

DO TAMANHO DO SOL

BRASIL POSSUI UM DOS MAIORES POTENCIAIS FOTOVOLTAICOS DO MUNDO

O Brasil é um lugar privilegiado. Conhecido mundialmente por seus recursos naturais, o país anda atraindo a atenção das principais potencias mundiais. Isso porque é apontado por especialistas como uma das principais nações com vocação para geração de energia elétrica através da fonte solar. Na verdade, a preocupação com a geração por fontes renováveis tornou-se ainda maior com a celebração do Acordo de Paris, na COP 21, no ano de 2015. O Brasil assumiu compromisso de redução de emissões de gases de efeito estufa, em 2025 e 2030, respectivamente em 37% e 43% em relação aos níveis de 2005. Embora o Brasil possua uma das matrizes elétrica mais renováveis do mundo, com aproximadamente 75%, alcançar as metas firmadas se constitui grande desafio. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do Ministério de Minas e Energia (MME), para alcançar o compromisso Apesar da crise, setor de energia solar é o que mais cresce nos últimos anos, ocupando posição de destaque no cenário nacional

firmado no Acordo de Paris será necessário expandir o uso de fontes de energia não fóssil, aumentando a parcela de energias renováveis - além da fonte hídrica - para ao menos 23% até 2030, principalmente pelo aumento da participação das fontes solar, eólica e biomassa.


ENERGIA

31

Dentro desse contexto, o Brasil possui expressivo potencial para geração de energia elétrica a partir de fonte solar, contando com níveis de irradiação solar superiores aos de países onde projetos para aproveitamento de energia solar são amplamente disseminados, como Alemanha, França e Espanha. Apesar dos altos níveis de irradiação solar no território brasileiro, o uso da fonte para geração de energia elétrica não apresenta a mesma relevância que possui em outros países, nem o mesmo desenvolvimento de outras fontes renováveis, como eólica e biomassa, que já representam, respectivamente, 6,7% e 9,4% da capacidade de geração in-

Os investimentos até o fim de 2017 de-

stalada no Brasil, contra apenas 0,05% da

verão somar R$ 4,5 bilhões. O crescimento

fonte solar.

da capacidade instalada favorece ainda

Enquanto

muitos

economia

a geração de empregos em toda a cadeia

brasileira afundaram em meio à crise que

produtiva. Pelos cálculos do setor, para

atinge o País desde 2015, a energia solar

cada MW de energia solar fotovoltaica in-

cresceu e assumiu uma posição de destaque

stalados, são gerados de 25 a 30 postos

no cenário nacional. Segundo o presiden-

de trabalho. O mercado mundial fotovol-

te da Associação Brasileira de Energia

taico vem crescendo exponencialmente nos

Solar

Rodrigo

últimos anos, atingindo, em 2015, con-

Sauaia, “os números apontam um cresci-

forme IEA (2016), a capacidade total in-

mento de 325% em relação a capacidade

stalada de 227 GWp2.

Fotovoltaica

setores

da

(Absolar),

de produção”. Ele ainda explica que “a

O Brasil, conforme MME (2017), possuía,

expectativa é de que o Brasil atinja a

ao final de 2016, 81 MW de energia so-

capacidade instalada de 1000 megawatts

lar

de capacidade instalada até o fim do ano,

MWp de geração centralizada e 57 MWp de

suficiente para abastecer cerca de 60 mil

geração distribuída. Sobre o comparativo

residências com até cinco pessoas em cada

com outros países, mesmo reconhecendo a

uma”, conta Sauaia.

necessidade de avanço brasileiro no uso

fotovoltaica

instalados,

sendo

24

Essa expectativa coloca o Brasil en-

da fonte solar, é importante ressaltar

tre os 30 principais geradores do mundo.

que diferentemente dos países líderes em

E os números são ainda mais animadores.

produção mundial, de matriz energética

Segundo a Absolar, se o crescimento con-

com base principalmente em combustíveis

tinuar no mesmo ritmo, em 2030, o país

fósseis, a matriz energética brasileira

estará entre os cinco primeiros geradores

é predominantemente renovável, com forte

do mundo. Atualmente, estão contratados,

presença hidráulica, o que possivelmente

por meio de leilões de energia, cerca de

diminui o apoio a políticas de incentivo

3.300 MW, que serão entregues até 2018.

à fonte solar.


32

ENERGIA

EM PERNAMBUCO, QUALIDADE FAZ ESCOLA.

São várias as conquistas recentes do nosso ensino público. Conquistas que são resultado de muito trabalho e investimento. As escolas da rede estadual estão mais modernas e com mais equipamentos. Incentivam os nossos estudantes a aprender. Eles sabem que educação de qualidade é capaz de transformar as suas vidas. E que é isso o que a nossa escola pública, hoje, oferece: um futuro melhor para milhares de jovens pernambucanos.

1º lugar do Ensino Médio no IDEB

37 escolas técnicas estaduais (11 novas desde 2015) e outras em construção

pe.gov.br

Menor taxa de abandono escolar do Brasil

50 quadras já entregues pelo Programa Quadra Viva

Maior rede de ensino em tempo integral do país

Mais de 5 mil embarques pelo Programa Ganhe o Mundo

369 escolas em tempo integral com 51% das vagas do Ensino Médio

Novas modalidades desde 2015: Ganhe o Mundo Esportivo e Ganhe o Mundo Musical

30 novos prédios de escolas estaduais entregues desde 2015

Passe Livre RMR disponível para mais de 260 mil alunos


ENERGIA

Secretaria de Educação

33


34

EDUCAÇÃO

DISRUPÇÃO NO ENSINO

Inovação e disrupção parecem ser as palavras do

Os educadores mais atentos olham para

momento em diversos setores. Softwares, aplica-

esse cenário e tentam adivinhar onde e

tivos, algoritmos inteligentes, YouTube, redes

quando essa onda disruptiva vai quebrar.

sociais, IOT, e muitos outros, estão transfor-

É

mando a dinâmica de se relacionar em diversos

aprender. Pessoas das mais diversas áreas

eixos da sociedade. E com a educação não deverá

saem do mercado para pensar a educação.

ser diferente.

Este é um movimento bastante recente que

Muitas empresas já mudaram a forma como enxer-

o

chamado

desafio

de

empreender

no

traz um novo tempero para o setor.

gam suas contribuições à sociedade, entendendo

Levando em conta essa temática de forma

que a educação é uma obrigação delas também.

disruptiva, o Presidente da Saint Paul,

Uber e 99Taxi já não são mais transportes indi-

José Cláudio Securato, lançou em São Pau-

viduais nas grandes cidades. A criação do Waze

lo uma plataforma de educação corporati-

tirou a necessidade de comprarmos um GPS. O

va por assinatura, cuja ideia é integrar

Spotify e o iTunes também causaram disrupção no

inteligência artificial IBM Watson, com

mercado fonográfico. A famosa Netflix deu outra

recursos de e-learning, vídeos e bibli-

cara à maneira como assistimos filmes. O núme-

oteca. A ferramenta, batizada de LIT,

ro de startups se multiplica a cada dia. Será

oferece conteúdo em diversas áreas, como

a tecnologia o principal agente disruptivo na

estratégia, finanças, gestão de negócios,

educação? Ou serão os próprios educadores que

empreendedorismo, liderança e marketing.

precisam pensar maneiras inovadoras de educar?

O intuito é fazer com que a educação re-


EDUCAÇÃO

flita tecnologia, inovação e sociedade, desapegando, cada vez mais, de modelos educacionais engessados e tradicionais. É o que pensa também o Secretário de Educação do Estado de Pernambuco, Frederico Amâncio. “A educação tem um impacto grande na vida das pessoas. E é muito mais do que algo que transforma a sociedade. Ela não pode ter como centro a escola ou o professor. O centro tem que ser o estudante. É preciso constru-

Ainda dentro do contexto de disrupção,

ir caminhos, contribuir para a formação

inovação

dos professores, para que eles estejam

as

focados em atender os interesses dess-

nas

es estudantes. A escola precisa ser mais

desejamos ver. O professor de psicologia

atrativa, ela precisa de mais significa-

da Universidade Federal de Pernambuco,

do. O jovem precisa entender que aquilo

Luciano Meira, acredita que a transformação

ali tem algo de concreto. E eles precisam

nas escolas precisa ser por meio de conexão

ver sentido nisso tudo”, ressalta.

com um todo. “É preciso fazer em rede,

e

pessoas,

novas a

formas

educação

transformações

de

conectar

pode

resultar

sociais

que

tanto

O Diretor Acadêmico Regional da Lau-

não de forma isolada, como normalmente

reate International Universities, Pierre

acontece. Não dá para achar que focar em

Lucena acredita no mesmo. “Acredito que,

uma única escola vai resolver o problema

para o futuro que almejamos, precisamos

de educação no Brasil”, comenta.

nos

desconectar

do

modelo

educacional

A manutenção da sociedade por meio da

formal que temos atualmente, com metodo-

educação, portanto, exige transformação.

logias estáticas, como se educação fosse

Essa transformação depende de mim, de

apenas isso. Não se aprende apenas as-

você e de todos nós, afinal, vivemos em um

sistindo aulas, mas com interação e en-

meio marcado por muita sede de mudança,

tretenimento,

mas pouco – ou quase nenhum – resquício

promovendo

as pessoas”, explica.

conexão

entre

de ações. Estamos cada vez mais imersos em uma sociedade intolerante, insegura e acreditando que só uma grande revolução na educação será capaz de mudar o rumo da atual história. E sim! Uma educação disruptiva é capaz de mudar o cenário atual e levar o nosso estado, país e planeta aonde ele merece estar.

35


36

EDUCAÇÃO

PERNAMBUCO SAI NA FRENTE Os processos de ensino e aprendizagem vêm passando, diariamente, por grandes mudanças, fato que faz surgirem importantes desafios. Conseguir engajar estudantes

em

processos

educacionais

de

qualidade, de forma a garantir que desenvolvam

as

chamadas

competências

do

século XXI é um desses grandes desafios. Esses processos passam por uma série de habilidades como saber escutar, analisar, executar, cooperar e comunicar que, hoje, são capacidades fundamentais para que cada pessoa desenvolva autonomia e

empreendedorismo,

consiga definir seus projetos de vida.

comunicação e estimulá-los a pensar de

Nesse sentido, Pernambuco vem ocupando

forma diferenciada, preparando-os não só

lugar de destaque no cenário nacional.

para o mercado de trabalho, mas para a

Para o futuro da educação, o Secretário

questões

sociais,

de

vida”, pontua o secretário.

de Educação de Pernambuco, Frederico Amân-

Nesse contexto, vale ressaltar que Per-

cio, afirma que o que o futuro pede pessoas

nambuco tem o maior número de escolas em

que tenham competências para trabalhar em

tempo integral do Brasil, totalizando 369

equipe, para que eles possam se comunicar,

escolas. A ideia é continuar levando essa

ter habilidades e desenvolver um conjunto

ideia para outras instituições, até as

de competências sócio emocionais que são

que não sejam em tempo integral, afinal

tão importantes para o desenvolvimento.

de contas, a ideia é inovar a educação.

Nesse cenário, Pernambuco tem dado um pas-

Ainda sobre o crescimento do Estado nesse

so importante com o ensino integral nas

setor, o Instituto Nacional de Estudos e

escolas de ensino médio, as chamas escolas

Pesquisas Educacionais Anísio (INEP) rev-

de tempo integral. “Essa é uma possibi-

elou que Pernambuco foi o estado que teve

lidade de tratar outros aspectos na for-

a menor taxa do país de abandono escolar

mação do jovem, saindo do teórico, como

em 2016. Para se ter uma ideia, em 2007,

matemática e física. Com mais um turno

o estado ocupava o 26º lugar, tanto no en-

na carga horária deles, podemos trabalhar

sino fundamental quanto no ensino médio.


EDUCAÇÃO

Do ponto de vista sustentável, o estado

abilidade

desenvolvidos

pela

Jeep.

As

também é um dos que mais cresce no contexto

cidades situadas na área de influência

da educação ambiental. Para comprovar, a

socioeconômica do Polo Automotivo Jeep,

Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabi-

em Goiana (PE), foram as escolhas natu-

lidade do Governo de Pernambuco (SEMAS) e

rais para receber, de forma pioneira, o

a Comissão Interinstitucional de Educação

Rota do Saber, um dos programas sociais

Ambiental (CIEA/PE) realizaram seminário

da FCA em Pernambuco. O foco é qualificar

de abertura do processo de construção da

os professores de língua portuguesa e de

Política de Educação Ambiental de Pernam-

matemática das redes municipais de ensino

buco. Para o secretário Sérgio Xavier,

e, com isso, contribuir para uma mudança

“os encontros servirão para mapear as in-

estrutural no ensino dessas cidades.

formações e propostas apresentadas pelos diversos setores da sociedade e definir, de forma democrática, as prioridades que devem compor a novo projeto de Lei da Política de Educação Ambiental do Estado”. A educação também foi escolhida como área-chave para os programas de Sustent-

37


38

EDUCAÇÃO


EDUCAÇÃO

39


40

RELAÇÕES HUMANAS

COMEÇA NAS RELAÇÕES HUMANAS VOCÊ CONTRIBUI PARA O BEM-ESTAR SOCIAL?

Quando ouvimos falar em sustentabilidade, automaticamente o que nos vem `a cabeça é a preservação do meio ambiente. Entretanto, por trás dessa palavra há um conceito que ultrapassa as fronteiras do verde e tem a ver com consciência e comportamento. Ser sustentável é pensar no futuro, é entender que o que cada um nos

faz tem ou terá impacto relevante

na vida de inúmeras pessoas, desta e de futuras gerações. E, por coincidência, não é só o planeta que vive momentos tensos. As relações humanas estão cada dia mais instáveis e fora dos trilhos. A intolerância, a falta de respeito, o egoísmo e a necessidade de afirmação do próprio ego se fazem presentes em quase todos os momentos.


RELAÇÕES HUMANAS

41

A força do coletivo é capaz de transformar!

O cientista Stephen Hawking, afirma com veemência que

conteúdo, e essa realidade precisa urgen-

esse é o momento mais

temente ser transformada. “Se ficarmos de

perigoso da história da humanidade, mas

braços cruzados diante de tanta hostili-

não nos damos conta disso. Exemplos de

dade e preconceitos múltiplos, expressos

exclusão, individualidade e agressão são

pela sociedade atual, correremos o grande

vistos a todo momento, mesmo em meio a

risco de alimentar um futuro ainda mais

tantas campanhas e conversas de incentivo

desrespeitoso,

à colaboração, inclusão e conexão entre

cial”, reforça Clarissa.

as pessoas. Para

a

materialista

e

superfi-

De acordo com Clarissa, nesta perspecprofessora

da

Universidade

tiva de “cegueira cultural”, nenhum tipo

Católica de Pernambuco, Clarissa Duarte,

de

o tema está altamente ligado à falta de

cançar sucesso, muito menos os métodos

mudanças no quesito educação. “A ignorân-

ditos

cia do mundo está na insustentabilidade

se, no futuro breve das cidades, houver

do nosso comportamento e da forma como

investimentos em espaços públicos mais

nos relacionamos com os outros, com o

humanizados,

ambiente, com nós mesmos enquanto parte

poderemos assistir a uma transformação

da coletividade”, afirma. A pesquisadora

cultural e educacional bastante eficaz e

explica ainda que, hoje em dia, a embal-

sustentável, sem necessariamente depen-

agem ou a “face” das coisas conta mais

dermos de reformas na leis relativas à

do que a qualidade e durabilidade do seu

“educação formal.

metodologia

educacional

tradicionais.

seguros

Ela

e

poderá

acredita

alque,

confortáveis,


42

RELAÇÕES HUMANAS

Esse é o sentido dos coletivos. É fantástico ver pessoas se unindo, se relacionando e contribuindo para o bem-estar social

Dentro desse contexto, é válido afirmar, ainda, que pessoas devem passar a conviver mais nos espaços públicos, em ruas dignas e cidadãs. A evolução virá naturalmente, por meio de aprendizados sobre

convivência,

respeito

às

difer-

enças, como idades, raças, classes sociais e culturais. “A transformação social, portanto, poderá ser moldada pela busca da sustentabilidade urbana e ambiental que, necessariamente, passa pela coexistência humana e pelo respeito à diversidade”, conclui Clarissa.

Na música, por exemplo, temos muitos

Dentro desse contexto atual, é funda-

coletivos se formando de grandes produ-

mental destacar a importância dos co-

tores, cuja ideia é viabilizar a existên-

letivos, tema que se envolve bastante

cia de projetos. Um exemplo é o grupo

à forma como estamos nos relacionando,

Elefante en la Habitación!, que reúne ar-

aceitando e respeitando as diferenças.

tistas com objetivos em comum. “Quem tra-

Laura Porto, da consultoria La Esencia

balha em coletivos para discutir gêneros,

Experiências

produto-

se utiliza da cultura para envolver pes-

ra dedicada a proporcionar experiências

soas. Esse é o sentido dos coletivos. É

singulares através da música, explica

fantástico ver pessoas se unindo, se rel-

que a crescente formação de coletivos é

acionando e contribuindo para o bem-estar

uma solução muito bem vista.

social”, destaca Laura.

Culturais,

uma


RELAÇÕES HUMANAS

“Deixa Ela Em Paz” e “Vaca Profana” são dois exemplos de coletivos, que conecta pessoas dentro de um senso comum: a luta pelo gênero. O primeiro representa uma campanha independente, autônoma e, antes de tudo, colaborativa, que tem como principal objetivo refletir e questionar atitudes machistas vistas diariamente, e que colocam mulheres como vítimas de uma sociedade intolerante e individualista.

PRA FINALIZAR: Que tal refletir sobre essas questões e começar a aplicar essa teoria nas relações pessoais do seu dia a dia?

43


44

ARTE & CULTURA

UM PARAÍSO QUE INTEGRA ARTE E NATUREZA INSTITUTO INHOTIM, UM LUGAR SINGULAR QUE REÚNE 28% DAS FAMÍLIAS BOTÂNICAS CONHECIDAS NO PLANETA, COM ÊNFASE PARA AQUELAS AMEAÇAS DE EXTINÇÃO. E TUDO ISSO FEITO COM O IMPORTANTE PONTAPÉ INICIAL DE BURLE MARX POR SÂMAR RAZZAK

Cerca de uma hora de carro separa a cidade

seu refúgio e recebia orientações de Burle

de Brumadinho de Belo Horizonte.

Ao che-

Marx de como compor o seu jardim. O famoso

gar ao pequeno município mineiro, que tem

paisagista aconselhava o dono da fazenda

pouco menos de 40 mil habitantes,

já é

sobre quais espécies utilizar e como dis-

possível avistar as placas indicativas do

pô-las, a fim de criar uma bela paisagem.

patrimônio mais famoso do lugar: Inhotim.

O tempo foi passando e o que era para

Uma bela e imponente alameda cercada por

ser um belo jardim de uma fazenda se

palmeiras reais já adianta um pouco do que

transformou em Inhotim. Apesar de nunca

se vai encontrar na propriedade. “Muitas

ter assinado o projeto paisagístico do

pessoas pedem para que a gente defina In-

local, é inegável a influência de Burle

hotim: se trata-se de um museu ou se é um

Marx no Instituto. Tanto é que o Centro de

jardim botânico. Como diz o diretor execu-

Educação e Cultura de Inhotim foi batiza-

tivo do Instituto, não é nem uma coisa nem

do com o nome do botânico. “Burle Marx

outra, Inhotim é um estado de espírito”,

deu o pontapé inicial do ponto de vis-

afirma Antônio Grassi, diretor executi-

ta botânico. Depois isso foi desenvolvido

vo do local e que acompanha a equipe da

pelos nossos paisagistas até que Inhotim

uPlanet para uma vista pelos mais de 140

se tornasse o que é hoje”, afirma Grassi.

hectares. Criado

O paisagismo de Inhotim foi desenvolvem

2002,

o

Instituto

Inhotim

ido por vários profissionais ao longo de

abriga um complexo museológico com uma

seus 10 anos. Dentre eles, Luiz Carlos

série de pavilhões e galerias com obras

Orsini, responsável entre os anos de 2000

de arte e esculturas expostas ao ar livre.

e 2004, e Pedro Nehring, atual responsáv-

Em meados dos anos 1980, o proprietário do

el pelo local. Em 2010, Inhotim foi el-

lugar, Bernardo Paz, elegeu a fazenda como

evado ao status de Jardim Botânico pela


45

ROSSANA MAGRI

ARTE & CULTURA

Comissão Nacional de Jardins Botânicos (CNJB) Antônio Grassi, diretor executivo do Instituto Inhotim

Inhotim tem uma das mais relevantes colees de palmeiras do mundo, com aproximadamente 1.400 espcies

Lago com vista para a obra Magic Square

e, desde então, integra a Rede Brasileira de Jardins Botânicos (RNJB). São cerca de 5 mil espécies reunidas no local, que representam 28% das famílias botânicas conhecidas no planeta. De acordo com o Instituto, a ênfase do trabalho é dada às espécies ameaçadas, à conservação de recursos genéticos e à disposição das espécies de forma paisagística. De acordo com Lucas Sigefredo, diretor do Jardim Botânico do Inhotim, além da área aberta ao público para visitação, Inhotim possui uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN)

Reserva Particular do Patrimnio Natural Inhotim (RPPN), de 145 hectares, est situada no domnio da mata atlntica. A reserva  constituda por remanescentes da Floresta Estacional Semidecidual Montana, encontradas em diferentes estgios de sucesso ecolgica e por alguns encraves de cerrado no topo das serras. Na rea, so encontradas mais de mil espcies de plantas vasculares, uma vasta diversidade florstica e, ainda, trs nascentes.

e tem autorização de coletar sementes do local para fins científicos. Fora isso, Inhotim está autorizado e pode realizar troca de sementes com outras instituições, além de fazer expedições com autorização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Isso faz com que o espaço esteja em constante transformação. “Queremos sensibilizar o público sobre a conservação do meio ambiente, além de permitir o acesso da população a esse acervo. Valorizamos muito as espécies nativas porque quando conhecemos melhor a nossa realidade, mais nos esforçamos


46

ARTE & CULTURA

De Lama Lâmina por Matthew Barney

para preservá-la”, conta. Além de criar uma espécie de refúgio, Sigefredo

conta

que

o

trabalho

pais-

agístico em Inhotim vai além, ao integrar natureza e as obras de arte expostas. “Para

todo

novo

projeto

arquitetônico

de galeria, a curadoria botânica, junto à diretoria artística, o artista e o

So, em mdia, 350 mil visitantes por ano. Desse total, 13% so estrangeiros.

As orqudeas esto representadas por aproximadamente 420 acessos e tm mais de 330 espcies.

arquiteto responsável pelo projeto, decidem, em comum, todos os detalhes – desde o resultado final da construção até o paisagismo que ficará ao redor do pavilhão”, explica.

mações e das questões em relação ao melhor uso da água,

A combinação e perfeita integração de

dos recursos naturais”, afirma. “Para isso, temos não só

arte e natureza fazem do lugar uma sin-

equipe educativa trabalhando neste formato, para conta-

gularidade. Trata-se da única institu-

giar nossas áreas internas, como também os visitantes”.

ição brasileira que exibe continuamente

Para cumprir este papel, Inhotim não para de evoluir e se

um acervo de excelência internacional de

aprimorar. Para o diretor, ainda há uma ampla gama a ser

arte contemporânea.

explorada pelo Instituto que se relacionem de forma mais

Mas Grassi explica

que Inhotim, muito mais do que ser um

harmoniosa com o estilo de vida contemporâneo.

aglomerado de belas obras de arte e jar-

Na entrada, o visitante é convidado a explorar os jar-

dins exuberantes, tem um papel social im-

dins que camuflam obras intrigantes como o Sonic Pavil-

portante e que precisar ser cada vez mais

ion, onde o artista norte-americano Doug Aitken, depois

explorado pela instituição.

de cinco anos de pesquisas, fez um furo de 200 metros de profundidade no solo e instalou uma série de micro-

um modelo de sustentabilidade aprimorado,

fones para captar o som da Terra. Quem visita o espaço,

estar na ponta e na excelência das infor-

uma espécie de redoma redonda de vidro e aço, escuta, em

Em torno de 100 funcionrios trabalham diretamente na manuteno do instituto.

Desvio para o vermelho: impregnação, Entorno, Desvio. por Cildo Meireles

DANIELA PAOLIELLO

“Temos a obrigação de dar exemplo. Ter


47 DANIELA PAOLIELLO

ARTE & CULTURA

O Centro de Educao e Cultura Burle Marx, inaugurado em 2009, Ea sede dos programas educativos do Instituto. Com 1.704 m, o edifcio contempla uma biblioteca e atelis para a realizao de workshops, alm do Teatro Inhotim, com capacidade para 200 pessoas, e o Caf do Teatro, um dos espaos gastronmicos do Instituto.

tempo real, o barulho que vem dali. Também é impossível não se sensibilizar com a delicadeza do trabalho da fotógrafa suíça radicada no Brasil Claudia Andujar, que registrou ao longo de 40 anos a Amazônia brasileira e o povo indígena Yanomami. Para quem cansar, é possível sentar em algum dos vários bancos do designer Hugo França e esperar o carrinho elétrico que percorre todo o espaço. A mostra Resíduo Florestal mostra 98 trabalhos do designer que desde os anos 1980 transforma pedaços de madeira que seriam descartadas em esculturas mobiliárias. França já produziu

A coleo de Araceae, famlia que inclui imbs, antrios e copos-de-leite,  a maior da Amrica Latina, com mais de 600 acessos e cerca de 450 espcies.

mais de mil peças deste gênero e Inhotim abriga a maior coleção de trabalhos do designer. Mais do que tentar ficar seguindo o mapa, a dica é se perder e se encontrar belo labirinto de arte e natureza que surpreende o tempo todo. Como o espaço é grande são muitos os tesouros a serem explorados e visitar Inhotim num único dia significa deixar de lado muita coisa. Por isso, caso tenha tempo, organize-se para dedicar pelo menos dois dias para o passeio.


PERNAMBUCO NA DIREÇÃO DO BAIXO CARBONO FERRAMENTAS PARA TRILHAR NOVOS CAMINHOS PARA UM FUTURO SUSTENTÁVEL

Nas últimas edições da uPlanet, mostramos

O evento foi muito além da teoria, dos

a importante revolução que alguns setores e

conceitos e dos debates. Avançou con-

personagens (públicos e privados) têm feito

cretamente na implementação de soluções

quando o assunto é aproveitar os momentos

práticas,

de crise e transformá-los em grandes opor-

começa a colher flores das sementes plan-

tunidades. E quando o assunto é a Economia

tadas nos últimos 3 anos desse movimento.

provando

que

Pernambuco

de Baixo Carbono, Pernambuco tem chamado at-

Na FutureCity foi anunciada a fase de

enção por estar conseguindo transformar teo-

testes do primeiro Ônibus 100% Elétrico

rias em soluções práticas.

em Recife e Fernando de Noronha (parce-

Foi com o desejo de inovar, mais uma vez,

ria da SEMAS com a Chinesa BYD). Também

que o Movimento uPlanet realizou, no último

foi lançada a nova Plataforma de Veículos

mês de dezembro, na capital pernambucana, a

Elétricos Compartilhados (consórcio com

Conferência Internacional FutureCity. O even-

experiência

to ocorreu em parceria com a Secretaria de

Fractal e VivaBR).

internacional

da

Autolev,

Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernam-

A ocasião também oficializou o lançamen-

buco (SEMAS), a Secretaria de Meio Ambiente

to do projeto da Mini-Cidade Sustentável

do Recife, da 99 e foi integrado ao Festival

do Parque Dois Irmãos (SEMAS e COMPE-

Rec’n’Play do Porto Digital.

SA), além da consolidação do Parque de

O encontro reuniu importantes especialis-

Soluções Sustentáveis das ilhas do Recife

tas para dialogar sobre Inovação, Sustentab-

e de Fernando de Noronha, com assinatura

ilidade, Conexão e Cooperação. Além da con-

de Termo de Compromisso do Governador de

ferência, aconteceram rodadas de negócios que

Pernambuco Paulo Câmara e do Prefeito do

contou com a participação do BNB, BNDES, Enel

Recife Geraldo Júlio.

Energia, Serttel, Celpe, Compesa, Sindaçúcar,

Com a Conferência FutureCity, conseguimos

Secretaria de Meio Ambiente do Estado e órgãos

provar que a força do coletivo é capaz de

ligados ao Estado e à Prefeitura.

mudar os rumos do planeta.


Sérgio Xavier viveu a experiência no lançamento da nova Plataforma de Veículos Elétricos Compartilhados

Luciana Nunes, no segundo dia da Conferência FutureCity, falando sobre inovação, sustentabilidade e conexão

A Serttel foi uma das empresas participantes da Conferência, que reuniu especialistas para falar sobre cooperação e soluções práticas para a transformação

Especialistas participantes do primeiro dia da Conferência, no Recife Antigo

Representação de conectividade feita no Casarão Sinspire, onde ocorreram os dois dias de Conferência


Prefeito do Recife assina termo de compromisso, junto com o Governador Paulo Câmara e o Secretário de Meio Ambiente do Recife Bruno Schwambach

Superintendente de Sustentabilidade do Banco Santander, Linda Murasawa afirma que Pernambuco está à frente

Público presente na Conferência FutureCity

Governador Paulo Câmara em discurso sobre a importância da força do coletivo

“Fizemos conexões e trouxemos os maiores nomes da economia de baixo carbono do Brasil para discutir, na prática, como podemos ativar, de forma exponencial, todo o nosso potencial de fomento da nova economia”


Representação da força do coletivo cujo propósito é transformar

“Mais do que nunca é preciso trocar inspirações e conhecimentos, pois o desafio que temos não será solucionado com respostas isoladas ou desconectadas.”

Mobiliário montado na rua, no Recife Antigo, para interação e conexão dos visitantes da FutureCity



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